Aprendendo o Grego Antigo

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GREGO ANTIGO SUMÁRIO

APRENDENDO O GREGO ANTIGO 1.A LÍNGUA GREGA 2.GREGO MODERNO X GREGO ANTIGO 3.O ESTUDO DO GREGO ANTIGO 4.CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA ROTEIRO PARA ESTUDO DO GREGO ANTIGO. 1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS 2.LISTA DE SINOPSES FONÉTICA 1.FONEMAS E ESCRITA ALFABÉTICA 2.OS SONS DO GREGO ANTIGO OS SONS DO GREGO ANTIGO 1.SONS ARTICULADOS 2.VOGAIS 3.DITONGOS 4.ASPIRAÇÃO 5.CONSOANTES 6.SONANTES MORFOSSINTAXE BÁSICA 1.A FRASE GREGA 1.1.O ENUNCIADO EM GREGO 1.2.FRASE, ORAÇÃO E SEUS ELEMENTOS 1.3.TIPOS DE ORAÇÃO 2.RADICAIS, DESINÊNCIAS, TERMINAÇÕES 2.1.A PALAVRA GREGA 2.2.PALAVRAS VARIÁVEIS 2.3.RAIZ E AFIXOS DO RADICAL 2.4.ALTERNÂNCIAS VOCÁLICAS 2.5.DESINÊNCIAS E TERMINAÇÕES 3.BASES DA FLEXÃO NOMINAL 3.1.RADICAIS NOMINAIS 3.2.DESINÊNCIAS NOMINAIS BÁSICAS 4.BASES DA FLEXÃO VERBAL 4.1.RADICAIS E TERMINAÇÕES VERBAIS 4.2.O TEMPO VERBAL 4.3.O ASPECTO VERBAL


4.4.A VOZ DAS FORMAS VERBAIS 4.5.FORMAS PESSOAIS E IMPESSOAIS 5.AS FORMAS PESSOAIS DO VERBO 5.1.OS MODOS PESSOAIS 5.2.PESSOAS DO DISCURSO E NÚMERO 5.3.DESINÊNCIAS NÚMERO-PESSOAIS 5.4.CONJUGAÇÃO DOS MODOS PESSOAIS 5.5.VERBOS EM -Ω E EM -ΜΙ 6.CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL 6.1.O PREDICADO E SEU SUJEITO 6.2.COMPLEMENTOS EM APOSIÇÃO 6.3.A ORDEM DAS PALAVRAS MORFOSSINTAXE NOMINAL 1.O NOMINATIVO 1.1.MORFOLOGIA DO NOMINATIVO 1.2.TRADUÇÃO 1.3.SINTAXE 2.O GENITIVO 2.1.MORFOLOGIA DO GENITIVO 2.2.TRADUÇÃO 2.3.SINTAXE 3.O VOCATIVO 3.1.MORFOLOGIA DO VOCATIVO 3.2.TRADUÇÃO 3.3.SINTAXE 4.O DUAL 4.1.MORFOLOGIA 4.2.TRADUÇÃO E SINTAXE O INFINITIVO 1.AS FORMAS INFINITIVAS 2.TRADUÇÃO 3.SINTAXE


APRENDENDO O GREGO ANTIGO ANTIGO

A língua grega

Grego moderno X Grego Antigo

O estudo do grego antigo

Características da língua

Roteiro de estudo

o

A LÍNGUA GREGA

A língua grega está em uso contínuo desde -2000, aproximadamente. Pertence à família das línguas indo-européias, ao lado de línguas extintas como o latim e o sânscrito, língua da antiga Índia, e de línguas "vivas" como o inglês e as línguas neolatinas (francês, espanhol, catalão, italiano, português, romeno, etc.).

o

GREGO MODERNO X GREGO ANTIGO

O grego moderno é, sem dúvida, uma evolução do grego antigo, notadamente do dialeto ático; mas, embora os fundamentos sejam os mesmos, está muito distante dele e não serve de base para o estudo do grego antigo. Vejamos os primeiros 11 versos do Auto da Barca do Inferno, do português Gil Vicente, datada de 1517: Á barca, á barca, hou lá, que temos gentil maré. Ora venha a caro a ré: feito, feito, bem está. Vae alli muitieramá, e atesa aquelle palanco, e despeja aquelle banco, pera a gente que virá. Á barca, á barca, hu! Asinha, que se quer ir. Um falante moderno do português, que vive quase 600 anos depois do autor dos versos, conseguirá distinguir as palavras de grafia arcaica e até o sentido geral dos versos; mas terá, certamente, dificuldade com palavras e expressões como "a caro" ("em frente"), "atesa aquele palanco" ("estica aquela corda") e "asinha" ("depressa").

Imagine-se, agora, a diferença entre um texto em grego moderno e um texto em grego antigo, escrito há mais de 2.500 anos... o

O ESTUDO DO GREGO ANTIGO

A finalidade do estudo do grego antigo é a tradução de documentos e textos literários e não literários escritos na Antigüidade e no início da Idade Média. Verter textos de línguas modernas para o grego antigo é procedimento artificial e não faz sentido.


Estas sinopses, portanto, dão subsídios à tradução de enunciados em grego antigo, criados pelos próprios gregos antigos ou, em certa medida, por contemporâneos que aprenderam o grego como em nossos dias se aprende o inglês, o francês ou o italiano — com os falantes nativos da língua. Desde os tempos mais remotos o grego se dividia em diferentes dialetos; o mais importante deles, do ponto de vista literário, é odialeto ático, usado pelos atenienses durante o século -V. O estudo do dialeto ático é uma chave para o conhecimento de todos os outros dialetos; conseqüentemente, a maioria das gramáticas e dos manuais de grego antigo se apóia no estudo da fonética, da morfologia e da sintaxe do dialeto ático.

CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA GREGA

o

As gramáticas descritivas insistem, muitas vezes, em aplicar a nomenclatura latina e portuguesa a categorias gramaticais e a funções sintáticas gregas; nestas sinopses, essa prática será utilizada somente quando os conceitos forem comparáveis. É verdade que a maioria dos conceitos da morfossintaxe portuguesa são aplicáveis ao grego antigo, haja vista que tanto o português como o grego são línguas indo-européias. Eis algumas características comuns às línguas dessa família: 1.

A quantidade de palavras de forma variável excede, de longe, a das palavras invariáveis;

2.

as palavras variáveis têm radical, onde reside a noção básica, e a desinência, que muda de acordo com a flexão;

3.

a flexão de gênero comporta dois tipos, o animado (masculino, feminino) e o inanimado (neutro);

4.

a numeração é decimal e os numerais menores de "5" têm flexão;

5.

o nome, que identifica seres e objetos, é sempre distinto do verbo, que marca a ação;

6.

verbos podem ser formados a partir de noções nominais;

7.

o verbo não tem conjugação completa e constante e muitos são constituídos por mais de um radical.

Quanto mais antiga a língua, mais marcadas são essas características; quanto mais recente, menos marcadas. O grego, naturalmente, é exemplo de língua indo-européia antiga; o português, de língua indo-européia recente.... Há, portanto, algumas diferenças importantes entre as formas e funções do grego antigo e do português. Por exemplo: os conceitos de "objeto direto" e de "objeto indireto" não são aplicáveis ao grego; os particípios gregos ora são simples complementos nominais, ora formam o núcleo verbal de orações adjetivas, ora compõem estruturas sintáticas que não existem mais no português. Muitos manuais de grego antigo sobrecarregam os estudiosos de informações desnecessárias, como se o grego antigo fosse uma língua moderna... Não se deve perder de vista, nunca, a finalidade primordial do estudo do grego antigo em nossos dias: a leitura e tradução de textos antigos, escritos há séculos.


ROTEIRO PARA ESTUDO DO GREGO ANTIGO

Considerações iniciais

Lista de sinopses

CONSIDERAÇÕES INICIAIS O estudo do grego antigo não é um bicho de sete cabeças, mas requer método, paciência e alguma dedicação. É bem mais difícil do que estudar línguas modernas como o francês, o espanhol, o inglês e o italiano. Para simplificar a árdua tarefa que os interessados têm à frente, as informações sobre a língua grega foram organizadas em "sinopses". Observe-se que o objetivo básico das sinopses é fornecer informações essenciais para o reconhecimento da forma e da função da palavra grega em textos originais. As sinopses se destinam, em princípio, aos iniciantes. O estudo aprofundado da língua grega requer, naturalmente, outro tipo de abordagem. Para compreender o grego antigo, é conveniente ter bons conhecimentos de gramática portuguesa. Recomendo, para quem está meio enferrujado, o link Mini-Gramática, mantido pelo Núcleo Interinstitucional de Lingüística Computacional, trabalho conjunto da USP São Carlos, UFSCar e UNESP Araraquara.

LISTA DE SINOPSES Embora organizadas de forma sistemática, conforme a seqüência tradicional, as sinopses podem ser consultadas isoladamente, conforme a necessidade. FONÉTICA

1.

Fonemas e escrita alfabética

FONEMAS E ESCRITA ALFABÉTICA Fonética é o estudo dos sons articulados da fala humana; fonema é uma unidade sonora mínima que diferencia uma palavra da outra ou uma forma gramatical de outra. Assim, nas palavras portuguesas "faz" e "fiz", são os fonemas /a/ e /i/ que permitem o reconhecimento sonoro das duas formas verbais. A escrita nada mais é do que "a contrapartida gráfica do discurso" (Diringer, 1985) e envolve, portanto, a representação dos sons da fala através de uma série de sinais.


No fim do século -VIII, os gregos adaptaram os sinais inventados séculos antes pelos fenícios e criaram, para seu uso, o alfabeto grego. Esse alfabeto, com modificações, é usado até hoje pelos gregos modernos e se tornou a base do alfabeto latino usado pela maioria das línguas modernas.

letras gregas

nome

α Α alfa β Β beta γ Γ gama δ Δ delta ε Ε épsilon ζ Ζ zeta η Η eta θ,, ϑ teta Θ iota ι Ι capa κ Κ lambda λ Λ mü Μ µ m nü ν Ν csi ξ Ξ omicron ο Ο pi π Π rô ρ Ρ Σ σ,, ς,, ̻ sigma tau Τ τ üpsilon Υ υ fi Φ φ qui Χ χ psi Ψ ψ omega Ω,, Ω ω

translit.

pronúncia aproximada

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

como em "casa"

a b g d e z e th i k l m n x o p r s t u ph ch ps o

como em "bonito" como em "gato" como em "dado" como em "dedo", /e/ fechado como em "desde" como em "café", /e/ aberto como em "theater" (no inglês) como em "formiga" como em "casa" como em "lata" como em "mato" como em "nada" como em "fixo" ("ficso") como em "moça", /o/ fechado como em "palito" como em "carro" como em "sapato" (*) como em "tatu" como em "lune" (no francês) como em "filosofia" (na realidade, "prr")

como em "achtung" (no alemão) como em "psicologia" como em "bota" (/o/ aberto)

Transliteração (= translit., acima) é uma correspondência entre as letras gregas e as letras do alfabeto latino, usada em geral por publicações que citam passagens em grego sem usar o alfabeto grego. Note-se que o zeta [Ζ,

ζ], embora consoante dupla, é tradicionalmente

transliterada por uma única letra, "Z, z". Ao longo da história, existiram diversas versões regionais do alfabeto grego; a forma atual, com 24 letras, remonta a -403, quando os atenienses adotaram oficialmente a versão da pólis de Mileto. As letras maiúsculas são as mais antigas; as letras minúsculas, aparentemente criadas pelos eruditos bizantinos, começaram a ser utilizadas em manuscritos do século IX em diante. O quadro acima segue a recomendação da Prof. Dra. Ana Lia de Almeida Prado em sua tradução da obra organizada por P.V. Jones, O Mundo de Atenas (São Paulo, Martins Fontes, 1977, p. 367368). Introduzi pequenas alterações nos exemplos e no esquema de transliteração.


