Jornal Contexto - edição 53

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EDITORIAL

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CRÔNICA

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GILMAR DO BRASIL LEONAN LEITE LEAL leonan_l3@hotmail.com

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ão se passavam seis da matina, o galo acabara de soltar seu último canto. Carroças de burro, apressadas, corriam barulhentas em direção à feira livre daquela cidade.

bom pra gente? Essa coisa de aposentadoria mesmo, eu estou “azedo” com esse presidente. Desabafou seu Jonas.

Gilmar tomava seu último gole de café, preparado pela esposa Cristina, que acabara de reclamar das artimanhas do seu esposo, ao demorar, como de costume depois do trabalho, para tomar uma cerveja com amigos:

Embora não tenha estudo, Seu Jonas é um senhor conhecido na região, por possuir opiniões bastante claras sobre a política nacional. Defensor do antigo governo, atualmente vive a reclamar das medidas que o atual vem tomando.

- Gil, tu não se invente de demorar a chegar hoje, queria muito jantar contigo nessa noite.

- Verdade, Seu Jonas, mas próximo ano as coisas melhoram. O homem vem aí! Apaziguou Gilmar.

Gilmar e Cristina era um casal jovem, com dois filhos, Carlos de sete e Gabriela de três. De famílias humildes, Gilmar sempre trabalhou como ajudante de pedreiro com seu pai, falecido há uns quatro anos. Com a morte do seu pai, achou no mundo das apostas de jogo do bicho, o seu rumo de trabalho. Cristina, sempre costurou com sua mãe, mas recentemente tinha abandonado, por causa do nascimento de Gabriela, porém já tinha planos de voltar ao trabalho. Após tomar seu café, foi até o quarto dos filhos, cheirou-os e saiu. Foi até a sala pegou seus talões de apostas, colocou-os no bolso da camisa de botão, foi até à sala e abraçou Cristina: - Tu és a mulher mais linda desse mundo e, como agradecimento por tê-la, não irei demorar. Prometo. Beijou-a na testa, como sinal de respeito e saiu pela porta dos fundos, para pegar sua moto e começar sua labuta diária. No caminho, parou na padaria de seu João, aproveitou e já foi pedindo: - Seu João vamos fazer aquela “fezinha” de sempre? Indagou. - Meu “fio”, eu não sonhei com nada essa noite, mas como vi no jornal essas coisas de carne com papel, me coloque aí, além das minhas milhares, uma milhar com porco e outra com a vaca. Vai que dê, né? Brincou, Seu João. - Pronto, vou colocar a de ganhar! Respondeu Gilmar, animado com o dia que já começava bem. Ali, conseguira 20 reais de apostas do seu João, ele sabia que para um dia de feira, era um começo bom. Dali partiu para a casa do amigo Mateus que morava próximo a outros dois amigos: Júlio e Afonso. Ao chegar, todos já se encontravam discutindo na conversa, sobre o jogo do time serrano e a esperança de mais um dia de vitórias. - Chega pra cá Gil, que a sorte o traga para eu sair dessa vida de pobre. Desabafou, Mateus. E ali todos brincaram, compartilharam notícias e fizeram suas apostas com Gilmar. Depois se despediram, e cada um seguiu seu rumo de trabalho. Todos com sua função: Mateus é mototáxi, trabalho com muita demanda no interior. Afonso é eletricista, sempre está indo e voltando nas suas rotinas trabalhistas. E Júlio trabalha em uma madeireira. Gilmar já possui uma quantidade boa de apostadores, mas iremos chamá-los de “fregueses”, pois é assim que o nosso personagem chama. Amigos, conhecidos e pessoas que já o conhecem, sempre procuram-lhe para apostar. Das sete até às dezessete da tarde, Gilmar não parou. Percorreu a região toda, desde sua casa, em um povoado próximo, até o centro da cidade. Na maioria das vezes, são apostas fiéis, diariamente apostadas pelos seus fregueses. O cambista (ou bicheiro) perpassa por oficinas, lojas, mercados, feira-livre e nas residências dos clientes. Seus afazeres é efetuar a aposta, entregar os jogos já certos e entregar os resultados das loterias. Sua motocicleta foi comprada há dois anos por consórcio, cuja conquista é citada com orgulho por Gilmar. Com ela, o trabalhador leva as crianças na escola, busca e atende as demandas tanto de casa quanto do trabalho. Há poucos meses, comprara sua humilde casa com incentivo do programa do governo, trazendo-lhe mais tranquilidade e vontade de continuar batalhando. Às 11 horas, foi buscar os meninos na escola, aproveitou o caminho para fazer jogos na oficina de seu Jonas. Depois de anotar as apostas dos funcionários, dirigiu-se aos fundos para conversar com o proprietário daquela oficina: - Seu Jonas, tô chegando. Tem o que aí pra gente? Brincou Gilmar. - Meu filho, além de tudo que está acontecendo nesse país, tu achas mesmo que há algo de

- Deus te ouça meu filho. Porque tanto ele quanto eu, estamos contando os dias para fazer nossas apostas com São Pedro. - Olha já estou indo, os meninos estão ainda na escola, e preciso pegá-los para levar em casa, enquanto Cristina não me ligue irritada. - Vá em paz, Gil. Mas não se esquece de colocar minha milhar. Gilmar fez as apostas, entregou-as e foi embora buscar seu filho Carlos. Gil, assim como é conhecido por onde passa, também teve oportunidade de um bom estudo. Filho de pedreiro com uma dona de casa, estudou até a quarta série. Mas teve que parar, para ajudar seu pai nas obras. Hoje, seu maior orgulho é sua irmã, Grazyanne, de 19 anos. A mesma entrou na universidade e está cursando enfermagem. O mesmo, tem a visão de mundo pelo que viveu e acompanhou durante os anos: sua vitória em conquistar sua casa própria, sua irmã entrando na universidade, a ajuda financeira que recebem do governo há um tempo. Para ele, as coisas mudaram e por isso, reconhece o esforço do antigo governo. Depois foram para casa, onde já os esperavam, Gabriela e sua mãe Cristina. Após o almoço, Gilmar percebeu a hora de ir levar os resultados, e assim fez. Durante a tarde, trabalhou incansavelmente, animado pelo dia que teve de apostas feitas. Ao chegar às 17h30, foi até o ponto de entrega de jogos e animado ainda brincou com o roteirista (responsável pela arrecadação das apostas): - Hoje foi um dia bom, dava pra comemorar com uma cervejinha, mas lá em casa me esperam, uma mulher fantástica e dois meninos abençoados que Deus me deu. - Está mais do que certo. Concordou o roteirista Ao entregar o jogo, foi pegar o carro do seu primo emprestado e foi direto para casa, surpreendendo à esposa Cristina. - Amor, cheguei. Hoje iremos para o melhor lugar da cidade, para comemorar o dom da vida e, ao mesmo tempo, nos presentear com um sábado em família. Iremos jantar no restaurante dos ricos que se incomodam quando chegamos lá. Apesar do trabalho informal de Gilmar, esse emprego tem lhe dado condições de vida que talvez outro trabalho não desse. De origem pobre e sem muitas instruções, as oportunidades quase não aparecem. Trabalhar com o jogo de bicho, não foi difícil. Seu pai, quando vivo, já jogava. E lidar com números, indiscutivelmente o povo daquele lugar, já nasce sabendo. É impressionante como são aptos às contas e a facilidade em fazê-la mentalmente, coisa que nos parece ser nato daquele povo. O jogo do bicho é eminentemente proibido no Brasil, devido ao não pagamento de impostos. Se por um lado, há aqueles que lucram, mesmo sabendo nós, que dentro de um sistema capitalista, todo e qualquer empregador lucra imensamente. Por outro lado, há o lado do trabalhador, aquele que não tem oportunidade de desenvolvimento, aquele esquecido pelo sistema e condenado por ele mesmo. Aqueles que tornam-se minoria por não possuir os mesmos direitos que a elite brasileira. E que enfraquecidos por falta de investimentos na educação, por exemplo, são incapazes de contribuir na construção de um país democrático e soberano. É notório que há dois Brasis: um Brasil dos canalhas e um Brasil dos Gilmares. Um Brasil que corrompe, golpeia, engana, manipula, exclui, preconceitua, marginaliza, assassina e condena. E aquele Brasil que vê em Gilmar, mais um trabalhador que batalha diariamente por um país que seja capaz de olhar pra os menos favorecidos, e compreender que, até no trabalho dito “ilegal”, há um brasileiro que luta por sua sobrevivência e sonha com um Brasil melhor.


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SAÚDE

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SEGURANÇA DO TRABALHO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Saiba como é feita a segurança do trabalho na universidade e descubra seus direitos e deveres enquanto parte da instituição ANDRÉA CHAGAS andrea.schagas2@hotmail.com

Imagem da internet

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m um país onde os acidentes no trabalho e doenças ocupacionais têm um número preocupante, nos voltamos para um espaço que muitas vezes passa despercebido nas pautas relacionadas à segurança do trabalho, a universidade. Procuramos assim, dar um enfoque mais próximo da realidade dos servidores da Universidade Federal de Sergipe (UFS). A segurança do trabalho, além de ser um conjunto de ciências e tecnologias, são medidas que têm o objetivo de promover a proteção do trabalhador no seu local de trabalho, visando à redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de Normas Regulamentadoras, Leis Complementares, como portarias e decretos e também as convenções internacionais da Organização Internacional do Trabalho. Entretanto, diante das normas que são obrigatórias surgiu a necessidade de saber se elas são realmente aplicadas na universidade e se contemplam os estudantes, além dos professores e servidores. Mas, para entrarmos nessa questão, primeiramente, temos que entender como funciona a política da segurança do trabalho no ambiente universitário.

Regime jurídico único “Estamos no âmbito de regime jurídico único, o que se aplica aqui se aplica em parte na CLT”, diz Carlos Eduardo, engenheiro de segurança do trabalho da UFS. Ele ainda complementa afirmando que “a política na universidade hoje é fazer segurança do trabalho visando higiene em suas ações basicamente”. O regime jurídico único é o conjunto de princípios e regras referentes a direitos, deveres e demais normas de conduta que regem a relação jurídico/funcional entre o servidor e o poder público. Ligadas a esse regime jurídico estão as Normas Regulamentadoras que de um ponto de vista prático, não têm uma aplicação específica para o espaço universitário. No entanto, é possível se apoiar e fazer uso de alguns mecanismos para implantá-los nas regras que adaptam a universidade, como por exemplo, a Norma Regulamentadora nº 5. Mas, “nós podemos usar a NR5 editada pela portaria 3214 como uma diretriz aplicada aqui”, relata Carlos. Recentemente a universidade passou a possuir algumas diretrizes específicas. Em 23 de fevereiro de 2017 foi publicada a nova orientação normativa no que diz respeito à insalubrida-

de, periculosidade e radiação ionizante, “então o regime jurídico único possui sim diretrizes específicas. Em coisas mais pontuais usamos do bom senso e aplicamos o que está descrito na portaria 3214, uma vez que não tem distinção de regime celetista para regime estatutário”, ressalta o engenheiro. De uma visão mais acadêmica da situação, questionar o fato dos estudantes fazerem parte da universidade e por vezes não estarem presentes nos discursos de segurança do trabalho no âmbito universitário é fundamental. E para desconstruir essa ideia, o engenheiro de segurança do trabalho afirmou que os alunos também fazem parte do quadro integrativo da instituição e não tem como não estarem inseridos, pois “a medida que a gente trabalha o ambiente do ponto de vista de higiene ocupacional, a gente aplica as diretrizes e preceitos regulamentares no ambiente e atendemos toda a demanda daquele ambiente. Significa que estudantes, professores e servidores, todos são objetos de ação das medidas de segurança do trabalho na UFS”, diz Carlos. Tão importante quanto saber sobre a política que direciona a segurança do trabalho na universidade e os direitos que se estendem sobre todos que fazem parte da instituição é saber


SAÚDE também sobre aspectos que englobam a medicina do trabalho nesse âmbito. É função do médico do trabalho avaliar a capacidade do trabalhador à determinada ocupação e realizar avaliações e reavaliações periódicas de sua saúde, enfatizando os riscos ocupacionais aos quais os trabalhadores ficam expostos. Doenças ocupacionais na UFS Algumas doenças ocupacionais são mais recorrentes na universidade e segundo destaque da Drª. Ruth Rosendo, médica do trabalho da UFS, “a doença mais freqüente é a LER/ DORT, principalmente no Hospital Universitário”. E se tratando de disfunção e/ou acidentes de trabalho é importante frisar a emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que é um documento informativo utilizado para comunicar as

ocorrências de acidentes. Esse registro é novo na UFS, pois “devido a não obrigatoriedade da emissão de CAT, estamos começando a registrar há aproximadamente um ano, portanto os casos ainda são poucos”, informou Drª. Ruth. Apesar dos registros serem recentes é relevante que isso seja feito, pois de acordo com o artigo 22 da Lei nº 8.213/91 é determinante que a empresa emita a CAT em caso de acidente de trabalho e ainda diz que a empresa que não emitir está sujeita a multa. Assistência da medicina do trabalho Outra perspectiva interessante e que deve ser considerada quando tratamos de segurança do trabalho é a assistência for-

necida pelos médicos do trabalho na instituição em relação às avaliações periódicas, a UFS conta com três médicos. Para que tais análises ocorram, os servidores são avaliados através do Exame Médico Ocupacional Periódico, que é anual para os servidores acima de 45 anos e bianual para os servidores de 18 a 45 anos, “no momento estamos em processo licitatório para contratação de clínicas para realização de exames complementares”, salienta Ruth. Além dos exames periódicos para avaliar a saúde é possível analisar também as condições de trabalho para servidores e professores através do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que existe na UFS e foi elaborado por dois engenheiros de segurança do trabalho do quadro da instituição.

Estudantes, professores e servidores, todos são objetos de ação das medidas de segurança do trabalho na UFS” Carlos Eduardo, engenheiro de segurança de trabalho da UFS

Equipamento de proteção individual - EPI

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EPI é um dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção contra riscos e ameaças à segurança e saúde do trabalhador. Nesse assunto, a universidade tem demonstrado comprometimento e Carlos Eduardo, ressaltou que “a universidade tem demonstrado esforços na

direção de atender todos os preceitos estabelecidos na portaria 3214. Já concluímos o processo de compra de EPI, fizemos um estudo e todo o trâmite para que o processo tivesse sucesso”. Mas ter os EPIs não é o bastante para assegurar a segurança e integridade no trabalho, bem como prevenir

as doenças ocupacionais e os acidentes. “É de interesse tanto da universidade quanto dos servidores o resguardo à saúde, então uma vez que nós entregamos os EPIs, realizamos as devidas fiscalizações quanto ao bom uso e uso adequado porque não basta ser entregue, tem que ser usado e de forma correta”, concluiu Carlos.

