A Negra - Tarsila do Amaral

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TARSILA DO AMARAL

A NEGRA

ALUNOS: JÕAO PAULO E LEANDRA GABRIELA

OREINTADOR : PEDRO MURILO


Tarsila do Amaral, A Negra, óleo sobre tela, 80x100 com, 1923, Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP.


01

INTRODUÇÃO

02 TARSILA DO AMARAL 03 A NEGRA

SUMÁRIO

04 REFEÊNCIAS


"(...) Tenho reminiscências (...) daquelas antigas escravas, quando eu era menina de cinco ou seis anos, sabe? Escravas que moravam lá na nossa fazenda que moravam lá na nossa fazenda, e ela tinha os lábios caídos e os seios enormes, porque, me contaram depois, naquele tempo as negras amarravam pedra nos seios para ficarem compridos e elas jogarem para trás e amamentarem a criança presa nas costas (...) Eu invento tudo na minha pintura. E o que eu vi ou senti, como um belo pôrdo-sol ou essa negra, eu estilizo. (...)" Trecho de entrevista concedida por Tarsila do Amaral à Revista Veja em Fevereiro de 1972.


Introdução Em 1923, Tarsila do Amaral realizou um dos maiores marcos da sua carreira artística: a obra A Negra, que buscava uma nova linguagem que unisse elementos da arte cubista, surrealista e destoantes da academia, mas que tivessem um toque brasileiro. A pintura foi realizada num momento em que a artista despertava interesse pelo movimento modernista e estudava novas técnicas europeias de pintura. A obra retrata o mito da negra na formação do povo brasileiro e é elaborada a partir de histórias contadas pelas escravas negras da fazendas. Essas mulheres eram escolhidas para pajens, mucamas e molecas e trocavam aspectos íntimos de influência com as famílias brasileiras. Esse mito também retrata a domesticação dessas mulheres que eram mães de criação (amas de leite) e com isso foi gerado um sistema de submissão e passividade por conta de sua condição social e por estar à serviço (obrigatório) do branco.


Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral é uma artista singular e, por conta dessa característica, é possível a compreensão de sua obra e o lugar de importância que lhe foi reservado na cultura brasileira. Tarsila recebeu uma educação conservadora e clássica, mas isso não a impediu de se tornar um dos maiores nomes do Movimento antropofágico, na década de 1920. Tarsila era filhas de fazendeiros. Por conta disso, ela foi criada em um ambiente patriarcal e autoritário. A sociedade da época era marcada pela oposição entre o tradicional e o progressista. Durante sua infância, Tarsila morou em Capivari/SP e chegou a estudar em colégios internos na Europa e a passar temporada na casa de sua avó na capital. Esse conjunto formador foi essencial para a sua formação, pois ela nasceu em uma classe poderosa que era apontada como a elite intelectual do país. Além disso, essa sociedade era marcada por uma cultura escravocrata. A formação artística dela foi dada tardiamente, depois do nascimento de sua filha Dulce e após a separação do primeiro casamento. A artista tinha 30 anos quando começou a ser ensinada a criar paisagens mortas por Pedro Alexandrino. Como se sabe, em 1917 foi realizada a "Exposição de Pintura Moderna", de Anita Malfatti, considerada um marco na carreira da pintora e no modernismo brasileiro. O conjunto da exposição era desconhecido tanto pelo público, quanto para os jovens artistas da época. Inclusive algumas técnicas eram desconhecidas por Tarsila que recebeu com certa estranheza as pinturas. (AMARAL, 1975). Porém, por conta de suas viagens ao exterior e seu interesse


em exposições permitiram que ela tivesse noção de que havia algo novo na arte. Tarsila não sabia com exatidão o que estava acontecendo, mas possuía algumas impressões sobre as novas tendências. É importante perceber que o Modernismo Brasileiro foi marcado por duas características: o internacionalismo e o nacionalismo (AMARAL, 2012). As influências das vanguardas europeias chegaram no século XX ao Brasil e tiveram seu clímax na Semana de Arte Moderna de 1922. Eram movimentos que buscavam o rompimento com a arte clássica e tinham aspiração pelo novo. O mesmo aconteceu no Brasil que possuía o desejo de renovação, mas que havia um preocupação com a criação de uma identidade cultural que tivesse relação com a realidade do país. Tarsila não participou efetivamente da Semana de Arte Moderna, em 1922, pois estava se encontrava na França. Contudo, esse ano foi muito marcante para a artista, pois é nesse momento que ela desperta interesse pelo modernismo. Nesse mesmo ano, Tarsila volta para o Brasil e conhece Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia e formam o "Grupo dos Cincos", acrescentando também Anita Malfatti. Eles debatiam sobre o Modernismo, no qual dividiam informações sobre obras, tendências que haviam na Europa e sobre os resultados da Semana de Arte Moderna. Seu primeiro mestre foi André Lhote (1885-1962) que era escultor e pintor cubista e que incentivava Tarsila a estudar natureza morta e geometrização. Nesse meses de estudo, a artista se mostra atenta aos ensinamentos de simplificação de elementos e ao trabalho de fusão de cores em diferentes planos. Além disso, Lhote mostrava a importância de dar evidência ao corpo da figura sob o ambiente. É possível perceber, inclusive, a absorção e representação desse ensinamento na obra "A Negra".


