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642. Toda a vida desejei Uma mulher mediana; Deu-me Deus uma pandorca Que me não cabe na cama.
I-J 643. Infeliz de quem viveu Sem o amor conhecer! Pode dizer, sem mentir, Que existiu sem viver (1243). 644. Já fui ao Brasil e vim, Já fui meio brasileiro; Já tive amores de graça E agora nem por dinheiro (1244). 645. Já me davam dez mil réis E uma pipa de azeite Por casar com uma donzela Que há dez anos dava leite (1245). 646. Já te amei um verão inteiro E ainda parte do inverno; Agora nem ver-te posso, Meu castiçal do inferno. 647. Já te devia ter dado As chaves da minha vida; Mas tornei a reparar Que eras mui rapariga. 648. Já te podia ter dado Um cordão para o colete; Mas tornei a reparar: Quem te lograr que to merque.
(1243) Variante de outra na Agenda Brigantina, 1924, referente ao dia 21 de Maio. (1244) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro popular de Vila Real, p. 111. (1245) Ibidem, n.° 125.
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649. Já te quis, já te não quero, Já te amei, já te não amo; Da minha pouca amizade Aqui tens o desengano.
IGREJA, ADRO, MISSA 650. Acenaste-me do adro, Não negues, que eu bem vi; Deste que falar ao mundo, Foi a coisa que eu mais senti. 651. Ao entrar p’ra igreja, Ao tomar água-benta, Logo meus olhos se inclinam Para onde o meu amor se senta. 652. Ao entrar p’ra a igreja Sentei-me num banco; Botei os olhos ao amor, Esqueci-me do santo. 653. Bem vi andar a morte No adro a colher flores; Vai-te daí, ó morte, Desamparo dos amores. 654. Cada vez que vou à missa, Faço retiro no adro; Vejo passar lindas caras, Só tu és do meu agrado (1246). 655. Cada vez que vou à missa Logo me sento nos bancos, Lembram-me as raparigas E esquecem-me os santos. 656. Cada vez que vou à missa, Ó tomar da água-benta, Quanto mais vou, mais te quero, Mais o pecado me atenta.
(1246) Variante da n.° 138 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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657. Fui à missa no domingo Com a minha saia de folhos; O ladrão do sacristão Logo me piscou os olhos. 658. Já o adro cria silvas, Já não há passeadores; Já morreram os rapazes, Já não há quem tenha amores. 659. Lá no adro da igreja Há uma verde nabiça, Que a regam os meus olhos Cada vez que vou à missa (1247). 660. Lá no adro da igreja, Onde se enterram anjinhos; Ó terra que estás comendo Corpos tão delicadinhos. 661. Meu amor, se fores à missa Vai p’ra onde t’eu veja; Não faças andar meus olhos Aos saltinhos pela igreja. 662. No adro da igreja Tocaram à Trindade; Difamaram-me contigo Ao certo ninguém o sabe. 663. Oliveira do adro Bota as raízes ó lodo; Eu não falo de ninguém E de mim fala o mundo todo. 664. Oliveirinha do adro, Dá-lhe o vento revolteia: Tu és a minha prisão E eu sou a tua cadeia.
(1247) Variante da n.° 477 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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665. Oliveirinha do adro, Deita baguinhas de prata; Tomar amores não custa, Deixá-los é que mata (1248). 666. Oliveirinha do adro, Seca seja a tua rama; Inda sou tão pequenina E já me trazeis na fama. 667. Se passares pelo adro Tira o chapéu à cruz; O meu amor é mordomo Do Coração de Jesus (1249).
JANELA 668. Atirei com uma laranja À menina da janela; A laranja vai comigo, A menina quem a dera! 669. Cada vez que considero Vou à janela e digo: Onde estás que te não vejo, Desvelo do meu sentido? 670. Da janela de meu pai Avisto a de meu sogro; Bem podeis, pai d’alma, Juntar o casal todo. 671. Da minha janela à tua, Do meu coração ao teu, Há uma estrada d’amor, O que a sigo sou eu. 672. Da minha janela à tua, Do meu telhado ao teu, Anda um navio d’amores, O navegante sou eu. (1248) Variante de outra a p. 263 de MARTINS – Folclore do concelho de Vinhais e os dois últimos versos em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 113. (1249) Variante de outra a p. 263 do Folclore do concelho de Vinhais. Em Samões e Urrós alteram o último verso dizendo: «Da bandeira de Jesus».
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673. Da minha janela à tua É uma vara medida; Do meu coração ó teu É uma escada descida. 674. Da minha janela à tua É um salto e mais nada; Do meu coração ao teu É uma longa estrada. 675. Dá-me de lá um abraço, Ó meu amor, léra, léra; Agora não pode ser, Qu’está meu pai à janela. 676. Dei um ai à tua porta, Outro à tua janela, E outro na pedra da fonte, Ninguém soube por quem era (1250). 677. Janela de pau-de-pinho Com pregadura amarela; Quem te tirara menina Dessa vida de donzela! 678. Janela de pau-de-pinho, De pau-de-pinho janela! Quem tem só uma filha Pensa que o vento lha leva (1251). 679. Janela de pau-de-pinho, Mau caruncho te despedace; Lindos olhos escondeste Ao tempo que te fechaste. 680. Ladrão da desgraça Que m’entrou pela janela! Quem nasce p’ra desgraça Não pode fugir dela (1252).
(1250) Variante da n.° 192 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1251) Os dois primeiros versos no LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 427. (1252) Variante da n.° 195 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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681. Ma-lo haja quem deixou Nas casas haver janelas; Eu deixo de amar a Deus Para amar quem está nelas. 682. Menina que está na janela, Que está comendo pão e queijo, Faça da boca pistola E atire-me cá um beijo (1253). 683. Minha mãe diga à Teresa Que se tire da janela, Anda aí um gaio verde Que não tira os olhos dela. 684. No laço do vental, Meu amor, que vais à guerra; Se fores e não voltares Fecha-se aquela janela. 685. Ó bela, vem à janela. Já que varanda não tens, Vem ver se o teu amor É algum dos que aqui vem. 686. Ó janela da esquina Quem te pudera bater; A menina que está nela Quem dera de a merecer. 687. Ó que janela tão alta Feita de cal e areia; Mal empregado estar nela Uma macaca tão feia. 688. Ó que janela tão alta, Sete varas tem de altura; A menina que está nela Quem a dera cá na rua (1254)!
(1253) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 147. (1254) Outra variante diz no 4.° verso: «Quem ma dera já segura».
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689. Ó que janela tão alta, Eu a fiz, eu a talhei; A menina que está nela É minha, eu a ganhei. 690. Ó tanto estar na janela, Tanto olhar p’r’o chão! Tanto passar o lencinho Da algibeira p’ra mão! 691. Sai à janela se queres ver a pendência Do alfaiate e da tecedeira com o juiz na audiência! O alfaiate rouba o pano, a tecedeira rouba o linho E o juiz rouba o dinheiro do bolsinho. 692. Tenho na minha janela Manjarona aos molhos; Tenho diante de mim A perdição dos meus olhos. 693. Tenho na minha janela Malverde bem tratado; Regado com águas tristes Que por ti tenho chorado. 694. Tenho na minha janela Junquinhos verdes, meu bem; Todos temos nossos erros, Quem menos pensa, mais tem. 695. Tenho na minha janela O que tu não tens na tua: Cravos roxos e vermelhos Viradinhos para a rua (1255). 696. Tenho na minha janela Vasos de fina verdura; Dá-lhe o vento, bole a folha, Meu amor se m’afigura.
(1255) Variante da n.° 320 em LIMA, Pires de – Cancioneiro…
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697. Tira-te dessa janela, Fio de ouro mal torcido, Está-me a dar tentação De me ir abraçar contigo. 698. Tire-se dessa janela, Menina, eu já a vi; Não me faça perder a alma, Que o corpo já o perdi.
JASMIM 699. Meu branco jasmim de Itália Que estás deitadinho na cama, Dá o braço à sangria, Senão morre quem te ama. 700. Na fina pedra do rio, No jasmim da castidade; Se me tens algum afecto Peço-te que não acabe. 701. O jasmim caiu do céu E no ar se desfolhou; Quem neste mundo não ama No outro não se salvou. 702. O jasmim caiu do céu Desfolhou-se no assintro; As penas que por ti passo Deus o sabe e eu o sinto (1256). 703. O jasmim caiu do céu, Deu na pedra, ficou coxo; O lírio com sentimento Logo se vestiu de roxo.
JOGOS DE RODA 704. Aquela cozinheira, Que cozinhava bem, Deixou a cozinha Para ir falar ao seu bem. (1256) Variante da n.° 511 em SPOLETO – Cantares da minha terra, com a circunstância de eu ter ouvido assintro e não jacinto.
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705. Dá-me um só beijo, Dá-me um só, dá; Mascareta que não danças, Olha a mim que se me dá! 706. Dança, dança mascareta, Dança, dança mascarota; Mascareta que não danças, Olha a mim que se m’importa! 707. Ó amendoeira Dá-me da tua rama; For causa de ti Anda o meu amor em fama. 708. Se ele anda em fama Deixá-lo andar; Com água de rosas Se ele há-de lavar. 709. Se ele há-de lavar, Ó verde limão; Escolha, escolha, Que é ocasião. 710. Quem tem pai, tem superior, Quem tem mãe, superior tem; Vai-te embora porta a fora Que me ralha a minha mãe. 711. Que me ralha a minha mãe, Que me ralha a minha avó; Vai-te embora porta a fora, Sou solteira, durmo só. 712. Sou solteira, durmo só, Ralha-me minha madrinha, Que ela tem obrigação De dar apoio à afilhadinha. 713. Vê-la vai, vê-la vai, A raposa pela arada; Ela não a come Mas dá-lhe com a patada. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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714. Vê-la vai, vê-la vai, A raposa pelo linho, Ela não o come Mas dá-lhe c’o rabinho.
L 715. Lá te mandei uma carta Fechada com junqueirinha As letrinhas iam dizendo: Menina, hás-de ser minha. 716. Lá te mandei outra Fechada com sentaige, Dizendo que não hei-de ser tua Que achas no mundo mais. 717. Lindos olhos tem a truta, Quem me dera assim os meus, Para os ir lavar ao rio Onde a truta lava os seus (1257). 718. Louco poeta não cantes, Já é tarde para te ouvir, Procura novos amores E a mim deixa-me dormir.
LAGARTO 719. Coitadinho do lagarto Está enterrado na areia; Quem o for desenterrar Tem cem anos de cadeia. 720. Daqui donde estou bem vejo Dois olhinhos por um buraco; Ou são os do meu amor, Ou são os d’algum lagarto. 721. No alto daquela serra Há um buraco redondo, Onde se esconde o lagarto Com os alforges ao ombro. (1257) Variante da n.° 400 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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722. Se tu visses o que eu vi No buraco de uma parede: A cobra a dançar a morna E o lagarto a cana-verde.
LAMEIRO, FENO, PRADO, OUTONO, ERVA 723. Adeus fonte da lameira, Onde a auga sobe e dece; Adeus grades da cadeia Onde o meu amor padece. 724. Debaixo das pedras nacem Ervinhas acidentais; Quando pensais que vos deixo, É quando vos quero mais. 725. Detrás da parede nova Semeia-se o azevém; Só gastais tempo comigo Quando não achais com quem. 726. Em qualquer lameirinha Nace uma flor amarela; Menina bonita sem fama É novidade na terra. 727. Em qualquer lameiro verde Nace uma flor amarela; Vale mais um amor fora Que quatrocentos na terra (1258). 728. Fui à erva ao lameiro Esbarei e caí no feno; As tuas falas, menina, Para mim são veleno. 729. Fui à erva ó lameiro Ficou-me a junça na presa; Tu deixaste-me e eu deixei-te, Agora nada me pesa. (1258) Variante da n.° 153 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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730. Lá te mandei um raminho Das ervas do meu lameiro, Atado com fio de junça Que a seda custa dinheiro (1259). 731. Minha mãe mandou-me à erva, Eu à erva não hei-de ir; O lameiro tem covinhas, Tenho medo de cair. 732. O cravo caiu do céu, Desfolhou-se no outono; Ai de mim qu’estou falando A amores que já têm dono! 733. Ó água que vais correndo Verdes prados vais regando; Compadeça-se, ó menina, Do seu amor que vai chorando. 734. Pedi o leite à vaca, A vaca pediu-me erva; Pedi a erva ao lameiro E o lameiro pediu-me rega. 735. Quanto te fui dar o sim Ó lameiro da verdura, Melhor me fora morrer E ir para a sepultura (1260). 736. Que passarinho é aquele Que anda no lameiro verde C’o o biquinho na auga A dizer que morre à sede?
LARANJA 737. A laranja-tangerina Ó que lindo gosto tem! Eu gosto de dançar Com quem dança bem.
(1259) Variante de outra da p. 260 MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais. (1260) Variante de outra na Ilustração Trasmontana, (1908), p. 104, n.° 16.
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738. Atirei com uma laranja Além do mar, ao Brasil; Quem por mim perdia sonos Agora pode dormir. 739. Esta noite corre vento, Também a noite passada; Minha laranjeira doce Como ficas abanada! 740. Não me escupa, não me escarre, Qu’eu não tenho nenhum erro; Sou como a laranja Que sai do arvoredo. 741. O meu amor está doente Em leito de laranjeira; A fala de Deus te visite Qu’eu não posso inda que queira. 742. Ó menina das laranjas Quantas dá por um vintém? Dou cinco sem tirar uma E inda assim não acham bem. 743. Venho d’além do rio De regar o laranjal, Ainda trago uma folhinha No laço do vental.
LIMÃO 744. Atirei com o limão correndo Foi parar à sacristia; Acertei na careca ó padre Isso era o que eu queria. 745. Deitei o limão correndo À tua porta parou; O bem qu’eu te quero O limão o mostrou (1261). (1261) Variante da n.° 126 em SPOLETO – Cantares da minha terra e idêntica à n.° 38, p. 40, da Ilustração Trasmontana, (1910), publicada pelo abade Tavares.
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746. Limão não compro nem vendo, Só o trago de encomenda; É fruta muito azeda, Não a quero cá na tenda. 747. O limão é fruta azeda Que se estila na botica; Ama-se quem é de gosto, Quem não é de gosto fica (1262).
LOUREIRO 748. Eu hei-de ser a geada Que tudo hei-de abrasar; Hei-de subir ao loureiro Nem folha l’hei-de deixar. 749. Loureiro, verde loureiro E a baga bem amarelinha; Os amores são dos outros E a fama inda é minha. 750. Loureiro, verde loureiro, Loureiro de folha estreita; Ninguém se finte nos homens Desde que têm a barba feita. 751. O loureiro já é meu, A folha e mais a baguinha; Os amores são dos outros, A fama inda é minha. 752. Se o loureiro não tivesse Pelo meio tanto guiço, Da minha janela via Os olhos do meu derriço. 753. Se o loureiro não tivesse Tanta rama pelo meio, Da minha janela via A renda do teu travesseiro. (1262) Ilustração Trasmontana, (1910), p. 40, n.° 34.
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754. Subi lá cima ao loureiro, Deitei fitas a voar; O meu amor é caixeiro Tem muitas p’ra me dar. 755. Tendes o loureiro à porta, À cama vos vai o cheiro; As folhas vos estão caindo Na renda do travesseiro (1263).
LUME, FUMO 756. Deitai lenha ao lume, Está seca, há-de arder; A mulher que tem mau homem Mais lhe valera não nascer. 757. Antes que o lume se apague Na cinza fica o calor; Antes que o amor se ausente No coração fica a dor (1264). 758. Que delicado é o fumo Que passa a telha dobrada; Que delicados são seus olhos Que namoram de pancada (1265).
LUAR 759. Daqui donde estou bem vejo Duas meninas a par; Uma é cara de lua E outra é cara de luar. 760. Já o luar se levanta, Só tu minha preguiçosa Estás dormindo descansada Nesse teu leito cor-de-rosa. (1263) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 260. (1264) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, p. 120. (1265) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 258. Idem, VASCONCELOS, J. L. de – Canções do berço, p. 73. Idem, SANTOS JÚNIOR – As telhas do teu telhado, 1933, onde diz que corre em muitas terras e cita a respectiva bibliografia.
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761. Ó luar contemplativo, Ó planeta inconstante; Numa ausência rigorosa Quanto custa ser amante! 762. Ó luar da meia-noite, Tu és o meu inimigo; Adormeces quem está esperto E acordas quem está dormindo. 763. Ó luar da meia-noite, Tu és o meu inimigo; Estou à porta do amor E não posso entrar contigo. 764. Ó luar que assim vais alto, Numa noite que eu não queria! Do céu viera uma nuvem, Ó luar que te encobrira.
M 765. Ma-lo haja o pai dos ratos E mais a mãe das formigas, Porque roeram os livros Onde s’estudavam as cantigas. 766. Ma-lo haja o perxigueiro E mais a sua novidade: Se quem madruga não alcança Que fará quem se levanta tarde. 767. Mandaste-me aqui vir, Que aqui havias de estar; Em vim, tu não vieste, Cá não hei-de voltar. 768. Mariquinhas foi à fonte, Muito tarda que não vem; Ou deixou quebrar a cântara Ou demorou com alguém. 769. Mariquinhas teu pai deu-te, Bem te podia matar; Tinhas o caldinho feito E a loucinha por lavar. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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770. Menina de copa alta, Não ponha o lenço à banda; Ainda que seu pai é rico, A roda também desanda. 771. Menina do lenço branco E o vental amarelo, Faça favor de me dizer: Quem lhe fez crescer o butelo? 772. Menina do lenço branco, Eu inda lhe hei-de dar outro; Inda a hei-de levar Deste lugar para outro. 773. Menina do lenço branco, Os olhos da mesma cor, Diga a seu pai que a case, Eu serei o seu amor. 774. Menina do lenço branco, Por caridade mo venda; Sou rapaz novo Quero pôr uma tenda. 775. Menina do lenço doutra E da camisa emprestada, Diz a dona do colete Que lhe leva a saia a casa (1266). 776. Menina, diga a seu pai, Eu lho direi se o vir, Que não fale mal de mim, Que em casa lhe hei-de cair. 777. Menina, papoila da Índia, Criada com sol e vento, Comigo andais na fama, Com outro gastais o tempo. (1266) LOURENZO FERNANDES, Xaquin em O liño e a lã, 1933, p. 28, dá a seguinte com o mesmo tema: Mociña do pano alleo E da camisa emprestada: Dixo-me a dona da almilla Que vos tire de la saia.
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778. Menina dos olhos galantes, Cabelo da cor da noite; Venho de terras distantes, Não tenho onde me acoite. 779. Menina que sabe ler Tem grande habilidade; Sabe os segredos dos outros E os seus ninguém lhos sabe. 780. Menina da saia verde Que leva na regaçada? Levo copinhos de vidro, Se caio, não levo nada (1267). 781. Menino do chapéu alto, Bigote retorcido, Por vias do seu amor Muita palha tem roído! 782. Meu amor dalgum dia, O diabo que o leve; Deixou-me tão tristinha Adonde eu era tão alegre. 783. Meu amor fala baixinho, Estamos em terra alheia, Tenho medo que me prendam E me levem à cadeia. 784. Meu amor perfeito e lindo, Saiu-me vereador; Ai Jesus! quem irá dar Sentenças contra o amor?! 785. Meu amor procura agrado, Não procures fermesura; Fermesura sem agrado É viver na noite escura. 786. Meu amor, se te fores, Escreve-me do caminho, Se não tiveres papel Nas asas dum paxarinho. (1267) Variante da n.° 424 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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787. Meu amor, se te fores, Leva-me na tua companhia; Sou como a primavera, Onde quera vou metida. 788. Meu amor, vai bordamerda, Não o digas a ninguém, Para que ninguém saiba O gosto que a merda tem. 789. Meu lencinho vou gravar Com uma agulha de escrever, As letrinhas vão dizendo: Hei-de amar-te até morrer. 790. Minha maçã vermelhinha, Criada na macieira; És bonita de casada, Que faria de solteira (1268)?! 791. Minha maçã vermelhinha, Criada ao sol e ao vento; Comigo tendes a fama, Com outro passais o tempo. 792. Minha maçã vermelhinha, Picada do reixenol; Quem te picou, que te coma, Que já te tirou o melhor (1269). 793. Minha maçã vermelhinha, Quem foi que te amadurou? – Foi o sol, foi a sombra, Foi calor que me apanhou. 794. Minha porta não se abre, Minha porta se há-de abrir; Era meia-noite em ponto E a velha estava a dormir.
(1268) Variante da n.° 428 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1269) Variante de outra na p. 259 de MARTINS, Firmino – Folclore de Vinhais.
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795. Moças, não faleis das moças, São moças como vós; Hoje falais vós delas E amanhã elas de vós. 796. Muito bem parece o carro À porta do lavrador; Melhor parece a moça Aos beijos ó seu amor. 797. Muito bem parece o ouro Na garganta à donzela; Melhor parece a honra, Menina faça por ela. 798. Muito bem parece o preto Ao pé do branco lavado; Melhor parece a moça Ao pé do seu namorado.
MÃE 799. Eu entrei à tua casa Pelas ripas do telhado A perguntar a tua mãe Se era do teu agrado. 800. Eu tinha uma mãe Que era mais linda que o sol; Se pensais que vos engano, Olhai p’ra o altar-mor. 801. Mãe da minha vida, Pai do meu coração; Por bem anos qu’eu viva Não vos pago a criação. 802. Minha mãe compre, compre, O vermelhinho na tenda; Quero figurar ao longe, Já que não tenho fazenda.
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803. Minha mãe é minha amiga, É minha amiga leal, Que me trouxe nove meses Debaixo do seu vental. 804. Minha mãe é uma rosa Que meu pai recebeu; Aqui estão os bretõesinhos Que aquela rosa deu. 805. Minha mãe não me bata, Ponha a mão no coração; Quebrei a cantarinha A dar água ao meu João. 806. Minha mãe quando me bate, Puxa-me bem as orelhas; Que fuja das raparigas Como o lobo das ovelhas. 807. Minha mãe tem um gato, Ó que gato tão brejeiro! Vem a noite, vai-se às gatas, Vem p’ra casa sem dinheiro. 808. Minha mãe venha ver O seu filho desgraçado; De dia pelas tabernas E à noite a cantar o fado. 809. Ó águia que vais correndo Por essas serras além, Leva-me esta carta À campa da minha mãe. 810. Ó vermelho, ó vermelho, Ó vermelho rebatido; O vermelho não me agrada Nem quem o traz vestido. 811. Quem me dera ter uma mãe, Fosse ela uma silva, Picasse, que arranhasse Sempre eu era sua filha, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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MANJERICO 812. Manjaricão da janela Não dá cheiro nem semente; É como a língua da mulher; Quanto mais fala mais mente. 813. Manjaricão da janela Regadinho com vinagre, Nem eu era do teu gosto, Nem tu da minha vontade. 814. Manjaricão miudinho Já meu peito foi teu vaso; Já tendes novos amores Já de mim não fazeis caso (1270). 815. Manjarico miudinho Dá-me a mão para subir, Sou muito vergonhosa Pela porta não hei-de ir. 816. Manjarico miudinho Posto no vaso do rei; Tira de mim o sentido Que eu de ti já o tirei. 817. O manjarico é mimo, Eu também já fui mimosa, Se não estivesse sentida Não me mostrava queixosa. 818. O manjarico é triste, Alegre quando tem flor; Logre quem te lograr Triste de mim se não for.
(1270) Variante da n.° 39 em L IMA , Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, de Pires de Lima, e da n.° 66 publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 93.
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MAR 819. As ondas do mar são brancas E as do meio amarelas; Desgraçado de quem ama Para morrer no meio delas (1271). 820. Cada vez que vejo vir Fragatas à beira-mar Sempre julgo que são cartas Que o amor está a mandar (1272). 821. Corri o mar em roda Nas ondas do teu cabelo; Agora posso dizer Que corri o mar sem medo. 822. Fui ó mar de joelhos, De joelhos fui ó fundo; Não tomes outros amores Enquanto eu estiver no mundo. 823. Fui ó mar para ver as ondas, Pus-me a escrever na areia; Não basta casar pobre Senão ser a mulher feia. 824. Já o mar não leva auga, Secaram-se as fontainhas; Secaram-se as tuas falas, Tamen se secaram as minhas. 825. Já fui mar, já fui navio, Já fui meio marinheiro; Já tive amores de graça E agora nem por dinheiro (1273).
(1271) Já vem em VASCONCELOS, Leite de – Ensaios, II, 262, e LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 32. (1272) Pequena variante em BRAGA, Alberto Vieira – O culto de S. Gonçalo na Baía, 1935, p. 37 e 45. (1273) Já vem em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 122.
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465 TOMO X
826. Já passei o mar a nado Nas asas dum passarote; Fui ao cimo, fui ao fundo, Vi-me nas ânsias da morte. 827. Ma-lo haja quem deixou No mar andarem navios; Vós fostes os causadores Dos meus olhos serem rios. 828. Meu canivete de prata Caiu ao mar, afundou-se; Deixai falar quem fala, Quero-te bem, acabou-se. 829. No mar anda um peixinho Que se chama tubarão; Se os peixes comessem gente Dava-lhe o meu coração. 830. No mar nacem as ondas, No campo as novidades; Das conversas os carinhos Dos brincos as liberdades (1274). 831. O mar pediu a Deus peixes, E os peixes pediram fundura; Os homens pedem dinheiro E as mulheres fermesura (1275). 832. O mar sustenta as ondas, A terra as humanidades, O bem-querer os carinhos, Os carinhos as lealdades. 833. O mar tamen é casado, É casado e tem mulher; É casado com a areia, Bate nela quando quer (1276).
(1274) Variante da n.° 483 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1275) Já foi dada em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios Etnográficos, II, 264. (1276) Variante de outra em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios Etnográficos, III, 269.
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TOMO X
834. Ó mar largo, ó mar largo, Ó mar largo, que não tens fundo; Vale mais andar no mar largo Do que nas bocas do mundo (1277). 835. Ó mar que nas ondas levas Um bem que tanto adoro; Se levas fartura de augas É das lágrimas qu’eu choro. 836. Ó mar, sagrado ladrão, Quantas almas tens em ti! Lá tens a do meu amor, Já te vingaste de mim. 837. Rapazes à beira-mar Mostrai a vossa grandeza, Tendes diante dos olhos Uma bandeira portuguesa. 838. Se fossem pedras as lágrimas Que por ti tenho chorado, Já se fazia uma ponte No meio do mar sagrado (1278). 839. Se o mar tivera varandas Como tem embarcações, Escrevia-te uma carta De tristezas e paixões. 840. Se o mar tivera varandas Ia-te ver ao Brasil: O mar não tem varandas, Diz-me, amor, por onde hei-de ir (1279)? 841. Se o mar tivera varandas Já eu fora a Lisboa; O mar não tem varandas, Quem não tem asas não voa (1280). (1277) Dr. J. L. Vasconcelos, variante da n.° 98 nos Cantares da minha terra. (1278) Já vem com o n.° 150 em CHAVES, Luís – Portugal Além, p. 294 (1279) Idem em L IMA , Pires de – Cancioneiro…, sob o n.° 307, e em G RAÇA , A. Santos, O Poveiro. (1280) Idem na revista Alto Minho (1935), p. 50.
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467 TOMO X
842. Subi ó alto mar Acender velas ó trono; É bem tolo quem se mata Por amores que já têm dono. 843. Vejo mar, vejo terra, Vejo espadas a luzir; Vejo o meu amor na guerra Não lhe posso acudir.
MOREIRA, MORAS 844. Fiz a cama na moreira, O travesseiro na lua; Ó pais que tendes três filhas Ficai com duas, dai-me uma. 845. Fiz a cama na moreira E o travesseiro no tojo; Se algum dia te quis bem Agora tenho-te nojo. 846. Fiz a cama na moreira Com tenção de madrugar; Veio o vento e abanou-me: Quem está bem, deixa-se estar. 847. Fiz a cama na moreira, O travesseiro na mora; Compadeça-se ó menina Deste rapaz que a adora. 848. Fiz a cama na moreira, Da mora fiz o encosto; Namorei-te, fiz mui bem, Não fosses tu do meu gosto. 849. Fiz a cama na moreira Ao desamparo do vento: Tomei amores do meu gosto. Mas logrei-os pouco tempo.
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TOMO X
850. Fiz a cama na moreira Ao desabrigo do vento; Ninguém ponha o sentido Onde não veja fundamento. 851. Ó minha mora madurinha Diz-me: quem te amadurou? Foi o sol, foi a lua, Foi calor que me apanhou. 852. Foi calor que te apanhou Lá para a Salgueirinha, Ó linda mora madura, Linda mora madurinha. 853. Meu amor vamos às moras Que as há pelas silveiras; Não há faca que mais corte Do que as línguas chocalheiras. 854. Meu amor vamos às moras Que as há pelos caminhos; Não há faca que mais corte Do que as línguas dos maus vizinhos. 855. Não olhes para a moreira, As moras inda ’stão verdes; Olha para estes meus olhos Que os vês raras vezes. 856. Ó alto pé da moreira, Onde canta a cotovia, Já me vai querendo bem Quem tão mal me queria (1281).
MURTA 857. Deste-me um ramo de murta, Não está mais na tua mão; A murta dá-se a quem morre: Morto está meu coração. (1281) Os dois primeiros versos na n.° 554 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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469 TOMO X
858. Menina da poupa alta Não cortes a flor à murta: Tu foste a que inventaste Meia branca e saia curta. 859. Passei por baixo da murta, Embarrei-lhe na semente; Para que falas comigo, Se não quer a tua gente? 860. Passei por baixo da murta Deitei a mão à semente; Tomaste novos amores Enquanto estive ausente. 861. Ramo de murta aparada, Quem te há-de vir a colher? A murta dá-se a quem morre, Eu por ti quero morrer.
N 862. Na pedra branca do rio O meu nome mandei marcar Com letra de ouro miúda: Nasci para te amar. 863. Namorei-me, namorei-me, Não me soube namorar; Namorei-me dum vadio Que não me soube estimar. 864. Não ames, ou ama sempre, Era melhor nunca amar; O amor começa a rir E acaba sempre a chorar. 865. Não chores amor, não chores, Que o chorar faz mal à vista; Em me eu indo desta terra Não falta quem te assista. 866. Não chores, não tenhas pena, Não percas tempo por mim; Nasci para não ser tua, Amor, que queres de mim? MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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TOMO X
867. Não há gosto sem desgosto, Nem liberdade sem pena; Não há gosto nesta vida Que por fim não traga pena. 868. Não me atires com pedrinhas, Sou um rapaz bem quedo; Sou filho dum pedreiro E às pedras não tenho medo. 869. Não me mandeis à segada Que eu não sei correr o eito; Mandai-me falar d’amores Que eu para isso tenho jeito. 870. Não quero amor serralheiro, Que a roupa custa a lavar; Quero amor marinheiro Que lava a roupa no mar. 871. Não quero, nem a brincar, Dizer adeus a ninguém; Quem se despede leva saudades E quem fica saudades tem. 872. Não segueis o trigo verde, Deixai-o amadurar; Nas ondas do mar anda Quem o há-de vir segar. 873. Não sou cunhal caído, Nem alicerce de parede, Nem sou peixinho do rio Que caia na tua rede. 874. Neste lenço deposito Tristes lágrimas que choro, Por não poder lograr Os braços do bem que adoro. 875. Ninguém diga ao gato çape, Nem à galinha oxequi, Nem ao amor vai-te embora, Senão vem-te para mi. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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876. No tempo em que te amava, Quando te dava paleio, Melhor era ir àquela esquina Abrir a cabeça a meio.
NEGRILHO, OLMO, CHOUPO 877. A folha do nogrilho É feita aos corações Para encobrir os amores Em certas ocasiões. 878. A folha do olmo branco Parece uma tenda armada; Vem o vento, vira a folha, Fica a tenda desarmada. 879. A folha do olmo vira, Vira que lhe dá o vento; Eu inda não me virei Do primeiro intento. 880. Não há planta como o chopo, Dá flor e não dá fruto; Não penses, por me deixar Que me vou vestir de luto (1282). 881. Nesta rua há nogrilhos, Onde há nogrilhos, há sombra; Bem puderas, tu menina, Vires comigo à ronda. 882. Tendes nogrilhos à porta, Tendes sombra regalada; Tendes fama de bonita, Deveis de ser procurada. 883. Tendes nogrilhos à porta, Tendes sombra de contínuo; Quem tem sombra tem regalo, Quem tem regalo tem mimo (1283). (1282) Já vem em VASCONCELOS, J. L. de – De terra em terra, p. 52. (1283) Variante da n.° 737 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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TOMO X
884. Tendes o olmo à porta, Da janela ripais a folha; Quem tem o amor defronte, Para outra parte não olha.
NOITE 885. Esta noite, é uma noite Que se apartam corações; Aparta-se o meu do teu Em certas ocasiões. 886. Esta noite geia, geia, Geia no olho da couve; Quem me dera dormir um sono Nos braços de quem me ouve. 887. Já é noite, já é noite, Ainda não são onze horas; Ainda te não disse adeus, Meu amor, porque choras? 888. Noite escura, noite escura, Não vejo nada por ela; Bem puderas tu, menina, Deitar luzes à janela. 889. O meu amor ontem à noite Pela vida me jurou Que se ia deitar ó mar: Se ele é tolo, eu não sou. 890. Onze horas, meia noite, Já tudo aqui dorme, Só este meu coração Quer dormir e não pode. 891. Ó luar da meia noite, Para mim és um regalo; O dia que te não vejo Já não deito pingo no caldo. 892. Vem a noite, vem a noite, Vem a minha fermesura; Aqui não há que escolher, Cada um pegue na sua. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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893. Vem a noite, vem a noite, Vem a minha regalia, Para falar ao amor Que não tive vagar de dia (1284).
NOMES PRÓPRIOS 894. Antoninho, cravo roxo, Não vás ao meu quintal Que te querem dar um tiro, Não te posso ver matar (1285). 895. Antoninho, cravo roxo, Põe a fita no chapéu; Casa com aquela menina Que é como estrela do céu. 896. Antoninho de pequeno Logo foi o meu amor; Agora estudou para padre, E é o meu confessor. 897. António, lindo António, António lindo por certo, És o mais lindo cravo Que o craveiro tem aberto. 898. António, lindo António, António, lindo rapaz; Tens os olhos fagueirinhos Não sei se me enganarás. 899. António, lindo António, Ouvi que vais casar; Nossas conversas d’amor Terminaram de acabar?! 900. António foi o primeiro Que em meu peito entrou; Há-de ser o último, Juro à fé de quem sou.
(1284) Variante da n.° 304, ibidem. (1285) A propósito de António, ver Homens e Tecedeira.
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901. Não quero amor António Que é mui passarinheiro: Anda de freixo em freixo Como o pardal em Janeiro. 902. Se o meu amor fosse António Mandava-o envidraçar: Assim como é José, Meu amor deixa-te estar (1286). 903. Fernando sétimo ’Stá na cadeia, Porque namora Uma mulher feia. 904. Fui-me confessar ao bispo, Deu-me o Senhor na Sé; Deu-me por penitência De não falar com José. 905. A penitência é grande, Não a posso cumprir; Hei-de falar com José Onde quer que o vir. 906. José, ó Josezinho, José feito de cera; Quem fora a brasa Que te derretera (1287)! 907. José, quando vai à missa, No caminho faz um esse; A erva que José pisa Se está seca reverdece. 908. Ó José, cara linda. Eu queria-te falar; A vergonha me retira E o amor me faz chegar.
(1286) Variante da n.° 696 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1287) Variante da n.° 408, ibidem. A propósito de José ver Anel e T.
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475 TOMO X
909. Ó José, cara linda, Não saias de noite à rua; O luar inda não viu Cara linda como a tua. 910. Ó José, nome de jóia, O teu nome jóia é; Quando me falam em jóia Lembra-me sempre José. 911. Não há machado que corte A raiz ao verde pé; Não há olhos que me agradem Como são os de José. 912. Todos os Josés são vários, Francisquinhos extravagantes, Antoninhos, reis dos homens, Manuéis, reis dos amantes (1288). 913. Já o mar não leva auga, Senão folhas de papel; Onde hei-de ir lavar os lenços Do meu querido Manuel (1289)? 914. Maria, minha Maria, Maria, meu ai Jesus; O dia que te não vejo Já o sol não quer dar luz. 915. Não há olhos que me agradem Como são os teus, Maria, Que os tenho retratados Na casca da melancia. 916. Tenho três Marias, Todas três me dão bem pena; Quando chamo pela maior Responde-me a mais pequena.
(1288) Variante da n.° 763, ibidem. (1289) Idêntica na revista Alto Minho, (1935), p. 50, colhida na região de Geraz do Lima. A propósito de Manuel, ver Homem.
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TOMO X
O 917. O amar-te foi um sonho, Foi uma variedade; Foi enquanto não achei Amor da minha vontade. 918. O amor é uma albarda, Que se põe a quem quer bem; Eu, para não ser albardado, Não quero bem a ninguém. 919. O amor nasce da vista. Cria-se no coração; Vive da correspondência, Morre na ingratidão. 920. O ladrão do negro melro Toda a noite assobiou, Quando veio a madrugada Deu às asas e voou. 921. O ladrão do negro melro Toda a noite ri-piu-piu, Quando veio a madrugada Bateu as asas e fugiu. 922. O lenço que tu me deste Trago-o aqui no seio, Com medo que me perguntem Donde o lenço me veio. 923. O lobo deitado na serra, Estava mui descansado; Chegaram as ovelhas Agarrou uma pelo rabo. 924. O meu amor diz-me que tenha Juízo e capacidade; Tenha-o ele que é mais velho, Que eu sou de menor idade.
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925. O meu amor disse que vinha, Disse que vinha e não veu! Se me havia de faltar Para que me prometeu? 926. O meu amor é um anjo, Deus mo deu, não lho mereço; Já mo queriam comprar, Anjos do céu não tem preço (1290). 927. O meu amor é um anjo, O teu um passarinho: O meu voa, vai p’ro céu, O teu voa, vai p’ro ninho. 928. O meu amor é tão lindo Como o sol anuviado; Tantas vê, tantas deseja, Todas são do seu agrado. 929. O meu amor é um dengue, Ainda mais dengue do que eu; Amor tão adengadinho Ninguém o tem como eu. 930. O meu amor é um torto, Das costas um derreado; Da boca é um beiçudo E dos olhos um remelado. 931. O meu amor era torto, Mandei-o escavacar; Agora já tenho lenha Para fazer o jantar. 932. O meu amor enjeitou-me, Dou-me por enjeitada; Faço de conta que sou viúva, Sem nunca ser casada (1291).
(1290) Variante de outra em VASCONCELOS, J. L. de – Canção do berço, p. 35. (1291) Variante na n.° 518 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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TOMO X
933. O meu amor foi-se e disse-me Que por ele não chorasse, Que lhe não causasse pena, Que o não mortificasse. 934. O meu amor não é este, O meu amor traz chapéu; O meu amor ao pé deste Parece um anjo do céu. 935. O meu amor truca, truca, Eu também já truquei; Ó meu querido, roça palha Eu também já a rocei. 936. O meu canivete de prata Tem o cabo retorcido; Estes meninos d’agora Muita palha têm roído. 937. O mundo fala de tudo, O mundo deixa-o falar; As bocas ó mundo Ninguém as faz calar. 938. O mundo já nasceu torto E torto há-de acabar; É bem tolo quem se lembra Que o pode endireitar. 939. O sapato me aperta E a meia me faz calor; O coração me arrebenta Se te não falo, amor. 940. O verde é esperança d’asnos, Meu amor assim to digo; Nunca tratei com asnos Senão depois que tratei contigo. 941. Ó Aninhas, ó Aninhas, Ó Aninhas da varanda! Caixinha dos meus segredos, Onde o meu coração anda, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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942. Ó edra enroladora, Quem te deu tanto enleio? Todos dizem que me és falsa, Eu também assim o creio. 943. Ó falso que me vendeste, Que por outra me trocaste, Desejava de saber Na troca quanto ganhaste (1292)? 944. Ó falso, três vezes falso, Deixa-me dizer assim; Ó falso que me vendeste: Quanto te deram por mim? 945. Ó ingrata, tu já dormes? Dormes e não suspiras! Se me quisesses bem Suspiravas e não dormias (1293). 946. Ó ladrão que me enganaste, Sendo eu tão rapariga; O inferno tem-lo certo, Degredo por toda a vida. 947. Ó meu amor d’algum dia, Tu queres-me ainda bem? – Essa pergunta está boa! Isso duvida-o alguém (1294)! 948. Ó meu amor não chores Por eu para ti não olhar: Isto em mim são disfarces Para o mundo não falar (1295).
(1292) Colhida pelo Dr. Raul Teixeira no Portelo, concelho de Bragança. (1293) Variante da n.° 562 em SPOLETO – Cantares da minha terra e idêntica à n.° 196 em LIMA, Pires de – Cancioneiro… (1294) Variante da n.° 546 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1295) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 219.
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949. Ó meu amor quem te vira Trinta e um dias no mês, Cada semana, seu dia E cada hora, sua vez (1296). 950. Ó meu amor, se te vires No tribunal das fermosas, Apega-te às moreninhas Que as brancas são enganosas (1297). 951. Ó meu menino Jesus, Alfaiatinho do céu, Quem me dera um retalhinho Para fazer um mantéu! 952. Ó meu menino Jesus! Ó minha estrela do céu! Tendes cabelinhos d’oiro, Não precisais de chapéu. 953. Ó que rica melancia, Quem pudera chegar à rama? Quem me dera abraçar O leito da tua cama! 954. O leito da minha cama Não o hás-de abraçar; Sou menina de quinze anos Ainda não quero casar. 955. Ó que semana tão grande! Sábado ainda maior! Quando virá o domingo Para te falar, amor? 956. Ó meu velho, velho, Em bem te avisava: Rapariga nova Que te corneava.
(1296) Variante da n.° 556 em LIMA, Pires de – Cancioneiro… (1297) Ibidem n.° 226, idem.
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957. Ó meu velho, velho, Eu bem to dizia: Rapariga nova Que te não servia. 958. Ó meu velho, velho, Tira a mão do cu; Esta moda nova Não a sabes tu. 959. Ó minha questureirinha, Tu que estás a costurar? – Um lencinho de três pontas P’r’á noite namorar. 960. Ó vermelho, ó vermelho, Ó vermelho rebatido! O vermelho não me agrada Nem quem o traz vestido. 961. Obrigado, senhor Artur. Estou-lhe muito agradecida; Não quero que por minha causa Desmanche a sua vida. 962. Ontem à noite me disseram, Eu não o adivinhei: Que tinhas novos amores, Da minha parte estimei. 963. Ontem à noite sonhei eu Contigo, minha beleza; Acordei, achei-me só, Em sonhos não há certeza. 964. Tu, se dormires, não sonhes Comigo, meu amor; Os sonhos são mentirosos, Só causam mágoa e dor. 965. Os amores, hoje em dia, São falsos como o melão: Tem de se abrir um cento Para encontrar um são (1298). (1298) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 236.
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966. Os rapazes das abarcas Inda o demo os aqui trai; Em calçar e descalçar Todo o tempo se lhe vai. 967. Os pratos da cantoneira Fizeram tlim, tlim; Assim faz o meu amor Quando está ao pé de mim. 968. Ouvi gabar os teus beijos E dizer deles tanto bem, Que eu tive vontade De provar deles também (1299). 969. Sentadinha no meu lar Lá me foram dizer: Que tinhas novos amores, Estimei bem de o saber.
OLHOS 970. Chorai meus olhos, chorai, Que o chorar não é desprezo; Tamen a Virgem chorou Quando viu seu filho preso. 971. Dá-me as tuas mãos mimosas E os teus olhos cristalinos; São eles que têm causado À minh’alma mil desatinos. 972. Dois olhos pretos qu’eu vi Na flor da minha idade Logo me namorei deles; Quanto vale uma amizade! 973. Esses seus olhos, menina, São sanefas de veludo; Oh! quem me dera gozar Olhos, sanefas e tudo (1300). (1299) Variante da n.° 251 em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto. (1300) Idem da n.° 597 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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483 TOMO X
974. Esses teus olhos, morena, Trazem minh’alma sombria, Se os teus olhos são negros, Que importa que rompa o dia?! 975. Eu defronte e vós à vista, Não falo, nem me falais; Dai-me um aceno c’os olhos, Já que não possa ser mais. 976. Não olhes para mim, não olhes, Que eu não sou tua mulher; Ainda estou solteirinha, Serei de quem eu quiser. 977. Não olhes para mim, não olhes, Qu’eu para ti não hei-de ser; Já tenho quem me logre Os anos que hei-de viver. 978. O cego que nunca viu, Nem sua vista logrou, Não deve ter tanta pena Como o que viu e cegou (1301). 979. Ó mal da variedade, Eu fui a que variei; Variaram os meus olhos Quando para ti olhei (1302). 980. Olha para mim e ri-te, Amor, de quando em quando, De modo que não perceba A gente que vai passando (1303). 981. Olhos de azeitona preta, Cara d’amêndoa branca, Já me devia ter ido, Mas o teu amor me encanta.
(1301) Variante da n.° 506, ibidem. (1302) Ibidem da n.° 661, ibidem. (1303) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 258, e da n.° 38 em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto.
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TOMO X
982. Olhos pretos matadores Porque vos não confessais? Das mortes que fazeis Nos corações que roubais (1304)? 983. Olhos pretos, olhos brancos, Olhos azuis, olhos verdes; Estas quatro castas de olhos Em poucas caras os vedes (1305). 984. Olhos que vão por ver olhos E se viram no caminho, Ou a jornada é mui grande Ou o amor é pequenino. 985. Os olhos da Ana parecem Trigo malhado na eira; Inda não está semeado Já verdega na lareira. 986. Os olhinhos do bombeiro São duas azeitoninhas; Eles não fazem senão roubar Os corações às meninas. 987. Os meus olhos a chorar Nenhuma graça tem; Tenho dito aos meus olhos Que não chorem por ninguém. 988. Os meus olhos, coitadinhos, Choram de noite na cama; Choram que foram amados E agora ninguém os ama. 989. Os olhos do meu amor São duas azeitoninhas: Fechados são dois botões, Abertos duas letrinhas.
(1304) Variante da n.° 149 em SPOLETO – Cantares da minha terra e da n.° 199 em LIMA, Pires de – Cancioneiro… (1305) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 198.
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485 TOMO X
990. Os olhos do meu amor São cadeias de bom ferro; De tal sorte me prenderam Que outros amores não quero. 991. Os olhos do meu amor São duas letrinhas pretas; Entram pelas moças dentro Parecem duas lancetas. 992. Os olhos do meu amor Santa Luzia guardai-los; Senão forem para mim Vinde corvos e tirai-los. 993. Os olhos pretos são vários, Os azuis são lisonjeiros, Os olhos acastanhados São os leais verdadeiros (1306). 994. Os olhos que se não vêem Senão de meses a meses, São os que se querem mais Por se verem raras vezes. 995. Os teus olhos negros, negros, São cor da noite cerrada; Apesar de serem negros Sem eles não vejo nada. 996. Os teus olhos negros, negros, São gentios da Guiné; Da Guiné por serem negros, Gentios por não terem fé. 997. Se meus olhos te agradam, Vai pedi-los a meu pai; Se te disser que não Retira-te e dá um ai (1307)!
(1306) Variante de outra na p. 258 de MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais e de outra em SANTOS JÚNIOR – Afinidades galaico-portuguesas de folclore, que dá a correspondente em galego. (1307) Os dois primeiros versos noutra colhida em Geraz do Lima, inserta na revista Alto Minho, (1935), p. 50.
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TOMO X
998. Tendes os olhos pretos Como a baga da nigela; Se não fosses tão bonita Ma-lo haja quem te quisera (1308). 999. Tendes o chapéu à vareira, Mandai-o arredondar; Debaixo desse chapéu andam Olhinhos de namorar. 1000. Tendes os olhos d’azeitona, Daquela que anda no pio; Se nasci p’ra ser vossa, Deus me dê algum desvio. 1001. Tendes olhos de bem ver, Boquinha de bem falar; Tendes belo jeitinho Para o amor enganar. 1002. Tendes os olhos fagueiros, A vista namoradiça; Quem tem os olhos fagueiros De casa tem a justiça. 1003. Tendes olhos de matar, Sobrancelhas de ferir; Tendes a cor demudada, Isso é de não dormir. 1004. Tendes olhos, mercais olhos, Andais na mercancia; Levai também os meus Para a vossa companhia. 1005. Tendes os olhinhos pretos Comparantes ao almiste; Não sei o que podeis ter, Que olhais para mim tão triste.
(1308) Variante da n.° 741 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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OLIVEIRA, AZEITONA 1006. A azeitona caiu na auga, Embarcou, foi p’r’o Brasil; Quem por mim perdia sono Agora pode dormir. 1007. A azeitona já é loura, Cedo será de três cores; Quem a obrigou, menina, Tão nova a tomar amores? 1008. À oliveira da serra Leva-lhe a flor o vento: Só a mim ninguém me leva Onde tenho o meu pensamento. 1009. Azeitona cordovil Que azeite pode dar? Rapaz pobre, sem dinheiro, Que moça pode arranjar?! 1010. Azeitona miudinha, Amor, comamo-la ambos: Se dentro tiver veleno, Amor, morremos ambos. 1011. Azeitona miudinha Que azeite pode render? O homem sem barba Que vergonha pode ter (1309)? 1012. Azeitona miudinha Também entra no lagar; Estes garotos d’agora De tudo se vão gabar. 1013. Ó oliveiras, ó oliveiras! Quer dizer olivais; Tenho o coração mais seco Que a azeitona que vós dais.
(1309) Variante da n.° 132, ibidem.
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1014. Ó rama, ó linda rama, Ó rama da oliveira! O meu par é o melhor Que anda na brincadeira. 1015. Que anda na brincadeira, Que anda neste lugar; O meu par é o melhor Desta me posso eu gabar. 1016. Oliveira, oliveiras, Querem dizer olivais; Valem mais as minhas penas Que o azeite que vós dais (1310). 1017. Oliveira do adro, Abandonada do trovão; Se tu foras manjarico Eu te trouxera na mão (1311). 1018. Oliveira do adro Não assombres a igreja; Bem assombrado anda Quem não logra o que deseja (1312). 1019. Oliveira do adro Não assombres a igreja; Na era em que estamos Ninguém logra o que deseja. 1020. Oliveira do adro, Onde s’encostam homens nobres, Para fazerem algazarra Das filhas dos homens pobres. 1021. Oliveira madura! Na terra fria não medra; É como a moça solteira Casada fora da terra.
(1310) Variante da n.° 588, ibidem. (1311) Variante de outra publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 40. (1312) Variante de outra em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 176.
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489 TOMO X
1022. Oliveira pequenina Tem folha aos anéis; Por vias de si, menina, Sofro penas cruéis. 1023. Oliveira ponta seca, Carregada de azeitona, Inda olhas para mim Cara de pouca vergonha? 1024. Não corteis a oliveira, Nem lhe ponhais o machado, Que alumia toda a noite A Senhora do Rosário (1313). 1025. Não corteis a oliveira, Nem lhe ponhais o pedão, Que alumia toda a noite A Senhora da Ascensão (1313). 1026. Passei pela oliveira, Cinco folhas lhe colhi; Eram os cinco sentidos Que tinha posto em ti (1314). 1027. Pela folha da oliveira Conheço a da ramada; Eu faço-me desentendida, Mas não me escapa nada. 1028. Se a oliveira falasse, Ela dissera o que viu: Debaixo da sua rama Dois amantes encobriu. 1029. Subi à oliveira Corri-a de nó em nó; Falas com quem queres E eu falo contigo só.
(1313) Variante da mencionada a p. 159 e 160 em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais. (1314) Variante da n.° 281 em SPOLETO – Cantares da minha terra e idêntica a outra publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (19l0), p. 93, n.° 62.
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1030. Varejai varejadores, Apanhai apanhadeiras, Apanhai pérolas d’oiro Que caem das oliveiras. 1031. Verde foi meu nascimento E de luto me vesti, Para dar luz ao mundo Mil tormentos padeci (1315).
P 1032. Papagaio da pena verde Empresta-me o teu vestido, – Como to hei-de emprestar Se é onde ando metido?! 1033. Papagaio, pena verde, Empresta-me o teu vestido. – O meu vestido são penas, Em penas ando metido (1316). 1034. Papel branco, papel branco, O teu falar é rugir; Bem caçada me tiveste, Não me deixasses fugir. 1035. Pavão, ó real pavão, Lindas penas que o pavão tem; Não há olhos que mais me agradem Do que são os do meu bem. 1036. Paxarinho que cantas De madrugada na couve, Canta mais devagarinho, Que o meu amor bem te ouve. 1037. Paxarinho que cantas, Se queres ser meu amigo Leva-me nas tuas alas, Quero voar contigo. (1315) Refere-se à azeitona e ao fabrico do azeite. (1316) Variante da n.° 674 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1038. Paxarinho tão pequeno Tão desaniado saiu! Assim que lhe estendi a mão Brevemente fugiu. 1039. Paxarinhos que cantais Em ramos dependurados; Chorai vós que eu cantarei Os meus dias desgraçados. 1040. Passei pela tua porta, Bulisquei-te ao ferrolho; Saiu teu pai à janela Atirou-me c’um trambolho. 1041. Passei pela tua porta Nem as boas horas te dei, Por causa da tua gente Bem a disfarce passei. 1042. Passei pela tua porta Pus a mão na fechadura, Pedi-te auga não ma deste Coração de pedra dura. 1043. Pedi auga à donzela Só para ver a linda cara; Ela, como discreta, Mandou-ma pela criada. 1044. Levai a auga para cima Que eu não a hei-de beber, A sede que eu tinha Era o gosto de a ver. 1045. Pedrinhas da calçada Levantai-vos e dizei: Quem vos passeia de noite? Que de dia bem o sei (1317).
(1317) Já vem em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios Etnográficos, vol. III, p. 101.
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1046. Pensas que por ti morro, Que por ti me leva o vento?! Noutros castelos mais altos Navega o meu pensamento. 1047. Perdi o meu lencinho No terreiro a bailar: Se meu pai não me dá outro, Sem lencinho hei-de andar (1318). 1048. Pombinha, minha pombinha, Já não tenho portador, Já não tenho quem me leve Cartinhas ao meu amor. 1049. Por amar e querer bem Me querem tirar a vida; Hei-de amar e querer bem E dar a vida por perdida. 1050. Por eu ir à romaria, Marido meu não pelejeis; P’ra domingo que vem há outra, Eu irei e vós ficareis. 1051. Por te amar deixei a Deus, Olha, amor, quanto perdi; Agora fico sem tudo: Sem Deus, sem amor, sem ti (1319). 1052. Por uma noite de gosto, Nove meses de paixão, Uma semana de cama, Sete anos de criação 1053. Se tivesse papel d’oiro Comprava pena de prata; Formava meu sentido De te escrever uma carta.
(1318) Colhida pelo Dr. Raul Teixeira no Portelo, concelho de Bragança. (1319) Variante da n.° 149 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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493 TOMO X
1054. Pus-me a lamentar a minha vida No meio de dois penedos; Um se levantou e disse: Não descubras os teus segredos (1320). 1055. Pus o pé na sepultura, Uma voz me respondeu: Olha que estás pisando Um amor que já foi teu.
PADRES 1056. Duas coisas há no mundo Que eu não posso entender: Ser padre e ir para o inferno, Ser médico e morrer (1321). 1057. Fiz a cama na moreira E o travesseiro na mora; Bem tola é a menina Que do cura se namora. 1058. Fiz a cama na moreira E o travesseiro na mora; Desgraçada da menina Que do padre se namora. 1059. Fui-me confessar e disse: Que não tinha amor nenhum; O padre me respondeu Que arranjasse ao menos um. 1060. Fui-me confessar e disse: Que sempre vivia amando; Por penitência me deram Que fosse continuando. 1061. Menina não te namores De homem casado nenhum, Nem do cura nem do frade: Todo o diabo é um. (1320) Variante de outra emVASCONCELOS, J. L. de – Ensaios…, 1906, vol. III, p. 101. (1321) Já vem em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios…, vol. III, p. 357.
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TOMO X
1062. Não se namore menina Do padre, nem que a pretenda; Tudo quanto dizem é falso, Não há quem os compreenda. 1063. Não te namores do cura, Nem do padre, que é perigo; Namora-te dum solteiro Que tenha de casar contigo. 1064. Namorei-me dum padre, Nunca melhor coisa fiz; Logo me fez uma inauga Da sua sobrepeliz. 1065. Nunca vi figueira preta Dar figos na raiz; Nunca vi filha de padre Ser bem feita do nariz. 1066. O cura quando namora Logo põe a mão na coroa; Namora cura, namora, Que Roma tudo perdoa. 1067. O padre quando namora Deita a mão e tapa a coroa; Namora padre, namora, Que Deus tudo abençoa, 1068. O padre, na confissão, Mandou-me apartar da dama; Agora, por meus pecados, Durmo com ela na cama. 1069. O padre da minha aldeia Fez um sermão e jurou Pela sorte dos seus filhos Em como nunca pecou. 1070. O reixenol quando canta, Logo dá um assobio; Também os filhos dos padres Chamam ao pai senhor tio. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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495 TOMO X
1071. Todos os padres de missa Ao inferno serão chamados, Por tomarem as ordens De homens casados.
PARREIRA, UVAS, VIDES 1072. A parreira tem mil vides E a uva mil abraços; Olha qu’inda a ninguém fiz Carinhos que por ti faço. 1073. A parreira tem mil vides E a uva mil aneios; Menina, se há-de ser minha, Não ande com arrodeios. 1074. Debaixo da parreirinha Me quiseram cometer; Meti a mão à algibeira: Ou retirar ou morrer. 1075. De Lisboa me mandaram Um lencinho de abelhais, A perca tive-a eu, A parreira não dar mais. 1076. Este mundo é uma vinha, Cada cepa seu cristão; Vem a morte faz vindima Sem procurar geração. 1077. Não cortes a videirinha Que sobe pela janela; É a escadinha do amor Que sobe e desce por ela. 1078. Não te encostes à parreira, Que está seca, pode quebrar; Encosta-te a meu peito, Ainda o hás-de vir a amar.
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TOMO X
1079. Não te encostes à parreira, Que a parreira tem pó; Encosta-te ao meu cortinado, Sou solteira, durmo só (1321). 1080. Pediste-me um moscatel, Inda não veio a vindima; Se queres o moscatel Vem comigo à vinha.
PÊRA 1081. Anda cá pêra marfina Do meu peito desejada, No ventre de tua mãe Já meu coração te amava. 1082. Já o seu coração me amava, Isso não podia ser; Inda você não sabia Se era homem, se mulher. 1083. Dá-me da pêra um cacho, Da maçã um bocadinho; A quem deste os abraços Dá também os beijinhos (1322). 1084. Dai-me da pêra um cacho, Da maçã uma talhada; Da laranja um gromo, Do limão pouco ou nada. 1085. Deste-me uma pêra verde, Só tinha o cango maduro; Cuidei que me eras leal, Foste-me falsa em tudo. 1086. Ó menina das pêras, Quantas le mandaram dar? – Para ti, meu amor, Não as mandaram contar. (1321) Variante da n.° 463 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1322) Os dois últimos versos entram em muitas cantigas.
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497 TOMO X
PERDIZ 1087. A perdiz anda no monte Espenicando seixinhos; Tamen eu repenicava Na tua boca beijinhos (1323). 1088. A perdiz anda no monte E o perdigão no valado; A perdiz anda dizendo: Vem cá meu namorado. 1089. A perdiz anda no monte, O perdigão no lameiro; A perdiz anda dizendo: Anda cá meu companheiro. 1090. Chamaste-me trovisqueira, Erva que o gado não come; É melhor ser trovisqueira Que mulher de ruim home. 1091. Debaixo da trovisqueira Saiu a perdiz cantando, Gritando em altas vozes: É mundo, vamos andando. 1092. O perdigão no monte Come da erva que quer: É como o rapaz solteiro Enquanto não tem mulher.
PINHEIRO 1093. Alto pinheiro redondo Deita fitas ao império; Eu deixar-te não queria, Mas, enfim, não há remédio. 1094. Alto pinheiro redondo, Na ponta canta a cobra; Quanto mais o mundo fala, Mais o amor se dobra. (1323) Variante da n.° 24 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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TOMO X
1095. Hei-de arrancar um pinheiro Para pôr no meu lousado; Quando o pinheiro der pinhas Serei o teu namorado.
PINTASSILGO 1096. Canta lindo pintassilgo, Canta muito a teu jeito; Depois diz-lhe o reixenol: – Encosta-te ao meu peito. 1097. Graças a Deus para sempre Que já ouvi a tua voz; Ouvi cantar o pintassilgo Dentro da casca da noz. 1098. Se ouviste cantar o pintassilgo Ainda não ouviste tudo; Ouviste cantar o pintassilgo E eu ouço cantar um burro. 1099. Já fui canário do rei, Já lhe fugi da gaiola; Agora sou pintassilgo Destas meninas d’agora (1324). 1100. Ó fermosa pintassilga, És bonita e tão bela; De todos os paxarinhos Não há outro como ela.
POVOAÇÕES Ver n.os 509 a 517, 524, 532, 539, 540, 542, 544 e 550. No tomo IX, pág. 282, publicámos já várias cançonetas corográficas; agora damos mais as seguintes: 1101. Adeus lugar de Argozelo, Ao longe pareces vila: São Sebastião à entrada Santo Amaro à saída. (1324) Variante da n.° 361 em SPOLETO – Cantares da minha terra e idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 122.
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499 TOMO X
1102. Apartai-o, apartai-o O branco do amarelo; Também a mim me apartaram Dum rapaz de Argozelo. 1103. Adeus cidade de Bregança, Adeus Costa Pequena; Adeus lindo jardim, Adeus branca açucena, 1104. Adeus, ó bancos de ferro, Adeus, ó largo das Eiras; Adeus fonte da Calçada, Adeus ricas lavadeiras (1325). 1105. Adeus, ó bancos de ferro, Adeus, ó Largo do Forte; Adeus, ó meu amorzinho Causante da minha morte. 1106. Adeus muralhas da Vila, Adeus, ó porta pequena; Adeus, ó meu amorzinho Que me causas tanta pena! 1107. Meninas dançai o vira, Que o vira também se dança: Eu bem vi dançar o vira Às meninas de Bregança. 1108. Na cidade de Bregança Tenho os meus amores: Por baixo boticairos, Por cima mercadores. 1109. Ó Bregança, ó Bregança, Ó Bregança roubadora! Roubaste-me uns olhos De quem eu era senhora (1326). (1325) A Fonte da Calçada, também chamada da Rainha, e o lavadeiro desapareceram com a construção do Jardim António José de Almeida, e pela mesma altura retiraram os bancos de ferro da Praça da Sé. (1326) Já vem, com leve variante, na Agenda Brigantina, 1928, referente ao dia 20 de Novembro, publicada por Miranda Lopes, Prior de Argozelo.
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TOMO X
1110. Ó Bregança, ó Bregança Ó Bregança roubadora! Roubaste-me o meu Zé: Por quem chamarei agora?! 1111. Quem me dera em Bregança Das muralhas para dentro, Para ver o meu amor Formado no regimento (1327). 1112. Quem tem amores não dorme, Quem os não tem não descansa; Que fará quem tem os seus Na cidade de Bregança (1328). 1113. Tocam os sinos em Bregança, Ai meu Deus! quem morreria! A mulher dum brasileiro De nome Dona Maria. 1114. Vou-me embora, deixo tudo, Tudo levo na lembrança; Adeus fontes, adeus vales, Adeus cidade de Bregança. 1115. Vou-me embora, nesta hora Tudo levo na lembrança; Adeus povo de Baçal, Adeus cidade de Bregança (1329). 1116. Adeus hospital de Braga, Adeus salsaparilha! Adeus carneiro assado, Remédio da minha vida.
(1327) Aplica-se a muitas terras. Já vem em VASCONCELOS, J. L. de – De terra em terra, p. 112, referida a Chaves, e depois em S POLETO – Cantares da minha terra, n.° 653, aplicada a Bragança. (1328) Idêntica à n.° 660, ibidem. (1329) Convém notar que o povo das aldeias diz, pelo geral, Bregança e não Bragança.
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501 TOMO X
1117. Já não há papel em Braga Nem tinta pelos conventos, Nem aves que criem penas Para escrever sentimentos. 1118. Brasileiros do Brasil Mandai-me de lá um sabão; Quero lavar uma nódoa Que tenho no coração. 1119. Hei-de-me ir para o Brasil, Que Portugal me aborrece; Já tenho no Brasil Quem por mim padece. 1120. Bom lugar é Brunhosinho Se não fosse tão molhado; Inda tem outra faltinha: Ter o cura namorado. 1121. Tenho cinco coletes Todos cinco são de linho; Tenho cinco amores No lugar de Brunhosinho. 1122. Ó Santo Cristo do Campo Eu já fui vossa mordoma; Já varri as vossas salas Com ramos de manjarona (1330). 1123. Ó Santo Cristo do Campo Inda cá quero tornar; Que me ficou a minha alma Presa do vosso altar (1330). 1124. Castelo Branco é vila, Mogadouro é cidade, Brunhosinho tem a fama, Urrós tem a mocidade.
(1330) Estas duas sob os n.os 581 e 582 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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502
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TOMO X
1125. Castelo Branco é vila, Mogadouro é cidade, Valverde barquinha d’oiro Onde embarca a mocidade. 1126. Coimbra, nobre Coimbra, Que fazes aos estudantes? Vão para lá tão inocentes E voltam tão extravagantes (1331). 1127. Em Coimbra não há pano, Estudantes que farão? Andam vestidos de penas, Estudantes penas são. 1128. Em Coimbra se formou Um castelo de grande altura; Muita gente lá penou E dali foi para a sepultura. 1129. Os estudantes de Coimbra Só comem farelos, Para guardar o dinheiro Para betões amarelos. 1130. Os estudantes de Coimbra Só comem urtigas Para guardar o dinheiro Para dar às raparigas. 1131. Se Coimbra fosse minha, Como é dos estudantes, Mandava pôr no meio Um ramo de diamantes (1332). 1132. Já não quero mais ameixas Do quintal de Dona Preciosa: Porque ela é feiteceira De Donai e Carragosa.
(1331) Variante do n.° 542 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1332) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 297. António Gomes Pereira publicou esta quadra na Revista Lusitana, X-160, pondo no primeiro verso Vila Real em vez de Coimbra.
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503 TOMO X
1133. Ó Elvas, ó Elvas, Convento de frades; Ó recolhimento De belos rapazes. 1134. Ó Elvas, ó Elvas, Convento de freiras; Ó recolhimento De moças solteiras. 1135. Ó Elvas, ó Elvas, Eu já estou ao pé; Meu amor lá dentro Tomando café. 1136. À entrada de Elvas Achei um didal Com letras que diziam: Viva Portugal! 1137. À entrada de Elvas Achei um anel Com letras que diziam: Viva Dom Manuel! 1138. Se fores a Elvas Vai acima ao forte Onde os espanhóis Tiveram a morte. 1139. Se fores a Elvas Vai devagarinho; Olha lá, não caias No tal barranquinho. 1140. No tal barranquinho Não hei-de cair, Que as meninas d’Elvas Me hão-de acudir. 1141. Adeus, adeus ó Grijó (1333), Ó cimo tens um chorão; Naquele galho mais alto Navega o meu coração. (1333) Refere-se a Grijó de Vale Benfeito, concelho de Macedo de Cavaleiros.
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TOMO X
1142. A Carolina de Linhares Tem um rico anel d’ouro, Que lho deu o João Correia À saída do Mogadouro (1334). 1143. A Senhora da Ascensão Tem uma saia amarela Que lha deu a Carolina À saída de Mirandela. 1144. Carolina não vás à moina, Carolina não vás moinar; No dia do teu casamento Quero-te ir acompanhar. 1145. Adeus cidade de Lisboa, Lá me ficaram dez réis; Dei-os a duas tafulas: Cada uma cinco réis. 1146. Eu hei-de ir, eu hei-de ir, Eu hei-de ir perder o medo; Hei-de deixar o meu rasto Na vila de Macedo. 1147. Já não volto a Macedo Nem de noite nem de madrugada, Por causa da Amélia Gaiteira Apanhámos a traulitada (1335). 1148. Os cravos do meu craveiro Já lá vão para Miranda; Tornai cravos ao craveiro Que eu vou seguir a demanda. 1149. Sois alto e bem parecido, Sois como a Sé de Miranda; Sois o cofre dos amores, Dizei: o meu por onde anda?
(1334) Esta quadra e as duas seguintes referem-se a uma Carolina, natural de Linhares, concelho de Carrazeda de Ansiães, que há quarenta ou cinquenta anos fugiu com o cigano João Correia. (1335) Alude à pancadaria entre os Trauliteiros e republicanos por ocasião das lutas monárquicas em 1919. Ver tomo VII, p. 632, destas Memórias.
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505 TOMO X
1150. Relógio de Mesão Frio Peço-te por caridade Que dês as dez mais cedo E a meia-noite mais tarde (1336). 1151. A ponte de Mirandela Hei-de mandá-la fundir; Pois ela é a desgraça Das criadas de servir. 1152. Para cantar e bailar As meninas de Paradela (1337); Para rezar o rosário Meninas da nossa terra (1338). 1153. Paradela dos puchéros, Constantim dos puchéricos; Ifanes das boas moças E também dos bons mocicos. 1154. Paradela não vale nada, Constantim vale um vintém; Ifanes vale mil cruzados Pelas lindas moças que tem (1339).
Dos de Paradela, concelho de Miranda do Douro, diz-se: – Então, Manel, onde vais arar? – Al Palinar. – ’stá par lhi la mia Maria; mete-le le cunho bien metido, que l’outro dia tamen iou le meti á la tua Francisca. (Queria dizer que lhe apertasse o arado). 1155. Estes meninos d’agora São poucos, mas valentes; Levantam a pia dos porcos Atravessada nos dentes (1340).
(1336) O Professor Leite de Vasconcelos nas Memórias de Mondim da Beira, p. 454, dá pequenas variantes desta. (1337) Já vem em SPOLETO – Cantares da minha terra, n.° 25. (1338) Concelho de Miranda do Douro. (1339) Aplica-se a várias povoações. (1340) No tomo IX, p. 279, demos uma referente a Pau de Afreixo, da que talvez esta seja a verdadeira lição.
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TOMO X
1156. Adeus cidade do Porto, Lá me ficou um vintém: Dei-o a duas tafulas, Bem podem tafular bem. 1157. Não sei que fiz ó Porto Que tanto chama por mim: Hei-de ir casar ao Porto À rua do Bonjardim. 1158. Quando te disse: adeus Porto, Do alto de Vila Nova, Bem podias entender Que eu me ia embora (1341). 1159. Quem me dera ser do Porto, Ou no Porto ter alguém: Quem me dera a liberdade Que as moças do Porto tem. 1160. Se fores ó Porto Traz-me um saiote De barrinha vermelha Que não desbote. 1161. As mulheres do Portelo Não quiseram vender ovos; Daqui por nove meses Hão-de ter soldados novos (1342). 1162. As meninas de Rabal Prometeram-me um cordão; Pensam que são bonitas E são feias como o carvão. 1163. Rio d’Onor abajo, Rio d’Onor arriba, Tocando la gaita Governando la vida.
(1341) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, sob o n.° 271. (1342) Feita pelos soldados do cordão sanitário posto na raia por causa da peste pelos anos de 1886. As portelenses não vendiam os ovos em tanta quantidade como queriam os faxinas, porque os precisavam para deitar as galinhas no choco.
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1164. Adeus lugar de Sacoias, Nem és vila nem aldeia, És um lugar pequenino Feito à luz da candeia. 1165. Hei-de ir casar a Salselas, Que mo deram por degredo; É terra de muito padre, Canta lá o cuco cedo. 1166. A laranjinha subiu, subiu, A laranjinha no ar ficou; A mocidade de Samões Em toda a parte reinou (1343). 1167. Estou rouca, enrouqueci, Não foi de comer feijões; Foi de beber água fria Na fontinha de Samões. 1168. Tenho um amor No lugar de Sanhoane Preso à campainha C’uma verguinha d’arame. 1169. O cura de São Martinho (1344) É rico e tem dinheiro; Tem o passear galante E os olhos de raparigueiro. 1170. Passei em Sandim de noite (1345), Mais valera ser de dia; Lugar de tanta menina Que alguma há-de ser minha. 1171. Vila Flor é boa terra Se não fossem os garotos; Andam de esquina em esquina, Uns descalços e outros rotos.
(1343) Aplica-se a várias terras. (1344) Refere-se a São Martinho, em Espanha, na fronteira da região mirandesa. (1345) Refere-se a Sendim, concelho de Miranda do Douro.
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1172. Abaixa-te ó Serra Alta, Que eu quero ver Vila Flor; Quero ver por entre as nuvens Se lá está o meu amor. 1173. Ó Vila Real alegre, Província de Trás-os-Montes, O dia que te não vejo Meus olhos são duas fontes (1346). 1174. Se tu visses o que eu vi Lá na feira do Vimioso: Vinte e cinco questureiras Montadas num raposo. 1175. Três ruas tem Vale de Prados (1347), Todas vão dar ó Cruzeiro, Todos seguem meus passos, Quem me logrará primeiro? 1176. A flor da malva é comprida, Chega até Viseu; Na fonte dos desgraçados Ninguém bebe senão eu.
PULGA, PIOLHO, PERCEVEJO 1177. A pulga e o piolho Foram à inveja sachar, Lá vai o percevejo Com a cesta do jantar (1348). 1178. A pulga mai-lo piolho Andam na veiga a lavrar; Detrás anda o percevejo Com a sacha a desterroar.
(1346) Já vem em LIMA, Pires de – Cancioneiro…., n.° 252, e em CHAVES, Luís – Trás-os-Montes, p. 16. (1347) Refere-se a Vale de Prados, concelho de Macedo de Cavaleiros. (1348) Na revista Alto Minho, (1935), p. 50, vem uma variante desta colhida em Geraz do Lima.
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1179. De Lisboa me mandaram Um guisado com seu molho: O serrelo duma pulga E o coração dum piolho. 1180. Ontem à noite estive à morte, Que me deu um acidente: Ferrou-me um coice uma pulga, Cuidei que nunca mais era gente. 1181. Tenho uma pulga agarrada, Não sei o que lhe hei-de fazer; Ao apanhá-la deu-me um coice, Estou capaz de morrer. 1182. Uma pulga deu-me um coice, Botou-me abaixo da cama; Não há coisa que mais me agrade Do que uma mulher mediana.
Q 1183. Quando eu quis não quiseste, Agora queres e não quero; Leva a tua vida triste Que eu bem alegre a levo. 1184. Quando eu quis não quiseste Aceitar o meu partido; Agora metes empenhos Para vir a falar comigo. 1185. Quando eu quis não quiseste Tiveste opinião; Agora queres e eu não quero, Tenho minha presunção (1349). 1186. Quando era rapaz novo Fazia mil travessuras; Molhava o pão no azeite, Deixava os santos às escuras. (1349) Idêntica em SANTOS JÚNIOR – Afinidades galaico-portuguesas de folclore, p. 11, colhida em Barcelos, que dá a correspondente em galego.
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1187. Quando nasci, chorava, Chorava por ter nascido; Certo é que adivinhava Que o mundo estava perdido. 1188. Quando passares à minha porta Bota os olhos ó chão; Podemos querer-nos bem E o mundo dizer que não (1350). 1189. Quando passares à minha porta Faz sinal que eu entenda: Escarra, bate na esquina, Faz que escachas uma amêndoa. 1190. Quando te amei a ti Melhor fora amar um burro; Andava a cavalo E não perdia o tempo de tudo. 1191. Quando te amei a ti Melhor fora estar doente; De ti não levo nada Senão penas para sempre. 1192. Quando te eu disser que não, Repara no que te digo; O meu dizer que não É um bem para contigo. 1193. Quantas vezes meu pai disse: Rapaz não sejas garoto, Andas tomando má fama, Dando mau trato ao corpo. 1194. Que mal te fazia o meu burro À porta do teu palheiro, Para lhe cortares o rabo Para raminho de cheiro.
(1350) Também se encontra em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 27.
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1195. Que pássaro é aquele Que no ar faz o ninhaço, Com a boca pede um beijo E com as alas um abraço? 1196. Que serve haver em nós Amor e fé pura, Se o destino nos tem feito Dois amantes sem ventura? 1197. Quem aceita prendas Logo deve reparar: Quem aceita fica preso, Quem as dá quer-se pagar (1351). 1198. Quem compra que eu vendo, Inda tenho que vender: Uma casa sem telhado E as paredes por fazer. 1199. Quem diz que amar enfada Certo é que nunca amou; Amei e fui amado Nunca o amor me enfadou (1352). 1200. Quem diz que o cagar não custa Bem mostra nunca ter cagado; Cagalhão grosso e duro Deixa o cu atrapalhado. 1201. Quem me dera dar um ai Tão alto como comprido, Que chegasse e não passasse Onde eu tenho o sentido. 1202. Quem me dera de escrever Nesta hora uma carta, Para que soubesses amor, O apoquento que me mata.
(1351) Pequena variante de outra publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 914, n.° 71. (1352) Variante de outra em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 273.
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1203. Quem quer bem ao amor À porta lhe faz serão; Das estrelas o cobertor Das pedrinhas o colchão. 1204. Quem quiser ouvir mentiras Vá para o lavadeiro, E se não ficar satisfeito Vá para a frauga do ferreiro. 1205. Quem tem amores não dorme, Eu também assim fazia; Agora que os não tenho Durmo de noite e de dia. 1206. Quero bem à desgraça, Que sempre me acompanhou; Tenho ódio à fertuna Que tão cedo me deixou (1353). 1207. Quero bem ao cigarro, Que é meu companheiro: De dia serve-me de gala E à noite de alcoviteiro (1354). 1208. Quero mandar-te, meu amor, Os meus suspiros magoados, Que me vieram à lembrança Os nossos tempos passados. 1209. Quero-te bem, rapariga, Mas não é para mulher, É para minha cunhada, Se o meu irmão quiser.
R 1210. Rapazes, em eu morrendo Ide ó sino tocai o fado; Que digam os passageiros: Lá morreu um desgraçado.
(1353) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 265. (1354) Variante de outra em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 102.
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1211. Raparigas tende juízo, Meninas não vos finteis; Cantigas leva-as o vento, Cartas d’amor são papéis (1355). 1212. Retire-se ó pomba branca Que o caçador anda a vê-la, Traz arma de prata, Onde aponta não erra.
ROLA 1213. A rola passa o monte Com os seus rolinhos ó peito; Também eu passo a minha Dizendo: com Deus me deito. 1214. A rola se vai queixando Que lhe roubaram os ovos; Não os puseras tu rola Tanto à vista dos meus olhos. 1215. A rolinha diz sim, sim, Caiu no laço, meu bem; Dá-me um beijo? Sim, dou. Dá-me um abraço também. 1216. A rolinha se vai queixando Que lhe roubaram o ninho: Não o pusesses tu rola Tanto à beira do caminho. 1217. Dá-me um abraço Com desembaraço; Olha a rolinha Que caiu no laço. 1218. Este canto, canto, É um canto santinho, Onde a pomba bate a asa, Onde a pomba faz o ninho. (1355) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 288.
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1219. Hei-de ser como a rola, Como a rola hei-de eu ser: A rola morreu cantando E eu cantando hei-de morrer. 1220. No alto daquela serra Está uma rola a rolar, Com a boca cheia de lixo P’ra quem me manda cantar. 1221. Passarinho verde-branco, Passarinho arrolador, Agora que me deixaste, Quem será o meu amor?! 1222. Tendes o cravo na boca, Correntinha na garganta; Quereis cantar como a rola, Como a rola ninguém canta. 1223. Tu não queres acreditar, Por ser da raça das tolas, Coitadica, nem apartas Os escravelhos das rolas (1356).
ROSA 1224. A rosa aberta tem cheiro, A fechada tem virtude; Da aberta faço o que quero, Da fechada nada pude. 1225. A rosa, depois de seca, Foi-se queixar ao jardim, O cravo lhe respondeu: Tudo quanto nasce tem fim (1357).
(1356) Além destas quadras, recolhemos mais duas referentes à rola, que suprimimos por já se encontrarem a p. 261 de MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais. (1357) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.os 23 e 189.
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1226. A rosa, depois de seca, Por todos é desprezada; A flor que cai ao chão Até aos pés é calcada (1358). 1227. A rosa, para ser rosa, Há-de ser da Alexandria; A mulher, para ser mulher, Há-de chamar-se Maria. 1228. À entrada desta rua, À saída desta terra Há uma roseira branca, Não me irei sem rosas dela. 1229. Abre o peito e mete a mão Com toda a delicadeza, Que dentro dele hás-de achar: Da rosa saiu a firmeza. 1230. Minha rosinha branca, Tira os galhos dos caminhos; Quero passar de noite, Tenho medo dos espinhos. 1231. Ó rosa da Alexandria, Onde deixaste o cheiro? Deixei-o na tua cama Debaixo do travesseiro. 1232. Ó rosa de Jericó! Ó cinta feita ó torno! Ó fermesura acabada! Ó pasmo do mundo todo! 1233. Que lindo botão de rosa Aquela roseira tem! Debaixo não se lhe chega E acima não vai ninguém.
(1358) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 24.
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1234. Quem seria o atrevido Que deitou a rosa no tanque? Deitou-a com o pé para cima, Sendo ela tão brilhante. 1235. Quem te pôs o nome, rosa, Devia saber notar: Rosa no céu, rosa na terra, Rosa em todo o lugar (1359). 1236. Rosa branca toma cor, Não sejas tão desmaiada; Dizem as outras rosas: Rosa branca não é nada (1360). 1237. Rosa que estás na roseira Deixa-te estar fechadinha; A rosa depois de aberta Todos dizem já foi minha. 1238. Rosa que estás na roseira Deixa-te estar fechadinha: Eu vou servir o rei, Em voltando hás-de ser minha. 1239. Rosa que estás na roseira Deixa-te estar, que estás bem Sentadinha e briosa Nos braços de tua mãe (1361). 1240. Rosa que estás na roseira Olhando para quem passa, Tens olhos de cadela, Vem comigo à caça. 1241. Sei cantigas misteriosas, Cantigas de endoidecer; Que os lírios dizem às rosas E as rosas m’o vêm dizer.
(1359) Variante de outra em CHAVES, Luís – Portugal Além, p. 56, colhida em Vila Real. (1360) Variante de outra em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 289. (1361) Variante da n.° 673 em SPOLETO – Cantares da minha terra e de outra publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 40, n.° 41.
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1242. Tendes a roseira à porta, Por dentro rosas bicais; Na renda do travesseiro Tendes certos sinais.
ROUXINOL 1243. Alegrai-vos, passarinhos, Que aí vem a primavera! Já o rei dos passarinhos Veio cantar à minha janela (1362). 1244. Dai-me uma pinguinha de auga Para molhar a garganta, Sou como o reixenol: Quanto mais bebe, mais canta. 1245. Lindo reixenol que cantas Com toda a satisfação, Estás rodeado de prazer Em volta do coração. 1246. O reixenol canta de alegre Por ter a dama no ninho; Olha como é constante O amor dum passarinho. 1247. O reixenol canta de noite, De manhã a cotovia; Todos cantam, só eu choro Quer de noite, quer de dia. 1248. O reixenol é vadio, Mete o rabo onde quer; É como o rapaz solteiro Enquanto não tem mulher. 1249. O reixenol quando canta Bate com o rabo no bico; Como queres que não chore, Se tu te vais e eu fico?! (1362) Variante de outra em VASCONCELOS, J. L. de – De terra em terra, p. 56.
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1250. O reixenol quando canta Mete o rabo na silveira; Ama tu quem quiseres, Já tenho quem me queira. 1251. O reixenol quando canta Mete o rabo na silveira; O filho do Parente Já não acha quem o queira. 1252. O reixenol quando canta Mete o rabo na silveira; Também eu metia o meu Numa moça solteira (1363). 1253. Quando o reixenol padece, Sendo uma ave tão pequena, Que fará o meu coração Metido em tanta pena? 1254. Reixenol do bico preto Deixa a baga do loureiro, Deixa dormir a menina Que está no sono primeiro (1364). 1255. Reixenol que tão bem cantas, Onde aprendeste a cantar? – Foi no palácio da rainha, Onde el-rei vai passear. 1256. Reixenol que tão bem cantas, Onde foste aprender? – Foi no palácio da rainha, Onde el-rei estava a escrever.
RUAS 1257. À entrada desta rua, Logo à casa primeira, Hei-de colher uma rosa Sem pôr a mão na roseira. (1363) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 234. (1364) Já vem em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios Etnográficos, vol. III, p. 33, e nas Canções do berço, p. 38.
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1258. À entrada desta rua, Logo ali à mão direita, Cortaram o meu cabelo, Foi para mim uma desfeita. 1259. Algum dia nesta rua Tinha eu minha cadeira; Agora passo por ela Como a lebre na carreira. 1260. Disseste que não me querias, Disseste-o naquela rua; Outro virá que me apanhe, Que diga que sou sua. 1261. Esta rua é comprida, Lajeada é de vidro; Dormira descansado Quem tem o amor vencido. 1262. Esta rua é comprida, No meio é apertadinha, Onde o meu amor jogava O jogo da laranjinha (1365). 1263. Esta rua é ó cimo, Fogem os pés para trás; Já te não querem as moças, Ó desgraçado rapaz! 1264. Esta rua é ó cimo Lajeada a compasso, As pedrinhas rogem todas Quando por elas passo. 1265. Esta rua é ó cimo Lajeada, mal segura, Quando passo por ela Não há pedra que não bula (1366).
(1365) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 257. (1366) Os três últimos versos em VASCONCELOS, J. L. de – De terra em terra, p. 111.
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1266. Esta rua é ó cimo Lajeada ó invés; Quando os mancos têm amores, Que fará quem tem pés. 1267. Esta rua tem pedrinhas, A outra pedrinhas tem; Desta não quero nada, Da outra quero alguém (1367). 1268. Esta rua tem pedrinhas, Hei-de as mandar tirar Com pontinhas de alfinetes Para o meu amor passar. 1269. Rua abaixo, rua acima, Não atais, nem desatais; Outros caçam passarinhos Em laços que vós armais. 1270. Rua abaixo, rua acima, Sempre com o chapéu na mão, Namorando as casadas, Que as solteiras minhas são. 1271. Rua abaixo, rua acima, Toda a gente me quer bem; Só a mãe do meu amor Não sei que raiva me tem.
S 1272. Santa Teresa de Jesus Foi ao inferno em vida, Ficou toda admirada De ver tanta alma perdida. 1273. Sapato da vira branca Ao meu pé não há-de entrar; Já enganaste outros amores A mim não me hás-de enganar. (1367) Variante da n.° 146 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1274. Se algum dia ao cemitério A minha campa fores ver, Procura o letreiro que diga: «Morreu por tanto te querer». 1275. Se algum dia ouvires dizer Que o teu amado morreu, Vai à campa ao cemitério Traz um coração que é teu (1368). 1276. Se algum dia te quis bem, Foi tempo que já passou; Agora, se olho para ti Foi manha que me ficou. 1277. Se as saudades matassem, Muita gente morreria; As saudades não matam Mas dão abalo à vida (1369). 1278. Se eu soubesse que voando Alcançava o teu amor, Mandava vir da botica As asas de um assador. 1279. Se morrer com minha fala Em meu juízo perfeito, Hei-de mandar fazer a campa No alto desse teu peito. 1280. Se o bem-querer se pagasse, Ó quanto me estás devendo! Nem com quanto tens me pagas O bem que te estou querendo. 1281. Se o que contas de carcarmas Contasses de verdade, Tinhas mais de mil quintas Dentro de cada cidade.
(1368) Variante da n.° 683 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1369) Os três primeiros versos em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 296.
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1282. Se ouvires assobiar Não julgues que é caçador: É moda que anda agora De assobiar ao amor. 1283. Se soubesse que aí vinhas, Alívio das minhas queixas, É tão grande a minha mágoa Que nem suspirar me deixas. 1284. Se soubesse quando morria Mandava fazer a cova Com uma enxada de vidro No meio da Praça Nova. 1285. Se soubesse quem tu eras, Ou me enganarias ou não; Assim como não sabia, Se choro, tenho razão. 1286. Se tivesse que dar, dava, Não tenho, mas aceito, Tenho penas e dores Causadas a teu respeito. 1287. Se tu visses o que eu vi Lá no Rio de Janeiro: Um macaco a bater sola Na testa dum sapateiro. 1288. Semear e não colher, Volta atrás, ó lavrador; Bem atrasada eu ando Na colheita do amor. 1289. Senhor dos Navegantes, Acudi-me, que bem podeis! O tabaco está mais caro Cada maço trinta réis. 1290. Senhora de Balsamão Aonde estais metida! Entre os Olmos e Chacim, O Lombo e a Paradinha (1370). (1370) Já vem em SPOLETO – Cantares da minha terra, n.° 741.
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1291. Senhora da Serra P’r’ó ano lá hei-de ir, Casada ou solteira Ou criada de servir (1371). 1292. Senhora sou de mim, É brio d’uma mulher; Querer-te bem, sujeita não, Falarei a quem quiser. 1293. Senta-te aqui, meu amor, Tu numa pedra e eu noutra: Aqui choraremos ambos A nossa ventura pouca (1372). 1294. Siga a malta, siga a malta, Siga a malta, trema a terra, Arrede-se lá quem vem Que esta malta não arreda. 1295. Sino, coração d’aldeia, Coração, sino da gente; Um a sentir quando bate, Outro a bater quando sente. 1296. Sou como a larica fina Que nasce com pé delgado; Não sendo com má tenção, O querer bem não é pecado. 1297. Subi-me ao teu peitinho, Às voltinhas vim descendo; no lugar de te amar Nada te fiquei devendo. 1298. Suspiros, ais e tristezas, Imaginações e cuidados, São o manjar dos amantes Quando vivem ausentados (1373).
(1371) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 155. (1372) Variante de outra publicada pelo falecido Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 94, n.° 83. (1373) Variante do n.° 318 em LIMA, Pires de – Cancioneiro.
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1299. Suspiros me põem na mesa, Lágrimas é meu comer, Saudades me sustentam Até te tornar a ver.
SABOR Ver Amieiro, n.os 141 e 143, págs. 369 e 370. 1300. Eu fui o pau mais vadio Que no Sabor se criou; Cheguei a certa altura Nunca ninguém me abanou. 1301. Eu também sou lavadeira, Lavo no rio Sabor Um lencinho de entremeio Para dar ao meu amor (1374). 1302. Hei-de-me ir deitar ao Sabor, Onde a água me afogue; Já que tu me enjeitaste Não quero que outro me logre. 1303. Já se morreu o ganado, Já abalou o pastor, Já não há quem atarreie Nas ladeiras do Sabor (1375). 1304. Ó ave que tão alto voas Pelas serras do Sabor, Leva-me nas tuas alas À terra do meu amor (1376). 1305. Ó ave que vais tão alta Pelas serras do Sabor, Leva-me ao céu onde tenho A alma do meu amor (1377). (1374) Idêntica em Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, n.° 33, p. 40. (1375) Variante da n.° 642, em SPOLETO – Cantares da minha terra. «Já não há quem assobie», diz outra variante no terceiro verso. (1376) Variante da do Prior Miranda Lopes, em SPOLETO – Cantares da minha terra, n.° 556. (1377) Ibidem, n.° 539.
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1306. Ó Sabor que vais tão turvo Quando hás-de aclarar? Ó línguas difamadoras Quando me quereis deixar (1378)?! 1307. Passarinhos que cantais Nos salgueirais do Sabor Ide levar saudades À terra do meu amor (1379). 1308. Quantas voltas dá a estrada Pelas margens do Sabor Quantas dão meus olhos Para te ver, meu amor (1380). 1309. Raparigas do Sabor Vinde lavar ao Cachão; A água do nosso poço Lava a roupa sem sabão.
SALGUEIRO Ver Sabor, n.° 1307. 1310. Quando o sobreiro der baga E a salgueira cortiça, Então é que te hei-de amar Se não me der a preguiça. 1311. Salgueiro da borda d’auga, Amieiro sem raiz; Já enganaste outros amores, Já para mim não servis. 1312. Salgueiro da beira do rio Deixa passar os peixinhos; A quem deste os abraços Dá também os beijinhos (1381). (1378) Variante da n.° 578 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1379) Ibidem, n.° 609 (1380) Ibidem, n.° 379. (1381) Variante de outra em VASCONCELOS, J. L. de – Ensaios, vol. III, p. 31, e LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 269.
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1313. Salgueiro da beira do rio Não deites a raiz ao lodo, Eu não falo de ninguém E de mim fala o mundo todo (1382).
SALSA, HORTELÃ 1314. A hortelã é descuido, Ó descuidada de mim! Quem me manda fazer caso De quem o não faz de mim. 1315. A salsa crece p’r’o ar, A hortelã no pé fica; Não sei que amor é o meu Que tanto me mortifica. 1316. A salsa é o tempero De todas as panelinhas; Em também sou tempero P’ra temperar as meninas. 1317. A salsa é o tempero Para todas as comidas; Bem experimentada me tens, Amor, por todas as vias. 1318. A salsa na minha horta Arrodela e faz cordão; Quem não quer que o mundo fale Não lhe dá ocasião (1383). 1319. A salsa na minha horta Dá-lhe o vento e bambaleia; Menina, se mal me quer, Corto-me o rastro na areia. 1320. A salsa na minha horta De verde se está perdendo; Também vós, minha menina, De falsa me estais vendendo. (1382) Variante da n.° 150 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1383) Ibidem da n.° 31.
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1321. A salsa na minha horta Não a hei-de consentir; A salsa é dormideira E eu sempre estou a dormir. 1322. A salsa na minha horta Rebenta ao nascer; Assim rebentem os olhos. A quem não me pode ver. 1323. Lá te mandei um raminho De salsa e guarda-roupa; Deus te dê mais fortuna, Já que a minha foi tão pouca. 1324. Semeei a salsa no rio E o amieiro na horta; Trata da tua vida Que a minha nada te importa. 1325. Semeei salsa-verde Nas beiras do chafariz; Já foste amada de outro Já para mim não servis. 1326. Semeei no meu horto A salsa por entre goivos; Hoje somos conversados, Amanhã seremos noivos. 1327. Semeei no meu quintal A salsa-verde peneirada; Só para ver se nascia O amor que eu desejava.
SEDA, SIRGO Ver os artigos Linho, Mãe e Tecedeira. 1328. Chamais-me moreira triste, Porque razão me chamais? A moreira cria o sirgo Com que vós vos asseais. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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TOMO X
1329. Minha mãe criai o sirgo, Que eu irei ripar a folha Ao ramalhete mais alto Da moreira toda. 1330. Minha mãe criai o sirgo, Minha mãe criai, criai, Que eu irei ripar a folha Às moreiras de meu pai.
SERRAS 1331. Adeus Senhora da Serra, Romaria nomeada, Onde eu te conheci, Minha prenda amada. 1332. Foste à Senhora da Serra E nem um anel me trouxeste; Nem os moiros da moirama Fariam o que tu fizeste (1384). 1333. Alta serra da neve, Deita cá uma faísca; Quem tem o amor defronte Até com os olhos petisca. 1334. Alta serra da neve, Quando serás derretida? Rica jóia do meu peito Nunca serás esquecida. 1333. Do cimo daquela serra Alto penedo caiu, Ninguém diga o que não sabe, Nem afirme o que não viu. 1334. No alto daquela serra Está um cãozinho: béu-béu, Que lhe cortaram o rabo Para fita dum chapéu. (1384) Variante da n.° 344 em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, mas aplicada a São Torcato.
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1337. No alto daquela serra Está um laço de algodão; Todas passam e passaram, Só eu caí na prisão. 1338. No alto daquela serra Ouvi cantar e chorei! Ouvi cantar uma rosa No palácio do rei. 1339. No alto daquela serra Passam bois, passa boiada; Também passa uma mulatinha Com a cabeleira encaixiada. 1340. No alto daquela serra Tem meu pai um lameirão, De dia rega-o o sol, De noite o meu coração (1385). 1341. No alto daquela serra Tenho o meu aposento: Estudo no astro celeste Calor, chuva, frio e vento. 1342. Ó meu amor de tão longe, Altas serras tens no meio; Guarda-me tu lealdade Que eu vivo sem arreceio. 1343. Ó serra da Castanheira Manda varrer as areias, Que lá rompi os sapatos Não quero romper as meias (1386). 1344. Ó serra deita cá água Por um cano de marfim, Que quero regar dois olhos Que estão ausentes de mim.
(1385) Colhida pelo Dr. Raul Teixeira no Portelo, concelho de Bragança. (1386) Refere-se à serra da Castanheira, no concelho do Mogadouro.
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SILVA 1345. A silva nace da silva, A silva nace do chão, O amor nace dos olhos E o bem-querer do coração. 1346. A silva nace no lar, Vai beber à cantareira; A mulher que é bem casada Sempre parece solteira. 1347. A silva que me prendeu Saiu daquela janela; Nunca a silva me prendeu Que não me vingasse dela. 1348. Dizes que não pode ser A silva dar um cravo; Aqui o trago ao peito Colhido no monte bravo (1387). 1349. O pico nace da silva, A silva nace do chão; A vista nace dos olhos E o amor do coração. 1350. Silva verde não me prendas, Não tenho quem me solte; Não queiras ser, silva verde, A causa da minha morte. 1351. Silva verde pica, pica, Inda a seca pica mais; Quem se finta em maganos Sempre fica dando ais.
(1387) Pires de Lima, no Cancioneiro de Celorico de Basto, dá sob o n.° 71 uma pequena variante desta.
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SOGRA Ver n.° 670. 1352. Chamaste a meu pai sogro E a minha irmã cunhada; Em tudo governa meu pai Só nisso não governa nada (1388). 1353. Chamaste a meu pai sogro, Sem saber se queria eu; Em tudo governa meu pai, Só nisso governo eu. 1354. Minha sogra morreu ontem, Enterrei-a no palheiro, Deixei-lhe um braço fora Para tocar no pandeiro. 1355. Minha sogra quer-me mal, Minha cunhada tamen; A mim nada se me dá: Queira-me o seu filho bem. 1356. Minha sogra morreu ontem, Deus a tenha no céu dos lobos; Deixou-me uma manta velha Toda cheia de piolhos. 1357. Minha sogra morreu ontem, O diabo vá com ela; Deixou-me a chave da adega E o vinho bebeu-o ela (1389). 1358. Sogra, minha sogra, Tem o génio altivo; Não me dá o filho P’ra casar comigo. 1359. Valha-me Santa Quitéria, Minha sogra está danada; Ainda não casei c’o filho Já me deu uma dentada. (1388) Os dois primeiros versos são idênticos à do n.° 45 no LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto. (1389) Os dois últimos versos na n.° 427 em SPOLETO – Cantares da minha terra, mas aplicados à avó.
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SOL, LUA, ESTRELAS 1360. Estrelinhas do céu baixai Que eu quero escolher a minha: Das quatro a mais alta, Das três a mais pequenina (1390). 1361. Estrelinhas do céu baixai Vinde até mor clamor; Deixai o mundo sem luz Já qu’eu fiquei sem amor. 1362. Eu bem vi nascer o sol Duma maçã vermelhinha; Nunca pensei que nascesse De coisa tão pequenina. 1363. Eu bem vi nascer o sol, Eu bem o vi arraiar; Eu bem vi uma menina Pelo seu amor chorar (1391). 1364. Eu bem vi nascer o sol Lá das bandas de Castela, Nunca vi sol castelhano Trazer bandeira de guerra. 1365. Eu estou à tua porta Notando versos à lua; Tu deitada na cama, Eu suspirando na rua. 1366. Eu sou o sol e tu és a sombra, Qual de nós é mais firme? Eu como sol a adorar-te E tu como sombra a fugir-me (1392).
(1390) Variante de outra em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 265. (1391) Já foi publicada pelo falecido Abade Tavares na Ilustração Transmontana, (1908), p. 104, n.° 27. (1392) Variante das n.os 147 e 221 em SPOLETO – Cantares da minha terra e da publicada nos Ensaios Etnográficos, vol. III, p. 356, e da publicada por CAMPOS, A. de; OLIVEIRA, A. de – Mil trovas populares, p. 260, n.° 834.
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1367. Hei-de-me ir assentar Ao circo que leva a lua; Ó pai que tendes três filhas Ficai com duas e dai-me uma. 1368. Lá no céu vai um estrela Que leva as armas do rei; Nunca contes a ninguém O que eu contigo passei. 1369. Lá no céu vai uma estrela Que se parece contigo; O dia que te não vejo A estrela serve-me d’alívio. 1370. Nace o céu, corre o céu todo, Nace e torna a renacer; Contigo estou na lembrança, Vês aqui o meu viver. 1371. O João das Luzes vai andando E a xarabata não vem; Mas a culpa é da patega, Que o patego não a tem (1393). 1372. O sete-estrelos vai alto, Alumia ao deserto; Difamaram-me contigo, Façamos o dito certo. 1373. O sete-estrelos vai alto E a lua já embarcou; Menina, abra-me a porta, Há sete horas que aqui ’stou. 1374. O sete-estrelo vai alto, Menina vai-te deitar; Assim fizera eu Para ver de madrugar.
(1393) É cantada pelos ceifeiros portugueses nas searas da Galiza, quando o sol (João das Luzes) avança e a patroa (xarabata e patega) se demora com o jantar.
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1375. O sete-estrelo vai alto, Mais alto vai o luar; Mais alta vai a ventura Que Deus tem para me dar. 1376. Olhai para o sete-estrelos Como o vedes de quatro cores, Tudo isso significa Ausência dos meus amores. 1377. Sete-estrelos rondadores, Contrários a quem namora; Acabai a vossa ronda Qu’eu quero rondar agora (1394). 1378. Sete-estrelos rondadores, Que no meio do céu rondais; Comigo trazeis a fama E com outro vos regalais. 1379. Sete-estrelos rondadores, Que rondais a toda a hora, Recolhei-vos, sete-estrelos, Qu’eu quero rondar agora. 1380. Sete-estrelos rondadores Que rondais a toda a hora, Estou à porta de quem amo, Não posso rondar agora. 1381. O sol é caixa de prata, A lua é fechadura; As estrelas são as chaves Com que fecho a ventura. 1382. O sol prometeu à lua Uma fita de mil cores; Quando o sol promete prendas Que fará quem tem amores! 1383. O sol quando nasce, Nasce para todo o mundo; Quem não sabe anadar Vai de cabeça ó fundo. (1394) Variante da n.° 716 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1384. O sol quando quer nascer Pede licença ó chão, Para estender os seus raios Com toda a liboração. 1385. Ó lua, brilhante lua, Mais brilhante que o limão; Se teus olhos assim brilhassem, Brilhava o meu coração. 1386. Ó lua vai-te deitar Ó quarto da minha amada, Dá-lhe um abraço por mim Se ela estiver acordada. 1387. Ó sol que te vais indo Lá para as veigas de Chaves, Diz ao meu amor que venha, Pois morro de saudades. 1388. Prendi o sol com uma fita, As estrelas com um cordão, A lua com um cadeado E a ti no meu coração (1395). 1389. Pus-me a contar as estrelas Com a ponta da espada; Comecei à meia-noite E acabei de madrugada. 1390. Pus-me a contar as estrelas Das escadas da tribuna: Contei sete, seis, cinco, Quatro, três, duas, uma. 1391. Pus-me a contar as estrelas Numa banca de latão; Logo ao primeiro trunfe Ganhei o seu coração.
(1395) Variante da n.° 155 em SPOLETO – Cantares da minha terra e de outra a p. 265 em MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais.
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1392. Pus-me a contar as estrelas, Só a do norte deixei, Por ser a mais pequenina Contigo a comparei (1396). 1393. Quantas estrelas há no céu Sem nenhuma ver nacer! Quanta menina bonita, Sem nenhuma em meu poder (1397)! 1394. Quatrocentos graus de altura Subiu o sol e parou; Se eu não era do teu gosto, Amor, quem te obrigou? 1395. Subi ao céu de joelhos, Das moens fiz encosto; Dei um beijo numa estrela Pensando que era o teu rosto.
SOLDADO 1396. Menina, não se finte Nas falas do militar: Acaba o tempo, vai-se embora E a menina fica a chorar. 1397. Não há vida mais bonita Que a vida de militar: Come o rancho na marmita E à tarde vai passear. 1398. O meu amor é soldado Da primeira companhia, É a cara mais linda Que anda em cavalaria. 1399. Sou soldado, sirvo o rei, Também sirvo a rainha, Também faço sentinela À sua porta, menina. (1396) Variante da n.° 265 em LIMA, Pires de – Cancioneiro. (1397) Variante da n.° 641 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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T 1400. Tanto limão, tanta lima, Tanta silva, tanta mora, Tanta menina bonita E meu pai sem uma nora. 1401. Tendes garganta de neve, Nariz de pena aparada, Olhos de rosa aberta, Boca de corte fechada. 1402. Tendes garganta de neve, Nela se pode escrever, Oh! quem fora estudante Só para nela aprender! 1403. Tendes telhado de vidro, Só para o meu atirais; Falais de mim, falais doutrem, Só para vós não olhais (1398). 1404. Tenho dez mil réis Metidos numa buraquinha, Agora, para que sejam quinze, Hei-de pôr-lhe mais cinco em cima (1399). 1405. Tenho ouvido dizer Que é linda a cor do céu; Vivo em trevas sepultada, Triste sorte Deus me deu. 1406. Tenho-te dito mil vezes: Comigo não percas tempo; Noutros castelos mais altos Navega o meu pensamento (1400).
(1398) Já foi publicado pelo abade Tavares na Revista Lusitana, vol. III, p. 77. (1399) Atribuem-na a um cego a quem furtaram o dinheiro escondido no buraco duma parede, onde o ladrão o foi repor na esperança de lhe apanhar mais. (1400) Os dois primeiros versos em LIMA, Pires de – Cancioneiro, n.° 327.
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1407. Tenho um colete de linho, Forrado de bacalhau, Guilhós à pispautira, ’Spartilho de racha o pau. 1408. Tenho um rosairo de penas, Que o rezo às escuras; Ó glória, que tanto tardas! Ó pena, que tanto duras (1401)! 1409. Tenho uma prima mui linda; Por ela padeço tanto Que hei-de ir descalço a Roma Pedi-la ao Padre Santo. 1410. Senhor Padre Santo de Roma Consigo quero falar: Tenho uma prima mui linda, Com ela quero casar. 1411. Tenho uma saia de penas Forradinha de paixões, As penas são os suspiros Das tuas ingratidões. 1412. Tenho na minha janela Um valverde regalado: Quando chove, está enxuto, Quando faz sol, está molhado. 1413. Tenho telhado de vidro, Paredes de carambelo; Quando passo à tua porta Lembra-me o bem que te quero. 1414. Tire o pé da minha saia, De longe diga o que quer; Não perde, que é homem, Perco eu que sou mulher. 1415. Toda a bela noite Sempre pensando em ti; E tu, traidora, Não te lembras de mim. (1401) Variante da n.° 752 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1416. Toda a moça que é janota, Melhor fora não nacer; É como a pêra madura: Todos a querem colher. 1417. Toda a moça que é janota, Por bem janota que seja, Não deixa de molhar Dois, três pêlos quando meija. 1418. Toda a moça que é janota Também dá o seu estrondo; Veste mais de vinte saias Para fazer o cu redondo. 1419. Todas as noites, ao deitar, Rezo à Virgem Maria Que me deixe sonhar de noite Com quem sonho de dia. 1420. Todo o bem que tu me queres E o que estás a querer, Cabe na folha da urze E ainda a não deve encher (1402). 1421. O bem que eu te quis e quero, O que te hei-de vir a querer, Na folha da urze se escreve E ainda fica por encher. 1422. Tola, que contente vai Com um amor que já foi meu! Deus lhe dê por recompensa A paga que a mim me deu (1403). 1423. Toma lá cinco réis, Que dez réis não vale a pena; O homem a bater na mulher Por ter a cor morena.
(1402) Variante da n.° 502 em SPOLETO – Cantares da minha terra. (1403) Ibidem, n.° 583.
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1424. Toma lá que te dou eu Este punhal sem bainha Tira-me a vida com ele: Já que não queres ser minha. 1425. Tomaste novos amores Com um amor que já foi meu; Agora colhe-lhe a rama, Que a flor colhi-lha eu (1404). 1426. Três dias antes qu’eu morra Hei-de ir visitar o adro Para ver a sepultura Onde hei-de ser enterrado (1405). 1427. Trocaste, meu amor, trocaste, Oxalá que te arrependas; Deus te dê tanta sorte Que até a camisa vendas. 1428. Tu és a pomba inocente, Eu sou o teu anjo da guarda; Devo-te dizer baixinho: Olha que a morte não tarda. 1429. Tu pensas que inda te quero? Olha o talégo do mundo! Os meus olhos já navegam Noutro poço mais fundo (1406). 1430. Tudo o que é verde seca, Lá no estio do verão; Tudo torna a renovar Só a mocidade não (1407).
