PROPOSTA DE REURBANIZAÇÃO NO RECANTO DA SEREIA: Uma abordagem estética sustentável e sensorial

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LAURA DE PAULA LIMA E SOUZA

PROPOSTA DE REURBANIZAÇÃO NO RECANTO DA SEREIA: Uma abordagem estética sustentável e sensorial em Guarapari/ES

Vitória 2021



LAURA DE PAULA LIMA E SOUZA

PROPOSTA DE REURBANIZAÇÃO NO RECANTO DA SEREIA: Uma abordagem estética sustentável e sensorial em Guarapari/ES

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e urbanismo. Orientador (a): Profa. Msc. Maria Madalena dos Santos Patek

Vitória 2021



LAURA DE PAULA LIMA E SOUZA

PROPOSTA DE REURBANIZAÇÃO NO RECANTO DA SEREIA: Uma abordagem estética sustentável e sensorial em Guarapari/ES

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e urbanismo. Orientador (a): Profa. Msc. Maria Madalena dos Santos Patek Aprovada em ___ de _______ de 2021

COMISSÃO EXAMINADORA _________________________________ Profª. Msc. Maria Madalena dos Santos Patek Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora

_______________________________ Profª. Drª. Liziane De Oliveira Jorge Universidade Federal do Espírito Santo Coorientadora

_______________________________ Arquiteto Natan Bueno Convidado



"Porque D’Ele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas. A Ele, a glória eternamente. ” Romanos 11:36



Agradecimentos

À todos aqueles que de maneira direta ou indireta me ajudaram na minha caminhada até aqui. Vocês fazem parte dessa

Primeiramente, agradeço à Deus. Todas as palavras não serão

trajetória e dessa conquista!

o suficiente para agradecer todos os benefícios feitos a mim,

Muito obrigada!

por ter visto nos detalhes Sua graça e bondade ao longo dos anos. À minha mãe que nunca mediu esforços para me fazer chegar até aqui, espero poder realizar todos os seus sonhos, com muito orgulho. Aos meus avós José e Nilza e minha tia Bruna. Sempre me impulsionaram e apoiaram com palavras e ações durante todas as etapas até aqui. Vocês são meu porto seguro. Ao meu pai, que sempre me ensinou a sonhar alto. Nunca me esquecerei das suas palavras. A minha irmã pela amizade e companheirismo durante todas as madrugadas. À minha orientadora Madalena, por ter acreditado na minha ideia e a incentivado desde a metodologia de pesquisa, por me fazer sentir bem, por toda compreensão e ensinamentos. À professora Liziane, pela proatividade e aprendizado durante a coorientação.


RESUMO

Palavras-chave: Recanto da Sereia; Reurbanização; Planejamento urbano; Experiência sensorial; Escala humana.

O projeto Recanto tem como tema a reurbanização do Bairro Recanto da Sereia, em Guarapari - ES, o qual encontrase comprometido decorrente ao desordenamento e carência de infraestrutura urbana básica. A proposta tem como objetivo promover a ressignificação dos espaços públicos, sendo a rua ferramenta

importante

para

retomar

a

sensação

de

pertencimento do indivíduo com o lugar a partir do princípio da humanização do espaço. Para isso, procede-se uma revisão teórica sobre as funções e benefícios do espaço público dentro da cidade, assim como análises das condicionantes locais, pesquisas de campo e entrevista com os moradores para compreender os potenciais e vulnerabilidades e desenvolver estratégias projetuais ao longo da avenida principal e adjacências a fim de torná-la um espaço democrático de apropriação e lazer. Deste modo, observa-se a importância de aplicar estratégias e intervenções urbanísticas que qualifiquem espaços públicos monótonos e sem identidade, estimulando uma melhor experiência do indivíduo com o local o qual ele faz parte.


ABSTRACT

The Recanto project has as its theme the reurbanization of neighborhood Recanto da Sereia, in Guarapari -ES, which is compromised due to disorder and lack of basic urban infrastructure. The proposal aims to promote resignificance of public spaces, being the street important tool to retake the sense of belonging of local residents about the place assuming the principle of humanization of space. In this regard, a theoretical review about functions and benefits of public space within the city is carried out, as well as analyzes of local conditions, field research and interviews with residents to understand potentials and vulnerabilities and to develop design estrategies along the main avenue and surroundings in order to make it a democratic space for ownership and leisure. Thus, it can be seen the importance of applying urban strategies and actions that qualify monotonous public spaces and without identity, stimulating a better experience of the individual with the place to which them belongs. Keywords: Recanto da Sereia; Reurbanization; Urban planning; Sensorial experience; Human scale.


LISTA DE FIGURAS

Figura 17 - Oddments, Portugal ............................................ 42 Figura 18 – ARM Collective, Covilhã, Portugal ..................... 43

Figura 1- Localização Município de Guarapari e Bairro Recanto

Figura 19 – BTOY, Covilhã, Portugal .................................... 43

da Sereia ............................................................................... 13

Figura 20 – Arte Urbana de Doa Oa, Covilhã, Portugal ........ 44

Figura 2 –Delimitação da área de intervenção. ..................... 14

Figura 21– Arte Urbana de KRAM na Covilhã, Portugal ....... 44

Figura 3 – Praia do Ulé. ........................................................ 14

Figura 22 – Fio Condutor, Covilhã, Portugal ......................... 45

Figura 4 – Trechos da Avenida Central ................................. 15

Figura 23 – Orfão selvagem, Covilhã, Portugal .................... 45

Figura 5 – Apropriação do canteiro central por moradores ... 21

Figura 24 – Sr. Viseu, Covilhã, Portugal ............................... 46

Figura 6 – Boulevard der Stars - Revitalização da Av.

Figura 25 – Pantonio, Covilhã, Portugal .............................. 46

Potsdamer Platz em Berlim. .................................................. 22

Figura 26 – Murais de autores anonimos, Covilhã, Portugal 47

Figura 7 – Boulevard der Stars - Revitalização da Av.

Figura 27 – Localização da Rua Stroget, Copenhague,

Potsdamer Platz em Berlim. .................................................. 22

Dinamarca ............................................................................ 48

Figura 8 – Alagamento em trechos da Av. Central no Recanto

Figura 28 – Perfil viário Rua Stroget, antes e depois ........... 49

da Sereia ............................................................................... 25

Figura 29 – Rua Stroget, antes e depois ............................. 49

Figura 9 – Estrategias de infraestruturas verdes ................... 27

Figura 30 – Ciclovias, ciclofaixas e mobiliário urbano em

Figura 10 – Sombreamento em espaços publicos, Paris ...... 27

Copenhague ......................................................................... 50

Figura 11– Componente estetica das arvores nas cidades ... 28

Figura 31 – Localizaçao rua Straedt, Copenhague, Dinamarca

Figura 12 – Contrastes no ambiente urbano ......................... 28

. ............................................................................................. 50

Figura 13 – Arte Urbana nas ruas da Covilhã, Portugal ........ 40

Figura 32 – Antes e Depois rua Straedet, Copenhague,

Figura 14 – Owl Eyes, arte Urbana, Portugal ........................ 41

Dinamarca

Figura 15 - Arte Urbana na Covilhã, Portugal....................... 41 Figura 16 – Arte Urbana de Vanhee na Covilhã, Portugal .... 42

........................................................................ 51


Figura 33 – Localização da Norrebrogade (linha cor de rosa),

Figura 47 – Vista Aérea do complexo ................................... 59

o perímetro do bairro de Norrebro (linha branca), em vermelho

Figura 48 – Implantação do Projeto ...................................... 60

o perímetro do parque Superkilen e a ciclovia em verde . .... 52

Figura 49 – Corte da proposta .............................................. 61

Figura 34 – Norrebrogade antes, Copenhague, Dinamarca .

Figura 50 – Corte da proposta .............................................. 61

.............................................................................................. 53

Figura 51 – Espaços de uso coletivo, Cantinho do Céu ....... 62

Figura 35 –

Norrebrogade Depois, Copenhague, Dinamarca

Figura 52 – Programa para lazer e atividades ao ar livre. .... 63

. ............................................................................................. 53

Figura 53 – Comparativo da Área Pós Intervenção. ............. 64

Figura 36 – Localização Parque Superkilen, Copenhague,

Figura 54 – Loteamentos abandonados na APA .................. 71

Dinamarca . ........................................................................... 54

Figura 55 - Localização ......................................................... 75

Figura 37 – Setorização Parque Superkilen . ........................ 55

Figura 56 – Mapa de Zoneamento. ....................................... 76

Figura 38 – Praça vermelha, Superkilen, Copenhague,

Figura 57 – Mapa de Uso e Ocupação do solo ..................... 79

Dinamarca . ........................................................................... 55

Figura 58 – Mapa de Implantação ........................................ 83

Figura 39 – Configuração setor vermelho, Superkilen. ......... 56

Figura 59 – Diagrama fotográfico.......................................... 84

Figura 40 – Mobiliário infantil................................................. 56

Figura 60 – Diagrama fotográfico.......................................... 85

Figura 41 – Praça Preta, Superkilen, Copenhague, Dinamarca

Figura 61 – Diagrama fotográfico II....................................... 86

. ............................................................................................. 56

Figura 62 – Mapa Hierarquia Viária ...................................... 89

Figura 42 – Espaço de permanência. .................................... 57

Figura 63 – Mapa Passeio Publico ....................................... 91

Figura 43 – Sala de estar urbana . ........................................ 57

Figura 64 – Diagrama de calçadas ....................................... 93

Figura 44 – Praça Verde, Superkilen, Copenhague, Dinamarca

Figura 65 – Mapa Espaços Verdes ....................................... 95

. ............................................................................................. 57

Figura 66 – Mapa Limites e Marcos ...................................... 97

Figura 45– Espaço para Picnic.............................................. 58

Figura 67 – Marcos Visuais................................................... 99

Figura 46 – Quadra de Basquete . ........................................ 58

Figura 68 – Mapa Potenciais e Vulnerabilidades ................ 103


Figura 69 – Mapa Trechos da intervenção .......................... 105 Figura 70– Mapa Síntese - Macroproposta ......................... 115 Figura 71 – Mapa de Mobilidade ......................................... 117 Figura 72 – Espécies para arborização ............................... 119 Figura 73 – Perfil viário trecho I........................................... 121 Figura 74 – Implantação recorte trecho I ............................. 122 Figura 75 – Perspectiva I trecho I........................................ 123 Figura 76 – Perspectiva II trecho I....................................... 124 Figura 77 – Perspectiva III trecho I..................................... 125 Figura 78 – Perfil viário trecho II.......................................... 127 Figura 79 – Implantação recorte trecho II ............................ 128 Figura 80 – Perspectiva I trecho II, Antes e depois ............. 129 Figura 81 – Perspectiva II trecho II..................................... 130 Figura 82 – Perspectiva III trecho II..................................... 131 Figura 83 – Perfil viário trecho III......................................... 133 Figura 84 – Implantação recorte trecho III ........................... 134 Figura 85 - Perspectiva I trecho III ...................................... 135 Figura 86 - Perspectiva II trecho III .................................... 136 Figura 87 - Perspectiva III trecho III .................................... 137 Figura 88 - Proposta volumétrica para ruas locais .............. 140 Figura 89 - Proposta volumétrica para orla ......................... 141




SUMÁRIO


3.2 A HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS EM 1 INTRODUÇÃO ................................................................... 12

COPENHAGUE, DINAMARCA ............................................. 47

1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................. 14

3.2.1.A primeira rua de pedestres: Stroget ........................... 48

1.2 OBJETIVOS .................................................................... 16

3.2.2 A primeira rua compartilhada Straedet ........................ 50

1.2.1 Objetivo Geral .............................................................. 16

3.2.3 Requalificação da Avenida Norrebrogade.................... 52

1.2.2 Objetivos Específicos ................................................... 16

3.2.4 Espaços Com Uma Abordagem Inclusiva: O Parque

1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................... 17

Urbano Superkilen ................................................................ 54

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................... 19

3.3 CANTINHO DO CÉU, SÃO PAULO, BRASIL ................. 58

2.1 A DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE ESPAÇOS PÚBLICOS

3.4 PERCEPÇÃO DO ESTUDO DE CASOS. ....................... 64

NA CIDADE ........................................................................... 20

4 ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO: RECANTO DA SEREIA .. 668

2.2 A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DA CIDADE ..................... 23

4.1 PLANO DE AÇÃO ........................................................... 68

2.2.1 Introdução .................................................................... 23

4.2 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO URBANA ............................ 70

2.2.2 Cidade e Natureza ...................................................... 24

4.3 LOCALIZAÇÃO ............................................................... 76

2.3 AMBIENTE TERAPEUTICO ........................................... 29

4.3.1 Uso e Ocupação do Solo ............................................. 78

2.3.1 Caminhabilidade e Transporte Ativo ............................ 31

4.3.2 Local de Intervenção .................................................... 82

2.3.2 Conforto e Segurança nos Espaços de Lazer .............. 34

4.4 ANÁLISE FÍSICO ESPACIAL ......................................... 87

3 ESTUDO DE CASOS ....................................................... 378

4.4.1 Caminhos ou Vias ........................................................ 88

3.1 ARTE URBANA NA COVILHÃ, PORTUGAL................... 38

4.4.2 Passeio Público ........................................................... 90


4.4.3 Arborização e Áreas Verdes......................................... 94

5.6 TRECHO II .................................................................... 126

4.4.4 Limites .......................................................................... 96

5.7 TRECHO III ................................................................... 132

4.4.5 Ponto Nodal.................................................................. 98

5.8 ESTUDOS VOLUMÉTRICOS ....................................... 138

4.4.6 Marcos Visuais ............................................................. 99

5.8.1 Ruas Locais ............................................................... 140

4.5 PROBLEMÁTICAS E PERCEPÇÕES DOS MORADORES

5.8.2 Orla ............................................................................ 141

............................................................................................ 100

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. 143

4.6 POTENCIAIS E VULNERABILIDADES ......................... 102

7 REFERÊNCIAS .............................................................. 145

4.7 TRECHOS DA INTERVENÇÃO ................................... 104

APÊNDICES ....................................................................... 148

5 PROJETO ........................................................................ 110 5.1 DIRETRIZES PROJETUAIS.......................................... 110 5.1.2 Diretrizes Gerais para o Bairro ................................... 110 5.1.3 Diretrizes para a Avenida Central ............................... 111 5.1.4 Diretrizes para Av. Atlântica ....................................... 112 5.1.5 Diretrizes para as ruas locais ..................................... 112 5.2 ENSAIO PROJETUAL ................................................... 114 5.3 MOBILIDADE ................................................................ 116 5.4 ARBORIZAÇÃO ............................................................ 118 5.5 TRECHO I ..................................................................... 120



11

Introdução


12

1 INTRODUÇÃO

abordagem, na qual o corpo e os sentidos possam ser considerados.

Como uma estratégia para o cenário do pós-guerra, o

A dinâmica das cidades, assim como seu modo de

conceito de renovação urbana surgiu na década de 50 com o

expansão e desenvolvimento afetam diretamente o modo de

propósito de organização. Esse método trouxe novas

vida de seus habitantes. Em muitas cidades brasileiras o

propostas no que diz respeito à arquitetura e à dinâmica

crescimento desordenado cria espaços os quais acabam sem

espacial das cidades, principalmente, em seus espaços livres.

nenhum tipo de qualificação ou até mesmo esquecidos pelo

Se olharmos para o passado, perceberemos que o meio

poder público responsável.

urbano se desenvolveu com pluralidade formal e estética,

Um caso importante a ser observado encontra-se no

variando conforme aspectos geográficos, econômicos e

bairro Recanto da Sereia, localizado em Guarapari, Espírito

culturais.

Santo, fazendo divisa com o município de Vila Velha, com a

Já na atualidade, ideologias dominantes, como o

rodovia do sol e com o mar pela Praia do Ulé (Figura 01). Por

modernismo, por exemplo, priorizam menos os espaços

estar estrategicamente localizado no limite entre os municípios

comuns e as inter-relações pessoais, descaracterizando o

de Vila Velha e Guarapari, era de se esperar que o bairro fosse

meio urbano como um local que promove encontros,

muito bem desenvolvido, principalmente no que diz respeito à

sensações

infraestrutura urbana, uma vez que está inserido em uma

e

novas

experiências

aos

usuários.

Tais

intervenções urbanísticas fazem emergir novos contextos de

importante rota turística dentro do estado.

sensibilidade influenciados por uma mudança de aparência. A

Atualmente, mais de vinte anos após a sua formação, a

cidade do século XXI necessita estar preparada para atender

região não possui uma infraestrutura necessária para suprir as

às necessidades dos cidadãos, considerando não só aspectos

necessidades da população, principalmente em questões de

urbanísticos rigorosos, mas pensar na cidade com uma nova

mobilidade e lazer. Apesar de seus atrativos naturais, o bairro encontra-se mal consolidado e esquecido, com insuficiente


13

assistência do poder público de Guarapari, o que justifica este

Figura 1- Localização Município de Guarapari e Bairro Recanto da Sereia

estudo. Sabe-se que projetos urbanísticos vem promovendo mudanças significativas em diversos locais ao redor do mundo, principalmente no Brasil, criando novas relações entre indivíduo e espaço, incentivando um estilo de vida diversificado e saudável. Esse projeto visa uma transformação nos aspectos urbanísticos do bairro com objetivo de melhor qualidade de vida dos moradores através de conceitos importantes como ecologia e a articulação de pontos com mobilidade, lazer e convívio social, a fim de recuperar espaços ociosos e degradados, além de contribuir para o envolvimento e conexão entre indivíduo e natureza. Busca-se identificar a cultura local e trazer a identidade dos moradores para essa requalificação. A ideia é fazer com que verdadeiramente o bairro seja tal qual a um “recanto”, promovendo sensações e experiências aos seus usuários, assim como melhorias na qualidade de vida de seus moradores.

