Editorial Quatro pessoas e um desafio: desenvolver uma revista totalmente sobre cor. Sabemos que a escolha de uma cor, feita equivocadamente pode trazer sérias consequências e percebemos que as publicações voltadas para designers, ilustradores e arquitetos raramente trazem matérias consistentes sobre cores, com estudo e análise de matérias. A Cromia vem para preencher esta lacuna. Nesta primeira edição, presenteamos o leitor com uma matéria sobre cores na web, entrevistamos um artista plástico, professor de cor na Universidade Federal do Espírito Santo e apresentamos um estudo sério e delicado sobre o uso de cores em Unidades de Terapia Intensiva, dentre outros. Em destaque, uma matéria especial sobre cores e ilustração, abordando a colorização de imagens, suas dificuldades e implicações. Buscamos editamos e criamos, afim de apresentar a você, leitor, a melhor seleção de artigos e matérias, nesta que é a única revista totalmente sobre cor. O desafio que enfrentamos para atingir este objetivo comum, é a nossa maior fonte de inspiração e motivação. Trabalhar em conjunto, dividir o conhecimento, buscar o melhor da informação e compartilhar com o leitor foi o que fez este fruto chamado Cromia crescer e amadurecer.
CROMIA Editora-chefe: Sandra Medeiros Editores e Diagramadores: Danillo Burgos, Leandro Niero, Luciana Eller e Manoel Lemos Revisão: Sandra Medeiros Publicidade Danillo Burgos/ Luciana Eller Tel/Fax.: 55 27 40092011 comercial@cromia.com.br Assinaturas Leandro Niero/ Manoel Lemos Tel/Fax.: 55 27 40092010 assinaturas@cromia.com.br Correspondências Av. Fernando Ferrari, N.º 1 Vitória - ES 29500-000 FICHA TÉCNICA Editoração eletrônica: Indesign, Photoshop, Illustrator Acabamento: Grampo canôa Capa impressa em: Couché matte 180g/m² Miolo impresso em: Couché matte 130g/m²
Equipe Cromia
Vitória, Julho de 2010
Índice
Entrevista
Rosindo Torres
4 Artigo
As cores no ambiente de terapia intensiva
6 Destaque
A cor e a ilustração
10 Artigo
Sinfonia das cores
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Profissional
Escala Pantone
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Entrevista com Rosindo Torres
“A cor é fundamental em todas as áreas” Artista plástico e professor desde 1993, Rosindo Torres fala a Cromia sobre o uso fundamental das cores em sala de aula e em seus trabalhos artísticos. Cromia - Para começar gostaríamos que nos contasse qual a importância que o senhor, como professor, atribui para a cor nas artes gráficas? Rosindo Torres - Não preciso nem ir tão longe qualquer autor, Pedrosa e outros, vocês vão perceber que a cor é fundamental para todas as áreas e para as artes gráficas, principalmente desenho industrial é fundamental também pois a cor antes de ser pigmento, suporte é comunicação. A cor não é somente um suporte, um anteparo, ela pode estar num formato, ela pode estar numa transparência, ela pode estar na luz e pode estar no significado. Qualquer livro que seja, que algum autor fala sobre isso vai entrar nesse ponto de vista também. Quando a gente vê uma cor, a gente não consegue ver só a cor, mas a interação com outro elemento ao lado dela, com a forma, localidade, dimensão, textura, superfície ou com a técnica e também com a categoria desses elementos, se é desenho, se é pintura, se é televisiva, vídeo, fotografia, se é escultura e se é tridimensional. Pode estar presentem em elementos efêmeros, ou seja, uma fumaça ou um elemento sinestésico, ou seja, eu falo alguma palavra, exemplo “morte”, então a cor vem pela imaginação, “imaginei sangue” ou “o rapaz deu uma facada no outro” você não imagina a faca mas o resultado disso, o vermelho do sangue. Quando você vê a foto do cara ensangüentada você entra nessa questão, “é isso mesmo”. A propria cor vai trazer uma questão de significado. O “não-cor”, a cor que não existe, ou seja, um quarto escuro tem também uma interatividade. Então a cor para todas as areas do design, (artes) plásticas, gráficas, todas possíveis têm uma importância. Cromia – Conte-nos um pouco de sua formação.
