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Preparação de Terapêutica Farmacológica
Manual Prático para Enfermeiros
Um Olhar Sobre a Teoria, a Prática e a Reflexão
André Ferreira
Autor
Licenciado em Enfermagem pela Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa (atualmente Escola Superior de Enfermagem do Tâmega e Sousa), André Ferreira é natural de Penafiel, e vive atualmente em Lisboa.
Em 2017, concluiu o 1.º ciclo de estudos da licenciatura em Enfermagem e, em 2021, tornou-se Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária, pela Escola Superior de Saúde Atlântica.
No início da sua carreira profissional, exerceu funções na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados no Hospital Santa Casa da Misericórdia de Castelo de Paiva, onde não apenas deu os seus primeiros e significativos passos no cuidado ao utente, como dedicou-se ao aperfeiçoamento de habilidades e competências técnicas e relacionais.
Em 2018, exerceu funções no serviço de internamento de Cirurgia Geral e Especialidades no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, EPE.
Entre 2021 e 2023, o enfermeiro participou cumulativamente na campanha de vacinação contra a COVID-19, onde, para além de atuar em diversas entidades inseridas em divergentes comunidades, somou à sua carreira esta experiência ímpar que o impulsionou para um novo olhar sobre a Enfermagem.
Dedicado à investigação e às boas práticas da terapêutica farmacológica, atualmente, André Ferreira desenvolve o exercício profissional no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE, na área do internamento em Medicina Interna.
Pref Cio
É com enorme satisfação que prefacio este livro, por inúmeras razões. Por um lado, por ser um livro escrito por um enfermeiro que fora meu discente, por quem nutro admiração e amizade, e, por outro, por se tratar de uma obra cujo tema é pertinente, atual e com utilidade para a Enfermagem. Estou certa de que este livro será deveras interessante para os enfermeiros.
Atualmente, as pessoas dispõem de uma grande variedade de medicamentos no combate às mais variadas patologias, sejam por doença aguda, sejam por doença crónica.
Nos últimos anos, as terapêuticas apresentam-se cada vez mais eficazes, precisas e agressivas no diagnóstico, tratamento e prevenção, devido ao rápido desenvolvimento científico-tecnológico, nomeadamente no âmbito da Farmacologia. Por isso, é fundamental que todos os profissionais de saúde façam atualizações sistemáticas, ampliando os seus conhecimentos, a fim de exercerem boas práticas em cuidados aos utentes, fundamentadas em princípios científicos.
Os riscos associados à utilização de medicamentos são multifatoriais, distintos entre si e intrínsecos à prestação de cuidados de saúde. Todos os anos um número significativo de pessoas sofre danos ou morre por erros e/ou negligência na prestação de cuidados, nomeadamente também na área terapêutica.
Os erros por ignorância não podem ser desculpa, muito embora o clássico aforisma latino errare humanum est (“errar é próprio do homem”) seja frequente. Quando não se sabe algo, deve-se buscar o conhecimento. A informação está ao alcance de todos, provavelmente à distância de um “clique”.
Um medicamento é uma substância que se pretende que atue produzindo um determinado efeito no organismo. Todavia, será necessário ter conhecimentos de terapêutica farmacológica (consequência do medicamento num sistema ou órgão, efeito pretendido, sintomas por ele aliviados, etc.) e farmacocinética (movimento das substâncias no organismo), ter conhecimentos de nutrição e da interação do medicamento com certos nutrientes, saber matemática (para o cálculo das posologias, desde um prematuro até ao idoso), referir o desenvolvimento humano (desde a criança ao indivíduo com mais idade com todos os fatores, que influenciam o efeito do fármaco no organismo, desde a absorção, distribuição, metabolismo, até à excreção).
Com efeito, será imprescindível saber a dose certa de medicamento, uma vez que “a diferença entre um remédio e um veneno está na dose” (Pilla, 2019), tal como afirmara Paracelso em pleno Renascimento. Deveremos ainda ter em conta os seguintes procedimentos: o modo de preparação, a via correta de administração, o horário para ser administrado, a interação com outros medicamentos e todos os elementos relativos à segurança, desde o armazenamento, transporte, preparação e administração, até ao controlo da infeção.
