Jornal Brasil Atual - Zona Norte 03

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www.redebrasilatual.com.br

Zona norte

Jornal Regional da Zona Norte de São Paulo

nº 3

Outubro de 2010

eleição

perfil

a menina que comove o brasil A história de Carol Macedo, a Kelly de Passione, filha ilustre da Zona Norte Dilma quase lá A candidata de Lula ganhou, mas ainda não levou

Pág. 2

foto: Suzana Vier/RBA

habitação

foto: Gerardo Lazzari

despejo À vista 120 famílias correm risco de ter de mudar do Jardim Joana D’Arc

Pág. 3

creches

Educação no estado foto: Carlão

Aprovação automática Jovens chegam à universidade com dificuldade de ler, escrever e fazer contas Pág. 4-5

faltam vagas Berçários pedem descredenciamento da Prefeitura

Pág. 7


2 eleição

Por pouco, muito pouco Faltou um tiquinho para Dilma Roussef levar no 1º turno

O Jornal Brasil Atual – Zona Norte está novamente em suas mãos. Para mostrar a menina moreninha Carol Macedo, de 17 anos, que faz o maior sucesso na novela das oito da Rede Globo. Pois essa nova Passione nacional não troca nada deste mundo pelo pedacinho de chão em que foi criada, entre os bairros do Limão e Casa Verde. Sua vitoriosa história é contada na página 7. Enquanto se emocionam com a performance da jovem atriz, os moradores do Jardim Joana D’Arc vivem outro drama: eles estão sendo ameaçados de despejo pela Prefeitura de São Paulo, que faz de tudo para desocupar um pedaço da Alameda das Roseiras. Engraçado: até abril deste ano, havia obras para canalizar o córrego do local. De repente, as obras pararam e o pessoal mais pobre, que habitava um dos lados do riacho, foi informado de que teria de se mudar. Essa vida em alta tensão, contada na página 3, alia-se à luta das mães que não têm mais berçários municipais – ou conveniados – para deixar os filhos enquanto trabalham. Triste sina essa da educação que, de uns tempos para cá, especializou-se em fazer seus alunos passar de ano sem fazer nenhuma avaliação. Resultado: o Estado forma uma massa de analfabetos funcionais, gente que chega à universidade com dificuldade de ler, escrever e fazer contas.

vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual. com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP: 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

institutos de pesquisas do país, ela será eleita.

Transporte

Ônibus: precisa-se Linhas não levam a hospitais e dão muitas voltas Taís é uma menina saudável de 4 anos. Ela adora brincar com o irmão, Mateus, 6 anos, e olhar a irmãzinha, Giovana, de 5 meses. A mãe, Adriana, deixou de ser faxineira para cuidar das crianças e sonha em voltar ao trabalho se conseguir vaga para a nenê na creche (veja pág. 6). Há um mês, na Vila Rosa, onde vivem, Taís caiu da cama e ganhou sete pontos na orelha. Além do susto, Adriana esperou quase uma hora por uma ambulância do SAMU

foto: Carlão

editorial

Marina Silva que conquistou 19,6 milhões (19,34%). Dilma venceu em 18 Estados brasileiros, Serra ganhou em oito e Marina faturou apenas no Distrito Federal. Por isso, no dia 31 de outubro, Dilma vai ter de encarar o segundo turno contra o tucano José Serra. Segundo todos os

foto: Divulgação

A candidata apoiada pelo presidente Lula não ganhou o primeiro turno da eleição presidencial por um punhado de votos: ela obteve 47,5 milhões de votos (46,88% dos votos válidos), José Serra ficou em segundo com 33,1 milhões (32,62%), enquanto a surpresa eleitoral ficou por conta de

para levá-la ao pronto-socorro. “Eu poderia ir com ela de ônibus, tanta gente precisa de ambulância, mas a única linha daqui, a 1795-Vila Rosa, não passa nem perto dos três hospitais do

bairro: o Mandaqui, o São Camilo e o San Paolo” – conta. Por causa do itinerário dessa linha, a distância Vila Rosa–Santana cresce de 3,3 km (quando realizada de carro) para mais de 10 km, o que exige uma viagem de mais de 50 minutos. “Para reduzir o trajeto e o tempo temos de pegar dois ônibus e andar uns 15 minutos, o que é bem difícil com criança no colo” – diz. “Já que essa é a única linha, o trajeto tem de ser revisto pra deixar a gente perto dos hospitais” – reivindica.

