Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
Lila Rafaela Gonçalves Mendes
TCHAU, QUERIDA O enquadramento como catalisador do contra-ataque ao movimento feminista
Belo horizonte 2017
Lila Rafaela Gonçalves Mendes
TCHAU, QUERIDA O enquadramento como catalisador do contra-ataque ao movimento feminista
Trabalho referente à pesquisa realizada para monografia a ser apresentada à disciplina Projetos Experimentais II, da Universidade Federal de Minas Gerais, como exigência para obtenção de diploma de graduação em Comunicação Social
Orientador: Carlos Magno Camargos Mendonça
Belo Horizonte 2017
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Esse proejto é dedicado às duas mulheres que mais admiro: Elizabete Luzia e Dilma Roussef. Agradeço a Elizabete por ter me ensinado a nunca me dobrar. Agradeço a Dilma por ter tido coragem de ser a primeira presidente mulher de uma das sociedades mais machistas existentes e por ensinar a milhares de mulheres o que minha mãe me ensinou.
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AGRADECIMENTOS Sem dúvida tenho que agradecer a minha família e, principalmente, meus pais. Sem seu apoio e esforços sem dúvida eu não teria a oportunidade de estar onde estou agora. Nossas divergências ideológicas são muitas, mas com certeza é um dos fatores que me permite observar não só o mundo que quero, mas também o mundo que preciso, permitindo que tenha uma ampla visão. Agradeço também ao meu orientador, Carlos Magno, por ter visto potencial em mim e ter me ajudado a colocar em palavras as inquietações que antes não passavam de sentimentos abstratos. Graças a isso, foi possível transformar impressões em algo concreto. Não posso deixar de agradecer a mulher que suscitou essa pesquisa, Dilma Roussef. Tenho diversos questionamentos em relação a sua atuação e durante seu governo me opunha a várias medidas e decisões. Entretanto, agradeço a mulher, não a política, porque ela mostrou para o mundo como lutar como uma mulher, como resistir como presidenta e como governar contra machistas. Por fim, sem dúvida tenho que a agradecer a oportunidade de ter completado minha educação em um lugar tão maravilhoso e que me mostrou o mundo como é de verdade e que injustiças e sofrimento não fazem parte da vida, mas são normatizadas com finalidades muito bem determinadas. E claro que nada disso seria possível sem as pessoas que encontrei no caminho. Todos que um dia sentaram como desconhecidos ao meu lado, hoje são pessoas que amo e com quem já não imagino minha vida sem.
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RESUMO Esse projeto visa analisar se o impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef foi motivada por um backlash ocorrendo na sociedade brasileira, utilizando do conceito de enquadramento para auxiliar nessa observação. Para isso, primeiro foi feito uma breve retrospectiva de como a mídia como um todo tratava Dilma Roussef em contraponto como Marcela Temer, atual primeira dama, é retratada para comparar a construção feminina de ambas. Com o objetivo de contextualizar a atual situação das mulheres no mundo e no Brasil os avanços do feminismo desde seu nascimento são retomados. São analisadas 13 matérias do Jornal Folha de São Paulo em sua versão online, a escolha se deve as sua grande influência. Como metodologia o projeto usa os conceitos de backlash e enquadramento. Palavras chaves: Impeachment, Dilma Roussef, Enquadramento, Backlas
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ABSTRACT This project purpose is to analyze if the impeachment of the former president Dilma Roussef was motivated by a backlash occurring in the Brazilian society, using the frame concept to assist in this observation. For this, a brief retrospective was first made of how the media as a whole treated Dilma Roussef in counterpoint as Marcela Temer, the current first lady, is portrayed to compare the feminine construction of both. In order to contextualize the current situation of women in the world and in Brazil the advances of feminism since its birth are resumed. We analyze 13 news of the Jornal Folha de SĂŁo Paulo in its online version, the choice is due to its great influence. As a methodology, the project uses the concepts of backlash and framing. Keywords: Impeachment, Dilma Roussef, framing, Backlash
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SUMÁRIO 1.1
