Revista
Circuitoda
saúde no CEFET-MG
Debate sobre a promoção da saúde do servidor Junho 2015
Trabalho em rede Atividade física Autocuidado Educação financeira Espiritualidade Envelhecimento Pesquisa SINDIFES com associados idosos
Expediente
Sumário
Diretor-Geral Prof. Márcio Silva Basílio
3 Editorial 4 SIASS: um projeto de rede em saúde do servidor 8 O desafio das mudanças nas Organizações Públicas 10 Você gosta de se exercitar? Descubra por que
Vice-Diretor Prof. Irlen Antônio Gonçalves Chefe de Gabinete Profa. Heloísa Helena de Jesus Ferreira Diretor de Planejamento e Gestão Prof. Felipe Dias Paiva Superintendência de Saúde e Relações de Trabalho Regina Rita de Cássia Oliveira Divisão de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho Maria Salete Guimarães Moreira Divisão de Atenção à Saúde Vania Aparecida de Paula Barros e Paula Divisão de Relações de Trabalho Sandra Lúcia Horta Neves Revisão de linguagem Profa. Ana Maria Nápoles Villela Profa. Patrícia Rodrigues Tanuri Responsável pelo projeto Maria Salete Guimarães Moreira Design Gráfico Leonardo W. Guimarães Setor de Comunicação Visual - SECOV Fotos Freeimages.com Pixabay.com Tiragem: 2.500 Superintendência de Saúde e Relações de Trabalho - SSRT - CEFET-MG Av. Amazonas, 5253 - Nova Suíça Belo Horizonte - MG - CEP 30421-169 Sala 217 Telefone (31) 3319-7084 www.cefetmg.br
a atividade física pode ser sua principal aliada com o passar do tempo...
14 Educação financeira e qualidade de vida 16 Alimento funcional: benefício extra à saúde 18 Promova a sua saúde nutricional 20 Saúde começa pela boca 23 Cuidados com a escova de dentes 24 Infecção pelo papilomavírus humano (HPV): a informação é a melhor prevenção
2 8 Porque fazer o autoexame das mamas 31 Álcool e saúde: tire as suas dúvidas 35 Sexualidade e envelhecimento 38 Uma comunicação promotora de saúde e bem viver 40 A Inteligência Espiritual e a saúde da humanidade: crer para ver!
4 2 Leitura: exercício para a mente e para a alma 43 Resgate da dignidade do Idoso: a experiência de um sindicato junto aos seus filiados
45 A metáfora da resiliência
Editorial
É com enorme satisfação que trazemos à comunidade do CEFET-MG uma nova edição da nossa Revista Circuito da Saúde no CEFET-MG. Neste trabalho, revisitamos temas importantes e polêmicos como o envelhecimento, o endividamento, a vida saudável, o alcoolismo e, acima de tudo, a prevenção como política principal da Superintendência Saúde e Relações de Trabalho. Em um momento em que as alterações organizacionais nas áreas de gestão de recursos humanos e promoção da saúde do servidor encontram-se em fase final de acomodação, a chegada dos novos profissionais de diversas áreas fornece a complementação do quadro de pessoal necessária ao bom funcionamento desses setores, conforme o modelo planejado anteriormente. Experimentamos, no CEFET-MG, uma nova fase no que se refere ao serviço de atenção ao trabalhador. Usando recursos humanos próprios e aproveitando do serviço em rede oriundo do sistema SIASS, estamos aptos a iniciar um trabalho focado nos serviços de promoção e atenção à saúde dos nossos servidores. Como resultado, esperamos melhorias nas condições de trabalho, melhor acompanhamento na gestão dos conflitos, implantação de ações efetivas de melhoria da qualidade de vida no trabalho. Todas essas ações correm em paralelo a um processo de rediscussão pela comunidade dos processos de gestão de recursos humanos de maneira mais ampla. O novo PDI 2015-2020 traz em seu escopo a democratização das decisões acerca do rumo que essa área tomará. Conclamamos toda comunidade a integrar-se aos fóruns de discussão que já se iniciaram. Somente com a participação efetiva da comunidade diretamente interessada e afetada, poderemos achar o modelo mais viável e efetivo para garantir que todos sejam beneficiados pelas ações da gestão das relações de trabalho e de saúde no CEFET-MG. Para esquentar as discussões que seguirão pelo ano de 2015, um bom início se dá pela leitura desta revista. Além de toda informação necessária à gestão da saúde e da qualidade da nossa própria vida, apresentamos a visão dos profissionais que fazem a gestão da saúde e das relações do trabalho no CEFET-MG. Conhecer esses pontos de vista é, sem dúvida alguma, o primeiro passo para propormos mudanças, ratificarmos os acertos e criarmos alternativas para ações necessárias e que hoje, por algum motivo, não foram ainda implementadas. Portanto este segundo número da Revista Circuito da Saúde no CEFET-MG, que entregamos agora a toda a comunidade, além de trazer dicas importantes para a saúde e melhoria da qualidade de vida dos nossos servidores, serve como documento base para a apresentação das práticas atuais, reflete sobre as políticas adotadas na gestão da saúde e projeta as ações futuras necessárias para a consolidação desse importante setor. Uma boa leitura a todos. Prof. Márcio da Silva Basílio Diretor Geral do CEFET-MG
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Existe uma expectativa muito presente em parte significativa de gestores e de servidores públicos para que a administração pública venha colocar profissionais de saúde nos órgãos públicos para prestarem atendimento médicoodontológico aos servidores. Essa visão assistencialista é predominante, uma cultura que estimula a ideia de que saúde no trabalho se resume em médico para consultas clínicas isoladas e ambulâncias para responderem por urgências. A proposta de médico e ambulância em todo ambiente de trabalho está associada à ideia de que esse procedimento salvaria as pessoas da morte durante o trabalho.
SIASS: um projeto de rede em saúde do servidor Sérgio Antonio Martins Carneiro Diretor de Saúde do Trabalhador do INSS Diretor do DESAP/MP de 2008 a 2013
Enfrentar essa cultura requer discutir fundamentos da saúde pública para o entendimento de que serviços médicos assistenciais isolados são de alto custo, baixa eficácia e resolutividade duvidosa. Requer questionar a eficácia de ambulâncias paradas em pátios contra um sistema integrado e otimizado de resgate municipal nos casos de urgências. O assistencialismo isoladamente não resolve a questão da relação entre saúde e trabalho e contribui para anestesiar sintomas dos atores e dificultar com que o Estado assuma o seu papel de empregador e responda pelas questões da saúde ocupacional. O poder executivo federal vem, aos poucos, “pagando dívidas” para com os servidores públicos federais nos aspectos relacionados à saúde e segurança do trabalho. Medidas implantadas nos últimos anos, como a obrigatoriedade dos exames médicos periódicos, a implantação de sistemas de informações em saúde do servidor, as diretrizes normatizadoras e a universalização do acesso aos planos de saúde, eliminaram diferenças históricas e equipararam direitos entre os servidores públicos federais. O processo de construção do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor – SIASS – possibilitou encontros de servidores que atuam em saúde e segurança, em gestão de pessoas e/ou em qualidade de vida no trabalho que estavam dispersos entre os diferentes órgãos. Foram constituídos grupos de trabalho nos estados que instituíram dezenas de unidades do Siass, em um processo educativo de construção coletiva que envolveu recursos materiais e humanos e o compartilhamento de projetos, um processo que facilitou o empoderamento pelos atores envolvidos. Foram criados espaços, como: encontros, fóruns nacionais e regionais, oficinas de trabalho, comissões e reuniões. Espaços esses que possibilitaram a produção de conhecimento, entendimentos, compartilhamentos de ideias e a construção de normas operacionais, diretrizes, conceitos,
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acordos de cooperação e o manual de perícia oficial em saúde do servidor público federal, que possibilitou a padronização dos procedimentos na avaliação da capacidade laborativa. Foram executados projetos de formação e capacitação em epidemiologia, perícia em saúde, qualidade de vida no trabalho. O Comitê Gestor de Atenção à Saúde do Servidor (CGASS), composto pelos Ministérios do Planejamento, Fazenda, Saúde, Trabalho e Emprego, Educação, Previdência Social, Justiça e Casa Civil, constituiu-se no fórum de negociação da política de atenção à saúde e segurança. O CGASS construiu e aprovou portarias que estabelecem princípios, diretrizes e ações de promoção à saúde, de vigilância aos ambientes de trabalho, de saúde mental e bucal. A Política de Atenção à Saúde do Servidor, direta ou indiretamente, nos últimos dez anos já produziu impactos positivos, para além da diminuição do absenteísmo. Saímos de um quadro com índice de mais de 25% de aposentadorias por invalidez no governo federal para um cenário de menos de 5%. É uma queda vertiginosa que teve efeitos da Emenda Constitucional nº 41/2003, mas que somente foi possível consolidar-se pelas políticas do Siass, que possibilitaram a junção de técnicos de diversos órgãos, a padro-
nização e uniformização de procedimentos, a implantação do prontuário eletrônico, e os projetos de capacitação. O SIASS vem resgatando o conceito de que o servidor é um trabalhador e, portanto, deve ser olhado como tal, respeitando as normas de saúde e segurança no trabalho. O SIASS vem se constituindo, apesar das dificuldades, como uma política transversal de gestão de pessoas, entre os diferentes órgãos da Administração Pública Federal (APF), com diretrizes centrais de natureza normatizadora, mas com compartilhamento de responsabilidades e implantação desconcentrada entre os atores envolvidos em todos os estados e no Distrito Federal. É um projeto de gestão compartilhada das ações relacionadas à saúde e segurança nos locais de trabalho. Mais que um projeto, a construção coletiva trouxe duas grandes vantagens: a ampliação do conhecimento ao valorizar as experiências locais e o comprometimento dos envolvidos que se sentiram valorizados. Construir coletivamente agrega saberes e valores, compromete os envolvidos dando sentido ao trabalho, pois se sentem sujeitos do processo. Cabe destacar dois desafios para a implantação de ações de qualidade de vida no trabalho: enfrentar a cultura assistencialista e trabalhar em rede.
O desafio do trabalho em rede A forma de organização da administração pública, com poucas políticas transversais, favorece corporações que apresentam dificuldades para o trabalho em rede. Em consequência, crescem as organizações ensimesmadas, que desqualificam outras atividades, com dificuldades de entender a diversidade de atribuições que o Estado precisa responder. São funções e carreiras lotadas nas áreas de saúde, segurança, educação, justiça, seguridade, infraestrutura, agricultura, meio ambiente, ciência e tecnologia, cultura, políticas sociais, econômicas, agências reguladoras, dentre tantas outras, que, por vezes, perdem a noção de que o Estado precisa responder a muitas áreas e de que todos têm a sua importância.
sidera como um problema de assistência. A qualidade de vida no trabalho é confundida com adicional ocupacional, mobiliário ergonomicamente adequado, ginástica laboral e preparação para aposentadoria.
As ações de saúde e segurança no trabalho, atividades típicas da área de gestão de pessoas, em geral, passam por um longo processo de delegação; o gestor maior, embora verbalize e embase conceitualmente a importância da temática da promoção à saúde, entrega a questão para a área de gestão de pessoas, e essa área, em geral, reduz ou con-
Uma rede requer liderança sem hierarquia formal, democratização no planejamento e no processo de decisão e transparência na execução das ações. A rede é uma estrutura que desafia as regras tradicionais de administração pública, porque exige pensar e agir para além do formalmente estabelecido.
O processo de construção de uma rede requer integrar serviços e ações, respeitar projetos e metas de cada partícipe da rede, requer considerar particularidades para superar as diferenças e valorizar causas em comum. No trabalho em rede, o resultado é sempre fruto de esforços coletivos; ter êxito em uma política intersetorial em rede significa obter resultados positivos mensuráveis e perceptíveis tanto pelo sujeito beneficiado quanto pelo servidor que executa a ação.
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O autor Whitaker. F, no texto Rede: uma estrutura alternativa de organização (Rev. Mutações Sociais, CEDAC, Rio de Janeiro, Ano 2. nº 3. 1993), fala sobre a riqueza que é a dinâmica de funcionamento de um trabalho em rede: , como: autonomia entre os seus membros; espaço para participação dos interessados; compartilhamento de conceitos, diretrizes, projetos, ações e resultados; motivação à participação e o uso da informação para a gestão coletiva.
O trabalho em rede é sistêmico e está sempre em movimento, não tem um único centro e cada ponto da rede é um centro em potencial, portanto, o nível local é o lugar mais apropriado para a tomada de decisão, de suas necessidades e dos recursos disponíveis. Uma rede deve ter como pressupostos a livre circulação de informações em todas as direções e a realização de ações em conjunto. No trabalho em rede, a concretização dos objetivos depende do engajamento consciente de todos na ação, da lealdade de cada um para com todos, na responsabilidade compartilhada e nas iniciativas de cada um dos seus integrantes. Uma rede deve ter clareza de objetivos, pactuados coletivamente, em que todos aprendem a dividir horizontalmente projetos e ações. Requer praticar os princípios de integralidade, intersetorialidade e de equipe multiprofissional, em que os trabalhos não se sobrepõem, mas se complementam. A concepção de uma rede implica um conteúdo de natureza emancipatória, pois uma rede não é de sistemas de informática ou de computadores, é fundamentalmente formada por pessoas que fazem circular elementos imateriais. A Saúde do Trabalhador, enquanto área de conhecimento é uma ação intersetorial que exige um trabalho em rede. No Brasil as ações de saúde do trabalhador são legalmente instituídas como de responsabilidade comum e compartilhada entre o nível municipal, estadual e federal, sendo ainda uma ação concorrente entre as áreas da Previdência, do Trabalho e da Saúde. Trabalhar em rede na área de saúde do trabalhador significa entender na prática que existem ações comuns e concorrentes que requerem, portanto combinações, vínculos, confiança nos parceiros e solidariedade, princípios que precisam ser reaprendidos no mundo moderno. O campo da saúde do servidor, que se integra com a saúde do trabalhador em geral, se configura como uma política 6
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transversal que inclui ações de promoção à saúde, de prevenção aos riscos ambientais, de vigilância epidemiológica e sanitária, de atenção à saúde, de avaliação da capacidade laboral, de formação e capacitação e de readaptação funcional. Romper o isolamento das corporações tem sido um desafio cotidiano para a gestão das políticas públicas no Brasil. É fato que existe um discurso construído sobre a importância de políticas transversais, entretanto a carência de projetos, que integrem ações, contribui para que cada órgão público busque saídas individuais. A movimentação entre os diferentes órgãos da APF permitida aos servidores de carreiras transversais e aos servidores do SIASS é um exemplo de boa prática que possibilita muitas oportunidades para ampliar o olhar sobre a administração pública. Não que a movimentação por si forme uma visão que privilegie o coletivo, mas, quase que invariavelmente, os servidores que passam muitos anos de sua vida laboral no mesmo lugar fazendo a mesma atividade tendem à repetição sem criação. Na APF, embora tenha aumentado o número de carreiras transversais como a de gestores, infraestrutura e políticas sociais, o predomínio obedece à regra que proíbe com que os servidores de diferentes carreiras possam trabalhar em outros órgãos diferentes daqueles em que prestaram concurso. A rede SIASS deve operar nos níveis local, regional e nacional, seja para a troca de informações, seja para a implementação de ações conjuntas.
