5 minute read

Identificação da questão de investigação

com potencial terapêutico são fundamentais para minimizar os processos de dependência das pessoas mais velhas.

Deste modo, a investigação sobre as necessidades das pessoas mais velhas poderá ser muito relevante para a adequação das respostas em saúde com

implicações na qualidade de vida, na autonomia, na maximização da

independência e na maior satisfação dos familiares cuidadores, contribuindo para que se viva mais e melhor.

Acreditando que a “ignorância é mais dispendiosa do que o conhecimento”, consideramos fundamental sensibilizar os enfermeiros para a necessidade de produzirem trabalhos de investigação que possam contribuir para se dar resposta às seguintes questões:

• Quais são as principais necessidades das pessoas (mais vulneráveis em termos de saúde, a vivenciar processos de doença ou dificuldades de adaptação) nos diferentes contextos ao longo do ciclo vital? • Quais são as respostas (intervenções de enfermagem) mais efetivas, ou seja, que contribuem para a recuperação e a integração das pessoas de forma satisfatória, diminuindo os custos pessoais, familiares e sociais?

Estas questões transportam-nos objetivamente para a necessidade de se investigar sobre:

©Lidel – Edições Técnicas, Lda. • As necessidades das pessoas em cuidados de enfermagem que são mais prevalentes (diagnósticos de enfermagem) e os dados obrigatórios e acessórios que devem suportar a identificação dos diagnósticos de enfermagem; • As intervenções que apresentam maior efetividade para cada diagnóstico de enfermagem e as intervenções prioritárias a nível da promoção da saúde e da prevenção da doença; • As intervenções que contribuem para que as pessoas tenham mais e melhor saúde, bem como qual o papel da enfermagem no seio das outras disciplinas da saúde, ou seja, qual o seu contributo autónomo e qual o seu contributo complementar ou interdependente.

Salienta‑se que é necessário pensar em modelos de agregação desta informação compatíveis com os sistemas de informação, pois esta será uma realidade inevitável num futuro muito próximo e compete à investigação produzir informações que ajudem a validar o conjunto mínimo de dados indispensável para a qualidade e a segurança dos cuidados de enfermagem a disponibilizar nas diversas plataformas informáticas.

Assim, poder‑se‑ia organizar os desafios da investigação em quatro áreas fundamentais:

• Indicadores epidemiológicos: quantas pessoas apresentam alterações a nível de autocuidado, ventilação, úlceras, memória, orientação, ansiedade, tristeza, vontade de viver, adesão e gestão da terapêutica, capacidade de gestão das atividades de vida diária, ou seja, qual a incidência e a prevalência dos diagnósticos de enfermagem da North American Nursing

Diagnosis Association (NANDA) ou dos focos de atenção da Classificação

Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) nas diferentes populações-alvo de cuidados de enfermagem? • Indicadores de estrutura: qual o número de enfermeiros que deve ter um determinado serviço, qual o rácio de enfermeiros por pessoa/doente, qual o rácio de enfermeiros especialistas, qual o tempo médio necessário para executar determinada intervenção, quais as dotações seguras que cada

Serviço deve possuir, quais os equipamentos que facilitam a prática de cuidados de enfermagem e quais as tipologias de estruturas que facilitam a recuperação das pessoas [Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), serviços comunitários, unidades de demência, etc.]? • Indicadores de processo: quais as intervenções e os procedimentos mais adequados para determinado diagnóstico, quais os instrumentos de referência a utilizar, quais as práticas clínicas que têm potencial de prevenção de determinados diagnósticos de enfermagem, qual a taxa de prevenção de episódios de úlceras, quedas, agitação, agressividade, adesão inadequada, incumprimento do regime terapêutico, etc. Ou seja, qual é a forma de fazer as intervenções/procedimentos de modo mais vantajoso para as pessoas? A criação de padrões de qualidade que sirvam de orientação é fundamental para a uniformização, a comparação, a avaliação das práticas e, consequentemente, para a otimização dos processos; • Indicadores de resultado: quais as intervenções que apresentam uma relação custo-benefício mais adequada? Esta tipologia de indicadores possibilita uma avaliação da efetividade das intervenções que podem dar resposta aos problemas da literacia, do bem-estar, da cognição, da memória, da emoção, da vontade de viver, da adaptação, do autocuidado, da gestão do regime terapêutico e dos sinais e sintomas associados à doença. É fundamental que, para cada diagnóstico de enfermagem, os enfermeiros sejam capazes de saber quais as intervenções que podem ser prescritas e quais as que apresentam maior potencial em termos de resultados, de modo a poderem informar as pessoas e estas decidirem em conformidade.

A investigação nestes quatro domínios permitirá aos enfermeiros fornecer contributos efetivos para a criação de padrões de qualidade sustentados nas necessidades das pessoas e na eficácia das práticas clínicas.

A investigação é muito importante para a profissão de enfermagem e para as pessoas, porque pode contribuir para:

• Estimular a reflexão sobre as práticas; • Dar consistência ao conhecimento em enfermagem; • Diminuir a imparcialidade das intervenções em diferentes pessoas; • Avaliar a eficácia das intervenções de enfermagem; • Avaliar a qualidade das práticas de enfermagem; • Avaliar a integração dos resultados de investigação; • Contribuir para melhorar a prática clínica, sustentada na evidência, e não simplesmente em modelos tradicionais ou rituais de funcionamento; • Avaliar a gestão de um serviço; • Ajudar no desenvolvimento da disciplina de enfermagem; • Ajudar no desenvolvimento de disciplinas afins à enfermagem; • Ajudar as pessoas a viver processos de transição satisfatórios; • Ajudar as pessoas na satisfação das necessidades humanas; • Ajudar as pessoas a prevenir e a minimizar as repercussões da doença; • Ajudar as pessoas a ter melhor qualidade de vida e bem‑estar.

É fundamental pensar-se numa estratégia para o futuro que promova uma melhor articulação entre os diferentes contextos (formação, investigação e prática clínica) e uma melhor implementação da evidência científica nos contextos clínicos. É necessário encontrar vias de disseminação do conhecimento que facilitem a sua transladação para os contextos clínicos.

Desta forma, estaremos a contribuir para a essência da profissão de enfermagem, que é proporcionar ganhos em saúde para as pessoas e para a sociedade, em geral.

©Lidel – Edições Técnicas, Lda. A presente obra disponibiliza aos investigadores orientações, tendo maioritariamente por base o livro Investigación en enfermería: Teoría y práctica, da Universidad Rovira i Virgili, da autoria de professores em Espanha. Portugal e Espanha, na área da investigação em enfermagem, partilham realidades muito similares, pelo que esta junção de sinergias em prol do desenvolvimento da disciplina de enfermagem e da divulgação do conhecimento faz emergir um potencial para ajudar os investigadores a realizar mais e melhores investigações.

Boa leitura e boa investigação!

Carlos Sequeira Manuela Néné

(Coordenadores)

This article is from: