ENN OFF Abrindo as portas do universo jornalistíco Escrever uma revista pode até parecer fácil para alguns, ao mesmo tempo em que pode parecer algo quase impossível para outros. Porém, para nós que fizemos a Lide, foi uma de nossas melhores experiências, pois cada matéria teve um contexto diferente. Como no dia em que fomos ao Arruda apurar a matéria de “Estação” e ficamos bem pertinho da torcida organizada. Ou no dia em que, para chegar à Tribuna, erramos a parada do ônibus e andamos a pé durante meia hora pela Perimetral Norte, em Olinda. São momentos como esses que, apesar do nervosismo do momento, entrarão para a história de criação da Lide. Nas páginas desta publicação, o leitor terá acesso aos bastidores da cobertura jornalística em suas diversas vertentes. Com objetivo de se transformar em uma fonte auxiliar de estudos, a Revista Lide traz para os universitários dicas, informações e conselhos de quem já está na área. Além disso, os futuros jornalistas poderão conhecer um pouco melhor os profissionais que direta ou indiretamente os influenciaram na escolha da carreira. Na primeira edição, procuramos buscar formas alternativas de trabalhar com o Jornalismo. Por esse motivo, a seção “Lide”, a principal do veículo, trata sobre um assunto ainda não muito conhecido pelos acadêmicos: o Jornalismo Comunitário. Além disso, nas editorias que se seguem, o leitor poderá encontrar um assunto especifico de cada segmento do Jornalismo. São matérias que falam sobre o mercado de trabalho, sobre o Jornalismo freelancer e outros temas que são curiosidade de todo estudante. Criada por duas (ainda) estudantes de Jornalismo pernambucanas, uma das ambições da Lide é suprir a carência do mercado
regional, que não possui publicações para esse segmento. Outra característica da revista é o uso de jargões da profissão em suas páginas. Uma forma de familiarizar o leitor com a linguagem profissional. E porque Lide? O lide (do inglês “lead”) é o primeiro parágrafo de um texto jornalístico, aquele que contém as informações principais da notícia. Assim como a Revista Lide, que é a primeira publicação de Pernambuco direcionada a esse público. Esperamos que você goste da Revista Lide, assim como gostamos de produzi-la. Aproveite para desvendar o universo jornalístico, ao folhear cada página desta revista.
Tenha uma ótima leitura!
Thatiane Teixeira e Josi Marinho
*Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido pela alunas Josinalda Marinho de Brito e
Thatiane Teixeira França, alunas do curso de Jornalismo da Faculdade Joaquim Nabuco, sob orientação da professora Renata do Amaral. LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 03
PAUTA Arcevo Auçuba
FOCA>> Veja as dicas para conquistar uma vaga no mercado de trabalho 05 SCRIPT>> Conheça os bastidores do Jornalismo policial televisivo 08 LINK>> Com o advento das mídias digitais,o mercado exige um outro perfil profissional 12 BATENTE>> Trabalhar com Jornalismo freelancer é uma opção para os focas 15 RELEASE>> Novos segmentos de assessoria de imprensa ampliam o mercado 19 LIDE>>
ENTRE ASPAS>>
LIDE
De quem é a responsabilidade para qualificar o estudante para o mercado? 22
A Comunicação Comunitária é uma alternativa para exercer a função social do Jornalismo 24
FOTÔNNETRO >>
Fotojornalismo exige a versatilidade do fotógrafo 29
GRANDE ANGULAR>> Jornalista Henrique Melo reflete sobre o lixo e a sociedade 33 PINGUE- PONGUE>>
Acompanhe uma entrevista exclusiva com o radialista Gino César
34
CADERNO>>
As reportagens especiais estão reinventando o Jornalismo impresso 42
ESTANTE>> Confira sugestões de leitura sobre Jornalismo 46 ESTAÇÃO>>
Bastidores da transmissão radiofônica durante a cobertura esportiva 38 04/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
FOCA
Procura-se ESTÁGIO Conseguir uma colocação no mercado de trabalho é o desejo dos jovens que, ainda na faculdade, começam a ter as primeiras experiências profissionais “Você está contratado!” Essa é a frase que todos os estudantes desejam ouvir ao entrar no mercado de trabalho através do estágio. Como essa oportunidade muitas vezes demora a chegar, os questionamentos sobre a escolha da carreira começam a aparecer. Vários fatores determinam a contratação de um estagiário. Entre as principais características buscadas pelas empresas estão a interatividade e a iniciativa, fatores básicos que determinam o bom relacionamento entre as pessoas e, principalmente, a contratação do universitário naquela empresa. Muitos estudantes de Jornalismo entram na faculdade buscando trabalhar na redação dos grandes veículos de comunicação. Seja no impresso, TV, rádio ou online, o sonho da maioria que chega às instituições de ensino é ser aquele repórter que faz as melhores matérias e sempre dá o furo, o que nem sempre acontece. É no estágio que o estudante se depara com a realidade da profissão que escolheu e é essa vivência que o torna mais completo para a vida profissional. Outro motivo fundamental
para o universitário buscar ser um estagiário é a oportunidade de ele ter contato com os jornalistas mais experientes, aqueles que antes eram considerados modelos ideais de profissionais. Quem tem a chance de trabalhar com os grandes nomes da
O preenchimento de vagas pelo chamado “QI” faz com que nem todos tenham a oportunidade de adquirir experiência durante a faculdade profissão muitas vezes não acredita que o sonho se tornou realidade. É o caso de Aline França, 23, estudante do 8º período de Jornalismo da Faculdade Joaquim Nabuco, que atualmente trabalha na empresa considerada o “supras-
sumo” da área, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Há mais de um ano ralando como produtora e editora do programa “Redator de Plantão”, ela afirma que o ambiente de trabalho é maravilhoso. “A experiência no JC traz um grande amadurecimento como profissional. O estágio lá exige bom preparo e responsabilidade do universitário.”
Aprendiz - Entre aqueles estu-
dantes que, ao contrário da maioria, não querem trabalhar em uma redação, há um que se destaca por ter ido bem mais longe do que muitos já sonharam chegar. Rodrigo Solano, 21, ainda é estudante do 7º período de Jornalismo da Faculdade Maurício de Nassau e já trabalha como coordenador de Comunicação Interna do Grupo Ser Educacional, uma das maiores empresas do Norte/Nordeste. Ele teve que vencer uma concorrência de 125.800 candidatos, que disputavam outra vaga ainda mais importante e que o levou a conseguir essa e outras conquistas em sua carreira profissional. Solano foi um dos 16 estudantes que parLIDE/ DEZEMBRO 2011/ 05
Network - É o bom relaciona-
mento que muitas vezes determina quem será contratado para o estágio. Assim como em qualquer profissão, a boa comunicação, o networking e a convivência com as outras pessoas possibilita ao jovem saber de uma vaga sobre a qual a maioria das pessoas não chega a tomar conhecimento. Além do baixo número de oportunidades oferecidas, ainda existem aquelas que são preenchidas sem que uma seleção pública seja aberta. Nesses casos, o candidato é chamado à empresa, onde recebe a oferta de estágio. A partir desse 06/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
momento ele precisa ir até uma agência de integração e assinar o contrato. Devido a essa concorrência muitas vezes desleal, alguns estudantes podem se sentir injustiçados. O preenchimento de vagas pelo chamado “QI” faz com que nem todos os jovens possam ter a oportunidade de adquirir experiência durante a faculdade. Para a estudante Janmilly Albuquerque, 22, que faz estágio na Secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco, as vagas que são preenchidas dessa forma dificultam o ingresso dos estudantes ao mercado. “O primeiro estágio na área de Jornalismo é muito difícil”, afirma. Outra opção para os estudantes que ainda não conseguiram estágio e não estão pensando em remuneração é o estágio voluntário. Normalmente os jovens que praticam essa atividade trabalham em OrganizaçõesNão Governamentais (ONGs) ou para instituições religiosas. Esse tipo de atividade proporciona ao universitário
a oportunidade de quebrar as primeiras barreiras profissionais e pôr em prática o que aprende na universidade. A estudante do 2º período de Jornalismo da Faculdade Joaquim Nabuco, Jaqueline Melo, 18, acredita que o estágio voluntário está sendo uma feliz experiência. “Poder estagiar durante o curso é uma oportunidade de pôr em prática o que se vê em sala de aula e nos possibilita experimentar as mais diversas áreas”, diz.
Concorrência - Assim que en-
tram na faculdade, os estudantes fazem o cadastro nas agências de estágio. Em Recife três
Rodrigo Solano foi classificado em segundo lugar no Aprendiz 7
Divulgação
FOCA ticiparam do programa Aprendiz Universitário 7. Como se não bastasse ter vencido a grande concorrência e o intenso processo seletivo, ele ficou em 2º lugar nessa experiência de que poucos têm a oportunidade de participar. São viagens, visitas a diversas empresas, contato direto com o público, e idas e vindas às famosas e temidas salas de reunião, onde o destino dos participantes é definido. Mesmo se considerando o azarão do jogo e acreditando que iria sair do programa a cada prova perdida, Solano afirma que o melhor de sua participação foram as amizades adquiridas durante a experiência. Atualmente além de trabalhar e estudar, o jovem está percorrendo o país com sua palestra “Bate-papo com Rodrigo Solano”, que aborda assuntos fundamentais para o estudante, como o relacionamento interpessoal. “Hoje em dia, competência e aptidão para exercer funções é o mínimo esperado quando se contrata um profissional. Está na hora de exigir algo a mais! E o relacionamento, na minha opinião, é um dos fatores mais fortes”, declara Solano.
FOCA de estágio, e que está crescendo Veja algumas dicas com o aumento do uso da internet, é via redes sociais. O Twitter de como agir durante e o Facebook estão se mostrando o processo seletivo verdadeiros aliados para os estudantes que buscam uma oportuni- 1. Controle a ansiedade: é difícil, dade. porém é esse controle que irá Seguindo essa tendência, o determinar seu comportamento jornalista Leo Lemos saiu na frente durante a seleção do estágio; e fundou o “Há vagas”, blog que 2. Seja verdadeiro: não é legal divulga vagas na área de comuniquando você tenta imitar outra cação. Referência de divulgação de pessoa ou ser aquilo que não é; oportunidade de estágios ainda na 3. Seja natural: isso lhe dará mais faculdade, o jornalista levou o espaço para as mídias sociais visando segurança e mostrará aos avaliadores quem você é; ajudar os colegas de profissão. 4. Preste atenção ao português: A iniciativa deu certo e hoje pratique, leia, estude a língua é um ponto de encontro para portuguesa. Use o português a aqueles que buscam uma chance. seu favor. Não adianta dominar Mesmo com toda a dificuldade e as barreiras que os estudantes uma língua estrangeira se você enfrentam durante a faculdade, não fala bem o português; é preciso ser persistente na hora 5. Leia sobre tudo: não há nada de buscar um estágio. Afinal de pior para um jornalista do que tocontas, a teoria não se faz sem a dos estarem conversando sobre prática, pois é essa experiência que um assunto e ele não saber do irá contribuir para abrir as portas que se trata; do mercado de trabalho para o 6. Mantenha boa aparência: seja futuro profissional. L em entrevistas ou na universidade. Lembre-se que seus professores serão seus futuros colegas de trabalho; 7. Saiba se portar: mantenha o pé no chão, não queria passar por cima dos outros. Você é avaliado até pelo jeito que bate à porta de uma empresa em busca de estágio; 8. Celular desligado: nunca atenda ao celular durante a entrevista de emprego. Essa atitude representa uma falta de educação com quem está entrevistando você; 9. Chegue cedo: não tem nada pior que você chegar a uma seleção de estágio atrasado. Isso mostra que você não tem compromisso com seu lado profissional. Leo Lemos divulga vagas na área de comunicação em blog orgãos são especializados em realizar esse serviço: o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o Portal Abre e o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). A principal meta dessas empresas é ajudar a formar os futuros profissionais, através da inserção dos jovens no mercado de trabalho. A divulgação das vagas acontece por meio de jornal impresso, internet e telefone. Várias empresas são cadastradas nos centros de integração e estão de portas abertas à espera de estudantes que, além de estagiários, podem no futuro se tornar funcionários. De acordo com a representante do CIEE Patrícia Fernanda, a demanda candidato/vaga de estágio reflete a atual situação do mercado de trabalho, onde a concorrência é grande na área de Jornalismo. Além de encaminhar os estudantes, a agência oferece cursos de capacitação gratuitos. Todos os estudantes que possuem cadastro no órgão podem participar. Outra forma de os futuros jornalistas ficarem sabendo de vagas
Leandro Albuquerque
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 07
SCRIPT
Caso de polícia Apesar de a abordagem da notícia ser criticada como sensacionalista, o telejornalismo policial continua sendo fenômeno de audiência
08/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
LIDE
“Mulher é assassinada com três tiros na cabeça pelo marido em Pau Amarelo, Paulista”. Essa é apenas uma das pautas que o cinegrafista Reginaldo da Silva, 52, precisa cobrir juntamente com a equipe da ronda da TV Tribuna. Há 11 anos Pedra, como é conhecido, filma as tragédias cotidianas na madrugada. Ele afirma que já ficaram registradas na lente da sua Sony DCR 450 assassinatos, assaltos, esquemas criminosos, tráfico de drogas, entre outros delitos. Nesse horário, a equipe de reportagem formada pelo jornalista, o cinegrafista e o motorista não contam com produção e encontram as pautas pelas ruas. As fontes são os policiais, o Instituto de Criminalística (IML), as testemunhas, as vítimas, os próprios criminosos e os colegas de trabalho de outras emissoras. Para conseguir essa rede de informantes, é preciso respeito e saber se relacionar com a fonte. “O cinegrafista tem que ter a sensibilidade para aquilo que o repórter está falando em off
Thiago Raposo estreou como âncora de TV no programa Ronda Geral
ou o que vai entrar na hora da edição”, diz Reginaldo da Silva. Para o bom andamento da matéria, é preciso uma sintonia entre o cinegrafista e o repórter. Ambos precisam combinar entre si os enquadramentos e quais elementos precisam ser filmados para que, na hora de editar a matéria, texto e imagem “casem”.