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA E SEUS EFEITOS Trabalhadores temem não conseguir acesso a aposentadoria, enquanto especialistas atentam para os impactos da reforma sobre o proletariado THIAGO FARIAS farias001.tf@gmail.com

Trabalhador terá que contribuir por muito mais tempo com proposta do governo Foto: Marcos de Paula - Estadao

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Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, em discussão no Congresso Nacional e que visa reformar a Previdência Social no Brasil, tem preocupado não somente os trabalhadores dos mais variados setores como também especialistas ligados a saúde e ao direito do trabalhador. A preocupação advém da indicação do Governo Federal em aumentar a idade mínima e o tempo de contribuição do trabalhador para ter acesso ao benefício da aposentadoria. De acordo com a PEC 287, o trabalhador que quiser ter acesso integral a aposentadoria terá que contribuir por 25 anos e ter a idade mínima de 65 anos, o que o força a permanecer no mercado de trabalho por 49 anos ininterruptamente. Apoiado sob o aumento da expectativa de vida do brasileiro ao nascer, a União alega que a reforma é necessária para sanar o déficit de R$ 149 bi e garantir a aposentadoria para as próximas gerações. A perita em medicina do trabalho e presidente

do Conselho Regional de Medicina em Sergipe (Cremese), Dra. Rosa Amélia, também acredita que a reforma é necessária, mas alega que nenhum indivíduo conseguirá trabalhar por mais de 25 anos em um mesmo ambiente devido ao desgaste natural de suas condições físicas. “O grande problema será quanto as pessoas que trabalham sob riscos, que manuseiam produtos químicos, que trabalham em ambientes estressantes, como fazer com que elas continuem trabalhando como se isso não representasse um desgaste real das suas condições de vida e saúde?”, questionou Amélia. A perita em medicina do trabalho considera que a maior preocupação será em relação aos trabalhadores que exercem suas funções em ambientes insalubres ou inadequados, como os mineradores e mergulhadores, por exemplo. Mas atenta para os trabalhadores do comércio de bens e serviços que -

para ela - a partir de algum tempo estarão inaptos para trabalhar, o que pode gerar uma perda na qualidade dos serviços prestados. Uma vez que eles estão expostos ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como estresse pós-traumático e depressão, além de carecerem de um sistema de saúde eficiente. “Então se eu tenho um serviço de saúde com baixa qualidade, em que as pessoas não têm acesso a prevenção e aos cuidados básicos, como é que será isso associado a um tempo maior de trabalho? Na revolução industrial se trabalhava 12 horas por dia e o próprio capitalismo chegou à conclusão que tantas horas de trabalho era inviável. Então o capitalismo percebeu que muitas horas de trabalho gera perda na qualidade da produção”, argumentou a perita. Rosa Amélia ainda falou que o aumento da expectativa de vida do brasileiro – que passou para 75 anos – não é motivo


SAÚDE enquanto o catarinense tem uma expectativa de vida de 78,9 anos, os maranhenses têm uma expectativa de exatos 70 anos, número considerado o mais baixo do Brasil.

suficiente para que este se mantenha no mercado de trabalho por mais tempo, e que tal medida servirá para forçar o brasileiro a investir na previdência privada.

Contribuir sem trabalho

“Previdência privada no Brasil é uma discussão da década de 80 e com esse projeto o debate sobre ela nunca foi tão forte, porque nem todos conseguirão trabalhar durante muito tempo na mesma atividade”, reforçou a doutora. A ideia esboçada por Amélia é compartilhada por Roberto Santos, diretor de formação da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT/ SE). Para ele, a reforma da previdência atende aos interesses dos fundos de previdência privada, os quais não oferecem nenhuma garantia ao seu contribuinte. “A Previdência Social ainda é o porto-seguro do trabalhador, porque ela é diferente da previdência privada, que gera uma insegurança muito grande por estar ligada ao capital especulativo. Então, se a empresa comprar títulos e falir, o trabalhador que aderiu pode não receber o benefício porque ela quebrou”, explicou o diretor da CUT/SE. De acordo com o informe da Previdência Complementar, divulgado em 2014 pelo Governo Federal, a quantidade de empresas de planos de previdências criados e encerrados apresentaram um decréscimo. Segundo o informe, entre 2005 e 2014, 81 empresas de previdência complementar foram encerradas no Brasil, enquanto outras 50 foram criadas. Para Roberto Santos, o fenômeno se deve à falta de conhecimento e costume do trabalhador brasileiro em investir na previdência privada. Trabalhar sem saúde Durante o processo de apuração desta reportagem, a equipe do Jornal Contexto UFS entrevistou cerca de 10 trabalhadores espalhados pelo centro comercial da capital sergipana, Aracaju. Na ação, a equipe notou que os trabalhadores dos mais variados setores apresentavam um grande desconhecimento sobre a PEC 287 e o medo de não ter saúde para contribuir por tanto tempo. A comerciante de 23 anos, Jéssica Thais, que está em seu primeiro emprego, contou ao Jornal Contexto que considera a proposta de reforma errada, porque em sua ótica as pessoas vão trabalhar até morrer. “Não temos saúde, nem assistência do Estado e a pessoa só vai conseguir chegar lá se tiver emprego e saúde em dia, o que é difícil”, acrescentou a jovem. Para a perita em medicina do trabalho, Rosa Amélia, o cenário descrito por Jéssica Thais é real, uma vez que as pessoas não podem controlar a ação de doenças degenerativas, como a hipertensão e o diabetes, as doenças epidêmicas e os desgastes físicos causados pelo trabalho diário. “Então você terá um cenário com pessoas adoecidas trabalhando cada vez mais, porque o desgaste vai ser maior. Se eu tenho de 20 a 40 anos, meu desgaste é um. De 40 a 60 é outro e de 60 a mais é outro”, comentou Amélia. Segundo o procurador do Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT/SE), Raimundo Ribeiro, a extensão da idade mínima para ter acesso a aposentadoria sem a promoção de políticas públicas que promovam a saúde do trabalhador, poderão causar a reforma da previdência um efeito reverso. “A pessoa quando vai ficando mais velha, ela fica mais debilitada. Então, se você aumenta o tempo de serviço e não aumenta a qualidade de saúde no trabalho, isso é um agravante que pode ocasionar aposentadorias precoces por invalidez”, argumentou Raimundo Ribeiro. O procurador defende um estudo aprofundado sobre a realidade do trabalhador brasileiro nas diferentes regiões do país. O estudo poderia ser realizado por instituições que lidam com a Previdência Social, como a Fundacentro e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e nele seriam analisados as reais condições e expectativas de sobrevida do trabalhador brasileiro. Vale ressaltar que apesar da expectativa de vida do brasileiro ter aumentado para 75 anos, a discrepância desse dado quando dividido por estados é preocupante. Segundo dados divulgados em 2014 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

Ainda durante a enquete realizada no centro da capital sergipana, a reportagem detectou um outro medo entre os trabalhadores: o do desemprego. “Acho que trabalhar até os 65 anos será complicado, porque a depender da idade, a pessoa não terá condições de trabalhar. Além disso, já está complicado arrumar emprego depois dos 40 anos porque o empregador quer eficiência”, disse a vendedora Jaqueline Santos, de 31 anos.

Não temos saúde, nem assistência do Estado e a pessoa só vai conseguir chegar lá se tiver emprego e saúde em dia, o que é difícil”

Para Rosa Amélia, o trabalho que um indivíduo desenvolverá a partir dos 60 anos não pode ser o mesmo que este desenvolvia aos 20. Ela também considera que o trabalho deve ser visto como algo necessário a evolução humana, mas não descarta o risco de se ter pessoas mais velhas e mais doentes dentro da sociedade. “Ou ela vai ser uma pessoa de um equilíbrio interno muito grande, ou ela vai tender a adoecer mais, numa sociedade de consumo”, esclareceu a doutora em Medicina do Trabalho. De acordo o procurador, a ampliação da idade mínima para ter acesso a aposentadoria aliada a falta de promoção de políticas públicas que promovam a saúde do trabalhador, culminarão numa demanda da sociedade em criar cotas para idosos, apesar das resistências às cotas raciais e para portadores de necessidades especiais. “Cotas para pessoas com mais de 50 anos, por exemplo, porque as empresas têm resistência a contratar gente de mais idade, isso é público e notório. (...) Essa preocupação com o emprego dos trabalhadores mais velhos, vai criar um mercado de trabalho ainda mais agressivo para as pessoas idosas, com deficiência e todos aqueles que precisam de uma proteção social. Além do crescimento do mercado informal” justificou Raimundo Ribeiro. Mas para Roberto Santos, a resistência dos grandes empresários em contratarem idosos findará na existência de uma classe de trabalhadores desempregados e em condição de miséria, o que os levarão a sujeitar-se ao subemprego e a um nível maior de vulnerabilidade social, além de prejudicar o ingresso de jovens no mercado de trabalho. “Essa migração dos jovens ingressarem no mercado e os idosos para a aposentadoria é importante para manter o ciclo do mercado de trabalho e este estará suspenso. Então, você terá pessoas trabalhando mais 10 ou 15 anos e esses jovens que estão entrando agora como vão ficar?”, indagou o sindicalista. Sugestões para resolver o problema da previdência Diante de tantas problemáticas envolvendo a saúde do trabalhador, a equipe do Jornal Contexto buscou medidas para solucionar as dificuldades inerentes a saúde do trabalhador diante da reforma da previdência. A primeira solução foi dada por Rosa Amélia. Segundo ela, o trabalhador que quiser trabalhar e sobreviver por mais tempo até poder gozar da sua aposentadoria será obrigado a adotar uma prática esportiva. Para o procurador Raimundo Ribeiro, ninguém sabe o que realmente acontece no INSS e que por isso “a sugestão do Ministério Público do Trabalho é que o Governo retire a proposta. É melhor o governo manter a aposentadoria como está e fazer um estudo sério. Abra a ‘caixa de pandora’, veja as receitas e despesas, análise como realmente está a previdência, se há casos de corrupção, desvios e também realizar estudos com instituições de renome, como a Fundacentro, o próprio MTE e o INSS”, falou. Já para o diretor de Formação da CUT/SE, a previdência social não precisa de reforma, porque em sua ótica não há déficit. Uma vez que já há estudos realizados por auditores fiscais da Receita Federal que comprovam a existência de um superávit nas contas do INSS. Ele também falou que a adoção de uma prática esportiva é um “discurso absurdo” dos defensores da reforma previdenciária. “Então o problema não é de reforma e sim de gestão para corrigir os problemas que venham acontecer”, concluiu o sindicalista.

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MINORIAS

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INVISIBILIDADE DOS TRABALHADORES A dura realidade daqueles que vestem o uniforme da transparência

LUCIANA GOIS lucianasantosdegois@hotmail.com

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ão 05h30min da manhã quando Sérgio Mota se apronta, come e sai para trabalhar. Todos os dias a mesma rotina. Volta no início da noite após passar o dia limpando as ruas da cidade e caprichando na dose de otimismo. “Nunca fui humilhado por causa do meu trabalho”. Sérgio é uma raridade entre as centenas de profissionais da limpeza que se sentem invisíveis na sociedade. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômico (Dieese) 42% dos trabalhadores já passaram por algum tipo de discriminação. A invisibilidade de determinadas classes trabalhadoras acontece, em sua grande parte, devido à pressa e a falta de tempo das pessoas na sociedade moderna. De acordo com o psicólogo Isaque Santana, há uma concordância quando se trata de um ritmo tão rápido que as pessoas acabam não se olhando e isso se fortalece quando a classe não possui um elevado grau de escolaridade. “Existe essa tendência nossa, agora, de estar tão acelerado que a gente não se dá conta de algumas coisas e principalmente das pessoas. Então, seja um gari, um recepcionista ou até alguém próximo de nós, na pressa, a gente acaba não se dando conta. Essa questão da correria, da velocidade desse tempo pós-moderno, interfere”, explica. Mas ainda de acordo com Isaque, essa hierarquização acontece pela visão que temos da importância desses papéis para a dinâmica da sociedade. “A questão desses serviços para o funcionamento social acaba dando uma visibilidade maior a uns do que a outros”. O porteiro Geovane de Almeida Barboza trabalha em uma mansão localizada na parte nobre da capital sergipana e conta que a atenção é algo bem relativo, mas que já passou por questões de constrangimentos que nem gosta de lembrar. “Sempre há aqueles que dão bom dia e aqueles que não, alguns valorizam outros não. Já fui perseguido por causa de minha profissão, deu até justiça. Não desejo a ninguém”. Mesmo “aos trancos e barrancos”, Geovane tem orgulho de seu trabalho. “Eu gosto muito. Já fiz curso para aprender mais e agradeço a Deus. São 20 anos de serviço, fui gari e virei porteiro. Procuro sempre fazer minha parte”, ressaltou entusiasmado. Essas profissões não só lutam para sobreviver, mas também para conseguir um reconhecimento social ou, no mínimo, uma dignidade expressiva da fonte de seu trabalho. Assim, um dado que precisa ser levado em conta, e é rico para o entendimento dessa opressão, é que em alguns casos essa desvalorização acaba atingindo a saúde mental das pessoas. Como explica Isaque, “toda vez que a gente faz alguma coisa, temos o interesse de sermos reconhecidos pelo que fazemos e à medida que as pessoas não têm esse reconhecimento à autoestima delas enfraquece [...] essa situação acaba gerando um cenário de vergonha que essa parte da sua vida apareça”. Para o sociólogo Franklin Timóteo, esse quadro afeta até mesmo o poder da classe de lutar por condições melhores de trabalho e para que seus direitos sejam garantidos, justificando-se pela alienação que é construída em cima de sua sensibilidade. “O indivíduo com o tempo passa a não ser detentor da sua produção, daquilo que ele produz, vende essa força de trabalho abaixo do que ele realmente deveria ganhar, gerando lucro ao empregador e criando inconscientemente a necessidade de trabalhar mais e mais. A venda dessa força de trabalho torna-se viciosa, fazendo com que os indivíduos pelas necessidades criadas pelo consumo, continuem vendendo sua força de trabalho de forma processual e desenfreada”, conta.

Foto: Sindilimp - Ba dem ser encontrados a prova, basta ir às ruas e conversar com os trabalhadores. Segundo a pesquisa realizada pelo Dieese, há uma distinção dessa invisibilidade entre duas categorias da classe da limpeza, uma que se refere à equipe que atua na conservação de estabelecimentos de saúde e órgãos públicos e a outra que é relacionada à limpeza urbana. No primeiro grupo, após o estudo pode-se perceber que a discriminação é feita apenas quando o indivíduo está com seu uniforme. “As manifestações indicam que a discriminação que sofre, embora intensa, restringe-se ao ambiente de trabalho”, descreve a pesquisa. Entretanto, os garis relatam que vai além do momento de serviço, perpassa pela família, amigos, em suas relações exteriores. Herança da escravidão Essa invisibilidade encontra-se intimamente ligada aos vestígios deixados pela escravidão ou, até mesmo, pode ser considerada como parte integrante do problema. Para Franklin, “a interpretação da categoria trabalho sugere uma análise históri-

“Homens invisíveis” Um caso curioso e bastante famoso quando se trata desse tema, é a pesquisa feita pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Braga da Costa. O tema do estudo nasceu no ano de 1994 quando Fernando cursava Psicologia na USP. Ele precisou acompanhar durante o período de uma semana o trabalho dos garis da Cidade Universitária como forma de analisar a humilhação social. A experiência acabou virando sua proposta de dissertação de mestrado e se estendeu por mais dez anos, ganhando forma pelo livro “Homens Invisíveis - Relatos de Uma Humilhação Social”. Fernando Braga da Costa varreu calçadas e ruas, limpou lixeiras, conversou com os verdadeiros garis e sofreu na pele, a humilhação social que estão expostos diariamente. Exemplos de rebaixamento po-

Foto: Instituto Marcelo Déda

ca um tanto mais específica [...]. De forma macro, a construção da escravidão legitimou-se a partir dos concretos processos de colonização. Desta forma, independentemente do local ou da formação, a escravidão fora vista a partir da inferioridade do trabalho por outro de mesma espécie, mas configurado numa outra estrutura social; como servo; como inferior; como escravo”, ressalta. Dia do gari No dia 16 de março, é comemorado o dia dos garis e das margaridas (as mulheres que trabalham na limpeza urbana) e o que há para se comemorar são os casos como do senhor Sérgio que nunca precisou chegar triste em casa por conta de seu trabalho ou ainda lutar para que os números de opressão diminuam e o reconhecimento se fortaleça, como espera o senhor Geovane. “Não é admissível que eles sejam lembrados apenas quando fazem as greves e os lixos se acumulam nas portas das casas. Eles precisam ser vistos e reconhecidos, pois sem eles não haveria um dos princípios básicos da vivência em comunidade, o bem-estar social”, afirma Isaque.


