Jornais e Revistas de 16 de maio de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 16 DE MAIO DE 2014

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“Educação e meio ambiente devem ser as prioridades”, diz Eduardo Giannetti Em um novo modelo de crescimento, investimentos devem ser direcionados para o capital humano. Eduardo Giannetti é um dos poucos economistas do Brasil que apoia abertamente um candidato à presidência. Desde 2010, atua como conselheiro de Marina Silva e está engajado no lançamento de sua campanha. Crítico do atual governo, Giannetti apoia a volta do tripé na condução da macroeconomia e defende a criação de um novo modelo de crescimento que priorize a educação e o meio ambiente. "O novo ciclo de desenvolvimento do Brasil será liderado pelo investimento em capital humano e em capital físico", disse na entrevista que segue. Quais seriam as missões urgentes do novo governo ao assumir em janeiro de 2015? Na minha opinião, há duas diretrizes para a política econômica. A primeira é voltar ao que estava funcionando bem no governo de Fernando Henrique e no primeiro mandato de Lula recuperar a credibilidade e a consistência do tripé macroeconômico, com superávit primário, câmbio flutuante e autonomia do Banco Central. O Brasil vai precisar disso, porque houve um descuido grave com a inflação e há um colapso de confiança em relação à macroeconomia. As três pernas do tripé ficaram muito capengas. Na política microeconômica, vamos precisar de uma agenda de reformas para termos regras mais adequadas ao investimento do setor privado na infraestrutura. Quando o senhor fala de recuperar a autonomia do BC, fala da autonomia que conhecemos nos últimos anos ou autonomia formal? Num primeiro momento, falo de autonomia operacional. Mas uma que crie o caminho para se chegar à autonomia formal. Não estamos institucionalmente maduros ainda para dar esse passo. Ele é desejável, mas precisa estar muito amadurecido - quais serão as regras de escolha do presidente, da diretoria, quais são as condições para uma eventual descontinuidade, como vai funcionar na prática para que não se fixe prematuramente um sistema que depois pode gerar grandes prejuízos... Enquanto não estiver maduro, é muito temerário partir para um sistema de autonomia formal. Como o senhor vê essa autonomia do Banco Central? Nos últimos tempos ela foi muito informal... O Banco Central tem mandato para cumprir o centro da meta da inflação e vai usar seus instrumentos para isso, mas precisa ter a Fazenda como um aliado, não um inimigo desse objetivo. Não cabe a membros da equipe econômica ou do Executivo se pronunciarem ou darem palpite sobre o que deve ser a política monetária. Isso gera muito ruído. O BC deve ter uma equipe técnica, com pessoas de voo próprio, reputação irretocável, tecnicamente muito competentes, como foi no segundo mandato do Fernando Henrique com o Armínio Fraga, e depois como foi com o Henrique Meirelles nos dois mandatos de Lula. Meirelles durante a sua gestão pode ter errado na dosagem e feito mais do que era estritamente necessário, mas em nenhum momento ele errou no sinal - apertou quando tinha de apertar e reduziu quando tinha de reduzir. O voluntarismo do governo Dilma se mostrou insustentável. Ela tentou forçar 2


uma queda de juros precipitada. Deu a entender que uma inflação perto do teto estaria de bom tamanho. Isso é um erro grave de condução de política em um sistema de metas, em que a ancoragem das expectativas é fundamental. No sistema de metas deve haver uma crença compartilhada e crível de que o centro é para valer. Mas houve uma acomodação no teto da meta. E pior - o que realmente me causa muita apreensão, porque não esperava voltar a ver isso na minha vida profissional - o governo recorre ao controle de preços administrados para obter resultados de inflação no curto prazo. Eu acho um caminho perigosíssimo, um retrocesso que cria um enorme artificialismo. A inflação dos preços livres está acima da meta, em torno de 7%, 7,7% no acumulado, enquanto a inflação dos preços administrados está muito represada. Em algum momento isso vai ser corrigido, tanto no caso dos derivados de petróleo, como no da energia elétrica e do transporte coletivo. Eu francamente não esperava voltar a assistir a esse filme no Brasil.

Qual é o retrato que o senhor faz da economia Brasileira hoje? Estamos vendo uma combinação pouco usual. O governo Dilma, que foi eleito em nome da aceleração do crescimento, caminha para ter o mais baixo crescimento da história republicana do Brasil, ao lado de Floriano Peixoto e de Fernando Collor de Mello. Temos uma inflação teimosamente no teto da meta. Além disso, vemos uma piora significativa nas contas externas, com déficit nas contas correntes que no ano passado foi de 3,6% do PIB e que exige um financiamento de cerca de US$ 85 bilhões - o que já supera, bastante até, o investimento direto estrangeiro. Ou seja, estamos voltando a uma situação de alta vulnerabilidade externa, numa economia mundial em transição. Essas três coisas não costumam andar juntas. Se você está com baixo crescimento, a inflação deveria estar comportada. Deveria estar no centro da meta. Se você tem um déficit de 3,6% do PIB, você deveria estar crescendo muito, porque o mundo está transferindo poupança externa para aumentar a nossa capacidade de investimento. Deveríamos estar com um crescimento expressivo, dado que estaríamos nos beneficiando desse oxigênio adicional para aumentar o nível de investimento no País. Então, realmente, é uma combinação preocupante. O único ponto alentador da conjuntura é o nível de emprego, que vem se mantendo elevado. Mas, nesse caso, três coisas estão acontecendo. Primeiro, diminuiu a entrada de pessoas no mercado de trabalho porque a fecundidade caiu 3


