AGRADECIMENTOS Agradeço minha orientadora Aline Nasralla, por me incentivar e acreditar em minha proposta no decorrer dos últimos doze meses e a minha família que sempre esteve ao meu lado. Agradeço também aos meus companheiros de trabalho pela compreensão e apoio quando a barra apertava, e aos meus amigos do Studio M.B.T. por todos os trabalhos e momentos juntos no decorrer da faculdade. Por fim deixo meu agradecimento aos meus amigos Ricardo, Aldo, Demarchi, Marcela, Leko e Ed pela ajuda imprescindível no desenvolvimento deste trabalho.
SUMÁRIO O BAIRRO DA LUZ •INTRODUÇÃO
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•O
ENTORNO
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•JUSTIFICATIVA
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•OBJETIVO
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•METODOLOGIA
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ESTUDOS DE CASO •ESTUDOS DE CASO
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PROPOSTA DE PROJETO •CONCEITOS
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•DIAGNÓSTICO
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LEGISLAÇÃO
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•PROJETO
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•TIPOLOGIAS
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•AMPLIAÇÕES
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•CORTES
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•PERSPECTIVAS
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•APÊNDICES
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•REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO O abandono da região central da cidade de São Paulo ocorre desde a saída do centro empresarial da cidade em direção a outras áreas. Porém, intensificou-se na região da Luz, após a instalação e posterior remoção da antiga estação rodoviária. Novos projetos foram destinados à região, como o Nova Luz, do arquiteto Jaime Lerner, que criou interesse do capital privado pela área e fomentou o apelo econômico da região, que hoje conta com baixos preços quando comparada ao restante das regiões centrais da cidade. Hoje, a região possui novos projetos que nada oferecem de atrativo ao entorno, que criam uma espécie de oásis, cercado por altos muros, a fim de proteger aqueles que o habitam da hostilidade do entorno, fugindo dos problemas ali presentes, ao invés de criar alternativas para que estes sejam superados.
Entre os diversos aspectos positivos que a região oferece, podem ser citados desde a vasta disponibilidade de acesso às demais áreas da cidade pelos trilhos do Metro e da CPTM até o forte setor comercial ali presente, além das inúmeras relíquias artísticas e arquitetônicas de um período de prosperidade dos Barões do Café. Entretanto, com a degradação do entorno, deficiências foram evidenciadas, dentre elas o descaso com a segurança pública, a falta de opções de equipamentos de saúde e lazer, falhas na limpeza e conservação dos espaços, entre outros. Neste trabalho, utilizaremos a legislação vigente, a partir do Plano Diretor de São Paulo, com o objetivo de alterar a disposição das quadras envolvidas pela ZEIS-3, e criar um novo modelo de ocupação, com usos diversos, a fim de, gradualmente, reconquistar o interesse da população da cidade pela região.
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O BAIRRO DA LUZ Em meados de 1600, antes da chegada da Capela de Nossa Senhora de Luz, que daria nome ao, hoje conhecido, bairro, a região da Luz era composta por uma paisagem bucólica e tranquila, o então Campo de Guaré. Com a expansão da cidade e a valorização da região pela presença de casarões da elite cafeeira, em 1825 fora inaugurado o atual Jardim da Luz e em 1867, com a passagem da malha férrea por São Paulo, inaugurada a primeira Estação da Luz. Até meados de 1920, importantes edificações foram construídas, como a Pinacoteca do Estado, o Liceu de
SÃO PAULO
BRASIL
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Artes e Ofícios e o Museu de Belas Artes, demarcando a forte presença cultural e artística na região, em decorrência da elite financeira ali presente. Durante a segunda metade do século XX, entretanto, com a saída das empresas em direção à Avenida Paulista, iniciou-se a degradação da região. Os moradores da elite, em seus vastos casarões dos Campos Elíseos, também deixaram o bairro, acentuando o processo de abandono. Em 1960 foi erguida a Rodoviária da Luz, bela edificação, revestida por cores vivas. Até 1982, esse projeto proporcionou muitas das chegadas
DISTRITO DO BOM RETIRO
de pessoas de todo o país à capital, essas que, por sua vez, buscavam a realização de seus sonhos na cidade grande. Com a implantação da mesma, contudo, o entorno sofrera por conta do intenso tráfego de ônibus pelas ruas antigas, que não previam a circulação destes veículos e nem a proliferação dos hotéis baratos para os recém chegados, que, por muitas vezes, não conseguiam uma colocação no mercado de trabalho e por ali permaneciam. Estes fatores contribuíram com o início ao processo de degradação do entorno, que, com o advento do surto do consumo de Crack na cidade de São Paulo, dera início à permanência, na região, de usuários e traficantes de drogas. Na atualidade, o bairro é constituído por uma área quase inteiramente edificada, que permanece, porém, subutilizada, devido ao alto número de construções vazias, muitas vezes utilizadas como estacionamentos, depósitos ou mesmo em estado de abandono.