Trabalhar em rede é uma exigência estratégica atual para a sobrevivência de políticas públicas que exigem complexidade de respostas No mundo moderno cheio de valores de autossuficiência, trabalhar em rede é um grande desafio, pois requer trabalhar sem linha de mando formalmente estabelecida, em que todos os integrantes são sujeitos e aderem livre e conscientemente. Uma rede de serviços, de pessoas, de informações ou qualquer outro tipo de rede, de qualquer tamanho ou abrangência, se sustenta pela vontade de seus integrantes. Toda rede requer lideranças, mas prescinde de chefias, pois em uma rede todos guardam sua liberdade, são tratados como iguais e agem como sujeitos, ao mesmo tempo em que são corresponsáveis pela atuação do conjunto. A rede é uma organização que ganha força à medida que aumenta a confiança dos integrantes, é “...sem “cabeça”, mas toda pensante. Fluida, plástica, dinâmica, a rede se sustenta tão somente pela vontade de seus integrantes. Essa aparente fragilidade é sua grande força.” (O que é Trabalho em Rede. 2006. Acessado em 14.05.14: Universidade Federal do Rio Grande do Norte). As mudanças ocorridas no mundo do trabalho e nas relações sociais na sociedade moderna têm exigido respostas mais complexas por parte dos governos. A cada dia o trabalho intersetorial em rede se fixa como uma demanda do mundo moderno que exige mais rapidez, eficácia nos resultados e eficiência no uso dos recursos públicos. Constituir redes públicas é um fenômeno mundial e tornou-se uma exigência estratégica da gestão pública nas últimas dé-
cadas para responder às novas demandas colocadas pela sociedade. O SIASS é uma prática de construção coletiva que merece ser preservada, pois mobiliza sentimentos de milhares de pessoas de vários locais e órgãos para encaminhar mudanças nos ambientes de trabalho e potencializar o trabalho que estava desarticulado e isolado. Promover saúde do servidor no serviço público federal requer o fortalecimento do SIASS como rede para enfrentar a verticalidade e as “caixinhas” corporativas muito comuns na estrutura pública. Apesar das adversidades conjunturais, é necessário insistir no modelo de integralidade das políticas, pois o ambiente de trabalho é um lugar privilegiado para a efetivação de ações de promoção à saúde, porque é o lugar onde os trabalhadores estão concentrados por um longo período do dia, possibilitando o debate sobre temas de interesse coletivo, produzindo efeitos diferenciados daqueles produzidos pelas campanhas de promoção à saúde dirigidas para a população em geral. Este texto é uma atualização resumida do Capítulo 18 – escrito sob o título “Cultura organizacional: o que pode dificultar ou facilitar a qualidade de vida no trabalho nas organizações públicas.” – do livro “Qualidade de Vida no Trabalho – Questões fundamentais e perspectivas de análise e intervenção”, organizado por Mário César Ferreira e outros autores. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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O desafio das mudanças nas Organizações Públicas Regina Rita de Cássia Oliveira / Maria Salete Guimarães Moreira Assistentes sociais da SSRT/CEFET-MG
Em fevereiro de 2014, a Resolução CD09/2014 alterou a estrutura organizacional do CEFET-MG. As Superintendências de Desenvolvimento Organizacional e de Administração de Pessoal foram extintas e, em substituição, foram criadas as Superintendências de Gestão de Pessoas (SGP) e a de Saúde e Relações de Trabalho (SSRT). Indagações na Comunidade surgiram ao longo de 2014; para muitos a mudança representou a extinção do RH. A resolução completou um ano. Avaliamos uma dificuldade para assimilar o novo modelo. A transição não trouxe segurança e conforto para os usuários dos serviços. A mudança aconteceu quando as equipes estavam incompletas e a compreensão dos papéis e fluxos ficou confusa para os usuários. Nessa configuração, a SSRT é a Unidade organizacional responsável por elaborar, executar e supervisionar a Política de Atenção à Saúde do Servidor em toda a sua amplitude (Perícia oficial em saúde, Gestão de Segurança do Trabalho, Promoção da Saúde e da Qualidade de Vida no Trabalho) além de apoiar a promoção da saúde dos estudantes. A superintendência é composta por três divisões integradas – Divisão de Atenção à Saúde, Divisão de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho, Divisão de Relações de Trabalho – com equipe de profissionais única (em 2014: assistentes sociais, psicólogas, médicos, dentistas, técnicos em enfermagem e psiquiatra), com atuação nos diversos projetos. A criação da SSRT favorece a qualidade de vida no trabalho, a partir do momento em que a comunidade entender que a sua especificidade é a promoção da saúde e não o cuidado da doença. O novo modelo traz avanços como a centralidade nas relações de trabalho e a proposição da criação de comissões paritárias nas áreas de saúde e segurança do trabalho, de prevenção e gestão de conflitos. Os exames médicos periódicos tiveram o seu primeiro ano de implantação e devem ser aprimorados por meio da integração com a engenharia de segurança do trabalho. O ano de 2015 iniciou com outro cenário. A equipe SSRT ampliou a sua composição com a chegada da fisioterapia e da engenharia de segurança no trabalho e a SGP recebeu um profissional de psicologia, entretanto, permanecem os questionamentos na comunidade. Qual o caminho a seguir? Voltar ou assimilar o novo modelo? A área de saúde no CEFET-MG ampliou a sua atuação, deixando de ser apenas o local de solucionar questões de 8
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doença, tornando-se promotora de saúde e qualidade de vida no trabalho, enfim, deixando de ser o “Smode” (Serviço médico, odontológico e de enfermagem) para se tornar a SSRT. Esse novo olhar para a saúde do servidor cabe no modelo anterior? A Instituição está em outro momento. Faz-se necessária a construção de um terceiro modelo? Autores, como o Professor Paulo Roberto Motta, defendem que “mudança é um ônus, pois requer que a pessoa reveja sua maneira de pensar, agir, comunicar, se inter-relacionar e criar significados para a sua própria vida”. Nova estrutura gera quebra de paradigmas e tira os servidores da sua zona de conforto. Mudanças são fundamentais para a sobrevivência das instituições e estão inseridas em um contexto
maior que demanda agilidade nas respostas, gestores capacitados e com perfil adequado a cada área específica, novas posturas e fluxos de trabalhos modernos. O grande desafio nesse contexto é aliar as mudanças à melhoria do clima organizacional e à democratização das relações de trabalho. Para assegurar conquistas e demandar melhorias no ambiente laborativo, a comunidade de servidores tem que participar dos processos decisórios, ultrapassando o papel passivo de usuários, assumindo-se como protagonistas, atuando ativamente no planejamento das ações e, sobretudo, manifestando-se sobre a implementação e a fiscalização das políticas, para, assim, participar da construção do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e do CEFET-MG que queremos ser. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Você gosta de se exercitar? Descubra por que a atividade física pode ser sua principal aliada com o passar do tempo... Dalilla Tâmara Benfica Profa. Educação Física - CEFET-MG
Com o avanço da medicina por meio de descobertas de medicamentos importantes na cura de diversas doenças infectocontagiosas e crônicodegenerativas e da utilização de métodos diagnósticos e de técnicas cirúrgicas sofisticadas e eficientes, houve um aumento significativo na expectativa de vida do homem moderno. Esse envelhecimento populacional, caracterizado como um fenômeno mundial e que se repete também no Brasil, acarreta, por sua vez, um aumento no número da população idosa. Segundo dados do IBGE, no ano de 2030, o Brasil terá a sexta população mundial em número absoluto de idosos. Esse dado permite chegar a uma importante conclusão: cuidar da saúde das pessoas que estão entrando ou já estão na terceira idade é uma questão emergencial. Esse cuidado, portanto, deve estar embutido nas ações que permeiam os objetivos dos profissionais de saúde, do governo e, principalmente, dos principais interessados: TODAS as pessoas que pretendem alcançar e viver saudavelmente a tão importante terceira idade. O envelhecimento é um processo contínuo durante o qual, a partir dos 35 anos, começa a ocorrer um declínio progressivo de todos os processos fisiológicos. A associação entre esse declínio fisiológico “natural” e o sedentarismo – inatividade física ao longo dos anos – pode acarretar sérias doenças, como: as cardiovasculares (principal causa de morte na terceira idade), a osteoporose (condição metabólica que se caracteriza pela diminuição progressiva da massa óssea e aumento do risco de fraturas), as degenerações articulares (que podem limitar as funções motoras, comprometendo o equilíbrio e a flexibilidade e aumentando o risco de lesões), as doenças reumáticas, doenças crônicas como os acidentes vasculares cerebrais – AVC – (que podem gerar incapacidade e dependência), a perda de massa muscular (gerando diminuição de força e comprometendo atividades cotidianas), além de outras doenças e limitações que podem surgir com o tempo. Sendo assim, o melhor jeito de otimizar e promover a saúde do idoso e do adulto em processo de envelhecimento é 10
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prevenir esses problemas médicos mais frequentes. Dessa forma, torna-se essencial colocar em prática ações que, direta ou indiretamente, irão minimizar as perdas decorrentes do envelhecimento e, acima de tudo, proporcionar ganhos fisiológicos para que o indivíduo tenha mais saúde ao longo de toda sua vida. E, nesse sentido, a prática de atividade física é uma grande aliada cientificamente comprovada. Entretanto, de acordo com algumas evidências epidemiológicas, há um decréscimo no nível de atividade física com o aumento da idade, tornando o sedentarismo um fator de risco de morbidade e mortalidade durante o processo de envelhecimento. Dessa forma, é importante encorajar a adoção de um estilo de vida ativo durante o envelhecimento, sensibilizando a população sobre a possibilidade de ser fisicamente ativa sem precisar ter muito tempo, habilidades, conhecimentos ou equipamentos específicos. Do mesmo modo, as evidências enfatizam o papel do médico e da família como agentes facilitadores para a prática regular de atividade física nessa etapa da vida. A prática de atividade física e, em especial, de um estilo de vida ativa regular pode proporcionar inúmeros benefícios fisiológicos. Alguns desses benefícios estão listados no quadro na página seguinte. De acordo com as mais extensas revisões na relação entre atividade física, aptidão física e longevidade, as evidências sugerem que os sujeitos com altos níveis de atividade física, assim como aqueles que decidiram adotar um estilo de vida ativo, experimentam menor risco de doenças cardiovasculares e vivem mais. Dessa forma, os dados suportam a necessidade do estímulo do exercício regular durante o processo de envelhecimento, especialmente após os 50 anos de idade, mesmo que o indivíduo seja sedentário, visto que a manutenção da atividade física regular ou a mudança para um estilo de vida ativo têm um impacto real na saúde e na longevidade. Vale ressaltar que os benefícios gerados pelo exercício antes e durante o processo de envelhecimento não estão ligados somente aos aspectos fisiológicos. Nos últimos anos,
algumas pesquisas têm dedicado especial atenção a verificar os efeitos nos aspectos relacionados à saúde mental e aos aspectos psicológicos e sociais. Essas pesquisas mostram o efeito positivo da atividade física na autoestima, no autoconceito, na autoimagem, na depressão, na ansiedade, na insônia e na socialização. Mais recentemente, outros estudos evidenciaram efeitos benéficos no processo cognitivo (memória, aprendizagem, atenção) e na associação entre a atividade física e menor risco de demência, demência senil e doença de Alzheimer. Quando bem orientada, qualquer atividade física pode proporcionar ganhos para a saúde. Entretanto alguns tipos de exercícios são mais recomendados para determinadas pessoas em virtude de algumas características, como: idade, presença ou não de alguma doença (cardiovascular, osteoporose, diabetes, obesidade, hipertensão arterial, artrite etc), ou objetivo com o exercício e gosto pela atividade. A melhor saída é conversar com o professor de educação física para que, juntos, se possa encontrar uma estratégia prazerosa e que poderá oferecer bons resultados. A atividade física deve ser iniciada por uma fase de aquecimento, exercícios de alongamento e mobilidade articular. O aquecimento é muito importante, pois diminui riscos de lesão e aumenta o fluxo sanguíneo para a musculatura esquelética. A redução progressiva da intensidade do exercício é igualmente importante, por prevenir a queda brusca da pressão arterial pós-esforço. Quando se trata do público idoso, esses cuidados devem ser redobrados, principalmente, quando o indivíduo faz uso de medicamentos de ação cardiovascular.
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eitar a cabeça na direção D do ombro direito e, com a mão direita, puxar para alongar a região do pescoço do lado esquerdo (repetir do lado esquerdo).
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Cruzar os dedos, colocar as mãos atrás da cabeça e incliná-la para trás.
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Rotação de cabeça. Fazer para os dois lados.
4 Elevação de ombros.
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Os alongamentos devem ser realizados antes e após a atividade física. Devem ser executados movimentos estáticos e graduais até o ponto de ligeiro desconforto. É necessário cuidado a fim de reduzir o risco de lesões. Veja ao lado e na página seguinte algumas sugestões de alongamentos.
Cruzar os dedos, estender os braços para frente, elevá-los, inclinar o tronco para a direita e depois para a esquerda.
Prescrição de exercícios na terceira idade Quanto ao tipo de atividade aeróbica a ser realizado, é recomendada, à terceira idade, a prescrição de atividades de baixo impacto, como: caminhada, ciclismo, pedalar na bicicleta ergométrica, pilates, treinamento funcional, musculação, ginástica localizada, natação, hidroginástica, remo, subir escadas, dançar, ioga, tai chi chuan e dança aeróbica de baixo impacto. A caminhada é sem dúvida a mais indicada para o público em questão. É uma atividade que permite que o indivíduo
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Elevar o braço direito, tocar as costas com a mão direita e com a esquerda puxar o cotovelo direito. Repetir com o braço esquerdo.
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Apoiar a mão direita no ombro esquerdo. Deixar o cotovelo elevado. Pegando no cotovelo direito, empurrar o cotovelo em direção ao pescoço.
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Cruzar a perna direita sobre a perna esquerda. Inclinar o tronco para frente. Repetir com a perna esquerda.
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Cruzar a perna direita sobre a perna esquerda. Com a mão esquerda no joelho direito, girar o tronco para a direita. Repetir para o lado esquerdo.
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Apoiado numa parede, elevar a perna direita, segurar no tornozelo. Joelhos sempre unidos. Repetir com a perna esquerda.
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Apoiar as mão na parede, dar um passo longo com a perna direita para trás deixando o calcanhar apoiado no chão. A perna esquerda fica flexionada. Repetir tudo com a perna esquerda.
Subir e descer calcanhares sem deixá-los tocar o chão (2x de 15 - 20 repetições).
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sustente seu peso corporal sem que, para isso, haja alto impacto para suas estruturas musculares e articulares. Além de ser um exercício de fácil acesso, simples execução e com pouquíssimas restrições de recomendação, a caminhada proporciona importantes ganhos fisiológicos, sociais e emocionais. Pode ser praticada em qualquer horário do dia (preferencialmente quando o sol não está muito forte), em qualquer lugar que tenha o mínimo de segurança, em grupo ou individualmente, abrange grandes grupos musculares e pode ser feita em diferentes intensidades, o que permite uma queima variada de calorias. Ao contrário do que muitos pensam, os exercícios de força – mais conhecidos como musculação –, também possuem papel importante na prevenção e promoção da saúde na terceira idade. Quando realizados na medida certa, o fortalecimento muscular com cargas auxilia no ganho de massa muscular (diminuindo a incidência de quedas e fraturas), na redução e controle da pressão arterial, no aumento da força contrátil do coração e também na produção de massa óssea. Como já foi mencionado, a perda de massa óssea faz parte do processo de envelhecimento, principalmente nas mulheres, em virtude de questões hormonais. Portanto, executar movimentos que minimizam a perda e/ou incrementam a quantidade de massa óssea do organismo é muito importante. Os exercícios com peso são ainda, às vezes, a única alternativa de atividade física em condições clínicas que não permitem a realização de atividades físicas aeróbicas. Segundo alguns estudiosos da área, o exercício de força deve ser preferido ao exercício aeróbico, nas seguintes circunstâncias: artrite grave, inabilidade para suportar o peso corporal, ulcerações no pé, desordens do equilíbrio, doença pulmonar obstrutiva crônica e baixo limiar para isquemia. Vale lembrar que, principalmente nesses casos, a prática de exercícios não deve ser iniciada antes de consultar um médico e jamais sem o acompanhamento de um educador físico. Para aquelas pessoas que encontram dificuldade de frequentar uma academia ou ter acesso a equipamentos utilizados nos treinamentos de força, vale lançar mão da criatividade e obter materiais de baixo custo e que permitem realizar vários movimentos. Assim, pode-se fazer uso de qualquer peso confeccionado com tecido, areia e velcro para ser colocado nos membros inferiores e superiores, ou ainda o simples uso de garrafas, latas, sacos ou qualquer objeto doméstico com água, areia, feijão que viabilizariam o treinamento de resistência.
Benefícios fisiológicos provocados pela atividade física • Melhora na capacidade de consumir o oxigênio em repouso e durante o exercício • Melhora da circulação sanguínea periférica • Aumento da massa muscular • Aumento da densidade mineral óssea • Melhora no controle da glicemia • Redução do peso corporal • Redução da quantidade de gordura corporal • Melhora do controle da pressão arterial
• Melhora da função pulmonar • Melhora do equilíbrio e da marcha • Diminuição da velocidade de declínio da mobilidade independente da presença de doença crônica • Menor dependência para realizar as atividades da vida diária • Significativa melhora da qualidade de vida • Melhora da autoestima, autoconfiança, independência e autonomia
Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
Alguns cuidados importantes Para que a prática de atividade física possa ser realmente utilizada como ferramenta de prevenção e promoção de saúde durante o envelhecimento, alguns cuidados devem ser tomados. • Faça uma avaliação médica prévia a fim de verificar a sua aptidão para a prática de qualquer atividade física; • Tenha o acompanhamento de um profissional de Educação Física devidamente qualificado, sempre que for possível; • Oriente-se sobre o uso de medicamentos concomitante com a prática de exercício (por exemplo: casos em que o indivíduo é diabético e deve atentar para o horário de se exercitar e o horário mais adequado para fazer uso da insulina); • Use roupas e calçados adequados para se exercitar (roupas confortáveis e calçados com amortecimento para prevenir as articulações contra os impactos da atividade.
O tênis é o calçado mais indicado); • Hidrate-se. A hidratação é essencial antes, durante e após a atividade física; • Realize o exercício somente quando há bem-estar físico; • Evite o fumo, as bebidas alcoólicas e o uso de sedativos. • Nunca se exercite em jejum. Sempre que possível, busque orientações específicas sobre alimentação com um nutricionista; • Respeite os limites pessoais, interrompendo se houver dor ou desconforto; • Evite extremos de temperatura e umidade; • Inicie a atividade lenta e gradativamente para permitir adaptação.
É importante mencionar que, comprovadamente, nenhum tipo de exercício físico (aeróbico ou de força) tem como resultado a piora de um ou mais parâmetros fisiológicos. Todos os resultados são positivos desde que a atividade seja executada de forma adequada. O que irá definir a escolha de cada uma delas são as circunstâncias já mencionadas e, principalmente, os objetivos traçados por cada indivíduo. Uma boa opção para o indivíduo que está envelhecendo é a realização de um programa de atividade física que inclua tanto o treinamento aeróbico como o de força muscular e que ainda incorpore exercícios específicos de flexibilidade e equilíbrio. A realização de um programa de exercícios com essa característica certamente produzirá melhorias significativas nas atividades de vida diária relacionadas à independência e autonomia, tais como: lavar, passar, varrer, vestir, calçar, se locomover, tomar banho, escovar os dentes, se alimentar etc.
Portanto, a “chave do envelhecimento bem sucedido” parece estar em garantir um estilo de vida ativo. Estilo esse que contribui na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis e na aquisição de uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida durante a terceira idade. É importante enfatizar, no entanto, que tão importante quanto estimular a prática regular da atividade física aeróbica e/ou de fortalecimento muscular, as mudanças para a adoção de um estilo de vida ativo no dia a dia do indivíduo são parte fundamental de um envelhecer com saúde e qualidade. Por fim, mas não menos importante, vale ressaltar que a atividade física deve ser estimulada não somente ao idoso, mas também ao adulto e à criança, como forma de prevenir e controlar as doenças crônicas não transmissíveis que aparecem mais frequentemente durante a terceira idade e como forma de manter a independência funcional.
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Educação financeira e qualidade de vida José Custodio Pereira Matemático - Analista do Banco Central Coordenador de Recursos Humanos e Financeiros Gerência Administrativa de Belo Horizonte
Controlar as finanças pessoais não é uma tarefa fácil. O apelo ao consumo e as facilidades de crédito induzem o consumidor a ir além de suas possibilidades. O hábito de não se preocupar com os juros, verificando apenas se o valor da prestação cabe no bolso, empurra 57% dos brasileiros para o endividamento, conforme aponta pesquisa da Confederação Nacional do Comércio. O endividamento excessivo traz grandes consequências financeiras e morais. No primeiro caso, temos o comprometimento da renda com juros, perda de patrimônio, multas punitivas, entre outras. No segundo, cobranças vexatórias, restrições cadastrais, inclusão do nome em dívida ativa (débitos fiscais), comprometimento da qualidade de vida, entre outras. Com o comprometimento da renda com os juros e a necessidade de pagar as despesas obrigatórias e as dívidas já contraídas, o consumidor se vê diante da necessidade de buscar outras fontes de crédito, entrando num ciclo vicioso. Muitas vezes, para viver de aparência, riscos desnecessários são assumidos, comprometendo bens, renda futura e, até mesmo, a fonte de renda. O comprometimento da qualidade de vida, por sua vez, é verificado por meio do aparecimento do estresse, com consequências, como insônia, perda do humor, diminuição de produtividade e outros sintomas, que podem levar, inclusive, à perda do emprego e à desestruturação familiar. Infelizmente, não há solução mágica. Devemos ter disciplina no controle dos gastos, adotar a prática da educação financeira, analisar cada caso e planejar a saída do endividamento. O primeiro passo para isso é tomar consciência da situação, mapeando as dívidas e os custos mensais, tais como gastos com alimentação, educação, entretenimento, água, eletricidade, telefone e saúde. Nesse momento, a ajuda de um profissional para elaborar o plano de ação a ser seguido pode ser bem-vinda.
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Uma vez definido o plano de ação, o sucesso depende de colocar em prática o que foi definido, observando algumas premissas: •N ão fazer novas dívidas, a não ser para amortizar uma dívida com juros maiores (exemplo trocar dívida do cartão crédito por consignável); • R enegociar as dívidas para obter taxas menores e ajustar os pagamentos de acordo com a renda, evitando a necessidade de contrair nova dívida; • P riorizar pagamentos, levando em conta a amortização dos maiores encargos financeiros (multas, taxas, juros); • E liminar os gastos desnecessários, como multas por atraso no pagamento, compras por impulso, desperdício de água e eletricidade etc.; • R eduzir ou eliminar os supérfluos, como roupas de marca, restaurantes caros e TV a cabo; •O timizar os gastos necessários, buscando alternativas mais baratas; •G erar rendas extras com prestações de serviços, tais como aulas particulares, consultorias, horas-extras, vendas e outros serviços. No projeto de gestão financeira pessoal, deve-se considerar ainda a possibilidade de perda de receita, tais como gratificações, comissões e abono de permanência. Como não são receitas perenes, esse montante deve ser excluído do orçamento e jamais ser usado para honrar gastos regulares. Essa renda deve ser pensada como reserva financeira para custear despesas extras e suprir eventuais perdas de receita. Assim, os projetos de vida ou a sonhada aposentadoria não precisarão ser adiados. A necessidade do planejamento financeiro bem definido vale para todos, inclusive para aqueles que gozam de estabilidade no emprego e garantia de aposentadoria. É nesse contexto que a educação financeira mostra-se necessária, ensinando a lidar com o dinheiro, a planejar o consumo e a tomar decisões que garantam melhor relação entre custos e benefícios. Uma simples operação aritmética pode indicar se o salário é suficiente para bancar os desejos. É inegável que consumir é uma fonte de prazer, traz satisfação. Mas devemos consumir de maneira consciente, evitando o pesadelo futuro. Eduque-se financeiramente, não deixe de sonhar, conheça-se e procure fazer suas escolhas equilibrando emoção e razão. Seja feliz. Ainda é tempo!
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Alimento funcional: benefício extra à saúde
Lívia Dantas Neder Rosa / Marta Venuto Bittencourt de Oliveira Talita A. Santos / Thiago Malta Vaz Ferreira Nutricionistas - CEFET-MG - Campus I e II
É consenso que saúde e boa alimentação caminham juntas. A busca da saúde por meio da alimentação vem desde a Antiguidade, como citado pelo filósofo grego Hipócrates: “que o alimento seja seu medicamento e o medicamento seja o seu alimento”. Atualmente, muito tem se falado em Alimentos Funcionais. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), alimento funcional é definido como “aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido, como parte da dieta habitual, produz efeitos benéficos à saúde”. Eles apresentam componentes ativos capazes de prevenir ou reduzir o risco de algumas doenças. O conceito de alimentos funcionais surgiu no início dos anos 80 no Japão, a partir da preocupação com os problemas de saúde associados ao aumento da expectativa de vida da população. Intencionava-se adicionar, na dieta alimentar, ingredientes naturais que deveriam apresentar funções específicas no organismo, como a melhoria dos 16
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mecanismos de defesa biológica, a prevenção ou terapia de alguma enfermidade ou disfunção, a melhoria das condições físicas e mentais e do estado geral de saúde e o retardo no processo de envelhecimento orgânico. São efeitos que vão além da função meramente nutricional há muito conhecida, qual seja, a de fornecer energia e nutrientes essenciais em quantidades equilibradas, para a promover o crescimento normal e evitar desequilíbrios nutricionais. Os alimentos funcionais devem fazer parte da alimentação usual proporcionando efeitos benéficos sem a necessidade de acompanhamento médico. Doenças crônico-degenerativas podem ser prevenidas ou suas complicações amenizadas com a utilização de uma alimentação saudável, especialmente com a incorporação de alimentos com propriedades funcionais no seu dia a dia. É importante conscientizar a população sobre a necessidade de mudança do comportamento, principalmente, incentivando quanto ao consumo de alimentos funcionais rotineiramente, podendo esse ser um passo para a redução da incidência de doenças crônico-degenerativas.
Conheça alguns alimentos funcionais e seus benefícios: Alimentos
Benefício
Quantidade
Soja
Redução do colesterol ruim (LDL), ajuda a diminuir os sintomas da menopausa
25g a 60 gramas por dia
Aveia integral
Reduz os níveis de colesterol, inclusive o LDL
40 a 60 gramas por dia
Peixes
Redução do risco de doenças cardiovasculares
Três porções por semana
Alho
Diminuição da pressão arterial e dos níveis de colesterol
um dente de alho por dia, de preferência, cru
Chá verde
Redução do risco de câncer de esôfago e gástrico
4 a 6 xícaras por dia
Tomate, goiaba
Ação oxidante e redução do risco de câncer de próstata
10 porções semanais
Espinafre, Couve
Diminuição do risco de degeneração macular e de catarata
1 colher de sopa por dia
Cenoura, Manga, Abóbora
Percursos da vitamina A, com ação hipotensiva
1 porção diária
Vinho tinto
Redução de colesterol, estimulação do sistema imunológico
uma taça por dia (mas atenção pois não deixa de ser uma bebida alcoólica)
Óleo de linhaça, nozes amêndoas, castanhas e azeite de oliva
O ácido graxo tem ação imunológica e anticancerígena
1 colher de sopa ao dia
Maçã
Prevenção de eventos cardiovasculares, trombose e câncer de pulmão
1 maçã por dia
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Promova a sua saúde nutricional Lívia Dantas Neder Rosa / Marta Venuto Bittencourt de Oliveira / Renata Mattos Cesário Monteiro / Simone Menezes Reis Barreto Nutricionistas - CEFET-MG - Campus I e II
Determine sua saúde nutricional: Os sinais de alerta de uma saúde nutricional inadequada são, geralmente, despercebidos. Use esta lista para verificar se você ou alguém que você conhece está em risco nutricional. Leia as condições abaixo. Circule o número na coluna “sim” para aqueles que se aplicam a você ou alguém que você conhece. Para cada resposta “sim”, pontue o número no quadro. Totalize a pontuação nutricional. CONDIÇÕES
SIM
Eu tenho uma doença ou condição que me fez mudar o tipo e/ou a quantidade de alimentos que eu como.
2
Eu consumo menos de 2 refeições/dia.
3
Eu consumo poucas frutas ou vegetais ou produtos lácteos.
2
Eu tomo 3 ou mais doses de cerveja, licor ou vinho quase todos os dias.
2
Eu tenho problemas nos dentes ou na boca que me dificultam a alimentação.
2
Eu nunca tenho dinheiro suficiente para comprar os alimentos que necessito.
4
Eu consumo sozinho a maioria das vezes.
1
Eu tomo 3 ou mais drogas diferentes prescritas ou por conta própria ao dia.
1
Sem querer, eu perdi ou ganhei 4,5kg nos últimos 6 meses.
2
Eu não sou fisicamente capaz de comprar, preparar e/ou me alimentar sozinho.
2
TOTAL Totalize sua Pontuação Nutricional. Se ela estiver entre: • 0 – 2: BOM! Revisar sua Pontuação Nutricional em 6 meses. • 3 – 5: VOCÊ ESTÁ EM RISCO NUTRICIONAL MODERADO. Veja o que pode ser feito para melhorar seus hábitos alimentares e seu estilo de vida. Revisar sua pontuação nutricional em 3 meses. • 6 ou +: VOCÊ ESTÁ EM ALTO RISCO NUTRICIONAL. Levar esta lista de controle na sua próxima visita ao médico, nutricionista ou outro profissional qualificado de saúde ou do serviço social. Fale com eles sobre qualquer problema que você tenha. Peça ajuda para melhorar sua saúde nutricional. LEMBRE-SE DE QUE SINAIS DE ALERTA SUGEREM RISCO, MAS NÃO REPRESENTAM O DIAGNÓSTICO DE UMA CONDIÇÃO.
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10 dicas saudáveis para o seu dia a dia: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
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Aprecie a sua refeição!
Consuma alimentos integrais!
Uma alimentação variada é importante para manter ou melhorar a saúde. Coma devagar, mastigando bem os alimentos. Saboreie as refeições dando preferência a alimentos saudáveis.
Alimentos ricos em fibras saciam a fome por mais tempo e ajudam a regularizar o intestino. Muitos estudos mostram que uma dieta rica em alimentos integrais pode, juntamente à baixa ingestão de gorduras totais, saturadas e colesterol, reduzir o risco de doenças cardíacas, diabetes e alguns tipos de câncer. Os alimentos integrais são excelentes também para ajudar a acelerar nosso metabolismo. Com o metabolismo mais acelerado, o corpo gasta mais energia ajudando no emagrecimento.
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Não pule as refeições! Nosso organismo precisa de alimentos e, por isso, devemos comer em intervalos regulares. Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Beba água! A água é muito importante para o bom funcionamento do organismo das pessoas em todas as idades. Ela ajuda na digestão, no funcionamento dos rins, dos intestinos e regula a temperatura do corpo. Beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água por dia. Dê preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições. Bebidas açucaradas (como refrigerantes e sucos industrializados) e bebidas com cafeína (como café, chá preto e chá mate) não devem substituir a água. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Diminua o sal! O sal precisa ser utilizado com moderação. O consumo excessivo de sódio aumenta o risco de hipertensão arterial, doenças do coração e rins. Evite consumir alimentos industrializados como hambúrguer, charque e embutidos (salsicha, linguiça, salame, presunto, mortadela), salgadinhos e conservas de vegetais, sopas, molhos e temperos prontos. Leia os rótulos dos alimentos e prefira aqueles com menor quantidade de sódio. Utilize temperos, como cheiro verde, alho, cebola e ervas ou limão, para temperar e valorizar o sabor natural dos alimentos.
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Evite gorduras! Reduza o consumo de alimentos gordurosos, como carnes com gordura aparente, embutidos (salsicha, linguiça, salame, presunto, mortadela), queijos amarelos, frituras e salgadinhos. Use pequenas quantidades de óleo vegetal quando cozinhar. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Consuma frutas e verduras! Frutas, legumes e verduras são ricos em vitaminas, minerais e fibras e devem estar presentes diariamente nas refeições, pois contribuem para a proteção à saúde e diminuição do risco de várias doenças. Dê preferência a frutas, verduras e legumes crus. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pratique atividade física! Movimente-se! Descubra um tipo de atividade física agradável, o prazer é também fundamental para a saúde. Caminhe, dance, ande de bicicleta, jogue bola, brinque com crianças. Aproveite o espaço doméstico e espaços públicos próximos a sua casa para movimentar-se. O exercício contribui para diminuir o estresse, ajuda a manter o peso ideal, aumenta a energia, previne a insônia e a ansiedade e ajuda a viver com qualidade.
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Evite o açúcar!
Seja feliz!
Apesar de o açúcar fornecer energia, o consumo em excesso pode ocasionar um aumento de peso indesejado, cárie dental e diabetes. Diminua o consumo de refrigerantes e de sucos industrializados. Valorize o sabor natural dos alimentos, evitando ou reduzindo o açúcar adicionado a eles.
Ame-se, cuide-se bem.
Material elaborado pela equipe de nutrição em maio de 2014 para o Evento Circuito da Saúde.
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A saúde começa pela boca Equipe de dentistas da SSRT/CEFET-MG
O organismo humano funciona como uma orquestra: cada órgão cumpre o papel de um instrumento. E, quando um desafina, o corpo todo pode ser afetado. Quando a saúde
bucal não está em harmonia, pode haver repercussões na saúde sistêmica. Cuidar da saúde da boca não é questão apenas de estética. Diversas doenças do corpo podem ter origem na boca ou se manifestar primeiramente na cavidade bucal.
Cárie
Bactérias
Vasos sanguíneos
Cérebro
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Infecção
Coração
Pulmão
Articulações
Doença periodontal A doença periodontal, também conhecida como doença da gengiva, aparece quando bactérias e outros microrganismos se desenvolvem na gengiva e raízes dos dentes. O dano causado pela entrada desses microrganismos nos tecidos de sustentação do dente pode levar a sua perda. Sua ocorrência é maior em adultos. Em seu estágio inicial, pode ser revertida. Assim, visite seu dentista se notar qualquer um dos seguintes sintomas: • Gengiva vermelha, intumescida ou inchada, ou flácida; • Gengiva que sangra durante a escovação ou o uso do fio dental; • Dentes que parecem mais longos devido à retração da gengiva; • Gengiva que se separa - ou se afasta - dos dentes, criando uma bolsa; • Mudanças na forma como seus dentes se encaixam quando você morde;
• Secreção de pus ao redor dos dentes e na bolsa gengival; • Mau hálito constante ou gosto ruim na boca. Pesquisas recentes sugerem que a doença periodontal está geralmente associada com o diabetes e pode ser considerada como uma das complicações clínicas da doença. Diabetes reduz a resistência à infecção, torna mais lento o processo de cicatrização e aumenta o risco do desenvolvimento de alguns problemas de saúde bucal, entre eles, a doença periodontal. Portadores de diabetes frequentemente sofrem de doença periodontal mais severa do que os não diabéticos. Diabetes e doença periodontal, duas alterações crônicas, estão inter-relacionadas, na medida em que a presença de uma condição influencia a outra e, consequentemente, o controle meticuloso de uma pode ajudar no tratamento da outra.
O estresse e seu efeito sobre a saúde bucal A cavidade bucal é sede de uma diversidade de patologias, tanto de natureza local, como de natureza sistêmica, de caráter multifatorial, em que fatores psicossociais, como o estresse, representam um aspecto importante a ser considerado. O estresse caracteriza-se como uma resposta do organismo a agressões de ordem física, psíquica e infecciosa, capazes de perturbar seu equilíbrio. Quando o estresse ocorre, mais pessoas são afetadas por hábitos pouco saudáveis ou negativos que podem influenciar na sua saúde bucal, tais como o uso do tabaco e ou álcool. Os fatores de risco - álcool e tabaco – podem influenciar o desenvolvimento das doenças periodontais. Além disso, o hormônio cortisol, que está presente no estresse, acumula-se em níveis crescentes e pode levar à doença periodontal. O estresse pode afetar a saúde das pessoas, causando os seguintes problemas bucais:
• ATM/bruxismo – as pessoas sob estresse podem ter problemas que afetam a articulação temporomandibular, assim como o ranger e apertar os dentes durante o dia ou quando dorme, levando a desgastes dos dentes. Dentre os seus sintomas podem incluir dores de cabeça e dor maxilar. • Boca seca - o estresse pode afetar o nível de salivação. Certos medicamentos podem ter influência sobre o fluxo salivar, podendo aumentar a incidência de cárie e doenças infecciosas da boca. • Gengivite - vários estudos mostram que o estresse pode afetar a capacidade da pessoa de realizar uma boa higiene oral. Consulte seu dentista se estiver com qualquer um desses problemas. Tente aliviar o estresse, ingerindo uma dieta nutritiva, dormindo o número de horas necessárias à noite e exercitando-se para reduzir a ansiedade e a tensão decorrentes do estresse.
• Surgimento de aftas – aftas são pequenas feridas na boca causadas por vírus, bactéria e deficiência do sistema imunológico.
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Endocardite bacteriana A Endocardite bacteriana pode ocorrer quando bactérias da boca passam para a corrente sanguínea e se fixam em áreas danificadas do coração. Portanto, descuidar da sua rotina de higiene bucal não apenas coloca seu sorriso em risco, mas também aumenta o risco de desenvolver uma infecção cardíaca. Portanto, reduzir bactérias aderidas ao dente é fundamental para a saúde bucal e sistêmica. Essa redução é realizada no consultório odontológico, devendo ser complementada com os cuidados diários de escovação e uso de fio dental. A prevenção da enfermidade periodontal é ponto importante na manutenção da sua saúde sistêmica. Trata-se de uma inflamação nas válvulas cardíacas devido à presença de um aglomerado de células, bactérias ou fungos nas válvulas cardíacas. Os sintomas da endocardite bacteriana podem ser: febre diária e persistente; calafrios e sopro cardíaco. A endocardite bacteriana e a odontologia estão, portanto, relacionadas, pois um meio conhecido de contaminação é por meio de procedimentos dentários, como extração de dentes, ou por meio da presença de processos inflamatórios e infecciosos na boca que podem alcançar o coração, como cáries dentárias, pulpite, que é a inflamação da polpa dentária, abscesso dentário, doenças da gengiva e até mesmo piercings linguais.
Os indivíduos mais propensos a sofrer de endocardite bacteriana são os com baixa imunidade - tais como usuários de drogas ilícitas injetáveis, portadores de doença renal, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, idosos - e os portadores de doenças reumáticas, HIV positivo e doentes com AIDS. A profilaxia da endocardite, ou seja, a prevenção em grupos mais susceptíveis - indivíduos com válvulas artificiais, que já tiveram endocardite, que já fizeram um transplante de coração ou com doenças cardíacas congênitas - é feita atualmente com uma dose única de 2 gramas de amoxacilina ou 500 mg de azitromicina 1 hora antes de procedimentos dentários ou respiratórios. O tratamento para endocardite bacteriana deve ser feito com a ingestão de antibióticos por meio da veia durante longos períodos de tempo. A escolha do antibiótico é feita de acordo com o tipo de bactéria que causou a endocardite. Em casos mais graves, nos quais não existe um bom resultado com o uso de antibiótico e dependendo do tamanho da vegetação e da sua localização, é indicada cirurgia de troca de válvula por próteses valvares.
Endocardite
Válvula aórtica
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Válvula mitral
Cuidados com a escova de dentes Valquiria Pereira de Oliveira Auxiliar de Saúde Bucal - CBTU (em exercício na SSRT/CEFET-MG)
Todos sabemos da importância de uma boa escovação para a saúde dos dentes, das gengivas e do indivíduo como um todo em todas as etapas de sua vida. Para tanto, é necessário o uso adequado do creme, do fio e da escova dental. Os cirurgiões dentistas orientam que a escova seja trocada a cada três meses ou quando suas cerdas estiverem deformadas ou danificadas pelo tempo ou mau uso. Deformadas, podem contribuir para que haja retração, lesão por traumas e outros problemas. O ideal é que suas cerdas sejam macias, com pontas arredondadas e de mesma altura. A ponta ativa (cabeça) da escova deve ser pequena para atingir melhor todas as regiões da boca. Dependendo da necessidade da pessoa, faz-se necessário o uso de diferentes tipos de escovas, tais como interdental, para prótese etc. Uma vez que, durante o seu uso, a escova acumula, entre suas cerdas, bactérias e fungos que podem ser nocivos à saúde de seu usuário, alguns cuidados devem ser tomados para combater ou eliminar esses riscos: • Lavá-la após o uso; • Mantê-la seca, utilizando para isso toalha de papel; • Acondicioná-la em local próprio, sem, contudo, abafá-la; • Evitar sua exposição às partículas suspensas após o uso do vaso sanitário (ao dar descarga, essas se espalham pelo ambiente e contaminam as cerdas das escovas, por isso, tampe-o e só então acione o botão de descarga); • Ela é de uso individual, não podendo ser compartilhada com outros; • Acondicioná-la eliminando contato direto com as demais escovas. Ressalta-se que a necessidade do uso de substâncias que contribuam para higienizar a escova deve ser discutida e se for o caso indicada pelo Cirurgião Dentista. Além disso, cuidados com escolha, armazenamento, uso adequado, troca e higienização são necessários para que a escova de dente contribua para a saúde de seu usuário, jamais lhe acarretando malefícios. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Infecção pelo papilomavírus humano (HPV): a informação é a melhor prevenção Sheila Dias da Silva Enfermeira Técnica em Enfermagem - SSRT/CEFET-MG
O câncer do colo do útero é o sexto tipo de câncer mais frequente na população em geral e o segundo mais comum entre mulheres. No Brasil, estima-se a ocorrência de 20 mil casos novos de câncer de colo de útero ao ano, uma incidência estimada em 20 casos para 100 mil habitantes. As taxas de mortalidade estão estáveis, com redução significativa nas capitais. Evidências epidemiológicas comprovaram que a infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV) é causa necessária, mas não suficiente, para a ocorrência do câncer do colo do útero. As baixas procuras pelo exame de preventivo e as diversas formas de exposição aos fatores de risco para infecção pelo HPV têm sido descritas como fatores determinantes nas análises da situação epidemiológica do câncer do colo do útero. O Papilomavírus humano (HPV) é um DNA-vírus não cultivável, ou seja, não reproduz fora da célula, do grupo papovavírus, com mais de 100 tipos reconhecidos atualmente, 20 dos quais podem infectar o trato genital. Os subtipos de vírus estão divididos em 2 grupos, de acordo com seu potencial de oncogenicidade (capacidade de 24
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causar ou produzir uma neoplasia). Os tipos de alto risco oncogênico, quando associados a outros cofatores, têm relação com o desenvolvimento das neoplasias intra-epiteliais e do câncer invasor do colo uterino, da vulva, da vagina e da região anal. Os tipos 6, 11, 42, 43 e 44 são de baixo risco e os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 46, 51, 52, 56, 58, 59 e 68 são de alto risco. O HPV genital é transmitido por meio do contato direto pele a pele com alguém que tem uma infecção pelo HPV. Sendo assim, o uso de preservativos não elimina o risco, apenas o reduz. O contato inclui sexo vaginal, anal e sexo oral. Alguns tipos de HPV causam verrugas genitais, que são pedaços ásperos rígidos que se desenvolvem sobre a pele. Qualquer pessoa sexualmente ativa pode ter HPV e verrugas genitais. A transmissão pode ser também vertical (mãe-filho) ou raramente por fômites, ou seja, objetos como talheres, toalhas, roupas íntimas, calçados, maçanetas, corrimãos, chupetas etc. Não é conhecido o tempo que o vírus pode permanecer “adormecido” e que fatores são responsáveis pelo desenvolvimento de lesões. Pode permanecer por muitos anos no estado latente. A recidiva das lesões do HPV está
provavelmente relacionada à ativação de “reservatórios” de vírus do que à reinfecção pelo parceiro sexual. Assim, não é possível estabelecer o intervalo mínimo entre a contaminação e o desenvolvimento de lesões (incubação), variando de semanas a décadas. A maioria das infecções é assintomática ou inaparente. Os sinais de infecção podem aparecer semanas, meses ou mesmo anos após a infecção com o vírus. Na forma clínica condilomatosa, as lesões podem ser únicas ou múltiplas, restritas ou difusas e de tamanho variável. Os sinais do HPV no homem podem ser várias pequenas verrugas de tamanhos variáveis, no pênis e/ou no ânus, que podem estar tão juntas que formam placas. Contudo, o homem, apesar de estar contaminado com o vírus do HPV, pode não apresentar sintomas, embora possa transmitir a doença a outros por meio do contato íntimo, principalmente sem o uso de preservativo. Também nas mulheres, os sinais são verrugas de tamanhos variados ou juntas, como placas. A ocorrência pode ser na vulva, nos grandes ou pequenos lábios, vagina, colo do útero e/ou ânus. Outros sintomas do HPV são várias pequenas verrugas de tamanhos variáveis que podem estar nos lábios, bochechas, língua ou garganta. Elas também podem estar tão juntas que formam placas. A maioria das pessoas com HPV não sabem que estão infectadas e nunca desenvolvem sintomas ou problemas de saúde. As mulheres podem descobrir que têm HPV quando chegar um resultado de teste de Papanicolau anormal (durante o rastreio do câncer do colo do útero). Por isso a importância do exame preventivo anual com o ginecologista. Outros só chegam a descobrir quando desenvolvem sérios
problemas do HPV, como o câncer. O diagnóstico do HPV é basicamente clínico, podendo ser confirmado por biópsia, que está indicada quando existir dúvida diagnóstica ou suspeita de neoplasia. O objetivo principal do tratamento da infecção pelo HPV é a remoção das lesões condilomatosas, que leva à cura da maioria dos pacientes. Nenhuma evidência indica que os tratamentos disponíveis erradicam ou afetam a história da infecção natural do HPV. Se deixados sem tratamento, os condilomas (verrugas genitais) podem desaparecer, permanecer inalterados, aumentar em tamanho e número ou alguns tipos podem evoluir para um câncer. Nenhum dos tratamentos disponíveis é superior aos outros, e nenhum será o ideal para todos os pacientes nem para todas as verrugas, ou seja, cada caso deverá ser avaliado para a escolha da conduta mais adequada. Fatores que podem influenciar a escolha do tratamento são: tamanho, número e local da lesão, além de sua morfologia e preferência do paciente, custos, disponibilidade de recursos, conveniência, efeitos adversos e experiência do profissional de saúde. O tratamento do HPV pode ser feito por meio de diversos métodos, cada um com suas limitações e com variados graus de eficácia e aceitabilidade por parte do paciente. Esses métodos podem ser divididos em químicos, quimioterápicos, imunoterápicos e cirúrgicos. A associação entre métodos, como, por exemplo, LASER e interferon, tem se mostrado um tratamento com bons resultados. O médico deverá orientar sobre o melhor tratamento para seu caso, entretanto, para reduzir o risco, o uso de preservaCircuito da Saúde | CEFET-MG
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Papilomavírus humano (HPV) O câncer do colo do útero é o sexto tipo de câncer mais frequente na população em geral e o segundo mais comum entre mulheres.
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20 mil
Estima-se a ocorrência de 20 mil novos casos de câncer de colo de útero ao ano no País.
R$ 550
No Brasil, a vacina foi implantada em 2007 na rede privada de saúde e chegou a custar R$550.
11 a 13 anos
Em 10 de março de 2014, a vacina passou a ser ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 11 a 13 anos.
9 a 11 anos
Em 2015, serão vacinadas as adolescentes de 9 a 11 anos e, em 2016, começam a ser imunizadas as meninas que completam 9 anos.
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tivos é fundamental e o apoio psicológico pode ser necessário para orientar o diálogo com os parceiros e a compreensão correta do problema. Como não existe tratamento definitivo para os vírus em geral, o combate a esse tipo de micro-organismo depende muito do sistema imunológico de cada um. O tratamento do HPV na gravidez deve começar, preferencialmente, nas primeiras semanas de gestação, sob a orientação do obstetra. Porém, quando a mulher apresenta verrugas genitais no final da gestação, é recomendado fazer o parto por cesárea, pois há risco de transmissão da doença para o bebê, caso entre em contato com as lesões. Geralmente, é recomendado fazer o tratamento do HPV antes de engravidar para reduzir as chances de existirem verrugas durante o parto. A prevenção pode ser realizada por meio de informação para a população sobre as formas de contágio e os sinais por meio de campanhas educativas, bem como pelo uso de preservativos masculinos e femininos por parte da população sexualmente ativa. Embora o uso de preservativo não seja uma prevenção eficaz, devido à possibilidade de contato com o tecido infectado, ele contribui para a redução do número de casos no mundo. Uma das formas de prevenção adotada em vários países tem sido a vacinação das pré-adolescentes e adolescentes contra o vírus HPV, como forma de reduzir o número. No Brasil, a vacina foi implantada em 2007 na rede privada de saúde, e chegou a custar R$550 (quinhentos e cinquenta reais). Atualmente, o preço está mais acessível e a vacinação é realizada em um esquema clássico em que a paciente fica imunizada em um ano. Foram desenvolvidas duas vacinas contra os tipos de HPV mais presentes no câncer de
colo do útero: a vacina bivalente e a vacina quadrivalente. Essas vacinas, na verdade, previnem contra a infecção por HPV. Mas o real impacto da vacinação contra o câncer de colo de útero só poderá ser observado após décadas. Uma dessas vacinas é quadrivalente, ou seja, previne contra quatro tipos de HPV: o 16 e o 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero, e o 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. A outra é específica para os subtipos de HPV 16 e 18. A vacina passou a ser ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 11 a 13 anos em 10 de março de 2014. O esquema de vacinação pelo SUS é composto por três doses: a segunda será aplicada com intervalo de seis meses e a terceira, de reforço, cinco anos após a primeira dose. A paciente que já tiver tomado a primeira dose na rede privada poderá tomar a dose seguinte por meio do SUS e vice-versa. Em 2015, serão vacinadas as adolescentes de 9 a 11 anos e, em 2016, começam a ser imunizadas as meninas que completam 9 anos. A vacinação é o primeiro de uma série de cuidados que a mulher deve adotar para a prevenção do HPV e do câncer do colo do útero. Ela não substitui a realização do exame preventivo nem o uso do preservativo nas relações sexuais. O Ministério da Saúde orienta que mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos façam o exame preventivo, o Papanicolau, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos. Após todas essas reflexões a respeito da complexidade do HPV e da facilidade de contaminação, é fundamental deixar claro que a adoção da vacina contra o HPV não poderá substituir a realização regular do exame de citologia (Papanicolau) na prevenção do câncer ginecológico, pois esse tipo de câncer tem possibilidade de cura diretamente relacionada ao diagnóstico precoce.
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Por que fazer o autoexame das mamas? Márcia Rodrigues Daian Psicóloga - SSRT/CEFET-MG 28
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O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, respondendo por 22% dos novos casos a cada ano, e é a maior causa da mortalidade feminina, como demonstrado na literatura. De acordo com estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registrou, no ano de 2010, 12.852 mortes por causa da doença e a estimativa de novos casos em 2012 foi cerca de 52.680. Ainda segundo o manual “A Saúde no Brasil 2022 – 2030”, da Fiocruz, as taxas de incidência do câncer de mama entre as brasileiras estão entre as mais altas do mundo. Estimativas também apontam que uma, em cada oito mulheres, desenvolverá câncer de mama ao longo da vida e que a incidência duplica a cada 10 anos até a menopausa. O sintoma mais comum de câncer de mama é o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, podendo ser móvel ou fixo; mas há também aqueles que são de consistência branda, globosos e bem definidos. Outros sinais de câncer de mama são edema cutâneo semelhante à casca de laranja; retração cutânea; dor, inversão do mamilo, hiperemia, descamação ou ulceração do mamilo; e secreção papilar. A secreção associada ao câncer geralmente é transparente, mas pode ser de cor rosada, cor de borra de café, ou avermelhada devido à presença de glóbulos vermelhos. Podem também surgir linfonodos palpáveis na axila. Segundo um estudo do canadense Miller (2014), publicado no “British Medical Journal”, o exame anual de mamografia em mulheres com idade entre 40 e 59 não reduz a mortalidade por câncer de mama em comparação com o exame clínico das mamas. No Brasil e na maioria dos países que adotaram o rastreamento de câncer de mama, a recomendação é que mulheres de 50 a 69 anos façam a mamografia a cada dois anos e o exame clínico das mamas, anualmente. Como as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no nosso País, muito provavelmente, porque a doença ainda é diagnosticada em estágios mais avançados, a incidência dessa neoplasia tende a aumentar em nosso meio pela exposição crescente de grande parcela da população feminina a importantes fatores de risco para o câncer de mama, como: redução no número de filhos, gravidez tardia, e uso de elevadas doses de estrogênio. Alguns fatores podem contribuir para a redução da mortalidade por esse tipo de agravo, os principais seriam a
educação, o diagnóstico precoce e a excelência no exame clínico. Segundo o estudo canadense, a mamografia anual não é necessária, já que não reduz especificamente a mortalidade. Por tudo isso, é fundamental prover a mulher de conhecimentos sobre essa doença e também sobre o autoexame das mamas (AEM). Apesar de questionada pelo estudo canadense, a mamografia é o método mais difundido de detecção, mas existe a possibilidade do surgimento da doença no intervalo entre o exame de um ano para outro, o chamado tumor de intervalo. Um dos fatores que podem impedir o estabelecimento do câncer de mama é sua detecção precoce. E a adoção correta do AEM pode ser uma alternativa que venha auxiliar na prevenção, sendo considerada como uma ferramenta que visa impedir o avanço da doença por meio da detecção precoce. Os médicos das especialidades de ginecologia e mastologia são os profissionais habilitados a ensinarem suas pacientes a realizarem o autoexame das mamas. Como nem todo mundo tem acesso fácil a esses especialistas, foi criado pelo Mastologista Dr. Thadeu de Rezende Provenza, dois instrumentos pedagógicos, mamamiga moden e a mamamiga tech, que vêm contribuir para o ensino/aprendizagem do AEM. São modelos de silicone, didaticamente divididos em quatro quadrantes, sendo que em cada quadrante encontra-se um achado passível de ser encontrado. Entretanto é preciso considerar que nem todas as mulheres sabem o que são alterações e como podem ser percebidas durante o AEM. Além disso, há também agentes de saúde que desconhecem essa técnica. Por esses motivos, o diagnóstico da doença acontece, muitas vezes, em estágios mais avançados, agravando e fazendo avançar os índices do câncer de mama. Com os modelos, mamamiga moden e tech, é possível criar situações de uso e aprendizagem que facilitem treinar os procedimentos de AEM, de maneira objetiva e prática com o ensino da técnica correta e completa para mulheres de características distintas. Espera-se, com esses modelos, que sejam disseminados os conhecimentos sobre o autoexame e que este seja adotado com mais proficiência. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Como fazer o autoexame das mamas? Há vários passos a serem realizados para se fazer o AEM. Primeiro é necessário considerar o período de 7 a 10 dias depois da menstruação, a partir do primeiro dia do fluxo sanguíneo. Para as mulheres que não menstruam mais, o exame deve ser feito em um determinado dia do mês, sempre no mesmo dia. Mensagens no espelho do banheiro ou no celular podem ajudar a mulher a se lembrar do dia em que deve fazer o AEM. Basta realizar o exame uma vez ao mês, durante o banho ou em outro momento. Alguns achados são possíveis de serem encontrados, como grânulos em série, relativos a mamas densas. Nesse caso, procure o médico e mostre o achado. Mas há casos em que os achados são nódulos móveis ou nódulos fixos e duros. Se encontrar esses achados procure o médico imediatamente e mostre-os a ele. Certamente ele irá solicitar outros exames, tais como mamografia e ultrassonografia das mamas para confirmar o diagnóstico.
Um convite Estamos conduzindo uma pesquisa com servidoras do CEFET-MG (TAE e docentes) com inscrição de interessadas a partir de março de 2015, intitulada “Análise de modelos pedagógicos (MAMAMIGA) para Detecção Precoce do Câncer de Mama”, no doutoramento em Ciências da Saúde - CPqRR/Fiocruz. Durante a fase de coleta de dados, ensinaremos todas as participantes a fazerem corretamente o autoexame das mamas. Portanto, convidamos todas as colegas que têm entre 30 e 69 anos a participarem desta pesquisa. Os contatos para agendar a entrevista podem ser por email: marciardaian@gmail.com
O primeiro passo do AEM refere-se ao aspecto das mamas. De frente ao espelho, olhe para as suas mamas e verifique se existe alguma anormalidade no aspecto, na coloração e na posição das mamas, mamilos e axilas. Se houver uma mama maior que a outra, com secreção marrom, cor de sangue ou leitosa saindo pelos mamilos, ou ainda, se houver nódulos nas axilas, é preciso procurar um médico especialista e verificar o que são esses achados. Num segundo momento, deve-se levantar um dos braços, posicionando-o atrás da cabeça, e com a outra mão, realizar o exame na mama do mesmo lado do braço levantado. Dedilhar a mama, tateando delicadamente toda a superfície em círculos, de forma a percorrer toda a sua extensão. Trocar as mãos, procedendo o exame com o outro braço levantado, examinando, assim, a outra mama. Depois, espremer os mamilos para ver se há alguma secreção. Finalmente deve-se examinar toda a extensão das axilas, percorrendo com os dedos, o lado de dentro do braço.
Os maridos, namorados, companheiros e amigos também podem aprender a técnica do autoexame para repassar os conhecimentos a suas mulheres, irmãs, amigas. É interessante lembrar que nós, mulheres, muitas vezes negligenciamos nossa saúde, relegando-a a último plano. Colocamos filhos, marido, casa, família, trabalho em primeiro lugar em nossa vida e nos esquecemos de fazer nossas consultas e exames com a periodicidade necessária. Isso é um erro que pode ser fatal, pois um nódulo maligno, que a princípio poderia ser tratado precocemente antes de crescer e comprometer sua saúde, é diagnosticado tardiamente, quando já não há mais nada a se fazer, a não ser a cirurgia de retirada total da(s) mama(s) e o tratamento de quimioterapia e radioterapia, que não significa garantia de cura. A detecção precoce ainda é a maior arma da mulher para conter o avanço do câncer de mama. “Bora” fazer o autoexame e a consulta com os especialistas? Assim, ficamos vivas por mais tempo, curtindo nossos filhos, marido, família, trabalho, nossa vida, enfim. 30
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Álcool e Saúde: tire suas dúvidas Gustavo Coutinho de Faria Médico Psiquiatra - SSRT/CEFET-MG
O homem chega à sua casa no meio da madrugada, embriagado. A cena tem se repetido quase todos os dias e a esposa já não aguenta mais. Começam a discutir e ele, sem paciência, agridea fisicamente, na frente do filho de quatro anos. O aposentado de 67 anos aumentou o consumo de uísque ultimamente. Tem ficado depressivo, não sai de casa e agora começou a ouvir vozes que ordenam que cometa suicídio. O professor de 52 anos que sempre bebeu, mas nunca percebeu problemas com isso, descobriu que tem cirrose hepática, após um episódio de hemorragia digestiva. O médico disse que poderia ter morrido naquele dia, sua doença não tem cura, a não ser um transplante, e é progressiva. O engenheiro de 32 anos começou a beber na faculdade, quando encontrava com os amigos, para se soltar. Com o tempo foi aumentando a quantidade e, ultimamente, começou a faltar no trabalho por estar sempre de ressaca. Já prefere beber sozinho, não tem acompanhado as atividades do filho na escola, nem saído com sua esposa, não sente energia para ir ao futebol com os amigos, o que sempre gostou de fazer. Sente-se irritado a maior parte do tempo e só melhora quando toma uma dose de vodca. Tem acordado com tremores nas mãos e precisa de uma dose para ter apetite para almoçar. A jovem de 16 anos estava voltando de uma festa de carona com um amigo. Ele havia bebido, perdeu o controle do carro numa curva e no acidente, ela veio a falecer. O álcool é uma substância psicoativa consumida há milhares de anos e está presente na cultura humana de diversas formas: desde rituais religiosos a festas, cerimônias, reuniões de negócio, encontros de amigos nos bares, na praia ou no churrasco de domingo. Para muita gente, ele representa o encontro entre as pessoas, facilita a socialização; para outros, é indispensável para uma boa mesa ou um momento especial. No Brasil, 74% das pessoas já fizeram uso do álcool e a maioria, provavelmente, não terá problemas com esse consumo. Por outro lado, os dados da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) são assustadores: o brasileiro tem começado a beber muito cedo, em média com 12,5 anos de idade, o que aumenta o risco; 28% dos adultos beberam de forma pesada no último ano; 45% das pessoas que bebem tiveram problemas relacionados ao seu uso e 12,3% dos adultos perderam o controle com a bebida e tornaram-se dependentes.