MINORIAS A INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE PESSOAS LGBT NO MERCADO DE TRABALHO

IVANA OLIVEIRA oliveiralivy@gmail.com

Foto: Banco de Imagens iStock Enquanto organizava os manifestantes, Linda andava de um lado para outro explicando aos participantes daquele evento o que se teria de fazer: customizar as camisetas, pensar frases para os cartazes e vender as últimas seis bandeiras que haviam restado. Entre uma entrevista e outra, Linda Brasil, integrante da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (Amosertrans) explica que o processo de exclusão de travestis e transexuais começa no seio familiar, se estende à escola e, consequentemente, ao mercado de trabalho. Ricardo José das Mercês Carneiro é procurador do trabalho e, há pouco mais de dois anos, coordenador regional da Coordigualdade, setor que define as diretrizes nacionais de ação no que concerne a realidade de grupos vulneráveis, dentro deste está a comunidade LGBT que abrange gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. À medida em que folheava sua pesquisa, foi possível constatar que hoje existem pelo menos 20 processos em andamento por conta de assédio moral vinculado simplesmente ao pleno exercício da orientação sexual dos agredidos. Linda Brasil conta que a homossexualidade pode ser velada enquanto a transexualidade não. “Muitos professores não estudam questões de gênero na universidade, o que contribui para que haja essa exclusão das escolas e, consequentemente, profissional. Compulsoriamente as travestis e transexuais estão na prostituição justamente por não serem integradas no mercado de trabalho formal, 90% são empurradas para viver exclusivamente disso”. Carneiro explica que no âmbito do Ministério Público do Trabalho (MPT), a maior dificuldade que se tem é a aferição da discriminação. “Uma das grandes dificuldades é que são muitos grupos tratados como um segmento só e o que na prática se vê é que, por exemplo, gays não sofrem discriminação na mesma proporção de travestis por conta do aspecto externo”, complementa ainda o procurador. Ele expõe ainda a existência de grupos de homossexuais que não veem qualquer ponto de interseção deles com os travestis ou transgêneros, por exemplo. “O treinamento para a realização de entrevistas é o mesmo para todo mundo, então não há nada específico em relação a quem é LGBT”, esclarece Maralysa Correia de Souza Cavalcan-

ti, 37. Ela conta que no decorrer de seus dez anos de atuação como profissional de recursos humanos, já trabalhou com seleção de funcionários em diversas empresas com vários tipos de público. “Já entrevistei alguém notadamente LGBT, as perguntas são as mesmas de quem não é, as reações são as mesmas, então a experiência é a mesma.” Já Carneiro afirma que esse público é até preferido em alguns setores, como turismo, pois o fato de serem bem remunerados em suas atividades e, na maioria dos casos, a opção por não ter filhos os leva a viajar mais e consumir mais produtos destinados a eles mesmos. Contrariando esse fato, Fabiana Moreira, mulher lésbica, leva sua filha Sophia de três anos com ela sempre que pode, quando não, arruma alguém para tomar conta da menina e volta correndo para casa sempre que dá. Servidora pública há dez anos, ela conta que o maior problema enfrentado por ela foi o machismo. Assim que foi contratada, a maioria dos funcionários do Centro de Controle de Zoonoses de Aracaju eram homens, com mais de 25 anos de trabalho, que subestimavam a capacidade feminina de exercer o mesmo trabalho que eles. “Eu e algumas colegas batíamos de frente com isso, qual a dificuldade de mulher fazer isso? Não é serviço pesado, mas abordamos tudo o que envolve endemias. Acho que como o ambiente sempre foi muito masculino, para eles receber muita mulher de uma vez só foi um choque”, afirma Moreira. Enquanto a mãe concedia a entrevista, Sophia brincava pela praça onde se concentrava uma manifestação contra o transfeminicídio, ato mobilizado por conta da morte da travesti Dandara, em Fortaleza, ocorrida recentemente. “Eu faço parte do Coletivo de Mulheres de Aracaju, ela vem pra cá pra se acostumar, vai crescer na luta”. Maralysa Correia afirma nunca ter percebido ou recebido queixas de discriminação no que diz respeito às empresas, mas sim a colegas de trabalho que não aceitam a diferença dos outros pelo próprio preconceito de ordem moral ou religiosa. No Brasil, a expectativa de vida das travestis e transexuais gira em torno de 35 anos de idade, o que é alarmante, este é o país que mais mata pessoas trans. “Por conta da grande presença na prostituição, elas ficam mais vulneráveis, muitas acabam não indo à delegacia e, quando vão, esses dados não são

contabilizados como agressão de pessoas trans”, disse Linda Brasil. Ela acredita ainda que por esse motivo a maioria das informações sobre este assunto chegam apenas através das Organizações Não-Governamentais (ONGs). Ricardo Carneiro fala sobre a importância de ONGs e associações que acolham a causa LGBT, pois as ações afirmativas feitas pelo MPT são realizadas em parceria com elas, que procuram o Ministério Público com os pontos principais das queixas desse grupo, discriminados pelo próprio exercício de sua identidade. “Aqui em Sergipe, desde 2016, eu desconheço qualquer ação afirmativa solicitada por associações pois, via de regra, temos que ser provocados e que indiquem onde é necessário intervir, atuamos 5% de ofício e 95% por denúncia, até para poder direcionar as ações e não ficar dando tiros no escuro”, afirma o coordenador da Coordigualdade. Em relação à precisão de dados, Carneiro explica que muitas vezes a pessoa que é LGBT, principalmente aqueles que não possuem traços aparentes de sexualidade, não a expressam, por isso, muitas vezes esses fatos são distorcidos. “Não querer se autodeclarar e não se rotular é também uma forma de expressar sua identidade.”. Assim que entrou na universidade, Linda teve o direito de usar o nome social negado, o que a fez entrar com um processo administrativo na universidade, que resultou numa portaria que regulamenta o uso do nome social das pessoas trans no âmbito universitário. “A partir daí eu fui me sensibilizando e mobilizando para fazer outras campanhas como a Semana da Visibilidade Trans e outros projetos que contribuam para a inclusão social dessa população tão estereotipada e marginalizada”. Atualmente, ela cursa Letras Português-Francês e pretende fazer mestrado em gênero e sexualidade justamente para levar essa discussão aos espaços de educação, tanto no ensino fundamental como no médio e universitário. A formação se torna outro meio de militar: “A gente percebe um grande número de violência, mas aos poucos algumas meninas estão se preparando para o ENEM e se encaminhando para ocupar esses espaços que sempre foram almejados”, finaliza.

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POLÍTICA

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PROJETO DE LEI BUSCA A REGULAMENTAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO O PL Gabriela Leite é uma proposta polêmica e ainda não há um consenso entre seus defensores e opositores CLEILSON LIMA cleilsonlimajorns@gmail.com

Imagem ilustrativa da internet

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prostituição no Brasil ainda é um tema tabu para uma grande parcela da nossa sociedade e poucos até sabem da existência de um Projeto de Lei (PL) que visa essa regulamentação. É importante ressaltar que, desde o ano de 2002, o Ministério do Trabalho já reconhece a profissão, portanto, prostituir-se é legal em nosso país. Mas, em um momento em que nosso parlamento se apresenta tão conservador, essa luta encontra mais dificuldade para tramitar no Congresso Nacional.

O Projeto de Lei 4211/2012 foi protocolado em 2012 pelo deputado Federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), mas ele não foi o primeiro a levantar essa bandeira. Em 2003, o deputado federal Fernando Gabeira já havia feito tentativas de levar esse PL para tramitação na casa; como em 2006 ele não se reelegeu, o projeto foi arquivado. O deputado federal Eduardo Valverde também levou esse debate para a casa, mas depois retirou da pauta da Câmara dos Deputados. A atual proposta foi batizada de Lei Gabriela Leite, em

homenagem à ex-prostituta e também autora do livro “Filha, mãe, avó e puta - a história de uma mulher que decidiu ser prostituta”. Além disso, ela também foi fundadora da ONG Davida, uma instituição que defende os direitos dos profissionais do sexo. O artigo primeiro desse PL considera profissional do sexo “toda pessoa maior de dezoito anos e absolutamente capaz de voluntariamente prestar serviços sexuais mediante remuneração”. No Artigo 3° ele trata das formas que


POLÍTICA locais, mas não poderiam ser os “donos” dos profissionais que ali frequentariam.

essas pessoas podem exercer essa profissão, podendo realizar esse trabalho de maneira autônoma ou participando de cooperativas. Essa proposta visa ainda esclarecer diferenças entre a prostituição e a exploração sexual, algo que é colocado de forma clara por seu autor na justificativa que o levou a trazer de volta esse ponto para ser debatido por seus colegas. Mas o tema desse projeto é polêmico e defensores e opositores não conseguem chegar a um consenso. Michele Santoro é travesti e trabalha como uma profissional do sexo nas ruas do centro de Aracaju. Para ela, a Lei Gabriela Leite “é um fator positivo” e que ajudaria e muito as pessoas que estão envolvidas nessa atividade. Serviria como uma “proteção”, já que essas pessoas ainda sofrem discriminação pela profissão que exercem. “Seriam vistas de maneira diferente pela sociedade que tanto julga e exclui esses profissionais”, disse ela. Santoro trabalha nesse meio há mais de 15 anos e já teve experiências fora do estado: morou e trabalhou sete anos em São Paulo. “Fui para lá [São Paulo] em busca de um sonho e eu consegui realizar. Não foi fácil, mas eu consegui realizar e voltei para perto da família. Comprei minha casinha, lá no interior e hoje tenho meu canto”, relatou. Mércia Cardoso é integrante do Levante Popular da Juventude e responsável pelo setor das mulheres, onde trabalham com pautas voltadas para esse público. Diz que o projeto busca impedir a exploração sexual, que é quando uma terceira pessoa é intermediária do serviço. “No papel, essa é a intenção, porém, o problema da exploração sexual no Brasil é muito mais profundo. As mulheres, em sua grande maioria, são exploradas duplamente: no trabalho formal e nos trabalhos em casa, que não são vistos como trabalho, mas sim como uma obrigação feminina”, afirma. Para Mércia, “a regulamentação da prostituição é a legalização da exploração do corpo da mulher”. Ela questiona como funcionaria a fiscalização e até que ponto esses profissionais estariam realmente sendo acompanhados pelas autoridades. Lembra que várias crianças são exploradas sexualmente e que em tese deveriam ser resguardadas pela lei, mas o que se vê são números altos de casos em nosso país. Camila Oliveira, estudante de jornalismo e que participa da Marcha das Margaridas, conta que “existem feministas que concordam com a regulamentação, são as chamadas Pós-Modernas, que defendem a liberdade da mulher e de seu corpo e outra vertente que não concorda, assim como ela.” Como Mércia, acredita que continuará a existir uma hipersexulaização do corpo da mulher e mesmo concordando que a mulher deve ser livre e pode fazer o que quiser com o corpo. Para ela, isso só alimentaria o machismo e levaria a manutenção dessa prática, tendo em vista que a mulher continuaria a ser vista como “objeto para satisfação do prazer masculino”. Michele Santoro descreve duas situações diferentes que ajuda a entender um pouco da vida de um profissional do sexo e as preocupações abordadas por aqueles que defendem o projeto. Ela conta que quando morou em São Paulo tinha um cafetão à quem tinha que pagar cem reais diariamente para trabalhar na esquina que é pública, mas que ele alugava como ponto para prestação do serviço. Por ser uma grande metrópole, os valores pagos lá eram mais altos, e assim, conseguia pagar essa “diária”. Em Sergipe, trabalha de outra maneira. Segundo ela, por aqui não tem alguém que cobre pelo ponto. “Graças a Deus aqui eu não tenho que pagar a ninguém, venho para a esquina e ainda não temos cafetão”. O projeto visa justamente impedir que esse tipo de prática, ainda muito presente em nosso país, continue acontecendo e que esses profissionais não sejam obrigados a pagar essas taxas. Além disso, com essa regulamentação as casas de prostituição, que até então são proibidas no Brasil, passariam a ser legalizada, ressaltando que não poderia servir de local para exploração ou faturamento excessivo de seus proprietários, que seriam os donos desses

No ano de 2013 o PL foi para apreciação da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, além dela também foi apreciado pelas Comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público e de Constituição e Justiça e Cidadania, tendo como relator o Deputado Pastor Eurico (PSB-PE). Voto do Relator

Fui para lá [São Paulo] em busca de um sonho e eu consegui realizar. Não foi fácil, mas eu consegui realizar e voltei para perto da família. Comprei minha casinha, lá no interior e hoje tenho meu canto”

Na ocasião o relator votou contra o projeto afirmando entre alguns dos pontos que a prostituição estaria se rendendo a um fenômeno social que é voltado para a indústria do sexo. Além disso, ele iria ferir à Constituição no que tange à dignidade da pessoa humana, tendo em vista que o “simples fato da pessoa ser tratada como mercadoria” já seria uma condição incompatível com a dignidade do homem. Buscando ainda fortalecer seus argumentos, o deputado apresentou dados de países europeus, onde a prostituição é regulamentada para mostrar que essas mudanças não surtiram o efeito que os governos esperavam. Na Alemanha, por exemplo, que foi uma das bases para fomentação e embasamento da proposta apresentada pelo deputado Jean Wyllys, e que possui o perfil mais próximo ao defendido por Jean, os dados mostram que cerca de 80% das mulheres envolvidas na atividade são oriundas de outros países, representando assim um número elevado de pessoas envolvidas no comércio sexual, que é um problema em várias regiões do mundo, mas que afeta principalmente os países menos desenvolvidos, onde essas mulheres, e algumas vezes até crianças, são levadas à outros países para exercer essa profissão. O deputado Eurico questiona também o fato de que a regulamentação diminuiria a exploração sexual, principalmente de crianças e jovens, e que ela “facilitaria” a fiscalização dessa prática de exploração que continua a ser passível de pena perante a lei. Ele apresenta outros dados que mostram um aumento no número de pessoas exploradas no mundo e julga que os órgãos de fiscalização no Brasil, mediante a precariedade que apresentam em suas atividades, não seriam capazes de oferecer um bom trabalho para as pessoas que necessitariam desse suporte, para que não continuassem a ser exploradas. E cita que a Austrália, que possui um sistema mais organizado, tem uma fiscalização que deixa a desejar. O parlamentar questiona como o Brasil iria desenvolver esse trabalho. O PL hoje De 2013 para cá o projeto foi arquivado e até o momento aguarda a formação de uma mesa que queira debater e trazê-lo para votação na Câmara. Em 2014 e também em 2016, alguns grupos que lutam por essa causa tentaram retomar suas discussões em virtude dos eventos que aconteciam em nosso país (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos) que trouxeram muitos visitantes para o Brasil e com isso fomentaram esse mercado. Mas, com um sistema político que se apresenta mais conservador a cada dia, o projeto não voltou a ser debatido e continua parado. Se voltasse a ser debatido hoje, teria que sofrer alterações em seu texto original, pois o mesmo previa que os profissionais do sexo teriam direito a aposentadoria após 25 anos de trabalho. Porém, reformas previdenciárias estão acontecendo e a aposentadoria especial, como seria nesse caso, também está inclusa neste pacote. Camila Oliveira acredita que algumas mudanças são necessárias e que mesmo sem concordar, algumas devem ser aceitas. Para ela, essa regulamentação serviria hoje como paliativo, já que esses profissionais na maioria das vezes não possuem amparo nenhum e estão à mercê da sociedade. É válido salientar que a proposta trata da prática da prostituição no âmbito geral, sem especificar gênero, e é válida para qualquer indivíduo que esteja engajado nessa atividade desde que estejam de acordo com as primícias elencadas no artigo primeiro do Projeto de Lei.