RT - Bom, sou formado como desenhista projetista no ensino básico. Depois me formei em educação artística (pela Universidade Ferderal do Espírito Santo) que agora é artes visuais, licenciatura em artes plásticas. Sou professor desde 1993. Como professor da Ufes é a terceira vez que entro como substituto. Sou mestre em performance pela Unirio onde tratei mais da performance em passarelas de moda e sou professor do curso de design de moda da faesa também, já a dez anos. também dou aula para o curso de arquitetura e para o curso de jogos digitais. Sou artista plástico desde 1994. Tive professores desde a universidade e posteriormente com nomes bem conhecidos na arte contemporânea brasileira como o crítico de arte Tadel Querelli. Participei de um coletivo na Faap de Higienópolis. Morei em São Paulo um bom tempo voltei para o Espírito Santo e estou aqui trabalhando desde então. Cromia – E sua produção como artista plástico? Falenos um pouco mais. RT – Eu sou desenhista, pintor e tudo mas tenho um trabalho que desde 94 pra cá comecei a mecher com imagem de outros autores. Eu pego uma imagem e interfiro sobre ela com pintura. Quando entrei na universidade (Ufes) eu vi pintura bem acadêmica, bem figurativa. Tive uma experiência de estilizar a própria figura com a Joyce Brandão, minha professora, a gente estilizava até se formar um crânio. Meu trabalho ficou voltado para desenhar crânios bem estilizados da pintura, com grande influência de Flavio Shiró, técnicas mistas sobre suporte. Então comecei a ver que isto estava “saturando”. Daí em um festival de verão que infelizmente não acontece mais infelizmente, tive
contato com alguns artistas como Evandro Sales Jardim e Neson Leli e com esse contato começamos a discutir a pintura, o desenho, o objeto e eu fui retomando coisas da minha infância que envolvia o “sagrado e profrano” e minha formação teológica, quando quase me tornei padre mas saí do seminário para fazer curso de artes. Essa questão da religião ficou muito enraizada na minha vida, fui coroinha, fiz homilia, fui coordenador de catequese entre tantas funções e tinha muito um rigor de obediência sagrada mas tinha o lado profano como ser humano que era perseguido, esse “olho de Deus” que persegue a gente dentro do banheiro. Quando veio a pintura dentro dessas experiências, essa de produzir imagem sobre a imagem de outros autores fui retomando o “universo imaginativo” da minha infância. Ao retomar essas imagens eu pintei por cima retirando elementos e foi como retirar memória. A pintura e a cor entram aí para fazer um nivelamento. Sou restaurador de imagens de gesso de igreja até hoje e desde uma pesquisa que fiz com Atílio Colnago que envolvia a conservação e preservação do acervo de arte sacra do Espírito Santo. Tinhamos que tirar pedaço de imagem para analisar a tinta utilizada. Em aulas de pintura com o artista plástico Hilal tive que fazer pinturas próximas à cor do quadro original, bem na area da restauração e isso ficou comigo. Meu desenho, então, retornou novamente à pintura acadêmica só que no contexto de apagar as imagens, tirar a memória e resolver essa imagem da minha maneira criando outras questões. Eu apropriei uma técnica que eu tinha antes para fazer veladuras e sobreposições, pintando em cima dessa imagem original do artista. Faço plotagem ou xerogravura, amplio e vou pintando tentando achar uma cor próxima ao original com a intenção de bricar com a restauração, negando a imagem original, criando uma outra imagem, mas não colocando figuras e sim “velando” a imagem que acho desnecessária da composição e fazendo que a “imagem de trás” apareça, se manifeste. Também costumo deixar, literalmente, algumas pistas do quadro suporte. Alguns críticos de arte comentam que meu trabalho possui uma “crueldade velada”. A religião hoje para mim não é mais o “carro chefe”, eu tenho coleções de santos que me acompanham sempre mas tenho um outro olhar agora. Cromia – E como está sua produção artística atual?
Há alguma exposição prevista para esse ano? RT - Acontecerá agora em setembro uma exposição anexo à “Casa Cor” com visitação liberada para o público geral sobre iconografia capixaba. O SEBRAE me chamou e vou expor um trabalho meu que é grande que é com a Nossa Senhora da Penha de um trabalho que faço que se chama “Atributos para jovens rebeldes” onde tiro a “carnação” do santo e deixo a roupa. Ficam os objetos flutuando e só o tecido. Esse trabalho chamo de “atributos” pois deixo os atributos dessas imagens criadas por nós como elementos de credibilidade, coroas, colares, roupas, grapeados, cruzes espadas etc. Fui premiado várias vezes por esse trabalho como Rumos Visuais Itau onde já fiz parte do acervo iconográfico e já foram feitas três monografias na Universidade de Brasília sobre o assunto abordado, Já foi feito um documentário, que inclusive foi comprado por Roberto Marinho, sobre meu trabalho e passou um tempo na TVE, entre outros. Então possui um reconhecimento grande for a daqui (Espírito Santo). Já por aqui em 2002 participei de uma exposição com quinze artistas no Museu da Vale do Rio Doce chamado “Prata da casa”. E nessas cenas do sagrado também trabalhei com pinturas mais simples e populares como pinturas de paisagem, natureza morta de uma família chamada Martinelli. Eu tenho imagens guardadas, selecionadas para fazer intervenções. Estou me preparando para fazer uma exposição individual também. Tenho um “São Jorge” e uma “Nossa Senhora de Fátima” já “engatilhados” para fazer intervenções. Cromia
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Artigo
As cores no ambiente de terapia intensiva Percepções de pacientes e profissionais. Nélio Boccanera, Silvia Borges, Maria Alves Barbosa
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s cores exercem grande influência no ambiente, modificando-o, animando-o ou transformando-o, e assim, podem alterar a comunicação, as atitudes e a aparência das pessoas presentes, pois todos nós temos reações às cores. A utilização das cores para fins de cura é um processo não agressivo sobre o organismo, não é maléfica, não causa efeitos colaterais e não atua como agente de pressão sobre o corpo. A cromoterapia atua diretamente na base da doença, procurando restaurar o equilíbrio entre as energias vibratórias do corpo. A todo instante estamos em contato com as cores, são parte da vida sem elas o mundo seria diferente. A cromoterapia é uma ciência que usa a cor para estabelecer o equilíbrio e a harmonia do corpo, da mente e das emoções, sendo utilizada pelo homem desde as antigas civilizações. Os egípcios adotaram o poder de cura do sol e construíram templos adornados de cores e luz para os doentes. Os incas no México, também adoravam o sol. A mitologia considera a luz do espectro solar como fonte de longevidade, saúde e cura. Utilizado de forma adequada, hoje o sol se constitui em um elemento que complementa a prevenção e cura das doenças, sendo então reconhecido como meio terapêutico3. As pessoas sentem grande prazer com a cor e o olho necessita da cor tanto quanto da luz. Os métodos mais conhecidos de tratamento com a cromoterapia são os banhos de luz; entretanto, existem outros também eficazes. Existem cores de pigmento ou cores de luzes, estas originadas de corpos de luz própria, como o sol ou lâmpadas coloridas. Já as cores de superfície não possuem energia radiante, tornam-se visíveis graças à iluminação. No cuidado o processo de expressão estética das cores pode ser através da mente, das lâmpadas coloridas, da água solarizada, da luz solar, nas vestimentas e no ambiente através da decoração. De acordo com os pressupostos teóricos, o ser humano é um todo unificado o qual possui uma 6
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integridade individual e manifesta características que são mais e diferentes que a soma de suas partes. Também, o indivíduo e o ambiente estão continuamente trocando matéria e energia entre si, sendo o ambiente um campo de energia irredutível, pandimensional, identificados por padrões que integra o campo humano. Para ela, o processo de vida dos seres humanos evolui, irreversivelmente e em uma única direção, ao longo do espaço-tempo. Em relação aos padrões de vida, expõe que são a identificação dos indivíduos e o reflexo de sua totalidade. Objetivo Analisar percepções de profissionais e clientes quanto às cores utilizadas no ambiente de terapia intensiva, identificando as cores consideradas agradáveis e desagradáveis dentro das UTIs.