Caso contrário, a reportagem não terá o direcionamento esperado e nem sempre existe a possibilidade de voltar ao local do fato para refazer a gravação. “Enquanto o jornalista está apurando a notícia, cabe ao cinegrafista fazer as imagens correspondentes àquela matéria. Quando o profissional não tem feeling, ele tem que
entrevistado antes de gravar e explicar que esse é o momento que ele tem para se defender e mostrar a versão dele”, conta. Deve haver respeito com o entrevistado e ao mesmo tempo o repórter precisa extrair as informações que o telespectador quer saber. Ele aconselha nunca chegar gravando pois isso pode gerar uma confusão. “É péssimo fazer uma matéria de polícia porque quando você chega todo mundo quer que você saia dali a pedradas. As pessoas não querem que você participe daquele momento”, argumenta Portela.
SCRIPT Geralmente o repórter já sai da emissora pautado e recebe pelo celular outras pautas ou mais detalhes sobre aquela que a equipe está cobrindo. A redação fica com o controle do que vai acontecer e cabe a ela direcionar cada equipe de reportagem para as respectivas pautas. Existem aqueles jornalistas que cobrem especificamente polícia e as demais equipes fazem as outras matérias. Mas, se no decorrer do dia aparecerem mais pautas de polícia, esses repórteres vão se dividindo entre as outras equiLIDE
abandonar essa área”, explica. Pedra conta que a cena do crime é algo muito forte. Há alguns anos a exibição dos cadáveres e de closes nas partes do corpo perfuradas pelos disparos de balas, por exemplo, eram mostrados de forma brutal. Hoje a cobertura policial usa alguns recursos como imagens desfocadas e filmagens distantes dos cadáveres ou exibem apenas alguns elementos no cenário do crime. A seleção do material para a elaboração da matéria é feita pela produção, e em alguns momentos o repórter dá algumas sugestões. O cinegrafista ressalta ainda que é comum a presença de pessoas no local de uma tragédia para observar a vítima. “No entanto no momento da gravação enquanto essas pessoas fazem de tudo para aparecer na filmagem os familiares do acusado ou da vítima preferem não gravar”, comenta.
Respeito - Adriano Portela,
26 anos, atualmente é produtor da Rede TV, mas durante cinco anos trabalhou como repórter policial. Começou a trilhar essa área na época em que era estagiário da Estação Sat, no canal 14, e depois na TV Jornal, nos programas policiais da emissora. Nesse período, trabalhou no Blitz na Cidade, com Ciro Bezerra, e depois no Bronca Pesada, apresentado por Josley Cardinot. Ele explica que entrevistar a vítima ou os familiares é algo chocante porque indiretamente o jornalista se coloca no lugar daquelas pessoas. “O repórter tem que fazer um trabalho psicológico, ser No estúdio de TV o cinegrafista Pedra tem a atenção redobrada educado e conversar com o LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 09
10/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
LIDE
SCRIPT pes. “Não é porque você cobre polícia que você não faz outro tipo de reportagem. Inclusive muitas matérias de polícia são aproveitadas em outros programas e horários da emissora”, explica. Como o repórter está no local do fato, cabe a ele direcionar a matéria e, na hora da apuração, usar técnicas de Jornalismo investigativo no levantamento e contestação dos dados. Portela conta que, como os jornalistas circulam muito de emissora para emissora, acaba se formando um círculo de amizade entre os demais colegas de trabalho. “Hoje não existe competição direta, ninguém fica querendo dar o furo no colega na hora da reportagem, a menos que seja um furo da emissora”. Ele afirma que não concorda com quase nada com o que se passa nos programas policiais, como por exemplo, o prolongamento para segurar a audiência e a banalização do sofrimento das famílias. “Apesar de trabalhar na área, acredito que é uma banalidade tudo virar matéria. Deveria haver uma triagem maior entre o que é uma matéria de polícia e o que de fato vai prestar serviço a sociedade. Mesmo tendo uma opinião contrária sobre alguma coisa somos obrigados a fazer porque precisamos de dinheiro, precisamos trabalhar e estar dentro do mercado”, esclarece. Nessa área, os perigos durante a abordagem dos temas policiais são constantes. É praticamente impossível encontrar um profissional que não recebeu ameaças de morte ou que não passou por uma situação de risco. Essas situa-
Sérgio Dionísio apresenta o programa Plantão 1-9-0, na TV Jornal
ções já são esperadas e encaradas com naturalidade pelos repórteres que se propõem a trabalhar com temas policiais como tráfico de drogas, assassinatos, corrupção policial, entre outros. Adriano Portela conta que já ficou no meio de um tiroteio em um morro no Recife sem colete à prova de balas e teve uma arma apontada para sua cabeça durante a gravação de uma matéria sobre pedofilia. O suspeito pelo crime obrigou o jornalista a apagar as imagens. Para não ganhar um inimigo, Portela tentou conversar com ele e
explicar a situação. É preciso ainda deixar o celular ligado o tempo todo e sempre estar disponível quando for solicitado. Ele conta que já deixou de comemorar aniversário, jantar romântico e outros compromissos com a família por causa de alguma reportagem. “É preciso, muitas vezes, abrir mão dos compromissos pessoais por conta do compromisso jornalístico”, afirma.
Leveza - O jornalista Sérgio
Dionízio, 36, começou a carreira em 1995, na rádio JC/CBN
Recife ainda como estagiário e eventualmente fazia alguma matéria de polícia. Após trabalhar em outras rádios, em 2001 chegou à Rádio Jornal como repórter no programa comandado por Gino César e a partir daí dedicou- se ao Jornalismo policial. Em 2006 assumiu o comando do programa televisivo policial Ronda Geral na Tribuna e atualmente é apresentador do Plantão 1-9-0, na TV Jornal. Uma das marcas do seu trabalho é o uso do humor durante a apresentação do programa. “A atração tem mais de uma hora de duração falando de coisas muito tristes. Temos que informar as pessoas por que elas não podem ficar alienadas, mas a gente não pode baixar o astral das pessoas porque isso não vai ajudar em nada. Eu procuro informar e no final do programa o público está sabendo a verdade, mas eles precisam estar com o espírito leve”, justifica. Em relação ao sensacionalismo da notícia, a crítica que se faz é que os programas exageram na cobertura jornalística em nome da audiência. Entre os fatores apontados como apelativos estão a definição das pautas, a emoção, o desdobramento dos fatos brutais e a exploração de detalhes considerados irrelevantes para a compreensão do acontecido. Sobre esse questionamento, Sérgio Dionísio afirma que chamar atenção para o seu trabalho é comum em todas as áreas. “O Jornalismo esportivo, econômico ou policial, por exemplo, procura chamar a atenção para o trabalho deles. Sempre busco relatar os acontecimentos de forma neutra.” O jornalista Thiago Raposo
apresenta a primeira edição do programa Ronda Geral, pela TV Tribuna, e apesar de essa ser sua primeira experiência como âncora em um programa televisivo, o estilo do repórter traz uma nova maneira de noticiar as questões policiais. Ele iniciou sua carreira como estagiário no departamento esportivo da rádio Olinda e na produtora de Roberto Nascimento na TV Guararapes. Em seguida, passou a estagiar na TV Jornal como repórter, fazendo matérias de conteúdo
Os perigos durante a abordagem dos temas policiais são constantes. É praticamente impossível encontrar um profissional que não recebeu ameaças de morte ou que não passou por uma situação de risco. geral. Trabalhou na produção do programa TV Jornal Agora, na época apresentado por Aldo Vilela, e do Bola Cruzada, apresentado por Maciel Júnior. Sempre deixou claro que queria seguir na área esportiva, mas durante cinco anos trabalhou fazendo ronda policial nas madrugadas pela TV Tribuna. Thiago Raposo conta que desde a adolescência acompanhava o programa Aqui Agora, exibido pelo SBT e se identificou com o estilo de apresentação da atração. O repórter usa o plano sequência, no qual ele guia o cinegrafista a partir de
SCRIPT sua narração, de acordo com os elementos que ele visualiza no local do fato. Apesar do sonho de ser apresentador, ele observa que essa é uma responsabilidade triplicada. “Você é cobrado de todos os lados, mas é muito gratificante. É uma adaptação difícil porque na rua você só tem o cinegrafista acompanhando, há edição e, caso você erre, pode gravar novamente. No estúdio você tem que se adaptar a três câmeras, ao tamanho do estúdio e saber até onde você pode se movimentar para proporcionar maior dinamismo ao programa”, afirma. Um dos questionamentos frequentes é com relação ao horário em que os programas policiais são exibidos. Geralmente são apresentados pela manhã ou por volta das 12h. Thiago Raposo explica que as emissoras usam esse horário por que é nesse momento que a família está reunida. “Se uma emissora coloca nesse horário e observa o índice de audiência está muito alto, a outra emissora também coloca no mesmo horário. E para conquistar o público tem que colocar também no mesmo estilo. Aí acaba sem querer formando um padrão.” Um outro ponto levantado é se esse formato de programa é imposto pela mídia ou se a preferência do público é quem determina a programação que será exibida. “A imprensa coloca na TV o que o povo gosta de assistir. Criou-se uma ideia de que apenas as classes C e D assistem a esse estilo de programa, quando na realidade pessoas da classe A também acompanham”, diz. L
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 11
LINK
O JORNALISMO do século 21 Divulgação
Com a convergência da mídia, o Jornalismo precisou se atualizar e abrir espaço para uma nova maneira de observar o dia a dia É quase impossível separar a história do Jornalismo atual da história da internet. Essa plataforma de comunicação, que surgiu focada na pesquisa de informações para o serviço militar norte-americano, em 1969, hoje representa uma das principais fontes de pes12/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
quisa para a sociedade. Mas, além disso, a internet possibilitou aos jornalistas, principais responsáveis em levar informação de qualidade para a sociedade, uma nova forma de fazer Jornalismo. Foi principalmente após o boom da internet nos anos 2000 que a
forma de levar informação com uma nova roupagem, na qual todas as mídias estão “juntas e misturadas”, ganhou espaço nas redações. Escrever para os diversos veículos exige habilidade, prática e principalmente jogo de cintura de quem produz as matérias. Agora,
LIDE
LINK não basta ter um bom texto ou em sites de relacionamento. do, pois não está consolidado. “O uma bela voz: é preciso sempre Há alguns anos isso poderia jornalismo multimídia também é estar atento as novidades tecparecer estranho, mas hoje é prin- pensar como cada assunto pode se nológicas, porém sem se esquecer cipalmente por meio das redes, enquadrar nas diversas vertentes de buscar o ângulo diferenciado como o Twitter e o Facebook, que do jornalismo”, considera. sobre o tema. os profissionais encontram camiEmbora esse profissional não Essa forma multimídia de nhos para a divulgação do traseja diretamente ligado a um detransmitir informação tem como balho produzido e para o primeiro terminado veículo, a lógica de que marco inicial o dia 11 de setembro contato com as fontes. se faz de tudo um pouco é verdade 2001. O dia do atentado às TorOs que ainda não conhecem deira, já que o resultado final res Gêmeas dos Estados Unidos é tido pela imprensa mundial como a grande passagem do antigo para o novo Jornalismo. Foi nesse dia que as empresas de comunicação começaram a entender que o Jornalismo poderia ganhar mais agilidade na transmissão das informações com a utilização dos recursos multimídia. Como afirma o teórico Rosental Alves, diretor do centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas (EUA), que alega que além do inicio do Jornalismo multimídia, o atentado ao World Trade Center marcou o início do Jornalismo Participativo. A tecnologia mudou a forma de se fazer Jornalismo e é a partir dessa revolução na comunicação que o jornalista multimídia vem ganhando mais espaço na profissão. Para Sarah Eleutério, os meios tecnológicos auxiliam na produção da notícia Uma pesquisa online realizada este ano pelo Portal Imprensa em muito sobre o assunto, podem estará envolvido com os diversos parceria com a Organização das achar que jornalista multimídia é aspectos da comunicação. De Nações Unidas para a educação, a sinônimo de backpack-journalist, acordo com a estudante Ismaella ciência e a cultura (Unesco) e que aquele que precisa tirar fotos, filSilva (foto à esquerda), 22, que faz teve a participação de 210 pessoas, mar, gravar áudio, escrever texto e estágio no Jornal do Commercio, entre elas 160 jornalistas, mostrou ainda produzir um blog. Mas o que o profissional da atualidade é esque 100% desses profissionais se pode perceber é que esse timulado a produzir matérias sobre acessam a internet diariamente. modelo não funciona muito bem, o mesmo assunto para os diversos Esse dado mostra o quanto a inter- pois a redução dos custos com a tipos de veículos de comunicação. net facilita e ajuda na comunicação mão de obra acarretaria perda de dos repórteres. qualidade do produto final. Perfil - Apesar de as empresas E não há nada, na atualidade, Estudante de Jornalismo pela estimularem os profissionais a traque facilite mais a comunicação do Universidade Federal de Pernambalhar desenvolvendo característique as redes sociais. Essa mesma buco (UFPE), Rafael Sousa, 22, cas multimídia, as instituições de pesquisa mostrou que todos os acredita que o Jornalismo multimí- ensino ainda não estão preparadas jornalistas participantes têm perfis dia ainda é difícil de ser conceitua- para formar profissionais com esse LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 13
LINK perfil. Uma prova dessa constatação é que a cadeira de Técnicas de Reportagem, da maioria das universidades e faculdades, ainda é voltada exclusivamente para as mídias impressas, como jornal e revista. E, ao contrário do que muitos pensam, Jornalismo multimídia não é a mesma coisa que Jornalismo digital. O primeiro é aquele que envolve mais de uma mídia, seja impresso, áudio, vídeo e online. Porém isso também não significa que todo e qualquer material produzido e editado para mais de um veículo seja caracterizado como Jornalismo de qualidade. Já o Jornalismo digital é todo aquele que não faz mais uso de técnicas analógicas durante a transmissão das informações. Por isso, as emissoras de rádio ou TV que já trabalham exclusivamente com equipamentos digitais estão produzindo Jornalismo digital, mesmo que não façam nenhuma ponte de comunicação com a internet. A verdade é que o Jornalismo multimídia ajudou a aumentar uma característica fundamental da comunicação: a interatividade. O que não quer dizer que as informações passadas por pessoas que não são jornalistas, em blogs e sites, sejam confiáveis. “É preciso muita cautela e depuração para apreender tudo o que é veiculado por esses caminhos”, afirma o editor-assistente do Diario de Pernambuco, Tiago Barbosa, 28, que é responsável pela edição do jornal no iPad e edição de vídeos para o portal. Mesmo com a responsabilidade de produzir material para os diferentes veículos, o jornalista nunca pode ser considerado como um profissional individual. Ele sempre 14/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
precisará do auxílio de colegas de trabalho para a produção das informações, principalmente na elaboração de cadernos e matérias especiais. Um questionamento que alguns estudantes podem fazer é qual o perfil do profissional que atua nessa área. A editora-assistente do departamento multimídia do Diario de Pernambuco, Sarah Eleutério, 32, acredita que o perfil desse novo periodista não é necessariamente exigido pela empresa, pois costuma ser mais uma questão de iniciativa do próprio jornalista.
