Lua Nova do Penar por Vladimir Carvalho

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Este documentário se inscreve entre os melhores filmes que no momento presente se dedicam à memória das vítimas e desaparecidos da ditadura militar.

Lua Nova do Penar Por Vladimir Carvalho*

Bem recebido pelo circuito dos festivais de cinema, Lua Nova do Penar, de Leila Jinkings, é lançado agora em DVD para a acolhida daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de apreciar as suas qualidades. Calcado em rigorosa pesquisa, este documentário traça, em linhas contundentes, um afetuoso perfil de Hiram de Lima Pereira, militante comunista de forte atuação no Nordeste e em São Paulo como membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro. Preso, torturado e morto nos cárceres da ditadura militar, Hiram era uma dessas criaturas humanas dotadas de intenso carisma, mas de uma simplicidade a toda prova, que logo cativava as pessoas e os seus companheiros de luta. Jornalista, poeta e ator teatral, de proverbial alegria de viver, era de fato exemplar por conta da convicção, otimismo e confiança na causa que abraçara. Pai e esposo amoroso, ele deixou para os seus familiares um legado de dedicação, zelo e ternura, e são essas características que saltam aos olhos dos espectadores ao serem lembradas neste sensível e, sobretudo, comovente média metragem. Desde a cena inicial, o filme diz a que veio, com o pequeno neto de Hiram escrevendo e lendo o seu dever de casa, “recordando” com toda inocência o avô que sumiu. Jinkings não podia ser mais feliz em sua empreitada ao eleger uma abordagem que cai como uma luva sobre o seu assunto. Especialmente ao dar espaço e predominância a uma espécie de conversa informal entre as filhas de Hiram, cada qual puxando o fio de uma terna narrativa impregnada de justa emoção, porém sem jamais cair no martirológio que, muitas vezes, pelo excesso descambam para o grotesco. E isso não é raro de acontecer em filmes que se ocupam de histórias semelhantes. Tudo transcorre num ambiente e clima familiar, entre fotos, recortes e peças de arquivo, como se as filhas folheassem um álbum de família onde se recordam os fatos e acontecimentos que envolveram a vida e atuação política de Hiram, mas também os doces momentos no convívio com pai, desde a tenra idade delas até as culminâncias


da vida do militante com o seu trágico desaparecimento. Nessa atmosfera não falta sequer um clássico piano em que uma das senhoras dedilha uma valsa composta em dupla por seus genitores. Entretanto, comparecem, cruciais de amigos e camaradas

também, em diferentes ambientes, depoimentos que foram solidários desde a primeira hora de

atribulações desse ilustre nordestino, como foi o caso de um Ariano Suassuna, notório católico, que, em gesto magnânimo, acolheu e escondeu o comunista em sua casa, nos tenebrosos idos de 1964, ocasião em que ele era ferozmente caçado pela repressão. Com um time conciso e uma edição que contempla a síntese, este documentário se inscreve entre os melhores filmes que no momento presente se dedicam à memória das vítimas e desaparecidos da brutal ditadura militar, que tanto maculou a nossa história. * Documentarista autor de O País de São Saruê, Conterrâneos Velhos de Guerra, Barra 68, entre outros. Texto destacado: “Desde a cena inicial, o filme diz a que veio, com o pequeno neto de Hiram escrevendo e lendo o seu dever de casa, “recordando” com toda inocência o avô que sumiu. Jinkings não podia ser mais feliz em sua empreitada ao eleger uma abordagem que cai como uma luva sobre o seu assunto. Especialmente ao dar espaço e predominância a uma espécie de conversa informal entre as filhas de Hiram, cada qual puxando o fio de uma terna narrativa impregnada de justa emoção, porém sem jamais cair no martirológio que, muitas vezes, pelo excesso descambam para o grotesco. E isso não é raro de acontecer em filmes que se ocupam de histórias semelhantes. (...) Com um time conciso e uma edição que contempla a síntese, este documentário se inscreve entre os melhores filmes que no momento presente se dedicam à memória das vítimas e desaparecidos da brutal ditadura militar, que tanto maculou a nossa história.” Vladimir Carvalho, documentarista (O País de São Saruê, Barra 68 e outros)


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