Metodologia atmosfera, ajuda a formar os músculos, os ossos e A pesquisa é do tipo descritivo-exploratória, reali- as células de outros tecidos. O verde atua sobre o zada em Unidades de Terapia Intensiva para adultos sistema nervoso simpático, além de aliviar a tensão de três hospitais de grande porte da rede pública dos vasos sanguíneos e diminuir a pressão arterial. de assistência à saúde, localizados no município de Ele é considerado como uma cor tranqüilizante, no Goiânia – GO. A população constituiu-se de 3 mé- ambiente de trabalho poderá ajudar na redução do dicos, 7 enfermeiros, 17 técnicos de enfermagem, estresse, porém deve ser utilizado com cautela por1 fisioterapeuta e 1 nutricionista que com o tempo pode tornar-se que estavam trabalhando, e 10 cansativo. É conveniente pinclientes nas Unidades de Terapia tar as paredes de azul em locais A aplicação de Intensiva dos hospitais selecionasujeitos a muita tensão, atritos dos para o estudo. Foram inclue desavenças, pois esta cor procores precisa ser ídos na amostra, os profissionais porciona um ambiente calmo e adequada para que atuam nas UTIs há pelo organizado em residências ou no transmitir paz e menos seis meses, que estiveram trabalho. O azul é indicado para trabalhando no período de coleta hospitais e clínicas, entretanto, bem-estar para destinado à realização das entrepode tornar o ambiente frio, por o paciente. vistas e os clientes que se enconisto deve -se ter cuidado e discertravam internados nas UTIs e nimento. Além disso, a cor azul estavam orientados, conscientes reduz o stress e a tensão, podene em plena condição de verbalização. Fazendo um do, também, induzir ao sono e à depressão. A cor total de 29 profissionais e 10 clientes ouvidos. azul é de todas as cores, a mais tranqüilizadora. Faz Para a coleta de dados foi utilizada a entrevista com que o cérebro secrete onze hormônios neusemiestruturada que tem como característica valo- rotransmissores que possuem ação tranqüilizante. rizar a presença do entrevistador e dar liberdade e Esses hormônios são sinais químicos que podem espontaneidade para o entrevistado, levando a um atuar acalmando todo o corpo. enriquecimento da investigação a ser realizada. Um espaço com amarelo torna-se quente e expansivo, ativando a mente e abrindo-a para novas Resultados e Discussão ideias. A cor amarela torna a pessoa mais sensível As cores exercem influência sobre as emoções e sen- à consciência e deixando-a mais alerta. Além disso, timentos. Podemos experimentar sensações de tris- auxilia também aqueles que possuem dificuldade teza, alegria ou apreensão. As mudanças emocionais para aprendizagem. Aplicado em passagens, corpodem desencadear- se de acordo com a associação redores e lugares onde existe pouca luz, o amarelo que fazemos com as cores, provocando também re- pode proporcionar uma sensação de maior espaço. ações espontâneas, não pensadas. Por isso, quando A cor amarela influencia o sistema nervoso simse usam cores certas o equilíbrio e a harmonia são pático e parassimpático, aumenta a pressão arterial, gradativamente restaurados. O objetivo do cuidado pulsação e respiração, tal como o vermelho, embora utilizando as cores no indivíduo e no meio ambiente de forma menos estável. A vivacidade, a alegria, o é a busca da harmonia das energias das cores nestes desprendimento e a leveza, estão relacionados à cor ambientes. É importante que o ambiente apresente- amarela. Produzindo relaxamento, desinibição, brise agradável a quem nele permanece. As cores con- lho, reflexibilidade, alegria espirituosa. Age como sideradas mais agradáveis pelos pacientes e pelos antidistônica, levando a um grau de equilíbrio enprofissionais que atuam em UTI foram o azul claro, tre o sistema nervoso simpático e parassimpático. o verde claro e o branco. Aumenta a pressão arterial, reduzindo a produção O verde é uma cor fria, aliviando e acalmando de ácidos graxos. O laranja é uma cor que também tanto física quanto mentalmente. Pode, primeira- aumenta o apetite, m mente, exercer um efeito benéfico, mas depois de as, induz o relaxamento e aumenta o potencial algum tempo torna-se fatigante. É a cor do ni- para o sono, ao diminuir a freqüência do fluxo santrogênio um dos componentes mais presentes na guíneo. Atualmente, nos hospitais percebe-se a Cromia
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necessidade de mudanças e preocupação em alegrar os ambientes. As cores possuem significados próprios de acordo com cada indivíduo, grupo, país e cultura, fazendo com que sejam relacionadas a sentimentos, comportamentos, ações, experiências, ambientes ou acontecimentos específicos de seu passado. Em decorrência disto, o cuidado através das cores é um processo individualizado, observando a necessidade de cada pessoa e as diferentes formas de reação às cores.