Técnicas - Apesar de toda a
convergência das mídias, um fator muito importante, que não deve ser esquecido, é a maneira de oferecer as noticias para o leitor. Informações superficiais, incompletas ou descontextualizadas afastam o consumidor dos sites de notícias. O internauta nunca fica preso a apenas uma fonte de informação, por isso é necessário que o bom e velho lide esteja bem construído para fisgar o leitor. Outro aspecto que precisa ser observado com cuidado é a qualidade das imagens e do áudio. Não basta ligar o equipamento e sair gravando ou fotografando tudo o que estiver pela frente. O jornalista tem que ter a concepção do melhor ângulo para se fazer as imagens e de um ambiente sem ruídos para se fazer as gravações. Outra importante dica para quem quer seguir por esse caminho é saber utilizar as ferramentas tecnológicas. Por isso, é preciso observar qual a utilidade que cada uma tem na hora da produção dos conteúdos que serão veiculados. É necessário que o jornalista ponha a mão na massa para aprender a dominar os equipamentos. L
Glossário da Comunicação Clipping– Coleção, levantamento e fornecimento de recortes de jornais e revistas ou cópias de emissões de televisão ou rádio sobre determinado assunto. Deadline– Prazo limite para o fechamento de uma edição ou conclusão de uma reportagem. Follow-up- Lembrete ou reforço de pauta por telefone ou pessoalmente com o entrevistado realizado pelo assessor. Iceberg- Texto que começa na primeira página e continua nas folhas internas da publicação. Macarrão– Folha solta de papel-jornal, em tamanho padrão e diagramada, introduzida entre as páginas de uma edição. On- Indicativo que confirma a divulgação da informação e da fonte. Press release- Informação organizada pela assessoria de imprensa e dirigida aos veículos de comunicação. Suíte- Corresponde a reportagem que explora os desdobramentos de um fato que foi notícia na edição anterior.
BATENTE
Me formei. E agora? Com a disputa acirrada pelas vagas oferecidas nos veículos de comunicação, o Jornalismo freelancer é uma opção para os focas que querem iniciar sua carreira Arquivo pessoal
Durante os quatro anos do curso de Jornalismo, o estudante já sente as cobranças dos familiares, amigos e até de desconhecidos. É comum as pessoas lhe associarem a determinado apresentador de TV ou repórter premiadíssimo. Isso quando não lhe questionam se você irá trabalhar na Rede Globo ou no mínimo na redação de um grande jornal. Mais constrangedor do que essa fase é após a formatura. Como se já não bastasse o dilema de ter se formado e não conseguir ser contratado no estágio - no qual você se dedicou ao máximo, mas não foi correspondido pela empresa -, existe a cobrança da sociedade pelo fato de ser mais um desempregado com diploma nas mãos. Diante dessa situação, uma alternativa encontrada por muitos focas é começar a carreira como freelancer. Esse foi o caminho escolhido pela recém-formada jornalista Carolina Borba, 22. Durante a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a estudante já tinha alguns contatos para possíveis serviços ao término da faculdade. Durante o curso, ela estagiou
Para Carolina Borba, é essencial ter sempre celular, computador e internet
em assessoria de comunicação e política e, paralelamente a essas atividades, produziu e editou vídeos para a edição de 2010 da Festa Literária de Pernambuco (Fliporto). Apesar da correria, ela tinha em mente que isso lhe renderia frutos
futuramente. Foi por causa da experiência na Fliporto que ela foi convidada para o atual frila. Para os universitários que pensam em ingressar na área, ela orienta para que mantenham bons contatos com os professores, pessoas de esLIDE/ DEZEMBRO 2011/ 15
BATENTE tágios anteriores e colegas de curso. O dinamismo do mercado é um fator que colabora para a formação da rede de contatos. “Nunca tenha vergonha de pedir ajuda e pesquise. Formar o seu networking é o ponto principal”, opina. Os convites surgem não apenas pela capacidade em realizar determinada tarefa, mas pela facilidade no relacionamento, o acesso que o frila oferece, o entusiasmo na execução e a iniciativa em sugerir novos enfoques, por exemplo. Assim como outros estudantes nos últimos meses do curso, Carolina ficou imaginando que não conseguiria nenhuma oportunidade. Hoje ela está mais tranquila por causa dos frilas que vem fazendo, mas sempre tem aquele desejo de trabalhar num local fixo. Apesar de também participar de algumas seleções para emprego com carteira assinada, sempre busca se especializar como freelancer. “Dá esse medo porque agora não aparece estágio, eu estou com o diploma na mão e eu vou ser cobrada pela sociedade e pela família. Se eu não conseguir, será que eu sou incompetente?”, desabafa. Carolina sempre pensou em trabalhar com revista pela criatividade na elaboração dos textos que esse veículo permite, mas hoje se identifica com o Jornalismo online - inclusive já pensa em investir nessa área e fazer uma especialização. Mesmo não tendo experiência em outros segmentos, ela pesquisa e realiza o trabalho e aceita qualquer atividade, independentemente da área de interesse. Como está inici16/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
Márcio Markman aproveita a comodidade do escritório doméstico
ando a carreira, para divulgar seu trabalho, ela organizou um portfólio virtual em formato de blog onde publicou currículo, perfil, alguns trabalhos como frila e do período da faculdade. Quando entrega o currículo, sempre inclui esse link para o contratante conhecer melhor a linguagem e o trabalho que desenvolve.
Orçamento - Uma dúvida
frequente é saber definir um valor justo pelo trabalho prestado. Caso cobre uma
importância acima do que é estabelecido pelo mercado, o cliente pode procurar um serviço semelhante ou igual, oferecido por outro profissional. Se, por outro lado, o preço estiver abaixo, o risco que se corre é o de perder dinheiro. Uma alternativa para saber cobrar o valor correto pelo serviço é calcular todas as despesas, como internet, alimentação, celular e hospedagem, por exemplo. Devido à falta de experiência, Carolina ainda não sabe muito bem os valores cor-
Arquivo pessoal
despesas e acredita que quando passar a morar sozinha já conseguirá administrar melhor essa questão. A jornalista Ana de Kássia Silva, 26, também passou por situações parecidas. Hoje, com três anos de experiência, consegue solucionar essas dificuldades. Ela explica que não existe uma tabela fixa de valores e que muitas vezes alguns clientes já oferecem o trabalho com o preço estabelecido. Como as atividades e contratantes são diferentes, cabe ao frila definir o preço por cada serviço. Se a tarefa for realizada a longo prazo, é adequado formalizar um contrato estabelecendo as regras desde a produção ao recebimento do pagamento. Para atividades menores, é possível confiar no contratante. O “outro lado” também precisa de garantias. Para que o contratante se sinta seguro no decorrer da execução do trabalho, o frila deve manter contato para informar sobre o andamento, esclarecer possíveis dúvidas ou até mesmo propor alguma mudança no projeto inicial. Caso não tenha interesse em oferecer alterações no produto final já entregue, como complementos ou ajustes, por exemplo, deixe claro ao negociar o serviço. A jornalista começou na área por meio da indicação de um amigo para fazer trabalhos em uma produtora do ramo esportivo. “Depois da primeira experiência, os trabalhos começam a surgir por indicações mesmo e depois se torna até possível conciliar os horários com outras atividades, o que me possibilitou ter contato
respondentes para cada trabalho. Para resolver esse problema, recorre aos amigos que atuam nesse segmento ou até mesmo aos ex-professores. Para administrar a vida financeira, como a renda do frila é muito variável, procura conduzir suas despesas com a quantia que tem em mãos no momento. Nunca assume custos confiando em possíveis trabalhos que porventura possam aparecer. Atualmente ela mora com os pais e se sente segura nesse sentido, já que não precisa arcar com todas as
BATENTE com vários segmentos da comunicação”, diz. Hoje ela têm um emprego fixo, mas também atua como frila. “O importante nos dias de hoje é que o jornalista tenha uma visão multimídia para desempenhar o que lhe é pedido de forma rápida e direta”, afirma. Ana de Kássia comenta que enfrenta preconceito sobre sua situação. Embora não digam abertamente, muitos associam ser frila a ser desempregado ou preguiçoso, pelo fato de esses profissionais muitas vezes trabalharem em casa ou não terem expediente definido.
