Jornal Brasil Atual - Zona Oeste 03

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Zona Oeste

www.redebrasilatual.com.br

Jornal Regional da Zona Oeste de São Paulo

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Gratuição ita

nº 3

Janeiro de 2011

butantã

cidadania

foto: leonardo brito

ciência cara-pálida O que exigem os afrodescendentes para poder miscigená-la

Velhos na praça A Prefeitura ameaça destruir a paz de um bairro

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foto: divulgação

transporte

foto: andrea rego barros

fim de linha Passageiros relatam o horror de viajar num trem da CPTM

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dengue foto: divulgação

educação

foto: leonardo brito

revolução silenciosa Como alunos, pais e mestres transformam a Escola Amorim Lima, no Butantã Pág. 6

ataque em massa Mosquito continua atazanando o pessoal da Zona Oeste

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logotipo do p. i. g. Partido da Imprensa Golpista

butantã

Fumaça, trânsito, aridez A luta contra o complexo viário que vai destruir um bairro

editorial A formação de uma ciência nacional, miscigenada como seu povo, patina ao não oferecer aos negros o conhecimento de alta plumagem. O acesso dos afrodescendentes ao universo científico é ainda limitado a algumas cabeças que, além de pensantes, têm de vencer desafios que já deviam estar superados: O preconceito racial, a ausência de políticas públicas para fazê-los vencer esse desafio e a dificuldade que têm de acesso à educação de qualidade são três exemplos risíveis – e contundentes – de como anda a passos lentos essa caminhada. Isso explica por que o ensino superior público tem apenas 0,4% de docentes negros ou pardos. Mas é também da educação que nos vem um belo exemplo. A Escola Amorim Lima, no Butantã, juntou pais, alunos e mestres e revolucionou a arte de ensinar. Lá, as paredes não dividem as classes e o controle da aprendizagem está nas mãos dos alunos! Um belo exemplo para ser seguido por quem acha que o sonho não morreu, que vale a pena ousar. Uma no cravo, outra na ferradura. Pois não é que a Prefeitura quer nos impor um corredor viário, uma tal Operação Vila Sônia? Caso seja implantado, vai ser trânsito e fumaça pra todo lado, acabando com a área verde do Parque da Previdência. Será que a Prefeitura quer nos impor uma crueldade comparável apenas à do Estado, que nos faz andar nos trens da CPTM? Aí a dose é dupla!

Cercada por condomínios de apartamentos populares e situada em frente a uma escola, a Praça Elis Regina – no número 1500 da Avenida Corifeu de Azevedo Marques – é ponto de encontro de aposentados que passam o tempo jogando baralho ou dominó. A região é cortada por grandes vias de trânsito, como a própria Corifeu, que vai até Osasco, e a Rodovia Raposo Tavares. Em 2005, a notícia de que a Prefeitura tinha um projeto que ameaçava a praça caiu feito uma bomba no bairro. “Estava prevista uma obra viária enorme, uma intervenção brutal, com grande impacto na paisagem e na vida do bairro” – conta a geógrafa Patrícia Yamamoto, uma das fundadoras do movimento Butantã Pode! (dizer não ao túnel-avenida). “Tudo estava ameaçado: as áreas verdes, o Parque da Previdência, o lençol freático. E os moradores sequer tinham sido consultados” – lembra. Os moradores lutam para impedir a concretização do projeto, realizando shows mu-

Operação Vila Sônia

O projeto pretende ligar a avenida Corifeu de Azevedo Marques à Eliseu de Almeida, por meio de um túnel sob a Rodovia Raposo Tavares e o Parque da Previdência – a maior área verde da região com nascente e mata atlântica preservada. Uma avenida passaria em cima da Praça Elis Regina.

sicais na praça, assembleias com as associações de bairro, e audiências na Prefeitura, que até acenou com a mudança no traçado do túnel, sem se comprometer de fato. Mesmo que o novo traçado poupasse a praça, a sobrevivência do Parque Previdência, na outra ponta do túnel, continuaria em risco. “Consultamos urbanistas, geólogos e todos disseram que, na profundidade em que o túnel seria construído, a nascente que existe no parque secaria e o lençol freático seria rebaixado

a ponto de matar as árvores em cinco anos” – explica Marcelo Coutinho, diretor da Amapar, Associação dos Moradores do Parque Previdência. O projeto visa criar um sistema viário que vai de Itapevi – no extremo oeste da região metropolitana – às estações de metrô da linha amarela Butantã e Morumbi/Vila Sônia. “Isso significa um corredor viário com tráfego de 3 milhões de viagens por dia, uma obra que modifica todo o seu entorno” – destaca Marcelo.

