FLEXIBILIDADE APLICADA À ESPAÇOS COMPACTOS
PROPOSTA DE PROJETO PARA UM APARTAMENTO DE 34M²
LETÍCIA OLIVEIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
LETÍCIA BERNARDO OLIVEIRA
FLEXIBILIDADE APLICADA A ESPAÇOS COMPACTOS: PROPOSTA DE PROJETO PARA UM APARTAMENTO DE 34 M²
Projeto de graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Jarryer Andrade de Martino
VITÓRIA 2020
FOLHA DE APROVAÇÃO LETÍCIA BERNARDO OLIVEIRA
PROJETO DE GRADUAÇÃO APROVADO EM: ____/____/___
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________ ORIENTADOR: PROFº Drº JARRYER DE MARTINO Universidade Federal do Espírito Santo
___________________________________________ COORIENTADORA: PROFª Drª LIZIANE JORGE Universidade Federal do Espírito Santo
___________________________________________ CONVIDADO:
ATA DE AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA:
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APROVADA COM NOTA FINAL: ______
Dedico este trabalho à minha avó Aldira, que mesmo de longe, me inspira. Agradeço aos meus pais Ricardo e Rosa, ao meu irmão Leonardo e ao Bernardo, por serem sustento, incentivo e amor, à todo tempo. Agradeço
a
minha
avó
Ana,
por
sua
forte
intercessão.
Agradeço aos demais familiares e amigos, por todo apoio e por acreditarem em mim. Agradeço aos professores Jarryer e Liziane, por toda dedicação e por todos os aprendizados que levarei comigo. Agradeço
principalmente
à
Deus
por
tornar
tudo
possível.
RESUMO Em um momento da história marcado pelas transformações decorrentes da urbanização, das transições demográficas, das mudanças ideacionais e da Revolução Tecnológica tem-se como tendência de lançamento e de venda os apartamentos denominados compactos, com área inferior a 50m². Estuda-se neste trabalho este novo contexto, considerando suas causas e consequências, as transformações ocorridas nos arranjos familiares, no modo de viver e morar dos indivíduos, suas novas demandas e com isso as problemáticas resultantes e as alternativas para melhor resolvê-las. O trabalho explora a aplicação dos conceitos de flexibilidade e ergonomia na promoção do lar contemporâneo no meio urbano por meio de princípios teóricos e da concepção projetual do interior de um apartamento compacto. As noções aqui trazidas são de grande relevância para o cenário atual tendo em vista a otimização do espaço habitacional, que se faz ainda mais necessária em situações de áreas mínimas, e o resgate da identidade na concepção do ambiente doméstico por meio da adequação do espaço e de seus componentes ao usuário, característica essa que vem sendo perdida com o tempo. Para embasar o estudo, são apresentadas e analisadas
as transformações ocorridas a partir da segunda metade do século XX, os conceitos de lar e habitar, apartamentos compactos, ergonomia, flexibilidade e multifuncionalidade. A fim de aplicar a teoria estudada foi concebido um projeto de interiores a partir da elaboração de mobiliários autorais e personalizados tendo como base um público-alvo específico, com características compatíveis com um dos arranjos familiares em ascensão no Brasil e que apresenta grande adesão a esta tipologia habitacional, os casais sem filhos, para assim realizar a simulação de um briefing. Por fim, é proposta uma reflexão acerca da importância do trabalho conjunto de arquitetos, engenheiros, designers e fabricantes, com a participação ativa do usuário, na promoção do lar como espaço coerente com o perfil e as necessidades dos moradores, que proporcione conforto, pertencimento e satisfação em todos os aspectos e em todas as tipologias habitacionais, mas de forma especial, em espaços compactos. Palavras chaves: Apartamentos compactos. Flexibilidade. Multifuncionalidade. Ergonomia. Lar. Habitar. Personalização. Identidade. Mobiliário. Usuário.
SUMÁRIO
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01
INTRODUÇÃO
02
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
03
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REFERÊNCIAS PROJETUAIS
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3.1 APARTAMENTO 097 - YOJIGEN POKETTO - ELII 3.2 FLAT - STUDIO BAZI
42 43
4.1.1 Público-alvo 4.1.2 Área escolhida 4.2 PROPOSTA 4.2.1 Conceito 4.2.2 Estudos preliminares 4.2.3 Opção escolhida 4.2.4 Apresentação da proposta 4.2.5 Composição de materiais 4.3.1 Esquemas plataforma 4.3.2 Detalhamento 4.3.2.1 Marcenaria 4.3.2.2 Detalhe 01 - Sofá 4.3.2.3 Detalhe 02 - Mesa 4.3.2.4 Detalhe 03 - Cama
2.1 FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS E MODOS DE MORAR
Portugal 2.5 FLEXIBILIDADE E MULTIFUNCIONALIDADE
4.1 DIRETRIZES PROJETUAIS
4.3 ESQUEMAS E DETALHES
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18 18 2.1.1 Transições demográficas 2.1.2 Transições ideacionais e os arranjos familiares contemporâneos 19 20 2.1.3 Tecnologia e as novas formas de morar contemporâneas 22 2.2 APARTAMENTOS COMPACTOS 25 2.3 CONCEITOS LAR E HABITAR 27 2.4 ERGONOMIA E DESIGN CENTRADO NO HUMANO 27 2.4.1 Ergonomia 2.4.2 Design centrado no humano - DCH 31 2.4.3 Programa de Investigação sobre Habitação, do LNEC em 34
PROPOSTA DE PROJETO 45 46 46 47 50 50 50 52 52 82 84 84 86 86 88 89 90
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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01 INTRODUÇÃO
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Os edifícios multifamiliares, ou seja, os prédios de apartamentos são protagonistas enquanto arquitetura residencial desde o início do século XX e surgiram na europa com o intuito de abrigar as camadas mais populares da sociedade e os imigrantes que necessitavam de alojamentos após as grandes guerras. Quando esta tipologia emergiu, a sociedade era formada principalmente por famílias patriarcais compostas pelo pai provedor, pela mãe dona de casa e pelos filhos. Assim, segundo Ferrari (2000), a concepção do espaço habitacional se deu em função desse arranjo familiar, seguindo a lógica da tripartição burguesa oitocentista parisiense, que consiste na organização do espaço em três zonas: social (estar e jantar), serviços (lavanderia e cozinha) e íntima (quartos e banheiros). Além disso, segundo Jorge (2012, p. 16), nos primórdios da habitação multifamiliar, as unidades eram concebidas de acordo com aspectos quantitativos, dimensionais e higiênicos, e dessa forma, continuam sendo produzidas. Com o passar dos anos, essa tipologia habitacional se popularizou entre as camadas média e alta por diversas razões, como o aumento da densidade demográfica, a busca por localizações mais próximas aos centros urbanos (consequente escassez dos terrenos ofertados e, assim, o aumento do valor do m² nesses locais), a busca por segurança e por aparatos de lazer, além de toda a questão mercadológica, visto que este é um grande nicho da economia. Segundo Jorge (2012, p. 23), estes fatores se intensificam cada dia mais na contemporaneidade devido às questões econômicas e de organização do tecido urbano, entre outras. A alternativa para este contexto é a redução da metragem quadrada das unidades, ou seja, a ascensão dos apartamentos compactos. Dentro deste contexto, estão ainda as constantes mudanças nos arranjos familiares e no modo de vida dos habitantes, que agora possuem novas demandas e desejos. Entretanto, verificamos a predominância de apartamentos com dimensões mínimas que ainda tentam reproduzir a configuração espacial tripartida, espelhando-se no modelo de sociedade ultrapassada e que não acompanham as transformações culturais e sociais. Além disso, os sistemas construtivos
também não acompanharam as mesmas transformações, sendo empregados sistemas rígidos e estáticos que não facilitam a flexibilização dos espaços. Assim, o que se observa nos edifícios multifamiliares é uma repetição de padrões de plantas divididas em cômodos pré-determinados por vários andares. Deste modo, os moradores se veem enclausurados em espaços padronizados que não os atendem e que não os permitem se apropriar do mesmo plenamente, visto que as pessoas são individuais e possuem diferenças. Assim, novas demandas e atividades são obrigadas a se adequarem aos espaços disponíveis, o que gera desconforto e insatisfação. Como exemplo, podemos citar dormitórios que acumulam as funções de dormir, vestir, estudar, trabalhar, armazenar sem que tenham sido planejados para isso. Desde o início da verticalização, os apartamentos têm seus cômodos vinculados a funções específicas e isoladas, como preparar alimentos, comer, cuidar das roupas, receber pessoas, armazenar, cuidar da higiene, dormir, entre outras. Entretanto, a contemporaneidade trouxe mudança de objetivo, resignificando algumas funções domésticas, como o ato de cozinhar, que em muitos casos transformou-se em momentos de confraternização e lazer, e a higienização no banheiro incorporou momentos para o relaxamento e, em algumas situações, expandiu o serviço integrando a função da lavanderia. Assim, a redução das medidas espaciais, as grandes mudanças no perfil dos moradores, a transformação e o surgimento de novas necessidades exigem muito mais do espaço, de maneira que a divisão tripartida não consegue atender a demanda atual. Deste modo, se faz necessário que o desenho das habitações seja revisto. Deve-se pensar previamente na sobreposição de atividades dentro do espaço, utilizando da aplicação dos conceitos de flexibilidade e de multifuncionalidade na concepção do ambiente, sendo potencializado inclusive pelos seus mobiliários e equipamentos. Segundo Tramontano e Benevente (2004), um grande elemento dificultador da apropriação dos espaços reduzidos com qualidade é a utilização de equipamentos e mobiliários convencionais, que são concebidos para espaços amplos e que não permitem 14
a flexibilização e personalização, fixando usos específicos para cada espaço. Em espaços mínimos é de suma importância a consideração da ergonomia humana para o dimensionamento correto dos ambientes. Entretanto, outra problemática que envolve projetar estes espaços é a tendência a se pensar unicamente em aspectos ergonômicos e não considerar as necessidades específicas de cada usuário e a promoção da qualidade de vida. Assim, deve-se haver um cuidado com o extremismo quanto a utilização das normas no dimensionamento dos espaços e equipamentos, ou a ergonomia se tornará um agente desqualificador do ambiente, assumindo papel determinista, a medida que determina exatamente o que deverá ser feito naquele espaço e como isso deve acontecer, sem respeitar as individualidades do usuário. Segundo Leupen (2006, p. 19 apud JORGE, 2012, p. 58): “[...] o problema das análises ergonômicas é delinear apenas um aspecto da vida doméstica, deixando de considerar a dinâmica da habitação e dos rituais em relação ao espaço doméstico”. Por conta destas diversas questões, temos observado, que a habitação tem se distanciado da característica mais importante e que a distingue de outros ambientes para cada morador, a de ser habitat, ou seja, lar. Por não atender suas necessidades, por ter se tornado algo genérico e padronizado e pelo afastamento que veio sendo criado do morador em relação à concepção da moradia. Assim, a alternativa mais eficaz para resolver o problema das áreas mínimas é desenvolver um projeto que considere as diversas demandas espaciais e a sua personalização. Dessa forma é possível garantir uma identidade ao espaço e a sua flexibilização, sendo aplicados elementos construtivos que se adaptam conforme a necessidade do usuário. Deste modo, há uma necessidade atual de projetos que compensem o fator espaço reduzido com layout, mobiliários e equipamentos adequados para que as necessidades dos habitantes sejam atendidas com qualidade. Segundo Tramontano e Benevente (2004), no Brasil tem sido dada ainda pouca atenção aos estudos acerca da ocupação dos interiores de espaços mínimos para a habitação. Tem-se dado relevância apenas aos ele-
mentos construtivos das edificações, como lajes, pisos e paredes, não sendo considerado o seu todo, ou seja, a relação entre os elementos edificados e a espacialidade por eles formada. Deste modo, deve-se também considerar os mobiliários e equipamentos, em seu projeto e na sua disposição espacial, pois estes são uma interface para a realização das atividades dos ocupantes. Segundo Vasconcelos (2009, p. 16 apud SOUZA, 2015, p. 23): “Os objetos que compõe as nossas casas podem acarretar fórmulas criativas e versáteis de funcionamento”. Desta forma, tem-se que os elementos que fazem parte das residências são partidos para a adequação do espaço ao morador, por meio da criatividade e da aplicação de conceitos como multifuncionalidade e flexibilidade. Tem-se então que análises sobre as novas formas de morar e de viver contemporâneas têm impactos de grande relevância, como uma maior qualidade na produção arquitetônica e a consequente melhoria no cotidiano das pessoas. Os indivíduos são cada vez mais distintos entre si e cada vez mais estão em busca de praticidade, conforto e todas as sensações provenientes de um lar em sua essência. Um habitat incoerente com as necessidades do habitante pode provocar insatisfação, desgosto, além de problemas familiares, por divergências, falta de privacidade, desejos reprimidos e gerar até mesmo desconfortos psicológicos e físicos. Assim, é de extrema importância que a temática da habitação seja cada vez mais discutida e aprimorada. Além disso, os resultados dos estudos podem ser utilizados para informar políticos, investidores e construtoras, além de ajudar o usuário a se apropriar de forma mais qualificada do espaço. Mies van der Rohe, em entrevista a revista Puente (2006, p. 14, apud JORGE, 2012, p. 66): “[...] É uma questão de educação. A partir de um bom exemplo sempre se pode fazer melhor e melhor as coisas. Se não há exemplos, as pessoas só falam. Falam de coisas que realmente não sabem. A consequência é que de nenhum modo podem julgar a diferença entre o bom e o ruim.” 15
Desta maneira, este trabalho tem como objetivo entender e registrar as novas formas de morar e as demandas habitacionais do mundo contemporâneo e destacar a pertinência da produção arquitetônica carregada de identidade. Para isso, será proposto um projeto de interiores e mobiliário para uma unidade habitacional, tendo como usuário um público-alvo específico, com o objetivo de proporcionar conforto, praticidade e atendimento personalizado a cada demanda dos moradores, concebendo um local para ser chamado de lar. Assim, será aplicado o conceito de flexibilidade aliado a aspectos ergonômicos tendo como objetivo um design centrado no humano como alternativa para a promoção da qualidade habitacional em espaços mínimos. Cabe salientar que, apesar da escolha de um público específico entre os diversos arranjos familiares, por meio da flexibilidade e da multifuncionalidade do espaço, é possível promover maior qualidade habitacional a todos as conformações familiares que têm buscado apartamentos compactos. Para que o projeto atenda às necessidades de cada família de forma adequada é necessário que seja feito um estudo específico para cada um desses públicos, afim de conceber um espaço que reflita a identidade de cada um deles e promova de fato um lar. “Começamos a entender que tamanho não é necessariamente sinônimo de viver bem. Ele está muito mais atrelado à localização, à comodidade, ao conceito do lifestyle como um todo.” (Alexandre frankel, ceo da construtora vitacon)
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02 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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2.1 FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS E MODOS DE MORAR melhoria na qualidade sanitária e um maior interesse por cuidados com a saúde, por parte da população, a expectativa de vida média da população brasileira mais do que dobrou na transição do século XX para o XXI. Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida passou de 33,7 anos, em 1900, para 73,5 anos, em 2010, e 76,7 anos em 2020, com estimativa de 81,2 anos para 2060. Podemos afirmar então, que houve uma mudança na estrutura etária do Brasil, causada principalmente pela transição demográfica, que teve como fatores mais relevantes a redução das taxas de mortalidade infantil, a redução das taxas de fecundidade e o aumento da expectativa de vida. O gráfico 1, demonstra a configuração demográfica por sexo e idade no Brasil, em 1980, 1990, 2000 e 2010 e faz uma projeção estimada para os anos de 2020 e 2030. Ao analisar essas transformações apontadas e os dados, podemos observar que o Brasil está deixando de ser predominantemente formado por jovens para se tornar um país com grande número de idosos, ou seja, a base da pirâmide etária está se estreitando e o topo sendo alargado, evidenciando um envelhecimento da população.
