UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FIGURINO E CONSTRUÇÃO DE PERSONAGEM DE JULIETA CAPULETO Laura Romero Linguagem Aplicada
TEMA GERAL RELAÇÃO ENTRE FIGURINO E CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS
QUAL O PAPEL DO FIGURINO NA CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM JULIETA CAPULETO NOS FILMES DE ZEFIRELLI DE LUHRMAN?
A RELEVÂNCIA DESTE TRABALHO SE ENCONTRA NO FATO DE ELE DEMONSTRAR O PAPEL DO FIGURINO E, CONSEQUENTEMENTE, DO FIGURINISTA EM PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS. TAMBÉM DEMONSTRA DE QUE MODO O GUARDA-ROUPA PODE MODIFICAR A MESMA PERSONAGEM PARA DOIS FILMES DIFERENTES. ESSES RESULTADOS TAMBÉM PODEM SER AJUSTADOS PARA OUTRAS PRODUÇÕES, COMO PEÇAS TEATRAIS, SÉRIES TELEVISIVAS E NOVELAS.
METODOLOGIA
Pesquisa qualitativa, que tem ênfase em aspectos mais subjetivos do tema abordado; Pesquisa bibliográfica, que se vale da busca em livros e outros artigos científicos; e Pesquisa documental, que faz a análise de outras fontes menos convencionais, como websites e filmes. Elas têm caráter descritivo e exploratório, pois analisam mais de uma variável e têm como objetivo ampliar o conhecimento na área.
ETAPAS
Esclarecimento dos conceitos de construção de personagens e de figurino; Exploração da vida e do contexto histórico-cultural de Shakespeare; Estudo da peça original de Shakespeare, Romeu e Julieta; e Comparação entre os figurinos da personagem nos dois filmes, a relação entre eles na construção dessa personagem em cada versão, levando em conta o contexto histórico-cultural de cada produção.
FUNDAMENTAÇÃO
Enquanto na literatura a construção de um personagem é feita através das palavras, em uma narrativa visual, como uma peça ou um filme, se dá por meio de aspectos visuais, como o figurino, que tem um impacto visual extremamente forte nos espectadores (NACIF, 2002). De acordo com Martin (1990) e Betton (1987) o figurino pode ser dividido em três tipos: os realistas, que são produzidos com o máximo de precisão histórica; os para-realistas, que se preocupam mais com a beleza e o estilo mas tentando não fugir muito do padrão histórico e; os simbólicos, que usam as vestimentas para representar aspectos dos personagens sem se preocupar com a precisão histórica (MARTIN, 1990; BETTON, 1987 apud COSTA, 2002). O figurino tem também uma forte relação com o desenvolvimento dos personagens e com o fortalecimento do elo entre personagem e espectador, pois, de acordo com Cortinhas (2001), a composição interior dos personagens é uma tarefa do ator e do texto, mas a expressão teatral está no corpo e consiste em fornecer ao espectador os meios para ver e/ou imaginar o universo dramático (CORTINHAS, 2001). Outro fator crucial para o desenvolvimento do personagem é o trabalho do ator, que deve conquistar a empatia ou desgosto do público, dependendo de seu papel (MANCELOS, 2012).
SEÇÃO 1
Não existem muitas informações sobre William Shakespeare, inclusive existem sete anos nos quais não se tem nenhum registro dele. Porém se sabe que ele foi um ator, poeta e dramaturgo, que nasceu no século XVI, durante o período elizabetano, em um pequeno centro comercial chamado Stratford-upon-Avon (MARIN, 2011). Durante seus anos escrevendo, Shakespeare criou mais de 2000 palavras do vocabulário inglês (VALTER; PALLÚ, 2016). Durante o período elisabetano, houve uma evolução no meio artístico, visto que tanto a rainha Elisabeth I quanto o rei James I eram grandes apoiadores das artes (MATEUS, 2006). Porém, apesar desse apoio, ou talvez por causa dele, havia também uma censura muito grande por parte da coroa, o que assustava os dramaturgos da época, incluindo Shakespeare (SILVA, 2009). Shakespeare tirava inspiração de várias áreas, normalmente histórias já conhecidas (SILVA, 2009), desde clássicos, até questões contemporâneas à época e mitos anglo-saxões (MATEUS, 2006). Apesar do período renascentista em que se inseria e que, obviamente deve tê-lo influenciado, ele unia o antropomorfismo da época a alguns temas e características presentes nas Morality Plays, peças que metaforizavam a luta entre o bem e o mal, muito comuns na Idade Média (MATEUS, 2006).
SEÇÃO 2
A história se passa na cidade fictícia de Verona, na Itália, onde vivem duas famílias muito nobres e ricas têm uma rixa histórica: os Capuletos e os Montecchios. Em um baile de máscaras, o filho único dos Montecchios, Romeu, e a filha única dos Capultetos, Julieta, acabam se apaixonando e vivendo um amor proibido, cujo ápice é um casamento às escondidas celebrado pelo Frei Lourenço. Julieta acaba sendo prometida em casamento a um conde, e, devido a uma briga, Romeu é exilado de Verona. Para escapar da cerimônia, o Frei ajuda Julieta a se fingir de morta, com a ideia de avisar Romeu e eles fugirem juntos, porém a notícia da morte de sua amada chega a ele antes da notícia do plano, e Romeu se mata sobre o corpo adormecido da amada, que, quando acorda e percebe que está viúva, também tira a sua própria vida (FUKS, 2018) De acordo com Camati (2016), Shakespeare é o autor mais adaptado de todos os tempos, mas, além disso, foi também um adaptador (CAMATI, 2016). Uma prova disso são as inspirações que Shakespeare usou para Romeu e Julieta, que já era uma história transmitida oralmente.
