Jornal Brasil Atual - Jandira 01

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jandira

Jornal Regional de Jandira

Distrib

Gratuuiição ta

nº 1

bons de bico

Janeiro de 2012

educação

privataria tucana O PSDB comandou o maior roubo no Brasil, que movimentou US$ 2,5 bilhões

faltam vagas A briga para matricular uma criança nas creches da cidade

Pág. 2

CPTM Verônica Serra

José Serra

trens malas A aventura de ser um dos passageiros dos vagões metropolitanos

Pág. 6 FHC

Ricardo Sérgio

memória

escândalo do orçamento

como os deputados forjam as emendas Controle do governo Alckmin na Assembleia tropeça nos aliados. E surge areia no esquema Pág. 4-5

velha guarda Na trilha do senhor Leopoldo dos Santos, jandirense de verdade

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2 trânsito

Ônibus, carros e gente: parados Em Jandira é um verdadeiro salve-se quem puder

editorial Esta edição traz um bom exemplo de como atua a velha mídia brasileira, apelidada de PIG – Partido da Imprensa Golpista. Para não perder seus privilégios, ela não dá vazão às denúncias de corrupção no governo tucano. Exemplo disso é a Assembleia Legislativa de São Paulo, há muito tempo um escritório de despachos de governos do PSDB. Pois um parlamentar da base aliada, Roque Barbiere, do PTB, disse que 30% dos deputados “vendem” suas cotas de emendas ao Orçamento paulista todos os anos – informação confirmada pela líder comunitária tucana Tereza Barbosa. O assunto ameaçava romper um velho laço aliado, formado pelos partidos da coalizão ao governo Alckmin, e podia dar numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Mas o PIG fez-se de “migué” e pôs uma pedra no assunto: não sabe e não viu. Nós não. Contamos como se dá o trambique. E falamos do clima de contestação que começa a surgir naquela Casa. Uma coisa é certa: aos tucanos não faltam professores de malandragem. Está nas livrarias o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que nos revela como o PSDB operou a maior falcatrua brasileira, nos tempos da privatização. Bons de bico, esses tucanos. É isso. Boa leitura!

Em Jandira há 110 mil habitantes, distribuídos em 17,5 km². A cidade sofre com o trânsito local – há pessoas que deixam de usar o transporte coletivo e vão trabalhar com seus carros. Os moradores dos bairros do Figueirão e Lindomar, por exemplo, sofrem com o movimento de carros, ônibus e caminhões nas Ruas Carmine Gragnano, Hidelbrano e na Avenida Presidente Costa e Silva, que dão acesso a outros bairros da cidade – tais como Teresa, Vale do Sol e Fátima –, que dificulta a travessia das ruas, principalmente de manhã, devido à movimentação

de entrada na escola Oswaldo Sammartino-Sagrada e a creche Comunidade Kolping. Por isso, a professora Marly Lobato, moradora do bairro Figueirão, conversa com o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino e o federal João Paulo Cunha, ambos do PT, e com lideranças locais e organiza um abaixo-assinado para que a Prefeitura abra uma via de acesso na divisa de Jandira com o Jardim Silveira, em Barueri, para facilitar o acesso aos moradores dos bairros Jardim Heneide, Sol Nascente, Velho Sanazar, Antônio Porto, Jardim das Margaridas, Vale

Entenda como será o acesso: A via começa ao lado do Atacadista Lopes – na divisa entre Jardim Silveira, em Barueri, e Jandira –, passa pelos lotes 1º de Maio, Pesqueiro do Jardim Heneide e termina ao lado do Salão de Festas Viva Flores, chegando ao acesso do Teresa e toda região.

educação

A briga para encontrar uma vaga Mães tentam matricular os filhos, mas quase nunca conseguem

leonardo brito

jornal on-line Leia on-line todas as edições do jornal Brasil Atual. Clique www.redebrasilatual.com.br/jornais e escolha a cidade. Críticas e sugestões jornalba@redebrasilatual.com.br

Verde, São Nicolau e Fátima. Assim, eles terão outra possibilidade de acesso à Avenida Presidente Costa e Silva e Região Central.

