QUEER REVISTA

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1º Edição

27 de junho


PRIMEIRA PÁGINA Escrevo para falar sobre ser queer tem se tornado uma prática de vida que vai contra as normas estabelecidas pela sociedade, em que as pessoas que eram consideradas estranhas, garantem espaço no meio social e pontuam sua individualidade, rompendo sua caracterização de conceitos marginais. Aliás, o queer não pretende se desfazer da condição de “marginal”, mas sim, se aproveitar dela para se auto-afirmar. Importante salientar que, enquanto a maioria dos gays, lésbicas e bissexuais lutam para serem aceitos dentro da norma social sem preconceitos e com garantia de seus direitos, pessoas queer querem mais o debate e a reflexão do que é a norma e do que é normal, seja em termos heterossexual ou homossexual. A Teoria Queer vem para problematizar isso, levantando questões para se discutir sobre as identidades não binárias, o que foge da relação de sexo biológico com gênero. Aqui no Brasil pouco se usa o termo queer, ainda estando mais presente expressões como viadinho, sapatão e traveco, entre outros. O movimento do uso da palavra como reafirmação se encontra em processo de construção, de estudo; porém já percebemos grandes evoluções nos debates acerca do rompimento da ideia de que a personalidade está única e diretamente ligada ao sexo da pessoa. “O gênero está na cabeça, não no órgão sexual.” - Cristiano Rosa Diretor de Redação

ÍNDICE Cultura Queer

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Artista Destaque

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EXPLICANDO A ORIGEM E CONCEITOS

LACHLAN WATSON A ESTRELA DE 17 ANOS

Música

REPRESENTIVIDADE É O PODER

Literatura

ILUSTRE ESCRITOR BURROUGHS

CINEMA

REPRESENTIVIDADE É O PODER

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CULTURA “Ser queer significa acreditar que todos têm o direito de ser quem são e se expressar sem receberem julgamentos ou ódio porque aquilo está fora do considerado normal.” A jornalista Nadia Cho explicou tudo em sua coluna no Huffington Post, “‘Queer’ pode ser usado para descrever a orientação sexual de alguém, ou servir como um posicionamento político. Sua definição tem muitas dimensões, de identidade de gênero à resistência aos valores tradicionais ou a uma sensação de não-pertencimento em padrões estabelecidos.” “Ser queer significa acreditar que todos têm o direito de ser quem são e se expressar sem receberem julgamentos ou ódio porque aquilo está fora do considerado normal. Ser queer é desafiar o normal. É deixar de pensar em ‘masculino’ ou ‘feminino’, ‘gay’ ou ‘hétero’, ‘monogâmico’ ou ‘poligâmico’ de maneira binária. (…) Ser queer é reconhecer que existem outras identidades de gênero, como transgênero, genderqueer e pessoas andróginas, respeitando e legitimando essas identidades.” Importante salientar que, enquanto a maioria dos

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prática de vida que vai contra as normas estabelecidas pela sociedade, em que as pessoas que eram consideradas estranhas, garantem espaço no meio social e pontuam sua individualidade, rompendo sua caracterização de conceitos marginais. Aliás, o queer não pretende se desfazer da condição de “marginal”, mas sim, se aproveitar dela para se auto-afirmar. Importante salientar que, enquanto a maioria dos gays, lésbicas e bissexuais lutam para serem aceitos dentro da norma social sem preconceitos e com garantia de seus direitos, pessoas queer querem mais o debate e a reflexão do que é a norma e do que é normal, seja em termos heterossexual ou homossexual. A Teoria Queer vem para problematizar isso, levantando questões para se discutir sobre as identidades não binárias, o que foge da relação de sexo biológico com gênero. Aqui no Brasil pouco se usa o termo queer, ainda estando mais presente expressões como viadinho, sapatão e traveco, entre outros. O movimento do uso da palavra como reafirmação se encontra em processo de construção, de estudo; porém já percebemos grandes.