estar sendo ou não interpretado e significado pelo indivíduo. Tanto em um como em outro momento a cor pode ser um fator estressor. Pois ela pode estar agindo como um estímulo insistente sobre a pessoa causando estresse pela sua constância. Se considerarmos que as pessoas passam grande parte de suas vidas no ambiente de trabalho, os serviços de saúde também deveriam se preocupar com as questões relativas às cores e a estética deste local. Além disso, um ambiente agradável pode
Cada cor produz um efeito no ser humano, interferindo no físico e, dependendo do espectro, influenciando na mente e na emoção. Na área da saúde, a influência das cores no ambiente terapêutico já vem se configurando como uma preocupação. Os profissionais que se encontravam trabalhando e os pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva, referiram que as cores mais agradáveis e presentes neste ambiente eram o azul claro, o branco e o verde claro. Além das cores existentes, apontaram as cores amarelo claro, palha, cinza, rosa e goiaba como aquelas que também gostariam de estar em contato no ambiente da UTI. Cores como o preto e o vermelho foram consideradas, tanto por pacientes, quanto por profissionais, como desagradáveis e impróprias para a UTI. Além disso, alguns clientes referiram que a cor branca, usualmente utilizada nos serviços de saúde, torna-se desagradável dentro do ambiente de terapia intensiva. A cor é um evento que pode
amenizar sensações de dor, sofrimento, tristeza e preocupação, as quais acompanham a maioria dos clientes que necessitam permanecer internados nas unidades de assistência à saúde. Por fim, na Unidade de Terapia Intensiva as pessoas não são insensíveis às cores, profissionais e pacientes descrevem, segundo suas próprias percepções, as sensações transmitidas pelas cores neste ambiente. Os ambientes animados e inanimados estão unificados pelos campos de energias, estes são abertos fazendo com que haja troca entre eles. Sendo assim, especial atenção necessita ser voltada à aplicação de cores e suas diferentes tonalidades no setor da UTI, considerando, inclusive, que as cores com seus campos de onda, não somente decoram, mas também podem contribuir para o bem estar das pessoas que estão em contato com este ambiente.
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Publicado originalmente em www.ee.usp.br/reeusp/
A cor e a
ilustração
Por Manoel Ricardo
Já se sabe que as cores são fortes elementos para construção de peças de design e produtos industrializados. Seu potencial de influência na mente humana é motivo de fascínio para designers e pintores. Mas e na ilustração editorial, como o profissional deve encarar as cores? Como expandir sua função de ilustrar, utilizando-se da força de uma paleta? Como sair do papel e entrar no cérebro do leitor, seduzindo-o com controle cromático?
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ia normal no estúdio de ilustração. Depois dos trâmites burocráticos a editora/agência envia o texto da matéria a ser ilustrada. É para uma publicação bem direcionada, com um público específico. O texto é bem escrito, e estimula a mente do ilustrador. Ele está de posse do layout da página e, após uma navegada na internet, está contextualizado no assunto que receberá seu traço, sua arte. E agora? Fundamental para o ilustrador compreender os elementos que ele deve transmitir em uma ilustração. São mensagens captadas pelo leitor, muitas vezes subconscientemente. A cor é parte integrante desta mensagem. A aura emanada pela ilustração é impregnada de significado. Se essa aura, esse clima, não for condizente com a mensagem, há ruído na comunicação, e o ilustrador não cumpriu seu papel de colaborar com o conteúdo escrito e acrescentar a este. A predominância cromática, e a relação entre as cores presentes na imagem situam o leitor em um determinado estado psicológico (veja box), essencial na relação colaborativa entre escritor, ilustrador e leitor. A partir do conhecimento básico do poder psicológico das cores, sua força para invocar a sinestesia, misturando outros sentidos do leitor/observador com a visão, o ilustrador seleciona sua paleta de cores. A paleta é a delimitação cromática prévia, que contextualiza a iluminação e toda ambientação
da ilustração, e por conseqüência, do texto que a envolve. Por isso o link entre texto e paleta é primordial. Uma paleta vasta e saturada invoca um clima brincalhão e cartunesco, perfeito para publicações jovens e infantis, cheias de cartuns brilhantes, falantes e divertidos. Uma paleta mais ocre, menos saturada, abusando dos cinzas cromáticos (cores quase sem saturação), pode ser ideal pra invocar um
Exemplo de composição complementar. Uma tonalidade enfatiza a outra.