Fórum Cidade de São Paulo Associações de bairro e organizações da sociedade civil encontram-se em maio para contar o que pensam e fazem diante dos problemas da cidade, deba-

ter soluções e fazer propostas de ação para resolvê-los no Fórum Social da Cidade de São Paulo. Mais informações no www.forumsocialsp.org.br

Expediente Rede Brasil Atual – Zona Oeste Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Marina Amaral e Leonardo Brito (estagiário) Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3241-0008 Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição Gratuita


3 Trens da CPTM

Cadeirante no trem

Passageiros da estação agonia

foto: Fernando Stankuns

A inacreditável viagem diária de milhões de paulistanos

Estação da Luz: o povo espera a chegada do trem

A estação Francisco Morato, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na Zona Oeste, às 6h23 da manhã, está lotada. Parada obrigatória para quem vem de Jundiaí, Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista e Botujuru e está a caminho de São Paulo, ela passa por obras de ampliação e modernização – o percurso de Jundiaí até

Morato tem 21,5 km e dura 35 minutos. Na plataforma, o empurra-empurra leva alguns passageiros além da linha de segurança amarela. Estreita e perigosa, qualquer esbarrão mais forte pode ser fatal. Edilson José, 43 anos, funcionário das Casas Bahia de Pirituba, ensina: "Somente se enfiando nesse tumulto, você consegue espaço para entrar

no trem”. O trem chega. Apinhado. Ninguém respeita o desembarque dos passageiros, pois o medo de perder o trem é maior. Há uma surda batalha entre quem quer sair e quem quer entrar. Neuza Fernandes, 72 anos, aposentada, desce do trem indignada: “Que falta de educação, as pessoas não respeitam nem os idosos.”

A multidão empurra todos para dentro do trem. Carolina Ferreira, 36 anos, dona de casa e mãe de Guilherme Ferreira, 8 anos, estudante e deficiente físico, tem o olhar apreensivo, pensa em como irá embarcar o filho e sua cadeira de rodas. Ela procura um espaço nos vagões destinados aos portadores de deficiência, o primeiro e o último. O filho tem consulta com hora marcada no hospital que fica próximo da estação Carrão, do Metrô. Depois de perder dois trens, um passageiro solidário comunica aos seguranças da estação que ela está com dificuldades para embarcar. Os seguranças afastam as pessoas e, enfim, embarcam mãe e filho. “Faço essa maratona sempre que ele tem de ir ao

médico, porque em Morato não tem hospital” – explica Carolina. Dentro do trem, as pessoas se juntam, se espremem. Cada um se encaixa como pode. Quem vai descer logo fica bem perto da porta, abraçado à barra de ferro do vagão. Todos seguem sem alegria no rosto. Muitos viajam com os fones de ouvido ou lendo um livro. Daniel Moreira, 24 anos, estudante de administração, explica por que suporta o trem . “Não tenho carro, e ir de ônibus para o Centro da Cidade talvez fosse pior. O percurso é angustiante, mas fazer o quê? É o que temos” – relata. Carolina desce com Guilherme na cadeira de rodas e embarca na linha vermelha em sua maratona até o hospital.

Francisco Morato: trem traste

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A cada nova estação, um sofrimento. As pessoas entram no trem quase sem espaço algum. O trem segue explodindo de gente até a estação Palmeiras/Barra Funda. Entre 2007 e 2010 o número de passageiros aumentou de 2,3 milhões para 5 milhões, juntando CPTM e

Metrô. Em 2009, 75 trens foram incorporados à frota – 44 do Metrô e 31 da CPTM – e outros 34 foram reformados. O esgotamento do sistema fica claro na plataforma da Barra Funda: o sufoco de ter de enfrentar outra fila, a do Metrô, é pior.

foto: blog.pittsburgh.com.br

foto: divulgação

Trem e metrô, a dose dupla

Dúvida atroz: há gente demais ou trens de menos?