Foto do filme Pink Narcissus - 1971

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Artista Destaque Uma hora. Esse foi o tempo que levou para Lachlan Watson, de 17 anos, obter uma resposta dos produtores de O Mundo Sombrio de Sabrina, da Netflix, após enviar um vídeo para a audição da série. Os produtores pediram para conversar com Watson pelo Skype depois de verem seu vídeo, um monólogo emocionante sobre um personagem que decide “sair do armário” e revelar que é transexual. “Eles me perguntaram sobre minha vida, como eu me identificava com o personagem e o que mais eu podia trazer de informação para eles em relação à identidade de gênero queer,” disse Watson. (Watson, que usa pronomes neutros, agora se identifica como não-binário, mas se identificou como “transexual masculino” dos 3 aos 15 anos de idade). Durante a conversa, Roberto Aguirre-Sacasa, produtor-executivo de Sabrina e de Riverdale, do canal CW, explicou para

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“[Aguirre-Sacasa] me perguntou se tudo bem para mim o personagem começar como uma garota e se eu poderia interpretar um personagem com identidade feminina, porque eu tinha feito

“O nome era diferente; o personagem se identificava como ‘ele’, não era Susie.” Watson aceitou o papel de Susie – uma das melhores amigas de Sabrina Spellman (Kiernan Shipka) na série – e voou para Vancouver (Canadá) no dia seguinte para a leitura do roteiro. A primeira temporada de Sabrina ime-

“[Aguirre-Sacasa] me perguntou se tudo bem para mim o personagem começar como uma garota e se eu poderia interpretar um personagem com identidade feminina, porque eu tinha feito a audição para um personagem totalmente diferente”, disse Watson ao BuzzFeed News. “O nome era diferente; o personagem se identificava como ‘ele’, não era Susie.” Watson aceitou o papel de Susie – uma das melhores amigas de Sabrina Spellman (Kiernan Shipka) na série – e voou para Vancouver (Canadá) no dia seguinte para a leitura do roteiro. A primeira temporada de Sabrina imediatamente entrou em produção. Watson acredita que suas próprias experiências ajudaram a moldar o desenvolvimento da personagem de Susie no programa, mesmo sem ter nenhum controle sobre o roteiro. Por exemplo, Watson diz que o programa não usa rótulo nenhum para identificar a personagem de



Música

QUEBRADA QUEER Ao longo da história a sociedade passou por diversas transform ações. E boa parte delas foi incentivada por movimentos que reivindicavam direitos a grupos que estavam à mastema. Esses movimentos reivindicaram direitos para os menos favorecidos, para as mulheres, para os negros… O objetivo desses movimentos sempre foi “horizontalizar” a nossa sociedade, ou seja, fazer com que todos sejam iguais e nenhum grupo esteja O objetivo desses movimentos sempre foi “horizontalizar” a nossa sociedade, ou seja, fazer com que todos sejam iguais e nenhum grupo. 8 QUEER MAIO 2019

Na música, essa militância já está muito presente. Vai da MPB do As Bahias e a Cozinha Mineira até o pop de Pabllo Vittar. São drags, lésbicas, gays, trans e queers que querem ser ouvidos e ouvidas. E a melhor parte nisso tudo é a crescente aceitação do público em geral, e aliás, não tem porque não aceitar, certo? A comunidade LGBT cresce também na cena do rap. Rico Dalasam, Jeza da Pedra e outros incríveis artistas levantam a bandeira em seus versos. No entanto, o rap brasileiro nunca teve um grupo de artistas que se juntaram por conta dessa


“Nós tá aqui por cada bicha com a vida interrompida Por causa de homofobia, ódio e intolerância Resistimos no dia a dia Pra poder chegar o dia que prevaleça respeito, igualdade e esperança.” Letra da musica Quebrada Queer. MAIO 2019 QUEER 9


