Cordel - Irmã Gertrudes

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Fábio de Lima – Por @Leonardo Silva

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Peço atenção aos amigos Para o que vou relatar Uma história verdadeira De uma mulher exemplar Que passou por esta vida Por todos nós foi querida Escutem, pois, meu falar. Falo da Irmã Gertrudes História amor e fé Escolheu nosso Buíque Aqui plantou os seus pés Como tudo aconteceu Escutem o relato meu Sobre essa grande mulher. Nascida em Bom Jardim Pernambuco, o Estado Dia quatro, mês de junho E o ano diz o relato Mil novecentos e trinta e três E digo agora a vocês Como se deu esse fato. Deram o nome a criança De Josefa Bellarmina De Lucena, nome inteiro Uma branquinha mui linda Pai Manuel Theodósio Da Silva, não dado ao ócio Mãe Sra. Bellarmina. 2


Pereira de Lucena O nome da mãe completo Uma família honrada Seguindo o caminho certo Assim como aprenderam Foi transmitindo aos herdeiros Andar no caminho reto. Família religiosa Criada com muito amor Com seis anos de idade Santas Missões presenciou Lá na vila de Machados De Pernambuco o Estado Ela os acompanhou. Santas Missões populares Quem trazia a pregação Os padres redentoristas Tinha cânticos e oração Já foi ficando encantada E a vida ficou marcada Igreja de São Sebastião. Mesmo sendo uma criança Ia para a caminhada Que ocorriam nas missões E era de madrugada Lembra sua irmã Odete Da família a mais velha Quem arrumava a casa. 3


Os seus irmãos, os mais velhos Também iam às missões Germano, José, Sebastião Damasceno que é João O pai rachava a madeira Pra levar praa cozinheira A cozinhar o feijão. Sua mãe muito doente E não podia ajudar Quando as missões terminavam Vinha a saudade no ar Versos de hinos aprendia As lágrimas já escorriam Pelo caminho a cantar. Foi num momento marcante Que eu passei a falar Se eu fosse um menino Padre eu ia me formar Mas mamãe vem me dizer Como você é mulher Pode freira se tornar. Respondi na mesma hora Pois eu quero, é decisão Desse dia em diante Sossego não tive e então Minha mãe aperreada Vez em quando me alertava: Mude a sua direção. 4


Quando eu tinha nove anos Fui perguntar a mamãe: Quando eu ia estudar E seguir a vocação Ela ainda insistia Pra ver se eu desistia E me dizia a razão. Você vai pra muito longe Da família bem distante Não ver mais os seus amigos Me dizia a todo instante Tire isso da cabeça Dessa ideia se esqueça Não leve isso adiante. E o dote é muito caro Não temos como pagar Repetia vez por outra E eu sempre a lhe falar: Eu quero, eu quero, eu quero Ser freira é o que eu espero E nunca vou me calar. Quando eu tinha doze anos Diante da insistência Mamãe “briga” com papai Pois ele tinha ciência E comigo concordava E mamãe não aceitava Mas eu tinha persistência. 5


Meu pai assim perguntava: Por que não vai aceitar Se é pra ela ser feliz Minha mãe veio a falar Se é pra distante ir Eu não posso permitir Muito menos concordar. Mas vendo minha insistência Minha mãe me encaminhou Pra casa da minha tia Nessa atitude pensou Desse jeito vai parar Ideia louca mudar Mas isso não funcionou. Ao completar quinze anos Mamãe me falou bem séria: Eu não vou lhe dar mais nada Até você mudar de ideia Nessa hora eu respondi: Só sua bênção pedi Nada mais disso se espera. Passa o tempo e certo dia Vinha o Padre Gentil Voltando lá da cidade Meu pai o vigário viu E eu estava presente Trabalhadores no “batente” E o padre assim consentiu: 6


