Contos de uma Dona da Rua

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Acredito que não chegamos a lugar algum sem o apoio de pessoas incríveis. Agradeço primeiramente aos meus pais que me sustentaram durante a época mais difícil que já passei, por me entenderem o máximo que eles podiam e por acreditar e investir em mim, obrigada por apoiar o meu projeto até ele ficar perfeito. E principalmente obrigada por me apresentar ao gibis com muito carinho. Agradeço à minha querida orientadora professora Mônica Lima de Faria, não poderia ter escolhido alguém mais perfeita para me orientar. Não só uma professora, como uma amiga que me fez forte para fazer esse trabalho com muita dedicação e orgulho. Você foi essencial na minha formação acadêmica e pessoal, desejo levar sua amizade para a vida inteira. Às professores do Centro de Artes que foram tão fortes diante de uma greve e diante de tantas injustiças à um cargo tão importante, em especial às professoras Thaís Cristina Martino Sehn e Nádia da Cruz Senna, que juntas formaram a perfeita banca avaliadora, sempre dispostas a ajudar e orientar qualquer dúvida ou obstáculo em meu caminho. À meu namorado e melhor amigo Luca, que esteve presente desde o primeiro dia de aula junto a mim e agora está mais forte do que nunca ao meu lado, sempre me apoiando e sendo o perfeito ombro amigo. Você acreditou em mim do início ao fim, em momentos felizes, momentos tristes, momentos assustadores, você sempre esteve lá para me reerguer. À todos amigos que acumulei durante essa jornada e aos amigos que estabeleceram fortes comigo desde o colégio. Obrigada não medir esforços para me ajudar ao máximo, sempre quando eu pedia. Não seria nada sem vocês. À Sidney Gusman que passou de uma referência biográfica à um grande amigo, obrigada por ser uma pessoa tão boa e acessível. Pessoas como você que quebram barreiras e trazem conteúdo e entretenimento à vida todo fã de quadrinho. E por último, mas não menos importante, à Mauricio de Sousa que fez a minha vida, e a vida de muitos brasileiros, mais feliz. Obrigada.


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ssa é a história de uma mulher com coração de menina, que por amar a sua infância nunca vai conseguir se chamar de mulher, não importa com quantos anos ela estiver, então vamos chamá-la de menina, menina Lídia. Menina Lídia não é escritora, menina Lídia mal sabe falar em público, quem dirá abrir seu coração em um livro como esses. Mas quem mandou a Menina Lídia escrever sobre algo tão pessoal como Projeto de Conclusão de Cursos?! Agora a Menina Lídia vai ter que sofrer mesmo. Bom, lá vamos nós…

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Menina Lídia sou eu, pelo menos desde a última vez que chequei, e irei escrever esse pequeno livro em primeira pessoa, pois ele é muito mais um conto do que realmente um livro. Escrever sobre mim é um dos maiores desafios que eu passei pela vida, então espero que apreciem a leitura tanto quanto eu me dediquei à escrevê-la.

"Para isso, precisamos voltar para o final dos anos noventa..."

Este livro é uma pequena homenagem para uma grande paixão, é uma homenagem ao maior criador de quadrinhos do Brasil, Mauricio de Sousa, e como suas obras tiveram um impacto gigantesco na vida de muitos brasileiros, e especificamente na minha vida. Vou contar aqui um pouco sobre como a Turma da Mônica esteve presente em várias etapas do meu crescimento, desde a alfabetização até a graduação. Quero relacionar esse carinho que tenho pelos quadrinhos com o Design, montando esse pequeno material editorial e juntando a minha vida acadêmica com a pessoal. Para isso, precisamos voltar para o final dos anos noventa, quando tive meu primeiro contato com a Turma da Mônica: eu não sabia ler, escrever e nem mesmo falava direito, mas eu não conseguia passar um dia sem os meu gibis. Se alguém não lesse os quadrinhos para mim, eu mesma inventava os diálogos e a narrativa apenas olhando para o desenho. E quando não estava “lendo” os gibis, estava desenhando os personagens e criando minhas próprias histórias.

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Desenhos antigos:

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A Turma da Mônica esteve presente em toda a minha formação, tanto na leitura quanto na fala, quando pequena precisei passar por fonoaudióloga, pois falava muito parecido com o Cebolinha. Até hoje tenho meus problemas com timidez e dicção, mas tenho segurança de dizer que os meus problemas de fala não foram devido aos gibis, aliás, eles só me ajudaram, hoje tenho orgulho de dizer que fui alfabetizada com ajuda da Turma da Mônica.

"Hoje tenho orgulho de dizer que fui alfabetizada com ajuda da Turma da Mônica" Um hábito que nasceu com Turma da Mônica foi ir em sebos desde pequena, minha cidade sempre foi o tipo de cidade que preserva e gosta de antiguidades, então a quantidade de de sebos aqui sempre foi muito abundante. Sempre foi uma diversão para mim passar as tardes folheando gibis e não sair até ter visto todas as prateleiras e os meus dedos estarem totalmente pretos.

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Meu interesse pelos gibis partiu originalmente do meu pai, quando ele estava na faculdade começou a ler Turma da Mônica e Tio Patinhas, não havia dúvida de que quando eu e meu irmão nascemos os gibis passariam diretamente para nós. Meu irmão sempre gostou de ler também, mas a paixão realmente floresceu em mim. Nunca entendi porque não me interessava pelos gibis da Disney, até tinha alguns almanaques mas nem passava perto do fascínio que eu tinha pela turminha. Mas agora eu entendo, a Turma da Mônca dialogava com todo tipo de criança brasileira, a Disney não tinha essa conexão.

Ler quadrinhos nunca foi um hábito para minha mãe, mas se tornou no momento quando eu, ainda muito pequena e sem saber ler, pedia à ela para ler as historinhas em voz alta. Em vez de pedir a história da Cinderela na hora de ninar, pedia Turma da Mônica. Ela lia e interpretava cada personagem com a sua própria voz, diz ela que eu adora ouvir o Cebolinha falando, não é coincidência que ele é o meu personagem favorito desde sempre.

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Eu era extremamente parecida com a Mônica, não tanto no temperamento mas muito na aparência mesmo. Eu era (e ainda sou) muito baixinha, um tanto rechonchudinha e, por causa de um acidente na escola, meus dentes eram motivos de chacota, eles eram muito maiores do que o resto do meu rosto e isso só influenciava mais ainda o bullying. Infelizmente eu não tinha a força e, muito menos, a atitude da Mônica como forma de defesa, mas isso não me impedia de, de vez em quando, sair com alguma boneca e ir batendo nos meninos que me provocavam.

