OCUPA
REPENSANDO O MODO DE CONSTRUIR MORADIA EM OCUPAÇÕES
LAURA BRITO DE SOUZA trabalho de conclusão de curso em arquitetura e urbanismo centro universitário senac são paulo l 2021
orientador: prof. dr. marcelo suzuki coordenadora: prof. dra. valeria cássia dos santos fialho
o que nós arquitetos fazemos, aquilo a que damos forma, que moldamos, não são tijolos, cimento, madeira, aço. não são materiais. é a própria vida. _Alejandro Aravena l Arquis (2018)
AGRADECIMENTOS
ao professor Marcelo Suzuki por abraçar esse trabalho e por compartilhar seus conhecimentos ao longo desses semestres. aos meus pais, Cleo e Antonio e a minha irmã, Tatiane, que me apoiaram, acreditaram e que me trouxeram até esse momento. à Ingrid e Mariana, pela ajuda, companheirismo e amizade durante esses anos de faculdade. à Tetê, a Ste e a Ju pelas trocas, apoio e oportunidades que tive ao longo do estágio no t3estúdio. à cada pessoa que me ajudou, de certa forma, nesse processo. e aos anônimos moradores de ocupações, que resistem lutando pelo direito à moradia digna, cuja história e luta inspiraram este projeto.
resumo Palavras-chave: Habitação unifamiliar, Pequena escala, Assentamentos precários, Baixa renda, Método construtivo, Estrutura em madeira, Madeira Engenheirada, Distrito Jardim Ângela. O trabalho analise o processo de segregação urbana na cidade de São Paulo, o acesso desigual a moradia, priorizando a parcela rica da cidade, e que acaba fazendo com que a população mais pobre tenha que ocupar, informalmente, áreas as margens da cidade, que possuem alguma “barreira” e que são pouco investidas pelo poder público. Além disso, estuda e discute o modo de construção das habitações nessas áreas. Com isso, o projeto pretende, através dav tecnólogia construtiva madeira engenheirada, ou seja, CLT (madeira laminada cruzada) e MLC (madeira laminada colada), trazer uma nova proposta de moradia provisória, sem perder as caracteristicas desse tipo de habitação.
sumário
14
INTRODUÇÃO
17
O TEMA
1.
18
a habitação na atualidade
1.1
23
políticas habitacionais na cidade de são paulo
1.2
29
A MADEIRA
2.
30
madeira como material 2.1
36
encaixes e conexões 2.2
40
aplicações para o uso habitacional 2.3
43
ESTUDOS DE CASO
3.
46
quinta monroy - elemental l chile 3.1
52
minimod - mapa l brasil 3.2
57
O LUGAR
4.
58
distrito jardim ângela 4.1
64
ocupação vila nova palestina 4.2
73
O PROJETO
5.
74
concepção l modelos em madeira 5.1
92
protótipo l ocupação vila nova palestina 5.2
123
considerações finais
124
referências bibliograficas
introdução Esse trabalho de conclusão de curso ensaia um módulo habitacional para a Ocupação Vila Nova Palestina, localizada no distrito do Jardim Ângela. De acordo com o UM-Habitat de 2016, é na América Latina, a região mais urbanizada e desigual do mundo que vivem mais de 104 milhões de pessoas em assentamentos precários, onde 1 a cada 4 habitantes urbanos vivem em favela, vila, ou ocupações, em situação de pobreza. São essas pessoas, invisibilizadas pela urbanização, que devem resistir por conta própria, com a constante violação de seus direitos de existir e de possuir uma moradia digna. A escolha desse tema e da área de estudo partiu de um interesse pessoal em dar mais uma atenção as condições de moradias para a população que luta por moradia digna, e para além de um projeto de habitação social, mostrando que antes do edifício existe uma moradia e como melhorar aquela condição, mesmo que provisoriamente. Esse interesse foi despertado após um breve contato com o tema de ocupações, movimentos sociais e assentamentos precários em uma das disciplinas de graduação, além de um grande interesse pela arquitetura da américa latina, assim podendo trazer exemplos de projetos de habitação de interesse social e novas tecnologias realizadas aqui.
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objetivo e metodologia A partir disso, o objetivo geral deste trabalho é criar modelos e estudos que gerarão uma nova proposta de moradia, desenvolvida para ser aplicada em um terreno localizado em assentamentos precários, mais necessariamente ocupações, como nesse caso a ocupação Vila Nova Palestina, localizada no distrito Jardim Ângela, para que seja possível e acessível aplicar em diversos contextos, levando em consideração as tipologias no entorno e também o uso da madeira engenheirada, que se torna uma alternativa sustentável e que tem seu tempo diminuído na questão da montagem, já que as peças são construídas fora do local da obra, o que acaba gerando menos gastos, além de produzir modelos que permitirão a ampliação caso a família sentir necessidade. Para isso, será necessário cumprir com alguns objetivos específicos que ajudaram no projeto final: (1) estudar projetos habitacionais em pequena escala na América Latina (2) estudar a técnica construtiva de madeira engenheirada em projetos habitacionais, (3) realizar levantamento sobre a Ocupação Vila Nova Palestina, área do projeto, (4) elaborar ensaios de implantação habitacional nessa área estudada, utilizando o sistema construtivo em madeira, comprovando sua viabilidade.
Para atingir essa meta e estruturar o trabalho, a discussão foi dividida em 5 capítulos. A primeira etapa (Referencial teórico e projetual), dividida em três capítulos, referente a estudos teóricos e bibliográficos buscando entender o problema habitacional e o cenário geral das políticas habitacionais do Brasil. Ainda nessa etapa será estudado a técnica construtiva que será aplicada nas moradias, madeira engenheirada, e o estudo correlatos de projetos de moradias em pequena escala, buscando absorver estratégias e soluções que fundamente a produção projetual. A segunda etapa (Diagnóstico) se trata da análise do contexto urbano do distrito do Jardim Ângela, área selecionada como estudo desse trabalho, e seu processo de ocupação, realizando levantamento e dados, entendendo melhor como se deu a configuração espacial dequele lugar, além de estudar a área do projeto, a Ocupação Vila Nova Palestina. Por fim a terceira e última etapa (Projeto) desenvolvida no capítulo 5, que traz a elaboração do sistema construtivo em madeira, mostrando seus encaixes e composição, seguido da elaboração de uma proposta habitacional para o terreno da ocupação estudada, mostrando uma nova possibilidade da técnica construtiva em moradias unifamiliares provisórias em ocupações.
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1
O TEMA
a habitação na atualidade políticas habitacionais na cidade de são paulo
1.1 A habitação na atualidade
Figura 1: Contrastes na terra urbana. Esquerda aglomerado de casas no bairro de Paraisópolis e a direita edifício de luxo no bairro Jardim Leonor. Fonte: Tuca Vieira (2004)
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“Nenhum aspecto do espaço urbano brasileiro poderá ser jamais explicado/ compreendido se não forem consideradas as especificidades da segregação social e econômica que caracteriza nossas metrópoles, cidades grandes e médias.” (VILLAÇA, 2011, p.37)
A segregação social e ambiental é o mais importante aspecto espacial-urbano a ser estudado para que se entenda a desigualdade que se predomina nas nossas cidades. Quando paramos para estudar e observar o enorme desnível que há entre o espaço urbano da parcela da sociedade mais rica e comparar com o espaço urbano dos mais pobres, fica evidente que a distribuição da terra ou seja do espaço urbano na cidade, foi e é desigual. Isso porque a classe dominante começou a comandar a produção do espaço urbano, ou seja, seu valor e preço, assim o mercado imobiliário. Mas não só isso, comanda também a criação e aplicação das leis sobre o espaço urbano, como a legislação urbanística, localização dos aparelhos de Estado, produção do sistema de transporte etc., como apresenta Villaça (2011).
imigrantes que chegavam a cidade em busca de melhores condições de vida – no final do século XIX, 10% da população era urbano, já no final do século XX, aproximadamente 20% dela era rural (MARICATO, 2003, p.158) – e o único local acessível a eles, já que mais de 80% do déficit habitacional se encontram nas faixas entre zero e três salários mínimos, e não foram atendidas pelas políticas públicas ou não tinham acesso ao mercado imobiliário, foram nas áreas desvalorizadas pelos mesmos, ou seja, beira de córregos, terrenos com alto nível de declividade, sujeitos a desmoronamento. “É nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário privado e nas áreas públicas, situadas em regiões desvalorizadas, que a população trabalhadora pobre vai se instalar: beira de córregos, encostas dos morros, terrenos sujeitos a enchentes ou outros tipos de riscos, regiões poluídas, ou... áreas de proteção ambiental (onde a vigência de legislação de proteção e ausência de fiscalização definem a desvalorização)”. (MARICATO, 2003, p.154)
Ao favorecer a classe dominante, automaticamente a população pobre que vivia, por exemplo nos centros urbanos acabam sendo expulsas dessas áreas, ou sem contar com os
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Figura 2: Ocupacao Jardim Julieta
na
Vila
Medeiros
Zona Norte de São Paulo. Fonte: Lucas Veloso.