Ainda nesse momento, é possível perceber que a pintora, nessa fase de sua vida, não é movida apenas por uma afetividade pelo país de origem ou por sua memória de infância. Tarsila também tinha o interesse de atender a uma demanda da crítica parisiense que estava encantada pela Arte Negra. São indícios da identificação da artista com a corrente europeia que buscavam pelo exótico. Em setembro de 1923, Tarsila inicia seus estudos com dois grandes mestres: Albert Gleizes (1881-1953) e Fernand Léger (1881-1995). Segundo Aracy Amaral (2012), o último mestre foi considerado uma das maiores influências da pintora. Nessa época, Gleizes aprimorava suas técnicas de criação geométrica por meio do estudo dos movimentos de rotação e translação do plano. Por outro lado, Léger praticava a representação da figura humana através do contraste de formas. Ele defendia a união da geometrização abstrata com o cotidiano. Sem dúvidas, essas técnicas influenciaram a artista na criação da sua obra "A Negra". Tarsila não estava somente ligada à arte brasileira. Ela também participava de um fluxo artístico internacional.


A Negra

Criada em 1923, a obra óleo sobre tela traz como protagonista uma mulher negra. A figura da negra tem um vínculo muito forte com a história de Tarsila. Segundo Rosa (2015), o tema de A negra remete ao mundo de sua infância, na fazenda da família, e as amas de leite, especialmente uma que amamentava as crianças nas costas. Essas mulheres negras, escravizadas que eram responsáveis por amamentar os filhos das famílias brancas quando as mães estavam impossibilitadas de fazê-lo, é representada nua ao centro da tela em um corpo sem proporção preenchendo todo seu plano possuindo características marcantes como :


Cabeça oval menor em relação a todo o seu corpo; Lábios grossos e grandes; Nariz largo próprio do negro.

As pernas são grossas; O seio é o ponto focal da obra. pés e mãos Grande e caído sobre seu braço direito. Fruto de um folclore agigantados. onde acreditava-se que as negras amarravam pedras nos seios para deixá-los compridos e poderem assim conseguir jogá-los nas costas para amamentar seus filhos.


Faixas de cores e formas distintas; Característica cubista.

Folha de bananeira, remetendo à flora brasileira.

A Negra é uma pintura marcada por traços primitivos e cubistas. Tarsila expõe o primitivismo ao escolher representar a mulher negra em sua obra. O cubismo, adquirido por um dos seus metres, Fernand Léger, por sua vez é notado no fundo através das faixas coloridas e até mesmo, de forma sutil, na própria negra.


Esta obra ocupa lugar de destaque na carreira de Tarsila, pois foi por meio dessa pintura que ela iniciou sua história na arte moderna brasileira. Ao adentrar nesse movimento artístico marcado pelo nacionalismo e inovações técnicas, Tarsila criou e influenciou movimentos como o movimento Pau-brasil e Antropofagia. O movimento Pau-Basil criado em 1924 a partir da publicação do manifesto Pau-Brasil por Oswald de Andrade, marido de Tarsila e ilustração de sua autoria, o movimento teve como principal característica o resgate do primitivismo. Quatro anos depois, em 1928, motivado pelo tema e figura apresentados no quadro Abaporu dado por Tarsila à Oswald, o movimento antropofágico é criado. Esses movimentos formados posteriormente à obra a negra possuem referências que remetem a mesma, tanto nas cores como nos traços. Podemos perceber esses aspectos no quadro, já citado, Abaporu. Ao comparar os quadros nota-se que ambos possuem a cabeça da figura central menor em relação ao corpo, mãos e pés grandes além da semelhança entre os tons de cores utilizados .

tarsila do Amaral, Abaporu, óleo sobre tela, 73,00 cm x 85,00 cm, 1928, Colección Costantini , Buenos Aires, Argentina.

Tarsila do Amaral, A Negra, óleo sobre tela, 80x100 com, 1923, Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP.


Em 1929 as duas figuras são apresentadas juntas em uma mesma composição nomeada Antropofagia, fazendo parte do movimento antropofágico.

Tarsila do Amaral, Antrppofagia , óleo sobre tela, 142x126 cm, 1929, Acervo Fundação José e Paulina Nemirovsky , São Paulo, SP.

Atualmente encontrada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, A negra além de possuir um grande valor como marco na trajetória de Tarsila do Amaral e do modernismo brasileiro, veio ganhando varias interpretações. Uma das narrativas mais interessantes é a associação da tela com o feminismo negro e as mulheres escravizadas. Fica reconhecível, então, que mesmo com o passar dos anos A Negra continua sendo uma obra de referência para as questões sociais tais como o papel da mulher e da mãe negra no Brasil.


Tarsila do Amaral. Arquivo pessoal, site Tarsila do Amaral.


Referências CULTURAL, Enciclopédia Itaú. Abaporu. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1628/abaporu. Acesso em: 15 dez. 2021. CULTURAL, Enciclopédia Itaú. A Negra. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2322/a-negra. Acesso em: 15 dez. 2021. CULTURAL, Enciclopédia Itaú. Antropofagia. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1634/antropofagia. Acesso em: 15 dez. 2021. FERREIRA, Thaís dos Reis. Diálogos entre a obra de Tarsila do Amaral e o feminismo negro. 2017. 23 f. TCC (Graduação) - Curso de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. ROSA, Nereide S. Santa. Retratos da Arte: História da arte. 1. ed. atual. [S. l.]: LeYa, 2015.


Tarsila do Amaral, Esboço para A Negra, lápis e aquarela sobre papel, 18x23,40 cm, 1923, Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP, São Paulo, SP.


. Foto que provavelmente inspirou Tarsila na elaboração da obra A Negra.



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