Memorial da (R)Existência: Projeto Arquitetônico para o Bairro de Brasília Teimosa.

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Memorial da (R)Existência Projeto Arquitetônico para o Bairro de Brasília Teimosa.

Universidade Católica de Pernambuco Leonardo Rafael Alves Bezerra 1


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Universidade Católica de Pernambuco Centro de Ciência e Tecnologia - CCT Arquitetura e Urbanismo

Memorial da (R)Existência Projeto Arquitetônico para o Bairro de Brasília Teimosa.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica de Pernambuco, como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Graduando: Leonardo Rafael Alves Bezerra Orientador: Rafael Rangel

RECIFE - 2020 3


AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, o arquiteto dos arquitetos que me deu forças e inspiração ao longo de minha existência mesmo em horas que parecia que a minha pouca fé já havia toda se esvaido. À minha mãe Nelma Patrícia e minha avó Maria de Lourdes que acreditaram em mim por toda a trajetória, embora muitas vezes parecesse que eu já havia desistido da mesma. Ao meu orientador Rafael Rangel que mesmo eu não tendo a oportunidade de tê-lo como professor, me acolheu como orientando e se demonstrou sempre prestativo, acessível e incentivador em momentos tão difíceis para o mundo. Ao lider da comunidade do bode “Cacau” que tanto me ajudou na compreensão das palafitas da comunidade e da difícil realidade das pessoas que nela habitam, me fazendo despertar ainda mais para o lado social que a arquitetura pode oferecer.

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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à memória do meu tio Luíz Nicodemos.

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APRESENTAÇÃO Esta pesquisa e anteprojeto foram realizados pelo aluno Leonardo Rafael Alves Bezerra durante as disciplinas de trabalho de graduação I e II, orientado pelo professor Rafael Rangel, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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OBJETIVOS

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JUSTIFICATIVA

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METODOLOGIA (PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS)

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1 NARRATIVA (Brasília Teimosa)

14 - 18

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1.1 A origem e objeções de Brasília Teimosa

18 - 38

1.2 O habitar de Brasília Teimosa e sua permanência nos dias atuais

39 - 40

1.3 A relação entre Brasília Teimosa e a arquitetura sobre as águas

40 - 41

REFERENCIAL TEÓRICO (Arquitetura Palafítica) 2.1 A palafita e seus contextos ao redor do mundo 2.1.1 Origem dos assentamentos e palheiros em Portugal 2.1.1.1 Tipos de palheiros e seus sistemas construtivos 2.2.1 Assentamentos palafíticos do Tejo (Aveiros)

42 - 50 51 - 66 67 68 70

3 Precedentes Projetuais Casa Farnsworth

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Museu Judaico

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4 ANÁLISE TERRITORIAL

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4.1 Mapa de Zoneamento

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4.2 Mapa de Elementos Naturais Significativos

76 - 77

4.3 Mapa de Fluxo de Pessoas

78 - 79

4.4 Perfil Topográfico

80 - 81

5 ANTEPROJETO

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5.1 Diretrizes Projetuais

83 - 84

5.2 Memorial Descritivo

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5.2.1 Programa e Dimensionamento

86 - 87

5.2.2 Zoneamento

88 - 200

REFERÊNCIAS

121 - 124

LISTA DE FIGURAS

125 - 133

LISTA DE MAPAS

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INTRODUÇÃO

lutas passadas e até mesmo de lutas futuras, já que se trata de um bairro cobiçado pela sua privilegiada localização e sempre estará na mira dos grandes empresários para a tentativa de construção de seus empreendimentos que visam apenas suprir o próprio bolso. Para fazer a releitura e a consequente tradução da luta pela posse de terra será proposto mediante estudo da tipologia palafítica ainda existente no bairro, ilustrando por meio de fotos para melhor analisar na atualidade, a tipologia quanto ao seu arranjo espacial, materialidade e estrutura, de maneira a se tomar partido da preexistência.

O presente trabalho realiza, para um melhor embasamento do tema Memorial da (R) existência: Anteprojeto para o Bairro de Brasília Teimosa, uma pesquisa acerca do contexto histórico da ocupação do bairro estudado para poder entender o que levou a população a construir e habitar sobre as águas, e o fato desse tipo de construção poder ser o símbolo de resistência de uma Brasília que se formava em paralelo com a Brasília capital do Brasil, mas sendo a Brasília recifense, produto de um intenso processo de luta de um povo em que sua economia consistia predominantemente da pesca, mas que também tinham outros meios de sobrevivência tais como: ambulante, marisqueiros, porteiros, biscateiros e etc.

Com decorrer do estudo é exposta a condição da tipologia palafítica nos diversos contextos ao redor do mundo começando pelo continente europeu, o qual foi achado diversos fragmentos de ocupações neste estilo tipológico datado de antes de cristo, sempre com exemplos de assentamentos tanto antigos quanto mais atuais, demonstrando também que mes-

Sua luta, no entanto, era pela permanência nas terras que eram propriedade da marinha e por fazer valer a lei de usocapião, uma vez que estavam ocupando a área desde o século XIX, fato esse que foi conhecida como a primeira ocupação urbana do Recife.

mo com a evolução espacial da tipologia sobre estacas, permanece-se com a conservação da

O projeto de memorial da (R)existência

sua materialidade em sua grande maioria.

de Brasília teimosa, foi pensado justamente como uma forma de se materializar anos de 10


Objetivo Geral

Desenvolver um anteprojeto de um memorial para o bairro de Brasília Teimosa tendo como foco o estudo da história da comunidade e a tipologia palafítica.

Objetivos Específicos

- Investigar o contexto do bairro de Brasília Teimosa, a representação da resistência da ocupação, para considerar nos projetos aspectos de sua identidade local; - Investigar as especificidades do território das áreas ribeiras do Bairro de Brasília Teimosa; - Expor pesquisa sobre a tipologia palafítica ao redor do mundo afim de converter a ideia de tipologia precária presente no bairro em uma tipologia ligada a cultura de um povo como é estabelecido em outros continentes; - Identificar nos estudos de caso soluções arquitetônicas adequadas a serem aplicadas no desenvolvimentos deste projeto.

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JUSTIFICATIVA

já que no contexto de Brasília Teimosa a palafita era considerada uma tipologia insalubre, mas que em outros países é considerado como uma tipologia atrelada a cultura e identidade de um povo, e este é o fator que se torna bastante necessário substituir pelo estigma que foi criado em Brasília Teimosa.

A inexistência de pesquisa acadêmica que levante o contexto social da comunidade de Brasília Teimosa associando-o a incapacidade de inserção de mais moradias no bairro que já é denso com a proposta de um anteprojeto que só encontre a água como local para se construir, viabilizou a elaboração de pesquisa que busca subsídios argumentativos para defender a possibilidade de se ocupar os corpos d’água.

Sobre a identidade de um povo podemos afirmar que:

É importante ressaltar que a motivação para a escolha da comunidade para a consequente realização do anteprojeto seja também a vivência do autor que desde criança vive no bairro de Brasília Teimosa e sempre ouviu sobre a história de formação do bairro, a teimosia da população em lutar pela posse da terra e a presença das palafitas que fizeram a comunidade ser tão peculiar diante das outras da cidade do Recife.

O “pertencimento” e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age – e a decisão de se manter firme a tudo isso – são fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”(BAUMAN, 2005, p.17)

Mesmo com a pesquisa sobre a formação do bairro e a possível crítica social que a tipologia sobre palafitas carrega quando se fala em falta de terra e a consequente moradia para as pessoas, foi necessário pesquisa sobre a palafita nos diversos contextos ao redor do mundo 12


METODOLOGIA METODOLÓGICOS)

(PROCEDIMENTOS

DEFINIÇÃO DO PROJETO

A metodologia para o desenvolvimento do presente trabalho inclui:

- Elaboração de diretrizes para o projeto; - Estudo do programa e funcionamento do equipamento proposto;

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

- Investigação do partido arquitetônico para definição da proposta.

- Quanto a NARRATIVA (Brasília Teimosa), recorre-se a: Alves (2009), Bezerra (2017), Castro (2001), Marshall (1967), Silva (2008a), Silva (2008b). - Sobre o capítulo REFERENCIAL TEÓRICO (Arquitetura Palafítica), são relevantes: Bahamón et al (2009), Bauman (2005), Moutinho (1995), Nutall (2005), Oliveira et al (1964), Pallasmaa (2011), Peixoto (1990), Rudofsky (2003), Porter (2009);

COLETA DE DADOS - Análise da legislação local; - Análise do território escolhido para implantação do anteprojeto através da elaboração de mapas de zoneamento, elementos naturais significativos e fluxo de pessoas. Visitas in loco.

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1 NARRATIVA (Brasília Teimosa) “O mangue é um camaradão. Fornece tudo, casa e comida, mocambo e caranguejo” (Josué de Castro, Homens e caranguejos, 2001, p.107).

A paisagem do Recife, diante de elementos de composição do território, tais como os arrecifes, morros, rios, mangues, e etc (Figura 01) está intrinsicamente relacionado com a formação não só de Brasília Teimosa, mas também de toda comunidade assentada na cidade do Recife. A imposição da paisagem natural configurou-se como determinante na configuração e na maneira como a paisagem humana ou material era disposta no território, fato que tornou Recife uma cidade considerada anfíbia, e fez com que a população tomasse de artifício para o assentamento de suas moradias, o aterramento de mangues e alagados para tornar possível a capacidade de se fixar em solo recifense, mudando pouco à pouco a paisagem (BEZERRA, 2017).

Figura 01 - Esquema da geografia físico-morfológica do Recife. Fonte: VERAS, Lúcia M. de S. C., 2018, p.73 (modificado pelo autor)

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A área que compreende a atual comunidade de Brasília Teimosa parecia relativamente isolada e vazia se comparada ao restante da cidade do Recife, esse fator chamou muita atenção de escravos fugidos e de trabalhadores ligados à pesca, sendo sua ocupação bem mais antiga do que as histórias de luta do povo da comunidade contadas atualmente, sua ocupação data do século XVII. Foi neste século que, pela área ser próxima do porto do Recife, foi utilizada como base para a conquista dos afogados (1632 – 1633) durante a invasão holandesa de Pernambuco. Foi por conta dessa invasão que a população ali residente saiu retornando após as forças pernambucanas retornarem ao local e expulsarem os holandeses (SILVA, 2008a, 2008b).

A mudança mais significativa da paisagem ocorreu em 1849: dentro das obras de melhorias do porto do Recife foi construído um dique (Figura 02) fechando a barreta (abertura entre os arrecifes que possibilitava a passagem de embarcações) existente no norte do território (dique do Nogueira). O objetivo da obra era o de conter as movimentações de areia causada pelo trajeto dos pescadores e jangadas que iam da Vila rua da jangada (atual Cabanga) até a área do Pina (SILVA, 2008a). Pelo fato do fechamento do dique dificultar o acesso dos pescadores da região, a população residente da vila rua da jangada se mudou definitivamente para o Pina e os que restaram acabaram se mudando devido a um incêndio que ocorreu posteriormente (SILVA, 2008a, 2008b).

Os holandeses, após a expulsão ainda deixaram a construção de um pequeno forte no pontal do Pina, o fortim Schoonenburg (Mapa 01), como meio de defesa do porto, mas que foi destruído por um incêndio após a saída dos mesmos, fazendo com que a área funcionasse apenas para as atividades pesqueiras e de plantação (SILVA, 2008a, 2008b).

Figura 02 - Dique construído no porto do Recife. Fonte: Marcozero.org (?) Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Mapa 01 - Mapa correspondente a área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1641. 1 - Primeiras Ocupações; 2 - Arrecifes; 3 - Rio da Barreta; 4 - Localização aproximada da fazenda da Barreta e do forte Schoonenburg. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p.16.

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As habitações produzidas no processo de formação de Brasília Teimosa eram conhecidas como mocambos (Figuras 04 e 05). Estas residências eram edificadas com material local em locais com cotas de nível mais elevadas que as habituais e que se confundiam com a modificada paisagem existente se comparada com antes dos aterros. Estas residências ainda eram erguidas por ex-escravos que passaram a ocupar a região dos alagadiços do Pina e de outras áreas da cidade. As residências em sua grande maioria também se acomodavam à topografia e não possuía delimitação de lotes. O terreno, por sua vez, era configurado como ilhas e alagados, e eram ligados por troncos de coqueiros (SILVA, 2008a).

As ilhas que formavam a região de Brasília Teimosa sofreram aterros de maneira a se estabelecerem oficinas e atividades portuárias, sendo, portanto, convidativo à mão-de-obra que se dirigia em busca de empregos e determinando a transformação mais uma vez da paisagem da área (Figura 03) (GOMES, 2017, p.88,91) .

Figura 03 - Foto aérea de aterro na área que corresponde a maior parte do bairro de Brasília Teimosa. Fonte: GOMES, 2017, p.111/museu da cidade do Recife.

Por conta dessas atividades muitas pessoas começaram a se interessar por se estabelecerem nas áreas que foram aterradas, fazendo com que uma vez que a área aterrada estivesse toda ocupada, a população aterrasse outras áreas alagadas do território por conta própria, tornando a área correspondente ao bairro pouco à pouco apta a construção (GOMES, 2017, p.91).

Figura 04 - Residências conhecidas como mocambos. Fonte: jconline (?) Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Por se tratar de uma área cuja localização é privilegiada, por si só já é um aspecto forte para chamar a atenção de empresários, tendo uma densidade demográfica alta, em torno de 302,81 (hab./ha) (censo demográfico, 2010). Até o início do século XX (Figura 06), a paisagem do Pina e seu entorno tornava-se pouco alterada se comparada ao seu estado mais primitivo e sucessivas obras portuárias como o aumento da muralha de proteção dos arrecifes, estradas de ferro e navios no local, contribuíam para a mudança incessante que acontecia (BARTHEL, 1979; SILVA, 2008a).