Nos últimos anos, a região enfrentou grande descaso do poder público, que ignorou a necessidade de melhorias e maiores investimentos em saúde, segurança e manutenção da área, o que incentivou o desinteresse do poder privado. Por consequência desse esquecimento, a área acabou tornando-se um reduto com alto índice de vulnerabilidade social, e passou a abrigar famílias em situações precárias, inúmeros moradores de rua e converteu-se em um local de frequente associação ao uso de drogas e à falta de segurança. No passado recente, propostas foram feitas para a região, como o projeto Nova Luz, do Arquiteto Paranaense Jaime Lerner, no ano de 2005, que teve como finalidade a reestruturação e requalificação do espaço entre a Estação Júlio Prestes até a região da Santa Ifigênia, e indicou, naquele trabalho, a criação de habitações, centros comerciais e espaços públicos reformulados. 13
O ENTORNO A área de desenvolvimento do projeto é margeada pelas Avenidas Tiradentes e do Estado, a oeste e leste respectivamente, e as ruas João Teodoro e São Caetano, a Norte e Sul, estando situada à direita da Estação da Luz. A região é ocupada por antigos galpões, que, em sua maioria, possuem baixo gabarito de altura e forte influência de comércio popular. A rua São Caetano é conhecida pela vasta quantidade de lojas voltadas a artigos para noivas e casamentos em geral, além da proximidade com os centros de comércio popular do outro lado da Avenida do Estado.
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AVENIDA TIRADENTES VISTA A PARTIR DA RUA 25 DE JANEIRO
AVENIDA TIRADENTES VISTA A PARTIR DA PASSARELA DAS NOIVAS
JUSTIFICATIVA Boa parte da rede de infraestrutura e de mobilidade das grandes cidades concentra-se, em sua maioria, na região central, berço do desenvolvimento de grandes empresas e lar de muitas das famílias tradicionais e recém-chegados à cidade. Com o passar dos anos, este polo migrou, bairro a bairro, cada vez mais distante da região onde anteriormente se encontrava. Aliado aos demais fatores externos, o centro da cidade, especialmente o de São Paulo, beirou o abandono. Prédios com potencial para abrigar centenas de famílias foram abandonados e as ruas, antes vivas, perderam seu brilho, tornando-se parte de um cenário de abandono e insegurança. Tomando como objetivo a readequação das áreas centrais, hoje subutilizadas e com enorme demanda por moradia, principalmente destinada à população carente, o Plano Diretor de São Paulo coordena instrumentos que visam garantir maiores incentivos
à construção de edificações e adequação de espaços que intervenham, de forma positiva, neste cenário, o que inclui, também, a ZEIS-3, objeto da presente proposta. A região abordada no trabalho situa-se entre as Avenidas Tiradentes e do Estado, a oeste e leste respectivamente, e as ruas João Teodoro e São Caetano, a Norte e Sul, sendo parte de um importante centro de comércio popular e com acesso facilitado às linhas do Metro, CPTM e a importantes vias de acesso às demais regiões da cidade. Tendo em vista a disposição de serviços e transportes ali presentes, a ZEIS-3 beneficia a elaboração e implementação de projetos de HIS (Habitação de Interesse Social), interligados à rede de comércio local, tirando proveito dos serviços existentes, tanto para a população que virá a habitá-la quanto aos que a frequentarão e utilizarão a malha de serviços proposta. 15
OBJETIVO De forma geral, o projeto visa despertar, novamente, o sentimento de afeto e pertencimento da população pela região da Luz, ao propor a agregação de novos usos, que solucionem as deficiências atualmente presentes naquele local e conectem serviços, lazer e moradia, de modo a evitar processos de gentrificação. A implementação de novos usos à vizinhança, a partir de táticas de estruturação urbana e social, idealizadas a partir da observação dos déficits e das necessidades indicadas pela população que vivencia e habita a região, é algo vital para que o espaço seja proposto para essas pessoas, e não para atender aos interesses do capital e de propostas de desenvolvimento de empreendimentos fora do contexto urbano da área. Toda a abordagem deste trabalho concentra-se na vivência do pedestre, ao buscar a criação de uma atmosfera amigável, para que todos os usos propostos sejam atingidos em seu potencial máximo. 16
Ilustração do conceito dos usos sobrepostos em camadas
Sendo assim, criam-se três níveis distintos que se sobrepõem na implantação proposta, sendo eles o espaço público, o semipúblico e o privado, contendo o passeio aberto e equipamentos de lazer e diversão no nível térreo, serviços públicos e privados interligados no primeiro pavimento e moradias de interesse social nos pisos superiores, estes separados por fluxos e acessos distintos. Deste modo, três variáveis são criadas e sobrepostas, garantindo rotatividade do fluxo de pessoas pelo local no decorrer do dia, de modo a diminuir a sensação de insegurança e do vazio, hoje presente nas ruas do Bairro da Luz, readequando, assim, aquele espaço, às necessidades da vida nas grandes cidades no século XXI.
