GUIA DEFINITIVO
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Meus enormes agradecimentos aos amigos que me ajudaram a revisar este guia – principalmente ao Robberto Cuffia, que se dispôs a fazer um incrível e minucioso trabalho de revisão, mesmo que o tempo não estivesse a seu favor; e ao Rafael Delerue, por apontar os momentos em que minhas ideias ou escrita ainda precisavam ser trabalhadas. Também gostaria de agradecer ao Guto Pereira e ao Paulo Mário pela ajuda na resolução de diversas dúvidas técnicas e ao Athos Carvalho pela colaboração na revisão. Sem todos eles, o resultado teria sido muito diferente.
PA R A C O M E Ç A R
A música sempre foi algo muito presente em minha vida, e a apreciação da qualidade da reprodução foi consequência. Essa busca pela qualidade remete à minha infância, quando eu pegava o fone do discman da minha mãe porque já notava a superioridade em relação ao meu. Na adolescência, comecei a fazer os primeiros investimentos em sistemas com foco na fidelidade sonora. Desde então, tive a oportunidade de experimentar muitas coisas e aprendi muito. O objetivo deste guia é passar aos iniciantes e entusiastas um pouco do que aprendi sobre o mundo da audiofilia. Embora em meu blog já existam artigos sobre vários dos assuntos abordados aqui, alguns leitores sugeriram que eu o expandisse e transformasse num formato livre das restrições de um blog. Tenha em mente, porém, que tudo o que está escrito aqui é a minha visão, e não deve ser encarado como uma verdade inquestionável – afinal estamos falando de um hobby em que a subjetividade exerce papel central. Por isso, minha maior recomendação é que o leitor procure também outras fontes de informação além deste guia. Existem diversos sites de ótima qualidade para aqueles que desejam entrar nesse mundo, como o InnerFidelity e o Headfonics e fóruns como o Head-fi, o SuperBestAudioFriends e Head-Case. Cabe lembrar que o leitor deve estar atento e armado de senso crítico, pois infelizmente interesses comerciais, misticismos, achismos e falsas verdades prosperam no hobby. Espero que sua leitura seja proveitosa e que eu possa dar de volta à comunidade pelo menos um pouco do que ela me deu. Um grande abraço! Leonardo Drummond
SUMÁRIO Componentes de um sistema
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Estabelecendo seus objetivos
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Comprando equipamentos
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Parte I – O Fone Visão geral
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Tipos físicos de fones
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Tipos de alto-falantes
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Outras características
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E agora? Qual escolher?
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Recomendados
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Cuidados com o fone
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O burn-in
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Especificações de fones
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Próximas etapas
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Parte II – A Fonte Visão Geral
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Formatos de arquivos
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Escolhendo um DAC
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Recomendados
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E o vinil? Ele é melhor mesmo?
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Parte III – A Amplificação Visão geral
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Escolhendo um amplificador
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Recomendados
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Sugestões de sistemas
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Audiofilia portátil Visão geral
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Player high-end ou sistema modular?
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Recomendados
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Cabos?
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Bônus: Fones lendários
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A busca à fidelidade total
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Glossário de termos
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COMPONENTES DE UM SISTEMA
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Todo sistema é composto por três componentes básicos: FONTE - AMPLIFICADOR - TRANSDUTOR
A fonte é o equipamento
O amplificador, por sua
Transdutor é o que
responsável por gerar um
vez, é o equipamento
transforma um tipo de
sinal elétrico de acordo
que amplifica esse sinal
energia em outra. No caso
com uma mídia, que
elétrico de forma que ele
de sistemas de som, alto-
contém uma gravação.
tenha “força” suficiente
-falantes (tanto de fones
para mover o transdutor,
quanto de caixas de som)
reproduzindo o conteúdo
são transdutores porque
da mídia com volumes
transformam a energia
satisfatórios, dependendo
elétrica proveniente do
das exigências do ouvinte
amplificador em energia
e das limitações de seu
mecânica, ou seja,
equipamento.
vibrações que, através do
Por exemplo, na mídia que denominamos disco de vinil, os sinais elétricos são extraídos a partir do atrito entre a agulha do toca-discos e as elevações nos sulcos do disco.
ar, são percebidas por nós como som.
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Não existem equipamentos perfeitos nem uma solução única de sistema de som que sirva para todos. Guardadas as devidas proporções, montar um sistema não é tão diferente de comprar um automóvel: não há um carro perfeito que magicamente se enquadra nas preferências de todos. Se você é uma pessoa solteira que quer simplesmente se locomover com estilo e rapidez, um carro esportivo de dois lugares pode ser uma boa pedida. Para alguém que faz parte de uma família, com filhos, uma minivan pode ser opção mais apropriada. Mas se ela quiser algo mais luxuoso e se dispuser de mais capital, talvez um grande SUV de 7 lugares seja mais interessante. Da mesma forma, um executivo que possui motorista particular seria muito bem servido por um sedã grande e quem gosta de se aventurar por trilhas não tem outra opção senão um automóvel com tração nas 4 rodas. Com um sistema de som a ideia é semelhante; tudo depende do que você busca e das circunstâncias nas quais quer usá-lo. Se quiser uma solução de alto desempenho para ouvir em casa, é possível pensar num bom sistema de mesa, com fonte e amplificação dedicados. Mas que fonte seria essa? Depende da mídia, naturalmente. Caso possua uma vasta coleção de vinis, um toca-discos é a escolha a ser feita. Mas se possui apenas CDs, um CD player será necessário. Caso use um misto de CDs e arquivos digitais num computador, o ideal é um DAC (conversor digital-analógico) e um transporte qualquer. Se só ouvir num computador, apenas um DAC será o suficiente. Para aqueles que simplesmente querem um bom fone de ouvido para trajetos diários e para eventualmente ouvir em casa, sem ter que se preocupar com equipamentos adjacentes, há inúmeras opções de bons supra-aurais fechados ou intra-auriculares que trarão um ótimo desempenho ligados em basicamente qualquer smartphone. A questão, portanto, é ter em mente o que buscamos para que possamos escolher a melhor opção que se enquadra não só dentro do orçamento disponível, mas também das circunstâncias de uso e – não menos importante – do nosso gosto pessoal em termos de sonoridade. Uns preferem que essa sonoridade seja divertida e energética; outros, algo mais doce e eufônico; já outros, uma apresentação mais analítica e detalhista, e por aí vai. Assim, o primeiro passo na montagem de um sistema é refletir quais são seus objetivos: onde você irá ouvir música, com que frequência, quanto está disposto a gastar. Só tendo ciência de suas necessidades é que será possível definir a melhor solução para você.
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E S TA B E L E C E N D O S E U S O B J E T I V O S
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C O M P R A N D O E Q U I PA M E N T O S
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Não é surpresa que moramos num país desfavorável para a compra de produtos eletrônicos. E se considerarmos que aqui estamos falando de produtos de nicho, a situação piora consideravelmente. Existem poucas marcas de fones com representação oficial no Brasil (Sennheiser, Philips, AKG e FiiO são exemplos), e consequentemente, para hobbistas, a importação acaba sendo a melhor opção. Por isso, nos trechos em que falo sobre os equipamentos recomendados, muitos preços estão em dólar. Quando você faz alguma compra em um site, geralmente o pagamento é feito diretamente por cartão de crédito internacional ou, em vários casos, usando um serviço de pagamento terceirizado como o PayPal. Na sua fatura do cartão será cobrado o valor do produto utilizando uma taxa de conversão pelo valor do dólar de turismo, que é maior que o dólar comercial. Além disso, também será cobrado IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras, que é de 6,38%. Prosseguimos então para o método de envio, que precisa ser escolhido com muita atenção. Observe que existem dois métodos básicos para o envio de encomendas: serviços públicos de postagem, como os Correios no Brasil ou o USPS nos Estados Unidos, ou transportadoras comerciais (também conhecidas como empresas de courrier), como as nacionais Braspress e JadLog, ou internacionais, como FedEx, UPS ou DHL. O processo de envio é diferente entre os dois métodos, e como as transportadoras comerciais, apesar de mais confiáveis e simples, são mais caras, é mais comum que os envios sejam feitos pelos serviços públicos. Nesses serviços postais públicos, as coisas são um pouco complexas. O grande problema para quem mora no Brasil é o processo através da Receita Federal, que não hesita em cobrar impostos, atrasar meses na liberação das encomendas ou simplesmente extraviálas. Por isso, é imprescindível que seja escolhido um método de envio que possua rastreio, como o Priority Express, por exemplo, no caso de uma encomenda enviada pela USPS. Geralmente, no ato da compra o site informa quais métodos têm rastreio. Caso contrário é possível entrar no site do serviço postal e verificar quais são os tipos e quais têm essa ferramenta. Note que o prazo de entrega estipulado pelo serviço (por exemplo, o Priority Express é de 3 a 5 dias) é para o item chegar ao país – o que acontece depois disso, como a fiscalização alfandegária, costuma demorar muito mais. Essas encomendas enviadas por serviços postais nacionais chegam ao Brasil e são encaminhadas diretamente a uma central para fiscalização da Receita Federal, que vai fiscalizar a encomenda tendo em vista o valor declarado. Quando uma loja ou uma pessoa envia algo, ela é obrigada a preencher um formulário destinado à Receita, no
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qual descreve o conteúdo do pacote e o valor para que o objeto seja inspecionado. Uma observação: pela lei, somente encomendas de pessoa física para pessoa física abaixo de 50 dólares estão isentas de tributação; então, qualquer compra numa loja ou qualquer objeto que custe mais de 50 dólares (mesmo se for enviado por pessoa física) é passível de tributação. Vale lembrar que a RF também pode cobrar impostos sobre o frete, e quase todos os fretes com rastreio já custam mais de 50 dólares. Então, se algum parente seu enviar uma caixa de fósforos por USPS Priority Express, você provavelmente vai ter que pagar impostos. Ou seja: em compras internacionais, considere os impostos no seu orçamento para evitar surpresas desagradáveis. A RF, então, cobra 60% de impostos sobre o valor que está declarado no pacote e, normalmente, sobre o frete, que também vai discriminado nesse formulário. Existem alguns estados em que também é cobrado o ICMS, então neles a taxa de impostos fica próxima dos 100%. Em alguns casos a Receita aceita o valor declarado, mas em outros os fiscais abrem a encomenda e verificam se o produto é compatível com o valor que foi declarado. Se acharem que não é, estipulam um valor qualquer e cobram em cima dele. Existem raros casos em que a encomenda não é fiscalizada e passa direto sem impostos, mas não conte com isso. São casos cada vez mais raros. Depois da fiscalização e da emissão da nota fiscal para tributação, a encomenda é enviada para os Correios, que a deixam numa agência próxima à sua casa e enviam um telegrama pra você quando ela estiver disponível para retirada. Você então vai à agência e recebe a nota com a cobrança dos impostos. Se a RF tiver contestado o valor declarado e cobrado a mais (mais do que você efetivamente pagou pelo item), você pode pedir uma revisão. Nesse caso você não retira a encomenda, pega uma carta de revisão específica na própria agência, preenche, e anexa a ela uma cópia da página do site no qual a encomenda foi comprada, mostrando o preço, e também uma cópia de sua fatura do cartão de crédito mostrando o valor que realmente pagou. Esse processo dura mais ou menos um mês e eles podem aceitar o seu pedido e diminuir a cobrança ou não. Se você não quiser retirar a encomenda por qualquer motivo, ou se você demorar muito para retirá-la (não sei o prazo exato), ela é enviada de volta ao remetente. Com as transportadoras, como FedEx, UPS e DHL, o processo é um pouco diferente: melhor agilidade e segurança, pior para o bolso. O processo de compra é o mesmo, mas os sites podem te dar a opção de fazer o envio
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por um serviço como esses, ao invés de serviços postais comuns do país. O que muda é que o envio é muito mais rápido, porque as encomendas não são enviadas à central da RF em São Paulo para enfrentar uma longa fila de fiscalização. O desembaraço alfandegário é feito no próprio aeroporto de chegada pela transportadora, como se eles estivessem trazendo um item de uma viagem, então é na hora. Eles entregam a encomenda na sua porta, dentro do prazo contratado. Então, se for um serviço de 3 dias, vai chegar em 3 dias na sua porta, e não em uma agência dos correios, se não houver contratempos. O problema: como se já não bastasse esses serviços serem muito mais caros (podendo ultrapassar facilmente os 150 dólares em itens pequenos), além dos impostos normais existem taxas como ICMS, taxa de desembaraço, Fundo de Combate à Pobreza e outras, então, no total, a taxa a se pagar chega a 100% do valor do produto ou mais. Mas muitas vezes vale a pena pela certeza de que você vai receber o item com segurança e em pouco tempo. Com serviços postais normais, é quase uma loteria. Vale observar, porém, que além de com transportadoras a taxação ser certa (a possibilidade de uma encomenda passar sem fiscalização é inexistente), ainda existe a chance de a Receita contestar o valor, apesar de ser mais raro. Quando isso ocorre, geralmente a transportadora entra em contato com você por e-mail e telefone, explica a situação e pede que você envie para eles por e-mail uma cópia do site em que comprou o produto e da fatura do cartão de crédito, assim como no caso dos serviços postais comuns. Mas aqui o processo também é mais rápido, e geralmente a liberação é feita no mesmo dia que você enviar esse e-mail (ao contrário dos 30 dias dos serviços postais comuns) e a encomenda segue novamente para você muito rapidamente. Veja, porém, que se a Receita contestar o valor e você não tiver como provar o valor pago, ou então se admitir que o valor declarado é de fato menor que o que pagou, é caracterizado um crime passível de multa. Nesses casos, é frequente que a Receita cobre os 100% de impostos mais 100% de multa.
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PA R T E I - O F O N E
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VISÃO GERAL
Neste guia, vamos começar pelo item mais importante da cadeia: o fone. A questão é que esse componente é o que mais surte influência no resultado final e, por consequência, geralmente é o que norteia a escolha dos outros equipamentos. Ou seja: o amplificador e o DAC, se necessários, devem ser escolhidos em função do fone. Existem diversos tipos de fones de ouvido: circunaurais, supra-aurais, intra-auriculares, abertos, fechados, dinâmicos, eletrostáticos... Cada tipo possui vantagens e desvantagens, e o que irá definir qual será mais apropriado são as situações e ambientes em que esse fone será usado. Por exemplo, para uma pessoa que usa o fone somente em casa, um headphone circunaural aberto talvez seja o ideal. Já para quem quer algo discreto para usar na rua, um intra-auricular ou um supra-aural fechado talvez sejam mais interesantes. Outra questão que deve ser observada são os requisitos dos fones. A grande maioria deles pode ser usada com smartphones, notebooks e tocadores mp3, mas conforme vamos chegando aos headphones mais sofisticados, as exigências aumentam e passa a ser interessante ou necessário que pensemos também em um amplificador dedicado e em uma fonte mais sofisticada. Aliás, mais uma vez, deixo claro que em minha opinião o fone é responsável por 80% ou 90% do resultado final, e por isso acho que o investimento deve ser concentrado nesse item. Amplificadores e fontes mais caros devem ser contemplados somente para fones mais pretensiosos, já que nos mais simples, os benefícios são mínimos ou inexistentes. Por exemplo, um Philips Fidelio X2 conectado a um celular ainda será muito superior a um Fidelio L2 ligado a um sofisticado sistema de mesa. Isso só passa a não ser mais verdade quando consideramos fones muito exigentes em termos de amplificação, como o HiFiMAN HE-6, que por vezes apresentam resultados medíocres se ligados a equipamentos não adequados. Nesta seção, vou começar explicando os tipos de fones existentes e, a seguir, darei exemplos de bons fones de cada tipo, assim como outras informações relevantes.
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TIPOS FÍSICOS DE FONES
Além das tecnologias de transdutores diferentes, fones possuem os mais diversos formatos físicos. Alguns são muito grandes; outros, muito pequenos; uns são abertos; e outros, fechados. Por mais que alguns tipos geralmente permitam que um desempenho superior seja atingido com mais facilidade, é difícil dizer que um é melhor que o outro, porque o juiz final será você, com as suas necessidades e preferências próprias.
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CIRCUNAURAIS
São também conhecidos como over-ear ou around-the-ear. São os fones que cobrem totalmente a orelha, com almofadas que se posicionam ao redor delas. A grande maioria dos fones mais sofisticados do mercado é desse tipo, tanto pelo conforto quanto por permitir que um trabalho mais extenso de acústica seja realizado, com câmaras melhor calculadas e falantes angulados. O problema fica por conta da conveniência. Circunaurais são geralmente muito grandes para serem usados em ambientes externos, apesar de haver alguns modelos desse tipo com um tamanho relativamente reduzido – como o Ultrasone Edition 8, o B&W P7, o Parrot Zik e o Beats Studio, por exemplo. Não que eles sejam pequenos, mas são bem menores que fones como o Sennheiser HD800 e podem perfeitamente ser usados de maneira portátil.
SUPRA-AURAIS
São também chamados de supra-auriculares ou, em inglês, de on-ear. São fones que ficam posicionados sobre as orelhas, e não em volta delas. A vantagem em relação aos circunaurais é o tamanho geralmente menor, o que favorece a portabilidade. Em compensação, não costumam ser tão confortáveis e, em grande parte dos casos, os falantes acabam ficando mais próximos dos ouvidos, o que pode prejudicar o palco sonoro – que, nos circunaurais, costuma ser melhor, apesar de haver excessões. Exemplos desse tipo de fones são os Grados das linhas Prestige e Reference, assim como a vasta maioria dos fones inclusos em discmans e toca-fitas das décadas de 1980 e 1990, antes da explosão dos auriculares.
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AURICULARES
Também chamados earbuds, são os tradicionais fones pequeninos inclusos em iPods e em grande parte dos mp3 players e celulares dos anos 2000, até a popularização dos intra-auriculares (ver abaixo). Além do tamanho extremamente reduzido, o que os difere de outros tipos de fone é o fato de eles repousarem na concha, na parte externa das orelhas. Isso significa que eles geralmente são confortáveis e convenientes, no entanto, não há qualquer isolamento de sons externos e o encaixe é superficial. A grande desvantagem desse tipo de fone é a qualidade do som. Fora algumas pouquíssimas exceções muito bem projetadas, normalmente o som deles é magro, estridente e sem graves – e quando eles existem, a extensão é muito ruim.
INTRA-AURICULARES
Os intra-auriculares, ou IEMs (In-Ear Monitors), são também fones muito pequenos, mas o que os difere dos auriculares é o fato de, com uma borracha ou espuma na ponta, vedarem totalmente o canal auditivo. O resultado é uma qualidade de som geralmente muito superior à dos auriculares: mais cheia e autoritária e com graves mais presentes, além de um isolamento de ruídos externos geralmente muito eficaz. Com esse tipo de fone, é possível alcançar níveis extraordinários de qualidade de som. Os intra-auriculares personalizados, ou custom IEMs (CIEMs), por exemplo, levam essa vedação a um novo patamar por serem confeccionados a partir do molde da orelha do usuário – e também usam, normalmente, diversos alto-falantes, especializados em faixas de frequência específicas. Assim, há um nível altíssimo de isolamento de ruídos externos e a possibilidade de uma belíssima qualidade sonora. O ponto negativo é o conforto: algumas pessoas simplesmente não gostam da sensação de terem algo introduzido no canal auditivo.
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ABERTOS
Os fones abertos, ou open-back ou, ainda, open-air, possuem a parte de trás do altofalante aberta. Quando um alto-falante vibra, ele o faz tanto para frente quanto para trás. Quando ele vai para trás, também gera som. Num fone aberto, esse som vai para fora, e consequentemente, dizemos que os fones abertos “vazam” som. Ou seja: quem estiver do seu lado vai ouvir claramente o que você está ouvindo e não há isolamento de ruídos externos significativo. A vantagem desse tipo de fone é que as reflexões de gabinete, que geram distorções, são reduzidas drasticamente, e por isso, em teoria, o som é mais limpo e o palco sonoro é mais amplo. A vasta maioria dos melhores fones do mundo são desse tipo. No entanto, devido ao vazamento de som e à carência total de isolamento, fones abertos são mais indicados para o uso em ambientes domésticos mais silenciosos.
FECHADOS
Já os fones fechados, ou closed-back, possuem a parte de trás do alto-falante totalmente fechada. Consequentemente, não há vazamento de som e o isolamento contra ruídos externos é melhor. Outra vantagem é que é naturalmente mais fácil conseguir graves extensos e profundos num fone fechado (considerando os fones com falantes dinâmicos, nos planar-magnéticos os abertos já apresentam graves fartos), apesar de eles, geralmente, não serem tão limpos, texturizados e naturais quanto nos abertos. Além disso, os fones fechados não costumam ser tão naturais quanto os abertos, devido às reflexões de gabinete, e o palco sonoro costuma ser menor.
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T I P O S D E A LT O - FA L A N T E S
Existem diversos tipos de transdutores em fones de ouvido: dinâmicos, planar-magnéticos, eletrostáticos e de armadura balanceada. Mais uma vez, cada tipo traz suas próprias características, que podem ser bem-vindas ou não.
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DINÂMICOS
São os falantes mais comuns do mercado, indicados para a maior parte dos aparelhos reprodutores devido ao baixo custo, à capacidade de atingir níveis muito altos de qualidade sonora e à enorme variedade de tamanhos disponível (podem ir de 5 mm a 850 mm). Por esses motivos, é o tipo mais popular de alto-falante; consequentemente, a vasta maioria dos amplificadores, com os quais eles devem interagir, são compatíveis. Não existem aspectos negativos relevantes – talvez apenas a dificuldade de se conseguir uma boa extensão nos graves. O que pode ser dito é que alguns equipamentos, que têm como objetivo atingir níveis anormalmente fiéis de qualidade sonora, podem optar por outros tipos de alto-falantes, que são capazes de, em alguns aspectos, proporcionar uma qualidade ainda maior. Outra questão é o limite de tamanho – alguns equipamentos necessitam de opções ainda menores, como os de armadura balanceada. Em fones de ouvido full-size, em comparação aos que usam falantes eletrostáticos, eles possuem uma sonoridade mais autoritária, apesar de – fora pouquíssimas exceções, como Sennheiser HD800, Sony Qualia MDR-Q010 e SA5000 – perderem em transparência, velocidade e detalhamento. Já em relação aos planar-magnéticos, costumam apresentar uma sonoridade menos autoritária, com menor extensão nos graves, mas são mais desenvolvidos em termos de espacialidade e palco sonoro. Já em intra-auriculares, os falantes dinâmicos, quando comparados aos baseados em armaduras balanceadas mais simples, costumam apresentar uma personalidade mais espacial e coerente, com melhor extensão nos extremos, mas são menos transparentes e, frequentemente, menos equilibrados.
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Eles funcionam aplicando-se um sinal elétrico a uma bobina (azul), que fica imersa num campo magnético criado por um ímã (vermelho). Essa bobina é ligada a um cone (amarelo). A bobina, sob aplicação do sinal elétrico, se torna um eletroímã variável, que interage com o campo magnético do ímã no qual está imersa, fazendo com que ela se mova para frente e para trás – movendo, portanto, o cone ao qual está presa. Esse movimento causa uma perturbação no ar, que é percebida como som.