Figura 05 - Construção de mocambos em Brasília Teimosa no ano de 1959. Autor: desconhecido Fonte: GOMES, 2017, p.115 Acessado em: 06 de Março de 2020.

1.1 A origem e objeções de Brasília Teimosa

O bairro de Brasília Teimosa possui uma história baseada na luta social de um povo que buscava durante vários anos o direito básico da moradia. Este bairro, no entanto, era destinado pela marinha a ser um parque de inflamáveis, conhecido como “areal novo”. Foi pelos imigrantes vindos do interior de Pernambuco que a área que está hoje inserida na RPA6 (região político administrativa) foi invadida, em local de

Figura 06 - Brasília Teimosa e seu entorno por vista aérea de 1979 mostrando o Iate clube e os arrecifes. Foto de Sidney Waismann. Fonte: GOMES, 2017, p.150/Biblioteca da URB.

mangues e alagados, mas que se tornou habitável devido ao aterro que a comunidade realizou, bem como da construção de mocambos. 18


É durante este contexto de fortes imigrações para a cidade do Recife e o crescimento da urbanização que será força motriz para impulsionar o surgimento do bairro de Brasília Teimosa, bairro este localizado na orla marítima da zona sul, entre os bairros do Pina, Boa Viagem e a área do porto do Recife no centro da cidade. O bairro ainda é limitado ao norte pelo oceano Atlântico, e a nordeste pelo estuário do rio Capibaribe (URBANO, 1993).

Sobre a cidadania pode-se afirmar que: Um status concedido àqueles que são membros integrais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos direitos e obrigações pertinentes ao status. Não há nenhum princípio universal que determine o que estes direitos e obrigações serão, mas as sociedades nas quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimento criam a imagem de uma cidadania ideal em relação à qual o sucesso pode ser medido e em relação à qual a aspiração pode ser dirigida

Para entendermos bem o processo de conquista da posse de terra no bairro de Brasília Teimosa, faz-se necessário entendermos que toda a população da comunidade, bem como de outras comunidades, estão cumprindo um papel de cidadãos com seus direitos e deveres na teoria, porém, apenas com deveres na prática.

(MARSHALL,T.H., 1967, p.76).

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Em 1909, o sistema de esgotamento do Recife recebeu uma reforma pelo conselho de salubridade pública do estado, e em seguida foi construída no ano de 1910 uma ponte sobre o rio Pina (Figura 07), para permitir a passagem de veículos, pedestres e dois tubos de esgoto que saiam da estação Tamarineira e desaguavam na praia do Pina (SILVA, 2008a). A construção, no entanto, promoveu o desenvolvimento da área e a expansão da cidade para aquela direção, porém, por conta dos dejetos despejados na área do Pina e entorno, foi prejudicada a ocupação das pessoas que ali moravam e também a dos veranistas, pois reforçou o estigma de que a área era suja, imprópria para moradia e marginalizada, por conta disso, a área recebia apenas uma população de baixa renda (ALVES, 2009).

Figura 07 - Ponte do Pina. Fonte: Pinterest (?) Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Mais precisamente no ano de 1930, o governo do Recife impôs a derrubada dos mocambos que se proliferavam pela cidade, demonstrando tal alastramentos destas precárias moradias, o problema que existia do gerenciamento governamental (URBANO, 1993). É nesse período que surgem os adensamentos mais bem consolidados, que começavam a formar arruamentos e quadras e por conta da falta das terras “secas” (submetidas ao aterramento) foram construídos sobre os alagados as habitações conhecidas como palafitas (Figura 08) (SILVA, 2008b). Foi então que a população criou o lema “unir e se organizar para defender juntos o direto de morar”, lema este que fazia oposição a campanha contra os mocambos que frequentemente mandavam pessoas ligadas ao governo com o objetivo de derrubá-los, prender os moradores ou mesmo prometer a retirada das pessoas para que elas morassem futuramente em vilas populares que iriam ser construídas (URBANO, 1993).

Recife com a quantidade de mocambos que estavam sendo construídos não parecia nem de longe com a Veneza italiana (URBANO, 1993). Em 1931, é registrada a primeira luta em vista de problemáticas diversas (URBANO, 1993).

Figura 08 - A palafita em Brasília Teimosa. Fonte: acertodecontas.blog.br Autor: Paula Brükmuller Acessado em: 05 de Março de 2020.

O governo tinha em mente a derrubada dos mocambos não só por conta do valor que as terras às quais estes estavam sendo assentados possuíam, mas também por que em meio a discursos, muitos políticos evidenciavam a vergonha da comparação entre Recife e Veneza, chamando-a de Veneza brasileira, uma vez que 21


Avançam e resgatam a cidadania social e política através de organizações populares. A população de Brasília Teimosa resgata a cidadania social e política através de organizações populares ainda esporádicas e sem grande participação popular a fim de consolidá-la como um conselho.

chamada “liga social contra os mocambos”. E com um plano de erradicação das “favelas”, o governo demoliu 12.437 barracos e construiu apenas 5.329 moradias (URBANO, 1993). A Liga Social Contra os Mocambos, projeto implementado pelo governador Agamenon Magalhães, foi criada em 12 de Julho de 1939 e foi a grande empreitada para a construção de moradias populares tendo como finalidade não apenas o aterro dos alagados e financiamento das casas, mas também uma “reintegração social” dos sujeitos considerados sujos e contaminados por conta do ambiente em que moravam, criando centros educativos e proporcionando assistência médica, lazer e diversas atividades que iriam promover aos ex-mocambeiros uma vida digna (MORAES, 2013).

Foi então que no ano de 1934, o estado de Pernambuco adquiriu do Dr. José Moreira do livramento, herdeiro do visconde do livramento, o domínio útil dos lotes 270 e 270 – A, que compõem hoje o bairro de Brasília Teimosa (URBANO, 1993). Em Abril de 1938 Novaes Filho, prefeito do Recife, decreta a proibição da construção de mocambos na região dos alagados (lei essa que apesar das ameaças não respeitada tendo em vista a quantidade de moradias que estavam sendo feitas). Após cinco meses é criada a Comissão Censitária dos Mocambos com equipe de profissionais de diversas áreas (incluindo engenheiros e higienistas) que durante um ano coletaram dados nas diversas regiões da capital (MORAES, 2013).

Percebe-se com isso uma insistente propaganda defensora do morador do mocambo como uma pessoa potencialmente honesta, porém desvirtuada pela insalubridade do mocambo (MORAES, 2013).

No ano de 1939, no governo de Agame-

Mesmo antes da Liga Social Contra os Mocambos já eram realizadas algumas iniciativas em prol dos moradores dos alagados, po-

non Magalhães, as comunidades tiveram de enfrentar novamente a ameaça de derrubada de suas habitações improvisadas por conta da

rém sem grande sucesso; a ligação mais direta entre elas se encontra na fundação da casa popular, em ação entre os anos de 1922 e 1936 22


através do departamento de saúde e assistência tendo reconstruído algumas vilas, mas sem continuidade (MORAES, 2013).

Maçães, conseguiu adquirir em seu nome uma parcela destas terras. Por esse motivo o aforamento foi suspenso, deixando a questão da posse de terra daquela área indefinida, sendo em 1958, a continuação dos moradores naquelas terras era indefinida.

Ainda no ano de 1939, a área do areal novo buscou se unir com o areal antigo (“área da colônia”), não só pela proximidade geográfica, mas também tendo como finalidade as melhorias tanto na conquista pelos direitos sociais quanto estruturais para o local, como a construção de habitações formais, a construção de equipamentos de saúde e educação e a infraestrutura urbana (BOTLER, 1994). No período da ditadura houve um enfrentamento das lutas comunitárias, e não havia algo definitivo pela permanência da população no bairro. Segundo Gomes (2017), mais precisamente na década de 50, a federação das colônias de pesca de Pernambuco conseguiu um aforamento autorizando a ocupação da área do Areal novo de forma legítima (Mapa 02). O local foi dividido entre os associados e pescadores da região do Cabanga, vítimas de um incêndio criminoso em seus mocambos. Em 1955, a mesma federação transferiu parte deste terreno para a construção do iate clube do Recife (construído em 1977), mas posteriormente o diretor deste mesmo clube, Roberto Eugênio 23


Mapa 02 - Montagem de fotos aéreas do ano de 1951. 1 - Arrecifes; 2 - Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3 - Areal Velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4 - Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5 - Ponte do Pina; 6 - Avenida Boa Viagem; 7 - Ruínas Lazareto; 8 - Aeroclube; 9 - Manguezal; 10 - Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: GOMES, 2017, p.118.

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Após a suspensão do aforamento, como uma forma de garantir a permanência na terra, moradores da colônia dos pescadores de Brasília Teimosa fizeram uma viagem de jangada do Pina até o Rio de Janeiro, onde foram ao encontro do presidente portando um memorial com as reivindicações da população, gerando visibilidade e maior fortalecimento aos anseios da população (GOMES, 2017, p.113).

Figura 09 - Brasília Teimosa recém loteada. Autor e ano desconhecidos. Fonte: GOMES, 2017, p.114

Ainda com relação a população da colônia dos pescadores, foram loteados a área do Areal e grande parte com cerca de 12 x 18 m criados de forma planejada, com um traçado regular perpendicular ao oceano Atlântico, permanecendo idêntico até a sua atualidade (FORTIN, 1987; SANTOS, 2011).

A partir da década de 70 ocorre uma alteração na paisagem, mas desta vez dando ênfase na segregação social, tal alteração consistiu na construção das avenidas conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira, complementando ainda, a construção da ponte Paulo Guerra (Mapa 03). As construções das avenidas além de atenderem somente a uma demanda do bairro de Boa

Esta característica descrita anteriormente diferencia o traçado da comunidade (Figura 09) de outras de baixa renda que geralmente possuem uma malha irregular e não ortogonal.

Viagem, desapropriaram populações de baixa renda, delimitando e isolando Brasília Teimosa do restante do território da região (ALVES, 2009; SILVA, 2008b).

Durante a formação do Conselho de Moradores em 1966, que foi o meio que a população conseguiu para ter uma voz e levar suas necessidades a prefeitura, nesse período, também ocorre a candidatura de Miguel Arraes e é nesse momento que essa voz emitida pela associação de moradores é ouvida e convidada a dialogar (URBANO, 1993). 25


Mapa 03 - Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1 - Arrecifes; 2 - Iate Clube. 3 - Praia do Buraco da Veia; 4 - Ponte Agamenon Magalhães; 5 - Ponte Paulo Guerra; 6 - Avenida Antônio de Goes; 7 - Avenida Herculano Bandeira; 8 - Avenida Beira-Mar; 9 - Avenida Conselheiro Aguiar; 10 - Avenida Domingos Ferreira; 11 - Aeroclube; 12 - Ilha de Santo Antônio e São José; 13 - Bairro do Recife. Fonte: GOMES, 2017, p.137.

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No final dos anos 70, apenas 58% da população do Recife vivia em mocambos e foi com o auxílio da gestão do Sr. Edival Rodrigues de Oliveira que ocorreu a legalização do conselho de moradores. A partir da dita organização dos moradores de diversas comunidades, o governo entendeu que o artifício de tentar erradicar todas as favelas não adiantava, pois, elas continuavam a se proliferar pela cidade. O plano passou então a ser consolidá-las e organizá-las, criando o Governo Federal, um programa de erradicação de sub-habitações nas comunidades de Brasília Teimosa, no Coque e Coelhos, sendo, porém, pavimentadas ruas e construídas casas de alvenaria, mas tudo muito precariamente (Figura 10) (URBANO, 1993).

de. Ainda nessa pesquisa foram contabilizados uma população de cerca de 18.459 pessoas distribuídas em 3.488 famílias (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA,1998).

Figura 10 - Casas de alvenaria sendo construídas em Brasília Teimosa no ano de 1984. Fonte: GOMES, 2017, p.157/Biblioteca da URB.

Ainda não existia uma preocupação com a formalização da propriedade. As relações de apropriação com o lugar se davam através de práticas ali realizadas, através das moradias, das atividades de lazer, ligadas ao mar, uma vez que essa relação com o mar começava desde muito cedo, alguns pescadores começavam na profissão desde crianças (GOMES, 2017). Em 1974, a comunidade de Brasília Teimosa com o auxílio da UFPE, fez um recenseamento no bairro com o objetivo de denunciar ao governo as más condições de habitabilida27


Outra destacada proposta por parte do governo foi a de urbanizar o bairro, o que na realidade significava uma expulsão organizada por classes mais abastadas que visavam submeter a população a política higienista, uma vez que os moradores não tinham condições de arcar com os recursos exigidos. A intenção do governo era propor uma nova configuração de bairro voltada ao turismo com a construção de grandes equipamentos de comércio, serviços e habitacionais (dez pavimentos) voltados a classe mais abastada. Apenas um grupo de 200 dos 2000 pescadores iriam permanecer na área para atender exclusivamente a demanda turística (ALVES, 2009).

Em 1975, aconteceu outra proposta interessada em investir no bairro de Brasília Teimosa, mas desta vez da antiga APL (Assessoria de Planejamento), hoje a atual Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e meio ambiente (SMAS), que queria levar uma rede internacional de hotéis, a Hollyday inns INC, que gostaria de implantar no bairro 300 apartamentos e grandes equipamentos de lazer (Figura 11), entre eles um centro de convenções e um shopping center com uma grande área de estacionamento (ASSESSORIA DE PLANEJAMENTO LIMITADA, 1975).Consequentemente essa proposta foi o estopim para outras redes hoteleiras se interessarem em investir no bairro transformando-o em um grande polo de lazer verticalizado.

