MANUEL ROBERTO ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 8389 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
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A Páscoa que se come
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013
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Um chefe demasiado by the book?
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Na ponta da língua Miguel Esteves Cardoso
Há coisas tão boas que já vêm temperadas pela natureza
ste ano os espargos apareceram cedo, logo no primeiro dia da Primavera. A época é tão curta que é quase um ano inteiro de saudades. A época é o tempo que leva, à justa, a matar todas as que tínhamos. Comemos os espargos numas migas deliciosas e depois com uns ovos mexidos. Outros restaurantes há que só os servem salteados. Felizmente temos um agricultor amigo que nos arranja espargos perfeitos. A melhor maneira de comê-los, apreciando as variações de textura e de sabor, é cozidos durante cinco minutos. São muito bons sozinhos — sem azeite ou manteiga. Nisso, são como os grelos: experimente-os sem azeite e vinagre e verá como são sumarentos. Se forem cozidos em água sem sal, ficam esplêndidos com umas gotas de azeite e uns cristais de flor de sal. Também é bom fazer uma pocinha de azeite e um montinho de flor de sal em locais estratégicos do prato e depois levar lá os troços de espargos que quiser temperar. Assim pode comer alguns só com sal e outros com azeite também. Ando um bocadinho zangado com a mania portuguesa de “saltear” tudo em azeite e alho: porquê fritar e encharcar de alho espinafres, grelos e espargos cozidos que não precisam de mais nada? Ou será que só se salteiam as hortaliças quando elas já foram cozidas há algum tempo e a urgência está mais em aproveitálos do que empertigá-los? Muitas vezes as verduras salteadas sabem a velho, alho chinês e azeite que não é virgem. O hábito de usar um azeite inferior para cozinhar e outro para servir à mesa está enraizado
L ANCHELES/JOHNÉR IMAGES/CORBIS
E
mas dá péssimos resultados. É por isso que, nos restaurantes, se devem pedir as verduras só cozidas. Se não estiverem impecáveis, pode devolvê-las à cozinha e pedir que sejam salteadas com azeite de mesa e um alho acabado de descascar e picar. Quando vier o Verão acontecerá o mesmo com as maçarocas de milho. Acabadas de apanhar são óptimas cozidas em água pouco salgada e depois comidas à mão, sem manteiga nem nada: basta uma linha de sal no prato, no caso de precisar. Toda a vida temperei (com azeite ou manteiga) grelos, espargos e maçarocas. Foi só no ano passado que descobri que, quando são apetitosas, não precisam de mais nada. Ainda esta semana comi, pela
primeira vez na vida, polvo cozido sem azeite. Foi a Maria João que me convenceu, levandome a pensar no polvo como um marisco. Soube-me muito bem. Só a polvo. Não precisava de saber também a azeite. Acontece o mesmo com a grande maioria dos peixes, cozidos e grelhados: quando são mesmo gordos e frescos, não precisam de azeite ou manteiga. Quem gosta de peixe não suporta peixe grelhado com manteiga mas há muitos peixes cozidos (ou assados no sal) que se devem provar antes de temperar. Ficará espantado com o número de vezes em que o peixe está melhor tal como está. Nós, os portugueses, puxamos, por automatismo, do azeite e do vinagre. Temperamos como quem
está a completar uma refeição de peixe. Se gostamos do sabor do azeite, porque não guardá-lo para o bacalhau, o único que passa mal sem ele? A mania de pôr azeite nas sardinhas nasce do facto de as comermos cedo de mais (em Junho e Julho) quando ainda não têm gordura própria. Mas quando elas se põem gordas, lá para meados de Agosto, e “pingam no pão”, é um crime misturar a gordura delas com a gordura da azeitona. Acontece o mesmo com o sashimi e o molho de soja, para nem falar do wasabi: quando os peixes são muito bons, frescos e bem cortados, as fatias devem comer-se sem soja. Temos em Portugal tantos bons azeites, de tantos estilos
Temos um agricultor amigo que nos arranja espargos perfeitos. A melhor maneira de comê-los, apreciando as variações de textura e de sabor, é cozidos durante cinco minutos. São muito bons sozinhos — sem azeite ou manteiga — não sendo os mais caros necessariamente os melhores — que são irresistíveis. Mas merecem maior realce. Molhar o pãozinho no azeite é enjoativo passada uma vez ou duas. Para fazer saltar bem as qualidades de um azeite não há nada como umas boas batatas cozidas. Só para concentrar a nossa atenção. Senão continuaremos a misturar as coisas todas: não só peixes bons com maus azeites como, quase tão desastrosamente, peixes bons com azeites bons, quando uns e outros mereciam ser apreciados separadamente. É assim que havemos de comer os primeiros molhos de espargos do ano: acompanhados apenas por outros espargos. Os azeites virão depois.
FICHA TÉCNICA Direcção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa e Luís J. Santos (Online) Edição fotográfica Miguel Madeira e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter, Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro e José Alves Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050-453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@pu bli co.pt . fugas.publico.pt Fugas n.º 671
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 3
Capa Gastronomia
A Páscoa doce (ou talvez não) de Norte a Sul do país
Os folares Valpaços: é alto e leva muitos ovos Rima com festa e nobreza de costumes e em Valpaços foi até recentemente adoptado como símbolo concelhio. O folar transmontano é a iguaria por excelência do período pascal, mas marca também presença na generalidade das festas do calendário religioso por toda a região. É na Páscoa, no entanto, que a sua confecção e consumo se generalizam, remetendo ainda hoje para épocas passadas em que a pobreza era um denominador comum às gentes da montanha. “O folar de Páscoa assume profundo significado simbólico nas comunidades transmontanas, outrora as famílias atacadas pela pobreza faziam grandes esforços no sentido de o apresentarem sobre a mesa quando o pároco visitava as suas casas para serem benzidas”, descreve Armando Fernandes no livro Comeres Bragançanos e Transmontanos. “Os folares podiam ser dominados pela avareza no emprego de carnes e ovos, no entanto, a tradição não era transgredida”, assegura o autor. É nesta vinculação a ocasiões de cerimónia ou celebração que os autores encontram a explicação para a tradição de um bolo de trigo em terras dominadas pelo cultivo e uso do centeio na confecção do pão. Além de mais fina, só as gentes de maiores posses tinham acesso à farinha de trigo, que usavam para momentos ou celebrações de especial significado. Era um luxo.
“A bola e ou o folar, como quiserem, acima do Marão festeja o santo padroeiro de toda e qualquer aldeia, mas é na Páscoa que atinge carácter obrigatório em todo o território”, diz Maria de Lourdes Modesto. Ao contrário do que acontece no resto do país, onde o folar é um bolo doce, acima do Douro leva recheio de carnes, mas entre bola e folar nem sempre a distinção é clara, dizendo-se que se levar ovos até ficar amarelo, então é porque é folar. Presunto, linguiças e carne de porco salgada não se dispensam, mas podem ter também galinha, coelho ou até pedacinhos de vitela, dependendo dos costumes locais que igualmente influenciam as formas. Há-os redondos ou rectangulares, uns mais altos outros baixos. Modesto não tem dúvidas: “O meu preferido é alto e leva muitos ovos, é o folar de Valpaços.” É feito em formas de barro, cada um na sua, que lhe concentram a untuosidade e conferem cheiro e sabor muito específicos. Leva oito ovos por cada quilo de massa, que passa por uma dupla levedação. A primeira na masseira e uma segunda, já com as carnes, no tabuleiro antes de ir ao forno. “Este é o folar tradicional”, explica José Doutel Coroado, responsável da autarquia pela Feira do Folar que decorreu no passado fim-de-semana.
Produto artesanal No concelho há cerca de duas dezenas de produtores artesanais, mas o folar é ainda um ritual de cada família, sendo rara a casa onde não existe forno para o efeito. Foi com o intuito de o divulgar que o técnico da autarquia colocou no YouTube
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um vídeo (“Dona Josefa faz o folar”), que gravou com a sua mãe e é um documento vivo sobre a tradição local. A receita é comum, mas cada folar é um só. Nenhum é igual ao outro, dependendo do forno, das mãos que compõem a massa ou das rezas para cada um. Uma arte que passa de geração para geração, normalmente entre mulheres. Entre as novas artesãs, está Cesaltina Caseiro, uma jovem enfermeira a quem o fecho do hospital local atirou para o desemprego e se ocupa agora com a tradição do folar. Na aldeia de Ervões há uma longa herança de padeiros e Titina, assim a tratam, não foge à regra, sendo neta de padeira. O forno está instalado nos fundos da moradia de família, em aposentos preparados para o efeito, com lareira e mesa comprida, recriando o ambiente de uma antiga cozinha tradicional. Ao lado, numa saleta dominada pela barriga do forno, está a masseira onde foi preparada a massa, que agora leveda à espera de se lhe juntarem as carnes. Um trabalho em conjunto com a sogra Célia e a tia-avó Estela, exemplificando a passagem do saber de geração para geração. O ambiente não está ainda suficientemente aquecido e há que esperar. “A massa é que manda”, diz Célia, enquanto ajusta um cobertor aquecido por cima da massa para acelerar o trabalho das leveduras. A preparação exige trabalho de braços. À farinha, junta-se um pouco de fermento e sal e vai-se batendo enquanto se junta água. Ganhando consistência, cava-se um buraco a meio onde são depositados os ovos previamente batidos e envolve-se a massa até ficar de novo consistente.
MANUEL ROBERTO
Haverá certamente outros ícones, mas Páscoa que é Páscoa tem folar, pão-de-ló e amêndoas. Cada região do país preserva as suas tradições e certamente não faltará quem diga ao vizinho “o meu pão-de-ló é melhor que o teu”. Margaride ou Alfeizerão? Tire a prova dos nove numa mesa perto de si. Alexandra Prado Coelho e José Augusto Moreira
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Cesaltina Caseiro, enfermeira desempregada, é uma das jovens artesãs que, na aldeia de Ervões, dá continuidade à tradição do folar. Em baixo, o folar da pastelaria Alcôa, em Alcobaça
ras, parecem ainda mais cativantes. Como por encanto, há familiares que começam a chegar, o patriarca abre uma garrafa de champanhe que acabara de trazer de França e percebe-se o ritual. Além das cores e aromas, também o sabor é único. São fofos, crocantes e de paladar macio e amanteigado. José Augusto Moreira
Alentejo: com erva doce e canela
O mesmo processo para se juntar o azeite, manteiga e banha, aquecidos e bem batidos mas sem deixar ferver.
Benzido e brunido Depois de levedar parte-se a massa em pedaços, que vão preencher cada um dos tabuleiros. A massa é estendida e sobre ela distribuídas as carnes (em pedacinhos) e depois enrolada e colocada nas assadeiras de barro rectangulares, onde volta a fermentar. É altura da benzedura e encomendação: “São Vicente te acrescente/ São Mamede te levede/ São João te faça pão/ Em louvor da virgem Maria/ Que Deus nos dê pão para cada dia.” “Cada uns têm a sua, esta é a nossa”, justifica Célia, explicando também que “não se deve lavar as mãos logo depois de amassar para não levar o
sabor com a água”. A nora apressa-se a meter lenha para acelerar o aquecimento do forno. “Tanto podem ser sarmentos, como giesta ou urze. Nós usamos sempre a giesta.” A temperatura subiu, a massa cresceu já para além das assadeiras e está na altura de a levar ao forno. Antes, porém, um último retoque de embelezamento. Batem-se mais uns ovos e os folares são “brunidos” à mão com toda a delicadeza. Não era melhor um pincel? “Tem que ser à mão para que não fiquem marcas”, riposta Estela. As brasas são concentradas à porta do forno, cujo interior é cuidadosamente varrido com uma vassoura de giestas. Uma a uma, as duas dezenas de assadeiras são arrumadas no fundo do forno com a ajuda de uma pá em ferro e longo cabo de madeira
habilmente manejada com um ritual de gestos rápidos e seguros. A mesma mestria na colocação das folhas de papel que vão cobrir cada um dos folares, que Titina diz ser “para que não tostem demasiado e fiquem bonitos”. A cozedura dura cerca de uma hora, de porta aberta para não atingir temperaturas demasiado elevadas. Só na parte final é que é colocada a porta no forno, com alguma brasa dentro, para dar o tostado final e já sem a cobertura dos papéis. Só quando é retirada a porta e os folares luzem como barras de ouro no fundo do forno é que Titina respira de alívio. O aspecto é realmente arrebatador, mas os aromas, quentes e doces, que se desprendem à medida que são cuidadosamente retirados das assadei-
Faltam ainda algumas semanas para a Páscoa mas na Herdade da Malhadinha, no Alentejo, já Vitalina Santos amassa os folares e coloca os ovos cozidos para os levar a cozer no forno de lenha. A massa é doce, com o sabor muito característico a ervadoce e canela. Vitalina separa-a em bolas, que esborracha ligeiramente, para colocar o ovo cozido que depois cobre com tiras da mesma massa. Esta é a receita de folar mais tradicional no Sul do país. Enquanto o Norte faz os folares salgados, com carnes (também chamados bola), no Sul encontra-se mais este bolo de massa seca (farinha de trigo, ovos, leite, azeite, banha ou pingue, açúcar e fermento, canela e erva-doce), com os ovos cozidos a espreitar entre a massa. “No Alentejo, particularmente na zona fronteiriça de Elvas, os folares apresentam formas de animais — borregos, lagartos, pintainhos, pombos, ao sabor da criatividade e jeito de quem os faz”, escrevem Maria de Lourdes Modesto e Afonso Praça em Festas e Comeres do Povo Português. E referem os de Castelo
de Vide por causa do feito particular: um duplo coração e um lagarto de coleira de seda encarnada. São estes folares que os padrinhos e madrinhas oferecem aos afilhados no domingo de Páscoa. Na Pastelaria Alcôa, em Alcobaça, mesmo em frente ao mosteiro, encontramos várias versões do folar tradicional (aqui a massa leva também flor de anis) — há em forma de coelho, de lagarto, há com ovos e sem ovos. Paula Alves, a proprietária, diz que os clientes “estão a pedir muito o folar sem ovos”. A explicação é simples: muita gente não come o ovo, acabando por o pôr de lado, e considera isso um desperdício. Por outro lado, a tradição pede ovos, e por isso a Alcôa continua também a fazer folares com um, dois, três ovos, chegando, em bolos maiores, a pôr quatro ou cinco. Entretanto, Paula foi introduzindo algumas inovações. Usando sempre a massa tradicional como base, hoje vende folar com gila, com amêndoa e ovos, outro com doce de ovos, e até um com maçã e canela. De onde vem a tradição é difícil dizer. Maria de Lourdes Modesto procura pistas na etimologia, mas não é fácil — a palavra folar poderia vir “do latim floralis, se calhar do germânico flado (bolo de mel), eventualmente do francês poularde”. A verdade é que ninguém sabe exactamente. O que não oferece dúvidas é que, escrevem ainda Maria de Lourdes Modesto e Afonso Praça, esta é uma tradição “que assenta num ritual de dádiva, solidariedade e convívio enraizado na sociedade portuguesa”. Alexandra Prado Coelho
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Capa Gastronomia
As amêndoas Moncorvo: um diamante que se molda sozinho nas mãos das cobrideiras Há quem lhe chame o diamante de Trás-os-Montes pelos muitos bicos e a aparência de jóia valiosa, mas a sua origem tem que ser procurada na rica tradição da doçaria conventual. Como todas as outras, as amêndoas cobertas de Moncorvo são essencialmente associadas aos rituais da Páscoa, mas neste concelho do Douro Superior eram também um costume ligado aos casamentos. Ditava a praxe que se colocassem amêndoas cobertas nas mesas dos convidados, sendo igualmente oferecidas à noiva, mas a tradição parece ter caído à medida que começou também a escassear a confecção tradicional que se fazia em praticamente todas as casas da região. O processo é moroso e custoso, mas embora continue a haver amêndoa em todas as propriedades os tempos já não se compadecem com os rituais da confecção. “Confeccionadas e vendidas durante todo o ano, principalmente na Páscoa, obedecem a um fabrico artesanal e moroso”, explica Soledad Martinho Costa no livro Festas e Tradições Portuguesas, adiantando que “hoje as confeiteiras ou cobrideiras raramente as fazem devido à morosidade da sua elaboração: basta dizer que cinco quilos de amêndoa coberta representam um mês de trabalho com a duração de sete a oito horas por dia”. Depois de a tradição ter quase caído em desuso, há agora uma casa comercial que desde há uns anos se dedica à confecção do produto, sendo a única licenciada para a produção de amêndoa coberta de Moncorvo pelo método artesanal. Chama-se Arte Sabor & Douro (www.artesaboredouro. com) e está instalada no centro da cidade, mesmo ao lado da catedral. Além da venda, é também possível degustar e assistir à confecção. Dos três tipos de amêndoa coberta de Moncorvo, a mais famosa e apreciada é a bicuda branca, que resulta de um tão simples quanto moroso processo de confecção. De sabor e textura únicos, a amên-
doa da região de ligação entre a Beira Alta e Trás-os-Montes foi sempre apreciada e procurada para vários fins. As referências conhecidas apontam para uma tradição de as cobrir com açúcar branco que remonta há mais de dois séculos. Um uso de praticamente todas as casas, que as utilizavam para os actos mais solenes e cerimoniosos. Métodos que são agora seguidos na Arte Sabor & Douro, que adquire amêndoa junto dos produtores locais. Depois de “britada” (com maço de ferro sobre paralelepípedo de granito) para extrair o miolo, a amêndoa é escaldada para que lhe seja retirada a pele. Uma vez pelada, tem que secar à sombra durante alguns dias, antes de se separar a amêndoa partida, que é aproveitada para a confecção de maçapão e outra pastelaria. Vai depois ao forno a torrar, ates de ser entregue ao trabalho das cobrideiras, as mulheres que paciente e delica-
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MANUEL ROBERTO
RUI GAUDÊNCIO
A Alcôa, em Alcobaça, é das poucas pastelarias que ainda mantém fabrico próprio de amêndoas. Em baixo, as de Moncorvo, feitas na Arte Sabor & Douro
damente se ocupam do trabalho de cobertura com açúcar. São elas que se debruçam sobre a larga “bacia” de cobre com um metro de diâmetro que é colocada sobre o “caco”. Trata-se de um jarro de barro com a mesma abertura que é colocado de encontro ao ventre da cobrideira e onde tradicionalmente eram colocadas as brasas para manter a “bacia” permanentemente aquecida. Hoje recorre-se a uma mais cómoda e regulável resistência eléctrica. Com uma calda de açúcar em ponto de fio (será este o segredo da confecção), as mulheres vão lentamente cobrindo as amêndoas que mexem em permanência com as mãos em movimentos regulares e sincopados, de sentido ora ascendente ora descendente. Movimentos que se repetem durante oito horas ao dia e no mínimo de uma semana até que o revestimento de açúcar da amêndoa adquira a forma de “carapinha branca”, os tradicionais bicos que dão o nome à amêndoa bicuda branca. Para não se queimarem, as cobrideiras usam quatro dedais de costura em cada mão (excepto os polegares), sendo que há quem diga ser este o segredo da formação dos bicos de açúcar das amêndoas. “É o nosso diamante. Molda-se sozinho nas mãos das cobrideiras”, simplifica Dina Morais Para além das bicudas, há também as de chocolate, que levam um cobertura final com calda de chocolate. De confecção mais simples e rápida, há ainda as de canela, que mantêm a pele e vão ao tacho com uma calda de açúcar e canela. J.A.M.