Fonte Instituto Jones dos Santos Neves e Adaptado pela autora.


14

1.1 JUSTIFICATIVA

Por já ser distante da região central de Guarapari, o bairro se tornou esquecido e se desenvolveu minimamente em

Após a inserção do pedágio na Rodovia do Sol no ano de

termos de infraestrutura urbana. Como consequência disso, é

2000 o bairro em questão ficou isolado do tecido urbano do seu

visível a inexistência de outras áreas de recreação para lazer,

município de origem, em decorrência do alto custo da taxa de

além da praia do Ulé, que mesmo com acesso difícil, recebe

pedágio para ir à Guarapari, grande parte dos moradores do

muitos turistas em épocas festivas e feriados (figura 03).

Recanto se tornaram totalmente dependentes do município vizinho, principalmente em termos de lazer (figura 02).

Figura 3 – Praia do Ulé.

Figura 2 –Delimitação da área de intervenção.

Fonte: Guia em Guarapari, 2017.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora.

A Avenida Central também conhecida como Tatuí no trecho que liga ao bairro Ponta da Fruta, corta todo o bairro, possui ruas bem largas (figura 04), o que fez com que a


15

comunidade se apropriasse das próprias vias como extensão

Figura 4 – Trechos da Avenida Central

dos pequenos pontos de lanchonetes por atividades rotineiras como conversas, caminhadas, brincadeiras com skates e bicicletas, para isso, aos fins de semana, uma das faixas de circulação é fechada, devido ao fluxo intenso de veículos.

Feita

essa

análise,

percebe-se

que

a

Avenida

Central possui um grande potencial para ser um espaço público livre, que transmite vitalidade, segurança e qualidade se for requalificada de modo a priorizar os usuários ao invés de veículos. Para efeito, a afirmativa de Wall (2012), apud (PEDRINI, 2015, p.18) se faz verdadeira, onde a rua se constitui como a ferramenta essencial para a conexão do espaço urbano, reunindo pessoas e elementos urbanos, sendo mais que apenas um espaço de passagem e circulação.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


16

1.2 OBJETIVOS

- Utilizar soluções projetuais de modo a valorizar o lazer nos

1.2.1 Objetivo Geral

espaços remanescentes.

Realizar um projeto de reurbanização da Avenida

- Revitalizar o espaço da praia do Ulé, com melhorias nas

Central e Av. Atlantica (marcadas em amarelo – figura 02, pg

condições da rua de acesso,calçamento com piso permeável,

7) do Bairro Recanto da Sereia (Guarapari-ES).

iluminação, ciclofaixa, inserção de espécies arbóreas para sombreamento e chuveiros, a fim de garantir melhor conforto

1.2.2 Objetivos Específicos

para os turistas.

- Qualificar a estrutura viária existente e transformá-la em

- Transformar a Av. Central e demais ruas do bairro em um

instrumento principal para renovação do bairro e melhorias no

espaço público de integração que incentiva a circulação pelo

dia a dia da população.

bairro, além de oferecer conforto ao comércio e feira itinerante local.

- Habilitar e potencializar a infraestrutura urbana do bairro com ações paisagísticas, ecológicas e de mobilidade urbana.

- Implementar estratégias de infraestrutura verde para obter melhorias nas condições de drenagem das ruas.

- Fazer modificações na estrutura viária para garantir suporte e estimular a realização de atividades frequentes como: caminhadas, mountain bike, skate.


17

1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA

- Pesquisar referências bibliográficas sobre os conceitos principais de espaços livres e vitalidade urbana. - Estudar casos sobre estratégias eficientes para qualificação urbana. - Analisar todos os trechos da Avenida Central e sua apropriação pelos moradores para permanência e lazer. - Investigar a origem do bairro e os problemas decorrentes da falta de infraestrutura básica necessária, através da análise de mapas e pesquisa com moradores. - Estudar o potencial e formas de revitalização das Avenidas Central, Atlântica, além de torná-la um espaço livre que traga vida, segurança e qualidade ao bairro e seus moradores. - Fazer uma análise das ruas locais e estudar melhorias para transformação dessas vias.


18


19

Revisão Bibliográfica


20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

zero infraestrutura para promover “lazer” em bairros populares

2.1 A DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE ESPAÇOS PÚBLICOS

e usar como estratégias de marketing a “requalificação” de

NA CIDADE

áreas mais consolidadas para ganhar visibilidade política. Serpa (2007) expõe que o Espaço Público é o espaço da

Os espaços públicos, termo muito enfatizado nos dias

tentativa da ação política na contemporaneidade, agregando

atuais, se caracterizam como locais que devem oferecer um

ao pensamento de (ARENDT, apud SILVA, 2017. P. 118) que

leque de oportunidades aos usuários, uma vez que é definido

escreve sobre a atividade da política, que se utiliza dessa

como um espaço o qual deve fomentar integração e convívio

esfera pública como o local em que se completa a construção

entre indivíduos distintos e sem um único interesse em comum,

coletiva do fazer político. Nessas “jogadas” políticas, as

devendo dialogar entre sua heterogeneidade, a fim de garantir

intervenções, em sua maioria, são feitas em locais também

a propriedade e apropriação pública. Entre seus múltiplos

estratégicos, com objetivo de cativar certo tipo de público. Um

papéis, por vezes sobrepostos, estão a circulação urbana, a

exemplo disso, é explícito em algumas regiões de Guarapari,

drenagem urbana, atividades do ócio, imaginário e memória

onde se percebe uma maior concentração de equipamentos e

urbana, conforto ambiental, conservação e requalificação

melhor infraestrutura em espaços de lazer público em locais

ambiental, convívio, etc (GATTI; ZADONADE, 2017).

onde concentram-se pessoas com maior poder aquisitivo e

Considerando tais fatos e pensando o espaço público no

elevado fluxo de turistas (Praia do Morro, Praia da Castanheira,

contexto da cidade contemporânea, percebe-se que o mesmo

Praia da Bacutia, etc). Isto demonstra a má distribuição,

ganha usos e funções conforme as características de seus

inserção e manutenção de espaços e equipamentos públicos

usuários, se transformando em reflexos daqueles que se

de lazer nas cidades, não só do Espírito Santo, mas do Brasil

apropriam desses espaços no meio urbano.

como um todo.

No entanto, cada vez mais se torna nítido o interesse do poder público ao promover espaços isolados e com mínima ou


21

A falta de espaços livres públicos vem gerando

Figura 5 – Apropriação do canteiro central por moradores

problemas na qualidade de vida do coletivo (espaços ociosos, falta de pessoas nas ruas, sensação de insegurança, falta de planejamento das vias) além de descumprir a função social da cidade, principalmente, em bairros mais periféricos, ocupados por moradores de menor renda e/ou distantes dos centros urbanos, apresentam-se vazios e sem opções de lazer e com ruas ainda mais degradadas do que nos espaços centrais e com mais visibilidade. Um exemplo disso é percebido nos canteiros centrais e baixios de viadutos, ambos como típico caso de sobras do planejamento do sistema viário, pequenas áreas públicas sem uso e que comumente se tornam espaços vazios, subutilizados

Fonte: Acervo da autora, 2019.

e degradados (GATTI; ZADONADE, 2017,p.59). O uso destes espaços, inserindo uma infraestrutura de lazer ativo ou

Um canteiro central pode ser transformado em um

contemplativo, podem conferir às cidades novas apropriações,

espaço de lazer, por exemplo (figuras 06 e 07). Diante das

novas vivências em espaços anteriormente sem significado

inúmeras possibilidades de dar novo significado ao pré-

para a população (figura 05).

existente, é importante o incentivo à inserção e reabilitação desses locais, a fim de que haja espaços públicos democráticos, de fato, que não se restrinjam à determinadas classes, mas que estejam acessíveis ao maior número de bairros e indivíduos possível.


22 Figura 6 – Boulevard der Stars - Revitalização da Av. Potsdamer Platz em Berlim.

Figura 7 – Boulevard der Stars - Revitalização da Av. Potsdamer Platz em Berlim.

Fonte: Graftlab.com, 2009.

Fonte: Graftlab.com, 2009.


23

2.2 A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DA CIDADE

Como um divisor de águas, quando se trata de

2.2.1 Introdução

intervenções urbanísticas, a estética tem sido considerada como um dos fatores essenciais. Segundo o sociólogo Thibaud

Em

muitas

as

(2012), deve-se fundir o sensível e o social, criar esquemas de

sendo

percepção cultural, escrever histórias de sensibilidades, tirar

foco

medidas do espaço vivido, desenhar um ambiente pelas

individualista, espaços limitados, com elementos estéticos os

sensações, fazer cair por terra a percepção comum através de

quais parecem ser igualmente reproduzidos em qualquer lugar

performances artísticas, assim sempre haverá referências à

do mundo. Por conseguinte, muitos locais se tornam vazios e

experiência e se dará atenção especial aos registros

sem vida, a falta de estímulos, perspectivas atraentes e

sensoriais.

oportunidades progressivamente

cidades

para

os

ao

redor

do

moradores

descartadas,

tudo

feito

mundo, vão com

experiências agradáveis, faz com que muitos se limitem aos

Para tais fins, os meios se justificam ao enfatizar a

espaços de suas residências, culminando na morte de muitas

escala humana, assim como aspectos visíveis do ambiente e

cidades (GEHL, 2013).

sua correspondência com a cultura, transformar espaços

Paralelo à monotonia existente em algumas cidades, é

geográficos em lugares, espaços que passem uma história, os

evidente o descontentamento de muitos com tal realidade, o

quais se tornem parte da nossa vida. Lugares que transmitem

que os faz abrir os olhos para mudanças de propostas dentro

uma identidade e sentimento. Paisagens com um caráter

do planejamento urbano. A partir daí aponta-se um crescente

dinâmico (ruas, praças, edifícios) reforçando a função social da

interesse por espaços sensíveis, os quais ativam os sentidos,

cidade como local de encontro, contribuindo para uma cidade

a psique e até o físico dos usuários. Ambientes sensoriais, que

viva, sustentável e democrática (GEHL, 2013).

atraiam cada indivíduo à percepção da paisagem e ambiências

No que se refere a cumprir os objetivos de uma cidade

do entorno, impulsionando-os cada vez mais a usufruírem de

viva, sustentável e democrática, deve-se pensar na vida na

múltiplas experiências no âmbito da cidade (THIBAUD, 2012).

cidade de forma geral, preocupando-se com pedestres,


24

ciclistas e deficientes físicos, garantindo melhores condições

2.2.2 Cidade e Natureza

de vivência para todas as faixas etárias, uma vez que a experiência estética só se faz completa, quando existe a

Adotada pela cidade, a natureza desempenha papéis

relação mútua entre todos os componentes da cidade.

muito importantes atuando diretamente na percepção e

Gehl (2013) reforça que para a cidade se tornar um ambiente

envolvimento do indivíduo sobre o lugar. A ação dos elementos

vital é necessário que as pessoas se sintam convidadas a

naturais no meio urbano não se limita a construir um ambiente

caminhar, pedalar e permanecer nos espaços. A vida nos

bem articulado em termos paisagísticos ou convidativos. A

espaços públicos torna-se fator primordial para promover

necessidade do verde nas cidades vai muito além de questões

experiências estéticas, essa só se torna completa uma vez que

de embelezamento ou qualidade visual, ele se configura como

possui uma estrutura razoavelmente coesa a qual permite

elemento essencial para promover equilíbrio entre cidade e

lugares públicos atrativos e com uma variedade de funções

natureza.

urbanas.

Ao olhar para o campo, vemos o potencial das áreas

Considerando tal perspectiva e pensando o espaço

verdes em promover maior qualidade de vida através de

público no contexto da cidade contemporânea, percebe-se que

elementos naturais que atuam de forma eficiente para a

o mesmo ganha usos e funções conforme as características de

manutenção do ambiente. A variedade da flora e da fauna são

seus usuários, se transformando em reflexos daqueles que se

uma mais valia para absorção e tratamento de águas pluviais,

apropriam dele. Assim sendo, uma vez que a cidade se

além de equilibrar as condições climáticas. Em contrapartida,

construa

haverão

nas cidades é crescente o uso de pavimentação com concreto

oportunidades para novas experiências e uma atenção

armado e asfalto repelindo o excesso de água sem o absorver,

especial aos registros sensoriais (GEHL, 2013).

consequentemente há grande pressão sobre os sistemas de

de

forma

bem

articulada,

sempre

drenagem, que em sua maioria são insuficientes ou mal construídos (EDWARDS, 2009).


25

Dentro do plano urbanístico das cidades, alguns aspectos de

Figura 8 – Alagamento em trechos da Av. Central no Recanto da Sereia

infraestrutura urbana carecem de um olhar especial. Uma cidade que queira ser apreciada e vivida por seus moradores deve investir suas ações de infraestrutura na própria paisagem; desenvolver bons espaços fundamentando-se em conceitos atuais, como o urbanismo ecológico, são pontos determinantes quando se trata de qualidade de vida e saúde pública (GEHL, 2013). Em termos de infraestrutura, a inserção de diferentes espécies na malha urbana proporciona ganhos incontáveis para manter qualidade e equilíbrio socioambiental. Como efeito da grande expansão urbana e poluição, as cidades têm sofrido com a resposta da natureza; um exemplo o qual pode ser apontado é o aumento da temperatura, cidades cada vez mais

Fonte: Acervo da autora ,2019.

abafadas, com chuvas intensas e irregulares. A falta de absorção do solo e rápido escoamento da água cria inúmeros transtornos,

alagamentos

(figura

08)

e

enchentes,

prejudicando a rotina de muitas famílias (EDWARDS, 2009).

Outro fator importante quando se trata da construção de bons espaços tem relação direta com a infraestrutura urbana ali existente, uma vez que o planejamento urbano é essencial no desenvolvimento de uma cidade. Esse planejamento deve abraçar os diferentes bairros e classes sociais, identificar e propor soluções para espaços desqualificados, a fim de


26

melhorar as condições de vida de uma minoria desprivilegiada

colaboram para que os indivíduos adquiram modos de vidas

economicamente.

mais saudáveis, uma vez que o ambiente externo seja

Souza (2010, p. 75) menciona que o planejamento

convidativo para estimular a prática de atividades, aumentar a

urbano é importante para o futuro, “pois possibilita que sejam

interação entre a população e diminuir os níveis de estresse

evitados alguns problemas, e também proporciona que se

(THIBAUD, 2012).

conheçam os benefícios que a cidade pode oferecer, deste

O conceito de infraestrutura verde é uma alternativa que

modo ele considera que o mesmo ocasionará [...] melhoria de

vem surgindo como forma de transformar e adequar o meio

vida e um aumento da justiça social”.

urbano, principalmente em locais já consolidados, garantindo

Refletindo sobre espaços públicos convidativos, Gehl

melhorias referentes à drenagem, mudanças no microclima

(2013, pág. 91) enfatiza a importância de priorizar aspectos

local, além de contribuir com a ornamentação da paisagem .

importantes como boas superfícies, acessibilidade, mobiliários,

Segundo Herzog e Rosa (2010, p. 94), o planejamento de uma

boa iluminação, microclima agradável, arborização e locais

infraestrutura verde propicia a integração da natureza na

para atividades físicas e jogos. É importante que princípios

cidade, de modo que venha a ser mais sustentável. A sua

como esses estejam inseridos, principalmente nas ruas, as

implantação traz alguns benefícios, como a diminuição de

quais tem se tornado ambientes cada vez mais hostis à escala

enchentes a conservação de áreas naturais, melhoria na

humana.

qualidade do ar, a proteção e recuperação da fauna e flora,

A forma com que o ambiente se constrói e o modo com

entre outras.

que irá se desenvolver, seja ele uma arquitetura, um bairro ou

Em face à realidade apresentada, tal problemática é

cidade, novamente demonstra forte relação com o bem estar,

recorrente em muitos bairros da Grande Vitória, problemas

atuando diretamente na percepção e envolvimento do

esses causados pela maré cheia e o descarte de lixo

indivíduo sobre o lugar. Supridos por seus componentes

provocando obstrução dos bueiros e dificultando o escoamento

indispensáveis,

atuam

como

um

“descanso

espiritual”


27

da

água

pelos

sistemas

de

drenagem,

que,

consequentemente, cria pontos de alagamentos e inundação.

Esses elementos

favorecem

o

amortecimento

e

absorção das águas das chuvas, evitando alagamentos nas

A aplicação de infraestrutura verde em projetos de

cidades; reduz a velocidade de escoamento das águas

reurbanização são medidas importantes para disseminar e

pluviais. Outro fator importante é o plantio correto de árvores

promover

de

em parques, praças e calçadas (Figura 10); O sombreamento

sustentabilidade. Para introduzir a rede de infraestrutura

pode ser considerado o principal benefício ambiental realizado

verde, tem sido comum o uso de alguns elementos que

pelas árvores nos espaço urbano, a densidade das copas

aumentam

e

diminui a incidência dos raios solares, cria abrigos, sombra e

(greenways),

qualidade do ar, favorecendo melhores condições para

conceitos

a

semipermeáveis

ecológicos

porcentagem como

de

corredores

e

áreas

princípios

permeáveis

verdes

canteiros pluviais, jardins de chuva e pisos drenantes

microclima local e apropriaçao. Figura 10 – Sombreamento em espaços publicos, Paris

(Figura 09). Figura 9 – Estrategias de infraestruturas verdes

Fonte: Google imagens.

