Gatsby Magazine

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EDIÇÃO 1 | ANO 1 | JUNHO DE 2011

CONTRA A CORRENTE

F. SCOTT FITZGERALD O NOME POR TRÁS DE O GRANDE GATSBY

BANKSY O ANÔNIMO MAIS FAMOSO DO MUNDO

distribuição gratuita

WIM WENDERS O NOME DO NOVO

BUENOS AIRES OS MELHORES LUGARES PARA VISITAR NA CAPITAL PORTENHA 1


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DIZ OI

A revista Gatsby pretende romper o estereótipo da geração jovem convencionalista e hedonista trazendo artigos com enfoque na área cultural. Nossa revista é para os que nadam contra a corrente. Assim, trataremos de assuntos como música, cinema, literatura e política de uma maneira divertida e dinâmica. O nome foi escolhido como referência e homenagem ao renomado romance do autor americano F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby, lançado em 1925. O livro trata de uma grande metáfora do sonho americano, retratando a sociedade extremamente materialista e fútil dos anos 20. A narrativa do romance, apesar de sutil, faz uma clara crítica aos valores da sociedade, assim como a revista pretende questionar os padrões da sociedade atual. Para a edição de lançamento, selecionamos como matéria principal alguns aspectos da vida do autor F. Scott Fitzgerald e como o seu romance O Grande Gatsby tem influenciado diferentes gerações desde seu surgimento. Aqui, Gatsby visita, lê, indica museus, livros, exposições e traz as melhores referências culturais da cidade de São Paulo para os seus leitores. Preparamos um guia não-convencional da cidade de Buenos Aires para que você veja a cidade com o olhar do turista que está aberto às surpresas que a cidade oferece. Ainda em relação ao olhar, entre no universo do cineasta Wim Wenders, e conheça seu ponto de vista sobre o mundo do cinema, o que a crítica pensa sobre sua obra e sua trajetória pessoal. Nossa revista ainda o presenteia com um poema visual, que dialoga com o último parágrafo do romance “O grande Gatsby” e propõe uma reflexão sobre os demais temas aqui abordados. Convidamos o nosso leitor a remar contra a corrente conosco em busca da luz verde.

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y Gatsb


EXPEDIENTE

Diretor de Redação JOÃO PAULO RODRIGUES Redator-Chefe LÚCIO RIBEIRO Editores GABRIELA SILVEIRA E HERNANI FREITAS Edição de Arte PAULO DA COSTA E LUIS MIGUEL Arte de capa MADSBERG Projeto Gráfico LETÍCIA CONTE LORENA BÓSIO MARIA ELISA ZAIA MARIANNE MENI SUSANA RODRIGUES NICKOLAS SERTEK www.gatsby.com.br redacao@gatsby.com.br

Projeto Integrado das Disciplinas Projeto III - Cultura e Informação Profa. Marise de Chirico Marketing II Profa. Vivian Strauss Módulo Cor Profa. Paula Csillag Língua Portuguesa III Profa. Regina Ferreira da Silva Produção Gráfica Prof. Antônio Celso Collaro Graduação em Design 2011/3A

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SUMÁRIO

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VISITA LÊ

FOTOGRAFA RESPONDE

10 Ah, os lugares aonde você irá! 12 Bukowski: O velho mais safado da literatura mundial 16 Larry Towell 18 E se Paul McCartney tivesse morrido?

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APRESENTA NA CAPA DESEJA ESCUTA

20 As mais lindas de todos os tempos 22 F. Scott Fitzgerald 30 Seleção de compras 32 The Strokes


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40 QUESTIONA ENTREVISTA APRECIA ASSISTE

36 Mídia e Poder na sociedade do espetáculo 40 Wim Wenders 44 Banksy 48 Wagner Moura

VIAJA ESCREVE CRIA

52 The Strokes 56 Mídia e Política 57 Poema Visual FIM.


AH, OS LUGARES ESCHER

Escher é ainda hoje é um dos artistas mais admirados do mundo. A exposição “O Mundo Mágico de Escher”, está em cartaz com 95 obras no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. QUANDO? a partir do dia 19 de abril, de terça a domingo, das 9h às 20h ONDE? CCBB – Rua Álvares Penteado, 112 QUANTO? entrada franca INFORMAÇÕES? www.bb.com.br/cultura

GRACE KELLY

Momentos marcantes da trajetória percorrida pela princesa de Mônaco poderão ser apreciados na exposição “Os Anos Grace Kelly, Princesa de Mônaco” reúne 900 objetos que revisitam a vida da diva que conquistou o mundo. QUANDO? de 5 de maio a 10 de julho de 2011 ONDE? Museu de Arte Brasileira da FAAP – Rua Alagoas, 903 – Higienópolis QUANTO? entrada franca INFORMAÇÕES? www.faap.com.br

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VISITA

AONDE VOCÊ IRÁ! LEONILSON A exposição Sob o Peso dos Meus Amores, explora o cotidiano e o processo criativo de José Leonilson. São mais de 300 obras algumas inéditas no país -, além de agendas e cadernos do artista. QUANDO? 16 de março a 29 de maio ONDE? Itaú Cultural – Av. Paulista, 149 QUANTO? entrada franca INFORMAÇÕES? www.itaucultural.com.br

BOB DYLAN

A Cinemateca Brasileira celebra neste mês os 70 anos do cantor e compositor Bob Dylan. A mostra de vídeos oferece um retrato da complexa personalidade desse expedicionário da música folk. QUANDO? 24 a 29 de maio de 2011 ONDE? Cinemateca – Largo Senador Raul Cardoso, 207 – próx. ao Metrô Vila Mariana QUANTO? entrada franca INFORMAÇÕES? www.cinemateca.com.br

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DIOGO SALLES

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LE

BUKOWSKI O VELHO MAIS SAFADO DA LITERATURA MUNDIAL

Para alguém tão identificado com os Estados Unidos, é surpreendente que Charles Bukowski, ou o Velho Safado, apelido pelo qual também era conhecido e que o acompanhou por toda a vida, tenha nascido na Alemanha. De pai americano e mãe alemã, Bukowski mudou-se para a América com apenas 2 anos de idade em 1922. A familía de Bukowski chegou ao Estados Unidos justamente durante a Depressão. Consta que seu pai, cronicamente desempregado, se

“ALGUNS HOMENS NUNCA ENLOUQUECEM. QUE VIDA HORRÍVEL ELES DEVEM LEVAR” embebedava e batia nele. Isso e mais uma acne crítica e renitente faziam o jovem Bukowski se sentir profundamente indesejado, tema que transparece em seus romances e poemas, em especial no autobiográfico Misto-Quente. Boa parte de sua obra, aliás, é explicitamente sobre si mesmo. Cartas na Rua, de 1971, que aborda a sua experiência nos Correios durante as décadas de 1950 e 1960, é também a estréia do seu mais famoso personagem e alter ego literário Henry Chinaski.