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Com essa segregação começou a haver uma desigual distribuição dos recursos no espaço urbano produzido, ou seja, dificuldade de acesso aos serviços e infraestrutura urbana, como por exemplo transportes públicos precários, saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento, difícil acesso aos serviços de saúde, educação e creches, maior exposição a ocorrência de enchentes e desmoronamento, como discute Maricato (2003). A população que se instala nessas regiões não acaba somente se atingindo por não contar com nenhum serviço público ou obras de infraestrutura urbana, mas acaba atingindo toda a sociedade, porque como dito acima, as áreas que acabam sendo ocupadas, são áreas de proteção ambiental e mananciais, que acaba comprometendo os recursos naturais. É nessas áreas de risco que são registrados atualmente um aumento nas mortes por desmoronamento, entre 1988 a 2003, morreram 1.303 pessoas, por esse motivo, 53 foram mortas nos primeiros cinco meses de 2003. (MARICATO, 2003, p.161). A Represa Guarapiranga é um exemplo dessas áreas de proteção ambiental que, depois da implementação da Lei de Proteção aos Mananciais (1975), perdeu seu valor para o mercado imobiliário legal e passou a ser cada vez mais ocupada pela população pobre, resultando em loteamentos ilegais e favelas. Essa ocupação gera uma preocupação para a preservação de áreas verdes tão importantes para a cidade, pois a Represa Guarapiranga é responsável por 20% da água potável da população da cidade, no entanto é a área que apresenta um dos maiores índices de favelas, como mostra Maricato (2018).
Figura 3: Vista aérea de ocupação das margens da represa Guarapiranga, em área de preservação ambiental, Zona Sul de São Paulo. Fonte: Acervo Estadão.
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o déficit habitacional brasileiro
De acordo com o Censo Demográfico de 2010, o defit habitacional do Brasil, naquele ano, atingia 7.1 milhões de unidades, que representava 12.4% do total de domicílios do país. Após uma análise do ponto de vista socioeconômico mostrou que, do total do déficit habitacional do Brasil, 71% estão relacionados a famílias que possuem renda de até três salários-mínimos. Outro ponto diz respeito a ocupação do imóvel, onde 42% do déficit habitacional, está relacionado a famílias que dividem um mesmo domicílio ou estão morando em cortiços. Nesse estudo outro ponto foi levantado em questão ao déficit relacionado ao tributo excessivo com o aluguel, relativo a famílias de baixa renda, ou seja, de até três salários-mínimos, que precisam desembolsar 30% ou mais da renda da família para o pagamento do aluguel. Outro componente do déficit está relacionado a habitação precária, que corresponde a moradias improvisadas, no estudo foi estimado cerca de 1.3 milhões de domicílios (18%) em todo país. Do déficit habitacional total, 6.0 milhões de domicílios, ou seja, 85% estavam localizados na zona urbana e somente 1.1 milhão (15%), na zona rural. Se estudarmos por região, a região Sudeste é a que concentra o maior déficit habitacional, sendo o Estado de São Paulo respondendo por 56% do total da região sudeste (39%) (figura 4).
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Figura 4: Déficit habitacional brasileiro. Censo Demográfico 2010, IBGE. Fonte: Elaborado pela autora
1.2 Políticas habitacionais na cidade de São Paulo
A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, possui dois caminhos para a implementação de política habitacional no município, um deles é a continuidade e finalização das ações realizadas nos anos anteriores e outro caminho é dar início a novas parcerias e linhas de financiamentos para habitação de interesse social (Prefeitura de São Paulo, 2021). Alguns programas habitacionais empregados no município são Urbanização de Favelas, Casa da Família, Regularização Fundiária e Minha Casa Minha Vida.
Tem como objetivo transformar favelas e loteamentos irregulares em bairros, com ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação e serviços públicos, garantindo o acesso a cidade. Permite incluir também o reassentamento de famílias, caso estejam situadas em áreas de risco, além da recuperação e preservação de áreas de proteção dos reservatórios Guarapiranga e Billings, e de melhorias habitacionais. Algumas das ações realizadas pelo programa são: (l) implantação de redes de água e de coleta de esgoto;
urbanização de favelas O programa de Urbanização de Favelas é realizado pela Secretaria Municipal de Habitação, é o maior Programa de Regularização Urbanística e Fundiária do país, pois abrange loteamentos irregulares e precários. Tem como intenção a urbanização e a regularização fundiária de áreas degradadas, ocupadas desordenada e sem infraestrutura (Prefeitura de São Paulo, 2021). Para a realização da regularização fundiária nessas áreas é indispensável a urbanização, pois é essencial para a inserir, no contexto legal da cidade, essa população.
(ll) execução de redes de drenagem de águas pluviais e de córregos; (lll) execução de obras de contenção e estabilização de encostas, para eliminação de áreas de risco; (lV) criação de áreas de lazer e centros comunitários; (V) reassentamento de famílias que precisam ser deslocadas por frente de obra, risco de inundação ou risco geotécnico não solucionável, estar em áreas de preservação permanente ou impossibilidade de coleta de esgoto; (VI) Regularização fundiária.
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casa da família
regularização fundiária
É um projeto que visa viabilizar recursos e permitir acesso à casa própria para 24 mil famílias, estimulando a construção de moradia em lotes regularizados por meio de ações entre a Prefeitura de São Paulo (Secretaria de São Paulo) e o Governo Federal. A parceria permite completar o incentivo dado ao Programa Minha Casa Minha Vida – FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), destinados a famílias com renda até R$ 1.800,00, e do FDS (Fundo de Desenvolvimento Social), destinado as entidades organizadoras de moradia habilitadas pelo Ministério das Cidades (Prefeitura de São Paulo, 2021).
Segundo instrumentos jurídicos e urbanísticos da política urbana presentes no Plano Diretor Estratégico, permite que a partir do reconhecimento do território de cada assentamento precário seja promovido o direito a posse daquele lote, e a permanência dos moradores daquela área ocupada informalmente, priorizando famílias de baixa renda, permite também a ampliação do acesso a terra urbanizada.
Para a utilização do benefício para a construção de unidades habitacionais ou requalificação, as famílias precisam preencher os critérios nacionais para o enquadramento nas legislações do Programa Minha Casa Minha Vida, FAR e entidades, priorizando as famílias que estão situadas em alto grau de vulnerabilidade, como áreas de alto risco geológico ou frente de obras públicas.
Com base da Prefeitura de São Paulo, o programa Regularização Fundiária pretende enfrentar a precariedade que se manifesta na insegurança em relação a posse ou propriedade da terra ocupada pela população que reside naquele assentamento, caracterizado pela irregularidade fundiária. O processo é feito a partir da identificação dos assentamentos precários através do Plano Municipal de Habitação, atuando com maior ou menor grau de intervenção, segundo a linha programática Intervenção Integrada de Assentamentos Precários (Prefeitura de São Paulo, 2021), desde que atendam ao menos um dos seguintes critérios: (l) área esteja ocupada há, pelo menos, cinco anos; (ll) assentamentos que estejam localizados em Zeis; (lll) áreas declaradas de interesse social para implantação de projetos de regularização fundiária de interesse social.
