O Honrado Marksley Sherry Lynn Ferguson
Sinopse Richard Marksley, em casa vindo da guerra Peninsular, está acostumado a corrigir os erros e excessos de seu parente aristocrático. Mas desta vez o seu dissoluto primo Reginald, o Visconde Langsford, foi muito longe. Se passando por Richard, Reggie comprometeu a reputação de uma jovem dama e deixou para Richard acertar a situação. Richard preferiria muito mais ir atrás de poetas para a sua publicação, O Tantalus. Mas seu senso de responsabilidade e honra familiar torna impossível para ele virar as costas para a situação, e ele está determinado a encontrar uma solução rápida que será casar com a garota. Hallie Ashton tem pouca escolha. Seu tio está convencido de que ela teve um comportamento imoral com Richard, não com Reggie. Com a família pressionando por um casamento, a sociedade ameaçando roubar o seu futuro e selar o seu destino. Se ela pessoalmente pudesse explicar a situação para Marksley, ela poderia ter nele um útil aliado. Mas isso requereria revelar o segredo guardado em seu coração.
Capítulo 1 Nem o Conde de Penham nem seu filho Reginald, o Visconde Langsford, nunca mostraram o menor interesse na fonte de riqueza da família, embora fossem obrigados a mantê-la para a próxima geração. Richard Marksley dirigia seu cavalo para um descanso enquanto inspecionava com orgulho as extensas pastagens atrás de Penham Hall. Orgulho era tudo que ele queria pelo seu trabalho duro, pois Penham não era, e nunca seria seu. O privilégio de possessão pertencia unicamente a seu tio e a seu reprovável primo. Mas Richard tem sido por muitos anos o responsável por manter e cuidar de Penham, o estado da propriedade mostrava o seu cuidado. — Deve estar satisfeito, senhor, — Disse Appleby. O administrador puxou seu próprio cavalo ficando ao lado de Apollo o cavalo de Richard. — O antigo lugar parece muito melhor do que o senhor tinha esperado. — Realmente, — disse Richard. — Particularmente nesta manhã de setembro,com essa luz forte sobre a grama coberta de orvalho, Penham parece pacífica e próspera. É difícil de acreditar que Reginald preferiu ir a um lugar longe neste verão. — Eu duvido que o Visconde faria isso intencionalmente, senhor. Richard sorriu-lhe. — Você é extremamente gentil, Appleby. Por isso e por seu bom senso, eu serei sempre grato. — Eu agradeço, senhor. — Nós faremos bem o suficiente este ano. — Richard observou ao olhar para trás para a mansão, — mas o futuro precisa ser construído. Penham precisa crescer se ela quiser sobreviver. Não pode apenas ser preservada. — Ante a perspectiva de Reginald vir a ser um conde, Richard sentiu um súbito frio. Ele havia saído cedo e cavalgado arduamente. Agora direcionou Apollo para casa. — Este passeio foi muito útil, Appleby. Nós nos encontraremos novamente no Ludlow’s, na próxima quinta? — Quando o administrador assentiu, Richard instou Apollo a um leve trote de volta para Archers, o pequeno, mas confortável solar que ele herdara dez anos atrás, antes de seus vinte anos.
Novamente agradeceu o fato de que a propriedade dividia somente um dos lados com Penham. Pela estrada a distancia era de mais ou menos quatro quilômetros. Através dos campos e cercas era quase um quilômetro. Era bom estar afastado da família, particularmente num momento como esse, quando sua paciência estava em baixa. Mal notou as magníficas faias[1] delineadas contra as paredes do Archers. Ele caminhou diretamente do estábulo para a biblioteca, determinado a escrever algumas instruções adicionais a Appleby. O administrador, ele pensou, era um homem competente e genial cujo único defeito era ter uma memória que perdoava tudo. Ele continuamente subestimava as extravagâncias do Visconde Langsford. Não fazia muito tempo que Richard cometera o mesmo erro. O comportamento de Reggie, verão após verão, tinha previsivelmente rivalizado com o verão precedente, e esta estação seria outra abominação. Os débitos computados em embaraçosas somas. Importantes empreendimentos sofreriam cortes para manter Reggie com fundos. Richard considerou que isso era uma evidência de sua própria ingenuidade e da administração de Appleby, que eles tinham imaginado resgatar a tempo. Mas ele teme pelo futuro. Havia muita pressão para uso dos recursos para que se pudesse deixar as escapadas de Reggie continuar sem controle Ele decidiu que Reggie nunca imaginaria receber um presente de aniversário tão desagradável. Gibbs esperava silenciosamente do lado de fora da porta da biblioteca. Assim que o mordomo deu uma leve tossida, Richard levantou-se para lhe dar alguns ítems para o correio da manhã. — Você é muito paciente, Gibbs. — Ele disse ao entregar os papeis ao homem mais velho. — Você deveria ter tossido antes. — Tudo bem, senhor, — Gibbs respondeu, — Eu não tinha intenção de interrompê-lo. Mas isto acabou de chegar por mensageiro. E como o senhor sempre diz, que quando isso acontecesse eu deveria trazê-lo. Richard arrebatou a fina carta das mãos de Gibbs e rapidamente visualizou o rabisco familiar: — Eu prometi a você um poema, mas acontecimentos inesperados não me permitiram terminá-lo...pouco tempo para o pedido... peço desculpas... — A boca de Richard se apertou numa linha fina à medida que lia. Então o trabalho de Henry Beecham não estaria pronto para a próxima edição mensal do The Tantalus. Ele deveria saber que o esquivo homem acabaria por desapontá-lo alguma hora; a maioria dos contribuintes da revista vez ou outra não entregavam os seus escritos. Ele achou, irracionalmente, que Beecham seria diferente.
— E o mensageiro? — ele perguntou, enfim olhando para Gibbs. — Ele está lá fora? — Já seguiu seu caminho, senhor. Eu não pude detê-lo. Nem mesmo com a promessa de uma gorjeta. Ele disse que tinha vindo diretamente de um cavaleiro em Guildford. — E esse cavaleiro sem dúvida de outro obscuro pequeno vilarejo. — Richard suspirou. — Parece que o senhor Beecham realmente não deseja que o conheçamos, Gibbs. E a edição de outubro do The Tantalus ficará sem um novo poema. — Eu sinto, sir. Ela é uma excelente revista. — Obrigado Gibbs. — Richard sorriu, consciente de que seu mordomo preferia os resultados da corrida de Epsom. — Você faz muito pela causa. — Mas Gibbs estava se mexendo impacientemente. — Mais alguma coisa? — Sim, senhor. Na sala de estar. A Condessa está aqui, sir. Lady Penham. — A esta hora? Não admira você estar tão pálido. — Richard voltou para a sua biblioteca e escrivaninha lotada. — Seria melhor acompanhá-la até aqui, então. Ela se desculpará prontamente a partir de qualquer evidência de trabalho verdadeiro. — Sim, sir. Quero dizer, muito bem, senhor. — Assim que Gibbs partiu, Richard olhou relutantemente para seu trabalho. Os papéis agora esperando sua atenção são seu passatempo escolhido, sua paixão. A produção literária bimestral e revista de opinião. Nos últimos dois anos, O The Tantallus foi aclamado pelo público e pela crítica, agradando seus patrocinadores e contribuintes. Richard acredita que receberá algum prêmio. Com organização e aplicação, e recursos que ele puder poupar, ele pode dar a talentos como o senhor Beecham o poder de mostrar seu trabalho. Este poeta em particular, que ele considera sombriamente, não tem motivo para ser tímido. Somente um ano atrás ele recebeu o primeiro poema de Beecham, um trio com tamanha força e tão encantador que Richard ficou cativado. Ele acreditava então ser o trabalho de um consagrado escritor de seu conhecimento, alguém entre o grupo de escritores de Londres. Pesquisas não deram pistas da identidade do homem ou de seu paradeiro. Os seguintes poemas encontraram seu caminho até ele via diferentes caminhos de mensageiros e postagens, muitos como a carta desta manhã. Parecia que Henry Beecham gostava de quebra-cabeças. E agora, talvez, ele deixaria até de ser lido. Nas contas da The Tantalus havia uma soma acumulada não reclamada, em
nome de Beecham. — Bastardo insolente, — Richard murmurou, — você não precisa do lucro? — Eu não me importo com o seu tom de voz, Richard, — Disse sua tia de forma cortante por trás dele, compelindo-o a se virar. — Isto é muito abusivo. Com quem você pensa estar em desacordo? — Comigo mesmo, madame, — Richard inclinou-se numa reverencia. Geneve Marksley, Condessa de Penham, estava, como sempre, vestida na última moda, em um vestido rosa para o dia que favorecia a beleza artificial de sua face. Seu cabelo ainda era dourado, seus olhos azuis brilhantes, mas Richard há muito tempo descobrira que ela só tinha olhos para roupas, sociedade e seu querido Reginald. Quando ela lhe ofereceu a mão,ele a pegou e se curvou ligeiramente, mas não a beijou. Geneve e o conde o criaram desde a idade de doze anos, quando ele havia perdido os pais, e em todo esse tempo ele havia aprendido a responder da mesma forma. — Caro Richard. Estou muito satisfeita de encontrá-lo em casa. Você gasta tanto tempo fora com seus... hobbies. — Ela olhou disfarçadamente para sua escrivaninha lotada. — Nós realmente precisamos conversar. — Como as duas confortáveis cadeiras ao lado da lareira estavam temporariamente hospedando pilhas de livros, Richard ofereceu a ela sua própria cadeira e preferiu ficar de pé. Qualquer coisa, ele pensou, para encurtar a visita. — Como você parece estar bem, — Geneve disse assim que ajeitou sua saia. Para sua incredulidade ela realmente tinha olhado para ele, mas Richard aceitou o cumprimento com um leve menear da cabeça. Geneve raramente falava com ele sem que fosse do interesse dela. E ele sabia que não era um convite de aniversario. — Eu temo que nosso Reginald fez algo terrível. —Seu sorriso indulgente acabou com quaisquer palavras de reprimenda. Richard abafou seu desagrado pelo uso da palavra “nosso”. — Eu concordo com você madame. A menos que, é claro, se refira a algo diferente de suas dívidas obscenas? — Suas dívidas? Realmente Richard, Por que eu saberia algo desse tipo? Reginald não poderia viver como pobre. Você e o pai dele deveriam providenciar para que ele tivesse tudo que quisesse — Richard apertou os lábios. — Não meu caro, isto é realmente sério. Eu nunca imaginei... Bem, os danos já foram feitos. E ela é realmente muito atraente, apesar de não ser o tipo que eu escolheria para o nosso Reginald, é claro. Por isso pensei em você
primeiramente, e não somente por causa do nome, saiba você. Isto é, para ser honesta, é seu problema agora, não de Reginald. — Por favor madame. — Richard interrompeu-a, — Eu não a entendi. — Ah! Bem, nós acreditamos que Reginald comprometeu a garota. Uma jovem muito impressionável, esteja certo, mas no entanto, uma senhorita muito delicada. O tio dela é terrivelmente incômodo.. Richard olhou, através das altas portas francesas, para os jardins. Esta não era a primeira vez que Reggie era atraído por um rosto bonito. Podia seu primo nunca ter discernimento? Apesar do pronto suprimento de saias dispostas, ele insistia em ignorar os costumes, até aquela data ele não tinha se extraviado mais cuidadosamente das páginas do aceitável. Quando a atenção de Richard voltou à sua tia, ele percebeu porque um comportamento educado de seu primo era tão raro. Desculpas fluíam caridosamente da devoção dela. — Quanto esse personagem ofendido deseja? Ele perguntou cansado. Geneveve encolheu os ombros. — Meu caro Richard, se fosse somente isso, eu dificilmente teria incomodado você esta manhã. Não, este cavalheiro em particular, este Alfred Ashton, insiste em um casamento. Ele está fora de si, até falou sobre uma licença especial. Richard mal conseguiu segurar um sorriso. Parecia que o caro Reginald tinha finalmente sido laçado. Mas Geneve não estava sorrindo. — Você não precisa se mostrar tão superior, Richard, isto tem muito a ver com você. — De que modo, madame? — Aparentemente Reginald usou o seu nome. — Usou-o? — Os Ashtons acreditam que o Visconde Langsford é Richard Marksley. Isto é R.E. Marksley, Richard Evam Marksley, de quem eles pretendem vir atrás, e não de meu filho, Reginald Falsworth. Richard apertou as mãos em punhos. — Onde está Reggie agora? — Reginald? Por que? Ele partiu para a Irlanda ontem. — E o meu querido primo contou-lhe que usou meu nome? Por que você simplesmente não contou a verdade para essas pessoas? — A raiva dele provocou uma linha de teimosia nos lábios de Geneve. — Reginald me deixou um bilhete com desculpas. Que consideração a dele em se desculpar com sua mãe. Apesar de que, se estou entendendo, pelo menos três outras pessoas mereciam muito mais tal
cortesia. — Você está sendo muito hostil, Richard. Você tem sido sempre assim. E como eu poderia contar a verdade aos Ashtons? Pense no que isto implicaria para Reginald! — Acredite-me, estou completamente ciente do que isto significaria para ele. — Você nunca entendeu a responsabilidade que ele tem como herdeiro de Cyril. Todas as exigências da posição, não são coisas pequenas, eu lhe garanto, mal compensam os benefícios que você gosta tanto de acusá-lo. De fato, andei pensando se você não está ressentido com ele. — Enquanto ela inspecionava os dedos enluvados, Richard já estava escolado. Ele tinha ouvido essa acusação mais de uma vez; essa injustiça não mais o atingia. Ele havia decidido há muito tempo que seria muito mais cavalheiro do que era Reginald Falsworth Marksley. — De qualquer forma, madame, por que está aqui? Geneve olhou surpresa. — Eu já lhe contei. Você precisa se casar com a garota. Ou ao menos fazer o que a família espera. Isto não pode ser divulgado. Deixe que Ashton anuncie os proclamas, ou algo assim. Talvez você seja inteligente o suficiente para impedir o casamento. Eu sei que você é terrivelmente esperto, Richard, com sua imaginação e sua pequena revista. — Você aprovaria substituir Reggie por mim? — Porque acredito ser muito necessário. Você é afinal, R.E. Marksley. E você é seu primo. — Mas eu não sou o homem, madame. A sobrinha de Ashton deve ter achado algum atrativo em Reggie. Ou, como diria, em seu comportamento. Geneve não tinha ouvido. Ela alisou a saia e disse orgulhosamente, — Reginald tem mais que um título que o recomende, como você bem sabe. Ele é atraente e um bom rapaz. Não me surpreende que as garotas sejam loucas por ele. — Você sabiamente usou o plural, madame. Não é a primeira vez que Reginald fez promessas a mulheres, promessas que ele nunca teve intenção de cumprir. Infelizmente, ele tem um único primo o qual pode usar. O que você vai propor a ele fazer com a próxima adorável donzela? — Você não perde a oportunidade de ser impertinente, Richard. Quando vim procurá-lo por ajuda, eu esperava mais. Mas você só sabe criticar. — Ela examinou sua pequena bolsa de linho. — Nós nunca lhe pedimos nada. Nada, mesmo depois de tudo que fizemos por você. Ele é seu primo, seu único
primo, que tem sido como um irmão para você. Como pode dar as costas a ele? —Ela conseguiu que uma única lágrima escorresse dos olhos suplicantes. Richard olhou para ela com pouca tolerância e menos ainda sentimento. Reggie tinha sido manhoso, mimado e cruel toda sua vida. Era verdade que ele e Richard tinham a mesma idade, mas longe de serem como irmãos. — Tenho uma sugestão, minha querida tia. Que é que você e o senhor Ashton esperem Reggie voltar da Irlanda. Deixe que ele se explique para a garota. Talvez ela ainda acredite que ele está afeiçoado a ela. Uma vez desiludida, nada se esperaria dele. — Mas você simplesmente não entende. Reginald comprometeu a senhorita Ashton. Eles estavam juntos sozinhos, eles foram vistos. Os desejos dela não importam. Não importam afinal. O tio insiste no casamento. — Richard encarou a tia. — A virtude da jovem dama...? — Isto é inquestionável! Realmente, Richard, é indelicado da sua parte até mesmo perguntar. Reginald é seu primo, e é um cavalheiro. — Ela evitou seu olhar fixo. — Você não pode tirar tais conclusões, mesmo porque isto aconteceu muito precipitadamente. Logo antes da partida de Reginald. — Tenho certeza que a sua partida é que foi precipitada. Geneve se empertigou. — Ele escreveu que seus planos na Irlanda tinham sido feitos meses atrás. É indigno de você sugerir que ele nos enganaria. — Como ele certamente enganou os Ashtons? — Como Geneve começou a fazer uma careta de desagrado, Richard pressionou-a. — Quando ele pretende voltar? — Em dois meses? — Dois meses? — Repentinamente Richard caminhou passando pelas portas que davam para o jardim e ficou olhando para o pequeno pátio. O sol da manhã estava começando a aquecer o chão de cascalho. Algumas rosas tardias no ar de outono. Eles pareciam zombar da sua prisão. Ele sabia que tinha de lidar com aquilo. Como ele havia lidado com todas as outras coisas. Mesmo que isso o enfurecesse. Reggie deve ter pensado que seria uma grande brincadeira se passar por seu primo, e então deixar o país. Ele deve estar dando boas risadas exatamente agora. Richard esperava que Reggie engasgasse com algum caro Madeira[2] que estava, sem dúvida, bebendo naquele momento. — Richard... Richard. — Atrás dele a voz da tia era tão suave como ele jamais havia ouvido. — Se ele não fosse meu filho eu jamais pediria isso a você. Mas agora eu preciso lhe implorar. Como pode, ele que será um conde,
quem herdará Penham e muito mais, se casar com uma simples garota do campo, a filha de um vigário? Seria a ruína de tudo que sempre desejamos para ele. Ele é nosso único filho, Richard. Nós precisamos pensar na família. No nome dos Marksley. Se você fizer isso para nós agora, eu nunca mais lhe pedirei qualquer coisa. Eu lhe prometo. Richard fechou os olhos. Parte dele pensava o que Reggie-o belo Langsford extremamente agraciado, havia feito nada para merecer tamanho amor. Certamente ele mesmo não havia recebido parte alguma desse amor, embora quando garoto houvesse tentado muitas vezes receber um pouco. Ainda que seja loucura questionar a afeição de uma mãe, mesmo uma frivolamente distraída e descuidada como Geneve. O que tinha interesse para ele agora era a promessa feita por ela. Que nunca mais lhe pediria qualquer coisa. Que alívio isto seria! Ele se virou e encarou-a. Ela se levantou de sua cadeira e agora estava de pé brincando com o lenço. — É a família tão censurável? — — Eles são suficientemente respeitáveis, eu suponho. O senhor Ashton tem uma considerável propriedade em Berkshire, onde a família tem uma aceitável história. A casa está incluída no tour local em Tewsbury, de acordo com a prima, a senhorita Binkin, me fez crer. A garota, a senhorita Ashton, é a filha única do irmão dele. Eu soube que Ashton perdeu seu único filho no Continente, o que sem dúvida lhe dá certa grandeza. — Você acha que isso foi uma trama, para que ela pegasse um lorde? Para elevar as perspectivas da família fizeram uma armadilha para alguém como Reggie? — Eu não posso acreditar nisso, Richard. Mas ela é uma jovem muito tranqüila. Talvez a... a paixão do momento simplesmente dominou-a. Ou mais precisamente a paixão de Reggie, Richard completou em silêncio. Somente uma mulher tão enamorada de seu primo poderia achar que fosse verdadeiro tal sentimento. Sem dúvida a senhorita Ashton era uma criança tola, de sensibilidade limitada e pouca inteligência. Seria muito fácil convencer tal criatura que qualquer jovem fazendeiro decente seria um melhor marido para ela. — Eu irei ver esta... manipuladora e seu ambicioso tio. Precisarei de um dia antes de partir para Berkshire e outro dia para chegar lá. Com sorte chegaremos a um entendimento na sexta. Tenho a intenção de convencê-los a encontrar um marido em outro lugar. Com o apoio de Penham, é claro. — Ele se inclinou em deferência mas sua tia evitou olhá-lo. — Richard, eles vieram até aqui. E eu... eu trouxe os Ashtons aqui. No
Archers. Os Ashtons e a prima, senhorita Binkin. Gibbs os está atendendo na sala de estar. — A transgressão foi enorme. Richard deixou transparecer a sua acusação. — Alfred Ashton insistiu, — sua tia explicou. — O que eu podia fazer? Ele é um cavalheiro muito amável e educado. — Bem, então eu falarei com eles de uma vez. — Richard! Mas você não pode encontrá-los assim! — Ela estava realmente angustiada. Ele tinha esquecido que ainda estava usando suas roupas de montaria e botas. Ele estava sem gravata. Seu rosto estava sem barbear. Mas isso não era de se admirar já que era muito cedo e ele estava em sua própria casa. Enquanto abotoava seu casaco ele pensava que ainda nem tinha tomado seu desjejum. — Eu admito que estava apressado, madame, mas creio estar apresentável para isto. É melhor ir rapidamente. Os Ashtons já esperaram por meia hora. Eu pretendo poupá-los de mais qualquer ofensa. — É indigno, Richard, — Geneve disse reprovadoramente, — Com toda essa sujeira você parece que acabou de vir dos estábulos! — É exatamente o que eu fiz, cara tia. Mas eu creio que você me fez uma promessa. E em todo caso esta senhorita pensa em me transformar em seu marido, — ele abruptamente amarrou o lenço em volta do pescoço, — ela me verá muito pior. — E com isso ele se dirigiu para a porta.
Capítulo 2 Hallie olhava o jardim, mal ouvindo os resmungos do tio. Ele estava mais uma vez mostrando seu descontentamento com a Condessa de Penham e seu filho, o Visconde. Prima Millicent sentada silenciosamente atenta, ocasionalmente balançava a cabeça concordando. Mas Hallie, muito consciente da clara manhã e do doce canto dos pássaros na mata, podia apenas ouvir com impaciência. Durante os últimos dois dias, as constantes reclamações de seu tio acabaram com toda conversação. Ela tinha de dar crédito a ele, por sua sincera preocupação pelo bem estar de uma sobrinha, ou uma jovem em situação tão embaraçosa, ela poderia tirar algum proveito de seu temperamento. Mas isso ela não faria. Ela sabia que ele se sentia desconfortável e embaraçado e a culpava por isso. Sua ofensa, a ele e à sociedade decente, tinha sido enorme, realmente enorme. Seu único objetivo era prover a ela um casamento. Se ela agora tinha apanhado um Lorde, a união seria um caso silencioso, menos do que o notável evento que o teria acalmado. Mas Alfred Ashton podia ver que o Lorde estava pego. Ele continuava a insistir na conclusão dessa vergonhosa situação. Apesar da perspectiva ser rejeitada por ela. O tio dela não tinha conhecimento da exata infração de que ela e Marksley eram culpados, mas após seu retorno três dias atrás, ele tinha encontrado sua prima, uma companhia não bem vinda de Hallie, convenceu-o de sua irremediável culpa e desgraça pública. Millicent e seu enorme grupo de fofoqueiras foram determinantes para o caso, Hallie não pode contestar. Era verdade que Marksley a beijara, ela desejava que ele não o tivesse feito. Era verdade que Millicent os havia surpreendido num abraço. Hallie não havia pedido pelo abraço nem pelo que veio depois. Em um minuto de encontro. Em um minuto de convivência com Marksley, Hallie soube que ele não era o homem gentil que parecera ser. No entanto, a cortesia exigiu que ela ouvisse quando ele a puxou de lado, certamente ela lhe devia isso, e ele aproveitou seu breve momento a sós. Por sua indulgência ela iria pagar caro. Ao ouvir as portas da sala de estar abrirem atrás dela, os resmungos de seu tio cessaram. Mesmo antes de Hallie se virar, ela sentiu seu olhar furioso. Assim que ela se virou, congelou no lugar. Seu tio não tinha motivos para
objeção, nem para enervar-se, pois não era o homem por quem buscavam. Um olhar escuro retornou a ela própria. Por um segundo ela sentiu-se aliviada. Então, uma terrível premonição encurtou sua respiração. — Sr. Ashton, — o recém-chegado disse, com o olhar movendo-se para seu tio enquanto se inclinava: — Eu sou Richard Marksley. Ela pensou que seu tio fosse explodir. — Eu sei muito bem quem, você é senhor, — ele rebateu. — Você deveria ter me dado a honra de falar comigo antes. Novamente aquele olhar avaliador encontrou o dela. Ela tinha sofrido um choque. Todas as suas expectativas sobre esta reunião tinham se baseado num erro, ela tinha que protestar. No entanto, ela estava agradecida que Richard Marksley não era o homem que tinha pensado ser. — Minhas desculpas, senhor, — ele disse agora. — Você entende minha hesitação. Não tinha certeza, de forma alguma, que seria bem vindo . — Bem vindo, na verdade, você... canalha! Que diabos de intenção você tem com a minha menina? — Ele quer dizer casar com ela, senhor, — completou a Condessa. Ela tinha entrado após Marksley, mas seu olhar para ele foi menos confiante do que seu tom. — Ah ele irá, senhora, — disse seu tio agradecido, — e antes do final do mês. Hallie não podia acreditar que Richard Marksley reinvindicava ter um compromisso com uma mulher que ele nunca tinha visto. À medida que ele adentrava a sala indo em sua direção, Hallie o estudava. Ele não parecia mau. Mais alto que a média, com um belo cabelo marrom, aparencia um tanto severo, Richard Marksley se mostrava a ela como um homem que se sairia bem em qualquer ambiente. Ainda que seu caráter fosse menos transparente que o de seu imitador. Novamente ela buscou aqueles olhos que a prendiam. Ela não conseguia definir sua cor, somente seu efeito. — Antes que comprometa a si mesmo e à sua sobrinha, — neste momento ele se inclinou levemente na direção de Hallie, — Eu devo informá-lo que não sou de fato o Visconde Langsford, como o senhor foi levado a crer. Não é... então quem diabos é você? — Richard Evan Marksley, Sr. R.E. Marksley. Sobrinho do Conde de Penham e sua Condessa, Lady Penham. Primeiro primo de Reginald Falsworth Marksley, o visconde Langsford. — Ele inclinou-se levemente, então olhou
diretamente para Hallie. Neste momento ela percebeu seu olhar desafiante. — Tudo muito bem, jovem. Mas ao ponto: você insultou minha família. Você comprometeu minha sobrinha. Se você fosse um ferreiro ou um vendedor ambulante, você ainda estaria emprestando-lhe o seu nome. — Uma das sobrancelhas de Richard Marksley se elevou. — Você daria a ela tal destino? — Eu não a teria desonrado. — Você e eu, senhor, deveríamos discutir o significado de honra. — A voz de Marksley sugeria menos cordialidade. — Mas percebo que você está com pressa. — Certamente eu estou — , seu tio disse asperamente. — Ver você casar. — Tio, — Hallie disse, consciente de que Marksley estava atento à sua voz. — Este cavalheiro acabou de lhe contar que ele não é o Visconde Langsford. Ele não é. — Este cavalheiro? Bah! Você o defenderia? Mesmo encarando a raiva de seu tio, Hallie estava consciente da atenção de Marksley. — Sem dúvida a senhorita Ashton deseja que você reconsidere o assunto, — ele disse, — se você tem somente uma sobrinha, e eu claramente não sou o lorde que você esperava. — Demônio ardiloso! Você, senhor, mancha o nome de sua família. Com a acusação, algo em Marksley parecia perigoso, apesar de Hallie não conseguir explicar o que havia mudado nele. Certamente a rigidez de seus ombros não mudou. — Ainda assim vocês querem que eu empreste meu nome a vocês? — Ele respondeu friamente. — Sim eu o faço. Eu quero. — Cavalheiros — , a Condessa disse. — Isto é muito inconveniente. Eu sugeriria que vocês tentassem resolver este assunto. Certamente a senhorita Ashton prefere evitar uma discussão. — Ela praticamente sorriu para Hallie, um sorriso que não teve retorno. A condessa defenderia seu malcriado filho às custas da desonra de Haliie. — Tio, — ela disse novamente, sentindo a garganta seca. — Eu não quero me casar com este cavalheiro. — Petulante senhorita, ele a ridicularizou. — Você deveria ter pensado nisso antes de se relacionar com ele de forma indevida. O que você deseja não importa. Enquanto Hallie engolia a sua raiva, ela percebeu Marksley examinando
sua teimosa expressão. — Talvez a senhorita Ashton ainda tenha esperança de conseguir alguma vantagem, — ele sugeriu, e a impressão positiva que ela tinha dele desapareceu. — Veja o que fala, Marksley, — rosnou seu tio. — A menina será sua esposa. Eu não quero vê-la ofendida. — Este é um privilégio que reserva para si mesmo, senhor? — Richard! — . A condessa se colocou entre eles. — Isto não vai acontecer. É claro que você... você cumprirá com o seu dever, embora isto talvez não seja o que você quer. Todos nós precisamos simplesmente tirar o melhor desta situação deplorável. Você deve desculpas à senhorita Ashton. Marksley olhou do tio para Hallie. — Perdoe-me, senhorita Ashton, por não ser o meu primo. Hallie encontrou seu frio olhar e pensou se esta seria a fonte de seu desprezo. Ele pensou que ela desejava um título ou que ela tinha perdido seu coração para seu desonesto parente. Seu comportamento displicente levava a crer que ela era insensível. — Harriet Ashton — , seu tio exigiu, — o que você diz ao homem? — Ela não conseguia pensar em algo para dizer a ele. Nenhuma palavra para R.E. Marksley. A ironia da situação deixou-a muda. — Talvez, — Marksley ofereceu, — poderíamos, a senhorita Ashton e eu termos um momento a sós? Sua tia contestou. — Isto seria muito impróprio, Richard. A senhorita Binkin poderia acompanhá-los. — Certamente minha senhora, nós não estamos além de precisar uma dama de companhia? Apesar de que nós não tivemos, como você sabe, Marksley virou-se para seu tio, — muito tempo juntos. — Tempo demais, se você me perguntar. — Ele se irritou enquanto Marksley ia em direção à porta. — Mas não há muito mais que você possa estragar agora, não é? Diante de tal insulto, Hallie achou que os dois homens se pegariam. Mas com um leve cumprimento e o movimento de um braço Marksley pediu que Hallie o precedesse . Ela muito corada passou por ele rapidamente, como ela havia percebido, ele era mais alto que seu primo, sendo assim os olhos dela ficavam à altura de seus ombros. De perto a força de seu ressentimento era palpável. Ele
desdenhava de toda sua família. No hall ela parou indecisa, mas ele ultrapassou-a e abriu as portas da biblioteca. Hallie notou os livros e o grande número de papéis que cobriam a escrivaninha. O ambiente era certamente um alívio. Isto era familiar para ela, o tipo de lugar no qual ela podia ao menos se encontrar. E naturalmente esse homem teria uma maravilhosa biblioteca. É claro que ele teria. Ela foi em direção a uma das estantes olhando fixamente para os títulos. Em oura situação ela se sentiria maravilhada em poder lê-los, talvez ela pudesse, mas agora ela não conseguia se concentrar. Era inconcebível que ela pudesse ter confundido um homem com outro. Assim que se virou para Marksley ela percebeu como poderia reconhecê-lo de imediato. Ela tinha pensado que sua primeira impressão negativa do visconde Marksley, como R.E. Marksley, poderia estar errada. Ela estava determinada a ser justa, e na hora que ela tinha concedido ser justa isso tinha sido a sua ruína. Marksley parecia achar o seu semblante particularmente atraente. — Você pareceu claramente surpresa Senhorita Ashton, quando eu entrei na sala. Será que significa que você honestamente esperava por meu charmoso primo? — Eu... não pensei sobre isso. Ele deu um pequeno sorriso. — Eu gostaria de saber se você é muito inteligente ou extremamente tola. Ele contornou as estantes e se afastou dele. — Por que eu deveria ser uma das duas coisas, senhor Marksley? — É muito inteligente da sua parte perguntar. — Para seu constrangimento, Hallie pode sentir que corava. — Eu não tinha pensado em você desse modo. Mas então, aparências podem ser enganosas. — Você está falando de seu primo. Você insinua que há mais em mim do que os olhos podem ver. — Ao contrário, senhorita Ashton, minha primeira impressão foi inteiramente favorável. E, aparentemente estou enganado. Hallie engoliu em seco. Ele soava não ter afeição pelo primo. Mas a sua primeira impressão sobre ela tinha sido positiva. Este pequeno incentivo deu a ela coragem. — Eu suponho que você acha impossível ele ter me enganado. — Em todo caso, senhorita Ashton, ele lhe prometeu casamento? — Hallie
olhou para longe, negando com um balançar de cabeça. Ela não poderia contar que seu primo pretendia ser R.E. Marksley, editor do The Tantalus. Este homem provavelmente nunca acreditaria que ela o lesse. O silêncio dela alimentou o desprezo de Marksley. — Parece que seus planos não seguiram conforme seus desejos. — O sorriso dele era cínico. — Você não conseguiu obter o que pretendia. Mas você ainda pode conseguir algum sangue Marksley afinal. — Eu não quero você, senhor. — E eu não quero você... senhorita. Mas que apropriado para você que não me quer. — Havia raiva em seus passos enquanto ele se afastava dela. — Agradeço a você, apesar de tudo pelo qual eu trabalhei, agora estou sendo mantido refém. Se não fosse por isso eu ficaria feliz em mandar embora você e seu irritante tio. — Enquanto ele se virava em direção a ela, Hallie instintivamente agarrou as estantes atrás dela. Ela seria obrigada a casar com alguém, ainda que este homem forte não fosse mais aceitável que seu devasso primo. — Se suas mãos estão atadas agora, senhor, é seu primo o causador, não eu. — Eu entendo. Se não fosse isto então, o desejo de participar dessa indiscrição seria vontade de seu tio? — Meu tio somente ouviu sobre uma indiscrição transmitida a ele por minha prima, Millicent Binkin, quem, como você deve ter concluído, imputoume alguma malícia. — O olhar da mulher ou suas recordações eram singularmente miseráveis. Mas teria essa maliciosa criatura também inventado o incidente? — Não, ela foi intencionalmente mal interpretada. — Intencionalmente mal interpretada? — Você tem um jeito interessante com palavras, senhorita Ashton. — Marksley a olhou da cabeça aos pés. — Eu presumo propriamente que esta é a única razão da ânsia de sua família? — Quando ela desafiadoramente levantou o rosto, ele disse, — Sim? Mas eu entendi que você esteve sozinha com Reggie durante algum tempo. E ele usualmente não é lento. — Ele se aproximou dela. — Diga-me, minha cara, o que neste mundo você estava fazendo? — Nós estávamos conversando. — Conversando? Sobre o quê? — Nós discutíamos... reforma agrária, — ela disse suavemente e olhou para baixo. Foi estranhamente prazeroso ouvir a risada de Marksley.
— Verdade? Que empreendedor. Você deve realmente ter habilidades excepcionais em conversação neste assunto senhorita Ashton, eu nunca conseguiria convencer meu primo a se interessar. Mas você é claramente uma jovem mulher com muitos talentos. — É este o seu propósito ao me trazer aqui? Me insultar? Pensei que desejasse ajudar, encontrar um meio de evitar um resultado inaceitável. Nós temos pouco tempo para planejar como escapar disto. — Ele a interrompeu. — Eu presumo que este é um modo de demonstrar sua inocência neste assunto. Que você pretenderia mesmo escapar. — Eu sou inocente. É sério senhor. — Novamente ela virou o rosto. Marksley notou o movimento, ele realmente examinava-a o tempo todo. Talvez sua insistente observação era outro teste para o caráter dela. — Você tem um propósito, Senhorita Ashton? — Ele estava consciente da ironia. Mesmo que seus lábios não tivessem se curvado, o humor estava em sua voz. Mas não havia tempo para discussão. — Nada agora, não podemos demorar. — Demorar. Ah, eu entendo. Então você teria uma oportunidade de acertar o seu caso com Reggie melhor que eu. — O humor tinha sumido de sua voz. Ele saiu de perto dela e se dirigiu à sua escrivaninha. — Se ele tivesse se preocupado em nos informar sobre seus planos, nós poderíamos julgar quanto tempo isto levaria. Eu imaginaria duas semanas no mínimo, e possivelmente não mais que dois meses. Uma assustadora demora para alguém jovem... e apaixonado. Ele fez um leve aceno para ela, certo de que ela tentava ignorá-lo. Havia ocorrido a ela tentar se explicar, negar que sentia qualquer afeição por seu primo, mas Marksley se sentia tão superior que não a ouviria. Como ela permanecia em silêncio ele finalmente disse, — Eu a surpreenderei, senhorita Ashton. Desejo postergar sua estratégia e ajudá-la na demora, caso demore duas semanas ou dois meses. Uma vez que meu primo retorne, poderá casar com Reggie ou com outro qualquer de sua escolha. — Eles insistem em um anúncio. — Então eles o terão. Se o compromisso for anunciado e os proclamas publicados, demorarão várias semanas pelo menos. Desde que seu tio deseje, perdoe-me, uma certa legitimidade aos olhos da sociedade, ele não fará objeções ao nosso desejo de renunciar a uma licença rápida. E como já resolvemos o caso do dilema dos dois homens chamados Marksley, sua família poderia demorar para reclamar um erro nos anúncios que falhariam em
distinguir entre os dois. Voilá! Finalmente estaríamos livres desse espetáculo Você poderia estar livre, senhor, mas eu teria que me casar de todo jeito. —Você acredita mesmo que um anúncio seria suficiente? — E não seria? — Temo que teríamos de cumprir certas exigências, atender certas expectativas, para salvar as aparências. Meu tio não é facilmente apaziguado. A satisfação de Marksley foi embora. — Isso não será necessário. — Ele disse rigidamente. — Seguramente que um anúncio de uma intenção tão estável é suficiente para salvar as aparências. — Eu não faço as regras, senhor. — Não, mas você parece muito ansiosa para continuar mesmo as tendo quebrado. — Hallie se livrou de seu olhar penetrante olhando através das portas de vidro para o pequeno pátio. — Meu tio, senhor Marksley , está convencido de que você é um canalha. Você senhor. Não seu primo, mas você. Ele está convencido de sua culpa e de sua falta de vontade de fazer a coisa certa. Ele nos pegou numa armadilha com uma licença especial dentro de algumas horas. — Uma licença especial não é facilmente obtida. — Acredite-me senhor — ela disse encarando-o novamente, — meu tio daria um jeito. Ele tem insistido desde o início. Marksley considerou. — Seu tio tem tido uma posição assustadora para quem se importa com a sobrinha. — Ele acredita estar agindo com responsabilidade. — Desconsiderando os seus desejos? — Ele pensa que sabe o que eu quero. Em sua visão minhas ações, como descritas pela senhorita Binking, falaram por mim. — E se você contasse a ele. — Você me ouviu tentar, — Hallie interrompeu. Era muito doloroso reviver o acontecido. O tio dela era um bom homem. Ele tinha feito o seu melhor por ela. Nos anos após a morte de seu pai, não foi fácil. Ela não poderia culpá-lo por fazer o que a sociedade esperava dele. Ele tinha sido sempre um homem respeitável e convencional. Esta era a fonte de sua força e de sua fraqueza. Seu único desejo tinha sido que ele acreditasse nela ao invés de Millicent, mas para ele pessoas jovens sempre cometiam erros. Agora na melhor das hipóteses ela esperava que ele, com o tempo, a perdoasse. — Você parece ser notavelmente inteligente, senhorita Ashton, — Marksley disse. — Me surpreende que você anteveja o resto deste assunto tão
claramente e ainda assim o tenha começado cegamente. — Cegamente? — Você não me contou o que pensa a respeito de meu primo. Presumo que tenha encontrado algo para admirar nele. Muito mais para admirar em você, ela pensou, mas voltou sua atenção novamente para o jardim. — O que eu pensei de seu primo não tem importância, senhor Marksley. — Ah, então devo imaginar que foi seduzida por sua aparência e título. Amor à primeira vista, como os poetas diriam. Ele é um jovem muito apresentável. De fato, acredito que ele ganhou um perfeito apelido. O próprio Brummell o outorgou-lhe. Eles o chamam de O Deslumbrante Lagsford. — Para distingui-lo de você, senhor? Ele deu um pequeno sorriso. — Você me fere, senhorita Ashton. Eu não sou deslumbrante, nem sou Langsford. Meu ponto entretanto, é possível ver algo adorável e mesmo assim ficar cega para a verdade? Devido ao comportamento do primo dele, Hallie não tinha razões para discordar. Mas da maneira como Richard Marksley estava olhando para ela, ele facilmente veria seus defeitos. — Você está amargo senhor Marksley. Aparentemente você não respeita nem seu primo. Você cobiça seu título ou simplesmente o detesta? — Nada disso acontece. É verdade que Reggie fez muito pouco para que lhe tenham respeito. Eu teria de incluir comprometimento de jovens mulheres entre seus atos mais repreensíveis. — Uma sobrancelha escura se levantou. — É verdade que não aprecio sua companhia ou peço-lhe favores. Nós somos muito diferentes. — Ele balançou os ombros. — Meu primo... tenta minha paciência. Mas eu não o detesto. Geralmente existe alguma coisa boa mesmo no pior ser humano. — É um alívio, senhor. Eu tinha pensado que pelos seus modos não havia esperança para mim. Ela pensou que ele estava tentado a sorrir, mas ela não tinha certeza, e seu olhar desvio-se do dela. — Você não é a primeira a ser enganada pelo meu primo. Há, contudo, um assunto importante de como você agiu a respeito de sua primeira impressão. — Vejo que não fiz progressos com o senhor. — Pelo contrário. Não progredimos a ponto de anunciar nosso iminente casamento? — Hallie encontrou-se muito ressentida com sua condescendência.
