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Jo.~aldeJerms.S<lpo.pl • ~ , deagosro a J deS<'l~mbro de ~Ot.J /
luis Ri cilrdo Duarte
•• ls Q Urra t m que poOlSO. Nõo poisogem, ndo Modrt Terro nem roptado ninfa \
de bosques e montanhoso Terro humano em que me pouso inteiro e para sempre.
ln Conhrço o 50/... r outros poemos ~ Não
é simp..'l.tia. é feitio" , d iz- oos
pouco depois d~ abrir a porta. ~Só sei receber em família. N~o faça cerimónia que eu também não faço". A ordem , dada entre sorrisos e atenções, é para cumpri r. Oe parte a parte. De out ra forma, Méc ia de Sena não se teria sentido à
\'Onlade para com~a r aJantar sem tarde". lembra. ~Mas a so~ ainda está quente" . Retribuímos o sorriso
escrever fos'it! fl!spiror
c entramos. atravessando a porIa
ln Coroa da r""a
com a sensaçào d e pcnclrar num mundo à parte, num espaço onde o tempo se suspendeu: a~ fotografias
fix am episódios passados, os objelos
Mêda de Sena 939 Randolph Road Santa Barbara Ca li fórnia
É uma espécie d e assinamra que amigos e estudiosos se habituaram a n.'ccbcr pelo correio. Esta casa JXlde eslar Isolada de tudo. a 4500 quilómetros de Nova Iorque e a oito fusos horár ios de Portugal. Pode até parecer um mausoléu erguido para perpetuar a Icmbr.lIIça d e uma vida feliz. Mas Mécia de sena lig:l - se 30 mundo alra\'és da escrila. 5:'10 car tas qne tra1.cm a noticias do mundo para dentro destas pa redes. E co municam pa ra fora a sua boa nova: novklades da obra do seu marido. "Ess., modesta mas sempre con \li\lial casa poder ia s implesmen te ser cha mada de Centro Editoria l para a Publicação das Obra.~de Jorge de Sena", sugere, num en saio. George Monteiro. amigo do casa l
afirmou um dia a grande estudiosa da literatura PortUI,,'llesa, Luc iana Stegagno Picchio. &."iC traba lho, monumental e inesgotável, iniciado logo em 1978, está hoje, 35 anos de dedkaç:'lo depoL~. perto do fim. Com a publicação do volumc Enrrevisras de Jorge de Senil, uma ed ição da GuimarJes, Méci.1 de Sena considera que o essencial da obra do autor de MewmorfOllCS fica dispolIÍvel. Falta acrescentar a volumes Já publicados cnsaios dispersos de temasscmd hantes. Corrigir as gralhas que continua a e ncontrar em ediÇÕCS ant igas e reeentes. Reeditar obras há mu1toesgotada~. Encon trar editoras interess....das em publicar uma rorrespondência torrencial. Muito. quase tudo, no entanto, está feito. i\ arca senia na pode não ter fim. mas o que de mai~ signillca.tivo produziu está, de uma foTIJ1.3 ou de outra. acessivclao públiL"O cm gcral e aos estudiosos em p.1rticular. A sua miss.'ocst:\ cumprida. SentO'me ~ mesa como se o mesa fosse o mundo inteiro E principio a eSCrever como se
esperar pela "visita". "Já se fazia
evocam um agitado exílio, os quadros remetem para outrnsépocas e os livros. os muitos li vros alinhados nas paredes, reacendem a memória de in finitas leituras. É nesta casa, num dos subúrbios de Santa Bárbara, na Califórnia. nos Estados Unidos da América. que Mécia de Sena vi\'e há mais de 40 anos, desde que para aqui se mudou com Jorge de Sena, em 1970, d ando sequência a um exílio inicL1do em 1959, no Brasil. Depois da mo rtc do marido, a 4 de Junho de 1978. aqui per maneceu. dedicando - se de cor!lO e alma ao seu leJ,.>Wo inte lectual e literário. Até à data já publicou cerça de 40 volumes, entre inéditos e ree dlÇÕCS. E projctos n:'lo lhe fal iam. Para muitos, é a té dilicil separa r o seu nome da morada desta casa.
.JI.
Arquivos de ]or,e de Sena Tudo oflllniElIdo, tud o pllludo a limpo, tudo publicado. Um trablltho de uma vl dll
Mécia de Sena Trinta e cinco anos de dedicação Fez da sua casa wn verdadeiro centro de estudos e divulgação da obra de Jorge de Sena. E o ritmo da sua atividade faria a inveja a muitas universidades. Mas a missão da sua vida está agora próximo do fIm. Com o livro Entrevistas de Jorge de Sena, uma edição da Guimarães, Mécia de Sena, 93 anos, dá por concluído um ciclo de 35 anos de dedicação ao legado do seu marido. O JL visitou - a nos Estados Unidos da América, onde vive, para desvendar um pouco do seu trabalho, comentado nos testemunhos de Francisco Cota Fagundes, Helder Macedo e Jorge Fazenda Lourenço, seus amigos. Publicamos ainda duas cartas inéditas entre Ruy Belo e Jorge de Sena. E os textos de Eugénio Lisboa, sobre a correspondência entre Sena e João Gaspar Simões, e de Gilda Santos, sobre a correspondência entre Sena e Mécia e e){ - diretor do Departamento de Estudos Portul.'UeSC!; e Brasileiros da Brown University, cm Rhode Island. '·Enquanto equlp."lS de cscrl -
tores têm s ido criadas para pub licar obr.iS de out ros l.tr.l.ndcs cscritorL'S, es ta mulher, trabalhando sozinha, lomou nas suas próprias mãos a
tarçfa de editar e publicar o vasto corpus da obra d e Jorge dI.' Sena , c tem feito um [r.lbalho (que cn ntinua a fazer) com rigor c eficácia".
Entra mos e;'mtamos. Odia e<õtá quase a terminar. Mas mo para Mécia de Sena. Sofre há décadas de insónias. conscq~ncia dos muitos Ulmesde guerra que viu no inickt da juventude. nos anos 20 do século p.'L'iS3do. Nascida em 19.20, cresceu entreguer raseoci nellla, mesmo o pacifista. mostrava a vioWncia do tempo. "'~ tan tos IlImes desses quI.' não pcns.wa noutra coisa, só cm I,,'llerra. Até que tive WlI fanico". reçorda. Passou um \"Cr.lode eama , para espanto da família c incom preensão da Medicina. e quase wna década sem pór os pés nwna sala de cinem.1. Assu.~tou -se e não se livrou das insónias. Po r isso, todas.1S noi tes, como esta . senta- se pontualmente às.2J horas em frente à tele visão para arompanharum progra ma de música clássica que se prolonl,,>:I pela ma dmgada dentro. É o ú nico momento em que se concede nma pausa. O descanso de Wlldia de trabalho. E pode donnir 3pen.1S (juatro ou cinco horas que na manM seguinte estará. desperta e com enel},>ia para rcgrt'Ssa.r aos muitos cuidados que a obra do seu m;nido exige. A;;.ala de ('~tar, como toda a casa, não mudou mui to d esde que a fam íli a para aqui vclo morar. garante - nos Mécia de Sena. Depois do portão da e nt rada, 11m pátio que ilu mina as divisões interio res, ii mancir.l romana. Uma grande sala. com sofis de um lado e um piano do oUlro. Paredes revestidas a estante, sem espaços v31.ios na~ prale leira~, ~ó aqueles que re~u1lam de recentL'S doações a b ibliote cas e ce11lros de estu dos. Na sa la. seguindo pela esquerda chega- se à sala de jantar. ju nto da rolinha. c aos três quartos, ond e dorm iam os IlIhoo. Pela direita , ao quarto c ao esc ritório do casal. Nas traseiras. um pequeno Jardi m . o ndc a lguns
~JI .
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MÉCIADESE~TEMA •
~ldeagO$loa J de $CfembT(Jde.>O IJ· jo",al<k>ler ,u~. saro· pr
Foi pouco depois da morte do marido que /.lécia de Sena se lançou nesta empreitada. E ao longo destes 3S 3nos nunC3 duvidou que tal era nL~ess;irio. "Não há ninguém par.. continua r devidamente este traba Iho~. dcs.1bafa. lembmndo que os fllhos têm as 5ua~ casas e " respon sabilidades"'. De in ício, revelou - se fundamental a bol<;a que recebeu da Fundação Calouste Gulbenkian,
pássaros vão debkar a comida que Méda lhes deixa diariamente. Em todas as divisões. sobressai o metal dos armários dos arquivos. Com três grandes gavetas cada um, guardam o espólio de Jorge de Sena. Os primeiros manuscritos, metodi camente organizados pelo próprio escritor, que. peJa sua for mação cientifica. desde cedo se habituou a passar a limpoos seus poemas. ada tá - Iose a agropá - \os tematk:amente. Os originais de c3d3 livro public3do em \'mou postwIlamcnte. Oscn s.1ios coligidos em volumes individu.1is, coletivos ou em sep.1rlUas. As fotografias arnunadas ano a ano. E as cartas, 3S muita.~ carta.~ t rocada.~ com a mulher, os filhos. escritores. artistas, músicos. amigos. colegas de trabalhoe estudiosos porttl!,'l.IeSeS. bra sileiros e de vária~ partes do mundo. Eduardo Lourenço, Gu il he r me de Castilho, José Régio, José- Augusto França. Manuel Bandeira. Raul Leal. Sophl.:l de Mello Breyner, Taborda de Vasconcelos e Vergilio roerreÍTa são alguma~ da~ muitas pcrsonalid.1des que se corrcspondeT:1 m com Jorge de Sena e cujas conversas escritas já foram dadas à esl amr~a. Von tade de publicar outros \'olulllCS n<lo lhe falta, caso haja editoras intcn.'SSadas. J~ leve muita~ recu<;a.~. ma~ nunca desistiu. Organizar C!;tc cnormc espólio ocupa - lhe o dia inteiro, pois encon tm sempre q ualquer coisa para fazcr. Neste momento, prepara a publicação de novas correspondên cia~ e quando não pensa em nO\"()5 livros. cstá de olho nos ja publicados. J\! rfeilamente alinhadas numa estante do seu quarto, as obras de Jorge ele Sena estão c heias de notas. Gralhas, incorreç~ ~ mudanç:llõ que lospcra poder introduzir em no vas reedlçócs. Naela é publicado sem o seu consent imento e sem a sua n ..visão. emoor.. hoje este trabal ho te nha a ajuda fundamental de Jo rge Fazenda Lourcnço, profl'SSOf d3 Un iversidade Católica Portugul"Sa e especialista e m Jorge de Sena.