As crianças da cidade precisam de mais creches

A Prefeitura de Jandira firmou um Termo de Ajustamento e Conduta (TAC) com o Ministério Público do Estado para preencher a demanda de 800 vagas nas creches da cidade em 24 meses. Foi estabelecido um cronograma para o cumprimento do TAC: em seis meses, serão criadas 600 vagas; em 12 meses, outras 100; e em 24 meses, serão criadas todas as vagas para atender à demanda. Caso a Prefeitura não cumpra o acordo, ela terá de pagar multa diária de R$ 500,00 por criança não atendida.

Expediente Rede Brasil Atual – Jandira Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Leonardo Brito (estagiário) Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3241-0008 Tiragem: 4 mil exemplares Distribuição Gratuita


3 A privataria tucana

Privatização: livro denuncia Serra, família e amigos Os tucanos comandaram o processo de privatização das empresas públicas na década de 1990, que movimentou US$ 2,5 bilhões e distribuiu propinas de US$ 20 milhões, segundo o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., de 320 páginas – 200 de texto jornalístico e 120 de reprodução de provas. Baseado em documentos, Amaury mostra como o PSDB vendeu o patrimônio público a preço de banana. Entre a compra e a venda, funcionava a lavagem de dinheiro e suas conexões com a mídia e com o mundo político. Os envolvidos são gente

divulgação

E conta como o PSDB comandou a maior falcatrua no Brasil, que movimentou US$ 2,5 bilhões

Serra, a filha Verônica, FHC e Ricardo Sérgio: tucanos no livro

do alto tucanato: o livro liga o ex-candidato do PSDB à presidência, José Serra, a um esquema de desvio e lavagem de

dinheiro e o acusa de espionar adversários políticos. “Quando ministro da Saúde, Serra criou uma central de montagem de

dossiês na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no governo FHC.” O livro afirma também que o esquema era feito por meio de empresas off-shore das Ilhas Virgens Britânicas, e foi idealizado pelo ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e ex-tesoureiro da campanha de Serra e FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira. Outros esquemas semelhantes eram realizados pelo genro dele, Alexandre Bourgeois, por sua filha Verônica – que mantinha empresa em sociedade com a irmã do banqueiro Daniel Dantas – e pelo seu sócio, Gregório Marin Preciado.

Como era o esquema de corrupção dos amigos e parentes de José Serra? O tesoureiro do Serra, o Ricardo Sérgio, criou um modus operandi de operar dinheiro do exterior, e eu descobri como funcionava o esquema. Eles mandavam o dinheiro da propina para as Ilhas Virgens, um paraíso fiscal. Depois, simulavam operações de investimento para a internação de dinheiro. Usavam umas off-shores que simulavam investir dinheiro em empresas que eram deles mesmos no Brasil, numa ação muito amadora. Como você pegou isso? As transações estão em cartórios de títulos e documentos. Movimentou bilhões? Bilhões. Os banqueiros, ligados ao PSDB, formados na PUC do Rio, com pós-

divulgação

A entrevista com o autor das denúncias

Amaury Ribeiro Jr.

-graduação em Harvard, sofisticaram a lavagem de dinheiro. A gente é simples, formado em jornalismo na Cásper Líbero, mas aprendeu a rastrear o dinheiro deles. Eles inventaram um marco para lavar dinheiro, seguido por criminosos como Fernando Beira-Mar, Georgina (de Freitas que fraudou o INSS). Os discípulos da Ge-

orgina foram condenados por operações semelhantes às que o Serra fez, que o genro dele, Alexandre Bourgeois, fez, que o Gregório Preciado fez, que o Ricardo Sérgio fez, que o banqueiro Daniel Dantas, que comandava a corrupção, fez. Serra espionava o Aécio? Está documentado. Ele contratou a Fence Consultoria, empresa que faz varreduras contra grampos clandestinos, no Rio de Janeiro. O Serra gosta de espionagem e manda espionar os inimigos dele. Ele contratou a empresa de um coronel baixo nível da ditadura. O pretexto era que fazia negócio de contraespionagem. O doutor Ênio (Gomes Fontenelle, dono da Fence) trabalhou na equipe dele. Para espionar o Aécio. E a ex-governadora maranhense Roseana Sarney?

