PLURAL
Edição Única - Novembro 2014
Jornalismo Especializado Revista experimental de alunos do quinto semestre de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Católica de Brasília
p jornalismo diferença fato difundir católica inspiração produto diversidade
fo transcor
efeito produtividadere
investigarexaminar identidade inclusão te atualidade convergê
influência vi estereótipo leitura educação co pauta cultura compree
sociedade
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atual
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rtexualidade classificar estemunharuniversidade resumir ência concepção sociedade xplicaçãofotografia
onheciment ensão analisar
isual cogitarorganizar comunicar
ceito ideologia editorial ição estudar Plural 2014
Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Secretário Geral: José Teixeira da Costa NazaCoordenador do Curso de Comunicação Social: Luiz Carlos Iasbeck Professor Responsável: Drª.Sofia Cavalcanti Zanforlin
Plural 2014 Editor-chefe: Natália Roncador e Jaqueline Batista Imagem: Kamila Braga e Renata Albuquerque Diagramação: Leonardo Resende Arte: Bárbara Cabral
Revisores: Aline Tavares e Mariana Nunes Checadores: Isabela Vargas e Renata Albuquerque Editor de Educação: Isabela Coelho Editor de Esportes: Filipe Cardoso Editor de Cultura: Yago Pêra Editor de Cidades: Sued Vieira Editor de Sociedade: Marina Maria Especial: Isabela Vargas Repórteres: Natália Roncador, Jaqueline Batista, Kamila Braga, Renata Albuquerque, Leonardo Resende, Bárbara Cabral, Aline Tavares, Mariana Nunes, Isabela Vargas, Isabela Coelho, Filipe Cardoso, Yago Pêra, Sued Vieira e Marina Maria
Editorial Aos queridos leitores, A revista que irão ler é resultado do esforço e trabalho dos alunos da Universidade Católica de Brasília, referente a disciplina Jornalismo Especializado I (2/2014), com orientação da professora Sofia Zanforlim. O intuito da revista é utilizar a linguagem jornalística para falar de temas que afoitam a sociedade, mas que são barrados pelas linhas editoriais dos grandes veículos de comunicação. Nossa missão é falar sobre polêmicas, opinar e apurar aquilo que é de interesse geral da população. Como futuros profissionais, é nosso dever ampliar as discussões e se livrar da censura e sensacionalismo do jornalismo tradicional. Não haverá matéria que não se adequará a linha editorial, desde que ela esteja comprometida em relatar uma opinião e fato ao cidadão. Muitos temas e polêmicas são vetados à sociedade, porém, na revista, a preocupação maior será publicar textos e ideias que não seriam publicados em outros veículos. O modelo conservador de pensamento será descartado, e todas as ideias serão noticiadas. Os posicionamentos ideológicos serão bem estruturados e não haverá preocupação em escondê-los. Somos jornalistas atrás da oportunidade de expor a voz, opinião e verdade. Nosso leitor é engajado e inteligente, que deseja ampliar as discussões. A revista foi estruturada de maneira objetiva, contando com as editorias de Cidades, Sociedade, Educação, Esportes e Cultura, fechando com uma sessão especial, que abrange outros estilos jornalísticos. Esperamos que usufruem da leitura e que aproveitem a oportunidade para ampliar discussões e pensar em novas possibilidades. Boa leitura! Jaqueline Chaves Natália Roncador Editoras- chefe
Cidades
16 20 24 Capital da Moda
Apesar do grande consumo de produtos do mercado na Capital, a moda local está longe de propagar tendência e lançar marcas inovadoras
O direito à cidade: a apropriação democrática do espaço urbano
Projetos realizados nas estações de metrô do Distrito Federal levam arte à população
Nem tudo é perfeito
Santa Maria e Taguatinga, duas cidades administrativas do Distrito Federal que passam por mudanças
Foto: Kamila Braga
28 30 Brasília de quem para quem?
Moradores de área central fazem protesto contra implantação de políticas públicas
Sorria você está sendo filmado
Número de câmeras de vigilância e de trânsito teve aumento significativo na capital nos últimos meses, mas qual é o limite entre a segurança e a invasão de privacidade?
Sociedade Foto: Kamila Braga
32 34 O movimento sindical de volta ao cenário político
Os anos 1990 representaram um duro golpe no sindicalismo brasileiro. A partir dos anos 2000, no entanto, o setor retomou parte das mobilizações de outros tempos
Engavetados
O destino de quem faz 18 anos em orfanatos
Foto: Kamila Braga
35 36 As drogas e o gato de Schrödinger
O conceito foi desenvolvido para explicar eventos de física quântica, mas filosoficamente falando, serve também para descrever a relação de um indivíduo com as drogas.
Religião Islâmica X Terrorismo
Conhecendo o Islamismo é possível mostrar que os atos terroristas não podem ser justificados pela religião.
Educação
38 40 41 Arte como escola
Aplicação do método artístico de ensino melhora desempenho e interesse dos alunos, além de estimular a criatividade na educação especial
O cavalo também pode ser o melhor amigo do homem
A equoterapia atua no tratamento de pessoas portadoras de necessidades especiais.
Pelo direito de sentir-se incluído
Sancionada pela presidente, lei garante a inserção de autistas em escolas normais
Foto: NatĂĄlia Roncador
42 Jovens em busca de estabilidade financeira para alcançar a forma-
Cada vez mais cedo eles buscam o funcionalismo pĂşblico e adiam o sonho da vaga na universidade
Esportes
43 44 47 Ressignificação do esporte: o futebol dos Paresi
O futebol de cabeça na tribo Paresi carrega sentimento por sua origem e simbologia por ser realizado em situações especiais
Beisebol e Rugby em Brasília: Esporte de elite?
Com público seleto pouco a pouco modalidades vem encontrando espaço na cidade.
Além de torcer, o futebol grita por direitos
Grupo Bom Senso F.C tenta reivindicar os direitos dos jogadores de futebol
Cultura
48 51 52 A vida dos artistas de rua por trás dos espetáculos
Apesar da difícil jornada independente, esses artistas constroem sonhos, correm atrás do sustento e também fazem expectativas futuras
Eu não sou da sua rua
Lápis, caderno. Ação!
O centro de Taguatinga hospeda biblioteca pública, estação do metrô, pontos de parada, lojas, ambulantes, transeuntes e é palco de muitas histórias
O projeto Encine levará cinema às salas de aula de escolas públicas
Especial
53 56 57 Patrimônio Cultural Imaterial
Tradições contribuem para a valorização da cultura brasileira
Manual do Coxinha
B de Blasé
B de Brasília. B de Blasé. Junte os dois e ganhe focos de individualismo na cidade. Uma atitude comum, mas que pode fechar várias portas para novas experiências.
Foto: Bárbara Cabral
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O conto do brasileirão por uma
Em 1995 o Botafogo brilhou. Pena que a estrela se apagou. Mas a esperança é a última que morre - o mimimi que talvez não.
Cidades
Capital da Moda
Apesar do grande consumo de produtos do mercado na Capital, a moda local está longe de propagar tendência e lançar marcas inovadoras Natália Roncador
C
om o céu colorido, pessoas de todas as regiões do Brasil, o amarelo e rosa das árvores do cerrado e a terra avermelhada, Brasília tem todas as características para ser a capital da moda. Uma cidade em formação que com alguns retoques terá todo o potencial para lançar tendências pelo Brasil. A moda, em geral, tem tido uma ascensão pelo País, principalmente com a ajuda das redes sociais. O Brasil já é considerado um local do qual entrega bons nomes da moda e costura ao panorama internacional. Além disso, uma de suas cidades, São Paulo, recebe título de uma das cidades mais fashionistas da América Latina, ou ainda, do mundo, principalmente pelas grandes inovações lançadas a cada ano pela São Paulo Fashion Week. Brasília é uma das cidades brasileiras com maior potencial de se lançarem fortemente no mundo da moda e virar referência de modelo de mercado. Mas, ao contrário do que indicaria nossa realidade, ainda estamos em um patamar atrasado quanto a lançar vanguardas e realces de moda. O consultor de moda e coordenador do curso de graduação de design em moda do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), Marco Antônio Ramos Vieira, explica o motivo do crescimento de interesse pelo mercado de moda. “A moda, como um espetáculo, sempre vai ter uma série espécie de impactos sobre as pessoas, pois ela mexe com imagem, e a imagem está ligada a maneira que as pessoas se apresentam”, afirma. Ele acusa as redes sociais de serem os principais repercussores da ideia. “Precisamos redimensionar a expressão ‘espetáculo’, pois hoje a imagem se encontra disseminada em maneiras diversas, não somente em uma lógica de espetáculo megalomaníaco, mas nas redes sociais e o que elas propiciam para as pessoas. Todos podem divulgar suas imagens e, assim, a imagem é democratizada e banalizada, ao mesmo tempo”, diz o coordenador. Marco Vieira explica porque a internet é um aliado das vendas, e ainda, porque há a preocupação constante com o consumo de certos produtos de moda. “A internet bombardeia o cotidiano das pessoas com imagens, e isso faz crescer o interesse. O que subjaz toda essa lógica são os mecanismos que presidem ao consumo, por exemplo, o desejo de ter determinadas coisas de uma determinada marca. Em tese, você atingira outro patamar de imagem, reconhecido publicamente. Como uma senha de acesso a outro mundo, que não seria atingido por outra forma”, justifica. Segundo o especialista, o mercado de moda Brasileiro tem enfrentado uma crise, dada pela entrada de grandes marcas internacionais, das quais as nacionais não conseguem competir, além da invasão
do ‘fast fashion’, uma opção de moda barata, rápida e massificada. O especialista afirma que, em Brasília, esse cenário é acentuado. “Brasília é um reflexo do que está acontecendo no Brasil, com uma lógica precária, que é a lógica do serviço publico, e moda é tudo menos serviço público. Até os alunos tem dificuldade para entender isso, porque a mentalidade de Brasília corrompe. Mesmo sem saber, eles estão esperando passar em um concurso e não se preocupar com o amanha. E a moda é justamente o contrario, moda é se arriscar”, afirma o consultor de moda ao falar que, devido a história de Brasília ser muito recente e com o estilo de vida das pessoas, a moda acaba se organizando de uma forma diferente. O coordenador do curso afirma que o mercado de moda em Brasília é imerso de marcas que não lançam tendência, mas sim copiam aquilo que já foi dito. “Acho que em Brasília, estamos muito ligados aos espetáculos de moda, mas não se tem essa preocupação pelo fomento local. Temos pequenas lojas que causam impacto, mas não são de vanguarda, que propõe uma visão de moda. Essas marcas editam ideias que já foram escritas e divulgadas, então elas não nos fazem pensar nas possibilidades da moda”, diz. Para ele, o maior problema do mercado de moda em Brasília é a falta de uma conscientização de que não adianta ter uma visão estética se não há o pensamento business e de mercado É preciso ter planejamento e organização empresarial sobre certa marca. Ele afirma que a falta de compromisso profissional com a área é o que mais prejudica o crescimento de mercado. “A moda em Brasília adormeceu nos últimos tempos. Houve uma espécie de desilusão quando descobriram que o espetáculo em si não resolveria o lado business. Falta ainda um profissionalismo para a moda na cidade. O empresário não quer pagar o que as pessoas acham que merecem receber e, além disso, nossos profissionais não estão preparados. Assim, temos um descompasso. É uma área que as pessoas não veem sentido de investir. É uma situação delicada ainda”, afirma. Ele diz que o mercado não oferece o nível de produto que entendedores da moda iriam consumir, se resumindo a um mercado fraco.
“Brasília
é uma das cidades brasileiras com maior potencial de virar referência de modelo de
mercado”
Novos no mercado
Ainda com toda a problemática de estrutura do mercado de moda em Brasília, muitos jovens se arriscam a entrar na área e começar seu próprio negócio. Muitos destes, começaram seu interesse através de outros meios e outras profissões, deixando de lado, algumas vezes, cursos de graduações para seguir no ramo.
Foto: Rodrigo Zago
A aluna de Jornalismo, pela Universidade Católica de Brasília, Amanda Costa, no seu sexto período de faculdade, acabara de entrar no ramo da moda e lançará, este mês, sua primeira coleção com uma marca de sua autoria e confecção própria. Desde muito nova, sua opção era estudar design de moda. Porém, por medo do mercado de moda pequeno de Brasília, Amanda acabou entrando para o curso de Jornalismo, onde se deparou com a fotografia. Neste momento, a aluna viu a oportunidade de trabalhar com moda, ainda dentro de sua graduação. Assim, ela e uma amiga desenvolveram a linha de roupas Suprema Corte. A marca é divulgada por um perfil na rede social ‘Instagram’. Sua amiga tem experiência como modelo. Então, elas desenham as roupas, costuram e fazem as produções de divulgação, com Amanda na produção e fotografia e sua parceira vestindo as confecções. Para atrair olhares das consumidoras, elas vão abastecer o perfil e uma conta criada no site Youtube com tutoriais de maquiagem e cabelo. Além disso, para vestir os looks e ajudar nos tutoriais, elas irão convidas leitoras e jovens que tentam seguir carreira de modelo, pois ampliando a participação do público, elas acreditam que mais pessoas irão procura-las e, assim, as roupas terão maior visibilidade. Como consultor de moda, Marco Vieira afirma que a primeira coisa que faz ao analisar uma nova linha de roupa é ver a congruência no que a estilista diz que faz, e o que ela realmente produz. “Você só pode ter um negócio a partir do momento que tudo que você faz se auto- justifica. Você precisa de um bom texto, com coerência e coesão. Visão pra além do muro do qual elas estão dentro, para entender como o produto dela estabelece uma lógica de tensão entre os concorrentes”, auxilia ele aos novos estilistas. Ele diz que acredita no potencial de Brasília, e que muitos artistas da moda já foram lançados por Brasília, mas ressalta a importância do planejamento para que a marca seja bem sucedida. “Eu acho que já tivemos grandes estilistas que saíram daqui, com uma visão criativa muito grande. Mas a moda precisa de um desdobramento mercadológico, você pode ter o apoio da mídia e aparecer muito, mas não ter um sucesso comercial. É normal da nossa cidade você ter algumas lojas que não tem uma experiência estética e, ao mesmo tempo, outras que tem uma estética autoral não se estruturam como business, então elas desaparecem do mercado”, conclui. O coordenador do curso de design em moda diz que o mais importante é saber os caminhos da moda, e assim saber como usufruir destes. Ele relembra, também, o cuidado que é preciso ter com a confecção do produto e apresentação final. “Precisamos andar com a moda, tem gente que está há dez anos na mesma linha e não saiu de onde começou. Tem moda que é potencia, mas não é desmembrada e amadurecida. Você não faz design só com poética, e sem resolução. A elite de Brasília jamais compraria uma roupa dessas. As coisas em Brasília estão divorciadas, ou é uma roupa que parece experiência de laboratório de um aluno, ou é uma roupa bem acabada e decente, mas sem poética alguma”, justifica.
Ela afirma que conhece muitas pessoas que vivem de blog de moda na Capital, fazendo exclusivamente o trabalho e se sustentando. Além de se sentirem realizadas na profissão, de acordo com Mariana. Ela diz que o trabalho de blogueira não fácil, e que as profissionais de sucesso só conseguiram alcançar um auge da carreira por conta do seu tempo de mercado. “Tudo tem um preço. As que conheço são pioneiras na cidade, já percorreram um longo caminho para estarem aonde estão. Mas fazendo seu trabalho direito, as portas vão se abrindo”, afirma. Mariana diz que os blog de moda são responsáveis pelo sucesso de muitas lojas locais. Ela vê a parceria como beneficente a ambos os interesses. Ela explica que loja procura as blogueiras para divulgarem a marca. “Nossa presença em eventos e parcerias com lojas são coisas que nos ajudam a continuar o trabalho, porque nos dá visibilidade, gera conteúdo para o blog e temos também o retorno financeiro. Mas não é tão fácil quanto parece. Temos que correr atrás, e mostrar serviço”, conta Mariana. A aluna de Medicina afirma que o mercado de moda é delicado para todos os envolvidos, desde estilistas a blogueiras. “Não é fácil chegar lá. Acho que o mercado de Moda de Brasília ainda tem que crescer muito, em comparação a outras capitais, seja em relação às blogueiras, aos estilistas e aos próprios eventos de moda na cidade”. A facilidade das blogueiras, de criar uma página na internet e divulgar o conteúdo que julgar como melhor, também pode ser um Com a procura da moda, um termo, que acabou se tor- problema. nando uma profissão, são as blogueiras de moda. Elas são as re- Mariana sponsáveis pela divulgação de produtos e tendência pela internet. diz que A estudante de Medicina pela Universidade Católica de Bra- a grande sília, Mariana Carvalho, trocou o bisturi por câmeras e redes soci- d i f i c u l ais. Quando ela foi passar um ano morando em Portugal, ela criou dade é uma página na internet para mostrar as novidades para sua família, m a nt e r por isso chamou a página de Conversa entre Irmãs. Porém, a pá- um púgina começou a fazer sucesso nas redes, para a surpresa de Mari- blico que ana. Quando ela chegou ao Brasil, descobriu um número grande de leia o site, leitoras que a procuravam, querendo saber dicas de moda e posts e que assim, ela sobre as tendências do exterior. Dessa forma, além de médica, Mari- tenha um retorno e proana se deparou com outra carreira paralela, a de blogueira de moda. cura maior de lojas parceiras.
