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ARTIGOS HISTÓRIA GEOGRAFIA CIÊNCIAS AFINS DO/NO MARANHÃO
Da esquerda para a direita: a) Primeira edição, da Tipogravura Teixeira, 1913. b) Segunda edição, da Associação Comercial do Maranhão, 1998. c) Terceira edição, da Academia Maranhense de Letras/ EDUEMA, Publicações do Centenário, Série Fundadores – 12, 2008.
A PRIMEIRA MULHER DE PARAIBANO (MA) À USAR CALÇA LONGA.
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Final dos anos 50, região do médio sertão maranhense, composta por famílias descendentes de homens e mulheres oriundos da Paraíba, Rio Grande do Norte, entre outros estados nordestinos, local onde o machismo predominava e era quase impensável as mulheres irem contra os costumes da época.
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É nesse cenário que surge Aracy Araújo Lima, conhecida como Nêga do Belchior, uma das mulheres mais bonitas e elegantes de Paraibano.
Considerada por sua sobrinha Jacqueline Araújo como a Coco Chanel de Paraibano. (A estilista francesa Coco Chanel foi a primeira mulher a inventar e a vestir uma calça estilo feminino e a montar cavalo, lá pela era de 1919 e com isso mudou o cenário da moda no mundo).
30 anos depois, do outro lado do oceano, nas brenhas do médio sertão maranhense, mais precisamente em Brejo dos Paraibanos, outra mulher desafiava o machismo do final da década de 50 e também vestia (escondida dos pais) uma calça longa e ia para as festas de forró onde causava alvoroço, falatórios e outras polêmicas.
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O site Paraibanonews postou a chamada da entrevista feita com Nêga do Belchior no dia 22 de março de 2022 na página de facebook e muitas pessoas ficaram curiosas para conhecer essa mulher revolucionária.
Entrevista
Nêga do Belchior (filha do comerciante Belchiorzão e Dona Vinina) conta que por volta de 1958 a 1959, haviam muitas matinês (festas realizadas no período da tarde até o início da noite) no interior da cidade de
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Paraibano. Os homens iam a essas festas montados em animais e algumas mulheres também. Mas para as mulheres a montaria era desconfortante por causa das vestimentas.
“Não vou montada em uma burra usando saia!” decidiu Nêga certo dia e daí surgiu a ideia de mandar fazer um calça comprida, veste masculina e inédita para mulher até então.
-“Quem fez a calça foi a Lurdinha do Henrique e irmã da Joanice do Zé de Nêga. Eu não tinha aquela montaria (selim) feminina, e quem tinha essa montaria, ainda assim tinha que usar saia ou vestido para ir festas distantes da cidade, então eu disse: eu vou fazer é uma calça”!
Quando a viram de calça disseram “a Nêga do Belchior está vestida de calça de homem” e foi aquele alvoroço, os homens olhavam estranho e as mulheres admiravam a coragem.
“Depois da calça lancei outra moda, que foi primeiro vestido “tubinho”, sei também que teve um bocado de reclamações por causa desse tubinho, essas ideias eu não sei de onde vinham, ou era o tecido que não dava para fazer um vestido longo” disse Nega ao Paraibannews. “Enfim, as mulheres faziam aquelas saias que chamavam de montaria, e eu queria era uma calça, pois eu não ia sair de Paraibano para as Contendas (zona rural de S.J. dos Patos), de vestido montada em uma burra” revelou Nega às gargalhadas como estivesse revivendo os momentos da sua mocidade.
Paraibanonews: E o seu pai quando lhe viu vestida em uma calça o que ele disse?
Nêga-Ah! Demorou ver, por que eu vestia escondida... e quando chegava em casa trocava a roupa também escondida.
Paraibanonews: -Mas quando ele viu?
- Ah! Faz tempo, não me lembro, eu fazia as coisas escondida, andava de bicicleta, e aí um dia a minha avó viu e fuxicou que andar de bicicleta era coisa de homem.
Outra vez houve uma festa no Poço Verde, era uma matinê, pulei a janela e fui escondida do meu pai, quando essa matinê terminou à tarde, entrou pela noite, e eu lá, quando devia estar voltando para casa (risos) lá pelas sete horas da noite, eu vejo meu pai atrás de mim, eita meu Deus!!! Ele só me olhou bem sério, mas não disse nada, também só fiz montar na burra e voltei para casa.