OS SONS DO GREGO ANTIGO ANTIGO SUMÁRIO

Sons articulados

Vogais

Ditongos

Aspiração

Consoantes

Sonantes

SONS ARTICULADOS Para falarmos, o ar expirado tem que passar pelo órgão fonador humano, a laringe, onde ficam as cordas vocais. As cordas vibram em decorrência de estímulo nervoso proveniente do cérebro e o som, "empurrado" pela coluna de ar que atravessa a glote (abertura variável localizada entre as cordas vocais), passa pela faringe, atinge as cavidades bucal e nasal, é modificado por estruturas aí situadas e chega, por fim, ao ambiente exterior. Aberturas e fechamentos totais ou parciais, aplicados em diferentes áreas das cavidades bucal e nasal durante a passagem da coluna de ar, produzem os diferentes sons emitidos pela fala humana. Essas áreas são os pontos de articulação da voz; por isso se diz que a fala humana é composta de "sons articulados". Há duas grandes categorias de sons falados: vogais e consoantes. O som das vogais pode ser emitido de forma isolada; as consoantes só podem ser emitidas com o apoio de vogais. Exemplos:

/a/ = "a" é uma vogal; /ga/, /ma/, /sa/ = "g", "m" e "s" são consoantes.

VOGAIS Para a emissão de sons vocálicos, a coluna de ar passa livremente pela cavidade bucal, que atua como caixa de ressonância; o que se ouve, basicamente, é um som glotal, oriundo da glote. O grego antigo tinha sete vogais: -α-, -ε-, -η-, -ο-, -ω-, -ι-, -υ-. O grau de abertura / fechamento da mandíbula e o grau de aproximação / afastamento da língua do palato duro e do palato mole ("céu da boca"), durante a passagem da coluna de ar, determinam o "grau de abertura" (ou timbre) das vogais. Em nosso caso,

-α-, -η- e -ω- são vogais abertas;

-ε- e -ο- são vogais fechadas.


Outra característica relevante das vogais gregas é a "quantidade", i.e., o tempo que se demora para emití-las. Uma vogal brevedemorava uma unidade de tempo; uma vogal longa, duas unidades de tempo (a longa é sempre o dobro da breve). Exemplo: -ε- pronunciava-se "ê"; -ηpronunciava-se "éé". No grego, em relação à quantidade,

-ε- e -ο são vogais breves,

-η- e -ω são vogais longas e

-α-, -ι- e -υ- são vogais ambíguas, i.e., podem ser breves ou longas.

Quando surge a eventual necessidade de especificar se uma vogal ambígua é longa ou breve, em geral nas gramáticas e tratados afins, marca-se a vogal com dois sinais:

μάκρον) se for "longa"; bráquia (gr. βράχια) se for "breve".

[

] = mácron (gr.

[

] =

Exemplos: -ῡ- (-υ- longo) e -ῠ- (-υ- breve).

DITONGOS São dois sons vocálicos pronunciados na mesma emissão de voz. Em grego, temos basicamente os seguintes ditongos:

1º elemento ("base") breve =

1º elemento ("base") longo =

-ᾰι- -ει- -οι- -αυ- -ευ- -ου-ᾱι- -ηι- -ηυ- -ωι-

Com o tempo, os ditongos de base longa foram desaparecendo da língua grega, notadamente a partir do século -IV; o

-ι-, por exemplo, deixou de ser pronunciado. Em gramáticas mais

antigas, fala-se no iota adscrito e no iota subscrito, representações gráficas desse fenômeno nos manuscritos do século XII em diante.

ᾄδει = (edições antigas)

ἄιδει

"ele/a canta"

(edições recentes)

exemplo de iota subscrito

O uso do "iota subscrito" nas edições modernas de textos gregos, apesar da forte tradição, é muito artificial e está rapidamente caindo em desuso; conseqüentemente, nestas sinopses não é usado o iota subscrito — o iota é adscrito, como em

ἄιδει.

No século -IV, igualmente, dois ditongos de base breve,

-ει- e -ου-, começaram a simplificar-se e

acabaram se tornando falsos ditongos, pronunciados respectivamente como /e/ fechado longo (= "êê") e como /o/ fechado longo (= "ôô"); mas isso praticamente não afetou a escrita.


ASPIRAÇÃO Existe em grego um som oriundo diretamente da laringe, conhecido por aspiração, produzido pela passagem um tanto forçada da coluna de ar pela glote aberta. O som resultante é mais ou menos rude, áspero, semelhante ao "r" da palavra rato (rrato). Todos os sons vocálicos no início de palavras podem ser emitidos com aspiração. Em grego, usase um sinal gráfico, o espírito(do latim spiritus, "sopro"), para marcar a presença ou ausência de aspiração:

-Ἁ- ou -ἁ- = lê-se "rra" (é o -α- com espírito "rude" ou "áspero");

-Ἀ- ou -ἀ- = lê-se "a" (é o -α com espírito "doce").

O -υ- inicial tem sempre espírito áspero: elemento:

-ὑ-. Nos ditongos, o espírito recai no segundo

-εἰ-.

Dentre as consoantes, o -ρ- inicial sempre leva espírito áspero: -ῥ- (= "rrato"). Algumas consoantes podem ser também "aspiradas", como se verá adiante. Na transcrição para o português, coloca-se um "h" antes da vogal:

ὅσος, hósos.

CONSOANTES Os sons consonânticos são determinados pela imposição de diferentes tipos de dificuldade à passagem da coluna de ar pela cavidade bucal ou pelos lábios. Em nosso caso, interessa agrupar as consoantes de acordo com os seguintes critérios: modo de articulação, ponto de articulação, presença de vibrações glotais e presença de ressonância da cavidade nasal, esta produzida pelo abaixamento do véu palatino (os palatos, o "céu da boca"):

quanto ao modo de articulação —

• oclusivas = obstrução completa e momentânea da coluna de ar; • espirantes = fechamento parcial da cavidade bucal, com "estreitamento" contínuo da coluna de ar;

quanto ao ponto de articulação —

• labiais = na altura dos lábios; • dentais = na altura dos dentes; • velares = na altura do véu palatino (também chamadas, impropriamente, de guturais); • líquidas = com fechamento parcial, provocado pela posição da ponta da língua, mas a coluna de ar "escorre" pelos lados; • sibilantes = com fechamento parcial, entre a ponta da língua e a parte da frente do palato duro (som contínuo, de atrito);


quanto à presença de vibrações glotais —

• mudas = vibrações ausentes; • sonoras = vibrações presentes;

quanto à presença ou não de aspiração —

• aspiradas;

quanto à presença de ressonância nasal —

• nasais.

Esses critérios classificatórios não são mutuamente exclusivos e em geral as consoantes se enquandram em mais de um critério. Do ponto de vista eminentemente prático, faz-se em geral o seguinte arranjo:

OCLUSIVAS

ESPIRANTES

sonoras

surdas

aspiradas *

líquidas

nasais

sibilantes

labiais

β

π

φ

-

μ

F

dentais

δ

τ

θ

λ

ν

σ, ς

guturais

γ

κ

χ

ρ

γ **

j, y

As consoantes duplas, não colocadas na tabela acima, devem ser encaradas como a representação gráfica de dois sons consonânticos consecutivos:

ζ = σδ ou δσ (pronunciava-se /zd/ ou /dz/); ξ = κσ; ψ = πσ.

(*) As consoantes aspiradas representam também dois sons sucessivos, o da consoante e o da aspiração:

φ= π ̔ θ= τ ̔ χ= κ ̔

(pronunciava-se prr) (pronunciava-se trr) (pronunciava-se krr)

-γ- antes de gutural (γ, κ, ξ ou χ) representa um som nasal. Exemplo: ἄγγελος, mensageiro(pronunciava-se "ângueloss")

(**) A letra


SONANTES No idioma indo-europeu, a partir do qual o grego antigo se formou, havia seis fonemas de caráter contínuo (espirante) e sonoro que ora apareciam como segundo elemento de ditongos, ora como vogais, ora como consoantes. No grego, conservaram-se:

duas sonantes líquidas, no papel de consoantes: -λ- e -ρ-;

duas sonantes nasais, no papel de consoantes: -μ- e -ν-;

o -y- (yod) e o -F- (digama ou vau), com sons de "i" e de "u", respectivamente, no papel de vogal ou de consoante.

O -y- e o -F- desapareceram do grego no início do período histórico, mas deixaram vários resquícios, entre eles os sons -ι- e -υ- no segundo elemento dos ditongos. Devido ao seu comportamento ambígüo, o -ι- e o -υ- são freqüentemente chamados desemivogais.

As sonantes líquidas e nasais também deixaram, em algumas palavras, sinais de sua utilização como vogais.

MORFOSSINTAXE BÁSICA B SICA

A frase grega

Radicais, desinências, terminações

Bases da flexão nominal

Bases da flexão verbal

As formas pessoais do verbo

Concordância verbal e nominal

A FRASE GREGA SUMÁRIO

O enunciado em grego Frase, oração e seus elementos Tipos de oração

Valem, para o grego antigo, praticamente os mesmos conceitos aplicáveis às línguas em geral e às línguas indo-européias em particular.

o

O ENUNCIADO EM GREGO

Em certo sentido, discurso e enunciado são conceitos semelhantes. "O enunciado é uma palavra ou um conjunto delas que exprime um pensamento inteiro, acabado" (Murachco, 2001).


No grego antigo encontraremos as mesmas classes de palavras do português:

substantivos designam / identificam seres, objetos e abstrações v.g.

Ἀχιλλεύς, "Aquiles", φθόγγος, "ruído", ὀρνίθων, "aves"

adjetivos caracterizam ou determinam os substantivos

ἀγαθοῖς, "bons", εὐδαίμονα, "feliz" • estão incluídos os numerais, v.g. τρεῖς, "três"

v.g.

pronomes desempenham a função do substantivo e/ou do adjetivo v.g.