METODOLOGIA Antes do projeto arquitetônico ser de fato iniciado, fora elaborado um diagnóstico da região em conjunto com outras duas estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, tendo em vista os três projetos estarem inseridos no mesmo raio de ação, sendo estes o trabalho “Centro socioeducativo para menores infratores na Luz” elaborado pela acadêmica Chen JiaWen e o trabalho “Resíduo: Centro Cultural Torre das Donzelas” elaborado pela acadêmica Isabella Matulevicius Villanova.
O levantamento foi constituído por três diretivas, sendo elas a pesquisa de dados sensitivos atrelados à prefeitura de São Paulo, uma pesquisa interativa elencando pontos pertinentes ao local, feita com a participação da população que habita e transita a região e, por fim, o cruzamento dos dados levantados em mapas-síntese, que sintetizam as necessidades e potencialidades da área de estudo, que serão abordados a frente.
Croqui que ilustra a proximidade com o trabalho de Chen Jiawen
Croqui da proposta de conexão entre os blocos
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Após o levantamento em conjunto das características pertinentes à Região do Bairro da Luz, foram listadas as maiores deficiências presentes na área onde o projeto fora inserido, tomando como ponto de partida para o desenvolvimento dos estudos relacionados ao projeto Arquitetônico, a elaboração de croquis e desenhos em software BIM, para entender a complexidade do terreno e das edificações envoltórias. A partir destes croquis iniciais, foram desenvolvidos estudos de fluxos, a fim de encontrar-se a melhor rota entre origem e destino das pessoas que transitam pelas três camadas do projeto, do passeio público ao nível intermediário comercial, e aos pavimentos comerciais, dando início, deste modo, ao desenvolvimento do estudo das passarelas que interligam os pavimentos de comércio das edificações institucionais e dos blocos residenciais.
Esboço da conexão entre “blocos” ligadas ao passeio
Estudo de ocupação dos térreos e massa das edificações
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Primeiro Croqui contendo a ligação entre os edifícios, passeio público proposto e definição de usos
Estudo para desenvolvimento dos apartamentos tipo e layout da praça com equipamentos esportivos
Estudo dos fluxos propostos sob mapa de cheios e vazios da área de projeto. Em azul fluxos existentes de acesso. Em vermelho o caminho proposto para uso principal. 5
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Após a concepção dos usos e definição dos fluxos, estudos volumétricos foram gerados a fim de obter um alto aproveitamento de terreno, no que diz respeito aos índices de densidade populacional, como previsto na ZEIS-3, respeitandose o desenho da cidade acessível a escala humana, a partir do nível da rua 19
ESTUDOS DE CASO The Peninsula
Perspectivas do projeto. Fonte da imagem: https://www.thepeninsulabx.com/
Perspectivas do projeto. Fonte da imagem: https://www.thepeninsulabx.com/
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O projeto tem como premissa a requalificação de uma área de caráter antes industrial, degradada por conta do abandono que passara nos últimos anos, localizada na região de Hunts Point, no condado do Bronx em Nova York. Uma das propostas aliadas à criação do complexo que reúne moradias sociais, comércio, indústria e lazer é de que a preferência para a ocupação das construções fosse das pessoas que já habitam a região, evitando o efeito conhecido como gentrificação, como ocorrera anteriormente no Brooklyn, que após transformações urbanas mudou seu caráter de ocupação e muitos moradores foram forçados a deixar suas casas por conta da alta dos aluguéis. Ficha Técnica: •Autor: WXY Studio; •Ano: 2016, conclusão prevista para 2024; •Área total: 145.000 m2; •Localização: Hunts Point, Bronx – Nova York, EUA.