POR LUCIO MALFOTE

Além dos correios, Bukowski escrevia poesias e matérias jornalísticas para várias revistas de Los Angeles. Todo dinheiro que ganhava gastava com bebida e putas, viva na pobreza. Apesar de ser identificado com a geração beat, ele resistia a esse rótulo, preferindo ficar só. Bukowski viveu toda a sua vida adulta na cidade de Los Angeles, uma relação ambígua que assoma em sua obra: se as corridas de cavalos, bares e putas foram suas companhias fiéis em seus últimos anos, há também o sentimento de que Los Angeles pode ser uma cidade impessoal e implacável. Bukowski morreu de leucemia aos 73 anos, deixando uma esposa, Linda, e uma obra que é a própria “biblioteca do outsider”, estilisticamente única e tematicamente solidária àqueles que ele nunca deixou: os que estão à margem da sociedade e aqueles que não se encaixam em padrão nenhum.

PARA LER Misto-Quente, Charles Bukowski Ed. Martins Fontes, 245 págs, R$32 Cartas na Rua, Charles Bukowski Ed. Martins Fontes, 300 págs, R$19 13


RECOMENDA

LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER UA:BRARI

Zaldo é filho de um rico empresário brasileiro e viaja à Amazônia a negócios.Embrenha-se na mata e desaparece. Um ano depois, chega a notícia de que ele é tratado como messias pelos povos da floresta. Lidera uma seita. Chamam-no de Ua:brari -segundo lenda dos índios Macuxi, Ua:brari era um jovem que conhecia o caminho para o outro lado do mundo. Um jornalista e antigo amigo é convocado pela família de Zaldo para fazer uma expedição à Amazônia e trazer o rapaz de volta .Histórias de corrupção e mentira surgem diante do repórter, mas ele não deve revelar a ninguém sob a ameaça de perder a vida. Marcelo Rubens Paiva, Ed. Objetiva, R$41,50

RETALHOS

O autor retrata sua história, da infância até a vida adulta, numa cidadezinha de Wisconsin, no centro dos EUA, que parece estar sempre coberta pela neve. Seu crescimento é marcado pelo temor a Deus, seu colégio, seu pastor e as trágicas passagens bíblicas que lê -, que se interpõe contra seus desejos, como o de se expressar pelo desenho. Ao mesmo tempo Thompson descreve a relação com o irmão mais novo, com quem ele dividiu a cama durante toda a infância. Conforme amadurecem, os irmãos se distanciam. Craig Thompson, Ed. Quadrinhos na Cia, R$52

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LARRY TOWELL

Towell nasceu em 1953 em Ontário no Canadá e se tornou fotógrafo, poeta e historiador. O namoro com a fotografia começou nos tempos de estudante. Towell comprou sua primeira câmera e aprendeu a técnica da revelação durante o curso de artes visuais da Universidade York, em Toronto (Canadá). Pouco depois, aos 23 anos em 1976, o jovem seguiu para uma temporada de trabalho voluntário em Calcutá. A experiência toda foi registrada em textos e fotos, mas a carreira profissional mesmo só decolou a partir de 1984, quando ele passou a trabalhar como fotojornalista independente entre poemas e acordes de músicas folk. Com a cobertura das guerras civis da América Central, Towell conquistou muitos prêmios e projeção internacional. Suas imagens foram publicadas em importantes veículos, entre eles o The New York Times, Rolling Stone e a Life, e também em livros como El Salvador (1997), sobre a revolta camponesa naquele país, e Then Palestine (1999) e No Man’s Land (2005), que documenta a vida nos campos de refugiados palestinos. Já The Mennonites (2000) faz um registro impressionante sobre a seita de mesmo nome, existente no México. Ele trabalha sempre com filmes tradicionais, abstendo-se de opções digitais: “Preto e branco é ainda a forma poética da fotografia. Digital é o momento, preto e branco é um investimento de tempo e de amor.” Ele também trabalhou com câmeras panorâmicas, que lhe permitem fotografar as ‘paisagens de destruição’ - olhando para os seres humanos e o seu lugar na paisagem.

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O ESCRITOR Paul Thomasch O SITE www.larrytowell.com


FOTOGRAFA

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APRESENTA

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EPAULSEMCCARTNEY

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TERRY RICHARDSON

TIVESSE MORRIDO


RESPONDE

SEGUNDO A MAIOR LENDA URBANA DA MÚSICA, O VERDADEIRO PAUL BATEU AS BOTAS FAZ TEMPO. E FOI SUBSTITUÍDO POR UM IMPOSTOR. POR ALEXANDRE CARVALHO A data da tragédia: 9 de novembro de 1966. Paul teria morrido num acidente de carro, mas, como os Beatles eram uma máquina de dinheiro, seu empresário teria arrumado um sósia para substituí-lo. E se ele tivesse realmente morrido? A história da banda viraria de ponta-cabeça. Sem o conflito de egos entre os “donos da banda”, Lennon não teria saído; o som dos Beatles seria menos experimental, mas instrumentalmente mais sofisticado, e Sgt. Pepper’s, eleito pela revista Rolling Stone o disco mais influente da história, não existiria, deixando órfãs as bandas que se inspiraram nele. Mas o menor sucesso teria também poupado a vida de Lennon. Já George Harrison teria morrido de qualquer jeito em 2001, de câncer.

THE BEATLES NO BEIRA RIO

BEATLES UNPLUGGED

Em 1966, os Beatles decidiram encerrar suas turnês para se dedicar apenas à composição e aos estúdios. Mas não demorariam a mudar de ideia - sem hits que Paul criou a partir de 1967, como Let It Be, Hey Jude e Get Back, o sucesso da banda cairia, e, com menos discos vendidos, buscariam faturar com shows.

Talvez a melhor coisa que aconteceu aos Beatles foi sua separação. Sem Paul, o grupo deveria continuar forte nos anos 70. Mas só até aí, pois não estaria imune às breguices dos anos 80. A redenção só viria em 1992, quando um Acústico para a MTV reviveria as melhores baladas compostas por Lennon, Harrison e Clapton.

ALL YOU NEED IS SURF

PARADO NO DARK SIDE

Brian Wilson, dos Beach Boys, era o grande concorrente de Paul. Mas a competição terminou quando Brian ouviu Sgt. Pepper’s pela primeira vez. O beach boy viu que não tinha como superar McCartney e não concluiu seu álbum Smile, superesperado na época. Sem Paul, o disco sairia, Brian viraria um deus, e teríamos o Oasis regravando Surfin’ in USA.

Sgt. Pepper’s e companhia abriram os ouvidos da indústria fonográfica para aquilo que viria a ser o rock progressivo nos anos 70 - já havia o Pink Floyd nos 60, mas, sem Paul promovendo a música experimental, não teria virado o que virou. O que entraria no lugar do progressivo? Talvez a música eletrônica, que de fato começou em 1970, com o Kraftwerk. 19


APRESENTA

AS MAIS LINDAS DE TODOS OS TEMPOS POR THAIS MARTOS

O ilustrador José Luiz Benício, teve um privilégio raro: por 20 anos, retratou cerca de 300 mitos do cinema.Entre eles, as atrizes mais lindas do mundo. “Posso dizer que sou um homem realizado. Pintei todas as mulheres que chamaram minha atenção”, brinca ele. Gaúcho, 74 anos, Benício criou cartazes de cinema memoráveis, feitos com tinta guache e baseados em fotos dos artistas caracterizados como personagens de filmes. Eram coisas fantásticas, como o poste de Audrey Hepburn que anunciava o filme My Fair Lady. Com a chegada dos recursos tecnológicos, esse tipo de ilustração ficou meio esquecida. Mas agora, Benício vem recebendo homenagens uma atrás da outra- que vão de exposições ao ótimo livro Sex & Crime - The Book cover art of Benício(editora Reference Press), que reúne também ilustrações feitas para a revista Playboy e campanhas publicitárias.