Meu compadre eu lhe pergunto: Sua filha quer ser feira O que acha da ideia Dessa missão tão ordeira? Meu pai então respondeu: Eu vejo que ela tem É vocação verdadeira. Desde quando era pequena Que ela fala do assunto Por mim já teria ido Não discordo um segundo A mãe dela não concorda Essa é a sua prova A sua lida no mundo. Inclusive a minha tia A mais velha Severina Que era irmã da minha mãe Dizia que é triste a sina Se você for passa fome O trabalho te consome Desiste então minha linda! Mesmo com esses alertas Eu disse: pronta estou Enfrento tudo no mundo Mas decidida eu vou Ser freira é que me importa Deus vai abrir minha porta Em mente freira já sou. 7


Na minha casa ninguém Neste assunto me apoiou A minha irmã mais velha Odete já me alertou Fale com padre Gentil Quando passar por aqui Que ele faz um favor. Eu tinha naquela época Dezoito anos de idade Já preparei um bilhete Com muita celeridade E pelo padre esperei Passava em casa eu bem sei Voltando lá da cidade. Com o bilhete na mão Ante o padre ajoelhei Entregando aquela carta Para o vigário implorei Ser feira é o que eu quero E desde cedo eu espero E nunca desistirei. O padre me respondeu Se queres, freira serás Completando dezenove Não posso mais esperar Vou agora ao convento O esperado momento Quero ir me preparar. 8


Madre Ódila me enviou Relatório e descreveu Tudo que era preciso Eu levar pra o uso meu Quando a minha mãe já viu Bateu palmas e advertiu Pensava mudar meu” eu”. Eu não disse minha filha Não podemos custear A despesa é muito grande Tem mais filhos pra criar Mude logo o pensamento E já naquele momento Eu passei a lhe mostrar. O restante do bilhete Onde a madre alertava Se não puder comprar tudo Compre só pela metade E mesmo se não puder Traga o que você tiver Pra sua felicidade. Minha mãe se alegrou Ao ouvir a novidade Foi dizendo a papai Temos que ir à cidade Limoeiro pra comprar Enxoval para levar Foi minha felicidade. 9


Comprado o enxoval Foi preparada a viagem Minha ida ao convento Me lembro com claridade Ano de cinquenta e dois (1952) Mês dezembro dia oito Me deu mais vida e coragem. Pra cidade de Orobó Casa do Padre Gentil Passamos em Bom Jardim Quem tava lá assistiu A festa de Cristo Rei E no convento eu cheguei Mas alguém me advertiu: Madre Ódila não está Pra Recife viajou Irmã Margarida estando Logo nos recepcionou Dezembro de cinquenta e dois (1952) Lembro que foi dia oito Que esse fato se passou. Conhecido o local Onde eu ia ficar Acertamos logo a data Que eu deveria retornar E em quatorze de janeiro Do ano cinquenta e três (1953) Tava eu voltando lá. 10


Quando fui sair de casa A minha mãe convidou Para ver minha saída Vizinhos e amigos chamou E daquela despedida Marcou muito a minha vida Todo mundo ali chorou. Abracei a cada um Minha mãe por derradeiro Ela tava tão magrinha Senti uma dor no peito Pensei que ia morrer E nunca vou me esquecer Abraço tão verdadeiro. O carro já estava pronto Frente em casa a esperar Jesus Cristo me deu forças Pra minha dor suportar Era um Jeep o veículo Que naquele dia triste Iria me transportar. Era uma quarta feira E o relógio registrava Era uma hora da tarde O calendário lembrava É quatorze de janeiro Do ano cinquenta e três (1953) Meu coração apertava. 11


No sábado seguinte, mãe Mandou pelo meu irmão Que montado a cavalo Levou frutas de montão Doces, charque e cereais Sardinhas e coisa mais Bolachas, biscoitos e pão. Continuei no convento Sempre com muita alegria Nada de dificuldade Sempre vivi em harmonia Hora ria, hora chorava Quando dos pais me lembrava Mas largar eu não queria. Ajudei irmã Constantina A cuidar da criançada Fosse menino ou menina De idades variadas Foi chegando o fim de ano Janeiro se aproximando E a surpresa preparada. Como chegaram as férias Pra minha casa voltei Pra rever minha família E a ninguém avisei Minha mãe fui abraçando Eu e ela, nós chorando E o seu rosto eu beijei. 12