Dilma versus a mídia ........................................................................................................... 10
2. A RESISTÊNCIA E OS AVANÇOS FEMINISTAS NO BRASIL E NO MUNDO .... 16 2.1 O surgimento e desenvolvimento do feminismo no mundo ........................................................ 16 2.2 Uma breve historicidade do feminismo no Brasil ........................................................................ 18
3.0 CONCEITOS OPERADORES ............................................................................. 21 3.1 As mediações do olhar: Enquadramento .................................................................................... 21 3.2 O contra-ataque ao feminismo: Backlash ................................................................................... 24
4.0 FOLHA DE SÃO PAULO E ENQUADRAMENTO ............................................... 31 4.1 A Folha de São Paulo ................................................................................................................. 31 4.2 Metodologia para escolha das matérias ..................................................................................... 31 4.3 Os déficits de Dilma e Temer ...................................................................................................... 31 4.4 Relações internacionais .............................................................................................................. 35
4.4.1 Fórum de Davos .................................................................................................. 35 4.4.2 Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU ................................................. 39 4.5 Corrupção: a queda dos ministros .............................................................................................. 40 4.6 Articulação política ...................................................................................................................... 42 4.7 Como a mulher é retratada na política ........................................................................................ 44
4.7.1 A banalidade da agressão sexual e o retorno do primeiro damismo .................... 45 4.7.2 A recriação da histeria feminina ........................................................................... 46
5.0 CONCLUSÃO...................................................................................................... 49 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 52 APÊNDICES.............................................................................................................. 53 Apêndice A: Dilma versus a mídia – reportagem 1 ........................................................................... 53 Apêndice B: Dilma versus a mídia – reportagem 2 ........................................................................... 54 Apêndice C: Dilma versus a mídia – reportagem 3........................................................................... 55 Apêndice D: Os Déficits de Dilma e Temer – reportagem 1 ............................................................. 56 Apêndice E: Os Déficits de Dilma e Temer – reportagem 2 ............................................................. 57 Apêndice F: Relações Internacionais: Fórum de Davos – Reportagem 1 ........................................ 58 Apêndice G: Relações Internacionais: Fórum de Davos – Reportagem 2 ....................................... 59 Apêndice H: Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU – Reportagem 1 ............................. 60 Apêndice I: Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU – Reportagem 2 ............................... 61 Apêndice J: Corrupção: a queda dos ministros – Reportagem 1 ..................................................... 62 Apêndice K: Corrupção: a queda dos ministros – Reportagem 2 ..................................................... 63 Apêndice L: Articulação Política – Reportagem 1 ............................................................................. 64 Apêndice M: Articulação Política – Reportagem 2 ............................................................................ 65
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Apêndice N: A banalidade da Agressão sexual e o retorno do primeiro damismo = Reportagem 1 66 Apêndice O: A banalidade da Agressão sexual e o retorno do primeiro damismo = Reportagem 2 67 Apêndice P: A recriação da histeria feminina ................................................................................... 68