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O que é a dependência? O álcool oferece um risco de 15% de quem bebe se tornar dependente. A dependência ao álcool é uma doença mental, resultado de uma série de fatores, entre eles a predisposição genética, ou seja, é mais frequente na família de pessoas com quadros semelhantes, além de fatores sociais e psicológicos, piorando com o estresse. A doença faz com que o indivíduo não consiga controlar o consumo de álcool, e, quando ele é criticado pelas consequências do consumo ou pela falta de controle, tende a minimizar ou negar a existência dessas dificuldades, o que acaba dificultando a busca de tratamento. Os sintomas não precisam ocorrer todos ao mesmo tempo e compõem quatro grupos: • Tolerância e abstinência: necessidade de doses maiores para atingir o mesmo efeito; sintomas físicos que surgem quando o indivíduo reduz ou interrompe o consumo e que aliviam quando volta a beber; • Perda do controle: quanto à quantidade, frequência, tempo gasto bebendo, procurando bebida ou se recuperando dos efeitos, ou um desejo irresistível de beber; • Prejuízo social: o indivíduo deixa de fazer coisas importantes ou tem problemas de relacionamento ou sociais; • Risco: o indivíduo continua a beber mesmo sabendo que a bebida está causando danos em sua vida. É importante observar que os critérios de dependência não dizem respeito à frequência do uso, mas ao impacto desse uso na vida do sujeito. De fato, há bebedores apenas de fim de semana com dependência ao álcool.
Qual é o risco? Além do risco de dependência, diversas outras doenças estão associadas ao consumo de álcool, incluindo cirrose hepática, pancreatite, tuberculose, demência, epilepsia, ansiedade, depressão entre tantos outros. A taxa de suicídio é 8,8 vezes maior entre os homens e 16,4 vezes maior entre as mulheres com abuso ou dependência de álcool. Vários tipos de câncer estão associados ao consumo de álcool, com destaque para o câncer de mama nas mulheres, que aumenta a incidência mesmo com o consumo moderado, ou seja, apenas uma dose ao dia. Enquanto um baixo consumo de álcool foi associado à redução da frequência de diabetes e doenças cardiovasculares, o benefício se per32
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de completamente para aqueles que fazem uso de quantidades maiores (5 doses ou mais), mesmo eventualmente. Outros riscos significativos incluem as malformações congênitas provocadas pelo álcool durante a gestação; a violência, inclusive a doméstica; a negligência com os filhos; o vandalismo e o sexo desprotegido, aumentando a probabilidade de contraírem HIV e doenças sexualmente transmissíveis. 60% dos acidentes de trânsito estão associados ao álcool, e os prejuízos no trabalho são progressivos, desde eventuais perdas de dias até a incapacidade permanente. Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicada em 2014, revela que o alcoolismo foi responsável por 9% das aposentadorias por invalidez de servidores públicos federais da instituição. Segundo a OMS, no mundo todo, o álcool mata 3.3 milhões de pessoas ao ano e tira cinco anos da expectativa de vida do brasileiro. Um estudo do Reino Unido, publicado no Lancet em 2010, apontou o álcool como a droga mais danosa quando se consideram tanto os danos para o usuário quanto para a sociedade, bem à frente do crack, da cocaína e da heroína.
Existe uma quantidade segura para a saúde?
Quem deve evitar completamente o álcool?
Costuma-se acreditar que só quem bebe muito e todos os dias pode desenvolver o alcoolismo, ou algum problema associado. No entanto o risco relacionado ao álcool deve ser avaliado caso a caso. Um indivíduo que bebe pela primeira vez pode ter um acidente de carro e vir a falecer. Já vimos também que determinadas doenças, como o câncer de mama, aumentam com o consumo moderado. Também existem populações especiais que estão mais susceptíveis aos problemas da bebida, como crianças e gestantes.
• Pessoas com história pessoal ou familiar de alcoolismo ou problemas com outras drogas; • Pessoas com história pessoal ou familiar de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e suicídio; • Pessoas que realizaram cirurgia bariátrica (cirurgia para obesidade); • Pessoas com hipersensibilidade aos efeitos do álcool; • Pessoas com doenças hepáticas, doenças clínicas graves e com risco para câncer de mama; • Crianças e adolescentes; • Mulheres gestantes, que estão amamentando ou pensando em engravidar.
O que é uma dose de álcool? Uma dose de álcool corresponde a 14 gramas de álcool puro. Isso equivale a aproximadamente 40 ml de uma bebida forte, como cachaça, conhaque ou vodca, uma taça de vinho ou uma lata de cerveja. Essa medida padronizada ajuda a compreender os padrões de consumo de baixo e alto risco. O bebedor pesado, por exemplo, é definido como quem consome cinco doses ou mais de álcool, pelo menos uma vez ao mês, e está sujeito a riscos mais elevados.
Quem é o bebedor de baixo risco? É considerado aquele que nunca bebe mais de 4 doses por ocasião e mais de 14 doses por semana se homem, e a metade disso se mulher. Também se recomenda consumir o álcool junto com outros alimentos. Vale lembrar que, mesmo nessas quantidades, já ocorre um aumento de câncer de mama e cirrose em mulheres. Além disso, determinados indivíduos podem ser mais susceptíveis ou metabolizar o álcool mais lentamente, correndo sérios riscos com doses menores. Situações em que SEMPRE se deve evitar o álcool: Independente da frequência e da quantidade, é arriscado beber quando for dirigir ou operar uma máquina, no local de trabalho ou quando se necessita de grande concentração.
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O que fazer em caso de problemas com o álcool? No caso de dificuldade de controlar o álcool, procure um médico. Ele pode lhe fornecer aconselhamento e ajudar a encontrar uma estratégia para enfrentar as dificuldades, além de poder prescrever medicamentos que aliviam os sintomas de abstinência, ansiedade, depressão e desejo de beber. Alguns podem necessitar de internação para tratamento da fase de abstinência ou desintoxicação. Além do mais, todo tipo de ajuda é bem-vinda. Grupos como os Alcoólicos Anônimos trabalham com os 12 passos, um método internacionalmente reconhecido para ajudar a interromper o consumo e ganhar controle sobre a vida. Também existem clínicas especializadas, psicólogos, ONGs, igrejas, CAPS, comunidades terapêuticas.
Meu familiar vem sofrendo com alcoolismo. Como posso ajudá-lo?
Como identificar uma pessoa em risco para alcoolismo?
Muitas vezes, a família não compreende o comportamento autodestrutivo do alcoolista, faz críticas, acha que ele está assim porque quer, que é “sem vergonha”, que “não quer tratar” e o abandona. No entanto ninguém escolhe a dependência. Apesar de a maioria dos adultos já ter experimentado o álcool, apenas alguns, com predisposição, vão desenvolver o alcoolismo. A maioria daqueles que fazem uso problemático do álcool já pensou em reduzir ou parar de beber, mas estão divididos e manifestam resistência quando são criticados. Os problemas familiares e sociais, muitas vezes causados pelo próprio álcool, geram uma tensão emocional, que faz com que o indivíduo piore o padrão de consumo como uma forma de fuga, como se “chutasse o balde”, o que se torna um ciclo vicioso.
Existe um questionário simples, com apenas quatro perguntas, utilizado no mundo todo e também validado no Brasil, chamado Questionário CAGE (a sigla é um acrônimo referente às perguntas em inglês: Cut down, Annoyed by criticisms, Guilty e Eye-opener). Duas respostas positivas identificam as pessoas com maior risco de dependência ao álcool e que merecem uma avaliação com especialista:
Tente pensar que a bebida é a única forma que ele encontrou para lidar com problemas e estresse. Lembre-se de que o dependente de álcool está doente e precisa de apoio, incentivo e tratamento. Ajude-o a encontrar outras formas de “relaxar”, como esporte e lazer, e lembre-se de valorizar todas as conquistas que ele tiver em relação ao controle ou abstinência do álcool, seja de um dia. Um indivíduo que se sente apoiado e valorizado tem muito mais forças para combater a dependência.
4 Bebeu pela manhã para ficar mais calmo, ou se livrar de uma ressaca (abrir os olhos?)
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1 Você já pensou em largar a bebida?
2 Ficou aborrecido quando outras pessoas criticaram o seu hábito de beber? 3 Sentiu-se mal ou culpado pelo fato de beber?
Sexualidade e envelhecimento Adriano Roberto Tarifa Vicente Médico titulado em geriatria e perito do SIASS - CEFET-MG - Araxá
zerem, serão estigmatizados como pervertidos a partir dos ditames que muitas vezes lhes são impostos.
O envelhecimento é um fenômeno global e projeções do IBGE mostram que, em 2050, cerca de 20% do total de brasileiros serão idosos. A Organização Mundial de Saúde afirma que a sexualidade é parte integrante da personalidade e necessidade básica humana e não pode ser separada de outros aspectos da vida, ela é muito mais ampla que a relação sexual, envolvendo a energia que motiva o encontro do amor, da intimidade e do contato, expressando-se por meio de sentimentos, movimentos, toques, fluência de pensamentos, ações e interações e constitui aspecto importante da qualidade de vida. Na sociedade moderna, existe a crença de que apenas os jovens e adultos saudáveis possuem sexualidade, relegando o idoso à abstinência sexual. Assim, pode até existir um desejo de ir ao encontro do outro por parte dos idosos, mas não há motivação suficiente, pois acreditam que, se o fi-
A expressão da sexualidade e o desejo por momentos de intimidade são complexos, já que sofrem influência de fatores biopsicossociais, econômicos, culturais, religiosos e espirituais. A noção de saúde sexual, como a de saúde física, não é simplesmente a ausência de disfunção sexual, mas um estado de bem-estar sexual que inclui aproximação positiva de um relacionamento e antecipação de uma experiência prazerosa sem medo, vergonha, violência ou coação. A importância conferida ao sexo diminui à medida que piora a percepção de saúde. Um fator que tem impacto no sexo é quando há intercorrências como a morte do cônjuge ou uma doença grave. Apesar de redução da importância do sexo com o envelhecimento, 57,8% dos idosos consideram o sexo importante para sua vida. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Efeitos do envelhecimento sobre a resposta sexual O envelhecimento implica em mudanças na sexualidade, assim como na imagem corporal e na autoestima, podendo provocar dificuldades no relacionamento. Com relação à resposta sexual, possuímos classicamente quatro ciclos. O primeiro é a excitação ou desejo, que é a combinação de estímulos olfativos, visuais, auditivos, de memórias, além do estímulo físico, todos os quais emergindo como um estímulo sexual, sendo que as mulheres idosas apresentam uma resposta mais lenta com redução da vasocongestão das mamas e genital e diminuição da lubrificação vaginal. A segunda fase se chama platô, caracterizada pela manutenção da resposta sexual e que, persistindo, leva ao orgasmo, possuindo uma menor duração e menor contração uterina, entretanto a capacidade de a mulher apresentar múltiplos orgasmos é mantida e, na última fase, que é a de relaxamento, há uma rápida reversão para o estado préexcitatório. O homem idoso, da mesma forma, apresenta, na primeira fase, uma resposta mais lenta, a fase do platô é prolongada, com pouca secreção ejaculatória, o orgasmo tem curta duração com redução das contrações prostáticas e uretrais e da força ejaculatória e a fase de relaxamento apresenta um rápido desentumecimento e descida testicular com período refratário prolongado. Estudos mostram que, apesar da atividade sexual diminuir com a idade, nos idosos acima de 60 anos, 50% dos homens e 27% das mulheres se masturbam pelo menos uma vez por mês. Cerca de 75% a 85% dos homens de 60 a 70 anos apresentam interesse pelo sexo mantido, contrastando com apenas 32 a 42% das mulheres. Aproximadamente 70% dos idosos septuagenários continuam a ter intercursos sexuais de maneira regular. Nos idosos acima de 80 anos, cerca de 40% das mulheres se masturbam e 13% têm pelo menos uma relação sexual semanal. Existem diversas barreiras psicossociais que influenciam os idosos a não terem acesso ao sexo, como a ausência do companheiro, a disfunção erétil, a consternação, a doença do próprio parceiro, o envelhecimento, a imagem corporal alterada, a atitude anterior em relação ao sexo e a sexualidade, a depressão, a falta de autonomia de escolha, a falta de privacidade, o conflito marital e a falta de combinação da libido. Embora ocorram modificações no corpo do homem e da mulher durante o processo normal de envelhecimento, as 36
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mulheres percebem as alterações sexuais advindas da idade com menos impacto no exercício sexual. Por ser uma função fisiológica, a atividade sexual é comumente confundida com o ato sexual, não sendo observadas outras formas de manifestação da sexualidade, como demonstrações de carinho, afeto, companheirismo e ternura. Os idosos sentem necessidade de atrair o sexo oposto, mas essa atração está mais ligada à necessidade de querer conviver com outra pessoa do que propriamente com o ato sexual e, dessa forma, fica demonstrada uma manifestação da sexualidade mais relacionada ao campo sentimental. Em relação ao aspecto físico da sexualidade, como o toque, o abraço ou as carícias, os viúvos relataram sentir falta dessa proximidade, pois são fatores que têm relação com o sentimento de felicidade. Um estudo observou que 41,7% dos idosos diziam manifestar sua sexualidade por meio de atenções especiais, 41,9%, por meio de carinhos e toques e 16,3% por meio de relações sexuais.