clima sujo, ameaçador e grave naquela reportagem especial sobre a Segunda Grande Guerra Mundial. Uma paleta azulada, com bastante preto e um grande contraste, sempre com luz e sombra bem delimitados, pode ser ideal para invocar a sensação de desamparo ao andar na cidade escura, na página daquela crônica de suspense estilo Allan Poe. Para formatar uma paleta, convém ter o máximo possível de conhecimento teórico. Desde como funciona a interação entre as cores, até o funcionamento biológico do olho humano e suas estruturas. Uma leitura muito útil ao artista que vai colorir é “Teoria das Cores” de Goethe, considerado um dos maiores pensadores da humanidade, e que mexeu severamente com a teoria ótica de Newton. Parte de sua teoria explica a divisão dos espectros da luz
branca ao passar por um prisma, e também disseca uma função do cérebro que ele chama de “Constância da cor”, que explica que em diferentes estados de iluminação o cérebro interpreta a cor que o olho vê a partir de um banco de memórias com aquela cor, ou seja, o que o cérebro entende não é o que o olho vê. Existem muitos tipos de paleta, cada qual organizada segundo uma lógica organizacional cromática, utilidade e função diferentes. Dentre as principais, podemos destacar a monocromática, a harmoniosa ou de cores análogas, e a paleta de cores complementares. Um esquema de cor de monocromia é uma única cor (primária, secundária ou terceária) e suas variações em termos de tons, contraste e saturação. Usar essa combinação de cores é quase sempre bom, só deve se tomar muito cuidado para tornar sua composição monótona. Usar a monocromia combinada com preto e branco pode ser eficiente. Neste caso, na falta de cores o contraste se torna ainda mais importante. O esquema cromático harmônico ou análogo é formado por cores vizinhas no círculo cromático. Gera um resultado suave e sóbrio como o monocromático, mas com uma riqueza maior, intensificando a expressão da tonalidade. A composição complementar é formada por cores opostas no círculo cromático. Neste caso nunca uma cor primária entra
na construção da cor secundária complementar. A mistura de duas cores complementares resulta no cinza médio, cor do descanso visual, cor neutra. A paleta complementar é uma escolha pouco mais complicada, mas quando bem utilizada gera bastante destaque e prende a atenção do leitor. É usada tradicionalmente pra enfatizar a relação quente-frio das cores. Outra coisa a se considerar ao escolher as cores de uma ilustração é o tipo de cor que será utilizada, e isso tem relação direta com o suporte da arte em sua forma final. Muitos artistas e ilustradores na atualidade tem como finalidade a internet, onde as imagens são formadas por luzes e pixels, enquanto outros trabalham no ou para o meio tradicional, ou seja: tintas e tela ou papel. Isso diferencia na escolha dos pigmentos porque existem duas origens diferentes na formação e combinação destes: a cor luz, e a cor tinta. A cor-luz é formada por três cores: vermelho (R), verde (G) e azul (B). Esse é o padrão RGB dos nossos monitores de computador. A cor-tinta é formada por outras três: ciano (C), magenta (M) e amarelo (Y). Esse padrão, somado ao preto (K), é o padrão de composição da impressão gráfica: CMYK. A diferença maior das duas formas de formação das cores está que a cor-luz é aditiva, ou seja,
a junção das 3 cores RGB formam o branco. Já se juntarmos as 3 cores CMY, obteremos o preto, ou seja, são subtrativas. Hoje com as facilidades digitais, muitos ilustradores trabalham exclusivamente no computador e estão satisfeitos com isso, obtendo resultados às vezes tão orgânicos que podem enganar olhos menos atentos. No entanto, está comprovado que o artista que melhor domina a arte no plano tradicional são mais habilidosos na hora de misturar as tintas e obter resultados interessantes. São esses que mais se destacam quando migram para o plano digital. Por isso recentemente artistas digitais estão buscando
treinamento no plano tradicional para evoluírem seu trabalho. Algo que aparentemente não tem relação se mostra eficaz para o desenvolvimento da sensibilidade do ilustrador. OK, você agora tem todo esse conhecimento na manga, mas será que está trabalhando onde e como deveria? Existem muitos nichos e formas de trabalho para alguém com dotes artísticos e pretensões econômicas igualmente avançadas. Você pode trabalhar em jornal, ilustrar livros e revistas. Também pode ser um artista tradicional e trabalhar com guache, aquarela, acrílica... Pode ilustrar com massinha de modelar, colagem, com modelagem 3D digital... Pode também ser um colorista de quadrinhos! No mercado estado-unidense eles tem bastante serviço com os super-seres saradões. A idéia é achar o trabalho que mais lhe apetece, pois em qualquer uma das situações são válidas as dicas e conhecimentos citados sobre o vasto mundo das cores e a força que exercem sobre nós. Um ilustrador habilidoso usa todas essas funções a seu favor para arrebatar o leitor e observador para mais perto do texto e de toda mensagem que necessita ser passada. Juntamente com o escritor, lançar o leitor num mundo diferente, alçá-lo do chão para dentro de sua própria imaginação. A ilustração é um portal onírico através do papel.
Artigo
Sinfonia das Cores TRABALHANDO O EQUILÍBRIO E A HARMONIA CROMÁTICA NA WEB Basicamente, uma orquestra é composta por quatro famílias de instrumentos: cordas, madeiras, metais e percussão. A responsabilidade de criar uma harmonia e uma unidade na formação da sinfonia de sons emitidos por esses diferentes naipes está presente na figura do maestro. Para se ter uma idéia de sua importância dentro de uma orquestra, o site da “Petrobras Sinfônica” assim define sua função: “Com o tempo e a evolução da escrita musical, que foi ficando mais complicada e pedindo por orquestras maiores, surgiu a figura do maestro, a garantia de que todos tocariam ao mesmo tempo, no mesmo ritmo e, ainda por cima, com equilíbrio... É o maestro que, após um estudo cuidadoso da partitura, decide como determinada música deve ser tocada”. Trazendo esta realidade para o mundo do design, podemos dizer que, em determinado momento do processo de produção, o designer se torna uma espécie de maestro, ou seja, é ele quem vai determinar o equilíbrio e a harmonia na hora de criar uma combinação cromática de um layout. “Quando se desenvolve um layout deve-se levar em consideração conceitos concretos e abstratos de uma paleta de cores. Cores são resultados de uma sintaxe inerente à visão. Saturação, contrastes, luminosidade e gama são resultados concretos da nossa percepção, são valores matemáticos e, portanto, universais. Conceitos abstratos se referem aos significados da cor (isolada ou associada a outras). Uma cor pode ser interpretada de maneiras diferentes e sua semântica sempre dependerá dos valores culturais, políticos e religiosos do observador”, diz Lucas Hirata, designer da Globo.com. “Esse é um aprendizado resultante da observação contínua e cuidadosa da natureza, da cultura material de diferentes povos em momentos distintos de suas existências, dos movimentos artísticos e seus expoentes em culturas diferenciadas, dos livros, dos impressos efêmeros. Eu insistiria em observar que a cor não é plana, que ela se constitui em matéria sensível, palpável através do olhar e que tudo isto reunido, estrutura um corpo de informação que pode ser associado a um conhecimento técnico sobre a constituição física material ou virtual
Sete diretrizes para utilização de cores 1) Estética (harmonia, equilíbrio, contraste, intensidade, variabilidade) 2) Visibilidade, legibilidade e saturação de leitura (conforto visual) 3) Organização e usabilidade (como ajudar o usuário a navegar no site, direcionar a sua leitura, identificar unidades partes, seções etc.) 4) Identidade (como se diferenciar e ser reconhecido por meio das cores) 5) Repertório simbólico (a carga simbólica que pode ser incorporada às cores, naquele determinado contexto de uso e do repertório do usuário que se pretende atingir). 6) Informação (como a cor pode contribuir para conduzira informação). Fonte: Luciano Guimarães
Sites com cores bem aplicadas Como exemplo prático dos assuntos abordados nesta reportagem, apresentamos alguns exemplos de sites com uma boa combinação cromática.