— Nós concordamos então? — Ela perguntou friamente. — Nós estamos... resignados, senhorita Ashton. Tem sido assim desde que você entrou nesta sala sozinha comigo. E pelas próximas semanas eu me esforçarei para cortejá-la. Espero que me perdoe, contudo, eu não sou aberto a demonstrações como o seu Reggie. Eu sou capaz de estar atento a corrigir alguns erros. Não sou capaz de dissimular muito. Hallie apertou as mãos com força no tecido de sua saia. — Você tem um admirável senso de dever. — — Apenas adequado, eu lhe garanto, para a quantidade de exigências apresentadas. Já por alguma razão, falar com você me recorda minha mãe. Ela não queria que qualquer mulher, não importando quão sem valor fosse, sofresse nas mãos de Reggie. Ela sofreu muito nas do avô dele. O comentário pedia uma pergunta. Mas Hallie sabia que ele não tinha intenção de explicar ao menos para ela, ínfima criatura que era ela. — Apesar de sua... generosidade neste caso, foi muito rápido no uso da expressão ‘sem valor‘. Aquela expressão atenta voltou ao seu olhar. — Eu preciso estudar seu caráter mais de perto então, senhorita Ashton, — ele retrucou asperamente, com isso eu me aprimorarei. Mas vamos, — ele disse indicando a porta, — Nós ficamos aqui tempo suficiente. Em algum momento este drama precisa começar. Podendo bem ser com sua senhorita Binkin. — Tenho uma sugestão a fazer, senhor, antes de começarmos. — E qual seria? — Sua expressão estava fechada. Hallie tinha vontade de chacoalhá-lo. Ela poderia lhe contar que fora adicionada a uma lista de obrigações, ela era uma tarefa a mais a ser vencida no curso dos acontecimentos. — Pode parecer estranho que o senhor nunca use meu nome. — Sim, é claro. E qual é esse nome, senhorita Ashton? Ela pensou por um segundo, tentada a lhe contar tudo. — Harriet, mas todos me chamam Hallie. — Estou honrado de ser incluído entre todos... Hallie. — Ele não deu a ela o direito de chamá-lo pelo nome. A omissão foi deliberada. Mas talvez ele estivesse certo, ela não o conhecia tempo suficiente que justificasse o seu uso. — Há outro assunto, senhorita... Hallie. — Ao se virar para ele, muito próxima da porta, Hallie olhou para cima diretamente para seus olhos. Eles eram de um profundo marrom escuro, inteligentes e amáveis. Marksley era um homem reservado, mas não era de natureza fria. Se não fosse por um começo
tão desastroso, Hallie pensou que eles até poderiam ser amigos. — Creio que é importante que sejamos os únicos a controlar esta situação. Não o seu tio e certamente não a minha tia. Daqui para a frente, não será sempre que teremos a oportunidade de discutir a melhor forma de proceder. Espero poder conversar com você, mas não tenho dúvida que estaremos sempre acompanhados por alguém. Adicionado a isso nossa própria vontade de não passarmos muito tempo juntos. — Ele pausou. — Estou lhe pedindo que confie em meu julgamento quando for necessário, assim não haverá perguntas que eles farão. Estou pensando em nós dois. Se queremos nestas poucas semanas dar um jeito de não sermos arrastados até o altar sem aviso, nós precisamos agir de forma combinada. Devemos ser cautelosos. Ela examinou o rosto dele, com aquelas palavras ele foi tão sincero ao demonstrar vontade de lidar responsavelmente com futuras dificuldades. Ela não duvidava dele. Richard Marksley não iria contra sua posição e o poder da sociedade. Ele não tinha interesse nem inclinação para tirar vantagem dela. Ele e seu primo não poderiam ser mais diferentes. — Eu aprecio as suas precauções senhor Marksley. E sua consideração, entretanto preciso lhe dizer que com tanta gente decidindo por mim, a questão é se sobra algo para eu dizer. Ele a surpreendeu com um sorriso, o primeiro sorriso real que ela viu em seu rosto. O efeito sobre ela foi imediato... e perturbador. — Duvido muito que seja o caso, Hallie, E para provar vou melhorar a sua disposição permitindo que me chame por Richard. A concessão agradou-a, mesmo que ele estivesse sendo apenas prático. Como ele novamente apontou para a porta, Hallie se moveu atrás dele. Mas o salto de seu sapato prendeu na borda do tapete. Desequilibrada ela procurou algo em que se agarrar e encontrou o forte braço direito de Richard Marksley. Ela estava consciente de que ele a segurava muito próximo, estabilizando-a. Ela podia sentir o seu aperto através da lã de seu casaco. E ela pode sentir o seu calor. A porta da biblioteca abriu de repente. Hallie, percebeu que parecia que estavam se abraçando, viu o olhar espantado do mordomo e alem dele, as bocas abertas de espanto de seu tio e da Condessa. Hallie olhou para Marksley, notando seu queixo firme. — Você vê como as coisas são facilmente confundidas — Ela sussurrou, — com o simples abrir de uma porta.
Capítulo 3 Richard teve motivos para refletir sobre o comentário dela na manhã seguinte. Quando ele passava pela biblioteca, as palavras de Hallie Ashton acompanhavam seus passos. — Com o simples abrir de uma porta — , ela tinha dito, e verdadeiramente tinha sido tão simples quanto, a erupção instantânea de seu tio, choque e perplexidade de Geneve, o olhar de coruja de Miss Binkin. Se ele e Hallie Ashton não estivessem comprometidos ainda, aquele quase-abraço teria selado o seu destino. — Com o simples abrir de uma porta! E, no entanto nada era simples, tudo tinha mudado, na sua opinião, para pior.A luz do sol em cima de sua mesa parecia muito como a da na manhã anterior, o dia prometia ser tão bom quanto o de ontem, ele tinha desfrutado de um outro passeio agradável pelo parque. No entanto, estas eram todas semelhanças superficiais, pois sua mente estava focada inteiramente no assunto em questão. Ele não podia evitar a necessidade frustrante de cortejar Miss Ashton durante as próximas semanas, infelizmente um momento crítico para o The Tantalus. Teria ela tentado confundi-lo? Teria ela pretendido insinuar que as circunstâncias que a uniam a Reggie eram tão, simples, ou tão inocentes como haviam parecido ontem? Que tipo de prima era a senhorita Binkin então, para causar um futuro infeliz à garota sobre essa questão insignificante? Poderia ele acreditar que a mulher poderia ser tão calculista? Acreditaria ele em Hallie Ashton? Ele podia olhar o rosto dela. Sem nenhum esforço ele podia ver o rosto dela e seus grandes olhos cinzas. Ela não falou apenas para se justificar, agarrando-se a uma desculpa para flertar com Reggie. Ela queria que ele entendesse. Mas ele conhecia Reggie muito bem. No entanto a senhorita Hallie poderia ser inocente e excepcionalmente sábia, ela tinha sucumbido como todo o resto. Isto seria a única explicação razoável. Caso contrário, uma distinta e jovem mulher como ela nunca teria chegado a quilômetros do maravilhoso Langsford. — Diabo de Reggie, — ele murmurou, e saiu rapidamente através das portas de vidro para o jardim que ficava ao fundo. A manhã estava muito fria
devido ao vento. As cortinas abriram-se e Richard respirou o estimulante ar de outono. Mas a refrescante brisa e as cortinas balançando respondiam à sua necessidade de liberdade. No momento em que ele desejava mais do que meros minutos naquela situação de liberdade. Uma batida à porta de sua biblioteca não era bem vinda, mas Richard retornou à sala com um curto — Entre. Ao abrir a porta, Gibbs o idoso mordomo encarou sua carranca com rígida dignidade. — Lorde Jeremy acabou de chegar, — ele anunciou completando de forma significativa, — com bagagem. — Ah Gibbs — Richard coçou a testa indo em direção à porta. — Eu recebi a carta dele ontem. Com tudo que aconteceu me esqueci de avisar você. Lorde Jeremy ficará conosco por alguns dias. — Muito bom, senhor. Eu terei um quarto preparado. — Obrigado Gibbs. Por favor peça a Jeremy que venha até aqui. E veja se Cook poderia preparar algo, chá, ou... qualquer outra coisa. — Certamente senhor. — E Gibbs se dobrou levemente em um breve cumprimento enquanto recuava em direção à porta. Em segundos Jeremy Asquith, quarto filho do Duque de Blythe, entrou na biblioteca. — Preciso dizer Richard, a recepção de Gibbs está ficando cada vez mais fria. Como a sua casa, por falar nisso. É um novo modo de se distrair? Ou é a última moda na vida no campo? É um jeito diabólico de comemorar o aniversário. — Ele tremia enquanto esticava as mãos em frente ao fogo. Richard fechou as portas atrás de si, então sorriu para seu amigo. — Sente-se Jeremy. Gibbs irritou-se porque esqueci de avisá-lo da sua chegada, um pequeno descuido que já lhe explicarei. Com relação à temperatura, eu estava tentando, sem sucesso, clarear minha mente. — Está tendo problemas com o The Tantalus? — Com Reggie. — Richard colocou sua própria cadeira perto da lareira. — Mas primeiro me diga o que realmente o trouxe para o campo. Um mero aniversário, que foi ontem, nunca seria a causa. Jeremy sorriu enquanto se afundava as costas para trás no encosto da cadeira. — Sempre posso alegar desejo por boa companhia, Richard. As poucas pessoas na cidade estes dias carecem de um pouco de interesse em cavalos, livros ou uma boa risada. Eu acho que preciso pelo menos de uma dessas três coisas para fazer a vida valer a pena.
Richard balançou a cabeça enquanto observava seu amigo. Jeremy Asquith era a própria definição de magro. Mesmo sentado suas juntas pareciam desarranjadas, seus braços e pernas pareciam ter tantas partes como um estranho quebra cabeça de aparência enganosa, porque ele tinha um apetite equivalente a alguém com três vezes o seu tamanho e era uma realização para um cavaleiro. A mente brilhante de Jeremy, combinada com seu flamejante cabelo vermelho e seu extravagante gosto para roupas, sempre lhe garantiam de início, chamar a atenção daqueles que o conheciam de longa data bem como daqueles que lhe eram estranhos. — Concordo plenamente, Jeremy. Mas como eu acho que a cidade é assim o ano todo, você me deve uma outra explicação. Jeremy ergueu as mãos. — Eu confesso que eu soube que você tem uma adorável criatura aqui em Surrey exatamente agora. — Richard ficou tenso, pensando em como Jeremy ouvira a respeito de Harriet Ashton, e também quando ele mesmo havia percebido que ela era adorável. — A ninfa amarela, meu querido amigo. — Jeremy disse com um sorriso. — Neoninfa lútea. Os últimos suspiros de suas pequenas borboletas antes do inverno. — O hobby de Jeremy, o qual praticava desde a época quando estava na universidade com Richard, deu a ele grande notoriedade, ele era um dos importantes estudiosos de lepdópteros e um dos fundadores do Naturalistas de Londres. Embora não compartilhasse dessa paixão com seu amigo, Richard entendia sua compulsão. Mas justo agora seu problema era muito grande e fez com que sua expressão se fechasse novamente. — Caso isto aconteça, seu cronômetro está ruim. Isto pode ser muito bem meu último suspiro. Você deve congratular-me, Jeremy, eu vou casar. O sorriso de Jeremy vacilou. — Com Caroline? — Ele perguntou, seu olhar azul aguçado. Richard negou com a cabeça. — Não, graças a Deus. Embora uma vez que eu lhe explique pensará que estou louco. Você nunca teria ouvido falar da garota. Sobrinha de um velho cavalheiro em Berkshire. Uma pequena vila chamada Tewsbury. — Tewsbury, — Jeremy repetiu devagar. Ele parecia concentrado. — Richard, o que você fez? — Eu não fiz nada, Jeremy. Eu lhe disse que Reggie havia aprontado um de seus velhos truques, e desta vez me jogou numa verdadeira encrenca. —
Richard puxou sua própria cadeira para perto do fogo. — Aparentemente, ele comprometeu a garota. Tivesse sido outra de suas indiscrições, nós teríamos cuidado de suas necessidades e tentado esquecer o assunto. Mas a garota é uma dama, com uma terrível prima, que os pegou juntos, e um tio cabeça dura como guardião. Junta-se a isso o pavor de Geneve por seu queridinho e a fórmula se torna muito complicada, com uma solução previsível. — Seus lábios se apertaram amargamente. Ele estava desgostoso, embora Jeremy soubesse de tudo. — Quem é a pivete? — Jeremy perguntou. — A senhorita Harriet Ashton. Uma órfã, aparentemente. A filha de um vigário com somente um tio bárbaro para cuidar dela. Se eu não soubesse que ela tinha sido tola o suficiente para se deixar enganar por Reggie, ainda assim eu teria pena dela. — Quando Richard finalmente encontrou o olhar de Jeremy ele ficou surpreso por ver quão intensamente o seu amigo o estudava. E para seu espanto, ele parecia estar se preparando para uma diversão. — Diabos o levem, sua cenoura insuportável! O que acha de tão engraçado nisto? Jeremy limpou a garganta olhou para a frente, indolentemente limpando um invisível pelo de seu imaculado casaco azul escuro. — Peço desculpas, Richard — ele disse facilmente. — É simples porque conheci um Ashton. Tolliver-Tolly-Ashton. De Tewsbury. Eu o mencionei a você antes. Ele se juntou ao regimento Light Horse depois que você foi ferido em Vitoria e enviado para casa. Levou um tiro na batalha de Nivelle River e morreu dois dias depois. — E você acha isso engraçado? — Richard retrucou. — Não, não, apenas pensando se esta senhorita Ashton poderia ser parente dele. Parece que poderia ser. Ambos são de Tewsbury. Eu acho que gostaria de encontrá-la. Como me lembro, Tolly tinha uma irmã, ou algo assim, quem escreveu obstinadamente algumas agradáveis cartas. — Seu olhar brilhante encontrou Richard novamente. Desta vez seu olhar parecia mais curioso que divertido, tão curioso para observar Richard como para encontrar a Senhorita Ashton. — Se ficar aqui comigo por algum tempo, você terá a oportunidade. A senhorita Ashton e eu vamos ‘namorar’ até que Reggie retorne da Irlanda, onde é claro, ele convenientemente escolheu para tirar férias. — Outra mulher? — Cavalos, — Richard o corrigiu. — Uma deserção que sem dúvida o recomenda.
— Você se esquece meu amigo, eu ainda não vi a sua senhorita Ashton. Richard encolheu os ombros. — Ela tem boa aparência, eu acho. Eu estava muito perturbado para poder fazer-lhe justiça. Ela fala bem, muito bem de fato. Você vai encontrá-la passável. — Passável? — Jeremy sorriu. — Que divertido. Ela é verdadeiramente um antídoto para deixar Richard Marksley embaralhar as palavras? Na verdade Richard somente tivera alguns minutos antes de pensar nela como adorável. Talvez sua confusão se refletisse em seu semblante, porque Jeremy parou de pressioná-lo. — Então o seu compromisso vai durar somente até a volta de Reggie? — Algo assim, por três semanas a partir deste domingo, quando os proclamas serão publicados. Eu agradeço à minha sorte que Ashton não tenha insistido numa licença especial. E se Reggie não aceitar cumprir com seu dever? — Isto ele não fará, — Richard disse abruptamente. — Eu adiarei a situação por ele. Eu procurarei, discretamente um substituto. Já pedi a Appleby para investigar. Talvez eu possa convencer algum jovem a desejar uma esposa. Mas não serei eu o enforcado. Jeremy raspou a garganta. — E o The Tantalus? — ele perguntou, olhando em volta da sala embora sua decoração fosse da mais remota fascinação. — Será difícil. Mas não antevejo a necessidade de passar todas as horas do dia com a garota. Um homem precisa de seus próprios interesses. — Decididamente. Embora você possa encontrar ajuda em lugares inesperados. Particularmente se Hallie, perdão, senhorita Ashton cedesse um pouco de seu tempo. Richard encarou-o com assombro. — A senhorita Ashton ceder seu tempo! Sobre o que você está falando? Eu penso que uma garota do campo poderia somente abrir a correspondência. Mas é sério Jeremy, o que você está pensando? — Ele estreitou o olhar. — E você a chamou de Hallie. Você a conhece então? — O que? — Jeremy piscou. —Eu pensei que era como você a chamou. Ou talvez Tolly o tenha mencionado. Assumindo que esta senhorita Ashton fosse parente dele. Hallie é um nome comum, Não é? — É mesmo? Eu nunca o tinha ouvido antes. — Você raramente tem saído nestes últimos três anos Richard. Está na moda as jovens usarem apelidos. Senhorita Emmeline Potter é Mel, Lady Justine Smithe é Tina, o agradável Persis Kinnicott é Nicky. — Ele contou nos dedos.
— Eu gostaria que você gastasse um pouco menos de seu tempo em sociedade, Jeremy. Uma Hallie Ashton é o suficiente, obrigado. Se Geneve não tivesse me prometido que seria a última coisa que me pediria, eu nunca concordaria com tudo isso. — Não concordaria mesmo Richard? — Jeremy sorriu. —‘Mesmo que fosse para salvar a honra de uma dama? — O que você quer dizer com isso de salvar? Jeremy olhou-o arrasado. — Oh, vamos você não pode estar falando sério. Nunca disse que ela e Reginald... Que Reginald realmente... — Como posso saber? Richard perguntou. — Mesmo ela dizendo, mesmo eu querendo acreditar, eu conheço Reginald. — Sim, — Jeremy meditou e deu um tapa no braço de sua cadeira. — Eu gostaria de ver Harriet Ashton, Richard. Quando você pretende vê-la? — — Mais tarde hoje na hora do chá, se você tem estômago para isso. — Richard sorriu ironicamente. Seu amigo estava sempre ansioso por alimento . — Os Ashtons são hóspedes em Penham. A condessa não permitiu que seu filho fizesse parte desse empreendimento, mas ela designou-lhes alguns quartos. — Seu olhar escureceu novamente enquanto ele se virava em direção às portas de vidro. — Aposto que a pequena vigarista já está anotando tudo de valor que tem na mansão. — Não acredito que qualquer parente de Tolly Ashton seja tão mercenário. — Talvez eles não sejam parentes. E se existe alguém incapaz de pensar mal de alguém, esse é você. Eu aposto que você desculparia até mesmo Caroline. — Nisto você está errado, Richard. — Jeremy disse. Uma expressão severa toldou-lhe as feições. — Eu mandei Caroline para o Diabo muitas luas atrás. Tudo que dei a ela uma vez eu retirei quando ela se casou com o velho Bellis. Uma verdade sem igual é ter se importado com você e casado com outro. Richard voltou-se para ele. —Então talvez eu possa contar com seu bom julgamento em relação a Herriet Ashton. Se eu estiver sendo muito áspero, Jeremy, se meus instintos estiverem ruins, você deverá me dizer. Eu confio na sua esperteza para me ajudar a imaginar um fim para este embaraço. — Hallie sentou-se na suntuosa sala de estar da mansão Penham, estava nitidamente infeliz. Sua inquietação nada tinha que ver com a sala, onde um pálido papel amarelo e mobília de bom gosto nas cores verde e dourado evocavam viçosos narcisos. Seu desconforto tinha tudo a ver com os
ocupantes. — Reginald lhe contou alguma coisa a respeito de Surrey, senhorita Ashton? — A voz da Condessa, ainda que cortês, continha um desafio. — Nada, milady. — Esta estação está particularmente deliciosa. Fico surpresa por ele não ter falado algo. — Por que ficaria surpresa com isso, milady? Como você deixou bem claro, eu nunca encontrei com seu filho Lorde Langsford, somente com seu primo Richard. Os lábios de lady Penham se apertaram. Alfred Ashton olhou-a com repreensão, mas ele nunca tocaria em Hallie agora. Ela tinha concordado em fazer tudo que ele queria. Depois disso ele não podia pedir mais. O mordomo anunciou o cavalheiro. Um segundo depois, o olhar de Hallie travou com o de Richard Marksley. Ele desorientou-a a ponto dela sentir a mesma leve verificação de sua compostura. Aqui ela estava sentada, encarando Richard Marksley, quando sua primeira surpresa deveria ser a presença de Jeremy Asquith. — Lorde Jeremy! Que prazer para nós! — A Condessa ansiosamente estendeu ambas as mãos. Hallie notou como ela colocava os olhos num homem consideravelmente mais jovem. — Você está hospedado com Richard, é claro. Que maravilha. — Fico por pouco tempo. Mas o idílio será o mais curto quando deixar sua companhia. Oh, pare com isso Jeremy, Hallie pensou. Novamente ela viu o olhar de Richard e percebeu que ele pensava o mesmo. Essa percepção deixou-a aturdida. A Condessa estava toda atenciosa. —Caro Jeremy. Mas é claro que você precisa voltar logo para o casamento não? Suas palavras congelaram todos na sala, aparentemente ela estava ciente do efeito que causavam. — Três semanas a partir de domingo, não está certo senhor Ashton? O tio de Hallie raspou a garganta e olhou para Richard Marksley. — Você me lembra Condessa, que o senhor Marksley e eu temos alguns assuntos de negócios a discutir. O que diz senhor Marksley? Hallie sabia que seu tio tornaria insuportável até um simples chá. Olhou de forma suplicante para Jeremy. — Talvez eu pudesse sair com a senhorita Ashton por um instante? — Jeremy ofereceu. Seu sorriso era tranqüilizador. — Acredito que temos alguns
assuntos mútuos. A Condessa deu a ela um rápido olhar avaliador. — Verdade? Você me surpreende senhorita Ashton. Realmente. Vou mandar servir o chá meu Lorde. Rogo-lhe para que não se demore. — Nunca senhora. — Jeremy assentiu para Marksley, que tinha voltado à sua atitude rígida. Hallie levantou-se para se juntar a Jeremy nas portas do jardim. — Senhorita Ashton, eu creio que podemos encontrar um passeio tolerável aqui fora do terraço, — Jeremy disse de forma audível a todos. Ela deixou-o levá-la para fora do terraço. Mesmo sob o sol, a brisa permanecia fria, mas nada tão frio que precisasse entrar para buscar um agasalho. Millicent Binkin já tinha se movido para olhá-los através da vidraça. Hallie desafiadoramente deu as costas para a janela e apertou as geladas mãos juntas. — Jeremy, — ela disse suavemente, — você precisa me ajudar. — Alegremente minha cara, — ele disse, muito calmo para o gosto dela. — Eu direi a Richard a verdade. — Oh, não, Jeremy. Por favor. Você não pode. — Ela olhou para trás em direção à porta, onde Millicent espreitava ameaçadoramente. — Eu preciso daquilo. Eu preciso ter minha vida. Se você contar a ele, será minha ruína. — Hallie, suplico-lhe que me perdoe, mas já é o que todos acreditam. — Jeremy! Como pode acreditar nisso? De todas as pessoas, justo com aquele canalha Langsford? — Ela ficou em silencio por alguns segundos. — É nisso que Richard Marksley acredita? Que estou arruinada? — Ele não sabe em que acreditar. Você percebe que ele não está em posição de agir de acordo com suas crenças. Hallie mordeu o lábio inferior e novamente se virou para a casa. Ela esfregou os braços tentando adquirir um pouco de calor. Então as palavras saíram de uma só vez. — Eu fui uma tola, Jeremy. Eu confundi Reginald com R. E. Marksley. Somente eu acreditei na verdade, eu sei que era o que ele pretendia. Ele estava com um grupo de homens na parada de coches em Tewsbury. Reginald tinha acabado de dizer algo, e um dos outros bateu em suas costas dizendo ‘digno de R.E. Marksley’ ou algo como isso em todo o caso. Todos eles riram. O pior de tudo isso foi que eu o procurei. Eu estava grata por tê-lo encontrado finalmente. Embora eu tivesse prometido a mim mesma não fazê-lo até a primavera, até poder deixar o meu tio. — Hallie suspirou balançando a cabeça.
— Eu o vi enquanto Millicent conversava com a esposa do estalajadeiro a respeito de uma festa na igreja. Quando fui até lá, ele deve ter pensado que eu fosse uma hóspede da estalagem, ou... não tenho idéia do que ele pensou. Antes que eu suspeitasse das suas intenções, ele me puxou para o lado da sala e me beijou, e ali estava Millicent. Ele deve tê-la visto caminhando em nossa direção. — Hallie imediatamente checou se Millicente ainda estava olhando. — Então ele nos enganou, Jeremy. Ele declarou que era Marksley do The Tantalus. Ele pretendia nos fazer acreditar que ele era Richard. Esse homem desprezível nos fez acreditar nisso. — Hallie não pode evitar um arrepio. — Venha, vamos caminhar um pouco. — Jeremy pegou-lhe o braço. — A senhorita Binkin não agiu corretamente nesse caso, Hallie. Mas não está longe de Reginald ter feito isso deliberadamente. Você deu a ele os meios, é claro, mas como você logo aprenderá, ele é rancoroso e odeia o Richard. — Por que isso? — Não há razão. Somente por inveja, se pode ser tão simples. E medo porque Richard é na realidade o descendente direto de Penham. — Como isso é possível? — O pai de Richard foi o filho mais velho por muitos anos. Mas ele se casou, contra a vontade da família, com uma adorável garota galesa, que eu saiba ele foi cortado como herdeiro. Quando ele morreu, seu irmão, o atual conde que era o tio de Richard deu um jeito de colocar Reggie como herdeiro, com uma conversa de que Reggie era seis meses mais velho e que isso não alteraria a linha de sucessão. Se alguém tivesse representado os interesses de Richard isso não teria o apoio da lei. O caso todo aconteceu rápido devido ao falecimento da mãe de Richard, pobre mulher. Em todo caso, o velho Cyril e Lady Geneve se responsabilizaram por Richard. Uma constante lembrança, sem dúvida, de sua própria ambição. Eles trataram Richard adequadamente. Já Reggie era ciumento como um gato. Já que você conheceu os dois deve saber por que. — Ele agarrou seu braço fortemente. — Hallie, você precisa dizer a verdade a Richard. — Não — ela balançou a cabeça. — Deve haver algum outro modo. — Eu não creio minha cara, Richard vai ajudá-la até a volta de Reggie. Ele acredita que poderá se prevalecer sobre ele. Mas eu sei, e você também que esse irresponsável demônio nunca casará com você. Você nunca poderá ser acolhida em Berkshire, porque o seu tio acredita que você foi comprometida. As notícias já devem ter se espalhado por toda Tewsbury e mais além agora. Você precisa casar e quem mais seu tio acharia aceitável? Eu me ofereceria
mas receio que você não me queira. Novamente. — Jeremy. — Eu não deveria mencionar isso, eu sei. E você estava pronta para me recusar. Eu poderia facilmente me sentir abençoado, você sem dúvida teria se arrependido. Hallie colocou a mão no braço dele. — Você me conhece bem. Você ofereceu por causa de Tolly, e por isso vou sempre considerá-lo meu melhor amigo. Mas você encontrou um diferente caminho para mim e estou mais do que grata. Até feliz. — Ela olhou para alem dele. — Se tudo não estivesse tão embaralhado! — Você precisa contar-lhe. No final terá de ser Richard, Hallie. Como ele era e sempre será Richard. — Diante de seu olhar admirado ele acrescentou, — Isto é Richard Marksley quem manteve os ilustres habitantes de Penham fora de problemas em todos esses anos. O Conde é fraco, está inconsciente a maior parte do tempo, e Geneve tem o pensamento e o coração voltados para o seu filho canalha, como você apropriadamente o chamou. Para ser franco Hallie, você é minha amiga. Eu farei o que puder por você. Mas Richard é mais. Ele é um irmão de armas. — Mas eu estou desesperada meu Lorde. — Por que desesperada? Eu desejo que seja feliz. No meu ponto de vista, Richard é o certo. Você deveria rezar para que Reginald continue onde está e que fique lá por um bom tempo. — Eu não quero me casar afinal de contas. Casar com alguém que não amo. Que... não pode me amar. Jeremy, você me conhece. Como posso continuar com isso? — Ela franziu as sobrancelhas e olhou para o gramado. Jeremy clareou a garganta e virou Hallie em direção ao caminho por onde tinham vindo. — Você precisa ficar calada, como tem feito, e continuar a enganá-lo. Não mude isso. Já que ajudei você em primeiro lugar, não posso reclamar agora. A única diferença agora é que, é claro, jogaremos esse jogo de perto. Ou... — Diante do olhar esperançoso de Hallie ele tocou seu rosto. — Você pode contar a ele. Você estaria livre imediatamente. Eu garanto. Ele a mandaria para fora do país de camelo se preciso, qualquer coisa para afastá-la do que pudesse feri-la. Você não entende? É a sua atração por Reginald que ele não pode aceitar ou entender. A sua explicação tornará este erro claro. — Ao se aproximarem da porta, Jeremy sorriu para si mesmo. — Perdoe-me Hallie. Mas eu não posso evitar de me divertir com isto. — Existe algo divertido nisto? — Hallie perguntou rigidamente.
Ele assentiu. — Podem chamar Reggie o belo Langsford, mas é Richard quem fascina as mulheres. Por que? Eu aposto que há meia dúzia de senhoritas na cidade que renunciariam a suas elevadas perspectivas para se unir a Richard em modestas circunstancias. — Verdade? — Hallie perguntou, olhando para o rosto de Jeremy. — Ele é... muito admirado? — Indubitavelmente. O homem tem uma língua melosa! Elas suspiram quando ele fala. Ele é um poeta, você não sabe? — Hallie estreitou os olhos para o tom presunçoso e afetado de Jeremy. — Ele nunca demonstrará isso para você, é claro. Creio que ele está convicto de que você não é o estilo dele. Imagine que novidade ser cortejada por seus próprios versos. — Enquanto Hallie empalidecia ele a puxava gentilmente através da porta. Ele falou gentilmente perto de sua orelha. — Não demore querida. Richard Marksley nunca foi lento. Logo ele descobrirá que o elusivo Henry Beecham está realmente muito perto. Richard tinha observado Jeremy e Hallie Ashton retornarem do terraço. Ele estava convencido de que não haveria tanto a dizer um ao outro apenas para se discutir alguns simples assuntos e nem de forma tão animada. Ao longo do torturante chá que se seguiu, apesar de que a Senhorita Ashton nada tenha contribuído, Richard se sentiu justificado ao atribuir-lhe culpa em todos os breves olhares dela. Ele não falou com Jeremy por uns bons cinco minutos. — Você parece conhecê-la muito bem, — ele disse finalmente, tentando não parecer aborrecido. — Senhorita Ashton você quer dizer! — É claro que eu quis dizer senhorita Ashton! Jeremy deu um amplo sorriso e incitou o cavalo para mais perto. — Eu vejo Richard que você não entende nem aprova meus métodos. — Seus métodos? — Seus modos sem vergonha para com Geneve e suas piscadelas para Binkin? Jeremy riu. — Meu caro amigo, que sacrifício foi fazer isso! — Não há dúvida que o seu prolongado tete a tete com a senhorita Ashton foi um sacrifício também. — Nunca! Hallie Ashton é uma pérola sem preço. — Uma pérola? Ah, então você se importa muito com ela, certo? — Como eu me importava com seu primo. Richard me entenda. Não confunda responsabilidade e amizade com algo mais. Fiz uma vez, e
prontamente me coloquei em meu lugar. Além do mais, — ele completou alegremente, — Hallie Ashton está além do meu alcance. — Você está me enrolando. Você é filho de um Duque! E ela é uma simples garota do interior, A filha de um vigário! Jeremy deu uma olhada penetrante. — Você está sendo extremamente obtuso neste caso, Richard. Deve ter sido o incidente com Reginald que não o deixa ver o valor da garota. Se ela não estivesse escondida na pequena Tewsbury ela seria uma beleza notável. Aqueles olhos adoráveis. Você tem de admitir que ela tem belos olhos, Richard, e um impressionante formato de rosto. Somente seus trajes é que são simples, um pequeno problema de fundos. Ela é inteligente, amável, divertida e espirituosa. De fato penso que ela é esplêndida. O cavalo de Richard se agitou. Enquanto acalmava o animal ele olhou diretamente para seu amigo. — Você está apaixonado pela sirigaita, — ele afirmou categoricamente. Ele não gostou da possibilidade, e gostou menos após dizer aquilo. Jeremy suspirou alto. — Você não está ouvindo Richard. Está querendo colocar pensamentos em minha cabeça. E você me faz pensar que está muito ansioso para encontrar defeitos em Hallie Ashton. Você está se punindo. — Absurdo — Richard incitou Apollo a um trote, obrigando Jeremy a lutar para alcançá-lo. — Você precisa se lembrar que o seu propósito estabelecido nesta visita é localizar a sua preciosa ninfa amarela e não brincar de casamenteiro. Reggie e o tio Ashton têm sido suficientemente efetivos neste caso, muito obrigado. Se você verdadeiramente deseja merecer o seu quarto e a sua comida meu Lorde, deverá você mesmo derrotar os esquemas deles. — Ele se virou e fulminou Jeremy com o olhar, — por que sobre a terra você se sentou lá e exaltou minhas poucas virtudes para o Ashton? Você deveria tê-lo persuadido de que eu sou o último homem que ele poderia querer para a sobrinha. — Eu pensei em tranqüilizá-lo, meu chapa, enquanto você nos dirigia algumas palavras com um rosto de pedra durante quase uma hora. Por que, o bode velho não sabe do The Tantalus! Eu procurei somente esclarecê-lo. Pode me culpar por escolher cantar seus louvores, com ele olhando com raiva para você pensando que você era o enviado de Lúcifer? — Sim, — Richard bateu. — Eu lhe pedi ajuda. Você entende a situação. Qualquer um pensaria que você quer me ver casado. — Instantaneamente ele olhou para Jeremy acusadoramente. — É isso, não é, seu vil vira casaca. A
meretriz está grávida e você decidiu me transformar em papai. Jeremy, magnífico em seu colete de cetim violeta e gravata como uma fonte ondulante, ajeitou-se na sela. Com o nariz exageradamente empinado. — Isso o rebaixa Richard. Hallie Ashton é uma dama, incapaz de... uma conduta como essa. Ela é tão inocente quanto você neste caso. Eu exijo desculpas ou uma satisfação. Richard observou-o em toda sua indignação gloriosa e teve de rir. — Calma meu amigo. Como você deve imaginar, eu tenho tido muito de Ashtons e Marksleys. A possibilidade de um mais não pode ser negligenciada. — No caso de Hallie deve ser. — Então eu continuo certo Jeremy . Agora sei que você é o campeão dela, — ele acrescentou, — Eu reprimirei tais acusações. Sem dúvida a senhorita Ashton realmente divide com Reggie o interesse por, o que era mesmo? Reforma agrária. Sim, reforma agrária. — Corta essa Richard, — Jeremy disse. — Você deixa irritantemente claro que não deseja a senhorita Ashton. Mas você deve pensar no contrário. A senhorita Ashton não quer você. — Ela quer um Lorde. — Ela não quer ninguém. Richard ficou em silencio. Se isso fosse verdade, ele não se sentiria tão incompreensivelmente contrariado. Jeremy estava sendo menos que sincero, uma diferença nele que somente poderia estar relacionada com Hallie Ashton. A mulher tinha que estar escondendo algo, mulheres não se juntavam com o Visconde Langsford para discutir agricultura. — Jeremy, você é sempre bem vindo a Archers. Mas talvez seria melhor não mencionarmos a Senhorita Ashton novamente. — Como desejar. — Havia um tom notadamente gelado na voz de Jeremy. — Você gostaria que eu me mudasse? — Não, eu não gostaria. Eu apenas quero evitar o assunto senhorita Ashton. — Isso poderá ser um pequeno desafio. Você esqueceu que nos juntaremos às damas para um passeio sábado? Com um rápido olhar de frustração para Jeremy, Richard deu um leve suspiro e incitou Apollo para frente.
Capítulo 4 Hallie estava pronta há algum tempo. Depois de ter se livrado da empregada da condessa, a qual tinha demonstrado excessiva preocupação com o limitado e barato guarda roupa, e igualmente com pouca paciência, ela buscou uma das salas que ficavam na parte frontal de Penham. Lá ela pretendia escrever em seu caderno, um hábito que tinha sido vergonhosamente negligenciado na última semana. Mas apesar do silencio e das melhores intenções, ela descobriu que não conseguia se concentrar. O difícil germe de uma idéia, o começo de um poema, resistiram e não foram desembaraçados. Como resultado várias páginas somente começadas e fragmentos quebrados de frases insinuando, mas não formando a estrutura leve de pensamentos e sentimentos. Ela sabia porque não conseguia trabalhar. Pela vigésima vez em muitos minutos, seu olhar escapava para o caminho, onde ela esperava Richard Marksley. O homem achava que ela era um pouco melhor que nad,; mesmo que ela fosse a mulher mais fina da Inglaterra, ele ainda questionaria tudo sobre ela. Ainda assim ela sentava-se ali esperando por ele. Para ser julgada de forma tão dura, e por Richard Marksley dentre todas as pessoas, era irritante. De repente ela se levantou e saiu de perto da janela. Ao menos ela teria a satisfação de ter entregado sua mensagem a Jeremy. Seu tio e Millicent podiam mantê-la prisioneira, mas ela pensou numa maneira de escapar dessa armadilha. Ela tinha intenção de deixar o país. Ela possuía dinheiro suficiente para uma passagem para a Irlanda, ou mesmo talvez para a América, isso se ela conseguisse apanhar o dinheiro reservado em nome de Henry Beecham. Marksley escreveu varias cartas a Beecham avisando que o poeta poderia reclamar seus ganhos em qualquer banco com uma assinatura em suas letras de crédito. Hallie nunca tinha precisado do dinheiro. Ela nunca pode investi-lo e seu tio perceberia algum gasto diferente que ela fizesse. Ela receava que ao reclamar o dinheiro ela revelaria sua identidade a Marksley. Ela chegou a pensar que os pagamentos fossem uma isca. Agora ela se livraria dessa isca. Ela tinha descoberto um modo de outro homem pegar o dinheiro por ela. Ela estava decidida a pedir a George.