Moda nas redes
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“Brasília é um reflexo do que está acontecendo no Brasil, com uma lógica precária, que é a lógica do serviço publico, e moda é tudo menos serviço público. Até os alunos tem dificuldade para entender isso, porque a mentalidade de Brasília corrompe”
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Cidades
O direito à cidade: a apropriação democrática do espaço Projetos realizados nas estações de metrô do Distrito Federal levam arte à população Aline Tavares
Foto: Divulgação
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m dia comum: terça-feira de muita correria. São 18 horas, horário de pico. O forró pé de serra e o som do triângulo atravessam o passo de quem chega. A rabeca canta o ritmo das composições. O toque da zambumba determina o caminhar de quem passa por ali. Os bonecos mamulengos mudam a rotina tradicional. É assim que uma manifestação cultural quase como um milagre, atrai a atenção e toma forma nas plataformas de embarque e desembarque do metrô. A intervenção fez parte do projeto Estação Brincadeira Popular, realizado no mês de maio pelo palhaço Amendoim e o grupo Mamulengo Fuzuê. Com o objetivo de aproximar o público da tradição do teatro de mamulengos e da narrativa de história populares, foram realizadas quatro apresentações: em Taguatinga, Ceilândia e Guará. O teatro de mamulengos é uma brincadeira popular em que contam anedotas sobre tipos comuns, principalmente do nordeste. O espetáculo, assim como muitos outros realizados nas plataformas do metrô, faz parte da apropriação cultural de espaços urbanos. Essa apropriação envolve símbolos, artefatos, imagens, formas e estilos, e é definida de forma diferente devido aos múltiplos exemplos de comunicação intercultural. O “direito a cidade” foi pioneirismo concebido como tal por Henri Lefebvre, na obra “Le droit à la ville”, em maio de 1968. Lefebvre pensa o espaço como “inscrição do tempo no mundo”, ou seja, os ritmos da população urbana definem o cotidiano, formado por uma multiplicidade de ritmos, lugares e culturas. Em Brasília, a apropriação dos espaços urbanos vem crescendo, principalmente em locais onde há grande circulação de pessoas. As plataformas do metrô, além de local de passagem, se tornaram palco de espetáculos marcados pela democracia. O grupo Coletivo de Expressão, que faz parte do projeto Jovem de Expressão na Praça do Cidadão na Ceilândia, aproveitou o espaço para realizar uma exposição fotográfica alertando sobre o risco das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Foram dois meses de exposição com monitoria em cada estação da Ceilândia, de segunda á sexta-feira. Willah Samir, uma das fotógrafas do projeto, diz que o grupo escolheu as estações do metrô por ser um lugar de circulação frequente de pessoas. “Além de mostrar nosso trabalho relacionado á cidadania, falar sobre DSTs é polêmico e transmitir a mensagem em um lugar movimentado causaria maior impacto e tiraria as pessoas do comodismo”, contou. Além de espetáculos teatrais, de circo, dança e exposições fotográficas, outros projetos como Metrô Instrumental – que levou o panorama da música instrumental para as estações de Ceilândia -, fazem parte do leque cultural. A assessoria de comunicação do Metrô/DF informou que as atividades são promovidas em parceria com instituições reconhecidas no Distrito Federal, como museus, centros de documentação, universidades, bibliotecas e arquivos públicos. Disse ainda que a Secretaria de Cultura* lança editais do Fundo de Apoio á Cultura – FAC/DF e que esses projetos, quando aprovados, são realizados nas dependências do metrô.
Mala do Livro
O projeto Conte essa História, uma expansão do projeto Mala do Livro, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, é realizado desde 2008 nas estações. As mini-bibliotecas desenvolvem um papel transformador e democratizam o acesso ao livro e à leitura. Vitor Correa, 23, que já utilizou o espaço acha que pode melhorar. “Minha experiência com esses pontos de leitura foi de certa forma curta e simples. Normalmente usei o serviço quando esperava alguém e o metrô era o ponto de encontro. Infelizmente a maioria dos livros são bem antigos e/ou desatualizados.”, contou. Ele também afirma que vê poucas pessoas utilizando o espaço. “Hoje as pessoas vem e vão sem nem se atentar à existência dos livros. Dá para contar nos dedos as vezes que presenciei alguém lendo”.
Pife nos Trilhos
Durante outubro e novembro, o ressoar do pife e da cultura nordestina irá ao encontro do público em estações do metrô no Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia e Guará. O projeto cultural, que conta com o apoio do FAC/ DF, é o próximo a ser realizado nas dependências das estações. Sempre ás 17h, o projeto contará com o apoio de convidados especiais, que formarão com o público, rodas de música, canto, brincadeiras e declamações. Em cada estação haverá um típico cortejo das tradições populares. Com o projeto, o grupo e seus convidados pretendem levar ao público genuínas expressões culturais de raiz nordestina. Kika Juvelina, uma das organizadoras do espetáculo, afirma que o projeto faz um fluxo de comunicação com a população. “Faz parte da cultura popular estar entre quadras, entre o povo. Onde tem circulação de pessoas é o melhor lugar pois proporciona acesso, transforma ambientes. Fomentar a cultura também é torná-la acessível”. Os organizadores esperam um público entre 200 e 300 pessoas.
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Em Brasília, admirei. Não a niemeyer lei, a vida das pessoas penetrando nos esquemas como a tinta sangue no mata borrão, crescendo o vermelho gente, entre pedra e pedra, pela terra a dentro. Em Brasília, admirei. O pequeno restaurante clandestino, criminoso por estar fora da quadra permitida. Sim, Brasília. Admirei o tempo que já cobre de anos tuas impecáveis matemáticas. Adeus, Cidade. O erro, claro, não a lei. Muito me admirastes, muito te admirei.
Cidades
Nem tudo é perfeito
Santa Maria e Taguatinga, duas cidades administrativas do Distrito Federal que passam por mudanças Kamila Braga e Renata Albuquerque
Fotos: Kamila Braga
A
cidade de Santa Maria, localizada dentro do Distrito Federal (DF), foi uma área rural do Gama até 1992. Depois com a Lei de número 348/92 e o Decreto 14604/93, ela adquiriu sua autonomia. Foi criada a partir do “Programa de Assentamento de Famílias de Baixa Renda” em espaços semi-urbanizados. Os moradores das invasões do Gama e outras localidades do DF foram transferidos para essa nova área através do Governo que loteou terrenos. Naquele tempo havia um rio chamado ‘Santa Maria’ localizado na atual cidade. Foi daí que surgiu o nome. Dentro de Santa Maria, além da área urbana e rural, tem a área militar onde se encontra a Área Alfa pertencente ao Ministério da Marinha e o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo – Cindacta - que pertence ao Ministério da Aeronáutica. Eliselma Caetano de Lima, 50, autônoma, moradora de Santa Maria desde os anos 90, conta: “No começo a gente tinha que pegar a água nos caminhões-pipa, porque não tinha água encanada. Depois colocaram o chafariz em que a gente podia pegar a água nos baldes. Era muita poeira, devido não ter asfalto. Poucos comércios locais. Poucos ônibus. Era muita dificuldade no início”.
Atuais Terminal BRT da região administrativa Santa Maria Mudanças Em primeiro de abril
deste ano, e não é por causa da data que seria mentira, Santa Maria ganhou sete unidades de Ponto de Encontro Comunitário (PEC). A partir disso as pessoas puderam investir mais na condição física e ainda de graça, sem precisar pagar academia. Para as pessoas com crianças ficou ainda melhor com a implantação de parquinho de areia ao lado. A promessa
da Administração é que sejam colocadas muito mais unidades do PEC até o final do ano. Na Praça Central da cidade, em frente a Administração Regional de Santa Maria, as pessoas têm vastas opções de se entreter, entre elas: campo sintético de futebol, campo de areia, pista de skate, pista de cooper que se estende por toda a cidade, entre outros lazeres. No dia 9 de maio a Administração Regional de Santa Maria junto ao Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), realizaram um mutirão para a retirada de entulhos, matos e sujeiras nos bueiros e pinturas de meios fios, nas quadras 216/316, com a colaboração do Governo do Distrito Federal (GDF). A mudança não parou por aí. Ao longo do primeiro semestre foi criado o Programa Asfalto Novo do GDF. Tanto a Avenida Alagados, Santa Maria quanto entre as quadras residenciais receberam asfalto novo. Recentemente reforçaram as pinturas das faixas de pedestres e pintaram novas em lugares que as pessoas tinham dificuldade de passar. “Hoje temos saneamento básico, ciclovias para caminhada, bancos de transação, shopping, comércio mais vasto, academia, áreas de lazer, BRT. As coisas melhoraram muito.” comenta Eliselma Caetano de Lima. Nesses últimos quatro anos o Distrito Federal teve como governador, Agnelo Queiroz. Segundo Erivaldo Alves Pereira, 40, administrador de Santa Maria, esse governo foi um dos melhores para as transformações da cidade. “Teve a construção do novo corpo de bombeiros, BRT, asfalto novo, creches, o Centro Educacional da (quadra) 203, a frota de ônibus que foi trocada, aqueles pontos de encontro que se chama PECs, além de muitas outras coisas”. Erivaldo conta que a construção das creches foi a mudança que mais beneficiou a população da cidade. “Santa Ma-
ria nunca teve uma creche pública. Agora é beneficiada com 11. Tem três funcionando, duas que vão ser inauguradas neste mês de novembro e mais seis licitadas”.
A questão do BRT
O BRT (Bus Rapid Transit - Trânsito rápido de ônibus) foi implantado para reduzir o horário que as pessoas gastavam no engarrafamento na saída da cidade. Porém, Deborah da Silva Valadares, 20, estudante de química da Universidade de Brasília (UnB), reclama do transporte: “Ele (BRT) tem vantagens e desvantagens. Se pesar na balança, a maior vantagem é não levantar tão cedo (por não pegar mais engarrafamento), mas em compensação preciso pegar três ônibus para ir e três para voltar. Preciso ficar esperando um certo tempo para pegá-los e nunca consigo ir sentada, porque a fila para ir sentada é demorada e não compensa, a não ser que eu volte a sair cedinho novamente. Acho mais cansativo que antes”. Deborah precisa pegar três ônibus, porque tiraram a linha que passava pela L2. Além dessa linha, tiraram mais outras que prejudicou muita gente, entre elas, Rodoviária via Zoológico, W3 Norte via Eixão Sul e L2 Sul-Norte via Esplanada. Agora, esses passageiros precisam pegar o BRT para chegar a rodoviária e pegar mais outros transportes para chegar ao destino final. Ítalo Augusto de Sousa, 20, estudante de direito da Universidade Católica de Brasília (UCB) e morador de Santa Maria Sul, conta que as reformas, construções de caminhos novos na saída da cidade, ajudaram muito, principalmente na diminuição dos engarrafamentos. “Esses dias peguei um ônibus às 8h e cheguei na UCB às 8h45. Nem acreditei”. Antes para chegar ao menos 8h na UCB era preciso pegar o ônibus às 6h para chegar 8h15 ou até mesmo 9h (caso ocorresse acidentes pelo caminho). “Percebi a mudança no transporte, apesar de ainda estar longe do ideal. A mudança dos ônibus e a implementação do BRT tem ajudado bastante, apesar da bagunça que está (muita fila, desorganização e demora na chegada dos ônibus – integração), mas cumpre o objetivo que é de evitar o engarrafamento”, explica Wander Paulo Lázaro da Silva Santos, 19, morador de Santa Maria e estudante de ciências da computação na Universidade Paulista (Unip), em Brasília. A proposta para o problema, é que logo sejam acrescentados outros ônibus que levem as pessoas para os locais de destino, sem precisar pagar mais por isso. Não diminuirá a quantidade de ônibus que as pessoas precisam pegar, porém, conforme José Noval Pereira, diretor da Assessoria de Comunicação Social (ASCOM) da Administração Regional de Santa Maria, ao todo será cobrado R$ 3. Segundo a matéria Termina gratuidade dos ônibus de Santa Maria e Gamado, publicada no site do DFTrans, é preciso apenas que os passageiros obtenham o Cartão Cidadão. Cássio Cleyces Dias Pereira, 38, é dono da padaria Sabor de Minas. Ele mora em Santa Maria há 14 anos, e fala que percebeu as mudanças na cidade ao longo dos anos, mas também vê falhas. “Melhorou, veio mais comércio, mas falta urbanização”.
Reclamações
“No
começo a gente tinha que pegar a água nos caminhões-pipa, porque não tinha água encanada. Depois colocaram o chafariz”
Eliselma Caetano de Lima reclama que sempre que chove na quadra 216, acaba a luz. “Não sei o que acontece e nunca resolvem, mas é só chover que a luz acaba”. Em questão de segurança Cássio Pereira reclama: “A segurança não melhorou, continua na mesma (perigoso), mas o problema não é falta de polícia, porque polícia tem, o problema é a lei que não favorece, porque o bandido é preso, mas logo sai”. “A área da segurança realmente está precária, além das constantes notícias de roubo, homicídio e tudo mais, tenho presenciado a violência aqui na minha rua. Já morreram dois colegas meus este ano e já tentaram me assaltar quatro vezes.” Lamenta Wander Paulo. Segundo o administrador da cidade: “a segurança em Santa Maria nunca vai ser perfeita, porque a cidade faz parte do entorno, e por isso vem outras pessoas das outras regiões para cá” conta Erivaldo. Na área da saúde a história é outra. Luana de Sousa A. Silva, 19, estudante de educação física da Universidade Paulista (Unip), fala: “As pessoas vão de manhã ao hospital de Santa Maria e a partir das 17h ou 18h que começam a ser atendidas. Ainda tem que ver a cor da pulseira que você recebe, que é por riscos (gravidade da doença/
problema). Então você fica lá ‘criando raiz’ (de tanto esperar).” Antônio Junio P. de Araújo, 20, é secretário executivo na Caixa Econômica Federal, também mora em Santa Maria e diz: “A culpa é do diretor do hospital, porque dinheiro não falta. O governo federal manda rios de dinheiro para os estados e municípios” e ainda acrescenta: “Hospitais particulares também estão um caos. Ano passado levei mais de 4h para ser atendido no Hospital Santa Lúcia (DF)”.
As Divergências de Taguá
Se tem uma cidade que contribui com o desenvolvimento do Distrito Federal, é Taguatinga. Criada sobre terras da Fazenda Taguatinga, às margens do Córrego Cortado, a cidade foi fundada em 1958, com o propósito de por fim as invasões que estavam sendo formadas na área urbana de Brasília. Ainda nos anos 50, a cidade não parava de receber imigrantes que vinham de todas as regiões do país, gerando uma grande pressão demográfica, obrigando a Guarda Rural da época a deter na estrada caminhões com pessoas, os chamados “paus-de-arara”, que eram deixados à beira da estrada pelos motoristas e obrigados a retornar para suas cidades de origem. Os anos foram se passando e controlar a entrada de pessoas que vinham em busca de uma vida melhor, foi se tornando cada vez mais difícil. Quem pensa que a cidade, depois de tantos anos após sua construção, parou de crescer em larga escala, se engana. Hoje a região administrativa abriga aproximadamente 221 mil habitantes, e é considerada a capital econômica do Distrito Federal, com ampla variação de comércio e grande oferta de emprego. Com seu crescimento desenfreado, Taguatinga, assim como as outras regiões que possui um tamanho demográfico pequeno em relação ao número de habitantes, sofre com a falta de estrutura física, se tornando um tanto quanto conturbada.
constantemente dos inúmeros carros que atrapalham a sua passagem. Não é difícil deparar com veículos estacionados em ruas estreitas de grande circulação, ou até mesmo em cima de calçadas. A principal reclamação dos motoristas já é de imaginar: a falta de estacionamentos. “Fica complicado deixar de estacionar nestas ruas, já que aqui em Taguatinga não tem estacionamentos suficientes para a grande quantidade de veículos. Eu sei que atrapalha os pedestres, mas não há outro lugar para estacionar, senão este” afirma o vendedor, Amiltom Lima de 24 anos. Estacionar o veículo sobre a calçada ou em outros locais proibidos é infração grave com multa de R$ 127, perda de 5 pontos na carteira e remoção de veículo. Mas o problema não é só com os carros estacionados em lugares irregulares impedindo passagem, mas com calçadas esburacadas também. É o que conta a estudante de 19 anos, Verônica Nery: “Aqui tem muitas calçadas cheias de buracos. Semana passada acabei torcendo meu pé ao tentar desviar de um buraco em uma calçada na QNA”. No ano passado, a Administração Regional de Taguatinga construiu mais de 4 mil metros de calçadas na cidade. Mas ainda não foi o suficiente. Mais calçadas precisam ser construídas e outras reformadas. Se tratando da saúde, Taguatinga ainda não é o exemplo a se copiar por outras cidades. Embora receba um número significativo de pessoas do entorno e até mesmo de outras regiões do país, pacientes demoram horas para serem atendidos e para marcarem consulta nos postos distribuídos por toda cidade. É o caso da autônoma Alucimar Cunha, que sempre que precisa recorre ao posto de saúde próximo à sua casa: “Toda vez que venho marcar consulta é a mesma coisa. Mesma precariedade. Geralmente chego aqui às 4h e sempre me deparo com muitas pessoas na minha frente. Ou seja, para conseguir o que é direito do ser humano, aqui, a gente tem que sofrer um pouquinho”. Outro ponto preocupante é o trafego de drogas nesta região, que é intenso, principalmente no centro da cidade. Comerciantes da C12, por exemplo, reclamam das condições precárias enfrentadas por trabalharem em um local conhecido como Setor da Cracolândia, afastando possíveis compradores e consequentemente, gerando baixa venda dos produtos e perca de lucratividade. O consumo de drogas é explícito. Os usuários já não fazem questão de se esconderem para consumir. A qualquer hora do dia, a comercialização e consumo é realizado. Segundo pesquisa da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), de janeiro a agosto do ano passado, 160 traficantes foram presos em Taguatinga, e de janeiro a agosto deste ano foram 151 prisões. Em 2013, 346 pessoas foram presas por uso e porte de drogas. De janeiro a agosto de 2014, foram 284. Valorizando a parte positiva, percebemos o lado do lazer que a cidade oferece. São várias praças espalhadas entre as quadras. Praça do Bicalho, localizada no setor D Norte; Praça do DI, no setor A Norte e Praça do Relógio, no centro de Taguatinga, são as mais conhecidas. Seja para descansar, colocar o papo em dia ou praticar
“Podemos
dizer que a cidade carinhosamente apelidada por seus moradores, como Taguá, é dividida em dois lados, o da turbulência e do lazer”
Os dois lados da cidade
Podemos dizer que a cidade carinhosamente apelidada por seus moradores, como Taguá, é dividida em dois lados, o da turbulência e do lazer. Aqui, não cabe o discurso que muitos têm de que os opostos se completam, pois a parte negativa da cidade não se encaixa as idealizações de um lugar formado para beneficiar sua população, sendo mais vista do que a parte positiva. Do lado da turbulência, encontramos uma cidade precária, longe de ser classificada como a cidade dos sonhos, ou uma das melhores cidades do país. Sair na rua é como estar perante uma orquestra em que tem por objetivo hipnotizar o ouvinte, só que com um diferencial, não há sintonia entre os diversos sons emitidos. Os barulhos dos carros de som e das buzinas, se contradizem aos sons produzidos pelos pássaros, aliás, estes já devem sofrer com a grande poluição liberada pelos inúmeros transportes que circulam diariamente pela cidade. As avenidas mais parecem propriedades particulares, do que espaços públicos destinados também aos pedestres. Andar por aqui é na verdade, um jogo de zigue-zague, obrigando o pedestre a desviar
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esportes, as praças são para muitos, um ambiente de descontração. O Taguaparque também não fica fora desta designação. O parque que foi inaugurado oficialmente em 6 de junho de 2009, no aniversário de 51 anos de Taguatinga, oferece aos moradores, lazer e o contato com a natureza. Sendo também, palco para grandes eventos, como o FIFA Fan Fest Brasília, onde o público acumulado chegou a 351 mil pessoas. Sem dúvida, um excelente local para desfrutar com a família, pois além de parquinhos, tem churrasqueiras, pista de cooper e ciclovia, além de um ginásio coberto com 560 lugares, 10 quadras de areia, sete kits de malhação, um campo de grama sintética, entre outros benefícios. Não poderíamos esquecer do Parque Ecológico Saburo Onoyama, localizado na Área Especial, Taguatinga Sul, atrás da QSC 25. Inaugurado em junho de 1988, o parque também ficou conhecido como “Vai quem quer”, mas acabou recebendo o nome Sabouro Onoyama, em homenagem ao japonês Saburo Onoyama, que lutava pela preservação do Cerrado em Taguatinga. O parque passou por uma reforma, e foi reinaugurado em 5 de outubro de 2013. Foram R$ 2 milhões investidos em melhorias. Agora, o Onoyama conta com novas quadras, pista de caminhada, posto médico, quiosques, banheiros, brinquedos infantis, e a piscina, que foi reativada após oito anos. Quem vem ao parque sai satisfeito e com a pretensão de retornar e desfrutar novamente deste espaço que a cidade oferece. “Fiquei surpresa com o Parque. Muito bom pra vim com a família e passar o dia. Sem dúvida voltarei”, diz a autônoma Gildete Ribeiro.