o que lhe permitiu pass.1r três anos no King's College, eUI londl"\.'S. "Quando o meu marielo morreu, v:\.rtas pessoa..~ IIca ram preocupadas. Sabiam do meu cuntributo. de rej,,'isto e amparo. para a sua obr.. e temeT:1ln que não pudesse cont inu;l - Io. ConCl-derem- me uma bolsa foi um gesto muito bon Uo". PaT:1 Inglaterra lC\'Ou ealxas e caixa..~ de documentos e, na companhia dos
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Um simples acaso e muita con\'ersa. Mécia e Jorge de Sena conhe ceram -se em 194 0 , num encontro "muito bonito e acidenta l ~. Ela estudallle do liceu. elc já univer sitário. Mas qu is o destino que se encontmssem os dois naquela noite de 7 de dezembro nu m baile de receção aos caloiros da F3culdade de Farmácia da Unive rs idade du Porto. M(~ia ali eS lava para
No ntritório de Sen.. A miÍquin .. d, Iscrever; n p..5tn dos .. rquiv05 com dntaque p.. r.. a corre5pondincla com "'.. nuel Bindelfi," mesa di trabatho e um dos primeiros poemls do escritor
Um dia o Amor prazenteiro me viu e vai, certe~ • •• urna
21/6/36 l° vol, pg.
filhos mais novos, pôde trab.1lhar à vontade. "Como lima louca" . ga rante. "Durante esses anos c0llSC"b'l.l i o rganizar todos os papéis e planear lllais ou menos o (Iue dev ia publicar no fut uro." Conhecido pela sua ca pacidade de trab31ho, Jorge de Sen3 é autor de uma vastíssima obm. Por isso, Mêcia de Sena tlo"'e de fazer opções. A sua estmtêgia passou por arrun13r, primeiro, a poesia. Depois, as suas alençÕ<..os viraT:1m -sc para a publicação de Sinais de Fogo, o grande romance de formação que u escr itur deixuu inédito. E só ent<lo começar a passa r à máquina os manuscritos , sobretudo cartas. trabalho que ainda hoje a ocupa. Nos Intervalos. nunca esqueceu o trabalho de memó ria, aquele que a fel insist ir <:om as editoras . l"\.'"Çolher a ma is inflma citação de imprensa, receber na sua própria casa qual quer investigador que mostrasse in teresse em trab31har este espólio. "É um cargo que exige mu ito", allrma . " E de uma gmnde responsabilidade. Por isso, luto todos os dias e (.'()1Il Iodas as minhas forças". Amo·te·muito, meu omor, e tanto qlle. 00 ter- te, amo·te mai~ e maiS ainda depois de ter-te, meu omor. NiJofindo com o próprio omor o afIlO( do Iet/ enconto. ln As Evidências
acom pa nhar uma amiga rccém entrada no ensino s uperior. Além disso, gostava de dançar. sendo lend:iria..~ as tardes e noites que passa\'a a bailar, na COlnl),1n hia do seu irmão mais novo. Rui. Nestas ma tüias . mais reservado era o seu outro irm~o, Óscar Lopes, futuro ensaista e historiador da literatura portuguesa, recen temente falecido. Esta paixão pela dança é in dissoci,Í\"t'1 da música que sempre est eve presen te na sua vida. O pa i, Arman elo Lopes (011 Leça, como era mais conhecido), foi um destacad o com positor, folc1orL~taeetnomu sicólogo, que mui to fez pela defesa c d ivulbtação da Música Pop ular PoT1ub'l.lcsa. Era a ind a um profes sor d edicado. conviei ando alunos para sua casa, que depois acom panhava ao pia no. E a mãe. Irene Lopes. tocava o violonçelo çomo t.lécia nun ca ma is o uviu algué m tocar. Acompanhar a mãe ao piano era. de resto. um dos seus grandes prazeres. ··Ou\'I- la tocar delxava me toda oq.'I.I1hosa ". recorda com 11m brilhozinhu nos olhos. N~o espanta. por Isso, que Mécia de Sena ten.ha ido ao baile da Faculdade de Farmácia e até ous.1do açeitar o convite de um desconhecido para danç ar. Jorge de Sena, que no Purlo lo"Qnc1uía a sua Ilcencla tu m e m Engen haria Civil, )
8 . TEMA~ÉCIADESENA )
Jo.~aldeJerms.S<lpo,pr • ~,deagosro a J deS<'r~mbrode ~or.J /
.JI.,
depois de ter cursado Ciências
em lisboa. jantava lodos os dias na cantina de Farmácia. MN:lo é meu h:ibilo dançar com
desconhecidos", respondeu delicadamente Mêda de Sena. Ao que Jorge de Sena. cujo d om da
palavra já era notório, contrapôs,
MTem toda a r.17110, desculpeme. Mas sendo de Li"boa c não conhecendo ninguém 110 Porto como poderei a1gmn dia dançar a não ser com uma desconhecida?". Foi ar!.'umcrltaçào suflciente para
o primeiro passo. -Pareceu- me tudo muito lógico", recorda ~Iécia . Aliás. toda a argumenlaçliO de
Jorge de Sena lhe p:u-eceu mais interessan te do que os dotes para
o bailarico. Por isso, pouco tempo depois estavam os dois, sentados, a conversar. O tempo \'0011, como costuma
aCOJ\H.'C<:T nestes momentos. E pela meia - no Ue, na presença do Irmão Ru i, que pelo baile passou para a levar cOllsigo. já que os tempos eram out ros. despediram se rapidamente. Só quando chegou a casa c contou à mãe a noite divertida que tivera e o homem interessan te que conheeera é que se lembrou: "Nem o nome lhe peq,'lmtei!" . Os tempos eram outros, já se disse, e Mécla e Jorge tiveram de esperar por um novo acaso. Guardaram ambos uma bonita memória dessa noite. E o novo encontro reforçou t'Sse sentimento. Em janciro do ano seguinte cruz.1ram - se numa conferencia de 10ão Gaspar SimÔl'S, mas tanto um como o outro lkou eom a ideia qu e não se tinham "Isto. O mesmo não a(.xmteceu num n:dtal de João Vil1aret. cm mais uma das atividades liter.lrias do Clube de Leça a que Mécia e a mãe nllilca faltavam. Cruzaram- se no inten'alo: "Você nu nca fal ta a estas coisas~. dlssc lhe Jo!},...... ~Você também não", responde Mécla. não baixando a guarda. E acrescentou: "Só tenho
Cín:ulo dc llfclos cm Londrcs l-Ic1dcr ~lac,,'(lo « Quase todos os anos, durante vários anos. Joq,'C de Sena passava por Londres no iniclode junho. quando o ano letivo nos Est ados Unid05 tinha terminado, mais tcdo do que no King's College. E então, qualquer que fossc a aula que eu ia dar, pedia-l he que a desse ele, para manifesto bendíclo meu e dos alunos. Depois iam05 todos a um wine bar que nesse tempo havia na esquina do Strand, junto à Punte de Waterloo, para continuarmos conversas que nunca tin ham Hm. TIveram quando ele morreu em 1978. No d ia 4 de junho. Convidar Mécia de Sena para vi r iniciar no King's College a organiza~'ão póstuma da olml de 10rge de
Percu'lO Jorge de Se n a com um ano;
MK ia e Jorgl no dia dOUS.lIml nto, eembmftla
pena que o ViIlaTeI não tenha recitado a Tocadora de /lar/,o , de Fernando Pessoa~. A surprt'Sa CoI enorme. "COnhece Fernando Pessoa?", pergu ntou- lhe o futuro mar ido. A co nve rsa prolongou -se, assim como a surp resa. Mécla não só con ht><: ia Pessoa como também lia a Presença. onde Jorge de Sena colaborava. Em s ua casa. à música nunca faltou a ('vlllpa nhia dos livros, portugueses e franceses, que em pequena devorou com uma int'Sgot:\\'el c uriosidade. E só não acabou o Uceu no tempo certo e seguiu para a universidade porque os tempos. de facto, eram outJOS, "TIve de me emanci par", lembra.
Sena foi p.ara mim uma evidência. J05é Blanco, na Gulbenkian, logo entendeu a importância cultural do projeto. tornou -o posslvel. e ela t'Stt'Ve aqui tltos anos como Rescareh Fellow. Foram tempos felizes gerados pela tristeza. A Mécia criou em Londres lUll espaço de convivio português como nunca tin ha havIdo nem nunca voltou a haver. Havia os colegas no King's College. Stephen Reckert e Luís de Sousa Rebelo. O Eugénio Lisboa e o Rui Knopfli estavam na. Embaixada. O Bartlomeu Cid dos Santos ensinava na Slade. Todos eles amigos próximos. Fidelidades permanentes. Mas foi graças à ~Iécia que, de repente, o circulo de aCetos se alargou na hospitalidade da sua casa (havi<l sempre sopa e arroz -doce e lembranças partilhadas aos domingos) para incluir uma esplCndida ju\t:ntude de compatriotas que ela, não
"Encontrar trabalho. primeiro co mo instrutora de G iml~tica. depois I:omo prof(.'SSora de História e de Geografla, para custear a inscrição voluntária em Coimbra, no curso de HistÓrico- Fílosóflcas". Os seus conhec imentos. como ainda hoje se pode eomprovar, de Cacto impressionam. Livros, catálogos, atas de colóquios e
sci como, descobriu que também havia: músicos, cantores. pintores, cientistas. Todos noo melhorados pela sua s!ibla arte de transformar o passado no ruttuU . .'1..