“Nessa época os pais eram muitos rígidos, e aí a gente tinha que inventar alguma coisa, como por exemplo, estudar na casa de uma amiga, a Sulamita Ribeiro era uma dessas amigas que eu dizia que ia estudar com ela e a gente ia para festas na Cana Brava, os pais não deixavam a gente ir para as festas”
Meu pai vivia mais no interior (Várzea do Canto), e eu morava aqui na cidade, então tinha essas aventuras, quando meu pai vinha para cá, voltava tudo ao normal, e foi assim que eu lancei essa moda da calça, a Mundica do Filó que era costureira, foi fazendo a calça longa para outras mulheres e aí virou costume todo mundo usar calça comprida.
Paraibanonews- A senhora então se tornou um ícone de beleza à qual as mulheres da região se inspiravam?
Dra. Jacqueline Araújo afirmou que Nega do Belchior, sempre foi uma mulher muito bonita, e na época todos falavam isso, então ela foi realmente um ícone de beleza e revolução e liberdade feminina na região.
Modesta, Nêga do Belchior nega os comentários “Mas eu sempre me olhei no espelho e nunca me achei bonita, porquê? tanto que não gosto de fotos, por que não sou fotogênica... se saio sorrindo em uma foto não vejo meu sorriso nessas fotos, porque o sorriso tem que saí dos olhos, e meus olhos não tem sorrisos...”
Paraibanonews- A senhora mesmo sem notar tinha todas essas atitudes vanguardistas, como a senhora via as mulheres da época em relação a sua pessoa?
Nêga do Belchior - Eu não percebia, era natural para mim, e é bom dizer que eu fazia tudo isso escondida, porque minha avó fuxicava tudo para o meu pai.
Paraibanonews: Quando seu pai veio a morar na cidade, ele aceitou essa sua modernidade?
Nêga do Belchior-"Ele veio quando acabou o tempo de roça, no início dos anos 60, e botou o comércio. Como disse continuei escondendo, e tinha a minha mãe que aliviava a situação.
Em 1960 Nêga do Belchior foi morar em Floriano-PI, para estudar e fazer o curso de costureira, haja vista tinha o dom de estilista há tempos. Mas não se dedicou ao curso como deveria. “ Não aprendi nada, arranjei logo foi um namorado e me casei”. Morou até 1969 em Floriano e depois mudaram-se para São Luís.
E segue até hoje feliz e linda como disse na entrevista.
Ureo Viegas Mendon A
é geógrafo, servidor público federal e pesquisador.
A Cidade De Viana Completa 265 Anos No Dia 08 De Julho
A cidade histórica de Viana completa 265 anos de emancipação política na próxima sexta-feira dia 08 de julho, a data é marcada por eventos que contará com três dias de festas de 06 a 08, a revitalização do Parque Dilú Melo será entregue dia 06 quarta-feira.
Mas quem foi Dilú Melo?
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A cantora e compositora que frequentou o cenário nacional nas décadas de 1940, 1950 e 1960 do século passado contribuindo para o enriquecimento da cultura brasileira, Maria de Lourdes Argollo Oliver, cujo nome artístico Dilú Melo, é vianense nasceu em 25 de setembro de 1911, nasceu e morou na casa de seus avós maternos, na casa colonial de morada inteira na praça da Matriz, casa que depois pertenceu a família Coelho onde residiu o casal Raimundo Emiliano Coelho e dona Quinquinha, avós do ex-prefeito Benito Filho e que foi demolida no início da década de 1980 no local foi construído o hotel vianense. Dilú Melo saiu da cidade de Viana ainda criança com sua família, era filha de Oscar Argolo e dona Nenê indo morar na cidade de Porto Alegre/RS aos 5 anos de idade aprendeu a tocar violino, violão e piano, aos dez anos, compôs sua primeira música "Heloisa" homenageando a sua irmã caçula. Aos 13 anos ganhou a medalha de ouro em concurso de piano e começou a participar de programas musicais em rádios.
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Em 1938 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estreou cantando na rádio Cruzeiro do Sul, se apresentou também na rádio kosmos na cidade de São Paulo, nesse período grava o seu primeiro disco pela gravadora Colúmbia com músicas de sua autoria dentre elas Engenho d' água em parceria com Santos Meira, nesse mesmo ano de 1938 no início de sua carreira voltou ao Maranhão e visitou a sua cidade natal e nessa época foi a primeira mulher a usar calças compridas em Viana.
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Em 20 de setembro de 1949 no auge da sua carreira voltou pela segunda vez à cidade de Viana, onde fez um show na praça da prefeitura municipal que estava lotada e foi acompanhada pela famosa orquestra Jazz Vianense.