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f. scott fitzgerald F. Scott Fitzgerald deve ser considerado mais do que um romancista. ĂŠ um cronista, uma testemunha ocular e a voz de anos divertidos, intensos e apaixonados que nĂŁo voltam mais. POR LUCAS MOURA


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A ERA DO JAZZ Francis Scott Key Fitzgerald (1896-1940), romancista norte-americano, nasceu em Minnesota nos Estados Unidos. Foi soldado voluntário na I Guerra Mundial, mas não chegou a participar dos combates na Europa. Tornou-se conhecido como o memorialista da era do jazz dos anos 20. Seu romance mais famoso, O grande Gatsby de 1922, descreveu a degradação moral que acompanha a riqueza e o sucesso. Outro romance, Suave é a noite, de 1934, relata a insatisfação de Fitzgerald com a vida burguesa e sem raizes que teve na Riviera Francesa, envolvido com a doença mental de sua mulher Zelda, com sua própria melancolia e o alcoolismo.

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O autor costuma ser pouco lembrado por seus contos. Muito por ter como companheiro de geração Ernest Hemingway, considerado um dos principais artífices do gênero na literatura americana do século 20. Fitzgerald é mais citado por seus grandes romances. Antes de mais nada, é preciso dizer que Este Lado do Paraíso que retrata um momento de transição na cultura americana: a passagem do ascetismo religioso focado no trabalho para um momento em que se torna possível gozar sem culpa os bens materiais por ele gerados. foi o único romance de Fitzgerald que vendeu bem. Todos os outros encalharam nas livrarias, e só foram redescobertos de forma decente depois de sua morte. Para sobreviver,

o autor escrevia contos em peso para revistas e outras publicações. Era a maneira de manter os excessos da famosa década de 20, época da Geração Perdida e, como classificada pelo próprio Fitzgerald em um livro de contos, A Era do Jazz, “uma era de milagres, uma era de arte, uma era de excessos e uma era de sátira”. O termo jazz aqui vale não para a música tocada nas festas e celebrações - esta começaria a se desenvolver na década seguinte -, mas para todo o comportamento jovem da época, desde corte de cabelo até o modo de dançar e se vestir. Com o trunfo comercial norte-americano durante a Primeira Guerra, o dinheiro estava sobrando entre os burgueses. E eles viviam em farras que duravam dias, porres homéricos,

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férias na Riviera Francesa. Os americanos só não contavam com a quebra da bolsa em 1929 e a profunda depressão que se seguiu. E assim, foram-se as farras e a prosperidade. É sobre esta aristocracia que Fitzgerald escreve (para profundo desgosto de Hemingway, que dizia que Fitzgerald só escrevia sobre ricos). Toda a sua obra possui fortes traços autobiográficos, e vários pequenos incidentes e situações realmente aconteceram com o autor. Mas na maioria deles, Scott participou apenas como observador.

ZELDA& FITZGERALD É importante destacar a importância de Zelda Fitzgerald aqui. Eles se conheceram quando ainda eram estudantes, e só puderam se casar depois que Scott virou sucesso com Este Lado do Paraíso. O casal viveu uma relação de muito amor e ainda mais ódio, entre tapas, beijos e bebedeiras. Depois de um colapso nervoso, Zelda acabou enlouquecendo, foi internada em vários hospícios e o marido acabou no alcoolismo. Por isso não é raro encontrar moças dominadoras e rapazes beberrões em sua obra. Faltam em Fitzgerald as inovações estilísticas dos contos de Hemingway. Ele compensa isso com lirismo. Seus personagens são cativantes, e estão sempre em busca de um amor que os salve, mesmo que se autosabotem muitas vezes. Tudo o que estes personagens querem é amar e serem amados, de todas as formas. Com toda essa habilidade e minúcia para transmitir o sentimento de uma geração, F. Scott Fitzgerald deve ser considerado mais do que um romancista. É um cronista, uma testemunha ocular e a voz de anos divertidos, intensos e apaixonados que não voltam mais. 26


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DESEJA GATSBY OUVE

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1 Nixon The Time Teller P, R$326,00 2 Lápis Jack Disney, R$9,00 3 Lápis Caran d’Ache 12 Cores, R$66,50

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4 Ray Ban Clubmaster RB 3016, R$595,00 5 Moleskine Le Petit Prince, R$73,00 6 Relógio Mini Vermelho R$5,00


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7 Moleskine Packman R$73,00 8 Câmera Diana, R$100,00 9 Moleskine Música R$73,00

10 Pelúcia The Cookie Monster, R$60,50 11 Camiseta Threadless, R$40,00 12 Panasonic RP-HTX8, R$109,00 31


GATSBY OUVE

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ESCUTA

THE STROKES POR RICARDO SEELIG

ANGLES SERIA UM RETORNO ÀS ORIGENS DO STROKES. O DISCO PEGA OS ELEMENTOS BÁSICOS DO SOM DO STROKES, OS QUEBRA EM PEDAÇOS, DEPOIS MONTA TUDO DE NOVO E TRANSFORMA A MÚSICA EM ALGO MAIOR.

DIOGO SALLES

O processo de composição do disco teve início em janeiro de 2009. A banda entrou em estúdio em fevereiro daquele ano, mas o que prometia ser um parto fácil acabou se revelando extremamente complicado. Joe Chicarelli, renomado produtor com trabalhos para nomes como U2, Elton John e Frank Zappa, foi chamado para o álbum. Após gravar praticamente todas as faixas, a banda não ficou satisfeita com o resultado final e reprovou o trabalho de Chicarelli, recomeçando praticamente do zero no estúdio do guitarrista Albert Hammond Jr – apenas “Life is Simple in the Moonlight”, faixa que encerra “Angles”, manteve a mixagem original de Joe Chicarelli.

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ESCUTA

Segundo o baixista Nikolai Fraiture, “Angles” seria um retorno às origens do Strokes. A Rolling Stone, em seu review, diz que o disco “pega os elementos básicos do som do Strokes, os quebra em pedaços, depois monta tudo de novo e transforma a música em algo maior”. O disco começa bem com o surpreendente balanço reggae de “Machu Picchu”, faixa de abertura, que remete ao Talking Heads. A já conhecida “Under Cover of Darkness” vem a seguir e ratifica aquilo que todos nós já sabemos: é uma grande canção, provavelmente uma das melhores do ano. “Two Kinds of Happiness” transporta o ouvinte para 1985, e parece um b-side perdido do The Cars. O andamento repetitivo e hipnótico de “You´re So Right” reforça a influência da new wave da década de 1980 em “Angles”, como se o Strokes buscasse agora, ao invés da sonoridade setentista do primeiro disco, uma aura oitentista para a sua música. “Taken for a Fool” é uma boa faixa, mas, só para comparar com outra da safra 2011, está longe de ser memorável como “Under Cover of Darkness”. Já “Games”, com uma equivocada sonoridade eletrônica, soa totalmente desnecessária e fora de contexto. “Call Me Back” brinca com a bossa nova, mas o resultado é uma composição totalmente esquecível, que vai do nada para lugar nenhum. O trem volta aos trilhos em “Gratisfaction”, dona de um ótimo refrão e cara de futuro single. “Metabolism” tem boas guitarras, e só isso, enquanto “Life is Simple in the Moonlight” encerra o álbum de forma agradável e cai nas graças dos fãs.