Gcncrosidadc humana c hUclcclUal Jorge Fazenda Lourenço
« r'Oi Jacinto Baptista quem , em 1982, nos pôs em eontacto epistolar, após as m inhas primeiras critIcas de obras de Jorge de Sena. que Mécia de Sena vinha editando, no sentido anglo- saxÓnico. desde 1978. E o nosso encontro, na casa do RL'Stelo. em março de 1984. foi para mim o reconhecimento, quase
revistas. A sua mesa de trabalho nesta casa de Santa Bárbara assemelha-se a qualquer I:ent ro de investigação uni\'ersi t:\rio. Por Isso não espanta o pedido de Jorge de Se na: "Será que posso ter a s ua morada para trocarmos umas cart a.~?" Só deste te mpo contabiliza duas mil cartas. Um namoro à antiga. escrito para
tátil. de uma pessoa que eu já ad mirava. como intelect ual e curadora da oorJ de Joq,re de Sena. e com quem fui constmlndo uma relaç.:'lo cada \'C2 mais rica e complL'Xa de sentimen tos, de inteligência e afetos, fei ta de todas aquelas coisas, grandes e pequenas. que formam o e ntendimento de uma duradou ra amizade. a qual ultrapassa em muito a colaboração literária que desde então e!;tabelecemos. Nos primeiros anos, como agora, através de cartas, sempre mais da parte d~ Mécia. ou de alguns telefonemas. e, entre 1988 e 1993, com a minha permanê ncia em Santa Barbara. quase q uotidianamente. E foi IlL'SSC período de clnco anos que e u fuI testemunha direta, e cada vez lIlais participante. do rigoroso trabalho editorial e de investigação que Mécia de Sena descnvolvia, e da sua imensa generosidade huma na e intcle<:tual,
encurta r dIstâncIas. Findo o curso. Jorge de Sena regressou a Lisboa. p.ara en(.'(Jntr,H trabalho. le ndo ingressado na. Junta Autónoma de Estradas. Só se casaram oito anos depois. t'(Jm quatro anos de aproximação epistolar e quatro de noivado. Celebraram a união a 12 de março de 1949, na Igreja do Sagrado Coração. no Porto.
fazendo da sua Cas.1. na Randolph Road, um \'Crdadeiro centro de in\·t'Stigação (ainda por cima com "room and board~) da obra de Jorge de Sena, nUIna. org,m.ização impressionante de Hchas. arquivos (ann:\rIOS e gavetas), pastas e dos si('S de catal~<ação de toda a obra do poeta. incluindo a iconogrJfla e a sua corrcspondéncla (e a Mécla se deve. entre nós, a valorização da t-pistolografla), chegando ao ponto de os manuscritos já esta rem por si datilograCados. ou scja, li dos e tratados edito rialmente, e tam bém (manuscritos e dactiloscritos) fotocopiados, para assegurar a conservaç.'\o dos materiais e facili ta r as lX"Squisas ou mt'Smo a pronta entrega das obras às edItoras, E se para alguns títulos h:wla indicações mais ou menos precisas do autor. ontros houve que resultara m de um trabalho c:rcegético. de pesquis.1 e interpretação. Uma vez entre-
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MÉCIADESE~TEMA
~ldeagO$I(Ja J de $CfembT(Jde.>O IJ· jo",{lI<k>ler ,u~.saro· pr
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Jorge de &n3. já o casal vivia no Brasil. Dt!fender wlla tese sobre Os Sonetos de OimÔ('Se o Soneto Quinhentista Peninsnlar, contra umjúri advcrso. deu ao escritor muitas dores. mas ainda mais aos dedos da sua mulher. ~ Eram seis, sete. oito horas por dia", recorda de cabeça. "E eu gruvida". Uma autl!ntica maratona que acabou a poucos dias do parto. Defendida a tese - "um suct'Sso~. sublinha - e nascida a criança (a nona e última), tomoll uma (lL'cisão. "Comprei uma máquina de escrever nova e deixei a em cima da sua ~re tária " . Contrariado, Jorge de Sena perguntou - lhe: "Mas para que quero cu uma m~quina se não sei como trabalhar com ela?"'. A resposta estava preparada: "Tanto me fa.:. Agora é a tua vez", Conhecendo o feitio da mulher que tanto apre ciava, rendeu -sc à evidencia. E aprencteu. "Dal a doi.~ ou três dias Já escrevia lindamenfe'·. assegura Méçia de Sena. Em Stl Urbara A entrada do numero 939 de Rand olph Road; Mtcla junto do seu plano
Ó doce perspic6cia dos sentidos! Visôo mais t6ril que opressodcn dedcn sempre no trNO tropeçando em medos que 56 o oIforo 05 ouve definidos! ln hdro Filosof al
A c umplicidade literária ficou inscril3 113 relação desde o inicio, como se viu. Pelas conversas. mas também pela partilha. Méçia recorda o primeIro dia em que se encontranun em Lisboa, depois do regressado escritor. Ainda não namoravam e apenas falavam por carla. Se~:uiu para a capilal com o pmpáo;ito de \' i~ila r um3 tia. E foi com desmedida alegria que o encontrou. à sua espera, na Estação de Sama Apolónia. No fim de semana, estiveram juntos cm lodos os momenlos eln que 1\;10 linha urna obrigação familiar. Ejuntos leram 3 peça de teatro - O Indesejado - que
guc uma obra, acompa nhad3 das rt'Speth':!S 1I0tas e de wna apre sent3ção, bem como de um indice onomástico. procurando estabelecer um hábito a que a maioria dos editores portugueses era então alhei3. Méçia de Sen3 assumia todo o processo de revisão de provas, por ver.es penoso. à d istância de muitos m il hares de qullómctros, parJ não falar da distância sem medida do marialvlsmo lusitano. O resultaclo desse trabalho (nunca, 3té hojc, publicamente reconhecido por galardões que leriam sido seus merecedores), apesar das \~clssituctes relativas à vida das editoras. foi nolabilissimo. Nestes 35 anos, Méçia de Scn3l..-ditou 45 tintlose reeditou mais de duas dC'"L.Cnas, algunsdcles acompanll3 dos dt: textos fundamentais. como a apresentaçi\o da poesia juvenil rcwúda cm 1\:l81- Scriplllm- II ou a introdução a .%wis de r-ogo, a que
ocupava na allura os pensamcntos de Jorge de Sena. "Metemo- nos num café e lemos e disculimos o tcxto" , lembra. "E desde cntão mostIou - me tudo o quc escrevia" . Acompanhar a sua produção literária nem scmpre foi fácil. sobretudo no inicio do n3moro, quando a poesia de Jorge de Sel13, quebrando cânones e tabus, se COloc3V3 à frenle do seu tempo. É rom cmoção que Méçia lembra os poema.~ que recebia por correio. em particular um que mais tarde vclo a ser integrado no volwlle Pedro Alosoful. de 1947. E, entre sorriso~. recit3 - nos: "Ó doce perspicácia dos sentidos ... " Erudição e sensualid3de mlslUrJvam -se nos versos do poeta. E descodifká - Ios nem sempre foi, p3ra si, tareb fácil. Leu-os vezes sem conta. às vezes na companhia da mãc. para tcnlar
deve acrescentar- se o índ ic:eda poI.'!>io de Jorge de -X'rlU. Que lI.1éçia de Sena tenha partilhado comigo a maior parte destes anos, é para mim uma honra - e o único pré mio . .,IL
Amizadc
C mClllori:l f'r.mdsco COla ""il!."'l IlXk>s .: Entre outubro de 1976 e dczem bro de 2012, D. Mécla de Sena eeu trocámos mais de Soo cartas. se ndo algumas das suas enviadas de Londres. a malorl3 da sua casa de 939 Randolph Road. Santa fuí rbara, Califórnia. endereço e~.<;e que para sempre me ficar.i gravado na alma. A nossa corrcspondencia re\'cla que d urdnte esses 36 anos não só
compor um comcn tário pa ra enviar na volt3 do correio. Ten tou uma e olltra \·ez. Leu e releu. Mostrou até a uma amiga, com q uem ca<ótuma\'a pôr a conversa em dia ao sábado. MTambém não entendell l13da ~, diz a sorrir. Homem e obra desafia vam - na em igual medida. O eslalUto de confidente literária do marido reforçou - se com a di.<ipOnibllidade de Méc13 para as ques tões práticas. Mesmo dando aulas. cuidando dos filhos e frequentando a universidade e m Usboa. onde o casal se lixou. arranjava sempre tempo. Aprendeu rapidamente a datilografar e os textos quc s,1Í3m da pel13 do escritor voavam dircl3\llcnte para o teclado da sua maquina dc escre\'Cr. Foram anos e anos de traba lho (."(lnjunto, poem:lS, (.'(Inlos, ensaios, confe!i'ncias e art igos de ;ornaI. O cmpenho que hoje dedica
estreitámos uma am l7..adc que nascera quando conheci a familia Sen3 na Calilórnia (no começo da déca da dr:! 70). mas também constintl da parte de D. Mécia cm relação a mim uma valiosa e preciosa men torl3. Sem nu nca ter eXr:!ccldo. por quanto sei, a docência llWlla sala de au la. D. Mécl3 de Sena tem sido um3 das professoras mais marcan tes e inolvidáveis que len.ho lido ao longo da vida. E inl1.t;Í\"e1 que muito aprendi com ela. Na homcnagem a D. Méçia de Sena que constilui este volume. não poderia deixar de registar essa dlvid3 pesso31. ao mesmo tempo que. com os colegas e amigos que comigo colaboram com os seus trabalhos, homen3gear D. Mécl3 como estudiosa de Jorge de Sena. como mentorJ que sei que ela tem sido para tantas outras pessoas. com toda agenCJ"OSidade com que nos tem honrado a todos. E não
a rever inéditos e a caçar gralhas em livros já publicados é igual 30 que aplicava. horas a fio. sentada a passar a limpo a escrila do marido. "Comecei quando ainda namoráva mos. Por isso. quando nos casámos, estava Ircinadíssima~. brinca. A sua paci~ncla só chegou ao limite com o doutoramento de
"
Conu.'Cci I.II);'IS.~II· a liml)(] os seus rex1os1 rluilnck) .li I1d'l nilIl101-:h-;Jl1Ios, Por isso, r.....lI1dn nns casámos,
l,-..;I.I\'a Ireinadíssima se pense - como alguns podemo querer pensar - que D. Mécia só ajudava aqueles que ('':!õti\\.'SSClll empenhados no esntdo da obra dc Jorge de Sena. Não haja dúvida que Jorge de Sena eru o seu grande empenhO, a sua obsessão. Um dia, quando estava a lcdonar como Professor Visitan te 113 UCSB. fui jant3r a casa da Don3 MécL1 com minha mu lher Maria Deolinda. Ch(.'b<:'cmos lá por volta d:lS 7:00 horas. DepoiS do jantar a conversa encaminhou- se. como cra inevitável, para Jorge de Sena, para a obra de Jorge de Sena. a vida de Jorge de Sena, 3 edição ou reedição das obras de Jorge de Sen3. Por VOlt3 das tres ou quatro da madrugada. a minha mulher /o,bria Dcoli nda Já a dorm ir no sof:i. D. Méçl3 ainda tinha mais parJ conversar sobre Jorge de Sen3 ... até que ctl tive que a in terromper. dizendo- lhe que dali a umas quantas horas teri3 que
De amor e de poesia e de ter pdtrio aqui se trota: que o ralé nôo p!Jsse o dor de haver nascido em Portugal sem mo;s remM;o que trozl -lon'o/ffl<I ln EJror(/smo$
Numa "vida pelo mundo a pedaços repartida", como Jorge de Sena re sume num vcrso do poema Em Cre/II com o MillO\(IUro. Sanl3 Bárb.1rn 3cabou por se r a cidade onde a sua lamllia ma is tempo viveu. Oito anos na compan hia do palrl3rca e 43 até à atualidade. Na América, viveram ainda em Madlson. no Wiscon~i n . ma~ o frio nunca foi bom companhciro para Mécia. Mudaram- se assim que surgiu 3 hipótese de o mator de Trinta UlIUS de Oimões poder :l5SCb'Urar o lugar de professor de üteratura Porlllb'1.les3 no p6lode Santa Bárbara da Universidade da Califórnia. Jorge dc Sena assumiu a direção do Center for Portuguese Studies. que depois da sua morte )
estar no dep3rtamcnto para começar a dar aulas. uma delas sobre Jorge de Sena. O quc m3is nela comovia era a paixão com que se dedicava ao seu tema favorito. ~ sua querenciu. ã sua dcvoção. Mas era perfeitamente capaz de me ajudar com proj(.'Ctos que nada tinham a ver com Jorge de Sena. Por Isso. é falso. tOlahnellle falso. que D. ~Iécia só apoi3va quem trabalhasse sobre a obra do marido. Naturalmente que em esse oseu desejo e empen ho. Mas dava 3 sua amizade a qualquer pessoa em quem ela visse um desejo gcnuíno, sinccrld3dee um empenho honeslo pela cullUra lusófol13 . .,II.
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10 . TEMA~ÉCIA
Jo.~aldeJerms.S<lpo,pr • ~,deagosro a J deS<'r~mbrode ~or.J /
DE SENA
.JI.
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) chegou a ter o seu nome. mas que entretanto. 3. pedido da própria Méçia de Sena. já não lem. Com os nove filhos (Isabel
Maria, 63. redro Au~,'usto, 62, Maria Joana. 61, Maria Manud, 60,
L\!<:DITOS
Cartas de Sena e Ruy Belo
Marian:!, 56. Paulo Jorge. 55. Vasco Manuel. 53. Maria José, 52. Nuno Afonso, 50) , a ca~a era sem p re uma
animação. Méda, no entanto, cuI dava sem pre que o marido ençOIl Il";l&óe tempo e ~ilcncio P;!r:l os seus pmjetos. O seu "milagroso" poder
ti Andorra , 13 de Novembro de 1971
Meu caro Jorge de Sena
de concentração também ajudava,
gar:mtc. "Quando o via di ri gi r -se para o escritório assegurav a- me que n inguém O incomodava", lem bra. "Além disso, ele não era pessoa de Ika r a matura r. Sen ta\'a - sc e escrevia. TInha uma capacidade de
trabalho Impressionante. lia tudo. via ludo, sabia tudo. E escrevia" , Co m estas caracterís ticas, em muitO difícil lerem um livro em conjunto. "Chegámos a experimen tar, mas ainda ia eu 3 meio da página do lado esquerdo e Já ele tinha acabado a do \.ado direito. Parecia que, em vez de ler, olhava de c hapa e absorvia tudo". E qual O segrt:do para ta nt3 produtividade? A par d o poder de concentmção, M~cia de Sena tem outm resposla: seis hor:lS de sono bem dormidas. "Ele nunca f3lhav3. Deít3v3- se, lia um bocadinho e zás. dormia como uma Cri3nÇ3·'. descre\"C. "SÓ muitos anos mais ta rde, qu:mdo já eslava doen te, e passou a dormir mal, descobriu que eu sofria d e insón ias" . O espírito prático de 1>.lécia de Sena dotou esta casa de tudo o que é pn:dso. "t>;ão há lm;;os", diz , e a simplicidade que nos rodeia confirma -o. MApenas o que torna a vida mais simples" . Só não conse~'U iu aproximá - Ia fisIca mente de Portugal. Respira se portugalidadc por tod o o lado, nos objetos, nos quadros e até nas refeições. Mas o peso do exílio nunca deixOU de se abater sobre esta casa , em p:u-ticlllar para o escritor. " Porque não espero nada, e morrerei!! no exllio sempre, mas fiel ao mundo, já que de outro nenhum morro exilado; ! porque n:l.o espero, do meu poço flUldo ,11 oUlar o céu e ver mais que azulado! esse ar que ainda respiro, esse ar imundo l por quantos que llle ignoram respirado ", escreveu o poeta em Glosa de Guido CamJcmrti. E nem o 25 de Abril atenuou esta aJl!,'1.ÍStia. Depois da apreens.l o pela PIDE de um livro seu, em 1955, e da participaç ão no frustrado Go lpe da Sé, que tinha como objetivo derrubar Salazar na ressaca da fraude eleitoml de Humberto Delgado, a ação de Jorge de Sena ficou muito limitada. E vigiada. Emigrar para o Brasll. o nde poderia InclLL'live iniciar wna car reira universitária. nunca possf"cl e m I'ormgal, revelou -se a melhor saída, para si e para a sua família. Pa rtiu em 1959 , para um cido de confe rências, a que se segui u u m convite para lecionar Literatura Portu~'Ucs.a. como professor
Desculpe não ter voltado ao con tacto consigo desde o dia 8 de Setembro ii tarde. quando nos e ncontrámos no Bmsileira do Ch i.1do, E.~tou ainda em período de adaptaç:1o. O Zamora Vicente é um homem cheio de interesse, intelectual e humano. Estou de acordo consigo. Só vi"endo no estrangeiro, sem (:ollvivcr com portugueses, é que se lem a dimen'illo de Portugal na Europa e no mundo. U o seu artigo na rcvi:>ta IlIyukl. Gostaria que me ex plicasse oselementos de que d ispõe para afirmar que o Francis<.'O José Tcnreiro - que aliás me dececionou na única vez que falei com ele - era ulti mamen te um destacado elemento do regime. Só por ser professor universitário? Ou por alguma circunst~nc ia que cu desconheça? Aproveitei o fim de semana e vim até aqui. Compram- se (.'Oisas muito baratas e muito subversivas. como os livros RonwlK:ero de [(I R('.'iistenciu, Elopus Dei: La Sonla Mdjlu e os discos, que comprei, de cançôcs de protesto sobre o VIetna me. o Brasil. a Espanha. com textos dos melhores poetas. de c:m~"Õt.'S da epoca da re~'Olução russa acompanhadas de d iscursos com a própria \TOZ de Len ine e n30 sei mais o quê. Como vão os seus trabalhos? E a sua saude? E a Sr.' D. Mécia? E os pequenos? (esta millha mania de os reçordar oomo os vi no Restelo.,,). Afln.:ll, sempre gosto de dar as aulas. A lin~lu.ae a literatura portuguesas estavam aqui a dar as últimas. Vamos ver se oonsigo Lançar as bases par.:! que, entre os aluoos, volte a d<.'spcrtar o interesse pela express.'\o \'erbal e escrita de tantos milhões de habitantes. Na prirneirJ aula. fiz umcsboço do quc ia dnr: a literatura portugues.1, a partir do modernismo - e respclÍvas influéncias portUb'Ucsa;; - nos »cus dl\'ersosgéncros. Comecei pela poesia, oontillllOoom ela e, allnaI, ainda n<io passei da g<.'T'.....-lo de Fcrn.:lodo Pessoa. Nas duas últ imas aulas, fiz comen tário de texto, com base 1l!S petivamente no ]XlCma de Fenl3Jldo Pessoa A ceifeiro e no fuerna paro
c at<.><Ir.itico convidado, na Fa cu ldade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Até se mudar parJ a Universidade de Wisconsin, e m 1965. deu aul a~ ainda em Rio Preto e em Assis (São Paulo). À a maf),'Ura do exilio Jorge dc
Santa Rosa de Manuel Bandeira. Da prinlCira \"eZ que (ui ao Prado, o primeiro quadro que me apressei a ver foi osfuzilament()!jde~~ comprei uma boa reprodução, cm tela, que conto pôr n.:l minha sala decstarem frente de um poster que represen ta um CriSto guerri lheiro - em homenagem ao poeta que escreveu sobre o lcln.:l, A Maria Teres.1 cstc\'C aqui no principio do mês e a sua presença foi- nle útil parJ estabe la:er o meu equllfbrio e resolver ccrtos problemas práticos. Voltoll para Lisboae. entre olltros livros, pedHhe q ue me enviasse a~ Meranrorjoscsquc. além do mais. me servirão para estabck>çer c:ssa vida do modernismo que vem de Angelo de Uma at~ aosquatroso-
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Sú vi\'endo no
eSlrangeiro. selll cOIl\'i\-cr com I)Ol'tugUl...'"'tCs. se tcm a
d imcllsoio dc l)ol'lugal na ":uI"Cllla e no nUllukJ netos de Afrodite Anadiómena. CoITK."ÇO adar- me conta que é impossível conhecer Portugal e li ~"illl história fora do oontexto curopeu, designadamentcespanhol. Enfim. trabalho em ooisas de que b'OSto. Estive em Toledo, sob o signo do Grego e do Tejo, E ao fim do dia, na catedral, descobrl u m quadro do me u pintor predileto: Caravaggio. Escreva- me, por fa\'Or, para: Casal do RrasiJ, Cludad Unh"ersitárla. Madrid 3. Spain. Cumprimentos pam todos. Abraça -o o seu RuyBeIo
Santa Bárbara. Califórnia. USA, 18 de Novembro de 1971 ti Meu caro Ruy Belo
Porcartajá não sei de quem (o Ca~tãoCruz) souberaquc V. havia
Sena a<;soc iou sempre a t riste~..:J pelo pouco rcconhecimento pátrio da sua obra. Uma ideia que M&ia conllrma e que os anos ainda não apagaram. "Ainda n:l.o se fez a valorização d ..:vida da obra d o meu marido". afirma . ~ Mas é coisa