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ARMADURAS B A L A N C E A DAS
São geralmente referidas como BAs, sigla para balanced armatures. A vantagem em relação aos alto-falantes dinâmicos tradicionais é o tamanho muito reduzido. São geralmente usadas em pequenos fones de ouvido mais sofisticados e aparelhos auditivos. Naturalmente, porém, sua resposta de frequência é limitada nos extremos, o que é uma desvantagem – no entanto, essa característica é usada por fones intra-auriculares sofisticados a seu favor: um conjunto de armaduras balanceadas pode ser regulado para uma resposta de frequência resultante mais refinada e ajustada ao gosto do desenvolvedor, com o uso de um crossover (componente eletrônico que divide as faixas de frequência de um sinal áudio e envia cada parte para um determinado alto-falante, otimizado para essa faixa) e de uma quantidade específica de armaduras otimizadas para determinadas faixas de frequência. Os problemas são o alto preço e, como já dito, a resposta de frequência limitada, principalmente além dos extremos do espectro audível – 20 Hz e 16 kHz. Quando comparados a intra-auriculares dinâmicos, os mais simples (com uma ou duas BAs) costumam apresentar uma sonoridade mais centrada nos médios, com menos graves e agudos, porém geralmente são mais equilibrados e naturais, além de apresentarem maior transparência e detalhamento. No entanto, são menos espaciais e têm um palco sonoro menos desenvolvido. A situação muda quando as armaduras balanceadas são implementadas em projetos mais pretensiosos, com múltiplas peças, como em muitos in-ears personalizados. Nesses casos, eles conseguem atingir níveis altíssimos de qualidade sem grandes defeitos.
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As armaduras balanceadas são, basicamente, um falante dinâmico organizado de maneira diferente. Uma armadura (basicamente é uma vara de metal envolta por uma bobina) posicionada no meio de um ímã permanente, presa por um pivô, e conectada a um diafragma. A armadura é magnetizada com a aplicação de um sinal elétrico (como a bobina do alto-falante dinâmico), fazendo com que ela interaja com o campo magnético do ímã e rotacione levemente no pivô, movimentando o diafragma – que é como o cone do falante dinâmico e, ao se movimentar, movimenta o ar, gerando som.
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E L E T R O S TÁT I C O S
A parte móvel de um alto falante eletrostático – uma finíssima película – possui uma massa menor do que a de qualquer outro tipo de diafragma. Consequentemente, a distorção é consideravelmente menor do que a de falantes dinâmicos. Outra questão é que a ausência virtual de massa desse diafragma torna possível uma resposta de frequências impressionante, que vai muito além da audição humana, mas há vantagens: coloca a distorção da baixa faixa média bem acima do limite audível. Isso significa, em termos práticos, que a qualidade de som de um alto-falante eletrostático é potencialmente muito maior do que a de falantes dinâmicos, visto que a capacidade de resolução e resposta de frequência são muito mais altas e a distorção é mais baixa. O problema é que, por alguns motivos, a distância entre os eletrodos deve ser relativamente pequena, o que reduz a excursão do diafragma e, portanto, a quantidade de graves que o falante pode reproduzir. Ao mesmo tempo em que a extensão é para todos os efeitos práticos infinita, os fones eletrostáticos menos sofisticados possuem uma sonoridade mais leve, transparente e arejada, sem tanta autoridade – questão que inexiste, no entanto, nos expoentes mais pretensiosos dessa tecnologia. Para fones de ouvido, o maior problema dos alto-falantes eletrostáticos é o preço: são extremamente sofisticados e indicados apenas para aplicações nas quais a qualidade de som é buscada a qualquer custo, além da necessidade de um amplificador especial. Os fones eletrostáticos são, por natureza, muito mais transparentes, rápidos e com maior resolução do que praticamente todos os fones dinâmicos ou planar-magnéticos do mercado. Em termos de extensão, também se comportam de maneira exemplar. Os dois fones de ouvido considerados os melhores já produzidos, o Sennheiser HE90 e o Stax SR-009, são eletrostáticos. As únicas críticas feitas com alguma frequência referem-se a modelos mais simples, e é que não há tanta autoridade quanto os melhores dinâmicos ou planar-magnéticos.
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Um alto-falante eletrostático usa, como indica o nome, princípios eletrostáticos. Uma película excepcionalmente fina, geralmente de PET, é revestida por um material condutivo e suspenso entre dois eletrodos carregados com uma carga constante, que cria um campo eletrostático de altíssima voltagem (entre 480V e 550V), diferente de um campo magnético, como nos alto-falantes descritos anteriormente. Consequentemente, é necessário um tipo especial de amplificador (chamado energizer) para esse tipo de alto falante, que proporciona a tensão necessária para os eletrodos. Conforme um sinal é enviado à película, ela interage com o campo elétrico no qual está imersa e vibra, gerando som.
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PLANAR-MAGNÉTICOS
Também são chamados de ortodinâmicos ou isodinâmicos. Trata-se de um tipo de alto-falante que foi popular nas décadas de 1970 e 1980, e voltou com força ao mercado audiófilo nos anos 2000 com os modelos da HiFiMAN e da Audez’e. Eles são como um meio termo entre os dinâmicos e os eletrostáticos: possuem a organização destes com os princípios de funcionamento daqueles. O objetivo é aliar os pontos positivos de ambas as tecnologias – e, até certo ponto, ele é alcançado. O problema é que, devido à necessidade de um grande número de ímãs, os fones com essa tecnologia costumam ser consideravelmente pesados (alguns chegam a pesar mais de meio quilo), o que prejudica o conforto. Além disso, os fones atuais que utilizam essa tecnologia costumam ser caros. Os planar-magnéticos apresentam o “corpo” dos dinâmicos, porém com mais peso, extensão e autoridade nos graves – visto que, assim como os eletrostáticos, movem um filme por toda sua área – e uma transparência e capacidade de resolução mais próxima dos eletrostáticos. Contudo, esse tipo de fone costuma não ser particularmente compentente em termos de espacialidade. Nesse quesito, alguns dinâmicos proporcionam um resultado mais convincente.
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Pode-se dizer que os transdutores planar-magnéticos utilizam o arranjo dos eletrostáticos com os princípios magnéticos dos dinâmicos. Ao invés de eletrodos, eles possuem faixas de ímãs, que criam um campo magnético isodinâmico, e ao invés de filmes revestidos com material condutivo, apresentam um diafragma (filme) atrelado a serpentinas de condutores elétricos. O sinal elétrico de áudio é passado pelos condutores, criando um campo magnético que interage com o campo magnético isodinâmico criado pelos ímas. Dessa forma, o filme se movimenta para frente e para trás, movimentando o ar.
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OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Cancelamento ativo de ruídos São os tradicionais fones noise-cancelling. Alto-falantes se movem tanto para frente quanto para trás. Quando se movem para frente, é um som em fase; para trás, fora de fase. É o mesmo som, mas com fases opostas. É a partir daí que o cancelamento ativo de ruídos funciona: ele possui um microfone que capta os sons externos e, com um circuito interno, gera os mesmos sons, mas com fase invertida. Os que se recordam das aulas de física do ensino médio vão se lembrar que isso se chama interferência destrutiva de ondas: elas se cancelam, e o que resta é o silêncio. Em alguns aspectos, esse cancelamento é muito bom: ele de fato proporciona maior isolamento de sons externos, mas existem problemas. Primeiramente, não é possível, por questões técnicas, fazer com que o cancelamento funcione com todas as frequências – ele é mais efetivo com as baixas, como barulhos de avião, ônibus ou trem –, ou seja, ele funciona bem em algumas situações, mas não tanto em outras. O maior problema, porém, é que a existência desse circuito ativo, com amplificação própria e geração de sinal, traz distorções e a qualidade de som é comprometida. Geralmente, existem outros fones sem esse cancelamento ativo na mesma faixa de preço que possuem melhor qualidade sonora. Por último, por mais que o cancelamento seja eficiente, o isolamento proporcionado por bons intra-auriculares é superior, sendo capaz de trazer cortes muito mais significativos nos ruídos externos – com o benefício de não haver um circuito ativo que traz distorções e depende de alimentação por baterias, de ser mais conveniente e de não haver a sensação de pressão trazida por fones com o cancelamento ativo.
Sem fio É uma característica auto-explicativa: os cabos são substituídos por algum tipo de transmissão de sinal sem fio, que pode ser bluetooth, radiofrequência ou infravermelho. Apesar de serem extremamente convenientes, a transmissão sem fio potencialmente
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traz problemas na qualidade de som – e mesmo nos casos em que eles são contornados e o resultado é muito satisfatório (como na linha RS da Sennheiser ou nos Parrotz Zik), o preço acaba sendo alto. No entanto, os que buscam sobretudo qualidade de som e não se incomodam em conviver com um cabo têm opções melhores na mesma faixa de preço. Afinal, nos sem fio, paga-se não só pela qualidade de som, mas também pela tecnologia livre de cabos. Em compensação, esses fones são altamente convenientes, e para muitos isso é tão ou mais importante que a qualidade de som. Em situações nas quais queremos simplesmente uma forma fácil e conveniente de ouvir música, eles acabam sendo uma opção fantástica.
Multicanal Sendo curto e grosso: é melhor passar longe de fones desse tipo. Primeiramente, na maior parte dos casos o multicanal é apenas uma simulação. Afinal, o multicanal nada mais é do que o posicionamento de caixas de som em locais específicos – no caso de um 5.1, por exemplo, há uma caixa frontal central, duas frontais laterais, duas laterais traseiras e um subwoofer. É desnecessário dizer que isso é impossível de ser feito num fone de ouvido. Acredito que existam alguns fones que de fato possuam mais de um alto-falante para fazer o papel de cada caixa de som de um home theater multicanal, mas ainda assim é um posicionamento que em nada lembra um sistema de caixas de som desse tipo. Uma solução como essa sempre trará sérios problemas na qualidade de som. Além disso, o objetivo de um sistema multicanal de caixas é uma maior imersão e precisão no posicionamento de determinados sons – e isso é algo que bons fones de ouvido estéreo comuns fazem sem maiores dificuldades. Por isso – até mesmo para o público gamer – vale muito mais a pena procurar algum fone com um bom palco sonoro, como o AKG K701 e suas variantes ou o Audio-Technica AD700X. Eles apresentarão no mínimo a mesma precisão no posicionamento dos sons dos fones multicanal e, de quebra, serão consideravelmente superiores para ouvir música.
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E AG O R A? Q UA L E S CO L H E R ?
Depende. Agora, você já deve saber o que será mais apropriado no que diz respeito ao tipo físico do fone. Se quer algo portátil, é melhor optar por algum intra-auricular ou um bom supra-aural fechado. Para ouvir em casa e ter um desempenho mais interessante, sem ter que se preocupar com isolamento ou em incomodar alguém, geralmente os circunaurais abertos são a melhor escolha. Se você procura uma sonoridade mais energética e com graves fortes, normalmente os fones fechados são mais indicados, mas se quiser algo mais espacial e arejado, vá num aberto. Mas essas não são regras absolutas, e existem situações, embora raras, em que fones fogem dos estereótipos. Por exemplo, o Sony MDR-R10, um dos melhores fones já feitos, é um circunaural fechado; o Grado HP1000, detentor do mesmo título, é um pequeno supra-aural; e os intra-auriculares personalizados muitas vezes têm os predicados para rivalizar com os melhores headphones em diversos aspectos. Quanto à tecnologia dos alto-falantes, a situação é parecida. Apesar de haver algumas exceções, há características comuns em cada tipo. Em headphones até os quinhentos dólares os falantes dinâmicos são basicamente a única opção, mas nas categorias superiores é possível nortear a escolha de acordo com a sonoridade que se quer tendo em vista o tipo de transdutor. Para transparência extrema, arejamento e uma sonoridade rápida e precisa, os eletrostáticos geralmente são a melhor opção, como toda a linha Stax ou o Koss ESP950. Mas se o objetivo é uma apresentação com mais pegada ou mais divertida, com mais peso e autoridade, os planar-magnéticos devem ser considerados, como os Audez’e e os HiFiMAN. Já os melhores dinâmicos, como o Sennheiser HD800, não têm a mesma autoridade dos planar-magnéticos ou a transparência dos eletrostáticos, mas conquistam pela espacialidade mais desenvolvida e pelo posicionamento impecável dos instrumentos num amplo palco sonoro. No mundo dos intra-auriculares, se o objetivo for desempenho a qualquer custo, os personalizados com armaduras balanceadas são a escolha óbvia. Em faixas de preço menos pretensiosas, nos fones universais, pode-se escolher entre o peso, a diversão e a espacialidade dos dinâmicos ou a precisão e a naturalidade das armaduras.
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R E CO M E N DA D O S
Não tenho como listar todas as boas opções disponíveis no mundo dos fones de ouvido, tanto por falta de espaço quanto pelo fato de que não ouvi todos. Nesta seção, vou listar alguns poucos fones consagrados por suas qualidades, de diversos tipos e faixas de preço, mas tenha em mente que existem muitos outros excelentes fones. Outra questão a ser observada é que alguns dos fones listados infelizmente não são vendidos oficialmente no Brasil. Como já dito anteriormente, a importação é uma realidade comum para nós hobbistas.
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Superlux HD681 - R$130,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa Um fone que me impressionou pelo ótimo desempenho a um baixíssimo preço. Não é para todos, devido aos agudos excessivos, mas apresenta uma personalidade muito divertida e um ótimo palco sonoro. Outra questão é que não há bom isolamento e o conforto não é dos melhores, mas pelo preço, não dá para reclamar. Edifier H840 – R$160,00 Supra-aural dinâmico fechado: para casa e para uso portátil O Edifier H840 é um pequeno circunaural bastante discreto e barato, mas me surpreendeu muito positivamente pelo equilíbrio e naturalidade – é mais neutro, inclusive, que seu irmão mais sofisticado, o H850. Para os que buscam um fone natural sem gastar muito, o H840 é uma escolha óbvia. Grado SR80/i/e – US$99,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa A Grado é uma marca familiar reverenciada por entusiastas, e seus fones são frequentemente vistos como os melhores para rock, além de jazz e gêneros acústicos. São fones com uma personalidade nua e crua, energética e altamente musical. O SR80 e suas variações i ou e são uma belíssima introdução à marca. AKG K240 MKII - R$500,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa O K240 MKII não é um fone incrivelmente neutro, mas é musical, razoavelmente equilibrado, robusto e bem construído. Além disso, pode ser encontrado no Brasil com relativa facilidade, por preços que giram em torno dos R$500. A oferta no MercadoLivre é ampla, só tenha cuidado e escolha vendedores com boa reputação. Skullcandy Aviator - R$660,00 Supra-aural dinâmico fechado: para casa e para uso portátil Ao contrário de outros fones da marca, o Aviator não é só estilo. Trata-se de um fone confortável, cuja sonoridade é realmente divertida e energética. Além disso, pode ser encontrado no Brasil, mas não facilmente – e infelizmente o preço varia bastante, mas já saiu em promoções por aproximadamente 500 reais.
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Audio-Technica AD700X – US$120,00 Circunaural dinâmico aberto: para gamers e para casa Um dos melhores fones do mercado para gamers que não querem assaltar um banco. Sua personalidade analítica e bom palco sonoro permitem a fácil localização de sons. O problema é que para música acaba sendo analítico demais, então se for possível esticar um pouco o orçamento, o AKG Q701 pode ser melhor. Sennheiser HD598 – US$150,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa O Sennheiser HD598 é uma das melhores escolhas para aqueles que buscam um primeiro fone aberto de alto nível. Ele se posiciona imediatamente abaixo do HD600 e mantém muito de sua personalidade relaxada e relativamente neutra, além de ser bem construído, confortável e de não ser tão exigente com amplificação. Audio-Technica ATH-M50X - US$165,00 Circunaural dinâmico fechado: para casa e para uso portátil Para muitos, o fone definitivo: relativamente barato, absurdamente robusto, baixa necessidade de amplificação, confortável, ótimo isolamento e, para completar, sonoridade muito competente e divertida. Só se deve ficar atento às versões e seus respectivos cabos, porque o cabo em mola não é muito bom para uso portátil. AKG Q701 - US$189,95 Circunaural dinâmico aberto: para casa e para gamers O AKG Q701 é uma versão esteticamente modificada e montada na China do K701/2, fone profissional da AKG feito para competir em pé de igualdade com os Sennheisers HD600/650, mas por menos de 200 dólares. O porém fica por conta da sonoridade mais fria, que não é para todos, e da necessidade de amplificação. Philips Fidelio X2 - US$299,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa Um dos fones que está firmando os dois pés da Philips no mercado audiófilo. Existem pouquíssimas situações em que eu não recomendaria o X2 frente a qualquer outra opção em sua faixa de preço. Ele é realmente espetacular e bate de frente com opções de marcas mais consagradas. Pena não ser vendido no Brasil (ainda).
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V-Moda M-100 – US$310,00 Circunaural dinâmico fechado: para casa e para uso portátil O fone definitivo para quem quer se divertir com música eletrônica, rock, hip-hop, pop e outros gêneros modernos. É atraente, personalizável, construído como um tanque, confortável e tem ótimo isolamento. Seu único problema é que não é vendido oficialmente no Brasil. Sennheiser HD 25-1 II - R$1.599,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa e para uso portátil Esqueça o que a Beats diz: este é o fone mais utilizado por DJs no mundo todo. Robusto, compacto, com ótimo isolamento, todas as suas partes são substituíveis pelo próprio usuário e, por fim, possui uma sonoridade deliciosamente energética e divertida, porém equilibrada. O único porém é o visual simples demais. Parrot Zik/Zik 2.0 - R$1.999,90 e US$399,00 Circunaural dinâmico fechado bluetooth: para uso portátil Fones
bluetooth
funcionalidades.
convenientes, Em
termos
confortáveis
sonoros
e
ambos
fartos são
de
muito
competentes, mas o Zik original conta com uma apresentação mais doce e eufônica e o 2.0 é mais refinado, transparente e aberto. Os problemas são a bateria e o desempenho passivo com fio. Sennheiser HD600/650 - US$399,00 e US$499,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa Antigos topos de linha da Sennheiser, hoje estão no mid-fi. O HD600 ainda é um exemplo de neutralidade, já HD650 é um pouco mais eufônico e relaxado. Considero-os barganhas do mundo audiófilo, por serem fones com excelente timbre e tonalidade, que simplesmente desaparecem na cabeça: é você e a música. Grado RS1/i/e – US$695,00 Circunaural dinâmico aberto: para casa Com exceção do lendário HP1000, fora de produção há mais de uma década, o melhor Grado em minha opinião é o RS1. É um fone que leva a personalidade crua, direta, transparente e agressiva da Grado a toda a sua glória. Em minha opinião, esse é o melhor fone para rock clássico já feito. Também é fantástico para jazz.
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HiFiMAN HE-400i/HE-560/HE-6 - de US$300,00 a US$1.299,00 Circunaurais planar-magnéticos abertos: para casa Os fones da HiFiMAN apresentam uma sonoridade relativamente próxima dos Audez’e por usarem a mesma tecnologia, porém os modelos HE-560 e o HE-6 são menos calorosos e talvez um pouco mais neutros. O HE-400i é mais fechado e eufônico, e em promoções é uma barganha, a 300 dólares. Audez’e LCD-2/LCD-X/LCD-XC – de US$995,00 a US$1.799,00 Circunaurais planar-magnéticos abertos e fechado: para casa A Audez’e, junto com a HiFiMAN, foi responsável pela volta dos planar-magnéticos ao mercado. Apesar dos problemas de peso e conforto, os fones da marca são conhecidos pela sonoridade autoritária, rápida e prazerosa. O LCD-2 é o mais barato (mas excelente), o LCD-X o mais neutro e o LCD-XC, o fechado. Sennheiser HD800 - US$1.499,95 Circunaural dinâmico aberto: para casa Possivelmente o melhor fone dinâmico produzido atualmente, com o melhor palco sonoro já visto nos fones de ouvido desde o AKG K1000. O problema é que ele é um pouco analítico, e não se dá bem com gravações que não possuam qualidade impecável e necessita de amplificador e fonte sofisticados. Stax SR-007 – US$1.800,00 Circunaural eletrostático aberto: para casa Foi por muito tempo o topo de linha da Stax, fabricante japonesa de fones eletrostáticos, e permanece como um dos melhores fones de ouvido já fabricados. Possui uma personalidade muito natural, tendendo um pouco para o lado eufônico. O problema é o preço e a necessidade de amplificadores específicos, também caros. Stax SR-009 – US$3.500,00 Circunaural eletrostático aberto: para casa Ao menos até a recente introdução do novo Orpheus, é considerado pela maioria dos entusiastas como o melhor fone à venda atualmente, e o único que consegue disputar com o antigo Orpheus o título de melhor fone já feito. É mais neutro e aberto que o SR-007, com personalidade um pouco mais analítica.
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Philips SHE3900 – R$30,00 Intra-auricular dinâmico: para uso portátil O Philips SHE3900 é um fone muito barato, mas bem interessante e que pode ser um bom upgrade dos fones inclusos em alguns celulares. É razoavelmente equilibrado e se não impressiona, também não ofende. Indicado para aqueles que simplesmente querem um fone competente sem gastar muito. SoundMagic E10 – US$35,00 Intra-auricular dinâmico: para uso portátil Uma boa construção em metal geralmente não é o que se espera de um in-ear de 35 dólares, mas é exatamente isso que o E10 traz, aliada a uma apresentação equilibrada e bem detalhada. É por esses motivos que o E10 ganhou quatro vezes o prêmio de melhor em sua categoria na revista What Hi-Fi. Audio-Technica IM50 – US$55,00 Intra-auricular dinâmico: para uso portátil O IM50, ao contrário do que o nome parece indicar, não é bem a tentativa de uma versão intra-auricular do ATH-M50. Enquanto este é energético e autoritário, aquele encanta pela personalidade altamente romântica e eufônica, surpreendente pelo preço. Não é um fone para divertir, mas para gêneros calmos, é incrível. Bose MIE2i – R$499,00 Intra-auricular dinâmico: para uso portátil A Bose não é muito bem vista no mercado audiófilo, mas o MIE2i me surpreendeu por ser, ao contrário do que eu esperava da marca, muito equilibrado e natural – infinitamente melhor que seu precursor, o IE. A única questão que merece a atenção é que o MIE2i não é um in-ear, e sim um auricular, então não há isolamento. Yuin PK1 – US$155,00 Auricular dinâmico: para uso portátil Muitas pessoas não se acostumam à sensação de ter algo inserido nos ouvidos, e, se headphones forem inconvenientes demais, os auriculares são a única opção. E o melhor auricular do mercado, apesar do visual digno de piadas para um fone desse preço, é o Yuin PK1. Bem, pelo menos você não será roubado.
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Jaybird X2 Wireless – US$179,99 Intra-auricular dinâmico bluetooth: para uso portátil Os fones bluetooth chegaram para ficar, e agora também estão disponíveis na forma de intra-auriculares. Os Bluebuds X originais me surpreenderam por serem ótimos in-ears, mesmo comparados a intra-auriculares com fio na mesma faixa de preço. A nova versão, os X2, tem tudo para continuar a boa tradição. Xtreme Ears Xtreme ONE – R$999,00 Intra-auricular de BAs: para uso portátil Quando ouvi o ONE pela primeira vez, não gostei muito, porque praticamente não havia extensão nos agudos. Desde então, o fone foi atualizado e agora conta com filtros removíveis. Ele se transformou, e hoje em dia é um dos universais dos quais mais gosto – me lembra muito o HD600, um elogio dos maiores. JH Audio JH5 Pro – US$399,00 Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil O fone mais barato da JH Audio soa de todos os jeitos, menos barato. Assim como o JH13 Pro, possui uma personalidade camaleônica que se adequa igualmente bem a basicamente qualquer gênero musical. Como todos os fones personalizados, são confortáveis e têm ótimo isolamento, ao preço de um universal. Westone W40 – US$499,00 Intra-auricular de BAs: para uso portátil Há alguns anos, eu não havia encontrado nenhum universal que eu considerasse sem defeitos evidentes, algo que só encontrava nos customs. Mas fones como o W40 mudaram esse cenário. É um fone fantástico, muito equilibrado e que consegue brigar em pé de igualdade com customs como o JH5 Pro. Shure SE846 – US$999,00 Intra-auricular de BAs: para uso portátil O melhor intra-auricular universal que já ouvi, e que bate de frente com alguns dos mais consagrados IEMs personalizados do mercado. Natural, quente, autoritário e detalhado, há muito pouco do que reclamar do SE846. E a grande vantagem em relação aos customs é a simplicidade e a facilidade na revenda.