Está no Diário Oficial. O agente era o Jardim (Luiz Fernando Barcellos), ligado ao Ricardo Sérgio. Mas a imprensa defende o Serra e não divulga. Dilma contra-atacou com arapongas também? Não. As pessoas que trabalhavam na campanha da Dilma eram ligadas ao mercado financeiro. Me chamaram porque vazava tudo. Os caras faziam uma reunião e, no dia seguinte, estava na imprensa. Eu achava que era coisa do (ex-deputado tucano Marcelo) Itagiba ou do (candidato a vice-presidente, deputado do PMDB, Michel) Temer. Aí veio a surpresa: era o fogo-amigo do PT, de Rui Falcão (atual presidente do PT e deputado estadual).

As perdas O governo FHC arrecadou R$ 85,2 bilhões com a venda das empresas públicas. Mas o país pagou R$ 87,6 bilhões para as empresas que assumiram esse patrimônio – R$ 2,4 bilhões a mais do que recebeu. O prejuízo veio porque o governo absorveu as dívidas das empresas, demitiu um monte de gente, emprestou dinheiro do BNDES aos compradores e aceitou como pagamento o uso de “moedas podres”, títulos do governo que valiam metade do valor de face. A “costura”, feita por Ricardo Sérgio, envolvia o pagamento de propina dos empresários que participavam do processo. O dinheiro era lavado em paraísos fiscais. Promoveu-se um desmonte das empresas públicas, fazendo-as parecer mais inoperantes do que eram – assim, quase foram pelo ralo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Para a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, o livro prova a importância do combate do movimento sindical ao processo de privatização. “A velha imprensa não repercute as graves denúncias e mostra a sua parcialidade. Esperamos que o Ministério Público e a Polícia Federal investiguem esses crimes de que trata o livro e retomem para os cofres públicos todo o dinheiro desviado.”


4 escândalo do orçamento

Surge areia no esquema da Assembleia Legislativa

O tucano Geraldo Alckmin, o fiel escudeiro Campos Machado (PTB) e Bruno Covas: zorra total

Meio Ambiente, deputado licenciado Bruno Covas (PSDB), confirmou o esquema ao jornal O Estado de S. Paulo, e citou o caso de um prefeito que lhe ofereceu 10% de uma emenda – R$ 50 mil –, que garantiu não ter aceitado. Convidado a se explicar ao Conselho

de Ética da Alesp, Covas não apareceu. Enviou carta afirmando que seu relato era uma situação hipotética e didática, usada em palestras, encontros e conversas. No Ministério Público do Estado, o promotor Carlos Cardoso abriu inquérito para apurar o escândalo. Para

ele, não pareceu ser apenas um exemplo didático. Um levantamento divulgado no site do deputado Bruno Covas indicava que, em 2010, ano eleitoral, seu gabinete repassara R$ 9,5 milhões em emendas para várias cidades paulistas – embora o limite

ernesto rodrigues/ae

alesp

MARCELLO CASALJR

O domínio do Executivo na Assembleia combina indicações a cargos públicos, divisão do poder regional e administração da liberação de recursos das emendas parlamentares ao Orçamento do Estado. Porém, falhas no gerenciamento dos partidos da base levaram alguns deputados do PTB a se incomodar com o governo Alckmin. Por causa do desprestígio e da redução de recursos repassados à Secretaria de Esporte, nas mãos dos petebistas, o cacique do partido, Campos Machado, cobrava atenção do governo às questões do partido. Até que o deputado Roque Barbiere (PTB) chutou o balde. Em entrevista ao site do jornal Folha da Região, de Araçatuba, em setembro, afirmou que de 25% a 30% dos deputados “vendem” as emendas a que têm direito anualmente em troca de abocanhar parte dos recursos liberados. E assegurou que o governo Alckmin foi alertado disso. O secretário estadual de

vander fornazieri

Alguns deputados “vendem” as emendas e abocanham parte dos recursos liberados Por Raoni Scandiuzzi de cada deputado seja R$ 2 milhões anuais. Procurado, ele silenciou. Sua assessoria justificou que o levantamento trouxe emendas de anos anteriores, pagas em 2010, e outras obras eram pedidos do governo, e não dele. Em 12 de outubro, o governo disse que divulgaria os recursos oriundos de emendas no site da Secretaria da Fazenda. A relação foi publicada em 4 de novembro. Nela, o presidente da Alesp, deputado Barros Munhoz (PSDB), é campeão de indicações, empenhando R$ 5,6 milhões no ano passado. Segundo o documento, Bruno Covas tem R$ 2,2 milhões em emendas. Mas a lista oficial não é confiável – o site do deputado licenciado informara um montante quase cinco vezes maior. Outro exemplo: tanto sua página eletrônica como a da prefeitura de Sales divulgam uma emenda no valor de R$ 100 mil para a construção da Praça Floriano Tarsitano na cidade. Na relação do governo o recurso nem aparece.