idocfetivamente para Espa nha. com oq ue me oongr:ttulodevt:TaS. E acabo de receber a sua carla andorrana (um pouco mais adiante , do lado frances d a fronteira espanhola. está Lat Tom de Carol do meu poema. após uma das mais belas travessias de montanhas deste mundo desde Foi."\: dos condes que o eram pel.1 graça de Deus), que medájá impressões da sua expl:riéncia hispl nica encetada. Pois é a verdade. meu caro: de fora, e não como turiSta, qual estou farto de pregar, é que a gente descobre a escala portuguesa tão distoreida pelo provincianismo pátrio; e. quer sequcim, quer não, somos hispánicos, no sentido da Hi<;pânia de outrasera.~deque f:lZCmos parte. Honro- me de ter sido dos primeiros, há muitos anos, a insistir na aproximaç;locom a Espanha. acultur:l e a h istória dela que é ulS<.'»ará\'CI da nossa (mais do que tradiciona lmente os espanhóL~ adm item e.lã vão perdendo a mania de docr- Ules Aljubarrota e lÓ40), sem uma vez pTOCUr:lr oonvivios litcráriosou capita1l7..:Jr em minha promoçãoespan.hola (quais outros têm feito, sem resultado que se veja para a cultura portuguesa em Espanha). E lere saber de Espanha, e visitá -la. sempre foi um dos prinU!ciais deveres e obrig:tÇÔC:'i (até atenucom a minha s.1bença espanho\.a os especialistas desta América, que partem do principio que eu li tudo e mais alguma coisa. que não li) e também prazeres da minha vida. Oque repeti três \"ezes n.:l min ha recente ida ii Europa, primeiro indo a Santia~'O, depois a Salamanca para 00 esplêndidos dias docongrcsso (lá. num almoço. o Cintra k...':tV:l as Metmnorfoses no bol'lOe fe-t;- me ler dela~a Uln.:l enorme mes.1 encabeçada pelo ilustre - e que respeito muito - Rafacllapcsa, estando também o Zamora VICente), e, ao escapar- mede Usboa. para I rês dias de Mad rid e Bul"!,.'OS na viagem de regresso (só cheguei aqui a casa a lS de Setembro dcpol~ de unsdL'lS ainda decalmo I'arisede outona! Londres). Aproveitequanto possa de estar junto da melhor e mais digna gente da Espanha, que quando o é, é. Busque O meu querido amigo Dionísio Rid ruejo, e trate de contactar o meu amigo e colega de Santa Barbara José Luis Arangurcn (este só kt:ciona aqui nos himestrcs de In\"emo e prima\"er:l, passando ai o ano desde Junho a [)c-/.cmbro inclLL'liw). O art!goda Insula, por Incrf\'Cl que lhe parL"Ça, e wna coisa atr.lliada de mais de meia d íw.ia de anos. que eujá me esquecera de tercscrito, e não cuidei que ai nda publieariam, após tantas delongas. Se me tivcsscm consultado, tê- lo - ia
política. O meu marido mantc\'e se independ ente e isso nem se mp re se perdoa", Neste apagamento da obra de Jorge de Sena não deixa ninguém de fora, incluindo o seu irmão Óscar Lopes. "Só depois de não sei quantas <.><I ições da Hist6riu
rce<;Crito e atual izado inteiramente - e uuagin e a minha ~urpresa, qua ndo em Salamanca me felicita \':tm por uma coisa que eu n:l.o sabia oqucera (o número esgotara-sc lU! cidade). Pacimcia. para in formar alguma coL~a ~ melhor d o que nada. Quando a Tenreiro, de quem fui sempre amib'O, o ele ter-se passado para o regime quando aceitou ser deputado da União NaciolU!1 à Assembleia idem é um facto - e foi também uma raclOIU!llzação dele (poderia fazer alguma COi:>.1 e fez) para sujeitar -se às pressões de que entãosordidnmente fizeram depender a carreira u niversltárL'I dele. E eu não fui dos que - neorrea1i~t$ de borra, e filhos espiritu.ai.~ dele muitos - o denegriram nessa ocasião, deuaram de referi- lo e até de estender- lhc a mão, O facto \'cm consignado na~ Llricas Portuguesas em que o uK1uiern 1958. Se me con~::guissc esse livro da Santa Máfia, e o Aranguren mo trolL>;CSSC - fazia - me Wllgrande fa\'Ur. Pelo oorrcio, poderia não sair. .. A minha saúde. que me ai dando cabo a todo o instante da minha digressão europeia. continua muito precária, e cu sem ir aos médicos americanos que desprezo e temo. O estômago anda sempre enrolado, dá - lhe par;) inchar dolorosa mente à mlnima coisa ou pessoa que mechateic. e o meu braço direito continua meio - paralisado e terrivelmente dorido (só o pr:l7.cT de escrever- lhe me faz suportar o esfon;o rt.'Querido pela máquina). Acresce que a minha agonia com a t\mértcajá excedeu todos os limites do ~;uportá\'el, e ainda ontem dizia numa carta n<'losei já a quem que qlL1lquer d ia, pelo modelo ame rK.-ôlnO, <.'Ompro uma arma e saio pela ru.1 a matar gente at~ que me nU!tem a mim, Claro que gosto muito de ellliinar , e o ensinar na Am~rtca tem sido uma compensação excelente, sobretudo depoL~ de ter ensin.:ldo no Brasil, dumnte anos, Uteratur:l Portuguesa àqueles odiantes de Portugal, que só acei tam a nossa literatura se redU7Jd.a ao cómico e ao ridk:ulo pela maioria dos que lá brnsileiros. a ensinam. O meu amor pelo BrnsH é muito gran de, e poucos brasileiros sabem dele tanto coo eu, que não confundo o Brasil com o samba e o feição como ;I maioria deles. m$ a minha repul sa pelas m itologias br:lSileiras ruo pode ser mais Intensa - e reflete -se nas minh:l!i ca\'ilosas denúncias em aulas. que criaram o mito brasileiro de quesou um terrÍ\'C1 inimigo do Rr:lSiI, a silenciar a todo o (."\ISto (sendo eu o mais ~ ilustre ~ professor de Portugu{'s por eslas bandas, não fui convidado, COlno os americanos todos, a assi5tir recentemente
da Literatum pa<;sou a inclu i- lo". Mécia explica o tom amargo "furibundo, irritado, desgostoso" - de mui tas cartas do au tor d e O FísIco Prodigioso com este sent imento de injLL'ltiça, agravado dcpois por uma certa de~ilus30
~JI .
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MÉCIADESE~TEMA
~ l deagO$loaJde$CfembT(Jde.>O I J · jo",{lI<k>ler,u~. saro· pr
JOfle de Sen~ ~O meu ~mo, pelo 8r~1l é mu lto ,r~ nde, e po ucos brasileiros 5.lIbem dele~
ao oonbrresso em São Pllulo dos professores de UI. Brasileira no estr.lllj,'Ciro) a que aliás não iria, porque n.'10 pon!m os pés no Brasil dos mili tares. e porque, se estive nove :moo sem voltar a Portugal, é bem q ue não volte ao Brasil antes de 1974). Trabalho ... tenho muito para fllzcr e pouoo vontade d c tudo - 11 minha depn-ssão e reduzida resis tência concomita nte dão- me tudo por inútil, quanto eu faça ~ para cair no poço da pulhari.1Iusitana, o que não mcdói por mim, ma~ pelo que sei que 00 meus ignora doooontributos valem. ao lado da maioria dos arrotos nacionaL~. Desde que cheguei que me ten ho ocupado e m redigir o an4,'O. que me e noomendaram. para a nova ed ição da Enciclopédia Rrit:inica, sobre as tit. Portu~'111..""Sa e Bl<lSilcira. Mas tudo está encalhado por eu me opor a que as duas tlquem mistu radas (então é que o Brasil b'l"itava que eu 00 que ro colonizar outra \'eZ, como o Afr.1nio Coutinho disse alto e bom som. :Kl lleIlSa r-nos, a m im, ao Casais e aos outros, de sermos agendes secretos de Portugal).