muito no Brasil a partir dos anos 70. Segundo, houve um crescimento muito alto do setor de serviços, que é mão de obra intensiva. Com a inclusão social e a ascensão do grupo chamado nova classe média, o setor de serviços teve uma demanda muito expressiva nos últimos anos. Temos ainda o fenômeno do desalento. Muitos jovens estão na geração nem-nem - nem estudam, nem trabalham - não estão procurando emprego, portanto não são parte do desemprego. Você tem também muita gente no Bolsa Família que não está no mercado de trabalho porque tem essa renda e consegue manter um padrão de vida sem estar buscando emprego. Mas, de qualquer maneira, é um aspecto alentador ver que o emprego se mantém. O que levou o País a essa combinação? Eu vejo três fatores, que foram uma forte reversão de expectativas. Em 2010, o Brasil aparentava um vigor econômico e uma capacidade de crescimento elevada que depois se frustrou fortemente. O primeiro fator é a mudança do quadro internacional - há um componente importado, sim, nessa piora do desenvolvimento brasileiro. Temos nesse caso uma dupla transição - os Estados Unidos se recuperando, com a mudança da política monetária, e a China com um padrão de crescimento com menor nível e com outro modelo. Essa mudança no quadro internacional significa que o mundo não trabalha mais a nosso favor. Piorou para os mercados emergentes, tanto na questão financeira quanto na comercial. Depois temos um fator estrutural, doméstico, que não é desse governo, nem do anterior, nem do anterior do anterior - a pioria profunda das finanças públicas a partir de 1988. Nós tínhamos uma carga tributária de 24% do PIB na época em que a Constituição foi promulgada e hoje ela está em 36% do PIB. E não obstante a esse aumento muito expressivo da carga tributária, que deixa o Brasil fora da curva para um país de renda média, a capacidade de investimento do Estado brasileiro caiu. No final dos anos 80, o governo brasileiro, no seu conjunto, arrecadava 24% e investia em torno de 3% do PIB. Hoje ele arrecada 36%, tem um déficit nominal de 3,6%, o que significa que praticamente 40% do PIB transitam pelo setor público, e a média de investimento do Estado brasileiro nos últimos quatro anos ficou em torno de 2,5% do PIB, o PAC incluído. Isso é algo que vem se agravando insistentemente no Brasil nos últimos 30 anos. O terceiro componente é a piora na qualidade da política econômica. O Brasil teve um momento muito positivo, na minha avaliação, no segundo mandato do Fernando Henrique e no primeiro do Lula, depois que adotamos o câmbio flutuante, configuramos o arranjo do tripé e uma agenda microeconômica também prevaleceu nesses dois mandatos. Mas essa direção se perdeu. Já no segundo mandado do Lula a coisa começou a piorar - tanto na macro, quanto na micro - num primeiro momento com uma certa vergonha, porque as coisas iam bem e a equipe econômica não se sentia à vontade para fazer do seu jeito. Depois da crise de 2008-2009, eles perderam a vergonha e as coisas começaram a realmente piorar com a tal nova matriz econômica, que mostrou como resultado o que estamos discutindo aqui - baixo crescimento, pressão inflacionária e piora nas contas externas. O governo Dilma foi marcado por uma aposta em mais Estado... ... e micro gerenciamento. O Estado escolhendo a dedo quem vai ter ou não subsídio, quem vai ter ou não desoneração, quem vai ter tarifa de importação. Essa é uma dimensão de interferência muito abrangente do governo Dilma. Nesse caso, temos uma espiral intervencionista. O governo interfere num ponto porque acha que vai resolver aquela distorção e vai ficar por ai. Mas não vai. Porque ao corrigir o que ele acha que é uma distorção, ele vai gerar uma outra, que vai exigir uma nova intervenção. E isso gera a espiral intervencionista, na qual esse governo está enredado - e não vai ser fácil desfazer. Adam Smith 4


tem uma metáfora que eu gosto - está na Teoria dos Sentimentos, não está na Riqueza das Nações. Ele diz que o planejador estatal diante do grande tabuleiro de xadrez da sociedade humana acredita que ele vai movimentar uma peça e ela vai obedecer passivamente. Mas ele esquece que, nesse grande tabuleiro, a peça, além do movimento que o Estado lhe imprime, ela tem movimento próprio, que vai surpreender o planejador - e vai escapar do seu controle. Isso gera uma espiral intervencionista. Nós estamos vivendo esse ciclo no Brasil. Coisa que era praticada no governo de Getúlio Vargas no Estado Novo e praticada no governo Geisel, no regime militar. A Dilma pertence a essa linhagem. É uma cabeça estatizante. Como se desfaz isso na economia? Vai ser complexo. Porque vai criando grupos de interesses, muito organizados e focados na defesa daquilo que conquistaram. Num primeiro momento, você só tem perdedores, porque os ganhadores da desconstrução disso são difusos na sociedade. É uma perda geral da eficiência do sistema econômico. Isso gera uma equação política, uma dessimetria de informação que é complexa para você desfazer. Vai ter que desfazer. O pessoal que está pendurado no BNDES vai ter de aceitar que acabou a mamata. Vai ter de buscar mecanismos de financiamento voluntários ou autofinanciamento - como, aliás, era no Brasil. E na economia, qual será o custo de desmontar as outras coisas que o senhor mencionou? Vamos ter de dar um passo atrás para depois andar para frente? Não é andar para trás, mas é aceitar que sacrifícios nos curto prazo vão ter de ser feitos para obter benefícios logo adiante. É uma troca no tempo. E o Brasil é um País que tem muita dificuldade de aceitar custos que precedem benefícios. Mas para isso existem estadistas lideranças capazes de mostrar que sacrifícios feitos agora valem a pena porque os benefícios que virão são mais recompensadores. Isso vai se traduzir em baixo crescimento por um ou dois anos ou recessão em algum momento? É difícil fazer previsões de crescimento, mas haverá um choque de credibilidade que vai ser positivo e, em parte, compensa o aperto de cinto que se impõe num primeiro momento. Esse choque de credibilidade pode, em grande medida, atenuar ou compensar a austeridade que o Brasil vai ter de enfrentar. Um exemplo é o reajuste das tarifas. Engraçada essa crença do brasileiro de que o preço subsidiado está sendo pago pelo governo. O governo não paga nada. Não existe gratuidade. A ideia de chacoalhar a árvore não gera os frutos que caem. O governo é um chacoalhado de árvores, mas ele não cria os frutos que caem. Os frutos que caem são criados pelo trabalho dos brasileiros. E, se você chacoalhar a árvore demais, você fragiliza e destrói a árvore. O Estado é um grande intermediador de recursos. Essa noção de Estado patrimonialista que está ainda muito presente na cultura brasileira, passa a ideia de que o Estado é o dono e o setor privado vive por concessão para pagar tributos ao governo. Mas não é isso. Na verdade do Estado deveria servir a quem o financia, porque ele não gera recursos ele transfere de um lado para outro ou entre grupos da sociedade ou jogando a conta para o futuro. Mas isso tem um limite, porque se a dívida começa a crescer muito, a conta vem para geração atual. O risco da dívida começa a ficar preocupante. Nós já estamos nesse ponto. Os protestos recentes mostram que as pessoas estão com pressa... A classe média ascendeu ao consumo, mas não ascendeu a cidadania. O passo que falta é esse - o transporte coletivo, a segurança aeroportuária e portuária, energia elétrica, qualidade de ensino, saúde pública, saneamento. 5