Bauhaus
www.bauhaus.de
Dreamline
www.dreamline.nu
Globoesporte.com
www.globoesporte.com
Havaianas
www.havaianas.com
Photosynthesis
www.photosynt.net
Veja São Paulo
www.vejinha.com.br
ZDF
www.zdf.de
Wim Wenders
www.wim-wenders.com
Ñintendo
www.naointendo.com
da cor. Seria apropriado dizer, como Merleau Ponty, que ‘o mundo é o que vemos e que, contudo, precisamos aprender a vê-lo”, completa Silvia Steinberg, professora da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), vinculada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Nesta reportagem, você poderá conferir quais são os aspectos que determinam o andamento e o ritmo da sinfonia de cores em projetos digitais. COMO FUNCIONAM AS CORES NA WEB No livro “Ergonomia do objeto”, o professor João Gomes Filho ressalta que “qualquer trabalho ou leitura realizado no monitor (logicamente dependendo do menor ou maior tempo gasto visualizando a tela) representa esforço e cansaço físico e, fundamentalmente, cansaço visual para o usuário-leitor”. Assim, este será um dos principais desafios quando falamos de composição cromática de um site, pois o objetivo é evitar que o usuário considere as cores como um obstáculo para o seu período de experiência. “Existe um ponto fundamental na afirmação do João Gomes Filho, que é relacionado à tecnologia. Ler na tela ainda não é tão confortável para os usuários como ler em material impresso. Isso acontece por diferenças como luminosidade e resolução e provavelmente será resolvido com o avanço da tecnologia”, explica Felipe Memória, designer da Globo.com. Segundo o especialista, outra questão fundamental é o cuidado com determinadas combinações, que podem prejudicar ainda mais o desconforto de leitura na tela. “Designers adoram usar fundo e texto com uma pequena variação de contraste. Quem já não teve que selecionar um texto no browser para conseguir lê-lo? Combinações específicas também podem causar a sensação de que o texto está ‘vibrando’, o que causa um grande desconforto ao olhar. Um contraste alto demais, em geral, é pouco agradável. O contraste muito baixo pode até ficar bonito, mas potencializa as rugas nas testas dos usuários. Importante é saber combinar as cores de forma a fazer com que isso não seja um obstáculo para o consumo do conteúdo e para a experiência como um todo. Os problemas de contraste podem fazer com que o usuário deixe de se preocupar com o que realmente interessa para se preocupar com pequenos problemas que não deveriam ser um empecilho. O desleixo no projeto pode gerar, no final do processo, uma lembrança para o usuário de que aquele site lhe deu muito trabalho. E as pessoas não gostam de ter trabalho”. Ainda sobre o cansaço visual, Luciano Guimarães, professor do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ressalta que essa é uma questão de óptica. “Na arquitetura de um projeto digital, devemos projetar qual o tempo mínimo e máximo de retenção do olhar em cada página e até mesmo em cada elemento visual da página.