2.1.1 TRANSIÇÕES DEMOGRÁFICAS
Na segunda metade do século XX, o Brasil passou por um processo de modernização, industrialização e urbanização em um curto período de tempo. Dessa forma, deixou de ser uma sociedade predominantemente rural e agrária e se tornou uma sociedade urbana com a economia majoritariamente voltada para a indústria e para o setor de serviços. A transição urbana trouxe transformações para a sociedade, para a cultura em si, e consequentemente para as relações interpessoais. Segundo Alves e Cavenaghi (2012, p. 2), Uma das principais características decorrentes dessa transição foi a queda acentuada da fecundidade. Com a evolução da medicina e a melhoria nas condições sanitárias, houve uma queda significativa da mortalidade infantil e um aumento do número de filhos sobreviventes. Além disso, com a migração para as cidades, houve um aumento no custo de vida familiar em relação ao campo, devido à modernidade e às novas demandas urbanas. Concomitante a isso, houve um aumento do empoderamento feminino e consequente processo, ainda em evolução, da despatriarcalização da sociedade, que levou a uma inserção em massa da mulher no mercado de trabalho e trouxe grandes modificações na organização domiciliar. Somado a estes fatores, está a propagação das pílulas anticoncepcionais e dos demais métodos contraceptivos. Assim, a modernização trouxe novas condições sociais e econômicas e houve uma mudança de mentalidade, de forma que as famílias começaram a limitar o número de filhos devido ao alto custo de investimento para criá-los no mundo moderno. Desta forma, tem-se como resultado deste novo cenário a queda acentuada da fecundidade. Assim, podemos observar uma transformação da antiga família rural extensa para a família urbana nuclear contemporânea. O aumento da expectativa de vida também é um dos resultados da modernidade. Com as evoluções no campo das pesquisas e da medicina, a
Gráfico 1 - Proporção da população por sexo e idade no Brasil de 1980 a 2030
Fonte: Biblioteca IBGE (2016) 18
2.1.2 TRANSIÇÕES IDEACIONAIS E OS ARRANJOS FAMILIARES CONTEMPORÂNEOS
Ainda nesta conjuntura, segundo Jorge (2012, p. 89) um dos arranjos familiares que vem avançando significativamente, com 17,4% dos arranjos familiares (IBGE, 2010, apud JORGE, 2012, p. 89), É a família composta por casal independente sem filhos, rivalizando com o formato tradicional de família, a chamada família nuclear. Os casais sem filhos, também são chamados de DINKs (Double Income, No Kids). Além disso, tem-se notado o aumento das uniões estáveis, ou seja, sem vínculos legais, ocasionadas muitas vezes por questões econômicas, ou de caráter preferencial, por conta da praticidade e muitas vezes da velocidade, indeterminação e dinâmica da sociedade e dos relacionamentos modernos. Nesse contexto, cabe salientar ainda como característica social resultante o aumento da individualidade e como consequência, o aumento da busca por privacidade e independência. A demanda cada vez maior por autonomia, somada a complexidade e concorrência do mercado de trabalho, leva as pessoas a se dedicarem mais ao âmbito profissional. Estes fatores somados resultam no aumento do número de pessoas morando sozinhas, de forma temporária ou por tempo indeterminado, seja em sua própria cidade, ou em outros centros urbanos, em busca de desenvolvimento profissional. Entretanto, ao mesmo tempo em que os filhos desejam maior independência, nem sempre as condições financeiras são favoráveis, devido ao alto custo das moradias e do cotidiano urbano. Esta situação somada ao fato de o casamento ter se tornado mais tardio, resulta no aumento do número de filhos adultos que ainda moram com os pais. Cabe salientar ainda que, segundo Alves e Cavenaghi (2012, p. 104) outro fator que contribui para o aumento de domicílios individuais é o envelhecimento da população e consequente aumento no número de idosos viúvos, principalmente do gênero feminino, que possuem maior expectativa de vida. Assim, todos os fatores apontados, denotam uma nova configuração social, que possui novas características e possibilidades. Mudanças nos arranjos familiares, que ocorreram e continuam ocorrendo, são um dos efeitos deste novo cenário,
Além das transformações demográficas, ocorreram também mudanças nos âmbitos culturais, religiosos e éticos, que podemos chamar de transformações ideacionais. Estas proporcionaram maior liberdade e individualidade, além de mudanças nas relações entre as pessoas e entre os próprios familiares. Como exemplo, segundo Tramontano e Benevente (2004) tem-se uma mudança no pensamento dos pais acerca dos filhos, que antes exigiam ao máximo a obediência e agora a prioridade tem sido, na maioria dos casos, o sucesso profissional. Tal fato também demonstra mudança na relação entre as gerações, de forma que hoje em dia, podemos notar uma aproximação intergeracional cada vez maior. Sendo assim, podemos perceber que até mesmo a configuração tradicional de família já possui características diferentes das observadas em tempos passados. Acerca desse contexto, segundo Alves e Cavenaghi (2012, p. 111) podemos destacar ainda o aumento da liberdade sexual, que tem como resultado a formação de casais homoafetivos e poliafetivos, o aumento de casamentos tardios e o aumento do número de filhos fora do casamento, inclusive na adolescência, devido a antecipação do início da vida sexual masculina e feminina. Nessa esfera, conforme Alves e Cavenaghi (2012, p. 111) também podemos destacar o aumento na fragilidade das uniões e consequente crescimento no número de divórcios, que tem como resultado o aumento dos casos de guarda compartilhada e assim, do número de crianças que vivem em duas casas. Além disso, como produto dos divórcios, tem-se o crescimento do número de recasamentos, principalmente no caso dos homens. Os recasamentos consistem nas novas uniões de pessoas divorciadas, dando origem às chamadas famílias mosaico, pluriparentais ou compostas, nas quais os filhos do casal se configuram como não-irmãos, meio-irmãos e irmãos, ou seja, estão misturados os filhos da atual união com as uniões anteriores. 19
com o surgimento de novas tipologias e transformações nas tipologias existentes. As transformações podem ser identificadas no tamanho, na configuração, na função e nas relações interpessoais entre os membros das famílias. Desta forma, as composições familiares estão ficando cada vez mais diversas, complexas e plurais. Como tipologias de unidades familiares contemporâneas podemos destacar: indivíduos solteiros, famílias monoparentais (em geral encabeçadas por mulheres), casais sem filhos, famílias reconstituídas, famílias intergeracionais, casais homossexuais, famílias poliafetivas, entre outras. A figura 1 ilustra a pluralidade dos arranjos familiares contemporâneos resultantes, conforme apresentado, das diversas possibilidades e variáveis que têm influência nesse contexto.
2.1.3 TECNOLOGIA E NOVAS FORMAS DE MORAR CONTEMPORÂNEAS
O conceito de modernidade tem sido muito atrelado ao âmbito tecnológico e isso não ocorre em vão. A chamada Revolução Digital ou Terceira Revolução Industrial, que ocorreu em meados do século XX, onde se verificou a substituição dos sistemas mecânicos e analógicos por sistemas digitais, tem grande responsabilidade por muitas das modificações pessoais, interpessoais e no modo de viver contemporâneo. Com o surgimento de novas possibilidades, em um mundo de redes e cada vez mais virtual, mudanças no modo de habitar foram inevitáveis. Uma das grandes consequências desta nova era é a mudança no ato de trabalhar. Antes, a atividade produtiva era realizada, em sua maioria, fora do ambiente doméstico e com horários definidos. Entretanto, com a tecnologia surgiram muitas profissões novas, como os influenciadores digitais, e até mesmo as profissões tradicionais foram atualizadas, de forma que em alguns casos, o trabalhador tem a possibilidade de escolher onde, como, e quando trabalhar, sendo muitas vezes a residência o espaço escolhido. Além deste fator, a internet tornou o mundo mais diluído, dinâmico e menos burocrático, de forma que, segundo o estudo “Como será a casa dos brasileiros nos próximos tempos?” Feito pela agência de propaganda Young & Rubican, com apoio da revista Casa Cláudia (2016): “o tempo segmentado não existe mais, assim como exercer apenas uma função em um local físico tende a ser coisa do passado. Os home-offices ou qualquer lugar com wi-fi assumem usos múltiplos para quem tem mais de uma profissão [...]”. Ou seja, no contexto atual é comum que muitas pessoas possuam mais de uma profissão, por exemplo, um fotógrafo que atua como DJ a noite, ou uma agente publicitária que também é maquiadora nos finais de semana. Segundo Alves e Cavenaghi (2012, p. 92), como outra característica da modernidade tem-se a grande mobilidade, que pode ser observada nos aspectos espaciais, de ocupação profissional, atividades e também no âmbito
Figura 1 - Arranjos familiares contemporâneos plurais e o ciclo de vida. modelos diversificados de família, conforme dados censitários brasileiros
Fonte: Jorge (2012, p. 92)
Neste contexto, podemos concluir que o Brasil tem se tornado cada vez mais urbano, mestiço, feminino, envelhecido e com uma grande diversidade de arranjos familiares.
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social, de forma que as relações entre as classes mudaram. Este fato é resultante da grande indeterminação do momento em que vivemos. O grande poder de transformação vem do universo de possibilidades que surgiu decorrente de todos os elementos que nas últimas décadas vem modificando o mundo. Uma característica da sociedade contemporânea urbana a ser destacada é o caráter informal que surgiu com a ascensão do mundo virtual e das redes sociais, que estimulam uma exposição cada vez maior, de forma que a intimidade se tornou algo mais simples, democrático e a vida pessoal mais transparente. Este fator tem impactos diretos no modo de morar atual. Segundo o estudo “Como será a casa dos brasileiros nos próximos tempos?” Feito pela agência de propaganda Young & Rubican com apoio da revista Casa Cláudia (2016), devido às alterações de intimidade que ocorreram nas relações interpessoais das famílias, os espaços que antes eram para ser escondidos, deixaram de possuir tanta reserva, e agora fazem parte da área de convivência da residência. Baseado no exposto, temos como exemplo, a cozinha deixando de ser apenas um ambiente de serviço para fazer parte da área social da casa, local de receber pessoas e ter momentos de lazer. Podemos notar então uma espécie de fusão dos setores públicos e privados da residência. Francesco Morace, sociólogo e jornalista (em entrevista à revista Casa Cláudia, 2016) diz que: “a cada dia, fica distante a noção de tempo específico para cada atividade, como trabalho, lazer, entretenimento, ócio”. Assim, com a dinamicidade do cotidiano urbano, as atividades perderam sua temporalidade e espacialidade definida, de forma que as atividades se diluem e se misturam umas as outras. Analisando ainda a cozinha como exemplo, tem-se um ambiente que agora pode abrigar a produção e o armazenamento dos alimentos, o ato de fazer as refeições, momentos de lazer em familía ou amigos, entre outros. Segundo a arquiteta e designer Abadia Haich (em entrevista à revista Casa Cláudia, 2016) outra mudança relevante tem sido a preferência por receber pessoas em casa para pequenos jantares ou bate-papo, principalmente quando se trata do público entre 30 e 40 anos. Ainda segundo
Haich, é uma forma mais segura, e na maioria das vezes mais econômica de se divertir. Dessa forma, a arquiteta diz: “[...] com isso, aparece também o desejo de mostrar uma casa bonita, acolhedora e, ao mesmo tempo, a necessidade de investimento em serviço de qualidade e design autoral.” Considerando o exposto e fazendo uma análise mais abrangente, tem-se que esse cenário se dá principalmente devido às questões econômicas, à mobilidade dificultada pelo trânsito (distâncias e congestionamentos), à insegurança na cidade e à facilidade de ter as coisas dentro de casa com os deliveries. Outra característica da sociedade contemporânea é a diluição de algumas tarefas/atividades, antes predominantemente desenvolvidas na esfera doméstica, que agora passaram a ser distribuídas pela cidade ou pelo próprio edifício. Isso se dá principalmente pelas mudanças ocorridas nos âmbitos sociais, com destaque para a inserção da mulher no mercado de trabalho. Anteriormente, enquanto o pai provedor estava trabalhando, a mãe ficava em casa cuidando dos afazeres domésticos. Com essa nova configuração familiar, o tempo se tornou reduzido para atividades como preparo de refeições e cuidados com a casa. Assim, esse fator, somado a praticidade oferecida pelos estabelecimentos comerciais espalhados pela cidade, tem como resultado, por exemplo, o aumento no número de pessoas que fazem a maioria das refeições fora de casa e o uso das lavanderias. Apesar do individualismo acentuado, tem-se observado também uma maior busca por espaços públicos compartilhados. A grande maioria dos edifícios de apartamentos possui piscinas, lavanderias, playgrounds e coworkings, todos considerados espaços comuns aos moradores. Este fator é benéfico para a convivência comunitária, que tem sido perdida com o tempo e compensa o caráter reduzido dos apartamentos atuais. Em geral, apesar da crescente introdução do trabalho em casa, ainda hoje nota-se que a maioria do público adulto passa a maior parte do tempo fora de casa, seja estudando ou trabalhando. Além disso, devido à agitação constante da vida urbana, nota-se uma maior busca por meios de relaxamento e descanso. Como evidências disso, percebe-se o aumento no número de animais 21
de estimação, a busca mais intensa por exercícios físicos e por atividades de lazer, entre outros. Desta forma, de maneira geral, a residência se configura na atualidade como um local onde os moradores buscam refúgio do caos e que lhes proporcione meios de praticar atividades que os façam bem. Segundo o estudo “Como será a casa dos brasileiros nos próximos tempos?” feito pela agência de propaganda Young & Rubican com apoio da revista Casa Cláudia (2016), podemos destacar quatro tipologias de habitação nos tempos atuais. São estas:
2.2 APARTAMENTOS COMPACTOS As mudanças que vêm ocorrendo desde meados do século XX, chamadas demográficas, ideacionais e tecnológicas têm impactos diretos na forma de morar humana. Como já apresentado, o comportamento humano tem sido significativamente alterado com o passar dos anos, assim, novos arranjos familiares têm surgido e também novas tipologias habitacionais. Jorge (2012, p. 15) afirma que os edifícios multifamiliares, ou seja, os prédios de apartamentos, são protagonistas enquanto arquitetura residencial desde o início do século XX e surgiram na Europa com o intuito de abrigar as camadas mais populares da sociedade e os imigrantes que necessitavam de alojamentos após as Grandes Guerras. Com o passar dos anos, essa tipologia habitacional se popularizou entre as camadas média e alta, por diversas razões, como o aumento da densidade demográfica, a busca por localizações mais próximas aos centros urbanos, a consequente escassez dos terrenos ofertados, o aumento do valor do m² nesses locais, a busca por segurança e atualmente também por aparatos de lazer, além de toda a questão mercadológica, visto que este é um grande nicho da economia. Segundo Jorge (2012, p. 23) estes fatores se intensificam cada dia mais na contemporaneidade devido a questões econômicas e de organização do tecido urbano, entre outras. Somado a isto, estão as constantes mudanças nos arranjos familiares e no modo de vida dos habitantes, que agora possuem novas demandas e desejos. A alternativa para esse contexto é a redução da metragem quadrada das unidades, ou seja, a ascensão dos apartamentos compactos. Os apartamentos compactos podem ser definidos como unidades habitacionais que possuem metragem quadrada reduzida, e segundo Vasconcelos (2011, p. 31), possuem 1, 2, 3 ou no máximo 4 compartimentações internas, em geral com áreas integradas, podendo ter área útil variando entre 12m² e 70m². Existe ainda, segundo Pezzini (2017, p. 144), outra classificação que engloba os apartamentos
» Casa Clube: feita para atender aos moradores e aos seus convidados, está sempre cheia e os ambientes de convivência são os que possuem maior destaque. » Casa Empresa: funciona também como local de trabalho, e as palavras que definem são otimização e praticidade, normalmente pertencem a pessoas mais preocupadas com o consumo consciente. » Casa Hotel: cada vez mais procurada, é marcada pela praticidade e funcionalidade, e está localizada próximo a serviços de conveniência. » Casa Galeria: possui geralmente espaços amplos e moradores que possuem grande interesse por obras de arte e design, normalmente conta com mudanças de visual em curto período de tempo. Para o desenvolvimento deste trabalho, após estudos e análises das tipologias familiares predominantes no contexto contemporâneo que possuem interesse em apartamentos compactos, foi definido um público-alvo que tem como objetivo uma residência compacta na qual consiste da combinação das três primeiras tipologias. Deste modo, têm-se a busca por um espaço prático e funcional, com boa localização nos centros urbanos, que permita aos usuários receber amigos e trabalhar ou estudar em casa. Para isso, o espaço será planejado de maneira a atender as diferentes demandas dos habitantes, satisfazendo as suas necessidades a partir de uma transformação dinâmica decorrente da (re)configuração espacial. 22
Gráfico 2 - Lançamentos e vendas de apartamentos compactos em São Paulo de 2011 a 2017
com metragem inferior a 48m², chamados de extremamente compactos. Vasconcelos (2011, p. 54) diz que em geral, os edifícios de apartamentos compactos estão localizados em áreas mais valorizadas da cidade, com médio a alto valor imobiliário. Chaves (2009, apud VASCONCELOS, 2011, p. 54), aponta que os custos de aquisição de habitações compactas variam entre R$ 90,8 mil e R$ 166,5 mil, existindo ainda, unidades com valor excedente a R$ 300 mil. Os novos modos de morar e as novas configurações familiares geraram grande interesse no mercado imobiliário por investimento em imóveis com metragens menores que 50m². Vasconcelos (2011, p. 34) afirma que o aumento da procura por apartamentos compactos ocorre devido ao perfil do público atual e à oferta de serviços diversos e opções de lazer na maioria desses edifícios. Ela diz ainda: [...] para uma parte da população brasileira, que inicia ou reinicia a vida de maneira independente, a realização do sonho da casa própria começa por esses imóveis, em decorrência das dimensões reduzidas, bem como dos custos relativamente menores quando comparados a outras tipologias com a mesma infraestrutura.