Cidades
Brasília de quem para quem? Moradores de área central fazem protesto contra implantação de políticas públicas
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Jaqueline Batista
té onde vão os limites entre o público e o privado? Esses e outros questionamentos vieram à tona em janeiro desse ano quando um grupo de moradores das quadras 204/205 sul, área central de Brasília, fizeram um protesto contra a construção de uma creche. Eles alegam que a área verde é destinada ao lazer e que não foram consultados. Os prefeitos das quadras enviaram uma petição ao Ministério Público do Distrito federal e Territórios (MPDFT) contra a obra. A Secretaria de Educação defendeu a creche como parte da ação para suprir a demanda não atendida de vagas na educação infantil. A pasta informou ainda que além da unidade da 204/205 Sul, o Plano Piloto ganharia outras duas creches: uma na 714 Norte e outra na EQN 202/203 Norte, que foram entregues no fim de setembro. O prefeito da 205 Sul, Artur Gomes, não aprova a unidade na entrequadra. “Sou contra a construção. Brasília não precisa de mais prédios. O correto seria nos consultar para saber se aceitávamos ou não, afinal de contas, nós é que estamos do lado”, disse. A prefeita da 204 Sul, Cleusa Joanna Bugni, foi quem deu início à mobilização para tentar impedir a obra. Na opinião dela, a creche fere a ideia original da cidade. “Deveríamos ter um clube de vizinhança, um espaço de convivência para os moradores que atenderia a 204/205 e a 404/405”, exemplifica. Mas não foram só os moradores das quadras que ficaram revoltados, o sindicalista Rodrigo Rodrigues organizou ato de repúdio aos protestos dos moradores, no dia 1º de fevereiro. Ele caracterizou a oposição à creche como “elitista e preconceituosa”, já que a nova instituição deve atender os filhos dos trabalhadores da região. Segundo ele, “Brasília necessita de espaços públicos para que as mães trabalhadoras possam ter a segurança de deixar seus filhos”. As jornalistas Daniela Cadena e Carol Nogueira, autoras do blog “Quadrado: a cidade é do tamanho que a gente quer” publicaram um testo intitulado ‘Atenção, moradores de Brasília: O espaço público é público’. No texto elas mostram indignação pela errônea apropriação dos espaços públicos pelos moradores locais. “O título é um lembrete sério, apesar de óbvio, para uma parte dos moradores de Brasília que enxerga o espaço público como bem particular”, explicam. O assunto que gerou polêmica na época ainda trás divergência de opiniões. O professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Gilberto Lacerda diz que a existência de creches
é importante, no entanto as instituições precisam ser construídas a partir de um estudo para verificar a necessidade. “Numa área onde se predomina o público idoso, construir creche não faz sentido”, aponta. A funcionária pública, Ana Paula Habermann, conta que embora tenha nível superior e trabalhe em um Ministério não tem como arcar com preços das creches para filha de 18 meses. “ Moro em um condomínio na DF 140 e trabalho na esplanada. Vou tentar esse ano uma vaga em uma creche do governo. Existe sim demanda para creche no Plano Piloto. Muitas famílias de “classe média baixa” como eu precisam de uma creche perto do trabalho. Aqui no Ministério tem várias mães querendo. O intuito do Governo não é atender as necessidades da população do DF”, falou. A Doutora em sociologia pela Universidade de Brasília, Mariza Veloso Motta, destaca que deveria ter sido feito um levantamento a respeito da realidade da área. Segundo ele, se em uma determinada localidade há mais casais jovens, a probabilidade de construção de creches se torna real. Caso contrário, é desperdício de recursos públicos. “É uma temeridade construir uma creche na Asa Sul, que não dá sinais de que vai haver demanda. Uma das características do GDF é a incompetência em fazer planejamento. Isso porque normalmente as coisas ficam estruturadas de forma deficiente”, considera.
“ Quadrado:
a cidade é do tamanho que a gente quer”
Calçadão na Asa Norte
Além dos protestos contra a construção da creche na Asa Sul, na Asa Norte a Associação dos Proprietários e Moradores da Orla do Lago Norte (Aplol) se mobilizou para proibir a realização de eventos no Calçadão da Asa Norte e também no Setor de Clubes Norte. A Aplol coletou cerca de 2 mil assinaturas, a abaixo-assinado foi entregue ao presidente da associação Benedito Souza, que contou que o barulho durante a madrugada é enlouquecedor. Segundo Souza a causa não é o silêncio, mas a ordem. Para ele, só o cercamento do Calçadão poderia garantir o sossego e a manutenção do espaço. “O Calçadão é frequentado, durante a madrugada, por pessoas que fazem verdadeiras algazarras nos estacionamentos. O que queremos é um bom uso do espaço”, sustenta. A ação dos moradores do Lago Norte provocou uma reação intensa de produtores musicais, músicos e de grupos culturais da cidade. Os coletivos Picnik, Nós no Quadrado e Balaio Café fizeram uma resposta ao abaixo-assinado produzido pela Associação e lançaram um manifesto contra a cerca, contra a proibição e, principalmente, a favor da democratização da orla do Lago.
Quadra de esportes no Sudoeste
No Sudoeste, um grupo de moradores da Quadra 104 pediu à Administração Regional que interrompa as obras de revitalização de uma quadra de esportes pública localizada em frente ao Bloco D. Eles alegam que a restauração vai tirar o sossego dos moradores, com aumento de barulho em função do uso do espaço por peladeiros. A obra acabou suspensa temporariamente por causa do impasse. O administrador da região, Fernando Gustavo Lima da Silva, contou que ficou boquiaberto com o pedido dos moradores. “Quando disseram que queriam falar sobre a quadra, disse logo que eles não precisavam se preocupar, pois a obra já estava acontecendo. Não imaginei que fossem me pedir para não concluí-la”, falou.
Cidades
Sorria você está sendo filmado Número de câmeras de vigilância e de trânsito teve aumento significativo na capital nos últimos meses, mas qual é o limite entre a segurança e a invasão de privacidade? Filipe Cardoso
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os últimos meses varias câmeras foram instalados por Brasília, tanto para monitorar os pedestres quanto o trafego da cidade. O sistema de câmeras de rua começou a ser implementado nas preparações para a copa do mundo, como medida para intimidar os assaltantes e facilitar nas investigações. Atualmente Brasília conta com mais de 30. E a Polícia Militar tem caminhões e vans com torres de câmeras portáteis e equipamento que controla os dispositivos instalados pela cidade. Ainda é um numero pequeno se comparado com países como Estados Unidos, onde o medo de ameaças é maior que no Brasil. “Essas medidas de segurança de certa forma deixam os pedestres incomodados e se sentando sob constante vigilância, mas não são equipamentos essenciais para o controle e investigação de criminalidade no DF”. Afirma o Cabo Junior, da Policia Militar. Porem, o equipamento foi instalado somente nos setores hoteleiro e bancário, o que indica que a preocupação não era exatamente com o cidadão de Brasília, mas uma medida para prevenir crimes contra turistas, especialmente na época da copa do mundo, onde o contingente da policia e todo equipamento de vigilância funcionavam em sua capacidade máxima. O Cabo disse que a SSP- Secretaria De Segurança Publica pretende continuar a implementar o equipamento em outras áreas do Distrito Federal. Existe um ditado que diz “ em Brasília motorista não dirige olhando pra pista, dirige olhando pra cima procurando pardais (radares de transito)”. Atualmente a capital federal é uma das cidades com o maior numero de radares e semáforos equipado com câmeras, pois por te sido planejada possui diversas vias rápidas urbanas, como eixão e a L4. E agora uma nova tecnologia de radares foi instalada na via L2 e W3, são equipamentos que custam aos cofres públicos mais de 18 milhões de reais e tem a capacidade de identificar veículos roubados e com pendencias. O equipamento deve estar em funcionamento ate dezembro. Marcos Nizio, advogado e agente do Detran-DF defende a implementação de qualquer tipo de equipamento que auxilies na segurança do transito e na identificação de irregularidades – “Brasília esta ficando cada vez mais preparada, com equipamento com tecnologia de ponta par prevenir que motoristas irresponsáveis acabem tirando a vida de pessoas inocentes. Mas ainda temos muito a fazer, em São Paulo por exemplo, já esta em testa um novo tipo de câmera, que é instalada do lado de fora dos ônibus e permite que os agentes de transito autuem carros trafegando nas vias exclusivas de ônibus ou que não respeitam o rodizio de veículos. Nos EUA a coisa vai mais longe, já se usam a algum tempo Drones (aeronaves não tripuladas controladas a distancia) com câmeras e
radares que identificam motoristas acima do limite de velocidade nas rodovias de difícil fiscalização, e auxiliam a policia a abordar suspeitos. Para mim, dentro da normalidade, qualquer medida que proteja o cidadão é valida”. Além dos radares, câmeras de vídeo que se movem em 360° tem sido usadas pelo DETRAN para identificar irregularidades , porem tanta fiscalização pode acabar prejudicando o motorista, que se distrai do transito, pois esta constantemente de olho nos pardais. Algumas multas injustas também já foram lançadas, um motorista relatou que foi autuado por uma das câmeras de vídeos porque estava com umas das mãos nos queixo, em vez de segurar o volante com as duas mãos. Quando questionado sobre o assunto, marcos diz que o sistema ainda esta em fase de testes. “Estamos em fase de treinamento com os agentes para identificarem os tipos de infração, e desenvolverem a capacidade de julgar o que seria uma contravenção e o que seria um movimento comum e sem perigo ao condutor”. Com tanto investimento do estado na fiscalização de transito, fica uma duvida – Será que este esforço do governo serve para proteger o cidadão ou para aumentar a arrecadação de dinheiro por meio das multas? “O maior objetivo do governo não é salvar vidas, mas lucrar com um negocio milionário, pois a cada multa o condutor ganha pontos na carteira, e com mais de 21 pontos, perde a habilitação e precisa fazer uma reciclagem, gerando assim receita para auto escolas, sem contar com a quantidade de dinheiro que o condutor acaba gastando com multas”, conta o ex-motorista de taxi Olímpio parreira, que passou mãos de 30 anos dirigindo pelas ruas da cidade. Vivemos numa era de constante vigilância, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001. Essa discussão da tênue linha entre a invasão de privacidade e prevenção de crimes e acidentes ainda precisa ser debatida. Mas não se pode negar que a melhor forma de punir o motorista contraventor é no lugar que mais dói – O bolso.
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Sociedade
O movimento sindical de volta ao cenário político Os anos 1990 representaram um duro golpe no sindicalismo brasileiro. A partir dos anos 2000, no entanto, o setor retomou parte das mobilizações de outros tempos Aline Tavares
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reves, paralisações, campanhas, passeatas, conquistas salariais e abertura de espaços institucionais fazem parte do cenário atual do país. A década de 90, apresentou poucas mobilizações e conquistas por parte do movimento sindical, que, voltou ao cenário especialmente a partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (20072010), retomando parte do impulso político de períodos anteriores. Para José Dari Krein, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), embora o movimento venha realizando mais greves e tenha melhorado a vida dos trabalhadores, sua importância não se efetivou em pautas mais gerais. O sindicalismo brasileiro tem poder e força para vetar certas medidas e também de impor uma agenda propositiva ao país. Pautas como a redução da jornada de trabalho e a ratificação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – que impede a demissão imotivada – não avançam. De acordo com acompanhamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2012 foram realizadas 873 greves em todo o país. O número é o maior dos últimos 16 anos. A probabilidade desses números serem maiores é grande, já que nem todos os sindicatos informam sobre suas mobilizações à entidade, que se baseia muitas vezes em notícias de jornais. As principais reivindicações foram reajuste de salário e introdução, manutenção ou melhoria do auxílio alimentação (tabela acima). Os dados incluem as paralisações, também conhecidas como “greves de advertência’’, ou seja, aquelas que são iniciadas já com data para terminar e normalmente duram um dia. Nos últimos anos a tendência vem se mantendo. Metroviários, policiais militares, professores, operários, funcionários dos Correios, entre outros, vêm realizando paralisações em diversas regiões. Ao contrário do que se poderia pensar, o aumento do número de greves, neste momento, não está relacionado à piora do mercado de trabalho, mas justamente ao oposto disso. Com o desemprego em baixa (fechando em 13,1% no terceiro trimestre de 2014), os assalariados se sentem mais seguros para se manifestar. Do outro lado, os empregadores têm mais dificuldade de substituir seus funcionários.
Segundo o Dieese, a maioria das greves em 2009 e 2010 foram motivadas por demandas de reajustes salariais. Em seguida, aparecem as reivindicações relacionadas a auxílio- -alimentação e planos de carreira. “Gente que antes não fazia greve porque tinha sensação de insegurança com o emprego, agora está fazendo. Se os salários atrasam, os trabalhadores param mesmo’’, disse Rodrigo Linhares, do Dieese.
Conjuntra Favorável
Na avaliação de Artur Henrique, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior relevância do movimento sindical deve-se em grande parte à conjuntura político-econômica do país. “Há ampliação das conquistas dos trabalhadores. Hoje, não basta discutir o número de empregos criados; temos de discutir sua qualidade. Não basta discutir crescimento econômico, temos de discutir desenvolvimento”.
Setor Privado lidera
Ainda com dados de 2012, os empregados do setor privado fizeram mais greves (53% do total) e foram mais bem sucedidos. Nesse segmento, 85% dos movimentos foram ao menos parcialmente atendidos e em menos de 2% os pedidos foram inteiramente rejeitados. Ainda no setor privado, quase 30% das greves terminaram com o compromisso de que as negociações prosseguissem após a volta ao trabalho, como indica a tabela abaixo. Não há dúvidas de que o movimento sindical vem conseguindo caminhar junto em torno de pautas gerais ou trabalhistas. Nesses casos, as diferenças – às vezes, ideológicas – são deixadas de lado. Com essa postura há maior acordo entre centrais e governos para a valorização do salário mínimo. Após uma série de mobilizações, em 2007 ficou acertada uma política permanente de reajuste, que passou a levar em conta a inflação anual medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mais a variação do PIB de dois anos antes. A valorização do salário é resultado de uma nova presença do sindicalismo brasileiro na sociedade, por meio da participação política e das greves.
Interlocução com o Governo
A relação com o governo mudou desde a eleição da presidenta Dilma Rousseff. Se Lula negociava diretamente com as centrais, a presidente mantém uma relação mais distante com o movimento sindical.
Imagem: Internet
Sociedade
Engavetados O destino de quem faz 18 anos em orfanatos
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Isabella Coelho
bandonados, encontram em casas de acolhimento a chance de um lar. São 200 mil brasileiros, em sua maioria com quatro anos, a espera de adoção. Segundo o Ipea, em orfanatos os meninos representam 58,5%, sendo 63% afro descendentes. Entre 7 e 15 anos são mais de 60%, e mais da metade deles está na instituição há dois anos. Diversas opções de entrada, uma saída. Quando completam 18 anos precisam procurar outro lugar para morar. “Os órfãos brasileiros são órfãos de pais vivos. Homens e mulheres que maltratam os filhos porque também foram maltratados. Pela miséria, pelo desemprego e pela doença. Deixam seus meninos com a promessa de voltar, mas nunca voltam”, declara Gaasp, grupo de apoio à adoção que atua em São Paulo. Os números são: 40% das famílias nunca foram à instituição; menos de 10% dos pais adotivos aceitam crianças maiores de cinco anos, porém, pelo menos metade delas chega ao orfanato com mais de sete. A Gaasp diz que orfanatos são piores que prisões, pois “quem está numa cela cometeu um crime. Cada dia que passa é um dia a menos de pena. Criança de abrigo é vítima. Cada milímetro que cresce, cada noite que atravessa, as chances de voltar a encontrar uma família de verdade diminuem”, afirma.