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Chama a atenção em “Angles” o grande contraste entre “Under Cover of Darkness” e as demais faixas. A sonoridade do primeiro single remete aquilo que os fãs estão acostumados e estavam esperando ouvir, enquanto as nove faixas restantes trazem a banda em busca de novos caminhos sonoros que, na maioria das vezes, não levam a lugar nenhum.

A SONORIDADE DO PRIMEIRO SINGLE REMETE AQUILO QUE OS FÃS ESTÃO ACOSTUMADOS E ESTAVAM ESPERANDO OUVIR, ENQUANTO AS NOVE FAIXAS RESTANTES TRAZEM A BANDA EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS SONOROS. O álbum revela uma banda um tanto perdida, tentando inserir novos elementos em seu som, mas patinando feio na maioria das vezes, tanto que a melhor faixa não tenta reinventar só traz de volta a identidade sonora dos primeiros anos. Se tivessem feito apenas isso, os caras teriam gravado um grande álbum, mas como quiseram inovar, acabaram se perdendo pelo caminho. No final das contas, a expectativa sucumbiu à decepção. ESCUTE

lançamento: 22 de março de 2011 Angles, The Stokes Sony Music R$ 24,90


RECOMENDA

BANDAS PARA OUVIR ANTES DE MORRER ARCTIC MONKEYS

Arctic Monkeys é uma banda de rock britânica formada em 2002 nos subúrbios da Inglaterra. A banda é geralmente considerada parte da cena indie rock A banda é formada por Alex Turner (vocal e guitarra), ‘Cookie’ Jamie Cook (guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Matt Helders (bateria e vocais). O baixista original, Andy Nicholson deixou em 2006. Sheffield, Inglaterra, Reino Unido (2002 – presente) ; Rock Alternativo

THE KOOKS

The Kooks foi formado em Brighton, no Reino Unido, quando todos os integrantes da banda ainda eram estudantes. A banda é formada por Luke Pritchard (voz, guitarra), Hugh Harris (guitarra), Peter Denton (baixo) e Nick Millard (bateria). Nick está preenchendo para Paul Garred devido a uma lesão no braço recentes. Brighton, Inglaterra, Reino Unido (2004 - presente); Indie Rock

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MÍDIA E PODER NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

GETTY IMAGES

POR CLAUDIO NOVAES PINTO

A ELEIÇÃO DE DILMA RETOMOU O DEBATE SOBRE A INFLUÊNCIA DOS GRANDES CONGLOMERADOS NA OPINIÃO PÚBLICA Um dos principais equívocos sobre a sociedade contemporânea é o argumento de que o conjunto dos meios de comunicação, a mídia, é a instituição social mais poderosa. Fazem parte desse argumento expressões problemáticas como “sociedade midiatizada”, “cultura da mídia” etc. O conceito de “indústria cultural”, ainda que tenha sido criado por Adorno e Horkheimer na primeira metade do século passado, explica muito melhor a atuação dos meios de comunicação do que o termo “mídia”, pois destaca a dimensão econômica da comunicação. No livro Dialética do Esclarecimento, publicado em 1947, já indicavam que os conglomerados empresariais que atuam na comunicação são fundamentais para a existência da sociedade capitalista, mas que seu poder depende do poder dos conglomerados empresariais de modo geral.

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QUESTIONA

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO E CAPITALISMO

A própria expressão “sociedade do espetáculo” pode dar margem a interpretações equivocadas, se for entendida como o poder que as imagens exercem na sociedade contemporânea. É certo que Guy Debord, o criador desse conceito, definiu o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens. Mas ele também deixou claro que é impossível a separação entre essas relações sociais e as relações de produção e consumo de mercadorias. A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens. O papel desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra perfeitamente bem o que Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por imagens. Mas, se a sociedade do espetáculo só pode ser compreendida dentro do contexto da sociedade capitalista, isso não quer dizer que só nessa forma de vida social ocorre a produção de espetáculos. A produção de imagens, a valorização da dimensão visual da comunicação, como instrumento de exercício do poder, de dominação social, existe, conforme argumenta Debord no livro Sociedade do Espetáculo, publicado em 1967, em todas as sociedades onde há classes sociais. O que permite a caracterização do capitalismo como a sociedade do espetáculo é o caráter cotidiano da produção de espetáculos, a quantidade incalculável de espetáculos produzidos e seu vínculo com a produção e o consumo de mercadorias feitas em larga escala.

O PODER ESPETACULAR

Assim como o conceito de “indústria cultural”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte de uma postura crítica com relação à sociedade capitalista. Não são conceitos pensados de maneira puramente acadêmica, como capazes apenas de descrever as características

sociais, mas fazem parte de uma construção teórica que procura apontar aquilo que se constitui em entraves para a emancipação humana. Em 1988, Debord publica os Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo, reconhecendo que, em vez de a sociedade do espetáculo ser destruída, ela se fortaleceu no período histórico posterior às lutas sociais de 1968. Nesse texto, ele afirma que a produção de espetáculos tomou conta de toda a vida social; o poder espetacular manifesta-se agora de forma integrada, já que desapareceram os movimentos sociais de oposição, que se assimilaram à sociedade capitalista e não defendem mais sua superação. A análise feita por Debord em 1988 a respeito do poder espetacular corresponde ao momento do triunfo do neoliberalismo em escala mundial. Com o neoliberalismo, o poder dos conglomerados comunicacionais fortalece-se e a indústria cultural, articulada mundialmente, transforma-se no porta-voz ideológico do capitalismo, desqualificando qualquer visão contrária a ele como ultrapassada, promovendo assim o pensamento único, em relação ao qual não há alternativa.

O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO A atual crise econômica, que se manifesta intensamente nos Estados Unidos e na Europa, está provocando um abalo significativo no neoliberalismo e no pensamento único. Na América Latina, esse abalo teria começado antes, com a ascensão ao poder de líderes políticos considerados de esquerda. No entanto, não é muito fácil avaliar se essa ascensão significou efetivamente um abalo no neoliberalismo, já que, na prática, são governos com atitudes bastante distintas. No Brasil, por exemplo, em que pese a melhoria das condições de vida da maioria da população com a diminuição das desigualdades sociais, houve, em linhas gerais, uma manutenção da política econômica neoliberal. Além disso, nas campanhas eleitorais e durante os mandatos presidenciais de Lula ocorreu uma farta

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QUESTIONA

utilização das técnicas de marketing para a produção de imagens espetaculares capazes de garantir sua eleição, reeleição e altíssimos índices de popularidade. A vitória da candidata Dilma Rousseff significou a retomada do debate sobre um eventual declínio da capacidade de os grandes conglomerados comunicacionais influenciarem a opinião pública. Esse debate já havia acontecido à época da reeleição de Lula, quando a atuação desses conglomerados, com a divulgação intensa de “escândalos” envolvendo figuras importantes do PT, contribuiu de forma decisiva para a existên-