A última vez que George Partridge parou para vê-la foi a três meses em Berkshire. Um renomado lingüista e amigo mútuo dela e de Jeremy, George tinha viajado por muitos lugares pesquisando línguas raras. Ela achava que agora ele estava transcrevendo a língua romena dos países dos ciganos, embora ela não tivesse idéia de sua localização. Ela precisava confiar em Jeremy para encontrar seu amigo e lhe entregar sua mensagem. George, ela sabia, não teria dificuldade em copiar sua assinatura como — Henry Beecham — George podia imitar qualquer sotaque ou qualquer escrita. Hallie convenceu-se de que George se sentiria feliz em fazer-lhe esse pequeno favor. Ela afinal o tinha convencido a enviar um de seus artigos sobre linguagem para Marksley e o The Tantalus. Ele tinha conseguido um grupo admirável de leitores, como ela sabia que aconteceria. Ela olhou novamente para o caminho. Era preocupante descobrir quão facilmente ela havia aprendido a reconhecer Richard Marksley mesmo de longe. Algo na posição de seus ombros o distinguia de Jeremy e de todos os outros. Ela tomou um tempo recolhendo suas coisas e retornando para seu quarto. Uma vez vestida com a capa e uma touca ela sabia que estava mais do que apresentável, mas esse reconhecimento não a incentivou a se apressar. Restavam-lhe poucos dias mais, tão pouco tempo; ela não podia acelerar os minutos. Ela não pensava no tempo que lhe restava com Marksley. Millicent Binkin encontrou-a no vestíbulo. Hallie não tinha dirigido a palavra à mulher desde sua desastrosa intromissão na estalagem em Tewsbury. Millicent ainda não havia percebido o incivilizado silêncio de Hallie, nem sentido qualquer arrependimento por ter comprometido sua jovem prima em tão questionável forma. — Você perdeu seu tempo mocinha. Embora, dado o estado deplorável do seu guarda roupa, alguém dificilmente lhe daria crédito. Você precisa me lembrar de ajudá-la a selecionar vários trajes para o dia. Você está uma perfeita pé rapada. — O cavalheiro então não desejará minha companhia, — Hallie disse. — Eu vou deixá-la com eles. — Ela começou a se virar para ir embora, mas Millicente agarrou o seu braço. — Minha querida, — ela disse repreensivamente, — Estes teatros são infantis. Você precisa se lembrar que todas as ações implicam em conseqüências. Nem eu nem o cavalheiro lá fora desejarmos essa situação. — E você sabe que é uma mentirosa Millicent, — Hallie replicou,
esfregando o braço perto onde a outra o apertava. — Por que você permite que essa vergonha continue? Por que obrigou Richard Marksley a se passar por seu primo? — Você estava irremediavelmente comprometida. — Somente para os seus olhos, querida prima. Você era ambos a fonte e o som. Você sabe que tem muito que responder por tudo isto. Quando Reginald Marksley voltar você vai parecer muito ridícula. —Você não é normalmente estúpida, Hallie. Se eu acreditasse por um momento que o Visconde quisesse você, eu nunca teria decidido pelo senhor Richard. — Você não teria! Millicent, você se acha muita coisa. Isto não é da sua conta. — Mas é minha querida. —O olhar de sua prima era cortante. — Eu assegurei uma aceitável situação para você. Uma situação eminentemente aceitável. Você estava a caminho de ser negligenciada. Sem temporada, sem perspectivas. Somente os seus infindáveis escritos. Agora você estará estabelecida e muito bem por sinal. Era indecoroso estar discutindo aqui no vestíbulo, com seus acompanhantes a alguns passos além da porta. Ainda que Millicent Binkin tivesse confessado abertamente suas maquinações, sem arrependimento ou vergonha, era mais do que Hallie poderia agüentar —Discutiremos isso mais tarde Millicent, — ela se ajeitou virando e se vendo livre do aperto em seu braço. — É ultrajante que você faça a todos nós viver essa mentira. Eu vou certamente contar ao titio. — Mas ele já sabe querida, — disse Millicent. Hallie fechou as mãos em punhos. Ela não sabia que era como um dreno na casa de seu tio para ser impingida como um bem imóvel a um estranho. Ela sabia que estava tremendo, mas ela não parecia querer parar. A porta da frente abriu abruptamente para Richard Marksley. Hallie pode sentir fortemente nele raiva ou impaciência. Essa percepção fez com que tremesse ainda mais. — Senhoras — Embora seu olhar escuro pouco revelasse, Hallie teve forte impressão de que ele ouvira tudo o que elas falaram. — Estão prontas para ir? — Obrigada senhor Marksley. Estamos sim. — Millicent passou pela porta rapidamente, sua baixa e corpulenta figura se espremeu num desfavorável modelo em musselina. Hallie relanceou os olhos para o rosto de Richard Marksley onde viu seu frio olhar dirigido a Millicent. — Eu acho que você não está com sorte nos seus relacionamentos, — ele
disse, somente para os ouvidos dela, e Hallie novamente suspeitou que ele tinha ouvido aquela conversa. Embora ele continuasse com o olhar severo, ele ofereceu-lhe o braço. — Vamos uma vez mais fazer o melhor? — Eu... prefiro não sair esta tarde. Uma escura sobrancelha se arqueou. — Nunca me disse que era uma covarde, minha cara. Você é tão avessa a um bom cavalo e a velocidade como era o seu primo? Hallie ainda trêmula deixou sua mão sobre a manga dele. Ela estava grata pelo seu apoio. E ela estava grata por algo mais. Era prazeroso a ela pensar que ele pudesse dividir com ela os desgostos por Millicent Binkin. Eles eram parceiros naquilo, mesmo que em nada mais. No caminho, Jeremy estava ajudando Millicent a entrar na parte de trás da carruagem, um exercício de agilidade que não mostrava graça. Como somente o cavalo de Jeremy estava selado e próximo, Hallie achou que Richard pretendia dirigir. — Pensei que você poderia sentar ao meu lado na frente, — ele disse. — O grupo do conde é animado mas responsável. Se você quiser poderá gostar de segurar as rédeas um pouco. Hallie rapidamente concordou em sentar na frente com ele, algo que ela teria preferido ao invés da companhia de Millicent , de todo modo. Como Marksley deu a mão para ajudá-la a subir, Hallie sentiu o seu calor mesmo através das luvas. Ela mordeu o lábio inferior enquanto se concentrava na posição. — A senhorita Ashton tem uma mão notável, — Millicent acrescentou sem ter sido solicitada. — Ela cavalga desde antes de aprender a andar, Ela é realmente considerada uma ótima amazona. — Verdade? — Marksley murmurou. O isolamento de Millicente na parte de trás tinha sido intencional. Naquele momento Hallie desejava que sua prima fosse para o fim do mundo. Enquanto Marksley tomava assento ao lado dela, Hallie percebeu que estava prendendo o fôlego. Ela procurou respirar normalmente e relanceou o olhar para Jeremy. — Você prefere cavalgar, lorde Jeremy? — Se não fui convidado a dirigir, Senhorita Ashton. Eu suspeito que Richard seria menos indulgente se eu fosse passageiro. — Está corretíssimo Jeremy. Eu deixaria o gado de Penham cair numa vala antes de permitir que você dirigisse outro veículo.
— Ora vamos Richard. Eu não sou esse demônio. O tráfego aqui no campo nem tem o que se falar. — Verdade Jeremy? E do que você chamaria essa pesada engenhoca à nossa frente? Jeremy fez esforço para poder ver o monstruoso carro de feno no caminho além dos portões. — Ora se não parece uma casa de palha. Bem Richard, se o seu objetivo era andar atrás disso toda a tarde, você pode dirigir com a minha bênção. — Jeremy ficou mais para trás entabulando conversa com Millicent, com educadas mas entediantes tolices sobre o campo. A carruagem passou facilmente pelo carro de feno e se foi para além dos campos ordenadamente ceifados e um ocasional pasto de ovelhas. O sol brilhava e a tarde estava agradável. Hallie, consciente de que tinha muito a dizer, mas pouca vontade de falar, concentrou-se em olhar os cavalos e as capazes mãos de Marksley. Às vezes sua atenção se voltava para a figura dele. Ele tinha boa aparência, um queixo firme e nariz fino. Embora ela achasse que não se podia dizer que fosse tão atraente como seu aclamado primo, ele tinha um refinamento atrativo. Combinado com a confiança que era sua característica, ele era um perfeito cavalheiro. Ele tinha de ser para ela achar o seu rosto tão intrigante. — Está tudo em seu devido lugar? — Ele perguntou de repente. — Eu...certamente. Perdoe-me. — Ela estremeceu e olhou para longe. — Está com frio, senhorita Ashton? — Não, — ela disse, virando-se novamente para ele. O olhar desafiando a sua reversão para ‘senhorita Ashton — . Para sua irritação ele parecia ter todo cuidado com sua reação. Aqueles lábios eloquentes mostravam diversão. — O ar tende a ser frio neste vale senhorita Ashton. Mesmo nos dias mais quentes do verão temos névoa aqui ao meio dia. — Você frequenta o local então senhor Marksley? — Excessivamente — . Mas agora ele estava sorrindo. Hallie o achava um homem atraente antes; agora o sorriso convenceu-a mais. Ela agarrou a grade de seu lado esquerdo segurando firmemente sua bolsinha no colo. Ela relembrou sua conversa estratégica com Richard Marksley sobre sua The Tantalus. Se ela estivesse destinada a trair a si mesma, ela faria por causa do que ela sabia ser impensável revelar. Ela era uma leitora, ela conhecia sua revista. Seria natural então falar com Richard Marksley sobre sua biblioteca e seu trabalho. Ela pensou que poderia
confundí-lo com a extensão de seu conhecimento sobre o que Henry Beecham sabia. — Você é o editor do The Tantalus, — ela ousou. Esse lance inicial a fez sentir-se pequena. — Eu gostaria de saber mais sobre o seu trabalho. — No sentido de saber como ocupo meu tempo? — Sim. Eu...Tenho visto muitos números recentes. Você escreveu uma carta introdutória em cada um deles. — Aquela carta é tudo que eu gostaria de escrever, se eu tivesse algum talento para isso. Eu me orgulho, entretanto em selecionar o que é do interesse dos leitores. Jeremy se posicionou ao lado, trazendo seu cavalo para mais perto. — É um talento em si reconhecer e alimentar o talento em outros, não pensa assim senhorita Harriet? Na verdade Richard é extremamente talentoso, quando penso em tudo que ele trouxe para todos nós — . Ele piscou para ela, o que a deixou corada. Marksley franziu as sobrancelhas. — Obrigado Jeremy — , ele disse. Mas seu rápido olhar para o amigo era cauteloso. Com esse olhar, Jeremy foi para trás novamente ao lado de Millicent. Hallie estava grata pela ida de Jeremy, Ele era uma irritante lembrança de sua duplicidade. — E você aborda seus autores com exigências por estórias e críticas? — Eles não são meus autores, senhorita Ashton, embora haja alguns poucos de quem eu dependa. Ainda respondendo a sua pergunta-seria tolice minha esperar material pelo correio. Dessa forma a chance de conseguir uma impressão bimestral seria impossível. Assinaturas são nossa maior fonte de recursos afinal de contas. — E outras fontes? — Ele olhou rapidamente para ela. Ela tinha esquecido que damas não discutem sobre finanças com cavalheiros. Como Henry Beecham ela nunca teria se preocupado com isso. — Eu mesmo sou uma fonte de recursos senhorita Ashton. Juntamente com um presente ocasional. Eu temo que o The Tantalus seja classificado como o hobby de um cavalheiro, como ele raramente retorna algum lucro monetário. E agora vou usar o seu precioso dinheiro Hallie pensou, sugando o seu sangue. Mas ele interpretou o silencio dela como crítica. — Minhas mãos estão manchadas de tinta senhorita Ashton. — Marksley adicionou, — mas nunca tive problema para pagar a mim mesmo, eu evito o estigma de empenho no comercio. Tal distinção afeta o estatus de um sobrinho
de conde, não importa quão material são seus deveres cavalheirescos. Seus lábios formavam uma linha apertada. Hallie teria procurado a natureza de seus outros deveres, e aprendeu exatamente agora como ele se sentia a respeito de sua tia e de seu tio, mas aquela expressão amarga intimidava. Ironicamente The Tantalus mostrava ser um assunto seguro. — Meu tio não é assinante de sua revista, — ela disse, — mas eu a leio na biblioteca circulante em Tewsbury. É extraordinariamente popular. Eu tenho sempre apreciado a variedade de artigos e estórias. — Obrigado Senhorita Herriet. E você tem um favorito? Você prefere uma estória ou um comentário? — Eu... não tenho favoritos, — Ela disse, colocando seus trêmulos dedos nas dobras de sua saia. — Apesar de eu apreciar a seção de poesia. — Ah, sim. Nós publicamos algumas excelentes poesias. — Agora finalmente tudo claro, trecho plano da estrada Marksley afrouxou as rédeas, encorajando a parelha a um passo mais rápido. Ao olhar para Jeremy, Hallie notou seu alívio para variar. A paciência dele tinha se rendido aos comentários inconseqüentes de Millicent. Agora ele ajustou seu cavalo para manter o ritmo da carruagem. Richard Marksley, com a parelha bem controlada, olhou para ela novamente. — Há algum tipo particular de poesia que a atraia, senhorita Harriet? — — Todas as poesias — , ela disse e arriscou um sorriso. Mas Marksley não estava mais olhando para ela. Suas sobrancelhas estavam franzidas. — Talvez você tenha visto alguns dos poemas de Henry Beecham. — Eu... não tenho muita certeza. — Muita — . Era uma pequena e fria palavra. Aparentemente absorvido em manejar a parelha, Marksley ficou um longo tempo em silencio. Hallie achou que Jeremy tinha ouvido essa última conversa; ela pensou ter ouvido seu bufar impaciente. Ou talvez fosse agora devido ao seu esforço com o cavalo. Ela intencionalmente manteve seu olhar dirigido na estrada à frente. Ela sabia porque tinha desistido da discutir sobre Henry Beecham; ela estava receosa de demonstrar muita familiaridade com o poeta. Mesmo tendo ajeitado as coisas para não parecer tola. Certamente sua grande proteção era o seu sexo, ela querendo ou não alegou algum conhecimento sobre Henry Beecham. E ela não gostou do silencio de Marksley. Ela não gostou de jeito nenhum.
— Eu me recordo de ter lido algo recente de Henry Beecham, — ela disse. — Sobre o oceano lavado de azul, harmoniosa onda do mar, resposta da Terra para a eternidade... — Bem, esqueci o resto. Mas sei que era muito bonito. — Nesse momento ela estava certa de que tinha sido Jeremy que relinchou, não seu cavalo. — Melhor que Byron, não é Richard? — Sugeriu Jeremy perversamente. Marksley, concentrado nos cavalos, estava de cenho franzido. Mas Hallie sentia que ele estava pensando em Beecham, não na parelha. Ela pensava se Marksley publicava os poemas apenas para agradar um insaciável e indiscriminado público. Talvez ele precisasse somente preencher suas páginas. — Você gosta? — ela perguntou, ao mesmo tempo incerta. — Sim eu gosto. Gosto muito na realidade. Jeremy riu. — O que é isso Jeremy? — Marksley perguntou. — Nós teríamos alguma chance com suas borboletas? — Infelizmente não meu amigo, embora uma armadilha de espécies seria muito bem vinda. Marksley fez cara feia para Jeremy, depois olhou para trás para Millicent. A prima de Hallie dormia, com as bochechas confortavelmente aninhadas em seu xale. — Gostaria de cuidar das rédeas senhorita Harriet? — Ele perguntou. — Este trecho da estrada proporciona uma bela e macia corrida. Ela acenou com a cabeça e pegou as rédeas dele, sentindo imediatamente o seu calor, mãos enluvadas temporariamente a embalaram. Ela considerou que não havia borboletas na estrada, mas aparentemente algumas tinham se instalado em seu estômago. — Solte-os Hallie, — Jeremy incentivou-a, e ela precisou de menos de um segundo para atendê-lo. Os cavalos responderam magnífica e gloriosamente com passos largos e equilibrados. Eles voaram para a frente, preenchendo sua própria necessidade de liberdade, rápida e poderosamente. Ela estava consciente somente do brilho da tarde, da luz que era refletida dos campos e da estrada aberta e da própria Terra. O martelar dos cascos dos cavalos encantava—a. Ela gostaria de tomar e engolir o ar veloz. Sua touca escorregou para trás, o vento castigava a sua face. Eles deviam ter corrido três quilômetros antes de Hallie pará-los. Corada devido à corrida, ela devolveu as rédeas a Marksley, atenta em ajeitar a touca sobre os cabelos
revoltos pelo vento. — Muito bem senhorita Hallie, — Marksley disse. Ela considerou uma vitória que ele condescendesse em chamá-la de Hallie novamente. Ele estava examinando o seu rosto com curiosidade. — Eles foram criados para correr e não é fácil fazê-los parar. Quem a ensinou a dirigir? — Meu primo Tolly. Ele era muito bom. — Tolliver Ashton tinha uma mão esplêndida Richard, — Jeremy disse. Ele estava sem fôlego quando os alcançou. — Você teria gostado dele. — Sem dúvida. — Mas Richard Marksley estava estudando o colorido de Hallie com tamanha intensidade que a desconcertou. — Ela disse a si mesma que era o absurdo dos absurdos achar que o nome ‘Henry Beecham’ estivesse escrito em sua testa. — Você vai... nos matar... a todos... Harriet, — Millicent arquejou lá de trás. — Ela não deveria... ter permissão... de brincar com... a sua parelha senhor. — Por que não senhorita Binkin? Você mesma disse que ela tem ótima mão. Sua prima é tão hábil quanto qualquer homem. — Ela não é um homem senhor Marksley Hallie gostaria de rir alto. Para Richard Marksley ela era um homem, na pessoa de Henry Beecham. Mas infelizmente aquela fisionomia severa já havia se instalado no rosto de Marksley. Ele dirigiu os cavalos para uma curva na estrada. — Ela não é um homem senhorita Binkin. E todos nós estamos aqui exatamente porque ela não é. Você acredita realmente que ela deveria se refrear porque você vai contar para o tio dela? Até que ele diga o contrário, sua sobrinha e minha noiva é bem vinda para dirigir a minha parelha. Ela demonstrou sua competência. Hallie abençoou-o silenciosamente. Os olhos dela devem ter refletido prazerosa rebelião porque Richard Marksley deu-lhe um sorriso. Eles discutiram sobre livros. Enquanto Millicent ficava amuada na parte de trás, e Jeremy se divertia nomeando cada planta ao lado da estrada, eles discutiam o que Hallie tinha lido mais recentemente e pretendia ler. Em tal conversa ela encontrou poucos motivos para subterfúgios; parecia haver pequena possibilidade de que a leitura de alguém pudesse revelar pistas de natureza tão singular. Se algumas vezes Marksley encontrava seu olhar com um enigma neles próprios, ela atribuía isso ao usual espanto de que uma mulher pudesse apreciar mais que design de pratos. Quando eles finalmente retornaram para Penham, Hallie acreditava que
tinha conseguido se sair bem. Ele não pode encontrar nela todo aquele tédio. E contente com o pensamento que seu segredo estava a salvo, que ela podia mencionar o The Tantalus ou mesmo poesia sem ser detectada, ela sorriu enquanto Richard Marksley a ajudava a descer do acento alto. Ela ousou ter esperanças de que o tempo gasto na espera pela volta do Visconde poderia ser pelo menos bem acompanhado. Ela não desejava entrar em guerra com Richard Marksley. Observando Jeremy arrastar a senhorita Binkin da carruagem, Hallie tardiamente se lembrou de seu bilhete para George Partridge. Enquanto Marksley se movia para falar com o lacaio, que segurava os cavalos pela frente, ela retirou o bilhete de sua bolsinha. Quando Millicent olhou para baixo para ajeitar a saia, Hallie passou o bilhete para Jeremy. No seu rabisco no fino pergaminho ele claramente reconheceu o endereço; ele olhou para ela expectante. Mas Richard Marksley já tinha se virado em direção a eles. Ele certamente percebeu o olhar inquisitivo de Jeremy para ela. E Jeremy foi lento ao colocar a carta no bolso. Marksley olhou irritado. Hallie sabia que era suspeita novamente. Mas para sua surpresa, Jeremy atraiu a repreensão. — Vejo que tenho sido enganado esta tarde meu lorde, — Marksley disse. As palavras eram suaves, mas sua expressão não. — Talvez você não tenha sido totalmente honesto sobre suas razões para visitar Archers. Se você ou a senhorita Ashton escolherem liberar minha família desse arranjo, eu seria muito agradecido. Com um olhar sombrio para Hallie ele rigidamente se dirigiu a passos largos para os estábulos. — Um jovem bastante rude, — Millicent comentou fungando, e começou a subir os degraus em direção à porta. Hallie olhou implorando para Jeremy. — Você precisa encontrar George, — ela insistiu suavemente. — Eu preciso da ajuda dele. — Para que minha querida? Uma tradução do Urdu? Ela franziu as sobrancelhas. — Isto não é um jogo Jeremy. Ele precisa assinar para mim como Henry Beecham no banco. — Assinar por você? Hallie você deve me deixar... Ela balançou a cabeça. — Você é conhecido em toda parte. A família do Duque de Blythe ! Seria como pedir ao próprio regente para se passar por Beecham.
— Então finalmente pegaríamos o dinheiro? — Não Jeremy. Você sabe que não posso. Alguém poderia ouvir sobre isso, e eu trocaria uma forma de chamar a atenção por outra. É melhor encontrar George. Eu expliquei tudo na carta. Acredito que ele esteja indo para o oeste com seus ciganos. — Então irei para o oeste também minha querida. Especialmente agora que Richard está tentando fechar as portas para mim. Embora eu odeie deixar essa promissora situação. — Promissora? A voz de Hallie se elevou. O que você quer dizer? — Porque eu acredito que o Honrado Marksley está com ciúmes. — Diante de seu lento e sugestivo sorriso, o rosto de Hallie se aqueceu. — Harriet, — Millicent chamou da porta e Hallie escapou agradecida.
Capítulo 5 Richard tomou lentamente um gole de chá e ficou olhando para a chuva lá fora. O tempo bom havia terminado na última noite. O caminho estava encharcado e a estrada devia estar pior. Como ele antecipou a visita à igreja naquela manhã, ele achou que uma difícil viagem se mostraria conveniente. Seria seu primeiro comparecimento ao serviço religioso em meses, e tudo para a publicação dos proclamas. Jeremy tinha partido mais cedo, antes mesmo de Richard fazer seu desjejum, o que era normalmente bem cedo. Ele tinha ficado surpreso, que Jeremy, com seu habitual bom humor, não tinha encontrado um jeito de provocá-lo a respeito do incidente de ontem, ignorando sua exibição de temperamento. Tinha sido imprudente censurar os dois apesar das aparências. Ele percebeu que confiou sem pensar na capacidade de Jeremy de aguentar um abuso. Certamente se confrontado com semelhante melindre em outra pessoa, ele teria encontrado razão para partir. Ainda que Jeremy nunca o tivesse levado a sério antes, o que lhe causava uma irritação interminável. Por que ele faria isso agora e antes do desjejum? — Que o diabo os leve, — Richard murmurou olhando melancolicamente para as paredes de sua sala de jantar. Ele não tinha feito um exame do estoque de seus ambientes por algum tempo, e agora pensava se, como um solteiro, seria esperado que ele entretivesse sua noiva e sua família aqui em Archers. Mas essa perspectiva não era bem vinda, sua tia estava convencida que seria mais adequado preparar o cenário para os próximos poucos atos. Aparte de sua governanta dar especial atenção às cortinas, ele não alteraria nada. Se Harriet Ashton desejava atrair muita atenção, ela simplesmente teria que esperar por Reggie. Não que ela almejasse tais ninharias, mas alguém nunca pode estar certo sobre as mulheres. Seus consideráveis requisitos já o tinham confundido antes. Anos atrás ele tinha acreditado que dividia os mesmos interesses com Caroline Chalmers. Ela tinha ficado intrigada com a sua indiferença em relação à grande quantidade de mulheres que o perseguiam, incluindo no começo a própria Caroline Chalmers. Ela havia alegado estar aliviada por ele preferir manter distância e uma conversa racional. Com Caroline ele esteve
enormemente equivocado. Certamente Harriet Ashton tem seus próprios indecifráveis caprichos. Ainda assim havia alguma coisa com a garota, algo naquele olhar límpido que sugeria humor e reflexão. Ela era instruída, se abstinha de comentários insensatos, sua voz era baixa e agradável. Ela citou o Papa. Ela era inquestionavelmente inteligente. Ele admitia isso de mau humor enquanto colocava a xícara e o pires sobre a mesa ruidosamente. Apesar desses sinais de sanidade, ela abanou o chapéu para Reggie. A carruagem estava pronta e esperando. Richard encapotou a si mesmo para satisfação de Gibbs e levou os dois guarda-chuvas oferecidos, ele assumiu que a senhorita Ashton e a senhorita Binkin implorariam por uma carona para casa. Ele sabia que sua intenção não era fazer tal coisa, mas a senhorita Binkin bem que poderia. Após os proclamas terem sido anunciados, mesmo depois dessa irritante declaração pública seria esperado que eles continuassem a se encontrar. A igreja do vilarejo, uma caprichosa construção em pedra de uma disputa histórica e considerável charme, ficou para trás na estrada. Conforme Richard andava abaixo do caminho de pedras, sob os antigos carvalhos que a garoa renovava. Infelizmente a chuva não conseguia evitar a curiosidade dos muitos vizinhos, inquilinos e comerciantes que ele tinha conhecido por quase duas décadas. Impingindo sua decepção a eles, Richard sentia como se tivesse cometido um crime. A igreja estava cheia. Richard notou isso, consciente de que talvez o Conde de Penham deveria construir um anexo. Ele se sentou no banco do corredor no fundo. Então seu olhar encontrou Harriet Ashton. Ele tinha estado irritado com ela, até mesmo zangado, tal irritação não era o que ele sentiu ao encontrar seu olhar ansioso. Ao tomar seu lugar ele ponderava sua reação, tentando identificar a rara sensação. Quando a resposta lhe surgiu foi uma surpresa. Ele desejava proteger Hallie Ashton. Com esse pensamento ele procurou olhar para qualquer lugar menos para ela. Isso era levar as responsabilidades familiares um pouco longe demais, e ainda por cima agora se sentia protetor. Através dos séculos muitos tiveram que casar para pagar dívidas, preservar algo muito antigo, nome respeitável, para aumentar propriedades ou produzir um herdeiro. Esse modo de ver era forte nele e que muito se renderia a contemplar a outro cumprir isso. Certamente o conde de Penham havia feito nada para merecer tal sacrifício.
Reggie nunca se preocupou com nada disso. O herdeiro aparentemente zombaria dessa ultrapassada noção de honra. Reggie achava que as virtudes eram para os outros, mas os vícios... esses valiam a pena serem buscados. O que faria ele com esse desconcertante desejo de proteger a encantadora senhorita Ashton? Richard captou seu olhar impedido pelo simples chapéu de palha. Ele estava quase se convencendo de que ela era mais uma vítima das transgressões de Reggie. Afinal de contas, Reggie tinha usado outros antes. A senhorita Ashton poderia não ter previsto o perigo. Ao soar a voz do vigário, Richard olhou para frente, para a parte reservada ao conde onde estava sentada sua tia. Ficava em frente e ela estava sozinha, deslocada como um pássaro flamboyant tropical, um que estivesse inexplicavelmente entre papagaios. Ela tinha exibido nenhuma moderação na escolha de seu vestido. Seu brilhante turbante amarelo deveria bloquear a visão daqueles que estavam três fileiras atrás dela. O mistério estava em por que ela tinha se dado ao trabalho de vir. Richard sufocou um suspiro. Era infeliz essa afirmação pública de uma mentira. Mas uma licença especial teria sido pior; ele e a senhorita Ashton não retinham o luxo do tempo. Ao perceber os olhares curiosos dos intrometidos de Denhurst, Richard rapidamente olhou para longe. Ele encarou a pequena janela da igreja que reproduzia João Batista no deserto. Richard se focou simpaticamente no inocente carneiro aos pés de João. Quando o vigário obrigatoriamente leu os proclamas, a atenção de Richard retornou imediata e dolorosamente para os procedimentos. O baixo murmúrio da congregação o envolveu, aprisionando-o. Se o serviço não estivesse tão próximo do fim ele se desculparia, por falta de ar. Ele relanceou o olhar para Hallie Ashton. Sua aparência era pálida mas composta. Se ela podia se apresentar assim, ele sabia que não a envergonharia. — Meu caro rapaz, — O magistrado Lawes estava sobre ele finalmente, batendo em suas costas enquanto se levantava do banco. — Estas são ótimas notícias. Você precisa trazer Mis Ashton e sua família para um jantar. Uma comemoração. Talvez terça-feira? — Terça? Eu lamento dizer senhor.. — Terça estará muito bem Magistrado, — Geneve aceitou rapidamente. Seu olhar alertando Richard. — Eu sei que a senhorita Ashton e o tio dela ficarão encantados. Nós poderemos ir juntos. Sua esposa é sempre uma incomparável
anfitriã. O magistrado sorriu. —Você é muito gentil Lady Penham. Será uma honra, tenha certeza. Podemos dizer seis? Augusta prefere o horário do campo. Richard curvou-se e agradeceu, então ofereceu o braço a sua tia. — Certamente não será necessário aceitar todo convite madame, — ele protestou em voz baixa. — Ou você sente necessidade de gratificar a curiosidade da população? — Você precisa começar em alguma hora Richard. Você afinal de contas estará casando com a garota. — Ah! Nós divergimos disso. Acredito que o meu comprometimento está em fingir casar com a garota. Geneve ajeitou um sorriso e um balançar de cabeça em concordância, mas Richard podia ver que o sorriso era forçado. — Três semanas a partir de hoje Richard, você terá de abandonar todos os pensamentos sobre fingimento. — Ao contrário. Três semanas a partir de hoje, um de meus mensageiros terá tido sucesso em localizá-lo e arrastá-lo para casa pelas orelhas, seu filho terá de abandonar todo fingimento. E sua grande pretensão de liberdade. Geneve arrepiou-se. — Está falando sério? — Realmente. — Não acredito nisso vindo de você. Como pode ser tão ingrato? E eu tenho a sua promessa. — Marksley, — Alfred Ashton deu um jeito de ficar ao lado deles ao saírem da igreja. — Nós podemos não ter começado bem, mas desejo apertarlhe as mãos para desejar um ótimo futuro. Como os olhos azuis de Geneve ainda se mostravam indignados, Richard apertou as mãos de Ashton. O tio de Hallie estaria mesmo muito feliz quando laçasse um visconde. — E a senhorita Harriet? — Richard perguntou, consciente de que sua noiva não os tinha seguido para fora na névoa. — Recebendo muitas felicitações. Ah! Mas aqui está ela. Bem deixem-nos ver os dois juntos. Richard pensou que o casaquinho cinza dela era apropriado para a ocasião. Contra o cinza das pedras das paredes da igreja, sob o céu cinza, com seus próprios olhos cinza olhando-o com seu jeito desconcertante, ele pensou que teria escolhido pintá-la exatamente assim. O brilho de suas bochechas e cabelo e o brilho de seus olhos que vinha de dentro, tornavam-na muito fresca
nesse aborrecido cenário. Ele se moveu para ficar perto dela e ficou instantaneamente consciente da sensação de tocarem-se, embora tivesse alguma distancia entre eles. Ele clareou a garganta. — O que você achou do serviço? — Ele perguntou. — Eu confesso que prestei pouca atenção ao serviço. — E o que poderia tê-la distraído? Como ela olhou atentamente para ele, Richard soube que ela tinha estado pensando nele. Com esse reconhecimento eles ficaram silenciosos por alguns segundos em uma não intencional comunhão. — Onde está Lord Jeremy? — Ela perguntou finalmente. Ele não pode explicar sua reação. Mas a questão lembrou-o de suas primeiras preocupações, e a suspeita de ter infelizmente despertado sentimentos parecidos com ciúmes. Com um baixo e inarticulado murmúrio ele desculpou a ausência de Jeremy, retornando ao silencio novamente, que dessa vez foi decididamente menos fácil. — Eu desejo... — Hallie Ashton começou como outros privilegiados à volta deles. — Bem, existe algo de muito derradeiro a respeito de um cemitério. Não há escapatória. — Ela apontou para uma pequena sepultura. — Thomas Gray: — Cada um em sua estreita cela para todo o sempre. Ele se virou para ela, involuntariamente indeciso pelo poder que ela aparentemente tinha de encantá-lo sem esforço. Mas agora o vigário estava com eles e Richard se recobrou. — Eu temo que, — ele disse olhando diretamente para a Condessa, — até que a morte nos separe está incluído no roteiro. — Você sempre teve predileção pelas piadas, não é Senhor Marksley? —O vigário observou secamente. — Talvez se víssemos o senhor mais vezes aqui.. — O qual me lembra senhor Mayhew, — Richard disse rapidamente, — tenho impressão de que o Conde está considerando sua necessidade de aumentar a igreja. Talvez você devesse ir me ver em breve sobre um provável recurso. O vigário, aturdido e animado, balbuciou um obrigado enquanto Geneve puxava Richard para o lado. — Cyril nunca mencionou tal coisa, — ela sibilou. — A senhora está correta madame. A data ele não estipulou. Mas eu tenho todas as confidências que ele fez. É preciso e apropriado. Eu teria notado antes.
— Isto é... extorsão Richard. — Geneve bateu o pé no chão. — Não madame. Isto é generosidade. Mas você não deveria estar surpresa de que eu seja capaz de montar um esquema por mim mesmo. — Satisfeito por ter conseguido uma pequena vitória, ele a deixou abruptamente e voltou até os Ashtons. O vigário Mayhew, sua esposa e seu sobrinho tinham sido convidados para o jantar oferecido pelo magistrado Lawes. Richard temia que essa reunião noturna se tornasse longa. Ele observou Harriet conversando e admitiu ter grande curiosidade. Ela não era um calmo rato do campo. Ela era educada, sim, e a sagacidade que ele tinha percebido nela não era acidental. Ele imaginava se a variedade de pessoas poderia derrubar a sua guarda, e levá-la a revelar mais de si mesma. No fim a noite da festa não foi tão longa. Assim que eles tomaram assento para a refeição, Augusta Lawes e seu marido se sentaram nas duas cabeceiras da mesa, Richard Marksley sentou-se à direita de Augusta, Hallie à direita do magistrado. Eles estavam tão distantes quanto possível. Entre eles estavam o tio de Hallie, a jovem Phoebe Lawes, o vigário Mayhew e sua esposa Eleanor e a sempre presente senhorita Binkin, e o sobrinho do vigário, Archibald Cavendish. A Condessa de Penham não compareceu. Tendo forçado o convite, ela descobriu, tipicamente, que as necessidades de seu marido doente a obrigavam a enviar suas sinceras desculpas. — Agora, senhorita Ashton, você deve nos contar tudo a seu respeito. — Augusta Lawes sorriu da outra extremidade da mesa. — Você teve uma temporada? Hallie estava consciente do interesse que os outros convidados mostravam sobre a sua resposta. Phoebe Lawes olhava como se estivesse se divertindo com a pergunta, estando certa da resposta de Hallie. — Não senhora, eu não tive esse prazer. Eu somente visitei Londres por curtos períodos, e nunca durante a temporada. — Mas você deve ter tido oportunidade de fazer compras, ir ao teatro e coisas assim. Phoebe não vê a hora de passar a próxima primavera lá com minha irmã. Phoebe, parecendo imensamente satisfeita consigo mesma, lançou um olhar de superioridade para Hallie. — Londres deve ser mortalmente maçante quando ninguém está lá, — ela bufou. — A cidade está se tornando uma metrópole senhorita Lawes. — Hallie disse, — Com uma próspera população permanente. — Ela pensou ter ouvido
Richard Marksley abafar uma risada. — Eu quis dizer sociedade senhorita Ashton. As melhores pessoas. — Eles não são tão fáceis de se encontrar senhorita Lawes. Num lugar tão grande e movimentado. O olhar de Phoebe mostrava que não se importava com o que fora dito, ela continuava se fazendo de desentendida. Ela, é claro, planejava se misturar somente com os círculos de primeira. — E quando foi a última vez que visitou Londres senhorita Ashton? O magistrado Lawes perguntou. — Há quase dois anos senhor. Para resolver alguns assuntos de meu primo Tolliver. — O tio dela não iria ajudá-la nisso, embora ele estivesse se sentindo suficientemente miserável. Ela desejava desesperadamente mudar de assunto. — Esperamos dar as boas vindas a ele aqui em Denhurst. Sem dúvida ele virá para o casamento, não? — O primo da senhorita Ashton, Tolliver, filho do senhor Ashton, foi fatalmente ferido na batalha de NIvelle River. — Richard Marksley deu a informação desapaixonadamente enquanto Hallie se sentia aliviada.. — Tolliver Ashton era oficial do Light Horse, meu antigo regimento. — Foi assim que vocês se encontraram? Phoebe perguntou com muito interesse. — Foi Tolliver Ashton que os apresentou? — Não senhorita Lawes, — ele disse. — Oh, eu imaginei, — Phoebe continuou delicadamente, — Porque Caroline Chalmers estava casada há um ano então, sim? — Phoebe, — o magistrado Lawes advertiu. — Você não vai perturbar nossos convidados com esses mexericos. Phoebe se recostou, mas o obstinado olhar que deu a Hallie dizia que ela iria persistir. Hallie achou a garota imensamente tola, se Phoebe não fosse cuidadosa ela poderia provocar seu adorado Marksley. Hallie podia ler o desprazer em seu rosto. Mas Caroline Chalmers. Quem na Terrra era Caroline Chalmers? — Ah, a incomparável Caroline Chalmers, — Archie Cavendish convenientemente comentou. — Agora a marquesa de WrethingwellDrummond. ‘Ela anda em beleza como a noite.’ Os escritos de Byron são cochichados em mais de uma estrofe para ela. ‘Uma adorável flor na terra nunca semeada’. Realmente! Richard Marksley olhou para Cavendish com o que Hallie pode somente pensar ser cansada tolerância. Ela não acreditava que fosse totalmente devido
ao selvagem tributo feito pelo jovem. — Você precisa ter cuidado Archibald, — o vigário advertiu, — Para permitir deficiências em nossa festa. Nem todos absorvem rapidamente de uma referencia a outra. — Eu peço desculpas senhoras e senhores, — Archibald disse. — É verdade que minhas paixões levam-me a galopar onde um ritmo lento seria o certo. — Ele escovou um vacilante cacho de cabelo louro de sua sem dúvida testa febril e olhou intensamente para Hallie. — Você parece ter uma alma sensível senhorita Ashton. Hallie tentou dar um fraco sorriso. — Eu a imagino como poeta, — ele persistiu. — Eu... sim eu sou. — Quais são suas visões poéticas senhorita Ashton? Você coloca todos os seus pensamentos na cabeça, como fazia Descartes, ou em companhia como fazem a maioria das jovens senhoras — e ele encarou Phoebe Lawes, — no coração. Hallie sentiu que Richard Marksley prestava muita atenção. — Eu acredito que os dois são inseparáveis senhor Cavendish,. Certamente eu creio que nós amamos, ou odiamos tanto com a mente como com o coração. — Você está na companhia dos mais finos intelectos ao dizer isso senhorita Ashton! Ela estava menos preocupada com o ardor de Archie que com o silencio de Richard Marksley. Ela encontrou o seu olhar, pretendendo fazê-lo brevemente, mas tendo sua atenção fixada. — Presumivelmente, — ele disse, — você nunca acreditaria em amor à primeira vista minha cara. O queixo de Hallie levantou. — Eu não. — Ela estava consciente de todos os olhos sobre ela. E sentiu um calor desconfortável. — Embora possa haver certa suscetibilidade, uma inclinação. Um pode desejar amar por motivos da mente e seu coração então aprova o primeiro candidato aceitável. O magistrado Lawes riu. — Você deve ter se inclinado para Richard aqui então senhorita Ashton. — Ele riu novamente. — E ele para você, é claro. Mas Richard Marksley estava com o olhar sombrio. Ele tinha de estar relembrando o encontro dela com Reginald. Ele devia estar impressionado com a discrepância entre sua crença e seu comportamento nesse instante. — Quais as razões que alguém pode ter para desejar se apaixonar senhorita
Ashton? — Archie Cavendish perguntou. — Os poetas nomeiam isso como tortura da alma. — Eu acredito que a senhorita Ashton está confundindo amor com casamento Cavendish, — Marksley observou secamente. — Afinal de contas não é preciso estar apaixonada para se ter filhos. Hallie corou enquanto o vigário raspava a garganta. —Você está certo senhor Marksley de que era isso que o senhor queria dizer? — Peço perdão vigário. Diferente do senhor Cavendish, eu não sou um poeta. — Mesmo assim, — Squire Lawes propôs com um sorriso, — eu sugiro mantermos essa discussão fora desta mesa. Nós estamos aqui para celebrar um noivado afinal de contas. — Ele levantou seu copo para Hallie e depois virouo para o tio dela. A discussão durante o jantar se restringiu a moda, clima e política. Se não fosse por Phoebe Lawes se inclinando em direção ao seu braço e a implacável atenção da senhorita Binkin, Richard poderia ter se sentido relaxado. A senhora Lawes era uma mulher franca com senso comum e bom humor. Ela gostava de seus cavalos, cães e galinhas. Ela falou afetuosamente de Phoebe e se seus jovens filhos ausentes, — os gêmeos. — Augusta Lawes era também uma anfitriã competente capaz de levar uma conversação enquanto fiscalizava o progresso da refeição. Ela tinha percebido o quão frequente era o olhar dele desviado para Harriet Ashton. — Ela será uma noiva adorável Richard, — ela disse agora, batendo na mão dele. — Nós estamos contentes que você tenha se decidido. É muito bom ter finalmente um membro da família Marksley com planos aqui em Denhurst. Esta referencia oblíqua ao pouco interesse de seu primo por Denhurst e seus inquilinos não foi surpresa para Richard. As preferências de Reggie sempre foram muito claras para o bom povo da cidade por muitos anos. — Você é muito generosa senhora. Eu tenho muitas razões para ficar. Você deve se lembrar que Denhurst é meu lar. — Mas Londres também é Richard. Você tem sido justo, e isso é algo que todos nós percebemos. O vigário e Phoebe Lawes apoiavam o comentário, enquanto a senhorita Binkin apenas continuava olhando. A mulher era estranha. Durante um temporário intervalo na conversa, Augusta sorriu para Hallie. — Você parece ser uma dama muito inteligente senhorita Ashton. Eu me
pergunto, a senhorita é também literata como Richard? — Eu mantenho um caderno senhora, — ela disse olhando-o rapidamente. Ele se perguntava por que ela admitiria tão pouco com tanta relutância. A timidez dela e sua súbita modéstia, irritaram-no. Ele sabia que ela sustentaria qualquer discussão. Mas Phoebe interpretou a fina linha dos lábios dele como desaprovação. — Uma pessoa tem de ser cuidadosa para não se tornar chocante senhorita Ashton. Existe sempre o perigo de se tornar uma assustadora sabichona. — Antes que seus contrariados pais pudessem repreendê-la ela virou-se para Richard. — Você deve receber uma infindável quantidade de publicações na sua revista vindas desses ocupados amadores, feias solteironas, sem dúvida, que querem que leiamos todas as suas aborrecidas palavras. Mas você nunca se importaria com tais insignificâncias, não é Richard? — Senhorita Lawes, eu não sou tão especial. Há certas insignificâncias, como você as chamou, que tem atraído homens e mulheres através dos séculos. Certamente se o The Tantalus recebesse artigos de alta qualidade de senhoras, eu gostaria de pensar que seríamos de fato fortes. Seria uma honra publicar algo como Anna Seward[3] ou Joanna Baillie[4] Até hoje recebemos pouco. — E não receberá senhor, — Alfred Ashton afirmou. — Mulheres não conseguem aperfeiçoar sua linguagem. Elas nem tem mentes lógicas necessárias para um argumento racional. Existem limites naturais que não se pode negar. Mesmo uma garota que lê tão bem como minha sobrinha seria a primeira a concordar com isso. Harriet Ashton não olhou enquanto concordava com tudo. Se olhos pudessem se amotinar, Richard acreditava que os dela estavam amotinados. — Eu não desejaria negar a possibilidade senhor Ashton, — ele disse. — Eu acho que toda idade tem sua arrogância. Olhar além de nosso próprio tempo requer um extraordinário salto. Eu posso escrever hoje o que acredito será atraente por séculos. Mas eu não posso saber realmente. Da mesma forma eu suspeito que somos frequentemente indiferentes, mesmo teimosamente cegos para as maravilhas ao nosso redor. Moda, por definição, é inconstante e de vida curta. — Oh sim, — Phoebe Lawes suspirou e bateu os cílios para ele. Archie Cavendish estava excitado. — Está admitindo senhor que algo que hoje é ignorado e ridicularizado pode em centenas de anos ser considerado ‘grandioso’? Richard tentou não sorrir.