Quando criança nunca me meti em confusão, menos quando um menino me chamou de dentuça... coincidência?

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Como provavelmente muitas crianças do Brasil, eu também já tive Turma da Mônica como tema do meu aniversário. E esse foi o melhor aniversário que eu já tive, estava fazendo 9 anos de idade, e pelo o que eu me lembro era a época que eu mais consumia os gibis, e esse aniversário foi muito especial para mim.

Sem dúvidas: o melhor aniversário.

Foi um dois únicos aniversários que eu não fiz em casa, graças aos meus pais que batalharam para conseguir alugar esse centro de eventos, que era quase que um paraíso das crianças, cheio de brinquedos. Minha mãe, quando vê as fotos desse aniversário, sempre lembra com orgulho da atitude que eu tive na festinha, que durante o parabéns (onde todas as crianças interesseiras disputam pra ficar do lado do aniversariante) eu fiz questão que as duas filhas da empregada da minha avó ficasse do meu lado, pois elas foram as minhas primeiras amigas de verdade, sem interesse. Naquela época eu não sabia do peso que tinha essa minha ação, mas hoje eu invejo essa pureza que eu levava na minha infância e no valor aos amigos de verdade que a Turma da Mônica me ensinou.

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Quando criança todo mundo só falava de Disney pra cá, Disney pra lá... As bancas eram cheias de revistinhas do Tio Patinhas, Mickey, Zé Carioca, e o sonho de toda criança era ir para os Magic Kingdom, comigo era diferente, eu só lia Turma da Mônica (bem de vez em quando Tio Patinhas, mas nem havia comparação) e o meu sonho era visitar o Parque da Mônica, eu nem queria saber de Disney... Vai entender...

“Meu sonho era visitar o Parque da Mônica, eu nem queria saber de Disney”

Infelizmente o sonho de conhecer o Parque da Mônica nunca se realizou, ver todos aqueles brinquedos e atrações que aparecem nos gibis do Parque ainda está na minha lista de “coisas para fazer antes de morrer ou sair do Brasil”, porém é uma pena que eu não cheguei a conhecer o antigo, mesmo recortando incessantemente todas as promoções que apareciam nos gibis e recolhendo tudo para os meus pais poderem me levar. Triste vida das crianças gaúchas que nunca foram no Parque da Mônica...

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Essas memórias são muito preciosas para mim, cada uma marca um momento diferente na minha história, onde me auxiliaram a crescer sem perder a real essência de ser criança. Assim eu posso dizer que a criança em mim nunca vai morrer, ela só vai ter que aprender a lidar com os novos obstáculos com a mesma positividade de sempre.

“Assim eu posso dizer que a criança em mim nunca vai morrer...”

Algo que me encantou demais em fazer esse trabalho, a admiração das pessoas. Sempre que eu comento com alguém sobre o meu trabalho a reação sempre é uma grande admiração, independente da idade, a reação é a mesma. Sinto que todos os brasileiros tem um carinho enorme com a Turma da Mônica, quase que uma forma de agradecimento pela importância que ela fez na formação dessas pessoas. Toda vez que tocava no tema, as pessoas diretamente falavam “ah como eu gostava de ler Turma da Mônica” ou “ainda leio e me divirto muito”, nunca ouvi uma crítica negativa, nunca ouvi alguém falar que não lia ou que não conhece os gibis. É fascinante ver o amor que as pessoas guardam e me sinto radiante quando percebo que o Brasil tem as portas abertas às artes e ao quadrinho, tudo graças ao gênio Mauricio de Sousa.

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odemos concordar que a universidade é, ao mesmo tempo, a melhor e a pior época da sua vida. Nela nós passamos por várias experiências novas, conhecemos pessoas de todo o país, expandimos nossa inteligência e nos dedicamos para caramba. Essa última parte acontece obviamente se você estiver na profissão certa, a qual eu acho que eu felizmente acertei. Consigo confirmar que eu nunca me dediquei tanto a algo quanto estou dedicando à esse projeto, isso trás muito felicidade e muitas frustrações, então nesse capítulo quero contar a vocês um pouco de como eu cheguei aqui, neste livro.

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Na vida acadêmica, somos testados em diversas etapas, esses desafios provam não só a nossa inteligência como a nossa maturidade em se dedicar ao estudo, se dedicar ao futuro e ter uma visão além do momento. Decidir que caminho que eu iria seguir o resto da minha vida, aos 16 anos de idade, é uma grande responsabilidade que cai sobre os ombros de uma forma muito rápida, isso pode causar muita insegurança, fazer uma decisão tão grande em um momento tão cedo. Pelo menos esse é o meu olhar, sinto essa pressão interna de que se eu me atrasar em alguma etapa, eu posso estar desperdiçando tempo, falta de tempo é uma luta constante e era exatamente assim que eu me senti aos 16 anos de idade, quando enfrentei 3 vestibulares e passando em 3 cursos diferentes, podendo escolher apenas um para o resto da vida.

"Decidir que caminho que eu iria seguir o resto da minha vida" Mas muita calma nessa hora, não comece a achar que sou biruta, tenho consciência que uma escolha que fiz à 5 anos atrás não vai sentenciar a minha vida à apenas um rumo. Meu desejo é continuar estudando quando me formar, quero expandir o máximo de conhecimento acadêmico que posso para depois conseguir botar em prática no meu trabalho com sucesso e gratificação.

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Dos 3 cursos, eu me matriculei em dois, Design Gráfico e Engenharia Civil (Sim, eu sei, estranho não?!). O outro curso que eu havia passado era Cinema e Audiovisual, mas achei que Design combinava mais comigo. Durante um semestre inteiro, levei os dois cursos em paralelo, e botando um prazo que no final do semestre eu iria escolher qual deles que eu iria continuar e qual eu iria trancar.

“Muita calma nessa hora”

Obviamente eu escolhi Design Gráfico, me encantei em como o Design da UFPEL é totalmente conectado com as artes, sendo muito mais abertos à propostas e materiais diferentes, não focado no produto e na propaganda, como a maioria dos cursos de Design de outras universidades.

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Essa abertura me auxiliou durante o curso inteiro, mas principalmente na etapa final, quando chega o momento do segundo colapso mental da vida acadêmica, a escolha de objeto de estudo do Trabalho de Conclusão de Curso.