(1404) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro de Celorico de Basto, n.° 334. (1405) Ibidem, n.° 338. (1406) Idêntica em LIMA, Pires de – Cancioneiro…, n.° 57, mas tem toledo em vez de talégo. (1407) Variante da n.° 780 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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TECEDEIRA 1431. A tecedeira que é tecedeira, Passa o inferno em vida; Paus nos pés, paus nas mãos, Paus no cu e paus na barriga (1408). 1432. Mariquinhas tecedeira, Tem o tear na portela; Vem o vento de Viana Todo o fiado lhe quebra (1409). 1433. Mariquinhas tecedeira, Tens tear e não tece?! É o ladrão do amor, Que do tear te aborrece. 1434. Namorei a tecedeira Pelo buraco da chave; Ela estava zuca-truca, Minha porta não se abre. 1435. Namorei a tecedeira Pelo buraco da porta; Ela estava zuca-truca E a mim não me importa (1410). 1436. Ó quem fora tão agudo Como anda a lançadeira! Ó quem fora morrer Nos braços da tecedeira! 1437. Ontem à noite por meu gosto Cometi um pecado mortal: Dormi com uma tecedeira Entre os varais do tear.
(1408) Variante da n.° 104, ibidem. (1409) Será Viana del Bolo, na província de Orense (Galiza), de onde sopra um vento frio e húmido, autêntico vendaval muitas vezes, que derruba árvores, casas e muito dano faz no distrito de Bragança? Variante de outra colhida no distrito de Vila Real e publicada na revista Portucale, (1936), p. 95. (1410) Variante da n.° 154 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1438. Se eu morrer enterrai-me Aos pés d’uma tecedeira; Sempre gostei de ouvir O bater da lançadeira. 1439. Se eu soubera, Mariquinhas, Que tu eras tecedeira, Mandara vir do Porto Um tear de laranjeira. 1440. Semeei na minha horta O brio das tecedeiras; Nasceram cravos e rosas, Canelas e lançadeiras (1411). 1441. Senta-te aqui Antoninho Nas mesas do meu tear; Faz-me aqui uma canela E o mundo deixa-o falar (1412). 1442. Tecedeira sou da seda, Da outra banda do mar; A seda tenho-a eu Mas inda ’stá por dobar. 1443. Tecedeirinha nova, Tece p’ras bandas do mar; Acabaram-se-me as teias, A vossa vinde-a buscar.
TREVO, TRIGO 1444. Atrevido foi o trevo Em nacer ao pé do trigo Atrevido foi você Em vir falar comigo.
(1411) VASCONCELOS, José Leite de – Ensaios Etnográficos, vol. III, p. 108. (1412) Variante da n.° 712 em SPOLETO – Cantares da minha terra e de outra colhida por Alberto Candeias no distrito de Vila Real e publicada na revista Portucale, (1936), p. 94.
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1445. O trevo diz que se atreve A deitar fios de prata; Tomar amores não custa, Deixá-los é que mata. 1446. O trevo diz que se atreve A botar braços ao comprido; Eu sou trevo, mas não me atrevo A tomar amores contigo. 1447. O trevo diz que se atreve, Mas eu digo que não; Eu, sem ser trevo, me atrevo A amar o teu coração. 1448. Tenho tantas saudades Como folhas tem o pão; Não as digo a ninguém, Trago-as no meu coração. 1449. Tenho tantas saudades Como folhas tem o trigo; Não as digo a ninguém, Todas consumo comigo.
V 1450. Vai andando, que eu já vou, Quero vestir roupa lavada; Não digam os teus vizinhos Que ando mal arranjada. – Onde vais? – perguntou o diabo a um mancebo. – Vou pelo mundo adiante, que não posso aturar as impertinências de meu pai. – Muito bem – volveu-lhe o interlocutor. 1451. Vai pelo mundo fora, Que o mundo te dará o pago; O mundo tamen arregla A quem anda desarregrado. 1452. E tu mesmo assim pelo mundo Podes achar uma mulher guapa, Que te cubra de maus trajos E te encha de piolhos a capa.
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Volveu-lhe irónico o mancebo: 1453. Tal cabeça, tal sentença, Meu leal camarada: Faz visitas a meu pai, se o tornares a ver, E diz-lhe que digo eu que trabalhe se o quer comer.
A santa e inteligentíssima minha tia Luzia Alves, nascida em Baçal a 8 de Maio de 1826 e aqui falecida, solteira, sem geração, a 5 de Fevereiro de 1890, a quem eu devo inicialmente o gosto pelas antiguidades, por constantemente espicaçar a minha curiosidade com lendas, contos, anedotas e factos históricos da Guerra Peninsular, em que seu pai, Barnabé Alves, nascido em Baçal a 5 de Junho de 1790 e aqui falecido a 12 de Dezembro de 1860, militara, bem como seu irmão Ildefonso Alves, falecido em França na guerra em 1814, muitas vezes acalmou, com o precedente apólogo, os meus dislates estouvados de rapaz sedento de miragens à filho pródigo. Pouco tempo decorrido – moralizava ela em conclusão final – no mesmo sítio apareceu o interlocutor ao mancebo, que regressava, chorando, ao lar paterno, e, quando lhe perguntou o motivo, atribuiu a tentação diabólica a desobediência aos pais. – Mentes – volveu-lhe ele – o diabo sou eu, e aqui mesmo, neste sítio, te avisei dos perigos em que ias meter-te. Santa velhinha quanto te devo! Também foi em tua memória que dei à sobrinha, que tenho comigo, nascida em 1916, o teu nome de Luzia Alves e ao irmão desta, nascido em 1920, o de teu pai Barnabé Alves. 1454. Vai-te cruel, vai-te ingrato, Longe de mim a morrer; Dentro de meu peito deixas Duas fontes a correr. 1455. Vai-te cruel, vai-te ingrato, Vai-te amor da minha vida; Vai-te gabar que me deixas Num mar de penas metida (1413). 1456. Vai-te embora, não cuides Que fico a chorar; Em passando quatro dias Não me tornas a lembrar.
(1413) Já foi publicada pelo Abade Tavares na Ilustração Trasmontana, (1910), p. 93, n.° 58.
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1457. Vá-se e vá-se, Não diga que o não mando; A albarda já lha pus E o freio ando-o buscando. 1458. Vá-se daí, ó magano, Cosido com linhas pretas; Já o mandei a cantar À ’strebaria das bestas. 1459. Venho dar a despedida Num raminho de pão; Vá-se daí, seu burrinho, Que lhe ponho o albardão. 1460. Venho dar a despedida Numa espiguinha de trigo: Vá-se daí seu burrinho Que lhe vou pôr o ’stribo. 1461. Venho aqui com todo o gosto, Com toda a satisfação, Para aliviar as penas Que andam no seu coração. 1462. Minhas penas, amor, Não estão boas de aliviar; As minhas penas só acabam Quando comigo casar. 1463. Venho da súcia, Volto para lá, Súcia como esta, Não vi, nem há. 1464. Venho aqui por um sonho Que na minha cama sonhei; Constou-me que me eras falsa, Por certo adivinhei. 1465. Venho aqui que me pagues O meu tempo perdido; Já te não falo nas solas Que por ti tenho rompido. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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1466. Você diz que caia o Carmo, Que caia a Trindade tamen, Que caiam os olhos à Rita Que tanto olha p’r’ó meu bem. 1467. Você, menina, matou-me, Dê-me agora a sepultura; Se não ma quer dar na terra Dê-ma na sua cintura. 1468. Vós de frente e eu à vista, Não falo nem me falais; Dai-me um aceno c’os olhos Já que não pode ser mais. 1469. Vós, menina, sois a neve, Vosso pai é o calor, Vossa mãe derrete a neve E vós derreteis o amor.
VESTIDOS E MODAS Ver n.os 213, 858, 1407 e 1418. 1470. Chapéu, lindo chapéu, Essa fita não é tua; Ó ladrão, que mal parece Tanto conversar na rua! 1471. Estas meninas d’agora, Algumas e não são todas, Calçam dois pares de meias Para fazer as pernas gordas. 1472. Estas meninas d’agora, Não comem senão farelos Para pouparem dinheiro Para sapatos amarelos. 1473. Já não me querem as moças Por não ser dos pimpões; Por não trazer na jaqueta Três carreiras de betões.
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1474. Minha avó tem um fatinho Que lhe chamam rabicho, Caiu do telhado abaixo, Foi na carroça do lixo. 1475. Os moços d’agora São uns pimpões: Trazem cintos de tacos A apertar os calções. 1476. Trazeis o chapéu baixinho, Andais à moda do Porto; Que chapéu tão pequenino Para tamanho garoto! 1477. Trazeis o chapéu baixinho, Mandai-o arredondar; Debaixo do chapéu andam Olhinhos de namorar.
VINHO E DERIVADOS Ver n.° 1357. 1478. A cana verde no mar Também tem a sua amada, Também eu tenho a minha D’aguardente refinada. 1479. Detrás do castelo Vende-se aguardente? Diga-me, ó menina, Se emborracha a gente? 1480. Eu sou preto, Bem o sei; O vinho tamen é preto E vai à mesa do rei. 1481. Leve o diabo paixões, Venham canadas de vinho; Agora mandei fazer Calças de boca de sino. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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1482. Ó tio José: A taberna onde é? Tenho uma borracheira Que não me tenho de pé! 1483. Ó senhora taberneira, Eu só lhe desejo bem; Mas não me vou embora Sem me dar o seu vintém. 1484. Rapazes: em eu morrendo Levai-me devagarinho, Enchei-me a campa d’aguardente E por cima deitai-me vinho. 1485. Se quer que cante bem, Dê-me pinguinhas de vinho; Tenho a voz grossa Quero cantar delgadinho. 1486. Tenho uma borracheira Que de pé não me tenho; Mira, mira Maruchinha. Mira, mira como bebo.
No concelho de Carrazeda de Ansiães observei este costume, corrente também em várias terras bragançanas: ao repasto dos grandes jantares, em que o vinho corre a rego cheio, para findar, enchem-se todos os copos e cada conviva tem de beber o que lhe corresponde por ordem topográfica de assento ao som desta canção: 1487. Ce que vira e vira, Ce que vira e vira, ....................................... ....................................... ....................................... .......................................
Assim estão cantando repetindo os dois versículos, até que vira o copo bebendo o vinho. Então, conclamam em uníssono, como quem dispara um tiro Tum! ................................................. Ó que belo companhão Que bem dispara o seu canhão! MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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E assim sucessivamente até findar a roda. Muitas vezes, os copos são especiais para estes actos, em forma de boca de sino, de meio litro de capacidade ou mais, pelo teor do velho vaso pré-histórico chamado campaniforme. Parreira 1488. Sou velha, não o nego, Mas da idade em que estou Inda de filhos me carrego. Vinho 1489. Tive neto por brasão, Que faz perder a muita gente Honra, brio e estimação. Vinagre 1490. Sou velho, velho neto Sempre manso e quieto; Entro na casa da audiência, Sou muito amigo da paz, O que meu irmão não faz. Aguardente 1491. Eu em tudo sou contrafeita, Por isso sou má bebida, Mas inda sirvo de inguento Para curar alguma ferida. 1492. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar uns socos. Isso não, maridinho, não; Os pés tortos não querem os socos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos. 1493. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar umas meias.
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Isso não, maridinho, não; As pernas feias não querem as meias; Os pés tortos não querem os socos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos. 1494. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar uma camisa. Isso não, maridinho, não; A barriguinha lisa não quer a camisa; As pernas feias não querem as meias; Os pés tortos não querem os socos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos. 1495. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar um vestido. Isso não, maridinho, não; O corpo comprido não quer o vestido; A barriguinha lisa não quer a camisa; As pernas feias não querem as meias; Os pés tortos não querem os socos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos. 1496. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar uma touca. Isso não, maridinho, não; A cabeça louca não quer a touca; O corpo comprido não quer o vestido; A barriguinha lisa não quer a camisa; As pernas feias não querem as meias; Os pés tortos não querem os socos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos. 1497. Mulher minha, mulher minha, Não bebas mais vinho, Não bebas mais vinho, Que te hei-de comprar uma burrica. Isso sim, maridinho, sim; A burrica carrega os odres, Os odres conduzem o vinho,
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O vinho dá saúde ós corpos. Venha vinho, venha vinho p’ra os nossos copos (1414).
Segundo a lenda, um homem de Baçal, chamado João Pires, foi ao moinho do António (1415) buscar um saco de farinha que lá tinha a moer, mas ia tão pingueiro que entrou a duvidar da sua identidade. Veio a casa, bateu e perguntou: – Está cá o senhor João Pires? – Não; foi ao moinho – responderam-lhe. – Valha-me Deus – voltava ele – João Pires era, João Pires sou; era cabeludo, estou rapado. Quem me rapou? Fui ao moinho, levei trigo, trouxe boroa; era casado, tenho coroa, como pode ser isto? Não sou eu, não pode ser! E foi só depois que os frescos vapores de uma noitada de Novembro incidiram sobre o senhor João Pires, estirado na rua, que as dúvidas da sua identidade se esvaíram na razão directa do desvanecimento da carraspana. Ainda outra lhona passada no mesmo moinho. Um homem deste meu Baçal guardou um cubeto do melhor vinho para o tempo dos maiores serviços – ceifa dos fenos, cereais e malhas –, mas quando foi encertá-lo, nada havia. Verificou que não se arramara e culpou a mulher de o ter bebido, lembrando-lhe que se pusesse a bem com Deus, pois na volta do moinho, onde ia buscar um saco de farinha, a matava. Apenas o marido saiu, a mulher foi participar à comadre, sua companheira na tramóia, a sorte que a esperava. Esta, lépida como uma chiba, agarrou num lençol de linho debaixo do braço, e despida, coberta apenas com o lençol, pulando de penhasco em penhasco na encosta do castro de onde se avistava o moinho, gritava: – Ó Miguel – assim se chamava o homem – eu fui a que bebi o vinho do teu tonel! Ó Miguel, ó Miguel... – Serias, serias, maldita bruxa! Olha que boa a fazia eu se mato a mulher! Chegado a casa e encontrando a esposa acocorada ao lume, com a mandila pela cabeça, debulhada em lágrimas, gritou-lhe comovido: – Ó mulher! não chores, já sei quem bebeu o nosso vinho; não foste tu mas sim uma feiticeira (1416).
(1414) Ditada por Manuel António Nozelos, serralheiro, da Fradizela, que diz cantar-se em várias terras do concelho de Mirandela por ocasião dos festejos do Entrudo, evidente resto dos bacanais de Março. Ver tomo IX, p. 300, destas Memórias. (1415) Este moinho fica no rio Pepim, a sopé do castro. Ver tomo IX, p. 122 (1416) No tomo IX, p. 357, fica dito acerca das feiticeiras irem às adegas beber o vinho.
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Das canções populares que ficam publicadas referentes ao vinho e outras esparsas por estas Memórias, parece-me lógico concluir que Samuel Maia não tem razão quando afirma que «poetas nem músicos populares ou eruditos em tempo nenhum se lembraram de entoar o louvor do fruto precioso da vinha e do seu suco. Não temos uma canção vindimeira, nem lagareira, nem de bebedor agradecido pela dádiva recebida. Nem uma para amostra» (1417).
VIOLETA 1498. A flor da malva é roxa, Azul a da violeta; Entre amores firmes Não falta quem se meta (1418). 1499. Já fui limitrofe no campo, Já no campo fui limitrofe; Agora sou a violeta, Das ervas a mais triste. 1500. Tenho dentro de meu peito Um raminho de violetas, O dia que te não vejo De roxas se tornam pretas. 1501. Tenho na minha janela O que tu não tens na tua: Um raminho de violetas Que alumia toda a rua.
CANTIGAS AO DESAFIO Este género não é usual em terras bragançanas, a não ser em patuscadas de rapazes, onde algumas vezes surge, descambando logo em tais realismos rubros, que não podem ir aqui, nem outras da mesma feição, apesar de ser abundante nelas o cancioneiro bragançano; todavia, damos a seguinte, colhida em terras mirandesas: 1502. Deus te salve, cantadeira, Deus te cubra de benção, E tudo quanto pertence À humana geração. (1417) MAIA, Samuel – O vinho – Propriedades e aplicações, 1936, p. 195. (1418) Os dois primeiros versos na n.° 9 em SPOLETO – Cantares da minha terra.
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1503. Deus te salve e me salve E a gente que aqui está; O salvar é cortesia A glória deus a dá. Só queria saber De que condição virá. 1504. Eu darei ouro por prata, Darei prata por latão; Também darei castigo Se me faltares à razão. 1505. Estou armado de ciência Para fazer oposição; Juro à lei de quem sou Que lhe hei-de dar uma lição. 1506. – E eu hei-de dar-te umas calças Para mostrares que és figurão. 1507. – Tu calças não me dás, Eu é que te darei um vestido, De dezoito palmos de largo Por dezasseis de comprido. 1508. És como a mosca na aranha; A formiga na geada; Queira Deus não tenhas A fralda bem mijada. 1509. – Agora me estou rindo Para as tuas lhonas; Queira Deus não tenhas Mijadas as pantalonas. – Deita bolas p’ra frente, Não estejas com enzonas. 1510. As calças que eu te der, Eu to direi, ó rapaz; Hão-de ser umas ceroulas Rachadas por detrás. 1511. – Se ouvirdes dizer que morri, Por mim intercedei a Deus; Já te não digo mais nada: Cantadeira, adeus, adeus. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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ANFIGURIS Entre o povo bragançano correm muitas perlengas rimadas no género poético chamado anfiguris, que tiveram grande voga em Portugal nos fins do século XVIII e princípios do seguinte. Poetas de grande tomo, como Filinto Elísio e, já no século XVI, Rabelais, não desdenharam entregar-se a burlescas e abstrusas composições desta espécie. As cantaroladas pelo povo inculcam o seu espírito observador, ingenuamente pitoresco, com laivos de chacota irónica, sob aparência frívola, não despida de interesse etnográfico. Lá em Belém se formou um palácio, Palácio de grande altura, Tanta gente lá penou O resto foi p’ra sepultura. Casa cheia tem fartura (1419), Quem doba tem seu sarilho (1419), As galinhas vão-se ó milho E a culpa é dos pardais Um burro com atafais Também leva os seus estribos. Todas as tendas vendem figos Para contento dos rapazes. Numerador d’alquitrozes, Também se chamam gaivotas, Ai do que tem as pernas tortas. Também se chamam calejos Orações com desejos. Um raminho d’alecrim Dado p’r’ós namorados. As armas são p’r’ós caçadores E também p’r’ós soldados. Ai de quem tem amores Bem ó sério pode andar. Um pente p’r’á cabeça, Uma flauta p’ra tocar. A de quem tem tamanho nariz Que le chega até ó seio Feito com tal rigor Já m’o vieram a gabar (1419) Estes dois versos aparecem noutro anfiguris dado por Guilherme Felgueiras em Portucale, (1935), p. 26.
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P’ra bigorna dum ferrador. Tem mais de palmo e meio. Ó ladrão mata o Zé, Corta o bico e molha o pé. Ferros velhos verdugais Ó linda moda capa o Zé.
A lameira pediu a um galo que lhe limpasse uma bosta. Não posso que sujo o bico E quero ir à festa De meu primo Manulico. Mas eu limpo-te o bico.
Alfim, o galo acedeu, mas a lameira não quis limpar-lhe o bico e aquele pediu ao ovino: Ovelha pasce a lameira, Que não quis limpar-me o bico P’ra ir à festa de meu primo Manulico.
Não a pasço. E eu mando-te matar. Lobo, come a ovelha, Que não quis pascer a lameira, Que não quis limpar-me o bico P’ra ir à festa de meu primo Manulico.
Não a como. E eu mando-te escorriçar: Cão, ladra ao lobo, Que não quis comer a ovelha, Que não quis pascer a lameira, Que não quis limpar-me o bico P’ra ir à festa de meu primo Manulico.
Não ladro. E eu mando bater-te: Pau, bate ó cão, Que não quis ladrar ao lobo, Que não quis comer a ovelha, Que não quis pascer a lameira, Que não quis limpar-me o bico P’ra ir à festa de meu primo Manulico. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Não bato. E eu mando-te queimar. Lume, queima o pau, Que não quis bater ao cão, Que não quis ladrar ao lobo, Que não quis comer a ovelha, Que não quis pascer a lameira. Que não quis limpar-me o bico Para ir à festa de meu primo Manulico.
Não queimo. E eu mando-te apagar. Água, apaga o lume, Que não quis queimar o pau, Que não quis bater ao cão, Que não quis ladrar ao lobo, Que não quis comer a ovelha, Que não quis pascer o lameiro. Que não quis limpar-me o bico P’ra ir à festa de meu primo Manulico.
Não quero. E eu mando-te beber. Burro, bebe a água.
Nesta altura, o contista pára um pouco e, fingindo que se esqueceu, pergunta: Eu onde ia? Ias no burro. Pois alça-lh’o rabo E chupa-lhe o surro.
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Era, num era Qu’andava n’arada C’um boi de feno E outro de palha. Foi ó palheiro Cobrou-le aguilhada. Dissera ninguém Que fizera mui bem. Chegou-le a notícia Qu’o pai era morto (1420). E a mãe por nascer (1420) Coitadinho do home Qu’havia de fazer Subiu por uma ’scada abaixo Desceu por outra arriba Pôs os bois às costas Botou o arado a correr.
INTERDEPENDÊNCIA COSMOGÉNICA DIÁLOGO DA FORMIGA Nube, mucha força tienes Que quitas el sol, Que mi patica tiene! Más força tiene el aire, Que me sustiene. Aire, mui valiente eres, Que sustienes la nube, Que quita el sol, Que mi patica tiene! Más força tiene la parede Que me rebate. Parede, mui valiente eres, Que rebates el aire, Que sustiene la nube, Que quita el sol. Que mi patita tiene! Más força tiene el rato Que me fura.
(1420) Estes dois versos aparecem noutra dada por BRAGA, Teófilo, no Romanceiro Geral Português.
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Rato, mui valiente eres, Que rompes la parede, Que rebate el aire, Que sustiene la nube, Que quita el sol, Que mi patita tiene Más tiene el gato Que me come. Gato, mui valiente eres Que comes el rato, Que fura la parede, Que recada el aire, Que sustiene la nube, Que quita el sol, Que mi patica tiene! Más valiente es el palo Que me mata. Palo, mucha força tienes, Que matas el gato, Que come el rato, Que fura la parede Que recada el aire, Que sustiene la nube, Que quita el sol, Que mi patica tiene, Más força tiene el sol Que me cria.
ROMANÇAS [4] O Padre Firmino Augusto Martins publicou (1421) sessenta e cinco romanças referentes aos serviços agrícolas adiante mencionados. No nosso Couseiro de notas recolhemos variantes das que ele intitula: Bem madrugava a donzela, pág. 141; A caminho de Belém, pág. 142; Manhãninhas de São João, pág. 143; Manhãninhas de São João, 2; Nossa Senhora, pág. 145; Ó ditoso lavrador, pág. 149; O viúvo, pág. 151; O peregrino de Santiago, pág. 152 (duas variantes desta foram publicadas pelo Dr. Daniel Rodrigues (1422)); A filha do imperador de Roma, pág. 178; O Conde Ninho,
(1421) MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, p. 141 e seg., 178 e seg. e 249. (1422) RODRIGUES, Daniel – Romanzas, 1907, p. 8, e Romanzas, 1933, p. 12.
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pág. 181; Valdevinos, pág. 182; Gerinaldo, pág. 183; Naquela serrinha alta, pág. 186; Naquela serrinha alta, 3, pág. 187; D. Pedro e Berbenites, pág. 188; Gaifeiros, pág. 192 (uma variante desta, sob o título O Galfeiro, foi publicada pelo falecido Abade José Augusto Tavares (1423)); Albaninha, pág. 193 (uma variante desta foi publicada pelo referido abade Tavares (1424)); O Conde preso, pág. 196; D. Eugénia, pág. 197 (variante publicada pelo mesmo abade Tavares (1425)); João de França, pág. 197 (1426); O Conde Flores, pág. 203; A caçar vai cavaleiro, pág. 206; Romeira, pág. 208 (uma variante desta foi publicada pelo dito Abade Tavares (1427) e outra por José Manuel Miranda Lopes, prior de Argozelo (1428)); Silvaninha, pág. 209 (na Ilustração Trasmontana, 1908, pág. 176, encontramos uma variante desta); Naquela serrinha alta, pág. 211 (o citado Prior de Argozelo publicou uma variante desta (1429)); Helena, pág. 212; Mouribanes, pág. 215; Estando eu à minha porta, pág. 216; O Conde de Alemanha, pág. 218; Cruel vento, pág. 219; A delgadinha, pág. 221; Indo eu por i abaixo, pág. 222; A cativa, pág. 223; O capitão, pág. 226; Dom Martinho, pág. 228 (uma variante desta foi publicada pelo supra indicado abade Tavares (1430)); D. Cidro, pág. 232; A cativa, pág. 233 (foi publicada uma variante desta pelo Dr. Daniel Rodrigues (1431)); Rosa branca, pág. 236; A lavadeira, pág. 42 (variante publicada pelo citado Abade Tavares (1432)); Manhãninha de São João, pág. 237; Agora baixou o sol, pág. 241, e A Fonte da Salgueirinha, pág. 252. Não publicamos nenhuma destas quarenta e duas variantes de romanças que recolhemos, porque avolumariam demasiado o presente tomo e estes cantares andam tão baralhados que dificilmente se lhe atinará com o fio. Pelo mesmo motivo não publicamos a da Pastora e a Virgem, que recolhemos em Aveleda, por já se encontrar a pág. 14 das Romanzas (1907) do Dr. Daniel Rodrigues.
(1423) Ilustração Trasmontana, (1909), p. 28. (1424) Ibidem, (1910), p. 75. (1425) Ibidem, (1908), p. 88. (1426) Variante dada pelo RODRIGUES, Daniel – Romanzas, 1933, p. 15. (1427) Ibidem, p. 23. (1428) Trás-os-Montes, quinzenário, número correspondente a 15 de Dezembro de 1929. (1429) Trás-os-Montes, de 16 de Agosto de 1929. O Dr. Daniel Rodrigues publicou outra variante nas Romanzas, 1907, p. 12. (1430) Ilustração Trasmontana, (1910), p. 128. (1431) O Instituto e depois em RODRIGUES, Daniel – Romanzas, 1907, p. 10. (1432) Ilustração Trasmontana, (1909), p. 124.
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ROMANÇAS CANTADAS NA SEGADA (CEIFA DOS CEREAIS) ADALBERTO 1 Venia um cavaleiro, De Roncesvales, da guerra; No fundo de lindo outeiro Vira estar uma donzela. Cavaleiro que a vira; A ela se dirigira: – Deus te guarde, moura bela, Mourinha maravilhosa, Mas querida para mim Que a cristã mais graciosa. Queres tu vir comigo, Ou queres que eu vá contigo? – Não irei contigo, não, Deixa-me em paz, vai seguindo. Tenho livre o coração, Vivo cantando e rindo. Segue, segue cristianito Sou assim e tenho dito. – Donzela, por Deus do céu Dá-me a graça dum sorriso, E eu serei escravo teu E tu o meu paraíso. Vem, vem comigo, ó mourinha, Comigo serás rainha. – Cavaleiro, irei contigo Não me leves enganada, Por Alá, por Deus t’o pido... Se não sou de ti amada, Deixarás-me entre os mourinhos, Nos meus antigos carinhos. – Montara-a no seu cavalo Depressa e não devagar, Com seu criado Gonçalo Chegava a um areal. – Aqui ficas, ó mourinha,
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Amada e esposa minha. Não te entristeças, pois, não, Contigo fica Gonçalo, Contigo o meu coração, E aqui fica o meu cavalo. Vou buscar fatos de gala, P’ra ti, de seda lavrada. – Adalberto, Adalberto, Não te deixes abraçar! Senão esqueces decerto A moura no areal. – Nem um minuto sequer Te poderei esquecer. – Foi, entrou no seu palácio E a todos os seus falara, A todos fala de espácio Mas a ninguém abraçara. Sua mãe, insatisfeita, Pelas costas o estreita. Na sua cabeça, então, Nuvem de fumo passou, Pela moura o coração Nunca, nunca mais pulsou, Já sete anos se passaram E esponsais se contrataram. Soube-o a pobre mourinha Residente na cidade, E mandara logo azinha O que lhe dita a vontade: – Gonçalo, fiel Gonçalo, Montarás nesse cavalo, Depressa e não devagar, Vai, que vais a bom recado, Vai ao adro passear Que ouça o conde, meu amado, Da tua boca o recado: «Anda, cavalinho, anda, Não esqueças o andar, Como o conde esqueceu A moura no areal». – Ouviu o conde e parou E da moura se lembrou. Deixa o braço de Adalgira Vai buscar a sua amada
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Pois dos nobres é divisa Cumprir a palavra dada, A primeira, já se vê, Manda-o o uso e a fé (1433).
ANDARILHO 2 Bem madrugava o rei p’ra feira, Muito bem qu’ele madrugava; Bem madrugava o rei mouro Seu cavalo penteava. Vira andar um andarilho Passeando na calçada. Andarilho, andarilho, Querido meu namorado, Mais te quero andarilho Do qu’ó rei com ser coroado: Dois filhos tenho de ti E dois d’el-rei, são quatro. Os do rei comem à mesa E os teus a meu lado; Os do rei comem pão trigo E os teus pão alvo; Os do rei vestem de seda E os teus damasco dourado; Os do rei montam em mula E os teus em lindo cavalo (1434).
BELA INFANTA 3 Meio-dia era in ponto Quando o sol revolvia, Quando a bela infanta
(1433) À ilustrada professora D. Maria Ermelinda Ferreira agradeço a remessa desta romança colhida em Palácios, sua terra natal, concelho de Bragança. (1434) Colhida em Baçal.
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De casa de seu pai saía, Adeus cravos, adeus rosas, Adeus fontes de água fria, Adeus também hortelão Leva-te mui boa vida. Se por aqui vier meu pai Em busca de sua filha Dize-le qu’amores me levam, Mas a culpa não é mia, Eu vou c’um jornaleiro Ó jornal ganhar a vida. Eu não sei se vou ganhada, Eu não sei se vou perdida. Ganhada vai, senhora, Ganhada e não perdida. Achará muito d’ouro Muito mais de prata fina Entre todas as mourinhas Vós sereis a mais querida (1435).
BERNARDO 4 Bem se passeia Bernardo P’la ribeira d’Ungria; Duzentos cavalos leva Todos ganhados num dia. Vira-o vir seu pai Da sala onde dormia. Esses cavalos, Bernardo, A terceira parte é mia. Tome-os lá, ó meu pai, Que outros tantos ganharia. Olá, olá, ó Bernardo, Não uses de vilania, Qu’o que se ganhou num ano Tudo se perde num dia (1436).
(1435) Ibidem. (1436) Ibidem.
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TOMO X
CANSEIRAS AMOROSAS 5 Meu chapeuzinho novo De ouro agaloado, Vira ’star a minha dama Sentadinha no mercado. Acenara c’um lenço Fui ao seu acenado. Deram-me tanta porrada Que por morto me deixaram. Não quero mais amores, Nem quero ser namorado, Por via de meus amores Me tundiram o çamarro (1437).
CONDE DA ALEMANHA 5-A Estando eu no meu tear A tecer seda amarela, Passa o conde da Alemanha, Três fios me tirou dela. Venha vindo ó meu pai, Boa seja a sua vinda, Hei-de-lhe contar um conto, Um conto de maravilha. Estando eu no meu tear A tecer seda amarela Passa o conde da Alemanha, Três fios me tirou dela. – Cala-te ó minha filha Que te não ouçam falar: É o conde da Alemanha Menino que quer brincar. – Maldito sejam os seus brincos E o seu doce brincar; Agarrou-me em seus braços, À cama me quis levar. – Se é isso, minha filha, (1437) Ibidem.
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Eu o mando já matar. Venha vindo, minha mãe, À janela do pomar, Se quer ver o amado conde Que o vão a degolar. – Maldita sejas Francisca, Fora o leite que mamaste, Que morte tão cruel Tu, Francisca, lhe causaste. – Cale-se lá minha mãe Que bem se podia calar; A morte que o conde leva Devia-a você levar (1438).
O CURA 6 Eu jungi os meus boizinhos Fui-me com eles à arada, Lá no meio do caminho Esqueceu-se m’aguilhada, Tornei a casa por ela Achei a porta fechada. Ó mulher abre-m’a porta Que se m’esqueceu a aguilhada, Eu a porta num t’a abro Qu’estou muito ocupada. Eu entrei e fui entrando Pela porta escusada. Que é aquilo, mulher, Qu’está debaixo da cama? É o gato do convento Qu’anda atrás da gata parda. Dá-me cá essa escopeta, Dá-me cá essa espingarda. Olha lá que fais, ó home, Que matas o cura em casa, Esses teus filhos mais velhos (1438) Recolhida por José Furtado Montanha em 1935. Algo se aproxima da publicada na p. 218 de MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais e de outra variante por nós recolhida, mas diverge bastante e por isso a reproduzimos.
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T’os vestia e t’os calçava; A ti te dava capote E a mim mantilha e saia (1439).
DOM CARLOS 7 Meia noite vai andada, Outra meia por andar, Dom Carlos por mal d’amores Não pode descansar. Subira-se àquela janela Por seus criados chamara. Levantai-vos, meus criados, Depressa e não devagar Asselai-me esse cavalo, Aquele que melhor andar, Com duzentas campainhas Ó redor do peitoral. À porta de Carolina, Carolina c’o rugido À janela veio olhar, Quem é esse cavaleiro Que vem aqui passear? Esse é Dom Carlos Que c’a menina quer casar (1440).
DOM VALERDO 8 Alta vai a lua, alta Como o sol ó meio-dia, Quando o conde Dom Valerdo De batalhar venia. Ia p’la rua abaixo, Ó virar duma esquina, Encontrou uma menina Que cento e vinte anos tinha. Onde vais, ó mouro branco? (1439) Colhida em Baçal. (1440) Ibidem.
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Onde vais perder a vida? Cavaleiro que aí vai A Dom Valverdo se parecia. O mouro branco no cavalo Parece uma torre erguida: Sete palmos tinha de ’spádua E três de cara comprida. Todo aquele que é valente Ó campo se desafia. Roubou-me una maçana Que me deu una blanca niña. A maçana não era tão mala Que cem mil doblonas valia. Gabou-se o mouro branco Daquilo que não fazia: Que matara Dom Valerdo Com as armas qu’ele trazia E que correra a Valdevinos P’ro reino de Castilha. O correr a Valdevinos Isso não é maravilha, Porque é muito novinho Jogar armas não sabia. O matar a Dom Valerdo, Isso digo que é mentira, Porque Dom Valerdo é valente As costas não le volvia (1441).
DUQUE DE ELVAS 9 Tristes novas aí em Espanha Tristes novas lá havia: Que se casa o duque d’Elvas Com damas de gran valia. Todas as damas o sabem Don’Ana nada sabia. Tu não sabes, Don’Ana, Não sabes ó rapariga, Que se casa o duque d’Elvas Com damas de gran valia?
(1441) Ibidem.
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TOMO X
Se se casa, que se case, A mim que se me daria. Foi-se p’ra uma janela. Das mais altas qu’ela tinha, Vira ’star o duque d’Elvas Com outros em companhia, Acenara-le c’um lenço Dos qu’ele dado le tenia. Vem t’a cá, ó duque d’Elvas Vem t’á minha companhia. Disseram-me que te casavas Com damas de gran valia? Quem t’o dixo, ó Don’Ana, Quem t’o dixo não mentia. Morta se caiu p’ra trás Sem prazer, nem alegria. Mandaram-na abrir do peito A ver de que mal morria. Tinha o coração revolto C’o debaixo p’ra cima; Três pingas tinha de sangue Cada uma em sua esquina. Mandou-o encastoar em prata E a seu peito o trazia. Viu-lo um dia sua sogra, Um dia vindo da Missa. Que é isso, duque d’Elvas, Qu’a vosso peito trazeis? Trazo luto por Don’Ana Qu’á sete anos que morria. S’isso é, ó duque d’Elvas, Quereis-le mais qu’á minha filha? Eu à vossa bem le quero Mas a Don’Ana mais le queria (1442).
ERMITÃO 10 Quem quiser viver alegre Não busque companha mia, Que me pariu minha mãe
(1442) Recolhida em Varge, concelho de Bragança.
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Numa escura montinha, Onde cantava a cobra E a serpente respondia. Passou por li um ermitão, Que mão de Deus o trazia Agarrou-me p’la mão, Criou-me como podia. Sete anos me deu leite D’uma cerva qu’ele tenia. Outros sete me deu pão Do que la ermita rendia. Agarrou-me pela mão, Levou-me àquela serrinha Com a boca me falava C’o coração me dizia: Sete e sete são catorze Já podes ganhar a vida Por qui se vai p’ra Granada Por qui se vai p’ra Sevilha, Por qui se vai a tu terra, Por qui se vai p’ra mia (1443).
FIADEIRA 11 Uma casada de novo, Vizinha do meu lugar, Andou ano e meio P’ra arrate e meio fiar. Foi em busca da tecedeira Do outro lado do mar. Procurou à tecedeira As varas que havia de botar. Ela disse que três, S’o linho lá le chegar. Uma camisa ó seu home E outra p’ra ela s’enfeitar, E uma touca a sua sogra. Isso há-de ser s’o linho le chegar (1444).
(1443) Recolhida em Baçal. (1444) Ibidem.
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TOMO X
FREI JOÃO 12 Frei João se levantou Numa manhã de geada, Foi à porta duma morena Tocando numa guitarra: – Abre-me a porta Marelda Que estou com os pés na geada. – Como te abrirei a porta, Ó Frei João da minha alma, Tenho um menino nos braços E meu marido na cama; Tenho uma filhinha palrona, Tudo quanto sabe palra; Tenho uma perra raivosa Quando sente logo ladra; Tenho uma porta de vidro Quando se abre logo estala. – Se tu queres, ó morena, Para tudo há manha: A essa perra raivosa Dá-se-lhe uma rabanada; A essa filha palrona Promete-se-lhe uma saia; A essa porta de vidro Deita-se-lhe uma jarra d’água. – Levanta-te ó marido, Chama os cães e vai à caça, Que não há melhor coelho Que o que vem de madrugada. – Quando ia no cimo da escada Ela muito se asseava. Foi à porta do convento Frei João chamava. Frei João que o soube Não fugia que saltava, À saída do convento Com o marido se encontrava. – De onde vens, ó mulher, De onde vens tão asseada? Trazes saia de seda E mantilha de Holanda; Trazes sapatos de ouro
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E meia amerinada! – Venho de ouvir missa Que Frei João a celebrava. – A missa de Frei João Te será bem paga: Lá te vai uma punhalada Que te chegue ao coração, Por não te voltar a ver Nos braços de Frei João. – Não me custa que me mates, Isso de ti já eu esperava, Custa-me deixar Frei João, Frei João da minha alma (1445).
GRANDE ARMADA 13 ’Stando a bela em armada No seu jardim assentada Com pentes de ouro na mão Seu cabelo penteava. Deitou os olhos ó mar Vir viu a grande armada. – Dize-me tu, ó capitão, Dize-me pela tua alma, O marido que Deus me deu Se vem na tua armada? – Nem no vi, nem no conheço Nem sei que sinais levava. – Levava cavalo branco Sela de prata dourada, Na ponta da sua lança Um Santo Cristo levava. – Esse home, ó mulher, Morto ficou na batalha Com vinte e cinco feridas E outras tantas estocadas. – Ai de mim, triste viúva, Ai de mim, triste coitada.
(1445) Colhida em terras mirandesas por meu primo e homónimo Francisco Manuel Alves, abade de Cicouro. Em Aveleda, concelho de Bragança, colhi uma variante desta, mas menos extensa. Em terras mirandesas dão a esta romança o título de Dundum, mas não me souberam dizer porquê.
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TOMO X
Algum dia era infanta Agora sou desgraçada! – Quanto dais, ó bela infanta, A quem vo-lo traz aqui? – Darei-vos tanto dinheiro Quanto podereis contar. – Não quero o vosso dinheiro, Que vos custou a ganhar. Quanto dais mais, bela infanta, A quem vo-lo traz aqui? – As telhas do meu telhado Que são d’ouro e marfim. – Não quero as vossas telhas, Que não me pertencem a mim. Sou soldado, vou p’ra guerra, Não persisto por aqui. Quanto dais mais, bela infanta, A quem vo-lo traz aqui? – De três filhas qu’eu tenho Todas três vo-las dava. – Não quero as vossas filhas Que vos custaram a criar: Uma é para vos calçar, Outra p’ra vos vestir, A mais pequena delas P’ra convosco dormir. Quanto dais mais, bela infanta, A quem vo-lo traz aqui? – Não tenho mais que vos dar Nem vós mais que me pedir. – Ainda tendes mais que dar E eu mais que pedir. Esse corpinho bem feito P’ra convosco dormir. – Acudi moços e moças, Acudi todos aqui A fazer a jaquetada (1446) Ó redor do meu jardim. – Não chames pelos teus moços, Que criados são de mim. – Pois s’eles são teus criados Porque me tratas assim?
(1446) Disseram-me que significava risarada, mofa, escárnio, zombaria.
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Onde ’stá o anel de ouro Que contigo reparti? – Onde’stá a tua metade Pois a minha vê-la aqui (1447).
GENEBRA 14 Bem se passeia a Genebra Vésperas de Nossa Senhora, Cuidando de navegar O dia e a noite toda. Quando foi por meia-noite Seu navio caiu na ola. Acudi-me ó Virgem, Acudi-me aqui, Senhora, Se duma vez que m’acudistes D’ouro vos dei uma coroa, Agora, se me valerdes, D’ouro vos vestirei toda. Inda a fala não era dita, O navio saiu da ola.
LAVRADOR 15 Eu casei c’uma donzela Filha é dum lavrador, Ela é mulher poupeira, Eu um grande gastador. Gastei o meu e o seu, Quanto nos deu o Senhor, E depois de tudo gasto Aprendi a podador. A vinha já está podada, Esvidai-a vós, meu amor. Tenho os dedos delgadinhos, Não servem para esvidar, não. Meu amor se te fores Lá p’ra feira d’Aragão (1447) Colhida em Rio de Onor.
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TOMO X
Traze-me agulhas e seda P’ra bordar este pendão, Que nas festas onde for Não haverá outro melhor. Numa ponta pus a lua Noutra um raio do sol, Lá no meio do pendão Jesus Cristo Redentor.
MADALENA 16 Eu bem vi estar Madalena Ao pé da cruz ajoelhada, Pensando nos tormentos Que Jesus Cristo passava. Vós morreis, ó meu Jesus, E não me deixais nada? Cala-te aí Madalena Que não ficas deserdada.
MARINHEIRO 17 Voces daba el mariñero, Voces daba que se afogava. Respondió el mal demonio Del otro lado del agua: Quanto dieras mariñero A quien te quitara del agua? Daria-te o meu navio Carregadinho d’ouro y plata. No quiero tu navio Ni tu oro, ni tu plata, Solo quiero, quando mueras me dejes parte na alma. Mi alma es de Dios Y tambien de la Virgem Sagrada Hace el testamiento bruto, Hace el testamiento llama. La cabeça dejo á las hormigas P’ra que hajam su morada. Los ojos dejo a los ciegos MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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P’ra ver por onde andam. La lengua dejo a los mudos P’ra que respondan quando llaman. Los oidos dejo a los surdos P’ra que oian quando llaman. Las tripas dejo a los guitarristas P’ra cuerdas de guitarra. Las piernas dejo a los cojos P’ra andar su jornada. Los braços dejo a los sineros P’ra que toquen las campanas (1448).
NOSSA SENHORA 18 Lá se vai Nossa Senhora Com almas ó Paraíso: Umas vão p’ra bô mundo Outras p’ra mau juízo. As que vão p’ra bô mundo Vão cantando, vão rindo; As que vão p’ra mau mundo Vão chorando, vão partindo. Ó meu filho! ó meu filho, Ó meu filho Jesus Cristo, Tornai-me cá essas almas Que vão p’ra mau juízo. Lá le deixei o meu pão, Lá le deixei o meu vinho, Que partissem e ’smolassem, Ó menos cada domingo. Nem partiram, nem ’smolaram, Nem fizeram caso disso (1449).
ROSA 19 Rosa que estás na roseira Recostada ao craveiro, (1448) Já foi publicada na revista O Instituto, (1907), pelo Dr. Daniel Rodrigues, saindo depois nas Romanzas, p. 17, mas em português e não na linguagem galaico-portuguesa, como nós a ouvimos e damos. (1449) Colhida em Baçal.
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Juro-te que hás-de ser minha E eu de ti companheiro. – Eu não hei-de ser tua, Nem de ti teu companheiro, Que me tem meu pai guardada P’ra um nobre sapateiro. – Sapateiro sou, senhora, Da nobre sapataria, Faço sapatos de seda P’ra vossa senhoria. – Eu não quero os teus sapatos, Nem brancos, nem doutra cor, Mais quero andar descalça Que assujeitar-me ao amor; Mais quero ser rosa branca Enxertada na borrage Que casar c’um sapateiro, Gente de tão baixa linhage. – Eu mais quero ser cravo roxo Enxertado na raiz, Que casar com quem a quis. – Olá! olá! galanzilho, Não deites falas ó vento. Ou hás-de casar comigo, Ou pagar meu casamento. – Nem hei-de casar contigo, Nem pagar teu casamento. Sou soldado d’el-rei, Vou p’ró meu regimento; Menina meta-se freira Recolha-se ó convento (1450).
SÃO JOÃO 20 Indo m’eu por i abaixo Ó redor de São João, Encontrei Nossa Senhora C’um ramo bento na mão. Pedi-le uma folhinha Ela disse-me que não
(1450) Recolhida em Aveleda, concelho de Bragança.
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Tornei-le a repetir Ela deu-me o seu cordão, Que me dava duas voltas Ó redor do coração, As pontinhas que sobravam Arrastavam pelo chão. Ó beato Santo António Aceitai-me este cordão Que me deu Nossa Senhora Ó sair da Ressurreição (1451).
SÃO SIMÃO 21 Em Sevilha ’stá um santo Que se chama São Simão, Todos os que o vão ver Freirinhas e frades são. Tamen una irmana mia Das mais guapas que lá vão. Assi que chegou à igreja Logo s’ela ajoelhou, O cura que disse a missa Logo p’ra trás olhou. O que l’ajudou à missa Logo s’enganou na confissão. O que mudou o livro Todas as folhas rasgou. O que le deu as galhetas Todo o vinho arramou. O cura que disse a missa A donzela enganou.
SOLDADO QUE VAI PARA A GUERRA NO DIA DO CASAMENTO
(1452)
– Porque choras soldadinho, Porque tens tanta pena? Ou te morreu pai ou mãe (1451) Recolhida em Sacoias. (1452) Recolhida por José Furtado Montanha, em 1935. Algo se relaciona com a transcrita na p. 226 de MARTINS, Firmino – Folclore do concelho de Vinhais, e com outra variante por nós recolhida em Baçal, mas diverge muito e por isso a damos aqui.
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Ou gente da tua terra? – Não me morreu pai nem mãe Nem gente da minha terra; Choro por minha mulher Que era casta e donzela: No dia do meu casamento Logo me apartaram dela. – Eu te empresto meu cavalo, Três meses de licença Para que vás a vê-la. – Onde vais soldadinho, Onde vais triste de ti? – Vou ver minha mulher, Há muito que a não vi. – A tua mulher é morta, É morta, que eu bem a vi: Testamento que ela fez Por minhas mãos o escrevi. Tudo quanto ela tinha Tudo te deixou a ti. – Vamos, vamos meu cavalo, Vamos ver se é assi. Chegou a sua casa E mais à sua morada, O cavalo se espantou E ele se atormentou. – Não te assustes, soldadinho, Que sou a tua mulher. – Se és a minha mulher Dá-me um abraço aqui. – Os braços com que te abraçava Já na terra os estendi; Os olhos com que te via Já com paninho os cobri. Adeus, adeus soldadinho, Que eu não posso estar aqui; Meu corpo está na sepultura, Meu espírito vê-lo aqui. Se algum dia te casares Casa-te em Valladolid Com a filha do carcereiro, Que lhe chamam como a mi, Quando chamares por ela Te lembrarás logo de mi.
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VILA VIÇOSA 22 Naquela Vila Viçosa Entrou uma cavalaria, Disse o tenente ao alferes: Vamos passear a vila. Foram uma rua abaixo, Voltaram outra arriba, Viram estar numa janela Duas donzelas mui lindas. Disse o tenente ao alferes: Qual delas é a mais linda? A vestida d’azul-claro Mais linda qu’a maravilha. Hei-de furtá-la esta noite Antes que me custe a vida Com vinte e cinco soldados Escolhidos na companhia. Aquilo de meia-noite À sua porta batia. Ó quem bate à minha porta Inda não era de dia. Não é por você, Donana. Qu’é por sua filha. Minha filha num ’stá em casa, Foi dormir com sua tia. Arrombaram-la porta dentro Sem nenhuma cortesia, Sete salas le correram Sem encontrar a menina; Encontraram-na na derradeira A dormir com sua tia. Ela como vergonhosa Com a roupa se cobria. Quietos, quietos cavalheiros Deixai assear a menina Por onde quer que anduver Que vá bem asseadinha. Montaram-na num cavalo Levaram-na serra acima. Procuraram à menina: Tu em casa de teus pais Qu’era o que comias?
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Em casa de meus pais Comia galinha assada. Agora por estes campos Como sardinha salgada (1453).
VALDEVINOS 23 Eu bem vi a Valdevinos Cheio de robles cercado; Eu bem vi uma pastora Dando voltas ó seu gado. E a pastora bonitinha Traz o pastor enganado. Dentro dum serrão trazia Um punhalzinho dourado; Numa ponta tem Sant’Ana, Noutra tem Santiago, No meio tem Jesus retratado (1454).
ROSA, LINDO SERAFIM 24 (Cantada pelos podadores das vinhas no regresso a casa) Deus te guarde rosa Lindo serafim, Linda pastorinha Que fazeis aqui? – Eu guardo o meu gado, Ele é de seu dono. – Se ele é de seu dono, Vós guardais o gado. Quereis-me menina P’ra vosso criado? Criados tão nobres Vestidos de seda, Podem-se rasgar Por essas estevas. (1453) Colhida em Baçal. (1454) Ibidem.
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– Sapatos e meias Tudo romperei, Por causa da menina A vida darei. – Vá-se d’aqui embora, Não me cause mais pena Que hão-de vir meus amos Trazer-me a merenda. – Valha a Deus, menina, Que impertinente, Seus amos não são lobos Que comam a gente. – Vá-se daqui embora Que já o empontei, Hão-de dizer meus amos Em que o ocupei. Se disserem seus amos Em que me ocupou... Foi um dilúvio de água Que por aqui passou. – Vá-se d’aqui embora Não me cause tormento, Não no posso ver Nem por pensamento. – Se me emponta, Eu me vou andando, Você fica rindo Eu me vou chorando. – Você vai chorando Volte cá correndo, O amor é vário, Já me vou rendendo. Meninas da aldeia Vinde para o gado Que eu vou-me embora Com o meu namorado. Vamos para a sombra A dormir a sesta. Que me importa a mim Que o gado se perca? – Vamos para a sombra Mas sem má tenção; Sabes tu, menina, Que eu sou teu irmão? – Se és meu irmão, Irmão da minha alma, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Peço-te por favor Que não digas nada. – Que não diga nada? Nada devo dizer; Conta a tua vida, Que a quero saber (1455).
ROMANÇAS CANTADAS DURANTE AS MALHAS 25 Ao decruar o primeiro lombo ou bernarda de cada eirada (1456). Indo m’eu por i abaixo Pela tarde às duas horas, Vira ’star numa janela Duas meninas formosas. Uma era muito branca Da sua cor melindrosa, Outra era mais morena D’um moreno gracioso. Namorei-me da morena Por uma afeição generosa, A branca des qu’o soube Logo se mostrou queixosa. Não s’enfade, senhora branca, Nunca se mostre queixosa, Namorei-me da morena Por uma afeição generosa, Bem pretos são os cavalos E as mulinhas andadoras; Bem pretos são os adornos Com que as igrejas s’adornam; Mais preto era el manto Da Virgem Nossa Senhora (1457).
(1455) À ilustrada professora, mimosa poetisa D. Maria Ermelinda Ferreira, agradeço a remessa desta romança colhida em Palácios, sua terra natal, concelho de Bragança. (1456) Malha, malhas, debulha do centeio com malho de pertego. Eirada, a palha em grão estendida na eira para ser malhada. Decrua, decruar, a primeira operação da malha. Lombo, facha superior da eirada. A este lombo também chamam bernarda em algumas terras. (1457) Colhida em Baçal.
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Outra cantada durante o primeiro lombo:
26 Na beirinha daquele monte Vai uma linda orada E o ermitão que a guarda Tem uma filha galharda. Quem me dera uma noite Dormir com ela delgada, Para lhe tirar perguntas Para quem rende la orada: Se rende p’ró ermitão, Ou p’ra Virgem Sagrada. Nem rende p’ró ermitão Nem p’ra Virgem Sagrada, Rende p’ra um crego novo Que a missa le rezava; Ela rezava de noite E ele a diz de madrugada (1458).
SAPINHA 27 (Cantada nas malhas depois de merendar) Sapinha vedei-la noite, Vedei-la noite sapa? O sapo e mai-la sapa Caminho vão de Granada, O sapo vai no cavalo, A sapa na mula brava. Lá no meio do caminho Armaram grande batalha; Um puxou pela bainha Outro p’la ’spada. O sangue que deles corria Todas as ervas regava. A mim me disseram: ó sapa,
(1458) Colhida em Aveleda, concelho de Bragança.
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TOMO X
Que andavas prinhada. Quem te disse isso, ó sapo, Tão grande xarrada? Deixa vir la mananinha. Deixa vir a madrugada Olharás p’ra minha cintura E verás a sapa delgada (1459).
Em Os livros de linhagens, título 51 (1460), menciona-se um Gonçalo Pais Sapo, mais ou menos aparentado com os Bragançãos (1461). E nos mesmos se lê: «Nuno Velho o postrimeiro casou com D. Gontrode Fernandes e a dava... a Gonçalo Sapo... e matou porende Goncalo Sapo e incurcou a mulher muy deshonradamente; e retou D. Simão Nunes de Curutelo, e porque era velho Nuno Velho, foi julgado por certo que metece por el Pero Nunes seu filho o campo, porque era o primeiro filho, e deu o reto pelo padre, e foi vençudo D. Simão de Curutelo, e desdicesse em campo, e encheo a sela de merda, e por esto chamarão a D. Simão caga-na-rua» (1462).
ROUXINOL 28 (Cantada também depois da merenda) Rouxinol que tão bem cantas, Onde aprendeste a cantar? No palácio da rainha, Onde o rei vai passear. O rei ’stava na varanda E a rainha no quintal; ’stavam calhendo laranjas Do seu rico laranjal. As do cimo a vintém E as do meio a real As do fundo, de mais alto preço, Ninguém le podia chegar (1463).
(1459) Colhida em Baçal. (1460) Ver Portugaliae Monumenta Historica, p. 178, e tomo VI, p. 35, destas Memórias. (1461) Portugaliae…, p. 168. (1462) Ibidem. (1463) Colhida em Baçal.
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CARÇÃO E ARGOZELO
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SAIA NOVA 29 (Cantada nas malhas ao limpar a eira dos «coanhos») (1464) Sete varas tem A minha saia nova; Sete varas tem E ela num faz roda.
Esta cantiga repete-se até acabar de limpar a eira, alterando apenas o número de varas oito, nove, dez, etc., até, muitas vezes, chegar a trinta e quarenta. Parece alusão irónica à moda do balão.
MELRINHO MEU 30 (Cantada também durante a limpa dos «coanhos») Tu é lo meu melrinho Inda mais o nosso ah! Que vos cortaram o vosso biquinho, Melrinho meu, como cantará?!
Repetem também esta, alterando somente o final do terceiro verso, pois vão dizendo: que vos cortaram as vossas asinhas, os vossos pezinhos, as vossas pruminhas, etc., etc.
CARÇÃO E ARGOZELO
(1465)
EUSÉBIO LUÍS DIAS POÇAS, de Carção, e seus irmãos Filipe Dias Poças e Luís Dias Poças, filhos de António Dias Poças e de Catarina Luís, do mesmo lugar; netos paternos de Francisco Dias Poças, de Argozelo, e de Isabel Pires, de Carção, e maternos de Domingos Luís Falcão e de Maria Dias, requereram em 1828 habilitação de genere.
(1464) Coanhos, palha mais miúda, que não foi para o medeiro e se junta às espigas que ficaram na eira, dando-se depois a comer ao gado bovino, asinino e cavalar. (1465) Ver tomo I, p. 216, e tomo VII, p. 149 e 422, destas Memórias.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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CARÇÃO E ARGOZELO
TOMO X
Nas certidões juntas ao processo vem: E USÉBIO (só este nome), filho de António Dias Poças e de Catarina Luís Bicha (sic), nasceu a 24 de Julho de 1814; neto paterno de Francisco Dias Poças, de Argozelo, e de Isabel Pires, de Argozelo; neto materno de Domingos Luís Bicho e de Maria Pascoala, de Carção. FILIPE, nasceu a 13 de Junho de 1812. Paternidade como no anterior. LUÍS, filho de António Dias Poças e de Catarina Luís [não tem o apelido Bicha]; neto paterno de Francisco Dias Poças e de Isabel Pires e materno de Domingos Luís Falcão [aqui o apelido Falcão], nasceu a 23-XI-1822. C ATARINA , filha de Domingos Luís e de Maria Dias, nasceu a 15-X1785. Neta paterna de Miguel Luís e Maria Alves e materna de Afonso Dias Montes e de Isabel Rodrigues. ANTÓNIO (só este nome), filho de Francisco Dias Poças, de Argozelo, e de Isabel Pires, de Carção, neto paterno de Francisco Dias Poças e de Maria Rodrigues, de Argozelo, e materno de João Pires e de Teresa Cardoso, de Carção, nasceu a 4-2-1780. Não há mais certidões no processo, a não ser dos casamentos dos habilitandos, que nada adiantam. LUÍS FALCÃO, filho de Domingos Luís Falcão e de Maria Dias, de Carção, neto paterno de Miguel Luís e de Maria Alves, ambos de Carção, e materno de Afonso Dias Montes e de Isabel Rodrigues, requereu em 1808 habilitação de genere. No processo figuram Filipe Luís e Eusébio Luís, irmãos do habilitando Luís Falcão. FILIPE, acima mencionado, filho de Domingos Luís Falcão e de Maria Dias, de Carção, nasceu a 13-XI-1787; neto paterno de Miguel Luís e de Maria Alves, de Carção, e materno de Afonso Dias e de Isabel Rodrigues, de Carção. E USÉBIO , acima indicado, irmão do anterior, nasceu a 19-IX-1789. Paternidade a mesma. Só que no avô materno vem Afonso Dias Montes. LUÍS , acima indicado, nasceu a 13-Outubro-1721. Paternidade a mesma, sem mencionar o apelido Montes. MARIA, mãe dos habilitandos, filha de Afonso Dias e de Isabel Rodrigues; neta paterna de Tomé Dias e de Justa Alves e materna de Pascoal Rodrigues e de Catarina Pires, de Carção, nasceu a 31-Outubro-1752. DOMINGOS, pai dos habilitandos, filho de Miguel Luís e de Maria Alves; neto paterno de Luís Lopes e de Maria Rodrigues e materno de António Alves Melendos (ou Melendro, não leio bem), do Vimioso; nasceu a 6-6-1762. M ARIA , filha de António Alves, sapateiro, e de Isabel Fernandes, de Carção, neta paterna de Manuel Alves e de Catarina de Oliveira, do VimiMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CARÇÃO E ARGOZELO
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CARNEIRO
587 TOMO X
oso, e materna de João Fernandes do Campo e de Catarina Mores (?), nasceu a 30-Agosto-1739. AFONSO, filho de Tomé Dias e de Rosa Alves; neto paterno de Baltasar Dias e de Francisca Pires e materno de Jerónimo Alves e de Francisca Rodrigues, de Carção todos; nasceu a 9-1-1733. ISABEL, filha de Pascoal Rodrigues e de Teresa Pires, neta paterna de Domingos Rodrigues e de Maria Fernandes e materna de Lourenço Pires e de Maria Pires; nasceu a 16-1-1734 (1466). CARNEIRO (José Paulino de Sá), general de divisão. Tomo VII, pág. 81. No requerimento para habilitação de genere, cujo processo se guarda no Museu de Bragança e foi feito em Dezembro de 1820, alega: «Diz José Paulino de Sá Carneiro, desta cidade, filho de António José de Sá Carneiro e de D. Maria do Ó Ferreira, neto paterno de António José Baptista de Sá Pereira Carneiro e de D. Joana Maria Ferreira, desta mesma cidade [de Bragança], e materno de Justiniano António Ferreira, da vila de Azambuja, e de Ana Maria Gertrudes, desta dita cidade, que êle quer fazer a sua habilitação de genere e para isso justificar que he sobrinho direito do R.° Justiniano Torquato Ferreira, Reitor de Constantim, irmão germano de sua mãi: portanto......». Uma das testemunhas inquiridas no processo é «Jacinto José Dine Mestre Enxamblador homem cazado natural e morador» em Bragança (ver tomo VII, pág. 168, destas Memórias). Junto ao processo encontram-se as seguintes certidões de idade: «JOSÉ PAULINO (o habilitando), filho de António José de Sá Pereira Carneiro e de D. Maria do Ó Ferreira, naturais de Bragança, nasceu a 24 de Julho de 1808 em Bragança, na freguesia de Santa Maria neto paterno de António José Baptista de Sá Carneiro e de D. Joana Ferreira, desta cidade, e materno de Justiniano Ferreira, da Azambuja, e de Ana Maria Gertrudes, desta cidade». «ANTÓNIO JOSÉ (pai do habilitando), filho de António José Baptista de Sá Pereira Carneiro, tenente-coronel de infantaria, e de D. Joana Maria Ferreira, naturais de Bragança; neto paterno do doutor Silvestre de Sá Pereira Castro, natural de Moncorvo, e de D. Maria Clara de Sá Carneiro, natural de Murça, e materno de Pedro Ferreira, tenente de infantaria, natural de Aveleda, e de D. Maria Gomes, de Bragança, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 18 de Outubro de 1781». (1466) Estão estes dois processos no Arquivo da Câmara Eclesiástica de Bragança.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
588
CARNEIRO
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CARRAZEDO
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CARVALHO
TOMO X
Ainda vi em Bragança uma vez este célebre general, na inspecção que veio fazer ao cordão sanitário estabelecido na raia pelos anos de 1885, e ainda corre em Aveleda, concelho de Bragança, a tradição de ser oriundo desta povoação, de onde, na verdade, era seu avô materno, como fica dito, e pertencer à família Ambrósio Rodrigues, mencionada na pág. 59 deste tomo.
CARRAZEDO (concelho de Bragança) Esta inscrição foi publicada inicialmente por Gasco (1467) e depois transcrita por Hübner (1468). A propósito dela diz Gasco: «Na aldeia de Carracero (1469) , situada em hûa altissima serra, cuberta de altos arvoredos silvestres, tres leguoas de Barguança, cidade cabeça dellas, andando eu fazendo o Tombo (1470), por mandado de Sua Majestade que Deus guarde, li, em hûa parede de um muro, hûa pedra romana, e antigua, que dezia que a consagrara Claudio Horacio (Horávio e não Horácio é o que diz o letreiro], que a meu parecer foi ara de templo, em que os sacerdotes gentios sacrificavam a seus falsos deoses, com premicias e frutos». HORAVIVS: CLAVDIVS: :D:
CARVALHO (Abraão de) – Doutor, antigo director da Polícia de Investigação Criminal, rico proprietário em Lisboa e natural de Macedo de Cavaleiros. Tomo VII, pág. 625. Faleceu em Lisboa a 16 de Maio de 1933. CARVALHO (Alberto de Morais Faria de) – General. Tomo VII, pág. 85. Publicou mais: Narrativas do Oriente (apontamentos de viagem). Lisboa, Tip. da Cooperativa Militar, 1915. 8.° pequeno de 146 págs. e mais uma de índice, com várias gravuras de vistas e retratos intercalados no texto. Recordações de um velho militar. Lisboa, Tipogr. das Oficinas Gráficas, 1928, 8.° de 155+2 págs., com o retrato do autor. O general Alberto de Carvalho faleceu em Lisboa a 26 de Fevereiro de 1937.
(1467) CRUZ, António – Um inédito de António Coelho Gasco sobre Antiguidades de Trás-osMontes, 1935, p. 18. Ver o título exacto deste manuscrito no artigo «Gasco (António Coelho)». (1468) HÜBNER – Corpus…, tomo I, p. 349. (1469) Não há nenhuma aldeia deste nome no distrito de Bragança, mas, pelas circunstâncias da serra e distância, acho que deve tratar-se de Carrazedo e da serra de Nogueira. (1470) Ver o artigo «Gasco (António Coelho)».
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CARVALHO E SÁ
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CASTELO BRANCO
589 TOMO X
C ARVALHO E S Á (António Eugénio de) – Engenheiro, de Moncorvo. Tomo VI, pág. 502. Nasceu em Moncorvo a 12 de Abril de 1875. Terminou o curso de engenharia civil de minas e obras públicas na Academia Politécnica do Porto em 1897. Sua mãe, a viscondessa do Marmeleiro, morreu repentinamente no seu solar de Moncorvo na primeira quinzena de Novembro de 1906.
CASTELO BRANCO Quilómetro e meio a noroeste da aldeia de Castelo Branco, concelho do Mogadouro, no sítio chamado Cabeço dos Mouros, onde têm aparecido moedas e várias antigualhas, logo inutilizadas pelo vulgo insano, mas bastantes para demonstrar que ali houve povoado arcaico, está situada a «Capela da Senhora da Vila Velha», como o povo lhe chama, santuário de certo renome, que talvez cristianize as ruínas do castro luso-romano ali existente, a julgar pelo espólio encontrado. A lenda, como sucede em todas as ruínas de civilizações extintas, poetizou-as. Assim, segundo ela, os povos de Alfândega da Fé, vinte e cinco quilómetros distantes, vinham ouvir missa à capela da Senhora da Vila Velha (1471), e, como a viagem era longa, descansavam e comiam as merendas num ameno vale, onde depois alguns dos devotos estabeleceram residência, dando assim origem à actual povoação de Valverde, concelho do Mogadouro. Quando as ruínas se despovoaram e seus moradores foram estabelecer-se em Castelo Branco, dando assim início a esta povoação, quiseram trazer os sinos da capela, levando para isso as melhores juntas de bois que tinham, mas nada conseguiram, apesar de muitos e muitos atrelarem ao carro. Por último, alguém lembrou que Deus confia as grandes empresas aos fracos e não aos poderosos (São Paulo, aos Coríntios, I, 27, 29), jungiram as vacas mais ordinárias que havia no povo e só uma junta trouxe o sino maior sem dificuldade nenhuma. Quanto ao mais pequeno, ao tirá-lo da sineira despenhou-se pela torre abaixo, rolando seguidamente pela encosta até à ribeira, vinte metros distante, onde se enterrou por forma que não puderam sacá-lo, pois mais e mais se afundava à medida que iam cavando. E lá se conserva ainda hoje, e lá o ouve ainda tocar na manhã de São João quem esteja em graça de Deus. Em frente da capela há enorme carrasco ou sardão (quercus ilex), como lhe chamam noutra parte, que castiga com tantas maneiras quantas as folhas que lhe cortar, quem tal ousa. (1471) Ver tomo IX, p. 111, 147, 118, 119, 158 e 625, destas Memórias, onde se mencionam actos cultuais de outros povos prestados em igrejas muito distantes, e neste tomo p. 75.
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CASTELO BRANCO
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CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
TOMO X
Na parte da tribuna correspondente ao meio do altar da capela há um letreiro assim disposto:
que diz: Comenda. Ver tomo I, pág. 386, destas Memórias, onde mencionamos a comenda de Cristo existente em Castelo Branco. Figura 48 Ao nosso jovem colega Padre Luís José Afonso Ruivo agradecemos as informações para este artigo. Também o nosso amigo Francisco Manuel Fernandes de Matos, digno professor primário, nos mandou a cópia de outro letreiro gravado numa esquina da parte exterior desta capela, que a fig. 49 reproduz, que dirá: A comenda Figura 49 ano 501. É possível que esta data de [1]501 se refira à erecção ou reconstrução da capela.
CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ Ver tomo VI, págs. 214, 709, 739 n.° 2, 774 n.° 117, 781 n.° 143 e 144 (1472). Para o museu de Bragança veio em 1936, remetido pela autoridade judicial do Mogadouro, o processo movido em 1863 entre José Maria de Morais Sarmento, natural de Vilar Douro, concelho de Mirandela, residente em Alfândega da Fé, e seu filho José Abílio de Morais Sarmento, como autores, contra António José de Morais Pimentel, desembargador, como réu, que passou procuração a seu filho António Augusto de Morais Pimentel, com poder de substabelecer. Este, na certidão de idade junta ao processo, vem com o nome de António José Pimentel, que é verdadeiramente o seu. O processo, motivado pela sucessão no morgado dos Sousas, de Alfândega da Fé, cujo último administrador – Francisco António de Sousa Pinto Tovar Sarmento – faleceu em 1827 sem descendentes, consta de cento e cinquenta e dois fólios, faltando-lhe já os cinco primeiros e talvez alguns no fim, com muitas certidões em pública-forma e outras originais, tudo em papel branco, não pautado,menos estas, que estão em papel selado da época. No fólio 24 e seguintes transcreve a escritura da fundação do morgado, instituído em 18 de Novembro de 1781 em Alfândega da Fé por (1472) Convém notar que há duas povoações perto uma da outra, uma anexa de Soutelo Mourisco e outra de São Pedro Velho. A esta é que pertencem as pedras de armas que no tomo VI, p. 781, destas Memórias, por equívoco atribuímos à de Soutelo Mourisco.
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CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
591 TOMO X
Francisco Caetano de Sousa Tovar Sarmento, abade de Gulpilhares, diocese do Porto, e seu sobrinho Francisco António de Sousa Tovar Sarmento, capitão-mor de Alfândega da Fé, de onde ambos são naturais, «para conservação de sua familia, sangue e casa, ficando perpetuado e regular para melhor os chamados administradores e sucessores poderem servir a Sua Magestade, ao reino e a patria...... na atenção e lembrança de que são pessoas distinctas e de reconhecida nobreza por si e seus ascendentes assim por letras como por armas». Para primeiro administrador do morgado foi nomeado o referido capitão-mor, que vinculou vários bens, e entre eles os legados em testamento por seu tio António Luís de Sousa Sarmento, abade de Távora, feito a 31 de Julho de 1781. Mais uniram a este vínculo os bens de outro, instituído por Francisco Xavier de Sousa, pai do abade, em 3 de Novembro de 1737; os da capela vinculada, fundada por António Machado Barbosa e sua mulher, que compreendia a Tapada dos Pinheiros, murada sobre si; os de outra instituída pelo abade Francisco de Araújo, que abrangia a propriedade do Acipreste, tapada sobre si, «que vale um conto de reis», e a cortinha dos Mouriscais, outra fundada por Gabriel Rodrigues e ainda outra. Ao todo quatro morgadios, ou, melhor, seis, com o da fundação. Na verdade, são muitos os bens doados, avultando grande número de oliveiras, móveis com as armas da casa, pratas e salvas armoriadas. Entre os imóveis mencionam-se, além de outros, a quinta de Alvarinhos «com suas casas, vinha, castanheiros, amoreiras, figueiras e mais arvores, chãos com abundante agua de rega, tudo tapado sôbre si», no termo de Alfândega da Fé, que «vale mais de um conto e duzentos mil réis», e um olival no sítio das Chaminhas (1473). Diversas propriedades suas nos Cerejais e Sendim da Serra, entre as quais a quinta de Vale dos Chanos, que «fica ao pé do rio Sabor e foz da ribeira de Zacarias», composta de oliveiras e pomar; um chão no Lombo de Pelame, outro nas Bouças; duas oliveiras em terra de Nossa Senhora de Jerusalém e o olival chamado da Moleirinha. Como não havia descendentes directos do último morgado falecido em 1827, segundo fica dito, recorreu-se à linha colateral, e o réu desembargador António José de Morais Pimentel, cujos ascendentes estavam de posse do morgadio desde 1827, deduziu os seus direitos baseado nas seguintes certidões, que, a seguir, damos em extracto: 1 – ANTÓNIO JOSÉ PIMENTEL (que figura no processo com procuração de seu pai), filho do réu António José Pimentel, desembargador e de D. Ana (1473) Chaminhas corresponderá a Facho, Vela, Chama da Talanqueira? Ver tomo IX, p. 353 e 566, destas Memórias.
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CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
TOMO X
Josefa, de Castelo Branco, concelho do Mogadouro; neto paterno de Manuel Inácio Fortuna, de Castelo Branco, e de D. Maria José Pimentel, de Sambade, e materno de Teotónio de Sampaio Bacelar Sarmento e de D. Joana Pinto Barbosa, de Castro Vicente e aquele de Algoso, nasceu em Castelo Branco, concelho do Mogadouro, a 30 de Setembro de 1801. Foi seu padrinho Manuel de Sampaio Bacelar Sarmento, abade de Castro Vicente. 2 – ANTÓNIO JOSÉ DE MORAIS PIMENTEL, desembargador, deputado às cortes do reino, réu, filho de Manuel Inácio de Morais e de D. Maria Antónia Pimentel, de Castelo Branco, casou com D. ANA JOSEFA DE SAMPAIO PINTO SARMENTO, filha de Teotónio de Sampaio Morais Sarmento, fidalgo da casa real, e de D. Joana Pinto de Barbosa, de Algoso, em Castro Vicente, onde a nubente residia, a 28 de Abril de 1798. Foi testemunha Manuel de Sampaio de Sousa Sarmento, fidalgo da casa real, abade de Castro Vicente. 3 – D. A NA J OSEFA (só este nome na certidão), filha de Teotónio de Sampaio Pinto Bacelar e de D. MARIA BAPTISTA DE SOUSA, do Mogadouro, e aquele de Algoso; neta paterna de José Maria de Sampaio e de D. Inácia Maria da Gama, de Algoso, e materna de António Pinto Barbosa, de Castro Vicente, e de D. Ú RSULA LUÍSA DE S OUSA , do Mogadouro, nasceu no Mogadouro a 19 de Março de 1781. 4 – TEOTÓNIO DE S AMPAIO S ARMENTO , de Algoso, filho de José Maria Bacelar, já defunto, e de D. Inácia da Gama Sarmento, de Algoso, e D. JOANA MARIA BAPTISTA DE SOUSA, de Castro Vicente, filha de António Pinto Barbosa e de D. ÚRSULA LUÍSA DE SOUSA, de Castro Vicente, casaram em Vale da Madre, concelho do Mogadouro, a 5 de Fevereiro de 1777. 5 – JOANA (só este nome na certidão), filha de António Pinto Barbosa e de D. ÚRSULA LUÍSA DE SOUSA, do Mogadouro; neta paterna do licenciado Manuel Pinto Barbosa e de D. Isabel Soares de Varejão, de Castro Vicente, e materna de João Camelo da Cunha e de MARIA DE ALMEIDA DE SOUSA, do Mogadouro, nasceu a 27 de Fevereiro de 1734 no Mogadouro. 6 – ANTÓNIO PINTO BARBOSA, filho de Manuel Pinto Barbosa e de Isabel Soares de Varejão, naturais de Castro Vicente, e D. Ú RSULA LUÍSA CAMELA, filha de João Camelo e de MARIA DE ALMEIDA, naturais do Mogadouro, casaram nesta vila a 1 de Julho de 1716. 7 – ÚRSULA, filha de João Camelo da Cunha e de MARIA DE SOUSA, nasceu no Mogadouro e aí foi baptizada a 13 de Setembro de 1691. Não MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
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indica a data do nascimento; mas como dantes costumavam fazer-se os baptizados dentro dos oito dias seguintes ao nascimento, é natural que o facto tivesse lugar em Setembro. 8 – MARIA DE ALMEIDA, filha de Belchior de Almeida Peligueiro (1474) e de MARIA MOREIRA, nasceu no Mogadouro e aí foi baptizada «dentro de oito dias» a 2 de Abril de 1656. Não indica a data do nascimento. 9 – M ARIA M OREIRA , filha do licenciado F RANCISCO M OREIRA e de MARIA DOMINGUES, nasceu no Mogadouro a 27 de Maio de 1637. Desta é irmão o seguinte. 10 – M ANUEL DE S OUSA M OREIRA (mas na certidão está somente Manuel), irmão da precedente, filho do doutor FRANCISCO MOREIRA e de MARIA DOMINGUES, nasceu no Mogadouro e aí foi baptizado a 24 de Abril de 1650, sendo padrinho o doutor Francisco Geraldes, médico em Miranda do Douro. Não indica o dia do nascimento, mas pode calcular-se pelo já dito nos n.os 7 e 8. Este Manuel de Sousa Moreira foi abade das Chãs e depois de Sambade e teve de Maria Madalena da Silveira, de Lisboa, a Francisco Xavier de Sousa, instituidor do primitivo vínculo dos Sousas de Alfândega da Fé, depois acrescentado pelo abade de Gulpilhares e pelo capitão-mor de Alfândega da Fé, abaixo mencionado. 11 – F RANCISCO MOREIRA, licenciado em cânones, natural do Mogadouro, e Maria Domingues, filha de João Domingues e de Maria Gonçalves, moradores no Mogadouro, casaram nesta vila a 28 de Setembro de 1636. 12 – FRANCSICO JOSÉ CAETANO (foi depois abade de Gulpilhares e um dos fundadores do morgadio), filho de Francisco Xavier de Sousa (1475) e de D. António Sarmento, fregueses de Alfândega da Fé, neto paterno de MANUEL DE SOUSA MOREIRA, natural de Algoso, e de MARIA MADALENA DA SILVEIRA, de Lisboa, e materno de João Sarmento de Morais, de Quintela de Vinhais, e de D. Antónia de Lobão Antas, do Vimioso, nasceu em Alfândega da Fé a 7 de Agosto de 1728. Foram padrinhos Henrique Vicente de Távora, tesoureiro da Sé patriarcal de Lisboa, e D. Rosa de (1474) Não se percebe nitidamente se é Peligueiro se Peliqueiro, mas é mais provável este último, frequentíssimo como alcunha aplicada aos indivíduos de Argozelo e Carção dedicados ao curtume de peles. (1475) Era licenciado em cânones pela Universidade de Coimbra, que frequentou desde 1713 a 1719, segundo se vê nas certidões juntas ao processo, e casou a 24 de Fevereiro de 1718 com D. Antónia Sarmento.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
TOMO X
Ataíde, filha dos condes de Atouguia, representados por seus procuradores Rodrigo de Sá Machado e sua mulher D. Rosa Maria de Ordonhes, residentes em Alfândega da Fé. 13 – FRANCISCO ANTÓNIO DE SOUSA TOVAR SARMENTO (mas na certidão está só Francisco António; foi depois capitão-mor de Alfândega da Fé e um dos fundadores do morgado), filho de MANUEL INÁCIO DE SOUSA SARMENTO e de D. Ana Ludovina de Tovar Noronha Corte Real, fregueses de Alfândega da Fé; neto paterno de F RANCISCO X AVIER DE S OUSA e de D. Antónia de Lobão Antas Escobar, do Vimioso e aquele de Alfândega da Fé, e materno de Afonso Botelho Pinto de Sousa e de D. Teresa de Tovar, naturais de São Romão de Vilarinho, «freguesia do mesmo Santo», nasceu em Alfândega da Fé a 2 de Março de 1752. Foi padrinho o «Excelentíssimo António de Távora, por seu procurador». 14 – MANUEL INÁCIO DE SOUSA SARMENTO, filho de Francisco Xavier de Sousa e de D. Antónia Maria de Escobar Sarmento, já defunta, fregueses de Alfândega da Fé, e D. Ana Ludovina de Tovar Noronha Corte Real, filha de Afonso Botelho de Sousa Pinto e de D. Teresa Maior de Tovar Noronha, naturais de São Romão de Vilarinho, «freguesia do mesmo Santo», comarca de Vila Real, casaram em Alfândega da Fé a 1 de Maio de 1751. Foram testemunhas presentes o doutor Manuel Domingues Souto, o doutor Miguel Pinto da Silva, João de Almeida Ferraz, Luís António Sarmento de Morais, o doutor João Baptista de Sousa Sarmento, o doutor António Luís de Sousa Sarmento e o doutor Francisco Caetano de Sousa Sarmento. José Maria de Morais Sarmento, autor na demanda atrás referida, o Morgado do Acipreste, como lhe chamava o povo, morreu em Alfândega da Fé, na casa-solar dos Sousas, seus ascendentes, a 8 de Janeiro de 1911. Fiel às tradições cinegéticas da velha fidalguia clássica, todo se enlevava nos assuntos atinentes às mesmas, sustentando matilhas de cães, perdizes e outras aves de altanaria. Na primeira excursão que fizemos a Alfândega da Fé em 1909, quando copiávamos o brasão da sua casa (1476), descia ele ao pátio à frente de duas criadas condutoras de grande caldeiro de mantimentos para a cainçada. Podengos, perdigueiros, galgos, etc., pululavam de todos os cantos, e no meio deles o morgado, de chicote em punho, mantinha a ordem, enquanto as criadas iam lançando o grosso caldo nas malgas escavadas em duas compridas traves ajeitadas para este fim a um e outro lado do pátio.
(1476) Ver tomo VI, p. 739, n.° 2, destas Memórias.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
595 TOMO X
Era de ver a formatura e boa disposição da cáfila de olhos chamejantes no morgado e na gamela enquanto as moças não ultimavam a faina e o amo soltava a voz de avançar, assim como a segurança com que cada um marchava para a sua malga ao mesmo tempo que o velho fidalgo os animava, proclamando-lhe os nomes: Joupeira, Jalupa, Jabarda, Jabardona; etc., etc., todos começados pela letra J. Entretanto, os voláteis chilreavam e zaragateavam ajudados por bandos de pardais e pombas, que vinham compartilhar do repasto, ao mesmo tempo que nos muitos lilases e arvoredo do pomar ajardinado rouxinóis, pintassilgos e outras aves canoras poetizavam o bucólico e pitoresco ambiente. Pelo seu lado, o autor José Maria de Morais Sarmento apresentou as seguintes certidões: 1 – JOSÉ MARIA (só este nome; o autor), filho de José Manuel Sarmento e de D. Carmelina Rosa, natural de Valpaços, termo de Chaves; neto paterno de José Maria Sarmento, de Vilar Douro, concelho de Mirandela, e de D. Luísa dos Reis, de Meles, e materno de Gonçalo Manuel e de D. Jacinta Rosa, ambos de Valpaços, nasceu em Vilar Douro, freguesia de São Pedro Velho a 27 de Setembro de 1823. 2 – JOSÉ (só este nome; pai do autor), filho de José Maria Sarmento, natural de Torre de Dona Chama, e de D. Luísa, natural de Meles, moradores em Vilar Douro; neto paterno de Jerónimo Sarmento do Lago, natural de Torre de Dona Chama, e de D. Luísa, natural de Quintela de Vinhais, e materno de António Martins, de Meles, e de Maria Madalena, natural de Vale Telhas, moradores em Meles, nasceu em Vilar Douro a 31 de Março de 1795. 3 – J OSÉ MARIA SARMENTO (avô do autor), morreu em Vilar Douro a 12 de Novembro de 1730. 4 – JOSÉ MARIA SARMENTO e D. Luísa Martins (avós do autor), aquele filho de Jerónimo Sarmento e de D. Luísa Sarmento, natural de Vilar Douro, e esta filha de António Martins e de D. Maria Madalena, de Meles, casaram neste lugar a 9 de Outubro de 1793. 5 – JOSÉ MARIA (avô do autor José Maria de Morais Sarmento) nasceu na Torre de Dona Chama a 8 de Setembro de 1750. É filho de Jerónimo Sarmento do Lago e de D. Luísa Sebastiana de Morais Sarmento, natural de Quintela de Vinhais e aquele de Vilar Douro; neto paterno de Domingos Pires do Lago e de Maria Sarmento, natural de Fornos de Ledra, moradores em Torre de Dona Chama, e materno de António Morais Madureira, natural de Quintela de Vinhais, e de D. Maria José de Lobão Sarmento, do Vimioso. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
596
CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
TOMO X
6 – JERÓNIMO SARMENTO DO LAGO (bisavô do autor), natural de Torre de Dona Chama, filho de Domingos Sarmento do Lago e de D. Maria de Sá Sarmento e D. Luísa Sebastiana de Morais Sarmento, de Quintela de Vinhais, filha de António de Morais Madureira e de D. Maria José de Lobão Antas, casaram em Quintela de Vinhais a 11 de Janeiro de 1750. 7 – MARIA JOSÉ, filha de António do Rego Sousa e de Maria de Lobão, fregueses do Vimioso, nasceu nesta vila a 19 de Março de 1685. Foi baptizada por Gonçalo do Rego, abade de Santa Combinha, com licença do reitor do Vimioso. 8 – ANTÓNIA, irmã da precedente, nasceu no Vimioso a 16 de Agosto de 1687 e foi baptizada pelo referido abade de Santa Combinha. Nesta, o nome do pai só vem António do Rego. 9 – F RANCISCO A NTÓNIO DE S OUSA PINTO TOVAR S ARMENTO (depois capitão-mor de Alfândega da Fé, um dos fundadores do morgadio dos Sousas de Alfândega da Fé). Esta certidão vem atrás com o n.° 13 e para lá remetemos o leitor. 10 – FRANCISCO XAVIER DE SOUSA (avô do precedente e pai do abade de Gulpilhares, um dos fundadores do morgadio dos Sousas de Alfândega da Fé), filho de Manuel de Sousa Moreira, do Mogadouro, abade das Chãs e depois de Sambade e de Maria Madalena da Silveira, de Lisboa, moradores em Sambade e D. Antónia Maria de Lobão Sarmento, filha de João Sarmento de Morais e de D. Antónia de Lobão Antas, do Vimioso, casaram na Capela do Espírito Santo, de Alfândega da Fé, com licença especial, a 24 de Fevereiro de 1718. Foram testemunhas Cristóvão de Morais, sargento-mor de Alfândega da Fé, e Manuel de Sousa Moreira, do Mogadouro. O Francisco Xavier de Sousa acima mencionado, era capitão-mor do Mogadouro em 1737, como se diz no fólio 58 verso do processo judicial de onde extraímos estas notícias. A sentença final deu ao réu – António José de Morais Pimentel, de Castelo Branco, concelho do Mogadouro – o morgadio primitivo, fundado por Francisco Xavier de Sousa, acrescentado pelo abade de Gulpilhares e por seu sobrinho Francisco António de Sousa Pinto Tovar Sarmento, depois capitão-mor de Alfândega da Fé, e ao autor – José Maria de Morais Sarmento, natural de Vilar Douro, concelho de Mirandela, morador em Alfândega da Fé – as quatro capelas e respectivos bens acrescentados, sem título legal autorizado por consenso régio, pelo abade de Gulpilhares e sobrinho, tendo o réu de repor ao autor o rendimento desMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CASTELO BRANCO E ALFÂNDEGA DA FÉ
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CARMONAS
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sas capelas e bens desde 1827, ano em que entrou na posse delas pela morte do último morgado seu descendente directo, até 1832, em que se deu a primeira sentença, da qual se recorreu depois em 1863.
CARMONAS 1 – D. ANA RAQUEL CAROLINA GIL DE FIGUEIREDO SARMENTO (tomo VI, pág. 127), filha do brigadeiro Domingos António Gil e de D. Mariana Vitória Gil, como se indica na referida pág. 127, morreu na sua quinta de Rica Fé, freguesia de Santa Maria de Bragança, a 23 de Outubro de 1858. 2 – JOSÉ ANTÓNIO DE LIMA CARMONA, marido da antecedente (mesmo tomo e pág.) nasceu em Vilar de Nantes, concelho de Chaves, a 30 de Dezembro de 1816, falecendo major reformado em Rica Fé a 10 de Janeiro de 1890 e foi sepultado na capela de Santo António do Toural (ver tomo II, pág. 301). O seu assento de óbito encontra-se no livro da freguesia de Santa Maria de Bragança, correspondente ao ano de 1903, devido ao processo de justificação de óbito a que se procedeu. José António de Lima Carmona, depois de viúvo de D. Ana Raquel, casou com sua prima D. Luísa Augusta Machado de Morais Carmona, filha legítima de seu tio Leonel Joaquim Machado Carmona e teve: a – João, pai de outro do mesmo nome, capitão de artilharia, que reside em Lisboa; b – Leonel, Intendente de Pecuária reformado, que vive no Porto. 3 – D. MARIA E UGÉNIA DE M ORAIS (tomo VI, pág. 128), nora de José António de Lima Carmona (n.° 2), faleceu na quinta de Rica Fé a 7 de Abril de 1881. 4 – ANTÓNIO PAULO GIL DE FIGUEIREDO CARMONA, filho de José António de Lima Carmona, acima indicado e marido de D. Maria Eugénia de Morais (ver tomo VI, pág. 128), além do irmão Teodoro, mencionado na referida pág. 128 do tomo VI, teve mais outro chamado 5 – JOSÉ ÁLVARO GIL FIGUEIREDO CARMONA, que nasceu na Rica Fé, freguesia de Santa Maria de Bragança, a 10 de Setembro de 1852 e faleceu em 1872, sendo padrinho de baptismo Leonel Joaquim de Lima, tenente de cavalaria, tio paterno do neófito, representado pelo Padre Anastácio Manuel Mendes Saraiva, de Carrazedo de Montenegro, e madrinha D. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
598
CARMONAS
TOMO X
Antónia Marcelina de Azevedo Carmona, avó paterna do baptizado (1477). Casou o dito José Álvaro Gil, acima mencionado, na freguesia da Sé de Bragança em 1873 com D. Delfina Cândida de Mendonça, de dezoito anos de idade, natural da mesma freguesia, que morreu no Porto a 1 de Março de 1916, filha legítima de Francisco Vítor de Mendonça e de D. Rita Fortunata, de Bragança (1478). Tiveram única filha: 6 – D. ANA AUGUSTA DE LIMA CARMONA, nascida na freguesia da Sé de Bragança a 3 de Dezembro de 1874, mas só baptizada a 18 de Abril de 1875 na mesma freguesia, onde seus pais moravam na rua dos Oleiros. Foi padrinho Pedro Vicente de Morais Campilho, solteiro, recebedor da Câmara de Vinhais, representado por seu procurador, e madrinha D. Maria Angelina Mendonça Pavão (1479). D. Ana Augusta de Lima Carmona casou em Bragança a 20 de Setembro de 1890 com Alfredo Augusto Ordaz Mangas, natural do Vimioso, filho de Gonçalo Augusto Ordaz Mangas e de D. Joaquina Machado. Tiveram: a – A RTUR A LFEU O RDAZ M ANGAS , nascido em Bragança a 4 de Outubro de 1891, que casou em Nelas (Beira Alta), onde vive, com D. Fernanda Gouveia Pinto, de que há filho Alfredo Alexandre Pinto Mangas, nascido em Nelas a 11 de Maio de 1921. b – B ERTA M ARIA O RDAZ M ANGAS , nascida no Vimioso a 24 de Junho de 1893, mas só baptizada três anos depois. Vive na África casada com Bruno da Conceição de Magalhães, de que tem filha: Olga Conceição de Magalhães. D. Ana Augusta de Lima Carmona (n.° 6), depois de viúva, reuniu-se à família de seu primo, o Ex.mo Senhor General António Óscar Fragoso Carmona, actual Presidente da República Portuguesa, e com ela vive. Para melhor compreensão, damos a respectiva árvore genealógica, segundo foi publicada pelo Doutor Francisco de Barros Teixeira Homem no Almanaque de «O Comércio de Chaves», 1936, e também em O Comércio de Chaves de 6 de Agosto de 1936, acrescentando-lhe apenas alguns documentos justificativos adiante insertos:
(1477) Livro dos baptizados de Santa Maria de Bragança, correspondente ao ano supra, fólio 120. (1478) Livro dos casamentos da freguesia da Sé de Bragança do ano de 1873, fól. 11 verso. (1479) Livro dos baptizados da mesma freguesia, do ano de 1875, fól. 9.
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1 – DIOGO MACHADO, de Barcelos, onde tinha «grande casa». Teve irmã – D. L EONOR M ACHADO , que «casou com J OÃO C ARMONA » – D. C ATARINA DE FARIA , mulher de Diogo Machado.
2 – FRANCISCO MACHADO CARMONA.
3 – D. INÊS DE BARROS MACHADO, «senhora da grande casa de Barcelos de seus pais», que casou com Francisco de Abreu Leitão.
4 – ANTÓNIO MACHADO CARMONA, «senhor da nobre casa de Barcelos de seus maiores».
5 – ANTÓNIO MACHADO CARMONA, cavaleiro da Ordem de Cristo, que faleceu a 10 de Julho de 1744 em Chaves, onde residia, e casara com D. ANASTÁCIA DO AMARAL DE FIGUEIREDO, filha de Belchior de Faria e de D. Catarina do Amaral.
6 – ANTÓNIO MACHADO DE AZEVEDO CARMONA, que casou em Carapeços, concelho de Barcelos.
7 – ANTÓNIO MACHADO DE AZEVEDO CARMONA, capitão de cavalos em 1750, natural de Barcelos. Casou com D. ISABEL MARIA VELOSO, natural de Chaves.
8 – ANTÓNIO JOSÉ MACHADO CARMONA, capitão de cavalos, cavaleiro da Ordem de Cristo, que teve carta de brasão de armas. Nasceu em 1734 em Chaves. Ver adiante «Documentos» n.os 3 e 4. De CUSTÓDIA MARIA, solteira, teve:
9 – H ENRIQUE LUÍS M ACHADO DE A ZEVEDO C ARMONA , casado com D. M ARIA MADALENA PEREIRA DO AMARAL. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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10 – LEONEL JOAQUIM MACHADO CARMONA, general, nasceu em Chaves em 1791. Ver adiante «Documento» n.° 2, casou com D. MARIA EMÍLIA DAS LÁGRIMAS MORAIS CARMONA.
11 – INÁCIO MARIA DE MORAIS CARMONA, General, de Chaves, casou com D. MARIA INÊS DE MELO FRAGOSO CORTE REAL.
12 – ANTÓNIO ÓSCAR FRAGOSO MACHADO CARMONA, General, Presidente da República, nascido a 24 de Novembro de 1869. Ver adiante «Documento» n.° 1.
D. ANTÓNIA MARCELINA MACHADO PEREIRA DE AZEVEDO, irmã de LEONEL JOAQUIM MACHADO (n.° 10), que casou com o corregedor MANUEL ANTÓNIO DA COSTA LIMA LISBOA, natural de Ponte do Lima.
JOSÉ ANTÓNIO DE LIMA CARMONA (n.° 2) casou com D. ANA RAQUEL CAROLINA GIL DE FIGUEIREDO SARMENTO (n.° 1).
ANTÓNIO PAULO GIL DE FIGUEIREDO CARMONA (n.° 4), casou com D. MARIA EUGÉNIA DE MORAIS (n.° 3).
JOSÉ HIPÓLITO DE MORAIS CARMONA, Juiz aposentado, nasceu a 20 de Abril de 1877 (ver tomo VI, pág. 128)
Nesta genealogia, começamos em Diogo Machado, omitindo seus ascendentes, que o Doutor Francisco de Barros leva até ao tempo de el-rei D. Afonso Henriques, por nada fazerem ao nosso propósito, limitado apenas aos Carmonas do distrito de Bragança, objecto exclusivo dos nossos estudos. Não compreendemos como Francisco Machado Carmona (n.° 2), que o erudito genealogista Doutor Francisco de Barros diz ser filho de Diogo Machado (n.° 1), pode adoptar o apelido de Carmona, que não aparece nos seus ascendentes, mas sim em João Carmona, casado com sua tia D. Leonor Machado (ver n.° 1). Viria ele dos Carmonas, família muito antiga no concelho de Mirandela, onde aparece um João Carmona nascido em 1636 e outro irmão do mesmo nome nascido em 1629, que bem podia ser o marido da referida D. Leonor? Não temos elementos comprovativos, mas apontamos os que conhecemos. a – P EDRO B ORGES , marido de Leonor Carmona, faleceu em Vale Benfeito, concelho de Macedo de Cavaleiros a 10 de Agosto de 1605. Foi seu filho o Padre Cristóvão de Oliveira, antes casado com Darida MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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de Morais, falecido a 15 de Maio de 1631. Filho destes o licenciado António Borges de Oliveira, que casou com Maria Pegado (1480). b – AMADOR CARMONA ALCOFORADO, licenciado, faleceu nos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 26 de Outubro de 1648, deixando a terça dos bens a Bartolomeu Carmona, seu filho, também licenciado, para concluir os estudos (1481). c – AMADOR CARMONA, filho de Francisco Carmona (não menciona a mãe), nasceu em Mirandela a 6 de Setembro de 1596. d – MIGUEL, filho de Francisco Carmona e de Maria Machado, nasceu em Mirandela em 1602. Possivelmente é irmão do antecedente. e – M ARIA , irmã do precedente, nasceu em Mirandela em 1606. Foram padrinhos Baltasar Vaz Alcoforado e Maria de Almeida, de Mirandela. f – G ASPAR , filho de Francisco Lopes e Ana Carmona, nasceu em Mirandela em 1625. Foi padrinho o licenciado João Dias (1482). g – LUÍS , filho de Francisco Carmona e de sua mulher (não lhe indica o nome), nasceu em Mirandela a 22 de Agosto de 1614. Possivelmente é irmão dos seguintes. h – ANTÓNIO, filho de Francisco Carmona e de sua mulher Ana Teixeira, nasceu em Mirandela em 1626. Foram padrinhos António de Magalhães Morais e Florência Teixeira, filha de Gaspar Pinto Cardoso e de Catarina de Vargas (ver tomo VI, pág. 277, destas Memórias, onde se mostra a ligação de Gaspar Pinto Cardoso com os Velosos de Chaves, provável família de D. Isabel Maria Veloso, mencionada no n.° 7. Estes Pintos Cardosos, possuíam de herdamento o ofício de Juízes dos Órfãos, de Mirandela, e como foram padrinhos de alguns filhos de Francisco Carmona, serão eles os mencionados nos respectivos assentos com o título de Ouvidores). i – F RANCISCO, irmão do precedente, nascido em Mirandela em 1628. j – JOÃO, irmão dos anteriores, nasceu em Mirandela a 9 de Setembro de 1629. Livro dos baptismos de Mirandela, fólio 149 v. k – MARIA, irmã dos anteriores, nasceu em Mirandela em 1632. l – ANA, irmã dos anteriores, nasceu em Mirandela em 1634. m – JOÃO (já tiveram outro do mesmo nome), nasceu em Mirandela a 15 de Dezembro de 1636. Livro dos baptizados de Mirandela, fól. 194.
(1480) Livros do Registo Paroquial de Vale Benfeito, arquivados na Câmara Eclesiástica de Bragança. (1481) Tomo VII, p. 603, destas Memórias. (1482) Constam todas estas notícias dos livros do Registo Paroquial da freguesia de Mirandela, correspondentes aos anos supra, arquivados na Câmara Eclesiástica de Bragança.
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n – LUÍS , irmão dos anteriores, nasceu em Mirandela a 14 de Dezembro de 1640 (1483).
DOCUMENTO N.° 1 Certidão de baptismo do General António Óscar Fragoso Machado Carmona, Presidente da República Portuguesa: «Aos vinte e quatro dias do mês de Fevereiro do ano de mil oitocentos e setenta, nesta igreja paroquial de Nossa Senhora da Pena, bairro oriental, diocese desta cidade de Lisboa, baptizei solenemente a uma criança do sexo masculino, a quem dei o nome de ANTÓNIO, primeiro de nome, que nasceu às nove horas da tarde do dia vinte e quatro de Novembro último do ano próximo passado, filho legítimo do Ilustríssimo Inácio Maria de Morais Carmona, tenente de cavalaria número seis, natural e baptizado na freguesia de Santa Maria Maior da vila de Chaves, e da Excelentíssima Dona Maria Inês de Melo Fragoso Corte Real, natural e baptizada na vila de Montemor-o-Novo, recebidos na freguesia de nossa Senhora da Ajuda desta cidade, e nesta da Pena moradores na calçada de Santo António dos Capuchos, número trinta e sete, segundo andar, neto paterno do Excelentíssimo General reformado Leonel Joaquim Machado Carmona e da Excelentíssima Dona Maria Emília das Lágrimas Morais Carmona e materno do Excelentíssimo António Manuel de Melo e da Excelentíssima Dona Inês Henriqueta Vila Lobos. Foi padrinho o Ilustríssimo António Ferreira Sarmento, tenente de cavalaria número sete, solteiro, morador actualmente nesta capital na travessa de São Domingos, freguesia de Santa Justa, e madrinha a Excelentíssima Dona Joaquina Emília Lencastre Laboreiro, solteira, moradora na vila de Mortemor-o-Novo, representada pela Excelentíssima Dona Amélia Monteiro, moradora nesta freguesia na calçada de Santo António dos Capuchos, número quarenta. E para constar lavrei em duplicado o presente assento de baptismo, que depois de ser lido e conferido perante o padrinho e representante da madrinha, comigo o assinaram. (aa) O coadjutor, Joaquim António Afonso. António Ferreira Sarmento» (1484).
(1483) Todos estes assentos se encontram nos livros do Registo Paroquial de Mirandela, correspondentes aos anos respectivos, arquivados na Câmara Eclesiástica de Bragança. (1484) Livro dos baptizados do ano de 1870 da freguesia da Pena, de Lisboa, fólio 225, n.° 24, agora arquivado na Oitava Conservatória do Registo Civil de Lisboa. Ao amigo Padre Ernesto Augusto Pereira Sales agradecemos a obtenção deste documento.
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DOCUMENTO N.° 2 Certidão de baptismo e óbito do avô paterno do General António Óscar Fragoso Machado Carmona, Presidente da República Portuguesa: «LEONEL, filho legítimo de Henrique Luís Machado de Azevedo Carmona e de sua mulher Maria Madalena Pereira do Amaral Azevedo; neto paterno de António José Machado Carmona, capitão de cavalos, e Custódia Maria, solteira, e materno de Manuel José Pereira, juiz de fora, auditor nesta praça de Chaves, e de sua mulher D. Ana do Amaral Azevedo, natural da vila da Touça, freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, comarca de Trancoso, bispado de Lamego, nasceu a dezasseis de Janeiro de mil setecentos noventa e um. Foi baptizado solenemente e houve os Santos Óleos pelo reitor João dos Reis aos vinte dias do dito mês e ano. Foram padrinhos Luís Manuel Pereira e sua avó materna. Luís Manuel. Reitor João dos Reis» (1485). «Aos quatro de Setembro de mil oitocentos setenta e quatro faleceu Leonel Joaquim Machado de Azevedo Morais Carmona, filho de Henrique Luís Machado de Azevedo Carmona e de D. Maria Madalena Pereira do Amaral Azevedo. Era brigadeiro de cavalaria reformado e tinha de oitenta e três para oitenta e quatro anos de idade» (1486).
DOCUMENTO N.° 3 Certidão de baptismo do bisavô paterno ou tio-bisavô do mencionado Presidente da República: «ANTÓNIO JOSÉ filho de António Machado Carmona, capitão de cavalos de uma das tropas da guarnição desta praça de Chaves, casado nela e natural da vila de Barcelos, da província do Minho, e de sua mulher Dona Isabel Maria Veloso desta Vila de Chaves, nasceu em trinta e um de Dezembro de mil setecentos vinte e nove e foi baptizado por mim o Padre Pedro Martins Lisboa, de Vilar de Nantes, solenemente nesta igreja matriz de Santa Maria Maior de Chaves...... Foram padrinhos António Luís de Madureira Paradela, governador desta praça e dela natural, e D. Joana Maria de Azevedo, irmã do baptizado. Assinou o padrinho e o reverendo cura Manuel Carvalho comigo que este fiz e assinei. O Padre Pedro Martins Lisboa. O cura Manuel Carvalho» (1487). (1485) Livro dos baptizados de Chaves, Repartição de cima, que serviu de 1790 a 1802, fólio 22 verso. (1486) Livro dos óbitos de Chaves de 1874, assento n.° 126. (1487) Livro dos baptizados de Chaves, Repartição de baixo, de 1712 a 1746, fólio 117.
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DOCUMENTO N.° 4 Certidão de baptismo do bisavô paterno ou tio-bisavô do referido Presidente da República: «ANTÓNIO JOSÉ, filho legítimo de António Machado de Azevedo Carmona, capitão de cavalos, e de D. Isabel Maria Veloso, desta vila de Chaves, nasceu aos dez de Outubro de mil setecentos trinta e quatro e foi baptizado solenemente e houve os Santos Óleos a dezoito do dito mês e era por mim o Padre José Vieira, da vila de Barcelos, com licença do reverendo pároco. Foi padrinho António da Cunha Souto Maior, coronel de cavalaria. E para constar fiz este que assinou comigo o padrinho. Dia, mês era ut supra. O Padre José Vieira. António da Cunha Souto Maior» (1488).
CASTRO DE AVELÃS A lápide funerária que demos no tomo IX, pág. 166, destas Memórias, está no Museu de Guimarães e foi publicada pelo capitão Mário de Vasconcelos Cardoso (1489) mais completa, desta forma: LV....ECIO CORNELI
que leu: Lu [cr] ecio Corneli [o], A Lucrécio Cornélio... A que demos na pág. 164 do mesmo tomo está também no referido museu e foi publicada por Cardoso (1490), certamente por melhor leitura, desta maneira: .....ILO CILI·FA N.XXV
que leu: ..... ilo Cili f(ilio) an (norum) XXV (à memória de?) filho de Cilo, falecido aos vinte e cinco anos. O mesmo Cardoso publica outra (1491), também encontrada por José Henrique Pinheiro em Castro de Avelãs, de que só resta a suástica de doze raios, tendo desaparecido a inscrição, e se guarda no citado Museu. (1488) Ibidem, fólio 159 verso. (1489) Catálogo do Museu de Arqueologia da Sociedade Martins Sarmento, 2.ª secção lapidar e de escultura, 1935, p. 88. (1490) Ibidem, p. 90. (1491) Ibidem, p. 91.
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CASTRO DE AVELÃS
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Ainda Cardoso publica o seguinte fragmento de outra (1492), também descoberta por Pinheiro nas ruínas de Castro de Avelãs e conservada no mesmo museu: I L I O S V que leu: [I]ulio Su...? A Júlio Su...? Também no mesmo museu se guarda outra lápide descoberta por Henrique Pinheiro nas citadas ruínas e publicada por Mário Cardoso (1493) da seguinte forma: .....NNI L.M....NIX
Igualmente se guarda no mesmo Museu de Guimarães a lápide do Vironi que demos na pág. 164 do tomo IX, também publicada por Cardoso (1494), devendo advertir que a idade da defunta é de sessenta anos, como bem claro está no epitáfio, e não seis como saiu na leitura que demos por descuido tipográfico só agora notado.
Figura 50
Como dissemos no tomo IX, pág. 165, ao reconstruir-se em 1927 parte do corpo da igreja paroquial de Castro de Avelãs, apareceu metida na grossura da parede a lápide publicada na referida página. Depois, em Maio de 1937, graças aos esforços de José Montanha, veio para o Museu de Bragança, onde a examinámos em melhores condições de luz, coisa que na sacristia de Castro de Avelãs lhe faltava, e por isso reproduzimos aqui o seu texto exacto, que é desta forma: Lápide de granito, tendo no alto uma suástica de doze raios e a inscrição em superfície rebaixada na pedra (fig. 50). Altura da lápide 0,95 metros, largura 0,43 metros, grossura 0,17 metros, corpo das letras 0,07 metros. 1.a linha. A terceira letra é um C, porém mais alto que o anterior e tão próximo dele, que lhe dá aspecto de C de tipo uncial, ou daquele C cursivo que se usou na letra carlovíngia (1495).