Alcobaça: mergulho com açúcar numa panela de cobre Na cozinha da pastelaria Alcôa, em Alcobaça, especializada sobretudo em doçaria conventual, dois pasteleiros estão agarrados a grandes panelas de cobre das quais sai um calor intenso. A primeira tem só água e açúcar, que é preciso ir mexendo para atingir o ponto certo da calda de açúcar. Na segunda já se vêem as amêndoas mergulhadas no açúcar, e também aqui é preciso uma atenção constante, e ir mexendo sempre para as envolver. Numa terceira panela o processo já vai mais adiantado, e o
açúcar começou a formar cristais, envolvendo as amêndoas. Já não é muito fácil encontrar amêndoas fabricadas artesanalmente, como acontece aqui. Numa das lojas mais conhecidas pela imensa variedade de amêndoas que vende pela Páscoa, a Manuel Tavares, na Baixa lisboeta, a montra está cheia de amêndoas de diferentes formas e feitios, mas lá dentro as etiquetas nos recipientes indicam que quase todas são importadas. Apesar de ser um processo muito trabalhoso, na Alcôa a proprietária Paula Alves não abdica de, na altura da Páscoa, fazer as amêndoas pelo método artesanal: à mão e em tachos de cobre, com muita força de braços e muito trabalho ao lume. Têm onze variedades. A que mais se vende é a torrada, que é também a menos doce. “Só tem 10% de açúcar, e não tem corantes”, sublinha Paula. Vende-se também muito bem a caramelizada. Mas, para além destas, estendem-se em tabuleiros na cozinha amêndoas de várias cores e sabores: café, framboesa, canela, citrinos, baunilhada, cacau, chocolate branco, chocolate com coco, chocolate negro, licor de ginja. Tudo feito apenas com amêndoa nacional, garante a proprietária. “A minha preferida é a de Foz Côa”, confessa, “mas também utilizamos a amêndoa do Algarve.” O Douro e o Algarve são as principais regiões produtoras, sendo que é de Trás-osMontes (Terra Quente e Alto Douro) que vem 86% da produção, e foi a amêndoa do Douro que conquistou a Denominação de Origem Protegida. Regressamos uma vez mais ao livro de Maria de Lourdes Modesto e Afonso Praça sobre as Festas a Comeres do Povo Português, onde se explica como se fazem as chamadas amêndoas de sobremesa, também conhecidas como enxovalhadas: “Num tacho, de preferência de cobre, deitam-se as amêndoas, o açúcar e a água e deixa-se repousar uns 15 minutos para amolecer o açúcar. Depois, leva-se o tacho a lume muito forte para levantar fervura rapidamente. Reduz-se imediatamente o calor para o mínimo, agitando o tacho de vez em quando até o açúcar fazer ponto de areia, isto é, até que solidifique e se agarre às amêndoas e às paredes do tacho. Nessa altura volta a intensificar-se o calor e, mexendo
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Dos três tipos de amêndoa coberta de Moncorvo, a mais famosa e apreciada é a bicuda branca vigorosamente com uma colher de pau forte, separam-se as amêndoas tanto quanto possível, deixando-as caramelizar muito ligeiramente. Depois de frias, separam-se.” Estas amêndoas artesanais têm formas toscas, incertas, em que cada uma é diferente da outra. Isso distingue-as claramente da amêndoa industrial, que é a que mais se encontra à venda. As mais comuns são as revestidas de açúcar duro e com cores, geralmente o azul ou o rosa — essas são as chamadas “amêndoas francesas”. Na Alcôa — que vende também no El Corte Inglés, em Lisboa (e estreou-se nesta Páscoa num El Corte Inglés em Madrid) — o quilo de amêndoa artesanal custa 29 euros. A.P.C.
19.º festival
5 a 7 abril
2013
S. Gonçalo, Qta. do Anjo PALMELA
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 7
Capa Gastronomia
Pão-de-ló Alfeizerão: o mais delicioso dos erros Chegamos a Alfeizerão um pouco depois das 10h. O Largo do Pãode-Ló está mergulhado na pacatez, com a Casa do Pão-de-Ló no sítio de sempre, ao lado da bomba de gasolina, o mesmo ar de casinha de brincar, os tijolos vermelhos, as cortinas brancas nas janelas, os dois bonecos pretos de madeira a receberem-nos à porta. Helena Monteiro de Castro e o marido, Luís, são hoje os proprietários desta casa fundada em 1925 pelo padre João Matos Vieira e a irmã, Adília. E continuam a fazer, de forma artesanal e tradicional, aquele que é um dos pães-de-ló mais emblemáticos do país. Na cozinha, Sílvia, a pasteleira, acompanha com atenção as reviravoltas da massa na batedeira eléctrica (que vem dos anos 1940, altura em que foi construído o actual edifício e se introduziram algumas inovações, como os fornos eléctricos) para ver o momento em que deve adicionar farinha ao açúcar e aos ovos. O processo é muito rápido. Assim que a massa está pronta, despeja-a em tigelas altas de cobre que vão ao forno. A cozedura é feita em altas temperaturas e, em menos de nada, enquanto Helena nos conta a história da casa, já Sílvia está a abrir as portas dos fornos, a tirar as tigelas e, com gestos rápidos, a tocar na crosta do bolo para avaliar se necessita ou não de mais alguns minutos de forno. “O padre João tinha vindo do Alentejo”, explica Helena. “Durante anos foram ele e as duas sobrinhas, Ema e Elisa, a imagem desta casa.” Ligada à casa esteve sempre também a bomba de gasolina, então da Sacor, que era um ponto de paragem para quem ia de Lisboa ao Porto. Numa das salas da Casa do Pão-de-Ló há na parede fotografias antigas do tempo em que Ema e Elisa presidiam ao fabrico do pão-de-ló. Diz-se que a receita deste pão-deló húmido terá sido resultado de um acaso. Virgílio Gomes, estudioso da
doçaria portuguesa, escreve no seu site que se trata possivelmente de uma receita acidental do século XIX: “Consta que por erros de cozedura uma freira terá antecipado a saída do forno, e daí ter ficado cremoso, o que faz as delícias dos seus apreciadores.” A freira seria do Convento de Cós, próximo de Alcobaça, e a atrapalhação, reza a lenda (que tanto atribui o “erro” à freira como a senhoras da terra, que teriam aprendido a receita com as freiras), teria sido provocada por uma visita do rei D. Carlos — o nervoso fez com que o bolo saísse do forno antes do tempo, e isso acabou por o tornar único.
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Na cozinha, Sílvia, a pasteleira, acompanha com atenção as reviravoltas da massa para ver o momento em que deve adicionar farinha ao açúcar e aos ovos
Agora, Sílvia vigia para que o tempo de cozedura seja o suficiente para provocar o mesmo efeito. Mas, aconselha Helena, o melhor é sempre comer o Pão-de-Ló de Alfeizerão no dia seguinte, e não acabado de sair do forno. E, de facto, quando vemos os bolos a serem desenformados — e o processo tem que ser feito com rapidez e precisão — não reconhecemos o típico pão-de-ló. O que sai das formas de cobre é um bolo alto e fofo, que só depois de ser colocado nas caixas abate e, a pouco e pouco, começa a largar o interior cremoso. A Casa do Pão-de-Ló (do outro lado da estrada encontra-se o Café
Ferreira-Fábrica do Pão-de-Ló, o outro fabricante do bolo de acordo com a receita tradicional) recebe visitantes para provar o pão-de-ló e conhecer o método de fabrico às quartas-feiras de manhã. E, segundo Helena, já têm recebido até grupos de japoneses, que vêm conhecer o bolo que os portugueses levaram até ao Japão no século XVII e que lá ficou conhecido como Castella. O Pão-de-Ló de Alfeizerão pode ser comprado em três tamanhos: o mais pequeno tem meio quilo e custa 7 euros; o médio, com 750 gramas, custa 11,50 euros; e o grande tem cerca de um quilo e custa 14 euros. A.P.C.
De Margaride ao bolinhol de Vizela HĂĄ muitos, mas o pĂŁo-de-lĂł de Margaride ĂŠ o que ganhou maior fama. É assim chamado por ter sido nesta freguesia de Felgueiras que Leonor Rosa da Silva começou, no inĂcio do sĂŠculo XVIII, a fabricar este bolo com farinha, ovos, açúcar, cascas de limĂŁo e sal. Foi tanta a fama e a procura que, mais de um sĂŠculo depois, os herdeiros veriam ser atribuĂda Ă casa a distinção como Fornecedor da Casa Real Portuguesa. A empresa continua ainda hoje a fabricar pĂŁo-de-lĂł e as instalaçþes que mantĂŠm desde 1900 no centro da cidade sĂŁo um autĂŞnti-
co museu vivo da pastelaria, mas a receita difundiu-se por toda a regiĂŁo, funcionando atĂŠ como uma espĂŠcie de emblema gastronĂłmico no espaço alargado do Entre-Douro-e-Minho. Segundo a receita, o autĂŞntico pĂŁode-lĂł de Margaride tem que ser cozido em forno de lenha e em formas de barro nĂŁo vidrado. Estas constam de trĂŞs tigelas, duas iguais e uma bastante mais pequena, que ĂŠ colocada invertida no centro de uma das outras, forrada com papel grosso em quadrados sobrepostos. Nela se verte a massa, sendo as pontas do papel voltadas para dentro, depois tapada com a outra tigela de iguais dimensĂľes. TerĂĄ sido a partir da receita tradicional que em Vizela, a escassa distância de Margaride, e pouco tempo depois, uma outra mulher empreendedora concebeu uma espĂŠcie de sucedâneo que se tornou igualmente famoso e ĂŠ hoje muito consumido na PĂĄscoa. Um pequeno bolo com massa de pĂŁo-de-lĂł e coberto com uma capa branca de açúcar que o torna mais hĂşmido e suculento, que Joaquina Ferreira da Silva começou a levar para feiras e mercados por alturas de 1880 e rapidamente se tornou famoso e procurado. Ia embrulhado em “linholâ€? (pano grosseiro com fios de linho) e daĂ a designação de bolinhol por que ĂŠ ainda hoje conhecido, estando documentada a sua participação na Exposição Industrial do Concelho de GuimarĂŁes, que teve lugar no ano de 1884. O bolinhol de Vizela ĂŠ produzido actualmente em trĂŞs pastelarias da cidade, mas dĂĄ origem a uma curiosa disputa pela originalidade da receita protagonizada por bisnetas de Joaquina Silva. No negĂłcio, sucedeu-lhe a filha Albina, que, em conjunto com o marido, viria a fundar em 1921 a casa DelĂcia. A marca DelĂcia PĂŁo de LĂł Coberto de Vizela foi registada ainda nesse ano, ao que se seguiu o registo do formato rectangular do bolo, tal como ĂŠ actualmente fabricado. A questĂŁo ĂŠ que o negĂłcio da famĂlia nĂŁo dava para toda a prole e uma das filhas de Albina acabou por emigrar para o Brasil, onde decidiu aplicar a receita, ao que parece com grande sucesso. Regressada a Vizela nos anos 60 do sĂŠculo passado, abre a casa Kibom, nome que homenageia os clientes brasileiros que sempre exclamavam “qui bom!â€? sempre que provavam o bolo. O negĂłcio ĂŠ
NELSON GARRIDO
RUI GAUDĂŠNCIO
Em AlfeizerĂŁo continua a fazer-se, de forma artesanal e tradicional, aquele que ĂŠ um dos pĂŁes-de-lĂł mais emblemĂĄticos do paĂs; Ă direita, o pĂŁo-de-lĂł de Margaride, fabricado desde o sĂŠculo XVIII
actualmente comandado por uma das filhas (bisneta de Joaquina) que reivindica para a mĂŁe o respeito pela originalidade da receita quando a levou para o Brasil. Da casa DelĂcia respondem serem os detentores do registo da marca e da forma rectangular do bolo, o que obriga a que o produto da Kibom tenha os cantos arredondados. Estes argumentam que as principais diferenças estĂŁo na textura da massa e que ĂŠ necessĂĄrio recriar para melhorar o produto. Para alĂŠm da forma, quadrada ou arredondada, dos cantos, a questĂŁo parece dilui-se na mera semântica. Ambos sĂŁo bons e muitos procurados, principalmente por estes dias de celebração pascal. J.A.M.
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FUGAS | Público | Såbado 30 Março 2013 | 9
Viagem Finlândia
Paixão em Helsínquia — por Cristo, bruxinhas e trolls Chegada a Semana Santa, Helsínquia divide-se entre comemorações luteranas e pagãs. Muitas das famílias que acompanham a reencenação erudita da Via Crucis pelas ruas da cidade também mascaram as suas crianças e levam-nas a admirar enormes fogueiras que os finlandeses acendem há séculos para afugentar os maus espíritos. Marco C. Pereira (texto) e Marco C. Pereira e Sara Wong ( fotos)
C
ontemplamos o casario semicolorido de Porvoo a partir da margem oposta do rio Porvoonjoki. Estamos em Março, faz um frio de rachar e a neve que cai de quando em quando retoca o cenário coberto de branco. Num ou outro fogacho inesperado, o sol espreita envergonhado entre as nuvens velozes. Aquece os tons da povoação ribeirinha mas mal nos massaja as faces avermelhadas. Tuula Lukic não se queixa, muito pelo contrário: “O rio descongela a olhos vistos. Não tarda temos aí a Primavera”, afiança-nos.
Comentários deste tipo são frequentes na Finlândia, às vezes debaixo de muitos graus negativos. Esforçamo-nos por ter em conta a latitude mas, ainda assim, retemos algum espanto. Tuula percebe-o e rise com cortesia. “Bom... tenho um grupo à espera junto à catedral. Se não se importam, vou subindo. Já nos voltamos a encontrar.” Ficamos entregues à paisagem e ao vento frígido com que os corvos se debatem para pousarem em segurança sobre o telhado em A do templo. Pouco depois, cruzamos a
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ponte estreita, subimos várias ruelas e calçadas escorregadias e voltamos a dar com a guia, ocupada com explicações históricas sobre a vila que os grasnares infernais das aves, logo ali por acima, atrapalham. Tuula gesticula que esperemos e prossegue. Aproveitamos para contornar o edifício e acabamos por descobrir um ensaio teatral da crucificação de Cristo. Actores que fazem de Messias e de ladrões sobem a um palanque com as cruzes ao ombro e posicionam-nas, lado a lado, sobre o chão. Então, os que desempenham pa-
As cenas da Paixão de Cristo são habituais em Helsínquia e percorrem vários locais da cidade
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Viagem Finlândia
péis de soldados romanos simulam que os pregam às cruzes e suscitam esgares e gritos de dor que uma encenadora que beberica um grande copo de café ajuíza e corrige. Alguns dos brados desiludem-na. Justificam prolongadas intervenções e exemplificações enérgicas que o dialecto finlandês contribui para dramatizar. A nós, faz-nos confusão, acima de tudo, ver as personagens nos seus trajes invernais do dia-a-dia: gorros, casacos, calças e botas de neve volumosos em vez da mera coroa de espinhos e do pano dobrado em que Jesus terá sido vitimado.
Não há, no entanto, volta a darlhe. Estão -7º e a representação é exaustiva e demorada. Martelada atrás de martelada, grito atrás de grito, passa-se meia hora. Quando nos parece que o suplício está a chegar ao fim, é a vez de a personagem de Maria se estrear. Os seus prantos e lamentos aos pés do redentor inspiram novos reparos na directora. O actor de Jesus livra-se finalmente da mãe a fingir e da tarefa. Curioso face ao prolongado interesse destes únicos espectadores, decide averiguar: “Vêm de Portugal? A sério? Bom, não me importava de lá estar
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a ensaiar isto agora. A Semana Santa faz-nos sempre sofrer um pouco. Eu até sou sueco mas este ano vou participar aqui em Porvoo. Já fiz de Cristo antes, no Inverno e em tronco nu. Posso-vos dizer que foi um sofrimento atroz. Este ano, vamos estar de túnica mas descalços. Mesmo assim, acaba por ser bastante doloroso. Se ainda estiverem por Porvoo logo à noite, venham assistir!” Entretanto Tuula volta a entrar em cena. “Vejo que estiveram entretidos.” Gabamos a beleza da catedral luterana (a primeira da Finlândia) e Tuula conta-nos que tinha sido
recentemente recuperada da sua própria tragédia humana. “Foi uma desgraça! Em 2006, um jovem embriagado resolveu brincar com fogo no interior, sem saber que estavam a fazer reparações com alcatrão. Causou um incêndio que destruiu o telhado e não só. As autoridades não estiveram para misericórdias. Até lhe encurtaram a pena mas foi condenado a pagar 4,3 milhões de euros, coitado.”