“É POSSÍVEL QUE O GOVERNO DILMA AVANCE NA DIREÇÃO DE UMA POSTURA IDEOLÓGICA DE ESQUERDA DEFINIDA, DIMINUINDO O USO DA PRODUÇÃO DE ESPETÁCULOS POLÍTICOS” cia do segundo turno eleitoral, que, no entanto, foi vencido por Lula. Na campanha de 2010, a atuação dos grandes grupos comunicacionais, em especial a mídia impressa, foi ainda mais forte contra a candidata do PT, mas o resultado final foi o mesmo: houve um segundo turno vencido por Dilma Rousseff. Um aspecto importante, que precisa ser levado em consideração, é que é a mídia eletrônica, em especial a Rede Globo de Televisão, a principal mídia capaz de influenciar a opinião pública em escala nacional, atingindo todas as classes sociais. Também precisa ser levado em consideração que, em São Paulo, o PSDB governa o estado há mais de uma década, com total apoio da chamada grande mídia. Além disso, José Serra foi o candidato à Presidência mais votado no estado, evidenciando o

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peso das posturas políticas mais conservadoras, amplamente hegemônicas no jornalismo dos grandes conglomerados comunicacionais. Embora o governo Lula não possa ser considerado um governo que rompeu com o neoliberalismo, só o fato de ele ter sido um líder operário eleito pelo partido que se afirma como defensor dos trabalhadores e com um passado político vinculado à defesa de posições de esquerda já foi suficiente para gerar uma forte onda conservadora na grande mídia, especialmente na mídia impressa. Se essa onda conservadora não foi capaz de superar a imagem positiva de Lula trazida principalmente pela retomada do crescimento econômico acontecida em seu governo, ela não pode ser deixada de lado e se fez presente com força na campanha eleitoral de 2010, principalmente em torno da questão do aborto. Como o passado político de Dilma Rousseff é ainda mais problemático do ponto de vista do conservadorismo político, visto que ela se envolveu na luta armada contra a ditadura militar, é provável que a reação conservadora seja ainda mais forte do que foi contra o governo Lula. Caso isso aconteça, é possível que o governo Dilma avance no sentido de uma ruptura com o neoliberalismo, ou pelo menos na direção de uma postura ideológica de esquerda mais definida, diminuindo o uso do marketing político e da produção de espetáculos políticos, inclusive porque, se Lula dificilmente sairá do cenário político, ele não estará mais ocupando a posição central.

PARA LER: Comunicação e sociedade do espetáculo Cláudio Novaes Pinto Coelho, Valdir J.Castro , Pedro Ramos Ed. Paulus, 245 págs, R$27


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ENTREVISTA

WIM WENDERS, O NOME DO NOVO

POR FERNANDO EICHENBERG

“A ÚLTIMA COISA QUE ME INTERESSA É QUE ALGUÉM ME DIGA SE O FILME É BOM OU É RUIM. QUERO DECIDIR ISSO EU MESMO” Dificilmente qualquer discussão sobre o moderno cinema europeu deixa de passar pelo nome de Wim Wenders. Juntamente com Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder, este alemão nascido em Düsseldorf (1945), ex-estudante de medicina e filosofia que estreou no longa com Verão na Cidade (1970), renovou toda uma tradição estética do seu país. O auge de sua obra aconteceu nos anos 70 e 80m com títulos como O amigo americano (1977), Paris, Texas (1984) e Asas do Desejo (1987), e a oscilação de sua fortuna crítica, que foi do deslumbramento dessa época ao desencanto da década de 90, acompanhou as idas e vindas de uma trajetória de inquietação artística. Porque se pode acusar Wenders do que for, mas nunca se encontrará no exercício de seu ofício um rastro de acomodamento: em filmes inegavelmente menos como Até o fim do mundo (1991) e Tão longe, tão perto (1993), o cineasta deu início ao projeto ambicioso de filmar um mundo em constante metamorfose, a geopolítica que se insinuava depois da Guerra Fria, uma era pós-utópica e ditada pela influência da tecnologia. Não à toa, boa parte desta entrevista foi pontuada pelo entusiasmo com as possibilidades ainda desconhecidas do novo cinema digital. Nada mais contemporâneo, e nada mais wenderiano.

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donata wenders

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G: Na sua filmografia, cinema e rock’n’roll estão quase sempre juntos. Como é essa relação? W: Cinema e rock’n’roll são, cada vez mais, as duas expressões contemporâneas mais precisas, mais espontâneas. Tenho a impressão de que todas as outras formas de reflexão, sobretudo o teatro ou a literatura, são demasiado lentas, pesadas. O cinema e o rock’n’roll são consumidos em harmonia com nossa época de consumo. De maneira direta, rápida. Por causa disso, podem ser bastante precisos na constatação da temperatura, do pulso da nossa época. O cinema é cada vez mais influenciado pela publicidade e pelo videoclipe. G: Como o sr. vê as críticas ao aspecto superficial dessa linguagem? W: Acredito que a palavra superficial não significa mais grande coisa. Toda nossa cultura, essa cultura da imagem, que se torna a principal cultura de nosso tempo, é extremamente superficial. E a natureza da imagem que nos mostra sobretudo a superfície. E o que quer dizer superfície? É a área, a extensão, não? Ela se torna cada vez mais refinada, interessante, de maneira que cada vez menos se quer ver o que há por trás dessa superfície. Vemos já todo um gênero de filmes que abandonam completamente a idéia de nos mostrar outra coisa que não seja a superfície. Tudo que está por trás, como a psicologia, já não interessa mais. 42

Mika Jovovich e Jeremy Davies em O Hotel de um milhão de dólares: esperança no amor

G: Como o sr. Vê hoje, a distância, o movimento de Wim Wenders, Rainer Fassbinder e Werner Herzog, que renovou o cinema alemão? W: Nos anos 70, até metade dos 80, com a morte de Fassbinder e um pouco também com a morte do cinema de autor, desenvolveu-se de uma maneira bastante forte esse novo cinema alemão. Foi, talvez, a última vez que o cinema de autor pode irromper de uma forma clara e maciça. As mesmas pessoas eram produtores, diretores e roteiristas. Hoje ainda vemos alguém que repete essa forma de cinema em algum lugar, mas acho que aquela foi a última vez que ela se manifestou como uma verdadeira força econômica e houve uma certa continuidade, com o jovem cinema alemão. Depois, eu fui para os Estados Unidos, Rainer nos deixou e Werner se retirou para fazer documentários. A onda do cinema alemão perdeu sua força em meados dos anos 80, eu mesmo ainda fiz um ou dois filmes nessa tradição. O último talvez seja Asas do Desejo. Talvez, ainda, Até o fim do mundo. Hoje trabalho com produtores, roteiristas, faço filmes como O Hotel de um milhão de dólares, realizado por um trio: Bono, Nicholas Klein e eu mesmo. O cinema de autor, por definição, é aquele que sai de uma só cabeça, e não faço mais filmes assim. G: O sr. Já manifestou simpatia pela obra de Jim Jarmusch, Quentin Tarantino e Gus Van Sant, por exemplo. Seria um pouco nessa linha o seu gosto pelo cinema? W: É, são esses nomes, sim. E também jovens que começam a trabalhar hoje, que estão montando seus primeiros filmes e criam uma certa atitude de revolta contra esse velho cinema que

fotos divulgação

GATSBY: O sr. afirmou certa vez que todo cineasta não tem mais do que duas ou três histórias para contar – às vezes, tem apenas uma. O problema seria encontrar uma nova forma de contar. Quais suas duas ou três histórias? WIM WENDERS: Eu mudei com o tempo. Acho que as duas ou três histórias que contei nos anos 70 acabaram se tornando diferentes. Não contei histórias de amor no começo da minha carreira. Aprendi, pouco a pouco, a ter confiança para contá-las. Falava sobretudo da necessidade do amor, mas desde um certo tempo comecei a tratar do amor como algo possível. O que acontece em O Hotel de um milhão de dólares é uma esperança de amor, mesmo que não tenha um final feliz.