(1492) Ibidem, p. 92. (1493) Ibidem, p. 103. (1494) Ibidem, p. 89. (1495) MERINO, Andrés – Escuela de leer letras cursivas, 1780, p. 426; CAGNAT – Cours d’Épi-
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2.a linha. A última letra é mais alta que a antecedente, e, como está no sulco de escavação feita para rebaixar a superfície da inscrição, será um F sem travessões, por faltar espaço para eles. 3.a linha. Não há dúvida. 4.a linha. A primeira letra é um A com travessão ao meio, coisa que os outros AA não têm. 5.a e 6.a linhas. As segunda e quarta letras da 5.a linha e a sexta da 6.a semelham o P de tipo arcaico, de pança não fechada. No tomo IX, pág. 84, publicamos uma inscrição aparecida em Vila Nova, portanto perto desta de Castro de Avelãs, que apresenta também uma letra deste tipo e na inscrição seguinte, também de Castro de Avelãs, aparece o nome Salai, idêntico ao mencionado na referida lápide de Vila Nova. Cagnat, já citado, pág. 21, fala de um S de tipo bárbaro, algo semelhante à letra em questão de Castro de Avelãs. Ainda na 6.a linha a quinta letra é um A e não um V, como por engano saiu no referido tomo IX, pág. 165. As primeiras quatro linhas dizem: (Aqui jaz) Acça Serva, filha de Metelo (falecida de) 25 anos. Das outras nada sei, além da conjectura proposta no tomo IX, pág. 165. Lembro apenas que estas duas carreiras de letras não inculcam lapicida diferente, ao contrário do que escrevi no citado tomo IX, enganado pela falta de luz, e que o Doutor Mendes Correia (1496) publicou uma lápide funerária encontrada em Viseu, onde aparece o nome próprio Esa, que também pode estar na 5.a linha da inscrição de Castro de Avelãs. Ainda mais no tomo IX, pág. 38, publicamos uma inscrição aparecida em Babe, coisa de quinze quilómetros de Castro de Avelãs, onde se lê a palavra Caese, que não se sabe explicar. Haverá qualquer relação entre ela e o Esa, Ese da inscrição de Castro de Avelãs, apesar de esta não apresentar vestígios do C? Também, juntamente com a inscrição anterior, apareceu mais em Castro de Avelãs, ao reconstruir-se a igreja em 1927, a seguinte inscrição, que veio igualmente para o Museu de Bragança por influência do benemérito José Montanha: V
BLII · S LA I· N XXXX V V
V
graphie latine, 1898, p. 13, apresenta um D usado nas inscrições romanas de África, algo parecido a este de que vamos falando, mas entendemos que o de Castro de Avelãs é C e não D. (1496) CORREIA, Mendes – Os Povos primitivos da Lusitânia, 1924, p. 287.
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Lápide de granito, já quebrado no cimo e no fundo sem prejuízo do texto. Altura 0,50 m, largura 0,33 m, grossura 0,10 m. Corpo das letras 0,05 m. Inscrição em superfície rebaixada na pedra. Letras claras, sem coisa que faça dúvida, a não ser a última da 1.a linha, que pode ser um A e mais provável um N com a terceira perna obscura, por ficar na ranhura da superfície rebaixada. Advertindo que os dois II valem E, como é corrente em epigrafia, temos: (Aqui jaz) Blena (filha? escrava? liberta? de) Salai (falecida de) quarenta anos. O nome Bloena aparece noutra inscrição de Castro de Avelãs, que publicamos no tomo IX, pág. 164, e Salai na publicada a pág. 84 do mesmo tomo. No tomo III, pág. 266, publicamos a carta de filiação do Mosteiro de Castro de Avelãs ao de São Martinho da Castanheira em terra de Sanábria (Espanha). A tal propósito aditamos mais: Em 1218 desistiu o abade do mosteiro de São Martinho da Castanheira, junto de Puebla de Sanábria, bispado de Astorga, Espanha, nas mãos do arcebispo de Braga D. Estêvão Soares da Silva, que contra ele procedia com censuras, do direito que pretendia ter sobre o mosteiro de Castro de Avelãs, como consta do documento n.° 494 do livro Fidei da Sé de Braga. O arcebispo chegou mesmo a excomungar o abade de São Martinho da Castanheira, como se vê pelo documento n.° 495 do mesmo livro Fidei, que contém a bula Venerabilis frater noster de Honório III de 3 de Janeiro de 1218, na qual incumbe o bispo de Tui, o arcediago P. Mendes e o cónego da mesma Sé João Paio de executar a sentença de excomunhão (1497). «É verdade também – continua o mesmo autor – que Ribeiro diz ter encontrado na Casa dos Figueiredos, de Bragança, a carta de filiação do Mosteiro de Castro de Avelãs ao de S. Martinho da Castanheira, datada de Maio do ano de 1199 (Observações de Diplomática, pág. 151); mas certamente Castro de Avelãs, por esta carta de filiação a um convento doutra diocese, e demais estrangeiro, teve o intuito de eximir-se da jurisdição dos Arcebispos de Braga, de onde derivou o pleito com Martinho Pires, e agora a intervenção enérgica de D. Estêvão, como confirma o documento n.° 63 do Livro das Cadeias, bula de Celestino III – Ad andientium apostulatus – de 27 de Setembro de 1196, dirigida ao bispo de Lamego e ao
(1497) FERREIRA, José Augusto – Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, 1928, tomo I, p. 386.
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CARDOSO
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abade de Salzedas, ordenando-lhes que procedessem contra os monges de Castro de Avelãs, “que só no hábito imitavam a Ordem de Cister” no caso de não desistirem das doações, que receberam de pessoas leigas contra a proibição do arcebispo de Braga» (1498). A filiação de Castro de Avelãs ao convento de S. Martinho da Castanheira não deve significar mais do que ser feita por qualquer abade de Castro de Avelãs, partidário dos bispos de Compostela, que pelos anos de 1189-1209, pontificando em Braga D. Martinho Pires, tiveram largas contendas já vindas de tempos antigos a propósito de dioceses sufragâneas que tinham sitas pelo de Braga em Espanha e pelo de Compostela em Portugal (1499). CARDOSO (Manuel Joaquim), cónego da Sé de Bragança e agora reitor do Seminário de Vinhais; tomo VIII, pág. 103. Publicou mais: A vila de Vinhais. Porto, 1934. 8.° de 76+2 (inumeradas) págs., com seis gravuras no texto de monumentos de Vinhais. Saiu com o nome de Elmano, mas sabe-se que é do mencionado Manuel Joaquim Cardoso.
COMENDAS DA ORDEM DE CRISTO Como em várias partes desta obra nos referimos às comendas, e no tomo I, pág. 385, damos a lista das existentes no distrito de Bragança e seu rendimento, julgamos oportuno acrescentar algo ao assunto. Em 1514 concedeu o papa Leão X a el-rei D. Manuel que se tirassem vinte mil cruzados de renda nos frutos das igrejas e mosteiros de Portugal para delas se fazerem comendas da Ordem de Cristo reservando-se ainda aos párocos côngrua sustentação. No bispado de Bragança as igrejas em que então se constituíram comendas foram: Ansiães (São Salvador). Ansiães (São João). Castanheira (São João, concelho de Chaves, hoje bispado de Vila Real). (1498) FERREIRA, José Augusto – Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, 1928, tomo I, p. 386. (1499) Ver a história desses pleitos em monsenhor FERREIRA, José Augusto – Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, tomo I, p. 348 e seg., e a nossa monografia Castro de Avelãs – Mosteiro Beneditino, 1910 (Separata de O Instituto, vol. 56). No tomo III, p. 46 a 105, publicamos muitos documentos referentes ao Mosteiro de Castro de Avelãs, e nas p. 305 a 416 vários outros tocantes ao mesmo e ao de São Martinho da Castanheira. Sobre este, ver também tomo II, p. 273, destas Memórias, e VITERBO – Elucidário, artigos «Padeliças», «Pobramento» e letra X.
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COMENDAS DA ORDEM DE CRISTO
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Miranda (Santa Maria). Mirandela (Santa Maria) (1500). Moncorvo (Santa Maria). Vimioso (São Vicente) (1501). Depois, o mesmo papa, por bula de 1517 mandada executar pelo bispo de Targa, isentou os mosteiros da contribuição, e, na sua falta, meteu mais várias igrejas que, no bispado de Bragança, foram: Adeganha (São Tiago). Ala (Santa Eugénia). Bragança (Santa Maria). Colnelas (Conlelas, São Pedro Fins), «em terra de Bragança». Edral (São Romão). Guide (São Mamede). Lamas, «em terra de Lampaças», hoje Lamas de Podence (Santa Maria). Mogadouro (São Mamede). Morais (Santo André). Nizilo (Nuzedo, Santo André), em «terra de Vinhais». Ousilhão (Santo André). Santa Locaia (Locádia?), «em terra de Miranda». Santa Maria Madalena, «em terra de Algoso». São João de Trasbaceiro, hoje freguesia do Parâmio. Desta igreja de São João só existem as ruínas. São Julião (São Bartolomeu), «em terra de Bragança». Travanca (Santa Maria), «em terra de Algoso». Por esta bula deixava-se a cada pároco destas igrejas sessenta cruzados e o resto era para os comendadores (1502). Tem sido sempre assim. Os frades, porque eram poderosos, arreganharam os dentes, abanaram negativamente a cachaceira e foram dispensados da paga lançada depois sobre as freguesias; o povo clama contra as (1500) Esta comenda de Mirandela andava na casa dos condes de São Miguel e era chamada comenda da Vila ou comenda das Quatro Partes, porque, da soma de todos os dízimos, eram quatro partes para os condes de São Miguel (Távoras) e cinco para os outros cinco comendadores de Freixedas, Vila Verde, Cedães, Vale de Telhas e Vilas Boas e a décima parte para a igreja, por isso o povo lhe chamava a comenda dos Nove Ladrões, segundo diz BAPTISTA, João Maria – Corografia Moderna do Reino de Portugal, 1874, tomo I. (1501) SOUSA, Caetano de – Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo IV, prova 58, onde se transcreve o processo executorial da bula do papa feito em 1517 por D. Diogo Pinheiro, bispo do Funchal, abade comendatário do Mosteiro de Castro de Avelãs, junto a Bragança. (1502) SOUSA, Caetano de – Provas da História Genealógica…, tomo IV, prova 58.
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COMENDAS DA ORDEM DE CRISTO
TOMO X
extorsões, e para o aliviar mudam-lhe apenas de dono, entregando aos civis o que até ali comiam os eclesiásticos sob pretextos religiosos. O mesmo papa Leão X, pela bula Clarissimo in Christo filio Emanueli de 1517, a instâncias de el-rei D. Manuel, concedeu ao duque de Bragança D. Jaime a erecção de quinze igrejas dele, duque, em comendas da Ordem de Cristo, ficando, nas que não passassem de cento e vinte ducados de rendimento, quarenta para os párocos e sessenta nas que passassem (1503). Depois, por outra bula de 1519 permitiu ao duque que, nas igrejas inferiores a cento e vinte ducados de rendimento, ficassem quarenta e sessenta nas que passassem para os párocos (1504). No processo executório destas bulas feito por Filipe João, prior da Colegiada de Ourém, diocese de Lisboa, a 23 de Agosto de 1522, encontra-se a relação destas freguesias convertidas em comendas; na diocese de Bragança são: Babe (São Pedro). Macedo de Cavaleiros (São Pedro). Parada (São Gens), concelho de Bragança. Rabal (São Bartolomeu). Rio Frio de Carragosa (Santa Marinha) (1505). Em 1551 concedeu o papa Júlio III, pela bula Ex injuncto desuper, ao duque de Bragança D. Teodósio, que algumas das quinze comendas assim criadas se dividissem, por seus rendimentos terem aumentado muito. Esta nova concessão foi mandada efectivar por carta de el-rei D. Sebastião de 10 de Setembro de 1557. Na diocese de Bragança a divisão alcançou as seguintes comendas: a de Rabal, que passava de 150$000 réis de rendimento, foi dividida em sete, a saber: RENDIMENTO
Rabal, cabeça da comenda ................................................ França (São Lourenço)...................................................... Santa Olaia (1506) ..................................................................
150$000 60$000 40$000
(1503) Ibidem, tomo VI, prova 109. (1504) Idem, prova 110. (1505) Idem, prova 114. (1506) Deve corresponder a Vila Meã, cujo orago é Santa Olaia e dada como anexa da reitoria de Rabal por COSTA, Carvalho da – Corografia Portuguesa, 1706, tomo I, p. 501 e 502.
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COMENDAS DA ORDEM DE CRISTO
611 TOMO X
RENDIMENTO
Santa Maria (1507) ................................................................ 40$000 Petisqueira (São Lourenço) .............................................. 40$000 Guadramil (São Vicente) .................................................. 40$000 São João (1508) .......................................................................... 40$000 (1509) Parada, concelho de Bragança, rendia 325$000 réis. Foi dividida em seis (1510), a saber: Parada (São Gens) ............................................................ São Tiago (é Coelhoso, segundo se vê em Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa, 1706, pág. 503 .......................... São Pedro (é São Pedro de Serracenos, idem, idem, pág. 501) .............................................................................. São Lourenço (é Paredes, idem, idem, pág. 502) ............ Santo António (deve ser a capela de Santo António de Coelhoso) .................................................................... Santa Maria Madalena (é Grijó de Parada, Corografia Portuguesa, pág. 502) ........................................................
80$000 40$000 40$000 40$000 40$000 45$000
Babe rendia anualmente trezentos e tantos mil réis. Foi dividida em duas a saber: Babe (São Pedro). Gimonde (Nossa Senhora da Assunção) (1511). Depois, Gregório XIII, pelo breve Noverint universi de 6 de Novembro de 1579, permitiu que o duque de Bragança D. João pudesse aplicar os rendimentos das comendas vagas e benefícios da sua apresentação para resgate do conde de Barcelos, seu filho, durante cinco anos. As comendas e benefícios eclesiásticos da sua apresentação, então vagos, cujos rendimentos percebeu, foram na diocese de Bragança: Alimonde. No breve vem «Limonde» (São Mamede). Espinhosela (Santa Maria Madalena e Santo Estêvão). (1507) Deve corresponder a Deilão, dada pelo mesmo Carvalho da Costa como anexa de Rabal. (1508) Rio de Onor. (1509) SOUSA, Caetano de – Provas…, provas 155 e 156. (1510) COSTA, Carvalho da – Corografia Portuguesa, diz que eram sete, p. 502, mas enganou-se por atribuir também Grijó de Vale Benfeito à reitoria de Parada, segundo escreveu no tomo I, p. 503. (1511) SOUSA, Caetano de – Provas…, prova 159.
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COMENDAS DA ORDEM-DE-CRISTO
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CÓNEGOS
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CONSTANTINO
TOMO X
Carças (São Pedro). Meixedo (Santo André). Nozelos (Santa Maria). Parada (São Gens). Só esta era comenda; os mais benefícios. Penhas Juntas. Quintela de Lampaças. Rebordãos. Talhinhas (Santa Maria) (1512).
CÓNEGOS O constitucionalismo (1834) apossou-se dos bens eclesiásticos e deu em compensação uma côngrua. A côngrua do cabido de Bragança em 1864 era de 18$000 réis mensais para cada cónego e 9$000 para cada beneficiado ou meio-cónego (1513). O cabido de Bragança apresentava os seguintes párocos antes de o constitucionalismo se apoderar em 1834 do padroado de todas as igrejas: Argozelo, Carção, Frieira, Gostei, Malhadas, Milhão, Nogueira, Outeiro, Póvoa, Pinelo, Paçó de Outeiro, Paradinha, Palácios, Quintanilha, Rio Frio de Outeiro, Santulhão, Sanceriz, Sarzeda, Soutelo da Pena Mourisca, Vale de Lamas, Veigas e Vila Nova (Bragança).
CONSTANTINO, rei dos floristas
(1514)
No livro dos baptizados de Alfândega da Fé, fólio 207 v., encontra-se um assento em que só se vê isto: «Constantino» (o resto está traçado por forma acintosa a não se poder ler palavra nenhuma e apenas o seguinte no final do assento:) «Seu padrinho Manuel Antonio Aleixo capitam mor de Murça e asistente nesta villa e para constar fiz este termo que asinei dia mez era ut supra o cura Francisco José Vilares Ribeiro». À margem deste assento há a seguinte nota: «Foi inutilizado este assento em virtude de um despacho do Rd.° Vigário-Geral, que mandou abrir outro nos livros da Vila de Moncorvo, onde foi lançado». No livro dos assentos dos baptizados de Moncorvo, que serviu de 1794 a 1803, há cosido ao fólio 185 v. um processo constante de onze fólios de papel selado com a taxa de 40 réis que começa desta maneira: (1512) Ibidem, tomo VI, provas 187 e 188 (1513) Diário de Lisboa de 22 de Abril de 1864. (1514) Tomo VII, p. 114.
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CONSTANTINO
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«Il. mo e Rd. mo Sr. – Diz Constantino José Marques de Marialva, que, pelos documentos, que tem a honra de sugeitar á consideração de V. S.a faz juridica e incontestavelmente certo, – 1.° Que é filho de José Joaquim Marques Moutinho Lopes desta Villa de Moncorvo, e de D. Vicencia Victorina Banha de Melo Sequeira Sampaio Coutinho Freire Manoel Borges da Costa de Araujo Pereira Bacellar Teixeira Pinto de Magalhães e Lacerda, e que nesta Villa nasceu, como justificou perante o Juiz de Direito da Comarca com as pessoas mais idosas, qualificadas e circunspectas, e foi julgado por Sentença a qual transitou sem opposição de pessoa alguma em julgado, tendo sido chamadas, e ouvidas não só o Delegado do Procurador Regio, mas todos os parentes paternos e maternos representantes dos seus ascendentes, como tudo consta do documento junto designado pela letra =A=; 2.° Que o mesmo Supplicante foi solemnemente baptizado aos 28 dias do mez de Agosto de 1802, que fora seu padrinho o Capitão Mor de Murça, e que nascera aos 18 dias do dito mez e ano ou dez dias antes do baptismo, como attesta o documento designado pela letra =B=; 3.° Que o mesmo é neto pela parte paterna de José Luís Marques, Monteiro Mor da Villa de Moncorvo, e de Dona Ignacia Maria Moutinho Lopes, de Lodões, como do documento designado pela letra =C= e attestados em n.os 1.° e 3.° se faz evidente; 4.° Que seus avós maternos foram José Bernardo de Mello Sequeira Sampaio Banha Coutinho Freire Manuel, Fidalgo da Casa Real, da Povoa do Concelho, Comarca de Trancoso, e de D. Anna Luiza Joaquina de Arauja Borges da Costa Pereira Bacellar Teixeira Pinto de Magalhães e Lacerda, natural de Moncorvo, como de um modo indubitavel consta do Documento designado pela letra =D=. E porque no assento original do baptismo do Supplicante se acha ommissa a ascendencia do Supplicante – que aliás a precisa fazer certa por um titulo autentico, para negocios de grande interesse em Paris, onde actualmente reside, por isso Pe. ao R. mo Senr. Vigario Geral da Comarca [de Moncorvo] haja por bem ordenar, que o Escrivão dos livros findos abra em conformidade com o exposto e documentos juntos assento no livro dos Baptismos desta Villa, no logar competente, para do mesmo se passarem, quando requeridas forem, as certidões necessárias. Como procurador – Antonio Bernardo de Moraes Leal». Seguem as certidões em que se mostra que o Constantino (só este nome sem mais apêndices) nasceu aos 18 de Agosto de 1802 (mil oito centos e dois) em Moncorvo e foi baptizado na vila de Alfândega da Fé MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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CONSTANTINO
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CORREIA
TOMO X
aos 28 de Agosto do referido ano de 1802; que é filho, neto paterno e materno dos avós indicados; que foi seu padrinho (não teve madrinha) Manuel António Aleixo, capitão-mor de Murça. O processo de justificação foi organizado em Moncorvo pelo Juiz de Direito daquela comarca em 1851, sendo a sentença dada a 25 de Janeiro desse ano, após cinquenta anos do nascimento do justificante, sendo já falecidos seus pais, como no processo se declara. Mais diz o processo «que foram citados para verem justificar o exposto, os parentes mais próximos do justificante, chefes de família, representantes dos seus ascendentes, a saber: o Comendador José António Pegado de Oliveira, residente em Mogadouro, o Doutor António José de Sampaio e Melo, residente em Marialva, Francisco António de Melo e mulher residentes em Moncorvo, e D. Antónia Caetana de Magalhães, e seu marido, residente em Bornes este, e aquela na Junqueira; que sendo inquiridas as testemunhas Luís Cláudio de Oliveira Pimentel, Francisco António Soares, António Xavier Carneiro de Magalhães, Francisco António Carneiro de Magalhães, Joaquim Maria de Sá, Joaquim José de Torres, e Sebastião José Carqueja, e depois de ser ouvido o Delegado do Procurador Régio, foi pelo Juiz de Direito António José de Morais Pimentel proferida em vinte cinco de Janeiro de mil oitocentos cincoenta e dois sentença, na qual se julgou justificada a matéria deduzida no requerimento do justificante......». Segue depois outro requerimento do mesmo Constantino, que já assina da seguinte forma: «Constantino José Marques de Marialva Lopes Pinto Moutinho Sequeira Coutinho Freire de Sampaio e Melo de Araújo Borges Pereira de Castro Bacelar Teixeira de Magalhães e Lacerda, residente em Paris......», no qual pede as certidões do processo. Seguem depois as certidões de idade e casamento dos pais e avós do justificante, acompanhadas de outras certidões de cartas régias, em que diversos reis portugueses concederam a alguns dos ascendentes do dito Constantino cartas de fidalguia, em atenção a serviços prestados em guerras tanto em Portugal como em Marrocos, praças de Tânger, Arzila e na Índia. Estas cartas são interessantes pelo que toca às praças de Tânger e Arzila; não as transcrevo, porém, porque dizem respeito a ascendentes do Constantino naturais da Beira Alta e Beira Baixa, regiões estranhas ao meu estudo. CORREIA (Francisco António) – Doutor, director do Curso Superior de Comércio de Lisboa. Professor e vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa. Tomo VII, págs. 131 e 647. Publicou mais: Psicologia dos negócios (parte II), lições proferidas em 23 e 26 de Outubro de 1935. Lisboa, 1935. 8.° peq. de 76+1 e outra de registo. Faz parte da colecção «Biblioteca de Altos Estudos». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
CORREIA
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CORTIÇOS
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CULTURA AGRÍCOLA
615 TOMO X
Consequências económicas dos descobrimentos – Lições proferidas em 7, 9 e 11 de Dezembro de 1936. Lisboa, 1937. 8.° de 143 págs., mais uma de índice e outra de registo. Pertence à referida colecção «Biblioteca de Altos Estudos». CORTIÇOS. ALCOFORADOS – Tomo VI, págs. 223 e 677; tomo VII, págs. 10 e 599, e tomo VIII, pág. 79. Baltasar Vaz Alcoforado, filho de Nicolau da Cunha Alcoforado, natural dos Cortiços, formou-se em leis na Universidade de Coimbra no ano lectivo de 1719-1720 com a classificação de suficiente (1515). Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado era coronel-brigadeiro do Regimento de Cavalaria de Miranda do Douro em Julho de 1789 e marechal-de-campo do mesmo em Dezembro de 1794, como consta de várias cartas sobre assuntos militares, que lhe dirigiu Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, datadas do Quartel-General de Bragança (1516).
CULTURA AGRÍCOLA Ver tomo II, pág. 450; tomo III, pág. 247, e tomo IV, págs. 123, 125, 292, 296, 297, 299, 316 e 322. Ver também no índice geral os artigos Seda e Vinho, além de várias outras passagens tocantes a coisas agrícolas. Viterbo diz que em alguns países estrangeiros se usava sacudir com um cordel o orvalho das espigas dos pães quando caíam geadas para os livrar destas, «meneando suavemente o trigo, como faz o vento. Para isto, dois homens tomam pelas pontas uma corda, e caminhando com ela estendida na altura das espigas, vão estas sacudindo de si a perniciosa mangra». Assim chama ao dito orvalho geado. Transcreve seguidamente a lei de 12 de Fevereiro de 1564, que manda mondar «o trigo, centeo e cevada nos mezes de Março, Abril e Maio; e se faça o mesmo aos milhos, nos tempos que for necessario. E que se sacudam os paens da agoa e nevoa, que nelles houver caido, com hum cordel de laa comprido, da grossura de hum dedo, que cada lavrador deve ter para o dito fim» (1517). Seguidamente ordena que os juízes e vereadores olhem pela observância destas ordenações, aplicando multas aos infractores. Viterbo lamenta que tão saudável prescrição ficasse apenas no papel, sem nunca ter aplicação, ou, se a teve, foi apenas «temporária», pois não aparecem vestígios dela,
(1515) Livro das Informações Gerais (1719-1720), fól. 45, existente na Universidade de Coimbra. (1516) Arquivo Municipal de Guimarães – Boletim de Trabalhos Históricos, 1936, p. 43 e seguintes, onde foram publicadas. Os originais guardam-se no mesmo arquivo. (1517) VITERBO – Elucidário, artigo «Mangra».
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CULTURA AGRÍCOLA
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«menos em a vila de Sanceriz junto a Bragança, em cuja Câmara se guardam ainda estes longos cordéis, com que se sacudiam os pães; mas sem lembrança, ou memória de que tivessem algum uso» (1518). O mesmo Viterbo transcreve integralmente a carta de lei de el-rei Dom Filipe de 20 de Outubro de 1619, que diz haver encontrado numa folha avulsa do arquivo da vila de Mós, concelho, hoje, de Moncorvo, na qual el-rei encarrega o corregedor desta vila de se informar «particularmente das terras, que em cada um dos lugares da dita comarca estão devolutas, sem se cultivarem e aproveitarem: assi das que forem dos concelhos, como das pessoas particulares; declarando as causas, porque as ditas terras se não cultivão e a calidade e bondade e grandeza dellas: e juntamente vos informareis do remedio, que podem ter pera se cultivarem, e darem fruto, e das que são necessarias assi pera o pasto dos gados, como pera os estrumes de cada lugar: E das rendas, que tem cada lugar, cameras, e concelhos delles, e como se despendem e gastão: E que obras publicas faltão pera fazer e são necessarias, asi de pontes, fontes, calçadas, chafarizes, casas dos concelhos, cadêas, açougues e outras similhantes nos ditos lugares» (1519). Manda que se informe sobre o assunto com os oficiais das câmaras e pessoas competentes, remetendo-lhe a competente nota dentro de um mês para providenciar. Esta lei foi geral por todo o reino. No «Livro do Registo da Câmara de Torre de Moncorvo, a fol. 182 v. – continua o mesmo Viterbo – se acha uma provisão de el-rei D. João IV, para que o corregedor de Moncorvo faça reduzir a cultura as terras incultas, e herdades desertas, e os maninhos que houver nos lugares da sua correição; e tudo na forma da provisão, que sobre as mesmas sementeiras se passou em 26 de Novembro de 625. Dada em Lisboa a 30 de Janeiro de 1643» (1520). Acrescenta Viterbo que à margem deste documento há uma nota manuscrita que diz: «Estas Provizoens fizerão perder a barra do Porto». É curioso ver como Viterbo refuta triunfantemente o absurdo de tal conceito. Convém notar que foi em Sanceriz onde apareceram os únicos documentos existentes em Portugal e talvez no mundo de duas usanças de alto valor etnográfico: o freio dos maldizentes (1521) e os cordéis para sacudir a geada dos cereais.
(1518) Ibidem, artigo «Mangra». (1519) Ibidem, artigo «Sesmaria». (1520) Ibidem. (1521) Ver tomo IX, p. 431, onde fizemos a sua descrição.
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS Como quer que, falando em Bragança com o distinto folclorista Padre Firmino Augusto Martins (1522), aludisse à visita que tencionava fazer no seu concelho às insculturas de Cerdedo e outras da Serra da Coroa, no alto da qual, junto à pirâmide geodésica (1523), me despediria das excursões arqueológicas e ele mostrasse desejo de me acompanhar, fixámos o dia para 1 de Outubro de 1935. Algo me surpreendeu quando na véspera da partida, ao tomar o auto para Vinhais, seu primo, Padre Manuel de Morais, me impediu suavemente, dizendo que no dia seguinte tinha carro até à Coroa, e maior foi a surpresa quando vi a cordilheira apinhada de homens ajoujados com farnéis, saquitos, cestos e mais guisamentos próprios destas merendas fenomenais, em que a gente vinhaense é fértil, chegando em seguida dois automóveis de Bragança cheios de individualidades marcantes, que, entre uns e outros, eram os seguintes: De Bragança: Salvador Nunes Teixeira, governador civil do distrito; Doutor Raul Teixeira, secretário-geral; José Furtado Montanha, director da agência do Banco de Portugal; Tenente João Guardiola Capitão António Dias; Padre Manuel João de Morais, secretário do Bispo de Bragança; Padre Martinho José Duarte; António Guilhermino Furtado, farmacêutico. De Vinhais: Padre Firmino Augusto Martins, pároco de Tuizelo, arcipreste e presidente da Câmara Municipal de Vinhais; Cónego Manuel Joaquim Cardoso, reitor do Seminário de Vinhais; Cónego Abel Pires, arcipreste e pároco de Vinhais; António Augusto Ferreira, secretário da Câmara Municipal de Vinhais; Albino Rodrigues, vereador da Câmara Municipal de Vinhais; António Neto, professor de Rebordelo; (1522) Ver tomo VII, p. 294, destas Memórias. (1523) Ibidem, p. 244, e tomo VII, p. 796.
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS
TOMO X
José Guerreiro, professor de Nuzedo de Cima; Vitorino Marques de Azevedo, presidente da junta de Tuizelo; Manuel José Rodrigues, proprietário de Tuizelo; António Ezequiel de Morais, proprietário de Travanca; João Inácio Fernandes, guarda-fiscal. Enquanto memorava, confundido, a gentileza do caso, que jamais esquecerei, perpassou-me pela mente a generosidade dos vinhaenses (1524); mas Firmino, Firmino, eu queria despedir-me, segundo me impunham os meus setenta e um anos, e quem se despede leva saudades e não quer festas. Queria despedir-me e nenhum local mais adequado: nas encostas da serra tinha as insculturas rupestres de Cerdedo e Travanca (1525) e do cume via realmente ou em espírito todo o distrito de Bragança, por onde me tem ficado a vida arqueológica aos farrapos e agora me fica a alma. Via a fraga do Pingadeiro com sua lenda (1526); a Cigadonha de Vinhais (1527); a anta de Paçó, vulgarmente chamada Montão de Terra (1528); a trajectória da estrada militar romana (1529); o pelourinho de Vinhais (1530); a berroa da Torre de Dona Chama (1531); a Cruz de Santa Engrácia, septenência de feiticeiras (1532). Via o distrito de Bragança na sua história, tradição e lenda, nos seus monumentos arqueológicos, artísticos, românicos, góticos e renascentistas, e, abraçando os que tinha à mão, por eles transmitia aos outros as minhas saudades, o longum vale, vale virgiliano. Via, enfim, lá ao longe Mairos, onde, vai em meio século, iniciei a vida paroquial e passei os melhores sete anos da minha vida e, um pouco mais abaixo, via Chaves, a quem tanto devo mentalmente. Mas, Firmino amigo, eu queria reviver os transes mais ou menos perigosos das excursões (1533), visto que ... recordar hum mal, que he já passado, Dá depois mais prazer, que então cuidado (1534). (1524) Ver tomo V, p. CVI, destas Memórias. (1525) Tomo IX, p. 620 e 661 (1526) Ibidem, p. 620 e 450. (1527) Ibidem, p. 180. (1528) Ibidem, p. 703 e 695. (1529) Ibidem, p. 191. (1530) Ibidem, p. 514. (1531) Ibidem, p. 541. (1532) Ibidem, p. 386 e 381 (1533) Volume V, p. IX e X, destas Memórias. (1534) DURÃO, José de Santa Rita – Caramuru, canto III, est. 38.
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS
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porquanto ... depois que hum triunfa do inimigo Faz-se depois doce a memória do perigo (1535). Queria despedir-me, queria rememorar os episódios burlescos das excursões provocados pela minha figura atabalhoada, grosseira, pela minha indumentária delida, suja, emporcalhada, para que a besta do meu eu, revendo-se no irmão-jumento e suíno, não se envaidecesse, supondo ser alguém pelas honrarias que lhe tem dispensado a generosidade dos conterrâneos. Queria despedir-me desse nunca assaz louvado sextunvirato – Bacelar, Cordeiro, Montanha, Quintela, Raul e Vítor – beneméritos mecenas inscritos na primeira página de honra destas Memórias, porque, sem o auxílio desta Junta de Educação Nacional Bragançana, a primeira no género em todo o país, o meu labor ficaria inútil como obra de conjunto, podendo, quando muito, dispersar-se por revistas e publicações periódicas. Queria dizer bem alto que, sem o auxílio do José Montanha e do Quintela, sem o gosto estético do Raul, sem o prestígio de todos três, o Museu de Bragança, só por mim, não teria metade do recheio que o enriquece, nem passaria de armazém de velharias amontoadas sem arte, por me faltar tempo e influência para tanto. Queria dar às câmaras municipais do distrito de Bragança, à Junta Geral do mesmo a quota parte, que lhe pertence de justiça, no auxílio à publicação das minhas investigações, bem como aos governadores civis: – Tomás Fragoso, João Carlos de Noronha e Salvador Nunes Teixeira. Queria gritar bem alto que de pouco serviria a minha teimosia investigadora, embora mais ferrenha que a do irmão burro e porco, se os dois últimos bispos da diocese de Bragança – D. António Bento Martins Júnior e D. Luís de Almeida –, o clero da mesma, os professores primários do distrito, os oficiais de Infantaria 10 e tantas, tantas pessoas como constam da minha obra, principalmente nas listas finais de cada tomo, não me auxiliassem com informações e não me animassem incessantemente, fornecendo-me notícias e dando-me antigualhas. Nem quero falar nesse incentivo lisonjeiro constante do meu busto em bronze numa praça de Bragança, erecto por subscrição pública, ao qual já aludi na pág. 303 e seguintes, nem do mais existente no museu, incluindo os meus retratos feitos pelos laureados pintores Henrique Tavares e Alberto Sousa.
(1535) Ibidem, canto V, est. 2.
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS
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Não quero falar da geral manifestação de estima que por toda a parte me manifestam, de onde o dizer o grande Mestre Doutor José Leite de Vasconcelos que, para os bragançanos, eu era um ídolo (1536), e ainda outro grande Mestre brasileiro – Doutor Afrânio Peixoto – que eu já começava em vida a gozar do Céu. Nem quero lembrar que nas muitíssimas vezes que durante anos e anos fui ao regimento de Infantaria 10 colher informações etnográficas dos recrutas novamente incorporados, o comandante António José Teixeira, para me animar na desculpa das impertinências, dizia: «Tu aqui mandas como general; se queres, mando formar o regimento». Excesso de benevolência, que o seu fervente regionalismo e culto espírito explicava, aliado à boa vontade de todos os oficiais do mesmo, tanto superiores como inferiores. Queria memorar o cativante gesto da Torre de Dona Chama, onde apareci um dia, sem conhecer ninguém, e logo a comissão da junta de freguesia, representada pelo grande regionalista António Gonçalves, me apareceu na hospedaria a lembrar: que todas as despesas corriam por sua conta, como efectivamente correram, embora contra minha vontade; que um automóvel estava à minha disposição para ir onde quisesse, facilitando-me assim a visita a diversas aldeias que percorri. Gesto igual teve o saudoso Augusto Evaristo em Miranda do Douro no ano de 1910, menos o automóvel, porque ainda não giravam por terras bragançanas. E o mesmo a Câmara Municipal de Chaves em 26 de Abril de 1937. Queria despedir-me de ti, meu Firmino, do Miranda Lopes, prior de Argozelo, do saudoso abade de Carviçais José Augusto Tavares e do nosso colega Ernesto Augusto Pereira Sales, agradecendo de facto as muitas informações que me fornecestes. Queria despedir-me das câmaras municipais do distrito, agradecendo a boa vontade com que aturaram as minhas impertinências de investigador pelos seus arquivos, bem como das pessoas particulares que me facilitaram a leitura da sua documentação atinente a notícias genealógico-históricas. Queria mandar a todos o longum vale, vale do meu reconhecimento. Queria despedir-me da imprensa (1537); do Grémio de Trás-os-Montes, agradecendo de modo especial a sessão de homenagem de 11 de Novembro de 1935 (ver pág. 305) (1538). Queria despedir-me, mas a opípara merenda, os vinhos crepitantes a saltar aos olhos – não estivéssemos nós em terras de Vinhais – a hilari-
(1536) VASCONCELOS, J. L. de, O Arqueólogo Português, vol. XXII, p. 44, em nota. (1537) Ver p. 304, onde se menciona alguma, não toda. (1538) Ver O Século de 10 de Novembro de 1935; A Voz de 11 de Novembro de 1935; Diário de Lisboa de 9 de Novembro de 1935; Trás-os-Montes de 16 de Novembro de 1935; Novidades de 10 de Novembro de 1935, e Sempre Fixe de 14 de Novembro de 1935.
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DESPEDIDA DAS MINHAS EXCURSÕES ARQUEOLÓGICAS
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DEUSDADO
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dade da companhia, o ar aperitivo da montanha, o estômago, enfim, ordenaram outra coisa. Ao repasto discursou-se largamente, destacando-se o Padre Firmino Martins e o nosso governador civil. Eu, como sempre em actos de igual significado homenageante, «mudo e quedo como um penedo», segundo se diz no Caramuru. É que o silêncio, quando resulta de comoção sincera, da certeza de serem imerecidas as referências elogiosas, tem a sua eloquência e a ela me limitei. DEUSDADO (Doutor Domingos Augusto de Miranda Ferreira). Tomo VII, págs. 650 e 819. Publicou mais: Por vezes os Tribunais são procurados para sancionarem a violação da lei... Minuta de apelação. 8.° de 16 págs., sem ano nem lugar de impressão, mas apareceu em 1933. Errare humanum est... Minuta de revista. Lisboa, 8.° de 12 págs., sem ano de impressão. O delírio da velocidade. Minuta de apelação. Lisboa, 8.° de 31 págs., sem ano de impressão. Um Acórdão que sancionou a violação da lei. Minuta de revista. Lisboa, 8.° de 23 págs. O ideal da mulher moderna... Casar com um homem rico e obter a aposentação com 3200$00 mensais. Alegações finais e minuta de apelação. Lisboa, 8.° de 42 págs. Sem ano de impressão. Parece que todos estes quatro trabalhos apareceram pelos anos de 1929 a 1934. Regionalismo e Patriotismo. 1934. 8.° de 274 págs. Triste coincidência! Quanto tomava estas notas, vi nos jornais a notícia do falecimento em Lisboa, a 22 de Agosto de 1936, de D. Maria Henriqueta de Sousa Dias, de trinta e oito anos de idade, esposa do Doutor Domingos Deusdado, a qual era natural de Muge (Ribatejo), e deixou quatro filhos menores. Era sobrinha do Doutor Francisco de Sousa Dias, almirante Aníbal de Sousa Dias, Doutor António Saraiva da Rocha e desembargador Mário Duque. ESTEVES PEREIRA (Francisco Maria) – Coronel de engenharia, notável orientalista, nasceu em Miranda do Douro a 9 de Agosto de 1854 e faleceu em Lisboa a 9 de Dezembro de 1924. Era sócio da Academia das Ciências de Lisboa, da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto de Coimbra e membro da Société Asiatique de Paris, cavaleiro-oficial da Ordem Militar de São Bento de Avis, oficial da Ordem de São Tiago, medalha de ouro de comportamento exemplar e Estrela de Honra da Etiópia, condecoração militar dada pelo imperador Menelik II em 1890, quando publicou os seus primeiros trabalhos etiópicos. Era filho de Paulo José Esteves Pereira e de D. Umbelina Maria Rebelo MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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de Faria; foi seu padrinho de baptismo o Doutor Francisco Inácio Rebelo de Faria, irmão de sua mãe; teve irmão a José Luís Esteves Pereira, distinto agrónomo, de quem falamos, no artigo respectivo, além de várias irmãs e primo co-irmão do Doutor Eduardo Ernesto de Faria, advogado e professor do Liceu de Bragança (ver tomo VII, pág. 174, destas Memórias). Casou em Lisboa com D. Madalena Martins de Carvalho, natural de Reguengos de Monsaraz, filha de Nuno Maria de Carvalho e de D. Maria Inácia Martins. Assentou praça no Batalhão de Caçadores n.° 3 (Bragança) em 4 de Agosto de 1875 e foi promovido a alferes-aluno em 1878. Na Escola Politécnica obteve louvor ou prémio todos os anos e na Escola do Exército teve igual classificação. Foi promovido a alferes em 10 de Abril de 1883, a coronel em 1 de Dezembro de 1912 e passou à reserva em 12 de Agosto de 1916. Foi segundo comandante da Escola Prática de Engenharia, inspector geral das Fortificações e Obras Militares, delegado do Ministério da Guerra na Comissão de Direito Público Marítimo; dirigiu, como engenheiro, a construção das enfermarias do Hospital Militar da Estrela, a dos pavilhões de metralhadoras em Campolide, as obras da Escola Normal de Benfica e as do Hospital de Belém, além de outras. A maior parte dos jornais de Lisboa se referiu ao falecimento de Francisco Maria Esteves Pereira, publicando notas biobibliográficas, acompanhadas do seu retrato, como foram o Diário de Notícias de 10 de Dezembro de 1924, O Dia da mesma data e outros, convindo notar que alguns o deram como natural de Miranda do Corvo, lamentável equívoco que se deve precaver, pois é Miranda do Douro (1539). Publicou: 1 – Notice sur le Magseph Assetat, do Padre António Fernandes. Traduit du portugais por René Basset. 1886. 2 – Historia de Minás-Adomás Sagad, rei da Etiópia. Texto etiópico traduzido e anotado. Lisboa, 1888. 8.° de 87+1 págs. 3 – Abba-Jared. Foi publicado na Revista Arqueológica. 1890. 5 páginas. 4 – Vitórias de Amda Sion, rei da Etiópia. Traduzido pelo Padre Manuel de Almeida. Lisboa, 1891. 8.° de 40 págs. 5 – A peça de Diu. Memória para a X sessão do Congresso dos Orientalistas. De colaboração com o Doutor David Lopes. Lisboa, 1892. 8.° de 18-II págs. (1539) A biografia de Francisco Maria Esteves Pereira, acompanhada de alguns dados bibliográficos, muito incompletos, encontra-se no Portugal: Dicionário histórico, 1907, artigo «Esteves Pereira», e também, e com a mesma deficiência, em FONSECA, Martinho da – Aditamentos ao Dicionário Bibliográfico Português de Inocêncio Francisco da Silva, 1927, p. 142, com a agravante que nem um nem outro indicam a terra de sua naturalidade. Ao amigo Padre Ernesto Pereira Sales agradeço as notícias que me forneceu para este artigo.
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6 – Crónica de Susenyos, rei da Etiópia. Texto etiópico segundo o manuscrito da Biblioteca Bodleiana de Oxford. Tradução. Lisboa, 1892. 8.° de 7+XLVI-335 págs. Esta obra consta de dois tomos e o segundo tem por título: 7 – Crónica de Susenyos, rei da Etiópia; tomo II. Tradução e notas; destinado à sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa, 1900. 8.° de VII-663 págs. 8 – Vida do Abba Samuel do Mosteiro Xalamon. Versão etiópica. Memória apresentada ao X Congresso dos Orientalistas. Lisboa, 1894. 200 págs. 9 – Horas da Rainha D. Leonor. 1895. Saiu no Ocidente. 10 – Vida do Abba Daniel do Mosteiro de Sceté. Versão em colaboração com Lazarus Goldtchmidt. Edição do Centenário da Índia. Lisboa, 1897. XXII-58 págs. 11 – As duas enfermarias do Convento da Estrela. Lisboa, 1897. 21 págs. e três desenhos. 12 – Dos feitos de D. Cristóvão da Gama. Composto por Miguel de Castanhoso. Edição do Centenário da Índia. Lisboa, 1898. 8.° de XLVI-153 págs. 13 – História dos Mártires de Nagran. Versão etiópica. Lisboa, 1899. 8.° de LVIII-191 págs. 14 – Vida de Fakla Haymanot, pelo Padre Manuel de Almeida. Lisboa, 1899. 26 págs. 15 – Vida de S. Gregório, Patriarca da Arménia. Versão etiópica. Lisboa (?), s. d. (1900?) 42 págs. 16 – Canção de Galavdevos, rei da Etiópia. Texto e versão, 1898. 14 págs. 17 – O Elefante em Etiópia. 1898. 18 – Três artigos na Revue Semitique. Sem data. 19 – Conversão de um rei da Índia ao cristianismo. Homília do Arcanjo S. Miguel por Severo, arcebispo de Antióquia. Estudo crítico. Lisboa, 1900. Dois folhetos de 31-4 págs. 20 – Légende Grecque de L’Homme de Dieu Saint-Alexis. Extrait des «Analecta Bollandiana», tome XIX (1900). Bruxelles. 8.° de 13 págs. 21 – O Náufrago. Conto egípcio. Coimbra, 1901. 23 págs. 22 – Ode III do poeta grego Bracchylides. 1902. Saiu no Instituto. 23 – Santos mártires de Marrocos. 1902. Saiu na Revista Lusitana. 24 – Martírio de Santa Emerayes (Anna Heraci). Versão etiópica e texto litografado do autógrafo do autor. Lisboa (?), 1902. 22 págs. 25 – Vida de Santa Maria Egípcia. Versão etiópica segundo o manuscrito oriental 668 do Museu Britânico. Lisboa, 1903. 8.° de XII-43 págs. Texto etiópico. 26 – Martírio do Abba Isaac de Tiphre. Versão etiópica segundo o ms. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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eth. n.° 179 de A. d’Abbadie. Lisboa, 1903. Texto etiópico. 16 págs. Desta obra saiu uma versão de 22 págs. publicada em Coimbra no mesmo ano. 27 – Vida de S. Paulo de Tebas. Versão etiópica. Lisboa, 1903. 16 págs. Desta há uma tradução publicada em Coimbra em 1904 de 70 págs. É uma separata do vol. 51 do Instituto e o título exacto é: «A vida de S. Paulo; primeiro eremita segundo a versão etiópica». 28 – Vida de S. Paulo de Tebas, primeiro eremita. Antiga versão portuguesa. Coimbra, 1904. 8.° de 16 págs. É uma separata do vol. 51 do Instituto. 29 – O Castelo de S. João Baptista da Ilha Terceira. Extracto da Revista de Engenharia Militar. Lisboa, 1904. 14 págs. 30 – O Castelo de S. Sebastião de Angra do Heroísmo (Ilha Terceira). Extracto da Revista de Engenharia Militar. Lisboa, 1904. 16 págs. e um desenho. 31 – Vida de Santo Albunafre (S. Onófrio). Versão etiópica. Lisboa, 1905. 26 págs. texto etiópico. 32 – Homília de Proclo, bispo de Cízico. Versão etiópica. (Extrait du tome II des Actes du XIV Congrés Internacional des Orientalistes). Paris, 1907. 20 págs. 33 – Homílias de S. João Crisóstomo na literatura etiópica, Lisboa, 1910. 10 págs. 34 – Homília sobre o baptismo de N. S. Jesus Cristo atribuída a S. João Crisóstomo. (A primeira, segundo a versão etiópica). Lisboa, 1910. 11 págs. 35 – Idem (Homília 1.a). Lisboa, 1911 (texto etiópico). 7 págs. 36 – Idem (Homília 2.a). Texto e tradução. Lisboa, 1911. 11 págs. 37 – Homília sobre as bodas de Caná da Galileia, atribuída a S. João Crisóstomo. (Texto e tradução). Lisboa, 1911. 17 págs. 38 – Patrologia Orientalis. Tome IX, fasc. 1. Le livre de Esther (Version ethiopienne). Paris, 1911. 56 págs. 39 – Estímulo de amor divino (Infante D. Fernando). 1911. 40 – O livro de Toblas. 1911. Saiu no Instituto. 41 – Tratado sobre certas dúvidas de Navegação, pelo Doutor Pedro Nunes. (Extracto da Revista de Engenharia Militar). Lisboa, 1913. 29 págs. 42 – Inscrição de Dário, o Grande, rei da Pérsia no rochedo de Bisutun (Estudo). Coimbra, 1913. 8.° de 63 págs. 43 – Instruções relativas à disposição e construção de quartéis. Lisboa, 1913. 149 págs. (Saiu na Revista de Engenharia Militar). 44 – Duas homílias sobre S. Tomé, atribuídas a S. João Crisóstomo. Estudo de crítica literária, Coimbra, 1914. 34 págs. Texto e tradução. 45 – Trovas de Luiz Anrriguez a hûa moça. Nota lida à 2.a classe da Academia das Ciências de Lisboa. Coimbra, 1914. 16 págs. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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46 – Nux (a nogueira), elegia atribuída a Ovídio. (Estudo). Coimbra, 1914. 30 págs. 47 – A divisa do Infante D. Henrique. 1914. 48 – Um verso de Petrarca nos «Lusíadas». 1914. 49 – Nota acerca do idílio de Teócrito «Os ceifeiros». 1914. 50 – Rerum aethiopicarum scriptores occidentales inediti a saeculo XVI ad XIX, curante C. Beccari. Romae, 1903-1912. Coimbra, 1914. 51 – A poesia etiópica. Comunicação feita à 2.a classe da Academia das Ciências de Lisboa. Texto e tradução. Coimbra, 1915. 8.° de 27 págs. 52 – O livro do «Pastor Hermes», citado por G. E. de Zurara. 1915. 53 – Francisca de Rimini. Episódio do Inferno de Dante e suas versões em língua portuguesa. Coimbra, 1915. 8.° de 30 págs. 54 – O anel de Policrates. Estudo de crítica literária. Coimbra, 1915. 22 págs. 55 – Crónica da tomada de Ceuta por El-Rei D. João I. Composta por Gomes Eanes de Zurara. Coimbra, 1915. 40 de CXV-343 págs. 56 – A crónica do Condestabre de Portugal, D. Nuno Álvares Pereira. 1915 57 – As comédias de D. Francisco de Sá de Miranda. 1915. 58 – Nota sobre «Carta de El-Rei D. Afonso V a G. E. de Zurara». 1915. 59 – A história de Barlaam e Josaphat em Portugal. 1916. 60 – O Rei de Thule (bailada de Goethe). Estudo de crítica literária. Lisboa, 1916. 30 págs. 61 – A vingança de Agamenon – Tragédia de Anrrique Aires Victoria. Nota de história literária. Lisboa, 1916. 8.° de 15 págs. 62 – O livro do Profeta Amós e a sua versão etiópica. Estudo literário. Coimbra, 1917. 65 págs., texto e tradução. 63 – História do Oleiro Vrihaddyuti. 1918. 64 – Dois idílios de Teócrito (XVI e XIX). 1918. 65 – O canto terceiro de Buddhacarita (Poema Acvaghosa). 1918. 66 – Yugavarga (Estudo de sânscrito). 1918. 67 – A vingança de Agamenon. Tragédia de Anrrique Aires Victoria, conforme a impressão de 1555, publicada por ordem da Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa, 1918. 118 págs. 68 – Auto do Físico por Jerónimo Ribeiro. Conforme a impressão de 1587 e publicada por ordem da Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa, 1918. 73 págs. e uma de registo. 69 – Livro da montaria, feito por D. João I, rei de Portugal, conforme o manuscrito n.° 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa, publicado por ordem da Academia das Ciências de Lisboa. Coimbra, 1918. LXV-465 págs., mais duas de correcções e seis estampas. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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70 – Oração fúnebre de Hiperides. Estudo histórico e literário. Coimbra 1919. 29 págs. 71 – O Rei de Thule (bailada de Goethe). Estudo de crítica literária. Coimbra, 1919. 16 págs. 72 – Auto das regateiras de Lisboa, composto por um frade Lóio, filho de uma delas. Lisboa, 1919. 34 págs. e mais uma de registo. 73 – Le troisième lîvre de Azrá (version ethiopienne éditée et traduite en françois, dans la revue Patrologia Orientalis). Paris, 1919. 98 págs. 74 – O descobrimento do Tibete, pelo Padre António de Andrade da Companhia de Jesus, em 1624, narrado em duas cartas do mesmo religioso. Estudo histórico. Coimbra. 1921. 137 págs., mais uma de índice e outra de erratas. 75 – Três odes de Safo e traduções em língua portuguesa. 1921. 76 – A lenda da mãe morta que amamenta o filho récem-nascido. 1921. 77 – Uma carta marítima do século XV e o descobrimento do Brasil. 1921. 78 – Tratado da prática de um lavrador com Arsano, rei da Pérsia, feito por Codro Rufo. Coimbra, 1921. 79 – A Mofina Mendes. Gil Vicente. Estudo histórico-literário. Coimbra, 1921. 24 págs. 80 – Viagem nos mares da Índia no século V. Estudo histórico. Coimbra, 1921. 38 págs. 81 – Cartas de Amerigo Vespucci, acerca das ilhas novamente descobertas nas suas viagens. Tradução do italiano. Separata do «Boletim da Sociedade de Geografia». 1921. 33 págs. 82 – A Bhagavad Gîtâ. Tradução sumária em português por um autor anónimo do século XVII. Coimbra, 1922. 34+1 pág. 83 – Conversão da meretriz Vâsavadattâ (lenda búdica). Estudo literário. Coimbra, 1922. 34+1 págs. 84 – Marco Paulo. O livro de Marco Paulo. O livro de Nicolau Veneto. Carta de Jerónimo de Santo Estêvão. Publicado pela Biblioteca Nacional em 1922. XIV-192 págs. 85 – Elogio histórico de Freitas Moniz lido na Academia. Lisboa, 1922. 23 págs. 86 – Nota a uma passagem da Crónica da tomada de Ceuta. 1922. 87 – A árvore triste da Índia. 1922. 88 – Um capítulo na «História da colonização Portuguesa do Brasil», 1923. 89 – Ditos de Jesus. 90 – Le livre de Job. (Saiu em francês na Patrologia Orientalis). 91 – Notas lidas à Academia e artigos publicados no Boletim. 92 – A Ordem de Malta em Portugal. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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93 – Duração crepuscular da tarde do dia 1 de Outubro de 1541, pelo Doutor Pedro Nunes. 94 – O Bastão da capitania da cidade de Ceuta. Sem data. 95 – Morte de Vasco Fernandes de Ataíde na tomada de Ceuta. 96 – Morte de Mateus Pisano em Junho de 1466. 97 – Nota acerca de um notável santo muçulmano Abilabes, que foi grande doutor entre os mouros, extraída do livro Le Marroc Inconnu. 98 – Regimento de guerra, que fez Martim Afonso de Melo, guarda-mor de D. João I. 99 – Os portugueses em Maçuá. Saiu no vol. IX da Revista das Ciências Militares. 100 – História do imperador Vespasiano. 101 – Data do nascimento de Gomes Eanes de Zurara. 102 – Çala-ben-Çala, último governador de Ceuta. 103 – Comunicação acerca duma cópia feita por Zurara de dois capítulos do Livro da Virtuosa Benfeitoria, do Infante D. Pedro. 104 – Semc u Laquedus ya’egob Gemud, seu Martirum S. Jacobi Intercisi. Tradução do ge’er. Publicado em Paris. 105 – Vie de Saint Marine (texte ethiopéen). Publiée dans l’Orient Chrétien. Folheto sem data. 106 – Visão de Tundalo. Saiu no vol. III da Revista Lusitana. 107 – Homília do arcanjo S. Miguel por Severo, arcebispo de Antióquia. Além destas obras, artigos e notas em revistas da especialidade, e sobretudo nos Boletins da Academia das Ciências de Lisboa, deixou o coronel Esteves Pereira ainda: vários artigos sobre assuntos publicados durante anos sucessivos no Journal Asiatique; manuscritos e notas para a publicação de outras obras, que ficaram inéditas e algumas incompletas num número de oitenta e dois maços ou pastas. Também colaborou nos Subsídios para a história do Teatro português. Homenagem prestada em sessão de 2.a classe de 11 de Dezembro de 1921, na Academia de Ciências de Lisboa, ao ilustre sócio efectivo, o falecido Sr. Francisco Maria Esteves Pereira «O Sr. Presidente disse: – Proponho que na acta da sessão de hoje se lance um voto de profundo sentimento pelo falecimento do nosso ilustre consócio Sr. Esteves Pereira. Perdeu nele a Academia um dos seus membros mais laboriosos, mais sabedores e que mais dedicados lhe eram. O Sr. Esteves versou assuntos muito variados, ocupou-se de muitos problemas de história e literatura, editou pela primeira vez ou reeditou MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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muitas obras; mas o que sobretudo o tornou conhecido e altamente apreciado no estrangeiro foram os seus trabalhos relativos à Etiópia. Foi um dos colaboradores da Patrologia Orientalis editada pela casa Didot, em que o seu nome figura ao lado de muitos orientalistas afamados e em que publicou o texto etíope, com a versão francesa dos Livros de Job, de Ester e o do III de Esdras. Editou além disso com Lazarus Goldtchmidt a Vida do Abba Daniel. Deve-se-lhe também a edição da Crónica de Susenyos, texto etiópico saído dos prelos da Imprensa Nacional de Lisboa. Com estas e outras publicações relativas à história e literatura da Etiópia, livrou-nos o Sr. Esteves Pereira de uma situação pouco airosa entre os que se dedicam aos estudos orientalistas. Sendo os portugueses que no século XVI tornaram a Etiópia conhecida do Mundo Ocidental, havendo tantas obras na nossa língua sobre aquele país, muitas delas mais conhecidas e apreciadas no estrangeiro do que entre nós (e para disso nos convencermos, basta folhear a volumosa colecção de Beccari, Rerum Aethiopicarum Scriptores Occidentales, recentemente publicada na Itália); tendo mantido Portugal relações políticas e religiosas com a Etiópia durante bastante tempo, muito mal parecia que não houvesse entre nós quem se dedicasse aos estudos etiópicos, quem estudasse o interessantíssimo capítulo da nossa actividade no Mundo Oriental. Felizmente o Sr. Esteves Pereira prestou ao País esse valiosíssimo serviço. Oxalá que alguém venha, depois dele, para que se não possa dizer que somos um povo em que se extinguiu a curiosidade intelectual, que nem mesmo o sentimento patriótico consegue despertar. Seguidamente o Sr. Almeida de Eça começou por ler uma carta do Sr. Júlio de Vilhena, que por estar doente não compareceu, mas em que se associava à homenagem. Ele, orador, referiu-se também em termos elogiosos ao falecido, fazendo realçar os seus méritos científicos e literários e aos serviços quer militares quer como engenheiro, prestados pelo homenageado. O Secretário leu uma carta do Sr. Vítor Ribeiro, em que este Senhor, impossibilitado por grave doença, se associava à comemoração, transmitindo à Academia o seu profundo pesar e sentimento pela irremediável perda do seu grande amigo. Em seguida o Secretário (Doutor David Lopes) leu: Associo-me de todo o coração às palavras de saudade e de louvor do Sr. Presidente e de mais consócios. Esteves Pereira foi um trabalhador infatigável. Todos os momentos que a sua vida oficial lhe deixava livres eram para a sua devoção: as letras e a história. Desde 1888, data da sua primeira publicação, a História de Minas, até há poucos meses, quando a doença começou a torturá-lo trabalhou sempre com a perseverança de um beneditino. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Numa terra onde não há senão exuberância espumante e fugaz, ele era uma excepção, um exemplo raro de vontade tenaz. Cultivou o orientalismo, sobretudo; e ali a sua predilecção foi para as línguas semíticas. Todas elas ele conhecia mais ou menos; mas foi na língua da Abissínia que se especializou. Deve parecer estranho que ele fosse tão longe buscar pasto à sua curiosidade. É que o acaso tem, por vezes, papel importante no curso dos nossos estudos. Foi assim que, um dia, na terra da sua naturalidade, Miranda do Douro, encontrou em casa de família antiga uns pratos com umas letras em legenda que ele não conhecia. Que língua seria? perguntou a si próprio. E não descansou até que soube que eram caracteres da língua da Abissínia; e por aí caminhou e tão bem que veio a emparceirar com os que melhor a sabiam. São muito numerosos os seus trabalhos da especialidade. Enumerá-los aqui seria enfadonho. Publicou muitos textos dessa língua, existentes nas bibliotecas da Europa: o mais notável é, certamente, a Crónica de Susenyos, obra famosa, onde se fala dos portugueses, a qual firmou a sua reputação nos centros cultos do Mundo. Colaborou igualmente nas duas grandes colecções Corpus Scriptorum Christianorum Orientalium e na Patrologia Orientalis, nas quais imprimiu, traduziu e anotou textos daquela língua. Foi assim que o seu nome se espalhou ao longe; na sua terra passou sempre e apenas por um excêntrico. Nos últimos anos, já depois dos sessenta, teve a coragem de embarcar para nova aventura. A leitura e admiração dos trabalhos do nosso saudoso consócio, monsenhor Delgado, deu-lhe a tentação de aprender uma língua exótica, de uma família diferente da em que se notabilizava, o “sânscrito”; e o caso é que deu a lume valiosas monografias, baseadas no conhecimento dessa língua; e antes de adoecer, ele estudava e pensava publicar de novo a inscrição da Penha Verde de Sintra, que Vasconcelos Abreu procurava decifrar há anos. Esteves Pereira era um espírito ávido de saber, uma renovação constante; daí a variedade de ramos do conhecimento humano que cultivou. Provam-no as muitas revistas onde escreveu – a Revista Lusitana, a Revista de Engenharia, o nosso Boletim da 2.a classe, etc. Quando a Academia quis celebrar o 5.° Centenário de Ceuta, ele logo se ofereceu para dirigir a impressão da Crónica da Tomada de Ceuta; Malheiro Dias quis que colaborassem na História da Colonização do Brasil: Esteves Pereira acudiu ao seu apelo. À nossa Academia queria muito; prova-o bem o legado dos seus livros; prova-o a assiduidade com que assistia às nossas sessões e com que colaborou no nosso Boletim; e nas funções de tesoureiro o interesse com que MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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tratava das suas contas. Viveu sempre para os livros; não admira, pois, que tanto amasse esta Casa, que é toda ela um imenso livro. Foi o parentesco dos nossos estudos que nos aproximou um do outro, há mais de vinte anos. Todavia nunca as nossas relações foram íntimas: o seu temperamento era frio e arisco e as nossas idades diferentes, para que se pudessem criar laços mais estreitos. Devo-lhe, porém, incitamento e benevolência nos meus projectos; e até a primeira obrinha que escrevi com o meu nome tinha o dele também. Isto obriga-me a não o esquecer na hora do seu passamento. E por uma outra razão ainda: pela minha mão ele foi sócio efectivo. Não devia ser assim, mas inversamente: o acaso quis assim, todavia. No meu parecer só houve palavras de justiça; mas desde então Esteves Pereira olhou para mim com a ternura de que era capaz o seu temperamento: eu lia no seu olhar húmido e acariciador. É por isto que estas minhas palavras são de saudade e também de respeito pelo homem e pelo trabalhador». Francisco Maria Esteves Pereira é um dos escritores bragançanos que maior número de páginas deixou publicadas: perto de seis mil. O primeiro foi Luciano Cordeiro (1540): umas sete mil e quinhentas. Se não inculcasse petulância, pois, e isto é só comigo, sei bem que «não é pela grande orelheira que o burro vai à feira», embora a do irmão-porco, continua a ser comigo, seja apreciável, lembraria que o autor destas páginas já leva publicadas algo mais de seis mil, e, que se chega a imprimir os dois volumes que faltam para completar as Memórias, como as planeei e já tem manuscritos, atinge oito mil páginas. Cópia de uma carta do Conde de Sabugosa a Esteves Pereira a propósito de «O livro do Profeta Amós» «Santo Amaro – Lisboa, 28 de Maio de 1918. Meu Ex.mo Amigo. – Trouxe-me o correio anteontem a “Separata” do Boletim da Academia onde vem o seu estudo intitulado O livro do Profeta Amós e a sua versão etiópica. É escusado dizer o interesse com que li não só a sua admirável explicação prévia, como também a tradução que fez do texto. Nas dezasseis páginas em que V. Ex.a nos dá notícia do que foram os profetas hebreus e a sua influência; quem fosse o profeta Amós, a sua vida, a natureza do seu poema, etc., etc., mais uma vez confirmou e impôs à minha (1540) Ver tomo VII, p. 124 e 147, destas Memórias.
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admiração a alta cultura do seu espírito, a sua grande autoridade como orientalista, e os seus vastos conhecimentos, que o tornam um dos sábios mais respeitados do mundo e uma das glórias mais lídimas de Portugal. Não possuo infelizmente competência para ajuizar das qualidades da tradução. Mas basta-me ter presente na memória a resposta que ao nosso malogrado Conde de Ficalho deu um seu colega de Paris, dizendo “quando um país tem a felicidade de possuir um Esteves Pereira, não carece de recorrer a ciência alheia” – basta-me essa afirmativa para saber que ninguém melhor do que V. Ex.a interpretaria o poema de Amós. Agradeço ter pensado em mim enviando-me a “Separata” e felicito a Academia, que teve a fortuna de ver estampado no seu Boletim uma peça desta importância. Admirador agrad.° – Sabugosa». ESTEVES PEREIRA (José Luís) – Diplomado pelo Instituto de Agronomia e Veterinária; nasceu em Miranda do Douro a 27 de Dezembro de 1850 e faleceu em Lisboa (?) a 17 de Junho de 1908. Casara em Viseu com D. Maria Eugénia do Amaral em 1886, de que ficou único filho José Alfredo do Amaral Esteves Pereira, capitão de infantaria, nascido em 1891. Seus pais vão indicados no artigo Esteves Pereira (Francisco Maria), seu irmão. Fez os estudos liceais em Bragança e Porto e os da especialidade no Instituto de Agronomia e Veterinária em Lisboa, que concluiu em 1882. Seguidamente prestou serviço nas escolas de regentes agrícolas de Sintra e Beja. Em 1884 foi colocado em Viseu como agrónomo distrital. Foi depois exercer igual cargo a Coimbra e em 1887 a Leiria, indo em 1889 para Lisboa, onde se apresentou ao concurso para lente do Instituto de Agronomia, de que nada lhe resultou, porque o concurso foi anulado. Prestou depois serviço em Beja em 1901, passando pouco depois à inactividade, devido à falta de saúde, motivada por uma úlcera no estômago que o vitimou. Publicou: As vinhas Portuguesas e o phyloxera vastatrix. Lisboa, 1889. 98 págs. Era a tese ao concurso para lente. Distribuição das videiras americanas e suas híbridas pelos solos agrícolas de Portugal. Porto, 1900. 185 págs. Colaborou ainda sobre assuntos da sua especialidade em jornais e revistas e deixou vários trabalhos inéditos e apontamentos incompletos, especialmente sobre trigos. Era irmão do orientalista Francisco Maria Esteves Pereira, antecedentemente memorado. Ao grande amigo e benemérito bragançano Padre Ernesto Augusto Pereira Sales agradeço os elementos biográficos colhidos para este artigo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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ETNOGRAFIA [5] É agora ocasião de voltar, como prometemos na pág. 283, à lenda do tesouro de Valverde, escondido na área «que vai da ponta da relha ao pé da ovelha». Esta linguagem, que deve entender-se como parábola e melhor simbólica ou alegórica, encerra um conceito de economia agrícola referente às riquezas promanadas do granjeio pelo revolvimento da terra e pela cultura pecuária: «em gado tratarás e medrarás», diz o rifão popular. O lavrador para ser lavrador, dizem em terras mirandesas, deve ter: Muito mu E muito mé; Pouco cóxe E menos óxe (1541).
No tomo IX, págs. 143, 154, 188 e 492, em dois sítios, referimo-nos a lendas agrícolas pelo teor da indicada acima; na pág. 489 aludimos ao fim moralizador das lendas, e ainda nas págs. 326 e 344 frisamos a circunstância de algumas delas figurarem em episódios literários de obras mundialmente apreciadas. A propósito do gato que os da Mofreita compraram ao pobre por enorme quantia, de que falamos no tomo IX, pág. 266, lembramo-nos de ter lido em Grim, se bem nos recordamos, um apólogo algo parecido. Diz ele que um pai moribundo legou um galo a um dos filhos, a outro um gato e ao terceiro uma foice, advertindo-os de que estas deixas, apesar de parecerem nulas, podiam fazer a sua fortuna, se as soubessem valorizar. Tempo andado, os filhos, magicando no caso, foram pelo mundo e venderam por alto preço, de modo a ficarem ricos: o galo, a uns que não tinham relógio para se regular de noite, servindo-lhe para isso o cantar do galo à meia-noite, ao romper da aurora e ao aclarar da manhã; o gato a outros, que não conheciam tal bicharoco, infestando-lhes conseguintemente os ratos tudo; e a foice a certos parelhos dos da Mofreita na ceifa do cereal. A feição de charros atribuída aos da Mofreita (ver tomo IX, pág. 268) encontra-se na Trácia aplicada aos de Abdera, que se viram obrigados a fugir da sua cidade invadida pelos ratos, tal qual como entre nós por causa das formigas (1542). (1541) Mé, palavra onomatopaica tirada do balar dos ovinos; mu, idem, idem, derivada do mugir dos bovídeos; óxe e cóxe empregam-se para enxotar galinhas e porcos indicando por isso, metaforicamente estes animais. (1542) C HOMPRÉ – Dicionário abreviado da fábula, 1789, artigo «Abdera». A propósito dos povoados abandonados por causa das formigas, ver tomo IX, p. 83, 155, 452, 457, 483, 513, 640 e 708, destas Memórias.
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O caso do trasgo na pág. 344 a responder aos companheiros, vindos em seu auxílio quando gritava de dor: «foi mi mesmo» que me feri, lembra o episódio do canto VI da Odisseia, em que o gigante Polifemo urra aflito com a dor do olho arrancado por Ulisses e diz aos outros gigantes prestes a vingá-lo: foi «ninguém» que me feriu, de onde resultou irem-se embora persuadidos da nenhuma razão que tinha para se queixar. O conto popular do curandeiro da aldeia, chamado a palácio juntamente com todos os médicos conhecidos, para livrar a rainha de um osso alojado na garganta, já tratado ineficazmente pelas sumidades da especialidade e lho arranca, não com o remédio, mas sim pelo froixo de riso que lhe desperta ao esvaziar os bolsos cheios de bulharacos de carvalho no banho aos pés que lhe aplica, anda na lenda cheio de filosofia e de sainete cáustico, bem como na alta literatura de renome mundial, onde o osso está reduzido a um abcesso e os bulharacos a uma mula. Na mesma se narra o conto do macaco, juiz entre dois gatos desavindos a propósito da partilha de um queijo, que mandou dividir ao meio, lançando as duas partes nos pratos da balança da justiça e procurou igualá-las a dentadas sucessivas na mais pesada, até que os gatos, vendo quão pouco restava, para não perderem tudo, acordaram em ficar cada um com a sua; porém o juiz obtemperou: que essas partes eram necessárias para manter a balança da justiça, a fim de julgar equitativamente, e lá ficou com elas, condenando os pleiteantes nas custas do processo; A raposa, juiz no caso do carneiro acusado pelo lavrador de lhe ter comido as galinhas durante a noite, empoleiradas no estábulo do mesmo, e apesar de o carneiro provar incontestavelmente que nem ele nem os da sua espécie eram carnívoros, o condena a pena de morte sob fúteis e insustentáveis conjecturas, ficando a justiça com a carne e dando a pele ao lavrador, anda igualmente na literatura popular e na clássica, a par de tantos e tantos outros que poderíamos citar. Segundo a mesma lenda, a raposa viu-se obrigada a reconhecer, em razão do unânime depoimento das testemunhas, que os ovinos nunca em tempo algum, fossem quais fossem as circunstâncias, haviam sido carnívoros; mas, atendendo ao favorável da ocasião, sofismou ela, e a tratar-se de carne muito apetitosa, sentenciou que bem poderia ter praticado o crime, e por isso julgou como fica dito. No tomo IX, pág. 272, apontamos duas lendas referentes à justiça: de Vinhais, mas pelo distrito não goza ela de melhores créditos populares. A maior aspiração dos pais é que Deus lhe prolongue a vida até deixarem os filhos livres das garras da justiça, ou seja de maior idade, para os livrarem de inventários, que, a propósito de lhes garantir os bens, lhos consomem, deixando-os despidos, sem camisa. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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De onde vieram estes contos tão cheios de filosofia, moralidade, observação psíquica, verve cáustica e fina? São criações da literatura erudita ou produtos do génio popular, evoluindo através da chalaça espirituosa, do adágio, da alegoria, apropriados por aquela? AGOUROS – Tomo IX, pág. 315. O paganismo tinha como mau agouro a fugida da vítima de junto do altar onde estava para ser sacrificada (1543). Em muitas aldeias bragançanas, quando, pelo Natal, se procede à matança dos porcos, também alguns consideram de mau agouro deixá-lo fugir do banco onde o amarram para o matar; todavia, esta crendice não é geral, embora em toda a parte se faça grande surriada e chacota aos matachins, a quem tal percalço sucede, e estes fiquem tristes como sentindo-se vítimas de eminente calamidade. Não se deve queimar lenha de figueira, porque morrem as galinhas da família que tal fizer. Não se deve comer caldo dia de entrudo, porque mordem os mosquitos todo o ano, nem dia de ramos, porque saem bichos no caldo todo o ano. ALCUNHAS – Como se indicou no tomo V, e já fica dito a págs. 261 a 264 do tomo IX e, neste, a pág. 156, no distrito de Bragança as pessoas são mais conhecidas por alcunhas impostas pela voz pública do que pelo seu verdadeiro nome de baptismo. Para exemplo damos algumas destas alcunhas colhidas a esmo por todo o distrito nestes últimos sete anos. Achado no esterco, Bacalhão, Belfa, Borrego, Branqueija, Cabaço, Caborço, Cachaço alto, Cachas, Caché, Cachi, Cachola, Caçota, Cama larga, Cana-rachada, Cana-verde, Canário, Canelas, Canhão, Canhota, Capelas, Careca, Carrelo, Carrina, Carrocho, a, Catita, Catita-Olé, Çaz, Cencedo, Cerrão, Chana, Chichorra, Chiscas, Choca, Chocadeira, Chouriço, Chouriço-de-verde, Clai, Coclas, Coelha, Coelha-branca, Conta Patatas, Contito-e-meio, Costeira, Coxa-cavacos, Demónio, Diabo, Entrudo, Espantado, Estopa, as, Fessura, Fona, Fornico, Fula, Furaca, Furreca, Gadanho, a, Galeguinho, Galo-capão, Ganita, Garez, Gata, Gospa, Grifa, Grilo, Malhado, Manha, Manta-rasa, Melro, Melona, Melra, Mingarelo, Ministro, Miséria, as, Mitra, Montesa, Moquinha, Morto, Morte, Palaio, Pancho, Pandeireita, Papa-ratos, Papão, Papinhas, Parasita, Pardinhas, Paré, Pássara-mona, Passareira, Pata, Patuscadas, Pelado; Perdiz, Per-onia, Picoto, Pingas, Pita-apedrada, Pita, o, Porrinha, Quitona, Raba, Racha, Rachinha, Rata, Rata-o-queijo, Réculo, Reitora, Richo, Rompe, (1543) NIEUPOORT – Rituum…, p. 372.
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Ruça, Sardinha, Sete-cabras, Singleira, Socas, Estrela, Tanto Senhora Maria, Ti Zefa-Porra, Tornaz, Trancas, Vírgula, Vinte, Virote, Vista-alta, Xé-Xé, Xéo-Xéo, Xés-mes, Xingla, Zanagrada, Zarranga, Zimbote. Além das referidas alcunhas damos mais as seguintes de que se aponta o significado: Liorna, algaravia que não se entende. Parece que ficou de uns negociantes ambulantes de Liorna, que por aqui andaram fazendo seu negócio haverá sessenta ou setenta anos e resultou do modo de falar na sua língua não compreendida pelo povo. Muxinga, que muxinga esta!, contrariedade, canseira, contratempo que não se esperava. Murio, Murias. Na Paradinha de Outeiro ouvi uma velha dar o nome de Murio aos cortiços das abelhas e Murios aos colmeais. Pacilaina, andar de pacilaina, isto é de um lado para outro sem fazer nada. E fazemos ponto, porque seria um nunca acabar se anotássemos quantas temos registadas nos nossos Couseiros de apontamentos e quantas nos enviaram os amigos Francisco Manuel Fernandes e Manuel Chamorro. Ver adiante o artigo Pedras de Armas, onde, a propósito das dos Cortiços, se diz algo da maledicência popular e da explicação das fortunas. Já agora, para ajuizarmos da fecúndia léxica bragançã (1544) damos os seguintes documentos:
SOLEDADES DAS NOSSAS TERRAS Eu fui um pegulho atriganado, Um pinalho, um piléu, um zabado!... Deitando a canhota a um carolo, Pinchava p’ra cortinha, e o miolo Migava-o às pitas e marrecos E partia a côdea pelos recos... De inverno brincava ao carambelo, E quando me sentia engaranhar Corria para o lume a quentar;
(1544) Ver sobre o assunto os artigos Toponímia, p. 173 e seguintes; Cancioneiro, p. 347; idem no tomo IX, p. 246 e seg., além de várias passagens isoladas por toda esta obra. Ver também a Ilustração Trasmontana, (1908), p. 96 e 36 onde se publicou um Glossário Trasmontano. Há anos, a pedido de Óscar de Pratt, mandamos para a projectada Academia de Ciências de Portugal uma grande colecção de palavras populares bragançanas; ignoramos o destino que lhe deram [6].
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Espalhava a lenha, fustos, guiços, Cabalava a talha dos chouriços… Rascava lumes prontos; bulia Enquanto no lar à mão eu via, – Nas trempes, nos lares, no ranhadeiro, No canhoto do estrefogueiro, No badil, caçoilas, azeiteira; Rachava as pichorras na pilheira… Se via a paqueta arrenegada Dava-lhe na fuça uma orelhada... Mas se da mais velha, que era a moça, Às vezes apanhava uma coça, Saltava pr’o escano ia-me às nenas Das minhas manas inda pequenas, Bufava-lhes choinas e muchenas, Tirava-lh’os olhos e os braços, O que me rendia alguns cachaços... Parti covilhetes, gomis, malgas. Com socas, chinelas ou sapatos Levei muito açoite nestas nalgas Por cachanetas calçar ós gatos... À-certa-com-fita, fui zabado, Andava quase sempre esmoucado; E esta cabeça com tanto tombo E boibas e rachas... era um bombo! Região onde se fala assim, Que vai de Miranda até Mondim E de Mesão Frio até Vinhais, Que mil fontes tem ou inda mais Do saboroso vinho do Porto, À certa não faz figura de urso; E também não é um país morto... Com seis lindas terras no Concurso!... (1545). ALEXANDRE DE MATOS
(1545) O Trás-os-Montes de 1 de Abril de 1926.
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QUADRO RÚSTICO NUMA ALDEIA TRASMONTANA Arranjo de termos regionais – Concelhos de Macedo de Cavaleiros e Mirandela MANHÃ DE INVERNO
Os marranchos, trepando no cortelho, estremunharam-me, erguendo-me do catre e deixando a xarega ó luzir da boieira que mal se lubrigava por causas do sinceno. In mentes a carambina se amaciava, fui até à cucainha ver as canhonas e os richelos. Busquei um guilho para embarrar a véstia que me embaraçava, para desimpecer o paquete de uma gabela de guiços é ós pois ir tocar a cria. Trepando cos socos no carambelo arribei à cortinha, onde topei a ti Veterana com dois raparigos, ó rebusco. A gândula já tinha uma abada e o Intônho acogulou o cestêco e já mordicava o carolo, talhando passocas e terricando as carabunhas. Précurei pelo pai dos raparigos e dixeram-me q’aquela canalha era filha da curjidade. Atriguei-me dos zôrros em courachas e mandei-os tapar as nalgas, mas os coutadanhos tinham escochado as inaugas e traziam o couro ó léu. Tôda arrenegada, a mãe deu-les uma surra, berrando q’os esnalgava e arrumando-le por serem cochinos. Co esta biaraça nos viramos e tocando um larego que tamêm rebuscava, cheguemo-nos à buraca onde as malgas im riba da banca enxambravam o amuado. Num virote se passaram as coubanhas à pá do bucho, arrebolando d’adrede as curralhas a umas pitanhas e um cibo de chicha. D. CLARISSE BEATRIZ DE MIRANDA LOPO
CENAS DA ALDEIA DIÁLOGO
Preparativos para uma ida à feira – Ó T’Ingelca abice! Carambas! – Que prósmeira mestá!... – Num t’amofines, indês d’horta! Os bancelhos estouraram ó arrochar a carga e ando á’manhar êste imporêm! – Oh! Carambolas nêles! A q’horas hemos de chigar ó adjuto da feira! – Num t’inraibe Zufina, que num paga a pêna! Que biaraça te dêu! Inda num botei a chiba a retouçar nos chargoaços, mas ó passar na urreta do Lombo fica lá amarada ó toro dum castinheiro. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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– Pois bá! Dezimbencelhe essa increnca e zápe-la im riba! Ó tempo qu’a Marquinha da ti Zabela tocou a jimenta – co’a sua licença – tôda gerigôta! – In mentes talhei inteadamente as pabias, deitei os bêis ó pasto, tornei o inbude à Zefa Aleixa – tudo d’áfeito – e bomecê inda ó recolhido... – Por tantinhas, num fiquemos trazeiras do rancho da mocidade, e ir sóa c’os ranhotos num stou pr’aí birada! – Bai tudo d’áfeito, Zufina, num te réles! Num cibinho s’amanha a tenda! Bê s’inchergas quem bai ó Rebolão a zupar com tanta gana p’la barreirinha arriba?! – É a cria do ti Celestrino. Tocou-a o filhastro da genra e já se esgueiram todos na grande. – Qu’afinalmente, as bêstas já estão acomodadas e na taleiga bai uma parba cum cibo de chicha e bôla e ós pôis lá merquemos outro petisco d’adrêde e ajeitemos um enredinho pr’ós zurrecos da ti Questódia! – Ai! Que risa!... a ti Custância pinchou-se da burra abacho e escachou a belância em duas métades!... – Tamêm o dianho da burra pr’ó que l’abia de dar... – Olhe, sôra Custância, agora o romédio é arrebanhar as carabunhas e arrebolar c’o resto – qu’está tôda emboldregada. E bamos indando... Por poucas num adrega dar cabo do canastro!... Inda ó menos num fez grande maçadura e só inchostrou o jaleco na bosta! Qu’isto onde quéra se dá cabo do cadable!... – Nós ambas e duas fumos tardegas, ti Ingelca, mas, ó menos a nobedade bai se arrelampar co meu bantal, e olhe que já o merquei co ganho que me deu o renóbo dos abrunceiros. – Bomecê num sabe: Oh! raibas pró home da ti Carbalheta!... pinchou-se da escaleira abacho e fez um pulmão na testa co sei lá! É da grandura dum chichorro e cuma bolotra nascida do lado! Oh! maralhou! Qu’imboutado m’está! – Chó cá! Bota cá o machico! Olha que pincha dêu nas erbeiras do lameiro de secadal da ti Pereirinha! E agora a imboligar-se, o aldrúbias! Raibas nele!... – Atão, ti Ingelca, dê-le pra diante qu’inda emos dagarrar a dianteira pró despois chigarmos a bêr os potriqueiros às pinchas carneiras... – Dê-le bomecê na jimenta qu’a mim me fai estrobo esta sóca! Está-me apurada de geito que já o dedo méminho me criou uma bujega e stou a bêr que se m’incherta, o mofino. – T’arrenego prás pressas! Cuidas que m’ingrôlas? Tens o mandongo à sucapa... mas comigo nuna pregas! – Bô, pois eras! O home nem siquera pra mim tem baloria de cinco MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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reis. O galafate que me binher deitar o pé em ramo berde, digo-le logo: Cós – qui que ferbe a auga! Pés só de pórco... e êsses bem cosidos – bem delidos cá prá góla... E... ora bá às rabas... Num me esteja a quezilar qu’eu, como sou piquena, já tenho os boches ó pé da boca... D. CLARICE BEATRIZ DE MIRANDA LOPO Em consequência de quanto fica dito, apostilamos o seguinte: ALMAS PENADAS, ALMAS DO OUTRO MUNDO, ESPÍRITOS MALIGNOS. Tomo IX, pág. 316. Os romanos acreditavam que as almas erravam sem descanso, convertidas em fantasmas e maus espíritos, ocupadas na perseguição e tormentos dos maus também e nunca dos bons (1546), cujas almas, depois de mortos, se convertiam em espíritos benéficos, protectores das pessoas de bem (1547), gozando nos Campos Elísios de eterna mocidade e ventura na companhia de amigos e parentes. Pelo contrário, os maus sofriam no Tártaro o castigo dos seus crimes (1548). Destas concepções virá a crença popular nas almas penadas. BAPTIZADOS E CASAMENTOS [7] – Em muitas partes desta obra demos conta de várias superstições correntes no povo (1549); agora adimos as seguintes, colhidas em Baçal: não se devem baptizar duas crianças na mesma água, porque a segunda baptizada não vai por diante; morre antes de tempo ou põe-se chocho, chabasco, Matias, parvo. A água para o baptizado deve levar-se com todo o cuidado sem a esvaziar do vaso, por ir mui cheio ou a deixar arramar, nem o pousar no chão, do contrário a criança fica babosa. Nos cultos de Vesta usavam-se vasos terminados em bico no fundo, para não se poderem segurar de pé e pousar na terra, a fim de evitar que a água se arramasse, coisa proibida pela respectiva liturgia (1550). Possivelmente daqui deriva a crendice acima apontada. Como é inesgotável a documentação científica arquivada na lenda popular (1551), apodada de superstição estúpida pelo riso escarninho, quando, afinal, este devia antes chorar a própria ignorância, pois é através dessa lenda que a ciência do passado vem até nós, envolta em formas de encantos mil para quantos conseguem achar a solução dos problemas que encerra. (1546) R ICH – Dictionnaire…, artigo «Larva». C HOMPRÉ – Dicionário abreviado da fábula, artigo «Larvas». (1547) RICH – Dictionnaire…, idem. CHOMPRÉ – Dicionário abreviado da fábula, artigo «Lemures». (1548) Idem, artigo «Umbrae». (1549) Ver tomo II, p. 149 a 151, e tomo IX, p. 378. (1550) RICH – Dictionnaire…, artigo «Futile». (1551) Acerca do seu valor, ver tomo IX, p. 380, destas Memórias.
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A portadora do neófito deve levá-lo e trazê-lo sempre no braço direito; entrar com o pé direito em casa; deitá-lo, sem lhe despir o fato do baptizado, no berço e fazer com que durma; do contrário ficará sempre chorão e mau. Entre os romanos e gregos vogava a crença num berço especial onde se deitavam as crianças, a fim de serem ricas e felizes. Júpiter, Mercúrio e Baco foram deitados em berços desta especialidade (1552). Entre nós ainda o rifão popular lembra: «entrar com o pé direito», para significar o bom êxito das pessoas. Os romanos tinham como mau presságio entrar numa casa com o pé esquerdo, e chegavam a ponto de construir as escadas só com degraus ímpares, porquanto, como naturalmente se inicia a marcha com o pé direito, sempre este era o primeiro a entrar em casa (1553). Numero impare Deus gaudet (1554). A mesma crendice se aplica aos cônjuges no regresso a casa depois do casamento. Em geral, por todo o distrito de Bragança dizem às crianças, quando nasce alguma, que a mãe a foi buscar, trouxe ou mandou vir do Porto numa canastrinha E que os meninos que andam na mão com tições de lume acesos mijam na cama. CASAMENTO – Tomo IX, págs. 242, 304, 314, 316 e 321. A 15 de Junho de 1936 fui à Moimenta, concelho de Vinhais, fazer o casamento de António Maria, membro da família do meu amigo João Inácio Morais, com Gracinda de Jesus Rodrigues, de que foram padrinhos Salvador Nunes Teixeira, Governador Civil de Bragança, e sua esposa D. Luísa Dias Furtado Teixeira, e observei lá esta singular usança, que nunca vira. No regresso da igreja a casa, organizaram-se três arcos armados em galhardete com lenços de seda, cordões de ouro e flores; duas raparigas sustentam cada arco pela extremidade e, marchando a par, seguem debaixo dele os nubentes, os padrinhos e o padre celebrante do matrimónio. Não armam talanqueiras nem pedincha de dinheiros para Nossa Senhora, como noutras terras, mas à porta dos recém-casados atiram-se amêndoas ao ar para o rapazio, distribuem-nas à cortesia pela outra gente, bem como pão e vinho. Estas amêndoas têm virtude casamenteira, mas devem ser só três e comidas «trás-da-porta» com um pé no ar. Disseramme que o uso dos arcos vigorava em outras aldeias vizinhas.
(1552) RICH – Dictionnaire…, artigo «Vannus», 3. (1553) Ibidem, artigo «Gradus», 2. VASCONCELOS , J. L. de – Etnografia Portuguesa, vol. II, p. 245. (1554) VIRGÍLIO – «Eccloga, VIII».
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Diz D. Maria Peregrina de Sousa (1555) que em Miranda do Douro, quando uma rapaza está para casar e se encontra, por acaso, com o raparigo, seu noivo, este lhe dá uma grande sova de murros, e socos, ao que ela corresponde na mesma moeda. O caso não é de tanta admiração como parece, pois há criaturas que, ao encontrar e cumprimentar pessoas amigas, sentem especial satisfação em lhe dar palmadinhas, lambadazinhas, sacudidelas, apertões de mão, carinhosos sem dúvida, mas que magoam incontestavelmente, e os beliscões até deitar sangue muitas vezes, são correntes entre os brinquedos dos moços e rapazas, ainda mesmo quando namorados. Também os lidos em zootecnia sabem que muitos animais – gatos, porcos, etc., por exemplo – mordem as fêmeas a ponto de as fazer gritar, ou lhe dão focinhadas, lançando-as por terra muitas vezes, durante os prologómenos do noivado. Nestes termos, não admira que o homem, animal por excelência, se manifeste amorosamente por forma tão estúpida. De resto, o masoquismo, ou seja o prazer nos sofrimentos causados pelo amor ou pelos amantes, é facto constatado pelas ciências psiquiátricas. A duas mulheres já nós ouvimos dizer que sentiam especial satisfação quando os maridos as espancavam. Não se trata do caso de Ovídio – amantium irae sepe redintegratio amaris est – mas sim de idiossincrasia típica, dita masoquismo. Segundo a lenda popular, ao padrinho (dão este nome ao indivíduo que serve de testemunha no casamento) pertence-lhe dormir com a nubente na primeira noite de núpcias. Este modo de falar é, possivelmente, vestígio do direito de Marcheta (1556), que data de remota antiguidade e veio até nós sob o nome de Osas, embora algo atenuado. Ver tomo IX, pág. 393, onde se apontam as terras que as pagavam. O topónimo Osas e equivalentes, apontado no mesmo tomo págs. 169 e 231, estará indicando a mesma origem ou seja uma forma atenuada da primitiva marcheta, onde o direito do senhor da terra a dormir com a nubente na primeira noite de núpcias se converteu em pensão a dinheiro. É possível, porque o povo só tem conseguido o direito de ser gente, emancipando-se pouco a pouco de tutelas de besta de carga, a poder de lutas ingentes. Os grandes só alçam a garra quando abocam posta segura, compensadora da que largam. As dispendiosas licenças e alcavalas que ainda hoje incidem sobre o casamento filiar-se-ão, em certo modo, na primitiva marcheta. (1555) Nota 37 aos Fastos de Ovídio, tradução de Castilho, 1862. (1556) VITERBO – Elucidário, artigo «Osas».
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Loas cantadas num casamento no concelho do Mogadouro, por duas raparigas, que à saída da igreja seguravam uma talanqeira: 1.a – Acheguem-se atrás senhores Não tenha pressa ninguém: À uma é cortesia, À outra parece bem. 2.a – Donde vens ó minha amiga Eu te fui a procurar? Não estavas em tua casa, Onde te vim encontrar! 1.a – Donde vens ó minha amiga Com uma cor tão magoada? Já no rosto se te conhece Que és mulher casada. 2.a – Onde te vim encontrar, Foi às portas da igreja, Ao lado do teu marido, Por muitos anos o seja. 1.a – Ó senhor padre António, Padre desta freguesia, Fez hoje uma prisão Feze-a com tanta alegria! 2.a – Por muitos anos o seja, Seja para boa união; Olhai se reparais bem Que vindes de dar a mão. 1.a – O padrinho e a madrinha, Que vos estão a acompanhar, Parecem estrelas brilhantes Que vos estão a alumiar. 2.a – Olhai se reparais bem No que hoje fostes fazer: Olhai que não é cálice de água Que se acabe de beber. 1.a – O teu pai e a tua mãe, Bem tristes os vais deixar, Tinham uma linda açucena E deixaram-na tirar. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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2.a – Fostes à mesa sagrada Com prazer e alegria, Receber o pão dos anjos, Fruto da Virgem Maria. 1.a – Com isto não digo mais, Não os quero demorar; Os noivos estão em jejum Precisam de ir jantar.
CEGONHA – Ver tomo VIII, pág. XVI, e tomo IX, págs. 315 e 552, destas Memórias. A cegonha goza de considerações totémicas no conceito do povo. Em Junho de 1910, excursionando por terras mirandesas e confinantes, vi em São Juanico uns rapazes levarem à ponta de alto negrilho uma canastra a fim de amparar os cegonhicos no ninho, que se tinha esbarrondado. As cegonhas aparecem pelo São Brás (pág. 39 em nota) e retiram pelo São João. Em terra de Miranda cantam-lhe quando se vão embora: Cigonha barreinha, La casa se te queima, Los filhos se te vão Pa la tierra del pan Manda-le uma carta Qu’elhos volvirão.
DISTRITO DE BRAGANÇA, SOB O PONTO DE VISTA AGRÍCOLA – No tomo I, págs. 39 e segs., falamos de antigas divisões populares de algumas terras do distrito de Bragança baseadas mais ou menos em razões hidrográficas e orográficas. Agricolamente o povo divide o distrito em Terra Quente e Terra Fria, caracterizadas: aquela pelo predomínio da oliveira e esta pelo do castanheiro e batata. Pertencem à Terra Fria os concelhos de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro e a parte norte dos de Mogadouro e Macedo de Cavaleiros. E à Terra Quente os de Mirandela, Vila Flor, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta e a parte sul dos dois acima mencionados. Mas, como há zonas encravadas de Terra Quente na Terra Fria e vice-versa, alguns concelhos subdividem-se em Terra Quente e Terra Fria. Assim, no de Miranda do Douro pertencem à Terra Quente as povoações de Paradela, Aldeia Nova, Miranda do Douro, Cércio, Freixiosa, Vila Chã de Braciosa, Picote e Sendim, todas na margem do Douro, bem como Atenor, Teixeira, Palaçoulo, Silva e Granja, que, embora afastados do Douro de dez a quinze quilómetros, produzem algum azeite. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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No mesmo concelho pertencem à Terra Fria, também dita in loco, serra ou planalto: Duas Igrejas, Genísio, Malhadas, São Martinho, Póvoa, Ifanes, Cicouro e Constantim. No concelho de Carrazeda de Ansiães ouvi chamar Povoações da Ribeira às situadas nas margens do Douro e Tua, onde se colhe azeite, e Povoações da Serra às do planalto, produtoras de castanha e batatas. Estas abrangem as freguesias de Amedo, Belver, Carrazeda de Ansiães, Fonte Longa, Lavandeira, Marzagão, Mogo de Malta, Parambos, Samorinha, Seixo de Ansiães, Selores e Zedes. E aquelas as de Beira Grande, Castanheiro, Linhares, Pereiros, Pinhal do Douro, Pinhal do Norte e Vilarinho da Castanheira. No concelho de Chaves também ouvi chamar Povoações da Serra às do planalto, no extinto concelho de Monforte de Rio Livre, onde predomina o castanheiro e a batata, e Povoações do Vale às marginais do Tâmega, que produzem azeite. Há tempos escrevíamos no Trás-os-Montes (1557) o seguinte: «Chegaram hoje (16 de Março) as andorinhas a Baçal, concelho de Bragança. Diz o ditado popular: pelo São Brás (3 de Fevereiro) cegonha verás e andorinha pelo São José (19 de Março). Convém notar que vai em mais de quarenta anos que a cegonha aparece em meados de Janeiro e a andorinha em princípios de Março. A demora deste ano proviria dos vendavais, pois já em meados de Fevereiro se viu no sul do distrito de Bragança, e não obstante tratar-se da região chamada Terra Quente, segundo a divisão popular, quinze ou vinte dias bastariam para acharem temperatura adequada à sua vida, se os aguaceiros entremeados de nevascadas e ventanias não obstassem. Em 1549 assinala Barros (1558) o início da cultura olivícola em Mirandela que fica a sul do distrito de Bragança, donde veio subindo lentamente, qual ave migratória, e hoje já ao norte do distrito é apreciável essa cultura. Sabe-se que há zonas quentes encravadas na Terra Fria e vice-versa, mas Bragança não está nessas condições, e tendo apenas há quarenta anos umas dúzias de oliveiras, mais como curiosidade florestal do que como elemento produtor, já hoje, por si e pelos povoados vizinhos em igualdades deficitárias, sustenta dois lagares em laboração permanente durante dois a três meses». [8] DUAS PANELAS – A lenda das duas panelas, uma de oiro e outra de peste, mencionada no tomo IX, págs. 326 e 489, bem como a tão frequente nos contos populares, onde figura uma caixa ou boceta, entregue sob condi(1557) Ver p. 39, nota 1. (1558) Ver tomo IX, p. 472.
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ção de se não abrir, que depois acarreta desgostos e males ao transgressor da proibição, relacionar-se-á com o caso de Aglauros e Pandroso, vítimas da sua curiosidade, por abrirem o cesto dado por Palas, e com a boceta de Pandora, de onde saíram todos os males flageladores da terra (1559)? FEITICEIRAS – Tomo IX, pág. 360. O paganismo acreditava em espíritos malfazejos do género feminino, que vagueavam de noite, chupando carne e sangue das pessoas, crianças principalmente. Esta crendice veio do Egipto (1560) e nela se filiará em parte a dos nossos feiticeiros, bem como nas ideias ligadas aos Antiteos, Incubos, Palamedes, Neuros e Súcubos (1561). No mesmo tomo, pág. 382, referimos a lenda das feiticeiras que vão bailar para o sítio da Carreira do Cavalo, no termo de Aveleda, montadas nos vassouros de varrer os fornos. A fábula diz-nos que Abaris recebeu de Apolo, além do dom de adivinhar, uma seta sobre a qual voava montado (1562). No mesmo tomo, págs. 381, 384 (em nota), 385 e 386, aludimos a uma modalidade das feiticeiras atinente a pregar enganos e sustos, mais ou menos engraçados, sem fins maléficos. Contou-nos o amigo A., mencionado na pág. 365, que certa noite, já tarde, indo regar um seu lameiro, passou pelo Couto de Aveleda, espessa mata de sardões, e ouviu mesmo à beira do caminho berrar uma cabra, que lhe pareceu ser a que tinha em casa parida. Foi ao sítio, mas o animal já berrava mais adiante; seguiu, e da mesma forma as berradelas afastando pouco e pouco por detrás dos carrascos até que se convenceu de que aquilo não era coisa boa e regressou ao caminho para recolher a casa, já um pouco assustado. A cabra foi sempre acompanhando a par dele, mas metida no mato de maneira que nunca a pode ver; porém, ao chegar a Aveleda, voou pelo ar em direcção à Eirixa de Rabal (1563), local afamado pela reunião das feiticeiras, soltando grande esberracadela, terminada numa espécie de risarada escarninha por o ter enganado. Relacionar-se-á esta modalidade das feiticeiras com os maus génios pagãos chamados Antiteos, que se entretinham a enganar os homens e a fazer-lhes pirraças (1564)? FESTAS DE SANTO ESTÊVÃO [9] – Em complemento ao já dito no tomo IX, págs. 291 e segs., transcrevemos o seguinte, que, embora nada acrescente de novo, documenta a expansão da costumeira: (1559) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigos «Aglauros» e «Pandora». (1560) RICH – Dictionnaire…, artigos «Lamiae» e «Saga». (1561) CHOMPRÉ – Dicionário…, a propósito de cada uma destas palavras. (1562) Ibidem, artigo «Abaris». (1563) Ver tomo IX, p. 382, destas Memórias. (1564) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Antitheos».
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«Em Travanca de Macedo, na festa de Santo Estêvão, a 26 de Dezembro, o povo inteiro se banqueteia em comunidade no meio da rua. Logo que se conclui a função da igreja, dirige-se cada um a sua casa, enche um açafate de frutas secas, e com este arranjo vai apresentar-se à porta do mordomo. Ali encontra já armada no meio da rua uma mesa de vinte a trinta metros de comprido, sobre um de largura. O corpo desta mesa é indiferentemente ocupado pelo povo, e a cabeceira pelas pessoas distintas da terra; mas este último costume vai caindo em desuso, ainda que não de todo. À excepção das viúvas, todos devem tomar parte neste festim popular. Depois de reunidos todos os convivas, vem logo a primeira e última coberta, que consta de pães centeios, sardinhas assadas, tremoços e algum vinho. No fim desta refeição, em que se devorou a bagatela de um milheiro ou mais de sardinhas, vem o mordomo com uma laranja espetada numa vardasca e oferece-a àquele que tem de servir no ano seguinte. À noite torna-se a reunir tudo em casa do novo eleito, e é então que se realiza o célebre jogo do frade, em que mais figura aquele que mais estrondo pode fazer com os socos» (1565). «Em Vinhais, na povoação de Vila Verde, realiza-se também a festa de Santo Estêvão, onde se procede à bênção da mesa, costume que vem de tempos remotos. No local destinado àquela cerimónia, está colocada uma mesa, cheia de cabazes de uvas-passadas, figos-secos, nozes, maçãs, fatias de pão e garrafas com vinho. Em volta, aglomeram-se os habitantes da povoação. No meio de grande silêncio, o abade da freguesia benze a mesa, distribuindo em seguida, por todos os assistentes, os frutos, o pão e o vinho, levantando-se louvores a Santo Estêvão e aos reis promotores da festa. A seguir são eleitas pelo povo as pessoas que hão-de fazer o reinado do próximo ano, isto é, o rei da festa, a rainha e o da vara de Santo Estêvão, que terão de distribuir vinhos e petiscos em todos os domingos de Dezembro, até o dia do santo. Nesses domingos organiza-se uma grande festa nocturna à porta do rei, festa essa que tem o nome de Vitório» (1566). FUNERAIS – Tomo IX, págs. 437 a 440. As velas, tochas e cera nos funerais derivam do costume romano primitivo de fazerem os enterros de noite à luz de archotes, de onde o nome funerais. Depois passaram a fazer os enterros de dia e apenas de noite os dos pobres (1567). Novendiale cha(1565) Almanaque de Lembranças para 1867, p. 379, BRAGA, Alberto Vieira – Curiosidades de Guimarães, 1933, p. 50. (1566) Correspondência de Vinhais para o Diário de Notícias, de Janeiro de 1927, B RAGA , Alberto Vieira – Curiosidades de Guimarães, 1933, p. 51. (1567) RICH – Dictionnaire…, artigo «Funus».
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mavam eles ao sacrifício feito pelos mortos ao nono dia (1568) e Ferais aos mantimentos colocados sobre as sepulturas (1569). O costume de dar de comer aos que intervêm nos funerais, aos padres e aos amigos e gente das povoações vizinhas que vem assistir, como dissemos no tomo IX, págs. 437-440, vigora em muitas terras (1570). GALO – Ver tomo IX, págs. 93, 364 e 365. Quando vem alguma visita de categoria a casa, diz o galo velho no seu cantar: – Temos fidalgos em casa? – Quem morrerá? – pergunta o galo mediano. – Xi xerei eu – responde o frango. Completando o diálogo entre o gato e o galo, mencionado na pág. 35 deste tomo, temos mais: em Junho diz o galo no seu cantar: – Esperta rapaz, esperta rapaz! para que mesmo os miúdos não se descuidem da lavrança. GRANDE BASBAQUEIRÃO – Tomo IX, pág. 326. Os romanos concretizaram numa personalidade conhecida pelo nome de Manducus, de grande voga popular, as características do nosso Grande Basbaqueirão. Adefago, que quer dizer, insaciável, grande comilão, é um dos sobrenomes de Hércules, famoso comilão (1571). JUDEUS – Tomo VII, págs. 700, 710 e 711; tomo V, pág. LXXXVII. Juntam-se mais as seguintes pragas colhidas em Bragança: Trabalhosas a cubram, sua loba reles. Se eu lhe tirei os vinte mil réis, à fome eu coma o filho; de noite e de dia sossego não tenha; Vai-te, vai-te embora, e tanto andes que nem a graça do Senhor te apanhe; Tanto te cresça a língua que sirva para estrada nova de todo o mundo e eu que tenha uns socos bem ferrados para trepar por ela; Aos saltos como as aranhas te eu veja esquecido do corpo todo em companhia de tua mulher e dos teus filhos; comas terra e bebas pez, andando com um morto às costas até que fale e com um corno de carneiro no cu até que abrande; Perseguido da justiça te eu veja até que a tua própria sombra te meta medo; (1568) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Novendiale». (1569) Ibidem, artigos «Ferais», «Festim» e «Vítimas», onde se vê que a comezaina entrava como rito funerário e que os sacerdotes recebiam a melhor parte das vítimas sacrificadas. Ver também tomo IX, p. 434 e seg., destas Memórias. (1570) SÁ, Manuel F. de – Breve monografia de Duas Igrejas do termo da Feira, 1936, p. 48. (1571) RICH – Dictionnaire…, artigo «Manducus». CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Addephago».
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Cheio tenhas o corpo todo do que se enche um cântaro de barro para pesar menos (isto é, de buracos); Fulano sempre tem dois cães mui maus! Ora Deus queira que sejam eles os anjos que o levem ao Céu e os sacerdotes que o acompanhem à sepultura. «Em Rebordelo [concelho de Vinhais, terra que passa por conter muito judeu, ver tomo V, pág. 128], ainda há o costume de meter uma moeda na boca do defunto [quando o vão a sepultar], de a família se reunir durante nove dias no quarto do mesmo, em novena, de lhe fazer a cama durante este tempo e de deixar comida na mesa onde foi depositado; se falta alguma porção, dizem: vejam como veio a comer!... Durante nove dias acendem também uma vela no quarto, tendo-se já extinguido o costume das carpideiras, abafadores e de um membro da família se deitar na cama onde se deu o óbito» (1572). Tomo V, pág. CXII. Segundo a lenda popular bragançana, os judeus têm rabo. Este apodo filiar-se-á no conceito da sensualidade, que alguns escritores lhe atribuem, por analogia com os sátiros e faunos, sempre apontados como lascivos e figurados com apêndice caudal, como pode ver-se em qualquer tratado da fábula (1573)? LENDAS – Ver tomo IX, pág. 450. Na serra dos Passos, concelho de Mirandela, há grandes pedaços escalvados devidos ao afloramento da penedia, que ao longe branqueja, divisando-se nitidamente de grande distância, como ossada gigantesca lavada pelo tempo. Segundo a lenda um rei veio até aqui no encalço da filha escapada com um pajem, e, como os não encontrasse na serra dos Passos, onde se embrenharam, lançou-lhe fogo, de onde as clareiras indicadas e a falta de vegetação devida à maldição paterna. A catedral de Santiago de Compostela foi edificada pelo próprio santo à custa de esmolas dadas voluntária ou violentamente pelos galegos. Quando faltava dinheiro e os galegos deixavam de se esportular, saía-lhe aos caminhos e obrigava-os a lançar os maravedis no seu chapéu. Para resistir a tais ataques, viajavam em grupos, mas o santo triunfava sempre. Anos volvidos disse um galego para outro: se dice que murrió Santiaguillo?! Vaia, vaia, tornou-lhe o interpelado, solo se Diós lo mató quando estava durmindo. (1572) MARTINS, A. – Folclore do concelho de Vinhais, 1928, p. 81. (1573) RICH – Dictionnaire, artigos «Calcator», «Chironomia Cultrarius» e «Funambulos».
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Que Diós, ni media Diós! ni cien dioses eran ombres p’ra Santiaguillo! No che acuerdas daquella veze en que ibamos nós ducientos gallegos como ducientos burros hablando que se aparecera entonces lo aríamos en polvo, y al instante vino ello, nos quitó los quartos, como si fueramos niños, y nadie le miró? O lobo comeu-lhe uma vaca com que carreava os materiais e o santo jungiu-o à outra vaca e assim o obrigou a puxar ao carro. Quando, no fim de sete anos, a obra se concluiu, soltou o lobo e este fugiu tão desesperadamente que não parou na área de sete léguas, nem jamais se viu lobo algum no perímetro da mesma. A gente do distrito de Bragança chama à Via Láctea Caminho de Santiago e diz que quem não for a Santiago de Compostela em vida, irá depois de morto (1574). No tomo IX, pág. 455, falamos da lenda referente a um conde estabelecido na serra de Montesinho expulso pelos desta povoação e circunvizinhas por não ter a casa mobilada completamente, pois faltavam-lhe as barilhas. Evidentemente esta lenda deriva do direito do fogo-morto. «Este [direito] assiste ao colono, que havendo roteado a terra brava e inculta, ou que se havia tornado a mato, cortando e queimando os matagais, espinhos e abrolhos, não pode ser expulso pelo direito senhorio daquelas herdades, que com a sua indústria e despesa reduziu a cultura e fez rendosas» (1575). Noutras terras, como no Minho, a tradição dispõe mais que o «foragido, trazendo consigo os utensílios domésticos e um cão, um gato, um galo e uma galinha, tem de levantar numa noite uma barraca de tábuas, de palha e ramos. Pela manhã tudo deve estar feito; o lume aceso, a farinha amassada e o terreno em volta da casa demarcado com um rego. Se a obra for a cabo sem oposição, a posse está tomada» (1576). Outros vestígios do direito consuetudinário de posse pelo sistema do fogo-morto se encontram no distrito de Bragança. Assim, o moinho pertencente à povoação de Carragosa no rio Sabor, termo e pouco abaixo de Rabal, foi planeado por uma mulher, segundo diz a tradição, que fiando na roca, a fim de evitar suspeitas, marcou o sítio da presa, trajectória da agueira e local da moenda. De noite vieram os de Carragosa, tendo já de antemão tudo preparado, e, feita uma barraca de tábuas ou mato e o mais, tinham de manhã o cereal convertido em farinha a esguichar da tremoia
(1574) Esta crença vigora noutras terras. SÁ, Manuel F. de – Breve monografia de Duas Igrejas do termo da Feira, 1936, p. 50. (1575) VITERBO – Elucidário, artigo «Fogo-morto». (1576) BRAGA, Alberto V. – Curiosidades de Guimarães. «Revista de Guimarães», 1935, p. 136.