SEÇÃO 3
ASPECTO A SER ANALISADO
Capa do filme de 1968
Cena do baile de 1968
Cena do casamento de 1968
ASPECTOS DA ANÁLISE Essa versão é ambientada na Itália Renascentista e teve como figurinista Danilo Donati O primeiro figurino em que vemos a personagem é um vestido de festa, bem ornamentado, porém sem muitos acessórios devido a sua idade Ovestido de noiva de Julieta não é branco pois antes da Era Vitoriana (1837 - 1901) era perfeitamente normal. Essa roupa também mostra a posição social, pois é um vestido amplo e com várias camadas de tecido.
ASPECTO A SER ANALISADO
Capa do filme de 1996
Cena do baile de 1996
Cena do casamento de 1996
ASPECTOS DA ANÁLISE Esta adaptação se passa na década de 1990, nos Estados Unidos e teve seu figurino desenvolvido por Kim Barrett. O primeiro figurino em que vemos a personagem é sua fantasia de anjo. Ele é simbólico, visto que é um que representa sua inocência e sua bondade, ou até seu fatal destino na peça. O vestido preto que Julieta usa para ir se confessar com o Frei Lourenço é a única vez que a vemos fora de casa sem ser vestida de noiva. Ele não é tão exuberante quanto os figurinos de outros personagens, porém já nos mostra que a figurinista não estava tão apegada a detalhes da moda, mas sim em usar o figurino para representar os personagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto vimos que os figurinos podem ser divididos em três categorias, Realista, Para-realista e Simbólico (MARTIN, 1990; BETTON, 1987 apud COSTA, 2002), e que deve representar as características psicológicas das personagens (NACIF, 2002). Também vimos que Shakespeare ainda exerce grande influência nos dias de hoje (ROCHA, 2001) e que além de ser o autor mais adaptado de todos, foi um grande adaptador também (CAMATI, 2016). Na análise dos figurinos foi percebido que, além do ambiente distinto das duas obras, os figurinos também se encaixam em categorias diferentes Em relação ao propósito deste texto, vimos que o figurino de Donati, apesar de ser historicamente correto e lindo, não faz muito para a construção e evolução da personagem, apenas se relacionando com sua posição social. Já o de Berrett vai evoluindo junto com Julieta e demonstra sua personalidade em cada cena.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma dificuldade da pesquisa foi a dificuldade de encontrar os filmes, que, apesar de serem obras renomadas, não estão disponíveis em serviços de streaming e não existem muito mais locadoras em Porto Alegre. Apesar da satisfação que sinto com esse trabalho, acredito que outras pesquisas sobre este assunto podem se beneficiar da análise de obras com outros diferenciais, como teatro ou cinema mudo, por exemplo.
BIBLIOGRAFIA
CAMATI, Anna Stegh. A RECRIAÇÃO DO PRÓLOGO E DA CENA DE ABERTURA DO TEXTO SHAKESPEARIANO ROMEU E JULIETA POR BAZ LUHRMANN UNINCOR, 2016 CATALDI, Safira Pedreira. Tragédia no horário nobre: Romeu e Julieta na contemporaneidade UNIVASF, 2017 CORTINHAS, ngela. Figurino: um objeto sensível na produção do personagem UFRGS, 2010 COSTA, Francisco Araújo da. O figurino como elemento essencial da narrativa FAMECOS/PUCRS, 2002 DALLARI, Heloísa. Design e exposição: das vitrines para as novas telas USP, 2008 FERREIRA, Sahâmia Isabel Bezerra; CAMPOS, Juliana C. Branco de N. Tieta, do Agreste às telas midiáticas - uma breve consideração sobre o figurino e seu potencial comunicativo 2012 GUSE, Cristine Bello. DEFINIÇÃO E CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS EM ÓPERA São Paulo, 2007 MANCELOS, João de. Gente de papel e tinta: A construção de personagens numa oficina de Escrita Criativa Exedra, 2012 MARIN, Ronaldo. O OCEANO SHAKESPEARE Unicamp, 2011 MARTINELLI, Andréa Landell. Da representação à reapropriação “Romeu e Julieta” nos palcos e telas UFU, 2008
BIBLIOGRAFIA
MATEUS, Ana Cristina Gonçalves. OCULTISMO E ESOTERISMO NA OBRA DE WILLIAM SHAKESPEARE Universidade Aberta, 2006 NACIF, Maria Cristina Volpi. O figurino e a questão da representação da personagem Estação das Letras e Cores Editora, 2012 RADICCHI, Gerusa de Alkmim. A Preservação de Acervos de Figurinos: metodologias e desafios MAST, 2015 ROCHA, Ana Maria Kessler. A Modernidade de Shakespeare Textura, 2001 SCHEIDT, Déborah. SHAKESPEARE APAIXONADO COMO INTRODUÇÃO A SHAKESPEARE Revista X, 2006 SILVA, Ana Terra Leme da. Lugares de Fala e Escuta no Teatro de William Shakespeare: Ressonâncias de um Percurso Feminino UNB, 2009 SIMÕES, Edson. A Construção da Personagem no Teatro pelo Olhar da Psicologia Social USM, 2010 VALER, Marlei Teresinha; PALLÚ, Nelza Mara. WILLIAM SHAKESPEARE E O AMOR SEM LIMITES DE ROMEU E JULIETA Paraná, 2016 https://www.culturagenial.com/romeu-e-julieta-de-william-shakespeare/ Visitado em: 06/11/2018 14:25