UNIVERSIDADE DE BRAZ CUBAS Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa Institucional de Iniciação Científica
Grandes Projetos Urbanos na América Central e Latina INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS DA CIDADE DE GUADALAJARA
Relatório Final referente ao período de Junho de 2012 a Julho de 2013
Laura Mari Yamamoto RGM: 250627 Orientador: Professor Me. Elvis José Vieira
Mogi das Cruzes, SP 2013 1 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
1.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 3
2.
METODOLOGIA.............................................................................................................................. 8
3.
RESULTADOS PARCIAIS ................................................................................................................ 10 3.1 CONFIGURAÇÃO GEOGRÁFICA DE GUADALAJARA.................................................................................. 10 3.2 CONFIGURAÇÃO HISTÓRICA DE GUADALAJARA..................................................................................... 13 3.3 GRANDES PROJETOS URBANOS DE GUADALAJARA ................................................................................ 20 Plaza Tapatía – IGNÁCIO DÍAZ MORALES. ......................................................................................... 20 CCU – Centro Cultural Universitário – Plano Mestre - CESAR PELLI ................................................... 21 Museu Guggenheim Guadalajara - .................................................................................................... 24 Centro de Convenções e Negócios JVC – Plano Mestre - ENRIQUE NORTEN ..................................... 25
4.
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 27
5.
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 29
2 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
1.
INTRODUÇÃO
Nas ultimas três décadas o desenvolvimento de Grandes Projetos Urbanos vem se difundindo como ferramenta de intervenção urbana capaz de regenerar partes do tecido urbano degradado ao longo dos anos ou fruto da destruição em decorrência da II Guerra Mundial, assim como os desastres naturais (furacões, tsunamis, terremotos etc.) que arrasaram cidades inteiras provocando a reconstrução imediata para atender a crescente demanda habitacional que se instalava a cada momento.
É certo que os países europeus foram os que mais sofreram, sendo obrigados a repensar suas estruturas urbanas e definir, rapidamente, estratégias de reconstrução de forma eficiente. Neste sentido, o Movimento Moderno tornou-se o principal protagonista destes cenários que necessitavam de arquitetos e urbanistas capazes de redesenhar as cidades e atender a uma nova comunidade que surgira: o homem moderno. Este “novo ser” que com o advento da máquina, tem o automóvel seu maior aliado e transformador dos conceitos urbanísticos ate então aplicado.
Podemos afirmar que duas cidades foram palco das maiores, e mais importantes, transformações do século XX. Paris, capital da França, onde o Plano Haussmann redesenha o tecido existente a partir da abertura de grandes boulevard e a implantação de marcos urbano, como a Torre Eiffel, Arco do Triunfo ou Museu do Louvre, e Barcelona, capital catalã que vê na proposta de Cerdà a projeção de uma cidade até então limitada às muralhas se expandir território afora através de seu “Enseche”, num ensaio urbanístico único de expansão da cidade sobre uma quadrícula meticulosamente estudada e controlada através de sua densidade urbana.
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Diferentemente do Velho Mundo, os países americanos nem sempre resultaram de Planos ou Projetos Urbanos capaz de direcionar o crescimento e desenvolvimento das cidades. No entanto, mesmo sendo um continente novo, algumas cidades já chegam a meio século de existência e necessitam cada vez mais de estratégias urbanas que garantam sua sustentabilidade e desenvolvimento urbano compatíveis com as atuais tecnologias.
Destaca-se cada vez mais, Cidades Latinas e da América Central que estão desenvolvendo um conjunto de Grandes Projetos Urbanos no intuito de regenerar partes de seu tecido urbano degradado ao longo dos anos ou que sofreram abandono de setores da cidade que já não mais atendiam as necessidades da dita “Economia Global”, resultando em áreas subutilizadas e com grandes índices de abandono, insegurança e degradação paisagística. Como resposta a isto, os Grandes Projetos Urbanos na América Central e Latina tornam-se peças fundamentais de transformação do cenário urbano existente e, em alguns casos, de uma nova vocação para a cidade.