"O momento do segundo colapso mental da vida acadêmica" Durante o curso inteiro tive inúmeras ideias de tema, nenhuma muito sólida. Em cada semestre, eu mudava de ideia, mas nada chegava ao meu agrado, nesse meio tempo tive uma imensa secção de nostalgia, resgatando materiais que eu consumia quando pequena, voltei a assistir alguns desenhos animados agora com uma visão de adulto, percebendo motivo por qual eu gostava quando pequena e porque algumas coisas continuam boas depois de tanto tempo. Um exemplo é a animação clássica da Cartoon Network, Coragem o Cão Covarde que no olhar de uma criança é só mais um desenho divertido, enquanto de um adulto pode se tornar algo muito mais sinistro por ser uma animação que sempre abordava um assunto pesado relacionado a medos e fobias. FFoi assim que eu comecei a ter um olhar mais crítico em relação aos materiais que eu consumia sem um filtro do que era bom e do que era “lixo comercial”. Foi então que eu cheguei em Turma da Mônica, um dos únicos produtos inteiramente

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nacional que eu consumia em grande escala. Assim retomei todos meus gibis antigos e li novamente, me identificando com as histórias que mais gostava e compreendendo o porquê me fascinava antes e o porquê ainda me fascina hoje. Então deu-se o início da temporada de pesquisas, mergulhei nos meus livros sobre quadrinhos e li todos de cabo à rabo. Quanto mais eu lia, mais eu queria adicionar a minha pesquisa, eu simplesmente me apaixonei pela história dos quadrinhos no Brasil, escrevi um pouco sobre Fredric Werthan mas me aprofundei bastante na época de Aizen e Marinho, e mesmo com pouquíssimos registros sobre o assunto, eu simplesmente não queria parar de escrever.

Registro de quando terminei a marcação de todos os meus livros.

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A hora que a criatividade começa à trabalhar...


Depois de mais de 90 páginas concluídas, meu projeto teórico estava pronto, impresso e encadernado, agora era só entregar as 3 cópias para cada uma das professoras que pertencia a minha banca. Com tudo entregue, chegou a hora que o nervosismo toma conta do corpo, achando que tava tudo horrível, rezando para que eu pelo menos tirasse um 7 para poder passar para a próxima etapa e obviamente, já sofrendo antecipadamente pela apresentação oral de defesa do projeto. Eu já não sou muito eloquente em grupos de mais de 2 pessoas, mas quando isso envolve algo tão importante quanto um TCC, a minha dicção, dislalia ou até mesmo dislexia, atacam. E atacam pra valer.

"Já sofrendo antecipadamente pela apresentação oral...”

Eu realmente não sou uma boa oradora, o que é uma pena, sei que isso me atrapalha demais, mas é para isso que eu tenho fé no meu trabalho teórico, ali mostra que a pessoa que fica 5 minutos falando “ahm…” na apresentação, não sou eu. Aquela pessoa que nervosa na frente da classe é apenas mais uma vítima da timidez. E que sorte a minha ter sido avaliada por professoras que sabiam disso, o maior alívio foi ouvir os elogios de cada uma, a avaliação foi tão proveitosa que em meio a um brainstorming conseguimos estabelecer o que seria o meu projeto prático, um livro relacionando a trajetória da Turma da Mônica em conjunto com a minha trajetória pessoal.

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E valeu o esforรงo...

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Agora com 10 na banca do trabalho teórico, só me faltava ir em busca de manter a média na trabalho prático, e como vocês irão ver no capítulo seguinte, aconteceu muita coisa em muito boa em muito pouco tempo, eu tive a oportunidade de assistir uma palestra do gênio por trás das mais recentes publicações da Turma da Mônica, Sidney Gusman, fui na minha primeira Bienal do Livro e, acima de tudo, pude realizar um sonho de visitar a própria MSP e ver todo aquele ambiente incrível em pessoa. Mas como a vida não é um mar de rosas, eu não posso mostrar esse grande projeto como uma falsa ilusão de vitórias, por trás de tudo isso, eu passei por muitas derrotas. Durante o período da execução do projeto prático, com dois meses para a entrega, eu perco todo o arquivo do meu livro, tudo que eu já tinha escrito, tudo que eu já tinha diagramado, tudo corrompido. Por bobagem minha, eu não tinha nenhum backup do trabalho, nem mesmo o texto, a única coisa que me sobrou foi uns papéis amassados das métricas que eu estava usando de guia.

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Foi muito difícil conseguir me reerguer dessa derrota, depois de 2 dias de pura negação, tive que correr pra conseguir de volta tudo que eu tinha perdido e quando eu finalmente estava conseguindo produzir material novo e entrando no ritmo animado de trabalho… mais uma derrota… a Universidade Federal de Pelotas entra em greve geral. O país está um caos e a Universidade sem recurso, não havia como evitar essa greve, e para o meu TCC que já tinha data de entrega, fica sem a noção de uma conclusão. E isso foi terrível para mim, sem uma data de encerramento, fiquei totalmente desmotivada, juntando com problemas pessoas, realmente não estava enxergando saída para o meu trabalho. Mas sei que não posso desistir, o que resulta no momento presente em que agora escrevo, pleno janeiro, trabalhando em cima do meu livro, enquanto todos estão na praia. Adiantando no que eu puder, porque para mim, 2016 ainda não acabou...

"Para mim, 2016 ainda não acabou...”

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onhos nunca foram objetivos para mim, fui criada para acreditar que sonhos só acontecem quando você está dormindo, e que algumas coisas não são pra gente. Sempre botaram na minha cabeça que se eu nascesse numa cidade tão pequena quanto Pelotas, o meu destino era ficar aqui para sempre, até o final dos meus dias, sair daqui não era uma realidade. Isso por um milagre foi desconstruído por mim mesma, descobri que se eu me esforçar ao máximo, eu conquisto meus sonhos, descobri que sonhar não é uma barreira, sonhar é uma possibilidade. Esse capítulo fala de como eu conquistei um sonho.