luz – Francisco Morato

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4 cidadania

A cor (ainda branca) da ciência brasileira

foto: andrea rego barros

Para miscigená-la é preciso uma política pública que combata o preconceito racial

A pobreza e o racismo, segundo Carlos Sant’Anna, impedem o acesso dos negros à carreira científica

De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), nos últimos dez anos a produção científica nacional passou de 10 mil para mais de 30 mil estudos publicados em revistas especializadas internacionais. Mas os afrodescendentes não foram contemplados nesse salto: racismo, ausência de políticas públicas, dificuldade de acesso à educação de melhor qualidade e baixa autoestima inibem a presença de

Por Cida de Oliveira

negros em carreiras científicas. O físico Ernane José Xavier Costa, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga (SP), coordenou um simpósio sobre A População Negra na Ciência e na Tecnologia. Para ele, as pesquisas são “feitas por brancos e para brancos”. Em Angola, onde participa de um projeto com uma universidade local, ele ouviu de um africano que era o primeiro cientista brasileiro negro visto por lá.

“Os negros são pobres porque são discriminados” Carlos Augusto Sant’ Anna Guimarães é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. Em sua vida acadêmica, Carlos não encontrou 20% de pretos e pardos nem lembra de ter tido professores desse gru-

po. Há três pesquisadores negros entre os mais de 100 que atuam na fundação em que trabalha. Muito poucos. A questão racial brasileira traz implicações sociais, econômicas e psíquicas, que geram dois grupos de indivíduos:

os superiores e os inferiores. “Quando cruza com um negro, com um pardo, o branco logo pensa tratar-se de bandido. Por quê? Porque ele carrega na consciência o dogma de que o branco é bom; o negro, mau, sem cultura, não pode estar em

de Medicina, Ciências Biológicas e Engenharia, portas para pesquisas em biotecnologia, células-tronco e nanotecnologia. “Os negros são pobres porque são discriminados, e não discriminados porque são pobres.”

determinados espaços, como a iniciação científica e a seleção para mestrado e doutorado. É preciso romper essa ideologia racista” – afirma. Para ele, o preconceito é uma barreira a ser superada por pretos e pardos em cursos

Filho de pai feirante e mãe artesã, o físico Cláudio Elias da Silva, professor do Instituto de Física da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), cresceu na Baixada Fluminense. Seu currículo inclui cursos na Europa e quase dois anos como pesquisador na Agência Espacial Americana, a Nasa. “Adolescente, eu via o preconceito quando o menino negro queria namorar a menina branca” – conta. O estudo virou aliado na superação dessa desvantagem: “Passei a dar aulas de reforço para uma

menina bonita, que só olhou pra mim depois que soube que eu era bom em matemática” – lembra. Admirado, Cláudio estudou ainda mais. Fez colégio técnico, deu aulas em cursinho e entrou na universidade onde hoje leciona. Depois fez mestrado, doutorado e estudou na Itália. Racismo, mesmo, só sentiu nos Estados Unidos. “Um engenheiro trabalhava na mesma sala e só falava comigo quando havia reuniões. Além de negro, eu era o latino-americano que ameaçava seu emprego.”

foto: rodrigo queiroz

Nosso homem na Nasa

O físico Cláudio Elias: “racismo só nos Estados Unidos”

No ensino superior público brasileiro, 0,4% dos docentes são pretos e pardos. Se nada for feito, a projeção para os próximos 170 anos é que esse percentual atinja, no máximo, 1%


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foto: arnaldo torres

O voo da negra

Sonia derrubou dois preconceitos de uma vez – de gênero e cor – e acabou no ITA

Filha de tapeceiro, a mulher negra Sonia Guimarães rompeu dois preconceitos de uma vez – de gênero e cor – e foi a primeira mulher a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), onde chegou em 1993. Hoje, Sonia Guimarães divide seu tempo entre os laboratórios e a gerência de um projeto de um dispositivo estratégico para a defesa das fronteiras no Instituto de Aeronáutica e Espaço. Fluente em línguas es-

trangeiras, com graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestrado na USP e doutorado em Bolonha, Itália, a física foi recebida com desconfiança por parte dos militares. Mas Sonia Guimarães chegou, viu e venceu. E lamenta que o Estatuto da Igualdade Racial não preveja cotas para negros em universidades, empresas e candidaturas políticas. “Assim fica mais difícil os negros conseguirem os melhores empregos.”