Via Crucis erudita Deixamos Porvoo ainda a meio da tarde, em direcção a Helsínquia.
No dia seguinte, a capital amanhece cinzenta e nevosa. Exploramo-la horas a fio sob uma meteorologia inclemente até que, mais próximo do anoitecer, as nuvens debandam e se instala uma bonança recompensadora. Instalamo-nos numa saliência estrutural sobre o Mar Báltico, ao lado da doca de ferries internacionais. Dali, observamos o longo pôr do sol boreal e a iluminação artificial a destacar a catedral de Helsínquia sobre o casario histórico submisso. Assim que o céu enegrece, caminhamos para o interior da cidade à
Assistir ao pôr do sol boreal é um espectáculo a não perder. Fazêmo-lo antes de nos embrenharmos na cidade, em busca das estações da Via Crucis
procura da estação inicial da sua 17.ª representação da Via Crucis, prestes a ser levada a cabo pela Congregação Catedral de Helsínquia e pela Ristin Tien Tuki ry, uma associação ecuménica encarregada de assegurar o evento. Encontramo-lo numa encosta limítrofe do Parque Kaisaniemen despida de folhagem, coberta de uma boa altura de neve e invadida por um público agasalhado e entusiasta. A multidão disputa os melhores lugares para acompanhar as provações de Cristo entre um extenso elenco de cidadãos de FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 13
Viagem Finlândia Tyra (em baixo) é uma das muitas crianças finlandesas que participam, na segunda-feira a seguir à Páscoa, nas actividades organizadas pela fundação Seurasaari
uma Jerusalém fino-romana hostil às suas crenças e pregações, e mais frígida que nunca. Jesus é detido por um pequeno esquadrão de centuriões e conduzido à presença de Pôncio Pilatos, seguido por um cortejo de figurantes históricos que avança pelas avenidas Unionkatu e Yrjö-Koskisen katu à luz de velas. A representação continua, elegante e grandiosa, no cimo da escadaria da Säätytalo (A Casa dos Estados), adaptada a palácio do governador romano, onde o povo judeu acaba
por optar pela libertação do prisioneiro insurgente Barrabás, condenando, assim, Cristo à crucificação. A procissão de actores, figurantes e o público muda-se, então, para as imediações da catedral, onde muitos mais espectadores aguardam a acção. Ali, Cristo vence uma nova escadaria, desta vez com a sua pesada cruz ao ombro, numa subida penosa que um foco redondo acompanha e evidencia. Entre as falas e os gritos dramáticos das personagens bíblicas, tre-
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chos de cânticos líricos combinados com violinos e outros instrumentos, Cristo e os ladrões encontram o Calvário em frente à fachada altiva do templo. Após a morte, o Redentor desce da cruz pelo seu próprio pé, a escadaria entra na penumbra e é subida por dezenas de actores e figurantes que seguram velas e tochas num derradeiro momento multissensorial de espectáculo religioso. O público parece agradado mas, à boa maneira finlandesa, não recompensa os participantes e encenadores por
No dia seguinte é domingo. Algumas famílias finlandesas cristãs reúnem-se à mesa para um jantar de Páscoa
aí além. Retira-se para os seus domicílios ou para os inúmeros refúgios profanos e nocturnos de Helsínquia. Em termos de calendário, entretanto, a Semana Santa deu lugar à Páscoa. Estava na hora de descobrirmos o lado pagão da época.
As fogueiras de Seurasaari Na Finlândia, a Sexta-Feira Santa e a segunda a seguir à Páscoa até são feriados públicos mas a última é considerada uma festa secular. A maior parte dos finlandeses cristãos
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são membros da igreja luterana, a igreja nacional. Só 1% se identifica com a ortodoxa e, como em quase todos os países europeus, os finlandeses preservam outras crenças e costumes ancestrais. Desde 1982 que a fundação Seurasaari acende enormes fogueiras na ilha homónima e convoca a população de Helsínquia para a sua comemoração vernacular. Metemo-nos no autocarro 24, afastamo-nos do centro da cidade ao longo de um litoral enregelado e marcamos presença.
Várias famílias percorrem o mesmo caminho sombrio que se interna pela ilha. Tomam conta de crianças endiabradas que vão mascaradas e pintadas de pequenas bruxas ou espíritos (trullis em finlandês) e se reúnem entre as árvores, moinhos e celeiros seculares e sobre um grande monte de neve a ver o fogo reforçarse e aumentar, segundo a tradição para os afastar. Achamos piada à chaleira vermelha e ao raminho de galhos silvestres que Tyra carrega com cuidado como
adereço do seu disfarce e brincamos com ela. Acabamos a falar com o avô da criança: “Nós vimos cá todos os anos. Ela adora estar com outros miúdos mascarados e delira com as fogueiras. A verdade é que todos gostamos de nos aquecer ao pé de um bom fogo e isso, aqui, tem ainda mais significado. Sabem que, antes, as pessoas acreditavam nestas coisas: que os maus espíritos, as bruxas e os trullis voavam mesmo sobre as quintas e os campos, agrediam o gado e faziam com que as vacas e as ovelhas deixassem de dar leite.” A tarda avança, o frio aumenta de hora para hora e azula a paisagem. Forma-se uma fila ordeira de clientes em frente a um bar improvisado numa cabana pitoresca e que vende bolos, café, chá e outras bebidas revigorantes. Logo ao lado, há um posto de churrasco comunitário. Reúnem-se, em redor, almas esfomeadas munidas de salsichas que espetam em galhos desfolhados e assam com grande paciência e dedicação. Enquanto isso, as fogueiras a sério atingem o auge. Numa bancada por trás, tem lugar um recital de poesia e cantigas em que participam várias crianças e também Marita Nordman, uma anciã de 80 anos que veste trajes típicos e carrega uma cesta com tricotados, bordados e outros adereços de uma época bem menos tecnológica da Finlândia. Findo o festival dos pequenos cantores, os lumes imponentes começam a extinguir-se e o mesmo acontece à visão do sol naquela coordenada terrestre. O céu acima de Seurasaari tinge-se de rosa e laranja e indicia um ocaso ainda mais garrido. Abandonamos a clareira do evento e metemo-nos por trilhos que esperamos nos levem à orla da floresta, seguidos por grupos de adolescentes finlandeses com o mesmo plano. Contornamos as últimas linhas de coníferas e a ausência de vegetação desvenda a luz terminal do grande astro a espraiar-se a partir do outro lado de uma enseada congelada do Mar Báltico. No dia seguinte é domingo. Algumas famílias finlandesas cristãs reúnem-se à mesa para um jantar de Páscoa. Em vez de salsichas, irão partilhar cordeiro e, por influência da tradição religiosa ortodoxa, várias outras especialidades gastronómicas do Leste.
COMO IR
ONDE COMER
A TAP (flytap.com) é a única companhia aérea a voar directamente de Lisboa para Helsínquia. Tem cinco voos directos/semanais para a capital finlandesa, de 6 de Junho a Setembro. Mais informações ou reservas através do telefone 707 205 700.
Ravintola George Restaurante com uma estrela Michelin que serve um marisco fabuloso num local tranquilo de Helsínquia. Pratos entre os 27 e os 40 euros. Kalevankatu 17 Tel.: 010-270 17 02
DINHEIRO E LOGÍSTICA
QUANDO IR No início da Semana Santa, se quiser acompanhar as comemorações luteranas e pagãs realizadas na capital finlandesa. A meteorologia ainda se mantém algo agreste para quem chega do Sul da Europa, com as temperaturas a rondar os 0 graus, queda de neve frequente e forte possibilidade de tempo nublado. Este tipo de clima contribui, no entanto, para reforçar o exotismo e o encanto nórdico de Helsínquia.
A Finlândia usa o euro. Existem inúmeras máquinas ATM em Helsínquia e Porvoo mas não em Seurasaari. Quase todos os estabelecimentos da capital finlandesa têm terminais para pagamentos com cartões. A Finlândia é um país relativamente dispendioso. Não tanto como as vizinhas Noruega e Suécia mas, ainda assim, caro. NORUEGA
RÚSSIA
ONDE DORMIR Palace Hotel Um dos poucos hotéis mais requintados de Helsínquia que oferece vista marítima. Os quartos com vista para o Mar Báltico custam um pouco mais mas permitem-lhe acompanhar, em grande conforto, as manobras dos ferries de entrada e saída no porto. Quarto duplo a partir de 240€ por noite. www.palace.fi
SUÉCIA
FINLÂNDIA
Helsínquia
Porvoo
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 15
Perfil
Filipa Leal e o Porto Tem dez anos de carreira literária, muitos mais de palavras ditas, lidas, escritas. São a obsessão desta portuense que leva o Porto no que é, no que escreve. “O Porto será sempre a minha cidade, como o Douro será sempre o meu rio — conforta-me a proximidade da outra margem.” Périplo entre uma cidade líquida e uma cidade das palavras. Andreia Marques Pereira (texto) e Fernando Veludo/NFactos ( fotos)
S
e estamos diante do Atlântico não é um acaso. “Vir ao Porto é ver imediatamente o mar.” “O mar faz-me muita falta”, e não é, sublinha Filipa Leal, uma “necessidade poética”, antes a “necessidade física de quem nasce e vive junto dele.” E ela nasceu, cresceu, viveu no Porto — agora, gosta de imaginar que está com um pé aqui e outro
em Lisboa. Em Londres, continua, sentia muito a sua falta, em Lisboa, nos primeiros tempos, quando vivia e trabalhava na Baixa, ia ao Cais das Colunas só para ver o rio — como se fosse o mar. Assim, com o mar como pano de fundo, Filipa Leal, jornalista e poetisa a cumprir dez anos de carreira literária, desenha o seu “triângulo amoroso” geográfico, no qual o Porto ocupa o epicentro em tor-
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Perfil
no do qual gravitam as duas capitais, uma onde viveu, a inglesa, outra onde vive, a portuguesa. Uma relação resolvida (e, isto, sim, é poesia): “O Porto é o meu marido, Londres a ex-mulher, Lisboa a amante.” E se estamos na Praia dos Ingleses também não é por acaso, já vimos. Filipa gosta do simbolismo, como se Londres, onde estudou jornalismo, vivesse um pouco neste canto da Foz portuense. Além do mais, é presença regular neste pedaço “inglês”, sobretudo desde que o seu outro triângulo, desta vez inteiramente portuense, se fechou quando a família se mudou para esta zona do Porto-a-ver-o-mar. Nesta tarde de Inverno invulgarmente ensolarada, as palavras de José Gomes Ferreira que Filipa conjura parecem desajustadas: “Porto – cidade de luz de granito”, mas o contexto é outro; agora, o Porto manifesta-se solar diante da vastidão do mar. “Há dias em que me constrange [o mar]. A vastidão também me perturba. Procuro e rejeito.” Quando rejeita, há mais “cidade líquida” (título de um dos seus livros) como refúgio-alternativa de Filipa Leal. Não passámos, fisicamente, pelo rio neste périplo pela cidade — ficamo-nos mais pela geografia das palavras, o que não surpreende: “É na linguagem que se instala a minha geografia e às vezes é muito cansativo” —, mas é este o outro rosto líquido desta sua cidade. “O rio de onde se pode ver a outra margem.” Há um conforto inerente em poder vê-la, confessa. “O Douro, no Porto, tem tamanho de rio. Estranhei o Tejo, tem tamanho de oceano.” Nos “grandes passeios pelas marginais” portuenses, Filipa está consigo. A pessoa que é, que foi, quem sabe, que será. O seu Porto sempre passou por estas margens, desde o tempo de juventude, quando se iniciou nas saídas com amigos. “A maior parte da adolescência passei-a nestas praias, as minhas primas viviam aqui.” Não esquece os jantares na Praia do Molhe (“está igual”), as primeiras sangrias e cervejas entre esta e a Praia do Homem do Leme. “Mais tarde, tive a fase da Ribeira, todos iam para lá.” E “há imagens que não passam”, como as tardes
entre finos e tremoços na “praça do cubo”. Ou outras mais específicas, como a jukebox numa das esplanadas defronte do rio naquele fim de tarde “extraordinário”, de “música inimaginável”; ou, mais recentemente, o almoço dos 30 anos com a família, seguido da surpresa das amigas que a levaram, pela primeira vez, a passear no Douro de barco rabelo. Se a “cidade líquida” de Filipa Leal se começou a revelar na adolescência, a sua “cidade das palavras” revelou-se um pouco mais tarde e, desde então, passou a mover-se entre ambas. As suas origens, porém, vêm de trás, da sua infância, com a mãe a recitar, a ela e aos irmãos, poesia, “sonetos de Camões, Pessoa...”. “Foi ela que criou o hábito de eu ouvir poesia, comecei a ouvir poesia antes de a ler.” Se calhar nem a mãe esperava o efeito que essas leituras tiveram: aos 11 anos chegou a casa para anunciar à mãe que queria ser escritora. “A minha mãe, muito sabiamente, disse que achava lindamente”, recorda, “mas que em Portugal era difícil ser só escritora, tinha que ter outra profissão.” “Há 23 anos, os poetas já estavam em crise”, brinca. Pouco depois tinha encontrado a “profissão”. “O jornalismo foi a escolha que fiz como alternativa possível à literatura. Se não podia ser escritora, como jornalista podia, pelo menos, escrever todos os dias.” A poesia=escolha intuitiva; o jornalismo=escolha cerebral. A “cidade das palavras” de Filipa Leal começou a desenhar-se há mais ou menos 15 anos entre o Pinguim e o Púcaros, dois bares portuenses onde a poesia corria solta e que se tornaram os seus “sagrados pontos de fuga permanentes”. Às segundas-feiras era na cave do Pinguim que saciava a sua fome de palavras ditas (ainda hoje se pode fazer); às quartas-feiras, no Púcaros. Numa primeira fase, limitava-se a ouvir; depois começou a dizer. “Durante muitos anos só dizia em público poesia dos outros. Passava parte da semana a escolher o que ia dizer.”
Actores frustrados Passava também no café Luso, “quando era sítio de beatas no chão e muito sujo”: “um sítio es-
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Se a “cidade líquida” de Filipa Leal se começou a revelar na adolescência, a sua “cidade das palavras” revelou-se um pouco mais tarde e, desde então, passou a mover-se entre ambas
pecial” onde conheceu o poeta Ulisses, que vendia poemas avulso. “Foi a primeira pessoa que vi fazê-lo. Cheguei a comprar-lhe um poema.” Nessa altura, considera, o Porto tinha grande investimento na poesia. E foi nessa altura que se lhe abriram as portas das “Quintas de Leitura” do Teatro Campo Alegre, hoje uma instituição da cidade, quando conheceu Pedro Lamares, no Pinguim. Foi para as “Quintas” e para a Caixa Geral de Despojos, uma trupe poética para a qual a palavra é uma ponte para outras formas de expressão artística. Inclusive para o teatro, com o qual Filipa também se envolveu: esteve um ano no centro de formação do Balleteatro e, antes, no liceu Garcia de Orta, o 12.º ano fez-se com uma oficina de teatro às sextas à tarde — já em Londres, tentou o mesmo mas entendeu que o seu inglês não estava à altura de dizer Shakespeare. Foi uma “decisão tardia”, esta do teatro, mas o fascínio sempre esteve lá. “Acho que o escritor é um actor frustrado. No fundo gostava de entrar em cena; no fundo é isso que faz quando se senta a escrever.” Ao mesmo tempo, da parte de
Filipa “havia uma vontade de ultrapassar limites” e ela achava que “em palco a palavra se tornava em algo mais palpável”. Nas “Quintas de Leitura”, encontrou uma casa feliz: “estar em palco a dizer poesia, a unir os dois lados”. “A palavra é a minha grande obsessão: dita, lida, escrita.” O Campo Alegre é, aliás, a zona do Porto onde as suas raízes emocionais chegam mais fundo: antes de realizar o sonho nas “Quintas de Leitura”, houve o Colégio de Nossa Senhora de Lourdes, que havia sido a casa dos seus bisavós. “Brinquei, nos meus primeiros anos de escola, no jardim onde o meu pai e os meus tios o haviam feito.” E, coincidência, os avós maternos viviam nessa rua, eram eles que a iam buscar. Também viveu aqui e, mais tarde, na Faculdade de Letras, fez o mestrado em Literatura Portuguesa e Brasileira. “Acho que é um Campo Alegre mesmo.” Porém, o seu Porto é novamente um triângulo, que tem os outros vértices na Foz, já vimos, e na Baixa, onde nasceu e viveu os primeiros anos. E onde por estes dias descobre uma nova geografia
de “lazer”. Já era por aqui, contudo, que percorria alguns caminhos das palavras, com paragens obrigatórias na Livraria Leitura, onde encontrou mais o que procurava, sobretudo quando “descobriu” a literatura brasileira, e, mais tarde, na Poetria, feita de teatro e poesia. Agora tem um outro caminho de palavras, desta vez suas, neste Porto: a Casa do Conto inscreveuas no tecto de uma das suas suites, que leva o seu nome. “Não era bem voar/era pelo menos/poder ficar/ suspenso/num ponto alto.” A poesia de Filipa Leal inscrita no Porto que ela sente como poesia, “no sentido da síntese, da contenção, da reflexão”. A comparação com Lisboa, onde vive há quatro anos, é inevitável: “Lisboa é prosa, é torrencial, é uma cidade de parágrafos mais longos.” O Porto permite-lhe, dá-lhe solidão; é introspectivo, de maior silêncio. Filipa tem uma relação de grande proximidade com ele e, por isso, também se sente mais perto de si, mesmo que para tal tenha de atravessar “a zona de nevoeiro” que a cidade pode parecer ter até se conseguir iluminar e ao que aqui está.