Em paralelo com a proposta urbanística elaborada pela URB (empresa de urbanização do Recife) descrito anteriormente, foi elaborada uma proposta pelo CONDEPE (Conselho de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco) que sugeria a requalificação da orla Brasília Teimosa e sua ligação com as orlas do Pina e Boa Viagem demolindo os mocambos ali existentes. Caso a proposta tivesse sido realizada, iria acabar agravando ainda mais a pressão do mercado sobre o bairro (ALVES, 2009).

Mesmo com tais propostas sugerindo a permanência da população no bairro, propondo apenas realocações para a vila da prata e a beira-mar, que eram os locais mais precários da comunidade na época, as mudanças na paisagem com a locação de grandes equipamentos de lazer, introdução de marinas, geraria uma gradativa expulsão da população residente na comunidade e o consequente chamamento das classes mais abastadas. Com isso, a comunidade de Brasília Teimosa passa a rejeitar todos os projetos por temer as consequências (BARTHEL, 1989). 28


Figura 11 - Proposta de projeto da URB para BrasĂ­lia Teimosa no ano de 1975. Fonte: GOMES, 2017, p.142

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No ano de 1979, em resposta a reação de rejeição as propostas por parte dos moradores, o governo do estado de Pernambuco, por meio da URB, apresenta o projeto do urbanista paranaense Jaime Lerner para Brasília Teimosa (Figuras 12 e 13), mas a população rejeitou mais essa proposta (LERNER, 1979).

Mas também existiam problemas com transportes, escolas, lixo, iluminação, e etc (URBANO, 1993). Brasília Teimosa também foi conhecida como a primeira invasão urbana do Brasil, e por isso ganhou fama internacional por sua organização e luta auxiliada pelo conselho de moradores, a Igreja Católica, bem como grupos de esquerda como a de funcionários da SUDENE (superintendência do desenvolvimento do Nordeste), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e alguns partidos políticos, dando ênfase na coletividade da busca dos direitos sociais e políticos para a população. Mas em 1983, a população foi empurrada para áreas de morros e alagados que na visão do mercado eram áreas desinteressantes economicamente para a construção de moradias da classe média e alta (ALVES, 2009).

É através de protesto e reivindicações que o povo de Brasília Teimosa busca conseguir seus objetivos, como erradicação do problema da falta de água e uma das maiores reivindicações senão a principal, a posse da terra (URBANO, 1993). Para solucionar o problema da falta de água da comunidade, a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento) chegou a construir uma caixa d’água, porém houve um defeito na rede de abastecimento que veio beneficiar apenas alguns moradores, enquanto outros continuaram a depender de obras de encanamento (URBANO, 1993).

Ainda em 1983, a empresa de urbanização do Recife - URB, encaminhou um projeto de lei para o uso e ocupação do solo que consistia na divisão da cidade em várias áreas residenciais, industriais e de preservação ambiental e, entre outras, as 27 zeis (zonas especiais de inte-

Outros problemas secundários foi a questão da poeira durante o verão e a lama no inverno, bem como o dos aterros das ruas pelo próprio povo da comunidade que utilizava ma-

resse social). No entanto, todas as áreas foram aprovadas normas para o uso e ocupação do solo, exceto as zeis (URBANO, 1993).

terial argiloso que causava a impermeabilização do solo e consequentemente reduzindo a capacidade de absorção da água pelo solo natural. 30


Figura 12 - Corte esquemático da orla de Brasília Teimosa sengundo projeto de Jaime Lerner. Fonte: GOMES, 2017, p.143

Figura 13 - Perspectiva de Brasília Teimosa segundo projeto de Jaime Lerner. Fonte: GOMES, 2017, p.143

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Dois anos depois que a comissão de justiça e paz, juntamente com os movimentos sociais populares, conseguisse normas e métodos para a urbanização das zeis. Pelo seu caráter popular, a lei que se destinou a urbanizar as zeis ficou conhecida como lei das favelas ou prezeis (aprovada em 1987) (URBANO, 1993).

das obras (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998). A mobilização da população residente na comunidade aconteceu de muitas maneiras, sendo muitas as reuniões e assembleias do conselho de moradores, bem como a inserção da cultura popular como um artifício utilizado na divulgação, como por exemplo, a distribuição de folhetos e jornais com o personagem fictício “teimosinho” (Figura 14), e o assunto também foi abordado em música e peças de teatro como a peça “daqui não saio, daqui ninguém me tira” (que contava a história do bairro) (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979; SILVA, 2008a).

Outra grande conquista do bairro foi o projeto teimosinho (ou projeto de urbanização comunitária) que representava os 25.000 moradores residentes do local na época, e que garantiu ao bairro uma melhor infraestrutura (CONSELHO DE MORADORES DE BRASÍLIA TEIMOSA, 1979). A comunidade resolve apresentar o seu próprio projeto de requalificação do bairro e para isso conseguiu obter o apoio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), que a SEHAB (Secretaria Estadual de Habitação de Pernambuco), através da PROMORAR (programa de erradicação das sub-habitações que procurou legitimar assentamentos precários sem a necessidade de realocação das famílias existentes), o financiasse com os recursos do BNH (

Gomes (2017) afirma que dentro do plano de requalificação do bairro, foi pedido pelos moradores que na orla fossem feitas edificações do tipo palafita, que abrigassem usos comunitários. Também foi pedido que além da reforma das vias secundárias existentes, se fizesse uma principal para servir ao bairro como eixo de serviços e infraestrutura em geral.

Banco Nacional da Habitação). A proposta foi feita de maneira totalmente participativa, onde os moradores deveriam controlar a execução 32


Dentre as solicitações não atendidas pelo projeto teimosinho, tem-se a regularização, tida como uma ação prioritária da proposta. Mesmo contra a vontade popular, os esforços do projeto se concentraram principalmente e inicialmente na questão das melhorias infraestruturais, deixando em segundo plano a questão fundiária. Por isso somente alguns poucos moradores conseguiram receber seu título de posse (GOMES, 2017, p.108).

Na parte do areal velho (colônia dos pescadores), houve a erradicação dos barracos de madeira, e com o tempo as edificações foram sofrendo acréscimos (puxadinhos) e sendo verticalizadas de modo a chegar aos 4 pavimentos (GOMES, 2017, p.170). O processo de adensamento que acontecia na comunidade foi resultado de vários anos, e pode ser justificado com o aumento das famílias, bem como da implantação do comércio e serviços nas residências tornando-as de uso misto (GOMES, 2017, p.171).

No fim da década de 1990, grande parte dos problemas de infraestrutura da comunidade de Brasília Teimosa já havia sido resolvido. Grande parte das casas melhoraram suas condições de habitabilidade e em sua grande maioria eram construídas com alvenaria. O problema que ainda persistia era o do alagamento em algumas áreas e habitações da comunidade (PROMORAR, 1980).

Figura 14 - Personagem fictício “teimosinho” usado no cabeçalho do jornal de mesmo nome e distribuído pelo conselho de moradores. Fonte: GOMES, 2017, p.151

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No que diz respeito aos padrþes construtivos de Brasília Teimosa, estes chegam a ir contra ao próprio estatuto PREZEIS, que regulamenta a taxa de ocupação de atÊ 80% do lote (Figura 15), o gabarito fica no limite de 4 pavimentos, e a proibição de remembramento de lotes visando inibir a ação do mercado imobiliårio (GOMES, 2017, p.171).

Mesmo após toda as mudanças provenientes da luta dos moradores de Brasília Teimosa durante as dÊcadas de 70 e 80, a questão das palafitas que tomavam conta da paisagem do bairro ainda não havia sido resolvida. Pelo fato de não haver sido feito projetos de urbanização para a årea após as realocaçþes, havia sempre novas ocupaçþes e o problema persistia (BRAS�LIA TEIMOSA, 1998).

Por conta do crescente adensamento promovido pela comunidade, as suas åreas verdes (principalmente no interior das quadras e terrenos) foram se exaurindo quase que completamente, acompanhando a tendência dos bairros do Pina e Boa Viagem. Durante a dÊcada de 1990, na tentativa da melhoria da qualidade de vida dos moradores, houve a criação do projeto teimosia verde, que possuía a ideia de criação destes espaços para suprir a falta destes no bairro. O projeto foi elaborado com o auxílio dos moradores, a partir de reuniþes abertas no conselho de moradores, mas após serem plantadas algumas årvores o projeto parou de avançar (GOMES, 2017, p.171,172).

A situação da ocupação das palafitas foi só resolvida em 2003, quando a prefeitura do Recife, juntamente com o governo federal, nas gestþes de João Paulo e Luiz Inåcio Lula Da Silva respectivamente, promoveu a urbanização da orla e sua integração com a praia do Pina, retirando as quase 600 palafitas (561 unidades) do local (GOMES, 2017, p.172). ção prevista no estatuto PREZEIS.

% % do lote livre.

ção atual da comunidade de Brasília Teimosa.

%

Figura 15 - Croqui comparando o padrão construtivo indicado pelo PREZEIS e a situação atual de Brasília Teimosa. Fonte: Croqui elaborado pelo autor.

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A moradia sobre palafita era considerada um problema urbanístico, social, ambiental e de salubridade grave, uma vez que as condições de habitabilidade eram precárias (Figura 16) (BRASÍLIA TEIMOSA, 1998) . Os materiais utilizados para sua construção eram principalmente a madeira e outros materiais improvisados, e como não havia uma rede de esgoto, os dejetos produzidos eram despejados diretamente na maré em sacolas plásticas jogadas diretamente de alçapões localizados no piso das palafitas. As bacias sanitárias sem nenhuma ligação com a rede de esgoto também eram utilizadas para esse fim. Muitas das vezes quando a maré enchia, a água entrava e destruía a habitação, deixando os moradores sem terem onde morar (EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE,[200-]). Quando isso acontecia, essas famílias iam parar no conselho de moradores que as abrigavam, e promoviam atividades lúdicas, financeiras e educacionais junto as crianças e adultos que ali permaneciam (GOMES, 2017, p.113).

Figura 16 - Palafitas em Brasília Teimosa e a condição de seus moradores ao lado de esgoto a céu aberto.Foto de Lívia Brandão. Fonte: Flickr Lívia Brandão (2007). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

Gomes (2017), expõe que a obra da beira-mar finalizada em 2004, consistiu em uma das mudanças paisagísticas mais significativas da comunidade (Figura 17) desde o seu nascimento. A requalificação foi feita por meio da engorda da faixa de areia da praia, que após a reforma ficou com uns 40 metros de largura. Além disso, criou-se a avenida Brasília Formosa (nome que não caiu no gosto da população que compunha a comunidade, uma vez que o “teimosa” reflete muito melhor a história do bairro), com aproximadamente 1,3 km de extensão. Essa via foi iluminada e recebeu quiosques, restaurantes e alguns equipamentos de esporte e lazer ao longo do seu percurso.

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BRASÍLIA FORMOSA, 2010).

Figura 17 - Praia do Buraco da Veia durante as obras de requalificação da orla em 2003. Foto de autoria de Wilson Lapa. Fonte: Acervo do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. Acessado em: 05 de Março de 2020.

É importante entendermos o que as consequências das realocações da população que mora em palafitas podem ocasionar quanto a quebra da memória afetiva do lugar, das práticas sociais e hábitos praticados anteriormente. Por conta disso, muitos moradores que são realocados para conjuntos habitacionais distantes do mar de Brasília Teimosa, precisam se esforçar para garantir a permanência da sua atividade geradora de renda se deslocando de sua nova moradia e percorrendo longo trajeto para chegar ao mar, pois não o possui mais no quintal de sua casa. Alguns moradores chegaram a sair do conjunto habitacional ao qual foi realocado e preferiu voltar para Brasília Teimosa e morar de aluguel pela relação afetiva com o local e de sua atividade econômica (AVENIDA 36


O conjunto habitacional (Figura 18) construído em Brasília Teimosa foi o único projeto de realocação que propôs uma tipologia verticalizada dentro da comunidade e se distinguindo totalmente do restante da paisagem. Mesmo com a tipologia do conjunto habitacional conseguindo acomodar um maior número de pessoas, não consegue se integrar com a preexistência local. A relação dos moradores com a rua também distinguem, a principal característica é que na maioria das habitações da comunidade o térreo se relaciona diretamente com a rua, com o mar ou com a vizinhança, já o conjunto é completamente murado e isolado do bairro, implicando na mudança de hábitos das pessoas que foram realocadas (GOMES, 2017, p.181).

possuíam no lugar do nome letras (A, B, C.…) para que houvesse uma rápida identificação dos moradores, uma vez que muitos tinham um nível de escolaridade muito baixa. Na gestão de João Paulo como prefeito do Recife, as vias foram rebatizadas com nome de peixes, como por exemplo, golfinho, arabaiana, Parú e outros, em homenagem a principal atividade econômica do bairro (BRASÍLIA, 1998).

A década de 90, por sua vez, foi a época em que a comunidade conseguiu se consolidar como um lugar tradicional e que possuía um forte comércio ligado à atividade pesqueira. A realidade que concerne as atividades ligadas tanto ao comércio quanto ao serviço proporcionados pelo bairro gerou convite tanto para moradores de outros bairros ou mesmo turistas, conseguindo minimizar as barreiras sociais e se integrar com o restante da cidade (BOTLER, 1994). É interessante destacar que inicialmente as ruas da comunidade de Brasília Teimosa 37


Figura 18 - Conjunto habitacional de BrasĂ­lia Teimosa. Fonte: aacbt.blogspot (2012). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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1.2 O Habitar de Brasília Teimosa e sua permanência nos dias atuais

Mesmo com as frequentes transformações paisagísticas no bairro ao longo dos anos expostas anteriormente, como a melhoria de ruas, condições de infraestruturas de um modo geral, houve uma permanência da tipologia e do gabarito das residências com exceção do conjunto habitacional construído, porém, em sua grande maioria o bairro fez com que a essência do seu território se perpetuasse como algo predominantemente homogêneo (Figura 19).

que avança na tentativa de apagar tanto a memória quanto a sensação de lugar que o povo de Brasília Teimosa possui como fizeram com os bairros circunvizinhos, é percebida e contraposta com a conservação de suas características sociais, culturais e materiais.