Assim, os estudos destes objetos abrem uma importante discussão sobre a produção de Planos e Projetos sob a ótica do Urbanismo Contemporâneo, onde o arquiteto e urbanista torna-se novamente o protagonista e agente realizador dos “sonhos” dos administradores públicos.
OBJETIVOS Analisar os Grandes Projetos Urbanos realizados nos países Latinos e da América Central possibilita ao estudante(s) pesquisador (es) compreender a importância da realização de planos e projetos urbanos como ferramenta para a regeneração urbana sobre os tecidos degradados.
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Diversas cidades vêm desenvolvendo um conjunto de Projetos Urbanos no intuito de reabilitar os usos existentes sobre o território, reformatar a economia de trechos da cidade, e regenerar o desenho da cidade degradada ao longo dos anos, resultado da desativação de áreas improdutíveis, da ampliação da violência urbana ou da transformação econômica de parte do tecido urbano.
A pesquisa ancora-se sobre a disciplina de Projeto de Urbanismo A e B, no qual tem como finalidade o estudo, analise e propostas de Grandes Projetos Urbanos sobre territórios existentes e utilizando-se de dados empíricos a partir de um objeto real e palpável.
Como resposta, o tema proposto tem como objetivo estudar, analisar e compreender os Grandes Projetos Urbanos realizados a partir da década de 80 (Urbanismo Contemporâneo) que resultaram na reestruturação do tecido urbano existente, e degradado, através de ferramentas urbanas compatíveis com cada território e realidade do local. Apesar das estratégias utilizadas nem sempre são compatíveis às cidades européias, as cidades propostas como objetos de estudo possuem similaridades as realidades brasileiras, no qual sua aplicabilidade junto á disciplina coloca-se de forma mais próxima e palpável a nossa realidade, além de, em alguns casos, possibilitar a visita “in loco” aos projetos urbanos estudados.
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OBJETOS DE ESTUDO O tema proposto neste momento torna-se um “guarda-chuva” que deverá abrigar um conjunto de objetos, ou Projeto Urbano, designado a cada cidade estudada. Para tanto, os objetos abaixo listados deverão estar conectados sobre a discussão dos Grandes Projetos Urbanos, no qual cada um isoladamente é estudado, analisado e compreendido de forma unitária, enquanto que seu conjunto de Projetos Urbanos, coloca-se sobre a discussão de Projetos Urbanos para a America Central e Latina.
Para a realização desta pesquisa, entendemos que a identificação dos objetos de estudo se dará sob dois “recortes”:
1. Recorte temporal: projetos desenvolvidos ou colocados em pratica a partir da década de 90; 2. Recorte projetual: deverão ser selecionados 04 países a serem estudados, tendo ao menos 01 Grande Projeto Urbano para ser analisado.
Estes recortes deverão subsidiar na escolha dos projetos urbanos a serem estudados na pesquisa cientifica, tendo como referencia na escolha destes objetos de estudo a Construção de Novos Cenários Urbanos na Cidade Contemporânea. Cabe ressaltar que tal tema esta sendo desenvolvido em Tese de Doutoramento na FAUUSP, Departamento de Planejamento Urbano pelo ProfessorMe. Elvis Vieira, no qual tem como pesquisa a leitura de projetos urbanos europeus e sua transformação junto aos cenários urbanos ao longo de sua implantação.
Outro fator relevante é quanto a escala das intervenções a serem estudadas. Em sua maioria, tais propostas urbanas têm por características o redesenho do tecido urbano existente e a transformação do cenário urbano muitas vezes degradado. Em sua maioria, estas intervenções tem por premissa a abstração de teorias de investigadores 6 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
consagrados do desenho urbano, tais como Montaner ou Oriol Bohigas, ambos arquitetos e urbanistas catalão que a mais de três décadas colocam em pratica suas teorias sobre a regeneração do tecido urbano sobre a malha existente, assim como as teorias do Novo Urbanismo defendidas por José Lamas, arquiteto português no qual defende a transformação e “modernização” do tecido degradado com o olhar sobre a “história da cidade”, levando por muitas vezes em intervenções mais peculiares e num trabalho de intensa pesquisa sobre a área de intervenção.