Fonte: Google imagens.


28

A

arborização

na

cidade

social,

Nas imagens a seguir (figura 12) é perceptivel o peso

manter a saúde humana,

estético de um espaço sem nenhuma composiçao estetica e

através do relaxamento, recreação, atuando de maneira

arborização, em contraste com ambientes em que a introdução

positiva sobre o psique, quebrando a monotonia das cidades,

de elementos verdes e naturais agregam pontos positivos para

introduzindo cores e elementos decorativos no meio do cinza e

uma melhor experiência da estética urbana para o usuário.

psicológica e estética, ajudando

possui

função

escuro do concreto e do asfalto (figura 11) ; serve de referência e afeição entre os habitantes e sua cidade, que reconhecem e

Figura 12 – Contrastes no ambiente urbano

se identificam com as plantas que nela se encontram. (MOURA, 2010). Figura 11– Componente estetica das arvores nas cidades

Fonte: Google imagens, adaptado pela autora. Fonte: Google imagens.


29

Por fim, todos os princípios para se planejar o espaço

2.3 AMBIENTE TERAPEUTICO

físico devem ser especificados nas legislações com incentivos para construção de espaços públicos confortáveis, seguros e

No que se refere à reciprocidade entre usuários e

atraentes que sejam desenvolvidos pensando no modo de vida

espaços, cada vez mais cresce a preocupação em criar

e no contexto dos indivíduos envolvidos. Ações com

ambientes os quais proporcionem saúde socio-ambiental.

características

do

Estudos evidenciam os inúmeros benefícios trazidos pela

planejamento estabelecem uma trama de conexões verdes

inserção de espaços verdes nos centros urbanos, gerando

dentro das cidades, além de fomentar mudanças efetivas e

melhorias em questões climáticas e de convívio social, por

conscientização ambiental. A biodiversidade tem o poder de

exemplo. Outro fator importante é o quanto esses espaços

repaginar espaços e ruas, proporcionando eixos mais

verdes agregam em questões de estética e atratividade das

atraentes e com melhores condições para absorção no solo

cidades.

ecológicas

e

sustentáveis

dentro

permitindo que a água flua sem sobrecarregar o sistema de drenagem.

É dentro desse contexto que se revela uma nova percepção da natureza, uma percepção denominada natureza poética. Surge uma nova relação entre a sociedade e a natureza, passando a natureza a ser um elemento fascinante das cidades que proporciona momentos de bem-estar, ao mesmo tempo que melhora a qualidade de vida dos cidadãos (SILVA, ET AL. 2003 apud SILVA, 2014). Uma

das

reinvenções

de

modelo

de

cidade

contemporânea, começou através de Howard (1902) e seu conceito de Cidade Jardim. Essa surge como uma alternativa para diminuir a industrialização demasiada e assegurar à


30

cidade características da beleza e bem estar do campo,

paisagem, se não houver quem a constitua. (SIMMEL, 1988,

harmonia entre homem e natureza. A ideia de Howard foi

apud BARTALINI, 2013, P. 7).

implementada em muitas partes do mundo, crescendo desde

Dentro de muitas experiências proporcionadas pelo

então o número de jardins, parques, praças e espaços livres

contexto urbano, temos a experiência criada pela estética da

verdes introduzidos nos projetos urbanísticos. Todo o verde em

paisagem, essa envolve o indivíduo por inteiro, torna-se como

contraste com a chamada “selva de pedra”, traz leveza à

uma janela a qual se abre para infinitas oportunidades de

dinâmica da cidade, tornando-se extremamente necessário no

sensações e sentimentos, emoções que emergem a partir de

dia a dia, uma vez que gera condições de saúde e conforto

um olhar sobre o todo. O auxílio dos cinco sentidos nos leva a

para a população.

experimentar e apreciar o ambiente ao redor e apreciar

Refletindo sobre questões de bem estar e saúde, pode-

pequenas coisas no dia a dia. Uma dimensão do que seria esse

se concluir que as mesmas possuem relação direta com o

momento de vivência, pode se exemplificar em uma declaração

ecossistema no qual se vive, assim como na forma com que o

de Heidegger (1987) a qual diz:

mesmo se constitui. No que tange um ecossistema, esse é

[...] fazer uma experiência com algo significa que

constituído por seres humanos e natureza, a interação desses

algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de

componentes constitui o que chamamos de paisagem, a qual

nós, que nos tomba e nos transforma. Quando falamos em “fazer” uma experiência, isso não

atua como uma janela através da qual se pode apreciar o

significa

ambiente natural. A importante interação entre cidade,

acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer, padecer,

natureza e indivíduo, demonstra que a paisagem não se

tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à

constitui como um elemento isolado, mas define-se pelo

medida que nos submetemos a algo. Fazer uma

encontro desses elementos fundamentais, homem e natureza. Neste sentido, não há paisagem sem sujeito. Podem haver elementos objetivos, pode haver natureza, mas não haverá

precisamente

experiência

quer

dizer,

que

nós

portanto,

a

façamos

deixar-nos

abordar em nós próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso. Podemos ser


31 assim transformados por tais experiências, de um

por fatores como violência, transporte público ineficiente,

dia para o outro ou no transcurso do tempo (p. 143).

exclusão social e sedentarismo, problemas esses associados à intensa urbanização e privação social (ANDRADE, et al.,

Uma vez representada pela natureza, a paisagem foi adotada pela cidade. Bem como afirmava Howard (1902) em seus modelos de cidade jardim, hoje já foi cientificamente comprovado que o ambiente físico e o contato com a natureza intervém diretamente na saúde humana com efeitos positivos duradouros (BBC News, 2014). Ao pensar a cidade moderna como um espaço o qual promove uma estética que não se

2017). Existem muitas evidências que comprovam a ação determinante do planejamento urbano sobre a saúde da população. Dentro desse contexto é válido destacar alguns conceitos fundamentais os quais colaboram para incentivar estilos de vida sadios no âmbito urbano, são eles: mobilidade, atração, ecologia e segurança.

limita a percepções sensoriais, mas desperta sentimentos e interfere nas condições do corpo e mente; dentre muitos outros adjetivos,

essa

caracterizada

(quando

como

um

bem

planejada)

ambiente

com

pode

2.3.1 Caminhabilidade e Transporte Ativo

ser

capacidades

terapêuticas, indo muito além de um simples enquadramento estético. Sendo a relação entre bem estar e ambiente urbano um fato comprovado. Os fatores determinantes da qualidade de vida da população dizem respeito ao local onde se vive, ambiente, genética, educação, entre outros. Habitar no meio urbano tende a aumentar os riscos de ansiedade, obesidade, hipertensão; essa associação às doenças pode ser ocasionada

No tocante à mobilidade, pouco se faz e incentiva à respeito de melhores condições de caminhabilidade dentro do planejamento urbano no Brasil. Analisando a perspectiva de muitas regiões brasileiras bem articuladas em termos de planejamento, nota-se que a maior parte das pessoas afirmam que o meio de transporte mais rápido e eficaz é a pé. Indo contra tal afirmação, é nítido o descaso do poder público com as condições de infraestrutura nas redes de mobilidade a pé, principalmente quando se trata de desprestigiar a indústria


32

automobilística. Como consequência, este fato tem levado o

transporte público tem a capacidade de promover incontáveis

pedestre a se tornar a maior vítima fatal no confronto com o

ganhos ao estilo de vida urbano, além de ser uma forma de

trânsito veicular, ao mesmo tempo uma vítima recorrente das

incentivar a prática de atividades físicas.

péssimas condições dos espaços de caminhada, como as calçadas (ANDRADE, et al., 2017). As

más

condições,

obstrução,

Consequentemente, reduzindo a circulação de veículos automotivos e incentivando o uso de meio de transportes

ausência

de

eficientes haverão ganhos para a saúde pública, como: menor

acessibilidade e sinalização são alguns dos fatores que fazem

emissão de gás carbônico na atmosfera e queima de

com que os pedestres se sintam desmotivados quando o

combustíveis fósseis, além de diminuir índices de doenças

assunto é caminhar na cidade. A ausência de atenção para as

respiratórias e ligadas ao sedentarismo, como obesidade,

necessidades dos usuários colabora para um aumento do

ansiedade, etc (GHEL, 2013).

isolamento social, crescendo cada vez mais o número de

Para que as pessoas se interessem por usufruir desse

pessoas privadas do acesso à áreas públicas de lazer e até

“novo modo de transporte” é necessário que ele seja inserido

mesmo do convívio social, consequentemente cresce o

de forma eficaz, criando condições favoráveis que viabilizem a

número de indivíduos com problemas de saúde a longo e curto

circulação de pedestres, ciclistas, cadeirantes, por exemplo.

prazo. Garantir a mobilidade de todos por meio de um processo

Deve-se

de urbanização adequado, que inclua políticas públicas de

padronizadas de acordo com a legalidade de cada região,

mobilidade e de transporte é uma forma de ajudar a população

sendo essas seguras, acessíveis, eficientes e conectadas à

a permanecer ativa e saudável (ANDRADE, et al., 2017).

rede de transporte público, além de oferecer uma cobertura

Para tal questão, a possibilidade de mudanças nos

investir

em

calçadas,

passeios

e

ciclovias,

ampla na escala da cidade.

meios de deslocamento tem capacidade de promover inúmeros

Para efeito, a caminhabilidade deve deixar de ser uma

benefícios à saúde pública. O incentivo ao transporte ativo, por

questão e se tornar uma qualidade do lugar, uma forma de

meio de caminhadas, bicicletas, patinetes, acrescido à rede de

atrair e incentivar diferentes pessoas a explorar e usufruir de


33

experiências no âmbito local. Nas palavras de Bradshaw

O uso intenso do automóvel no contexto urbano atual,

(1993), a caminhabilidade é um meio de motivar as pessoas

além de gerar transtornos em questões de engarrafamentos e

a restabelecerem suas ligações com as ruas dos bairros,

poluição, influencia diretamente no modo de vida de quem os

reconstruindo, assim, o espaço físico e social comum.

utiliza, criando hábitos prejudiciais à saúde e contato social,

A troca de um veículo automotor por uma caminhada ou

isso se dá pelo fato de que gradativamente as pessoas vão se

passeio de bicicleta, mesmo que seja a curta distâncias para

privando de explorar as particularidades do ambiente público,

realização de atividades corriqueiras do dia-a-dia, como: ir à

se limitando a espaços reclusos, (casa, carro, escritório) sem

padaria, à escola ou à praia, agrega pontos positivos em um

desfrutar intensamente das oportunidades no nível local (bairro

desenvolvimento físico e mental mais saudável. Além disso, é

e vizinhança).

importante destacar que pequenas iniciativas como essas

Apesar de caminhar ser a forma mais rápida e

abrem um leque de possibilidades para que o indivíduo

econômica de se locomover na cidade, o conceito de

desfrute de novas experiências em seus deslocamentos

caminhabilidade vai muito além de um espaço com boas

diários.

condições de calçadas e ciclovias. A vivência na cidade

O pesquisador da Urban Mobility Research, Daniel

contemporânea deve ser pensada para ser algo singular, com

Sauter (NUNES & ALVES, 2010: 43, apud SILVA, 2018, p.30),

ênfase na escala humana e nas pequenas necessidades

comparou como crianças que caminham no trajeto de casa à

diárias. É gritante a necessidade de uma inversão da atual

escola percebem o mundo de maneira diferente daquelas que

lógica urbana, a qual dá importância para o transporte

são conduzidas dentro de um automóvel. Na pesquisa, as

individual motorizado, mas não cria condições para uma

crianças que caminham até a escola desenharam caminhos

completa vivência da cidade a pé (ANDRADE, et al., 2017).

mais coloridos e com mais detalhes de pessoas, animais e

Para que essa cidade com características humanistas

natureza, enquanto as crianças que eram levadas de

venha à tona, são necessárias transformações na escala dos

automóvel fizeram desenhos com carências de detalhes.

bairros, ruas e praças. Esses espaços devem estar nutridos de


34

todos os componentes necessários para proporcionar as

A partir da adoção de um estilo de vida sedentário, os

melhores condições de vivência dentro da esfera pública aos

homens passaram a construir suas casas, usufruindo do

usuários. O espaço deve ser pensado e articulado de modo

exterior como grandes espaços de estar, o limite entre o

que paisagem e indivíduo sejam colocados em primeiro plano,

público e o privado. Com o passar dos anos essa prática se

sendo indispensável a conexão entre a forma de construir o

tornou cada vez mais comum, em cidades ou bairros

espaço e a vida, incluindo questões de conforto e segurança

pequenos, as calçadas se tornam uma extensão do espaço

como veremos a seguir.

particular das residências e dos comércios Esse costume, no entanto, pode ocasionar conflitos no

2.3.2 Conforto e Segurança nos Espaços de Lazer

dia a dia, uma vez que ao ocupar as calçadas, outros pedestres têm que usar as ruas como espaço de circulação. A solução

Conforme destacado no artigo 6º da Constituição

para isso se encontra não em proibir tal uso, mas na

Federal (BRASIL, 1988), o direito ao lazer é garantido a todos

reabilitação desses espaços para se adaptarem às novas

os cidadãos. Cabe portanto, ao Estado promover as condições,

situações dentro dos termos de funcionalidade urbana.

mesmo que mínimas, para que todos tenham acesso à cultura,

Possuir bons espaços públicos é um dos requisitos

esporte e entretenimento. Uma das possibilidades de exercício

essenciais para se ter uma cidade próspera, ativa e eficiente.

do lazer como um direito social está nos espaços públicos de

Ambientes bem desenhados e planejados contribuem para

uma cidade, compreendidos como aqueles de acesso irrestrito,

fortalecer laços de solidariedade, convivência e socialização

nos quais as pessoas realizam atividades individuais ou em

entre os indivíduos, além de fomentar a economia local,

grupos (LYNCH, 1962). A existência desses espaços públicos

segurança, saúde e integração. Sobreurbana (2015) destaca,

assume

como bons espaços publicos podem trazer melhorias

grande

importância

dentro

do

contexto

contemporâneo atual, onde muitos não possuem condições de pagar para exercitar o direito ao lazer.

significativas nos ambientes onde estão inseridos:


35

- Podem gerar um impacto significativo na economia de grandes e pequenos centros urbanos, sendo uma estratégia bem sucedida de recuperação de um bairro ou de uma cidade, alem de atrair investimento e valorizaçao. - Atrai o uso constante, por diferentes públicos, ao longo do dia, aumentando a sensação de segurança e a convivencia de mais pessoas. - Contribuem para a saúde física e mental. -Proporcionam e incentivam boas condições para caminhadas, para brincar, descansar ou apreciar o lugar e o contato com a natureza. Além desses, há muitos outros pontos positivos onde existem espaços livres públicos de qualidade, como por exemplo: Manutenção da economia local por meio do apoio à feiras livres, incentivo e atração para o comércio local por meio de turismo, redução da insegurança e criminalidade e incentivo ao transporte sustentável através de passeios a pé ou de bicicletas.Percebe-se que a experiencia do individuo dentro da cidade se concentra na envolvente urbana e nas necessidades de espaços completos que tragam surpresas e alternativas agradaveis para que as pessoas se sintam convidadas a contemplar as diversidades.


36


37

Estudo de Casos


38

3 ESTUDO DE CASOS

3.1 ARTE URBANA NA COVILHÃ, PORTUGAL

A seguir serão analisadas três experiências bem

A cidade da Covilhã, localizada no interior de Portugal,

sucedidas de estratégias urbanísticas escolhidas com base na

região da chamada Beira-interior, muito conhecida por estar

temática de reurbanização urbana. Serão analisadas as

às portas da Serra da Estrela, se destaca por sua tradicional

reclassificação

as

indústria de lã, com o maior Museu de Lanifícios da Europa

intefevenções artísticas em Covilhã (PO) e uma interferencia

localizado na universidade local. Sendo uma cidade de porte

em São Paulo (BR), todas elas se destacam por significativas

pequeno, atualmente não sobrevive apenas da fabricação de

transformações em sua paisagem nas últimas décadas. Em

lã. A cidade ganha destaque por ser o ponto de maior altitude

cada caso serão analisadas características específicas para

em Portugal, por conseguinte um dos poucos pontos de

qualificação do espaço público e ao contexto pré-existente,

incidência de neve no país, com estação de esqui e hotéis.

assim como as estratégias e objetivos aplicados. Ao final, será

Além disso, a cidade mudou seu panorama através da

feita uma análise comparativa entre os casos, de modo a

estratégia política governamental de atrativo turístico, inserindo

absorver algumas diretrizes a serem elaboradas para o projeto

uma universidade pública na cidade. Hoje com renome a nível

de reurbanização da Av. central.

mundial, a Universidade da Beira Interior e o turismo na Serra

das

ruas

de

Copenhagen

(DN),

da Estrela são alguns dos principais fatores que atraem pessoas para a região, tanto turistas quanto estudantes do mundo todo. Paralelo a essa realidade, é notável as diferentes fases no que concerne a movimentação na cidade, fases estas caracterizadas por momentos letivos, uma vez que existe uma grande quebra de vitalidade nas férias de verão, onde os


39

estudantes retornam às suas zonas de origem e a ausência da

grafites de muitos artistas nacionais e internacionais. Essas

componente neve, não atrai turistas em grande proporção.

intervenções incluem a comunidade no processo, por meio de

Ainda assim, é percebida na cidade a chegada de visitantes

workshops e palestras. Tais ações com a participação ativa da

atraídos pela mudança de estação na Serra, só que desta vez

comunidade, além de trazer identidade à obra, desperta afeto

em pequena escala.

nos cidadãos, que se vêem de alguma forma representados e

Covilhã, se apresenta como uma cidade de origem

incluindos naquela criação.

antiga/histórica, e se divide em dois momentos, parte antiga e

Dos teares à “Capital da arte urbana”, Covilhã pode ser

a parte nova. Nota-se claramente a parte antiga com

considerada como uma exposição a céu aberto, onde a cada

edificações pré existentes em estado de degradação, tendo em

esquina, a cada viela descobre-se um olhar diferente sobre o

conta o número elevado de edificações degradadas na cidade

passado. É evidente que ações criativas em espaços públicos

as quais criavam espaços hostis pelo circuito urbano. Uma das

(figua 13) e de livre acesso promovem uma estética atraente e

estratégias usadas pelo governo local foi intervir com uma

criativa por todos os lados, instigando oportunidades para se

estratégia de requalificação urbana buscando recaracterização

visitar, caminhar e refletir.

da estética da cidade, aproveitando esses locais e fachadas

As imagens a seguir (figuras 14 à 17), são alguns

deterioradas com pinturas urbanas, trazendo à tona a

registros do Festival WOOL, cada ilustração expressa de

identidade e cultura local.

maneira diferente a identidade e patrimônio local.