“Dá mais espaço ao confronto.” “Porque não tenho o trabalho de o descobrir posso descobrir-me.” Na sua obra (seis livros, cinco de poesia) não há muitas referências directas ao Porto. Uma das raras excepções está n’ O Problema de Ser Norte. Uma página, um verso: “Porto. 20h. Ninguém canta.” Mas como Filipa Leal não se importava de ter sido detective, vai deixando pistas, nem sempre geográficas, nos seus livros. “Muitas vezes são recados a mim mesma.” No mesmo livro, por exemplo, fala de um café que Al Berto chegou a frequentar, na Batalha — não por acaso, o poema chama-se O Medo; não por acaso, termina com a palavra granito. “Como o Porto, também eu tenho um lado enevoado, silencioso, contido, franco. Tenho muita dificuldade em disfarçar o que sinto. Tenho o coração à mostra. É quase tudo verdade.” Ao desvendar o Porto, a cidade incitou-a a procurar os seus poetas, os que aqui nasceram, os que aqui escolheram viver. “Sophia, Eugénio de Andrade, Jorge de Sousa Braga, Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Rosa Alice Branco, José Miguel Silva, e tantos outros...” “O Porto é uma cidade muito bem frequentada.” (risos) Ainda que trate mal quem a quer bem. Filipa Leal viu-se obrigada a ir para Lisboa quando o jornal onde trabalhava despediu a redacção e nenhuma outra porta se abriu no Porto. Diz que a grande tragédia do Porto é essa mesma, não dar trabalho; se não, podia ser uma cidade quase perfeita. “Tem mar, tem rio.” Voltamos ao estado líquido. Nos próximos dias, Filipa Leal estará rodeada de água por todos os lados — vai passar pelo Funchal, como convidada do Festival Literário da Madeira (de 1 a 6 de Abril). Se a vastidão do mar a constranger, sabe que tem um lugar-refúgio. “A cidade onde nasci e vivi a maior parte destes 34 anos está sempre em mim — no que sou, no que escrevo. O Porto será sempre a minha cidade, como o Douro será sempre o meu rio — conforta-me a proximidade da outra margem.”
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Dormir Duecitânia Design Hotel
Estes romanos não estão nada loucos É um hotel temático que nasceu nas margens do rio Dueça, em Penela, para homenagear a antiguidade clássica. Foi o sonho de uma família que quer agora atrair outras famílias e levá-las a saber mais sobre a influência da civilização romana na região. Veni, vidi, vivi. Sandra Silva Costa (texto) e Nelson Garrido (textos)
N
inguém diria ao que vamos. Chegamos debaixo de chuva forte e de um céu de chumbo que pinta um quadro austero. O rio Dueça, aqui mesmo em frente, corre cheio e barrento, e meia dúzia de cabras empoleiram-se na encosta do outro lado da rua, indiferentes à quase intempérie. Corremos sobre o deck de madeira sem prestar a atenção devida ao enquadramento e, agora sim, percebemos ao que viemos. Empurramos uma porta de vidro e damos de caras com isto: “Veni, vidi, vivi.” Estamos conversados: viemos para ver e viver. Tens a certeza que os romanos estavam loucos, Astérix? Acabámos de entrar no mundo encantado do Duecitânia Design Hotel, um quatro estrelas inaugurado em Dezembro de 2012 em Penela, mas não é de banda desenhada que vamos falar. Tudo neste hotel familiar (em duplo sentido: foi o sonho de uma família e pisca claramente o olho às famílias) foi pensado ao pormenor para homenagear a civilização romana. Patrícia Maduro, a filha dos proprietários, recebe-nos com um sorriso no lobby, onde temos já uma amostra do que há-de vir. Num grande painel em tons de dourado,
a contrastar com o preto de algumas paredes, o nome e o logótipo remetem-nos logo para o conceito de hotel temático que a família Maduro aqui procurou recriar. “Duecitânia seria como os romanos chamariam às terras do rio Dueça. Para símbolo do nosso hotel, escolhemos Pégaso, o cavalo alado, exemplo da imaginação criadora”, sintetiza Patrícia. É ela quem, durante uma visita guiada pelos quatro pisos do hotel, nos explica os contornos da sua história. O edifício onde estamos foi uma antiga fábrica de papel, que a família comprou em hasta pública à Câmara Municipal de Penela. O projecto de reconversão em unidade hoteleira durou três anos, durante os quais os Maduro foram aprumando o objectivo de nela homenagearem a antiguidade clássica. “Sendo esta uma zona de forte presença dos romanos, e sendo o meu pai um apaixonado pela cultura clássica, achámos que fazia todo o sentido”, recorda Patrícia, sublinhando que a família não queria fazer apenas “mais um hotel”. Encontrado o conceito, houve que materializá-lo. Nos três pisos superiores (no rés-do-chão encontra-se o restaurante Gustatio, a piscina interior aquecida e as salas do spa) instalam-se quartos de três tipologias (duplos superior, duplos deluxe e suites deluxe) e em cada andar é abordado um período específico do Império Romano: a fundação, a consolidação e o declínio. Voz a Patrícia
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Maduro: “Estes períodos do império reflectem-se também no jogo de cores que escolhemos para cada um dos andares.” Assim, se no primeiro piso a decoração é em tons de bordeaux, passa a cinzento no segundo e torna-se verde no terceiro. Denominador comum a todos os andares é a linguagem figurativa do chão e das paredes, com representações históricas e mitológicas correspondentes
a cada um dos períodos do império. Detalhe importante: o número de cada um dos XLII quartos está escrito em numeração romana, claro (embora também haja a “tradução” para o sistema decimal). Calhou-nos em sorte o quarto CCCIII. Abrimos a porta e estamos, de facto, em território verde. É ele que impera na parede que temos à nossa esquerda (e onde encontramos a
Guia prático
Ao lado, o bar Tabernae, cuja esplanada se arrisca a ser um sucesso em dias de sol; em baixo, à esquerda, o edifício principal do hotel, onde já funcionou uma fábrica de papel, e, à direita, uma das suites do Duecitânia
frase “Cito Maturum, cito petridum”, que é como quem diz, “O que cedo amadurece, cedo apodrece”; Patrícia já nos explicou que em cada quarto há um “provérbio romano”), na alcatifa, nas mantas e almofadas que jazem nas camas, no painel da generosa casa de banho — de onde se tem, aliás, uma óptima vista. (Nesta mesma casa de banho, saúda-se o secador de cabelo “a sério” e a qualidade dos atoalhados, mas lamenta-se que os produtos de higiene sejam reduzidos a um mínimo demasiado básico.) De volta ao quarto, o que domina são mesmo as janelas, duas, que se levantam quase até ao tecto — e, estando nós no último andar do hotel, o pé direito é bem pronunciado. O resultado é o que se sabe: muita luz natural, que se agradece, ainda mais num dia como este. Corremos os estores e o que vemos lá fora é gratificante: um ambiente bucólico, fruto da chuva, sim, e do rio que corre turvo, mas também das oliveiras que se espalham pelos 13 hectares da quinta onde está instalado o Duecitânia. É fácil imaginarmo-nos aqui num dia de Primavera, com céu azul, água límpida e pastos verdes em redor. Não é o que temos agora, por isso voltamo-nos para dentro e concluímos a inspecção ao quarto. Duas camas, área de trabalho junto a uma das janelas, TV de ecrã plano, um cadeirão de acrílico — uma decoração “leve e contemporânea”, como já tínhamos lido no site do hotel. O roupeiro é aberto, o que significa que se trata apenas de um varão na parede, e preferíamos que não estivesse localizado imediatamente por cima do minibar, mas, no nosso caso, o contratempo não é de monta. Antes que anoiteça, ainda paramos no bar, o Tabernae. Apesar do mau tempo, há um casal que aproveita uma trégua e se aventura na esplanada com vista para o jardim que, apostamos, será uma das grandes mais-valias em dias de calor. Não hão-de ficar muito tempo, que a chuva voltará a fazer das suas em breve. Lá fora já é o dilúvio. Estamos agora no restaurante, com vinho tinto no copo e, para inícios de conversa, um crepe de cogumelos e farinheira no prato. Definitivamente, estes romanos estão tudo menos loucos. A Fugas esteve alojada a convite do Duecitânia Design Hotel
COMO IR Do Porto e de Lisboa, seguir pela A1 e sair em direcção a Condeixa. Tomar depois a A13 e sair em direcção a Penela. O hotel, e as indicações para ele, aparecem logo a seguir.
ONDE COMER O restaurante do Duecitânia, o Gustatio, será sempre uma opção, até porque, para hotel, tem preços simpáticos. Quem quiser pode inclusive experimentar o menu romano preparado pelo chef Helder Caetano. Em Penela, costumam aconselhar o D. Sesnando, mas esse a Fugas não testou. Experimentou, sim, o Varanda do Casal, na aldeia de xisto de Casal de São Simão, a uns 20 minutos de Penela, e recomenda.
O QUE FAZER Em Penela, obrigatória a visita ao castelo, declarado monumento nacional já em 1910 e de onde se tem uma vista privilegiadíssima sobre as serranias da zona. De resto, os vestígios romanos no concelho são uma das maisvalias de Penela e é proibido abandonar a região sem uma visita ao Rabaçal. Primeiro ao museu, na freguesia homónima, onde se tem uma visão geral da implantação e legado dos romanos, através da exposição Villa Romana do Rabaçal: era uma vez… Feitas as apresentações no espaço museológico, partese para a estação arqueológica (a Villa Romana propriamente dita, datada do século IV d.C.), que inclui a residência senhorial, o balneário, a área rústica e os sistemas elevatórios de
água. O circuito completa-se com a subida à Chanca, com belveder sobre o povoamento e a paisagem. Ainda no capítulo romanos, diga-se que o Rabaçal fica a 12 quilómetros de Conímbriga. Visitar as aldeias do xisto é também um programa mais do que recomendável. No concelho de Penela há uma, Ferraria de São João, mas, sinceridade acima de tudo, Casal de São Simão, no município de Figueiró dos Vinhos, tem outro encanto.
O QUE COMPRAR Haverá certamente outras coisas, mas não pode sair de Penela sem levar na bagagem pelo menos um queijo Rabaçal. Vendem-se em vários locais da freguesia.
INFORMAÇÕES Duecitânia Design Hotel Ponte do Espinhal 3230-292 Penela Tel.: 239 700 740; 939 499 559. Fax: 239 700 741 Email: reservas@duecitania.pt www.duecitania.pt Preços: Diferem consoante o alojamento seja de domingo a quinta-feira ou nas noites de sexta e sábado. Assim, em jeito de promoção de abertura, os quartos duplos superior custam ou 68 ou 88€; os duplos deluxe 88 ou 108€; e as suites deluxe 148 ou 165€.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 21
Gastronomia Receitas
A Páscoa combina bem com merengues
MERENGUE COM MORANGOS Ingredientes 5 claras (200 g de claras) 200g de açúcar Sumo de 1/2 limão 200g de açúcar em pó 4 dl de natas 500 g de morangos Açúcar em pó q.b. Preparação a Bata as claras em castelo com os 200g de açúcar. Quando estiverem formadas adicione o sumo de limão e de seguida peneire o açúcar em pó e envolva-o cuidadosamente. a Deite o preparado num saco pasteleiro com um bico canelado e num tabuleiro de forno forrado com papel vegetal forme cestos redondos afastados entre si. a Leve ao forno pré-aquecido a 110ºC durante cerca de 1h30. Retire e deixe arrefecer. a Bata as natas e recheie os cestos. Disponha morangos por cima, cortados ou inteiros, dependendo do seu tamanho e polvilhe com açúcar em pó. Nota: Como a receita base do merengue já tem bastante açúcar, recomendamos bater as natas sem açúcar.
MERENGUE DE AMÊNDOA Ingredientes 5 claras (200 g de claras) 200 g de açúcar 150 g de açúcar em pó 50 g de amêndoa em pó Amêndoa laminada q.b. Caramelo q.b. Preparação a Bata as claras em castelo com as 200 g de açúcar. Quando estiverem formadas adicione, envolvendo cuidadosamente, a amêndoa misturada com o açúcar em pó.
a Deite o preparado num saco pasteleiro com um bico canelado e num tabuleiro de forno forrado com papel vegetal forme suspiros. Polvilhe com a amêndoa laminada. a Leve ao forno pré aquecido a 110ºC durante cerca de 1h30. Retire e deixe arrefecer. Regue com um fio de caramelo fraco e sirva.
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MERENGUE COM MIRTILHOS Ingredientes 5 claras (200 g de claras) 200g de açúcar 200g de açúcar em pó 500g de mirtilhos 1 vagem de baunilha 25g de açúcar 1 1/2 dl de água
Preparação a Bata as claras em castelo com os 200g de açúcar. Quando estiverem formadas peneire o açúcar em pó e envolva-o cuidadosamente. a Deite o preparado num saco pasteleiro com um bico canelado e num tabuleiro de forno forrado com papel vegetal forme línguas. a Leve ao forno pré-aquecido a 110ºC durante cerca de 1h30. Retire e deixe arrefecer. a Ferva a água com o açúcar e a vagem de baunilha previamente aberta no seu comprimento durante cerca de oito minutos. Junte os mirtilhos, ferva por mais três minutos, escorra e reduza a calda um pouco mais. a Sirva os merengues juntamente com os mirtilhos e a calda.
Produção e fotografia: Hugo Campos hugocampos@feedme.pt
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Restaurante Taberna 1300
Uma taberna que arrisca e onde bem se petisca A febre de chamar “taberna”, “tasca” ou “tasquinha” a restaurantes com pretensões ou apenas pretensiosos parece ter pegado de estaca. Na Taberna 1300 o nome é curto para um local onde se cozinha a sério. Fortunato da Câmara (texto) e Rui Gaudêncio (fotos)
D
epois do surto “gourmet” ter surgido em cada esquina, instalou-se a onda do suposto castiço e informal, mas onde o preço é quem mais ordena e por isso, no fim de contas, o nome é só retórica. O importante é saber-se ao que se vai, pois neste jogo de designações também há exemplos em que o nome não faz a devida justiça ao que por lá se encontra. É o caso desta Taberna 1300. A mesma equipa já tinha aberto em 2007, em Oeiras, sob a égide do código postal local a sua primeira “taberna”. Desde o início que o nome foi assumido como uma ironia complementar ao humorístico menu de degustação, criado à medida do espaço diminuto, mas com o desejo sério de mostrar horizontes alargados. Foi o que veio a acontecer em 2011, quando surgiu uma nova “taberna” com o código alcantarense 1300, onde se situa a LX Factory. Esta antiga zona industrial de Lisboa foi salva da sina da decadência para se transformar num espaço irreverente e multicultural. É caso para dizer que estava escrito nas nuvens que só podia ser aqui a morada de um projecto como o do Taberna 1300. Um armazém amplo decorado com exuberância e detalhes irónicos à mistura, como seria de esperar, onde caberia meia dúzia de “taberninhas” 2780. Relógios gigantes a ilustrarem o fundo da sala, lustres em
cascata sobre as mesas e uma boa iluminação natural são destaques da sala — diria antes salão, para ser mais realista. Num almoço surgiu o “caldo verde taberneiro” (3,50 euros), em que a batata vinha num caldo cremoso, encimado por fios de couve frita, espuma de batata e uns pozinhos de chouriço. Um conjunto agradável, que podia estar mais quente, e que fazia uma leitura diferente deste clássico tradicional, sem lhe desvirtuar em demasia o fácies e o sabor. Copiosa de elementos era a “tábua mista de enchidos e queijos de origem portuguesa” (12 euros). À parte um deslocado salame italiano, lá vinham algumas rodelas de painho e chouriço de carne e uns troços grelhados de boa morcela e de uma farinheira banal. Do outro lado da barricada bons queijos, um da Quinta do Anjo (a lembrar o de Azeitão), um de ovelha oriundo do Douro (sem mais especificações) e uns cubinhos de queijo ilha de pouca cura. A guarnecer a generosa tábua vinham alguns bagos de uva, um belíssimo doce de abóbora e outro de pêra avinhado, uns equilibrados e incomuns pastéis de massa tenra com alheira e ainda frutos secos tostados, a saber: amendoins, pistáchios verdes e amêndoas. Das opções do dia provou-se o “cachaço de vitela mirandesa, puré de aipo, raiz de salsa e cogumelos” (18 euros). O corte naturalmente fibroso do cachaço vinha a filetar de tenro, regado por um molho de carne. O jugoso naco vinha sobre um delicado puré de aipo e na companhia de tomates cereja e cogumelos nameko
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salteados. O “peixe mais fresco do dia com arroz de sapateira” (12 euros) era uma opulenta tranche de garoupa a lascar, guarnecida com um bem engendrado arrozinho cremoso, onde um toque de tomate lhe acentuou os aromas gulosos graças à junção do interior da sapateira.