Estatuto e dificuldade de adoção
O acolhimento feito pelas entidades deve procurar, ao máximo possível, parecer como uma casa de família. Os antigos pavilhões que caracterizavam orfanatos devem ser trocados por construções comuns e não deve ser utilizada placa que o identifique como abrigo. Pequenos grupos também são exigências, pois permitem que o atendimento seja feito de forma completa e detalhada, levando mais em consideração as características de cada um, assim como a história. Devem possuir características residenciais externas, no máximo seis dormitórios, sendo quatro crianças ou adolescentes em cada. Espaços individuais para que objetos pessoais sejam guardados e atendimento a serviços especializados, como médico, dentista, salas de aula e profissionalizantes. Apenas 8% deles cumprem o exigido. O artigo 92 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura o direito à convivência familiar e comunitária enquanto permanecem em abrigos, assim como família substituta. A maioria dos abrigados, 86,7% tem família e deles, apenas metade possuía contato com ela. Foi constatado que os abrigos não incentivam o convívio familiar recomendado, mas que, de fato, muitos abandonaram os filhos. Ainda segundo o Ipea, foi constatado que apenas metade dos que vivem em abrigos estão com processos nas Varas de Justiça. Os demais estavam nelas sem reconhecimento legal, apesar do estatuto estabelecer o prazo máximo de dois dias úteis para que isso seja feito. Apenas 10% estão em condição de serem adotados, pois
muitos estavam de alguma forma ligados a família, apesar de legalmente os pais terem aberto mão da responsabilidade ou não terem o apoio necessário do Estado para que os filhos voltassem para casa. As Varas de Infância e Juventude defendem que a obrigação do Estado é dar suporte até os 18 anos. Porém, a técnica em assistência social Priscila Almeira discorda, afirmando que é insuficiente. Ela trabalha na Abrire do Guará, casa mantida pelo governo para crianças e adolescentes em medida protetiva ou com liberdade assistida. Conta que a estrutura do abrigo não suportará maiores de idade e que a legislação também não permite.
Maioridade chegou, e agora?
A Abrire algumas vezes abre exceções, de acordo com o bom desempenho do interno, procura ajudar ao máximo. Por estarem em medida protetiva, não podem ter identidade revelada, mas conta o caso de uma menina que usava crack aos 13 anos e engravidou com 16. Foi para o abrigo com a filha e lá passaram a ter atendimento com psicólogos, assistentes e pedagogos. Através do incentivo da casa, foi incluída em programa de estágio e hoje é efetivada, mora com a filha e paga o próprio aluguel. O orfanato atua, principalmente, na estimulação e motivação. Os acolhidos precisam de apoio e de acreditarem em si mesmos, afirma a assistente. “Muitos fazem uso de entorpecentes e outras drogas, o que dificulta a construção do futuro”, conta. São incluídos em programas de estágio e aprendizagem para que adquiram independência. Um deles é o Viravida, que atua na defesa e promoção dos direitos de adolescentes e jovens de 16 à 21 anos, vítimas de exploração sexual. Com cunho socioeducativo, possui diversos cursos profissionalizantes como moda, imagem pessoal, turismo, gastronomia, tecnologia da informação, administração e química. Além da bolsa auxílio, a iniciativa abre portas para o mercado de trabalho. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) promove assistência social à famílias que estão em situação de vulnerabilidade, com projetos de acolhimento, convivência e socialização através do Programa Nacional de Promoção ao Acesso do Mundo de Trabalho (Acessuas/Trabalho). Apesar das iniciativas, a técnica em assistência social Priscila Almeida acredita que eles não são suficientes, “os acolhidos não representam uma quantidade tão expressiva do governo e por isso não são colocados em destaque. Além disso, tem prioridade nas vagas em que se inscreverem, porém, muitos órgãos a descumpre ou até mesmo desconhece”, afirma. Os orfanatos buscam a verossimilhança com a rotina familiar, proporcionam estudo, alimentação e cuidados de saúde. “Eles são especiais, não tiveram pais. A gente tenta estimulá-los para um futuro melhor, mas damos ‘glórias’ quando eles conseguem terminar o ensino fundamental e arrumam um emprego. Já é um grande passo”, conta Priscila.
Sociedade
As drogas e o gato de Schrödinger
O conceito foi desenvolvido para explicar eventos de física quântica, mas filosoficamente falando, serve também para descrever a relação de um indivíduo com as drogas
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Filipe Cardoso
m 1935 o físico austríaco Erwin Schrödinger desenvolveu um paradoxo que ficou conhecido com o gato de Schrödinger. O cientista propôs um e x ercício mental – Teoricamente colocar um gato dentro de uma caixa preta contendo um tubo de veneno conectado a um pequeno martelo que aleatoriamente pode ou não se desprender, quebrar o tubo, espalhar o veneno e matar o felino. Essencialmente o gato está vivo e está morto até que a caixa seja aberta, e a possibilidade seja alterada. Este paradoxo está ligado ao princípio da incerteza. Se não abrirmos a caixa, só o que se sabe é que o animal está lá dentro. Este paradoxo foi desenvolvido para explicar eventos de física quântica, mas filosoficamente falando, serve também para descrever a relação de um indivíduo com as drogas. Se a caixa estiver fechada é possível afirmar que as drogas existem, fazem mal e ao mesmo tempo não fazem. Este é o princípio da incerteza. Somos educados desde criança para crer que as drogas são monstros a espreita, prontos para devorar e destruir tudo e todos ao seu redor. O que não ensinam é que o álcool e o tabaco matam mais que todas as outras drogas juntas, e mesmo assim está tudo bem beber, somos inclusive incentivados a isto. Até que o indivíduo abra a caixa e lide por conta própria com a existência da droga, não se pode afirmar que ela é boa ou ruim, salva ou mata. E quando digo droga, falo no sentido mais amplo o possível da palavra – tanto as legais quanto as ilegais (ou as legais usadas de forma ilegal). Esta demonização cria medo, mas também cria curiosidade, e bem, todos sabem que a curiosidade matou o gato. Será que foi o de Schrödinger? “Abrir a caixa e lidar com as drogas” não significa abri-la e usar cada uma delas, significa entender o
seu funcionamento, saber seus riscos, seu valor histórico e cultural e o mais importante – ver que a droga não é um monstro preso numa caixa, é uma parte essencial de toda a história do desenvolvim ento humano, e a vida seria muito mais complicada sem ela. Temos usado drogas desde o início dos tempos, mas mesmo assim insistimos num falso moralismo bobo, onde calmante tarja preta é bom, maconha é ruim. Encher a cara e ir pra balada está liberado, tomar LSD não. É preciso perder este estigma que droga é só maconha, cocaína e crack, e que o uso de das substâncias está diretamente ligado ao caráter do usuário. A proibição ostensiva não funciona - NÃO pense em um elefante usando botas. Provavelmente a primeira coisa que te veio a mente, foi uma imagem ridícula de um elefante de botas, mesmo que a ordem tenha sido para não o fazer. É mais eficiente dizer “veja bem, existe um elefante de botas, e as vezes ele não é um cara muito legal, então tome cuidado, ok?”. Agindo assim com as drogas, abrindo a caixa e mostrando o que existe lá dentro, fac i l i t a m o s a compreensão de algo que sempre vai estar no imaginário coletivo e tirar todo este peso do tabu. C a b e então a cada indivíduo, depois de d e v i - damente instruído sobre os riscos de cada uma escolher o que vai fazer. Até que esta escolha seja feita, o gato esta vivo e t a m b é m está morto. Drogas são boas e ao m e s m o tempo são ruins. Este é o princípio da incerteza, e espero que alguém tenha lembrado de colocar água pro gato. Este não é um texto de apologia ou crítica às drogas, apesar de ter sido escrito sobre forte influência de uma delas, a favorita dos jornalistas – o bom e velho café.
Sociedade
Religião Islâmica X Terrorismo Conhecendo o Islamismo é possível mostrar que os atos terroristas não podem ser justificados pela religião.
A Kamila Braga
religião Islâmica surgiu na Arábia (Oriente Médio) no século VI. É uma religião monoteísta (crença em apenas um único Deus) que tem o Alcorão como seu livro sagrado. Segundo escritos da religião, a palavra revelada aos muçulmanos foi dita por Muhammad, ou em português Maomé, o último profeta de Deus, que nasceu na Arábia Saudita, na cidade de Meca, em 570 d.C. Os muçulmanos, seguidores da religião islâmica, fazem cinco orações por dia, a primeira é feita às 5h15 da manhã, outra por volta das 13h00 (com o horário de verão), às 16h00, 19h00 e por último 20h15. Eles fazem jejum e exaltam Allah (Deus em árabe). O nome Islã já explica isso, pois a palavra significa submissão, que resulta no respeito e obediência a vontade de Alá. O que se acredita é que o anjo Gabriel entregou as leis/regras do Islã à Mohammad, quando este tinha quarenta anos. Ele foi perseguido em Medina, cidade onde nasceu, e foi obrigado a se exilar, em 20 de junho de 622 d.C – Este fato ficou conhecido como Hégira – o início do calendário muçulmano até os dias atuais. Como a religião cristã, os islâmicos acreditam no bem e no mal - Deus e demônio. Acreditam no juízo final, em que depois da morte todos terão seu destino no céu ou no inferno. A religião Islâmica, ao contrário da Cristã, não acredita na crucificação de Jesus e nem que ele é filho de Deus. Para eles, Jesus é apenas um mensageiro, um enviado do Senhor. O jejum dos muçulmanos é feito no mês sagrado do Islã, chamado Ramadã. Neste período eles comemoram a revelação divina que foi passada ao profeta Mohammad. Uma das tradições deles, seguindo o exemplo do profeta, é fazer o jejum nas segundas e quintas. Depois das 18h00 (depois do pôr do sol) eles podem comer. “Com cerca de 1,2 bilhão de seguidores, o islamismo, fundado pelo profeta Maomé há 1.400 anos no que hoje é a Arábia Saudita, é a segunda maior religião do mundo em número de fiéis” explica a matéria Fiéis do Islã formam a segunda maior religião do planeta, do site BBC Brasil.
A religião contada por uma Muculmana
No início da entrevista quando pergunto à Maha Abdelaziz Zeineldin, professora de árabe e religião da Mesquita Islâmica de Brasília, sobre sua idade, ela de início já demonstra sua simpatia, sorri e pede para eu advinhar. Digo 40. Ela sorri novamente e diz: “Que bom. Dia 29 do mês passado (outubro) eu fiz 58”. Maha nasceu no Egito e veio para o Brasil com 23 anos. Veio para o nosso país sem saber falar nada do português, nem mesmo o simples “obrigado”. Desde pequena é muçulmana junto com toda a família. Ela conta que não teve dificuldades para se adaptar aos costumes brasileiros. “Muito fácil. Não estranhei nada aqui. Logo que cheguei fui morar em Cuiabá (MT). Me adapt-
ei fácil, fácil...com a língua também” explica Abdelaziz. Veio para o país por causa do marido que trabalhava aqui, o pai das quatro filhas que ela tem. Achava que ficaria por três anos, porém já completou 35. O marido faleceu e depois dele se casou duas vezes. No Brasil o uso do véu às vezes causa alguns olhares diferentes, muitas vezes pelo fato de não ser algo que vemos todo dia. Maha conta : “Eu lido com isso de uma forma tão tranquila. Ninguém me incomoda na rua, ninguém pergunta. Minhas filhas acham que todo mundo olha estranho para a gente, mas eu não vejo isso. Acho que acostumei com esses olhares. Não me sinto um ‘bicho’ estranho assim não”. Abdelaziz conhece muitas pessoas que tinham outras religiões e se converteram ao islamismo. “Geralmente quem troca de religião, são aquelas pessoas que falam que são católicas não-praticantes”. Confiro com Maha se o homem pode ter mais de uma mulher. Ela ri meio constrangida e responde: “É verdade. Quando Mohammad, a paz esteja com ele, veio para uma missão...naquela época os homens tinham 40 ou 50 mulheres, tinham escravas que tratavam como esposas. Então Deus quis limitar essa abundância toda (risos) para quatro. Só que ele falou no Alcorão: Se tiver receio que você não vai poder realizar justiça, é melhor ficar com uma. Mas hoje já não fazem mais isso. Se uma já dá trabalho, imagine duas, quatro...(risos)”. Para ter muitas mulheres o homem precisa ter boas condições financeiras para poder cuidar delas, dar a mesma atenção, em geral, “fazer justiça”. Apesar de ser permitido, Maha explica que as mulheres não se sentem muito confortáveis com a situação. No caso do adultério “a punição é muito feia, porque quase não é aplicada, por isso estou explicando as condições. Quando o homem ou a mulher, casado...tem um par, um companheiro e tem outra pessoa, então é apedrejado. Não é só a mulher, são os dois (quem traiu e o/a amante). Até morrer. Quem vai aplicar a pena é o juíz, isso se forem julgados e tiver quatro testemunhas (que viram o ato). Quase não acontece isso. Quando não é casado nem ele nem ela, leva 90 chicotadas.”
Lidando com o terrorismo
Neste ano, surgiu um grupo terrorista chamado “Estado Islâmico” ou “ISIS” - Islamic State in Iraq and Syria, situados na Síria e Iraque. Eles fazem sequestros, torturas e assassinatos, principalmente decapitações em público e em vídeos publicados no canal do Youtube. Fazem isso em nome da religião Islâmica. Rodrigo Oliveira Rodrigues, 38, é Sheik na Liga Juventude Islâmica Mesquita do Pari, em Guarulhos (SP). Sobre o Estado Islâmico, fala: “Eu sendo muçulmano e líder religioso, sheik e professor também, obviamente que não concordo com aquilo que está sendo mostrado na televisão. Aquilo para mim, não é nem um estado e muito menos islâmico. É uma milícia em países de guerra, o Iraque e a Síria. Eles estão tentando tomar o poder, tocar o horror naquelas regiões, porém eles não agem sozinhos. Tudo aquilo que eles estão fazendo, sem dúvida, serve aos interesse dos americanos e dos governos dominantes daqueles países”. O grupo terrorista nada tem a ver com a religião islâmica.
Maha abdelaziz esclarece: “Eles usam a religião como cortina, para se esconderem atrás. A religião não pediu essa violência, de jeito nenhum. A religião islâmica é da paz. Quando a gente se cumprimenta a gente fala Salam Aleikum que significa ‘A paz esteja com você’”. Quanto ao preconceito por ser muçulmano, Rodrigo Oliveira Rodrigues, conta que nunca percebeu nada do tipo. “Nunca fui chamado de terrorista, nem de homem-bomba, as piadinhas acontecem, mas não acontece só com os muçulmanos, mas também com pessoas de outras religiões, de opção sexual diferente, acontece com tudo. No fundo, eu não misturo brincadeira, piadas com preconceito, eu acho que essas piadas fazem parte da ignorância ou desconhecimento das pessoas em relação ao islamismo. Mas discriminação por ser muçulmano eu nunca sofri.” Maha Abdelaziz ao contrário já passou por algo constrangedor, apesar de não levar a sério. “Uma vez, no Extra (supermercado) me chamaram de terrorista. Eu falei: Olha aqui, eu tenho uma bomba nessa bolsa. Olha que tem bomba aqui e vou estourar na sua cabeça. O homem saiu correndo (risos). Então, se leva na brincadeira a pessoa param”. “As pessoas que tem pouca cultura não aceitam o diferente, tem preconceito com tudo. Qualquer coisa diferente que não está de acordo com os seus atos, com sua cor, religião, com tudo...basta ser um pouco mais morena que as pessoas tem preconceito...basta colocar um pano na cabeça (risos), parece até que o pano vai mudar alguma coisa na essência humana da pessoa, claro que não, mas o ser humano é muito ignorante, tem pouca cultura . Ele só quer saber daquilo que parece com ele...o diferente não aceita com facilidade” desabafa Maha Abdelaziz. No trecho no Alcorão, Surata 47ª, diz: E quando vos enfrentardes com os incrédulos (em batalha), golpeai-lhes os pescoços, até que os tenhais dominado, e tomai (os sobreviventes) como prisioneiros [...]. Para que isso não seja interpretado de forma errônea, principalmente pelo fato do Estado Islâmico cortar cabeças, Maha Abdelaziz explica que esse trecho é referente a momentos de guerras: “Isso é quando tem batalha. Os incrédulos na época guerreavam contra os muçulmanos, para matar os muçulmanos, para acabar com essa religião (islâmica). Então, o anjo Gabriel trazia essas escritas para o profeta Mohammad. Alguém vai te matar, vai te tirar da sua casa, tomar sua terra, então você tem que se defender. Então ele fala para o fiél não ficar covarde e ir defender sua família, sua casa, seus filhos, sua própria fé. Não chegar em qualquer um que não tenha sua religião e cortar o pescoço, não existe isso”. Em uma palestra na Universidade Católica de Brasília, Klester Cavalcanti, 45, jornalista brasileiro que cobriu a guerra civil na Síria em 2012, foi capturado e preso. Dividiu a sela com presos não criminosos, todos muçulmanos e árabes. Na hora de comer, os presos se reuniam para juntar dinheiro e entregar ao chefe da prisão (que não roubava um centavo, segundo Klester) e na hora do jornalista ajudar eles não aceitaram, porque falaram que ele não tinha feito nada de errado e seria então, o convidado deles: “Eu passei cinco dias na penitenciária, comendo as custas deles, sem pagar nada. Para mim, foi uma experiência muito rica, porque a imprensa, a mídia, o cinema, literatura e ficção mostra muito muçulmano como terrorista como essas coisas e tudo mais”. Klester também comenta que perguntaram se ele era muçulmano, ele disse que era cristão e mesmo assim não sofreu preconceito ou olhar de agressividade: “E eu queria muito fazer um teste um dia. Pegar um muçulmano com aquela roupa tradicional chamada Galabia, e chamar ele para entrar em uma igreja católica ou evangélica . Eu acho que ninguém vai matar o sujeito, mas com certeza ficar olhando para ele com cara feia, vai. Isso em uma igreja que o mestre ensina amar o próximo como a si mesmo. E eu fiquei em uma cela com muçulmanos todos me respeitaram, foram legais comigo. Não senti nenhum tom de preconceito, de raiva, nada disso”. “Aqueles cinco dias lá dentro, com esses caras (muçulmanos), 24h por dia, conversando, vendo eles, como eram com os outros, os comportamentos. Os caras rezavam dentro da prisão. No Islã, são cinco orações diárias, eles faziam as cinco orações por dia, lá dentro. Viver isso com eles foi muito rico, muito bacana” diz, Klester Cavalcanti. Conhecendo o Islamismo é possível mostrar que os atos terroristas não podem ser justificados pela religião.