A partir de 2011, surge o WOOL, Festival de Arte Urbana de Portugal, iniciativa público-privada com objetivo de utilizar os espaços degradados e despertar o interesse da comunidade covilhanense e dos turistas para a cultura e patrimônio local. Essa iniciativa exala identidade em cada parede usada como tela para recontar a história da Covilhã através de pinturas e


40

Figura 13 – Arte Urbana nas ruas da Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


41

Owl Eyes

Mr. Dheo

Criado por Bordalo II a partir de sucata, na parede de uma casa habitada por estudantes universitários, Owl Eyes é

Obra do artista português de grafite, Mr. Dheo (figura 15) fez o retrato de uma jovem bordando.

conceito de sabedoria e cultura no centro histórico (figura 14). Figura 14 – Owl Eyes, arte Urbana, Portugal

Figura 15 - Arte Urbana na Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


42

Gijs Vanhee

Add Fuel

O artista belga, Gijs Vanhee, faz uma homenagem aos pastores de ovelhas da Serra da Estrela no centro histórico da Covilhã, junto à Igreja de Santa Maria, figura 16. Figura 16 – Arte Urbana de Vanhee na Covilhã, Portugal

O artista português Add Fuel, criou um mural na Covilhã denominado “Oddments”, figura 17, elaborado a partir dos típicos padrões utilizados na produção dos tecidos locais. Figura 17 - Oddments, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020. Fonte: Acervo da Autora, 2020.


43

Dos artistas portugueses Aka Miguel Caeiro, de Sintra, e Gonçalo Ribeiro, do Seixal,

criam murais de grande

dimensão, aplicando as suas técnicas de freestyle graffiti,

A obra de Andrea Michaelsson de Barcelona Inspira-se, sobretudo, em fotografias antigas e retrata um pastor no Largo da Nossa Senhora do Rosário, figura 19.

figura 18. Figura 19 – BTOY, Covilhã, Portugal Figura 18 – ARM Collective, Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


44

A artista espanhola, Doa Oa, criou um mural inspirado

Mural criado pelo artista espanhol KRAM,figura 21.

nas plantas utilizadas tradicionalmente para pintar os tecidos

Inspirado numa lenda local sobre um monstro temível que

da Real Fábrica dos Panos da Covilhã, figura 20.

aterrorizava as populações quando caía a noite sobre a cidade.

Figura 20 – Arte Urbana de Doa Oa, Covilhã, Portugal

Figura 21– Arte Urbana de KRAM na Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


45

Do artista urbano português, Regg Salgado, figura 22, denominada “Fio condutor”.

A criação artística da portuguesa Tamara Alves intitulada “Orfão selvagem”,figura 23, retrata uma mulher a bordar o seu próprio vestido em renda de bilros, uma arte em

Figura 22 – Fio Condutor, Covilhã, Portugal

constante declínio na Covilhã. Figura 23 – Orfão selvagem, Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


46

O Sr. Viseu é uma verdadeira personagem da cidade da

O artista e muralista português Pantónio, inspirado pelo

Covilhã que trabalhou como operário na indústria dos lanifícios.

som dos andorinhões, aves típicas da Covilhã, desenhou um

A artista portuguesa Samina homenageou as sucessivas

mural destacando a natureza da cidade, figura 25.

gerações de trabalhadores que dedicaram as suas vidas aos lanifícios, figura 24.

Figura 25 – Pantonio, Covilhã, Portugal

Figura 24 – Sr. Viseu, Covilhã, Portugal

Fonte: Acervo da Autora, 2020.

Fonte: Acervo da Autora, 2020.


47

O festival WOOL acontece todos os anos e é fonte de inspiração para muitos artistas renomados e também

3.2 A HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS EM COPENHAGUE, DINAMARCA

amadores que queiram através da sua arte marcar de forma atrativa os espaços da cidade (figura 26).

Copenhague, capital da Dinamarca, é muito conhecida por seu alto índice de qualidade de vida e incentivo à

Figura 26 – Murais de autores anonimos, Covilhã, Portugal

sustentabilidade.

Sua

área

metropolitana

possui

aproximadamente 2 milhões de habitantes, sendo que em Copenhague residem cerca de 583 mil pessoas. Até a década de 50 a cidade estruturava sua mobilidade urbana no uso do automóvel, apresentando problemas de trânsito, acidentes e a baixa

movimentação de

pedestres no centro

urbano.

Entretanto, a mudança de mentalidade começou a acontecer a partir de 1960, através de estudos no centro da cidade, a fim de encontrar soluções capazes de devolvê-la para seus habitantes (GEHL, 2015) . O método utilizado por Jan Gehl consistia em estudar a vida que acontecia nos espaços públicos, mapeando as atividades humanas para entender o seu comportamento e assim propor melhorias de qualidade de vida. Fonte: Acervo da Autora, 2020.


48

3.2.1.A primeira rua de pedestres: Stroget

Figura 27 – Localização da Rua Stroget, Copenhague, Dinamarca

Esse foi o ponto de partida para a reurbanização de muitos bairros e ruas na cidade de Copenhague. Desde a década de 60 houve uma inversão nos velhos costumes, reduzindo a circulação de automóveis e incentivando novas experiências na cidade através do incentivo ao ciclismo e à caminhabilidade. Por meio dessa estratégia urbanística, criouse a Stroget (figura 27) a maior rua de pedestre do mundo. Ao mudar o meio de transporte mais usado, aos poucos, os antigos estacionamentos foram sendo convertidos em praças públicas, instigando ainda mais a mudança de vida local e o crescimento de atividades de longa permanência.

Fonte: https://globaldesigningcities.org/

O processo de renovação contou também com a preservação e recuperação de fachadas promovendo maior atratividade ao nível do térreo e uma rota de pedestres dinâmica. A reestruturação dos espaços de transição qualificou a experiência do percurso, tornando o local mais acessível, convidativo e confiável aos usuários (GEHL, 2015). Como forma de incentivo ao novo meio de transporte, foi necessário a qualificação das calçadas, remoção do meio fio e adição de


49

um novo pavimento com melhores condições de acessibilidade

se sentirem entediadas, a caminhada de mais de 1 km não se

e circulação, assim como a consolidação de um novo mobiliário

torna um problema quando o percurso é satisfatório (Figuras

urbano (Figura 28).

29 e 30) (GEHL, 2015).

Figura 28 – Perfil viário Rua Stroget, antes e depois

Figura 29 – Rua Stroget, antes e depois

Fonte: https://globaldesigningcities.org/.

A adoção do conceito de ruas para pedestres e diminuição dos espaços para veículos particulares fez com que houvesse o crescimento do ciclismo dentro da cidade para fins Fonte: https://globaldesigningcities.org/.

Com incentivo à caminhabilidade, Stroget se tornou um exemplo mundial de espaço confortável para se caminhar e permanecer. Desde a requalificação o número de pedestres cresceu cerca de 35%, as pessoas andam por toda a via sem

de deslocamento. Essa inversão nos paradigmas proporcionou melhorias em questões de impacto ambiental e melhor condição de vida para a população que passou a se locomover mais por meio do transporte ativo. Assim feito, para suprir a nova demanda, foi necessário abrir lugar nas ruas para implantação e sinalização de ciclovias e ciclofaixas, pensadas


50

de modo a criar melhores condições de mobilidade e conectar

priorizar a circulação de pedestres e ciclista, colocando a

áreas de lazer e equipamentos públicos. Além disso, foram

circulação de veículos em última instância.

inseridos pontos de bicicletários e sistemas de aluguel de bicicletas (figura 30).

3.2.2 A primeira rua compartilhada Straedet

Figura 30 – Ciclovias, ciclofaixas e mobiliário urbano em Copenhague

A redução de faixas de automóveis e estacionamentos foi o pontapé inicial para a revolução na vivência urbana. O início da década de 90, marcou um passo muito importante dentro das cidades, surge em Straedet a ideia de rua compartilhada, conceito esse posteriormente aplicado em diversas partes do mundo (Figura 31) . Figura 31 – Localizaçao rua Straedt, Copenhague, Dinamarca .

Fonte: Google imagens.

Durante e após a atuação do grupo Gehl Architects, Copenhague passou a investir cada vez mais em políticas urbanas voltadas para pedestres e ciclistas, hoje a cidade se tornou referência mundial em planejamento urbano e qualidade de vida dos cidadãos. Assim como foi em Stroget, a cidade foi sendo repaginada, reestruturando sua rede viária de modo a

Fonte: GEHL, Jan – “Public spaces public life”.


51

A rua passou por esse processo de experimentação por

A reestruturação viária de Copenhague desde a década

ser um importante eixo de circulação prejudicado pelo alto fluxo

de 60 até os dias de hoje tem se mostrado uma estratégia de

de circulação de veículos, incluindo ônibus. Para reduzir o

sucesso ao longo dos anos. A cidade foi equipada por uma

tráfego, a rua foi toda requalificada, a mudança de hierarquia

rede eficaz de ciclovias e calçadas tornando mais seguro e

reduziu as áreas de estacionamentos e automóveis, alterando

confortável se locomover pela cidade. O movimento de

o percurso de ônibus. Na Straedet (Figura 32) carro, pedestres

bicicletas dobrou de 1995 a 2005 de modo que 37% do

e ciclistas passaram a compartilhar a mesma via, o novo

transporte pessoal do, e para o trabalho e escolas passaram a

pavimento criou um espaço único em que a circulação

ser feitos por bicicleta. Claramente, surgiram novos padrões de

automóvel existente é feita com velocidade reduzida,

uso da cidade pautados em um estilo de vida mais saudável e

permitindo assim um uso prioritário a pessoas e ciclistas.

ativo (GEHL,2012, p. 11). Outro exemplo dessa mudança de padrões pode ser visto por meio da revitalização do centro

Figura 32 – Antes e Depois rua Straedet, Copenhague,Dinamarca

Fonte: GEHL, Jan – “Public spaces public life”.

histórico de Copenhague a seguir.


52

3.2.3 Requalificação da Avenida Norrebrogade

Figura 33 – Localização da Norrebrogade (linha cor de rosa), o perímetro do bairro de Norrebro (linha branca), em vermelho o perímetro do parque

O Norrembrogade é um importante eixo de ligação entre

Superkilen e a ciclovia em verde .

o bairro de Norrebro e o Centro Histórico da cidade, esse eixo principal também fez parte das estratégias de reestruturação urbana que já estavam sendo implementadas por outras regiões de Copenhague. Norrebro é um bairro de grande densidade habitacional e com a maior diversidade étnica, etária e econômica do país. Apesar de ser um importante eixo de comércio e circulação, havia uma demanda da população por convívio, descanso e lazer, o principal problema neste bairro era

a

falta

de

espaço

público

de

qualidade.

A

revitalização propôs a reorganização dos pavimentos criando vias para a circulação de bicicletas, assim como novos espaços Fonte: FELÍCIO,2014, p. 125.

para serviços e lojas existentes. Para além da Norrebrogade, foi desenvolvido o Superkilen, um parque urbano desenvolvido como uma grande exposição de objetos urbanos de diferentes

A reorganização da rua começou em 2008 criando

nacionalidades, como forma de trazer identidade para a região

condições favoráveis para pedestres e ciclistas, estimulando os

a qual é habitada por grupos etnicamente diversificados. O

a usufruir do espaço (Figura 34). Foram demarcados diferentes

objetivo era tornar a região não só um eixo de conexão, mas

espaços no piso definindo: paragem rápida, carga e descarga,

retirar o protagonismo do automóvel e criar espaços para a vida

para auxiliar os pontos de comércio e novos pontos de ônibus

urbana, ver Figura 33, (FELÍCIO, 2014, p. 125).

(Figura 35).


53 Figura 34 – Norrebrogade antes, Copenhague, Dinamarca .

Segundo Felício (2013, p. 137, apud COLVILLE, 2007), Na fase “piloto” da proposta foi restrita a circulação de automóveis particulares, o que gerou medo de diminuição do comércio. No entanto, as alterações na estrutura da rua e a proibição temporária de circulação automóvel resultaram numa diminuição de 60% do fluxo automóvel e um aumento no fluxo comercial gerado por pedestres e ciclistas. Muito se especulava Fonte: Google Imagens. Figura 35 –

Norrebrogade Depois, Copenhague, Dinamarca .

que

ao

diminuir

o

fluxo

automóvel

em

Norrebrogade poderia vir a ocasionar um aumento do tráfego nas restantes ruas do bairro. Pelo contrário, o tráfego de automóveis em todo o bairro desceu 10% e disparou o número de ciclistas. Para além das mudanças viárias, o bairro Nørrebro foi palco para muitas mudanças urbanísticas, apresentadas no tópico a seguir.

Fonte: Google imagens.


54

3.2.4 Espaços Com Uma Abordagem Inclusiva: O Parque

Figura 36 – Localização Parque Superkilen, Copenhague, Dinamarca .

Urbano Superkilen

Em 2012 as mudanças foram ao longo de três ruas do bairro Nørrebro com extensão aproximada de 800 metros e 30.000 metros quadrados de área. A a proposta para o parque Superkilen (Figura 36) desenvolvida em conjunto os moradores da vizinhança, capturou as características peculiares e identidades culturais dos usuários, a fim de que esses se sintam identificados e representados em cada ambiente. Ao longo do espaço existente foram trabalhados locais de esporte e lazer com a inserção de elementos paisagisticos inseridos através de recortes ao longo do pavimento em todo o eixo do projeto. No que toca a pouca quantidade de árvores com copas maiores para

sombreamento,

vale

ressaltar

as

condições

predominantes do clima temperado dinamarquês, onde há níveis baixos de incidência solar, o que viabilizou a utilização de

vegetação

de

pequeno

porte,

garantindo

mais

permeabilidade visual, que somada à iluminação e mobiliário urbano transmitem mais sensação de segurança aos usuários durante o dia e a noite.

Fonte: Google imagens.


55

O parque divide-se em três zonas com as cores as

De acordo com ArchDaily (2012), o espaço vermelho

verde, preto e vermelho demarcando setores e conceitos

(Figura 38, 39 e 40) foi destinado à área fitness ( boxe

diferentes, ver figura 37.

tailandês), playground (escorregador de Chernobyl, balanços

Figura 37 – Setorização Parque Superkilen .

iraquianos, playground de escalada indiana), sistema de som da Jamaica, um estêncil de Salvador Allende, muitos bancos (do Brasil), suportes para bicicletas e uma área de estacionamento. Foram inseridas árvores vermelhas, exceto as existentes . Figura 38 – Praça vermelha, Superkilen, Copenhague, Dinamarca .

Fonte: Archdaily Fonte: Google imagens.


56

A área preta (Figura 41, 42 e 43) é local de integração Figura 39 – Configuração setor vermelho, Superkilen.

para os moradores que se reúnem em torno da fonte marroquina, o banco turco, sob as cerejeiras japonesas como extensão do pátio da área. Nos dias de semana, mesas permanentes, bancos e churrasqueiras servem como sala de estar urbana com jogos de xadrez, playground etc (ArchDaily, 2012). Figura 41 – Praça Preta, Superkilen, Copenhague, Dinamarca .

Fonte: Google imagens. Figura 40 – Mobiliário infantil.

Fonte: Google imagens. Fonte: Google imagens.


57 Figura 42 – Espaço de permanência.

Por fim, a área verde como espaço de convívio, repouso e lazer para crianças, jovens e famílias (Figura 44) . Figura 44 – Praça Verde, Superkilen, Copenhague, Dinamarca .

Fonte: Google imagens. Figura 43 – Sala de estar urbana .

Fonte: Google imagens

Fonte: Google imagens.


58

As atividades do Parque Verde (Figuras 45, 46) com

3.3 CANTINHO DO CÉU, SÃO PAULO, BRASIL

suas suaves inclinações de superfícies são um convite para piqueniques, banhos de sol mas também torneios de hóquei e jogos de badminton (ArchDaily, 2012).

Localizado na região do Grajaú, São Paulo, o projeto urbanístico Cantinho do céu teve origem no ano de 1987 e faz parte de um conjunto de loteamentos ilegais, inseridos em uma

Figura 45– Espaço para Picnic.