Essa demanda vai pesar na campanha eleitoral deste ano? Tudo leva a crer que sim, porque há um sentimento geral de frustração. Eu acho que se criou uma expectativa de avanço, que não aconteceu. Este foi um governo marcado por medidas protecionistas e poucos acordos comerciais... Sem dúvida. Quando o câmbio estava incomodando alguns grupos, eles se reuniram para ir ao governo pedir proteção. E o governo cedeu. Deu tarifa adicional para 100 categorias de produtos. No momento em que a inflação começou a incomodar, o governo reduziu algumas dessas tarifas conseguidas por pressão lobista. Tornar o sistema de tarifas objeto de negociações e de mudança de curto prazo ao sabor da conjuntura é um enorme retrocesso. Isso é umas das coisas que dificultam a decisão de investir no Brasil. E precisamos ter claro também que o Brasil é um dos países mais fechados do mundo. Chama a atenção quando o comparamos a outros emergentes; como perdemos espaço nas exportações e impomos restrições às importações. A gente precisa pensar em aumentar o fluxo de comércio. Vender e comprar mais do mundo. Ainda sobre a questão macroeconômica, o senhor defende apenas a volta do tripé ou faria algo diferente? Na política econômica strictus sensus é a volta do tripé na macroeconomia e uma nova agenda de reformas na microeconomia. O princípio dessa agenda é a horizontalidade. Não vão ser desonerações caso a caso, incentivas fiscais caso a caso, medidas protecionistas caso a caso. O governo Dilma virou um balcão de demanda de grupos de interesse - inclusive dentro dos ministérios. Para muitos empresários faz mais sentido ter tido uma boa negociação no ministério do que buscar produtividade e a eficiência. Eles criaram tamanha incerteza quanto às regras de funcionamento da economia que os empresários se retraem. O cálculo de retorno do investimento fica fragilizado, incerto, em um ambiente desse tipo. A todo o momento estão mexendo em regras fundamentais de previsibilidade que são essenciais para o cálculo econômico. Nós vamos ter que ter outra filosofia de ação microeconômica. Ações microeconômicas são as ações do governo que interferem no funcionamento dos mercados. Dizem respeito ao sistema tributário, tarifa de proteção, subsídio, crédito. O que começou no segundo mandato do Lula e prevaleceu no de Dilma foi o micro gerenciamento na linha do Geisel (General Ernesto Geisel, presidente nos anos 70). Essa filosofia gera problemas terríveis - inclusive deprime o nível de investimento. Não é à toa que caiu. Mas acho que a grande mudança que o Brasil precisa, numa visão de estadista, é trazer dois componentes da ação pública para o centro da agenda. Um deles é a questão do capital humano - educação. O outro componente é o meio ambiente. Não dá para ter crescimento saudável sem que educação e meio ambiente tenham uma centralidade que nunca tiveram nas políticas públicas. Como se faz isso na prática? Em educação, acho que precisamos faze uma verdadeira revolução. Para colocar de uma forma mais simples - o Brasil precisa de um Juscelino (Juscelino Kubitschek, presidente nos anos 50) do capital humano. Assim como Juscelino incendiou a imaginação brasileira com o valor da industrialização, da urbanização, da modernidade, do capital físico, o que está faltando agora é alguém que faça uma liderança em torno do valor do conhecimento, da pesquisa, da formação humana. Em meio ambiente, o Brasil tem uma responsabilidade planetária, porque a natureza nos dotou com biodiversidade, com recursos hídricos, com incidência de sol, com terras cultiváveis, minérios, fontes de energia, e o Brasil precisa ter muita maturidade, sabedoria, para fazer um uso consistente, sustentável e benéfico desses recursos. Em relação ao pré-sal, por exemplo, acho fundamental ficar estabelecido de uma vez por todas que os recursos 6


arrecadados com a exploração do petróleo vai constituir um fundo soberano fora do alcance dos políticos. Eles não vão poder usar esse patrimônio que é da nação brasileira e das gerações futuras. O que vai estar disponível para gasto é a receita do fundo, mas o patrimônio do recurso vai estar em um fundo soberano selado, blindado do avanço dos políticos. O pior cenário que eu vejo para o Brasil, olhando para a frente, é a receita do pré-sal na mão de um governo populista. Vira Venezuela. É uma maldição que vai nos jogar um século para trás. Isso precisa ficar bem claro. Mas desapareceu do debate brasileiro a ideia do fundo soberano. Nós queremos o modelo norueguês ou o modelo venezuelano? Como se equilibra desenvolvimento com sustentabilidade? Nós precisamos separar no Brasil duas questões que estão misturadas. Uma coisa é o nível de exigência que o Brasil precisa ter no que se refere ao meio ambiente no século 21. Isso é a altura da régua. Outra coisa é processo de licenciamento. O nível de exigência precisa ser alto, rigoroso e não é para negociar. Mas isso não implica em ter de gastar um tempo enorme para licenciar, ser obrigado a conviver com uma enorme insegurança jurídica, porque está tudo sujeito a revisões. Não significa ter de conviver com órgãos públicos que têm medo de tomar uma decisão e sofrer alguma punição. O processo de licenciamento precisa avançar para ser mais célere e confiável. Recentemente, o senhor deu entrevista e reescreveu um artigo dizendo que o problema da desigualdade são as condições iniciais. Como se muda isso na prática? Com saneamento básico, melhora nas condições de moradia, universalização da creche, ensino fundamental - e médio, se possível - em tempo integral. Atuando na questão da violência urbana. A incidência de mortes violentas entre jovens de cor negra no Brasil é um escândalo. Isso deveria mobilizar um esforço de entendimento e de ação completo - não só do governo, como da sociedade. Uma questão que chama a atenção e precisa ser resolvida pode ser vista em um padrão que se repete no processo da ascensão da classe média. A nova classe média deseja automóvel, mas o Brasil não fez a contrapartida necessária que é infraestrutura. Você expande abruptamente a frota e gera o caos no trânsito que está presente em todas as cidades brasileira. O financiamento incentivou a nova classe média a comprar freezer, forno de microondas, máquina de lavar roupa. Ótimo. É uma inclusão muito bem-vinda. Mas cuidaram da geração e da transmissão de eletricidade para dar consistência a essa nova demanda? Estamos caminhando para uma situação crítica nessa área. Aeroportos. Aumentaram rapidamente o acesso de novos grupos sociais ao conforto de uma viagem aérea. Que bom que isso aconteceu. Mas os aeroportos estão numa condição deplorável. Educação. A nova classe média demanda credenciais educacionais, o que é muito bem-vindo. Mas nós temos professores e condição de atender essa demanda com ensino de qualidade? Sabe-se que 60% dos que fizeram a prova do Conselho Regional de Medicina em São Paulo - sextoanistas de faculdade de medicina - foram reprovados em conhecimentos básicos. O exame da OAB reprova regularmente mais de 80% dos que se candidatam a ter credenciais para o exercício da profissão. Tem um estudo da Fundação Paulo Montenegro mostrando que mais de um terço dos egressos do ensino superior são analfabetos funcionais. Não adianta alimentar a ilusão de que se está democratizando o ensino superior quando na realidade o que se está fazendo é um balcão de diplomas. E, por fim, tem a Minha Casa, Minha Vida, que é um programa bom - a aspiração por moradia é legítima para qualquer cidadão - mas e o saneamento? Metade dos domicílios no Brasil não tem saneamento. Apenas 15% tem tratamento de esgoto. Veja que o padrão em todos esses exemplos é exatamente o mesmo. Você faz a parte fácil do benefício 7