A pé na Vila Marieta No bairro vizinho, a Vila Marieta, onde vive a família da vendedora Elisângela Oliveira, a queixa se repete. “Temos duas opções: andar mais de 2 km até o ponto final do Vila Rosa ou su-

bir um morro e tanto para pegar o Vila Marieta” – conta a moça, que vive com a filha, Lisandra, de 10 anos, a mãe, Maria de Lourdes, e três irmãos em uma chácara cheia de jabuticabeiras, da qual a mãe

é caseira há 17 anos, em torno da qual se ergueu o bairro, fruto de ocupação. “O transporte, além de ser de difícil acesso, dá uma volta gigantesca até Santana” – conclui a vendedora.

Expediente Jornal Brasil Atual – Zona Norte Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Repórteres Marina Amaral, Suzana Vier e Gerardo Lazzari (fotos) Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Redação (11) 3241-0008 Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição Gratuita


3 Habitação

Com a faca no peito

Francisco e Isabel não querem mudar

O aviso chegou aos moradores em abril. O lugar foi considerado área de risco pela Prefeitura, mas até o

início do ano havia obras no local – uma placa, a poucos metros das casas ameaçadas, informa sobre a canalização

O rico e o pobre – eis a questão em loteamentos clandestinos. Ou, pior: sem ter onde morar, construiu em locais de risco ou em áreas de proteção de mananciais, quase sempre em condição precária. “Ninguém vai defender, por

foto: Suzana Vier/RBA

São 30 mil famílias lutando pela regularização de suas casas, 120 delas na iminência do despejo. O drama é conhecido: a maioria pagou pelos lotes ou construções e recebeu em troca escrituras sem valor legal,

Joana D’Arc: parte do bairro está ameaçada de despejo

exemplo, que as famílias que estão em área de risco permaneçam ali” – destaca a líder comunitária Maria Madalena Figueiredo. Há casos de ruas vizinhas ao mesmo córrego em que um lado está sendo canalizado pela Prefeitura – o das casas de classe média, na Alameda das Cerejeiras – e o outro, mais popular, na Alameda das Roseiras, não, porque é considerado área de proteção de manancial. “Não é justo as pessoas enfrentarem essa situação enquanto os vizinhos de maior poder aquisitivo estão com o futuro garantido” – completa Madalena.

Prefeitura admite destino incerto A Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) admitiu, em nota, que paralisou as obras de canalização de córrego na Alameda das Roseiras

porque havia esgoto sendo despejado no local pelos ocupantes da faixa de APP (Área de Preservação Permanente) e decidiu aumentar a interven-

ção. Caso seja necessária a retirada das famílias – diz a nota –, a Sehab afirma que dará “apoio aos moradores”, mas “o destino delas é incerto”.

na Alameda das Roseiras. Há quatro meses a obra parou. Os moradores foram orientados a deixar o local, com a promessa de serem transferidos para um abrigo provisório. “Imagina que, nesta idade, eu vou perder minha casa e ir para um abrigo” – protesta Francisco. “Trabalhei a vida toda e vou terminar amontoado?” Os moradores estão sendo assediados pela Prefeitura com uma indenização de R$ 5 mil para "voltar para o Norte". "Minha casa vale mais. Não vou para abrigo, albergue, nem pra lugar nenhum" – diz Francisco.

Reação Os moradores reagiram à ameaça da Prefeitura. Eles encaminharam um abaixo-assinado ao Ministério Público Estadual pedindo a continuidade da obra de canalização de esgoto da Alameda das Roseiras, a pavimentação da rua e a suspensão da retirada das famílias. Na região, outras obras estão paralisadas, como a canalização e pavimentação da Rua Santa Inês, no Jardim Felicidade.