área acidentada, propensa à erosão e com risco geotécnico. Sem as mínimas condições de infraestrutura básica, o assentamento não possui ruas pavimentadas, acesso à água potável, sistema de esgoto ou de eletricidade, além de um número muito baixo de equipamentos e instituições públicas, necessitando assim de um plano de intervenção o qual adota alternativas de projeto que considerem as preexistências

Fonte: Google imagens.

territoriais, em suas potencialidades e limitações. A intervenção foi desenvolvida no ano de 2008, a partir

Figura 46 – Quadra de Basquete

de estudos e diretrizes formulados pela Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, em conjunto com a Promotoria Pública. O Complexo Cantinho do Céu abrange uma área de 154,37 hectares, com cerca de 30.000 moradores, com moradias precárias e carência de infraestrutura básica (ARCHDAILY, 2013). .

Fonte: Google imagens.

O projeto como um todo foi um desafio muito grande. O complexo com ocupação irregular se encontra dentro de uma


59

APA, Área de Proteção Ambiental; encontrava-se densamente

era mostrar para a comunidade a importância dos espaços

ocupada, já consolidada e com grandes dimensões territoriais.

públicos e coletivos, sendo esse o ponto chave para

Ocupava de forma inadequada as margens da represa Billings

transformação do bairro (archdaily, 2013).

necessitando de soluções rápidas para os problemas,

Delimitando as áreas de intervenção prioritárias, as

principalmente a ausência de saneamento básico e demais

comunidades do Cantinho do Céu e Gaivotas foram as

déficits na infraestrutura. (figura 47).

primeiras a receber prioridade na implantação das obras do Programa no ano de 2006. A intenção inicial era remanejar

Figura 47 – Vista Aérea do complexo

todas as famílias das áreas inseridas em APP, Área de Preservação Permanente, ação que não foi possível uma vez que a área já estava consolidada e ocupada. A Partir de então foram sendo estabelecidas diretrizes para a execução do projeto. A secretaria Estadual do Meio Ambiente e Ministério Público desenvolveram ações para recuperar a área, removendo apenas algumas moradias localizadas em áreas de risco (Soluções para cidade, 2013).

Fonte: Google imagens.

O escritório responsável pelo projeto adotou como diretriz, para concepção do projeto, a valorização da paisagem

A proposta de reurbanização dessa região tem como

e da comunidade. O programa funcional do parque associa

objetivo integrá-los à cidade de forma oficial, garantindo

usos de recreação e lazer à preservação da margem com a

condições de infraestrutura urbana necessária e capacitar o

manutenção e reconstituição de espécies vegetais nativas,

ambiente para que este permita um melhor desenvolvimento

evitando o assoreamento da represa e promovendo a

dos seus moradores na sociedade. O fio condutor do projeto

qualidade de vida dos moradores. O projeto (figura 48) previu


60

a manutenção e a reconstituição de espécies vegetais nativas

Pensando mais sobre como valorizar o espaço público,

e articulação das vias principais de acesso à área residencial.

o partido projetual foram as ruas, praças, parques, como

Sobre a permeabilidade do solo, sendo essa uma premissa

conjunto

em projetos nas áreas de mananciais, a escolha do piso para

manifestações coletivas diárias, para que por meio disso seja

o sistema viário leva em conta o tipo de tráfego definido,

restítuido o sentimento de pertencimento à cidade como

utilizando pisos permeáveis em áreas de circulação de

condição básica para um desenvolvimento futuro. Para o

pedestres e o piso intertravado onde há circulação de

desenvolvimento desse projeto de urbanização do Cantinho do

automóveis. Para além disso, a intervenção ainda contemplou

Céu, foram considerados estratégias listadas segundo

a coleta e o afastamento do esgoto sanitário e sistema de

Archdaily,

drenagem (Soluções para cidades, 2013).

infraestrutura urbana, com melhorias sanitárias, ambientais e de

Figura 48 – Implantação do Projeto

de

elementos

2013:

mobilidade;

capazes

de

Complementação

provisão

dar

e

adequada

suporte

adequação

de

ás

da

equipamentos

comunitários e áreas de lazer e esportes. Foram

feitas

transformações

nas

condições

de

mobilidade e investimento em infraestrutura de saneamento ambiental para reverter o impacto sobre o manancial e garantir melhor qualidade no abastecimento de água (figura 48). Para isso, a execução do Parque nas margens da represa foi essencial para reconectar a população com o ecossistema existente. As condições de acesso e mobilidade foram trabalhadas conectando os loteamentos com a malha viária existente e do entorno. Novas ruas, vielas, escadarias foram Fonte: Boldarini Arquitetura e Urbanismo.


61

propostas para garantir o acesso a diversos pontos dentro do

Figura 49 – Corte da proposta

Cantinho do Céu e sua conexão com o entorno. A configuração das ruas foi determinada conforme a hierarquia viária. Nas vias onde o fluxo de veículos é mais intenso foi usado o pavimento em asfalto, mantendo a separação de calçada para pedestre e rua para automóvel. As vias de menor tráfego receberam tratamento com piso intertravado de concreto, com sistema de drenagem localizado no centro da via, fazendo com que as águas pluviais escoem pelo meio da rua). As vias perpendiculares ao parque, que também se enquadram nas de menor tráfego, se destacam

Fonte: Caderno Soluções para cidades, 2013.

No parque, alguns patamares gramados absorvem o fluxo de água que escorreu pela via, sendo uma estratégia para infiltração de água no solo (figura 50). Figura 50 – Corte da proposta

através do uso compartilhado entre o automóvel e o pedestre, como forma de demarcar o acesso ao parque. Nos trechos compartilhados, ao invés de bocas de lobo, as vias contam com grelhas metálicas (boca-de-leão). Além disso, foi inserida uma pequena borda delimitando as faixas predominantemente para

Fonte: Caderno Soluções para cidades, 2013.

pedestres e, a outra, onde o fluxo dos carros, apesar da diferença,

o

uso

é

compartilhado

(Soluções

para

O excedente vai sendo lançado à represa naturalmente

cidades,2013). No fim das vias, praças configuram uma área

ou segue para os dispositivos de canalização subterrânea,

de transição entre a moradia e o parque, sendo uma forma de

evitando pontos de alagamentos. Ao longo da implantação da

separação entre o privado e o público (figura 49).

obra, os pisos intertravados foram sendo substituídos por pisos permeáveis, para permitir a infiltração de até 90% da água. Em


62

outros pontos optou-se pelo uso de decks elevados que não

No eixo visual que conecta o parque com as edificações

interferem na infiltração, adaptando a irregularidade do terreno

do entorno, algumas das fachadas cegas das edificações

e melhorando a acessibilidade (ARCHDAILY, 2013)

receberam um tratamento trazendo diferentes cores e ritmos

Após a proposta de requalificação do cantinho do céu, a necessidade e carência da população por espaços de

(figura 51) , com a finalidade de diferenciar a paisagem natural do ambiente construído (ARCHDAILY, 2013).

permanência e lazer foi suprida. O parque inserido no local tem 1,5 km de extensão, o projeto foi sendo desenvolvido conforme

Figura 51 – Espaços de uso coletivo, Cantinho do Céu

a feição do terreno, a partir dessas condicionantes foram propostas estratégias de intervenção que destacam a importância ambiental paisagística da represa, além de abrir espaço para integrar as edificações do entorno à área lindeira do parque. Outros espaços contemplados no projeto, foram as áreas destinadas à preservação, esporte e lazer, fomentando atividades para diferentes faixas etárias. Os espaços livres inseridos no local fazem parte de um sistema de áreas verdes ao redor de todo o complexo; a ideia era associar o uso recreativo e lazer à preservação da margem, com a manutenção e reposição de algumas espécies nativas. As imagens a seguir 51,52,53 apresentam alguns dos setores propostos para o parque e entorno do Complexo Cantinho do Céu.

Fonte: (ARCHDAILY, 2013).


63

continue usufruindo desse importante espaço de lazer Figura 52 – Programa para lazer e atividades ao ar livre.

(Soluções para cidades, 2013). A 1ª etapa do Parque Cantinho do Céu foi entregue à população em 2011, e desde então a comunidade ampliou suas relações de sociabilidade e de contato com o lugar onde vivem. O Parque passou a ser utilizado por moradores locais e também por famílias de outras ocupações que vem ao complexo para desfrutar das atividades dentro do parque. A comunidade passou a se sentir orgulhosa da infraestrutura e lazer que possuem tão perto de casa. Muitos dos moradores do cantinho do Céu foram ao ‘cinema’ pela primeira vez no próprio parque, no espaço projetado para a exibição de filmes e jogos esportivos (figura 53). O Parque Cantinho do Céu possibilitou à comunidade do

Fonte: (ARCHDAILY, 2013).

Grajaú, se conectar e usufruir de um espaço público rico em opções de lazer, com qualidade paisagística dos espaços

A necessidade de um decreto criando o parque se deu

implantados, se assemelhando aos espaços públicos situados

pela não existência da área como parque, já que era ocupada

nas regiões mais valorizadas e centrais da cidade. Através das

por assentamentos informais, e pela necessidade de ter uma

estratégias de requalificação urbana, surge no complexo

administração responsável pela sua manutenção e limpeza,

Cantinho do Céu uma nova cidade nas margens da represa

impedindo futuras ocupações e permitindo que a população

(figura 49), mudanças essas as quais agregam de modo positivo na vida da comunidade local, assim como o sentimento


64

desse, sensação de orgulho e pertencimento da comunidade

3.4 PERCEPÇÃO DO ESTUDO DE CASOS.

com o local (Soluções para cidades, 2013). Estes projetos apresentam-se como bons exemplos de Figura 53 – Comparativo da Área Pós Intervenção.

requalificação do espaço público através de ações que retomam o caráter humanistico dentro dos centros urbanos por meio de ações que priorizam a escala humana. Ações que agregam

na

democratização

dos

espaços

públicos,

caminhabilidade, segurança e conforto dos usuários, são incentivos essenciais para fazer com que as pessoas se sintam convidadas a sair de suas casas para se reconectar com a envolvente. Ambientes com uma estética atraente e inseridos em espaços públicos ativos, tornam-se estratégias de sucesso para melhor qualidade de vida e melhores condições para vivência e experiência dos usuários.

Fonte: (ARCHDAILY, 2013).


65

“A vida em bons espaços públicos é parte importante de uma vida democrática e completa." Jan Gehl


66


67

Análise e Diagnóstico


68

4 ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO: RECANTO DA SEREIA

segunda etapa, propor a requalificação das ruas locais adjacentes à mesma. Para a execução de tais medidas, foi

Em face às pesquisas e estudos anteriores, percebe-se

feita a análise e diagnóstico do bairro, seus principais usos,

que o Bairro Recanto da Sereia surgiu de um loteamento o qual

problemas e potencialidades, para a partir disto definir

não possui o mínimo necessário para garantir melhores

estratégias e ações.

condições de vivência aos seus moradores. A problemática do Recanto emerge das camadas mais simples até as mais

Ambas as etapas do projeto são intervenções de curto a

complexas, as quais comprometem de forma direta a vida dos

médio prazo, na tentativa de proporcionar espaços atraentes

moradores em questões de deslocamento e lazer, inclusive, os

de convívio público. A ideia é a reformulação dos sistemas de

restringe de poder usufruir destes de forma segura e

mobilidade, organização das calçadas, faixas de circulação e

confortável. Tamanhas adversidades, o bairro torna-se local

estacionamentos, além de espaços verdes e mobiliário

ideal

como:

fazendo uma conexão agradável dos espaços, para que dessa

caminhabilidade, sustentabilidade e democratização, tendo

forma essas avenidas sejam vistas não só como meios de

como foco valorizar os espaços como forma de motivar as

circulação,

pessoas a se reconectarem com o ambiente comum.

lazer. Uma vez feito o diagnóstico, as propostas se dividirão

para

aplicação

de

conceitos

importantes

mas

espaços

de

convívio,

apropriação

e

em ações de curto e médio prazo: 4.1 PLANO DE AÇÃO Para implementação desses conceitos, o trabalho se

Curto Prazo: Proposta de maior urgência com o

subdivide em dois planos de ação/etapas. O objetivo central e

redesenho do sistema viário e espaço público da via, visando

primeira etapa traduz-se em um projeto de reurbanização da

demonstrar a implementação da proposta em um período

Avenida central a qual corta todo o bairro; o desafio da

curto, fazendo do espaço das ruas e calçadas locais de

proposta é a ressignificação desse eixo e para além disso, na


69

apropriação e lazer dentro do bairro, sem intervenção no uso

contexto, no entanto, reforça-se aqui que mudanças nesses

do solo.

aspectos são de suma importância para garantir espaços

Médio Prazo: Propõe o redesenho viário das vias de

ativos durante o meio tempo ao longo do dia, fachadas

uso local e da Avenida Atlântica com um projeto para

permeáveis e um maior interesse do pedestre em circular pelas

adequação da orla com a inserção de um calçadão, assim

ruas. Para que isso se realize será importante uma revisão do

como a implantação de infraestrutura necessária, arborização,

plano diretor vigente vocacionando novos usos para essa zona.

pavimentação, um sistema de drenagem necessária para evitar focos de alagamentos. Além disso, uma projeção futura será

O desenvolvimento deste projeto segue conforme as

investir em uma intensidade de utilização do solo, variando e

recomendações do Plano Diretor Municipal de Guarapari e

misturando funções compatíveis entre si e que funcionem o

demais normas técnicas existentes, dados estatísticos,

máximo de horas durante o dia. O foco é desenvolver um

levantamentos in loco e pesquisas e conversas com os

espaço ativo, que viabilize uma variedade de experiências e

moradores do Bairro Recanto da Sereia.

oportunidades para pessoas de dentro e fora da comunidade.

É importante ressaltar que o bairro carece de um número maior de equipamentos urbanos, como escolas, instituições de cultura e saúde pública, mais pontos de comércio e lazer. Todavia, dada a limitação desta pesquisa e para o melhor desenvolver da mesma, a área de intervenção delimitou-se nos espaços públicos e transformações na rua. Sendo assim, esse projeto não diz respeito a mudança de fachadas ou tipologias das edificações pré existentes no


70

4.2 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO URBANA

Seguindo a rota Vitória-Anchieta encontra-se um trecho contínuo da Área de Preservação Ambiental de Setiba (APA) e

Conectando

fragmentos

de

história

foi

possível

Parque Estadual Paulo César Vinha. A região da APA foi

compreender o surgimento do Bairro Recanto da Sereia. A

assolada

por

muitos

problemas

de

ocupação

sem

partir de dados da Regularização Fundiária do Parque Estadual

planejamento e desordenada. Segundo o IEMA (2012), esse

Paulo César Vinha produzido pelo Instituto do Meio Ambiente

processo ocorreu em meados dos anos 70 e 90 com a

e Recursos Hídricos (IEMA) do ano de 2012.

construção do eixo rodoviário ES-060 (Rodovia do Sol), o qual fazia parte da estratégia de incentivo à circulação de turistas

No ano de 1999, pela LC nº 159, de 8 de julho, o

entre os municípios.

município de Guarapari foi incluído na Região Metropolitana da

Não existem informações a fundo ou um plano de

Grande Vitória, composta pelos municípios de Cariacica, Serra,

construção desses espaços, o que se sabe é que muitos

Viana, Vila Velha e Vitória. Estabelecendo-se desde então um

problemas fundiários nasceram no processo de compra e

sistema de gestão com conselho, (composto pelo governador

venda de lotes no loteamento. Com a criação do Parque

e pelos 6 prefeitos), de caráter deliberativo, incumbido de gerir

Estadual, apareceram problemas de regularização em muitas

a “prestação de serviços comuns de interesse metropolitano”.

dessas áreas, o que fez com que alguns projetos de

No tocante à evolução urbana esta se caracteriza pelo

loteamento dentro da Reserva Ambiental fossem abandonados

adensamento na faixa costeira, especialmente nas sedes

(figura 54).

municipais e, a partir destas, expandindo-se na forma de loteamentos e outras ocupações voltadas para fins turísticos, uma vez que a atividade turística atua de forma direta na expansão urbana de áreas no Litoral Sul Capixaba, principalmente nas cidades de Guarapari e Vila Velha.


71 Figura 54 – Loteamentos abandonados na APA

Em

Guarapari,

verificou-se

uma

intensa

atividade imobiliária com comercialização de lotes para as seguintes localidades: Minas Gerais, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, no Brasil e no exterior,

por

informações

intermédio muitas

da

vezes

divulgação inverídicas

de que

continham como objeto de venda terrenos situados em região litorânea e com alto potencial de

valorização.

Contudo,

ao

contrário

da

propaganda disseminada pelo setor imobiliário, as

Fonte: Google Earth.

unidades

advindas

de

revendidas processos

a

terceiros irregulares

eram de

parcelamento de solo, conformavam localidades

Enquanto

alguns

loteamentos

estavam

sendo

embargados, outros foram se espalhando ao longo da APA de

desprovidas de infraestrutura situadas em áreas sensíveis [...] ” (IEMA, 2011, P. 350).

Setiba. Cabe ressaltar que segundo Bruno Rossi (2015) só no fim dessa década é que foi aprovada a lei 6.766/79 que

No que concerne às ocupações Irregulares/ilegais, a

regulamenta o processo de parcelamento de solo. Isso indica

maior densidade se concentra na região sul e norte do

que foram loteamentos desprovidos de infraestrutura básica,

Parque. Tratam-se dos bairros Setiba e Recanto da Sereia

mas que mesmo assim foram amplamente comercializados,

respectivamente (ROSSI, 2015). De maneira geral, esses

sobretudo para pessoas de outros estados:

loteamentos possuem rede elétrica, mas quase nenhuma rede de esgoto, as ruas não são pavimentadas e não há muita padronização no tamanho dos lotes, no entanto mesmo com


72

pouca ou nenhuma infraestrutura, continuou visível a dinâmica de comercialização imobiliária (IEMA, 2011).