Tendo em vista essa essência da comunidade, pode-se fazer um paralelo tanto com os bairros do Pina quanto de Boa Viagem, visto que por conta da elitização e dos investimentos imobiliários que expulsaram diversos moradores que viviam no local, houve uma exponencial verticalização que não conseguiu se relacionar com a preexistência destes bairros. Ainda pelo fato destes bairros não levarem em conta as relações objetivas e muito menos subjetivas que contavam a sua história, fez com que a paisagem fosse sendo diluída e não conseguisse

Figura 19 - Vista aérea da comunidade de Brasília Teimosa e bairro de Boa Viagem com prédios ao fundo. Fonte: noticiasominuto.com.br (2019). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

mais representar a população que ali fez parte. Essa imposição do mercado imobiliário 39


Fazendo uma análise da ocupação do solo no bairro, é visto que atualmente há um esgotamento de terra de modo que a construção só é possível a partir da verticalização ou ocupação de quase todo o lote. A necessidade de se ocupar ainda mais um espaço no lote que já está praticamente todo ocupado, se deve ao fato da permanência dos filhos no local em que nasceram e um possível crescimento na família ou da implantação de comércio e serviços anexados a residência.

o habitar da população que ali queria residir, o aterramento e a consequente formação da porção de terra a qual se configura hoje o bairro de Brasília Teimosa como mencionado em capítulo anterior. É com a forte ligação entre o povo do bairro que até hoje não deixou de tirar seu sustento das águas que o abraçam, ou mesmo das águas que estão ali no quintal de um e de outro apenas para ser apreciada, que foi pensada a criação de um anteprojeto que contasse a história do povo que ali vive até hoje e que não pensa em sair e prefere criar um puxadinho na casa do parente só para ter a desculpa de ainda permanecer no bairro aonde nasceu.

Mesmo com esse crescente adensamento que tornam as casas térreas em menor número, convém repetir que mesmo as casas de mais de 1 pavimento ainda possuem relação com a rua.

Quanto à implantação, foi decidido tal interação da edificação diretamente com a água, uma vez que não só a falta de lotes vazios conduziu a esta decisão, pois estamos tratando da implantação em um dos bairros mais adensados do Recife, e também, a própria experiência dos moradores com a água se faz presente desde o início da ocupação do bairro, então a água é convertida de um elemento íntimo apenas dos moradores para um elemento íntimo de

1.3 A relação entre Brasília Teimosa e a arquitetura sobre as águas.

O bairro de Brasília Teimosa possuiu e ainda possui intensa ligação com os corpos d’água não só por que atualmente é visto em sua paisagem os mesmos circundando o território ao qual se consolidou toda a ZEIS, mas também, mesmo no período de início da formação do bairro, as águas já atuavam causando alagamentos e tendo como única solução para

todos que irão visitar a edificação, trazendo sua propriedade sinestésica ao anteprojeto.

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À questão da tipologia a ser inserida permeou mesmo que rapidamente o crescente processo criativo que se desenvolvia ao longo de intensas pesquisas. Pensou-se primeiramente em palafita por conta do passado que o bairro já possuiu com este tipo de construção, mas se fez necessário abrir espaço para a discussão e possível abertura da possibilidade de se ter uma arquitetura flutuante.

Teimosa, fazendo com que as pessoas possam conhecer o bairro e também a história que ainda está viva dentro do bairro, nas suas casas, na sua gente e em vários outros aspectos, por isso, faz-se necessário uma tipologia fixa e integrada ao bairro. Retoma-se mais uma vez a perspectiva das residências sobre palafitas erguidas por pessoas inseridas em âmbito de intensa vulnerabilidade social e que mesmo sem condições financeiras de continuar no bairro, conseguiram erguer estas construções e permaneceram numa condição adaptada ao local, o que fez com que o estigma de uma tipologia precária fosse construída, sendo as últimas do bairro derrubadas para a construção da orla, mas que ainda residem em bairros próximos. Ao contrário da arquitetura flutuante a palafita trará mais sentido a concepção do anteprojeto.

Embora a arquitetura flutuante fosse uma tipologia promissora ao anteprojeto, foi sendo descartada pouco à pouco por alguns aspectos que mesmo sutis, foram decisivos. Um aspecto importante foi a questão de a arquitetura flutuante ser tratada como algo emergencial, ou seja, sua concepção está intimamente ligada ao fato de ser desenvolvida para suprir a carência do habitar devido à alguma catástrofe natural mais comumente, no entanto, essa imagem está cada vez mais sendo revertida, mesmo assim, ainda existe e não tem a ver com a imagem a ser passada pelo bairro. Outro fator é a questão de a arquitetura flutuante ter sua tecnologia semelhante ao barco, ou seja, ela pode se deslocar para outros

Para se tirar o estigma que foi construído durante o aparecimento destas residências sobre palafitas em Brasília Teimosa, será exposto no capítulo seguinte vários exemplos ao redor do mundo de como a palafita é uma tipologia bastante disseminada nos vários continentes e

pontos por meio de um motor ou algum outro anexo, e a intenção do anteprojeto é o conhecimento da Brasília Teimosa dentro da Brasília

que está longe da visão de algo marginalizado, mas sim, de algo cultural e adapatado ao local em que está inserida. 41


2 REFERENCIAL TEÓRICO (Arquitetura

era datado de 5.000 anos durante o neolítico, e que povos inteiros habitaram a beira do lago por meio de aldeias erguidas sobre estacas, usando a madeira do bosque para a construção e a água como elemento de proteção contra animais, meio de transporte e base da economia. Outros pesquisadores adicionaram a pesquisa de Keller, o encontro de novos restos e encontraram evidências de cerca de 250 povoados sobre palafitas, todos do período neolítico e que desapareceram por volta de 800 a.c. (Bahamón et al, 2009 p.17).

Palafítica)

“Perto de muita água tudo é feliz.” (Guima-

rães Rosa - Grande Sertão: Veredas).

A tipologia palafítica designa um tipo de construção proveniente de regiões alagadiças e com um intenso índice pluviométrico, erguida do solo e, consequentemente, ficando acima da água, sendo tal construção fixada por meio de estacas (Bahamón et al, 2009 p.17).

Para PEIXOTO (1990), ainda com a descoberta de construções erguidas acima da água, imaginavam-se que estas seriam estabelecimentos destinados apenas à pesca, lugares de reuniões temporárias, ou templos consagrados ao culto das águas. Contudo, a observação da multiplicidade de mobiliário encontrado sugeria que a construção acomodava um uso que demandava uma permanência maior no local. Talvez mais tarde é que as palafitas (da época do bronze) se destinassem à armazéns de comerciantes, precedentes do povo escandinavo e que comercializava utensílios com os indígenas. Esta hipótese é presumida devido

Bahamón et al (2009) expõe em seu livro “palafita: da arquitectura vernácula à contemporânea” que entre os anos de 1853 e 1854, aconteceu de na extensão da cidade de Meilen na Suíça, à beira do lago Zurique, descer a um nível pouco habitual por conta do duro inverno. As pessoas que rodeavam o lago aproveitaram para aterrar uma parte deste e ganhar um pouco mais de terra.No entanto, acabaram encontrando vestígios de estacas de madeira carbonizadas e alguns utensílios fabricados em pedra, osso, cobre e bronze. Com tal descoberta foi incumbido ao arqueólogo da região, Ferdinand Keller, pesquisar mais afundo sobre o achado, o que o levou a determinar por meio de seus procedimentos de investigação que o achado

aos utensílios encontrados estarem sem vestígios de uso.

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A construção palafítica, tanto as datadas do século antes de cristo como exposto anteriormente no caso do lago Zurique, ou as mais atuais, possuem em comum a funcionalidade que se obtém para a proteção da subida das marés ou mesmo para o exercício de atividades ligadas a economia do povo que ali habita.

isso estes celeiros eram dominantes na paisagem e colocados numa posição privilegiada, de modo que em caso de invasão ficaria fácil transportar os grãos para o castelo o mais rápido (RUDOFSKY, 2003, p.90-94). Na Noruega destaca-se a RORBU (Figura 21), habitação que remonta o séc.XII e que era abrigo temporário de pescadores (sobretudo de bacalhau). São palafitas de madeira ao longo da costa, pintadas de vermelho (com tinta à base de olho de fígado de bacalhau), com riscas brancas nas esquinas e à volta dos vãos, porém, com o conforto das embarcações, foram perdendo a sua função (NUTALL, 2005, p.314).

Bernard Rudofsky (2003) em seu livro “architecture without architects” expõe um curioso exemplo de povos da Península Ibérica, tanto na Espanha quanto em Portugal, que podem ter sido influenciados pelas construções erguidas sobre estacas, mesmo as construções descritas não estando assentadas sobre as águas, contudo, possuíam o similar propósito de proteção contra ataques de animais. Os habitantes das regiões inseridas na península Ibérica descendem do povo Celta que invadiu o continente por volta de 500 a.c. Este povo construía grandes celeiros de pedra ou madeira erguidos com estacas circulares e que foram precursores dos pilares da arquitetura clássica, sendo estas construções na Espanha chamadas de HÓRREOS (Figura 20) e em Portugal de ESPIGUEIROS (RUDOFSKY, 2003, p.90-94). Na comunidade rural de Lindoso em Portugal, a colheita era uma prática coletiva, por 43


Contudo, segundo NUTTALL (2005), algumas habitações têm sido restauradas para servir de alojamento para turistas, como no caso da vila piscatória de Nusfjord. O bairro palafítico de Bakklandet (Figura 22), em Trondheim, ao longo do rio Nidelva, remonta o séc. XIX, e é formado por casas de madeira de pescadores e trabalhadores locais que estiveram em risco de serem demolidas, no entanto o fim da indústria associada à pesca levou a uma maior ênfase na preservação do local como atração turística e registro histórico (PORTER, 2009, p.348). Desde o final do século XIX, surgem na île aux Oiseaux (França), as cabanas tchanquée (Figura 23),que são palafitas de madeira típicas da bacia de Arcachon, tais construções tinham o intuito de vigiar os bancos de ostras e eliminar possíveis roubos. As únicas duas palafitas restantes tornaram-se símbolo local e atração turística (ALMEIDA, 2015, p.24).

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Figura 20 - HÓRREO de Sarrio. Fonte: Flickr (2018). Acessado em: 19 de Abril de 2019.

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Figura 21 - Habitações “RORBU” na Noruega. Fonte: Flickr (2006). Acessado em: 20 de Abril de 2019.

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Figura 22 - Bairro palafĂ­tico em Bakklandet ao longo do rio Nidelva. Fonte: Flickr (2009). Acessado em: 21 de Abril de 2019.

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Figura 23 - CABANAS TCHANQUร E (Franรงa). Fonte: glamourasgreen (2016). Acessado em: 22 de Abril de 2019.

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Nas margens do estuário da Gironde surgem as CARRELETS (Figura 24), que são abrigos de madeira com telhado de zinco, sobre um cais palafítico, de onde é descida a rede emoldurada que lhe dá o nome. Após os danos causados por tempestades, foram construídos dentro das diretrizes vernaculares e consideradas patrimônio da região, parte integrante da paisagem e defendido por associações locais (ALMEIDA, 2015, p.24).

que é um centro interativo, cujo ponto principal de atração é uma Crannog, recinto circular erguido por estacas que forma um circuito exterior, reconstruída pelo “Scottish Trust for Underwater Archaeology”, que promove a pesquisa, registro e preservação deste patrimônio (ALMEIDA, 2015, p.24). Acredita-se muito na unidade étnica dos povos que construíam tais edificações sobre as águas devido não só a proximidade entre países como França, em quase todos os lagos da Suiça, Escócia, Irlanda do Norte, Pomerânia e etc., mas também por conta da similaridade entre a produção cultural, construtiva e dos locais escolhidos para habitar. Porém há quem considerem apenas a defesa destes povos contra incursões de inimigos em seu território ou mesmo de animais, independentemente do local no globo ao qual estas pessoas estariam inseridas (PEIXOTO, 1993, p.83).

A cidade de Veneza, também foi um exemplo de cidade palafítica que subsistiu por longos anos e começou por ser construída com elementos frágeis, mas que com o passar do tempo foi se consolidando até ser assentada por estacaria colocada diretamente na água (BAHAMÓN et al, 2009, p.10). Atualmente, as palafitas podem ser observadas em museus ao redor do mundo como o museu da palatita (Itália), possuindo atividades educacionais tendo como fundo a ruína e reconstruções a escala. O “Pfahlbauten Museum” (Alemanha), expõe palafitas reconstruídas sob a orientação de institutos de pesquisa. O “The Scottish Crannog Centre” (UK)

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Figura 24 - Vista das “CARRELETS” nas margens do estuário Gironde. Fonte: Flickr (2019) Acessado em: 23 de Abril de 2019.

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2.1 A palafita e os seus contextos ao redor do mundo

Um dos exemplos de palafitas mais conhecidos é o assentamento de Kampung Ayer (Malásia) (Figura26) (ALMEIDA, 2015, p.25). Totalmente sobre estacas, tem mais de 4.000 edifícios (habitacionais, religiosos, comerciais, escolares e de saúde), que dispõem de infraestrutura básica e conta com cerca de 30.000 habitantes. As palafitas estão interligadas por extensas passadeiras de madeira e as estacas sustentam uma plataforma independente dos edifícios (BAHAMÓN et al, 2009, p.10 -11).