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ECONOMIA

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AGROPECUÁRIA FAMILIAR EM SERGIPE Apesar da falta de valorização e dificuldade da profissão, o trabalho dos pequenos produtores rurais vem apresentando resultados expressivos ao longo dos anos LUCAS MOURA mouralucas@live.com

Foto: Marcelle Cristinne/ASN

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Mesmo diante das dificuldades, o sertanejo consegue com muita criatividade alcançar seus objetivos

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esmo diante do crescente desenvolvimento tecnológico das práticas no campo, a agropecuária familiar ainda é responsável por grande parte do abastecimento do mercado hortifrutigranjeiro em Sergipe. São a agricultura e a pecuária realizadas pelos pequenos produtores que abastecem as principais feiras da região. Sem elas, não seria possível manter um comércio tão diversificado e eficiente como é.

O livro Trajetórias do Pronaf em Sergipe: Desenvolvimento e Mudanças Sócio-Espaciais da doutora Diana Mendonça de Carvalho mostra que o cultivo familiar é responsável por “96% da produção de mandioca, 95% da produção de feijão, 82% da produção de milho em grão, 78% da produção de arroz em casca, 78% de suínos, 76% da produção de leite de cabra, fora as produções de leite de vaca (66%), de aves (24%) e da produção de ovos de galinha (21%)”.

A agricultura familiar mostra-se forte por dois motivos evidentes. Primeiro, porque, baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006, ela gera uma média 240 milhões de reais por ano, o que mostra uma forte integração dessa agricultura ao mercado. E, segundo, porque mostra uma diversificação produtiva, haja vista a inexistência de monoculturas absolutas.

As terras sergipanas estão ocupadas por áreas de pastagens, lavouras, matas e florestas, além de terras em descanso. Seguindo essa classificação, observa-se que 70% das áreas dos estabelecimentos rurais estão ocupados com pastagens, dada a pobreza do solo. “Atualmente, há grandes investimentos na modernização desse segmento, com a introdução de pastagens mais nutritivas e melhoradas geneticamente, mais adaptadas

às condições climáticas, que impulsionam o segmento pecuarista, sobretudo, com a bovinocultura, ovinocultura, caprinocultura, suinocultura e avicultura”, comenta Diana Mendonça de Carvalho, doutora em Geografia e integrante do Grupo de Pesquisa sobre Transformações no Mundo Rural (GEPRU). Ainda com informações do IBGE, a agricultura agrega áreas tidas como lavouras, que perfazem o segundo lugar na utilização da terra e se ocupa da produção, principalmente, de cana-de-açúcar, laranja, coco-da-baía, mandioca, milho e feijão. Essas áreas estão distribuídas, sobretudo no segmento da agricultura familiar, que conta em Sergipe com 90.330 estabelecimentos. Tratando-se especialmente da pecuária, Sergipe tem destaque principalmente na produção bovina. Na região do sertão


ECONOMIA ECONOMIA

Fonte: IBGE, 2006

do estado, existem dezenas de fábricas de laticínios. Apenas na cidade de Nossa Senhora da Glória, maior da região, duas grandes fábricas recebem, pelo menos, 100 mil litros de leite por dia, o que impulsiona a intensificação da criação de gado. “Quando se trata da criação de caprinos e ovinos, temos uma relevância bem menor. No caso da criação de porcos, aí é que somos bem mais insignificantes, nossa produção quase se restringe ao pequeno pecuarista que cria, abate e vende, ou seja, se encarrega de todo o processo produtivo. As aves têm uma representação maior, mas nada comparado aos bois”, acrescenta Luiz Bispo, consultor econômico e presidente da Associação Comercial e Empresarial de Itabaiana/SE (ACEI). Dados do IBGE do ano de 2006, mostram que o espaço rural do estado de Sergipe conta, atualmente, com 100.606 estabelecimentos agropecuários que ocupam uma área de 1.480.414 hectares. 75,3% dessas propriedades rurais são consideradas pequenas, ou seja, possuem até 10 hectares. Os grandes latifúndios, com mais de 100 hectares, representam 2,53% do número total de estabelecimentos. Apesar de os primeiros números sugerirem uma predominância de pequenas propriedades, o que se verifica na prática é justamente o contrário. A área total somada das grandes propriedades é quatro vezes maior do que a área dos minifúndios. Isso fica claro quando observamos que a área média dos pequenos estabelecimentos é 2,39 hectares, enquanto a dos grandes é 288,63 hectares.

ÊXODO RURAL Outro fator que merece atenção é o crescimento relativo da população rural sergipana. No período de 1970 a 2010 a população rural cresceu apenas 12,84%. Enquanto isso, no mesmo período, a população urbana apresentou um crescimento de 266%. “Essas variações podem estar alicerçadas na atração que os centros urbanos exercem, mas também, e principalmente, no medo e na falta de perspectivas de viver na zona rural”, certifica Diana. O medo e a insegurança de depender da atividade rural para sobreviver tem justificativa, inclusive, estatística. A partir do Censo Demográfico de 1995/1996 a 2006, é possível perceber que houve uma redução de 14,19% no número de pessoas que estão ocupadas com a atividade rural em Sergipe. Em números reais, foram 44.472 empregos a menos. Essa diminuição pode se basear na “ampliação da modernização de alguns setores agrícolas e que, por consequência, contribui para o desemprego rural, na agregação de novas possibilidades que têm se aberto no campo, como os empregos não agrícolas, e, mesmo, pelo desenvolvimento de atividades complementares em termos de renda nas unidades produtivas”, analisa Diana de Carvalho. Para Luiz Bispo, a agropecuária acaba por movimentar outros setores da economia de Itabaiana e todo o interior do estado. “O setor não só movimenta a atividade primária, como permite que caminhoneiros e verdureiros obtenham a sua renda”, afirma.

GARGALOS Mesmo com a importância já mencionada, a agropecuária tem limitações que poderiam ser solucionadas por ações governamentais. É preciso esclarecer que a agropecuária sergipana acaba por contribuir muito pouco com a geração de riquezas no território. Dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 mostram que a agropecuária somou muito pouco a sua totalidade, apenas 4%. Os outros 96% ficaram distribuídos entre os segmentos de serviços (60%), a indústria (25%) e impostos (11%). Alguns fatores dificultam a fluidez da atividade rural. O pequeno agricultor sofre pela baixa qualidade técnica de seus instrumentos, a irrigação, por exemplo, já utiliza de mecanismos ultrapassados, com baixa eficiência. Além disso, fatores climáticos, como a falta de chuva, continuam sendo um problema. José Ferreira, assim como muitos outros, começou a trabalhar com a agricultura ainda muito jovem quando ajudava o pai nas lavouras. “Existem muitas dificuldades em nossa profissão. Não é fácil enfrentar o sol quente todos os dias e ainda ter que lidar com a seca. O que a gente ganha nem dá para pagar todas as contas”, comenta. Luiz Bispo ainda relata outra dificuldade: “O escoamento dos produtos agropecuários não é tão fácil como deveria. Aqui em Itabaiana, na terra do caminhão, nós temos dificuldades, imagine em outras regiões do estado e do Brasil”, relata. Com a dificuldade de transportar seus produtos, os produtores rurais ficam limitados ao comércio local ou ao próprio consumo de subsistência. Ainda diante da explanação de Bispo, os agropecuaristas sofrem muito por causa da informalidade. “O ideal seria que eles tivessem a carteira assinada ou no mínimo uma organização sindical. Muitas associações existem, mas infelizmente são pouco organizadas”, contextualiza. Apesar de agricultura ainda ser a principal fonte de renda das famílias rurais sergipanas, outras fontes de renda têm sido somadas, como é o caso das aposentadorias. “Fica evidente a necessidade de se impulsionar o segmento produtivo desse setor, sobretudo do familiar, que esteve historicamente abnegado de financiamentos rurais”, problematiza Diana. Seu José Domingos da Siva é exemplo de um sertanejo que vive da agropecuária há muitos anos. Ele conta que não dá para sobreviver exclusivamente da atividade agropecuária, o que complementava a renda da família eram as costuras feitas por sua esposa, Maria Nazaré Santana da Silva. “Hoje é que a situação melhorou pois eu e ela estamos aposentados”, enfatiza. Diana não tem dúvidas que falta valorização ao trabalho do homem do campo. “A importância da agropecuária de modo geral está na produção de alimentos, necessário à subsistência dos seres vivos, principalmente o homem. Contudo, historicamente é uma prática que gera riquezas, não para quem os produz, mas para quem os comercializam”, finaliza.

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ECONOMIA

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UFS MOVIMENTA ECONOMIA DO ROSA ELZE A linha tênue entre o estímulo à economia e a dependência econômica.

Foto:: Tainara Paixão

TAINARA PAIXÃO contatotainarapaixao@gmail.com

Gilvano Santos, esquerda, fundador da feira do Rosa Elze.

Eu não teria construído o meu estabelecimento no Rosa Elze, se a universidade não fosse localizada no bairro”. Isso é o que pensa Vagner Doria de Oliveira, dono de um estabelecimento imobiliário no bairro do Jardim Rosa Elze, em São Cristóvão. Vagner Doria é um entre as dezenas de empreendedores imobiliários que possuem imóveis localizados no entorno da Universidade Federal de Sergipe. Há seis anos, ele construiu o prédio de quitinetes que fica localizado a pouco menos de um quilômetro da UFS, com aluguéis destinados, exclusivamente, para universitários. “A ideia surgiu em 2011 por conta da universidade. Tem uma grande concentração de estudantes que buscam imóveis próximos à UFS. Se não fossem eles, acredito que a procura por aluguel de imóveis no Rosa Elze seria baixa”, explica o empresário. O setor imobiliário é um dos principais fatores de estímulo positivo da economia do bairro do Rosa Elze. De acordo com o economista Cassio Roberto Conceição Menezes, que publicou um artigo científico sobre o tema na revista

SCIENTIA PLENA, esse fator é facultado devido o grande número de estudantes advindos do interior de Sergipe e de outros estados, que optam por morar mais próximo da universidade. Consequentemente, surge uma demanda imediata por aluguéis de imóveis no bairro. “A rede de serviços e de empreendimentos imobiliários que se formou nas proximidades da instituição cresceu em função das demandas geradas pela própria universidade, demonstrando que os grupos modeladores do espaço urbano têm nos estudantes da UFS um público alvo altamente consumidor”, explica. No entanto, essa lei de oferta e procura entre UFS e Rosa Elze traz consigo algumas fragilidades. “A rede de serviços que se desenvolve no bairro avança em prol da demanda gerada pela universidade. Como essa demanda tem comportamento sazonal, o comércio local sofre com a falta de clientes em determinados períodos do ano”, afirma Menezes. Os períodos do ano que o economista se refere ocorrem quando há evasão de estudantes moradores do bairro: durante as férias, ao fim de cada semestre letivo na UFS, e,

quando ocorre, durante o período de paralisação dos servidores da universidade ocasionando a suspensão de atividades para estudantes da graduação. Um dos setores mais afetados por esse reflexo é a feira livre do bairro. “Oitenta por cento das demandas da feira são ocasionadas pela universidade”, disse Gilvano Santos, fundador da pequena feira livre do Rosa Elze que acontece todas às quintas. Gilvano, natural de Itaporanga D’Ajuda, foi um dos oito feirantes que fundaram a feira no ano de 1999. “Antes só tinha uma feira no bairro ao lado, o Eduardo Gomes. Havia a necessidade de uma feira local para atender grande parte dos moradores”. “O Rosa Elze depende da UFS. A feira, por exemplo, além de atender aos estudantes que moram no bairro, e que não são poucos, atende também quase todos os restaurantes localizados ao redor da UFS. Quando não tem aula, aqui [feira] fica vazio”, conta.


EMPREENDEDORISMO MULHERES EMPREENDEDORAS E NOVAS MODALIDADES DE NEGÓCIOS ISABELA MORAES isabela.moraes@outlook.com

Imagem ilustrativa da internet

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universo corporativo permanece dominado pelos homens, contudo, cresce ano após ano o percentual de mulheres que se lançam no terreno arenoso do empreendedorismo. E se antes o motivo mais eminente para uma mulher empreender era a flexibilidade de horário para poder se dedicar à família, agora, acrescentam-se a ele o interesse em ocupar um cargo de liderança, a necessidade de criar um legado e a ânsia por liberdade criativa. De acordo com a Rede Mulher Empreendedora, o perfil da mulher brasileira que cria seu próprio negócio é de em média 40 anos de idade, com filhos; casada; tendo cursado graduação completa e/ou pós-graduação, além de estudar para empreender. Já o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – informa que o número de mulheres empreendedoras cresceu nos últimos anos, entretanto, a expectativa de vida do negócio ainda é pequena, além do seu baixo impacto, já que geralmente é ligado à subsistência do núcleo familiar. A estudante de Relações Internacionais e Estilismo, Liz Carolina Simões, 25 anos, decidiu montar seu próprio negócio por motivos que não passam necessariamente pelo meandro das motivações clássicas que levam uma mulher a empreender, sublinhando o perfil das novas empreendedoras no País. Liz, que possui uma loja de roupa feminina chamada Canguru, the label, justifica que a iniciativa nasceu por não se identificar com o tipo de vestuário vendido na região; também porque a despeito de estudar em tempo integral, precisava de uma fonte de renda para estabelecer autonomia financeira em relação à família; e por último, porque moda sempre foi uma afinidade para ela. Além disso, Simões baseia sua decisão de ter o próprio negócio na nebulosidade político-econômica que o país tem vivenciado. “Atualmente, ainda considero [empreender] a melhor escolha, uma vez que estamos inseridos numa grande incerteza em relação ao mercado de trabalho; as relações de trabalho estão cada dia mais voláteis, a proposta da reforma da previdência não é amigável, e ter seu próprio negócio lhe proporciona um pouco mais de segurança”, afirma a estudante. Embora não tão numeroso, o mercado brasileiro já conta com grandes nomes de mulheres que empreenderam negócios de alto impacto, como é o caso de Heloísa Assis, criadora da Beleza Natural, rede de salões de beleza de amplitude nacional voltada para cabelos cacheados. Assis, que era doméstica