Rodrigo Oliveira Rodrigues nasceu em Porto Alegre. É filho de pais católicos, apesar disso, quando estava com 15 anos se converteu ao islamismo. “Fui o primeiro brasileiro, filho de pai e mãe brasileiro, convertido ao islamismo e a formar em uma universidade islâmica na Arábia Saudita. Sendo assim, eu sou o primeiro brasileiro a se tornar Sheik” conta Rodrigo. Ele foi para a Ásia Ocidental e Oriente Médio estudar o idioma árabe e a religião islâmica, passou pelo Líbano, Arábia Saudita, Catar, Síria e Iêmen. Em entrevista, Rodrigo explica algumas curiosidades: O que é Sheik? É um líder, um guia religioso que estudou, se preparou para ensinar os muçulmanos de como seguir a religião e também ensinar as pessoas que tem a curiosidade de conhecer o Islã . Qual a função do Sheik? É o que realiza divórcio, casamento, ele faz a mesma função que um sacerdote, porém Sheik não é um sacerdócio, não existe uma profissão chamada “Sheik”. Sheik é um estudo acadêmico, um grau acadêmico de conhecimento, pesquisa. Dentro da comunidade acadêmica é ele que administra a Mesquita, cuida dela, comanda as orações e trata de toda a parte religiosa e social de uma comunidade muçulmana. Como se tornar Sheik? Estudando em uma universidadefaculdade de filosofia islâmica ou teologia islâmica, direito islâmico ou pedagogia islâmica. Existe isso nos países muçulmanos, universidades de estudos acadêmicos islâmicos. Foto: Kamila Braga
Educação
Arte como escola
Aplicação do método artístico de ensino melhora desempenho e interesse dos alunos, além de estimular a criatividade na educação especial Natalia Roncador
O
desgosto pelos estudos, que afeta estudantes de todas as classes e idades no Brasil, resultou novos métodos de ensino no âmbito da pedagogia, visando dinamizar e criar técnicas que potencializam a aprendizagem e incentivam crianças e adolescentes a estudar. A Arte, que é capaz de estimular os sentidos e emoções, deixou de estar apenas em disciplina e passou a ser presente em sala de aula como forma de ensino. A sensibilidade exercida na prática artística enaltece o envolvimento cerebral sendo capaz de captar todos os momentos com mais clareza. Além disso, a atenção depositada enquanto se produz um objeto de arte é grande a tal ponto de ressaltar a força da memória. Dessa forma, o método artístico é uma das técnicas inovadoras de ensino que mais apresenta resultado. Consiste em lecionar conteúdos programados através de músicas, teatro e outras formas artísticas. A educadora e psicóloga Silvia Borges é uma das profissionais de educação que validam o método como mais eficaz que o tradicional. Afirma que sua escolha vem da ca-
“A
pacidade da arte de demandar o funcionamento e a observação de várias funções ao mesmo tempo. “Uma aula expositiva demanda do aluno a área da racionalidade. Porém, quando usamos a Arte para ensinar, você vai tocar o aluno, vai usar a área emocional do cérebro, a função sensorial e racional. O método artístico exige que muito mais funções sejam colocadas em exercício para a produção e conclusão da atividade”, explica a psicóloga. Segundo a psicopedagoga Carla Almeida Bianna, a escolha das escolas por métodos artísticos de ensino se da pela aproximação do linguajar. Por representar uma linguagem popular, criar situações de vivência e simular uma informalidade, o aluno se sente liberto dentro da aprendizagem, criando um conforto maior com o estudo. Apesar da situação de estímulo, Bianna ressalta que a eficácia do método de ensino é comprovada por conta das emoções que a arte pode transmitir. Defende que, nesse processo, ocorre uma adoração pelo que se está fazendo, transformando o estudo em algo prazeroso. “Quando se faz algo com
sensibilidade exercida na prática artística enaltece o envolvimento cerebral sendo capaz de captar todos os momentos com mais clareza”
emoção, que gera um prazer maior, aquilo passa ter muito mais significado. Quando tem emoção na história, o aluno não esquece. A arte tem a capacidade de tocar o outro”, afirma a pedagoga. Dessa forma, a especialista relaciona o aumento do desempenho dos estudantes em sala de aula a partir do momento em que o método artístico é imposto. “Quando o professor fala com o aluno de uma maneira que ele entenda, passa a ter um estímulo. Dessa forma, uma coisa está ligada a outra. Se o aluno entende o que o professor está falando e se ele acha interessante porque está finalmente compreendendo, o estudante vai internalizar melhor. Quando se aprende algo de uma maneira que goste, a tendência é você não esquecer”, conta a psicopedagoga. Ela também faz um alerta quando diz que “um aluno só esquece e não aprende aquilo que ele não consegue entender. A educação pela arte pode ser usada até no ensino para adultos. Em todas as aplicações, ela tende, por esses motivos, a atingir uma eficácia maior que o método tradicional de ensino”, conclui.
Aplicabilidade do Método
Sílvia é professora do Cesas, Centro de Estudos Supletivos Asa Sul, e faz uso da prática em sala de aula. Segundo ela, os alunos se sentem motivados a participar e contribuir com as atividades. Porém, o método não é utilizado, apenas, para desenvolver interesse de estudo. Sílvia leciona, também, para alunos especiais, portadores de síndromes, como Down, autismo e outras deficiências. Em uma parceria com a Apabb, Associação de Pais e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade, a educadora produz, com o auxilio de outros professores da escola, como a de Sheila Borges, professora de Matemática, uma oficina de pintura com os alunos especiais. Diversas reações cerebrais desses alunos são despertadas durante a execução do trabalho, pois isso é importante à aplicação do método, segundo a educadora. Além de incentiva-los a utilizar a criatividade em diversas ações cotidianas. A exposição do trabalho de pintura com os alunos será no dia 22 de novembro, na escola. Porém, não somente aos especiais o método é aplicado. Silvia utiliza outras práticas de ensino com os demais alunos de sua escola. Seu último grande projeto foi feito em parceria com uma amiga, Ivana da secretaria de segurança, que utiliza o método para levar a crianças, dentro das escolas, princípios de segurança. A agente policial, que havia feito um curso de teatro de bonecos, sugeriu a escolha dele como método. Assim, a professora Sílvia entrou em contato com o professor de história da sua escola, que também faz uso do método artístico em sala de aula, para se juntar ao projeto. A ideia inicial era de que parte do conteúdo semestral fosse explicada em forma teatral. Porém, ao fim, o sucesso entre os alunos foi tão grande que toda a matéria que deveria ser ensinada em um semestre, foi transmitida em forma de teatro animado. O conteúdo selecionado foi o das Grandes descobertas, período histórico em que Portugal chega ao Brasil. O professor de arte da escola foi convidado a adentrar o projeto, sendo responsável por repassar aos estudantes técnicas plásticas de elaboração dos bonecos. A atuação foi organizada em duas partes. Na primeira, os alunos fizeram os bonecos e aprenderam a manipular. Em um segundo momento, houve um estudo do conteúdo para que os alunos elaborassem um texto e argumento, destacando quem seriam os personagens principais, entendendo os fatos históricos que aconteceram no período. Além disso, os estudantes elaboraram também o cenário, música e todos os restantes elementos cênicos. O projeto fez tanto sucesso que, ao fim da utilização dos personagens pelo conteúdo de história, o professor de artes utilizou os mesmos para ensinar dança aos alunos, fazendo uma segunda apresentação junto aos estudantes, representando o Street Dance, a dança de rua. Sílvia afirma que a experiência foi “simplesmente uma revolução fantástica” na sua escola. “Antes, eu tinha alunos que mata-
Foto: Natália Roncador vam aula, saiam cedo, ficavam com cara de tédio e só levantavam a mão para perguntar se eu havia feito a chamada. Mas, durante o projeto, esses alunos passaram a ir todos os dias para a escola. Eles me procuravam com ideias, interagiam e se empenhavam para dar certo”, relembra emocionada. Com a conclusão do trabalho, os estudantes participantes gravaram depoimentos dizendo que aprenderam o conteúdo, que gostaram do que estudaram e, ainda, que gostariam de ter atividades como essa com mais frequência. Apesar da eficiência do método, a pedagoga Carla Bianna afirma que a técnica ainda é pouco utilizada pelas escolas. Segundo ela, esse método é o conhecido como o “vai dar trabalho”. Afirma que para que a criança tenha uma linguagem tátil e assim entender o que está aprendendo, é preciso comprar materiais, elaborar um projeto e se desprender de um tempo. “O professor não está preocupado se o aluno vai aprender, está preocupado em passar o conteúdo. O método artístico de aprendizado é trabalhoso e nem todo profissional está disposto a ter esse trabalho”, afirma a especialista. Como educadora, Sílvia compreende que o método não é utilizado nas escolas, pois, devido as condições de trabalho de um professor, ele não se sente incentivado a produzir algo trabalhoso como este. Segundo ela, devido aos baixos salários e ruins condições de ensino, principalmente nas escolas públicas, o menor esforço vai parecer justo. “É importante dizer que o professor não se esforça porque ele já se encontra no prejuízo. Ele não tem condições de trabalho adequadas para pleno exercício da capacidade de ensino”, conclui.
Educação
O cavalo também pode ser o melhor amigo do homem A equoterapia atua no tratamento de pessoas portadoras de necessidades especiais. Filipe Cardoso
Quem deve praticar?
Para iniciar um tratamento com Equoterapia, é necessário o aval do médico, fisioterapeuta e psicólogo, pois em alguns casos a montaria pode gerar danos a coluna do paciente, em vez de melhorias. Para praticar Equoterapia no Brasil é necessário ser maior de três anos, e não há idade máxima. Mais de 30 problemas de saúde e doenças têm apresentado melhoras com a prática contínua da atividade. O programa de atendimento é individual, cada praticante fica acompanhado por um instrutor, que além de nível superior possui o curso de Equoterapia, e um condutor do cavalo, responsável pela segurança e pelo animal. O tratamento varia de doença para doença, e é montado a partir das características e necessidades de cada praticante. Antes de começar o tratamento, é feita uma discussão de caso clínico na qual os profissionais de 3 áreas discutem o quadro do praticante e, juntos, definem os objetivos e o programa de atendimento que será revisto e reanalisado periodicamente. Existem 04 programas: hipoterapia, educação-reeducação, pré-esportivo e esportivo. No primeiro o praticante é mais dependente e possui maior limitação sendo necessário maior auxílio por parte do mediador, enquanto que nos níveis subsequentes ele vai se tornando mais independente podendo até chegar a níveis de com-
petição no esporte. Além disto existe a terapia de manutenção, que não tem como objetivo o desenvolvimento do praticante, mas ser apenas um contato com o animal e uma forma de exercício físico. Já o tempo de permanência do tratamento varia de acordo com o paciente.
Onde encontrar centros de Equoterapia
Na Granja do Torto, em Brasília está localizada a ANDE - Associação Nacional de Equoterapia. Além da Equoterapia em si, também são fornecidos os cursos de formação de equoterapeutas. Além da Gabriel Ian em uma sessão dela, outros sete centros ofe- de Equoterapia com a recem o tratamento, dentre fisioterapeuta Andréa eles o Regimento de Polícia Militar Coronel Rabelo, que em parceria com a Secretaria de Educação do DF oferece o curso gratuitamente aos moradores do Distrito Federal e entorno. Atualmente o centro da Equoterapia da PM tem 140 alunos registrados. Por ser tratamento caro, as vagas são limitadas e o período máximo de duração é de dois anos, para dar lugar a outros pacientes que aguardam na fila de espera.
Os benefícios da Equoterapia na Educação
O tratamento tem gerado melhora significativa em seus pacientes em diversas áreas, em especial a ajuda no desenvolvimento intelectual, pois estimula a concentração, atenção e disciplina. Infelizmente, com exceção do centro de Equoterapia da PM, que possui atendimento gratuito, a atividade ainda é tratamento relativamente caro e não é acessível a todos que necessitam.
Foto: Filipe Cardoso
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esquisadores descobriram que o passo do cavalo assemelha-se com o passo humano, e a partir desta descoberta foi criada a Equoterapia – um tratamento para várias doenças, dentre elas problemas de locomoção, síndrome de down e distúrbios de déficit de atenção. Quando o praticante está realizando a atividade, há estímulo do sistema nervoso, pois a cada passo do cavalo a pessoa se desequilibra e o cérebro precisa corrigir o movimento, fazendo com que haja desenvolvimento no centro de equilíbrio do paciente. A atividade também ajuda na postura, visto que exige grande esforço manter-se ereto ao montar o animal, há ainda estímulo sensório-motor com o contato do praticante com os pêlos e temperatura do cavalo. Além do desenvolvimento físico, o fato de estar em contato com um cavalo, e a criação de um vínculo emocional com o animal também são fatores que auxiliam na melhora dos pacientes, como é visto na pet terapy. Praticantes apresentam melhoras significativas quando estão na terapia, como é o caso de Gabriel Ian, que tem TDAH. O sargento Naruatan, pai do garoto conta que depois que começou a praticar a atividade, já houve uma melhora de 60%, especialmente na postura, concentração, atenção e disciplina.
Educação
Pelo direito de sentir-se incluído Sancionada pela presidente, lei garante a inserção de autistas em escolas normais Isabella Coelho
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lei 12.764, sancionada pela Presidente Dilma Rousseff em 27 de dezembro de 2012, assegura aos autistas os mesmos direitos legais que os demais portadores de deficiência, que percorre desde o atendimento preferencial em bancos, reserva de vagas em empregos e obrigatoriedade de aceitação em escolas normais. A autora da lei, deputada Mara Gabrilli, afirma que o reconhecimento da mesma deve ser dado ao movimento autista, pois ele impulsionou a criação da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Criada para promover a inclusão no meio social, prevê punição de 3 a 20 salários mínimos para gestores escolares que recusarem a matrícula de autistas, e, em caso de reincidência, os mesmos podem perder o cargo. A questão é: será que essa promoção será benéfica? A pedagoga Maria Aparecida Gordilho afirma que as escolas não estão preparadas para tal. Por mais que tenham que aceitar os alunos, existe um grande impasse na questão. A exemplo disso a escola Maria Mantessori que atende diversas pessoas autistas, recebeu um aluno que precisava de um acompanhante dentro da sala de aula (par-tutor), o pai arca com o custo do acompanhante e ele próprio se responsabiliza pela contratação do mesmo. Agora, quer que o colégio arque com a despesa, pois a lei o respalda nesse direito. O problema é que a instituição tem vários com o mesmo perfil. “O que ela poderia fazer? Aumentar a folha de pagamento no último semestre escolas para atender essas crianças individualmente?”, questiona. Segundo Maria Aparecida, uma das conseqüências dessa lei é que muitas questões serão resolvidas na justiça. É preciso que haja ponderação e diálogo, e, principalmente bom senso para que os alunos não sejam prejudicados e passem a ser “casos” judiciais. Mas, apesar dos questionamentos a respeito da elaboração da norma jurídica, afirma que é vantajoso ter lei específica para autistas e não mais genérica como antes. “Quando se obtêm isso, sentimos mais segurança diante do mundo, mesmo que este ainda não esteja preparado para nós!”, diz. Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) se
posiciona a favor da inclusão escola de qualquer indivíduo, contanto que os profissionais envolvidos sejam devidamente preparados para atender as suas necessidades educacionais e promover as eventuais adaptações de currículo, linguagem e interação. “Muitas vezes a inclusão é apenas física – colocam a pessoa dentro de uma sala e pronto – sem a devida preocupação com a acessibilidade do ambiente, que não deve ser apenas física, e com seu desenvolvimento acadêmico real. A inclusão escolar também deve ser uma alternativa, não uma obrigatoriedade. As famílias precisam continuar tendo opções diferenciadas de atendimentos e escolher aquela em que seus filhos melhor se desenvolvam e se sintam mais felizes, defende a associação. O posicionamento da Apae é o mesmo de muitos pais, dentre eles, Carmen Coelho. Seu filho autista tem 18 anos e está no primeiro ano do ensino médio. Segundo ela, não basta à criação da lei, tem que haver capacitação dos profissionais, pois teve diversos problemas quando o filho Carlos Augusto estudou em colégios normais. O que era para ser inclusão pode gerar resultados opostos. Os alunos podem sofrer bullying e se sentirem cada vez mais isolados por não conseguirem aprender, conta. Jurista, Dr. Marcos Nizio defende que a lei fundamenta-se na Constituição Federal em seu quinto artigo, que prevê amparo igualdade. Em outras palavras, os iguais tem que ser tratados iguais e os diferentes de maneira diferenciada para se igualarem. Porém, conta que o Movimento Orgulho Autista Brasil está mobilizando parlamentares para que haja mudanças na lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff, uma vez que autistas graves necessitam de escolas especiais já que não são facilmente adaptáveis a instituições sem apoio específico. Coordenadora do programa de capacitação de professores, Marília Cabral ressalta que o mesmo é de suma importância. Além do auxílio no aprendizado das deficiências, trabalham também nos estudos de casos. Como trabalhar com determinadas síndromes ou até mesmo intervenções com o aluno ou a família. “Se você conhece, aprende a respeitar e amar a criança ainda mais. Só amamos aquilo que conhecemos e o processo de inclusão não depende somente de conhecer, mas também de amar e respeitar”, finaliza.
Educação
Jovens em busca de estabilidade financeira para alcançar a formação profissional Cada vez mais cedo eles buscam o funcionalismo público e adiam o sonho da vaga na universidade Isabela Vargas
T
er como patrão o Governo. Esse é o desejo de milhares de pessoas que tem sido encantadas por uma vaga no funcionalismo público. Todos os anos, milhares de vagas e cadastros reservas abrem no Distrito Federal. Com a abertura do Edital, as salas de cursinhos preparatórios lotam de pessoas em busca da tão sonhada “estabilidade financeira”. Segundo a jornalista, coach e editora- chefe do site de notícias SOS Concurseiro, Letícia Nobre, o primeiro passo para se tornar servidor público é querer, de fato, seguir este caminho. Ainda não se tem dados concretos, mas tomando como base a ferramenta da observação, especula-se que o número de jovens sem formação profissional que pleiteiam vagas no funcionalismo público tem aumentado. Segundo a coach “para ser nomeado em um cargo público, o candidato deve ter 18 anos no dia da posse, o que não impede, é claro, que ele se prepare antecipadamente”, afirma.