imediato, mas não se dá ao trabalho de criar as condições para que esse movimento possa ter continuidade. Ele tem fôlego curto. Qual seria, então, o novo motor de crescimento do Brasil? O novo ciclo de desenvolvimento do Brasil será liderado pelo investimento. Investimento em capital humano e em capital físico. Mas não cabe ao Estado eleger as empresas, grupos ou setores que vão merecer algum tipo de estímulo para fazer o investimento. O que o Estado pode fazer é dar condições gerais para que o mercado faça, já que ele faz melhor do que o Estado e o burocrata. O que o Estado pode fazer de relevante é financiar o desenvolvimento tecnológico, a pesquisa de tecnologias que são relevantes para as condições brasileiras. Qual o papel do BNDES nessa mudança? Eu vejo o BNDES financiando tecnologias alternativas e setores ligados à sustentabilidade, mas com muito critério. Não vejo com bons olhos o mecanismo de financiamento com endividamento do tesouro. Isso é uma extravagância que foi longe demais. Temos-nos hoje US$ 350 bilhões, US$ 400 bilhões em financiamentos via BNDES e bancos estatais por meio de dívida bruta do tesouro. É quase uma volta àquele sistema que existia antes da estabilização que usava o Banco do Brasil agressivamente para fazer financiamento subsidiado. O que o Brasil deveria fazer com o Mercosul? O Mercosul virou um obstáculo a uma inserção mais intensa do Brasil no comércio internacional. Em nome da ideia de uma união aduaneira, inibe-se cada membro do bloco. Em relação a outros blocos e parceiros, ficamos presos desnecessariamente. E o Brasil é grande demais para o Mercosul. E nossos parceiros de Mercosul são muito complicados. Ainda mais agora que a Venezuela virou membro do clube. A saída é sair? Acho que deveriam transformar o Mercosul em um acordo de livre comércio, com redução de barreiras, embora a Argentina e a Venezuela não pratiquem o mesmo. O Brasil precisa recuperar a sua autonomia para poder negociar e perder um pouco do atraso acumulado nos últimos 20 anos de não ter negociado com blocos relevantes que nos interessam - Estados Unidos, União Europeia, Ásia. Em que nível o senhor está participando da campanha de Marina Silva? Há um trabalho em andamento de construção entre a Rede e o PSB. Desde a campanha de 2010, eu tenho um diálogo com a Marina Silva, que eu considero uma líder com qualidades raras. Em qualquer país do mundo, qualquer pessoa que se afirme em seu compromisso ético, antes de mais nada - isso é um privilégio em qualquer democracia - uma liderança expressiva que tem na ética, nos valores o seu ponto de gravidade. Eu me disponho a colaborar com o que eles demandarem de mim, com reflexões, com ideias, com formulações. Há um debate em andamento? Lógico. Houve um momento que eu achei muito positivo, que foi o lançamento das diretrizes programáticas da aliança, há duas semanas. Fiquei muito bem impressionado com o discurso que Eduardo Campos fez nesse evento, porque foi a primeira vez que eu o vi seriamente empenhado em tornar a nossa aliança uma realidade. Ele mostrou uma disposição em realmente trazer o que são para nós os valores de um projeto de nação - educação e meio 8


ambiente - para o centro de um programa de governo, e sem aventura na economia. Nós não temos nenhuma ideia muito radical e original para gestão da política econômica. Nós vamos fazer o que já mostrou que funciona. Qual o nível da conversa para a formação de uma eventual chapa? Está caminhando. Acho que já há uma afinidade consistente, embora algumas coisas ainda não estejam muito claras. O problema é que dentro do PSB há grupos com ideias diferentes das que prevalecem na Rede. Nesse ponto, há um trabalho a ser feito. Mas acho bom a divergência e a conversa. É uma troca. Mas a Rede vem de uma trajetória diferente das bases do PSB em relação a questões como dívida pública, do financiamento e do tamanho do Estado. Ainda há um caminho a percorrer. Para o eleitor há dúvida se a Marina consegue separar as crenças pessoais da gestão pública. Eu tenho absoluta certeza que sim. A Marina não mistura a convicção religiosa dela com questões da vida pública. Eu vi testes de fogo em questões espinhosas. Casamento homossexual, por exemplo. A postura dela é irretocável. Em relação ao casamento civil, não há a menor dúvida. Se as pessoas vivem juntas e adquiriram obrigações e direitos, o Estado deve reconhecer e sancionar. Casamento é outra coisa. Cada religião decide o que faz. E na esfera econômica, como tende a ser, por exemplo, a reação diante de projetos de usinas hidrelétrica que estão próximas a aldeias indígenas? Essa é uma questão a ser discutida. Por que o critério econômico deve dominar todas as decisões? Não há nenhuma razão para isso. Se grupos indígenas vão ser prejudicados é preciso repensar. O Estado de direito existe para defender as minorias. Caso contrário, é como na China, onde o governo decide e faz - e dá no que dá. Um estudo descobriu que a poluição ao Norte da China está reduzindo a expectativa de vida em cinco anos. Qual é o sentido de crescer 10% ao ano se você perde cinco anos de vida? Esse crescimento é ilusório. O critério do crescimento de renda monetária é parcial e míope em relação à vida humana. Como você contabiliza as 5 horas que um cidadão comum brasileiro passa no inferno do transporte coletivo? É uma perda tangível de bem-estar e de qualidade de vida que não entra nas contas nacionais. Se você elucida melhor o que está em jogo e começa a medir o que é avanço e o que é retrocesso, as pessoas acabam percebendo que não é uma crença baseada em dogma ou tabu, mas no entendimento mais completo do que está em jogo.