Sobre o processo de licenciamento desses loteamentos, apenas o loteamento Chácaras Pontal do Atlântico que, atualmente,

possui

licença

para

operar,

os

demais

encontravam se irregulares e contra a legislação ambiental (IEMA, 2011). Cabe ressaltar que, em termos gerais, a legislação ambiental não prevê a desapropriação dos terrenos em Áreas de Proteção Ambiental, por isso, são espaços sujeitos à apropriação privada (ROSSI, 2015).


73


74

Localização


75

Recanto da Sereia Figura 55 - Localização Fonte: Autora, 2021


76

4.3 LOCALIZAÇÃO Figura 56 – Mapa de Zoneamento.

Sobre o loteamento onde será a

proposta de

intervenção, este faz parte de um loteamento mais consolidado ao norte do Parque Estadual, conhecido como Bairro Recanto da Sereia, encontra-se à margem direita da Rodovia do Sol no sentido Vitória. Com base no Plano Diretor Urbano do Município de Guarapari (PDM 2016), o Recanto encontra-se dentro do zoneamento de uso e ocupação do solo constituído por duas distintas zonas, a ZEIS 02 (zona especial de ocupação) e ZUR 01 (zona de ocupação residencial) como mostrado a seguir na figura 56, sendo delimitado pela Avenida Rodovia do Sol à oeste, Reserva estadual Paulo C. Vinha à sul e divisa com Vila Velha pelo bairro Ponta da Fruta ao norte.

Fonte: Adaptado pela autora, 2021.


77

Para muitos moradores o bairro se tornou tal qual a um

Ademais outros pormenores, a localização entre o ponto

refúgio, por ser uma região mais "tranquila" e afastada do

de pedágio e a divisa com o município de Vila Velha tornou-se

centro de Vila Velha e Guarapari. Ao caminhar pelo local,

o maior dos problemas, acarretando em diversos problemas

encontram-se uma quantidade relevante de lotes vazios, no

sérios, uma vez que seus moradores não são atendidos nem

entanto, muitos destes já possuem proprietários. Além da

pela prefeitura de Guarapari nem pela prefeitura de Vila Velha.

população residente fixa de aproximadamente 1500 habitantes (IEMA, 2011) existe uma margem significativa de pessoas que possuem casas de veraneio no local, as quais são alugadas ou ocupadas durante certas temporadas, além de muitos lotes vazios esperando valorização. Nota-se aqui uma variação anual muito grande em termos populacionais, devido à relevância turística da região; onde os passos de Anchieta (nome do roteiro que reconstitui a trilha percorrida pelo Padre Anchieta e hoje por milhares de peregrinos), a praia e as Dunas D'Ulé atraem um bom número de pessoas ao local, principalmente por conta das atividades de surf e kitesurf. Sobre sua dimensão, conforme o cadastro fundiário o loteamento do bairro Recanto da Sereia, registrado como “Loteamento Nova Ponta da Fruta'' possui área de 95,18 hectares. Neste mesmo bairro, houve em 2012 a instalação do Residencial Boulevard Mar D’ulé, condomínio fechado de alto padrão com área de 26,83 hectares (IEMA, p. 101, 2012).


78

4.3.1 Uso e Ocupação do Solo Em termos de localização, o bairro encontra-se em uma das mais importantes rotas turísticas do estado, fato esse que deveria trazer muitas vantagens para o mesmo, principalmente no que se refere a espaços mais estimulantes, equipamentos públicos e de lazer; mais identidade e oportunidades de vivência para moradores e visitantes. Em contrapartida, a região sofre com o descaso por parte do poder público e se mantém sem o mínimo de infraestrutura necessária para a comunidade, condição esta que dificulta o comércio, captação de turistas, interação social e mobilidade. Após compreensão do contexto histórico, torna-se fundamental a análise do uso e ocupação do solo, assim como sua relação com as cidades de Guarapari, Vila Velha e seu bairro vizinho, Ponta da Fruta. Explorar alguns aspectos de infraestrutura e serviços urbanos, identificar os problemas e as necessidades da população são de suma importância para a interpretação dos fatos, de forma a propor melhorias. Para isso, perscrutar o bairro, foi muito importante para compreender a forma com que este se mescla às áreas adjacentes do entorno, Ponta da Fruta. Percebe-se também que o mesmo se consolida, majoritariamente, de uso

residencial , algumas pousadas, além de poucos pontos de uso misto, com ocupações de comércios, serviços, concentrados ao longo da Avenida Central (figura 57).


Figura 57 – Mapa de Uso e Ocupação do solo 79

Fonte: Autora, 2021


80

Em sua morfologia, organizada.

seus

o bairro articula-se de forma

quarteirões

e

lotes

possuem

bom

valor do pedágio localizado na Rodovia do Sol, a maioria das pessoas

realizam

suas

atividades

essenciais

(caixas

dimensionamento, onde a maioria dos lotes seguem as normas

eletrônicos, escolas, lojas, trabalho, saúde em consulta

de afastamento sugerido no PDM, nota-se apenas que os

particular e lazer) na região de Vila Velha; muitos moradores

afastamentos nos edifícios de uso misto e comércio ao longo

se dirigem ao bairro vizinho locomovendo-se “a pé”, de bicicleta

da Avenida Central foram negligenciados.

ou via Transcol (ônibus metropolitano) quando necessitam de

As casas, em sua maioria com uma estética simples no exterior,

possuem

compatibilidade

tipológica,

uma

algum serviço (academia, por exemplo). O deslocamento para

vez

Guarapari se vê dificultado pela obrigatoriedade de pagamento

aplicados os afastamentos a maioria das casas se localizam ao

de pedágio e escassez nos horários. Sobre as áreas de lazer,

fundo do terreno, com quintal frontal, fachadas bem reservadas

o único espaço público que dispõem é a praia, que segue sem

e com muros altos; conforme o Plano Diretor Municipal as

nenhum suporte. Apesar de não ter nenhum equipamento de

edificações devem ser de até 3 pavimentos (9 metros de

lazer, na categoria institucional, há predominância de

altura), mas existem no local 2 edifícios com 4 pavimentos, são

instituições religiosas.

esses uma pousada e um edifício multifamiliar. Segundo a

A variação do uso residencial ocorre ao longo da

classificação de zonas, é permitido Comércio e Serviço Tipo 1

Avenida Central, onde existem pontos comerciais que

e 2 e Indústria tipo 1 e 2 (comércios, equipamentos de saúde,

funcionam em horário específico, fazendo com que as

cultura, lazer e serviços diversos) mas que não causem

pessoas se apropriem desse espaço durante o dia.

grande impacto na vizinhança, no entanto como já dito

Durante a noite, esses trechos perdem a vitalidade e a

anteriormente, pouco se investe nesses aspectos.

baixa iluminação os tornam hostis, visto que as

Um fator que chama a atenção, é a total ausência de equipamentos urbanos no bairro, não possui escolas, creches ou pronto atendimento/posto de saúde. Decorrente do alto

residências, em sua maioria, se localizam nos fundos, não tendo visão direta para rua.


81

Em um questionário feito com os moradores, foi feita a seguinte pergunta: “ Você ja se sentiu inseguro de circular pelo bairro por ter poucas pessoas na rua e falta de iluminação em certos locais e horários? ”

Em

resposta,

um

total

de

95,2%

dos

entrevistados responderam que sim, deixando por muitas vezes de circular nas ruas durante certos horários, ver persquisa completa no tópico 4.5 e apêndices.


82

4.3.2 Local de Intervenção

A seguir serão apresentadas as análises e proposta de reurbanização da Avenida Central e suas adjacências. A escolha foi decorrente das mínimas condições de infraestrutura urbana existente no local, assim como ausência de espaços públicos de qualidade. Os trechos escolhidos para implantação da proposta foram as Avenidas Central e Atlântica, em virtude de serem pontos de entrada no bairro, além de vias com maior circulação de pedestres, bem como pontos de encontro

e

permanência

para

utilizá-los

potencialidade para o desenvolvimento do projeto (figura 58).

como


Figura 58 – Mapa Hierarquia Viária 83

Fonte: Autora, 2021


Percurso Fotográfico

84

PERCURSO Como forma deFOTOGRAFICO imersão na área estudada, serão apresentados a seguir diagramas fotográficos (figuras 59 à 61) de pontos

importantes

ao

longo de um percurso

na área de intervenção. Todos os registros foram realizados durante a fase de levantamento com o intuito de melhor percepção da composição morfológica e estética do bairro.

Figura 59 – Diagrama fotográfico Fonte: Autora, 2021


85

Figura 60 – Diagrama fotográfico Fonte: Autora, 2021


Percurso Fotográfico II 86

Figura 61 – Diagrama fotográfico II Fonte: Autora, 2021


87

4.4 ANÁLISE FÍSICO ESPACIAL

Dentro do estudo do bairro Recanto Da Sereia, foram feitas análises com base Lynch (1960) a fim de conhecer e caracterizar a área e suas estruturas físicas e memória visual coletiva, por exemplo. Através do conceito da imaginabilidade, busca-se analisar os elementos físicos perceptíveis para que posteriormente se tornem pontos fortes para uma experiência estética marcante do lugar. Na metodologia de Lynch (1960, p. 20), imagibilidade é a qualidade de evocar uma imagem forte em um observador. Isto é, a forma, cor ou disposição facilitam a produção de imagens mentais vivamente identificadas.

Um espaço altamente imaginável (aparente, legível, ou visível), nesse sentido, pareceria bem formado, distinto, memorável de modo a convidar olhos e ouvidos à uma maior atenção e participação, como que traria um domínio estético mais profundo a tal ambiente. (LYNCH, 1960, p. 20). Para efeito, a seguir serão analisados os cinco elementos: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos; além do levantamento

de

outros

caracterização do bairro.

elementos

importantes

para


88

4.4.1 Caminhos ou Vias

apropriadas e seguras para circulação. Na Avenida Atlântica, a circulação de veículos na via paralela à praia é baixa, uma vez

O bairro possui uma única via principal de acesso, a

que a circulação maior de veículos de moradores e turistas

Avenida Central. A entrada pode ser feita pela Avenida Central

ocorre principalmente pelo eixo perpendicular (Avenida

no sentido Guarapari-Vitória ou entrando a partir do bairro

Central). As vias locais possuem baixa circulação de veículos,

Ponta da Fruta, pelo eixo da Avenida Tatuí. Ao percorrer o

sendo o fluxo característico da entrada e saída de moradores,

Recanto, através do acesso principal (a partir da Rodosol ou

figura 62 a seguir.

Ponta da Fruta) encontra-se a Avenida Central, que corta o bairro inteiro e apresenta-se como um caminho com ponto de origem e destino bem claros, sendo considerada como principal, por apresentar importância vital para o bairro e seu entorno em termos de circulação. É nesse eixo que circula o transporte coletivo, atualmente, feito apenas por uma linha do sistema Transcol. Vale ressaltar que na Rodovia do Sol circulam linhas de ônibus Transcol e Alvorada para Guarapari e Vitória (figura 62).

No que se refere ao tráfego, a Rodovia do Sol, possui intenso fluxo de veículos e consequentemente ruídos proveniente da circulação destes. A Avenida Central, por ser um eixo de importante conexão para o local, possui médio fluxo de veículos, de pessoas e ciclistas, devido à falta de condições


Figura 62 – Mapa Hierarquia Viária 89

Fonte: Autora, 2021


90

No que se refere à circulação de pedestres, o alto

Em relação à pavimentação das vias do bairro, a maior parte

fluxo de pessoas ocorre em um trecho específico com

delas é de terra batida. A Avenida Central é quase inteiramente

supermercado, padaria, ponto de ônibus e salão de

asfaltada, tendo a parte que leva à pra D’Ulé colocado piso

beleza, havendo maior circulação de pessoas durante o

intertravado.

dia, assim como a concentração das mesmas nas calçadas. Outro trecho onde se destaca uma média

4.4.2 Passeio Público

circulação e apropriação de pessoas é ao longo do canteiro central na Avenida Central. Sendo essa uma via

No que se refere às condições de circulação de

de grande dimensão, percebe-se que a mesma tem sido

pedestres no bairro, principalmente as condições do passeio

muito usada por crianças para brincadeiras com skate e

público, esses em sua maioria encontram-se em péssimas

futebol. Ao longo dessa avenida, existe a circulação de

condições ou inexistentes. Em poucos trechos existe o

grupos de ciclismo e alguns pedestres fazendo

calçamento correto das calçadas, conforme o recomendado

caminhada. Aos sábados, um lado da Avenida Central é

para calçadas cidadãs. No entanto, esses trechos tornam-se

fechada para feira itinerante, terminando às 14:00 horas.

irrelevantes, uma vez que não existe uma rua em que haja uma

Já no trecho da Avenida Central que conduz à Praia

continuidade de calçada com o calçamento em condição

D’Ulé, este apresenta alto fluxo de pessoas durante o

aceitável, no mínimo (figura 63).

dia nos feriados e fins de semana e baixo fluxo de pessoas no dia a dia. Por fim, a Avenida Atlântica apresenta-se com baixo fluxo de pessoas, por ser considerada um trecho intimidador entre a vegetação alta de restinga e casas muradas, figura 62 página anterior.


Figura 63 – Mapa Passeio Publico 91

Fonte: Autora, 2021


92

O desprezo para com os pedestres é lamentável.

Tabela 1 – Gabarito das vias

As ruas possuem larguras excelentes (Tabela 1) conforme a legislação indica, no entanto a maioria se

GABARITO DAS VIAS

encontra desnivelada, sem pavimentação, trechos isentos de calçadas ou com barreiras (mato, restos de

RUA

LARGURA TOTAL

Av. Central Trecho I

15 Metros

Av. Central Trecho II

15 Metros

Av. Central Trecho III

26 Metros

Av. Atlânta Trecho I

26 Metros

Av. Atlânta Trecho II

15

Avenida Mar Azul

21 Metros

Via Local tipo 1

9 Metros

Via Local tipo 2

12

entulhos) atrapalhando a livre circulação dos pedestres (figura 64). A conjuntura base do bairro seria proveitosa para

que

se

inserisse

melhores

condições

de

caminhabilidade, garantindo melhores condições para circulação de deficientes físicos, pedestres, ciclistas, que dentro das circunstâncias desfavoráveis atuais são forçados a andar nas ruas, competindo espaço com carros e ônibus.

Fonte: Prefeitura Municipal de Guarapari, adaptado pela autora, 2021.


Calçadas 93

Figura 64 – Diagrama de calçadas Fonte: Autora, 2021


94

4.4.3 Arborização e Áreas Verdes

No que tange a arborização e sombreamento nas ruas do bairro, existe uma quantidade mínima de árvores

Ao analisar a imagem aérea do bairro, percebe-

distribuídas de forma desigual em alguns trechos, muitas

se claramente o modo como ele se insere dentro da APA

delas foram inseridas por moradores ou se encontram

de Setiba. A região está dentro de uma grande massa

obstruindo totalmente alguns trechos de calçadas.

verde que abrange um ecossistema

Muitas ruas e calçadas inacabadas são tomadas por

de restinga

arbórea, vegetação de praias e dunas que de, grosso

“mato” que cresce em muitos locais.

modo, faz parte de um contexto maior de Florestas

.

Tropicais: Mata Atlântica. (ROSSI,2015). A porção do

A maior parte da vegetação que se pode

mar é constituída por vegetação nativa (figura 61), uma

visualizar encontra-se dentro dos lotes (figura 65), nos

margem de plantas arbustivas, herbáceas e lianas com

quintais das casas, ou em uma extensão dos mesmos,

portes que variam até 4 m de altura. Já a Restinga

como por exemplo em alguns trechos da Avenida

Arbórea, a qual já é um tipo de vegetação bastante

Central e Mar Azul, onde os moradores foram cultivando

variado em sua estrutura e composição, ela é bastante

alguns tipos diversificados de plantas ao longo do

fechada e com alturas que chegam até 15 metros. A

canteiro central, fazendo com que esses percursos se

ocupação

destaquem por fugir do padrão “árido” característico das

desordenada

e

a

desobediência

comunidade à legislação vem causando

da

impacto

ambiental sobre as formações de restinga presentes nos cordões arenosos que conformam as dunas e florações na Praia D’Ulé. (IEMA,2007)

demais ruas adjacentes.


Figura 65 – Mapa Espaços Verdes95

Fonte: Autora, 2021


96

4.4.4 Limites

característica dos limites, que é o efeito segregador nos espaços, o que por muitas vezes prejudica a visão e conexão

Lynch (1960) faz uma definição interessante sobre limites: [...] São como fronteiras entre duas partes, interrupções lineares, barreiras penetráveis ou não, quebra da continuidade. Ao circular pelos arredores do bairro, percebe-se que o limite, entre Recanto da Sereia e Ponta da Fruta, determinado pelo Plano Diretor não podem ser definidos fisicamente e a maior parte dos moradores não sabem localizá-lo com certeza, em contrapartida, o que pode caracterizar esse limite visualmente é o contraste visual desagradável ao sair do bairro Ponta da Fruta e entrar no Recanto da Sereia. Essa margem representa claramente a interrupção da continuidade do bairro, saindo de uma área mais clara com poste com iluminação a LED, menos fachadas cegas, arborização, para um espaço que é justamente o contrário de tudo isso. Outros limites destacados visualmente e fisicamente são ao sul através da Mata alta de Restinga do Parque Estadual Paulo César Vinha, a oeste pela Rodovia ES 060 e a leste é o mar que delimita o bairro. O último limite e talvez o mais importante de ser destacado é o pedágio entre os dois municípios, fazendo a ruptura

do

espaço

contínuo;

aqui

evidencia-se

uma

da cidade no todo (Figura 66).