Alta tensão No Jardim Joana D’Arc, 50 famílias construíram suas casas sob os fios de alta tensão da rede. “Os moradores foram para lá pressionados pela falta de moradia” – explica Madalena. Agora, as famílias negociam as condições em que

serão retiradas da área. “Em outras áreas obtivemos apartamentos no CDHU” – lembra a líder comunitária. A reivindicação feita à Prefeitura é que se pague aluguel social para as famílias até que se arranje um local definitivo, perto da região.

Pra toda a vida A maioria das 30 mil famílias regularizará seus imóveis graças à lei 11.977, sancionada pelo presidente Lula em julho do ano passado – a lei permite legalizar os imóveis ocupados há mais de cinco anos, com menos de 250 m², em áreas de interesse social. “A gente quer que essa regularização seja coletiva” – diz Madalena. “Tem gente contratando advogado picareta e pagando pela escritura gratuita” – diz ela, que faz um apelo aos

foto: Suzana Vier/RBA

A casa de Francisco e Isabel da Silva acabou de ser reformada. As paredes foram texturizadas. Cada um dos quatro cômodos recebeu cor diferente. O piso, novinho, parece um espelho. “Nós ainda devemos a reforma e os móveis” – informa Isabel. Os dois filhos construíram em cima da casa dos pais. Apesar da casa aconchegante, eles estão entre as 120 famílias que correm o risco de ser despejadas da Alameda das Roseiras, no Jardim Joana D´Arc, sem garantia de uma nova moradia ou auxílio-aluguel.

foto: Suzana Vier/RBA

Moradores do Jardim Joana D´Arc podem ser despejados pela Prefeitura

moradores do Jardim Fontalis e arredores: compareçam à plenária que tratará do assunto, no dia 16 de outubro às 17 h na igreja Natividade do Senhor (Rua Augusto Rodrigues, 285).


4 Educação no estado

Passar a qualquer custo forma aluno analfabeto Sem saber ler, escrever e fazer contas, nossos jovens ganham diploma e despreparo Por Suzana Vier

Lousa, giz e apagador, armas de combate ao analfabetismo

médio sem ter o conhecimento mínimo necessário. "A educação virou dado

foto: sxc.hu

Paula é professora de Português em escola do Estado há 21 anos. Ela conta que 30% de seus alunos da sexta série não sabem ler nem escrever. Por isso, ela faz um ditado nos primeiros dias de aula. “Tem aluno que entrega em branco, não sabe nada. Se vai escrever ‘bala’, por exemplo, ele coloca qualquer letra” – resume. Na progressão continuada o estudante é aprovado automaticamente. No máximo, ele é retido na quarta série, por um ano; depois segue, mesmo sem o conhecimento necessário. A aprovação certa, sem avaliação do conteúdo dominado pelo aluno, permite ao estudante terminar o ensino

estatístico. É porcentagem pra lá, porcentagem pra cá, mas não se analisa como o

aluno conclui o ensino médio. Ele é só mais um diploma" – alerta Tomé Ferraz, professor

de física e matemática das redes municipal e estadual de São Paulo. Cristina leciona Biologia e se esforça para alfabetizar quem vai mal. Ela cita que os alunos têm enorme dificuldade com sílabas complexas como tra e pla. "Eles conhecem somente formações silábicas básicas" – acentua. Na hora de avaliar alunos que não leem nem escrevem com fluência, Cristina usa métodos diferenciados na classe. "Uma avaliação escrita requer habilidade de leitura e escrita. Mas quem não compreende o teor da prova, não consegue responder; aí, a saída é uma prova oral.”