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JH Audio JH13 Pro – US$1.099,00 Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil O fone que mais contribuiu para a proliferação dos intra-auriculares personalizados. É um camaleão: extremamente divertido e autoritário, porém transparente e refinado. O JH13 Pro tem os predicados para desbancar muitos full-size sofisticados, e para isso não precisa de mais do que um celular. Unique Melody Miracle – R$3.590,00 Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil É um pouco como o JH13 Pro, porém mais neutro: há menos peso nos médio-graves e mais presença nos agudos. Consequentemente, é um pouco mais seletivo em termos de gêneros musicais, mas para os que buscam neutralidade, é uma opção fantástica. Unique Melody Mentor – R$4.050 univ. e R$4.900 pers. Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil Topo de linha da Unique Melody, com 10 drivers de armadura balanceada por lado. considero-o melhor que o JH13 PRO pré-freqphase, por ser mais transparente porém, ao mesmo tempo, extremamente doce. Outro aspecto muito positivo é o fato de haver representação da marca no Brasil, com preços competitivos. Xtreme Ears XE8/Pro – R$4.600,00 Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil A Xtreme Ears é uma marca 100% brasileira de intra-auriculares personalizados que tem as armas para brigar com as grandes fabricantes internacionais. O XE8/Pro é o topo de linha, e conta com uma personalidade altamente energética, transparente, seca e equilibrada. JH Audio Roxanne – US$1.649,00 Intra-auricular personalizado de BAs: para uso portátil O melhor intra-auricular que já ouvi, mas não é para todos. Sua personalidade é absurdamente orgânica e natural e seu som é gigantesco, estando mais próximo de headphones do que de in-ears. No entanto, para alguns, falta extensão e presença nos agudos. O Roxanne é mais fechado e musical.
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C U I DA D O S CO M O FO N E
Não existem muitos mistérios para cuidar bem de um fone de ouvido, mas algumas questões merecem atenção. Primeiramente, alto-falantes são, com exceções muito raras, componentes cuja durabilidade é altíssima. Um falante comum pode muito bem durar mais de um século se bem cuidado, ou seja, sem estresse excessivo causado por volumes exagerados ou choques físicos. Então, quando fones apresentam algum problema, geralmente o culpado é o cabo. Por isso, muitos fones atualmente permitem que ele seja removido. A maior dica que posso dar para que um cabo dure é evitar dobrá-lo excessivamente, principalmente próximo aos conectores. Lembre-se também, quando for desconectá-lo, de puxar pelo conector, e não pelo fio em si. Quanto ao fone, o principal é ter cuidado com o volume. Fones mais sofisticados aguentam volumes muito altos sem maiores problemas, mas plugá-los em algum equipamento que forneça muita potência pode danificá-los permanentemente. Por exemplo, se eu ligar algum in-ear sensível na saída de fones do meu amplificador, um HeadAmp GS-X, que possui bastante potência, com o volume máximo, as chances de ele sobreviver serão praticamente nulas. Outra dica é tirar o fone da saída antes de ligar ou desligar o aparelho. Alguns equipamentos apresentam fortes transientes ao serem ligados ou desligados, o que pode ser prejudicial ao fone. Um caso notável desse problema foram as primeiras unidades do amplificador Schiit Valhalla, que visivelmente deformava o diafragma dos fones de ouvido conectados a ele quando o equipamento era desligado. Felizmente, esse problema no Valhalla logo foi resolvido. De qualquer forma, em qualquer equipamento, retirar o fone antes de desligá-lo é uma boa prática. E já que o assunto são boas práticas, aqui vai mais uma: ligar os equipamentos em ordem crescente na cadeia e desligar em ordem decrescente. Como vimos antes, essa cadeia é: fonte > amplificador > transdutor, então para ligar, siga essa ordem, e para desligar siga a ordem contrária – primeiro retire o fone, depois desligue o amplificador e então a fonte. O motivo é o mesmo: equipamentos podem apresentar transientes, e essa ordem para ligar/desligar faz com que os equipamentos da cadeia não sofram com eles.
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Para a limpeza, existem alguns cuidados que devem ser observados. Os materiais geralmente usados em fones de ouvido são plástico, madeira, metal ou acrílico (no caso de intra-auriculares personalizados), e as partes macias costumam ser feitas de courino, veludo, couro ou tecido. Para cada material, há uma forma de limpeza. Partes de plástico ou metal podem ser limpas apenas com um pano úmido, ou no máximo com álcool isopropílico. Já será o suficiente. O mesmo vale para as conchas de acrílico dos IEMs personalizados, mas vale lembrar que neles a limpeza deve ser mais frequente. Afinal, o contato constante com a parte interna dos ouvidos faz com que eles acumulem bastante cera. Também é importante, para esse tipo de fone, a limpeza dos canais, os tubos por onde sai o som. É natural que entre um pouco de cera nesses tubos, mas não é bom deixar que ela acumule – caso contrário, durante a limpeza se torna mais fácil empurrar a sujeira para dentro, o que em casos extremos pode entupir o canal. Fones personalizados costumam incluir uma ferramenta de limpeza nos seus acessórios inclusos. Use a pequena haste de metal para remover partes maiores e, depois, a escovinha para retirar o que sobrar. Já fones de madeira podem exigir cuidados adicionais se quisermos manter sua boa aparência, mas isso depende do acabamento. Explico: o Audio-Technica W3000ANV possui as conchas em madeira, mas elas são finalizadas com laca, e por isso apenas um pano será o suficiente, já que a madeira está protegida. No entanto, fones como o Sony MDR-R10 ou os Audez’e LCD-2 e LCD-3 são feitos de madeiras que, ao que parece, são apenas seladas e polidas. Nesses casos, para manter a boa aparência é interessante fazer periodicamente um pequeno tratamento nas partes feitas com esse material. Isso pode ser feito com algumas ceras e óleos específicos, como lustra-móveis ou Óleo de Peroba. Existem muitos produtos no mercado para esse fim (especificamente para o tratamento de móveis), e eles podem ser usados em fones de ouvido sem problemas. Aliás, fones como o R10 ou as primeiras versões dos Audez’e LCD-2 já incluíam, entre seus acessórios, um kit para o tratamento da madeira. Partes de couro também podem se beneficiar de um tratamento mais cuidadoso. Só tenha cuidado para não confundir couro animal com couro sintético, também chamado courino ou couro vegetal. A maior parte dos fones usa essa última opção e só devem ser limpos com um pano seco, mas alguns mais sofisticados, como os Audio-Technica topo de linha, os Stax SR-009 e SR-007 e algumas versões dos Audez’e têm suas espumas laterais revestidas com couro genuíno. Nesses casos, também existem produtos específicos para hidratar o couro e manter sua saúde, mas isso é algo que não deve ser feito com tanta frequência. Uma ou duas vezes por ano deve ser o suficiente.
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As espumas de tecido ou de veludo muitas vezes acumulam poeira mas, assim como as peças de courino, não devem ser limpas com nada além de um pano úmido. No entanto, todas as partes macias (espumas laterais e superiores de fones ou ponteiras de intra-auriculares, particularmente as de espuma, como as Comply) sofrem desgaste natural, e eventualmente terão de ser substituídas. As espumas mais comuns em fones mais baratos são revestidas de vinil, material que em algum momento irá descascar. Porém, mesmo as mais sofisticadas, por ficarem muito tempo sofrendo a pressão da cabeça do usuário, ficarão mais finas com o tempo, o que pode prejudicar a aparência do fone e, crucialmente, alterar sua sonoridade, já que a distância entre os falantes e os ouvidos será menor. E como guardar os fones? O ideal é mantê-los num local seco e ventilado, sem exposição direta à luz solar, mas sei que muitos fones podem ser uma bela peça de decoração, particularmente se colocados em suportes específicos, como os da Woo Audio ou o Omega, da Sieveking Sound. O maior cuidado que devemos ter com esses suportes é evitar que eles contribuam para o desgaste de alguns elementos. Por exemplo, o Omega (e suas réplicas) possui um formato que pode contribuir para o desgaste prematuro das espumas laterais e superiores e, principalmente, dos elásticos dos fones que usam esse tipo de solução para o ajuste de altura – como os AKGs K701 e suas variantes, K240 e K271 e os Audio-Technica. Afinal, eles serão forçados durante todo o tempo em que estiverem posicionados no suporte. Os da Woo Audio são mais interessantes nesse aspecto porque não afetam as espumas laterais, mas ainda podem prejudicar as superiores ou os elásticos, dependendo de como o fone estiver posicionado neles. Tenha isso em mente quando usar um suporte. Por último, uma observação sobre fones eletrostáticos: esse tipo de fone é especialmente sensível à poeira, que com o tempo pode afetar seu desempenho e, em casos extremos, causar arqueamento dos diafragmas, danificando-os permanentemente. Por isso, o ideal é mantê-los num local protegido, com uma capa.
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O BURN-IN
Um dos assuntos mais polêmicos da audiofilia é o amaciamento de alto-falantes, mais conhecido como burn-in. De acordo com os proponentes do efeito, falantes saem da linha de produção rígidos, porém, com o uso, aos poucos são amaciados até atingirem sua forma final – como um par de sapatos que “cede” após algum tempo de uso. Por isso, é comum no círculo audiófilo ler sobre fones de ouvido que só atingiram seu verdadeiro potencial após centenas de horas de amaciamento. Em teoria, é uma ideia razoável – apesar de a audibilidade do efeito poder ser questionada –, mas o problema é como ela foi vulgarizada e tornada uma verdade universal no hobby apoiada em evidências, no mínimo, duvidosas. Não só isso: foi extrapolada para componentes dos mais diversos, incluindo, até mesmo, cabos. O maior problema em toda essa questão é a fragilidade de nossas percepções. Nossos sentidos são falhos – isso é um fato. Qualquer informação sensorial que chega à nossa consciência obrigatoriamente passa pelo nosso cérebro e por todas as suas imperfeições. Ou seja, não ouvimos aquilo que os nossos ouvidos detectam, e sim o que o nosso cérebro interpreta do que os nossos ouvidos detectam. E essa interpretação está sujeita a diversas interferências: placebo e autossugestão são exemplos. Audiófilos frequentemente subestimam a força desses efeitos. Quando estamos falando de percepções sutis, o simples fato de alguém mencionar alguma determinada característica é o suficiente para que a ouçamos, mesmo que ela não esteja de fato lá. Pense nas famosas ilusões de ótica, em que vemos cores e movimentos que não existem, por exemplo. O mesmo acontece com nossos ouvidos – ouvimos e sentimos coisas que não necessariamente estão ali. Vejam esta ilusão ou o efeito McGurk. Eles vão mostrar como isso pode acontecer. A observação dessa realidade por si só já coloca em xeque diversas afirmações que lemos sobre equipamentos que, após semanas de uso, apresentaram alguma melhora. Afinal, não é muito razoável crer que alguém seria capaz de comparar a sonoridade de um determinado equipamento à memória de quando ele era novo semanas atrás, especialmente ao nível de detalhes implicado. O simples fato de achar que haverá uma melhora já é o suficiente para que a ouçamos, mesmo se ela não existir. Esse é o conhecido e comprovado efeito placebo.
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Para piorar, é impressionante o quanto essa ideia de amaciamento acaba tomando proporções absurdas. Por exemplo, é relativamente frequente ler relatos sobre o amaciamento de outros equipamentos que não possuem partes móveis, como amplificadores, DACs (veja que isso é diferente de atingir a temperatura ideal de operação, o que em alguns casos é, sim, real) e até mesmo de cabos! Já li, de um articulista bem famoso, que “o cabo X só tocou bem após 300 horas”. Essa afirmação é totalmente absurda. Também é comum sugerirem utilizar o chamado “ruído rosa” como método de amaciamento, porque músicas comuns não excitariam todas as frequências e o alto-falante ficaria viciado (!). Aqui, a máxima “afirmações requerem evidências, e afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias” é especialmente útil. A evidência colocada pelos crentes no efeito é frequentemente apenas “eu ouvi”, o que não possui qualquer significância no mundo real. Afinal, como vimos, nossos sentidos não passam perto da palavra “confiável”. Isso se aplica a diversos aspectos do nosso hobby. Em debates, vejo com muita frequência audiófilos colocarem o ônus da prova nos descrentes, o que não deveria ser o caso. Não estou dizendo que o burn-in não existe, somente afirmando que as evidências que conheço até agora propostas não me convenceram, por se manterem principalmente no campo da teoria e, na prática, se limitarem ao “eu ouvi” num teste nada controlado, sem isolar outras variáveis. Ademais, é surpreendente o quanto muitos fabricantes não se pronunciam sobre o assunto. Algumas marcas de fones até falam sobre o efeito, mas geralmente são marcas pequenas (como a Grado) que não são muito conhecidas por um alto padrão tecnológico e de pesquisa e desenvolvimento. As poucas pesquisas que parecem ter sido feitas não foram muito conclusivas. Existem outros problemas também: os diafragmas de falantes de fones são feitos de mylar, material que sofre muito mais alterações devido à temperatura do que ao tempo de uso, e nunca vi nenhum audiófilo dizer que algum fone tocou diferente num dia mais quente ou mais frio. Por isso, eu mesmo decidi fazer meu próprio teste, me preocupando em isolar o maior número de variáveis possível: comprei um Sennheiser CX 300 II, e amaciei apenas um lado por 200 horas. Depois, comparei os lados com gravações em mono, ou seja, com o mesmo conteúdo em ambos os canais. Ao contrário do que esperava, consegui detectar uma diferença audível entre os dois lados – um deles apresentava mais graves. Para verificar se estava mesmo ouvindo essa diferença, eu fechava os olhos, embaralhava os lados, colocava o fone (ele é simétrico, ou seja, o lado direito é igual ao esquerdo) e
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depois tentava adivinhar quais eram os lados. Consegui todas as vezes. Isso não significa, porém, que a diferença era grande – muito pelo contrário. Apesar de perceptível, tenho total certeza de que ela só era audível porque eu estava ouvindo os dois lados ao mesmo tempo, um em cada ouvido, e a sensação era de que um deles parecia estar ligeiramente mais alto. Demorei para perceber que a diferença estava nos graves. Se houvesse um intervalo de poucos minutos entre as audições, a diferença desapareceria completamente para os meus ouvidos e eu nunca poderia dizer com certeza qual lado era qual. Que dirá 300 horas. Além disso, depois de um curto uso após ter ficado alguns meses parado, as diferenças entre os lados do CX 300 II sumiram – o que me leva a crer que ou o outro lado amaciou rapidamente ou o outro voltou ao seu estado inicial. Qualquer que seja a situação, é uma verificação totalmente dissonante dos relatos que lemos sobre o burn-in de audiófilos – afinal, ou a queima é na realidade muito rápida, não precisando de centenas de horas, ou existe reversão, ou seja, o falante após algum tempo parado volta ao seu estado inicial pré-amaciamento. Ambas as possibilidades não condizem com os muitos testemunhos que lemos a respeito do efeito. Minha conclusão é que o amaciamento de fato parece existir, mas a um nível mínimo e de forma totalmente diferente do que relatos de entusiastas costumam indicar. Esqueça 300 horas, ruído rosa ou outras especificidades do tipo. Ouça música com seu novo fone normalmente. O amaciamento que verifiquei, você provavelmente não irá ouvir. Qualquer grande diferença que você acabar identificando tem muito mais chances de ser proveniente da sua percepção mudando a respeito do fone. Afinal, ela sim poderá passar por grandes transformações. Quando estamos acostumados a determinada sonoridade, qualquer coisa que desvie dela vai parecer diferente de início, mas conforme nos habituamos a essa nova personalidade, nossa percepção se assenta. Por isso, ao receber um fone novo, não se preocupe com o burn-in. Ouça música normalmente e dê algum tempo para que você se acostume à nova sonoridade. Se após uma semana você decidir que gostou mesmo dele, ótimo. Se não, venda-o. Tocar ruído rosa por muitas horas não vai fazer diferença.
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ESPECIFICAÇÕES DE FONES
Em equipamentos de som, nada substitui as audições para determinar o que é bom para os nossos ouvidos. No entanto, são raros os casos em que podemos ouvir algo antes de comprar, e por isso vejo muitos iniciantes confiarem nas especificações. Porém, a verdade é que essas especificações dizem muito pouco sobre aspectos importantes dos equipamentos, e nunca vão determinar se um fone é melhor que outro. No máximo, elas indicam como determinado fone vai se comportar em algum cenário específico no que diz respeito ao volume. Portanto, ao pesquisar sobre fones, não se preocupe muito com as especificações. Leia avaliações e veja o que as pessoas dizem sobre o equipamento de interesse – essa é a melhor forma de decidir uma compra. A maior parte das especificações a seguir diz respeito aos fones de ouvido, mas algumas são também sobre amplificadores. Ultra/Mega/Master/Power/Enhanced/Ultimate Bass Sei que não se trata de uma especificação, mas é algo que chama a atenção de muitos, principalmente iniciantes. Esse tipo de informação é normalmente encontrada em fones mais simples, de fabricantes que sabem que o consumidor comum, acostumado com fones auriculares, quer graves potentes, coisa que eles não têm. O problema é que esse Mega Bass normalmente não quer dizer muita coisa, e no final das contas o excesso de graves acaba arruinando a qualidade de som do fone. Regra geral: fuja. Diâmetro do diafragma (Driver diameter/Driver size) Em teoria, quanto maior, mais capacidade de excursão, maior volume de ar movimentado e mais graves. Na prática, não quer dizer nada. Existem fones com falantes pequenos e graves colossais e outros com diafragmas enormes e graves tímidos. Sensibilidade (Sensitivity) Em questões práticas, a sensibilidade e a impedância são, provavelmente, as especificações técnicas mais importantes num fone ou numa caixa de som – já que, junto com a potência do amplificador, vão dar uma ideia do volume ao qual será possível chegar com um determinado sistema. Sensibilidade é, como o nome implica, a sensibilidade de um determinado equipamento a um sinal elétrico: a escala costuma ser
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em dB SPL/W (decibéis de nível de pressão sonora por watts) para caixas de som e, para fones, dB SPL/mW (decibéis de nível de pressão sonora por miliwatt), já que a potência requisitada por eles é muito menor. Ou seja, para cada watt ou miliwatt de potência gerado por um amplificador, o fone ou caixa vai te dar X dB SPL – em outras palavras, volume. Impedância (Impedance) A impedância, de acordo com a Wikipedia, é "a oposição que um circuito elétrico faz à passagem de corrente quando é submetido a uma tensão". Em outras palavras, é como se fosse a resistência que o fone ou caixa de som irá impor ao sinal proveniente do amplificador. Essa especificação é importante porque é variável, e amplificadores vão fornecer diferentes potências em diferentes impedâncias – já que ele vai ter que lidar com "resistências" diferentes. Em caixas, a faixa normal de impedância é de 4, 6 ou 8 ohms. Já em fones, normalmente vai de 10 a 600 ohms. Veja que essa impedância pode variar com a frequência, e o número fornecido pelo fabricante é como uma média. Em termos práticos, ao juntarmos a impedância e a sensibilidade com a potência de saída da amplificação, a questão é simples. Se um fone tem 120 ohms de impedância e 92 dB SPL/mW de sensibilidade e é ligado a um amplificador que fornece 1 mW em 120 Ohms, esse 1 mW gerará 92 dB SPL de pressão sonora. Duas observações: conforme a impedância aumenta, a potência diminui, e a relação entre potência de saída e nível de pressão sonora não é linear (a escala de dB é logarítmica), ou seja, nesse sistema, 2 mW não vão te dar 184 dB SPL. Em fones, vejo que existem muitos equívocos de hobbistas. Primeiramente, deixando claro: impedância é apenas uma característica e, na prática, nunca um indicativo de qualidade de um fone. Impedância maior ou menor não quer dizer que um fone seja melhor ou pior. Na maioria dos casos, inclusive, não há motivo para se preocupar com isso. Se você simplesmente quer um fone portátil para usar com um DAP ou celular, não se preocupe com isso. Ela deve ser observada, porém, na hora de entender a interação de algum fone específico com um determinado amplificador. A regra básica é a seguinte: o ideal é que a impedância de um fone seja pelo menos oito vezes maior que a de saída do amplificador. Se isso não acontecer, o fator de amortecimento do fone é prejudicado e o resultado é
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que os graves vão ser mais soltos e menos definidos. Por isso, por segurança, é possível dizer que o melhor é ter sempre amplificadores com a impedância de saída mais baixa possível, já que eles vão poder empurrar qualquer fone sem problemas, desde que tenham a potência necessária. A grande maioria dos fones do mercado possui por volta dos 32 ohms – para esses, o ideal é que a impedância de saída do amplificador seja, no máximo, de 4 ohms (32/8 = 4). Mas existem alguns in-ears ainda menos resistentes, como o JH Audio JH16 Pro, que possui 18 ohms. Para ele, o ideal é que a impedância não passe de 2,25 ohms. Muitas vezes, saídas de fones de má qualidade, como em placas de som integradas, possuem impedância de saída muito alta, o que de modo geral é algo ruim. Há, porém, uma exceção: existem alguns amplificadores valvulados que trazem uma topologia sem transformadores de saída, os OTL. Existem alguns benefícios nesse tipo de circuito, mas também um problema inerente, que é a alta impedância de saída. Não é como nas placas de som ruins, pois se trata de um reflexo de um circuito sofisticado que possui diversos benefícios; então, com eles, o ideal é usar fones de resistências altas, como os Sennheisers mais sofisticados da linha HD ou os Beyerdynamic Premium de 600 ohms. A última questão que deve ser observada é impedâncias mais altas requerem maior tensão de saída – ou seja, amplificadores mais fortes. Por exemplo, um iPod ou um celular qualquer provavelmente terão dificuldade em tocar um fone de 300 ou 600 ohms. Baixa sensibilidade é algo que traz mais dificuldades, mas impedância alta também deixam as coisas mais difíceis para amplificadores mais simples. Já em caixas de som, a impedância é mais importante e algo que merece mais atenção, pois vai determinar que potência será extraída do amplificador – além do fato de que uma impedância menor que a aceita pelo amplificador pode queimá-lo. Amplificadores normalmente têm sua potência nominal declarada em 8 ohms e, em 4, ela costuma dobrar. Por exemplo, um Marantz PM-11S2 é declarado como tendo 100 W. Essa potência é em 8 ohms, e em 4 ohms ela salta para 200 W. Mas isso não é uma regra: já vi amplificadores com 100 W em 8 ohms e 175 W em 4 ohms. Potência mínima recomendada (Minimum power recommended) Não costuma ser visto em fones, mas é basicamente a potência mínima recomendada pelo fabricante para se atingir um volume satisfatório. Não é uma coisa tão certa, mas, assim como a sensibilidade, dá uma boa noção de aproximadamente quanta potência será necessária para um falante. Por exemplo, se a potência mínima recomendada por
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uma caixa de som é 10 W, é possível saber que amplificadores com pouquíssima potência (como os valvulados em triodo) serão suficientes. Um par muito elogiado, por exemplo, é o amplificador MiniWatt (com apenas 1 W de potência) e as caixas Zu Audio Essence, de sensibilidade altíssima. A questão só não é tão simples quanto olhar o número e o entender como mínimo absoluto porque amplificadores fornecem correntes diferentes, então não é raro encontrar alguns que forneçam 100 W que toquem mais do que outros que forneçam 200 W. Potência maxima de entrada (Maximum input power) São os famosos números frequentemente vistos em caixas de som passivas, como por exemplo 150 W ou 300 W. Muitos, aliás, se confundem, porque não é a caixa que tem 150 watts. Ela não tem nada (a menos que seja ativa), o que tem é o amplificador. É simplesmente a potência máxima que a caixa pode aguentar sem que haja danos ao seu alto-falante. Mas, como há essa questão, como já foi dito, de “forças” diferentes para uma mesma potência, esse número deve ser encarado mais como uma estimativa. Não é uma especificação normalmente encontrada em fones. Potência de saída (Output power) Aqui temos uma exceção, pois se trata de uma especificação exclusivamente de amplificadores, especialmente de caixas de som – e a mais importante. Existem outras, como resposta de frequência e slew rate (particularmente significativa para caixas de som), mas não vou abordar aqui por não considerá-las tão importantes para os leitores para os quais este texto foi escrito. A potência de saída é como a “força” do amplificador, o que está ligado à capacidade dele de fazer caixas de som tocarem. Existem caixas fáceis e caixas difíceis (veja sensibilidade e impedância), e é a potência do amplificador, junto com o slew rate, que vai determinar quão bem ele vai lidar com elas – para chegar a um bom nível de volume com compostura e autoridade. Primeiramente, a antiga prática de mensurar potência em watts PMPO (uma medida tão desonesta que foi banida pelo INMETRO) acabou criando expectativas irreais em muitas pessoas, acostumadas aos seus números imensos. O que importa são os watts RMS, e os números não são impressionantes. Um ambiente de 20 m2, com caixas sensíveis, já pode se satisfazer com 30 W. Algo como 100 W já é uma potência extremamente saudável e suficiente para um grande número de aplicações.
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Para saber o que essa potência significa num sistema, como já dito anteriormente, você precisa saber a sensibilidade e a impedância das caixas, além, obviamente, do ambiente no qual esse sistema vai tocar – quanto maior, maiores devem ser as caixas e a potência do amplificador. A potência tem pouco ou nada a ver com a qualidade de som, e, mesmo com relação à força do amplificador, é variável. Existem amplificadores com 100 W que tocam mais que outros com 150 W ou 200 W, e se considerarmos os que operam em classe A, não é incomum alguns de 30 W tocarem mais que outros de 200 W que operam em classe AB. Hoje em dia muitos receivers e minisystems comuns estão declarando saudáveis potências em watts RMS, mas tenho certeza de que um bom integrado, mesmo com menor potência nominal, vai tocar mais – tanto considerando o volume quanto a qualidade. No entanto, mais potência, na maior parte das vezes, de fato significa que o amplificador tem mais capacidade de lidar com as caixas, já que vão trabalhar com bastante reserva de potência, o que pode significar mais controle dos diafragmas – em termos práticos, melhores graves. Essa reserva também quer dizer que ele vai trabalhar mais longe do limite, o que significa um menor nível de distorção. Mas, um detalhe: não é incomum audiófilos acharem que potência demais é ruim, já que pode ser descontrolada e o resultado é a perda de refinamento. Resposta de frequência (Frequency response) Primeiramente, para deixar absolutamente claro: resposta de frequência nunca, sob nenhuma hipótese é indicativa da qualidade de um fone. Essa especificação merece ser ignorada porque não quer dizer absolutamente nada e a relação com o desempenho real do fone é efetivamente nula. Apesar disso, em fones, vejo muitos considerando a resposta como um atestado de qualidade, o que em nenhum cenário vai ser o caso. Veja, por exemplo, o JH Audio Roxanne, um dos melhores intra-auriculares da atualidade, com uma resposta declarada bem menos ampla que a do Sony EX310, um IEM de entrada. Não preciso dizer que o Roxanne está boas léguas à frente do Sony em qualquer aspecto. Em termos práticos, em fones de ouvido essa especificação simplesmente não tem importância. A audição humana só é capaz de ouvir sons entre 20 Hz e 20 kHz, e mesmo que um fone não chegue a esses extremos (o que é relativamente incomum), poucas músicas chegam a eles. E, a menos que a resposta seja criticamente curta (algo como 60 Hz a 15 kHz), não vai fazer tanta diferença, até porque, como já foi dito, a resposta
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nada tem a ver com a qualidade de som. É o que acontece entre os limites que faz toda a diferença, como explicarei no próximo tópico, Gráfico de Resposta de Frequência. A explicação técnica para essa especificação é a seguinte: falantes respondem a sinais elétricos, gerando vibrações em diferentes frequências. A frequência da vibração é o que determina se o som é grave ou agudo. Nenhum falante tem uma resposta perfeitamente igual em todas as frequências, e nenhum responde infinitamente, seja para os graves, seja para os agudos. A resposta de frequência indica, simplesmente, os limites, ou seja, até onde o diafragma responde. A questão é que eles não param de responder abruptamente, isto é, respondem a 45 Hz e não respondem mais a 44 Hz. Há um decaimento gradativo nos limites, e o nível de pressão sonora vai diminuindo aos poucos. Então, como determinar o fim da resposta? Cada fabricante usa um método. O problema é que a resposta de frequência é naturalmente cheia de altos e baixos, de forma que o padrão utilizado pelas fabricantes varia muito, e mesmo para elas é algo praticamente arbitrário. Veja o Sony SA5000, por exemplo: a marca determina que sua resposta de frequência é de 5 Hz a 110 kHz, mas basta ver o gráfico de resposta de frequência para ver que há um decaimento violento abaixo dos 100 Hz: a 5 Hz, onde de acordo com a marca, ele deveria responder bem, praticamente não há atividade alguma. Conclui-se que a tolerância usada pela fabricante foi extremamente generosa. Gráfico de resposta de frequência (Frequency response graph) O gráfico de resposta de frequência é uma especificação rara, mas talvez seja a mais importante, já que é o mais perto que se pode chegar de constatar como é a sonoridade de um determinado fone, porque evidencia seu equilíbrio tonal. Ele mostra, de maneira visual, o volume de cada frequência por meio de um gráfico. Ou seja, é possível ver o volume de determinada frequência ou faixa de frequências (como graves, médios e agudos) que o fone apresenta em relação às outras. Uma questão, porém, é que nem todos os gráficos são feitos da mesma maneira. Existem diferentes tipos de compensação, diferentes microfones, diferentes equipamentos de medição, diferentes amplificadores usados… então o ideal é que se tenha uma base de dados, com vários fones, feita com os mesmos equipamentos. Outro problema é que ela também depende do resto do sistema, que tem seu próprio “gráfico”, embora com bem menos personalidade que fones ou caixas. Qualquer gráfico
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de resposta de frequência é feito com um sistema específico, e se o seu for diferente, é possível que alguns detalhes do gráfico acabem sendo diferentes. Mas não é uma diferença tão grande a ponto de invalidar o que esse gráfico nos diz. Ele é especialmente útil caso você tenha o gráfico, feito com os mesmos equipamentos, de um fone que conheça bem. Assim, será possível compará-lo a outros, para saber por exemplo, se o fone no qual você está interessado tem muitos médios ou poucos agudos. No gráfico abaixo, selecionei um fone com um excelente gráfico, o Sennheiser HD800, e colori as faixas de acordo com as minhas considerações pessoais. Créditos ao HeadRoom, ao Innerfidelity, ao antigo Changstar (atual SuperBestAudioFriends) e ao GoldenEars
pelas maiores bases de dados de resposta de frequência que conheço. A interpretação do gráfico é simples: o eixo horizontal representa a frequência; o vertical, o nível de pressão sonora (volume). Ou seja, um fone utopicamente neutro apresentará uma linha reta, já que, para um mesmo sinal elétrico, cada frequência terá o mesmo volume, certo? Então, se a linha é mais para cima ou mais para baixo numa certa região, quer dizer que o fone tem uma quantidade maior ou menor dessa determinada faixa de frequência. Uma
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linha reta seria uma utopia, não só porque é impossível fazer um diafragma responder linearmente ao longo de toda a sua resposta de frequência, mas também porque isso não seria interpretado pelos nossos ouvidos como neutro. Primeiro, porque é normal dar um pequeno aumento nos graves para compensar a ausência de sensações corporais que os graves reais, de sons naturais, nos proporcionam. Nós sentimos os graves no peito, e com fones isso não acontece, então é normal aumentar um pouco os graves. Segundo porque agudos retos também não seriam ideais, já que a pina (parte externa das orelhas) é fonte de reflexão, então qualquer coisa que ouvimos de sons reais sofre influência dessas reflexões. O posicionamento de fones é muito artificial, logo algumas alterações (como picos e vales na região 2-8 kHz) são necessárias para compensar esse posicionamento. Além disso, a parte interna do fone também traz uma grande quantidade de reflexões que vão alterar, principalmente, os agudos. É normal que a região dos agudos seja bem estranha e longe de uma linha reta.
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P R Ó X I M A S E TA PA S
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E S CO L H I O FO N E . E AG O R A?
Nas próximas etapas, a situação fica um pouco mais complicada. A questão é que são muitas variáveis, e cada caso é um caso. Muitos fones não são particularmente exigentes com amplificação e fonte, e eles são a parte mais significativa da cadeia. Por isso, em diversas situações, pode ser mais interessante destinar todo o orçamento a um bom fone de ouvido e usá-lo com o smartphone ou computador que já se tem. Por exemplo, se uma pessoa gostar muito de música eletrônica e quiser montar um sistema focado nesse gênero com o orçamento de 400 dólares, seria muito mais interessante comprar um V-Moda M-100 e usar diretamente no computador ou no smartphone do que investir num V-Moda M-80 aliado a algum amplificador e/ou DAC. No entanto, se formos olhar para fones mais pretensiosos ou se houver capital disponível, esse investimento começa a ser interessante ou até mesmo, em níveis mais altos, necessário. O amplificador é, de certa forma, o mais influente, já que é ele que vai fornecer a potência necessária para “empurrar” um fone de ouvido mais exigente, mas acho que muitos audiófilos exageram bastante nessa questão. Cansei de ler que com o Sennheiser HD600 um bom amplificador é absolutamente necessário, mas em minha opinião seu desempenho já pode ser satisfatório ligado a um MacBook Pro. Isso não significa, porém, que fones como esse não se beneficiem de bons equipamentos por trás. A questão é que é necessário saber até que momento o investimento vai trazer uma melhora condizente. Já um fone como o Sennheiser HD800, por exemplo, sem um competente amplificador pode soar baixo, magro e estridente – ou seja, ao contrário do HD600, impeditivo. Mas de nada adianta uma sofisticada amplificação se a fonte não for capaz de fornecer a ela um sinal limpo e linear. Por isso, em sistemas sofisticados também é necessário pensar em qual será a fonte. Se você já tiver alguma melhor que um computador, como um bom CD player ou toca-discos, um amplificador já será o suficiente para o seu sistema. Mas para o áudio baseado num computador com arquivos digitais, a melhor opção é pensar num DAC, ou conversor digital analógico. O resumo, aqui, é que existem casos em que o melhor é investir o máximo possível no fone; em outros, apenas um bom amplificador pode ser o suficiente. Mas há casos em que é necessário reservar parte do orçamento por um bom amplificador e um bom DAC. Depende do seu orçamento e do seu objetivo com o sistema.
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PA R T E I I – A F O N T E
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VISÃO GERAL
Neste guia, vou me restringir a falar sobre os DACs. Pelo que vejo, a vasta maioria dos hobbistas entusiastas de fones de ouvido usam um computador para ouvir música, e por isso um DAC é a escolha óbvia para atuar como fonte, usando o computador como transporte. Aqui, aproveito para explicar os termos: fonte é o que fornece o sinal analógico e o envia para um amplificador. Um CD player, por exemplo, é uma fonte. No entanto, é possível dividir a fonte em alguns equipamentos: o transporte, que é responsável por extrair os dados digitais de algum arquivo e o DAC, conversor digital analógico, que recebe esses dados e os transforma num sinal analógico que será enviado para o amplificador. Em equipamentos muito sofisticados, também é possível usar um relógico (clock) externo, responsável por garantir que os dados digitais cheguem ao DAC para conversão com extrema precisão temporal. Outro esclarecimento: hoje, basicamente tudo o que ouvimos é áudio digital: CDs, mp3, DVDs, e outros. Exemplos de áudio analógico são discos de vinil e fitas de rolo. No entanto, qualquer alto-falante funciona por princípios puramente analógicos, e o mesmo vale para os amplificadores. Isso significa que qualquer equipamento que toque áudio digital possui um DAC interno: celulares, mp3 players, notebooks, tocadores Blu-ray e outros são exemplos. A questão é que esses conversores internos não costumam ter tanta qualidade, e por isso, em sistemas mais sofisticados, costuma ser interessante investir num DAC dedicado. Dessa forma, os arquivos digitais são extraídos de um transporte – que, na prática, pode ser qualquer equipamento que toque áudio digital conectado a um DAC usando alguma conexão digital, como USB, coaxial ou ótica – e enviados ao conversor. Existem conversores de diversos tipos e faixas de preço. A função é a mesma – converter dados digitais num sinal analógico –, mas topologias e tecnologias diferentes significam que o som é frequentemente diferente. Mas, sinceramente, acho que esse é outro ponto onde há muito exagero por parte da comunidade audiófila. Hoje em dia, considero difícil achar conversores ruins, independente da faixa de preço. É claro que alguns são melhores que outros, mas as experiências que tive me mostraram que não há uma relação tão clara entre preço e desempenho. Já ouvi DACs de faixas de preço totalmente distintas soarem indistinguíveis aos meus
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ouvidos e já ouvi equipamentos que custam a mesma coisa trazerem diferenças consideráveis de desempenho, apesar de esse último caso ser, a meu ver, muito raro. Minha opinião não é particularmente comum no círculo audiófilo, mas, de acordo com minha percepção, as diferenças relatadas nesse hobby entre amplificadores e DACs diferentes são frequentemente exageradas. DACs simples já são capazes de trazer um ótimo desempenho, melhor que um computador alimentando diretamente um amplificador, e acho que quando se paga mais caro num conversor, não costuma haver uma diferença gritante: em alguns casos tem-se um palco sonoro um pouco mais desenvolvido e preciso, mais transparência e outras melhorias do tipo, mas são alterações sutis e que frequentemente precisam de muita atenção para serem percebidas. No entanto, existem situações em que DACs diferentes vão apresentar personalidades fundamentalmente distintas – por exemplo, quando comparei o B.M.C. PureDAC ao Electrocompaniet ECD-1, esse último me pareceu mais quente e eufônico, enquanto aquele soou mais refinado, transparente e linear –, e por isso a escolha de um DAC merece atenção. Acredito que o que mais conta não é o desempenho do DAC por si só, mas como ele interage com o resto do sistema. Por exemplo, o PureDAC pode ser interessante servindo de fonte para um eufônico amplificador valvulado que alimenta um fone também mais musical, como o Sennheiser HD650 – mas, num sistema que conta com um amplificador estado-sólido mais neutro e transparente e um fone como um Sennheiser HD800, o resultado final pode ser estridente demais. Nesse último caso, o calor do ECD-1 provavelmente deixará o sistema mais equilibrado. No final das contas, o que conta é isso: equilíbrio entre os componentes, de acordo com nossas preferências, e é em função disso que um DAC deve ser escolhido, ou seja, como ele irá se comportar dentro do seu sistema de acordo com os seus objetivos. Além disso, deve-se observar as funcionalidades do conversor para saber se ele se encaixa em seu sistema. Um DAC sem entrada USB, por exemplo, provavelmente exigirá uma interface USB para que ele seja conectado a um computador. Mas, aqui, há uma armadilha: hoje, me parece que muitos audiófilos são seduzidos por números. Fabricantes adoram dizer que seus DACs são capazes de decodificar arquivos 24 Bits e 192 kHz, DSD64, DSD128 e outras combinações impressionantes de números e letras. Em minha honesta opinião, porém, essa não é uma questão relevante.
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SOBRE NÚMEROS E A MÚSICA: F O R M AT O S D E A R Q U I V O S
Arquivos de alta resolução estão em alta, e DACs travam brigas de números: enquanto antigamente o comum era o limite de 24 bits/96 kHz, hoje são comuns os equipamentos que conseguem decodificar arquivos de até 32 bits/192 kHz ou mais, e não são poucos os audiófilos que passariam longe de qualquer coisa que se limite à boa e velha resolução padrão de CD, os clássicos 16 bits/44,1 kHz. Mas o que isso de fato significa? Resumindo bastante uma explicação complexa: na criação de um arquivo digital de música, um sinal analógico é transformado em digital através de um processo chamado amostragem. Um conversor analógico-digital mede constantemente a amplitude de uma onda sonora (a música) e cria valores para cada ponto de medição. A frequência de medições, ou seja, quantas medições são feitas em um segundo – e quantos pontos de medição são criados – são o valor que vemos em kHz. Em outras palavras, num arquivo de 44,1 kHz, foram feitas 44.100 medições por segundo da onda sonora de origem. De acordo com o Teorema de Nyquist-Shannon, o alicerce do áudio digital, para que um sinal analógico possa ser amostrado e reconstituído sem perda de informações, é necessário que a frequência de amostragem seja igual ou maior que o dobro da largura de banda total do espectro desse sinal. Traduzindo: nós, humanos, ouvimos frequências entre 20 Hz e 20 kHz. Para que todas essas frequências sejam devidamente reconstituídas a partir de uma amostragem, é necessário que ela seja feita a, no mínimo, 40 kHz, que é aproximadamente o dobro da banda entre 20 Hz e 20 kHz. Consequentemente, um
arquivo
cuja
taxa
de
amostragem é 44,1 kHz já consegue reconstruir um sinal analógico com perfeição ao longo de todo o espectro audível por um ser humano. Nesse momento, você talvez se lembre dos gráficos em escada que vemos frequentemente pela internet para explicar os motivos pelos quais o áudio de alta resolução é superior. Infelizmente, porém, esses gráficos não são uma representação apurada do que realmente ocorre. Veja a figura acima à direita (extraída do site Xiph.org, de onde retirei boa parte dessas informações): a imagem superior é como costumamos ver essa situação, mas a inferior representa melhor como funciona a amostragem. Não
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há uma escada, e sim uma série de pontos, que são usados pelo DAC para reconstruir o sinal analógico. Só há uma solução matemática possível para o conversor. Logo, a reconstrução do sinal, dentro do limite Nyquist e portanto dentro do espectro audível por um ser humano, é perfeita. Mais do que 44,1 kHz, para audições em uso doméstico – não confundir com o uso em estúdios, onde há razões técnicas para se usar arquivos com maior taxa de amostragem – não parece fazer muito sentido. E quando analisamos a profundidade de bits, a situação não é muito diferente. Basicamente, a profundidade de bits indica quantos bits de informação existem em cada amostra, o que na prática representa a faixa dinâmica da gravação, ou seja, a diferença entre os sons mais baixos e os mais altos possíveis. Na conversão digital-analógica há um processo chamado quantização, que nesse caso é basicamente o arredondamento dos valores medidos durante a amostragem para algum valor com menos casas decimais, e isso introduz distorções. No entanto, durante o processo de gravação o ruído de quantização é substituído pelo dither, uma forma de ruído introduzido intencionalmente para que o de quantização se torne aleatório, prevenindo possíveis padrões de larga escala que poderiam ser mais facilmente audíveis. Esse ruído estará sempre próximo dos níveis de volume mais baixos da gravação, e a profundidade de Bits vai, basicamente, determinar a que “distância” os sons da gravação em si poderão estar do ruído. Em outras palavras, quanto maior for a profundidade de Bits, mais espaço haverá para a música, por assim dizer, e mais baixo será o ruído do dither, já que a música poderá estar mais “longe” dele. A questão, porém, é que os 16 bits de uma resolução padrão, de CD, já são suficientes para manter o ruído do dither a níveis totalmente inaudíveis, já que a faixa dinâmica possível é 96 dB na teoria e até 120 dB na prática com o uso do shaped dither – e 120 dB já é o volume de uma motosserra, o suficiente para causar dor a seres humanos, além de danos permanentes à audição, mesmo com uma curta exposição. Ou seja: para ouvirmos o nível de ruído de uma gravação de 16 bits, teríamos que ouvir música num volume que, além de causar dor, traz danos à audição. Para a reprodução num sistema de som, o único benefício de uma profundidade de bits maior que 16 é reduzir ainda mais o nível de ruídos, mas como acabei de explicar, com 16 bits ele já é totalmente inaudível. Mais uma vez, porém, devo frisar que resoluções maiores que a padrão têm grande utilidade em estúdios, visto que fornecem aos engenheiros de som uma maior faixa onde podem trabalhar. Mas, para a reprodução, ao menos em
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teoria não há benefícios. O padrão Redbook, de CD, 16 bits/44,1 kHz não foi escolhido aleatoriamente, e sim porque, justamente, em teoria é o suficiente para trazer a qualquer ser humano a maior qualidade possível. Devo deixar claro, porém, que estou muito longe de ser especialista no assunto e que a corrente de audiófilos que acredita nos benefícios dos arquivos de alta resolução não é pequena. Inclusive, recentemente tenho visto algumas pesquisas (Oogashi et al., 2002 e Boyk, 1997) que indicam que por mais que os sons acima de 20 kHz sejam inaudíveis, eletroencefalogramas mostram que a atividade cerebral dos ouvintes é alterada. No entanto, ambos os artigos chegam à conclusão de que mais pesquisa é necessária. Por isso, por mais que hoje muitas das evidências apontem para a inexistência de benefícios audíveis em arquivos acima da resolução padrão, devido à incapacidade de indivíduos ouvirem sons acima de 20 kHz e ao fato de que a faixa dinâmica possível num CD já mantém o piso de ruído a níveis inaudíveis, talvez estejamos esbarrando num caso em que a situação ainda não está totalmente esclarecida do ponto de vista científico. Não é no que acredito pessoalmente, mas é possível.
POR QUE É, ENTÃO, QUE OUÇO DIFERENÇAS CLARAS ENTRE ARQUIVOS COMUNS E OS DE ALTA RESOLUÇÃO? Como espero ter mostrado neste texto, ao que tudo indica a ideia de um arquivo de alta resolução trazer benefícios para a reprodução é duvidosa. Mas não são poucos os que juram de pés juntos ouvir diferenças e, de fato, em muitos casos as diferenças entre um arquivo a 24 bits/192 kHz e um de resolução padrão, 16 bits/44,1 kHz é bem evidente. Mas o motivo não é a resolução do arquivo – é uma masterização ou mixagem diferente. Com bastante frequência, um álbum em SACD ou DVD Audio vai trazer uma mixagem diferente do CD, mais cuidadosa e preocupada com a fidelidade, já que isso é exatamente o que o público desses formatos quer. Se o arquivo do SACD ou do DVD Audio for convertido para a resolução padrão, a diferença entre esse arquivo e o SACD ou DVD Audio não deverá existir, e a diferença com relação a um CD, com a mesma resolução, se manterá, pois nesse último a mixagem ainda será diferente. A qualidade da gravação é, junto com o transdutor, a parte da cadeia que mais surte influência no resultado final. Como já disse anteriormente, em minha opinião um fone de ouvido altamente
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sofisticado empurrado por um sistema medíocre trará um resultado superior ao de um fone medíocre empurrado por um sistema altamente sofisticado. Mas se eu tivesse que escolher entre um fone muito sofisticado tocando uma gravação de péssima qualidade e um fone medíocre tocando uma gravação excelente, ficaria com a segunda opção sem dúvida alguma. Essa é a importância de uma gravação. Ouça o álbum Quiet Nights da Diana Krall imediatamente após o Californication do Red Hot Chilli Peppers que isso ficará evidente. E, infelizmente, vivemos num período em que a qualidade das gravações frequentemente é terrível, em grande parte devido a um fenômeno conhecido como Loudness War: o aumento violento da compressão dinâmica, que faz com que todos os sons sejam altos, eliminando a diferença entre as passagens mais quietas e as mais agitadas (não confundir com a compressão de dados, como a do mp3) e que acaba com a emoção da música, que se torna cansativa e, frequentemente, agressiva. Comparem uma boa gravação de rock, como o Dark Side of The Moon do Pink Floyd com o Death Magnetic, do Metallica. Da mesma forma, temos álbuns fantásticos nesses aspectos – me lembro imediatamente do magnificamente claro, transparente e espacial Quiet Nights da Diana Krall, ou do deliciosamente íntimo Smother do Wild Beasts. Sem contar, é claro, as gravações de referência como as da Chesky Records, Deutsche Grammophon e a já mencionada Linn Records. São gravadoras que colocam o realismo à frente de qualquer coisa. Algumas chegam ao ponto de gravar apenas com um microfone numa sala cuidadosamente escolhida, para que toda a informação espacial do evento musical seja preservada. Não estou dizendo que devemos parar de escutar aquilo que não foi bem gravado e procurar apenas gravações de referência, o que seria uma subversão do hobby. A questão é que acho curioso que haja um foco tão grande nos números indicativos da resolução quando o que realmente importa não está ali. Para mim, trata-se de mais um caso de uma característica que é posta totalmente fora de proporção pelos entusiastas. Acho que devemos buscar gravações melhores e não nos preocuparmos muito com o formato do arquivo. Um mp3 a 320 kbps convertido com um codec moderno já irá trazer toda a qualidade que a vasta maioria das pessoas irão querer e parece não haver bons motivos para ir acima da resolução de CD. Aliás, sobre o mp3 a 320 kbps: vejo com frequência entusiastas relatando enormes diferenças entre esse tipo de arquivo e um lossless, mas geralmente isso ocorre porque a conversão para mp3 foi feita com um codec antigo. A maior diferença entre um mp3 e um lossless é um corte acima de 19 kHz, frequência que pessoas acima de 21 anos normalmente não escutam mais.