Tudo isto nos coloca sobre o caminho de estudar em paralelo aos objetos de estudos (Grandes Projetos Urbanos na América Central e Latina) a consolidação de uma base teórica a partir do olhar destes pesquisadores apontados acima e outros que contribuam para a consolidação da pesquisa.
Assim, inicialmente apontamos quatro cidades a serem estudadas, assim como seu Projeto Urbano de maior relevância. Cabe ressaltar que a escolha inicial não tem a pretensão de apontar e/ou hierarquizar os projetos por maior ou menor importância, mas apenas apontar os projetos que atualmente estão sendo discutidos na mídia e meio arquitetônico, urbano e acadêmico:
1. Colômbia: Projetos Urbanos desenvolvidos em Medelín para os Jogos Pan-americanos de 2010; 2. México: Projetos Urbanos desenvolvidos em Guadalajara para os Jogos Panamericanos de 2011; 3. Equador: Projetos Urbanos de Requalificação Urbana da Orla Marítima de Guayaquil; 4. Colômbia: Projetos Urbanos de Regeneração Urbana para o Centro Histórico e Centro Empresarial da cidade de Bogotá; 5. Chile: Santiago.
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2.
METODOLOGIA
A pesquisa se dará através de duas vertentes: 1. Construção da base teórica do projeto urbanístico contemporâneo; 2. Leitura e interpretação de Grandes Projetos Urbanos.
Sobre este aspecto, as pesquisas se darão inicialmente através da leitura de textos críticos e teóricos dos urbanistas contemporâneos, através de textos e artigos publicados em livros e revistas, e/ou através de web sites especializados em critica da arquitetura e urbanismo contemporâneo.
Esta etapa consolidará no embasamento teórico sobre o olhar dos críticos de arquitetura e urbanismo contemporâneos, subsidiando na leitura e interpretação dos projetos selecionados.
Quanto aos projetos urbanos, inicialmente deverá ser coletado o material de pesquisa através de livros especializados, revistas e catálogos sobre os projetos, além de material institucional sobre o projeto. Outra fonte de pesquisa se dará através de web site das prefeituras e comunas das cidades estudadas, na busca e coleta de material básico que possa embasar a pesquisa teórica dos projetos urbanos.
Num segundo momento, os projetos urbanos deverão ser estudados sob seus diversos “layers”, possibilitando uma leitura mais afinada sobre a proposta e sua aplicabilidade sobre o tecido urbano. Esta etapa deverá constituir essencialmente, num primeiro momento, de mapas temáticos e tabelas explicativas sobre o projeto estudado.
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Após estas análises, os projetos deverão passar pelo “cruzamento de informações” na busca de respostas sobre os conceitos teóricos dos projetos, suas ferramentas de gestão, aplicabilidade e a construção de novos cenários urbanos sobre a cidade.
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3.
RESULTADOS PARCIAIS
3.1 Configuração Geográfica de Guadalajara
Guadalajara é a capital do Estado de Jalisco (México) e está situada em um planalto na região do Vale de Atemajac que se encontra a mais de 1500 metros acima do nível do mar. O município de Guadalajara possui 187,91 km² de extensão territorial e 1.495.189 habitantes, mas sua Zona Metropolitana tem mais de 4.000.000 habitantes e é a segunda cidade mais povoada do País perdendo somente para a capital, Cidade do México.