Cozinha a sério A ementa de almoços é francamente diferente da dos jantares, havendo no entanto uma ou outra sugestão em comum cujo preço desce da noite para o dia, literalmente. Daí que por vezes exista alguma discrepância de preços entre o que está anunciado na carta e o que vem na conta, com a diferença de valores a pecar tanto por excesso como por defeito. Nada como verificar antes do pagamento. Um elemento transversal é o “cesto de pão da casa” (3,50 euros) que trazia um portentoso pão “breu” (com melaço e cerveja preta Guinness) que se bastava a si mesmo, um de azeite que ligava bem com a manteiga de ervas e um outro de tomate que pedia a personalidade forte do “azeite do mercado”, feito em exclusivo para a casa. Ainda assim, sentiu-se em cada visita a falta de um pão neutro de trigo ou mistura que funcionasse como uma “tela em branco” para a manteiga de enchidos de um dos
dias, onde sobressaíam os sabores a chouriço e farinheira. As propostas nocturnas são, porém, mais ambiciosas e ao mesmo tempo arriscadas. De entrada, a “roupa velha” (9 euros), tal como já havia acontecido com o caldo verde, surgiu sob o signo da desconstrução. Uma “telha” (crocante) de alheira, uma panqueca de enchidos, um ovo a baixa temperatura e grelos salteados. Tudo agregado, mas não misturado, a compor com razoável equilíbrio uma orquestração dispersa mas saborosa. O “caranguejo de casca mole, algas e caldo de lavagante” (9 euros)
de fritura leve e sem mácula, a fazer lembrar uma tempura, repousava sobre um “ninho” formado por algas e legumes cortados numa juliana finíssima. Foi finalizado ao momento com o molho do crustáceo a ser derramado em redor dos restantes elementos e a revelar-se aveludado, intenso e sublime. De entre os pratos principais, dois deles tinham direito a página própria. A emblemática “perdiz à Convento de Alcântara” (20 euros) era sugerida com a ajuda de um texto explicativo acerca do prato, pena que a versão apresentada fosse algo pífia. Um pei-
Azeite Prova
a Mau
mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Bom Mais mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
Bom e barato (de mais)
O restaurante funciona num amplo armazém decorado com exuberância e detalhes irónicos à mistura
Do Alentejo Interior vem um azeite com um leve toque picante indicado para iniciados. Pedro Garcias
TABERNA 1300 – LX FACTORY Rua Rodrigues Faria, 103 1300-501 Lisboa Tel.: 213 649 170 www.1300taberna.com De terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 20h à 1h Encerra domingos e segundas Preço médio: 25€ (almoço) 40€ (jantar) Cartões de débito e crédito Não fumador Estacionamento fácil Pouco prático para crianças tinho da ave recheado com cogumelos e trufa, de sabor discreto, à parte um escalope de foie gras salteado de qualidade regular e uma espécie de bolinha feita com perdiz desfiada, que passou sobre frutos secos antes de ir a fritar. A guarnição era massa fresca (spätzle) salteada com cogumelos shimeji, que ao destilarem água durante a confecção deixaram o conjunto como se fosse uma espécie de sopa asiática de massa grossa, o que não valorizou o prato. O outro prato principal foi pedido com o coração, pois ao ler “bacalhau à Conde da Guarda em homenagem
ao chefe João Ribeiro” (18 euros) não hesitei um segundo, passando-me ao lado a descrição do prato que estava enunciada na ementa. Quando chegou à mesa tive a mesma sensação de alguém que assina um contrato sem ler as letras pequeninas. Louvase desde já a lembrança do grande mestre da cozinha em Portugal que foi João Ribeiro. O busílis é evocar a sua receita mais famosa em jeito de homenagem e depois servir dois cubos de bacalhau de meia cura confitados, um tubo feito com rodelas de batata, recheado com uma mistura de puré com bacalhau, e ao lado um crocante de queijo parmesão tipo bolacha. Enfim, uma composição trabalhosa, mas que nem por sombras remete para a receita original. A mistura de puré de batata com bacalhau e alhos pisados no almofariz, uma dose generosa de natas a envolver e queijo ralado no topo para gratinar está nos antípodas desta versão fantasiosa, onde até cabia um piso de azeitonas, ovas de bacalhau passadas num coador e tingidas com uma pasta vermelha (lembrou-me harissa) a mimetizar a aparência de caviar, e microbolinhos de bacalhau. O simples facto de uma “francesinha” e uma “grelhada mista” terem vários ingredientes em comum não quer dizer que sejam a mesma coisa. Quem não souber como é um bBacalhau à Conde de Guarda”, com esta versão nunca vai saber. O que é pena, pois o arriscado exercício de “desconstruir” receitas tradicionais até tinha resultado antes. Boa carta de vinhos, gizada com a consultadoria do sommelier Rodolfo Tristão, variada de escolhas e preços,
com propostas menos óbvias e organizada pelo perfil de cada néctar. Está, no entanto, assegurada de forma abrangente a representatividade das principais regiões e alguns rótulos internacionais. Outra aposta sólida é a do vinho a copo, com um bom leque de sugestões. Outro ponto positivo é o set de cinco referências para acompanhar o menu de degustação ser proposto a 16,50 euros, um preço competitivo em relação ao que é habitual e que já inclui um vinho de sobremesa. Nada a apontar em relação às temperaturas e aos copos — não pode passar é o facto de uma garrafa de tinto ter chegado à mesa já aberta, falha de correcção elementar. Nas sobremesas, o “toucinho-docéu, sorbet de Porto com amoras e gel de erva-príncipe” (6,50 euros) cumpriu, com destaque para o agradável gelado de vinho do Porto. O “folhado quente de pêra rocha do Oeste” (4,50 euros) era uma trouxa de massa filo a fazer de embrulho aos cubos estufados do fruto, sem grande história que o fizesse sobressair. Muito bom estava o “crème brûllée com gelado” (4,50 euros), com o preparado à base de natas e gemas a ser aromatizado de forma equilibrada com vagem de baunilha, acompanhado por uma bola de gelado de chocolate feito na casa. Embora o ambiente seja descontraído e o espaço seja daqueles que está habitualmente na berra, nesta “taberna” cozinha-se a sério. As apostas do chef Nuno Barros são de enaltecer, pois só erra quem arrisca. Excluindo os flops que foram a perdiz e o bacalhau, tudo o resto se petisca.
A
pesar de associarmos a região alentejana à planura sem fim, há vários Alentejos, não apenas o interior e o costeiro. Nos azeites, por exemplo, há três denominações de origem protegida: Moura, Alentejo Interior e Norte Alentejo. Atribuirmos uma marca comum ao azeite alentejano é, por isso, redutor. Mesmo no interior de cada denominação os azeites podem ser bastante diferentes. O que determina a tipicidade de um azeite é, sobretudo, a variedade de azeitona utilizada, o clima e o solo. No caso do Alentejo, as águas do Guadiana estabelecem uma diferenciação assinalável. Na margem esquerda, a região de Moura, onde predominam as cultivares Cordovil de Serpa, Galega Vulgar e Verdeal Alentejana, produz um azeite mais fino mas também mais frutado, amargo e picante. Na margem direita do rio, na DOP Alentejo Interior, o olival desenvolve-se melhor, é mais produtivo e o azeite resulta mais suave e doce. No Norte Alentejo, onde coabitam a Galega Vulgar, a Carrasquenha e a Redondil, os azeites são um pouco mais espessos e frescos de aroma. O azeite desta semana, o Conde da Vidigueira Virgem Extra, vem do Alentejo Interior. É uma marca que a Cooperativa Agrícola da Vidigueira comercializa em exclusivo para o Clube de Produtores a Sonae (o grupo proprietário do PÚBLICO). Esta garrafa de 0,75 cl foi comprada num hipermercado Continente e custou 3,99 euros. O que nos despertou a atenção e motivou a compra foi precisamente o preço. Num ano em que os preços do azeite a granel estão em alta, devido à acentuada quebra da produção
registada na última colheita, em particular em Espanha, o principal produtor mundial, é quase um mistério haver azeites virgem extra tão baratos. Os consumidores agradecem, mas devia haver limites para o esmagamento dos preços na grande distribuição. A granel, o quilo de azeite anda por volta dos três euros. Se uma garrafa de 0,75 cl custa 3,99, dá para perceber que, somando os custos com a garrafa, o rótulo, a cápsula, a caixa e o engarrafamento e embalamento, a margem de lucro da Cooperativa Agrícola da Vidigueira deve ser mínima. E estamos a falar de um azeite virgem extra (o melhor) com selo DOP (Denominação de Origem Protegida). Nem vale a pena, pois, questionar se o azeite vale o preço. Vale e muito, apesar de não estarmos perante um virgem extra de cortar a respiração. É um azeite bastante doce, com um leve toque picante, e aromaticamente singelo. Cumpre bem vários papéis na cozinha e é indicado para iniciados, que costumam fazer cara feia a azeites mais intensos, amargos e picantes.
CONDE DA VIDIGUEIRA VIRGEM EXTRA mmmmm Produtor: Cooperativa Agrícola da Vidigueira Variedades: Galega, Cobrançosa e outras Região: Alentejo Interior Preço: 3,99€
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 25
Vinhos que contam histórias Rui Falcão
Livro de adega
s tempos que vivemos são pouco propensos para gastos supérfluos, para aventuras financeiras, para devaneios e impulsos. A crise que nos assola, esta crise financeira que já se tornou endémica e que nos persegue sem piedade, aconselha à prudência e a gastos comedidos, à modéstia e à parcimónia. Se num passado ainda recente muitos de nós nos julgávamos ricos e com capacidade para financiar alguns caprichos, acordámos agora para a dura realidade das provações e do cuidado nas despesas. O vinho, longe de poder ser considerado um bem essencial à vida, sofre com o intensificar desta nova realidade económica que nos atropela com rendimentos cada vez menores e menos certos. Talvez por isso o consumo de vinho tenha diminuído de forma tão significativa em Portugal e na Europa, sobretudo quando tomado fora de casa. E talvez por isso tantos se tenham habituado a procurar por vinhos mais baratos, mais comedidos na ambição e no preço, usufruindo amiúde de propostas comerciais que prometem uma quantidade maior pelo mesmo preço de poucas unidades, o famoso ditame do “leve seis pelo preço de cinco” ou outra forma qualquer de resgatar a tesouraria, promovendo em simultâneo o escoamento dos muitos stocks acumulados. Quem compra seis garrafas ou uma dúzia de garrafas de uma só vez cria, no entanto, um problema potencial, o seguimento e inventariação do que guardou em casa. A menos que tenha sido bafejado com uma memória prodigiosa e privilegiada, a melhor forma de manter actualizado o registo dos seus vinhos é recorrer a um livro de adega. Poderá até parecer um absurdo para a maioria ou, quem sabe, talvez mesmo um pretensiosismo, mas rapidamente se aperceberá da
ENRIC VIVES-RUBIO
O
utilidade de um apontamento das suas existências. Claro que se a sua garrafeira particular se resume no total a uma ou duas dezenas de garrafas então talvez este seja um tema dispensável. Porém, para quem se dá ao trabalho de guardar mais de duas dezenas de garrafas, o livro de adega será uma ferramenta barata e de extrema utilidade. Quem armazenar mais de cinquenta garrafas em casa precisa quase impreterivelmente de anotar as existências num livro de adega que poderá ser mantido de forma simples. Os enófilos são frequentemente proclamados como coleccionistas, demonstrando uma tendência natural para acumular garrafas para além do razoável, uma propensão coleccionista que em alguns casos chega a ser levada a extremos. Comprar colheitas antigas ou modernas dos vinhos pessoalmente mais valorizados é uma tentação a que poucos enófilos parecem conseguir resistir. Encontrar aquele vinho tão procurado, desbravar novas regiões, novas castas, novos países, faz parte da condição
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natural do enófilo. E no mundo do vinho há sempre tanto para descobrir! Acumular garrafas poderá ser simultaneamente o maior triunfo e o maior pesadelo de cada enófilo. O livro de adega é, pois, uma ferramenta essencial para organizar a sua garrafeira, para manter a ordem e disciplina na sua adega pessoal. Só mesmo o livro de adega permite manter registos das existências em garrafeira, anotadas de forma clara e legível que permitam uma identificação e inventariação do stock. Que dados devem ser contemplados? Definitivamente o nome do vinho, a data de colheita, o nome do produtor, o tipo de vinho, a região, o número de garrafas, bem como o número de garrafas remanescentes, actualizadas à medida que forem consumidas. Poderão ainda constar informações complementares de maior ou menor utilidade, como o lugar de aquisição, a data de aquisição, o preço de compra, datas de consumo, localização e um espaço para os seus comentários. Bem entendido, o
Claro que se a sua garrafeira particular se resume no total a uma ou duas dezenas de garrafas então talvez este seja um tema dispensável. Porém, para quem se dá ao trabalho de guardar mais de duas dezenas de garrafas, o livro de adega será uma ferramenta barata e de extrema utilidade
livro de adega só fará sentido se a sua actualização for regular e metódica. Um livro desactualizado terá muito pouco utilidade. Existem livros no mercado com estas características, normalmente de edições estrangeiras, com encadernações pesadas, aspecto pomposo e cerimonial, apropriados para encenações teatrais. É uma opção válida para quem prezar o estilo, embora a maioria seja pouco prática e algo presunçosa. Qualquer livro ou caderno em branco pode ser adaptado à função. A imaginação é o limite, como em tantos outros aspectos da vida. Não pense, no entanto, que o livro de adega tem de ter uma realidade física. A informática pode transformar-se num aliado generoso do enófilo, permitindolhe guardar informação relevante sobre as suas preciosas garrafas. Existem diversos programas no mercado que cumprem estas funcionalidades de forma eficaz e por vezes educativa. Inevitavelmente, a maioria está disponível apenas em inglês, mas existem igualmente algumas versões portuguesas. Como de costume, o Google é o melhor amigo do homem… Existem versões gratuitas, versões shareware onde é solicitada uma pequena “gratificação” ao autor da aplicação, bem como versões pagas e em muitos casos editadas por publicações ligadas ao vinho. Algumas aplicações dispõem de extras, como mapas das principais regiões, notas de prova para um número considerável de vinhos, dados pré-formatados sobre as principais regiões e castas do mundo. Bem entendido, a realidade portuguesa, as nossas regiões e castas, costumam estar apartadas deste tipo de publicação. A geração de gráficos é outra vantagem, onde poderá descobrir, de forma lúdica, as suas preferências por região, país, casta, ano de colheita, etc. Enfim, nada que não possa realizar com uma simples folha de uma folha de cálculo, que é outra das formas expeditas de resolver a equação.
Vinhos A moda das edições especiais
E
stá a virar moda: nos últimos anos têm chegado ao mercado inúmeras edições especiais de vinhos, umas para celebrar efemérides relacionadas com a própria marca ou o produtor, outras, mais ou menos esotéricas, para reforçar a notoriedade de uma marca ou simplesmente para gerar algumas receitas adicionais. Em tempos de crise, quando o vinho, sobretudo o da gama média/alta, é um dos primeiros bens não essenciais a ser afectado, o marketing pode ser providencial. O fenómeno é mais visível nos vinhos do Porto velhos. Algumas casas históricas deitaram mãos a relíquias guardadas na região e, depois de as embrulharem em embalagens de luxo e narrativas emocionantes, colocaram o vinho a preços nunca vistos. O primeiro a entrar neste negócio foi a casa Andressen, que, em 2010, lançou um extraordinário Porto Colheita de 1910 ao preço de dois mil euros a garrafa de 75 cl, para celebrar o centenário da República. Seguiramse a Taylor’s, com o Scion (2500 euros a garrafa), um vinho com 155 anos que David Guimaraens, o enólogo da empresa, descobriu em 2008 na aldeia de Presegueda (Régua); a Agri-Roncão, com o Roncão “Vinho do Porto Muito Velho” (1250 euros), comprado a um produtor da aldeia de Covelinhas (concelho da Régua) a 100 euros o litro; e, mais recentemente, a Quinta do Vallado, que lançou o Adelaide Tributa Old Porto (2950 euros), a partir do mesmo vinho que a Agri-Roncão adquiriu em Covelinhas. Se houver compradores para estes vinhos raros — e parece que há —, estamos perante negócios que geram receitas milionárias para os vendedores e que, ao mesmo tempo, contribuem para a promoção do vinho do Porto. Nos vinhos tranquilos, uma das edições especiais mais curiosas dos últimos tempos foi protagonizada pela Adega Mayor, da família Nabeiro, que em 2010 iniciou uma trilo-
gia de vinhos inspirada em motivos distintos. O primeiro, denominado 7, inspirou-se nas 7 maravilhas do mundo, o segundo, o 8, pretendeu evocar o espírito olímpico da criação, e o último, o 9, lançado no final de 2012, é uma homenagem ao número do céu e da humanidade (ver nota de prova na página seguinte). O vinho vem acompanhado de um mapa astronómico e de um globo (totalmente feito à mão) que bri-
lham no escuro e cust a 69 euros. As Caves São João, na Bairrada, foram ainda mais longe. A empresa celebra o seu centenário em 2020, mas já começou a comemorar em 2010, com o lançamento do primei-
ro de 11 vinhos que vai produzir até lá. Cada um dos vinhos é alusivo a uma das 10 décadas que medeiam a fundação da empresa e o seu centenário. O primeiro, designado 90 Anos de História, foi um tinto alusivo ao primeiro filme sonoro, The Jazz Singer
(1928); o segundo, 91 Anos de História, foi um espumante e versou sobre a emissão radiofónica de Orson Welles sobre uma fictícia invasão marciana (1938). No ano passado, as Caves São João lançaram o 92 Anos de História, um tinto que pretende evocar as décadas de 40-50 através da Carta das Nações Unidas (1945). O preço de cada garrafa é comedido (25 euros) e o vinho é mesmo bom. Pedro Garcias PUBLICIDADE
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Vinhos
A nova vida dos vinhos de Valpaços A “cortinha do Bentinho Samuel” é uma das que mais impressiona pela antiguidade das suas vinhas
Inúmeras vinhas velhas que pareciam condenadas ao abandono estão hoje na base do renascimento dos vinhos de Valpaços, famosos desde o tempo do império romano. Naquele concelho, como em toda a região transmontana, o arcaísmo vitícola transformou-se no seu principal trunfo. Pedro Garcias
Q
uando se chega à aldeia de Pussacos, no concelho de Valpaços, é impossível não reparar na traça belíssima de algumas casas antigas e na “cortinha do Bentinho Samuel”, com as suas videiras que mais parecem árvores de vinho, grossas e retorcidas, como se fossem esculturas vivas de um museu vitícola. Os habitantes mais antigos da povoação dizem que as videiras já eram centenárias quando eles ainda eram crianças. A imagem daquela cortinha causa assombro, mas não é a única. A caminho das aldeias de Santa Valha e Sonim vão desfilando inúmeras vinhas velhas, umas atrás das outras, algumas quase contemporâneas da de Pussacos, que provocam o mesmo deslumbramento. É um cenário rústico e fascinante, revelador de um arcaísmo vitícola que é hoje um dos grandes trunfos daquele concelho. Os vinhos de Valpaços, na região de Trás-os-Montes, andam há muito tempo arredados do panorama mediático (na década de 1980, o vinho Terra Quente, da cooperativa local, chegou a ser uma referência, mas foi perdendo fulgor). Seguiram o
mesmo declínio do interior do país, fossilizando-se pouco a pouco. Nunca deixaram de ser produzidos, mas a base de consumo foi-se estreitando e confinando-se praticamente ao mercado local e regional; e, no entanto, estamos a falar de vinhos com mais de dois mil anos de história, muito apreciados no tempo do império romano, existindo até a tese de que o nome de Valpaços estará relacionado com o vinho “passum”, o vinho doce pelo qual os romanos nutriam especial predilecção. Desse tempo, ainda subsistem no concelho alguns lagares esculpidos na rocha, naquela que é uma das maiores colecções de lagares romanos do mundo. Hoje já ninguém faz vinho na pedra. Nos últimos anos, num movimento extensivo a outras zonas de Trás-os-Montes, vários produtores passaram a olhar mais longe e a produzir vinho de forma moderna. Recuperaram lagares antigos, construíram um ou outro de raiz e passaram a engarrafar o vinho com marca própria. Ainda são pouco conhecidos, mas alguns deles vão dar que falar, se conseguirem ser perseverantes e não desperdiçarem o melhor que têm: vinhas centenárias, castas bem adaptadas ao lugar, solos ideais para a cultura da vinha e cotas que garantem vinhos maduros mas ao mesmo tempo frescos. As condições naturais do concelho são tão boas que no final da monarquia ainda foi equacionada
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a inclusão de Valpaços na região do Douro. A ideia não vingou e a vizinhança da região duriense, com o seu peso e prestígio, foi passando factura aos vinhos produzidos nas encostas do rio Rabaçal. Actualmente, a situação é mais favorável. A padronização crescente do vinho abriu novas oportunidades a regiões menos conhecidas e originais e as alterações climáticas estão a elevar a cultura da vinha para cotas mais altas e frescas. Castas como a Tinta Roriz, que no Douro produz fracos resultados nos vinhos tranquilos, podem originar vinhos magníficos em Trás-os-Montes, tirando partido da maior altitude. No caso de Valpaços, além da Roriz, as castas com mais tradição são o Bastardo, a Tinta amarela (nos tintos), o Gouveio, a Códega do Larinho e a Malvasia Fina (nos brancos). Nas vinhas novas, começa a ganhar relevo a Touriga Nacional (com grandes resultados) e a Touriga Franca (a par de uma
ou outra casta estrangeira, como a Syrah). Na zona de Sonim, existem também algumas videiras de Bastardo Russo, uma uva rosada que nasceu certamente de uma mutação genética do Bastardo.
