LARGO SANTA CATARINA:
UM ESTUDO DO ESPAÇO PÚBLICO URBANO.
LUCAS VECCHIA l TEORIA 3 l FAUP l 2018
Figura 1 - Mapa da cidade do Porto.
CARACTERIZAÇÃO A zona escolhida para análise do espaço público é um espaço de largo, resultado da implantação da Capela Santa Catarina [fotografias 1 e 2] no território e da conformação urbana adjacente. O espaço em questão é localizado ao sul da freguesia de Lordelo de Ouro, próximo ao rio Douro, na cidade do Porto, em Portugal. O espaço é fruto de séculos de intervenção humana e apesar disso, parece carregar a mesma vocação ao longo do tempo: ser o espaço público de reunião vinculado ao uso da capela, além de ser o arremate entre a capela e sua inserção no território e na paisagem, o elemento que caracteriza, dá forma e significado ao lugar religioso.
CONTEXTUALIZAÇÃO Originalmente, a Capela de Santa Catarina possuía fortes ligações aos marinheiros, pescadores e aos Calafates do Ouro, sendo que a capela servia de proteção e também como uma espécie de farol para guiar a entrada no rio. A capela também fora a Igreja Matriz da freguesia. Atualmente, no largo Santa Catarina ocorre uma celebração todo segundo domingo de setembro, a chamada FESTA DE NOSSA SENHORA DOS ANJOS, em que, para além das celebrações religiosas, atuam grupos de folclore.
CRONOLOGIA SÉC. XIV - Carta Régia de João I, doando aos marinheiros do Porto um terreno para a construção de uma capela em honra de Santa Catarina, sua padroeira. SÉC. XIV/XV - Provável construção da primeira Capela de Santa Catarina, que corresponde à atual capela-mor. SÉC. XIX - Provável alteração e ampliação da Capela de Santa Catarina original. Fotografia 1 - Vista frontal da capela.
Fotografia 2 - Perspectiva da capela.
Figura 2 - Planta topográfica da cidade do Porto.
TERRITÓRIO O largo Santa Catarina localiza-se inserido em topo de morro à cota alta (entre as cotas 36 e 37 metros), a partir do qual se estabelece uma descida brusca à sul, com inclinação máxima de 42,5% até a Rua do Ouro, via que margeia o rio Douro (cota 6 metros). A menor distância entre o largo e a via é de 150 metros, bem como a menor distância entre largo e a margem do rio é de 175 metros. Esse desnível de mais de 30 metros entre o largo e o rio proporciona uma vista privilegiada, principal característica do local objeto de estudo.
PAISAGEM O que mais chama a atenção na conformação do espaço do largo Santa Catarina é a sua relação com a paisagem. A forma como o platô se encaixa no território permite uma abertura visual de quase 180 graus em direção ao Douro. O observador que se apoiar sobre os muros nas extremidades do largo poderá ver desde a ponte Arrábida [fotografia 3] à esquerda, enquadrando o centro histórico do Porto ao fundo até a praia do Cabedelo do Douro à direita [fotografia 6], que marca o encontro das águas do rio com o mar. Essa vista privilegiada determina a implantação da capela, de modo que o seu corpo edificado se vira para o mar, a partir do eixo este/oeste e procura se aproximar a um dos cantos do largo, abrindo espaço à poente, o que transforma a capela em uma referência visual quando se chega ao porto pelo rio, além de abrir espaço para poente, o que permite a observação do pôr do Sol.
CORTE 1 I DECLIVIDADE I 1:1000
Fotografia 3 - Vista para a ponte Arrábida.
Fotografia 4 - Vista para as plantações.
Fotografia 5 - Vista para o Quartel Militar do Poto.
Fotografia 6 - Vista para a foz do Douro.
1:500 PLANTA A I LOTES
ALÇADO TRASEIRO I 1:500
1:1000 PLANTA B I ALÇADOS + VIAS ALÇADO LATERAL’ I 1:500
ALÇADO LATERAL’’ I 1:500
ALÇADO FRONTAL I 1:500
CORTE VIA PEDONAL I 1:500
ESPAÇO PÚBLICO O espaço público no local apresenta-se em bom estado de conservação, com provável obra de reabilitação na área na última década, incluindo pavimentação da via e dos passeios e o plantio de espécies arbóreas, para além da continua manutenção da capela. O largo em si não apresenta nenhum mobiliário urbano. Os únicos elementos presentes no espaço são os muros de guarda-corpo em pedra [fotografia 7] que encerram o recinto, um patamar de acesso à porta principal da capela em semicírculo [fotografia 8], construído por volta dos anos 90, o passeio em volta e quatro arvores localizadas na extremidade sudoeste do sitio. Entretanto, há no próprio edifício da capela um princípio de mobiliário urbano, uma espécie de banco em alvenaria ligado ao embasamento do edifício. Este banco [fotografia 9], encimado por placagem em pedra, posiciona-se de frente ao miradouro, virada para a paisagem, de modo que é a única zona de estar no espaço e acaba por ser o principal local de reunião das pessoas. Outro aspecto a se notar é o espaço entre as árvores, transformado em estacionamento [fotografia 10], apesar de não apresentar nenhuma sinalização para tal. É comum no local os carros pararem por alguns minutos, enquanto as pessoas tiram fotos, conversam, etc. 3.30
11.40
8.45
6.75
6.35
22.60
0.45
22.00
4.30 2.10
0.45
9.20
8.50
2.10 PLANTA 1 l MEDIDAS l 1:250
PLANTA C I MÉTRICA [IGREJA] I 1:250
16.50
72
Fotografia 7 - Guarda corpo em pedra.