— É possível senhor Cavendish. Apesar de que poucos parecem durar mais que uma geração se não causaram impressão na sua própria. Mas sempre há exceções. — Desta vez ele sorriu. — Eu lhe disse que não sou poeta suficiente para ser um crítico. Todos nós temos nossos gostos e desgostos, encontramos assuntos ou frases que dizem algo para nós ou para nossa experiência onde para outros podem dizer coisa nenhuma. Eu imagino que todos nesta mesa tem diferentes preferencias com o que é memorável, o que é bonito, maravilhoso ou simplesmente... verdadeiro. — Vamos ver então? — Archie instigou. — O que as pessoas escolhem. — Oh Archie querido, — a senhora Mayhew disse, — Não é hora nem lugar para jogos. Nossos anfitriões... — Sem problema Eleanor, — Augusta Lawes exclamou. — As garotas acabaram de retirar o pudim. Se os cavalheiros estiverem dispostos a renunciar a seus charutos e como temos um pouco de porto aqui na mesa, eu estaria encantada em nos entretermos com o experimento de Archie. — Obrigado senhora. — Aumentando o pálido azul dos olhos por usar afetadamente um pequeno binóculo, Archie inspecionou a mesa. — Eu acho que deveríamos começar pelas senhoras. Talvez a senhorita Binkin? Todos os olhares se voltaram para Millicent Binkin enquanto ela se virava para Archie, uma carranca tornando seu rosto feroz. — O que devo fazer então? — Ela perguntou. — Cite alguma coisa que goste. Uma pequena parte de uma poesia. Alguma coisa de que você sempre se lembra. — Jovem, eu não confundo minha mente com rimas e outras tolices. É uma distração de coisas mais importantes. Enquanto a cara de Archie caía, Richard tomou um gole de porto. Ele tinha lidado com muitos Binkins deste mundo. Hoje em dia ele raramente se preocupava em persuadí-los. — Talvez, — a senhora Mayhew se aventurou, — Você se lembre de algo de seus dias de escola senhorita Binkin. Algo que memorizou de suas aulas. A senhorita Binkin franziu as sobrancelhas para a esposa do vigário. Então seu semblante clareou. — Eu me lembro de algo útil. Uma regra — . E ela citou: Trinta dias tem Novembro Abril, Junho e setembro Fevereiro tem vinte e oito sozinho E todo os outros tem trinta e um. Phoebe Lawes tossiu dramaticamente, atraindo olhares furiosos de seus
pais. O resto das pessoas permaneceu mudo. — Muito prático senhorita Binkin, — o magistrado Lawes disse finalmente, enviando outro olhar de advertência para sua filha. — E você se lembrou disso depois de todo esse tempo? — Archie Cavendish perguntou, ainda ferido por sua recusa anterior. Millicent Binkin olhou para ele. — Não foi tanto tempo assim senhor Cavendish, — ela rebateu. — E isto não é um jogo aonde só o senhor possa jogar. —Michael, o que você tem para nós? Augusta Lawes perguntou, virando-se rapidamente para o vigário à sua esquerda. — Bem eu tenho uma predileção por Cowper[5], — ele disse com um sorriso tímido. Limpando a garganta ele recitou em alto e bom som: Deus se move por caminhos misteriosos, Para executar suas maravilhas; Ele coloca suas pegadas no mar, E passeia em cima da tempestade. — Esplêndido! — O tio de Hallie exclamou, imediatamente gratificando o gentil vigário. — Eu sempre gostei disto. Nunca soube que era de Cowper. Pensei que fosse da Bíblia. — Como o vigário estremeceu, Augusta Lawes sabiamente seguiu em frente. — Agora eu quero pedir a vez, sendo a anfitriã deveria ceder minha vez a outro. Mas como vemos, a volta na mesa está nesta direção afinal de contas. Eu declaro que o próximo é meu favorito. Embora vocês possam me achar tola por não lembrar de todas as palavras. — Ela pressionou sua gorda mão sobre o peito: Há um jardim em seu rosto Onde rosas e lírios brancos florescem Seu ar arrebatado falava por si só. Richard pensava que ela precisava somente de mais um momento para continuar. Mas Archie Cavendish não tinha vontade de esperar. — Um paraiso celestial nesse lugar, e assim por diante, — Ele terminou rudemente. — Sim, sim, Campion[6] tinha um certo estilo, mas agora, você não sabe que esse negócio da beleza do fruto maduro não é tudo? Augusta Lawes deu um olhar arrasado para Richard. — Oh caro Richard, é verdade isso? Eu sempre pensei que fosse tão adorável. — É inquestionavelmente adorável senhora, — Richard garantiu a ela. Ele pretendia dirigir sua atenção para Archie Cavendish, mas seu olhar buscou sua noiva. Como ele interpretou aquela expressão em seus olhos? Ela não tinha motivo para aparentar estar tão magoada como Augusta Lawes, nem ultrajada
como ele próprio, ainda assim ela aparentou ambos. — Talvez senhor Cavendish, — ele disse ao ofensor, — você poderia apresentar um exemplo para nós e depois continuar? Nós não queremos abusar da sua paciência por mais tempo. O jovem tolo sorriu. — É claro. Ficarei encantado. Senhoras e senhores, minha própria seleção. — Ele respirou fundo, prendeu o ar como se preparando para mergulhar, então lançou: A pálida face de uma criança na morte Sussurros ainda de inocência Igual à neve caída Perdido no aprendizado do crescimento! Oh, poderosa implacável morte! Nos rouba com tão impressionante habilidade! Do amor e da vida assassinar Com presença inegável! Enquanto Archie olhava o grupo triunfalmente, alguns convidados olhavam para baixo desconfortavelmente. Outros se viraram para Richard, passando a ele um fardo que ele não poderia assumir. Os dentes dele estavam tão apertados que dificultava a fala. — Eu nunca me deparei com algo assim antes senhor Cavendish. — É de minha autoria senhor. — Ele vangloriou-se. — Ainda não publicado. Richard pensou se o desorientado filhote esperava que ele se oferecesse para tal. Ele não pode evitar sua carranca ou seu silencio. — É melhor... continuar Archie, — Augusta Lawes disse finalmente, com maior cortesia que Cavendish mostrou a ela. — Eu acho que é terrível, — Phoebe disse sem rodeios, com o nariz empinado. — Uma criança fria morta! Que horror! — É para ser horrível, — Archie protestou. — Bem, eu acho que você é horrível por escrever isso. — Você não conhece a poesia grandiosa! Porque você acabou de sair da escola! — Crianças —, o magistrado Lawes disse calmamente, — Esta disputa afeta a digestão. Talvez fosse melhor parar... — Oh não papa! — Phoebe gritou. — É a minha vez! E eu sei uma bela poesia. — Ela desafiadoramente balançou seus cachos enquanto se agitava em sua cadeira e se inclinava para Richard. — Venha viver comigo e seja meu amor, — ela começou, com velocidade e determinação que chocavam, E nós experimentaremos todos os prazeres Que colinas e vales,
depressões e campos Florestas ou montanhas sonolentas produzem. — Essas montanhas sonolentas, — Archie corrigiu-a em voz alta. Mas Phoebe não lhe deu atenção. Como a garota o encarava, Richard olhou para outro lado. A atrevida interpretação de Phoebe roubou as linhas de qualquer sutileza, até mesmo a fraca sugestão de um convite. Ele nunca imaginou que Marlowe[7] pudesse lhe ser tão repelente. — Adorável minha querida, — Augusta Lawes disse. — Richard, o que você tem para nós? — Ela pretendia ser gentil. Mas nesse momento Richard queria era que o torturante jogo terminasse. E ele culpou Hallie Ashton por seu desconforto, pois era a culpada por ele estar ali. Ele olhou acusadoramente para ela. — Casamento apressado, nós poderemos nos arrepender — As bochechas dela coraram. Ela estava embaraçada? Bom. A noite toda foi um embaraço. — Por Deus Richard, você não pode dizer isso, — Augusta Lawes riu. — Mas você é um espertalhão, não é? Você burlou de nós agora. Você precisa nos dar algo diferente. Aqui está a senhorita Ashton esperando para ouvir algo mais romântico. Romantico? Certamente não, com aqueles pálidos punhos apertados. A senhorita Ashton parecia preferir alguma coisa marcial. Somente a ansiosa Phoebe, que estava novamente pressionando seu braço contra ele, queria algo romântico. Ele estava com o humor de desagradá-la. — Se você for levado para estranhas paisagens, — ele começou lentamente, satisfeito com o olhar de reconhecimento de Hallie AshtonCoisas invisíveis para se ver Cavalgar dez mil dias e noites Até a idade de cabelos brancos como a neve em ti Tu, quando tu retornares, me contarás Todas as maravilhas que aconteceram contigo E jure Em nenhum lugar Vive uma mulher Verdadeira e leal. Ele leu o silencio, furiosa mensagem de sua intenção. Phoebe Lawes se aproximou para sussurrar, — Caroline Chalmers realmente quebrou seu coração, não foi Richard? Seu olhar intimidador finalmente mandou a intrometida de volta a seu assento. — Eu protesto Richard, estes sentimentos não tem nada a ver, — Augusta Lawes deu-lhe um tapinha no braço. — Nada a ver com um cavalheiro comprometido. Você é muito severo, e eu temo que nunca o perdoarei, — mas
seu sorriso desmentia a ameaça. — Agora senhor Ashton, talvez tenha algumas palavras para nós? O tio de Harriet murmurou alguma coisa mais como um ‘harrumf’ Richard esperava que o bode velho se recusasse a participar, mas Ashton surpreendeuo dizendo com voz vigorosa: Vive lá o homem com alma morta Que nunca disse a si mesmo, Isto é meu, minha terra nativa! Ele recebeu aplausos da mesa e um pequeno sorriso de Hallie. Richard estava satisfeito em saber que Alfred Ashton podia sentir afeição por seu país, se não por sua sobrinha. — Muito bem senhor, — seu anfitrião reconheceu. — E agora talvez Eleanor? A senhora Mayhew recusou. — Eu não posso esperar contribuir com algo tão importante como o resto de vocês, — ela disse. — Minha cara Eleanor, — Augusta Lawes advertiu. — Isto não é uma competição. Você simplesmente precisa dizer algo, que eu saiba você tem uma memória para algumas coisas melhor que a minha. A senhora Mayhew sorriu docemente. — Está bem então, isto é do senhor Coleridge[8] e eu acho que é muito especial: Em Xanadu fez Kubla Kahn Uma majestosa cúpula do prazer decretou: Onde Alph, o sagrado rio corre Através de cavernas imensuráveis ao homem Desce para o mar sem sol... Ela parou e modestamente cobriu os lábios com uma das mãos. — Oh, senhora Mayhew, — Phoebe disse entusiasmada. — Isso foi tão bonito. Você não acha também Richard? — Eu acho, — Richard disse com um sorriso. — E o senhor Coleridge sem dúvida a agradece por dizer isso. — É muito fantástico para o meu gosto, — Archie Cavendish reclamou irreverente. — Todos sabem que Coleridge não é muito certo da cabeça. Muito ópio, é o que dizem. Richard olhou para ele com tal severidade que o pretencioso papagaio ficou de boca aberta. — Talvez devêssemos encaminhar isto para um final então , concordam? — O magistrado Lawes ofereceu rapidamente. — Somente falta ouvir a senhorita Ashton, guardando o melhor para o final, — ele sorriu. — Você tem observado todos nós muito calada. Eu entendo que todas as jovens são fascinadas por
Lorde Byron[9]. Talvez pudesse recordar alguns de seus versos? — Eu admiro muito Lorde Byron senhor, — Hallie disse, — mas se o senhor não fizer objeção, eu gostaria de responder ao poema declamado pelo senhor Marksley. — Responder? — Squire olhou divertido. — Isso daria bem pouco trabalho. Certamente não tenho idéia de como isso seria, minha cara. Richard observou o rosto de Hallie Ashton, cuidadoso com sua tensão expectante. Que diabo a garota pretendia? O olhar dela estava fixo. Ele se surpreendeu por estar gostando da sensação de prender o interesse dela apesar de desafiante. — Apesar do amor verdadeiro, — ela começou suavemente, ...é um fogo que permanece Na mente sempre queimando; Nunca doente, nunca velho, nunca morto, De si mesmo nunca virando. Ela não poderia ter sido mais direta, uma ideia de amor que mostrava sua própria escolha cínica. Mas Richard ainda pensava o que ela quisera dizer com aquilo. Estava ela apaixonada por Reggie afinal de contas? Ele levantou o seu copo para ela. — Eu a congratulo minha cara. — Ele disse. — Nós seremos uma família de Elizabetanos[10]. — Isso não era o que ele queria dizer a ela. Ele queria dizer que ela era muito inteligente. Ele pensava que ela era muito astuta para o inútil do seu primo compreender. — Eu admiro essa grandeza senhorita Ashton, — Archie Cavendish anunciou. — Sobre outra peregrinação, mas ao contrário do dom do senhor Marksley, com a confiança no amor tão perto. E se a cabeça e o coração são um. ‘Verdadeiro amor é um fogo que permanece, na mente sempre queimando,’ — ele repetiu. — Esplêndido! O apatetado jovem estava praticamente babando nas mangas dela. Apesar do fato de que Richard na realidade concordava com Cavendish, como ele soava tão pomposo ele teve de reprimir o desejo de agarrá-lo pela gravata e segurá-lo fortemente. — Oh Papa, — Phoebe implorou, aparentemente ressentida com a atenção dada a Hellie Ashton. — Nós não terminaremos até que você tenha dito algo. O resto de nós disse. — Está certo então criança. Mas guarde isso, você vai se arrepender por ter me pedido. Vejamos, eu sabia o que pretendia dizer. Somente um pedacinho posso recitar aqui agora, e prestem atenção em como ficarão coradas as suas
mães... De todas as garotas espertas Não há nenhuma como a bela Sally Ela é a querida do meu coração E ele vive na nossa viela. Uma grande risada se espalhou pelo grupo. Richard agradeceu a seu anfitrião e à senhora Lawes, desejou que os Mayhews dessem um educado boa noite para a irreprimível Phoebe, e conseguissem evitar as tentativas de Archie Cavendish de envolve-lo mais a diante. Ele viu com certa satisfação como os Mayhews arrastavam Archie, que ia protestando, para longe da carruagem dele. Enquanto Richard ajudava a senhorita Binkin a se colocar no assento ao lado de sua prima na carruagem de Penham, ele notou que Hallie Ashton manteve seu olhar afastado dele. Ele tinha decidido que ela estava definitivamente enganando-o sobre seus verdadeiros sentimentos em relação a Reginald ou no mínino, sobre seu conhecimento de poesia. Relembrando a pequena discussão que tiveram enquanto dirigia no sábado, ele suspeitava que ela tinha algum medo irracional de ser nomeada, como Phoebe Lawes colocou, uma sabichona. — Acredito que você me prometeu outro passeio amanhã senhorita Ashton, — ele disse, sabendo que nada havia sido combinado. — Eu planejo estar em Penham às três... se ainda é de seu agrado? Um fugaz pânico atravessou suas feições. — Oh, mas eu... eu temo que não será possível. — Por que não? — A senhorita Binkin perguntou. Ela se virou para Richard. — A senhorita Ashton e eu ficaremos encantadas em acompanhá-lo senhor Marksley. — Obrigado senhorita Binkin, — ele disse, apesar de ter toda a intenção de deixar a prima de fora. — Até amanhã então. — E com um aceno de cabeça ele se despediu.
Capítulo 6 O rosto dela mostrava sua resignação a ter companhia. Ela não conseguia pensar em nenhuma razão para Richard Marksley querer sua companhia na tarde seguinte. — Muito bem senhorita Ashton, — ele disse, curvando-se num cumprimento. — E onde está a sua dedicada sombra, a senhorita Binkin? — — A senhorita Binkin foi convidada a tomar chá com a Condessa. Teremos um lacaio no lugar para nos acompanhar. — Verdade? — Marksley levantou uma sobrancelha. — Nós poderíamos somente tolerar nos render ao encanto da companhia da senhorita Binkin e suas exigências de grande autoridade. — Hallie suspeitava que ele tinha planejado o convite apressado da Condessa. Quando seus lábios mal seguravam um sorriso, ela teve a certeza. Para encorajá-la ela se lembrou de que ainda tinha a companhia do lacaio. — Eu... estou pronta agora senhor Marksley. — Ao seu dispor senhorita Ashton, — ele disse oferecendo o braço. — Vamos tomar um pouco de ar? A mão dela descansava sobre a manga do casaco dele com apenas uma leve pressão, ainda que seus dedos tremessem contra a macia sarja. O dia estava frio e cinza. Baixas nuvens destacavam as mudanças na folhagem ao longo do caminho. Uma brisa perseguia as folhas sobre o cascalho, levando os cavalos a sacudirem suas cabeças cautelosamente. — Deveríamos estar ao abrigo do tempo senhor, — o chefe dos lacaios avisou Marksley enquanto eles atravessavam o caminho em direção ao cabriolé. O jovem lacaio acalmou o assustadiço par de cavalos quando uma rajada de vento rodou em suas pernas. — Nós podemos Tom, — Marksley disse. Ele olhou para baixo para Hallie. — Você preferiria adiar esta saída senhorita Ashton? Tom tem um invejável capacidade em prever o tempo, embora sem dúvida teremos mais que um chuvisco dentro de uma hora. Hallie relanceou os olhos aos vivazes cavalos. Eles estavam ansiosos por se soltarem, por um pouco de ar e movimento, o que ela própria sentia. — Se você está disposto a dirigir senhor Marksley, — ela disse finalmente
encontrando seu olhar, — Eu gostaria de sair. Ela achou que seus olhos mostraram um breve lampejo de aprovação. Talvez ele tivesse esperado que ela se desculpasse. Qualquer outra garota bem nascida teria chorado sob as mesmas circunstancias. Não é certo para uma pessoa intencionalmente se colocar em risco, ou mais particularmente ao seu guarda roupa com os caprichos da natureza. Richard Marksley, para quem boas maneiras eram inatas, saberia isso. Ele a ajudou a subir até o assento. Assim que ela ajeitou a saia ele a seguiu e chamou o jovem lacaio para dirigir atrás. Então, com uma breve saudação de Tom, eles desceram o caminho num trote veloz. Hallie verificou seu chapéu para ter certeza de não perdê-lo para o vento. — Eu pensei em irmos até o rio esta tarde, — Marksley disse. — O magistrado Lawes acredita que as árvores ao longo da rota para o moinho estão particularmente bonitas este ano. — A atenção dele voltou-se para o rosto dela por um tempo mais longo do que ela achava confortável. Enquanto ela sentia as faces tingirem-se de vermelho, ela olhou para o outro lado. É claro que o lacaio estava dirigindo atrás. Que absurdo ela ter se esquecido. — Você apreciou o jantar dos Lawes na noite passada senhorita Hallie? — Sim — , ela disse, relutantemente olhando de volta para ele. — Eles foram agradáveis e corteses. O vigário e a senhora Mayhew foram muito educados. — O sobrinho deles foi muito generoso em suas atenções para com você minha cara. — Eu o achei não mais atencioso que o magistrado Lawes, que também estava sentado ao meu lado. Richard Marksley sorriu, mas foi para o balançar de cabeça dos cavalos. Hallie teve dificuldade em não olhar para ele. Ela forçou sua atenção para longe. — A tentativa do senhor Cavendish em animar as pessoas foi muito bem vinda, — Ela disse com mais convicção do que realmente sentia. — E a escolha dos versos dele? — Foi, sob as circunstâncias, bem aceitável. — Há! — Marksley incentivou os cavalos a uma grande velocidade. — Você não pode me convencer disso, Hallie Ashton. Você estava tão horrorizada com toda aquele sentimentalismo barato quanto eu. — Tinha... rima, — Ela disse , teimosamente procurando refúgio uma vez mais na falsidade. Ela sentia que poderia se sufocar. O mundo e Richard
Marksley pareciam estar furiosos com a poesia. — Oh sim, — ele concordou com raiva, dando a ela um olhar significativo, — rimou — . Enquanto administrava uma série de curvas no caminho, ele permaneceu em silencio. Mas ele ainda não estava a fim de abandonar a revisão do espetáculo acontecido nos Lawes. — A senhorita Lawes se tornou uma jovem dama bem animada. Lembrando os modos provocativos da garota, Hallie apertou as mãos enluvadas. — Sua representação de Marlowe foi certamente animada, — ela concordou. — Você se incomodou com isso? — E você não? — ela contradisse. — Eu aceitei senhorita Ashton, dentro do espírito em que foi dito. — Quando ele olhou para sua expressão empedernida ele acrescentou, — Phoebe Lawes é muito jovem. — Ela é apenas dois anos mais nova do que eu senhor Marksley. — Você é uma mulher. — Por um momento ele ficou em silencio, então sugeriu, — ela provavelmente estava em um estado de espírito sentimental, já que o jantar era para comemorar um compromisso. — Ela podia estar em um estado de espírito sentimental, como o senhor diz. Mas duvido muito de que ela se lembrou de que o compromisso era nosso. Nesse momento ele riu, um aberto e relaxado riso que a agradou. — Se eu não soubesse que é uma impossibilidade senhorita Hallie, — ele disse com seus olhos negros brilhando, — Eu poderia quase suspeitar que a minha noiva temporária está com ciúmes. — Estaria imaginando coisas senhor, — ela disse olhando para longe. — Você está completamente enganado a respeito do modo como vejo esse assunto. — Estou? Eu acho que não. Eu gostaria de receber alguma explicação de você com respeito ao propósito de Sir Walter Raleigh[11]. Eu estou familiarizado com sua balada Walsingham, embora talvez não tão familiar como o seu erudito senhor Cavendish parece ser. É usualmente tido como uma afirmação de amor ou de fidelidade, se você deseja, apesar de suas passagens misóginas. Estou errado senhorita Ashton? — Como o senhor deve ter percebido, o jantar foi para comemorar nosso noivado. Achei suas escolhas inaceitavelmente cínicas. Você escolheu me embaraçar, mostrar seu desprezo por mim bastante... bastante público. Se
Raleigh contribuiu para melhorar o seu comportamento cavalheiresco eu me considero satisfeita. Assim que terminou sua voz estava instável. Ela não se atreveu a olhar para ele com medo de que seus lábios trêmulos pudessem de fato ser o prelúdio de lágrimas. Havia certo alívio em confrontá-lo. A carga da semana passada pesava muito sobre ela. Mas ela receava que pudesse somente levá-lo a tratála com mais desprezo. Em sua experiência, limitada que era, homens não eram gentis com mulheres que os censuravam. O silêncio subsequente parecia longo, embora tivessem passado apenas alguns minutos. Eles cruzaram uma ponte sobre um córrego e estavam se aproximando de outra. Ela podia ver um moinho á frente quando Richard falou novamente. — Eu lhe devo desculpas senhorita Ashton, — ele disse com a atenção voltada para as rédeas. — Embora suas razões para se associar ao meu desprezível primo permaneçam um mistério para mim, eu nunca soube que você agisse com menos propriedade. — Ele parou e então olhou para ela. — Você me deu todas as indicações de que não achava o nosso compromisso bem vindo tanto quanto eu. Eu fui imperdoavelmente rude. Seu olhar era tão intenso que ela estava pronta para responder. O orgulho em seu julgamento, em sua justiça tinha sido claramente deixado para trás. A sinceridade dele serviu para provocar a dela própria. Ela seria honesta e contaria a ele a verdade. — Senhor Marksley... Richard, eu...Oh! —O cabriolé cambaleou, uma forte sacudida inclinou o veículo perigosamente para o lado. Hallie escorregou abruptamente contra o braço de Richard Marksley, um braço tão duro como ferro ao lutar para controlar a assustada parelha de cavalos. Hallie agarrou a grade atrás do assento e tentou empurrar-se para longe dele. Ao fazer isso ela notou que o lacaio tinha sido jogado no chão da estrada, e agora estava esparramado na sujeira. — Está ferido rapaz? — Marksley perguntou-lhe. O rapaz parecia atordoado, mas chacoalhou a cabeça negando. — Veja se consegue segurar a parelha então. Eu preciso ajudar a senhorita Ashton a descer. O rapaz rapidamente ficou de pé. — Foi uma roda que quebrou senhor, — ele disse com a respiração entrecortada enquanto segurava os cavalos pelos cabrestos. — Rachou direto pelo meio.
— Diabo o leve, — Marksley murmurou. Ele se soltou cuidadosamente do banco e ficou em pé na estrada. — Senhorita Ashton, — ele disse levantando os braços para ela. — Se você puder. Hallie moveu-se lentamente no banco inclinado, somente para perceber que não tinha escolha a não ser escorregar de forma deselegante pelo assento em direção a ele. Uma vez feito esse movimento ela facilmente escorregou para fora do veículo para os braços de Richard Marksley. Ele a pegou na hora que ela escorregou, por um breve momento a apertou contra ele. Ela pode sentir sua força através de suas roupas, ele então a colocou de pé longe dele. — Espero que tenha sobrevivido intacta senhorita Ashton. — Sim. — Ela evitou seu olhar. — Sim, eu estou bem. Apenas assustada. — Realmente. Eu já perdi rodas antes, mas geralmente se tem algum aviso antes de acontecer. — Ele olhou para a roda quebrada, varias travas tortas e o aro de madeira estava estilhaçado. — Nós tivemos muita sorte. Você poderia ter sido atirada para fora do veículo. Começou a chover. Ela percebeu as primeiras gotas caírem sobre os ombros do casaco de Marksley antes de sentir sobre ela. Por um momento ela levantou o rosto para a chuva, somente para abrir os olhos e ver Marksley observando-a atentamente. — Seria melhor nos abrigarmos no moinho, — ele disse. Ela achou que ela parecia apologético, como se acreditasse ser ela tão impressionável a ponto de desejar experimentar ficar sob um aguaceiro. Ele se virou determinado para o lacaio. — Ajude-me a soltar os cavalos, — ele disse indo rapidamente para a frente do veículo. — Você precisa cavalgar Balius e, puxar Xanthus. Limpe-os bem quando voltar. É um bom rapaz. Hallie se dirigiu para o moinho. A chuva estava mais forte. Ao sentir as gotas descendo de seu chapéu para a gola de sua roupa, ela levantou a barra da saia e correu. O velho moinho estava seco, se não quente. Pelo lado de fora ele parecia habitado, mas dentro os evidentes sinais de abandono estavam por toda parte. Hallie atravessou um empoeirado e fechado salão e foi até o quarto dos fundos que ficava virado para o rio. Através dos sujos painéis de vidro ela observou que a chuva agora estava forte o suficiente para mexer com a superfície da água. Mesmo que as colinas ao longe estivessem parcialmente escondidas pelas nuvens baixas, ela se perdeu contemplando um excesso de cinza na terra
e no céu. — Eu mandei o lacaio de volta com a carruagem, — Marksley disse ao entrar no quarto. Então pareceu perceber o olhar pensativo dela em relação ao que os cercava. Ele passou o dedo sobre a superfície empoeirada de uma mesa e examinou com uma sobrancelha erguida. — Haskell abandonou o lugar alguns anos atrás. Eu não fazia idéia que estava em tal estado de deterioração. — Pelo lado de fora ele tem... bom aspecto, Hallie disse. Ela voltou o olhar para o rio e para a folhagem ao longo da margem. — Realmente, ele pode não estar localizado com grande maestria, exatamente aqui na curva do rio, com veladas colinas dormindo abrigadas do vento, e estes melancólicos carvalhos para assistir. — Quando ela se virou para ele, ela teria dito mais. Mas a aparência de seu rosto dispensava comentários. Por um momento ela encontrou seu olhar escuro, então ela olhou distraidamente de volta para o rio. Ela franziu as sobrancelhas tentando se lembrar do que havia dito, que escorregada ela havia dado para silenciá-lo tão completamente. — Beleza frequentemente não suporta dissecação, — ele disse finalmente. Ele tinha se movido para mais perto. — Como vemos, o moinho é agora não mais que um depósito de sujeira. À primeira vista ele pode ser charmoso, mas uma inspeção mais de perto..., — ele soprou a poeira de sua luva, — pó encantador. Ela sorriu. — Eu não posso crer que tenha tal opinião senhor. Onde estariam todos os seus autores sem discursar sobre a beleza? Você os privaria de seu assunto preferido. — Com certeza. Seus editores precisam se certificar que a fria razão prevaleça. — Quando ele sorriu de volta a respiração de Hallie ficou presa na garganta. Ela tinha lutado contra a atração que sentia por ele. De alguma forma, no meio desse escuro e mofado quarto, aquele sorriso era um farol luminoso. — Sem dúvida, — ele disse, segurando seu olhar ao se mover para perto dela, — você tem algo relevante a me dizer sobre o assunto? Dado a facilidade com a qual você tão inteligentemente respondeu na noite passada, você tem todos os poetas do mundo ao seu comando. — A voz dele era lisonjeira, mas a expressão em seus olhos tinha suficiente desafio para forçar o olhar de Hallie para longe. — Você confere a mim grande talento senhor. — O ar parecia não somente mofado mas sufocante. — Eu disse a única coisa que me veio à mente. — Era evidente que ele não acreditava nela devido ao seu silencio e ao traidor ritmo
do próprio coração de Hallie. Ele ainda não havia se movido para longe. A chuva tinha ganhado força, tamborilando sobre o velho telhado, revolvendo a superfície do rio. — Para onde houver qualquer autor no mundo, — ele citou gentilmente, — explica tal beleza como os olhos de uma mulher? — Ele usou a mão enluvada para virar o rosto dela para ele. — Me intriga, — ele disse, enquanto movia o polegar contra o queixo dela, — como parte de você parece estar sempre sonhando. Está nos seus olhos. Mesmo agora. — O olhar dele não permitia que ela fugisse. — Sobre o que você está sonhando agora minha cara? Ele perguntou de forma tão leve que a princípio Hallie achou que não havia entendido direito. Ela podia sentir o aroma de sua pele e de seu molhado casaco de lã. Tão perto como ele estava, os céus a ajudassem, ela o queria tão perto. — O lacaio... — Ele deve estar a meio caminho de Penham agora. Onde ele obedientemente contará tudo à senhorita Binkin. — Marksley sorriu, então surpreendeu-a ao perguntar, — Reggie beijou-a? Hallie respondeu com o acentuado colorido de seu rosto. — Ele beijou-a? —Marksley repetiu maciamente. — Sim... Mas ele estava... — Então você já foi beijada antes. Antes? Ela olhou para os lábios dele que estavam inexplicavelmente fechados. Uma pequena parte ainda pensante dela protestou que não, ela nunca tinha sido beijada antes. Ele abaixou a cabeça. Os lábios dela sentiram a respiração dele. Ela mal se conscientizou de sua ação ao mover-se para pressionar as palmas das mãos abertas contra a lapela do casaco dele. Mas ele deve ter pensado que ela pretendia empurrá-lo para longe. Para seu desgosto ele se afastou muitos centímetros. Ao olhar para suas traidoras mãos, ela percebeu que o olhar dele ainda estava sobre ela. Agora era hora de dizer a verdade a ele. — Existe algo, — ela começou, — algo que você precisa saber. — Sobre Reginald? — ele perguntou, e seu olhar endureceu. — Não exatamente. Apesar de ele ser a razão —Passos além do salão soaram alto no edifício vazio, imediatamente silenciando-a. — Bem esqueçamos, — a arrogante voz de Archie Cavendish era inconfundível. — Eles parecem que desapareceram, se é que estiveram...ah!
Ele parou abruptamente na entrada do quarto, tão abruptamente que Phoebe Lawes que o seguia de perto, colidiu com suas costas. Mas Hallie pensou que o olhar de desagrado de Phoebe tinha menos a ver com qualquer afronta à dignidade dela do que com o fato de Richard Marksley estar muito perto de Hallie. Ela pode sentir a repentina tensão nele, como se quisesse protegê-la. — Cavendish, — ele reconheceu. — Senhorita Lawes. Vocês também procuravam um abrigo para se proteger da tempestade? — Ambos Archie e Phoebe pareciam pouco molhados. — O seu lacaio nos informou sobre o seu... contratempo, — Cavandish disse. Ele levantou um interrogativo óculos para poder observá-los com prazer. — Como estávamos com a carruagem do magistrado Lawes, pensamos que poderíamos pegá-los, e assim poupá-los de mais ... inconveniências. — Ele sorriu de forma afetada. — Isto é, se você pretende voltar a Penham agora. — Bom Deus Richard, — Phoebe disse com familiaridade, entrando no quarto com um lenço sobre o nariz. — Que lugar imundo para se parar. Eu penso como você pode agüentar isso. — Seu olhar descartou Hallie antes dela se mover para o lado de Marksley e casualmente colocar a mão sobre a manga do casaco dele. — Venha conosco agora. A carruagem de papai será deliciosamente usada. Acredito que você achará pouca diferença entre ela e a do conde. — O sorriso dela era forçado ao apressá-lo em direção á porta. — Venha. Mas Marksley se virou para Hallie. — Vai ser melhor senhorita Ashton, — ele disse. — Não devemos deixar os cavalos deles esperando na chuva. Ela se sentia estranhamente desamparada. E ela estava consciente do interesse de Phoebe de que ele soasse muito formal. Ele deveria chamá-la de Hallie exatamente agora, especialmente agora, quando tinham estado muito próximos. — Venha senhorita Ashton, —Cavendish disse, — Você só deve querer sair deste buraco. — Hallie andou até a porta. Ela não se importava com o olhar de Archie Cavendish, a pequena imaginação que ele possuía tinha atribuído a ela o mais indecente dos comportamentos. Ele os havia pegado numa situação delicada. Mas certamente isso não era surpreendente para um casal comprometido. Hallie recusou o braço dele. Eles caminharam na frente de Pheobe e Marksley, parando apenas para colocar seus casacos antes de correrem até a
carruagem. Juntando-se à criada de Phoebe, as mulheres tomaram os assentos virados para a frente. Como Archie estava em frente a ela, Hallie teve de virar a cabeça para olhar a expressão do rosto de Richard Marksley. Entretanto ela estava cautelosa com ele. Cautelosa com seu silencio e da ocasional olhada que ele lhe dava. Ela antecipava seus olhares e conseguia olhar através da janela quando ele a olhava. Phoebe se inclinou para a frente olhando com muito interesse para Marksley. — O moinho está num estado lastimável, você não acha Richard? — Ele não está agradável senhorita Lawes, — ele concordou, — apesar de Haskell ter trabalhado duro em seu tempo. Eu deveria ter me informado. Talvez tenha tido algum problema na família. A propriedade é muito boa. Mesmo que um moinho não seja mais viável, o lugar deveria ser cuidado. — Talvez, — Archie sugeriu, com um olhar malicioso para Hallie, — O moinho devesse ser deixado como está. Ele parece adequado para propósitos não refinados. Românticos por exemplo. Marksley deu a ele um olhar gelado, então se virou para a janela. — Espero que o tempo melhore no dia seguinte, — ele disse. — Eu tenho negócios em Londres, não quero me preocupar com a viagem, — Ele falou sério, — com as estradas intransponíveis. — Mas Richard, —Phoebe gritou. — Qual o significado disso? Quando você está para casar em duas semanas! — A senhorita Ashton sabe que minhas responsabilidades não cessarão após nosso casamento. Na realidade, — e Hallie encontrou seu olhar, — elas podem até aumentar. — Bem, haverá muitos bons eventos que você perderá, e só alguns poucos não serão em sua homenagem. — Phoebe tinha um tom ofendido. Ela tinha antecipado o redemoinho social. Mas seu subseqüente olhar para Hallie era considerado. — Quem sabe você poderá ir sem ele senhorita Harriet? Ou você apreciará ser acompanhada por outro cavalheiro de Denhurst? Hallie queria crer que a garota não estava contestando sua moral. — Você está me bajulando senhorita Lawes. Meu tio sem dúvida, se assegurará de que o entretenimento da próxima quinzena não seja tão alegre. Richard Marksley reconheceu essa possibilidade soltando um respiro com desdém. — Eu ficaria feliz em ser seu acompanhante na ausência do senhor Marksley senhorita Ashton, — Archie ofereceu. — Isto é, pelos próximos
poucos dias. E com sua permissão senhor. — Ele inclinou a cabeça para o nada amistoso homem perto dele. Hallie acreditava que a expressão de Marksley era devido ao desgosto que ele sentia por qualquer menção ao eminente casamento deles. — A senhorita Ashton é livre para fazer o que ela quiser, — ele disse, — agora, daqui a três semanas ou daqui a três anos. Cavendish olhou espantado. — Esse é um pensamento extremamente liberal, devo dizer senhor. Embora eu não deveria me surpreender, dado o modo de ver em nosso ambiente intelectual. Os escritos contraditórios de Mary Wollstonecraft[12], são muito debatidos, Não são? E dizem que Lord Byron acredita… — Em homenagem à instituição do casamento, e à santidade dos votos matrimoniais senhor Cavendish, — Marksley disse com frieza. — Você se equivocou a respeito do que eu quis dizer. — Desculpe-me senhor. Mas essa conversa de liberdade para uma esposa… — Eu penso que cônjuges deveriam se parceiros em espírito, dentro dos desejos de cada um, mesmo que a lei não diga isso. Phoebe inclinou-se para a frente novamente e alegremente deu um tapa no joelho de Richard Marksley. Ele moveu a perna para longe dela. — Isso é muito romântico Richard. Embora, — e ela baixou o olhar com modéstia, — eu deveria ter esperado algo assim de você. — E você senhorita Ashton? Pensa da mesma forma romântica que o senhor Marksley? — Cavendish perguntou, inclinando-se em direção a ela. — Naturalmente que o senhor Marksley e eu nos entendemos com relação aos desejos de cada um, — ela respondeu cuidadosamente. — O senhor deve entender que esse ‘romântico’ que nós entendemos é confidencial. Acredito que a privacidade, — ela enfatizou, — é a chave para qualquer verdadeiro significado da palavra. Aparentemente surdo paras as reprimendas dela, Cavendish olhava admirado para ela, mas Phoebe olhava para Hallie como se de repente ela tivesse começado a falar em chinês. — A senhorita Ashton é impressionantemente lógica, — Marksley observou, com o olhar ilegível. — Lógica raramente faz par com romance. — A senhorita Ashton é um encanto, — Archie disse entusiasmado. Hallie sentiu que ele pressionava a ponta de sua bota contra a barra de sua saia. Ela o olhou de cara feia e tratou de puxar a barra da saia, mas o jovem era
persistente. — Nosso amor é nossa união, — Ele disse alto. — Não para o medroso, não. Mas provou sem dúvida, através do fogo e da neve! Após um momento de silencio, Marksley disse. — Isso é o mais divertido dos versos cômicos senhor Cavendish. — Seu tom era o mais arrogante que ela já tinha ouvido dele. — Onde mesmo o senhor ouviu isso? — Archie parecia abatido, Hallie estava grata pela humilhação dele. — Oh, não tem importância Archie, — Phoebe disse com impaciência. — Não é tão horrível, mas você precisa parar de se impor a Richard. — O comentário teve pouco efeito em restaurar o ânimo dos ocupantes da carruagem. A viagem continuou e o desconforto também. As estradas estavam desniveladas devido à chuva, o incessante barulho no teto da carruagem acompanhava o chapinhar dos cascos dos cavalos. Assim que pararam em frente à mansão Penham, a chuva se transformou num dilúvio. — Eu peço desculpas, Senhorita Lawes, Senhor Cavendish, se eu não os convido para ficar conosco — Marksley estava empurrando a porta enquanto falava. — Neste dilúvio vocês estão desejosos de voltar para casa. Estamos muito agradecidos pela sua consideração. Uma outra hora talvez? Indecisão e frustração apareciam nas feições de Phoebe. — Por que eu... sem dúvida você está certo Richard. Mamãe ficará preocupada. É melhor estar em casa para o chá. E Archie precisa se aprontar. Ele parte para Oxford no sábado. — Ah, o senhor vai? — Marksley estendeu a mão. — Até a próxima vez então. Senhorita Ashton, precisamos nos arriscar na chuva. — Ele pegou a mão dela e puxou-a sem nenhuma gentileza para fora da carruagem. Dois homens à pé sujos de lama, esperavam com guarda chuvas no final do caminho. Hallie murmurou um agradecimento a Phoebe Lawes antes da porta da carruagem bater com rapidez atrás dela. Prejudicada por suas pesadas saias, ela teve dificuldade em acompanhar os passos de Marksley até a porta. No entanto ao chegar perto da porta ela estava ao lado dele, para ver o rosto manchado de lágrimas da Condessa de Penham e ouvir o seu angustiante lamento. Ela balançou um pedaço de papel em frente a eles. — Richard, Richard! Ele está morto! Meu querido garoto está morto!