É uma variedade nova que pode originar um vinho branco muito interessante, distinto e inimitável. Na colheita de 2012, o produtor Fernando Faria, de Sonim, fez uma primeira experiência que promete (o vinho está um pouco graduado de mais, mas a expressão aromática e a frescura são belíssimas). Fernando já plantou uma parcela nova de Bastardo Russo, juntamente com Daniel Pérez, irmão do mais premiado enólogo de Espanha, Raúl Pérez. Empresário agrícola, Daniel apaixonou-se por Valpaços e, com o apoio do irmão (interessado no Bastardo local), tem vindo a fazer alguns vinhos com Fernando Faria. Um deles foi um branco (da colheita de 2009 de vinhas velhas) que fermentou e passou três anos em barrica sobre as borras. Vai ser colocado agora à venda (a 15 euros) e é um vinho magnífico, gordo, complexo e muito fresco. Os vinhos de Fernando Faria reflectem bem o grande potencial da região de Valpaços. Os Bastardo e Tinta Amarela que tem em cuba são muito bons, mas o mais impressionante é o tinto Casal Faria Reserva Superior 2010, feito só com Touriga Nacional. Um vinho estupendo, muito estruturado, intenso e cheio de garra. Foi o vinho que mais sobressaiu numa prova de tintos realizada no passado fim-de-semana e que juntou outros produtores do concelho. Terras do Salvante, Quinta das Corriças (bastante interessante o tinto 2009), Encostas do Rabaçal, Persistente (muito Douro e moderno), Encostas de Sonim (excelente relação qualidade/preço o tinto Cansalobos), Quinta de Sobreiró de Cima, Edyma (um bom Roriz), Encostas de Vassal, Fonte do Sapo (um tinto sem madeira muito perfumado e fresco) e Terra Quente (muito bem feito e saboroso o 2011) foram algumas das marcas testadas. Todas elas merecem ser seguidas com atenção. Numa ou noutra, é notório ainda algum excesso de álcool, mas a maioria distingue-se pelo equilíbrio e frescura e, sobretudo, pela aposta em castas com tradição local e provenientes de vinhas antigas — o elemento verdadeiramente diferenciador de Valpaços e de toda a região transmontana.
Vinhos Provas
a Mau
mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Bom Mais mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
A Baga de visita a Lisboa
PATO D’OIRO 2010
Q
uando se prova um vinho com a assinatura de José Bento dos Santos e de Luís Pato, surgem logo como padrão de comparação os magníficos vinhos que cada um criou. Os tintos bairradinos de Luís Pato, que combinam as características da casta Baga com uma interpretação moderna e muito própria do autor, são uma referência nacional; os Syrah de Bento dos Santos estão entre as melhores abordagens que se fazem em Portugal à natureza desta casta — sem esquecer outras aventuras deste produtor da região de Lisboa, entre as quais vale a pena destacar o Têmpera. Luís Pato e Bento dos Santos foram colegas no Instituto Superior Técnico. Ambos se revelariam mais tarde não pelos dotes de engenharia mas pelos seus projectos no vinho e, no caso de Bento dos Santos, no culto pela alta gastronomia. Juntaram-se agora para produzir um vinho que agrupasse o que de melhor há na Baga que Pato colheu na sua Vinha Barrossa e na Tinta Roriz e Syrah da Quinta do Monte D’Oiro. O lote é dominado pela Baga e pela Roriz (45%) cada, ficando reservado um papel de refinamento à elegância da Syrah. Um vinho com este desvelo e com esta história afectiva dificilmente poderia ser um vinho desalmado. Desenganem-se os que procuram comparações com os melhores vinhos destes autores. O Pato D’Oiro é um vinho distinto, com carácter próprio. Corpo médio, aromas de amora, sugestões de fumo da barrica, destaca-se por um conjunto equilibrado e elegante. Na boca afirma-se pelos seus taninos macios, que têm nervo para contrastar com a qualidade da fruta, como se a Baga servisse de pano de fundo sobre a qual a profundidade da Roriz e a subtileza da Syrah se expandem até um final de boca muito interessante. Vocacionado para a mesa, falta-lhe no entanto alguma complexidade e profundidade. Prove-se e espere-se por outras edições, que a estreia valeu a pena. M.C.
Luís Pato e José Bento dos Santos Castas: Baga, Tinta Roriz e Syrah Graduação: 14% vol Preço: 30€ (na loja virtual www. luispato.com)
mmmmm
Proposta da semana
QUINTA DOS CASTELARES 2011
ALENTO RESERVA 2010
TELHAS 2010
ADEGA MAYOR 9 TINTO 2008
mmmmm
mmmmm
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MJC Agricultura e Turismo, Freixo de Espada à Cinta Castas: Códega do Larinho, Rabigato, Verdelho Graduação: 13,5% vol Região: Douro Preço: 5€
Monte Branco, Estremoz Castas: Aragonez, Alicante Bouschet (80%), Touriga Nacional e Syrah Graduação: 14,5% vol Região: Alentejo Preço: 11€
Terras de Alter, Fronteira Castas: Viognier Graduação: 14% vol Região: Alentejo Preço: 22€
Campo Maior Castas: Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonez Graduação: 14,5% vol Região: Alentejo Preço: 69€
Um branco de frescura atlântica produzido na região semiárida do Douro Superior. Aromas contidos de fruta de polpa branca, bom volume de boca, intensidade e, principalmente, uma boa acidez, surpreendente para um branco desta geografia. Proveniente de vinhas a 600 metros de altitude, é um vinho bem proporcionado, um branco que reclama o calor do Verão, ideal para acompanhar bem mariscos e peixes grelhados. Criado por Rui Madeira, consegue o mais difícil (uma frescura vigorosa). Restalhe lutar por um pouco mais de complexidade para se tornar num caso sério. M.C.
Impenetrável no aspecto visual, aromas quentes de fruta madura bem envolvidos em notas doces de madeira, num estilo sofisticado e atraente. Na boca impõe-se pela firmeza de taninos, que lhe dão garra e carácter. É um tinto alentejano que, no primeiro impacto, prima pela sobriedade (rudeza, dirão alguns), até que depois se afirma num belo final marcado pela fruta e notas balsâmicas. Um bom vinho, para agora ou para aguardar mais um par de anos. M.C.
Bela cor com tonalidades douradas, este branco revela-se na primeira impressão olfactiva pela presença de carvalho onde fermentou e iniciou a sua fase de crescimento nos primeiros onze meses de vida. Na boca começa por apresentar uma secura muito interessante, quase extrema, logo balanceada com sugestões de fruta (pêssego muito maduro) e notas apimentadas às quais sucede, no final de boca, uma doçura resinosa, contida e distinta que lhe determina a sua natureza. É um branco que procura assumidamente emular um certo perfil de Côtes du Rhone. Embora seja enganoso estabelecer diferenças ou similitudes, a verdade é que este branco de Peter Bright é um vinho muito interessante que vai ganhar com mais um par de anos na garrafa. M.C.
“Às 09:09 da manhã do dia 09/09/09, 9 pessoas enchiam 2009 garrafas baptizadas com o número universal.” É assim que começa a narrativa criada em torno do vinho 9, uma edição especial lançada pela Adega Mayor no Ano Internacional da Astronomia. A embalagem, bonita e poética, coloca-nos perante um objecto que é muito mais do que um vinho. Mas o vinho está à altura da embalagem. É um tinto de grande porte, maduro, concentrado e suculento. Ressuma a fruta preta, chocolate e a outras notas quentes incorporadas pela madeira. Com o corpo que tem, um pouco mais de frescura não lhe fazia mal, apesar de a acidez ser boa. Mas os taninos são tão vigorosos que o vinho mostra grande vivacidade na boca, tornando a degustação muito atractiva. É pena ser tão caro. P.G.
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada: Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050-453 Porto
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Bar aberto Bar Tolo Meu
Mais bares em fugas.publico.pt
Tolo, mas só de nome FOTOS: PAULO PIMENTA
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á uma mesa posta cá fora, dois pratos, copos, talheres, um livro de banda desenhada e duas cadeiras onde não se sentará ninguém. Pelo menos por enquanto; enquanto não houver licença aprovada. Por estes dias é apenas um chamariz, um convite à entrada na casa da esquina onde a Rua da Senhora da Luz e a Rua de São Bartolomeu se encontram. A fachada azul-céu, cortada nesse gaveto, com uma porta branca envidraçada de entrada que se duplica no andar superior mas afagada por uma varanda de ferro forjado, ostenta a placa: Bar Tolo Meu. Não era para ser provisória, mas as circunstâncias (no caso, um nome semelhante e com precedência temporal) assim a obrigam: depois de quatro meses de funcionamento, o Bar Tolo Meu (desconstrução óbvia do nome da rua que é também do santo que a 24 de Agosto leva a gente a banhos na Foz como cura e prevenção dos males) prepara-se para deixar cair o “meu” e ganhar independência. Ou seja, vai passar a ser de quem o quiser, tal como é, um Bar Tolo. Tão “tolo”, brinca Miguel Plácido, um dos sócios (com Carlos Leitão), que abriu num contexto de crise e longe do centro da cidade. A verdade é que, pelo menos neste caso, a ousadia tem sido recompensada. Por um lado, o Bar Tolo Meu tem estado “constantemente cheio”, por outro, tem revitalizado a zona. “Estamos a funcionar como âncora”, nota, enumerando uma série de novos negócios que foram abrindo portas nos últimos meses na zona que Miguel, tal como o sócio nascido e criado na Foz, considera “a [rua] Santa Catarina da Foz”. Nesta zona, os “turistas dão de frente” com o Bar Tolo Meu e caem em tentação — “temos tido gente de todo o lado”. Temos essa experiência, quando entramos e somos envolvidos por uma cacofonia em inglês, vinda de uma mesa feminina. Na verdade, até estão em minoria, neste rés-dochão pequeno e acolhedor que no projecto inicial seria o bar. Voltemos a esse início: “O nosso sonho era ter um restaurante, petisqueira, wine
HORAS FELIZES De segunda a sexta-feira, entre as 17h e as 19h30, há happy hour no Bar Tolo Meu. Os petiscos, sempre diferentes e ausentes da carta (coisas como pica-pau, salada de queijo de cabra com nozes, calamares…), custam 3€; as bebidas sofrem uma redução — finos a 1€, sangria a 2€, copo de vinho a 1,50€…
DE PETISCOS E OUTRAS REFEIÇÕES
É muito maleável este Bar Tolo Meu que, também já vimos, de tolo tem pouco. É, também, bastante acolhedor, ou como Miguel Plácido prefere dizer, cosy bar… Algo muito nacional.” Dito por outras palavras, o desejo era ter um bar que não fosse só bar, petisqueira que não fosse apenas isso, restaurante que tão-pouco se reduzisse a tal e eminentemente português nos produtos. Neste edifício que tem acompanhado a vida da Foz há muitas décadas (já foi a Leitaria Suil, uma funerária, uma loja de brinquedos) encontraram dois pisos para concretizar essa ideia: o rés-do-chão far-se-ia informal — barpetisqueira; o primeiro piso, sala de refeições (mais) formal — e no topo ins-
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talar-se-ia uma esplanada em terraço. Aqui está a esplanada, ventosa hoje, a pairar entre os telhados da Foz Velha e a espreitar o mar e o rio — mobiliário de madeira, vintage misturado com moderno, um visual que é o ar de família do Bar Tolo Meu. Porém, no interior, a ordem desordenou-se, as fronteiras que se pensaram estanques diluíram-se. “[As pessoas] Chegavam e almoçavam lá em baixo, vinham a qualquer hora.” Foram os clientes que transformaram o Bar Tolo Meu no que é: em “algo sem conceito”. Pode ser “restaurante, café, bar, pub, salão de chá”, “adapta-se muito bem” ao que cada um deseja. Pode ser “um gin ao fim da tarde ou um 5 o’clock tea, uma sobremesa a seguir ao jantar ou petiscos até à meia-noite”. É muito maleável este Bar Tolo Meu que, também já vimos, de tolo tem pouco. É, também, bastante acolhedor, ou como Miguel Plácido prefere dizer, “cosy”. A decoração é um misto onde o ferro e a madeira reclamam o palco principal, já que foram a base da recuperação do edifício. Entre eles, desenvolvem-se então os dois ambientes principais, com uma atmosfera claramente vintage, onde muito é improvisado, confessa Miguel. Outras são uma filosofia, como a sharing table, alta como todo o mobiliário do résdo-chão, que ocupa um dos lados e
promove o convívio entre desconhecidos — o espaço que é tutelado pelo pequeno balcão onde cadeiras altas proporcionam conforto até para refeições tem ainda lugar para duas mesas e louceiros onde se avistam objectos retro como uma máquina Singer. No primeiro andar, as mesas de tampos de madeira e pé de ferro são ladeadas de cadeiras estofadas com sacos de café — os mesmos que forram os candeeiros. Nas paredes, quadros coloridos, badalos em caixas de vidro e letras e números de madeira de cores variadas fazem o contraste devido com o branco “sujo” das paredes. Se se deparar com livros do Astérix ou do Gaston, não estranhe. É uma manifestação do improviso do Bar Tolo Meu. “Mandámos fazer invólucros para as ementas e atrasaram-se”, conta Miguel Plácido, “então o meu sócio chegou com um livro do Astérix. Todos adoraram e nós mantivemos”: Astérix para a comida — “o Obélix é um comilão”; Gaston para os vinhos (“é mais bebedolas”). Para todos, música ambiente que vai mudando com o ambiente — o mesmo que dizer que acompanha as horas do dia. E, finalmente, Miguel Plácido define o Bar Tolo Meu — em breve Bar Tolo: “Uma tasca moderna, com laivos de vintage.” Andreia Marques Pereira
De petiscos se faz a maior porção da ementa. Dos prosaicos moletes com presunto (3,50€) ou minifrancesinhas (4,50€), aos carpaccios (de vitela, 6€, ou língua, 5,50€), ao escabeche de perdiz (10€) — e aos “favoritos” dos clientes: os ovos rotos com espargos, setas e trufas (5,50€), os folhados de alheira (5€), as açordas (de bacalhau, 6€, e camarão, 7€). Nos pratos principais, o destaque vai para o naco barrosão DOP (14€) e o arroz de lavagante (17€) e nas sobremesas para as canilhas. Os pratos do dia são sempre dois e custam 10€, com sopa, bebida e café.
BAR TOLO MEU Rua da Senhora da Luz, 185 Porto Tel.: 224 938 987 http://bar-tolo-meu.com Horário: Aberto todos os dias. De domingo a quarta das 12h30 às 24h; de quinta a sábado das 12h30 às 2h. Preços: fino a 1,25€; cerveja de garrafa a 1,50€; vinho a copo desde 2€ (garrafa desde 8€); sangria a copo a 3€ (caneca de tinto a 12€; de espumante a 16€), vinho do Porto desde 2,50 (copo); licores entre 2,5€ e 4€; bebidas brancas desde 4€; caipirinhas e mojitos a 5€; cidra a 2€; água a 1€; sumo de laranja natural a 2,20€; café a 0,90€; chás e tisanas a 1,90€.