Imagem 1 Fonte:Departamento de Estudios Regionales - Universidad de Guadalajara, 1970-2000
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Imagem 2 Fonte: © 2012 Gobierno del Estado de Jalisco
A área metropolitana de Guadalajara é resultado de uma conurbação de oito municípios: Zapopan, Tlaquepaque, Tonalá, Tlajomulco de Zúñiga, El Salto, Ixtlahuacán de Los Membrillos, Juanacatlán e Guadalajara que se localizam na região central do Estado de Jalisco.
Imagem 3 Fonte: © 2012 Gobierno del Estado de Jalisco
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Todos esses municípios se encontram no Vale de Atemajac que é rodeada por pequenas colinas, como a Serra Primavera ao oeste e o Eixo Neovulcânico que vai do leste ao sul, e ao norte está o Canyon de Huentitlán. A proximidade do Eixo Vulcânico faz com que existam diversos pontos vulcânicos próximos à cidade que variam a atividade sísmica da região em moderada a intensa. O solo é em sua grande maioria vulcânica e praticamente toda ocupada com o uso urbano, não existindo espaços destinados à agricultura. Somente se encontra esse tipo de uso se deslocando para as cidades vizinhas. O município é cortado pelo Rio canalizado San Juan de Dios do norte a oeste; Rio Santiago ao nordeste que serve como limite municipal entre Guadalajara e Ixthahuacán del Río; Arroyo Atemajac ao noroeste que divide Guadalajara e Zapopan e ao sul existe o Parque Agua Azul onde existiam vários mananciais, que hoje estão extintos. Tendo o Oceano Pacífico em suas proximidades, o clima da região é semitropical com temperaturas agradáveis e umidade do ar classificadas como um dos mais benignos do mundo. Por conta disso Guadalajara é popular com o turismo relacionado à saúde e conhecida como Pérola do Ocidente. Mas dependendo da estação que se encontra pode se presenciar Nevadas, Tornados e temperaturas de até 39 graus. A cidade tem como fonte econômica os três setores econômicos. As primárias se baseiam no transporte e comércio de bovinos, suínos, ovinos entre outros e os demais são produtos produzidos pelas indústrias, como materiais para equipamentos xerográficos e fotográficos, têxteis, peças de couro, plásticos, produtos químicos e eletrônicos. Sua conexão e comunicação com o exterior é principalmente feita através de uma linha de ferro que dá acesso direto aos EUA. Já o abastecimento energético é predominantemente feito pela barragem das cataratas de Juanacatlán, no rio Santiago.
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3.2 Configuração Histórica de Guadalajara
As incursões constantes do espanhol Nuño Beltrán de Guzmán para terras ocidentais, território da Nova Espanha, a fim de reforçar o seu domínio e poder sobre aqueles territórios, resultou no estabelecimento de uma nova província chamada de Reino de Nova Galiza que abrigaria Nayarit e Jalisco. Fundada por Guzmán em 14 de Fevereiro de 1542 no Vale de Atemajac, a cidade de Guadalajara se situou antes em mais três sítios. Primeiro foi fundada em 05 de janeiro de 1532 por Cristobal de Oñate a mando de Guzmán em Nochistlán, atual Zacatecas, para ter uma cidade que serviria para garantir suas conquistas e capaz de defender a belicosidade natural. O nome da Cidade foi extraído da cidade espanhola em memória do local de nascimento de Nuño de Guzmán, sendo de origem árabe e significando rio que corre entre pedras. Essa vila não durou muito tempo neste local, pois com a chegada de Guzmán a Vila, é decido movê-la para outro sítio em 19 de maio de 1533. Ao comando de Juan de Oñate (Filho de Cristobal de Oñate) a cidade é fundada em sua segunda sede em 8 de agosto de 1533 nas proximidades de Tonalá. Depois de dois anos de constantes ataques de grupos indígenas, Nuño de Guzmán ordena que a cidade seja fundada em Tlacotán, atual Ixtlahuacán del Río, onde se estabeleceu até 1540.