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) tem 94 deputados, 3.000 funcionários e orçamento anual de R$ 660 milhões. Desfruta da camaradagem da imprensa comercial – que se indigna com denúncias de Brasília e blinda o governo paulista. A maioria dos parlamentares submete-se em silêncio ao Palácio dos Bandeirantes,

onde, desde 1995, a morada do chefe do Executivo é também um ninho tucano. Em troca de apoio aos seus interesses eleitorais, deputados da base aliada mantêm o governador do Estado livre de qualquer dor de cabeça. É na Alesp que se discute e aprova o Orçamento do Estado – R$ 140 bilhões em 2011 – e onde se deve fiscalizar sua correta aplicação. É lá que se dis-

mauricio garcia de souza/alesp

Alesp atua como escritório de despachos dos tucanos cutem leis, desde a que proibiria a venda de porcarias de alto teor calórico em cantinas de escolas públicas até as que autorizaram o governo a vender o patrimônio estratégico – como do setor elétrico, do Banespa e da Nossa Caixa, a concessão de estradas e ferrovias. Lá é onde o governo sabe que denúncias e pedidos de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)

serão varridos para baixo do tapete. Quantas vezes você leu, ouviu ou viu notícias de que os deputados paulistas investigaram uma suspeita de superfaturamento em contratos do Metrô ou os abusos da Polícia Militar – seja na forma violenta como age na USP, seja quando persegue pobres na periferia ou reprime movimentos sociais?


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Fala o deputado que denunciou outros deputados

eduardo anizelli/folhapress

Roque Barbiere reafirma que levará o esquema de venda de emendas ao Ministério Público

Como o senhor se sente por ter feito as denúncias? Fiquei magoado pela maneira como o presidente da Assembleia (Barros Munhoz, PSDB) e o governo trataram do assunto, tentando me desqualificar, exigindo que eu desse nomes, quando a própria Constituição me ampara. Eles fingiram que não me conheciam. O governo me ignorou por completo, como se eu tivesse dito a maior mentira do mundo, como se ninguém tivesse nem cogitado que algo semelhante pudesse ocorrer na Assembleia. O governo se sentiu atingido pelas denúncias?

Em sexto mandato, o deputado estadual Roque Barbiere, do PTB, é da base aliada do governo há 16 anos. É dele a afirmação de que entre 25% e 30% dos deputados paulistas “vendem” as emendas ao Orçamento a que têm direito todos os anos. De acordo com o esquema, quando o recurso é repassado para pagar uma obra ou serviço, alguns deputados embolsam a “comissão”. Barbiere reafirmou que levará as informações de que dispõe ao promotor Carlos Cardoso, do Ministério Público – a investigação corre em segredo de Justiça, o que garante proteção aos acusados vista em que disse que 30% dos deputados vendem emendas? Não. Depois dela, tenho certeza de que vão sobrar mais recursos para o povo de São Paulo, as pessoas vão pensar dez vezes antes de fazer alguma coisa de errado. A base do governo rachou? Não sei como está, estou tendo pouco contato por causa dos problemas pessoais. Está descartada a hipótese de o senhor deixar a base? Não está nada descartado. Vou esperar aprovar o Orçamento, cumprir minha obrigação com o povo de São Paulo, depois,

Talvez, mas a denúncia foi para o bem, não para o mal. Alguém do governo estadual conversou com o senhor? Não. Nem na boa, nem na ruim. Virei um leproso politicamente falando, porque, no governo, ninguém tem coragem de chegar perto de mim. O que achou de o governo dizer que Bruno Covas gastou R$ 2,2 milhões em 2010? Ele primeiro disse que um prefeito ofereceu propina pra ele, depois que foi hipoteticamente. Do Covas eu gostava muito era do Mário. O senhor se arrepende da entre-

no ano que vem, vou me posicionar politicamente. Por que o presidente do PTB, deputado­Campos Machado, defendeu o governo? O Campos Machado é apaixonado pelo governador Alckmin, que realmente é uma pessoa cativante. Mas temos de separar o governador do governo. O Campos Machado não faz isso. O compromisso dele é apoiar o governo, dando certo ou errado. Não seria o momento de o senhor dizer algum nome, para não esfriar o assunto? Não posso, para satisfazer uma parte, prejudicar o todo.