Escritório em casa - O jor-
nalista Márcio Markman, 40, já trabalhou em jornal como repórter e editor, em rádio e com assessoria de comunicação em diversos segmentos como esporte, educação, política, cultura e economia. Há dez anos trabalha como freelancer e confessa que sentiu dificuldades no inicio. “Você precisa encontrar clientes e até mesmo saber que tipos de serviços tem capacidade para realizar. Acho que ter passado por um jornal e ter adquirido certo nome no mercado ajudou bastante nesse processo”, diz. Ele recomenda a todos que estão no início da profissão a ter uma experiência em uma empresa antes de buscar o mercado de frila. Para atuar nessa área, o jornalista precisa ter habilidade com vários veículos como, por exemplo, escrever para um jornal ou blog, produzir reportagens ou releases, fotografar ou editar vídeos. Essa diversificação de habilidades aumenta a possibilidade de ser contratado, a menos que o LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 17
BATENTE repórter decida se especializar em determinado segmento e consiga seus trabalhos apenas nessa área. Quando o freelancer tem como ambiente de trabalho sua própria casa é difícil impedir o envolvimento das atividades profissionais com a vida familiar. Para manter o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, deve-se aconselhar os familiares que, apesar de estar em casa, nem sempre o profissional está disponível para as atividades domésticas. Uma das vantagens de trabalhar em um escritório doméstico é interromper as atividades quando achar mais conveniente ou até mesmo sair para tomar um café ou passear antes de retornar às tarefas pendentes. No entanto, o fato de não ter alguém controlando ou estabelecendo metas e prazos claros pode deixar a pessoa muito à vontade, a ponto de prejudicar a produção. Markman ressalta que, para seguir nessa área, o jornalista precisa ser organizado, definir seus horários e dedicar-se ao serviço - afinal, existe o deadline do cliente, que cobrará o resultado do seu produto. “Tem que ter a disposição de sempre prospectar novos clientes, estar sempre em contato com potenciais contratantes”, avisa. Para conseguir clientes e firmar seu nome no mercado, é preciso estar constantemente sugerindo pautas ou em busca de novos trabalhos. “Acho que o mais positivo é você trabalhar com diversos temas e mídias. Já fiz textos para impressos, campanhas publicitárias, campanhas de carro de som, roteiros para vídeos, dirigi e 18/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
editei vídeos, já apresentei programas de rádio, produzi cadernos especiais, enfim, o campo é bem vasto”, afirma. Por outro lado ele aponta como negativo a constante instabilidade. “Tem que ter estômago para não encucar nos dias em que você não tem trabalho. Para quem se considera uma pessoa produtiva, isso não faz muito bem ao espírito”.
Para manter o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, deve-se aconselhar os familiares que, apesar de estar em casa, nem sempre o profissional está disponível para as atividades domésticas Estabilidade x liberdade-
Apesar de ter atuado exclusivamente como freelancer durante sete anos, a jornalista Paula Melo, 31, acha mais seguro um emprego fixo. “Gosto da estabilidade que o trabalho fixo me proporciona. Quando se é frila, tem que ter uma sagacidade para correr atrás dos trabalhos, enquanto que em um trabalho fixo as atividades já são determinadas”, comenta. Atualmente ela trabalha em uma assessoria de imprensa e concilia com alguns frilas.
Uma das principais diferenças entre um jornalista que trabalha na redação de um jornal e um freenlancer é que o primeiro tem um salário fixo no final do mês, precisa cumprir horários, trabalha em um lugar determinado e ao final do dia entrega os textos redigidos durante seu expediente. Por outro lado, o segundo tem liberdade na hora de sugerir as pautas e propostas, o salário é conseguido segundo o número de peças que vende (e o valor cobrado), não tem horários fixos e escolhe qual o ambiente mais conveniente para realizar suas atividades. Paula reconhece que, devido às restrições, os frilas em tempo integral levam grande vantagem sobre os demais jornalistas que têm um emprego fixo. Isso acontece quando, por exemplo, o período do expediente no trabalho não pode coincidir com o agendamento das entrevistas. Isso exige organização de horários e planejamento das atividades. Uma situação comum no decorrer da execução do trabalho é se deparar com uma tarefa de dimensão maior do que o que foi projetado inicialmente. A jornalista vivenciou uma experiência assim em um de seus frilas. Ela foi contratada para produzir algumas apostilas de língua estrangeira e, quando começou a executar o trabalho, percebeu que ele foi mais desgastante do que o previsto. Nesse caso, ela recomenda que, ao invés de ficar reclamando do volume de trabalho, do prazo e da remuneração - ou, pior ainda, fazer um trabalho de má qualidade -, é mais indicado renegociar com o cliente. L
RELEASE
Novos campos de atuação Quem está acostumado as assessorias de imprensa tradicionais se surpreende com as novas tendências do mercado Cerca de 20 mil profissionais de comunicação trabalham na área de assessoria de imprensa no Brasil, de acordo com um levantamento realizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em 2009. Essa estatística pode ser facilmente comprovada aqui em Pernambuco, pois essas empresas, que atualmente estão presentes nos mais variados segmentos, são responsáveis por empregar a maioria dos recém-formados ou profissionais que atuam na área há muito tempo e que não trabalham nos maiores veículos de comunicação do estado. Ainda esquecida por muitas instituições de ensino, a cadeira de Assessoria de Imprensa ou Comunicação Empresarial pode despertar nos futuros jornalistas o espírito em-
preendedor. A negligência de algumas faculdades e universidades em não oferecer essa disciplina aos estudantes faz com que eles saiam despreparados para atuar na
O bom assessor de imprensa deve estar sempre alerta para qualquer atividade que envolva seu cliente área do mercado de trabalho que atualmente mais emprega jornalistas. Para a professora de Radiojornalismo da Faculdade Joaquim Nabuco (FJN), Nice Lima,
28, a deficiência no ensino dessa cadeira impede que os alunos despertem para trabalhar em outras áreas que não sejam as grandes redações. “A área de assessoria de imprensa é um caminho alternativo de trabalho, já que nem todo mundo que se forma consegue se inserir da ‘maneira tradicional’ no mercado de trabalho”, opina. Nice é um dos exemplos de como o ensino da cadeira de Comunicação Empresarial pode contribuir para despertar um novo olhar sobre a área de comunicação. Formada em Rádio e TV pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a radialista tem, desde 2006, ano em que ainda estava na faculdade, sua própria empresa, a Ritmo Comunicação. Voltada para a área culLIDE/ DEZEMBRO 2011/ 19
RELEASE Thiago Larangeiras
A jornalista Nice Lima idealizou e administra a assessoria Ritmo Comunicação desde 2006
tural, essa assessoria começou divulgando um pequeno grupo musical, os Ticuqueiros. “A experiência foi uma via de mão dupla, pois eles precisavam de um assessor de imprensa para divulgar o CD da banda e eu queria ter a experiência de trabalhar na área de assessoria,” declarou a microempresária. A partir daí, a Ritmo já esteve presente nos mais diversos segmentos da cultura pernambucana, sempre na área de shows e festivais. Mesmo sem estar presente na grande curricular da maioria das instituições de ensino superior, as Assessorias de Impressa são as empresas que mais abrem as portas para os futuros bacharéis de Jornalismo. Para a estudante do 20/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
8º período de Jornalismo da Faculdade Joaquim Nabuco, Camilla Dapaz, 22, a área de assessoria é de pura produção, pois sempre se está produzindo e tendo contato com os diversos campos de atuação da comunicação. “É uma área ótima para quem gosta de estar nos bastidores, de ser ‘braço’ e produzir”, declarou a universitária, que atualmente trabalha na Clarear Comunicação Inteligente. A principal função de Camilla é acompanhar o dia a dia da Câmara dos Vereadores de Recife, local onde a assessoria possui um cliente. Ela acompanha as sessões plenárias e, quando não pode ir à Casa por algum motivo, observa a reunião pelo site institucional,
que transmite tudo ao vivo. Ela está sempre antenada com as atividades que serão desenvolvidas pelo vereador, para assim fornecer a assistência necessária durante as audiências e abastecer as redes sociais e o site do político, com as ações praticadas por ele durante o mandato.
Um pouco de história-
Mas onde surgiu a assessoria de imprensa? De acordo com o Manual de Assessoria de Comunicação da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o primeiro jornalista que trabalhou nessa área foi o americano Ive Lee, em 1906. Ele foi pioneiro ao estabelecer em Nova Iorque o primeiro escritório de assessoria de comu-
nicação do mundo, que tinha por objetivo mudar a imagem do homem de negócios mais impopular dos Estados Unidos, John Rockfeller. Ive Lee alcançou sua meta após enviar informações frequentes à imprensa da época sobre as atividades de seu cliente. Trazendo para os nossos dias, esse método é o que os assessores fazem ao enviar releases às empresas de comunicação. No Brasil, essa atividade ganhou mais força com o ressurgimento do processo democrático, após a queda da ditadura militar. Com a volta da liberdade de comunicação, o profissional de imprensa passou a ter mais importância no contexto social, pois a população passou a exigir cada vez mais respostas aos questionamentos que existiam desde o início da ditadura. A partir desse período, o jornalista-assessor passou a ter cada vez importância para a sociedade, já que ele é o profissional responsável por fazer a ponte entre os poderes públicos, a inicativa privada e o terceiro setor com a mídia e a sociedade. Atualmente, o Brasil é tido como país de referência no que diz respeito a área de assessoria, e é através da intensificação da convergência da mídia que essa atividade está se desenvolvendo cada vez mais. É nesse contexto, da web 2.0, que Elielson Lima, 20, estudante de Jornalismo da Faculdade Maurício de Nassau, está desenvolvendo seu “network”. Estagiário da Accioly Comunicação, ele acredita que a comunicação deve se apoiar nessa realidade digital, como
a empresa em que trabalha. “Um dos grandes diferenciais da empresa é a preocupação e a inserção dos nossos clientes no ambiente virtual”, afirma. Elielson acredita que é preciso ter uma relação de cumplicidade com o assessorado, pois assim será possivel desenvolver o papel de facilitador que o jornalista tem que ter nessa área.
No Brasil, essa atividade ganhou mais força com o ressurgimento do processo democrático, após a queda da ditadura militar A assessoria de imprensa busca acima de tudo o constante aprimoramento das relações de comunicação interna e externamente das organizações perante a sociedade. Além disso, o jornalista precisa ter vontade de trabalhar, dominar o assunto e a linha de trabalho, como afirma a assessora de imprensa do Clube Naútico Capibaribe, Ana Cam-
RELEASE pos, 28. Atuando em parceria com Élcio Mendonça, que também é assessor do Naútico, em uma área que é tida como um universo predominantemente masculino, ela quebrou os preconceitos e hoje é respeitada no meio futebolístico. Além de responder pelo clube, a equipe da assessoria também é responsável por auxiliar os atletas quando, mesmo fora de campo, eles representam o time. O bom assessor de imprensa deve estar sempre alerta para qualquer atividade que envolva seu cliente. Principalmente se ele for a personalidade mais importante do Estado. Evaldo Costa, 55, assessor do governador Eduardo Campos, desenvolve atividades que exigem atenção redobrada e dedicação exclusiva para que nada dê errado. Experiente na área da comunicação, Evaldo também foi assessor do então governador Miguel Arraes, nos anos 1990. Hoje trabalhando com o neto do mito político, ele já construiu uma relação de confiança com a mídia, que sempre abre espaço para seus “clientes”. Outro diferencial do trabalho dele é o diálogo desenvolvido de forma pernamente com o governador e seus agentes. “Nós temos um modelo de gestão que tem monitoramento do que vai sendo feito, do que vai ser debatido com o governador, do que vai ser feito pelas equipes. O trabalho se dá de forma aberta e participativa por todos”, declara. São modelos de gestão participativa que fazem toda a diferença no mercado de trabalho atual. L LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 21
ENTRE ASPAS
LIDE
Instituições de ensino X formação profissional
Ao entrar na faculdade os estudantes de Jornalismo começam a preparação para se tornarem profissionais. Para alguns é a faculdade a única responsável por formar os futuros jornalistas. Para outros o estudante é quem deve buscar alternativas, além da universidade, para se qualificar. Mas afinal, quem é o maior responsável por transformar o estudante em um profissional apto para o mercado de trabalho? Veja a opinião de duas estudantes sobre esse assunto. 22/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
ENTRE ASPAS
Talita Alves
Mayra Rodrigues
As faculdades de comunicação estão cada vez mais tendo que melhorar seus serviços de atendimento aos estudantes. A pergunta que não quer calar é: com relação a essas mudanças Estudante do 8º que vêm ocorrendo, quais período de Jorna- as perspectivas das institulismo da Faculdade Joaquim Nabuco ições de ensino com relação ao curso de Jornalismo nas faculdades? Essa é uma questão que poder ter vários sentidos, principalmente partindo da ideia do Jornalismo como ponto de estudo e como atividade profissional. Porém, de acordo com o que se vê, a realidade é totalmente diferente do que se imagina para a realização profissional de cada estudante. A questão mais básica que se tem em vista é a falta de equipamentos adequados para se ter um melhor atendimento das práticas das atividades, para que os estudantes tenham um melhor contato e possam entender o que realmente é a profissão - e o que se pode fazer para ter mais proximidade com a rotina profissional. Mas o que poderia ser pior a falta de equipamentos adequados ou de profissionais preparados? É exatamente nessa situação que muitos estudantes se encontram. Basicamente, a falta de estruturação é o que mais se tem visto e o que mais prejudica cada um que está ali à procura da realização profissional. Para suprir as necessidades que a faculdade não contempla, alunos buscam alternativas para se manterem informados e buscam entender cada assunto e cada exercício diário com relação ao amadurecimento do futuro profissional de cada um. Isso deve ser rotineiro para que eles não saiam prejudicados por um erro que não é deles, sempre se preocupando com como será a conclusão da graduação devido à falta da prestação de serviços da faculdade para/com os alunos.