Capítulo 7 Richard ouviu Hoskins dizer suavemente — meu Lorde — enquanto o modomo de Penham o ajudava a tirar seu casaco molhado. Ele tinha ouvido o lamento de Geneve muito bem, mas não tinha acreditado até o instante em que o mordomo confirmou. Ele passou o braço por sobre os ombros de sua tia e da tremente carta ao mesmo tempo, segurando a afligida mulher enquanto inspecionava a carta. Mas era para Hallie Ashton que ele olhava. — Parece que meu primo foi bem sucedido em sua procura, — ele disse categoricamente. — Ele encontrou um excelente cavalo que o ajudou a quebrar-lhe o pescoço. Geneve balançava os braços enquanto se lamentava, mas Richard não podia ver, pois olhava para o rosto de Hallie Ashton. Diga-me o que você está pensando, ele encontrou-se exigindo silenciosamente, diga-me o que isto significa para você. Fora o choque da inesperada noticia, Richard não viu outra coisa em seu olhar alem de compaixão por Geneve. — Venha tia — , ele disse, segurando as mãos dela com uma das suas. — Você precisa se sentar. Senhorita Ashton faça o favor de se juntar a nós. Ela ainda estava perturbada, mas composta. Ou ela estava sofrendo secretamente? Podia o seu coração estar partido? Ele franziu as sobrancelhas enquanto levava a tia para a sala de estar e sentava-a perto do fogo. Então ele se virou para pegar um brandy. — Isto é impossível, — Geneve chorou. — Eu não posso acreditar nisto Richard, deve ser algum engano. Você deve escrever para a Irlanda para descobrir a verdade. Eles devem ter cometido um erro. Richard suspirou. — Não existe erro. Este é o agente do tio em Kildare. Eu tinha escrito a ele para que localizasse Reggie. O bom homem fez isso... isto é, ele já acertou o retorno de Raggie. Eu sinto muito. Geneve torceu as mãos. — Mas ele... você... oh, isto não pode ser! Minha Lady, — Hallie Ashton disse suavemente. — Você levou um choque. Você precisa de tempo… Geneve se virou para ela quase selvagem. — Nada disto lhe diz respeito senhorita. Você não sabe nada de minha... de nossa tristeza.
Os lábios de Richard se apertaram. — Você sem dúvida está perturbada senhora. — Ele tinha percebido a palidez de Hallie Ashton e sugeriu que ela tambem se sentasse. Ainda molhados devido ao acidente com a carruagem, eles se beneficiariam de um banho e de uma troca de roupas. Mas o fogo deveria ser suficiente no momento. Ele ficou rígido de pé ao lado da lareira. — Você já contou ao tio? — Ele perguntou. — O mordomo, aquele senhor... senhor… — Appleby, — Richard completou. — ... Foi até ele, — Geneve disse. — Eu simplesmente não pude. Ah, eu temo que isto será o fim dele. Nosso querido menino! Querido Reginald! — Ela abaixou a cabeça enquanto seu corpo tremia. Hallie Ashton estava sentada em silencio com as mãos apertadas no colo. Dado a rejeição que recebera ao oferecer sua simpatia, seu silêncio era compreensível, mas Richard esperava alguma outra coisa... que ela precisasse de conforto também. Que insanidade pensar que ela pudesse precisar dele! Ele dirigiu suas atenções para Geneve. — Minha querida tia, — ele lhe disse, — Eu não posso consolá-la. Mas posso lhe garantir que eu nunca desejei isto. Os olhos marejados dela se fixaram no rosto dele. — Ele nasceu e foi criado para isto Richard. Era seu direito de nascimento. E agora você... bem, — ela enxugou os olhos com um lenço. — É impossível que ele tenha ido. Que você vá substituí-lo. Tudo isto para você! Precisamos esperar que você consiga fazê-lo. — Farei com que o esforço seja merecido. — Ele assinalou para ela que ele era mais — nascido e criado — para isto que seu falecido primo. Mas Geneve acreditava no que queria, meros fatos não lhe serviam para nada. E Hallie Ashton não precisava saber da história infeliz dos pais dele. Ele certamente não se sentia pressionado a esclarecê-la.. Havia entretanto outro assunto que exigia atenção. Ele o tinha considerado imediatamente, com propósitos sombrios. — O casamento seguirá em frente, — ele disse. Geneve levantou o rosto e olhou para ele com olhos acusadores. — Não é hora para brincadeiras Richard. Ele olhou para a rebelada figura de Hallie Ashton antes de responder. — Estou muito sério senhora. Embora seja muito cedo após a morte de Reggie, o casamento não pode ser adiado. Não há razão para demora e não se tem escolha.
— E por que o senhor, — Geneve exigiu, — diz isso? É assustador se falar em casamento. E contrair uma união com esta, com esta senhorita Ashton está fora de questão. Por que você faria isso agora, todos acreditam que você deva se casar. Seria um estremecimento na sociedade! Tal mistura de nível social. Não é bem visto! — Ela olhou para a senhorita Ashton que tinha a boca firmemente fechada. — Estou certa que você deve concordar senhorita Ashton. Uma futura Condessa precisa parecer mais superior. É sua obrigação para com a sociedade, para sua família, ficar de lado agora e deixá-lo… — Minha cara tia, — Richard interrompeu. — Você parece não ter notado as circunstancias inconvenientes da última semana. Eu lhe recordo que mesmo então eu era membro desta família. Eu lamento a morte de meu primo muito mais do que a senhora imagina. Mas a desgraça não pode alterar o meu propósito nisto. Nós simplesmente lhe imploramos que tenha tolerância. Geneve começou a chorar. — Mas... nós estaríamos usando luto. — O qual seria muito apropriado. Eu não estou propondo uma celebração tia. O nosso luto é lamentável, não proibitivo. Não podemos esperar seis meses, nem mesmo um. — É muito cruel, Richard! Você não tem senso de decoro, de delicadeza nem simpatia? Nenhum pensamento sobre o que deve para aqueles que o criaram? — Lembre-se de sua promessa, ele lhe recordou sombriamente. Geneve respirou de forma irregular, mas pressionada, suas mãos mexiam nervosamente o lenço que segurava. — Não é como se você fosse mesmo obrigado já que foi Reginald afinal de contas quem comprometeu a garota. — A verdade disso é óbvia. Mas como os argumentos que fiz na semana passada nada significaram, tambem nada significam agora. — Nunca pensei que você fosse vingativo Richard. — Não sou vingativo tia. Isto não é vingança. E mais um caso de honra. Eu não tinha me importado muito antes. Na realidade, tinha certos aspectos burlescos, — ele olhou rapidamente para Hallie cujo rosto estava vermelho, — mas importa muito agora. O que você tinha dito sobre a família? Reggie pode ter comprometido a senhorita Ashton antes, mas eu a comprometi desde então. Hallie tinha o rosto muito vermelho. Richard não conseguia explicar a sua satisfação com o fato. Mas sua atenção voltou-se abruptamente para os olhos arregalados de Geneve.
— Não precisa me olhar com tamanho horror senhora, — ele lhe disse. — Nós não fizemos nada inusitado. Apenas atuamos da forma como você queria, como um casal de noivos. Mas se eu desisto agora, a senhorita Ashton cairá em desgraça. O tio dela terá todo direito de me processar por violação. Geneve voltou sua furiosa atenção para Hallie Ashton. — Eu não tenho dúvidas senhorita, — ela rosnou, — De que isto é todo obra sua. Você acenou o chapéu para o meu querido garoto e o guiou, o guiou para a morte. Ele não teria ido para a Irlanda se você não tivesse se imposto a ele! E agora você agarrou Richard e vai nos levar para a sarjeta. Oh, como o herdeiro de Cyril pode ser tão condescendente! Com uma mulher como você! Eu nem sei um nome para lhe dar. Você nunca será mais que lixo para mim, você...você… — Chega, — Richard gritou. — A senhorita Ashton brevemente pertencerá a esta família, como a Viscondessa Langsford, e você a tratará com civilidade. — Hallie teve a má sorte de espirrar exatamente nesse momento, o que o lembrou de que ambos necessitavam de roupa seca. — Você sabe muito bem tia, que nada do que diga terá qualquer efeito. Eu entendo. Você sofreu uma terrível perda. Você está em choque. O seu julgamento não está bem. Mas tenha cuidado. — Ele novamente olhou para o rosto de Hallie Ashton. — E agora se você nos desculpar, nós sofremos um acidente de carruagem esta tarde. Se a senhorita Ashton não for rapidamente atendida, poderá ficar doente. O olhar de Geneve expressava o desejo não dito, de que essa eventualidade ou pior ocorresse. Ela se levantou com um exagerado movimento de sua elegante saia de seda, embora sua aparência devastada roubasse a dignidade que ela desejava aparentar. — Não vou discutir Richard. Você sabe que desaprovo. Perdoe-me se deixo os seus planos de casamento em suas mãos ansiosas. Eu farei os arranjos para o funeral de meu filho. Mas eu nunca o perdoarei Richard. Eu sei que você faz isso somente para o meu pesar. — Não senhora, — Richard disse tão agradavelmente como pode. Ele fez a ela um leve cumprimento . — Eu faço isso apesar de você. Há uma pequena diferença nas palavras. Com um rápido aceno de cabeça e um olhar sombrio para Hallie Ashton, Geneve os deixou. — Eu... sinto por ela, — Hallie Ashton disse. — Ela deve estar sofrendo. — Sua simpatia a honra minha cara. Mas prometo a você que ela superará. Eu a conheço há muitos anos.
— Ainda assim... com tamanho choque… Ele sorriu friamente enquanto a examinava — Eu lhe garanto que ela não sente falta de sua sensibilidade. Peço-lhe desculpas por qualquer coisa que ela tenha dito que a tenha ofendido. — Ela não pode me ofender. — Não pode? Bravas palavras senhorita Hallie. A condessa me ofendeu em enumeráveis ocasiões. Hallie Ashton se levantou e tentando alisar as rugas da saia. — Então você deve ser mais cuidadoso do que tem sido... e tentar agradá-la. Richard olhou-a pensativo. — Você é extraordinariamente inteligente minha cara. Para uma inocente. — O colorido do rosto dela aumentou. — Mas vejo agora que a ofendi. — Ele sorriu, mas ela não aceitou seu desafio. — A sabedoria que você elogia, senhor Marksley, era de Tolly. Ele achava que é um desperdício alguém passar a vida tentando agradar a outrem. Talvez ele tenha descoberto cedo que meu tio não podia ser agradado. Nem ele acreditava em expectativas insatisfeitas em viver os sonhos sozinho. Tolly era alguém que fazia seus próprios caminhos. Tolliver Ashton, de acordo com Jeremy, viveu como queria, como um jovem com objetivos e de ação. — Então eu bebo à inteligente filosofia do seu falecido primo Tolly, — ele disse, brindando a Hallie Ashton antes de deixar o brandy aquecer sua garganta e peito. — Você não sente nada então? — ele a questionou. — Eu... não entendo você. — Você sente alguma coisa sobre a morte do meu primo? — Ele olhava para ela bem de perto. — O seu querido nunca mais visitará alguém novamente. A sua expectativa pela volta dele, — ele pausou, — nunca será satisfeita. — Eu já lhe disse antes. Ele nunca foi meu querido. — Qual era a atração que ele exercia sobre você então? — Apesar de seu esforço ele sabia que sua voz demonstrava sua frustração. — O que ele tinha que você queria? — Nada. Nada exceto um nome. — Um nome? Eu entendo. — Os lábios dele estavam apertados. — Eu vejo que minha tia compreende você. — Não. Ela não me compreende. — Quanto segredo senhorita Ashton. Dada a sua aptidão em falar, alguém poderia acusá-la de propositalmente falar em algum peculiar código próprio.
— Para surpresa dele ela sorriu. Um tímido e dissimulado sorriso que, para sua irritação, o fascinou. — É melhor que vá me esquentar, — ele disse de forma cortante. — Apesar das circunstancias, minha tia é meticulosa com a hora do jantar. Embora pareça improvável ela desejará isso. Eu prefiro que ela tenha a nossa companhia. — Mas quando ele se virou, preparado para ver que Hallie Ashton tinha partido, ele a encontrou observando-o com certo interesse. — É possível meu Lorde, que neste instante você esteja sentindo muito mais do que qualquer um possa saber? — Realmente eu estou senhorita Ashton. Mas meus sentimentos são totalmente egoístas e têm muito a ver com o seu uso de ‘meu Lorde’ como você disse exatamente agora. — É o... esperado. — Sim. — E então como ela ainda estava lá de pé, ou talvez porque o brandy tinha soltado sua língua, ele disse, — Quanto mais eu o desdenho, meu querido falecido primo tem uma função muito útil. Ele era o Visconde Langsford, herdeiro do Conde de Penham, e eu, com certos limites podia fazer o que quisesse. — Ele se voltou para a cornija da lareira e indolentemente passou um dedo pela borda dela. — Mas Jeremy, perdoe-me, Lorde Jeremy me contou que seu pai era o Visconde Langsford. Ele se voltou para ela surpreso. — É verdade sim. Mas meu pai perdeu o título antes de eu nascer. Eu nunca lamentei nem esperei que me fosse restituído. — Ele fez uma pausa. — Jeremy tenha talvez muito conhecimento sobre histórias familiares. E muito livre com a minha. — Ainda assim quer que eu faça parte dela. Isto é, se você falou sério. — Oh, eu fui serio senhorita Ashton. Nós não temos opção. Nós dois passaremos o resto de nossos dias pagando pelas transgressões de um garoto egoísta, alguém a quem nada foi negado em vida... exceto sua continuidade. Hallie Ashton suspirou, se com pavor da perspectiva ou não, Richard não saberia dizer. Ele percebeu que na realidade estava apreciando a companhia dela. Mas agora, com a morte de Reggie e os encargos à frente, discutir com ela não era mais uma distração, era estranhamente um jogo tenso. A situação agora era sufocantemente séria. Era melhor que ele tivesse cuidado com isso. — Você está com frio, — ele disse. — Você deve se retirar. — Sim, somente... É verdade então? Que você acredita que o casamento é nossa única saída?
— Com certeza minha cara. A não ser que outro tenha sua afeição? — Como ela vagarosamente balançou a cabeça, ele completou, — Reggie era para ser nosso salvador. Temo que nenhum novo prospecto se apresente. E você e seu tio merecem mais que uma mera vantagem. Com isso ela empalideceu, o que fez com que ele se sentisse um bruto. — Você perceberá que o que importa na vida é uma boa reputação senhorita Hallie. Mais infelizmente talvez para uma jovem dama. Mas a preservação de um bom nome promove a medida da liberdade também, isto é, se alguém pretende viver de forma diferente de um eremita. Não pretendo que isto seja um ótimo arranjo, mas, falando com minha relativa experiência, poderá ser suficiente. Ela deu um passo para perto dele. — Eu sinto que isto tenha acontecido, meu Lorde. Eu sinto por minhas... ações terem lhe causado angústia. — Angústia? — Ele levantou uma sobrancelha enquanto olhava o rosto dela tão próximo do dele. — Eu não estou angustiado senhorita Hallie. Eu sou insensível. — Eu acho que é o brandy falando meu Lorde. — E agora você já soa como uma esposa. Ela olhou como se ele a tivesse esbofeteado. Então ela se virou para sair da sala. Enquanto olhava sua figura se retirando, ele teve a amarga satisfação de saber que ele a tinha finalmente ofendido. — Diabo, — ele murmurou e ficou a olhar para o fogo. Ela tinha chegado muito perto, visto muito. Reggie fez de sua juventude um inferno, suas brincadeiras tinham ameaçado a sanidade de Richard, ainda assim ele nunca tinha desejado a morte do primo. No passado ele invejara a afeição de Geneve por seu filho. Não, o que ele sentia era tristeza pelo desperdício de uma vida, e o abrupto final de uma promessa. Mas também era verdade que uma grande dose de autopiedade o estava afetando. Ele não estava totalmente certo se poderia continuar com sua dedicação ao The Tantalus, não no mesmo grau. Ele era afeiçoado ao seu trabalho, seu pequeno hobby, como Geneve chamava. E um irritante mistério, o não resolvido assunto com Henry Beecham, era muito preocupante. Ele tinha aceitado que pudesse nunca encontrar com o cavalheiro. Beecham devia ter encontrado outro patrocinador. E Richard ficaria com a insatisfação de uma pergunta não respondida. Como ele chamou aquilo? Expectativa nunca satisfeita. Realmente. Havia algo mais que ele dificilmente admitiria: que alem de seu propósito
declarado de adiantar o casamento, algo tinha se enraizado nele que era curiosamente possessivo, algo que ele não tinha certeza que gostava e que certamente não era confortável ou tranquilisante. Ele tinha sentido isso no moinho, e sentiu agora, uma forte determinação de casar com Hallie Ashton, para separá-la de seu despótico tio e apagar qualquer memória de Reggie. Encarando o fogo ele resolveu que iria para Londres imediatamente após o funeral. Ele tinha muito que resolver. E era melhor deixá-la. O funeral de Reginald Falsworth Marksley teve lugar três dias mais tarde na igreja do vilarejo, a qual ele não visitava há anos. Os enlutados acompanharam seus restos mortais, ouviram obedientemente o serviço do Vigario Mayhew, e subsequentemente ficaram para oferecer suas condolências para a família. O conde de Penham não compareceu ao funeral do próprio filho, estando acamado, alguém disse, muito doente para reconhecer a enormidade de sua perda. Hallie cuidadosamente evitou a companhia de Richard Marksley depois da conversa na sala de visitas, e ele estava sempre ocupado em ajudar a tia com o funeral. Um dia depois disso, como fora marcado, ele foi embora para Londres. Hallie só podia supor que ele estivesse acertando as coisas relativas ao casamento. Certamente ninguém, nem o tio dela, nem a Condessa, nem a senhorita Binkin nem Hallie, se preocuparam com os arranjos de outra cerimônia. O novo Visconde Langsford lidaria com todas as minúcias. Esse casamento era em todo caso, ela pensava, uma mistura dolorosa de tragédia e comédia. O céu não clareava. Hallie passava a maior parte de seu tempo na biblioteca, onde podia escapar de seu tio e de Millicent. A Condessa se retirava todos os dias para seu quarto, onde todos achavam que ela chorava. Alfred Ashton se aventurava para fora todas as manhãs para atirar em toda criatura viva que se atrevesse a aparece nas terras do Conde. Nas refeições as conversas eram inexistentes ou desconexas. Após o jantar, Hallie tocava piano no salão, embora fosse somente para seus ouvidos. Em tal relativa solidão ela era novamente capaz de escrever em seu caderno. Ela exigia de si mesma uma vez mais essa persistente e provocante noção de um poema, o nascimento o qual prometia aliviar uma enorme ansiedade. Ela, das janelas da biblioteca, ocasionalmente olhava para o caminho esperando por algum sinal de mensagem ou da volta de Jeremy. Quanto mais cedo ela soubesse que Jeremy tinha sido bem sucedido em encontrar George Partridge, melhor seria.
Ela se moveu para longe da janela e novamente se sentou perto do fogo da biblioteca. Os empregados de Penham, agora acostumados com seus hábitos, preparavam o desjejum de manhã bem cedo. Somente a senhorita Binkin se atrevia a interromper o silêncio, mas ela nunca se demorava muito, reclamando que a biblioteca era muito escura e muito fria para suas juntas. Hallie não achava que a sala fosse fria, embora ela soubesse que sua recepção a sua prima notoriamente o fosse. Se ele voltasse! Ela queria dizer Marksley, não Jeremy, e com a descoberta ela franziu as sobrancelhas. Ela queria encontrar Marksley para que ele a conhecesse. As cartas não eram suficientes. Ele tinha sido natural ao querer encontrar-se com o homem. Mas tendo o encontrado, talvez não fosse natural em querer mais. Ela se lembrava como ele a tinha ajudado da carruagem até o moinho, o momentâneo choque e arrepio ao ser segura por ele, a certeza de que ele tinha chegado muito perto de beijá-la. Na realidade seu olhar a havia beijado. Quando o mordomo bateu na porta da biblioteca e entrou com uma carta sobre a bandeja, Hallie olhou para ele culpada, preocupada com seus pensamentos impróprios. Por um confuso segundo ela pensou que fosse algo de Marksley para Beecham. Mas a nota era de Jeremy: Caríssima Hallie, Você deve estar pensando o que aconteceu comigo. Está difícil encontrar o pássaro, talvez eu não seja o habil caçador que você necessita. Já vi o suficiente do país até agora, de Worcester até Wilts, para me satisfazer por muitas temporadas. Nunca mais duvide da minha dedicação à sua causa. Minha busca me fez dar um círculo completo. Eu rastreei o andarilho Partridge até a sua vizinhança, de onde será muito mais fácil encontrar você caso eu tenha sucesso. Espero que me entenda, que mantenha seu bom ânimo e que o amigo Richard tenha se mostrado respeitador e honrado. Tenho intenção de vê-lo brevemente, certamente antes de suas núpcias antecipadas. Permaneço como sempre, seu amigo, Jeremy Asquith Hallie leu a mensagem varias vezes. Estava datada apenas desta manhã. Jeremy poderia muito bem estar de volta no próximo fim de semana. E ela deveria estar pronta para partir, pegar o coche do correio para Portsmouth e comprar uma passagem. Ela dobrou a nota, e colocou-a dentro de seu caderno. Talvez ela pudesse cavalgar até Denhurst, e lá conseguir uma carona até o posto de correio mais
próximo. Mesmo seu tio sem saber, poderia fornecer-lhe informações. Neste estágio das coisas, ele nunca suspeitaria do motivo de suas perguntas. Mesmo que ela se ativesse aos seus planos, Hallie sabia que tinha pouca chance de realizá-los. Ela tinha pensado que não poderia se impor a um homem que não a amasse, a um homem tão preso à honra. Mas certamente existiam situações piores. Hoskins interrompeu-a uma vez mais para informar que a senhora Lawes e a filha tinham chegado. Como a Condessa estava indisposta, ele perguntava se a senhorita Ashton se importaria em recebê-las. Hallie concordou, aceitando sua obrigação. A senhora Lawes era gentil e Phoebe podia ser suportada. Ela se juntou a elas na sala de visitas, onde as felicitações de Augusta Lawes a receberam na porta. — Senhorita Ashton, estou encantada em vê-la novamente! O que tem feito com este tempo horrível? — Eu tenho passado o meu tempo na biblioteca senhora, — Hallie disse com um sorriso. Phoebe levantou seu insolente pequeno nariz. — Que aborrecido deve ter sido para você! — Ela fungou, se dirigindo até uma mesa lateral para examinar um pequeno porta retrato de Reginald Marksley. — Na verdade é muito estimulante senhorita Lawes. Existe um excelente livro de Marlowe. — Isto chamou a atenção de Phoebe, mas Hallie apenas sorriu novamente e se dirigiu ao sofá. — é muito gentil de sua parte vir aqui, — ela disse indicando para Augusta Lawes que tomasse assento ao lado dela. — Estes tem sido tempos infelizes aqui em Penham. Mas eu me diverti no seu jantar da semana passada. Que notícias tem dos outros convidados? Eu entendi que o senhor Cavendish foi para Oxford? — — Oh sim. Caro Archie. Os Mayhews sentem falta do rapaz eu lhe garanto. Embora ele tenda a ser um pouco apático e fora de lugar. Eleonor chegou a pensar que ele tivesse um problema mental. Mas Michael lhe garantiu que não era esse o caso. — Estou... feliz de ouvir isso. — Foi um comovedor serviço que Michael Mayhew fez para Lorde Reginald, não acha senhorita Ashton? — Sim, realmente. — Alguma vez se encontrou com Reginald Marksley senhorita Ashton? — Phoebe perguntou. Ela largou o porta retrato e agora passava os dedos em uma figura de porcelana em uma mesa lateral. — Ele era muito bonito. Mas fora
isso, ele e Richard não se pareciam. — — Eu... nunca tive o prazer de encontrar o Visconde Langsford, — Hallie mentiu. — Mas agora você planeja casar com o Visconde Langsford, — Phoebe sugeriu astutamente. — Por quanto tempo vocês vão adiar o casamento? — Não pretendemos adiá-lo, — Hallie disse. — Na verdade o senhorLorde Langsford está determinado a não mudar nossos planos. As sobrancelhas de Phoebe levantaram enquanto a senhora Lawes exclamava, — Minha cara, que surpresa! Certamente a família está toda de luto? — Eu acredito que a Condessa ache a situação difícil. Mas o Visconde acha que é o melhor. — Bem, é claro, a escolha é dele. — Augusta afirmou. — Ele é um jovem muito sensível. — Oh, certamente, — Phoebe concordou. — Eu entendo que um cavalheiro esteja ansioso para casar ou sente certa... necessidade. — A mãe dela apertou os lábios, mas Phoebe a ignorou. — Vocês vão casar em Denhurst? — Acredito que sim, — Hallie disse. — Uma vez que o Visconde retorne de Londres. Possivelmente na próxima semana. Phoebe parecia deprimida. Talvez ela não tivesse esperado receber notícias tão desagradáveis. Mas você poderá tê-lo afinal de contas, Hallie garantiu silenciosamente, pensando porque esse pensamento a fazia se sentir tão miserável. — Nós certamente lhes desejamos o melhor, — Augusta Lawes disse dando uma rápida olhada para sua filha, — não desejamos Phoebe? E sei que Squire Lawes também. — Você é muito gentil senhora. E como está Squire Lawes? — Toleravel, minha cara, tolerável. Mas tendo esses ciganos vagando pelo condado tem causado grande desconforto a ele. Você não ouviu? — Ela perguntou, encontrando o olhar inquiridor de Hallie. — Não. Eles acamparam perto de Denhurst? Augusta Lawes confirmou balançando a cabeça. — Não mais que alguns quilômetros fora, o que é o mesmo que estarem caminhando pela cidade! Nós todos sabemos o que ciganos significam. — É excitante! — Phoebe disse. — Os homens são todos tão escuros e românticos, e as mulheres dançam e lêem a sorte. Eu adoraria que o tempo melhorasse. Poderíamos fazer um piquenique perto da caravana cigana e ter
nossas sortes lidas. Augusta Lawes ficou chocada. — E ter suas bolsas roubadas. Não Phoebe, você não devia desejar esse tipo de coisa. Hallie se virou para Augusta. — Como isto diz respeito ao seu marido, senhora? — Ele é o magistrado, como você sabe minha cara. É dever dele fazer com que o grupo não cause problemas. Três anos atrás houve um sequestro. — Um sequestro! — Phoebe exclamou. — Mama! Eu nunca soube! — — O pequeno Arthur Wells, minha querida. —Os companheiros de brincadeira da Budgely Academy. Mas foi descoberto que ele tinha ido visitar um jovem amigo, e não tinha estado com os ciganos afinal de contas. — E ainda assim senhora, — Hallie disse. — Você acredita que os ciganos são responsáveis? — Como poderiam não ser? Ele nunca teria saído vagando por aí se não tivesse sido seduzido por exemplo. Aquele jeito de perambular dos ciganos! Arthur sempre fora um jovem muito responsável. Hallie se absteve de comentar. — Onde os ciganos estão senhora Lawes? — Ela perguntou. — Não longe, de acordo com Squire. Embora eles desejarão fazer os seus circos ou o que quer que seja antes de partir. — Eu adoraria ver o circo, — Phoebe disse, com um chacoalhar de seus cachos. — Eu acredito que irei mesmo que papai o proíba. A mãe dela a olhou com exasperação. — Eu não entendo você Phoebe. Não há nada de tão misterioso com esse povo. Eles vivem na pobreza, são grosseiros e não tem um lugar fixo. Profecias e sorte! Você não deve desobedecer o seu pai. — Mas mama, você estava exatamente lendo Guy Mannering na outra noite! Augusta Lawes ficou rubra que mesmo a valente Phoebe pareceu perceber que havia passado dos limites. — Eu estava ansiosa por companhia, — Hallie disse rapidamente. — Com toda essa chuva eu fui capaz de sair lá fora somente por breves períodos. — Mas que pena, — Augusta Lawes concordou. — Esta é uma bela região campestre. Tão boa como qualquer outra. Embora eu sempre acalentarei um carinho especial por Yorkshire, minha região nativa. — Se seguiu uma educada e superficial discussão sobre os méritos e os encantos de varias regiões do país, somente interrompida quando Hoskins abriu a porta e
anunciou — o Visconde Langsford — . Quando Marksley entrou, Hallie se levantou como que impulsionada. — Senhoras, — Ele disse. Foi tudo que ele disse. Mas com o sorriso e o olhar que o seguiu, Hallie sentiu que ele tinha muito a lhe contar. — Oh, Richard! — Phoebe voou para ficar perto dele. — Londres estava terrivelmente excitante? Phoebe fez um ruído de protesto e teria perguntado mais, mas sua mãe aparentemente tinha percebido o que Hallie também tinha, que apesar do sorriso, Richard Marksley parecia cansado. — Phoebe, não podemos segurar Lorde Langsford. Você esquece que ele acabou de chegar de viagem. — Augusta Lawes sorriu enquanto se levantava do sofá. — Você foi muito atenciosa minha cara. Nós desejamos a vocês tudo de melhor. Meu lorde, a senhorita Ashton nos contou que vocês pretendem casar brevemente. — — Amanhã senhora Lawes, — RicHard contou a ela, dirigindo o olhar para Hallie. — Eu tenho uma licença especial comigo. Hallie deu um rápido respiro. Somente Phoebe estava desapontada. — Oh! — lembrou-a de sua situação. — Bem meu Lorde, — Augusta Lawes estava curiosa. — Você certamente está adiantado. Sua tia deve estar... bem, pelo menos… — Ela está resignada senhora Lawes, o que é tudo que pediremos a ela e talvez tudo que ela seja capaz no momento. Ela não desceu? — A condessa está indisposta, — Hallie informou com sua própria voz soando estranhamente rouca em seus ouvidos. O olhar de Richard Marksley se demorou no rosto dela, como se a olhasse de forma diferente. Ele tinha estado fora somente por cinco dias? Parecia uma vida inteira. Ele se voltou para a senhora Lawes. — Eu posso convencer a senhora e sua filha a ficarem para o chá? Eu lhe garanto que não estou cansado. — Oh por favor Mama! Nós podemos! —Phoebe insistiu. — Existe tanto para se ouvir sobre a cidade! — Você esquece queridíssima que prometemos ir jantar com os Begwitts. E Simon Begwitt pediu particularmente para vê-la. Você não desejaria desapontá-lo. Entre uma conquista e um prêmio, Phoebe pode fazer apenas um beicinho. — Talvez as damas possam retornar quando seus compromissos forem menos urgentes, — Hallie sugeriu. — Nós ficaremos encantadas, — A senhora Lawes disse com olhar agradecido. Na realidade Richard Marksley olhava agradecido também.
— Você precisa me prometer Richard, — Phoebe insistia enquanto ele as acompanhava em direção à porta. — Mesmo que você se torne um velho casado. — Eu serei apenas alguns dias mais velho senhorita Lawes, — Hallie o ouviu dizer enquanto as escoltava até o hal. — Rezo para não acelerar o meu declínio. Hallie vagamente ouviu os passos, a carruagem, as despedidas e o fechar das portas. Então Richard Marksley retornou para ela. Ele pegou a mão dela e levou-as até seus lábios, provocando-a ao colocar um beijo tão suave que era pouco mais que um leve sopro. — Venha viver comigo, — ele disse suavemente, — e seja meu amor. Hallie puxou a mão abruptamente e caminhou até a lareira. — Nunca diga que ela recitou isso para você novamente, — ela disse lutando para demonstrar uma compostura que não sentia. A pausa que se seguiu pareceu longa. — Phoebe Lawes é tola e inofensiva. — A voz dele era baixa e tranqüila. — Você não deve se incomodar com ela. Hallie virou-se para ele surpresa. Era tranquilizador que o homem tinha decidido cortejá-la nas poucas horas que faltavam para o seu casamento. Que irônico isso podia ser, que ele tivesse passado os últimos cinco dias se acostumando com a perspectiva de um casamento, enquanto que ela acreditava que ele desejava o contrário. — Phoebe Lawes não me perturba, —Hallie disse. — Eu meramente acho que ela atua com falta de... sensibilidade. — E a minha atuação? —De alguma forma Richard Marksley tinha se movido para perto dela novamente. — O que você acha da minha atuação? — Eu a acho... inquietante. — Eu entendo. — Ele franziu as sobrancelhas e se virou. — Nós estivemos separados por alguns dias Senhorita Hallie. Sem dúvida seus pensamentos em relação à nossa situação perturbaram o seu sossego como frequentemente fizeram comigo. Ainda assim parece que chegamos a diferentes conclusões. — Ele passou uma das mãos pelo cabelo e andou para olhar para fora para o jardim adormecido. — Eu decidi encontrar alguma coisa boa nisto. Certamente nós dois faremos um ótimo acordo. Eu por exemplo, sinto que devo reexaminar minha função no The Tantalus. E pelo seu lado, bem, você não me contou o suficiente de você mesma para eu avaliar o quanto você deverá abandonar por causa
deste arranjo. Mas eu não vejo um jeito de evitarmos este casamento. — Ele se virou para encará-la. — Eu proponho que, se colocarmos nossos pensamentos nisso, talvez haja algo de valor, mesmo que somente respeito e companheirismo, a ser ganho nesta associação. É apenas racional. Por alguma razão a explicação fez com que Hallie sentisse um calafrio, embora ela estivesse perto do fogo. — Eu tenho certeza de que está certo meu Lorde, — ela disse suavemente. — Mas eu gostaria de lhe pedir um favor. — Enquanto ele levantava uma sobrancelha ela adicionou, — eu gostaria de lhe pedir que continuasse com a revista. Para continuar com seu trabalho no The Tantalus. O sorriso dele era inquisidor. — Por que isso é tão importante para você senhorita Hallie, para que você peça para mim como um favor? Hallie fez um gesto de desconsideração com uma das mãos e com a outra agarrou a cornija da lareira. — Você não entende? Você é um artista com uma habilidade. Você dedicou tanto a isso. Muitos dependem de você para continuar. Parar seria equivalente a um crime. Você, você iria se arrepender. — Richard Marksley ainda parecia intrigado, talvez um pouco triste. — E você acha que limitando a minha função afetaria a nossa união? — Ele perguntou. — Porque você tem medo que eu seja infeliz? Hallie concordou com a cabeça. — Então eu deverei convencê-la de que haverá compensações. Embora talvez não a grandeza para satisfazer o seu tio, meus recursos são consideráveis. Talvez nós passemos mais tempo em Londres. Mesmo a um Visconde é permitido frequentar os salões, leituras e concertos. — Ele sorriu. — Eu não sou contra em se encontrar algum contentamento e enriquecimento em outro lugar. — Mas não é o que você escolheu. — Hallie protestou. — Não é a sua paixão. — Não fique ansiosa pelo meu bem estar, minha cara. Eu sou um homem de letras. Vou continuar me correspondendo, talvez mesmo escrever algo de minha autoria. Mas o investimento em tempo para dirigir o The Tantalus é considerável. Você raramente teria a minha companhia. — De repente uma frieza incrédula cruzou sua fisionomia. — Ou é esse afinal o seu desejo? Hallie levantou o rosto. — Você me insulta meu Lorde. Eu não sou tão calculista. Eu estava pensando nos seus leitores, nos seus contribuintes e mais do que tudo em você mesmo. Entregar tanto está fora do senso do dever! Se já não está ressentido comigo, vai estar.
— Esta é uma decisão que devo tomar, — ele disse. Hallie sentiu que ele a olhava com intensidade. — Eu estou tentando com a sua ajuda, me mover além das circunstancias que me forçam para essa decisão. — Mas você não os esquecerá. — O tempo os amenizará. — Ele a surpreendeu com um sorriso. — Senhorita Ashton, perdoe-me... Hallie, Eu acho que está se chateando sem propósito. Nós casaremos amanhã de manhã. Você conseguiria adiar o inevitável? Que possível alternativa você teria? — Eu...Tenho pensado. Talvez como uma governanta… O olhar dele era gentil enquanto balançava a cabeça. — Nosso noivado foi o comentário do dia em Londres por mais de uma semana, minha cara. Se desistirmos o escândalo será um resultado inevitável. Nenhuma família de respeito quereria ter você. — Ele suspirou. — Eu elogio você pelo argumento. Eu gostaria de poder ser mais persuasivo. Infelizmente, qualquer poder de dedução que eu possua me levaram longe, mas não mais além. — Há pessoas, — Hallie disse cuidadosamente, — que escolhem ignorar as convenções. Já foi feito meu Lorde. — Mas eu devo desapontá-la. Eu temo, neste caso pelo menos, eu sou um homem convencional. Outros escolhem caminhos mais radicais, eu escolho o meu. É uma questão de se viver bem consigo mesmo. Mesmo que você fosse embora para o continente amanhã, para mim você ainda seria uma Marksley. O ponto era conclusivo. Com a sensação de desmonoramento, Hallie perguntou suavemente, — mas o seu coração é livre meu Lorde? — Livre? Ele tem estado livre por muitos anos. Hallie notou que ele não disse que estava livre agora. — Perdoe-me, — ela apertou as mãos juntas. — Mas algumas pessoas se importaram em me contar a respeito de certa dama, Caroline Chalmers. — A ex Caroline Chalmers, a viúva Marquesa de Wrethingwell-Drummond, foi casada por três anos. Se ela agora é uma infeliz viúva, nada muda. — Mas você se importa com ela? Marksley suspirou impacientemente e foi em direção a ela — Eu me importo com ela de uma forma reflexa. — Ele franziu as sobrancelhas. — Somente como alguém pode se importar com a memória. — Alguém o salve, — Hallie disse suavemente, — Embora sua floração esteja perdida. A fixa atenção dele instantaneamente alertou-a para seu erro. Pareceu longo
o tempo que levou antes que ele perguntasse, — O que você disse? — Eu não... me lembro. Você quer dizer sobre memória? — Sim. Você recitou um poema, a linha de um poema. — O olhar dele era cortante. — Você se lembra aonde leu isso? — Eu temo que não. Deve ter sido no The Tantalus. — Eu acho que posso confiar que reconheço o que eu mesmo publico. Hallie forçou um sorriso. — Certamente não todas as linhas meu Lorde. Ele parecia irritado, se pela honra ou pela dúvida ela não saberia dizer. — Talvez você tenha lido isso em outra publicação? — Eu creio que pode ser, — ela disse com alegria forçada. — Mas você não se lembra em qual delas seria? — Realmente meu Lorde, isto… — Não me chame assim. Nós estamos sozinhos. Eu não exijo isso, nem gosto disso, particularmente vindo de você. — Por que particularmente? — Porque você, mais que ninguém sabe o que isso significa para mim. — Ele se virou para encarar as janelas uma vez mais. — A linha que você recitou é uma das últimas que eu vi em uma correspondência privada. Eu não sabia que ele pretendia publicá-la em outro lugar, ou tinha, talvez já publicado em outro lugar. — Ele parecia distraído enquanto observava a fria chuva. — De quem o senhor está falando? — Hallie se aventurou. O olhar de Marksley se voltou para ela. — De Beecham. Henry Beecham. Nós discutimos o trabalho dele. — Sim. — Hallie queria que ele falasse mais, Ela queria suas confidencias, embora ela nunca as tivesse desejado, cortantes memórias de sua duplicidade! Nesse instante ela decidiu, em seu próprio interesse egoísta, que embora ela pudesse sobrecarregá-lo com uma esposa não desejada, ela não podia privá-lo de um poeta. — Aqui está seu tio, — Marksley observou sem entusiasmo. Hallie ouviu a voz de seu tio no hall. Assim que ele entrou na sala de visitas, ela teve a distinta sensação de ter sua solidão invadida apesar de Richard Marksley estivesse com ela a já algum tempo. — Bem meu Lorde, então o senhor decidiu voltar. — As palavras de Alfred Ashton eram amigáveis, mas ele ainda soava ressentido. Hallie pensava em qual reclamação ele poderia ter, como convidado do Conde, com todos o generoso tratamento recebido por quase uma quinzena. — Sim, senhor Ashton, eu retornei e com uma licença especial. Sua
sobrinha e eu casaremos amanhã de manhã. Com sua permissão. — Marksley se curvou num cumprimento. — Eu falei com o vigário Mayhew em meu caminho pela cidade. — Mas... os arranjos? — Eu vi seu procurador em Londres. Acredito que você ficará satisfeito. — Marksley, puxou do bolso de seu casaco, um maço grosso de folhas de pergaminho fino e entregou–as a Ashton. — Todas as suas exigências foram seguidas ao pé da letra. — Hallie sabia que seu tio estaria surdo para a frieza na voz de Marksley. — Bem, então. — Alfred Ashton parecia derrotado. — Amanhã de manhã você diz? O vestido de Harriet ainda não está terminado, assim eu ouvi. Todos essas futilidades e enfeites que as mulheres compram, como o senhor sabe, meu Lorde… O olhar de Marksley voou para ela. — Eu lamento isso. Eu temo que o senhor deva concordar que existe uma certa recompensa no final. — Pode ser. Pode ser. Não quer essa coisa de muitos abraços então. Acelerando o evento agora parece meio impetuoso. — Parece senhor? Duas semanas atrás não seria suficientemente cedo. O ‘evento’ como o senhor o chama, não aumentou em grandeza, eu lhe garanto. — Alguns dias mais... — Não pode ser senhor. A rápida resposta levou sangue ao rosto de Ashton. — Agora olhe aqui, Marksley... Visconde... meu Lorde. É melhor não se esquecer do que foi feito para a garota — Eu estou consciente disso todo o tempo senhor, — Marksley o interrompeu, — é por isso que casaremos amanhã. — Ela só fará a menos que eu diga que sim! — Oh sim ela fará Ashton. Sua sobrinha logo não precisará mais obedecêlo. Deste dia em diante ela não lhe deve mais nada a não ser que ela queira. Eu pretendo tornar isso absolutamente certo senhor. Bom dia para você. — E com essa finalização na defesa de sua noiva, para quem ele não deu um único olhar, o Visconde Langsford deixou a sala.