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minha casa minha vida Segundo o Ministério das Cidades (2009), o programa Minha Casa Minha Vida, atual Casa Verde e Amarela, foi formulado com o objetivo de criar mecanismos de incentivo à produção e compra de novas unidades habitacionais pelas famílias com renda mensal de até 10 salários-mínimos, priorizando aquelas famílias que possuem renda inferior a 3 salários-mínimos, que representam 80% do déficit habitacional no Brasil, e que residam em qualquer município brasileiro. Ele funciona através de recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) ministrados pela Caixa Federal e para que o programa construa moradias de qualidade e adequadas para as famílias, precisa que haja a participação ativa dos municípios, mobilizando instrumentos em seus Planos Diretores que favoreçam a disponibilidade de bons terrenos para o programa, principalmente para as duas primeiras categorias mostrada abaixo. Para atender a demanda, o programa é distribuído em três categorias:
O programa determina duas tipologias para as famílias que pertencem a categoria com renda de até 3 salários-mínimos, sendo a tipologia 1 (figura 5) – casa térrea com área da unidade de até 35m², área interna de 32m², com dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área externa com tanque. O pé direito mínimo de 2.20m na cozinha e banheiro e 2.50m no restante dos cômodos. As especificações da tipologia 2 são, apartamento com área de 42m², área interna de 37m², com dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço e banheiro, com pé direito de 2.20m na cozinha e banheiro e 2.40m no restante. Já o edifício possui duas tipologias, sendo 4 pavimentos com 16 apartamentos por bloco ou até 5 pavimentos com 20 apartamentos.
(l) famílias com renda de até 3 salários-mínimos (ll) famílias com renda de 3 a 6 salários-mínimos (lll) famílias com renda de 6 a 10 salários-mínimos
Figura 5: Exemplo da tipologia 1 l Casa térrea. Fonte: Cartilha Minha Casa Minha Vida (2009)
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programas habitacionais no Brasil
1946 Fundação da Casa Popular
1964 Criação do BNH
1965 COHAB
Primeiro programa a ser lan-
Banco Nacional de Habitação, a
Companhia Metropolitana de
çado a fim de responder a
partir dele foi criado o Sistema Fi-
Habitação de São Paulo, cria-
crise nacional de habitação
nanceiro de Habitação, por conta
da com a finalidade de favore-
do Estado, que atingiu princi-
da necessidade nacional de uma
cer o acesso à habitação digna
palmente o antigo Distrito Fe-
política de habitação, especial-
à população de menor renda,
deral (Rio de Janeiro).
mente para a população de bai-
obedecendo às normas e cri-
xa renda, que visava estimular a
térios estabelecidos pelo Go-
aquisição da casa própria.
verno Municipal e pela legislação federal.
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1988 Constituição de 1988
2001 Estatuto da Cidade
2003 Ministério das Cidades
2007 PAC
2008 Lei de Assistência Técnica
2009 Minha Casa Minha Vida
2020 Casa Verde e Amarela
A
Cida-
Regularização dos artigos
A partir de reivindica-
Programa de Aceleração
Criado por autoria de arqui-
Criado pelo governo federal a
Antigo
dã assegura o direito à
182 e 183 da Constituição
ções dos movimentos
do
teve
tetos, a fim de que famílias
fim de construir um milhão de
Vida, foi criado pelo governo
moradia, sendo compe-
de 1988. Estabelece nor-
sociais de luta pela re-
como função promover
de baixa renda de até três
habitações para a população
federal para facilitar o acesso
tência comum da União,
mas de ordem pública e
forma urbana, foi criado
a retomada do planeja-
salários-mínimos,
recebam
com renda de até 10 salários-
da população à moradia dig-
dos estados e dos mu-
de interesse social que
para combater as desi-
mento, de investimentos
assistência
pública
-mínimos, priorizando famílias
na. Com meta de atender 1.6
nicípios. A eles segundo
regulam o uso do solo ur-
gualdades sociais, am-
e de execução de gran-
e gratuita na elaboração de
com renda inferior a 3 salá-
milhões de famílias de baixa
o texto, cabe “promover
bano brasileiro.
pliando o acesso da po-
des obras de infraestru-
projetos para construção de
rios-mínimos.
renda, a partir da redução na
cons-
pulação à moradia, ao
tura
habitações sociais.
trução de moradias e a
saneamento e ao trans-
transporte, recursos hí-
melhoria das condições
porte.
dricos etc.), contribuindo
Constituição
programas
de
Crescimento,
social
(habitação,
habitacionais e de sane-
para o seu desenvolvi-
amento básico”.
mento acelerado e sus-
técnica
Minha
Casa
Minha
taxa de juros para famílias de até 2 mil mensais.
tentável. 27
2
A MADEIRA
madeira como material encaixes e conexões aplicações para o uso habitacional
2.1 Madeira como material
por que construir com madeira
No mundo, a indústria da construção civil é responsável por 40% a 50% das emissões de CO2, porém materiais renováveis, como a madeira massiva ao ser extraída e reabastecida, acabam sendo soluções que reduzem a taxa de aquecimento global, por agredirem menos o meio ambiente. A madeira é o único material utilizado na construção que pode ser plantado, tendo sua matéria prima base o CO2, água e energia solar. Outro ponto é o sequestro de carbono, comparando com outros materiais como o cimento, que é responsável por 6% das emissões de CO2 mundial, segundo o Caderno de Educação Ambiental lançando pela Secretaria do Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo. No caso da madeira, ela sequestra o CO2 da atmosfera e a transforma em madeira, ou seja, esse carbono que estaria na atmosfera, agora fica na forma de madeira por toda sua vida útil. Nas últimas décadas novas tecnologias de engenharia e técnicas construtivas aperfeiçoaram a construção com a madeira massiva, particularmente na construção de edifícios verticais, ao inovarem com a madeira engenheirada, com a madeira laminada cruzada (CLT) e madeira laminada colada (MLC).
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Figura 6: The Voxel – Uma cabana para passar a quarentena l Valldaura Labs Fonte: Site ArchDaily
madeira engenheirada
É uma madeira que passa por um processo industrial, diferente dos outros tipos de madeiras artesanais ou naturais. O processo da madeira engenheirada começa a partir das toras, que primeiro refila para obter tabuas, ou as lamelas, e vão passar por um longo processo recebendo tratamentos visando estabilizar a umidade, preservação da peça por ser natural, visando não ser atingido por cupins e outras pragas.
considere a seção extra da madeira, que pode, durante o incêndio, carbonizar, porem o núcleo estrutural da peça precisa ficar protegida para suportar as cargas da construção. Em relação da propagação das chamas a peça recebe uma aplicação superficial de verniz que garante a retardação das chamas.
Desse processo, destaca-se o MLC ou madeira laminada colada, que é utilizada para vigas e pilares, e o CLT (em inglês Cross Laminated Timber) ou Madeira Laminada Cruzada, utilizada na confecção de lajes e paredes estruturais. Esse tipo de tecnologia tem a capacidade de suportar grandes cargas, baixo peso, além da sustentabilidade. segurança e durabilidade Quando tratamos de madeira dúvidas sobre a conservação do material em relação ao fogo e a ação de pragas são bastante comuns, no caso das estruturas em madeira, a peça precisa do TRRF (Tempo Requerido de Resistencia a Fogo) exigido pelo corpo de bombeiros, para a obtenção desse certificado, a peça precisa ter um dimensionamento que
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CLT l madeira laminada cruzada
A CLT pode ser utilizada em paredes, pisos, mobiliários, forros e telhados, e sua espessura e comprimentos podem ser adaptáveis a cada projeto. Segundo Silvio Lagranha Machado, socio do MAPA, sendo um painel solido composto de um único material, a estrutura já é o acabamento da obra, diminuindo a necessidade de mão de obra e materiais para o aspecto final da obra.