Vou conversar com o promotor. Depois, se ele seguir o caminho, ele chegará aos nomes. Dona Terezinha, presidenta da ONG Centro Cultural Educacional Santa Terezinha, disse que 45% dos deputados vendem emendas... Isso é insignificante. Se 0,5% da Assembleia vender emendas, o Parlamento já está sujo. Isso aqui não é uma casa de anjos. Se com Jesus, que tinha 12 apóstolos, tinha um traidor, um falso e um incrédulo, imagine numa Assembleia com 94 deputados. Mas volto a dizer, a maioria daqui é gente boa.

Tereza Barbosa, 59 anos, coordena um instituto que atende crianças em Campo Grande, zona sul da capital. Ela conta: “Entrei em vários gabinetes e eles diziam assim: ‘Olha, eu dou o dinheiro para a senhora, mas a senhora me devolve a metade, para uma entidade minha, que não tem documentação’”. Dona Tereza descreve outra conversa. “Um prefeito me contou que eles dão a verba para a Prefeitura, mas quem contrata as empre-

raoni scandiuzzi

Líder comunitária conta como funciona o trambique

sas para fazer a obra é o deputado, e a construtora repassa 40%. Por isso a gente vê essas obras malfeitas. Uma vez fui reclamar

com uma construtora da Cidade Ademar e o dono me falou: ‘A gente não pode fazer nada com material de primeira, porque precisa devolver o dinheiro que chega pra gente’.” Dona Tereza, uma “apaixonada pelo PSDB”, não revela nomes por medo de sofrer represálias. Mas dá pistas. “Existe esquema em vários partidos – PSDB, PTB, PDT”. Por experiência própria, ela afirma que Roque Barbiere falou a verdade. “Ele não mentiu, não.

Só acho que a porcentagem é maior do que ele disse. Eu colocaria que uns 40% a 45% dos deputados vendem emenda.” A líder comunitária confirmou que, se convidada, iria ao Conselho de Ética. Como a apuração já estava sepultada, o promotor Carlos Cardoso foi ouvi-la. “Ela solicitou a deputados que patrocinassem emendas para financiar a entidade que ela preside. Uma parte deles, uns dez deputados, condicionaram o apoio à entidade à transferên-

cia de parte dos recursos para ONGs que eles indicariam. Ela achou estranho e não aceitou” – diz Cardoso. Terezinha não revelou nome de deputado algum. Mas o relato dela trouxe avanços na investigação. “Isso confirma que há uma prática pouco ou nada lícita por parte de alguns deputados, que manipulam as emendas, sem transparência e com propósito ilícito” – garantiu o promotor.


6 transporte

CPTM, ou a Companhia Paulista do “Trem Mala”

leonardo brito

Enquanto se fala em Trem Bala, o Corredor Oeste continua com trens dos anos 1970 Por Leonardo Brito

O trem para, umas portas abrem, outras não. Lá dentro, meio escuro, as pessoas vão espremidas. É duro embarcar, mas, se você entra, não há como se mexer. É uma briga certa com a porta ou com outros usuários. Tem gente que segura as portas. Os passageiros estão estressados. A composição parte. O pior do trem em horário de pico é a situação das mulheres. É um encosta-encosta constrangedor. Tem gente que se aproveita disso. Outra composição chega. Homens e mulheres disputam o trem, caibam ou não no vagão. É como se, nos trens da CPTM, a lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço fosse abolida. Lá vai um homem com uma pequena bolsa de mão.

Não há espaço para entrar. Ainda assim, ele coloca o pé na pequena passarela metálica, que reduz o vão entre os vagões e a plataforma de embarque. O tempo passa, e ele continua com um pé fora da máquina. Uma de suas mãos apoia-se por dentro da porta. Depois, feito alavanca, ele força seu corpo para dentro. Com o aviso de fechamento da porta, ele se esforça mais um pouco. Um guarda o ajuda a caber no trem. Enfim, a porta se fecha. E ele se vai no meio do bafo quente. Como ele entrou com a mão abaixada, não terá como erguê-la, pois não dá pra se mexer. É preciso ter força nos braços para se segurar no trem. Ele é um dos milhares num vagão do transporte coletivo.