Jovens que optaram pela independência e estabilidade financeira
O sonho de se ter uma profissão surgiu ainda na infância para a estudante Aparecida Karina Silva (21). A profissão dos sonhos era ser veterinária, mas na juventude optou pela área de Informática. Após o término do ensino médio, em 2010, tentou ingressar em universidades públicas e privadas. Sem sucesso, decidiu dedicar-se a estudar para concurso público, buscando estabilidade financeira. Sua rotina de estudos foi se desenvolvendo, chegando a cerca de nove horas de estudo diários. Segundo ela, é necessário ter controle emocional para não desistir nas primeiras tentativas. Após dois anos de estudo passou no concurso do Ministério da Cultura e para cadastro reserva da Caixa Econômica Federal. Mesmo estando à espera, continua estudando. Gerson Souza (28), que hoje desfruta os benefícios do funcionalismo público, ao terminar o ensino médio começou a estudar para o vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Após um ano, sem sucesso, ingressou em universidade particular. Foi necessário apenas o primeiro semestre para decidir trancar a matrícula e dedicar-se a estudar para concurso. Gerson conta que a reação de seus familiares foi de susto e temor, mas depois de muitas conversas aceitaram e apoiaram a decisão. Se aventurar para estudar para concurso público é uma opção difícil, pois ao mesmo tempo em que pensase em altos salários, também há concorrência de vagas como estas,
onde a conquista depende de você. Um dos mais visados, o do Senado Federal, em seu último concurso no ano de 2012, abriu 246 vagas para diversas áreas de atuação. Segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas) 157.939 pessoas e inscreveram para este concurso. Calculase a média de concorrência de 642 pessoas por vaga. “O primeiro passo para se tornar servidor público é querer, de fato, seguir este caminho”. Letícia Nobre, coach especializada em concursos públicos, editora-chefe do SOS Concurseiro A vida de concurseiro requer disciplina, dedicação e muitos sacrifícios. Gerson conta que “saídas com amigos, familiares, e até mesmo uma viagem para a praia com a família, foi o que me custou”. Após dois anos de estudo e nenhum retorno decidiu continuar a busca pela formação profissional no início de 2008. Em maio e agosto do mesmo ano foi aprovado nos concursos da Secretaria de Segurança e Polícia militar do DF. Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Brasília e servidor público, está fazendo pós- graduação. Segundo a coach Nobre, o que tem mudado na avaliação dos jovens que decidem adiar a faculdade é a vontade de entrar no mercado de trabalho e até “ganhar tempo” para definir uma carreira profissional, que está diretamente ligado ao ensino superior brasileiro, predominantemente privado. A fim de financiar a continuidade de sua formação, os jovens voltam-se para os concursos para, assim, escolherem melhor o caminho que a seguir.
Existe uma fórmula secreta? Segundo os entrevistados, itens como dedicação, persistên-
cia, controle emocional, determinação, disciplina, concentração e organização são essenciais para se alcançar uma vaga no funcionalismo público. A professora temporária da Rede pública de Educação Infantil Eliane Maria conta que “não queria faculdade de jeito nenhum, achava que não compensava. Via os cursinhos lotados de recém formados desempregados, estavam no mesmo barco, mas como não passei, busquei uma formação em pedagogia para pleitear uma vaga melhor”. Eliane afirma que ainda não alcançou a tão sonhada vaga no MEC, Ministério da Educação, como pedagoga. Foi obrigada a parar de frequentar os cursinhos por motivos financeiros. Mas quando questionada se sente-se arrependida ao ter dedicado tanto tempo buscando por uma vaga no funcionalismo público, responde de imediato “jamais, tenho conhecimentos que carrego comigo sempre”.
Esportes
Ressignificação do esporte: o futebol dos Paresi O futebol de cabeça na tribo Paresi carrega sentimento por sua origem e simbologia por ser realizado em situações especiais Mariana Nunes
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dia amanhece cedo para os Paresi. As 06h30 um som de flauta invade todo o espaço indicando a hora de acordar. As crianças resistem e logo são entretidas pela realização de seus costumes: pintura corporal com tintas extraídas da seiva de plantas que contem pigmentação forte, cânticos específicos e danças ao redor de ferramentais artesanais. Normalmente não há tanta movimentação pela manha, mas hoje é dia de futebol, ou no tronco linguístico Paresi, Xikunahity (pronuncia-se zikunarit) “Hoje os homens jogam futebol porque a colheita de frutas teve um excelente rendimento. As outras condições da partida são iniciação dos jovens, reforma de flautas sagradas, atividades de caça e pesca. Só os homens jogam, as mulheres se organizam em torcidas. O futebol marca uma fase boa, é bem esperado e comemorado por todos”, explica Daniel Santos, administrador regional da Fundação nacional do Índio (Funai), que visita o local regularmente Os Paresi estão localizados na área denominada “Chapada dos Paresi”, no município Taguará da Serra, em Mato Grosso. Em 2007, uma pesquisa do Ministério da Justiça levantou o numero populacional da região, 1.492 indígenas até então. No mesmo estado, os povos Salumã, Irántxe, Mamaidê e Enawenê-Nawê também praticam a modalidade. Se enfrentam nos jogos dos povos indígenas, um evento esportivo que reúne diferentes etnias e é realizado anualmente. Madeylene Machado, assessora de comunicação da Funai afirma: “É uma grande festa, traz o espírito de união, de força e mostra as tradições de cada etnia. É um espaço onde eles podem mostrar suas habilidades, realçar seu patrimônio cultural que é tão valioso”. No chão de terra batida que registra as pegadas de quem passa, são feitas marcações com cal para delimitar o espaço do campo e as duas áreas onde os times com até dez integrantes se enfrentaram. Para a confecção da bola é recolhida a seiva da mangabeira , uma espécie de látex. Esse material é passado em um pedaço de madeira diversas vezes respeitando um espaço de tempo e fica exposto ao sol. A partir da primeira remessa é formada a base da bola – moldada com cuidado pelo cacique Rony Paresi, e com auxílio de um canudo é preenchido de ar e depois disso recebe
outras camadas do plástico obtido até ter a consistência exata. O jogo se inicia quando dois dos jogadores mais velhos de cada time vão ao centro do campo e decidem quem começara a lançar a bola ao outro lado. Essa é a única participação dos veteranos, que deixam o espaço após a decisão. Aqui assumem o cargo de técnico, sempre chamando atenção do time aos gritos e vibrando quando a bola não é rebatida, assim se marcam os pontos. Não há violência ou desrespeito, acreditam em suas habilidades e obedecem a hierarquia de idade e posição social. Os jogadores precisam seguir a regra maior: utilizar somente a cabeça em chutes durante a partida. A condição do uso de apenas uma parte do corpo nada se assemelha às origens do futebol na china Antiga. Por volta de 3000 A.C., como treino militar o esporte acontecia após as batalhas e as equipes chutavam a cabeça dos soldados inimigos. Mais tarde as cabeças foram substituídas por bolas de couro revestidas com cabelo e foram surgindo regras e adaptações particulares. Sem preocupação com o tempo, o futebol do Paresi pode durar até mais de uma hora, Dessa vez apenas quarenta minutos. Um integrante do time que se pintava de azul se machucou quando tentava rebater a bola e esfregou o rosto pela terra. Sua equipe teve que pagar as apostas, que são levadas a sério. Foram dados objetos pessoais e outros de uso comum, como fósforos e sabonetes. Após um atendimento ao indígena machucado, o pajé Terena Paresi reúne todos num grande círculo e endossa a lenda do Xikunahity. Wazare, entidade mítica da cultura Paresi, depois de cumprir sua missão e designar a Chapada dos Pareci ao seu povo, fez uma grade festa – olóniti kalóre. Demostrou a todos as frustrações do corpo humano e ensinou maneiras de conexão com outros mundos a partir da cabeça que guiaria com sabedoria o mundo material e espiritual. Além de toda essa capacidade poderia ser também usado em capacidade física, surgindo assim o chamado “cabeçabol”. Terena se distancia do grande grupo formado para ouvir suas histórias, vai até a grande oca, ouve-se o som da flauta. As crianças novamente resistem, tentam se esconder e ensaiam uma corrida pelo campo. Logo serão levadas aos mais velhos para se despedirem e serem abençoadas. Precisam estar dormindo antes da lua “atingir o céu”. A noite começa cedo para os Paresi.
Esportes
Beisebol e Rugby em Brasília: esportes de elite? Com público seleto pouco a pouco modalidades vem encontrando espaço na cidade Filipe Cardoso e Jaqueline Batista
Foto: Filipe Cardoso
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Brasil é mundialmente conhecido como o país do futebol. Esse estereótipo vem cada vez mais sendo quebrado e nessa imensidão de culturas que compõem o nosso país, outros esportes vêm ganhando mais espaço, a exemplo disso temos o Rugby e o Beisebol. O Rugby, que tem origem inglesa, chegou ao Brasil por volta de 1875. Já o Beisebol, que tem sua origem nos Estados Unidos, chegou ao país por volta de 1850. As duas modalidades vêm pouco a pouco fazendo parte do gosto de alguns brasileiros. Em Brasília os dois esportes já contam com times e até campeonatos. O Brasília Rugby Clube (BRC) é o principal time do esporte na capital, ele foi criado em 2001 por estrangeiros praticantes e moradores interessados. O Beisebol tem três times principais - O Beisebol Nipo que foi o primeiro a ser criado em meados da década de 1970, o Beisebol Nikkey de Taguatinga que surgiu a cerca de cinco anos e o time para crianças, Beisebol Vargem Bonita.
Quem joga?
Além do Reino Unido, tradicionalmente o Rugby é jogado em países de colonização inglesa, em especial a Nova Zelândia e a Austrália. Já o beisebol é paixão nacional nos Estados Unidos e no Japão. Brasília, justamente por ser a capital do Brasil conta com centenas de embaixadas e consulados, e consequentemente, milhares de estrangeiros fizeram da capital federal seu novo lar. E s tes imigrantes trouxeram na bagagem sua cultura, música e esportes. Não é difícil encontrar restaurantes árabes, italianos ou franceses pelas quadras do plano piloto. Nos esportes também não é diferente, muitos dos jogadores do Rugby são estrangeiros, filhos de estrangeiros ou amigos de estrangeiros, como é o caso de Cedric Wamba, técnico do time feminino do Brasília Rugby Clube. Cedric é Camaronês, mas veio morar em Brasília, pois o pai é funcionário da embaixada. Ele é apenas um caso, alguns outros jogadores do time adquiriram paixão pelo esporte e resolveram trazer o jogo para Brasília após temporadas morando na Nova Zelândia. No Beisebol também não é diferente, o esporte de origem americana faz muito sucesso entre os japoneses e onde existe colônia japonesa certamente existe Beisebol. O técnico do Beisebol Nikkey, Eduardo Ono falou que essa modalidade poderia ter mais divulgação para toda a população, não só para os nisseis e sanseis, que são os descendentes de japoneses. “Existe muita dificuldade em manter os times, pois temos poucos jogadores. Temos torneios a cada seis meses, mas poderíamos ter mais se a procura pelo esporte fosse maior.”, conta Eduardo.
Quanto custa?
Uma boa notícia é que ambos os esportes são abertos ao público, e não exigem pagamento para participar, nem é necessário fazer “escolinha”. Os jogadores mais antigos vão treinando os mais novos, e normalmente os treinos e jogos acontecem em locais públicos, como o Centro Olímpico da UnB, o gramado central da Esplanada dos Ministérios, no Clube Nipo e em Vargem Bonita. Porém os equipamentos são caros e de difícil acesso, pre-
cisam ser importados, como é o caso do Beisebol. O equipamento básico, composto por taco, luva, bola e chuteira, não sai por menos de R$500, e o do Rugby, um pouco mais simples, custa em média R$190, sem levar em consideração o preço da bola (em média R$100) cujo valor pode ser facilmente rateado entre os praticantes. A Secretaria de Esportes do Distrito Federal (SEDF) informou que não existe nenhum programa de apoio a esses esportes e aos jogadores com campos ou auxilio com materiais. O único tipo de apoio é uma ajuda de custo para viagens pelo país, para os campeonatos regionais através do programa chamado Compete Brasília, que contempla times credenciados. O técnico de time infantil Beisebol Vargem Bonita, Marcelo Nakandakari, trabalha voluntariamente desde que o time foi criado. Ele falou das dificuldades de manter o time e de como o apoio do governo faria diferença não só nas questões financeiras, mas também na divulgação do esporte no DF. “Quando vamos aos torneios em outros estados é fácil notar quando um time é financiado pelo governo, pois são mais estruturados. Como fazemos um trabalho voluntário o nosso time banca as passagens das crianças aos campeonatos. Aqui no DF precisamos de mais divulgação. Não fazemos esse trabalho por dinheiro, mas sim pelo prazer de ensinar um novo esporte.” diz Marcelo.
Esporte de elite?
É visível que a grande maioria dos entusiastas destes esportes são pessoas mais abastadas, normalmente de classe média, mas isso não é regra, e quem não tem muitas condições de bancar as centenas de reais dos equipamentos, não necessariamente precisa ficar de fora dele. A partir dos seis anos de idade já é possível jogar Beisebol, como os custos dos materiais é um pouco alto os times disponibilizam equipamentos para os jogadores que ainda não adquiriram os seus. Como o esporte ainda não é muito conhecido no DF os times contam apenas com a divulgação boca-a-boca e nas redes sociais. Os treinos dos três times acontecem aos domingos a partir das 8h. Apesar de ser conhecido como um esporte violento, a principal filosofia do Rugby é o companheirismo, a amizade e o trabalho em equip e , tanto que quase obrigatoriamente, depois de uma partida, existe o “terceiro temp o ”, que é uma confraternização entre os times r i v a i s , onde normalmente o time da casa oferece comida e bebida ao visitante, normalmente em um bar ou na casa de um dos esportistas. Partindo desta filosofia de companheirismo, os jogadores estão sempre se ajudando, passando aos novatos equipamentos antigos, chuteiras e uniformes, o que pode ajudar bastante um esportista que não tem muitas condições. Além disto, é possível tentar conseguir auxílio público para custear os equipamentos e manter o atleta no esporte. O Ministério do Esporte fornece bolsas para esportistas, não é exatamente fácil conseguir tal auxílio, mas com determinação e talento é possível receber do governo federal a Bolsa atleta, com valores que podem variar de R$370 à R$3,100.
Esportes
Além de torcer, o futebol grita por direitos Grupo Bom Senso F.C tenta reivindicar os direitos dos jogadores de futebol Leonardo Resende
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o meio das manifestações de junho do ano passado tantas reivindicações, reclamações e propostas foram declaradas e até ‘cuspidas’ ao governo, já que a atenção de todo o país estava voltado para o que todos queriam. A formação de grupos ganha força, especialmente o movimento Bom Senso. Formado por jogadores de grandes clubes de futebol, o grupo visa cobrar aos clubes melhores condições no futebol brasileiro. Com o slogan “Bom Senso F.C, por um futebol melhor para quem joga, para quem torce, para quem transmite, para quem patrocina e para quem apita”, o grupo mostra que existem ideias concretas para mudanças significativas. A primeira ação do grupo foi em relação do calendário de futebol brasileiro de 2014, pelo fato de ser o ano da Copa do Mundo, o agendamento ficou mais apertado em relação a pré-temporada, que seria o período em que os atletas treinam e com o tempo curto, as férias também ficaram pequenas. No início, o grupo acolheu 300 assinaturas entre jogadores dos principais grupos e colocou em pauta cinco pontos: calendário do futebol nacional, férias dos atletas, período adequado de pré-temporada, fair-play financeiro (os gastos corretos da verba arrecadada), participação nos conselhos técnicos das entidades que regem o futebol e direitos dos atletas. A primeira impressão que se tem do movimento é uma preocupação real de mudanças esportivas. “É um grupo com propostas interessantes, mas não consegue ser concreto, faltando uma liderança, chegando a ser superficial” revela o presidente da Comissão de direito esportivo da Ordem dos Advogados do Brasil, Maurício Côrrea. Em relação aos direitos do jogador, um advogado sempre acompanha o atleta, desde do princípio quando um contrato entre o jogador e o clube é acionado, fazendo um contrato obrigatório, que faz jus a algumas leis trabalhistas como férias remuneradas e décimo terceiro. Além de um contrato de natureza civil, com direitos econômicos, sendo que nesse momento o empresário do jogador é utilizado e é nele que o administrador entra em acordo para receber um percentual do que é arrecadado pelo atleta. Um terceiro contrato é feito para a recessão do uso de imagem, que entra em vigor a lei 9615 de 1998, que obriga a explicação da duração do contrato e o valor.
Quando surgem os processos
Os problemas judiciários começam quando um clube deixa de pagar os salários e prêmios, sendo que quando um jogador é premiado, sua verba aumenta. “Se o clube também não cumprir com as cláusulas mostradas no contrato como arcar com as verbas contratuais como férias, décimo terceiro e rescisão direta do trabalho, o clube pode responder o processo e no caso, pagando o que deve e uma indenização” declara o presidente da Comissão de direito esportivo da Ordem dos Advogados do Brasil, Maurício Côrrea Em casos de óbito, no contrato exige que o clube contrate uma seguradora para casos de falecimento do jogador. Ao ser acionado, a família do jogador recebe um seguro de vida. Se a culpa for do clube, o pagaFoto: Divulgação
mento não será apenas da seguradora, mas também da associação.
Um caso famoso
Em junho de 2014, o clube Corinthians e Jucilei se encontraram, sendo que o encontro não foi para uma possível volta do jogador ao clube. O jogador e a entidade ficaram frente a frente em uma audiência na 83ª Vara da Justiça do Trabalho, por causa do processo que o atleta move contra o clube. Como a maioria dos processos, o jogador entrou em uma ação contra o clube por alegar que não recebeu salários de verbas rescisórias (férias, décimo terceiro e salários proporcionais) antes de ir para o time Anzhi, sendo que o clube russo pagou 10 milhões de euros para ter o volante (meio de campo). Todas essas verbas deveriam estar na conta do jogador. Além do que não foi pago, o jogador tem direito a uma diferença na porcentagem paga sobre os direitos de arena. Jucilei recebia 5% dessa porcentagem, sendo que o necessário é 20%. Antes de ter tomado atitudes mais severas, o atleta tentou entrar em acordo sobre os atrasos e foi ignorado. No dia da audiência, o Corinthians ignorou a participação nos 10 milhões, sendo que teria que pagar uma taxa para a venda do jogador. A venda só foi efetuada para atender o pedido de Jucilei. No momento, a próxima audiência será marcada para novembro deste ano, mesmo que o jogador esteja no time russo. Até então, nada foi determinado sobre o processo.
Intervenção do Bom Senso F.C.