Figura 7: CLT é o concreto do futuro ?
Porém as superfícies podem receber somente a aplicação de um impermeabilizante transparente, ou seja, protegendo a madeira caso fique exposta e deixando visíveis ainda assim as fibras da madeira.
Fonte: Site ArchDaily
A madeira laminada cruzada, ou CLT (Cross Laminated Timber) é um material composto por tábuas (ou lamelas) de madeira serradas, coladas e prensadas em camadas perpendiculares as anteriores formando placas, assim obtendo maior rigidez estrutural. Segundo a ANSI (Norma Americana) “O CLT é um produto de madeira engenheirada pré-fabricada feito de pelo menos 3 camadas ortogonais de madeira laminada serrada que são coladas com adesivos estruturais para formar um sólido retangular, moldado para aplicações em telhados, pisos ou paredes.” Essas tabuas permitem grandes dimensões, entre 2,40m e 4,00m de altura e até 12,00m de comprimento, ou mais, caso precise. Ela tem seu funcionamento similar ao compensado, porém com componentes mais espessos. 32
Por conta de ser um material pré-fabricado, suas placas sendo produzidas na indústria, além de poderem ser 100% usinadas em uma máquina router em CNC, ou seja, controlada por softwares com precisão mínima, o que torna sua construção limpa, rápida e com menos erros. Além disso as placas de CLT possuem outras vantagens, sendo algumas delas, a sua resistência, o CLT possui propriedades que permitem que seja utilizado em edifícios como arranha-céus, grandes vãos livres, além de serem painéis colados cruzados, ao aumentar o painel colando com outros peças, suas propriedades de resistência é quase comparada ao concreto armado. Ao fogo, o CLT tem o melhor desempenho ao incêndio comparado com outro sistema de construção de madeira, concreto ou aço. Mesmo o material sendo utilizado livremente, sem nenhum revestimento de proteção, o fogo não consegue queimar livremente.
MLC l madeira laminada colada vantagens I. Sua matéria-prima vem a partir de florestas de manejo, a partir do princípio de sustentabilidade, ou seja, está sempre disponível, crescendo de forma constante II. Alta capacidade de carga e baixo peso próprio, permitindo construções de pequenas dimensões e grandes envergaduras III. É mais segura que o aço desprotegido em caso de incêndio. No caso da madeira, uma camada carbonizada é formada entorno do seu núcleo, reduzindo a entrada de oxigênio e atrasando a queima total da peça. Figura 8: Vantagens da MLC l Madeira Laminada Colada Fonte: Site ArchDaily
A madeira laminada colada, uniu duas técnicas que já eram muito utilizadas, como o próprio nome já diz, a técnica da colagem com a técnica da laminação. Ou seja, a madeira laminada colada é chamada assim por conta da reconstrução da madeira a partir de lâminas menores, que são coladas deixando suas fibras paralelas entre si. A cola utilizada na junção das tábuas, substituem o método antes empregado de ligações metálicas de braçadeiras e parafusos. Esse método permite uma seção mais homogênea e sem a ocorrência de deslizamentos entre as lâminas (CARPINTERIA – 2018) A técnica da madeira laminada colada surgiu, de certa forma, a partir da necessidade de utilização da madeira de reflorestamento, predominantemente por Pinus, que é facilmente encontrado em países do hemisfério norte, sendo de fácil maleabilidade.
IV. A MLC é produzido em umidade de 12%, o que significada uma unidade de equilíbrio de 20C e 65% de umidade relativa, reduzindo ao mínimo o comportamento de contração e inchamento V. Permite um número menor de ligações, em comparação com outras estruturas de madeira, já que foi criada para vencer grandes dimensões VI. Facilidade de montagem e desmontagem, além de possibilidade de ampliação. processo de produção Finger Joint: Chamada também como emenda dentada, no momento de compor as peças estruturais, as réguas curtas são unidas no sentido longitudinal através de uma emenda dentada, se inicia a usinagem e logo após é aplicada a cola e a régua é prensada, para assim atingir a dimensão final.
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MDF l medium density fiberboard
Figura 9: Placa de MDF Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
As chapas de MDF (Medium Density Fiberboard) são formadas por fibras de madeira unidas por uma resina sintética e compactadas por pressão e calor, resultando em placas maciças e uniformes, com um ótimo acabamento e durabilidade. Permite mais liberdade durante o corte, por conta de as fibras estarem orientadas aleatoriamente, porém é um material pouco resistente a ações naturais, como a umidade e ao fogo por exemplo. Pode ser utilizada em marcenarias, na confecção de móveis e mobiliários, porém pode ser utilizado em painéis de paredes e portas.
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Aglomerado e MDP l medium density particleboard
Figura 10: Placa de aglomerado Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
O aglomerado resulta da prensagem de resíduos da madeira, como serragem e pó, com resina e cola. É um material mais barato, por isso podem ser utilizados como o MDF, porém deve-se utilizar ferragens especificas para um melhor resultado. Os painéis de MDP (Medium Density Particleboard) são semelhantes ao aglomerado, são feitos de partículas de madeira, compactadas com resina sintética e prensadas com calor, a diferença desse material com o anterior, está resultado do processo em que as partículas mais finas acabam se acomodando nas faces, e as mais grossas, no miolo, permitindo melhor acabamento.
Compensado
OSB l Oriented Strand Board
Figura 11: Placa de compensado Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
As chapas de compensado são formadas por lâminas de madeira sobrepostas e perpendiculares, sendo unidas por cola e prensadas com calor, seguindo o mesmo raciocínio da madeira laminada cruzada, com as fibras em direções cruzadas permitindo que as chapas aguentem grandes tensões. O compensado pode ser usado em diversas maneiras, como móveis, pisos, forros, portas, bancadas, entre outros. As dimensões das placas podem ser encontradas no mercado com as dimensões 2,20x1,60 e 2,50x1,60. E nas expessuras de 4mm, 6mm, 10mm, 15mm, 18mm, 20mm, 25mm, 30mm.
Figura 12: Placa de OSB Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
O painel OSD é formado por lascas de madeira prensadas em camadas perpendiculares e unidas com resina aplicada sob alta pressão e temperatura. É um material que apresenta boa resistência mecânica e rigidez, além de bom isolante acústico, não possui espaços vazios em seu interior, sem nós ou fendilhados, e ser bastante uniforme. É um produto ecologicamente correto e reciclável e pode ser usado em áreas externas, podendo receber chuvas, porém por conta de sua superfície, é inviável a aplicação de produtos laminados.
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2.2 Encaixes e conexões
A madeira apesar de ser um material que permite diversos usos, desde objetos a estruturas, habitações de pequeno porte até edifícios em grande escala, precisa de certas precauções que irão assegurar a boa qualidade da construção. Dentro dessas precauções está o sistema de conexão e encaixe, para isso existem disponíveis diversos conectores econômicos, versáteis e confiáveis.
encaixes É o meio de ligação mais tradicional e o que foi mais utilizado nas ligações de peças de madeira, principalmente no Japão, país onde desenvolveu encaixes complexos em estruturas de madeira. Esses encaixes são também mais econômicos pois não necessitam de peças adjacentes como conectores metálicos, mas em contrapartida necessita de mão de obra especializada. Alguns encaixes são mantidos travados através de cavilhas, pregos, colas ou parafusos que são levados em conta na hora do cálculo dessas ligações.
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Figura 13: Ligações em estruturas de madeira Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
cavilhas de madeira
pregos
Cavilhas são pinos cilíndricos confeccionados em madeira dura e são introduzidos por cravação em furos sem folga na peça de madeira. Conforme a NBR7190 as cavilhas devem ser de madeira de classe C60 ou com madeiras macias, porém impregnadas com resina para aumentar a resistência. A cavilha não pode estar úmida, caso contrário após ser introduzida poderá provocar folgas, e atualmente só é permitido o uso da cavilha juntamente com cola.