Ao ser perguntada se o universitário deve procurar ampliar seus estudos concomitantemente à graduação, eu respondi na hora que concordava. Ora, eu levanto a bandeira para Estudante do 3º esse assunto e procuro semperíodo de Jornalismo da Faculdade pre incentivar meus colegas Mauricio de Nassau da importância de fazer um curso específico da área, ou de idiomas, de frequentar palestras, procurar estágio. É porque eu acredito que quanto mais você souber sobre a profissão, quanto mais preparado você estiver para enfrentar o mercado de trabalho após os quatro anos de graduação, menos inseguro você vai se sentir. Eu mesma, quando entrei na faculdade, decidi que iria tentar fazer semestralmente um curso da área ou aceitar algum projeto que ajudasse no meu desenvolvimento profissional. Mas confesso que, para participar de tudo isso, primeiramente você tem que querer muito a profissão de jornalista. Ler bastante, procurar sempre, no meu caso na internet, sobre cursos disponíveis, oportunidades de estágios, palestras, e nunca, nunca recusar um aprendizado. Acredito que esses quatro anos que temos até nos formarmos são exatamente pra isso: se especializar, ler muito, aprender onde buscar o conhecimento. Entender que ele está além da sala de aula. Os professores nos norteiam, indicam livros, sempre citam autores, tudo compõe o aprendizado. Mas cabe a cada um ir até a biblioteca pegar um livro, abrir mão de algo momentâneo para ir moldando o futuro. Lembro que quando paguei a cadeira de economia no segundo período, li um conceito no livro de Gregory Mankiw sobre Custo de Oportunidade, ele dizia: “O custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la”. O valor das nossas conquistas é determinado pelo nosso esforço. LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 23
LIDE
ComunicAÇÃO Arquivo Auçuba
A comunicação comunitária permite o resgate da identidade individual e coletiva de determinado grupo e o exercício da cidadania através de um diálogo ativo, no qual os próprios moradores e participantes dos movimentos são os atores sociais. Ela provoca uma mudança no modelo vertical de comunicação estabelecido pela grande imprensa, no qual esse público ou não encontra espaço ou acredita que o direcionamento dado não corresponde à realidade deles. Nesse sentido, o Jornalismo comunitário surge como uma alter24/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
nativa para a democratização da informação, especialmente nas comunidades que têm a possibilidade de participar de todas as etapas do processo comunicacional. Desde a sugestão e produção das pautas, passando pela elaboração das notícias, até a recepção do conteúdo dos veículos comunitários. Essa iniciativa permite maior representatividade da realidade cultural, social e econômica vivida pelo coletivo. Assim a comunidade se vê na mídia ao mesmo tempo em que auxilia nesse processo.
LIDE
COMUNITÁRIA As primeiras atividades em comunicação comunitária foram registradas de maneira mais significativa no Brasil a partir da década de 80. Nesse período, o país vivia uma transição política com o fim da ditadura militar e a sociedade difundia valores que resgatavam o direito à liberdade de expressão e o acesso à informação. Nos últimos anos, as pesquisas e atividades nesse segmento vêm se expandindo especialmente na América Latina diante das características que esses países apresentam. Para a jornalista Verônica Fox, 42, a comunicação comunitária nasce de três pilares: educação, comunicação e participação. “De certa forma, a comunicação comunitária compartilha educação, conhecimento e visão do mundo. Não no sentido de conscientizálo, mas no sentido de despertá-lo para outra realidade que eles não conhecem, como direitos, deveres e caminhos que precisam percorrer para se colocarem enquanto cidadãos”, explica. A comunicação comunitária não deve ser normalizadora e estabelecer padrões. O crescimento como cidadão, a mobilização e a participação devem partir dos envolvidos nesse processo. Para a jornalista, o comunicador comunitário é apenas um animador: ele provoca a discussão e subsidia de forma técnica o desenvolvimento do trabalho, mas a construção depende do outro. “Você tem as
técnicas, mas tudo vai depender de uma construção do outro e de uma comunicação dialogada. Você não tem como construir se o seu interlocutor não participar”, afirma. Como conhecem de perto as suas próprias necessidades e as do seu grupo, os participantes podem contribuir para a melhoria das condições de vida. Por meio de oficinas, minicursos e palestras, é possível habilitar os envolvidos a associarem os conceitos dos processos comunicacionais ao seu convívio diário. A pauta do Jornalismo comunitário se diferencia da produzida pelos demais veículos de comunicação. Enquanto a mídia tradicional, como os telejornais e o radiojornalismo, veicula conteúdos de interesse geral, como violência urbana, ações do governo ou política local, os meios de comunicação comunitários, como as rádios comunitárias e o fanzine, trabalham com temas mais específicos, como campanhas educativas ou atuação dos movimentos sociais na localidade. O objetivo dessa iniciativa é a educação informal por meio da mobilização social. Todos os moradores da comunidade são agentes nesse processo. A proposta é divulgar os assuntos de interesse coletivo local ou de determinados grupos que não encontram espaço na mídia convencional, destacando a cultura local e não apenas os aspectos negativos. A elabora-
ção não requer necessariamente a participação de um especialista, mas o cidadão comum deve colaborar nesse processo. Afinal a comunicação é feita com ele e para ele. Como não existe uma metodologia padrão para ser aplicada em todas as comunidades, é preciso levar em conta aspectos culturais e sociológicos de cada localidade, grupo ou movimento. Assim o uso de um jornal mural pode ter um efeito positivo em um determinado lugar e a melhor ferramenta pode ser a construção de um blog em outro. Por isso é indispensável conhecer a realidade, a cultura e as características da comunidade.
Formação x mercado de trabalho - Verônica Fox realizou
um Mestrado em Extensão Rural e Desenvolvimento Local, na linha de pesquisa Políticas e Estratégias de Comunicação, e ensina a disciplina de Jornalismo Comunitário na Faculdade Joaquim Nabuco. Para ela, a cadeira é essencial na grade curricular, principalmente no Nordeste, porque desperta o estudante para o outro lado da profissão. “Não somos apenas técnicas, temos um papel importante na sociedade”, diz. O conteúdo programático aborda conceitos de comunidade e comunicação, funções e aplicação da comunicação comunitária, além de definições sobre o planejamento da comunicação e participação na comunidade, produção LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 25
LIDE de textos, programas e informa tivos, entre outras atividades e exercícios práticos. Verônica afirma que esse segmento é muito forte no Sul do país e não é algo local, mas a prática é difundida em outros países. Durante a formação no período da faculdade, o estudante é estimulado a optar pelos veículos de comunicação tradicionais, como rádio, televisão e impresso, o que limita o campo de atuação profissional. No entanto, para aqueles que se sensibilizam comunicação comunitária, bem como se identificam com essa vertente do Jornalismo, é uma alternativa para conquistarem uma vaga no mercado de trabalho. É comum surgirem oportunidades para prestar assessoria de comunicação em organizações não governamentais (ONGs), movimentos sociais ou associações comunitárias. As atividades variam caso a caso, bem como a aplicação das técnicas e veículos, o que leva o profissional a adquirir experiência em várias áreas e descobrir novas ferramentas de acordo com o perfil da atividade que pretende desenvolver. Assim o jornalista pode produzir um jornal de bairro ou TV web comunitária, ministrar cursos e oficinas, organizar uma campanha de doação ou diagramar um informativo. A presença do comunicador em meio à comunidade e nas atividades que ela desenvolve permite ainda a articulação na formação das parcerias. Por meio do patrocínio de instituições privadas e de alguns órgãos públicos, é possível financiar as iniciativas e promover melhorias nas condições de vida dos envolvidos. Cabe ao jornalista viabilizar os processos comunicacionais da organização e ajudar esse grupo a se comunicar com o seu público de interesse, 26/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
como os parceiros, a mídia e a própria comunidade. Para os que pretendem iniciar na área, uma dica é atuar como voluntário em iniciativas sociais existentes em seu bairro.
Gesto concreto - Com o obje-
tivo de trabalhar a comunicação e a educação na perspectiva de garantia dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, a ONG Auçuba atua há 22 anos na Zona Norte do Recife. O público prioritário é a juventude de bairros com altos índices de violência e de baixo desenvolvimento humano. A atuação do Auçuba ocorre através de duas Linhas de Ação: Canal Auçuba e Só Para Fazer Mídia. O Canal Auçuba trabalha
O crescimento como cidadão, a mobilização e a participação devem partir dos envolvidos nesse processo a educação pela comunicação nas dimensões técnica, humana e política nos projetos Escola de Vídeo e Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia. O primeiro estimula a criatividade dos participantes por meio do trabalho baseado no acesso ao conhecimento tecnológico e atualmente desenvolve ações na sede da Auçuba, no bairro da Bomba do Hemetério. O segundo trabalha a formação de jovens em linguagem multimídia, aproximando arte e tecnologia, promovendo a inclusão social e o exercício da cidadania. O projeto é um Pro-
grama do Oi Futuro e funciona em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O Só Pra Fazer Mídia procura ampliar o debate sobre a promoção e garantia dos direitos das crianças e adolescentes junto à mídia. A articulação conta a participação de outros dez estados brasileiros e do Distrito Federal, que juntos compõem a Rede Andi Brasil. Uma das ações dessa iniciativa é o Portal do Direito das Crianças e Adolescentes, mantido com recursos do Fundo da Infância via Secretaria de Direitos Humanos. O estudante do 8º período de Jornalismo Wilson Neto faz parte da equipe como estagiário. Ele ingressou no Escola de Vídeo através do Núcleo de Comunicação Comunitária. A participação nas atividades promovidas pela Auçuba contribuiu para sua formação, levando-o a observar a realidade de forma mais crítica e consciente. Não demorou para ele despertar o desejo em se formar em Jornalismo. “Talvez se eu não tivesse esse convívio, essa experiência, não pensaria dessa forma. Iria pensar apenas no dinheiro ou em aparecer, como muitos jornalistas pensam, e esqueceria os valores, como o respeito ao direito das pessoas”, argumenta. Para o estudante, a experiência adquirida na área de comunicação comunitária por meio da instituição contribui para sua atuação no Jornalismo Comunitário. Chega a ser um diferencial em relação aos demais colegas de sala, por exemplo, já que muitos desconhecem esse trabalho ou não tem experiência na área. A coordenadora do projeto Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia no Recife, Michela Albuquerque, 38, explica que o trabalho da instituição sempre dialogou forte mente com a produção de comu-
LIDE
LIDE
A equipe de trabalho da Auçuba atua nas comunidades da Zona Norte do Recife
nicação via audiovisual. Ela afirma que, apesar de ser jornalista, à medida que teve contato com público acabou descobrindo outras formas de se fazer comunicação. “O fato de ter feito um curso universitário e de estar apropriada de algumas técnicas não faz com que a gente tenha a verdade. Comunicação comunitária é fazer juntos e entender o que o outro traz, respeitar e ter uma abertura para o encontro acontecer. Você muda e o outro muda”, afirma. Para Michela, é preciso desmistificar que Jornalismo é coisa de alguns. Produzir comunicação é algo muito mais democrático e até mesmo um direito de todos. “Trabalhar com comunicação e educação é sempre um processo de aprendizagem mútua. Construção
de comunicação e educação é uma construção coletiva porque esses aspectos não estão dissocia dos”, completa.