e não possuía formação acadêmica, identificou uma parcela de consumidores não abarcada pelo mercado da estética no país; foi então que, sozinha, passou a experimentar e combinar diversos produtos químicos até criar um que alisasse os cabelos. Quase 30 anos depois, a empresária foi eleita pela revista Forbes uma das dez brasileiras mais influentes do país – além de ela ter criado um patrimônio de mais de R$140 milhões de reais. Recorte geracional Não são todas as mulheres que conseguem alcançar o panteão dos empreendedores que causam tamanho impacto e acumulam fortunas. Assis faz parte de uma geração de mulheres que perseguiram o sonho da realização profissional e do enriquecimento ainda que isso significasse sacrifícios, como vender bens e empenhar muito tempo para o empreendimento fluir. Nos dias atuais, as mulheres das gerações Y (ou millennial) e Z – nascidas a partir da década de 1980 – valorizam mais o propósito ideológico de um negócio do que a possibilidade de grande lucro a partir dele. Essa geração de empreendedoras almeja um negócio que reflita suas ambições pessoais, sem que necessariamente rendam lucros exorbitantes. Um dos traços mais proeminentes dos negócios dessa geração é a maneira como eles acompanharam o ritmo de desenvolvimento tecnológico, o que justifica o fato de lançarem mão de outras modalidades de empreendimentos, que já não contam necessariamente com um espaço físico, pois a ideia é flexibilizar o acesso e driblar a alta carga de impostos, partindo, então, para o e-commerce, ou comércio virtual. Além disso, possuem um negócio de nicho que reflete muito da personalidade do seu idealizador. Sobre a criação da Canguru, the label, Liz Simões pontua que o seu propósito é tornar o empreendimento algo além de uma loja, ou seja, uma marca, de modo que seu negócio esteja mais vinculado a uma “ideia abstrata” que à concretude de um espaço comercial. “A escolha não foi especificamente uma loja virtual, eu gostaria de ter minha marca e comercializar meus produtos”. De outra parte, Simões sublinha que abrir uma loja física requer muito mais recursos, portanto, montar um e-commerce foi a opção mais viável – considerando a maneira como o negócio nasceu, uma vez que o capital inicial para

criar o empreendimento foi adquirido com o apoio da família; bem como a sua idade, que data de quatro anos. Liz contribui no processo de construção da loja participando de todo o processo criativo e também da divulgação, porém, terceirizando a produção – confecção das roupas. “Realizo a maioria das atividades na loja, ponho tudo no papel e viabilizo a produção das mesmas”. O fator geracional também concorre no sentido de relativizar a noção de sucesso, que pode transferir o anseio da prosperidade financeira para a liberdade de exercer uma atividade prazerosa que possa desenvolver habilidades pessoais, inclusive artísticas. “Uma empresa que deseja apenas o lucro dificilmente tem um foco e conseguirá bons resultados em um negócio a longo prazo. É importante que ao abrir um empreendimento a pessoa tenha um propósito, que sinta uma necessidade de pôr aquilo em prática em prol de um objetivo. Minha paixão pelo que faço é o que me motiva, e pra mim é algo indispensável no funcionamento de um negócio. Claro que lucros são envolvidos e são importantes, mas ter uma vontade genuína de se expressar por meio da sua empresa, pra mim, é muito mais relevante e torna seu negócio mais autêntico”, pontua Simões. Empreender é uma forma de empoderar-se Liz acredita, por meio do próprio negócio, que a mulher pode encontrar o caminho para a sua própria emancipação. “A mulher já ganhou um certo poder nos últimos anos, e as conquistas que ela vem alcançando são incontestáveis, mas ainda vivemos em uma sociedade majoritariamente machista e que desencoraja as mulheres a terem um negócio próprio. Uma vez que o processo de empoderamento feminino dificilmente se dá de maneira natural, sem esforços, no momento em que a mulher decide empreender ela mostra o quanto é capaz de alcançar uma posição de liderança, assim como obter sua própria independência financeira, e aos poucos muda sua própria realidade na sociedade. O empreendedorismo feminino é uma forma incrível de empoderamento, pois muda a concepção de que a mulher é frágil e deve ocupar cargos inferiores em relação aos homens; sendo mulher, empreender não é só abrir um negócio mas é também uma forma de lutar por direitos iguais”, afirma a estudante e empreendedora.

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COMPORTAMENTO

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A VIDA E A REALIDADE DOS TRABALHADORES COM MAIS DE 60 ANOS As histórias, embora protagonizadas por diferentes personagens, se unificam na dedicação desprendida para a realização do trabalho RONALDO GOMES ronaldoogomes@outlook.com.br

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uando o dia amanhece na casa de seu Jorge, localizada em uma das ruas estreitas de São Cristóvão pavimentadas por paralelepípedos, não parece que seus 82 anos pesam na hora de transformar arte em trabalho e trabalho em dinheiro. O resultado de décadas de experiência se concretiza no colorido dos tapetes feitos pelas mãos que carregam as marcas de um tempo vivido longe dali. “Eu faço diariamente. Não sei como começa ou como termina, mas sei que vou fazer até terminar”, conta. Ele faz parte dos 33,9% dos idosos que já ultrapassaram os 60 anos, são aposentados e que, por razões variadas, continuam no mercado de trabalho, segundo um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e divulgado em novembro do ano passado. Em situação mais específica, ele ajuda a compor o percentual de 23,2% que diz querer manter a mente ocupada e dos 18,7% que se sentem mais produtivos. Jorge dos Santos se aposentou quando tinha 50 anos e não se contentou com a renda que poderia tê-lo feito parar de trabalhar. “Eu não acostumo ficar parado; tenho que procurar alguma coisa para fazer. Trabalho com cultura, faço palestras em escolas...”. O quociente resultante dessa inquietação é monetariamente satisfatório, embora ele continue trabalhando mais pelo prazer de ocupar a ociosidade do tempo. “Custa em média 50 reais [cada tapete] e eu mesmo vendo, principalmente para turistas. É uma maneira de me entreter, é um brinquedo para mim”, diz ele. O trabalho que seu Jorge realiza lhe é peculiar, mas o cenário trabalhista no qual está inserido abrange muito mais pessoas do que se pode contar ou sugerir em uma observação rápida. O número de idosos em atividade entre os meses de abril e junho de 2015, por exemplo, atingiu um total de mais de 6 milhões, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, divulgada também no boletim informativo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Um desses idosos é José Andrade, 74, cuja rotina começa quando o horário comercial marca o início no relógio e só termina quando o dia já deu lugar à noite. “Eu gosto de trabalhar, não posso ficar parado; se parar morre logo”, afirma de maneira veemente. Aposentado, Andrade prefere se manter ativo no mercado porque “melhora minha saúde; o trabalho é sagrado, dá mais vida”. E é a mesma vitalidade que justifica também a continuidade de Elian Cruz Santos nesse mercado. Beirando os 60, ela teve a oportunidade de se aposentar três anos atrás – mesmo com idade abaixo da estabelecida, tinha contribuído com a Previdência Social por tempo suficiente para solicitar o benefício - mas a rejeitou porque nunca sentiu necessidade de parar de trabalhar. Hoje, só cogita a possibilidade para manter o equilíbrio financeiro da casa, mas garante: “Continuarei trabalhando normalmente. A aposentadoria só vem agora como estabilidade da minha renda”. Por não estar cansada, dona Elian, como é chamada, é uma mulher que se orgulha das três profissões – relações públicas, produtora cultural e artística e professora - que desempenha com destreza. “Lido com as três naturalmente; sei estar em cada lugar, em cada hora determinada. Amo dividir meu tempo assim”, confessa. Ela coleciona vários títulos, troféus e homenagens, todos galgados ao longo de sua trajetória profissional simbiótica. O trabalho como relações públicas e produtora cultural e artística a levaram a vários caminhos; um desses foi a liderança comunitária, cuja função a fez ganhar um prêmio simbólico e significativo no ano passado, que mostra com orgulho. “É uma satisfação muito grande ser reconhecida pelo seu trabalho”. Mesmo prestes a ‘descansar um pouco’, como ela mesma afirma, Elian diz querer encarar a terceira idade com tons de disposição e jovialidade. “A vontade de trabalhar está viva em mim.


“Eu faço diariamente. Não sei como começa ou como termina, mas sei que vou fazer até terminar”, afirma Jorge dos Santos, 82.

Eu acho que olho e penso que quero ser uma idosa assim: viver, trabalhar, ter vontade de contribuir”. Uma vida dedicada ao trabalho Seu Jorge conta que começou a trabalhar cedo. Nascido na chamada Cidade Baixa de São Cristóvão em um tempo que a economia do país permutava as relações econômicas em mil-réis, cresceu na frente de uma fábrica e começou a trabalhar com 14 anos, “por necessidade de família e porque eu gostava de trabalhar”. Quinto filho dentre os 13, frutos do casamento de Alcides Andrade e Risoleta Rosália dos Santos, precisou começar a dedicar seu tempo ao trabalho desde cedo. “Meu pai não ganhava lá essas coisas e estava todo mundo na escola. Minha mãe foi uma leoa”, declara com os olhos perdidos entre as lembranças fincadas no século XX. Foi embora quando completou 21 anos e aprendeu os ofícios trabalhistas nas mais variadas funções que desempenhou ao longo da vida, principalmente no Rio de Janeiro: já foi vendedor, gerenciou lojas, fez artesanato. “Quando voltei já estava aposentado”. Mas, antes de voltar, deu-se por conta que não queria simplesmente parar de se manter ativo no mercado. Acertou a aposentadoria e passou quatro anos em Angra dos Reis trabalhando com cultura. “Fui convidado por uma associação. Eu estava dando uma entrevista quando o prefeito me conheceu e me chamou para organizar um São João. Quando conversamos, ele me perguntou o que poderíamos fazer de diferente. Mostrei que tinha muito pescador nordestino, cheguei no porto, bati palma e perguntei quem era de lá. Pronto”. A explicação que faz parecer simples o ofício deu a Seu Jorge o manejo para alguns dos trabalhos que desempenha hoje em São Cristóvão: o de ministrar palestras sobre cultura local nas escolas e de guiar turistas entusiasmados que visitam a região. O que impressiona em sua fala, no entanto, é a disposição para desdobrar seu tempo nessas funções e fazer as peças artesanais que decoram a sua casa e também lhe servem como renda extra, além da aposentadoria que recebe. “Esses retalhos”, ele mostra, “quando não ganho, eu compro; um pouco dá para fazer um monte de coisa. O saco ganho da padaria: escolho o que

Foto: Dayanne Carvalho

serve, porque nem todos servem”, é meticuloso, referindo-se aos retalhos e ao saco que usa para fazer seus tapetes. “Essa semana eu vendi, seis, viu? Foi 300 reais no bolso”, fala. Aprendeu a fazê-los antes mesmo de começar a receber o benefício da aposentadoria, mas o continuou porque gosta de se manter ocupado. “Pensei em fazer e deu certo; antes eu vendia ao pessoal do trabalho. A inspiração veio quando vi um monte de retalhos de pano no lixo lá no Rio e os sacos para jogar fora”. A inspiração agora é o que o move. Sem sentir dificuldades físicas para desempenhar as funções que continua exercendo hoje, sua palavra de ordem é renovação. “Eu quero é isso: renovar sempre”. Duas histórias, uma realidade Carmelita da Silva tem 65 anos e é vendedora desde criança. O trabalho edificado entre as brincadeiras a acompanhou por toda a vida e hoje serve para complementar a renda da casa. “Continuei trabalhando para ajudar nas despesas da casa, para comprar comida, pagar as contas. O que recebo não dá”, conta olhando para a pequena venda montada na frente de casa. Ela não contribuiu com a Previdência, mas recebe o benefício da pensão. Sua rotina não inclui uma clientela fixa. “Não tá boa, é uma coisa hoje outra amanhã”. O fato de não poder andar muito devido a problemas ósseos é uma dificuldade que encontra quando precisa se locomover para vender o seu produto. Outra realidade acompanha Irami de Sousa Dias Neto, que tem 66 anos e costura há tantos que não consegue contar. Nunca contribuiu com a Previdência Social e como consequência não conseguiu se aposentar. Aprendeu o ofício do coser cedo a cultivou-o com amor, cujos elogios e procura dos clientes ajuda a mantê-la costurando. Dona Irami diz que mesmo gostando de trabalhar, o faz porque é necessário. “A necessidade e a dificuldade são grandes. Faço um biquinho sempre e vou levando a vida”, conta. Não diferente de muitos brasileiros, todos os dias dona Irami precisa costurar para manter as contas em dia. “A situação financeira é muito precária”. Ela afirma que continuará no mercado “enquanto tiver energia e disposição”.


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EDUCAÇÃO MERCADO DE TRABALHO PÓS FORMAÇÃO SUPERIOR DANIELA PINHEIRO danynhapv@gmail.com

Imagem da internet

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o entrar na universidade ou faculdade, o estudante tende a esperar que seu futuro profissional seja promissor, tendo em vista de que foram dedicados anos de formação, e, evidentemente se espera retorno para tantos esforços. Muitos estudantes escolhem cursos onde a demanda é muito grande, já pensando na ideia de acesso “rápido” ao mercado de trabalho, mas o que pode se pensar através desse ponto é que quando se existe uma grande procura por cursos específicos, acaba desenvolvendo-se muitos profissionais para poucas vagas de mercado, por isso, muitos procuram outros caminhos para trabalhar. No Brasil, a procura por cursos que se imagine rentabilidade são tipicamente, o direito, a medicina, com suas vastas áreas da saúde, e as engenharias. Segundo dados do IBGE divulgados em 24 de fevereiro de 2017, a taxa de desocupação no Brasil teve um aumento crescente no trimestre que vai até Janeiro deste ano, são quase 13

milhões de pessoas desocupadas (12,6%), se for comparado o período em que começou a crise “recente” no Brasil, se tinha uma taxa de 6,8%, ou seja, quase que duplicou esse contingente de pessoas desocupadas. Pensando mais além, as formações superiores deveriam demandar pessoas qualificadas para preencher as poucas vagas de emprego, mas o que se percebe na prática decorrente de diversos fatores é que isso acaba ficando restrito a determinadas pessoas e, o restante dos recém-formados opta por outras formas de acesso ao mercado, que, muitas vezes não condiz com a realidade de sua formação. Conversamos com pessoas de diferentes áreas (Português, História, Jornalismo, Fonoaudiologia e Engenharia Elétrica) para saber como está a inserção de cada um no mercado de trabalho ou mesmo se essa inserção ainda não aconteceu. Falamos ainda com economistas, Rosalvo Ferreira e Airton Paula Souza para saber mais sobre esse quadro que se instalou.