É também nesse mesmo período em que se constrói o cabildo ou prefeitura da vila e solicita ao Rei da Espanha Carlos I o título de cidade para Guadalajara em 25 de Janeiro de 1539. E em Novembro desse mesmo ano o título é concedido juntamente com o Brasão da cidade.
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Imagem 4 Fonte: Gobierno Municipal de Guadalajara
Devido as constantes mudanças de sítios, as primeiras construções eram extremamente rudimentares, construídas em madeira e em locais acidentados. Já ao se estabelecer no atual local, essa situação muda e começam a surgir construções mais rígidas feitas em pedras e com devida organização no desenvolvimento da cidade, que vem da herança espanhola, que seria a organização concêntrica na qual em torno de uma praça central se distribuem os prédios públicos e se traçam vias paralelas ao traçado da praça.
Imagem 5 Plano de Guadalajara, 1745. Fonte:Doutorado-Borrayo, Elizabeth Rivera (2012) 14 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
De início a cidade se desenvolve de forma lenta, mas mesmo em meio a conflitos civis, com o decorrer dos anos o seu crescimento se torna constante e acelerada de forma a aumentar consideravelmente a sua população e sua área urbana. Em 1887 sua população chega a 80,000 habitantes e continua a crescer devido à chegada dos primeiros sinais do progresso, como o telefone, a iluminação das ruas e a implantação de um sistema de transporte público em 1884 e a chegada da Ferrovia Central Mexicana em 1888, que impulsionam o comércio e a indústria e atraem as pessoas de regiões vizinhas para a cidade em procura de oportunidades de trabalho e melhores condições de vida.
É no séc. XX que iremos presenciar os principais eventos que darão rumo ao desenvolvimento do desenho urbano da cidade de Guadalajara. Temos a melhoria da comunicação da cidade com a capital que resulta no maior desenvolvimento das Indústrias, a canalização do Rio San Juan de Dios em função as comemorações do centenário da Independência da cidade (1906-1909) que mais tarde se tornará um importante eixo urbano comercial que vai de norte a sul da cidade chamada de Calçada Independência e também a revolução de 1910. Esses são os eventos do início do século que possuem sua devida relevância na urbanização de Guadalajara.
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Imagem 6 Calçada Independência. Fonte: Doutorado-Borrayo, Elizabeth Rivera (2012).
Com a industrialização e o comércio em crescente desenvolvimento, mais a migração de refugiados e interessados em empregos aumentando a sua população, começa a surgir a preocupação com o planejamento da cidade, pois sua antiga “estrutura” já não condiz com as necessidades de uma cidade industrial e também não comporta a atual população. Em 1943, no Governo de Marcelino Garcia Barragán é criada o Conselho de Colaboração Municipal que é formado por representantes de iniciativa privada e autoridades públicas para planejar e gerir a realização das obras públicas. Assim surgem as primeiras intervenções e adaptações urbanísticas da cidade de Guadalajara.
Temos então, a reestruturação viária que promove o alargamento e em alguns casos o prolongamento, primeiramente das principais vias que passam no coração do centro histórico e posteriormente as demais, que acaba por destruir grande parte do patrimônio histórico da cidade com a intenção de criar um sistema que desafogasse o caminho dos automóveis para os centros comerciais e diminuísse o tempo de transição de um extremo a outro.
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Imagem 7 Antes da ampliação Av. Hidalgo Fonte: Doutorado-Borrayo, Elizabeth Rivera (2012).
Imagem 8 Depois da ampliação Av. Hidalgo Fonte: Doutorado-Borrayo, Elizabeth Rivera (2012).
Em 1950 a expansão da cidade produzirá novas colônias de caráter residencial com estilos importados da Europa e América, atraindo os moradores de classe média e alta para essas novas áreas, abandonando o centro para a marginalização e perda da identidade de local de vivência para um local somente de transição. Essas novas 17 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
colônias que surgem durante a década de 50 e 60 vão levar infraestrutura para os pontos periféricos, principalmente para o lado leste da Calçada Independência que desde a sua fundação abriga as classes mais humildes da cidade e sofre com a indiferença do setor público que se preocupou em atender somente as necessidades das classes mais altas.