A química que transformou a menina em cientista Com base num estudo que fez para a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a química Denise Alves Fungaro, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

(Ipen), em São Paulo, diz que dos 6 mil doutores titulados a cada ano no Brasil, 1% é negro e menos de 1% das pesquisas focalizam assuntos de interesse dessa população. Com pós-doutorado pela

Universidade de Coimbra, Portugal, e sete prêmios pela pesquisa sobre tratamento de água poluída, Denise atribui seu ingresso na carreira científica à educação pública de qualidade, à renda familiar

adequada e à oferta de bolsa de pós-graduação. “Desde pequena quis ser cientista.” Filha de zelador, ela morava no Centro da Cidade e frequentava um colégio público de referência, o Caetano de Campos.

Cotas: “positivo, mas insuficiente”

A Associação Brasileira de Pesquisadores Negros detectou, entre 705 entrevistados, que 82% têm formação em ciências humanas – Educação, Sociologia, História, Letras, Geografia Invenções de cientistas negros

foto: eduardo zappia

Paulino de Jesus Francisco Cardoso, vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e pró-reitor da Universidade Estadual de Santa Catarina (UESC), acha que o sistema de cotas é “positivo mas insuficiente”, uma vez que a adesão ao sistema é orientação de governo e universidades, e não política de Estado. “De 150 a 200 alunos entraram pelas cotas na UESC, o que é muito pouco” – diz ele. Graduado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com mestrado e doutorado pela PUC-SP, Paulino conta que os únicos negros que vê na faculdade são africanos.

Com a ajuda dos pais, fez cursinho e ingressou no Instituto de Química da USP. “Ter me destacado nos estudos me nivelou aos demais colegas. Por isso, nunca me senti discriminada.”

Paulino Cardoso quer uma política de Estado para os negros

Invenção

Inventor

Ano

Extintor de incêndio

T. Marshal

1872

Guitarra

Robert F. Fleming

1886

Elevador

Alexander Miles

1887

Geladeira

J. Standart

1891

Cortador de grama

J.A. Jaburr

1899

Freio automático a ar

G. T. Woods

1902

Máscara contra gás

Garrett Morgan

1914

Semáforo

Garret Morgan

1923

Câmbio automático

Richard Spikes

1932

Ar-condicionado

Frederick M. Jones

1949

Telefone celular

Henry T. Sampson

1971


6 educação

Revolução na escola. Com o apoio de pais e mestres

foto: leonardo brito

A Amorim Lima, no Butantã, mostra o poder da comunidade no compromisso de educar

Crianças: escola sob nova direção

Ao cruzar o portão da EMEF Amorim Lima, na Praça Elis Regina, no Butantã, percebe-se que se está numa escola diferente. De cara, num jardim acolhedor, há grande variedade de plantas. Adiante, vê-se um hall iluminado com crianças reunidas em torno de um viveiro. Elas observam o movimento do bicho-pau, que balança como folha seca ao vento. “Essa é a fêmea, o macho está lá no fundo, que nós acompanhamos desde pequenininha” – explica a loirinha. “Você já viu um bicho-pau grande como esse? – pergunta o menino miúdo de olhos vivos. A curiosidade é a marca da

turminha. Ao perceber o bloco de anotações e a câmara fotográfica, outro pergunta: “Vocês estão fazendo uma reportagem?”. À resposta afirmativa, devolve: “Vocês devem saber muita coisa”. E pede: “Me diz alguma coisa em inglês”. Entramos na brincadeira, rodeados de crianças “perguntadeiras”. Adiante, sentadas em roda, quatro meninas tomam lanche. Estão fora do refeitório, mas ninguém diz nada. Elas acabam, jogam os descartáveis no lixo e pedem papel-toalha à agente escolar para limpar as carteiras. A autonomia dos alunos, objetivo pedagógico da escola, dispensa a rigidez de

regras, como mostram as meninas, que agora empilham as carteiras limpas em um canto. Há cinco anos, a Amorim Lima vive essa experiência pedagógica, única na educação pública do país. As paredes que isolavam as turmas – e os professores – foram derrubadas e o controle da aprendizagem passou para os alunos. Agora, os salões – um do Fundamental I e outro do II – são ocupados por uma centena de estudantes reunidos em grupos menores para estudar, sob a orientação de três ou quatro professores. Só as aulas de Matemática continuam com o esquema tradicional de lousa e giz.