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para o farneiro, de maneira que Rabal não teve remédio senão aceitar os factos consumados e a moenda ainda hoje pertence a Carragosa. Também a tradição diz que o rego de água que fertiliza Vila Verde, concelho de Vinhais, colhido no termo desta vila, foi tracejado por uma mulher que, fiando na roca e guardando cabras, para despistar, demarcou o trânsito da agueira e o local da captação do manancial. O povo, depois, numa noite realizou a empresa e de manhã a água corria pelos lameiros e hortas de Vila Verde sem contestação possível de Vinhais. O valhico de tras de la casa concedido pelo rei ao Raposo de Malhados, se fosse capaz de o tapar sem oposição do povo numa noite, de que falamos no tomo IX, pág. 265, inculcando está outra reminiscência da posse pelo direito de fogo-morto. A supervivência deste direito de fogo-morto continua vivaz na mente do povo. Da minha lembrança, um vizinho de Baçal mudou de noite a escada da sua casa para a rua, apropriando-se do terreno baldio e o povo acatou os factos consumados, embora ilegais, levado da velha tradição consuetudinária. Mais factos conheço por este teor. LOBISOMEM, lobo da gente – Tomo IX, pág. 326. Os romanos acreditavam que cada pessoa de certas famílias se transformava em lobo e neste estado vagueava durante nove anos, voltando depois à primitiva natureza (1577). Consiglieri Pedroso (1578) diz que, segundo uma lenda colhida em Bragança, o lobisomem pode ser filho da ligação incestuosa entre o padrinho e a afilhada. M ANTIMENTOS AOS SANTOS – No tomo IX, pág. 306 mencionamos o costume existente em Bragança de assentarem Cristo e os doze apóstolos, quinta-feira santa, a uma mesa carregada de mantimentos. A Bíblia fala-nos da comida do Deus Belo (1579). Os romanos tinham um colégio especial de sacerdotes chamados Epulones, encarregados de preparar um banquete para Júpiter e os doze deuses em certas ocasiões de regozijo ou calamidades públicas, pondo os deuses à mesa cheia de iguarias, que os sacerdotes comiam depois (1580).
(1577) RICH – Dictionnaire…, artigo «Versipellis». (1578) PEDROSO, Consiglieri – Tradições populares portuguesas, p. 5. (1579) Daniel, XIV-5 e segs. (1580) RICH – Dictionnaire…, artigos «Epulones», «Lectisternium», «Mensoa e Pulvinar». A propósito de quais fossem estes doze deuses principais e dos outros, que depois se lhe agregaram, ver CHOMPRÉ – Dicionário…, artigos «Consentes», «Novensiles» e «Selecti».
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Noutras partes estas comezainas revestem forma diversa. Assim: «No anno de 1518 convieram os da Camara de Freixo de Espada-Cinta com os trez raçoeiros da collegiada d’aquella villa, que o Ó de vinho e fructa, que se dava ao povo, se desse á fabrica da igreja por estar muito pobre, reduzindo-o annualmente a 5$000 reis» (1581). MEDICINA POPULAR – Tomo IX, págs. 328 a 331. Bichos nos porcos e noutros animais – Na Lombada (1582), para curar os bichos que aparecem nas feridas dos porcos e de outros animais, vão espancar uma erva chamada cachapeiro, dirigindo-lhe ao mesmo tempo impropérios, nomes injuriosos e obscenidades, por este teor: Cachapeiro, cachapeirão, Focinho de porco, cara de cão; Se não tiras os bichos do meu leitão, Tantas porradas te hei-de dar Até que te hás-de secar.
Este o esqueleto da fórmula enquanto malham incessantemente na plantazinha, mostrando-se muito irados, o que é indispensável, diz o nosso informador, substituindo apenas o nome do animal doente e os nomes injuriosos por outros onde entram, corno, malandro, ladrão e o mais que lhes vem à cabeça, durante nove dias, uma vez cada dia, ou (1581) VITERBO – Elucidário, artigo «Ó», que, segundo ele, significa «beberete, merenda, convite, que se dava nas catedrais, colegiadas e mosteiros em cada um dos sete dias antes do Nascimento do Filho de Deus». No tomo IX, p. 343 e 512, tratamos de costumes mais ou menos relacionados com este, usados no Vimioso e em Miranda do Douro. (1582) Fica atrás mencionada uma divisão agrícola do distrito de Bragança, e no tomo I, p. 40, apontamos outra de tipo hidro-orográfico. Deste mesmo género é a que o povo faz do norte do concelho de Bragança em três zonas: Lombada, Baixa Lombada e Além de Água, também dita Serra. A Lombada, antigo Lombo de Carvalhais (tomo I, p. 42, e tomo III, p. 92, destas Memórias), compreende o planalto entre os rios Maçãs e o Pereira, que desagua no Sabor, em Gimonde, abrangendo, além de outras, as povoações de Babe, Deilão, São Julião, Milhão, Rio Frio de Outeiro, etc. A Baixa Lombada fica na bacia ou depressão entre os rios Pereira e Sabor e abrange as povoações de Aveleda, Varge, Sacoias, Baçal e Vale de Lamas. A propósito de Lombada e Lombo, ver p. 127 e 219. Além de Água abrange o planalto e respectivas encostas situado entre o Sabor e o Baceiro. Compreende as freguesias e povoações componentes de França, Rabal, Meixedo, Carragosa, Donai, Gondesende e Espinhosela. Quando lhe chamam Serra, adjudicam a esta as freguesias de Gondesende e Espinhosela com suas povoações componentes, acrescentando-lhe Castrelos, Conlelas, Alimonde, Carrazedo, Melhe, Zoio, Martim e talvez mais alguns, pois nestes acréscimos uns tiram e outros põem. E se povo vem de populus, cuja folha anda em constante flutuação mesmo que não haja vento, nada admira que assim suceda, pois o símile bem claro fala.
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durante três, em triplicada dose. (Ver tomo IX, págs. 269 e 379, onde se referem crendices relacionadas com estas). Recorri aos conhecimentos botânicos de José Manuel de Miranda Lopes, prior de Argozelo, mandando-lhe um exemplar do cachapeiro, e disse-me ser o Senecio Silvaticus de Linneu, planta venenosa que em algumas terras empregam para matar peixes. MULA – A locução proverbial ou alegórica, já referida noutra parte, que diz andarem as mulas sete anos com a pata no ar à espera de oportunidade para darem o coice que há-de matar o dono, encontra-se implicitamente na lenda referente à mula do papa de Avinhão, desenvolvida literariamente num dos contos de A. Daudet e já anteriormente pelo nosso Francisco Xavier de Oliveira, mais conhecido por Cavalheiro de Oliveira. NUNES – No tomo IX, pág. 265, referimos o apodo tocante aos habitantes desta povoação, e agora damos outra versão mais completa do mesmo, colhida ultimamente. Diz ela: – D’onde és, rapaz?– Sou de Nunes; No tempo dos figos não há amigos: A faca vai na burra, Se quere jogar uma luta Saia cá p’ra rua.
Este arreganho no tempo da fruta; porém no inverno: – D’onde és, rapaz? – Sou de Nunca; Uma esmolinha pelo amor de Deus, Que Nosso Senhor lho pagará No reino dos Céus.
Ver na pág. 271 do mesmo tomo o apodo aplicado aos de Soeima. A respeito dos da Penajóia, concelho de Lamego, corre outro algo semelhante ao de Nunes. REMÉDIOS ESTÚPIDOS, CRUÉIS, SELVAGENS, IMUNDOS E OBSCENOS – Uma lesma aberta ao meio viva é grande remédio para cura de certos abcessos. Um lagarto vivo, metido em panela bem tapada, de modo a não poder fugir, e posta no forno até o reduzir a cinzas para com elas esfregar os dentes, é remédio eficaz contra a dor dos mesmos. Os vapores de formigas vivas, deitadas em água a ferver, aplicam-nos para dor ciática. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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A água bebida por um sapato usado, bem impregnado de suores dos pés, é de efeitos maravilhosos nas cólicas. Para o mesmo fim não o é menos o chá de esterco de galinha. O óleo feito com vacas-louras, lançadas vivas em azeite a ferver, é cáustico e revolsivo muito usado. O óleo feito com um cãozinho de leite, rijado vivo em azeite, usa-se para curas reumáticas. A mordidela de alicante cura-se esfregando com o phallus a parte doente. Está-se a ver o efeito, quando se trate de pessoas de sexo diferente, em certas partes do corpo. Muito mais podíamos dizer por este teor, mas basta de horrores assaz justificativos da humana estupidez e selvajaria. No tomo IX, págs. 96, 308, 328 e 359, apontamos remédios populares bragançanos simplesmente ridículos; agora damos uma pequena amostra dos estúpidos e bárbaros. Quando em 1907 soubemos de um cãozinho rijado vivo para cura de certo reumático; quando em 1925 um doente dos dentes nos contou os safanões que o pobre lagarto dava na panela metida no forno, não foi pequena a descomponenda que demos a estes bárbaros, cheio de horror por tais selvajarias. Depois, lemos a Polianteia, 1727, de Curvo Semedo; a Farmacopeia químico-galénica, 1735-1751, de Manuel Rodrigues Coelho, e vimos preconizar remédios, óleos confeccionados com andorinhas vivas, aranhões vivos, cãezinhos vivos (cá está o da nossa terra), minhocas vivas, formigas vivas lançadas em água a ferver (cá está o outro), lacraus vivos, enxúndia de galinha e de cavalo, ossos humanos, esterco de pavão, bosta de boi, urina de menino, sangue humano em banhos (cá está a moderna transfusão de sangue, crismada à moderna estupidificantemente como a farmácia e a medicina soem fazer), e, dada a grande voga a que as obras de Semedo e Coelho tiveram no seu tempo e ainda hoje na medicina popular, ficamos a cismar na sandice que nisto como no mais são as novas ideologias do cacarejado progresso humano. MEDO – Tomo IX, pág. 334. É possível que a crendice no medo se filie na Empusa da fábula, espectro mandado por Hecate contra os homens para os amedrontar. Não tinha mais de um pé e podia tomar todas as formas pavorosas (1583). Em Rabal e outras terras do distrito de Bragança costumam à noite ao benzer a mesa, ou seja, ao dar graças a Deus depois de cear, rezar a São Bartolomeu para que nos livre de amezedos (medos) no corpo e na alma.
(1583) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Empusa».
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MOURAS ENCANTADAS – Tomo IX, pág. 488. A lenda das mouras encantadas, pelo geral em serpentes, podendo ser restituídas à forma primitiva de pessoas no fim de sete anos, relacionar-se-á com a de Tirésias, metamorfoseado em serpente por ter morto uma cobra fêmea e restituído a homem após sete anos, depois de matar uma cobra macho (1584)? É possível, visto as nossas lendas derivarem originariamente das pagãs. P ROCISSÕES – Tomo IX, pág. 289. A propósito das festas celebradas pelos Galos, sacerdotes de Rea ou Cibeles, convém ligar-lhe o referido na pág. 339, respeitante a procissões, e ainda o documento publicado no tomo VII, pág. 762, destas Memórias, onde se refere a costumeira da luta e espancamentos por espírito religioso. Esta costumeira virá dos Galos acima mencionados, pois no dia «que hacian fiesta a sua Diosa [Rea ou Cibele], andaban como locos, y desatinados, y unos con otros contendian, y se acuchillaban, hasta derramar mucha sangre: y quando se veian muy desangrados, acudian á un rio dedicado á esta Diosa, y alli lababan los cochillos, ó estoques, y tambien las heridas, y luego se les restañaba la sangre, quedando sanos, y limpios; y assi los sacerdotes en Roma, quando hacian estas desatinadas, y disparatadas ceremonias, acudian al rio Almon para rernedio de sus heridas, como lo dice Luciano y Ovidio» (1585). Esta cura miraculosa não deve causar estranheza, porque todas as religiões têm os seus milagres, ou como tais supostos, em que os respectivos fiéis crêem piamente. De Cláudia, virgem vestal, acusada falsamente de ter violado o voto, se diz que miraculosamente desencalhou um navio que muitas juntas de bois não haviam podido arrastar, puxando-o apenas com a ponta do seu cinto, fiada na protecção divina da deusa em confirmação da sua inocência (1586). Túcia, acusada do mesmo sacrilégio, apesar de inocente, fiada igualmente na protecção da deusa, encheu um crivo de água no Tibre e levou-o até ao Capitólio, sem verter gota, não obstante estar furado como um crivo (1587). De resto, é enorme a quantidade de lápides votivas a divindades pagãs em reconhecimento de milagres e curas miraculosas atribuídas aos deu-
(1584) Ibidem, artigo «Tiresias». (1585) VITÓRIA, Baltasar de, Frei – Primera parte del teatro de lós Dioses de la Gentilidade, 1737, p. 35. (1586) Ibidem, p. 31 (1587) Ibidem, p. 31, onde se citam vários autores pagãos de renome confirmantes dos dois milagres e até cristãos como Santo Agostinho e S. Tomás.
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ses, existentes nos diversos museus; só no de Bragança há seis, e de mais se dá notícia neste tomo e no anterior. Nem só por esta forma a crença testemunhava aos deuses o seu reconhecimento pela livrança de perigos e curas recebidas, mas também por tabuletas, onde se pintava o deus e em letreiro se explicava o benefício recebido; por objectos de barro cozido, que figuravam olhos, mãos, peitos, pés, ou a parte do corpo doente sarada pela intervenção miraculosa (1588). O mesmo se observa ainda hoje nas igrejas cristãs, vendo-se junto dos altares tabuletas com a imagem do santo e legenda explicativa da cura, esculturas em cera representando porcos, bois ou a parte doente do corpo humano. Também no Museu de Bragança se conservam vários destes milagres, segundo o povo lhe chama, como documentação etnográfica. [10] A crença milagreira estava tão arreigada no espírito pagão, que os lavradores punham nas árvores, em frente dos campos sementados, máscaras de Baco, convencidos de melhor germinação para o fruto onde o deus olhava (1589). RAPOSA – Passada a vindima, a raposa anda espreitando pelas vinhas as galelas e bagos, mas como em breve tudo desaparece, clama triste no seu uivar: Q’anté gudélo! q’anté gudélo! O gudélo é uva pouco saborosa; mas, quando não há trigo, come-se centeio, e, como à boa fome não há mau pão, de bom grado a trincaria se a encontrasse. Diz o povo que quando chove e faz sol ao mesmo tempo, se está a casar a raposa. SANTOS DE CASA NÃO FAZEM MILAGRES – A gente do distrito de Bragança tem muita fé nos santos venerados na igreja paroquial e capela ou capelas da respectiva aldeia, aos quais recorre nos momentos críticos de doenças quer pessoais quer de seus gados ou de outros quaisquer infortúnios, mas é muito maior a votada aos de longe afamados pelos seus santuários, como Senhora da Assunção, da Luz, do Nazo, da Serra, do Tuizelo, etc., e capelas de renome miraculoso. Nem admira: «santos de casa não fazem milagres». Convém notar que estes santuários e capelas estão sempre situados no cume de montanhas e em despovoado, embora, pelo geral, sobre ruínas de civilizações extintas, pois os moradores de uma povoação nunca invo(1588) RICH – Dictionnaire des antiguités romaines et grecques, artigos «Donarium» e «Tabella», onde dá a gravura de alguns destes objectos – um pé, uns olhos, uma mão e uma tabuleta. (1589) Ibidem, artigo «Oscillum», onde se vê o desenho de uma árvore carregada de máscaras.
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cam em suas aflições, ou só mui raramente, os santos venerados em igreja de outra aldeia quando erecta dentro dela. Tal proceder virá de um fundo invejoso atinente a evitar o prestígio dos vizinhos ou da intuição referente ao campo de ninguém abandonado por antepassados comuns, no outro caso? Nas principais festividades dos santuários acima mencionados, e o mesmo se pratica nas outras terras, temos visto os pastores guiarem pelo adro, em volta do templo com todo o recolhimento, seus rebanhos, oferecendo seguidamente uma rês à padroeira ou padroeiro e da mesma forma os lavradores suas juntas de bois, pendendo-lhes do jugo alguns alqueires de cereal com igual destino. Algumas vezes as jugadas bovinas vão incorporadas na procissão religiosa marchando à frente. No artigo Coelhoso (1590) referimos o costume de irem aspergir com água da Fonte do Milagre os animais após o giro pelo adro do santuário. Este costume vem já do paganismo. Nas festas de Pales, deusa dos pastos, rebanhos e pastores ofereciam-lhe arrobe, milho e outros cereais; os pastores faziam andar seus rebanhos em torno do altar, suplicando ao mesmo tempo que os multiplicasse e livrasse de doenças e lobos. Da liturgia destas festas faziam parte essencial fogueiras de molhos de palha por cima das quais os pastores saltavam (1591). O rito tocante aos pulos por cima das fogueiras ainda permanece nos festejos populares do São João (1592). O paganismo também dava aos seus deuses o nome de santos para significar veneráveis, propícios (1593). A água do milagre, com que em Coelhoso espargem os gados correspondente à de tantas outras fontes santas mencionadas nesta obra (1594), relaciona-se com a água lustral do paganismo de uso constante nos seus actos litúrgicos, como temos dito (1595), a qual ficava benta desde que nela se apagava um tição aceso tirado da fogueira de um sacrifício (1596). Colocavam esta água à entrada dos templos em pias de pedra para se purificar antes de oferecer o sacrifício (1597), da mesma forma que nós os cristãos fazemos com as pias de água benta, que naquelas deve filiar-se. É de notar que na bênção da água lustral também entrava sal (1598). (1590) Tomo IX, p. 101, destas Memórias. Ver também p. 96. (1591) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigos «Pales» e «Palilias». (1592) Ver tomo IX, p. 308, destas Memórias (1593) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Sanctus». (1594) Tomo IX, p. 99 e seg. (1595) Ibidem, p. 437. (1596) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigo «Água lustral». (1597) RICH – Dictionnaire…, artigo «Labrum». (1598) Ibidem.
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Deve notar-se que a cada deus sacrificavam de preferência, por o julgar de mais eficácia propiciatória, os animais devoradores dos frutos e árvores protegidas ou dedicadas a esse nume, e, contrariamente, ofereciam-lhe os frutos das árvores suas predilectas ou que de alguma forma concorriam para glorificar os atributos dessa divindade ou necessidades de que era advogada (1599). SERPENTE (culto da) – Sem embargo de quanto fica dito a propósito do culto da serpente no tomo IX, págs. 324, 623, 640, 649, 712, 713, 714 e 717, destas Memórias, convém relembrar o seu prestígio no paganismo. Assim: as Euménides ou Fúrias flagelavam no Tártaro com serpentes e tições os maus. Costumam representá-las empunhando cobras e com elas toucados os cabelos. Idêntico toucado caracteriza a Inveja, adindo-lhe três serpentes numa das mãos, na outra a hidra de sete cabeças e uma cobra a roer-lhe o peito. Os símbolos da Discórdia pouco divergem destes. Ixíon gira incessantemente nos infernos atado por serpentes a uma roda. Némesis, deusa da vingança, representam-na armada de serpentes. A serpente Piton é celebrada pela sua enorme grandeza, e assentada sobre a sua pele proferia a Pitonisa de Delfos seus famosos oráculos. Entre os emblemas da deusa Salus figura um altar, tendo nele enroscada uma cobra, que também entra no símbolo da deusa Prudência. Saturno representam-no por um círculo formado por uma serpente mordendo a própria cauda. Enorme multidão de serpentes envolve a cabeça de Cérbero, de onde lhe vem o título de Centípede. Além disto, a serpente figura em muitos casos, como é no de Aristeo, Aqueloo, Cadmo, Caduceu, Esaco, Euridice, Laocoonte, Latona e Tirésias. Sob o nome de Agathodaemones reverenciava o paganismo os dragões e as serpentes com asas e dava como formado por cobras com asas o toucado das Gorgones (1600). Virá deste conceito pagão a lenda de atribuir asas às serpentes? Os romanos, diz Rich, empregavam a serpente como representação simbólica do genius loci (1601), que protegia os sítios dos termos e povoados como o santo padroeiro nas freguesias, segundo o cristianismo. Daqui vinha pintarem-na nos muros e locais como símbolo religioso, da mesma maneira que nós os cristãos pintamos, insculpimos ou erguemos a cruz para despertar a piedade ou indicar que o sítio deve ser venerado. Nas
(1599) NIEUPORT – Rituum…, p. 247 e 288. (1600) Ver sobre o assunto os nomes acima citados onde entra a serpente no Dicionário de Chompré ou noutra qualquer obra da especialidade. (1601) Ver tomo IX, p. 123 e 325, destas Memórias, onde explicamos a natureza desta divindade.
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casas de Pompeia vêem-se muitas destas serpentes pintadas, duas em geral, postas de pé entre um altar (1602). Cada pessoa tinha o seu génio particular que a protegia e guiava, como o anjo da guarda na crença cristã. Os romanos representavam os genius por pequeninas crianças com asas nos ombros ou em volta da cabeça (1603). Da mesma forma pinta seus anjos o cristianismo. Não deixa de ser curioso lembrar que o demónio, anjo mau da religião cristã, é genius benéfico na pagã e, portanto, anjo bom (1604). É que na evolução das línguas muitas palavras passam a indicar o contrário do que significavam inicialmente, embora não desligando de todo o sentido. Assim, parochus, de onde pároco no cristianismo, indicava entre os romanos o hospedeiro estabelecido nas estações das estradas do império, encarregado de agasalhar e sustentar, segundo preços fixos determinados pelo governo, os viajantes em serviço do mesmo (1605). Ainda hoje se liga à casa do pároco algo deste conceito. A coroa ou rosário que os cristãos passam pelos dedos rezando em honra de Nossa Senhora com maternal devoção, cheia de afecto e reconhecimento, deriva possivelmente da corona longa dos romanos, que a punham ao peito pendente do pescoço, nos festejos báquicos principalmente (1606). Falando de Damão na Índia e das suas serpentes, diz o general Morais Carvalho, que muito por lá andou: «... apesar de serem tão más [as serpentes], nas casas dos gentios ricos nunca deixa de haver uma cobra de capelo, que anda sempre escondida por debaixo dos grandes móveis ou em lugar escuso e escuro, havendo todo o cuidado de lhe porem, em lugar certo, leite para ela se alimentar. Quando, porém, há desconfiança que a cobra desapareceu ou morreu, uma grande tristeza se apodera da família e para se certificarem da existência ou não daquele deus (porque os gentios adoram a cobra de capelo) mandam chamar uns homens especiais, que fazem uso de umas flautas de som muito mavioso que as atrai; se depois disto a cobra aparece, há grande festa naquela casa, e, no caso contrário, grande tristeza e até luto. Custa a crer que assim seja, mas não há dúvida que é, sendo certo que uma pessoa mordida por aquele deus não chega a durar uma hora, como tive ocasião de presenciar» (1607). (1602) RICH – Dictionnaire…, artigos «Anguis» e «Genius». (1603) RICH – Dictionnaire…, artigos «Genius», «Coronarius», «Genius» e «Junones». (1604) Ibidem, artigo «Daemon». (1605) Ibidem, artigo «Parochi». (1606) Ibidem, artigo «Corona», 13. (1607) CARVALHO, Alberto de Morais – Narrativas do Oriente: apontamentos de viagem. Lisboa, 1915, p. 95. Esta observação referente às cobras de capelo refere-se aos anos de 1887, em que o autor foi governador de Damão.
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O gentio de Timor considera a cobra como divindade e vota-lhe respeito sagrado, atribuindo-lhe verdadeiros milagres em prol da sua terra, da qual é deus tutelar, como diz Pinto (1608), que refere alguns desses prodígios. O mesmo respeito têm pelo crocodilo, prestando culto tanto a este como àquela. Trata-se de verdadeiro totemismo, já explicado no tomo IX, pág. 550, em nota, e segs. (1609). TALISMÃ AMOROSO – Dizem em Sacoias, freguesia de Baçal, que quem atravessa com uma agulha e linha respectiva a mortalha de um defunto e depois o seu próprio fato e o de uma rapariga, esta se lhe liga por amor infindável sem jamais deixar de o amar. TRASGOS – Tomo IX, pág. 344. Na lenda dos Trasgos podem também andar elementos mitológicos referentes aos Paniscos ou pequenos Pãs, deuses campestres do tamanho de crianças, e aos Pigmeus (1610). TROVOADAS – Tomo IX, págs. 285 e 369. Dissemos que em Aveleda, concelho de Bragança, colocam a pá do forno à porta da rua para afugentar as trovoadas. Os romanos, com o mesmo fim e ainda contra os espíritos malignos, expunham à porta a imagem de Mania, mãe dos deuses Lares (1611). Não há dúvida que entre os deuses Lares, a pá do forno ou o tição do lume há qualquer relação. Também é muito geral o costume de rezar a Santa Bárbara, advogada das trovoadas, e queimar na cozinha franças de oliveira benzidas em domingo de Ramos. VELHA – Neste tomo X, pág. 261, e já no anterior, aludimos à frequência do nome Velha dado a muitos sítios do termo de povoações e aventamos a conjectura de se ligar a qualquer assunto etnográfico ou arqueológico. Agora lembramos as ninfas conhecidas pelo nome de Velhas (1612); a figura de velha que Juno tomou para dificultar o parto de Alcmena (1613) e as três velhas que presidiam ao oráculo de Júpiter em Dodona (1614). Muitas vezes temos ouvido às mães bragançanas: na fonte está uma velha que (1608) CORREIA, Armando Pinto – Gentio de Timor. Lisboa, 1935, p. 125 e 330. (1609) Ibidem, p. 66. (1610) CHOMPRÉ – Dicionário…, artigos «Paniscos» e «Pigmeus». (1611) V ITÓRIA, Baltasar de, Frei – Segunda parte del Teatro de los Dioses de la Gentilidade, onde cita Macróbio e outros em abono de informação. (1612) CHOMPRÉ – Dicionário, artigo «Velhas». (1613) Ibidem, artigo «Galanthis». (1614) Ibidem, artigo «Timarate».
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papa os meninos para os desviar de morrerem afogados. Esta lenda pode vir do conceito das ninfas acima. Segundo a lenda, uma velha é que mantém o calor do sol, lançando-lhe incessantemente lenha na fornalha. Encantador e feiticeiro estudo da etnografia, como uma simples frase nos mostra as concepções milenárias de um passado glorioso, a fisionomia de uma civilização extinta! Clero paroquial quão fácil te é, em razão do contacto com o povo, prestares incomensuráveis serviços às belas letras e, consequentemente, à acção católica, sem mais trabalho do que algo de curiosidade intelectual para observar e registar as manifestações folclóricas! Não te prendas com a explicação das lendas: isso qualquer erudito o faz no sossego do seu gabinete; o que ele não faz, porém, ou só em condições muito excepcionais e deficitárias, devido à necessidade de visitar com demora desvairadas terras, é fazer a colheita, e nela é que está o grande serviço. Anda, entra na labuta e verás a incalculável satisfação que te proporciona. Professores primários rurais, vós também estais em admiráveis condições de laborar no mesmo sentido, vinde, e um dia a ciência, a humanidade reconhecida, bendirá vossos nomes e trabalhos. VINHO – Tomo IX, pág. 334. Mandamentos do vinho, segundo o abade de Travanca, distrito de Viseu: O primeiro bebe-se inteiro. O segundo até ao fundo. O terceiro como o primeiro. O quarto como o segundo. O quinto, se está cheio, não fica em meio. O sexto para provar. O sétimo para começar. O oitavo para ultimar. O nono para tombar. E o décimo para acabar.
Foram-me ditados pelo grande literato, filólogo e etnografista Doutor Afrânio Peixoto, lente de medicina na Universidade do Rio de Janeiro, em Bragança, a 19 de Fevereiro de 1937. MANDAMENTOS DO BORRACHO Primeiro mandamento – Beber com assento, Segundo mandamento – Escorripichar o copo até ao fundo, Terceiro mandamento – Fazer da garganta um ribeiro, Quarto mandamento – Beber até quedar farto, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Quinto mandamento – Beber sempre: do branco e do tinto, Sexto mandamento – Beber a qualquer pretexto, Sétimo mandamento – Beber do seu, do alheio e do de empréstimo, Oitavo mandamento – Beber até ficar como um cravo, Nono mandamento – Beber no estio, no inverno, primavera e outono, Décimo mandamento – Beber até ficar com créscimo. Estes dez mandamentos encerram-se em dois; convém saber: Pregar os beiços na torneira e nunca parar de beber. No Vimioso corre a seguinte divisão do vinho em três categorias, que atribuem a um padre: 1.a Quotiescunque – Vulgar, que se bebe e mija logo; 2.a Gloriari – Sofrível, regular, vai servindo; 3.a Noli me tangere – Bom, que trepa facilmente. Na mesma terra ouvi ainda uma quarta que dizia: solis presbiteris – fino, palhete, estomacal, diurético, aromático, transparente, cor de rubi ou cereja vermelha, madura. PADRE-NOSSO DO BORRACHO Santo abafadinho, que estivestes no tonel, purificado sejais sem água; venha a nós o vosso líquido para ser bebido à nossa vontade, tanto em casa como na taberna. Um quartilho por cada hora nos dai hoje e perdoai as vezes que vos bebemos, assim como nós perdoamos o mal que às vezes nos fazeis. Não nos deixeis cair atordoados e livrai-nos da polícia de Bragança, que só quer encher a pança. Amen. Padre-Nosso, caldo grosso, chicha gorda comer não posso (1615). Salve Rainha, Mata a galinha, Põe-na a cozer, Dá cá a borracha, Que quero beber. Creio em Deus todo poderoso, o filho do rei criou um raposo. No tomo IX, pág. 264, mencionamos os apodos de Miranda do Douro, mas ultimamente ouvimos um deles expresso desta forma:
(1615) Esta e as duas seguintes já estão registadas com leves variantes em A vila de Vinhais, 1934, p. 65.
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Se fores a Miranda Leva o pão na manga E o vinho na borracha Que lá não se acha. S ANTA C OMBA DE ROSSAS – Diz-se dos desta povoação: querer e não querer, como os de Santa Comba de Rossas. E também: estar a mijar e a tossir, ou a cagar e a tossir, como os de Santa Comba de Rossas. VILA MEÃ – Os de Vila Mean o que dizem à noite já o não dizem pela manhan. O povo ainda pronuncia nitidamente mean e manhan. V INHO [11] E CEREAIS – Tomo IX, pág. 347. Ultimamente ouvi mais completo o diálogo entre o vinho e os cereais, já dado no citado tomo e página, e por isso o reproduzo com os novos aditamentos: O vinho . . . . . . . . . . – Eu sou o verde licor Criado entre as matas; Os homens são valentes, Mas eu faço-os andar de gatas. Eu sou o verde licor Criado entre as matas; Faço andar os homens de joelhos E as mulheres de gatas. Sou rijo e valente, Derrubo seja quem for; Faço do néscio discreto Um rigoroso doutor. A aguardente . . . . . . – Eu sou a sua filha, Gerada nos finos vapores; Derrubo para três dias Quem se finta nos meus amores. O trigo . . . . . . . . . . . – E eu ando nos palácios dos reis, Nas festas e nos jantares; Encho os celeiros dos ricos: Sou a hóstia dos altares. O centeio . . . . . . . . . – Tu pelas festas e pelas bodas, E eu sou o que apago as faltas todas. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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A linhaça . . . . . . . . . – Cala-te aí, murrão, Estás quinze dias debaixo do terrão. Centeio à linhaça. . . – E tu, deslambida, Ós três dias já estás nacida! A cevada . . . . . . . . . – Pois eu não me gabo nem me desgabo; Mas quem me comer, aos três dias inreguicha o rabo.
Várias anedotas se contam nesta minha aldeia de Baçal respeitantes às valentias do vinho, destacando o local pela singeleza, çonço, dizem eles (1616), e facilidade apetitosa com que desliza pelas goelas abaixo, produzindo milagres aos enxames, como diz o lírico João de Deus a propósito do dinheiro. Entre outras muitas, que omito, refiro apenas a seguinte: um sanabrês (1617) veio a Baçal por uma carga de vinho, e ao chegar à raia, nos montes da Campiça, caiu-lhe o burro e pelo chão rolaram os odres, Em vão tenta colocá-los de novo sobre o jumento, implorando o auxílio da Virgem e de seu Bendito Filho. Alfim resolveu marchar só com um boto, deixando escondido o outro; mas, antes de partir, a fim de não perder tudo, caso lho roubassem, bebeu-lhe e, ao erguer o outro, achou-o tão leve que lhe pareceu fácil carregar os dois. Experimentou novamente, e, na verdade, sem custo, deu com eles em cima do asno, seguindo viagem caminho de casa, monologando filosoficamente: bueno es Dios e su Madre tambien, pero como el bino de ti Mariquita, de Baçal, esso nó. O nome da vinha, segundo a etimologia popular bragançana, deriva de um pau que vinha pela água abaixo quando foi do Dilúvio, e como um homem o plantasse sem lhe saber o nome e respondesse aos que o interrogavam, que era uma planta que vinha pela água abaixo, passou a chamar-se vinha. O chamar-se mata-bicho ao golo de aguardente que muitos costumam beber logo de manhã cedo, provém, segundo diz o povo, de uma epidemia desconhecida que matou muita gente. Por último, os médicos abriram um morto e achando-lhe na cabeça um bicho, deitaram-lhe vários remédios inutilmente, vindo a matá-lo com aguardente; de onde o nome de mata-bicho dado a esta.
(1616) Este tique vinha-lhe de predominar nele a uva merançã antes da invasão filoxérica pelos anos de 1880-1890. (1617) Sanábria, região fronteiriça espanhola, que tem por capital a vila do mesmo nome, onde se não colhe vinho, importando o bragançano antes de as estradas lhe facilitarem o de Zamora, agora consumido exclusivamente. Baçal e a confinante povoação de Rabal são o granero e a bodega de Bragança, dizem os espanhóis (tomo I, p. 86 e 87, destas Memórias).
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Diz o povo que os peixes pediram a Deus água para nadar e vinho para se sepultar, isto é, na comida de peixe vinho e não água. No tomo IX, pág. 298, mencionamos alguns cantares referentes ao vinho, e nas págs. 241, 289, 293, 294, 295, 299, 300, 305, 307 e 311 indicamos várias festas em sua honra ou onde entra como factor principal. Nas págs. 495 e 547 ficam registadas outras canções referentes ao mesmo assunto ou correlativas e ainda a «Romança dos podadores» sob o n.° 24, pág. 580. Também na pág. 552 se advertiu a sem-razão de Samuel Maia (1618), tocante à falta de emotividade portuguesa ante o precioso líquido que faz dizer ao grande dramaturgo: Nam ha hi tal oraçam Como depois de beber Que Deus nam he senam prazer (1619).
Por isso o povo sentencia indulgente: Roubar o taberneiro Entendo que não é pecado; Vende o vinho mal medido E o bacalhau mal pesado.
Bluteau (1620) menciona quarenta e quatro adágios portugueses referentes ao vinho e foram reproduzidos no Dicionário (Tesouro da língua portuguesa) de Frei Domingos Vieira. Na Macarronea Latino-Portuguesa, vulgarmente chamada Palito Médico, cantam-se as delícias do vinho e respectivos episódios por forma galhofeira esfuziante de gargalhada (1621). O mesmo feitio burlesco e anacreôntico se encontra no Doutor José da Gama e Castro, miguelista ferrenho, fundador da Águia e autor de outras publicações. E então a Douri-vinhaida: poema épico-burlesco, oferecido aos lavradores de vinho do Alto-Douro (em três cantos de oitava rima), por Bernardino Joaquim da Silva Carneiro, publicada em 1822!
(1618) MAIA, Samuel – O vinho – Propriedades e aplicações, 1936, p. 195. (1619) VICENTE, Gil – Autos, Templo de Apólo. Do mesmo, mais casos se podiam apresentar. (1620) BLUTEAU – Vocabulário da língua portuguesa, 1721, artigo «Vinho». (1621) Ver principalmente os capítulos; Calhabeidos, Rapaziaticum certamen, Alegratica Descripcio de entrudalibus Jogancis, Caramunhatio beberronica, Festa bachanalia, Elegia em tom de carta. Guiamo-nos pela edição de 1816, que é a quarta.
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ETNOGRAFIA | FALCÃO LEITE PEREIRA DE SEABRA | FARIA | FEIJÓS | FELGAR
665 TOMO X
Um povo que tem disto, sabe bem que o vinho é sangue de Cristo, que o vinho laetificat cor hominis, que in vino veritas, que nunc vino pelite curas, que o vinho é bonus ad omnia, que quem diz vinho diz tudo, e que tudo é nada sem vinho. FALCÃO LEITE PEREIRA DE SEABRA (António) – Doutor, Juiz da Relação do Porto, onde faleceu a 19 de Janeiro de 1928, tendo nascido em Vila Flor em Janeiro (17?) de 1864. Tomo VI, pág. 517. Casou em 1893 com D. Maria da Graça Grilo, natural da cidade de Castelo Branco, deixando filhos: Jorge Pereira Leite de Almeida e Seabra, conservador do registo comercial do Porto. D. Maria da Graça Leite Pereira de Seabra, casada em Castelo Branco com o médico Doutor Lívio Lopes Ferreira. José Leite Pereira de Seabra, nosso informador, que segue a magistratura. O Doutor António Falcão foi um douto genealogista, deixando impressos alguns estudos desta especialidade na Enciclopédia Portuguesa, 1903, sob o título Breves apontamentos para a história genealógica de algumas famílias de província. FARIA (Manuel Severim de) – Chantre da Sé de Évora, Tomo VII, pág. 175. O manuscrito intitulado Itinerário que fez o Sr. Manuel Severim de Faria, chantre e cónego da Sé de Évora, a Miranda no ano de 1609, foi publicado no volume VII da Nação Portuguesa. FEIJÓS. – Ver Madureiras Feijós. FELGAR – V
TRIDI E M ODESTI·FSF VRR E·T R NSM EXS ·SE R NTE N·XX·VA LEIVSVT V
V
C
V
V
V
Esta inscrição encontra-se numa estela de granito ornada por suástica de seis raios, que estava a lajear o adro da igreja paroquial de Felgueiras, concelho de Moncorvo. Foi indicada ao Doutor José Leite de Vasconcelos pelo abade de Carviçais, José Augusto Tavares, que a conseguiu para o MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
666
FELGAR | FELGUEIRAS JÚNIOR
TOMO X
Museu Etnológico de Lisboa, onde agora se encontra, e publicou em O Arqueólogo Português, 1934, vol. XXIX, página 158, acompanhada de eruditos comentários, o qual lê: Tridiae Modesti f (iliae) Seurra[a] e, Transm (iniensi vel Transminianae), exs c (enturia) Serante, an (norum) 20, Valerius v (xori) f (ecit), ou seja: Valério fez esta sepultura para sua esposa Trídia, filha de Modesto Seurra de além Minho, da centúria (vel simile) Serante, falecida na idade de vinte anos. Atribui ao invertido da 5.a linha a «significação de centúria (não militar) ou análoga: Cf. Religiões da Lusitânia, III, 206. O primitivo sentido da centúria, no nosso caso, foi agrário, e daqui se desenvolveu o de territorial ou étnico-territorial, como aqui: disto tratou H. Martin in Americal Journal of Philology, XXXV, 400». Os Seurros habitaram nas margens do rio Minho, segundo Plínio e Ptolomeu, e entre eles ficaria a centúria agrária, quinta, vila, povoação, freguesia, como hoje dizemos, chamada Serante. A propósito desta inscrição volta Vasconcelos a publicar a de Felgar, que demos na pág. 386, também ornada por uma estrela de seis raios, onde diz dever ler-se Seurus em vez de Severus, como tinha proposto. Por vir a propósito, lembramos o seguinte: «La invertido aparece ya usada en las inscripciones romanas para designar la silaba con en la palabra libertus (Conlibertus) y en algunas otras. Esta mesma cuando no entraba en composicion de palabra y aparecia como sigla, se lia Cafa, porque era costumbre romana que las siglas invertidas designasen la forma feminina de los nombres. Asi filius se escribia F, y para indicar filia grababan en las lapides » (1622). O c invertido ( ) é uma sigla e não letra, que tem várias significações, diz Cagnat (1623). Entretanto deve notar-se que o imperador Cláudio introduziu no alfabeto uma letra pelo feitio do c invertido ( ) para designar o som de Ps (1624). C
C
C
C
C F
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F ELGUEIRAS J ÚNIOR (Doutor Francisco do Patrocínio) – Tomo VII, págs. 178 e 654 e tomo VIII, pág. 106. Publicou mais: Pecuária do Distrito de Bragança. Periódico mensal, gratuito, impresso na tipografia Neves, de Mirandela. Saiu o primeiro número a 16 de Outubro de 1932 de colaboração com o médico-veterinário António Pereira Lage. A Bem da humanidade contra o carbúnculo. Tip. Académica. Bragança, sem data, mas é de 1934. 8.° de 14 págs. Faz parte da colecção Leituras do Lavrador. (1622) MUÑOZ Y RIVERO, Jesus – Manual de Paleografiia Diplomatica Española, 1917, p. 93. (1623) CAGNAT – Cours d’Épigraphie Latine, 1898, p. 13. Nas páginas 382 a 385 e 388 dá essas explicações. (1624) Ibidem, p. 5.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
FERNANDES
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FERNANDES (Abílio José) – Vigário geral e superior das Missões de Timor. Tomo VIII, pág. 106. Anteriormente fora superior da Missão de Soibada. Por intermédio do grande amigo José Montanha conseguimos obter os seguintes dados biográficos deste zeloso missionário e escritor bragançano: Nasceu em Miranda do Douro a 1 de Outubro de 1890 e é filho de António do Sacramento Fernandes e de D. Maria dos Ramos Raposo. Tem no prelo Método prático Português – Tetun. Estudou preparatórios no Seminário de Bragança e em Macau, para onde foi aos catorze anos e onde se ordenou de presbítero depois de aí concluir o curso teológico. FERNANDES (Manuel António da Ressurreição) – Doutor em teologia e filosofia pela Universidade Gregoriana. Tomos II, pág. 503, e VII, pág., 654. Tem mais publicado: Discurso proferido na sessão solene comemorativa do 70.° aniversário natalício do Rev. Francisco Manuel Alves, abade de Baçal, realizada no Museu Regional de Bragança no dia 9 de Abril de 1935, pelo cónego Dr. Manuel António da Ressurreição Fernandes. Fólio de 3 págs. Pela resignação de D. Luís António de Almeida, Bispo de Bragança em 1 de Novembro de 1935, foi em 11 do mesmo mês eleito pelo cabido o Doutor Fernandes, vigário-capitular da diocese. A 14 de Agosto de 1935, portanto, ainda antes de ser vigário-capitular, um grupo de amigos e admiradores das brilhantes qualidades mentais e morais do Doutor Fernandes, manifestadas como professor, escritor e orador, tanto sagrado como profano, constituído por elementos eclesiásticos e civis de maior destaque no distrito de Bragança, aproveitando a passagem nesse dia do 31.° aniversário da sua ordenação sacerdotal, foi ao Azinhoso, terra de sua residência, apresentar-lhe uma mensagem de reconhecimento, oferecendo-lhe ao mesmo tempo em rico estojo uma pena e um tinteiro de prata de alto valor artístico, obtido por subscrição entre os mesmos. Para esse efeito foram de Bragança: Doutor Raul Teixeira, secretário-geral do governo civil; Doutor António Pires Quintela, reitor do liceu; Doutor António Carlos Maldonado, professor do seminário; Padre Martinho Duarte e o autor destas linhas. No Azinhoso agregaram-se: Doutor Altino Pimentel, conservador do Registo Civil do Mogadouro e seu filho Artur Pimentel; Doutor Augusto César de Oliveira, juiz de direito, aposentado; Doutor Carlos Maria Afonso de Castro, delegado do Procurador da República em Vila Flor; Manuel Joaquim Cardoso, cónego e reitor do Seminário de Vinhais; Padre Amadeu Reis; Francisco Montalverne, pároco de Sanhoane; José Manuel Felgueiras, pároco de Brunhoso; Paulo Cordeiro, professor do Seminário de Vinhais; Padre António Augusto de Azevedo Pires; José Augusto Afonso, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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FERNANDES | FERREIRA
TOMO X
pároco de Castelo Branco; Álvaro Alfredo de Oliveira, abade de Sendim; Júlio Augusto Afonso, pároco de Remondes; Francisco Augusto Afonso, pároco do Azinhoso; Norberto de Campos, professor do Azinhoso; Afonso de Castro e Ernesto de Oliveira, proprietários; D. Sância Pinto de Castro, D. Irene da Luz Pinto de Castro, D. Maria Angelina Pimentel, D. Antónia Lopes Moreira, D. Carlota Joaquina de Oliveira, D. Adília de Oliveira, D. Arminda de Oliveira, D. Adília Lopes Moreira, D. Maria de Lourdes Correia Dinis, D. Natividade Fernandes, D. Ofélia da Conceição Lobo, D. Lucinda Mendes, D. Maria Geraldes, D. Raquel Vilares, D. Maria da Luz, D. Ester Dagge, D. Laurentina Neto, D. Maria Helena Pimentel e várias outras senhoras e cavalheiros de que não pude tomar nota. A subscrição rendeu 2832$00, e, como sobejassem 1041$00, foi com esta quantia posta a juros criado o prémio Ressurreição Fernandes para o aluno mais distinto do seminário. Depois do que fica exarado na pág. 342 a respeito das contas da bula da cruzada e do mais que sobre o assunto tínhamos dito e escrito em documentos públicos, foram, após vinte e cinco anos, publicados as do ano de 1935-36 no Boletim da Diocese de Bragança, 1936, pág. 209. Foi um bragançano deveras, o Doutor Manuel António da Ressurreição Fernandes, que tal realizou como vigário-capitular no tempo correspondente à sua gerência. Os altos poderes andam a exportar-nos para aqui meninos-prodígios de sapiências e virtudes, pensando que isto de Trás-os-Montes, a julgar do nome, é roça, e, sem tratarem de conhecer a psicologia regional, a fim de canalizar as correntes, querem adaptar-nos bruscamente a novos métodos, impossível étnico, de onde o desastre. Afinal, os factos vão mostrando, como aliás sempre mostraram, que, para sensato governo e livrar de entaladelas, não há como ir-se a gente governando com a prata da casa (1625). FERREIRA (concelho de Macedo de Cavaleiros) – MANUEL DE MORAIS SARMENTO e seus irmãs JOÃO BAPTISTA LEITE e JOSÉ ANTÓNIO DE MORAIS, filhos de João de Morais Leite e de D. Joana de Morais, moradores em Ferreira (1626), requereram em 1721 habilitação de genere, alegando que seu pai é irmão do Padre Baltasar da Rosa, filhos de Manuel de Morais Leite e de Rufina da Rosa, moradores no dito lugar de Ferreira, bispado de Bragança, concelho de Macedo de Cavaleiros, e sua mãe é irmã de Manuel de Morais Silva, arcediago da Sé de Miranda (1627), e de José de Sousa Alcoforado, reitor de São Julião. (1625) Ver tomo VIII, p. 130, destas Memórias. (1626) Ver o artigo «Parada de Infanções» neste «Suplemento». (1627) Ver tomo VI, p. 656, destas Memórias.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
FERREIRA
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O processo está no Museu de Bragança e nele as seguintes certidões: JOSÉ, filho de Lourenço de Morais da Silva e de Catarina de Vargas, de Edral, concelho de Vinhais, nasceu em Edral a 2 de Setembro de 1675. JOANA, irmã do precedente, nasceu em Edral a 2 de Fevereiro de 1682. BALTASAR, filho de Manuel de Morais e de Rufina da Rosa, nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Ascensão de Ferreira a 2 de Março de 1685. MANUEL, filho de João de Morais Leite e de D. Joana de Morais, nasceu na mesma freguesia de Ferreira a 23 de Julho de 1706. JOÃO, irmão do precedente, nasceu na mesma freguesia de Ferreira a 2 de Março de 1709. JOSÉ ANTÓNIO, irmão do anterior, nasceu na mesma freguesia de Ferreira a 13 de Novembro de 1711. FERREIRA (D. Cândida Florinda) – Tomo VII, pág. 654, e tomo VIII, pág. 107, destas Memórias. Publicou mais: Carrazeda de Ansiães – Notas monográficas. Lisboa, sem indicar ano de impressão, mas saiu em 1931. 8.° de 110+1 (de índice) páginas, com algumas gravuras. Talhinhas e as Guerrilhas Liberais – Notícias monográficas inéditas. Coimbra, 1931. 8.° de 180-1 págs. A função educadora da História – Tese apresentada ao júri de exames de estado para o 12.° grupo do Magistério Técnico Profissional. Santarém, 1934. 8.° de 35 págs. (Separata da Revista Escolar). A mulher portuguesa contemporânea – Série de artigos publicados na revista Modas e Bordados (vida feminina). Lisboa, 1935. 8.° de 48 págs., com o ex-libris da autora. A Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida Portugal – Conferência realizada no salão de festas do jornal O Século, em 26 de Maio de 1934, 8.° de 17 págs. (Separata da Revista Escolar, Junho de 1935). Os sete pecados mortais (contos). Lisboa, 1936. 8.° de 96 págs. Da necessidade do conhecimento da História e da Literatura pátrias (conferência). 1936, 8.° de 16 págs. Castros e castelos – A mulher nesses centros guerreiros. Santarém. 8.° de 12 págs. A guerra dos cem anos – Seus reflexos em Portugal. Dissertação apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para o acto de doutoramento. Lisboa, 1936. 8.° de 80 págs. e uma de índice. D. Cândida Florinda Ferreira, já diplomada em letras, defendeu tese para doutoramento desde 13 a 16 de Janeiro de 1937 perante a Universidade de Lisboa e numerosa assistência, atraída por se tratar de «a primeira senhora portuguesa que tentava obter as insígnias doutorais», MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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FERREIRA | FERREIRA DE LIMA
TOMO X
como disse o presidente do júri. O acto correu brilhante, segundo dia a dia iam informando os jornais, mas os examinadores reprovaram-na: por não atingir a bitola? por antifeminismo? por a ciência oficial andar sempre atrasada? Não sei, e somente que Nicolau Tolentino foi reprovado num concurso de literatura; Pasteur num de química; Galois num de matemática, e tantos outros que espargiram glória bastante para imortalizar a ciência oficial de seus examinadores condenados, sem a coragem de tais reprovações, ao olvido da História. FERREIRA DE LIMA (José António) – Primeiro visconde de Ferreira de Lima, natural de Bragança. Tomo VI, pág. 111. Foi juiz do Supremo Tribunal de Justiça, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e de Isabel-a-Católica, de Espanha. Fez parte da comissão revisora do Código Civil e foi presidente da comissão elaboradora do Código Comercial. Era filho do capitão de ordenanças Francisco José Ferreira de Lima (tomo VII, pág. 269, destas Memórias) e de D. Rosa Joaquina de Castro, e não D. Brites Inácia, também chamada D. Brites Inácia Henriques, como por equívoco dissemos no citado tomo VII, pág. 111, segundo nos advertiu o douto genealogista Doutor Eugénio da Cunha e Freitas, sendo esta sua avó materna; neto paterno de Henrique José de Lima e de D. Inácia Jacinta Rosa Cardoso Ferreira e materno de António Dias de Castro e de D. Brites Inácia Henriques. O primeiro visconde de Ferreira de Lima esteve preso como liberal durante cinco anos, sendo restituído à liberdade no dia da aclamação de D. Maria II. Do seu casamento com D. Amélia Augusta de Campos, filha de seu tio Manuel de Campos e, por conseguinte, sua prima, teve: 1.° – Francisco de Campos Ferreira de Lima, segundo visconde de Ferreira de Lima, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, nascido em 1860, que casou em 1891 com D. Túlia Gomes de Amorim, filha do poeta e escritor Francisco Gomes de Amorim e de D. Maria Luísa Barbosa. Com geração. 2.° – Manuel de Campos Ferreira de Lima, coronel de Engenharia, nascido em 1862, que casou com D. Francisca Amélia do Couto Valente da Ponte e Horta, filha do professor da Escola Politécnica Francisco Maria da Ponte e Horta e de D. Maria do Couto Valente. Com geração. 3.° – D. Maria Fortunata, casada, sem geração. 4.° – D. Amélia de Campos Ferreira de Lima, nascida em 1867, que casou com João de Sá Camelo Lampreia, lugar-tenente de el-rei D. Manuel II, do seu conselho, antigo ministro de Portugal no Brasil, filho do parlamentar Francisco Joaquim de Sá Camelo Lampreia. Com geração. 5.° – D. Júlia de Campos Ferreira de Lima, nascida em 1869, que casou MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
FERREIRA DE LIMA | FIGUEIREDO | FIGUEIREDO SARMENTO
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com Eugénio Soares de Andreia, capitão-tenente da Armada; governador da Zambézia e de Tete (1628). 6.° – José de Campos Ferreira de Lima, capitão de fragata, que casou duas vezes, tendo apenas geração do primeiro matrimónio. 7.° – João de Campos Ferreira de Lima, nascido em 1872, desembargador da Relação de Lisboa, que casou com D. Maria da Ponte e Horta Galvão, filha do visconde de Sousa Galvão e de D. Sofia Covadonga da Ponte e Horta. Com geração. 8.° – D. Maria Leopoldina de Campos Ferreira de Lima, que casou com o coronel de Estado-Maior Francisco Xavier Mendes. Com geração. 9.° – Henrique de Campos Ferreira de Lima, coronel de Artilharia, da Associação dos Arqueólogos e da Academia das Ciências, director do Arquivo Histórico Militar, distinto publicista, que casou com D. Maria Monteiro Torres Gomes da Silva. Com geração. Os netos do primeiro visconde de Ferreira de Lima ocupam brilhantes posições na sociedade e casaram com senhoras distintas, mas não posso tratar de suas genealogias por terem nascido fora do distrito de Bragança, objecto, como tenho dito, dos meus estudos. O primeiro visconde de Ferreira de Lima teve seis irmãos, que casaram mas não deixaram filhos, à excepção de Manuel de Campos, pai da viscondessa sua mulher, e, entre esses irmãos, Henrique José Ferreira de Lima, mencionado no tomo VII, pág. 269, destas Memórias, que também não deixou descendência. O distinto genealogista Doutor Eugénio da Cunha e Freitas, descendente desta família, a quem agradeço as notícias para este artigo, mandou-me uma longa lista de ascendentes da mesma, que extraiu dos processos da Inquisição de Coimbra mas omito-a por falta de notícias interessantes ao plano desta obra, lembrando apenas que talvez convenha ainda fazer investigações neles e que esta família vem ramificada de Sobreiró, Vale das Fontes, Vinhais e Rebordelo. FIGUEIREDO (António de Figueiredo Sepúlveda) – Tenente-coronel. Tomo VI, pág. 123. Foi assassinado em Bragança (Santa Maria), a 2 de Outubro de 1883 e não 1882, como escrevemos no lugar citado, tendo então sessenta e nove anos de idade. Ver tomo VII, pág. 189. F IGUEIREDO S ARMENTO (Domingos António Gil de) – Tomo I, págs. 165 e 168; tomo VI, pág. 126, e tomo VII, pág. 186. Domingos António (1628) FREITAS, Eugénio de Andreia da Cunha e – Apontamentos para a genealogia da família Soares de Andreia. Lisboa, 1934, p. 19 a 27.
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FIGUEIREDO SARMENTO
TOMO X
Gil de Figueiredo Sarmento e seus irmãos Manuel Carlos Gil de Figueiredo Sarmento e João Vicente Gil de Figueiredo Sarmento, filhos legítimos de Domingos António Gil e de D. Rita Vicência de Figueiredo Sarmento, do lugar da Mofreita, netos paternos de Domingos Gil e de Isabel Fernandes, do lugar de Moimenta, e maternos de António de Figueiredo Sarmento e de D. Rosa Maria do Vale, de Bragança, requereram em Novembro de 1789 habilitação de genere. Está o processo no Museu de Bragança, mas não contém as respectivas certidões de idade, como costumam estar nos outros processos deste género. FIGUEIREDO SARMENTO (Pedro José de) – Natural de Limãos, requereu em 1817 habilitação de genere, para se ordenar. No processo há as seguintes certidões, que dou em extracto: PEDRO JOSÉ (só este nome), o requerente, filho de Manuel Carlos de Figueiredo Sarmento e de D. Luísa Pinto da Costa, aquele natural de Rio de Fornos, concelho de Vinhais, e esta de Chacim, moradores em Limãos; neto paterno de Henrique Vicente de Morais Sarmento, natural de Vinhais, e de D. Antónia Luísa de Figueiredo, natural de Ousilhão, concelho de Vinhais, e materno do Doutor Manuel Pinto da Costa, natural de Vale de Prados, o Grande, concelho de Macedo de Cavaleiros, e de D. Joana Maria da Cruz, natural de Chacim, nasceu em Limãos a 27 de Dezembro de 1794. Foram padrinhos o doutor José Feliciano Pereira da Costa e Meneses, natural de Vale de Prados, o Grande, e D. Rosa Guiomar, «irmã do dito senhor», representado por procuração passada ao doutor José Maria Pavão Pereira, natural da Junqueira, termo de Algoso. MANUEL (só este nome), pai do requerente, filho de Henrique Vicente de Morais Sarmento e de D. Antónia Luísa, fregueses de Vinhais; neto paterno de Manuel de Morais Sarmento, natural de Rio de Fornos, e de D. Maria, natural de Rebordãos, e materno de Pedro Soares, natural de Ousilhão, e de D. Perpétua da Rocha, natural dos Bairros, desta vila de Vinhais, nasceu em Vinhais a 1 de Outubro de 1734. JOSÉ JOAQUIM PINTO DA COSTA (foi depois doutor), tio do requerente, filho do licenciado Manuel Pinto da Costa, natural de Vale de Prados, o Grande, e de D. Joana Maria da Cruz, natural de Chacim, onde são moradores; neto paterno de Manuel Rodrigues da Costa e de D. Joana Pinto, naturais da Vila de Vale de Prados, o Grande, e materno de Vicente Gomes, natural de Bragança, e de D. Joana Rodrigues, natural de Vale de Pereiro, termo de Castro Vicente, nasceu a 17 de Outubro de 1756. LUÍSA MARIA JOAQUINA, irmã do precedente e mãe do requerente, filha do licenciado Manuel Pinto da Costa, natural da vila de Vale de Prados, o Grande, e de D. Joana Maria da Cruz, natural de Chacim, onde são moraMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
FIGUEIREDO SARMENTO | FIGUEIREDOS
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dores; neta paterna de Manuel Rodrigues da Costa e de D. Joana Pinto, naturais de Vale de Prados, o Grande, e materno de Vicente Gomes, natural de Bragança, e de D. Joana Rodrigues, natural de Vale Pereiro, termo de Castro Vicente, nasceu a 29 de Abril de 1762. Depois vem a certidão de casamento dos pais do requerente, que diverge algo nos nomes. Diz ela: MANUEL CARLOS DE FIGUEIREDO SARMENTO, natural e morador em Vinhais, filho de Henrique Vicente de Morais Ferreira e de D. Antónia Luísa de Figueiredo Sarmento, natural de Ousilhão, e D. Luísa Maria Joaquina Pinto da Costa, natural e moradora em Chacim, filha do bacharel Manuel Pinto da Costa, natural da vila de Vale de Prados, e de D. Joana Maria da Cruz, natural de Chacim, casaram em Chacim a 1 de Outubro de 1783. D. ANTÓNIA DE FIGUEIREDO, filha de Pedro Soares de Figueiredo Sarmento e de D. Perpétua Maria de Figueiredo Soares, de Ousilhão, nasceu a 23 de Maio de 1710. HENRIQUE VICENTE DE MORAIS SARMENTO, avô paterno do requerente, filho de Manuel de Morais Sarmento e de D. Maria Novais de Sá, nasceu em Limãos a 24 de Abril de 1709. (Noutras partes diz-se que este Henrique Vicente é natural de Vinhais e ainda de Rio de Fornos). HENRIQUE VICENTE DE MORAIS SARMENTO, solteiro, natural de Rio de Fornos, filho de Manuel de Morais Sarmento e de D. Maria de Sá Peixoto, moradores em Rio de Fornos, e D. Antónia Luísa Soares de Figueiredo, solteira, filha do coronel Pedro Soares de Figueiredo, natural e moradora em Bragança, e de D. Perpétua Maria de Figueiredo, natural de Vinhais, casaram em Bragança na freguesia de Santa Maria a 17 de Outubro de 1731 (1629)[12]. F IGUEIREDOS – Tomo VI, págs. 124 a 138; tomo VII, págs. 186-187 e 655. Bento José de Figueiredo Sarmento (1630), Manuel António de Figueiredo Sarmento e Bernardo António de Figueiredo Sarmento, todos irmãos, naturais de Bragança, filhos de Bento José de Figueiredo Sarmento, cavaleiro da Ordem de Cristo, coronel que foi do regimento de Miranda, e de D. Ana Felícia Pinto de Avelar, da vila de Vale de Prados, concelho de Macedo de Cavaleiros, e aquele de Bragança, onde foram moradores; netos paternos do sargento-mor José Cardoso Borges, natural de Miranda do Douro (1631), e de D. Clara Maria Figueiredo Sarmento, (1629) O processo está no Museu de Bragança. (1630) Ver tomo I, p. 130 e 143; tomo VII, p. 186, destas Memórias. Para o irmão Bernardo, ver o mesmo tomo I, p. 165 e 168, e tomo VII, p. 186. (1631) Ibidem, tomo VI, p. 136 e 678, e tomo VII, p. 51.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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FIGUEIREDOS
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FONSECA
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FONSECA E SOUSA DE SÁ MORAIS
TOMO X
natural de Bragança, onde foram moradores e maternos do sargento-mor Francisco Álvares de Avelar, cavaleiro da Ordem de Cristo, natural da vila de Avelar, bispado de Coimbra, e de D. Maria Pinto da Fonseca, natural de Espadanedo, concelho de Macedo de Cavaleiros, moradores que foram na vila de Vale de Prados, a qual é irmã do Padre Caetano Mendes da Fonseca e do Padre Manuel Fernandes da Costa, requereram habilitação de genere em 1769. No processo, organizado nesse ano de 1769, depuseram como testemunhas: António Gomes Leitão, casado, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, juiz dos órfãos em Bragança, de sessenta anos; José António de Sousa Pimentel, solteiro, natural e morador em Bragança, procurador do Estado da Sereníssima Casa de Bragança, de cinquenta e cinco anos; José de Moura Nóbrega, cónego meio-prebendado da Sé de Miranda, residente em Bragança, de cinquenta anos, mas este assina no processo só José de Moura Nobre e não Nóbrega. No processo há as seguintes certidões: MANUEL ANTÓNIO, um dos habilitandos, filho e neto dos pais acima indicados, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 17 de Novembro de 1756. BENTO, irmão do anterior, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 4 de Janeiro de 1753. BERNARDO ANTÓNIO, irmão dos anteriores, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 20 de Setembro de 1758 (1632). FONSECA (Jaime) – Natural do Seixo, concelho de Carrazeda de Ansiães, residente em Walley Falls (América do Norte). Publicou: Flores agrestes – Versos, segundo vejo anunciado no semanário Trás-os-Montes de 16 de Junho de 1933. FONSECA E SOUSA DE SÁ MORAIS (Bernardo Baptista) – Barão de Santa Bárbara. Tomo I, págs. 130 e 195; tomo VI, pág. 141, e tomo VII, págs. 191 e 186. Bernardo Baptista da Fonseca e Sousa de Sá Morais Pereira do Lago, Manuel Bernardo Inácio da Fonseca e Sousa Pereira de Sá Sarmento, António Manuel Gualberto de Morais Castro Pereira de Sá Sarmento e João Baptista da Fonseca e Sousa de Sá Pereira, fidalgos da Casa de Sua Majestade, todos irmãos, filhos de Bernardo Baptista da Fonseca e Sousa, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, fidalgo da Casa de Sua Majestade, juiz das Três Ordens Militares, familiar de número do Santo Ofício e superintendente das caudelarias da comarca de Bragança, de onde é natu(1632) O processo guarda-se no Museu de Bragança.
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FONSECA E SOUSA DE SÁ MORAIS
675 TOMO X
ral, e de D. Antónia Maria de Sá Morais Pereira do Lago, natural de Nozelos, termo de Monforte de Rio Livre, hoje concelho de Valpaços; netos paternos do capitão, familiar do Santo Ofício Domingos Pires Aires, natural de Paçó de Outeiro, e de D. Francisca de Sousa, natural de Bragança e maternos de António de Sá Pereira do Lago, capitão-mor de Monforte de Rio Livre, natural de Santa Cruz, freguesia de São Fins da Castanheira, concelho de Chaves, e de D. Maria José de Castro Teixeira, natural do referido Nozelos, requereram habilitação de genere. Processo em 1793, figurando nele as seguintes testemunhas: FRANCISCO J OSÉ DE S Á S ARMENTO , fidalgo da Casa de Sua Majestade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, tenente-coronel de cavalaria reformado, de sessenta e oito anos. ANTÓNIO VENCESLAU, de Bragança, fidalgo da Casa de Sua Majestade, capitão de cavalos, de quarenta e nove anos de idade. JOSÉ ANTÓNIO DA SILVA, professor de botânica, natural e morador em Bragança de cinquenta e quatro anos. No processo há as seguintes certidões, de que dou extracto: BERNARDO BAPTISTA (só este nome) filho e neto dos acima indicados, nasceu em Bragança (Santa Maria), a 9 de Junho de 1784. Foi madrinha, por procuração, sua tia D. Francisca Violante, religiosa professa no convento de São Bento de Bragança. MANUEL BERNARDO (só este nome), irmão do antecedente, nasceu em Bragança (Santa Maria), a 11 de Abril de 1786. ANTÓNIO M ANUEL G UALBERTO (só este nome), nasceu em Bragança (Santa Maria), a 2 de Março de 1788. Foi madrinha D. Maria Bernarda Luciana, irmã do baptizado. JOÃO BAPTISTA (só este nome), irmão dos anteriores, nasceu em Bragança (Santa Maria), a 29 de Abril de 1789. BERNARDO BAPTISTA (só este nome), filho de Domingos Pires Aires e de Francisca de Sousa, nasceu em Bragança (Santa Maria), a 19 de Novembro de 1725. Foi padrinho, isto é, representou o padrinho, por procuração, Bernardo da Fonseca, avô do baptizado. MARIA JOSÉ, avó materna dos habilitandos, filha de Filipe Teixeira, natural de Oucidres, e de D. Jerónima de Castro, natural de Mosteiro, freguesia de São Fins da Castanheira, moradora em Nozelos, onde nasceu a 11 de Janeiro de 1726. Foi padrinho António de Freitas, irmão do sobredito Filipe Teixeira, alferes de infantaria, e madrinha sua tia Maria Teixeira. ANTÓNIO DE SÁ PEREIRA DO LAGO, filho de António de Sá Pereira do Lago, natural e morador em Santa Cruz da Castanheira; e de D. Francisca de Morais Castro, de Sonim; neto paterno de Rodrigo de Sá Soares, natural e morador em Santa Cruz, e de D. Maria Pereira do Lago, natural de ChaMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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FONSECA E SOUSA DE SÁ MORAIS
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FONTE LONGA
TOMO X
ves, moradora em Santa Cruz da Castanheira, e materno de António de Morais Castro, natural de Santa Valha, morador em Sonim, e de D. Maria de Sá Vilares, natural de Águas Frias, moradora em Sonim, casou em Nozelos a 5 de Maio de 1738 com D. MARIA JOSEFA TEIXEIRA DE CASTRO, filha de Filipe Teixeira de Sousa e de D. Jerónima de Castro Roda, moradora em Nozelos, ele natural de Oucídres e ela de Mosteiro; neta paterna de Gonçalo de Freitas e de D. Joana Lopes, moradores em Oucídres, ele natural de Vassal e ela de terra de Chaves, e materna de Tomé de Castro e de D. Úrsula Teixeira, moradores em Mosteiro, de onde ele é natural e ela de Nozelos. D. ANTÓNIA MARIA (só este nome), filha de António de Sá Pereira do Lago, natural de Santa Cruz, e de D. Maria Josefa Teixeira de Castro, moradores em Nozelos; neta paterna de António de Sá Pereira do Lago, natural de Santa Cruz, e de D. Francisca de Morais Castro, natural de Sonim, moradores em Santa Cruz da Castanheira, e materna de Filipe Teixeira de Sousa e de D. Jerónima de Castro, natural de Mosteiro, moradores em Nozelos, nasceu em Nozelos a 9 de Julho de 1743. BERNARDO BAPTISTA DA FONSECA (só este nome), natural de Fermentãos, concelho de Bragança, e D. ANTÓNIA MARIA DE MORAIS PEREIRA DO LAGO , natural de Nozelos, casaram em Nozelos, termo de Monforte de Rio Livre, a 2 de Fevereiro de 1772. DOMINGOS (só este nome), filho de Domingos Pires e de Maria Aires, fregueses de Paçó do Outeiro, nasceu nesta povoação a 11 de Setembro de 1691. ANTÓNIO (só este nome), filho de António de Sá Pereira e de Francisca de Morais, nasceu em São Fins da Castanheira a 2 de Setembro de 1703 (1633). FONTE LONGA – Tomos: II, pág. 386; IV, pág. 243; VI, págs. 434, 454 e 456, e VII, págs. 301 e 343. Sete anos, sinco mezes, e dezasete dias, Com o fervoroso espirito de Ellias, Esta parrochial igreja curei E nella com grande zelo a doutrina ensinei Contra as culpas, vicios, e pecados preguei E do demonio mil traços, e astucias declarei E como servo, amoroso Abdias De meus inimigos me acautelava todos os dias; Mas a tirana, a malevola crueldade A perversa e barbara maldade Que nos seus infernais coraçoins presidia Se augmentava e crescia cada dia E cada hû pintava os crimes, que pertendia (1633) O processo conserva-se no Museu de Bragança.
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FONTE LONGA
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FRADES E CÓNEGOS
677 TOMO X
E se a mais alto os não subia, he porque mais não podia, Sem que os podesse commover a pura sinceridade Com que sempre os tratei, e amei com ancia e lealdade. A vossa Alteza serenissima E a sua côrte rial, e amabilissima Peço humildemente o perdam De neste livro escrever este borram Porque para se defender hû perseguido coraçam He preciso aliviar a sua afliçam Porque não basta a torre mais altissima Para de perversos se defender a innocencia mais certissima, Quem vive entre perversos está exposto ao perigo E quando no mez de Junho chove, o teem o sirgo No anno de sincoenta e dois de Junho se suspendeo o abrigo. O Encomendado Domingos Lopes Trigo (1634).
FRADES E CÓNEGOS – DEMARCAÇÃO DOS TERMOS DE VÁRIAS POVOAÇÕES. No artigo Frades, tomo IX, pág. 404, demos a lista das povoações onde as ordens religiosas tinham propriedades, mas faltaram as que referimos abaixo, pertencentes à comenda de Algoso (Ordem de Malta), constantes do Tombo dos bens da comenda de Algoso feito em 1684 e de outro Tombo da mesma comenda feito em 1633 por um juiz de fora a requerimento do comendador. A palavra demarcação, em seguida ao nome do povo, indica que os Tombos apontam as suas confrontações com os termos das aldeias confinantes; os números seguintes, o fólio do Tombo de 1684, onde se trata dessa povoação, e os dados entre parêntesis os correspondentes no Tombo de 1707-1708. Na pág. 598 do tomo IX fizemos a descrição destes códices. O Tombo aponta a demarcação só dos termos das aldeias que pertenciam totalmente à comenda de Algoso e omite-a no caso contrário, limitando-se apenas à descrição, medição e confrontação das propriedades que lá tinha. Segue a lista das povoações onde ficavam os bens: Atenor, fólio 609 v. (104). Avinhó (Vinhó, no Tombo) demarcação, 71 v. (68 v.). Bornes, 286 (164). Caravelas, 342. Carrazedo, 454. Carvalhais, 361 v. (364 v). Chacim, 219 (148). Choupim, demarcação, 357.
(1634) Copiado do livro dos assentos de baptizados da freguesia de Fonte Longa do ano de 1750, fólio 98 v. Letra muitíssimo bem feita.
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FRADES E CÓNEGOS
TOMO X
Figueira (Mogadouro), demarcação, 603 (97 v.). Fonte Ladrão, demarcação, 617 v. (123). Fornos de Ledra, demarcação, 581 (347 v.). Fradizela, fólio 575 v. Gimonde, 464 (311 v.). Gradíssimo, 270 v. (204). Granja de Gregos, 605 v. (101 v.). Granja de São Pedro, demarcação, 612 (128). Gregos, 605 (101 v.). Grijó de Parada, 523 v. (280 v.). Grijó de Vale Benfeito, 280 (160). Guide, fólio (349). Gostei, 449 (335). Junqueira (Vimioso), demarcação, 66 v. (71 v.). Matela (Amatela no Tombo), demarcação, 54 v. Mora, demarcação, 86 v. Mosteiro (Torre de Dona Chama), demarcação, 571 (351 v.). Oleirinhos (Oleiros do Sabor no Tombo), 457. Olmos, demarcação, 265 v. (158). Paradinha Nova, 528 (265). Paradinha Velha, 544 v (256 v,). Picote, demarcação, 587 v. (120). Portela (Bragança), 440 (314). Rabal, 463 (340). Regodeiro, demarcação, 569 (352 v.). Ribeirinha (Mirandela), demarcação, 565 v. (346 v.). Saldanha (Mogadouro), demarcação, 602 v. (96). Santa Cruz (Vinhais), 415 (324 v.). São Pedro da Silva, demarcação, 614 (123). Sendim de Miranda, demarcação, 584 v. (118). Soeira, 427 (318). Teixeira (Mogadouro), demarcação, 606 v. (104 v.). Travanca (Travanqua no Tombo), Macedo de Cavaleiros, 275 (201). Travanca (Travanqua no Tombo), Mogadouro, demarcação, 599 v. (99 v.). Urrós (Urros no Tombo), Mogadouro, demarcação, 589 v. (107). Uva, demarcação, 89 v. (53). Vale de Asnes, demarcação, 346 (207). Vale de Algoso, demarcação, 82 v (49). Vale Certo, demarcação, 76 v. (62 v.). Vale de Gouvinhas, demarcação, 579 (344 v.). Vale Maior, demarcação, 567 v. (345 v.). Vale de Prados das Múrias, demarcação, 573 (350). Vilar Seco de Miranda, demarcação, 615 (125 v.). Vila Chã da Ribeira, fólio 611 v. (131) (1635). (1635) Ver p. 597 do tomo IX, onde transcrevemos as demarcações dos termos de algumas aldeias.
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FRADES E CÓNEGOS
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Como hoje a demarcação dos termos das povoações está tomando grande importância económica, além da arqueológica como mostraremos mais adiante e já fica dito no tomo IX, pág. 582, damos as seguintes notas tiradas do Tombo dos bens do cabido de Miranda feito em 1691 (1636): Nunes, demarcação do seu termo, fólio 56 v. Colnelas, por Conlelas, fólio 90. Póvoa, demarcação, fólio 101 v. Marra no caminho de Ifanes, «aonde está hua cruz antiguoa em hûa fraga»...... [outra marra] «á fonte da moira aonde está hûa cruz piquada em hû penedo». São Seris, demarcação, fólio 116 v. Frieira, demarcação, fólio 120 v. Calvelhe, demarcação, fólio 130. Marra no sítio chamado «a Proiteira do Sabor aonde está hûa pedra que serve de marco com hûa cruz......». Vila Franca de Lampaças, demarcação, fólio 143 v. Lamas de Podence, demarcação, fólio 148. Vale de Prados, o Grande, demarcação, fólio 154 v. Dá-lhe o título de vila, de onde se conclui que é o de Macedo. Arufe, demarcação, fólio 188. Duas marras: uma em fraga, onde se fizeram cruzes de novo (uma em cada). Biduedo (sic), demarcação, fólio 201 v. Sarzeda, demarcação, fólio 211 v. Paradinha Nova, demarcação, fólio 228. Alfaião, demarcação, fólio 243. São Pedro dos Sarracenos, demarcação, fólio 257 v. Cabanelas, povoação morta, demarcação, fólio 264. Samil, demarcação, fólio 266. Izei, povoação morta, demarcação, fólio 267. Castro de Avelãs / Gustei, demarcação, fólio 283. Castanheira, demarcação, fólio 291. Nogueira, demarcação, fólio 294 v. Fermil (sic), demarcação, fólio 325 v. Vila Nova (Bragança), demarcação, fólio 338. Bretello (sic), povoação morta, demarcação, fólio 338 v. Corvalhão (povoação morta?), demarcação, fólio 341. Labeados (sic), demarcação, fólio 344. Milhão, demarcação do seu termo, fólio 357 v. Vale de Prados da Ponte e Vilar (termo de Bragança), demarcação, fólio 362 v. Hoje Milhão ou Quintanilha. Réfega, demarcação, fólio 365. Palacios, demarcação, fólio 368 v.
(1636) Ver tomo I, p. 367, destas Memórias.
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FRADES E CÓNEGOS
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FRANCO
TOMO X
Rio Frio de Outeiro, demarcação do seu termo, fólio 372. Veigas, demarcação, fólio 375 v. Quintanilha, demarcação, fólio 378 v. Paçô de Outeiro, demarcação do seu termo, fólio 381 v. Pinelo, demarcação do seu termo, fólio 384 v. Vale de Pena, demarcação, fólio 386 v. Paradinha de Outeiro, demarcação, fólio 389 v. Outeiro, demarcação, fólio 393. Argozelo, demarcação, fólio 395 v. Carção, demarcação do seu termo, fólio 398. Santulhão, demarcação do seu termo.
Este Tombo tem um apêndice que abrange noventa e seis fólios e começa em seguida ao fólio 405 com nova paginação. São deste apêndice as demarcações dos termos das povoações seguintes: Ervidosa (sic), demarcação do seu termo, fólio 16. Penas Juntas, demarcação do seu termo, fólio 17 v. Valongo, demarcação, fólio 24. Selas, demarcação, fólio 36. Negreda, demarcação, fólio 38 v.
F RANCO (José António) – Doutor, cónego da Sé de Bragança. Tomo VII, pág. 196. Filho de António José Ribeiro Franco e de Carolina Garcia Franco, neto paterno de Laureano José Franco e de Josefa Rosa e materno de José António Garcia e de Luísa Joaquina, todos de Bragança. Esta filiação no requerimento para habilitação de genere em 1845 existente no Museu de Bragança. No processo há as certidões seguintes, passadas pelos párocos, que extracto: A NTÓNIO (pai do habilitando), filho de Laureano José Franco e de Josefa Rosa, fregueses da Sé, neto paterno de José Manuel Franco e de Francisca Josefa, e materno de Gabriel José Ribeiro e de Inácia Josefa, todos de Bragança, nasceu a 23 de Dezembro de 1801. JOSÉ, filho de Manuel António Garcia, de Santa Comba da Vilariça, e de Maria Inácia, recebidos em Bragança (Santa Maria), nasceu a 17 de Outubro de 1787 em Lisboa, freguesia dos Anjos. JOSÉ ANTÓNIO (o habilitando), filho de António José Ribeiro Franco e de Carolina JÚLIA (sic), fregueses da Sé de Bragança, neto paterno de Laureano José Franco e de Josefa Rosa e materno de José António Garcia e de Dona Luísa Joaquina Dias Garcia, todos de Bragança, nasceu a 22 de Agosto de 1833. LAUREANO J OSÉ F RANCO, filho de José Manuel Franco e de Francisca MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
FRANCO
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FRECHAS
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FREIO DOS MALDIZENTES
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FREIXO DE ESPADA À CINTA
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Josefa, ambos de Bragança, neto paterno de Inácio Mendes Borges e de Luísa Maria Brites, ambos de Bragança, e materno de Tomás Lopes, natural da vila de Arenas, bispado de Astorga, Espanha, e de Luísa Maria, de Bragança, nasceu a 7 de Setembro de 1770. JOSEFA, filha de Gabriel José Ribeiro e de Inácia Maria, de Bragança, neta paterna de Bento Ribeiro e de Maria Henriques e materna de António Rodrigues e de Maria Henriques, todos de Bragança, nasceu a 20 de Março de 1779. LAUREANO JOSÉ FRANCO e JOSEFA RAZA, casaram em Bragança (Sé) em 1798. LUÍSA J OAQUINA , filha de Jerónimo Dias da Paz de Mariana Josefa, ambos de Bragança, neta paterna de José Dias da Paz e de Catarina Henriques, de Bragança e materna de José Mendes, da vila de Guimarães, e de Ana Pereira, de Vinhais, nasceu a 1 de Dezembro de 1782. JOSÉ A NTÓNIO G ARCIA e LUÍSA J OAQUINA , casaram em Bragança (Sé) em 1806. C AROLINA J ÚLIA C ÂNDIDA , filha de José António Garcia, capitão de ordenanças, natural de Lisboa, e de D. Luísa Joaquina, de Bragança, neta paterna de Manuel António Garcia, de Chacim, e de Maria Inácia, de Bragança, e materna de Gregório Dias da Paz e Mariana Josefa, ambos de Bragança, nasceu a 18 de Março de 1814. F RECHAS – No tomo VIII, pág. II, destas Memórias, dissemos que a comenda concedida a Salvador de Melo da Silva, em prémio do seu heróico gesto, fora a de Frechas, concelho de Mirandela, mas foi asneira, cuja correcção devemos ao nosso erudito amigo Padre Ernesto Augusto Sales; trata-se da de Freches, concelho de Trancoso. FREIO DOS MALDIZENTES – Tomo IX, pág. 431. «Dizem que na Câmara Municipal de Murça existiu, até 1834, um freio, que se punha às mulheres de má-língua e aos caluniadores» (1637). Na Gazeta de Bragança de 14 de Maio de 1899 disse o abade de Carviçais, José Augusto Tavares, que a vila de Mós, concelho de Moncorvo, «tinha duas forcas e um freio para amordaçar as mulheres adúlteras, dizem na região; mas deviam ser as maldizentes, a julgar pelo que Viterbo refere. Este freio foi para o Museu do Carmo» (Lisboa). FREIXO DE ESPADA À CINTA – Alva (tomo I, pág. 61; tomo IV, pág. 448; tomo IX, pág. 716), Calçada de Alpajares (tomo IX, pág. 211). Nos docu-
(1637) PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme – Portugal: Dicionário histórico, corográfico…,1909, artigo «Murça». Ao distinto polígrafo brasileiro Dr. Afrânio Peixoto agradeço esta informação.
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FREIXO DE ESPADA À CINTA
TOMO X
mentos antigos escrevia-se Freixo de Espada-Cinta, mas «hoje diz-se à Cinta» (1638). Gasco (1639), falando de Alva e Alpajares, diz: «No termo desta vila [de Freixo de Espada à Cinta], está em hum alto monte hûa grande povoação, toda ruinada, declarando só sua ossada, que fora em algum tempo populosa cidade, conservando e aviventando ainda, em nossos dias, em suas destroçadas ruinas, seu nome de Alvia, que já Ptolomeo nella falou, e a teve por lugar insigne em Espanha, e Vvamba Portuges, e monarca Godo dos Espanhos, nas repartições que dos bispados fez (1639), nella falou, se vai por hûa altissima serra a ella, que no cume corre, hûa notavel calçada, feita pelos romanos, que vai rodeando, em voltas, e em giros, com tal traça fabricada, que bem pode passar hû coche obra dignissima de algum emperador. De hûa parte, e da outra, vai acompanhada de mui altos, e intrataveis rochedos, que parecem cidades arroinadas, moradas de feroces porcos montesas, aonde, de continuo, voão aguias reais; a qual estrada contém em si hum bom quarto de leguoa: hê chamada, vulgarmente, Alpojares, e de outros Balpojares, nome corrupto, e enchaquoco, de que os caminheiros para aleviarem o cansasso do caminho, coriosas fabolas, della, contão. Ao pé da qual, se estendem, airosamente, hum amenissimo, e fresco valle, por estremo precioso, e para a vista humana alegre orizonte, hum retrato vivo do paraiso terreal, competidor do famoso valle Olisiponense, aonde o forte Aquiles em trajos de molher foi achado para a jornada Troiana, em hum antiquissimo templo das Virgens Vestaes. Todo este valle está plantado de muitos fructiferos arvoredos, de muitas larangeiras, de varios prexigueiros, de cidreirais, e limoeiros doces, cujo suave pomo, doce, não por industria, senão por natureza, teverão para si, alguns humanistas, que em nossa tempo florecerão; que elle foi o que no monte Ida, Paris, o Troiano, deu á famosa Venus, ficandolhe Palas, e Juno envejosas, a Venus, e crueis enemiguas, a Paris, donde manou as lamentaveis guerras da casa real de Priamo, e ultimo fim de seu opulento e requissimo reino Troiano. Ainda no lugar de Alvia, se mostra, em seus sarmentos, hum castello, e muros derrubados, lançados quasi tudo por terra, por ser o tempo consumidor dos mais nobres e poderosos ugares (sic), e semelhantes na braveza ao raio que tem por condição mostrar sua força com outra cousa mais forte, e mais dura ................................................................................
(1638) VASCONCELOS, J. L. de – Etnografia Portuguesa, 1936, vol. II, p. 404. (1639) C RUZ, António – Um inédito de António Coelho Gasco sobre antiguidades de Trás-osMontes, 1935, p. 19. Sobre o título completo deste manuscrito e época em que foi escrito, ver artigo «Gasco (António Coelho)».
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FREIXO DE ESPADA À CINTA
683 TOMO X
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Nas ruinas de Alvia, deitada junto a hua fonte de mui bõas aguoas, está hum pedestal lavrado, com frisos Romanos, que fora de hum altar de Jupiter, que Appio Claudio lhe consagrara, chamandolhe por excelência, Optimo, e Maximo ........................................................................ IOVI OPT: O que mais ponderei nestas antigualhas de Alvia, ET MAX A foi ver, no meio dellas, hûa bem pobre casa de PP CLAVD oração, edificada com as pedras de suas ruinas, F (1640) sem portas, e telhado, feita hum curral de guado; aonde estava hua devotissima, e Sacratissima Imagem da Virgem Nossa Senhora; postos os olhos, no ceo, e com o menino Jesus, como em hostia, alevantado, nas mãos, offrecendo ao Padre Eterno: o que me pareceo, que esta grande princesa dos Anjos, que está pedindo justiça ao mesmo ceo contra os que lhe comem suas rendas, todos os anos, sendo abadia, ao que Vossa Ill.ma ouvera de acudir com a espada de Justiça, que por o não saber, está no presente estado. Conta o poeta Catulo, satirizando seu tempo, que enquanto os deuses estiverão em pobres casas, erão então os homes milhores, e que depois que lhe fabricarão sumptuosos templos erão piores» (1641). Depois, Gasco volta a falar de Freixo de Espada à Cinta na pág. 30, derivando-lhe a etimologia de um valoroso capitão chamado Espadacinta, segundo diz a tradição, assinalado pelos triunfos sobre seus inimigos, que, vencendo-os mais uma vez, nas margens do Douro, no sítio ainda hoje denominado Matança, assim chamado da realizada nesta batalha, e, indo no encalço deles, pendurou a espada num dos muitos freixos que aí havia para descansar um pouco (1642). «Nos frescos, e saudosos campos desta vila [Freixo de Espada à Cinta] nasce rusticamente aquela bonina, que chamarão antiguamente hyacinto os gregos; e os Latinos Iris, por ter muita respondencia na variedade de suas cores do arco da velha, simbulo era de eloquencia, por isso dizia Homero que os oradores de Troia, a comião, como bem diz Prierio. Nasce em hûa erva de hum alvissimo lirio, variado de azul celeste, e encarnado, matizado damarello, que parece letras de finissimo ouro, alegres á vista por a variedade de suas finissimas cores, e suaves por seu grande cheiro: (1640) Jovi, Optimo et Maximo, Appius Claudius Fecit. Leitura do autor. (1641) CRUZ, António – Um inédito de António Coelho Gasco sobre antiguidades de Trás-os-Montes, 1935, p. 19 e seg. (1642) João de Barros, nas Antiguidades de entre Douro e Minho, diz que um fidalgo de apelido Feijão, primo de São Rosendo, que faleceu em 977, fundou Freixo, e como tinha por armas heráldicas um freixo e uma espada, daqui viera o nome a vila. (1643) CRUZ, António – Um inédito de António Coelho Gasco…, p. 30.
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FREIXO DE ESPADA À CINTA
TOMO X
he chamada esta flor pelos Freixenses açucena do campo» (1643). FORTIFICAÇÕES E IGREJA – Consta de um documento régio datado de Évora a 30 de Dezembro de 1452 que as terças (terceira parte da receita) do concelho de Freixo de Espada à Cinta se aplicavam «pera repairo do muro, e castello da dita villa» por consentimento régio, confirmado mais tarde por D. João III em 1526. Depois da aclamação de D. João IV (1640), estas terças passaram para a coroa, segundo se mostra de uns apontamentos feitos pelos freixienses para requerer numas cortes, cujo ano se não menciona. Dizem eles: «que lhes mande acabar a Igreja Matriz, que se fez com a Terça Real que nella tinha, e agora mandava arrecadar pelo seu Almoxarife; ficando por fazer o coro, pulpito e remates: que lhes torne a fazer mercê da Terça do concelho, que os reis passados lhe concederão para as obras publicas delle, e que agora S. A. de poder absoluto tomara para si». Não consta do despacho que tiveram. De uma carta de el-rei D. Afonso IV, datada de 1342, para o seu almoxarife e escrivão de Bragança, Pedro Domingo, mostra-se que «os raçoeiros da eigreja de Freixo-de Spada-Cinta me enviarom dizer, que Eu hei de haver o terço das rendas da dita eigreja pera fazer o muro da dita Villa» (1644). PRIVILÉGIOS – Representando os de Freixo de Espada à Cinta a el-rei D. João I, que muitos moradores da vila «a quem lançavão a béesta de garrucha e solhas e gorgilim, tinhão arneses d’homens d’armas, a saber: cótas e bacinetes de camal e landees e delles peças» mandou-lhes em 1410, que escolham: «ou ter as cótas, ou peças com bacinetes de camaaees, ou de babeira e com avanbraços: ou ter as ditas solhas e gorgelim: qual antes quizerem ter, tal tenhão» (1645). Em 1408 mandou o mesmo rei que nenhum juiz entrasse em Freixo de Espada à Cinta a conhecer de feitos cíveis ou criminais, a não ser o juiz ordinário da mesma vila (1646). D. Mécia de Melo, viúva de Vasco Fernandes de Sampaio, pretendia levar em Freixo e termo a pena de sangue (1647); mas, por sentença de 1507, declarou el-rei D. Manuel que nenhum direito tinha a tais emolumentos, «porquanto a mercê, que el-rei D. Afonso V e elle mesmo fizeram a seu marido era tão somente por sua vida e se não estendia á viuva. Isto mesmo se manifesta por outra sentença do referido monarca de 1503 contra a mesma, que não tendo foral para levar os excessivos tributos, por (1644) Documentos de Freixo de Espada à Cinta, citados por V ITERBO – Elucidário, artigo «Castellatico». Ver tomo IV, p. 281 e 408, destas Memórias. (1645) Ibidem, artigo «Bacinete». Documentos de Freixo. Ver no mesmo o artigo «Desalealdar». (1646) VITERBO – Elucidário, artigo «Eigo». (1647) Multa imposta aos que espancavam, feriam e ofendiam a moral pública com palavras desonestas. Ver tomo IV, p. 329, onde se mencionam os casos de pena de sangue e multa respectiva.
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GASCO
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sua propria autoridade levava de todo o passageiro, que atravessava por Freixo, seu arrabalde, ou termo, 48 reis por maravidi, e dous alqueires de cevada de cada morador: e a pena-de-sangue. E que os passageiros revéis em fazer, eram, por desencaminhados, privados das suas fazendas. – Manda El-Rei, que a Ré não leve passagem, nem portagem, senão dos que passassem de Portugal para Castella, ou de Castella para Portugal com algumas mercancias: que não leve a pena-de-sangue, pois não tem para isso titulo: e que os dous alqueires de cevada se vendão, e ponha o dinheiro em deposito, até que pela factura dos Novos Foraes se veja, se as taes medidas lhe pertencem, ou não –» (1648). G ASCO (António Coelho) – Doutor em leis pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 15 de Julho de 1617, natural de Lisboa, filho de Gaspar Coelho Gasco. Faleceu em 1666 no Grão-Pará (Brasil), onde era auditor-geral. Foi «juiz de fora, dos órfãos e capitão-mor, por Sua Majestade, e com alçada por o dito Senhor», da vila de Freixo de Espada à Cinta. No tomo VII, pág. 723, n.° 30, demos notícia de um manuscrito de António Coelho Gasco, que encerra muitas antiguidades referentes ao distrito de Bragança, intitulado Antiquário discurso dedicado ao arcebispo de Braga D. Rodrigo da Cunha, ou, melhor, segundo o seu título verdadeiro, Antiquário discurso dedicado ao Il. mo e Rd.mo S.or D. Rodrigo da Cunha, Senhor dela, Primaz das Espanhas, e eleito Metropolitano de Lisboa. D. Rodrigo da Cunha foi arcebispo de Braga desde 1627 a 1635, e durante este período visitou a região de Freixo de Espada à Cinta, onde Gasco era juiz de fora e lhe apresentou o discurso de recepção, pleno de erudição clássica e antiguidades, colhidas na província trasmontana, quando fazia «o tombo, por mandado de Sua Magestade», como declara no mesmo discurso. No respeitante ao distrito de Bragança, encerra notícias referentes a Alpajares, Alva (perto de Freixo de Espada à Cinta), Bornes, Freixo, Carraçero (Carrazedo), Malta, Moncorvo, Travanca e Urros (Moncorvo), que extractamos nos respectivos artigos. Este precioso códice, que estava na Biblioteca da Universidade de Coimbra, foi publicado pelo benemérito Doutor António Cruz, conservador da mesma biblioteca, autor de outros trabalhos prestantes, sob o título: Um inédito de António Coelho Gasco sobre antiguidades de Trás-os-Montes, Coimbra, 1935, 8.° de 34 págs., acompanhadas de notas, resenha biobibliográfica e crítica do autor, bem como de um texto fac-similado do mesmo. (1648) VITERBO – Elucidário, artigo «Pena de sangue».
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GONÇALVES
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GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
TOMO X
O Doutor António Cruz levou a sua gentileza ao extremo de me dedicar este estudo, atenção que muito me penhorou e agradeço reconhecido. GONÇALVES (Francisco António) Doutor em medicina pela Universidade do Porto. Nasceu em Paçó de Outeiro, concelho de Bragança, a 24 de Julho de 1887, filho de José Manuel Gonçalves e de D. Adelaide Isabel Antunes de Oliveira. Alistou-se como recrutado no 3.° Grupo de Companhias de Saúde em 6 de Julho de 1917, sendo promovido a alferes-médico miliciano por decreto de 13 de Agosto de 1917. Embarcou para a França, fazendo parte do Corpo Expedicionário Português em 17 de Novembro do citado ano, regressando em 6 de Dezembro de 1918 no posto de tenente-médico miliciano. Em 17 de Outubro de 1919 foi licenciado e retirou-se para o Brasil, onde agora exerce clínica. Publicou: Breves considerações sobre medicina popular – Dissertação inaugural. Porto, 1917, 8.° de 9 (inumeradas) + 108 págs. Ao grande bragançano José Montanha agradeço a colheita dos dados biográficos para este artigo respeitantes à cronologia. GONÇALVES (Horácio de Assis) – Tomo VII, pág. 213. Escreveu mais: Ligações militares em campanha – Interpretação e desenvolvimento do Título III do Novo Regulamento de Campanha (Provisório). 1928. Para a História do C.E.P. Infantaria 12 nos redutos. «Le Marais» – Batalha do Lis – 1918. Porto, 1933. 8.° de 120 (+ 5 inumeradas) págs. Em Julho de 1934 foi o tenente Assis Gonçalves nomeado Governador Civil do Distrito de Vila Real, cargo de que logo tomou posse e ainda agora (Agosto de 1937) exerce. GOVERNADORES CIVIS DO DISTRITO DE BRAGANÇA – No tomo VII, pág. 219, e noutras que se apontam nesta relação demos a lista dos governadores civis de Bragança conforme se encontra no Livro dos Autos de Posse dos mesmos, existente no Governo Civil de Bragança, mas pelo mesmo tomo biografámos outros por ordem alfabética de apelidos que, embora constantes do mesmo Livro, tinham jus a notícia mais desenvolvida. O nosso grande amigo Doutor Raul Teixeira, secretário-geral do mesmo governo civil, entende que a lista deve sair integral, e por isso aqui a damos segundo ele a organizou, limitando-nos a indicar as páginas do tomo VII, onde se trata dos omitidos na nossa lista.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
687 TOMO X
GOVERNADORES CIVIS DO DISTRITO DE BRAGANÇA DESDE 1846 COMO CONSTAM DO LIVRO DOS AUTOS DE POSSE ARQUIVADO NO GOVERNO CIVIL
(Observação – Do primeiro auto de posse, inserto em tal livro, respeitante a António Ferreira de Macedo Pinto, bacharel formado em medicina, o qual tomou posse em 7 de Março de 1845 do lugar de Provedor de Saúde do distrito de Bragança, vê-se que em tal data era Governador Civil de Bragança João Manuel de Almeida Morais Pessanha).
NOMES
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
OBSERVAÇÕES
Francisco Xavier de Morais Pinto
8-40-1846
4-12-1846 Foi-lhe conferida a posse por António José de Miranda, Par do Reino, Presidente da Junta Governativa do Distrito. O auto não está assinado pelo empossado nem pelo amanuense da Secretaria do Governo Civil, Manuel Joaquim de Loureiro, apesar de no mesmo constar que por ele, amanuense, será assinado. Figuram as assinaturas de António José de Miranda, – Presidente João Pedro de Almeida Pessanha, Joaquim Álvares Falcão e Diogo Albino de Sá Vargas.
António Júlio Taveira Pinto Pizarro
8-11-1847
3-42-1847
Conferida pelo Secretário Geral, Diogo Albino de Sá Vargas.
António José de Miranda, Par do Reino
26-1-1848
23-2-1848
Conferida pelo Secretário-Geral, Diogo Albino de Sá Vargas (1649).
(1649) A seguir a este auto figura o da posse de Joaquim Álvares Falcão no lugar de Secretário-Geral, posse que lhe é conferida pelo «Excelentíssimo Governador Civil Diogo Albino de Sá Vargas», não constando do livro a posse deste Governador Civil. A posse do Secretário-Geral Falcão foi em 15-11-1848. Em 12-3-1850 (auto a seguir) toma posse, conferida também pelo «Excelentíssimo Governador Civil Diogo Albino de Sá Vargas», o Director das Alfândegas do Distrito de Bragança. E ainda a seguir, em 15-4-1850, conferida ainda pelo mesmo Sá Vargas, auto de posse ao Delegado de Saúde Pública no distrito Administrativo de Bragança.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
688
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
TOMO X
NOMES
Francisco Xavier de Morais Pinto
Data do Decreto de nomeação
–
Júlio do Carvalhal Sousa Teles Manuel de Almeida Pessanha Joaquim Xavier Pinto da Silva Alexandre Pinto da Fonseca Vaz Guilhermino Augusto de Barros Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima Cláudio Mesquita da Rosa António Joaquim Ferreira Pontes Aires Guedes Coutinho Garrido José Alves Pinto de Azevedo
23-5-1856 13-7-1857 20-6-1859 12-3-1860 8-8-1860 8-8-1861 8-10-1863 26-5-1865 26-9-1865 –
Jacinto António Perdigão Francisco Cardoso de Almeida e Albuquerque Augusto Correia Godinho Ferreira da Costa Carolino de Almeida Pessanha António Joaquim Ferreira Pontes Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima Diogo Albino de Sá Vargas Tomás António Ribeiro Ferreira Adriano José de Carvalho e Melo António Maria de Morais Machado
1-7-1868
Data da posse
OBSERVAÇÕES
– No livro não há o auto de posse deste Governador Civil; mas no de José Teixeira de Queirós, em 26-5-1851, do lugar de Secretário-Geral, que se segue ao do de Delegado de Saúde Pública no distrito de Bragança, atrás referido, figura como Governador Civil Francisco Xavier de Morais Pinto. Morais Pinto ainda era Governador Civil em 16-8-1855, como se vê dum auto de posse. – 23-6-1856 – 25-8-1857 – 1-8-1859 – 20-6-1860 – 7-9-1860 – 1-10-1861 – 4-1-1864 – 6-6-1865 – 28-10-1865 23-1-1868 Coronel-comandante do Batalhão de Caçadores n.° 3. Tomou posse «em virtude de telegramas enviados pelo Ex.mo Ministro do Reino ao Administrador do Concelho de Mirandela e por este transmitidos a este Governo Civil», como se lê no auto de posse. – 10-8-1868 29-9-1868
–
17-6-1869 30-6-1869 19-1-1870 27-1-1870 25-5-1870 13-6-1870 2-9-1870 7-9-1870 30-3-1871 1-4-1871 1-8-1872 17-8-1872 25-11-1873 13-12-1873 10-1-1877 19-2-1877
– – – – – – – –
31-8-1868
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
689 TOMO X
NOMES
Cláudio Mesquita da Rosa António Maria de Morais Machado Eduardo José Coelho José Tibério de Reboredo Sampaio e Melo António Maria de Morais Machado Casimiro António Ribeiro da Silva
Augusto Maria da Fonseca Coutinho (1650)
Visconde dos Arcos (1651)
Firmino João Lopes (1652) António Joaquim Ferreira Margarido (1653) Joaquim Ferreira Pina Calado (1654)
António Joaquim Ferreira Margarido (1655) José Gonçalves da Costa Ventura (1656)
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
OBSERVAÇÕES
28-7-1877 6-2-1878
7-8-1877 16-2-1878
– –
9-6-1879 12-1-1881
7-7-1879 2-2-1881
– –
2-4-1881
21-4-1881
–
21-5-1884 9-6-1884 (D. do Gov. n.° 180) 5-11-1885 21-11-1885 (D. do Gov. n.° 258, de 14-11-1885) 25-2-1886 11-3-1886 (D. n.° 45, de 26-2) 16-1-1890 1-2-1890 (D. de 17-1) 30-7-1890 1-9-1890 (D. n.° 172, de 2-8) 13-11-1890 28-11-1890 (D. n.° 265, de 20) 16-7-1891 28-7-1891 (D. n.° 158, de 20-7) 7-4-1891 16-4-1892 (D. n.° 81, de 11-4)
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– –
–
–
–
(1650) Está no tomo VII, p. 140, destas Memórias. (1651) Ibidem, p. 30. (1652) Ibidem, p. 273. (1653) Ibidem, p. 291. (1654) Ibidem, p. 60. (1655) Ibidem, p. 291. (1656) Ibidem, p. 590.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
690
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
TOMO X
NOMES
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
OBSERVAÇÕES
Manuel de Saldanha da Gama Torres (1657)
13-12-1892 24-12-1892 (D. n.° 286, de 20-12)
Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda (1658)
6-4-1893 19-4-1893 (D. n.° 78, de 8-4-93) 14-12-1893 1-1-1894 (D. n.° 285, de 16-12-93) 13-12-1894 21-12-1894 (D. n.° 288, de 19-12-94) 30-1-1896 10-2-1896 (D. n.° 25, de 1-2-96) 11-2-1897 20-2-1897 (D. n.° 34, de 13-2-97) 6-7-1900 16-7-1900 (D. n.° 149, de 7-7-900) – 31-10-1904
–
22-3-1906 (D. n.° 65, de 23-3-1906)
–
António Joaquim Ferreira Margarido (1659) António Teixeira de Sousa (1660)
Amâncio Rodolfo Pinheiro da Costa Ribeiro (1661) Visconde das Arcas (1662)
Abílio Augusto de Madureira Beça (1663) Álvaro de Mendonça Machado de Araújo (1664) António Joaquim Ferreira Margarido (1665)
4-4-1906
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–
(1657) Está no tomo VII, p. 562, destas Memórias. (1658) Ibidem, p. 502. (1659 )Ibidem, p. 291. (1660) Ibidem, p. 540. (1661) Ibidem, p. 445. (1662) Ibidem, p. 30. (1663) Ibidem, p. 41. (1664) Ibidem, p. 29. (1665) Ibidem, p. 291.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
691 TOMO X
NOMES
José Caetano Saraiva Caldeira de Miranda (1666) Visconde da Bouça (1667)
António Joaquim Ferreira Margarido (1668) Avelino da Silva Monteiro (1669)
Henrique José Pereira
José António da Rocha Lousa
João José de Freitas António Luís de Freitas
José Maria Quirino Pacheco de Sousa Luís da Costa Amorim
Custódio José Ribeiro António Avelino Joyce
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
8-6-1906 20-6-1906 (D. n.° 129, de 9-6-906) 13-9-1906 20-9-1906 (D. n.° 209, de 17-9-906) 22-2-1908 9-3-1908 (D. n.° 44, de 24-2-908) 28-1-1909 10-2-1909 (D. n.° 23, de 30-1) 27-1-1910 1-2-1910 (D. n.° 22, de 29-1) 27-6-1910 7-7-1910 (D. n.° 139, de 28-6) – 8-10-1910 9-6-1911 20-6-1911 (D. n.° 136, de 13-6) 13-10-1911 16-10-1911 (D. n.° 240, de 14-10) 16-2-1912 24-2-1912 (D. n.° 40, de 17-2) 18-1-1913 23-1-1913 21-3-1914 31-3-1914 (D. n.° 66, de 21-3)
OBSERVAÇÕES
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(1666) Está no tomo VII, p. 320, destas Memórias. (1667) Ibidem, p. 54. (1668) Ibidem, p. 291. (1669) Ibidem, p. 334.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
692
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
TOMO X
NOMES
Alfredo Monteiro de Carvalho
António Avelino Joyce
Constâncio Arnaldo de Carvalho
Ernesto Pinto Emílio de Oliveira
António Amorim de Carvalho
Eduardo Alberto Ferreira de Almeida Luís António Rodrigues Lobo
Carlos António Leitão Bandeira
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
OBSERVAÇÕES
– 10-2-1915 23-2-1915 (D. n.° 34 de 11-2) – 24-5-1915 31-5-1915 (D. n.° 119, de 25-5) – 13-10-1917 7-11-1917 (D. n.° 256, de 31-10) – 11-12-1917 Tomou posse por ter apresentado «um telegrama expedido pelo Ex.mo General Comandante da 6.a Divisão do Exército em dez do mês corrente, determinando-lhe que, em nome do Comité Revolucionário do Norte, assumisse o cargo de Governador Civil interino deste Distrito». 13-12-917 20-12-1917 – (D. n.° 292, de 15-12) 9-2-1917 19-2-1917 – (D. n.° 35, de 12) 19-3-1918 30-3-1918 – (D. n.° 69, de 23-3) – 21-1-1919 «por determinação da Junta Governativa do Reino, constante da nota do Ex.mo Comandante Militar desta cidade».