Um filme sobre a mudança, capaz de mudar pelo menos uma coisa: o cinema. Sexta, 5 de Abril, 5.º DVD, “As Consequências do Amor”, de Paolo Sorrentino Sobre Paolo Sorrentino muito se tem dito. Por exemplo: que, a haver um filho dilecto de Stanley Kubrick, Martin Scorsese e Federico Fellini, seria ele. Sorrentino combina com aparente facilidade o estilo exuberante e a estética apurada com profundidades psicológicas pouco usuais na sua geração. Com “As Consequências do Amor” Sorrentino integrou a Selecção Oficial do Festival de Cannes, em 2004.
Colecção de 10 DVD. Preço unitário: 1,99€. Preço total Portugal Continental 19,90€. De 8 de Março a 10 de Maio. Dia da semana, sexta-feira. Limitado ao stock existente. A compra do produto obriga à compra do jornal.
www.publico.pt
Zoom
Lisboa é o segundo melhor destino da Europa, Istambul, o primeiro
CARLA ROSADO
A
Entre os pontos a não perder em Lisboa, os vários miradouros
capital portuguesa arrecadou o segundo lugar na competição Melhores Destinos Europeus 2013 promovida pela European Consumers Choice. A primeira posição foi para Istambul, com 12,4% dos votos. Lisboa, que conquistou o pódio em 2010, seguiu logo atrás, com 12,2% das escolhas dos participantes nesta eleição promovida pela European Consumers Choice (ECC), uma “organização sem fins lucrativos de consumidores e especialistas” com sede em Bruxelas e que se dedica a “avaliar produtos e serviços”. As razões prendem-se com “o bom tempo e os dias longos que constituem um convite irresistível a descobrir e a viver a cidade”. Pontos a não perder: “os miradouros da Graça, Senhora do Monte, Santa Luzia, do Castelo de São Jorge ou de São Pedro de Alcântara”. No top 10, votado online de 1 a 22 de Março e para o qual competiam
20 cidades pré-seleccionados por um júri de entre “as mais visitadas do continente”, seguem-se Viena (Áustria), Barcelona (Espanha), Amesterdão (Holanda), Madrid (Espanha), Valeta (Malta), Nice (França), Milão (Itália) e Estocolmo (Suécia). A competição anual foi lançada em 2010 e, logo à primeira, Lisboa foi a vencedora. Em 2011, foi eleita a cidade de Copenhaga e, no ano passado, Portugal voltou a vencer, graças à eleição do Porto (que este ano ficou de fora dos dez destinos mais votados). Este ano, entre mais 224 mil votos recebidos, a votação foi renhida entre os primeiros classificados. Istambul recebeu exactamente 27.794 votos e Lisboa 27.345 (o 3.º posto de Viena já foi conseguido com maior diferença: a capital austríaca conquistou 21.293 votos, o que representa 9,5%). A competição voltará a ser lançada em Janeiro de 2014, informa a organização, adiantando que irão ser também avançadas em breve outras votações online — casos do melhor evento cultural, melhor destino gastronómico ou das melhores praias europeias. C.B.R. www.europeanconsumerschoice.org
Norwegian prepara Breakaway para Maio
Hop! descola amanhã com trajectos desde 55€
Nova Zelândia com cinco novas reservas marinhas
Peixe em Lisboa 2013 com Sangue na Guelra
Esta semana na Fugas online
Viver Nova Iorque em mar alto. Será essa a proposta do novel Breakaway, da Norwegian, que sai dos estaleiros alemães de Meyer Werft a 25 de Abril. O navio, de 146 mil toneladas, apresentase com 18 decks e capacidade para 4000 passageiros. Entre as atracções, um passeio ao ar livre, de 400m, com lojas, bares e restaurantes; um bar a -8,5°C; e um espectáculo com o selo Broadway. O Breakaway faz a travessia transatlântica em Maio, passando a ter como portos de abrigo Nova Iorque, Bermudas e Bahamas. Para aproveitar enquanto está na Europa, há escapada de uma noite, a 28 de Abril, de Roterdão a Southampton (desde 115€). www.breakaway.ncl.com
Os primeiros voos da linha aérea regional de baixo-custo do grupo Air-France-KLM descolam amanhã, com tarifas desde 55€ (nível Basic; há ainda Basic Plus ou Maxi Flex), embora se consiga encontrar viagens mais baratas (caso de uma ida de Bordéus para Lyon a 45,90€). A Hop! passa a assegurar 530 voos diários entre 136 destinos — Portugal fica de fora, assim como Espanha, excepção feita a Barcelona —, sendo que as reservas online para os destinos italianos só abrem após 15 de Abril. No mapa de rotas europeias, Budapeste (Hungria), Gotemburgo (Suécia), Praga (República Checa) ou Viena (Áustria). www.hop.fr
Cinco novas reservas marinhas, que se estendem por 17.500 hectares (mais de metade da região do Alentejo), foram aprovadas no início de Março pelo ministro neozelandês da Conservação, Nick Smith. As futuras zonas protegidas situam-se na costa Oeste da ilha Sul, em Kahurangi, Punakaiki, Okarito, Tauparikaka e Hautai. “Somos uma nação com uma das mais espectaculares e únicas costas [marítimas] do mundo e precisamos de reconhecer a importância e valor não só dos locais em terra mas também dos nossos habitats marinhos”, explicou o governante citado em comunicado divulgado em Breaking Travel News. www.newzealand.com
O Peixe em Lisboa volta a instalarse no Pátio da Galé, em Lisboa, para, entre 4 e 14 de Abril, apresentar um programa com Sangue na Guelra, ao longo do qual não faltam chefs nacionais (Alexandre Silva, Bertílio Gomes, Fausto Airoldi, José Avillez, Leonel Pereira, Marlene Vieira, Miguel Castro Silva, Nuno Diniz, Nuno Barros, Tomoaki Kanazawa e Vítor Sobral) nem internacionais (Adrien Trouilloud, Bella Masano, Mauro Uliassi e Virgílio Martinez). Além da presença dos chefs, estarão em destaque os subchefs. Diariamente das 12h às 24h (excepto no dia de abertura, inicia às 18h, e de encerramento, fecha às 16h). Entrada a 15€, com degustação e bebida. www.peixemlisboa.com
Vídeo: o mundo a óleo Rita e Leandro vão viajar pela sustentabilidade: serão uns 50 países, com tempo para voluntariado em quintas orgânicas. O detalhe: a viagem é numa carrinha movida a óleo alimentar usado. Conheça a história e veja o vídeo.
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Fotogaleria: na Micronésia Passeio por Guam, a maior ilha da Micronésia, dito reino de algumas das melhores praias do mundo, onde o Verão parece eterno. Fotogaleria de Nuno Lobito.
As fugas dos leitores
As 5 coisas de que eu mais gosto...
Se escrever é um prazer, então escrever sobre viagens é um prazer redobrado! Cataratas de Iguazú, Dezembro de 2009, fronteira Brasil/ Argentina/Paraguai. Tendo começado por uma caminhada de mais de 1200m no Parque Brasileiro, atravessa-se, de carro, a fronteira para a Argentina. Na parte brasileira caminha-se em redor das cataratas, em solo argentino direi que se entra pelas cataratas dentro. Num Parque Nacional rico em fauna e flora, observa-se uma criança de seis, sete anos, sentada, a brincar com dezenas e dezenas (sem exagero) de borboletas que a rodeiam! Mas há
mais, muito mais! As Cataratas de Iguazú têm o seu ponto alto (haverá pontos baixos?!) na “Garganta del Diablo”. Quando o azul do céu e o verde do arvoredo quase deixam de se ver, devido a uma queda de água que liberta
GARY HERSHORN/REUTERS
Cataratas de Iguazú, que diabo!
um vapor impressionante! Senti-me num ambiente incrível, maravilhosamente incrível, mas acho que não fui só eu!… Recordo as muitas pessoas de mãos na cabeça (literalmente) com o espectáculo natural a que estavam a assistir, parecendo não acreditar no que viam! Desde 1984 consideradas Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, as Cataratas de Iguazú foram eleitas, a 11 de Novembro de 2011, uma das 7 Novas Maravilhas da Natureza, pela New7Wonders Foundation. Quem viajar pela América do Sul, não deixe de as visitar! João Pontífice Gaspar
...em Nova Iorque Emília Estrela, gestora de seguros, vive há 40 anos em Nova Iorque.
2 Rooftop bars É um óptimo programa de fim de tarde de Verão: amigos, um aperitivo e boa música. Alguns dos meus favoritos: The Press Lounge, no topo do Ink48 Hotel; Salon de Ling, no Penninsula, em Midtown; The Haven, no Standard Hotel. O Conrad Hotel Downtown é o meu mais recente favorito.
Roma, uma viagem no tempo
3 Compras Time Warner Mall, em Columbus Circle; a Quinta Avenida e Madison Avenue para quem procure alta-costura; Soho e Chelsea para lojas trendy e retrochic.
1 Todos os caminhos vão dar a Roma e ela viaja desde o coração da história. Atravessar a cidade é perder-me por entre ruelas e ruínas, fontes e jardins, igrejas e palácios. Deambular por ruas feitas de casas cor-de-laranja, praças, becos, obeliscos, colunas. A cada esquina, a cada passo, há sempre uma história para contar. Pedras empilhadas sobre pedras, sedimentações de épocas gravadas na memória das coisas por vir. O grande enigma da passagem do tempo. Desde os etruscos aos romanos, da capela Sistina até ao Maxxi, também a arte desfila. Que caminho irá seguir? Sento-me no café Greco a ler os Contos romanos do Alberto Morávia, olho pela janela a ver a
passar? O que é o tempo e o que somos nós nessa viagem? A Piazza Navona fervilha de gente. Provo um tartufo e sinto La Dolce Vita correr mas quando ouço um Fiat buzinar e os sinos a tocar apresso-me a subir à Basílica para avistar, do alto, a cidade inteira. Já foi aqui a Cabeça do Mundo,2700 anos de história, a perder de vista. Sinto o perfume do amoR no ar e desço à ponte para ver o entardecer alongar as sombras sobre o Tibre e ao entrar no Panteão... magia, a cidade enche-se de luz! Margarida Ramos
gente que passa. Também aqui se sentaram Lord Byron, Stendhal e Goethe. Veriam a mesma gente a
Mais viagens em fugas.publico.pt
Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para fugas@publico.pt. Os relatos devem ter cerca de 2500 caracteres e as dicas de viagem cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos, bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publicados nesta página, são premiados. Esta semana com um exemplar da colecção Cadernos do Vinho, editada pela Fugas. Mais informações em fugas.publico.pt
Comida para cada dia Nova Iorque tem um restaurante de praticamente cada país do mundo. Bairros como Little Italy, Chinatown e Lower East Side para restaurantes mais em conta e com um ambiente mais jovem, e da parte alta da cidade para coisas mais formais. Eu gosto particularmente de descobrir novos restaurantes com chefs portugueses. E de partilhar a minha herança portuguesa com os amigos. A minha mais recente descoberta foi o Robert Restaurant, em Columbus Circle, 2: Luísa Fernandes não uma excelente chef, já premiada pela Food Network. Para brunch com amigos, normalmente ao domingo, sugiro o Bubby’s, em Tribeca, e o Bagatelle, no Meatpacking District.
4 Diversidade cultural A diversidade da cidade é fabulosa. Adoro andar pelas ruas e ouvir línguas diferentes. Há tantos brasileiros que posso secretamente ouvir as conversas e soltar uns sorrisos. Às vezes até surpreendo alguns com um “olá, tudo bom?).
5 Os parques São um oásis em Manhattan: para relaxar, sentir o cheiro das flores e desfrutar do cenário. Madison Park para comer um hambúrguer, Bryant Park para fazer uma pausa e ler um livro, Central Park para desporto, patinar no gelo no Inverno ou assistir a um concerto.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 33
Motores Ford Fiesta 1.0 Ecoboost First Edition
O atrevimento pouco económico dos três cilindros Estilizado, refinado e atrevido. O novo Fiesta promete não desapontar o sucesso de vendas dos seus predecessores e surge com um refrescado fôlego garantido pelos motores Ecoboost de três cilindros, no caso ensaiado, de 100 cv. Carla B. Ribeiro (texto) e Rui Gaudêncio ( fotos)
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rimeiríssima impressão: é nervoso e sensível, respondendo a qualquer pé ligeiramente mais pesado de uma forma que surpreende. E mais silencioso do que seria de esperar. São três cilindros, num motor de 999cc, com uma potência de 100cv que, nos primeiros metros, se mostram cheios de vontade de cavalgar — até porque o binário, de 170 Nm, é disponibilizado a partir das 1400 rotações e o torque pode ser aproveitado até às 4000. Mas, calma. Não sairá a galopar sem controlo e, ao fim de apenas umas voltas, domina-se bem as sensibilidades tanto do acelerador como do travão. Se primeiro (quase) assustam, depois as suas respostas assertivas tornam-se reconfortantes, sobretudo para fugir a algum obstáculo ou para estancar o carro num qualquer caótico páraarranca urbano. Cuidado, porém, com as ultrapassagens: bem vistas as coisas, não é assim tão célere, acelera dos 0 aos 100 km/h em mais de 11s. Em auto-estrada, com uma velocidade máxima, dizem os números oficiais, de 180 km/h, não desaponta, mas parece “bailar” demasiado. Já em estrada, enfrentando curva e contracurva, transmite segurança e aponta o focinho de forma precisa.
Pondo os elementos na balança, é provável que os traços apresentados garantam que o Fiesta continue a atrair o seu público-alvo preferido, constituído sobretudo por jovens. E, sabendo a marca que atrás de um cliente Fiesta há, muitas vezes, a carteira de um progenitor, a Ford lança a funcionalidade MyKey que restringe velocidade ou controla o volume áudio. O tricilíndrico chega ainda com ambições ecológicas — com um registo apreciável de 99 g/km de CO2 — e económicas, avançando com um consumo médio de 4,3 l/100 km. E é aqui que resvala e defrauda todas as expectativas. Circulámos cem quilómetros certinhos antes de voltar a atestar — cerca de 50% em cidade, 30% em auto-estrada, 20% em estrada. Total consumido: 8,7 litros, o que dá uma média pouco simpática de cerca de 15€ por 100 km. Simpatias à parte, o Fiesta, neste upgrade da sexta geração, tornouse um carro bonito de se exibir. Foi alongado, enaltecendo um sentimento dinâmico graças também à linha que se desenha desde o guarda-lamas dianteiro até ao farolim traseiro; conquistou uma grelha cromada de cinco fileiras que compõem uma “boca” agressiva q.b.; e incorporou faróis mais magros e delineados a LED, o que lhe permite parecer maior e mais largo do que é na realidade (mede 172,2cm de largura e 149,5cm de altura), ilusão à qual também não são indiferentes as linhas que pa-
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recem trepar pelo capot acima. No interior, a ergonomia foi melhorada, com alguns reposicionamentos (casos dos comandos dos vidros eléctricos ou dos puxadores), e nota-se algum esforço para
passar uma sensação de conforto em alguns detalhes (como o volante em pele), assim como abraçar uma vertente tecnológica (inclui Rádio CD MP3 com sistema Bluetooth, Voice to Control e entradas
USB e AUX). O esforço sai recompensado em vários detalhes, como na brilhante moldura superior do painel que percorre o tablier, e cujo material também se encontra nos painéis das portas. Mas persiste em ser prejudicado pela presença de vários materiais duros e de baixo custo. Para o condutor a posição que lhe está reservada é confortável, tendo sido conquistado um apoio para o braço. Ainda assim, a visibilidade traseira não é a melhor: especialmente quando o banco de trás exibe o 3.º encosto de cabeça (um opcional que custa 40€). É, aliás, dos dois bancos dianteiros para trás que o Fiesta marca menos pontos: os ocupantes traseiros têm de encaixar joelhos mediante a altura de quem segue à frente. Por isso, caso seja necessário esgotar a lotação, é bom que os passageiros se preparem para apertos.
FRENTE MODO MONDEO
CILINDRADA VS POTÊNCIA EQUIPAMENTO
Este facelift do Ford Fiesta adopta o estilo da frente do futuro Modeo, marcada por uma grelha trapezoidal (com cinco lâminas cromadas) e enquadrada com faróis com luzes de circulação diurna que utilizam a tecnologia LED. Face ao design anterior, estas novas linhas ganham em agressividade, sobretudo quando em rolamento. Mas não se pode dizer que seja um ás da estética automóvel e estacionado passa praticamente despercebido.
É cada vez maior a tendência para diminuir o tamanho dos motores e o número de cilindros, o que na teoria permite conseguir menores marcas na emissão de poluentes e também mais baixos consumos. Porém, ninguém parece disposto a perder performance para poupar o ambiente. E então enfiam-se cavalos que permitam imprimir genica, no caso, a um bloco de 999cc e três cilindros. O resultado revela um consumo bem acima do anunciado, com os cavalos a exigirem alimento correspondente às capacidades de que dispõem.