ἐγώ, "eu", σέ, "te"

• estão incluídos os artigos definidos, v.g.

τῶν, "os", τὸ, "o"

verbos indicam um processo (ação, estado ou passagem de um estado a outro) v.g.

ζηλῶ, "eu invejo" e τρέχει, "ele corre"

advérbios determinantes de local, tempo ou modo (intensificação, negação, etc.) de verbos e adjetivos v.g.

οὐκ, "não", πολλάκις, "muitas vezes", πότε, "quando?"

conjunções coordenam palavras, expressões e orações, ou uma subordinação entre orações (cf. infra) v.g.

καὶ, "e", εἰ, "se", ὅτι, "que, porque"

preposições medeiam o processo de subordinação entre complemento e complementado v.g.

ὑπό, "por, sob", παρά, "junto de", περί, "em volta de"

O grego antigo tem, além das conjunções e preposições, numerosas outras partículas, palavras curtas e invariáveis, difíceis de agrupar:

partículas exclamativas ("interjeições"); partículas enfáticas, explicativas e muitas outras.


FRASE, ORAÇÃO E SEUS ELEMENTOS A frase é a unidade básica e mais elementar do discurso:

οἴμοι.

ἄγαγε.

ζηλῶ σέ, γέρον.

"Ai de mim!"

"Fora!"

"Invejo-te, meu velho."

Temos, acima, três frases, pois são enunciados de sentido completo acompanhados de entonação, de melodia. A frase pode conter uma ou mais orações; fala-se em oração quando a frase tem esquema discursivo completo, com seus elementos essenciais, e se presta a uma análise de seus constituintes. Apenas a frase

"ζηλῶ σέ, γέρον" (E.IA. 17), supra, é também uma oração.

Elementos essenciais da oração Na oração há apenas dois elementos essenciais: o que denota o processo, a ação (predicado), e o que denota o agente do processo (sujeito):

1. Ἀχιλλεύς τρέχει. "Aquiles corre." No exemplo acima,

τρέχει, "corre", é o processo, e Ἀχιλλεύς, "Aquiles", é o agente do

processo. O elemento básico da oração é o predicado, que pode estar claramente expresso, como no exemplo acima, ou então oculto:

2. οὔκουν φθόγγος γ' οὔτ' ὀρνίθων οὔτε θαλάσσης. "Nenhum ruído, nem de aves, nem do mar." (E.IA 9-10) As categorias de palavras que exercem a função de sujeito e de predicado na frase são, habitualmente, o substantivo (sujeito) e o verbo (predicado). Note-se que o verbo de ligação

εἰμί, "eu sou / estou / existo", em geral fica subentendido:

3. ἄριστον μὲν ὕδωρ (ἐστίν). "grande coisa (é), realmente, a água." (P.O. 1.1) Complementos nominais e verbais

4. ἐγένοντο Λήδαι Θεστιάδι τρεῖς παρθένοι· "nasceram de Leda, filha de Téstio, três donzelas:" (E.IA. 49)

5. οὐκ ἐπὶ πᾶσίν σ' ἐφύτευσ' ἀγαθοῖς, Αγάμεμνον, Ατρεύς. "Atreu não te engendrou para todas as boas coisas, Agamêmnon." (E.IA. 29-30

παρθένοι, "donzelas", e o verbo é ἐγένοντο, "nasceram". Na segunda, o sujeito éΑτρεύς, "Atreu" e o verbo é ἐφύτευσα, "engendrou".

Na primeira oração, o núcleo do sujeito é


As outras palavras são complementos que qualificam, especificam ou delimitam circunstancialmente esses e outros elementos das orações.

Existem, em grego, praticamente os mesmos complementos do português; por razões estritamente didáticas, no entanto, nestas sinopses eles serão simplificados da seguinte forma:

complemento nominal: completa ou especifica, na acepção mais ampla do termo, o sentido dos substantivos v.g. ὀρνίθων, "de aves" e θαλάσσης, "do mar"

aposto: explicação ou apreciação que se junta a um substantivo ou pronome; não completa o sentido dele, só explica v.g.

predicativo: completa o sentido dos verbos de estado ("verbos de ligação") v.g.

Θεστιάδι, "filha de Téstio"

ἀγαθός, "bom", na oração ὁ πατήρ ἀγαθός ἐστίν, "meu pai é bom"

objeto: complemento verbal, completa a noção contida na ação verbal

παῖδας, "crianças", na oração διδάσκω τοὺς παῖδας, "eu ensino as crianças", e o pronome σ' (σέ) no exemplo 5

v.g.

N.b.: no grego, como se verá, não faz o menor sentido usar as nomenclaturas "objeto direto", "objeto indireto" e "objeto direto preposicionado"

agente da passiva: complemento verbal sobre o qual recai o processo indicado pelo verbo na voz passiva v.g.

τινος, "alguém", na frase φιλοῦμαι ὑπὸ τινος, "sou amado por alguém"

complemento circunstancial: especifica as circunstâncias envolvidas no processo verbal, ou intensifica o sentido de verbos e adjetivos v.g.

Λήδαι, "de Leda" (exemplo 4) e πᾶσίν ἀγαθοῖς, "para coisas boas"

vocativo: invocação ou interpelação do ouvinte com entoação exclamativa v.g.

Αγάμεμνον, "Agamêmnon"


TIPOS DE ORAÇÃO Assim como no português, no grego existe a oração independente, com sentido completo:

ὁρῶ τὴν σὴν οἰκίαν. "estou vendo a tua casa." Para exprimir pensamentos mais complexos, orações independentes podem ser colocadas lado a lado, em sucessão, sem dependerem formalmente umas das outras. A primeira possibilidade é o assíndeto (gr.

ἀσύνδετος, "não unido"):

οὗτος ἀπήγγειλε τὰ ψεύδὴ, ὑμεῖς ἐπιστεύσατε, οἱ Φοκεῖς ἐπύθοντο, ἐνέδωκαν ἑαυτοὺς, ἀπόλοντο. "ele transmitiu falsidades, vós acreditastes, os Focídios tomaram conhecimento, entregaram-se, foram aniquilados" (D. 19.76)

ἕλκε, τίλλε, παῖε, δεῖρε, κόπτε πρώτην τὴν χύτραν. "Puxa, arranca, bate, esfola, quebra primeiro a panela" (Ar.Av. 365) A segunda possibilidade é o processo de justaposição através de partículas de coordenação, a parataxe (gr.

παράταξις):

ὁι μέν τινες ἀπέθανον, ὁι δ' ἥκουσιν. "uns estão mortos, porém outros estão aqui" (And. 1.25)

τῆς παιδείας τὰς μὲν ῥίζας εἶναι πικράς, γλυκεῖς δὲ τοὺς καρπούς "as sementes da educação são amargas, mas os frutos (são) doces" (D.L. 5.18) Os dois membros da frase, nos exemplos acima, estão coordernados pela partículas membro) e

μέν (1º

δέ (2º membro), nem sempre traduzíveis.

Enunciados ainda mais complexos dependem do uso de orações subordinadas a uma oração principal (gr.

ὑπόταξις). As orações subordinadas podem estar ligadas ao verbo da oração

principal pelos conectivos de subordinação; do ponto de vista sintático, representam um dos elementos da oração principal, da qual dependem. O grego tem os mesmos tipos de oração subordinada que o português:

orações subordinadas substantivas constituem o sujeito, o objeto, o predicativo, o complemento nominal ou o aposto da

oração principal;

orações subordinadas adjetivas constituem um complemento nominal que determina um dos elementos da oração

principal, da mesma forma que um adjetivo o faria;

orações subordinadas circunstanciais (adverbiais)


exprimem diversas circunstâncias que afetam o verbo da oração principal.

Nos exemplos abaixo, a oração principal está sublinhada:

λέγεται αὐτὸν εἶναι εὐδαίμονα. "Ele diz ser (= que é) feliz." Oração subordinada substantiva objetiva, não introduzida por conetivo.

πάντα ἃ βούλει ἔξεις. "Terás tudo o que queres" Oração subordinada adjetiva, introduzida por conetivo (o pronome relativo

ἃ).

εἰ οἱ θεοί εἰσι κακοί, οὐκ εἰσὶ θεοί. "Se os deuses são maus, eles não são deuses." Oração subordinada circunstancial condicional, introduzida por conetivo (a conjunção

εἰ).

Substantivos, adjetivos, pronomes, verbos e advérbios formam o arcabouço das orações e cabe às partículas importante papel relacional, pois são elas que conectam os elementos da oração entre si (v.g. preposições, conjunções) e as orações coordenadas e subordinadas à oração principal (v.g. conjunções). N.b.: os pronomes relativos, embora não sejam partículas, têm igualmente função conectiva, pois subordinam orações adjetivas à oração principal.


RADICAIS, DESINÊNCIAS, DESIN NCIAS, TERMINAÇÕES TERMINAÇ ES

A palavra grega

Raiz e afixos do radical

Palavras variáveis

Alternâncias vocálicas

Desinências e terminações

A PALAVRA GREGA Quanto à forma, as palavras gregas podem ser variáveis ou invariáveis, exatamente como nas demais línguas indo-européias; mas, por se tratar de língua muito antiga, de estrutura próxima à do tronco indo-europeu, as variações morfológicas das palavras gregas são bem mais complexas do que as das línguas mais modernas. Há pequena quantidade de palavras invariáveis: são os advérbios, as preposições, os conetivos e uma série de partículas de difícil classificação que emprestavam tonalidade e ênfase variadas aos enunciados. As palavras com formas variáveis, muito numerosas, são os substantivos, adjetivos e pronomes, nestas sinopses chamados coletivamente de nomes, e os verbos. O reconhecimento de palavras invariáveis é questão de léxico; as mais freqüentes estão listadas no Vocabulário Fundamental. Quanto às palavras variáveis, além da noção básica transmitida pela palavra em si (informada pelo dicionário), é preciso identificar a forma sob a qual se apresenta e assim determinar sua função sintática nos enunciados.

PALAVRAS VARIÁVEIS As palavras variavéis têm uma parte mais ou menos fixa, o radical, e outra que varia consideravelmente, a desinência. O radical contém a noção nominal ou verbal; a desinência marca o gênero, o número e outras categorias gramaticais da palavra.