A obra do autor Parker James (2001), “Up on Stilts: The Stilt house in world history”, traçou um percurso geográfico defendendo a sua origem na China, com a difusão para o sudeste asiático (onde predominam), desde o paleolítico (2,5 milhões a.C.-10.000 a.C.), e daí para as regiões tropicais através dos povos europeus. Adequam-se ao modo de vida das comunidades baseadas na pesca e no cultivo de arroz. Desde o século XIV que o Lago Inle (Myanmar) é habitado pela comunidade Intha (Figura 25), que subsiste da pesca e dos jardins agrícolas flutuantes. A paisagem de cerca de 20 assentamentos de madeira e bambu é um dos principais destinos turísticos.

Figura 26 - Assentamento de Kampung Ayer. Fonte: Flickr (2011). Acessado em: 25 de Abril de 2019.

Figura 25 - Comunidade Intha. Fonte: reddit (2013). Acessado em: 24 de Abril de 2019.

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As palafitas de Tai O (Hong Kong) (Figura 27) têm origem no século XVIII, na comunidade de pescadores Tankas. Implantam-se total ou parcialmente na água, e possuem uma varanda de frente para o rio ou mar e uma escada que garante acesso aos barcos. Quanto a materialidade, foram feitas originalmente em bambu, porém uma vez habitadas, encontram-se em renovação de materiais. No entanto, muitas casas apresentam problemas de degradação na estrutura, ocorrendo infiltrações, saneamento básico inadequado, bem como uma rede de transportes insuficiente, o que acarretou na saída de muitas pessoas para os centros urbanos.

Figura 27 - Palafitas em Tai O vilarejo de Hong Kong. Fonte: Flickr (2012). Acessado em: 26 de Abril de 2019.

como materiais a madeira, bambu e a palha. Este tipo de palafita, ainda possui alto grau de flexibilidade, que permite acrescentar novas partes, numa justaposição de coberturas com diferentes orientações e dimensões. Também na Indonésia (Sumatra, Java e Celebes) há palafitas em terra firme, pântanos e lagos.

Com o objetivo de preservar a comunidade, surgiu em 2010 o “Tai O Stilt House Restoration and Community Development Project”, que visa manter as casas, os hábitos de vida da comunidade e promove ações de criações de empregos e propagação de saberes entre as gerações (ALMEIDA, 2015, p.25-26).

Os Bajau (Figura 28), grupo indígena do Sudeste asiático (presentes em lugares como Myanmar, Estreito de Malaca, Mar Sulu, Malásia ou norte da Austrália), conhecidos como “ciganos do mar”, estas comunidades migram quando ocorre alguma mudança climática que

Ainda na China, as palafitas reabilitadas são fontes de atração turísticas em Fenghuang County, no rio Tuo e também há possibilidade de alugá-las. (ALMEIDA, 2015, p.26). Segundo FRANKOWSKY (1986), a palafita Malaia frequente na Indonésia e Sul da índia é uma das tipologias mais conhecidas e tem

exige sua saída ou quanto há conflitos com a comunidade terrestre.

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Figura 28 - Palafita do povo Bajau. Fonte: Maryworks (2018). Acessado em: 27 de Abril de 2019.

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No continente americano, as palafitas remontam o período pré-cambriano (do paleolítico à colonização europeia, no século XV). As construções, inicialmente, se distribuíam pela Costa Rica e pelas margens do lago Maracaibo (Venezuela), no qual havia um conjunto de 20 casas, com telhados de duas águas, paredes cobertas de junco, assentes em estacas que sustentavam plataformas em madeira, unidas por pontes (ALMEIDA, 2015, p.27).

As povoações palafíticas de Buenavista e Nueva Venecia (Figura 29) (Colômbia), de meados do século XIX, do pântano de Ciénaga Grande de Santa Marta, é composta por estacas que erguem a habitação a qual está inserida, sendo está composta por telhado de duas águas composto por chapas de cimento ou zinco. Já a madeira fazia parte da estrutura e das paredes (ALMEIDA, 2015, p.27). A construção era composta por um pátio criado através do preenchimento de uma área de lago por meio de resíduos sólidos (conchas, ramos, lama e escombros). Na estação seca, quando o nível da água é mais baixo, é possível preencher outras áreas de forma a gerar espaços coletivos (como campos de futebol, áreas junto a igrejas, escolas e parques) (ALMEIDA, 2015, p.27).

Estas habitações foram evoluindo quanto a sua materialidade (como pranchas metálicas e estacas de betão), e novos métodos construtivos, mas no geral mantém a mesma conformação em madeira (BAHAMÓN et al, 2009, p.12). Dispõem de eletricidade e são classificadas em três tipos: endógena – sistema construtivo e matérias da era pré-colombiana; exógeno popular – materiais de resíduos de construção ou reciclados; exógeno oficial – não dependente do contexto do local (ALMEIDA, 2015, p.27).

As estruturas são complexas e as casas não são simétricas, por isso há uma necessidade de implantá-las a uma distância que forneça alguma salubridade, uma vez que todos os resíduos são descarregados na água (ALMEIDA, 2015, p.27).

Na Colômbia, desde o século XVIII, os indígenas nativos do Noroeste da Colômbia constroem suas palafitas de madeira, sendo posteriormente a mesma tipologia adaptada aos escravos africanos e colonos que utilizavam em suas casas telhas de barro e a colocar portas e janelas (BAHAMÓN et al, 2009, p.13). 54


Na Colômbia, surgem várias comunidades situadas junto ao Oceano Pacífico e quando a habitação sobre a água se torna fixa as paredes antes de madeiras são substituídas por cimento e a coberta passa a ser de zinco (ALMEIDA, 2015, p.27). A atividade econômica destas comunidades é a pesca, sendo as embarcações o único meio de transporte ALMEIDA, 2015, p.27).

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Figura 29 - Vista aĂŠrea da comunidade de Nueva Venecia. Fonte: Unodc (?). Acessado em: 28 de Abril de 2019.

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Na ilha grande de Chiloé (Chile), as comunidades de Castro e Ancud recebem um grande esforço em prol de sua preservação desde a década de 1970. Em Castro, as habitações surgem nas colinas, junto ao pacífico com um ou dois pisos e duas frentes, possuindo um deles uma relação com a passarela de madeira e outro piso relacionando-se com a água (ALMEIDA, 2015, p.28)

nal com uma festa à volta do fogão (BAHAMÓN et al, 2009, p.14 -15).

As pessoas que habitam estas edificações sobre estacarias no Chile, sofrem com a precária salubridade devido a ineficiente rede de esgotos, bem como, sofrem com o problema da regularização da propriedade, ou seja, as pessoas são donas das casas, mas não do solo, devido a estas estarem numa zona marítima, o que dificulta a concessão de licenças. Quanto ao problema da concessão de licenças de construção, a área está inserida em um projeto para plano urbanístico (ALMEIDA, 2015, p.28)

Figura 30 - Casa sendo deslocada para sua nova localização. Chiloé (Chile) Fonte: raizesdomundo (?). Acessado em: 29 de Abril de 2019.

Algo interessante e que vale a pena destacar são as mudanças da casa (Figura 30), onde uma habitação inteira é deslocada sobre rodas e puxada por bois que leva a construção em direção ao mar, sendo posteriormente transportada até à sua nova localização por barco. Todo este árduo trabalho é comemorado ao fi57


No Brasil, tem-se a presença de palafitas de maneira predominante nas regiões Norte e Nordeste. Como exemplo da tipologia palafítica no Norte, temos o exemplo da comunidade da vila da Barca (Figura 31) localizada em Belém (PA). As casas assentadas em terra firme foram construídas em alvenaria mas 80% da comunidade está sobre palafitas que adentram na baía do Guarujá (MENEZES et al, 2015, p.245).

para essas populações ribeirinhas por possuir ambientes compactados uma vez que se tem a divisão de ambientes bem definidos, ausência de espaços de transição, como a varanda e o quintal (MENEZES et al, 2015, p.245).

A comunidade sofre com grave problema de saneamento básico, fato este que fez com que a prefeitura liberasse verba para a construção de 634 unidades habitacionais do tipo sobrado, resolvendo desta forma todos os problemas relacionados a infraestrutura, saneamento e etc., porém mesmo com a erradicação dos problemas dos moradores da comunidade, houve o conflito pela falta de adaptação dos moradores para com a nova tipologia, visto que esta era a reprodução de um modelo de outras cidades e que não havia qualquer relação espacial com a tipologia palafítica que mantinha relações de proximidade com o rio e áreas verdes, bem como pela continuidade dos ambientes, uma vez que a planta era linear (MENEZES et al, 2015, p.245).

Figura 31 - Comunidade palafítica em Belém (PA) e o resultado da falta de saneamento. Fonte: raizesdomundo (?). Acessado em: 30 de Abril de 2019.

Sendo algo totalmente contrário com o tipo sobrado proposto como a nova habitação 58


Por meio de plantas baixas de residências da Vila da Barca (Figuras 32 e 33) observa-se um processo de adaptação do tipo palafita com o meio urbano, uma vez que o contato do rio com as casas é buscado pelos habitantes, sendo nos perímetros mais adensados a busca por esse contato com o rio é realizada por meio da verticalização de algumas casas, já que o adensamento dificulta a proximidade e a sucessão com o ambiente natural. A varanda é utilizada como um elemento de transição entre o interior e o exterior da casa, aparecendo também no pavimento superior em casas verticalizadas.

Figura 32 - Sucessão ao espaço externo na comunidade da vila da Barca. Fonte: MENEZES et al, 2015, p.248. Fonte: Fábio Garcia (2014). Acessado em: 30 de Abril de 2019.

A continuidade que busca a sensação de amplitude é buscada através dos espaços multiusos (MENEZES et al, 2015, p.246).

Figura 33 - Continuidade no caminho percorrido no interior da casa devido a ambientes multiusos. Fonte: MENEZES et al, 2015, p.248. Fotos: Fábio Garcia (2014). Acessado em: 30 de Abril de 2019.

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Nas adaptações feitas pelos moradores através do projeto vila da barca (Figura 34) é perceptível o resgate do tipo palafita por meio da construção de avarandados, do prolongamento das coberturas até as sacadas, das circulações externas para delimitar os espaços de transição responsáveis pela sucessão ao espaço externo, demarcação de área de serviço, “quintal” para estender roupas e ampliações de cômodos. É evidente, no entanto, a ruptura de algumas relações espaciais tidas anteriormente com as palafitas e que não podem ser retomadas nesta nova proposta, como por exemplo, a perda de amplitude no espaço interior da casa devido à configuração de planta e do sistema construtivo, que não permitem grandes modificações internas (MENEZES et al, 2015, p.249).

Figura 34 - Adaptações feitas pelos moradores para o projeto Vila da Barca. Fonte: MENEZES et al, 2015, p.248. Fotos: Danielli Felisbino (2014). Acessado em: 30 de Abril de 2019.

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Florianópolis, por sua vez, apresenta um modelo de palafita distinto do mencionado anteriormente, exceto a planta, que segue o mesmo padrão retangular, mas pode ter sua variação quadrada. A construção (Figura 35) apoiasse em uma estrutura de pilares de cimento ou madeira, fincados na areia ou em pedras. As paredes são revestidas de bambu e tábuas de madeira fixadas na vertical e sua cobertura é criada por meio de telhas de fibrocimento, plásticas ou metálicas (ALMEIDA, 2015, p.29).

Figura 35 - Palafitas em Florianópolis com condomínio sendo construído ao fundo. Fonte: ndmais (2018). Acessado em: 01 de Maio de 2019.

A circulação da comunidade é criada por meio de acessos em formas de “L”, “U” ou lineares e possuem rampas, escadas de acesso ao mar e “decks”. Esta comunidade ainda possui saneamento básico, rede elétrica e água canalizada (ALMEIDA, 2015, p.29).

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No Brasil, ainda podemos citar as já conhecidas comunidades ribeirinhas assentadas nas proximidades do rio Negro. As palafitas de Manaus (Figura 36) são interessantes pela interligação que possuem da cultura cabocla ribeirinha com a cultura urbana, podendo ser vistas muitas vezes palafitas entre casas de alvenaria. A estrutura é composta por estacas de madeira que em épocas de vazante do rio Negro ficam totalmente amostra. As casas são constituídas de madeira sendo muitas delas pintadas de cores primárias.

Figura 36 - Casas sobre palafitas às margens do rio Negro. Fonte: geoimagens.com.br Acessado em: 02 de Maio de 2019.

As palafitas ainda possuem base retangular e são dotadas de um píer onde o barco atraca. As casas ainda possuem uma escada que dá acesso durante a cheia e a tradicional varanda que marca essa relação entre a natureza e o interior da casa.

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Outra interessante comunidade sobre palafitas no Brasil fica em Recife, mas precisamente no Bairro de Brasília Teimosa. Estas moradias eram ocupadas sobretudo por pescadores e que sofriam muito com a questão da insalubridade, sendo pior ainda a questão da maré alta que batia nas casas com violência chegando a derrubar e ainda invadir os barcos dos pescadores, fazendo com que eles não tivessem outra opção a não ser procurarem abrigo no conselho de moradores do bairro.

Figura 37 - A foto acima mostra o início das obras da nova orla com a imensa quantidade de palafitas ao fundo. Fonte: poraqui.com (2017) Acessado em: 19 de Dezembro de 2019.