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1.0 INTRODUÇÃO Esse projeto pretende compreender se houve uma diferenciação dos enquadramentos utilizados para o tratamento de notícias relacionadas à expresidenta Dilma Roussef e Michel Temer no Jornal Folha de São Paulo. O interesse dessa pergunta reside no fato de poder avaliar se, caso tenha ocorrido tal fenômeno, havia um backlash em curso que foi um dos fatores responsáveis pelo impeachment da presidenta e que é responsável pelos diferentes enquadramentos adotados. O jornal foi escolhido como objeto por se tratar de um dos periódicos mais influentes do país e com um posicionamento mais moderado em relação as coberturas mais progressistas e conservadoras. O trabalho surgiu a partir da percepção de uma diferença na forma de noticiar fatos semelhantes durante o governo atual e o governo de Dilma Roussef. Portanto, viu se a necessidade de avaliar e analisar a cobertura jornalística de ambos governos de maneira sistemática para observar se era somente uma percepção ou se tratava de um fenômeno real com algum objetivo suscitando-o. Primeiramente, vamos analisar como a imprensa como um todo noticiou os fatos referentes à Dilma Roussef. Como um contraponto, também vai ser analisado como a primeira dama, Marcela Temer, foi retratada. O propósito é encontrar padrões ou divergências na forma de cobertura dos fatos sociais da vida de ambas. O trajeto do movimento feminista no mundo e no Brasil será brevemente recapitulado para mapear tendências de reações às feministas que sempre existiram e poder entender em qual situação o avanço das mulheres e a forma como a sociedade lida com tais se encontra mundialmente e nacionalmente. São apresentados os conceitos que vão operar essa pesquisa. Primeiro, é trabalhado o conceito de enquadramento de Plínio Leal, passando desde sua concepção por Erving Goffman, até sua última variação, o enquadramento noticioso. Posteriormente, o conceito de Backlash é trazido por Susan Faludi. A autora fez um amplo mapeamento do fenômeno ocorrido nos anos 80 nos EUA e definiu o conceito do contra-ataque ao feminismo. É iniciada, então, a análise das notícias publicadas no jornal Folha de São Paulo, um dos mais lidos do país. São escolhidos temas em que são comparadas 9
duas matérias, uma referente ao governo Dilma e outra referente ao Governo Temer. O método de análise Plínio Leal é então aplicado. Por fim, uma matéria do jornal onde é feita uma retrospectiva do processo de Impeachment é analisada. Após os estudos das reportagens, as conclusões alcançadas são cruzadas com o mapeamento de Susan Faludi com a finalidade de avaliar se o impeachment faz parte ou não de um backlash aos avanços do movimento feminista ocorrido no Brasil.
1.1 Dilma versus a mídia Desde o início do Governo Dilma, no ano de 2010, a mídia tradicional começou uma batalha, não só contra o PT, mas contra uma presidente mulher, divorciada e que foge completamente dos padrões de ideal feminino determinados pela sociedade. Dilma Roussef nunca se enquadrou na fragilidade nem submissão. Muito pelo contrário, sempre demonstrou ser uma figura forte e determinada, por isso, muitas vezes a impressa a retratava como autoritária e “cabeça dura”. Figura 1: Chamada para a matéria online do Jornal Folha de São Paulo. Publicação do dia 05/08/2016
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Fonte: Folha de São Paulo1
No início de seu mandato, a imprensa focou na disputa linguística com sua relutância em se referir a Roussef como Presidenta. O termo foi um pedido de Dilma com a justificativa da carga dava “ênfase à condição feminina da ocupante do cargo.”2. Entretanto, foram diversas as discussões em torno de tal pedido. Primeiro, começou o questionamento se era gramaticalmente correto. Após perder nesse campo, a mídia tradicional passou a questionar a necessidade da utilização do termo, posteriormente ignorando completamente o pedido e tratando-a somente como presidente. O assunto repercutiu até os dias atuais, com o pedido da nova Presidente do supremo, Carmen Lúcia, de ser chamada de Presidente, não presidenta, houve toda uma recapitulação da polêmica. Figura 2: Matéria do G1 sobre o pedido da Ministra Cármen Lúcia de ser chamada presidente.