A serviço do Ministério da Educação e Cultura se apresentou em vários estados do país e até em Buenos Aires capital da Argentina, onde residiu por 2 anos, se apresentou também no continente europeu no Cassino Estoril em Lisboa capital de Portugal em 1956, de volta ao Brasil se apresentou no programa semanal Varanda Festa na extinta TV Tupy no Rio de Janeiro. Foi contratada pela Rádio Nacional, tendo se apresentado no Cassino Atlântico e também em vários países da América do Sul.
Dilu Melo foi a primeira mulher a se apresentar em público no país tocando acordeon, por isso recebeu da imprensa o título de Rainha do Acordeon, gravou na década de 1950 com Altamiro Carrilho, vários cantores e cantoras interpretaram suas músicas entre eles: Amália Rodrigues, Carmem Costa, Nara Leão, Fagner, Clara Nunes Dóris Monteiro, Marlene, Tom Jobim, João Gilberto e tantos outros.
Dilú Melo é patrono da cadeira número 9 da Academia Vianense de Letras, que tem como titular o acadêmico Luiz Alexandre Brenha Raposo, que considero como o maior pesquisador sobre a cidade de Viana.
Segundo o saudoso escritor e historiador Joan Botelho, as duas maiores cantoras maranhenses de todos os tempos são Alcione Nazaré, que fez sucesso no cenário nacional nas décadas de 1970 e 1980 ganhando vários discos de ouro e a Vianense Dilú Melo que também se destacou no cenário nacional nas décadas de 1940, 1950 e 1960.
Do Areal ao parque Dilú Melo.
A construção do aterro do areal teve início em 1994 na administração do então prefeito Daniel do Nascimento Gomes Filho, o “Danielzinho” que construiu e inaugurou o maior ponto turístico da cidade de Viana.
Em 13 de setembro de 1998, durante a administração do prefeito Messias Costa Neto, a cantora e compositora Dilú Melo retornou pela terceira e última vez a cidade de Viana sua terra natal, onde descerrou a placa que deu nome ao Parque Dilú Melo, que teve como autor do Projeto de Lei que transformou o areal em parque Dilú Melo o vereador José Ribamar Santos, projeto aprovado pela câmara municipal e sancionado pelo prefeito. Estiveram presentes na noite de 13 de setembro de 1998 no antigo areal, o então Prefeito municipal saudoso Dr. Messias Costa Neto, o Vice Prefeito Marcone Veloso, Luiz Alexandre Raposo, o vereador Zé Santos, o cantor Rogeryo du Maranhão, além da população em geral. Dilú Melo faleceu no Rio de Janeiro em 24 de abril de 2000.
A atual administração do prefeito Carlos Augusto Furtado Cidreira “Carrinho Cidreira” revitalizou o parque Dilú Melo que será entregue a população amanhã dia 06 de julho, modernizando e temos hoje um espaço totalmente diferente não só na questão estrutural, no resgate de sua beleza, mas, sobretudo, contribuindo para que o parque seja ainda mais atrativo para a população e para os turistas e será inserido no roteiro turístico da cidade de Viana, que recentemente foi inserido no mapa nacional turístico do país, o parque é o novo cartão postal de Viana e ganhou novos ares, receberá visitação de pessoas diariamente e servirá de palco para atrações culturais, com a transformação do espaço o parque teve todo o seu piso renovado com a colocação de pavimento em concreto. A área ganhou também novo paisagismo, mobiliário urbano, letreiro para ensaio fotográfico e nova iluminação pública, contribuindo para o embelezamento da cidade dos lagos, com os investimentos no parque Dilú Melo quem ganha é a cidade e a população que precisa preservar o bem público.
SÃO BONIFÁCIO: RELÍQUIA DE UM SANTO MEDIEVAL NA MISSÃO DOS JESUÍTAS EM TERRAS MARANHENSES
Antes de iniciarmos nosso objeto de estudo, devemos: 1) resaltar a importância das imagens (e relíquias, também) para a propagação do cristianismo dentro da metodologia da Igreja Católica, e; 2) a significação das relíquias dentro da cultura religiosa medieval.
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Durante muitos séculos, dentro do cristianismo, foi discutida a utilização ou não das imagens no seu ritual litúrgico. De um lado existiam defensores de ícones e do outro, os contrários assim denominados iconoclastas. Somente com o II Concílio de Nicéia, no ano de 787, foi justificado “o culto dos ícones tanto de Cristo, quanto de Maria, dos anjos e dos santos”(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1997: 560). O Catecismo esclarece que: “A honra prestada às santas imagens é uma veneração respeitosa, e não uma adoração, que só compete a Deus” (Id ibid: 561). E acrescenta que: “A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra (Id ibid: 326).