κόρακ-ας RADICAL

DESINÊNCIA

(noção

(masculino,

nominal:

singular,


"corvo")

acusativo)

No exemplo acima, as letras vermelhas assinalam o radical do substantivo

κόρακας; as letras

negras, a desinência. O radical é em geral representado sem os acentos, seguido de um traço e muitas vezes entre colchetes: [κορακ-]. A desinência costuma ser precedida por um traço:

-

ας. Eis um panorama das noções informadas pelo radical e pelas desinências:

RAIZ E AFIXOS DO RADICAL Diz-se que o radical é "mais ou menos fixo" porque há, freqüentemente, variações significativas na sua forma entre as palavras de uma mesma família e, também, nas diversas formas de uma única palavra. Os radicais gregos são em geral constituídos por dois elementos básicos, a raiz e os afixos. A raiz é a parte do radical que contém o significado básico da palavra; os afixos (prefixos, infixos e sufixos, conforme a posição) especificam ou determinam certas nuances da noção nominal ou verbal contida na raiz. Algumas palavras têm radical formado unicamente pela raiz. Conside-se, por exemplo, a raiz

na palavra

δο-, que contém a noção geral de "dar":

δοτήρ, -τηρ é um sufixo de agente que especifica o valor da raiz; daí a

tradução, "aquele que dá", "doador";


em

δόσις, -σις é um sufixo de ação, isto é, que indica uma ação; a tradução, nesse

caso, é "aquilo que é dado", "doação" (daí, "dose" — algo que é dado em certas quantidades);

δίδομεν, δι- é um prefixo especial, conhecido por redobro em -ι-, que nesse caso marca o aspecto durativo da ação verbal; -μεν não faz parte do radical, é a

na forma verbal

desinência da 1ª pessoa do plural. Tradução: "nós damos".

ALTERNÂNCIAS VOCÁLICAS A parte mais estável do radical é, em geral, o arcabouço consonântico; as variações mais freqüentes ocorrem em determinadas vogais e são chamadas de alternâncias vocálicas — ou apofonia. Considere-se, por exemplo, algumas formas ativas do verbo

λείπω, "eu deixo":

ἔλιπον = aoristo, indicativo, 1ª sg. λείπω = imperfectivo, indicativo presente, 1ª sg. λέλοιπα = perfectivo, indicativo presente, 1ª sg. As sutis alterações no grupo vocálico do radical primitivo (λιπ-, radical do aoristo), constituídas pela inserção das vogais

-ε- e -ο-, indentificam uma nuance do ato verbal conhecida por "aspecto

verbal" (imperfectivo, aoristo, perfectivo) para cada uma dessas formas. Os lingüistas chamam essa vogal variável de "vogal alternante" e as alternâncias são chamadas de graus. Neste caso, temos:

o grau zero (λ ιπ-); o grau pleno (λειπ-); o grau fletido (λοιπ--). Nos radicais nominais, a apofonia é mais evidente na vogal temática, sufixo posicionado no fim do radical de algumas palavras. Essa vogal sofre, notadamente, alterações no timbre. Considere-se, por exemplo, algumas formas do substantivo

λύκος, "lobo":

λύκε = vocativo sg. :: grau -ελύκος = nominativo sg. :: grau -ο-

É costume representar graficamente a vogal temática assim: -ε/ο-. No exemplo acima, portanto, o radical é

λυκε/ο-.

Alguns verbos também têm uma vogal alternante -ε/ο-, muito semelhante à dos nomes, entre o radical e a desinência de certas formas verbais. Vejamos, por exemplo, duas formas ativas do verbo

λύω-, "eu desato":


λύ-ο-μεν = imperfectivo, indicativo presente, 1ª pl. :: grau -ολύ-ε-τε = imperfectivo, indicativo presente, 2ª pl. :: grau -ε-

Há divergências quanto à etimologia dessa vogal alternante dos verbos. Quase todos os gramáticos chamam-na de "vogal temática" e, de acordo com sua presença nas formas do sistema do imperfectivo, agrupam os verbos gregos em verbos temáticos e verbos atemáticos. Murachco, por outro lado, considera-a apenas uma "vogal de apoio ou de ligação", recurso fonético criado para acomodar problemas de pronúncia. Do ponto de vista prático, independentemente da nomenclatura, trata-se de vogal alternante... E, como se verá, a terminologiaverbos temáticos e verbos atemáticos é inadequada de qualquer ponto de vista.

DESINÊNCIAS E TERMINAÇÕES A parte final, flexível, das palavras variáveis — nomes e verbos — recebe diversas denominações. Nestas sinopses, adoto os critérios discutidos por Freire (p. 15 e 60-61) para diferenciar "desinência" de "terminação". Eis um exemplo tirado do verbo

λυ-, "desatar":

λύετε λύομεν RADICAL

DESINÊNCIA

(noção verbal,

(pessoa,

aspecto)

número) VOGAL ALTERNANTE

TERMINAÇÃO Desinência é um sufixo colocado depois do radical das palavras variáveis para marcar as categorias gramaticais (gênero, número, caso, pessoa do discurso, etc.). Terminação é o conjunto de "letras móveis" do fim da palavra e que geralmente engloba a desinência, eventuais letras móveis do fim do radical e certos infixos colocados entre o radical e a desinência. No substantivo e

κορακ-, "corvo", a forma κόρακ-ας pode ser decomposta em κόρακ-, radical,

-ας, desinência. A desinência e a terminação neste caso são a mesma coisa.

λύομεν, que acabamos de ver, λυ- é o radical, -ο- é a vogal alternante, -μεν é a desinência; -ομεν, portanto, é a terminação. No verbo


δοτηρ-, "doador", δοτηρ- é o próprio radical e não há desinência visível. Neste caso, diz-se que a palavra tem desinência "zero", representada pelo sinal -ø.

No substantivo

FLEXÃO FLEX O NOMINAL NOMINAL BÁSICA B SICA

Radicais nominais

Desinências nominais básicas

RADICAIS NOMINAIS A flexão nominal compreende o conjunto de variações morfológicas assumidas por substantivos, adjetivos, pronomes e formas participiais do verbo em diferentes situações. Considemos a oração

ὁ ἵππος τὸν ἵππον βλέπει.

"o cavalo olha o cavalo"

ἵππο-; ela aparece em dois formatos, ἵππος e ἵππον. O radical encerra a noção nominal, "cavalo"; a forma ἵππος, Observe-se a palavra "cavalo", cujo radical, neste exemplo, tem a forma

que é um nominativo masculino singular, marca o gênero, o número e a função de "sujeito" da

ἵππον, um acusativo masculino singular, assinala a função de "objeto" do βλέπει, além do gênero e do número. A diferença entre as duas formas da palavra "cavalo" reside na terminação: -ος no primeiro caso, -ον no segundo.

frase; a forma verbo

Os radicais nominais dos substantivos costumam ser agrupados de acordo com a última letra do radical em três grandes grupos ou declinações:

-α(η) Radicais em -ε/ο-

Radicais em consoante / sonante

Radicais em

em

-γ, -κ, χ (guturais)

em

-δ, -τ, -θ (dentais)

em

-β, -π, -φ (labiais)


em

-μ, -ν (nasais)

em

-λ, -ρ (líquida)

em

-σ (sibilante)

em

-ι, -υ, -F (sonantes)

A morfologia nominal básica é a dos substantivos; adjetivos e pronomes podem ter o radical classificado mais ou menos do mesmo modo. Ver paradigmas nominais. Dá-se o nome de "declinação" ao conjunto das formas flexionais que os nomes podem assumir no enunciado. Declinar uma palavra é enunciar, de forma sistemática, suas diferentes formas. A noção contida no radical nominal é informada pelo dicionário. Veja as formas dicionarizadas dos nomes no léxico.

DESINÊNCIAS NOMINAIS BÁSICAS O substantivo

κορακ-, "corvo ", por exemplo, pode assumir as seguintes formas:

κόραξ (< κόρακς) κόρακα κόρακος κόρακι κόρακες κόρακας κοράκων κόραξι (< κόρακσι) κόρακε κοράκοιν κόραξ [κορακ-] com o substantivo português "mesa" [mesa-], por exemplo, que tem apenas as seguintes flexões para exprimir gênero e número: mesa-a (> mesa), mesa-s.

Compare-se

As desinências nominais acrescentam ao radical dos substantivos, adjetivos, pronomes e particípios as noções gramaticais de gênero, de número e de caso. GÊNERO As formas nominais podem ser masculinas, femininas ou neutras. O masculino e o feminino são gêneros "animados", isto é,referem-se a seres do sexo masculino ou do sexo feminino. O neutro é um gênero "inanimado", que reflete a ausência de gênero (nem masculino, nem feminino). Mas o gênero gramatical nem sempre é igual ao gênero natural; v.g. rios e ventos são masculinos porque, para os gregos, eram divindades do sexo masculino. NÚMERO


O singular designa um único ser / objeto; o plural, mais de um ser / objeto; o dual, um par de seres / objetos, como por exemplo os dois olhos. CASO O grego tinha, praticamente, cinco casos: o nominativo, o vocativo, o acusativo, o genitivo e o dativo; o locativo e oinstrumental, morfologicamente semelhantes ao dativo, existiam ainda em forma vestigial. As desinências casuais, tanto em sentido concreto como em sentido abstrato, tinham a função básica de:

nominativo = identificar, nomear o ser / objeto; vocativo = interpelar, chamar; acusativo = marcar o percurso no tempo e no espaço; genitivo = marcar a origem, a separação; dativo = marcar a atribuição; locativo = marcar o lugar em que se está, no tempo ou no espaço; instrumenal = exprimir o meio / instrumento usado para um ato.

Eis as desinências básicas que permitem a identificação do gênero, do número e do caso dos nomes no singular e no plural:

sg.

MeF

pl.

N

A

G

DLI

N

A

G

DLI

-νς

-ων

-ις

-ιο

-ες

-ας

-σι

-ος Ne

-ιο

-ων

-ις -σι

-ος

Observações:

-ø assinala a ausência de desinência (radical puro);

1.

A notação

2.

O nominativo e o acusativo dos nomes neutros têm as mesmas desinências;

3.

O dativo, o locativo e o instrumental têm as mesmas desinências;

4.

Para o vocativo, v. vocativo;

5.

Para o dual, v. dual.

O contato entre a última letra do radical e a primeira letra da desinência resulta quase sempre em alterações fonéticas mais ou menos previsíveis; v. detalhes nos paradigmas nominais.


FLEXÃO FLEX O VERBAL BÁSICA B SICA

Radicais e terminações verbais

O tempo verbal

O aspecto verbal

A voz das formas verbais

Formas pessoais e impessoais

RADICAIS E TERMINAÇÕES VERBAIS Verbos são palavras que exprimem ação, estado ou fenômeno. A flexão verbal compreende o conjunto de variações morfológicas assumidas pelos verbos conforme as exigências do enunciado. As formas verbais variam de acordo com o aspecto, a voz, o número e o modo; variam, ademais, de acordo com a pessoa do discurso, nas formas ditas pessoais ou finitas, e de acordo com o caso, nas formas nominais. O momento temporal do ato verbal, no grego antigo, tem valor muito menor que a noção de aspecto. O falante do português já está razoavelmente familiarizado com a riqueza de formas flexionais e com a maioria dos conceitos que envolvem a flexão verbal do português, língua indoeuropéia moderna. Veja-se, por exemplo, os elementos constituintes da forma verbal "falávamos":

falávamos = fal + á + va + mos fal = á = va =

raiz (parte do radical) :: contém a noção verbal, "emitir sons articulados" vogal temática (parte do radical) :: identifica a 1ª conjugação desinência modo-temporal :: na 1ª conjugação, identifica o pretérito imperfeito do indicativo (ação que ocorre em passado que se prolonga)

mos = desinência número-pessoal :: identifica a 1ª pessoa do plural Agora, para comparação, os elementos da forma verbal grega

λύομεν, "desatamos":

λύομεν = λύ + ø + ο + μεν λύ =

radical :: contém a noção verbal, "desatar", e o aspecto durativo

ø =

desinência modal :: identifica o modo indicativo

ο =

vogal de ligação -ε/ο- com o grau -ο-

μεν =

desinência número-pessoal :: identifica a 1ª pessoa do plural

A noção básica da ação verbal e o aspecto estão contidos no radical; as outras noções (modo, voz, número, pessoa do discurso) são informadas, via de regra, pelas terminações.