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Taxas sobem e cartão de crédito cobra 232% de juro

O maior reajuste foi na taxa do cartão de crédito, que subiu 0,44 ponto percentual no último mês, chegando a 10,52% ao mês e 232,12% ao ano. Foto: Divulgação

As taxas de juros voltaram a subir em abril, segundo a pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Os juros médios cobrados da pessoa física, medidos a partir dos valores cobrados em seis linhas de crédito, aumentaram 0,1 ponto percentual em abril, na comparação com março, ficando em 5,96% ao mês. Nos primeiros quatro meses do ano, a média dos juros para pessoa física subiu 2,26 pontos percentuais. O maior reajuste foi na taxa do cartão de crédito, que subiu 0,44 ponto percentual no último mês, chegando a 10,52% ao mês e 232,12% ao ano. O empréstimo pessoal teve aumento de 0,06 ponto percentual em abril, na comparação com março, e ficou com taxa de 3,4% ao mês – 49,36% ao ano. Para a pessoa jurídica, a taxa média teve elevação de 0,04 ponto percentual em abril em relação a março, ficando em 3,39% ao mês e 49,19% ao ano. Em doze meses, a alta foi 0,69 ponto percentual. O maior aumento foi na modalidade de conta garantida, que subiu 0,06 ponto percentual e chegou a 5,9% ao mês (98,95% ao ano). De acordo com o diretor executivo de estudos econômicos da associação, Miguel José Ribeiro de Oliveira, os aumentos acompanham os consecutivos reajustes da taxa básica de juros (Selic). Além disso, o cenário econômico com expectativa de crescimento da inflação e a queda na atividade econômica têm impacto nos juros. “Estes fatos têm levado as instituições financeiras a elevarem suas taxas de juros acima das elevações da Selic”, explicou Oliveira. A pesquisa aponta que de março de 2013 a abril de 2014 a Selic subiu 3,75 pontos percentuais. No mesmo período, a taxa média para pessoa física aumentou 12,34 pontos percentuais e para pessoa jurídica 5,61 pontos percentuais.

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Atividade econômica no país retrai 0,11% em março

índice feito pelo Banco Central acumula variação de 0,29% no primeiro trimestre. Foto: Divulgação

A atividade econômica no país apresentou retração de 0,11%, em março, na comparação com fevereiro. É o que indica o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) dessazonalizado (ajustado para o período), divulgado nesta sexta-feira, dia 16. Apesar do resultado no primeiro trimestre do ano, a economia brasileira acumula expansão e 0,29%, na comparação com os últimos três meses de 2013. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, foi registrado crescimento de 1,56%, de acordo com os dados sem ajustes já que são períodos iguais na comparação. Em março deste ano, contra igual mês de 2013, houve queda de 0,09%. Em 12 meses encerrados em março, a expansão ficou em 2,46%. O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica brasileira. O índice incorpora informações sobre o nível de atividade dos três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária.

Produção no pré-sal supera 470 mil barris por dia

Marca alcançada no dia 11 de maio representa novo recorde de produção diário. Foto: Agência Petrobrás/Divulgação

A produção de petróleo nos campos operados pela Petrobras na chamada Província Pré-Sal, nas Bacias de Santos e Campos, superou, no último dia 11 de maio, o patamar de 470 mil barris de petróleo por dia (bpd), o que representa um novo recorde de produção diário. Esse patamar foi atingido com a produção de 24 poços, sendo nove provenientes da Bacia de Santos. Com isso, a produtividade média por poço no Polo Pré-Sal da Bacia de Santos alcançou 11


28 mil barris de petróleo por dia (bpd), um aumento de quase 30% em comparação com fevereiro de 2013, quando foi alcançado o recorde de produção diária de 300 mil bpd. Esse resultado se deve à entrada em operação, no último dia 9 de maio, do poço 7-LL-22D-RJS. Esse poço, com vazão atual de 31 mil bpd, está interligado ao FPSO (navio-plataforma) Cidade de Paraty, no campo de Lula, através de uma Boia de Sustentação de Riser (BSR). Por meio dessa tecnologia pioneira, o trecho ascendente das tubulações de produção é sustentado por uma boia submersa. Trata-se do terceiro poço interligado utilizando a tecnologia BSR e o primeiro conectado ao FPSO Cidade de Paraty. A primeira boia, instalada no FPSO Cidade de São Paulo, no campo de Sapinhoá, já possui dois poços em produção. O primeiro poço interligado vem apresentando desempenho acima da média e mantém-se como o melhor poço produtor do país, com produção de aproximadamente 36 mil bpd. O segundo poço desta BSR foi interligado no início de abril e está produzindo 35 mil bpd. A instalação da terceira boia, também no FPSO Cidade de São Paulo, e da quarta boia, no FPSO Cidade de Paraty, foram concluídas em abril e maio, respectivamente. O FPSO Cidade de São Paulo produz atualmente cerca de 100 mil bpd, com três poços, e o FPSO Cidade de Paraty, cerca de 60 mil bpd, com dois poços. Ao longo dos próximos meses, novos poços serão interligados aos FPSOs Cidade de São Paulo e Cidade de Paraty por meio das BSRs, garantindo a continuidade do crescimento sustentável da produção do pré-sal, com o atingimento da capacidade máxima de produção dessas plataformas – que é de 120 mil bpd -, ainda no terceiro trimestre. O campo de Lula é operado pela Petrobras (65%), em parceria com a BG E&P Brasil Ltda (25%) e a Petrogal Brasil S.A. (10%). O campo de Sapinhoá é operado pela Petrobras (45%), em parceria com a BG E&P Brasil Ltda. (30%) e a Repsol Sinopec Brasil S.A. (25%).