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Eu pedi logo a bênção Ela então me abençoou E foi logo perguntando Foi pra ficar que voltou? Respondi só a passeio Mas esse coração meu Daqui nunca se mudou. Papai ali perguntou Belinha, e o jantar Nós vamos comer o quê Mãe disse estou a pensar O pai: mato uma galinha? Quando for de tardezinha Comeremos com cará. Foi uma festa das grandes “Povo: Zefinha chegou! Ao redor daquela mesa Muita gente se sentou E isso sempre ocorria Sempre nas férias minhas Volto ao torrão, por amor. OS VOTOS E A CHEGADA EM BUJÍQUE Chegando o tempo dos votos Foi uma festa de alegria Viu o sonho realizado Lembra com muita harmonia O sonho realizado Muito por ele lutado Eis chegado o grande dia. 14


Muda e nome de Josefa Para Gertrudes, uma santa Começa a preparação Trabalho e fé não espanta “Damas Cristãs” no comando E o que foi precisando A irmã cumpre como manda. No ano setenta e um (1971) Em outubro foi o mês Ela não lembrou o dia Mas continuo pra vocês Chegaram em nossa cidade Três freiras de qualidade Com trato e muito cortês. Irmãs Ódila e Verônica Irmã Gertrudes também Para conhecer Buíque À nossa cidade vêm Mando das superioras Que eram suas mentoras Foi uma ordem pra o bem. Chegando aqui em Buíque Era um sábado relatou D. Júlia, a cozinheira Da casa os recepcionou Disse ao Padre José Kherle Foi avisar muito alegre Das visitas que “chegou”. 15


“-Padrinho tem umas freiras Que acabaram de chegar Querem falar com o senhor Ele disse: - Mande entrar! Bote água no feijão Convides elas então Pra conosco almoçar. Padre estava consultando Várias pessoas que vinham Da cidade e vários sítios Cidades circunvizinhas Terminadas as consultas Era uma de suas labutas Já foi falar com as visitas. As recebeu muito bem Como fossem conhecidas Depois disse às irmãs: Digo a vocês, por medida: Todo esse patrimônio Serão seus até o terreno Quando eu partir desta vida”. Irmã Ódila respondeu: Não, meu caro Monsenhor Não viemos para isso E digo agora ao senhor Viemos só conhecer A cidade e o seu viver E não para ser gestor. 16


Nisso a Irmã Verônica A palavra foi tomando E disse naquela hora Irmã Ódila escutando: Nem tão cedo o padre morre Vamos levar a proposta Sendo aceita, nós voltamos. Padre José inda disse: Voltem logo pra cuidar Do colégio pois preciso De alguém pra coordenar Sendo a proposta aceita A decisão foi eleita Irmãs vieram pra cá. Do ano setenta e dois (1972) Dia 02 de fevereiro Chegam em nossa cidade Ela escreveu bem ligeiro Irmãs Gertrudes e Leônia Irmã Selésia as acompanha Fato concreto e certeiro. Assim começam os trabalhos Irmã Leônia a ensinar Irmãs Gertrudes também Vinha a catequisar E paróquia agora tinha Equipe “toque de linha” Para tudo organizar. 17


Já a irmã Selésia Cuidava bem do jardim O padre Francisco Dera Coordenava ali pertinho Morava no mesmo espaço Colégio bom e regaço Ordem, respeito e bom tino. Mais adiante uma surpresa Que não veio pra agradar O padre Francisco Dera Transferido foi de lá Vindo seu substituto Bem grosseiro na labuta Diferente no lidar. Tudo que as irmãs faziam Ele apenas a criticar A crise foi aumentando Irmãs decidiram já Mudaram pra Bom Jardim Apenas a Irmã Gertrudes Em Arcoverde foi morar. Pra terminar os estudos Cuja conclusão se deu Abril de setenta e oito (1978) De Buíque não esqueceu Vinha todos os domingos Pra ensinar os meninos Catecismo ao povo seu. 18