Carlos Augusto Vergueiro Desidério Augusto Ferro de Beça
– 29-1-1919 (D. n.° 26, de 3-2)
Desidério Augusto Ferro de Beça António Carlos Alves
4-4-1919 6-6-1919 (D. n.° 132, de 9-6)
24-1-1919 – 21-2-1919 Tomou «posse do lugar de Governador Civil, como alto Comissário do Governo neste Distrito». 14-4-1919 – 12-6-1919 –
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GOVERNADORES CIVIS DE BRAGANÇA
693 TOMO X
NOMES
Custódio José Ribeiro
António de Moura Pegado Agostinho Lopes Coelho
Teodorico Ferreira dos Santos Álvaro da Cunha Ferreira Leite José Monteiro Cabral de Vasconcelos Alfredo Rodrigues dos Santos
Adrião Martins Amado
José Anastácio de Lis Falé Tomás Augusto Salgueiro Fragoso João Carlos de Noronha
Salvador Nunes Teixeira (actual Governador Civil – Agosto de 1937) (1670)
Data do Decreto de nomeação
Data da posse
14-4-1920 22-4-1920 (D. n.° 89, de 17) – 19-10-1920 30-5-1921 10-6-1921 (D. n.° 123. de 31-5) – 30-11-1921 – 21-11-1923 26-12-1923 4-1-1924 (D. n.° 300, de 27-12) 12-4-1924 19-4-1924 (D. n.° 88, de 16-4) 12-9-1924 19-9-1924 (D. n.° 218, de 17-9) – 30-5-1926 – 17-6-1926 30-6-1931 16-7-1931 (D. n.° 152, de 4-7) 19-2-1933
OBSERVAÇÕES
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(1670) Ver a biografia adiante, no artigo Teixeira.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
694
GOUVEIA
TOMO X
GOUVEIA (Miguel Augusto de) – Tomo VII, pág. 217. Nasceu em Bragança (Sé) a 20 de Outubro de 1818. Teve irmãos: Carlos Luís da Veiga Gouveia, nasceu em Algoso a 4 de Junho de 1832. Alferes de cavalaria n.° 7 em 1868. Era casado em 1868 com D. Cândida de Jesus de Andrade. Cristina Carolina de Gouveia; nasceu em Bragança (Sé) a 19 de Fevereiro de 1819. Era filha de Francisco Xavier de Gouveia, capitão de infantaria n.° 24, e de D. Maria Madalena da Veiga Cabral, ambos de Bragança (Sé); neta paterna de Manuel António de Gouveia, capitão de infantaria, natural de Vila Flor, e de D. Joana Luísa Martins, de Bragança; materna de Manuel António da Veiga, ajudante de infantaria 24, e de D. Joana Maria Madalena Taveira (1671), de Chaves e aquele de Vinhais. Foi padrinho o mestre-escola da Sé Catedral Matias José da Costa Pinto Albuquerque e «madrinha D. Joana Josefa do Nascimento da Veiga Cabral (1672), tia da baptizada, por procuração que fez a Ricardo Alves Gato, desta cidade» (de Bragança). Cristina Carolina, acima referida, era casada em 1868 com António José Rodrigues, professor primário em Rabal. Ana Carolina de Gouveia, irmã dos três precedentes, nasceu em Bragança (Sé) a 18 de Janeiro de 1826. Vivia na Maceira, concelho de Vinhais, em 1868, casada com Agostinho José Alves. Que todos estes três eram irmãos do primeiro acima mencionado Miguel Augusto de Gouveia, consta do processo de justificação existente em Bragança na posse da família Gouveia, feito em 1868, para se habilitarem à herança deixada por aquele, que era já viúvo e não deixou filhos. Relativamente à sua morte, há no dito processo de justificação a seguinte nota: «Segue-se o Clamor Militar de cinco de Abril de mil oitocentos sessenta e oito, número trezentos vinte e um, e nas notícias de Moçambique se lê o seguinte: = Damos em seguida a relação dos oficiais que depois de aprisionados e barbaramente martirizados, foram decapitados pelos negros rebeldes = Capitão M. A. de Gouveia». A família Gouveia atendeu o grito que soltámos no tomo VII, pág. 219, destas Memórias e mandou desentupir o epitáfio do mutilado de Tete do cimento que o cobria. Diz a legenda:
(1671) O apelido Taveira só aparece neste assento; nos outros é constante o de Teixeira. (1672) O apelido Veiga Cabral só aparece no assento desta; nos outros está apenas Veiga. Este António da Veiga, de onde deve vir o apelido Veiga Cabral, provavelmente pertence não aos Veigas Cabrais, de Bragança, de que falo no tomo VI, p. 161 e 162, destas Memórias, mas sim dos Veigas Cabrais Caldeirães, de Vinhais, a que aludo na p. 604 do mesmo tomo.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GOUVEIA
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GUEDES
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GUERRA
695 TOMO X
«Á memoria / do heroico capitão Miguel Augusto / de Gouvêa Governador de Tete na / provincia de Moçambique / que em defesa da patria perdeu / a vida, sendo martirizado pelos / negros a 20 de Julho de 1867 / seu desditoso e inconsolavel / amigo e parente / Antonio Porfirio de Miranda / phisico-mor da mesma provincia / reformado / 1868».
GUEDES (Constantino da Fontoura Madureira) – Coronel reformado de infantaria. Nasceu em Mirandela a 30 de Março de 1855 e faleceu em Lisboa a 31 de Janeiro de 1935. Era casado com D. Maria Eugénia Neves, natural de Lisboa. Tinha irmãos: António Júlio da Fontoura Madureira Guedes, coronel reformado, casado com D. Joaquina Doroteia do Carmo Caldeira, de Lisboa; D. Maria Emília da Fontoura Guedes, casada com José António de Andrade, e Doutor Albano da Fontoura Madureira Guedes, tenente-médico-cirurgião do quadro do ultramar, todos nascidos em Mirandela. Era pai do agrónomo de Moçambique, Mário Júlio Neves Fontoura; de D. Hermínia da Fontoura, casada com o tenente-coronel Júlio Garcês de Lencastre, governador da província de Guanda, e do major de engenharia Álvaro Eugénio Neves da Fontoura, professor da Escola Superior Colonial e engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa. O coronel Constantino Guedes exerceu vários cargos nas nossas colónias de Moçambique, Macau e Angola, onde foi inspector de unidades e comandante do corpo de Polícia. Deixou impressos vários trabalhos sobre o tiro das armas portáteis e os Apontamentos do meu tirocínio, mas nada conseguimos ver, e por isso não damos a sua descrição bibliográfica.
GUERRAS G UERRA NO TEMPO DE D. J OÃO I, ver pág. 346, e no tomo I pág. 67. GUERRA DE 1640 A 1668. Tomo I, pág. 86. No Tombo dos bens do mosteiro de S. Martinho da Castanheira, sito no termo de Puebla de Sanábria, perto do Lago (Espanha), de que damos largo extracto no tomo VII, pág. 735, destas Memórias, feito em 1585, e depois segunda vez em 1684, aparece Domingos Afonso da Barreira, enfiteuta de bens que o mosteiro tinha em Aveleda, concelho de Bragança, a declarar em 24 de Maio de 1684 ao juiz demarcante do Tombo, que não podia apresentar o título do casal «por se queimar no tempo das guerras, pondo-se fogo ao lugar» (1673). (1673) Tombo dos bens do mosteiro de S. Martinho da Castanheira, fólios 14 e 20 verso.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
696
GUERRAS
TOMO X
É ainda para notar a circunstância de que o referido Tombo de 1684, ao descrever muitas propriedades em Aveleda, diz frequentes vezes: «que foi vinha e agora terra», sinal de que se perderam as vinhas no intervalo do Tombo de 1585 ao de 1684, ou por flagelos naturais similares ao oídio, filoxera, etc., do nosso tempo, ou pelo incêndio e concomitante destruição atrás referida; inclino-me, porém, a esta última causa, porque, descrevendo o dito Tombo os bens que o mosteiro tinha em Aveleda, Varge, Freixedelo, Vila Meã, Meixedo, Rabal e ainda a quinta da Granja, no termo de Bragança, só em Aveleda notei tal extinção de vinhedos, sinal de que a causa foi local e não geral. Francisco da Cunha Pimentel, natural da vila de Provesende, que muito se distinguiu nas Guerras da Restauração, reuniu a nobreza da província em 1657 e com ela esteve em Mirandela, fazendo grandes despesas à sua custa. Foi defender a praça de Chaves e nela se conservou até ao fim da guerra (1674). D. Carlos E. Mascarenhas publicou na revista de Coimbra O Instituto, págs. 481 e seguintes, uma resenha bibliográfica de livros e opúsculos raros referentes às Guerras da Aclamação (1640-1668), existentes no arquivo histórico da cidade de Barcelona, e entre essas espécies vem a seguinte, respeitante à região bragançana: Carta hecha em Monterrey, a siete de Agosto donde se da noticia del saco, y quema de dies y seis lugares: tambien se da noticia de los estragos que han hecho en ellos, executados por los velerosos Portugueses. Barcelona, Jayme Mathevat, 1641, 3 ff. 2. N. 8.° f. GUERRA DA SUCESSÃO. Tomo I, pág. 115; tomo VIII, pág. 13. «Em dez de Fevereiro de mil sette centos e seis me puz em marcha sahindo (sic) praça de Chaves com o meu terço fardado de novo, com barracamento e tudo o mais necessario; na vanguarda marchou o conde de S. João [Luís Bernardo de Távora (1677-1718), 5.° conde de São João, general de artilharia de Trás-os-Montes, governador de Cascais], com a cavallaria, e eu tive ordem para fazer a retaguarda a tudo, e fuy aquartelar-me ao Lugar de Valpaços; em onze á Villa de Mirandela, donde me derão hua Aguia Real que trouxe para o Senhor Infante D. Francisco; em doze passey a Villa Flor e Villas Boas; em treze á Villa de Sampaio, em catorze á Villa de Meicorvo [sic], donde me dilatey tres dias a passar mostra e fiz escolha dos soldados por ter mil e quinhentos listados não podendo ter mais de mil (por não aver consinação para se pagarem maes); feito tudo marchey a passar o Douro, deixando a provincia de Trás-os-Montes e entrando na da Beira» (1675). (1674) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Provesende». (1675) CASTELO BRANCO, António do Couto – Comentarios dos sucessos da ultima Guerra de Por-
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
GUERRAS
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«Aos oito dias do mês de Julho de mil sette centos e desanove, dia em que o inimigo tomou esta praça por assalto, sucedeo que o primeiro que morreu foi Joseph Pimentel, filho daquelle infame traidor Carlos Pimentel e de sua mulher D. Maria de Moraes, o qual aleivosamente vendeo por dinheiro a sua Patria entregando-a aos castelhanos as mãos lavadas este tal filho não recebeo Sacramento algum nem delles era merecedor que apenas se enterrou na Sé desta cidade e para que assim conste a todo o tempo fiz este assento dia, mês, e era ut supra. O Pe. Antonio Brandão de Araujo» (1676). À margem deste assento há uma nota da mão do pároco autor do assento que diz: «Dito Carolos Pimentel do Campo he natural da vila do Vimioso, e cazado nesta cidade com a dita D. Maria». Em seguida a este assento há este outro no fólio 41: «Em os oito dias do mes de Julho de mil sete centos e des, na entrada que os castelhanos fizerão nesta Praça matarão a João Luiz homem de contrato não recebeo Sacramento algum foi sepultado em a Sé desta cidade e para que assim conste fis este asento dia, mes e era ut supra. O Pe. Antonio Brandão de Araujo». «Em os quinze dias do mes de Marsso da era de mil setecentos e honze annos estando esta cidade prezidiada pellos inimigos Castelhanos a coal tomou por assalto Dom Antonio Montenegro, em os oito de Julho como consta do assento atras folhas corenta verso, em o dito dia de quinze de Março da era de 1711 annos restaurarão esta dita prasa de Miranda os nossos portuguezes sendo o Senhor Dom João Manoel general do nosso exercito e o S. or Pedro... (ilegível, por rasgado) de nasão ingleza, general da artilharia com a qual lhe abrirão brecha em a nave do castello que está para a parte da Ribeira. E tendo o inimigo a dentro nesta prasa mil e duzentos homens de guerra, não nos matarão mais que hu granadeiro coando os nossos avansarão o forte, e para que em todo o
tugal contra Castella, com algûas noticias mais pertencentes á historia deste reyno e a descripção de varias cidades, e villas de Hespanha e França. Manuscrito publicado em O Instituto de Coimbra, (1930), p. 54. (1676) Livro dos Óbitos de Miranda do Douro, correspondente ao ano de 1710, fólio 40 verso, existente no Arquivo da Câmara Eclesiástica de Bragança. O falecido José Pimentel nascera em Miranda do Douro a 20 de Outubro de 1690, como consta do respectivo assento.
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tempo conste faso este asento dia mes e era ut supra. Francisco Mendes de Figueiredo» (1677). «Aos dous dias do mês de Julho de mil sette centos e dez annos faleceu da vida presente Manoel Vaqueiro marido de Maria Marcos fregueses desta igreja de S. Vicente [do Vimioso]: não recebeu os Santos Sacramentos, nem fez testamento por morrer em hû conflito que no termo desta villa sucedeu com o inimigo castelhano, mas tem bens de que se deve fazer repartição e por ser verdade fiz este asento que asignei. Dia, mez ut supra. O cura Antonio Martins» (1678). Segue logo outro assento que diz: «No mesmo dia acima escripto mez, e era faleceu Antonio Giraldes solteiro filho familias de Amaro Geraldes e de Catharina Martins fregueses desta igreja [do Vimioso] onde está sepultado, e no mesmo conflito do inimigo: não recebeu os Santos Sacramentos nê fez testamento por ser sua morte repentinamente inflita pello dito inimigo; porem seus pais teem bens bastantes para lhe fazerem os do uso desta igreja de que deve dar conta e por verdade fiz este asento que asignei, etc. Dia, mez e era ut supra. O cura Antonio Martins». Segue no fólio 12 o assento de óbito de António Martins, marido de Águeda Afonso, falecido a 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos nê fez testamento por ser sua morte inflita pello inimigo castelhano». Segue no mesmo fólio o assento de óbito de João Martins, marido de Catarina de Quina, falecido no já indicado dia 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos nê fez testamento por ser sua morte cruenta e inflita pello inimigo castelhano». Segue no mesmo fólio 12 o assento de óbito de Manuel filho-famílias de Manuel Fernandes e de Maria Gonçalves, do Vimioso, sucedida no já indicado dia 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos nê fez testamento por ser sua morte cruenta e inflita pello inimigo castelhano». Segue no fólio 12 verso o assento de óbito de João Garcia, soldado, natural de Campo de Víboras, filho de Martinho Garcia e de Maria Fernandes, (1677) Livro dos óbitos de Miranda do Douro, último fólio verso do mesmo livro, correspondente ao ano de 1725. (1678) Livro dos óbitos do Vimioso, correspondente ao ano de 1710, fólio 11 verso, existente no Arquivo da Câmara Eclesiástica de Bragança. Sobre o local onde se deu o encontro causador destas mortes, ver tomo VIII, p. 13, destas Memórias.
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falecido no já indicado dia 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos por ser sua morte incruenta e inflita pello inimigo castelhano». Segue no mesmo fólio 12 verso o assento do óbito de Faustino Fernandes, solteiro, natural de Campo de Víboras, falecido no dito dia 2 de Julho de 1710, filho de Domingos Fernandes e de Inês Alves. «Não recebeu os Santos Sacramentos por ser sua morte repentina e cruenta inflita pello inimigo castilhano». Junto a este assento vem a seguinte nota: «Declaro que a mai de João Garcia do lugar de Campo de Biboras se chamava Maria Paschoala. O Pe. cura Antonio Martins». Segue no mesmo fólio 12 verso o assento de óbito de Manuel Lopes, solteiro, soldado, natural de Campo de Víboras, falecido no indicado dia 2 de Julho de 1710, filho de José Lopes e de Maria Fernandes. «Não recebeu os Santos Sacramentos nem fez testamento por ser sua morte acelerada e cruenta no conflito do inimigo castilhano». Segue no fólio 13 o assento de óbito de António da Costa, soldado, natural de «Freixo de Espada na Cinta assistente na guarnição do Castello desta villa do Vimioso», falecido no já indicado dia 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos: nê fez testamento por ser sua morte repentina e cruenta causada pelo inimigo castilhano». No fólio 13 verso há mais o assento de óbito de José «mestre pedreiro natural da villa de Castro Laboreiro do Arcebispado de Braga», falecido no já indicado dia 2 de Julho de 1710. «Não recebeu os Santos Sacramentos por ser sua morte cruenta, e inflita pello inimigo castilhano... foi sepultado nesta igreja de S. Vicente [do Vimioso], onde naquele tempo assistia». «Catharina Martins. Aos dois dias do mes de Junho da era de mil e setecentos e des annos faleceo da vida presente Catharina Martins molher de Silvestre Martins deste luguar de Campo de Viboras não levou os sacramentos da Santa Madre Igreja porquanto a mataram os castilhanos nem fez testamento por nam ter tempo nem de que testar por ser muito pobre e por verdade fis este que asinei mes dia era ut supra. O P.e Francisco A.°Freire» (1679). No livro dos capítulos de visita da mesma freguesia de Campo de Víboras há o seguinte: «O visitador Gaspar da Rocha Ferreira, chantre na Sé de Miranda, na visita que fez a Campo de Viboras em 16 de Outubro de 1714 diz: “Achei esta Igreja [de Campo de Víboras] totalmente destetuida dos necessarios que para ela se requerem por causa da invasão que o inimigo fes na (1679) Livro dos óbitos de Campo de Víboras, correspondente ao ano de 1710, fólio 124 v.
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mesma e como os fregueses pella mesma estejão tão pobres, e terem dado cumprimento a alguas obras da visita passada, os alivio da pena que pella omissão dellas incorrerão”». A visita anterior a que se refere fora feita em 15 de Outubro de 1709 pelo doutor Bernardino Cabral da Silva, deão da Sé de Miranda, e dela constam as obras preceituadas. No Livro dos óbitos da freguesia de Santa Maria de Bragança, desde Fevereiro de 1710 até Novembro de 1711, encontram-se setenta e três assentos de óbitos de militares falecidos na guarnição de Bragança. São, pelo geral, soldados, mas também alguns oficiais. Mais se encontram no mesmo período seis assentos de óbitos de soldados prisioneiros, estes espanhóis, dois de soldados franceses e um de soldado «estrangeiro» sem mais declaração de nacionalidade. Tanto óbito seria o resultado das guerras de 1710, a fazer-se sentir nos feridos e estropiados, pois o facto é anormal e não se vê registado nos mesmos livros outro semelhante. Como o investigador aplaude o superior critério dos párocos de Vimioso, Campo de Víboras, Miranda do Douro e outros que, com mais uma palavra, embora estranha aos formalismos do registo paroquial, assinalaram um facto de interesse científico, e lamenta a rigidez praxista daqueles que não vêem um palmo além do nariz e se ficam marasmados sem saber o que podiam fazer! GUERRA DOS SETE ANOS. Tomo I, pág. 123. «Anno do Senhor de mil sete centos sessenta e dous, aos catorse dias do mez de Agosto ás cinco horas da manhã nesta villa do Vimioso, bispado de Miranda faleceo da vida presente em idade de vinte quatro annos pouco mais ou menos Josefa de Oliveira solteira, filha de Joseph Rodrigues Balardo e de sua mulher Joanna de Oliveira moradores na rua da fonte desta villa de Vimioso. Não recebeo Sacramento algum por morrer de hum tiro que lhe derão os soldados castelhanos e ficar logo sem espiritos vitaes, foi seu corpo sepultado no mesmo dia ás quatro horas da tarde na igreja de São Vicente desta villa, onde hera freguesa. E para de tudo isto constar faço este assento que assignei em o dito dia, mez e anno ut supra. O Encomendado João Bernardes Tinhella» (1680). (1680) Livro dos óbitos da freguesia do Vimioso correspondente a 1762, fólio 71 v., existente no Arquivo da Câmara Eclesiástica de Bragança.
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Logo em seguida no mesmo fólio está o assento de óbito de Manuel da Silva Carrasco, de sessenta anos, natural do Vimioso, marido de Isabel Álvares, falecido às cinco horas da manhã, no mesmo dia 14 de Agosto de 1762, que «recebeo os Santos Sacramentos da Penitencia e Extrema Oração administrada pelo Padre Manoel Braz de Miranda, natural e morador nesta villa; e não recebeo o da Eucharistia por morrer de hum tiro, que lhe derão os castelhanos e não dar lugar para se lhe poder administrar... foi seu corpo sepultado no mesmo dia pelas quatro horas e meia da tarde dentro da igreja matriz de São Vicente desta villa... O Encomendado João Bernardes Tinhella». Logo em seguida no fólio 72 encontra-se o assento de óbito de António, solteiro, de vinte e um anos e meio de idade, filho de Manuel da Silva Carrasco e de Isabel Álvares, natural do Vimioso, falecido às cinco horas da manhã do dia 14 de Agosto de 1762. «Não recebeo Sacramento algum porque morreo de hum tiro que lhe derão os castelhanos na invasão que fizerão nesta villa na manhã do sobredito dia e logo ficou mortal. Foi seu corpo sepultado dentro da igreja matriz de São Vicente da mesma villa onde hera fregues ás quatro horas da tarde». Logo em seguida está o assento de óbito de Mateus Mendes Parricho de quarenta e cinco anos, marido de Maria Josefa Cabanaque, natural do Vimioso, falecido às cinco horas da manhã do dia 14 de Agosto de 1762. «Não recebeo Sacramento algum por ficar morto de hum tiro que lhe derão os castelhanos na invasão que fizerão nesta villa na manhã do sobredito dia». Foi sepultado na igreja do Vimioso às quatro da tarde do mesmo dia. Logo a seguir no fólio 72 v. está o assento de óbito de Domingos Branco, natural de Perilha de Castro, bispado de Zamora, reino de Espanha, de quarenta anos, casado no Vimioso com Antónia Maria Ferreira, morador na rua da Malhada, falecido às cinco horas da manhã do dia 14 de Agosto de 1762. «Não recebeo Sacramento algum por morrer de hum tiro que lhe derão os castelhanos na invasão que fizerão nesta villa na manhã do sobredito dia em razão de ficar logo sem fala e sem espiritos vitais». Foi sepultado no mesmo dia às cinco horas e meia da tarde, na igreja do Vimioso. Segue o assento de óbito de Manuel Afonso Lobo de cinquenta e dois anos, morador no Vimioso, casado com Maria Martins, falecido no dia e hora já indicado nos outros. Não recebeu Sacramento algum pelas razões já indicadas e por morrer de um tiro dado pelos invasores castelhanos. «Foi absolvido pelo padre Francisco de Quina e não houve lugar para mais». Foi enterrado na igreja do Vimioso à mesma hora já indicada para os outros atrás referidos. Segue logo no fólio 73 o assento de óbito de Mateus Rodrigues, natural de Alfaião, concelho de Bragança, morto de um tiro que lhe deram os MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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castelhanos na hora e dia já indicado para os outros. Não recebeu os Sacramentos pelas razões já indicadas. Foi igualmente enterrado na igreja do Vimioso à hora indicada para os mais. Segue outro assento no fólio 73, que diz: «Anno do Senhor de mil sette centos sessenta e dous aos catorze dias do mes de Agosto ás cinco horas da manhão nesta villa de Vimioso Bispado de Miranda faleceo da vida presente hum soldado Mingualete Hespanhol que disse se chamava João, de hum tiro, que lhe derão quando na mesma manhãa os castelhanos invadirão esta villa, os mesmos o levarão ás portas desta igreja de São Vicente e ahi pedio confissão, e eu o ouvi de confissão e lhe administrei o sagrado viático e extrema-bencção, e logo no mesmo dia foi seu corpo sepultado dentro da mesma igreja junto á porta da pia baptismal. E para de tudo isto constar faço este assento que assignei em o mesmo dia, mez, e anno ut supra. O Encomendado João Bernardes Tinhella». Logo a seguir no fólio 73 verso está o assento de óbito de Bárbara Mendes, mulher de Manuel de Lousada, de trinta e cinco anos, natural do Vimioso, falecida no dia 15 de Agosto de 1762 de um tiro que lhe deram os castelhanos no dia antecedente. Segue no fólio 24 o assento de óbito de José, solteiro, de vinte e um anos, filho de António Martins e de Ana Álvares, morador no Vimioso, falecido a 17 de Setembro de 1762 «em razão de huãs feridas e pancadas que lhe derão os soldados castelhanos na invasão que fizerão nesta villa no dia catorze de Agosto deste presente anno e assim esteve sem nunca pronunciar palavra athe o ditto dia em que faleceo». «Morreram nesta vila e Collegiada da Torre de Moncorvo sinco soldados tres com Sacramentos todos e dois somente com o da confissão e comunham por serem justiciados e não fiz os asentos separados por me não darem os nomes nem as terras ainda que as pedi coando os derem os porei de que fiz este que asinei hoje Moncorvo e Junho treze de mil e sete centos e secenta e dois. O cura Antonio de Oliveira» (1681). LUTAS LIBERAIS, tomo I, págs. 183 e 190. «Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos vinte seis aos vinte quatro dias do mes de Novembro na toma desta cidade de Bragança pelas tropas Realistas falleceo da vida presente
(1681) Livro dos óbitos de Moncorvo, referente ao ano supra, fólio 96 v., existente no Arquivo da Câmara Eclesiástica de Bragança.
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sem sacramentos por lhe ter dado uma bala de artilheria Manoel Antonio Sechinhos de idade de quarenta e seis annos natural desta cidade e freguez desta collegiada morador aos Batocos marido de Maria Thereza não fez testamento por ser morto no ataque está sepultado na Santa Casa da Misericordia e para constar fis este assento que assigno dia mes e era ut supra. O Encomendado João Manoel Villalpando» (1682). Logo em seguida há este assento: «Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e vinte seis aos vinte quatro dias do mes de Novembro na toma desta cidade pelas tropas Realistas falleceo de huma bala José Joaquim Barreiros major do Regimento de Infantaria n.° tres, solteiro, natural de Elvas, de idade de trinta e seis annos pouco mais o menos, não recebeu nenhum sacramento nem fez testamento pois morreo na batalha, está sepultado em Santa Maria. O Encomendado João Manoel Villalpando» (1682). Logo em seguida no fólio 229 verso há o assento do óbito de Domingos Fernandes, esperada do regimento de infantaria n.° 3, falecido a 24 de Novembro de 1826 «na toma desta cidade pelas tropas Realistas de huma bala e sem sacramentos». O pároco declara que não sabe de onde o falecido era natural, nem qual o seu estado nem idade. Logo a seguir está o assento de óbito de António José Dias, marido de D. Rosa Joaquina, naturais de Bragança, que «morreo de huma bala na toma desta cidade pelas tropas Realistas, sem sacramentos». Segue-se o assento de óbito de Francisco José Bago, mestre do regimento de infantaria n.° 24, solteiro, de vinte e quatro anos, natural de Ribeira Doura, comarca de Chaves, que faleceu aos 24 de Novembro de 1826, sem sacramento, de uma bala «na toma desta cidade pelas tropas Realistas». Segue no fólio 230 o assento de óbito de Maria Pereira, moradora na vila, viúva de João Balesteiro, de cinquenta anos de idade, que morreu sem sacramentos, de uma bala «na toma desta cidade, a 24 de Novembro de 1826». Henrique José Domingues, de Vilar de Ouro, solteiro, morreu a 23 de Novembro de 1826 «no ataque que houve nesta cidade e não recebeu Sacramento algum» (1683). Joaquim Álvares, natural da Freguezela, soldado do regimento de infantaria, faleceu a 24 de Novembro de 1826 «no ataque que houve nesta cidade e não recebeu Sacramento algum» (1684). (1682) Livro dos óbitos da freguesia de Santa Maria de Bragança, correspondente ao ano de 1826, fólio 229. (1683) Livro dos óbitos da freguesia da Sé de Bragança, correspondente ao ano de 1826, fólio 371. (1684) Ibidem.
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José Abreu, soldado do regimento de infantaria, faleceu a 24 de Novembro de 1826 «no ataque que houve nesta cidade e não recebeu Sacramento algum» (1685). Francisco José, sargento-quartel-mestre do regimento de infantaria, faleceu a 24 de Novembro de 1826 «no ataque que houve nesta cidade e não recebeu Sacramento algum» (1686). Manuel Correia, clarim de cavalaria, natural de Chaves, faleceu no hospital a 1 de Dezembro de 1826. António Lopes, alferes de cavalaria, natural de Vilarandelo, morreu no hospital a 5 de Dezembro de 1826. É possível que estes morressem em consequência de ferimentos recebidos no ataque, mas os respectivos assentos nada dizem (1687). António Pinto, natural de Sambade, soldado veterano, de quarenta e nove anos, faleceu no Hospital Militar de Bragança a 21 de Junho de 1833. Foi sepultado na igreja de Santa Maria (1688). Joaquim de Sousa, soldado, de dezasseis anos, faleceu no Hospital Militar de Bragança a 24 de Junho de 1833. Foi sepultado no adro da igreja de Santa Maria. Manuel Pereira, soldado, de dezassete anos, natural de São Nicolau, comarca de Barcelos, faleceu no citado hospital a 25 de Junho de 1833 e foi sepultado no adro da igreja de Santa Maria. José António, soldado, natural de Brunhoso, faleceu no mesmo hospital a 25 de Junho de 1833, sendo sepultado no adro da igreja de Santa Maria. Joaquim de Sousa, soldado, de dezassete anos, natural de Presendões, faleceu no mesmo Hospital a 25 de Junho de 1833. Foi sepultado no adro da igreja de Santa Maria. José Barreiro, soldado, de dezoito anos, natural de Fregende, faleceu no Hospital Militar de Bragança a 25 de Junho de 1833, sendo sepultado no adro da igreja de Santa Maria. Estêvão Guião ou Gião (está escrito das duas formas), soldado, de dezasseis anos, natural de Santo Estêvão de Gião, morreu no mesmo hospital a 27 de Junho de 1833 e foi sepultado no adro da citada igreja. Domingos Fernandes, natural de Santa Maria do Minho, soldado, de dezoito anos, morreu no hospital de Bragança a 12 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do hospital. João José, soldado, de Formil, de vinte anos, faleceu no Hospital Real de Bragança a 13 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do hospital. (1685) Livro dos óbitos da freguesia da Sé de Bragança, correspondente ao ano de 1826, fólio 371. (1686) Ibidem. (1687) Ibidem. (1688) Livro dos óbitos da freguesia de Santa Maria de Bragança, referente ao ano supra. Todos os assentos seguintes constam do mesmo livro.
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Manuel Cepeda, soldado, de vinte e dois anos, natural de Soeima, morreu no Hospital Real de Bragança a 14 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do hospital. Miguel Francisco Fernandes, soldado, natural da comarca de Barcelos, de dezoito anos, morreu no Hospital Real de Bragança a 15 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do mesmo hospital. José António, soldado, da comarca de Barcelos, de dezassete anos, morreu no Hospital Real de Bragança a 19 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do dito hospital. José de Azevedo, soldado, morreu no hospital de Bragança a 23 de Outubro de 1833. Foi sepultado no cemitério do mesmo hospital. Eugénio Aires, soldado, de Vila Real, de dezoito anos, morreu no Hospital Real de Bragança a 27 de Outubro de 1833. Joaquim António Malheiro, soldado, natural da comarca de Barcelos, povo de Ardegão, de vinte anos, morreu no Hospital Real de Bragança a 29 de Outubro de 1833. Foi enterrado no cemitério do hospital. António Martins, soldado, natural de Albabalim, comarca de Valença, de dezoito anos, morreu no Hospital Real de Bragança a 4 de Novembro de 1833. Foi enterrado no referido cemitério. Manuel António, soldado, natural de Ameda, comarca de Trancoso, de vinte anos, faleceu no Hospital Real de Bragança a 10 de Novembro de 1833. Foi enterrado no cemitério referido. João Carriço, soldado, de dezoito anos, natural de Darque, comarca de Barcelos, morreu no referido Hospital a 10 de Novembro de 1833. Sepultado no referido cemitério. José Teixeira, soldado, de dezoito anos, natural de Borba, comarca de Barcelos, morreu no referido hospital a 14 de Novembro de 1833. Foi enterrado no cemitério de Bragança. Manuel Machado, soldado, natural da comarca de Barcelos, de vinte anos, morreu no referido hospital a 15 de Novembro de 1833. Enterrado no cemitério de Bragança. Manuel Gonçalves, soldado, natural da comarca de Braga, morreu a 28 de Novembro de 1833. Sepultado no cemitério de Bragança. Joaquim da Cruz, furriel da companhia de veteranos, natural de Mós, comarca de Moncorvo, morreu a 22 de Dezembro de 1833 e foi enterrado na igreja de Santa Maria. Henrique Lopes, soldado, natural de Ventosa, comarca de Braga, morreu a 20 de Dezembro de 1833. Sepultado no cemitério do Hospital Militar de Bragança. José da Silva, soldado, natural de São Miguel, comarca de Guimarães, morreu a 1 de Dezembro de 1833. Sepultado no cemitério de Bragança. António Coelho, soldado, natural de Maire, comarca de Barcelos, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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morreu no referido Hospital Militar de Bragança a 31 de Dezembro de 1833. Sepultado no cemitério do mesmo hospital. António Leitão, soldado, de dezanove anos, natural de São Martinho de Mouro ou Alonso, morreu no Hospital Militar a 3 de Janeiro de 1834. Sepultado no cemitério do Hospital Militar. Joaquim Gonçalves, soldado, natural do Couto de Vimieiro, comarca de Braga, de vinte anos, morreu no referido Hospital Militar a 9 de Janeiro de 1834. Sepultado no cemitério do mesmo hospital. Domingos Lopes, sargento, natural da comarca de Chaves, morreu no referido hospital a 20 de Janeiro de 1834. Sepultado na igreja de Santa Maria José Barbosa, soldado, natural de São Vicente dos Arcos, comarca de Braga, de vinte anos, morreu no referido hospital militar a 21 de Janeiro de 1834. Sepultado no cemitério do mesmo hospital. Manuel de Matos, soldado, natural de Ponta Delgada, faleceu no hospital militar a 10 de Agosto de 1834. Sepultado no cemitério do hospital. José António Duarte, soldado, natural de Barcelos, morreu no Hospital Militar de Bragança a 18 de Janeiro de 1835. António José, soldado, natural do Porto, morreu no Hospital Militar de Bragança a 30 de Janeiro de 1835. José Marques, soldado, natural de Vila Nova de Gaia, faleceu no hospital referido a 7 de Fevereiro de 1835. José Borges, soldado, natural de Baladeus, comarca do Porto, morreu no referido hospital a 8 de Fevereiro de 1835. Domingos Soares, cabo de granadeiros, natural de Águas Santas, comarca do Porto, morreu no referido hospital a 13 de Fevereiro de 1835. Manuel José da Cunha, filho de António José da Cunha, marido de Ana Maria, da cidade de Braga, físico do regimento n.° 9 de infantaria, faleceu no Hospital Militar de Bragança a 28 de Março de 1835 (o regimento de infantaria n.° 9 estava então em Bragança). João da Silva, soldado, natural do Porto, morreu no Hospital Militar de Bragança a 22 de Maio de 1835. Sepultado no cemitério do mesmo hospital. Arsênsio da Costa, soldado, morreu no referido hospital a 25 de Maio de 1835. Sepultado no cemitério do hospital. Era natural de Germil, bispado de Viseu. António Alves, soldado, natural de São Martinho, comarca da Feira, segundo sargento, faleceu no Hospital Militar de Bragança a 7 de Agosto de 1835. Sepultado na igreja de São Francisco. António Esteves, soldado, «falesceu quase derrepente nos coarteis da Villa» a 22 de Outubro de 1835. Sepultado na igreja de Santa Maria. Agostinho António Reboxo, tenente de infantaria n.° 9, natural de Almeida, faleceu a 25 de Outubro de 1835. Sepultado na igreja de São Francisco. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Estes soldados, pertencentes aos regimentos de Alcântara e Valença, eram miguelistas, e diz a tradição – ainda hoje corrente em Bragança – que foram envenenados pelo médico do regimento, que era constitucional, e se gabou em carta a um colega dos bons serviços prestados a causa por este teor. Dizem que obrigava a dar baixa ao hospital quantos se queixavam, fosse do que fosse, e lá, ao examiná-los, tocava-lhes na língua com a ponta do seu dedo e... pronto. Assim o ouvi nos meus tempos escolares, em 1883, a um velho soldado desse tempo, também forçado a dar baixa ao hospital mas desobediente à intimativa do médico quanto a deitar a língua fora, ciente do que lhe ir passar. Assim mo referiu ainda há pouco outro velhote que o ouvira a seus pais. Serviu então de hospital a casa onde depois funcionou o liceu nacional até 1910 e agora a escola industrial, e muitos falecidos eram sepultados no jardim da mesma, em grandes valados abertos de antemão, tal a quantidade de óbitos. Certo dia apareceu um soldado sentado sobre os cadáveres dos companheiros lançados para a vala na véspera, insoterrados por falta de tempo, o qual depois confirmou o caso do envenenamento, por ter retirado logo a língua, lavando a boca cuidadosamente. Não sei o que há de verdade nesta tradição, apenas a registo. Todavia convém lembrar que desde 21 de Junho de 1833, óbito do primeiro soldado, até 7 de Agosto de 1835, falecimento do último, morreram oitenta e quatro paisanos, segundo se verifica dos assentos nos mesmos livros, dos quais uma grande parte na cadeia civil, onde estavam presos por motivos políticos, confirmando-se assim que a mortandade não excede a normal da freguesia. Em contraponto, no mesmo período sucumbiram trinta e nove soldados na flor da mocidade, facto insólito nunca acusado pelos mesmos livros paroquiais, a não ser nas guerras de 1710, como acima referimos, mas as circunstâncias bélicas diferem. No tomo X da História de Portugal – Popular ilustrada, pág. 330, de Pinheiro Chagas (continuação de Barbosa Colen), vem integralmente transcrita uma Proclamação aos habitantes do distrito de Bragança de António Rodrigues Sampaio (ver tomo VII pág. 475, destas Memórias), então administrador-geral interino do mesmo, notável, não tanto pelas notícias históricas, como pela virulência da linguagem, prelúdio da que depois a flux expandiu na Revolução de Setembro e no Espectro, referente às lutas liberais passadas em Bragança no tempo da sua administração (1836-1839). A 25 de Janeiro de 1827, ardendo as guerras liberais entre Absolutistas e Constitucionais, a divisão do marquês de Chaves, vinda de Espanha, ocupou naquele dia Chaves, desbaratando na ponte de Mirandela a força comandada pelo coronel Zagalo, constante do regimento de infantaria MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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n.° 9, que apenas pode salvar a bandeira do regimento (1689). Ver tomo I, págs. 183 e 186, destas Memórias. A 9 de Abril de 1834 três mil espanhóis (Crestinos), entrados pelo norte de Portugal em defesa dos Constitucionais, ocuparam Chaves e Mirandela (1690). G UERRA (Constâncio de Almada Meneses) – Doutor em medicina. Tomo VI, pág. 21. Faleceu em Lisboa a 10 de Novembro de 1933, sendo já viúvo de D. Antónia Augusta Correia, falecida três anos antes. DIOGO GUERREIRO – Nascido em Bragança, filho de Luís Fernandes, o Canário, natural de Fiães, concelho de Monforte de Rio Livre, e de Ana Manuel, natural de Bragança, neto paterno de Luís Esteves e de Maria Álvares, moradores em Fiães, justificou a sua nobreza e limpeza de sangue e a de sua primeira mulher Isabel de Faro por auto judicial feito em Bragança pelo juiz de fora Bartolomeu de Valadares Vieira, sendo tabelião António da Fontoura Carneiro, a 1 de Outubro de 1606. No requerimento para justificação pediram que fosse citado Pedro de Figueiredo Sarmento, cavaleiro do hábito de Cristo, alcaide-mor de Bragança, porque queriam este instrumento para juntar à causa que com ele litigavam. No processo depuseram como testemunhas: Padre Manuel Barbosa, capelão de São Vicente de Bragança, de setenta anos de idade; Sebastião Velasques, comissário do Santo Ofício, de sessenta anos; Salvador Mendes de Vasconcelos, licenciado, de setenta anos; João Carneiro, de noventa anos; António de Macedo, fidalgo da casa de el-rei, de setenta anos; Gaspar de Oliveira Sarmento, juiz da alfândega, de sessenta anos; Belchior Serrão, de setenta anos, e Francisco Esteves, caminheiro, de Fiães e os outros todos cidadãos de Bragança. Diogo Guerreiro, acima apontado, casou duas vezes: a primeira com Isabel de Faro, filha de Martim Gomes e de Isabel de Faro; neta de Pedro Álvares e de Ana Rodrigues, e a segunda com Inês da Guerra. Do primeiro matrimónio teve: N... Guerreiro, que casou em Bragança com N... Ferreira e tiveram: 1.° – Diogo Guerreiro, escrivão da alfândega da Ilha da Madeira, onde vivia em 1639. (1689) CARVALHO, Joaquim Martins de – Apontamentos para a história contemporânea, 1868. CARVALHO, Francisco Martins de – Subsídios para a história dos regimentos, p. 51. (1690) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigos «Porto», p. 364, e «Santarém», p. 527.
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DIOGO GUERREIRO
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2.° – Jacinto Ferreira, escrivão da Provedoria e Contas de Miranda do Douro, onde vivia em 1639. 3.° – Padre António da Costa, «que foi clérigo de muito respeito». 4.° – Isabel de Faro, proprietária do ofício de meirinho da cidade de Bragança, por mercê do duque da mesma cidade, que casou com António da Rosa Pimentel, «homem muito nobre e fidalgo de geração». 5.° – Maria Ferreira, que foi freira do convento real de Benavente. Diogo Guerreiro, acima mencionado, teve do segundo matrimónio com Inês da Guerra: Francisco da Guerra Brandão, nascido em Bragança, que estudou direito na Universidade de Coimbra, «e foi grande letrado. Viveu depois um tempo em Castelo Branco advogando, e estando naquela vila, indo ali Gaspar Correia da Horta a vender e a cobrar as dívidas e fazenda da gente de nação hebraica daquela vila, condenada em perdimento de bens para o fisco, assim pelo crime de heresia, como por se ausentarem para fora do reino, o que naquele tempo lhe era proibido, o encarregou de algumas diligências do santo ofício por achar por informação ser este Francisco da Guerra pessoa de letras e cristão velho, e porque ele satisfez as diligências que lhe cometeu com inteireza, verdade, zelo e utilidade da fazenda real, lhe passou depois certidão destes serviços que fez nisso a el-rei a 10 de Outubro de 1639, estando o dito Gaspar Correia servindo naquele ano de vereador e juiz pela ordenação da vila de Monforte pelo duque de Bragança. Passou Francisco da Guerra depois a residir na cidade de Portalegre, onde já vivia no ano de 1634, em que foi eleito para servir de almotacé com o licenciado Martim Vaz e ali exercitou também a advocacia. El-rei D. João IV lhe mandou passar alvará para servir naquela cidade de procurador da coroa e síndico da câmara enquanto durasse o impedimento do proprietário dos ditos ofícios, Manuel Caldeira Velez, que naquele tempo estava despachado para juiz de fora da vila de Mourão, na qual el-rei declara que lhe fez esta mercê atendendo a ele Francisco da Guerra ser cristão velho, advogar nos auditórios daquela cidade e ser homem de bom juízo», passado em Lisboa e registado no Livro da Chancelaria, fólio 348. «O Dr. António Varejão, graduado em teologia, capelão e confessor de el-rei, penitenciário da Sé de Portalegre, visitador geral e examinador sinodal da mesma cidade, lhe passou uma certidão de mandado do cabido daquela Sé a 23 de Novembro de 1639 que declara o conhecia por residir muitos anos na província de Trás-os-Montes, e conhecera os seus pais, que foram pessoas nobres sem raça alguma de mouro ou judeu, e que era muito parente de Pedro de Figueiredo Sarmento, cavaleiro do hábito de Cristo e alcaide-mor de Bragança». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Este licenciado Francisco da Guerra Brandão justificou por instrumento de testemunhas inquiridas em Bragança a 7 de Agosto de 1640, por autoridade de Pedro Aires Soares, vereador mais velho e juiz pela ordenança, sendo tabelião Diogo de Almeida, que seu pai Diogo Guerreiro era primo co-irmão da mulher de Pedro de Figueiredo Sarmento, cavaleiro do hábito de Cristo, fidalgo da casa de el-rei e alcaide-mor de Bragança, chamada D. Violante Sarmento, filha de Lopo Sarmento, alcaide-mor de Bragança, e de D. Ana Carneiro. O dito Francisco da Guerra Brandão casou em Portalegre com Maria Rodrigues e teve, além de outras filhas, que foram religiosas em Portalegre, a Isabel de Figueiredo Brandão, que casou com João Martins Ferraz, tabelião em Portalegre e administrador da capela e morgadio dos Ferrazes (1691).
HERÁLDICA DO DISTRITO DE BRAGANÇA «Atendendo ao que representaram superiormente as comissões administrativas das câmaras municipais dos concelhos abaixo designados, deste distrito de Bragança, e tendo em vista os pareceres da comissão de heráldica da Associação dos Arqueólos Portugueses, o governo português, pelo Ministério do Interior, e por portaria n.° 8088, publicada no Diário do Governo, I série, de 27 de Abril findo, aprovou que a constituição heráldica das armas, bandeiras e selos dos mesmos municípios seja a seguinte: Alfândega da Fé. Armas – De negro, com uma torre torreada de prata, aberta e iluminada de vermelho, tendo o torreado acompanhado por sete abelhas de ouro postas em semicírculo, voltadas ao centro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila de Alfândega da Fé, a negro. Bandeira – Branca. Cordões e borlas de prata e de negro. Haste e lança douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes, tendo em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Alfândega da Fé. Bragança. Armas – De vermelho, com um castelo de ouro aberto e iluminado de azul, tendo a torre central carregada pelas quinas antigas de Portugal. Em chefe, cinco estrelas de ouro em faixa. Coroa mural de prata (1691) Ao grande amigo Francisco de Moura Coutinho, douto genealogista, director da agência do Banco de Portugal em Braga, agradeço as notícias para este artigo, tiradas do nobiliário LIMA, Jacinto Leitão Manso de – Famílias de Portugal, título «Guerreiros de Bragança».
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de cinco torres. Colar de Torre e Espada. Listel branco com os dizeres: Cidade de Bragança, a negro. Bandeira – Quartelada de quatro peças de amarelo e de quatro peças de azul. Cordões e borlas de ouro e azul. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes, envolvidas pelo colar da Torre e Espada. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Bragança. Carrazeda de Ansiães. Armas – De prata, com um cacho de uvas de púrpura folhado e troncado de verde, acompanhado por dois ramos de oliveira de verde frestados de negro e por quatro espigas de trigo de verde cruzados nos pés. Em contrachefe, três faixas ondadas de azul. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila de Carrazeda de Anciães, a negro. Bandeira – De verde. Cordões e borlas de prata e de verde. Lança e haste douradas. Selo – Circular, com as peças das armas sem indicação dos esmaltes, e em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Carrazeda de Anciães. Freixo de Espada à Cinta. Armas – De púrpura, com um freixo de ouro realçado de verde, firmado no pé do escudo, acompanhado do tronco por duas espadas de ouro e por dois escudetes das quinas antigas de Portugal. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila de Freixo de Espada-à-Cinta, de negro. Bandeira – Amarela. Cordões e borlas de ouro e de púrpura. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes, e em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Freixo de Espada-à-Cinta. Macedo de Cavaleiros. Armas – De prata, com um ramo de castanheiro com três ouriços de ouro e folhado e troncado de verde. Orla de negro carregada de nove rosetas de espora de prata, abertas do campo da orla. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila de Macedo de Cavaleiros, a negro. Bandeira – Esquartelada de amarelo e de verde. Cordões e borlas de ouro e de verde. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as figuras das peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros. Miranda do Douro. Armas – De ouro, com um castelo de vermelho MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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aberto e iluminado de prata. A torre central encimada por um crescente de vermelho apontado ao centro do escudo. Coroa mural de cinco torres de prata. Listel branco com os dizeres: Cidade de Miranda do Douro, a negro. Bandeira – Quarteada de branco e de vermelho. Cordões e borlas de prata e de vermelho. Haste e lança douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Miranda do Douro. Mirandela. Armas – De negro, com um castelo de prata, aberto e iluminado de vermelho, acompanhado por dois ramos de oliveira folhados e frutados de verde e atados em ponta, com um laço de vermelho. Em contrachefe, uma ponte de alcaria de prata sainte de um rio de cinco faixas ondadas de azul e de prata. Coroa mural de prata de quatro torres. Colar da Torre e Espada. Listel branco com os dizeres: Vila de Mirandela, a negro. Bandeira – Esquartelada de branco e de verde. Cordões e borlas de prata e de verde. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, o colar da Torre e Espada, acompanhado por círculos concêntricos, com os dizeres: Câmara Municipal de Mirandela. Mogadouro. Armas – De prata, com um castelo de negro, aberto e iluminado de ouro. Em chefe a Cruz do Templo e a Cruz de Cristo, ambas de vermelho. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila do Mogadouro, a negro. Bandeira – Esquartelada de amarelo e de negro. Cordões e borlas de ouro e negro. Haste e lança douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal do Mogadouro. Torre de Moncorvo. Armas – De ouro, com uma torre torreada de azul, aberta e iluminada do campo. O torreado, acompanhado por dois corvos de sua cor, afrontados e pousados nas ameias da torre. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila de Torre de Moncorvo. Bandeira – De azul. Cordões e borlas de ouro e azul. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Torre de Moncorvo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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INFLUÊNCIA ORIENTAL NA PENÍNSULA IBÉRICA
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Vila Flor. Armas – De verde, com uma flor-de-lis de ouro, aberta e realçada de púrpura. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres: Vila Flor, a negro. Bandeira – Esquartelada de amarelo e de púrpura. Cordões e borlas de ouro púrpura. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as figuras das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Vila Flor. Vimioso. Armas – De prata, com uma palma de verde, acompanhada por seis torres de vermelho, abertas no campo, postas três de cada lado em pala. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres: Vila de Vimioso, a negro. Bandeira – De vermelho. Cordões e borlas de prata e vermelho. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação de esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Vimioso. Vinhais. Armas – De vermelho, com uma torre torreada de prata, aberta e iluminada de negro, acompanhada por quatro cachos de uvas de prata folhados e troncados de verde. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres: Vila de Vinhais, a negro. Bandeira – Esquartelada de branco e de negro. Cordões e borlas de prata e de negro. Lança e haste douradas. Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Vinhais». INFLUÊNCIA ORIENTAL NA P ENÍNSULA I BÉRICA – Tomo IX, pág. 715. Alguns entendem que a influência grega só aqui nos chegou com a vinda dos romanos; outros admitem «uma influência micénica, ou seja da Grécia da idade do bronze, no noroeste da Península» (1692), mas esta influência é hoje «considerada improvável e anacrónica» (1693). Todavia convém notar que Adolfo Schulten, professor da Universidade de Erlangen, célebre exumador das ruínas de Numância em Espanha, fazendo a apreciação do livro Homenagem a Martins Sarmento, 1933, diz: «Uma das mais importantes comunicações é constituída pelo pequeno artigo de Leeds, director do Ashmolean Museum de Oxford, provando (1692) CORREIA, Mendes – Da Biologia à História, 1934, p. 227. (1693) Ibidem.
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INFLUÊNCIA ORIENTAL NA PENÍNSULA IBÉRICA
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IZEDA
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que certas contas de vidro azul, provenientes do Egipto, datadas da 18.a à 19.a Dinastia, isto é, de 1400-1300 a.C., aparecem também no sul da Espanha e sul de Inglaterra, o que vem demonstrar a existência naquela época de relações comerciais do Oriente com a Espanha, até agora tantas vezes postas em dúvida, facto aliás igualmente comprovado pelo aparecimento anterior, em Minorca, de um vaso cretense com boca em forma de bico. Deste modo se verifica que, já por volta do ano 1300 a.C., os navegadores orientais vinham a Espanha em busca dos metais desta região, especialmente da prata, e à Inglaterra em procura do estanho» (1694). É possível que estas contas de vidro azul sejam as contas pretas mencionadas na pág. 153 do tomo IX destas Memórias, aparecidas no castelo da Bouça de Aires, termo de Urrós, tão notável pelas suas antigualhas (1695). De acordo com o pensar de Mendes Correia está o artigo de Lantier sobre os cultos orientais, publicado na Homenagem a Martins Sarmento, também apoiado por Schulten, onde prova «que tais cultos só ali penetraram [na Península Ibérica] no tempo do Império, invadindo apenas a planície romanizada, e nenhuma influência havendo exercido sobre as primitivas populações indígenas» (1696). Parece que, existindo relações comerciais entre a nossa Península e o Oriente, como fica demonstrado atrás, algo se deviam ressentir no sentimento cultual. Bellido publicou na Investigacion y Progresso um artigo sobre «Las relaciones entre la Peninsula Ibérica y el mundo clássico griego, vistas através de los hallargos de monedas griegas acaecidos en España» (1697), que deve confirmar o que levamos dito. Neste artigo vem reproduzida a bráctea siracusana de Bragança, atribuída aos fins do século V antes de Cristo, que demos no tomo IX, pág. 17. IZEDA – A 3 de Fevereiro venera-se em Macedo do Mato, concelho de Bragança, «a memória do santo Pastor de Izeda, de cujo nome, dado que nos não ficasse notícia, está (sem duvida) escrito no eterno catalogo, pois tem o ceo qualificado tanto sua santidade, honrando sua sagrada cabeça, que se conserva na ermida de S. Braz do dito lugar [de Macedo do Mato], guarnecida de prata, que o pão que nela toca, demais de ficar incorrupto, obra Deos por elle inumeraveis milagres nas pessoas, que com fé, e devo(1694) Revista de Guimarães, (1934), p. 255, onde se transcrevem trechos de Schulten. (1695) A propósito das contas de vidro azul ou pretas, ver PINTO, Rui de Serpa – Etnografia Arqueológica, separata do fascículo III, do vol. V, dos «Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnografia», 1932, p. 4 e seg. O Arqueólogo Português, vol. XXVIII, p. 49. (1696) Revista de Guimarães, (1934), p. 258. (1697) GARCIA Y BELLIDO, António, Investigacion y Progresso (1935) números de Outubro a Dezembro.
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IZEDA
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JORNAIS NO DISTRITO DE BRAGANÇA
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LANÇÃO
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ção se valem dela, como de certissima, e sobrenatural medicina para varias enfermidades, principalmente dores de cabeça, e mordeduras de cães danados» (1698). Depois, o mesmo Cardoso, nos comentários a esse dia 3 de Fevereiro, tratando deste santo Pastor de Izeda, repete a circunstância de se lhe ignorar o nome, sendo porém convicção geral que nasceu em Izeda, ignorando-se todas as mais circunstâncias individuais da sua personalidade, apesar de na região gozar de grande fama, segundo informações que diz ter recebido do clero e fiéis dignos de fé. Mais acrescenta que ao tempo em que escreveu (1652), Izeda tinha uns duzentos vizinhos e Macedo do Mato quatro. JORNAIS NO DISTRITO DE BRAGANÇA – Tomo VII, pág. 688, e tomo VIII, pág. 108. Notícias de Mirandela, semanário, publicado em Mirandela. Director, Álvaro Augusto do Rego. Saiu o primeiro número em Setembro de 1933. P’ra Cá do Marão, quinzenário regionalista, impresso em Bragança, na Tipografia Académica. Director, António Paracana; redactor, Abel Monteiro. Saiu o primeiro número a 9 de Abril de 1933. Renovação Nacional, trimensário. Director e proprietário, José Dionísio Neves. Anuncia a sua publicação em Mirandela o quinzenário Terras de Bragança de 10 de Julho de 1937. Terras de Bragança, quinzenário, publicado em Bragança; é impresso na Tip. Académica. Director, Leite da Costa, subinspector escolar; redactor, Abel Monteiro. Saiu o primeiro número a 19 de Fevereiro de 1934 e ainda hoje (26-VIII-1937) se continua publicando. LANÇÃO – Como ilustração ao que dissemos na página 125 deste tomo a propósito de Lanção, lembramos que no Museu de Guimarães se encontra a seguinte lápide publicada por Mário Cardoso (1699): LANCIE | NSIS · TR | AQVDA | NVS · H · S
| E · BRAC | ARVS · P.
que leu: Aqui jaz... lanciense transcudano. Brácaro erigiu.
(1698) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, 1652, tomo I, p. 333. (1699) CARDOSO, M. de Vasconcelos – Catálogo do Museu de Arqueologia, da Sociedade Martins Sarmento, I secção, lapidar e de escultura, 1935, p. 83, onde cita a bibliografia referente ao monumento. Estes lancienses transcudanos, isto é, de Além-Côa, assim chamados para os distinguir de outros, que devia haver para a ponte de Alcântara sobre o Tejo (Espanha), no ano 106, imperando Trajano.
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LEITÃO BANDEIRA
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LEITÃO BANDEIRA – Tomo VI, pág. 43, 143, 452, 681, 682 e 726, e tomo VII, pág. 38. António Joaquim Leitão e seus irmãos: Tomás António Leitão, Carlos Valeriano Leitão, Manuel António Leitão e João Baptista Leitão, de Bragança, requereram em 1792 para procederem a habilitação de genere, declarando ao mesmo tempo quererem «justificar em como seu tio o P.e Carlos Valeriano Leitão era irmão inteiro de seu pai e presbítero, e capelão de cavalaria, e por sua mãe são sobrinhos do reverendo cónego António José da Rocha, e reverendo reitor de Grijó, irmãos inteiros de sua mãe». «João Manuel Dinis médico dos partidos desta cidade [de Bragança], casado», é uma das testemunhas inquiridas no processo. TOMÁS LUÍS A NTÓNIO L EITÃO BANDEIRA e D. A NA M ARIA J OAQUINA , naturais ambos de Bragança, pais dos habilitandos, casaram em Grijó de Vale Benfeito a 28 de Dezembro de 1769, como consta da respectiva certidão junta ao processo, passada por José Caetano da Rocha, reitor de Grijó de Vale Benfeito, em 1 de Junho de 1792. ANTÓNIO, o habilitando acima, filho de Tomás Luís António Leitão, cavaleiro da Ordem de Cristo e procurador da Câmara de Bragança, e de D. Ana Maria Joaquina, ambos de Bragança; neto paterno de António Gomes Leitão Bandeira, professo na Ordem de Cristo, juiz dos órfãos em Bragança, natural de Lisboa, e de D. Joaquina Eugénia Mariana de Campos, natural de Torres Vedras, e materno de André da Rocha Padrão, capitão das ordenanças, e de Maria Teresa, naturais de Bragança, nasceu nesta cidade (Sé) a 16 de Março de 1775. Foi seu padrinho André da Rocha, confirmado de Samil, tio do baptizado. TOMÁS, irmão do anterior. A mesma filiação, só que no pai diz Tomás António Leitão; não menciona o apelido Bandeira no avô paterno, e quanto ao materno André da Rocha Padrão, diz ser familiar do Santo Ofício. Nasceu em Bragança (Sé) a 21 de Dezembro de 1778. CARLOS, irmão dos anteriores. A mesma filiação. Nasceu em Bragança (Sé) a 26 de Abril de 1785. MANUEL, irmão dos anteriores. A mesma filiação. Nasceu em Bragança (Sé) a 13 de Agosto de 1786. JOÃO BAPTISTA, irmão dos anteriores. A mesma filiação, acrescentando porém o título de doutor ao pai. Nasceu em Bragança (Sé) a 6 de Maio de 1791. TOMÁS LUÍS ANTÓNIO, avô paterno dos habilitandos, filho de António Gomes Leitão, cavaleiro da Ordem de Cristo, juiz dos órfãos de Bragança, natural de Lisboa, e de D. Joaquina Eugénia Mariana de Campos, natural de Torres Vedras, moradores em Bragança; neto paterno de Inácio Gomes Leitão e de D. Leonarda Maria de Vasconcelos Bandeira, naturais de Lisboa, e materno de João Nunes da Fonseca e de D. Margarida de Campos, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
LEITÃO BANDEIRA
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naturais de Torres Vedras, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 20 de Dezembro de 1744. A NA M ARIA J OAQUINA , mulher do antecedente, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 11 de Maio de 1751. Junto ao processo vêm também as certidões dos ascendentes nascidos em Lisboa e Torres Vedras. Também junto ao processo se encontra outro de habilitação de genere de António José da Rocha o cónego atrás mencionado, José Caetano da Rocha, o reitor de Grijó de Vale Benfeito, já indicado, que dizem ser irmãos do licenciado André Xavier da Rocha, filhos todos de André da Rocha e de Maria Teresa, naturais de Bragança. Processo de habilitação de genere em 1750. António José, o cónego acima, filho de André da Rocha e de Maria Teresa, naturais de Bragança; neto paterno de André da Rocha, natural do lugar de Morais, e de Joana Padrão, natural de Bragança, e materno de António Gomes e de Domingas Fernandes, naturais de Bragança, nasceu nesta cidade (Santa Maria) a 8 de Novembro de 1734. José Caetano, irmão do antecedente, nasceu em Bragança (Santa Maria) a 19 de Fevereiro de 1737 (1700). João Carlos Leitão Bandeira, falecido a 8 de Março de 1905 (tomo VI, pág. 727, n.° 4) e seu irmão António Carlos Leitão Bandeira (tomo VI, pág. 728, n.° 5) tiveram mais outro irmão chamado Manuel Carlos Leitão Bandeira, que casou com D. Ermelinda da Graça Machado, rica proprietária de Vilar de Ossos, concelho de Vinhais. Tiveram filha D. Eugénia Leitão Bandeira, que casou com o major Celestino Jacinto de Madureira Beça (tomo VI, pág. 727). Não deixou descendência. Manuel Carlos casou segunda vez e deixou filhos. LEITÃO BANDEIRA (Tomás Luís António) – Doutor, fidalgo, cavaleiro da Ordem de Cristo. Tomo VI, págs. 43, 143, 452, 681, 682 e 726, destas Memórias. O códice Carta de brasão de armas de nobreza e fidalguia de Tomás Luís António Leitão Bandeira consta de três fólios de pergaminho, seguidos de mais um que serve de guarda e a que deveria corresponder um outro no princípio, mas que já não existe. A 1.a, 2.a, 4.a, 5.a e 6.a páginas são ocupadas pelo texto, escrito em letra imitando a de imprensa. A 3. a página é ocupada pelo desenho colorido do brasão de Leitão Bandeira, cuja execução deixa bastante a desejar. Todo o códice se acha um pouco maltratado, e a sua encadernação é ordinária e velha. (1700) O processo desta habilitação de genere conserva-se no Museu de Bragança.
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LEITÃO BANDEIRA
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A 1.a página do códice, cujo texto começa por um D ornado a cores, é toda circundada de uma tarja com desenhos também a cores; as outras páginas têm o texto enquadrado num duplo filete preto. Em meados de Junho de 1936 foi vendida em leilão pelo livreiro Arnaldo Oliveira, de Lisboa, a biblioteca do conde de Sucena, e nele, por duzentos e cinquenta escudos, a Carta de brasão de armas acima indicada, adquirida pelo livreiro Coelho para o Doutor Orlando Guerreiro de Castro, secretário da Embaixada do Brasil em Lisboa. Como é nobre o gesto do distinto diplomata e erudito bibliófilo, Doutor Orlando Guerreiro de Castro, que, sem fazer caixinha de segredos das suas raridades bibliográficas, permitiu ao grande bragançófilo Padre Ernesto Augusto Pereira Sales (1701) tirar a cópia que abaixo damos! Para aquele, a profundeza da nossa admiração reconhecida; para o amigo Sales, a quem tantos favores deste género devemos, o Deus te pague da nossa terra, à qual tantíssimos serviços tens prestado, credores de te perpetuarem a memória abençoada! Segue a Carta de brasão de armas de Tomás Leitão Bandeira: «Dom Joze por graça de Deos Rey de Portugal, e dos Algarves daquem, e dalem mar em Africa Senhor de Guiné, e da conquista navegação, do comercio da Ethiopia, Arabia, Percia, e da India &. Faço saber aos que esta minha Carta de Brazão de Armas de Nobreza, e Fidalguia virem, que Thomaz Luiz Antonio Leitão Bandeira Cavaleiro da Ordem de Christo, graduado em Leis pela Universidade de Coimbra, opozitor aos lugares de letras, natural, e morador na Cidade de Bragança me fes petição dizendo, que pella sentença de justificação de sua Nobreza a ella junta proferida pelo meu Dezembargador, e Corregedor do Civel da Corte, e Caza da Suplicação o Doutor Joze Antonio Cobeiro de Azevedo: sobscripta por Manoel Luis Tavares Coutinho Ribeiro Escrivão do dito juizo, se fazia certo, que êlle he filho legitimo de António Gomes Leitão Bandeira tambem Cavaleiro da mesma Ordem Juiz Proprietario dos Orfaos da dita Cidade, natural desta de Lixboa, e de sua molher D. Joaquina Eugenia Marianna de Campos. Neto pela parte paterna de Ignacio Gomes Leitão Bandeira, e de sua molher D. Leonarda Maria de Vasconcellos. E pella materna de João Nunes da Fonseca, e de sua molher D. Margarida Antonia de Campos. Os quaes seus pays, e avós, que são e forão pessoas de distinta nobreza, e como táes sempre se tratarão servindosse com criados, e cavallos, exercendo os cargos honrozos da republica, sendo outro sim de puro, e limpo sangue sem a menor fama em contrario, e legitimos descendentes das nobres familias dos apellidos de Leitões, e Bandeiras, que neste Reyno são fidalgos de (1701) Ver tomo VII, p. 472 e 792, destas Memórias. Quanto às muitíssimas informações que lhe devemos pelos diversos tomos desta obra, ficam as notas respectivas.
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LEITÃO BANDEIRA
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linhagem, cota de armas, e de solar conhecido. Pello que me pedia por merce, que para a memoria dos ditos seus progenitores se não perder, e clareza de sua antiga nobreza lhe mandace dar minha Carta de Brazão de Armas das ditas familias para dellas tambem uzar na forma, que as trouxerão, e forão concedidas aos ditos seus progenitores, e elle as deve trazer segundo o meu Regimento, e Ordenação da Armaria. E vista por mim a dita sua petição, e sentença, e estar nella sentenceado tudo o referido lhe mandei passar esta minha Carta de Brazão de Armas das referidas familias na forma que aqui vão brazonadas, divizadas, e illuminadas com cores, e metaes segundo se achão registadas no Livro dos Registos das Armas da Nobreza, e Fidalguia destes meus Reynos, que tem Portugal meu Principal Rey de Armas. A saber. Hum escudo partido em pala. Na primeira as armas dos Leitoes que são em campo de prata tres faxas sanguinhas. Na segunda as dos Bandeiras em campo vermelho huma bandeira de ouro franjada de prata carregada de hum leão de azul, com a aste de ouro ferrada de azul. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre o dos Leitões, hum leitão de prata com huma faxa do escudo, e por diferença hua brica azul com um farpão de prata. O qual escudo e armas poderá trazer, e uzar o dito Thomas Luis António Leitão Bandeira assim como as trouxerão, e uzarão os ditos nobres, e antigos fidalgos seus antepassados em tempo dos Senhores Reys meus antecessores, e com ellas poderá entrar em batalhas, campos, reptos, escaramuças, e exercitar todos os mais actos licitos da guerra, e da pax. E assim mesmo as poderá trazer em seus firmais, aneis, sinetes, e divizas; pollas em suas cazas, capollas, e mais edificios, e deixallas sobre sua propria sepultura, e finalmente se poderá servir, honrar, gozar, e aproveitar dellas em todo, e por todo como a sua nobreza convem. Com o que quero e me pras, que haja elle todas as honras, privillegios, liberdades, graças, mercês, izenções, e franquezas, que hão, e devem haver os fidalgos, e nobres de antiga linhagem, e co-[mo] sempre de todo uzarão, e gozarão os ditos seus antepassados; pello que mando aos meus Dezembargadores, Corregedores, Provedores, Juizes, e mais Justiças, e em especial aos meus Reys de Armas, Arautos, e Paçavantes e a quais quer outros officiaes e pessoas a quem esta minha carta for mostrada, e o conhecimento dela pertencer, que em tudo lha cumprão, e guardem, e fação cumprir, e guardar como nella se contem sem duvida nem embargo algum que em ella lhe seja posto por que assim he minha mercê. El Rey Nosso Senhor o mandou por Luis Rodrigues Cardozo Cavalero Fidalgo de sua caza e seu Rey de Armas Portugal. Frey Manoel de Santo António, e Silva da Ordem de S. Paulo a fes em Lixboa aos dezaceis dias do mes de Novembro do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e setenta. Filippe Rodrigues de Campos a fes escrever. Portugal Rey de Armas e Principal Luis Roiz Cardozo». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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LIMA
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Numa folha de pergaminho, a modo de guarda, que se segue, lê-se ao cimo da primeira página: «Registada no L.° 1.° do registo dos Brazões da Nobreza desttes Reinos, e suas conquistas a f. 139. Lx.a 18 de Nov.ro de 1770. Filippe Roiz de Campos». LIMA (Henrique Maurício Jorge de) – Filho de António Maurício Jorge de Lima e de D. Cândida Rodrigues Praça de Lima, de Bragança; neto paterno de Bernardo José de Sá Lima e de D. Angélica Felizarda de Sá Lima, de Bragança, e materno de António Rodrigues Praça, de Carção, e de D. Maria Rodrigues, do lugar de Morais. Esta filiação no requerimento para habilitação de genere em 1854. Na certidão de idade do requerente, que vem junta ao processo, diz-se que nasceu em Bragança (Sé) a 9 de Novembro de 1837, mas os nomes variam algo. Assim, ele habilitando só tem o nome de Henrique, filho de António Maurício Jorge de Lima e de Caridade Próxima Praça, fregueses da Sé; neto paterno de Bernardo José de Sá Lima e de Angélica Felizarda da Silva e materno de António Rodrigues Praça e de Maria Rodrigues Germe, todos de Bragança. CARIDADE P RÓXIMA (só este nome), filha de António Rodrigues, de Carção, e de Maria Rodrigues Germe, natural de Morais; neta paterna de Roque Rodrigues e de Isabel de Oliveira, ambos de Carção, e materna de Manuel Rodrigues, de Vinhais, e de Teresa Fernandes, de Morais, nasceu em Bragança (Sé) a 25 de Abril de 1818. ANGÉLICA (só este nome), filha de José Manuel da Costa Silva e de Luísa Joaquina de Castro, de Bragança, neta paterna de Gabriel da Costa, de Sendim, e de Luísa Maria de Bragança, e materna de António Dias de Castro e de Brites Inácia, de Bragança, nasceu nesta cidade na freguesia de Santa Maria a 13 de Janeiro de 1794. BERNARDO (só este nome), filho de António Alves de Lima e de Maria Angélica, esta de Rebordelo e aquele de Bragança, neto paterno de Manuel Rodrigues Mendes e de Isabel Maria de Lima, naturais de Bragança, e materno de Tomé de Sá, de Rebordelo, e de Luísa Josefa, de Bragança, nasceu nesta cidade na freguesia de Santa Maria a 3 de Dezembro de 1795. ANTÓNIO MAURÍCIO, filho de Bernardo José de Sá Lima e de Angélica Felizarda, de Bragança; neto paterno de António Alves de Lima e de Maria Angélica de Castro, e materno de José Manuel da Costa Silva Lima e de Luísa Joaquina de Castro, todos de Bragança, nasceu nesta cidade, na freguesia de Santa Maria, a 14 de Abril de 1815. A NTÓNIO , filho de Roque Rodrigues Praça e de Isabel de Oliveira, ambos de Carção, nasceu neste povo a 11 de Abril de 1777 (1702). (1702) Está o processo no Museu de Bragança.
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LOBO
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LOBO (Francisco Miranda da Costa) – Professor da Universidade de Coimbra. Tomo VII, págs. 270 e 211, e tomo VIII, pág. 108. Publicou mais: Observations solaires à l’observatoire de Coimbra. 1932. Muitos são os congressos internacionais de astronomia e matemática em que o nobre sábio Doutor Costa Lobo tem representado Portugal, como delegado do Governo e da Universidade de Coimbra, onde as suas comunicações têm merecido aplauso geral das altas competências na especialidade e a honra de serem publicadas nas actas dos respectivos congressos, entre os quais destacaremos os de astronomia em Cambridge e o de matemática em Zurique, ambos em 1933. LOPES (José Manuel Miranda) – Prior de Argozelo. Tomo VII, pág. 274, e tomo VIII, pág. 108. Publicou mais: A flora do concelho de Vimioso e arredores, 4.a lista. Separata do Boletim da Sociedade Broteriana, vol. VIII (II série). Coimbra, 1934. 8.° de 16 págs. Como outros trabalhos do ilustre botânico, este menciona algumas espécies raras e desconhecidas em Portugal. O castelo e a comenda de Algoso (apontamentos para uma monografia). Separata da revista Brotéria, vol. XX. Fascs. 5 e 6, Maio e Junho de 1935. Lisboa, 1935, 8.° de 60 págs., com quatro gravuras. Cantares da minha terra – Subsídios para o Cancioneiro popular de Bragança. Porto, Imprensa Portuguesa, 1935. 8.° pequeno de 163 págs. Saiu com o nome de Mário Aldino de Spoleto. LOPO (Albino dos Santos Pereira) – Coronel. Tomo VII, pág. 276. Faleceu em Bragança (Sé) a 25 de Dezembro de 1933. Deixou a parte disponível de seus bens às misericórdias de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mogadouro. À Câmara desta vila deixou uma casa nos Estevais (Mogadouro) para escola. Sua filha e herdeira, a distinta professora D. Clarice Beatriz de Miranda Lopo, deu ao Museu de Bragança todos os livros de seu pai que pudessem interessar-lhe. LOUREIRO MELO DE LENCASTRE – «Dizem Manuel Antonio de Loreiro Melo de Alemcastro e seus irmãos Antonio Sebastião e Miguel José, naturais desta cidade [Bragança], filhos legitimos de José Maria Garcia Rodrigues, da mesma, e de D. Maria Augusta de Loreiro Melo d’Alemcastro, natural de Gouveia, bispado de Coimbra, netos paternos de Miguel Garcia Rodrigues, do lugar de Aveleda, e de D. Maria Gonçalves, do lugar de São Pedro Sarracinos, d’este bispado, e maternos do doutor João Marques da Rocha do dito Gouveia e de sua mulher D. Engracia Bernarda de Loreiro Melo de Alemcastro, da cidade de Vizeu, que para fazerem a sua MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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LOUREIRO MELO DE LENCASTRE
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LOURENÇO
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(CONVENTO DE) LOUSA
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habilitação de genere querem mostrar que são sobrinhos direitos do padre Miguel Garcia Rodrigues, irmão germano de seu pai (1703)». Habilitação de genere em 1814. No processo há estas certidões de que dou extracto: MIGUEL GARCIA (o padre), filho de Miguel Garcia, natural e baptizado em Belber, reino de Castela, bispado de Zamora, e de Maria Gonçalves, natural de São Pedro de Serracenos; neto paterno de Miguel Garcia e de Maria Rodrigues, naturais de Aveleda, e materno de Bartolomeu Rodrigues, de Freixedelo, e de Ana Gonçalves, natural de São Pedro de Serracenos, concelho de Bragança, nasceu e foi baptizado nesta cidade, na freguesia da Sé. Seu pai Miguel Garcia, «natural da freguesia de Santa Maria de Belber, reino de Castela, onde nasceu e foi baptizado, por se acharem nesse tempo seus pais retidos por conta de hum crime no referido reino, sem que nele tivessem mais de hum anno de demora». JOSÉ MARIA, filho de Miguel Garcia, de Aveleda, e de Maria Gonçalves, de São Pedro de Serracenos; neto paterno de Miguel Garcia e de Maria Rodrigues, de Aveleda, e materno de Bartolomeu Rodrigues e de Maria Gonçalves, nasceu em Bragança (Sé) a 25 de Março de 1751. MANUEL ANTÓNIO DE LOUREIRO, o habilitando, filho e neto dos acima indicados, nasceu em Bragança a 31 de Dezembro de 1807 (1704). LOURENÇO (Francisco João) – Engenheiro agrónomo. Nasceu em Vale de Pena, freguesia de Pinelo, concelho de Vimioso, a 28 de Fevereiro de 1891. Filho de Manuel José Lourenço e de D. Maria Evangelista Bartolomeu. Fez os estudos preparatórios em Bragança e na mesma cidade concluiu o curso teológico, deixando de se ordenar por não sentir vocação sacerdotal. Fez depois o curso de agronomia em Lisboa, com apresentação final de curso de um estudo sobre Culturas e gados da terra fria bragançana, que foi muito apreciado e está ainda manuscrito. Exerceu durante oito anos o cargo de professor provisório do Liceu Central de Emídio Garcia de Bragança, e desde Novembro de 1930 presta serviço no Ministério da Agricultura, como chefe da delegação em Bragança da IV Brigada Técnica da Campanha da Produção Agrícola e Brigada Técnica de 3.a Região. Ver a rubrica Trigo de Abreu (Álvaro). LOUSA, concelho de Moncorvo. Nesta povoação fundou pelos anos de 1500 Frei Antão Gonçalves, e na Ordem Frei Antão do Bem-Espera Gon(1703) Convém notar que São Pedro de Serracenos é a povoação hoje chamada São Pedro de Serracenos no concelho de Bragança, mencionada por aquele nome nos documentos antigos. (1704) O processo está no Museu de Bragança.
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LOUSA (CONVENTO DE)
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çalves, natural de Seixo de Ansiães, concelho de Carrazeda de Ansiães, o Convento da Ordem da Santíssima Trindade da Redenção dos Cativos, que perseverou até à supressão das ordens religiosas pelo governo constitucional em 1834. O fundador morreu a 15 de Janeiro de 1510 com grande fama de santidade e foi sepultado na capela-mor da igreja do convento. Depois, Frei Basílio, superior deste convento, ampliou-o notavelmente em 1570, graças ao auxílio dos moradores da Lousa e região, dotando-o, além disso, com estudos de humanidades, notabilizando-se no ensino do latim, frequentado por muitos alunos da comarca e estranhas, como Lamego e outras, a ponto de «desterrar de seu destrito a ignorancia em que aquela inculta gente vivia» (1705). Eis como o Hagiológio Lusitano narra a fundação deste convento: Frei Antão era filho «de ricos, e honrados paes, logo nos anos da adolescencia se retirou a fazer vida solitaria nas brenhas visinhas ao dito lugar [da Lousa], onde para se mortificar usava de varios rigores e penitencias, a que o ceo correspondia com particulares consolações e favores. Entre elles (conta a tradição) que certa noite lhe apareceo hum Anjo, que da parte de Deos lhe mandou edificasse hûa igreja em honra da Santissima Trindade no culme daquela montanha. Amanheceo, veio aos moradores do lugar, manifestou-lhes a visão, a que elles não deram credito. Apareceo segunda vez o Anjo e lhe disse, que tornasse, e que se perseverassem na duvida, mandassem vir ante si um enfermo, que no dito lugar estava já no ultimo, ao qual (em testemunho desta verdade) em nome da Santissima Trindade daria saude. Tudo sucedeu pontualmente, porque o enfermo se levantou tão rijo e valente como se não ouvera tido enfermidade alguma. Espantados os moradores de tão manifesto milagre, obedecendo ao divino oraculo, derão credito ao que o santo mancebo dizia e logo levantaram a igreja, que em breve se acabou. Outra vez lhe tornou aparecer o Anjo e dadas as graças de estar já a igreja acabada e perfeita, lhe disse, que levasse a ela frades da Santissima Trindade, pois era da propria invocação. Obedeceo, veio ao mosteiro de Santarem da mesma Ordem, contou o sucedido, assentirão os religiosos e assinarão alguns, que levou consigo para a nova fundação. E elle tambem se recolheo em sua companhia, tomando o habito, em cujo religioso estado floreceo em tanta santidade, (1705) C ARDOSO , Jorge – Hagiológio Lusitano, 1652, referente ao dia 15 de Janeiro, tomo I, p. 154. Sobre esta fundação, ver SÃO JOSÉ, Jerónimo de, Frei – História Cronológica citada adiante em nota, que diz ser a fundação pelos anos de 1474 e ter falecido Frei Antão em 1486, que a igreja primitiva, construída por ele, foi, por acanhada, lançada abaixo e reconstruída em 1633, sendo ministro Frei Tomás da Conceição. Consta de três naves, três altares inclusos em três capelas e claustro. A cerca adjunta, murada toda em volta, tem meia légua de circuito.
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LOUSA (CONVENTO DE)
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ilustrada com maravilhas, que toda aquela comarca o venera depois de morto como a Santo, gloriando-se de que foi seu compatriota e natural. Cujos ossos o anno de 1633 forão achados mui alvos e cheirosos em abono de sua virtude» (1706). «Tratão do servo de Deus Frei Antão a Chronica Geral da Ordem, L. 2, cap. I. D. Rodrigo da Cunha, Historia de Braga, 2.a parte, capitulo ultimo. O livro dos obitos da Provincia da Santissima Trindade, cap. 21, pág. 124. Frei Bernardino de Santo Antonio, manuscritos e outros papeis, relações e fragmentos da Chronica dela escritos anno 1574 por Frei Marcos de Moura, que tudo tivemos en nosso poder» (1707). Neste convento da Lousa, notável pelo ensino ministrado gratuitamente aos pobres, distinguiram-se: FREI J OÃO DE M ARVILA , natural de Santarém, que viveu trinta e dois anos no convento e foi seu ministro, isto é, director, notável como «orador eloquente e egregio literato». Diogo Barbosa «afirma que foi muito perito nas especulações teologicas, na inteligencia da Sagrada Escritura e Santos Padres. Compoz dois livros com o titulo: Documentos Espirituaes, onde revela todo o seu talento e toda a sua erudição» (1708). F REI ATANÁSIO S ANCHES , natural de Espanha, pregador da rainha D. Catarina, mulher de el-rei D. João III, superior do convento da Lousa desde 1589 a 1591, e também dos de Santarém, Lisboa, Ceuta, Sintra e Coimbra. Distinguiu-se como «filosofo, teologo e poeta», no dizer do autor da História Cronológica, abaixo citada, onde também se afirma que, indo uma vez pregar na quaresma a Vila Flor, terra abundante em israelitas (1709), apresentou por tema do discurso o texto: Nos autem praedicamos Christum crucifixum: Jedeis quidem scandalum, Gentibus autem stultitiam. Nós pregamos a Cristo crucificado: que é um escândalo para os judeus e uma estultícia para os gentios. O texto é legítimo, pois se encontra em São Paulo (1710), mas os de Vila Flor, julgando-se visados, obrigaram o padre a retirar-se, não sem lhe ministrarem veneno na comida, de que veio a morrer passado pouco tempo, a 22 de Maio de 1595 com setenta e três anos de idade.
(1706) CARDOSO, Jorge – Hagiologio Lusitano, referente ao dia 15 de Janeiro, p. 147. (1707) Ibidem, p. 154. (1708) SÃO JOSÉ, Jerónimo de, Frei – História Cronológica da Esclarecida Ordem da Santíssima Trindade da Redenção de cativos, 1789, tomo I, p. 269. (1709) Ver o tomo V destas Memórias, p. 140. (1710) S. Paulo, I aos Coríntios, 1-23. Jorge Cardoso no Hagiológio…, referente ao dia 22 de Maio, também trata com elogio de Frei Atanásio Sanches.
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LOUSA (CONVENTO DE)
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MACEDO DE CAVALEIROS
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MACHADO
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MADUREIRAS
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Foram pregadores gerais e ministros do convento da Lousa: Frei Estêvão Correia (1629 a 1632); Frei Domingos de Nazaré (1664 a 1667); Frei Custódio Lobo (1665 a 1668); Frei Baltasar Teixeira (1667 a 1671); Frei Simão Evangelista (1703 a 1704); Frei Manuel de Morais (1704 a 1707); Frei Manuel da Conceição, lente de teologia no colégio de Coimbra (1726 a 1729). M ACEDO DE C AVALEIROS – A 25 de Fevereiro de 1722 passou el-rei D. João V carta de reguengueiros da Casa de Bragança aos moradores da «quinta de Macedo de Cavaleiros» (então era uma pequena quinta, depois foi elevada a cabeça de concelho e neste estado se mantém hoje, à custa dos concelhos confinantes – Chacim, Cortiços, Vale de Prados e outros). Esta quinta pagava de foros à dita casa setecentos quarenta e seis alqueires de pão meado (metade trigo e metade centeio). Depois, D. Maria I confirmou esta carta a 1 de Agosto de 1789. Os reguengueiros gozavam de muitos privilégios, e, entre outros: isenção de todos os encargos e serviços do concelho; idem de paga de fintas, talhas, montes, fontes, caminhos e calçadas, salvo nas testadas de suas heranças e casas de morada; escusa de acompanhar presos, levar dinheiros do Estado, servir de feitores, curadores, dar aposentadorias, mantimentos, vinho, roupas, galinhas, carros, bois, lenha, etc., etc., contra sua vontade (1711). M ACHADO (Casimiro Henriques de Morais) – Doutor, natural do Mogadouro. Tomo VI, pág. 722, n.° 6, onde se deve emendar Henrique para Henriques. Ver neste tomo o artigo Sá (Joaquim Guilherme Cardoso de). MADUREIRAS – O Padre João de Morais Madureira, natural de Parada, concelho de Bragança, filho de Álvaro de Morais Madureira e de D. Teodora Pinto, tendo-se ordenado quando frade da Companhia de Jesus, quer habilitar-se de genere pelo ordinário da sua diocese. Declara ser irmão de António de Morais Madureira, morgado de Parada, e do Padre José de Morais Madureira (1712). O processo de habilitação, organizado em 1730, guarda-se no Museu de Bragança. Entre as testemunhas inquiridas no processo figuram: José Sarmento, de Bragança, governador de Outeiro, viúvo, de sessenta e quatro anos; e (1711) Estas cartas, transcritas integralmente, encontram-se exaradas no Livro do Registo da Câmara Municipal de Bragança, correspondente ao ano de 1722, fólios 36, 133 e 178. Ver tomo III, p. 281 e 282, destas Memórias, onde transcrevemos completamente duas cartas deste tipo, para se poder ajuizar das demais. (1712) Tomo VI, p. 355 e 356, e tomo VII, p. 175.
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MADUREIRAS
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MADUREIRAS FEIJÓS
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João de Ordaz Flores, morgado de Duas Igrejas, cidadão de Bragança, de trinta e oito anos. Junto ao processo há uma certidão do pároco de Parada, onde declara que não aparece nos livros o assento de baptismo do dito Padre João de Morais Madureira, mas achou o do Manuel, filho de Manuel de Morais Madureira e de D. Teodora Pinto, que nasceu a 15 de Outubro de 1681. Mais achou o de José, filho dos mesmos, nascido a 2 de Maio de 1689. Diz o pároco que, pelo seu conhecimento e informações de pessoas fidedignas, sabe que o habilitando Padre João nasceu no intervalo entre os dois irmãos referidos. Este Padre João de Morais Madureira é o célebre gramático de quem falamos no tomo VII, pág. 175, destas Memórias, citando, a propósito das suas minúcias gramaticais, uns versos de Tolentino; agora lembramos outros do mesmo, então e ainda hoje aplicáveis aos puristomaníacos. Diz ele: Teimoso gramaticão, Que arranca o cabelo hirsuto, Lastimando a decadência Do novo mundo corrupto, Que quer negar a existência Do ablativo absoluto (1713).
MADUREIRAS FEIJÓS – PEDRO ANTÓNIO DE MORAIS MADUREIRA FEIJÓ e seus irmãos António de Morais Madureira Feijó e Manuel de Morais Madureira Feijó, naturais de Parada de Infanções, concelho de Bragança, filhos de António Luís de Morais Madureira Feijó, natural de Bragança, e de D. Francisca Rosa de Morais Sarmento, natural de Ferreira; netos paternos de Salvador de Prada, de Bragança, e de D. Angélica de Morais Madureira (1714), de Parada de Infanções, e materno de João de Morais Leite, natural de Ferreira, concelho de Macedo de Cavaleiros (1715), e de D. Joana de Morais Queiroga, natural de Edral, requereram habilitação de genere em 1764. PEDRO ANTÓNIO DE MORAIS MADUREIRA, um dos habilitandos, nasceu em Parada de Infanções a 22 de Julho de 1755. Foi seu padrinho o duque de Lafões, representado por procuração passada a António de Morais Madureira Feijó, morgado de Parada de Infanções, e D. Caetana Luísa de Sousa Pimentel, mulher de António Gomes Mena, do lugar de Morais (1716). ANTÓNIO DE MORAIS MADUREIRA FEIJÓ, irmão do antecedente, nasceu em Parada de Infanções a 21 de Janeiro de 1759. Foi seu padrinho D. Frei (1713) TOLENTINO, Nicolau – Obras poéticas, 1801, vol. I, p. 117. (1714) Ver tomo VI, p. 35, destas Memórias. (1715) Ver, neste «Suplemento», o artigo «Ferreira». (1716) Ibidem, artigo «Mena».
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
MADUREIRAS FEJÓS
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MAGALHÃES
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Aleixo de Miranda Henriques, bispo de Miranda, representado por procuração passada a Manuel de Morais Sarmento, arcediago da Sé de Miranda (1717). MANUEL DE MORAIS MADUREIRA FEIJÓ, irmão dos antecedentes, nasceu em Parada de Infanções a 23 de Maio de 1761. Foi padrinho Manuel de Morais Sarmento, arcediago da Sé de Miranda. Entre as testemunhas inquiridas no processo, figura José Pereira, casado, pintor, natural e morador em Parada de Infanções, de cinquenta anos de idade. O processo está no Museu de Bragança. MAGALHÃES (António de Sousa Pinto de) – Reitor de Marzagão, autor das Memórias de Ansiães, de colaboração com o Padre João Pinto de Morais, tomo VII, págs. 283 e 733. Em O Arqueólogo Português, 1934, vol. XXIX, págs. 142 e 150, vêm publicadas duas cartas que o secretário da Academia Real de História lhe dirigiu a propósito das notícias fornecidas por ele à mesma para a obra de D. Jerónimo Contador de Argote. Numa lápide de granito embutida na parede da igreja paroquial de Marzagão há, em superfície rebaixada na pedra, a seguinte inscrição: ESTA IGREIA TRESLADOVSE AQVI DA PRIMITIVA EXTRA MUROS. DA VILLA. DE ANCIAENS. NO AN
1575 E REFORMOVSSE 1765 : SENDO REITOR O DOVTOR. ANTONIO DE SOVZA PINTO. DA M. FREG. NO DE
NO ANNO DE
A
A
Esta igreja é dividida em caixotins apainelados, tanto no tecto da capela-mor como no do corpo do templo, contendo quarenta e cinco quadros naquele e noventa e nove neste, com diversos santos pintados. Um dos painéis do corpo da igreja representa Santo Ivo, segundo declara a respectiva legenda, e outro, logo por baixo deste, «Santa Joana princesa de Portugal». Diz o povo que na cara desta está copiada a da criada do reitor António de Sousa Pinto e na de Santo Ivo a dele, reitor. Ainda referente ao mesmo reitor vi na padieira da porta de uma casa de Marzagão a legenda que, em zincogravura, vai publicada na página seguinte (fig. 51).
(1717) Ver tomo VI, p. 656, destas Memórias.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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MAGALHÃES
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MANUEL
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MANUSCRITOS
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MARCOS
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Fig. 51
Nestas casas vivia então (1907) D. Antónia de Magalhães Barros, filha de um sobrinho do padre fundador delas. MANUEL (D. Manuel de Moura), bispo de Miranda. Tomo II, pág. 44; tomo IV, pág. 653. Na Revista de Arqueologia, 1936, pág. 24, publicou o Doutor Caetano Beirão um pequeno estudo acompanhado de fotografia sobre o túmulo deste bispo na Vista Alegre. MANUSCRITOS – Tomo VII, pág. 719; tomo VIII, pág. 109. «Autos de sumário e desobediência, motins, sedição e sublevação contra o Deão de Bragança, a que mandou proceder o Dr. Paulo Miguel Rodrigues de Morais, governador do bispado de Bragança, e de que foram acusados vários padres e cónegos do mesmo bispado» (1718). «Conflito no acto dos exames de botânica, em que o lente de química, Tomé Rodrigues Soveral, insultou o professor de botânica Félix Avelar Brotero – repreensão e suspensão do Soveral pelo Rei (1796)» (1719). «Relação dos oficiais de Infantaria 24 que desertaram na noite de 31 de Agosto de 1810» (1720). «Informação dos bispos da Guarda e Leiria sobre o estado de saúde do bispo de Bragança» em 1810 (1721). Divertimento crítico e satírico; feito às escuras, com a narração histórica da vida de um infeliz Caipira – Demonstração de Amizade, e Ingratidão no tempo contrário. Com o trágico curso de males em que a Revolução faz naufragar o Homem, dado em lugar oculto aos 6 de Janeiro de 1837. Serdla B. 4.° de 46 fólios. Vem citado por D. Cândida Florinda Ferreira em Talhinhas e as Guerrilhas Liberais – Notícias monográficas inéditas, 1932, pág. 41. Deste manuscrito, que descreve vários episódios de uma guerrilha Miguelista que operou no distrito de Bragança, fez a autora largo extracto no seu interessante estudo. MARCOS (Henrique Alberto da Ressurreição) – Amanuense pelo Comissariado do Desemprego no Governo Civil de Bragança. Nasceu no (1718) Manuscritos portugueses, existentes no Arquivo do Rio de Janeiro, caixa 699, citados nos Anais das Bibliotecas e Arquivos, 1934, p. 54. (1719) Ibidem, p. 58, caixa 701. (1720) Ibidem, p. 60, caixa 705. (1721) Ibidem, p. 61, caixa 705.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
MARCOS
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MEDIDAS DE BRONZE
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MELES
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MENA
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Vimioso a 13 de Março de 1909. Filho de Venâncio Bernardino Marcos e de Maria Antónia Rodrigues, naturais do Vimioso. Fez os estudos de preparatórios no Seminário Diocesano de Vinhais, onde também concluiu o curso teológico em 1930, deixando de ordenar-se por não sentir vocação sacerdotal. Tem escrito: Ais da Solidão (sonetos). Bragança, Tipografia Académica, 8.° de 151+4 págs. O Bairro da Miséria (versos). Bragança, 1935. Tip. Académica, 8.° de 35 págs. Jornada amorosa (novela). Régua, Imprensa do Douro, 1936, 8.° de 131 págs. MEDIDAS DE BRONZE DE EL- REI D. S EBASTIÃO – Tomo IX, pág. 15. No Museu da Sociedade Martins Sarmento, de Guimarães, há cinco medidas-padrões, de bronze, como as do Museu de Bragança, de el-rei D. Sebastião, «sendo uma cilíndrica e quatro rectangulares, respectivamente das capacidades de 8,7 litros (meio almude?), 12,6 litros (meia rasa), 6,6 litros (quarto), 1,6 litros (maquia) e 0,8 litros (meia maquia)» (1722). Também no Museu de Elvas há quatro medidas de bronze do tempo do citado monarca, como as de Bragança, e são: alqueire, meio alqueire, quarta e salamim (1723). No Museu de Bragança há: duas rectangulares – alqueire e meio alqueire, com os respectivos rasoiros, e seis cilíndricas – cântaro, meio cântaro, canada, meia canada e quartilho. MELES – Tomo VI, pág. 263. Em 1619 erigiram os moradores de Meles, concelho de Macedo de Cavaleiros, uma capela dedicada a Santo António (1724). M ENA (António Gomes) – No tomo I, pág. 328, dissemos que homónimo deste alcaide-mor de Bragança havia um governador de Cabo Verde desde 1696 a 1698, adindo não sabermos se seria o mesmo indivíduo. Em carta de 1914 diz-nos o grande genealogista e amigo Francisco de Moura Coutinho, baseado no manuscrito de José Cardoso Borges tantas vezes por nós citado, que são diferentes, porquanto «António Gomes Mena de Figueiredo, fidalgo da casa real, cavaleiro do hábito de Cristo, governador de Cabo Verde, era filho de Sebastião de Machado de Figuei(1722) Revista de Guimarães, (1936), p. 211. (1723) O Arqueólogo Português, 1901, vol. VI, p. 227, onde vem a gravura das medidas. A fotogravura das de Guimarães encontra-se em CARDOSO, MÁRIO – Catálogo do Museu da Soc. Martins Sarmento, IV, secção de Arte e Etnografia, 1936, est. VI. (1724) Museu de Bragança, maço Capelas.
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redo e de D. Maria Salgado, falecida em Parada de Infanções em 27 de Agosto de 1653, neto de João da Rocha e de D. Joana da Costa Figueiredo, irmão do alcaide-mor Pedro de Figueiredo Sarmento. Deste António Gomes Mena foi filho João Gomes de Figueiredo, capitão de infantaria, que casou com Emerenciana de Loureiro, filha de António Correia de Mesquita e de D. Maria Correia, e deste João Gomes é que foi filho o outro António Gomes Mena de Figueiredo, alcaide-mor, que casou com sua prima D. Caetana Luísa de Sousa Pimentel, filha do alcaide-mor Lázaro de Figueiredo Sarmento, em Bragança a 3 de Maio de 1711. O Mena avô, governador de Cabo Verde, foi feito fidalgo-cavaleiro por alvará de 21 de Março de 1695. O outro, o alcaide-mor, também teve a dita mercê por alvará de 9 de Agosto de 1698». Ver tomo VI, págs. 361 e 682, destas Memórias.
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(1725)
O Doutor António Ferreira de Macedo Pinto manifestou em 1843 uma mina de chumbo no termo de Aveleda, concelho de Bragança, segundo consta de documentos vindos do Governo Civil, agora no Museu de Bragança. Amedo, concelho de Carrazeda de Ansiães, mina de estanho (1726). Benlhevai, mina de ouro e prata (1727). Babe, mina de chumbo (1728). Castelo Branco, concelho do Mogadouro, mina de chumbo (1729). Cerejais, mina de chumbo (1730). Ervedosa, tomo II, pág. 411. Em 1926 estavam em grande laboração as minas de Ervedosa, empregando duzentos e cinquenta e quatro operários (1731). Guadramil, mina de ferro no sítio do Castanheiro. Paradinha do Outeiro. Ver Quintanilha. Quintanilha. No Boletim de minas, 1927, vem um interessante estudo sobre o plano de exploração das minas de Quintanilha e Paradinha do Outeiro. Rebordainhos, minas de carvão, grafite e ferro (1732). (1725) Tomo II, p. 397 e seg., tomo VIII, p. 71, e «Aveleda», p. 401. (1726) Boletim de minas, anos de 1925 a 1927. (1727) Ibidem, ano de 1927. (1728) Ibidem, ano de 1926. (1729) Ibidem. (1730) Ibidem. (1731) Ibidem, p. 18. (1732) Ibidem, ano de 1927.
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Sacoias. A 30 de Outubro de 1922 registou Luciano Dias na Câmara Municipal de Bragança uma mina de ferro no sítio da Abrunheira e outra no Lajedo, termo de Sacoias. Consta do livro do Registo de minas da Câmara de Bragança. No livro antigo do Registo de minas, existente na mesma Câmara, há registada uma mina de estanho argentífero no sítio da Murgueira, termo de Sacoias. O Boletim de minas, ano de 1928, pág. 34, menciona a licença concedida para pesquisas da mina de ferro nos sítios de Carrapatoso, Penicas de Ferro e Xara, do mesmo termo de Sacoias. São Salvador, concelho de Mirandela: mina de ouro (1733). Sendim da Serra, conc. de Alfândega da Fé: mina de chumbo (1734). Trindade, mina de ouro (1735). Vale das Fontes, mina de estanho (1736). Vale da Porca, conc. de Macedo de Cavaleiros: mina de cobre (1737). Vale da Sancha, mina de ouro (1738). Varge, mina de ouro e prata no sítio de Vale de Madeiro, termo de Varge. Consta do livro de Registo de minas da Câmara de Bragança. Vila Boa de Ousilhão, mina de estanho (1739). Vila Meã. Ver tomo VIII, pág. 71, destas Memórias. Vimioso. A propósito dos calcários mencionados nas págs. 439 e 441 do tomo II destas Memórias, adimos mais o seguinte: o alabastro, ónix dos antigos, também chamado alabastro oriental, «apresenta [nos jazigos de Santo Adrião e São Pedro da Silva] a cor branca venada de castanho, mais ou menos escuro; outras vezes apresenta-se completamente branco. As veias onduladas são muito diferentes, o que dá diversos e belos aspectos às pedras. Muito é translúcido; outro inteiramente opaco» (1740). No tomo IX, pág. 30, aventamos a conjectura de os mármores e alabastros das pedreiras de Santo Adrião e São Pedro da Silva (1741) terem sido
(1733) Boletim de minas, ano 1927. (1734) Ibidem. (1735) Ibidem. (1736) Ibidem. (1737) Ibidem. (1738) Ibidem. (1739) Ibidem. (1740) Ibidem, ano de 1925, p. 76, onde vem um largo estudo sobre estes mármores e alabastros, plano de exploração e quantidade de jazigos, que é enorme. (1741) A zona principal destas pedreiras, até hoje explorada, está no concelho de Miranda do Douro, e, não obstante, continuam a chamar-se mármores e alabastros do Vimioso, porque ficam mais perto desta vila, e na raia do seu concelho, ramificando-se também para ele a con-
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explorados pelos romanos. Ultimamente, voltando a ler Nery Delgado, já por nós citado e extractado em grande parte no tomo II, pág. 441, destas Memórias, deparamos com o seguinte: «É interessante consignar que na pedreira de mármore branco se encontram vestígios evidentes de lavra antiga, posto que pouco desenvolvida, próximo do ponto onde hoje estão desmontando a rocha. O processo empregado para o arranque das pedras era proximamente o mesmo que ainda hoje se usa. Querendo destacar uma peça rectangular, fizeram um roço na rocha, limitando-a em redor, menos na face anterior, que era livre, e na qual abriram à profundidade exigida vários entalhes, que deviam receber as cunhas de ferro, ou, talvez nalguns casos, de madeira seca ao lume, que depois faziam inchar com a água e, operando simultaneamente, rachariam horizontalmente a pedra. Não pode determinar-se com rigor a época em que esta lavra de mármore se fizesse; parece, contudo, plausível que ela deva referir-se à época da denominação romana. Com efeito, encontrou-se na mesma localidade um martelo de ferro muito reforçado no olhal e terminando em cunha estreita do lado oposto à mesa; metade de uma cunha de ferro; duas palmetas de cobre; uma pequena pá de ferro de forma lanceolada, que servia talvez para limpar os entalhes da rocha onde se introduziam as cunhas; dois troncos de cone de mármore com o mesmo aparelho tosco que tem a rocha in situ; duas placas de mármore com o mesmo grosso aparelho, de forma rectangular, terminando de um lado em semicírculo; uma pedra circular com uns doze centímetros de diâmetro, polida numa face, na qual se vêem dentro de dois círculos concêntricos contíguos, que ocupam a periferia, três linhas em S, cortando-se simetricamente no centro e formando seis ramos recurvados como os de uma suástica flamejante; enfim, uma pedra solta de granito, na qual há vestígios de ter servido para aguçar ferramenta. No alto do cabeço de Ferreiros encontraram-se, além disso, sobre os topes das camadas de mármore branco e dos xistos contíguos, a mais de duzentos metros de distância da mancha granítica, muitas pedras soltas de granito, que, portanto, para ali foram levadas intencionalmente, e que parecem ter servido para mós, pois que estão gastas numa das faces, como a que vimos no monte do Pedriço» (1742). tinuação dos calcários dos referidos jazigos, de onde se colhe que a designação não é destituída de fundamento. (1742) DELGADO, J. F. Nery – Reconhecimento científico dos jazigos de mármore e de alabastros de Santo Adrião. In «Comunicações da Comissão dos Trabalhos Geológicos de Portugal», 1888-1892, tomo 2.°, p. 46.
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Se compararmos a descrição que faz das «duas placas de mármore com o mesmo grosso aparelho, de forma rectangular, terminando de um lado em semicírculo» e a pedra circular ornada pela suástica flamejante com as que damos no tomo IX, págs. 31, 33, 42, 64, 65, 66, 67, 68 e 70, e com outras que damos neste volume, todas aparecidas perto da região dos mármores de Santo Adrião, vemos que se trata de lápides funerárias romanas do I e II séculos, laboradas nas referidas pedreiras, como mostram as encontradas nelas, pois por ali não há notícia de outros jazigos marmóreos. Vilarinho de Cova de Lua. Ver tomo VIII, pág. 71, destas Memórias. A diatribe que no tomo IX, pág. 303, atribuímos dubitativamente a Columela é de Plínio, como depois verificamos. Eis o texto: «A propósito das explorações das minas pelos romanos, não posso deixar de memorar aquela famosa invectiva de Plínio, o naturalista, que assim começa: Metalla nunc ipse que opes et rerum pretia, dicentur, etc. Vamos falar agora – diz Plínio – dos metais, riqueza por excelência, e sinal do valor das coisas. Por diversos motivos se incumbe a indústria de ir esquadrinhar o seio da terra: aqui escava para satisfazer a avareza, em busca do oiro, da prata, do electro, do cobre; além, para satisfazer o luxo, vai perseguir as pedras preciosas, que hão-de enfeitar as paredes e ornar as mãos; e em outra parte põe-se ao serviço da coragem enfurecida para extrair o ferro, mais bem vindo do que o oiro, no meio da guerra e da carniceria. Vamos seguindo todas as veias da terra e vivendo nas escavações que fizemos, espantamo-nos de que por vezes se entreabra a terra! como se não bastasse a indignação para inspirar àquela mãe sagrada castigos tais! Penetramos em suas entranhas, buscamos riquezas na morada dos manes... parecendo assim que não é ela assaz benéfica, assaz fecunda no solo que pisamos! E não é para buscarmos remédios, que empreendemos esses trabalhos... Houve jamais quem por meio deles se propusesse a servir a medicina? As substâncias medicinais encontram-se à superfície da terra, que é pródiga e fácil em nos liberalizar cereais e tudo quanto nos é útil. As substâncias que a terra esconde em suas profundezas, e que só lentamente são produzidas... eis o que incita o homem, eis o que o leva a devassar as regiões infernais. Demos largas à imaginação, e calculemos quantos séculos serão necessários para exaurir a terra, e até onde penetrará a nossa cobiça? Ó quão inocente, quanto feliz, quanto até voluptuosa a nossa vida, se unicamente desejássemos o que se encontra na superfície da terra, o que está ao nosso alcance!» (1743). (1743) PLÍNIO, C. Velho – Naturalis Historae Lib. XXXII-I, 1-2, citado por RIBEIRO, Silvestre – «Resoluções do Conselho de Estado», 1873, tomo 15, p. 274.
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M IRANDA (José António de) – Ver tomo VI, págs. 375 e 376, e tomo VIII, pág. 88. Natural da Paradinha de Outeiro, filho de Martinho Carlos de Miranda e de D. Perpétua Maria Giraldes; neto paterno do Doutor Manuel de Miranda e Catarina Martins, naturais de Rio Frio, e materno de Diogo José Serrão e Vasconcelos e de D. Maria José Jorge, naturais de Soutelo da Gamoeda, tudo bispado de Miranda, requereu em 1802 habilitação de genere (1744). Em seguida e no mesmo fólio do requerimento há esta nota: «Declara que seu pai é natural de Rio Frio e seu avô materno de Soutelo da Gamoeda e sua avó materna do Zoio tudo deste Bispado [de Bragança]». Na certidão de idade do requerente José António de Miranda junta ao processo, diz-se que é «filho legitimo de Martinho Carlos de Miranda, morador neste lugar de Paradinha dOuteiro e natural de Rio Frio, baptizado no de Paredes, e de sua mulher Dona Perpetua Maria Giraldes moradora neste lugar [da Paradinha de Outeiro] e natural do lugar de Soutello da Gamoeda he netto pella parte paterna do Reverendo conego Doutor Manuel de Miranda e de Catherina Martins ambos naturais do lugar de Rio Frio e pella materna de Diogo José Serrão Vasconcellos e de sua mulher Maria José Jorge» nasceu a 30 de Outubro de 1783. Na certidão de casamento de Martinho Carlos de Miranda com D. Perpétua Maria Giraldes, celebrado na Paradinha de Outeiro a 22 de Julho de 1778, que vem junta ao referido processo de habilitação de genere, declara-se que Martinho Carlos de Miranda é «filho legitimo (1745) do Reverendo conego Manuel de Miranda e de Catherina Martins solteira do lugar de Rio Frio hora asistente na cidade de Lisboa». MARIA (só este nome), avó do requerente José António de Miranda, filha de Brás Jorge e de Maria Pires, nasceu no Zoio a 31 de Janeiro de 1722, segundo se lê na certidão junta ao processo, mas não indica os avós. DIOGO JOSÉ SERRÃO, solteiro, de Soutelo da Gamoeda, filho de Baltasar Serrão e de Maria Giraldes, e Maria José Jorge, solteira, de Zoio, filha de Brás Jorge e de Maria Pires, neta paterna de Francisco Jorge, da Edrosa, e de Isabel Rodrigues, do Zoio, e materno de Domingos Pires, de Vilar de Peregrinos, e de Catarina Afonso, do Zoio, casaram em Espinhosela a 8 de Janeiro de 1742, segundo se declara na certidão junta ao processo. Na mesma se diz que os avós paternos do contraente são: Pedro Serrão, de Carragosa, e Francisca de Morais, de Bragança, e maternos Inocêncio Giraldes, da Paradinha de Outeiro, e Catarina Rodrigues, de Coelhoso. (1744) O respectivo processo está no Museu de Bragança. (1745) Assim está, mas deve entender-se legitimado.