Capitulo 8 O casamento foi uma provação. A Condessa embrulhada em seda negra, silenciosamente observava os tristes procedimentos como prenuncio de desgraça. Os poucos parentes que compareceram pareciam como se ainda seguissem Reginald ao túmulo. O vigario Mayhew soava rouco, um problema de saúde causado pelo adiantado tempo frio, tempo que deixou a igreja escura e desconfortável. O vestido de seda safira de Hallie, o melhor que ela possuía, estava úmido na altura dos tornozelos, depois dela ter caminhado na chuva após descer da carruagem. Um dos cavalos tinha ficado manco. A senhorita Binkin teve a desfaçatez de chorar. Richard Marksley parecia não ter dormido. Desde o momento em que ele colocou o anel no dedo dela e lhe deu um fraco e superficial beijo em seus lábios frios, Hallie se sentiu mortificada. Ela assinou o registro e como se estivesse em transe ela escapou da triste pequena igreja para a relativa claridade da manhã chuvosa. Ela segurava o seu buque como se ele fosse um amigo. O único sorriso naquela manhã veio de uma jovem que caminhava pela estradinha da igreja. O desjejum em Penham consistiu em um farto Buffet que nem de leve tentou Hallie, e quando os poucos convidados partiram, ela estava pronta para ir para a cama com uma bem real e dolorosa enxaqueca. Mas Richard Marksley não tinha intenção de permanecer nem um minuto a mais que o necessário sob o mesmo teto que sua intratável tia e o arrogante tio de Hallie. Ele levou-a rapidamente para seu lar em Archers. Relembrando de tudo agora, Hallie se recostou contra o tronco de árvore e se aqueceu sob os mornos raios de sol que banhavam seu rosto e braços. O retorno do tempo bom hoje melhorou o seu humor consideravelmente, como uma boa noite de sono sem sonhos. Ela não tinha visto Richard Marksley após a saída rápida deles de Penham no dia anterior. Ela tinha dispensado cuidar de sua dor de cabeça e acabou dormindo durante o jantar. Marksley tinha saído, exatamente para onde ela não havia perguntado, e nesta manhã ele já tinha saído para cavalgar quando ela desceu para o desjejum. Hallie pensava se este seria o padrão determinante de seus dias, exatamente quão pouco tempo eles
precisavam passar na presença um do outro. Ele ainda trabalhava no The Tantalus. Hallie sabia disso, o que induziu sua curiosidade. Ele tinha dito que não seria capaz de continuar, ainda que parecesse administrar os últimos dias no jornal com muita energia. Em algum ponto no futuro, ele seria pressionado a deixar Archers e se mudar permanentemente para Penham. Mas nesse meio tempo, entretanto breve, Hallie poderia aproveitar o charmoso silêncio do solar e o adorável antigo pomar onde ela se isolava. O alivio que ela sentia agora, após semanas de stress era grande. Esta manhã ela tinha escrito cuidadosamente, com a letra grande e menos legível de Henry Beecham, o poema que ela tinha começado em Penham. A emoção tinha sido verdadeira por dias. Seus pensamentos sobre o assunto ao menos tinham se moldado tão claramente que as palavras fluiram facilmente. Com, esse poema, ela pensou, Richard Marksley saberia que Beecham não o tinha traído, Beecham nunca o tinha deixado. Ninguém poderia expressar tamanha confiança e felicidade com uma pessoa e contudo procurar por outra. Ela dobrou a única folha e fechou-a com um selo, endereçando-a a R.E. Marksley, Archers, Surrey. Hallie planejou pedir a Jeremy para postá-la quando viesse da cidade. A ligação entre Beecham e Marksley ainda não tinha se perdido. Alguma parte esperançosa dela ainda sonhava que Marksley nunca precisasse saber o quão perto ele esteve de seu recluso poeta. Então ela poderia continuar escrevendo poemas para ele. Ela colocou a carta entre as páginas de seu caderno. Ela havia trazido sua caixa de escrita com ela, mas a luz do sol e a confortável temperatura, a serenidade e o canto dos pardais eram tão celestiais que ela dificilmente teria escrito uma palavra. Ela desamarrou as fitas de seu chapéu, escorregou-o de seu cabelo e levantou o rosto para o sol. Os seus ombros relaxaram. Ela gostaria de transformar toda as preocupações e angustias em um assado deliciosamente doce... bolo de mel ou, —Minha Lady, — ela ouviu Gibbs dizendo, — Ahem... minha Lady. Ela abriu os olhos para encontrar o velho mordomo parado respeitosamente ao lado. — Sim, Gibbs? — Você tem uma carta do correio, minha Lady. Encaminhada de Penham. Pensei que pudesse querer vê-la imediatamente. — — Obrigada Gibbs. Você é muito prestativo. — Ela pegou a carta sem se levantar e esperou Gibbs partir antes de abrir o selo. Ela tinha reconhecido a
letra de Jeremy. Caríssima Hallie, Eu parto amanhã, mas queria que você soubesse o mais cedo possível que encontrei o seu Partridge. Juntos vimos o pequeno assunto que lhe interessa. Não espere uma pequena fortuna, mas lhe asseguro que ficará satisfeita. George propôs me acompanhar até Denhurst, onde um grupo de ciganos seus amigos de longa data estão acampados. Espere-me com a recompensa no sábado. Seu, Jeremy P.S. Incluo uma das cartas de Richard que estava no posto do correio. Embora a você agora nunca precise lhe contar nada, eu insisto em que o faça. Certamente você lhe deve isso. Eu não quero ter de lembrá-la de que você não é uma covarde Hallie. A nota tremeu em suas mãos. Jeremy tinha toda razão em admoestá-la. Ele estava certo em dar a sua simpatia para Richard Marksley, que merecia muito mais do que ela havia dado: respeito e amizade. Mas agora ela precisava pensar. Hoje é sábado. Jeremy deve chegar a qualquer momento. E ele ficaria chocado ao saber o quão covarde ela tinha provado ser. A nova aliança de ouro em seu dedo parecia estranhamente pesada. Uma preciosidade, perfeita como Caroline Chalmers. — Ela anda em beleza como a noite... — Ah! Por que Archie Cavendish amaldiçoou-a com uma das figuras idiotas de Byron? Marksley estava desgostoso de ter esquecido tal padrão de perfeição. Ainda aqui ele estava preso pelas leis da igreja e da coroa ao mais imperfeito substituto. O olhar dela caiu sobre a carta que Jeremy havia incluído. Ela tinha sido postada em Londres. A familiar e inesperadamente querida letra claramente feita ‘Henry Beecham’. Ela pensou novamente em que demoníaca ambição ou anseio a possuiu para perpetrar esta fraude. Com dedos trêmulos ela quebrou o selo: Caro Beecham, É difícil encorajar alguém quando se está desencorajado, mas essa é a minha tarefa. Meu baixo entusiasmo vem da necessidade de limitar meu relacionamento com o The Tantalus, talvez mesmo descontinuar sua publicação completamente. Deste modo as circunstancias envolvem alguma ruptura para você. A revista ainda pode viver, mas neste momento não ouso garantir. Como eu lhe disse no passado, tem muito trabalho a ser
feito para alguém que ama um fardo não facilmente entregue, entretanto ansiosamente assumido. Eu transmitirei qualquer novidade. Por agora a publicação estará suspensa até o próximo número. Se você tiver qualquer dificuldade em trabalhar em outro lugar, esteja certo de que não o deixarei sem recursos. Eu sempre só encontrei entusiasmo a seu favor. Como sempre, insisto em que continue com essas linhas que tanto encantam. Com uma habilidade como a sua, eu estou relutante em direcionálo de qualquer forma. O único encorajamento que o seu talento necessita é ter permissão para crescer. Beecham, eu já lhe disse o quanto eu admiro a sua arte. Eu sou um homem muito prático para perder tempo com arrependimentos, o futuro exige suficiente concentração,mas eu sei que me arrependo de nunca tê-lo encontrado. Se você em algum momento encontrar tempo para preencher essa falta eu ficaria muito honrado. Para sempre seu & c. R.E.Marksley Ele tinha assinado sem usar o seu título. Hallie releu a carta muitas vezes, procurando ironicamente, por alguma evidencia dessas novas responsabilidades das quais ela estava tão distante. Mas o tom dessa carta não era diferente das outras que Beecham tinha recebido. Isto agora era frustrantemente distante e não revelador era menos uma medida de qualquer mudança em Richard Markksley que nela própria.. Ele tinha, afinal de contas, nenhum motivo para suspeitar que ao escrever para Beecham, estava escrevendo para sua esposa. Ela cuidadosamente colocou as cartas dentro do caderno. Junto com seu novo poema, e colocou atrás do tronco da generosa macieira. Era, ela pensou, adequadamente uma macieira, ela se absolvia de qualquer responsabilidade. Afinal de contas, o malandro Reginald Marksley a colocou nesse impasse. Ela ao invés disso deveria agradecer sua boa sorte: por se livrar de Millicent e de seu tio, subir de posição e privilégio e por se casar com o homem que ela amava. Mas mesmo admitindo tudo que ela sabia, havia algo drasticamente errado. Ela estava franzindo a testa quando uma sombra bloqueou o sol. —Você parece uma Dríade, — ele lhe disse e olhou para seus olhos abertos. — Sinfonia da luz solar ao invés do luar, brincando ausente ao invés de cuidar de sua árvore.
— Você está se tornando muito imaginativo, — ela murmurou, sentando-se. Ela escovou a saia e olhou por sobre ela. Quando seu olhar caiu sobre o grosso caderno de notas, Richard o notou também. — Eu penso, — ele disse indo pegar o caderno, — o que você registra em seu caderno? — Palavras, — ela disse rapidamente e levantou as mãos para receber dele o caderno, — Somente palavras. Ele tinha enorme desejo de abrir o caderno, para ler o que ela escrevia e talvez saber um pouco sobre o seu coração. O desejo era tão forte que ele precisou se forçar a liberar o volume para seus ansiosos dedos. Ele se lembrou de outro igualmente forte e perturbador desejo desde quando ele a tinha beijado tão castamente na igreja. Ele tinha pensado incessantemente em beijá-la novamente. Sua esposa parecia muito aliviada em ter o seu caderno de volta. O fato aumentou a sua curiosidade. Talvez ela guardasse lembranças de algum tipo. Então ele juntou as sobrancelhas enquanto pensava se alguma era de Reggie. — Eu suponho que você encontrou muitos de seus conhecidos em Londres na semana passada? — Sim, — ele respondeu surpreso com a pergunta. — Naturalmente com as iminentes mudanças no The Tantalus e a alterações na minha vida, havia muito que fazer. Ela parecia incerta, mesmo perturbada enquanto brincava com uma folha de grama e olhava para longe dele. — E você lhes contou sobre o nosso casamento? — Sim. — Ele repetiu, intrigado pela direção das perguntas. — Alguns poucos que eu quis informar. Como mencionei, nossa aliança causou alguma sensação entre muitas pessoas. Estamos melhor fora disso. — Ele examinou o rosto dela. — Não tem necessidade de preparar nenhuma correspondência, se é isso que a preocupa. — Você contou para Caroline Chalmers? Finalmente ele entendeu. Mas ele não respondeu logo. Ao invés disso ele se abaixou e se sentou no chão ao lado dela, e tentou encontrar uma posição confortável para suas longas pernas e pés com botas. — Não existe Caroline Chalmers, — ele lhe disse novamente, descansando os braços nos joelhos dobrados. — Somente Lady Wrethingwell-Drummond, a viúva Marquesa de Wrethingwell-Drummond. E por favor, — ele sorriu para ela, — não me force a dizer estes nomes frequentemente.
— Você me disse que se importava... Quero dizer, o pensamento aceitável parecia ser... — O pensamento aceitável não tem sentido. Eu não estou apaixonado pela mulher, embora muitos anos atrás eu acreditei que estivesse. Ela era de fato quase a morte para mim. Eu era mais imprudente, meus dias poderiam ter sido consideravelmente curtos. — Como seus olhos se abriram mais, ele explicou, — A senhorita Caroline se divertia com as afeições de muitos. Sua preferência aparentemente se focava em mim, para minha grande alegria, até que um de meus estúpidos rivais cismou de exigir um duelo. Quando eu percebi que Caroline se excitava com a perspectiva de que um de nós ou ambos pudessem morrer por ela, minha ligação sofreu uma enorme mudança. Eu pedi minha ordem militar e parti para a península mesmo antes de meus negócios fossem resolvidos. Caroline se desfez do sanguinário tolo, que diga-se de passagem, tem uma esposa e dois filhos. Ele vive em Richmond minha cara — Ele disse olhando diretamente para ela, — você terá oportunidade de encontrá-lo. Não uma cicatriz em mim, apesar de eu ter muitas. De qualquer modo, — Ele olhou para longe enquanto o rosto de sua esposa se coloria de vermelho, — Caroline escreveu que ela ainda espera por mim, embora nunca tenhamos nos comprometido. Mas dentro de três meses ela tinha casado com o velho Bellis, um homem pouco recomendável, com um antigo título e uma bolsa gorda. — Você não era cruel? — Oh certamente. Eu era jovem, apatetado por uma mulher que diziam ser a maior beleza do território. Mas Caroline tinha sempre sido muito livre com toda sorte dada a ela, sentimento, amizade e favores, e ela conseguia desvalorizar tudo. Eu me considero bem estando longe dela. Meu único arrependimento é que meu nome continue a ser relacionado com o dela. Mesmo em lugares como a sala de jantar do magistrado Lawes. — Ele disse, — embora ela tenha enviuvado a apenas alguns meses. E agora você é obrigada a isto. — Eu me obriguei. Isto era e é a coisa certa a fazer. — Ele olhou para ela firmemente. — Você precisa ouvir o nome da dama novamente. Espero que isso não a aflija. Você é agora minha esposa, fato que deverá silenciar qualquer futura especulação. Você poderia ser poupada, enquanto que eu não. Ele leu mais em seu olhar, mas qualquer pensamento, ela não colocou em palavras. Talvez ela não acreditasse que pudesse confiar nele para preservá-la de especulações de diferentes naturezas. — Hallie, — ele disse. — Nós não conversamos sobre um aspecto deste
arranjo que deve interessar a você. As obrigações de esposa… — Meu Lorde, — ela o interrompeu rapidamente, — a senhorita Binkin explicou. — A senhorita Binkin? — Que espantoso, então sua esposa não estava pálida nem tremendo. — A formidável senhorita Binkin tem talentos inesperados, — ele disse suavemente. — Mas deixe-me lhe assegurar que não tenho intenção de exigir nada que você não queira dar. E até que você esteja pronta, se você escolher, eu me conduzirei com discrição. Ela olhou para longe dele e continuou a brincar com a folha de grama. — Obrigada meu lorde. — A reserva dela o incomodou. — Por favor me chame de Richard. Isto me agradaria. — Obrigada... Richard. O nome dele ainda soava como — meu Lorde. — Ele estava ponderando, ainda perturbado, por que ela o desconcertou tanto quando o surpreendeu dizendo, — A senhora Lawes me contou que há um acampamento cigano logo além de Denhurst. Poderia não ser um grande problema para você... Richard... Eu me alegraria muito em vê-lo. — Ciganos? — ele perguntou. — Eles lhe interessam? — Sim. — Ela inclinou a cabeça como se ele a tivesse desafiado. — Eles vivem de forma tão diferente. E um amigo meu e meu falecido pai os estudou. Mas eu nunca os vi. — Então definitivamente faremos uma visita. Poderá ser em dois dias a partir de hoje, entretanto tenho alguns negócios para resolver. — Obrigada. — Ela novamente olhou para longe. — Hallie, — ele disse, então parou. Algo nele escolheu saborear o nome. — Hallie, se possível eu gostaria de dividir o meu lar com mais que um educado estranho. É possível fazermos um esforço? Ela balançou a cabeça, mas ainda se recusava a olhar para ele, e ele que tinha tido evidencia de sua confiança, de seu espírito, reconheceu que estava desapontado com a reticencia dela. O que estava errado com ela hoje? O casamento a tinha mudado. A provação tinha sido brutal. Os lábios dele estavam apertados enquanto ele se levantava para deixá-la. Ele achava que um tempo sozinha restauraria seu equilíbrio, mas ele estava de pé quando ela o encarou. Os olhos dela estavam suspeitosamente brilhantes enquanto ela agarrava sua revista junto ao corpete. — O que foi minha cara? — ele perguntou suavemente. — Você sabe pouco sobre mim Lorde... Richard.
— Eu espero conhecê-la melhor, — Ele disse facilmente, embora a expressão dela o fizesse sentir qualquer coisa exceto fácil. — Você precisa realmente entregar o The Tantalus? — É provável. — Ele franziu a testa enquanto ela abaixou a cabeça. — Mas você não precisa se preocupar com isso. O tempo que gastei com isso não é algo que você entenderia. — Ele olhou com preocupação como ela evitava olhá-lo. — Vou deixá-la com suas atividades. Por favor não se preocupe com esse assunto. Eu já lhe disse antes, você não deve permitir que isso a perturbe. Ele se inclinou num cumprimento, embora ela não se virasse para ele, e deixou-a ainda sentada lá. Ao fazer isso ele pensava se não estava em falta com sua nova noiva, mas a ansiedade dela a respeito do The Tantalus o atingiu de forma tão desproporcional quanto o interesse dela. Ele estava, afinal de contas, tentando arrumar algum tempo para entreter uma esposa. Ela tinha simplesmente que se acalmar. — Meu Lorde, — Gibbs o cumprimentou atrás das portas do terraço. — Lorde Jeremy chegou. Com bagagem. — Ele fungou dramaticamente. Richard correu a mão por seu já desalinhado cabelo. — Isto é inesperado, Gibbs. Ele não enviou um aviso. — Há uma carta para Lady langsford. Para a Viscondessa. — Para Lady... — Por um momento Richard o encarou. — Realmente. —Bem, Gibbs, nós lhe devemos uma desculpa. Estou certo que minha Lady nunca teria intencionalmente deixado de lhe informar. — Não meu Lorde. Certamente que não. A carta acabou de chegar meu Lorde, endereçada para senhorita Ashton. — Novamente Richard o encarou. — Onde está ele então Gibbs? — ele finalmente se refazendo. — Ele o espera no salão meu Lorde. Richard foi para o interior da casa. Alguma coisa estava errada: ele encotrou sua esposa ansiosa para visitar ciganos, vê-la perto das lágrimas por ele abandonar o The Tantalus, então tem a chegada de Jeremy, uma visita que sua esposa não lhe contou. Sim, alguma coisa estava muito errada, mas que o diabo o levasse se ele não descobrisse o que era. Jeremy Asquith, surpreendentemente vestido com um colete em jacquard rosa, gravata creme, casaco verde garrafa e camurça dourada, estava de pé resplandecente observando o quadro da mãe de Richard. — Que encantadora criatura ela deve ter sido, — ele disse assim que Richard parou à porta. Jeremy olhou para ele por sobre os ombros. — Eu nunca vi qualquer semelhança.
— Mas é uma pena, — Richard disse, entrando na sala cautelosamente. Ele sentia como se todo mundo e todas as coisas à sua volta fizessem parte de uma armadilha. — Eu sou a vívida cópia de meu pai. — Jeremy observou o quadro oposto. — Isso não é muito sofrimento meu amigo. Eu já lhe disse antes. Você deveria meditar sobre sua boa sorte diariamente. — Eu ficaria feliz em meditar sobre isso Jeremy, se eu tivesse um minuto para meditar sobre qualquer coisa. Mas as últimas semanas tem sido diabolicamente ocupadas. — Ao falar ele submeteu Jeremy com um olhar cínico. — Minha boa sorte no presente consiste em ascender a um título que eu nunca pedi, abandonando a ocupação que eu escolhi, e dando a mim mesmo uma esposa que nunca teria me escolhido. Jeremy o encarou. — Você casou com ela, — ele disse categoricamente. — A senhorita Ashton é agora a Viscondessa Langsford, — Richard afirmou, pensando por que o incomodava que Jeremy de repente empalidecesse. — Quando Reginald morreu eu não tive escolha. — — Eu... entendo — Jeremy limpou a garganta. — E quando vocês casaram? — Ontem, Se você estivesse aqui eu teria lhe pedido para ficar comigo no altar. — Eu teria me sentido honrado Richard. E lhe dou minhas sinceras congratulações. Hallie Ashton é o mais raro prêmio, como você deve talvez ter descoberto? Pareceu a Richard que a pergunta de Jeremy, acompanhada de um olhar de antecipada curiosidade , era muito sugestiva. — O que exatamente você está insinuando Asquith? — ele perguntou de forma cortante, então imediatamente examinou a si mesmo. Uma das ruivas sobrancelhas de Jeremy foi levantada. — Calma meu amigo Eu falei somente de forma geral. Longe de mim me meter na sua privacidade. — Diabos o levem Jeremy! Você sabe porque casei com a garota. — Você precisa brincar com isso? — Não estou brincando. Embora parece que você, tolamente, está determinado a fazê-lo. — Com seu distinto modo de andar, Jeremy foi até uma cadeira de braços e, mostrando certa cerimônia, se sentou. — Eu acho que devo me mudar para o Three Penny Arms na cidade. Não tenho desejo de atrapalhar a lua de mel. Richard o olhou ameaçadoramente, mas Jeremy virou os óculos com seus
longas e graciosos dedos. — Deixe isso Jeremy, — Richard disse impacientemente. — Você sabe que a sua visão é excelente. Jeremy sorriu, mas colocou os óculos longe. — Eu gostaria de saber três coisas Richard. Primeira, os detalhes da morte de Reginald. Segunda, a sua obviamente inútil razão por trás do absurdo abandono do The Tantalus . E terceira... como está a sua esposa? — Minha esposa está bem, Richard disse. — Eu gostaria de ver por mim mesmo antes de partir. Com sua permissão, é claro, Richard. E as outras questões? Richard falou resumidamente sobre a morte de Reginald. Ele falou um pouco mais sobre a sua decisão de se afastar do The Tantalus. Quando a bandeja do chá chegou com comida suficiente para doze pessoas, Jeremy continuou com seus protestos entre os bocados da comida. — Você não fará isso Richard, —Ele argumentou. — Não há necessidade de tal extremo. Você não é o primeiro nobre a se engajar em um empreendimento literário. Na realidade tem certa diversão como você bem sabe. Deve existir algo mais, compadre mio. Você não está sendo completamente franco. Richard balançou os ombros. — Eu não tenho ânimo para continuar Jeremy. Para lutar tanto afinal. Você precisa saber, desde que você diz se divertir com o trabalho das pessoas, que Beecham publicou em outro lugar. Eu descobri sem querer. Se ele não consegue ser leal ao The Tantalus, ou pelo menos esclarecer sobre suas aspirações, eu não tenho o desejo de continuar. Eu não alimentarei ingratidão. Jeremy se sufocou com um pedaço de biscoito. O resultado foi uma bela tosse que só parou após alguns minutos depois de tomar muito chá. Nesse tempo Richard tinha finalmente se sentado. — Você está absolutamente certo, — a voz de Jeremy soou rouca, —esse Beecham levou seu trabalho para outro? Para quem? — Eu ainda não sei, Embora esteja tomando providencias para descobrir isso. A senhorita Ashton-Lady Langsford me recitou algo que Beecham havia me enviado numa carta. Ela não se lembra onde foi que leu. Ao menos que Beecham tenha se apropriado do trabalho de outra pessoa, o que eu não acredito dada qualidade da sua correspondência, ele deve ter publicado em outro lugar. — Eu... entendo — Jeremy estava fazendo uma careta, uma expressão de tal
concentrado desconforto que ele parecia verdadeiramente horrível. — Você me parece muito estranho Jeremy. Existe algo que você queira dizer? — Eu? Richard olhou para longe dele, para o jardim e tamborilou os dedos da mão direita no braço da cadeira. — Minha esposa me acha um homem sem honra, — ele falou alto, inconscientemente mudando de assunto. — Hallie sempre foi uma jovem dama muito observadora. — Richard olhou para ele com exasperação. — Eu nunca fiz nada menos que o razoável, — ele protestou. — Claro que não. Como você poderia? O renomado R.E.Marksley, agora herdeiro de Penham, se dignando a casar com tão baixa criatura com a intenção de preservar o bom nome dela. Por que ela não está super feliz? — Você está muito errado, — Richard rosnou. — Se eu não tivesse casado, a senhorita Ashton teria sido vendida a algum filho de fazendeiro ou enviada a um convento. — Você está certo disso? — Conheço bem o tio dela. — E você deixou bem claro para ela como era grande o favor que havia lhe concedido? — Não do jeito que você fala. Mas ela deve saber que é esse o caso. E não deve ter sido tão horrível para ela. Eu tenho sido muito solícito. — Ele não disse que havia acabado de deixar sua esposa chorando. Ele se levantou e foi olhar para fora, para o gramado. — Richard meu amigo, qualquer mulher, qualquer mulher não importando a posição na vida, deseja ser homenageada, se sentir valorizada com respeito e afeição. — Indubitavelmente, — Richard disse, então olhou atentamente para Jeremy. — Você acha que falhei nesse caso? — Parece que sim. — Eu lhe garanto que tenho sido muito escrupuloso e respeitoso com minha esposa. — Richard apertou os lábios e novamente se focou na na paisagem de fora. Ele podia ver que Hallie tinha se animado e caminhava bem devagar pelo passeio que levava à casa. Ele ouviu Jeremy novamente se engasgando. — Pelos céus Jeremy, se você não pode comer apropriadamente, então
coma menos. — Eu estava simplesmente surpreso Richard. Até quando você pretende continuar com esse estado de... suspensão? — Tanto quanto a dama desejar. — Ele continuava a olhar a aproximação dela. Ela parava a cada poucos passos para olhar para o céu, ou apreciar a vista, ou olhar para um pássaro ou um esquilo. Ele se pegou querendo saber o que ela estava pensando. — Richard, — Jeremy chamou sua atenção novamente. — Eu estive meditando a respeito de Beecham. É simplesmente sem sentido que ele tenha enviado seu trabalho para algum outro lugar. Você e o The tantalus tem sido muito bons para ele. — Eu diria que sim, — Richard concordou. — Poderia ser somente coincidência de uma frase similar? — Possivelmente, — Richard disse distraidamente, sua atenção estava agora inexplicavelmente absorvida pelo lento caminhar de sua esposa. — Richard, — Jeremy disse, desta vez com mais urgência, — você alguma vez pensou que Henry Beecham pudesse ser uma mulher? Olhando Hallie parar somente para examinar uma folha caída, Richard no primeiro momento não registrou a pergunta. As palavras pareciam ter ecoado em sua cabeça por um momento antes que ele compreendesse seu significado. Ele estudou sua nova esposa e pensou que tipo de mulher pretenderia ser um homem. — Impossível, — ele disse rapidamente. — Por que menos possível que duas pessoas diferentes escreverem as mesmas palavras? Richard se virou para encara Jeremy. — Eu nunca pensei nisso, — ele disse. — Por que isso? — — Qual seria o motivo da dissimulação? — A publicação não é motivo suficiente para um escritor como Beecham? — O The Tantalus teria publicado Beecham fosse ele homem ou mulher. — Verdade Richard? Eu sempre acreditei nisso. Então talvez se uma mulher se sentisse ridicularizada por seus familiares, ou mesmo pela sociedade, regras e expectativas. Uma carreira literária é raramente encorajada em uma mulher. — Verdade, — Richard disse. — Mas você teve alguma indicação de que Beecham pudesse ser outro que não um homem? Eu não tinha idéia de que vocês se correspondiam. — Eu nunca me correspondi com Henry Beecham. Eu soube por você que
ele é um hermitão ao extremo. Simplesmente me ocorreu que isso poderia explicar a sua dificuldade em localizá-lo. Richard sorriu sombriamente. — Se alguém, seja homem ou mulher, não deseja ser encontrado, será notavelmente difícil frustrar esse propósito. Eu tentei. — Talvez devêssemos pedir a opinião da sua esposa, como eu soube ela tem... uma queda por poesia. — Uma excelente idéia. Você pode perguntar-lhe, ela acabou de chegar e eu, infelizmente, tenho algumas cartas para escrever. — Ele andou enquanto falava, alcançando a porta ao mesmo tempo em que Hallie entrava. Ele percebeu sua expressão ansiosa e seus olhos secos enquanto ela olhava para Jeremy. Richard não desejava observar o seu encontro carinhoso. — Minha cara, — ele disse, — aqui está nosso bom amigo desejando saber de seu bem estar. Rogo-lhe para que o tranqüilize. Mas me desculpe por não ficar em sua companhia. Alguns assuntos não podem esperar. — Ele se dobrou num cumprimento, mas não antes de notar a súbita sombra em seus lindos olhos, se de pesar ou raiva ele não sabia e não ficaria para descobrir. Jeremy desdobrou seu longo corpo da cadeira e se levantou para observá-la através dos óculos. Por um período de tempo ele não disse palavra, mesmo depois dela se mover e ficar em pé diante dele. — Bem, — ele disse finalmente. — Eu pensei primeiramente que você fosse alguém conhecido, mas agora vejo claramente que é um estranho. — Não me censure Jeremy, — Hallie implorou. Ela apertou as mãos juntas e começou a andar. — Não pude imaginar um jeito de evitar isto. No meu lugar o que você teria feito? — Eu nunca estaria em seu lugar Hallie. Eu lhe dei o benefício do meu sábio aviso algum tempo atrás. Ela passou a andar com mais agitação. — Sim, você está muito certo. — Eu tenho sido muito tola. Mas e agora? — Agora minha cara, — ele falou pausadamente, — Eu lhe desejo felicidade. — Felicidade? Jeremy eu receio que isso seja muito improvável. — — Você não o ama? Hallie sabia que estava corando, mas não tinha controle sobre sua cor. Ao invés disso ela desabou na poltrona mais próxima e olhou suplicantemente para ele. — Talvez, — Jeremy disse vagarosamente. — Eu vou perguntar novamente.
Você o ama? Os dedos de Hallie se tensionaram contra as almofadas do estofamento. — Deus me ajude, — ela sussurrou. Jeremy parou de brincar com seus óculos e sorriu para ela. — Deveria levar isto como uma afirmativa, — ele falou secamente. E eu estou animado. Você precisa colocar o seu coração nisto Hallie. E Richard. Ele é um homem excelente. — Ao notar a ansiedade dela o sorriso dele se apagou. — Eu não consigo ver o obstáculo, — Ele disse, soando no momento com cada polegada como o filho de um Duque. — Há um enorme obstáculo. Em Henry Beecham. —Jeremy lançou alguma migalha de comida em sua boca antes de responder. —É verdade que Richard parece perturbado sobre esse comportamento ingrato. Ele acha que a duplicidade de Beecham em enviar trabalho para outro lugar contribuiu para a decisão de desistir do The Tantalus. Um muito desafortunado deslize minha cara. Você deve consertar as coisas. — Sim, eu sei. Somente... ele está muito zangado? — Zangado? Eu não diria isso. Intensamente desapontado, desanimado, enganado, traído, iludido, logrado, ludibriado... — Obrigada Jeremy, — Hallie disse rapidamente. — Eu entendo você. Eu apenas preciso saber o melhor a fazer em seguida. — Não se atrapalhe ainda mais Hallie. Como um observador interessado, devo lhe dizer que o seu jeito de lidar com isso se mostrou desastroso. — Ele tirou um maço de notas de dinheiro do bolso de seu casaco e deu–as a ela. — Aí tem o suficiente para uma passagem para qualquer lugar que queira, isto é, se é isso que você quer. Eu pedi a Partridge retirar tudo em notas de dez, para evitar suspeitas. Mulheres raramente carregam tanto dinheiro, como você bem sabe. Você pode contá-lo se quiser. — Você é muito cruel Jeremy. —Ela disse. — Você sabe como estou grata. — Eu suponho que deveria me desculpar por ter perdido meu tempo com isso, — ele disse maliciosamente. — Isso seria absurdo. Você sabe que nunca tive a intenção de usar tanto do seu tempo ao enviá-lo para varrer metade do país. Nunca vou poder lhe pagar e eu... estou envergonhada. — Ela olhou para baixo. — Como está George? — Muito bem instalado com os ciganos. Este grupo está a mais ou menos oito quilômetros de você, do outro lado do Down. Ele foi facilmente convencido a se passar por Beecham, nunca pediu explicação do por que você precisava do dinheiro. Um amigo muito útil. Eu espero que em algum dia você
se digne a agradecê-lo. — Você sabe que farei Jeremy. Vocês dois tem sido bons amigos para mim. Por um momento, Ele considerou o que ela disse. — Preciso ir agora Hallie. Estou refugiado no Threepenny Arms. Não posso suportar ver meus dois queridos amigos envolvidos nessa insuportável farsa. — Eu entendo. Eu prometo que de alguma forma vou reparar essa situação. Fora isto, — ela pegou o seu caderno, — você poderia ser gentil e colocar isto no correio para mim quando voltasse para Londres? — Ela tirou o poema lacrado de dentro das páginas. — Somente... somente junto com suas cartas normais, — ela acrescentou, cuidadosa em não se impor a ele novamente. — Talvez você pudesse garantir-lhe de que Beecham nunca o deixou, isto é, nunca deixou o The Tantalus. Jeremy pegou a carta e leu o endereço de envio. Ele bateu com ele na palma da mão. — É apenas um outro poema, — Hallie explicou. — Eu entendo. —Ele continuava batendo no envelope, então disse friamente, — Hallie isto precisa parar. — Vai parar. Mas tem de ser de forma satisfatória. Eu preferiria que ele mantivesse o The Tantalus, então eu manteria... se eu pudesse, Oh, Jeremy! Eu pensei em manter Beecham, mas eu quis mais. E agora estou perdida. — Você não perdeu nada Hallie além do seu coração. Isto não é algo incomum de se perder. — Ao menos... você precisa me contar. Ele amou muito Caroline Chalmers? Jeremy a analisou. — Eu imagino que não, — ele disse casualmente, enquanto colocava o poema dentro do bolso de seu casaco. — Eu tenho observado Richard apaixonado. Hallie absorveu isso em silencio. — Bem então, — ela disse, — eu tenho pensado em ficar e talvez manter uma amizade. Mas se ele nunca me perdoar... Jeremy pegou suas mãos e gentilmente apertou seus dedos. — Você deve ser gentil consigo mesma minha cara, — ele sugeriu suavemente. — Você é a esposa dele. É improvável que Richard ache que exista algo para ser perdoado. — Com isso e um leve aperto de sua mão ele partiu.
Capítulo 9 Hallie colocou as notas de dinheiro junto a sua saia e voou pelas escadas em direção ao seu quarto. Ela colocou seu caderno ao lado da cama, então foi diretamente na direção da escrivaninha e colocou o dinheiro no fundo de uma das gavetas. Quando ela se moveu até o lavatório, seu rosto no espelho estava rosado e excitado. Você é sua esposa, Jeremy disse. Ele estaria certo em pensar que ela era cruel com ela mesma? Talvez os anos passados com seu tio e com Millicent a treinaram tão bem, que ela agora acreditava ser merecedora de muito pouco. Ela não conseguia achar tão indesejável a perspectiva de ser, afinal de contas, de ser a senhora de Archers. Ser a Condessa de Penham. Mas isso a fazia ficar enjoada. Ela descobriu o muito que queria ser a primeira, mas não estava certa de querer a segunda. Tinha muito mais nisso do que apenas ser uma esposa... Ela gastou seu tempo em se preparar para o jantar, dispensando a oferta de ajuda de uma das criadas. Quando o primeiro sino soou, ela desceu, fazendo um esforço para se compor, assim que ela se aproximou da sala de jantar, Richard veio da biblioteca. Eles pararam com os olhares fixos, e Hallie soube que não se moveria a menos que ele assim o desejasse. Finalmente ela respirou facilmente assim que ele andou até ela. — Fico admirado com sua pontualidade, minha cara. As damas das casas gastam o tempo que querem e não o que elas precisam gastar. — Ele inclinou a cabeça, percebendo que ela não parecia tão ansiosa como na realidade se sentia. — Eu...me encontro muito faminta, — ela disse, precedendo-o rapidamente para dentro da sala de jantar. — Quem diria, — ele disse enquanto Thomas afastava a cadeira para ela. O lugar dela era do lado esquerdo de Marksley. — Você falhou com o jantar, se as informações da senhora Hepple estão certas. Você precisa entender que os criados estão ansiosos em agradar sua Lady. Como é possível para eles impressioná-la se você não lhes faz exigencia alguma. — Ele sorriu. — Eu não estou acostumada a exigir meu Lorde. Os criados de meu tio em Tewsbury eram apenas três: cozinheiro, arrumadeira e um servente. Eu nunca
tive uma criada particular nem outros serventes particulares. — — Eu não acredito que você esteja se sentindo intimidada por comandar até mesmo um exército minha cara. Mas você não explicou a falta de apetite. — Eu ... não posso explicar. Por um momento ele apenas a olhou, seus negros olhos estavam pensativos. Depois ele voltou sua atenção ao prato. Hallie seguiu seu exemplo e pegou pequenos pedaços de peixe. — Eu não tinha experimentado isso antes- — ele disse, sorrindo quase timidamente. — Isto é, eu nunca tinha experimentado o casamento antes, então espero que me perdoe antecipadamente pelas varias falhas e dúvidas que eu mostrar, ao menos nestas primeiras poucas semanas. Após isso...bem. talvez você possa inventar algumas penalidades. — Você não é o único novo no casamento meu Lorde. Não é algo que se pratique. — Não. Embora eu ache que as mulheres, desde muito cedo, treinem nessa arte para tornar mais fácil o desempenho, enquanto que os homens não o fazem. — Todo casal é único, meu Lorde, — Ela disse suavemente. — Eu entendo que certo respeito mútuo é o certo para se começar. — Então posso começar, lhe pedindo novamente, que respeite meu desejo de que você me chame de Richard? — Sim, é claro, meu... Richard. — Algo em sua atenção a deixou inquieta. Ao dirigir sua atenção novamente para a comida, ela se perguntava se o entendimento entre eles não poderia ter sido mais especial se não tivesse pautado em cima de um engano. — É uma vergonha, — ele disse, — que Lorde Jeremy não pode ficar mais tempo. Eu creio que ele se sente um intruso. — Eu sempre soube que ele é um infreqüente e temporário visitante, — Hallie disse. — Muito parecido com seu capricho favorito, as borboletas. — Capricho, — Marksley repetiu acentuando as letras. — Ainda que seja seu mais profundo admirador. — Ele é? Marksley sorriu e balançou a cabeça para ela. — Minha Lady corretamente notou que nesta nossa lua de mel, eu sou seu profundo admirador. Deixe-me dizer então que Jeremy é um leal e fervoroso admirador. — Você exagera meu Lorde.
— Se você tão facilmente duvida do meu julgamento, eu não me importarei em lhe dizer o quão adorável você está esta noite Hallie. Novamente um calor não bem vindo se instalou no rosto dela. — Você não precisa... — Não, — ele concordou. — Eu sei que não preciso. Eu lhe disse isso porque é verdade, e porque me da prazer. Eu não desejo gastar nossos dias negando nem a verdade nem meu prazer. Isto seria aborrecido. — Ele parecia determinado. O lacaio, sentindo obviamente a tensão na mesa, rapidamente removeu os pratos e serviu a sopa. Quando Gibbs inesperadamente entrou na sala, Marksley acenou-lhe para que se aproximasse da mesa. — Perdoe-me, meu Lorde. Tenho notícias do senhor Beecham, — o mordomo disse. A colher com a qual Hallie tinha estado brincando, escorregou e bateu na borda do prato fazendo barulho. — De que natureza? — Marksley perguntou. — Um mensageiro de seu banco em Londres acabou de entregar isto meu Lorde. — Ele deu um pequeno cartão para Marksley, que rapidamente leu a mensagem. — Minhas letras de crédito para Beecham foram apresentadas e preenchidas dois dias atrás na cidade, no seu total, — Marksley explicou ao ler. Por um momento houve silencio. Então ele disse cansado, — Obrigado Gibbs. Hallie disfarçadamente estudou o rosto de seu marido enquanto tomava o caldo. Jeremy tinha falado que Marksley se sentia traído, ele acreditava na deserção do poeta, e essa descrição parecia dolorosamente acurada. Marksley iria interpretar a retirada do dinheiro como uma finalização. Mas seus pensamentos estavam aparentemente longe do assunto Henry Beecham. — Você não sentirá falta de trabalho Hallie, basta escolher. Esta comunidade poderia usar sua sabedoria e imaginação em qualquer coisa que você, como Viscondessa Langsford, puder achar conveniente. Eu temo que minha tia e meu primo se abstiveram de certas responsabilidades de seus postos, particularmente aqui no campo. Eu gostaria de fazer melhor. — Hallie ensaiou um sorriso. — E você não achará escassez de companhia e entretenimento. A senhora Lawes e a senhora Mayhew estarão muito ansiosas de introduzi-la no grande círculo de seus conhecidos. O estábulo e os jardins aqui em Archers, e na
realidade, todo os trabalhadores de Penham também estão todos ao seu dispor. Denhurst é uma pequena mas viva comunidade. E o campo é atraente. — Ele pensou um instante. — Eu acho que devemos arrumar-lhe um cavalo. Enquanto ele listava todos essas potenciais atividades, Hallie sentiu que ele estava distraído. — Você parece ser apreciador de Denhurst... Richard. Ele sorriu enquanto olhava para ela. — E eu sou. É meu lar. Espero que você venha a gostar também. Mas você não precisa se resignar com o campo. Eu sei da necessidade de passarmos algum tempo em Londres. Talvez possamos ir em fevereiro ou março. Há uma casa em Berkeley Square a qual você poderá, naturalmente se sentir livre para decorar e arrumar do modo como desejar. — Eu estou... oprimida. — Ela realmente se sentia oprimida, senão um pouco desesperada. Enquanto ele descrevia as inúmeras atrações em Londres, a vida de Richard Marksley esboçada soava incrivelmente ocupada, confortável e vazia. Exatamente onde ele pretendia estar enquanto ela, decorava, a casa da cidade e provava essa quantidade de ofertas? Ela percebeu que tinha pouco apetite para o carneiro temperado que consistia no prato principal. Mas consciente do olhar de seu marido sobre ela, Hallie fez um esforço para comer. — Eu não perguntei se você toca um instrumento, — Marksley disse. — O piano no salão era de minha mãe. Eu ficaria feliz se você o considerasse como seu. — Eu lhe agradeço. Temo que toco de forma passável. Mas eu me sentiria encantada em tentar melhorar. Você tem algumas músicas de sua mãe? — Algumas eu creio. Eu guardei muitas de suas coisas. — Ele tocou em seu copo de vinho. — Ela era uma mulher talentosa e corajosa, embora não fisicamente forte. Meu pai teria se perdido sem ela, como ela sem ele. Mesmo sendo uma criança eu percebi que morrerem juntos foi uma misericórdia para eles. — Você ainda sente falta deles. — Eu sinto. — Marksley encontrou o olhar dela. — Não ao menos por uma razão egoísta que eu creio que teria sido uma pessoa melhor na companhia deles. Você é uma boa pessoa agora, Hallie observou silenciosamente. Por um momento ela empurrou a comida em volta de seu prato. Então ela pôs o guardanapo sobre a mesa e se levantou. — Estou com um pouco de frio. Vou
ao meu quarto buscar meu xale. Ele olhou-a admirado enquanto ele também se levantava. — É simples, basta enviar Thomas ou uma das criadas para pegar o xale minha cara. Você não precisa se preocupar. — O pequeno exercício me aquecerá, — ela insistiu, enquanto se afastava da mesa. — E como já mencionei, estou acostumada a fazer tudo eu mesma. — Desta vez então Hallie. E venha se juntar a mim para o café na biblioteca quando estiver pronta. Há alguns itens que eu gostaria de lhe mostrar. — Hallie balançou a cabeça concordando e escapou para o hall. Ela tinha sido louca em pensar que poderia continuar com isso, dia após dia, e manter o seu segredo intacto. Ela alcançou seu quarto e encontrou o desnecessário xale. Ela queria somente uma pausa da educada situação. Novamente ela olhou no espelho e respirou profundamente. Como contar a ele? Como contar a ele? Ela não conseguia decidir. Mas tem de ser agora. Ao descer os últimos degraus para o hall, Marksley estava saindo da sala de jantar. Ele notou seu rosto corado. — Não havia motivo para correr Hallie. Nesse ritmo, Gibbs poderá ser tentado a enviá-la para Epsom. — Ela pensou ter ouvido uma risada abafada vinda da sala de jantar. — Agora você gostaria de algo mais refrescante que café? Hallie encontrou seu sorriso com uma tentativa de sorrir também. — Eu ainda prefiro café obrigada. Marksley estendeu-lhe a mão enquanto ela acabava de descer as escadas. Quando a mão dele segurou a dela o imediato calor do contato alarmou-a. Antes que ela cambaleasse o braço de Marksley segurou-a pela cintura. — Cuidado, — ele disse suavemente. Ele praticamente a ergueu do último degrau. Hallie mal podia respirar. Ela se afastou dele rapidamente e fez um inútil esforço para ajeitar o xale. — Permita-me. Ele pegou o xale de suas desajeitadas mãos e colocou-o em seus ombros, seus dedos tocando os cachos de sua nuca enquanto ele posicionava a lá macia. — Estou surpreso de você precisar disto, tão quente como você está. — Ele não devia ter sentido o seu estremecimento ou ele teria sabido que não era de frio. Por um momento, seus olhos escuros encontraram os dela. Prendendo seu olhar, ela pensou que quase podia esquecer tudo o que a senhorita Binkin tinha contado para ela. A mão dele atrás dela exigia que ela fosse para frente, enquanto que todas
as partes dela queriam se virar para ele novamente. Ela entrou na biblioteca, uma sala na qual ela não tinha entrado desde seu primeiro encontro menos de três semanas antes. Ainda que tivesse sido há um século, ela pensou e resolutamente se sentou perto do fogo. Marksley foi em direção a sua escrivaninha. — Eu quero que você veja onde estão localizados Archers, Penham, Denhurst e onde estão acampados o seu grupo cigano. — Ele puxou alguns documentos de uma gaveta enquanto falava e agora estava de pé com eles em uma das mãos. — Então, já que você conhece cavalos, eu pensei que você podia dar uma olhada nos planos para o novo cercado para cavalos de Penham… Gibbs bateu na porta aberta e entrou na sala com a bandeja de café. A carta de Beecham para Marksley estava sobre o serviço de prata. Jeremy! Hallie furiosa pensou silenciosamente. Ela sentou para frente em sua cadeira. — Que diabos? — Marksley murmurou. Ele colocou lentamente seus documentos sobre a escrivaninha e pegou a carta dobrada. Ele manuseoua cuidadosamente por um segundo, como se fosse uma coisa viva que de repente fosse sair voando. — Gibbs. — Sim meu Lorde. — Esta carta, ela chegou com o mensageiro do banco de Londres? — Gibbs derramou o café, olhando para o documento como se ele tivesse cometido um imperdoável ofensa. — Não meu Lorde. Ela foi deixada na sala de visitas, sobre a cornija da lareira. Ninguem reportou sua chegada. Sei que o senhor se preocupa com isso. — Sim Gibbs. Realmente. Mas como ela chegou até aqui? Ela não foi postada. Certamente ninguem esteve na sala de estar hoje? — Uma criada deve ter puxado as cortinas, meu Lorde, e logo agora Thomas entrou para preparar o café, antes de eu mandá-lo diretamente à biblioteca. — — Envie os dois até mim, por favor Gibbs. Quando o mordomo foi embora Marksley se virou para testar os fechos das portas francesas do jardim. Então ele encarou Hallie. — Peço-lhe perdão minha cara. Um assunto inesperado... seu café... — Não tenho necessidade disso. — Hallie se levantou. — Richard… — Não, não me deixe Hallie. Me juntarei a você em um minuto. Ah, Thomas, Mary, — Thomas se dobrou e Mary fez uma reverencia. — Algum de vocês viu se as portas da sala de estar estiveram abertas para o jardim mais
cedo? — Não meu Lorde, — eles disseram junto. — Elas estavam trancadas, — Mary falou. — Nem se esta carta estava sobre a cornija da lareira mais cedo hoje? — Eu não a vi quando fui puxar as cortinas, — Mary disse — Somente coloquei meus olhos sobre a cornija da lareira exatamente agora meu Lorde. Não posso dizer como teria notado uma carta a mais no meu caminho usual, — Thomas disse francamente. — Então é só, — Marksley observou com um pesaroso olhar para sua escrivaninha coberta de papeis. — Algum de vocês notou algum estranho lá fora esta noite antes do jantar? — Havia o Clem Tarkenton lá em baixo consertando alguns utensílios de cozinha, — Mary disse. — Mas ele nunca vem aqui em cima perto da casa, pois seus cães correm atrás das galinhas da senhora Hepple. — Eu entendo. Obrigado a você Mary e a você também Thomas. Vocês podem ir. Por alguns segundos ele esfregou o dedo sobre o lacre da carta de Beecham. Então abruptamente ele o quebrou. Hallie o observava enquanto ele lia, ela olhava suas sobrancelhas e parte de seus lábios, enquanto ele lia em voz alta. Ela silenciosamente repetia as palavras para ela mesma. Quando finalmente a encarou ela sentiu a intensidade de seu olhar. — O pobre tolo está apaixonado, — ele disse. Seus olhos segurando os dela eram acusadores. — Perdão? — Beecham É claro como o dia. O poema diz tudo. Não imagino ter ouvido nada dele. O tolo sucumbiu ao charme de alguma mulher. Embora — , e ele franziu as sobrancelhas, — isso está aqui… Enquanto ele voltava para a leitura da carta, Hallie novamente levantou-se desconfortavelmente ficando de pé com as mãos apertadas em frente a ela. Ela se sentia fria, miseravelmente fria e completamente despreparada. Era hora da máscara cair. Jeremy se assegurou disso. Mas primeiro ela tinha de perguntar: —Não é bom o poema? — Oh, sim, — Marksley murmurou enquanto lia. — É um bom e terrível poema. Hallie engoliu. — Richard, — ela começou uma vez mais, somente para notar como aquele
olhar preocupado se fixava no dela. — Há uma coisa que preciso lhe contar. Eu nunca deveria ter deixado que isso fosse tão longe, mas eu temia... temia que você não entendesse ou... perdoasse. — Como Marksley franziu mais as sobrancelhas, Hallie tentou se apressar. — Por causa do meu tio, que você conhece bem, depois da morte de Tolly eu precisava de um modo — Ela parou ao ouvir barulho de passos no hall precedidos de Gibbs e uma criança estranha, um menino despenteado com um indisciplinado cabelo negro e uma roupa esfarrapada que diziam de sua origem cigana. Ele era muito magro, mas Hallie imaginou que ele tivesse por volta de dez anos. — Meu Lorde, este pirralho tem noticias de Beecham, — Gibbs anunciou, segurando o rapaz pelo braço, apesar do menino não fazer esforço para fugir. — Beecham novamente? Solte-o então Gibbs, como eu penso ele veio aqui livremente. — Muito certo, su excelença, — o menino falou alto. — Tem um home que se machucou no nosso acampamento. Nenhum de nois sabe o nome dele, havia somente isto. — Ele segurava uma folha de papel a qual Hallie reconheceu como sendo a carta de Marksley para Beecham. A última vez que ela viu essa carta, foi quando confiou-a a Jeremy junto com as letras de crédito para George Partridge. — George, — ela ofegou, somente para alertar seu marido. — George? — ele perguntou. — Eu... simplesmente me lembrei de algo. Perdoe-me. Ele não pareceu muito satisfeito, mas se virou para o garoto. — Você diz que o homem está ferido no seu acampamento? — Aconteceu quando ele ficou muito perto de uma luta entre meu tio Sherengo e o namorado de Rosabelle. Ferido cabeça e braço. Ele não muito mal, mas ele deve partir. — E onde estão os seus carroções? — Mais menos cinco quilometro dotro lado da ponte do rio, na estrada. Eu posso leva lá. Eu corri metade do caminho, — ele disse orgulhosamente. Marksley se virou para Gibbs. — Eu levarei o garoto comigo sobre o Apollo, Gibbs. Manda a carruagem depois de nós e chame o médico. Se Beecham puder ser removido, eu o trarei para cá. — Sim meu Lorde. — Gibbs respondeu com surpresa e agilidade, mas parou na porta. — Isto explica a outra carta então meu Lorde, não é? — Para os ouvidos de Hallie o velho mordomo soou aliviado. — Pode ser Gibbs. Pode ser sim. — Mas o rosto de Marksley estava preocupado enquanto finalmente colocava cuidadosamente o poema de
Beecham sobre a escrivaninha. Ele olhou para o garoto. — Este estranho não é o namorado se Rosabelle? — Não! O garoto exclamou. Por que Rosabelle nunca olha para ele! Ele não irmão não cigano ela não ouve o teimoso. — O teimoso? O garoto mexeu os pés e olhou para baixo. — É o jeito que nóis fala. — Você sentirá medo de andar no meu garanhão? Eu o manterei a salvo, mas ele é alto e veloz. A criança sorriu encantada. — É assustador e maravilhoso, — ele disse. Os pensamentos de Hallie voavam. Ela se sentia responsável por George, embora ela soubesse que ele sempre seguia suas pesquisas do seu próprio jeito excêntrico. Aquela carta em particular na qual Marksley explicava como as letras poderiam ser usadas no banco, podiam ter levado os ciganos a acreditar que ele tinha dinheiro com ele ou tinha fácil acesso a ele. Por que o garoto tinha se dado ao trabalho se os ferimentos de George não eram graves? Marksley poderia estar indo para uma armadilha. — Meu Lorde, — ela disse, — não seria melhor levar Thomas com você, ou talvez um lacaio, no caso de haver muitos deles? Marksley pensava rápido, mas ele respondeu com tranquilidade. —Estou certo de que há muitos deles. — Ele se virou para o garoto. — O que você pensou quando leu a carta? — ele perguntou. — Não saber ler, su Excelenci. — O garoto sorriu. — Ninguem sabe. Foi meu tio Sherengo que viu a marca, — ele apontou para a parte de cima da carta, — no portão fora da estrada. — Por um segundo ele pareceu suspeito. — É a mesma marca no portão do lado de fora da estrada, num é? Enquanto Marksley olhava triunfante para ela, Hallie tentava pensar em um modo de mantê-lo longe do acampamento. George Partridge tinha sido ferido mesmo que não intencionalmente. Algo parecido poderia acontecer com Marksley. — Richard, — ela insistiu, surpresa com o pânico em sua voz, — Você não pode esperar por outros? Certamente o magistrado Squire Lawes... — Será suficiente informá-lo quando eu tiver me assegurado de que Beecham está a salvo. — Marksley falou enquanto saia pela porta com uma das mãos nos ombros do garoto. Ele se virou para lhe dar um sorriso. — Não se aflija minha cara. Eu acho que você tinha mostrado interesse nesse acampamento? Eu lhe prometo que voltarei logo. Ela não conseguiu acreditar nele. No segundo que ele saiu da sala, Hallie o
seguiu até o estábulo, tentando convencê-lo. Talvez os ferimentos de George fossem piores do que o relatado, por isso os ciganos tiveram de pedir ajuda de fora. Não poderia algo parecido acontecer com Marksley? Esse povo costuma acertar suas diferenças de um modo violento que a levavam a suspeitar da possibilidade de mais violência. Nesse caso ela estava interpretando o comportamento dos ciganos da pior forma, mas agora tudo que importava era cavalgar até seu acampamento sem problemas, ela não via a situação desapaixonadamente. Os terríveis avisos da Augusta Lawes sobre o jeito indisciplinado deles, encontrou lugar em seus pensamentos. Hallie estava determinada a ajudar Marksley e George, eles não ficariam sozinhos. Ela escutou Marksley falando suavemente com o inquieto Apollo enquanto ele era selado. Assim que ele partiu ela se apresentou ao rapaz do estábulo e pediu uma montaria para ela. O rapaz olhou-a apreensivo; ele gostaria que sua lady saísse com a carruagem, mas ele fez como ela pediu e duvidosamente entregou a ela um lampião também. Embora a noite estivesse enluarada e limpa, Hallie se viu cavalgando por uma estrada desconhecida e ela não estava certa de conseguir acompanhar a velocidade de Apollo à frente dela. Sua mansa égua começou a trotar, deixando os terrenos de Archers e a estrada para Penham. Sob o luar, Hallie não teve dificuldade e ela podia ver as poucas luzes, mas o luar, embora não fosse lua cheia, era suficiente para ela seguir as orientações do rapaz do estábulo até a antiga ponte de pedra sobre o rio. Longe do rio a estrada levava a Denhurst. O seu único desafio era o ar gelado, por isso ela tinha colocado um cobertor de lã dos estábulos sobre seu xale, ela sentia a necessidade de uma capa. Seu fino traje do jantar dificilmente seria suficiente para uma aventura numa noite de outono. Quando ela percebeu sinal de um cavaleiro à frente na estrada, ela rapidamente diminuiu a luz e a pressão sobre o cavalo. Enquanto sua égua balançava a cabeça, Hallie se concentrava em manter o animal quieto. A inesperada saída, ou talvez a perspectiva de outro cavalo na estrada à frente dela, claramente a excitou. Por quase dois quilômetros a estrada estava em nível e vazia, então ela virava para longe do vale do rio e de Denhurst, se estreitando, começando uma gradual curva ascendente através da floresta perfumada. As sombras das árvores elevavam-se sombriamente ao longo do caminho. A proximidade da escuridão da floresta começou a oprimí-la, de repente as árvores deram lugar a um largo campo vazio agora por ser final de estação. Ao longe lanternas
dançavam brilhantemente. Embora ainda faltasse mais de meio quilômetro, Hallie pode ouvir risadas e sentir o cheiro de madeira queimada. A silhueta grande de Apollo era bem visível contra as luzes, muito clara na estimativa de Hallie. Ela desmontou na margem do caminho deixando as rédeas da pequena égua presas na trilha para impedí-la de ficar vagando, então ela foi a pé até o acampamento. Ela levou um curto espaço de tempo para atingir os limites do acampamento, os pés de Hallie, em suas sapatilhas de noite se ressentiam do frio e do chão áspero. Ela estava com tanto frio que olhou saudosa para o fogo em volta do qual a caravana estava agrupada. Através da luz oscilante do fogo ela pode ver cavalos e burros presos em um improvisado curral de cordas e carroças. Mulheres escuras em saias coloridas passavam em frente ao fogo enquanto crianças corriam. Varios cães famintos tentavam comer as migalhas da mesa, um grupo de homens estava sentado em círculo. Pareciam estar jogando. Ocasionalmente uma voz se sobressaia sobre as outras ou alguém ria alto. Os olhos ansiosos de Hallie vasculharam o círculo uma vez mais. Ela não viu sinal de Marksley, embora um dos garotos que rondava ansiosamente perto do grupo de homens, se parecia muito com o garoto que visitara Archers. Hallie observou as carroças mais de perto, percebendo que poucas estavam ocupadas, devido aos lampiões dentro delas se viam siluetas contra as cortinas das janelas e das portas. Com cuidado ela se moveu em direção à que estava mais próxima dela, preparada para encontrar Marksley e George Partridge presos lá dentro. Mas quando ela se aproximou, uma mulher cigana embalando um bebe parou perto do banco. Hallie pode ver que o interior da carroça estava vazio. Enquanto a mulher murmurava suavemente para a criança e começava a cantar, Hallie foi para a sombra da carroça em direção à próxima. Um cachorro começou a latir. Por alguns segundos Hallie congelou, pensando que ele deveria tê-la visto ou ouvido o barulho que seus pés faziam ao andar sobre as folhas. Mas o animal foi rapidamente silenciado e ela cuidadosamente continuou. Em frente ao lampião na próxima carroça, dois homens velhos estavam curvados sobre um tabuleiro de xadrez. O cheiro da fumaça de seus charutos se espalhava pelo ar. Ao recuar, Hallie refletiu que nenhuma dessas atividades no acampamento a levavam a crer que houvesse algo suspeito. Na realidade, dada à modesta circunstancias de seus habitantes, suas dúvidas tinham aumentado. Os avisos de Augusta Lawes contra eles pareciam pouco
plausíveis. Ela se sentia uma intrusa nessa pequena e pitoresca comunidade. Esse povo era inofensivo, eles podiam mesmo ter ajudado um amigo. Ela não podia ver evidencia de lutas que pudessem ter ferido George. O barulho alto de uma risada vindo do lugar onde os homens jogavam, temporariamente pararam seus passos, mas como um deles deixou o grupo para pegar um violino, a música ofereceu uma distração bem vinda. A empolgante música mesclou-se com o luar e o fogo transformando-os numa combinação intoxicante. Por um momento Hallie parou, seus sentidos inesperadamente vivos. Mas ela estava próxima da última carroça. Ao espreitar pela parte de trás, ela viu George Partridge descansando sob a luz de um lampião, um tecido sujo amarrado sobre sua cabeça careca e um braço descansando num apoio. Seus óculos estavam tortos sobre seu fino nariz, mas seus olhos estavam abertos e brilhavam enquanto Marksley cuidava dele ajoelhado para cobri-lo com uma pesada manta de viagem. — Eu nunca teria advinhado Partridge, — Richard estava dizendo com alguma diversão, — que você fosse capaz de tais aventuras. Embora eu suponha no papel de Beecham… Ele deu um vago sorriso enquanto Richard arrumava seus óculos. Mas o olhos de George se abriram surpresos quando ele viu Hallie na entrada. — Eu nunca pensei... ver vocês dois...juntos, — ele disse fracamente. Ao mesmo tempo em que Richard se virava, Hallie ouviu passos atrás dela. — Gorgio Shunella! — uma voz forte gritou e dedos ossudos agarraram a manta dela. Ela ouviu Richard gritar — Não! — antes de algo atingi-la.
Capítulo 10 Richard repetidamente revivia os acontecimentos daquela noite: o salto para pegar Hallie enquanto ela caia, o desmaio da velha cigana que tinha abatido uma delicada mulher ao invés de um ameaçador intruso envolto em uma manta, o pânico sem fim enquanto esperavam pela carruagem, a terrível corrida à meia noite de volta para Archers e o médico. Dois doentes ao mesmo tempo era mais do que o pobre doutor podia lidar. George Partridge, que na realidade tinha meramente testemunhado uma briga entre romeos, tinha sido prontamente atendido e mandado para Londres na manhã seguinte. Mas agora mesmo depois de outro dia inteiro, Hallie ainda estava deitada imóvel. O ar frio da noite e a febre resultante tinham-na abatido como certamente o ferimento, resultado da pancada na cabeça. Richard permaneceu sem dormir. Mesmo a tão esperada descoberta da identidade de Henry Beecham não aliviou sua mente. Oh, George Partridge nada havia admitido. E ele tinha dito quase nada. Apesar de estar segurando a carta de Beecham, o lingüista parecia mais taciturno que o normal. Quando forçado a explicar o seu papel como poeta secreto, ele silenciosamente tinha recusado, sacudindo a cabeça e expressando somente sua sincera preocupação pela saúde de Hallie. Richard não o pressionou, por George ter sido ferido torcendo o pulso e uma terrível dor de cabeça, sua preocupação com Hallie tinha sido justificada. Nada havia a fazer senão ter paciência. Assim Richard pode somente sentar, impotente ao lado da cama dela. Ele sabia que podia deixá-la aos cuidados da senhora Hepple e das criadas. Mas sua doçura, ainda marcantes e seu lustroso cabelo espalhado sobre o travesseiro, mantinham-no sempre presente. Ele tinha sido insensível e desagradável, somente para descobrir com o passar de cada dia, como ela era sensível e honesta. Ele tinha de encontrar uma forma de reparar todas as indignidades que ela tinha sofrido nas mãos da familia Marksley, nas mãos dele. Ele correu a palma da mão sobre rosto dela. Ele deveria fazer a barba, se Hallie acordasse iria ficar desanimada com a aparência dele. Pelo menos a tarefa o levaria a se concentrar em se preparar para o retorno dela para este mundo, ao invés de para sua morte. Pensar nessa possibilidade era
insuportável. Ele apoiou os pés no chão e enquanto se levantava seus olhos cansados caíram sobre o caderno que ela tinha guardado ao lado da cama. Ele tinha notado o familiar volume durante a visita do médico e a cuidadosa atenção dos empregados, mas ele estava muito distraído para se fixar nisso. Em todo caso ele nunca esteve sozinho. Ele nunca tinha estado tentado. Agora aconteciam ambas as coisas. Ele pegou o caderno e o abriu, ficou de pé ao lado da cama, primeiramente somente admirando a elegante mão sob a luz da vela, pensando que a escrita era adequada a ela. Mas algo convidava-o a mais do que um ligeiro interesse. A primeira data escrita era de cinco meses antes, então ela tinha escrito muito. Era um volume grande, com muitas folhas arrancadas e colocadas dobradas no meio do caderno. Por um momento ele sorriu ao lembrar o excessivo desejo dela no outro dia de reaver o volume. Jovens, ele pensou, eram possessivos com seus segredos. Assim que começou a ler tais pensamentos sumiram de sua mente. Ele leu rapidamente, famintamente, silenciosamente repetindo certas linhas e frases notando os fragmentos de poesia derramados sobre as páginas como gemas de uma arca de tesouro, brilhando ainda encharcados de deslumbrante companhia. Embora ele estivesse parado, olhar fixo na luz bruxuleante da vela, seu pulso estava acelerado e a sala estava aquecida. — A pequena sirigaita — Ele murmurou olhando para a autora, que dormia pacificamente. Ele segurou Henry Beecham em suas mãos, o trabalho tão inquestionavelmente poético que Beecham colocou sua assinatura em cada página. Aqui estava a extrema atenção do naturalista, gravando com os olhos de um artista o mais fino encanto das estações do ano e de seus sentidos. Aqui estava o observador refletido: em espírito com amizade, morte, liberdade... e amor. Como qualquer coisa que Richard já tivesse lido de Beecham, as palavras espelhavam suas próprias memórias e pensamentos que ele tinha sido suficientemente agraciado para expressá-las Aqui também estavam alguns poucos esboços de flores, um esquilo e um carrinho de mascate. Um de Jeremy dando a ele uma asa de borboleta. Umas poucas e pequenas e fortes linhas apresentando a distinta fachada de Archers. Não havia referencias a Richard Marksley. Com crescente tensão ele virava as páginas, identificando os primeiros sinais de um poema que o The Tantalus publicou recentemente, notando a
escasses de entradas nas passadas poucas semanas, seguindo com fascinação como o último apaixonado poema tinha encontrado sua realização. Ela tinha tomado tanto cuidado com seus escritos que enviou a ele, mas ela não podia esconder nada aqui. A voz de Beecham parecia falar alto na escuridão da hora antes do amanhecer. Por que ela não contou a ele? Revelando-se para ele de uma vez? Poupando-se de seu desdém inicial, deste rude e abrupto casamento... dele? Hallie Ashton, Henry Beecham, podia apenas se sentir preso por tudo isto. Richard teria sacrificado muito para poupá-la, para libertá-la de seu grosseiro tio. Ele teria pago uma pequena fortuna, até mesmo hipotecado Penham, para mandá-la para longe de qualquer aborrecimento. Enquanto seus dedos tremiam sobre as páginas, tres cartas caíram sobre o chão: duas de Jeremy e uma dele mesmo. Ele rapidamente as examinou, então colocou-as de volta no caderno. O desapontamento dele era grande; com Jeremy que não tinha confiado na amizade deles; em George Partridge que tinha mantido seu estóico silencio, mesmo ontem em face de todas as tentativas de extrair mais dele como ‘Beecham’ e dele próprio por acreditar que ele e um poeta sem rosto tinham estabelecido uma conexão. Por que ele tinha sido privado do segredo que ela dividia com Jeremy e George? Talvez fosse compreensível; eles respeitavam os desejos dela, os desejos de uma jovem mulher órfã pouco protegida e dependente. Mas certamente ele ganhou a confiança dela também. Dado o tamanho das revelações, sua própria carta lhe pareceu ingênua e mal feita. Henry Beecham, Hallie Ashton, tinham simplesmente o usado. O que ela sabe de lealdade e sentimento? Ela nunca precisou de incentivo. Ela atraiu Jeremy e George para sua teia elaboradamente construída, tudo para obter os pagamentos do The Tantalus. Ele olhou para o rosto de Hallie enquanto silenciosamente recolocava o caderno ao lado da cama. Então ele se dirigiu até a pequena escrivaninha com o propósito de vasculhá-la. Numa das perfeitamente organizadas gavetas ele encontrou um maço de notas bem arrumadas. Ele somente pode achar que ela tinha se dado ao trabalho de obtê-las para fugir, para fugir dele. Mas ele não era um monstro! Ele deixou o dinheiro no lugar onde estava escondido, então retornou e ficou em pé de frente para a janela. Ele refletia afetuosamente sobre os segredos de sua esposa, mesmo enquanto seu olhar se dirigia para o rosto dela frequente e ansiosamente. Ele devia tê-la reconhecido imediatamente. Ele devia ter reconhecido a
mesma rara qualidade que ele tinha percebido em Henry Beecham, aquela qualidade que era a alma dela. Ele devia ter reconhecido a sua voz de poeta. Na realidade, ele tinha reconhecido a voz dela e ficado encantado a cada vez que ela se revelava. Mas era aquele rosto. E aquela figura decididamente feminina. Ele olhou novamente para ela enquanto dormia. Ele não podia ter razoavelmente ignorado o que ela não pode esconder. Certos mistérios ainda o intrigavam. O último poema não tinha sido anotado de momento; ela tinha trabalhado por cima. O tempo o levava a crer que na realidade ela tinha se importado com Reggie, que aquelas exultantes, estranhamente vivas linhas eram uma dedicação final ao amor perdido. Esse pensamento era muito perturbador, ou existia a possibilidade ou sua sensação de perda era por Jeremy. Ela claramente tinha um sentimento caloroso por ele, e ele por ela, por que mais ele teria ido atrás de George durante a alta estação de caça? Jeremy tinha ficado chocado com o casamento apressado deles. Talvez os dois tivessem se entendido muito tarde, outra coisa seria que eles poderiam ter muito tempo a partir de agora. Todavia o dedicado esforço de obter o dinheiro de Beecham era incompreensível. Jeremy era um dos mais ricos entre os ricos. Havia também a possibilidade real de alguém mais, alguém que ela conheceu enquanto se escondia dele e do tio como ela tinha escondido sua própria vida poética. Ele não acreditava que tal decepção fosse possível-ela não tinha demonstrado isso. Ele franziu as sobrancelhas enquanto olhava a leve luz cinza que preenchia o terreno abaixo, um cinza prometedor como os lindos olhos de sua esposa. Ele estava maravilhado que ela tivesse olhado para ele, falado com ele durante todas essas semanas. Nenhuma mulher era confiável. O quão ardilosa ela tinha sido, mesmo com pseudônimo: Herriet Ashton... Henry Beecham. Harvey Oakleigh, ele embelezou silenciosamente, Hayes Birchmere, ou talvez até mesmo Horatio Larchmont. O sorriso veio espontaneamente, forçando-o a assumir seu relutante respeito por ela. Ela tinha jogado de forma inteligente, embaixo de seu nariz tão superior. Ele não teria percebido nada, era o talento dele tão grande, os constrangimentos e posição da família mostrado-se tão severos? Com toda honestidade, ela tinha, como Henry Beecham dado a ele meses de prazer. Na pessoa de Hallie Ashton, ela o tinha tentado diariamente. E ele tinha admitido isso quando apressou o casamento. Ele a queria e tinha conhecimento disso.
Ele tinha levado o que queria. Ainda que não pudesse mantê-la, isso estava fora de cogitação. O espírito de Henry Beecham não podia ser aprisionado. E ela estava apaixonada. O poema dizia isso. Embora um forte sentimento de ciúmes o picasse, ele sabia que devia liberá-la. Mas ele garantiria que ficasse segura; ela não fugiria sozinha no meio da noite. O seu olhar traçou caminho pela suave curva de sua testa, pela delicada curvatura da sobrancelha e pelos lábios cheios. Ela o encantava. Ele a adorava. Ainda que ele amasse a mulher e a poeta, sua honra exigia alguma pequena recompensa. Ele rezava para que ela acordasse, que aqueles olhos grandes pudessem encontrar os dele novamente em total consciência. Somente então ele usaria nela os mesmos meios ardilosos que ela usou, para compelí-la a se explicar. Hallie acordou e olhou inexpressivamente para Marksley, parado perto dos pés de sua cama, exatamente quando a escuridão da noite começava a cobrir tudo. Ele encarava a janela, e a luz difusa distinguia seu perfil. Seu queixo estava obstinadamente posto, embora ele estivesse bravo. Ela tentou dizer o nome dele, mas sua voz raspou dolorosamente em sua garganta seca. Assim que ele a ouviu, ele se virou imediatamente. Ele pegou um copo de água antes de se sentar na cama ao lado dela. — Cuidado agora. — Ele disse suavemente, deslizando uma mão morna gentilmente por trás de seus ombros elevando-a o suficiente para lhe dar de beber. Hallie fechou os olhos enquanto engolia com gratidão. Quando abriu os olhos novamente, ela leu algo nos olhos escuros dele que a iludiu. Apesar do alívio que ele claramente sentiu, alguma outra emoção aquecia seu olhar, um entusiasmo ou paixão que a desconcertou. Enquanto ele abaixava seus ombros novamente sobre os travesseiros, ela levantou uma das mãos para afastar uma mecha de cabelo da testa. Mas ele segurou os dedos dela e surpreendeu-a colocando leves beijos sobre sua palma. A surpresa fez com que seu braço formigasse. — O que na terra você estava pensando, — ele perguntou suavemente, — Entrar num acampamento cigano sem avisar? — Eu estava... preocupada. Com você, — Ela disse simplesmente, desarmada pela dor e a proximidade dele. — Comigo? — A simples palavra parecia zombaria. Para os ouvidos sensíveis de Hallie ele soou muito áspero, — Por que você estaria preocupada
comigo? — ele perguntou. O seu ceticismo diminuiu seu impulso de intimidade e impediu-a de dizer mais. — Eu... não consigo pensar. — Ele levou a mão livre até sua testa latejante. — Se a minha cabeça servir de medida, no futuro terei dificuldade para pensar. — O médico estará aqui de manhã. Ele estará encantado, como eu estou, com o seu retorno para nós. E deve haver algo para dor em sua mala mágica. Ele ainda segurava a mão dela. — Você... viu George? — Ela perguntou. — Sim — . Com um leve beijo nos dedos dela, Marksley colocou a sua mão sobre o lençol e sentou mais para trás. Sua atenção era especulativa. Hallie notou distraidamente que ele estava despenteado, mas seu desalinhado cabelo, a sombra de uma barba e o colarinho aberto eram atrativos. Ele estava com a mesma aparência que tinha na manhã quando se encontraram pela primeira vez. Ela desejava que sua cabeça não doesse tanto. — George Partridge é Henry Beecham, minha cara, — ele lhe contou. — Eu devia ter adivinhado. Todos os sinais estavam lá, se eu tivesse prestado atenção neles. Eu já conheço o homem melhor do que esperava. Nós demos boas risadas a respeito disso tudo assim que o doutor o colocou de pé. — Marksley riu novamente de verdade. — George estava bom o suficiente para retornar a Londres ontem. Eu lhe pedi para me ajudar no The Tantalus. A cabeça de Hallie se recusava a clarear. Uma boa risada? George como Beecham? Ela franziu as sobrancelhas. Ela tinha de recordar que Marksley nunca tinha dito a ela que Beecham era um estranho. — Eu não sabia... você nunca se encontrou com Beecham. — Eu esqueci de lhe contar? Que estranho. — O olhar dele prendeu o dela. — A identidade de Beecham me atormentou por mais de um ano. Mas você precisa tomar mais cuidado com o segredo dele, você o chamou ‘George’ justamente agora e na outra noite na biblioteca. Você não se lembra? Ela tentou engolir. — Como você conhece George? — ela perguntou bem baixo. — Ele era... um amigo de meu pai. — Ah! Eu entendo. Então ele tinha jurado segredo. Eu presumo que foi você que colocou na sala de visitas sábado à noite. Ela não podia encontrar o olhar dele. — Faz quanto tempo que estou aqui?
— ela perguntou. — Mais horas do que ousei contar. Pelo menos um dia e uma noite. Hoje é segunda. Todos os empregados da casa estão ansiosos esperando pela sua recuperação. Na verdade, se não estou enganado, escutei Mary e a senhora Hepple nas escadas. — Ele se levantou da cama, deixando Hallie repentinamente desamparada. — O que me atingiu? — Uma frigideira minha cara. Manejada por um expert. — E os ciganos? —Foram embora na manhã seguinte. Eu sinto, eles ajudaram George. É de sua natureza evitar qualquer possibilidade de problemas com a lei, embora tenha sido um erro compreensível. Contra a luz, embrulhada em um cobertor e nos espreitando na carroça dela, você deve ter parecido ameaçadora. Ela não viu que você era uma mulher. — Ela? Marksley sorriu. — Uma vovó octogenaria, a mais convincente leitora da sorte que eles tinham. Infelizmente ela não pode ver a sua mão. — Ele sorriu. — Você vê porque eu não informei Squire Lawes sobre o seu acidente. Embora é claro, se você quiser. — Não. Não. Eu devo tê-la assustado. — Contudo, — e sua voz tinha um toque cortante, — Ela tinha uma força surpreendente. Ela podia tê-la matado minha cara. Eu lamento ter confiscado a arma dela. Sentindo a firme resolução dele enquanto ele estava lá de pé perto da cama, Hallie podia bem imaginar como inflexivelmente resistente ele podia ser com qualquer outro. — Que... noite agitada com certeza, — ela disse, ganhando outra risada e, surpreendentemente, um rápido beijo em sua testa. A senhora Hepple e Mary sorriram ao perceber Marksley se afastar dela. Elas fizeram muito para sua recuperação e se ofereceram para trazer qualquer coisa que ela quisesse. Hallie olhou para Marksley enquanto ele olhava para as criadas. Se você pudesse somente continuar me beijando, ela implorou-lhe silenciosamente. Eu não precisaria de mais nada. Mas ele guardou distância do alvoroço e se desculpou quando as mulheres se propuseram a ajudá-la com o banho. Hallie se submeteu aos cuidados delas e constrangida ouviu a conversa da senhora Hepple lembrando os eventos das duas noites passadas. Ela
mencionou que o — senhor Partridge — tinha ficado somente na manhã anterior e os tinha deixado bem alimentado e somente com o pulso torcido, não com um braço quebrado. Hallie sabia que precisava escrever para ele. George tinha guardado seu segredo, mesmo quando confrontado com a falsa conclusão de Marksley sobre Beecham. George tinha sido o mais leal dos amigos, já ela não o tinha agradecido nem mesmo pela ajuda na obtenção do dinheiro dela. A ansiedade de Hallie a respeito de George cresceu tanto que quando ela voltou para a cama ela pediu papel para escrever. Apesar a fraqueza em seus dedos, o que dificultava o posicionamento do papel e da pena, Hallie expressou sua gratidão pela ajuda de George, desculpou-se por afastá-lo de seus estudos e dava seus mais sinceros votos de rápida recuperação. Ela afirmava que logo resolveria o assunto de Beecham. Assim que a página secou, ela recostou exausta e contemplou as sombras no teto. George sendo Henry Beecham. Fazia muito sentido. George tinha tudo o que Marksley acreditava ter em Beecham: conhecimento, observação, sensibilidade... sexo masculino. E durante sua doença, George de algum jeito convenceu Marksley. Ou Marksley simplesmente supôs. George era tão calado. Se no futuro ele fosse ter raros contatos com Marksley, talvez Hallie pudesse convencer George a continuar se passando... Sua não esbarrou na carta deixando uma mancha de tinta sobre o papel. Isto precisava parar, Jeremy tinha dito. As palavras cortantes a assombravam. Não era somente a doença que a fazia se sentir fraca. Ela se conhecia. Ela estava tão ávida pela companhia de Marksley que agora não tinha coragem de deixá-lo, embora ela possuísse os meios. E por falar em contar-lhe a verdade... o que tinha acontecido com a resolução dela da outra noite? Agora ela tinha George Partridge mentindo por ela! Jeremy podia afirmar que ela tinha perdido, somente, seu coração, mas ela não gostava da criatura calculista na qual ela se transformara. Ela tinha pensado que mantendo Henry Beecham ela estava preservando alguns dos valores e desejos de Marksley, talvez a única coisa que ele queria dela. Mas ele também queria honestidade. Ela não sabia que o amor podia ser tão egoísta. Aparentemente ela e os princípios tinham se separado. Ela estava tão cansada. Com um suspiro ela dobrou a carta e colocou-a ao lado da pena e da caixa
de escrita. — Alguma coisa errada minha Lady? — Mary perguntou indo retirar as coisas. — Eu vou escrever mais depois Mary. Estou muito cansada agora. — Ela recostou a cabeça contra os travesseiros. Mesmo essa leve pressão mostrou quão sensível estava sua cabeça. Assim que ela se sentisse melhor, ela prometeu fechando os olhos, confessaria tudo a Richard Marksley. Ela estava cansada de subterfúgios. Ela não faria mais exigências. Ele havia feito tanto... Hallie dormiu pelo resto do dia, acordando apenas para tomar um chá leve e uma inesperada visita de seu marido. Ele apareceu revigorado e consideravelmente arrumado. Novamente bem vestido, O Visconde Langsford estava infinitamente mais distante do que mais cedo naquela manhã. A tarefa de se explicar a ele pareceu muito mais difícil. — Você tem uma simpática equipe muito preocupada com o seu acidente, e muito ansiosa de tê-la em sua companhia, — Marksley lhe disse, andando apenas até os pés da cama onde segurou um dos postes. — A senhora Lawes e sua filha estão nos convidando para outro jantar, uma vez que você esteja melhor naturalmente. O vigário nos perguntou sobre sua saúde, e a senhora Mayhew nos mandou o seu melhor mel de flores silvestres, altamente recomendado. — Novamente Hallie notou apreciação em seu olhar. — Eu tardiamente me lembrei de nosso amigo Jeremy e enviei-lhe uma nota para a pousada, somente para ouvir que seu pai o havia chamado de volta para casa ontem para o casamento de Rowena. Você conheceu a irmã de Jeremy? Não? Bem é um mistério para mim o porque de tantas pessoas casarem de forma impulsiva, nestes dias. — Marksley lhe dirigiu um sorriso contrafeito. — Se você quiser enviar uma mensagem, eu ficarei feliz em enviá-la. — Obrigada. Eu estou com dificuldade para escrever. — Você está? Sinto ouvir isso. Sei quão dedicada você é com seus escritos. Embora quando alguém está inconsciente pode-se fazer concessões — Ele se curvou num cumprimento, mas sua expressão era divertida. Com isso Hallie decidiu que ele tinha baixa opinião a respeito de mulheres que escreviam. O pensamento a chateou, mas ela podia fazer um pouco mais que olhá-lo com raiva. — Sem dúvida meu Lorde, tendo sido favorecido com o que há de melhor na literatura, você deve achar minhas triviais reflexões muito entediantes. Ele surpreendeu-a rindo mais abertamente. — Eu não tinha intenção de julgar minha cara, ao menos que me permitisse
lê-los. — Ele andou até o lado dela parando a algumas polegadas de alcançar a mesa de cabeceira e o caderno dela. Hallie com os olhos arregalados olhou da mesa para o satisfeito sorriso dele. Quando ele moveu a mão para pegar a caderno dela, Hallie se encolheu. Mas ele colocou a palma da mão sobre a testa dela. — Estou encantado de ver que está melhor Hallie, — ele disse suavemente e com inesperada sinceridade. Ele retirou a mão lentamente. — Eu tive medo de te perder. Ele prendeu seu olhar por um longo tempo. Confrontada com a gravidade desse olhar, Hallie olhou para baixo e puxou nervosamente o tecido da barra da cama. — Uma vez que esteja bem Hallie, eu gostaria de fazer uma reunião noturna, se você quiser, em Penham. Para apresentar Beecham, — Ele tornou a sorrir para a expressão congelada dela, — George Partridge, isto é, para alguns de meus conhecidos. Minha tia e meu tio partirão para Bath amanhã, as águas prometem algum alivio para o Conde, então a mansão é minha para comandar. Farei todos os arranjos com a ajuda da senhora Hepple e Gibbs. Você não precisa se preocupar com nada anjo, é claro, somente melhorar rapidamente e usar o seu melhor vestido para a ocasião. É muita coisa eu sei, mas eu não faria sem você. — Georege Partridge... Sabe? — Sim. Ele antecipou sua apresentação na pessoa do mais aclamado poeta para um público ansioso. — Ele é? E achei que ele se escondeu, tinha... se disfarçado por tanto tempo, ele deve preferir continuar no anonimato. — Tendo se disfarçado por tanto tempo você acha que ele deseja continuar disfarçado? — O olhar de Marksley era assustador. Ela não podia medir o seu humor, o qual se tornara um obstáculo. Ela focou sua atenção desesperadamente no canto mais distante do quarto, para não ter de encarar o seu escrutínio. — Diga-me minha cara; desde que você alega conhecer o senhor Partridge, você acha isso muito provável? — Nâo. Mas ele deve ter tido uma boa razão para ter se envolvido nesse estratagema em primeiro lugar. Marksley não respondeu imediatamente. Hallie podia sentir sua atenção, como uma estranha caricia em sua face e seus nervosos dedos — Ele queria escrever versos populares minha cara. Não ser um respeitado estudioso de etimologia, embarcando sem antes testar as águas. Reputações são coisas
frágeis. — Eu entendo. — Mas Hallie realmente não entendia. George tinha realmente engendrado uma intrincada explicação? O George Partridge que ela conhecia era um homem que não se assumia, que podia permanecer calado durante horas. A vocação dele afinal de contas era ouvir. Ele podia nunca revelar um segredo, mas da mesma forma era improvável que ele se desse ao trabalho de construir uma mentira. — Não posso mantê-la Hallie, mas me agradaria que você recuperasse suas forças e espírito. Há algo que você precisa, qualquer coisa que eu possa lhe trazer? Hallie olhou para ele e quase implorou, fique aqui comigo. Mesmo só o pensamento já trouxe sangue para seu rosto. — Aí está, — Marksley notou. — Você parece estar ganhando suas cores novamente. Espero que esteja suficiente bem para se juntar a mim para uma refeição amanhã, — ele disse ao mesmo tempo em que ia em direção à porta. — Cook tem estado muito desapontada tendo experimentado somente por pouco tempo menus para recém casados. — Ela deve estar muito excitada com a perspectiva da sua noitada. Marksley levantou uma sobrancelha. — Realmente. — E ao se curvar e deixar o quarto, Hallie pensou tê-lo ouvido murmurar, — Como todos nós.