O que se espera quando se ingressa nos cursos Quando um curso é iniciado o que o ingressante mais espera é a sua formação para poder atuar na área específica que escolheu, visando também a remuneração efetiva. Entretanto, não é isso que acontece na maioria das vezes, o que geralmente causa frustração no recém-formado. “Quando entrei sonhava em conseguir um emprego público, pois no momento era o mais rentável e sinônimo de certeza, já que os salários eram depositados todos os meses na mesma data, mas, hoje vemos que isso não é prática”, relata Ildo Emanoel Ribeiro, recém-formado em Letras - Português. Mesmo sem emprego ele tem esperança de conseguir emprego em sua área de formação. “Espero poder atuar naquilo que a academia me formou, foi para isso que dediquei cinco anos da minha vida”, ressalta. Com a frustração de entregas diárias de currículos, Ildo conta que não vê a hora de trabalhar, mesmo que esse tra-


EDUCAÇÃO almejei sucesso profissional em qualquer área que fosse desde que eu tivesse amor pelo viesse a fazer. Tinha em mente que conseguiria mesmo com as dificuldades que surgem, porque não é fácil formar e já ter algo grandioso a espera. Alguns têm sorte, outros têm que correr mais um pouco”. É o que conta a recém-formada em Fonoaudiologia, que tem esperanças de se firmar em alguma clínica médica ou na assistência médica do seu município e que, futuramente, pretende fazer especialização em sua área de formação.

balho possa se distanciar de sua área profissional. “Estou tentando uma vaga em empresa que não tem relação alguma com o meu curso”. Muitas pessoas acabam trabalhando em áreas que não fazem parte do seu currículo. Para o economista Rosalvo Ferreira, o país está enfrentando um quadro de recessão há muito tempo, onde a taxa de desemprego ultrapassa níveis considerados históricos no país. Ele aponta que só no mês de janeiro de 2017, foram perdidos 49 mil postos de trabalho com carteira assinada, isso significa, que há uma mudança no perfil do mercado de trabalho no Brasil. “Estamos hoje em um quadro inverso com um crescente número de pessoas desempregando ou desempregadas, e que essas pessoas procuram outros caminhos para sobreviver e não, necessariamente, esses espaços são tão seguros, não garantem nem a questão da rentabilidade e, muito menos, as garantias sociais que um emprego formal possui”. Ao ser perguntado sobre empreender em um negócio, Ildo diz que já pensou nessa possibilidade, mas que não saberia como atuar nesse segmento já que sua área de formação é totalmente contrária a esses negócios. A pretensão do graduado em Letras é poder em curto prazo fazer uma especialização na área, posteriormente um mestrado e possivelmente um doutorado. A jornalista Marielle Chaves sempre sonhou com essa profissão, mas ao entrar na universidade percebeu na prática o quanto seria difícil o percurso de formação e a busca por emprego. “Já entrei no curso sabendo a realidade do mercado em nosso estado, que além de pequeno, é restrito. Então, o que eu sempre esperei foi que não seria fácil concluir o curso e, em seguida, conseguir um emprego na área que me proporcionasse o mínimo de condições para trabalhar”, conta. Ela diz ainda que sempre teve admiração pelo curso, mas viu que depois de formada a realidade é mais dura do que ela imaginava. Para o futuro, Marielle almeja tentar uma vida acadêmica já que as possibilidades de mercado estão muito restritas. “Tentarei o mestrado pela segunda vez”. O Economista Rosalvo vê a questão da Pós-Graduação como algo essencial para quem quer seguir carreira acadêmica. “Em algumas áreas com referência isso é importante. É sempre bom ter uma formação superior, e, na medida do possível tornar a formação superior um espaço também de reciclagem, ou seja, você pode fazer um curso de PósGraduação, alguma especialização, mestrado (um limite até para algumas áreas), um doutorado. Para quem vai seguir carreira acadêmica hoje tem que fazer mestrado e doutorado, não tem outra opção”. Com relação a um negócio próprio a jornalista diz que não pensa em abrir nenhum negócio, até porque para ela o investimento nisso requer renda, consequentemente, por causa do desemprego, esse empreendimento não funcione no seu caso, além de que isso requer um planejamento amplo. Rosalvo acredita que as atividades empreendedoras são geralmente estimuladas ou colocadas em evidência quando se está em crise. “No Brasil, o grande problema está na gestão do negócio, você pode ter capacidade técnica para desenvolver alguma atividade, para produzir alguma demanda particular, por exemplo, alguém que tenha uma boa capacidade de relacionamento, consegue ser proativo e resolve ser um vendedor de alguma coisa, se ele não souber gerir o negócio, consequentemente, não dará certo, pois não é somente necessária a capacidade técnica ou artesanal para se estabelecer ou determinar o sucesso em um negócio. Há riscos grandes nessa área. Como só se fala em sucesso, os insucessos não são revelados.É ótimo, teoricamente, porque as pessoas tendem a querer entrar nesse percurso, é um tipo de apologia ao sucesso, enquanto que o fracasso não é revelado”. Dar aulas é o grande objetivo de quem se forma para ser professor, isso não foi diferente para a graduada em História Joseane Santos, ela tinha esperança de assim que terminasse o curso pudesse ensinar e com isso fazer o que gosta. “Achei que teria mais possibilidade de entrar no mercado de trabalho”. Atualmente, ela trabalha em uma área totalmente diferente de sua graduação, conseguiu emprego na área de formação técnica (Farmácia) e está trabalhando em farmácia de manipulação. A área de saúde é procurada por muitos estudantes que sonham em se tornar profissionais habilitados para atuar nesse segmento. A fonoaudióloga Ana Claudia Nascimento sempre sonhou em ser uma pessoa realizada profissionalmente. “Sempre

Um negócio próprio para Ana Claudia não seria viável no momento já que para ela esse tipo de segmento precisa amplamente de planejamento e tempo. “Acho viável e futuramente quando me sentir estabilizada pretendo ter um negócio próprio”.

Espero poder atuar naquilo que a academia me formou, foi para isso que dediquei cinco anos da minha vida”

O economista Airton Paula Souza vê o empreendedorismo como um discurso ideológico, porque para ele o empreendedorismo não daria conta nunca de abranger todos os desempregados, inclusive os jovens. “Em uma estatística do IBGE que pesquisei, mais de 60% dos empreendedores eram homens com mais de 60 anos. Então não é igual, o empreendedorismo depende sempre de um conhecimento e recurso interior que os mais velhos têm e os mais jovens não têm. Isso é apenas para a pessoa achar que se tornará empresário, mas não vai, porque o capitalismo não é por íi, o que se desenvolve é empresa grande, média... e a estatística (IBGE) dizia que os empreendimentos dos jovens fechavam mais do que os dos velhos”, adverte. Airton comenta que existem áreas que tem uma demanda mais certa de mão de obra qualificada como, por exemplo, as engenharias, porque mesmo em épocas de crise, esses profissionais tem uma entrada no mercado de trabalho melhor do que o pessoal das ciências humanas. Mas, em Sergipe, ele alerta que o mercado de trabalho está difícil e restrito mesmo para as áreas das engenharias, cabendo ao engenheiro optar por outras formas de trabalho ou até enfrentar concurso para trabalhar em serviços públicos. “Eu já esperava um mercado difícil, mas a expectativa era melhor do que quando me formei”, comenta Joseilton Santos, formado em Engenharia Elétrica há dois anos e, desde então, nunca trabalhou em sua área. Ele acredita que não teve um bom estágio no período em que estava se formando e que isso contribuiu um pouco para a não inserção no mercado. Por outro lado, ele estudou para concurso e conseguiu passar em uma instituição federal de ensino como técnico administrativo logo depois de formado. Para o futuro ele almeja trabalhar como autônomo na sua área de formação. Cursos Técnicos Em tempos de crise, a economia decresce e os índices de desemprego só aumentam. Muitas pessoas, mediante a falta de oportunidade procuram cursos técnicos que possam a médio prazo garantir a inserção no mercado de trabalho. Entretanto, para os especialistas ouvidos pela reportagem essa tendência não garante, necessariamente, uma entrada consequente no mercado. De acordo com o economista Airton, o mercado para técnico também é restrito e em Sergipe é mais limitado ainda, com a possibilidade de que as pessoas formadas só vão conseguir trabalho fora do estado, “a não ser que o curso seja de pouca duração como cabeleireiro, que dessa forma então, o profissional pode ter condições de abrir um negócio próprio”. Para ele o ensino técnico não resolve o problema e nem organiza a questão do mercado de trabalho. Ele salienta que o novo ensino médio vem com essa proposta de abarcar essa carência de trabalho para as pessoas, mas ressalta que isso é apenas um discurso ideológico que não resolverá o problema. Em se tratando de ensino, o economista Rosalvo argumenta sobre essa nova estrutura de governo com relação ao novo ensino médio. “Essa é atual proposta do ensino médio, na verdade é como se eu estivesse dizendo o seguinte, se a situação está ruim, a única possibilidade de você conseguir sobreviver vai ser não abrir mão do seu futuro. Você vai comprometer esse nível de formação mais elevada, mais complexa, que vai receber uma remuneração maior por um grau de empregabilidade mais simples e rápido com níveis de resposta do ponto de vista da renda menor. Ao fazer isso e abrir mão da formação superior é um risco, porque não significa que as pessoas não possam ter essas duas escolhas e oportunidades”.

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TECNOLOGIA

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NOVA CONFIGURAÇÃO DE TRABALHO Empregos que surgem a partir da popularização das redes sociais

ANANDA BOAVENTURA ananda.ufs@gmail.com

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ntes considerada como um passatempo, a página de humor Graduação da Depressão conta com mais de três milhões de curtidas no Facebook e logo se tornou uma fonte de renda para o estudante Caio Augusto, 20, que cursa Física pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Assim como nesse caso, as novas formas de interação social construídas na internet trouxeram novas espécies de trabalho que revolucionaram o mercado, e seus reflexos também são visíveis no estado de Sergipe. As novas tecnologias têm causado grandes mudanças na sociedade, e alguns conceitos tiverem que ser reinventados para acompanhar esse processo. Hoje, um jovem que deseja investir nisso, criando uma página de humor que trate de assuntos que estão tendo destaque no momento, pode conseguir patrocinadores e anunciantes para mantê-la e conseguir uma renda extra. Caio conta que sempre desejou ter uma página do gênero e encontrou nela a oportunidade de trabalhar com a flexibilidade que o mercado não permite. Quanto ao retorno financeiro, o estudante explica que a partir do momento em que o perfil da Graduação da Depressão ganha grande visibilidade, as pessoas interessadas em anunciar produtos ou divulgar outras páginas entram em contato e pagam por esses serviços. Para conseguir a visibilidade necessária, ele afirma que foi necessária a utilização de um método pago de difusão que o Facebook oferece. “Eu paguei para impulsionar algumas publicações que vi que eram interessantes para a maioria, o que fez com que a página alcançasse mais pessoas”, coloca o estudante. O blog é outra plataforma buscada por pessoas que querem apresentar e divulgar suas opiniões. Desde 2008, a jornalista Jéssica Vieira investe nesse meio de comunicação. Primeiramente, o conteúdo era particular e com pouca divulgação, entretanto, independente de conseguir retorno financeiro, ela resolveu aprimorar a plataforma e o conteúdo que veiculava. A partir de então o blog foi reformulado para se tornar uma forma mais próxima para levar informação direcionada e de qualidade para seu público. “Este trabalho não é fácil e nem barato”, afirma a jornalista. Em 2015, o novo blog estava pronto

Foto: Reprodução e conquistava um público fiel. Atualmente, Jéssica também possui um canal no YouTube para trazer um conteúdo complementar ao do blog. Ela realiza a divulgação mútua entre as duas plataformas e consegue atrair o olhar de seus seguidores. A publicação do conteúdo também se organizou mais, tendo uma rotina de postagens por três vezes durante a semana, que tratem de temas como moda, viagem, beleza, cotidiano, Aracaju, ou mesmo as crônicas que escreve. No caso de Jéssica, ainda não foi possível tirar a renda a partir desses trabalhos, mas a sua visibilidade já atraiu a atenção de marcas que lhe ofereceram produtos como forma de investimento e publicidade. Ainda no YouTube, o estudante de Publicidade e Propaganda Diogo Bellau, 22, possui um canal desde os 13 anos. Sua entrada nesse meio foi decorrente do preconceito que sofria quanto ao sotaque característico da região em que nasceu. “Participei de fóruns de dublagem, porém meu sotaque era

forte e eu não fui aceito, então decidi criar o primeiro canal do Brasil dedicado aos artistas internacionais, juntando o humor e a dublagem”, afirma o estudante. Hoje, com aproximadamente 150 mil inscritos, o canal Diogo Paródias faz sucesso em todo o País, contando com dublagens humorísticas de vídeos que estão em alta, especialmente de cantores da música pop internacional. Assim como os fundadores da Graduação da Depressão, Diogo tratava o canal como um hobby, mas a partir do contato com outros youtubers, ele reconheceu que estava crescendo na área e que deveria investir nisso. Sua aproximação com o público garante um vínculo maior de fidelidade ao canal; ele busca interagir e responder os comentários nas redes sociais ou por meio de vídeos. Hoje, consegue arrecadar o valor aproximado de um salário mínimo com os anúncios publicitários que faz. Usuários do aplicativo de fotografia Instagram também utilizam a plataforma para empreender. Antônio Ribeiro, 25, é formado em Direito e possui uma loja virtual de acessórios de celular juntamente com quatro colaboradores. Ele afirma possuir grande afinidade com dispositivos tecnológicos e que já vendia alguns desses produtos antes de abrir a loja virtual na rede social. Segundo Antônio, além das vendas terem triplicado, a visibilidade e o reconhecimento dos consumidores também aumentaram disparadamente após a inserção no Instagram. Ele ainda complementa que a grande vantagem de ter uma loja virtual é de o custo ser praticamente nulo. “Eu sou pioneiro em Lagarto com loja virtual, é um segmento novo na cidade”, pontua o empresário. Sua pretensão é de abrir uma loja física também na cidade de Lagarto para oferecer serviços mais aprimorados como assistência técnica e venda de eletrônicos. É cada vez mais claro o crescimento dessas atividades em todo o mundo, elas podem transformar uma pessoa em celebridade e servir como fonte de renda caso consiga visibilidade e atraia anunciantes; o que reflete no mercado tradicional, visto que alguns empreendimentos buscam se aproximar desse modelo, utilizando as redes sociais para gerar conteúdo e promover as vendas.

Foto: Reprodução

Matheus Felizola, professor do PPGCOM da UFS e pesquisador da área de empreendedorismo, considera que essas novas empresas e formatos de negócios possibilitaram diferentes formas de empregos e exigiu novos perfis profissionais, adaptados à esta realidade da opção de comercialização de serviços ou produtos tangíveis e digitais para pessoas físicas ou jurídicas. Sobre a reação do mercado a essas novas configurações de trabalho, o pesquisador coloca que “a adaptação ocorre em diferentes níveis, de um lado existem empresas que estão atentas às mudanças e conseguiram se adaptar a essa realidade. Essas organizações contrataram fornecedores ou criaram seus próprios departamentos com o objetivo de aumentar sua divulgação ou de fortalecer sua marca, buscando aumentar sua fatia de mercado. Por outro lado, algumas empresas não tiveram


TURISMO

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TURISMO: IMPORTANTE FONTE DE RENDA PARA OS COMERCIANTES DE ARACAJU Aracaju com suas diversidades de comércios de lazer para os turistas BRUNA BARRETO brunacostabarreto@gmail.com

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turismo é uma importante fonte de renda para muitas famílias de Aracaju, pois é desse setor que muitos tiram seu sustento nos mais variados ramos do comércio como: artesanato, roupas, cordéis, bares, restaurantes, hotéis, pousadas... Assim, oferecem ao turista uma vasta variedade de serviços e sabores típicos do Estado de Sergipe. O trabalho informal é muito fácil de ser encontrado, sua maior concentração é na Orla da Atalaia e no Mercado Central Albano Franco, por serem os principais pontos de atração para os turistas que vêm de outras regiões.