Rádios comunitárias - Muitos
resumem a comunicação comunitária à atuação das rádios comunitárias, porém esse é apenas um dos suportes. Uma situação comum é as rádios comerciais e difusoras usarem a nomenclatura comunitária para funcionarem ou até mesmo, em uma situação oposta, as próprias comunitárias veicularem conteúdo comercial. Diante desses casos, a discussão levantada é com relação à função social desses meios. A rádio comunitária é definida pelo Ministério das Comunicações como “um tipo especial de emissora de rádio FM, de alcance limi-
tado a, no máximo, 1 km a partir de sua antena transmissora, criada para proporcionar informação, cultura, entretenimento e lazer a pequenas comunidades”. Apesar de operar em baixa potência e ter uma cobertura restrita (25 Watts) permite a divulgação das tradições, costumes e ideias e contribui para o desenvolvimento local. Está presente tanto na área urbana quanto rural e compreende ainda vilas, distritos e povoados. O jornalista Gerson Nascimento, 46, trabalha com comunicação há 16 anos. Já atuou em 18 rádios comunitárias e em seis comerciais. Apesar de já ter formação técnica em Rádio e TV, ele resolveu cursar Jornalismo e concluiu a graduação há seis meses na Faculdade Joaquim Nabuco. Hoje ele afirma que LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 27
28/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
LIDE
LIDE vive outra realidade. “Até minha visão de ver os problemas mudou. Antes o meu trabalho era mais voltado para a música. Agora olho pelo lado jornalístico e procuro me envolver mais com a comunidade, conhecer e resolver os problemas da localidade”, conta. Popularmente conhecido como DJ Au-Au, Gerson atualmente é locutor de dois programas na rádio comunitária Explosão FM 100.3, em Nova Descoberta, no Recife. A programação contempla horóscopo, noticiário local, entrevistas, enquetes, músicas e participação dos moradores por quatro linhas telefônicas. O apresentador chega a receber mais de 1,1 mil ligações no horário dele na emissora. A equipe é formada por seis pessoas entre elas jovens, adolescentes e donas de casa que trazem informações sobre problemas no abastecimento de água, falta de saneamento, violência ou cobranças da atuação do poder público municipal. Como a rádio fica à inteira disposição da localidade, Gerson explica que consegue identificar essas pessoas nas visitas que elas fazem à emissora, bem como pelo convívio no bairro. “O importante é dar oportunidade a todos”, diz. Para os que querem iniciar na área ele orienta para que escutem rádio, principalmente AM, leiam notícias e anotem suas dúvidas para esclarecerem com os pais, vizinhos ou com o próprio locutor. Como fruto desse trabalho, ele já encaminhou cinco jovens para trabalharem profissionalmente com rádio. O jornalista comenta que consegue retorno imediato dos responsáveis pelos problemas denunciados no programa porque está sempre frequentando os órgãos municipais, estaduais e, algumas vezes, federais. Outra forma encontrada é por meio de
Michela Albuquerque afirma que descobriu outras formas de comunicação
entrevistas com autoridades em um bate-papo interativo. “A comunidade traz as suas dificuldades e a gente traz o profissional para discutir e suprir a deficiência de determinado ponto que ele possa resolver”, explica. Um questionamento comumente levantado é em relação à veiculação de publicidade comercial nessas emissoras. De acordo com a lei 9.612/98, a rádio comunitária pode divulgar apenas apoio cultural de instituições ou patrocinadores localizados na área de cobertura da transmissão, sendo permitida a propagação do nome do anunciante, dos endereços físico e eletrônico e do telefone. Devido a sua trajetória, Gerson já
criou uma identidade junto ao público: quando é divulgado que o DJ Au-Au vai atuar na rádio, ele é bem recebido e consegue facilmente o apoio cultural. Gerson também ministra oficinas na área. Tudo teve inicio com um trabalho de intervenção comunitária por exigência da disciplina de Jornalismo Comunitário, quando cursava o 7° período de Jornalismo. Na ocasião ele realizou uma oficina na comunidade de Chão de Estrelas, no Recife, e depois ampliou essa atividade para outras localidades. O conteúdo inclui iniciação a locução, elaboração de textos, pautas, técnicas de reportagem e uso das redes sociais. L
FOTÔNNETRO Jédson Nobre
Clique diário O mercado está cada vez mais exigindo versatilidade do fotógrafo, que precisa ainda acompanhar as novas tecnologias que surgem constantemente
Acabou-se o tempo em que bastava possuir uma câmera e saber fotografar para trabalhar na redação de um veículo de comunicação. Com as novas tecnologias e com os cursos profissionalizantes na área, quem opta pelo fotojornalismo precisa investir em um equipamento moderno e aprender novas habilidades. As exigências estão cada vez maiores, levando o profissional, em algumas situações, a também filmar o fato para postar no site do jornal. Para trabalhar na área é preciso ainda ser versátil para lidar com as temáticas mais variadas e desenvolver uma linguagem fotográfica que corresponda ao perfil editorial do veículo.
Cabe ao fotógrafo sugerir e pesquisar novas ideias para suas imagens. Alguns requisitos são necessários para a profissão, como ser criativo, ter habilidades técnicas e saber se comunicar. Uma boa coordenação motora entre a visão e as mãos, bons reflexos e vigor físico para transportar os equipamentos auxiliam no momento de fotografar. É indispensável conhecer as câmeras, lentes, filtros e efeitos que propor cionam, algumas técnicas dos softwares de edição de imagem e controlar a luz. A rotina do subeditor de fotografia do Jornal do Commercio (JC), Chico Porto, 32, se inicia pela manhã. É de sua competência observar os aconLIDE/ DEZEMBRO 2011/ 29
FOTÔNNETRO
É cada vez mais comum o repórter sair da redação com bloco de anotações, gravador e câmera digital portátil ou celular com câmera acoplada, o que pode dispensar a presença de um fotógrafo na cobertura de todas as pautas. Para Chico, o repórter não vai fazer tão bem a fotografia quanto um fotógrafo porque o que ele sabe fazer é o texto, da mesma forma que em uma situação oposta. “Em campo, o trabalho do fotógrafo é mais trabalhoso do que o do repórter. Já na redação, o repórter ainda precisa organizar as informações e fazer o texto”.
Olhar pessoal - Formado em Protesto de estudantes- Av. Conde da Boa Vista- Recife (maio de 2011)
Jédson Nobre tecimentos previstos durante o dia e, de acordo com a solicitação dos repórteres ou editores, autorizar a saída dos fotógrafos para acompanhar a execução das pautas. Nessa editoria, o fotógrafo que cobre os acontecimentos diários geralmente não é pautado. Já nos cadernos frios, nos quais as matérias são “produzidas”, existe uma pauta escrita com orientações. Chico Porto comenta que como no JC os fotógrafos são separados por editorias. Caso não haja um profissional disponível ele liga para aquele que está “cobrindo” outra pauta na rua. Se não for possível conciliar, pede para o repórter aguardar ou manda um de outro caderno. A partir das 16h, ele começa a editar as imagens para o jornal. 30/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
Algumas dessas fotografias são encaminhadas para o banco de dados da agência JC Imagem para serem comercializadas em outros estados. O subeditor começou na área há 11 anos por incentivo de amigos que já fotografavam. A princípio, acreditava que ocupar a função atual serial algo mais fácil. Hoje afirma que sente falta de estar na rua, de ter contato com outras pessoas e de conhecer vários lugares diferentes em vez de ficar trabalhando na redação. “É gratificante por que você está vendo as imagens de todo mundo e colocando as fotografias dos colegas para serem publicadas no jornal. Na rua você tem um desgaste mais físico pela rotina, enquanto na redação é algo mais mental”, argumenta.
Publicidade e Propaganda há cinco anos Jédson Nobre, 29, optou por seguir a carreira de fotógrafo. Ele trabalha na Folha de Pernambuco e explica que no jornal não tem rotina. “Cada dia é uma história diferente. A gente nunca sabe o que vai acontecer. No dia a dia sempre é uma surpresa”, diz. Como é escalado de acordo com a demanda do dia para cobrir os mais diferentes assuntos, como política, futebol ou polícia, ele afirma que aprende a lidar com tudo e a se adequar a todas as situações. Jédson esclarece que é comum o fotógrafo estar na rua cobrindo um protesto pela manhã e à noite fotografar um evento. “E o profissional, mesmo suado e desarrumado, precisa ir porque essa é a rotina do veículo”, comenta. O profissional afirma que só a experiência adéqua o fotojornalista ao perfil editorial do veículo de comunicação. Nos primeiros meses de trabalho, é natural que o editor de fotografia dê algumas sugestões em suas imagens. “Com o passar do tempo, ele já conhece o olhar de cada um e
a gente também já sabe o que o jornal pede”, explica. Jédson observa que cabe ao repórter passar para o fotógrafo a essência do que ele quer buscar na matéria. “Esse diálogo auxilia na hora de compor a imagem porque o profissional consegue captar a mensagem que o jornalista quer transmitir no texto e resumi-la ou completá-la na fotografia”, defende. Para aqueles que pretendem seguir nessa área, Jédson dá a dica: no começo, é bom observar muitos jornais e revistas e tentar ver como o fotógrafo buscou fazer aquela imagem. “Fotografia não é apenas para ser vista, é para ler também. Fazer uma análise da imagem em si e buscar se aprimorar em cursos específicos é essencial”, diz. Uma sugestão para fugir do padrão e fazer um enquadramento diferenciado é analisar o que existe ao redor e buscar algum elemento que vai dar um up a sua fotografia. Assim como o jornalista precisa estar disponível 24 horas por dia, com o fotógrafo não é diferente. Além de cumprir seu expediente diário, caso o profissional esteja cobrindo um protesto ou rebelião, por exemplo, só poderá sair do local quando a situação for encerrada ou caso a editoria escale outro fotógrafo para revezar as tarefas.
Ossos do ofício - Há 14 anos
o fotógrafo Bernardo Soares, 35, trabalha na área e conhece muito bem está rotina. O profissional já prestou serviços ao Diario de Pernambuco, Folha de São Paulo, assessorias políticas e atualmente trabalha no JC no caderno de Cidades. “Você se coloca em posições muito vulneráveis. Enquanto as pessoas
FOTÔNNETRO
A dama da nação-Maracatu no Marco Zero no Carnaval do Recife (2007)
Bernardo Soares estão ali armadas pra brigar, você está ali apenas com uma câmera na mão e não tem muito como se defender”, comenta sobre os riscos da profissão. Nesses momentos a recepção dos envolvidos é variável. “De qualquer forma as pessoas sabem que estamos ali para registrar e que somos testemunhas. O fato de a gente estar ali no meio da confusão muitas vezes evita os excessos da polícia, porque eles sabem que nós estamos ali para registrar qualquer fato que aconteça”, justifica. Ele esclarece que a relação com os demais colegas de outros veículos é tranquila, seja porque já trabalharam juntos ou se conhecem devido às coberturas que fazem. Bernardo comenta
que no momento de fotografar todos querem o melhor ângulo precisam retornar para a redação com o registro do fato independentemente da forma como conseguiram. Em algumas situações, o fato de haver muitos jornalistas, assessores e cinegrafistas entrevistando ou filmando uma personalidade nacional, por exemplo, pode provocar um conflito entre os fotógrafos. Para evitar situações constrangedoras ou até mesmo inimizades, ele recomenda: “Na hora de fotografar, procure levar em conta o senso de ética da profissão para nunca ultrapassar os limites dos outros e sempre respeitar o colega que também está ali trabalhando e cumprindo a mesma função”. LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 31
FOTÔNNETRO
Diploma também é coisa de fotógrafo
Há alguns anos o estado de Pernambuco vem se destacando no cenário jornalístico. E um dos fatores que ajudam a enriquecer o texto são as imagens, que trazem o olhar de cada fotógrafo para as páginas dos jornais. Mas para quem pensa que ser fotgrafo é fácil se engana completamente. Esse profissional está cada vez mais preparado para ir as ruas e realizar um belo trabalho. Primeira faculdade a ter um curso superior de fotografia no Norte / Nordeste, a Faculdade Aeso / Barros Melo prioriza a formação completa em relação ao uso de dispositivos da câmera e às técnicas de estúdio, iluminação, laboratório e controle de luz “Estudar fotografia, não apenas no seu aspecto técnico, mas, principalmente, articulando com a reflexão, é importante para permitir que se use essa linguagem de maneira a tirar melhor proveito de suas potencialidades, sem esquecer as questões éticas envolvidas no seu uso”, explica Eduardo Queiroga, 41, coordenador do curso e fotógrafo. Ou seja, a fotografia na atualidade está longe de ser apenas uma reprodução daquilo que o profissional vê: ela vai além e traz o universo daquela imagem para o leitor. O curso da Aeso já tem uma turma formada e chama a atenção pelo resultado obtido pelos alunos, que transcende os muros da instituição. Em 2008, um dos éstudantes recebeu o primeiro lugar com menção honrosa na categoria Fotografia Jornalística - Estudante do Cristina Tavares, uma prova decomo a academia contribui para 32/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
Ruth Caroline- personagem de uma matéria do Jornal do Commercio
Alexandre Severo a qualificação do profissional. Segundo a bacharel em fotografia pela Aeso Fernanda Mafra, a faculdade fez com que ela percebesse que a fotografia é mais que uma profissão: é um estudo para a vida inteira. Além disso, para ela a faculdade contribuiu para aprimorar sua percepção na hora de captar as imagens. “Estudamos muito mais que técnica fotográfica. Tivemos muitas disciplinas teóricas que nos proporcionaram boas leituras e, consequentimente, um modo mais aguçado de produzir e/ou analisar a imagem”, afirma. Outra instituição que oferece formação na área de fotografia é a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O curso
tecnológico tem duração de dois anos e busca aliar a formação teórica à vivência prática da fotografia, porém sem esquecer o aspecto regional. Além disso, o perfil profissional que a instituição busca formar alia o domínio da linguagem técnica à forma criativa, critica e ética de fazer fotografia. Formado em jornalismo pela Unicap, o fotógrafo, Alexandre Severo acredita que os cursos de fotografia, sejam tecnológicos ou bacharelados, contribuem para aumentar o nível de aprofundamento de quem trabalha na área. “As faculdades preparam as pessoas para pensar em fotografia e não apenas produzir imagens, como acontecia antes”, defende. L
GRANDE ANGULAR
Um pensamento e o lixo por Henrique Melo recĂŠm-formado em jornalismo pela Faculdade Joaquim Nabuco
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 33
PINGUE- PONGUE
O senhor Bandeira 2 Há quatro décadas no ar, Gino César é recordista em audiência na Região Metropolitana do Recife (RMR), com os programas Bandeira Dois e Plantão de Polícia. Dono de um estilo peculiar, o senhor tranquilo e reservado que atiça a curiosidade dos ouvintes todas as manhãs é uma verdadeira “metralhadora giratória” na hora de denunciar os crimes da sociedade.