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Voltando para o sonhos de infância, não tinha algo que eu mais sonhava do que conhecer o Parque da Mônica e o próprio estúdio de criação dos quadrinhos da Turma da Mônica, a Mauricio de Sousa Produções. Esse desejo já existe desde a edição comemorativa de 40 anos da Mônica, lançada pela Editora Globo e a minha edição de aniversário preferida. Na edição continha, além de várias histórias muito engraçadas, uma história inicial que juntava desenho e fotografia mostrando todas as etapas e funcionários da criação dos gibis, desde o roteiro até a arte final. Isso para mim foi simplesmente impressionante, depois anos lendo o gibi era incrível poder entender como ele era criado, sem nunca perder a magia da produção;

"Depois anos lendo o gibi era incrível poder entender como ele era criado"

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Nunca que eu imaginei que esse sonho de conhecer a empresa por dentro iria realmente se tornar realidade. Tudo começou quando em meio de uma montanha de autores que estudei durante a pesquisa, um deles se sobressai quando o assunto é Turma da Mônica, seu nome é Sidney Gusman. Em tudo que era entrevista e estudo sobre a história da MSP, esse nome sempre era citado, foi aí que eu fui atrás e descobri que o cara era o gênio por trás de todas as mudanças que me fizeram resgatar a Turma da Mônica como leitura. Ele que se aventurou por águas que a empresa nunca havia sequer pensado em atravessar, e que expandiu o público alvo para que todos pudessem desfrutar da turminha;

“Um deles se sobressai quando o assunto é Turma da Monica, seu nome é Sidney Gusman.” Acabei seguindo ele nas redes sociais e percebendo o quão apaixonado o cara era por quadrinhos, e a boa vontade imensa que ele tem à ajudar os outros. Foi então que durante as férias de verão, o Sidney divulga que vai dar uma palestra em um evento de quadrinhos em Porto Alegre. Foi aí que eu pensei, essa era a minha chance, pedi folga do meu estágio e peguei um ônibus direto para Porto Alegre, depois de 3 horas e meia de viagem cheguei super ansiosa no evento esperando para conhecer o cara. Tendo minha primeira conversa com ele, reparei o quão boa pessoa ele é, demonstrando pena de mim por viajar de longe para ver ele falar;

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Depois desse primeiro encontro que tive com o Sidney, fiquei mais confiante com a minha pesquisa, até durante o processo acabei pedindo ajuda em umas referências bibliográfica que estava com dificuldade, mas sempre contive em conversar mais com ele, tenho essa mania de me achar inconveniente ou que as pessoas nunca vão lembrar de mim.

"Deixar a chance voar pela janela?" Encontro com Sidney em janeiro/2016 e agosto/2016, consecutivamente.

Foi apenas em agosto que tive meu segundo contato direto, divulgaram que ele estaria em Novo Hamburgo para uma convenção de cultura pop, e mais uma vez lá estava a Lídia pegando um ônibus na maior indiada que já havia me metido, indo para uma cidade que nunca tinha visitado só para ter uma chance de contar sobre o meu 10 na qualificação. Já na convenção, ansiosa novamente, assistir chegar aquele cara de quase 2 metros de altura me reconhecer e diretamente me achar maluca por enfrentar toda uma nova viagem para ouvir a mesma palestra, mas né, iria eu deixar a chance voar pela janela?;

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No meio da conversa, contei sobre como estava indo o meu projeto e aproveitei pra perguntar se a MSP estava aberta para visitação, a resposta de logo foi não. Porém:

"Mas eu te boto lá dentro, deixa comigo." - disse ele. Depois dessa frase eu tive me conter muito para não sair gritando aos sete mares, como a criança mais feliz do mundo. Voltei para Pelotas com um sorriso enorme, extremamente ansiosa para contar essa notícia incrível para minha orientadora, que ficou tão animada quanto eu com essa oportunidade. Durante todo agosto fiquei trocando email com o Sidney e com a Daniela que trabalha na comunicação da MSP para combinar a visita. Consegui agendar para o final de agosto, coincidindo com a semana da 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que foi tão mágica quanto a própria visita. Aproveitei que o Maurício ia estar na Bienal dia 27 de agosto, e agendei meu vôo para o dia 26, tudo deu certo, até chegar a manhã da Bienal, quando fui deixada no local errado, na zona oposta à onde seria a Bienal; Esse equivoco, me fez perder a chace de falar pessoalmente com o Mauricio pois antes da palestra, estavam distribuindo senhas para conhece-lo em uma sessão de autógrafos. Foi uma pena mas esse acontecimento não foi o suficiente para estragar a minha viagem.

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Toda crianรงa estรก presente nos nossos personagens

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Apesar dessa desventura, cheguei no local certo faltando apenas 3 minutos para começar a palestra com o Mauricio. O espaço estava lotado e eu, com um pouco mais de um metro e meio de altura, mal via o palco. Mas foi aí que na ponta dos pés, vejo o herói da minha infância chegar… não me contive e chorei, chorei de soluçar, como só tinha chorado quando havia assistido o filme A Vida é Bela. Todos a minha volta me olharam estranho mas eu realmente estava pouco me importando, porque mesmo que ele estivesse à 20 metros de distância, eu estava realizando um sonho que eu achei que nunca, em um milhão de anos, iria realizar. Quando eu consegui, em meio da multidão, chegar na frente do palco, a palestra já havia aberto para perguntas. Me vi com os óculos embaçados em dúvida se fazia alguma pergunta ou não, o impulso era grande mas o medo prevaleceu, eu sabia que eu não tinha nenhuma dúvida a ser tirada, a única coisa que eu queria é agradecer ao Mauricio. Agradecer por ter me tornado a pessoa que eu sou hoje, por ter feito parte da minha alfabetização e por ter me alegrado em tempos difíceis. Infelizmente o medo das minhas palavras soarem cortadas pelo nervosismo dominou e perdi a chance, sei que vou me arrepender para sempre, mas apenas ver em carne e osso esse herói, já dá esperanças de que nada é impossível.

“Agradecer por ter me tornado a pessoa que eu sou hoje” p.43




Foi lindo ver o quanto as pessoas amam o trabalho do Mauricio, mas a minha jornada em São Paulo ainda estava no seu começo. Minha visita estava marcada para dia 31 e lá estava eu, com umas belas horas de antecedência, pronta para ver a magia por dentro. Só de entrar no saguão eu já me senti encantada por aquele ambiente recheado de criatividade e talento, senti que estava sonhando acordada. O saguão já era lindo demais, na parede havia pintado uma linha do tempo, desde a infância, de toda a trajetória da carreira e vida do Mauricio de Sousa.

“Ambiente recheado de criatividade e talento, senti que estava sonhando acordada...”