Fotogafia 8 - Vista do largo.
Fotografia 9 - Banco.
Fotografia 10 - Vista do largo.
2.40
4.40
3.80
3.20
11.15
8.60 6.60
6.00 4.60 5.50 30.00
9.35
10.15 6.10 1.20
1.50
1.80
PLANTA D I MÉTRICA [LARGO] I 1:250
6.00
1.20
ACESSOS
1
2
1:500 PLANTA E I VIÁRIO + VISTAS
O largo Santa Catarina, apesar de um ser um espaço público importante na zona de Lordelo, possui um acesso dificultado. Se por um lado este aspecto pode ser interpretado como uma qualidade urbana, no sentido de criar complexidade ao pedestre – que demanda certa curiosidade para “descobrir” o espaço - por outro acaba por impedir que muitas pessoas saibam da existência do lugar e possam aproveitar suas qualidades. A via de acesso principal ao sítio é a Rua das Condominhas, que liga a Rua do Campo Alegre às margens do Douro. A partir desta via, há um acesso pela Rua Luiz Cruz, acesso este com placa de sinalização localizando o sítio. Em seguida a via é bifurcada, à esquerda a via Luiz Cruz passa a descer em direção ao Douro, enquanto à direita situa-se a subida de acesso ao Largo por uma travessa de mesmo nome. Nessa bifurcação não há nenhuma sinalização, apenas uma antiga fonte de água desativada, possivelmente construída na altura da construção da capela. Seguindo à direita por cerca de 100 metros pode-se observar um estreitamento na via e à direita, a parte de trás da capela, assim como caminhos laterais que acessam o largo. Logo à entrada do largo à esquerda, há também uma outra via de pedestres, alinhada com o eixo implantação da capela e de menor dimensão e maior pendente [fotografias 11 e 12], que conecta abaixo com a rua do Sr. da Boa Morte e acompanha a descida ao rio. Além disso, a leitura da planta topográfica do Porto de fins do séc. XIX indica a existência de outro acesso, este relacionado ao limite à oeste, que conecta o largo diretamente à Rua das Condominhas por outro ponto, mais abaixo em relação ao acesso principal. Essa antiga via encontra-se atualmente encerrada pela garagem da última residência do largo, bem como a sua ligação com a via abaixo, encerrada por muros. [ver figura 1] Ao chegar ao largo, o pedestre é surpreendido por sua relação com a paisagem. O estreitamento do acesso logo à entrada contribui para uma sensação de recompensa, um presente para quem resolve avançar e descobrir o que há em seu topo.
Fotografia 11 - Acesso à rua do Sr. da Boa Morte.
Fotografia 12 - Acesso ao largo.
1.
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PERCURSO
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Fotografia 13 - Detalhe da Capela.
CONCLUSÃO Com a análise desse espaço é possível depreender algum tipo de definição do que seria um espaço público forte. Talvez um espaço público forte seja um espaço que esteja vinculado a condicionantes muito claros e potentes, a exemplo do largo Santa Catarina, no qual o projeto do espaço público está intimamente ligado com a paisagem, o território e a presença de um edifício histórico e de importância local. Talvez este espaço público tenha passado tanto tempo inalterado por ser um espaço com tais qualidades. Em casos como esse, é até difícil pensar outras formas diversas de arranjo dos elementos urbanos. É preciso, portanto, localizar mais espaços como este, a fim de garantir sua preservação.
WEBSITE - UNIÃO DAS FREGUESIAS DE LORDELO DE OURO E MASSARELOS. Disponível em: www.uf-lordeloouromassarelos. pt/index.php/actividades/eventos/icalrepeat. detail/2016/09/07/83/-/festa-em-honra-de-nsenhora-dos-anjos-e-sta-catarina-de-lordelo-doouro. WEBSITE - MONUMENTOS, CAPELA SANTA CATARINA. Disponível em: www.monumentos.gov.pt/Site/ APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5420 WEBSITE - ARQUIVO MUNICIPAL DO PORTO. Disponível em: gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/519291/?q=largo+santa+catarina+lordelo FIGURA 1 - MAPA DA CIDADE DO PORTO. Documento editado, original disponível em: azvavisuals.com/azvavisuals_wp/wp-content/uploads/2014/06/portomap20.jpg FIGURA 2 - PLANTA TOPOGRÁFICA DA CIDADE DO PORTO. Folha da planta da cidade do Porto, à escala 1:500, levantada sob direção de Augusto Gerardo Teles Ferreira. Documento subordinado/Ato informacional, [188?] – [1892].
REFERÊNCIAS
FOTOGRAFIAS 1 A 13 + PERCURSO. Fotografias de autoria própria, retiradas em campo, em maio de 2018.