Fonte: Secovi-SP (apud G1, 2017)
Vasconcelos (2011, p. 31) aponta que as habitações compactas podem ser definidas como moradia permanente ou como unidade residencial provisória, no caso de ser uma segunda residência relacionada ao lazer, à locação, ou ao uso profissional, no caso de pessoas que trabalham e residem em cidades distintas. As moradias permanentes constituem as unidades que apresentam proporção mínima de 15m² por habitante, podendo ser no mínimo 10m² por morador. As moradias transitórias são constituídas por hotéis, albergues, pensões, entre outros, que devem, por obrigação, possuir áreas comuns como salas de estar, administração, cozinhas, despensa, recepção, entre outros, de forma a suprir a limitação de cômodos nestas habitações. Pelas dimensões e pelas localizações, os apartamentos compactos têm sido objetos de grande interesse para solteiros, recém-casados, divorciados, viúvos e casais sem filhos. Essa nova tipologia habitacional se torna uma inovação que contrasta com a tradicional habitação tripartida burguesa oitocentista parisiense que era quase que opção única no mercado imobiliário a alguns anos atrás.
Ou seja, no contexto atual, para grande parcela da população, ter a casa própria ou alugada começa por essa tipologia, que tem apresentado custos menores, tanto de aquisição, quanto de manutenção. O Censo de 2010 (apud VASCONCELOS, 2011, p. 53) revela ainda que a melhoria da economia brasileira, ocorrida nos últimos anos, propiciou a compra dessa nova tipologia de imóveis como primeiro apartamento ou como novo investimento, para aluguel, como forma de renda extra. Desta forma, o número de apartamentos compactos no Brasil vem crescendo significativamente e já se revela como tendência para os próximos anos. O gráfico 2, retrata o crescimento nos números de lançamentos e vendas no mercado de São Paulo, considerando o período de 2011 a 2017.
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Enquanto a tipologia tradicional possui cômodos organizados conforme zonas social, de serviço e privativa, os apartamentos compactos em geral, apresentam poucas divisões, e acabam por promover integração entre atividades e sobreposição de usos. Cabe ainda ressaltar que, com o aumento das possibilidades, tanto profissionais quanto pessoais ou espaciais e a velocidade das mudanças, que podem ser de caráter tecnológico, social, econômico, entre outros, as incertezas revelam-se e as pessoas, principalmente os jovens, têm preferido viver o presente, no que tange a habitação e ao consumo. Guerra (em entrevista a Casa Cláudia, 2016) diz: “As pessoas preferem experiências memoráveis, em vez de, como nos anos 1990, trabalhar feito loucos para comprar casas incríveis no futuro.” Assim, podemos concluir que investimentos em grandes apartamentos ou casas, têm deixado de ser uma prioridade. As pessoas tem preferido investir menos na metragem da habitação e mais nos momentos que serão vividos, tanto dentro dela, quanto fora. Este fato pode ser justificado também pela maior facilidade de mobilidade, tanto de atividade, como de endereço, resultado da globalização. A modernidade trouxe também diversas consequências ambientais, que resultaram em correntes de pensamento, que buscam o consumo consciente. Desta forma, somado ao caráter transitório e dinâmico dos objetos, resultante das inovações que surgem a cada dia, tem-se observado grande aderência a tendência do desapego. Ou seja, as pessoas têm buscado desapegar do que não usam ou não precisam e assim, viver com menos coisas. Com a diluição de algumas tarefas, antes predominantemente domésticas, pela cidade ou pelo próprio edifício, como já exposto, os edifícios têm apresentado, juntamente com a redução das medidas das unidades, cada vez mais aparatos comunitários, como áreas de lazer e convivência e serviços diferenciados. Assim, Vasconcelos (2011, p. 53) afirma que a metragem do imóvel não tem sido uma preocupação primária, sabendo que a prioridade no contexto urbano contemporâneo, tem sido a infraestrutura do entorno, a localização de qualidade e os serviços oferecidos pelo empreendimento ao morador.
Como precursores dos apartamentos compactos atuais, estão os lofts, que têm origem na década de 1950 em bairros principalmente comerciais ou industriais e surgiram pela requalificação de galpões ou indústrias abandonadas em habitações. Esses espaços são marcados por grande flexibilidade, com plantas abertas, ambientes integrados e com poucos elementos de divisão, desníveis, em geral mezaninos, e os elementos estruturais como vigas e pilares, aparentes. Essa tipologia se popularizou em Soho, em Nova York, cidade marcada pela presença de muitos artistas, que utilizavam desses espaços para montar seus ateliês e moradias. Com isso, a ideia de ter um loft foi vinculada a modernidade e obteve grande valorização monetária. Quartino (2010, apud VASCONCELOS, 2011, p. 56) afirma que os lofts são considerados sinônimos de vanguarda e prestígio, e assim, essa ideia se espalhou pelo o mundo (Figura 2). Figura 2 – Loft localizado na cidade de Pinheiros, em São Paulo, projetado pelo escritório Kormam Arquitetos
Fonte: ArchDaily (2019)
Em seu estudo, Vasconcelos (2011, p. 62) faz um levantamento e define as principais tipologias de habitação compactas existentes. Analisando as figuras 3 e 4, podemos observar que encontramos plantas com o mínimo de compartimentação, como as tipologias 1, 2 e 3, onde apenas o banheiro e/ou a área de serviço cozinha possuem paredes e outras que ainda mantêm a formação de outros cômodos, como o dormitório. 24
Figura 3 – Tipologias de habitação compacta: Tipologias 1, 2, 3, 4, 5 e 6
Figura 4 – Tipologias de habitação compacta: Tipologias 7 e 8
Fonte: Vasconcelos (2011, p. 62)
2.3 CONCEITOS LAR E HABITAR Ainda nos primórdios da humanidade, o homem percebeu que era necessário ter um abrigo, um local de refúgio e proteção das intempéries e dos predadores. Desde então, começou a concebê-lo à sua maneira, conforme o que achava necessário e o que desejava, levando em conta suas capacidades de produção e seus recursos disponíveis. Com o passar dos séculos, o abrigo passou a se tornar algo mais complexo, dada às necessidades de cada momento da história humana. Assim, o ato de construí-lo passou a ser delegado a profissionais, sendo estes inicialmente sem formação específica na área e atualmente pessoas graduadas no assunto, como arquitetos e engenheiros. O ambiente físico casa, que pode ser definido como a evolução do abrigo primitivo, é em sua natureza configurado por uma delimitação coberta, constituída por paredes externas e internas, portas para acesso à mesma e aos ambientes dentro desta, e janelas para contato com o meio exterior, ventilação e iluminação. Entretanto, além do conceito
Fonte: Vasconcelos (2011, p. 62)
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de casa, estão os conceitos de lar e habitar. Estes elementos estruturais citados, sozinhos não são suficientes para que uma casa seja um lar e nem para que a experiência do habitar ocorra em sua plenitude. Segundo o “Dicionário da Arquitetura Brasileira” de Eduardo Corona e Carlos Lemos (1979, apud KENCHIAN, 2005, p. 105) o verbete “habitação” significa: “Constitui em arquitetura o abrigo ou invólucro que protege o homem, favorecendo sua vida no aspecto material e espiritual. Ato ou efeito de habitar. Morada. Residência”. Assim, o ato de habitar se estende muito além do simples fato de estar em um determinado espaço, mas envolve subjetividade. Segundo Jorge (2012, p. 21) o habitat “[...] sintetiza a verdadeira expressão dos desejos mais fortes do homem, de possuir e deixar sua marca pessoal em algo que lhe pertence”. Cabe ainda a ideia de moradia do filósofo Cícero transcrita no livro “A Cidade Antiga - Estudo sobre o culto, o direito, as instituições da Grécia e Roma” de Fustel de Coulanges (apud KENCHIAN, 2005, p. 105): “O que existe de mais sagrado que a moradia de um homem? Lá está o altar, lá brilha o fogo sagrado, lá estão as coisas santas e a religião…”. Cada indivíduo é único, possui contextos particulares, formas de se relacionar com os outros e com o espaço à sua maneira, ofícios e formas de realizações distintas, desejos e necessidades próprias. Como visto, habitar é algo intrínseco a essência de ser humano e desta forma, inerente à identidade de cada pessoa. Assim, podemos concluir que a habitação está intimamente ligada a estes aspectos pessoais do habitante. De acordo com Pallasma (2017, p. 7): “[...] o ato de habitar [...] transforma um espaço sem significado em um espaço especial”. Desta forma, tem-se a casa, que em si é um objeto puramente material, se tornando um local carregado de significado para alguém, por meio do habitar em sua essência, ou seja, um lar. Ainda, conforme Pallasma (2017, p. 16), temos uma definição prática da relação existente entre casa e lar: “[...] uma casa é o invólucro, a casca de um lar.”
O conceito de lar envolve esferas multidisciplinares e engloba aspectos que fogem da objetividade. É o ambiente que reflete a personalidade única do morador, seu modo de vida e sua essência individual. Consiste na espacialidade da rotina, crenças, valores e rituais de cada família que ali reside. Ao lar também é atribuído a característica de local de proteção, refúgio, e que conforme Pallasma (2017, p. 22): “[...] um lar autêntico tem alma, uma alma que espera seu habitante.” Assim, tem-se o lar como uma espécie de fração do próprio ser, como algo vivo e que possui história. Podemos concluir assim, que o lar é a espacialização do ato de habitar. Witold Rybczynski (apud KENCHIAN, 2005, p. 105) define a íntima relação entre homem e habitação: A palavra “home” (lar) reuniu os significados de casa e família, de moradia e abrigo, de propriedade e afeição. Conota um ‘lugar’ físico, mas também tem o sentido mais abstrato de um ‘estado de espírito’. “Home” significava a casa, mas também tudo que estivesse dentro e em torno dela, assim como as pessoas e a sensação de satisfação e contentamento que emanava de tudo isso. Podia-se sair da casa, mas sempre se retornava ao lar.
Bachelard (apud PALLASMA, 2017, p. 28) aponta uma interessante relação corporal que o lar tem com seu habitante: De fato, em nossas casas temos cantos e redutos onde gostaríamos de nos aninhar confortavelmente. Aninhar-se pertence à fenomenologia do verbo habitar, e apenas aqueles que aprendem a fazê-lo conseguem habitar com intensidade.
O papel do arquiteto na concepção do espaço para habitar é primordial, entretanto, o distanciamento em relação ao usuário, que antes era o único responsável por essa elaboração, tem sido cada vez mais frequente. Esta separação entre arquiteto e cliente tem como consequência a promoção de habitats que não representam o habitante, que não atendem às suas demandas e necessidades e que não proporcionam a ele, o
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sentimento de pertencimento e refúgio para o caos da vida nas cidades. Segundo Jorge (2012, p. 22):
imutáveis e sem possibilidades, baseados em um público alvo genérico, significa impedir a personalização, e a assim a apropriação plena do espaço pelo usuário, o que permitiria a verdadeira existência de um lar para o habitante. Brandão (2001, apud JORGE 2012, p. 21) afirma ainda que: “[...] a habitação é a ‘promotora’ da identidade pessoal [...] na qual só existe um estilo: o habitus do morador, e é este que nós arquitetos, devemos encontrar”.
[...] a execução do habitat representa a disjunção do usuário ao processo de projeto, transforma o futuro morador em um usuário abstrato e promove a idealização de um cenário doméstico fundamentado em referências funcionalistas, convenções e normas [...] a luz desse cenário genérico, uma gama de características pode ser revelada a custos elevados e em casos frequentes a substituição precoce da residência por outra mais condizente.
2.4 ERGONOMIA E DESIGN CENTRADO NO HUMANO 2.4.1 ERGONOMIA
Ou seja, o habitante está em constante busca, mesmo que inconsciente, por um habitat, um local para chamar de lar. Enquanto ele não encontra isso, se vê insatisfeito e em contínua procura por atingir seu objetivo. Nos cursos de arquitetura, somos ensinados sobre normas técnicas, dimensionamento de espaços baseados em ergonomia, técnicas construtivas, materiais, entre outros, ou seja, somos formados para projetar casas. Entretanto, nos falta o conhecimento sobre como projetar lares, que é o objetivo final dos clientes e usuários. Temos tido descuido com os significados existenciais do ato de morar, de forma que temos tratado o lar, simplesmente como uma residência, algo puramente funcional. E cada vez mais, temos observado uma padronização e generalização dos espaços domésticos, conforme funcionalidades e lógicas estéticas. Segundo Pallasma (2017, p. 36), a arquitetura pode estimular ou reprimir a promoção da identidade nos ambientes. Isso pode ser percebido em projetos que colocam o usuário em diferentes situações: aquela em que a arquitetura estimula a sua personalização por meio da interação com o morador, criando assim uma identificação; e aquela que impõem uma ordem intocável, não permitindo estabelecer um diálogo com o seu habitante, dificultando personalizá-la ou em alguns casos, manipulando contextos que podem até estar na moda, mas que não representam a personalidade ou as memórias do habitante. Ou seja, criar espaços limitados a um propósito,
Segundo Pezzini (2017, p. 23), arquétipos são ideias e significados reconhecidos universalmente, que surgem de maneira espontânea devido a diversos processos e são observados no cotidiano. Assim, são produzidos ao longo dos anos em todas as sociedades e são compartilhados inconscientemente entre as pessoas. Segundo Cavalcanti e Pontual (2012, apud PEZZINI, 2017, p. 23) existe um arquétipo de habitação ideal, que infere diversos aspectos dos ambientes domésticos e seus elementos. Como exemplos destes aspectos têm-se: espaço livre, ventilação, insolação, segurança, identidade, aconchego e privacidade. Diante do conceito de arquétipos na habitação, muitos apartamentos compactos se demonstram inadequados e os seus espaços proporcionam um desconforto ergonômico aos usuários. Assim, é necessária uma harmonia entre os trabalhos de arquitetos, designers, construtoras e fabricantes para que, segundo Pezzini (2017, p. 23) ocorra a “[...] proposição de um habitar compacto que seja mais ergonômico e mais próximo do arquétipo da habitação ideal.” Segundo Pezzini (2017, p. 24), a diminuição da área útil dos apartamentos tem como resultado uma sobreposição entre dois espaços, o espaço que os usuários ocupam para executar as atividades e o espaço que os próprios mobiliários e equipamentos ocupam para serem utilizados. Assim, sem um estudo ergonômico de qualidade, esse contexto pode ter consequências físicas, 27
devido a condições inadequadas de conforto e repouso; psicológicas, por gerar ansiedade, confinamento e frustração; e acidentais, como quedas e impactos. Deste modo, verifica-se a relevância de considerar todas estas possibilidades durante o desenvolvimento de um projeto, considerando a ergonomia juntamente com a personalização, de forma que a integridade, saúde, identidade e a satisfação do morador sejam preservadas. Segundo Kenchian (2005, p. 25), muitos foram os estudiosos que dedicaram suas pesquisas ao entendimento das proporções humanas ao longo da história, sendo muitos destes, pessoas ligadas à Arquitetura, em uma cronologia que vai de Vitrúvio a Le Corbusier. Nestes estudos é intrínseca a relação das dimensões humanas com o espaço construído que o homem ocupa. Entretanto, analisando historicamente no contexto ocidental, a preocupação com as dimensões do corpo humano esteve por muito tempo mais relacionada à proporção no âmbito estético do que com as funções humanas em si. Kenchian (2005, p. 25) afirma ainda que apenas no século XX, as preocupações referentes ao estudo das dimensões humanas aplicado à arquitetura ganharam força, por meio do II Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), sediado em Frankfurt, na Alemanha, em 1929. O congresso teve como tema central o conceito de Habitação Mínima e reuniu diversos arquitetos europeus que estavam trabalhando na produção de moradias populares, utilizando de novas metodologias. A partir desse evento, as pesquisas acerca da relação entre homem e espaço construído ganharam relevância no ato de projetar. Neste contexto surge o conceito de ergonomia enquanto engenharia humana, como uma síntese das ciências biológicas, incluindo psicologia, fisiologia, antropologia e medicina, todas aliadas a própria engenharia, resultando em uma ciência interdisciplinar, que estuda as interações entre as pessoas e os ambientes. Entretanto, segundo a pesquisadora Anamaria de Moraes (apud KENCHIAN, 2005, p. 80) o conceito de ergonomia somente foi incorporado ao ensino no Brasil no início da década de 1960. Kenchian (2005, p. 28) aborda ainda a importância de se
considerar o ser humano em atividade, além das suas dimensões: [...] é nítida a constatação de que, além do corpo humano usado como unidade de medida e de referência de escala e proporção da edificação, também o conhecimento da dinâmica de movimento e comportamento do homem, e não somente suas dimensões, é imprescindível ao projeto arquitetônico, na busca de uma melhor relação entre o edifício e aquele que fará uso do espaço edificado.