Pesquisa revela: o paulistano perde um mês por ano no transporte público, em deslocamentos na cidade.

Fernando Stankuns

Um mês por ano

mas estão inacabadas, como é o caso de Jandira e Barueri. Na estação de Jandira, por exemplo, no banheiro, havia papel jornal picado no lugar de papel higiênico e papel toalha. Tudo, claro, reforçado pelo fato de os trens estarem sempre hiperlotados e, muitas vezes, atrasados, graças sobretudo ao arcaico sistema de sinalização.

Nova estação, velhos problemas A reforma na estação de trem de Jandira, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), durou quatro meses e foi entregue à população há um ano. Ela fez parte do plano de modernização de toda linha, cuja ideia era trazer conforto e agilidade, transformando-se em metrô de superfície – a empresa garantia que o intervalo entre os trens cairia de 9 minutos para 5 minutos, aumentando a circulação de pessoas de 334 mil para 414 mil. O investimento na reforma, recuperação de trens e implantação de novos sistemas foi de R$ 280 milhões. Para o jandirense Carlos Alberto da Silva, 47 anos, bancário sindicalista de Osasco, “a superlotação nas plataformas e a demora dos trens continuam. A escada rolante só começou a funcionar três meses depois da inauguração. Quando chove, trechos da estação ficam molhados e o piso escorre-

gadio. Saio de casa uma hora antes, mas corro o risco de chegar atrasado no trabalho. O trajeto Jandira-Osasco devia demorar 30 minutos, mas levo quase uma hora e meia, pois não consigo entrar no trem, que vem muito lotado de Itapevi” – conta Carlos. O intervalo entre os trens causa tumulto na estação. A média de espera é de 10 a 15 minutos, embora o site da CPTM informe que no pico da manhã (05h38 às 09h12) ela seja de seis minutos. Para ame-

nizar o lotação, as pessoas podem descer em Barueri e utilizar o sistema “loop”, uma estratégia da CPTM para oferecer mais lugares nos horários de pico – entre os trens que fazem o percurso Júlio Prestes-Itapevi, há sempre um que faz o trajeto Júlio Prestes-Barueri-Júlio Prestes. Mas Carlos diz que a solução não é eficaz, pois, “embora ele parta menos lotado, após duas estações, em Carapicuiba, fica cheio novamente”.

divulgação

Aventura diária

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) inaugurou a nova etapa de transportes entregando 36 trens novos, dia 24 de março, para as estações Júlio Prestes e Itapevi. Porém, algumas semanas depois, eles foram trocados por trens usados, que faziam a linha OsascoGrajaú há mais de seis anos. Há estações que foram maquiadas para a inauguração,

O trem é como coração de mãe, sempre cabe mais um


7 memória

Quando a cidade não remunerava seus governantes A professora Vera Barbosa, filha do seu Leopoldo, viaja no tempo com a história de Jandira A primeira luta foi montar uma comissão para a independência do município, assinada pelo governador Adhemar de Barros, em 1964. Na cidade, havia 896 eleitores – hoje há mais de 70.000; um vereador só é eleito com mais de 3.000 votos. No dia 7 de março de 1965, realiza-se a primeira eleição para prefeito. É eleito, com 450 votos, Oswaldo Sammartino. Na época, com 35 anos, Leopoldino dos Santos, o seu Leopoldo, é eleito vereador com 43 votos, com mais oito legisladores.

arquivo particular

arquivo particular

A primeira Câmara

A primeira estação de trem de Jandira

arquivo particular

Seu Leopoldo quase foi padre

Seu Leopoldo nasceu em 9 de agosto de 1928, em Itapevi, no município de Cotia, e chegou em Jandira em

1936. Seu pai, Benedito dos Santos, trabalhava na estrada de ferro. A família foi morar nas casas de Turma Sete, um conjunto residencial da Sorocabana, cujas ruínas, próximo ao hospital, estão tombadas. O menino, de 8 anos, era arreliento. Fez o primário na escolinha mista do Sítio das Palmeiras, o secundário no Instituto José Manoel da Conceição – o JMC. Queria ser

padre e estudou no Seminário Menor Metropolitano de Pirapora do Bom Jesus, mas aos 19 anos apaixonou-se por Maria Serra Santos, com quem casou e teve oito filhos – quatro adotados. Seu Leopoldo, ferroviário como o pai, elegeu-se vereador em 1965 pelo Partido Socialista Democrático (PSD) – cargo que voltou a ocupar em 1972.