LIDE- Como o senhor iniciou
sua carreira no rádio? GINO CÉSAR- Comecei a carreira como ator de radionovelas, em 1955, e trabalhei como ator de rádio e televisão os anos 60, na Rádio Clube e na extinta TV Tupi. Antes eu trabalhava como motorista de táxi.
LIDE- É dessa época que vem o nome Gino César? GINO CÉSAR- Sim. Recebi esse nome de duas amigas que tra-balhavam comigo no radioteatro.
LIDE- Como ocorreu a mu-
dança de estilo radiofônico? Das novelas ao programa de maior audiência do estado? GINO CÉSAR- Na época foi uma oportunidade que sur34/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
“
Temos que fazer valer a nossa credibilidade ante as pessoas que confiam na imprensa, considerada o quarto poder
giu. Na Rádio Clube, estavam precisando de uma pessoa para fazer um programa policial e eu fui convidado.
LIDE-De onde veio o costume
de usar chapéu? GINO CÉSAR- Este vício começou por causa de um agente chamado Cabinho. Ele foi pro interior caçar um criminoso e trouxe um chapéu de palhinha. Quando chegou, eu estava na delegacia de plantão de madrugada, e ele me disse: “Se as pontas deixarem e o chapéu assentar, é teu”. Deu direitinho. Como na época eu saía não só à noite, mas também de manhã, eu ficava com ele noite e dia. Quando estragou veio um delegado e me deu outro. Na terceira vez, mesma coisa. Um
PINGUE- PONGUE Jeferson Batista
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 35
PINGUE- PONGUE dia cheguei sem chapéu, por que o último tinha acabado, e os policiais reclamaram: “Você sem chapéu não é o Bandeira 2”. Agora, eu não tiro por nada, fiquei viciado.
LIDE- Como o senhor explica o
sucesso de quatro décadas dos seus programas policiais? GINO CÉSAR- Simples. O povo gosta de violência. O povo tem curiosidade em relação aos crimes. Além de que se sentem carentes dos serviços de utilidade pública que oferecemos. Também não podemos esquecer que o povo tem na imprensa de uma forma geral um defensor contra a arbitrariedade dos poderes.
LIDE- De onde veio o nome Bandeira 2?
GINO CÉSAR- Não lembro
exatamente como começou, não guardo datas. Mas lembro que foi numa época em que ocorreram vários assaltos a motoristas de táxi. Por esse motivo, surgiu o Bandeira 2.
LIDE- Entre os fatores que o
tornaram conhecido em todo o estado de Pernambuco, a forma como as notícias são transmitidas chama bastante atenção. Como o senhor desenvolveu esse estilo de narrar os fatos? GINO CÉSAR- Eu queria criar uma identidade própria, quase um personagem, para as pessoas identificarem mais facilmente quem eu era.
LIDE-Qual o objetivo/intenção de usar chavões como “E atenção!” na hora de transmitir as noticias? GINO CÉSAR- É justamente 36/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
“ ”
Também não podemos esquecer que o povo tem na imprensa de uma forma geral um defensor contra a arbitrariedade dos poderes
chamar a atenção para a matéria a ser apresentada, criar um clima e como dito anteriormente, diferenciar, criar um estilo próprio.
LIDE- Como é a sua rotina de trabalho?
GINO CÉSAR- Antes eu saia de casa para o trabalho às 22h e só voltava às 13h, de domingo à sábado, folgava apenas do sábado para o domingo. Hoje, em virtude da idade, começo na segunda, às 7h, preparando o programa das 12h e o Plantão de Polícia. Saio as 12h30, quando acaba o programa, e volto à noite por volta das 23h. A rotina inclui visitas a necrotérios, hospitais, delegacias, locais de crimes e operações policiais e se repete até o sábado, quando folgo e só volto na segunda.
LIDE- O que o senhor faz nas horas vagas?
GINO CÉSAR- Eu gosto de ficar
em casa com a família. Nos finais de semana cuido dos pássaros em meu sitio. Não gosto de festas, nem de badalações. Além disso, não bebo.
LIDE- Sabemos que, devido ao
horário de trabalho, a convivência familiar ficou um pouco difícil. Como o senhor consegue conciliar a família e o trabalho? GINO CÉSAR- Sempre foi difícil. Até hoje não lembro da data dos aniversários de ninguém. Não sou chegado a participar de festas, mas tenho uma convivência boa com todos.
LIDE- O senhor já passou por
alguma situação de risco? GINO CÉSAR- Já. Várias vezes,
JC Imagem
PINGUE- PONGUE
tanto eu quanto minha família. Por muitos anos eu precisei andar armado, além de ter tido a casa e o carro alvejados por balas. Coincidência ou não, todas as vezes que denunciava os maus policiais, sofria ameaças. Uma vez ligaram para minha casa dizendo que queriam me matar. O meu filho Ricardo, que na época tinha uns 6 anos, atendeu a ligação. Como conversávamos sobre isso entre a família, ele calmamente respondeu ao bandido que ele poderia me matar, que depois a família encontraria o corpo. Hoje, felizmente as ameaças cessaram.
LIDE- Para o senhor, qual a diferença entre Jornalismo investigativo e o Jornalismo denúncia? GINO CÉSAR- Investigativo vai atrás, procura, antes de divulgar. Porém nem todo assunto
“
Eu queria criar uma identidade própria, quase um personagem, para as pessoas identificarem mais facilmente quem eu era
compete ao Jornalismo investigativo. Em alguns casos, seria perda de tempo e trabalho em vão, pois o resultado da investigação, o produto, já está na própria denuncia. O Jornalismo denúncia já tem seu assunto e depende da sensibilidade do profissional que a recebe.
LIDE- Qual o papel o jornalista na sociedade?
GINO CÉSAR- Funciona como
um porta-voz. Deve ser imparcial. Opinar só se ele estiver completamente inteirado do assunto. Temos que fazer valer a nossa credibilidade ante as pessoas que confiam na imprensa, considerada o quarto poder.
LIDE-Até quando o senhor pretende trabalhar? GINO CÉSAR- Só o tempo vai dizer. L
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 37
ESTAÇÃO
É goooooollll! LIDE
A torcida chega e já vai tomando as arquibancadas, colorindo o estádio com as cores do time do coração. É hora levar emoção através das ondas do rádio
Domingo é dia de sol, piscina e pagode. Esse cenário é o que você encontra ao chegar nos estádios de futebol em dia de jogo. São sócios que aproveitam o dia para se divertir antes da partida. Bem diferente deles é a imprensa que, apesar do clima de descontração antes do jogo, não brinca em serviço na hora de transmitir cada segundo da partida para o ouvinte. 38/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
José Silverio observa todos os lances da partida na hora da transmissão
LIDE
ESTAÇÃO Para levar a emoção do jogo aos torcedores que não puderam ir ao estádio, o trabalho dos jornalistas começa cedo, cerca de três horas antes do pontapé inicial. Segundo Ralph de Carvalho, comentarista esportivo da Rádio Jornal, é preciso chegar cedo para que os torcedores já estejam acompanhando as preliminares da decisão duas horas antes do jogo. A equipe que trabalha nos estádios transmitindo a partida é formada basicamente pelo narrador, comentarista e repórter. Este último precisa estar sempre alerta para um detalhe: não deixar o microfone ligado o tempo inteiro. Já pensou como ficaria confusa uma transmissão com o narrador soltando o grito de gol e a torcida do time que levou o furo emitindo um coro de xinga- Mesmo com o calor da torcida a concentração deve ser total durante a partida mentos, tudo ao mesmo tempo? desportiva. naram pela beleza do rádio. É antes do jogo que os jorA narração de atividades Ouvir a transmissão esportiva nalistas começam a lidar com esportivas através do rádio através desse veículo é mais que os torcedores dos times que não surgiu agora. Ela tem uma diversão: é uma tradição que vão entrar em campo. Entre tradição que se confunde com a passa de pai para filho e perdura os profissionais que têm mais história do futebol brasileiro. A por gerações. Atual revelação do contato com o público estão os primeira transmissão de que se rádio pernambucano, Romoaldo comentaristas, que recebem tem notícia foi realizada em 1931 Marques, narrador esportivo da muitas críticas dos torcedores. Rádio Olinda, declara que desde De acordo com Cabral Neto, que pelo radialista Nicolau Tuma. Nessa época, os locutores tracriança ouvia a transmissão das exerce essa função na Transabalhavam sozinhos, sem o auxílio partidas pelo rádio, com o pai . E mérica, é preciso conviver com de comentaristas, e transmitiam foi a partir disso que ele decidiu as criticas da melhor maneira as partidas do meio da torcida. seguir essa profissão. possível. “Quem critica tem que estar acostumado a receber críti- Tuma desenvolveu um estilo único de narrar, que levava para Profissionalismo - O Jornacas também”, defende. o ouvinte uma descrição fotográlismo esportivo não pode ser Com o crescente uso das refica da partida. Com o aperencarado como mero entretenides sociais, fica fácil para o torcemento. O futebol é, sem sombra dor entrar em contato com quem feiçoamento da técnica e com o passar dos anos, ele ficou code dúvida, a paixão nacional do esta trabalhando no campo. O nhecido como o “speak metrapovo brasileiro. Porém, isso não Twitter é a principal ferramenta lhadora”, já que conseguia dizer significa dizer que o trabalho de interatividade entre profis250 palavras em um minuto. desenvolvido pelos profissionais sionais e espectadores do jogo, Depois de Tuma vieram deva ser desmerecido. Os jornaque durante os 90 minutos da muitos locutores, narradores e listas que estão dentro de campo partida tiram dúvidas, criticam, comentaristas esportivos, que narrando as partidas estão semfazem comentários e ajudam a por diversos motivos se apaixopre se preparando e estudando construir o debate, a resenha LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 39
ESTAÇÃO para levar o melhor do desporto para os ouvintes. Por isso, não basta ir ao campo faltando meia hora pro jogo começar e decorar o nome dos jogadores e das principais táticas que acontecerão durante a partida. O Jornalismo esportivo precisa ser feito por meio de um exercício diário de acompanhamento, preparação e estudos da área. Essa vertente do Jornalismo também é investigativa e exige que o profissional esteja
ouvinte, que a cada dia está mais exigente. Muitas vezes é a torcida quem dita o ritmo da transmissão: nos jogos em que o estádio está em festa, a locução ganha um ritmo mais emocionante. Agora imagine a empolgação e a emoção de transmitir um jogo da seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Sim, alguns profissionais, como Cabral Neto, já tiveram essa oportunidade, e afirmam que o estímulo LIDE
Aroldo Costa, Maciel Melo e Ralph de Carvalho, da equipe da Rádio Jornal
bem preparado para prever os principais lances do jogo e saiba construir a narração mais fiel do que está acontecendo dentro das quatro linhas. Quando o juiz apita o inicio da partida, toda a atenção fica voltada para o campo. Os lances são narrados com a riqueza de detalhes que a transmissão exige. O repórter se transforma em um observador atento para não deixar escapar nada ao 40/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
para a narração desses jogos depende principalmente da empolgação dos jogadores. Eles é que ditam a emoção a ser transmitida durante a locução. As rádios Jornal e Transamérica foram as duas emissoras pernambucanas que participaram da última Copa, em 2010, na África do Sul. Um detalhe muito importante e que faz parte da rotina dos jornalistas esportivos são as regras desportivas e os regulamentos
dos campeonatos. Essas normas precisam ser bem conhecidas por parte dos profissionais, pois o menor erro pode provocar um grande mal entendido com os ouvintes. Outro ponto que chama a atenção na transmissão esportiva é a linguagem própria criada pelos locutores, que usam redundâncias, uma característica do rádio que facilita a compreensão da informação pelo ouvinte. Essa característica revela o quanto a criatividade, a imaginação e a habilidade em usar as palavras fazem parte das locuções esportivas. Outra habilidade que o jornalista esportivo de rádio precisa ter é entender um pouco de cada setor da sociedade. Aroldo Costa, narrador da Rádio Jornal, acredita que é preciso estar bem preparado para atuar nessa área, pois atualmente você encontra escritores e jornalistas que falam sobre sociologia do esporte, que trata da paixão do torcedor pelo pelos times do coração, e que, além de profissionais, são torcedores e estão atentos a cada comentário que feito durante as transmissões. Assim como em qualquer outra profissão, é preciso gostar muito do que faz na hora de atuar no rádio. Além disso, outro fator é determinante na hora de trabalhar nos estádios: ser um bom torcedor, como declarou Elias Pereira, repórter esportivo da rádio Princesa Serrana de Timbauba, única emissora do interior que acompanha os times pernambucanos dentro e fora do estado. Os profissionais que trabalham com a transmissão das partidas contam com o apoio da Associação dos Cronistas Desportivos de Pernambuco (ACDP), que determina as regras
LIDE
ESTAÇÃO de como os jornalistas têm que agir dentro do estádio. O órgão foi fundado em 1921 e atualmente conta com uma gestão que vem promovendo seminários e palestras para capacitar os jornalistas que trabalham na transmissão dos jogos. Quem pensa em seguir a carreira da narração esportiva no rádio precisa reunir a documentação necessária. Depois de tirar o registro no Ministério do Trabalho (DRT) ou a carteira do jornalista profissional, é necessário se cadastrar na ACDP. O jornalista recebe uma carteira provisória com validade de um ano. Após esse período, se ainda estiver trabalhando na área desportiva, ele recebe a carteira definitiva, Das cabines de transmissão os radialistas acompanham e narram a partida válida em todo o país.