Figura 66 – Mapa Limites e Marcos 97

Fonte: Autora, 2021


98

4.4.5 Ponto Nodal

diferença entre os nós pode ser percebida pela dimensão dos circulos rosas, conforme a figura a seguir.

O ponto nodal, mostrado na figura anterior (figura 66), pode ser caracterizado como ponto de convergência ou uma concentração importante por seu uso ou característica física, seu conceito está ligado ao de via, convergência de caminhos ou fatos ao longo de um trajeto (LYNCH, 1960, p. 58). Por todo o bairro são identificados três pontos nodais, onde as pessoas se dirigem e por vezes se ajuntam. Um deles se encontra em frente ao Mercado e Padaria, na Avenida Central, atraindo muitas pessoas durante toda semana, por ser um local de uso misto com restaurante, farmácia e serviços de cabeleireiro e barbeiro. O segundo ponto encontra-se na Avenida Central onde é comum a permanência de crianças brincando na rua, moradores ao longo do canteiro central conversando e a feira aos sábados atraindo muitos consumidores. O terceiro e último encontra-se na praia, destino de surfistas e banhistas, principalmente em fins de semana ao dia. Esses nós se destacam na estrutura do bairro por serem locais de maior convergência de pessoas e também por ser o “centro” do comércio local e espaços de interação entre a comunidade, a


99 Figura 67 – Marcos Visuais

4.4.6 Marcos Visuais

Outro ponto fundamental para análise são os marcos, espaços com características singulares, com aspecto único que se destacam no contexto e são considerados referenciais

externos

para

a

população.

Alguns

elementos marcantes que se destacam no contexto são a rotatória com a Estátua da Sereia, Restinga, Dunas D’Ulé (figura 67).

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2021.


100

4.5 PROBLEMÁTICAS E PERCEPÇÕES DOS MORADORES

Com relação ao grau de satisfação com a infraestrutura do espaço público, como se observou o gráfico da pergunta 5

Essas análises e diagnóstico, se basearam nas

(ver apêndice I), a maior parte dos entrevistados se sentem

experiências e percepções dos moradores do Recanto da

satisfeitos com a praia existente no local, dado o fato desta ser

Sereia. Torna-se fundamental entender a perspectiva dessas

o único local de lazer disponível no bairro, além disso, a mesma

pessoas sobre a realidade notória do lugar, para que através

apresenta-se como opção boa para banho e atividades de surf,

desse contato consiga se desenvolver um projeto o qual

outras porcentagens de insatisfação são decorrentes da praia

exprima a interação entre a forma e a vida.

não possuir nenhuma infraestrutura de suporte ao banhista, mobiliário, calçadão, etc. A porcentagem de pessoas satisfeitas

Foi realizada uma pesquisa de campo presencial com

e insatisfeitas com a segurança é quase que equilibrada (33%

33 moradores com idades que variam de 15 a 60 anos. O

e 54% respectivamente), tal fato justifica-se graças ao baixo

propósito foi compreender o ponto de vista de cada um a

índice de criminalidade dentro do bairro, alguns moradores

respeito das atividades praticadas no bairro, o que eles

relatam esporádicos furtos em algumas casas de veraneio

pensam a respeito da infraestrutura existente, grau de

vazias. No entanto, é apontado sensação de insegurança e

satisfação com os espaços, assim como suas respectivas

medo em alguns trechos, devido à baixa ou ausência de

demandas. Para efeito, a seguir serão apresentadas a análise

iluminação, como se pode ver no gráfico é grande a

da pesquisa e alguns dos relatos mais expressivos e que foram

porcentagem de pessoas insatisfeitas e muito insatisfeitas com

essenciais para concretização dessa análise e diretrizes

a situação. Sobre o calçamento das ruas e calçadas, como

projetuais. A pesquisa completa e os dados gráficos encontra-

muito já foi relatado anteriormente, percebe-se através dos

se nos apêndices.

dados, que em ambas as questões a expressiva maioria está insatisfeita ou muito insatisfeita. Vale destacar que por conta dos buracos e falta de caimento correto das vias, em períodos


101

de chuvas formam-se verdadeiras lagoas em muitas ruas do

problemas os quais limitam a circulação confortável dentro do

bairro. Os desníveis das calçadas e dos trechos ausentes, em

bairro, muitos moradores permanecem praticando atividades

períodos de alagamento e chuva, faz com que as pessoas, que

físicas, principalmente em pequenos grupos de caminhada.

não possuem automóvel sejam forçadas a entrar na água e

Infelizmente esses momentos acontecem em períodos que,

andar pelo meio da rua para chegar a seus destinos.

segundo eles, predomina certo desconforto em ter que correr

Sobre as atividades que eles consideram importantes para

ou caminhar fora da calçada, tendo que muitas vezes desviar

melhorar a qualidade de vida no local, com exceção de mesas

para um “canto” quando passa algum ônibus ou carro em

para jogos, pois apenas 45% dos entrevistados consideraram

velocidade acima dos 30 km permitidos. A atividade do surf é

indiferente, as demais atividades obtiveram expressiva

praticada por moradores e muitos surfistas vindos de Vila

aprovação,

Velha. No local existe uma escola de surf e kitesurf e gera

sendo

consideradas

importantes

por

aproximadamente 85% das pessoas.

movimento diurno e semanal.

Ao perguntar, sobre o que cada morador acha das

A sensação de conforto e segurança é muito importante

condições das calçadas do bairro (ver apêndice I), fica mais

para que o usuário se sinta à vontade para transitar e se

explícito as condições dos passeios públicos dentro do bairro,

apropriar um espaço. Ao perguntar sobre: “ Você já se sentiu

poucos trechos aceitáveis, os existentes são em frente às

inseguro em circular pelo bairro devido à baixa iluminação e

casas recém construídas e estabelecimento de comércio.

ausência de pessoas na rua em certos horários” (ver apêndice

Ademais, a maioria encontra-se em péssimas condições e com

I), mais uma vez destaca-se a forma com que a infraestrutura

trechos inexistentes.

básica, como no caso da iluminação, atrapalha para que os moradores se envolvam com um espaço que é deles, por

Sobre quais atividades cada morador pratica dentro do bairro (ver apêndice I), é visível que em meio a muitos

direito. Além de evidenciar a falta de pessoas se apropriando do espaço público em certos horários.


102

4.6 POTENCIAIS E VULNERABILIDADES Os pontos de vulnerabilidade identificados no local de estudo Após os estudos realizados nos diagnósticos, pode-se

são:

ressaltar os principais aspectos de potencialidades e

- Falta de valorização à escala humana, com pouca iluminação

vulnerabilidades a serem trabalhados nas etapas seguintes.

e pontos de escuridão, falta de espaços públicos de qualidade,

Com objetivo de fortalecer os potenciais, foram levantados

falta de mobiliário.

aspectos que agregam no que concernem em estimular novas

- Pouca circulação de pessoas nas ruas, concentração de

experiências

imóveis com fachadas cegas ou muito fechadas, sem contato

estéticas

em

cada

indivíduo.

Questões

importantes como (figura 68):

com

os

acontecimentos

na

rua

e

sensação

de

insegurança, visuais desagradáveis e hostis. - A existência de uma rota de circulação forte (já usada por

- Ausência de infraestrutura verde e arborização, espaços sem

pedestres e ciclistas);

nenhum atrativo e vitalidade.

- Possui uma identidade considerada marcante, considerado como local que exprime tranquilidade pela baixa circulação de veículos na maior parte do dia e eventuais casos de roubos e “baderna”; - Está dentro de uma rota turística de peregrinação por conta dos Passos de Anchieta, além da praia, muito usada para lazer, atraindo muitos visitantes pelo surf e kitesurf; - Tem baixa circulação de veículos na maior parte do dia. - Possui trechos da rua como espaços de apropriação e interação pública.


Figura 68 – Mapa Potenciais e Vulnerabilidades 103

Fonte: Autora, 2021


104

4.7 TRECHOS DA INTERVENÇÃO

trechos que mais causa incômodo à população. A ideia aqui é transforma-lo em um marco significativo, marcando uma

É possível observar que as Avenidas Central e

identidade expressiva para o bairro através de pinturas

Atlântica possuem características distintas ao longo de

urbanas no muro, além disso é importante adequar calçadas,

sua extensão. Desse modo, pode-se verificar quatros

lotes baldios e iluminação, criando um eixo de conexão

segmentos diferenciados. Trecho I (destacado em azul),

memorável entre as partes da avenida.

trecho II (destacado em rosa), Trecho III (destacado em laranja) e trecho IV (destacado em amarelo) (figura 69).

Trecho

III:

como

uma

das

intervenções

mais

importantes, neste trecho que possui conflito de atividades, Trecho I: destaca-se por suas atividades comerciais e

estacionamento e feira, com circulação de ciclistas, pedestres,

seu fluxo, bem como a aglomeração de pessoas ao longo do

skatistas, além de transporte coletivo e privado, por estár em

dia, paralelamente a isso, deve solucionar os casos de

uma região onde é notório a prática dos moradores de se

estacionamento indevido de veículos e o conflito existente

apropriarem das calçadas para interação, propõem-se um

entre os mesmos com pedestres e ciclistas; além do uso das

trecho de rua compartilhada (figura 69), diminuindo o espaço

calçadas pelos empreendimentos locais, o que também

destinado à circulação de veículos e criando uma rua como

atrapalha na circulação de pessoas. A intenção é manter o uso

espaço de apropriação e lazer para os moradores. O objetivo

das calçadas pelo comércio também, mas de modo a articular

é tornar esse trecho um espaço âncora para o bairro, sendo

ruas e calçadas, tirando o protagonismo dos automóveis.

um espaço completo de incentivo à permanência e convivio social para todas as idades.

Trecho II: considerado um marco por ser uma região de visual desagradável, possui uma extensa parede cega, pouca iluminação e lotes vazios e com muito “mato”, sendo um dos


Figura 69 – Mapa Trechos da intervenção 105

Fonte: Autora, 2021


106

O trecho IV: apesar de ter parte do percurso

Além das intervenções citadas anteriormente, também é

pavimentado há pouco tempo, é necessário reestruturação das

proposto um estudo volumétrico definindo recomendações

calçadas, uma vez que não foram feitas melhorias, a maioria

para o redesenho das vias locais.

se encontra irregular, com desníveis. Devido à degradação da

Nas intervenções destacadas anteriormente, destaca-se a

Mata de Restinga no trecho demarcado no mapa de

inserção de paisagismo e arborização

vulnerabilidade (ver figura 68) a Avenida Atlântica, sem

redesenho das calçada, redução das faixas de rolamento,

pavimentação, diariamente sofre com a ação do vento que

pavimentação adequada das vias, inserção de infraestrutura

acumula montanhas de areia, dificultando a circulação de carro

verde ligada à rede de drenagem, intervenções pontuais com

ou bicicleta no local. Além disso, a praia não possui

pontos de ônibus e mobiliário urbano, além da implantação de

infraestrutura para trazer melhor conforto para os visitantes, há

uma ciclofaixa em uma rota específica e atraente ao longo do

pouca iluminação, o que faz com que seja inviável a prática de

bairro.

atividades no local durante a noite, como caminhadas, ciclismo, etc. Decidiu-se dar um novo condicionamento para essa rua que leva à praia com pavimentação adequada para, iluminação a nível do pedestre, ciclofaixa, etc. Também será desenvolvido um estudo volumétrico para um projeto da orla com a inserçao de um calçadão como incentivo â maior circulação de moradores no local para caminhadas e permanência fora da faixa de areia.

em todas as ruas,


107


108


109

O Projeto


110

5 PROJETO

5.1.2 Diretrizes Gerais para o Bairro

5.1 DIRETRIZES PROJETUAIS - Trabalhar alguns aspectos que marcam a identidade do bairro As diretrizes projetuais foram estabelecidas a partir de

como: a reserva, praia D’Ulé e surf;

alguns conceitos que desse suporte ao lazer, como:

- Promover a identidade do bairro através de pinturas urbanas

sustentabilidade,

nas fachadas cegas e muros;

caminhabilidade,

segurança.

A

implementação desses conceitos, dentro da área do Recanto,

- Trabalhar junto à Prefeitura e proprietários para que os

tem como objetivo a articulação de princípios estéticos, a fim

terrenos vazios permaneçam cercados e limpos, evitando

de agregar características estéticas e de embelezamento, que

assim acúmulo de lixo e crescimento excessivo do mato.

possam fomentar melhores experiências aos usuários dentro

- Inserir mais pontos de iluminação adequada em LED e

da dinâmica do dia a dia. Pensando no conforto e vivência dos

iluminação ao nível do pedestre;

moradores, as diretrizes têm como objetivo fazer com que os

- Redesenhar os espaços de circulação de veículos nas vias,

usuários vejam o espaço da rua como espaço público de

assim como largura e acessibilidade dos passeios públicos;

interação coletiva e lazer. O projeto será desenvolvido para que

-Restauração do monumento da sereia;

as pessoas possam sair dos refúgios privados e adquirirem o

- Adequar os pontos de estacionamento com bolsões;

hábito de caminhar, pedalar ou apenas sentar para passar

- Reduzir a quantidade de vias de fluxo bidirecional;

mais tempo no espaço público. O espaço será planejado para que o usuário tenha uma experiência na qual os sentidos estejam ativos para as percepções do entorno e oportunidades agradáveis da envolvente.


111

5.1.3 Diretrizes para a Avenida Central

- Inserir piso intertravado nos trechos sem pavimentação. -Regularizar o sistema de drenagem das ruas, inserindo bocas

- Inserir árvores em toda extensão;

de lobo e bocas de leão.

- Inserir aplicação de infraestrutura verde como canteiros de

- Trabalhar calçada em frente aos espaços de comércio

chuva de modo a facilitar a penetração de água no solo.

viabilizando o uso destas de maneira mais confortável e menos

- Enterrar fiação elétrica dos postes e trocar para LED.

conflituosa.

- Trabalhar iluminação adequada à escala humana.

- Privilegiar a circulação de pedestres e ciclistas em todos os

- Equipar calçadas com mobiliário urbano adequado;

trechos.

- Inserir sinalização adequada para diminuir a velocidade dos

- Retirar pontos de estacionamentos;

veículos e inserir faixa de pedestres no eixo;

-Inserir alguns pontos de estacionamento rotativo para o

- Inserir trecho de rua compartilhada;

comércio;

-Inserir pontos de ônibus coberto. - Fazer a regularização das calçadas em questões de largura, pavimentação e altura bem como inserção de rampas; - Inserir espaços de permanência pontuais que incentivem o uso do espaço público; - Projetar rua compartilhada com inserção de espaços para incentivar a vida pública, mesa de jogos, bancos, etc. - Inserir uma ciclofaixa como incentivo à prática de ciclismo existente no local. - Fazer a regulamentação das vias em termos de nivelamento e caimento para escoamento de águas das chuvas.


112

5.1.4 Diretrizes para Av. Atlântica

5.1.5 Diretrizes para as ruas locais

- Privilegiar os pedestres e ciclista com inserção de ciclofaixa e

- Privilegiar os pedestres diminuindo as faixas de rolamento e

adequação de calçadas e arborização;

aumentando a largura das calçadas;

- Desenvolver um estudo volumétrico para orla com calçadão

- Alterar o sentido das vias de bidirecional para unidirecional;

com bancos e espaço confortável para a permanência dos

- Adequar as calçadas, criando eixos contínuos, com boa

visitantes;

largura e com rampas e indicações de acessibilidade;

- Inserir mais pontos de iluminação ao nível dos pedestres;

- Adequar as rampas de acesso às garagens;

- Fazer a pavimentação dos trechos que ainda não foram

- Promover pontos de permanência agradáveis com mobiliários

pavimentados, incentivando a circulação de pedestres e

e arborização próximos às residências;

ciclistas;

- Inserir mais pontos de iluminação e trocar as lâmpadas para

- Delimitar alguns pontos estratégicos de estacionamento;

LED;

- Inserir infraestrutura verde complementar à existente.

- Fazer o nivelamento adequado das vias para melhor drenagem da água da chuva; - Fazer a pavimentação com blocos de concreto de piso intertravado; - Inserir paisagismo e pontos de arborização e infraestrutura verde; - Adequar pontos estratégicos de estacionamento;


113


114

5.2 ENSAIO PROJETUAL

Nas páginas seguintes, serão apresentadas uma síntese esquemática e descritiva do projeto proposto para o bairro Recanto da Sereia. As recomendações urbanísticas tem como pretensão a requalificação do bairro como um todo, no entanto, destaca-se alguns trechos ao longo da Avenida Central como foco principal do projeto. O conjunto do plano de ação à curto e médio prazo agem diretamente para valorização da paisagem natural, assim como a incorporação de uma identidade e embelezamento do Recanto. Nas demarcações pontilhadas sobre o mapa da figura 66 a seguir,

estão

delimitados os trechos de maior influência ao longo da avenida e

que

serão

ampliados/detalhados

com

a

proposta

posteriormente. Para efeito, a análise dos pontos nodais vistos anteriormente, foi o ponto chave para a resolução e qualificação

do

projeto.