Literatura QUEER (William S. Burroughs) “As razões para eu ter escrito Queer foram mais complexas, e até hoje elas não estão claras para mim. Por que eu teria desejado fazer um relato tão detalhado dessas lembranças extremamente dolorosas, desagradáveis e dilacerantes? Eu escrevera Junky enquanto sentia estar sendo escrito por Queer. O esforço servia também para garantir que eu continuaria a escrever no futuro, ou seja, e para que fique bem claro: a escrita como vacina. No momento em que se escreve algo, ele perde o poder de surpreender, exatamente como um vírus que se vê em desvantagem quando, enfraquecido, tiver proporcionado o surgimento de anticorpos alertas. Assim, botando a experiência no papel, eu adquiria alguma imunidade contra outras perigosas empreitadas do tipo” (pág.120) Lee, como Burroughs se refere na obra, convida Allerton para uma busca de uma planta chamada “yage”, da qual ouviram dizer que um cientista colombiano extraiu uma droga chamada telepatina, capaz de aumentar a sensibilidade telepática. Algo como manipulação mental. Ter o poder de fazer com que a outra pessoa, através de seus pensamentos, faça o que você quer que ela faça. Não é muito difícil imaginar por que Bill a desejava tanto, e conseguiu convencer Allerton a uma busca pela America do Sul, passando pelo Panamá e indo ao Equador. Queer é uma grande obra. Te transmite os aborrecimentos do autor a ponto de te deixar aborrecido, e já vimos aqui os motivos de ter sido escrito assim. Mas aos interessados pela vida no mínimo peculiar que levou William Burroughs e por sua mente intrigante, vale à pena. Não foi à toa que “Bill” foi um mentor e guia para Kerouac, Ginsberg entre outros. Sua mente era intrigante. Sua busca por “yage” neste livro é um dos exemplos de como ele tinha a capacidade de se mostrar interessante ao ser tão experimental e além de seu tempo. Embora soe um pouco fora da casinha demais, Burroughs era extremamente inteligente e intenso, e foi esta intensidade para a vida que, no que se diz respeito a paixão, também lhe roubava todas as suas energias por mergulhar tão profundamente no que lhe despertava desejo. Lee, como Burroughs se refere na obra, convida Allerton para uma busca de uma planta chamada “yage”, da qual ouviram dizer que um cientista colombiano extraiu uma droga chamada telepatina, capaz de aumentar a sensibilidade telepática. Algo como manipulação mental. Ter o poder de fazer com que a outra pessoa, através de seus pensamentos, faça o que você quer que ela faça. Não é muito difícil imaginar por que Bill a desejava a uma busca pela America.

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Cinema A Garota Dinarmaquesa

(David Ebershoff)

The Danish Girl (A Garota Dinamarquesa, no Brasil) é um filme de drama biográfico de 2h (tendo sua estreia no Brasil em 11 de fevereiro de 2016). Foi dirigido por Tom Hooper, com atuação de Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Matthias Schoenaerts, Ben Whishaw, Amber Heard, Sebastian Koch, entre outros. O filme é biográfico e conta a história da primeira mulher transexual a se submeter a cirurgia de mudança de sexo. O filme tem seu iníco com Gerda e Einar na apresentação das obras de Einar – ambos são pintores. Gerda pinta retratos, enquanto Einar, paisagens.

RESENHA

“Era isso o que eu queria retratar em Lili: o amor e o autoconhecimento.” -Eddie Redmayne

A história de Lili Elbe é admirável: nascida com um corpo masculino, ela decidiu se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo para ajustar seu físico à sua identidade feminina – isto em 1930, quando tinha 48 anos de idade, tornando-se uma das primeiras pessoas a passar pelo procedimento. Uma pioneira, portanto. Porém, ao contrário do que pode parecer, A Garota Dinamarquesa não é um filme sobre Lili, mas sobre a pintora Gerda Gottlieb, que foi sua esposa por 26 anos. Sim, vivida por Alicia Vikander, indicada a vários prêmios como Atriz Coadjuvante pelo filme no qual é claramente a protagonista, Gerda inclusive dá título ao longa, já que é a ela que alguém se refere como “garota dinamarquesa” na única vez em que a expressão é mencionada – e, da mesma maneira, é ela quem abre e fecha a narrativa, sendo também quem atravessa seu principal arco dramático. Com isso, o projeto (baseado em um livro igualmente controverso de David Ebershoff) transforma Lili em simples motivadora das mudanças vividas pela companheira, o que é, no mínimo, uma pequena traição à sua jornada. MAIO 2019 QUEER 11


Poucas Cinzas Poucas cinzas (Little Ashes) conta a história de três amigos, desde que se conheceram até a morte de um deles. O poeta Federico García Lorca (Javier Beltrán) e o cineasta Luis Buñuel (Matthew McNulty) já se conheciam na universidade em Madrid, quando um tímido e espalhafatoso Salvador Dalí (Robert Pattinson) chegou à cidade, com ambições muito claras sobre sua arte em tela e pincel. Em meio à efervescência cultural do pós primeira grande guerra, em 1922, o que ressalta nos 122 minutos de filme, porém, é a relação homossexual entre os três. Mais intensa entre Lorca e Dalí. A história acaba em 1936, quando as forças franquistas tomam conta da Espanha e tem início a guerra civil. Lorca, engajado contra o fascismo, é assassinado.