Imagem 9 Plano do Engenheiro Jose L. Guevara, 1950. Fonte: Skyscrapercity Mancha Urbana 1935
Mancha Urbana 1745 Mancha Urbana 1896 Mancha Urbana 1906
Plano de Expansão 1935 Implantação de novos desenhos
No Governo de Jesús González Gallo (1947-1953) e Augustín Yáñez (1953-1959) são realizadas
obras
que
impulsionam
ainda
mais
o
mercado
imobiliário
e 18
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desenvolvimento da infraestrutura do transporte, como o Aeroporto (1950), o Terminal de ônibus (1955) e a construção e relocalização da Estação Ferroviária (1958). Nesse período vai se observar que a economia da cidade se converte para a especialização do setor secundário e terciário que faz com que se alcance o auge econômico,
“conhecido como a etapa do “desarrollismo”, que prevaleceu até os anos sessenta em que se estava projetando uma “nova” cidade em todos os sentidos, pois apesar da indústria ter alcançado certo auge, pouco a pouco foi entrando em declínio devido ao período de crise nacional, assim como diversos fatores de variação do capital estrangeiro. ”(Borrayo, Elizabeth Rivera.2012: 185).
Seguindo para a década de 70 se presencia tanto a modernização como a marginalização simultaneamente. Já que se por um lado temos a modernização do lado oeste da Calçada Independência onde se encontram as classes de melhores condições, do outro temos o crescente surgimento de assentamentos irregulares em torno da cidade formando o Cinturão da Miséria (Aceves / de La Torre/ Safa. 2004: 290) que juntamente com a insegurança presente no centro abandonado começa a gerar a preocupação em relação à segurança nos bairros e colônias. Com isso os poucos espaços públicos que restaram ao buscar o redesenho da cidade para o automóvel acabam por serem inutilizados por conta do receio da população. Isso faz com que a população comece a se trancar atrás de muralhas, ou seja, condomínios fechados que contribuem ainda mais para a desconexão do individuo com a cidade e a sociedade, agravando a situação da forte desigualdade social presente desde a fundação da cidade. São nessas condições que surgem as grandes propostas de intervenção buscando a regeneração do tecido urbano juntamente com a reintegração da população e a 19 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
criação de novos espaços públicos e culturais para a recreação e lazer que serão analisadas nesse trabalho. Entre eles estão o Projeto da Praça Tapatía de Díaz Morales focado na revitalização do centro histórico, Centro Cultural Universitário (CCU) que tem o plano “maestro” desenvolvido por César Pelli, Guggenheim Guadalajara e o Centro de Convenções e Negócios JVC.
3.3 Grandes Projetos Urbanos de Guadalajara
Plaza Tapatía – IGNÁCIO DÍAZ MORALES. Apresentada como proposta em 1947, o projeto é aceito 8 anos depois e somente concluída em 1981 que cria um novo espaço público no centro da cidade, com 40,000 m² de praças e passeios, 4,000 empregos fixos e 2,000 vagas de estacionamento que vêm com o objetivo de promover a reintegração social, resolver as necessidades dos motoristas e dar ao centro da capital uma nova fisionomia.
Imagem 10 Proposta do Arquiteto Díaz Morales para a Plaza Tapatía. Fonte: Doutorado-Borrayo, Elizabeth Rivera (2012). 20 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
CCU – Centro Cultural Universitário – Plano Mestre - CESAR PELLI O Centro é parte de um projeto desenvolvido pela Universidade de Guadalajara que planeja criar um Distrito Cultural com a dimensão de 173 hectares no município de Zapopan, em uma região periférica da zona metropolitana de Guadalajara. Tem como objetivo dotar a cidade de um equipamento cultural capaz de gerar uma mudança na maneira de pensar; criar um espaço inclusivo que melhore a qualidade de vida da sociedade permitindo o encontro e a convivência; um cenário para apresentar a cultura de uma maneira inovadora onde os cidadãos possam se identificar e se sentir pertencentes ao local e ter orgulho do mesmo.