O PODER DOS PAIS
FICHA TÉCNICA Mecânica Cilindrada: 999cc Potência: 100cv às 6000 rpm Binário: 170 Nm entre as 1400 e 4000 rpm Cilindros: 3 Válvulas: 12 Alimentação: Gasolina de injecção directa com turbo Tracção: Dianteira Caixa: Manual, 5 velocidades Pneus: 195/55 R15 Suspensão: Dianteira, independente, do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora; traseira, semi-independente por
eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica Travões: Discos, à frente; tambor atrás Dimensões Comprimento: 396,9cm Largura: 172,2cm Altura: 149,5cm Peso: 1122 kg Capac. mala: 290 litros Capac. Depósito: 42 litros Prestações* Velocidade máxima: 180 km/h Aceleração 0-100 km/h: 11,2s Consumo misto: 4,3 l/100 km Emissões CO2: 99 g/km Preço 15.510€ * Dados do construtor
Um mimo para progenitores que queiram presentear o jovem filho com um carro. A tecnologia MyKey da Ford permite colocar uma série de restrições de segurança: definir um limite de velocidade máxima e volume máximo de sistema de áudio (pode até desactiválo por completo) ou impedir que o condutor desactive as tecnologias de segurança, tais como Controlo Electrónico de Estabilidade e a Travagem Activa em Cidade. Mas não é só aos pais que a Ford pisca o olho: aos gestores de frotas sublinham o facto de a limitação de velocidade poder trazer consumos mais reduzidos.
MARCHA-ATRÁS EM CUIDADOS Não é fácil. Primeiro, porque o vidro traseiro é estreito e pequeno. Depois, porque os encostos de cabeça do banco de trás tapam os cantos do mesmo. Fazer manobras para trás torna-se assim uma dor de cabeça e convém redobrar cuidados. Ou então considerar a inclusão de câmara de visão traseira (200€) ou os sensores de estacionamento à frente e atrás, incluídos nos Pack Easy Driver 2 e 3 (350 e 400€, respectivamente).
Segurança ABS: Sim (com distribuição electrónica da força de travagem) Controlo electrónico de estabilidade: Sim Airbags dianteiros: Sim (com desactivação do airbag do passageiro) Airbags laterais: Sim Airbags de cortina: Sim Airbag de joelhos para o condutor: Sim Sistema de fixação Isofix: Sim Aviso de colocação do cinto de segurança: Sim Vida a bordo Vidros eléctricos: Sim (à frente; atrás como opção de 150€) Fecho central: Sim Comando à distância: Sim Auxílio ao arranque em subida: Sim Espelhos retrovisores com regulação eléctrica e aquecidos: Sim Volante regulável: Sim Volante multifunções: Sim Volante em pele: Sim Comandos de rádio e telefone no volante: Sim Ar condicionado: Sim (Automático) Porta-luvas iluminado: Sim Porta-luvas refrigerado: Não Bancos dianteiros ajustáveis em altura: Sim Bancos traseiros rebatíveis: Sim Cruise control: Opção (180€) Função Start/Stop: Sim Computador de bordo: Sim Bluetooth: Sim Conexões AUX-IN e USB: Sim Faróis de Nevoeiro: Sim Jantes em liga leve: Sim (15”) Alarme: Não (Opção, 250€)
BARÓMETRO precisão da s Agilidade, direcção, função MyKey, respostas rápidas
médios t Consumos apurados, persistência de alguns plásticos duros, visibilidade traseira
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Motores Novidades
O “carocha” volta a ser descapotável Um dos carros que marcou a história da indústria automóvel foi o Volkswagen Beetle original, tanto na versão fechada como na descapotável. Na linha dessa tradição, surge agora uma variante Cabrio do moderno “carocha”. João Palma
A
3.ª geração do Volkswagen Beetle tem a partir de agora uma versão descapotável. O novo Beetle Cabrio está disponível em dois níveis de equipamento, Design e Sport, com três motores a gasolina (105cv, 140cv e 200cv) e dois a gasóleo (105cv e 140cv). Os preços iniciam-se nos 26.935€ do Beetle Cabrio 1.2 TSI de 105cv a gasolina. Em homenagem ao “carocha” original, por mais 2575€, há uma edição especial em três variantes: 50’s, 60’s e 70’s Edition. O Beetle, mais conhecido em Portugal como “carocha”, confundese com a história da Volkswagen. Mantendo as linhas originais, com várias evoluções durante a sua vida, resistiu de 1938 a 2003. Ao longo da sua longa história, teve duas versões descapotáveis: a primeira entre 1949 e 1952 e a segunda de 1972 a 1980. O novo Beetle nasceu em 1998 e durante cinco anos foi fabricado em simultâneo com o “carocha” original em Puebla (México). Essa 2.ª geração do Beetle, que não obteve o sucesso de outras modernas versões de clássicos, como o Mini ou o Fiat 500, teve uma variante descapotável a partir de 2003. O Beetle III, também produzido no México, procurou recuperar parte do ADN do primeiro “carocha”. O descapotável segue-lhe as pisadas, juntando-lhe o condimento de um visual desportivo, graças ao spoiler, às ópticas traseiras e à sua silhueta: é mais comprido (4278mm), mais largo (1808mm) e mais baixo que o Beetle Cabrio de 2003. A capota têxtil, em preto ou bege, é composta por três camadas de tecido impermeável, sendo a intermédia acusticamente isolante. Tem accionamento eléctrico, abrindo ou fechando em 9,5 segundos
Este Beetle tem dois níveis de equipamento: o Design e o Sport
mesmo em movimento até 50 km/h e recolhe-se num compartimento especial, pelo que a capacidade da mala, 225 litros, não se altera.
O novo Beetle Cabrio pode ter três motores a gasolina (1.2 TSI, 1.4 TSI e 2.0 TSI) e dois a gasóleo (1.6 TDI e 2.0 TDI), acoplados a uma
caixa manual de seis ou de cinco velocidades (esta última no caso do 1.6 TDI). Em alternativa pode trazer a caixa DSG de dupla embraiagem
FICHA TÉCNICA Motorizações
Veloc. Máx.
Consumo Médio
Emissões CO2
Preço
1.2 TSI (105cv)
178 km/h
6,1/5,9 l/100km
142/139 g/km
1.4 TSI (160cv)
206/205 km/h
6,8/6,4 l/100km
158/148 g/km
30.926€/31.628€*
2.0 TSI (200cv)
223/221 km/h
7,5/7,8 l/100km
174/180 g/km
39.475€/41.407€**
1.6 TDI (105cv)
178/176 km/h
4,7/4,9 l/100km
124/128 g/km
32.187€/34.121€*
2.0 TDI (140cv)
196/193 km/h
5,1/5,6 l/100km
134/145 g/km
37.442€/40.356€*
Gasolina 26.935€/28.027€*
Gasóleo
* Valores para nível de equipamento Design com caixa manual/caixa automática DSG. ** Valores para nível de equipamento Sport com caixa manual/caixa automática DSG
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e sete relações (1.2 TSI, 1.4 TSI e 1.6 TDI) ou de seis relações (2.0 TSI e 2.0 TDI). As prestações proporcionadas pela caixa DSG são muito similares (nuns casos superiores, noutros inferiores) às da caixa manual. Este descapotável de três portas e quatro lugares tem dois níveis de equipamento: o Design inclui airbags frontais e de cortina à frente, apoios de cabeça, sistema activo de protecção a capotamento, fixações Isofix, controlo de estabilidade com sistema de diferencial electrónico e de antipatinagem, ar condicionado, ajuda ao arranque em subida, cruise control, sensores de chuva e de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis de nevoeiro com iluminação em curva, indicador da pressão dos pneus, jantes de liga leve de 16’’, rádio/CD MP3 com entrada Aux-In e comandos no volante. O Sport acrescenta jantes de 17’’, climatizador, bloqueio electrónico do diferencial, três manómetros adicionais (temperatura do óleo, cronómetro e pressão do turbo), ponteiras de escape e bancos desportivos, pedais em metal. Sendo o Beetle Cabrio um modelo que apela à emoção e a um espírito revivalista enquadrado num design actual, a Volkswagen criou uma edição especial em três variantes: a estilista 50’ Edition, de linhas clássicas, em preto com capota e jantes de 17’’ da mesma cor e inserções cromadas e prateadas; a cool 60’ Edition, em azul brilhante ou branco, bancos de pele em dois tons, logótipos e instrumentação tipo anos 1960, jantes de 18’’ e capota preta; e a elegante 70’ Edition, em castanho toffee com capota bege, bancos desportivos em pele bege e jantes de 18’’.
A democratização dos coupés da Mercedes
Em termos de conforto e vida a bordo, o CLA cumpre com o exigido para um veículo da sua categoria
O novo coupé de quatro portas da Mercedes pareceu confirmar as expectativas num primeiro contacto. A versão em ponto pequeno do CLS oferece qualidade e design a metade do preço do irmão maior – uma aposta para conquistar novos clientes. João Palma
A
s expectativas eram muitas, alimentadas pela recente aparição no Salão de Genebra, mas o Mercedes-Benz CLA, uma berlina de quatro portas e cinco lugares em formato de coupé, nas primeiras impressões, colhidas na apresentação dinâmica, não as defraudou. O CLA é ainda mais bonito ao vivo do que nas fotos e preenche um espaço novo na gama da Mercedes. Pelas suas linhas, é basicamente um CLS em formato reduzido, mas que custa metade do preço: estará à venda em Abril desde 36.550€ (CLA 200 1.6 a gasolina com 156cv). De momento, esta é a versão mais acessível, mas em Junho/Julho serão lançadas duas variantes do bloco 1.6 a gasolina com 122cv, que, previsivelmente terão um preço inferior: 180 e 180 BlueEFFICIENCY Edition. Esta última terá médias de 5,0 l/100km de consumos e 118 g/km de emissões de CO2, para o que contribui o seu coeficiente aerodinâmico muito baixo — Cd 0,22. Mas mesmo as outras versões do CLA, com um Cd de 0,23, dão cartas em termos de aerodinâmica. No lançamento, além do CLA 200, estarão disponíveis o 250 com motor a gasolina de 1595cc e 156cv e o 220 CDI com propulsor a gasóleo de 2143cc e 170cv. Mas será apenas em Setembro que vai ser lançada a versão que irá constituir o grosso das
vendas do CLA em Portugal, dadas as especificidades do mercado: o CLA 200 CDI, com motor a gasóleo de 1796cc e 136cv, que se estima que venha a custar cerca de 38.000€. Para a mesma data, está previsto o CLA mais potente: o 45 AMG, uma criação do departamento desportivo da Mercedes dotado de motor a gasolina turbo de dois litros, com 360cv e 450 Nm, acelerando dos 0 aos 100 km/h em 4,6s e com uma velocidade máxima limitada a 250 km/h. O CLA tem de série eficientes e bem escalonadas caixa manual de seis velocidades ou automática de sete relações (no 250 e no 220 CDI) e é o primeiro modelo de quatro portas da Mercedes com tracção dianteira (pode ser integral 4Matic no CLA 250). Todas as versões vêm dotadas com sistema Start & Stop, de paragem e arranque automáticos do motor, e, na caixa manual, indicador de mudança de velocidade. A suspensão pode ser a conforto de série ou, em opção, a desportiva, com rebaixamento da carroçaria 15mm à frente e 10mm atrás. Com 463cm de comprimento, 177,7cm de largura e 143,2cm de altura, o CLA, por fora, é uma réplica em menores dimensões (e, para alguns, melhorada) e mais acessível do CLS. As suas linhas conjugam um estilo elegante e desportivo com eficiência aerodinâmica. Derivado do classe A, tem uma mala de 470 litros e transporta com conforto quatro pessoas — o lugar do quinto ocupante, ao meio e atrás, é mais estreito e o túnel central da transmissão dificulta
FICHA TÉCNICA Motorizações
Veloc. Máx.
Consumo Médio
Emissões CO2
Preço
180 1.6 (122cv)
210 km/h
5,4 l/100km
126 g/km
a definir*
180 BlueEff. 1.6 (122cv)
190 km/h
5,0 l/100km
118 g/km
a definir*
200 1.6 (156cv)
230 km/h
5,5 l/100km
127 g/km
36.550€
250 2.0 (211cv)
240 km/h
6,1 l/100km
142 g/km
47.900€
200 CDI 1.8 (136cv)
220 km/h
n. d.
n. d.
220 CDI 2.2 (170cv)
230 km/h
4,2 l/100km
109 g/km
Gasolina
Gasóleo 38.000€** 44.750€
*Disponível em Julho. ** Disponível em Setembro; preço estimado a colocação dos pés. O formato mergulhante do tejadilho faz com que quem tenha mais de 1,80m de altura e se sente nos bancos traseiros roce com a cabeça no tecto. Já à frente o espaço é amplo e o condutor, independentemente do seu tamanho, encontra facilmente uma posição confortável com boa visibilidade. Os materiais e os acabamentos honram os pergaminhos da marca alemã. A instrumentação é completa e de leitura fácil e enquadra-se no tablier de linhas elegantes, a condizer com a sensação de qualidade do habitáculo. No que se refere à segurança, o Mercedes-Benz CLA ainda não foi
submetido aos testes do Euro NCAP. No entanto, está bem equipado, tendo de série airbags frontais, laterais e de cortina à frente, além de joelhos para o condutor. No pacote chegam ainda sistemas de alerta de colisão e de fadiga do condutor, programa electrónico de estabilidade com controlo de tracção e auxílio à travagem de emergência, travões de disco às quatro rodas, travão de estacionamento eléctrico, monitorização da pressão dos pneus, fixações Isofix e capot de motor activo para protecção de peões. Em termos de conforto e vida a bordo, o CLA cumpre com o exigido
para um veículo da sua categoria, mas é susceptível de personalização por meio de duas linhas de design, Urban e AMG Sport, e de uma extensa lista de itens e pacotes de equipamento opcionais. No lançamento, e por um período de 12 meses, é proposta por 6150€ (6650€ no caso do CLA 200) uma série especial Edition 1, que inclui jantes especiais AMG de 18’’, aventais traseiro e dianteiro e saias laterais AMG, suspensão rebaixada e discos de travão dianteiros perfurados, grelha frontal com visual diamante, faróis bixénon, escape duplo com ponteiras em inox, bancos em pele, pedais em aço inoxidável, etc.
FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 37
Plano de viagem
ADRIANO MIRANDA
À descoberta da Inglaterra da primeira metade do século XX, percorrendo os lugares mais representativos da obra da escritora Virginia Woolf. Preço: desde 2500€/pessoa em quarto duplo. Voo, taxas, seis noites, pensão completa, entradas em monumentos e museus, visitas com conferencista especializada e guia a Londres, Brigthon e Cornualha. De 7 a 13 Maio. Touch Travel Viajar com arte. Tel.: 217817590; Centro Nacional de Cultura.www.cnc.pt
Ar livre
Passeio de bicicleta em Estarreja
MIGUEL MADEIRA
Estarreja comemora o Dia Nacional dos Moinhos, que se assinala no dia 7 de Abril, com um passeio de bicicleta pelos moinhos de Avanca, que envolve o moinho de Meias, Zangarinheira e Arcã. Inscrição 5€ e 10€ com almoço. Das 9h30 às 16h. Telefone: 917642697; geral@cm-estarreja.pt. Durante este fim-de-semana, um pouco por todo o país, estarão a funcionar e abertos ao público, para visitas gratuitas, várias dezenas de moinhos de todos os tipos.
Cá dentro
No dia 6 de Abril parta à descoberta da serra de Grândola, percorra olivais seculares e montes cobertos de belos montados de sobro e observe variadíssimas espécies de flora e fauna local. O local de encontro está marcado para as 10h, junto ao coreto, perto da Câmara Municipal de Grândola. Gratuito. www.clubenatura.net NUNO FERREIRA SANTOS
Pastores na serra da Estrela Preço: desde 235€/ pessoa em quarto duplo. Conheça as tradições dos pastores da Serra da Estrela, percorra alguns dos seus trilhos e saboreie as iguarias das Beiras, nesta escapada de dois dias. Inclui estadia de uma noite em regime de pensão completa, transporte à partida de Lisboa em autocarro de turismo e guia. De 8 a 9 de Junho. www.cistertour.pt
Marrocos Lá fora
Palheiros do Castelo Preços/casa/noite: 50€, 75€, 80€ e 85€ (capacidade para quatro pessoas). Estadia nos Palheiros do Castelo, quatro casas de campo situadas dentro das muralhas do Castelo do Sabugal, que convidam ao descanso e ao lazer. www.mundo-rural.pt
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Caminhada na serra de Grândola
Preço: desde 2170€ por pessoa em quarto duplo. Com a duração de 11 dias, o programa “Marrocos Português” mostra-nos a influência e os testemunhos da cultura portuguesa neste país. Passagem aérea, taxas, alojamento em hotéis e uma noite em auberge ou acampamento, pensão completa e visitas com guia a Casablanca, Azamour, Jadida, Safi, Essaouira (na foto), Marraquexe, Ouarzazate, Tinghir, Erfoud, Merzouga, Fez, Meknès e Rabat. www.arvorecoop.pt
Cruzeiro Preço: desde 569€/pessoa em camarote duplo. Doze dias a bordo de cruzeiro em regime de pensão completa, com partida no dia 6 de Abril de Civitavecchia (Itália) e portos de escala em Alanya (Turquia), Limassol (Chipre), Haifa e Ashdood (Israel), Port Said e Alexandria (Egipto, na foto em cima). Não inclui o voo. www.abreu.pt
Colecção 15 livros+CD. Periodicidade semanal. PVP vol. 1: 3,95€. PVP restantes: 6,95€. Preço total da colecção: 101,25€. Entre 24 de Janeiro e 1 de Maio. Edição limitada ao stock existente. A compra do produto implica a compra do jornal.
www.publico.pt
Uma after-hours party em 1964
quinta, dia 4 Abril
A melhor festa para Catherine? Horas e horas de Ferré . Marcele Saunier, conhecida como Catherine Sauvage, relegou para segundo plano o piano e as artes dramaturgas para se concentrar no canto, inspirada pelo seu ídolo Léo Ferré. Mais do que um ídolo, Ferré foi também uma espécie de tutor de Catherine, tendo composto o seu primeiro grande êxito Paris Canaille, bem como L'Homme, outro dos seus êxitos. A sua vida e obra estão presentes no CD e livro desta semana, com ilustração de Tiago Albuquerque. Participe ainda no passatempo e ganhe viagens a Paris. Reserve já. Saiba mais em www.publico.pt
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