Essas

propostas

não

são

recomendações técnicas minimamente detalhadas, mas sim ensaios projetuais que possam gerar novos estudos e debates que aprofundem o tema.


Figura 70– Mapa Síntese - Macroproposta 115

Fonte: Autora, 2021


116

5.3 MOBILIDADE

Com relação à rede de mobilidade do Recanto, é

Com relação ao transporte público coletivo, foi proposto

proposto a reformulação da estrutura viária em todo o bairro

um desvio da rota, como pode se verificar ao se comparar o

sendo essa uma das ferramentas principais para qualificação

mapa de mobilidade a seguir (figura 71) com o mapa de

desses espaços. A mudança no desenho viário, tem como

Hierarquia viária (figura 62, visto anteriormente). Desviar a

objetivo articular todos os espaços adjacentes e tirar partido da

circulação de ônibus nesse trecho da via, que se tornou rua

rua como espaço público vital viável para circulação e conexão

compartilhada; em conjunto com a orla, foi porque esses

entre pessoas e toda a natureza local.

espaços tem suporte para diferentes usos, atividades de lazer

Como suporte à rede de mobilidade no Recanto, cada um dos trechos foi estruturado à base dos conceitos de

ou comercial, que de forma democrática foi estruturado para atrair pessoas de diferentes idades ou classes sociais.

espaços livres públicos e ecologia. A proposta foi desenvolvida

Todas as intervenções mantém a fluidez necessária

com base na particularidade de cada região. Foi proposto o

para qualificação homogênea desses espaços, através da

redimensionamento das vias, inserção de ciclofaixa, ampliação

pavimentação,

dos passeios, criação de uma orla com

ponto de bike

paisagismo, além de proporcionar oportunidades para lazer,

compartilhada e rua compartilhada; são estratégias adotadas

apoio ao comércio, cultura, apropriação e encontros. assim

com objetivo de priorizar os modais alternativos e instigar o

como ganhos na qualidade de vida dos usuários.

desejo do usuário de

percorrer a envolvente, a pé ou de

bicicleta. Sobre a ciclofaixa, a mesma foi inserida em uma rota já usada por ciclistas, além de ser uma estratégia a conduzir os que a utilizam para um pedal mais inspirador ao longo da orla.

estratégias

de

drenagem,

iluminação,


Figura 71 – Mapa de Mobilidade 117

Fonte: Autora, 2021


118

5.4 ARBORIZAÇÃO

As novas espécies de árvores implantadas ao longo das faixas de serviço são espécies cujas raízes não causarão

Como um potencializador dos espaços públicos, neste

problemas futuros às calçadas e tubulações subterrâneas. O

projeto a arborização das ruas, que em conjunto com canteiros

maior desafio são as árvores preexistentes pois muitas delas

pluviais com variedades de herbáces, fazem parte da

estão em uma locação inapropriada, impedindo a circulação

estratégia de criar espaços sensoriais com estímulos

livre de pedestres e cadeirantes. A estratégia para estes casos

constantes de cores, texturas e sons provenientes da fauna

é trabalhar junto a um profissional responsável para realizar

atraida pelas diferentes plantas do local. Foram selecionadas

uma vistoria e definir a necessidade de poda ou retirada da

espécies (figura 72) de pequeno à médio porte, nativas do

árvore em questão. Vale ressaltar que o objetivo é manter o

estado do Espírito Santo e com plantio incentivado pela

maior número de árvores que estiverem em condições.

prefeitura de Guarapari através do projeto "Projeto Plante Essa Ideia"). Pensado de forma coesa, de modo a criar conexões verdes ao longo dos percursos, a inserção de infraestrutura verde com canteiros de chuva agregam valor ao projeto, além de auxiliar o sistema de drenagem na absorção da água da chuva em tempos de maré cheia. Mais que

embelezamento da paisagem, todo o

paisagismo inserido ao longo das vias, composições de espécies de árvores, herbáceas e forrações cooperam para um microclima agradável, qualidade do ar, sombreamento sendo essencial para o bem estar geral.


Figura 72 – Espécies para arborização 119

Fonte: Autora, 2021


120

5.5 TRECHO I

ideia do verde e mobiliário, para descanso ao longo da via é

O perfil e a ampliação do trecho I, figuras 73 à 74,

permitir que a população se aproprie desses espaços seja para

referem-se à um dos principais nós identificados na análise do

momentos de descansos, interação, usufruir do conforto da

recanto, sendo esse trecho da Avenida Central com maior

natureza e contemplar a paisagem com fauna (borboletas,

incidência de pontos comerciais e uso misto, o que influencia

pássaros) atraídos por ela.

no maior fluxo de pedestres, ciclistas, de transporte público e veículos. A proposta de projeto teve como foco o redesenho da via, diminuir as faixas de rolamento para três metros cada, inserir ciclofaixa bidirecional, ampliação dos passeios com faixa

de

serviço,

sinalização

horizontal,

rampas

de

acessibilidade. Foram retiradas as faixas de estacionamento em ambos os lados e inseridos alguns pontos específicos para carga e descarga. Os postes de iluminação com dois braços faz a boa iluminação da rua e calçada, promovendo um ambiente mais confortável para o usuário.

Para impulsionar experiências sensoriais ao longo do percurso, foi inserido um espelho d’água com fonte no cruzamento e trabalhadas estratégias de infraestrutura verde, com composições de espécies harbóreas coloridas e frutíferas (figura 72), além de um leque de espécies herbáces nos canteiros pluviais (auxílio na absorção de água da chuva). A


Perfil Viário Trecho I

Figura 73 – Perfil viário trecho I Fonte: Autora, 2021

121


Recorte e Implantação Trecho I 122

Figura 74 – Implantação recorte trecho I Fonte: Autora, 2021


Perspectivas Trecho I

123

Figura 75 – Perspectiva I trecho I Fonte: Autora, 2021


124

Figura 76 – Perspectiva II trecho I Fonte: Autora, 2021


125

Figura 77 – Perspectiva III trecho I Fonte: Autora, 2021


126

5.6 TRECHO II O trecho dois dá continuidade ao anterior e se mantém com a mesma faixa de rolamento do anterior, ampliação de calçadas, infraestrutura verde e variação paisagistica. A inserção de abrigo para ônibus, calçadas cidadãs com acessibilidade e iluminação foi muito importante para a adequação da via (figuras 79 à 82). Como uma ações projetuais principais para marcar a identidade do Recanto, o foco para este percurso foi torná-lo um marco para o bairro, transformando mais de 50 metros de fachada cega em um mural artístico símbolo da identidade do Recanto (Restinga, praia, sereia e surf). A ideia é fazer com que todas as fachadas cegas do bairro possam obter um novo visual através do trabalho artístico de artistas profissionais ou amadores.


Perfil Viário Trecho II

Figura 78 – Perfil viário trecho II Fonte: Autora, 2021

127


Recorte e Implantação Trecho II 128

Figura 79 – Implantação recorte trecho II Fonte: Autora, 2021


129

Perspectivas Trecho II

Mural Artístico desenvolvido por: Vinícius Oliveira Figura 80 – Perspectiva I trecho II, Antes e depois Fonte: Autora, 2021


130

Figura 81 – Perspectiva II trecho II Fonte: Autora, 2021


131

Figura 82 – Perspectiva III trecho II Fonte: Autora, 2021


132

5.7 TRECHO III Na sequência, o trecho três apresenta uma das maiores ambiências do bairro, sendo este um espaço âncora. Com uma composição especial ao longo da rua compartilhada se destacam as árvores de Ipê rosa e Jacarandá, sombreando os espaços de permanência com bancos e mesas de jogos no centro da via. Algumas

estratégias

anteriores

de

qualificação

da

via

(iluminação, mobiliário, sinalização) foram mantidas aqui, no entanto, sendo rua compartilhada com ciclofaixa, prioridade de circulação dentro do espaço é de pedestres e ciclistas, sendo neste caso o trânsito de automóveis limitados ao fluxo de moradores e com vaga de carga e descarga para casos excepcionais (figuras 83 à 87). Nesse trecho em especial o piso recebe uma paginação diferente com placas de concreto e um detalhe especial em granito preto e branco, onde o desenho cria "nichos" com diferentes usos (espaço gramado, bancos, mesas, paraciclos), além de ser um espaço que adequa de forma confortável a feira itinerante dos sábados, tudo para fornecer espaços agradáveis para convívio social e lazer.


Perfil Viário Trecho III

Figura 83 – Perfil viário trecho III Fonte: Autora, 2021

133


Recorte e Implantação Trecho III 134

Figura 84 – Implantação recorte trecho III Fonte: Autora, 2021


Perspectivas Trecho III

135

Figura 85 - Perspectiva I trecho III Fonte: Autora, 2021


136

Figura 86 - Perspectiva II trecho III Fonte: Autora, 2021


137

Figura 87 - Perspectiva III trecho III Fonte: Autora, 2021


138


139

5.8 ESTUDOS VOLUMÉTRICOS

Estudos Volumétricos


Ações para ruas locais 140

5.8.1 Ruas Locais Figura 88 - Proposta volumétrica para ruas locais Fonte: Autoria própria, 2021

- Vias de 10 – 12 metros - Mudança da via para unidirecional - Travessia elevada


Ações para Orla 141

- Av. Atlântica com 26 metros de dimensão

5.8.2 Orla Figura 89 - Proposta volumétrica para orla Fonte: Autoria própria, 2021

- Calçadão com 14,50 metros - Faixas de rolamento com 5.85 metros - Ciclofaixa bidirecional com 2.50 metros


142


143

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

necessidade de políticas de planejamento urbano que explorem a articulação dos três elementos: cidade, natureza e

Para além dos fins acadêmicos, esta proposta de

indivíduo de modo a promover lugares que transmitam uma

intervenção surgiu a partir da ótica de uma moradora do

identidade e estimule uma melhor experiência do indivíduo com

Recanto da Sereia que há cinco anos observa o bairro passar

o local o qual ele faz parte. O objetivo principal do projeto

despercebido mediante às faltas de investimento do poder

Recanto é promover a reurbanização do bairro, visando tornar

público e a carência por infraestrutura urbana. Surgiu também

a rua ferramenta direta para que haja uma reconexão entre as

como uma forma de enaltecer a natureza aqui presente, as

pessoas e a envolvente.

dunas e a praia com restinga preservada, mas também

Sendo um local importante dentro da rota turística da

provocar discussões sobre como a ausência de espaços

região, o Recanto da Sereia apresenta-se com grande

públicos qualificados tem afetado diretamente a vitalidade do

potencial em termos morfológicos e riquezas naturais, todavia

local e o convívio entre os moradores.

inexplorado até então. As análises das condicionantes locais,

Através da bibliografia estudada, ao longo dos capítulos

assim como entrevista com os moradores foram critérios

revelam-se as funções e benefícios do espaço público dentro

importantes para compreender os principais potenciais e

da cidade, tais como ação de qualificação ambiental, incentivo

vulnerabilidades a serem trabalhados. Perante isso, acredita-

à circulação, imaginário e encontros. Infelizmente sabe-se que

se na importância de aplicar estratégias e intervenções

muitos espaços públicos são construídos através de planos e

urbanísticas estudadas ao longo do texto a fim de transformar

jogadas políticas, o que faz com que esses conceitos

a realidade da região resignificando seus espaços públicos que

importantes sejam colocados em segundo plano dando origem

se encontram monótonos e sem identidade. Deste modo, o

a projetos genéricos fora do contexto existente e a realidade da

trabalho alcança seu propósito com uma nova composição do

população. Como uma forma de enfatizar a necessidade de

espaço público através de murais artísticos a evidenciar a

mudanças nesses paradigmas, esse trabalho enaltece a

identidade do bairro, considerada por muitos dos entrevistados


144

como sendo a reserva, restinga, praia e surf. As melhorias ambientais se deram com aplicação de infraestrutura verde, canteiros pluviais auxiliando na absorção das águas da chuva e evitando os alagamentos recorrentes até então. Ao investir em uma composição paisagística dinâmica e colorida, com a reestruturação dos passeios, inserção de ciclofaixa, iluminação e mobiliário, surge uma nova face do Recanto, com potencial mais intimista e acolhedor, rico em estética, natureza e vivências que instigue aos moradores novas formas de se apropriar e reconectar com o espaço usando da mobilidade ativa. Por fim, ressalta-se a necessidade de se refletir sobre a humanização dos espaços dentro do planejamento urbano a fim de que esse seja um dos principais norteadores quando se trata de tornar um espaço socialmente melhor.


145

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<http://solucoesparacidades.com.br/wpcontent/uploads/2017/ 12/Espacos-Publicos-WEB.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2019.

Soluções Para Cidades. Parque Cantinho do céu. 2013. Disponível

em:

<https://www.solucoesparacidades.com.br/wpcontent/uploads/


148

APÊNDICES Pergunta 2 Questionário realizado com os moradores do bairo Recanto da

“Já passou por problemas de alagamento em

Sereira, em Guarapari. A seguir alguns apontamentos

algumas ruas do bairro ? Como consegue circular pelas

consideradas mais relevantes no âmbito dessa pesquisa.

ruas neste caso?”

Pergunta 1 “O que você considera importante para incentivar a circulação de pessoas a pé ou de bicicleta pelo bairro ?”

Respostas: “Sempre quando chove não é possível andar a pé em muitas ruas do bairro, só é possível transitar nesse caso com automóvel!”

Respostas: “Iluminação,segurança, pontos atrativos,ciclovia,calçamentos etc.” “Vias em condições ( calçamento), iluminação, segurança, limpeza.”

“Sim. Improvisando madeiras ou blocos para "facilitar" a passagem.” “Minha rua parece o próprio mar ,agora eu sei o que é andar sobre as água, tem que andar com sacos amarrados nas pernas até o joelho,levar outro calçado pra trocar e toalhas pra

“Temos Av. Tatuí (Central) que já é usada e rua praia”

secar os pés,estado super crítico e quando estamos de carro

“Mais comércio, segurança, pontos atrativos, ciclovia”

corremos risco de bater o motor.”

“Espaços públicos para saúde e bem-estar.”

“Sim , infelizmente tendo que passar dentro do alagamento.” “As ruas laterais e as do fundo são horríveis de circular, por causa de lama e buracos.” “Muitos problemas, algumas pessoas nem conseguem sair de casa para se dirigir ao seu local de trabalho.”


149

Pergunta 3

Pergunta 4

Você acha que o Bairro possui uma identidade

Quais são os maiores problemas que você encontra no

marcante? Se sim; O que você considera como a

bairro?? O que você acha que deveria ser modificado para

"IDENTIDADE" do Recanto da Sereia?

melhorar o dia a dia dos moradores?

Respostas: “Sim. Praia, surf e o monumento da sereia (que precisa ser restaurado)”

Respostas: “Posto de saúde que atenda a comunidade , um apoio ao comércio local , segurança , área de lazer , apoio a feirinhas , iluminaçao maior , pavimentação das ruas e rede de esgoto .”

“Tem uma identidade de cidade do interior, com menos violência e insegurança.”

“A Falta de segurança pelas ruas por serem muito vazias, e mal iluminadas, acredito que as ruas “vivem” vazias pois não

“A Praia é uma identidade marcante do bairro.”

há pontos atrativos e de entretenimento no bairro, outro problema é a falta de asfaltamento nas ruas no qual fica

“Sim. A praia com a restinga ainda preservada.”

impossível sair a pé em dias de chuvas! É preciso para melhoria do bairro feiras e pontos turísticos, paisagismos, pois

“A Praia limpa, o surf”

não há muitas árvores no local, asfaltamento das vias, melhoria da iluminação. Com isso creio que seria o bastante para atrair turistas e moradores do próprio bairro, deixando-o menos inseguro e mais movimentado.”


150

“Alagamento, lama, sinalização, calçadas e segurança.” “Ruas ainda sem calçamentos, falta de calçadas para pedestres, iluminação precária, limpeza, fiscalização mais pesada em relação à lixos e descartes de entulhos e objetos na restinga e terrenos baldios, fogos ateados por moradores, iluminação e áreas de lazer.” “Falta de segurança, Calçamentos, Iluminação.Deveriam ser melhorados: Lojas, Bancos, Lotéricas, Pontos atrativos” “Melhorar a iluminação de alguma ruas, terrenos de propriedade particular serem limpos por seus donos, e as ruas de maior transição serem melhoradas.” “As ruas que não são calçadas, quando chove as ruas alagam devido aos buracos além da quantidade de lama. Precisa com urgência acabar com os buracos das ruas laterais.”


151

Pergunta 5 Com relação as questões a seguir; como você se sente?


152

Pergunta 6 Quais tipos de atividades você considera importante para melhorar a qualidade de vida dos moradores?


153

Pergunta 7 O que você acha das condições das calçadas do bairro?


154

Pergunta 8 Quais atividades você pratica dentro do bairro?


155

Pergunta 9 Com relação a qualidade ambiental e conforto o que você acha dos itens a seguir ?


156

Pergunta 10 Você ja se sentiu inseguro de circular pelo bairro por ter pouca pessoas na rua e falta de iluminação em certos locais e horários?

Sim Não

97%

3%


157

“ [..] As ruas não negam. Não negam calçada (de cimento rachado), Uma sombra (debaixo do oitizeiro), Não negam caminho, Não negam ninguém, nada. Nada pode ser mais democrático, Mais ditador, Mais comunista, Mais anárquico que a rua, Nada pode ser ”. Mailson Furtado


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