É possível até mesmo trabalhar com combinações mais agressivas para o olhar, ou com um excesso de matizes semelhantes, desde que a aplicação se dê em uma tela de passagem, ou que tenha a intenção de provocar um determinado efeito (informacional). Deveríamos ainda considerar qual é a tolerância do usuário para aquela informação, segundo seu próprio repertório, envolvimento com o tema, preferências estéticas etc. O rosa para uma garotinha de oito anos de idade é muito mais tolerado, mesmo em excesso, porque está dentro da sua expectativa e de seu repertório de preferência. O vermelho para o apaixonado torcedor gremista, por outro lado, é cor muito pouco tolerada, se estiver em excesso, e assim por diante. Escolher cores para um projeto de comunicação é, portanto, entrar no universo do repertório do outro, e não de si. Um ponto que pode facilitar o trabalho do designer está presente nas técnicas utilizadas dentro da edição jornalística. “Qual o ponto de atração principal para aquela página? Um link? Uma imagem? Um título? Deve-se usar um critério de edição bem apurado para não se errar no uso das cores. Os critérios usados em edição no jornalismo deveriam ser estudados por qualquer designer. Eles só acrescentam e ajudam na maneira de fazer o internauta andar e olhar sites, mesmo sem nenhum texto”, diz Márcia Okida, professora e coordenadora do curso de design de multimeios da Universidade Santa Cecília (UNISANTA). Além disso, os especialistas indicam um profundo conhecimento sobre a teoria dos contrastes. “Ou seja, como as cores se comportam lado-a-lado. Isso está relacionado à forma como nossos olhos captam os sinais luminosos, ou seja, à nossa percepção visual. No caso das imagens vistas na tela do computador, isso se torna ainda mais importante, pois nossos olhos estão recebendo luz direta, e não luz refletida, como nos trabalhos impressos. A escolha das cores que participam de uma interface relaciona-se principalmente à sensação que você quer provocar no usuário: impacto, energia, tranqüilidade, profissionalismo, tecnologia, suavidade, dinamismo, limpeza visual etc. A partir do briefing do projeto e também do perfil do público-alvo, o designer poderá experimentar composições de co-
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res que não fujam à mensagem primordial do site”, argumenta Lilian Ried, diretora do estúdio Lix Design (www.lixdesign.com) e fundadora do Universo da Cor (www.universodacor.com.br). NO DIVÃ: A PSICOLOGIA DAS CORES A psicologia das cores aborda as possíveis sensações e reações provocadas pelas combinações cromáticas utilizadas dentro de um projeto. Pensando nisso, como esta teoria deve ser aplicada em um site? Para Helena Sordili, sócia da Carranca Design (www. carranca.com.br) e professora do curso de Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi, a resposta é que precisamos ter muita cautela para evitar que o processo criativo fique engessado. “A psicologia das cores existe para tudo: moda, embalagens, ambientes, internet etc. Mas devemos ter cuidado para isso não virar uma camisa de força para o projeto. Essas regras valem ouro, mas cabe ao designer utilizar isso de forma criativa. Por exemplo: em um site de alimentos, teoricamente deveríamos utilizar amarelo, laranja e vermelho. Porém, nem sempre essas cores formam uma paleta harmônica com as cores institucionais da marca. Além disso, o amarelo ‘grita’ na tela do computador. Há um tempo, o site do McDonald’s, por exemplo, usava o amarelo da marca (do M, em especial) em toda a área do menu. Hoje, eles usam um amarelo mais ‘calmo’ no fundo da área de conteúdo e o menu é vermelho. Ou seja, usam as cores institucionais, mas não sempre com a máxima saturação: trabalham a escolha sem deixar de lado a paleta principal da marca. Inclusive, o site antigo usava uma composição basicamente com cores primárias que são, classicamente, associadas às crianças”, afirma. A professora Silvia Steinberg lembra ainda que, quando a teoria foi elaborada, o mundo não estava na era digital e não existia a “imagem virtual” tal como hoje a concebemos. “As novas gerações estão familiarizadas com cores, efeitos e sensações que não foram contempladas por esses estudos. Isto não significa que valores e significados tradicionalmente atribuídos a determinados códigos cromáticos devam ser desprezados.
NA PRÁTICA: DEFININDO UMA PALETA DE CORES Entendidos os argumentos teóricos que fundamentam as bases para se garantir uma boa combinação cromática de um projeto, agora é a hora de conhecermos quais são as principais etapas envolvidas na criação de uma paleta de cores de um site e as ferramentas que podem ser utilizadas. “A primeira etapa é confirmar se a paleta de cor deve obedecer aos códigos de cor do produto: se é possível transgredir as cores estabelecidas ou se as cores institucionais básicas devem ser mantidas. Obedecendo a essa premissa, normalmente começo sempre partindo de uma cor principal e crio variações da mesma em outros níveis de brilho. Estabeleço variações em outras gamas, mantendo a saturação da cor matricial. Faço essas experimentações com simples quadrados e vejo como funcionam as relações entre as cores. É bom lembrar que até mesmo as dimensões dos quadrados afetam a percepção final. Feito isso, documento os hexas e crio uma família de swatches no Photoshop. Assim, posso compartilhá-la quando desenvolvo trabalho em grupo e evito problemas de inconsistência entre os arquivos. Alguns sites podem ser ferramentas on-line bem práticas. Vale o clique: www.colorblender.com e www.degraeve. com/color-palette”, revela Lucas Hirata. USABILIDADE DA COR Na edição de outubro de 2004, o professor Carlos Bahiana apontava que “cada cor é uma voz e a interface deve funcionar como um coral”. Assim, a composição cromática se torna parte fundamental nos processos para a definição de uma boa arqui-
tetura da informação e para garantirmos a usabilidade de um projeto digital. “Usando essa mesma figura de linguagem que ele usou, uma cor no local errado pode desafinar toda a orquestra da usabilidade e da arquitetura da informação. Isso já acontece se não prestamos atenção na ‘edição’ em um cartaz ou revista. Na web, então, é mais complicado! Uma cor errada pode levar a pessoa a entrar em um link que não seria o principal, o desejado por quem construiu o site. Devemos ter um critério de edição de prioridades de navegação e atribuir valores, escala cromáticas de acordo com essas prioridades. Dessa forma, a função de uma composição cromática é atuar como um facilitador para que as diferentes áreas da tela sejam percebidas da forma como foram projetadas. “As cores exercem papel extremamente importante na organização de uma interface. Por mais que um wireframe seja bem projetado, se as cores não seguirem a lógica de hierarquização e separação dos elementos projetada na arquitetura, o trabalho fica comprometido. Além disso, deve-se tomar cuidado para que as cores façam sentido para o usuário. O uso de verde e vermelho é um bom exemplo disso. O verde é, dentre outras características, associado a conceitos como ‘prosseguir’ e ‘permitido’, enquanto que o vermelho é, muitas vezes, associado a idéias como ‘proibido’, ‘pare’, ‘erro’ etc. A escolha de cores para determinados elementos não deve ir de encontro ao modelo mental dos usuários. Portanto, o uso de, por exemplo, verde para mensagens de erro e vermelho para mensagens de sucesso pode, num primeiro momento, atrapalhar o entendimento da mensagem por parte do usuário”, argumenta Felipe Memória.