Imagem 11 Localização do Distrito Cultural. Fonte: www.centrocultural.org.mx
O projeto é fruto de uma parceria feita em 2001 entre a Universidade de Guadalajara e o Banco Nacional do México chamado de Fideicomiso Maestro que em 2003 com o
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início das obras se integram a essa parceria o município de Zapopan e o Governo do Estado de Jalisco.
Imagem 12 Componentes do Distrito Cultural. Fonte: www.centrocultural.org.mx
Imagem 13 Componentes do Centro Cultural. Fonte: www.centrocultural.org.mx 22 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
Imagem 14Auditório Telmex Fonte: Marcos Sánchez
Imagem 16 Museu de Ciências Ambientais Fonte: Marcos Sánchez
Imagem 15Biblioteca Pública “Juan José Arreola” Fonte: Marcos Sánchez
Imagem 17 Praça do Bicentenário Fonte: Marcos Sánchez
Imagem 18 Conjunto de Artes Escênicas Fonte: Marcos Sánchez 23 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
Museu Guggenheim Guadalajara
Imagem 19 Fonte: http://www.ten-arquitectos.com
Um museu global composto por um arranha-céu de alta tecnologia localizado em um local dramático onde o planalto em que a cidade se encontra, mergulha dois mil pés no desfiladeiro Huentitlán. O conceito da torre surgiu a partir de uma análise da inovação e ambição que caracterizam Museu Guggenheim. A estrutura flutua acima do solo, com a Avenida Independência correndo por baixo. O museu dispõe de Módulos galeria de porte pequeno, médio, grande e extragrande que estão suspensos dentro do transparente volume painel da torre como uma série de sólidos livres flutuantes.
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Centro de Convenções e Negócios JVC – Plano Mestre - ENRIQUE NORTEN
Imagem 20 Implantação JVC Fonte: Skyscrapercity
O Centro de Convenções e Negócios JVC é um projeto urbano que será localizado em um local a cerca de 270 hectares à beira do centro urbano de Guadalajara. O local fica entre a reserva florestal "La primavera" e a cidade. Um dos principais objetivos deste projeto é integrar a paisagem natural de “La primavera" e o contexto urbano de Guadalajara. O primeiro passo para realizar o projeto será a de executar um tampão "verde" em todo o sitio. Um segundo buffer 25 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
será criado para proteger o sitio inteiro de possíveis ruídos do tráfego na rodovia Periférico. A água será um elemento central do projeto que vai estar presente através de lagos, canais e fontes. Estas formas serão empregadas com a tecnologia mais recente. Este projeto foi concebido com o intuito de criar mais espaços públicos à Guadalajara para expandir suas atividades culturais e de negócios.
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4.
CONCLUSÃO
Pode ser observado que essa pesquisa possui poucas informações sobre os projetos mencionados, mas isso se deve ao fato da dificuldade em se encontrar informações relevantes, como os estudos e processo de elaboração que mais importam ao nosso trabalho. Muito se encontrou sobre a grandiosidade dos projetos, seus benefícios e informações dos arquitetos renomados que desenvolveram os projetos dentro das grandes intervenções, como no caso do Centro de Convenções e Negócios JVC e a CCU. E por esse motivo essa pesquisa terá uma conclusão apoiada nas informações vindas dos trabalhos da Professora e Doutora Elizabeth Rivera Borrayo da Universidade de Guadalajara associadas ao que se pôde encontrar com as pesquisas.