Após o surgimento do aço, começou a utilizar pregos como forma de conexão nas estruturas em madeira, hoje é o meio de ligação mais comum a ser utilizado. Os mais comuns a serem utilizados é o prego com cabeça de fuste cilíndrico circular, porém existem diversos tipos de pregos hoje a serem utilizados com uma função específica.
Figura 14: Detalhe
Figura 15: Pregos existentes
Cavilha de Madeira
e detalhe de fixação
Fonte: Carpinteria l
Fonte: Carpinteria l Madeira
Madeira Inteligente
Inteligente
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cavilhas ou pinos metálicos
anéis metálicos
Assim como os pinos de madeira, os pinos metálicos são eixos cilíndricos, porém de aço e são instalados e furos que precisam ter diâmetros inferiores aos dos pinos e assim ao instalados não possuem folgas, assim ao entrarem em carga não serão deformados.
Os anéis metálicos foram criados como apoio aos pinos metálicos já que sua resistência é limitada pela tensão do apoio do pino na madeira e pela sua flexão. Assim os conectores em forma de anel são colocados em entalhes nas interfaces das madeiras e mantidas em posições por meio de parafusos colocados dentro do anel, depois fura-se a face da madeira com uma serra-copo do mesmo diâmetro do conector, mas sem retirar o miolo da madeira. Existem diversos tipos de conectores, porém a NBR7190 só permite o uso de conectores metálicos estruturais em forma de anéis simples, com diâmetros internos de 64mm ou de 102mm.
Figura 16: Corte detalhe fixação do pino metálico Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
Figura 17: Peças dos anéis metálicos Fonte: Carpinteria l Madeira Inteligente
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Figura X: Protótipo de moradia
grupo carpintería de armar robotizada
Fonte: Site ArchDaily
Outro exemplo de como podemos conectar peças em madeiras é o projeto do grupo Carpintería de Armar Robotizada do Departamento de Arquitetura da Universidade Técnica Federico Santa María no Chile. O grupo desenvolveu uma cartilha onde mostra como as estruturas de madeira podem ser montadas, sem a necessidade de fixações metálicas, essas peças são unidas através de encaixes, em que gerarão um protótipo de moradia flexível a expansão e a adaptação aos moradores com menos recursos.
Figura 18: Cartilha de conexões das peças de madeira Fonte: Site ArchDaily
Figura 19: Encaixe das peças Fonte: Site ArchDaily
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2.3 Aplicações para uso habitacional casa de campo de madeira laminada CLT Kariouk Associates
Figura 21: Foto da área social da casa Fonte: Site ArchDaily
A casa projetada pelo escritório Kariouk Associates está localizada no Canadá, em um terreno passado de geração, onde antes, por mais de 70 anos, havia um chalé da família. Por conta do tempo e falta de manutenção, o chalé precisou ser demolido, porém por razões sentimentais, o cliente pediu que a nova casa fosse da mesma dimensão e posicionada no mesmo local que o antigo chalé.
A fim de minimizar gastos, já que o terreno está localizado em um local mais afastado da cidade e isso implicaria no alto custo de mão de obra no canteiro de obras e transporte de materiais, o escritório decidiu utilizar peças pré-fabricadas. O material então selecionado foi a madeira CLT, utilizando placas de 60x10m, já que o material age como paredes estruturais. Figura 20: Foto da área social da casa Fonte: Site ArchDaily
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Antes de serem enviadas para o local do terreno, todas as informações de aberturas e dimensões foram enviadas para uma máquina controlada por computador que produziu os painéis. Com as placas já produzidas, foram levadas até o terreno e apoiadas sobre a fundação metálica, antes produzida. No final a construção da casa de campo foi feita em apenas dois dias.
centro de design e inovação Michael Green Architecture Projetado pelo escritório Michael Green Architecture em 2014 no Canadá, tem como objetivo ser um edifício modelo para mostrar o potencial do uso da madeira como estrutura em construções de alturas médias e grandes, criando um espaço de encontro para pesquisadores, profissionais e interessados no método, que ajudaram a gerar ideias inovadoras para o uso da madeira. Figura 22: Foto encontro viga e pilar em MLC e placas de CLT
O edifício possui 8 pavimentos e 30 metros de altura, sua estrutura é simples podendo ser replicada facilmente em edifícios de 20 e 30 pavimentos de altura, revendo algumas modificações, já que utiliza painéis de CLT no piso e nas paredes e sua estrutura, pilares e vigas, em MLC. O projeto é dividido em espaços para o ensino junto a madeira, que está localizado nos pavimentos inferiores, e nos pavimentos superiores, espaços para escritórios relacionados ao uso da madeira e a indústria do governo.
Fonte: Site ArchDaily
Figura 23: Foto da fachada do edifício Fonte: Site ArchDaily
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3
ESTUDOS DE CASO
quinta monroy - elemental l chile minimod - mapa l brasil
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3.0 Estudos de Caso
Os arquitetos da América Latina vêm, a certo tempo, realizando projetos em pequena escala dentro de comunidades, que servem de exemplo de como é possível proporcionar boa arquitetura, gerando impactos positivos que beneficiam a população dessas áreas, que sofrem a falta de projetos residências que levem em consideração o entorno, a vivência do morador naquela região, envolvendo-as no processo de produção e trazendo inovações aplicadas a materialidade e sistemas construtivos, que adeque a cada realidade. O primeiro estudo de caso a ser analisado será o conjunto habitacional Quinta Monroy, em Iquique no Chile, projetado pelo escritório Elemental do arquiteto e urbanista Alejandro Aravena. O projeto social que contribuiu para a premiação ao Pritzker em 2016, por trazer soluções inovadoras que até hoje influência na produção da arquitetura habitacional pelo mundo. O segundo projeto se trata de um abrigo primitivo que tinha como premissa uma exploração projetual, utilizando modernas técnicas construtivas, como a madeira engenheirada, nesse caso o CLT (Madeira Laminada Cruzada). Com isso o escritório de arquitetura MAPA, que tem sede em três países da América do Sul e do Norte, como Estados Unidos, Uruguai e Brasil, desenvolveu a Minimod, modelo de moradia flexível, que se adapta a todo tipo de terreno, a partir de módulos que permitem a expansão da moradia, sendo possível ser montado no local do terreno ou ser transportado depois de finalizado.
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3.1 Quinta Monroy - Elemental l CHILE
O projeto entregue em 2003 foi voltado para um grupo de moradores, no total 93 famílias que ocupavam ilegalmente um terreno de 5.000m² em um período de 30 anos na cidade de Iquique no Chile. As condições de moradia naquela região eram precárias, além de sofrerem pressões do mercado imobiliário por conta da localização do terreno. Então eles receberam, do programa habitacional Habitação Social Dinâmica sem Dívida, que tinham como objetivo resolverem o defit habitacional, estimular o fortalecimento das comunidades em seus bairros, uma quantia de cerca de U$ 7.500 para que cada família pudesse investir na compra do terreno, no projeto e na construção das suas moradias (ELEMENTAL,2012). Figura 24: Quinta Monroy, Chile. Fonte: ELEMENTAL
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Durante esse processo, Aravena e sua equipe do escritório Elemental foram convocados para trabalhar como mediadores de todo o processo, tendo como desafio projetar uma residência que fosse adequada para essas famílias, levando em questão o baixo orçamento e garantindo a permanência das famílias no terreno ocupado. Para entender como afetaria esses pontos apresentados no projeto, fizeram um primeiro estudo e chegaram à conclusão que com o valor disponibilizado seria somente possível construir cerca de 40m², área limitada para abrigar uma habitação adequada. Para resolver esse desafio, pensaram em construir uma casa por lote, porém mesmo que projetassem em lotes do padrão da habitação social só seria possível alocar 30 famílias no terreno, ou seja, seria extremamente ineficiente a construção desse tipo de tipologia. Outro desafio foi como utilizar o terreno para alocar todas as famílias, possibilitando um empreendimento que alcançasse a densidade habitacional pretendida, entorno de 560 hab./ha, garantindo espaços para expansão, ponto solicitado pelos morados que fosse ampliado pelo menos o dobro da área, o que não seria possível caso verticalizasse, com exceção do térreo, sendo possível ampliar horizontalmente e a unidade da cobertura, que poderia expandir para cima.