Tem-se ainda a conceituação de Merino (2011, apud PEZZINI, 017, p. 69), que define ergonomia como uma disciplina que surgiu com o objetivo de estruturar os conhecimentos sobre o ser humano em atividade (considerando os aspectos físicos, mentais, organizacionais e sociais) para aplicação em projetos, tanto de arquitetura, quanto artefatos e sistemas, de forma a adequar o ambiente ao usuário (de acordo com suas limitações, habilidades e necessidades), buscando atingir o melhor desempenho (considerando requisitos de conforto, segurança, saúde, eficácia e eficiência). Desta forma, a aplicação dos estudos de ergonomia tem como objetivo diminuir a chance de erros, proporcionar um ambiente de melhor rendimento, preservando a integridade e o prazer humano. Existem normas de formalização da ergonomia por todo o mundo, e no Brasil, a norma mais recente é de 2007, chamada NR 17 - Ergonomia. Segundo Pezzini (2017, p. 71), existem diversos tipos de metodologia de ergonomia, e os métodos mais relevantes aos projetos habitacionais são referentes a ergonomia do produto ou projeto ergonômico de produtos (PEP) e a ergonomia do ambiente construído (EAC). Na ergonomia de produtos (PEP), segundo Villarouco e Mont’Alvão (2011, apud PEZZINI, 2017, p. 71) são considerados os seguintes aspectos: utilização, segurança, funcionamento, dimensionamento, manuseio, composição externa, acabamento, visualização, qualidade percebida, facilidade de limpeza e legibilidade. Dessa forma, os produtos têm como objetivo atender aos efeitos desejáveis de utilidade, eficiência, facilidade de uso, segurança, durabilidade, aspecto agradável e evitar efeitos desfavoráveis 28
como erros, dores, acidentes, constrangimentos, desistências e frustrações. Na ergonomia do ambiente construído (EAC), segundo Pezzini (2017, p. 72), são consideradas as interações entre os ambientes construídos, os usuários, os componentes do ambiente e as tarefas. Tem como objetivo o conforto ambiental (lumínico, acústico e térmico), a percepção ambiental (orientabilidade, privacidade e identidade) e outros aspectos como segurança, sustentabilidade e acessibilidade, através de layouts (em suas formas, arranjos, dimensões, circulações e fluxos), componentes (como esquadrias, móveis, equipamentos e utensílios) e superfícies (revestimentos, materiais, cores e texturas) adequados. Ainda neste contexto, cabe o conceito de antropometria, que segundo Kenchian (2005, p. 110) se refere ao estudo que relaciona as dimensões do corpo humano com a habilidade e o desempenho do mesmo na ocupação do espaço. Deriva das palavras gregas: “antro” que significa homem e “metro” que significa medida. Tendo em vista essa definição, ele afirma que além das dimensões humanas, é de extrema importância o conhecimento sobre as relações entre as partes do corpo humano e dos espaços necessários para desenvolver cada atividade. Da mesma forma, é imprescindível o conhecimento dos utensílios, aparelhos e do vestuário que o usuário irá utilizar para dimensionar de forma adequada os mobiliários que irão recebê-los. Um projeto relevante por evidenciar os princípios ergonômicos é a Cozinha de Frankfurt da arquiteta austríaca Margarete Schütte-Lihotzky (Figura 5). Segundo Jorge (2012, p. 57), os estudos da arquiteta propiciaram a criação da primeira cozinha planejada conforme uma organização racional do espaço, em 1926. O projeto é definido até os dias de hoje como o antecedente da cozinha moderna, pensada para tornar o trabalho doméstico mais prático e funcional. A cozinha foi desenvolvida seguindo a lógica da habitação mínima e foi produzida em série para cerca de dez mil habitações sociais. A funcionalidade da Cozinha de Frankfurt é percebida em todos os aspectos e elementos do ambiente, incluindo a disposição da bancada, dos eletrodomésticos e a organização interna dos armários. A
base para a concepção da cozinha são os estudos de tempo e movimentos humanos, de forma a induzir um comportamento ordenado, ágil, mecanizado e previsível para otimizar a realização do preparo dos alimentos. Figura 5 – Cozinha de Frankfurt de Margarete Schütte - Lihotzky
Fonte: Jorge (2012, p. 58)
Segundo Kenchian (2005, p. 104) como características básicas para o espaço residencial estão a concepção baseada nas medidas humanas, o ambiente determinado por suas atividades funcionais e pelas limitações decorrentes da técnica e dos materiais utilizados. Além disso, Kenchian (2005, p. 107) afirma que no aspecto de qualidade residencial, conceber uma habitação adequada aos usuários, deve considerar uma perspectiva de adaptação a longo prazo, de forma que atenda às necessidades dos moradores durante todo o prazo de vida útil previsto para a mesma. Infere ainda que é necessário que seja previsto um potencial de inovação para o ambiente, de forma que novas soluções possam ser incorporadas e assim o espaço possa ser desenvolvido com o passar dos anos. Nessa conjuntura, os elementos expostos são considerados pré-requisitos para adaptar o espaço construído ao usuário, entretanto, o que se tem observado nos espaços contemporâneos, tem sido a inversão desse ideal, de forma que o homem tem tido que se adaptar ao ambiente que a ele é imposto. Kenchian (2005, p. 104) afirma que no contexto atual, têm sido priorizados aspectos estéticos, 29
que objetivam formas antes de funções ou então um aproveitamento mais
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, em seu artigo 25º (apud PEZZINI, 2017, p. 26), proclama que todos os indivíduos têm o direito à condições de vida apropriadas à sua saúde e ao seu bem-estar e aponta a habitação como um elemento obrigatório para que essas condições condições sejam atendidas. Tem-se ainda a afirmação de Pezzini (2017, p. 26) que infere que a qualidade de vida representa os aspectos positivos a condição física e emocional das pessoas, no que se refere às práticas de trabalho e lazer, às relações interpessoais, à segurança pessoal e à saúde física e psicológica. Entretanto, o que se observa no contexto brasileiro, é a oferta de apartamentos compactos, baseados em dimensões mínimas, que acabam por ser preenchidos por mobiliários convencionais, que são a maioria ofertada no mercado. Em geral, os mobiliários domésticos populares, possuem dimensões abaixo ou acima das recomendações ergonômicas e pouca ou nenhuma flexibilidade, além da baixa variedade e possibilidade de personalização. Desta forma, a qualidade de vida é comprometida. Segundo Kenchian (2005, p. 297):
denso para as habitações, que não proporciona conforto ou segurança, por questões econômicas. Assim, muitas das características humanas têm sido deixadas em segundo plano, e como consequência disso, tem-se o não atendimento das necessidades e dos desejos individuais de cada usuário. Conforme a NBR 9241-11:2010 (apud PEZZINI, 2017, p. 25), o conceito de habitabilidade é a qualidade no que tange a ergonomia da habitação, enquanto o conceito de usabilidade é a qualidade no que se refere aos artefatos, e em como oferecem eficácia, eficiência e satisfação no uso. Segundo Pezzini (2017, p. 41) uma habitação que oferece habitabilidade, tem como objetivo evitar insatisfações, prejuízos à saúde, desconfortos e acidentes. Para isso, é necessário que o público-alvo desse ambiente seja conhecido e estudado, para que se atenda às suas necessidades, comportamentos, atividades e hábitos. Enquanto isso, equipamentos e mobiliários que oferecem usabilidade, possuem propriedades como utilidade, facilidade e a comodidade no uso. Assim, quando são definidos o usuário, o objetivo do ambiente e o contexto de uso, a usabilidade é caracterizada pelos índices de eficácia, eficiência e satisfação deste usuário ao usar os elementos oferecidos. Com base nestes conceitos, é possível a concepção de um espaço que possua coerência espacial e na relação com seus componentes, como mobiliário e equipamentos. Segundo Pezzini (2017, p. 42), de forma mais detalhada, a eficácia revela se o elemento cumpre sua função principal com rigor. A eficiência indica se o elemento beneficia as atividades do usuário, ou seja, se o objetivo é atingido com qualidade e conforto. Por fim, a satisfação se refere às sensações positivas oriundas do elemento, ou seja, se o objetivo é atingido com prazer. Conforme Palermo (2008, apud PEZZINI, 2017, p. 43) o conjunto dos aspectos de usabilidade determina o nível da qualidade dos artefatos domésticos, quanto a sua materialidade (durabilidade, resistência, leveza, estanqueidade e salubridade), estrutura (segurança, estabilidade e conformação) e dimensionamento (adequação ao uso, ao contexto e ao usuário).
A habitação influencia sobre múltiplos aspectos de forma significativa no cotidiano de seus moradores, determinando a sua qualidade de vida e as suas expectativas e possibilidades de desenvolvimento futuro. A qualidade residencial, com expressão direta na satisfação dos usuários deve constituir, portanto, um importante objetivo de todas as partes intervenientes nos processos de promoção, financiamento, projeto, construção, fiscalização, utilização e gestão de empreendimentos habitacionais.
Os principais problemas de usabilidade que são acentuados em habitações compactas são apontados por Pezzini (2017, p. 43), sendo estes: interfaciais (posturas forçadas ou prolongadas), de acessibilidade (dificuldade de alcance dos elementos), instrumentais (excesso de atividades e elementos no ambiente), movimentacionais (movimentos repetitivos e forçados), de deslocamento (deslocamentos repetitivos), espaciais (fluxos e circulações insatisfatórios), 30
acionais (problemas na disposição, nas formas e no uso dos acionamentos), securitários (riscos de acidentes), biológicos (elementos com acabamentos ou materiais que atrapalham a higienização) e cognitivos (complicação no uso ou insatisfação estética).
dos seus contextos. Admite que os artefatos serão usados de formas diferentes, por pessoas diferentes e que estão inseridas em contextos diferentes, assim proporcionarão significados diferentes. » Inovação: define que os processos de design devem propiciar inovações incrementais, disruptivas e até mesmo que provoquem transformações comportamentais e sociais. » Iteração: afirma que todo processo projetual é definido por incertezas e assim não pode ser estruturado de forma linear. Desta forma, caracteriza um modo de administrar o processo projetual que avança ou retrocede em suas etapas conforme as possibilidades e limitações que vão surgindo durante o processo.
2.4.2 DESIGN CENTRADO NO HUMANO (DCH)
Neste contexto, na busca por solucionar as problemáticas projetuais que envolvem as habitações compactas contemporâneas, está o design centrado no humano (DCH). Segundo Pezzini (2017, p. 87), o DCH é um dos paradigmas de metodologia do design, que surgiu na década de 2000 e tem como objetivo compreender os significados dos artefatos para os indivíduos, considerando o contexto em que estão inseridos. Assim “Visa soluções inovadoras para problemas complexos e preconiza uma abordagem a partir das pessoas, com ênfase nas pessoas e junto com as pessoas.” (Pezzini, 2017, p. 87). Em resumo, o DCH é caracterizado pelos fundamentos de empatia, participação, significado, inovação e iteração. De forma mais detalhada, estes princípios são definidos como:
Segundo Pezzini (2017, p. 90), na atualidade o DCH se aplica na maioria dos casos, abordando questões relacionadas às interações criadas pelos artefatos ou que os mesmos provocam nas pessoas. Assim, a Figura 6, representa esse contexto com perguntas retóricas que ilustram a evolução do processo de design. Figura 6 – Pirâmide do Design centrado no humano (DCH)
» Empatia: consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro e assim se inserir no contexto dos usuários para entender suas necessidades, experiências e desejos. Também se refere a estimular a participação dos usuários no projeto. » Participação: consiste na inserção dos usuários e demais envolvidos em todas as etapas do processo projetual. Funciona como uma co-criação, visto que os usuários são as pessoas mais conhecedoras de suas relações e experiências com os designs, admitindo assim que os mesmos são uma grande fonte de informações para soluções inovadoras que os atendam em todos os âmbitos. » Significado: está relacionado aos estudos de ergonomia e de psicologia sobre as percepções e experiências que surgem da interação dos usuários com os seus artefatos, em seus ambientes e dentro
Fonte: Pezzini (2017, p. 90)
Baseado no exposto, Pezzini (2017, p. 103) afirma que com a aplicação do DCH, os aspectos arquitetônicos, de design e de ergonomia são inseridos de forma eficaz no desenvolvimento de projetos habitacionais. Deste modo, obtém-se 31
um projeto que promove a satisfação, preserva a integridade e proporciona qualidade de vida mesmo em ambientes com áreas reduzidas. Assim, o DCH se torna uma forma de aproximar o espaço compacto do arquétipo ideal construído de habitação. Acerca do design ligado ao aspecto funcional, Henry Dreyfuss (apud KENCHIAN, 2005, p. 71) diz:
possível criar espaços específicos para o usuário, de forma personalizada. » Aspectos da composição e ciclo da família: onde deve ser identificado o número de pessoas envolvidas, suas idades, sexos, biotipos, grau de parentesco, e evoluções possíveis, como no tamanho, seja aumentando, ou diminuindo com o passar dos anos. Com essas informações é possível atingir um dimensionamento correto dos espaços para abrigar a todos os envolvidos e suas demandas, além da aplicação da flexibilidade para adaptação ao longo do ciclo de vida.
Nós temos em mente que o objeto sobre o qual trabalhamos será conduzido, sentado, olhado, comunicado, ativado, operado, ou de alguma outra maneira usado por pessoas. Se o ponto de contato entre o produto e o indivíduo se torna um ponto de fricção, então o designer fracassou. Por outro lado, se as pessoas se sentirem mais seguras, eficientes e confortáveis - ou simplesmente mais felizes - em contato com o produto, então o designer foi bem sucedido.
» Aspectos fisiológicos e psicológicos dos usuários: devem ser identificadas as características específicas dos habitantes, como no caso da presença de um bebê, ou de pessoas com necessidades especiais de mobilidade ou outros, ou ainda incômodos que os usuários possam apresentar, quanto a volume de música, privacidade, entre outros.
Assim, após o exposto e tendo em vista a grande relevância da aplicação dos conceitos de ergonomia e antropometria na concepção da habitação, aliados a uma preocupação com a promoção do lar, tem-se a construção de parâmetros para atingir a concepção de um espaço coerente. Desta forma, Kenchian (2005, p. 236), após estudo e análise da abordagem de diversos autores e manuais de modelos e técnicas existentes no que se refere ao dimensionamento de espaços habitacionais, estabelece 32 requisitos necessários para a elaboração de um projeto adequado. São estes:
» Acessibilidade e privacidade dos usuários: onde devem ser definidos os aspectos para comunicação e isolamento dos habitantes do espaço, de forma a atingir a privacidade mais ou menos exigida. » Dados antropométricos dos usuários: onde devem ser identificados as informações acerca da composição física dos habitantes, de forma a estabelecer um biótipo predominante para a família. Com estes dados é possível projetar espaços com dimensões compatíveis aos usuários.
» Aspectos dos hábitos e atividades das famílias: levantamento da rotina diária e semanal dos moradores, de forma a identificar as ocasiões e os envolvidos em cada função no espaço doméstico. Com isso, é possível estabelecer os espaços, mobiliários e equipamentos de maneira adequada para as diversas funções que coexistem na moradia.
» Número de usuários por ambiente: onde deve ser estabelecido o número de pessoas que utilizará cada ambiente e o período de uso de cada um. Desta forma, é possível conceber espaços com dimensionamento e número de equipamentos adequado para que todos os envolvidos utilizem o ambiente de maneira confortável.
» Aspectos sociais e culturais da família: onde deve ser identificado o contexto de cada família, incluindo suas características sociais, culturais, econômicas, de relacionamento entre si, hábitos, hobbies, entre outras. Com isso, é
» Função e uso dos ambientes: onde devem ser definidas as atividades que a 32
» Dimensionamento de mobiliário e equipamentos: onde é delimitado o espaço necessário para cada equipamento e mobiliário, após definição dos mesmos de suas respectivas dimensões e de seus locais de uso.
família realizará na habitação, definindo o local onde estas funções devem ser alojadas. Com esta informação, é possível estabelecer os mobiliários e equipamentos necessários para cada ambiente e seu correto dimensionamento para abrigar as funções.
» Espaços de atividades: onde deve ser definido um espaço de utilização dos mobiliários e equipamentos presentes na habitação, ou seja, é o dimensionamento do espaço de interação entre usuário e os elementos da habitação.
» Frequência de uso dos ambientes: onde deve ser identificado o período e a intensidade de uso de cada ambiente, conforme o cotidiano da família. Com estas informações, é possível que o projeto ofereça condições adequadas para as atividades em cada ambiente, além de permitir a aplicação adequada do conceito de flexibilidade.
» Locação de portas e janelas: onde deve ser definido o posicionamento das aberturas, de modo a não conflitar com os mobiliários e equipamentos.
» Frequência de uso de mobiliário e equipamentos: onde deve ser identificado o período e a intensidade de uso de cada mobiliário e equipamento, conforme o cotidiano da família. Com estas informações, é possível que o projeto ofereça um arranjo adequado do espaço, além de permitir a aplicação adequada do conceito de flexibilidade.
» Exigências de desempenho da habitação: se refere ao estabelecimento de parâmetros mínimos de desempenho para os espaços da habitação, como aspectos de conforto ambiental, funcionalidade, comodidade e adequação ao uso. Isso propicia um ambiente com maior habitabilidade, segurança e conforto para os usuários.
» Fluxograma de circulação entre os ambientes: está relacionado com a organização espacial da habitação, considerando aspectos como acessibilidade e privacidade para os ambientes. Por meio desta informação, é possível definir compatibilidade e proximidade entre ambientes para o bom funcionamento da habitação como um todo.