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E S CO L H E N D O U M DAC
Assim como o resto dos equipamentos, o DAC deve ser escolhido de acordo com o que se busca não só em termos de funcionalidades como também de personalidade sonora. Em termos de funcionalidades, existem algumas possíveis em DACs. Em primeiro lugar, vale ficar atento às entradas. Para o uso com um computador, o USB é mais conveniente, mas nem todos os DACs têm essa entrada e, em alguns que a têm, a qualidade não é muito boa, como no Emotiva XDA-1. Mas, atualmente, isso é cada vez mais raro. De qualquer forma, se um conversor não tiver entrada USB, é possível usar uma interface USB - coaxial, como as M2Tech HiFace. Alguns computadores e notebooks também possuem saída ótica (Toslink), que é outra possibilidade de conexão com o DAC. Em segundo lugar, muitos conversores são também pré-amplificadores, com controle de volume, úteis para conexão direta a um power num sistema de caixas ou a caixas ativas. Já em termos sonoros, por exemplo, apesar de isso não ser uma regra absoluta, os conversores com o chip Sabre (os chips são os conversores digital-analógicos em si) costumam apresentar uma sonoridade mais fria e detalhista em relação aos que possuem chips da Wolfson ou da Texas Instruments, antiga Burr-Brown. Da mesma maneira, os DACs do tipo ladder (ou R2R), muito comuns na década de 1990, costumam ter uma personalidade mais analógica e eufônica que os atuais, os quais, com raríssimas exceções (como o Schiit Yggdrasil e alguns Audio-gd), são do tipo sigma-delta. Os conversores costumam surtir uma influência mais sutil no sistema, mas ainda assim vale ter em mente que tipo de assinatura sonora se está buscando. Gosto da ideia de um DAC natural, melódico e eufônico para parear com um amplificador estado-sólido mais transparente, por exemplo. E para fazer essa escolha, o ideal é ler a respeito dos equipamentos que despertam interesse. As avaliações de pessoas experientes talvez sejam a única forma de ter alguma noção da sonoridade de um DAC. Mas, como já disse anteriormente, acredito que as diferenças entre DACs são frequentemente exageradas no círculo audiófilo, e acho importante ter isso em mente. Muito do que se lê dá a impressão de que um conversor vai transformar um sistema, mas em minha experiência isso é algo extremamente raro.
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R E CO M E N DA D O S
Listar bons DACs é uma tarefa difícil, já que a quantidade de opções disponíveis é gigantesca e, além de a relação preço-desempenho de DACs variar muito, é difícil prever como um conversor irá se comportar em um determinado sistema. Ao mesmo tempo, atualmente me parece ser difícil achar um DAC decididamente ruim, então essa lista pode servir como um ponto de partida para a escolha de um conversor. Veja que alguns deles já possuem saídas de fones – identificados com um (+amp) após o nome, de forma que não é necessário comprar também um amplificador, apesar de ser possível para se obter um desempenho ainda melhor. Além disso, vale observar que não escutei todos os equipamentos aqui listados, mas me preocupei em listar apenas equipamentos geralmente bem vistos por entusiastas.
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HiFimeDIY Sabre USB DAC 2 (+amp) - US$69,00 Não é muito bonito e sua construção não é exatamente incrível, mas é um DAC com relação custo-benefício matadora e ainda conta com uma saída amplificada de fones. Para alguns, é inclusive melhor que o Schiit Magni, mesmo custando um pouco menos. Altamente recomendado para um primeiro sistema.
Schiit Modi – US$99,00 Modelo mais barato da americana Schiit, que faz dupla com o Vali ou o Magni, compondo um simpático e competente pequeno sistema. É excelente em termos de qualidade de som, muito bem construído, barato e produzido nos Estados Unidos. É outra recomendação para sistemas iniciantes.
FiiO E17K Alpen 2 (+amp) – US$139,00 Nova versão do coringa E17, que faz muito e atua com maestria em tudo. É um aparelho barato, portátil, atraente e bem construído, que serve como DAC via conexão USB, coaxial ou ótica e como amplificador. Para completar, vem repleto de acessórios e possui uma sonoridade doce e equilibrada. Impossível não gostar.
JDS Labs ObjectiveDAC – US$149,00/US$169,00 (RCA outs) Tentativa do mítico NwAvGuy (Head-fi) de mostrar que DACs e amplificadores com desempenho exemplar não são difíceis e/ou caros de serem feitos. Causou um grande estardalhaço no círculo audiófilo pelo desempenho aliado ao baixo preço, mas alguns o veem como exageradamente analítico e estéril.
Emotiva XDA-2 Gen2 (+amp) – US$299,00 Construção em metal, controle remoto, 6 entradas, pré-amplificador, amplificador de fones, display frontal e 5 anos de garantia por menos de 300 dólares. Qual a pegadinha? Bem, nenhuma. O XDA-2 segue a filosofia da Emotiva de trazer ótimo desempenho, muitas funções e bela construção a um baixo preço.
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Schiit Bifrost Uber USB - US$579,00 O Bifrost foi o primeiro conversor digital-analógico produzido pela Schiit, e com o Valhalla ou o Asgard compõe um sistema muito competente e atraente, totalmente desenvolvido e contruído nos Estados Unidos. O único problema significativo é a entrada USB, que é um opcional relativamente caro, mas que vale a pena.
Yulong D200 (+amp) – US$699,00 Uso seu antecessor em meu sistema (D100), e é um ótimo DAC – o D200 traz algumas outras funções bem-vindas, apesar do aumento de preço. Mas ainda é um bom preço, já que é um aparelho do nível de um Benchmark/Grace/Lavry sem o prestígio da marca. Além disso, há o benefício da saída de fones, que é ótima.
Oppo HA-1 (+amp) – US$1.199,00 Parte da iniciativa da Oppo de entrar com os dois pés no mundo dos fones de ouvido. É um excelente DAC, extremamente transparente, com diversas funções – incluindo conexão por bluetooth e controle remoto dedicado e por app (!) –, e que ainda conta com um excelente amplificador de fones balanceado.
B.M.C. PureDAC (+amp) – R$5.715,00 Um dos melhores DACs que já testei. O PureDAC foge um pouco da comum personalidade mais calorosa de muitos DACs e prioriza uma apresentação mais transparente e analítica, o que com a combinação certa pode trazer um resultado espetacular. O único porém são as saídas de fones, das quais não gostei muito.
Violectric V800 – US$1.299,95 A Violectric é a marca destinada ao mercado consumidor criada pelo pessoal da Lake People, popular no meio profissional. O V800 é o mais sofisticado da linha: um compacto porém extremamente capaz
conversor,
com
excepcionalmente neutra.
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uma
sonoridade,
ao
que
parece,
Grace Design m920 (+amp) – US$1.895,00 Gosto da filosofia “sem-rodeios” de equipamentos voltados ao mercado profissional, caso dos DACs da Grace. São equipamentos de altíssimo desempenho sem firulas, que querem simplesmente cumprir seu papel de forma transparente, objetiva e eficaz. O m920 conta, ainda, com duas excelentes saídas para fones.
Audio-gd Master 7 – US$2.180,00 A Audio-gd fabrica DACs à moda antiga, com circuito do tipo R2R Ladder. O Master 7 é o mais sofisticado da linha, e apresenta uma sonoridade muito analógica e eufônica, mas sem perder transparência e refinamento. Além disso é um tanque, com construção exemplar, apesar da estética um pouco simples.
Schiit Yggdrasil – US$2.299,00 O Yggdrasil é o mais novo e mais caro da Schiit, projetado por Mike Moffat, antigo engenheiro da Theta – marca que produziu DACs incríveis. De acordo com ele, o Yggdrasil é o melhor conversor que já projetou e as primeiras avaliações têm sido incrivelmente positivas, indicando que o Yggy briga com cachorros bem maiores.
Resonessence Labs Invicta Mirus – US$4.995,00 A Resonessence Labs é uma empresa fundada pelos engenheiros que criaram os chips Sabre, considerados alguns dos melhores disponíveis no mercado. O Invicta Mirus é o topo de linha, contando com funções interessantes e, possivelmente, a melhor implementação do Sabre ES 9018 disponível.
PS Audio DirectStream DAC – US$5,999,00 Seus antecessores, os Perfect Wave, eram uma figura muito comum em sistemas de altíssimo nível, e recentemente o DirectStream DAC veio para tomar seu posto. É um conversor altamente sofisticado, repleto de funções, e que está mais do que apto para entrar nos sistemas mais sofisticados.
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E O V I N I L? E L E É M E L H O R M E S M O?
Qualquer um que tenha mais tempo no hobby sabe que, no círculo entusiasta, os discos de vinil estão longe de mortos. A quantidade de sistemas altamente sofisticados que utilizam esse formato como mídia principal é enorme, e ainda hoje são fabricados toca-discos de até centenas de milhares de dólares, prometendo a maior fidelidade de reprodução possível. São também comuns os audiófilos que acreditam estar no áudio analógico a melhor qualidade de som. Mas será isso mesmo? Antes, vou explicar melhor o que é analógico e o que é digital. Primeiramente, tenha em mente que ondas sonoras nada mais são do que variações contínuas na pressão do ar. Um microfone, que é um transdutor, detecta essas variações e as transforma num sinal elétrico analógico cuja tensão ou corrente é proporcional à pressão do ar. Esse sinal é então convertido em variações físicas numa mídia – por exemplo, no vinil, existem sulcos por onde a agulha do toca-discos percorre, e dentro desses sulcos está um “caminho” com altos e baixos que representam a variação de tensão ou corrente do sinal elétrico, que, por sua vez, corresponde à variação de pressão sonora do evento musical original. Durante a reprodução, o movimento da agulha também representa as ondas sonoras e é transformado novamente num sinal analógico que é amplificado pelo resto do sistema e, por fim “imitado” pelos alto-falantes, reproduzindo o som. Resumindo, isso significa que, na gravação e na reprodução do áudio analógico existem variações físicas análogas (daí o nome) às variações de pressão do ar do acontecimento musical que foi gravado. Já no áudio digital, até a transformação das variações de pressão do ar pelo microfone num sinal elétrico, a história é a mesma. A diferença é que esse sinal elétrico é então transformado em uma série de números que o representam através do processo de amostragem, que descrevi quando falei sobre os formatos de arquivos. E é aí que surge uma grande fonte de equívocos. O problema é que muitos parecem não entender exatamente como o áudio digital funciona, e acreditam que o fato de ele “amostrar” um sinal analógico com uma série de pontos faz com que muita informação seja perdida. Afinal, são apenas pontos, e não uma onda analógica contínua. Entretanto, como mostrei na seção Sobre Números e a Música: Formatos de Arquivos, a situação não é bem essa. Desde que o Teorema de Nyquist-Shannon seja observado, a amostragem e reconstrução de um sinal analógico será virtualmente perfeita durante a
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conversão digital-analógica. A partir dos pontos de dados da amostragem, o conversor só terá uma única solução matemática para reconstruir o sinal dentro do limite audível por um ser humano, e essa solução é o sinal analógico original. A única alteração é o piso de ruído inerente à conversão, mas, como já expliquei, ele está muito longe de ser audível e portanto é basicamente desprezível. Consequentemente, o que está em jogo não é quão bem cada formato seria capaz, utopicamente e de acordo com suas respectivas tecnologias, de reproduzir uma onda sonora. O áudio que sai de um CD não possui, na prática, menos informação que o proveniente de um disco de vinil. Ambos são capazes de atingir níveis altíssimos de fidelidade, porém existem vantagens e desvantagens em cada formato. Indo direto ao ponto: em termos puramente objetivos, ao contrário do que muitos pensam, pode-se dizer que o áudio digital é superior ao do vinil, especialmente se o custo for considerado. Nesse último, existem diversas limitações que podem prejudicar sua capacidade de uma reprodução objetivamente fiel. Alguns exemplos: apesar de a resposta de frequência possível com um disco de vinil ser semelhante à de um CD, na prática é muito comum durante as mixagens ter que cortar sons muito graves ou muito agudos, já que eles podem fazer com que, em toca-discos mais simples, a agulha saia do sulco. Devido a problemas como esse, diversos renomados engenheiros de som, como Bob Ludwig e Bob Clearmountain, já disseram, em entrevistas, que ouvir o LP prensado em sua versão final trazia, infalivelmente, uma decepção. Muito do que eles haviam feito no estúdio era perdido devido às limitações técnicas dos discos, algo que não ocorre com o áudio digital (o que não significa que não haverá problemas nele, como comentarei adiante). Outra questão é a faixa dinâmica: apesar de no áudio digital haver o ruído de fundo da conversão digital-analógica, na prática a faixa dinâmica possível com um CD é muito superior à de um disco de vinil. Para música clássica, em particular, isso faz muita diferença – afinal, passagens mais quietas não serão mascaradas pelos cliques e pops naturais de um vinil que já não é mais novo ou até mesmo pelo piso de ruído imposto pela fricção da agulha no disco. O silêncio de fundo é muito maior, então as passagens menos intensas ainda estão muito longe do ruído de fundo. Isso, aliás, me traz aos maiores problemas dos discos, que são os empecilhos físicos. Um deles é a rápida degradação. Tocá-lo dez ou quinze vezes já pode piorar seu desempenho, e não demora para que sujeiras entrem nos sulcos e os danifiquem
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permanentemente. Outro problema curioso é o fato de as primeiras músicas num disco apresentarem melhor qualidade que as últimas porque, nestas, a agulha tem que percorrer os sulcos muito mais rapidamente. Há também um grande empecilho em termos de contaminação. Como a agulha de um toca-discos está percorrendo um caminho, lendo sua superfície e transformando-a num sinal elétrico através de vibrações, ela não vai vibrar apenas de acordo com o que está gravado – afinal, qualquer ambiente comum apresenta diversas fontes de vibração. Andar na sala, por exemplo, já pode trazer contaminações; e a própria música que está tocando traz perturbações no ar que serão capturadas pela agulha. Por isso é que toca-discos extremamente sofisticados utilizam os mais diversos (e caros) artifícios para driblar essa limitação natural. Essas dificuldades fazem com que um sistema sofisticado baseado em vinis acabe saindo muito mais caro do que outro igualmente pretensioso que toque CDs. Então, pode-se concluir que o áudio digital é melhor que o analógico, certo? Bem, não – e por um simples motivo: objetivamente e mensuravelmente melhor nem sempre quer dizer subjetivamente melhor. O que ocorre é que todas as imperfeições que citei do vinil muitas vezes trazem distorções que são vistas como prazerosas pelas pessoas. A carência de extensão nos agudos e alguns tipos de distorção analógica são frequentemente interpretados por ouvintes como calor, algo que pode ser muito agradável. Até mesmo os cliques e pops de vinis que não são mais virgens trazem uma experiência mais nostálgica, e não podemos esquecer do ritual necessário para ouvirmos um disco de vinil – temos uma enorme mídia física que exige cuidado, frequentemente guardada num envelope com belíssimas artes, que precisa ser colocado num toca-discos seguindo alguns procedimentos. É muito diferente de simplesmente clicar duas vezes num arquivo num computador. Não é apenas o ato de ouvir música, é um ritual e uma experiência muito envolventes, que podem, potencialmente, trazer uma relação mais íntima com a música. Outra questão é o problema da compressão. Apesar de o CD oferecer uma faixa dinâmica muito maior do que a dos discos de vinil, infelizmente são raros os álbuns que utilizam propriamente bem essa faixa. Como já comentei, o infeliz fenômeno da Loudness War busca a maior compressão dinâmica, tentando levar todos os sons ao máximo volume possível, às custas da emoção da música, e ele é quase onipresente em álbuns lançados atualmente. Ao invés de os engenheiros, os músicos ou as gravadoras (a culpa pode ser de qualquer um dos três) aproveitarem essa maior capacidade do CD para trazer mais qualidade, frequentemente o objetivo é apenas ser mais alto.
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Dessa forma, a menor faixa dinâmica dos discos de vinil, que é em teoria um problema, acaba trabalhando em seu benefício. Afinal, com eles, não é possível atingir níveis tão grosseiros de compressão, o que pode resultar num mix muito mais agradável do que o do mesmo álbum mixado para CDs. Aqui vale observar, aliás, que prensagens de vinis quase sempre trazem uma mixagem diferente dos álbuns lançados digitalmente, e com alguma frequência essa mixagem pode ser melhor – assim como no caso de álbuns lançados em formatos de alta resolução, como o SACD ou o DVD-Audio. Por isso, no final das contas, não existe um “melhor”, existe o que você prefere. Apesar de o áudio digital logicamente trazer problemas, como o aliasing ou o ruído de quantização, sua tecnologia, por qualquer método mensurável, será superior ao áudio analógico em termos de fidelidade: maior transparência, resolução, extensão e faixa dinâmica, menor degradação e interferência de vibrações do ambiente e, em termos de equipamentos para reprodução de qualidade, muito mais barato. Só que isso não significa que ele seja sempre subjetivamente melhor. Muitos gostam da fidelidade, da transparência e da autoridade do CD, mas também não são poucos os que se apaixonam pela experiência que o uso dos vinis representa e pelo calor e eufonia que eles trazem – características que podem, ironicamente, nos trazer audições subjetivamente mais próximas àquelas que temos com música ao vivo. Ainda que essas questões se devam justamente às suas imperfeições técnicas, o juiz final são os nossos ouvidos e o nosso gosto pessoal. Se eles preferem assim, isso é tudo o que importa.
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PA R T E I I I – A A M P L I F I C AÇ ÃO
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VISÃO GERAL
Grande parte dos equipamentos que tocam música hoje em dia – celulares, notebooks, receivers, Blu-ray players, etc. – possuem uma saída para fones de ouvido. O problema, assim como no caso dos DACs, é que a amplificação existente nesses equipamentos não costuma ser exatamente a melhor disponível, e por isso, no caso de um sistema mais sofisticado, o ideal é fazer um upgrade tanto no DAC quanto no amplificador. Esses dois itens podem estar presentes num único equipamento – como no caso de alguns dos DACs citados na seção anterior – ou então em peças separadas: um atua apenas como conversor analógico-digital alimentando o outro, que atua apenas como amplificador. A função básica de um amplificador é simples: receber o sinal analógico enviado por uma fonte e promover o ganho de corrente e tensão, para que ele tenha a “força” suficiente para empurrar um fone de ouvido e prover um controle de volume. No entanto, existem vários tipos de amplificadores e várias características que merecem atenção. A primeira delas é a potência. Os amplificadores inclusos em aparelhos como celulares e notebooks não têm muita potência ou habilidade de lidar com impedâncias muito altas, e o primeiro benefício mais evidente de amplificadores dedicados é justamente um ganho significativo nessa característica, tornando-o apto a empurrar fones mais difíceis, que ficariam baixos demais se ligados diretamente a um celular. No entanto, existem amplificadores bastante sofisticados que não têm muita potência, como o Trafomatic Experience Head-One, que acaba não trazendo resultados muito bons com fones de baixa sensibilidade e alta impedância, e o portátil HeadAmp Pico Slim, projetado especificamente para in-ears sensíveis. Em amplificadores como esses, o que conta são suas sonoridades extremamente competentes e fantásticas para aqueles fones que estão em sua zona de conforto. Existem também casos de fones que são anormalmente exigentes com amplificadores, como o HiFiMAN HE-6 e o AKG K1000. Geralmente é recomendado que eles sejam ligados diretamente aos terminais de caixas de som de amplificadores integrados para se obter os melhores resultados, mas existem alguns amplificadores com potência suficiente para eles – como Audio-gd Master 9, Schiit Ragnarok e HeadAmp GS-X MKII. Devo frisar, porém, que ambos os casos são raros. A vasta maioria dos amplificadores de mesa disponíveis no mercado são capazes de empurrar a maior parte dos fones de
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ouvido existentes. Se não for, é algo que você provavelmente descobrirá quando estiver pesquisando a respeito de algum equipamento. Outra observação interessante que ainda diz respeito à potência é a variabilidade do ganho. Como hoje existem muitos headphones exigentes e intra-auriculares sensíveis, uma única configuração de ganho não irá dar conta das duas categorias. Ou irá faltar potência para o headphone ou irá sobrar potência, com pouco controle de volume e bastante ruído de fundo, para o intra-auricular. Uma forma de resolver essa questão, e algo que diversos amplificadores atuais têm apresentado, é o ganho variável. Com essa função, é possível ter duas ou três configurações de ganho diferentes, para que o amplificador se adeque a fones de ouvidos diversos. Se sua intenção for montar um sistema que inclui intra-auriculares e headphones, é algo bem interessante – não estritamente necessário, mas vantajoso de qualquer forma. Fique atento também à impedância de saída do amplificador. Como expliquei quando falei sobre impedância, na parte de Especificações de Fones de Ouvido, o ideal é que a relação entre a saída do amplificador e a do fone seja ao menos 1:8 – caso contrário, o fator de amortecimento do fone é prejudicado, e os graves podem se tornar indefinidos e exagerados. Amplificadores do tipo OTL possuem alta impedância de saída, e por isso geralmente trazem melhores resultados com fones de alta impedância. Além disso, há duas outras questões importantes, mas que em minha opinião são vistas de forma desproporcional por entusiastas: válvulas e balanceamento. As válvulas são uma tecnologia mais antiga para controlar corrente elétrica, e começaram a ser substituídas, principalmente na década de 1950, por transístores, que consomem menos energia e são muito mais duráveis. Porém, em equipamentos de som – principalmente amplificadores de guitarra –, as válvulas ainda são muito queridas por trazerem uma sonoridade específica e amplamente considerada prazerosa. Em teoria, amplificadores valvulados apresentam uma personalidade mais quente e eufônica, com agudos mais doces. Isso geralmente se deve a distorções proporcionadas pelo circuito valvulado, mas são distorções consideradas benignas, como as existentes no áudio baseado em discos de vinil. Os amplificadores estado-sólidos (baseados em transístores), em contrapartida, são vistos como mais autoritários e transparentes, com mais pegada nos graves e agudos, porém também mais frios. E existem os híbridos, que misturam as duas tecnologias e, até certo ponto, as características. O problema é que, em minha opinião, muitas vezes a sonoridade do equipamento é
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mais dependente de outros fatores do que da tecnologia de amplificação usada. Um Burson HA-160D me soou mais “valvulado” que um Little Dot MKVI, por exemplo, e tenho certeza que um Luxman P-1u é mais macio e aveludado do que muitos valvulados. Acho que a escolha pode seguir uma direção – afinal, geralmente valvulados têm sim uma sonoridade mais macia –, mas acho que isso nunca deve ser visto como um limitador. Existem outras questões igualmente ou mais importantes. Já o balanceamento em fones de ouvido é o seguinte: em fones de ouvido tradicionais, cada um dos lados recebe um sinal positivo, porém o negativo é compartilhado entre os dois. Tornar um fone balanceado nada mais é do que separar os negativos. Ou seja, cada lado do fone terá um positivo e um negativo próprios. Para que o sistema seja balanceado, tanto o fone quanto o amplificador terão que o ser, e para melhores resultados, o DAC também. Em teoria, isso traz uma melhor separação estéreo e permite que o amplificador tenha mais controle sobre os falantes. No entanto, isso, em minha opinião, é consideravelmente desprezível na montagem de um sistema. As melhorias geralmente são muito pequenas e isso quando comparamos a saída single-ended e a balanceada de um mesmo amplificador. Se compararmos dois amplificadores diferentes, não será o balanceamento o fator decisivo em qualquer comparação, e sim a topologia do amplificador. Aposto que existem valvulados single-ended mais espaciais que o HeadAmp GS-X, por exemplo. O fato é que o balanceamento é algo muito pequeno, principalmente quando comparamos amplificadores diferentes. O projeto do amplificador é muito mais importante, então faz muito mais sentido comprar um single-ended excepcionalmente bem projetado do que um totalmente balanceado menos sofisticado. Não é o balanceamento que vai mudar essa situação. Acho muito curioso ver que muitas pessoas consideram esse um requisito, visto que sua influência é significativamente menor do que vários outros fatores. Um último detalhe dessa seção diz respeito aos falantes eletrostáticos: como dito anteriormente, na seção I – Fones de Ouvido, fones que utilizam essa tecnologia exigem amplificadores específicos, comumente chamados energizers. Se você pretende usar um fone desse tipo, precisará de um, e, exceto alguns raríssimos amplificadores que possuem saída tanto para fones dinâmicos quanto para eletrostáticos (como o Mal Valve Head Amp Three), esse amplificador não poderá ser compartilhado com outros fones.
