A Associação Comunitaria e Recreativa do Afoxé Filhos do Congo
Filhos do Congo no Carnaval de Salvador
Dezembro de 2022
A Associação Comunitaria e Recreativa do Afoxé Filhos do Congo
Dezembro de 2022
A Grandiosa Equipe Cão que tarda, mas não falha. Adriano, Davi, Jenifer e Letícia. Turma de Multimídia 2022
O Filhos do Congo de hoje é herdeiro de outras duas entidades que abrilhantaram os carnavais de Salvador.
Em sua formação mais antiga era os Congos d’África, um dos afoxés pioneiros da República. O Congos d’África, criado no início dos anos 1920 era um “colossal candomblé a perambular pelas ruas” que se originou com o velho Rodrigo (Dodô), nas mediações do Dique do Tororó, lugar sagrado em cujas cercanias havia muitos candomblés. O terreiro de Dodô dedicado a Omolú, já trazia uma marca dos afoxés dedicado ao Congo: tocava ijexá, ao invés de em congo como seria de se esperar. O Congos d’África, foi sucedido pelos Filhos do Congo nos finais dos anos de 1940 liderado pelo filho de Dodô, tendo desfilado ainda por alguns anos.
Ednaldo Santana Santos, o Nadinho do Congo. Liderança do Afoxé Filhos do Congo desde 1979.
Owè Filmes, fevereiro de 2020.
Ensaio do Filhos do Congo na festa de Yemanjá. Owè Filmes, 2020.
Finalmente os FILHOS DO CONGO ressurgiu em 1979 sob a liderança de Ednaldo Santana dos Santos, conhecido a partir de então como Nadinho do Congo. Os afoxés possuem íntimas relações místicas com os terreiros de candomblé e assim, foi Nadinho quem recebeu de seus guias a missão de levar as ruas o afoxé que homenageia a contribuição sócio-cultural dos africanos e seus descendentes, vindos da região africana do Reino do Congo. O guia do Filhos do Congo que comanda atualmente os destinos da entidade é o Orixá Ogum, ferreiro e senhor da guerra, patrono das artes manuais e inventor das industrias.
O afoxé constitui uma das manifestações culturais mais longevas do Carnaval da Bahia, suas origens remontam o século XIX e é marcante na história de luta e resistência cultural do povo negro. Sua trajetória, significados e sobrevivência são extraordinários e em muito é responsável pelo carnaval participativo e explorador de cultura que se desenvolveu na Bahia.
A partir de 1901, os povos africanos, passaram a participar mais do Carnaval, através dos batuques e dos candomblés. Os candomblés ficaram conhecidos, em meados da segunda década do século XX como afoxés. Os afoxés, teriam origens comuns aos “maracatus” de Recife e aos desfiles dos “Reis Congos”, parte de uma multiplicidade de manifestações conheci-
das como ciclo de Reisados que ocorrem entre o Natal e o Carnaval. Os “Reis Congos”, por sua vez, tiveram origens implantadas nas festas de coroação dos reis e rainhas das irmandades de escravos ou ex-escravos.
Os afoxés constituem um complexo sócio-político-cultural, de música percussiva, ritmo Ijexá, alas compostas por vários elementos da cultura negra: baianas, caboclos, capoeiras e orixás. Funcionam como núcleo de preservação e/ou recriação do patrimônio histórico cultural do povo negro.
Nelson Maleiro é o percussionista do século XX que revolucionou a construção instrumental baiana. A partir dos anos 1930, em sua Oficina Multiuso de Investigação Musical, localizada à Avenida JJ. Seabra, 28 Barroquinha, produziu uma variedade de instrumentos percussivos, abastecendo não só o consumo interno, como exportando para outros es-
tados e até para o exterior. A homenagem a Nelson Maleiro contou com interpretarão músicas-enredo alusivas ao carnavalesco homenageado: “Luz África”, de Tote Gira vencedora do concurso realizado pelo afoxé; “Maleiro, o Gigante inesquecível”, escrita por Adailton Poesia e Valter Farias.
Também conhecido como alaká, pano-de-alaká ou pano-de-cuia, o pano-da-costa é de origem africana e compõe a indumentária da roupa de baiana. Seu uso está intimamente ligado ao âmbito das religiões afro-brasileiras e obedece às cores simbólicas dos orixás. Sua denominação faz referência à costa africana, mais precisamente a ociden-
tal, local de origem dos muitos produtos trazidos para o Brasil, especialmente para o recôncavo baiano.
O Alaká coloca a presença da mulher como símbolo do poder sócio religioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.
Afoxé Filhos do Congo. Carnaval, 2018.
O “Nego Fugido” é um espetáculo da cultura popular santamarense que funde elementos da dança, da música, do candomblé e do teatro. Ele registra uma manifestação popular única, mantida há pelo menos um século pelos moradores, sendo uma das mais importantes manifestações culturais da região, atraindo todos os anos centenas
de fotógrafos e turistas para presenciar as aparições realizadas por moradores do distrito sempre aos domingos do mês de julho, quando revivem a luta pelo fim da escravidão, tendo como cenário as ruas de Acupe, uma comunidade quilombola banhada pela Baía de Todos os Santos no distrito de Santo Amaro.
O Afoxé Filhos do Congo celebrou no carnaval de 2019 seus 40 anos de folia e trabalho comprometido com a cultura afro-brasileira. Em seu primeiro desfile no Carnaval 2019 no dia 03 de março, a agremiação contou com a presença da rainha Diambi Kabatusuila da República Democrática do Congo, que veio direto de Kinshasa, capital e maior
cidade do país.
“DE MEDICO E LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO”. Juliano Moreira nasceu em Salvador, em 1872, filho de uma mulher negra que trabalhava em uma casa de aristocratas na Bahia. Moreira é um dos grandes nomes de estudiosos negros relevantes na história do Brasil e que muitas vezes são apagados de currículos escolares. Além
da luta contra teses racistas que relacionavam a miscigenação a doenças mentais no Brasil, Moreira também é reconhecido por humanizar o tratamento de pacientes psiquiátricos.
Nzinga nasceu entre 1581/82, anos após a chegada à região do navegador português Paulo Dias de Novais (1560) e da fundação da cidade de Luanda (1575), em um contexto de lutas e resistência contra a ocupação portuguesa. A partir de 1580, os portugueses intensificaram o comércio de escravizados, entraram em guerra contra o Ndongo e conquistaram toda a região. Filha de Ngola Mbande Kiluanji, rei do Ndongo, mostrou-se exímia negociadora ao ser enviada pelo irmão, sucessor do rei Ngola Mabande, à Luanda, um dos maiores centros de exportação de escravizados do continente africano, a fim de negociar um tratado de paz que estabeleceria o respeito à soberania do reino. Nzinga conhecia bem a língua e a cultura portuguesa, em virtude dos
contatos com missionários e comerciantes que passavam pelo Ndongo.
Apesar do período de paz que se seguiu à assinatura do tratado, os conflitos retornaram com a substituição do vice-rei português por um sucessor que não respeitou os compromissos assumidos. Com a morte de Ngola Mbande, seu irmão, Nzinga tornou-se rainha; impôs sua autoridade aos chefes locais, conquistou o reino vizinho de Matamba e tornou-se uma forte figura política na região.
Para o carnaval de 2023, O Afoxé Filhos do Congo prepara uma homenagem a grande Rainha Guerreira.
Litografia colorida a mão de Nzinga Mbandi ou “Ana de Sousa”. O desenho faz parte da “National Portrait Gallery” em Londres. Domínio Público.