Logo, o processo de gestão da medicação engloba uma enorme complexidade e múltiplos intervenientes. Ao nível hospitalar, envolve etapas que vão desde a seleção, aquisição e armazenamento dos medicamentos, passando pela prescrição médica, preparação na farmácia, preparação no serviço, administração e monitorização do doente.
O enfermeiro é o último elo desta cadeia nestes cuidados aos doentes. Muito do seu dia a dia, em vários contextos, é ocupado com a preparação e prática, devendo, pois, ter conhecimentos, sempre atualizados, sobre os efeitos do medicamento, avaliando a sua eficácia no restabelecimento e na manutenção da saúde, monitorizando todas as reações do utente e realizando ensinos, garantindo a qualidade dos cuidados e a segurança do doente na continuidade de cuidados.
Esta obra, que prefaciámos hic et nunc (“aqui e agora”), escrita pelo André Ferreira, vai ao encontro de muitas inquietações dos profissionais de Enfermagem sobre a terapêutica de uma forma geral, e, em particular, não só na preparação e administração de fármacos, como também nos efeitos pretendidos e pelas reações adversas. Constitui, por si só, uma achega valiosa para a reflexão sobre as experiências com as terapêuticas quotidianas nos serviços de saúde. Será assim um excelente vademécum de boas práticas em Enfermagem, no que concerne à gestão da terapêutica.
Assunção Nogueira
PhD, Professora Adjunta Principal na Escola Superior de Enfermagem do Tâmega e Sousa (ESEnfTS) no Instituto Politécnico de Saúde do Norte (IPSNCESPU)
Nota Introdut Ria
As páginas deste exemplar começaram a ser redigidas no início da pandemia provocada pela COVID-19 (coronavirus disease 2019), que pôs à prova, sob pressão e num cansaço extremos milhares de enfermeiros e outros profissionais de saúde. Fruto de uma necessidade identificada e observada no exercício diário, esta proposta objetiva, além de orientação e incentivo, é uma contribuição significativa para a prática dos profissionais, bem como para o processo formativo dos que estão prestes a ingressar.
A administração de fármacos, de modo geral, corresponde a um complexo processo que implica a participação de vários profissionais de saúde. Trata-se de uma função que envolve o médico, o farmacêutico e o enfermeiro. Em Portugal, especificamente, o profissional de Enfermagem acumula a responsabilidade da preparação e administração da terapêutica medicamentosa – detetando os seus efeitos diretos sobre o utente – e, se necessário, atua em conformidade, no caso de eventuais complicações. Esta prática está amparada pelo Decreto-Lei n.º 161/1996, que regula o exercício profissional do enfermeiro.
A preparação e administração de terapêutica medicamentosa é uma das atividades de Enfermagem que mais preenchem a prática diária destes profissionais, impondo saberes diversos e bem fundamentados, que vão desde a forma como se prepara cada fármaco aos cuidados antes, durante e após a sua administração. Ao referido, soma-se a necessidade de atualização contínua de conhecimentos gerais e específicos, uma vez que a complexidade e evolução da ciência médica e farmacológica também são constantes.
Devido ao leque de fármacos disponíveis no mercado e às especificidades na preparação e administração de cada um deles, não se contesta que esta será sempre uma área sensível, tanto para os profissionais atuantes como para os futuros, isto é, aqueles que ainda estão em formação.
Desta forma, o autor decidiu aventurar-se no desafio de criar um manual de consulta fácil e que abarcasse a resposta às dúvidas observáveis e inerentes que surgem no exercício profissional em questão. Tendo em consideração a suscetibilidade a estas incertezas, vivenciadas pelo autor e por outros colegas, este guia de procura rápida possui um formato que pode acompanhar qualquer profissional de saúde, professor e aluno, além de estar disponível para consulta nas diversas unidades funcionais.
Apesar de estar consciente das dificuldades que iria encontrar, o autor iniciou este trabalho movido principalmente pela noção da sua utilidade. Considerou o panorama geral daquilo que o mercado tem oferecido até ao presente momento, no que se refere à farmacologia em Enfermagem, e decidiu que este livro deveria contemplar as necessidades dos profissionais de forma mais prática e consistente. Chegou à conclusão de que os estudos relacionados com a preparação, estabilidade, compatibilidade e administração dos fármacos estão dispersos, normalmente em livros editados noutros países, e nem sempre contêm informação relativa às formulações comercializadas em Portugal. Muitas vezes, nem os dados dos próprios laboratórios produtores são oportunamente disponibilizados. Uma realidade bastante desconfortável que põe à prova a rotina do enfermeiro.