Passive Apartments
Com caráter social, o projeto dispõe de 26 apartamentos distribuídos ao redor de um pátio central, contando com estratégias na escolha dos materiais e métodos construtivos que garantam um baixo valor de manutenção, visto que por se tratarem de famílias humildes, estas não teriam condições de manter reparos caros à moradia por conta do valor de financiamento do imóvel. Os dois blocos do prédio são interligados por passarelas a fim de criar um aspecto de vizinhança e facilitar a circulação de seus moradores entre os mesmos, além das unidades contarem com estratégias de ventilação cruzada e iluminação natural por conta da disposição do pátio central, onde por terem um gabarito de altura baixo respeitam e dialogam com os edifícios da década de 50 do entorno. Ficha Técnica: •Autor: Benjamin Fleury; •Ano: 2019; •Área total: 1640,00 m2; •Localização: Montreuil, França
Foto do projeto. Fonte da imagem: https://www.archdaily. com/920656/26-passive-apartments-benjamin-fleury
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+15 Network
Foto conexão do sistema +15 acima do nível da rua. Fonte da imagem: https://calgaryplus15.com/
Mapa dos edifícios conectados no centro de Calgary. Fonte da imagem: https://calgaryplus15.com/
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Concebida pelo Arquiteto Canadense Harold Hanen a Plus 15 ou +15 Network tinha a premissa de criar um sistema de passagens elevadas a 15 pés (4,5m) do nível da rua, interligando prédios do centro da cidade, criando uma rede interligada autônoma ao edifico em que situa, sendo uma passagem pública que dispunha de lojas e serviços como uma grande galeria, de modo a criar um segundo nível ao alcance do pedestre acima das ruas, em um ambiente climatizado e seguro. Nos dias de hoje o sistema conta com mais de 18 quilômetros de extensão e interliga mais de 129 edifícios ao redor do centro da cidade.
Ficha Técnica: •Autor: Harold Hanen; •Ano: 1970; •Extensão total: 18 Km; •Localização: Calgary, Canadá
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CONCEITOS Pertencimento
O conceito de pertencimento está diretamente ligado às características urbanas e sociais presentes na cidade, aspectos que despertam sentimentos aos que frequentam ou habitam determinada região e desenvolvem vínculos afetivos com o lugar, seja por estilos arquitetônicos, tipo de comércio ou etnia predominante, criando o sentimento de integração ao espaço Torre do relógio da Estação da Luz
Urbanismo Tático
O Urbanismo Tático utiliza de estratégias rápidas voltadas às soluções de longo prazo, ocupando o espaço Urbano de modo a perceber e compreender a aceitação das pessoas para determinada solução, criando espaços, desmistificando usos e abrigando ideias que possam não ter grande aceitação de início, mas que, após um período, possam se instaurar no cotidiano local e vir a ser executadas posteriormente. 28
Antes e depois: Aplicação urbanismo tático - Times Square NYC
Gentrificação
O conceito de Gentrificação, criado pela socióloga britânica Ruth Glass, descrevia as mudanças de caráter socioeconômico nos bairros operários da cidade de Londres, que passavam por transformações, atraindo investimentos de classes de alto poder aquisitivo, que, ao ocuparem o bairro, expulsavam, por conta do aumento do custo de vida, a população de baixa renda que anteriormente habitava o local, criando ilhas de transformação na cidade. Atrelados aos conceitos, os instrumentos de pesquisa e coleta de dados foram utilizados de modo a identificar os problemas presentes no local, de acordo com o que foi apontado pela própria população que habita e frequenta o bairro, moldando o programa do projeto.