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ESCOLHENDO UM AMPLIFICADOR
Aqui, repito o que foi dito na seção dos DACs. Para escolher um amplificador, é necessário definir as funcionalidades e características que se quer – se precisa de algo com muita potência, se quer ganho variável ou se deseja que ele seja balanceado por qualquer motivo, por exemplo – e ter em vista, principalmente, qual tipo de sonoridade é a desejada. Como o amplificador é, após o fone e a mídia, o componente da cadeia que mais surte efeito no resultado, é fundamental que a sinergia com o fone seja considerada. Por exemplo, o Sennheiser HD800, um fone extremamente neutro, pode trazer transparência extrema se aliado a um amplificador igualmente transparente, como o HeadAmp GS-X, ou apresentar uma personalidade mais melodiosa e musical se pareado a amplificadores mais eufônicos, como o Luxman P1u ou o DNA Stratus, por exemplo – a melhor solução depende do seu objetivo. Da mesma forma, se você possui um fone de ouvido de baixa impedância, como os Audio-Technica da linha W, é interessante que seu amplificador também apresente uma impedância de saída baixa, respeitando a regra do 1:8. Mas se estiver usando um fone de impedância alta, como os Sennheiser HD600, HD650 ou HD800, não precisa se preocupar com isso, e um valvulado OTL poderá trazer belos resultados. Aqui, a leitura é fundamental. Assim como no caso dos DACs, estamos falando sobre a personalidade de um equipamento, e por isso as opiniões de outras pessoas talvez sejam a forma mais eficaz de fazer uma escolha mais certeira, exceto, é claro, se for possível testar o equipamento. Reitero que considero muitos relatos exagerados, e é importante ter isso em vista. Entretanto, felizmente parece que com amplificadores a escolha geralmente é mais fácil, porque não há uma imprevisibilidade tão grande no que diz respeito ao casamento com o resto do sistema, como ocorre com os DACs. Existem muitas sinergias conhecidas entre amplificadores e fones – como, por exemplo, Bottlehead Crack e Sennheiser HD600/ HD650/HD800, Trafomatic Experience Head-One e Grados, Sennheiser HD800 e Luxman P1u –, e por isso acho que, geralmente, escolher um amplificador é um pouco mais fácil. As opiniões a respeito deles não são tão divergentes ou dependentes de subjetividades mais superficiais, como parece ocorrer com os conversores digital-analógicos.
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R E CO M E N DA D O S
Assim como no caso dos DACs, devo frisar que não tenho experiência pessoal com alguns dos amplificadores listados, e a quantidade de equipamentos que merecem estar nessa lista é enorme, mas não é possível listar todos. Aqui você encontrará alguns amplificadores bem vistos pelo desempenho e pela relação custo-benefício. Alguns amplificadores possuem DACs (serão identificados por um +DAC após o nome), porém eu os consideraria amplificadores em primeiro lugar, mas que possuem, convenientemente, um DAC interno. No entanto, assim como a maioria dos DACs que possuem amplificador, é possível adicionar um conversor externo para um resultado potencialmente melhor.
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FiiO E10K Olympus 2 (+DAC) - US$69,00 A FiiO é uma marca chinesa que se consagrou por aliar boas capacidades sonoras a uma relação custo-benefício matadora em aparelhos compactos, atraentes e convenientes. O E10K é um dos aparelhos que exemplifica esses atributos. Bom desempenho num pacote compacto e funcional a um baixo preço.
JDS Labs Objective2 – US$129,00 A outra tentativa do mítico NwAvGuy de mostrar que DACs e amplificadores com desempenho exemplar não são difíceis e/ou caros de serem feitos. Causou um grande estardalhaço no círculo audiófilo pelo desempenho aliado ao baixo preço, mas alguns o veem como exageradamente analítico e estéril.
Schiit Magni – US$99,00 Pequeno amplificador que serve de porta de entrada para a americana Schiit. Excelente em termos de sonoridade, com bastante potência, num compacto e atraente pacote, todo construído em metal, por um baixo preço e construído nos Estados Unidos. Um dos reis do custo-benefício.
Schiit Vali – US$119,00 Alternativa valvulada ao Magni. Aparentemente, possui uma sonoridade de fato mais melódica e aveludada, o que pode ser muito interessante para alguns fones e gêneros. Inclusive, alguns dizem que o Vali é superior ao Lyr, da mesma marca, em qualidade de som, devido a um projeto mais competente.
Lovely Cube – US$250,00 “Clone” e “chinês” não são palavras muito bem vistas, mas que aqui são quase milagrosas. O Lovely Cube é um clone do Lehmann Audio Black Cube Linear por uma fração do preço e, aparentemente, com o desempenho mais do que comparável. Escolha certa para quem quer um amplificador estado-sólido competente e barato.
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Bottlehead Crack – US$279,00 O Bottlehead Crack na realidade é vendido em forma de kit, então o próprio comprador deve montá-lo de acordo com as instruções inclusas no pacote. É um fácil projeto DIY para iniciantes, e no final você acaba com um belíssimo amplificador valvulado OTL que traz sinergia atestada com os Sennheiser HD600/650/800.
Apex Hi-Fi Butte – US$495,00 Amplificador estado-sólido desenvolvido pelo guru Pete Millet, que segue a filosofia da simplicidade máxima proporcionando um resultado honesto e competente, sem firulas, com muita transparência e clareza com potência de sobra. Não tem o romance das válvulas e não é barato, mas cumpre seu trabalho como poucos.
Woo Audio WA3 – US$599,00 É, assim como o Bottlehead Crack, um amplificador valvulado OTL que traz excelentes resultados com fones de alta impedância, como os Sennheisers mais sofisticado. É produzido nos Estados Unidos e também serve como peça de decoração – é lindíssimo. Excelente opção pelo preço.
Lake People G109-P – US$695,00 A Lake People é a marca voltada ao mercado profissional dos engenheiros por trás da Violectric. Por isso ele perde um pouco da estética mais elaborada dos seus irmãos mais populares, mas compensa pela pura engenharia capaz de entregar tudo o que se precisa para qualquer fone. Wire-with-gain dos melhores.
Schiit Mjolnir – US$749,00 Até a introdução do Ragnarok, era o topo de linha da Schiit. Pelo (competitivo) preço, você recebe um amplificador balanceado altamente competente, com uma sonoridade equilibrada e energética típica dos melhores amplificadores estado-sólidos. O problema fica por conta das saídas apenas balanceadas.
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Burson Soloist (+DAC) – US$990,00 A australiana Burson encantou o círculo dos entusiastas com seu primeiro aparelho, o HA-160D, que tive o prazer de avaliar. O Soloist é a versão mais atual dele, que traz uma personalidade doce porém autoritária e transparente. De quebra, possui uma das melhores qualidades de construção do mercado e um belo DAC.
Burson Conductor Virtuoso (+DAC) – US$1.495,00/1.995,00 O Conductor Virtuoso é o Burson mais sofisticado já lançado, e faz jus ao preço. Um amigo audiófilo certa vez me disse que o interior dos aparelhos da marca não devem nada aos superlativos MSB. Para completar, pode ser equipado com duas opções altamente competentes de DACs, para criar um espetacular all-in-one.
Schiit Ragnarok – US$1.699,00 Recentemente lançado como a mais incrível obra-prima da Schiit. É basicamente um amplificador “faz tudo”, que pode empurrar desde intra-auriculares sensíveis até caixas de som, com sua saudável potência de saída de 100W. Tem todas as capacidades para ser o centro de um versátil sistema high-end.
SPL Phonitor 2 – €1.649,00 O SPL Phonitor, um equipamento desenhado para estúdios, foi descoberto por audiófilos que se encantaram com esse incrível amplificador, que conta com uma fantástica e completa seção de crossfeed – funcionalidade que busca atenuar a separação estéreo extrema dos fones, criando uma projeção espacial mais realista.
Audio-gd Master 9 – US$1.550/US$1.630 O lendário engenheiro Kevin Gilmore certa vez disse que sequer conseguiria comprar os componentes do Master 9 pelo preço pelo qual ele é vendido. Trata-se de um dos melhores e mais versáteis amplificadores estado-sólidos do mercado, capaz de empurrar qualquer fone, por um preço, no mínimo, justo.
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DNA Stratus 2A3 – US$2.700,00 O DNA Stratus 2A3 é a epítome de um amplificador valvulado. Altamente romântico, é capaz de derreter o coração mesmo dos fones mais frios e analíticos, compondo uma apresentação incrivelmente sedutora e eufônica. É sem dúvida alguma um dos melhores amplificadores que já tive o prazer de ouvir.
HeadAmp GS-X MKII – US$2.796,00/2.996,00 Amplamente visto como o melhor amplificador estado-sólido já fabricado, e um dos melhores se qualquer tecnologia for considerada. É um verdadeiro wire-with-gain, um amplificador que simplesmente dá a qualquer fone exatamente o que ele precisa para brilhar, com neutralidade e transparência absolutas.
Luxman P1u – US$3.000,00 O Luxman P1u é um daqueles casos em que o resultado foge muito do que se espera tendo em vista a topologia. Sua sonoridade é extremamente musical e eufônica, tornando-o um pareamento fantástico com o Sennheiser HD800 – principalmente para os que querem a sonoridade dos valvulados sem suas inconveniências.
Eddie Current Balancing Act – US$3.950,00 Amplificador mais sofisticado construído por Craig Uthus, engenheiro criador da antiga Moth Audio. É amplamente visto por hobbistas como um dos melhores amplificadores do mercado, sendo extremamente competente sonicamente e versátil. E o estilo old-school é nada menos que matador.
Apex Pinnacle – US$10.000,00 Peça para um dos mais renomados engenheiros do ramo, Pete Millet, construir o melhor amplificador que ele conseguir sem se preocupar com o custo e você terá, ao fim, o Apex Pinnacle. Ele está muito longe de ser barato ou conveniente, mas se você tem o capital e quer o melhor... já sabe o que comprar.
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Stax SRM-323S (para eletrostáticos) – US$630,20 Os energizers da Stax, com algumas poucas exceções cuja fabricação já foi encerrada, não são particularmente bem vistos. O SRM-323S é tido com uma exceção, e, apesar de em teoria ser mais simples que muitos outros amplificadores da marca, é frequentemente considerado melhor.
Stax SRM-727A (para eletrostáticos) – US$1.060,60 Muitos hobbistas não veem o SRM-727A com bons olhos em sua forma original, mas existe uma simples e rápida modificação que faz com que ele mereça o título de amplificador estado-sólido topo de linha da japonesa Stax. Com ela, seu desempenho é considerado extremamente respeitável.
Kevin Gilmore KGSSHV (para eletrostáticos) – DIY O KGSSHV é a versão mais recente do KGSS, projeto DIY de Kevin Gilmore para um energizer de altíssimo desempenho a um preço acessível. Infelizmente ele não está disponível comercialmente, mas é um projeto aberto que pode ser construído por DIYers competentes e faz qualquer fone eletrostático cantar.
HeadAmp Aristaeus – (para eletrostáticos) US$3.980,00 O Sennheiser HE90 Orpheus, fone que leva o título de o melhor já fabricado, era limitado pelo amplificador HEV90, que não era exatamente perfeito. O Aristaeus é a bem-sucedida tentativa de fazer um amplificador específico para o HE90, para que ele atinja seu total potencial. Também funciona muito bem com o SR-009.
HeadAmp Blue Hawaii SE (para eletrostáticos) – US$5.596,00 O Blue Hawaii SE, ou BHSE, é um energizer concebido por Kevin Gilmore e produzido pela HeadAmp. Considerado o melhor amplificador comercialmente disponível para fones eletrostáticos, junto com um SR-009 ou SR-007 compõe um sistema definitivo para qualquer audiófilo que não quer nada além do melhor.
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SUGESTÕES DE SISTEMAS
Nessa seção, pensei em algumas sugestões de sistemas dentro dos quais a sinergia tem tudo para dar certo. Veja que na maior parte desses casos não cheguei a ouvir essas combinações exatas e por isso, mais uma vez, minha opinião aqui deve ser considerada apenas um ponto de partida. Dito isso, acredito que as sugestões são válidas e podem servir para ajudar iniciantes na montagem de um sistema ou então inspirar os já mais experientes em combinações mais pretensiosas. Observe que me restringi a fones supra-aurais ou circunaurais de mais de 300 dólares porque, abaixo disso, talvez não haja a necessidade de montar um sistema completo.
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Lovely Cube + HiFimeDIY Sabre USB DAC 2 + AKG Q701 ~ US$500 O Lehmann Black Cube Linear e seus clones Lovely Cube e Matrix M-Stage são uma bela combinação com os AKGs. Adicione um bom DAC e pronto. JDSLabs O2 + ODAC + Philips Fidelio X2 – US$580 O Philips Fidelio X2 é um dos melhores fones até 500 dólares que conheço, e a dupla O2 e ODAC, mais transparente, certamente fará uma bela dupla com o calor do X2. Bottlehead Crack + JDSLabs ODAC + HD600/HD650 ~ US$900 O Crack possui sinergia atestada com os Sennheisers, e a combinação da dupla com o revelador ODAC formará um sistema que de simples só terá o preço. Schiit Vali + HiFimeDIY Sabre USB DAC 2 + HiFiMAN HE560 ~ US$1.100 Os fones ortodinâmicos precisam de um amplificador com pegada, coisa que o Vali tem de sobra, apesar do baixo preço. Sistema planar-magnético on a budget. JDSLabs O2 + ODAC + Audez’e LCD-2 ~ US$1.300 Virtudes planar-magnéticas on a budget versão dois, ou como fazer um LCD-2 cantar sem precisar quebrar a banca. Stax SRM-323S + Violectric V800 + Stax SR-007 ~ US$4.000 O Stax SR-007 é um dos raros fones que aliam transparência extrema a muita musicalidade e suavidade. Com o SRM-323S e o V800, tem tudo para encantar. Audio-gd Master 9 + Audio-gd Master 7 + HiFiMAN HE-6 ~ US$5.200 O Audio-gd Master 9 é um dos poucos monstros que conseguem lidar com o HE-6. Sistema para trazer uma refinada e musical pancada nos ouvidos. DNA Stratus 2A3 + Violectric V800 + Sennheiser HD800 ~ US$5.500 O HD800 pode ser um fone um pouco estéril, mas um amplificador como o 2A3 traz a ele muita musicalidade sem perder as habilidades técnicas. Combinação espetacular. HeadAmp GS-X + Schiit Yggdrasil + Sennheiser HD800 ~ US$6.700 Os três equipamentos são o ápice da transparência. Se você gosta é de ouvir tudo o que está na gravação, às custas de um pouco de musicalidade, esse é o seu sistema. HeadAmp BHSE + PS Audio DirectStream DAC + Stax SR-009 ~ US$15.500 O melhor fone produzido atualmente aliado ao melhor amplificador para eletrostáticos comercialmente disponível. DAC estelar e tem-se um dos melhores sistemas possíveis.
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A U D I O F I L I A P O R TÁT I L
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VISÃO GERAL
Um dos grandes motivos para os fones de ouvido terem se tornado tão populares nos últimos anos foi o avanço de equipamentos portáteis. Tudo começou com as fitas cassete e depois com os discmans, mas os tocadores mp3, como os iPods, foram responsáveis pelo grande boom da música portátil, apesar de hoje eles estarem basicamente incorporados nos smartphones. Tendo em vista essa popularidade, foi natural que algumas pessoas quisessem mais qualidade – não é a toa que o mercado de intra-auriculares e de fones portáteis explodiu. Por mais que os tocadores portáteis comuns geralmente sejam muito bons, essa busca por qualidade extrema também chegou a eles. Hoje existe um grande mercado para amplificadores e DACs portáteis e para mp3 players decididamente high-end – alguns chegam a custar assustadores 3.500 dólares. São equipamentos de alto desempenho, mas é de suma importância entender um pouco mais sobre esse universo porque, nele, a relação custo-benefício é frequentemente muito complexa. A função dos amplificadores e DACs portáteis e dos tocadores high-end é simples: trazer um desempenho mais competente do que o que encontramos em mp3 players e smartphones comuns, da mesma maneira que montamos sistemas de mesa com componentes discretos para substituir a placa de áudio interna de um computador. Na seção de amplificadores e DACs, deixei bem claro que os benefícios trazidos por esse tipo de equipamento são, em minha opinião, mais brandos do que a maioria dos relatos que lemos na internet nos fazem acreditar – certamente é uma influência muito menor na cadeia do que a do fone de ouvido. No áudio portátil, isso é ainda mais verdade. A questão é que muitos smartphones e mp3 players comuns já são capazes de uma ótima qualidade de reprodução, e por isso não é fácil medir em que momento será mais interessante investir num equipamento portátil mais sofisticado ao invés de num fone de ouvido superior ao que se tem. São exceções, porém, casos de sistemas com fones de sensibilidade anormalmente alta e/ou impedância muito baixa. Nesses casos, alguns aparelhos podem trazer muito ruído de fundo ou outros problemas, e isso deve ser observado. Mas não necessariamente tocadores caros vão resolver o problema – alguns ainda trazem ruído de fundo audível.
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Por exemplo, com alguma frequência vejo entusiastas usando sofisticados sistemas portáteis com intra-auriculares universais medianos. Seria muito mais interessante usar o orçamento que foi investido no sistema portátil high-end num in-ear personalizado de alto nível – que, ligado a qualquer bom smartphone, traria um resultado muito superior a um IEM mediano ligado a um sistema high-end. Em minha opinião, a compra de um sistema portátil sofisticado só deve ser contemplado em alguns casos. Em primeiro lugar, é preciso saber que sistemas de mesa costumam trazer um melhor desempenho por um custo semelhante ou inferior – é evidente que em algo pequeno e alimentado por bateria há comprometimentos que não existem num equipamento de mesa que será ligado numa tomada e que não possui muitas restrições de tamanho. Por exemplo, não tenho dúvidas de que o amplificador Lovely Cube alimentado pelo DAC ODAC ligado ao seu computador será consideravelmente superior a um tocador Astell & Kern AK100 II ou AK120 II, apesar de o conjunto de mesa custar mais ou menos metade do preço. Logo, montar um sistema portátil de alto nível é mais caro que montar um de mesa, então é necessário ponderar quando, onde e como você costuma ouvir música para julgar o que será mais apropriado. Se você viaja muito e está sempre na rua, pode ser que investir em um sofisticado sistema portátil faça mais sentido, mas se esse não for seu caso, será que não vale mais a pena ter algo simples na rua para poder gastar mais dinheiro em algo superior para quando você estiver em casa e poderá dedicar atenção total à música? E mesmo se você já tiver um bom sistema de mesa e quiser algo melhor para ouvir na rua, a questão não é tão simples. Esse investimento, em minha opinião, só valeria a pena caso você já tenha um fone definitivo, como um intra-auricular personalizado topo de linha, e queira tirar dele a última gota de desempenho. Caso contrário, investir num fone melhor provavelmente trará um upgrade mais sólido. No entanto, também pode ser interessante essa compra se o objetivo for montar um sistema definitivo que já irá suportar qualquer upgrade futuro. Outra situação em que vale a pena pensar num sistema portátil é no caso de o fone usado ser mais exigente ou se as funções a mais dos tocadores e/ou DACs portáteis forem úteis. Por exemplo, muitos dos players high-end atuam também como DACs para fontes externas, o que permite que eles sejam usados com um computador e outros funcionam como transportes digitais. Essas são funções que os tocadores normais geralmente não têm, e que podem ser valiosas em determinados sistemas.
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P L AY E R H I G H - E N D O U S I S T E M A M O D U L A R ?
Se você decidiu que para o seu caso vale a pena investir num sistema portátil, existem algumas opções. No início da década de 2000, vários fabricantes começaram a desenvolver amplificadores portáteis, feitos para serem usados com tocadores normais, de modo a substituir a amplificação mais fraca desses aparelhos. Alguns também vinham com DACs internos, como o Meier Audio Corda 2Move, para que eles pudessem atuar como conversores se combinados a um computador, por exemplo. E no final de 2010, a Cypher Labs e a Fostex lançaram, respectivamente, o Algorhythm Solo e o HP-P1, aparelhos que permitiam que os iDevices atuassem apenas como transportes: eles eram também DACs para os aparelhos da Apple, algo inexistente anteriormente. Desde então, mais aparelhos do tipo chegaram ao mercado. Nesse mesmo ano, uma nova tendência surgia com o HiFiMAN HM-801: a dos tocadores portáteis high-end. Até então, quem quisesse qualidade num sistema portátil tinha como opção apenas um sistema modular, mas a partir do HM-801, isso começou a mudar. Passou a ser possível ter apenas um aparelho de altíssimo nível, que em teoria trazia uma qualidade de reprodução superior à de tocadores comuns e a capacidade de empurrar fones dos mais difíceis. O aparelho da HiFiMAN foi seguido por muitos outros, como os iBasso DX100, DX50 e DX90, Sony NW-ZX1, a linha da Astell & Kern, Calyx M e muitos outros que vão entrando nesse mercado. E aí fica a questão: o que é melhor, um tocador high-end como esses ou um iPod aliado a um DAC e amplificador externos? Depende. Em sistemas desse tipo, não é só a qualidade de som que conta – existem outros fatores como conveniência, portabilidade, usabilidade e preço, que podem ser tão ou mais importantes que a qualidade da reprodução. Em primeiro lugar, os únicos players high-end que conseguem brigar em pé de igualdade com os tocadores da Apple ou da Cowon em fatores como esses são os Sony NW-ZX1 e NW-ZX2 e, talvez, os Astell & Kern mais novos – apesar de em minha opinião eles não estarem ainda nesse nível. Os outros têm problemas variados: uns são muito grandes, outros têm duração pífia de bateria, outros têm pouquíssima memória, outros possuem sistemas operacionais boçais e por aí vai. Recentemente isso tem melhorado, mas em minha opinião os tocadores high-end em geral ainda não oferecem uma experiência de uso tão elegantemente simples quanto a de um iPod Classic ou Touch.