Logo em 2003, assim que assumiu a presidência, o presidente Lula foi com uma comitiva de ministros ao bairro de Brasília Teimosa, e prometeu colocar a população que vivia nas palafitas em condições melhores (Figura 37). Foi então que em 2004, a população das cerca de 300 palafitas foram removidas das situações de risco e colocadas em um conjunto habitacional no bairro do Cordeiro, dando espaço para a construção que conta com ciclovia e calçadão. Para o espaço coletivo, foi construída uma via litorânea, sendo a nova avenida denominada de “Brasília Formosa” (Figura 38). Figura 38 - A foto acima mostra a orla antes da requalificação, já a foto abaixo, depois da requalificação. Fonte: GOMES, 2017, p.178

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No continente africano, as comunidades palafíticas surgem em regiões pantanosas, lagos ou florestas virgens. As comunidades que se tem conhecimento são, o Nzulezu (Figura 39), conhecida como aldeia na água, com sua localização no lago Amansuri em Gana, e possui mais de 500 anos (ALMEIDA, 2015, p.29-30). Outra comunidade é a cidade palafítica de Ganvié (Figura 40), que existe desde o século XIII e se situa no lago Nokoué (Benim), possuindo cerca de 25.000 habitantes que conservam a comunidade atualmente adotando a mesma materialidade que no século em que foi iniciado, contando com madeira para as paredes e estacas, e palha para a cobertura (ALMEIDA, 2015, p.29-30).

Figura 39 - Vila Nzulezo em perspectiva mostrando a materialidade das casas. Fonte: Pinterest (?). Acessado em: 03 de Maio de 2019.

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Figura 40 - Palafita de Ganvié mostrando a relação da cultura local com a pintura das residências. Fonte: Pinterest (?). Acessado em: 04 de Maio de 2019

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A Oceania possui registros de habitações palafíticas compostas de madeira e assentadas sobre recifes desde 1000 a.c. que foram encontrados no arquipélago de Bismarck (Papua-Nova Guiné). Em Buin, distinguiam-se duas tipologias: as Opo, construídas para dormir, e as Auri, para as refeições. A comunidade de maku-toika é um exemplo conhecido na Oceania de assentamento de grande porte por possuir cerca de 30.000 habitantes, e habitam a comunidade de Port Moresby. Suas casas assim como diversas outras palafitas, eram construídas em madeira, mas também utilizavam colmo (tipo de caule encontrado nas gramíneas).

painéis de folhas, e feita uma armação de bambu ou madeira (Figura 41), utilizando também janelas de vidros e coberta feita em aço. Quanto as divisões, também difere do convencional que geralmente não possui nenhuma, pois neste exemplo temos divisão entre a sala e a cozinha.

Só depois da segunda guerra mundial, as habitações foram reconstruídas com materiais distintos dos anteriores, materiais tais como, chapas de ferro e fibrocimento, porém o apoio continuou sendo de troncos de árvores. Venagi é um outro assentamento de cerca de 80 a 100 casas e que remonta a década de 50. Possui materialidade distinta de outras palafitas ao redor do mundo, justamente por não fazer uso da convencional madeira e ao invés disso utilizar materiais recicláveis como fibrocimento, grelhas e chapas de metal. Figura 41 - Palafita típica das ilhas Salomão. Fonte: maison-monde.com (?) Acessado em: 05 de Maio de 2019.

Outro exemplo conhecido fica nas ilhas Salomão, cujas palafitas são constituídas de 66


2.1.1 Origem dos assentamentos e palheiros em Portugal

Os primeiros assentamentos de edificações palafíticas em Portugal aconteceu no litoral centro Oeste, com ênfase entre a cidade de Espinho e São Pedro de Muel. As exceções são a foz do rio Vouga e do cabo de Mondego, pelo fato da faixa de terra como em Mira, oscilar entre um metro e dois, e não como em Vieira que atinge cinco e além (PEIXOTO, 1990, p.86).

Vários observadores, suspeitam, portanto, que em regiões litorâneas recortadas por estuários e baías, existiriam há muito tempo verdadeiras habitações lacustres (PEIXOTO, 1990, p.87). Na Costa Nova, porém, é que se sabe que os palheiros se localizam tão próximos da água, que nas marés vivas, esta avança e passa sob as casas. Sendo está a única exceção de palheiro próximo as águas, não se encontram na tradição indícios de semelhantes construções em qualquer corpo d’água (PEIXOTO, 1990, p.87).

A denominação da palavra palheiros se refere a pequenos conjuntos de construções de madeira de cobertura em estorno ou junco, posteriormente alinhados em arruamentos e que também incluíam palafitas de caráter precário e que serviam de moradia temporária (ALMEIDA, 2015, p.32).

Com o advento do turismo em meados do século XIX, os palheiros foram convertidos em residências para os banhistas, sendo totalmente descaracterizados quanto a sua arquitetura vernacular pela substituição de seus materiais originais, sendo adicionados, portanto, o adobe, pedra, tijolo e cimento, e do encerra-

PEIXOTO (1990), afirma que a forma destes palheiros era retangular, sem exceção, e as escadas levam para o acesso que consistia em uma ou duas portas da edificação. A cobertura primitiva era composta de colmo, segundo a tradição. No caso de Mira, o palheiro é pintado uma ou outra vez externamente; já na cova de

mento da estacaria (ALMEIDA, 2015, p.33).

Lavos era pintado de vermelho toda a edificação e em cores claras eram pintadas as guarnições. 67


2.1.1.1 Tipos de palheiros e seus sistemas construtivos

p.34).

Por conta da expansão geográfica, identificam-se diversos tipos de palheiros que se diferenciam quanto ao seu sistema construtivo, sendo eles:

Pau-a-pique revestidos até o solo e palafitas (tipo Vieira) (Figura 42)

Este sistema é característico da praia de Vieira e do Pedrógão, e é semelhante ao do Furadouro, mas que difere quanto a presença de varanda na fachada frontal, apoiados ora em barrotes inclinados, fincados contra a parede, ora em prumos e ligada a uma escada exterior; o tabuado exterior é aplicado na vertical, no sistema camisa e saia; e surgia a chaminé, em tijolo ou adobe junto a parede exterior (ALMEIDA, 2015, p.34).

Pau-a-pique revestidos até o solo (tipo do Furadouro)

Este sistema é característico da zona entre São Jacinto e Espinho, e é o mais antigo na construção dos palheiros. Possui planta regular; sua cobertura é de duas águas, a princípio revestida a tabuado, palha ou estorno, mais tarde substituídos pela telha; beiral direito orientado para a fachada frontal; e na tipologia de andar com varandas nas fachadas frontal ou posterior, abrigada por um beiral saliente da cobertura (ALMEIDA,2015,p34). Com relação a morfologia urbana, as construções eram assentadas de maneira dispersa e irregular, tendo como consequência a presença de ruas estreitas (ALMEIDA, 2015,

Figura 42 - Técnica construtiva conhecida como tipo Vieira. Fonte: GALHANO, 1964, p.107

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Estacaria no sistema de vigas e palafitas (tipo Esmoriz) (Figura 43)

Estacaria no sistema de grade, revestidos até o solo e palafitas (tipo Mira) (Figura 44)

Corresponde a tipologia palafítica (de dois pisos ou um piso com sótão), característica das cidades de Esmoriz e Cortegaça. Este sistema construtivo distingue-se dos demais pelas duas fileiras de esteios ou pilares de granito ou cimento, denominados por moirões, sobre os quais pousam as vigas paralelas, onde assenta o soalho. Ao contrário dos sistemas descritos anteriormente, o corpo do edifício é independente da estacaria. A coberta variava de duas a quatro águas, a varanda podia ser fechada e surgir na fachada lateral, dotada de escada superior; e a empena era voltada para a frente da edificação (ALMEIDA, 2015, p.35).

Faz parte do sistema em grade com origem em Mira, característica entre a costa Nova e Leirosa, e é a tipologia palafítica revestidas até ao solo (vários pisos). Se distingue dos sistemas anteriores pelo caixilho quadrangular de traves, denominado por grade, assente na estacaria, mas independente desta. Destaca-se ainda a pintura exterior utilizando duas garridas, e as estacas para o exterior, gerando maior segurança (ALMEIDA, 2015, p.35). No que concerne a morfologia urbana, os arruamentos possuem perfil variável, ora mais estreitos na praia de Mira, onde são retilíneos, e ora mais largos, na Tocha. Na cova as construções surgiam dispersas ou alinhadas em arruamentos irregulares (ALMEIDA, 2015, p.35).

Quanto a morfologia urbana, as edificações eram assentadas de modo a criar um arruamento regular.

Figura 43 - Técnica construtiva conhecida como tipo Esmoriz. Fonte: GALHANO, 1964, p.107

Figura 44 - Técnica construtiva conhecida como tipo Mira. Fonte: GALHANO, 1964, p.107

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2.2.1 Assentamentos palafíticos do Tejo (Aveiros)

Para ALMEIDA (2015), não se sabe ao certo quando se iniciaram as migrações dos pescadores para as margens do Tejo devido a inconclusão das referências existentes que ainda perduram vagas.

Com o passar do tempo os aveiros começaram a erguer construções permanentes, porém, bastante precárias (Figura 45), sendo assentadas na parte alta do rio para que as famílias pudessem se proteger das inundações do rio Tejo (ALMEIDA, 2015, p.39).

Porém sabe-se que esse movimento migratório em específico está inserido em um movimento mais amplo em que dentre os povos que participavam, os aveiros, atraídos pela vasta quantidade de espécies piscícolas (espécies que podem ser inseridas em tanques ou cercados para a sua respectiva criação), viviam em barcos com uma lógica de racionalização espacial simples na qual a zona de dormir era a proa e que funcionava como zona de trabalho pela manhã (prática da pesca), no centro do barco ficava a zona de serviço e na popa do barco ficavam dispostos os materiais de pesca.

Quanto a fixação dos aveiros, não se tem uma precisão, mas as referências indicam que foi entre o ano de 1930 e as décadas de 1920/30 (ALMEIDA, 2015, p.39).

Figura 45 - Construções precárias próximas a um aveiro. Fonte: asfp (?) Acessado em: 06 de Maio de 2019.

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3 PRECEDENTES PROJETUAIS O objetivo das pesquisas relacionadas as referências projetuais, é subsidiar na construção do programa, concepção volumétrica, estudo de aberturas ou mesmo soluções construtivas, independente da natureza do uso ao qual a referência projetual se destina.

Figura 46 - Planta baixa da casa onde mostra a divisão dos ambientes feita quase totalmente através do mobiliário. Fonte: Pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

Ficha Técnica Projeto: Casa Farnsworth Área: 206,80 m² Autor: Mies Van der Rohe Local: Estados Unidos da América (Illi-

Figura 47 - Esquema mostrando os pontos de visibilidade do interior para o exterior da casa Farnsworth. Fonte: Pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

nois) A casa Farnsworth é um exemplo famoso de releitura das tradicionais palafitas, livres de muitas divisões internas (Figura 46) e que possui relação do interior com o exterior e vice versa por diversos pontos (Figuras 47 e 48) que geram permeabilidade visual e deixa o conjunto totalmente integrado ao meio em que está inserido, sendo tais aspectos importantes de serem extraídos.

Figura 48 - Esquema mostrando os pontos de visibilidade do exterior para o interior da casa Farnsworth. Fonte: Pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Ficha Técnica Projeto: Museu Judaico Área: 15.500 m² Autor: Dainel Libeskind Local: Berlim (Alemanha)

O museu do Holocausto trata-se de um equipamento projetado afim de expor a memória do povo judeu que sofreu durante o holocausto.

Figura 49 - Imagem demarcando os eixos sobre a maquete volumétrica do projeto. Fonte: arq-contemporanea-agcbb.blogspot (2011). Acessado em: 16 de Março de 2020.

Neste caso, pode-se extrair fatores bastante importantes em sua composição pojetual e que poderão ser úteis na produção do Memorial de Brasília Teimosa. Dentre eles a utilização de eixos (Figura 49) que representam as experiências dos judeus. Outro aspecto é a presença de vazios (Figura 50) que correm verticalmente ao edifício, não possuem luz artificial, e representam a ausência dos judeus que sucumbiram durante o Holocausto. Figura 50 - O único dos vazios que pode ser acessado, conhecido como “o vazio da memória”. Fonte: Archdaily (2016). Fotos: Anabella Fernandez Coria, Cyrus Penarroyo3, Mal Booth, Diego Fredes Acessado em: 16 de Março de 2020.

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4 ANÁLISE TERRITORIAL Nesta parte da análise faz-se necessário o aprofundamento quanto aos aspectos existentes no bairro em estudo sejam eles referentes a paisagem natural ou construída ou mesmo da legislação, pois, só com as especificidades do bairro é possível elaborar um projeto consonante com o seu entorno de maneira a agregar ainda mais valor ao bairro.

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4.1 Mapa de Zoneamento

Na análise deste mapa, podemos identificar a porção de área considerada como o bairro de Brasília Teimosa, tracejado com a cor verde. Outro ponto de grande relevância é a delimitação,com tracejado laranja,do limite da Zeis.

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Mapa de Zoneamento

N

Limite da ZEIS Brasília Teimosa Limite do bairro de Brasília Teimosa

Vila da Prata

Vila Moacir Gomes Vila Teimosinho Conj. Habitacional

ZAN

Areal Novo

Área de Transição Colônia (Areal Velho) Mapa 04 - Zoneamento de Brasília Teimosa. Fonte: Google Earth.

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4.2 Mapa de Elementos Naturais Significativos

Neste mapa identifica-se a diferença dos corpos d’água que circundam o mesmo terrítório, podendo-se identificar a partir disso que como a orla marítima, possui ondas que chegam com bastante vigor e possuem muitas vezes grande proporção, não seria indicado para assentamento do memorial a ser projetado.

pessoas que trabalham em atividade pesqueira. O mapa ainda nos mostra o sentido dos ventos e a sua relação de consonância com a ortogonalidade das ruas do bairro. Também é evidenciada a importante linha de força desenhada pelos arrecifes e que pode vir a ser um elemento importante durante as decisões projetuais.