» Recomendações de legislação: se refere ao cumprimento de todas as determinações legais estabelecidas por normas regulamentadoras e pelo poder público. Este atendimento garante a exequibilidade do projeto.
» Arranjo de mobiliário e equipamentos: está relacionada com a configuração espacial do ambiente e atrelada a organização espacial dos mobiliários e equipamentos, de forma que o espaço possa apresentar possibilidades diversas de arranjo, permitindo a aplicação da flexibilidade.
Segundo Kenchian (2005, p. 241), entre os diversos estudos acerca do tema, a metodologia criada por Nuno Portas no Programa de Investigação sobre Habitação, do LNEC, em Portugal, aborda de forma bem abrangente os aspectos tratados anteriormente, não atendendo apenas à dois dos requisitos, sendo estes: “acessibilidade e privacidade dos usuários” e a “frequência de uso de mobiliário e equipamentos”. Assim, o Programa será melhor descrito a seguir.
» Dimensionamento dos ambientes: está relacionado com o dimensionamento mínimo para delimitação física do ambiente, após definição das funções de uso e atividades e dos mobiliários e equipamentos necessários. 33
2.4.3 PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO SOBRE HABITAÇÃO - LNEC
texto familiar, variando de acordo com cada usuário. Vincula-se também a função ou atividade a um espaço definido, considerando sua duração e frequência.
Segundo Kenchian (2005, p. 200), o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Portugal, faz um trabalho de investigação nos espaços de habitação, no âmbito da arquitetura, desde a década de 1960. Tem como objetivo o aprofundamento do conhecimento e a ampliação da qualidade habitacional. Neste contexto, foi desenvolvido sob a coordenação do arquiteto Nuno Portas, um programa investigativo acerca do tema “a Programação e a Racionalização dos Projetos de Habitação Social”. Este estudo é baseado na pesquisa de informações com moradores, análises das necessidades dos usuários e das funções habitacionais, criando assim metodologias e instrumentos de análise e otimização. Em um segundo momento, já na década de 1980, os estudos evoluíram para a elaboração de informações normativas e recomendações, baseadas em esferas interdisciplinares envolvendo os campos da Arquitetura, do Urbanismo, das Ciências Sociais e da Engenharia Civil. Nuno Portas, em conjunto com sua equipe, desenvolveu então uma metodologia, que tem origem na definição das principais funções e atividades presentes na habitação, para uma elaboração adequada do seu programa. Desta forma, são analisadas 16 funções ou atividades tendo em vista níveis mínimos de habitabilidade. É apresentado então um quadro com opções de áreas mínimas, estritas e desejáveis, de forma a atender diferentes situações. Nesta metodologia, após a identificação das principais funções e atividades, são analisadas as exigências de cada ambiente para assim serem definidos os seus níveis de satisfação acerca do dimensionamento de áreas úteis. A metodologia é dividida em dois momentos, são eles:
» Na descrição dos usuários implicados: é a identificação dos indivíduos envolvidos, segundo idade, sexo, vínculos entre si e funções as quais estão vinculados. Decisões de Projeto: » Em exigências de espaço e conforto do ambiente: definição dos mobiliários e equipamentos exigidos, considerando suas quantidades e dimensões, formatos, seu valor simbólico e as demandas dos mesmos em relação a cuidados e formas de uso. » Em exigências de inter-relações com outras funções e atividades: identificação da compatibilidade das funções ou atividades entre si em um mesmo espaço, da necessidade ou não de comunicação direta entre si, formando zonas ou grupos. » Em são
previsão de futura: consideração
flexibilidade da probabilidade
ou de
reconvermodificações.
De forma resumida, após a identificação dos usuários e das funções e atividades da habitação, ocorre a análise das exigências de cada espaço e assim são definidas as áreas úteis mínimas. Para isso, Portas considera dois aspectos complementares: » Programa: consiste no levantamento de informações para identificação das necessidades dos usuários, incluindo suas expectativas de evolução e flexibilidade. Assim, com base em conhecimentos antropométricos são definidos os objetos e equipamentos essenciais e seus respectivos locais para uso de forma confortável.
Dados para Programa: » No reconhecimento, definição e conteúdo da função ou atividade: se refere à descrição dos objetivos a serem alcançados e em como isso se encaixa no con34
» Projeto: consiste na análise das exigências básicas do ambiente, considerando as áreas necessárias para cada função e atividade e as relações com as demais, de forma a estudar as possibilidades de alocação da mesma no espaço.
Figura 8 – Parâmetros para dimensionamento de mobiliários e equipamentos: estar e atividades particulares, tratamento de roupas, higiene pessoal e arrumação interna
Assim, na metodologia de Portas, são estabelecidos parâmetros para dimensionamento mínimo dos mobiliários e equipamentos residenciais, conforme funções. As figuras 7 e 8 ilustram alguns exemplos: Figura 7 – Parâmetros para dimensionamento de mobiliários e equipamentos: dormir, alimentação (preparação e refeições)
Fonte: Portas (1969, apud KENCHIAN, 2005, p. 209)
Fonte: Portas (1969, apud KENCHIAN, 2005, p. 209) 35
2.5 FLEXIBILIDADE E MULTIFUNCIONALIDADE
Liberdade de escolha entre opções existentes ou a criação de programas que atendam às necessidades e aspirações específicas dos indivíduos em relação às edificações que ocupam [...]. Além disso, para os arquitetos a flexibilidade normalmente demonstra o quanto um projeto é capaz de assegurar nas edificações, nos programas ou nas tecnologias utilizadas, uma boa funcionalidade inicial, que possibilita resposta às futuras modificações, para isto o projeto deve ser capaz de prever a influência das configurações espaciais e das dimensões dos ambientes construídos, dos serviços envolvidos e/ou das tecnologias intrínsecas aos componentes dos sistemas construídos.
O contexto atual, caracterizado pelas mudanças nos arranjos familiares, nos modos de morar e na ascensão dos apartamentos compactos, trouxe consigo novas problemáticas e novas demandas. Com a tecnologia cada vez mais presente, a transformação e o surgimento de profissões, a redução do número de pessoas por domicílio, os novos desejos e necessidades do ser humano contemporâneo e a redução das dimensões das habitações, surge a necessidade de repensar o espaço doméstico. Atualmente observamos que, mesmo com a redução da área útil dos apartamentos, a maioria ainda segue a tradicional tripartição burguesa, sendo divididos em cômodos, seguindo uma divisão por zonas, sendo elas de serviço, social e íntima. A zona de serviço abriga a cozinha e a área de serviço, a social engloba a sala de estar, jantar e a varanda, e a íntima consiste nos quartos e nos banheiros. Entretanto, a sociedade não se configura da mesma forma que era quando este modelo surgiu e essa conformação já não atende às demandas contemporâneas. Como já apontado, o tempo e o espaço estão cada vez mais diluídos e assim, as atividades se misturam e se sobrepõe, de forma que as zonas acabam perdendo o sentido. Como exemplo, temos o cômodo quarto, que já não tem mais sido usado apenas para dormir e vestir, mas também se torna local de trabalho, estudo, e em alguns casos possui até mesmo usos mais específicos como estúdio e cenário. Segundo diversos estudiosos, a flexibilidade tem sido a melhor alternativa encontrada para resolver e melhorar o cotidiano doméstico urbano. A flexibilidade dialoga com o contexto da vida contemporânea, que é repleta de incertezas e está constantemente em transformação e movimento e muito distante de ser algo pré-estabelecido e estático. Hamdi (1991, apud JORGE, 2012, p. 54) afirma que o conceito de flexibilidade pode ser estabelecido como:
Analisando de forma mais profunda o conceito, tem-se a subdivisão feita por Galfetti (apud JORGE, 2012, p. 61) que classifica a flexibilidade em três conjuntos diferentes: a mobilidade, concedendo a mudança de forma ágil e quase instantânea dos ambientes, o que simplifica a reconfiguração no cotidiano; a evolução, que significa a possibilidade que o espaço apresenta de executar transformações duráveis na organização fundamental durante um período extenso; e a elasticidade, que remete a expansão ou diminuição da área útil da moradia. A flexibilidade estende a vida útil do espaço, dos mobiliários e dos equipamentos, por apresentar uma multifuncionalidade que atenderá a diversas necessidades dos usuários, e por muito mais tempo, pois mesmo que as necessidades mudem, ainda assim o que foi projetado terá chances de atender às novas demandas. Desta forma, podemos considerar também a flexibilidade como uma alternativa para a sustentabilidade, a redução da produção de lixo e a redução de custos a longo prazo. Acerca disso, Jorge (2012, p. 39) afirma: “A flexibilidade seria, portanto, a ferramenta magistral para acompanhar as incertezas imprevisíveis do futuro, coibindo a falência arquitetônica [...]”. Conforme Palermo (2009, apud VASCONCELOS, 2011, p. 75), aplicar a flexibilidade nos ambientes possibilita a adição ou ampliação de usos como alternativa que vai além da simples solução proposta pelo projeto como uma determinação única ao espaço, de forma que o ambiente 36
passa a refletir a idntidade do usuário. Segundo Pezzini (2009, apud VASCONCELOS, 2011, p. 75), a flexibilidade confere maior usabilidade e oferece maior qualidade de vida aos moradores de espaços compactos. Puigdollers (1999, apud JORGE, 2012, p. 70) constata dois critérios essenciais para as produções habitacionais do futuro. São eles:
de incorporar a flexibilidade aos espaços, sendo estas isoladas ou utilizadas em conjunto: adaptação física, operacionalizar (fazer uso de mecanismos), adjunção ou separação, transporte e combinação de componentes. Assim, uma das alternativas de adaptabilidade é o uso de divisórias flexíveis como painéis ou portas de correr, que permitem que o espaço aumente ou diminua, de acordo com as necessidades do momento presente, além de criar cômodos em situações desejadas, aumentando assim a privacidade. A figura 9 representa as principais tipologias e mecanismos utilizados.
» Espaços flexíveis: Projetos que apresentam em seus elementos de caráter secundário, como divisórias, mobiliário, entre outros, versatilidade e adaptabilidade. Dessa forma, obtém multiplicidade de espaços e proporcionam poder de adaptação a diferentes demandas de uso e de função.
Figura 9 – Esquemas de posicionamento de elementos como divisórias no espaço
» Espaços transformáveis: ambientes que possuem a capacidade de adaptação do espaço pelo usuário e não a relação contrária. Nesses contextos, os centros úmidos são os elementos que proporcionam maior restrição para as transformações. Desta forma, tem-se como consequência a utilização de artifícios que confiram a estes elementos certa mobilidade e deslocamento. Jorge (2012, p. 44) afirma que a flexibilidade pode se dar nos projetos por meio de dois aspectos: a indeterminação dos ambientes, ou seja, a liberdade de decisão da organização espacial dada ao usuário e o uso de artifícios como mobiliário multifuncional, ou seja, móveis articulados e versáteis, divisórias móveis e portas de correr, entre outros, como caminho para a ampliação das possibilidades do ambiente. Ainda segundo Jorge (2012, p. 39), intrínseco ao conceito de flexibilidade estão diversas atribuições, sendo estas: adaptabilidade, polivalência, participação, evolução, multifuncionalidade, mobilidade, elasticidade, entre outros, e diz ainda que esse conceito pode ser aplicado no projeto da habitação, durante a execução e após sua ocupação. No que tange a aplicação do conceito na concepção arquitetônica, Votava (2006 apud JORGE, 2012, p. 197) define cinco formas
Fonte: Jorge (2012, p. 380)
Jorge (2012, p. 393) afirma ainda que os chamados elementos operadores de flexibilidade permanente, que são instrumentos para atingir a transformação do espaço, podem fazer o uso de mecanismos simples ou elaborados por meio de estratégias para movimentação utilizando sistemas de rotação, translação ou a combinação dos mesmos. A figura 10 ilustra as diferentes combinações para obter esses operadores. 37
Figura 10 – Elementos operacionais rígidos e possibilidades de movimentação conforme três conceitos básicos: rotação, translação e combinação de ambos
tudos sobre dimensionamento, compartimentação e mobiliário flexível e nos holandeses estudos sobre o uso da habitação e atividades cotidianas, entre outros. Baseado no exposto e no atual cenário, têm-se a necessidade de sobreposição ou justaposição de funções, que deve ser pensada no momento da concepção do espaço, atingindo assim a flexibilidade. Deve-se então pensar no ambiente e nos elementos que o compõe como agentes destinados a fins diversos, de forma a alcançar a multifuncionalidade do ambiente. Conforme apontado, além de ter o espaço físico para se abrigar, a casa, os indivíduos necessitam do local subjetivo lar. O ambiente que chamamos de habitat, deve refletir a identidade e individualidade de cada habitante, de forma que atenda às suas demandas, desejos e necessidades, que proporcione satisfação e sentimento de pertencimento. Desta forma, a flexibilidade surge como possibilidade para atender às novas demandas da sociedade atual e intensificar novamente a relação que vem sendo perdida entre habitat e habitante, a medida em que permite personalização, “[...] mantendo os distintos estilos de vida dos seus ocupantes” (KRONENBURG, 2007, apud JORGE, 2012, p. 39). Além disso, segundo Souza (2015, p. 35), uma alternativa para os apartamentos compactos é a planta livre. Essa nova modalidade de construção, que permite que o interior seja definido pelo morador, montando um programa de necessidades exclusivo, é muito comum no exterior, mas no Brasil, ainda é algo novo. Essa tipologia apresenta maior uso de tecnologia à engenharia, permitindo que as paredes sejam colocadas em qualquer lugar de desejo do usuário, sem que tenham necessariamente que coincidir com o esquema estrutural de vigas e pilares, já que as lajes têm sido projetadas para suportar os esforços. Neste modelo de construção é possível maior variedade de soluções e maior flexibilização do espaço. Como vantagens tem-se ainda a rapidez de edificação desta tipologia, já que economizaria o tempo da construção das paredes internas e o fato de o apartamento não necessitar de reformas no ato da compra, já que tudo será definido com o morador, o que reduz a produção de lixo. Desta forma, podemos concluir que a flexibilidade é uma ferramenta para
Fonte: Jorge (2012, p. 393)
Schneider e Till (2007, p. 16, apud JORGE, 2012, p. 44) afirmam que a discussão acerca do conceito de flexibilidade como solução a crise da redução dos padrões construtivos no início do século, assim como a aplicação de estudos de ergonomia ao dimensionamento habitacional, teve como ponto decisivo o II CIAM. Nesse ambiente, como já exposto, foi discutido o que seria o mínimo necessário para uma habitação, abordando aspectos físicos e funcionais, assim como sociais e qualitativos, levando em consideração a moradia em termos espaciais e seu mobiliário. Essa discussão despertou nos alemães es38
potencializar a eficiência do ambiente, à medida que cria um espaço reconfigurável, otimizando o espaço reduzido e subutilizado, proporcionando fuga da monotonia, dinamicidade e possibilitando diversidade de uso. E com a utilização adequada do conceito, o espaço recebe a possibilidade de ser adequado conforme a necessidade do usuário, seja no dia a dia ou depois de certo tempo no ambiente, conforme surgem novas necessidades. Assim, podemos observar uma devolução ao habitante do poder e do controle sobre o que é seu por direito, o habitat.
39
40
03 REFERÊNCIAS PROJETUAIS
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3.1 APARTAMENTO 097 - YOJIGEN POKETTO - ELII Figura 12 - Corte do apartamento 097 (Yojigem Poketto) concebido pelo escritório Elii
O escritório Elii concebeu o apartamento 097 (Yojigen Poketto), que possui 33 m² e está localizado em Madri, em 2017, por meio de duas estratégias principais. A primeira consiste na organização da planta a partir de um setor de serviço em “L”, concentrando áreas molhadas, área de descanso, acesso e local para armazenamento, de forma que o espaço central que se abre para as janelas e as varandas fica livre, trazendo grande luminosidade para o interior do apartamento e proporcionando maior privacidade da área íntima em relação a entrada do apartamento (Figura 11). A segunda é a criação de dois níveis dentro do ambiente, um que abrange o acesso e a sala livre e outro que surge a partir da bancada da cozinha, contendo a área de descanso e o banheiro (Figura 12).
Fonte: ArchDaily Brasil (2018)
A diferença de níveis, que totaliza 90 centímetros de altura, além de agregar na composição e promover a delimitação dos ambientes, permite a existência de diversos espaços para armazenagem e instalações, além de uma banheira. Por meio dessa solução, os metros cúbicos do apartamento são otimizados e o espaço se torna mais dinâmico e atrativo. Com o objetivo de potencializar o espaço, os conceitos de flexibilidade e multifuncionalidade são amplamente utilizados. Isso pode ser notado na mobilidade criada para as escadas e os espaços de armazenamento, que podem se deslocar pelo ambiente assumindo novas funções, como servir de apoio ou assento, e a área de trabalho da bancada da cozinha, que pode ser retirada e se tornar uma mesa ou assento na área de estar, criando um banco com vista para a janela em seu lugar (Figura 13). Além disso, os equipamentos necessários para o funcionamento da casa e o aproveitamento da área de estar livre ficam escondidos ou guardados nos armários, como exemplo tem-se a área de serviço acessada por uma das portas do armário alto.