A turista informou ainda que usou o sistema UBER, e gostou bastante, pois o motorista era muito atencioso e passou várias informações sobre os pontos turísticos. Ela e toda família gostaram do hotel onde ficaram hospedados e foram muito bem recebidos pelos funcionários que demonstraram carisma e atenção e estavam sempre à disposição. Contudo, alega não ter gostado da falta de sinalização nas lombadas das ruas, por ser algo necessário. “Estou aqui pela primeira vez, através da indicação de uma amiga que veio aqui e adorou. Já fiz refeições em vários restaurantes do popular ao mais sofisticado, nenhum deles deixou a desejar tanto na comida quanto no atendimento e valores dos pratos. Fui ao Xingó com uma amiga,

Espaço do comércio da empresária Vanda

adoramos tudo, o passeio e, inclusive, o restaurante. A minha amiga não come peixe, mas a apresentação estava tão divina que ela repetiu a refeição acompanhada de um saboroso peixe”. Conta, Maria Aparecida, 65 anos, de São Paulo.

Ela aproveitou o tempo para visitar as cidades do

Lazer no Cajueiro dos Papagaios Foto : Bruna Barreto

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trenzinho da Orla de Atalaia está completando 10 anos de atuação. Durante esse tempo tem divertido milhares de turistas e encantado crianças e adultos que aderem a esse meio de diversão. Há quatro anos cobra o valor de R$ 10 por cada pessoa que pretende fazer o passeio, com percurso de meia hora de duração, pela Avenida Santos Drumonnd de Andrade.

Foto : Bruna Barreto

Lázara Tavares, 47 anos, veio de Curitiba para conhecer Aracaju com a família, pois queria ver de perto os encantos e belezas naturais que o local tem a oferecer. Ela ressalta: “todo ano viajamos pelo Nordeste e dessa vez escolhemos Sergipe, comprei uma sandália artesanal, achei o preço daqui muito bom em comparação aos lugares que já fui à passeio”. Porém, a falta de higiene nos arredores do Mercado e no Rio Sergipe chamou muito a atenção dela, que não tive coragem de se alimentar nas lanchonetes próximas, pois observou que os funcionários não manuseavam os alimentos adequadamente.

No período de alta temporada, que começa em dezembro e finaliza na quarta-feira de cinzas, logo após o carnaval, o trenzinho funciona das 17 às 22 horas, todos os dias da semana. Já na baixa estação, o trenzinho é alugado para passeios recreativos para todos os tipos de clientes, inclusive, já houve comemoração de chá de panela, despedida de solteiro e aniversário. Em Aracaju, os mercados municipais já entraram para o roteiro obrigatório nos passeios turísticos pois, com toda variedade que tem a oferecer, quem vem de fora fica encantado e quer comprar presentes e lembrancinhas para amigos e familiares. Outro local que chama muito a atenção dos turistas é a Passarela do Caranguejo, em especial, o caranguejo gigante. Inaugurado em 2014, este símbolo da cidade tem atraído olhares não apenas dos turistas, mas também de sergipanos que visitam a capital e aproveitam a escultura para tirar fotos dos crustáceos mais famoso da culinária sergipana. De acordo com comerciantes da região, o movimento de vendas se intensifica nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e junho. Isso porque, no final de ano grande parte das pessoas tira uns dias de férias para repor a energia e com as viagens turística, consequentemente, verifica-se

interior, conhecer a história e ver o patrimônio material de Sergipe e achou tudo lindo. Segundo ela, não parecia ser cidades do sertão. Ficou impressionada com cada detalhe, até mesmo com a entrada da cidade que mostrava ser limpa, com ar maravilhoso e encantador.

um aumento nos lucros dos comércios. Já no mês de junho, por ser um período de festejos juninos que é tradição não somente em Sergipe, mais também em todo Nordeste, acaba se tornando bem lucrativo para os comerciantes. Na tradicional festa de São João há uma variedade de comidas típicas e bem diferenciadas do habitual, além de apresentação de quadrilhas e festas muito atrativas, com isso vem gente de várias regiões e também de fora do país, com o intuito de dançar, se divertir e conhecer um pouco da cultura nordestina. Vanda, empresária na área artesanal, vende seus produtos no espaço Centro de Arte e Cultura Jota Inácio, na Orla da Atalaia, onde foi cedido um espaço pelo Governo do Estado sem cobrança de taxas. “Tive a inspiração da minha avó, pois ela sempre trabalhou com artesanato. Minha única renda é o meu comércio. Durante os dois últimos anos tem sido difícil, pois as vendas reduziram em comparação aos anos anteriores”, comenta a artesã. Para a vendedora Adriana Santos, que trabalha no comércio há oito anos, os meses com menos fluxo de turistas é complicado, pois os lucros diminuem. Além disso, ficar parada aguardando alguém chegar para comprar algo não é motivador quando o movimento de pessoas é fraco. Nesse período de agora, por exemplo, ela esperar vender um pouco mais, pois o São João se aproxima.

Maria aparecida com sua amiga conhecendo o centro de arte e cultura na orla de atalaia

Ana Maria, dona de dois comércios de artesanato, trabalha há 50 anos nesse no mercado municipal de Aracaju. Ela não reclama do movimento sazonal, pois já se acostumou com esse processo de alta e baixa estações. Sua estratégia é aproveitar ao máximo o período de mais vendas para poder lucrar o suficiente e ficar tranquila durante os outros meses de menos lucro.


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CULTURA

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ESCREVENDO A PROFISSÃO

Escritores independentes do estado contam as dificuldades enfrentadas para ingressar no universo literário GUILHERME ALMEIDA guijorn95@gmail.com

Lilian conta que decidiu levar de maneira mais séria a escrita quando, ainda na faculdade de Letras, a professora pediu para que os alunos escrevessem um texto que trouxesse como tema o fluxo da consciência. “Eu gostei da interação, porque tínhamos que ler na sala, e depois disso continuei escrevendo e não parei mais. E sem jogar fora o que escrevia”, observa. Atualmente, a escritora possui quatro livros publicados: Desconectada, conjunto de poesias; O Céu é logo ali (2013); Mulheres que não sabem chorar (2015) e Fome (2016), compilado de contos disponível em plataforma digital. Lilian também mantém um blog literário intitulado Poesia na Alma. Suas obras abordam temas como sexualidade, liberdade, amor, preconceito, homossexualidade, violência sexual, alcoolismo e Filosofia Biocêntrica. Com a experiência de quem já publicou tanto em suporte físico quanto digital, a escritora diz que a maior diferença

Terra dos sonhos

está no público alvo, e isso vai se tornar um problema ou não para o autor se este estiver realmente interessado em atingir determinado público. “Acredito que as duas plataformas são vantajosas, ambas divulgam a literatura, então não vejo problema em nenhuma das duas. Mas há sim diferenças do ponto de vista do público leitor, pois quem procura a Amazon geralmente está interessado nos popularmente chamados ‘livros de banca’ ou em obras estrangeiras. Quando você olha para o livro físico é outro tipo de concorrência, são outros problemas. Então, são tipos diferentes, problemas diferentes e leitores diferentes”, explica. Lilian diz que as dificuldades para quem deseja ingressar na profissão de escritor são muitas, pois além de precisar de uma editora e dinheiro para custear as obras, é preciso muitas vezes escrever de acordo com as demandas do mercado literário. “Uma coisa é fazer Literatura, outra é escrever o que o mercado exige: ou faz aquilo que está dentro de sua personalidade ou escreve aquilo que o mercado está pedindo. Nos últimos anos, com o lançamento de Cinquenta Tons de Cinza houve o que erroneamente chamam de o ‘boom’ da literatura erótica, mas não. Houve na verdade o ‘boom’ de Cinquenta Tons que é uma literatura comercial. Não é o tipo de coisa que escrevo, aí já vem o primeiro empecilho.” A escritora lembra que nos últimos tempos as grandes editoras, cada vez mais preocupadas em ganhar dinheiro, vêm abrindo espaço para os youtubers, que segundo ela não

Ronaldo Gomes

A inspiração para as histórias fantásticas vêm de alguém que andou fazendo a cabeça de muitas crianças e jovens - e por que não adultos? - J.K. Rowlling, autora da saga Harry Potter. O primeiro trabalho de Marlon foi publicado pela Amazon, plataforma digital escolhida por muitos escritores que pretendem ter suas obras publicadas por alguma editora. Ele pontua que os obstáculos para se tornar um escritor ainda são grandes. “As dificuldades são muitas porque o mercado editorial brasileiro é bem escasso, então para publicar um livro por uma grande editora é muito difícil. E mesmo para publicar entre as menores muitas vezes é necessário pagar muito dinheiro. É quase como ganhar na loteria”, explica. Sua escolha pelo suporte digital é creditada pelo fato de proporcionar mais liberdade e independência para a publicação. “Optando pelo ebook pude fazer a capa, diagramar e publicar. Nesse sentido existe mais facilidade e agilidade. Entretanto, apesar da publicação ser mais difícil, o livro físico chega ao leitor de maneira mais fácil.” Além de escrever Marlon mantém um blog de crítica literária que diz ser importante tanto para treinar a escrita quanto para dar visibilidade às suas produções. Apesar de estar acostumado a resenhar outras publicações, sabe receber críticas ao seu trabalho.

necessariamente sabem escrever livros, mas garantem um grande retorno financeiro. “Não é que aquela pessoa é um escritor, ela ficou famosa e as grandes editoras pagam para que escreva um livro para ganharem dinheiro em cima da fama dela. O mercado editorial gosta do que dá dinheiro; se o que você escreveu dá dinheiro, ótimo, se não... Não interessa se é bom ou ruim”, completa.

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“Quando você vai às feiras literárias vê que os livros mais procurados pelos jovens são escritos por youtubers. A editora olha para isso e passa a enxergar esses escritores como um rio de dinheiro com 12 milhões de visualizações em seu canal. A editora vai atrás deles e não do escritor que fica parado em casa achando que está produzindo alguma coisa interessante.” O estudante admite não fazer o uso devido das redes sociais, apesar de perceber a necessidade cada vez maior de autopromoção gerada pelas novas tecnologias. “Acredito no boca a boca. É meio bizarro ainda pensar nisso em época de internet. Conheço muitos que ganham dinheiro fazendo uso das redes sociais e até criando personagens, porque cada vez mais as pessoas personalizam tudo e se interessam pela pessoa do escritor [...] A internet busca essas figuras, está ali muito mais para o culto à pessoa do que à obra, por isso pra mim ainda é um pouco difícil, apesar de saber que é um tiro no pé.”

trocar por um vídeo no youtube ou um ebook. Então, vejo um pouco da migração dos escritores para a performance também.” Outro modo encontrado para espalhar Literatura é através da banda da qual é vocalista, Madame Javali, que faz a junção entre música e poesia. Com Plástico Jr. no baixo (Plástico Lunar), Gabriel Carvalho na bateria (The Baggios), João Mário na guitarra, Fábio Barros também na guitarra, Allan Jonnes assume os vocais para disseminar poesias no palco em um trabalho que une sonoridade e performance. Arquivo Pessoal

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esde pequeno, Marlon Gonçalves, 19, estudante de Publicidade e Propaganda, gosta de migrar através da leitura e da escrita para a Terra dos Sonhos, título de seu primeiro livro publicado como ebook no ano passado. Mas, diferentemente da personagem Sophia, pretende permanecer no mágico universo da escrita “pelo resto da vida”, como conta.

Lilian Farias se dedica agora à Cassandra, personagem de seu novo livro que visa abordar a prostituição

Imprimindo a escrita no corpo om uma visão um pouco diferente, mas não menos crítica, Allan Jonnes, 27, estudante de Jornalismo, diz não ser contrário a essa nova onda de youtubers que está tomando conta do mercado editorial. Ele credita esse sucesso ao suporte publicitário das redes sociais e milhões de visualizações em seus canais do Youtube.

Terra de Sonhos conta a estória de Sofia, garota de 10 anos, que após sofrer um grave acidente entrar em coma, vai parar em um lugar onde tudo é mutável e diferente

Ronaldo Gomes

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bandonar a carreira para viver unicamente daquilo que gosta. Este é o sonho de muitos e aos olhos de outros até parece a premissa de algum filme ou mesmo de um romance literário. Pois foi exatamente isso o que fez a escritora Lilian Farias quando deixou no ano passado a carreira de professora, iniciada em 2007, para se dedicar exclusivamente à escrita. E deixa claro que não se arrepende da escolha. “Não me sentia realizada enquanto professora como me sinto enquanto escritora. Então, simplesmente chutei o pau da barraca.”

Autor de um livro de poemas, Allan Jonnes conta que sua experiência com a literatura começou antes de sua primeira publicação, aproximadamente seis anos atrás, quando já participava de eventos geralmente voltados à oralidade. Por estar imerso nestes movimentos, o estudante conta que nunca se importou muito em publicar seus poemas, mas quando surgiu a ideia preferiu não lançá-lo por uma grande editora. “Muitas vezes o autor fica com apenas 10% do preço de capa do seu próprio livro. Fazendo eu mesmo esse trabalho, consegui baratear a produção e entregar um produto bonito e barato. Consigo vender ele a um preço bem menor do que nas livrarias e, obviamente, ficar com a maior parte da grana.” Uma via que ele encontrou para não depender apenas das publicações está nas apresentações ao vivo. Fazendo uso de suas poesias, da experiência em circo e como escritor de peças de teatro, Allan Jonnes dá literalmente voz aos seus textos. Ele acredita que esse é um dos caminhos para os novos autores e artistas que, com o avanço tecnológico, veem a possível substituição de alguns suportes físicos pelos digitais. “Uma apresentação ao vivo é insubstituível, não se pode

Allan Jonnes participa da Zona Autônoma da Palavra (ZAP/2013), competição de poesia realizada em São Paulo


CULTURA

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O SETOR INVISÍVEL NO MERCADO DE TRABALHO Artesãos de rua: arte, cultura, repressão e falta de reconhecimento

EMANUEL ANDRADE slash_andrade@hotmail.com

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Emanuel Andrade

ão é difícil de vê-los por aí. Suas roupas, forma de se expressar, artesanatos e miçangas expostos. Conhecidos popularmente como “hippies”, os artesãos de rua fazem parte do cenário local de qualquer cidade do país. Não é de hoje que esse grupo está presente nas ruas, avenidas, praças e espaços públicos em geral no Brasil. O movimento hippie brasileiro teve início em meados dos anos 70, influenciado pelo movimento de contracultura americano, que pregava valores contra o sistema ideológico e econômico dos EUA, além da postura anti-guerra do Vietnã. Enquanto a juventude americana se revoltava e questionava os valores da maior nação do mundo, aqui, em terras tupiniquins, um movimento similar, mas com outras peculiaridades também se erguia. Vivendo apenas com o necessário e sem teto para viver, os hippies brasileiros viajam por todo o país pedindo carona, vendendo sua arte para conseguir dinheiro para se alimentar ou comprar material para produzir mais artesanatos. Se nos EUA o movimento hippie era de total aversão aos valores tradicionais da época e qualquer resistência ao trabalho, no Brasil os caminhos foram seguidos de forma diferente. Alicates, arames, linhas e pedras naturais se tornaram instrumento de trabalho dos novos hippies brasileiros. A partir de uma mão de obra própria e uma matéria prima na palma das mãos, os jovens passaram a vender ou trocar seu artesanato para se sustentar, sem precisar se submeter ao trabalho padronizado e seguido por toda a sociedade. Sem patrão, sem jornada de trabalho, sem local fixo para exercer a função, tudo funcionando de forma dinâmica e autônoma, surgia um novo artista no cenário cultural do país: o artesão de rua. Porém, nem tudo foi paz e amor nos planos e na jornada dos hippies. Nos anos 70, o Brasil tinha um governo ditato-

Em Aracaju, os artesãos de rua costumam expor sua arte na Orla da Atalaia e no Centro da Cidade rial e extremamente autoritário no poder. Não foram poucos os artesãos de rua e seus respectivos artesanatos, que foram apreendidos e reprimidos pela ditadura. Para fugir da forte repressão da ditadura, muitos artesãos de rua optaram em fugir dos grandes centros urbanos e preferiram ir para cidades litorâneas ou viver em comunidades no interior dos

estados. Em Aracaju, os artesãos de rua costumam expor sua arte em locais conhecidos e bastante frequentados na cidade, como a Catedral de Aracaju, localizada no Centro da Cidade. Na passarela da Orla de Aracaju, assim como em frente a universidades, pública ou particular.