Ilustração dos efeitos da Gentrificação
Fonte: https://medium.com/wteek/what-is-gentrification-8d7ef7ef38bd
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DIAGNÓSTICO Como descrito na Metodologia Projetual, o desenvolvimento deste trabalho teve como norte a análise do cruzamento de dados da prefeitura com uma pesquisa feita com moradores da região, a fim de serem levantados pontos importantes a se considerar na proposta, como as deficiências mais evidentes apontadas por eles, cujos resultados seguem nos gráficos abaixo:
Gráfico elaborado a partir da pesquisa feita com moradores
Gráfico elaborado a partir da pesquisa feita com moradores
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Após a análise dos gráficos, notase a disparidade no que diz respeito à ausência de unidades de saúde, equipamentos esportivos, de locais de lazer, bem como de espaços de convívio público amigáveis e restaurantes, além da evidente falta de segurança na região, sendo estes os principais pontos considerados posteriormente, no desenvolvimento do projeto. Junto da análise da pesquisa, com o desenvolvimento dos mapas, ao cruzar dados fornecidos pela prefeitura de São Paulo, podemos evidenciar outros pontos importantes a serem levados em conta na concepção do projeto, como a grande presença de cortiços e irregularidades nas edificações da área onde o projeto se insere e a confirmação dos pontos levantados pela pesquisa feita com a população, como pode ser visto nos mapas de Equipamentos de Saúde, Esportivos, Segurança e de Vulnerabilidade Social.* *Nota: os demais mapas concebidos para auxílio do desenvolvimento do programa do projeto encontram-se nos apêndices do caderno.
LEGISLAÇÃO O trabalho proposto aliase à legislação vigente do novo zoneamento (Lei 16.402/2016), de 22 de março de 2016, que classifica a área projetual em sua maioria como uma ZEIS-3 (Zona Especial de Interesse Social), com uma quadra caracterizada como ZC (Zona de Centralidade), possuindo incentivos para a construção de Habitações de Interesse Social (HIS) e Habitações de Comércio Popular (HMP), aproveitando-se de imóveis ociosos, como galpões abandonados ou construções deterioradas, em regiões com ampla oferta de transporte e infraestrutura, como ocorre na região da Luz.
Painel de zoneamento - Geosampa
Por se localizar em uma ZEIS3, a área de projeto possui Taxa de ocupação (TO) de 0,70 e sua área de projeto deve atender a um mínimo de 40% destinado para construção de HIS, 40% para HIS ou HMP e um máximo de 20% para outros usos, sendo seu Coeficiente de aproveitamento mínimo de 0,3, básico de 1,0 e máximo de 4,0.
Diagrama Zeis 3 - Plano Diretor SP
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PROJETO Após finalizada a interpretação dos dados pertinentes à região do projeto, fora definida a área onde a intervenção seria implantada. Aproveitando-se de cortiços e galpões subutilizados nos miolos das quadras, cria-se um traçado irregular, porém interconectado, que abre os grandes e inacessíveis quarteirões no meio e abre-se uma passagem exclusiva para pedestres e um grande calçadão, que dispõe de equipamentos de lazer, entretenimento, esporte e acesso aos usos propostos ao espaço. O fluxo do nível da rua é conectado pelas vias que cortam o calçadão, que foram reduzidas a fim de diminuir o tráfego de veículos, tornando possível o aumento da área útil do passeio público. Tais medidas incentivam, então, o uso das calçadas pela população e criam bolsões para estacionamento rotativo.
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Referência de localização com o trabalho “Centro socioeducativo para menores infratores na Luz Perímetro de internvenções do Projeto urbano
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30
MASTERPLAN
Q1
Q2
Q3
Q4
As quatro quadras intervindas são separadas nos quadrantes Q1, que conta com serviços de comércio, UBS, hostel, torre de escritórios e residenciais de baixa densidade; Q2, com residenciais de maior densidade e comércio; Q3, com um único edifício misto, que tira proveito do terreno estreito para ter maior presença vertical, mesmo que dentro dos limites da escala humana, e, por fim, a Q4, com comércio e residência de baixa densidade e uma grande praça que conta com equipamentos esportivos.