A reputação da Amorim: uma baita escola pública guias têm 9 anos de idade. Duas delas, Naomi e Sophia, fizeram pré-escola na rede privada e vieram à escola pública pela reputação da Amorim. Já Mariana segue os passos da família: mãe e tios estudaram nessa escola fundada em 1956, e no mesmo prédio des-

Alunos e professores: um ensina o outro

de 1968. “No tempo da minha mãe era diferente, tocava o sino, tinha prova todo mês” – conta a menina. Na biblioteca, aberta aos estudantes, há uma seção de livros que os menores pegam livremente. Nas demais, separadas por temas e autores

e em ordem alfabética, uma bibliotecária orienta a encontrar o material para as pesquisas, principal instrumento de aprendizado. “A Amorim é inspirada na Escola da Ponte, lá de Portugal” – conta Naomi, balançando os cachinhos. E continua: “A

foto: leonardo brito

Alunos do 3º ano entram sem medo na sala da diretora, Ana Elisa Siqueira, excitados com o programa noturno: um acampamento montado no jardim da escola – depois do jantar haverá um ateliê ao ar livre de construção de lampiões de papel. Fincada no bairro onde está a Universidade de São Paulo, um terço dos alunos da Amorim é de família com renda mensal superior a dez salários mínimos e 20% com renda inferior a três mínimos. Com isso, há troca de experiências de vida e saberes diferentes. A “mistura” recupera o sentido da escola pública, sem barreiras sociais. Nossas três graciosas

gente tem objetivos a atingir até o final do ano, divididos em três grupos – Vida, Nosso Mundo e Identidade e Alteridade. À medida que o aluno ganha mais compreensão dos temas, a pesquisa evolui, e ele só é avaliado quando se sente pronto para isso”. Mas vocês não se sentem perdidas, sem a matéria na lousa? “Não – explica Mariana –, a gente pergunta aos colegas; se eles não conseguem ajudar, pedimos então a um professor do grupão.” Sophia completa: “Os tutores – cada professor tem a tutoria de 20 crianças – olham o material individual toda semana e conversam com a gente sobre nosso progresso, nossas dúvidas” – diz.


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O peso da comunidade

Parque da água branca

Aquário didático

A diretora Ana Elisa, o pátio do colégio e uma aula de ciências: novo modelo de escola

De volta à sala da direção, a pedagoga Ana Elisa conta que optou pela escola em 1996, ao passar no concurso para diretora. Ana já via a educação como uma tarefa coletiva. Por isso, ela derrubou os alambrados da escola, abriu as portas para os alunos e suas famílias nos fins de semana e transformou a principal festa da escola, a Junina, numa grande mobilização dos pais para celebrar a cultura brasileira: as músicas, brincadeiras e comidas típicas da festa foram resgatadas com a contribuição de uma mãe, especialista no tema. Ana estava disposta a ouvir os mais de 600 alunos e 50 professores da escola. Vieram as queixas das crianças: elas apanhavam, ficavam sem lanche no recreio, nada faziam nas aulas vagas. Os professores, por sua vez, reclamavam da indisciplina e da falta de atenção em sala de aula.

Um grupo de mães, então, passou a frequentar a escola na hora do recreio, e outros projetos, como as oficinas de cultura brasileira, empolgaram a comunidade e a aproximaram ainda mais da escola. Uma comissão de pais diagnosticou o problema mais grave da Amorim, o de professores faltosos – pela lei, eles têm direito de faltar 76 dos 200 dias letivos e, embora apenas seis faltas sejam abonadas, alguns faltam até o limite para completar o salário dando aula em outras escolas. Por isso, quando a psicóloga e palestrante Rosely Sayão trouxe um vídeo sobre a Escola da Ponte, todos se identificaram com o projeto político da escola – inclusão, democracia nas decisões e controle do aluno sobre o aprendizado – o método do “grupão” tinha a vantagem de oferecer aulas em todo o período escolar, mesmo com a falta de professores.