Biblioteca das cores A cor como informação Autor: Luciano Guimarães Editora: Anna Blume
As cores na mídia Autor: Luciano Guimarães Editora: Anna Blume
Da cor à cor inexistente Autor: Israel Pedrosa Editora: Léo Christiano Editorial
A cor no processo criativo Autora: Lilian Ried Miller Editora: Senac
Como combinar e escolher cores para o design gráfico Autor: Nick Clark Editora: Gustavo Gili
Design e comunicação visual Autor: Bruno Munari Editora: Martins Fontes
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Profissional
Escala Pantone Você conhece tudo sobre ela?
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xiste ainda um grande equívoco no mercado ao associar Pantone à escala Pantone Color Formula Guide. Geralmente ocorrem referências a escala Pantone para múltiplas finalidades e diversidade de cores o que é um grande erro e pode causar prejuízos aos desavisados. Pantone é uma marca americana com mais de 40 anos e que é responsável pela geração de uma série de produtos, cada qual voltado para uma área/atividade específica, cobrindo as áreas gráficas, têxteis, plásticas, de serigrafia e sinalização, borrachas, web, calibração de monitores e impressoras e identificação de cores. Mas por que a Pantone tornouse sinônimo de cor? Simples, há mais de quarenta anos a indústria americana de tintas Pantone desenvolveu um sistema numérico de cores de tintas e conseguiu manter uma alta regularidade e padrão na produção destas. Assim, sem nomes regionais ou de aplicação restrita, tornou-se muito mais confiável falar-se em números, que, não são ou estão sujeitos a subjetividade humana do que em nomes, os quais variam e denominam diferentes coisas de lugar para lugar. São basicamente dois os tipos de produtos desenvolvidos pela empresa, sem contarmos os softwares e equipamentos: os leques ou escalas e as amostras destacáveis. Os leques/escalas são guias de referência rápida que trazem o número da cor e como obtê-la, tendo como grande diferencial sua portabilidade e fácil manuseio. Já as amostras destacáveis são derivadas destas escalas e tem por objetivo a comunicação precisa e inequívoca da cor bem como a montagem da identificação visual da empresa/
cliente. É importante lembrar que estes produtos, além de serem guias práticos para formulação e obtenção de cores são utilizados, na grande maioria das vezes, como referência em áreas anexas e correlatas a outras que a utilização de forma direta. Uma vez de posse da escala e do número, o fornecedor pode identificar corretamente a cor e desenvolver mecanismos para obtê-la. Entretanto, muitas vezes o processo ocorre de forma equivocada e inversa, onde o usuário desenvolve seu trabalho no computador e lá escolhe a cor desejada, sem levar em conta que, o que está sendo visualizado são luzes cuja gama de possibilidade é infinitamente maior do que as possibilidades de impressão gráfica. Muitas vezes, com seus monitores e impressoras descalibrados, ao apresentar e vender sua ideia ao cliente mostrando-a
no monitor ou impressa através destas impressoras, estes profissionais irão se deparar com um resultado nada agradável, pois irão se utilizar da numeração Pantone obtida no software usado, da referência do monitor ou impressora descalibrados, e de gráficas que muitas vezes não utilizam tintas de qualidade para imprimir seus trabalhos. O final da história todos conhecemos: insatisfação geral - trabalhos devolvidos, prejuízos para todos e adjetivos ou qualificações desfavoráveis. Para uma correta utilização dos produtos Pantone, tanto criadores, gráficos, designers, engenheiros de produtos e outros, devem primeiramente escolher a cor que desejam em suas escalas atualizadas. Uma vez escolhida, a cor deve ser aplicada e tratada independente do resultado visualizado na tela ou na impressora de “escritório”. Ao se mandar o trabalho para o fotolito ou diretamente para a gráfica, informe a cor utilizada ou os valores CMYK que deseja obter. Assim, quando o profissional precisar de uma cor, primeiro ele vai identificar qual o processo de impressão e/ou a finalidade desta cor no seu processo criativo. Alie-se a todas estas variáveis anteriores o fato de a grande ou quase totalidade dos usuários desconhecerem que os produtos têm validade e durabilidade limitada por se tratar de um bem de consumo. Com o passar do tempo o suporte (geralmente papel) e o pigmento da tinta sofrem a ação do tempo (calor, umidade, exposição à luz, etc) e do próprio manuseio, que arranha as cores e sofre ação do Ph/acidez de nossa pele, entre muitas outras variáveis. Por isso, é recomendado que a substituição das escalas/produtos seja realizada a cada seis meses ou um ano, isto garante a qualidade e confiabilidade das cores. Anualmente, a empresa também coloca a disposição do mercado duas versões das escalas e, em muitas delas, novas cores são acrescentadas. É importante sempre ficar atento ao 22
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fato de adquirir novas cores padronizadas, pois os clientes estão cada vez mais buscando inovações e cores diferenciadas para seus produtos. Verifique também, no alto da primeira página dos produtos, o ano de fabricação e validade. Quando comprar uma escala Pantone por exemplo, tenha em mente que a data de fabricação deve ser verificada e nunca diferente do ano em curso, ao contrário, pode se tratar de um produto desatualizado ou que validade já expirou, diminuindo assim sua vida útil.
A Pantone trata seus produtos de forma separada em função da atividade, tipo de impressão e finalidade. odutos acima, existe um livro de capa dura onde são apresentadas as amostras destacáveis para envio a clientes e fornecedores, a fim de garantir uma comunicação perfeita e correta das cores. (exceção para as escalas Metallic e Pastel). Há ainda o sistema têxtil, atualmente chamado Fashion & Home, que é utilizado como referência básica para estilistas e para o mundo da moda.