Q1.3
Q1.1
Fluxo de pedestres existente Fluxo de pedestres proposto
Q1.2
5
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IMPLANTAÇÃO
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As edificações do complexo são divididas em 3 camadas, sendo o nível térreo de permanência e acesso a toda a população; o primeiro pavimento de características semi-restritas, com todas as edificações interligadas por uma rede de passarelas, que cria uma segunda camada de trajetos e possibilidades acima da malha urbana, com o primeiro pavimento das edificações ocupado por lojas e serviços em geral; e a terceira camada, por sua vez, é de uso restrito, onde encontramse as indicações para instalação de um hostel, UBS, lajes corporativas e Habitações de Interesse Social (HIS)
HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL (HIS)
CORPORATIVO
PASSAGEM ELEVADA
TÉRREO LIVRE + BARES/ RESTAURANTES
UBS HOSTEL
COMÉRCIO + SERVIÇOS O acesso das duas camadas superiores é distinto. Os moradores utilizam o hall de entrada do condomínio para acessarem os apartamentos, enquanto os usuários do sistema de comércio do primeiro pavimento o acessam por uma entrada separada, demarcada pelo uso com horário restrito das sete às vinte horas.
TIPOLOGIAS
HIS
Residencial Misto
As edificações propostas para as HIS (Habitações de Interesse Social) possuem uma tipologia mestre de espaço interno no que diz respeito a distribuição dos apartamentos em todas as 9 edificações, onde a única diferença entre estas está na torre mais alta, situado no quadrante Q3, que possui um saguão para encontros e organização de eventos ou usos diversos, diferente dos demais, que são organizados internamente com espaço para lojas ao redor dos corredores que interligam o sistema de passarelas proposto. A distribuição do programa se deu, no térreo, por duas plantas distintas, entre as oito edificações que possuem lojas no primeiro pavimento, e uma terceira opção para a torre, com o primeiro pavimento livre, onde quatro dos oito edifícios possuem restaurantes no térreo voltados para o passeio público e podem dispor do calçamento para acomodar mesas externas e intensificar a presença das pessoas nas ruas para fins recreativos. 42
PA S S A G E M ELEVADA TÉRRÉO LIVRE + RESTAURANTES Tipo 1 - O primeiro piso possui caráter multi-uso. 1 Unidade.
HIS
LOJAS + PASSAGEM ELEVADA TÉRRÉO LIVRE + RESTAURANTES Tipo 2 - O primeiro piso possui lojas. 8 Unidades.
Planta Térreo Livre. Tipo 2 - Escala: 1:250
Planta 1 º Pav. com Lojas Tipo 2 - Escala: 1:250
Planta Térreo com Restaurante. Tipo 2 - Escala: 1:250
Planta 1 º Pav, livre Tipo 1 - Escala: 1:250
Todos os térreos possuem portaria e acesso independente para os blocos habitacionais e ao primeiro pavimento comercial. No primeiro pavimento encontram-se as lojas e serviços dispostos ao redor das passarelas, que conectam as edificações propostas, e seu acesso é feito por uma entrada separada do acesso principal dos blocos habitacionais. 43
Planta Térreo com acesso ao sistema de passarelas do 1 º pav. Tipo 2 - Escala: 1:250
Planta 1 º Pav. com Lojas com acesso ao térreo Tipo 2 - Escala: 1:250 44
Os acessos entre os blocos residênciais e comerciais do mesmo edifício são feitos por entradas separadas, a fim de criar um ambiente seguro para os moradores do condominio sem que pessoas não autorizadas possam circular pelos pavimentos residenciais. A individualização do acesso ocorre criando um ou dois acessos ao sistema de passarelas por quadra, de acordo com a quantidade de edifícios ali presente, onde um hall de acesso é construido na lateral do prédio, a fim de conectar o nível térreo com o andar superior. Os blocos de escada e elevadores da recepção dos apartamentos também não possui acesso ao primeiro pavimento, indo direto ao primeiro andar residencial.
Circulação pública restrita 1 º pav - comércio + passarelas Circulação privada 2 º pav + residencial
Nos demais andares residenciais, o acesso restrito pela portaria dos edifícios controla a entrada e saída dos moradores. O pavimento tipo é composto por quatro apartamentos, sendo que duas unidades, de XXm2, contam com dois dormitórios, banheiro com lavatório separado, sala de estar e jantar integradas e cozinha com área de serviço, integrada aos demais ambientes em conceito aberto, separados por bancada para refeições rápidas. As duas outras unidades contam com cozinha e lavanderia integradas à sala de estar e tv, banheiro e quarto, este último podendo ser integrado à área comum do apartamento, permitindo sua caracterização tanto quanto um apartamento de um quarto quanto como um studio, de acordo com as necessidades do morador.