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Salvador Dali, apaixonado, mas sempre reticente em viver plenamente e expor seu amor pelo poeta, surta. Continua sua vida salva apenas pela arte, ao lado de Gala (Arly Jover), uma mulher que conheceu quando ainda era casada. Talvez tenha encontrado uma mãe. Dormiam em quartos separados, levavam uma relação simbiótica em que o sexo pode ter sido excluído por cheirar a incesto. Esta foi a impressão que tive. O relacionamento entre Lorca e Dalí antes de ter sido homossexual, até porque o sexo desaparece, dando muito mais espaço à homoafetividade, foi entre dois homens que se amaram. Lorca revela a bissexualidade latente, quando tem relações sexuais com uma amiga apaixonada.



SEX EDUCATION “A SÉRIE FALA SOBRE MUITO TABUS” Texto de Viar Agum

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Sex Education conta a história de Otis (Asa Butterfield), um adolescente virgem que tem problemas para se masturbar e cresceu com a mãe, que é terapeuta sexual. O personagem se junta a Maeve (Emma MacKey) para abrir uma clínica na escola, onde Otis dá conselhos sexuais aos alunos de seu colégio em troca de dinheiro. A série não demora para fisgar quem a assiste, mesmo não entrando na trama principal logo de cara, a direção de Ben Taylor, que cuida dos primeiros quatro episódios, sabe apresentar os personagens e desenvolver todos os seus problemas. Além de Taylor, os últimos quatro episódios são dirigidos por Kate e seu colégio em troca de dinhei

O roteiro e a direção trabalham em conjunto, a série sabe equilibrar o tom cômico com o drama, sabendo disponibilizar um pouco em cada momento, a supervisão da criadora Laurie Nunn é ótima e mantém a série nos trilhos certos o tempo todo. São poucos os momentos em que a série comete algum pequeno deslize.

A abordagem dada ao tema principal da série é trabalhada de maneira divertida e ao mesmo tempo com veracidade, seu timming cômico é excelente, mas ela sabe quando parar para dar espaço ao drama dos personagens, criando assim personagens com personalidade. Não há sequer um personagem unilateral aqui, todos tem o que dizer e fazer a favor da tram


Falar sobrer sexo ainda é tabu em conjunto, a série sabe equilibrar o tom cômico com o drama, sabendo disponibilizar um pouco em cada momento, a supervisão da criadora Laurie Nunn é ótima e mantém a série nos trilhos certos o tempo todo. São poucos os momentos em que a série comete algum pequeno deslize. A abordagem dada ao tema principal da série é trabalhada de maneira divertida e ao mesmo tempo com veracidade, seu timming cômico é excelente, mas ela sabe quando parar para dar espaço ao drama dos personagens, criando assim personagens com personalidade. Não há sequer um personagem unilateral aqui, todos tem o que dizer e fazer a favor da trama. O roteiro e a direção trabalham em conjunto, a série sabe equilibrar o tom cômico com o drama, sabendo disponibilizar um pouco em cada momento, a supervisão da criadora Laurie Nunn é ótim

““O sexo precisa ser discutido como algo natural. O que acontece hoje em dia, principalmente nas escolas, quando há espaço, é uma educação sobre o uso da camisinha e das doenças transmissíveis. O sexo em si é colocado como algo perigoso e que te traz um prejuízo, que é a gravidez”, - Emma Clhoe “ O que seu filho quer e aquilo que você acha que é certo, muitas vezes pode ser muito conflitante” -Oknwa Gun

O roteiro e a direção trabalham em conjunto, a série sabe equilibrar o tom cômico com o drama, sabendo disponibilizar um pouco em cada momento, a supervisão da criadora Laurie Nunn é ótima e mantém a série nos trilhos certos o tempo todo. São poucos os momentos em que a série comete algum pequeno deslize. A abordagem dada ao tema principal da série é trabalhada de maneira divertida e ao mesmo tempo com veracidade, seu timming cômico é excelente, mas ela sabe quando parar para dar espaço ao drama dos personagens, criando assim personagens com personalidade. Não há sequer um personagem unilateral aqui, todos tem o que dizer e fazer a favor da trama. O roteiro e a direção trabalham em conjunto, a série sabe equilibrar o tom cômico com o drama, sabendo disponibilizar um pouco em cada momento, a supervisão da criadora Laurie Nunn é ótim

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