A parte da praia do buraco da veia, por sua vez, mesmo sendo uma área de grande movimentação de pessoas, seria inviável a contrução do memorial, uma vez que já é conhecida por um lazer específico, de modo que o equipamento uma vez assentado, acabaria sendo sobreposto a este lazer já existente inviabilizando da forma em que a praia é usada atualmente, ainda na praia em análise, por sua localização ser bastante periférica, muito provavelmente não teria tanta visibilidade dos turistas. Sendo assim, por inviabilidade, dos outros corpos d’água, pode-se dizer que a orla fluvial é o melhor local para assentamento do memorial a ser proposto, já que, possui calmaria em suas águas e é um corpo d’água ligado as

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Mapa de Elementos Naturais Significativos Corpos d’água 1 - Orla marítima 2 - Orla Fluvial 3 - Praia do Buraco da Véia. Direção dos ventos marítimos.

N

3

Linha de força dos arrecifes. 2

1

Mapa 05 - Elementos naturais significativos. Fonte: Google Earth.

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4.3 Mapa de Fluxo de Pessoas

O referente mapa alerta para os locais do bairro onde se tem o maior fluxo de pessoas, ou seja, nas proximidades do transporte público, bem como do comércio do bairro. Após a delimitação e sentido tomado pela rota de transporte público, bem como a delimitação do trecho de maior comércio público no bairro, percebe-se que a rua Arabaiana possui em comum tanto a rota de transporte público quanto o comércio, sendo assim, a referida rua é tratada como uma importante linha de força sendo proposta sua extensão para além corpo d’água fluvial de maneira a se tomar partido quanto ao acesso das pessoas a proposta de memorial ou até mesmo fazer parte da resolução de planta e volumetria.

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Mapa de Fluxo de Pessoas

Principal rota de transporte público Principal eixo de comércio público Extensão da linha de força

aD

Ru

elfi

N

m

na

ia raba Rua A

lp co Va

rancis Rua F s

asso Pires berto

ago Rua D

Rua

Mapa 06 - Mapa representando o fluxo de pessoas e identificação da Rua Arabaiana como eixo mais movimentado. Fonte: Google Earth.

end

Com r ado

79

Mo s rae


4.4 Perfil Topográfico

Para realizar o estudo preliminar da topografia do local ao qual a edificação será inserida, e portanto analisar a altura ideal das estacas, bem como, para definir o acesso ao equipamento coletivo, para isso foi realizado um perfil topográfico, que nada mais é que um corte no terreno. O corte foi proposto por uma linha que vai desde a margem e se projeta além rio, possuindo uma distância de 225 m.

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O perfil topográfico (Figura 51) abaixo indica a declividade do terreno em função da posição da seta, em que, cada cor tem a sua respectiva altura quanto ao relevo em relação ao rio, sendo portanto da cor cinza ao preto respectivamente, 5 m, 3 m, 2 m, 1 m, 1 m, 0 m, 0 m.

Figura 51 - Perfil Topográfico. Fonte: Elaborado pelo autor.

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5 ANTEPROJETO 82


5.1 Diretrizes Projetuais Para definir as diretrizes foi necessário observar vários aspectos da comunidade que são resultado da sua ocupação. O primeiro aspecto importante a ser observado no contexto é a densidade do bairro em que se identifica mais cheios que vazios (Figuras 52,53,54).

Figura 53 - Skyline de Brasília Teimosa. Fonte: Pinterest Acessado em: 14 de Maio de 2019.

Figura 54 - Representação de toda a massa edificada baseado no skyline de Brasília Teimosa. Fonte: Autor

Outro aspecto a se observar é a presença da dinamicidade que é criada pelas aberturas de tamanhos diversos na massa edificada (Figura 55).

Figura 52 -Recorte do Mapa de Noli da comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Autor

Figura 55 - Aberturas de tamanhos diversos na massa edificada de Brasília Teimosa. Fonte: Autor

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Outro importante fator que se pode extrair informação para o anteprojeto, é que a implantação das casas ao longo da ocupação do bairro foi gerando passagens tanto largas (Figura 56) quanto estreitas (Figura 57).

Figura 57 - Passagens estreitas presentes na comunidade. Fonte: Autor Figura 56 - Passagens largas presentes na comunidade. Fonte: Autor

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5.2 Memorial Descritivo A obra arquitetônica está implantada sobre o rio Capibaribe (Figura 58), sobre a tipologia palafítica, uma vez que o bairro de Brasília Teimosa tende a impulsionar tal construção por conta da falta de terreno para se construir e ainda possui uma relação com a tipologia desde os primórdios de sua ocupação.

O partido arquitetônico surge a partir da leitura do território em que se evidencia a natureza complexa das implantações das casas do bairro com a presença de muitos cheios, aberturas diversificadas, becos largos, estreitos e ainda o gabarito, possuindo ainda a adoção de Eixos e Subeixos.

Figura 58 - Área do Rio Capibaribe próximo à Brasília Teimosa. Fonte: Autor

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5.2.1 Programa e Dimensionamento

Auditório - 81,10 m²

Burscou-se materializar a memória dos moradores da comunidade de Brasília Teimosa em um equipamento que contasse a sua história e pudesse ser um espaço de conhecimento para jovens.

Espaço destinado a informação da prefeitura, administração e/ou conselho para pessoas do bairro. Vestiário dos Funcionários - 33,73 m² Banheiro acessível para pessoas que precisam do serviço do módulo da administração e também possui armários para guarda de

1) Subeixo Administrativo

objetos dos funcionários do memorial.

Total: 201,68 m²

Recepção Adm - 37,30 m²

2) Subeixo da Teimosia

Sala da Administração - 14,94 m²

Total: 1.323,60 m²

Espaço onde ficará o responsável pela administração de todo o equipamento.

Recepção Workshop - 118,16 m²

Sala de Reuniões - 17,61 m²

Depósito Workshop - 04,87 m²

Importante espaço de encontro entre a administração do memorial ou do conselho de pescadores com membros da prefeitura para possível formação de parcerias e futuros projetos para a população do bairro.

BWC Workshop - 29,90 m² BWC da Sala de Leitura - 29,90 m² Espaço de Convivência - 232,00 m² Sala de Leitura - 186,72 m²

Circulação - 17,00 m²

Sala destinada a guarda de pequeno acervo de livros, bem como do estudo coletivo e/ou individual. 86


Memorial I - 184,28 m² Módulo destinado à exposições referentes ao Bairro de Brasília Teimosa. Memorial II - 377,22 m² Módulo destinado à exposições referentes ao Bairro de Brasília Teimosa. Memorial III - 160,55 m² Módulo destinado à exposições de artistas locais.

3) Subeixo Econômico Total: 325,21 m²

Lanchonete - 281,70 m² Depósito da Lanchonete - 17,21 m² BWC da Lanchonete - 26,60 m²

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5.2.2 Zoneamento O mapa a seguir demarca o trecho de implantação do Memorial da (R)Existência sobre o Rio Capibaribe.

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Para a implantação do projeto utilizou-se do eixo da rua Arabaiana que consiste na principal linha de força do bairro por concentrar grande parte do comércio e consequentemente o fluxo de pessoas, sendo esta linha estendida para o rio. A partir de então, pegou-se toda a análise das implantações descritas anteriormente, e a partir de um bloco maciço linear como as palafitas tradicionais, foi utilizada a lógica da fragmentação desse bloco único em uma série de blocos que são ligados a seus respectivos subeixos.

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Mapa 07 - Mapa do bairro de BrasĂ­lia Teimosa demarcandoaonde o equipamento serĂĄ inserido. Fonte: Google Earth.

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O diagrama de concepção da organização espacial do Memorial da (R) Existência (Figura parte do princípio de se pegar uma volumetria pura que é fragmentada em dois outros blocos para que seja permitida a passagem do Eixo Principal (Eixo de força) além Rio Capibaribe. 3

A seguir, os dois blocos são fragmentados pelos SubEixos administrativo, teimosia e econômico que será visto com mais detalhes posteriormente, dando origem a oito blocos. A partir dos oito blocos, são eliminados dois já tendo em vista a necessidade de usos e por último, os seis blocos restantes são reorganizados de acordo com a lógica dos seus usos e associados aos seus respectivos subeixos.

4

5 1

Figura 59 - Diagrama mostrando a concepção da organização espacial do Memorial da (R)Existência. Fonte: Diagrama elaborado pelo autor.

2

91


As imagens a seguir (Figura 61 e 62) mostram como os eixo e subeixos adotados como partido projetual são aplicados tendo como início a demarcação do eixo da continuidade, que é a projeção da linha de força tirada da Rua Arabaiana (Principal Eixo viário - comercial da comunidade) e que representa a continuidade da história da população, começando na margem do Bairro de Brasília Teimosa por uma passarela que remete o modo de percurso adotado nas palafitas construídas no bairro. No outro extremo da linha da continuidade a passarela se abre para o Rio Capibaribe em três píeres como se estivesse abraçando o Rio e convidando os barcos a atracarem.

moradores que resistiram a entrega do seu direito de morar ao mercado imobiliário, e na sala III no primeiro pavimento, a Brasília Teimosa de hoje com exposições dos próprios moradores. Chegando no primeiro pavimento tem-se uma passarela que leva o visitante a conhecer a sala de leitura, que também pode ser acessada pelo térreo. No térreo deste módulo, tem-se salas referentes a prática de workshops sendo o conjunto formado por este módulo salas de workshop e leitura tratados independentemente, mas também pode ser tratado de forma integrada com os módulos de exposição, uma vez que está sala trabalha justamente o futuro da comunidade que são os jovens alunos que serão instruídos com dinâmicas sobre a importância de preservação do meio ambiente e fornecendo subsídio para o hábito da leitura.

Ao longo do Eixo central, traçaram-se subeixos, sendo o mais próximo da margem de Brasília Teimosa o subeixo administrativo, e que portanto ficou do lado mais próximo da margem por ser um equipamento para o próprio povo de Brasília Teimosa se apropriar.

O último subeixo é o econômico e que está próximo de onde os barcos serão atracados justamente para que a economia local seja fortalecida com a presença de um módulo que contém uma lanchonete e várias barracas as quais é possivel a compra de pescados.

O subeixo da teimosia, trata-se do memorial propriamente dito com duas salas de exposição no térreo e uma no primeiro pavimento e que contará a história do bairro das primeiras ocupações e assentamentos, dos projetos criados para se tomar a comunidade dos 92


É importante observar ainda que os subeixos da administração e econômico possuem seus módulos ligados ao eixo da continuidade justamente por representarem a solidez e alicerce da comunidade, já os módulos do subeixo da teimosia fazem uma analogia a teimosia da população, por isso se afastam do eixo da continuidade, bem como, os módulos se afastam do paralelismo do eixo contínuo de forma a fazer uma analogia com as ruas do bairro que ora são estreitas, ora largas. O grande conjunto ainda conta com amplos decks principamente ligados ao subeixo econômico e que servem de espaço de convivência. O conjunto inteiro é predominantemente horizontal e conta com apenas um módulo no primeiro pavimento, não interferindo portanto no skyline do bairro.

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Figura 60 - Imagem representando a inserção de eixos e subeixos como partido projetual. Fonte: Autor.

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Figura 61 - Imagem mostrando os usos aplicados aos módulos, percurso demarcado e espaços de convivência (Decks). Fonte: Autor.


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Figura 62 - Planta de Locação e coberta. Fonte: Autor.

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Figura 63 - Planta Baixa - Térreo Fonte: Autor.

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Figura 64 - Planta Baixa - Primeiro Pavimento e Mezanino Fonte: Autor.

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Legenda do Módulo Adm

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01 Recepção Adm ------------37,30 m² 0 2 4 6 02 Auditório -------------------- 81,10 m² ESCALA GRÁFICA 03 Sala de Reunião -----------17,64 m² 04 Sala de Adm ----------------- 14,94 m² 05 Vestiário ---------------------- 33,73 m² 06 Circulação -------------------- 17,00 m²

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Figura 65 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo da Administração Fonte: Autor.

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Legenda do Módulo Work. /Sala de Leitura 07 Recepção Workshop --------- 118,16 m² 08 Depósito Workshop ---------- 04,87 m² 09 Sala de Workshop ------------ 178,56 m² 10 BWC Workshop --------------- 29,90 m²

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Figura 66 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo Sala de Workshop/ Leitura Fonte: Autor.

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Legenda do Módulo da Lanchonete 11 Lanchonete ---------------------- 281,70 m² 12 Depósito da Lanch. ------------- 17,21 m² 13 BWC da Lanchonete ----------- 26,60 m²

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Figura 67 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo da Lanchonete Fonte: Autor.

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Legenda do Módulo do Memorial I 14 Memorial I ---------------------- 184,28 m² N

Esc. 1/200 Figura 68 - Planta Baixa - Térreo focando no Memorial I. Fonte: Autor.

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Figura 69 - Planta Baixa - Térreo focando no Memorial II. Fonte: Autor.

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Legenda do Módulo do Work./ Sala de Leitura 17 BWC da Sala de Leit. ----------- 29,90 m² 18 Espaço de Conv. ---------------- 232,00 m² 19 Sala de Leitura ------------------ 186,72 m² N

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Figura 71 - Planta Baixa - Primeiro Pavimento focando na Sala de Leitura. Fonte: Autor.

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Figura 72 - Cortes AA, BB. Fonte: Autor.

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Figura 73 - Cortes CC, DD. Fonte: Autor.

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Figura 74 - Cortes EE, FF. Fonte: Autor.

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Figura 75 - Cortes GG, HH, II, JJ. Fonte: Autor.

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Figura 76 - Perspectiva Geral dos MĂłdulos no Memorial da (R)ExistĂŞncia. Fonte: Autor.

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Figura 77- Perspectiva da Entrada do Complexo do Memorial da (R)ExistĂŞncia. Fonte: Autor.

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Figura 78 - Perspectiva mostrando a Recepção do Módulo da Administração. Fonte: Autor.