Analfabetismo funcional

Confusão

Uma parcela significativa de alunos chega ao ensino médio sem estar alfabetizada. Rosana Almeida é uma professora do estado que enfrenta essa dificuldade. Na sala em que está, superlotada, há alunos que não sabem ler e escrever. São os analfabetos funcionais, que até constroem palavras, mas não formam frases. Enfim, o jovem entende a explicação, mas não sabe escrever. Quando a professora pede para ele produzir um texto, surge a resistência. Como não participa da aula, o aluno é mais indisciplinado, faz muita bagunça" – na oitava série o índice de indisciplina é altíssimo.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco), o analfabeto funcional escreve o próprio nome, lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, mas é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Isso dificulta seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Eduardo, professor universitário, afirma que os estudantes são vítimas de um círculo vicioso fatal para a vida profissional futura. “Se o aluno não compreende frases da língua, tudo vira uma enorme confusão. Como ele vai resolver questões de matemática?” – questiona. “Eles até sabem que 3 vezes 5 é 15, mas se você colocar na prova quanto é o triplo de 5 mais o dobro de 20, eles não vão saber” – exemplifica. “Se questões básicas não estão resolvidas, a estrutura fica afetada e o conhecimento que vem depois não se concretiza” – alerta Eduardo.

foto: Divulgação

Bagunça

Bibliotecas: cada vez mais vazias

Um futuro incerto No caso do professor universitário Anselmo Büttner, a saída foi criar metodologias específicas. “Eu levo figuras e desenho no quadro o que é almoxarifado, por exemplo, para eles compreenderem” – relata. “Mas eles não juntam as informações, não montam uma sequência, não têm base de

gramática e ortografia. E não é só. Há limitações também na capacidade de raciocínio lógico e matemático” – alerta. O jovem com deficiência de leitura e escrita vai enfrentar sérios problemas no mercado de trabalho, não importa a área em que decida atuar. Büttner também é crítico em relação

aos colegas professores. Ele diz que os educadores devem se adequar às necessidades educacionais dos alunos, com estratégias que os auxiliem a compreender o conteúdo. “O problema existe e é grave com alunos da escola pública, mas eu tento levar o conhecimento ao patamar dos alunos”.


5 Educação no estado

Progressão continuada ou aprovação automática? Adotada em 1988, ela permite ao aluno avançar nos estudos sem repetir de ano uma metodologia pedagógica avançada por propor uma avaliação constante, contínua e cumulativa, além de basear-se na ideia de que apenas reprovar o aluno não contribui para melhorar seu aprendizado. Sua aplicação, porém, transformou-se em sinôni-

mo de "aprovação automática", segundo professores e analistas. Essa ideia leva em conta que a progressão foi adotada, no Brasil, sem se mudarem as condições estruturais, pedagógicas, salariais e de formação dos professores.

foto: sxc.hu

A progressão continuada – política educacional responsável pela aprovação automática dos alunos – é o principal problema educacional do Estado de São Paulo, segundo professores ouvidos pela Rede Brasil Atual. Para os especialistas, essa é

foto: wordpress.com

A informática e as crianças

Computadores: cada vez mais presentes

Há crianças que nascem conectadas na informática e é difícil convencê-las a prestar atenção ou valorizar a educação da escola. “Parte das aulas é perdida em pedidos de atenção à aula ou para desligar o Ipod” – conta o professor Tomé Ferraz. “Eles não têm só celular, eles têm uma verdadeira tevê e levam para a sala de aula” – completa.

Lidar com essa nova face da infância e da adolescência é difícil sem a colaboração da família. “Sobra tudo para a escola” – reflete Tomé. “Eu vou ensinar a pensar, sou uma professora à antiga, comer com garfo e faca é responsabilidade de pai e mãe” – diz a professora Rosana Almeida. “Os pais, por mais simples que sejam, precisam ter consci-

ência de que é preciso valorizar a lição de casa, dar um abraço, acompanhar o filho.” Os professores reclamam: os pais não participam da vida escolar das crianças. Para alguns deles, a escola transformouse em depósito de crianças. “Somos “baby sitters” (babás) de luxo.”