ENTREVISTA

funciona à base de receitas. Esse cinema jovem é feito em grande parte, hoje, na Ásia. Não foi por acaso que a maioria dos prêmios do Festival de Cannes (em maio de 2000) foi para a Ásia. Há jovens por todo o mundo que querem entrar no sistema, que fazem um só longametragem, uma publicidade, e no dia seguinte estão inseridos na máquina e ficam contentes, porque era isso que queriam, fazer filmes de ficção científica de orçamentos grandiosos. Não digo que isso é o diabo, que é ruim. Também assisto a esses filmes, também gosto de ver os grandes espetáculos. Mas é preciso deixar claro que essa é uma forma de fazer filmes e não poderá nunca ser a única forma. Daí a minha simpatia por aqueles que reinventam o cinema hoje. E acho que que isso tem muito a ver com o cinema digital. É interessante, pois estamos justamente num momento em que cada um tem a liberdade de decidir o que vai reter de toda essa história do cinema analógico. O que vou guardar desse tesouro? Há coisas que me interessam? É preciso saber para, então, começar a traduzir no formato digital. A questão é saber digerir esse primeiro século de filmes para poder entrar no segundo, que pertence ao cinema ditigal.

Nastassja Kinski em Paris, Texas: clássico da época em que Wenders deslumbrava a crítica

G: O sr. revelou certa vez ter más lembranças das filmagens de Paris, Texas, Por quê? W: Tenho lembranças gloriosas de Paris, Texas. Mas, ao mesmo tempo, na época em que filmávamos, não achávamos tudo assim

tão glorioso. A qualquer hora, o Departamento de Imigração poderia ter interrompido nosso trabalho e expulsado toda a equipe. Metade da equipe trabalhou com um visto de turista, escondida. Se não tivéssemos popdido terminar o filme, teria sido um desastre. Fora isso, as lembranças de Paris, Texas são formidáveis. Foi genial. E vendo agora, mesmo o perigo foi um pouco heróico, mas na época não achávamos isso. Tínhamos medo. G: O sr. foi crítico de cinema quando tinha 23 anos. Quais as virtudes e os defeitos da crítica hoje? W: Talvez não possamos dizer virtudes e defeitos. A crítica não é feita de forma separada do resto do mundo. Ela se faz em meio a essa paisagem muito diferente, audiovisual, na qual se faz o cinema hoje. Se olho para a época em que era crítico de cinema, comparada à época de hoje, tudo mudou. Há muito pouca crítica independente, como era na época da Nouvelle Vague, como eram Truffaut e Godard quando escreviam sobre cinema. Hoje a crítica faz parte da indústria, é mais um serviço do que uma instituição independente. Raramente leio críticas em revistas sobre as quais posso dizer: “Ulalala, ele correu riscos”. A mais parte delas, sobretudo nos Estados Unidos, mas também na Europa, na França e Inglaterra, é uma crítica de opinião, é muito opinativa. O que gostava na crítica era essa capacidade de atrair o espectador para o filme, de falar de experiências, de explicar o contexto. A última coisa que me interessa é que alguém me diga se o filme é bom ou é ruim. Quero decidir isso eu mesmo. Eu tinha uma regra própria: só escrevia sobre filmes dos quais havia gostado. Hoje, tenho a impressão de que a crítica faz o contrário. G: O sr. acompanha o novo cinema brasileiro, de Walter Salles, por exemplo? W: Conheço Walter, seu cinema e também a pessoa. Nós vimos num festival de Cannes, participamos juntos de um debate sobre o futuro do cinema. Gosto muito dele. Mas devo dizer que é o único que conheço da nova geração de cineastas brasileiros. 43


APRECIA

BANKSY O ANテ年IMO MAIS FAMOSO DO MUNDO POR CELSO RODRIGUES


DAS RUAS AOS LEILÕES, CONHEÇA A TRAJETÓRIA DO ARTISTA QUE FOI INDICADO AO OSCAR DE MELHOR DOCUMENTÁRIO ­– OU SERÁ MELHOR PEGADINHA?

O choro da senhora parou a rua. Sua casa fora pichada com uma paródia da família real - e a prefeitura, insensível, pintou por cima. “Era parte de nossas vidas. E agora, se foi”, afirmou à BBC Sofie Attrill, 50 anos e recém-exproprietária de um grafite de Banksy, o artista de rua mais badalado da história. A prefeitura lamentou o erro.

 O episódio, ocorrido no leste de Londres em setembro de 2009, mostra como anda alta a cotação do grafiteiro. Se resolvesse vender a obra, pintada em 2003, Ms. Attrill perderia uma parede e ganharia muito dinheiro - não seria a primeira. Já as desculpas oficiais mostram que Banksy recebeu um privilégio inédito: quase-licença para pichar. Na verdade, se as autoridades inglesas quisessem se entender com ele, seria complicado: sua identidade é secreta.

 Banksy tornou-se o anônimo mais famoso dos últimos anos. Seu trabalho mudou o olhar sobre a arte de rua. Com spray, faz críticas políticas, à sociedade e à guerra, mas sempre com um humor sombrio e uma sacada. Também se especializou em ações espetaculares, como na vez em que pôs um boneco vestido de prisioneiro de Guantánamo dentro da Disneylândia. Com prováveis 40 anos, ele segue experimentando: é o diretor de Exit Through the Gift Shop (“Saída pela loja de presentes”), documentário sobre um francês que o persegue, indicado ao Oscar. Hoje suas obras se espalham por Londres, Los Angeles,

Nova York, até no muro que separa Israel e Palestina. Mas tudo começou em Bristol, no interior da Inglaterra, onde Banksy já dava sinais de que iria longe.

ANONIMATO E FAMA
 “Ele quer superioridade absoluta sobre qualquer coisa com a qual lida. Quando estava em Bristol, ele não queria dividir o topo com ninguém. Nem em Londres”, diz o grafiteiro Graham Dews, o Paris, que o encontrou pela primeira vez em 1996. Nessa época, Banksy começou a fazer estêncil, em que o desenho é formado por buracos numa superfície. Novidade nas ruas britânicas, a técnica que o consagrou foi adotada por segurança: pintando direto na parede, ele demorava tanto que a polícia chegava. 

 Foi no bairro de Stokes Croft, onde é possível ver alguns desses primeiros trabalhos, que a Gatsby conversou com Paris. “Conhecendo ele desde Bristol, acho engraçado o mito sobre sua identidade”, diz Paris. Uma busca na internet resulta em diferentes nomes e rostos (ver quadro Quem é Banksy?, na pág. 47). E o boato de que há um coletivo por trás do nome? “É uma pessoa só”, garante Paris. “Mas com um grupo de 10 a 20 colaboradores próximos. Chegam a montar tapumes para ele pintar escondido.”