O TEMPO VERBAL "Tempo verbal" é o nome que se dá à situação do processo verbal em relação ao momento temporal em que se fala. O grego antigo, assim como as outras línguas indo-européias, tem três momentos temporais:


presente: o ato verbal ocorre no momento em que se fala;

pretérito (passado): o ato verbal ocorre antes do momento em que se fala;

futuro: o ato verbal ocorrerá após o momento em que se fala.

Em grego, a noção de momento temporal é secundária à noção de aspecto e tem uma certa importância somente no modo indicativo e, em pequena escala, nas formas nominais do verbo; nos outros modos, predomina a noção de aspecto. Consideremos, por exemplo, duas formas verbais da voz ativa do sistema do aoristo, cujo radical exprime a noção verbal de forma pura e abstrata, sem qualquer nuance:

ἐ-παίδευσ-α-ς

ao.ind.at.2.sg.

tu educaste

παιδεύσ-ηι-ς

ao.subj.at.2.sg.

educar, eventualmente, tu

No primeiro exemplo, a forma verbal está no modo indicativo, o modo dos fatos reais; para marcar o tempo pretérito é preciso acrescentar um prefixo especial ao radical do aoristo, o aumento (-ἐ-). Quem marca o momento temporal, portanto, é o aumento; não é o radical do aoristo, não é o modo indicativo. No segundo exemplo, temos o modo subjuntivo, que exprime, entre outras coisas, a eventualidade; o radical do aoristo é o mesmo, mas sem o aumento. O radical dessa forma verbal é, portanto, desprovida de qualquer conotação temporal. O radical do aoristo marca o "ato de educar", o modo subjuntivo marca a "eventualidade" desse ato, e a desinência marca a pessoa do discurso, "tu". O momento temporal pode ser ontem, hoje ou amanhã... N.b.. No português, o modo subjuntivo tem três "tempos" e a noção temporal é predominante: presente do subjuntivo, "eduques tu"; pretério imperfeito do subjuntivo, "educasses tu"; futuro do subjuntivo, "educares tu". A diferença entre o grego e o português é, como se vê, considerável. É inadequada, conseqüentemente, a insistência da maioria das gramáticas tradicionais em atribuir aos grupos flexionais do verbo grego rótulos do tipo "subjuntivo presente" e "optativo presente", entre outros. A noção temporal praticamente não existe, em grego, fora do indicativo, e mesmo assim são necessários afixos para marcá-la. Por essas razões, nestas sinopses o estudo das formas verbais gregas se baseia na identificação do aspecto verbal e não em categorias gramaticais ispiradas pelo latim e pelo português ("maisque-perfeito", "imperfeito", etc.), que em nada auxiliam o estudo do grego.

O ASPECTO VERBAL O aspecto, a mais importante nuance do ato verbal marcada pelo radical dos verbos, se refere ao "grau de acabamento", à completitude da ação verbal. Há três aspectos básicos, o aoristo, o imperfectivo e o perfectivo:

aoristo

ato verbal pontual, puro e simples, sem qualquer nuance; aspecto "zero"

imperfectivo

ato verbal durativo, inacabado, que


teve início e ainda está em processamento perfectivo

ato verbal completo, acabado, que teve início e teve fim

N.b.. Muitas gramáticas chamam o aspecto imperfectivo de "presente" e o aspecto perfectivo de "perfeito". Nestas sinopses será evitada essa nomenclatura, pois implica confusão com o português. O futuro é desprovido de aspecto (aspecto "zero") e constitui mero deslocamento do ato verbal para o futuro. É, portanto, aparentado ao aoristo e, apesar de não refletir propriamente um aspecto verbal, seu radical têm variações muito semelhantes às dos aspectos. Os radicais das formas verbais marcam, portanto, a oposição entre quatro sistemas morfológicos:

o sistema do aoristo;

o sistema do imperfectivo;

o sistema do perfectivo;

o sistema do futuro.

Muitos dentre os verbos mais antigos da língua têm radicais com mais de uma raiz; verbos recentes, formados a partir da tendência natural da língua de formar uma conjugação regular a partir de uma única raiz, têm um só tipo de radical que, no entanto, pode sofrer ajustes fonéticos. Exemplos:

φέρω

παιδεύω

μανθάνω

aoristo

ἐνεγκ-

παιδευσ-

μαθ-

futuro

οἰσ-

παιδευσ-

μαθησ-

imperfectivo

φερ-

παιδευ-

μανθαν-

perfectivo

ἐνενοχ-

πεπαιδευ-

μεμαθη-

Note-se que

φέρω [φερ-], "eu levo", tem mais de uma raiz;

παιδεύω [παιδευ-], "eu educo", tem uma só raiz, que não se altera;

μανθάνω [μαθ-], "ensinar, aprender" tem uma só raiz, que recebe certos afixos e sofre alterações fonéticas.


O reconhecimento dos radicais do verbos mais antigos depende, em geral, de consulta ao dicionário; no caso dos verbos mais recentes, regulares, os radicais são habitualmente previsíveis. Ver os paradigmas.

A VOZ A voz é a categoria gramatical que marca, em todas as línguas indo-européias, o relacionamento entre a forma verbal e o seu sujeito. A mais antiga, historicamente, é a voz ativa, em que o processo verbal parte do sujeito. O sujeito, portanto, pratica a ação verbal, é um sujeito "emissor". Exemplos:

θύω, "eu realizo um sacrifício"

παιδεύω, "eu educo"

Posteriormente, surgiu a voz média, utilizada quando o sujeito pratica uma ação na qual ele tem interesse ou se empenha particularmente. De certa forma, o sujeito é emissor e receptor da ação verbal. Exemplos:

θύομαι, "eu realizo um sacrifício em meu benefício"

παιδεύομαι τὸν ὑόν, "eu mando educar meu filho"

Na voz passiva, que se desenvolveu posteriormente a partir da voz média, o processo verbal recai sobre o sujeito, isto é, o sujeito "sofre / recebe" a ação verbal (sujeito "receptor"). Exemplo:

θύονται, "eles são sacrificados"

παιδεύονται, "eles são instruídos"

Alguns verbos não existem em todas as vozes. Por exemplo, ativa;

τρέχω, "eu corro", só existe na voz

γίγνομαι, "eu me torno", só existe na voz média.

Há verbos que têm formas ativas no imperfectivo e, no futuro, só formas médias. Por exemplo:

λαμβάνω, "eu pego";λήψομαι, "eu pegarei".

A arquitetura morfológica da voz média e da voz passiva é muito regular, com poucos "acidentes fonéticos"; a arquitetura da voz ativa, por outro lado, é pouco rigorosa e diversas alterações fonéticas, mais ou menos evidentes, ocorrem. Eis um quadro sinóptico das vozes do verbo

παιδεύω, "eu educo", na 3ª pessoa do singular do

modo indicativo:

aoristo

futuro

imperfectivo

perfectivo

ativa

ἐπαίδευσε

παιδεύσει

παιδεύει

πεπαίδευκε

média

ἐπαιδεύσατο

παιδεύσεται

παιδεύεται

πεπαίδευται


passiva

ἐπαιδεύθη

παιδευθήσεται

παιδεύεται

πεπαιδεύται

Quando o radical é o do aoristo ou o do futuro, as três vozes são perfeitamente discerníveis; as vozes ativa e média se diferenciam pela desinência número-pessoal e a voz passiva utiliza o sufixo

-θη- (às vezes -η-) aposto ao radical.

Quando o radical é o do imperfectivo ou do perfectivo, as formas médias e passivas são sempre iguais e por isso são chamadas de médio-passivas; nesse caso, voz média e voz passiva devem ser identificadas pelo contexto.

FORMAS PESSOAIS E IMPESSOAIS DO VERBO As formas da flexão verbal que marcam as pessoas do discurso (eu, tu, vós, etc.) são ditas pessoais ou finitas, pois "limitam" a noção verbal, isto é, delimitam o ato verbal na esfera de influência da pessoa ou pessoas do discurso. As formas do infinitivo e do particípio, que expressam o ato verbal como se fosse um nome, são ditas impessoais ou nominais;fala-se também em "modo infinitivo" e "modo particípio". O radical do verbo marca, em todas as formas verbais, o aspecto e, eventualmente, o momento temporal do ato verbal; nos sistemas do aoristo e do futuro, marca também a voz passiva. As terminações assinalam, por sua vez, o número (singular, plural, dual), a voz (ativa, média e, fora do aoristo, a passiva) e mais as seguintes categorias gramaticais:

nas formas pessoais: modos: indicativo, imperativo, subjuntivo, optativo; pessoas do discurso: 1ª, 2ª, 3ª;

nas formas infinitivas: nada mais;

nas formas participiais: gêneros: masculino, feminino, neutro; casos: nominativo, acusativo, genitivo, dativo, locativo, instrumental.

Panorama das formas verbais:


AS FORMAS PESSOAIS DO DO VERBO

Os modos pessoais

Pessoas do discurso e número

Desinências número-pessoais

Conjugação dos modos pessoais

Verbos em

-ω e em -μι

OS MODOS PESSOAIS O sistema modal do grego antigo exprimia a oposição entre a expressão objetiva e a expressão subjetiva da ação verbal. Na história da língua, surgiram primeiro os dois modos objetivos, o indicativo e o imperativo. O subjuntivo e o optativo surgiram posteriormente, diante da necessidade de exprimir atos verbais fatos de forma subjetiva.


Os modos pessoais são, portanto, quatro: INDICATIVO Exprime objetivamente ação ou o estado verbal como fato puro e simples, determinado e real.

παιδεύομεν, "nós educamos". IMPERATIVO Exprime objetivamente a ordem ou a probição.

παίδευε, "educa tu". SUBJUNTIVO Exprime a ação como uma vontade ou como uma eventualidade; noções essencialmente subjetivas.

παιδεύωμεν, "nós educaríamos". OPTATIVO Exprime a possibilidade e o desejo, noções essencialmente subjetivas.