com as esperanças eriadas com a Revolução dos Cravos. "Porque não era só ataear, era também om itir", explica. "Ainda pensámos em regressar. depois do 25 de Abril. mas nunca nos ofereceram as condições que tlnhamos aqu l ri
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tenham pouco espaço. e lodos os dCSC1l\tJlvlmentos críticos caibam aos art4,'OS tcmátkos. por outros sujeitos de Inglês. Francês, etc, que evidentemente su primirão, por ignorincias, PortlJ.b<a.l inteiro. Entretanto, veja o anafaIbetismo. pediram- me oart lgo "biográfico" sobre oCamõcs, oom a recomenda ção de que o lugar dele na literatura europeia eu o deixe aos Ill(!:';IllOS senhores - o que lhes respondia que não podia separar crítica e biografia de um homem de quem só se!>ahe o que eles di.'iSC abstratamente de si nlC5mo na obra. Se :1Çabar Il;'CU !>ando 00 artigos (e perdendo 700 dólares), ficarei COnt o texto de u ma
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GOSIO lIIuilO de
cnsinar. c o cnsinolr lia A méri(;4) Icm sido uma (.·umIJCllsaç.io cx:cclClllC
FalQreil de nÓl comQ de um ll.>nho. Crepú~cuhl dOlJrado. Frales ,alma~. ~ramo~ livres. F<llóvamas, sabiamas, e QmÓV(lmallerena e docemente ln Pedra Fi/asQ/fll
bl"C"Ve história em inglês das duas literaturas. que multa fal ta faz por não haver nada que pTL'Ste ou não pre;te. A Mécia e;tá bem, também cheia de Estados Unidos como eu , e mais aceitante do facto de que não temos lugar para onde ir. A filharada boa está, o meu filho mais \'elho muito a merkano e pateta, convencido que é um génio teatral. as duas seguintes, cScpois d e esta rem em I'o rtugal , mio suport ando a América tamlJém, eos outros todos sem salx.'1"Cm o que ~ viver em países em que at~ a mcsquinhes~ 11 escala hWlIalla. Condoo do que me diz que se confina ii. literatura deste século nas suas aulas, que é o absolutamente ignor.xl.oaí. Mas. poultJa pouco. V. descobrir:! que tem de ensinar lhl..'Squt' o Gil Vicente não era WlI dramatul},'O espanhol, que a Cwitro foi sem dúvida escrita pelo António Ferreira e leve papel decisivo na l'\lOll«;ào <lo teatro espanhol, que o CamÕC!i foi o mai~ influente mestre do século XVI e XVII (videG ranci.ln, Agudezay Artede/ngenio), queo Antero, o Eça e o Oliveira Martins
"N:\o quer ver mais nada'! Esteja à vontade". Nos tre. dias em que conve rsamos. a paeiência de /o.lécia de Sena nunca esmorece. Abre arquivos. JK'rcorre fotografias. revela manuscritos, recorda com v lslvc l sat lsfaç;'Jo o muito traba lho
foram mestres reconhecidos da geração de " noventa y ocho", que o Eça foi um d05 mestres d o natura lismoespa.n hol (v1d~Clarin), etc, etc, eque a poesia tirica medieval começou na Galiza - Portugal. Eque a língua portugues.1 n:lo ~ um dla leto hispânico, mas provavelmente o núcleo inicia! de que saiu também owlho Leonês (pai docastelhano). Tudo coisas subvcrsi\'3S de antigos mitos que até os porll1b'UCSCS, na sua maniJ de se acharem sccWldários (nem as vaidades escondem outra coisa), repetem e aceitam com humildade e respeito. Esse Prado, não~? la foi ao Escurial cuja coleção de pinturas é magnifica. Veja a Bibliotl..'Ca do convento. com as suas raridades que nos dizem respeito. E passeie o Madrid da Plaza Maior, dasCa lcs Cervantes e Lope d e "ega, visite as Carmelitas Descalças. cheias de mcmÓria.~ portuguesas (e o retrato do D. Sebastião, cuja armadu ra de gala está lia ArmariJ do I'aJácio de Oriente, que dl... 'C visitar também). E. esl:mdoem Madrid. vá a Ávllada Santa Teresa, a Valladolid, a BllIYos, Sq,'Óvia, etc. T;unbém o C,1 ra\'aggio ~ um dos meus pintores predilctos, e não o que "saiu" nas ,\fermnt:lljoses - procure (M paperb.1ck) o estudo do FriedUlnder sobre ele, que lhe enche as medidas. E a sua famili3 como se adapta à vida madrilcn3? Prepare- se, em breve. se os n:\osente Já. para os \'entOS frígidos do Guadarrama, que bem sopram nesse lado onde mora. E ndoviSlte, a propósito da "slcr ra" , o V31e dos Caidos - antes leia L'Espoirdo Malraux, HOlllagc to C,1talonla do Orwe ll , e os livros proibidos do Ramón Scnder. Quando puder. se não (.tJnhct.'C, vá a Granada e a Córdova, e a Barcclon.1, a doO:lndestâwl D. Pedro, que por efemero rei de Amg:io, 11:-10 menos deixou nela. como bom p ríncipe de Avis, a sua marca (a que encon tre! na Flaodrcs, na Alemanha, na Áust ria, ate na Inglaterra da bastarda de D. João I - que gente aquela - como ~ que fomm nossos l"Om patriotas?). 00- me a~ ~l..Ias nOlfciJs que, como vê. terei imenso gosto em re ceber. J«..'OOllIetJc\3ÇÕI.'S nossa~ paTa \"ÓS . Eo grande abraço muito amigo do sempre seu Jorge de Se na
ps: Em man,tJ, passarei umas três semana~ na Eu ro.,a, em toroo de Pllris, aonde a Gulbenkian me 1I.....'a (!) a pe rorar de Camões. Pena Madrid ser um pouco Ion~'C . 3 menos que houvcssc um pretexto de comemorar ai (sim Pimpões) o centenário dos Lusíudus . .ll
que leve ao cor rer dos anos. A Ida de já não lhe permite sair muitas veles d~ casa, embora se apresente sempre com energia e vigor. E ~ dentro des tas PaJI..'tIcs que guarda II seu tesouro, o sentido que d eu à sua vida. Seguimos de dlvis:\o em
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Ainda nào se (eI. a \'.lIori"tÃIç;.i o dc\'ida daob.... domcu 1lI.lrido._'las é cois.1 I)(llíl ic'l_.\ hllllc\'c-sc i ndcllCndcn.c c isso ncm sclllprc sc pcrdoa
divis.'1o e cada pormenor evoca uma faceta da personalidade de Jorge de Sena . O seu gosto pela música. que deu orige m , inclusivamente, a uni volume de pocs iJ , A Arle du MLÍ~íca. O seu contadO com as comun idades e / Im igrantes, espelh adas nos textos coligidos em Américu, ,\mmcu. A passagem pelo Brasil, onde fizera m .. tan tos e tão bons amigoo". Ao sairmos do seu quarto. Méc i3 ch ama - nos a atenção pa ra uma pequella estan te. "Os liv ros que estava a ler no ano da sua mor te". E percorre as c apas. ainda com espan to , pe la variedade dos temas: "TIle Complele Pocml>". de l homa.~ Hardy, TIte Prison - Holl.'lCof I..tmguuge, de Jamcson. Humcmism u nJ T('TT()r, d e /o.lerleau - Ponty, MUIM'S of HlCr uml Helion, de Gore Vldal. "Mais de 40 livros lidos. eo meçados ou encomendados". l ista imp ressionante sim, concordamos, como impressionante são também estes seus 35 anos de dedicação ii obra de Jorge de Sena. Um labor sentiment al e rigoroso que vai ser recordado 110 volume de homenagem Trintu e Tunros Anos de Dcvoçclo: EstuJoo .~obrc Jorge d e Senu em HOllm de AMeio de Sena. orga n.izado por francisco Cota Fagundes . da Univers idade d e MaSS3chusctts Amhers t. Reun irá contributos de va rios especialis tas em estudos scn ianos e celebrará, simbolic amen te, um3 ca r reira u n iversitária que Mécia de Sena nunca te\'e. a pesar do rigor cientifko que as suas ed lçõcs e prefácios revelam. E mlutos nào hesitam em associa r o seu estilo ao de Jorge d e Sena. Nunca fo i, no en tanto. ambiç:lo sua seguir os passos do marido. Mu ito menos na esc rita . Ainda acalentou a ideia d e um livro de memór ias, para quc os factos e os e pisódios se não pcrdes-wm, mas abandonou - o pouco depois de o ter conteçado. Preferiu manter -se fiei à promes sa feita na cart a de 18 deS<.:temoro de 1948, na qual escreveu. "Se cu vive r dcpo is de ti. querido, o que n:io desejo, a tU3 001""3 será pa ra mim como uma blblia para o mais fervoroso crente, e podes te r a certe1.a que Ilca bem entregue" . Ningu~m poderá d izer q ue não ficou. Coma queiras, Amor. como tu queiras. Entregue a ti, (I tudo me o!>ondono, Segura e certo, num terror tranquilo. A tudo quanto espero e quanto tema, Entregl.leQ Amor, eu me dedico.
n
ln Post -S<:riptl.lm .11,
12 . TEM A~ÉCIADESENA PRO MEMORIA
sagem, diz VQltaire: "Saboreei a vin gança", nus. logo a seguir, reconsider.!: ';A \'ingança fatijÇI a alma".
Eugénio Lisboa
E, de facto, fatib"3: a quem escreve c a quem lê. É claro que Sena tinha sérias rJ~ix:s de queixa - c quem as
Jorge de SenCl llecurso à epístola
n~o tem? Mas h;i d uas maneiras de reagir às vilanias, às invejas c alé à.~ pulhicC!S: com c1L-gânda ou com
espalhafato. Sena optou. n30 raro, pelo segundo modo. IX-vo d esdc já dizer que n<lda d i~to l!stá presente no magro acervo que é esta corTCSpondência e n tre o au tor de Andanças do Demónio e
,
o au tor de Pântano. Tcndocortado
publicaç:'lo de póstumos de Jorge de Sena, não tem faltado, graças:'l valiosa vigilânda. trabalho ~ empenhode Mêeia de Sena, a comribuição de \>árias aI.:ervos mais ou menos subst anciai.~ da sua correspondência (13. ao todo, se nM estou cm erro, para não mencionar a publicação avulsa de cartas em jornaL~ ou re \'istas, com este ou aquele prete"to), Em 1959, Sena ausentou -se, para sempre, de Portugal, passando a \' i~"Cr, primeiro. no Brasil, até 1965, e depois nos K'itados Unidos. Ausente do lugar onde se encontrava a maior parte dos se\L'i interlocutores naturais (amigos, colegas escritores, críticos), a epistolografia passou a ser o seu modo natural de comuni cação. Numa cart a a Sena. incluida no acervo de que trata esta crónica. JoiIoGasp.1r Simões obsenra: "Como não nos vemos h:l muito, recorro à e pístola (... )'" No '"exílio~, que se prolongou até li sua morte. Jorge de Sena recorreu abundante e quase freneticamente Ma epistola". Escre\'eu muito, f~uentemente cartas longas e onde, n:'lo raro, se repetia, para d<.'Sti.nos vários e para dar saída impetuosa:'ls !túorm.1çõcs, desa nafos, pedidos, vitupérios. fúrla.~ que o consu mia m. Essascartas s;10 , em muitos aspt'tos, uma mina de informação, para estudiosos, sobre próprio e o seu mundoesobre mUÍl1! em ql.W passou a viver: as terras. os homens, os hâbitus, os vidos, as intrigas, a uni\'Crsidade, a cullUra e a im~u1tur:I ... Pode perguntar-se se a <."Orrespondtncla de SCna representa, para a sua obra. o que representam algumas <."O rn.'Spondências justamente célebres, que, nalguns casos, até acrescentam algo - ou bastan te - ~ obra dos que a.~ produziram: as de Rousseau, Voltaire, Byron. Chateaubriand, Flaubert, Gide, Mart in du Gard , l homas Ma nn, George Bernard Shaw, Bertrand ~ usscll. l':!d re An tónio Viei ra, Eça de Queirós ... P,11':I só eit:lr alguns. Estas são correspondências vitais, sem as quais a obra de criação dos seus autores algum.1 coisa perderia, não sendo vista, n<.'Cessâria e exat amente, da mesma maneira, em que pese aosoflclant es do ue", <.rilkism. São, em quase todos - ou todos - os casos citados, \'Crdadeiros exercíeios decri.1ção literarla, que algo aen.'SCe ntam a uma obra dita de criação.