A ABC Palmares – Associação Brasileira de Cultura Palmares –, entidade que atua no segmento de mobilização social e cultural com a juventude na Vila Brasilândia e Vila Cachoeirinha, tem acompanhado a degradação das escolas públicas da capital paulista. Na realização de atividades com alunos da 8ª série – focadas na criação de projetos audiovisuais –, é comum que metade da classe se isole, recusando-se a participar. “Eles agem de forma agressiva, debochada, mas conversando percebemos que o que os afasta da atividade é a dificuldade de ler e escre-

ver, exigidos na criação de um roteiro” – constata Eduardo Rondino, presidente da ABC Palmares. “Boa parte deles não foi alfabetizada” – revela o educador, que há quatro anos trabalha com alunos de escolas municipais e estaduais. “Quando chegamos nas escolas, os professores – que muitas vezes dão aulas em duas, três escolas para sobreviver – estão tão estressados que caçam a gente para dar aula no lugar deles. A deterioração das condições de trabalho e do poder aquisitivo deles está na origem dos problemas de aprendizado dos alunos” – opina.

foto: sxc.hu

A escola que não ensina

Material escolar, artigo de luxo: estudantes não sabem ler nem escrever


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E o futuro?

creches

Não há vagas nos berçários da Prefeitura Mães trabalhadoras ficam sem ter onde deixar seus nenês

Oficina pedagógica numa creche da Zona Norte

O risco de fechamento é real Em 1º de agosto, a Secretaria Municipal da Educação reajustou o piso dos professores em 50%, enquanto o

obriga as creches a ter um professor – formado no Magistério ou em Pedagogia – para cada três crianças. A Prefeitu-

aumento do repasse de verbas do Ministério da Educação foi de apenas 20%. Mais: para o berçário, a lei

O fim de um berçário ros do Mandaqui e Lausanne Paulista, que oferecem 254 vagas para crianças de zero a três anos e atendem a famílias com

foto: Carlão

Luiz Aguiar, vice-presidente da Associação do Bem-Estar Social Zona Norte, mantenedora de três creches nos bair-

Luiz Aguiar: “não temos saída”

renda mensal média de 800 reais, está com déficit de 6 mil reais numa delas. “Não temos saída, a não ser acabar com o berçário, o mais dispendioso.” Segundo diz, ao receber verbas do MEC, ele está proibido de ter outras fontes de receita, mesmo que os pais queiram contribuir. “Já comuniquei o fechamento do berçário à Secretaria da Educação. Agora ela terá de achar vagas para as crianças; é triste porque quase não há creche com berçário na nossa região, mas se não fosse assim, eu seria obrigado a fechar toda a creche” – conclui o dirigente da creche que desde 2002 era conveniada à Prefeitura, situação de mais da metade das 1.270 creches de São Paulo.

ra repassa R$ 320,00, valor insuficiente para pagar o piso de um professor – de 1.200 reais. Por isso, a conta não fecha.

Tristeza e esperança

Convênio com a Prefeitura: creches querem descredenciamento

As crianças ficam das 7h30 às 17h30 e fazem cinco refeições na creche da Associação do Bem-Estar Social Zona Norte. Maria Ivone, professora do berçário, não disfarça sua tristeza. “Nosso trabalho vai além de trocar fraldas, alimentar, ninar, embora esse carinho seja importante; eu me considero a segunda mãe dessas

foto: Carlão

pal da Educação, das 30 mil crianças dessa faixa etária que vivem na região Tremembé-Jaçanã, 2.558 estão matriculadas em creches públicas ou conveniadas e 2.187 estão na fila. As restantes – mais de 25 mil – ficam com as mães, parentes, vizinhos ou são bancadas em creches particulares, pela bagatela média de 600 reais a criança.

foto: Carlão

A cidade tem 127 mil crianças matriculadas nas creches conveniadas ou sob administração da Prefeitura. Há outras 100 mil crianças na fila de espera. Mas em vez de abrir mais vagas nas creches, assiste-se à redução dessa oferta, principalmente nos berçários para crianças de até três anos. Segundo a Diretoria de Ensino da Secretaria Munici-