Figura 11 – Planta baixa do apartamento 097 (Yojigem Poketto) concebido pelo escritório Elii
Fonte: ArchDaily Brasil (2018) 42
Figura 13 - Interior do apartamento 097 (Yojigem Poketto) concebido pelo escritório Elii
todos os ambientes atendessem às suas demandas. O acesso ao apartamento se dá pelo segundo pavimento, que abriga um pequeno hall de entrada e a bacia sanitária, de forma que as demais atividades se concentram no primeiro pavimento (Figuras 14 e 15). O partido do projeto tem como base a organização em blocos, que abrigam cozinha, lavanderia e locais para armazenagem de utensílios domésticos, roupas e livros (Figura 16). Figura 14 - Planta baixa do 1º pavimento do Flat concebido pelo Studio Bazi
Fonte: ArchDaily Brasil (2018) Figura 15 - Planta baixa do 1º pavimento do Flat concebido pelo Studio Bazi Fonte: ArchDaily Brasil (2018)
Pela concepção do espaço em si, com a multifuncionalidade do mobiliário, o conforto ambiental proporcionado e pelos acabamentos escolhidos para a marcenaria, tem-se um apartamento compacto que foge da monotonia e apresenta personalidade.
3.2 FLAT - STUDIO BAZI O projeto consiste na concepção do interior de um flat de 33 m², localizado no centro de Moscou, pelo Studio Bazi, no ano de 2017, para um homem solteiro que queria transformar seu apartamento de forma que
Fonte: ArchDaily Brasil (2018) 43
Figura 16 - Partido organizado em blocos concebido pelo Studio Bazi
uma cortina com o objetivo de separar a área íntima, com dormitório e banheiro, das demais. O espaço existente embaixo da escada foi utilizado como armário para coisas pessoais, possuindo gavetas e cabideiros (Figura 19). Figura 18 - Cozinha e Lavanderia do Flat concebido pelo Studio Bazi
Fonte: ArchDaily Brasil (2018) Figura 17 - Interior do Flat concebido pelo Studio Bazi Fonte: ArchDaily Brasil (2018) Figura 19 - Guarda-roupas sob escada do Flat concebido pelo Studio Bazi
Fonte: ArchDaily Brasil (2018)
Ao longo da parede, entre o bloco da cozinha e as janelas, foi encaixada uma estante de livros com uma bancada de trabalho e para que as janelas apresentassem livre acesso, foi criado um espaçamento após esta estante, de forma que esta área resultou em um local para pendurar cadeiras extras para visitantes (Figura 17). O bloco central, revestido em madeira, contém a cozinha, escondida por portas camarão, que possui uma bancada de trabalho fixa e uma bancada retrátil, frigobar, espaço ventilado para vegetais, local para armazenamento e escorredor de pratos. Ao lado da cozinha está um depósito e uma lavanderia, também escondida por portas camarão (Figura 18). No bloco foi embutida
Fonte: ArchDaily Brasil (2018)
Deste modo, o flat consiste em um espaço compacto que apresenta soluções que proporcionam melhor aproveitamento do espaço disponível respeitando os aspectos que proporcionam a qualidade de vida habitacional.
44
04 PROPOSTA DE PROJETO
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4.1 DIRETRIZES PROJETUAIS
Gráfico 3 - Distribuição percentual dos arranjos familiares residentes em domicílios particulares, segunfo o tipo de arranjo familiar no Brasil em 1996, 2006 e 2009
Após os estudos apresentados sobre as mudanças nos modos de morar, a tendência da redução da metragem quadrada, as novas demandas contemporâneas e a relevância da identidade e personalização do projeto, foi desenvolvida uma proposta de projeto para um apartamento compacto baseada no conceito de flexibilidade. 4.1.1 PÚBLICO-ALVO Fonte: IBGE (2010, apud JORGE, 2012, p. 90)
Tendo como objetivo a promoção de um lar adequado a seus habitantes, foi estabelecido um público-alvo específico. Conforme já apresentado, uma das tipologias de arranjos familiares que tem buscado habitações compactas são DINKs (Double Income, No Kids), ou seja, os casais independentes sem filhos, em geral, recém-casados. Segundo Jorge (2012, p. 90), esta modalidade de família tem rivalizado com o padrão tradicional nuclear e crescido significativamente, representando 17,4% dos arranjos familiares (IBGE, 2010, apud JORGE, 2012, p. 90). No gráfico 3 é possível observar o crescimento no número de casais sem filhos e a redução no número de casais com filhos, o que comprova esta afirmação. Além disso, em geral, os DINKs apresentam alto poder de atuação no mercado consumidor, por possuírem nível mais elevado de escolaridade e renda superior em comparação a outras tipologias, tendo em vista que ambos os cônjuges costumam participar ativamente do mercado de trabalho. Estes casais possuem ainda, em sua maioria, mobilidade espacial elevada, ocasionada principalmente por novas oportunidades profissionais, têm a capacidade de acumular capital em menor tempo e prezam por investimentos em conforto e comodidade, sem receios quanto ao uso de tecnologias e inovações.
Tendo em vista ainda o surgimento de novas profissões, devido ao desenvolvimento tecnológico e ao advento das redes sociais, e a introdução do trabalho em casa, o público-alvo deste projeto se enquadra neste contexto. A partir deste cenário, foram criados personagens fictícios, comuns na contemporaneidade, que serão considerados para a elaboração do projeto. Assim, tem-se um casal sem filhos que se casará em breve, enquadrado como classe média e ambos os cônjuges possuem alto nível de escolaridade e estabilidade financeira. Prezam por conforto, praticidade e experiências, assim, tem como objetivos financeiros o investimento em habitação e viagens. O casal é constituído por Sofia, de 25 anos, que trabalha com moda e é digital influencer, além disso, gosta muito de plantas e praticar exercícios; e Theo, de 26 anos, que é publicitário e tem como hobbies música, exercícios e surf. Além disso, gostam de receber amigos e familiares em casa, apreciam o contato com a natureza e no tempo livre, quando estão em casa, costumam assistir filmes e séries. Juntos, tem um cachorro de pequeno porte. Para eles, o apartamento além de ser local de descanso, será espaço para trabalho e estudos de atualização profissional. Baseado no perfil dos usuários especificados, considerando 46
» Cenários “instagramáveis”: para servir de cenário para as filmagens de ambos;
as características do casal, atentando também as particularidades de cada um dos membros, tem-se o seguinte programa de necessidades:
» Espaço livre: local para a prática de exercícios (yoga e meditação) » Cozinha: espaço para todo o preparo e o armazenamento de alimentos, contando assim com cooktop, forno, depurador, geladeira, pia e armários.
» Local para receber amigos/familiares: espaço para receber visitas, com locais para assento no contexto do apartamento como um todo.
» Área de serviço: espaço para cuidado com roupas e armazenamento de produtos de limpeza, contando com tanque, tábua de passar, um pequeno varal e armários.
4.1.2 ÁREA ESCOLHIDA
» Local para refeições: considerando que gostam de receber pessoas, deve possuir no mínimo 4 lugares.
A escolha do perfil do público-alvo, incluindo sua renda média, está baseada no contexto imobiliário, visto que estas novas tipologias compactas, inseridas nos centros urbanos, costumam apresentar preço de custo elevado. O gráfico 4 é produto do Censo Imobiliário referente ao primeiro semestre de 2020 e apresenta o preço do m² de unidade habitacional em cada uma das tipologias predominantes no contexto das principais cidades da região metropolitana do Espírito Santo. Deste modo, é possível observar o valor elevado do m², mesmo em apartamentos compactos.
» Área de estar: local para descanso, entretenimento e receber visitas, considerando então sofá, televisão e apoios. » Área de dormir: local confortável para os mirem juntos, sendo assim uma cama
dois dorde casal.
Gráfico 4 - Preço médio do m² de área privativa das unidades disponíveis para venda, por município e tipologia - Junho/2020
» Banheiro: local para higiene e necessidades, contando com bacia sanitária, bancada com cuba e box para ducha. » Local para ço para roupas,
armazenar sapatos e
itens acessórios
pessoais: de duas
espapessoas.
» Local para home office: espaço para atender a duas pessoas, contando com áreas de trabalho, cadeiras e espaço para guardar os pertences pessoais. » Local para armazenar equipamentos específicos: locais de armazenagem para prancha de surf, equipamentos de música (violão, microfone e caixa de som) e equipamentos de filmagem (ring light, tripé e câmera);
Fonte: Sinduscon (2020) 47
Figura 20 - Fachada do edifício Facilitá, em Jardim Camburi
Considerando os bairros da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo e centro urbano mais desenvolvido da região, tem-se Jardim Camburi. A escolha por este bairro se dá por diversos fatores que condizem com o contexto do estudo. Segundo o Censo Demográfico de 2010, Jardim Camburi consiste em um dos bairros mais populosos da cidade de Vitória, com 39.157 habitantes, e com uma das maiores porcentagens da população em idade ativa, sendo 78,1%. Além disso, o bairro apresenta a maior porcentagem de imóveis próprios em aquisição (18,6%). A tabela 1 traz o quantitativo das unidades em construção nos bairros que estão em maior movimento imobiliário. Assim, é possível observar que Jardim Camburi também apresenta o maior número de construções em desenvolvimento no ramo da habitação e também do comércio, o que comprova que esta é uma região em grande crescimento.
Fonte: Lorenge (2019) Figura 21 - Academia, Lavanderia e Bicicletário do Edifício Facilitá
Tabela 1 – Unidades em produção conforme regiões administrativas das cidades em Junho/2020
Fonte: Sinduscon (2020)
Assim, o apartamento escolhido para o desenvolvimento do projeto pertence ao edifício Facilitá, da construtora Lorenge (Figura 20). O edifício está localizado na Rua Theófilo Costa, número 165, em Jardim Camburi, Vitória. Cabe salientar ainda que Jardim Camburi é um bairro que dispõe de boa infraestrutura comercial e de lazer, e o edifício escolhido possui certa proximidade com a Praia de Camburi e com o Aeroporto. Além disso, o térreo do mesmo é composto por unidades comerciais e áreas comuns aos moradores como lavanderia, academia e bicicletário, elementos de grande interesse ao público-alvo dos apartamentos compactos (Figura 21).
Fonte: Lorenge (2019)
O edifício possui duas torres de apartamentos, sendo a torre B composta por apartamentos de 1 quarto e de 2 quartos. A planta escolhida foi a de 1 quarto (Figura 22), localizada na coluna 01, que possui 34,49 m² de área privativa total, sendo destes, 6,83m² constituintes da varanda. O layout proposto pela construtora para comercialização do imóvel é o apresentado na figura 23. 48
Figura 23 - Layout apresentado pela construtora do apartamento escolhido
Figura 22 - Planta original do apartamento escolhido 506 10
330 68
82
100
166 86
80
ÁREA DE PREPARO
BANHO 2m²
629
316
444
10
2,77m²
112
21
15
81
SPLIT
14
156
156
VARANDA 6,83m²
14
QUARTO 7,93m²
SALA 9,43m²
A.T 0,72m² GUARDA CORPO H=110M
PLANTA BAIXA - ORIGINAL ESCALA: 1/50
PLANTA BAIXA - ORIGINAL ESCALA: 1/50
Fonte: Lorenge (2019)
Fonte: Lorenge (2019) (adaptada pela autora)
49
4.2 PROPOSTA 4.2.1 CONCEITO
Tendo em vista o estilo de vida urbano contemporâneo e as tendências para o futuro, o objetivo deste projeto é a promoção de um habitat de qualidade que proporcione conforto, atenda à todas as demandas residenciais dos usuários, permita diferentes possibilidades e seja carregado de identidade, em um apartamento compacto. Assim, os conceitos de flexibilidade, multifuncionalidade e promoção de identidade nortearam toda a concepção do ambiente, por meio do uso de mobiliários e equipamentos personalizados. Deste modo, considerando o perfil do público-alvo escolhido e tendo em mente sua jovialidade e modernidade, o projeto busca trazer o aconchego para o contexto urbano dentro da residência. A figura 24 ilustra o Moodboard desenvolvido para o projeto.
Essa atmosfera aconchegante se dá pela linha tênue entre o urbano e o natural, através do uso de cores sóbrias como cinza e preto, em contraste com o tom amadeirado das placas de OSB, o jardim vertical e com os pontos de cor em azul. Além disso, objetivando promover um ambiente descontraído e instagramável, permitindo cenários para os vídeos e trabalhos dos moradores, foram usados elementos despojados como parte da composição.
4.2.2 ESTUDOS PRELIMINARES
Como ponto de partida para a concepção do layout do espaço, foi pensada a setorização do apartamento, sendo os setores baseados em categorias de atividades. Deste modo, estes foram chamados de: setor de cozinhar (amarelo), setor de armazenar (azul), setor de estar e dormir (rosa), setor de trabalho e lazer (laranja), área técnica (lilás) e banheiro (verde). Na fase de estudo preliminar, foram desenvolvidas diversas experimentações de setorização baseadas nesta lógica de organização por atividades, com o objetivo de estudo, análise e definição da alternativa de maior qualidade. Foram analisados aspectos como funcionalidade, otimização, circulação, relação entre os diferentes setores, entre outros. A figura 25 ilustra duas das experimentações realizadas, sendo estas consideradas de maior qualidade. A setorização superior foi concebida primeiro e a inferior concebida posteriormente.
Figura 24 - Moodboard
Fonte: Desenvolvido pela autora 50
Figura 25 - Primeiras experimentações de setorização
Após análise de todas as possibilidades encontradas, foi definido que a setorização que melhor se adequa ao objetivo do projeto é a segunda experimentação apresentada, por concentrar áreas molhadas, permitir espaço amplo livre no centro do espaço e melhor funcionalidade. Assim, a partir desta ideia, a planta foi melhor estudada, e evoluiu para a setorização ilustrada na figura 26. Na solução final, observa-se que além do núcleo molhado, foi criado também um núcleo de armazenamento e trabalho, ambos nas extremidades do espaço, e um núcleo central livre que abriga o estar, o dormir, o jantar e o lazer. Cabe salientar ainda o aumento do setor cozinhar.
Figura 26 - Setorização final
Fonte: Desenvolvido pela autora
Fonte: Desenvolvido pela autora 51
4.2.3 OPÇÃO ESCOLHIDA
Figura 27 - Planta de Reforma 506
265
Assim, tendo em vista um melhor aproveitamento do espaço do apartamento, foi proposta a demolição da parede do quarto e da parede que separava a varanda do restante do ambiente, a mudança de posição da parede do banheiro e a realização de um fechamento de vidro no guarda-corpo. Deste modo, todo o espaço se transformou em um ambiente único e integrado, com exceção do banheiro. A figura 27 ilustra as modificações propostas.
241 230
11,5
120
11,5
4.2.4 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
629 498
11,5
120
Fundamentando-se no conceito de promover diversas possibilidades em um espaço reduzido, o projeto possui 5 layouts diferentes que se adequam conforme a necessidade dos usuários definidos para este estudo, em cada situação. As possibilidades estão representadas nas figuras 28, 29, 30, 31 e 32. A figura 28 ilustra o layout 01, que consiste no formato livre da planta, onde todos os equipamentos flexíveis estão desmontados ou recolhidos. Essa disposição é ideal para a prática de exercícios, para a realização de festas ou até mesmo para o momento506de limpeza do apartamento 265 241 230 pela Assim, o partido do projeto é 11,5norteado criação de uma plataforma de 53cm de altura, de forma a preservar o pé-direito mínimo de 2,30m, sobre a qual está localizada a cozinha e área de serviço, e a liberação do núcleo central do apartamento. Sob a plataforma está a cama, com gavetões, que possui rodízios para que se desloque para fora nos momentos desejados e um gaveteiro, também com rodízios, que pode ser deslocado para servir de apoio lateral à cama.
PA PA
PLANTA DE REFORMA
LEGENDA
629
PAREDE EM DRYWALL À SER CONSTRUÍDA PAREDE À SER DEMOLIDA
498
Fonte: Desenvolvido pela autora 52
ESCALA: 1/50
A plataforma é acessada por dois conjuntos de degraus, que estão nas extremidades da mesma, a fim de permitir uma melhor circulação para todas as possibilidades de layouts existentes no apartamento. O conjunto de degraus próximo ao peitoril de vidro é solto do restante da estrutura, assim, pode ser deslocado conforme a necessidade dos usuários, seja para funcionar como escada para partes mais altas dos armários, ou assento em qualquer lugar do apartamento ou ainda permitir acesso à plataforma por outro lugar. Buscando maior espaço de armazenamento e melhor aproveitamento da estrutura, os degraus possuem gavetas embutidas e foi criado um nicho para funcionar como casinha para o pet. O layout 02 (Figura 29) consiste na configuração do espaço enquanto a cama e o gaveteiro de apoio lateral estiverem abertos. Na parede oposta à plataforma, foi criado um guarda-roupas que tem em sua continuidade um painel para televisão com uma ampla bancada de estudos para o casal e um armário superior com portas aramadas para equipamentos e outros pertences. A bancada de estudos possui gavetas nas extremidades e na parte central possui o tampo no formato báscula, que se ergue transformando o espaço em uma penteadeira. As cadeiras Iaiá do designer Gustavo Bittencourt foram pensadas para trazer personalidade e serem multifuncionais no espaço, podendo ser deslocadas para onde forem necessárias no momento. O layout 03 (figura 30) ilustra a disposição do mobiliário enquanto a bancada de estudos estiver em uso.