Chegando na secretaria, a alegria era tanta que me deixou totalmente perdida, mas tive que me conter pelo menos para fazer o credenciamento, onde eu recebi um crachá do Cebolinha que me apaixonei instantaneamente, era uma pena que não podia levar de lembrança, pois a vontade de roubar escondido era grande.

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Dado o início da visita, uma funcionária da MSP nos guia até o elevador e dá uma rápida explicação sobre cada setor dos dois principais andares de criatividade o gráfico e o audiovisual. O primeiro andar que paramos é onde são criados os gibis, desde o roteiro até a arte final, e é por essas etapas que a guia começa a explicar. Não era permitido fotografar o trabalho em progresso então a maioria das imagens que irei divulgar são imagens públicas e meramente ilustrativas. A primeira parada é a sala dos roteiristas, lá é onde surgem as ideias das histórias e são botadas em papel em forma de roteiro, já com os personagens simplificados servindo de suporte para o artista na próxima etapa. A maioria dos roteiristas tem a liberdade de trabalhar em casa, mas o roteiro não tem o poder de ser aprovado sem passar pelo Mauricio, então sim, até hoje o Mauricio lê todas as historinhas antes delas serem publicadas. E todos os roteiristas são capacitados para fazer qualquer história, independente do personagem e do formato.

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Sendo aprovada pelo Mauricio, o roteiro passa para os artistas, lá ele montam o rafe, que é um esboço da arte em azul, e depois desenhando com grafite por cima, onde eles acertam a posição do personagem no quadrinho, as expressões faciais e os elementos do cenário. Tudo isso é feito em uma folha A3 e depois vai ser escaneada e entregue para arte final. Alguns artista já trabalham diretamente no computador, mas a maioria ainda prefere trabalhar manualmente com os materiais gráficos, esses artistas são os que estão a mais tempo trabalhando para a MSP, alguns estão junto ao Mauricio desde a criação da empresa. Depois dessa etapa, todos os materiais são aprovados pela Alice Takeda, atual esposa de Mauricio, a diretora de arte da MSP.

Até hoje o Mauricio lê todas as historinhas antes delas serem publicadas.

De acordo com a guia, não é qualquer um que pode entrar para a equipe de desenhistas da Turma da Mônica, o artista precisa passar por uma fase de treinamento de 1 à 2 anos, até conseguir de fato retratar com perfeição o traço criado pelo Mauricio. Lá se vai mais um sonho meu pelo ralo, não é mesmo?!

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Saindo da área dos desenhistas, entramos no setor dos arte-finalistas, onde o quadrinho já escaneado será tratado digitalmente e passado pela arte final. Este setor é responsável por todo traço preto da arte, contorno, preenchimento e até mesmo a aplicação de retícula, um departamento super novo que foi implementado agora por causa do mangá, feito por artistas especializados dentro da arte final. Essa parte é toda feita digitalmente, menos pelos arte-finalistas mais antigos que ainda trabalham com nanquim, mas a produção é mais demorada sendo assim bem mais rara de se acontecer. Mesmo o artista tendo que seguir o padrão Mauricio de Sousa, é possível identificar diferença de artista para artista, por detalhes minúsculos como grama, nuvens e casas.

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Com a arte final pronta, a história passa para os letristas, que são os artistas responsáveis por tudo que é letra e relacionáveis, como balões, título das histórias e onomatopéias. Atualmente eles trabalham com uma fonte própria que é a fonte Mauricio de Sousa, e não a Comic Sans como muitos, inclusive eu, acreditamos, essa fonte foi criada a partir da letra que era escrita quando todos os quadrinhos eram feitos com nanquim, assim se formou um padrão e agora é registrada como uma fonte única. A letrista trabalha com toda uma biblioteca de balões e onomatopéias já prontos, mas isso não tira a liberdade dela inventar na hora e adicionar para a biblioteca mais tarde. Mesmo que nós não notemos normalmente, cada universo da Turma da Mônica possui um tipo de balão diferente, por exemplo, um que nós podemos perceber direto é o universo do Penadinho, que possui um estilo de balão mais instável e trêmulo por ser ambientado a noite, no cemitério, onde existe um tom mais sinistro de linguagem.

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Chega a última etapa do estúdio de criação, a cor. Nela o colorista tem o trabalho de preencher todos os espaços em branco e aplicar as cores pré -estabelecidas. Do mesmo jeito que a empresa tem uma fonte própria, ele também possuem uma paleta de cores própria e pré-determinada para cada tipo de historinha. A mesma norma segue para cada tipo de universo, onde na história do Penadinho são usadas cores frias, as história do Piteco são usadas cores quentes. Depois dessa última etapa, a história passa por uma última revisão e, se aprovada, ela pode ser publicada.

Depois de todas as etapas explicadas, podemos explorar um pouquinho o andar e tirar foto dos lugares permitidos, o que mais me chamou atenção na decoração que é toda caracterizada com os personagens foram dois quadros bem pequenos e meio que escondidos na parede da sala, eram dois desenhos, um dedicado ao Mauricio e outro a Alice, feitos pelo mestre dos mangás Osamu Tezuka. Aquilo me deu um arrepio, a amizade que os dois mantinham é emocionante, e lembrar que o mundo perdeu um gênio assim, tão cedo, é de doer o coração.

“A amizade que os dois mantinham é emocionante”

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Partindo para o próximo andar, fomos informados pela guia que o prédio também possui um andar inteiro de parquitetura, que é onde é administrado todos os parques e áreas infantis que a MSP possui, como o Parque da Mônica no Shopping SP Market e até mesmo os cenários para a peça da versão de Romeu e Julieta deles. Mas infelizmente não foi possível visitar esse andar devido ao tempo da visita que estava se esgotando, foi aí que eu percebi que havia feito perguntas demais no andar anterior. Chegando no andar que comporta o estúdio de audiovisual, nos deparamos diretamente com a sala com os animadores, lá eles recebem um roteiro, similar ao que é feito para os quadrinhos, e montam a animação a partir das cenas, esse roteiro é o storyboard, que é um rascunho da animação.