Alterações sexuais relacionadas ao envelhecimento segundo o gênero A menopausa é a fase que ocorre na vida de todas as mulheres como consequência da falência dos ovários que deixam de produzir os hormônios estrogênio e progesterona e, dessa forma, é um marco indicativo do final do ciclo reprodutivo da mulher e pode vir acompanhada de alguns sintomas característicos, como ondas de calor, insônia, diminuição da libido, irritabilidade, suores noturnos, entre outros. Além desses sintomas, a falta do hormônio estrogênio com o início da menopausa tem um impacto importante nas alterações físicas, como a atrofia urogenital, resultando em vaginites, perda da lubrificação vaginal e até incontinência urinária. Cerca de 30% das mulheres que estão na menopausa sentem dor relacionada ao ato sexual (dispareunia) e uma das causas é a falta da lubrificação vaginal que pode ser tratada facilmente. Estudos recentes mostram que a reposição de estrogênio é associada ao tratamento do câncer de endométrio e mama, levando a uma restrição desta terapia para casos específicos, entretanto existem alternativas, como uso de hormônios por via dérmica (gel ou adesivos) e fitoestrógenos. Ao contrário dos estrogênios que não têm grande efeito na libido da mulher, a testosterona pode aumentá-la, entretanto existem efeitos adversos, como a piora do risco cardiovascular, a disfunção hepática e o aumento da resistência à insulina, além da questão estética, como o crescimento de pelos. No homem, a andropausa é um termo criado por analogia com menopausa, entretanto se trata de um processo mais lento e insidioso. À medida que os homens envelhecem, cai a produção de testosterona, entretanto, mesmo com níveis mais baixos, seus valores ainda podem ser considerados dentro da faixa de normalidade. Apesar de algumas mudanças físicas e psicológicas se instalarem por causa da queda desse hormônio, nem todos irão apresentar os sintomas característicos da andropausa. Isso só acontece com aqueles que têm uma diminuição mais expressiva dos níveis hormonais e, ainda assim, as manifestações são mais discretas e menos aparentes do que nas mulheres. O tratamento melhora a massa muscular, a massa óssea e a libido,
entretanto há necessidade de avaliação da próstata, pois a terapia pode aumentá-la e piorar um câncer de próstata que estava quiescente. As disfunções sexuais não são devidas propriamente ao envelhecimento, mas ocorrem devido às condições clínicas. Nos homens, a disfunção erétil é a mais comum e tem várias causas, como diabetes mellitus, deficiência de testosterona, doenças da tireóide, problemas vasculares, medicações (principalmente determinados anti-hipertensivos, anti-inflamatórios), álcool, tabagismo e uso de drogas, problemas psicológicos (depressão, ansiedade com performance, síndrome da viuvez, problemas com imagem corporal), doenças neurológicas. Dessa forma, muitas vezes, o idoso apresenta não apenas um fator relacionado à disfunção, mas, sim, diversas circunstâncias que agregadas, podem desencadear um problema de ereção. A mulher possui, da mesma forma, diversos fatores relacionados à dificuldade de orgasmo, entre eles os problemas vasculares (redução do fluxo sanguíneo para o clitóris ou vagina), lesão neurológica da medula (como uma lesão por acidente vascular cerebral), problemas psíquicos (ansiedade, depressão e imagem corporal), efeitos adversos de medicamentos (orgasmo reduzido com uso de antidepressivos, libido reduzida e uso de anti-hipertensivos), diabetes mellitus, hiperprolactinemia e doenças da tireóide. Ressalta-se que, com o envelhecimento, a mulher vive mais que o homem e dessa forma, apresenta um número maior de doenças, necessitando de um senso crítico severo no uso de diversos medicamentos para se tratar essas doenças comuns nesta fase. Atualmente existem diversos medicamentos para o tratamento de problemas de ereção no homem, alguns proporcionando ereção por até 72 horas, surgindo assim, uma revolução sexual masculina na terceira idade, que traz diversos benefícios para a saúde e bem-estar, entretanto, no mundo moderno, tem crescido a prevalência da AIDS e de doenças venéreas na terceira idade, necessitando de medidas de orientação ao sexo seguro, o que pode ser assunto para um próximo artigo. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Uma comunicação promotora de saúde e bem viver “A bondade em palavras cria confiança; a bondade em pensamento cria profundidade; a bondade em dádiva cria amor.” (Lao Tsé)
Sandra Lúcia Horta Neves Psicóloga - SSRT/CEFET-MG
Muito se tem estudado sobre os relacionamentos e as questões psicoemocionais envolvidas em cada relação. Por certo, cada ser é único e vai estabelecer um laço relacional único também, de forma que duas pessoas jamais terão os exatos ou idênticos laços afetivos relacionais. Isso porque também estamos em constante processo de transformação interior e é fato que, a cada dia, acordamos agregados de experiências e valores vários. Nossos registros cerebrais se somam aos “programas” instalados desde a nossa infância em nossa mente, então, conclui-se que estamos nos construindo e reconstruindo minuto a minuto de nossa vida. Talvez seja essa a razão de constantes mudanças de posturas, posicionamentos, crenças e valores, pois “engordamos” o nosso acervo pessoal. Bem se diz que a sabedoria chega com os cabelos brancos. O tempo é nosso grande mestre. Somos todos estudantes e aprendizes da Grande Escola da Vida. Mas, ao mesmo tempo, somos todos educadores uns dos outros. E somos responsáveis pela qualidade dos relacionamentos que construímos e que atualmente possuímos. O comportamento interpessoal é uma das maneiras de interagirmos com o mundo. É a nossa expressão, temperada com nosso estilo, embasada por nossas convicções, desejos e vontades. Ele se manifesta de maneira organizada pela qualidade de nosso olhar, pela capacidade de nossa percepção e assimilação e, finalmente, pela exposição elaborada de todos os estímulos que recebemos. Queremos aqui 38
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nos ater a uma forma específica de nos expressarmos com alguém: a fala. Nossa comunicação e expressão pode ser classificada simbolicamente em: corporal (olhares, posturas, movimentos do corpo e gesticulações), pensamentos e sentimentos no nível consciente e inconsciente (transmitimos sinais e vibrações ou ondas eletromagnéticas que poderiam ser “lidas” ou decodificadas pela “antena cerebral” do outro) e, por fim, na própria fala (por meio da voz e sua respectiva entonação, com a escolha da palavra articulada pela linguagem). Minha intenção aqui é trazer uma reflexão mais profunda sobre a repercussão positiva de uma fala dita de maneira simples, direta, suave, mansa, doce, gentil e firme - mas não agressiva. Uma fala que não produz melindres ou sensação de menos valia no outro. A fala não autoritária, aquela que aproxima os corações e jamais os afasta. A fala que ocorre no nível do ser humano integral e não apenas concentrada no nível mental dos interlocutores. Sabe-se que a pior das verdades pode ser até bem recebida se ela chegar de uma maneira que não “rasgue” os sentimentos e a estrutura emocional do outro. Dependendo da maneira de nos comunicarmos, podemos conquistar amigos leais, fãs colaboradores fiéis, companheiros incansáveis e amantes incondicionais. Quando nos dispusermos a fazer um trabalho pessoal de atenção impecável e o aperfeiçoamento do nosso jeito de falar, nossa vida, com certeza, dará uma volta de 360° graus em nível de intercâmbio pessoal e logo começaremos a colher frutos saborosos de relacionamentos saudáveis e prazerosos, nos vários âmbitos da existência: conjugal, familiar, profissional, social e pessoal (consigo próprio).
Para simplificar essa exposição, didaticamente, relacionaremos os dez itens que se sobressaem em termos de importância para serem “trabalhados” na nossa comunicação:
1
Prestemos muita atenção em tudo que nos cerca, no ambiente, nas pessoas, em como elas estão e no que está acontecendo. Foco total no momento presente, ao que vemos e ouvimos, para que a nossa concentração possa nos trazer o maior número possível de dados e elementos para analisarmos e nos posicionarmos perante esses estímulos;
2
Prestemos muita atenção no nosso corpo: nos braços que devem estar soltos, indicando disponibilidade, nas mãos que devem gesticular para demonstrar interesse e envolvimento. Total vigilância nos nossos sentimentos e pensamentos, para que possamos corrigir imediatamente demonstrações inconscientes de antipatia, descaso, preconceito, irritação ou intolerância.
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Coloquemo-nos de frente para o outro, no mesmo nível (jamais um em pé e o outro sentado ou deitado) e olhemos nos olhos dele o tempo inteiro, tanto para ouvir quanto para falar. Procuremos colocar um sorriso na face e no olhar (sim, a gente consegue sorrir com os olhos) para demonstrar ao outro o quanto ele é “bem-vindo” até você. Nada de testa enrugada ou sobrancelhas fechadas.
5
Nossa prioridade será sempre escutar. Só falemos quando o outro entender que é nossa hora de falar, para que haja a desejável interação e para que nós confirmemos que entendemos tudo que o outro nos falou (feedback).
6
Escutemos o outro pensando sem montar uma réplica. Primeiro ouçamos tudo, mesmo que não concordemos com aquilo. De repente poderemos nos surpreender ao ouvirmos um fechamento daquilo que, a princípio, nos pareceu inconsistente. Tenhamos, pois, calma e paciência de escutar o outro até o fim.
7
Lembremo-nos que é muito comum o outro trazer a “chave” que precisamos “rodar” para abrirmos algum entendimento “trancado” ou há muito tempo buscado por nós. Alguém pode, de fato, fazer a “nossa ficha cair”, o que chamamos de “insight”. Disponhamo-nos a escutar o que alguém tem a nos dizer, por meio de uma “abertura para ouvir”, mesmo que estejamos com pressa ou sem paciência naquele momento. Acreditemos em informações-surpresas, elas costumam vir inesperadamente nos trazendo soluções ou oportunidades inimagináveis.
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Procuremos enxergar a quem nos fala e a quem nos escuta como sendo uma pessoa determinada que amamos muito, da idade semelhante, por exemplo, nosso pai ou mãe (se for mais velho) ou nosso irmão (se for da mesma idade) ou nosso filho (se for mais jovem). Essa simples técnica trará uma alquimia diferente e afetuosa que influenciará o calibre do TOM de voz que será usado ali, quiçá recheado de carinho, mesmo quando se tratar de uma repreensão. Definitivamente : O TOM é TUDO! Vamos repetir essa frase infinitas vezes para que nosso cérebro aceite esse comando e nosso inconsciente nos apoie nessa boa luta interior, que é nosso aperfeiçoamento e aprimoramento pessoal por meio da comunicação consciente e adequada. Vamos treinar uma fala efetiva, gentil e educadora. Uma verbalização que utiliza “aquele” tom de voz consciente, próprio de quem procura ser respeitoso e cuidadoso com as pessoas... de quem sabe utilizar um momento para levar inspiração e assim contribuir para a melhoria da vida de todos.
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A Inteligência Espiritual e a saúde da humanidade: crer para ver! Sandra Lúcia Horta Neves Psicóloga - SSRT/CEFET-MG
Maria Salete Guimarães Moreira Assistente Social - SSRT/CEFET-MG
Há muito se fala sobre o poder do subconsciente, o poder das crenças na definição e execução do “script de vida” da pessoa. São inúmeros os livros de espiritualidade, religião e autoajuda abordando o assunto da transcendência, compreendida aqui como a convicção de que a verdade é bem maior do que tudo aquilo que já se conseguiu concluir até hoje e que cada um possui uma verdade dentro de si. O mundo da subjetividade é o mundo onde cada ser pode transitar numa equação infinita e eterna, de acordo com sua capacidade de construção ideológica. Cada um possui uma capacidade de olhar, uma compreensão que dá a tudo um significado peculiar, em função de um potencial próprio, de vivências pessoais únicas, de inteligência geral e de sua vontade individual. Essa é a base da Inteligência Espiritual (IEs). Já sabemos que a inteligência emocional (IEm) é a capacidade da pessoa de identificar e administrar suas emoções, enquanto a IEs é uma habilidade e competência em “viajar” pelos conceitos de vida e morte com paz e leveza, navegar mais tranquilamente no mar das adversidades, nebulosidades e contradições humanas, desenvolvendo uma confiança cada vez mais sólida de que tudo está sendo como deveria ser, assim como tudo terminará como deve ser. 40
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A IEs concebe a ideia de que a evolução do homem é infinita e ascensional, numa trajetória de experiências físicas (materiais) que objetivam progresso e iluminação individual e coletiva. Há agora um novo entendimento de que estamos emaranhados em uma grande rede funcional, que nos impulsiona e nos provê. Somos todos iguais em humanidade, apesar de diferentes na individualidade, assim como as células de nosso corpo são individualizadas e possuem suas especialidades. A vida seria, então, nessa perspectiva, o resultado de uma vida orgânica maior em que cada pequenina célula cumpre sua função de trabalhar para o coletivo e para si mesma, colaborando para o funcionamento saudável do TODO. Quando uma célula se “revolta”, dependendo da disfunção que ela consegue provocar, pode comprometer toda uma região a que pertence, ou até mesmo causar pane em todo o sistema. Se isso chega a acontecer, a espiritualidade indica o caminho de confiar e entregar-se a uma Providência Divina, advinda de uma Inteligência Maior que é o Sábio Criador de tudo o que existe, um Deus que permeia tudo e a tudo controla e provê. Com um Deus no comando, é fácil aceitar não só as regras da vida, mas também que tudo o que acontece, até as maiores tragédias, tem uma razão e um propósito bom para cada um de nós.