παιδεύοιμεν, "possamos nós educar". O indicativo e o imperativo marcam, basicamente, o que é factual; o subjuntivo, o que é prospectivo, isto é, pode acontecer no futuro; o optativo marca uma ação ainda mais remotamente prospectiva. Morfologicamente, a oposição entre modos objetivos e subjetivos se manifesta pelas desinências modais, infixos posicionados entre o radical e as desinências número-pessoais, e pelo uso dos advérbios de negação próprios às nuances modais:

modos

sufixo modal

negação

nuance básica

indicativo

-ø-

οὐ

objetiva

imperativo

-ø-

οὐ

objetiva

subjuntivo

-η/ω-

μή

subjetiva

optativo

-ιη/ι-

μή

subjetiva

PESSOAS DO DISCURSO E NÚMERO Nos modos pessoais, as terminações identificam também a pessoa do discurso e seu número. As pessoas do discurso são três:

1ª = a pessoa que fala (eu, nós);

2ª = a pessoa com quem se fala (tu, vós);

3ª = a pessoa / objeto de quem se fala (ele, ela, eles, elas).


O número de pessoas do discurso admite também três possibilidades:

singular = designa um único ser / objeto;

plural = designa a pessoa que fala e outras pessoas ao mesmo tempo;

dual = designa dois seres / objetos; existe apenas para a 2ª e a 3ª pessoa do discurso.

O homem grego usava muitas vezes a primeira pessoa do plural para se referir a si mesmo, mais ou menos como o "plural de modéstia" do português:

φέρε κοίνωσον μῦθον ἐς ἡμᾶς. πρὸς δ' ἄνδρ' ἀγαθὸν πιστόν τε φράσεις: Vamos, compartilha conosco essa história, vais contá-la a um homem bom e fiel; E.IA, 44-45. A segunda pessoa do singular (tu) era usada pelos gregos para se dirigir a todos — homens, reis ou deuses. O "você" da língua portuguesa, de origem litúrgica e servil (Murachco), não teria o menor sentido para um grego.

DESINÊNCIAS NÚMERO-PESSOAIS Em essência, tais desinências exprimem as relações entre as pessoas do discurso e as formas verbais. Além da pessoa do discurso e do número, marcam as vozes verbais ativa e médiopassiva; a voz passiva dos sistemas do aoristo e do futuro, reconhecíveis pelo radical, usam respectivamente as desinências ativas e médio-passivas. Há três tipos básicos de desinência, que se distinguem quanto às nuances temporais e modais da ação verbal: 1.

desinências primárias: próprias dos momentos temporais "presente" e "futuro" e do modo subjuntivo;

2.

desinências secundárias: próprias do momento temporal "passado" e do modo optativo;

3.

desinências do imperativo: próprias e específicas desse modo verbal.

formas

número

ativas

sg.

pessoa

primárias

secundárias

imperativo

-ω / -μι

-θι / -ø


pl.

sg.

-τι > -σι

-τω

-μεν

-μεν

-τε

-τε

-τε

-ντι

-ν / -σαν

-ντων (*)

-μαι

-μην

-σαι

-σο

-σο

-ται

-το

-σθω

-μεθα

-μεθα

-σθε

-σθε

-σθε

-νται

-ντο

-σθων (**)

médias

pl.

-τωσαν (**) a partir do século -IV, -σθωσαν

(*) a partir do século -IV,

Observações:

-ø assinala a ausência de desinência ou a queda de desinência antiga;

1.

a notação

2.

o contato entre a última letra do radical e a primeira letra da desinência númeropessoal resulta muitas vezes em alterações fonéticas, notadamente na voz ativa; v. paradigmas;

3.

para as desinências do dual, v. dual.

CONJUGAÇÃO DOS MODOS PESSOAIS Conjugações são os conjuntos de flexões verbais organizadas de acordo com o aspecto, o modo, o tempo, a pessoa do discurso e o número das formas verbais.


A meu ver, não é correto chamarmos os grupos flexionais verbais do grego antigo de "tempos", como em latim e em português (presente do indicativo, mais-que-perfeito, etc.), uma vez que os conceitos envolvidos são diferentes. Em grego, o aspecto verbal é o conceito mais importante; em latim e em português, o momento temporal. Devido à importância predominante da noção de aspecto em detrimento da noção de tempo, os grupos flexionais da conjugação pessoal grega devem ser estudadas a partir de quatro sistemas (imperfectivo, aoristo, futuro e perfectivo), quatro modos(indicativo, imperativo, subjuntivo, optativo) e, no modo indicativo, por dois momentos temporais (presente e pretérito).

imperfectivo:

aoristo:

indicativo

futuro:

indicativo

indicativo

perfeito: indicativo

• presente

• presente

• pretérito

• pretérito

imperativo

imperativo

imperativo

subjuntivo

subjuntivo

subjuntivo

optativo

optativo

optativo

optativo

A base de cada um dos quatro sistemas é, obviamente, a forma do radical do verbo (imperfectivo, futuro, aoristo, perfectivo).

VERBOS EM -Ω E EM -ΜΙ De acordo com a desinência número-pessoal da 1ª pessoa do singular do imperfectivo indicativo presente ativo, os verbos gregos podem ser agrupados da seguinte forma:

verbos em

-ω, v.g.

λύ-ω, "eu desato"; παιδεύ-ω, "eu ensino"; ἀγγέλλ-ω, "eu anuncio"; verbos em -μι, v.g.

εἰ-μί, "eu sou / existo"; δίδω-μι, "eu dou"; τίθη-μι, "eu coloco". Os verbos em

-ω e o os verbos em -μι têm diferenças significativas de flexão somente no sistema

do imperfectivo; não há razão, portanto, para serem estudados separadamente. Alguns verbos não têm formas ativas, apenas formas médias e passivas; são os verbos em como por exemplo

βούλο-μαι, "eu quero".

-μαι,


CONCORDÂNCIA CONCORD NCIA NOMINAL E VERBAL VERBAL

O predicado e seu sujeito

Complementos em aposição

A ordem das palavras

A sintaxe de concordância se refere, basicamente, às relações funcionais entre as palavras variáveis de frases e orações.

O PREDICADO E SEU SUJEITO Em princípio, o verbo finito concorda sempre em número com o sujeito ou sujeitos da oração:

ὁ παῖς καθεύδει. a criança dorme. um sujeito = verbo no singular

σὺ καὶ ἐγὼ τὸν πατέρα στέργομεν. tu e eu amamos nosso pai. dois sujeitos = verbo no plural

Quando o sujeito está no plural neutro, porém, o verbo vai para o singular:

τὰ ζῶιὰ τρέχει. os animais estão correndo. Quando há mais de um sujeito, o verbo às vezes concorda apenas com o mais próximo:

σὺ τε Ἓλλην εἶ καὶ ἡμεῖς. (X.An. 2.1.16) tu és grego e nós também. N.b. Note-se que, nesse tipo de construção, é possível entrever duas orações em parataxe, com o verbo da segunda subentendido: σὺ τε Ἓλλην εἶ | καὶ ἡμεῖς (ἐσμέν) = tu és grego | e nós também (somos).

Quando o sujeito está no singular, mas passa uma noção coletiva, o verbo pode vir no plural (concordância pelo sentido):

τὸ πλῆθος ἐψηφίσαντο πολεμεῖν. (Th. 1.125.1) a multidão votou pela guerra. Mais informações nas sinopses do dual e do infinitivo.

COMPLEMENTOS NOMINAIS EM APOSIÇÃO Muitos complementos nominais formam, juntamente com o nome a que se referem, uma seqüência que explica ou qualifica o sentido do nome, mas sem completar seu sentido. Comportam-se assim o predicativo do sujeito, o artigo, os adjetivos qualificativos, certos pronomes adjetivos e, é claro, o aposto propriamente dito. Caracteristicamente, a função sintática do nome e do elemento em aposição a ele é a mesma.


Artigo O artigo concorda em gênero, número e caso com o nome que determina:

ὅλως τε σημεῖον τοῦ εἰδότος καὶ μὴ εἰδότος τὸ δύνασθαι διδάσκειν ἐστίν. (Arist.Metaph. 981b) Em geral, é a capacidade de ensinar a marca do saber e do não-saber. O artigo nunca determina um nome em função de predicativo: Αἱ μοῦσαι θεαὶ ἦσαν. As musas eram deusas. Adjetivos e pronomes adjetivos O adjetivo qualificativo concorda em gênero, número e caso com o substantivo: O mesmo vale para os pronomes adjetivos: Aposto

Predicativo O predicativo é o complemento de verbos de ligação (v.g.

εἰμί, "eu sou / estou"), que podem vir

ou não expressos na oração. Quando o predicativo é um substantivo, concorda com o sujeito em caso:

ἡ θήρα ἡδονή ἐστιν. A caça é um prazer. Quando o predicativo é um adjetivo, concorda em gênero, número e caso com o sujeito:

ὁ πατήρ ἐστιν ἀγαθός. ἡ μήτηρ εστί ἁγαθή. Meu pai é bom. Minha mãe é boa. Quando o adjetivo predicativo se refere a um sujeito abstrato (está em geral subentendido o substantivo"coisa"), fica sempre no neutro singular:

δεινὸν οἱ πολλοί (E.Or. 772). ἀθάνατον ἡ ψυχή (Pl.Phd. 73a). (Coisa) terrível, a multidão. A alma é (uma coisa) imortal. Assim como o verbo, o atributo pode concordar com o sujeito mais próximo:

ἀρετὴ καὶ κακία ἐναντία ἐστιν. a virtude e o vício são opostos. Para a concordância do sujeito infinitivo com o predicativo, ver infinitivo.


MORFOSSINTAXE NOMINAL

O nominativo

O genitivo

O vocativo

O dual

O NOMINATIVO

Morfologia do nominativo

Tradução

Sintaxe

O caso nominativo (gr.

ὀνομαστική πτῶσις) é a forma nominal que nomeia / identifica seres,

objetos e idéias; nos dicionários, é a forma-referência da entrada de substantivos, adjetivos e pronomes.