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Separado por cenas, o storyboard já possui o efeito de câmera que vai ser usado na cena e o diálogo que vai acontecer. Depois de pronto, o storyboard é scaneado e montado em forma de story reel, que é um pequeno vídeo técnico com as imagens paradas que mostra as cenas mudando com o tempo já acertado. Assim o próprio diretor já faz uma pequena amostra de como vai ser todos os sons e diálogos da animação, servindo de guia para os dubladores mais a seguir. Com todo o story reel montado, o animador vai começar a desenhar cada movimento que o personagem fazer para depois juntar tudo, de modo que o movimento seja o mais fluido possível. E ao mesmo tempo que o animador está animando, os cenarístas estão fazendo o cenário. Para a animação, eles usam a mesma velocidade que é projetada pelo cinema, 24 quadros por segundo, e usam dois tipo de programas, o Adobe Flash para as animações clássicas e o Toon Boom Animate para a Mônica Toy, que é um estilo diferente de animação, que tem a aparência de 2D mas é animada com um modelo em 3D. Com todas as cenas montadas, aquele som guia, feito pelo diretor, é anexado à animação e é passado para o departamento de som, onde os dubladores trabalham com a incorporação dos diálogos com as vozes próprias de cada personagem. Neste departamento de som também é feito toda trilha sonora composta por músicos da própria empresa. Esse método é usado para a animação tradicional, para o preparo de som da Mônica Toy é um método diferente, a animação é possui música nem diálogo, então todos os efeitos sonoros do desenho é feito com sons de boca, sons que o próprio diretor grava, do mesmo jeito com o story reel só que já como som final.

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Depois que saímos da sala dos animadores, fomos para a sala dos efeitos sonoros, toda isolada acusticamente e com equipamentos lindos para dublagem e composição de músicas, nesta sala acontece tudo que é trilha sonora e gravação de áudios para o Parque, para as peças e apresentações em geral. De acordo com a guia, os dubladores dos personagens principais são os mesmos a mais de 30 anos e possuem um contrato de exclusividade da voz com a MSP. Essa foi a última parada do nosso tour pela empresa.

“Ainda tinha que agradecer por tudo que ele fez por mim.” Assim, com velocidade de velório, caminhamos para a saída, já me despedindo daquele ambiente mágico e com uma sensação de “vim de tão longe para ver tão pouco” perguntei se o Sidney estava no prédio, queria agradecer a ele e ter a oportunidade de mostrar o meu TCC para ele. Mas infelizmente fui informada que ele estava trabalhando na Bienal naquele momento, realmente uma pena, mas ainda tinha que agradecer por tudo que ele fez por mim. Depois de sair do prédio, com a maior relutância de devolver o crachá, esperando a carona de volta, achei melhor já mandar uma mensagem de agradecimento ao Sidney. Foi então que eu recebo uma resposta “Ta aí embaixo ainda?! To descendo”. Sem palavras para descrever a felicidade que eu fiquei na hora que voltei para o prédio, na maior felicidade do mundo, e tava lá o Sidney esperando e me convidando para subir na sala dele.

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Acho que não preciso descrever a felicidade que habitava dentro de mim naquela hora, era muita felicidade para uma pessoa tão pequena quanto eu. Subimos ao 5º andar, onde acontece todas das reuniões e, principalmente, onde fica a sala do próprio Mauricio de Sousa. Passeando pelos corredores do 5º andar, já consegui notar que ali era onde saia todas as ideias da MSP, haviam várias esculturas da Mônica, quadros e o que mais me chamou atenção foi um jornal velho emoldurado na parede, era o jornal Folha da Tarde com a primeira publicação do Mauricio, uma tirinha do Bidu e do Franjinha. Lindo demais estudar a origem da empresa por tanto tempo, ver essa tirinha em tantos livros, revistas, reportagens e então finalmente ver ela pessoalmente, apenas emocionante.

“Já consegui notar que ali era onde saia todas as ideias”

Ao lado da porta para os elevadores há exposto um busto do pai do Mauricio, diz a lenda que ele é visto de vez em quando zanzando pelos corredores (sinistro). Logo a frente tem a primeira boneca da Mônica à ser vendida no mercado, tão feia mas tão nostálgica...

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Andamos mais um pouco e paramos em frente a uma porta, na hora que entramos eu já conseguia saber onde eu estava, era sala do Mauricio. Uma sala cheia de bonecos e produtos, vários quadros com molduras lindas da coleção da exposição de história em quadrões. Ficamos conversando um pouco na sala, mas eu tenho que confessar que estava totalmente aérea, apenas apaixonada por aquela sala e tudo que ela representava, então o Sidney oferece um potinho cheio daqueles personagens de dedo para escolhermos dois (é uma tradição do Mauricio a todos que visitam a sala dele), eu escolhi o Cebolinha, por ser o meu personagem favorito, e o Sansão, por ser a melhor representação da Turma da Mônica. Vou guardar essa linda lembrança para sempre.

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‘‘Chegou o momento em que precisei decidir se queria ser apenas mais um ou se daria um passo a frente.’’

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Quase chorando por deixar aquela sala linda, entramos na a sala do Sidney, a caverna dos nerds, cheio de hqs na estante e trabalho na mesa, sim, o cara é ocupado… Lá eu tive que deixar a vergonha de lado e mostrar meu projeto não-finalizado do TCC. Ficamos falando sobre as ideias que eu tinha para o projeto prático e como eu recolhi informações para o projeto teórico, fiquei lisonjeada com os elogios e agradecida pelas correções. Assim realmente terminou a nossa visita, extremamente feliz com a minha experiência, super motivada a fazer o meu trabalho e, acima tudo, agradecida por todos que me ajudaram a alcançar um sonho. Obrigada.

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Agradecimento especial Ă Luca e Giulia Giacaglia que me acompanharam durante essa maravilhosa visita.

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i 4. i

p.68


Q

uando nos tornamos fãs de algo, temos a vontade de ir atrás de mais informações sobre o assuntos, e comigo não é diferente. Quanto mais eu leio quadrinhos, mais eu quero saber sobre eles e mais eu quero ler do mesmo, e tenho agradecer a Turma da Mônica por me ensinar o hábito de ler quadrinhos e de querer estudar eles. E como eu sou apenas uma mortal, eu me entrego às tentações de ser uma colecionadora, então nada melhor do que eu ser uma colecionadora de Turma da Mônica?!

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Tenho que confessar, virei uma colecionadora por puro acidente, e vocês já vão entender o porquê. Quando pequena eu vivia nas bancas, e toda quinzena estava a pequena Lídia comprando seus gibis, um de cada personagem, só que chegou um momento, que os gibis que eu comprava na banca já não eram o bastante, eu queria ler mais, eu queria conhecer mais. Foi então que a minha mãe me apresentou os sebos… E para mim, era como estar em um parque de diversão, eu comecei a conhecer gibis que eu nunca tinha visto, de editoras que eu não conhecia, de números muito abaixo do que os que eu sempre tive e o traço super diferente do que eu estava acostumada a ler. Isso tudo deu a possibilidade de eu conhecer muito mais da Turma da Mônica do que a maioria das crianças conheciam na época, acolher uma nova geração de que eu tinha feito parte e que era tão boa quanto.