Cenário dificulta prever tempo de reação dos manufaturados A demora em uma melhora das exportações de bens manufaturados brasileiros tem levado alguns economistas a questionar em quanto tempo afinal a desvalorização cambial - cujo ciclo mais recente se iniciou no segundo semestre de 2012 - deverá gerar uma reação das exportações desses itens pelo país. Ninguém discorda que há uma mudança de cenário em relação a períodos anteriores em que também houve depreciação do real, como em 2002, mas não há um consenso sobre os motivos da demora. Alguns especialistas dizem que esse tempo de reação ficou mais difícil de ser previsto e de ser enquadrado em teorias econômicas, como a da "curva J", recentemente citada pelo ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, em entrevista ao Valor. Esse modelo, baseado em econometria, demonstra o efeito da desvalorização cambial sobre a evolução das transações correntes. Num primeiro momento de depreciação do câmbio haveria queda no saldo de transações correntes. Isso aconteceria por conta da pressão exercida pela balança comercial, com importações que demoram para reagir à desvalorização cambial porque há contratos anteriores em andamento. Em um gráfico de evolução das transações 12


correntes, essa queda, tida como temporária, levaria à curva descendente do "J". A partir do cumprimento dos contratos antigos de importação, porém, haveria uma recuperação dos saldos da balança comercial porque as importações cederiam e também por conta dos resultados positivos do câmbio mais desvalorizado sobre as exportações. Com uma contribuição mais positiva da balança comercial, o gráfico do saldo de transações correntes subiria para finalizar o "J". Entre os economistas, há, no entanto, outro grupo que tem alertado que há novas variáveis na economia brasileira e mundial nos últimos anos que dificultam que o "J" se realize. Outros dizem que os indicadores atuais mostram que o "J" terá uma base grande, mas, ainda assim, se desenhará no gráfico. E há aqueles que não acham que essa teoria possa ser aplicada ao caso brasileiro, sobretudo pelas mudanças profundas na sua estrutura produtiva, hoje com maior participação de bens importados, e preferem se basear em outras variáveis não captadas pela curva "J". Em um comparativo entre o comércio exterior brasileiro, o comércio mundial e o crescimento econômico brasileiro e mundial em diferentes momentos em que o Brasil passou por uma desvalorização da sua moeda, Fernando Ribeiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômico-Aplicada (IPEA), concluiu que um dos fatores que pesam atualmente para retardar o tempo de reação das exportações à desvalorização cambial é que a economia mundial hoje tem comportamento diverso do mostrado em outros períodos. Isso estaria trazendo efeitos diferentes do comumente esperado para as exportações (sobretudo de manufaturados) brasileiras. Em 1999, quando houve forte depreciação - a cotação média do dólar saiu de R$ 1,16 em 1998 para R$ 1,83 no ano seguinte -, ele explica que o PIB mundial era crescente. No ano seguinte a exportação brasileira total cresceu 14,8% e a exportação total do mundo, 13%.

Em 2001 e 2002, quando a moeda brasileira voltou a se desvalorizar, a economia mundial recuperou-se rapidamente depois de ter se desacelerado em 2001. A taxa de crescimento do PIB mundial, de 4,7% em 2000, caiu para 2,3% no ano seguinte, mas subiu para 2,8% em 2002 e atingiu, em 2004, 5,1%. Em ritmo parecido, a exportação mundial, que em 2001 caiu 4,1%, cresceu 4,8% em 2002 e 16,8% no ano seguinte. A exportação brasileira teve alta de 5,8% em 2001, de 3,7% em 2002 e de 21,1% em 2003. A partir do segundo semestre de 2012, quando a moeda nacional iniciou novo ciclo de desvalorização, a exportação brasileira não reagiu, apresentando recuo de 0,16% em 2013, na comparação com o ano anterior. A economia mundial, ao contrário de períodos anteriores em que houve desvalorização da moeda brasileira, se desacelerou: o crescimento de 3,2% em 2012 caiu para 3% no ano passado. A exportação total do mundo deixou de crescer a taxas três 13


vezes maiores que a do PIB mundial, como aconteceu muitas vezes entre 2003 e 2011. Em 2012, a exportação de todo o mundo aumentou apenas 0,4%, e no ano passado, 2,1%. Para este ano, a estimativa é de que a demanda mundial seja afetada pela leve desaceleração da economia chinesa enquanto a União Europeia e os Estados Unidos devem apresentar lenta recuperação. Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que a teoria é válida, mas para o momento atual existem outras variáveis que fazem diferença, principalmente para as exportações das indústrias. Além da demanda mundial fraca e de a vantagem da desvalorização cambial não ser somente brasileira, diz Souza, há, no caso do Brasil, alguns elementos que devem ser levados em conta como longo o período em que o câmbio ficou valorizado (entre 2003 e 2012). Nesse intervalo, lembra ele, a estrutura industrial se alterou e a presença do importado cresceu. Essa avaliação é em parte compartilhada por Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP. Ele diz que hoje há uma multiplicidade de variáveis que dificultam esses modelos econométricos. "Você pode até montar um modelo e dizer que a desvalorização, comparandoa com outros momentos, levou tantos meses para rebater na exportação de manufaturados. Só que atualmente há um mercado internacional muito retraído e clientes importantes como a Argentina em crise muito profunda. O câmbio [desvalorizado] vai ajudar muito pouco nesse sentido", disse ele, que estimou que, em outras ocasiões, diante da desvalorização cambial brasileira, a recuperação das exportações de manufaturados se dava em aproximadamente oito meses. Lívio Ribeiro, pesquisador da FGV/IBRE, entende que o problema das exportações de manufaturados brasileiros é hoje predominantemente de demanda. O ponto principal, diz, é entender o que aconteceu com a demanda por produtos industriais brasileiros. "Acho que estamos com grandes parceiros, como a Argentina, em período muito complicado. Então, não é uma questão de defasagem do câmbio", acrescenta. "Qual é o câmbio que faz você exportar para a Argentina hoje? Nenhum. Sem demanda, não há preço". Para o economista do Ibre, a "curva J" não trata de demanda, mas de preço. "Se a gente não estivesse com nenhum problema de demanda, acho que o argumento de preço poderia ganhar proeminência. Mas o fato é que hoje você tem um choque de absorção", destacou. O economista do IPEA ressalta ainda outra característica do atual momento que o difere dos demais períodos de desvalorização entre o fim da década de 90 e o início dos anos 2000: pelo menos até o momento não há uma mudança de preços relativos, na direção de que os preços dos bens comercializáveis sobem mais rapidamente do que os não comercializáveis. "Agora há desvalorização cambial, mas os preços dos não comercializáveis continuam crescendo mais do que o dos comercializáveis, com os serviços pressionando ainda a inflação", ressalta Fernando Ribeiro. "Os períodos anteriores de forte desvalorização do real foram marcados por recessão doméstica. Apesar de doloroso, isso permitiu que o ajuste de preços relativos tenha sido feito de maneira mais rápida", acrescenta ele. Desta vez, no entanto, o país não está em recessão. "Nós estamos crescendo pouco, mas a taxa de desemprego continua baixa e os serviços mantêm pressão sobre inflação. Estar sem recessão é positivo, mas isso acaba dificultando esse mecanismo de transmissão da desvalorização para a expansão das exportações, principalmente do setor industrial." A vantagem hoje, na opinião do economista do IPEA, é que o Brasil pode se dar ao luxo de ter resultados menos favoráveis na balança comercial sem grandes problemas no curto prazo. 14