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Jo.~aldeJerms.S<lpo,pr • ~,de agosro a J deS<'r~mbro de ~or.J /
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No ca'iQ de Flauberl ou Voltaire e não só - quase se pode preferir - e há <juem tenh:l preferido - a epistolografia ao resto (sendo o resto I<'t o bom como é). Vol taire deixou para eima de 20 mi l cartas. Numa volumosa e apetcckla selccção de 906 <.'S]X.'ci<.'S. Jaequcline Hellegollarc'h considera a correspondênc ia do aUfor de Colldidecomo ~um dos monUlllcntos mais imponentes da no~ literatura'". dando- lhe. pois, e com O nosso caloroso acordo, o merecido estatuto de criação literaria e, para o caso, ao mais alto nível da espécie. De António Vieira ou de Eça, o mesmo ou qua'iC o mes moS<.' poderio1 dizer: a epistolografia não desmerece da obra e até a aumenta. I'ode ra dizer-se o mesmo da correspondimcia de Jorge de Sena, importa nte como é, para o <.'Studo do homem e da obra'! Claro que pode, em grande parte. Há. no vastíssimo 'K."er\"o epistulográflcu de Sena, cartas admir.h-eis, de densidade informativa, de \'!gor, de pcuetração crítica, de generosidade na entn.'ga de si, de refle"ão tcórica, de observação fina e aturada: e hã outras onde nãu tudu. masccTlas passage!l.'i &'0 cl:lramente de antologia, a reter, para estudo e di\'lligação. Mas há, por outro lado, momen tos de mau feitio. de ressaca. de resscnt imento agressivo, de ajuste de contas, de grande violtncia, que dei"am mau travo na boca e desfeiam, de al&'1.l.m mod o, o conjunto, que seria. de out ro modo. inigualá vel. Eslt'S momentos. que, infelizmente, abundam , n:'lo anulam o resto, mas, repito, deixam marcas fcia.~ na paisagem. Numa cert a pas-
) Filipe De/jlm Santos (Org.J
JORGE DE SENA! JOÃO GASPAR SIMÕES CORRESPONV.eNCIA (1943 - 1977) Cu~rra & Pol. 407 pp.
18 ~"fO'
relações (ou arrefecido relações), muito cedo, com Simões, e tcndo reatado já muito na fa.w final da
a.~
sua vida. o que nos IIca da troca de cartas destas duas Importantes figuras da <:ena literár ia portu -
guesa é muito pouco.
M a.~,
deste pouco - que é, con tudO, bastante significat ivo - fez Filipe Delflm 5.1nt05 (FDS) 11m livro, a todos os titlllos. cxcmplar. É um modclo do que um livro de epistolografla de\'c ser: abundantes e bem investigadas notas de pé de pági na, textos dos au tores. que enquadram a currespondência e melhor iluminam certas p.1s...agens de la, tes te nlll nhOS, um elenco das resenha.~ do critico prcsenci.~h:I à obra de Sena. índice de outras edil,."oc'S das correspondências, indispensáveis cartas de ~Mcia de Sena a Simoc'S, umas muito interessantes e csclan:cedoras M<,móriasdos Anos 40e m forma epistular. de Méd.a , um út il índice Cronológico, um 10n&'O, per<:etivo. bem funda men tado e Inteligente "Estudo Introdutório"', da autoria de FDS, que ê, de resto. também o responSlh'Cl por toda a fo rmatação e execuçãu organil.ati\·a e, Ja.sr but nUllcus/, um precloso indic~ Onomástico. É um autentico festim a leitura de um livro assim concebido, tão rico de informação. de interpretação fina e de minucioso cuidado olJ;anizativo. llã, é claro. um ou outro ponto, em que podemos discordar de "opiniões"' do org:mi1.ador, o que em nada fere a esbelte-l:t da 01J;a nil.açílo do livro. Um s6 (!};emplo: na p. 30. FDS 1).1rece dar cobcrlura a um "cliché"' muito em voga em manuais, histórias da literatura e até em doutos ensaios, quando considera a literatura da pmiençu "uma litera tura do eu e da in trospeçílo~. Ora bast a um folhear não muito exaus tivo dessa mesma literatura, para verillca r que ela é isso, mas é, simultaneamente, muitas mais eolsa.'i que não são i.<;.'iQ. A litera tura de Régio - para tumar nota. apt'nas, do maior represen tant e do IJl"CSCI1cisnm - em mil ito transcende as mhidas explorações do eu e os labirintos da Introspc!Ção. Por outro lado, também não me parece muito correto dizer que a presença "fez do cult o dos primeiros modernistas a sua b.1ndeira". A prest'nça est\ldou, divulgou, valori zou ou promoveu, com aberTUra e generosidade, os valores (algu ns) do primeiro modernismo, mas não os seguiu ~ letra, pe lo cont rário,
.JI.,
Cumplicidade Iitenll'i,l IISão Ja 30 os anos que Jorge Far.cnda l.ourenço vem dedica ndo ao estudo e divulgação da obra de Jorge de Sena, quer a trnvés de en.<;.alo, quer na coorde nação, com Mécia de Sena, das Obras Completas do escritor. O volUJlie Mo/éria Cúmplice, uma edição da Guimarães q ue reúne cinco textos inéditos, assinalajustame nte es..o;a data redonda c não por acaso foi distinguido com o Prémio JoQ,'C de Sena. atribuJ do pelo Centrode Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de l.isboa. No titulo, de nunciado r de uma relação ent re estudioso e objeto de estudo. e no subtitulo (Cinco AOCrtu/U.ye um Preludio JXlI"U Jorge deSetra) encontramos as linhas de leitura deste livro, que o próprlo professor da Universidade Ca tólica se encarrega de sublinhar nUJlia no ta introdutória: "Mu téria Q impJicc reúne um pequeno número de estudos que são cornO<lue aberturas para diversos aspetos da vida e da obra do poeta (a desenvol\-er, por mim ou por outros), O livro focha eom uma bibliografia, Trinta AtlQ8ck JorgedeSena: 1982- 2012, que tem um propósito Informativo c comemorativo, d.1.ndo aesta seleção de estudos uma forma circular,
fez uma li teratura e um percurso em tudu diferent<.'S e independentes daqueles. Os 6rftcos não querIam saber de psicologia. nem de Freud, nem de Dostoiell'sky, nem do g rande romance do século XIX, ]lara coisa nenhuma. Pessoa niio intersetava Proust, nem quer ia saber de Tolstoi nem de Bergson, fosse par.l que fosse. Não se pode medir os valores do primeiro modernismo com a mesma ré~..ua que se usa para medir os do segundo. "CompararM - no sentido cientifico do termo - Álvaro de Campos ou Caei ro com Régio das Encm zilhadas ou do Joga da Cubm Cega. faz tanto sentido co mo pret e nder medir a distância d3 Terra ii l.ua com um calorímetro. E, no entanto. isso tem sido fcito, obtusamente, para gáud io e aplauso da ga leria. E continua a fa1.cr -se, porque erro tem a carapaça dura. Quem ler Régio com a atenção e minucia que ele merece - e que ele usou para comentar terceiros - cedo verificara que o autor de BiogroJIa promoveu Pessoa. apesar das fundamentais diferenças que h:lvia entre ambos e rtào por causa de alguma fundame ntal semelhança que entre eles existisse (e é até Isso que torna admir:ivel essa promoção e a compn.-c nsão que a moti\'ou). Isso \"ê-se, alias, desde 1 9~5, por al tura da eelebrada tese de licenciatura aprescntad:! a Universidade de Coimbra.
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significativa. uma vez que o seu prelúdio tem como tema a rece ção de Joq.-e de Sena. ~ Diversos, ma.'i encadeados, estes eshldos começam po r analisar a receção da obra de Jo rge de Sena nos anos 40. Avançam depois para o fa7.cr da voz poética ou a formação do escritor, analisando o romance Sinois dc Fogaenquanto birdungsromon. Relacionado com este tema está o te rceiro artigo. que se debnlça sobre Jorge de Sena, Espanha e a sua Guerra Civil. O e"illo e a diáspora sãoos temas dos dois úl timos artigos, com especial enfoque nas repre!iCntaÇÕCS de Portugal. ,no
) Jorge Fu:endll w urenço
AtA TÉRIA CÚMPLICE
É um dos lugares comuns do a.nti-prcscncisnlO em vigor - L"Om o fim de se desvalorizar o rea l serviço pela presença prestado ao Orphcu - proclamar q ue os pl"l'St'lzcisIU!l, afinal, não tinham compret:ndklo os 6rfko..~. A verdade é que tinham, mas a \'Crdade é também que, mesmo admirando- os, o seu projeto de \'Ída e de criação não Incluía fazerem mesmo que os outros tinham feito - no que estavam nu seu realíssimu direi to. Não se tratou de reação bonaparlista, como sugeriu Eduardo Lourenço, mas simplesme nte de deflnir o seu próprio território, como fazem os artistas autónomos que se prezam. De n.'Sto, Régio nunca L'SCOndeu as reservas que lhe merecia o poe ta Pcswa e até o homem Pessoa - c não só ele, entre osdo Orplzeu.. Nada que Impedisse de \'alorI7~1. -lo e promo ~ "c- lo, mas muito queo desviasse de SL1.'1.li - lu. E é assim que <.os ta bem. Pessoa também dizia admirar dcsm.:didamen le Junqueiro, mas tomou o c uidado me ticuloso de nil.o o prolongar ... Valéry admirava Poe, mas fez o contr:\rio do que I'oe fel (não doque Poedisse que fC7.). E por aí fora. Nada disto, repito, .s erw p.1ra desvalorll.ar o impccá\-el trabalho de .:ditor e intérprete d \!Sta corn.-spondência, em boa hora vinda ~ luz e que pode ficar como modelo de como um livro d<.'St('S se d<.'\'C montar e apresen tar. "I.