Outro item que caracteriza a IEs é a aceitação de que o corpo físico possui uma dimensão bem maior, ou seja, o ser é a somatória de seus corpos físico, mental, emocional, astral e espiritual. O campo astral pode hoje em dia ser avaliado pela física quântica e percebido por pessoas que possuem um sexto sentido mais aguçado. Assim pode o ser humano encontrar um norte para caminhar e viver de maneira segura num mundo tão conturbado e diversificado, pois é necessário construir um equipamento psicológico e subjetivo forte, adequado para transitar num ambiente que escapa ao controle da ciência física e material. Portanto, incluir ingredientes de espiritualidade nos ajuda a construir essa estrada subjetiva ancorada em valores pessoais e em virtudes, buscando uma dimensão de princípios éticos e morais que se apoiam na tomada de decisões diárias que o indivíduo precisa fazer para construir a sua história. As metas de vida e a busca de felicidade passam, com o norte da espiritualidade, a extrapolar o sucesso material, o dinheiro, o poder ou os prazeres sensoriais, uma vez que os mesmos, ao serem conquistados, esvaziam-se, ou seja, não perduram e não há nada mais além. Ao se nortear por valores e ética, seus passos e construções pessoais se eternizam. E o mais importante talvez dessa ética seria o respeito absoluto às crenças dos demais, em procurar agir como gostaria que agissem consigo. Na IEs, além da inteligência concreta (lógica, linguística, musical, intra e interpessoal, emocional, temporal, espacial e motora), utiliza-se também a inteligência inspirativa, intuitiva e criativa. É uma inteligência racional que passa pelos sentimentos e cria o propósito do ser em resposta às nossas questões existenciais: o que eu sou? O que eu vim aqui fazer? A IEs aponta também o caminho da responsabilidade individual de cocriar o seu destino, ou seja, cada pessoa é livre para elaborar sua própria história de vida, mas estando sempre sujeita a leis imutáveis e invisíveis que regem todas as coisas, como, por exemplo, a “Lei de Ação e Reação” e a Lei de Atração, a Lei da Destruição (envelhecimento e mor-
te) e outras leis universais reguladoras que são iguais para todos os seres, mas que doravante as qualificaremos como justas e boas. Nesse contexto, cada um acaba sendo responsável pela construção de sua vida e de sua felicidade e não mais uma vítima de um mundo cruel. Com o apoio de alguma religião, pode o indivíduo se identificar com seus postulados e doutrinas, participando dos agrupamentos sociais, o que também ajudaria na construção de sua identidade e senso de pertencimento. Assim, ao se orientar por princípios éticos e virtudes morais, poderá o homem desenvolver o SER em contraposição à cultura do TER. Com o avanço da tecnologia e da modernidade, o hedonismo aponta para a POSSE de dinheiro, sucesso e poder, impondo a inconsciente escravidão do consumismo, o culto ao corpo, o estabelecimento de padrões de beleza física e a busca implacável pelo sucesso. O combustível para o desenvolvimento da espiritualidade é transcender o padrão coletivo do mundo de superfície e buscar a Fé, aprofundando o seu olhar. A Psicologia já explica que a crença possui um natural poder de direcionar a criatura para caminhos que criam sua própria realidade, pois o cérebro vai cumprir a ordem do comando que vem do inconsciente. É, portanto, necessário o desejo e o esforço pessoal da criatura, seu TRABALHO em si mesmo na busca de sua transformação. Assim, a fé e também o amor poderiam ser comparados, a título de entendimento, com o plantio de uma flor, em que o jardineiro precisasse decidir plantar e cuidar da plantinha, oferecendo constantemente nutrientes e água, com disciplina e atenção. O processo de desenvolvimento dessa planta é intrínseco dela própria, obedece a uma inteligência nata impressa nela mesma, é o milagre da contrapartida do Universo. Existe uma força divina, que faz mecanicamente o desenvolver e crescer dessa plantinha. Nisso se explica a retroalimentação da Fé e do Amor. O homem faz a sua parte e o Universo faz a Dele. Assim, tanto a Fé quanto o Amor são decisões de trabalho pessoal em que cada ser tem um papel individual a cumprir no equilíbrio da humanidade, na saúde do todo. Circuito da Saúde | CEFET-MG
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Leitura: exercício para a mente e para a alma Maria Salete Guimarães Moreira Assistente Social - SSRT/CEFET-MG
Uma pessoa com filhos pequenos e que tem responsabilidade com o seu trabalho formal, provavelmente, encontrase em uma fase da vida em que a literatura deixou de fazer parte do seu cotidiano. Se esse era um hábito valorizado em sua vida, ela pode sentir tanta falta a ponto de perceber-se menor em sua individualidade, mas, certamente, os ganhos do momento estão sendo em outras dimensões da sua existência, senão, já teria priorizado tempo e energia para os bons livros. Essa fase do ciclo da vida é passageira; os filhos crescem e a mãe e o pai precisam reencontrar-se em todas as suas necessidades e, nesse processo de reencontro, todos os hábitos de promoção da saúde devem ser resgatados. Os benefícios da leitura estão comprovados pela ciência e pelo senso comum. Pesquisas apontam os benefícios da leitura, por exemplo, a diminuição do risco de desenvolver Alzheimer em aproximadamente 30% de indivíduos que têm esse hábito como entretenimento. Além disso, quem convive com uma pessoa que “consome” bons gêneros literários a percebe como “bem resolvida” consigo mesma e de bem com a vida. Assim, pode-se afirmar que, além de ser um exercício mental, a leitura diminui estresse, amplia conhecimento, expande vocabulário, preserva a memória, melhora o pensamento crítico, a concentração e a escrita e ainda pode ser uma diversão gratuita ou solidária, quando o livro é de bibliotecas ou de clube de leitura do tipo “deixe um livro e leve outro”. Como ferramenta de promoção da saúde, médicos e outros profissionais da área têm utilizado da biblioterapia, ou seja, a prescrição de leitura com função terapêutica. A narrativa é o gênero literário mais indicado, especialmente ficções, histórias e biografias. Isso se deve à presença de elementos (personagens, enredo, ambiente, tempo e ponto de vista) que provocam no leitor a interação e a construção de interpretação com significados pessoais. Cada pessoa, ao ler, constrói uma narrativa “mental” paralela que depende de suas vivências e experiências e, ao mesmo tempo, as estratégias e visões do autor (personagens) vão sendo analisadas. As histórias podem provocar mudanças, pois possibilitam ao indivíduo ter acesso a outras visões das adversidades 42
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relatadas no texto literário. A Dra. Lucélia Elizabeth Paiva nos esclarece que a biblioterapia no processo terapêutico tem quatro estágios: envolvimento, identificação, catarse e compreensão (insight) e universalidade. O leitor se envolve com a história ou com os personagens e se identifica. Ao identificar-se, coloca-se no lugar do outro, valida ou questiona os sentimentos, as escolhas e as atitudes. As situações e os problemas resolvidos com êxito no texto podem provocar tensão emocional relacionada às questões pessoais do leitor, atingindo a liberação de sentimentos (catarse) e a compreensão (insight), podendo utilizar a visão de mundo, a estratégia ou a escolha do outro, do personagem, na sua vida. Na ocorrência de problemas similares em outras ocasiões, a aprendizagem pode ser aplicada, o que se configura na universalidade. O livro torna-se um bom e humilde conselheiro, pois ao mesmo tempo consegue passar a sua mensagem e promover a autonomia do leitor. Esse rico processo deve ser acompanhado na relação terapêutica entre o profissional de saúde e o cliente (ou usuário do serviço público) por meio do compartilhamento das emoções e experiências. Assim, o indivíduo é ajudado a expressar-se na terapia e a ganhar distanciamento de sua própria dor, o que pode possibilitar uma percepção mais aguçada de sua vida e desenvolver uma forma de pensar criativa e criticamente, além de diminuir o sentimento de solidão e validar outros sentimentos e pensamentos, processo que favorece a cura. A leitura de uma narrativa, por exemplo, de um romance torna-se significativa para uma pessoa quando ela consegue fazer autocrítica ou releitura de suas vivências e lembranças, quando percebe que seus sentimentos, valores e pensamentos não são solitários, quando sente a necessidade de colocar-se no lugar do outro e, assim, exercitar a empatia, característica humana tão importante para relacionar-se bem em sociedade. A boa leitura pode ainda nos favorecer com viagens imaginárias e o conhecimento de novas culturas. Diante de tantos benefícios, sentimo-nos instigados a fazer um convite: por algumas horas diárias, desligue o computador, a televisão, o celular e outros eletrônicos para um encontro com a leitura e consigo mesmo. Além disso, ajude-nos na criação do Clube de Leitura da Unidade SIASS CEFET-MG com a doação de livros que foram significativos em sua vida.
“Há um início e um fim, mas tudo é vida.”
Resgate da dignidade do idoso: a experiência de um sindicato junto aos seus filiados Diretoria Executiva Colegiada - SINDIFES/2014 Priscilla Coutinho de Vasconcellos Assistente Social
O envelhecimento é um processo inevitável que atinge todas as pessoas: quem não morrer jovem, com certeza envelhecerá!
A necessidade de atualização do cadastrado de associados do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino – Sindifes – apresentou uma parcela significativa de associados com idades entre 90 e 101 anos, confirmando a realidade que reflete os dados sobre o envelhecimento populacional.
Ciente de sua responsabilidade diante dessa realidade, o Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino – SINDIFES – assume uma posição de pioneirismo quando propõe conhecer em quais condições vivem esses associados (1ª etapa do mapeamento) e, sendo necessário, desenvolve atividades preventivas e de promoção da saúde.
O número da população idosa vem se tornando a cada dia crescente, demonstrando que a espécie humana nunca viveu tanto, como na atualidade, trazendo importantes mudanças nas áreas sociais e econômicas.
O Serviço Social do Sindifes propôs que fossem realizadas visitas domiciliares, acreditando que essa seria a melhor maneira de estarmos em contato com o associado.
O Brasil está deixando de ser um país de jovens... e, por ter sido chamado assim durante muitos anos, “não existe tradição brasileira em colocar a população idosa como foco de atenção de diferentes especialistas” representando um grande desafio político, social e econômico.
Todas as visitas foram agendadas e o convite foi extensivo aos familiares. A participação espontânea do familiar mostra a preocupação com o ente querido; traz segurança e, em muitos casos, facilitou na obtenção de informações e esclarecimentos sobre o dia a dia do idoso.
O declínio físico e muitas vezes intelectual, como consequência do envelhecimento, continua sendo um grande desafio.
Durante as visitas domiciliares, foram realizadas entrevistas (com perguntas abertas ou semiestruturadas) que serviram de orientação, entendimento e avaliação do contexto Circuito da Saúde | CEFET-MG
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socioeconômico e cultural e, também, o preenchimento de uma Ficha de Atendimento Domiciliar com dados de identificação, de composição familiar, dados sobre a situação de saúde (patologias, tratamentos, grau de dependência para as Atividades de Vida Diária) e dados que possibilitam a inserção na vida familiar e na sociedade. À medida que a visita domiciliar vai se desenrolando, percebemos o quanto é importante “saber ouvir”. O “saber ouvir” traz segurança para quem está falando. A partir daí, outros sentimentos vão surgindo... A alegria por ter quem os ouça é visível. Necessitam contar suas conquistas, dificuldades, angústias e principalmente suas histórias de vida. O conhecimento da realidade socioeconômica e as informações obtidas nos permitem desenvolver atividades preventivas e de promoção da saúde, buscando, sempre que possível, um enfoque educativo.
Considerações Finais A história de vida de alguns associados reforçou o que dizem os estudos sobre o envelhecimento: é fruto de uma vida saudável! Essas histórias mostraram a necessidade de criar o Centro de Memória do Sindifes, que apresentará, no seu acervo, a história daqueles que ajudaram a construí-lo. Outros associados apresentaram sérios problemas de locomoção dentro de casa (portas estreitas que não permitem a locomoção da cadeira de rodas nos cômodos da casa). Nesse caso, a orientação do terapeuta ocupacional foi essencial: a retirada dos marcos das portas aumenta o espaço sem a necessidade de “grandes obras” em casa. Muitos precisaram de orientações jurídicas, principalmente devido aos empréstimos consignados que fizeram. Nesse caso, o encaminhamento foi para o Departamento Jurídico do Sindifes. No caso dos idosos acamados, que precisam de cuidadores, as orientações foram direcionadas aos familiares para que ficassem atentos a qualquer sinal de mudança de comportamento do idoso. Cuidadores bem orientados e capacitados tranquilizam a família. A cada visita domiciliar, novas histórias surgem, e outros encaminhamentos tornam-se necessários... assim, essa será a nossa contribuição para quem já contribuiu muito para nossa categoria. Assim que encerrada a visita ao Sr. Domingos Alves de Carvalho, ele disse: “Precisamos dar chance para os outros que vão chegando. É a coisa natural da vida. Se você não reconhecer seus limites, você não é ninguém para a vida. Tem que saber reconhecer, aceitar, entender, sentir, ter o prazer da própria vida...saber apreciar e desfrutar esse espaço da vida. Sem reclamar nada.”
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A metáfora da resiliência
Não te deixes destruir.... Ajuntando novas pedras E construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Regina Rita de Cássia Oliveira Assistente Social / CEFET-MG Superintendente de Saúde e Relações de Trabalho
Cora Coralina
Um dos desafios das ciências humanas e sociais é compreender as diferenças entre as pessoas que são capazes de superar dificuldades e aquelas que não conseguem superar as diversidades. Vivemos em um momento de muitas incertezas e somos submetidos, diariamente, a uma carga de estresse, quando nos dirigimos ao trabalho, com o trânsito dos grandes centros, a violência urbana, as perdas, o bombardeio de notícias sensacionalista pelos meios de comunicação, cobranças múltiplas de prazos, perfeição, eficiência. Os estudiosos do tema “pegaram emprestado” o termo, Resiliência, utilizado pelas ciências exatas, para descrever a resistência de um material quando lhe é atribuída a capacidade máxima que ele possui de suportar a tensão, sem deformar de maneira permanente, retornando ao estado original. Nos indivíduos, a Resiliência pode ser caracterizada como a capacidade de se renascer do infortúnio, fortalecido e com mais recursos. Curiosamente o símbolo Chinês para a palavra crise é perigo e oportunidade. Refletindo sobre esse paradoxo, sofrimento e adversidade levam ao crescimento e fazem despertar o amadurecimento.
A palavra “CRISE” em chinês Perigo
Oportunidade
Para a pesquisadora Marta Regina Santos Silva, o indivíduo Resiliente é aquele capaz de enfrentar e responder de forma positiva às experiências que possuem um elevado potencial de risco para a sua saúde e desenvolvimento. A psicoterapeuta Froma Walsh afirma que, para compreender melhor esse termo, é importante distingui-lo de noções equivocadas de “invulnerabilidade” e “autossuficiência”. A Resiliência é construída internamente pela adversidade. Situações de crise podem extrair o melhor de nós. É um chamado para sair da inércia e voltar a atenção para questões essenciais em nossa vida. As perdas dolorosas podem conduzir para caminhos novos e imprevistos. Viver é uma constante reinvenção de nós mesmos. O escritor Alberto Camus tem uma frase que ilustra bem a metáfora da Resiliência “No meio do inverno eu finalmente percebi que havia em mim um verão invencível”.
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“Os sonhos não envelhecem” No decorrer da nossa existência, passamos por ciclos de vida: crianças com as nossas brincadeiras e fantasias; adolescentes sonhadores, buscando nos conhecer e encontrar a nossa verdadeira identidade e vocação; adultos jovens na construção de carreira, patrimônio e família; adultos maduros criando a família e solidificando os laços familiares e a etapa da aposentadoria. Planejamos a profissão, a constituição da família, a aquisição do patrimônio e negamos o envelhecimento. Lendo uma crônica bem humorada do Mário Prata encontrei o neologismo envelhescência. O autor fala de uma forma lúdica sobre essa etapa da vida, definindo esse termo como momento de preparação para a velhice. As pessoas maduras não envelhecem de repente, afirma o autor, é um processo. O Brasil não está preparado para o envelhecimento. Curiosamente o padrão demográfico do país está mudando de forma rápida, atingindo patamares de países desenvolvidos. Não somos mais um país de jovens e, em breve, seremos um país de velhos. Paradoxalmente, o brasileiro é um povo que nega o envelhecimento, não valoriza a sabedoria e o conhecimento adquirido com a experiência que não está descrita em nenhum manual. Vivemos a cultura do descartável e rapidamente as pessoas e os profissionais ficam ultrapassados, e, pejorativamente, velhos. Apesar das rugas, dos cabelos brancos, da barriguinha que teima em aparecer, da celulite e da idade, muitos envelhescentes estão antenados com o seu tempo, inseridos nas redes sociais, usam com facilidade os equipamentos eletrônicos disponí-
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veis, não vivem sem um celular, de preferência de última geração, com acesso à internet, apaixonam-se, ficam, namoram, passeiam e, infelizmente, também contraem HIV e outras DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Aliadas a esses fatores, com a maturidade, vêm a calma, a serenidade, a capacidade de escuta. O estigma do envelhecimento leva a pessoa a negar, e a não se preparar para a aposentadoria. Esse é um momento de mudança, não podemos negar. Com certeza conviveremos mais com a nossa casa, local em que éramos somente uma visita, teremos que mediar, reconquistar nosso espaço, mas também podemos planejar, ser produtivos, aproveitar bem as habilidades e competências adquiridas ao longo da nossa vida, fazer algo que estava bem guardado dentro de nós, mas que as obrigações diárias não permitiam. Por que não podemos sonhar? Os projetos nos movem. Esse é o momento de ousar, fazer coisas que estão guardadas intimamente e que nunca tivemos coragem, porque a prioridade era a sobrevivência e a criação dos filhos. Para todos os que estão em vias de aposentarem-se, convido-os a sonhar, ousar, planejar. A vida é hoje, não ontem ou amanhã. Os sonhos nos mantêm vivos, cheios de energia e a maturidade permite tudo... sonhar, ter prazer, amar...... Essa estrofe da música Clube da esquina II, de Milton, Lô e Márcio Borges, traz essa mensagem de forma poética: Porque se chamavam homens Também se chamavam sonhos E sonhos não envelhecem
SUMÁRIO 3 Editorial 4 SIASS: um projeto de rede em saúde do servidor 8 O desafio das mudanças nas Organizações Públicas 10 Você gosta de se exercitar? Descubra por que a atividade física pode ser sua principal aliada com o passar do tempo... 14 Educação financeira e qualidade de vida 16 Alimento funcional: benefício extra à saúde 18 Promova a sua saúde nutricional 20 Saúde começa pela boca 23 Cuidados com a escova de dentes 24 Infecção pelo papilomavírus humano (HPV): a informação é a melhor prevenção 28 Porque fazer o autoexame das mamas 31 Álcool e saúde: tire as suas dúvidas 35 Sexualidade e envelhecimento 38 Uma comunicação promotora de saúde e bem viver 40 A Inteligência Espiritual e a saúde da humanidade: crer para ver! 42 Leitura: exercício para a mente e para a alma 43 Resgate da dignidade do Idoso: a experiência de um sindicato junto aos seus filiados 45 A metáfora da resiliência