CORTE A:A ESCALA: 1:250
Planta residencial tipo. Tipo 1 e 2 - Escala: 1:250
CORTE B:B ESCALA: 1:250
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Corte explodido CORTE A:A
46
CORTE B:B
Corporativo misto
Inserem-se no topo do quadrante Q1 duas unidades com amplas lajes destinadas à ocupação de escritórios e empresas, onde uma das duas unidades possui um restaurante no térreo, ao lado do acesso ao edifício. O primeiro pavimento conecta-se aos demais edifícios propostos e os demais são lajes vazias, com core rígido para disposição do layout de trabalho, de acordo com as necessidades do locador.
LAJE CORPORATIVA
LOJAS + PASSAGEM ELEVADA
TÉRRÉO LIVRE + RESTAURANTES
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Hostel
Em uma extensa edificação de baixo gabarito a sul do quadrante Q1, localiza-se um espaço proposto para a criação de um hostel, agregando o serviço de acomodações de baixo custo, frequentemente associada a jovens viajantes e tirando vantagem da localização próxima a importantes estações da CPTM e Metrô, além dos inúmeros museus e centros relacionados às artes que compõem o redor.
PA S S A G E M ELEVADA
TÉRREO LIVRE
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HOSTEL
UBS
Conforme observado na pesquisa feita com a população do bairro, 62.9% dos entrevistados sentem falta de equipamentos de saúde na região, tendo sido constatado que as duas Unidades Básicas de Saúde mais próximas estão no fim do bairro do Pari e do Bom Retiro, além da carência da região por hospitais e clínicas, o que justifica a necessidade da implementação de uma Unidade Básica de Saúde como parte do sistema que interliga os demais edifícios propostos.
UBS PA S S A G E M ELEVADA
TÉRREO LIVRE
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AMPLIAÇÕES
2
O programa do nível térreo transpõese a partir da criação de espaços de convívio públicos atrelados ao calçadão para pedestres, em que o térreo das edificações conta com duas tipologias, sendo uma aberta para passagem de pedestres, onde o prédio está apoiado em pilotis, e a outra equipada com um ponto para inserção de um restaurante, o que agrega a transformação dos usos do espaço à da permanência das pessoas na rua nos mais diversos horários do dia.
1 3
2
5
2 1
1
1
3 2 1
1
A
2 3
1
4
1
3 1
1 2 2
3 1
50
Q1.1 5
15
30
1 - Banco 2 - Hall Residencial 3 - Mobiliário urbano 4 - Restaurante 5 - Térreo livre
1 - Banco 2 - Mobiliário urbano 3 - Térreo livre
Q1.2 5
15
30
1 - Hall Corporativo 2 - Mobiliário urbano 3 - Restaurante 4 - Térreo livre 5 - Acesso à UBS e ao sistema de passarelas 6 - Apoio ao restaurante abaixo do edifício corporativo 7 - Bolsão para veículios
2
7
3
6
1
6
1
1
1
4
7 4
3
4
2
2
2
B 3 4
5
1
2 8
5
Q1.3 5
15
Q2 30
5
15
30
1
7
1 - Hall Residencial 2 - Mobiliário urbano 3 - Restaurante 4 - Térreo livre 5 - Acesso independente ao sistema de passarelas 6 - Playground 7 - Banco 8 - Acadêmia ao ar livre
A última quadra (Q4) configura-se como um espaço esportivo, e dispõe de equipamentos dedicados à prática esportiva, com uma mini quadra street e pista de skate, apoiadas por um vestiário para os esportistas.
C
2 2
11
2
3
6
9
10
8
3 1
1
2
1 4
2 2
2
1 - Hall Residencial 2 - Mobiliário urbano 3 - Térreo livre
Q3 5
15
30
D
7
Q4 5
15
30
1 - Hall Residencial 2 - Mobiliário urbano 3 - Restaurante 4 - Térreo livre 5 - Acesso independente ao sistema de passarelas 6 - Apoio ao restaurante abaixo do edifício 7 - Banco 8 - Vestiário 9 - Mini quadra Street 10 - Pista de Skate Street 11 - Arquibancada 2 níveis
CORTES
CORTE B:B
CORTE A:A
56
57
58
CORTE C:C
CORTE D:D
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PERSPECTIVAS
60
61
62
63
64
65
66
67
68
APÊNDICES
70
71
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