Ensinava as crianças Também às comunidades Nesse tempo era acolhida Com respeito e amizade Dormida e alimentação Muita paz, reza e oração Por José Kherle, o padre. Julho de setenta e oito (1978) Padre Kherle adoeceu Nessa data irmã Gertrudes A notícia recebeu Estava em Fortaleza Ouviu a nova com tristeza Sobre o grande amigo seu. Morre Padre José Kherle Tristeza no povo invade Sepultado na capela Presente toda a cidade Já na data do velório As freiras assumem prédio Pelo padre “apalavrada” Dia 12 de agosto Do ano setenta e oito (1978) A missa do sétimo dia E um acordo foi posto Sendo aberto testamento Estava escrito lá dentro Vontade do padre, o gosto. 19


E seu Aníbal Cursino Que foi o testamenteiro Transferiu logo a casa Chaves ao real “herdeiro” As freiras logo assumiram O direito garantiram Documento é verdadeiro. Faltava agora escolher O nome lá da capela Nossa Senhora das Graças Já acenderam uma vela Assim começa a história Na data, local e hora Abriram a porta e a janela. Do ano setenta e oito (1978) Mês de outubro chegando Pensaram aquelas irmãs Vamos logo preparando Novenas a Nossa Senhora Das Graças, pois tá na hora De ir nos organizando. De dezoito a vinte e sete Outubro daquele ano O primeiro novenário Foi logo se efetivando Apenas doze pessoas Varões e umas varoas Estavam participando. 20


No ano setenta e nove O segundo novenário A capela quase encheu Muita gente no sacrário E a cada ano aumentando Foram logo organizando Área externa e palco armado. Boa iluminação Com um som de qualidade Muita gente nos jardins Seja em pé ou sentado Cântico, missa e procissão Manhazinha é tradição Acordando a cidade. É um pouco da história Da nossa irmã querida A Gertrudes de Lucena Que teve uma linda vida Era uma Beneditina Fundação Virgem Maria Que por Deus foi recebida. Foi uma ótima professora Não só de religião OSPB dominava Com muita organização Escola Vigário João Inácio Ensinou naquele espaço Capacidade e lição. 21


Escola Duque de Caxias Também ensinou por lá Eu fui também seu aluno E posso sim comprovar De sua capacidade Por isso muita amizade Teve aqui neste lugar. Ela gostava em verdade Está no meio do povo Andou muito a cavalo Levando sempre renovo Povo da zona rural Cafundó ou Catimbau Todo mês e ano todo. Já do natal em família Era muito dedicada Ajudar povo carente Se sentia motivada Pedir contribuição Pra ajudar população Disso não se envergonhava. Mesmo cansada e doente Não deixava se abater Era sempre animada Alegria por viver Quem com ela conviveu Sempre se surpreendeu Não reclamava ao sofrer. 22


Dia treze (13) de setembro Ano dois mil e dezoito Irmã Gertrudes descansa Pediu pra não ver desgosto Foi pelo céu recebida Por Jesus foi acolhida Tá vendo agora o seu rosto. Quem com ela residia Informou que ela gostava De tomar muito sorvete E também de chocolate Prezava por muito enfeite E um dos grandes deleites É quando o pobre ajudava. Ela pediu que avisasse Que quando ela partir Não queria ver tristeza Pois amou viver aqui Pode até sentir saudade Mas pra falar a verdade Tristeza, longe daqui! Escrito em 20 de outubro de 2018 Por Paulo Tarciso Freire de Almeida IRMÃ GERTRUDES DE LUCENA Nascimento: 04.06.1933 - Bom Jardim-PE Falecimento: 13.09.2018 – Barbalha-CE 23


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