 Com seu rosto protegido por seus fiéis escudeiros, o artista foi muito além de pintar figuras irônicas e frases de efeito em paredes de prédios. Deixou mensagens em jaulas de zoológico “Quero sair. Chato, chato, chato”, 45


GRANA E CRÍTICA
 Quando faz exposições, Banksy coloca obras para vender. Quando faz um grafite na rua, não - o que não impede as obras de serem vendidas. A partir de 2007, tornou-se cada vez mais comum seus trabalhos saírem diretamente dos muros e paredes para as casas de leilão. Indignado, ele chegou a colocar em seu site a imagem de pessoas dando lances em uma figura que dizia “não acredito que vocês idiotas vão mesmo comprar esta merda”. 

 Se a dona da abertura do texto não quis lucrar com o trabalho alheio, já houve quem aproveitou. Em Bristol, os donos de uma casa com um mural de Banksy em uma parede não colocaram o imóvel à venda em uma imobiliária, mas em uma galeria de arte, listada como “mural com uma casa anexa”. Já em Liverpool, uma casa caindo aos pedaços alcançou o preço notável de R$ 300 mil, só porque em um dos lados do prédio há um gigantesca cabeça de rato desenhada pelo grafiteiro famoso. 

 “Não é sobre o hype, não é sobre o 46

dinheiro”, Banksy diz em seu documentário. Mas, mesmo idealista, anônimo e contra o sistema, Banksy está inserido no mundo da arte. “Ele é parte de uma geração que olhou para fora do sistema convencional de galerias, no jeito de exibir uma obra”, observa Gill Saunders, curadora do museu Victoria & Albert, em Londres, que tem 4 peças suas. Na imprensa, ficou popular a expressão “o efeito Banksy”, para descrever o interesse em outros artistas de rua que vieram na carona do seu sucesso. 

 A escalada em popularidade não foi marcada apenas pela conquista de fãs, mas também por críticas. Banksy pautou o debate no Reino Unido sobre o grafite ser classificado como arte ou mero vandalismo. “Não há nada de interessante sobre Banksy. Quando vi suas pinturas por aí, pensei: é um pouco de entretenimento em um lixo no muro. Agora se supõe que a gente tenha que ver isso seriamente. Mas é óbvio que não é nada”, diz o crítico de arte Matthew Collings, no documentário B Movie.
Já a organização Keep Britain Tidy (“Mantenha a Grã-Bretanha arrumada”) considerava Banksy um vândalo, mas mudou sua posição ao constatar em uma pesquisa que a maioria da população diferenciava

FOTOS DIVULGAÇÃO

escreveu na jaula de um elefante. Acrescentou obras a museus - em 2005, sua pintura penetra de homens da caverna caçando um carrinho de supermercado acabou indo pro acervo permanente do Museu Britânico. Trocou CDs da Paris Hilton por versões remixadas e com encartes adulterados - em um, ela acompanhava mendigos. Produziu notas de £ 10 substituindo a rainha Elizabeth pela princesa Diana, hoje vendidas por £ 200 no documentário, ele comenta: “Foi como se houvesse falsificado dinheiro, posso ir pra cadeia por isso”. 

 Mas foi pelas ações explicitamente políticas, como pintar painéis irônicos no lado palestino do muro que separa a Cisjordânia de Israel e plantar o guantanamero na Disney, que Banksy virou “o cara”. Mais especificamente, o cara que corria da polícia e agora vendia quadros pra Christina Aguilera - ela pagou £ 25 mil pela imagem de uma rainha Vitória lésbica.


APRECIA

vandalismo. Há mais de 50 anos combatendo de carros abandonados a chiclete jogado no chão, o grupo admite agora que o artista virou um significativo ícone cultural. Mas deixa claro - ele é uma exceção.

VERDADE E MENTIRA
 Todos que assistem a Exit Through the Gift Shop ficam com uma enorme pulga atrás da orelha. Sem revelar detalhes, a pergunta é: será que é tudo aquilo retratado por um observador é verdade? É possível que Banksy tenha aplicado o seu maior golpe: convenceu Hollywood de que sua ficção é na verdade, a mais pura realidade.

QUEM É BANKSY?
 Banksy se chama Robin Banks e nasceu em Bristol em 1973, de acordo com o tabloide Daily Mail, mas ninguém conseguiu comprovar. A revelação de sua identidade esteve em leilão em janeiro no site e-Bay, mas a oferta foi retirada.Se entrevistá-lo é missão cumprida para poucos jornalistas, tentar conseguir informações com quem já trabalhou com ele resulta em pedidos de entrevista negados, e-mails sem retorno e respostas evasivas. O designer Tristan Manco defende que isso mantém o foco na arte: “Em um mundo obcecado com celebridades, é alentador que Banksy não seja julgado pelo que está vestindo no dia tal. É importante que faça o que faz em segredo”.

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DIOGO SALLES

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ASSISTE

O MESTRE DOS DISFARCES POR LUCIANA PAIVA

WAGNER MERGULHA TÃO INTENSAMENTE NOS PAPÉIS QUE TEM DIFICULDADE QUANDO PRECISA REALIZAR DUAS ATIVIDADES AO MESMO TEMPO. É Quinta Feira no Rio de Janeiro, e o ator Wagner Moura - com cabelos despenteados, óculos de grau e um tênis preto encoberto pela imensa calça jeans - caminha até um restaurante no bairro da Gávea sem ser incomodado. Naquele momento, Wagner é apenas ele mesmo - o que talvez seja pouco para quem já foi assistente do Todo-Poderoso (no filme Deus é Brasileiro. 2003), príncipe da Dinamarca (na peça Shakespeare), e um policial incorruptível do BOPE, mais conhecido como Capitão Nascimento. O ator, de 35 anos, que já interpretou tantos outros personagens se sente incomodado quando tem que fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ao lado de Selton Mello, Wagner Moura é o ator símbolo da chamada retomada do cinema nacional. Selton é um ator de cinema por opção - há anos ele abriu mão de sua carreira na TV para se dedicar integralmente à sétima arte. Já Wagner, costuma dizer que o teatro é a sua casa e que é ali que ele consegue se sentir um ator pleno. Nos últimos tempos, no entando, beneficiou-se como nenhum outro do momento de efervescência do cinema nacional, tanto que é muito mais conhecido por seus papéis nas telas do que na televisão. E, a que parece,

vai continuar no mesmo caminho. Agora, está em cartaz nos cinemas com o filme VIPs, dirigido por Tonilko Pereira, onde interpreta um estelionatário real, que se passou pelo filho do dono de uma companhia aérea brasileira, Wagner só aceitou fazer o longa, por ser um personagem totalmente diferente do que já fez em sua carreira. “Gosto de procurar fazer coisas diferentes. Coisas que nunca fiz. Esse é diferente porque ele procura a própria identidade e, por isso, passa por diversas personalidades. Foi um exercício bacana”, diz o ator a O Fuxico. O filme, que apesar da forte divulgação não teve o resultado esperado nas bilheterias, porém, deixou o ator satisfeito - pelo menos com a sua atuação, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival do Rio, em 2010. “O roteiro é belíssimo e estou super feliz com o resultado. O filme fez seu papel”.

