Entre Epidemia e Imigração

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ENTRE EPIDEMIA E IMIGRAÇÃO: um viés de investigação da história da população no Grão-Pará (1748-1778)

acatou as queixas do corregedor e destacou seu zelo e dedicação, orientando-o a punir os envolvidos na sabotagem do alistamento.447 Durante o processo de montagem do primeiro carregamento de açorianos para o Grão-Pará, em 1751, o Conselho Ultramarino já fazia referência às queixas do corregedor. Os conselheiros também receberam reclamações contra os párocos da Ilha Graciosa, pois os religiosos estavam dedicados a convencer os casais alistados a não embarcarem.448 No mesmo documento, tanto o Conselho Ultramarino como o próprio rei determinavam ao corregedor empenho em persuadir os indivíduos alistados para embarcarem rumo ao GrãoPará. Contudo, mostravam preocupação com o método de convencimento e não recomendavam o uso da violência “para evitar a repugnância para o futuro que poderia resultar este procedimento [violento]...”.449 As ações persuasivas de párocos, de juízes ordinários e um possível uso da violência tornavam os emigrantes alvos de disputas entre diferentes níveis de autoridades das ilhas. Incluindo o esforço da Coroa em marcar sua ingerência nesse processo emigratório, articulando diferentes partes do Império a partir de demandas de mão de obra, povoamento e defesa. Ao narrar graciosenses “ocultandosse nos matos” ou juízes ordinários escondendo e rasurando os alistamentos, Joaquim Alves Muniz evidenciava que a partida para o Grão-Pará não se dava de maneira tranquila e enfrentava fortes resistências. A epidemia que acometera o Grão-Pará atravessava o Atlântico e ecoava na Ilha Graciosa, não na forma de enfermidade, mas de pressões políticas e possibilidades de emigração, revelando interações entre partes diferentes do Império português.

IV.III Os que Partiram dos Açores em 1752 Apesar das resistências e tensões, houve aqueles que partiram para o Grão-Pará. Como foi esse processo? E quem eram esses emigrantes? Para tentar responder as perguntas, avançamos nas análises das exigências contratuais de embarque e do perfil dos alistados: número, sexo, ofício, idade, relação de parentesco e composição dos “casais”.

447 AHU, Açores, cx.03, doc.63.

448 AHUPR, Capitania do Grão-Pará, 07 de abril de 1751, cx.32, doc. 3030. 449 Ibidem.


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REFERÊNCIAS

16min
pages 181-194

Considerações quase finais

3min
pages 173-174

IV.V – Sebastião Correia Pincanço, um imigrante que ligou o Império

7min
pages 166-169

IV. II – O não querer ir

12min
pages 139-145

IV.IV - No Grão-Pará

9min
pages 161-165

Finalizando

2min
pages 170-172

IV.III - Os que partiram dos Açores em 1752

27min
pages 146-160

IV.I – Açores e Emigração

7min
pages 135-138

Dos Açores ao Grão-Pará

3min
pages 133-134

Finalizando

3min
pages 130-132

III.V – Companhia e Inserção de Africanos

22min
pages 112-124

III.IV - Resistência à Solução Africana

14min
pages 104-111

III.III – Dubiedades de um Governador

9min
pages 99-103

III.VI – Distribuição Interna e Irregular

9min
pages 125-129

III.II – A Bula Papal

8min
pages 94-98

III.I - A Coroa e o Acesso à Mão de Obra Indígena

3min
pages 92-93

A “Solução” que Vem da África

1min
page 91

Finalizando

4min
pages 87-90

I.IV - Natureza e Povoamento

7min
pages 50-53

II.II - A Cidade de Belém e a Epidemia

16min
pages 65-72

Finalizando

4min
pages 54-56

I.III - Vítimas e Real Auxílio

14min
pages 42-49

Introdução

20min
pages 15-28

I.II – O Alcance da Epidemia

12min
pages 36-41

II.III - A Epidemia como Fenômeno Demográfico

26min
pages 73-86
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