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Figura 79 - Perspectiva Interna do auditório no Módulo da Administração. Fonte: Autor.

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Figura 80 - Perspectiva Externa do Mรณdulo da Lanchonete. Fonte: Autor.

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Figura 81 - Vista da Recepção do Módulo de Workshop/Sala de Leitura. Fonte: Autor.

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Figura 82 - Vista da Sala de Leitura. Fonte: Autor.

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Figura 83 - Vista da Àrea de Convivência no Módulo de Workshop/Sala de Leitura. Fonte: Autor.

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Figura 84 - Vista do Memorial Mรณdulo II. Fonte: Autor.

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Figura 85 - Vista do Memorial Mรณdulo III. Fonte: Autor.

119


Figura 86 - Vista interna do Mรณdulo da Lanchonete. Fonte: Autor.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Esquema da geografia físico-morfológica do Recife. Fonte: VERAS, Lúcia M. de S. C., 2018, p.73 Figura 02 - Dique construído no porto do Recife. Fonte: Marcozer.org (?) Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 03 - Foto aérea de aterro na área que corresponde a maior parte de Brasília Teimosa. Fonte: GOMES, 2017, P.111/ museu da cidade do Recife Figura 04 - Residências conhecidas como mocambos. Fonte: jconline (?) Acessado em:14 de Maio de 2019. Figura 05 - Construção de mocambos em Brasília Teimosa no ano de 1959. Fonte: Gomes, 2017, p.115 Acessado em: 06 de Março de 2020. Figura 06 - Brasília Teimosa e seu entorno por vista aérea de 1979 mostrando o iate clube e os arrecifes. Fonte: GOMES, 2017, p.150/ biblioteca da URB. Figura 07 - Ponte do Pina. Fonte: Pinterest (?) Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 08 - A palafita em Brasília Teimosa. Fonte: acertodecontas.blog.br Autor: Paula Brükmuller Acessado em: 05 de Março de 2020 Figura 09 - Brasília Teimosa recém loteada. Autor e anos desconhecidos Fonte: GOMES, 2017, p.114

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Figura 10 – Casas de alvenaria sendo construídas em Brasília Teimosa no ano de 1984. Fonte: GOMES, 2017, p.157/ biblioteca de URB. Figura 11 - Proposta de projeto da URB Brasília Teimosa no ano de 1975. Fonte: GOMES, 2017, p.142 Figura 12 - Corte esquemático da orla de Brasília Teimosa segundo projeto de Jaime Lerner. Fonte: GOMES, 2017, p.142. Figura 13 - Perspectiva em Brasília Teimosa segundo Jaime Lerner. Fonte: GOMES, 2017, p.143. Figura 14 - Personagem fictício “teimosinho” usado no cabeçalho do jornal de mesmo nome e distribuído pelo conselho de moradores. Fonte: GOMES, 2017, p.151. Figura 15 - Croqui comparando o padrão construtivo indicado pelo Prezeis e a situação atual de Brasília Teimosa. Figura 16 - Palafitas em Brasília Teimosa e a condição de seus moradores ao lado de esgoto a céu aberto. Fonte: Flickr Lívia Brandão (2007). Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 17 - Praia do buraco da veia durante as obras de requalificação da orla em 2003. Fotos: Autoria de Wilson Lapa. Fonte: Acervo do conselho de moradores de Brasília Teimosa. Acessado em: 05 de Março de 2020. Figura 18 - Conjunto habitacional de Brasília Teimosa. Fonte: aacbt.blogspot (2012) Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Figura 19 - Vista aérea da comunidade de Brasília Teimosa e bairro de Boa Viagem com prédios ao fundo. Fonte: noticiasominuto.com.br Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 20 - Hórreo de Sarrio. Fonte: Flickr (2018) Acessado em: 19 de Abril de 2019. Figura 21 - Habitações “RORBU” na Noruega. Fonte: Flickr (2006). Acessado em: 20 de Abril de 2019. Figura 22 - Bairro palafítico em Backlandet ao longo do rio Nidelva. Fonte: Flickr (2009) Acessado em: 21 de Abril 2019. Figura 23 - Cabanas TCHANQUÉE (França). Fonte: glamourasgreen (2016) Acessado em: 22 de Abril de 2019. Figura 24 - Vista das “CARRELETS” nas margens do estuário Gironde. Fonte: Flickr (2019) Acessado em: 24 de Abril de 2019. Figura 25 - Comunidade Intha. Fonte: reddit (2013). Acessado em: 25 de Abril de 2019. Figura 26 - Assentamento de Kampung Ayer. Fonte: Flickr (2011). Acessado em: 25 de Abril de 2019. Figura 27 - Palafitas em Taio O vilarejo de Hong Kong. Fonte: Flickr (2017). Acessado em: 26 Abril de 2019.

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Figura 28 - Palafita do povo Bajau. Fonte: maryworks (2018). Acessado em: 27 de Abril de 2019. Figura 29 - Vista aérea da comunidade de Nueva Venecia. Fonte: unodc (?). Acessado em: 28 de Abril de 2019. Figura 30 - Casa sendo deslocada para sua nova localização. Fonte: raizesdomundo (?). Acessado em: 29 de Abril de 2019. Figura 31 - Comunidade palafítica em Belém (PA) e o resultado da falta de saneamento. Fonte: raizesdomundo (?). Acessado em: 30 de Abril de 2019. Figura 32 - Sucessão ao espaço externo na comunidade da Vila da Barca. Fotos: Fábio Garcia (2014) Fonte: MENEZES et al, 2015, p.248. Acessado em: 30 de Abril de 2019. Figura 33 - Continuidade no caminho percorrido no interior da casa devido a ambientes multiusos. Fotos: Fábio Garcia (2014). Fonte: MENEZES, et al, 2015, p.248. Acessado em: 30 de Abril de 2019. Fgura 34 - Adaptações feitas pelos moradores para o projeto Vila da Barca. Fotos: Danielli Felisbino (2014). Acessado em: 30 de Abril de 2019. Figura 35 - Palafitas em Florianópolis com condomínio sendo construído ao fundo. Fonte: MENEZES et al, 2015, p.248. Acessado em: 30 de Abril de 2019.

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Figura 36 - Casas sobre palafitas às margens do rio Negro. Fonte: geoimagens.com.br Acessado em: 02 de Maio de 2019. Figura 37 - A foto acima mostra o início das obras da nova orla com a imensa quantidade de palafitas ao fundo. Fonte: poraqui.com (2017). Acessado em: 19 de Dezembro de 2019. Figura 38 - A foto acima mostra a orla antes da requalificação, já a foto abaixo, depois da requalificação . Fonte: GOMES, 2017, p.178. Figura 39 - Vila Nzulezoem perspectiva mostrando a materialidade das casas. Fonte: pinterest (?). Acessado em: 03 de Maio de 2019. Figura 40 - Palafita de Ganvié mostrando a relação da cultura local com a pintura das residências. Fonte: pinterest (?). Acessado em: 03 de Maio de 2019. Figura 41 - Palafita típica das ilhas Salomão. Fonte: maison-monde.com (?). Acessado em: 05 de Maio de 2019. Figura 42 - Técnica construtiva conhecida como tipo Vieira. Fonte: GALHANO, 1964, p.107. Figura 43 - Técnica construtiva conhecida como tipo Esmoriz. Fonte: GALHANO, 1964, p.107. Figura 44 - Técnica construtiva conhecida como tipo Mira. Fonte: GALHANO, 1964, p.107. Figura 45 - Construções precárias próximas a um aveiro. Fonte: asfp (?) Acessado em: 06 de Maio de 2019.

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Figura 46 - Planta baixa da casa onde mostra a divisão dos ambientes feita quase totalmente através do mobiliário. Fonte: pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 47 - Esquema mostrando os pontos de visibilidade do interior para o exterior da casa Farnsworth. Fonte: pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 48 - Esquema mostrando os pontos de visibilidade do exterior para o interior da casa Farnsworth. Fonte: pinterest (?). Acessado em: 14 de Maio de 2019. Figura 49 - Imagem demarcando os eixos sobre a maquele volumétrica do projeto. Fonte: arq-contemporanea-agcbb.blogspot (2011). Acessado em: 16 de Março de 2020. Figura 50 - O único dos vazios que pode ser acessado, conhecido como “o vazio da memória”. Fotos: Anabella Fernandez Coria, Cyrus Penarroyo3, Mal Booth, Diego Fredes Fonte: archdaily (2016). Acessado em: 16 de Março de 2020. Figura 51 - Perfil Topográfico. Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 52 - Recorte do Mapa de Noli da comunidade de Brasília Teimosa. Fonte: Autor. Figura 53 - Skyline de Brasília Teimosa. Fonte: Pinterest Acessado em: 14 de Maio de 2019.

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Figura 54 - Representação de toda a massa edificada baseado no skyline de Brasília Teimosa. Fonte: Autor. Figura 55 - Aberturas de tamanhos diversos na massa edificada de Brasília Teimosa. Fonte: Autor. Figura 56 - Passagens largas presentes na comunidade. Fonte: Autor. Figura 57 - Passagens estreitas presentes na comunidade. Fonte: Autor. Figura 58 - Área do Rio Capibaribe próximo à Brasília Teimosa. Fonte: Autor. Figura 59 - Diagrama mostrando a concepção da organização espacial do Memorial da (R)Existência. Fonte: Diagrama elaborado pelo autor. Figura 60 - Imagem representando a inserção de eixos e subeixos como partido projetual. Fonte: Autor. Figura 61 - Imagem mostrando os usos aplicados aos módulos, percurso demarcado e espaços de convivência (Decks). Fonte: Autor. Figura 62 - Planta de Locação e coberta. Fonte: Autor. Figura 63 - Planta Baixa - Térreo. Fonte: Autor. Figura 64 - Planta Baixa - Primeiro Pavimento e Mezanino. Fonte: Autor.

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Figura 65 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo da Administração. Fonte: Autor. Figura 66 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo Sala de Workshop/ Leitura. Fonte: Autor. Figura 67 - Planta Baixa - Térreo focando no Módulo da Lanchonete. Fonte: Autor. Figura 68 - Planta Baixa - Térreo focando no Memorial I. Fonte: Autor. Figura 69 - Planta Baixa - Térreo focando no Memorial II. Fonte: Autor. Figura 70 - Planta Baixa - Mezanino focando no Memorial III. Fonte: Autor. Figura 71 - Planta Baixa - Primeiro Pavimento focando na Sala de Leitura. Fonte: Autor. Figura 72 - Cortes AA, BB. Fonte: Autor. Figura 73 - Cortes CC, DD. Fonte: Autor. Figura 74 - Cortes EE, FF. Fonte: Autor. Figura 75 - Cortes GG, HH, II, JJ. Fonte: Autor. Figura 76 - Perspectiva Geral dos Módulos no Memorial da (R)Existência. Fonte: Autor. Figura 77- Perspectiva da Entrada do Complexo do Memorial da (R)Existência. Fonte: Autor. Figura 78 - Perspectiva mostrando a Recepção do Módulo da Administração. Fonte: Autor.

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Figura 79 - Perspectiva Interna do auditório no Módulo da Administração. Fonte: Autor. Figura 80 - Perspectiva Externa do Módulo da Lanchonete. Fonte: Autor. Figura 81 - Vista da Recepção do Módulo de Workshop/Sala de Leitura. Fonte: Autor. Figura 82 - Vista da Sala de Leitura. Fonte: Autor. Figura 83 - Vista da Àrea de Convivência no Módulo de Workshop/Sala de Leitura. Fonte: Autor. Figura 84 - Vista do Memorial Módulo II. Fonte: Autor. Figura 85 - Vista do Memorial Módulo III. Fonte: Autor. Figura 86 - Vista interna do Módulo da Lanchonete. Fonte: Autor.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 - Mapa correspondente a área dos atuais bairros do Pina e Brasília Teimosa em 1641. 1 - Primeiras Ocupações; 2 - Arrecifes; 3 - Rio da Barreta; 4 Localização aproximada da fazenda da Barreta e do forte Schoonenburg. Mapa de autoria de Cornelis Golijath. Fonte: SILVA, 2008b, p.16. Mapa 02 - Montagem de fotos aéreas do ano de 1951. 1 - Arrecifes; 2 - Areal Novo, ainda pouco ocupado. 3 - Areal Velho (área da Colônia) com as suas ocupações iniciais (perceber o primeiro arruamento bem definido); 4 - Avenida de Ligação (Herculano Bandeira); 5 - Ponte do Pina; 6 - Avenida Boa Viagem; 7 - Ruínas Lazareto; 8 - Aeroclube; 9 - Manguezal; 10 - Ilha de Santo Antônio e São José. Fonte: GOMES, 2017, p.118. Mapa 03 - Ortofotocartas do Pina e Brasília Teimosa em 1985. 1 - Arrecifes; 2 - Iate Clube. 3 - Praia do Buraco da Veia; 4 - Ponte Agamenon Magalhães; 5 - Ponte Paulo Guerra; 6 - Avenida Antônio de Goes; 7 - Avenida Herculano Bandeira; 8 - Avenida Beira-Mar; 9 - Avenida Conselheiro Aguiar; 10 - Avenida Domingos Ferreira; 11 - Aeroclube; 12 - Ilha de Santo Antônio e São José; 13 - Bairro do Recife. Fonte: GOMES, 2017, p.137. Mapa 04 - Zoneamento de Brasília Teimosa. Fonte: Google Earth. Mapa 05 - Elementos naturais significativos. Fonte: Google Earth. Mapa 06 - Mapa representando o fluxo de pessoas e identificação da Rua Arabaiana como eixo mais movimentado. Fonte: Google Earth. Mapa 07 - Mapa do bairro de Brasília Teimosa demarcandoaonde o equipamento será inserido. Fonte: Google Earth.

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