“Toda quinzena estava a pequena Lídia comprando seus gibis”

Esse descobrimento de toda uma outra geração, me fez adquirir gibis de segunda mão, e por consequência, aumentando a minha coleção. A coleção só parou quando eu cheguei ao auge da minha adolescência, entre 14 e 15 anos, onde eu guardei todos os meu gibis na parte “deposito” da casa, achando que era velha demais para gibis. Mal eu sabia o quanto eu ia me arrepender…

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Minha pequena coleção

Parte.1

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Fui chegando no meio da faculdade e começou a me bater uma saudade da infância, e consequentemente, uma saudade dos meus gibis. Foi assim que eu revirei a casa e de maneira alguma, achei meus gibis, fiquei arrasada quando percebi que tinha perdido toda os gibis que eu passava horas lendo, todos os gibis que fizeram parte da minha formação, triste demais. Eu realmente não sei o que aconteceu com eles, minha mãe jura de pé junto que não vendeu eles, então a única razão é que alguém tenha roubado, mas quem teria um coração tão frio em roubar os preciosos gibis de uma pobre criança?!

“Começou a me bater uma saudade dos meus gibis” Esse foi o início da minha “caçada aos gibis perdidos”, onde eu retornei a frequentar todos os sebos de Pelotas em busca dos gibis que um dia eu já tive. Acredito que boa parte dos gibis, eu já consegui recuperar, porém essa busca me beneficiou muito mais do que eu imaginava.

p.72


Minha coleção é composta por todas as Graphics MSP já lançadas (atualmente são 14), o livro Mônica(s), a adaptação de O Pequeno Príncipe, as edições de 50 anos da Mônica e do Cebolinha, a coleção histórica de Bidu e Zaz Traz, a edição Mauricio O Início, a nova edição de Biografia em Quadrinhos, a Ouro da casa, a Mauricio de Sousa por 50 artistas, uma rara edição do Gibizão, dois livrinhos com todas as capas da Mônica, meu lindo Sansão Amarelo e exatos 445 gibis!

Minha pequena coleção

Parte.2

p.73




1970-1986

Com o tempo, consegui identificar o exato tipo de historinha que eu gostava apenas olhando a capa, o número da edição ou até mesmo o estilo de grafismo da história. E com isso agora se torna quase que automático a minha preferência quando visito os sebos.

1987-2006

ABRIL

2007-

GLOBO

PANINI

Para mim, a Globo sempre foi a melhor editora. Nela saíram todas as minhas histórias preferidas, com as melhores piadas e referências. Claro que tudo isso é influenciado porque eu peguei a época da Globo, lá entre as edições 200 e 400, sei que todas as piadas e referências era alvo a minha geração, assim como foi na Abril e está sendo na Panini.

p.76


Sei que não sou o público das novas historinhas, mas eu ainda acho que não teve geração como a da Globo, tem algo diferente na alma do gibi que os novos não possuem. As expressões eram muito mais exageradas, as piadas eram muito mais hilariamente sem sentido, não precisavam de grandes aventuras para fazer uma grande história, uma simples situação como o pai do Cascão decidindo que vai trabalhar em casa (Cascão Globo 423) pode se tornar uma loucura atrás da outra. Vejo que os gibis de agora não experimentam tanto com o desenho como antigamente, parece que tem um catálogo pronto de expressões para cada personagens e vão alternando entre as mesmas sempre. Até mesmo o traçado do lápis é mais fino e mais sem vida. Tenho a edição nova da Biografia em Quadrinhos do Mauricio de Sousa e dá pra ver perfeitamente a transição de uma editora para outra por uma página de diferença.

GLOBO

PANINI

Mauricio de Sousa: Biografia em Quadrinhos

p.77


Para fechar a sessão nostalgia com chave de ouro, nada melhor do que relembrar das melhores historinhas. Se eu pudesse, esse livro seria da grossura de uma bíblia, mas já como isso me custaria um rim para imprimir, tive que escolher entre meus 445 gibis, 7 histórias para os meus 7 personagens favoritos: Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Denise, Xaveco e Dudu. Pois é, nunca gostei muito do Chico Bento, sempre achei que ele era para um público muito específico, então já como não nasci no interior de São Paulo, não me identificava com o personagem. Foi extremamente difícil conseguir escolher entre tantas histórias clássicas, apenas uma de cada personagem. Como eu poderia deixar de fora toda a saga da Jumenta Voadora que é primeiramente mencionada em Mônica Nº214 Globo e depois ganha uma história só para ela em Mônica Nº8 Panini.

PANINI Nº8

p.78

Ou a incrível história do Barraco das Famílias em Cebolinha Nº211 onde a família do Cebolinha se inscreve em um programa de auditório e disputa contra a família do Xaveco, que até então nunca haviam aparecido, e acabam perdendo feio e levando para casa uma chinchila manca e um rádio-relógio gago. Essa história continua em Cebolinha Nº234 onde o Ceboli-


nha vai dar a chinchila manca para o Xaveco e os dois passam a noite na casa do Cebolinha para ensinar o Xaveco como cuidar de uma chinchila, os dois acabam matando a chinchila. GLOBO Nº211

Algo que eles começaram a fazer na época da Globo e eu sempre achei incrível era conectar uma história de um gibi com a outra. Quando eu era pequena eu nem tinha ideia que era Crossover e para mim, ver aquilo acontecer num gibi, era simplesmente INCRÍVEL. Isso já havia acontecido nas edições Mônica Nº239, Cebolinha Nº239, Cascão Nº460 e Magali Nº396.

p.79



‘‘Por que todo mundo sempre vai embora?’’ Obviamente a primeira historinha que eu trago nesta linda compilação é a nossa Dona da Rua original: a Mônica. Essa história está entre as minhas preferidas, mas o motivo de eu ter trazido especificamente essa é especial. Nessa história, nós enxergamos a Mônica como ela puramente é, uma menina que é temida por todos os meninos por guardar uma força enorme mas que no funda ela é apenas uma pessoa super meiga e tímida. Essa meiguice dela transparece na forma totalmente atrapalha que ela lida com o menino que ela gosta. Onde do mesmo jeito que ela não consegue controlar as emoções dela, ela não consegue a sua força, e isso só vai à colina abaixo... literalmente. Curiosamente, essa história se relaciona com uma que eu referenciei agora a pouco, sobre o Cebolinha e a chinchila manca. O final das duas se interligam e é apenas lindo demais. Aproveitem.