"Esse ajuste pode ser feito lentamente enquanto for possível sustentar um déficit em contas correntes em níveis aceitáveis." Para ele, a recuperação se dará ao longo do próximo governo, ano após ano, levando em conta que as exportações de petróleo tendem a crescer com o présal e que deve haver elevação da exportação de minério, com a melhora gradual do lado do externo. "Teremos um "J", mas um "J" meio deitado."

Quinze famílias mais ricas do Brasil são donas de 5% do PIB Os irmãos Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho, José Roberto Marinho aparecem no topo da lista das famílias mais ricas do Brasil, divulgada pela revista Forbes. Juntos, a fortuna dos Marinho soma US$ 28,9 bilhões, o equivalente pelo câmbio atual a R$ 64,3 bilhões, quase 50 vezes o custo da Arena Itaquera, o estádio de abertura da Copa 2014. A lista das 15 famílias mais ricas do Brasil tem também outros sobrenomes famosos como Safra, Ermírio de Moraes, Moreira Salles, Camargo Correia, Vilella, Odebrecht e Setubal, entre outros. As fortunas das 15 famílias mais ricas do Brasil guardam US$ 122 bilhões, o equivalente a R$ 269 bilhões, ou cerca de 5% do PIB do país. Segundo a revista, o número de bilionários no País cresceu significativamente desde 1987, quando a primeira lista de bilionários Forbes foi publicada. Na época, apenas três brasileiros estavam no grupo dos bilionários do mundo: Sebastião Camargo, fundador do grupo Camargo Correa e dono da marca sandálias Havaianas; Antônio Ermírio de Moraes, um dos acionistas do Grupo Votorantim; e Roberto Marinho, que herdou o jornal O Globo e deixou para os filhos as Organizações Globo, maior império de mídia do continente. Na lista deste ano, aparecem 65 brasileiros bilionários, sendo que 25 deles são parentes. Oito famílias têm vários membros no ranking. A revista constata que nascer rico ainda é o jeito mais fácil de virar bilionário, embora a porcentagem dos herdeiros venha diminuindo nos últimos rankings dos mais ricos do mundo. A família Odebrecht, por exemplo, é uma das mais ricas do País, mas tem 15 pessoas dividindo a fortuna. Confira a lista das 15 famílias mais ricas do Brasil segundo a 'Forbes': 1. Marinho (Mídia) Três irmãos controlam as Organizações Globo: Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho, José Roberto Marinho. Fortuna: US$ 28,9 bilhões 2. Safra (Banco) Joseph Safra, Moise Safra e Lily Safra, donos do Banco Safra. 15


Fortuna: US$ 20,1 bilhões 3. Ermírio de Moraes (Siderúrgica e banco Votorantim) Antonio Ermírio de Moraes, Ermírio Pereira de Moraes, Maria Helena Moraes Scripilliti, José Roberto Ermírio de Moraes, José Ermírio de Moraes Neto e Neide Helena de Moraes. Fortuna: US$ 15,4 bilhões. 4. Moreira Salles (Banco) Fernando Roberto Moreira Salles, João Moreira Salles, Pedro Moreira Salles e Walter Moreira Salles Junior. Fortuna: US$ 12,4 bilhões 5. Camargo (Camargo Corrêa - Construção, engenharia, energia e outros) Rosana Camargo de Arruda Botelho, Renata de Camargo Nascimento e Regina de Camargo Pires Oliveira Dias. Fortuna: 8 bilhões 6. Villela (Banco Itaú) Alfredo Egydio de Arruda Villela Filho e Ana Lucia de Mattos Barretto Villela. Fortuna: US$ 5 bilhões 7. Maggi (Soja) Lucia Borges Maggi, Blairo Borges Maggi, Marli Maggi Pissollo, Itamar Locks e Hugo de Carvalho Ribeiro. Fortuna: US$ 4,9 bilhões 8. Aguiar (Banco Bradesco) Lina Maria Aguiar, Lia Maria Aguiar e Maria Angela Aguiar Bellizia. Fortuna: US$ 4,5 bilhões 9. Batista (Frigoríficos) José Batista Sobrinho, fundador da produtora de carne JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Fortuna US$ 4,3 bilhões 10. Odebrecht (Construção, engenharia, petroquímica e outros) 15 herdeiros da empresa fundada pelo engenheiro pernambucano Norberto Odebrecht. Fortuna: US$ 3,9 bilhões 11. Civita (Mídia) Giancarlo Francesco Civita, Anamaria Roberta Civita e Victor Civita Neto, herdeiros da editora Abril. 16


Fortuna: US$ 3,3 bilhões 12. Setubal (Banco) 25 parentes de uma das famílias fundadoras do banco Itaú. Fortuna: US$ 3,3 bilhões 13. Igel (Petróleo e petroquímicos) Daisy Igel e mais seis herdeiros do grupo Ultra, dono de marcas como Ipiranga e Ultragás. Fortuna: US$ 3,2 bilhões. 14. Marcondes Penido (Rodovias privatizadas) Ana Maria Marcondes Penido Sant'Anna e a irmã, herdeiras da CCR, maior operadora brasileira de rodovias. Fortuna: US$ 2,8 bilhões. 15. Feffer (Celulose e papel) Cinco irmãos herdeiros da Suzano. Fortuna: US$ 2,3 bilhões.

CNI: Participação de importados no consumo é recorde no trimestre A participação das importações no consumo doméstico voltou a crescer no primeiro trimestre e bateu novo recorde, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O coeficiente da fatia das importações medido pela entidade aumentou 0,4 ponto percentual em relação ao último trimestre de 2013 e atingiu 22,5% no primeiro trimestre de 2014. Esse é o resultado mais alto da série histórica, iniciada em 2007. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a participação dos importados aumentou 1,4 ponto percentual. Esse crescimento, avalia o estudo, é resultado dos aumentos persistentes no coeficiente de penetração de importações na indústria de transformação, segmento em que o indicador subiu de 20,5% no fim de 2013 para 20,9% no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período, o coeficiente de importações na indústria extrativa caiu de 57,5% para 54,9%. “O avanço da participação das importações não faz parte de uma estratégia das empresas. É mais um indicador que confirma a falta de competitividade da indústria brasileira”, avaliou, em nota, o gerente executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. Outro sinal disso é o coeficiente de exportações da indústria, que ficou praticamente estável entre o fim de 2013 e o primeiro trimestre deste ano ao sair de 19,7% para 19,8%. Esse indicador mede a importância das exportações para a produção industrial. Isso acontece, segundo Fonseca, porque a indústria nacional tem “baixa produtividade e custos elevados” e, por isso, “está perdendo mercado interno e externo". De acordo com o economista da indústria, isso fica claro quando é analisado o efeito do câmbio nos embarques internacionais. “A desvalorização do câmbio impediu a queda do 17


coeficiente”, concluiu o estudo. Em dólares, as exportações de produtos industriais caiu 1% entre janeiro e março deste ano, em relação ao último trimestre de 2013, mas avançaram 2,6% em reais.

Tarifa industrial deve subir para quarta maior do mundo A desorganização do setor elétrico mandará uma fatura dolorosa para a competitividade da indústria brasileira nos próximos meses. Levantamento inédito obtido pelo Valor demonstra que, até o fim de 2015, o Brasil deve passar do 11º para o 4º lugar no incômodo ranking de países com as tarifas industriais de energia mais caras do planeta. Caso se confirme os reajustes esperados, as contas de luz na porta das fábricas vão ficar 43% acima do patamar verificado antes da polêmica MP 579, medida provisória que a presidente Dilma Rousseff editou em setembro de 2012 justamente para derrubar os custos da eletricidade e melhorar a competitividade das empresas.

Atualmente, paga-se em média R$ 310,7 por megawatt-hora no país, segundo dados compilados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em estudo que será divulgado nos próximos dias. Esse valor deve aumentar para R$ 342,7 até dezembro de 2014, caso se mantenha a tendência de reajuste médio de 17,1% das tarifas industriais no mercado regulado, que já afetou 22 das 63 distribuidoras de energia neste ano. Empresas como Eletropaulo (SP), Light (RJ), Celesc (SC) e Copel (PR) ainda não tiveram seus reajustes aplicados. Com isso, a Firjan prevê que todo o desconto propiciado pela MP 579 terá sido eliminado no segundo semestre. Quando assinou a medida provisória, Dilma disse que a redução das tarifas de energia era "um dos pontos importantes da nova etapa do nosso modelo de desenvolvimento" e afirmou que seu governo estava "mudando as bases competitivas" do país, lembrando aspectos como juros em "níveis civilizados" e a inflação "sob controle". Com esse pacote, a tarifa média paga pela indústria caiu de R$ 332,2 para R$ 263. O ganho será totalmente corroído até o fim deste ano, mas o estrago maior virá em 2015, quando começa a devolução, pelos consumidores, dos aportes do Tesouro Nacional e do empréstimo de R$ 11,2 bilhões da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para evitar a insolvência financeira das distribuidoras e aliviar os aumentos recentes das contas de luz. Para o ano que vem, a estimativa da Firjan é de novos reajustes da ordem de 17% e um adicional das chamadas "bandeiras tarifárias", que começam a vigorar em janeiro. Por esse sistema, o impacto do acionamento das usinas térmicas será sentido imediatamente, em caso 18


de hidrologia desfavorável. Isso levará o valor do megawatt-hora para R$ 420,2 até o fim de 2015, segundo a federação, o que seria suficiente para o país ultrapassar as tarifas médias da indústria em outros sete países: Japão, México, Portugal, El Salvador, Turquia, República Tcheca e Colômbia. Os industriais brasileiros vão continuar pagando menos apenas do que seus colegas em Cingapura, na Itália e na Índia. "É um verdadeiro desastre", diz o gerente de competitividade industrial e investimentos da Firjan, Cristiano Prado. Para ele, a alta dos preços da energia vai se refletir em mais pressão sobre as margens da indústria e dificuldades adicionais para as exportações. Prado avalia que uma solução de emergência para atenuar o problema é mexer nos impostos e tributos do setor, principalmente no ICMS e PIS/Cofins. "Eles representam quase 50% do valor das tarifas. No curto prazo, o que se pode e se deve fazer é trabalhar sobre a carga tributária. Ou atacamos esse ponto, para não deixar o paciente morrer na UTI, ou a indústria viverá um drama de competitividade no ano que vem." Empresas com demanda superior a 3 MW podem comprar energia diretamente no mercado livre, escolhendo seus fornecedores, e têm normalmente contratos de longa duração com as geradoras. Uma série de grandes contratos no polo industrial da Bahia, por exemplo, chega ao fim em 31 de dezembro. O Valor apurou que eles foram assinados entre companhias de setores como petroquímico e metal-mecânico com a Chesf, subsidiária da Eletrobras, por valores próximos de R$ 110 por megawatt-hora. Há uma preocupação crescente das indústrias com as perspectivas de renovação. Com a disparada de preços no mercado de curto prazo, geradoras estão oferecendo novos contratos de três a cinco anos que começam em R$ 300 por megawatt-hora e vão caindo ao longo do tempo, chegando ao patamar de R$ 200 no fim do período. Por isso, as negociações estão travadas e espera-se que a volta das chuvas possa diminuir um pouco esses preços. A alta dos custos da energia para a indústria no Brasil tem contrastado com medidas adotadas por outros países. A França, por exemplo, resolveu destinar 25% da eletricidade produzida por suas usinas nucleares - com investimentos já amortizados - ao setor industrial, com preços diferenciados. O Estado de Nova York, nos Estados Unidos, também tem um programa específico de redução de custo do insumo que visa manter e criar empregos. O "ReCharge NY", criado em 2011, destinou 910 MW de energia de baixo custo para empresas da região - sendo metade desta quantia proveniente de hidrelétricas amortizadas.

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