Somos o que somos, mas nem sempre

Page 1

1a edição São Paulo Somos2020o que somos Edith FernandoIlustraçõesChacondePires

COPYRIGHT DESTA EDIÇÃO LEITURA E ARTE EDITORA CNPJ:19.119.918/0001-82 - I.E.:142.966.846.112 End.: Rua Claúdio Soares, 72 – 9º andar, conj. 912 – Pinheiros Fone: (11) 4890-2216 CEP: 05422-030 – São Paulo – SP Todos os direitos reservados Revisão: Marcus Facciollo Projeto Gráfico: Fernando Pires Capa: Fernando Pires e Leitura e Arte Diagramação: Paula Andrea Zúñiga Muñoz Impresso na Assahi Gráfica

A meu pai e a todos os contadores e encantadores de Edithhistórias.Chacon

6

7 T odo fim de tarde, ela e sua família saíam em busca de alimento. Todo dia, a mesma rotina, a mesma sinfonia. Manobras arriscadas. Flap! Flap! Flap! BZZZZZZZZZZZ... Zum, zum, zum. Escapa daqui. Foge de lá. Um tapa aqui. Uma travesseirada acolá. Tum! Tum! Plac! Plac! Ufa! Dessa vez, ela escapou por pouco. Ah!Avidanãoénadafácil!, pensava ela com suas antenas ligadas sonhando outras aventuras, outros tipos de voos. Todos ficavam satisfeitos. Menos ela.

MenosPernilongosBorboletasPássarosPirilamposHoraOCOCOROCOCÓÓÓ!!!seguinte...Solboceja.deacordar.vãorepousar.voar.sassaricar.vãodescansar.ela.

No dia

O jardim parecia uma festa. Todos se divertiam. Menos ela. Escondidinha entre as folhagens, bisbilhotava o bailado das abelhas desejando ser uma delas.

10 Até que um dia, ela aceitou o convite de Isabelha para dançar. dePulougalhoem galho, de flor em flor e resolveu se aventurar. Ousou e, num oexperimentouimpulso,néctartãodesejado. Nossa?! O que é isso?! Que sabor mais apetitoso! Que quitute mais gostoso! Quero mais!

Durante alguns dias, flertou com a novidade e começou a curtir aquela inexplicável sensação de liberdade!

ComoMas... dizer aos seus o que estava sentindo naquele momento?

13 Seus pensamentos iam e vinham. Voavam, fugiam, evoltavamquanto mais pensava, mais atordoada ficava.

Pouco a pouco, sua família percebeu que algo acontecia.

Inventava desculpas, ficava calada, quieta, e quando obrigada a sair com eles, nada lhe apetecia.

Ela não mais os acompanhava nos passeios noturnos.

Um dia, o senhor seu pai avistou Pernilonguinha dançando com as abelhas e cheirando... Cheirando, NÃO! Beijando uma flor! – Que horror! – esbravejou o seu pai. Batendo suas asas com força, puxou a filha pelas antenas e a arrastou para sua casa. Revoltado com a situação, culpou dona PernilOlga pela má educação e pelos mimos que fazia à filha dengosa.

No grito, o senhor Pernilongo lançou o veredito. – De agora em diante, ficará de castigo! Somente sairá acompanhada dos seus primos mosquitos. Nada de passeios entre as flores! Nada de amigos esquisitos!

Por quê? Por quê? Por quê?

Exaltado, esbravejava: – Você é um pernilongo fêmea! Tem que honrar sua origem e dar continuidade a sua espécie! Nada de doçura!

Por que não posso dançar com minhas amigas abelhas?

Sangue é o que você tem que sugar!

Entristecida e confusa ela matutava.

Por que não posso gostar tanto de mel quanto de sangue?

Por que não posso curtir as belezas da natureza, brincar com quem quiser, independente de quem sou?

Pernilonguinha conta-lhe o motivo do castigo.

Numa tarde, estranhando a ausência da amiga, Isabelha foi visitá-la e encontrou-a encolhida, choramingando no canto da dormideira.

Solidária, Isabelha também lhe faz algumas confidências e entre desabafos e cochichos, as duas planejam uma breve viagem.

19

Edith Chacon

Sou sim, sou não, sou talvez, mas nem sempre.

Sou tudo e não sou nada, mas nem sempre, porque é tão bom, às vezes, ser diferente.

34

Sou mãe, amiga, professora, escritora, bordadeira, mas nem sempre.

Sou sonhadora, curiosa, ansiosa, agitada, mas nem sempre.

Sou afetiva, guerreira, persistente, exigente, mas nem sempre.

Sou o que sou, mas nem sempre.

Quando era pequeno, eu vivia desenhando, fazendo projetos e montando coisas. Queria ser arquiteto depois que crescesse. Então cresci, virei arquiteto e desenhei casas e prédios para as pessoas viverem, trabalharem e sonharem.

Depois de um tempo, quis ser criança de novo para poder viver na fantasia e inventar histórias e personagens, então comecei a escrever e ilustrar livros para crianças. Daí, eu criancei. Eu acredito que a gente pode ser o que a gente quiser, mesmo sendo o que somos. Fernando Pires

35

Sou arquiteto, autor e ilustrador de livros para jovens e crianças.

Ela vivia intrigada, queria experimentar uma vida diferente, alçar outros voos não permitidos pelo seu pai. Até que um dia encontra Isabelha, também infeliz, desejando mudanças no itinerário já traçado pela sua família. Juntas, decidem buscar novos caminhos e percebem que não estão sós e como é rico estar aberto para novos desafios, mundos, pessoas. Sim, somos únicos, porém, plurais, e a diversidade entre as pessoas é que nos torna interessantes.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.