De uma forma sensata foram condenados tantos aqueles que recusavam quanto aqueles que exageravam a utilização das mesmas em seu culto, conforme relata Duby: “Foram condenados tanto o iconoclasmo, quer dizer, a destruição e a recusa das imagens, como a indulia, adoração de imagens (DUBY, 1994: 45).
Mas como ao longo dos anos, personagens excepcionais dentro do cenário cristão foram ganhando destaque? Para entendermos melhor o assunto em discussão Duby afirma que os heróis da antiguidade pagã foram substituídos pelos novos heróis, que são os mártires, que “nos primeiros séculos da cristianização, consiste em dar sua vida para o Deus dos cristãos” (id ibid: 41).
Assim, a veneração aos santos tornou-se muito popular e com medo de sua banalização, o papa Inocêncio III, no ano 1199, determinou algumas condições para que o cristão fosse canonizado. Deveria ser provada “obras de piedade em vida e manifestação de milagres após a morte” (FRANCO JÚNIOR, 2001: 103).
Paralelamente à veneração dessas pessoas santificadas, foram também veneradas suas relíquias, que podem ser partes do corpo ou objeto que estiveram em sua posse. Franco Júnior (2001) aponta que no imaginário das pessoas, as relíquias representam a principal espécie de amuleto cristão e “Sendo fragmentos materiais do mundo divino, as relíquias protegem seus possuidores, sacralizam o local em que se encontram, atraem conforme sua importância multidões que vão venerá-las (peregrinação)” (p. 258).
Esse ato de veneração de relíquias também foi algo de discussão durante o Concílio de Latrão, em 1215, que determina que a veneração tem que ter autorização do papa “fosse elas conhecidas há muito ou descobertas recentemente” (Id ibid: 104).
Também devemos considerar que: “O culto das relíquias levou a promoção de lugares de relíquias célebres. Foi no caso de São Martinho de Tours e, sobretudo, o dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma. O culto das relíquias gerou peregrinações e ligou as populações do extremo ocidente entre elas, mas sobretudo, foram organizadas em etapas e em redes” (LEGOFF, 2007: 44).
As relíquias também faziam parte da cerimônia dos laços feudo-vassálicos que eram estabelecido em três atos:
“O primeiro era a homenagem, o ato de um indivíduo tornar-se ‘homem’ de outro. O segundo era a fidelidade, juramento feito sobre a bíblia ou relíquias de santos e muitas vezes selado por um beijo entre as partes. O terceiro era a investidura pela qual o indivíduo que se tornava senhor feudal entregava ao outro, agora vassalo, um objeto (punhado de terra, folhas, ramo de árvore etc.) simbolizar do feudo que lhe concedia” (FRANCO JÚNIOR, 2001: 125).
Ainda no final do século X, a igreja promoveu a Paz de Deus, onde os guerreiros faziam juramentos diante de relíquias que respeitassem as igrejas e o clero, assim como os bens das pessoas humildes (Id ibid: 99).
A crença a relíquias de santos, alguma vezes chegava aos extremos como no caso de São Romualdo e Santa Isabel da Hungria:
“Por volta no ano 1000, os camponeses da Itália Central pensaram e matar São Romualdo para se apoderar de seus ossos santos. No começo do século XIII, enquanto Santa Isabel da Hungria não era enterrada, a multidão cortou seu cabelo, unhas e partes do corpo e da roupa, para obter assim as sempre desejadas relíquias” (Id ibid: 212).
BONIFÁCIO, SANTO E MÁRTIR
Filho de uma família abastada, Winfrid nasceu em 672, Credition, Inglaterra. Entrou na vida clerical contra a vontade do pai. Recebeu o nome de Bonifácio (aquele que faz o bem) e foi enviado à Germânia, uma parte da Europa até então considerada bárbara, com a missão de evangelizar e organizar a Igreja Católica. No ano de 723 derrubou um carvalho considerado sagrado a Thor, filho de Odin, deus da mitologia nórdica, e da extração de sua madeira construiu uma capela. Esse ato foi considerado como o início formal da cristianização na Germânia.
Morreu no dia 05 de junho de 754, aos 84 anos, por pagãos. Ele é tanto venerado pela Igreja Católica Romana quanto pela Ortodoxa.