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MIRANDELA
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PERPÉTUA MARIA, filha de Diogo José Serrão e de Maria José Jorge, esta do Zoio e aquele de Soutelo da Gamoeda, neta paterna de Baltasar Serrão, de Soutelo da Gamoeda, e de Maria Giraldes, de Paradinha de Outeiro, e materna de Brás Jorge, do Zoio, e de Maria Pires, de Vilar de Peregrinos, nasceu em Soutelo da Gamoeda a 27 de Março de 1755, segundo se declara na respectiva certidão junta ao processo. Em seguida às certidões juntas ao processo há este despacho do promotor: «Ainda que tem falta de certidão de baptismo do Avô paterno e pai contudo como hum já foi habilitado para eclesiástico e outro para cavaleiro da Ordem de Christo parece-me nos termos da Sentença. Promotor Castro».
MIRANDELA CAPELA DE SÃO TIAGO NAS MURALHAS – Em 1630 obtiveram licença os confrades de São Tiago e mais fregueses de Mirandela para abrir na igreja matriz um arco de cantaria da parte do altar de Nossa Senhora do Rosário, onde fariam um altar e capela dedicada a São Tiago, por se ter arruinado a que este santo tinha na muralha e não ser local adequado para de novo a reedificar (1746). TRIBUTOS – Em 1250 converteu el-rei D. Afonso III em seis soldos leoneses por cada fogo e casal o encargo da colecta paga pelos moradores de Mirandela e seu termo. Quanto aos mais direitos reais ficavam sujeitos ao foro e costume de Bragança (1747). LICEU MUNICIPAL – O Liceu Municipal de Mirandela foi inaugurado com grande solenidade a 21 de Novembro de 1932. MIRANDELA E TORRE DE D ONA CHAMA – Em 1293 citou o procurador de el-rei, perante o tribunal da corte, o juiz e concelho da Torre de Dona Chama, por não pagarem as rendas impostas no foral nem cumprirem outras cláusulas nele estipuladas (1748), devendo, por isso, considerar-se extinto esse concelho e devoluto à coroa. O concelho de Mirandela era também parte no pleito, alegando ser a Torre de Dona Chama pertença sua antes de D. Dinis lha desmembrar pelo foral que lhe deu, devendo vol(1746) Museu de Bragança, maço Capelas. (1747) BARROS, Henrique da Gama – História da Administração pública em Portugal nos séculos XII a XV, 1896, tomo II, p. 128. (1748) Ver tomo III, p. 289, onde o publicamos.
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MIRANDELA E TORRE DE DONA CHAMA
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tar à sua posse. Foram atendidos e comprometeram-se a povoar «o melhor que puderem e de mays gente» os lugares que lhe forem restituídos (Chancelaria de D. Dinis, livro 2.°, fól. 6), mas, ou porque não conseguiram o povoamento dos lugares ou por outras causas, voltou a Torre de Dona Chama à sua independência concelhia, por carta de 25 de Março de 1299, devendo cada morador pagar o foro anual de vinte soldos portugueses (1749). MOEDAS ROMANAS, etc. – Tomo IX, pág. 473. Bemposta. Na Bemposta, concelho do Mogadouro, metidas em panela de barro preto, escondida na parede da casa de Hermínio Augusto de Campos, apareceram em Novembro de 1936 muitas moedas de prata, talvez passante de mil, das quais umas seiscentas vieram para o Museu de Bragança por intermédio do seu director Doutor Raul Teixeira. São de pequeno modelo, como os nossos tostões do século passado e delgadinhas como folhas de papel. Ainda não estão classificadas, mas parecem dos antigos reis de Leão e Castela. Franco – Em meados de Junho de 1937 apareceram no Franco, concelho de Mirandela, muitas moedas de prata do tempo dos imperadores romanos – Augusto, Nero, Vespasiano – numa escavação de terrenos, segundo vimos por uma carta de António Vaz de Carvalho, pároco da freguesia do Franco. Saldanha – Em 1937 apareceu no termo de Saldanha, concelho do Mogadouro, uma moeda do imperador Valério, que governou desde 292 a 311 Gal(erius) VAL(erius) MAXIMIANVS dedicada GENIO POPULI ROMANI ANT(iquo). Encontra-se na colecção do Doutor Casimiro Henriques de Morais Machado, do Mogadouro. Salgueiros – No tomo IX, pág. 476, tratámos do tesouro monetário aparecido nesta povoação em 1934. Depois, o Padre Firmino Augusto Martins, que foi quem primeiro nos deu notícia do aparecimento das moedas, comunicou-nos em carta de 14 de Junho de 1934 que dias antes, no mesmo local, aparecera um objecto de barro vermelho, cozido, em forma de pirâmide quadrangular, tendo de altura 0,14 metros, de largura, na parte mais estreita, 0,13 metros e na mais larga 0,21 metros, com um orifício junto ao cimo, e, pouco abaixo dele, uma ranhura ou corte transversal. Trata-se de um pondus idêntico a muitos outros encontrados frequentemente nas ruínas romanas. Este pondus veio para o Museu de Bragança por intermédio do mesmo benemérito e erudito sacerdote. (1749) BARROS, Henrique da Gama – História da Administração pública em Portugal…, tomo II, p. 13.
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Vila Flor – Na rua do Paço, um pouco abaixo da casa do Paço, que foi dos condes de Sampaio e agora pertence, por compra, à família Miler, quando, pelos anos de 1870, andavam a fazer um desaterro, apareceram várias moedas romanas e muitas outras se têm encontrado noutros pontos da mesma vila, destacando-se uma moeda de ouro do imperador Trajano, segundo nos informou o nosso contemporâneo Padre António José de Morais, pároco actual de Vila Flor.
MOGADOURO A quinta da Tapada de Nogueira, também conhecida só pelos nomes de Tapada e quinta de Nogueira, bem como a quinta Nova e a quinta de Marmoniz junto à vila do Mogadouro, pertenciam aos marqueses de Távora, senhores do Mogadouro, que a perderam por confisco quando da conspiração contra D. José. Este conjunto de propriedades abrange ainda outras de menor área e são: o Lameiro do Conde, Cortinha do Conde e Cortinha de El-Rei, bem como uns palheiros denominados Casa da Fábrica. Pertencem hoje (1930) a D. Ellen Baldwin Dagge, solteira, que vive no Estoril com uma sobrinha de nome Dona Sara. Ultimamente a família Dagge vendeu estes bens a um grupo de proprietários do Mogadouro. A quinta da Tapada é cercada de alto muro todo em volta, que terá dez quilómetros de extensão e já está derrubado em grande parte. Tem três elegantes portaladas de granito lavrado e rendilhado. Os nomes das portaladas são: portas de Cravalhoz, a nascente; portas de São Gonçalo, a norte; e portas de Nogueira, a sul, entrada principal. Dista do Mogadouro dois quilómetros. Tem casas de habitação, abegoaria, palheiros e consta de enorme mata de carvalhos e carrascos, com esplêndidos lameiros, hortas de muita água e produz muito centeio, trigo e batatas. Presta-se a grande exploração agrícola e pecuária, mas anda muito mal administrada, quase abandonada, apesar de seus terrenos serem muito férteis. Calcula-se que tem duzentos mil carvalhos. A quinta Nova é uma grande extensão de terreno na parte norte da quinta de Nogueira, fora dos muros, tem grande carvalhal, que calculam em cento cinquenta mil pés, e produz centeio. Nela se encontra um monumento antigo, que dantes tinha ao centro a imagem de São Gonçalo, há anos levada pelos donos. O monumento é conhecido por «Memória de São Gonçalo» (figura 52) e consta de seis colunas de granito retorcidas, que servem de apoio a um tambor e sobre ele outras colunas a sustentarem uma cúpula. Os intercolúnios não estão ligados por paredes. Este monumento é do tipo dos chamados «monopteros» pelos latinos (1750). (1750) RICH – Dictionnaire des antiquités romaines…, artigo «Monopteros».
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A quinta de Marmoniz dista quatro quilómetros do Mogadouro, foi propriedade de recreio, tem uma fonte monumental de granito lavrado, de que existem ainda apreciáveis restos de canalização, e uma capela dedicada a São Luís, ainda existente, com restos de um lindo altar de talha e dois grandes quadros a óleo, ultimamente levados pelos donos, bem como a imagem do santo. Tem duas esplêndidas hortas com muita água e é cercada por um lindíssimo souto de castanheiros bravos, medronheiros, sobreiros e velhas árvores de fruto. O Lameiro do Conde e a Cortinha do Conde são dos melhores prédios da vila do Mogadouro. A Cortinha de El-Rei vale pouco. Dos Távoras passaram Fig. 52 estes prédios para o conde de Memória de São Gonçalo São Vicente, e seguidamente, (Nas proximidades da quinta de Nogueira) por compra, para Teodoro Pinto Basto, que os vendeu à família inglesa Dagge, do Porto (1751). Ainda na vila do Mogadouro, no campo da Feira, há uma edícula dedicada a São Sebastião, que algo obedece ao sistema construtivo da «Memória de São Gonçalo», bem como o cruzeiro de Abreiro (1752). Consta de uma plataforma circular, alteada sobre escadório de dois degraus sobre a qual se elevam quatro colunas ligadas no alto por cúpula em forma de pirâmide quadrangular a servir de docel à estátua em pedra de São Sebastião. Este monumento, embora singelo, tem certa graça pela factura e porque raros deste género se contam no distrito de Bragança. Ao fundo desta praça, chamada de São Sebastião, fica a casa onde nasceu o grande escritor Trindade Coelho, ostentando a meio da fachada uma placa de mármore, comemorativa deste facto (1753).
(1751) Ao grande amigo Doutor Casimiro Henriques de Morais Machado, do Mogadouro, agradeço as informações para este artigo, enviadas em 1930. (1752) Ver tomo IX, p. 94, destas Memórias, onde o descrevemos. (1753) Ibidem, tomo VII, p. 110.
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O Hagiológio Lusitano, falando do Mogadouro a propósito de Santa Mariana (1754), diz: «a povoação [do Mogadouro] é limitada, compreende menos de duzentos vizinhos, o termo não, porque tem muitos lugares grandes e ricos. Abunda seu terreno de pão, vinho, gado, caça e de muita e boa água. [...] Fortifica esta vila um castelo antigo, no qual assiste o feitor do conde de São João, que é senhor dela. A igreja matriz tem quatro benefícios, com um vigário do hábito de Cristo. Dela é comendador Bernardo Pereira de Barredo, a quem rende mais de quinhentos mil réis» (1755). No tomo VII, pág. 721, destas Memórias, citamos vários documentos referentes a questões passadas entre os Templários, os arcebispos de Braga e as igrejas do Mogadouro e Penas Róias. Fortunato de Almeida (1756) menciona a composição feita entre os Templários e D. Estêvão Soares, arcebispo de Braga e seu cabido, em 1227, sobre os direitos episcopais que a igreja de Braga recebia das igrejas do Mogadouro e Penas Róias. Por esta concordata, em vez da terça dos dízimos, aceitou o prelado a quinta, «para que esta quinta parte de todos os dízimos daquelas duas igrejas lhe fosse paga em paz e sem contenda» (1757). D. Sancho I, ao doar aos Templários a Idanha e Monsanto aos dez das calendas de Fevereiro da era de 1235 (ano de Cristo de 1197), declara que o faz «não só pelos grandes serviços, que eles haviam feito à coroa; mas também pro duobus Castris, quae a vobis habemus, scilicet, Mugatorio, et Penis Rubeis» (1758). Adiante, no artigo Vimioso, falamos de outra troca desta vila por uma herdade em Ledra, feita pelo mesmo rei. «Na Torre do Tombo – diz Viterbo – se acha uma compusição entre o comendador de Mogadouro e Penas-Roias, que era do Templo, e o comendador de Algoso, que era do Hospital, feita no ano de 1239. Por ella se extinguiram todas as malfeitorias, questões, e deshonras, que reciprocamente se tinham praticado; acrescentando os Juizes arbitros: que o primeiro desse ao segundo 233 maravidis, e tres soldos; e o segundo desse ao primeiro 1660 maravidis, et duas luricas et unun lorigom. E tudo isto (1754) Ver tomo VII, p. 292, destas Memórias. (1755) CARDOSO, Jorge – Hagiológio Lusitano, 1666, tomo III, referente ao dia 5 de Maio, p. 73. (1756) ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal, vol. I, p. 249. (1757) Ver VITERBO – Elucidário, artigo «Terças pontifícias», e tomo VII, p. 724, n.° 40, destas Memórias. (1758) VITERBO – Elucidário, artigo «Garda».
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MOGADOURO
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pago até o dia de S. Martinho do mesmo ano: sob pena de 5000 maravidis Alfonsis, pagos pela Ordem do comendador, que a isto faltasse» (1759). Esta concordata fez-se a 22 de Julho do ano de 1239 acima indicado sendo nesse tempo comendador dos Templários em Portugal C. Pedro Costém (1760). Em 1199 doou o mesmo rei D. Sancho I aos Templários a grande propriedade da Açafa, pelos muitos serviços que deles tinha recebido e também pelas igrejas do Mogadouro e Penas Róias, quae nobis dedistis bene paratas de omnibus, quae pertinent ad ecclesiasticum officium (1761). Mas, depois, el-rei D. Dinis voltou a dar aos Templários «o padroado das igrejas de S. Mamede de Mogadouro, e de Santa Maria de Pena-Royas, com todas as suas capellas e ermidas, direitos e pertenças», por carta de 25 de Maio de 1297, que se guarda em Tomar (1762). Viterbo achou no foral dado ao Mogadouro por el-rei D. Manuel em 1512 elementos para os artigos Indicias e Maravidil do seu Elucidário. O erudito investigador Doutor Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem (1763) conserva na sala de visitas do seu palacete de Samaiões, concelho de Chaves, o retrato em tela, pintado a óleo, de António Pais de Sande, seu sétimo avô, onde se lê a seguinte inscrição: «Verdadeiro retrato do Ill.mo Snr.or Ant.o Paes de Sande Moço Fidalgo da Casa de S. Mag. de do Cons. o do Serenissimo Sn. or Rei D. Pedro 2.°, e Conselheiro de Ultramarino Excellente Singular G.or e Capp. ão Gn. al do Estado da India, alcaide-mór da V.a de S. Thiago de Cacem, Commendador da V. a de S. Mamede do Mogadoiro, da Ordem de Xp. to, Vedor da Fazenda Real do Serenissimo Sn.r Rei D. Affonso 6.°, Provedor das Armadas Reaes dos Armazens, Enviado Extraordinario a França, e a Hollanda, P.or das Capitanias do Rio de Janeiro ao Sul, p.r Decreto real ao descobrimento das novas minas de ouro e prata de S. Paulo. Foi este fidalgo de tão alta e prodigiosa prudencia, q foi conselheiro ultramar 24 annos sendo em algûs destes presidente do ms.mo Cons. o, governou a India com universal aplauso e louvor 4 annos q acabarão no de 160... deixando aquelles estados q erão oppremidos com continuas (1759) Ibidem, artigo «Lorigom». O Mogadouro já pertencia aos Templários em 1186, como se vê de VITERBO – Elucidário, artigo «Tempreiros», p. 235, em nota. (1760) Ibidem, artigo «Preceptor». Na p. 86, já aludimos a esta composição, onde por equívoco saiu 22 de Junho por 22 de Julho. (1761) Ibidem, artigo «Tempreiros», p. 241, da 2.ª edição. (1762) Ibidem, artigos «Azinhoso» e «Tempreiros», p. 247. (1763) Falamos dele e da família no tomo VI, p. 401.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
MOGADOURO
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MOIMENTA
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guerras, em paz com todos os reis circumvizinhos, e todos os vassallos de todos os da Europa, triunfando invencivel das gr.des guerras e conquistas do reino de Cananô, a restauração do reino da feitoria do Congo; e com todas estas inexplicaveis despezas, sendo mui tenues as rendas da India deixou no cofre real 220500 X.es, e as armadas de alto bordo e de remos q não achou q.do entrou a governar, e porque esta acção mostrou o seu desinteresse e independencia o Serenissimo Sn.or Rei D. Pedro II o nomeou p.a o descobrimento das d.as Minas de ouro dando-lhe seu real poder por provisão poder fazer todas as honras e mercês a todas as pessoas q lhe parecesse, dando-lhe os foros de fidalgos de sua real casa, e cavalleiros fidalgos della e dos habitos das tres ordens militares de Xp.to, de S. Tiago, e de S. Bento com suas comm.das e terças, q a elle Sn.or lhe parecesse mereciam por seus serviços nesse opulentissimo lugar, e heroico exercicio. Falleceu a 22 de fevr.o de 1695». A biografia de António Pais de Sande encontra-se no Portugal – Dicionário histórico, artigo Sande. Para completa inteligência do letreiro, acrescento que António de Sande terminou o governo da Índia a 12 de Setembro de 1681, regressando logo a Portugal. MOIMENTA – Tomo IX, págs. 97, 182, 413, 477, 638 e 717. A 4 de Abril de 1765 obtiveram os moradores de Moimenta, «termo da cidade de Bragança», hoje concelho de Vinhais, sentença favorável, por meio de agravos, contra o superintendente das caudelarias da comarca de Bragança, que pretendia obrigá-los a terem éguas de criação para remonta do exército. A razão da escusa foi por gozarem dos privilégios de «Reguengueiros do Estado e Casa de Bragança», concedidos por el-rei D. José por carta de 1 de Abril de 1762 (1764). Em Provisão de 10 de Março de 1819 confirmou el-rei D. João VI aos moradores da Moimenta os seus privilégios de Reguengueiros do Estado e Casa de Bragança (1765). No caminho que de Vinhais segue para a Moimenta, e já perto desta povoação, apareceram em 1935, ao arrancar pedra, mesmo no caminho e em parte das terras adjacentes, que são cultivadas para centeio, cacos de tijolos, telhas de rebordo e restos de cantarias aparelhadas, que indicavam haver pertencido a qualquer edifício, de que porém não há notícia nenhuma na tradição local. (1764) Livro do Registo da Câmara de Bragança, fólio 65, onde vêm transcritos os respectivos documentos. Quanto aos privilégios, ver tomo III, p. 282, onde transcrevemos os de Rio de Onor, Guadramil e Petisqueira, que são iguais aos da Moimenta. (1765) Livro do Registo da Câmara de Bragança, fólio 134.
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MÓNACOS
TOMO X
MÓNACOS – Carta do juiz de direito da comarca de Bragança ao administrador do concelho sobre o estado anárquico da terra e os mónacos: «1837. – ll.mo Sr. – O genio do mal divaga impune por todas as terras deste concelho, aqui e ali apparecem ladroens que infestando as estradas, atacão a segurança individual, e em toda a parte os inimigos do governo tramão contra a ordem estabelecida, sem que the gora tenha recebido participação alguma dos Commissarios, e dos Juizes Eleitos. A boa intelligencia que reina entre as diversas auctoridades muito pode concorrer para se empregarem com felis resultado algumas medidas, motivo porque por bem do S. P. rogo a V. S.a expeça as mais terminantes ordens aos seus Commissarios, não só para que participem a V. S.a tudo quanto occorrer de novo, mas tãobem para que me fação outro tanto, afim de se conhecer desta maneira se os Juizes tem alguma conivencia com os perversos. Rogo tãobem a V. S.a exija dos seus Commissarios lhe participem quaes as pessoas que nas suas freguesias não vão a Missa, deixão de praticar os actos religiosos, dizem que nós estamos excomungados, que os Padres não tem jurisdição, que vivem em mancebia todos quantos casão com dispensa dos Governadores Ecclesiasticos, e com especialidade quais aquelles Padres que lhe ensinam estas doutrinas...... Bragança 26 de Março de 1837. – O Juiz de Direito, Joaquim da Cunha Pignatelli da Gama» (1766). Carta do Delegado do Procurador Régio da Comarca de Bragança ao administrador do concelho: «1839. – Ill.mo Snr. – Sirvase V. S. informarme para bem do Serviço N. e como Magistrado Administrativo deste concelho encarregado da sua Policia se no lugar de Formentãos existe hua Engracia Pires viuva natural do lugar de S. Bade Julgado de Alfandega da Fé comarca de Moncorvo, e se por ventura a mesma continua no exercicio de seus desvarios Monaco-Scismaticos, de que tem sido arguida e quando não a ache já naquela freguesia queira dizer-me se existe em qualquer outra deste julgado...... Bragança, Março 2 de 1839. – O Delegado do Procurador Regio, José Maria d’Azevedo Sequeira» (1767). (1766) Museu de Bragança, maço Correspondência Especial do Governo Civil. (1767) Ibidem, idem. A propósito do cisma dos mónacos no distrito de Bragança, ver os documentos que publicamos no tomo IV destas Memórias, p. 578 a 585, e FERREIRA, Cândida Florinda – Talhinhas e as guerrilhas liberais, 1932, p. 109 a 115, onde publica outros referentes ao mesmo assunto.
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MÓNACOS
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MONCORVO
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Carta do Delegado do Procurador Régio ao administrador do concelho: «1839. – Ill.mo Snr. – Sirva-se V. S. informarme por bem do Serviço se o P.e Anastacio Manoel Lopes prezo nas cadeias desta cidade como propugnador da seita Monacho-Scismatico tem espalhado suas criminosas doutrinas neste concelho assim como tem praticado em diversos pontos deste Bispado e mesmo fora dele. Dê veridicas informações V. S. para este poder judicial e quanto antes para se regular a formação do processo, e o Juizo perante o qual o mesmo tem de ser processado...... Bragança, Março 6 de 1839. – O Delegado do Procurador Regio, José Maria d’Azevedo Sequeira» (1768).
MONCORVO Nas actas do concílio primeiro de Oviedo, celebrado no século oitavo, menciona-se a cidade de Benis, que pelo nome muito se aproxima da Baniens da lápide de Moncorvo (1769), a qual, julgando pela disposição topográfica dada às cidades, bem podia calhar na região moncorvense. Alguns críticos negam a autenticidade deste concílio; outros porém, e de grande peso, como Argote (1770) e Florez (1771), aceitam-no. Mas parece averiguado que a falsificação, a dar-se, se realizou no século XII, e para o nosso caso, como só nos interessa o nome da cidade, fica de pé a existência de uma com este nome, já vinda das tradições góticas e provavelmente romanas, que foi sede episcopal. Nestes termos, o vicariato de Moncorvo, extinto em nossos dias, e a sede episcopal de Bragança, deduzem da tradição e documentos a razão da sua existência. No tomo IX, pág. 640, destas Memórias, escrevemos: «Cinco quilómetros de Moncorvo e um da quinta da Silveira, na margem direita do Sabor, perto da ponte que sobre ele dá passagem à estrada a macadame desta vila para a de Vila Flor, ficam as ruínas da despovoada Santa Cruz da Vilariça, de onde os moradores fugiram por não poderem suportar os ataques das formigas, indo estabelecer-se a Moncorvo». (1768) Museu de Bragança, maço Correspondência Especial do Governo Civil. (1769) Ver tomo IX, p. 479, onde a publicámos. (1770) ARGOTE, J. Contador de – Memórias para a História Eclesiástica de Braga, 1734, tomo 2, p. 773, 824 e 832. (1771) F LOREX – España Sagrada, tomo XVI e tomo XXXVII. Ver, sobre o assunto, F UENTE , Vicente de la – Historia Eclesiastica de España, 1855, tomo II, p. 34 e 499.
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MONCORVO
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Como a propósito destas ruínas de Santa Cruz da Vilariça tivemos de resenhar várias outras antigualhas arqueológicas adjacentes a elas sob nomes diversos, motivo de confusão para quem não conhece a topografia do terreno, convém esclarecer o caso. Assim: quinta da Silveira e Portela (castelo da), e estalagem das Silveiras (de que falamos nas págs. 154, 155, 482 e 640 do tomo IX destas Memórias, no tomo X, pág. 74, e no artigo Vila Flor, pág. 285), é tudo a mesma coisa, isto é, correspondem-se topograficamente por se tratar do mesmo sítio de terreno ou contíguo, conhecido por estes nomes. Confrontando com este local ficam as ruínas de Santa Cruz da Vilariça, também chamada vila de Santa Cruz, de que se fala nas págs. 116, 483, 485 e 640 do mesmo tomo IX. Estas ruínas aparecem com o nome de Derruída nas págs. 484 e 485 do referido tomo e ainda com o de Vila Rica na pág. 155. Nestas ruínas, também conhecidas pelo nome de Mesquita (págs. 479, 482 e 640), ficava a capela do Roncal (págs. 478 e 479), que nas págs. 479, 480, 481, 482 e 483 aparece com a designação de capela de São Mamede. Estas indicadas ruínas de Santa Cruz da Vilariça são agora conhecidas pelo nome de Vila Velha, e já com este nome aparecem na carta levantada pela Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos em 1900. Coisa de um quilómetro a norte das mencionadas ruínas fica o sítio chamado Baldoeiro, também dito Castro do Baldoeiro, de que falamos nas págs. 575 e 640 do citado tomo IX destas Memórias. Em conclusão: num circuito que terá de diâmetro um quilómetro ficam os sítios de termo conhecidos pelos nomes de Quinta da Silveira, Estalagem das Silveiras, Portela, Castelo da Portela, Santa Cruz da Vilariça, Vila de Santa Cruz, Derruída, Vila Rica, Mesquita, Capela do Roncal, Capela de São Mamede, Vila Velha e Baldoeiro, muitos dos quais se equivalem topograficamente, por assim serem designados em diferentes épocas por escritores diversos, notáveis pela sua competência arqueológica. As referidas ruínas de Santa Cruz da Vilariça, conhecidas nos escritores pelos nomes atrás indicados e hoje pelo de Vila Velha, ficam no cume de um outeiro coroado por restos de muros e fossos, bem patentes estes em alguns pontos, assim como aqueles ainda de três e quatro metros de altura em partes. No recinto e pelo lado exterior dos muros vêem-se restos de casas, que não parecem muito antigas ou, ao contrário, foram utilizadas em época posterior ao despovoamento memorado nos autores, pois carecem da fácies das casas castrenses apresentando antes a dos povoados desabitados em época post-medieva, como Ansiães, Monforte de Rio Livre, Toural perto de Marzagão e tantas outros que podíamos apontar no distrito de Bragança. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
MONCORVO
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Da capela de São Mamede nada vi nas três excursões que já fiz a estes sítios, e ainda ultimamente em 19 de Maio de 1936 na companhia dos professores e alunos do Liceu de Emídio Garcia, pelo distrito de Bragança, a seguir mencionados: PROFESSORES Doutor António Augusto Pires (reitor), Bragança. Doutora D. Rute Ademar Neves, Santa Luzia (Angra do Heroísmo). Doutor José Maria Lopes, Rio Frio (Bragança). Doutor Joaquim Pinheiro, Salvaterra do Extremo (Idanha-a-Nova). ALUNOS 6.a classe de Ciências – Amílcar Ovelheiro, Urrós (Mogadouro); Aurora Augusta Ferreira, Podence (Macedo de Cavaleiros); José Eugénio Rodrigues, Bragança; José Maria de Sá Morais Moreno, Macedo de Cavaleiros; Leonel de Figueiredo Pias, Bragança; Luís Amílcar de Almeida, Meixedo (Bragança); Maximina Irene Monteiro, Bragança. 7.a classe de Ciências – Amadeu dos Anjos Liberal, Carção (Vimioso); António Adriano Faria Lopes dos Santos, Bragança; João Emílio Alves Velho, idem; José Maria Rodrigues Fernandes, Carção (Vimioso); Leopoldo António Russell Cortês Montalvão Coelho, Chaves; Maria Amélia Correia, Bragança; Maria Helena do Pilar Falcão de Andrade, Abambres (Mirandela), e Ricardina da Glória Melenas, Souto da Velha (Moncorvo). 6.a classe de Letras – Adélia dos Anjos Azevedo, Valverde da Gestosa (Mirandela); Américo dos Santos Moreira, Salselas (Macedo de Cavaleiros); António Augusto Veloso, Bragança; António Soeiro da Costa, Pinheiros (Tabuaço); Fernanda Lopes da Silva, Alijó; Isaura da Assunção da Costa Ferreira, Podence (Macedo de Cavaleiros); Manuel Faria Silva, Alfândega da Fé; Maria Amélia Lopes, Vinhais, e Maria Fernanda Anes Afonso, Vimioso. 7.a classe de Letras – António Adriano Aires, Lousa (Moncorvo); António Baptista de Morais Trigo, Mourão (Vila Flor); António Guilherme Marques, Moncorvo, e Joana Isabel Morgado, Izeda (Bragança). Da mesma forma nada vi do casario contemporâneo da capela, se é certa a conjectura supra, todavia, como no recinto intramuros há muitos escombros é possível que ainda se possam delimitar fazendo escavações. Apenas no lado sudeste, junto ao muro, encontrei uma sepultura cavada na rocha, que teria um metro de fundura, com ranhura em volta da boca para ajuste da cobertura. Nesta obra aponto muitas sepulturas deste género, mas não conheço outra tão profunda. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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MONCORVO
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Dizem os escritores (1772) que Santa Cruz da Vilariça se despovoou por seus moradores não poderem suportar os ataques das formigas, que tudo invadiam. Esta lenda aplica-se a muitas ruínas (1773) e seus moradores não foram fundar Moncorvo, como alguns entendem, pois estes dois povoados coexistiram, como se vê pelas Inquirições de D. Afonso III (1774). Santa Cruz da Vilariça ainda era povoada em 1320 (1775). Será esta vila aquele «cercoito... na Ribeira da Vallariça em hûm oteiro alto que está acerqua dela [que] fora povoaçom em outro tempo», de que el-rei em 1468 fez doação aos de Moncorvo para lá pernoitarem seus bois pastoreados no vale? Parece-me mui provável, e, sendo assim, o despovoamento deve fixar-se entre 1320 e 1468 e já se compreende a fácies moderna dos casebres em ruínas atrás mencionados. Mas do texto de Gasco parece conclui-se que ainda era habitada pelos anos de 1627 a 1635. Diz ele: «Por distancia, de hûa legoa desta villa [Moncorvo], está hûa grande povoação, que foi antiguamente cidade, aonde está edificada hûa Ermida dedicada ao glorioso pastor Mamede, junto a hûa fresca ribeira por estremo alegre, e deleitosa, chamada comûmente de Vilarisa: aonde está hûa columna que diz em nosso romance Portugues, de como a cidade de Tarnense fezera aquelle templo a Jupiter Optismo, Maximo, potentissimo» (1776). Dá seguidamente a inscrição dedicada a Jovi, que apresentamos no tomo IX, pág. 479, para onde remetemos o leitor, pois o texto de Gasco não foi bem copiado. Convém não esquecer que esta ermida de São Mamede e respectiva povoação já então estava desabitada, segundo diz Barros por nós citado no tomo IX, pág. 484 destas Memórias, mas transcrevemos o texto de Gasco para mostrar que a mais antiga menção da citada lápide de Jovi não é a do Almanaque Luso-Brasileiro para 1864, como dissemos na pág. 479 do citado tomo IX, mas sim esta de Gasco. Viterbo foi buscar ao foral de Santa Cruz da Vilariça existente ao
(1772) BARROS, João de – Breve Suma da Geografia da Comarca de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, 1549; Santuário Mariano, 1712, tomo IV, p. 31; Memórias paroquiais, 1755, «O Arqueólogo Português», tomo VIII, p. 218. Destes passou a notícia para os modernos. (1773) Ver tomo IX destas Memórias, p. 83, 155, 452, 457, 483, 513, 640 e 708. (1774) Ibidem, tomo IV, p. 71 e seg. (1775) Ibidem, p. 448. (1776) CRUZ, António – Um inédito de António Coelho Gasco sobre antiguidades de Trás-os-Montes, 1935, p. 28. Este códice, escrito pelos anos de 1627 a 1635, ficou manuscrito, como dissemos no artigo «Gasco», e só veio a ser publicado em 1935, graças aos louváveis esforços do erudito Dr. António Cruz.
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MONCORVO
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tempo (1798) no arquivo da câmara de Moncorvo e por nós publicado no tomo IV, pág. 427 destas Memórias, elementos para os artigos Apelido, Aposentadoria, Cabadura, Cabello, Calumpnia, Cavalleiro, Cruz, Feridas, Chans, Firma I, Foles zomaques, Guarda-Reposta, Malfaira, Maninhadego, Mealha, Mordomo, Nuncio, Osas, Pobrador, Portadigo, Pousada, Raçam III; Rancuroso, Reposteiro e Scola do seu Elucidário. O mesmo nos artigos Cruz e Mordomo chama-lhe «Santa Cruz da Villariça junto á ponte do Sabor». No artigo Malfairo dá-lhe o nome de «Santa Cruz da Ponte do Sabor» e nos outros artigos apenas o de Santa Cruz da Vilariça. Viterbo (1777) diz que D. Dinis por carta de 17 de Novembro de 1295 para João Fernandes, tabelião e seu pobrador de Vila Flor, manda que as terças das igrejas de Vila Flor e de Moncorvo se empreguem na fortaleza que andavam fazendo «os que da villa de Santa Cruz da Villariça se havião mudado para a Torre de Moncorvo». No tomo IV, pág. 273, publicamos este documento, tirado do original existente no Arquivo da Câmara de Moncorvo e não se encontra nele a cláusula transcrita referente à construção dos muros de Moncorvo pelos adventícios de Santa Cruz da Vilariça, posta entre comas por Viterbo para indicar que existe no documento citado. Encontraria Viterbo a notícia noutra parte e, por equívoco, fixaria-a neste documento? Provirá a inclusão da cláusula entre comas da falta de cuidado na revisão do texto da segunda edição, única que temos presente, sem facilidade de consultar a primeira, onde também, pelo mesmo motivo, pode ter saído menos correcta? Se assim não é, o texto de Viterbo nada esclarece quanto ao despovoamento de Santa Cruz da Vilariça; todavia, o mesmo, no artigo Aginha, diz que foi D. Dinis quem fez a mudança dos moradores de Santa Cruz para Moncorvo. Pelos anos de 1934 o artístico púlpito da igreja da Misericórdia de Moncorvo, de que falamos na pág. 486 do tomo IX destas Memórias, foi carinhosamente recolhido para dentro do templo. Devemos advertir que em Duas Igrejas, concelho de Miranda do Douro, há também fora, em frente da igreja, um outro púlpito de granito aparelhado e bem, mas sem valor artístico. Este continua e deve permanecer no mesmo sítio, como documentação de étnica religiosa, pois não corre perigo de prejuízo artístico, ao contrário do de Moncorvo. Na pedra, base da taça de granito ornada de quatro carrancas, que agora (1926) se encontra no novo jardim de Moncorvo, está gravada uma inscrição cujo texto damos na página imediata. (1777) VITERBO – Elucidário, artigo «Castelático».
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MONCORVO
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Fig. 53
ESTUDOS – El-rei D. Sebastião mandou que na Universidade de Coimbra frequentassem medicina e cirurgia trinta «christãos vélhos» à custa de 715$000 réis cobrados nas rendas das comarcas de Moncorvo, Lamego, Pinhel, Portalegre e Castelo Branco. Depois, el-rei Filipe, em Provisão de 17 de Fevereiro de 1606, mandou que estudassem também boticários «christãos vélhos», alargando a verba para 1:600$000 réis, percebidos em mais algumas comarcas, além das mencionadas. Pela Provisão de D. Sebastião, cada estudante tinha 20$000 réis de pensão, mas Filipe II, «em atenção a ter crescido muito o preço das cousas e a carestia de tudo ser grande, mandou que tivesse cada porcionista mais 4$000 reis e por cada colegial houvesse cada colegio 40$000 reis cada ano» (1778). ACADEMIA DOS UNIDOS – Teófilo Braga, no seu livro Arcádia Lusitana, dá notícia da Academia dos Unidos, fundada em Moncorvo (1779). CADEIRA DE LATIM – Ver tomo II, págs. 375, 377 e 378. Por ordem da Junta do Distrito Geral dos Estudos de 5 de Maio de 1826 pôs-se a concurso a cadeira de latim da vila de Moncorvo por espaço de sessenta dias, a começar em 17 do mesmo mês, com o ordenado anual de 240$000 réis (1780). COLÉGIO DE SANTO ANTÓNIO – Deste colégio, fundado na vila de Moncorvo em 1888 pelo Padre Adriano Guerra, falámos no tomo VII, pág. 224. CONVENTO DE SÃO FRANCISCO – O CLERO SECULAR E OS FRADES – A Crónica da Santa e Real Província da Imaculada Conceição, por Frei Pedro de Jesus Maria José, 1760, tomo II, págs. 301 a 350, tratando do Convento de (1778) RIBEIRO, José Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal, 1871-1893, vol. I, p. 126. (1779) Ver a nossa monografia Moncorvo, p. 24, onde damos a lista dos sócios. (1780) Gazeta de Lisboa de 10 de Maio de 1826.
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MONCORVO
749 TOMO X
São Francisco de Moncorvo, menciona diversas notícias tocantes a esta vila, de que já demos conta noutras partes desta obra, convindo agora fixar as seguintes: Diz ela que a primitiva matriz de Moncorvo foi na igreja de São Tiago, sita fora dos muros da vila, onde se conserva a famosa relíquia da Cabeça Santa milagrosa para as mordeduras de cães danados (1781). Item que não está bem determinado o ano da fundação do Convento de São Francisco, de Moncorvo, se bem que alguns autores lhe fixam a data no ano de 1569. Como frades notáveis naturais de Moncorvo, além de João Cardim, jesuíta, Amaro Vaz, jesuíta, e João Hortelão, já por nós biografados no tomo VII destas Memórias, menciona mais com larga biografia: FREI DAMIÃO DA TORRE, arrábido, prelado da sua ordem, ministro provincial da mesma, por duas vezes, Comissário Geral Nacional desde 1571 a 1580, falecido a 20 de Agosto de 1594. FREI PEDRO DE MESQUITA CARNEIRO, franciscano, que viveu retirado na serra da Arrábida, falecido a 24 de Março de 1649. FREI A NTÓNIO DE S ÃO V ICENTE , primeiro provincial, eleito a 19 de Outubro de 1568. Entre os benfeitores que concorreram para a fundação do convento, aponta: FRANCISCO DE MELO DE SAMPAIO, sétimo senhor de Vila Flor, Chacim, Vilas Boas, Frechas, Bemposta e Mós, alcaide-mor de Moncorvo, e sua mulher D. Antónia da Silva, dama do Paço Real, que deram o terreno da cerca e igreja. ANTÓNIO DE ARAÚJO, abade de Alfândega da Fé, que deu cem mil réis, esmola avultada para o tempo Em 1615, reconhecendo as más condições higiénicas do convento, foi derrubado, bem como a igreja, e tudo reedificado de novo, ficando estas obras concluídas em 1626. Entre os benfeitores que cooperaram nesta reconstrução, destaca a Crónica que vamos seguindo: FRANCISCO VAZ, pároco de Valverde, termo de Alfândega da Fé. CÂMARA MUNICIPAL DE MONCORVO, que deu vinte mil réis durante três anos. CÂMARA MUNICIPAL DE MÓS, que deu por uma só vez trinta e seis mil réis e doze mil réis anuais durante três anos. SAMBADE – Os moradores desta povoação deram a madeira para as obras. (1781) O Padre João Baptista de Castro, no Mapa de Portugal antigo e moderno, 1762, 3 vol., menciona diversas relíquias de santos por todo o Portugal, eficazes contra mordeduras de cães danados, das quais algumas no distrito de Bragança.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
750
MONCORVO
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O primitivo dormitório do convento tinha treze celas, e assim esteve até 1719, ano em que, sendo eleito guardião a 28 de Setembro Frei António de São Lourenço, natural da Porcariça, termo de Cantanhede, lhe acrescentou mais. «No princípio do terreno do convento – diz a Crónica que vamos seguindo, citada no começo deste artigo – se encontra um grande cruzeiro, que faz mais admirável não só a grandeza e primorosa arquitectura, mas o ser fabricado de uma só pedra». Foi colocado neste local a 8 de Outubro de 1663. No dito terreno, com ser pequeno, está enterrada muita gente pobre de Moncorvo por causa de um interdito, do qual ficou isenta a igreja do convento, de onde resultou virem a enterrar-se nele todos os defuntos. Este interdito teve lugar pelos anos de 1651, devido a Paulo Botelho querer assentar-se entre os clérigos na capela-mor da igreja de Moncorvo, sob pretexto de ser oficial da milícia e freire professo na Ordem de Cristo (1782). Também na igreja do convento estão sepultados vários corregedores e indivíduos nobres, cujos nomes se mencionam, em campas brasonadas, e, entre outros, D. Lourenço Coutinho, filho de D. João Coutinho, vice-rei da Índia, falecido em Janeiro de 1640. Na monografia Moncorvo (separata da Ilustração Transmontana), pág. 14, escrevemos: «Fizeram-nos dó os destroços e ruínas deste convento quando em 21 de Maio de 1907 as visitámos em companhia do nosso amigo Manuel António Monteiro, inteligente secretário da Câmara Municipal de Moncorvo. Capitéis, fustes, bases de colunas, aqui e ali deslocados, coroavam socalcos de paredes, serviam de suporte a latadas de parreiras ou jaziam abandonados pelos cantos! Campas com brasões de armas e inscrições já mutiladas, guarneciam os muros de vedação ou adaptadas para mesas rodeadas de outras à laia de assentos à sombra das arvores, sem respeito pelas cinzas que abrigavam... faziam lembrar um festim de insânia após horrorosa bacanal! ou antes mostravam apenas a índole portuguesa em face dos monumentos do passado». Não se sabe ao certo quando no convento franciscano de Moncorvo principiou a Venerável Ordem Terceira da Penitência; todavia, os seus Estatutos foram confirmados pelo ministro provincial, Frei Miguel de Santa Maria, por patente de 19 de Setembro de 1699, mas já muito antes funcionava o referido instituto. É célebre a pendência que o reitor de Moncorvo, licenciado João Lopes, natural de Freixo de Espada à Cinta, pelos anos de 1598 manteve (1782) No tomo II, p. 252, mencionamos facto algo relacionado com este passado na igreja de Santa Clara de Bragança pelos anos de 1663. Ver também p. 48, tomo III, p. 35, e tomo IV, p. 610.
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com os frades do Convento de São Francisco de Moncorvo, por se lhe apossarem das ofertas dos ofícios fúnebres dos paroquianos que iam a enterrar ao mosteiro. O pleito durou até 1614, sendo depois renovado por dois sucessores seus até terminar em 1723, que tiveram de consentir em tudo, devido à omnipotência dos adversários. Dois longos capítulos, o 6.° e o 7.°, consagram a Crónica citada às chicanas da questão. A harmonia entre o clero secular e os frades nem sempre foi cordial. No tomo II, págs. 282 e seguintes, mencionamos outra questão entre o pároco de São João (Bragança) e os franciscanos da mesma cidade, em que aquele solta um grito de dor impotente contra a fradaria. Nas cartas do jesuíta Manuel da Nóbrega encontramos uma espécie que faz ao caso. Diz ele: «Querem-nos mal [os padres seculares], porque lhes somos contrários a seus maus costumes e não podem sofrer que digamos as missas de graça em detrimento de seus interesses» (1783). Dos maus costumes nada sei, mas na questão das missas há evidente maquiavelismo. R ECOLHIMENTO DE S ANTO A NTÓNIO – Há – diz a Crónica citada, no princípio deste artigo – em Moncorvo um recolhimento da invocação de Santo António, sob a observância da Venerável Ordem Terceira, dirigido pelo padre comissário dos Terceiros do convento franciscano da mesma vila, fundado pelos anos de 1665. Em 21 de Julho de 1680 fez a Câmara de Moncorvo doação deste recolhimento a algumas donzelas dirigidas espiritualmente pelo padre Francisco da Silva, proposto e fundador da Congregação do Oratório da vila de Freixo de Espada à Cinta, reservando para si o direito de padroado. CUSTÓDIA DE TRÁS-OS-MONTES – Havia no distrito de Bragança a Custódia de Trás-os-Montes, diz a Crónica citada, a qual «constava de três ou quatro casas uma das quais era em Algoso, vila do bispado de Miranda, outra junto ao Douro, onde chamam Santo André na abadia de Duas Igrejas, uma légua de Miranda e junto a Bragança se diz havia outra. Estas custódias extinguiram-se, mas algumas destas casas ainda existiam em 1568». À margem cita Frei João de Santa Maria, na Crónica da Província de S. José, parte I, cap. 34. ESCOLA SEIXAS – Desta escola de ensino secundário falamos no tomo II, pág. 378, e tomo VII, pág. 500. (1783) VASCONCELOS, Simão de, jesuíta – Crónica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil, 2.ª edição, 1865, carta VI do jesuíta Manuel da Nóbrega escrita do Brasil no século XVI.
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CAPELA DA PORRÉTICA ou da AÇOREIRA – O Diário do Governo de 12 de Maio de 1846 anuncia uma venda de bens nacionais em conformidade da carta de lei de 8 de Junho de 1841, e, entre eles, vêm no concelho de Moncorvo os pertencentes à capela denominada a Porrética, de que foi último administrador Martinho Carlos de Miranda, e são: uma courela denominada a Porrética, sita na Veiga Rendonda, na Ribeira da Vilariça. O mesmo Diário de 7 de Abril do citado ano já menciona outros bens desta capela, também postos em venda, e chama-lhe Capela da Porrética ou da aldeia da Açoreira. Ver tomo VI, pág. 326, onde falamos desta capela. POPULAÇÃO – Pelos anos de 1422 Moncorvo e Vila Flor regulavam por quatro mil e duzentos fogos (1784). POSTO METEOROLÓGICO – O Posto Meteorológico de Moncorvo começou a funcionar regularmente em Janeiro de 1877 (1785). JUÍZES DE FORA – Como estes magistrados, embora cerceassem as prerrogativas locais, constituíam uma aspiração do povo (ver tomo III, pág. 161), damos o seguinte documento para se ajuizar da sua alçada: «D. Manuel, etc. A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que comfyando nos do licenciado Gaspar Jorge que nas cousas de que o encarregarmos nos saberia bem servyir e nos dara de sy toda boa conta e recado querendolhe fazer graça e mercee ho damos por nosso juiz de fora em as nossas villas da Torre de Memcorvo e de Freixo despadacymta e seus termos com todolos poderes e jurdiçã que sam ordenados aos juizes ordenayros das villas e lugares de nossos reynos e de que elles usam por bem de nosso regimento e mays com o poder e alçada que alem desso lhe ordenamos segundo leva por nosso alvara. Porem o notifycamos assy aos juizes vereadores e oficiãaes das ditas villas fidalguos cavalleiros e escudeiros povo e moradores delas e lhe mandamos que o leixem servir e usar do dicto officio e em todo lhe obedeçam como a nosso juiz e lhe leixem sem impedimento algum dar a eyxecuçam suas sentenças juizos e mandados segundo que por bem do regimento de seu oficio de juiz o deve fazer e por conteudo e decrarado no alvara do poder e alçada nosso que leva sem nysso lhe poerem duvida nem embargo algum porque assy he nossa mercee e praznos que ele aja por ano de seu mantymento em quanto nas dic(1784) SILVA, Luís Augusto Rebelo da – Memória sobre a população e agricultura de Portugal, parte I, p. 46. (1785) Revista de Educação e Ensino (1897), p. 542, onde se encontram observações registadas pelo mesmo posto.
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tas vyllas nos servir de juiz trinta mill reis s. vimte mill reis deles a nossa custa e que lhe seram pagos por nossa fazenda e cinquo mill reis do concelho da dita vylla da Torre de Memcorvo e outros cinquo mill reis da dita villa de Freyxo pellas rrendas dos ditos concelhos ou por finta e talha que pera ysso se lançara sem remdas do comcelho hy nam ouver donde se possam aver o qual licenciado Gaspar Jorge jurou em a nossa Chancellaria aos Santos Avangelhos que bem e verdadeiramente e como deve obre e use do dito oficio guardando a nos nosso servyço e as partes dereito e justiça dada em Lixboa aos XXII dias de Mayo Antonio Fernandez a fez anno de mill e Vc XIIIo»(1786). No livro X da mesma Chancelaria de el-rei D. Manuel, a fls. 61 verso, «se acha uma carta de 6 de Julho de 1517 pela qual se mandou por juiz de fora da villa de Mencorvo e seu termo ao licenciado Francisco Jorge, com o mesmo poder e alçada que tinha por alvará especial seu irmão, o dito Gaspar Jorge; para nella servir como elle até então tinha servido; porem com 25.000 rs. de mantimento, pagos, 20.000 rs. pela Fazenda Real e os restantes 5.000 rs. pelas rendas do concelho» (1787). MONTANHA (Lia do Céu Fernandes) – Filha do nosso José Montanha, Tomo VII, pág. 330. Faleceu em Bragança a 29 de Março de 1931. MONTEIRO (Abílio Adriano de Campos) – Tomo VII, pág., 330 e 769; tomo VIII, pág. 114. Publicou mais: Ares da minha serra. Novelas trasmontanas. Porto, 1933. 8.° de 304 (+2 inumeradas) págs. O Raio Verde. Últimos versos. Porto, 1933. 140 (+2 inumeradas) págs. Os Vareiros, peça teatral, de colaboração com Abreu e Sousa e Ascensão Barbosa. Entre Douro e Minho, monografia. A comédia de hoje, romance. Além dos pseudónimos que indicamos na pág. 332 do tomo VII, destas Memórias, Abílio de Campos Monteiro usou mais os de Catulo e Taridu. Também deixou mais as seguintes traduções: Os que não foram à guerra, de Fernandez Flores. A esfinge falou, de M. Dekobra. O prazer do perigo, de A. Insua. (1786) Livro XV da Chancelaria de el-rei D. Manuel I, fl. 65, in «Memórias da Literatura Portuguesa», tomo I, p. 55. (1787) Ibidem.
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Mulheres histéricas, idem. O amor em dois tempos, idem. A mulher, o toureiro e o touro. Campos Monteiro, quando faleceu a 4 de Dezembro de 1933 em São Mamede de Infesta, Porto, onde vivia, era director da revista Magazine Civilização e colaborava em O Primeiro de Janeiro e na Maria Rita. Deixou dois filhos: Doutor Germano de Campos Monteiro, médico, também escritor, e Heitor de Campos Monteiro, banqueiro. O saudoso Campos Monteiro foi uma glória das letras pátrias e o orgulho do rincão bragançano pelo relevo máximo do seu brilho literário. Um grupo de admiradores projecta erguer-lhe o busto em Moncorvo, terra da sua naturalidade. MORAIS (Armindo António Rodrigues de) – Doutor em medicina pela Universidade do Porto, onde concluiu o curso em 1926. É irmão do Doutor Cristiano Augusto de Morais a seguir mencionado. Nasceu em Vila Flor a 5 de Agosto de 1902; filho do Doutor em medicina Guilhermino Augusto de Morais e de D. Zulmira Amélia Rodrigues de Morais. Fez os estudos liceais em Lisboa, Bragança e Porto e nesta cidade concluiu os de medicina, exercendo nela clínica e o cargo de médico auxiliar dos serviços de urologia e venereologia do Hospital Geral de Santo António e médico-cirurgião do Hospital da Ordem da Trindade. Pertence ao grupo dos médicos da Câmara Municipal do Porto para serviços de urgência anexos ao Corpo de Salvação Pública da cidade. Publicou: Uma nova anestesia. Porto, 1932. 8.° de 24 págs. com quatro fotogravuras. MORAIS (Cristiano de), como aparece no tomo VII, pág. 336, ou Cristiano Augusto de Morais e ainda Cristiano Augusto de Morais Carvalho, segundo vem mencionado na pág. 769 do referido tomo VII destas Memórias, pois é o mesmo indivíduo. Fez os estudos liceais em Lamego e Bragança e os de medicina em Lisboa e Porto. É director da Maternidade do Porto e da Estância de Repouso da Abelheira. Em 1922 presidiu ao Congresso de Salamanca para o Avanço das Ciências (secção de sifiligrafia), onde apresentou um estudo sobre a aplicação do neosalvarsan à temperatura do sangue. Em 1926 apresentou diversos trabalhos ao Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências, reunido em Cádis. Em 1930 inseriu no Jornal de Notícias, do Porto, várias crónicas sobre notícias médicas colhidas nos hospitais da Argentina e Brasil, em viagem de estudo que fez a estes países e ultimamente tem publicado muitos artigos referentes à questão vinícola do Douro. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
MORAIS
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Em 1932 apresentou ao Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências, reunido em Lisboa, um estudo sobre histeroctomias. O título completo da sua tese de doutoramento mencionada no tomo VII, pág. 336, destas Memórias, que depois teve a gentileza de nos oferecer, é: Problemas sexuais em Portugal e sífilis hepática e renal. Porto, 1921. 8.° de 136 págs. Publicou mais: Purulência uretral simulada, terminada por laparotomia seguida de ovariotomia. Porto, 1931. 8.° de 14 págs. Cirurgia abdomino-pélvica, descrição e técnica pessoal sobre cem casos de ginecologia, obstetrícia e cirurgia geral, ocorridos em 1931. Porto, 1932. 8.° de 126 págs. com dez gravuras. A Universidade e a Nação. Porto, 1937. 8.° pequeno de 442 (+ duas inumeradas) páginas e uma de registo. Neste volume vêm anunciadas mais as seguintes obras deste autor, que não cheguei a ver: A moderna Alemanha, A morte dum magistrado e A Estância da Abelheira. MORAIS (Manuel de) – Há deste escritor no Museu de Bragança, por oferta de Alexandre da Conceição Sobral Pastor, de Vila Flor, um véu de cálix, cor branca, impresso em três planas com umas conclusões filosóficas defendidas no colégio das Artes em Coimbra. Não indica tipografia nem ano da impressão. MORAIS (Manuel José Alves de) – Doutor. Tomo VII, pág. 346. Faleceu no Porto, onde fixara residência, a 27 de Março de 1935. MORAIS (Paulo Miguel Rodrigues de) – Cavaleiro da Ordem de Cristo, deão da Sé de Bragança, natural de Vila Chã de Braciosa. Tomo VI, pág. 454. Era filho de Manuel Rodrigues Antão e de Catarina de Morais; neto materno de António de Morais, capitão-mor de Penas Róias, natural da Matela, e de Ana Martins, natural da Junqueira. M ORAIS (Sebastião Teixeira) – Tese defendida no seu quinto ano de direito canónico impressa em duas planas de seda cor-de-rosa, destinada a véu de cálix. É dedicada a Nossa Senhora do Rosário, cuja imagem se encontra na outra plana do véu oposta às duas da tese dentro de um oval muito ornamentado por cercadura de folhagem. Estava na freguesia de Edral, concelho de Vinhais, de onde veio para o museu. Não indica o ano da impressão, nem lugar onde, nem tipografia. Padrinho do defendente da tese o Doutor D. José Pedro da Câmara Coutinho, cónego de Santarém. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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MOREIRA DE MORAIS
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M OREIRA (Manuel Rodrigues) – Na sacristia da igreja paroquial de Vale da Madre, concelho do Mogadouro, vi em 18 de Maio de 1936 um véu de cálix impresso em três planas de seda vermelha, contendo a tese defendida por Manuel Rodrigues Moreira, no seu quinto ano de direito canónico, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Tipografia Conimbricae Académica. Régi. Ano 1770. A Senhora do Rosário é venerada na referida igreja e a família Moreira ainda hoje tem representantes na povoação. MOREIRA DE MORAIS (José) – Na sacristia da igreja paroquial de Vale da Madre, concelho do Mogadouro, vi em 15 de Maio de 1936 um véu de cálix impresso em três planas de seda cor-de-rosa, contendo a tese defendida por José Moreira de Morais no seu quinto ano de direito canónico, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Não indica ano nem lugar de impressão. A Senhora do Rosário é venerada na referida igreja e a família Moreira ainda hoje tem representantes no Mogadouro e parece-me que em Vale da Madre, apenas distante dois quilómetros. Ver neste «Suplemento» o artigo Castelo Branco, págs. 590 a 596. Na mesma sacristia vi um outro véu de cálix de seda amarela, impresso em três planas, com grande cercadura enramalhetada pelo tipo plateresco das publicações deste género feitas em Salamanca, contendo uma tese de direito canónico, dedicada a D. Thurivio Alfonso Magrovejo, sendo presidente do júri D. Tomaz Roiz Gomez Bustamante e Balsameda. Não indica lugar de impressão e apenas o ano de 1751. Parece que a tese foi defendida no «Majorem Collegae Maximo Sancto Salvatore Ovetensis». Não menciona o nome do defendente. MORENO (Augusto César) – Tomo VIII, pág. 119. Publicou mais: Joio na seara (análise a algumas obras de Cândido de Figueiredo). Porto, 1935, 8.° de 283 págs. É o primeiro volume da série Estudos da língua pátria, que o autor se propõe escrever. Em 21 de Outubro de 1933 a Câmara Municipal de Bragança, em sessão solene a que assistiu quanto a cidade tem de representativo no magistério primário, secundário e seminário diocesano, na burocracia, na guarnição militar, no clero, no comércio, além de muito povo, prestou homenagem ao douto Professor Augusto César Moreno, aproveitando a ocasião de lhe serem entregues as insígnias da Ordem da Instrução, que o governo lhe conferira. Falaram diversos oradores, enaltecendo as brilhantes qualidades do homenageado como professor, como escritor vernáculo em prosa e verso, como filólogo e mestre da língua pátria, como cidadão modelo pleno de virtudes cívicas e como chefe de família exemplar. A Educação Nacional, semanário pedagógico do Porto, consagrou o MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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seu número de 21 de Outubro de 1933 a Augusto Moreno, colaborado por diversos escritores e publicando-lhe o retrato. Nesta justíssima homenagem comoveu-nos profundamente o expressivo gesto de alguns oradores – Doutor António Augusto Pires Quintela, reitor do Liceu Emídio Garcia, tenente-coronel António José Teixeira, comandante do Regimento de Infantaria n.° 10, e Teófilo de Morais, major, presidente da Câmara Municipal de Bragança – irem abraçar e beijar o venerando Mestre, que, modesto e sensibilizadíssimo, quase se apagava debulhado em lágrimas, abraçado a um netico! A justiça tarda muitas vezes, mas alfim chega. MORGADO (D. Emília Augusta de Sá Vargas) – Doutora em medicina pela Universidade do Porto. Nasceu em Bragança a 21 de Novembro de 1905. Filha do Doutor Francisco José Martins Morgado (ver tomo VII, págs. 35 e 770, destas Memórias) e de D. Fortunata Augusta de Sá Vargas Morgado. Fez os preparatórios no Liceu de Bragança e o curso médico na Universidade do Porto, concluindo-o em 1928. Exerceu o cargo de Professora de Puericultura nas Escolas Industriais de Faria Guimarães e do Infante D. Henrique, no Porto, em 1936. Publicou: A saúde dos pequeninos – Noções de puericultura. Porto, 1937, 8.° de 125 págs., mais uma de erratas, com dez fotogravuras. MÓS – Viterbo transcreve um documento da vila de Mós, concelho de Moncorvo, que diz: «D. Affonso pela graça de Deos Rei de Port. a quantos esta carta virem faço saber, que Pedro Dias, meu procurador em terra de Bragança, me enviou dizer en como el filhara grande affan no meu serviço: e que outro si filhara affan e custa em fazimento do muro de Moos: E pedindo-me por mercee, que lhe desse a terça, que Eu e da eigreja do dito lugar de Moos. E Eu vendo o que dizia e querendo-lhe fazer mercee: tenho por bem, que se o muro do dito lugar de Moos he acabado: que el tenha de mim a dita terça da dita eigreja de Moos; e que aja en esta guisa: que quando comprir de se adubar esse muro en alguma cousa, que el o adube pela renda da dita eigreja. E esto lhi faço de graça emquanto for minha mercee. E en testemunho desto lhi mandei dar esta minha carta. Dada en a Guarda XIX dias de Agosto. El-Rei o mandou. Johão Lopes a fez. Era de M.CCC.LXXIII. Johão Affonso. El-Rei a vio» (1788). LIMITES DO TERMO, PASTAGEM DOS GADOS – Em 1272 decidiu el-rei D. Afonso III a contenda que havia entre os de Mós, concelho de Moncorvo, (1788) VITERBO – Elucidário, artigo «Castelático».
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e os de Freixo de Espada à Cinta, referente às confrontações dos respectivos termos e pastagens dos gados, mandando «que pastem os gados nas relvas, depois que nelas não houver pães. E que se ao depois Er lovorarem fiquem defezas» (1789). O mesmo Viterbo (1790) cita outro documento de Mós em que el-rei em 1315 resolveu uma demanda entre os de Mós e os de Moncorvo acerca das confrontações dos respectivos termos. Convém notar que no arquivo de Mós encontrou Viterbo aquela famosa carta de el-rei D. Dinis datada da era de 1319 (ano de Cristo de 1288), referente às trapaças dos alcaides, comendadores, meirinhos, juízes, advogados, escrivães e magistrados, que vendiam a justiça e prolongavam os pleitos para os fazer render. Diz que mandará matar os delinquentes aplicando-lhe, além disso, a pena de Talião no caso das injustiças (1791). Mas parece, a julgar pelo que diz Viterbo no artigo Aposentadoria, que no seu tempo (1798) já os documentos de Mós estavam em Moncorvo. Viterbo encontrou nos documentos do arquivo de Mós, concelho de Moncorvo, principalmente no seu foral, que publicamos no tomo IV, pág. 412, destas Memórias, elementos para os artigos Avondosamente, Cavaleiro, Ergo, Fiadura, Fossado, Malfairo, Maravidil, Omizieiro, Outorgamento, Pelago, Pobrador, Rancuroso e Rousada, onde explica o significado de cada uma destas palavras empregadas no foral. A lenda fala no juiz de Mós, que tratava el-rei por tu, frechando-o na seguinte quadra: Se ao rei chamas por tu E a Deus, por vós; Como te hão-de chamar a ti, Meu burro juiz de Mós.
E ainda nesse ou noutro juiz, que condenava os réus a cumprirem a pena fora do mundo. O letreiro da figura 54, disposto segundo indica o gráfico, encontra-se na fachada e rosácea da igreja paroquial da vila e sede do concelho de Mós, hoje incorporado no de Moncorvo, e apareceu quando deram uma raspagem e lavagem ao frontispício do templo, segundo nos comunicou em carta de 9 de Março de 1937 o Sr. Manuel António Pombo, a quem agradecemos a remessa da inscrição e a quem, nessa altura, lembramos os inconvenientes de tais raspagens nas inscrições, pois facilmente levam elementos que as tornam ilegíveis, sendo de toda a prudência deixá-las ficar como estão. (1789) VITERBO – Elucidário, artigo «Er». (1790) Ibidem, artigos «Logo III», «Pontaria» e «Vogaria». (1791) Ibidem, artigo «Pontaria», onde transcreve integralmente a famosa carta.
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Nunca será de mais a repetição deste aviso à monomania dos canteiros, que, julgando aclarar as letras, as estropiam barbaramente. Diz a tradição local que a rosácea foi trazida das muralhas da fortaleza, agora completamente derrubadas e lançadas por terra, desta vila de Mós e colocada na igreja. A julgar pelos aa de tipo redondeado, sem travessão ao meio; pelos ZZ em forma do algarismo 3 e pelo i da rosácea em forma do algarismo 7, parece-nos que a inscrição será do século XVI ou, pelo menos, deve incluir-se entre os séculos XV a XVII (1792). 1. a linha. Anotamos o z em forma do algarismo 3, equivalente das letras z ou i. Nesta linha a última letra pode ser a sigla de et caetera ou não ser letra e simplesmente uma rabisca sem significado, como então muito se usava (1793). 2. a Na rosácea, o d da palavra adúa deveu sofrer com a tal raspagem o desaparecimento da parte do círculo da pança. A letra seguinte a esta, semelhando o algarismo 6, pode ser u, b, v, muito usado na época indicada. Fig. 54 Em Damiro, as letras D e r são bem conhecidas na grafia da mesma época. Damiro aparece como nome próprio já no século X (1794). Aio é apelido português (1795). Não deve fazer dúvida o encontrarem-se na palavra anterior letras pertencentes à seguinte, porque este abuso vem já da letra gótica e continuou na francesa ou carlovíngia, sucedânea daquela desde meados do século XI por diante. Fenómeno idêntico se nota já nos textos epigráficos romanos. É certo que algumas letras podem ter valor diverso daquele que lhes indicamos, pois tanto no alfabeto gótico como no carlovíngio variam muito de formato, havendo muitas semelhantes, mas o contexto e a tradição atrás referida parecem justificar a leitura que damos, e vem a ser: A(fonso ou outro nome próprio começado por A e terminado em o) Rodriguez e António Diz et caetera. Ádua po(r) A(fonso ou outro nome próprio começado por A e terminado em o) Rodrigues e Damiro Aio Diz.
(1792) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia, 1917, p. 47 e 57. (1793) Ibidem, p. 267, linhas 11 e 16; p. 280, linha 1; p. 333 no fundo. MERINO, Andrés – Escuela de leer letras cursivas antiguas, p. 312 e 33. (1794) CORTESÃO, A. A., O Arqueólogo Português, vol. X, p. 51. (1795) FERREIRA, Pedro Augusto – Dicionário de apelidos portugueses.
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Adúa, significa «certa imposição de dinheiros para reparar, compor, fazer de novo, ou aumentar as casas, torres, muros, castelos, fossos, e outras semelhantes obras militares, que se ordenavam à defensão da terra. Também algumas vezes se chamou adúa por certas patrulhas ou quadrilhas de gente plebeia, que eram obrigados a trabalhar corporalmente nas obras de fortificação» (1796). Neste sentido de adúa estarão os indivíduos da inscrição. Mós teve foral dado por el-rei D. Afonso em 1162. MIRANDELA (Sá de) – Pseudónimo usado pelo escritor Urbano de Castro (1797).
MUSEU DE BRAGANÇA Em Junho de 1936 apareceu mais outra lápide funerária (fig. 55) em Aldeia Nova, concelho de Miranda do Douro, a uns cinquenta metros da capela de São João, já assinalada por outras de igual natureza (1798). Tem 0,36 metros de altura por 0,27 metros de largura e 0,23 metros de grossura. No fundo, lado esquerdo, fizeram-lhe uma escavação que levou algumas letras. É de granito e formato quadrangular. As letras dizem: 1.a linha. Devia haver um D antes do M que lá está e possivelmente um S depois dele, para darem a conhecida fórmula D(iis) M(anibus) S(acrum). Consagrado aos deuses manes. 2. a linha. A sétima letra algo falha, mas parece não haver dúvida; no mais, clara. 3.a linha. A segunda letra A e N conjuntas. Fig. 55 5.a linha. A quarta e quinta letras pouco claras. 6.a linha. Foi esta a atingida pela escavação e nela estariam as letras F. AN(orum). Temos pois: A Quinto Valério de 70 anos e a Ama (filha de Valério de...) 15 anos (aqui sepultados). O nome Valério já é conhecido na epigrafia bragançana (1799) e Amme aparece em lápides da vizinha província de Leão (1800). É digna de louvor a prontidão com que o Padre Augusto César Pais, pároco de Miranda do (1796) VITERBO – Elucidário, artigo «Adúa». (1797) SILVA, Inocêncio Firmino da – Dicionário Bibliográfico Português, tomo XIX, p. 3. (1798) Ver tomo IX, p. 31, 32 e 22, destas Memórias. (1799) Ibidem, p. 191. (1800) Guia historico-descriptiva del Museu Arqueologico Provincial de Leon, 1925, p. 27 e 31.
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Douro, se apressou a dar conta do valioso achado ao Dr. Raul Teixeira, digno director do Museu de Bragança, e a remeter-lho. São raros os pronomes romanos na epigrafia bragançana (Quinto, no presente caso), de onde o valor do monumento e a prova de que a romanização foi mais completa do que muitos julgam. BRAGANÇA – Em 1936, quando se procedia a obras na igreja de Santa Maria, apareceu enterrada no supedâneo do altar da capela dos Figueiredos (ver tomo I, pág. 325, e tomo II, pág. 278, destas Memórias), uma lápide funerária de granito, na qual se lê em letra minúscula: aqui ja ze o pd migel (sic) do sero 1612
Guarda-se agora no museu. D UAS I GREJAS – No sítio chamado Faceira da Granja, menos de um quilómetro da povoação de Duas Igrejas, a meio de uma cortinha que anda de lavradio, apareceu pelos anos de 1930 a lápide que a fig. 56 reproduz, mandada para o Museu de Bragança pelo Doutor Joaquim Mendes Pereira, director do Posto Zootécnico de Malhadas. É de mármore branco, inédita, singular pelos ornatos, tríplice na comemoração fúnebre e o nome Beumeno aparece pela primeira vez na epigrafia bragançana. Vem a dizer: 1.a D(iis) I(nferis) M(anibus) Beumenus an(norum) XXV. Aos deuses manes infernais. Beumeno falecido de vinte e cinco anos aqui jaz. 2.a D(iis) I(nferis) M(anibus) Martinus an(norum) XX. 3. a D(iis) I(nferis) M(anibus) Victor an(norum) XV. Sobre as mais antigualhas aparecidas neste sítio e pelo termo de Duas Igrejas, ver adiFig. 56 ante o artigo Por terras miranLápide de Duas Igrejas desas. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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FAÍLDE – Em Faílde, concelho de Bragança, apareceu em 1935, ao abrirem os alicerces para uma casa, a lápide de granito junta (fig. 57), que veio para o Museu de Bragança por interferência do benemérito José Montanha. É de tipo discóide, encimada por suástica de seis raios. Por baixo da inscrição apresenta o símbolo ou ornato em forma de arco, já conhecido noutras da região bragançana. Na inscrição, muito apagada, pareceu-me ver: V
V
LIA RUFINI AII· ANLXI STTL V
V
Na 1.a linha duvidosa a segunda letra; as outras claras. Na 2.a, claras as três primeiras e muito apagadas as outras. Fig. 57 Na 3. a, clara a primeira e obscuras as outras. A 4.a linha deve estar certa, a não ser a terceira letra bastante apagada; todavia parece L. A 5.a linha toda perceptível, a não ser a terceira letra um pouco apagada. Os nomes Álio e Rufino são já conhecidos na epigrafia bragançana (1801) e Ália encontra-se também em outras lápides de Portugal (1802). PINELO – No sítio do Lagoaço, termo de Pinelo, concelho do Vimioso, apareceu em Abril de 1935, ao abrir valados para plantação de vinha, a lápide funerária de granito (fig. 58) de forma cilíndrica achatada ou elipsóide, faltando-lhe já no cimo uma parte em prejuízo do texto. Desdobrando a letra conjunta no final da 1.a linha, temos: AMOR XXII HSE (1801) Ver tomo IX, p. 65, 67 e 190. (1802) O Arqueólogo Português, vol. VII, p. 11. Portugália, tomo II, p. 127.
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Na lápide, a quebradura deixou ainda perceptível os vestígios de uma letra por cima do O e R conjuntos da 1.a linha. Convém notar o E final da 3.a linha de tipo uncial, frequente no terceiro século e seguintes, pelos elementos cronológicos que fornece. Vem a dizer que um tal de apelido Amor, falecido aos vinte e dois anos, ali está sepultado. H(ic) S(epultus) E(st). No mesmo local apareceu um cadeado de cozinha, a que em algumas terras no distrito de Bragança chamam lares, formado por elos dobrados de ferro já muito comidos da ferrugem, e um objecto de metal amarelo representado na figura junta (59), em tamanho natural, que parece ter duas pombas na parte superior. Ainda no mesmo local foram Fig. 58 Fig. 59 encontrados dois pondus de barro, uma moeda de cobre romana e fragmentos de uma serra. Ao ilustrado José Manuel Miranda Lopes, prior de Argozelo, agradecemos a notícia deste achado, agora no Museu de Bragança por sua interferência.
Fig. 60
MACEDO DO MATO – No castro de Macedo do Mato, também chamado Macedinho do Mato, quando andavam a cavar uns sonhadores de tesouros pelos anos de 1933, apareceu o instrumento de ferro que a figura 60 reproduz e que veio para o Museu por oferta do sargento João Baptista Gonçalves, natural de Sortes. Na mesma escavação encontraram várias moedas de cobre comidas do tempo, que desperdiçaram sem saber se eram romanas ou portuguesas. O citado objecto tem de comprimento 0,27 metros e de largura no corpo, pois termina em ponta, 0,045 metros. Parece relativamente moderno e de procedência africana, pois nos recortes do gume semelha os arpões dos negros de África, já usados na idade do ferro (1803).
(1803) HOERNES, Moritz – Pré-história, III, p. 152.
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PORCO – O porco teve sempre grande importância na liturgia, pagã como dizemos no tomo IX, págs. 541 e segs. Nas Histerias, festas em honra de Vénus e nas dos deuses Lares eram oferecidos porcos (1804). Nas págs. 305 e 553 do tomo IX destas Memórias falamos do grande petisco que é o porco. Esta fama, como não podia deixar de ser, vem já da mais remota antiguidade; com ele preparavam os romanos dois pratos saborosíssimos, que mereceram chegar até nós através dos clássicos, conhecidos pelos nomes de Sumen e Vulva (1805). O porco passou às honras de divindade nas antigas teogonias (1806) e figura nos amuletos com virtudes mágicas (1807). As mães ainda hoje, para livrarem os filhinhos de malefícios, ares maus, feitiços, penduram-lhe ao pescoço rosários de alho, sartas, contas, azeviches e vários outros ingredientes. Da mesma forma procediam as romanas pondo-lhe a meia-lua (lunula), a machadinha de dois gumes (securicula ancipes), o balde (situla argenteola), uma flor, uma pequena espada (ensiculus aureolus), uma pequena mão (manicula), uma porquinha (sucula), um delfim (1808). O prestígio do porco como divindade ou ligado a ideias religiosas temse mantido sempre. Ainda hoje nos nossos santuários de renome, nas nossas igrejas e capelas ao lado dos altares consagrados a santos ou santas de maior veneração entre os crentes, se vêem na parede em tiras de madeira dispostas quadrangular ou triangularmente muitos milagres (como o povo lhe chama) de cera, figurando bovinos, equinos, suínos, braços, pernas, cabeças, etc., curados miraculosamente pelo santo. Os romanos faziam a mesma coisa (1809), segundo dizemos no artigo Etnografia. O porco de Faílde (fig. 61) mencionado no tomo Fig. 61 IX, pág. 543, destas MemóPorco de Faílde rias, veio alfim para o (1804) CHOMPRÉ – Dicionário…., artigos «Histerias» e «Lares». (1805) RICH – Dictionnaire des antiquités romaines et grecques, artigos «Sumeu» e «Vulva». (1806) Ver tomo IX, destas Memórias. p. 548 e seg. (1807) Ibidem, p. 372 e seg. (1808) RICH – Dictionnaire…, artigo «Crepondio». (1809) Ibidem, artigos «Donarium» e «Tabela». VASCONCELOS, J. L. de – Religiões da Lusitânia, 3-36.
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Museu de Bragança em Dezembro de 1935, após laboriosíssimas interferências do grande benemérito José Montanha. Na pág. 544 já nós prevíramos os obstáculos opostos pelo povo quando lhe falassem no monumento com intuitos de o salvaguardar dos maus tratos que lhe davam. É de granito e macho (marcação sexual bem acentuada) e, como arte, rudíssimo exemplar da escultura lusitana pré-histórica. As suas dimensões são: comprimento 1,20 metros, altura máxima 0,50 metros, diâmetro na barriga 1,30 metros. Pela mesma altura, ou seja também em 1935, quando o proprietário Artur de Almeida Guerra procedia a surriba de terreno para plantação de vinha na quinta de São Tiago, limite da freguesia de Ligares, concelho de Freixo de Espada à Cinta, apareceu, juntamente com várias cantarias aparelhadas, que deixavam supor «ruínas de qualquer edifício, templo ou outro monumento» (1810), um quadrúpede de granito (fig. 62) trabalhado com mais arte que o anterior. Falta-lhe a cabeça, mas a julgar pelo rabo, terminado em maçaroca ou estriga, coisa que o dos porcos não forma, lançado de um para outro lado do lombo, gesto também impossível ao suíno, entendo que se trata de um touro como o de Malhadas (1811). Tem as seguintes dimensões: comprimento 0,50 metros (não contando a parte Fig. 62 que falta), altura máxima 0,45 metros, Touro de Ligares diâmetro na barriga 0,70 metros. Ver adiante o artigo Vila dos Sinos. É digno dos maiores elogios o procedimento do Sr. Artur de Almeida Guerra, que logo comunicou a notícia do achado ao Museu de Bragança, pondo-o generosamente à disposição do mesmo, onde foi recolhido por interferência do seu desvelado director Doutor Raul Teixeira. O porco de Vila dos Sinos (fig. 63), mencionado na pág. 289, é dos mais pequenos monumentos deste género que se conhecem, relacionando-se, por esta circunstância, com a Berroazinha de Açoreira, concelho de Moncorvo, agora no Museu Etnológico do Doutor José Leite de Vasconcelos (1812).
(1810) Palavras da carta em que comunicou o achado ao Doutor Raul Teixeira, actual director do Museu de Bragança. (1811) Ver tomo IX, p. 546, destas Memórias. (1812) Podem ver-se as suas dimensões e figura VASCONCELOS, J. L. de – Religiões da Lusitânia, vol. III, p. 29.
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NEVES
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Tem de comprimento 0,33 metros, de altura 0,26 metros e de diâmetro abdominal 0,57 metros. É macho (marcação sexual bem nítida), todo em granito, melhor trabalhado que os seus congéneres conhecidos e proporcionado nos membros. As patas, embora adossadas à chapa prolongada do tronco, destacam-se visivelmente, e da mesma maneira os gânglios da coluna vertebral ao longo do espinhaço ou serrelo, como aqui dizem. Falta-lhe parte da cabeça levada por quebradura, bem como a orelha esquerda, ficando nítida a direita levantada ao alto. O touro de Vila dos Sinos, mencionado na pág. 289, é macho, segundo indicam os respectivos órgãos sexuais, todo em granito, Fig. 63 conjunto ao pedestal, como a BerTouro de Vila dos Sinos roa da Torre de Dona Chama e o (1813) . Berrão de Parada de Infanções Tem o rabo, assaz grande, lançado sobre o lado direito do lombo, destacando-se a estriga. O tronco apresenta-se regularmente trabalhado, mas a cabeça desce em linha vertical com pouco feitio zoomorfo, como a do Berrão de Parada de Infanções, e não tem cornos. As suas dimensões são: comprimento 0,54 metros, altura 0,45 metros, diâmetro abdominal 0,76 metros. Estas duas esculturas de Vila dos Sinos pertencem agora ao nosso amigo Doutor Casimiro Henriques de Morais Machado, que prometeu dá-las ao Museu de Bragança depois de as estudar arqueologicamente como efectivamente deu em Fevereiro de 1936. A circunstância de aparecerem junto de sepulturas profanadas de pedras soltas relativamente grandes, tapadas por lajes, embora pudessem ir para ali como despejo de entulho, e de ser junto de uma sepultura que se encontrou o Touro de Malhadas (1814) e, provavelmente, o da quinta de São Tiago, atrás descrito, lembram a ideia de votos consagrados aos mortos ou, melhor, às divindades funerárias (1815). NEVES (Luís Gonzaga de Morais Teixeira) – Doutor. Tomo VII, págs. 357 e 770. Publicou mais: (1813) Ver VASCONCELOS, J. L. de – Religiões da Lusitânia, vol. III, p. 20 e 24. (1814) Ver tomo IX, p. 546, destas Memórias. (1815) Ibidem, p. 547.
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NEVES
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NÓBREGA DE AZEVEDO
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Processo pseudo-criminal, levado a juízo pelo capitão Tomás Fragoso contra o Doutor Alípio Albano de Abreu. 1931, sem indicar lugar de impressão, 8.° de 41+9 págs. O crime da «Senhora do Castelo». Bragança, Tipografia Académica, 1932, 8.° de 37+1 págs. Boneca de trapos feita em farrapos. Lisboa, 1934, 8.° de 83 págs. Neste opúsculo responde o autor à Minuta de apelação do advogado José Joaquim de Abreu Faria, relativa ao menor Urbano do Patrocínio Ortega, de Parada de Infanções, da comarca de Bragança, em processo de querela por homicídio voluntário (um caso de manifesta aberração do pátrio poder em relação ao mesmo menor). Lisboa, 1934, 8.° de 67 págs. NÓBREGA DE AZEVEDO (Manuel da), abade de Meixedo. Tomo VI, págs. 261 e 762. Faleceu em Meixedo em 1701, como se vê do respectivo assento que diz: «O Reverendo Manuel da Nobrega de Azevedo Abade que foi desta igreja faleceu da vida presente aos quatorze dias do mez de Junho de setecentos e hum fez testamento cerrado deixou dois oficios de oito padres e dosentas missas e por seu testamenteiro o seu sobrinho o Reverendo Abade Joseph da Nobrega de Azevedo e por verdade fiz este assento no dia e era acima dito. Francisco Gonçalves» (1816). Haverá qualquer relação de parentesco entre este abade de Meixedo e o Padre Manuel da Nóbrega, jesuíta, bacharel em direito canónico pela Universidade de Coimbra, para onde veio da de Salamanca, que entrou para a Companhia de Jesus em 1542 e partiu em 1 de Fevereiro de 1549 para o Brasil juntamente com Tomé de Sousa, primeiro governador nomeado por el-rei D. João III para as Terras de Santa Cruz, onde faleceu no colégio da Companhia do Rio de Janeiro, de que foi primeiro superior, a 18 de Setembro, outros dizem de Outubro, de 1570, com cinquenta e três anos de idade? Da sua família sabe-se apenas que era filho do desembargador Baltasar Afonso e sobrinho de um chanceler-mor do reino. Nóbrega foi notável escritor e missionário, de onde o considerarem-no como um dos fundadores da nacionalidade brasileira e o levantarem-lhe estátuas. O jesuíta Doutor Serafim Leite, profundo investigador dos trabalhos da sua ordem no Brasil, perguntou-me em 1935 se Nóbrega seria trasmontano, dada a identidade de apelido com o Nóbrega, abade de Meixedo. Nada posso adiantar ao que fica dito extraído dos autores por onde me guiei (1817). (1816) Livro dos Óbitos de Meixedo, correspondente ao ano de 1701, fl. 168. (1817) SILVA, Inocêncio F. da – Dicionário Bibliográfico Português, tomo VI, p. 69; Brito Aranha,
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NÓBREGA DE AZEVEDO
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NOGA
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NORONHA
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Como elemento, embora de pouco peso, adito o seguinte: há anos, falou comigo em Bragança um homem de apelido Nóbrega, que dizia ser parente do referido abade de Meixedo e ter este nascido em Vila Real. Em 27 de Abril de 1937 apareceu-me novamente este homem em Chaves, onde residia, ou em Vila Real, não recordo bem, e confirmou-me o parentesco, mas disse nada saber quanto ao jesuíta. Em Samaiões, concelho de Chaves, vive ainda hoje o Padre Silvino da Nóbrega, sacerdote de grande merecimento mental e artístico, oriundo, ao que entendo, de Vila Real. Na Biblioteca Lusitana e no Dicionário Bibliográfico Português encontram-se biografados como escritores Manuel da Nóbrega, natural de Lisboa, que viveu pelos anos de 1653; Manuel do Nascimento Nóbrega, natural da freguesia do Carriço, na ilha da Madeira, nascido em 1840, e Sebastião Maria da Nóbrega Pinto Pizarro, natural de Trás-os-Montes, falecido em Vila Real em nossos dias. NOGA (Domingos Luís) – Há dele no Museu de Bragança, impressa em seda branca lavrada, com destino a véu de cálix, uma tese de direito canónico dedicada a Santo António de Lisboa. Está impressa em três planas quadrangulares. Foi padrinho do defendente o Doutor D. José Pedro da Câmara Coutinho, cónego de Santarém. Não indica ano nem lugar de impressão. Veio de Alfândega da Fé. Ver a rubrica Morais (Sebastião Teixeira). N ORONHA (João Carlos de) – Tomo VII, págs. 358 e 819. Foi governador civil do distrito de Bragança desde 16 de Julho de 1931 até 19 de Fevereiro de 1933. De alguns melhoramentos realizados durante a sua gerência diz a «Relação dos subsídios distribuídos pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações, por indicação do Governo Civil de Bragança, às câmaras e juntas de freguesia para construção de obras no distrito, no ano económico de 1931-1932» como segue: Arcas .............................................................................................. Argozelo ........................................................................................ Agrochão........................................................................................ Avantos .......................................................................................... Cabanelas ...................................................................................... Calvelhe e Serapicos ...................................................................... Carviçais ........................................................................................ Chão, Donai, Aveleda e Refega ......................................................
8.000$00 18.369$20 11.000$00 30.306$12 24.990$00 18.061$00 20.000$00 13.275$00
continuador do mesmo, tomo XVI, p. 275, que dizem vir a sua biografia na Revista Trimensal do Instituto do Brasil, tomo VI, p. 406. FRANCO, António – Imagem da Virtude, II, 157.
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NORONHA
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OLIVEIRA
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ORÓBIO DE CASTRO
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Contins .......................................................................................... Lamas ............................................................................................ Matela ............................................................................................ Mogo .............................................................................................. Nabo .............................................................................................. Paredes .......................................................................................... Penhas Juntas ................................................................................ Pombal .......................................................................................... Róios .............................................................................................. Sambade ........................................................................................ Samões .......................................................................................... Sendas, Cova de Lua, Rio de Onor e Serapicos ............................ Vale Benfeito .................................................................................. Valbom dos Figos .......................................................................... Valtorno ........................................................................................ Varge e Baçal .................................................................................. Vilarinho da Castanheira .............................................................. Vilas Boas ...................................................................................... Urros .............................................................................................. Zeive ..............................................................................................
2.850$25 12.500$00 2.276$74 6.521$00 6.472$50 56.008$75 2.100$00 13.656$87 3.380$00 25.100$00 11.619$50 15.165$00 5.200$00 10.733$50 20.369$20 25.185$00 60.000$00 10.205$00 21.234$69 2.182$50
O LIVEIRA (Artur Águedo de) – Tomo VII, págs. 365 e 770, destas Memórias. Publicou mais: Finanças verdadeiramente nacionais. Lisboa, 1935, 8.° de 15 págs. ORÓBIO DE C ASTRO (Isaac) – Judeu português, natural de Bragança. Tomo V, pág. XCIV. À bibliografia aí apontada acrescentar mais um manuscrito que foi traduzido em francês com alguns acréscimos sob o título: Israel vengé ou Exposition naturelle des propheties hebraiques que les chrétiens aplequent a Jésus, leur prétendu Messie, por Isaac Oróbio. A Londres 1770. 8.° peq. de IV-243+1 inumerada páginas. O ilustre professor da Universidade de Coimbra, Doutor Joaquim de Carvalho publicou na Seara Nova, 1935, um erudito estudo sobre «Oróbio de Castro e o Espinosismo». Pelos anos de 1930 foi dado o nome deste ilustre bragançano à rua dos Quartéis em Bragança, perpetuando-lhe a memória numa placa de azulejos, devida à iniciativa do Doutor Raul Teixeira, embutida numa parede, que diz: RUA ORÓBIO DE CASTRO UM DOS MAIS SÁBIOS METAFÍSICOS DO SEU TEMPO, NASCIDO EM BRAGANÇA CERCA DE
1620, CATEDRÁTICO NA UNIVERSIDADE DE SALAMANCA, MÉDICO EM
SEVILHA, DA CÂMARA DO DUQUE DE MEDINA-CELI E DA FAMÍLIA DE BORGONHA DO REI FILIPE IV, LENTE DE MEDICINA NA UNIVERSIDADE DE TOLOSA, ONDE FOI C O N S E L H E I R O - M A I O R D O R E I D E F R A N Ç A . M O R R E U E M V I I - X I - 1687 .
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OSSEIRA
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OUTEIRO-BUÍÇAS
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OSSEIRA – Sítio do termo de Carrazeda de Ansiães, onde a lenda diz que teve lugar grande batalha contra os mouros (1818) e dos muitos aí mortos veio o nome ao sítio. Outros dizem que a batalha foi contra os espanhóis (1819). Tudo indica que este sítio de Osseira corresponde à povoação morta chamada Oseira, ainda habitada em 1442, como fica dito na pág. 343. «Entre as feras que em tempos antigos povoavam as nossas matas contava-se, como uma das mais bravosas, o urso, chamado em documentos medievais osso e usso, e cujos covis, e sítios por ele frequentados, deram origem a nomes de lugar, como Osseira... Vilar de Ossos... Em regra, o sufixo – eira designa a cova ou furna onde um animal se recolhe e a fêmea cria; e – al o sítio por onde o animal erra e há muitos covis» (1820). OUTEIRO - BUÍÇAS – Tomo VI, págs. 462, 464, 465, 577, 642, 673 e 674; tomo VIII, págs. 5, 59 e 60. João Manuel Sarmento, Francisco Xavier, Manuel de Morais, António José e Domingos José, todos irmãos, naturais de Outeiro, concelho de Bragança, filhos de Manuel de Morais Buíça, natural de Lagarelhos e de D. Maria Xavier, de Sobreiró de Baixo, concelho de Vinhais; netos paternos de Bernardo de Buíça Sarmento, natural de Outeiro e de D. Maria Sarmento, de Logarelhos e maternos de João Pinheiro de Castro, natural de Casario, freguesia das Aguieiras e de D. Isabel Maria, natural de Miranda do Douro, sobrinhos do Padre Matias José, irmão de seu pai, requereram habilitação de genere para se ordenarem em 1789. Entre as testemunhas inquiridas no processo figuram «Miguel Machado Antas, o Velho, homem nobre, casado, morador em Outeiro, de oitenta e nove anos». No processo há as seguintes certidões de que extraio estes dados: MARIA X AVIER , mãe dos habilitandos, filha de João Pinheiro e de D. Isabel Maria de Morais Madureira, natural de Miranda do Douro; neta paterna de João Pinheiro, natural das Aguieiras e de Maria Queiroga, do Franco, e materna de Pedro de Escovar Cabral e de D. Úrsula Maria de Morais Madureira, ambos de Miranda do Douro, nasceu em Sobreiró de Baixo a 4 de Fevereiro de 1742.
(1818) Ver os artigos «Matança», «Ossa» e «Osseira» na Toponímia, p. 223 a 231. Ver também a rubrica Vilar de Ossos, p. 169, e no tomo IX, p. 393, o artigo Osas. (1819) TEIXEIRA, António José, «Terras de Bragança», de 1 de Julho de 1935. (1820) VASCONCELOS J. L. de – Etnografia portuguesa, 1936, vol. II, p. 121.
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OUTEIRO-BUÍÇAS
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PATRÍCIO
771 TOMO X
J OÃO M ANUEL , o habilitando, filho de Manuel de Morais Sarmento (sic), natural do Outeiro, e de Maria Xavier, de Sobreiró de Baixo; neto paterno de Bernardo de Morais Sarmento, do Outeiro, e de D. Maria Sarmento, de Logarelhos, e materno de João Pinheiro de Castro, natural da quinta do Casario, freguesia das Aguieiras, e de Isabel de Morais Madureira, de Miranda do Douro, nasceu em Outeiro a 6 de Junho de 1771. FRANCISCO XAVIER, irmão do antecedente. Filiação a indicada no anterior, mas o avô paterno tem Bernardo de Morais Buíça. Nasceu em Outeiro a 11 de Setembro de 1773. MANUEL JOSÉ BERNARDO (sic), irmão do anterior. Filiação idêntica ao anterior, inclusive o apelido Buíça, que já aparece no pai, dizendo Manuel de Morais Sarmento Buíça e na mãe D. Maria Xavier de Morais Madureira e no avô paterno Bernardo de Morais Buíça Sarmento. Nasceu em Outeiro a 18 de Fevereiro de 1776. ANTÓNIO JOSÉ, irmão dos anteriores. Nasceu em Outeiro a 8 de Julho de 1778. D OMINGOS JOSÉ, irmão dos anteriores. A mesma filiação. Nasceu em Outeiro a 27 de Maio de 1781. MANUEL, pai dos habilitandos, filho de Bernardo de Buíça e de Maria Sarmento, de Logarelhos, onde nasceu a 1 de Janeiro de 1714. Foi sua madrinha D. Mariana, mulher de Tomás de Castro, de Logarelhos. BERNARDO DE BUÍÇA SARMENTO, filho de Gaspar de Buíça Morais e de Ângela Ferreira, de Outeiro, e Maria Sarmento, filha de Pascoal Sarmento e de Maria Pires, de Logarelhos, casaram em Logarelhos a 30 de Setembro de 1708. BERNARDO, avô paterno dos habilitandos, filho de Gaspar de Morais Buíça e de Ângela Ferreira Sarmento, nasceu em Outeiro a 19 de Fevereiro de 1695. Foram seus padrinhos Miguel Fragoso de Morais, de Outeiro, e sua mulher D. Ana Albuquerque. JOÃO, avô materno dos habilitandos, filho de João Pinheiro e de Maria de Queiroga, da quinta de «Prado Freixo de Sima» (sic), freguesia das Aguieiras, nasceu a 26 de Novembro de 1696. ISABEL, avó materna dos habilitandos, filha de Pedro de Escovar e de D. Úrsula, nasceu em Miranda do Douro a 19 de Novembro de 1701. Foi seu padrinho o cónego António de Morais Antas. PATRÍCIO (Frei Manuel do Divino) e Frei Manuel da Ascensão – No Museu de Bragança há, vindo de terras de Miranda do Douro, um véu de cálix, em seda cor-de-rosa, no qual está impressa em três planas uma tese de conclusões filosóficas defendida pelos dois frades acima mencionados no convento franciscano de Tomar, sendo presidente do júri arguente Frei Anastácio do Divino José Caetano. A tese, dedicada a D. Diogo Marques Mourato, bispo eleito de Miranda do Douro, não indica data nem ano da MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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PATRÍCIO
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PAVÃO
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impressão, mas como D. Diogo Marques Mourato foi eleito bispo de Miranda em 11 de Fevereiro de 1739 e tomou posse da diocese por procuração a 19 de Março de 1741, neste intervalo deve fixar-se a data da impressão. Ver neste tomo a pág. 315. PAVÃO (família) – Tomo VI, pág. 361, tomo VII, pág. 371, e tomo VIII, pág. 87. António Caetano de Sousa Pavão, José Vicente de Sousa Pavão e Domingos Manuel de Sousa Pavão, irmãos, naturais de Parada de Infanções, concelho de Bragança, filhos de Amaro Vicente Pavão de Sousa e de D. Caetana Maria Joaquina de Sá Pereira do Lago; netos paternos de Domingos Pires Pavão de Sousa, natural de Parada de Infanções, e de D. Catarina Maria de Bandos Pegado, natural de Alvites, concelho de Mirandela, e maternos de José de Morais Pereira do Lago e de D. Caetana Teresa Pinto de Sampaio, da Castanheira, termo de Monforte de Rio Livre, hoje concelho de Chaves, requereram habilitação de genere para se ordenar. Processo em 1796, no qual há as seguintes certidões, que dou em extracto: ANTÓNIO CAETANO (só este nome), filho de Amaro Vicente Pavão de Sousa e de D. Caetana Maria Joaquina de Sá Pereira, esta natural de Mosteiro, freguesia da Castanheira, concelho de Chaves, e aquele de Parada de Infanções; neto paterno de Domingos Pires Pavão de Sousa, de Parada de Infanções, e de D. Maria de Bandos Pegado, natural de Alvites, e materno de José de Morais de Sá Pereira, da Castanheira, concelho de Chaves, e de D. Caetana Teresa Pinto, natural da Ferradosa, termo da Torre de Dona Chama, nasceu a 25 de Janeiro de 1788, em Parada de Infanções. JOSÉ V ICENTE (só este nome), filho dos pais e avós acima indicados, mas do pai Amaro Vicente Pavão de Sousa diz ser capitão de cavalaria e avô materno o dito José de Morais de Sá Pereira do Lago. Nasceu em Parada de Infanções a 9 de Junho de 1790. DOMINGOS MANUEL (só este nome), filho e neto dos acima indicados, nasceu em Parada de Infanções a 7 de Dezembro de 1791. Foi madrinha D. Maria Matilde Pavão de Sousa, irmã do baptizado, assistente no convento de São Bento de Bragança. AMARO VICENTE (só este nome), pai dos habilitandos, filho de Domingos Pires Pavão de Sousa, natural de Parada de Infanções, e de D. Catarina Maria de Bandos Pegado, natural de Alvites, moradora em Parada, neto paterno de Miguel Geraldes e de Catarina Pires, naturais e moradores na Paradinha do Outeiro, e materno de Vicente de Bandos Pegado, natural do Mogadouro, e de D. Maria Felícia de Sampaio, natural de Alvites, nasceu a 22 de Agosto de 1748, em Alvites, mas o assento foi transMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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crito nos livros do registo paroquial de Parada da Infanções. Foi padrinho o Doutor Manuel de Miranda, morador na Paradinha do Outeiro. C AETANA M ARIA J OAQUINA , mãe dos habilitandos, filha de José de Morais Pereira do Lago e de Caetana Teresa de Sampaio e Tates (?), moradores em Mosteiro, freguesia da Castanheira, nasceu a 1 de Junho de 1763; neta paterna de António de Sá Pereira do Lago e de D. Francisca de Morais Castro, moradores em Santa Cruz, da mesma freguesia da Castanheira, de onde ele é natural e ela de Sonim, e materna de Belchior da Rosa e Lemos e de D. Teodora Maria de Sampaio e Tates (?), moradores na Ferradosa, freguesia da Fradizela, e ela natural de Veiga de Lile. Foi padrinho D. Frei Aleixo de Miranda Henriques, bispo de Miranda do Douro, representado por procurador. AMARO V ICENTE PAVÃO e D. CAETANA M ARIA J OAQUINA DE S Á M ORAIS PEREIRA DO LAGO, pais dos habilitandos, casaram na capela de São Francisco, sita em Mosteiro, a 16 de Agosto de 1779. Foram padrinhos do casamento Manuel Gonçalves de Miranda, do Conselho de Sua Majestade, intendente geral da polícia, representado por Vicente de Bandos Pegado, natural de Alvites, morador em Lamalonga, e foram testemunhas Bernardo Baptista da Fonseca e Sousa, fidalgo da Casa Real, professo na Ordem de Cristo, superintendente das caudelarias da comarca de Bragança, e Francisco Ferreira Sarmento Pimentel, fidalgo da Casa Real, natural de São Fins da Castanheira. (Esta povoação é a mencionada acima só com o nome de Castanheira). CAETANA TERESA, avó materna dos habilitandos, filha de Belchior da Rosa e de D. Teodora, acima indicados; neta paterna de António de Andrade Pinto, natural de Fornos de Pinhal, e de Maria de Morais, da Ferradosa, e materna de Domingos Teixeira de Sampaio, natural de Bornes, concelho de Macedo de Cavaleiros, e de D. Antónia Maria Correia, natural de Veiga de Lile, nasceu na Ferradosa a 13 de Setembro de 1736. J OSÉ (só este nome), filho de António de Sá e de D. Francisca de Morais, nasceu em São Fins da Castanheira a 19 de Março de 1713. CATARINA (só este nome), filha de Vicente de Bandos Pegado, natural do Mogadouro, e de D. Maria Felícia de Sampaio, natural de Alvites, onde são moradores, nasceu a 17 de Novembro de 1725 em Alvites; neta paterna de Manuel de Bandos Machado, natural do Mogadouro, e de D. Bárbara de Sá Pegado, natural de Bragança, e materna de Amador Pinto de Sampaio, natural de Linhares, concelho de Carrazeda de Ansiães, e de D. Mariana da Fonseca, de Alvites (1821). (1821) O processo conserva-se no Museu de Bragança.
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PEDRAS DE ARMAS
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PEDRAS DE ARMAS Nos tomos VII, pág. 771, e VIII, pág. 79, fizeram-se algumas correcções e aditamentos ao artigo e gravuras dado no tomo VI, págs. 737 e seguintes; agora acrescentamos o seguinte: BEMPOSTA – Tomo VI, pág. 744. D. Rosa Martins Manso, filha do visconde de Vale Pereiro, levou para Alfândega da Fé, onde casou e reside, uma pedra de armas da Bemposta, segundo nos informou o oficial do exército João de Deus Martins Manso, da Bemposta, pertencente à mesma família, sobrinho-neto de D. Manuel Martins Manso, bispo da Guarda, onde ao tempo vivia na rua Direita n.° 41. Ficou até de nos mandar um croquis dessa pedra, mas nunca o recebemos. BORNES – Na fachada de uma capela profanada, em Bornes, concelho de Macedo de Cavaleiros, agora convertida em casa de habitação, pertencente à família de Inocêncio Freire de Andrade, geralmente conhecida pelo apelido de Barros, que se supõe descendente do fundador da capela, há uma pedra de armas do feitio da fig. 62. A julgar pelas letras entrelaçadas, que dizem Avé-Maria, pela fita franjada nas extremidades e pelas cabeças de animais, suponho que esta capela será a fundada por Gaspar Freire de Andrade em 1717, de que falo no tomo VI, pág. 27, destas Memórias, pois alguns Andrades usam por armas em campo verde banda de oiro saindo da boca de duas serpentes; e orla de prata com estas palavras: Ave-Maria (1822). Fig. 62 Este escudo é mais uma prova do capricho dos lapicidas, senão da ignorância de quem lhe incumbia a laboração do escudo, talhado, não pelas leis heráldicas, mas pelas suas fantasias cerebrinas, atinentes a traduzirem importâncias fidalgáceas, simbolismos nobilitantes, pois nem a fita franjada com que possivelmente se quis significar a banda, nem as cabeças de animais indicativas das serpes estão segundo as regras heráldicas (1823). Devo advertir que a povoação de Bornes se divide em três bairros conhecidos pelos nomes de Condado, Mourel e Ribeiro, ficando no primeiro a capela brasonada. Ao amigo José Matias Rodrigues agradeço o desenho desta pedra de armas de Bornes. (1822) Pode ver-se em qualquer livro de heráldica, nomeadamente Vilas Boas ou Sanches de Baena. (1823) Ver tomo VI, p. 738 e 788, onde apontamos mais anomalias deste género.
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PEDRAS DE ARMAS
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Na pág. 227 mencionamos o toponímico Mourel no termo de Vale Benfeito, derivado, no entender do povo, de mouro, habitação de mouros. Em Bornes dizem o mesmo quanto ao nome do bairro. Coisa de três quilómetros de Mirandela, havia uma povoação chamada Mourel, de que ainda persevera o nome, mas está desabitada e «é tradição que este lugar, ou quinta fora antigamente povoação dos mouros» (1824). CORTIÇOS – Na capela-mor da igreja paroquial dos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros, há uma campa sepulcral de granito, brasonada, constando apenas o escudo de uma torre com ameias, três janelas e uma porta. Por baixo deste escudo tem a inscrição da fig. 63. É interessante este letreiro, pela diversidade de pontuação de formato triangular, semicircular e simples pontos, além das letras conjuntas e inclusas. No fundo do canto esquerdo a lápide está partida sem prejuízo do texto, a não ser a primeira letra da sétima linha, que, a julgar pelos vestígios e sentido da frase, corresponderá às letras Z E R conjuntas. A quarta letra da primeira linha serve para essa palavra valendo por i e para a seguinte com o valor de J. Nos séculos XVI e XVII é frequente a letra final de uma palavra servir também Fig. 63 para inicial da palavra seguinte. Convém notar a segunda letra da primeira linha e a terceira da oitava, equivalentes de q, com a pança para a direita, de que raríssimos exemplos aparecem, a não ser no tipo gótico. Na letra francesa é possível que existam mais; todavia, apenas conheço outro numa escritura do principado da Catalunha, num documento do ano de 1432 (1825); não obstante esta revivescência arcaica, o epitáfio, a julgar pela grafia, breves, letras inclusas e conjuntas, parece dos séculos XVI ou XVII e diz: Aqui jazem os Doutores Gaspar Dias de Faria, e seu filho Francisco (1824) COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa, 1706, tomo I, p. 45. Segundo este autor, tinha então Mourel três fogos. (1825) MERINO, Andres – Escuela de leer letras antiguas, p. 386. Ver também p. 147.
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PEDRAS DE ARMAS
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PAULO DE MORAIS LEITE VELHO
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Borges de Faria Guedes (?) Daroagão do Porto (?). Esta sepultura mandou fazer Dionísio (ou outro nome começado por D) Loureiro (ou Lourenço) F. S. do Mogadouro (?) que foi seu cunhado (ou criado) [16]74. As partes sublinhadas podem ter diversa leitura em razão dos breves. Quando, em 12 de Agosto de 1936, excursionei pelos Cortiços, disse-me José Pessanha Vaz das Neves, adiante mencionado, que nesta sepultura fora enterrado seu avô, Doutor José Manuel de Almeida Morais Pessanha. Pertenceria ela a seus ascendentes, apesar de não concordarem as armas? Acabaria a família nela sepultada, e, como vaga, tomariam conta dela os Leites Velhos, ascendentes do referido Pessanha, que depois ramificaram para o Mogadouro, onde ainda permanece o apelido Leite Velho, já extinto nos Cortiços? Ver o artigo referente a Paulo de Morais Leite Velho. PAULO DE MORAIS LEITE VELHO (1826) – Doutor em medicina, médico do exército com a graduação de sargento-mor da praça de Chaves, natural da Cernadela, freguesia dos Cortiços e nestes morador, filho de Luís Bernardo de Morais Rocha, sargento-mor de ordenanças, e de D. Antónia Marcelina Leite Velho de Morais; neto paterno de Manuel de Morais e de Maria da Rocha e materno de António Pedro de Amorim e de D. Maria Vicência, teve carta de brasão de armas a 18 de Novembro de 1818, que lhe concede as armas dos Morais e as dos Velhos (em campo vermelho cinco vieiras de ouro, em santor) e as dos Leites (em campo verde três flor-de-lis, de ouro, postas em roquete). Por diferença uma brica com P incluso. Este escudo é o que damos sob o número 56 na pág. 757 do tomo VI destas Memórias, com falta da brica, atribuindo as armas dos Velhos e as dos Leites aos Pimentéis e Esteves, engano aliás fácil, por o escudo não marcar os campos, agora corrigido em face da respectiva carta de brasão de armas acima citada, que vimos nos Cortiços em poder de José Pessanha Vaz das Neves, descendente do agraciado Doutor Paulo de Morais Leite Velho. Essa carta consta de quatro fólios de pergaminho de 0,19x0,26 metros, marginados por singela orla, encerrando, além do texto, o escudo iluminado com as armas acima descritas. O Doutor Paulo de Morais Leite Velho e sua irmã D. Ana de Morais Leite Velho mandaram construir nos Cortiços a casa brasonada que ostenta na fachada o escudo acima referido, mencionado sob o número 56 na pág. 757 do tomo VI, destas Memórias. (1826) Ver p. 148 e 263, tomo VII, destas Memórias.
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PAULO DE MORAIS LEITE VELHO
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Descendência: 1 – D. ANA DE MORAIS LEITE VELHO, irmã do Doutor Paulo de Morais Leite Velho, casou com o Doutor José Vicente de Macedo Sá Sarmento, de Sonim, concelho de Valpaços. Tiveram: 2 – D. MARIA A MÉLIA L EITE DE M ACEDO S ARMENTO , que casou com o Doutor José Manuel de Almeida Morais Pessanha, natural das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros. Ver tomo VI, pág. 383, n.° 13, destas Memórias. Tiveram: 3 – CÂNDIDA DE ALMEIDA MORAIS PESSANHA, que casou com o Doutor Albino Vaz das Neves, natural de Malhadas, concelho de Miranda do Douro (1827). Tiveram filhos: I – J OSÉ PESSANHA VAZ DAS N EVES , nascido nos Cortiços a 4 de Janeiro de 1873. Casou na Póvoa, concelho de Miranda do Douro, com D. Maria Antónia Vaz Preto Falcão. Sem descendência legítima, se bem que a tem ilegítima, por ele e também pelo filho Eduardo Fernão Vaz Pessanha, falecido nos Cortiços a 18 de Maio de 1932. Vive nos Cortiços, na casa brasonada de seus ascendentes, que nunca foi dos Pimentéis nem dos Charulas, como erradamente digo no tomo VI, pág. 756, n.° 56, mas sim dos Leites Velhos. II – JOÃO MANUEL PESSANHA VAZ DAS NEVES, Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, senador, chefe do gabinete do ministro Catanho de Meneses. Nasceu nos Cortiços a 22 de Julho de 1874, casou com D. Alice Correia Taborda, de Freixo de Espada à Cinta, já falecida, e vive em Lisboa, sendo rico proprietário na terra de sua mulher. III – MANUEL EDUARDO PESSANHA VAZ DAS NEVES, já falecido. Nasceu nos Cortiços a 30 de Dezembro de 1875, casou com D. Patrocínia dos Prazeres Coelho, natural de Mós de Celas, concelho de Vinhais, residente em Paradela, concelho de Mirandela, filha do Padre Francisco Coelho, natural de Martim, concelho de Bragança, e de Umbolina, natural de Mós de Celas, de quem houve única filha D. Matilde Maria Pessanha Vaz das Neves, que casou com o Doutor Luís Gonzaga de Morais Teixeira Neves, com artigo especial neste livro, do qual vive divorciada. Manuel E. Pessanha foi nosso contemporâneo no Seminário de Bragança. Dos Leites Velhos da Cernadela destacou-se um ramo para o Mogadouro, onde ainda permanece o apelido ilustrado pelo Doutor Bernardo Teixeira de Morais Leite Velho (1828). (1827) Ver tomo VII, p. 154, e tomo VI, p. 383, destas Memórias. (1828) Ibidem, tomo VII, p. 263.