Figura 25: Estudo de viabilidade das implantações no terreno: casa isolada no lote, casa de dois pavimentos em toda a largura do lote e torre de habitações. Fonte: ELEMENTAL
Ao final dessas simulações foi extraída o estudo, representado na figura 26, em vez de projetar a menor unidade possível, de US$ 7500 e multiplicá-la 100 vezes, nos perguntamos qual é o melhor edifício, de US$7500, capaz de abrigar 100 famílias e suas respectivas ampliações. (ELEMENTAL, 2012), descartando a possibilidade de um edifício, chegaram na solução de um edifício que fosse somente possível ampliar o térreo e o último andar, a partir da estratégia de construir somente “metade de uma casa”, ou seja, um conjunto de casas sobrepostas e germinadas possibilitando áreas de expansão para todas as unidades habitacionais. 47
O projeto totaliza 93 habitações, sendo 38 “habitações dinâmicas” no térreo e 55 “habitações dinâmicas” no segundo pavimento, dispostas em 5.722m² (JARDIM,2017). As edificações são compostas por casas térreas e duplex, sendo os dois tipos sobrepostas somando 3 pavimentos. Na casa térrea, comporta três módulos de 3x6m, sendo dois construídos e um vazio, destinado para uma futura expansão. A área executada, sendo 33.8m², apenas o banheiro e a cozinha possuem espaço fixo, por conta de sua infraestrutura já estar instalada. O restante da planta é funcional, adaptável e sem hierarquia de espaços, além de ser totalmente acessível, por estar implantada no mesmo nível, sem acesso por escadas, acomodando deficientes e idosos.
O terreno ainda conta com um pátio na parte de trás, acompanhando toda a largura do lote com três metros de profundidade, totalizando 27m² livres (JARDIM,2017). A habitação duplex ocupa quatro módulos, sendo dois módulos construídos (3x6m cada) e dois destinados para ampliação (3x6m), ambos com pé-direito duplo, local previsto para expansão, como a habitação térrea. Nesse caso a área entregue possui 36m², podendo chegar a 72m² de área, como mostrado nas figuras 28.
Figura 26: Estudo de viabilidade das implantações e solução final com moradias sobrepostas, possuindo somente térreo e 2º pavimento. Fonte: ELEMENTAL
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O sistema construtivo das habitações foi executado em pilares, lajes e vigas de concreto pré-moldado, além de blocos de concreto para as paredes de vedação. A modulação das moradias foram baseadas na dimensão do bloco, 14x19x39cm, que por consequência acabou influenciando nas demais medidas, como por exemplo nas peças pré-fabricadas em concreto, pilares e painéis de vedação (50x200cm) (JARDIM,2017). O uso desse modulo construtivo está atrelado a facilidade de construção das ampliações feitas pelos moradores, além da parede externa, que será eliminada para a expansão da residência, que é feita em painel de OSB, sendo um material barato e de fácil instalação. As escadas possuem uma estrutura independente de madeira e foram projetadas pensando em ocupar o menor espaço possível.
Figura 27: Fotografia da moradia interna Fonte: Elemental.
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Figura 28: Desenho técnicos - fachada e plantas baixas. Fonte: Elemental. Modificado pela autora.
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O projeto realizado no Quinta Monroy foi pensando em dar total autonomia ao morador, podendo decidir se vai dividi-lo, ampliá-lo, alterá-lo e construir com seus próprios conhecimentos, assim a mesma tipologia pode se adaptar a diversos usos, sem mesmo necessitando sua demolição para isso ocorrer. Essa solução utilizada foi tida como inovadora pelo seu baixo custo, alta adaptabilidade e grande sensibilidade, pensando sempre na vivência do morador que ali já vivia e lutava por uma moradia digna. Além disso o projeto serviu e continua servindo de inspiração para outros projetos por mostrar que é possível construir uma moradia de qualidade, com baixo custo, dentro dos parâmetros das políticas habitacionais e com participação da sociedade.
Figura 29: Fotografia da moradia interna Fonte: Elemental.
Figura 30: Fotografia da moradia interna Fonte: Elemental.
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3.2 Minimod - Mapa l BRASIL “MINIMOD é uma exploração projetual, tecnológica e experiencial. Se apresenta como o abrigo primitivo com uma releitura contemporânea. Um dispositivo que nos conecta com nossas raízes mais profundas: o natural, o tempo, a paisagem.“
O projeto MINIMOD do escritório MAPA, localizado na Fazenda Catuçaba, leste do estado de São Paulo, Brasil, foi construída em 2015 e surgiu para ser uma alternativa à construção tradicional, utilizando as possibilidades que a indústria da construção civil traz, como maior precisão, rapidez, mais limpa e com maior responsabilidade ambiental. Por isso o projeto foi pensando para ser capaz de se adaptar as circunstâncias, pensado de forma modular que se combinam, ou seja, permite que o morador possa criar livremente sua residência, gerando infinitas possibilidades, tornando o projeto infinito, permitindo o morador escolher acabamentos e equipamentos.
Figura 32: Foto da fachada residencia modelo cruciforme Fonte: Revista PLOT
Para que fosse possível um modelo modular e que permitisse diversas acoplagens, o sistema utilizado no projeto foi a tecnologia CLT (Cross-Laminated Timber ou Madeira Laminada Cruzada), sendo painéis maciços de madeira reflorestada tratada.
Figura 31: Módulos geradores Fonte: Revista PLOT l modificado pela autora
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Ao todo foram construídas 3 casas Minimod no Brasil, cada moradia com uma tipologia e dimensão diferente. A primeira a ser construída foi a Minimod Maquiné, localizada no Rio Grande do Sul em 2013, a residência possui 27m² ao todo, totalmente pré-fabricada e transportada em partes e levado ao terreno para a montagem final da residência.
A segunda a ser construída foi a Minimod Catuçaba, mencionada acima, e a última a ser construída, Minimod Curucaca, localizada em Santa Catarina, na região montanhosa do sul do Brasil, que foi construída em 2018, e a residência possui 90m², a maior do conjunto. As moradias são compostas por painéis CLT. Para proteger a estrutura foram utilizadas ripas de madeira na fachada. Os fechamentos são compostos por caixilho de alumínio, vidro duplo e armação metálica.
Figura 33: Planta combinações possíveis Fonte: Revista PLOT l modificado pela autora
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Figura 34: Combinações possíveis de moradias Fonte: Revista PLOT
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Figura 35: Fotografia interna da moradia Fonte: Archdaily Brasil
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4
O LUGAR
distrito jardim ângela ocupação vila nova palestina
4.1 Distrito Jardim Ângela
Segundo o Governo de São Paulo o estado de São Paulo possui 645 municípios espalhados por uma área de 248.209,3km², representando 2.91% do território brasileiro. O distrito do Jardim Ângela, está localizado no município de São Paulo, mas especificamente na zona sul. Possui 334.057 habitantes no total, sendo o segundo, perdendo apenas para o distrito do Grajaú, com 387.148 habitantes. Em média, o município de São Paulo possui 123.037 habitantes (RNSP 2020). A configuração espacial do Jardim Ângela possui relação direta com o processo de formação das periferias, resultado de políticas públicas desiguais, de segregação espacial e da história inexistente do planejamento urbano em áreas excluídas da cidade formal e do mercado (LABHAB, 2003, p.43), onde os únicos locais onde poderiam habitar eram as regiões de proteção ambiental. Esse é o caso do distrito, que possui quase totalidade de seu território inserida em Área de Proteção aos Mananciais.