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MÉCIADESE~TE ~1A •
~,deagO$'(Ja J de $CrembT(Jde.>O 'J· jo",{lI<k>ler ,u~. saro· pr
Sobre UIll "diálogo ininterrupto e diário a quatro mãos" Gilda Santos' _ ,\nos atrás, rcçebi de organismo brasileiro de fomento ii pesqu L..a o pedido de análise de u m projeto dl.'(iicado à ediçãu da obra l."Ompleta de canónico o itocentista portugu~, cujo signatário sol icitava apoio fina nceiro para a compilao:;ãu anotada da co rrespondência do autor, u ma \'Cz concluída a publicação de sua l.'SCrita romanesca . O pnx.'eSSO chegava - me já e m grau de recurso, pois os prcçedentcs consultores od negaram verba..~, sob ajustiflcativa de que, estando editada a obra literária, a produção epistola r seria desprovida de qua l{lucr importân cia ... Perplexa com tal entendimen to, como se de "obra completa" não se tratasse. emiti pa rcçer favorá\'C1 ao financiamen to. felizmente con cedido pcloórg-Jo governamental. Talvez hoje os meus pares não ousassem vetar aquele pleito com o mesmo argumento. De lá p ara cá, frequentemente a in\"C"Stigação acado,lmica cotcjou vid35 e obras, o hL"tórico e o literário. De lá para cá, a fronteira entre géneros consagrados e periféricos muito se diluiu. De lá p3ra d. proliferaram livros de biografias e de carteios, decerto sob o irúluxo da dCSClúreada cultura da individualidade promovida na web pelas " redes socials~. Contudo, a rt iculist as c l><ig inas cspccializad35 ainda p:uecem lacónicos (salvo casos incon torná\'eis ou polémicos) quando se tra Ia de notlclar ou comen tar correspondências mantidas em língua portuguCSõ!, cumose pode dl7.cr das m3is recentemente edit3d as tendo na c3pa o nome de Jorge de Sena. Em fimbito oflclal portugu~s . é mesmo ClipalltOSO que o site da Diret,:ão- Geral do Uv ro , dos Arquivos e das 13ibliotec3S (que mantém DGlB na logomarca e IPLB n3 URL). 30 list3r a "Bib liog:rafla AtlV3" dcs.-.c autor, silencie sobre cinco (1) volumes t'Pistologr.ülcos, todos vindos à lu z sob as b<::nçãos de Mécia de Sena em editoras portugttcsas: o d iálogo com Soph ia de Me llo Breyner Andresen (2006). com Raul leal (201 0 ). com Delflm &mtos (2012), com Jo.lo Gaspar Simões (2013) e com a própria M&:ia (2013). Considerando que out ras corrcspond~n clas aí flgtlram. que a escassez de espaço não pode ser invocada e que não se trata de dcsatuaIl7..ação, poiS lá consta m in serções de 2013, impõe -se pergun tar quais os motivos de tal o missão. Resposta dlficll. quandosllencl.1do
"oc
está o carteio de Sena e Sophia: que já vai na 3.' edição, que SUSCilou vá rias receTtSões e que motiva um projeto ffimico da premiada Rita M.e\'edo Gomes. Resposta d ifícil. quando se sabe do car.lter In for mativo e da missão e m difwldir o livro português conseTL~u3lmente 3tri buídos ao portal que. c m tudo, dcveria ser modelar. Feli~.m ente agora o JI. tnlz à ribal13 o volume C0rrcsp0l1déllcla Joq,'f dt? Sen(l e Méda de .$erl(l .. Viw ,,"uom" (1959- 191>5). organizado por Maria O ltlia Pereira Lage, editado no d«."Orrer do Ano de 1\Jrtub'Ul no Brusil 11\IlOJo 8rusi1 em Portugu/' que com-
mos signatários. No mais, poucos dispersos. Na obra scniana é qua.'iC supérfluo [risar o vÍb'Or produtivo d e sua "(ase brasileira". haja vi~ta a exteTL'>àu, di\'Crsldade e qualidade p.1tentes nesses anos de plena democracia então vividos no país. Mas. além de numerosos ]lOCmas an tológicos. ressalte -se a pujança da sua prosa tlt:donal (contos. novela. romance) e da cns.1istlca (mol1l1ente 3 que elege CamÕt.>s, sob o incentivo da docência académica ora encetada em Assis e Araraquara). a par da colaboraç30 pcriodisticade cariz politico, im pr.lticá\'cJ cm terra 1us.1, t'Sta mp,1da
SObrchldo no jorn;l13ntiAAatazarist3 1\JrtUb'U1 Democnítico, circulante em São Paulo d~c 1956. Portanto. não houvesse outro valor nessa correspondência, ela atesta a<lllilo que An tónioCândido' c hamou "0 m istério do tempo na vida de Jorge de Serm": uma versatilidade com profu ndidade que lhe permitiu produzir tanlOem tão pouco tempo. A experiência inaugural du ex ílio salta das missivas sob inúmeros matiles de ralão e emoção, cer rando 3inda mais os vínculos de :unorosa c umplicidade entre o casal, ja acostumado a longa prática epistolardcsde os tem pos de namoro. vivendo cada wn em sua cidade. Sem dúvida rastreável ao longo desta.~ 127 cartas eronologiC3mente dispostas e 3mplamente anotadas, a brasilei ra "vira nuovu" (segundo Mécia) traz novos contornos à relação entre esse out ro Dante e essa bem outr:r. Beatriz que 3.~ eonting~nclas transp lant aram para os tTÓpicos. A prOpOO ito do poeta florentino. vale c itar palavras de Eduardo Sterzi l , em tudo aplicáveis ao Sen3 que ta nto usa as p31avras " testemunho" e " met:unorfose":
Mk ia " Jorg" d, Sena - Exibem a fr~,it ti", d" gra nd"za " p"que~z 'lu" mo td a os humanos" tudo 'lu , carta um útil espelh o dessa huma n l dad,,~
pib a correspondência, quase toda inédita , trocada entre marido e nlU lhe r durante o "período brasileiro", ou seja. desde que o escritor partiu sozinho de I.isbo.1, até o embar <[ue de tod3 a famili3 em São !':lulo rumo 30S USA. Obscrvadoo CS(.'OpO cronológlco. tnta-sc, portanto. da única scquéncia completa de cartas do casal aCl'Sslvel ao públit:o leitor. visto que no livro Isto tudo que 1lQ..~ rodeia (1982) Mêcia sóeditou uma bn..'\lC sclcçoo. n..'Strita aos anos 40. da vasta inlen ocução entre os mes -
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A eX"llc .. iêl1ci~l il1~llIglll";'ll
do cxílio SOlllol das lIIissi";ISsob inúmcros 111;.11 izcs dc 1";'ll..io c em(M,;:io cCITaIK!«) ainda , nmis os \'íllCUlosdc
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cumpl k:idacle enlre () casal
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rodeia, t o rn ando a
"Toda sua obra se construiu cm torno de um núcleo autobiográfi co, tendo sempre à fren te, mesmo nos momentos de mais fantá~lica idealização. um cu poético que se 3presentava C()mo coincidente com o cu em pírico do au tor. ,\inda que, cm menor ou maior grau , trans f1 bTUf'Jdas. foram as experiências cfct ivamenlt: vividas por Dan te que e le tomou como pontos de partida paT3 seus textos" . Na introduo:;ão, a urganizadora do livro optou por uma leitura
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) Mudu Otmu P''Tdru Lug~ (Org.,
CORRESPONDÊNCIA JOIWEDESENAE MECIA DE SENA «VJTA NUOVA» (BRASIL 1959/1965) CIKfM ~ Ediçón Ajlooll>m."to. 296 pp.• Ihulo$
fXlrl JXI.'i.<;'U no te~todas cartas, ma~ abrindo vias ao leitor para que per corra um quotidi31loem constante ebulição - seja pela a nb'lÍStia dos desencontros epistolares, seja pelos tormentos financeiros que sempre perseguiram os Sena, seja pelos enredos burocrá ticos que precederam as viagens Portugal - Bra..~i l e Brasil-USA, seja pelas pressões de vária ordem que rcsuil3ram na enorme p rodutividade do escritor, seja pela saud3de omnipresente ... Contudo. per meando as turbu lê ncias ou os remansos, a fruição cultural nWlC3 abandonada: livros. filmes, teatro, concertos aqui e ali comen tados por ambos. Há ainda a presença bcnfa:zeja de in cont á veis amigo s. não raro a garantia de entrega destas cartas quando sobravam ameaças de intetcetação. como no perlodo que vai de agosto a ouhlbro de 59 (M&:ia em Porlllga1. Jorge no Brasil), responsável pelas 86 cart as do primeiro e mais denso subconjun to do volume. />. fim de com p le me ntar a conllguração pessoal, familiar, profis siona l e sociopolítica que enquadra o carte io Jorge- P>têcla, conviria 3proxim â - lo da correspondênci.1 enviada por Sena a seus pan..'S e amigos, já editada. scguindoos passos pioneiros de José Francisco Costa, em A Corresllondl?ll<"ÍU de Jorge de Sena - 1IIr1 outro espaço da sua eSl.7itu, que tanto contem plam o substrato autobiogmtlt:u dt>$SC corpus. como 3 sua arquitetura estética, erigid a sobre o terreno da palavra t'Serita. passí\"C1 de infinitos recortes intra e illtcrtextua/s. Enllm. nt'Ste "diãlogo ininterrupto e diáriu a qU3tro lII;1os"'1, Mêcla e Jorge exibem 3 frágilllga de grandC".l3 e pequellezque molda os humanos e tudo que os rodeia. tornando a carta um úti l espelho dessa hum anidade . .11. 1Palnlm ~m AfOfO""'fO, 1/9/19'98. diSpOlllootl t>I) $itt "Ltr Iorgt dt St",,"
2 "D<lnt~ - pOtrnos out<>biOgrdjlo:os". E"r~ Livro>, n'J3. /!!<Ir. 2001 1 01,1io LI>9<', p. 39 do 6vtC ~m p"u'" , Prof' t~rifa da Uni". kdfo",/ dI> Rio d. !a'>tiro: topt<iol!Slo t m l!rt ralUfO porruguno, nomtQl}am. nlt .m!Oigt dt Stnl>. Oirig. ainda <lU Ltr /Org<' de
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