Os pais pediram ajuda a Rosely para implantar o projeto, mas a consultoria dela estava acima do orçamento da escola. Então, o presidente do Conselho, um cadeirante, foi à inauguração de um CEU e obteve da secretária de Educação, Maria Aparecida Perez, a promessa de que visitaria a escola, o que aconteceu semanas depois. O projeto progrediu. A evasão escolar acabou. Apesar da diferença de métodos e rotina com outras escolas da rede, a Amorim teve desempenho satisfatório nas avaliações dos governos municipal e estadual. “Uma avó de aluno, economista, analisou os resultados da Prova São Paulo e concluiu que, ao contrário de muitas escolas que têm boas notas por causa de seus melhores alunos, na Amorim, todos os alunos estão na média. Educação é um processo coletivo” – pontua a diretora.

O aquário do Parque da Água Branca, rebatizado Centro de Educação Ambiental, deixará de ser um espaço para observar peixes. Agora, quem o visitar aprenderá mais sobre espécies de água doce e salgada e diferentes ecossistemas do País. Ao custo de R$ 5 milhões, as obras começarão em março e vão durar oito meses. O imóvel onde hoje funciona o aquário será todo reformado. Será construído também um novo prédio, com auditório para palestras, sala de pesquisa científica e cinco novos aquários. A água será de re-

uso, aquecida por energia solar. O centro terá dois deques, um para répteis e anfíbios e outro para vegetação da Amazônia. “Os novos aquários vão mostrar a vida nos corais e seus animais, os peixes do Pantanal e os animais marinhos” – diz o arquiteto e autor do projeto Guilherme Wendel de Magalhães. “A meta é trazer pelo menos 26 novas espécies, além das 26 que temos atualmente” – conta Edison Kubo, diretor do Instituto de Pesca, parceiro da iniciativa. A seleção será feita em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente.

dengue

Ela está aí de novo 320 casos para cada 100 mil habitantes

foto: divulgação

fotos: leonardo brito

Obra de R$ 5 mi começa em março

Levantamento da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Prefeitura aponta que a cidade registrou 5.665 casos de dengue até o dia 27 de outubro. O número é mais que o dobro dos casos registrados em 2007 que foram 2.526. A região do Butantã tem

maior incidência da doença, com 319,6 casos por 100 mil habitantes. Depois vem a Vila Sônia com 264,7 casos por 100 mil habitantes. O coeficiente médio da capital é de 51,2 por 100 mil moradores. Segundo o médico Celso Francisco Granato, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “áreas mais arborizadas, como o Butantã, têm tendência maior a ter mosquitos. A água se acumula nas plantas e em pequenos lagos, criando ambiente propício para o inseto”.


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palavras cruzadas

mercadão da Lapa

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foto: Marcelo Parise Petaz

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Horizontal – 1. Roedor herbívoro, encontrado perto de rios e lagos; Oceano 2. Profecia, revelação; moradia 3. Lugar onde se cultiva a uva; Dança da periferia 4. Lavre; Ali; Ataque repentino de doença 5. Nome de antigo time de futebol de Niterói 6. Região do Piemonte, Itália; Tipo de verso; Nenhuma das anteriores 7. Letra que vem depois do eme; Para trás 8. H., nome de famosa joalheria, O que foi discutido numa reunião 9. Pedaço; Enche muito, abarrota; 10. Argola; Fim (pl.)

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vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual. com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

Respostas

Vertical – 1. Famosa praia carioca 2. Aves trepadores de grande porte, de bico grande e curvo (pl.); Atmosfera 3. Laço de consanguinidade ou de aliança 4. Instituto dos Consumidores de Remédios; Tipo de vinho 5. Voo, em espanhol; Escola de enfermagem 6. Unido por um pacto; Anfíbio da ordem dos anuros 7. Grande quantidade; Como os alunos tratam a faculdade de Odontologia 8. Estado amazônico; Observatório do Clima 9. Sorri; Rasteira 10. Títeres 11. Órgãos do voo das aves, dos morcegos e dos insetos; Um trecho de uma peça de teatro 12. Ganhar tudo; Pessoa exímia em qualquer atividade

C O P A C A B A N A

A P I R A C A R R R E A N T S T I E N S T A C O R O

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V A R U L O E I R L A O D O O D E O E R N A T O

Palavras cruzadas

A M C A A R C R I R I O E N R E A T O P E C A S

A R S A A P S E L D A R A T A O S

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