O aprendizado dos primeiros anos de vida é fundamental para o desenvolvimento afetivo e intelectual das crianças. “Quanto mais cedo ela frequenta a escola, mais chance terá de um bom futuro” – afirma o relatório “Situação da Infância no Brasil”, da Unicef. Em 2009, o MEC baixou a frequência escolar obrigatória para quatro anos de idade – pais e Estado têm a obrigação legal de garanti-la. Já as creches, até três anos, fazem parte da Educação Básica e, embora a frequência não seja obrigatória, se o responsável pela criança quiser matriculá-la, o Estado deve oferecer a vaga – dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, de 2009, mostram que 80% das crianças do país de até três anos estão fora do sistema de ensino.

crianças” – conta. “As crianças do berçário nunca faltam – nem em dia de jogo do Brasil, nem em feriado prolongado –, porque as mães dependem da creche para trabalhar” – diz a coordenadora Elisângela dos Anjos. “Quando falamos das dificuldades que enfrentamos, as mães ficam loucas para ajudar”– comove-se.


7 perfil

Essa adolescente é uma paixão

A atriz posa no Limão: orgulho de ser da Norte

Os gestos delicados e o rostinho de boneca contribuíram para criar a cativante Kelly na novela das 8 e parecem naturais em Caroline Soares Macedo, nascida há 17 anos no Hospital São José do Imirim, na Zona Norte. “Adoro o meu bairro. Vivi sempre entre o Limão e a Casa Verde, tenho amigas desde a 1ª série e sempre fui grudada na minha família” – diz Carol. Ao contrário da menina da novela, que é explorada pela avó, a jovem atriz guarda boas

lembranças da família. “Morro de saudade da minha mãe, de brigar com a minha irmã, do lanche da escola que meu pai fazia todo dia” – confessa. Filha de uma pernambucana de cabelos crespos e pele clara e de um paulista moreno, Carol é uma brasileirinha padrão, desinibida e mignon, que as agências catalogam como mulata. “Ela é afiladinha, mas o bocão e o cabelo crespo a colocam nessa categoria” – explica a mãe, Fátima Soares, dona da agência Vick Models, criada há

A vitória do talento e da persistência Passione, disputado por centenas de jovens. As meninas deveriam aparentar 13 anos. Mas como a personagem seria irmã de Clara, vivida pela loiríssima Mariana Ximenes, as agências selecionaram ape-

nas meninas claras, de cabelos lisos. “Achei que não faria a Kelly por isso. No teste, só eu e outra menina não éramos loiras de olho azul” – lembra Carol. “Eu nem lembrava mais, havia feito um papel no filme Lula,

Carol, a mãe Fátima e a irmã Karine

foto: Gerardo Lazzari

O trabalho inaugural de Carol, aos oito anos, foi uma foto para a Besni. Depois vieram os catálogos de moda, desfiles e um anúncio do Nescau, dançando hip-hop. Fátima, então, passou a mandar a filha – que já estudava dança e teatro e aos 15 anos ganhou um curso com o global Wolf Maia – aos testes, mesmo que ela estivesse fora da faixa etária ou do tipo físico. Foi assim, agenciada pela Vick Models, que Carol ganhou o papel de Kelly em

o Filho do Brasil (ela é uma irmã do presidente), veio o telefonema do produtor. Dependia apenas de meus pais me emanciparem – o papel envolvia abuso sexual de criança e a Rede Globo exigia que ela fosse emancipada antes de ser contratada. Fátima e o marido concordaram com a exigência desde que Carol continuasse a ser tratada como adolescente, com direito a acompanhante no Rio, matrícula na escola e condução para o Projac.