Mediante esse contexto crítico, este manual resultou de um conjunto de informações recolhidas e analisadas minuciosamente, essencialmente obtidas a partir dos Resumos das Características dos Medicamentos (RCM) – ou de outras fontes bibliográficas, quando a informação nos RCM era insuficiente. A obtenção dos RCM foi possível através de pedido formalizado aos laboratórios e farmácias hospitalares e, simultaneamente, da consulta em websites nacionais e internacionais de reconhecida idoneidade.
No que se refere às características e utilização dos medicamentos, o guia foi elaborado e organizado com base na classificação farmacoterapêutica regulamentada na lei portuguesa, encontrando-se os fármacos reunidos por grupo farmacológico e ordenados alfabeticamente por nome genérico e/ou Denominação Comum Internacional (DCI). A sua consulta não tem, necessariamente, de ser realizada por uma determinada ordem, uma vez que, no final, existe um índice remissivo que associa cada nome genérico à respetiva página.
É um manual rico em indicações específicas da prática de Enfermagem, contendo 152 fármacos, e pode ser considerado um autêntico auxiliar para o trabalho relacionado com os cuidados inerentes à farmacoterapêutica. Serve também, portanto, para a apreciação, implementação e avaliação dos resultados terapêuticos.
Tendo em consideração a infinidade de fármacos existentes, o autor selecionou os de utilização mais comum e frequente na prática diária dos enfermeiros, deixando para a posteridade, quem sabe, aqueles que eventualmente mereçam outro manual e que, devido à suas especificidades e/ou pouca utilidade, não teriam grande relevância neste guia, como é o caso dos agentes antineoplásicos e imunomoduladores, assim como terapêutica dirigida à moldura pediátrica.
É importante ressaltar que a bibliografia disponível nos variados parâmetros não permite afirmar, com precisão, que a preparação ou administração terá de ser da forma apresentada, uma vez que a administração de fármacos implica sempre a consulta dos folhetos informativos que os acompanham, bem como as indicações específicas de cada laboratório.
Dada a constante evolução científica, não se deverá crer que as informações contidas neste livro sejam totalmente completas em todos os itens. Assim sendo, deverá ser preocupação do leitor a confirmação de todas as informações que possam suscitar dúvida. Trata-se de um manual, mas não deverá ser considerado um projeto acabado e imutável.
Deste modo, e entre as tantas intervenções que se fazem imprescindíveis no que tange ao aprimoramento das práticas intrínsecas à Enfermagem, este é apenas mais um passo a dar resposta às necessidades e dificuldades já encontradas no exercício de tantos outros profissionais de saúde. Profissionais estes que diariamente lidam com a importante responsabilidade de preparação e administração de terapêutica medicamentosa, mas que também se veem diante do desafio de lidar com outras questões sensíveis, das quais trataremos no último capítulo.
A parte final deste livro, que por sua vez tem base firmada em literatura atualizada, conta com uma abordagem reflexiva, na qual o autor convoca o estimado leitor e colega a reavaliar condutas e procedimentos bastante frequentes no contexto farmacológico. As observações e indagações propostas vão além da prática terapêutica, uma vez que a amplitude dos serviços de Enfermagem coloca todo e qualquer profissional vulnerável, no que se refere tanto às perspetivas individuais sobre determinadas funções e práticas, quanto às relações interpessoais – um conjunto de fatores que, muitas vezes, carece de harmonização e flexibilidade em prol do todo que representamos, isto é, enfermo, enfermeiro e Enfermagem. Espera, contudo, pelo menos no que se refere às práticas farmacológicas, corresponder às necessidades dos estimados colegas, bem como aos estudos preparatórios dos futuros enfermeiros. E faz votos de que o mesmo ocorra a outros profissionais de saúde a quem este guia possa auxiliar, simplificar e melhorar as suas respetivas práticas.
Os serviços de cuidados aos utentes refletem, por si só, um ato nobre e humano, como também representam vida e continuidade para a nossa sociedade.