Figura 28 - Layout 01 ESPELHO VERTICAL OVAL COM ESTRUTURA EM METALON
BANCADA EM SILESTONE, CUBA DE APOIO DECA ARCO DUPLO E TORNEIRA DE MESA BICA ALTA DECA UNIC
GUARDAROUPAS
BACIA SANITÁRIA COM CAIXA ACOPLADA DECA CARRARA
BANH. A=2,87M² COOKTOP DE INDUÇÃO E FORNO ELÉTRICO DE EMBUTIR
PAINEL TV E BANCADA DE ESTUDOS/ PENTEADEIRA
BANCADA COM CUBA ESCULPIDA EM SILESTONE E TORNEIRA DE MESA COM FILTRO DECA TWIN GELADEIRA SMEG 1 PORTA NA COR CINZA BANCADA COM TANQUE ESCULPIDO EM SILESTONE E TORNEIRA DE PAREDE DECA DUNA CLÁSSICA
S APARTAMENTO A=28M²
PLATAFORMA
CADEIRAS IAIÁ MESA DOBRÁVEL
ARMÁRIO MULTIUSO
JARDIM VERTICAL
S
APARADOR COM GAVETAS BANCO-BAÚ
MESA DE APOIO
LUMINÁRIA REFLECTOR BRASS
CONDENSADORA DO SPLIT PLANTA BAIXA - LAYOUT LIVRE ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora 53
Figuras 29 e 30 - Layout 02 e 03
506 265
230
506
265
230,0
11,5
SOFÁ - DET.01
S
S
498
497
629
629
CAMA DET.03
11,5
11,5
120
120
11,5
GAVETEIRO COM RODÍZIOS
S
S
PLANTA BAIXA - LAYOUT ESTUDOS
PLANTA BAIXA - LAYOUT DORMIR
ESCALA: 1/50
ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
54
55
Figura 31 - Layout 04
230
11,5
120
265
506 11,5
SOFÁ - DET.01
629
S
498
Para o sofá foi desenvolvido um design personalizado inspirado no modelo Flottebo da marca Ikea, de forma que este possa ser recolhido quando não houver necessidade de uso, liberando o espaço. Assim, o sofá, que será melhor detalhado na próxima seção, consiste em um elemento estofado reto, que possui rodízios com travas para ser deslocado. Assim como no modelo original, o encosto consiste em 3 módulos de almofadas triangulares removíveis, que são fixadas ao assento por meio de velcros e podem ser posicionadas conforme o interesse do usuário, seja no fundo, no meio ou nas extremidades do sofá. Quando o sofá for recolhido, estas almofadas ficarão armazenadas em um gavetão que possui acesso independente, na parte inferior do guarda-roupas. Além disso, na base da estrutura, foram criados 2 gavetões com frentes estofadas para armazenamento. Quando estiver fora de uso, o encosto e as almofadas são retirados e o assento é deslocado para debaixo da bancada de estudos. As dimensões do sofá e o fato de o encosto ser removível também permitem que ele se transforme em uma cama extra. O layout 04 (figura 31) demonstra a configuração do espaço quando o sofá estiver em uso, considerando também a disposição das cadeiras no centro do espaço, para criar uma maior área de assento para assistir à televisão. Para as refeições, foi pensado uma mesa dobrável localizada próximo ao peitoril de vidro. Quando fora de uso, a mesa se camufla como um quadro e quando está em uso, revela uma outra arte na parede, antes escondida pelo elemento. Para abrir a mesa, basta puxar os pés pelos furos feitos em ambos os lados e por meio de um sistema de travamento, ela está pronta para o uso. Este elemento será detalhado mais à frente. Para funcionar como assento para a mesa, foi proposto um banco-baú com futon, integrado à um bloco que funciona como aparador, com o objetivo de funcionar como suporte às refeições, ou local para bebidas, atuando como um “barzinho”. Além disso, foram criados 2 gavetões no elemento para armazenamento. O outro lado da mesa, é preenchido com as cadeiras Iaiá, abrigando então até 4 pessoas. O layout 05 (figura 32) demonstra a organização do ambiente nos momentos de estar, jantar e lazer.
S
PLANTA BAIXA - LAYOUT ESTAR/TV ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
Figura 32 - Layout 05
Figura 33 - Indicações de vistas e detalhes
506 265
230
120
11,5
05
SOFÁ DETALHE 01
11,5
SOFÁ DET.01
S
629
04
02
01
498
dos
A seguir, serão apresentadas as vistas do ambiente e posteriormente, os detalhes dos elementos principais desenvolvipara este estudo. Assim, a figura 33 indica a localização de cada uma dessas informações no contexto da planta baixa.
MESA DET.02
03
PROJ. CAMA DETALHE 03
MESA DETALHE 02
S
PLANTA BAIXA - LAYOUT ESTAR/JANTAR ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
PLANTA BAIXA - INDICAÇÕES ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora 56
Para a cozinha e área de serviço, sobre a plataforma foi proposta uma bancada em “L”, com cuba e tanque esculpidos, para trazer uniformidade ao ambiente. Além disso, ambos podem ser fechados, com a própria pedra que for recortada para fazê-los, quando estiverem fora de uso. Foram propostos também um cooktop de indução, tendo em vista que apartamentos compactos não podem utilizar gás, um forno elétrico embutido e a coifa de embutir Incasso, da Tramontina, utilizada como depurador, que fica praticamente imperceptível no espaço, trazendo maior limpeza visual. O edifício possui lavanderia em sua estrutura comum, então não foi necessário prever uma máquina de lavar-roupas para o apartamento. Em todo o espaço da cozinha e área de serviço foram propostos armários superiores e inferiores para armazenamento. O micro-ondas proposto é embutido no armário superior, próximo à cuba. O ar-condicionado tipo Split também foi incorporado ao conjunto de armários, possuindo uma porta basculante aramada, para permitir a ventilação do aparelho. Na lateral do tanque foi proposto um armário multiuso para guardar equipamentos como vassouras, baldes, aspirador de pó, escada e outros. Este armário possui ainda uma gaveta com hastes metálicas que funciona como um pequeno varal, e um
nicho para encaixar uma tábua de passar roupas dobrável com corrediças. Devido a proposição de fechamento de vidro na varanda, foi necessário criar uma solução para que a condensadora do ar-condicionado tipo Split mantivesse troca de ar com o meio externo. Para isso foi criada uma marcenaria que vai do piso ao teto para isolar esta máquina, possibilitando que dentro deste espaço, o vidro da varanda não seja fechado, permitindo a troca de ar sem que a refrigeração do ambiente seja prejudicada. Para acesso à máquina um dos painéis se abre por completo, como uma porta. Como forma de aproveitar esta marcenaria, foi criado um nicho para o violão do usuário. Para maior limpeza visual estética na fachada do edifício, o fundo do nicho é camuflado por uma chapa de MDF naval na cor branca, assim quem vê o apartamento de fora, enxerga apenas um painel branco. Além disso, na porta de acesso à esta clausura foi fixada a prancha de surf do usuário, que propõe-se que seja estilizada, de forma que além de ser um objeto de uso esportivo, possa ser parte do design do ambiente. A figura 34 consiste na vista 01 do ambiente, onde é possível ver a configuração do espaço da cozinha e área de serviço sobre a plataforma.
Figura 34 - Vista 01
VISTA 01
ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora 57
Com o objetivo de criar uma atmosfera descontraída, aconchegante e cheia de personalidade, foi proposto um jardim vertical ao lado do painel da televisão com um letreiro neon iluminado imerso nas folhas. Dentro deste contexto está a mesa dobrável que possui uma arte em seu fundo, fazendo com que esta se camufle como um quadro, quando estiver fechada. Além disso, na entrada do apartamento foi disposto um espelho vertical despojado e próximo ao banco-báu foi especificada a luminária de piso Reflector Brass, da Kare Design. Esses elementos com foco no design e de grande destaque estético no contexto geral do apartamento, criam cenários chamados instagramáveis para serem usados como plano de fundo pelos usuários, e trazem personalidade ao ambiente. A figura 35 representa a vista 02 do ambiente. Nesta situação está representado o layout livre do espaço, com o sofá recolhido sob a bancada e as cadeiras encaixadas ao lado do painel. Além disso, tem-se as vista 03 (figura 36) que apresenta a entrada do apartamento, com o espelho vertical fixado em uma prateleira superior sobre a porta para adornos.
Figura 35 - Vista 02
Figura 36 - Vista 03
VISTA 02
VISTA 03
ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
58
A vista 04 (figura 37) mostra o peitoril com fechamento em vidro, o espaço de cláusura para a condensadora com o nicho para o violão acoplado, e no lado direito o banco-báu com futon. Para o banheiro, foi proposto um nicho na parede da bancada, para embutir o armário superior, liberando o espaço e permitindo um bom espaço de armazenamento. Este armário possui portas de correr com estrutura em alumínio revestidas em espelho. Além disso, foi feito um armário sob a bancada, com fixação da papeleira em sua lateral e um nicho na parede do box para armazenamento de produtos, entre outros. A figura 38 ilustra a vista principal do banheiro, mostrando o amplo armário embutido. Cabe salientar ainda que, para trazer maior conforto e coerência para o ambiente, foi proposto um forro de gesso no banheiro, afim de reduzir o pé-direito de 2,83m para 2,40m.
Figura 37 - Vista 04
Figura 38 - Vista 05
VISTA 04
Fonte: Desenvolvido pela autora
VISTA 05
ESCALA: 1/50
Fonte: Desenvolvido pela autora
59
ESCALA: 1/50
Para melhor compreensão da proposta tem-se ainda as figuras 39 e 40, que representam as vistas 01 e 02, respectivamente, em escala maior, com o objetivo de demonstrar, com medidas, a distribuição interna das principais marcenarias propostas. Figura 39 - Vista 01 interna MICROONDAS EMBUTIDO
SPLIT 24000 BTUS
38 PRAT.
36
66
PRAT.
36
80
PRAT.
49
38
10
TÁBUA DE PASSAR DOBRÁVEL COM CORREDIÇA
ASPIRADOR
61
42
42
17 18
37
53
18
10
GAVETA
50
25 85
138
VASSOURAS/ESCADA
PRAT.
MULTIUSO
GAVETA GAVETÃO
36
GAVETA
10
36
92
PRAT.
GAVETA BÁSC. DE FORÇA INV.
36
36
283
48
25
MALEIRO
VISTA 01 - INTERNA ESCALA: 1/25
NICHO PET
DEGRAUS COM GAVETAS
CAMA COM RODÍZIOS
Fonte: Desenvolvido pela autora
60
GAVETEIRO COM RODÍZIOS
DEGRAUS COM GAVETAS
GAVETA COM VARAL EMBUTIDO
Figura 40 - Vista 02 interna UTILIZAR SISTEMA FECHO-TOQUE
10 38
38
52
10
MESA DOBRÁVEL RECOLHIDA - VER DET.02
MALEIRO
MALEIRO
MALEIRO
MALEIRO
MALEIRO
MALEIRO
CABIDEIRO
CABIDEIRO
GAVETA
BÁU-PENTEADEIRA
GAV.
GAVETA
GAVETA
GAVETA
GAV.
GAVETA
GAVETA
GAVETA
283
SAPATEIRA VERTICAL COM CORREDIÇA
10
33
61
45
40
35
GAVETA
16 18
14
146
110
156
230
208
38
EQUIPAMENTOS TV
BANCO-BAÚ
SOFÁ RECOLHIDO
Fonte: Desenvolvido pela autora
61
GAVETÃO PARA ENCOSTO DO SOFÁ E ALMOFADAS ACESSO INDEPENDENTE
VISTA 02 - INTERNA ESCALA: 1/25
Tendo em vista que todo a concepção do projeto tem como pilar a aplicação dos conceitos de flexibilidade e multifuncionalidade ao espaço e ao mobiliário, a figura 41 demonstra as estratégias de flexibilidade adotadas, segundo os três conceitos mecânicos básicos da movimentação explicitados no capítulo 02, sendo estes: rotação, translação e combinação de ambos. Deste modo, tem-se que os principais elementos que têm sua flexibilidade devido a aplicação dos movimentos são a cama, o sofá , o gaveteiro, a tábua de passar e o varal, sendo todos retráteis; e a mesa dobrável, o banco-baú e a penteadeira na bancada, estes últimos provenientes de um sistema de rotação.
solvidas são o armazenamento e a circulação, assim, estes foram uns dos principais aspectos a serem considerados na concepção do ambiente. Deste modo, no que se refere a armazenagem, como já exposto, foram pensadas diversas alternativas de espaços para tal função, tanto de pertences pessoais, como de elementos domésticos, equipamentos de trabalho e o próprio mobiliário flexível proposto, quando este estiver fora de uso. No que tange à circulação, estas foram estudadas em cada proposição de layout proposta. Deste modo, as figuras 42, 43, 44, 45, e 46 consistem em diagramas que estimam a frequência de uso de cada layout e ilustram as áreas disponíveis para circulação em cada situação de layout juntamente com os possíveis caminhos a serem feitos.
Figura 41 - Diagrama de flexibilidade
Figura 42 - Diagrama de frequência e circulação: Layout 01
SOFÁ: TRANSLAÇÃO EM NÍVEL CAMA: TRANSLAÇÃO EM NÍVEL
PENTEADEIRA: ROTAÇÃO VERTICAL
GAVETEIRO: TRANSLAÇÃO EM NÍVEL MESA DOBRÁVEL: ROTAÇÃO VERTICAL
TÁBUA DE PASSAR RETRÁTIL E GAVETA VARAL: TRANSLAÇÃO EM NÍVEL
BANCO-BAÚ : ROTAÇÃO VERTICAL
FREQUÊNCIA: 8 HORAS POR SEMANA = 4,8%
FREQUÊNCIA: 8 HORAS
Fonte: Desenvolvido pela autora
POR SEMANA = 4,8%
Fonte: Desenvolvido pela autora
Em espaços compactos, duas das principais questões a serem re62
Figura 43 - Diagrama de frequência e circulação: Layout 02
FREQUÊNCIA: 9 HORAS
Figura 45 - Diagrama de frequência e circulação: Layout 04
FREQUÊNCIA: 11 HORAS
POR DIA = 37,5%
POR DIA = 46,2%
FREQUÊNCIA: 9 HORAS POR = 37,5% Fonte: Desenvolvido pelaDIA autora
FREQUÊNCIA: 11 HORASpela POR DIA = 46,2% Fonte: Desenvolvido autora
Figura 44 - Diagrama de frequência e circulação: Layout 03
Figura 46 - Diagrama de frequência e circulação: Layout 05
FREQUÊNCIA: 2 HORAS
FREQUÊNCIA: 2 HORAS
POR DIA = 8,4%
POR DIA = 8,4%
2 HORAS POR DIA = 8,4% Fonte:FREQUÊNCIA: Desenvolvido pela autora
FREQUÊNCIA: 2 HORAS POR DIA = autora 8,4% Fonte: Desenvolvido pela
63
Figura 47 - Perspectiva 01
Fonte: Desenvolvido pela autora
64
Figura 48 - Perspectiva 02
Fonte: Desenvolvido pela autora
65
Figura 49 - Perspectiva 03
Fonte: Desenvolvido pela autora
66
Figura 50 - Perspectiva 04
Fonte: Desenvolvido pela autora
67
Figura 51 - Perspectiva 05
Fonte: Desenvolvido pela autora
68
Figura 52 - Perspectiva 06
Fonte: Desenvolvido pela autora 69
Figura 53 - Perspectiva 07
Fonte: Desenvolvido pela autora
70
Figura 54 - Perspectiva 08
Fonte: Desenvolvido pela autora
71
Figura 55 - Perspectiva 09
Fonte: Desenvolvido pela autora
72
Figura 56 - Perspectiva 10
Fonte: Desenvolvido pela autora
73
Figura 57 - Perspectiva 11
Fonte: Desenvolvido pela autora 74
Figura 58 - Perspectiva 12
Fonte: Desenvolvido pela autora 75
Figura 59 - Perspectiva 13
BANCO BĂ U
Fonte: Desenvolvido pela autora
76
Figura 60 - Perspectiva 14
Fonte: Desenvolvido pela autora
77
Figura 61 - Perspectiva 15
ARMAARIO MULTIUSO
Fonte: Desenvolvido pela autora
78
Figura 62 - Perspectiva 16
Fonte: Desenvolvido pela autora
79
Figura 63 - Perspectiva 17
Fonte: Desenvolvido pela autora 80
Figura 64 - Perspectiva 18
Fonte: Desenvolvido pela autora 81
Tendo como base o público-alvo deste estudo e a tipologia compacta do apartamento, estima-se que mudanças pontuais possam ser feitas durante o ciclo de vida do apartamento, caso haja necessidade. Assim, considerando o mesmo casal, deve-se ponderar que com o passar de alguns anos, pode ser que venham a ter um bebê. Deste modo, pressupõe-se que a tipologia compacta em questão não seja a mais adequada para o novo contexto familiar. Entretanto, caso haja necessidade de permanência por algum tempo, o gaveteiro de apoio lateral da cama pode ser substituído por um berço compacto flexível, feito sob medida e que poderá ser recolhido quando estiver fora de uso, para o atual nicho que abriga o gaveteiro. Como este novo elemento, não será fixo, poderá ser levado pelos moradores para a nova habitação. No caso de o apartamento ser vendido, mudando assim de habitantes, podendo estes estarem inseridos em uma outra tipologia de arranjo familiar, será necessário um estudo do perfil dos novos usuários para que as demandas dos mesmos possam ser atendidas, considerando a estrutura existente, para avaliar quais mudanças serão necessárias. Entretanto, algumas previsões podem ser feitas. Assim, algumas outras tipologias familiares que se enquadram como público-alvo para apartamentos compactos foram escolhidas para análise das principais mudanças necessárias. No caso de uma família unipessoal sem necessidades especiais, estima-se que não tenham que ser feitas grandes modificações em termos de layout ou estrutura, somente mudanças de caráter estético. Na hipótese de o apartamento ser comprado por um casal de idosos, idosos viúvos ou solteiros, ou pessoas com deficiência, o tablado deve ser retirado, sendo a cozinha transferida para o nível do piso, para permitir acessibilidade. Assim, uma nova cama poderia ser elaborada, utilizando um sistema dobrável, com acionamento por meio de botões, permitindo maior facilidade de manipulação, ou um sofá que se transforme em cama de maneira simples e prática. Se o apartamento for transferido à uma família monoparental, seria necessário manipular o espaço de forma que a cama de casal dê lugar a duas camas de solteiro,
criando elementos de separação entre elas para conferir privacidade aos habitantes. 4.2.5 COMPOSIÇÃO DE MATERIAIS
Considerando o objetivo funcional e estético do ambiente, que busca promover conforto e praticidade aliados à criação de cenários descontraídos e requintados que conversem com o perfil dos moradores, foram utilizados os materiais e equipamentos descritos nas figuras 65 e 66, respectivamente.
Figura 65 - Materiais especificados
REVESTIMENTO PIETRA LOMBARDA GRIGIO 120X60CM PORTOBELLO
MDF COM ACABAMENTO EM LACA PRETA FOSCA
REVESTIMENTO CHICAGO HD 90X90CM PORTINARI
REVESTIMENTO EVERY BRICK STONE 24X7,7CM PORTINARI
MDF COM ACABAMENTO EM LACA CINZA FOSCA
PLACAS DE OSB IMPERMEABILIZADAS
Fonte: Divulgação dos produtos
82
Figura 66 - Equipamentos especificados
LUMINÁRIA REFLECTOR BRASS KARE DESIGN
MICROONDAS DE EMBUTIR ELETROLUX 28 LITROS
COOKTOP DE INDUÇÃO ELETROLUX
CADEIRA IAIÁ GUSTAVO BITTENCOURT
COIFA DE EMBUTIR TRAMONTINA INCASSO
FORNO ELÉTRICO DE EMBUTIR ELETROLUX 59 LITROS
TORNEIRA DE MESA COM FILTRO PARA COZINHA DECA TWIN ACABAMENTO BLACK MATTE
CUBA DE APOIO DECA ARCO DUPLO NA COR BRANCA
MONOCOMANDO PARA LAVATÓRIO BICA ALTA DECA UNIC ACABAMENTO BLACK MATTE
Fonte: Divulgação dos produtos 83
REFRIGERADOR SMEG 1 PORTA NA COR CINZA
TORNEIRA DE PAREDE DECA DUNA CLÁSSICA ACABAMENTO BLACK MATTE
BACIA SANITÁRIA DECA LK NA COR BRANCA
4.3 ESQUEMAS E DETALHES 4.3.1 ESQUEMAS PLATAFORMA
A plataforma elevada concebida para abrigar a cozinha e a cama, juntamente com outros acessórios, possui estrutura de pontaletes e travessas pré-dimensionada em tubos metálicos de seção retangular 50x30mm e espessura 2mm, revestida por placas de OSB 18mm. As placas foram utilizadas no piso da plataforma e nos fechamentos frontal e lateral, compondo a estrutura dos acessórios, sendo estes: os degraus com gavetas, o nicho pet, a cama e o gaveteiro com rodízios. O conjunto de degraus próximo ao peitoril da varanda é solto da estrutura, de forma que possa ser deslocado para servir de escada para acessar partes mais altas do apartamento, ou assento em qualquer posição do espaço, ou então acessar a plataforma por outro lugar, se for de desejo dos moradores. Como a estrutura é utilizada principalmente para elevar a cozinha, que é uma área molhada, é necessário que todas as placas de OSB sejam impermeabilizadas adequadamente. Recomenda-se o uso do produto isolante Stain seguido do produto isolante e de acabamento Cetol Deck. A figura 67 é um esquema que ilustra a composição da plataforma e a figura 68 contém um pré-dimensionamento das placas de OSB e dos vãos da estrutura metálica. Figura 67 - Esquema plataforma
Fonte: Desenvolvido pela autora 84
Figura 68 - Pré-dimensionamento das placas OSB e da estrutura da plataforma
TRAVESSAS E PONTALETES EM TUBO METÁLICO 50X30MM - ESPESSURA 2MM
PLACAS DE OSB 18MM IMPERMEABILIZADAS 111
29
50
57
74
77
77
74
47
65
70
105
141
119 48
50
Fonte: Desenvolvido pela autora
85
75
49
96
78
46
120
74
127
96
93
8
240
4.3.2 DETALHAMENTOS 4.3.2.1 MARCENARIA
Para melhor compreensão da marcenaria proposta, as figuras 69 e 70 demonstram a divisão interna dos armários principais. Figura 69 - Detalhamento marcenaria parte 01
431
67 25
7
25
70
7
155
7
70
65
02
PROJEÇÃO GAVETEIRO
PROJEÇÃO CAMA
23
01 02
S
PRAT.
03 UTILIZAR DOBRADIÇA 165º
NICHO FORNO
67
LOCAL PARA CONDENSADORA DO SPLIT
90
24
PRATELEIRA
GELADEIRA
65
70
140
65
24
GAVETA
32
GAVETA
127
213
UTILIZAR DOBRADIÇA 165º
148
78
01
23
S 03
PRATELEIRA
65 PLANTA BAIXA - MARCENARIA
ASPIRADOR DE PÓ
ESCALA: 1/25
VASSOURAS, ESCADA ETC.
Fonte: Desenvolvido pela autora 86
Figura 70 - Detalhamento marcenaria parte 02
69
110
43
43
43
40
BANCO-BAÚ
PLANTA BAIXA - MARCENARIA ESCALA: 1/25
Fonte: Desenvolvido pela autora
87
83
43
113
69
SAPATEIRA
BANCADA DE ESTUDOS/ PENTEADEIRA
GAVETA
210
248
80
GAVETA
14
GAVETA
45
72
18
PAINEL TELEVISÃO
MESA DOBRÁVEL
GAVETA
APARADOR COM GAVETAS
4.3.2.2 DETALHE 01 - SOFÁ
Figura 71 - Perspectiva sofá
Como já exposto, o sofá proposto para o ambiente é baseado no modelo Flottebo, da marca Ikea, é estofado por inteiro e possui rodízios com travamento. Assim, possui 3 módulos de encosto soltos que são fixados por meio de um velcro e possuem 113° de angulação em relação ao assento, para que a ergonomia seja atendida. Além disso, foram propostos 2 gavetões com frentes estofadas em sua base. A figura 71 consiste na demonstração de 2 possibilidades de conformação do mobiliário, visto que o encosto pode ser movimentado conforme a necessidade do usuário, e a figura 72 é o detalhamento do mesmo.
Fonte: Desenvolvido pela autora
5 2
922
200 B
B
2
92
2
5
292
88
VISTA LATERAL ESCALA:1/25
3º 11
3º 11
35
ESCALA:1/25
3º 11
GAVETÃO GAVETÃO CORTE B
GAVETÃO
ESCALA:1/25
ESTRUTURA ESTRUTURA EM OSB EM OSB E RODÍZIOS E RODÍZIOS COM COM TRAVAMENTO TRAVAMENTO ESTRUTURA EM OSB E RODÍZIOS COM
43
35 15 7 21
35
7 21
Fonte: Desenvolvido pela autora
3º 11
CORTE A
B
35
5 15 7 21
3º 11
7 21 15 35 15
15 1,5
26
35
35
3º 11
1,5
B
ESTOFADO ESTOFADO EM LINHO NA EM LINHO NA COR AZUL COR AZUL
7 21 15 35 15
B
ESCALA:1/25
35 43
5
GAVETÃO
7 21
1,5
GAVETÃO GAVETÃO
GAVETÃO
ESCALA:1/25
VISTA POSTERIOR
5
2
15
73 2
GAVETÃO GAVETÃO
VISTA FRONTAL
ESTOFADO EM LINHO NA COR AZUL
5
2
B
73
85
A
85
GAVETÃO
5
GAVETÃO
73
85
15 26
A
5
92
5
35
2
5
2
92
ESTOFADO EM LINHO NA COR AZUL
43
43
292
200
26
200
Figura 72 - Detalhamento 5 2 sofá 5
A
4.3.2.3 DETALHE 02 - MESA
Figura 73 - Perspectiva mesa
7 7
Figura 74 - Detalhamento mesa 208
80 80
208 208 126 208
126 126
208
Fonte: Desenvolvido pela autora
VISTA SUPERIOR - ABERTA ESCALA: 1/25
4455° °
73
73
75 75
2 73 73 75 75
45° 45°
2 ESCALA: 1/25
ESTRUTURA ESTRUTURA EM EM MDF MDF COM COM ACABAMENTO ACABAMENTO EM EM LACA LACA FOSCA FOSCA PRETA PRETA
73 73 75 275
75 75 73 73 2
7 7
75 75 75 75 VISTA FRONTAL - FECHADA
22
22
77 126
158
158
208
208 158 158
208 208
68
50
68
80 80
208
68 7 68 7
DA DA MESA MESA FURO COM DIÂMETRO 2CM FURO COM PARA ABERTURA DIÂMETRO DA 2CM MESA PARA ABERTURA DA MESA
50
50 50
Como evidenciado, o local para refeições proposto consiste em uma mesa dobrável que se camufla como um quadro quando está fechada e no momento do uso revela uma outra arte na parede, antes escondida pelo elemento. Para abrir a mesa, basta puxar os pés, que formam visualmente uma espécie de moldura para o quadro, pelos furos feitos em ambos os lados. Assim, por meio de um sistema de travamento composto por FURO COM FURO COM uma de cada lado, o elemento realiza uma rotação de 90° formando a mesa. A figuduas hastes metálicas, DIÂMETRO DIÂMETRO 2CM 2CM PARA ABERTURA ra 73 PARA ilustraABERTURA o mecanismo de desdobramento da mesa, e a figura 74 consiste208 no detalhamento do elemento. 208
HASTE HASTE METÁLICA METÁLICA VISTA LATERAL - ABERTA ESCALA: 1/25
HASTE ESTRUTURA EM MDF COM Desenvolvido pela autora METÁLICA ACABAMENTO Fonte: EM LACA HASTE ESTRUTURA EM FOSCA MDF COM PRETA METÁLICA ACABAMENTO EM LACA 89 FOSCA PRETA
VISTA FRONTAL - ABERTA ESCALA: 1/25
4.3.2.4 DETALHE 03 - CAMA
200 190 na 63plataforma,
5
5
2
42 7 14 8 12,5
Para ser 63embutida a cama proposta é mais baixa do que o padrão convencional, e possui alturas calcula63 PROJ.a COLCHÃO das para encaixe do colchão e travesseiros, deC forma que não seja necessário desfazer cama para recolhê-la. Assim, para realizar o deslocamento, a estrutura possui rodízios com travamento. Além disso, possui 3 gavetões de cada lado, totalizando 6 ao todo, para armazenamento. A A Todo o elemento é composto de placas OSB, por suas características de suporte de peso e para trazer uniformidade visual à plataforma. GAVETA GAVETA GAVETA A figura 75 ilustra a cama com o colchão e sem o mesmo, para melhor compreeensão do elemento. As figuras 76 e 77 consistem no detalhamento da estrutura da cama. 146 150
153
Figura 75 - Perspectivas cama
B
B
GAVETA
GAVETA
2
GAVETA
C
Figura 76 - Detalhamento cama GAVETA 5
ESTRUTURA EM OSB E RODÍZIOS COM TRAVAMENTO
VISTA SUPERIOR ESCALA: 1/25
Fonte: Desenvolvido pela autora 90
GAVETA
GAVETA
GAVETA GAVETA
GAVETA GAVETA
A
GAVETA
B
GAVETA
C
CORTE A
ESCALA: 1/25
2 12 26 12,5
B
C
42
42 153 721226 12,5
150
146
LOCAL PARA ENCAIXE DO COLCHÃO
2
153
2
ESTRUTURA EM OSB E RODÍZIOS COM TRAVAMENTO
2
5
5 63
146 150
190
5
63
GAVETA
2
200
GAVETA 200 190 63
42 7 14 8 12,5
72 12 26 12,5
42
Fonte: Desenvolvido pela autora
Figura 77 - Detalhamento cama 5 63 42 7 14 8 12,5
63
200 190 63
2
C
AVETA
GAVETA
PROJ. COLCHÃO A
A
GAVETA
VISTA FRONTAL
146 150
ESCALA: 1/25
B
42
C
72 12 26 12,5
GAVETA
2
AVETA
GAVETA
GAVETA
GAVETA
GAVETA
200 5
42 721226 12,5
150
146
ESCALA: 1/25
GAVETA
GAVETA
CORTE C
2
LOCAL PARA ENCAIXE DO COLCHÃO
CORTE B
ESTRUTURA EM OSB E RODÍZIOS COM TRAVAMENTO
2
190
ESCALA: 1/25
ESTRUTURA EM OSB E RODÍZIOS COM TRAVAMENTO
Fonte: Desenvolvido pela autora 91
92
05 CONSIDERAÇÕES FINAIS
93
94
O presente trabalho apresentou um estudo de caso que demonstra de maneira projetual como é possível promover um ambiente confortável, que atenda às necessidades dos usuários, que reflita a identidade dos moradores, mesmo em dimensões reduzidas. Com base nas pesquisas feitas, verificou-se que a aplicação dos conceitos de flexibilidade e multifuncionalidade, aliados ao design centrado no humano e principalmente no público-alvo de cada habitação são eficazes na concepção de um espaço de qualidade. No contexto atual, o que se observa é a continuidade de princípios de concepção do espaço desatualizados, que não se encaixam na nova conjuntura habitacional e social. O layout proposto pela construtora comprova a manutenção da tripartição burguesa por cômodos, e como essa não consiste na melhor alternativa para a concepção do espaço. Neste caso, verifica-se um layout único estabelecido, com pouca área para preparo dos alimentos, circulações com certas limitações, dimensões reduzidas para o mobiliário, com poucas áreas para receber pessoas e pouco espaço de armazenamen-
to, além da existência de áreas subutilizadas no ambiente, como a varanda. Por meio da flexibilidade e multifuncionalidade, obteve-se um ambiente que promove possibilidades de layout aos usuários para os diferentes momentos do dia e da semana, circulação confortável e ergonômica em todos os contextos, ampla área de cozinha e área de serviço, espaço para trabalho, máximo aproveitamento de toda a estrutura com foco na armazenagem e sensação de amplitude, por meio da liberação do núcleo central e da limpeza e visual. Além disso, transforma toda a área da unidade em área útil, permitindo assim, aproveitamento de todos os espaços dentro do apartamento, Assim, verifica-se a relevância de estudos e discussões acerca dos novos arranjos familiares, das novas formas de morar da tipologia habitacional em ascensão, os apartamentos compactos, além das alternativas projetuais coerentes com este momento. Deste modo, serão promovidas habitações de qualidade, que atendam as necessidades do habitante contemporâneo no aspecto físico e sensorial, possibilitando o que chamamos de lar.
95
96
06 REFERÊNCIAS
97
ALVES, José E.D.; CAVENAGHI, Suzana. Transições urbanas e da fecundidade e mudanças dos arranjos familiares no Brasil. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v.27, n. 2, p. 91-114, jul/ago, 2012. Disponível em: <https://fundaj. emnuvens.com.br/CAD/article/view/19>. Acesso em: 15 maio 2020 18:37:40.
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PROJETO DE GRADUAÇÃO
ARQUITETURA E URBANISMO 100