A Câmara funcionava na sala de música do JMC. As sessões eram realizadas nas noite das sextas-feiras, à luz de vela, pois não havia dinheiro para pagar energia elétrica. A

cada sessão, um vereador trazia as velas. No final de 1965, a Câmara é transferida para a Avenida Conceição Sammartino, 149, com aluguel rateado entre os nove vereadores.

Começo: dias duros A Prefeitura funcionou por 14 anos no prédio número 51 da praça, vizinho a um grupo escolar de madeira. Seu Leopoldo contou, em entrevista ao jornal Cidades Alertas, como eram as enormes dificuldades de um município sem recursos. O prefeito teve, então, a ideia de pedir ajuda ao governador, que, em troca de apoio político, liberou dois milhões de cruzeiros. Houve festa. Um churrasco foi oferecido no sítio

Pedra Branca para o pessoal do Palácio. Mas o governador não veio, enviou um representante. Seu Leopoldo tocou sanfona a festa toda. Outra pessoa que ajudava, segundo o Seu Leopoldo, era Virgílio Nogueira Vessoni, advogado e dono da loteadora Companhia de Melhoramentos de Jandira, que doou móveis e máquinas e pagou aluguel do prédio da Prefeitura e o salário de alguns servidores.

Na época, os vereadores não ganhavam salário para desempenhar a função, mas se dedicavam por amor à cidade – eles detinham apenas um cargo honorífico. O trabalho era feito de casa em casa. Todos varavam a noite ouvindo críticas e sugestões e se tornavam melhores administradores. Trabalhavam de portas

abertas. O primeiro projeto de seu Leopoldo foi o de número 16/65, de 30 de abril de 1965, que propunha a construção de uma estrada que ligaria o Centro de Jandira ao Jardim Silveira, a Avenida João Balhesteiro, homenagem a um dos comerciantes mais antigos de nossa história. Seu Leopoldo morreu em 6 de julho de 1995.

arquivo particular

“Os vereadores varavam a noite ouvindo críticas”

Vista do Centro nos anos 1960, na região da Praça Dr. Nilo de Andrade Amaral


8 foto síntese – Centro de jandira

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Horizontal – 1. Centro de Controle Operacional; Cada uma das partes distintas da corola 2. Instrumento de cordas, de forma triangular, tocado com os dedos; Partir 3. Nome de árvore que fornece madeira resistente e dura; (Pl.) Unidade de medida de capacidade, correspondente ao volume de um decímetro cúbico 4. (Abr.) Cruzeiro; Dois, em algarismo romano 5. Herbívoro da África, de pele grossa, patas e cauda curta, cabeça grande e focinho largo 6. Que não está contido 7. Pedido de socorro; Interjeição usada para chamar a atenção de alguém; Composição poética do gênero lírico 8. (Abr.) Boletim de serviço; Aguardente que se obtém pela fermentação e destilação do melaço de cana-de-açúcar 9. Nome da letra p; Sovaco; 10. Nome de um planeta; Ilha de coral 11. Cidade de São Paulo; Membro das aves guarnecido de penas, que serve para voar

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Vertical – 1. Galanteador importuno de uma senhora casada ou viúva; 2. Relativos ou semelhantes à cabra ou ao bode; (Abr.) Rádio Patrulha 3. Reze; Partidos Comunistas; Alimento feito de farinha, especialmente de trigo, amassada e cozida no forno 4. Ação de voar; Nome comum a vários cervídeos que habitam as partes boreais da Europa, Ásia e América 5. Sigla em inglês de Phase Alternating Line; Cobertura de borracha com que calçam as rodas dos automóveis e outras viaturas 6. Muito boa, excelente 7. Falatório, murmuração; Soberanos, na língua persa 8. Diz-se do galo que, na rinha, ferido ou cansado, não podendo manter-se de pé, sustenta-se apoiando a cabeça no solo; Pedra, em tupi-guarani 9. Medida que se usa para as proporções nos corpos arquitetônicos 10. Limpo o nariz; Fila, separada por um espaço

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vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual.com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

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