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O PAPEL DE QUEM ESCREVE...
from Revista Leia
by Revista Leia
Este frio tem aproximado ainda mais meu pensamento para as obras assistenciais de Cachoeiro. Marilene, por exemplo, doou a receita de seu recém-lançado livro – “Abraçando a vida” – para o Lar João XXIII. Tive a honra em prefaciá-lo. Afinal, são crônicas que interferem com limpidez e de forma contundente no dia a dia. Ela tenta empurrar com suas próprias mãos e ideias corajosas nossos estreitos horizontes e, com isso, também devassa mil lembranças. Busca, com cuidado, descobrir por onde começar a reparação do elo civilizatório básico — aquele que permite a fruição plena do ciclo humano, da infância à velhice. Diria mais: tudo isso de forma franca, objetiva e simples. E a escolha do Lar João XXIII é, sobretudo, adequada e necessária.
Mostra nas crônicas que, para ela – se me permite dizer – é mais importante defender princípios do que atacar pessoas, se bem que nunca hesitasse em não poupar essas últimas para preservação das primeiras. Lembrei-me de Hannah Arend – vou citar de cor, me perdoem omissões ou erros –: “mesmo se não há nenhuma verdade, o homem e a mulher podem ser veraz, mesmo se não há nenhuma certeza confiável, podem ser confiáveis”.
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Disse mais. Disse que Marilene sabe que os escritores e as escritoras não podem se eximir das obrigações difíceis. Hoje já não podem placidamente colocar-se a serviço daqueles que fazem a história: estão a serviço dos que sofrem. Duas responsabilidades enaltecem seu mister: o serviço da verdade e aquele da liberdade. Suas crônicas mostram isso. Se trata da antiga promessa de fidelidade que todo verdadeiro artista faz a si mesmo, em silêncio, a cada dia.
Digo mais, caro leitor e querida leitora, cada crônica que li e reli, sem enigmas, me fizeram surgir novos fachos de luz, novos parceiros em busca do que desejamos. Senti que em nome da felicidade e da autenticidade as pessoas se sentem autorizadas a confessar tudo o que sentem ou pensam, pouco importa que decorra da confissão. O livro tem duplo vantagem: desfrutar de uma leitura suave e adequada e dar um apoio ao Lar João XIII.