p.81































‘‘O Paraíso Astral’’ O Cebolinha sempre foi e sempre vai ser o meu personagem favorito, ele é simplesmente a personificação do neurótico doido de pedra. E essa história retrata perfeitamente o que eu me refiro. Tem algo nas histórias de aniversário que eu AMO demais, além do fato deles sempre completarem a mesma idade, as histórias de aniversário sempre são HILÁRIAS e essa com certeza é a minha preferida. Essa história me apresentou o conceito “Inferno Astral” que diz que a sua vida vai ser um completo inferno até o momento do seu aniversário. E do mesmo jeito que acontece com o Cebolinha, no momento que esse conceito é apresentado para ele, tudo possivel de ruim começa a acontecer com ele. O que eu amo nessa história é que o mal olhado que o Cebolinha pega é simplesmente gigantesco e o jeito como as coisas acontecem é totalmente inusitado deixando ele completamente paranóico com tudo que ta acontecendo ao seu redor. Não deixem de notar as expressões faciais dos personagens que são impagáveis.

p.111



























"Reencar nação" Eu me considero uma pessoa de muita fome para pouco estômago, então capacidade da Magali de comer tanto era invejada por mim. E essa história mostra a Magali sem fome, mas o motivo só lendo para entender... Na hora de escolher que história eu ia escolher para cada personagem, essa foi a única que eu não tinha dúvida de que seria a escolhida. Eu amo essa história porque ela fez a minha imaginação trabalhar durante anos em imaginar qual teria sido a minha vida passada. O tema reencarnação sempre foi tratado nas histórias do Penadinho, mas era a primeira vez que ela foi tratada numa história principal, e em forma de romance só deixa tudo muito mais especial. Essa é o tipo de história que dá uma baita de um aperto no coração no final, mas vale apenas só pela linda narrativa que consegue combinar perfeitamente o sério com o cômico. E o resultado é ótimo.

p.137



























‘‘O estímulo certo!’’ Sempre admirei o Cascão como personagem, nunca é explicitamente dito, mas o Cascão é o mais pobre de toda a turminha, ele adora reciclar brinquedos velhos e a melhor brincadeira para ele é a imaginação. Isso reflete muito em como os pais dele demonstram isso, sempre sendo mostrados fazendo as contas da casa e pulando de emprego à emprego. Os adultos nunca foram muito usados nas historinhas, mas quando os roteiristas perceberam que os pais dos personagens podiam ganhar grandes personalidades, o resultado foi incrível. Essa história mostra o pai do Cascão decidindo que vai começar a trabalhar em casa, e como isso reflete na vida deles é muito bem retratado. O Cascão que até então tinha a imagem de que o trabalho do pai era cheio de animação e aventuras, acaba morrendo na praia, já que não é nem um pouco do que ele imaginava. E o modo como todas as outras crianças do bairro reagem à algo tão distante quanto a vida adulta é hilário.

p.163

























‘‘O Concurso das Denises!’’ Personagens secundários são a alma do gibi. E o Xaveco e a Denise são a representação perfeita disso. A Turma da Mônica é conhecida por frequentemente quebrar a 4ª barreira de interação e ser totalmente intertextual, mas o jeito que eles lidam com essa quebra nessa história é genial. Como muito sabem, a Denise sempre foi uma personagem que tava ali só para aumentar o grupo das meninas, por esse motivo a Denise já teve VÁRIAS caras até oficializar o desenho atual. Nessa história inventam a perfeita desculpa para todas as mudanças: as Denises estão sempre pedindo demissão. Eles montam a história como um set de filmagens e todas as Denises que passaram por ali são atrizes. Essa é uma explicação genial do por quê a personagem muda tanto de aparência e personalidade. Mesmo essa sendo a aparência oficial da personagem, ela ainda mudou muito em edições seguintes até voltar a ser uma menina ruiva de vestido roxo.

p.187





















‘‘O Mistério dos Irmãos Gêmeos do Dudu!’’ O Dudu é aquele personagem que ou você ama ou você odeia. Ele é a perfeita criança mimada que consegue tudo com choro. Então para mim, ele é muito cômico. Uma coisa que a Panini continuou muito bem o legado da Globo foi explorar mais os personagems secundários, por isso que no início da Panini teve muitas histórias solos do Dudu, do Xaveco, da Denise, e afins. Então as primeiras 10 edições da Panini, possuem várias histórias que eu AMO, e essa com certeza é a minha preferida do Dudu. Nela a Xabéu, irmã do Xaveco, vai servir de babá pro Dudu. A Xabéu tem mais ou menos a mesma idade da Tina então ela já cuidou de quase todos da turma para conseguir uns trocados. Então para tentar de qualquer jeito acalmar a peste do Dudu, ela resolve contar uma história sobre a origem do Dudu. A história é absurda demais e com personagens super cômicos, tudo isso para tentar ensinar uma lição para o Dudu.

p.207






























i 5. i

p.236


M

auricio de Sousa alfabetizou muitas crianças brasileiras e junto com isso criou muitos fâs de quadrinhos. Neste capítulo final, quis levar fãs, independente da sua idade, à demosntrar um pouco de carinho pela Turma da Mônica em forma de arte. Queria reservar essa introdução para agradecer a todos que contribuiram esses desenhos lindos e feitos com muito carinho, obrigada pelo tempo e dedicação que vocês puseram nesses trabalhos, obrigada por tudo, sem vocês essa parte tão importante do meu livro, não sairia do papel.

p.237


Pablo

Ottaviano de Freitas

p.238


Lauren

Marques

p.239


Vitor

Wiedergrun

p.240


ThaĂ­s

Cristina Sehn p.241


Paulo

Brancher Filho

p.242


Gi Paixão

p.243


Luca

Giacaglia

p.244


VerĂ´nica Rosa

p.245


Amanda Malheiros

p.246


Gustavo

Domingues Stefani

p.247


Jacson

Piovesan

p.248


p.249


Mônica de Faria

p.250


LĂ­dia

Moreira dos Santos

p.251





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