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E a questão crucial é que os benefícios sonoros frequentemente não são tão evidentes a ponto de fazer com que as limitações sejam esquecidas. Minha experiência com equipamentos portáteis sofisticadas me lembra um pouco a que tive com DACs: uns custam mais, mas são piores; outros custam mais, mas são iguais; outros custam menos, mas são melhores; alguns custam o mesmo, mas soam iguais; e outros custam o mesmo, mas são totalmente diferentes. E mais: já encontrei players que possuem um desempenho melhor ou pior que o outro dependendo de como estão atuando. Por exemplo, o iBasso DX100 que tive me pareceu consideravelmente melhor que o HiFiMAN HM-801 quando usado como fonte ligada a um amplificador externo, mas este último me pareceu melhor quando ambos foram usados alimentando diretamente um fone de ouvido. Considerando amplificadores e DACs portáteis, a situação não é dramaticamente diferente, mas a vantagem é que geralmente estamos considerando apenas um componente e podemos controlar melhor a interação com o resto do sistema. Os tocadores high-end geralmente são considerados um pacote fechado, mas um iPod pode ser uma única fonte que pode alimentar o amplificador que se quer – e existem aparelhos dos mais variados, com sonoridades e funcionalidades diferentes. Existem até mesmo amplificadores portáteis valvulados! Uma solução interessante, porém, pode ser combinar as duas coisas, ou seja, usar um tocador high-end alimentando um amplificador portátil. Assim, tem-se uma sofisticada fonte que pode fornecer o sinal para qualquer amplificador que se queira. O problema geralmente é o custo final, mas felizmente hoje existem alguns players sofisticados, com DACs internos de alto nível, que não custam muito. Cito como exemplo o FiiO X5 e os iBasso DX50 e DX90. É a solução que uso atualmente: um FiiO X5 aliado a um HeadAmp pico Slim, sistema que se mostrou muito superior em termos de qualidade de som não só ao iPod Classic mas também a todos os tocadores portáteis que já tive, e comparável ao Calyx M, embora com uma personalidade diferente.
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R E CO M E N DA D O S
Assim como no caso dos DACs e dos amplificadores, devo frisar que não tenho experiência pessoal com alguns dos equipamentos listados e, mais do que nos outros casos, como você interpretará os resultados obtidos com esses equipamentos é imprevisível. No caso da audiofilia portátil, me parece que as opiniões são muito variadas e por vezes divergentes. Por isso, a lista a seguir deverá ser apenas um ponto de partida para uma pesquisa extensa, porém com bastante senso crítico.
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FiiO E06 Fujiyama – US$27,99 O E06 foi minha primeira experiência com um amplificador portátil, logo que comprei meu primeiro fone melhor, o Shure SE530. Por menos de 30 dólares não dá para esperar milagres, mas o E06 pode ser uma primeira experiência com amplificação portátil ou uma forma de dar um pouco mais de força a fones mais exigentes.
FiiO E12/E12A Mont Blanc – US$129,00 e US$159,00 O E12 e o E12A são os amplificadores topo de linha da FiiO. Ambos são muito atraentes e bem construídos. O E12 é uma usina de força dedicada a fones mais exigentes e o E12A é mais apropriado para fones menos exigentes. Ambos são muito competentes: energéticos, transparentes e bastante divertidos.
Cayin C5B – US$159,99 O C5B também não é um amplificador caro, mas olhando para ele não dá para dizer. Ao que parece, sua personalidade sonora segue o visual mais clássico: sua sonoridade é bastante calorosa e mais eufônica e melódica. Consequentemente, é mais apropriado para fones mais analíticos ou para quem quer um pouco de romance.
Meier Audio Corda PCSTEP – US$240,00 O Corda PCSTEP é o sucessor do Corda 2Move, que me impressionou bastante. Com ele, consegui um desempenho indistinguível do meu pico Slim, de 400 dólares, e um competente DAC. No entanto era um equipamento inconveniente, mas aparentemente isso melhorou muito no PCSTEP, mais compacto.
Leckerton UHA-6S MKII – US$279,00 O Leckerton UHA-6S MKII é muito frequentemente citado como um amplificador exemplar, muito próximo da neutralidade, com potência saudável, tamanho conveniente, ótimo acabamento e preço relativamente baixo. Existem amplificadores mais caros, mas talvez o Leckerton seja tudo o que o audiófilo viajante precisa.
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Headstage Arrow – US$399,00 O Arrow é sem dúvida alguma um dos amplificadores portáteis mais avançados do mercado. Sua espessura extremamente fina não traz contrapartidas: a bateria dura muito, a potência é impressionante e as funcionalidades são muitas: controles de grave, agudo, ganho e crossfeed. Exemplar.
Linha HeadAmp pico – US$349,00 a US$475,00 A pico é a linha de amplificadores portáteis da HeadAmp, e conta com algumas opções para propostas diferentes. Mas o que há em comum entre todos é o acabamento impecável, a excelente duração de bateria (60 horas no Slim!) e a sonoridade típica de Justin, ou seja, wire-with-gain. Neutralidade quase absoluta.
CEntrance HiFi-M8 – US$699,00 O CEntrance HiFi-M8 é enorme e muito caro, mas é quase unânime que se trata de um dos melhores equipamentos portáteis do mercado. É um conjunto de amplificador e DAC balanceados que, além de trazer várias ferramentas para talhar sua sonoridade, tem a autoridade e a competência para empurrar até mesmo um HD800.
FiiO X3 2nd Gen – US$214,95 O X3 foi o primeiro tocador portátil da FiiO, e se o sistema operacional não era nada incrível, o baixo preço aliado às funcionalidades e à qualidade de som compensavam. O X3 2nd Gen é a nova versão do aparelho, e traz a mesma filosofia do seu antecessor: simplicidade e desempenho a um preço honesto.
FiiO X5 2nd Gen – US$349,00 Nova versão do X5. Mantém a ótima qualidade de som, a boa duração da bateria e a fartura de potência, mas além do melhor acabamento e do visual atualizado, agora suporta mais formatos digitais. O único ponto negativo, ao menos para os acumuladores, é que perdeu um dos dois slots para cartões microSD.
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FiiO X7 – US$649,00 Topo de linha da FiiO, trazendo os predicados de seus irmãos menores – versatilidade, potência, expansão e bateria – porém com todos os benefícios do sistema operacional Android e um módulo de amplificação substituível, como no antigo HiFiMAN HM-801. E, como sempre na FiiO, a um preço extremamente competitivo.
Sony NWZ-ZX2 Walkman – US$1.050,00 Se há um player high-end que pode ser considerado um upgrade em todos os aspectos em relação a um iPod (incluindo sistema operacional, facilidade de uso, memória, bateria, tamanho e conveniência), é o Sony ZX2. O único problema é o preço: a mais de mil dólares, é melhor que a qualidade de som compense.
Calyx M – R$4.500 O Calyx M é, em termos de qualidade de som, o melhor tocador portátil que já ouvi – o FiiO X5 com o HeadAmp pico Slim é a única coisa que já escutei que chega perto. É quente, autoritário, eufônico e muito espacial. A memória expansível é ótima, mas o sistema operacional lento e a bateria pífia são grandes problemas.
Lotoo PAW Gold – US$2.000 Pequeno e caro tijolo que parece ter vindo diretamente de 1990 (principalmente a cômica interface), mas o PAW Gold tem grandes chances de ser o melhor tocador portátil que já pude ouvir. Alia um pouco do calor do Calyx M ao refinamento e à transparência do meu FiiO X5 aliado ao pico Slim.
Astell & Kern AK380 – US$3.499,00 Três mil e quinhentos dólares por um tocador portátil talvez entre no território da piada mas, de acordo com muitos hobbistas, é o que se paga pela perfeição. O sistema operacional e as funcionalidades são ótimas, e aparentemente ele traz um desempenho equivalente ao de sofisticados sistemas de mesa.
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CABOS
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E agora chegamos a um ponto que traz muitas discórdias no mundo da audiofilia: cabos. Se você já tiver alguma familiaridade com o hobby, deve saber que existem cabos que custam o mesmo que uma BMW e que, se para a maioria isso é motivo de piadas, para muitos audiófilos é assunto sério. Não vou entrar em muitos detalhes, até porque não sou nada versado em engenharia, mas até onde sei existem basicamente três fatores que influenciam o comportamento de um cabo: impedância, capacitância e indutância. São grandezas relacionadas, e de acordo com alguns engenheiros que conheço, num sistema de som apenas a impedância deveria surtir alguma influência audível no resultado final. A regra normalmente é que quanto menor a impedância de um cabo, melhor. Além disso há a blindagem, que faz com que o cabo seja menos suscetível a interferências que trariam ruído de fundo ao sistema. A bitola do cabo também pode trazer diferenças, mas elas são pequenas e não há um "melhor" ou "pior", apenas diferente. A questão é que nenhum desses fatores é difícil e/ou caro de se conseguir. Um bom cabo, como um Belden, em teoria já apresenta um desempenho ideal. Nenhum cabo vai melhorar um sistema, mas um bom cabo vai interferir menos – e esse é o objetivo. Já li um relato de um engenheiro mecânico que comenta que cabos utilizados na aquisição de informações em testes, como com acelerômetros, microfones e sensores de temperatura, têm de ter excepcional qualidade porque precisam transmitir dados com total integridade num ambiente incrivelmente hostil – que sofre com campos magnéticos de um motor, poeira, movimento e umidade, entre outros problemas. Esses cabos, que podem fazer a diferença entre um avião decolar ou não, não passam de 300 dólares por metro. Por que é que um cabo para um sistema de som custaria 10 ou até 100 vezes mais? E por que é que mesmo os melhores estúdios de gravação usam cabos comuns? Devo dizer que eu mesmo acredito já ter ouvido diferença entre cabos em algumas situações, mas somente porque eu estava ouvindo um em cada ouvido – e por isso comparando os dois ao mesmo tempo. Era uma diferença ínfima que ainda assim pode ser atribuída a algum desequilíbrio em algum lugar do sistema ou até mesmo diferença entre minha audição em cada ouvido. Se eu não estivesse comparando os dois ao mesmo tempo, nunca teria confiança para apontar diferenças de maneira categórica, como muitos entusiastas fazem. Como comentei na seção O Burn-In, nossos sentidos são naturalmente falhos, e o tempo necessário para trocar cabos e reiniciar um sistema já é o suficiente para embaralhar
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(e muito) a nossa percepção acerca de uma sonoridade – principalmente se estivermos falando de diferenças que são, em teoria e não considerando algumas exceções, realmente pequenas. Devo apontar, no entanto, para a existência de diversos cabos que são efetivamente projetados para atuar como filtros num sistema, ou seja, alterando intencionalmente o sinal com resistores ou capacitores e outros componentes do tipo, ou até mesmo simplesmente apresentando, por exemplo, uma impedância muito alta. Exemplos são diversos cabos da MIT Cables ou da Transparent com seus Articulation Poles ou Network Boxes – há vários relatos na internet de pessoas que conseguiram, após muita dificuldade, abrir essas caixinhas e constatar que o que há dentro delas, com frequência alarmante, é ridiculamente simples. Evidentemente, esses filtros podem trazer efeitos até desejáveis em muitos sistemas, mas em minha opinião esses efeitos podem ser atingidos de formas muito mais baratas (como por exemplo colocando um resistor num cabo comum) e, no final das contas, esse tipo de alteração vai contra o objetivo de um cabo, que deveria ser interferir menos num sinal. Ademais, o custo desses produtos me parece uma verdadeira afronta, ultrapassando com frequência os dez mil dólares. Acho que não é à toa que as caixinhas são tão difíceis de serem abertas e resultam quase que infalivelmente na quebra desse item de milhares ou dezenas de milhares de dólares: eu ficaria bem decepcionado se gastasse uma fortuna num cabo e quando abrisse encontrasse apenas um capacitor e um resistor, que provavelmente custam apenas centavos. Acredito já ter me deparado com uma dessas situações: certa vez testei um TWag com o meu antigo monitor JH13 Pro. Coloquei o TWag em um ouvido, o original no outro e liguei cada cabo em uma saída do meu amplificador, podendo ouvir os dois ao mesmo tempo. A diferença foi bem evidente, mas para pior: o TWag arruinou o JH13 Pro. Deixou o som focado nos médios, anasalado e de certa forma sem foco; era como se tudo tivesse saído do lugar. Consequentemente, me parece que o TWag é um cabo com propriedades particulares como, possivelmente, impedância muito alta. Tecnicamente, não deveria ser algo desejável – mas e se alguém preferir o resultado com ele? Não há nada de errado nisso. É o que conta. A questão, porém, é que é algo que teoricamente não deveria acontecer. Para algumas pessoas até pode ser um cabo fenomenal que leva o JH13 Pro a outro patamar, mas será que esse cabo deveria custar mais de 500 dólares? Afinal, não é difícil projetar um cabo com qualquer impedância que se queira.
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Talvez, nesse momento, você esteja se perguntando sobre marcas que apresentam justificativas mais elaboradas para que seus cabos sejam melhores – algumas dizem que seus cabos têm um campo eletrostático que polariza moléculas do isolamento, outras que seus cabos possuem “tecnologia de articulação fracional” (o que quer que seja isso) e temos até fabricantes que apelam para a física quântica e para a Teoria das Cordas para explicar o funcionamento dos seus cabos e por que eles podem custar 40 mil dólares. A questão, como já deve estar claro para algumas pessoas, é que geralmente essas teorias propagadas por fabricantes de cabos têm pouquíssima (ou inexistente) base teórica ou prática comprovada. Os sites de algumas marcas são motivo de piada para os mais versados em ciências. Chegamos ao ponto de ver cabos digitais – como USB ou HDMI – caríssimos, apesar de a função deles ser apenas transmitir pacotes de zeros e uns. De fato, a transmissão desses pacotes pode ser afetada por interferências, porém o grau de audibilidade dessa questão é duvidoso visto que os receptores dos dados digitais são competentes o suficiente para isolar o sinal dos ruídos espúrios – nesse caso, é algo muito mais fácil do que em um sinal analógico. Corrupção de dados também não é um problema – caso contrário, qualquer transferência de arquivos via USB para um pen-drive ou HD externo seria um martírio, porque eles chegariam corrompidos o tempo inteiro – e tampouco deve ser o jitter, ou seja, o atraso de alguns dados, já que hoje em dia qualquer bom conversor digital-analógico já faz um reclock do sinal, eliminando qualquer eventual anomalia temporal. Existem casos em que a transmissão USB é um pouco problemática, sendo vítima de chiados, interrupções, ou até mesmo de problemas de gerenciamento de sistema do computador. Contudo, nesses casos, não são cabos digitais caros que irão resolver, e sim acessórios como Schiit Wyrd e iFi iPurifier, os carinhosamente apelidados de USB decrapifiers – na prática, hubs USB com alimentação própria e outros recursos feitos para eliminar problemas comumente encontrados nesse tipo de conexão. Apesar de alguns relatos indicarem melhoras na qualidade de som (e, curiosamente, outros indicarem piora), o objetivo parece ser a resolução de problemas, e não melhorar o desempenho de um sistema. Cabos digitais caros não parecem fazer nenhuma das duas coisas. Mesmo se considerarmos que cabos em geral podem fazer diferenças, ainda há um problema: o quão válido é investir montantes significativos em cabos ao invés de numa eletrônica melhor ou em fones ou caixas acústicas melhores? Será que pelo preço de um cabo não podemos fazer um upgrade de amplificador, ou então comprar mais um fone que nos trará uma outra sonoridade? Ou então comprar mais músicas?
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Meu ponto aqui não é que cabos têm que ser ignorados ou que não fazem diferença nenhuma num sistema, só que não é preciso gastar fortunas com isso, porque cabos não precisam de tecnologias esotéricas ou de magia negra para atuarem de forma transparente e competente dentro de um sistema, com pouca ou nenhuma interferência no resultado final. Os cabos de força que já estão inclusos nos aparelhos são o suficiente, e o mesmo serve para cabos USB, HDMI ou óticos. Nos de interconexão, de caixa ou de fones, se você quiser pegar algo um pouquinho melhor, procure cabos bem construídos, com bons conectores e bom isolamento, como os da BlueJeans, por exemplo, que usam cabos da Belden ou da Mogami. Nada que vá custar acima de 100 dólares – isso, em minha opinião, já é bem mais do que suficiente para qualquer sistema. Porém, naturalmente, há quem discorde. Tudo o que digo aqui é apenas a minha visão pessoal sobre o assunto, e não deve ser levada como verdade absoluta. Minha percepção é de que a maioria dos hobbistas valoriza investimentos em cabos, e acha que modelos sofisticados são parte fundamental na construção de um bom sistema. Mas ao mesmo tempo em que existem audiófilos que gastam fortunas com isso, outros não o fazem e seus sistemas, ao menos em suas opiniões, não são piores por isso. Eu mesmo sou um exemplo. Em meu sistema de fones, relativamente sofisticado, composto por um HeadAmp GS-X, um Yulong D100 e pelos fones Audio-Technica W3000ANV, Grado HP1000 e Sennheisers HD800 e HD600, uso cabos absolutamente comuns. O mesmo para o sistema de caixas de som da sala, composto por um par de Jamos R907, um par de monoblocos Bel Cantos REF1000, um pré Musical Fidelity M6PRE e um DAC Eletrocompaniet DAC-1. Já cheguei a investir aproximadamente 10 mil reais em cabos para esse sistema mas, após um tempo, vendi porque vi que, para mim, não havia a menor necessidade de um investimento dessa magnitude em cabos. Um dos sistemas de fones mais insanos que já vi – que conta com dois Sennheisers HE90 Orpheus, um HE60, dois Sony MDR-R10, dois Stax SR–Ω, um Stax SR-009, um Stax SR-007, um AKG K1000, entre outros, empurrados por um raríssimo DAC Stax X2T (que custava 20 mil dólares), com transporte Accuphase e amplificadores como HeadAmp Aristaeus e BHSE – usa cabos Monoprice. É muito comum vermos sistemas sofisticados com cabos caros, mas equipamentos sofisticadíssimos muitas vezes usam cabos comuns, e não acho que eles estejam perdendo nada com isso – acho até que sobra dinheiro para coisas mais importantes.
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C U R I O S I DA D E S : FO N E S L E N DÁ R I O S
Quer saber quais são considerados os melhores fones já fabricados? Aqui estão eles. Veja que existem fones produzidos atualmente – como Sennheiser HD800 e Stax SR009 – que merecem estar nessa lista mas, fora uma única exceção, aqui vou colocar somente os clássicos, que já tiveram sua produção encerrada. Eles não necessariamente são melhores que vários dos fones atuais, mas também devido à raridade são clássicos muito valorizados pelos audiófilos.
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Sennheiser HE90/HEV90 Orpheus Até o final da década de 1980/início da década de 1990, a Stax tinha a fama de ser a melhor fabricante de fones de ouvido do mercado. A Sennheiser quis mostrar que tinha total capacidade de brigar com os eletrostáticos japoneses, e por isso decidiu criar um statement product, algo para revelar ao mundo do que ela era verdadeiramente capaz se todas as limitações – incluindo de custo – fossem jogadas pela janela. O resultado foi o sistema Orpheus, composto pelo fone HE90 e pelo energizer HEV90. À época, o sistema era vendido por aproximadamente 14 mil dólares e fones adicionais eram vendidos a 7.500. Foram produzidos inicialmente 300 fones, mas, no início da década de 2000, alguns usuários do fórum Head-fi fizeram uma petição com a ajuda de Jan Meier, da Meier Audio, e conseguiram convencer a marca a produzir mais 30 unidades. Apesar de o energizer HEV90 não ser perfeito (dizem que o HeadAmp Aristaeus traz um desempenho ainda melhor), o HE90 ainda é considerado pela maioria dos entusiastas como o melhor fone já produzido, e ainda comanda os preços mais altos no mercado de usados. Um sistema em bom estado pode ultrapassar os 30 mil dólares.
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Sennheiser HE60 O HE60, carinhosamente apelidado de “Baby Orpheus” pelos entusiastas, foi uma versão um pouco menos sofisticada e muito mais barata do HE90. O formato dos dois é muito parecido, mas o HE60 é menor e usa materiais menos nobres em sua construção: ao invés de metal e madeira, ele usa diversas peças de plástico. O alto-falante também é mais simples – o do Orpheus é conhecido por ser bem extremo, feito de vidro revestido com partículas de ouro e com alta taxa de falha durante a fabricação, chegando a 9 falhas em 10 tentativas –, mas ainda é eletrostático e consideravelmente sofisticado. A maior diferença é o energizer, o HEV70, consideravelmente menor, mais simples e no final das contas considerado um grande limitador do desempenho do fone. Hoje, grande parte dos entusiastas que usa um HE60 utiliza, junto a algum amplificador da Stax, o que melhora o resultado final consideravelmente – tornando-o merecedor do título de um dos melhores fones de ouvido já produzidos. Hoje, os “Baby Orpheus” costumam ser vendidos por aproximadamente 3 mil dólares.
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Sennheiser HE1060/HEV1060 Orpheus O sistema HE1060/HEV1060, o novo Orpheus, é o sucessor do HE90 e foi apresentado no final de 2015. Assim como o Orpheus original, o sistema é o resultado de dez anos de desenvolvimento e representa não só o melhor que a Sennheiser e seus engenheiros são capazes de fazer, mas também suas visões do que é um headphone perfeito. Trata-se, assim como seu antecessor, de um sistema composto por um fone de ouvido eletrostático, o HE1060, e um energizer e DAC, o HEV1060. Os detalhes de construção de cada componente são impressionantes: os eletrodos de cerâmica do fone são revestidos a ouro; o diafragma a platina; o chassi do HEV1060 é feito de mármore Carrara; as válvulas são colocadas dentro de tubos de vidro feitos para isolá-las de vibrações provenientes do ar; e há um estágio de amplificação dentro do próprio fone para reduzir drasticamente a capacitância que seria introduzida pelo cabo. O resultado é um fone de 55 mil dólares, o que, evidentemente, o coloca fora do alcance de 99,9% das pessoas. Entretanto, o novo Orpheus é como o Bugatti Veyron ou o SR-71 dos fones de ouvido. É um feito de engenharia que representa uma visão. Devemos ficar felizes simplesmente por ele existir.
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Stax SR-Ω Após o lançamento do HE90 Orpheus, a Stax não podia ficar parada. Sua resposta ao topo de linha da Sennheiser foi o SR-Ω, outro fone cujo desenvolvimento foi realizado sem limites. A Stax basicamente quis reescrever o que sabia sobre fones de ouvido, e ao invés de partir de algum outro fone já existente, começaram do zero. Os drivers possuem um formato diferente do tradicional e são maiores, as conchas foram desenvolvidas de forma a aumentar a resposta dos graves e os cabos foram redesenhados, por exemplo. Em 1993, era lançado o SR-Ω junto com o SRM-T2, ainda considerado o energizer mais incrível já feito. Seu preço não era tão exorbitante quanto o do Orpheus – aproximadamente 180.000 ienes, o equivalente a 1.500 dólares –, mas à época o SR-Ω ainda era assustadoramente caro. Sua produção durou aproximadamente dois anos, já que em 1995 a Stax faliu. Durante esse tempo, estima-se que tenham sido produzidas aproximadamente 600 unidades, já que já foram vistas unidades com o número de série próximos a esse número. O valor de mercado de um usado varia, mas costuma ficar perto dos 5 mil dólares.