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PAULO DE MORAIS LEITE VELHO
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No cemitério público dos Cortiços há uma campa brasonada que apresenta o escudo dividido em pala e esta partida em facha tendo na superior seis crescentes em duas palas ligados dois a dois, como no escudo n.° 112 que damos na pág. 775 do tomo VI, destas Memórias; na inferior as armas dos Morais e na pala da direita treze arruelas dispostas em quatro palas e uma só na quinta (armas dos Sarmentos). Disseram-me que esta campa era de Martinho de Morais Sarmento «rico fidalgo, senhor de sete capelas [morgadios], segundo reza a tradição, que teve de estender a mão à caridade e morreu miserável em um palheiro de Cernadela». A esta ilustre família pertence o Doutor António Maurício Sarmento de Macedo, coronel-médico, distinto cidadão de preclaras virtudes, natural de Pinhovelo (1829). Mais me disseram que o mencionado Martinho de Morais Sarmento era o dono da casa brasonada cujo escudo tem o n.° 55 no tomo VI, pág. 756, destas Memórias, hoje na posse de Amadeu de Sá Miranda pelo seu casamento com D. Justa de Sequeira Gomes. As armas dos dois escudos algo se aproximam; todavia, não concordam inteiramente. No tecto de uma sala da casa brasonada da família Sá Lemos Costa Machado, agora pertencente, por compra, à família Charula, está pintado um escudo esquartelado com as armas dos Lemos, Machados, Sás e ainda um quartel de seis fachas. O quartel com as armas dos Lemos ostenta, por baixo destas, duas maças em aspa atadas com torçal e este emblema é o que está no quartel do escudo n.° 54 do tomo VI, pág. 754, onde saiu por engano uma cruz. João Marcelino de Sá Machado (1830), senhor do morgadio dos Lemos, casou com sua parenta D. Mariana de Morais Dá Mesquita e Meneses, dos morgados de Zedes, concelho de Carrazeda de Ansiães, sobrinha dos Lemos dos Cortiços, e durante a sua vida a libertinagem e concomitantes vícios, esfarraparam a grande fortuna dos seus maiores. No local onde existiu a casa dos Alcoforados, dos Cortiços, foi há pouco construída a escola primária dessa povoação. Na porta lateral da igreja matriz dos Cortiços, que é em arco de volta redonda, vê-se gravado numa aduela o cronograma «1574», que indicará o ano da construção. Quase em todos os povoados do distrito de Bragança, tanto cidades e vilas como aldeias, temos encontrado lendas, geralmente depreciativas, referentes à origem das casas abastadas. É a má língua local repassada de invejas, sempre exacerbada nos meios pequenos, a explicar pelo roubo, (1829) Ver tomo IX, p. 72 e 74, e tomo VII, p. 497, destas Memórias. (1830) Ibidem, tomo VI, p. 233.
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pelo encontro de tesouros escondidos, pela maçonaria (1831), pela venda da alma ao diabo, pela posse de diabrilhos (1832), tais fortunas. Ver pág. 266, onde aludimos já a estas explicações. Em algumas terras dizem mesmo que certas famílias descendem do conúbio de uma mulher com o diabo e ainda de animais irracionais, como éguas, burras, etc. Nos Cortiços achamos croniquetas por este teor. Assim, um padre e doutor de nome Gaspar (o da sepultura atrás?) trouxe enganada, com promessa de casamento, uma rica brasileira, que só após muitos anos deu tento do caso e se retirou, deixando-lhe a grande fortuna. Assim, o João Marcelino de Sá Machado, atrás mencionado, é filho suposto de um rico morgado de Freixo, falecido sem sucessão, adquirido em Grijó, de pais pobríssimos, pelo Padre Domingos de Lemos Costa e irmãos (1833) e do parto fingido de sua viúva, sobrinha dos mesmos, a fim de evitar o desvio da fortuna para outras mãos. O caso não é tão estranho como parece, pois o casaram na família. Quando em 12 de Agosto de 1936 estive em Vilas Boas, concelho de Vila Flor, disseram-me que certo fidalgo da povoação, pai de dois filhos, um oficial do exército e outro doutor, já todos falecidos, mas ainda conheci aquele, escrevera um manuscrito onde, a propósito do doutor, dizia: «Capítulo primeiro em que se mostra que meu filho José, bacharel em lei, é um animal irracional». Também por várias terras do distrito de Bragança (igualmente as temos ouvido nos concelhos limítrofes de Chaves e Valpaços) correm prosas rimadas referentes a certas famílias farpeadas na maledicência popular. Não as damos para evitar melindres, mas apontamos alguns ditérios referentes a apelidos, porque, sendo estes abundantíssimos, não se podem conhecer os visados. Assim, diz-se: Madureiras, Borges e Guedes, nem pintados nas paredes. Outra variante diz: Silvas e Guedes, nem por sombras de paredes. Morais, um e nada mais. Morais e Aragões, nem para arpões. Pastores e Negreiros só em candeeiros. Pintos, Pereiras e Gouveias, nem de meias. Com Figueiredos e Vazes não se podem ter pazes. (1831) O povo crê firmemente que a maçonaria dá aos sócios, que nela se inscrevem para confrades, quanto dinheiro queiram. (1832) Os diabrilhos, segundo a crença popular, são bichinhos lustrosos e mechidiços, sustentados com limalha de aço, dados numa caixinha pelo diabo ou certos espíritos maus a seus adeptos, que lhe fazem quanto desejam num abrir e fechar de olhos cavar, lavrar, ceifar, estudar, saber ou outro qualquer serviço. – O possuidor dos diabrilhos, se os não vender a outro com ganho e morrer com eles, vai em corpo e alma para o inferno, bem como os maçónicos e os vendedores da alma ao diabo. Neste caso metem no caixão funerário pedras ou peso equivalente para se não dar pela falta do cadáver e, bem fechado, lá segue para o cemitério. (1833) Ver tomo VI, p. 223, destas Memórias.
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MOIMENTA – No tomo VI, pág. 289, fizemos a descrição da pedra de armas de João Gil Lamadeita Rodrigues Salgado Lousada, de Moimenta, onde se conserva aberta em pedra na fachada da sua casa, que ultimamente pertencia a D. Arminda Pinto Coelho de Ataíde. Ver adiante o artigo Pinto Coelho de Ataíde. No mesmo tomo VI, pág. 772, faltou mencionar uma pedra de armas existente nos Pereiros, concelho de Carrazeda de Ansiães, na casa do Doutor António Ferrão, residente em Trevões, concelho de São João da Pesqueira. Não pude ainda examiná-la; sei apenas que tem por cimo chapéu eclesiástico, segundo informações do pároco dessa freguesia Padre Paulino Lopes Ribeiro, e, segundo dizem, pertenceu a um vigário capitular. À última hora recebemos um croquis deste brasão, mandado pelo nosso colega Padre Albino António Coelho, pároco de Carrazeda de Ansiães, e por ele vemos que é esquartelado, tendo no primeiro quartel uma cruz; no segundo um leão; no terceiro uma ave e no quarto uma estrela de oito raios, encimada por um crescente com as pontas para cima. PEGADO (Constantino José de Magalhães) – Tomo VI, pág. 253. Faleceu solteiro, sem descendência, em Vila Flor a 15 de Março de 1931.
PELOURINHOS ALGOSO – O pelourinho de Algoso ergue-se sobre um escadório quadrangular de quatro degraus por lado, tudo de granito, bem como o resto do monumento. Tipologicamente, obedece ao sistema arquitectónico bragançano, mas profundamente ornamentado no fuste hexagonal por florões em série como o de Outeiro (1834). Em cima dos quatro braços do capitel assenta um plinto com as armas de Portugal, encimado pela esfera armilar, rematado por pequeno disco. Ao erudito José Manuel Miranda Lopes agradecemos a fotografia que ilustra este artigo.
Fig. 64 Pelourinho de Algoso
(1834) Ver tomo IX, p. 531, destas Memórias.
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BEMPOSTA – O pelourinho desta antiga vila ergue-se sobre uma plataforma de granito, bem como todo o resto do monumento, de tipo quadrangular, tendo dois degraus por banda, fuste cilíndrico com um escudo junto ao cimo, coroado por capitel de quatro braços, segundo o tipo bragançano (1835), encimado por uma pirâmide cónica rematada por dois discos, um em cima do outro. As armas do escudo parecem as quinas de Portugal, mas estão muito delidas e apagadas. Altura do escadório, 0,55 metros; idem de fuste, 2,70 metros; idem do capitel e pertenças, 0,92 metros. Total, 4,17 metros. Ao bom amigo engenheiro-agrónomo Doutor José Bernardo Pereira Martins agradecemos a Fig. 65 fotografia do pelourinho da Pelourinho de Bemposta Bemposta. MÓS – O pelourinho desta antiga vila, sede de concelho, hoje incorporado no de Moncorvo, foi estupidamente apeado, mas as suas pedras estavam em 1899 na casa dos herdeiros do Doutor Gabriel. Não haverá alma generosa que se compadeça do venerando monumento, lídimo brasão nobilitante da terra, reerguendo-o no primitivo local, em frente da antiga casa da Câmara de Mós, agora convertida em escola? Para a mentalidade local apelamos, muito esperançados de que nos ouvirá. VALE DE A SNES (1836) (Vale dasnas, no foral de D. Manuel, abaixo citado em nota), concelho de Mirandela. O pelourinho desta antiga vila, de que era donatária a coroa (1837) foi derrubado há muitos anos e algumas das suas pedras andam aos boléus no adro da igreja paroquial, para vergonha da mentalidade local e geral. Numa delas há o escudo junto, cujo desenho devemos ao amigo José Martins Rodrigues, de Sacoias, empregado das Obras Públicas.
Fig. 65
(1835) Ver tomo IX, p. 520, destas Memórias. (1836) Teve foral dado por D. Manuel em 1544. Ver tomo IV, p. 265, destas Memórias. (1837) COSTA, Carvalho da – Corografia Portuguesa, p. 441.
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VILA FLOR – Tomo IX, pág. 536. Disse-nos o nosso velho amigo e contemporâneo no Seminário de Bragança, António José de Morais, pároco de Vila Flor, que o pelourinho desta vila, sito na praça em frente da casa da câmara municipal, fora demolido já da sua lembrança, para aformosearem e arborizarem a mesma, na qual havia antigamente um souto de carvalhos pertencente aos duques de Lafões, senhores de muitas outras propriedades na vila, de onde ainda hoje percebem foros. Esta mesma informação foi a que ele deu para o Portugal Antigo e Moderno, artigo Vila Flor. O pelourinho de Vila Flor foi restaurado em meados de 1937 e colocado um pouco acima da casa da câmara municipal, perto da igreja matriz, por não haver lugar acomodado em frente daquela. Fig. 66 Do antigo aproveitou-se o Pelourinho de Vila Flor capitel e remate superior. (Ver tomo IX, pág. 536, onde damos a sua fotogravura). A campanha em prol do restauro deve-se à subscrição aberta no Jornal de Notícias, do Porto, pelo seu director Doutor Guilherme do Carmo Pacheco, marido de uma filha do saudoso Aníbal de Morais, natural de Vila Flor, que foi um dos fundadores desse diário. Devo advertir que a iniciativa do movimento restaurador começou pela publicação de uma carta no número de 19 de Maio de 1937 do Jornal de Notícias, assinada por mim, mas escrita pelo meu amigo Doutor Raul Teixeira, actual director do Museu de Bragança. Já mais vezes fiz esta declaração em conversas com várias pessoas, mas preciso de a confirmar publicamente, para sossego da minha consciência gráfica. E, já que vem a talho de foice, declaro também que o agradecimento lido pelo Sr. Doutor José Pontes na sessão de 11 de Novembro de 1935, como se eu o tivesse escrito, foi feito pelo mesmo Doutor Raul Teixeira. Também ele é autor de algumas cartas de pedidos para o Museu, que eu tenho assinado. Suum cuique, a lufa-lufa do museu a tanto obriga. VILAS B OAS – O pelourinho de Vilas Boas, concelho de Vila Flor, foi derrubado pelos mandantes do povo em fins de 1935 ou princípios do ano MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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seguinte. No intuito de reparar tão estúpido vandalismo, participei o facto a diversas entidades oficiais a quem o crime de lesa-arte devia revoltar. Em 12 de Agosto de 1936 fui a Vilas Boas à cata de antiqualhas e, quando lhe estranhei a barbaridade respeitante ao derrubamento do pelourinho, disseram-me que fora apeado «para se compor o largo onde estava, mas que brevemente seria levantado, depois de conseguirem um subsídio do governo». É sempre assim! A monomania dos embelezamentos, dos bonitos-feios a escoucinhar a beleza genuína de real valor, substituindo ouropéis, lentejoulas ao ouro de lei e, ainda por cima, que o governo premeie a façanha ignara! Também ali perto, em Moncorvo, derrubaram torres, muralhas e o monumental chafariz para embelezar outro largo (1838); também em Alfândega da Fé, Ansiães, Miranda, Mirandela, Penas Róias fizeram o mesmo (1839). Também em Sesulfe anda aos tombos pelas ruas e estrumeiras da povoação uma pedra de armas (1840) que a ignorância local e malvadez não recolhe nem deixa recolher a um museu ou lugar condigno, desafrontando assim a vergonha que tal desleixo acarreta para a gente bragançana. Também em Outeiro enterraram uma histórica peça de artilharia, que jazia na rua ao abandono, exposta a todos os escárnios asselvajados, para que não fosse recolhida carinhosamente em lugar adequado! Também, também... são muitos, infelizmente, os casos destes, porque as hordas dos suevos, alanos e vândalos invasoras da península ibérica no século V algo do seu sangue por cá haviam de deixar. O fuste do pelourinho de Vilas Boas, oitavado, liso, de 4,43 metros de altura, e a pedra que lhe servia de base, tudo de granito, lá jaz estirado a um canto do tal largo; o capitel e mais pertenças, decorado por ornatos floriformes e símbolos próprios, foram para uma casa particular onde, possivelmente, mais cedo ou mais tarde, terão outro destino. Em 1935, quando andavam a consertar o caminho que de Vilas Boas segue para a Ribeirinha, no sítio chamado Olival do Rei, apareceram várias cantarias aparelhadas, restos de fustes e capitéis, pedaços de telhas e grossos tijolos, que pareciam haver pertencido a alguma capela ou outro edifício. Ao Sr. Adelino Lopes Pinto, bem como ao digno pároco de Vilas Boas, Rev. António J. Reimão, agradecemos a comunicação desta notícia logo em seguida ao aparecimento das antiqualhas, mas, como não pude-
(1838) Ver a nossa monografia Moncorvo – Subsídios para a sua história, p. 12 e seg., separata da Ilustração Trasmontana, (1909-1910). (1839) Ver tomo IX, p. 518 e seg., destas Memórias. (1840) Ibidem, tomo VI, p. 774.
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mos visitá-las nessa altura, quando lá fomos, passado um ano, já tudo levara sumiço convertido, provavelmente, em tapumes e aterros. No povo não havia notícia, nem tradição de qualquer edifício naquele sítio, arruinado certamente há muitos anos, pois em cima dos escombros crescem já velhas oliveiras, que devem contar centenas de anos. Por último, em 1937 levantaram o pelourinho de Vilas Boas. Além da bibliografia indicada sobre os pelourinhos bragançanos, publicou-se ultimamente mais: Pelourinhos de Trás-os-Montes, por Nuno Catarino Cardoso. Lisboa, 1936. 19 pág. Faz parte da colecção Arte portuguesa, de que forma o vol. X. Quanto aos pelourinhos do distrito de Bragança insere fotogravuras dos de Bragança, Frechas, Freixo de Espada à Cinta, Outeiro, Rebordãos, Torre de Dona Chama, Vilar Seco de Lomba e Vinhais.
PENAS RÓIAS Foral dado por D. Manuel em 1512 – Ver tomo VI, págs. 436 e 439, onde publicamos os dois forais dados a esta vila por el-rei D. Afonso III em 1272 e 1273. INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
O foral de Penas Róias, leiloado em Lisboa a 17 de Junho de 1936, e que foi para o livreiro Coelho pela quantia de 250$00, é um códice de folhas de pergaminho primitivamente numeradas de I a XIII, precedidas de uma não numerada contendo o índice ou tabuada. A folha I, que devia ser iluminada, como o são as de todos os forais novos, foi-lhe, talvez por isso mesmo, cortada à tesoura, o que muito desvaloriza o códice. A encadernação, que é a primitiva, com pastas de madeira recoberta de couro e reforçada de pregos (cinco em cada pasta), está bastante danificada; tem fechos metálicos. As folhas têm a medida de 0,26x0,18 metros e as capas ou pastas 0,28x0,185 metros. Como faltasse o primeiro fólio ao foral, procurou-se completar quanto possível esta cópia com os dizeres do Livro dos Forais de Trás-os-Montes, como adiante se declara. Ao grande bragançófilo Padre Ernesto Augusto Pereira Sales agradecemos a cópia do foral de Penas Róias a seguir inserta: «(1841) Foral de Penarroyas dado por ElRey dom Afonso conde de bolonha. (1841) Esta página e a parte escrita no verso é cópia do que se encontra a fl. 11 v. e 12 do Livro dos Forais novos de Trás-os-Montes, da Torre do Tombo.
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Dom Manuel etc. ~ dos moradores destes lugares Primeiramente avemos daver de cada huu ~ por resabaixo decrarados a que chamã Villares Velhos quorenta e tres rrs peito dos vinte e quatro solldos que pollo dito foral se mandou delles pagar. Os quaes lugares são estes. ò. Castellobranco, Lagoaça, Bruços, Villarinho, Villa de Sinos, Ventosella, Paçoo, Villa d’Alla, Sanctiaguo, Villar do Rey, Vall do Porco. O dito lugar e villa de Penarroyas e meirinhos e asi seram deste ~ todollos lugares ermos que jazem mesmo foro dos ditos quorenta e tres rrs dentro destas confrontaçooes quando quer que se lavrarem ou povoarem. O pagaram ao senhorio os moradores e vizinhos dos lugares e villares que chamã novos trinta e seis r~ rs. pollos vinte solldos que no dito foral por elles mandou pagar. Os quaes sam estes. ò. Val da Madre, Soutello Remondes, Brinhoso, Paradella, Vallverde, Figueira, Linhares. E seram isso mesmo do dito foro todollos lugares ermos que jazem dentro dos limites dos dictos lugares quando quer que se povarem. E os foros sobre ditos dos dictos villares novos e velhos nam seram obrigados a pagar. Nem pagarão nenhuas pesoas. Sallvo quãdo teverem fazemda de bees de raiz que valha ~ a quorenta os vinte maravidys do foral que vallem noveçentos e setenta rrs ~ e oyto rrs e meyo por maravydi, por que os que nom teverem mais fazenda dos dictos dez maravydis atee os dictos vinte nam pagara senam doze soldos segundo a verba do dicto foral que sam vinte e h~ u r~ rs e meyo desta moeda corrente de ceptis ho rreal. E as pessoas que nam teverem fazenda dos dictos b~ ees de raiz pera chegar aos dictos dez maravydis desta moeda ~ nam pagara nhuu ~ tributo. que sam quatrocentos e oytenta e cinquo rrs Orfãos – E os orfãos em quanto esteverem cõ seu pay e may solteyros, ~ soo foro. O quall sera segundo nam se pagara senã por toda a fazenda huu a fazenda que teverem segundo as decrarações acima conthyudas. E os Juizes ordenayros nã pagaram nh ~ uu dos dictos foros quando forem Juizes E a paga dos sobredictos direitos decraramos que se entenda desta maneyra.ò . os moradores e povoadores nos lugares velhos posto que tenham fazenda nos lugares novos nã pagaram della mais que os quo~ que pagarem pellos lugares velhos em que estam. Porem se renta e tres rrs teverem o fogo em ho lugar novo pagara hy o seu foro, que sam trinta e ~ e mais os quorenta e tres da povoaçam velha que teverem. seis rrs Pena d’arma – It~ e; a pena do sangue e darma posto q por sentença de nossa Rolaçam fosse tirada fiquando resguardado ao senhorio seu direito, nos achamos que se deve hy por direito levar polla palavra do mesmo foral por que mandou que se levassem hy vozes e coymas por bem do qual man~ e mais arma perdida de qualquer pessoa que damos que se leve duzentos rrs MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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tirar arma pera fazer mal com ella, a quall se levara segundo forma de nossa ordenação, sem mais se levar a pena do sangue que chamavã indicia; a qual pena da ordenaçã se levara com estas declarações. ò. que a dicta pena se nã levara quando alguas pessoas apunharem espada ou qualquer outra arma sem atirar. Nem pagaram a dicta pena aquellas pessoas que sem proposito e em reyxa nova tomar~ e paao ou pedra posto que cõ elle façã mall, E posto que de proposito tome~ o dicto paao ou pedra senam fezerem mal com elle nam pagaram a dicta pena. Nem a pagara moço de quinze annos pera bayxo, ne~molher de qualquer ydade, ne~pagaram a dicta pena aquellas pessoas que castigando sua molher e filhos e escravos tirar~ e sangue. Nem pagaram a dicta pena que jugãdo punhadas sem armas tirar sangue com bofetada ou punhada, e as dictas penas nem cada h~ ua dellas nã pagaram ysso mesmo ~ quaeesquer pessoas que endefendimeto de seu corpo ou por apartar e estremar outras pessoas em arroydo tirarem armas posto que com ellas tirem sangue. Nem escravo de qualquer ydade que cõ paao ou pedra tirar sangue. O vento – O gado de vento he do Senhorio levarsea segundo a ordenaçam com decraraçam que a pessoa a cuja mãao for ter o dicto gado o vam escrepver so pena de lhe ser demandado de furto a dez dias. A penssam dos tabaliães he nossa e sam dous tabaliães paga cada h~ u ~ dozentos e cinquoenta rrs. E decraramos e mandamos que daqui por diante nam seiam obrigadas ~ pessoas da dicta villa e termo que paguem a nos nem constrangidas nhuas ~ foro alguu por terras e heranças que tenham em outra alg~ ua terra n~ e ysso mesmo outras pessoas de outro lugar o pagaram aquy pella fazenda que aqui teverem, salvo se em alg~ uu outro lugar em speciall pellos b~ ees que la ~ ~ tevese se la vyverem o contrayro se mande pagar, os quaees soomente pagaram nos lugares onde viuerem o tributo que por seu foral se mandar pagar. ~ enovaçã. ~ E dos montados e manynhos se usara como atee quy se fez sem nhua E a portagem se recadara na dicta villa na forma e maneyra que se segue. Determinações jeraaes pera a portagem – Primeiramente decraramos e poemos por ley jeeral entodollos foraaes de nossos Reynos que aquellas pessoas ham soomente de pagar portagem em alg~ ua villa ou lugar que nom forem moradores e vizinhos delle. E de fora do tal lugar e termo delle ajam de trazer as cousas pera hy vender de que a dicta portagem ouvere~ de pagar. Ou se os dictos hom~ es de fora cõprarem cousas nos lugares onde assy nam sam vizinhos e moradores, e as levare~ pera fora do dicto termo. E porque as dictas condições se nã ponham tantas vezes em cada h~ uu capitulo do dicto forall mandamos que todollos capitulos e cousas seguyntes da portagem deste foral se entendam e cumprã com as dictas condições MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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e decrarações. ò. que a pessoa que ouver de pagar a dicta portagem seia de fora da villa e do termo e traga hy de fora do dicto termo cousas pera vender ou as compre no tal lugar donde assy nõ for vizinho e morador e as tire pera fora do dicto termo. E assy decraramos que todallas cargas que adiante vãao postas e nomeadas em carga mayor se entendam que sam de besta muar ou cavalar. E por carga menor se entenda carga dasno. E por costall a metade da dita carga menor q he o quarto da carga de besta mayor. E assy acordamos por escusar prolixidade que todallas cargas e cousas neste foral postas e decraradas se entendam e decrarem e julguem na repartiçam e conta dellas asy como nos titulos seguyntes do pam e dos panos he lymytado sem mais se fazer nos outros capitulos a dicta repartiçam de carga mayor n~ e menor nem costal n~ e arrovas, soomente pollo titulo da carga mayor de cada cousa se entendera o q por esse respeyto e preço se deve de pagar das outras cargas e peso. ò .pollo preço de carga mayor se entendera logo sem se mays decrarar que a carga menor sera da metade do preço della e ho costal sera a metade da menor. E assy dos outros pesos e cantidade ~ nos dictos capitulos seguyntes he decrarado. segudo E assy queremos que das cousas que adyante no fim de cada h~ uu capitulo mãdamos que se nam pague portag~ e decraramos que das taaes cousas se não aja mays de fazer saber na portag~ em posto que particularmente nos dictos capitulos nã seja mais decrarado. E assy decraramos e mandamos que quando alg~ uas mercadorias ou cousas se perderem por descaminhadas seg~ udo as leys e condições deste foral que aquellas soomente sejam perdidas para a portagem que forem escondidas e sonegado o direito dellas e nã as bestas nem outras cousas en que as taaes se levarem ou esconderem. Portagem – De todo trigo, cevada, centeyo, milho, painço, aveya, e de ~ delles, ou de lynhaça. E de vinho, vinagre, ou de sal, e farinha de cada huu de caal que aa dicta villa e termo trouxerem homes de fora para vender ou os dictos homes de fora as comprarem e tirarem para fora do termo pagaram por carga de besta mayor. ò. besta cavallar ou muar h~ uu real. E por carga dasno que se chama menor meyo real. E por costal que he ametado de besta menor dous ceptis. e dy pera bayxo em quallquer cantidade quando ~ ceptil. E quem tirar pera fora de quatro alqueyres pera vier pera vender huu bayxo nã pagara nada n~ e fara saber aa portagem. E se as dictas cousas ou outras quaeesquer vierem ou forem e~ carros ou carretas contarsea cada h~ u por duas cargas mayores, se das taaes cousas se ouver de pagar portagem. Cousas de que se nõ paga portagem – A qual portagem se nõ pagara de todo pam cozido, queijadas, bizcouto, farellos, ovos, leyte n~ e de cousa delle MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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que seja sem sall ne~ de prata lavrada ne~ de pam que trouxerem ou leuarem ao moynho. Ne~de canas, vides, quarqueija, tojo, palha, vasoyras, ne~de pedra ne~de barro ne~de lenha, ne~erva ne~de carne vendida a peso ou a olho. Nem se fara saber de nh~ ua das ditas cousas. N~ e se pagara portagem de quaeesquer cousas que se comprarem e tirarem da villa pera o termo n~ e do dicto termo para a villa posto que sejam pera vender assy vizinhos como nã vizinhos. Nem se pagara das cousas nossas ne~das que quaeesquer pessoas trou~ armada nossa ou feyta por nosso mandado ou autoridade, xerem para algua ne~do pano e fiado que se mandar fora a teçer e pisoar, curar ou tengir, nem dos mantimentos que os caminhantes na dicta villa e termo comprar~ ee levar~ e pera seus mantimentos e de suas bestas, n~ e dos gaados que vierem pastar alg~ us lugares passãdo nem estando, salvo daquelles que hy somente ~ vendere, ne~dos panos e joyas que se emprestarem pera vodas ou festas. Casa movida – De casa movida senã hade levar n~ e pagar nynh~ u direito ~ de portagem de nh ua condiçam e nome que seia assy hyndo como v~ ydo salvo se com a casa movida trouxerem ou levarem cousas pera vender de que se deva e aja de pagar portagem porque das taaes se pagara onde soom~ ete as venderem e doutra maneyra nã. A quall pagaram segundo a calidade de q forem como ~ e seus capitulos adyante se conthem. Passajem – E de quaeesquer mercadorias que aa dicta villa ou termo vierem que forem de passajem pera fora do termo da dicta villa pera quaeesquer partes nam se pagara direito nh ~ uu de portagem n ~ e seram obrigados de ho fazerem saber, posto que hy descarreguem e pousem a quallquer tempo e ora e lugar. ~ causa entam E se hy mais ouverem destar que todo o outro dia por algua o faram saber. E esta liberdade de passagem se nam entendera quando forem ou vierem pera fora do Reyno porque entam faram saber de todas posto que de todas nam ajam de pagar direito, e isto no derradeiro lugar do estremo. Novidade dos b~ ees pera fora – Nem pagaram portagem os que na dicta villa e termo erdarem alg ~ us b ~ ees moveis ou novidades doutros de raiz que hi erdassem ou os que hy teverem b~ ees de raiz proprios ou arrendados e levarem as novydades e fruytos delles pera fora, Nem pagaram portagem quaeesquer pessoas que ouverem pagamentos de seus casamentos, tenças, mercees ou mantimentos em quaeesquer cousas e mercadorias posto que as levem pera fora e seiam pera vender. Panos finos – E de todollos panos de seda ou de lãa ou dalgodam ou de linho se pagara por carga mayor nove r ~ rs. E por menor quatro r ~ rs e MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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meyo. E por costall dous r ~ rs e dous ceptys. E por arrova h ~ uu real, e dy pera bayxo soldo aalivra quando vierem pera vender porque qu ~ e levar dos dictos panos ou de cada h~ uu delles retalhos e pedaços pera seu uso nam pagaram portagem ne o faram saber nem das roupas que cõprarem feytas dos dictos panos. Porem os que as venderem pagarã como dos dictos panos na maneyra que acima neste capitulo he decrarado. Cargas em arrovas – E a carga mayor se entende de dez arrovas e a menor de cinquo arrovas. E o costal de duas arrovas e meya. E vem assy por esta conta e respeyto cada arrova em cinquo ceptis e h~ uu preto, pellos quaees se pagara h~ uu real. E pela dicta conta e repartiçam se pagaram as cousas deste foral quando forem de costal. E assy como se aquy faz esta decraraçam e repartiçam pera exempro nas cargas de nove r~ rs se fara nas outras soldo aalivra segundo ho preço de q forem. Linho lãa. Panos grossos – E do linho encabelo fiado ou por fiar, que nam seia tecido, e assy de lãa e de feltros, burell, mantas da terra e dos outros semelhantes panos bayxos e grosssos por cada carga mayor quatro rrs. E por menor dous r~ rs. e por costal h~ uu real. E dy pera bayxo atee h~ uu ceptil, ~ dellas quando vier pera vender porque quem das dictas cousas e de cada hua ~ real, nõ pagara portagem levar pera seu uso de costal pera bayxo que he huu nem ho fara saber. Nem das roupas feytas que dos dictos panos bayxos e cousas pera seu uso comprar. E os que as venderem pagaram como dos mesmos panos bayxos segundo a cantidade que venderem como acima he decrarado. Gaados – De todo boy ou vaqua que se vender ou comprar por homes de ~ rreall. E do carneyro, cabra, bode ou ovelha,cervo, corça, fora por cabeça huu au gamo, por cabeça dous ceptiys. E de cordeyros, borregos, cabritos leytões, ~ das ditas cousas se cõprarem ou nam pagaram portagem salvo se cada hua venderem juntamente de quatro cabeças para cima, dos quaees pagaram por ~ huu ~ ceptil. E de cada porquo ou porca dous ceptis por cabeça. cada hua Carne – E da carne que se cõprar de talho ou enxerqua nam se pagara nh~ u direito. E do toucinho ou marrãa inteyros por cada h~ ua h~ uu ceptill, e dos encetados se nam pagara nada. E de coelhos, lebres, perdizes, paatos, aad~ es; pombos, galinhas. E de todallas outras aves e caça nam se pagara nh~ ua portagem pello comprador ne~ vendedor, nem o faram saber. Coyrama – De todo coyro de boy ou vaqua ou de cada pelle de cervo, corço, gamo, bode, cabras, carneyros ou ovelhas cortidas ou por cortir dous MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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cepits. E se vierem en bestas pagaram por carga mayor nove r~ rs. e das outras ~ por carga mayor se pagara de per esse respeito. E na dicta maneyra de nove rrs çapatos borzeguys, e de toda outra calçadura de coyro. Da qual nõ pagara o que a conprar pera seu uso, e dos seus, nem dos pedaços de pelles ou coyros que pera seu uso conprarem nam sendo pelle inteyira ne~ilhargada ne lombeyro, dos quaees pagaram como no capitulo de cyma dos coyros se conthem. Pelitaria – E de cordeyros, raposos martas e de toda a pelitaria ou forros, por carga mayor nove r~ rs. E de pelicas e roupas feytas de pelles por peça meyo rreal. E que comprar pera seu uso cada h~ ua das dictas cousas nam pagara. Azeite, mel e semelhantes – De cera, mel, sevo, unto, queijos secos, pez, ~ manteya salgada, rezina, breu, sabam, alcatram por carga mayor nove rrs. ~ E quem cõprar pera seu uso atee huu rreal de portagem nã pagara. Marcaria e semelhantes – De grãa; anill, brasil e por todallas cousas pere tengir. E por papel e toucados de seda ou algodã. E por pimenta e canella e por toda especearia. E por ruybarbo e todallas cousas de botiqua. E por açuquar e por todallas conservas dele ou de mell. E por vidro e cousas dele q nã tenham barro. E por estoraque e por todollos perfumes ou cheyros ou ~ das dictas cousas e de todallas agoas estilladas por carga mayor de cada hua ~ outras suas semelhãtes se pagara nove rrs. E que~ das dictas cousas comprar pera seu uso atee meyo rreal de portagem e dy pera bayxo nã pagara. Metaaes, ferro lavrado, armas e ferramêta – Do aaço, estanho, chumbo, latam, arame, cobre e por todo outro metall. E assy das cousas feytas de cada h ~ ua dellas e das cousas de ferro que forem moydas, estanhadas, ~ Das quaees nõ pagara lymadas ou invernizadas por carga maior nove rrs. ~ que as levar pero seu uso. E outro tanto se pagara das armas e ferramenta das quaaes levarem pera seu uso as que quiserem s~ e pagar. Ferro grosso – E do ferro em barra ou em maçuquo. E por todallas cousas lavradas delle que nã seiam das acima conthyudas, lymadas, moydas, estanhadas nem invernizadas por carga mayor quatro r~ rs e meyo. E qu~ e ~ das dictas cousas levar pera seu serviço e de suas q uytãs ou vinhas em qualquer cantidade nam pagara nada. Pescado marisco – De carga mayor de pescado ou marisco h~ uu rreal e cinquo ceptis. E quem levar de meya arrova para bayxo nam pagara. E do pescado dagoa doce atee meya arrova nam se pagara portagem MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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n~ e se fara saber assy da venda como da cõpra, seendo soomente truytas, bordallos ou bogas e dy pera bayxo. Fruyta seca, casca çumagre, fruyta verde e ortaliça – De castanhas verdes e secas, nozes, ameyxeas, figos passados e uvas amendoas e pynhães por britar, avellãs, bolletas, favas secas, mostarda, lentilhas, e de todollos ~ legumes secos, por carga mayor tres rrs. E outrotanto se pagara do çumagre e casca pera cortir. E qu~ e levar das ditas cousas meya arrova pera seu uso nã pagara. E de carga mayor de laranjas, cidras, peras, cereijas, uvas verdes e figos, e por toda outra fruyta verde meyo real por carga maior. E outro tanto dos alhos secos e cebollas e melõoes e ortaliça. E quando das dictas cousas se vender ou levar menos de meya arrova não se pagara portagem pelo vendedor nem comprador. ~ real e cinquo Bestas – Do cavallo rocim ou egoa e de mu ou mulla huu ~ ceptis. E do asno ou asna huu real. E se as egoas ou asnas se venderem com crianças nam pagaram portagem senam pellas mãys, porem se pagara direito se trocarem h~ uas por outras. Porem quando se tornar dinheiro pagarsea como vendidas. E do dia que se vender ou comprar o faram saber as pessoas a ~ ysso obrigadas atee dous dias segu~ ytes. E este direito nam pagaram os vasallos e escudeyros nossos e da raynha e de nossos filhos. Escravos – Do escravo ou escrava que se vender h ~ uu rreal e cinquo ceptis. E se se forrar por quallquer concerto que fezer cõ seu senhor pagara a dizima de todo o que por sy der pera a dita portagem. E se se venderem cõ filhos de mama nam pagarã senam pellas mays. E se trocarem h~ uus escravos por outros sem tornar dinheiro nam pagaram. E se se tornar dinheiro por cada h~ ua das partes pagaram a dicta portagem. E a dous dias despois da venda feyta iram arrecadar na portagem as pessoas a isso obrigadas. Barro, louça, malega – De carga mayor da telha ou tigello, ou qualquer ~ E de menos de duas arrovas louça de barro que nõ seia vidrada dous rrs. e meya nã se pagara portagem pello cõprador. E da mallega e de qualquer louça ou obra de barro vidrada do Reyno ou de fora delle por carga mayor quatro r ~ rs. E de meyo rreal de portage pera bayxo nam pagaram os q a comprar~ e pera seu uso. ~ E das de moynhos ou atafona Moos – E de moos de barbeyro dous rrs. ~ ~ quatro rrs. E de casca ou azeyte seis rrs. E por moos de mãao pera pam ou mostarda h~ uu real. E qu~ e trouxer ou levar as dictas cousas pera seu uso MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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~ cousa de portagem. Nem se pagara ysso mesmo de pedra nam pagara nhua ~ maneyra. nem barro que se leve ne~ traga de cõpra ne~ venda por nhua Cousas de paao – De tonees, arcas, gamellas e por toda outra obra e louça de paao por caga mayor cinquo r~ rs. E do tavoado sarrado ou por sarrar, e por traves, tirantes e por toda outra madeyra semelhante grossa ~ por carga mayor. E quem das dictas cousas lavrada ou por lavrar dous rrs levar de costal pera bayxo que sam duas arrovas e meya nam pagara nada. Palma esparto e semelhantes – De palma, esparto, junça ou junco seco ~ E qu~ pera fazer empreyta delle por carga mayor dous rrs. e levar pera seu uso de meya arrova pera bayxo nam pagara nada. E por todallas alcofas, esteyras, seyrões, açafates, cordas, e das obras e cousas que se fezerem da ~ E de meya arrova pera dicta palma e esparto etc. por carga mayor seys rrs. bayxo quem as tirar nã pagara nada. E as outras cousas contyudas no dicto foral antygo ouvemos aquy por escusadas por se nom usarem por tanto t~ epo que nam ha dellas memoria. E alg~ uas dellas tem já sua provisam por leys jeraes e ordenações destes Reynos. Como se arecadara a portagem – As mercadorias que vierem de fora pera vender nam se descarregaram ne~ meteram em casa sem prymeiro ho notefiquar~ e aos rendeyros ou officiaes da portagem. E no se achando em casa tomaram h~ uu seu vizinho ou h~ ua testemunha conhecida A cada h~ uu dos quaaes diram as bestas e mercadorias que trazem e onde ham de pousar. E entam poderam descarregar e pousar onde quizerem de noyte e de dia sem nynh~ ua pena. E assy poderam descarregar na praça ou açougues do lugar sem a dicta manifestaçam. Dos quaees lugares nõ tiraram as mercadorias sem primeyro ho notefiquar~ e aos rendeyros ou officiaes da portagem so pena de as perderem aquellas que soomente tirarem e sonegarem e nam as bestas nem as outras cousas. E se no termo do lugar quiser~ e vender faram outro tanto se hy ouver rendeyros ou officiaes da portagem. E se os nõ ouver ~ ao Juiz ou Vintaneyro ou Quadrilheyro do lugar onde quysere~ notefiqueno vender se os hy achar ou a dous hom~ es, bõos do dicto lugar ou a h~ uu se mays nõ achar cõ os quaes arrecadara ou pagara sem mais ser obrigado a ~ pena. buscar os officiaees ne~rendeyros nem encorrer por ysso em algua Sayda por terra – E os que ouver~ e de tirar mercadorias pera fora podellas ham cõprar livremente sem nh~ ua obrigaçam nem cautella. E seram soomente obrigados aas mostrar aos officiaes ou rendeiros quando as quiserem tirar e nam em outro tempo. Das quaees manifestações de fazer saber aa portagem nõ seram escusos os privilegiados posto que a nõ ajam de pagar segundo adyante no capitulo dos privylegiados vay decrarado. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Privilegiados – As pessoas ecclesiasticas de todalas igrejas e moesteyros assy dhom~ es como de molheres. E as provyncias e moesteiros em que ha ~ frades e freiras, irmitaaes que fazem voto de profissam. E os crerigos dordes ~ sacras. E os beneficiados em ord es menores que posto que nam sejam ~ sacras vive~como crerigos e por taaes sam avidos. Todos os sobredicdordes tos sam iysentos e privylegiados de todo direito de portagem n~ e usag~ e n~ e custumagem por qualquer nome que a possam chamar assy das cousas que venderem de seus b~ ees e beneficios como das que cõmprarem, trouxerem ou levarem pera seus usos e de seus beneficios e casas e familiares assy por mar como por terra. E assy o seram os moradores e vizinhos da dicta villa e termo no mesmo lugar de todo o dicto direito de portagem livremente. E assy sam liberdados da dita portag~ e por privilegio que tem as cidades, villas e lugares de nossos reynos que se seguem. ò. a cidade de Lixboa e a Gaya do Porto, Pova de Varzim, Guymaraães, Bragaa, Barcellos, Praado, Pontedelima, Vyana de Lima, Camynha, Villa Noua de Cerveyra, Vallença, Monçam, Crasto Leboreyro, Miranda, Bragança, Freyxo, O Azinhoso, Mogadoyro, Anciaães, Chaves, Monforte de Ryo Livre, Montalegre, Crasto Vic~ ete, Villa Reall, a cidade da Guarda, Jermello, Pinhel, Castel Rodrigo, Almeyda, Castello Mendo, Villar Mayor, Sabugall, Sortelha, Covylhãa, Monsanto, Portallegre, Marvam, Arronches, Cãpomayor, Fronteira, Monforte, Villavyçosa, Olivença, Elvas, a cidade Devora, Montemoar o Novo, Lavar, Monsaraz, Beeja, Moura, Noudar, Almodouvar, Odemira, os moradores no Castello de Cezimbra. E assy seram liberdados da dicta portagem quaaesquer pessoas ou lugares que nossos privilegios tever~ e e mostrarem ou o trellado em pubrica forma aalem dos acima conthyudos. Vezinhãça – E pera se poder saber quaaes seram as pessoas que sam avydos por vezinhos dalg~ uu lugar pera gouvir~ e da liberdade delle decraramos que vezinho se entenda dalg~ uu lugar o que for delle naturall ou nelle tever alg~ ua denidade ou officio, ou do Senhor da terra pera que rezoadamente viva e more no tall lugar, ou se no taal lugar algu ~ e for feicto livre de servydam em que era posto, ou seja hy perfilhado por alg~ uu hy morador, e o perfilhamento por nos confirmado, ou se tever hy seu domicilio ou amayor parte de seus b ~ ees cõ proposito de ali morar. E o dicto domicilio se entendera onde cada h ~ uu casar em quanto hy morar. E mudandosse a outra parte cõ sua molher e fazenda cõ teençam de se pera laa mudar tornandose hy despois nam sera avido por vizinho, salvo morando hy quatro anos cõtinoamente com sua molher e fazenda. E entam sera avido por vizinho. E assy o será quem vier cõ sua molher e fazenda viver alg ~ uu outro lugar estando nelle os dictos quatro anos. E aalem dos dictos casos nam sera nengu~ e avido por vizinho dalg~ uu lugar pera gouvir da liberdade delle pera a dicta portagem. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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E as pessoas dos dictos lugares privilegiados nam tiraram mays o trellado de seu privilegio n ~ e o trazeram soomente traram certidam feyta pello escrivam da câmara e cõ ho sello do concelho como sam vezinhos daquelle lugar. E posto que aja duvyda nas dictas certidões se sam verdadeyras ou daquelles que as apresentam, poderlhes ham sobrisso dar juramento sem ho mais deterem posto que se diga que nã sam verdadeyras. E se despois se provar q eram falsas, perdera o escrivam que a fez o officio e degradado dous anos pera Cepta, e a parte perdera em dobro as cousas de que assy enganou e sonegou a portag~ e a metade pera a nossa camara e a outra pera a dicta portagem. Dos quaees privilegios usaram as pessoas nelles conthyudas pellas dictas certidões posto que nam vãa com suas mercadorias n~ e mandem suas procurações, cõ tanto que aquellas pessoas que as levarem jur ~ e que a dicta certidam he verdadeira. E que as taaes mercadorias sam daquelles cuja he a certidam que apresentaram. Pena do foral – E qualquer pessoa que for contra este nosso foral levando mays direitos dos aquy nomeados, ou levando destes mayores contias das aquy decraradas, o avemos por degradado por h~ uu anno fora da ~ ~ villa e termo. E mais pague de cadea trinta rrs por huu de todo o que assy mais levar pera a parte a q os levou. E se o nõ quiser levar seja a metade pera quem o acusar, e a outra pera os cativos. E damos poder a qualquer justiça onde acontecer assy juizes como vintaneyros ou quadrilheyros que sem mais processo n~ e ordem de juizo, sumariam~ ete sabida a verdade ~ cond epne os culpados no dicto caso de degredo, e assy do dinheiro atee ~ sem apellaçam ne~ agravo. E sem disso poder conhecontya de dous mil rrs çer almoxerife n~ e contador n~ e outro oficial nosso n~ e de nossa fazeoda ê caso que o hy haja. E se o Senhorio dos dictos direitos o dicto foral quebrantar por sy ou por outrem seia logo sospenso delles e da jurdiçam do dicto lugar se a tever enquanto nossa merce for. E mais as pessoas que em seu nome ou por elle ho fezer~ e encorrerã nas dictas penas. E os almoxerifes, escripvães e officiaees dos dictos direitos que o assy nam cõprire~perderam logo os dictos officios e nã averã mais outros. E portanto mandamos q todallas cousas conthyudas neste foral que nos poemos por ley se c~ upram pera sempre. Do theor do quall mandamos fazer tres, h~ uu delles pera a camara da dicta villa, e outro pera o Senhorio dos dictos direitos, e o outro pera a nossa Torre do Tombo pera entodo o tempo se poder tirar qualquer duvida que sobre ysso possa sobre vyr. Dada na nossa muy nobre e sempre leal cidade de Lixboa a quatro de Mayo anno do nacimento de nosso Senhor Ih~ u Xpo de mil e quynhentos e doze. E eu Fernam de Pyna o fiz fazer e conçertey em treze folhas com esta. El-Rey. foral pera Pena Royas». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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PEREIRA (Abraão Israel), judeu português nascido em Madrid, mas de pais naturais de Vila Flor. Tomo V, pág. XCIII. À bibliografia aí apontada, acrescentar mais: Discursos legales sobre la verdade de la Lei. Ficou manuscrito. PEREIRA (Jacob Rodrigues) – Tomo V, pág. XCVIII. De uma carta que, em Novembro de 1934, me escreveu o distinto investigador Doutor Eugénio da Cunha e Freitas extraio o seguinte: «Cardoso de Bettencourt, num artigo há meses publicado no Diário de Notícias (1842), baseando-se em documentos da família Pereira, de Paris, diz ter Jacob Rodrigues Pereira nascido na Berlanga, Espanha, e ser filho de João Rodrigues Dias e de sua mulher Leonor Henriques Pereira, judeus de Chacim, que em 1697 ou 1698 foram fixar residência naquela povoação. Encontrei na Torre do Tombo alguns processos, que não só permitem ampliar as informações do Sr. Cardoso de Bettencourt, como até rectificá-las em certos pontos. No ano de 1700 foi presa pelo Santo Ofício de Coimbra Branca Henriques do Vale, cristã-nova de Chacim, de cinquenta e quatro anos, mulher de Manuel Rodrigues Pereira, cristão-novo, natural de Vila Flor, também preso pela mesma Inquisição. O processo de Branca Henriques tem o n.° 70 105 e o do marido o n.° 687. Eram estes dois judeus os pais de Leonor Henriques Pereira e avós maternos de Jacob Rodrigues Pereira (inventor do alfabeto dos surdos-mudos). No processo de Branca Henriques aparece uma certidão extraída do processo de seu genro João Lopes Dias (o Sr. Cardoso de Bettencourt chama-lhe João Rodrigues Dias), casado com a citada Leonor Henriques, e ambos presos na Inquisição de Sevilha. Desta certidão e de outros pontos do processo de Branca Henriques conclui-se o seguinte: JOÃO LOPES D IAS , cristão-novo, de vinte e cinco anos, natural de Mirandela, de alcunha o Castilho, e sua mulher Leonor Henriques Pereira e duas filhas menores de três anos, Branca e Mariana, saíram de Chacim para Lisboa, onde embarcaram com destino a Génova; estando, porém, o barco surto no porto de Cádis, a 16 de Abril de 1699, João Lopes Dias e sua mulher, juntamente com outros cristãos-novos, foram presos à ordem da Inquisição de Sevilha e levados para esta cidade. A 25 de Maio do mesmo ano deram entrada nos cárceres do Santo Ofício João Lopes Dias “en la nombrada S. Anna”. Logo dois dias depois, a 27, (1842) De 16 de Maio de 1933.
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pediu João Lopes Dias audiência aos Inquisidores, e aí espontaneamente denunciou várias pessoas, entre as quais sua sogra. Quanto tempo estiveram presos não sei. Mas é de crer que em breve fossem soltos, e fixassem então residência em Berlanga. Do processo de Sebastião Rodrigues Pereira, processo n.° 7635, irmão de Leonor Henriques, consta que em 1704 estavam os pais de Pereira presos na Inquisição de Lherena. Dos processos citados extraí as árvores genealógicas que se seguem referentes à família materna do inventor do alfabeto dos surdos-mudos. A paterna será decerto fácil de encontrar, procurando nos livros paroquiais de Chacim o casamento de João Lopes Dias com Leonor Henriques Pereira». Família de Manuel Rodrigues Pereira, avô materno de Jacob Rodrigues Pereira, inventor do alfabeto dos surdos-mudos I – FRANCISCO PEREIRA, casado com Leonor Lopes, de Vila Flor, presa pelo Santo Ofício de Coimbra em 1664 (processo n.° 6282). Tiveram: A 1.° – Manuel Rodrigues Pereira, que segue. A 2.° – Diogo Pereira, soldado, morador em Chaves, casado com Maria de Gamboa. Tiveram: B 1.° – Francisco Pereira, soldado-infante. B 2.° – Duarte. B 3.° – Luís. B 4.° – Branca. Todos solteiros em 1704. A 3.° – Duarte Lopes, já falecido em 1704, mercador, morador em Mirandela, casado com Violante Gomes, sem geração e segunda vez com Francisca Henriques. Tiveram: B 1.° – Francisco Pereira Brandão, ausente de Portugal em 1704, casado com Maria Pereira. B 2.° – D. Leonor, vivia em Lisboa em 1704 casada com Francisco da Fonseca, médico, de quem teve sete ou oito filhos. Seria este o célebre médico de D. João V, Francisco da Fonseca Henriques? Seria interessante averiguar (1843). (1843) Parece que sim, porque a mulher desse médico chamava-se D. Leonor Pereira, também dita D. Leonor Pereira de Mesquita, que faleceu a 7 de Agosto de 1718 e teve do médico um filho e cinco filhas ainda vivas em 1730 e mais dois filhos já falecidos, segundo consta do testamento do mesmo médico feito em 1730 e existente na Torre do Tombo, livro 197, fóls. 201 e 202, encontrado pelo erudito investigador Padre Ernesto Augusto Pereira Sales, transcrito no vol. IV, fól. 98, da sua monografia manuscrita Gente de Mirandela, depositada no Museu de Bragança. (Nota do autor).
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A 4.° – Maria Pereira, casada com Gaspar Lopes. Em 1704 estavam ausentes de Portugal. Tiveram: B 1.° – Francisco Pereira, mercador em Molelos, casado. B 2.° – Lopo Pereira. B 3.° – Duarte Lopes. Em 1704 eram ainda solteiros. B 4.° – António Pereira. B 5.° – João Lopes, mercador em Viseu, casado com uma filha de Francisco Rodrigues.
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B 6.° – Branca Carlos moradora em Lebução, casada com José Rodrigues da Fonseca, médico. A 5.° – Violante Pereira, já falecida em 1704, moradora em Chacim, casada com Manuel Pereira de Mesquita. Tiveram: B 1.° – Jorge. B 2.° – Francisco. Solteiros em 1704. B 3.° – Leonor. B 4.° – Teresa. B 5.° – Brites, que nesse ano de 1704 estava esposada com Pero Alves, de Rebordelo.
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A 6.° – Branca Carlos, já falecida em 1669. Foi casada com José de Gamboa, mercador, sem geração. II – Manuel Rodrigues Pereira, tratante, nascido em Vila Flor cerca de 1648, foi preso pela Inquisição a primeira vez em 1669, sendo ainda solteiro, e a segunda, com sua mulher, em 1700 (1844). Vivia com sua mulher Branca Henriques do Vale (1845), filha de Manuel do Vale e de Leonor Henriques, numas casas que ela tinha na rua Direita de Chacim. Tiveram: B 1.° – Sebastião Rodrigues Pereira (1846), vivia em Chacim em 8 de Fevereiro de 1686, solteiro, sem ofício. Preso pela Inquisição a 15 de Dezembro de 1704 (processo n.° 7635). B 2.° – Francisco Pereira, estudante em Salamanca em 1704. B 3.° – Duarte Lopes Pereira, solteiro, estudante de filosofia em Salamanca em 1704. B 4.° – Isabel Henriques Pereira, solteira. B 5.° – Luís Henriques, ausente em Castela em 1704. (1844) Ver tomo V destas Memórias, n.° 1575. (1845) Ibidem, n.° 983. (1846) Ibidem, n.° 955.
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B 6.° – Branca Henriques Pereira, solteira. B 7.° – Leonor Henriques Pereira, «que está ausente em Castela, casada com João Lopes Dias, o Castilho, de quem tem: Mariana e Branca, que ainda são solteiras» (processo de Sebastião Rodrigues Pereira), pais de Jacob Rodrigues Pereira, inventor do alfabeto dos surdos-mudos. Família de Branca Henriques do Vale, avó materna de Jacob Rodrigues Pereira, inventor do alfabeto dos surdos-mudos I – LUÍS DO VALE , mercador, e sua mulher Leonor Dias, ambos de Vinhais, tiveram: A 1.° – Pedro do Vale, casado com Filipa Nunes. Foi mercador, natural e morador em Vinhais, já falecidos em 1700. Tiveram: B 1.° – Duarte do Vale, mercador, solteiro, morador em Vinhais. B 2.° – Manuel do Vale, idem. Foi também torcedor de seda e tinha trinta anos em 1700. B 3.° – Branca do Vale, casada com Pedro de Vilalão, torcedor de seda, de Bragança. Com geração. B 4.° – Guiomar do Vale, casada com Luís Lopes, nascidos e moradores em Vinhais. B 5.° – Maria. B 6.° – Catarina. Solteiras em 1700. B 7.° – Isabel.
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A 2.° – Duarte do Vale: mercador, morreu solteiro, de peste, no reino de Castela. A 3.° – António do Vale, já falecido em 1700. Casou com Violante Henriques, irmã de sua cunhada Leonor Henriques, abaixo citada. Tiveram: B 1.° – Luís do Vale, mercador. Morreu solteiro antes de 1700. B 2.° – Branca Henriques. Em 1700 era viúva de Vasco Gomes, mercador, de Vila Flor, com geração. B 3.° – Leonor Henriques, casada com Manuel Pereira de Mesquita, ourives de prata, natural de Vila Flor, morador em Chacim, sem geração. A 4.° – Domingos do Vale, mercador, natural de Vinhais. Morreu solteiro, sem geração, antes de 1700. A 5.° – Filipa do Vale, já falecida em 1700. Viveu em Vinhais casada com Luís do Vale, mercador. Tiveram: MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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B 1.° – Maria do Vale, casada com António Lopes, mercador, de Chacim, pais de Filipa e Guiomar do Vale. B 2.° – Isabel do Vale, já falecida em 1700, casada com Manuel Francisco, tendeiro. Viveram em Chacim. Tiveram: C 1.° – Luís do Vale, ausente. C 2.° – Filipa do Vale, falecida antes de 1700, sendo já casada. A 6.° – Catarina do Vale, casada com João de Leão, sem geração. Nasceu em Vinhais e viveu em Chacim. A 7.° – Manuel do Vale, que segue sob n.° II. II – Manuel do Vale, mercador, natural de Vinhais. Casou a primeira vez com Leonor Henriques, já falecida em 1700, natural de Vila Flor. Tiveram: B 1.° – Isabel Henriques do Vale, que casou a primeira vez com Francisco Cardoso Nunes, mercador, de Chacim. Tiveram: C 1.° – Diogo. C 2.° – Manuel. Solteiros em 1704. C 3.° – Leonor. Casou segunda vez com Jerónimo Pereira Pacheco e tiveram: C 4.° – Angélica. C 5.° – Bernardina. Solteiros em 1704. C 6.° – Branca.
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B 2.° – Branca Henriques, mulher de Manuel Rodrigues Pereira e avó de Jacob Rodrigues Pereira, inventor do alfabeto dos surdos-mudos. Manuel do Vale casou segunda vez com...... e tiveram: B 3.° – Luís do Vale Redondo, casado em Madrid. Termina aqui o longo extracto genealógico, copiado ipsis verbis da carta do meu erudito amigo Doutor Eugénio da Cunha e Freitas, que acrescenta ainda: «São estes os apontamentos que tenho sobre a família de Jacob Rodrigues Pereira. Com tempo e paciência, estou convencido que não seria difícil encontrar mais coisas. Seria sobretudo interessante conhecer a família paterna: se V. nos livros paroquiais de Chacim encontrar alguma coisa sobre ela, fico à sua disposição para procurar desenvolvê-la». Quantas pesquisas eu tinha feito nos livros do registo paroquial de Chacim à cata de Jacob Rodrigues Pereira, e quantas mais hei realizado pelos demais do distrito de Bragança com mira a outros judeus célebres, mas sem nada conseguir, porque, como adverti no tomo V, págs. CI e CII, e se colhe MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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da mudança de nomes de Aarão Levita (1847), Abraão Israel Pereira (1848), Isaac Oróbio de Castro (1849), Jacob de Castro Sarmento (1850) e outros, os judeus iam à igreja baptizar-se apenas para efeitos civis e desviar suspeitas, tomando, a ocultas, na sinagoga, um nome israelita, que tinham como único próprio, quando no estrangeiro se viam livres das perseguições inquisitoriais, por isso, nem o nome de Jacob Rodrigues Pereira, nem o de seus pais Abraão Rodrigues Pereira e Abigail Ribea Rodrigues, tipicamente judaicos, aparecem nos livros do registo paroquial de Chacim. O artigo de Cardoso de Bettencourt, no Diário de Notícias de 16 de Maio de 1933, e a carta do Doutor Eugénio da Cunha e Freitas atrás transcrita, dizendo que os pais de Jacob Rodrigues Pereira tinham os nomes cristãos de João Lopes Dias (Cardoso de Bettencourt diz João Rodrigues Dias) e Leonor Henriques Pereira, abriu-me nova pista; com ela voltei ao assunto e achei: JOÃO LOPES (só este nome e não indica os dos pais) e Leonor Henriques (só este nome), filha de Manuel Rodrigues do Vale e de sua mulher (não menciona o nome desta, mas pelo assento da filha Leonor, abaixo mencionado, vê-se que se chamava Branca do Vale) casaram em Chacim, hoje concelho de Macedo de Cavaleiros, a 18 de Maio de 1690 (1851). LEONOR (só este nome), filha de Manuel Rodrigues (só este nome) e de Branca do Vale, fregueses de Chacim, nasceu a 28 de Março de 1676 (1852). BRANCA (só este nome) filha de João de Castilho e de Leonor Henriques (só este nome) foi baptizada em Chacim a 5 de Janeiro de 1698 (1853). Não indica a data do nascimento, mas como então se costumavam realizar os baptizados dentro de oito dias após o nascimento, pode supor-se que assim sucedesse com este. Este João de Castilho deve ser o João Lopes acima mencionado, que será o João Lopes Dias, natural de Mirandela, de alcunha o Castilho, como diz no princípio da sua carta atrás transcrita o Doutor Eugénio da Cunha e Freitas, onde também indica a filha Branca, que deve ser esta acima. Da
(1847) Tomo V, p. XCII, destas Memórias. (1848) Ibidem, p. XCIII. (1849) Ibidem, p. XCIV. (1850) Ibidem, p. CV. (1851) Livro dos casados de Chacim, fólio 63 v. Os livros, do registo paroquial de Chacim alcançam até ao ano de 1570, mas não são os originais, pois em 1763 mandaram-se «trasladar os assentos dos livros findos da vila de Chacim», segundo se lê na costaneira dos mesmos. Esta cópia abrange os anos de 1570 até 1763. (1852) Livros dos baptizados de Chacim, fól. 100 v. (1853) Ibidem, fól. 133.
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outra filha Mariana não encontrámos o assento de baptismo, ou porquanto nasceu em Chacim, ou porque lho omitiram. Examinámos com atenção os livros do registo paroquial de Chacim e nenhum outro assento apareceu que possa convir aos pais de Jacob Rodrigues Pereira. Cardoso de Bettencourt, contestando a opinião dos que afirmam ter Jacob Rodrigues Pereira nascido em Peniche (Portugal) (1854), escreve: «Os documentos conservados no arquivo da família Pereira, em Paris, assim como os que a gente pode ver em Bordéus provam, sem contestação possível, que Jacob Pereira não é filho de Peniche». A verdade é que nasceu em Berlanga (Andaluzia), aos 11 de Abril de 1715, filho de João Rodrigues Dias, tendeiro, falecido de «hum accidente, sem sacramentos» em 23 de Fevereiro de 1735, na freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem, da Moita, e de Leonor Henriques Pereira (Livro dos Óbitos, n.° 2, fól. 117). Ambos saíram de Chacim (Bragança), em 1697 ou 1698, para Berlanga, perto de Llerena, comarca então muito frequentada pelos portugueses de origem judaica. «Daí os Pereiras voltaram para Portugal, onde a família demorou até 1741, ano em que a viúva e os seus filhos vieram, por conveniências pessoais, juntar-se com Jacob Pereira em França. Em Portugal e Espanha faziam figura de bons cristãos. Eram todos baptizados, como diz David Pereira, numa epístola poética dirigida ao seu irmão Jacob, e não consta de documento (pelo menos até agora) que eles fossem individualmente perseguidos pela Inquisição» (1855). Quando puderam fazê-lo no estrangeiro, tornaram-se abertamente judeus. Ao pai atribuíram, post mortem, o nome de Abraão, a mãe passou de Leonor a ser chamada Abigail Ribea (e não Riboa) e o filho, abandonando os nomes cristãos Francisco António e afrancesando o apelido assinou-se Jacob Pereira. Quando souberam em Lisboa que o célebre Jacob Pereira era português, procuraram a terra em que podia ter nascido, terra cujo nome correspondesse mais ou menos com Berlenga e descobriam as Berlengas, que pertencem ao município de Peniche... No cemitério judaico de cours de la Marne em Bordéus, copiei, em Maio de 1892, o seguinte epitáfio, cujas abreviaturas resolvo e que diz respeito à mãe do nosso Jacob Pereira:
(1854) No tomo V, p. CI, destas Memórias mostrámos que não nasceu em Peniche. (1855) Depois encontraram-se as provas de que foram perseguidos como fica apontado atrás.
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Sepultura de la bien aventurada Abigail Ribea Rodrigues Pereyra. Falecio a 5 de Kisler año 5512. Corresponde a 18 de Noviembre 1751. No cemitério parisiense de Montmartre (concession 340-1875), lê-se na sepultura do promotor em França de desmutização dos surdosmudos: Jacob Rodrigues Pereire, premier instituteur des sourds-muets en France, agent de la Nation Juive Portugaise de Bordeaux et de Bayonne, membre de la Société Royale de Londres, interprète et pensionnaire du Roy, nê à Berlanga, Espagne, 11 Avril 1715, décédé à Paris, 15 Setembre 1780. No livro dos óbitos da Nation Portugaise (Arquivo municipal de Bordeus, GG. 790, n.° 1859), achamos a seguinte menção que traduzo: Hoje, 17 de Março de 1791, foi inumada, no cemitério dos judeus de Bordéus, Miriam Lopes Dias, de idade de 44 anos, mais ou menos... viúva do célebre e incomparável Jacob Rodrigues Pereira, nascido em Berlanga, em Espanha, aos 11 de Abril de 1715... (falecido) em Paris, aos 15 de Setembro de 1780. Se o judeu português Jacob Rodrigues Pereira merece que lhe ergam um monumento na terra de seus pais (o que seria justo), há-de ser em Chacim ou em Bragança, mas não em Peniche» (1856). O nosso amigo e distinto investigador Eduardo Montes, empregado da agência do Banco de Portugal no Porto, ao tempo, teve a gentileza de nos oferecer, em Junho de 1933, por intermédio do comum amigo José Montanha, uma cópia autêntica do assento original de baptismo de Jacob Rodrigues Pereira acompanhada da respectiva fotografia, para maior confirmação. Diz este documento: «Don Ricardo Gonzalez Jiménez, cura proprio de la Parroquia de nuestra Señora de Gracia de Berlanga (Badajoz) Certifico que en el libro octavo de Bautismos folio ciento noventa y siete se encoentra la seguiente Partida = Francisco Antonio = En la villa de Berlanga en ocho dias del mes de mayo de mil setecientos quince años, yo D. r Juan de Leon cura proprio de la parroquial desta villa Baptice a Fran.co Antonio, hijo de Juan Lopez Dias y Leonor Enriquez su mujer, vecinos de esta villa, y naturales de la villa de Mirandela Reino de Portugal, fué su padrino Don Fran.co de la Vega Ciudad, caballero del avito de Christo y Alferez del Reximiento de (1856) B ETTENCOURT, Cardoso de, «Diário de Notícias» de 16 de Maio de 1933. Em o livro intitulado Jacob Rodrigues Pereire – Notice sur sa vie et ses travaux... par Eduard Seguin, Paris, 1847, p. 187, vem transcrito o epitáfio que diz ter sido gravado sobre a campa sepulcral de Pereira, no cemitério dos Judeus em La Villete (Paris). É do teor seguinte: S.A / del B. A. Jacob Rodrigues Pereire, primer / Motor y Fundator de este pio lugar /. Que lleno de virtudes y colmado / de honores siendo Secretário / interprete de el Rey y su / pensionario de la Sociedade / Real de Londres, agente de su / Nation Judia Portuguesa de / Bordeus y de Bayona, defensor zeloso / activo y vigilante de sus / privilégios e bien hechor de / todos sus hermanos. Fallecio / al 5 de Elut 5540 que corresponde / al 15 Setembro 1780 / Descanse em paz.
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Carnatal á quien avise el parentesco espiritual. Siendo testigos el Licenciado Juan Ortiz Bernardo, pb.ro, Licenciado Benito Gonzalez de la Vaguera, presbitero y Manuel Fonseca, todos vecinos de esta villa y lo firme. = Don Juan de Leon. Es copia exacta del original al que me remeto siendo lo suscrevido copiado letra a letra. Berlanga, a siete de Junio de mil novecientos trinta. Ricardo Gonzalez Jimenez». Este documento tem no alto e ao lado o selo da paróquia de Berlanga. Na carta de 30 de Maio de 1930, que o pároco de Berlanga dirigiu ao investigador Eduardo Montes, ao remeter-lhe a certidão diz: «En contestacion a su attenta del 25 del corriente le envio copia de la partida [assento do registo paroquial] que mas se aproxima por los datos que me dá». Também o amigo Eduardo Montes nos forneceu mais a seguinte cópia autêntica do assento de óbito do pai de Jacob Rodrigues Pereira: À margem: «Mouta João Rodrigues Diaz marido de Leonor Henriques Pereira moradora em Aseitão». No texto: «Aos vinte e tres dias do mes de Fevereiro de mil e setecentos e trinta e sinco annos foi sepultado João Rodriguez Dias tendeiro na freguesia de nossa Senhora da boa viagem falecido de h ~ u accidente sem Sacramentos e para constar fiz este assento dia era ut supra. O Vigário, Lucas Ferreira de Gouvea» (1857). Quanto às divergências nos documentos, convém observar: a família de Jacob Rodrigues Pereira diz que ele nasceu a 11 de Abril de 1715 e a certidão de baptismo não menciona a data do nascimento, mas somente a do baptizado a 8 de Maio de 1715. Ora, a lei canónica, embora recomende que os baptizados se façam dentro do oitavário natal, tolera a demora por um mês: portanto, bem pode ter nascido a 11 de Abril, sem objecção sólida por este lado. É para lamentar a tacanhez de vistas de alguns católicos, não digo bem, de alguns da católica, que não fazem caso do nascimento temporal e apenas olham ao espiritual, ou seja ao baptismo, por marcar para a vida eterna, como se o homem não fosse um composto de alma e corpo e pudessem esquecer-se as exigências deste. A divergência nos apelidos João Lopes, João Lopes Dias, João Rodrigues Dias e nos mais nomes da família, não deve obstar, porque é frequentíssima tanto nos assentos do registo paroquial como nos documen(1857) Livro dos óbitos de Moita, de 1717 a 1735, fólio 117.
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tos civis e nos tratados genealógicos, quer impressos quer manuscritos. Ainda hoje vemos na mesma família os irmãos adoptarem apelidos diversos, rebuscados nos avoengos paternos ou maternos, e deles há que vão acrescentando de ano para ano, como sedimento de concreção, apelidos e apelidos ao nome oficial constante do respectivo registo, único documento que faz fé, chegando a albardar-se com sete e oito apendículos nominais, que tornam impossível sua individualização, deixando apenas bem evidente a tara fidalgo-maníaca. Do exposto, julgo poder concluir-se: que Jacob Rodrigues Pereira, inventor do alfabeto dos surdos-mudos, nasceu em Berlanga, província de Badajoz, em Espanha, a 15 de Abril de 1715; que seu pai era natural de Mirandela e sua mãe de Chacim, onde casaram a 18 de Maio de 1690, tudo no distrito de Bragança, tendo família nesta cidade; que houve no baptismo o nome cristão de Francisco António; que era filho de João Lopes Dias e de Leonor Henriques. Quanto a dizer a certidão de baptismo que seus pais eram naturais de Mirandela, deve entender-se só relativamente ao pai, João Lopes, de alcunha o Castilho, como se diz no processo de Inquisição, citado no princípio deste estudo, e na certidão de baptismo da filha Branca, atrás junta por extracto, tirada dos livros do registo paroquial de Chacim. Ainda fiz pesquisas nos livros do registo paroquial de Mirandela à cata do assento de baptismo de João Lopes, apesar de, por falta dos nomes dos pais, ser como buscar agulha em palheiro, mas nada achei. É certo que apareceu um João Lopes, filho de Diogo Lopes e de Isabel Rodrigues, que casou com Leonor de Oliveira, filha de Domingos Lopes e de Maria de Oliveira, todos de Mirandela, a 19 de Abril de 1679. Tiveram os seguintes filhos todos nascidos em Mirandela. Manuel, nascido a 24 de Novembro de 1680; Isabel, nascida a 21 de Janeiro de 1684; Maria, nascida a 28 de Setembro de 1686; Manuel, nascido a 1 de Fevereiro de 1688; Brites, nascida a 26 de Agosto de 1690; Francisco, nascido a 9 de Dezembro de 1692. Ainda encontrei uma Maria, filha de João Lopes, mas não indica o nome da mãe, nascida a 28 de Fevereiro de 1696. Ignoro se será irmã dos precedentes. Continuei as pesquisas até 1709, mas não achei mais. Também vi os livros dos óbitos desde 1717 a 1732 e nada encontrei relativo ao destino desta família. Desde 1696 a 1717 não achei o livro dos óbitos. Em todos os assentos supra, referentes a João Lopes, marido de Leonor de Oliveira e filhos, mantêm-se sempre os mesmos nomes e apelidos e em alguns dão ao pai o título de mercador. Parece, pois, que este casal não deve ser o progenitor de Jacob Rodrigues Pereira, já pela constância do apelido Oliveira, já pela fraca probabilidade de uma mulher casada em 1679, começando a ter filhos no ano seguinte, ainda ser parturiente em 1715, com mais de cinquenta e um anos, segundo se pode presumir. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
PEREIRA
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PESSANHA
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PINHOVELO
805 TOMO X
P EREIRA (José Manuel Martins), tomo VII, pág. 384. Era natural da Vila dos Sinos, concelho do Mogadouro, como ele declara e, provavelmente, aí casou, pois D. Maria Eugénia Gonçalves, avó de sua mulher, aí vivia (1858). PESSANHA (João Manuel de Almeida Morais), presbítero, capelão militar. Tomo VI, pág. 383, tomo VII, pág. 388. Natural das Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, filho de Domingos António Pessanha, das Arcas, e de D. Felicidade Perpétua de Morais Castro, natural da Ferradosa, concelho de Mirandela; neto paterno de avô incógnito e de Maria Joaquina, natural de Mirandela e materno de António de Castro e de Rosa da Cunha, da Ferradosa, requereu em 1864 habilitação de genere para se ordenar. Processo em 1864 com as seguintes certidões de que dou extracto: ROSA DE S ANTA M ARIA (sic. É a avó materna do habilitando que ele designou por Rosa da Cunha), filha de João Manuel Gonçalves, natural da Ferradosa, freguesia da Fradizela, concelho de Mirandela, e de Caetana da Cunha, natural de Veiga de Lila, terra de Chaves; neta paterna de Tomé Gonçalves, da Ferradosa, e de Joana Gonçalves, natural de Cadouço, anexa de Canaveses, terra de Chaves, e materna de António da Cunha e de Maria José, ambos de Veiga de Lila, nasceu na Ferradosa a 1 de Novembro de 1784. D. FELICIDADE PERPÉTUA, filha de António de Castro e de Rosa da Cunha, ambos da Ferradosa, nasceu a 9 de Janeiro de 1821. Neta paterna de Manuel de Castro e de Angélica de Morais, ambos da Ferradosa, e materna de João Manuel, da Ferradosa, e de Caetana da Cunha, de Veiga de Lila. DOMINGOS ANTÓNIO (só este nome), pai do habilitando, filho natural de Maria Joaquina e de pai incógnito; neto materno de Francisco Manuel e de Ana Joaquina, naturais de Mirandela, nasceu a 23 de Agosto de 1793 e foi baptizado em Paçó de Vinhais no referido mês e ano (1859). PINHOVELO – No tomo IX, pág. 74, destas Memórias, demos conta de uma lápide funerária romana existente debaixo da soleira da porta da sacristia da igreja de Pinhovelo, vinda, provavelmente, do sítio chamado Terronha, onde apareceram outras indicadas nessa página. Esta da porta da sacristia está tapada pela parede, vendo-se apenas a suástica e a legenda CALVI que indicará Calvo, Calvino ou Calvina, nomes já conhecidos na epigrafia bragançana (1860). (1858) As Terras de Entre Sabor e Douro, p. 95. (1859) Processo existente no arquivo da Câmara Eclesiástica, em Bragança. (1860) Ver tomo IX, p. 190 e 459, destas Memórias.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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PINHOVELO
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PINTO COELHO DE ATAÍDE | PINTO
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PINTURA, ESCULTURA, GRAFIA E TALHA
TOMO X
Da outra lápide que indico na mesma pág. 74, existente na casa de Aniceto Máximo, de Pinhovelo, que continha as letras num quadrilátero rebaixado na pedra, já nada se percebe da legenda por gasta. Ambos estes monumentos são de granito. Quando por ali excursionei em Setembro de 1910 disseram-me que em tempos aparecera na Terronha outra lápide com estes dizeres: Adeus, querida filha, Cem anos solteira, Cem anos viúva E cem anos casada Ó que vida tão malograda!
Noutras terras bragançanas temos encontrado lendas de longevidade pelo teor desta, mais ou menos; todavia os milhares e milhares de textos funerários conhecidos, mostram que a duração da vida humana de há mil anos regulava, em média, pela de hoje. PINTO COELHO DE ATAÍDE (D. Arminda), oriunda da Moimenta, concelho de Vinhais. Tomo VI, págs. 125 e 290. Faleceu em Bragança em Julho de 1932, onde ela e sua irmã D. Ermelinda vieram fixar residência, vendendo, por último, quanto tinham na Moimenta por duzentos e quarenta contos a uma filha do morgado de Alfaião, que casara na família Sarmento, da Moimenta. O casal vendido abrangia as melhores propriedades da Moimenta, bem como casa brasonada e capela adjunta e anos antes teria dado o dobro do dinheiro. PINTO (Manuel de Jesus) – Nasceu na Lousa, concelho de Moncorvo. Nenhuns outros dados biográficos pude apurar, não obstante as diligências que empreguei. Publicou: O Convite (novela africana). Tipografia Vouga. Sá da Bandeira (Angola). 1936. 8.° de 224 págs. Na costaneira deste livro anuncia mais os seguintes do mesmo autor: No País nas Fragas. 1929. Ramo de Cantigas (quadras). 1932. Nimbos da Serra (poesias). 1932.
PINTURA, ESCULTURA, GRAFIA E TALHA – Nos tomos III e IV, onde publicámos vários forais manuelinos, demos notícia das iluminuras que os adornam, e na pág. 645 do mesmo tomo IV de outros códices belamente iluminados existentes no distrito de Bragança. Também neste tomo pág. 48 e seguintes apontámos outros monumentos de arte gráfica que supomos ilustrados por calígrafos bragançanos. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
PINTURA, ESCULTURA, GRAFIA E TALHA
807 TOMO X
No tomo IX, pág. 16, mostrámos o alto apreço ligado à arte pelos bragançanos. Ver adiante o artigo Suçães. No tomo VII, págs. 1, 2, 23, 54, 87, 137, 140, 168, 175, 179, 182, 183, 206, 212, 213, 214, 215, 250, 276, 279, 291, 298, 333, 348, 365, 372, 381, 408, 406, 429, 530, 558, 588, 590 e 623 mencionámos artistas indicando os trabalhos por eles realizados no distrito de Bragança. Na pág. 289 deste tomo dissemos que há no distrito de Bragança caixotins pintados com assuntos hagiológicos nos tectos e retábulos dos altares das igrejas de Avantos, Aveleda, Bragança (São Bento e Santa Clara), Gimonde, Lamalonga, Marzagão (1861), Meixedo, Vale Benfeito e Varge. Algumas destas pinturas têm somenos importância artística, mas não deixam de ser aproveitáveis como documentação histórica e, por isso, muito conviria que fossem estudadas e divulgadas. Aos lados do altar-mor da igreja paroquial de Sacoias há quatro painéis de real valor, divididos por artísticas e altas molduras de meandros, em que se destacam São Pedro, São Paulo e passos da vida de Cristo. São Pedro é notável por apresentar apenas o busto, coisa rara na pintura portuguesa (1862) e pela psicologia da fácies. A cabeça, paralelogrâmica, distendendo-se no sentido do mento e o occipude, com topete no alto da testa e barbichas queixais crespas, rifenhas, inculcando está a dureza da pedra de onde deriva o nome do seu portador. Na mão, à altura dos olhos, levanta as iconográficas chaves, mirando-as como claviculário senhoril através do seu prognatismo decidido, a indicar que só se movem para quem o merecer. Nos intercolúnios do altar-mor da igreja paroquial de Varge, freguesia de Aveleda, concelho de Bragança, há também tábuas pintadas e, numa delas, uma figura assombrosamente parecida ao homem no célebre quadro em que Giorgione representou a Santa Família (1863). O mesmo se diz de certas esculturas de santos, como o São Sebastião da capela deste nome em Aveleda e do da capela de Nossa Senhora da Ponte em França, concelho de Bragança, verdadeiras obras de arte, que parecem inspiradas no Apolo do Belvedére (1864). Igualmente lembro alguns frontais de altares existentes em várias igrejas do distrito de Bragança, formados de tábuas ornadas por talha barroca e renascença. Abundam estes frontais no concelho de Carrazeda de Ansiães, dos quais vi três na igreja paroquial de Marzagão e outro em Vinhais, na igreja (1861) Ver artigo «Magalhães» (António de Sousa Pinto de), p. 727. (1862) SANTOS, Luís Reis dos, Portucale, (1936), p. 10. (1863) Comparar com a fotogravura da p. 20 na Arte da Renascença, colecção «Biblioteca de Instrução Profissional». (1864) Comparar, idem Arte Antiga, p. 59.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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PINTURA, ESCULTURA, GRAFIA E TALHA
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PISSARRO
TOMO X
do antigo convento de São Francisco, agora ocupada pelo Pequeno Seminário Diocesano. E, já que falo neste seminário, devo lembrar que na sala de estudo vi um crucifixo de feição jansenista, caracterizado pela elevação dos braços em ângulo agudo, para indicar que não morreu por todos os homens, mas somente pelos predestinados, segundo entenderam deduzir dos versículos 22 e 24 do capítulo 24 de São Mateus. Na capela da Senhora das Dores, contígua à igreja do mesmo convento, há um crucifixo com o tronco do corpo a desviar-se da cruz, que lembra o Cristo de Berruguete no Museu de Belas-Artes de Valladolid, e da mesma forma parece querer fugir da cruz, em alusão ao texto: «Pai, se é possível, desviai de mim este cálix» (1865). Possivelmente, temos aqui a influência, senão manufactura castelhana, de que falámos nos tomos II, pág. 162, IV, pág. 523, e VIII, pág. XII. PISSARRO (Henrique José Gabriel Rodrigues) – Capitão, natural de Bragança, filho de Rafael Rodrigues Gabriel e de Maria Nunes da Conceição; neto paterno de António Rodrigues Gabriel e de Isabel Rodrigues e materno de Lourenço Rodrigues Álvares Pissarro e de Brites Nunes, teve carta de brasão de armas a 25 de Abril de 1776: partido em pala, Rodrigues e Pissarros (1866). P ISSARRO (Rafael José da Costa Gabriel), filho do capitão Henrique José Gabriel Pissarro e de D. Isabel Brites Rosa; neto paterno de Rafael Rodrigues Gabriel e de Maria Nunes da Conceição, ambos de Bragança, e materno de Manuel da Costa Fonseca, de Vinhais, e de Filipa Mendes (noutra parte diz Filipa Henriques), todos de Bragança, nasceu nesta cidade, na freguesia de Santa Maria a 24 de Maio de 1760. Esta filiação no requerimento em 1777 para habilitação de genere. Os pais moravam na rua Direita em Bragança e eram negociantes de largo trato, dizem as testemunhas. No processo há as seguintes certidões, de que damos súmula: HENRIQUE (só este nome), filho de Rafael Rodrigues Gabriel e de Maria Nunes (só este nome), fregueses de Bragança (Santa Maria), nasceu a 14 de Outubro de 1723. ISABEL, filha de Manuel da Costa Fonseca e de Filipa Henriques, nasceu em Bragança, Santa Maria, a 29 de Junho de 1723. MANUEL DA COSTA FONSECA, filho de Francisco Rodrigues e de Ana da Fonseca, naturais da vila de Murça, e Filipa Henriques, filha de António (1865) São Mateus 26-39. Veja-se AGAPITO Y REVILLA, Juan – Catalogo del Museu de Bellas-Artes de Valladolid, I, escultura, 1930, lâminas XIX e XX, onde vem uma bela fotogravura do Crucificado de Berruguete. (1866) Cartório de Nobreza, livro 2.°, fol. 79 (Arquivo Heráldico, n.° 994, fl. 249).
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
PISSARRO
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POMBARES
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Mendes Furtado e de Isabel Henriques, já defuntos, casaram em Bragança, na freguesia de Santa Maria, a 6 de Julho de 1721. FILIPA, filha de António Mendes e de Isabel Henriques, nasceu em Bragança, freguesia de Santa Maria, a 20 de Maio de 1698. RAFAEL RODRIGUES, viúvo de Beatriz de Castro Alves, casou com Maria Nunes, solteira filha de L.co Rodrigues Alves e de Beatriz Nunes, todos de Bragança na freguesia de Santa Maria, a 7 de Junho de 1713. M ARIA , filha de L. co Rodrigues e de Beatriz Nunes, nasceu em Bragança, freguesia de Santa Maria, a 1 de Abril de 1698. HENRIQUE JOSÉ, solteiro, filho de Rafael Rodrigues Gabriel e de Maria Nunes e Isabel Brites Rosa, filha de Manuel da Costa Fonseca e de Filipa Henriques, casaram em Bragança, Santa Maria, a 6 de Março de 1760. PISSARRO (Claudino César), filho de Manuel José Pissarro e de Maria Inácia, ambos de Bragança, mas esta baptizada «somente em Lisboa», neto paterno de José Bernardo Pissarro e Luísa Maria e materno de Manuel António Garcia e Maria Inácia, todos de Bragança. Esta filiação no requerimento para habilitação de genere em 1845, existente no Museu de Bragança. No processo há as seguintes certidões: CLAUDINO CÉSAR, filho dos pais acima, mas a avó tem mas Luísa Maria Henriques, nasceu a 1 de Fevereiro de 1826 em Bragança (Sé). MANUEL JOSÉ, filho de José Bernardo Pissarro e de Luísa Maria Henriques, ambos de Bragança, neto paterno de Gaspar Garcia e de Brites Bernardo e materno de António Mendes da Paz e de Maria Henriques, nasceu a 19 de Setembro de 1787 em Bragança (Sé). MANUEL JOSÉ PISSARRO e MARIA INÁCIA casaram em Bragança (Sé) a 3 de Janeiro de 1816. J OSÉ B ERNARDO e LUÍSA M ARIA , viúva de Rafael Henriques, filha de António Rodrigues Mendes e de Maria Henriques, casaram em Bragança (Sé) a 3 de Novembro de 1779. O contraente é neto paterno de Alonso Rodrigues Pissarro, de Bragança, e de Filipa de Saldanha, também de Bragança e materno de Jerónimo Lopes Pereira e de Branca Maria, ambos de Chacim; a contraente é neta paterna de João da Paz e de Ana Henriques, de Bragança, e materna de Francisco Pires e Maria Nunes, de Bragança. POMBARES – O erudito amigo Padre Ernesto Augusto Pereira Sales, que tantas e tão valiosas informações nos tem fornecido para esta obra, mandou-nos cópia integral da carta de foro aos moradores de Vilar de Pombares, que demos em extracto na pág. 302 do tomo III destas Memórias, e como nessa cópia há uma notícia interessante referente ao nome de Pinhel, que primitivamente teve Pombares, a qual nos passou desapercebida, aqui a reproduzimos. Diz ela: MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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POMBARES
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POR TERRAS MIRANDESAS
TOMO X
«Don Denis pela graça de Deos Rey de Portugal e do Algarve a quantos esta carta vire~faço saber q os pobradores de Vilar de Pombares q ante avia o ~ carta de Roy Martinz meu pobrador e~terra nome Pinhel mi mostrarão hua ~ de Bragança da qual o teor tal he – E nome de deos amen. Conhoscam quantos esta carta vire~q eu Roy Martinz procurador del Rey e seu alcaide en Bra~ gança entedendo e cõssirãdo affazer prol e serviço del Rey dou a pobrar o vilar de Põobares q ante avya nome Pinhel q he de Rey e jaz sobre Teixedo..............». A carta do pobrador é dada em Bragança a 22 de Setembro de 1341. À freguesia de Pombares pertencia a povoaçãozinha de Teixedo, que ainda em 1706 tinha doze fogos (1867) e hoje está desabitada, vendo-se apenas montões de pedregulhos, sem casa nenhuma de pé. Diz a tradição que os moradores de Teixedo, ou porque morreram sem deixar sucessor no casal, ou porque foram para outras terras, onde casaram, desapareceram pouco a pouco, até que ultimamente só havia um fogo composto de marido e mulher, já velhos, e morrendo aquele, a esposa, desolada, sem ninguém que a auxiliasse, nada dispunha, finando-se ao spleen, se não calha passarem por ali dois carçonistas (1868), que a levaram, bem como o cadáver, para Pombares, extinguindo-se assim a vida de Teixedo.
POR TERRAS MIRANDESAS A 23 de Outubro de 1935, excursionando por terras mirandesas, visitei pela segunda vez a Póvoa, acompanhado desde Malhadas pelo velho amigo Doutor Joaquim Mendes Pereira e por sua gentil filha Maria Joaquina Mendes, a Quina, na linguagem familiar carinhosa, que habilmente guiava o carro onde íamos. No sítio chamado Rodeio havia gravada num fragueiro granítico, menos de um metro elevado acima do terreno, na face inclinada a norte, uma figura representada pelo gráfico junto (fig. 66), que tem 0,24 metros de comprimento por 0,13 metros de largura. O povo chama-lhe óculos e diz que por cima deles havia letras. Recentemente Fig. 66 quebraram a fraga para arrancar o tesouro, que a estupidez papalva supunha lá existir, e, como nada achassem, aproveitaram a pedra para tapume de lameiro em que ela estava e as letras desapareceram, mas os óculos ainda se conservam na parede do lameiro de José António Pires, num bloco que fica ao rés-do-chão à beira do caminho. (1867) COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa, tomo I, p. 503. (1868) Naturais de Carção.
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POR TERRAS MIRANDESAS
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O gráfico tirado pela Quina
No sítio chamado Teliques ou Oteliques, termo da Póvoa, um quilómetro do povo, perto de uma passagem de águas, lado direito do caminho, que do povo vai para Palancar, numa fraga de granito, que tem de comprimento 1,40 metros, 0,80 metros de largura e 0,90 metros de altura, encontra-se gravado o Pé da Moura, como o povo lhe chama (fig. 67). Tem de comprimento 0,32 metros, de largura, no calcanhar, 0,08 metros, indo depois crescendo em proporções até atingir 0,15 metros no joanete. Ainda no termo da mesma povoação, sítio chamado Poça do Galo, também conhecido por Pilha-o-Galo, coisa de quinhentos metros da aldeia, na margem direita de uma linha-de-água que lhe passa a poente, há gravado numa fraga granítica outro Pé de Moura; é o esquerdo, assim como o anterior é o direito. A rocha Fig. 67 tem de comprimento 1,20 metros, de largura 0,60 metros e de altura 0,80 metros e fica pouco abaixo de um pontão recentemente construído. As suas dimensões deviam regular pelas do anterior, a julgar pelo que resta, mas a fraga foi recentemente partida para material de obras pela altura do joanete. Estes gravados relacionam-se com os que damos no tomo IX destas Memórias, págs. 628, 645, 647, 661 e 662. Um pouco mais abaixo, no sítio dos Pachicos, fica a Fraga da Leonor, geralmente conhecida por Fraga da Tecedeira, bloco de granito de forma oval, regulando por vinte metros de altura. No topo do monólito encontram-se escavações deste formato e disposição, segundo desenhos da Quina, ágil alpinista, pois não fui capaz de passar do meio do fragueiro: A figura A, tem de diâmetro 0,19 metros e diz o povo que é o fundo da cesta da tecedeira; os quatro círculos dispostos em quadrado, os novelos; a fig. B, que tem de comprimento 0,12 metros, o agulheiro e a fig. C, a cama onde a tecedeira dormia, sendo a parte A, um pouco menos rebaixada que o resto da escavação, a cabeceira.
Figs. 68, 69 e 70
Diz a lenda que dentro do fragueiro vive encantada a Leonor em guarda ao grande tesouro. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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POR TERRAS MIRANDESAS
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Um pouco adiante fica a Fraga do Cavalo, assim chamada por ter lá um esculpido, mas já desapareceu devido às arremetidas estúpidas dos sonhadores de tesouros. Da Póvoa seguimos para Miranda do Douro, onde verifiquei a inscrição abaixo reproduzida, que já copiara em 1910, gravada numa grande lápide de granito, que terá metro e meio de altura por um de largura, metida a meio da parede da antiga casa da câmara, agora convertida em vivenda particular, situada na praça em frente dos novos Paços do Concelho. É como segue: AETERNIT · SACR · IMMACVLATISSIMAE CONCEPTIONI · MARIAE JOANNES · IV · PORTVGALIAE · REX VNA · CVM · GENERAL · COMITIIS SE · ET · REGNA · SVA SUB · ANNVO · CENSV · TRIBVTARIA PVBLICE · NOVIT
~
ATQVE · DEIPARAM · IN · IMPERII · TVTELAR E · ELECTAM A · LABE · ORIGINALI · PRAESERVATAM · PERPETVO · DEFENSVRVM IVRAMENTO · FIRMAVIT VIVERET · VT · PIETAS · LVSITAN HOC · VIVO . LAPIDE · MEMORIALE · PERENNE EXARARI · IVSSIT ANN · CHRISTI · M · DC · XL · VI · IMPERI SVI · VI
Por cima da inscrição está gravado um escudo com as armas do reino e a orla dos sete castelos, tendo por baixo a data «1684» e na verga de uma porta, em arco redondo da mesma casa, o cronograma «1694». Esta inscrição, composta por António de Sousa de Macedo, secretário de Estado, comemora o juramento feito por el-rei D. João IV, nas cortes celebradas em 1646, de tomar por padroeira do reino Nossa Senhora da Conceição, constituindo-se seu tributário, e mandando que o acto ficasse consignado em monumentos epigráficos do teor deste em todas as cidades e vilas de Portugal. No distrito de Bragança é este o único de que temos notícia. Na fachada desta antiga casa da câmara ainda se conserva o alpendre, apoiado em arcos e colunas de cantaria, mentidero local, onde se toma o sol de inverno, a sombra de verão, o resguardo da chuva, passeando, conversando. Como as praças e mercados antigos costumavam ser envolvidos por alpendres para comodidade do público, segundo ainda vemos restos em muitas, v. g., Terreiro do Paço em Lisboa, praça de Leiria, e em Espanha na MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
POR TERRAS MIRANDESAS
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Praça Maior de Valladolid, na de Zamora e, talvez em Bragança, na arcaria do Principal, adjunta à praça de São Vicente, é possível que maior extensão tivesse o alpendre da praça de Miranda do Douro, reduzido agora ao supramencionado, devido a reconstruções nas casas em volta da mesma. As praças assim construídas derivam do fórum romano (1869) e relacionam-se com a casa romana ainda vigente em Trás-os-Montes, como dizemos na pág. 271, a qual constava de quatro corpos de edifício, dispostos de modo a formarem paralelogramo com espaço no centro a descoberto (cavum aedium), curral na linguagem trasmontana. Para o curral deita a varanda em volta das quatro paredes do paralelogramo, coberta pelo prolongamento dos telhados, apoiados em colunas de madeira, ligadas por corrimões e balaústres, assim como aquela se firma nos arcos ou pilares assentes sobre o solo. A parte que fica em baixo da varanda corresponde ao atrium dos romanos, determinante do compluvium, e aos claustros nas casas monásticas, que, pelo geral, obedeciam ao mesmo plano construtivo em peristilo, como vemos nos claustros da Sé de Bragança e nos do convento de São Francisco de Vinhais, todos com poço de água ao centro, derivado do compluvium romano. De Miranda seguimos para Duas Igrejas. Este povo estende-se pelas margens de uma linha-de-água, em longo vale abundantemente povoado de negrilhos, que lhe dão belo aspecto de alameda. A torrente seca no verão, devido aos muitos poços de onde se extrai o manancial para rega de hortas por meio de cigonhos [13]. Na encosta da margem direita, olhando a norte, cerca de trezentos metros da igreja da Senhora do Monte, que é românica de transição, a quatrocentos do povo, fica o sítio chamado Faceira da Granja e nele uma cortinha de António José Raposo Zambeira, pai do seminarista Francisco Manuel Raposo Zambeira, que nos acompanhou na visita. À superfície do solo, por toda a cortinha, abundam cacos de cerâmica grosseira, de telha de rebordo e de tijolos com 0,05 metros de grossura. Também lá têm aparecido muitas moedas romanas e sepulturas lajeadas de tijolos, com paredes do mesmo material, cobertas por lajes de granito ou por tijolos. Dizem que as lápides mencionadas no artigo Duas Igrejas, do tomo IX, pág. 190, destas Memórias, foram encontradas neste grande cemitério. Ultimamente apareceu lá a de Beumenos, que damos na pág. 761 deste tomo, agora no Museu por intermédio do benemérito Doutor Joaquim Mendes Correia. (1869) RICH – Dictionnaire des antiquités romaines et grecques, artigo «Fórum 2».
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POR TERRAS MIRANDESAS
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Em volta da igreja da Senhora do Monte têm-se encontrado muitas sepulturas e pias sepulcrais de granito, idênticas a tantas outras mencionadas nestas páginas, que remontarão ao período medieval do templo. Em tempo não sabido, talvez no medievo final, os habitantes desta espécie de castro foram-se deslocando, como sucedeu a todos os povoados arcaicos, para junto da torrente, por ser local mais ameno e fértil, menos batido dos ventos e menos trabalhoso para carregamento do granjeio agrícola, e na margem esquerda, onde agora fica o grosso da povoação, construíram outra igreja – daqui Duas Igrejas – nome que deve ser recente, pois nas Inquirições não aparece mencionado (1870), se bem que se encontram todos os mais do concelho de Miranda do Douro. Seguindo pelo caminho da igreja da Senhora do Monte vai dar-se ao sítio chamado Cabreiro, um quilómetro do povo, e aí, à beira do caminho, a servir de batente no boqueiro de um lameiro do referido Zambeira, está uma grande laje de granito cheia de letras, mas tão apagadas que nada pudemos ler. Metida na parede da casa da residência paroquial de Duas Igrejas, agora convertida em escola primária, a servir de cunhal numa esquina, junto ao chão, vimos a inscrição dada no tomo IX, pág. 190, destas Memórias, que reeditamos por correr menos exactamente. Diz ela: SILVANO· APILICI·F Não tem mais letras nem vestígio delas em algum tempo. Caracteres muito bem feitos, próprios do período áureo romano. Altura da lápide, menos a parte enterrada, 0,99 metros, largura 0,54 metros, grossura indeterminada, por estar metida na parede, corpo das letras em linha vertical 0,07 metros. Também no curral de Manuel Joaquim Pêra, a servir de suporte a uma trave, vimos uma lápide de granito, cuja inscrição demos na referida pág. 190, que reproduzimos por ter sido mal copiada por quem deu originariamente a notícia. É como segue: V
SILVI E CALVI N E·N·XXVIII ET·C SILVIO NNI SILVIVS CALVINVS FILLIÆ ET NEPOTI V
V
(1870) Ver tomos III e IV destas Memórias, onde as publicámos. Nessas Inquirições, tomo IV, p. 8, 11, 13 e 15, fala-se na povoação de Biberes sita em território mirandês, que não sabemos localizar. Será o actual Campo de Víboras ou corresponderá a Duas Igrejas. No volume consagrado a corografia bragançana estudaremos o assunto.
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Altura da lápide 1,34 metros, largura 0,55 metros, grossura 0,47 metros, corpo das letras em linha vertical 0,06 metros. Tipo de letra perfeitamente igual à do texto anterior. Seguimos de Duas Igrejas para Picote, visitando de caminho em Vila Chã de Braciosa, sua terra natal, o grande jurisconsulto António Carlos Alves (1871), honra da magistratura portuguesa, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, que nos recebeu com aquela sua tão típica bonomia trasmontana, laivada de fino sorriso acolhedor. Aqui reuniu-se ao grupo o velho amigo Manuel Maria de Castro Pires, reitor de Vila Chã, fornecedor de várias notícias interessantes para esta obra, e marchámos para Picote, onde nos esperava o jovem presbítero António Joaquim Delgado, principal determinante desta excursão, por causa do pico de tipo asturiano adiante mencionado. Picote é um verdadeiro tesouro arqueológico (1872) e soberbamente empolgante a sua vista sobre o Douro, que lá no fundo do abismo, a centenas de metros de profundidade, esbraveja buznegro de cólera contra a penedia das ravinas talhadas a prumo, contrapondo-se-lhe logo ali o beiral de oliveiras e amendoeiras, para amenizar o belo-horrível do conspecto panorâmico. À porta da casa de Alfredo Maria Preto, servindo de banco de assento, vimos uma grande lápide de mármore branco, tipo discóide, encimada por suástica de seis raios. Das letras, que teve, nada se percebe. Altura do monumento 1,97 metros, largura 0,42 metros na cabeceira e 0,36 metros na base, grossura 0,10 metros. Logo em frente desta casa fica a igreja paroquial e junto a uma esquina está deitada e semi-enterrada uma lápide de granito com este letreiro: MAGANAE CIOVTI·F NATI Na 2.a linha, a 1.a letra tanto pode ser um C como L, e a 2.a é apenas um traço de I sem ponto, que fica a meio do espaço, sem alinhar em baixo com as outras letras; todavia lemos Clouti. Entre a 2.a e a 3.a linhas fica espaço para quatro ou cinco carreiras de letras, que nunca escreveram. Magana é já conhecida da epigrafia ibérica (1873) e Clouti na nossa bragan(1871) Ver tomo VII, p. 15 e 610, destas Memórias. (1872) Ver tomo IX, destas Memórias, p. 65 e seg., 71, 152, 572, 600 e 684. (1873) Boletim de la Real Academia de la Historia, tomo XLV, p., 156.
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çana. Como é possível que NATI se destinasse a palavras, que nunca se chegaram a escrever, lemos simplesmente: (Aqui jaz) Magana, filha de Clouto. Em volta do adro da igreja e pelas ruas do povo vêem-se muitas sepulturas cavadas na rocha. A um lado da povoação, numa eminência, de onde talvez lhe viesse o nome de Picote, fica a capela do Santo Cristo, tipo românico, ornada na cornija por quarenta e dois modilhões, lisos alguns deles e outros ornados por esferas e símbolos geométricos destacando-se em dois o falus e respectivos esferóides, erecto, triunfante na sua pujante estrutura fusiforme. Na parede, toda de granito aparelhado disposto à fiada, ainda vimos uma sigla em forma de U, formada por traços lineares rectos; é natural que tivesse mais, mas o tempo levou-as. No adro e adjacências abundam cacos de telha de rebordo, grossos tijolos, cerâmica e têm aparecido pias sepulcrais e moedas romanas. Fica no termo de Picote o sítio chamado Castelo (1874); é um enorme fragueiro de muitos metros de altura, talhado a prumo, que se eleva do Douro, apenas ligado à ribanceira por estreita facha de terra. Tem muita semelhança com o Castelo do Mau Vizinho no termo de Roriz, concelho de Chaves (1875). Apareceu no Castelo o tal instrumento algo semelhante ao pico asturiense, embora pertença ao neolítico, de que trato adiante no artigo Pré-História. O colega Padre António Joaquim Delgado deu-me seis machados neolíticos para o museu, encontrados no termo da sua povoação. Em Picote ficaram o reitor Castro Pires e o Padre Delgado, seguindo o resto da comitiva para Urrós, onde me acenavam irresistivelmente à curiosidade as insculturas rupestres, descobertas pelo velho amigo João do Nascimento Pires, tantas vezes lembrado com louvor nestas páginas, pelas valiosas notícias que me tem fornecido. O sol apertava a valer, e, se o seu calor é mantido por uma velha que incessantemente lança feixes e feixes de lenha na fornalha, atiçando os guiços e esclareirando o brazeiredo, certamente neste dia, sentindo próximo o outono, queria despedir-se com honra (1876); todavia, apenas descemos do automóvel no povoado, enveredamos, amigo Pires à frente, por (1874) Ver tomo IX, p. 71, destas Memórias. (1875) Ver o nosso trabalho Chaves – Apontamentos arqueológicos, 1931, p. 41. (1876) A velha figura muito nas lendas e tradições populares. Na fonte está uma velha que agarra os meninos, diz a mãe ao filhinho a fim de o desviar do perigo de se afogar. É possível que a mãe esteja aqui a repetir o dogma de uma crença milenária, embora inconscientemente. Ver a nossa conferência Chaves – Apontamentos arqueológicos, 1931, p. 48, e tomo IX, p. 96 e 487 destas Memórias, e neste tomo p. 41 e 261. Março ventoso, Abril chuvoso e Maio pardo, valem mais que os teus bois e o teu carro. Assim
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um carroucho de cabras, serpenteante ao longo de grande encosta, marginado de restolhos salpicados de blocos graníticos e lá fomos de longada até São Fagundo. O local, constante de um pequeno vale cultivado com relativo esmero, entalado entre enormes fragueiros graníticos e matos, é poético, convida à meditação, prestando-se à maravilha para tebaida ou bosque sagrado pelo teor de Lucano (1877). Para confirmar, lá estão no cimo, contíguas aos mais altos rochedos, as ruínas da capela profanada que deu o nome ao sítio, de canto talhado disposto à fiada. A julgar pelos dois arcos ainda bem conservados: o da porta principal e o do cruzeiro – este em ogiva de lanceta e aquele de volta redonda –, será românica de transição, séculos XII-XIII. Não vi pedras sigladas. A poucas dezenas de metros da capela vê-se no topo de grande bloco granítico uma sepultura aberta na rocha (1878) a cabeça do defunto olhando a nascente, ranhuras aos lados, talvez para segurarem a tampa. Pela altura em que está, ficaria ao ar livre, sem nunca ter sido coberta com terra. É a mais alta que conhecemos no distrito de Bragança e relaciona-se com a do Castro Baldoeiro ou Civitas Baniensis (1879). Esta posição elevada foi escolhida intencionalmente, pois no sítio abundam rochedos que apenas afloram à superfície do terreno, que contêm outras sepulturas. Poucos metros abaixo desta sepultura encontram-se, na depressão de um bloco de granito, ao parecer cavado de propósito, um pouco elevado do solo, em plano inclinado, as insculturas (?) da figura 71, tiradas pelo amigo João Pires, que é exacto. Em geral, os petróglifos encontram-se sempre em rochas pouco elevadas e algo inclinadas. As insculturas (?) não são limitadas por traços mas sim escavadas na rocha. Esta circunstância desperta dúvidas quanto à sua abertura intencional, pois podiam resultar de influências meteorológicas no granito, se bem que algumas parece não oferecerem dúvida de que foram insculpidas; acresce que no tomo IX destas Memórias, págs. 628, 645, 647, 661, 662 e 664, se encontram figurações, sem dúvida gravadas, semelhantes a estas. O povo vê nesta glítica pegadas de homens, bois, vacas, cavalos, jumentos, e na verdade assim parece.
respondeu, dizem por estes sítios, uma velha a um lavrador de Carragosa, ufano dos seus bois ornados de coleiras e campainhas de prata, que carreava pedra para o castelo de Bragança e lhe perguntou se já vira junta de bois melhor, com tão ricos aprestos e melhor carro. (1877) Ver tomo IX, p. 462, destas Memórias. (1878) Já nos referimos a ela na p. 694 do mesmo tomo IX. (1879) Ver o citado tomo IX, p. 481 e seg. e p. 640 e 690.
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Nada mais posso dizer (1880). O gráfico aqui fica: oxalá a ciência possa descobrir o meio de verificar a sua autenticidade ou não.
Fig. 71
Noutras fragas próximas encontram-se mais petróglifos que repetem alguns destes. Quando terminávamos o exame dos gravados (?) chegaram: António Maria Domingues, pároco de Urrós; Doutor António Manuel da Cruz, professor em Castelo Branco; D. Maria Adelaide Pires, Adalberto Rodrigues Pires, Artur Augusto Rodrigues Pires e Eliseu Pinto, ansiosos de ouvir explicações referentes aos monumentos da sua terra. No regresso de Urrós seguimos outro caminho menos escabroso, que passa perto da interessante catarata da Frágua, onde a água de um ribeiro se despenha coisa de vinte e cinco metros de altura (1881). Pelas paredes, varandas e janelas das casas pendem grandes colgaduras de figos a secar ao sol enfiados em linhas. A este processo de cura contrapõe-se outro predominante nas terras mais quentes do distrito, em que o figo é estendido ao sol em camadas de palha ou panos brancos e mesmo directamente sobre os fragueiros ou eirados.
(1880) Ver tomo IX, p. 479 e seg., destas Memórias, onde tratamos do assunto. (1881) Ibidem, p. 385.
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No curral da casa dos Varras em Urrós há uma pedra que a figura junta reproduz e que parece ter servido de base de cruz. O traço que corta os T fica a meio como o dos F. Vem a dizer: Esta cruz fez por sua conta e devoçam (?) o P(adre) Afonso Martins (?) cura natural deste lugar an(o) de 1695.
Fig. 72
Noutra pedra também de uma casa de Urrós há uma inscrição de letras tão mal traçadas que nada percebi, a não ser RıZ, possível abreviatura de Rodrigues.