58
Dentro do distrito compõe pouco mais de 80 bairros e podemos facilmente perceber que há uma relação desigual entre as regiões onde estão inseridas, em que ao norte – área mais consolidada, de ocupação mais antiga e não inseridas no limite de proteção dos mananciais - apresenta condições de habitabilidade superior a região sul, contando com uma rede de infraestrutura mais consolidada, com melhores condições de acessibilidade e mobilidade, além de abrigar
Figura 36: Distrito Jardim Ângela. Ocupação consolidada. Fonte: Encontra Jardim Ângela
alguns bairros com população com renda mais alta, mas mesmo nesses bairros encontramos núcleos de extrema pobreza. Já nos bairros localizados na região sul concentra a população com mais baixos rendimentos e com áreas menos favorecidas por serviços públicos (LABHAB, 2003, p.15). A falta de atenção do poder público para essas áreas de mananciais e o processo de segregação que sempre expulsaram a população mais pobre do centro para a periferia, fizeram o IBGE constatar a presença de cerca de 1.2 milhão de pessoas vivendo em áreas de mananciais no entorno das represas Guarapiranga e Billings.
Figura 37: Localização macro. Fonte: Biblioteca Virtual - Governo de São Paulo. Elaborado pela autora.
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processo de ocupação e políticas de regularização fundiária
A ocupação do distrito do Jardim Ângela se deu na década dos anos 60, a partir da construção das vias marginais que viria consolidar a ocupação da região da zona sul, permitindo a consolidação do parque industrial de Santo Amaro, gerando um fluxo cada vez maior de moradores para a região da Guarapiranga. Nesse período a Estrada M’Boi Mirim, antes via de ligação entre Santo Amaro a municípios vizinhos, passa a ser adensada e a servir de acesso a uma série de loteamentos.” (LABHAB, 2003, p.44). Em 1975 foi criada a Lei de Proteção aos Mananciais, em que estabelece critérios rígidos para a ocupação das áreas que auxiliam na preservação do reservatório, porém após a criação da lei essas terras não foram acompanhadas de fiscalização, o que resultou na invasão por moradias, surgindo grande número de loteamentos clandestinos. Em 1997 foi criado uma nova política de mananciais contendo padrões de gestão mais compatíveis com a realidade que eles enfrentavam, além de outro mecanismo que passou a ser implantado, o Plano Emergencial, que incidem sobre loteamentos que continham processos por regularização no RESOLO/SEHAB (Departamento de Regularização de Parcelamento do Solo da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano) até 1996, que tem como premissa a formalização da regularização técnica de solos irregulares ou clandestinos através de emissão do auto de regulariza60
ção (COHAB) e que tinham sido escolhidos por estarem em situação mais precária. Esses loteamentos podiam se beneficiar de obras de saneamento, com tratamento de esgoto local, o que a Lei de Proteção de Mananciais de 1975 não permitia, prevendo reduzir impactos que afetassem a qualidade da água a partir da ocupação urbana.
Figura 38: Nova Palestina, a incrível cidade dos sem-teto. Fonte: Lucas Pereira.
Figura 39: Distrito Jardim Ângela. Fonte: Encontra Jardim Ângela
Segundo o LABHAB (2003), a regularização fundiária em áreas de mananciais é certamente o problema mais complexo, do ponto de vista jurídico, a ser enfrentado no Distrito do Jardim Ângela, que decorre de uma ocupação irregular devido ao seu processo histórico de produção da cidade segregadora como São Paulo. Isso só reforça como o principal problema a ser enfrentado para tomar partido do processo efetivo de regularização habitacional e urbana nas periferias paulistanas é o de regularização fundiária. Hoje o distrito do Jardim Ângela possui aproximadamente 153 favelas, sendo 80% delas localizadas na região mais consolidada no distrito, ao norte, quase sempre em áreas públicas dos loteamentos ou em áreas não ocupadas devido à alta declividade ou risco ambiental: nascentes e beiras de córregos. Segundo o LABHAB (2003), 35% das favelas estão em beiras de córregos ou em nascentes e 75% em áreas públicas.
61
Figura 40: Fotografia Jardim Ângela Fonte: Agencia de Noticias Anarquistas
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Figura 41: Fotografia do surgimento do Distrito do Jardim Ângela Fonte: Instituto Sou da Paz
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4.2 Ocupação Vila Nova Palestina
A ocupação Vila Nova Palestina está localizada no distrito do Jardim Ângela, numa perpendicular da estrada do M´boi Mirim com a rua Clamecy.
desenho urbano
legenda: localização ocupação vila nova palestina
64
represa de guarapiranga
Foi fundada em 2013, possui quase 1 milhão de metros quadrados, sendo considerada uma das maiores ocupações da América Latina.
topografia e hidrografia
PARQUE BOLOGNE
OCUPAÇÃO VILA NOVA PALESTINA
REPRESA DE GUARAPURANGA
PARQUE DO LAGO
JARDIM ARACATI
Figura 42: Entorno da ocupação l sem escala Fonte: Google Earth l modificada pela autora
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A ocupação está localizada em uma ZEIS-4 (Zona de interesse social) destinada para a produção de Habitação de Interesse Social, que antes se enquadrava na Zona de Proteção e Desenvolvimento Sustentável.
Figura 43: Área do projeto l sem escala Fonte: Google Earth l modificada pela autora
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Após o MTST ficar sete dias acampado em frente a câmara de vereados, na criação do Plano Diretor em 2014, houve a mudança. Porém por estar dentro de uma macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, só é possível habitar 30% do terreno.
legenda: perímetro projeto o perímetro ocupação vila nova conceição 0
Por conta de ser um extenso terreno, caso o projeto fosse realizado nele em sua totalidade, acabaria mudando a proposta, tornando um projeto de planejamento urbano (ver figura 43).
Por isso, para que fosse possível implementar o projeto na ocupação, focando em entregar moradias de qualidade, auto construtiva, optei por utilizar somente um recorte do terreno.
Figura 44: Fotografia do “barracão”
Figura 45: Fotografia do “barracão”
Fonte: Victor Santos l Jornal Outras Palavras
Fonte: Luisa Oguime, BuzzFeed Brasil
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Hoje vivem cerca de 250 famílias, sendo grupos de pessoas que não moram na ocupação, apenas um integrante da família, idosos, mães solo, onde mais de 75% das pessoas que vivem na ocupação são mulheres. Além das moradias serem compostas por paineis de madeira, telhas e lona, há também o coração da ocupação chamado “barracão”, um espaço de convivência onde ocorrem assembleias onde são decididas as questões da ocupação de forma coletiva, além de eventos culturais e educacionais.
Figura 46: Fotografia entrada da Ocupação Vila Nova Palestina. Fonte: Luisa Oguime, BuzzFeed Brasil
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“Ocupar você ocupa aquilo que não tem serventia e não está sendo utilizado pra nada. É nesse sentido que uma ocupação ocupa um espaço ocioso e faz uma denúncia que aquela área poderia ser destinada a moradia popular, inclusive a forma que essas ocupações se consolidam é justamente para indicar qual é o déficit habitacional do território e mostrar que aquelas famílias poderiam estar morando numa área que no momento não está destinada a nada. A invasão tem um outro sentido porque é ocupar, favelizar e construir moradias irregulares.” Jussara Basso l Integrante do MTST em entrevista a BuzzFeed Brasil.