A jovem que tem saudade da infância Da infância, Carol lembra das saídas com o pai quando ia ao mercado ou aos colégios Aquarelinha, no Limão, e Nossa Senhora das Dores, na Casa Verde. O fim de semana era na casa da Raíssa,

amiga até hoje, e na padaria A Lareira, onde tomava suco ou sorvete. “A mesma turma, nos mesmos lugares” – conta. Eu aproveitei muito bem a infância, ainda que muitas vezes eu e minha mãe voltás-

semos das gravações tarde da noite, de ônibus” – diz. No Rio de Janeiro, ela estranhou a escola e aguentou muita gozação por causa das gírias e do sotaque paulistano, mas fez grandes amigas. “Sou uma menina

comum, que sonha em ser atriz como outras sonham em ser médicas” – diz. “Quero continuar na profissão, atuar em teatro e cinema” – afirma a menina que, como Kelly, desperta a atenção de atores e diretores veteranos.

dois anos no Bairro do Limão, para fazer a carreira da filha deslanchar – a outra filha, Karine Victoria, 11 anos, não gosta da rotina de modelo. Hoje Fátima agencia mais de 200 modelos de todas as idades. A agência dela é cada vez mais procurada pelas aspirantes a modelo. “O boca-a-boca funciona e, como a Carol está na novela das oito, isso dá esperança às meninas simples como ela. Mas não basta fazer um book, tem que estudar teatro, dança” – diz.

Amigas foto: arquivo pessoal

foto: Gerardo Lazzari

Carol Macedo, a menina de bairro que virou atriz e nunca se cansa de voltar pra casa

Fernanda e Carol: chegadas

Fernanda, a melhor amiga de Carol, vibrou quando ela pegou o papel de Kelly na Rede Globo. O namorado de Carol é primo de Fernanda. O namoro é via internet. Mas quando ela vem a São Paulo e eles, enfim, saem juntos, vão aos lugares de sempre, apesar do assédio dos fãs. “Acho gostoso. As crianças e os idosos são os que mais me pedem para tirar foto” – diverte-se ela. Ciúme? Ela diz: “Quando a Kelly beijou o Alfredo, ele não assistiu ao capítulo” – revela, com um sorriso. E acrescenta: “Vida de atriz é assim”.


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Resposta

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Vertical – 1. Mestra 2. Organismo a cuja vida é imprescindível o oxigênio retirado do ar (fem.) 3. Antiga nota dó; Relativo à vida 4. Onde a professora anota a aula; É, em inglês 5. Mil Septiliões 6. Freguesia portuguesa de Viseu; Provocai dor física 7. Sigla de Roraima; Código ISO 639 para língua holandesa 8. Instrumento para cavar o solo; Caldo de galinha 9. Nome de abelha brasileira 10. Gracejar; Réplicas 11. O som do gado 12. Sexta nota musical; Emitir som de ave 13. Nome de escola modelo 14. Nhandus 15. Matéria baseada nos números.

M A T E M H A T R I C M A

Resposta E M A S

Horizontal – 1. Educador brasileiro; Chegam 2. Tocar mais uma vez; Sorri; Lodo 3. Quarto sufixo verbal; Para onde vai quem está passando mal; Antigo patrocinador do Palmeiras 4. Resto petrificado de animais ou vegetais que habitaram a Terra; Sigla do Amapá; Departamento de Suprimento Escolar 5. Exército Brasileiro; Sigla de Alagoas; Unidade de Terapia; Cada uma das duas extremidades inferiores do corpo humano 6. O que se diz ao concordar; Hospital Geral; Livro para aprender a ler 7. Sigla de Santa Catarina; Veloso, compositor brasileiro; 3,1416 8. Ordem dos Advogados do Brasil; Uma frequência radiofônica; Chato 9. Dois, em algarismo romano; Náusea; Agência Estado 10. Matérias de aulas publicadas para uso de alunos; Mensagem de alerta aos navegantes; Pessoa Ruim.

R E V I L A R M A L U D T P E R T I L O P I C R I C O A E S A R

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F R E I A R R I P A L A P U T C A E T A N M N E N J O I L A

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U L O T O C U T S S I A L M H C A B O I I P O S T

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A E R O B I C A

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P R O F E S S O R A

sudoku

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Palavras cruzadas

foto: pucf5.wordpress.com

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Sudoku

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palavras cruzadas

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foto síntese


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