Os grandes projetos urbanos deveriam surgir como instrumentos de transformação urbana que estimulam a economia da cidade para que se consiga através disso, realizar mudanças que atendam diretamente as necessidades da população. Sendo assim, o foco de sua realização deve estar na solução de problemas relacionados à coletividade, melhorando ou se aplicando o famoso sufixo re¹ na cidade para que seus habitantes tenham melhores condições de vida. No entanto o que se acaba encontrando em grande parte desses projetos é a perda do foco principal, gerando “PROJETOS AUTÔNOMOS” que nada resolve os problemas da cidade e apenas aumenta o percentual econômico de poucos, e infelizmente o cenário encontrado em Guadalajara não é diferente disso.
A forte busca em se tornar uma cidade mundialmente reconhecida, traz resultados positivos e negativos. Positivo, por estimular o surgimento de projetos urbanos e negativo, pois esse objetivo fez com que o foco dos projetos se deslocasse para interesses de um único setor. ¹ requalificação, regeneração, reintegração, renovação, redesenho etc. 27 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
“Actualmente existem em la ciudad de Guadalajara poco más de 30 projectos y conjuntos urbano arquitectonicos de gran magnitud...”(Borrayo, 2011: 26).
Ter 30 projetos sendo desenvolvidos em uma única cidade poderia ser uma grande conquista, mas a questão é que dessas 30, poucas foram elaboradas com objetivos voltados a soluções dos problemas urbanos. Sua grande maioria foi “corrompida” pelos interesses do mercado imobiliário. Isso é extremamente preocupante, pois GRANDES projetos urbanos geram GRANDES mudanças e impactos à cidade e consequentemente a seus habitantes, e se suas estratégias não estiverem levando isto em conta, o que surge como solução de problemas pode acabar agravando algo já existente ou desenvolver novos e maiores. Ou seja, GRANDES PROJETOS URBANOS que têm seus ideais desvirtuados podem se tornar uma ameaça para o bem estar da população da cidade e ou local onde se implantam, beneficiando apenas uma minoria e deixando de lado o interesse coletivo. Assim se desenvolvem apenas fachadas bonitas que camuflam a dura e verdadeira realidade.
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5.
BIBLIOGRAFIA
Borrayo, E. R. (Janeiro de 2012).Processo y Escenarios de Transformación SocioEspacial Através de Grandes Proyectos de Intervención Urbano-Arquitectónica en Guadalajara. Guadalajara, Jalisco, México. Departamento de Estudios Regionales - Universidad de Guadalajara. (1970-200). Atlas de la Producción del Suelo en el Área Metropolitana de Guadalajara. Guadalajara, Jalisco, México. Garcia, S. G. (s.d.). Nacimiento de la Ciudad de Guadalajara. Capítulos de historia de la cuidad de Guadalajara . Guadalajaraguadalajara.com. (s.d.). Acesso em 15 de Junho de 2012, disponível em Guadalajaraguadalajara.com: http://www.guadalajaraguadalajara.com/paginas.php?id=178 INEG. (s.d.). Acesso em 18 de Junho de 2012, disponível em Instituto Nacional de Estadística y Geografía: http://www.inegi.org.mx Infopédia. (s.d.). Acesso em 18 de Junho de 2012, disponível em Infopédia: http://www.infopedia.pt/$guadalajara-(mexico) Jalisco, ©. 2. (s.d.). Acesso em 18 de Junho de 2012, disponível em JAL- Gobierno de Jalisco: http://www.jalisco.gob.mx Moreno, E. L. (Outubro de 1997). Barrios, Colonias y Fraccionamientos . Las Palabras de la Ciudad . Skyscrapercity. (s.d.). Acesso em 29 de Agosto de 2012, disponível em http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=288322 Skyscraperpage. (s.d.). Acesso em 29 de Agosto de 2012, disponível em http://forum.skyscraperpage.com/showthread.php?t=143849 Aceves, de La Torre,Safa.(2004). FRAGMENTOS URBANOS DE UNA MISMA CIUDAD: GUADALAJARA. ESPIRAL , pp. 277-320. 29 “Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.”
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