PARA ASSISTIR VIPs, de Toniko Melo Com Wagner Moura Gisele Fróes, Juliano Cazarré e Jorge D’Elia. 49


RECOMENDA

FILMES PARA VER ANTES DE MORRER MAMONAS O DOC

Mamonas Para sempre, narra a história da banda que em menos de dez meses saiu do anonimato para ser um dos maiores fenômenos da música brasileira. Repleto de material inédito, resgata a trajetória do grupo, os desafios sua ascensão. Irreverentes, inteligentes, sarcásticos, mas, acima de tudo, extremamente criativos, os Mamonas viraram o país de cabeça para baixo enquanto divertiam e uniam as famílias brasileiras. Foi compilado um vasto arquivo de imagens, incluindo cenas do começo, bastidores e gravações dos próprios Mamonas em suas turnês e apresentações. Estréia: 10 de junho de 2011

SUPER 8

No verão de 1979, um grupo de crianças em uma pequena cidade de Ohio presencia uma catastrófica colisão de trens enquanto realizavam um filme com a câmera Super-8 e logo eles desconfiam que aquele não foi um acidente. Pouco tempo depois, estranhos desaparecimentos e eventos inexplicáveis começam a acontecer na cidade, e o agente da lei tenta descobrir a verdade – algo mais assustador do que eles poderiam imaginar. O filme de J.J Abrams consegue entreter e chocar ao mesmo tempo. ESTRÉIA: 12 de agosto de 2011 50


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VIAJA

OS MELHORES LUGARES PARA VISITAR EM

BUENOS AIRES POR CAMILA COUTINHO E FOTOGRAFADO POR LORENA BARONI

A CIDADE SEMPRE DESPERTOU NOS BRASILEIROS SENTIMENTOS QUE MISTURAM DESPEITO, INVEJA, ADMIRAÇÃO E ATÉ UM CERTO CIÚME – NA VERDADE ALGO PRÓXIMO AO AMOR. VOLTAMOS PORQUE SEMPRE HÁ ALGO NOVO PARA VER.

conheça os restaurantes, lojas e passeios turísticos imperdíveis da terra do tango.

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Por receberem tantos brasileiros, os hotéis aceitam reais e dólares na hora de pagar, em algumas lojas você pode ter a mesma sorte, mas o mais comum é a moeda local. É recomendado trocar o seu dinheiro no Banco de La Nacion Argentina, que não cobram altas taxas e seguem a cotacão oficial. Agora está tudo pronto para você começar o seu passeio em Palermo, um lugar que concentra uma enorme variedade de lojas, bares, cafés e restaurantes.

AS LOJAS Você não pode deixar de conhecer a Palermo de Vanguardia: É uma loja enorme que vende somente criações de estilistas independentes e super novos no mercado! As araras são tão lotadas e você passará um bom tempo lá para descobrir tudo. A Vestite y Andate é uma loja pequena de esquina e com estilo moderno! As estampas são lindas e as vendedoras simpáticas. O Mercadito de Ropa é um brechó muito bem organizado e recheado de peças diferentes! Os preços podem ser um pouco altos mas é possível negociar. Também aproveite a Papelera Palermo, ainda em Palermo Soho, a Papelera é parada obrigatória! Lá você vai encontrar uma variedade enorme de papéis e cadernos incríveis feitos com técnicas manuais! Eles também oferecem cursos de fabricação de papel e estamparia. Não deixe de passar na tienda Tazz! A Calma Chica é para quem gosta de decoração. O enorme galpão abriga um monte de tranqueiras e quinquilharias divertidas, de pinguins de geladeira a almofadas gigantes! Já a Farmacity é para as meninas: uma loja lotada de maquiagens com um preço ótimo! Pode parecer clichê recomendar a feirinha de San Telmo aos domingos, mas não é coincidência que todos os turistas passam sempre por lá, não importa se é a primeira ou a milésima viagem a Buenos Aires. A verdade é que o passeio em si vale muito mais que as compras. Encontrar os artistas de rua e os dançarinos de tango é impressionante! Se tiver sorte, você encontra a orquestra “Tipica el Afronte” que vale até comprar o CD. Conheça a Rosa Negra, o ambiente é super aconchegante e comida e a carta de vinhos

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VIAJA

OS RESTAURANTES são ótimas! Te Mataré Ramirez conquista pela decoração toda vermelha estilo Moulin Rouge, pratos deliciosos e programação no mínimo exótica. Durante a semana rolam shows de jazz, bossa nova, marionete eróticas e tarot do amor. Com menu afrodisíaco, o cardápio é um caso a parte…repare bem nas ilustrações e nos nomes dos pratos! Mas o que ninuém pode deixar de comer são as Empanadas! O Cabernet é um bistrô maravilhoso que fica perto da Plaza Serrano! Ótimo pra almoçar depois de passear na feira. O essencial é o Freddo: A sorveteria artesenal amada pelos argentinos e idolatrada pelos turistas, tem zilhões de pontos de venda e está sempre lotada! Não há quem não se apaixone pelos sorvetes de lá. Cada sabor é uma novidade.

OS PASSEIOS Além das comprinhas e dos restaurantes, a cidade oferece mais um monte de passeios agradáveis e divertidos para aproveitar! O foco vai pro Jardim japonês. Não só é lindo, como também é um ótimo lugar pra passar a tarde com quem você gosta. Já o

cartão postal é o El Caminito. As casas coloridas são ,sem dúvida, o cartão postal mais famoso da cidade! As ruas cheias de artistas e exposições valem o passeio, mesmo estando tão comerciais hoje em dia. Para os amantes de futebol, o La Bombonera: é imperdível! Um estádio muito bonito, vale a pena assistir um jogo na sua viagem. E por fim, o Malba. Foi inaugurado em 2001 e mantém obras de artistas latinoamericanos como: Hélio Oiticica, Frida Kahlo, Antônio Dias, Wanda Pimentel e Nelson Leirner. Não deixe de viajar sem se informar sobre as exposições que estarão em cartaz durante sua visita. E a lojinha do Malba é uma viagem à parte. Agora junte seus pertences, faça as malas, conte as moedas, pegue o passaporte e até a sua próxima viagem!

OUTRAS DICAS Cuidado com os taxistas, eles são famosos por dar golpes. Não deixe ônibus e metrô de lado, eles funcionam bem e vale o passeio. Fiquem de olho nos seus pertences o tempo inteiro e evite horários de pico no metrô.

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ESCREVE

O

SALTO POR ANTONIO PRATA

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato ­— pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha 56

e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz. Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não? Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.


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CRIA

GATSBY ACREDITAVA NA LUZ VERDE, NO FUTURO ORGÁSTICO QUE, ANO APÓS ANO, RECUA DIANTE DOS NOSSOS OLHOS. NESSA ALTURA ILUDIU-NOS, MAS NÃO IMPORTA - AMANHÃ CORREREMOS MAIS DEPRESSA, ESTICAREMOS MAIS OS BRAÇOS... E UMA BELA MANHÃ... ASSIM VAMOS PERSISTINDO, COMO BARCOS CONTRA A CORRENTE, INCESSANTEMENTE LEVADOS DE VOLTA AO PASSADO.

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