Notando essas falhas dos clubes, muitos jogadores viram o grupo Bom Senso como uma maneira de conseguir atenção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e também como maneira de denunciar os clubes que não seguiam as cláusulas dos contratos, seguindo para os processos. O grupo visa acabar com essas irresponsabilidades, pedindo a CBF mais fiscalização nas entidades. Segundo o assessor do grupo, Rafael Antoniutti, a criação do grupo é uma revolução em organização para reivindicar os direitos dos jogadores “É o primeiro que deu certo, é o único que bate de frente com a CBF e quer ver os jogadores satisfeitos com as verbas e direitos” declara. O grupo é um dos únicos que deu certo, antes existiam algumas reuniões, mas o sucesso do Bom Senso só foi possível pela evidência das manifestações de junho de 2013. “Realmente existe a rivalidade entre jogadores, mas quando eles notam que estão lutando por causas necessárias, a hostilidade é deixada de lado” completa.
Entre os jogadores
Para o meio-campista do Coritiba, Alex de Souza, o Bom Senso é necessário. “A maioria dos jogadores são a favor de uma redução salarial desde que haja esse equilíbrio no orçamento, desde que exista fair- play financeiro” O goleiro Roberto Volpato também partilha da mesma opinião de Alex. “Uma coisa tem que ficar clara: em algum momento vamos ter que mudar, e para mudar, deve existir confronto. Pacífico, mas confronto. No momento mais de mil jogadores integram o movimento, Bom Senso F.C. conta com os parceiros Universidade do Futebol, Futuro do Futebol e R2O Filmes.
Cultura
A vida dos artistas de rua por trás dos espetáculos Apesar da difícil jornada independente, esses artistas constroem sonhos, correm atrás do sustento e também fazem expectativas futuras Kamila Braga
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os semáforos, praças e outros locais públicos, vemos artistas de rua que levam arte para quem estiver presente e quiser participar das apresentações. Os artistas de rua são em sua maioria malabaristas, palhaços, músicos, trapezistas, equilibristas, mágicos e etc. Tem artistas que viajam o tempo todo, tanto para lugares do Brasil quanto para fora. Eles levam barracas para dormir ou às vezes ficam em casas de amigos por um determinado tempo. Outros preferem fixar moradia, mas também abrindo espaço para viajar de vez em quando. Gostam da liberdade do trabalho que têm. Na vida cotidiana fora dos espetáculos, eles precisam pagar as contas de água, luz, aluguel e sem contar outras despesas a mais. Para se sustentar e ter uma vida mais confortável, alguns artistas trabalham em dois ou mais empregos, fazendo freelancers em festas infantis e projetos paralelos. No dia a dia em interação com a família, Luiz Felipe
Grécia XXXX Na Grécia antiga o “aedo” era um artista que cantava poesias de letras extensas, contando um acontecimento ou vida de alguém importante, acompanhado de um instrumento chamado fórminx. Fazia apresentações em banquetes de aristocratas.
Grangeiro, 27, músico e artista de rua, morador da Asa Sul, conta que fora do circo vive uma vida normal. “Gosto muito de cuidar das plantas, compartilhar com as crianças em casa e gosto de cozinhar. Gosto de arrumar um canteiro de plantas pensando de forma artística, procurando a beleza nas coisas. Gosto também de me relacionar com meus amigos procurando a arte, a poesia, através de tudo”, explica. Sobre namoro, mesmo tendo uma vida mais simples, valorizando mais a felicidade do que o dinheiro, Luiz Felipe diz que namoraria uma mulher com uma vida diferente da dele. “Creio que a atração íntima entre duas pessoas está muito além da forma como somos e levamos a vida. Respeito às diferenças e adoro a integração entre opostos. Para mim, são energias complementares que podem dar muito certo sim”, conta. Vinícius Zuricati, 23, nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e está sempre viajando. Já foi para lugares como Buenos Aires, Equador, Colômbia e outros. Fica longe da família, mas retorna no natal para matar a saudade. Na adolescência fez teatro, levou essa
“ Tem artistas que viajam o tempo todo, tanto para lugares do Brasil quanto para fo r a”
486 A.C O palhaço clássico, que pinta o rosto de branco e exagera suas expressões, apareceu no teatro grego há 2.500 anos. Os atores pintavam seus rostos de branco para que o público conseguisse enxergá-los melhor no escu ro.
Idade Média O “Bobo da corte” personagem engraçado, zombava a corte e ofendia o rei de forma brincalhona, mas verdadeira. Nos séculos XIV e XVI - Final da Idade Média, acreditava-se que o “bobo” espantava mal olhado e trazia sorte ao castelo.
Ainda na Idade Média surgiram as “estátuas vivas”. No séc. XX,foi criado na cidade de Arnhem, Holanda, o Arnhem Mime Festival. Todo ano acontece esse evento que reúne estátuas vivas de todo o mundo.
paixão para as ruas e nunca mais parou. “Fazia teatro. Fiz uns seis meses de oficina, foi bem legal. Tenho umas fotos bem antigas que são desse tempo. Eu tentei aprender violão, mas não deu muito certo. Agora estou tentando aprender a dançar”, fala.
Artistas fora do quadrado
Os artistas confessam que não gostariam de trabalhar em lugares “fechados”, como por exemplo, um escritório. Tanto pelo ambiente, como pela forma de hierarquia – chefe-funcionário. Derlon Dreyfus Dias, 27 anos, brasiliense e artista de rua, morador do Recanto das Emas, fala que na juventude estava procurando uma forma de trabalho que desse a liberdade de fazer um mochilão. “Na época fazer malabarismo nos semáforos era cultura alternativa. Eu era envolvido com o movimento anarquista, lutava por uma mudança no mundo, principalmente em relação ao estilo de vida americano”, conta o artista. Derlon saiu do emprego que fazia de operador de redes de computadores em um banco e foi viajar. Foi para São Paulo com um amigo, também mala- Foto: Kamila Braga barista e foi morar numa ocupação anarcopunk (modo de vida de grupos ou bandas punks e anarquistas que fazem suas vontades ou regras independentes de governo), transformando uma casa que era abandonada em um espaço cultural autônomo. “Depois que voltei para Brasília, tentei voltar para a ‘vida do sistema’, mas tenho uma vontade, que não sei de onde vem, que me faz continuar nessa. Nem é vontade de ser famoso, é mais uma vontade de trabalhar com algo que seja também a minha diversão. Uma forma de tornar a vida me-
1960/70 Na década de 60 e 70 a arte foi reprimida pela Ditadura Militar, dentro do contexto da onda de moralismo e da repressão política que levou a proibição da liberdade de expressão.
nos séria. O mundo é tão padronizado, moramos em casas quadradas, dormimos em camas quadradas, usamos móveis quadrados”, desabafa o mesmo. Miguel Estil de Noronha, carioca de 27 anos, participa do circo desde os 16 anos. Atualmente mora em uma comunidade/vila situada no Setor de Embaixadas, em Brasília. Para pagar o aluguel ele precisa trabalhar muito. Ganha dinheiro com o circo e quando precisa de mais, vai para os semáforos. “Já passei por muito aperto e falta de grana. Inclusive ano passado tive pouco trabalho com o circo. O projeto que eu estava não foi aprovado, então foi bem complicado. Mas passar fome, não passei. Atrasar um aluguel, uma conta, isso sim que está acontecendo mais. Talvez eu consiga correr atrás e recuperar, mas daqui a pouco dá uma queda também. Não tem trabalho, não tem nada fixado”, afirma. Em relação à família, Leonardo Leal, brasiliense, 30, fala do convívio da filha com os amigos e a relação dela com o circo. “Agora eu tenho uma filha de 10 anos e um filho de três. O de três é super encantado com o circo, não para quieto, quer fazer tudo, do mesmo jeito que a menina também era até uns oito anos. Só que começou a mudar a fase dela, o convívio social com os amigos influencia muito hoje. Então, acho que até para ela, essa é uma questão forte, mas ela é encantada com o circo, se apresenta com a gente sempre que possível, às vezes também não, acha que é coisa de hippies, e aí quer ir pro shopping center e ficar na frente do computador” detalha Leonardo. Gabriel de Oliveira Santos, 23, publicitário, artista de rua e morador de Goiânia conta que não gosta de trabalhar com publicidade e pretende futuramente se dedicar somente ao malabarismo que é a grande paixão dele.
PT
2010 Em São Paulo, 2009, policiais militares impediam o comércio ambulante através da Operação Delegada. As estátuas-vivas e os tocadores de violão estão entre os mais atingidos.
Em São Paulo, artistas manifestaram contra a Operação Delegada em 20 de dezembro de 2010 na Avenida Paulista (em frente ao MASP). Coletaram assinaturas da população em apoio à causa dos artistas de rua e distribuíram panfletos com os dizeres: “Eu apoio os artistas na rua!”.
2013 31/05/2013, Câmara Municipal aprovou uma lei que foi sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (PT), que dá direito e deveres aos artistas. Os artistas de rua podem trabalhar até às 22h, passar o chapéu e vender CDs e DVDs de autoria própria.
2014 Neste ano, 22 de março, o ‘Diário Oficial da Cidade’ (SP) divulgou outra lei que restringe lugares aonde artistas não podem se apresentar. Lugares como estações de metrô e paradas de ônibus estão proibidas.
No DF, a Administração Regional de Brasília diz que os artistas de rua não têm licença ou autorização para trabalharem nas ruas, praças ou semáforos.
Apesar da liberdade, os artistas ainda sofrem preconceito. O músico pernambucano André Vasconcelos, de 25 anos, em entrevista ao G1, conta: “Aqui em Brasília as pessoas pagam bem, mas ainda existe muito preconceito. Muitos acham que sou ladrão, fecham o vidro quando passo perto dos carros. Somos artistas, não bandidos”
Algumas fotografias e vídeos são desenvolvidos por amadores ou profissionais. Um exemplo é o vídeo no Youtube de 2008 da música Stand by me cantado pelo Playing for Change que é um projeto criado com o objetivo de unir músicos do mundo inteiro em virtude de mudanças globais.
Cultura
Eu não sou da sua rua O centro de Taguatinga hospeda biblioteca pública, estação do metrô, pontos de parada, lojas, ambulantes, transeuntes e é palco de muitas histórias Mariana Nunes
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les são figuras conhecidas mesmo não necessariamente estando ali todos os dias, e ajudam a compor o ambiente alternativo que é subsídio de quem costuma passar pelo centro de Taguatinga. Os malucos de BR (o apelido surgiu pela obviedade: amor à estrada e pelo desapego de um lar fixo) são pessoas que não criam raízes, costumam viajar entre regiões para explorações espirituais e territoriais; arrecadando dinheiro a partir de seus artesanatos vendidos onde ficam temporariamente. É comum atribuir estereótipos ao vê-los vestidos de maneira alternativa e serem donos de personalidades desprendidas. Eles não desejam a rua, desejam sê-la. Em Taguatinga, ficam pelo centro e pela Avenida Comercial Norte, na calçada, expondo seus trabalhos à venda e ocupando a cidade atrás de novas experiências. Quem se interessa pelos produtos tem sua passagem interrompida pelas histórias dos malucos de BR, sempre recheadas de aventuras. Eles, os malucos, parecem se encantar com qualquer detalhe que quem passa por ali pode não perceber, como uma flor nascendo entre as falhas do asfalto. Além de seus produtos normalmente expostos em pedaços de camurça, mostram a alma enquanto falam suas experiências. Em outros lugares não são tão bem-vindos. No Plano Piloto, por exemplo, são impedidos por comerciantes de ficarem próximos a suas lojas, alegando que assustarão clientes. “É irreal, sabe? Nem bicho é tratado assim. O problema é meu cabelo? Um penteado mais comportadinho não ia agregar em meu caráter. Eu não sou da sua rua, eu nem sou daqui. Não quero atrapalhar. A rua é de quem, afinal? É de quem passa enquanto caminha”, reflete Luís Ricardo Almeida, de 25 anos. Com dreads no cabelo, anda por Brasília há dois anos e não se sente pertencente. Veio de Mato Grosso, depois de se formar em
Agronomia. “Não nasci pr’aquilo. Optei por viver melhor, fazendo meu destino, sem machucados. Gosto de gente, de arte, de mato. Tô aqui de passagem”, diz e se lembra do grupo que o acompanhava. Três das oito pessoas seguiram para o Nordeste e os demais para o Uruguai – a viagem internacional não estava nos planos de ninguém. A administração de Taguatinga afirma que não pode proibir, pois a rua é pública e desde que não atrapalhem a passagem, tudo bem. Alguns servidores conhecem os malucos de BR por nome e mantém uma relação saudável. “Nenhuma dessas pessoas que vêm aí me deram problema, são tranquilos. Entendo que a rua é espaço e que eles querem ocupar. Mantenho o procedimento de permitir que passe por aqui quem desejar, mas eles respeitam sempre. Ficam mais na grama, é mais tranquilo”, disse Carlos Amarante, agente técnico. No Plano Piloto ninguém falou nada sobre o assunto. Talvez reflexo do desleixo perante a cidade. Algumas manifestações acolhedoras em grupos pequenos e iniciativas culturais, precisam também de espaço e divulgação. Maria Elisa Carvalho, estudante de Direito, percebe a falta de movimentação e queixa “aqui o concreto toma conta, não há lugares de fácil acesso para a promoção de encontros, ainda que esporádicos. Parece que só temos prédios e robôs engravatados, procurando uma sala isolada que tenha ar condicionado”. Taguatinga, cidade satélite, parece abranger o diferente com mais atenção se comparada a outros lugares. Os próprios ambulantes organizam saraus espontâneos no meio da rua, com violões e poesia a céu aberto. O centro não perde a cara de efemeridade emergencial, onde as pessoas andam a passos largos, segurando seus pertences com força e olhando para trás pela violência midiatizada. A rua é poderosa, pode ser de quem quiser (pertencendo a quem passa, a quem ocupa, a quem ignora), inclusive de ninguém.
Cultura
Lápis, caderno. Ação! O projeto Encine levará cinema às salas de aula de escolas públicas Isabela Vargas
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ntre os dias 16 e 23 de setembro, a capital foi palco da 47º Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Criado pelo historiador e crítico de cinema Emílio Salles Gomes, o festival este ano trouxe na bagagem vários elementos como exposição, curtas voltados ao público infantil, mostras competitivas, oficinas, debates e seminários. Estavam presentes no evento grandes nomes do cinema brasileiro, cineclubistas, pesquisadores, representantes da indústria audiovisual e de secretarias do estado. Uma das discussões do festival foi sobre a inserção da cultura cineclubista nas escolas. Os cineclubes são formados por uma rede colaborativa de pessoas que visam à formação de pública para o cinema, se dedicam à exibição de filmes e promovem discussões e análises entre seus participantes. Segundo o representante da Secretaria de Educação, Gilmar Ribeiro, a parceria entre as Secretarias de Cultura e Educação levou o Cineclubismo para escolas do Distrito Federal no ano de 2011, através do Cine mais Cultura.
Segundo a coordenadora do projeto, Ana Arruda, o Encine terá como protagonista o próprio estudante, que receberá a formação, contemplando desde a história do cinema local e história do cineclubismo até dicas de como manter e como montar uma sessão. Eles serão formados para gerir os cineclubes e intermediar a interação com outros jovens e a comunidade local. A ideia é localizar dentro das comunidades escolares lideranças ativas para que elas possam potencializar o cineclube enquanto espaço de reflexão por meio do cinema. Inicialmente, o projeto piloto é voltado para 20 escolas, mas os planos são de ampliação, até alcançar todas as escolas de ensino médio. O grande diferencial é que o projeto não ficará restrito a comunidade escolar, mas abrangerá a comunidade local. A escola ganhará esse caráter de ponto de encontro da comunidade, onde a população assistirá filmes gratuitos. Após a exibição dos filmes, serão realizados debates informais para promover uma reflexão leve sobre a relação entre o cotidiano e o filme. A ideia é ser algo bem tranquilo e participativo, onde o que coordena é a versatilidade, podendo ser feitos trabalhos como sarais poéticos, em que aluno possa pesquisar mais sobre o assunto em questão, abrindo oportunidade para um maior envolvimento. O secretário de educação do DF, Marcelo Aguiar, conta que o cineclubismo traz para sala de aula, debates, trabalhos voltados aos alu Durante uma semana, 108 professores da rede pública rece- nos, conhecimento da produção nacional e respeito ao audiovisual. beram formação por meio de oficinas, e todas as 87 escolas de ensino médio receberam equipamento de tela, projetor, microfone Gizélia Lemos de Oliveira, professora do Centro Educacioe filmes licenciados da Programadora Brasil. No ano de 2013 foi feito um diagnóstico das escolas capacitadas para desenvolver o nal Gisnu conta que o Cineclube Cafézinho realizado na escola, vai projeto, e concluído que algumas não conseguiram manter o Cine além dos alunos, alcança também os professores e servidores. “O mais Cultura pela sobrecarga dos professores. A solução encon- espaço do Cineclube tornou-se cultural dentro da escola, não só trada foi formar os próprios estudantes para liderarem o projeto. voltado para o cinema. A gente funciona com oficinas de música, Com isso, o ano de 2014 tem sido um ano de planeja- com trabalhos em turno contrário ao da aula para que todos os alumento para que no próximo ano o Projeto Encine possa ser co- nos da escola possam participar. A gente tem uma parceria também locado em prática, como forma de compensar as demandas que com os professores, e além da atividade em sala, fazemos cine coforam diagnosticadas através do Cine mais Cultura, dando con- ordenação, cine meditação, cine servidor, temos treinamento cinetinuidade ao que funciona e aperfeiçoando onde havia falhas. clubista à tarde, então é um trabalho bastante intenso”, diz Gizélia.
Projeto Encine, onde o protagonista é o próprio aluno
Cineclube: Espaço Cultural
Especial
Patrimônio Cultural Imaterial
Tradições contribuem para a valorização da cultura brasileira Aline Tavares, Jaqueline Chaves, Marina Maria e Renata Albuquerque
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modo de fazer queijo artesanal de Minas Gerais; a festa à Virgem de Nazaré, que congrega milhares de fiéis todos os anos em Belém (PA); a capoeira; o carnaval de rua; o linguajar cuiabano e o frevo, são demonstrações do patrimônio imaterial brasileiro. Esse patrimônio transmitido de geração em geração é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entende-se por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades e grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Esta definição está de acordo com a Conven-
na de Arte Moderna de 1922, deu início à reflexão sobre bens em 1936, afirmando que o patrimônio cultural da nação compreendia muitos outros além de monumentos e obras de arte. O patrimônio imaterial brasileiro traz uma grande contribuição da cultura negra e nordestina, tanto nas práticas artísticas como culturais.