Rel Quia De S O Bonif Cio Em Terras Maranhenses
Os jesuítas fizeram várias tentativas malsucedidas de se fixar na região amazônica durante a primeira metade do século XVII. ARENZ e SILVA(2011) nos mostra que:
“O primeiro grupo de religiosos, que aportou em São Luís, no dia 23 de novembro de 1652, contou com onze missionários, entre os quais os padres Francisco Velloso e João Souto Maior. Mas somente a partir do dia 16 de janeiro de 1653 – data da chegada do padre Antonio Vieira -, a Missão do Maranhão começou a ser efetivamente reativada” (p. 21)
Meireles (2001), relata o episódio da chegada dos jesuítas em 1652, quando Baltazar de Sousa Pereira, governador da Capitania de São Luís em:
“ (...) mais de 15 dias de governo (...) teve que emprestar o prestígio de sua autoridade à magnífica solenidade da transladação, de bordo para a igreja dos jesuítas, dos ossos dos mártires santo Alexandre e são Bonifácio trazidos de Lisboa pelo padre Sottomayor, e os quais haviam sido mandados de Roma, pelo papa Urbano VII, para que fossem enviados, como relíquias, a cada uma das capitanias do Grão-Pará e Maranhão, respectivamente. Os restos de são Bonifácio ficaram com os jesuítas até 30 de julho de 1699, quando foram transferidos para a Igreja de N. Sra. Da Luz, não sabendo ao certo o seu paradeiro atual” (p. 99)
A relíquia, que é um fragmento de um osso de São Bonifácio está no peito de uma imagem relicário do mesmo santo, de madeira policromada e do tamanho de 66 cm. A sua veste é de soldado, apesar do santo nunca ter exercido tal função. Provavelmente, uma alusão ao combate espiritual, onde o paganismo é o inimigo.
Pelas mãos dos próprios padres Jesuítas, esta imagem chegou até a Baixada Maranhense para contribuir na difusão do cristianismo na Missão de Nossa Senhora da Conceição do Maracu (que mais tarde seria elevada a categoria de Vila de Viana em 1757). ARENZ e SILVA (2011) deixam evidente que: “Ao fundar um aldeamento, os jesuítas optaram geralmente por um lugar estratégico na região de várzea, às margens de um rio navegável e próximo à floresta, condições ideais para a coleta de drogas do serão, a produção extensiva e a troca de produto” (p. 34).
Durante cinquenta anos, a imagem ficou exposta no altar mor da capela da Fazenda de São Bonifácio, de propriedade desses religiosos, às margens do Igarapé do Engenho (Viana). Essa fazenda, de criação de gado, em 1730 foi a principal fonte de receita do Colégio de São Luís.
Já no final do século XIX, a imagem do santo já se encontrava em Penalva, e permaneceu até 2007, sob a guarda carinhosa do monsenhor Wilson Cordeiro. Ao saber dos misteriosos desaparecimentos de obras sacras da Diocese de Viana, o padre se dispôs a proteger a peça dentro de um caixote, debaixo de sua cama, durante 33 anos. Algumas pessoas afirmam que o próprio bispo da década de 1970, Dom Adalberto estaria envolvido em tráfico de obras sacras raras.
No dia 05 de junho de 2007, no seminário de Viana de mesmo nome do santo, localizado a Praça da Bíblia, em São Luís foi celebrada uma homenagem a São Bonifácio. Na oportunidade desta celebração, a Diocese de Viana (titular da imagem), o Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural, Paisagístico e do Meio Ambiente de Viana, a Academia Vianense de Letras, a Secretaria de Estado da Cultura e o Museu Histórico assinaram um termo de comodato para a guarda da imagem, que ficou sob a responsabilidade do Museu, em período determinado no contrato. Hoje está completamente restaurada e se encontra no Museu de Arte Sacra do Maranhão.
BIBLIOGRAFIA
ARENZ, Karl Heinz; SILVA, Diogo Costa. “Levar a luz de nossa santa fé aos sertões de muita gentilidade”: fundação e consolidação da Missão Jesuita na Amazônia Portuguesa (século XVII). Belém: Editora Açaí, 2012.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 9ª ed. Edições Loyola Petrópolis, RJ: Edições Loyola: 1998.
CAZUMBÁ, São Luís, nº 51, jul./2008, p. 11.
DUBY, Georges. As três ordens ou o Imaginário do Feudalismo. 2ª edição. Lisboa: Editora Estampa: 1994.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. 3ª edição atualizada. São Paulo: Editora Siciliano, 2001.
SILVA F., Olavo Pereira da. Arquitetura Luso-brasileira no Maranhão. 2 ed. Belo Horizonte: 1998.