Figura 47: Fotografia de uma das moradias da ocupação. Fonte: Luisa Oguime, BuzzFeed Brasil
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Figura 48: Fotografia moradias da Ocupação Nova Palestina. Fonte: Luisa Oguime, BuzzFeed Brasil
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Figura 49: Fotografia de uma das reuniões no “barracão”. Fonte: Luisa Oguime, BuzzFeed Brasil
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5
O PROJETO
concepção l modelos em madeira
5
protótipo l ocupação vila nova palestina
5.1 Concepção l Modelos em Madeira
No capítulo acima, o projeto tem a intenção de propor uma moradia provisória, porém com as particularidades, espacialidades e estéticas das moradias da ocupação, ou seja, fornecer aos moradores condições adequadas para morar, considerando seu estilo de vida, através de uma releitura das habitações, porém utilizando novas tecnologias construtivas, nesse caso a madeira engenheirada, mostrando uma nova possibilidade de aplicação. Com isso foi estudado o material e pensando em otimizar o máximo possível o projeto, ou seja, o dimensionamento máximo do CLT e MLC na sua concepção nas fabricas, na otimização do material, no transporte e no dimensionamento e montagem das peças. A estrutura das moradias é formada por pilares e vigas MLC (madeira laminada colada), lajes e paredes em CLT (madeira laminada cruzada). Para otimizar ao máximo das moradias, as paredes de vedação e as janelas possuem a mesma dimensão. Após estudos foi chegado no modelo com três dimensões de paredes, 90cm para a área fixa do banheiro, 95cm e 1 metro para o restante do projeto. 74
modelo laje clt
modelo pilar mlc
modelo viga mlc
modelo porta
modelo janela modelo janela banheiro
modelo porta banheiro
modelo parede clt
modelo guarda-corpo
75
cobertura metálica telha sanduíche
estrutura telhado terças e vigas
forro de madeira barrote
estrutura moradia vigas e pilares mlc
paredes em clt e janelas basculante
laje de madeira clt l 2m x 6m
estrutura moradia vigas e pilares mlc e fundação
76
isométrica explodida moradia l sem escala
isométrica composição da moradia l sem escala
77
A partir das medidas das peças que compõem a moradia e com a intenção de permitir a ampliação, as estruturas acabaram sendo fixas, gerando 5 modelos de moradia, sendo 16m², 24m², 32m², 40m² e 48m², considerando o limite máximo permitido para o financiamento pela Caixa Econômica.
PLANTA 16M²
Planta habitação 16m² Escala 1:50
78
isométrica modelo moradia 16m² sem escala
79
Para que fosse possível a ampliação da moradia sem grandes modificações de layout, as áreas molhadas, cozinha e banheiro, cobertura e estrutura são as únicas áreas fixas da moradia, todo o layout é mutável como o morador preferir, pois os 5 modelos de moradias geram 5 layouts diferentes.
Planta habitação 24m² Escala 1:50
80
modelo moradia 24m² sem escala
81
Os modelos definidos foram recuados do limite da laje, propositalmente, para que além de proteger a estrutura da residência contra chuvas, permite um fluxo livre entorno da moradia.
PLANTA 32M²
Planta habitação 32m² Escala 1:50
82
modelo moradia 32m² sem escala
83
Planta habitação 40m² Escala 1:50
84
modelo moradia 40m² sem escala
85
Além das moradias, partindo do modelo definido, porém com algumas alterações na disposição da estrutura, podendo ser observado na planta estrutural na página 93, foi gerado também um modelo de espaço multifuncional de uso comunitário dos morados, permitindo que os líderes e moradores convivam, realizem reuniões, eventos, uso educacional, etc.
Planta habitação 48m² Escala 1:50
86
modelo moradia 48m² sem escala
87
legenda 01 - refeitório
04 - salas de reunião
02 - área de convivência
05 - cozinha comunitária
03 - sanitários
06 - despensa
Planta espaço multifuncional Escala 1:50
88
modelo espaço multifuncional 144m² sem escala
89
Planta estrutural l habitação Escala 1:50
90
Planta estrutural l espaço multifuncional Escala 1:50
91
5.2 Protótipo l Ocupação Vila Nova Palestina
O terreno do projeto possui 7038m² e está localizado em uma região com uma topografia bastante íngreme, e como mostrado na imagem 43, podemos perceber como as moradias da ocupação se adequam a topografia do terreno, esse aspecto foi importante para desenvolver o projeto.
Corte A-A
Após sua análise, foi definido que as moradias provisórias também seguiriam esse perfil, porém dispersos pelo terreno em níveis de um metro para cada moradia. A partir dos estabelecimentos da moradia no terreno e dos níveis, distribuiu-se o programa proposto para o projeto. No nível da rua (nível 819), é criado um espaço para uso livre e acesso à ocupação. Nos níveis acima encontram-se as moradias e no nível 830 ficou localizado o espaço multifuncional ou “barracão” como é chamado hoje em dia pelos moradores. Incorporei no projeto por esse espaço já fazer parte da vida dos moradores e ser muito importante para a ocupação, já que é um espaço de convívio comunitário. 92
Corte B-B
Corte C-C
isométrica implantação l sem escala 93
IMPLANTAÇÃO 01 - acesso 02 - escadaria 03 - área de lazer 04 - espaço multifuncional
94
A implantação do projeto foi pensada para garantir uma integração harmoniosa das moradias com o conjunto. É proposto por rampas que permeiam todo o terreno, permitindo uma fluidez e facilitando o percurso de um lado do terreno ao outro. É proposto também áreas livres em todo o terreno, como escadarias, área verde nos espaços vazios, além da área de lazer que cada moradia possui. Propõe-se aproveitar o espaço multifuncional que hoje existe na ocupação, somente realocando para o ponto mais alta do terreno, permitindo uma visão ampla de toda as residências. A preservação do meio ambiente também é levada em consideração no projeto, pois ao ocuparem o terreno, os moradores preservaram a mata local e foram se adaptando ao terreno, sem desmatar.
legenda moradia 16m² moradia 24m² moradia 32m² moradia 40m² moradia 48m²
O projeto foi composto com doze moradias provisórias, sendo duas moradias de 16m², duas de 24m², três moradias de 32m², quatro de 40m² e uma moradia de 48m², além do espaço multifuncional com 144m²
espaço multifuncional 144m² 95
Corte A-A l esc. 1:100 96
CORTE AA
97
Corte B-B l esc. 1:100 98
CORTE AA
99
Corte C-C l esc. 1:100 100
CORTE AA
101
Corte D-D l esc. 1:100
102
103
6.00 telha sanduíche terças tela de proteção forro de madeira barrote parede clt janela basculante laje clt viga mlc pilar mlc
Corte E-E l esc. 1:100
104
6.00
6.00
105
corte ampliado l detalhes
parafuso fixado a 45º em relação ao painel
parafuso fixado a 90º em relação ao painel
D7_detalhamento cobertura
D8_detalhe conexão entre painéis
D4_conexão parede clt com laje clt
D6_detalhamento guarda-corpo 106
D1_conexão pilar mlc com laje clt
D3_conexão entre lajes clt
D9_detalhamento janela basculante
D5_detalhamento área molhada
D2_conexão entre viga mlc e pilar mlc
107
108
vista moradias l nível 819
109
vista moradia 40m² 110
vista moradia 16m² 111
espaço livre l moradia 32m² 112
área de convivênvia l espaço multifuncional 113
sala de reunião l espaço multifuncional 114
refeitório l espaço multifuncional 115
116
área externa l espaço multifuncional
117
118
vista área de lazer l escadaria
119
5
considerações finais referências bibliograficas
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considerações finais
A intenção por trás desse projeto veio de uma inquietação por conta do que via entorno do debate e das ações de desapropriação de terra ocupada, por parte do Poder Público. Essa indignação me fez refletir como nós, estudantes e arquitetos, permitimos a construção de moradias tão precárias nesses locais, sem a orientação de um profissional. Ao longo do processo de estudo foi possível compreender melhor o papel dos movimentos de moradia e a luta por moradia digna, e como atinge não somente os moradores daquele ocupação mas toda uma sociedade. Compreender que uma ocupação não é favela, que os moradores que vivem ali possuem suas necessidades, e enterder a importância que uma moradia tem. Enxerga-se nessa proposta de projeto uma solução para a construção de moradias provisórias nesses locais, garantindo mais qualidade de vida, com o olhar para o morador, sem perder suas características.
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