Casal na Estrada: Rafael Pereira e Aline Santos expõem há 12 anos

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Emanuel Andrade

casal de artesãos de rua Rafael Pereira e Aline Santos, 27 e 34 anos, respectivamente, naturais de Aracaju, trabalham juntos há 9 anos, e entre viagens pelo Brasil e exposição do trabalho na capital sergipana, em entrevista, o casal reclama da falta de reconhecimento da sociedade e repressão da Polícia. - Vocês já atuam como artesãos de rua há nove anos para Rafael e há 12 anos para Aline. Vocês acham que mudou alguma coisa nesses anos? Vocês já presenciaram repressão do Estado? Rafael: Mudou porque nesses anos, outros que vieram antes da gente, já lutaram também para que essa realidade fosse mudando. É como qualquer outra luta, como a luta contra a homofobia, luta dos direitos das mulheres... Se não houver luta, nada vai caminhar, vai ficar estagnado. As pessoas passam a ter uma visão melhor das coisas, vendo a gente no dia-a-dia participando do meio social. A gente já tem alguns direitos os quais não tínhamos há alguns anos e, hoje em dia a gente, apesar de muitas vezes não ser cumprido da forma que ela está, mas, sim, da própria vontade. Simplesmente te vê e pensa “ah, não gostei de você”. Ele não vai deixar de apoiar o cidadão social que tem uma classe, por mais que ele esteja realmente errado, eu “boto” uma brecha na lei pra ele e quem sou eu que vou debater em termos de lei? Vou ter que aceitar. Eu espero que mude muito mais e que venha a ser favorável a todos e não só a nós, porque, querendo ou não, por mais que eu não pague ao nosso Estado, à União, a gente contribui para o desenvolvimento da cidade, com o turismo, cultura e até depende disso pra comer, então o que a gente gasta vai pro Estado. O meu dinheiro não é diferente do dinheiro de outras pessoas, eu sei que ele não vai achar ruim eu pagar esse dinheiro a ele, é um dinheiro do artesanato, mesmo eu não trabalhando pra eles e eu espero que isso tenda a

Casal reclama da falta de reconhecimento da sociedade melhorar pra todos, porque todo mundo vai sair ganhando com isso, como trabalhadores que somos, pelo nosso trabalho, nossa arte, independentemente do que ela seja, pode ser uma pintura, uma pulseira, um colar, um brinco, feito à mão, de madeira. Aline: Já passamos por repressão tanto aqui como em outros estados. Já aconteceu de a gente estar expondo em frente a uma universidade particular aqui em Aracaju e chamarem até a polícia, sem nem chegar e explicar a situação, que não pode porque é uma propriedade privada, eles acham que nosso trabalho é algo ilícito. O casal ainda afirma que o trabalho de artesanato que eles

confeccionam à mão muitas vezes é revendido em shoppings da cidade, com um preço elevado. Segundo eles, trata-se de um reflexo da forte desvalorização que o artesão de rua sofre. “Nosso trabalho já tem até em shopping, já perceberam? Aí, na visão dos outros, tem valor, né? Tem valor porque está sendo exposto numa vitrine, aí a galera vê como arte, mas nossas coisas, por estarem expostas assim, no chão, muitas vezes as pessoas passam, jogam lixo em cima; muitas vezes, quando a gente tá no comércio, as pessoas passam quase pisando em cima do pano, se a gente for dar uma ideia é capaz de a gente ser agredido ou coisa do tipo.”, afirma Aline.

Lei que regulamenta o trabalho dos artesãos x Repressão Policial

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profissão do artesão foi regulamentada em 2015, através da Lei nº 13.180/2015, que garante políticas públicas para o exercício da função de artesão, além da carteira profissional para a categoria. A lei foi sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff e marcou um ponto final entre os problemas dos artesãos de rua, mas na teoria. Os artesãos argumentam que nem mesmo a polícia tem conhecimento da lei e dizem que, por vezes, são proibidos de expor, principalmente em lugares que são fortes pontos turísticos, como a Orla de Atalaia. A artesã, Marlene Maciel, conhecida como “Lene”, de 37 anos,

afirma que há fiscais que não permitem que artesãos exponham em determinados locais. “Se você chegar ali em frente ao arco, onde tem aquele ‘eu amo Aracaju’, ali eles não deixam a gente expor. Sempre tem um fiscal lá. Por conta do capitalismo, eu acho. Aqui atrás tem uma feira de artesanato, eles pagam impostos, não que a gente não pague, porque a gente paga também, quando a gente paga uma passagem, compra um lanche, direta ou indiretamente a gente paga imposto... lá na feira eles estão padronizados, estão pagando impostos e pedem reforço fiscal pra vim tirar a gente daqui, mas como a gente tem muita ousadia a

gente vem de boa.” Outra queixa de Marlene é que, segundo a mesma, a sociedade marginaliza o trabalho do artesão de rua que, não raramente, são discriminados e taxados como “hippies sujos”. “A sociedade não tem visão do que é um artista de rua. Não tem. Eles nos marginalizam muito. Se você tem um estilo diferente, te taxam de hippie sujo, largado, chamam a gente de drogado, a arte que a gente vende não é reconhecida”, lamenta. Porém, Marlene afirma que apesar de todos os problemas, a atividade de artesã de rua é sua paixão.


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ESPORTE

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A GINÁSTICA E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR

Ginástica Laboral e outras Atividades Físicas vem ajudando trabalhadores a prevenir a saúde no trabalho ANTÔNIO ARAGÃO antonioaragao2011@hotmail.com

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Futebol, voleibol, futsal são alguns exemplos clássicos de esportes que colegas de trabalho praticavam nos finais de semana ou numa noite, onde a mistura de esporte, lazer e a interação entre os trabalhadores era a tônica desses encontros. Nos dias de hoje, corrida de rua, pedalar, remar, nadar são algumas das novidades a disposição de quem quer uma atividade física prazerosa e com os amigos, sociabilizando e ao mesmo tempo cuidando da saúde física e mental. Entidades de classe sempre promoveram competições entre os empregados que juntavam tudo isso num ambiente de competição e interação com funcionários de outras empresas. Everaldo Bomfim é proprietário de uma empresa que atua na construção civil em Aracaju. Praticou muito esporte na época de estudante do antigo ginásio e científico, hoje fundamental e médio. Numa dessas disputas escolares machucou

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ginástica laboral é uma série de exercícios físicos realizados no ambiente de trabalho, durante o expediente, com o objetivo de melhorar a saúde e evitar lesões dos funcionários por esforço repetitivo e algumas doenças ocupacionais. Baseia-se em alongamentos de diversas partes do corpo, como tronco, cabeça, membros superiores e membros inferiores. Os alongamentos são diferentes para cada função exercida pelo trabalhador. Esse tipo de ginástica não é de intensidade alta e ocorre num curto período de tempo, assim não cansa e nem sobrecarrega o funcionário. Na Secretaria de Saúde de Aracaju, um projeto de atividade física é desenvolvido com os servidores dentro da sede da própria secretaria a quase dois anos e a aceitação foi tão boa que os trabalhadores das unidades básicas de saúde dos bairros solicitaram ao coordenador do programa José Roberto Farias que houvesse uma extensão para atendê-los. “É um trabalho que satisfaz bastante ao pessoal, é uma atividade moderada e que pode ser praticada por todos, a turma gosta e ainda é notável o aumento de produtividade dos participantes, o que para a secretaria é muito bom. Já estamos expandindo para toda a rede de atenção básica, isso é como uma parte do projeto da Academia da Cidade que tem 24 polos espalhados por todos os bairros de Aracaju”, explica Farias. Existem, basicamente, cinco diferente tipos de ginástica laboral: preparatória; compensatória; relaxamento; compensação; e corretiva.

Pai e Filha disputam as mesmas provas nas piscinas seriamente o joelho esquerdo e parou por completo. O medo de uma nova lesão fez com que ele ficasse mais de 25 anos sem praticar nenhum esporte. Nesse meio tempo casou, teve filhos e engordou tanto que dobrou de peso, chegando a pe-

Ginástica Laboral dução do estresse, alívio das tensões, redução dos índices de desavenças no trabalho e em casa, com conseqüente melhora da função social. São realizadas auto-massagens, exercícios respiratórios, exercícios de alongamento e flexibilidade e meditação. Ginástica laboral de compensação tem o objetivo de evitar vícios posturais e o aparecimento da fadiga, principalmente por posturas extremas, estáticas ou unilaterais. Podem ser realizados movimentos simétricos de alongamento dentro do próprio setor ou ambiente de trabalho. Ginástica laboral corretiva tem como finalidade estabelecer o antagonismo muscular, utilizando exercícios que visam fortalecer os músculos fracos e alongar os músculos encurtados, destinando-se ao indivíduo portador de deficiência morfológica, não patológica, sendo aplicada a um grupo reduzido de pessoas. Entretanto, a Ginástica Laboral Corretiva visa combater e, principalmente, atenuar as consequências decorrentes de aspectos ecológicos ergonômicos inadequados ao ambiente de trabalho. O professor de educação física Sérgio Ricardo já trabalha com o projeto Academia da Cidade há muito tempo e entendeu a proposta da ginástica na sede da secretaria como uma ideia maravilhosa e que iria render bons frutos para os servidores municipais. “Eu trabalho com os polos da Treze e do São José. A vinAntônio Aragão

Ginástica laboral preparatória é realizada no início da jornada de trabalho, ela ativa fisiologicamente o organismo, prepara para o trabalho físico e melhora o nível de concentração e disposição, elevando a temperatura do corpo, oxigenando os tecidos e aumentando a freqüência cardíaca. Tem a duração aproximada de 10 a 12 minutos. Inclui exercícios de coordenação, equilíbrio, concentração, flexibilidade e resistência muscular.

Antônio Aragão

saúde do trabalhador sempre foi uma preocupação para as empresas que querem um empregado ativo, sadio e produtivo, claro gerando riquezas e lucros. Nos dias de hoje, esse cuidado também ganha força em um ambiente onde a cultura da vida saudável ganha novos e muitos adeptos diariamente. Praticar esportes tornou-se sinônimo de sucesso, inteligência e um diferencial no currículo. Empresas incentivam uma vida ativa, abrem espaços em suas sedes para que os colaboradores possam praticar sem deixar o ambiente de trabalho, seja um escritório, uma fábrica ou até mesmo uma repartição pública.

Ginástica laboral compensatória tem como sua principal finalidade compensar todo e qualquer tipo de tensão muscular adquirido pelo uso excessivo ou inadequado das estruturas musculo-ligamentares. Tem o objetivo de melhorar a circulação com a retirada de resíduos metabólicos, modificar a postura no trabalho, reabastecer os depósitos de glicogênio e prevenir a fadiga muscular. São sugeridos exercícios de alongamento e flexibilidade, respiratórios e posturais Ginástica laboral de relaxamento tem como objetivo a re-

O professor Sérgio leva atividades para trabalhadores

sar 150 quilos. Ano passado incentivado pelas filhas, ambas nadadoras, ele voltou a ter o prazer que o esporte pode proporcionar, participou de uma competição de natação masters (para praticantes acima dos 25 anos e dividida por categorias de 5 em 5 anos) e tomou gosto pela coisa. Everaldo, com ajuda de uma nutricionista, além de nadar, começou a correr e pedalar, parou com a pouca bebida alcoólica que consumia nos finais de semana, adotou hábitos alimentares saudáveis e, em pouco mais de um ano, perdeu mais de quarenta quilos de gordura, diminuiu diversos indicadores ruins em seu organismo como colesterol, triglicérides e outros. Fatores de risco de vida como hipertensão arterial também foram reduzidos e, hoje, acorda sempre cedo, um dia para nadar, outro para correr e ainda outro para pedalar. “Há muito tempo vinha enfrentando dificuldades nas tarefas simples do dia a dia, como subir uma escada, amarrar os sapatos, descer do carro. Encontrar roupas adequadas também era um problema. Hoje, minha autoestima cresceu e voltou a níveis normais. Minha disposição para o trabalho aumentou muito, incentivo aos meus colaboradores e acredito que o esporte me ajudou e muito a atravessar essa crise na economia brasileira que afetou muito o meu ramo de negócio. Everaldo ainda relata que junto com os empregados têm disputado corridas de rua e o objetivo de todos é apenas completar a prova juntos e a conquista de um é a alegria do outro. da para cá teve uma repercussão muito boa, receptividade muito boa mesmo porque já foi constatado que a ginástica laboral melhora o desempenho no trabalho do indivíduo, a partir do momento que você tira cinco ou 10 minutos para dar uma relaxada, você tem um rendimento melhor”, disse o professor Sérgio. As classificações da ginástica laboral também podem ser feitas através dos objetivos principais dos exercícios, como: Ginástica corretiva/postural: relacionada ao equilíbrio entre as musculaturas agonista e antagonista, envolvendo alongamento e fortalecimento de musculaturas em pouco uso. Tem a duração média de dez minutos, podendo ser realizada todos os dias ou três vezes por semana. Ginástica de compensação: objetiva a prevenção de adaptações e compensações posturais. São realizados exercícios simétricos e alongamentos por até dez minutos. Ginástica terapêutica: objetiva o tratamento de distúrbios, patologias e alterações posturais, conforme as principais queixas. Necessita de um local apropriado e tem a duração média de trinta minutos. Ginástica de manutenção/conservação: programa onde se busca manter os resultados decorrentes de um trabalho de condicionamento físico, após alcançar o equilíbrio muscular e as correções necessárias. Necessita de uma sala especial para o treinamento, utilizando o tempo de folga, com duração média entre quarenta e cinco e noventa minutos. A prática e o incentivo à ginástica laboral envolve aspectos como a valorização do colaborador, a preocupação da empresa com a saúde dos seus colaboradores, o desenvolvimento do trabalho com qualidade, a prevenção de doenças, a manutenção da saúde e oferecer um bom ambiente para trabalhar. A partir desses aspectos, a ginástica laboral acaba se encaixando no conceito de qualidade de vida, demonstrando essa preocupação com os colaboradores, fazendo com que o trabalho não seja uma atividade desgastante e que possa comprometer a funcionalidade do indivíduo. Com a prática da atividade física regular, bem orientada e combinada com um bom ambiente de trabalho tudo reflete no rendimento dos trabalhadores e trabalhadoras, fazendo a produção ser mantida ou aumentada em muitos casos e aos poucos ocorre uma mudança no foco do projeto, deixando de lado a questão da produtividade e aumentando a preocupação com a saúde do trabalhador.


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