Casa do Cantador – O nordeste em Brasília
A Casa do Cantador, ou Palácio da Poesia, foi inaugurada no dia 9 de novembro de 1986. Sua arquitetura que abrange salas para oficinas, palco para eventos musicais e palestras, cozinha e biblioteca, foi projetada por Oscar Niemeyer, com intuito de homenagear a comunidade nordestina do Distrito Federal. O local é palco de apresentações de grandes nomes da cultura nordestina, como o poeta, repentista e escritor, Donzílio Luiz, que contribue para o sucesso dos eventos de Repente da Casa. “Eu participei das reivindicações afim de que se fosse construída essa casa, daí quando
“Ceilândia é muito pobre de divulgação da arte e área de lazer, então a Casa do Cantador é tida ção da começou, U n e s c o como grande ponto de encon- comonão eu tinha para a Salvaficar guarda do Patrimônio de fora”, afirma o arCultural Imaterial, ratificatro do nordestino tista, que ainda ressalta a da pelo Brasil em março de 2006. Quando um determinado valor cultural é registrado como patrimônio imaterial, ele passa a fazer parte de um plano de salvaguarda e de registro documental e a integrar um plano para sua preservação. Com esse objetivo, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) adota ações para a transmissão da cultura, divulgação, melhoria das condições de produção e organização social. Segundo o Iphan, o patrimônio cultural imaterial se manifesta nos campos das tradições e expressões orais, incluindo o idioma; expressões artísticas; práticas sociais, rituais e atos festivos; conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo e técnicas artesanais tradicionais, ou seja, as mais variadas manifestações populares que contribuem para a formação da identidade cultural de um povo. Se a reflexão sobre o patrimônio cultural imaterial do Brasil tivesse um santo padroeiro, esse seria Mário de Andrade. Escritor e musicólogo, que esteve por trás da Sema-
importância que a Casa tem para a população do DF, principalmente da Ceilândia, “Ceilândia é muito pobre de divulgação da arte e área de lazer, então a Casa do Cantador é tida como grande ponto de encontro do nordestino, que vem matar a saudade da sua cultura”. A biblioteca batizada de Patativa do Assaré, conta com grande acervo de livros de cordéis, e será preenchida com mais livros em breve. A casa do Cantador, oferece à população, diversos eventos, como Sexta do Repente, Festival Nacional de Repentistas de Brasilia, Feira de Arte e Cultura da Ceilândia, Cantoria escola e o Sabadão do Forró. Na Sexta do Repente, a dupla inicia com a modalidade Sextilhas, estrofes com rimas deslocadas de seis linhas, e depois atende aos pedidos da plateia. Este projeto, tornou-se um dos principais da Casa, pelo excelente público alcançado em suas edições e pelo baixo custo. O Sabadão do Forró, também é um dos projetos de maior visibilidade. Atrai pessoas de diferentes idades, que procuram o local para dançar, ”Vim uma vez e já gostei do evento. Acho que nunca dancei tan-
to. Me fez lembrar dos velhos tempos, e dos eventos da minha cidade natal também. Muito bom”, diz a baiana de 45 anos, Eunilde Fernandes. Vale dizer que a Casa tem como missão difundir valores e costumes de origens nordestinas, mas busca também oferecer outros movimentos culturais que estão arraigados à evolução histórica e cultural de todos os brasileiros. Entre eles, festivais de Rock, eventos de Reggae, Samba e também oferece um evento voltado a cultura japonesa, o Otaloukos, satisfazendo pessoas dos diferentes lugares do país, como o mineiro de 61 anos, Manoel Diniz. “Frequento os eventos da Casa do Cantador há 10 anos. Essa Casa representa muito para a população e encanta até mesmo quem não é do nordeste com o projeto de repente, por exemplo”. Organizados pela Secretaria de Estado de Cultura subordinada à Superintendência de Patrimônio Histórico Cultural, (SUPHAC), os eventos e projetos, são todos mantidos pela secretaria com apoio de algumas empresas privadas. Como parte do programa de recuperação e valorização do patrimônio cultural da Secretaria de Cultura do DF, a Casa do Cantador que acumulava alguns problemas estruturais, e não recebia uma reforma desde sua construção. Com a obra liberada, teve a reforma geral iniciada no dia 30 de setembro de 2013 e foi finalizada com reinauguração no dia 25 de abril deste ano. A direção da Casa procurou não mexer na estrutura , ja que, por exigências de Oscar Niemeyer, não é permitido modificações em suas obras. Foram feitas mudanças que eram necessárias, afim de beneficiar os frequentadores. Apenas recuperações do piso, pintura, parte elétrica e hidráulica, além de se adequar as normas de acessibilidade aos Espaços Públicos, como elevador e estacionamento. O assessor da diretoria da Casa, Valterci Vicente, retrata a sensação de trabalhar em um local como esse. “É muito gratificante você ver as pessoas participando desses eventos culturais nordestinos, até pelo fato de muitos virem para matar saudade da sua raiz, ou para os que não são do nordeste, conhecer essa tradição que é capaz de encantar qualquer pessoa”.
Os Pampas no Cerrado – Cultura gaú-
Foto: Aline Tavares
cha em Brasília
Quase dois mil quilômetros separam Brasília da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. A distância contribui para acentuar as diferenças, a começar pelo clima que chega a ser extremamente seco no Centro-Oeste e úmido no Sul. Além do clima, as vegetações típicas também se diferenciam, o cerrado com suas árvores pequenas e retorcidas não se parecem em nada com as grandes araucárias do pampa. Em um primeiro momento, a terra avermelhada pode assustar aqueles que estão acostumados com os campos sempre verdes. Tais diferenças e fatores como o maior desenvolvimento e a mão de obra mais qualificada dos residentes na região Sul, fizeram do Distrito Federal um local, historicamente, pouco atraente para os gaúchos. No entanto, segundo dados da Companhia de Planejamento (Codeplan), nos últimos dois Censos houve um pequeno crescimento no saldo de migração da região para o DF. A distância da terra natal faz com que parte dos gaúchos recorram ao Centro de Tradições Gaúchas (CTG), como forma de manter e relembrar a cultura. Segundo a Confederação Brasileira de Tradição Gaúcha (CBTG), existem três CTG’s em atividade no DF e inúmeros espalhados pelo Brasil e pelo mundo – China, Espanha e Estados Unidos são alguns desses países. Uma das referências em Brasília é a Estância Gaúcha do Planalto Central, fundada há 34 anos, pela atual Presidenta Maria Cleusa Guerra, assessora técnica e professora. “No dia em que cheguei a Brasília, encontrei um amigo, casualmente, que me sugeriu que criássemos uma Estância. Então começamos esse trabalho. Achamos que tinha que ter um local mais permanente, que passasse de geração em geração”, conta. Durante todo o ano, o CTG é palco de vários eventos como a Semana Farroupilha, principal deles, onde acontecem o tradicional churrasco gaúcho, torneios esportivos, interpretações musicais e apresentações dos grupos de dança. Os grupos são divididos em quatro faixas etárias - mirim, juvenil, adulto e veterano. Juntos, eles integram a chamada Invernada Artística. A professora Simone Rosa afirma que a participação nos grupos é, muitas vezes, uma porta de entrada. “A dança é uma ativi-
dade física e gostosa, que trabalha com elementos lúdicos”, explica. Para a participante do grupo Estancieiros do Planalto Central, Siliana Martins, enfermeira, os grupos de dança são extremamente importantes para a cultura gaúcha. “É uma forma de se manter e de se perpetuar as tradições de antigamente, o que é uma coisa muito difícil hoje em dia. É um meio de se cultivar, de conhecer e de garantir que as próximas gerações conheçam o que um dia já existiu”, comenta. O mineiro Carlos Augusto Calage, estudante, filho de pais gaúchos, começou a frequentar o CTG em 2009, convidado por um amigo da família. “Eu não era tão ligado à cultura gaúcha, para falar a verdade, não gostava muito. Então vim assistir aos ensaios de dança e comecei a me interessar, depois resolvi entrar no grupo e passei a participar mais do CTG”, declara. Além das apresentações no próprio CTG, os grupos participam de eventos nacionais e também internacionais, em países como Bósnia e Holanda. O também professor de dança Alexsandro Ferreira de Lima conta que começou a dançar ainda criança, por iniciativa da sua mãe, ironicamente por ter dificuldade de andar. “Começou como uma paquera. A paquera se tornou relacionamento, um amor muito grande; e eu cheguei a um ponto da minha vida em que resolvi trabalhar com isso”, revela. Lima estima que já passou por cerca de 1000 CTG’s, mas atualmente trabalha em seis estados, incluindo Brasília. Existem mais de 1700 Centros Tradicionalistas somente no RS, de acordo com o CBTG.
Memória seletiva Candanga
Antes, Hospital Juscelino Kubitsckek de Oliveira, hoje, Museu Vivo da Memória Candanga, mas que continua a perpetuar o valor do ex-presidente. Criado para ser demolido logo após a construção de Brasília, o local permaneceu de pé graças a manifestações populares, e por quase vinte anos fun-
Antônio, trabalhador da construção de Brasília entre 1957 e 1960. Ao chegarem ao embrião da capital, porém, a realidade se interpôs às fantasias. Jornadas de trabalho de 12 a 14 horas por dia eram comuns nas exaustivas rotinas dos trabalhadores, que se revezavam para que a obra fosse contínua. Em 1957, data do início da construção, 3000 operários foram contratados. No momento da inauguração, três anos mais tarde, o número subira para 40.000. Existiam acampamentos rigidamente vigiados que funcionavam como abrigos para os trabalhadores. A alimentação era alvo de críticas, e acabou tendo um papel crucial em fevereiro de 1959, quando os operários revoltaram-se com as condições dos alimentos nas quais eram submetidos e não se deixaram ameaçar com a ação policial que tentou controlá-los. Naquela noite, a polícia voltou ao acampamento da empresa e metralhou os trabalhadores que lá estavam. Os culpados nunca foram identificados e esta é apenas uma das histórias que a memória de Brasília esqueceu-se de contar. “Na época da construção, era comum que a polícia invadisse os acampamentos dos trabalhadores e retirassem as barracas irregulares. Minha mãe, que não era contratada pelo governo e veio da Bahia trabalhar lavando as roupas e fazendo a comida dos operários, sempre tinha que mudar o nosso acampamento de lugar. Uma vez, a polícia entrou de madrugada e levantou a rede em que eu dormia, com a intenção de me jogar para fora da barraca, Sozinha e assustada, minha mãe reagiu e expulsou violentamente os policiais da barraca, sendo chamada de louca em virtude do acontecido, pelo Jornal do Planalto em uma publicação de março de 1960” lembra Maria de Fátima, moradora da capital desde então. Os patrimônios culturais da cidade exaltam presidentes e artistas nacionalmente renomados e que iniciaram carreira em Brasília, ignorando as milhares de pessoas que v i -
“ N a época da construção, era comum que a polícia invadisse os acampamentos dos trabalhadores e retirassem as barracas irregulares”
cionou como centro de saúde e ofereceu tratamento à população vizinha. Em 1985, a obra foi tombada e passou a recriar desde então a construção de Brasília sob a ótica do fotógrafo oficial da época Mário Moreira Fontenelle, paulista que é homenageado em uma das salas do museu. Além de fotos, objetos funcionais do cenário da construção de Brasília também são expostos. A obra não é a única na cidade a homenagear o ex- presidente Juscelino. Além de um memorial em seu nome, passeio recorrente nas escolas públicas de nível fundamental, JK tem pontes, escolas e até mesmo postos de gasolina em sua homenagem. Ao protagonizar a improvável coligação entre PSD (Partido Social Democrata) e PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), Juscelino recebeu o cargo mais alto do país em um período em que a população estava se recuperando do suicídio de Getúlio Vargas ocorrido apenas um ano antes, em 1955. Ao lançar o plano de metas: “50 anos de progresso em 5 anos de governo”, o então presidente não poupou esforços e mão de obra dos trabalhadores. Sem saber que seriam submetidos a situações de trabalho análogas à escravidão, os trabalhadores da construção de Brasília vieram de diversas partes do país para atender a convocação de JK, à espera de conseguir melhorias na qualidade de vida. De alguma forma, a construção da capital animou centenas de pessoas que sonhavam em sair de suas terras inférteis de frutos e de oportunidades para construir um novo futuro. “A gente acreditava, mesmo, que em Brasília tudo seria diferente, que as crianças teriam escola, e nós teríamos casa e trabalho” relembra Carlos
vem e trabalham em suas quadras, superquadras, blocos, calçadas. Brasília trata seus habitantes com soberba, fecha os olhos para a população menos abonada dificultando seu acesso aos museus e demais espaços públicos, que mesmo gratuitos, segregam. O Museu Vivo da Memória Canganda é um exemplo claro da indisposição da cidade em propagar informação e entretenimento. Além de florear a história da construção da cidade, o museu, que por dentro é cheio de árvores férteis e de sombras aconchegantes, se localiza entre duas pistas movimentadas durante as oito horas em que ele funciona, e não há nenhuma forma de travessia que possa ser feita a pé.
Políticas de Preservação
O Iphan coordenou estudos para atender às determinações legais, criando instrumentos para o reconhecimento e a preservação dos Bens Culturais Imateriais. Para isso foi criado o Decreto nº 3.551 de 04/08/2000, além do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), e o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC). Em 2010, uma nova política começou a ser implantada pelo Iphan, o Inventário Nacional de Diversidade Linguística (INDL), instituído pelo decreto nº 7.387, de 09/12/2010. O instrumento passou a ser utilizado para o reconhecimento e valorização das línguas, formadas por diferentes grupos da sociedade brasileira. Em 2004 foi criado o Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI), e os resultados da política de salvaguarda podem ser consultados no documento “Os Sambas, as Rodas, os Bumbas, os Meus e os Bois”.
Manual do Coxinha Bárbara Cabral Você sabe o que é um Coxinha? Um suculento salgado recheado de frango... Opa! Pera aí, não era dessa Coxinha que eu estava falando.
Tipos de Coxinha Coxinha é uma gíria para descrever uma pessoa “engomadinha”, “certinha”, que muitas vezes têm boas condições financeiras, andando por aí sempre com roupas de marca e impecável, além disso, é um frequentador árduo de baladas. Sempre preocupado com sua imagem. A academia é sua segunda casa. Politicamente correto, o Coxinha que se preze é um individuo conservador. Seus pensamentos são baseados no senso comum, preocupando-se sempre em adotar comportamentos que são aceitos pela maioria das pessoas. Surgida em São Paulo, a expressão coxinha é um mistério da língua portuguesa. Há quem fale que o apelido foi inspirado nas coxas brancas dos homens arrumadinhos que usam bermuda ao tomar sol. Existe também outra hipótese que sustenta a ideia que o nome veio de uma gíria já existente, designada aos policiais por se alimentar de coxinhas durante suas rondas. Nenhuma hipótese foi criada para justificar o apelido que se refere aos mauricinhos. Dentre os coxinhas mais conhecidos temos como referência executivos, empresários, certinhos e playboys como Alvaro Garnero, Roberto Justus, Rico Mansur, João Doria, Tiago Leifer, Luciano Huck, Marcos Mion, Dado Dolabella, Fiuk, Bruno de Luca e muitos outros indivíduos além do mundo dos famosos. Veja como identificar um coxinha: Infográfico com uma pessoa de terno e cabeça de coxinha com as seguintes citações sendo ligadas à pessoa:
HOJE TEM festa topíssima em Salvador. Mas antes vou falar mal dos nordestinos naquele textão do facebook que eu ia fazer. #ChamaQueVem
“
Vou gastar todas minhas doletas para sair do Brasil depois dessa votação, Brasil um pais de burros. Vou pedir para o meu pai levar meu baby para o lava jato, tadim dele tá tão sujo.
Essa minha montagem com a gostosa do instagram tá massa, vou colocar várias hastags na legenda: #Dando início aos trabalhos #abençoado por Deus #Aô potência #Boa semana #éTois.
Hoje acordei especialista em política vou até fazer um textão no facebook!
Hoje só postei duas fotos minhas no instagram com a legenda, bora ficar rasgado.Agora vou postar uma aqui segurando esse peso pra compensar essa minha displicência.
“
Já que meu candidato não ganhou, nada mais democrático do que pedir impeachment e fazer um muro para dividir o Brasil, é tois no lado dos rycos!
Futebas hoje foi tenso, ganhei um arranhão na minha bochecha #tá osso.
Você vai precisar de uma ajudinha para entender o vocabulário, acesse mais palavras em coxesportugues.tumblr.com e vire um especialista do vocabulário Coxês.
Especial
B de Blasé
B de Brasília. B de Blasé. Junte os dois e ganhe focos de individualismo na cidade. Uma atitude comum, mas que pode fechar várias portas para novas experiências. Bárbara Cabral
B
lasé é um adjetivo francês usado para classificar uma atitude cética, apática ou indiferente. George Simmel desenvolveu o conceito que tem tudo a ver com seu significado, onde percebe-se que o indivíduo permanece alheio ou distante de um determinado assunto que deveria prestar atenção. O individualismo é a representação da preservação do contato com o outro, que o autor critica e, essa atitude está cada vez mais presente na cidade, no dia a dia e em cada pessoa sem que seja perceptível. A atitude blasé tem como ponto negativo a perda de um ciclo social que poderia estar sendo desenvolvido, trazendo liberdade através de novas experiências. Mas torna-se impossibilitado por diversos fatores como preconceito falta de tempo, medo e comodismo, que acabam fechando esse ciclo e restringindo seu próprio desenvolvimento interpessoal. Gabriela Quadros, estudante de Serviço Social da UnB, fala sobre a influência do individualismo, “esse excesso de individualismo também influencia em um crescimento da violência, porque as pessoas passam a se importar apenas pelo seu “próprio mundo” deixando de se importar com o que aconteceu ao redor. Creio que seria uma potencialização da frieza humana”, diz. Nem tudo são espinhos. A reflexão para contornar essa atitude é a forma que Jéssica Rodrigues abordou ao falar que “essa geração tecnológica fica tão alucinada em mostrar pra todo mundo que é feliz, que realmente esquece-se de viver o momento. Eu, na maioria das vezes, uso como solução desligar a internet do celular, ou até mesmo desligar o aparelho. Se a gente aprendesse a olhar mais o mundo em volta, perceberíamos muitas coisas”, explica. Essa é uma das propostas de contornar essa atitude, a forma mais eficaz seria vivenciar de verdade cada momento, cada experiência que a vida te proporcionar, aumentar seu ciclo social sem preconceitos, ser livre.
Fotos: Bárbara Cabral