Do amigo João Pires recebi para o Museu, que já tantas antigualhas lhe deve, mais seis machados de pedra polida (piçarra-cinzento-escura) e um escopro do mesmo material. Um dos machados tem 0,23 metros de altura, é o maior dos existentes no museu; um pedaço de cimento, possível resto do pavimento de alguma habitação; onze moedas de cobre, sendo uma romana do império, encontrada no sítio de Meixide, onde mais antigualhas romanas memoradas nestas páginas têm aparecido, e as outras portuguesas do tempo de D. João I e de D. Sebastião; uma telha com ornatos ondulados, também encontrada em Meixide, e ossos já a desfazerem-se em cinza de uma sepultura guarnecida de pedras toscas, tapadas por uma grande laje, que estava debaixo da parede de uma vinha, orientada no sentido leste-oeste. Todo este espólio encontrado no termo de Urrós (1882). Depois, em Janeiro de 1936, mandou-me um pequeno bronze, muito bem conservado, de Cláudio Constantino Nobilíssimo César (317-337), cunhado em Narbona, também encontrado em Meixide. Para terminar, lembro que a caverna dos Morcegos (1883) no termo deste povo, parece ter restos de pinturas megalíticas. Bom seria que nela se fizessem estudos e escavações, pois há todas as probabilidades de ter sido habitada nos tempos pré-históricos (1884). «Para terminar» – escrevi eu em conclusão referente às notícias de Urrós, mal pensando que ainda teria de aditar-lhe o necrológio fúnebre do meu bom amigo e valioso informador João do Nascimento Pires. Saudoso amigo! quão interessantes notícias me forneceste e quão valiosas (1882) Sobre Urrós, ver tomo IX, p. 153, 601, 663, 679, 684 e 694, destas Memórias. (1883) Ver tomo IX, p. 684, destas Memórias. (1884) Ibidem, p. 679.
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antigualhas pré-históricas e luso-romanas ofereceste ao Museu de Bragança por meu intermédio! As lápides funerárias romanas aplicavam à memória de varões de preclaras qualidades o título de Bene Merenti, desejando-lhe ao mesmo tempo o Sit Tibi Terra Levis. O mesmo aplico eu à tua, traduzindo-a na fórmula cristã de que sou ministro – Pie Jesu dona ei requiem. João do Nascimento Pires nasceu em Urrós a 20 de Dezembro de 1879 e aí faleceu a 28 de Março de 1936. Era filho legítimo de Manuel Inácio Pires e de D. Maria do Rosário Fernandes. Fez ainda alguns preparatórios no Seminário de Bragança; assentou depois praça em Infantaria n.° 10 e serviu em Moçambique. Terminado o serviço militar, casou em sete de Maio de 1904 com D. Maria da Conceição Rodrigues, professora de instrução primária em Urrós, de que teve os seguintes filhos: Manuel Vicente Rodrigues Pires, aluno do 3.° ano na Universidade de Coimbra; Adalberto Rodrigues Pires, D. Maria Adelaide Rodrigues Pires e Artur Rodrigues Pires. Ao meu colega António Maria Domingues, digno pároco de Urrós, agradeço os dados biográficos referentes ao saudoso amigo João do Nascimento Pires. De Urrós regressámos a Malhadas, onde anotei mais outra lápide funerária romana (1885), metida no lado exterior da parede na casa da família Raposo, habitada por D. Ana de Miranda Raposo, irmã de Manuel Justino de Miranda Raposo, tenente da guarnição de Bragança. É de granito e está à altura de três a quatro metros. Ostenta suástica de oito raios de linhas rectas e não recurvadas e por baixo da inscrição a parte superior de três arquitos de ferradura; o resto desapareceu por quebradura. Da legenda, em superfície rebaixada na pedra, nada consegui ler, por estar muito alta e apagada. Pela suástica, formado de linhas rectas, relaciona-se com a do Castro de Avelãs, que dei no tomo IX, pág. 48, destas Memórias. No sítio dos Moinhos Velhos, termo de Malhadas, cerca de três quilómetros da povoação, na margem direita da ribeira que vem da Póvoa e desagua no Fresno, está uma fraga granítica, que tem de altura 1,60 metros, largura 0,80 metros e comprimento 1,30 metros, junto à horta de Manuel António João, chamada pelo povo Fraga do Cavalo, por ter na face sudeste gravada a cabeça de um cavalo, que vai no gráfico junto, tirado pela Quina. Tem de altura na frente da cabeça em linha vertical Fig. 73 0,18 metros e de comprimento todo o busto 0,25 metros. (1885) Sobre Malhadas e suas antigualhas, ver tomo IX, p. 60, 152, 413, 459, 461, 546 e 636, destas Memórias.
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PORCO
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PRÉ-HISTÓRIA
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Na volta para Baçal pernoitei no Vimioso, na hospedaria de José dos Anjos (Galinho), e, fatigadíssimo, após uma excursão nesse dia por Duas Igrejas, Vila Chã de Braciosa, Picote e Urrós, fui acordado por ele para receber alguém que desejava falar-me. – Que entre – volvi eu, semi-acordado. E entrou e disse ser natural de Moncorvo e secretário ou delegado não sei de quê no Vimioso e querer apresentar seus cumprimentos ao abade de Baçal, de cuja estada ali soubera por acaso naquele instante, e felicitá-lo pelos trabalhos em prol do distrito. Não sei o que lhe sonambulei, nem mesmo se algo disse, envolto em sono e cansaço como estava; mas aqui fica o meu reconhecimento a essas visitas, que, depois, por intermédio do meu colega Francisco Neto, pároco do Vimioso, soube serem: Doutor António Marrana, natural de Moncorvo, conservador do Registo Predial no Vimioso, e Doutor Policarpo Liberal, médico. PORCO – Ver pág. 764 deste tomo.
PRÉ-HISTÓRIA PALEOLÍTICO. No tomo IX, pág. 555 destas Memórias, dissemos que nenhuma estação paleolítica aparecera ainda no distrito de Bragança, «apesar de deverem existir, nem admira, pois poucas se conhecem em Portugal». Na verdade, só em 1880 é que Nery Delgado deu notícia dos primeiros achados paleolíticos portugueses, e em todo o país ainda em 1934 apenas se conheciam cento e quarenta e seis estações (1886), sendo na província de Trás-os-Montes, duas perto de Chaves: a da Serra do Brunheiro e a do Monte da Condeixa. As Beiras e o Algarve nada deram ainda paleolítico. Cabe ao distinto arqueólogo engenheiro Lereno Antunes, já notabilizado como descobridor do grupo das estações de Elvas, nas margens do Guadiana, a primazia de ter encontrado em Dezembro de 1935 nas aluviões do rio Sabor em Cilhade, concelho de Moncorvo, a primeira estação bragançana, documentada por um belo coup-de-poing do paleolítico inferior (1887). TOPONÍMIA ARQUEOLÓGICA – Tomo IX, pág. 566 e seguintes. Aos topónimos de carácter arqueológico relacionados no tomo IX, pág. 566, juntam-se mais os das povoações seguintes: (1886) PAÇO, Afonso – Carta paleolítica e epipaleolítica de Portugal. (1887) Idem, Anais da Faculdade de Ciências do Porto, vol. XX, n.° 2, p. 128; Revista de Guimarães, (1936), p. 226.
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Angueira – Há sítio do termo chamado Castro do Gago e Castro da Cocoia (1888). Caçarelhos – O sítio do termo desta povoação aparece mencionado no tomo IV, pág. 673, destas Memórias e sobre o facho junto à capela de Santa Luzia (1889). Caroceiras (concelho de Vinhais) – Há sítio do termo chamado Crasto, que é um outeiro eriçado de fragueiros. Castro de Avelãs – A raia divisória entre esta povoação e Bragança passa num sítio chamado Modorra de Pedra (1890). Conlelas (concelho de Bragança) – Entre o termo deste povo e o de Vila Boa fica o Penedo da Vela (1891). Izei – A raia divisória entre o termo desta povoação, agora morta, e o de Bragança passava num sítio chamado Pena da Atalaia (1892). Ver tomo V, pág. 178, destas Memórias. Negreda – Há sítio do termo chamado Castelinho. Pereira (freguesia dos Avidagos, concelho de Mirandela) – Há um sítio do termo chamado Casteleira e outro denominado Antras (corrupção de Antas?). Pinelo (concelho do Vimioso) – O sítio chamado Facho, sito no termo de Pinelo e mencionado no tomo IX, pág. 576, será a Pena Lumieira indicada no documento de 1187, transcrito no tomo III, pág. 49? Parece que sim, e, neste caso, convém frisar a antiguidade dos fachos. Rego de Vide (freguesia do Cobro, concelho de Mirandela) – Há sítio do termo chamado Vale de Vilarinho. Ribeirinha (freguesia de Vinhais) – Há sítio do termo chamado Fraga da Vela. Tralhariz (concelho de Carrazeda de Ansiães) – Há sítio do termo chamado Laje de Antas. Trovelo (concelho de Moncorvo) – Há sítio do termo chamado Cabeço da Casinha. Esta Casinha relacionar-se-á com o que dizemos no tomo IX, págs. 187 e 565, a propósito de Casarelhos? Vale de Armeiro (concelho de Vinhais) – Há sítio do termo chamado Facho. Vila Nova – A raia divisória entre o termo de Vila Nova e o de Bragança passava num sítio chamado Pena da Guarda (1893). (1888) Ver tomo IX, p. 117, destas Memórias. (1889) Ibidem, p. 676. (1890) Ver tomo V, p. 178, destas Memórias. (1891) Ver tomo I, p. 368, destas Memórias. (1892) Esta Pena da Atalaia e a Pena da Guarda de que falamos adiante, ao aludirmos a Vila Nova, deve relacionar-se com o sistema defensivo exterior de Bragança. Ver p. 7 e tomo IX, p. 123 e 144. (1893) Ver tomo V, p. 178, destas Memórias.
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INSCULTURAS RUPESTRES. Tomo IX, pág. 579. Bousende – Tencionava dar aqui um desenho dos petróglifos existentes no Serro da Pena Mourisca, termo de Bousende, concelho de Macedo de Cavaleiros, mas nada mais posso acrescentar ao que disse no tomo IX, pág. 615, apesar de me parecerem muito interessantes estes gravados e das diligências que empreguei, levando mesmo uma escada da povoação de Rebordainhos, mais de três quilómetros distante. Chamo para o assunto as atenções dos novos de boas pernas e melhores olhos, tanto físicos como mentais, pois os meus sempre manquejaram muito e agora estão em greve escudados nos setenta e dois anos e pico de seus serviços. A tratar-se, como me quis parecer, de figurações animalescas, magias da caça ou quejandas, em que o lapicida foi contornando as figuras por meio de pontuação, que depois ligou por traços, o caso pode revestir primitividade grande e tornar-se primacial na glíptica bragançana. Carocedo – Num fragueiro granítico junto ao adro da capelazinha de Nossa Senhora da Assunção, próximo da povoação de Carocedo, concelho de Bragança, há gravadas as seguintes insculturas rupestres, de que falámos no tomo IX, pág. 144: O povo interpreta assim os sinais: 1 – Berço da Senhora, por ser nele que a Senhora apareceu a uns pastores pedindo que lhe fizessem a capela. 2 – Pegadas da Senhora ao subir miraculosamente pela fraga acima a fim de mostrar seu poder divinal. 3 – Cova do milagre, de onde se extraem, por meio de raspagem, pós miraculosos para cura de maleitas. Estas insculturas, publicadas inicialmente por Fig. 74 Lopo (1894), relacionam-se com outras que demos no tomo IX, págs. 611 e seguintes, nomeadamente com as de Rebordelo, pág. 648. Casares – No sítio denominado Fragas da Boa Vista, termo da povoação de Casares, freguesia de Montouto, concelho de Vinhais, coisa de trezentos metros do caminho público que da povoação segue para as Carvalhas, encontram-se numa fraga, que terá um metro de altura em plano de rampa ou inclinado, os sinais da fig. 75, de que me deu notícia o guarda-fiscal João Inácio Fernandes, residente dos Casares. (1894) LOPO, Albino, O Arqueólogo Português, vol. VII, p. 72.
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Todos estes sinais são frequentes nas insculturas rupestres bragançanas, como pode ver-se confrontando-os com os dados no tomo IX, págs. 611 e seguintes; apenas aparece de novo o da cruz com uma espécie de machado ou bandeira e a espiral de que só havia exemplo na figura da pág. 661 do mesmo tomo respeitante a uma fraga de Travanca, não longe desta dos Casares. Perto das insculturas da Fraga da Boa Vista fica a Fraga da Alvura, toda minada por baixo pelos sonhadores de tesouros, onde na noite de São João se ouve cantar à moura encantada, segundo refere Fig. 75 a lenda popular local. Diz o nosso informador João Inácio Fernandes que, ainda do seu conhecimento, um homem dos Casares, levado pelo desejo de falar com a moura foi viver para este fragueiro e lá o viu ele algumas noites a balbuciar palavras ininteligíveis mui entusiasmado, quais se fossem colóquios com a moura. Como são variadas as formas da demência humana! Este caso faz-me lembrar do seguinte: Em 1 de Setembro de 1930, aproveitando, como tinha por costume nas excursões arqueológicas, as grandes romarias, por melhor facilidade de transporte, recolha de notícias entre a concorrência, incluindo mesmo a parte alimentícia, fui à Senhora da Serra no termo de Rebordões e falei lá com um devoto que vinha agradecer à Virgem as consolações espirituais, os ternos afectos que lhe dispensava. – Há tempos – dizia ele – apareceu-me sob a forma de avezinha, bela à maravilha, como os olhos humanos jamais viram, nem são capazes de compreender. Enlevado, trepei pela árvore acima, onde se pousara como quem marcha por estrada nova alcatifada de rosas e, chegado ao cume, deslumbrado e absorto por tantos encantos, caí por terra inebriado de delícias celestiais como se viesse em leito de flores, trazido por mãos de anjos, sem experimentar o menor sofrimento, antes consolações infinitas. Que sublime loucura a deste tonto! Na fraga da Falgueira Rúbia, termo de Casares, à esquerda de um carreiro que deste povo segue para a Quadra, coisa de dois quilómetros e cinquenta metros do carroucho, há insculpidos os sinais da fig. 76 em fraga de xisto, que tem de altura 1,50 metros e de comprimento 4 metros, na parte que fica em rampa ou plano inclinado. Relacionam-se com os que damos no tomo IX, págs. 620 e 662, existentes em Cerdedo e Travanca, povoações vizinhas dos Casares. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Aproveito a ocasião para declarar que em 15 de Junho de 1936, quando fui a Moimenta fazer o casamento de que falo na pág. 640, servi-me da ocasião para verificar a disposição das insculturas de Cerdedo, dadas no tomo IX, pág. 620, por me parecerem baralhadas nos apontamentos que tomara, como digo na mesma página. Na verdade, a disposição do gráfico que dei não é rigorosamente exacta, devido à grande quantidade de sinais, apagados já muitos deles, e o ter tomado as notas em vários papeis; todavia, de um modo geral, pode dizer-se que, na essência, está bem, pois se reproduFig. 76 ziram todas as variedades de gravados, sendo de somenos importância a ordem dispositiva, a tratar-se, como suponho, de siglas adicionadas de tempos a tempos pela autoridade administrativa local, representativas da sua individualidade ou próprias destes actos. Será por demais lembrar que as cruzes, como sinais divisórios de termos, derivarão das decúrias (algarismo x) usadas pelos visigodos e romanos insculpidas nas árvores, rochedos e campos para sinal divisório de propriedades, segundo mostrámos no tomo IX, pág. 579. Também quando se diz que os godos não alteraram a divisão das terras conservando as demarcações romanas, como parece deduzir-se da Lei I – título III; livro X do Fori Judicum, em que os nossos historiógrafos se baseiam, porquanto este artigo deve interpretar-se de acordo com a Lei VIII, título I, livro X, que inculca ter havido divisão de terras, ficando os godos com duas partes e os romanos só com uma. Esta partilha em favor dos vencedores algumas alterações traria, embora poucas. Gondesende – No termo de Gondesende, concelho de Bragança, dois quilómetros a poente do povo, na margem do rio Baceiro, em o sítio chamado Lombeiro de Maquieiros, próximo e à mão direita do caminho que, da ponte e do moinho de Maquieiros, que lhe fica perto, segue para Soeira, estão gravados num rochedo de xisto os sinais da fig. 77. As insculturas ficam na encosta de um cabeço talhado a prumo na rocha pelo lado sul, dando apenas acesso pelo poente. No planalto da encosta há vestígios de fortificações – muros de pedra Fig. 77 solta, fossos – e aparecem pedaços de granito apaMEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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relhado, mós manuárias, cerâmica, e o mais como nos castros. No recinto fortificado divisa-se ainda um ponto mais elevado, que corresponderia à torre de menagem. Diz o povo que há mais rochedos insculturados, mas não conseguimos encontrá-los, e provavelmente são as marcações da marra do Cousso, de que falamos no tomo IX, pág. 605. Estas insculturas foram inicialmente publicadas por Lopo (1895). Lamalonga – Um quilómetro a sul do povo fica a Fraga de Sete Zorros, assim chamada por tentarem sete filhos bastardos tombar o penedo esferóide que coroa o rochedo; mais dois quilómetros adiante, fica o Lagar dos Mouros, assim denominado da pia quadrangular de 2,5 metros de lado por 0,25 metros de profundidade, aberta a pico na rocha, que pouco sobreleva acima do terreno. Um dos lados da pia é furado e abre por um pequeno rego que desce pela fraga abaixo; junto a outro lado há gravados dois pés, no feitio dos de Ifanes e Póvoa, e ainda junto a outro há dois pequenos quadrados. Ver o respectivo gráfico (fig. 78). Fig. 78 Perto desta fraga ficam outras em que se vêem orifícios mais ou menos circulares. Não pudemos ajuizar se seriam naturais se devidos à acção do tempo. Parece incontestável que o Lagar dos Mouros, pela cavidade, orifício lateral, pegadas e quadradinhos, se relaciona com o célebre santuário de Panóias, em São Pedro de Nogueira, concelho de Vila Real (1896). Coisa de treze quilómetros de Lamalonga, fica a povoação de Lampaça, freguesia de Bouçoães, concelho de Valpaços, e a uns cento e cinquenta metros a leste da estrada a macadame de Bragança a Chaves a igreja paroquial de Nossa Senhora da Ribeira, na encosta da pequena eminência chamada, pelo povo, Muralha do Cabeço. Setenta metros ao oriente da igreja vêem-se as ruínas de uma cintura de muro abrangendo uns trinta quilómetros quadrados de superfície e dominando a garganta por onde desce o antigo caminho que leva às Pontes de Vale de Armeiro, estrada forçada de Bragança a Chaves, antes da moderna a macadame por Rebordelo, e soberbo ponto táctico por ser um dos poucos acessíveis da margem direita do Rabaçal. Na crista da montanha ao descer para o rio, fica o sítio chamado Sculca. (1895) LOPO, Albino, O Arqueólogo Português, vol. V, p. 16. Daqui as reproduziu HÜBNER, Ephemeridis Epigraphicai, XI (1903) p. 278. (1896) Ver ARGOTE, Jerónimo Contador de – Memórias para a história eclesiástica do arcebispado de Braga, 1732, tomo I, p. 325, onde se descreve o santuário acompanhado das respectivas gravuras. Em O Arqueólogo Português, vol. III, p. 287, e vol. X, p. 239, deu Albino Lopo notícia do Lagar dos Mouros, acompanhada de desenhos elucidativos.
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Este recinto, verdadeiro castro, tinha a meio uma cisterna, segundo diz o povo, agora entupida pela cultura cerealífera; nela se divisam as silhuetas de casas circulares, que vão sendo destruídas à formiga pelos agricultores. No seu espólio abundam telhas de rebordo, tijolos, cacos de cerâmica, entremeados de fíbulas e moedas romanas de cobre. Dentro do circuito, uns quatro metros distante do muro e pouco acima de onde devia ter sido a porta de entrada, há uma fraga esferóide, ligeiramente inclinada, pouco elevada acima do terreno, que tem de superfície 2,20x2,35 metros, incisa por um sulco voltado a poente, que tem de profundidade 0,06 e 0,05 metros de largura, cujos extremos vão terminar numa espécie de bica distante da terra coisa de 0,15 metros da forma que a figura 79 indica. Distante desta fraga uns quatro metros há umas poças cavadas em duas outras fragas uma de 0,22 metros de profundidade por 0,13 metros de diâmetro na boca, e outra um pouco mais larga, mas menos funda. O povo chama bicas, lagares e ainda lagaretas às insculturas deste tipo, pela tal-qual analogia que têm com estes aprestos da vinicultura, de onde a necessidade de Fig. 79 os inventariar, como propusemos no tomo IX, pág. 565 e seguintes, destas Memórias. Outra bica semelhante a esta existe numa fraga perto de Bouçoães, num souto de castanheiros que se eleva coisa de dois metros acima do nível do terreno. Nesta fraga, porém, não se nota o sulco, porque a superfície que ela devia limitar foi rebaixada e forma cavidade no rochedo. É evidente a analogia entre estas insculturas e as de Lamalonga, e umas e outras com as do santuário de Panóias. Ao meu colega João Vaz de Amorim, digno pároco de Bouçoães e romancista folclórico, agradeço as informações para este artigo.
Fig. 80
Montesinho – Na serra de Montesinho, freguesia de França, concelho de Bragança, no sítio chamado Barreiras Brancas, perto da Marra (1897) dos Três Senhores, que serviu de divisória entre Portugal e Espanha, onde houve uma pirâmide geodésica, feita pela triangulação da de 1883, segundo suponho (1898), encon-
(1897) O povo chama marras aos marcos divisórios dos termos das povoações e marcos aos que dividem as propriedades particulares entre os indivíduos, como fica mostrado no tomo IX, p. 581; mas em terra de Vinhais também ouvi chamar degoleira, às cruzes ou três riscos desta forma ///, que costumam gravar nas marras. (1898) Ver tomo VIl, p. 796, destas Memórias.
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tra-se gravada numa fraga de granito uma inscultura do feitio da figura junta (80), segundo informações de João Batista Martins, escriturário da Câmara Municipal de Bragança, em serviço de visitação da fronteira. O povo chama-lhe Relógio de Sol. Ver tomo IX, pág. 641, onde mencionamos outras insculturas da mesma serra. Nozedo de Cima – No termo desta povoação, no sítio chamado Quinta, há cinco covinhas, malguicas, como lhe chama o povo (fossetas), gravadas numa fraga, segundo nos informa o amigo Padre Firmino Augusto Martins, pelo tipo das que damos da fraga de Travanca, pouco distante desta, no tomo IX, pág. 661. Samil – Cem metros a sul do Castrilhão, termo de Samil, concelho de Bragança, há gravada numa fraga a pegada da Senhora e próximo da vertente ocidental do mesmo Castrilhão há outra pegada incisa na fraga chamada do Salvage (1899). Como mostrámos por forma incontestável no tomo IX, págs. 581 e seguintes, baseando-nos no documento do Vimioso, a maior parte das chamadas estações de insculturas rupestres são apenas marcas divisórias dos termos de povoações ou de antigas tribos, em que o juiz, o mordomo, o chefe do povo ou da tribo, o representante da autoridade, em suma, o regedor ou presidente da junta de freguesia ou paroquial, como hoje dizemos, autenticou com a sigla própria, que costumava usar, a vistoria solene feita às marras do termo, acompanhado de seus administrados, a fim de verificar se estavam nos seus lugares ou foram mudadas por vizinhos rapaces. Em testemunho de confirmação, acrescentamos às siglas apontadas no tomo IX, pág. 605, mais as seguintes: No Museu de Bragança há três livros manuscritos dos séculos XVI e XVII, com capas de pergaminho destinados à «Metida do dinheiro na arca dos órfãos». Este o título de um desses livros e o do outro é: «Despesa dos órfãos da comarca de Bragança». Cada órfão ou grupo de órfãos irmãos tinha termo especial, onde o magistrado judicial consignava o dinheiro que lhe pertencia, assinando esse termo bem como os interessados curadores dos órfãos, e muitos destes, talvez por não saberem escrever, assinavam de cruz ou por siglas, de que damos desenho das mais interessantes. No livro que começa em 1545 e vai até 1582 notamos as que inserimos na página seguinte. (1899) LOPO, Albino, O Arqueólogo Português, tomo V, p. 16.
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Está no fólio 4. Está no fólio 43. Está no fólio 82 e repete-se da mesma forma nos fólios 83, 84, 85, 86 e 87. Está no fólio 117 e repete-se nos fólios 118 e 119. Está no fólio 148. Está no fólio 150. Está no fólio 152. Está no fólio 153. Está no fólio 155. Fig. 81
Está no fólio 156.
No códice que começa em 1584 notamos estes: Está no fólio 111 verso. Está no fólio 142. Está no fólio 158. Está no fólio 157. Fig. 82
Ao amigo Procópio de Deus Afonso Dias agradeço a boa vontade com que me facilitou a consulta destes códices, seguida da oferta deles ao museu. No códice que começou a servir em 1629 vimos as seguintes: Está no fólio 97 verso. Está no fólio 106. Fig. 83
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Está no fólio 114. Está no fólio 117. Está no fólio 161. Está no fólio 179. Fig. 84
No livro dos baptizados de Valverde, concelho do Mogadouro, do ano de 1552, há testemunhas e padrinhos no fólio 52 e seguintes que assinam com estas siglas:
Fig. 85
Noutro livro dos baptizados de Sambade, que serviu em 1753, vi mais estas feitas pelos padrinhos:
Fig. 86
Noutro livro que serviu para tomar contas aos mordomos da igreja de Serapicos em 1683 e aos mordomos de outras igrejas do termo há várias siglas e, entre outras, estas:
Fig. 87
Todos estes sinais não foram feitos ao acaso, pois os repete por forma semelhante o mesmo indivíduo sempre que assina, e isto muitas vezes. O livro dos baptizados de Vale de Salgueiro, que começou a servir em 1700, contém no fólio 138 e seguintes a demarcação das propriedades da respectiva igreja, e lá se mencionam cruzes abertas a pico nos marcos. No alfabeto ibérico e depois no gótico (séculos VI a meados do XI) e carlovíngio (século XII por diante), usados na nossa Península Ibérica, há letras perfeitamente idênticas às siglas das insculturas rupestres encontradas no MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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distrito de Bragança, publicadas neste tomo e no anterior. E como, por outro lado, sabemos que nos marcos divisórios das propriedades se costumavam escrever as iniciais dos nomes dos seus possuidores (tomo IX, págs. 579 e segs.) resulta que muitas das figuras interpretadas até aqui por esquemas e estilizações da figura humana, segundo a concepção da arte neolítica, são apenas a sigla, isto é, a letra inicial do nome do proprietário ou da autoridade administrativa do povo, cujos limites territoriais a marra confina. Alguns arqueólogos (ver tomo IX, pág. 581, destas Memórias) já aludiram a esta finalidade das insculturas rupestres, mas ficaram muito aquém, supondo-a secundária, quando, na verdade, é predominante, principalmente na glíptica epígea, constituída por sinais em forma de cruz, ferradura, xadrez, etc. Eis algumas dessas letras: = A na letra gótica, onde é frequentíssimo (1900), e depois na carlovíngia, também chamada francesa, para significar U. = A, muito usada desde o século XIII ao XVII. Também equivaleu a E na mesma época (1901). = Este A, com um ponto ao meio em vez de travessão, pode corresponder ao A anterior, pois as letras de formas rectas transitaram facilmente para as curvas e dar assim as insculturas rupestres em forma de ferradura, com ponto central ou traço vertical, que vemos no tomo IX, págs. 620, 650 e 660 (1902). De resto, no alfabeto ibérico já aparece uma letra deste tipo com traço vertical ao centro em vez do horizontal. Ver tomo IX, pág. 561, destas Memórias. É frequentíssimo e já vem da epigrafia romana. = Letra do alfabeto ibérico. Ver o citado tomo IX, pág. 561. = A ferradura, como o povo lhe chama, mas com os lados prolongados. No pergaminho da demanda dos judeus litigiada em 1461, existente no Museu de Bragança, publicado no tomo V, pág. 170, destas Memórias, são frequentes os S S pelo teor desta ferradura, e o mesmo sucede no códice intitulado Manuscritos Antigos 4, guardado no referido museu, num documento de 1508, fólio 10 e seguintes. = É frequente em documentos do século XV e anteriores. Merino, abaixo citado, pág. 229. = con, cun. «Este signo se derivó de la C invertida que aparece ya (1900) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia diplomatica, p. 22; MERINO, Andres – Escuela de leer letras cursivas antiguas, 1780, p. 22, 47, 61, 68, 76, 147 e 626. (1901) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia diplomatica, p. 47. (1902) MERINO, Andres – Escuela de leer, ..., p. 249 e 419.
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usado en las inscripciones romanas para designar la silaba con en la palabra libertus (conlibertus) y en algunas otras. Esta misma cuando no entraba en composicion de palabra y aparecia aislada como sigla, se leia Cafa, porque era costumbre romano que las siglas invertidas designasen la forma feminina de los nombres. Asi filius se escriba F. y para indicar filia grababan em las lapides (F invertido)» (1903). O C invertido é uma sigla e não letra, que admite várias significações (1904). O imperador Cláudio introduziu no alfabeto uma letra pelo feitio do C invertido para designar o som Ps (1905). C
C
F
= Entra na palavra contra e noutras de idêntico radical e usou-se muito no século XV (1906). = É abreviatura de confirmat no gótico redondo (1907), e escrito desta maneira, e talvez sem f, aparece frequentemente na documentação medieval assinado pelos confirmantes para autenticar os documentos, de onde, por analogia, passaria às marras para justificar a sua autenticidade. = e. Foi usado na escritura espanhola durante o domínio romano e continuou depois na gótica e carlovíngia (1908). = M maiúsculo (1909). Pode corresponder às insculturas deste tipo que vemos no tomo IX, pág. 620. = Aparece nas marcas dos oleiros romanos (1910). = D (1911). A primeira pode explicar as insculturas similares que vemos no tomo IX, pág. 660. = Letra do alfabeto ibérico. Ver o citado tomo IX, pág. 561. = e minúsculo e também maiúsculo (1912). = Letras do alfabeto ibérico. Ver o mesmo tomo, pág., 561.
(1903) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia diplomatica, p. 93. Ver sobre o assunto O Arqueólogo Português, vol. VII, p. 88, e vol. VIII, p. 208. (1904) CAGNAT – Cours d’Epigraphie Latine, 1898, p. 13 em nota, onde indica essas significações, bem como nas p. 382 a 385 e 388. (1905) Idem, p. 5. (1906) MERINO, Andres – Escuela de leer..., p. 140 e 249. (1907) Idem, p. 140. (1908) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia diplomatica, p. 16, 20 e 57. (1909) MERINO, Andres – Escuela de leer..., p. 426. (1910) FORTES, José – Restos de uma vila lusitano-romana, 1905, p. 28. (1911) MERINO, Andres – Escuela de leer..., p. 426. (1912) Idem, p. 243 e 426.
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De alguns destes formatos de letras se encontram insculturas nas págs. 643, 661 e 673 do tomo IX. = r (1913). Pelo tipo da segunda, uma letra no alfabeto ibérico (1914). = t (1915). Tanto deste tipo como do anterior, encontramos muitas insculturas no mesmo tomo IX. Confirmando o já dito acerca das cruzes e letras nas marras divisórias dos termos, publicamos mais estes documentos: REBORDÃOS – CONFRONTAÇÕES DO SEU TERMO – «José António Pimentel, escrivão proprietário do juízo da almotaçaria de esta cidade de Bragança e servindo interinamente o ofício do almoxarifado com nomeações do Juiz dos Direitos Reais, no impedimento físico do escrivão competente, etc. Certifico e faço certo em como vendo o livro segundo do tombo do Almoxarifado do Sereníssimo Estado e Casa de Bragança, de esta mesma cidade de ele a folhas 437 verso conste o termo de medição e demarcação do termo da vila de Rebordãos e lugar de Mós, o qual é do teor seguinte: Aos vinte dias do mês de Abril do ano de 1714 eu escrivão do tombo fui com o doutor António Pimentel Borges Botelho, juiz de ele ao sítio a que chamam Chasco, para o efeito de se medir e demarcar o limite e termo de Rebordãos, e lugar de Mós, e aí estavam presentes o doutor Brízido de Sequeira, procurador de este tombo e os medidores eleitos para ele Francisco de Sequeira e Manuel Rodrigues, logo pelo dito procurador do tombo foi requerido a ele juiz, que para o dito dia estavam citados o juiz e homens do acordo do lugar de Sortes Francisco Fernandes, Bartolomeu Freire e Francisco Esteves, o juiz e homens do acordo do lugar de Paçó de Sortes, Bernardo Vaz, Francisco Pires e Francisco Rodrigues, o juiz e homens do acordo do lugar da Sarzeda, Pedro Pires, Baltasar Afonso e Francisco Gonçalves, os possuidores da quinta de Cabanelas, Isabel Rodrigues, viúva, Lourenço Rodrigues e o reverendo cabido da Sé da cidade de Bragança, digo da cidade de Miranda, o juiz e homens do acordo do lugar de Nogueira, Pedro Rodrigues da Fonte, Bartolomeu Vaz, Bartolomeu Afonso e Lázaro Rodrigues, o juiz e homens do acordo do lugar de Carrazedo, Pascoal Martins, Francisco Gonçalves e António (1913) MUÑOZ Y RIVERO – Manual de Paleografia diplomatica, p. 58. (1914) Ver tomo IX, p. 561, destas Memórias. (1915) Idem, p. 58 e 321. MERINO, Andres – Escuela de leer..., p. 312 e 426.
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Gonçalves, o juiz e homens do acordo do lugar de Martim, João Afonso, Sebastião Rodrigues e Francisco Pires, o juiz e homens do acordo do lugar de Refóios, Domingos Vaz, António Pires e Domingos Pires. O juiz e homens do acordo do lugar de São Cibrão, Pascoal Afonso, Afonso Pires e João Alves. O juiz e homens do acordo do lugar de Lanção, Francisco Fernandes, Simão Pires e Miguel Afonso os juízes ordinários, vereadores, procuradores e escrivão da comarca da vila de Rebordãos, António Pires, Francisco Domingues, Mateus Vaz, João Correia, Sebastião Gonçalves, Francisco Pires e Francisco de Sá Peixoto, para assistirem à dita medição e demarcação por partirem e confrontarem com o dito termo e limite de que se trata; pelo que pedia a ele juiz os mandasse apregoar; e não aparecendo os lançasse de parte, e as suas revelias com os que se achassem presentes, se procedesse à dita medição e demarcação; e visto pelo juiz do tombo seu requerimento, informado das citações, mandou apregoar aos confrontantes; e por não aparecerem as suas revelias os houve por citados lançados de parte e mandou se procedesse na dita medição e demarcação com os confrontantes: e logo os ditos medidores eleitos e nomeados com uma vara aferida de cinco palmos e com uma corda de trinta varas começaram esta medição do dito termo no sítio do Charco, onde o dito juiz mandou pôr um marco grande de pedra de cantaria, com letras que dizem Bragança, na borda da estrada pública que vai de Sortes para Bragança da parte do nascente; e de aí continuando para o nascente pelo Vale de Tampeiro partindo com o termo do lugar de Sortes chegar as fragas do Vale de Tampeiro, que tem cruzes que servem de marco, tem duzentas e quarenta varas; e de ali continuando para o nascente partindo sempre com Sortes, partindo pela borda do Vale de Laguelas até chegar à marra que está no lombo da Galharda, que serve de marco, tem duzentas noventa e três varas; e de aí continuando ainda para o nascente e partindo sempre com Sortes pela rodeira do dito lombo da Galharda à marra da encruzilhada e as alfas que estão no fundo da terra do longironado de Mós no vale de Brandão, até chegar as fragas, onde chamam o Penedo, servem de marco; tem mil e vinte varas; e de aí continuando para o sul, partindo sempre com Sortes pelo lombo do vale de Brandão e parede do cimo do prado a que chamam o Lameiro do Homem, que hoje é de Pedro Esteves, de Mós, até chegar ao sítio aonde chamam a Malhada, aonde acaba o termo de Sortes e começa o de Paçó, onde o dito juiz do Tombo mandou pôr outro marco grande de pedra de cantaria com letras que dizem Bragança na borda da estrada pública que vem de Sortes para Valverde da parte do sul tem quatrocentas e cinquenta varas. E de aí continuando para o nascente partindo com Paçó pela estrada que vem de Sortes para Valverde, chegar a outro marco grande de pedra de cantaria, que o dito juiz do tombo mandou pôr letras que dizem Bragança, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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borda da estrada na da parte do norte entre a mesma estrada e a estrada que vem de Paçó para Mós onde chamam as Encruzilhadas do lombo das vinhas de Paçó, tem quatrocentas e vinte varas; e de aí continuando ainda para o nascente partindo sempre com Paçó pela dita estrada que vai de Sortes para Valverde pelo meio do dito Lombo das vinhas de Paçó, até chegar à marra do Sardão, que está na borda da ribeira que vem de Santa Comba, que divide os termos de Rebordãos, Valverde e vila de Faílde, tem mil e vinte varas. E de aí continuando ribeira abaixo para o norte até chegar aonde se ajunta a dita Ribeira com a do Remisquedo, que vem de Rebordãos; e de aí vai continuando ribeira do Remisquedo acima para o poente e de aí continuando com a medição volve à direita à marra do Afreixo fora da dita ribeira e vai vale do Afreixo acima para o norte partindo com Sarzeda até chegar a outro marco grande de pedra antigo, que está na borda do caminho do Candedo da parte do norte tem trezentas e quatro varas. E de aí continuando ainda para o norte, partindo sempre com Sarzeda a uma alfa que está no cimo do vale da Ramalhosa, até chegar a outro marco grande de pedra de cantaria, que o dito juiz do tombo mandou pôr com letras que dizem Bragança, no alto do lombo do Candedo à vista de Rebordãos e Sarzedas, tem quinhentas e dez varas. E de aí continuando ainda para o norte, partindo sempre com Sarzedas (sic) a uma alfa antiga que está no cimo do Urzedo. E de aí vai estrada acima até chegar a outro marco grande de pedra de cantaria que o dito juiz do tombo mandou pôr com letras que dizem Bragança, outras duas alfas no sítio aonde chamam a Poça de Baezelos tem setecentas setenta e cinco varas. E de aí continuando para o norte, partindo sempre com Sarzedas (sic) pela terra da Senhora da Assunção de Rebordãos à alfa da Portelinha do Tosedo, a outra alfa que está à pedra da Costa até chegar à marra do Ervideiro, que está à fraga da Costa no fundo da Touça do Sarzedas (sic), que serve do marco tem mil e duas varas. E de aí continuando ainda para o norte, partindo sempre com Sarzedas, pelo fundo da Touça do dito lugar de Sarzedas, atravessando a estrada pública que vem de Bragança para Sarzeda a outra marra que está nas Teixogueiras na borda da dita estrada da parte do norte. E de aí virando ao nascente até chegar a uma marra que está aonde chamam a Fraga do Pizão que serve de marra (na borda do ribeiro de Rebordãos) da parte do sul onde acaba o termo da Sarzeda e começa o da quinta de Cabanelas tem seiscentas e noventa varas. E de aí continuando para o norte partindo com Cabanelas atravessando o dito ribeiro de Rebordãos, rodeira acima até chegar a um marco de pedra antiga, que está entre a dita rodeira e o caminho que vai de Nogueira para o Urzedo, onde acaba o termo de Cabanelas e começa o de Nogueira, tem quinhentas e sessenta e oito varas. E de aí vai continuando ainda para o norte partindo com Nogueira, MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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estrada acima pelo alto do lombo do Prado Espinho, atravessando a estrada pública que vem de Sortes para S. Pedro até chegar a outro marco grande de pedra de cantaria que o dito juiz do tombo mandou pôr com letras que dizem Bragança entre as estradas públicas que vão para Bragança e lugar de S. Pedro, onde está uma alfa na portelinha do Prado Espinho, tem quatrocentas e cinquenta varas. E de aí continuando ainda para o norte partindo com Nogueira, atravessando as estradas públicas que vão para Bragança à alfa que está no cabecinho do Prado Espinho e outra alfa que está na borda da outra estrada que vai para Bragança e vai estrada adiante para o poente, até chegar a outra alfa que está no cimo da lameira das Orretas na borda da estrada da parte do nascente, onde o dito juiz do tombo mandou pôr um marco grande de pedra de cantaria com letras que dizem Bragança, tem seiscentas e sessenta varas. E de aí continuando para o norte, partindo com Nogueira, lombo das Orretas acima à alfa que está no lombo dos Vilares, atravessando a estrada que vai de Rebordãos para Nogueira à alfa que está na borda da dita estrada da parte do poente, na terra de Pedro Rodrigues da Igreja, da vila de Rebordãos, até chegar a uma fraga a que chamam a pedra dos Palheiros, que serve de marco, tem novecentas e sessenta varas. E de aí continuando ainda para o poente, partindo sempre com Nogueira à alfa do vale dos Palheiros até chegar a marra ou muradelha que serve de marco, que está no alto dos Palheiros, tem quatrocentas cinquenta e quatro varas. E de aí continuando ainda para o poente partindo sempre com Nogueira ribeira abaixo à marra das Lobas até chegar à marra do cabeço do Ervedal, que serve de marco, tem quatrocentas e cinquenta varas. E de aí continuando ainda para o poente, partindo sempre com Nogueira à marra da Olinha de Nogueira, até chegar à marra que está em Penacuterro que serve de marco, tem setecentas e oitenta varas. E de aí continuando ainda para o poente, partindo sempre com Nogueira, até chegar à marra de Vale da Urze, que serve de marco, tem duzentas e dez varas. E de aí continuando sempre para o poente, partindo com Nogueira às marras que estão nas fontes de Vale da Urze ou Lameirão do Tesouro atravessando a estrada pública, que vai pelo alto da Serra para Bragança até chegar às Marras das Cruzes que estão junto do carreirão que vai para Santo Amaro, onde acaba o termo de Nogueira e começa o de Carrazedo, onde o dito juiz do tombo mandou pôr um marco grande de pedra de cantaria com letras que dizem Bragança, com declaração que os moradores de Rebordãos e de Nogueira usarão livremente dos bebedouros das ditas fontes para seus gados e em pouca distância dos montes vizinhos as ditas fontes se não penhorarão uns aos outros. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
REBORDÃOS
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E de aí continuando para o sul, partindo com Carrazedo, à marra que está na encruzilhada das cruzes de marco. E de aí continuando para o poente, partindo com o termo do lugar de Martim à marra que está na fonte do Orjo que serve de marco. E de aí vai partindo ainda com Martim para o poente à marra que está no cabecinho dos Pardieiros, que serve de marco. E de aí vai ainda para o poente, partindo sempre com Martim à marra que está no Porto dos Vales, que serve de marco aonde acaba o termo de Martim e começa o de Refóios. E de aí vai continuando ainda para o poente, partindo com Refóios a um marco de pedra antigo, que está no sítio do Cabeço da Meda. E de aí vai continuando para o poente, partindo sempre com Refóios à marra que está no sítio de Avessedo de Refóios. E de aí vai ainda para o poente, partindo com Refóios à marra que está na Malhada do Cortelho, que serve de marco, onde acaba o termo de Refóios e começa o de S. Cibrão. E de aí vai continuando ainda para o poente, partindo com o termo de S. Cibrão, à marra que está no fundo do lombeiro dos Penedinhos. E de aí vai continuando ainda para o poente, partindo sempre com S. Cibrão à marra que está na pedra da Escaleira que serve de marco, onde acaba o termo de S. Cibrão e começa o de Lanção. E de aí vai continuando para o sul, partindo com Lanção à marra que está na horta de Nossa Senhora da Serra que serve de marco, onde acaba o termo de Lanção e torna a começar o de Sortes. E de aí vai continuando ainda para o nascente, partindo com Sortes à marra que está na pedra da Cruz do Nariz. E de aí vai ainda para o nascente à marra da Lameira da Parda. E de aí vai ainda continuando para o nascente, partindo sempre com Sortes ribeiro abaixo à marra do Corbaco que está na borda do ribeiro da parte do sul. E de aí vai continuando a medição em direitura para o nascente, partindo sempre com Sortes à marra que está por cima da Lameira de Francisco Rodrigues do lugar de Mós, atravessando a estrada pública nova que vai para Bragança até chegar ao primeiro marco onde começou esta medição, tem novecentas e vinte varas. E tudo o que de esta medição e demarcação adentro é termo da dita vila de Rebordãos e lugar de Mós e pagam os moradores da mesma vila e lugar que lavram dentro da dita medição e demarcação em cada um ano, cada morador quatro alqueires de centeio pela medida velha e trinta e seis réis em dinheiro, e os muito pobres pagam somente dois alqueires e dezoito réis em dinheiro; e os moradores de fora, que tem fazendas dentro da dita medição e demarcação, ainda que não morem lavram, pagam o dito meio foro de dois alqueires de centeio e dezoito réis em dinheiro na forma do aforamento para sempre do Senhor Rei Dom Dinis, que santa glória haja; e de esta sorte foi dividido e demarcado o termo da dita vila de Rebordãos e lugar de Mós, pelos ditos medidores, Francisco de Sequeira MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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e Manuel Rodrigues, pela corda de trinta varas, e vara ordinária de cinco palmos em presença do dito juiz do tombo e de um escrivão e procurador e juiz, homens do acórdão, os homens velhos do lugar de Sortes, Francisco Fernandes, Bartolomeu Freire, Domingos Afonso e Lázaro Afonso. E do juiz e homens velhos do lugar de Paçó, Bernardo Vaz, Francisco Pires, Sebastião Rodrigues e Domingos Fernandes. E dos homens do acordo e homens velhos do lugar da Sarzeda, Francisco Gonçalves, Baltasar Afonso e João Afonso e António Afonso. E do juiz e homens do acordo do lugar de Nogueira, Pedro Rodrigues da Fonte, Bartolomeu Afonso, Bartolomeu Vaz e Lázaro Rodrigues. E dos juízes ordinários, vereadores, escrivão da câmara e homens velhos da vila de Rebordãos e lugar de Mós, Francisco Domingos, António Pires Barreiros, Matias Vaz, João Correia, Sebastião Gonçalves, Francisco de Sá Peixoto e Faria, Miguel Pires, Bartolomeu Gomes e Domingos Afonso, que todos assinaram no tal auto da dita medição e demarcação; não assistiram os mais confrontantes do dito termo, de que o dito juiz mandou fazer este termo, que dou fé passar o conteúdo nele na verdade: António Lopes de Carvalho, escrivão do tombo, o escrevi e assinei Pimentel. O procurador, António Lopes de Carvalho. O procurador, Brízido de Sequeira. De Francisco Fernandes juiz de Sortes uma cruz. Bartolomeu Freire do acórdão. De Domingos Afonso, homem velho, uma cruz. De Lázaro Afonso, homem velho, uma cruz. De Bernardo Vaz, juiz de Paçó, uma cruz. De Francisco Pires, homem do acórdão, uma cruz. De Sebastião Rodrigues, homem velho, uma cruz. De Domingos Fernandes, homem velho, uma cruz. Francisco Pires do acórdão de Sarzedas (sic). De Baltasar Afonso do acórdão, uma cruz. De João Afonso, homem velho, uma cruz. De António Afonso, homem velho, uma cruz. De Pedro Rodrigues da Fonte, juiz de Nogueira, uma cruz. De Bartolomeu Afonso, homem do acordo, uma cruz. De Bartolomeu Vaz, homem do acordo, uma cruz. De Lázaro Rodrigues, homem do acordo, uma cruz. De Francisco Domingues, juiz da vila de Rebordãos, uma cruz. De António Pires de Berreiros, juiz de Mós, uma cruz. De Matias Vaz, vereador, uma cruz. João Correia, vereador. Sebastião Gonçalves, vereador. Francisco de Sá Peixoto e Faria. De Miguel Pires, homem velho, uma cruz. De Bartolomeu Gomes, homem velho, uma cruz. De Domingos Afonso, homem velho, uma cruz. De Manuel Rodrigues uma cruz. De Francisco de Sequeira uma cruz. E não se continha mais em o dito termo de medição e demarcação, que bem e fielmente copiei do referido livro do tombo, que fica em meu poder e cartório e a ele me reporto, com o qual este conferi e concertei, e por assim ser na verdade e esta me ser pedida pelos moradores da vila de Rebordãos a passei em Bragança aos vinte cinco dias do mês de Agosto do ano de mil oitocentos trinta e três. E eu, José António Pimentel, escrivão que o escrevi e assinei. José António Pimentel. Conferido e concertado MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
REBORDÃOS
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GUADRAMIL
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por mim José António Pimentel. Está conforme. Rebordãos, 12 de Agosto de 1889. O secretário da junta, Manuel Joaquim de Sá». Esta cópia tirada pelo secretário da junta Manuel Joaquim de Sá foi impressa na Tip. Académica – Bragança e abrange onze páginas in 16.° e desta foi reproduzida a presente que damos. DEMARCAÇÃO DO TERMO DE GUADRAMIL. COMPÁSCUO ENTRE OS GADOS Em 1828 requereu «o juiz vintanário» de Guadramil, concelho de Bragança, ao escrivão do Almoxarifado da Casa de Bragança, que lhe passasse certidão em forma autêntica do documento referente às confrontações do seu termo. Em vista do despacho deste requerimento, «António de Sá Leão Escrivão do Almoxarifado na cidade de Bragança e seu termo» passou a certidão copiando ipsis verbis o referido documento, que diz estar no «segundo Livro do Tombo do Almoxarifado a folhas 245». Pelo documento vê-se que, para assistir à medição e confrontação do termo de Guadramil (o documento escreve sempre Gudramil, e ainda hoje assim pronuncia o povo), foram citados os alcaides das povoações do Rio de Maçans, Santa Cruz, Roboredo, Rio de Onor de Cima, todas do reino de Espanha, confinantes de Guadramil e o «juiz e homens do acórdão» de Rio de Onor de Baixo, Varge, Deilão, Petisqueira e Guadramil, todos do reino de Portugal, confinantes de Guadramil. Começou a medição no «sitio do Couto de Fernam Rabello em hum marco grande de pedra antigo que está no sitio do Cotto com hum montão de pedras ao redor» e seguiu pelo Lombo de Lagomar, Reudesilhos (o povo diz Ridessilvo), Portela dos Queimados, Cruz do Serro, Vale de Leira, Rebolar de Madeira (o povo diz Rebal de Madeira), Chara de Rebolar do Cabo (o povo diz Rebal de Cabo), Lagoa de Vime, Terra Redonda, Lagoa de Rutos, Caveço de Candanedo, Retorta, Rombom de Retorta, Caminho da Boca da Retorta, Touça Galinha, Pena de Cabanas, Torregelas, Testorna, Vale de Castanhal, Urreta Faleto, Marra dos Três Termos «e desde marra e marco de Torregelas, athe marra dos Tres Termos he monte que serve para o comum assim para os moradores de Castella como para os lugares de Portugal na forma do contrato que houve entre huns e outros moradores, como consta do Tombo Velho e confirmação que deram os moradores do dito lugar de Gudramil e os de Rio de Nor de Sima de Castella......». Este documento, isto é, a cópia autêntica, é datado de «Bragança 13 de Março de 1828 – António de Sá Leão, Escrivão do Almoxarifado, o Escrevi e assinei» (1916).
PORTUGUESES E ESPANHÓIS.
(1916) Extracto da cópia autêntica deste documento existente em Guadramil, em poder do cabo reformado da guarda fiscal, Francisco Rodrigues.
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SAMPAIO
TOMO X
«TOMBO DO / ILLUSTRISSIMO E EXCELLENTISSIMO SE / NHOR ANTONIO DE SÃO PAYO, MELLO, E / CASTRO MORAIS, E TORRES, CONDE DE / SAMPAYO, do Conselho de Sua Ma / gestade, commendador da commenda de / São Vicente de Pereiro da Ordem de / Christo, Gentil Homem da Camara do / Serenissimo Senhor Infante Dom Pedro, coronel de cavallaria do Regi / mento do Cais, senhor das villas de / Villa Flor, Villas Boas, Mós, Chacim, / Frechas, Sampaio, Abemposta, e Pa / rada de Pinhão, Alcayde mor da Tor / re de Moncorvo, e da cidade de / Miranda do Douro, Fronteiro mor / de Freixo de Espada em Cinta, Se / nhor dos direitos reais destas Vi / llas, e dos de terra de Bragança». Este o título do códice, o qual consta de 1 (inumerada) + 1216 (numeradas) + 3 inumeradas folhas. Fólio encadernado em pasta coberta de carneira, com molduras douradas, dourado por folhas, tendo na capa da esquerda um escudo com as armas dos Sampaios, como o que demos sob o n.° 104 na pág. 771 do tomo VI, tendo este a mais a orla carregada de SS. Na capa, do lado direito, tem também um quadrilátero e no meio uma moldura, tudo igualmente dourado. Este interessantíssimo códice, bem conservado e bem escrito em papel imperial, mede de altura 0,42 metros, de largura 0,274 metros e de grossura 0,20 metros e pesa uns vinte quilos. O texto compreende 0,34x0,19 metros. Este Tombo foi feito pelo juiz do tombo, Doutor Francisco de Paula e Carvalho por autorização régia, a requerimento do Conde de Sampaio, António de Sampaio, representado por seu procurador António José de Escovar, da vila de Chacim. Começaram os trabalhos para o Tombo em Março de 1764 e acabaram em 15 de Julho de 1766. Chacim – O procurador do conde, António José de Escovar, acima mencionado, era capitão-mor da vila de Chacim e professo na Ordem de Cristo. Fólios 3 v. e 6 v. Vila Flor – António José Sotomaior, juiz ordinário de Vila Flor e capitão-mor da mesma vila em Dezembro de 1764. Fólio 7. João Pedro Miller comprou em 1855 muitas das fazendas do conde de Sampaio, que lhe vendeu a condessa do mesmo título, como se vê de diversas notas postas à margem do Tombo pelo escrivão que fez a escritura de venda. Entre esses bens comprados há os seguintes: As casas do Paço, junto à igreja de Vila Flor. Fólio 9 v., onde se dão as confrontações; a quinta de São Gonçalo, junto à estrada que vai para Lodões, toda tapada sobre si, que tem de medição 1395 varas, e uma capela de São Gonçalo. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
SAMPAIO
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Tinha mais duas capelas: uma de Santa Bárbara e outra de Nossa Senhora da Conceição; e a quinta do Prado. A respeito dela, diz o Tombo: «Prencepia a mediçam [desta quinta do Prado] em hum marco antigo ahonde elle Doutor Juiz do Tombo mandou abrir duas letras S. e P. que querem dizer Sampaio». Fólios 11 v e 32 v. Por todo o Tombo são muitíssimos os marcos que o juiz do mesmo mandou colocar e neles abrir as referidas letras – S. P. – que, como fica dito, querem dizer Sampaio, e por isso não faço alusão a mais nenhum, pois são numerosos e poucas páginas haverá onde não mencione um marco com estas letras. A quinta do Carascal, também comprada pelo Miller. Confinando com esta tinham bens, entre outros: D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho e mulher, do lugar de Contins. Fólio 12. A quinta da Terrinha, que fica junta à do Carascal, também comprada pelo Miller. A quinta de Lamelas, no termo de Felgar, concelho de Moncorvo. As letras S. P. da demarcação eram postas em marcos e fragas (fólios 32 v. e 33) «e deste marco pello poente para o sul [vai] pello lombo adiante agoas vertentes para hum e outro lado entre o Vale de Ledra e Fojo athe dar em huma fraga rasteira que está no mesmo lombo, adonde elle Doutor juiz do Tombo mandou abrir as letras S. P. que querem dizer Sampaio... e passando o regato do Fojo, athe dar em huma Fraga Marmore alastrada que fica servindo de marco junto ao mesmo Ribeyro do Freixo, em que elle Doutor juiz do Tombo mandou abrir as letras S. P. que querem dizer Sampaio, as quais letras com esta significaçam de Sampaio se acham em todos os marcos e fragas que servem delles nesta demarquaçam». Fólio 33. No fólio 245 fala em marcos de outra medição antiga, referente à quinta de Lamelas no termo de Felgar, conc. de Moncorvo, que tinham as letras S. Payo. Capela do Espírito Santo, detrás da igreja matriz de Vila Flor e «se acha quási demolida». «Pertence mais a esta capella hum acento de caza que em outro tempo servio de Hospital arrumado à mesma capella» (fólio 1082), mas ainda tinha capelão obrigado a dizer seis missas cada semana, sendo algumas na capela, porém não as diria lá mas sim na sua igreja, por estar a capela arruinada. O capelão recebia certas rendas de bens pertencentes à capela. Esta capela pertencia ao conde de Sampaio. Fólio 1082. Capela de Nossa Senhora da Piedade, sita dentro da igreja matriz de Vila Flor, a qual capela pertencia ao conde de Sampaio. Tinha o capelão obrigação de dizer cada quinze dias três missas de defuntos e cinco missas cantadas de Nossa Senhora cada ano e de dois em dois anos um ofício de nove lições, e além disso «alumiar a alampada que está na capella da Igreja, adonde jaz a Senhora Donna Antonia instituidora desta Capella, e isto nos dias festivos, enquanto se dicerem as Missas desta Capella». Fólio 1152. MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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PRÉ-HISTÓRIA
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Apesar do que dizemos quanto à interpretação das insculturas rupestres pelo critério de sinais divisórios de termos, facto aliás incontestável, e não metido até hoje em linha de conta pelos arqueólogos na amplitude que deve ter, adimos as seguintes informações, que de perto nos tocam. Em 1936 publicou-se o Corpus Petroglyphorum Gallaeciae, editado pelo Seminário dos Estudos Galegos de Santiago de Compostela. Na revista Nós, boletim mensal de cultura galega, tomo 10, n.° 115, págs. 126 e segs., publicaram Xurxo Lourenzo e Luciano Fariña fotogravuras dos petróglifos existentes na parte galega da serra de Leboreiro, constantes de cruzes simples, duplas, sós ou inscritas em círculos, terminando algumas nas extremidades por covinhas, onde aparecem muitas figurações idênticas a outras que damos nas insculturas de Urrós, pág. 602, Labiados, pág. 629, e Paradinha Nova, pág. 643, do tomo IX destas Memórias. Los Petroglilos de Monte Penide y los Estudios sob Arte Rupestre Gallego-Português, por Fermin Bouza- Brey. «Neste erudito trabalho, onde, a propósito das insculturas de Monte Penide, se passa em revista a série de estudos similares da Galiza e de Portugal, o autor conclui: “que las teorias admitidas en el momento presente dan los grabados que alli aparecen [no Monte Penide] como pertencientes a los ultimas fases de la Edade del bronze, relacionados con cultos primitivos, de caracter astral, necrolatrico, falico, guerrero con danzas rituales etc., cuya interpretacion no se ha alcanzado de manera definitiva”». Esta apreciação in Portucale, 1935, pág. 232, e o texto transcrito vem na pág. 20 de Los Petroglifos, etc., mas na pág. 14, depois de enumerar os escritores portugueses e galegos que têm tratado de petroglifos, diz: «Con tales contribuciones y otras más modernas que citaremos, pudo Obermaier (Impressiones de un viaje prehistorico por Galicia, Boletin de la C. de M. de Orense, 1923) echar sus bases cronologicas classicas, estableciendo dos fases dentro del arte rupestre grabado gallego-português, más antigua e más moderna, perteneciendo a la primera las utilizaciones antropomorfas y zoomorfas y las figuras lineares, cruciformes, rectangulares, escutiformes, etc., y correspondiendo a la segunda las lineas ondolantes, las espirales y las multiples combinaciones circulares, asi como las figuras complicadas. Con estas conclusiones se hallan conformes Miles Burkitt y Cuevillas, siendo seguidas más ó menos de cerca por todos los investigadores contemporaneos, fundando-se em estilizaciones y paralelismos que han conducido recientemente a Herbert Kühan a formular como ley del arte prehistorica que las figuras naturalistas pertenecen a más antigua época que las esquematicas». MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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CAVERNAS – No tomo IX, págs. 113 e 676, falamos da caverna existente no termo dos Alvaredos, no sítio chamado Picota, que foi habitação dos mouros, diz a gente da terra. Já não existe, pois desabou a grande pala que a formava, segundo nos informa o pároco de Candedo, Francisco António Gomes. Um pouco abaixo deste sítio fica o chamado Forno das Teixugueiras, onde há pequenas grutas naturais, que comportarão dez ou doze homens cada uma, em posição tão acidentada que dificilmente se pode lá chegar. Essas grutas poderão ao todo agasalhar trinta e cinco a quarenta homens. Perto delas fica uma pala que abrigará cinquenta pessoas, mas não livres do sol e dos ventos. No fragueiro que ainda ficou da gruta da Picota vêem-se quadradozinhos cavados a pico, a que o povo chama «lagarzinhos» e parecem relacionar-se com os do santuário do castro de Baldoeiro (Civitas Baniensis) e uns e outros com o santuário de Panóias (1917). Diz-me Aníbal Teixeira, professor de Ginástica do Liceu de Bragança, que na margem esquerda do rio Baceiro, quatrocentos ou quinhentos metros abaixo da ponte de Castrelos, há uma caverna num penhasco que terá seis e meio metros por quatro de altura, na qual caberão sessenta cabeças de gado. N EOLÍTICO – Tomo IX, pág. 680. Cisterna (citado tomo, pág. 682). Na vila de Souane (outros dizem Seuane), termo da Cisterna, concelho de Vinhais, apareceram mais os seguintes objectos, mandados em 1936 pelo benemérito professor António Neto para o Museu de Bragança: seis cossoiros; um meio-bronze, tão apagado nas letras que nada se percebe da legenda; dois machadinhos neolíticos muito lindos: um manchado de preto e branco, outro branco com estrias vermelhas (diorite ou fribolite?); metade de uma sarta preta, ornada por círculos concêntricos brancos. Juntamente com esta remessa ofereceu ao museu o professor Neto um tostão em prata de el-rei D. José e um pinto em ouro de D. João V. Linhares – Tomo IX, págs. 412, 544, 634, 666, 687 e 692. No termo de Linhares apareceram dois machadinhos de pedra polida, segundo me comunicou em carta de 30-7-1937 o amigo João de Castro. Penhas Juntas – No Serro de Penhas Juntas, já assinalado por outras antigualhas (1918), encontrou Américo Augusto Rodrigues, residente em Agrochão, uma espécie de moinho de tipo não vulgar. Consta de duas (1917) Ver ARGOTE, J. Contador de – Memórias..., tomo I, p. 332 e seg., onde se encontram os respectivos desenhos. (1918) Tomo IX, p. 539.
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peças, ambas de granito, accionadas, não no movimento circulatório como a mó castrense, mas sim de vaivém, como quem esfrega uma pedra sobre outra, andando de trás para diante, de maneira que a dormente apresenta cavidade, não circular, devida ao uso, mas sim um sulco no sentido do comprimento. Este invulgar triturador veio para o Museu de Bragança por oferta do seu descobridor. Picote – Na Cigaduenha, também chamada Castelo de las Ruecas, termo de Picote, junto ao rio Douro, sítio já assinalado por mobiliário da época dos metais (1919), apareceu pelos anos de 1935, enterrado a um metro de profundidade o seguinte objecto:
Figs. 88 e 89
É de piçarra dura, cinzenta e não de silex, e tem de comprimento onze centímetros. Foi aparelhado em forma de pirâmide tetraédrica, mas depois chanfraram-lhe as esquinas, de maneira que ficou hexagonal – três lados mais largos, alternando com três mais estreitos. Para o extremo oposto ao empunhadouro foram adelgaçando o instrumento por forma a terminar em ponta, que vai revirando um pouco para cima como os picos asturienses, aos quais se assemelha, embora seja neolítico e não paleolítico. É notável, porque nenhum instrumento lítico deste formato se encontra mencionado pelos arqueólogos; de onde o dizer-me em carta de 13 de Agosto de 1935 o pré-historiador Padre Eugénio Jalhay: «A província de Trás-os-Montes vai-nos dando grandes surpresas». O mesmo sacerdote, a quem o mostrei depois em Lisboa em Novembro desse ano, fez referência a ele na sessão do dia 7 desse mês (1920). Com que fim se fabricou este instrumento? Será uma transição do pico asturiense paleolítico para o neolítico? Será um artefacto moderno, utilizado pelos lavradores para aguçar objectos de corte, como facas e
(1919) Ver tomo IX, p. 71 e 684, destas Memórias. (1920) Boletim da Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1935, p. 153.
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gadanhos de segar feno, principalmente, segundo temos visto fazer com qualquer pedra, apta para desgastar e dar fio? Parece mais possível a primeira hipótese, por se encontrar no litoral de um grande rio, onde podia ser aplicado aos usos dos picos asturienses, à técnica orgânica dos quais obedece na disposição triangular, em sítio marcado por elementos da civilização pré-histórica. Além disso nas pedras com que os segadores aguçam os gadanhos, os lados não conservam rigoroso paralelismo, retorcem-se logo, ao contrário deste. Todavia, um carpinteiro experimentou a pedra na minha presença e disse-me que, embora muito dura e pouco apta para aguçar ferramentas, podia servir à falta de melhor, pois algo desgastava e dava fio, mas o longo uso que teve parece não confirmar tal aplicação. Os picos asturienses eram utilizados pelos povos ribeirinhos para desagarrar os moluscos de pedras e fragas, e possivelmente teriam outras aplicações (1921).
q
Ao amigo, Professor Domingos Bernardo Martins Vinhas agradecem-se os desenhos n.os 34, 56 a 63, 88 e 89. Fica para o tomo XI, já pronto a entrar no prelo, a relação das pessoas que nos têm favorecido com informações e a dos beneméritos em prol do Museu de Bragança, para não avolumar demasiado este.
FIM DO TOMO X.
(1921) Sobre o seu formato e aplicações ver: Trabalhos da Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1936, vol. II, p. 106, 110 e 114. OBERMAIER – El Hombre Fosil, 1925, p. 384.
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NOTAS DE REVISÃO [1] O rifoneiro é importante instrumento de transmissão de um saber sedimentado, desempenhando papel pedagógico de realce na sociabilização dos membros da comunidade. Perpetua o sistema normativo, nas suas vertentes ética e prática, exprimindo-se por meio de sentenças curtas, fáceis de memorizar, por vezes irónicas. Tendendo ao imobilismo dos saberes e práticas, o rifoneiro assegura a sua coerência e fiabilidade face a quaisquer contradições pela existência, habitualmente, para cada provérbio de um outro de sentido contrário. Como salientou Francisco Manuel Alves (p. 13), a recolha e publicação de colecções de provérbios tem lugar no nosso país desde há séculos, o mesmo sucedendo em outros da Europa, existindo obras especificamente dedicadas à sua leitura comparada, que nos elucidam sobre as afinidades existentes. Para além da bibliografia citada pelo Abade de Baçal e de algumas obras recentes de maior ou menor valia, muitos dos trabalhos dispersos sobre o rifoneiro português estão referênciados em: PEREIRA, Benjamim Enes – Bibliografia analítica de Etnografia Portuguesa. Lisboa: Centro de Estudos de Etnologia Peninsular, 1965, p. 502-519. [2] Sobre a tipologia da casa transmontana, que o autor descreve aqui, p. 271-273, e a que volta a referir-se a p. 813, e a sua inserção no quadro da arquitectura tradicional portuguesa veja-se: OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Arquitectura. In LIMA, Fernando Castro Pires de, dir. – «A arte popular em Portugal». Lisboa, [s. d.], vol. 1, p. 57 e seg.; O LIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa. Lisboa, 1992, p. 134 e seg.; Arquitectura popular em Portugal, 2ª ed. Lisboa, 1980, p. 113 e seg. [3] Apesar do Cancioneiro recolhido pelo Abade de Baçal ser bastante extenso e MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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variado, ele peca por uma falha fundamental, muito vulgar por generalizada carência de formação neste domínio, a total falta de notações musicais. Mais curiosa é a auto-censura expressa a p. 552 deste volume, não transcrevendo a letra de algumas cantigas ao desafio por indecorosa. Além dos autores citados por Francisco Manuel Alves, precisamos de recordar a recolha nacional de Leite de Vasconcelos, também sem música, para a qual o Abade enviou informação (VASCONCELOS , J. Leite de – Cancioneiro popular português. Coimbra, 1975-1979). A colecta de canções no distrito bragançano prosseguiu, dando origem a obras como, por exemplo: F ELGUEIRAS , Guilherme – Cancioneiro popular transmontano e alto-duriense. Lisboa, 1960; A FONSO , António Nogueira – Cancioneiro popular da região de Mogadouro. Mogadouro, 1970; MOURINHO, António Maria – Cancioneiro tradicional e danças populares mirandesas. Bragança, 1984, com apontamentos musicais. Estes trabalhos devem ser comparados com as recolhas do cancioneiro português realizadas durante as mesmas décadas por Virgílio Pereira, Rodney Gallop, Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti, nas quais sobressai a respectiva formação musical. [4] O estudo do Romanceiro tem também uma longa tradição em Portugal, cabendo-lhe as honras de tema fundador da etnografia, pela mão de Almeida Garrett. Mais uma vez devemos referir a obra de síntese do mestre, para a qual Francisco Manuel Alves enviou ampla colaboração: VASCONCELOS , J. Leite de – Romanceiro português. Coimbra, 1958-1960. Sobre a relação do magistério leitiano com o interesse de alguns sacerdotes bragançanos, e em especial do Abade de Baçal, por esta temática, assim como as publicações a ela referida em que este participou ou colaborou veja-se: MARQUES, José Joaquim Dias – O Abade de Baçal e o Romanceiro. «Brigantia. Revista Cultural». Bragança. Vol. 5, nº 2-3-4 (1985), nº 4-12, p. 637-657. Depois de um relativo abandono, o romanceiro transmontano voltou a ser alvo de repetidos estudos, dos quais salientamos, pela sua acessibilidade FONTES, Manuel da Costa – Romanceiro da província de Trás-os-Montes (Distrito de Bragança). Coimbra, 1987. Para mais informação acerca destes estudos em décadas recentes consulte-se: FONTES, Manuel da Costa – Sobre o romanceiro transmontano: uma recente colheita. «Brigantia. Revista Cultural». Bragança. Vol. 9, nº 3-4 (1991), nº 7-12, p. 3-19; e ainda VERDELHO, Telmo – A música tradicional de Trás-os-Montes é tema de doutoramento em Paris. «Brigantia. Revista Cultural». Bragança. Vol. 2, nº 2-3 (1982), nº 4-9, p. 263-272. [5] Como já salientámos na introdução a este tomo X, o posicionamento teórico de Francisco Manuel Alves face à etnografia do seu tempo, e sobretudo à tradição da segunda metade de Oitocentos, deixa muito a desejar. Neste apar-
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tado intitulado Etnografia o autor volta a agrupar um pouco de tudo, de forma ainda mais incoerente do que havia feito em primeira abordagem no Tomo IX (p. 236-352), e sem mesmo se dar ao trabalho de justificar a falta de reflexão sobre os assuntos com presumíveis hesitações dos mestres sobre o seu campo disciplinar (Tomo IX, p. 236). Aqui, não era certamente ao tão idolatrado mestre Leite de Vasconcelos que o Abade de Baçal seguia. [6] Ver a nossa nota 16 ao Tomo XI, p. 695. [7] Sobre estes ritos de passagem pode ver-se, por exemplo: VASCONCELOS, J. Leite de – Etnografia Portuguesa. Lisboa, 1967, v. 5, p. 7-107 e v. 10, Lisboa, 1988, p. 185-288. Também VAN GENNEP, Arnold – Manuel de folklore français contemporain. Paris: Picard, 1943, tomo 1 v. 1, e v. 2, Paris: Picard, 1946, p. 373-648 recolhe um sem-número de práticas para o ciclo da vida individual, do nascimento ao casamento. Mais alguma bibliografia comentada em PEREIRA, Benjamim Enes – Bibliografia analítica de Etnografia Portuguesa. Lisboa: Centro de Estudos de Etnologia Peninsular, 1965, p. 328-336. J OAQUIM , Teresa – Dar à luz. Ensaio sobre as práticas e crenças da gravidez, parto e pós-parto em Portugal. Lisboa, 1983 retoma o assunto na linha dos autores anteriores; mais actualizado: VIEGAS, Susana Matos – Do nascimento ao baptismo. In B RITO, Joaquim Pais de – «Portugal Moderno: Tradições». Lisboa, 1991, p. 11-19; O’Neil, Brian Juan – O casamento. In BRITO, Joaquim Pais de – «Portugal Moderno: Tradições». Lisboa, 1991, p. 29-38. Muitos outros autores trataram ou afloraram esta temática, de grande impacto nos estudos internacionais da segunda metade do século, mais na perspectiva da história da família e da antropologia social. [8] Sobre a cultura da oliveira em Trás-os-Montes pode ser consultado o recente trabalho de MONTEIRO, António Manuel – A oliveira. Recuperar o passado. Mirandela, 1999. [9] Ver a nossa nota 4 ao Tomo XI, p. 692. [10] Grande número de Ex-votos do distrito de Bragança foi, em meados dos anos noventa, inventariado e publicado por AFONSO, Belarmino – Ex-votos e religiosidade popular no distrito de Bragança. Bragança, 1995. [11] Além de notas esparsas nos volumes das Memórias, o Abade de Baçal dedicou ao tema o trabalho Vinicultura duriense (Subsídios arqueológicos, históricos, etnográficos e bibliográficos). Régua: Imprensa do Douro, 1937. [12] Grande parte da documentação referida por Francisco Manuel Alves como estando no Museu Regional de Bragança foi entretanto transferida. Tal situação fica a dever-se ao facto do Arquivo Distrital de Bragança, criado pelo Decreto 2858 de 29 de Novembro de 1916, juntamente com a Biblioteca Erudita, e com ela fundido em 1965 (DL 4635 de 22 de Maio) na Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Bragança, ter funcionado precariamente até
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1982, ano em que lhe são atribuídas instalações próprias, no antigo Convento de S. Francisco, reabrindo plenamente em 1985. Assim, regressou ao Arquivo a documentação anteriormente em depósito no Museu do Abade de Baçal. Consequência destas ambiguidades é também a partilha de fundos entre a Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Bragança e o Arquivo do Paço Episcopal de Bragança. CARDOSO, Maria Teresa Araújo de Andrade (org.) – Roteiro das bibliotecas e arquivos dependentes admninistrativamente do Instituto Português do Património Cultural, 2ª ed., Lisboa, IPPC, 1987, p. 49-51; Inventário colectivo dos Registos Paroquiais. Lisboa: Inventário do Património Cultural Móvel, 1994, v. 2-Norte, p. 148-218. [13] Jorge Dias, ao estudar os aparelhos de elevar água para rega, dá algum relevo à cegonha ou picota, presente por todo o país, mas de forma escassa no Entre Douro e Minho e Alentejo. Trás-os-Montes, e sobretudo a veiga de Chaves e as terras de Miranda, Mogadouro e Freixo contavam então com grande número de exemplares, destinados a regar as hortas. DIAS, Jorge – Aparelhos de elevar a água de rega. Porto, 1953, p. 133-144 e 173-175.
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ÍNDICE [INTRODUÇÃO: Francisco Manuel Alves, etnógrado das terras bragançanas], 82
A Aboá, 82 Abreiro, 81 e 82 Açoreira (Quinta da), Mirandela, 81 e 83 Adeganha (Daganha), 81, 83 e 609 Agrobom, 81 e 84 Agrochão, 84 e 768 Águas Vivas, 84 Aguieiras, 84 e 770 Ala, 84 e 609 Alagoa (Quinta da), termo de Vilarinho da, 80 Alcoforados, 615 Aldeia da Casa da Barca (Alfândega), 81 Aldeia do Vargas (Alfândega), 81 Aldeia Nova, 760 Alfaião, 85 e 679 Alfândega da Fé, 81, 85 e 710 Alganhafres, 80 Algosinho, 72 Algoso, 86, 301 e 780 Alimonde, 86 e 611 Almansor, 86 Almasay (Moncorvo), 79 Almeida (António Caetano de), o Retórico, 302 MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Alpajares, 86 e 682 Alvaredos, 87 e 843 Alves (Francisco Manuel), reitor de Baçal, 303 Alvites, 87 e 772 Amanso, 87 Amedo, 80, 86 e 730 Andrade (Eugénio Guedes de), 311 Angueira, 86 Ansiães – Igrejas românicas, 44, 45, 72, 80, 86 e 608 Arcas (Carrazeda de Ansiães), 80 Arcas (Macedo), 80, 89, 768, 777 e 805 Argana, 90 Argozelo, 90, 498, 585, 680 e 768 Ariães, 90 Arnal, 80 e 90 Arrifana, 91 Arule, 90 e 679 Ascensão (Frei Manuel da), 771 Assares, 91 Atalaia, Atenor, 91 e 677 Avantos, 92, 768 e 807 Avelanoso, 81, 92, 311 e 346 Aveleda – Erecção do altar da Senhora das Dores, 58; demanda dos curas de Sacoias, Aveleda e Varge com o abade de Meixedo, a propósito das côngruas paroquiais, 60, 92, 587, 588, 695, 721, 722, 730, 768 e 807 Aves migratórias, 39 Avidagos, 80 e 93 Avinhó, 94 e 677 Azibeiro, Azibo, 94 Azinhoso, 72 e 94
B Babe, 8, 94, 316, 610, 611 e 730 Baçal – Instrumentos neolíticos, casas circulares, mó castrense, iconografia patusca, 8, 95, 311, 316, 341, 500 e 769 Bagueixe, 96 Baldios paroquiais, 269
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Baldrez [Valdrez], 97 Barcel, 97 Barroso Pereira e Sousa (Francisco Manuel), 314 Beira Grande, 80 Belver, 45, 80 e 97 Bemposta, 736, 774 e 781 Benlhevai, 730 Besteiros, 80 e 97 Biduedo [Viduedo] (Bragança), 82, 97 e 679 Bispos de Bragança, 314 3 728 Bom Regalo (Mirandela), 80 e 98 Bornes, 773 e 774 Boral (Mirandela), 80 Botelho (Manuel de Matos), abade de Duas Igrejas, 98 e 677 Bouça, 100 Bousende, 823 Braga, 500 Bragada (Vergada), 247 Bragança – Etimologia, 100. Açougue, alcaides-mores, alfândegas na raia seca, bispado, Camilo Castelo Branco e Bragança, castelo, capela de Nossa Senhora da Conceição, capelas profanadas, 323. Conferência de São Vicente de Paula, convento de São Bento, conventos e igrejas, correio, cruzeiro da Praça da Sé, Domus Municipalis, feiras, fontes, fontes de águas medicinais, fortificações militares, governadores de Bragança, igreja de São João Baptista (hoje Sé), igreja de São Vicente, jardim António José de Almeida, jardim da Vila, luz eléctrica, Misericórdia, Museu – sua fundação, quintas dos arredores de Bragança, revolta de Bragança em 27 de Outubro de 1933, Roda dos Expostos, ruas, Santa Maria do Sardão, São Jorge, seda, Seminário, bragançanos nas praças de Marrocos. Igreja de São Bento com o tecto mudéjar, 46. Siglas dos canteiros no castelo e na Domus Municipalis, 73. Comenda de Santa Maria, 316. Comenda, 609 e 643. Indivíduos mortos na Guerra da Sucessão e nas lutas liberais, 700, 702 e 707. Armas do concelho, 710. Cancioneiro, 499. Lápides do século XVII, 761, 769, 807, 808, 809 e 813 Brinço – Fenómeno luminoso, 66 Britelo, Brito, povoação morta, 101 e 679 Bronze (época do), 43, 266 e 276 Bruçó, 81 Brunheda, 80 e 101 Brunhosinho, 501 Buíça (Abílio Augusto da Silva), 770 Buíças, genealogia, 346
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C Cabana (Moncorvo), 79 Cabanelas, 101, 679 e 768 Cabeça Boa (Moncorvo), 79 e 101 Cabeça de Mouro, 79 Caçarelhos (Cazarelhos), 46, 81 e 102 Cagigal (António Olímpio), 346 Calaínho (D. Alexandrina Augusta Ferreira Sarmento de Sousa Pimentel), 347 Calvelhe, 102, 679 e 768 Campelos, 80 Campilho (Pedro Vicente de Morais Sarmento), 347 Campo de Víboras, 501 Cancioneiro popular bragançano, 347 Candedo, 103 Caravelas, 103 e 677 Carapana (Mirandela), 80 Carção, 104, 585 e 680 Carças (São Pedro de), 612 Cardenha, 81 Cardoso (Manuel Joaquim), cónego, 608 Carissas (Quinta das), Mirandela, 81 Carmonas da Rica Fé, de Bragança e de Chaves, ascendentes do actual Presidente da República, 597 Carneiro (José Paulino de Sá), general, 587 Carocedo, 8, 104 e 823 Caroceiras, 104 Carragosa, 105, 502 e 649 Carrapatas, 105 Carriço, 105 Carrazeda de Ansiães, 80, 105 e 711 Carrazedo, 105, 316, 588 e 677 Carvalhais, 677 Carvalhal (Mirandela), 80 Carvalhão, povo morto, 679 Carvalho (Abraão de), 588 Carvalho (Alberto de Morais Faria de), general, 588 Carvalho de Egas, 80 e 105 Carvalho e Sá (António Eugénio de), engenheiro, 589 Carviçais, 105, 247 e 768 MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Casa trasmontana, suas características, 271 Casares, 105 e 823 Casario, 106 Casas circulares e rectangulares nas ruínas arcaicas, 43 e 312 Casas ricas – Explicação popular da sua fortuna, 106 e 679 Castanheira, 266 e 276 Castanheira de Monforte de Rio Livre, 772 Castanheiro, 80 Castedo, 80 e 106 Castelo Branco, concelho do Mogadouro – Sua origem e de Valverde, lenda, demanda dos Pimentéis com o morgado de Alfândega da Fé, notas genealógicas de uns e outros, 501, 589, 590 e 730 Castelo Melhor – Insculturas zoomorfas em granito, 282 Castrelos (Crestelos), 82 e 106 Castro (Crasto), Vinhais, 82 Castro de Avelãs – Lápides, notícias referentes ao mosteiro, 604 e 679 Castro Roupal, 82, 106 e 256 Castro Vicente, 81 Castros, 7, 11, 43, 52, 62, 64, 67 e 311 Cavages (Cuvagens), 82 Cavernas, 221, 819 e 843 Cedães. Ver Sedrins. Cedaínhos. Ver Sedrinhos. Cércio, 108 Cerdedo (Serdedo), 82 e 825 Cerejais, 730 Cernadela, 108 e 776 Chacim, 108, 672, 677, 795, 797, 799, 800, 802 e 840 Chãos, 19 e 768 Chaves, 620 e 796 Chelas, 107 Chorense (Quinta da), Mirandela, 81 Choupim, 81 e 677 Chousa, 109 Cicouro, 109 Cisterna, 843 Cobre, 80 e 109 Codeçais, 110 Coelhoso, 110, 611 e 656 Coimbra, 502
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Coleccionadores de antiguidades, 267 Coleja, 80 Comendas da Ordem de Cristo, 608 Comunhas, 110 Cónegos, 612 Conlelas (Colnelas), 110, 609 e 679 Constantim, 111 Constantino, Rei dos Floristas, 612 Contas pretas nas sepulturas, 65 e 713 Contim, 110 Contins, 769 Correia (Francisco António), director do Curso Superior de Comércio de Lisboa, 614 Cortiços, Alcoforados, 615 e 775 Corujas, 82 e 111 Couços, 111 Cova de Lua, 82, 111 e 769 Covelos, 81 Cruzes e letras nas marras, como sinal divisório de termo, 825, 830, 834, 835, 836, 837 e 841 Cultura agrícola – interessantes medidas etnográficas, 615 e 643
D Deilão, 111, 313, 316 e 611 Demarcação dos termos de várias povoações, 677 Despedida das minhas excursões arqueológicas, 617 Destruição de monumentos, 783 Detenção criminosa de documentos desviados de arquivos, 50 Deusdado (Domingos Augusto de Miranda Ferreira), 621 Dias Poças (Eusébio Luís) e irmãos, 585 Dine, 587 Dine (Jacinto José), enxamblador, 112 Diogo Guerreiro, 708 Divisão da propriedade pelos visigodos, 825 Donai, 112, 502 e 768 Duas Igrejas, 726, 747, 761 e 813 Dubadoura (Vinhais), 82
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E Edral (Adral), 609 Edrosa – Fenómeno luminoso, 66 Eiras, 112 Eivados, 80 Eixes [Eixos], 80 Elvas, 503 Ervedosa, 113, 680 e 730 Espadanedo, 113 Especiosa, 113 Espinhosela – Arco românico, 47 e 611 Estevais (Moncorvo), 79 Estevais (Quinta dos), Vila Flor, 81 Esteves Pereira (Francisco Maria), coronel, 621 Esteves Pereira (José Luís), agrónomo, 631 Estrada das Donas ou mourisca, 203 Etimologia dos nomes das povoações, 82 Etimologias populares, 82, 114, 121, 264, 265 e 273 Etnografia, lendas agrícolas e respectivas alegorias, formigas, agouros, alcunhas, linguagem trasmontana, almas penadas, almas do outro mundo, espíritos malignos, baptizados e casamentos, cegonha, duas panelas, feiticeiras, festas de Santo Estêvão, funerais, galo, grande basbaqueirão, judeus, fogo morto, lobisomem, lobo da gente, mantimentos aos santos, medicina popular, mula, remédios estúpidos, cruéis, imundos, medo, mouras encantadas, procissões, raposa, santos de casa não fazem milagres, serpente (culto da), talismã amoroso, trasgos, trovoadas, velha, vinho, 632 e seg. Eucísia (Ouzízia), 81
F Faílde, 113, 762 e 764 Falcão Leite Pereira de Seabra (António), juiz da Relação do Porto, 665 Faria (Manuel Severim de), 665 Feijós. Ver Madureiras Feijós. Felgar, 79, 114 e 665 Felgueira (Carrazeda de Ansiães), 80 Felgueiras (Moncorvo), 79 MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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Felgueiras Júnior (Francisco do Patrocínio), 666 Fermentãos, 114 e 742 Fernandes (Abílio José), vigário-geral de Timor, 667 Fernandes (Manuel António da Ressurreição), vigário-capitular da diocese de bragança, 667 Ferradosa, 115, 772 e 805 Ferreira (Macedo), 115 e 668 Ferreira (D. Cândida Florinda), 669 Ferreira de Lima (José António), visconde de Ferreira de Lima, 670 Ferro, metal impuro, 99 Fervença, rio, 115 Fidalgo-maníacos, 804 Figueira (Mogadouro), 115 e 677 Figueiredo (António de Figueiredo Sepúlveda), 671 Figueiredo Sarmento (Domingos António Gil de), 671 Figueiredo Sarmento (Pedro José de), 672 Figueiredos, 673 Fiolhal, 80 Fonseca (Jaime), 674 Fonseca e Sousa de Sá Morais (Bernardo Baptista), barão de Santa Bárbara, 674 Fonte de Anes (Mirandela), 80 e 115 Fonte Ladrão, 116 e 677 Fonte Longa, 80 e 676 Fontoyra (Carrazeda de Ansiães), 80 Formigas. Ver Lendas. Formil (Fermil), 82, 115 e 679 Fornos (Freixo), 79 Fornos de Ledra, 678 Frades e clero paroquial, 751 Frades e cónegos – Povoações onde possuíam bens. Demarcação dos termos de várias aldeias, 677 Fradizela, 116 e 678 França, 116, 610 e 807 Franco, 80, 117 e 736 Franco (José António), 680 Frechas, 681 Freio dos maldizentes, 681 Freixeda, 117 Freixedelo, 117 Freixiel, 118
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Freixo de Espada à Cinta – Alva, calçada de Alpajares, arborização, castelo, lápide romana, lenda da matança, fortificações e igrejas, privilégios, 98 e 681. Armas do concelho, 113 e 711 Fresulfe, 118 Frieira, 679
G Garivanes [Guribanes], 81 Gasco (António Coelho), 685 Gavião (Quinta do), termo de Vilarinho da Castanheira, 80 Gebelim, 81 e 118 Genísio, 119 Gestosa (Giestoça), 81 e 119 Gimonde (Guimonde), 82, 119, 611, 678 e 807 Gonçalves (Francisco António), 686 Gonçalves (Horácio de Assis), 686 Gondesende, 119 e 825 Gostei, 120, 678 e 679 Gótica (Arte), 44 Gouveia, 120 Gouveia (Miguel Augusto de), 694 Governadores civis do distrito de Bragança, 686 Gradíssimo, 121 e 678 Gralhós (Garalhós), 82 Grandais, 121 Granja, 81 e 121 Granja de Gregos, 678 Granja de São Pedro, 678 Gregos, 121 e 678 Grijó de Parada, 678 Grijó de Vale Benfeito, 678 Guadramil, 122, 611, 730 e 839 Guedes (Constantino de Fontoura Madureira), 695 Guerra (Constâncio de Almada Meneses), 708 Guerras no distrito de Bragança – Guerra no tempo de D. João IV, Guerra da Sucessão; indivíduos mortos em Miranda, Vimioso e Bragança. Guerra dos Sete Anos; indivíduos mortos no Vimioso. Lutas liberais: indivíduos mortos em Bragança, 695 e segs.
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Guide, 122, 609 e 678 Gulfeiras [Golfeiras], 80
H Henriques (Francisco da Fonseca), doutor-médico, Mirandela, 796 Heráldica do distrito de Bragança, 710 Horta, 79
I Ídolos-placas, 284 Ifanes, 81 e 82 Influência oriental na Península Ibérica, 713 Inscrições portuguesas 50, 58, 281, 327, 328, 331, 332, 590, 727, 728, 748, 759, 761, 775 e 812 Inscrições romanas 9, 12, 56, 57, 62, 74, 76, 77, 280, 281, 285 (?), 296, 588, 604, 605, 606, 665, 683, 760, 761, 762, 763, 814 e 815 Insculturas rupestres 283, 810, 811, 818 e 823 Izeda 123 e 714 Izei, povoação morta, 123 e 679 Izido [Zido] (Vinhais), 82
J Jornais no distrito de Bragança, 715 Judeus, 649 Junqueira, 678
L Labiados, 123 e 679 Lagarelhos, 124 e 770 Lagares, lagaretas, bicas, 827 e 843 Lagoaça, 124 Lagoinha [Legoínha] (Alfândega), 81
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Lagomar, 124 Lamalonga, 807 e 826 Lamas de Orelhão, 80 e 124 Lamas de Podence, 609, 679 e 769 Lampaça (concelho de Valpaços), 826 Lanção, 125 e 715 Landedo, 125 Larinho, 79 e 125 Lavandeira, 80 e 125 Lebução, 797 Leirós (Quinta dos), Mirandela, 81 e 129 Leitão Bandeira, 716 Leite Velho (Paulo de Morais), 776 Lendas – Povos que vão ouvir missa a grandes distâncias, 75; povos abandonados por causa das formigas, 71, 632 e 743; panela de peste e outra de ouro, 180; galerias subterrâneas por onde os mouros iam levar os cavalos a beber, 187 e 195; batalhas com os mouros, 64, 223, 297 e 683; telhas furtadas, 246; santos que fogem para as ruínas dos montes, 248 e 249; tributo das donzelas, 9; velha nas fontes, 216 e 817; terrenos roubados por outros povos, 262; outras lendas, 98, 283, 292, 589, 648 e 806 Ligares, 79, 126 e 765 Lima (Henrique Maurício Jorge), 720 Limãos, 126 e 672 Linhares, 504 e 843 Lisboa, 504 Lobo (Francisco Miranda da Costa), professor da Univ. de Coimbra, 721 Lodões, 127 Longra, 81 e 127 Lopes (José Manuel Miranda), 721 Lopo (Albino dos Santos Pereira), 721 Loureiro Melo de Lencastre, 721 Lourenço (Francisco João), agrónomo, 722 Lousa, 80, 298, 722 e 806 Luzelos, 80 e 127 Luzes, fenómenos luminosos, 66
M Maceira (Maseira), 82
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Maçãs (Massans, Massas), 82 e 127 Macedo (Quinta do), Vila Flor, 81 Macedo de Cavaleiros, 60; armas do concelho, 504, 711 e 725 Macedo do Mato, 714 e 763 Machado (Casimiro Henriques de Morais), 725 Maçores, 79 e 128 Madorra, 64 Madureiras, 925 Madureiras Feijós, 726 Magalhães (António de Sousa Pinto de), 727 Maledicência popular a explicar a fortuna das casas ricas, 779 Malhadas, 128, 650, 777 e 820 Malta, igreja românica, 46 Manuelina (Arte), 44 Manuscritos, 728 Marcos (Henrique Alberto da Ressurreição), 728 Marmelos, 80 Martim, 129 Marzagão, 80, 727 e 807 Matela, 129, 678 e 769 Mazouco, 79 e 129 Medidas de bronze de el-rei D. Sebastião, 729 Meirinhos, 129 Meixedo, 129, 612, 767 e 807 Meles, 729 Mena (António Gomes), 726 e 729 Mendel (Moncorvo), 79 e 130 Mente, rio, 130 Milhais, 81 e 130 Milhão, 130 e 679 Mineiros condenados como sacrílegos pela teologia pagã, 733 Minerais no distrito de Bragança, 730 Miranda (José António de), 734 Miranda do Douro, 81, 609 e 697; armas do concelho, 711; etimologia, 131; cancioneiro, 504, 770 e 812 Mirandela, 81 e 609; armas do concelho, 712 e 735; etimologia, 131; cancioneiro, 505, 760, 795, 800, 803 e 804 Miradossos (Mirandela), 81 Misquel, 80 Moás, 131
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Moedas romanas, 736 Mofreita, 132, Mogadouro – Códice paleográfico de valor, 49 e 81; comenda, 609; armas do concelho, 712 e 737; etimologia, 132 Mogo, 80, 183 e 769 Moimenta, 133, 640, 672, 741, 780 e 806 Mónacos, 742 Moncorvo, 74, 79, 134, 609, 616, 712 e 742 Monforte de Rio Livre, 674 e 675 Montanha (Lia do Céu Fernandes), 753 Monteiro (Abílio Adriano de Campos), 753 Montesinho, 649 e 827 Montouto (Montoito), 82 134 Mora, 134 e 678 Morais, 134 e 609 Morais (Armindo António Rodrigues de), 754 Morais (Cristiano de), 754 Morais (Manuel de), 755 Morais (Manuel José Alves de), 755 Morais (Paulo Miguel Rodrigues de), 755 Moredo, 135 Moreira (Manuel Rodrigues), 756 Moreira de Morais (José), 756 Moreno (Augusto César), 756 Morgado (D. Emília Augusta de Sá Vargas), 757 Mós (Moncorvo), 135, 757 e 781 Mosteiro (Torre de Dona Chama), 135 e 678 Mourão, 80 e 135 Mourel (Quinta de), Mirandela, 81 Mouta, concelho de Sabugal, 803 Murçós (Mussos), 82 e 136 Múrias, 136 e 635 Museu de Bragança, 760
N Nabo, 769 Naso, 136 Navalho, 81 e 136
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Negreda, 680 Neves (Luís Gonzaga de Morais Teixeira), 766 Nóbrega de Azevedo (Manuel da), 767 Noga (Domingos Luís), 768 Nogueira (Bragança), 136 e 679 Nomes luso-romanos: Accae, 605; Aelius, 280; Albinus, 281; Allia, 74 e 762; Ammae, 760; Amor, 762; Apilici, 814; Avesco (?), 57; Balesin, 281; Beumenus, 764; Blena, 606; Cam, 62; Calvinus, Calvinae, 814; Capito, 62; Cebalae, 9; Claudius, 588 e 683; Clodio, 76; Clouti, 815; Domitianola, 77; Elaesi, 57; Elavo, 57; Flaccinus, 280; Flavos, 62; Gemini, 9; Horavius, 588; Iovi, 12; Lovesia, 296; Maganae, 815; Martinus, 761; Martioni, 74; Meteli, 605; Modesti, 665; Publius, 280; Reburina, 74; Rufini, 762; Salai, 606; Servae, 605; Silvano, 814; Silviae, 814; Turoni, 814; Tridiae, 665; Valeria, 760; Victor, 761 Noronha (João Carlos de), governador civil do distrito de Bragança, 768 Nozelos, 137, 612 e 674 Nozelos (Alfândega da Fé), 81 Nozelos (Macedo), 80 Nunes, 652 e 679 Nuzedo, 137 e 609 Nuzedo Trespassante, também chamado Nuzedo de Cima, 82 e 28
O Oleirinhos do Sabor, 82, 137 e 678 Oliveira (Artur Águedo de), 769 Olmos, 137 e 678 Oróbio de Castro (Isaac), 769 Osseira, povoação morta, 770 Ousilhão, 138, 609 e 672 Outeiro – Templo do Santo Cristo, 47, 48, 49, 680, 725 e 770 Ozeive [Zeive], 82, 138, 317 e 769
P Paçó de Sortes (Passó de Sortes), 82 e 138 Paçó do Outeiro, 680 Palácios, 680 Palaçoulo, 138
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865 TOMO X
Palancar, 138 Palas, 139 Parada de Infanções, 139, 610, 611, 612 e 772 Paradela (Carrazeda de Ansiães), 80 e 140 Paradela (Miranda), 505 Paradinha Nova, 678 e 679 Paradinha de Outeiro, 680, 730 e 772 Paradinha Velha, 678 Paleografia artística, 48, 49 e 51 Parambos, 80 e 140 Parâmio, 140 Paredes, 611 e 769 Passos, 80 Passos (Vinhais), 81 Patrício (Frei Manuel do Divino), 771 Pavão, genealogia, 772 Pedras de armas, 774 Pegado (Constantino José de Magalhães), 780 Peleas, 141 Pelourinhos, 780 Pena Fria, 80 e 141 Penas Róias, foral manuelino, 784 Penhas juntas, fenómeno luminoso, 66, 141, 612, 680, 769 e 843 Pepim, rio, 142 Peredo (Moncorvo), 79 e 142 Peredo da Bemposta, 81 e 142 Pereira (Mirandela), 80 Pereira (Jacob Israel), 795 Pereira (Jacob Rodrigues), 795 Pereira (José Manuel Martins), 805 Pereiros (Carrazeda de Ansiães), 780 Pessanha (Padre João Manuel de Almeida Morais), 805 Petisqueira (Petriqueira), 82, 143, 316 e 611 Picões, 143 Picote, capela românica, 47, 143, 678, 815 e 844 Pinela, 144 Pinelo, 144, 680 e 762 Pinhal (Quinta de), termo de Vilarinho da Castanheira, 80 Pinhovelo, 80 e 805 Pinto (Manuel de Jesus), 806
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TOMO X
Pinto Coelho de Ataíde (D. Arminda), 806 Pintura, escultura, talha, grafia, 80 Pissarro (Claudino César), 809 Pissarro (Henrique José Gabriel Rodrigues), 808 Pissarro (Rafael José da Costa Gabriel), 808 Poiares, 79 e 144 Pombal, 80 e 769 Pombares, 809 Por terras mirandesas, 810 Porco – Esculturas, simbologia, 764 Portela, 678 Portelo, 145 e 506 Pousa (Moncorvo), 79 Pousadas, 145 Póvoa, 145, 679 e 810 Povoações mortas, 71, 101, 113, 123, 276, 679, 743, 770 e 810 Prado Gatão, 145 Pré-história, 821
Q Quinta do Paço (Mogadouro), 81 Quintanilha, 730 Quintela de Lampaças, 612 Quirás, 146
R Rabal – Castro, sistema defensivo de Bragança, 7, 75, 147, 316, 506, 610 e 678 Rebordainhos, 148 e 730 Rebordãos – Castelo, lenda do mouro e do tributo das donzelas; lápide funerária; santuário da Senhora da Serra, 8, 147, 612 e 833 Rebordelo, 148, 648 e 798 Refega – Castro, 11, 148, 679 e 768 Refóios, 148 Rego de Vide, 80 e 148 Regodeiro, 149 e 678 Remondes, 149
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867 TOMO X
Represália (lei da), bens adquiridos por este pretexto em Bragança e Miranda, 11 Revelhe, 149 Ribalonga, 12 e 80 Ribeirinha (Mirandela), 80 e 678 Rica Fé, 149 Rifões populares – Locuções proverbiais, 12 Rio de Vides, 81 Rio Frio de Carragosa, 610 Rio Frio de Outeiro, 680 Rio de Fornos, 672 Rio de Onor – Castro luso-romano, 43, 149, 316, 506, 611 e 769 Roças, 149 e 662 Róios – Cavernas, carneirinho de bronze, ruínas, lápides funerárias, casas circulares e rectangulares, erva, 43, 150 e 769 Românica, gótica, manuelina, renascença (Arte), 44 Romariz, 150 Romeu, 80 e 150
S Sabor, rio, 524 Sacoias – Castro, 52, 150, 507, 730 e 807 Salamanca, 797 Saldanha (Mogadouro), 62, 678 e 736 Saldonha (Alfândega), 62 e 171 Salgueiros, 736 Salsas, 151 Salselas, 507 Sambade, 151, 769 e 830 Samil – Castro, cavernas, insculturas rupestres, lenda da batalha contra os mouros fugidos do castelo de Rebordãos, 62, 152, 341, 679 e 828 Samões, 81, 507 e 769 Samorinha, 80 e 152 Sanceriz, 153, 616 e 679 Sanhoane – Castro, madorra, vestígios de casas, 64, 152 e 507 Santa Comba da Vilariça, 48, 50 e 64 Santa Cruz (Vinhais) – Cistas, contas pretas nas sepulturas, castro, fenómeno luminoso, 64 e 678 Santa Cruz da Vilariça, 743
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TOMO X
Santa Juzenda, 265 e 278 Santa Locádia (Miranda), 609 Santa Maria Madalena, em terra de Algoso, 609 Santa Olaia (Vila Meã). Ver pág. 610 em nota. Santalha, 152 Santuários pagãos pelo teor de Panóias, 292 Santulhão, 66, 153 e 680 São João de Trasbaceiro, 609 São Jomil, 81 e 153 São Julião – Castro, porto calçado, 67 e 609 São Martinho de Angueira – Castro, 67 São Painho (Quinta de), termo de Vilarinho da Castanheira, 80 São Pedro da Silva, 678 Sao Pedro de Serracenos – Arcas, gruta, água medicinal, 67, 153, 611, 679 e 721 São Pedro de Vale de Conde, 80 São Salvador, 81 e 731 São Silvestre (Mirandela), 80 Sardão (Xardão), 81 Sarzeda, 154 e 679 Savariz [Sabariz], 154 Sedrinhos (Mirandela), Cedaínhos?, 81 Sedrins (Mirandela), Cedães?, 81 Seixas, 155 Seixo de Manhoses, 80 Selas (Celas), 107, 155 e 680 Selores, 80 e 155 Sendas, 156 e 769 Sendim de Miranda, 678 Sendim da Serra, 731 Sentrilha (Centrilha), 71, 80 e 108 Sepulturas cavadas na rocha, 12 e 217 Serapicos, 157, 768, 769 e 830 Sernade (Cernadela?), 80 e 157 Sesulfe, 80 e 157 Seuros, povo das margens do rio Minho, 666 Siglas dos canteiros, 71 Siglas dos códices manuscritos, 829 Silhade, 252 Silveira, lápide funerária, 74 Sobreira, 81
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869 TOMO X
Sobreiró, 770 Soeima, 158 Soeira, 75, 158 e 678 Sonim, 777 Sortilha, 159 Soutelo da Gamoeda – Castro, 75 e 159 Souto, 79 e 159 Strepes [estrepes], sistema defensivo dos castros, 285 e 292 Suçães, 76 e 80
T Talhinhas, caverna, 76, 160 e 612 Teixeira (Mogadouro), 160 e 678 Teixedo, 160 e 810 Tereiginha, 160 Terra Fria e Terra Quente, o que se entende por estes dois conceitos, 643 Terroso, lápides funerárias, 76 Tó, 160 Tombo dos bens do Conde de Sampaio – Capelas com vínculos de morgadio que desfrutava, 840 Toponímia – Proveniência dos nomes das povoações do distrito de Bragança, 77 e segs.; nome dos sítios do termo das povoações do distrito de Bragança, 173 e 821 Torre de Dona Chama, 81, 161, 264, 620 e 735 Tralhariz, ruínas de uma vila romana, 80, 161 e 270 Travanca, em terra de Algoso, 161, 609 e 678 Travanca (Macedo), 678 Travancas (Chaves), etimologia popular, 273 Trindade, 731 Tua, Tuela, rio, 162 Tuizelo (Teozello), 82, 163 e 273
U Urros, 79, 163, 274 e 769 Urrós, 81, 678 e 816 Uva, 164 e 678
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V Valbom dos Figos, 281 e 769 Vale de Águia, 274 Vale de Algoso, 678 Vale de Armeiro, 164 Vale de Asnes, 80, 164, 678 e 781 Vale Benfeito – Ruínas fortificadas, pinturas no tecto da igreja paroquial, cistas, povoação morta, punhais de cobre ou bronze, 164, 274, 769 e 807 Vale Certo, 678 Vale de Fofo, 165 Vale das Fontes, 731 Vale do Freixo (Quinta de), Mirandela, 81 Vale de Gouvinhas, 165 e 678 Vale Maior, 678 Vale de Mira, 166 Vale de Padrinhos (Mirandela), 81 Vale da Porca, 731 Vale de Pena, 680 Vale de Prados, o Grande, 507, 672 e 679 Vale de Prados das Múrias, 278 e 678 Vale de Prados da Ponte e Vilar, freguesia de Quintanilha, 679 Vale de Salgueiro, 281 e 830 Vale da Sancha, 731 Vale de Sardão (Quinta de), Mirandela, 81 Vale de Telhas – Fonte dos mouros, restos de casas circulares, santuário romano; lápides votivas e funerárias, insculturas zoomorfas em granito, 279 Vale do Tolmo (Valtorno?), 80 Valtorno, 166, 283 e 769 Valongo, 680 Valpaços (Valgassos), 82 Valverde (Mirandela), 80 Valverde (Mogadouro) – Castelo, ruínas, cistas, lenda do tesouro que vai da ponta da relha até ao pé da ovelha, 283, 589 e 830 Varge – Demanda do cura com o abade de Meixedo a propósito da côngrua, 60, 166, 731, 769 e 807 Variz, 166 Veigas, 680 Ventozelo, 284 Véus de cálix impressos em seda, 768 e 771 MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA
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871 TOMO X
Vide – Ídolos-placas, 284 Viduedo (Miranda), 81 Vieiro, 166 Vila, 167 Vila Boa (Mirandela), 80 Vila Boa de Carçãozinho (Vila Boa de Carção), 82 Vila Boa de Ousilhão, 731 Vila Chã de Braciosa – Estrepes, como meio defensivo, 167 e 285 Vila Chã da Ribeira, 678 Vila Flor – Lápides romanas, monumentos da vila: fonte, igreja paroquial, arco das muralhas, 81, 285 e 288; armas do concelho, 712 e 737; etimologia, 167; cancioneiro, 507; pelourinho, 782, 795, 796, 798, 799 e 840 Vila Franca, 291 e 679 Vila Meã, 167, 662 e 731 Vila Nova (Bragança), 679 Vila Nova de Foz Côa, 282 Vila dos Sinos – Igreja românica, inscrição de tipo monacal nos sinos, sepulturas arcaicas, dois porcos e um touro, lenda das formigas, 288, 765 e 766 Vila Verde (Vinhais), 6509 Vilar, Vilarica, Vilariça, Vilarinho, 168 e 291 Vilar de Ossos, 169 Vilar Seco de Lomba, 81 Vilar Seco de Miranda, 678 Vilares Novos e Vilares Velhos, lugares ermos, 785 Vilariça, 169 Vilarinho de Agrochão, 80 Vilarinho da Castanheira, 80, 292 e 769 Vilarinho de Cova de Lua, 733 Vilarinho dos Galegos – Castelo dos mouros, lendas, estrepes, cavidades nas fragas pelo teor do Santuário de Panóias, 292 Vilarinho do Monte, 80 Vilas Boas, 769 e 782 Vimioso – Atalaia, torre, igreja matriz, grutas, armas do concelho, mármores e alabastros, etimologia, cancioneiro, 170, 293, 508, 609, 698, 700, 713, 731 e 732 Vinha – Sua importância e cultura, 660 e 662 Vinhais – Lápide votiva, Cidadelha, Bairro dos mouros, 81 e 296; armas do concelho, 713, 798, 799 e 807
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Z Zava, 170 Zedes, 80, 170 e 178 Zido, 171 Zoio, 171 [NOTAS DE REVISÃO], 847
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As Memórias Arqueológico-Históricas do distrito de Bragança são um repositório amplíssimo, completo quanto possível, de notícias respeitantes à nossa terra, interessantes sob todos os pontos de vista científicos, por mais variados que sejam. Representam, não uma tentativa mercantil, mas sim um preito de amor, um monumento carinhosamente erguido ao torrão natal com grandes sacrifícios físicos, pecuniários e mentais, não tanto pelo autor, como pelo grupo de devotados regionalistas que omnimodamente o auxiliam. Todo o bragançano digno de tal nome tem obrigação moral de cooperar para o incremento e divulgação das mesmas.
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