MORFOLOGIA DO NOMINATIVO Eis as terminações habituais do nominativo, organizadas de acordo com as desinências básicas:

tipo

paradigmas-exemplo

radical

N. sg. / pl.

sg.:

ὁ νεανίας, ου

νεανια-

νεανί-ας / -αι

pl.:

ὁ πολίτης, ου

πολιτᾰ-

πολίτ-ης / -αι

ὁ λόγος, ου

λόγε/ο-

λόγ-ος / -οι

ὁ νεώς, ώ

νηε/ο-

νε-ώς / -ώι

sg.:

ἡ ἡμέρα, ας

ἡμερα-

ἡμέρ-α / -αι

pl.:

ἡ κεφαλή, ῆς

κεφαλη-

κεφαλ-ή / -αί

sg.:

pl.:

-ᾰ

τὸ δῶρον, ου

δωρο-

δῶρ-ον / -α

sg.:

ὁ κόραξ, ακος

κορακ-

κόραξ (κ-ς) / -ες

pl.:

-ες

ἡ πόλις, εως

πολεy-

πόλ-ις / -εις

ἡ νέκυς, ος

νεκυ-

νέκυ-ς / -ες

ἡ τριήρης, ρους

τριηρεσ-

τριήρ-ης / -εις


sg.:

pl.:

-ες

sg.: pl.:

ὁ ῥήτωρ, ορος

ῥητορ-

ῥήτωρ / -ες

τό κρέας, έως

κρεασ-

κρέ-ας / κρέ-α

-ᾰ

τό γένος, ους

γενεσ-

γέν-ος / γέν-η

τὸ σῶμα, ατος

σωματ-

σῶμα / ματ-α

τὸ φῶς, φωτός

φωτ-

φῶς / φῶτ-α

τό ἄστυ, εως

ἀστεF-

ἄστ-υ / ἄστ-η

Observações:

-ς ou pela

1.

Os gêneros masculino e feminino são marcados, no singular, pela desinência

2.

-ι- e -ες-; o gênero neutro é marcado, no singular, pela desinência -ν- ou pela falta de desinência (ø); no plural, pela desinência -α-;

3.

radicais em consoante apresentam comumente alterações fonéticas quando o radical

falta de desinência (ø); no plural, pelas desinências

recebe as desinências; v. paradigmas nominais.

TRADUÇÃO A tradução é simples; basta usar utilizar a palavra portuguesa básica correspondente, sem qualquer nuance ou consideração. Ex.: homem, árvore, etc.

SINTAXE O nominativo não exprime relações circunstanciais; na oração, identifica basicamente o sujeito e o predicativo do sujeito; aparece também em títulos, listas, enumerações, etc. Sujeito e predicativo do sujeito

Ἀθηναῖοι Δηλίους ἀνέστησαν ἐκ Δήλου. (Th. 5.1.1) "Os atenienses expulsaram os Délios de Délio"

τῶν ἐπιστημῶν ἐπιστήμη ἐστὶν ἡ σωφροσύνη. (Pl.Charm. 174d) "A moderação é uma ciência das ciências."

ΣΤΕΣΙΩΣ ΚΑΛΟΣ (Exéquias, inscrição em vaso, Louvre F 53) "Stésios é belo." Títulos, identificações, etc.

ΕΥΡΙΠΙΔΟΥ ΙΦΙΓΕΝΕΙΑ Η ΕΝ ΑΥΛΙΔΙ "A Ifigênia em Áulis de Eurípides"


ΗΕΡΑΚΛΕΣ, ΕΥΡΥΤΙΟΝ, ΓΕΡΥΟΝΕΣ, ΑΝΧΙΠΟΣ (Exéquias, inscrição em vaso, Louvre F 53) "Héracles, Eurítion, Geríon, Anquipos." N.b. Note-se que o nome de Geríon está no plural, possivelmente porque ele tinha corpo triplo.

Exclamações

Ἄνθρωπος ἱερός. "Santo homem!"

Δύσμορος. (S.OC. 224) "Infeliz!" Ao lado de um vocativo Às vezes, um nominativo acompanha o vocativo:

φίλος ὦ Μενέλαε· (Il. 4.189) "Meu amigo Menelau!"

O GENITIVO

Morfologia do genitivo

Tradução

Sintaxe

O genitivo (gr.

γενικὴ πτῶσις) é o caso que marca, basicamente, a origem, em todos os

sentidos concretos e abstratos.

MORFOLOGIA DO GENITIVO Veja aqui as desinências básicas do genitivo. Eis as terminações habituais, de acordo com o radical:

sg.

em -α(η)

em -ε/ο

M

F

M, F e Ne

M, F e N

-ου

-α(η)ς

-ου

-ος

pl.

em consoante

-ων

Observações: 1.

A terminação do singular pode apresentar variações em decorrências de alterações fonéticas: Na declinação ática, por causa das alterações fonéticas, a terminação é sg.;

-ους;

2.

pela mesma razão, o sg. dos nomes em sibilante é

3.

o mesmo vale para diversos nomes em sonante, com genitivo sg. em

-ως;

-ώ no


4.

a terminação de todos os plurais é

-ων.

O VOCATIVO

Morfologia do vocativo

Tradução

Sintaxe

O vocativo (gr.

κλετικὴ πτῶσις) é o caso dos nomes utilizados em chamamentos, apóstrofes e

invocações.

MORFOLOGIA DO VOCATIVO A rigor, o vocativo não é um caso (πτῶσις), pois carece de desinência própria; ou é igual ao radical puro ou se identifica com o nominativo. Vocativo plural No plural de todos os nomes, o vocativo é sempre igual ao nominativo. V.g.,

ἡμέρα, ας (ἡ) nominativo e vocativo pl. =

ἡμέραι.

Vocativo singular neutro No singular dos nomes neutros, o vocativo é sempre igual ao nominativo-acusativo. V.g.,

δώρον, ου (τὸ) nominativo, vocativo e acusativo sg. =

δώρον.

Vocativo singular masculino e feminino Há apenas duas possibilidades: ou o vocativo sg. é constituído pelo radical puro (não tem desinência própria); ou o vocativo sg. é igual ao nominativo sg.


Ocorrências básicas:

Tipo

paradigma

vocativo sg.

= radical puro

ἡ ἡμέρα, ας

ἡμέρ-α

ὁ νεανίας, ου

νεανί-α

ὁ πολίτης, ου

πολῖτ-ᾰ

ὁ λόγος, ου

λόγ-ε

ἡ ἐλπίς, ίδος

ἐλπί

ὁ ῥήτωρ, ορος

ῥῆτορ

ὁ πατήρ, πατρός

πάτερ

ἡ τριήρης, ρους [-ρεσ-]

τριῆρες

ἡ πόλις, εως

πόλι

ὁ νεώς, ώ

νεώ-ς

ὁ κόραξ, ακος

κόραξ

ὁ γύψ, γυπός

γύψ

ἡ λαμπάς, άδος

λαμπά-ς

= nominativo sg.

Observações: 1.

Nos radicais masculinos / femininos em -ε/ο (ὁ

λόγος), o vocativo sg. expõe o grau -ε-

da vogal temática; 2.

O comportamento dos radicais em dental é variável: a.

quando o radical puro termina em consoante diferente de

ν, ρ, σ, cf. ἐλπίς, a

dental simplesmente cai; b.

em outros casos, cf.

λαμπάς, o radical recebe eventualmente um -ς por

analogia com o nominativo sg.

TRADUÇÃO Há grande semelhança entre o vocativo grego e o vocativo português; isso simplifica a tradução, que pode ser quase sempre literal. Para rever os conceitos básicos do vocativo no português, consulte:

Mini-Gramática: o vocativo O Estado de São Paulo. Manual de Redação e estilo: vocativo

SINTAXE


O vocativo é um elemento intercalado, isolado, não-essencial à estrutura sintática das frases e orações; se retirado, o sentido básico da oração não fica prejudicado. Sua identificação é simples em praticamente todos os contextos. Expressões exclamativas e interjeições No dialeto ático, o vocativo é freqüentemente precedido da partícula

ὦ (ó, ô):

ὦ Πόσειδον, δεινῶν λόγων. "Ó Poseidon, que terríveis palavras!" A falta da partícula

ὦ denota, eventualmente, forte emoção:

Ζεῦ βασιλεῦ. "Zeus soberano!..." Apóstrofes, chamamentos

ὦ δέσποτ', ἀδικούμεσθα. (E.IA. 314) "Ó mestre, somos tratados injustamente!"

Χρὴ γάρ, ὦ ἄνδρες Αθηναῖοι, τὸ αὐτὸ φθέγγεσθαι τὸν ῥήτορα καὶ τὸν νόμον· (Aeschin. 3.16) "É preciso pois, cidadãos atenienses, que orador e lei falem a mesma coisa;" Interpelações Usa-se o nome da pessoa, ou pronome dêitico

οὗτος:

τί δὲ καινουργεῖς, Ἀγάμεμνον ἄναξ; (E.IA. 2-3) "O que planejas de novo, senhor Agamêmnon?"

οὗτος, βλέφ' ὧδε. (S.Tr. 402) "Ei, tu! Olha para cá!"

O DUAL

Morfologia

Tradução e sintaxe

O dual, arcaica flexão de número usada raramente para seres / objetos que ocorrem aos pares, foi gradativamente substituído pelo plural e desapareceu do dialeto ático depois do século -III.

MORFOLOGIA


Substantivos, adjetivos, pronomes e verbos no dual são reconhecíveis pelas terminações nominais e verbais próprias. Terminações básicas das formas nominais

1ª decl.

2ª decl.

3ª decl.

artigo

pr. 1ª

pr. 2ª

NVA

-ε ou -ει

τώ

νώ

σφώ

GDLI

-αιν

-οιν

-οιν

τοῖν

νῶιν

σφώιν

Observações: 1.

há uma só desinência para o nominativo, vocativo e acusativo e uma só para o genitivo e dativo-locativo-instrumental;

2.

o dual do artigo definido é o mesmo para o masculino, o feminino e o neutro;

3.

o radical das formas duais dos pronomes pessoais (νω- e

σφω-) é diferente dos radicais

do singular e do plural. Terminações das formas verbais

PRIMÁRIAS

SECUNDÁRIAS

IMPERATIVO

at.

m.p.

at.

at.

-τον

-σθον

-τον (την) -σθον (σθην) -τον

-(σ)θον

-τον

-σθον

-την

-(σ)θων

m.p.

-σθην

-των

m.p.

Observações: 1.

Nas formas verbais, a 1ª pessoa do dual é, de fato, inexistente (Chantraine, 1961);

2.

No sistema imperfectivo dos verbos em -ω, a vogal de ligação assume a forma -ε-;


TRADUÇÃO E SINTAXE Substantivos, adjetivos e pronomes vêm no dual (mas não obrigatoriamente) quando de referem a um par de seres / objetos:

βλέπειν μὲν τοῖν ὀφθαλμοῖν, ἀκούειν δὲ τοῖς ὦσιν (Antipho 4.2.4) "ver com os (dois) olhos, ouvir com as orelhas" O dual não deixou vestígios nem no latim, nem no português (Almeida, 1992); mas a palavra ambos deriva, certamente, do gr.ἄμφω e do Lat. ambo, ae. Na tradução, devese recorrer às expressões nominais "os dois" ou "ambos" e colocar o verbo no plural, conforme a necessidade. Vê-se habitualmente o verbo no dual em três situações: O sujeito está no dual

ἐβούλετο τῶ παῖδε ἀμφοτέρω παρεῖναι. (X.An. 1.1.1) "ele queria que os dois filhos ficassem junto (dele)" O sujeito tem dois substantivos no singular

Τελαμῶνος Αἴας καὶ Τεῦκρος ἐγενέσθην. (Isoc. 9.17) "Ájax e Teucro nasceram de Telamon" O sujeito é o adjetivo numeral

δύο

γέροντε δ' αἰσχρὸν δύο πεσεῖν· (E.Ba. 365) "é vergonhoso um par de velhos cair " O uso do verbo no dual, no entanto, não é obrigatório; depende, em grande parte, do estilo do autor. Aristófanes, v.g., usa constantemente o dual: "POUPA Mas digam-me, quem vocês dois são? EUÉLPIDES Nós dois? Dois mortais. "

ΕΠΟΨ Ἀλλ' εἴπατόν μοι σφὼ τίν' ἐστόν; ΕΥΕΛΠΙΔΗΣ Νώ; Βροτώ. (Ar.Av. 105) Platão e Xenofonte, por outro lado, preferem muitas vezes o plural:

καὶ ἀριστῶντι τῶι Ξενοφῶντι προσέτρεχον δύο νεανίσκω· (X.An. 4.3.10) "enquanto Xenofonte tomava o desjejum, dois jovenzinhos correram até ele"


O INFINITIVO

As formas infinitivas

Tradução

Sintaxe

O infinitivo (gr.