Capítulo 11 Na manhã seguinte, Hallie não suportava mais o confinameto em seu quarto. Ela pediu a Mary que a ajudasse a se vestir. Quando a criada insistiu em acompanhá-la para descer as escadas até a sala de jantar, Hallie viu que não podia fazer objeção. A primeira vista das escadas a fez sentir mais que uma leve tontura. Mas ela cuidadosamente conseguiu chegar até o hall, somente para ser avisada por Gibbs que Marksley já tinha tomado o desjejum e tinha saído com Apollo para visitar os arrendatários. — Eu queria me juntar a ele Gibbs. — Ela disse. — Sim minha Lady. Talvez quando estiver bem. — Mas eu estou bem Como você pode ver, eu... obrigada Gibbs. — Ela precisava fazer alguma coisa sobre essa percepção de que ela era pouco mais que uma inválida. Por mais que ela desejasse andar confiantemente para tomar o desjejum, suas pernas pretendiam fazer algo completamente diferente. Hallie alcançou a cadeira e agradecidamente apoiou as costas, somente para perceber ao menos três rostos pairando preocupados sobre ela. Seu marido tinha pedido a todos os empregados da casa para que cuidassem dela. — Eu estou muito bem. Por favor continuem, — ela lhes disse mesmo com ela desmoronando sobre a cadeira. Ao lado dela Marksley tinha deixado uma pilha e papéis, os quais ela reconheceu como dela própria. Estes são de Beecham, ele tinha escrito. Eu achei que você gostaria de vê-los antes de nossa noitada. Hallie olhou para as bem arrumadas páginas. Ela sentiu que a sugestão era uma censura. A correspondência deles tinha se tornado isto! Ela tinha sido apanhada em sua própria criação. Ela não podia rever as folhas. Ela sabia seu conteúdo de cor. Ela não foi deixada sozinha pelo resto do dia. Ela conseguiu ganhar dez minutos no terraço somente após consentir em se vestir como se fosse para uma nevasca, como ela caminhava devagar através do desgastado ladrilho, ela podia ver sempre alguém na porta toda vez que ela olhava na direção da casa. Hallie manteve seu olhar no jardim. O inverno em sua impaciência havia suspirado sobre as árvores e canteiros de flores. O persistente calor e cor de três dias atrás havia ido mesmo das
flores que nasceram tardiamente, e embora as faias estivessem com um acobreado desmaiado na folhagem, muitas outras árvores tinham perdido suas folhas. Na leve brisa, aquelas que ainda se agarravam aos galhos farfalhavam em protesto. Hallie sempre tinha amado o outono em sua preparação e tranquila progressão. Mas este ano a melancolia da estação afetava-a de forma adversa. Ela tinha amado a estação da queda das folhas. E agora ela não podia continuar como ela tinha sido. Sua vida como poeta, mesmo que Henry Beecham fosse revelado ou não, nunca mais seria a mesma. Ele tinha de dizer adeus aos caminhos que a tinham sustentado, sem saber o que era para seguir. E mesmo que ela pudesse agir como quisesse, seu coração não estava pronto para se atrever a novas aventuras. — Amor é um fogo duradouro’ ela lembrou, e buscou consolo na biblioteca de Marksley. Os volumes continham sabedoria e guia, mas não podiam servir de seus procuradores. Marksley não voltou a tempo de se juntar a ela para o jantar. — Ele está no hall, — a senhora Hepple contou a ela, — Fazendo arrumação. — Ela franziu as sobrancelhas. — Embora isso não seja típico do senhor, Lorde Langsford, manter suas atividades tão perto. A governanta está lá contou Pickens, aquele é o jardineiro principal, irmão de nosso Thomas, que embora os quartos estejam sendo aerados, nada mais está sendo preparado. Hallie, que não tinha idéia de como tinha sido planejada tal reunião, meramente encolheu os ombros. — Talvez o Visconde tenha convidado tanta gente de Londres que achou necessário hospedá-los em outro lugar. A senhora Hepple balançou a cabeça. — Não seria necessário minha Lady. Não em Penham. — Ela continuava com as sobrancelhas franzidas. — Nenhum convite foi enviado ao correio. Aquilo intrigou Hallie, já que Marksley tinha dado a entender que o evento aconteceria logo. — Lorde Langsford deve ter adiado até que eu esteja melhor, — ela sugeriu. A senhora Hepple parou de franzir as sobrancelhas. — E isso soa exatamente como ele minha Lady. Desde que era um menino tinha consideração pelos outros. Ele tinha certamente sido considerado com ela. Como isso seria confortável, como seria covarde se simplesmente ela deixasse George
continuar a ser Beecham, se esconder aqui com Marksley e ele aprendendo a gostar dela. Era um pensamente muito sedutor. Mas o risco de escolher fazer nada era também muito grande. O quanto ele gostava dela agora poderia mudar e ele nunca mais vir a sentir o mesmo novamente, ninguém apreciava ser feito de tolo. Ela buscou alivio no sono, apesar de não descansar, e de manhã, com os olhos pesados, novamente desceu para o desjejum, agora com menos dificuldade para andar. O seu corpo estava melhorando, já sua mente estava longe de estar bem. Ela precisava enviar a sua carta para George. Marksley estava sentado à mesa quando ela entrou na sala de jantar. Ele se levantou e fez um cumprimento enquanto ela ia em direção a ele. — Acredito que esteja se sentindo bem melhor está manhã Hallie? — Eu estou obrigada. — Por alguma razão ela não conseguia se concentrar, ela lembrava vividamente como ele tinha deslizado o braço sob seus ombros e dado água a ela. Com o rosto vermelho, ela olhou para o Buffet. Tudo o que ela queria era outro gole de água servido exatamente do mesmo modo. — Eu gostaria de algumas torradas esta manhã, por favor Gibbs, — ela disse enquanto caminhava em direção à cadeira. Marksley estava lá antes dela para puxá-la para ela antes que Gibbs pudesse alcançá-la. Essa proximidade fez com que a respiração dela ficasse presa na garganta. Ao sentar ela percebeu-o atrás dela, sentindo que ele encarava a parte de trás de sua cabeça, como se quisesse ver através dela. Ela pode sentir a sua respiração sobre seu cabelo e desejando que seus lábios encontrassem sua nuca. Ele estava muito próximo. Mas ele voltou para o seu lugar. — Já não está do tamanho de um melão, — ele disse com satisfação. Ele tomou um gole de chá e olhou para ela. — Imploro senhor, — Hallie disse tentando controlar o seu irracional desapontamento. — Com qual fruta ou vegetal a minha cabeça se parece agora? — Sua cabeça minha cara, está tão bem formada como uma cabeça deve estar. Eu estava medindo o seu ferimento, que tem o tamanho de uma ameixa amassada. Foi uma frigideira de ferro que a acertou afinal de contas. Se sua cabeça não fosse tão dura como se mostrou ser, você hoje poderia não estar comendo aqui comigo. — Por um momento o seu olhar ficou muito sério. — Eu descendo de uma longa linha de cabeças duras meu Lorde, — Hallie disse. — Notáveis por sua fortaleza. — E por sua estupidez ela adicionou silenciosamente.
Marksley levantou uma sobrancelha. — Receio que o traço nunca foi tão severamente testado. — Somente de forma abstrata, — ela disse baixinho. Por um instante seus olhares se encontraram em uma comunicação estranhamente paralisante. Então ele voltou sua atenção para a pilha de cartas ao seu lado. Hallie tomou seu chá ouvindo o barulho do virar das páginas enquanto ele as lia. O silencio era companheiro suficiente, ainda que ela se encontrasse esperando por algo, algo mais certamente, então Gibbs entregou a ela o prato de torradas. Ela se pôs metodicamente a passar manteiga nas fatias quentes. Embora estivesse com uma carta em suas mãos, Marksley a observava com um sorriso amável, então ela raspou a garganta. — Meu caro Beecham- — A faca que Hallie usava parou instantaneamente. — Perdoe-me, eu quis dizer George Partridge, escreve que está ansioso pelo evento desta noite. — Desta noite? — Eu não vejo razão para adiar. —Marksley se apoiou no encosto da cadeira e colocou as mãos para frente. — Muitos convidados importantes já estão hospedados em Penham. E muitos outros fiéis seguidoras do The Tantalus e de outros assuntos literários deixaram Londres esta manhã. Se você preferir não se juntar a nós esta noite Hallie, terá oportunidade suficiente para conhecer os admiradores de Beecham nos próximos dois dias. — Bem, isto é um tanto súbito… — Súbito? Eu não acho. O homem vem nos iludindo por mais de um ano. Se escondendo e fugindo. Não, a raposa veio ao terreiro. E os cães precisam ter o seu triunfo. — Ele observou o involuntario estremecimento de Hallie e sorriu encorajadoramente. — Não se preocupe minha cara. Este é um triunfo dele também. Isto é algo que todos gostariam de celebrar afinal de contas, e nosso tímido versista de bom grado concordou em atender. Marksley pegou a carta que estivera lendo e passou-a a ela, para mostrar a prova de suas palavras. Halie pensava como George, mesmo sendo tão inteligente como ele era, teria falsificado a letra dela em uma carta inteira. Mas ela se lembrou de que ele tinha uma carta dela para usar de modelo. Ele poderia ter feito isso, mas por que faria? Ela nunca pensou que ele fosse capaz de tal ardil, mesmo que fosse para proteger os interesses dela. — Você já teve a chance... de ler o trabalho dele? — Marksley perguntou. A simples pergunta fez com que ela se sentisse presa como os frágeis
espécimes de Jeremy. Os lábios dela se abriram, mas nenhuma palavra surgiu. Ele parecia tão convencido, tão contente com George como Beecham. Marksley a observava. — Eu vejo que fui muito longe ao pedir-lhe que lesse enquanto ainda está se recuperando. Mas eu espero que você me acompanhe, minha Lady Langsford, — Marksley insistiu, — ou é o seu franzir de sobrancelhas uma resposta? — Temo que não tenha algo apropriado para vestir em tão grande ocasião. — Absurdo. Eu vi que o vestido que você escolheu para o nosso casamento já está terminado exatamente como você queria. Você não apreciaria uma oportunidade de usá-lo? Eu gostaria de vê-la nele. — Mas... estamos de luto... — Você ainda é uma noiva. Hallie não pode olhá-lo nos olhos. — Eu não tenho experiência... a sociedade londrina é… — Não é pior que um jantar de Augusta Lawes, — ele disse, então suspirou. — É permitido tentar o suficiente, mas você provou ser mais do que capaz. — Ele a olhou inquisidoramente. — Você não gostaria de ver Beecham, seu amigo George novamente? — Ele ficará conosco? Por um momento Marksley pareceu incerto. — Tenho esperança que ele fique. Mas é improvável. Ele não fez promessas. Sem promessas. Ela fez corajosas promessas na realidade. Mas ela prometia quebrá-las. — Você está franzindo as sobrancelhas novamente Hallie. Você tem... algo a dizer? A imaginação dela emprestava urgência na voz dele. — Eu... gostaria de me juntar a você esta noite. — Esplêndido, — ele disse, embora seu sorriso parecesse forçado. — Estou encantado. Seria nada sem você minha cara. No entanto eu recomendo que descanse esta tarde. — Ele se levantou da mesa e apanhou sua correspondência. — Por favor me desculpe por agora. Talvez eu possa vê-la para o chá mais tarde? Ele parou ao lado da cadeira dela e segurou-lhe a mão direita. Sua mão quente engoliu os dedos dela enquanto ele os levava até os lábios. Somente uma leve caricia nos nós dos dedos, mas foi o suficiente para deixá-la trêmula. Ela ficou sentada por mais de um minuto depois que ele partiu. Seu chá
esfriou, a torrada esfriou, mas sua mente e seu coração estavam em brasa. E Marksley com toda sua civilidade e desculpas de muitas correspondências, estava claramente evitando-a. Ela não estava imaginando o seu distanciamento. Por que agora ele estava tão impaciente pela companhia dela? Era mais fácil entender o seu desdém. Ela pensou se ele poderia chegar a amá-la, se ela pudesse construir sobre as mesmas qualidades de empatia e entendimento que tinham tido em sua correspondência. Mas agora parecia que ele não gostava de alguma coisa sobre a pessoa dela. Ele não se juntou a ela durante todo o dia, e Hallie estava muito envergonhada para perguntar a Gibbs onde o marido dela poderia estar. Ela passou o tempo em seu quarto, submetendo-se aos ajustes finais de seu vestido e dormindo quando não agüentava continuar lendo. Às quatro lhe foi servido um chá leve, preparações para o banho e para as roupas, ela estava mais descansada e mais ansiosa. A noite prometia ser desastrosa, para dizer o mínimo. Ela tinha de dar um jeito de falar com George antes que Marksley fizesse qualquer anúncio. E até essa hora ela ainda não tinha decidido o que dizer e para quem. Eles poderiam assumir que o ferimento na cabeça dela pudesse estar lhe causando alucinações. Tolly teria estado envergonhado dela. Mary se entusiasmou com o vestido, uma fina criação em seda marfim e renda. A senhora Hepple sorriu aprovando, até mesmo Gibbs deu a Hallie um sorriso quando ela entrou no hall da frente. Somente o seu marido observou-a com indiferença. — Serviu-lhe bem, não foi? — Ele perguntou finalmente. — Como vê meu Lorde. Isto dificilmente é um pano de saco. — Verdade. Embora você estaria graciosa mesmo vestindo pano de saco, minha Lady. Podemos ir? Perturbada pelo cumprimento como pela indiferença anterior, Hallie balançou a cabeça concordando e pegou no braço dele. Do lado de fora, o lacaio segurava os cavalos atrelados à carruagem de Penham. O condutor alegremente tirou o chapéu para ela. Marksley ajudou-a a se sentar, cobrindo-lhe o colo com um cobertor, então sentou no banco em frente. Ele bateu no teto da carruagem. Com um fácil movimento coordenado os cavalos arrancaram em frente. Eles viajaram em silencio através do crepúsculo. Com olhares ocasionais Hallie observava a fina vestimenta formal de Marksley e sua fisionomia
pensativa. Esta noite, ela imaginava, ele poderia chamar a si mesmo de — O Belo Langsford — mas depois de algum tempo ela percebeu que ele não parecia animado. — Você não parece estar muito animado... Richard. — Quando ele a olhou de forma cortante ela pensou por que a observação o aborreceu. — Ou talvez eu presuma muito. — Não, você está muito certa. — A tentativa de sorrir fez com que o comportamento serio ficasse mais acentuado. — Não estou muito animado. A descoberta já foi feita, não foi? — Como Hallie se encolheu em seu canto, ele continuou, — Esta noite é um começo certamente. Para Beecham e talvez para mim. Ainda que na melhor tradição poética, eu estou bem consciente do que está acabando. Ela considerava suas palavras enquanto olhava através da janela para a escuridão do lado de fora. Os galhos nus das árvores se destacavam contra o céu. — Em cada momento o momento passado, — ela concordou suavemente. Com o silêncio dele ela se virou para encontrar seu olhar. A expressão dele era muito peculiar. Na luz obscura ele parecia como se estivesse sofrendo. — Richard, — ela se inclinou na direção dele, — o que está errado? A carruagem balançou impulsionando-a contra o banco. Ela sentiu por um segundo como se seu pescoço tivesse batido em seu ombro. Ao voltar ao seu normal, ela percebeu que Marksley segurou seus braços e ainda segurava-os firmemente. — Você está ferida? — ele perguntou rapidamente. Quando ela balançou a cabeça negando, ele soltou-a e bateu rápido no teto da carruagem. — Peters o que foi que aconteceu? — — O cavalo está manco meu Lorde, — veio a resposta grosseira da frente. — Deve ter sido uma pedra que apareceu de repente. — A carruagem balançou levemente enquanto Peters descia dela. — Perdoe-me minha cara. — Marksley se levantou para seguir o condutor até o chão. Hallie ouviu algumas palavras zangadas, então murmúrios de uma conversação e o som de cavalos sendo liberados de seus arreios. Marksley voltou para olhar para ela através da porta aberta. Peters vai cavalgar de volta para buscar outro cavalo, — ele contou a ela, — mas temo que precisaremos esperar aqui por um tempo. Entretanto estamos com sorte, pois estamos a poucos passos do moinho Haskell. Hallie rapidamente olhou para seu novo traje, hesitante em testá-lo no
prédio abandonado. — O moinho está... muito empoeirado Richard… — Não está mais. Depois de encontrá-lo em tão lamentável estado, ordenei que fosse limpo e reparado. Venha... me ajude a inspecioná-lo. — Ele tirou-a facilmente da carruagem e então pegou uma das lanternas ao lado da porta. Hallie caminhava cuidadosamente ao lado dele. As leves sapatilhas foram confeccionadas para salões de baile e não para caminhadas pelo campo. O caminho estava coberto com pequenas pedras. Mas quando eles alcançaram a porta do moinho ela notou imediatamente as reformas das quais Marksley falara. O chão tinha sido varrido e esfregado, venezianas penduradas em suas dobradiças, as vidraças tinham sido cuidadosamente colocadas em cada painel quebrado. Nenhum sinal de teia de aranha era visto. Estranhamente um fogo ardia na lareira de pedra do salão da frente. — Está exatamente como disse meu Lorde. Você arrumou o lugar muito bem. Você quase que podia fazer a sua noitada aqui. — É curioso que você pense assim. — Marksley se moveu para perto dela e acedeu outra lanterna sobre a mesa. — muito curioso realmente. Porque é exatamente o que pretendo fazer. Até aquele momento não havia ocorrido a ela que o moinho Haskell não estava no caminho de Penham. Ao olhar para ele com perplexidade ele sorriu, mas não explicou. — Intrigante, não é? — Ele perguntou. — Parece que temos má sorte nesse trecho da estrada. — É... simplesmente coincidência. — Hallie tinha dificuldade em não encará-lo, ele parecia muito bonito na luz fraca da lanterna. E ela se lembrou muito vividamente do que quase aconteceu naquele moinho. — Creio que você achará o moinho suficientemente confortável agora minha cara, o que convém admiravelmente aos meus propósitos. Nós temos alguns assuntos de peso para discutir. — Mas e seus planos para a noite. Nós somos esperados… — Eu espero somente uma pessoa, e ele, — Marksley olhou para além dela para a porta da frente, — está aqui. Bem vindo Henry Beecham, — ele disse com um sorriso. — Venha conhecer minha esposa. — E Hallie se virou para olhar a entrada. Marksley segurou-a pelos ombros leve mas firmemente. — Sim, Harriet Ashton Marksley. — A voz imperativa tingiu a face dela de vermelho. — Você de olhos cinzentos e borboletas caprichosas. Isto tem de
terminar. — Os dedos dele apertaram-na brevemente antes de soltá-la Hallie se virou bem devagar para encará-lo. Ela ainda podia sentir o seu toque, embora ele não a segurasse mais. — Há quanto tempo você sabe? — Ela perguntou. — Desde que você foi ferida. — Geroge Partridge lhe contou? — George disse nada. Eu... li seu caderno. — Diante de seu suspiro, ele abriu as mãos para ela. — Um ato imperdoável eu sei, — ele disse, — mas eu estava no meu limite de paciência. Você deve admitir que os seus deslizes eram consideráveis. E eu tive minha pequena vingança. E pode gratificá-la saber o quão vazia ela foi. — Não há noitada, — ela disse devagar, lendo o olhar dele. —Não há convidados de Londres. — Quando Marksley não pode evitar sorrir, ela ficou com raiva. — Por que aqui? — ela apontou a sala vazia. — Eu tenho recordações deste lugar. — Ele olhou brevemente para seus lábios, então se aproximou. — E você escolheu retardar esse assunto. Aqui não haverá interrupções. Sem garotos ciganos, sem lepdopteristas, sem tios ameaçadores ou insuportáveis Archies. Nada, eu rezo a Deus. — Ele acrescentou suavemente. — Meu caro Beecham, seu pequeno jogo acabou. — Nunca foi um jogo meu Lorde. Era vida para mim. E eu nunca pensei que duraria tanto tempo. — Você não é incapaz Hallie. Você podia ter me contado a qualquer hora. — Eu tentei. — E o que a impediu? Os lábios dela se abriram num sorriso. — Garotos ciganos, insuportaveis Archies — Mas ele não sorria de volta para ela. — Eu vejo que terei de lhe contar tudo. — Eu ficaria muito grato. — O comentário era mais como uma súplica. Ela desviou o olhar do dele. — Eu... lhe contei sobre meu primo, sobre Tolliver. Ele era um querido irmão para mim, como uma família de um só. Tolly sempre apreciou meus ‘versos’ como ele os chamava, ele me escreveu da Península que tinha lido alguns deles para seu companheiro. Ele afirmou que foram muito apreciados, mas eu pensei pouco sobre isso até depois... até depois que ele morreu. — Jeremy estava com Tolly na frança, e ele me procurou depois para me contar... sobre o que tinha acontecido. Sobre aqueles últimos dias. Eu precisava saber. Ele havia ouvido sobre as minhas cartas para Tolly. Jeremy
testemunhou minha situação com meu tio e quis me ajudar. Ele me encorajou a submeter meus poemas ao The Tantalus, sugerindo que você teria prazer em publicá-los. Jeremy disse... que você levaria em conta apenas a qualidade dos poemas. — Sim, — Marksley concordou com um tom que fez Hallie encará-lo. — Não foi idéia de Jeremy que eu assumisse um pseudônimo. Ele era um caro amigo e disse que você não recusaria publicar uma autora. — Bravo, Jeremy, — Marksley murmurou. — Ainda que ele tenha honrado o seu desejo no assunto. Creio que tenho muito que dizer a ele em nosso próximo encontro. Mas continue. Hallie engoliu em seco. — Bem... você conheceu meu tio e Millicent. Eu temia o gênio de meu tio. Eu não tinha mais ninguém, meu pai morreu quando eu tinha quatorze anos e fiquei sem recursos. A pequena herança deixada para mim só será minha no próximo ano. Você não leu todo o meu caderno meu Lorde. Você não sabe como era difícil para mim. Os poemas eram um alivio, sim, eles me deram um propósito, mas era como falar para o vento. Alguem mais forte, ou talvez com menos coisas a dizer, pudesse ter permanecido quieto. Mas eu... — Ela tomou fôlego. — Jeremy confiou que você publicaria, mas eu não o conhecia, então decidi não confiar em você. Era muito importante para mim que alguém me ouvisse. Eu ainda não estou certa de que você publicaria poemas de autoria de uma mulher. — Eu teria publicado poemas de uma mulher. — Mas você não sabia que era uma mulher. — Infelizmente não. — Ele sorriu, e ela sentiu que não podia tolerar. — Senhor, — Ela disse de forma cortante, — não pode mentir para mim. — Não minha cara, estou certo de que não posso. Ou não tão bem como você pode mentir para mim. — Ele sabia que a tinha ferido porque ela se virou e olhou para longe dele. — Ainda... eu acredito que teria encontrado um jeito. Se não no The Tantalus, então em separado… — Precisamente meu Lorde. Em um lugar separado, muito separado. Em umas das publicações para damas, aquelas que dificilmente são lidas e facilmente desdenhadas mesmo antes de serem lidas. Se você julga ser suficiente, meu Lorde, porque não escreve o The Tantalus para as damas? — Ainda posso minha cara. Agora que sei quanto talento existe. — Seu olhar era divertido e algo mais que ela não pode identificar. Poderia ele estar orgulhoso dela? Com a confiança enfraquecida ela olhou para baixo. Ela
estava consciente do absurdo de se discutir naquele moinho abandonado usando seu vestido de casamento. — Existiam pistas, — ela disse, — sinais através dos quais você poderia ter descoberto que Henry Beecham era uma mulher. — Ah, Hallie! Você realmente acredita nisso? — Ele sorriu. — Você diz que havia pistas. Você as vê porque as colocou lá. Mas tente entender a posição de seu leitor, pobre iludido R. E. Marksley. Ele acredita em outras pistas. Ele pensa que conhece seu autor, que de alguma forma se revela para ele. Se o escritor é bom, tudo bem. E quando o escritor é excepcional... — ele parou, e seus olhos procuraram os dela, — Como você é, pobre Marksley ouve a si mesmo também. Ele diz: este escritor pensa como eu penso, sente como eu sinto. — Ele limpou a garganta. — Sei tão pouco sobre mulheres, — Vendo a incredulidade nos olhos dela ele emendou, — nesse aspecto. Como eu poderia supor que você fosse tão diferente de mim? E alguém tão jovem como é você. Você está correta; eu não teria acreditado. Mas esta é a ironia. Eu jamais teria imaginado, e imaginação é frequentemente falsa em relação à realidade. Conhecendo você agora, tendo visto o seu caderno, tudo isto parece não somente plausível, mas certo. Você compreende o quanto isto teria sido impossível de se deduzir? Eu lhe faria um desafio, minha cara, e você teria de adivinhar a autoria. Acho que se surpreenderia. — Eu não pretendia fazer ninguém de tolo. — Não pretendia? — O sorriso dele disputava com a exigência. — Tão elaborado esforço calculado para fazer alguém de tolo. Permita-me dizer-lhe que você parece confusa. Confusa! A palavra era inadequada. — Diga-me Hallie, — ele insistiu. — O que a instigou a uma ação tão drástica como casar com um estranho, comigo, preferível a ser descoberta? Ela podia sentir a frieza em sua voz. Ela tinha de fazê-lo entender. — Eu tentei partir antes deste evento... antes de que nosso acordo se tornasse permanente. Se você leu meu caderno, você deve ter visto as cartas? — Ele concordou com um aceno. — The Tantalus, você, Richard Marksley tinha me pago uma boa soma. Mas Jeremy chegou muito tarde e agora... Eu vi que não posso. — Não, você certamente não pode, — Marksley concordou. — Eu tinha resolvido conversarmos antes que você fugisse. — Fugisse!
— Não era esse o seu plano? — Eu dificilmente fugiria! — Mesmo assim. — Ele encolheu os ombros. — Imploro que continue. Eu me encontro intrigado depois de tantos meses de correspondência. Correspondência que, a propósito, eu achei genuína, e encontrei eminentemente satisfatória em sua franqueza e confiante amizade. — Ele segurou o olhar dela. — Você devia ter confiado em mim Hallie. Ou entender que o resto de nós tem sentimentos, embora talvez não tão delicadamente discriminados quanto os seus. Nem uma vez você considerou revelar a sua verdadeira identidade para mim? — Ele disse cruelmente. — Eu considerei, — Hallie disse, segurando as mãos nervosamente na frente dela. — E eu fiz. Marksley parecia mais paciente que divertido. — Você precisa esclarecer esse enigma minha cara. Eu acho que minha mente instável não acompanha o seu ritmo. — Reginald, — ela disse. — Isto é porque eu confrontei o seu primo. Na pousada em Tewsbury. Eu ouvi seus dois companheiros falando com ele. Ele fez uma piada que eles acharam engraçada e um deles bateu em suas costas dizendo que era ‘verdadeiramente digno de R. E. Marksley.’ Eu não suspeitei que eles estavam sendo sarcásticos. Quando eles foram servidos eu os ouvi fazendo um brinde ‘a literatura’. Então eu não pensava em ser tão arrojada. Mas nós passamos pelo corredor e eu... eu me aproximei dele chamando-o de senhor Marksley, e lhe contei que era uma amiga do senhor Henry Beecham. O resto você sabe. — Não, eu não sei, — ele disse sombriamente. — Ele tirou vantagem de você? — Ele me puxou para o quarto ao lado, perguntando-me qual a idade de Beecham, chamando-me de esperta e atrevida e... beijou-me. Millicent encontrou-nos antes que eu pudesse empurrá-lo para longe. Então ele reivindicou ser Marksley do The Tantalus. Marksley observou como ela usava a mão para cobrir os lábios. — Eu tenho me desculpado por Reggie por muitos anos, — ele contou a ela. — Parece que preciso continuar fazendo isso mesmo após sua morte. — Eu fui tola. Eu não queria admitir para você o quão tola eu era. Marksley balançou a cabeça e se moveu na intenção de alcançá-la. Mas seus braços ficaram longe. — Como eu falhei com você, — ele disse suavemente, — para finalmente me procurar? Eu nunca pensei que estaria
grato à senhorita Binkin, Hallie, mas, com toda a honestidade, ela poupou-a. Reginald era conhecido por muito pior. Nós dificilmente disputávamos, embora o resultado era tão indesejável como qualquer outra coisa que ele inventasse. Se você tivesse vindo até mim — O olhar dele prendeu o dela. — Talvez a sua precaução fosse compreensível. Eu me comportei tempestivamente. Você deve colocar o meu mal gênio perto dos ciúmes. Ciúmes? De seu primo? Reginald Marksley nunca teria acendido uma vela para ele, certamente ele devia saber disso. — Eu nunca teria me casado com Reginald Marksley, — ela lhe disse. — Estou contente de ouvir isso, embora eu suspeite de que você não teria mais escolhas sobre o assunto do que teve ao casar comigo. Nos últimos dois dias, no entanto, eu tenho estado muito ocupado em demonstrar-lhe que não está casada afinal. — Ele se afastou dela e foi olhar o rio. — Me adiantando sobre os fundos de Beecham, eu acertei a sua passagem para a Italia. Você aproveitará, eu espero, a vila de meus amigos no norte, no lago Maggiore, por muitas semanas ou meses dependendo de você. Uma anulação é difícil, mas não impossível. Eu perguntei ao meu advogado. O processo levará algum tempo. Desnecessário dizer que ele está surpreso e preocupado. —Ele pausou brevemente. — Faz uma semana e ele estava fazendo os arranjos. Mas Fulton é discreto. Você será livre para escrever e viajar para onde quiser Hallie. Eu penso que uma sensibilidade como a sua ser confinada de qualquer forma é aborrecido. Henry Beecham sempre escreveu livremente, e sobre liberdade. Ele deverá apreciar esta experiência. Por um momento Hallie pode apenas estudar suas costas, a implacavel forma de seus ombros naquele casaco azul noite. Então ele se voltou para ela. — Isto é um tipo de remédio. Se depois de algum tempo você quiser voltar para a Inglaterra, minha expectativa é de que qualquer fofoca já terá desaparecido. Há certo alivio em como rapidamente novas desgraças atraem o interesse dos mexeriqueiros. Então se você quiser casar com Jeremy, não haverá dificuldade. — Eu não quero ir para a Italia, — ela disse suavemente. — Bem, talvez algum outro lugar então. Jeremy desejará ajudá-la com seus planos. Embora por que ele simplesmente não lhe deu o dinheiro que você precisava — Eu nunca pegaria dinheiro dele. Não seria apropriado. — Menos apropriado que casar comigo? Eu tenho a instituição do casamento em alta estima tanto quanto você minha cara. Agora se Jeremy casar
com você. —Eu nunca me casaria com Jeremy. Eu poderia ter casado com ele a qualquer hora, — ela lhe disse sombriamente, — e eu não casei. Novamente ele franziu as sobrancelhas. — Eu tentei, eu tentei lhe dar compensações Hallie. Se nada disso a atrai, você deve é claro me dizer. Uma certa notoriedade é inevitável, mas aquelas com inclinação literária parecem ser perdoadas atualmente. As convenções não se vinculam a quem tem talento e propósito e particularmente com dinheiro… Ela o interrompeu. — Você fala de convenções, de como censuráveis elas podem ser, e ainda você diz que o que pode ser aceitável para os radicais não é aceitável para você. — Eu não me lembro— Você disse tanto para Archie Cavendish... como para mim. — Existem muitas coisas que eu adoraria ter dito para o senhor Cavendish, Hallie. Como eu me lembro dessa particular conversa, eu tentava duramente, mostrar uma indiferença que estava longe do que eu sentia. O seu amigo Cavendish assumiu que eu precisava desculpar certo descuidado e desonrado comportamento. Eu não posso e não faço, — ele enfatizou. — Certamente que alguém pode falar em geral criticando a sociedade sem defender sua erradicação? — Então você entenderá que eu... Eu não quero uma anulação. Ele ficou perplexo. Então seu olhar se estreitou. — Eu entendo. Você prefere afinal de contas ser uma Viscondessa. — Ele levantou os ombros, o que a irritou. — Talvez Fulton consiga arranjar algo nesse sentido. Eu não me casarei novamente. Minha tia sem dúvida encontrará isso inaceitável, mas eu — Oh, você não ouve? — A própria voz assustou-a e silenciou-o. — Você fez todos os planos, você foi muito honrado e generoso, ainda assim tudo o que você disse... tudo o que você entendeu, oh, não consigo respirar! — Ela se virou para a janela e espalhou os dedos no frio painel de vidro. A escuridão de fora refletia sua figura de forma fantasmagórica, emoldurada pela forma escura de Marksley atrás dela. — Posso lhe dizer o que eu quero? — Ela falou para a imagem dele no vidro. — O que eu sempre quis? Eu quis continuar como Henry Beecham, escrever para você e você me responder generosa e amavelmente e inteligentemente como sempre fez. Eu gostaria de salvar alguma coisa disso, dessa amizade. E ter você me valorizando sem conhecer qualquer coisa sobre mim. Mas eu também queria me sentar para o desjejum com você e ouvi-lo rir
e segurar minha mão. Ter você olhando para mim como algumas vezes você faz, mesmo quando está zangado. Eu quis ambos. Somente que tudo mudou, de tal modo que eu soube que não podia ter ambos. E agora eu vejo que terei nenhum. Por um momento ela ouviu somente seu coração, batendo tão alto em seus ouvidos e na quietude. Então Marksley perguntou suavemente, — Aquele poema, aquele que você deixou para mim na noite em que saí para encontrar George. A noite em que você se aventurou no acampamento cigano. Eu jurava que Henry Beecham estava apaixonado por Jeremy Asquith? Com a pergunta ela se virou escondendo as mãos trêmulas atrás de si. — Poderia Henry Beecham estar apaixonado por Jermy Asquith? — ele perguntou. Ela sentia expectativa e medo. — Ele poderia? — Uma crescente compreensão suavisou a expressão de Marksley. — Quando você escreveu aquele poema Hallie? — Eu comecei a escrevê-lo em Penham. Eu o terminei em Archers aquela manhã. Eu desejava dizer adeus. — Aquilo não era uma despedida, — Marksley insistiu. — Era um poema de amor. — O olhar fixo dele impedia que ela desviasse o dela. Ela engoliu e levantou o rosto. — Talvez fosse então. Ou fosse de alegria. Uma alegria que prometia tudo na vida como um pequeno favor a mim mesma. Eu não podia... eu não podia recusá-lo. Mas eu teria retornado do único jeito que sei. Numa pequena quantidade de palavras. Sim se isto o agrada, — O olhar dela finalmente voltou-se para o chão. — Era de amor. Nos segundos seguintes, ela pensou em silêncio. Certamente que ele riria, ou limparia a garganta embaraçado, ou esbravejaria e sairia da sala aborrecido? Ela estava consciente do calor em seu rosto e do aperto em seu peito. — Você gostaria de saber qual foi o primeiro pensamento que tive ao vê-la pela primeira vez Hallie? — ele disse finalmente, tão sério que ela levantou o rosto para olhá-lo, — naquela surpreendente manhã em Archers? Com seu tio de rosto rubro respirando no meu pescoço, a senhorita Binkin e Geneve me empurrando para um casamento em meio à balburdia? — Enquanto ela furiosa olhava para o rosto dele, ele se aproximou. — Eu pensei que coisa boa eu tinha feito na vida para merecer encontrar você. — — Então você jogou... tão cuidadosamente com nossa situação... como eu, — ela disse, — você deu toda
indicação... você desprezava minha companhia. E depois de nosso ca... você não conseguia agüentar a minha presença por mais de quinze minutos. — Meu doce, eu não podia suportar, — ele disse. — Que pista eu tinha de que você quisesse vir a mim espontaneamente? Meu comportamento áspero tinha tudo a ver com Reggie e as circunstancias, não com minhas vontades. E depois descobrindo o seu segredo, eu soube que deveria deixá-la ir. O prêmio parecia estar sempre à minha frente, fora de meu alcance. — Ele segurou uma das mãos dela. — Ouso acreditar que poderia fazê-la feliz? Eu descobri que não tenho coração para nenhuma outra coisa. Ele puxou-a pelos braços. Ele beijou suas mãos e finalmente ambas as palmas, enquanto ela ainda estava fascinada. — Os ciganos leram a minha sorte aquela noite Hallie, antes de me levarem para ver George Partridge. Eles acreditam que seu dom de previsão oferece um vislumbre do caráter dentro do propósito da pessoa. Entre muitas brincadeiras eles me revelaram que eu iria amar um homem. Desnecessário dizer que fiquei surpreso. — Ele a puxou alguns centímetros mais perto e novamente beijou seus dedos trêmulos. — E você, — ela respirou, — ama um homem? — Sim, — ele sorriu amplamente. — Henry Beecham e sua demoníaca gêmea Harriet. Ela sabia que lhe devolvia o sorriso. Todas as partes dela sorriam. — Mas e se eu fosse... se Henry Beecham fosse um homem? Ele suspirou e puxou-a abruptamente para mais perto. — Então querido coração, você pode acreditar que eu teria dito alguma outra coisa no jantar de Augusta Lawes. — Deixe-me dizer que, — ele falou sobre os lábios dela, — o casamento... de duas mentes verdadeiras... não admite impedimentos. [1] Faias - árvore de até 5 m, da família das icacináceas, nativa do Brasil (PE, BA, GO) [2] Madeira – Bebida alcoólica tradicional [3] Anna Seward-poeta romântica inglesa 12/12/1742 – 25/03/1809 [4] Joanna Baillie-poeta e dramaturga escocesa 11/09/1762 – 23/02/1851 [5] William Cowper-Poeta inglês muito famoso em sua época. Tambem compunha hinos religiosos. [6] Thomas Campion-12/02/1567 – 01/03/1620. Poeta e compositor inglês. [7] Christopher Marlowe – 23/02/1564 – 30/05/1593-Poeta inglês [8] Samuel Taylor Coleridge – 21/10/1772 – 25/07/1834. Poeta inglês [9] George Gordon Byron – 6 Barão Byron-22/01/1788 – 19/04/1824. Poeta inglês [10] Elizabetano-período relacionado ao reinado da rainha Elizabeth I da Inglaterra, considerado a renascença inglesa, no qual se viu florescer a literatura e a poesia. [11] Walter Raleigh morreu em 1618, foi explorador, espião escritor e poeta inglês
[12] Mary Wollstonecraft – 27/04/1759 – 10/09/1797. Escritora e defensora dos direitos das mulheres