Qual a função de cada profissional dentro do estádio? Os jornalistas que são responsáveis por cobrir cada uma das áreas esportivas recebem o nome de setoristas. Assim como as equipes dos demais meios de comunicação, as equipes desportivas sofrem com a limitação de pessoal, por isso é comum que esses profissionais acumulem diversas atividades.
Técnico de áudio - operacionaliza a parte técnica da transmissão;
A única exceção são os jornalistas que trabalham exclusivamente na cobertura dos clubes pernambucanos de futebol. Abaixo segue uma lista das principais atividades desempenhadas pelos profissionais que realizam a cobertura esportiva de rádio:
Comentarista - emite comentários sobre a partida;
Plantonista - faz o trabalho de base numa cobertura esportiva;
Operador de mesa - edita as matérias; Repórter - produz e veicula as notícias; Narrador - narra os eventos esportivos;
Chefe de equipe - define a linha editorial da transmissão esportiva. (Fonte: curso de Jornalismo esportivo ministrado pelo professor Álvaro Filho, da Universidade Católica de Pernambuco) L LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 41
CADERNO
A reinvenção do impresso Numa época em que se pensa que o jornal impresso está condenado ao fim, a produção de reportagens especiais é uma alternativa para reverter esse quadro Para muitos estudiosos, o fim do jornal impresso já é uma certeza. Para outros, assim como aconteceu com diferentes meios na história da imprensa, como o rádio e a TV, os periódicos irão se adaptar às novas mídias e às preferências do público. Diante da perda de espaço por causa da instantaneidade da informação oferecida pela internet, especialmente pelas novas mídias, a forma de se fazer jornal está sendo repensada e as reportagens especiais conquistaram um lugar de destaque dentro da dinâmica do jornal diário. Os veículos de comunicação passaram a fazer uso desse recurso de forma sistemática para aprofundar os conteúdos e reconquistar os leitores. O Jornalismo interpretativo passou a ser usado no Brasil a partir de 1950, período da profissionalização dos jornais por meio da inserção de 42/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
novas tecnologias. Os periódicos buscaram diferenciar seus conteúdos em relação aos demais veículos, especialmente com a chegada da TV, e tiveram grande influência do movimento norte-americano New Journalism. O objetivo era utilizar nos métodos de apuração e de redação todos os recursos disponíveis, como novos direcionamentos, maior número de personagens, descrição detalhada, ligação com um contexto mais amplo, humanização, entre outros. A proposta era apresentar, além do relato da informação, a interpretação do fato. A imprensa pernambucana tem se destacado no cenário jornalístico brasileiro pela crescente produção de reportagens especiais e pela conquista de premiações nacionais. Com esse reconhecimento, o desafio dos jornalistas é apresentar temas
e apuração aprofundados, com abordagem diferenciada e um volume maior de informações e análises. O aumento de espaço para essas produções contrasta com a situação dos grandes jornais. O alto custo com viagens e apuração longa e a retirada de pelo menos um repórter e um fotógrafo da cobertura do dia a dia são alguns dos desafios que muitos veículos enfrentam para publicar um assunto em mais de dez páginas e sem anúncio. O jornalista Vandeck Santiago, 49, trabalha exclusivamente com cadernos especiais no Diario de Pernambuco há dez anos. Com 26 anos de carreira, sua experiência lhe permite afirmar que “da mesma forma que tivemos uma cena musical, com o manguebeat, da mesma forma que temos uma cena cinematográfica, com diretores daqui produzindo filmes para o
Heitor Cunha
Vandeck Santiago diz que temos hoje uma cena jornalística em PE
mercado nacional, dessa mesma forma nós temos hoje uma cena jornalística em Pernambuco”. Ele observa que não existe na história da reportagem brasileira o registro do que está sendo ou foi produzido fora do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, a exemplo das revistas Cruzeiro e Realidade. O jornalista defende que essa “cena” corresponde às reportagens especiais publicadas pelo Diario de Pernambuco (DP) e pelo Jornal do Commercio (JC), sistematicamente, desde 2004, e que tem conquistado os principais prêmios jornalísticos do país. “O que nós estamos fazendo aqui em relação à produção dessas publicações é o capítulo regional que faltava na história da reportagem brasileira”, comenta. De acordo com Vandeck, o DP consolidou a cultura do caderno especial em Pernambuco através da publicação do caderno de sua autoria “Francisco Julião, as Ligas
e o Golpe Militar de 64”, publicado em 2004 para registrar os 40 anos do Golpe Militar de 1964. A iniciativa lhe rendeu a categoria regional do Prêmio Esso Regional Nordeste de Jornalismo e o Cristina Tavares e posteriormente virou livro. Ele lembra que antes o JC já publicava esse material, mas não na grandeza alcançada pela produção atual dos dois jornais. A partir de então, passaram a destinar um investimento maior devido à concorrência que passou a existir entre ambos. Vandeck enfatiza ainda que, desde essa época, as reportagens produzidas em Pernambuco estão frequentemente entre as finalistas ou vencedoras de prêmios nacionais, como o Esso e o Embratel, diferentemente do que ocorria há dez anos. “São conquistas obtidas em disputas com os grandes veículos em nível nacional, com jurados que não são daqui, que não têm ligação
CADERNO com as empresas daqui e que na maioria dos casos só conhecem o jornal de nome”, justifica. Esse reconhecimento, além das premiações, traz como contribuição a valorização dos trabalhos vencedores e aumenta o padrão de exigência, levando as empresas a investirem mais nas produções e nos profissionais à frente dos projetos. “Para concorrer em um prêmio nacional, é preciso estar com um padrão de nível nacional. Você precisa de uma apuração mais aprofundada, de um bom projeto gráfico, produção fotográfica, bom texto e outros aspectos que elevam o padrão da reportagem”, ressalta. Vandeck elenca ainda algumas características que contribuem para as produções locais conquistarem os prêmios em relação aos demais veículos: caráter autoral, produção sistemática, condições de trabalho e publicação, variedade temática, engajamento social, entrevista com os principais especialistas no assunto (independentemente de onde eles estejam) e amplitude geográfica. “Pernambuco tem uma produção de qualidade nacional sendo feita de maneira inédita no país, com característica regional, mas sem ser provinciana, o que representa um avanço no que se fez até agora”, conclui. O jornalista lembra que a produção de um caderno especial exige o levantamento através de pesquisas e entrevistas com especialistas sobre o tema, préprodução para elencar os lugares necessários para as entrevistas e os possíveis personagens, desdobramentos, sintonia e diálogo entre o grupo de trabalho, além de exigir uma equipe de arte e o direcionamento sob uma nova perspectiva. LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 43
CADERNO
BASTIDORES Desvendendando Os Sertões de Fabiana Moraes
44/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
Heudes Régis
Com o projeto “Os Sertões”, a repórter especial do JC, Fabiana Moraes, 36, dos quais 15 dedicados ao jornal, venceu a categoria nacional do Prêmio Esso de Jornalismo em 2009 e garantiu o título pela primeira vez, desde a criação do prêmio em 1956, a um veículo de comunicação do Norte/ Nordeste. A jornalista decidiu produzir um caderno especial para registrar o centenário de morte do escritor Euclides da Cunha. A ideia principal era fazer um material diferente do que já havia sido publicado anteriormente sobre o assunto e o título do livro “Os Sertões” foi que norteou a pauta. Com o objetivo de retratar o Sertão além dos estereótipos relacionados à fome, à seca ou ao vaqueiro, Fabiana, acompanhada pelo fotógrafo Alexandre Severo e pelo motorista Reginaldo Alves, viajou 4.713 quilômetros de estradas e visitou mais de 15 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia e Alagoas. Por meio da história de personagens marcantes como a travesti Lohanne, a vaqueira Soneide, o condenado por tráfico André e o padre Sizo, a jornalista apresenta personagens peculiares do local e faz
Fabiana Moraes é autora de outros projetos premiados
uma releitura atual da região imortalizada por Euclides da Cunha. “Lá estão os fortes, os
míticos, os magros, os sededentos, os ingênuos, os brutos, os desconfiados, os puros”,
CADERNO Divulgação
afirma a escritora em um trecho da reportagem. Para produzir o material, Fabiana inicialmente fez várias pesquisas e entrevistou especialistas que tinham o Sertão como objeto de estudo. Esse levantamento de informações foi importante tanto para conhecer melhor a temática quanto para estruturar as pautas. Ela conta que os personagens foram surgindo no decorrer das entrevistas já nas cidades visitadas. “Tivemos sorte porque essa é uma região onde todo mundo lhe acolhe. No inicio estavam desconfiados, mas com o passar do tempo todos estavam disponíveis para colaborar”, comenta. A jornalista conta que a maior dificuldade encontrada foi de ordem técnica: não era possível imprimir as 24 páginas do caderno no padrão CMYC, já que a impressão na gráfica do JC só permitia que ao menos quatro páginas fossem impressas em P&B. A autora lembra que isso seria dar maior importância a um personagem em relação aos demais. A solução encontrada foi imprimir o material três vezes e organizar o caderno manualmente. O convite da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) para transformar a publicação em um livro reportagem, em 2010, surgiu por causa da repercussão do Prêmio Esso de Jornalismo. Como já havia sido divulgado a versão online do caderno no site do JC, a proposta foi de voltar para a
Livro Os Sertões retrata os personagens característicos do Sertão
maioria das cidades visitadas, rever os personagens, encontrar novos entrevistados e acrescentar textos inéditos à obra. Para a jornalista, retornar ao Sertão quase que um ano depois foi uma experiência nova e isso trouxe um novo sabor ao trabalho. Ela não conseguiu restaurar o contato com todos os personagens - alguns morreram, outros mudaram de cidade ou de número de telefone. Com alguns foi mais fácil porque ela manteve contato e outros ela optou por não procurar. O projeto conta ainda com textos do jornalista Schneider Carpeggiani, do professor de geografia cultural da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Caio Maciel e do pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco Maurício
Anunes. Inclui ainda fotografias inéditas de Heudes Régis. Além de jornalista, Fabiana é doutora em Sociologia pela UFPE. Conquistou seu primeiro prêmio em 2000, como repórter revelação pela Comissão Europeia de Turismo. Em 2007, foi a vez do Prêmio Esso Regional Nordeste pela série “A vida mambembe”, uma publicação sobre os bastidores da vida dos integrantes de circo em Pernambuco. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Reportagem, com o especial “O nascimento de Joyce”. A reportagem conta a realidade de uma transexual do Sertão de Pernambuco, que decide fazer uma operação de mudança de sexo, mas que precisa enfrentar as dificuldades de sua condição social e financeira e o preconceito da família. L
LIDE/ DEZEMBRO 2011/ 45
ESTANTE
A arte de entrevistar bem- Thaís Oyama A obra Apresenta dicas de como se vestir, agendar, produzir, como conquistar a confiança do entrevistado, cuidados na hora de usar o gravador e conduzir uma entrevista.
Produção de Rádio: um Guia Abrangente de Produção Radiofônica- Robert McLeish A obra abrange diversos aspectos da produção de rádio na esfera profissional. Inclui exercícios de treinamento, bem como modelos de roteiros, estudos de casos e exemplos práticos.
Manual do Foca: Guia de Sobrevivência para jornalistas- Thais de Mendonça Jorge Apresenta algumas técnicas de entrevista, reportagem e apuração. Conceitua e explica termos como pauta, notícia, lide, pirâmide, suíte, etc. 46/ LIDE/ DEZEMBRO 2011
Ligeiramente fora de foco- Robert Capa O livro é uma autobiografia, na qual o fotógrafo fala de sua vida privada e profissional, das suas experiências como correspondente de guerra e da convivência com seus amigos.
Manual de Assessoria de Imprensa- Gilberto Lorenzon e Alberto Mawakdiye A publicação apresenta situações que ilustram o cotidiano de uma assessoria de imprensa mostra dicas sobre entrevistas, releases, clippings, Jornalismo empresarial e house organs.
Profissão: Jornalista de TV: telejornalismo aplicado na era digital- Regina Villela Avalia as exigências que a TV digital vai exigir dos profissionais para atuarem com telejornalismo. Traz um conteúdo técnico e exemplos práticos.
Acesse o NOVO SITE do VOZ DO PLANALTO
WWW.VOZDOPLANALTO.COM.BR O seu portal de notícias
Notícia com credibilidade