ἀπαρέμφατον) é um substantivo verbal, ou seja, noção verbal com

propriedades nominais similares às de um substantivo.

AS FORMAS INFINITIVAS As formas do infinitivo refletem suas características de verbo e de substantivo. Características verbais O infinitivo caracteriza-se por desinências próprias apostas ao radical dos quatro sistemas verbais (aoristo, imperfectivo, futuro e perfectivo) na voz ativa, na voz média e na voz passiva. As desinências infinitivas não têm flexão de gênero, número, caso ou de pessoa do discurso; as formas verbais são, portanto,não-finitas (cf. Lat. in-finitas, daí o nome em português). Há algumas diferenças desinenciais entre os verbos em

SISTEMA

imperfectivo

aoristo

forma ativa

-ε-εν / -ειν

-μι

-ναι

-αι

-μι

-ναι

-ω e os verbos em -μι:

forma média

forma passiva

-ε-σθαι

-ε-σθαι

-σθαι

-ναι

futuro

-ε-εν / -ειν

-ε-σθαι

-ε-σθαι

perfectivo

-ναι

(σ)θαι

(σ)θαι

Observações: 1.

no sistema do imperfectivo, os verbos em a desinência;

-ω têm a vogal de ligação -ε- entre o radical e


-εν; do encontro com a vogal de ligação -ε-

2.

a desinência do imperfectivo infinitivo ativo é

3.

-ει-: ε- + -εν > -ειν; no sistema do futuro, a vogal de ligação -ε- aparece tanto nos verbos em -ω como nos verbos em -μι;

4.

no sistema do perfectivo, verbos em oclusiva, líquida e nasal usam a desinência

5.

-θαι nas formas médio-passivas(v.g. πέφαν-θαι, de φαίνω, "eu mostro"); os verbos em -ω com radical em vogal têm formas contratas no imperfectivo;

resulta a contração

reduzida

ver paradigmas verbais. Características nominais O infinitivo é um substantivo neutro e pode ser associado ao artigo neutro (τό), ou não.

TRADUÇÃO A concordância entre o infinitivo do português e o do grego é razoável e, com a ajuda de verbos auxiliares e locuções verbais,pode-se traduzir praticamente todas as nuances das formas gregas sem muita dificuldade. A forma substantiva do infinitivo não impõe dificuldades: "comer é agradável", "ela cultiva o sorrir", etc. Eis uma correspondência básica entre o grego e as formas impessoais do infinitivo português, que devem ser acomodadas ao contexto, estilo e fluência do texto traduzido:

SISTEMA

formas ativa e média

forma passiva

imperfectivo

estar educando

tendo sido educado

aoristo

educar

ser educado

futuro

vir a educar

vir a ser educado

perfectivo

estar educado

ter estado educado

Convém lembrar, finalmente, que além de formas impessoais (v.g. louvar, ser louvado) semelhantes às do grego, o infinitivo português tem formas pessoais flexionadas que o grego não tem (v.g. louvar-es tu, seres louvado; louvar-des vós, serdes louvados, etc.).

SINTAXE Como substantivo, o infinitivo exprime a noção verbal de forma pura, indeterminada, abstrata, sem qualquer nuance.


Como verbo, o infinitivo grego exprime apenas as noções básicas dos quatro sistemas verbais, sem conotação temporal significativa, e pode formar o núcleo verbal de orações independentes, de orações subordinadas substantivas ou de certas expressões isoladas.

Propriedades nominais do infinitivo

1a

Quando presente, o artigo neutro assume a forma do caso exigido pela função sintática do substantivo:

νέοις τὸ σιγᾶν κρεῖττόν τοῦ λαλεῖν. "para os jovens, (o) silenciar é melhor do que (o) tagarelar" 1b

Como substantivo, pode ter complementos nominais:

τὸ τὴν μητέρα στέργειν τοὺς παῖδας. "o amor da mãe por seus filhos" 1c

Pode ser complemento nominal de substantivos, advérbios e, notadamente, de adjetivos (em geral sem o artigo):

χαλεπὸν ποιεῖν. "difícil de fazer"

δεινὸς λέγειν. "hábil no falar"

ἄξιος τιμᾶσθαι. "digno de ser honrado" 1d

Não é modificado por adjetivos, mas pode ser modificado por advérbios:

τὸ καλῶς ζῆν χαλεπόν. "o bem viver é difícil" O infinitivo em frases isoladas

2a

Em frases parentéticas (que funcionam como parêntese ou como oração intercalada), precedido ou não de

ὡς (o "infinitivo absoluto" de algumas gramáticas):

ἀληθές γε ὡς ἔπος εἰπεῖν οὐδὲν εἰρήκασιν. (Pl.Ap. 17a) "nada de verdadeiro, como se diz, eles falaram"

Algumas dessas expressões acabaram por se cristalizar, como por exemplo:

ἑκὼν εἶναι "voluntariamente";

ἐμοὶ δοκεῖν


"na minha opinião" 2b

Em frases exclamativas, como desabafos, interpelações, saudações, etc.:

ἐμὲ παθεῖν τάδε. (A.Eu. 837) sofrer isso, eu!

τὸν Ἴωνα χαίρειν. (Pl.Ion. 1) Salve, Íon! 2c

Certas frases exclamativas têm conotação de ordem ou súplica, como no modo imperativo:

τὰς τραπέζας εἰσφέρειν. (Ar.V. 1216) Trazer (trazei) as mesas! O infinitivo em orações

nas orações independentes, o infinitivo pode ser o sujeito, o objeto ou complemento circunstancial

a oração infinitiva pode igualmente ter a função de oração subordinada subjetiva, objetiva ou adverbial (orações substantivas, é claro...) Ocorrências mais comuns:

3a

Como sujeito, o infinitivo requer predicativo no neutro singular:

αἰσχρόν ἐστι ψεύδεσθαι. "é vergonhoso mentir" 3b

O infinitivo poder ser sujeito de certos verbos impessoais:

χρὴ βουλεύεσθαι. "é preciso deliberar"

Entre o verbo impessoal e o infinitivo há, freqüentemente, pronomes pessoais no dativo ou acusativo:

ἔξεστί μοι τοῦτο ποιεῖν. "é permitido a mim fazer isso"

δεῖ με τοῦτο πράττειν. "é necessáro para mim fazer (= que eu faça) isso" 3c

O sujeito da oração infinitiva subordinada vem no acusativo quando é diferente do sujeito do verbo principal:

οἶμαί σε σοφὸν εἶναι.


"eu acho que tu és sábio" 3d

O sujeito da oração infinitiva subordinada não costuma ser expresso quando é o mesmo sujeito do verbo principal:

Ἀλέξανδρος οἴεται σοφός εἶναι. "Alexandre julga ser (= que é) sábio."

Quando há predicativo ou aposto, ele pode vir no caso do sujeito principal (como no exemplo acima), ou no acusativo:

νῦν σοι ἔξεστιν ἀνδρὶ (ou ἄνδρα) γενέσθαι. "agora é permitido a ti tornar-te homem"

Se o sujeito da oração infinitiva é indeterminado, o predicativo e/ou aposto, se existirem, vêm no acusativo:

ἀλλ' ἡδύ σωθέντα μεμνῆσθαι πόνων. (E.Fr. 133, de Andrômeda?) "é doce, uma vez salvo, recordar suas penas." 3e

A oração infinitiva subordinada pode ser precedida de conjunção (μὴ, eventualmente, de outras partículas (v.g.

πρίν, ὥστε, etc.) e,

ἦ μὴν):

ὀμνύασι πάντες μὴ τὴν τάξιν λείψειν. (Lycurg. 1.76) "todos juram que não vão deixar o seu posto" N.b.. Como o juramento se aplica a um fato que ainda não ocorreu, o grego utiliza o infinitivo futuro. Note-se que, ao traduzí-lo para o português, foi necessário recorrer a uma locução verbal para exprimir a nuance.

βουλεύου πρὶν πράττειν. "delibera antes de agir"

ὤμοσεν ἦ μὴν μή εἶναί υἱὸν ἄλλον. (And. 1.126) "ele jurou que não tinha outro filho" 3f

Muitas vezes não há conjunção ou ela está implícita no sentido do verbo:

φησὶ ἐγκώμιον γεγραφέναι. (Isoc. 10.14) "ele diz ter escrito (= que acabou de escrever) um encômio" 3g

Orações subordinadas finais são muitas vezes formadas por apenas um verbo no infinitivo:

Περικλῆς ἡιρέθη λέγειν. (Th. 2.34.8) "Péricles foi escolhido para falar" 3h

A partícula

ἄν pode emprestar ao infinitivo tonalidades modais semelhantes às do potencial


e do irreal:

νομίζω, ὑμῶν ἔρημος ὤν, οὐχ ἂν ἱκανὸς εἶναι ἐχθρὸν ἀλέξασθαι. (X.An. 1.3.6) "creio que, separado de vós, não estaria eu em condições de rechaçar um inimigo"

Κῦρος γε, εἰ ἐβίωσεν, ἄριστος ἂν δοκεῖ ἄρχων γενέσθαι. (X.Oec. 4.18.2) "parece que Ciro, se tivesse vivido, teria se tornado excelente chefe" Negação do infinitivo Quando a noção verbal relaciona-se semanticamente com o factual, com o real — como, por exemplo, nos verbos do tipo "dizer", "pensar", "prometer" — a negação é caso, usa-se a negação

οὐ; nos demais

μὴ:

λέγοντες οὐκ εἶναι αὐτόνομοι. (Th. 1.67) "dizendo (eles) não serem independentes"

δοῦναι τε μὴ δοῦναι τε;

(E.IA 56)

"entregar ou não entregar?"

Em geral, o tipo de partícula negativa pouco ou nada influencia a tradução do infinitivo para o português.


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