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Sony MDR-R10 O Sony R10 é outro fone da década de 1990 que traz o título de um dos melhores já feitos. No final da década de 1980, a gigante japonesa lançou uma linha de produtos de áudio completa de altíssimo nível, a R. Ela contava com CD players, transportes, DACs, pré-amplificadores, amplificadores, caixas de som e um fone, o R10. Trata-se de um circunaural fechado, mas que aparentemente possui uma das sonoridades mais abertas e um dos palcos sonoros mais amplos do mundo dos fones de ouvido. Durante a produção de suas duas mil unidades, de acordo com entusiastas foram feitas duas versões básicas (não identificadas), uma com mais graves, Bass Heavy, e outra com um pouco menos, Bass Light. Ambas são muito bem vistas e a Bass Heavy, ao contrário do que o nome indica, está longe de centrada nas baixas frequências. As conchas do R10 são feitas de madeira zelkova e o mais interessante são os alto-falantes: seus diafragmas são feitos de biocelulose. Essa talvez seja parte da mágica do fone, mas é também seu algoz. Por ser um material orgânico, ele é biodegradável. Ou seja: apesar de no mercado de usados o preço frequentemente ultrapassar os 6 mil dólares, esse fone não foi feito para durar muito mais de 20 anos – idade que eles já têm.
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Sony Qualia MDR1-Q010 A história do Sony Q010 é parecida com a do R10. Não é mistério que a Sony é uma das maiores fabricantes de equipamentos eletrônicos do mundo, e seu portfólio é muito variado. Na década de 2000, ela resolveu fabricar uma série limitada chamada Qualia, que reuniria tudo de melhor que a marca conseguiria fazer, demonstrando suas melhores tecnologias. Havia um processador de vídeo, uma câmera filmadora, um projetor de vídeo, uma TV LCD, uma de retroprojeção e uma CRT, um tocador de SACD e amplificador, um fone, uma câmera digital e um tocador mp3 com um par de intra-auriculares. O fone, o Q010, era bem exorbitante, sendo construído em fibra de carbono e com detalhes curiosos, como o arco, que vinha em três tamanhos, ao invés de ser ajustável. O bom encaixe do Q010 é de suma importância para que seu desempenho seja bom, e isso não é particularmente fácil. Em termos de sonoridade, ele é polarizador: enquanto muitos não têm dúvida de que se trata de um clássico, para outros ele é excessivamente frio e possui uma coloração estranha, apesar do palco sonoro muito desenvolvido. Não é um fone fácil de gostar, mas definitivamente é único no que oferece.
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Audio-Technica ATH-L3000 A Audio-Technica é uma marca japonesa um tanto curiosa. Seus fones estão presentes na comunidade, mas fora um ou outro modelo de popularidade extrema – como o ATH-M50 –, eles ainda são um pouco obscuros. Quantos sistemas baseados num W5000 você já viu, por exemplo? No entanto, de vez em quando a marca cria algo realmente especial, e o L3000 é um desses casos. Trata-se de uma edição limitada da linha W, cujas conchas dos fones são feitas de madeira – nesse caso, de árvore de cerejeira revestida com couro da Connolly, fabricante inglesa que fornece para Rolls-Royce, Bentley, Aston Martin e outras marcas automotivas de alto luxo. O L3000 é o fone de ouvido mais caro que a Audio-Technica já produziu, sendo todas as suas unidades vendidas a 2.500 dólares. Delas, 50 foram revestidas com couro verde. Consequentemente, o L3000 é um fone extremamente raro no mercado, e que, quando é vendido, ultrapassa os 3 mil dólares. Em termos de som, o famoso fone de couro apresenta uma personalidade energética e extremamente autoritária, com graves que não raramente são vistos como os melhores do mundo dos fones.
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Grado HP1000 A Grado foi criada por Joseph Grado, e fabricava principalmente cartuchos para toca-discos e microfones. No final da década de 80, insatisfeito com o que estava disponível no mercado para monitoração, o engenheiro decidiu criar o melhor fone possível – um que fosse apurado, consistente e confiável para esse fim. Foi aí que surgiu o HP1000, considerado um dos primeiros fones dinâmicos verdadeiramente high-end. É um circunaural que foi produzido em edição limitada – todas as mil unidades foram feitas à mão pelo próprio Joe, usando alto-falantes fabricados pela Primo do Japão de acordo com suas exigências, em três versões: HP1, com um seletor de polaridade, o HP2, sem o seletor, e o HP3, também sem, e ainda com drivers com um casamento mais tolerante a erros (nas outras versões é 0.05 dB; no HP3, não se sabe). Também existem duas variações de cabo. O preço atual de mercado costuma variar entre 1.500 e 3.000 dólares, dependendo da versão e do estado geral do fone. Independentemente da versão, porém, o HP1000 ainda é considerado um marco em termos de neutralidade no mundo dos fones de ouvido, capaz de competir com modelos muito mais atuais.
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AKG K1000 Alguns fones dessa lista foram uma tentativa de fazer o melhor fone do mundo. Mas o mais ousado dentro dessa busca é sem dúvida alguma o AKG K1000. Ele não é exatamente um fone de ouvido: mais do que qualquer fone que se venda dessa forma, ele é um verdadeiro earspeaker, um pequeno par de caixas de som suspenso na frente dos ouvidos. O K1000 foi uma tentativa da marca austríaca de criar um novo conceito em áudio pessoal – um que alia aspectos de fones de ouvido à espacialidade proporcionada por caixas de som. Esse AKG não é perfeito em termos de equilíbrio tonal ou de detalhamento e pode ser incrivelmente difícil de empurrar (poucos amplificadores de fones têm a potência necessária para ele, que geralmente é ligado diretamente a amplificadores de caixas de som), mas o que ele oferece é absolutamente único no mundo dos fones de ouvido. Diferentemente de qualquer outro, o palco sonoro projetado pelo K1000 parece um pequeno palco ao redor do ouvinte, totalmente fora de sua cabeça. Sua produção durou muito tempo, e mais de 10 mil unidades foram feitas, com alguma variação durante a produção. Hoje, o valor de mercado fica entre 1.200 e 1.800 dólares.
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A B U S C A À F I D E L I D A D E T O TA L
Uma das melhores definições de audiofilia que já li afirmava que se trata do reconhecimento de que a qualidade da reprodução afeta o aproveitamento da música. Concordo plenamente, mas é muito curioso perceber o quanto essa qualidade da reprodução é subjetiva. Consequentemente, existem diversas correntes muito divergentes no meio audiófilo – cada uma com suas peculiaridades, preferências, vantagens e também mitos e falsas verdades. No fundo é tudo uma questão de gosto. No entanto, mesmo aqueles que preferem a eufonia ao invés da fidelidade ainda têm grande preocupação com a neutralidade. Uma das preocupações da audiofilia é justamente que a reprodução seja próxima da performance original. Mesmo os audiófilos da “linha eufônica” exigem essa proximidade. E daí vem o tão buscado conceito de neutralidade. Basicamente, um equipamento é neutro quando apresenta de forma passiva o sinal que lhe é fornecido, para que o resultado final seja o mais fiel possível à performance original. Eu mesmo uso e abuso desse termo. Mas será mesmo que isso é possível? Pensemos primeiramente em como funciona um processo de gravação comum. Um instrumento acústico ou uma voz têm seus sons captados através de um microfone, que já impõe sua voz própria no sinal, e este é transmitido para um pré-amplificador e então para a mesa através de cabos. Tanto os cabos quanto o pré e a mesa também têm influência no sinal. Caso o instrumento seja amplificado, pode-se gravá-lo usando um microfone num determinado amplificador – escolhido pelo artista – e aí o processo se repete, ou então ele pode ser ligado diretamente num pré que vai para a mesa de som – e nesse caso existe uma necessidade ainda maior de efeitos, que simulam um amplificador, reverberações, etc. Falando em reverberações, temos uma outra grande influência no processo: a acústica. Gravações de gêneros populares costumam ser realizadas em espaços acústicos mortos, ou seja, desenhados para o som não rebater. É uma experiência estranha, os sons nascem e morrem neles mesmos. O objetivo é gerar a gravação mais crua possível, e os efeitos de reverberação – necessários para que a música soe agradável – são adicionados artificialmente. Algumas gravações mais pretensiosas – ou gravações ao vivo de performances acústicas, como as de música clássica – são realizadas em salas escolhidas a dedo por sua acústica. Nesse caso, são gravações mais puras.
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Mas aí entra um outro problema: como é o palco sonoro imbuído na gravação? Se mais de um microfone for usado, o que é o caso em 99,9% das gravações, mesmo as com pretensões audiófilas – acho que a única gravadora que utiliza frequentemente um microfone só é a Chesky Records –, a mesclagem deles deve ser feita pelo técnico de som. Em gravações normais, de estúdio, o problema se agrava, porque todo o palco será inteiramente artificial: os instrumentos costumam ser gravados separadamente, e os efeitos de reverberação também são artificiais, então a espacialidade é totalmente fabricada. Fora isso, temos também o fato de que as músicas são sempre mixadas e masterizadas – processos em que se aplicam efeitos, equalizações, ajustes, overdubs, auto-tune… é um longo processo, e ao final ainda temos, normalmente, que nos render aos males da compressão, para que o resultado seja minimamente alto (leia sobre a Loudness War). Percebeu a quantidade de processos envolvidos? Mesmo em gravações com o puro objetivo de serem fiéis ao original, temos as mais diversas influências que deixam o que está gravado na mídia realmente distante do que realmente aconteceu quando o som foi gravado. Se formos até os gêneros populares, sujeitos a demandas bem diferentes, é melhor desistir… O ponto é que até a mídia temos um longo caminho, e da mídia até a reprodução sabemos bem o que acontece: DACs, toca-discos, pré-amplificadores, powers, fones de ouvido, cabos, caixas de som, a acústica do ambiente… como podemos esperar que o que ouvimos seja exatamente o que aconteceu no dia da gravação? Sei que ninguém espera isso dessa forma, é absolutamente impossível. Mas mesmo se diminuirmos nosso grau de exigência, e nos ativermos a exigir apenas que seja fiel ao que está na mídia em si, o que está na mídia foi produzido por um ser humano, com seu gosto pessoal, e conforme o que – de acordo com os seus ouvidos, nos seus monitores de referência, com os equipamentos de gravação disponíveis, no dia da mixagem e da masterização – lhe soava bom e próximo do evento original. Num outro estúdio, com outro técnico, o resultado seria diferente. E uma outra música, gravada num outro estúdio, com outro artista e outros equipamentos, terá sua mixagem feita de maneira diferente. Vai ser produzida e julgada em circunstâncias diferentes e o resultado vai atingir uma determinada “neutralidade” naquele momento que não seria necessariamente replicada se fosse reproduzida no estúdio do primeiro caso. Consequentemente, o que está gravado naquele CD ou vinil não é a performance
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original. É uma interpretação, em muitos casos muito distante do evento que gerou a gravação. Novamente, qualquer som gravado está sujeito a isso, em menor ou maior proporção. E então, como podemos exigir neutralidade de um equipamento? Como pode ele ser “neutro” e renderizar com competência o Death Magnetic do Metallica ao mesmo tempo que mostra toda a humanidade e sinceridade do Dirt Floor, de Chris Whitley? Isso me parece impossível. O que está na mídia já é distante do artista, que passou por diversas alterações, interpretações e subjetividades até chegar ali. Daí para o nosso fone ou caixa de som, o processo basicamente se repete, e, no final das contas, o que ouvimos está sujeito ao nosso julgamento do que é neutro. Devemos ter a consciência de que essa busca infindável pela neutralidade em qualquer gênero não é possível, e um equipamento que se dá muito bem com a visceralidade de um rock ou metal pesado dificilmente se dará bem com uma delicada performance de uma sonata de piano. Os processos de gravação foram distintos, o estilo dos equipamentos usados, das salas, dos técnicos e engenheiros de som e até mesmo as intenções dos artistas também são muito divergentes. Todo o processo, desde o acontecimento musical até a gravação trilhou caminhos diferentes; então, para fazer a mídia voltar ao acontecimento, provavelmente precisaremos de equipamentos de reprodução diferentes. Isso me lembra os Sennheiser Orpheus e HD800. Em termos absolutos, é possível dizer que o HD800 é mais neutro. Ele é mais passivo, enquanto o Orpheus segue uma linha mais eufônica. O problema é que o que ouço de músicas acústicas no HE90 me soa infinitamente mais neutro e envolvente do que o que ouço no seu contemporâneo, que me parece frio e seco. É mais humano, muito mais parecido com o que ouço de um violão tocando na minha frente. Ali existe um calor, uma envolvência que o HD800 não apresenta. Ele pode estar mais perto da mídia, mas quem está mais perto do acontecimento musical não é ele – é o Orpheus. Com suas sensíveis colorações e particularidades, ele acaba voltando à performance original, enquanto o HD800 se limita à mídia. O problema é que muitos audiófilos parecem não entender essa questão, e se perdem montando um sistema de dezenas ou centenas de milhares de dólares que soa perfeitamente bem com o CD de testes da Dynaudio, com músicas que eles não conhecem e não gostam, e depois restringem-se a ouvir e procurar gêneros que também soem bem no sistema que montaram. Qual o valor disso? A música e nossas
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preferências devem reger o sistema, não o contrário. De que adianta basear nosso suor e nosso investimento para construirmos algo que vai acabar ditando o que vamos ouvir? A música deveria ser o foco. O resultado disso é o tão temido “equipamentófilo”: aquele que gasta tempo e, principalmente, dinheiro montando um sistema exorbitante para ficar ouvindo aquela peça de percussão excepcionalmente bem-gravada ou para ficar procurando toques de telefone, passarinhos cantando e galhos quebrando a 2,7 km do microfone no momento da gravação. Não estou em momento algum dizendo que não devemos procurar a neutralidade. Eu mesmo busco isso, mas acho que é muito importante termos consciência de que essa não passa de uma utopia, e o que ouvimos nunca vai ser absolutamente fiel ao que está na mídia e muito menos à performance original. Todo o processo é permeado por imperfeições e subjetivismos. É claro que é de nosso interesse que obtenhamos um alto nível de passividade de nossos equipamentos, mas não podemos nos render à obsessão do detalhamento e da neutralidade absoluta em detrimento do mais importante: a humanidade da música. O resultado pode ser uma desvirtuação dos objetivos desse hobby. Devemos abraçar a ideia de que nunca conseguiremos essa passividade absoluta de nossos equipamentos. Daí vem o motivo para muitos hobbistas terem mais de um fone para diferentes ocasiões – cada um vai interpretar uma situação de uma forma diferente, e cada um deles vai calhar de estar “mais certo” em momentos diferentes. Nessa decisão, respeitando-se, obviamente, alguns limites de tolerância, não existe o errado – quem vai decidir isso é você. Apenas você.
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GLOSSÁRIO DE TERMOS
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• Agressividade: Personalidade energética, vigorosa mas cansativa. Geralmente, uma sonoridade agressiva tem uma grande quantidade de médios e/ou agudos em relação aos graves. Analogia: o som de uma banda de rock muito pesado. • Agudos: Frequências mais altas, como as emitidas por pratos de bateria ou o zumbido de um mosquito. • Ambiência: Espacialidade da gravação. Como ela apresenta um espaço definido ao redor dos instrumentos, que interagem com ele e reverberam – ou seja, com um equipamento que proporcione boa ambiência, fica mais fácil enxergar o acontecimento musical como se ele estivesse acontecendo numa sala real. • Analítico: Relacionado a frio. Mais preocupado em mostrar a gravação em todos os seus detalhes do que proporcionar uma audição musical e cativante. Geralmente significa que os agudos são proeminentes e os médios e graves, secos. Analogia (oposto de quente): pense numa sala minimalista, mais fria, com piso de mármore branco, poucos móveis brancos e janelas mostrando um exterior frio. • Arejamento: Apresentação leve, que aparenta trazer ar no espaço entre os instrumentos. Sensação atribuída a alta atividade na região dos agudos. • Ataque: Sensação de força e vigor, geralmente relacionada a graves com impacto e/ou médios para a frente. É como se as notas chegassem realmente atacando, com força. • Brilho: Picos na região aguda que trazem, literalmente, uma sensação de brilho no som. • Colorido: Diferente de neutro – com diferenças evidentes em relação à realidade. Analogia: é como se fosse uma imagem com um filtro de embelezamento. • Corpo: Som que aparenta ser encorpado, com massa e volume, oposto de um som fino. Relacionado a tridimensionalidade. • Decaimento/Roll-off: Diminuição do volume nos extremos das faixas de frequência. No limite dos graves ou dos agudos, o alto-falante progressivamente começa a parar de responder com o mesmo volume. • Definição: Capacidade de mostrar cada instrumento ou som de maneira definida, com bom detalhamento e precisão espacial.
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• Detalhamento: Capacidade de mostrar os detalhes da gravação, como o atrito físico entre os dedos do violonista e o violão, o passar do arco do violino nas cordas ou o sopro num saxofone. • Dinâmica: Como se fosse a “amplitude” da música, a diferença de volume e espaço entre os sons mais baixos e os mais altos da gravação. Um som dinâmico é capaz de distinguir claramente as passagens mais calmas das mais intensas. • Doce: Som relaxado e calmo, oposto de energético e agressivo. Geralmente relacionado a médios mais suaves, sem agressividade, e agudos comedidos. • Energia: Vigor, força e/ou impacto. Um som energético é mais vivo, mais animado e divertido. • Equilíbrio tonal: Equilíbrio entre cada faixa de frequência – graves, médios e agudos. Um equilíbrio tonal bom e neutro apresenta as mesmas quantidades de cada faixa. • Escuro: Oposto de um som claro, com brilho. Geralmente significa médios e graves presentes e agudos recuados. Detalhes ficam mais escondidos. • Espacialidade: Similar a ambiência. Capacidade de mostrar, na gravação, um espaço definido ocupado por cada instrumento. • Estridência: Volume excessivo de médios e/ou agudos em relação ao restante, gerando um som estridente e altamente cansativo. Analogia: é como se fosse uma pessoa gritando, ao invés de falando. • Eufônico: Ver quente. Similar a doce e musicalidade. Personalidade que prioriza um “embelezamento” da apresentação, tentando torná-la mais agradável, em detrimento da neutralidade. Oposto de analítico e relacionado a quente. • Extensão: Até onde os graves e agudos são audíveis com bom volume, antes de um decaimento/roll-off significativo. • Frio: Subjetivo! Minha visão parece ser a da maioria, mas sei de pessoas que interpretam da maneira oposta. Contrário de quente e fortemente relacionado a analítico. Geralmente significa graves recuados e secos e agudos excessivos e ásperos. Analogia (idêntica à de analítico): pense numa sala minimalista, mais fria, com piso de mármore branco, poucos móveis brancos e janelas mostrando um exterior frio.
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• Granulação: Sensação de “grãos” na sonoridade, que fazem com que ela não pareça lisa. • Graves: Frequências mais baixas, como contrabaixos ou bumbos de bateria. • Imagem: Relacionado a palco-sonoro e espacialidade. Apresentação da música de maneira correta no que diz respeito ao espaço apresentado, com um espaço definido e cada instrumento ocupando uma porção específica desse espaço. • Impacto/Punch: Força, geralmente relacionada aos graves. Ver ataque. • Macio: Relacionado a doce, quente, eufônico e musical – ver essas definições. Som calmo, inofensivo e ligeiramente esmiuçado. Em minha interpretação, são sons que possuem poucos agudos que trariam “picos” e consequentemente uma sensação de granulação. Pode significar que falta definição. • Médios anasalados: Sons que parecem ser anasalados e, consequentemente, distorcidos e não naturais. Analogia: é como se falássemos com o nariz entupido ou cobrindo a boca com as mãos em forma de concha. • Médios: Frequências médias, entre graves e agudos. É onde se encontra a resposta de boa parte dos instrumentos, como a maioria das vozes, guitarras, saxofones ou trompetes. • Musicalidade: Também é subjetivo no que realmente representa, mas significa uma apresentação agradável, possivelmente em detrimento da fidelidade. Similar a eufônico. • Neutro: Som fiel ao original, seja à gravação ou ao verdadeiro som dos instrumentos. • Palco sonoro: Relacionado a imagem, espacialidade, recorte e arejamento. Capacidade de mostrar, através do som, um espaço definido onde os instrumentos estão tocando para que a música aconteça. • Para a frente/forward: Com maior volume em relação ao resto. Relacionado a agressivo. • Pesado: Forte e maciço. Geralmente é usado para graves, o que significa que os graves são fortes e volumosos. Analogia: pense numa pessoa muito pesada pisando forte no chão.
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• Pico: Pequeno segmento da resposta de frequência com grande volume relativo ao resto. • Presença: Literalmente, estar presente e audível dentro do todo. • Profundidade: Palco sonoro que parece apresentar profundidade além de comprimento, com instrumentos que dão a impressão de estar audivelmente atrás de outros. • Quente: Subjetivo! Minha visão parece ser a da maioria, mas sei de pessoas que interpretam da maneira oposta. Oposto de frio. Apresentação mais musical, com graves e médios doces e macios e agudos mais comedidos, sem qualquer agressividade. Analogia (oposto a frio e analítico): pense numa sala aconchegante, toda de madeira, com carpetes, sofás com almofadas fartas e uma lareira. • Recorte: Definição dos limites espaciais de cada instrumento dentro do palco sonoro apresentado, de maneira que cada um deles tenha seu lugar próprio que não interfira com o dos outros. • Relaxado: Oposto de energético. Som calmo e inofensivo, geralmente relacionado a quente, musical, doce e eufônico. Ver essas definições. • Resolução: Capacidade de resolver passagens musicais com competência, ou seja, tudo deve ser propriamente definido espacial e temporalmente, sem embolações. Ou seja, cada instrumento ou som deve ter seu espaço e seu tempo dentro da música, sem invadir os dos outros. Relacionado a transparência, velocidade e detalhamento. Analogia: é como com vídeo – um fone com boa resolução mostra a música como se ela fosse em Full HD ou 4K, enquanto um fone com baixa capacidade de resolução a mostra no que aparenta ser uma resolução padrão, ou seja, com imagens mais emboladas e menos definidas. • Resposta de frequência: Como o fone responde em diferentes frequências (sons graves, médios e agudos). Se um fone é neutro, há pouca variação entre a resposta em diferentes faixas de frequência. • Seco: Oposto de “gordo”; som magro e definido. Pense em “tuc” ao invés de “tummm” • Sibilância: Problema nos agudos que causa um som de “S” rasgado.
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• Textura: Capacidade de mostrar o som de instrumentos de maneira física e realista, como se fosse, de fato, uma textura audível. Por exemplo, num fone com boa textura nos graves é possível ouvir a vibração das cordas e ela batendo nos trastes. • Timbre: Característica tonal/personalidade sonora de algum instrumento • Transparência: Habilidade de ser transparente, mostrando a música em todos os seus detalhes. Analogia: ouvir música num equipamento transparente é como se fosse ver o exterior através de uma janela transparente, mas esse exterior talvez não seja tão bonito e agradável. • Tridimensionalidade: Capacidade de mostrar instrumentos que aparentam ter um corpo e uma massa definidos, tridimensionais. • Velado: Oposto de transparente. Som que esconde detalhes com o que aparenta ser um “véu” sobre a música, impedindo que nuances sejam ouvidas. Analogia: ouvir música num equipamento mais velado é como se fosse ver o exterior através de uma janela mais opaca. Vê-se o exterior, mas não os menores detalhes. • Velocidade: O quão rápido o fone responde a sinais elétricos. Um fone rápido apresenta um som que aparece muito rápido e decai muito rápido. Em geral, fortemente relacionado a uma apresentação seca e analítica. • Wire-with-gain: Expressão em inglês que significa, literalmente, fio-com-ganho, e é usada para caracterizar amplificadores que atuam justamente como um “fio com ganho”, ou seja, não imprimem suas características sonoras, sendo quase perfeitamente neutros.
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vers達o 0.8