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http://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldoazevedo/2016/08/1799089-deposicao-de-dilmamarcara-o-fim-da-ultima-tentacao-autoritaria.shtml#_=_ 2 http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/08/carmen-lucia-pede-para-ser-chamada-de-presidente-emvez-de-presidenta.html
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Fonte: G1
Se tratando dos dias atuais, a imprensa chegou até o ponto de ainda culpar Dilma Roussef pelos problemas do governo que está vigente há 6 meses. A jornalista Miriam Leitão, em seu quadro “Dia a Dia da Economia” na rádio CBN, chegou a responsabilizar a ex-presidente pelas vaias recebidas por Michel Temer. 3 São diversos os casos em que a imprensa usou de forma indireta o fato de Dilma ser mulher para deslegitimar sua governabilidade. O caso mais emblemático foi o da revista IstoÉ. Figura 3: Capa da revista IstoÉ publicada dia 06/04/2016
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Áudio disponível em <http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/miriamleitao/2016/09/08/RECUPERACAO-NAO-SERA-RAPIDA-E-AMBIENTE-CONTINUARA-DE-VAIASPARA-TEMER.htm>
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Fonte: Revista IstoÉ4
A reportagem gira em torno da tentativa de retratar Dilma como uma mulher instável, frágil emocionalmente e incapaz de lidar com a pressão do cargo. São descritos os medicamentos tomados pela presidenta na tentativa de ter alguma estabilidade emocional. Porém, a própria matéria fala que os remédios não surtem efeito que Dilma está descontrolada e atacando diversos funcionários e aliados do governo. Na mesma matéria, a revista Isto É acusou o governo Dilma de usar um discurso cretino, afirmar que um clima “nazista” havia sido criado, além de comparala a “Maria, a louca”, a primeira rainha do Brasil. Além das diversas reportagens veiculadas utilizando recursos conhecidos pelo machismo para tirar a credibilidade de Dilma, no dia a dia também circulavam diversos boatos como o que a ex-presidente era lésbica, além dos xingamentos de baixo calão comuns direcionados a ela.
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http://istoe.com.br/450027_UMA+PRESIDENTE+FORA+DE+SI/
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Já com a nova Primeira Dama, Marcela Temer, o tratamento se mostra o oposto: Figura 4: Reportagem online da Revista Veja.
Fonte: Veja5
A chamada da matéria remete às características esperadas de uma mulher de acordo com a sociedade conservadora vivida. A valorização de um papel meramente ilustrativa, com a obrigação de ser agradável visualmente, e discreta em seu comportamento, simboliza o que é construído como esperado da feminilidade ideal. Figura 5: Capa da Revista Veja publicada no dia 04/01/2017
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http://veja.abril.com.br/brasil/marcela-temer-bela-recatada-e-do-lar/
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Fonte: Veja6
Enquanto Dilma é retratada de forma tempestiva e sempre associada a resultados ruins, Marcela Temer é mostrada como a solução, o caminho, não só para o governo, mas para o povo. É possível observar como na capa da revista Veja marcela é tratada como uma figura imponente, emanando mais poder do que Dilma já foi algum dia representada pela revista. Desconsiderando completamente a diferença dos cargos entre ambas, em que uma era a Chefe da República e a outra tem um cargo representativo, sem poder executivo. Judith Butler, eu seu livro Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão de Identidade (2003), teoriza sobre o caráter performático do gênero. O que é ser mulher? Se é construído um comportamento cultural que legitima a feminilidade, de onde vem esses códigos? A quem interessa que a performance feminina seja associada aos símbolos de fragilidade, delicadeza e submissão? É com esse questionamento que podemos analisar o contraponto da construção das duas imagens que vimos. Dilma Roussef, ao não condizer com o papel designado a uma mulher foi tratada como autoritária e desequilibrada. Marcela Temer ao seguir os códigos femininos socialmente determinados teve sua imagem, 6
http://veja.abril.com.br/edicoes/2511/
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não só preservada, porém elevada. É explicita a diferença de tratamento de ambas mulheres. Por isso, a importância desse projeto, para analisar a diferença na cobertura dos governos Temer e Dilma e identificar se existe alguma intenção por trás dessa diferença.
2. A RESISTÊNCIA E OS AVANÇOS FEMINISTAS NO BRASIL E NO MUNDO 2.1 O surgimento e desenvolvimento do feminismo no mundo Os primeiros registros de uma organização feminista datam ainda no século XVIII com a Revolução Francesa. Existem especulações de que se tenha iniciado até mesmo antes disso, alguns acreditam7 que em 1785 tenha sido fundada a primeira sociedade científica para mulheres, a Sociedade das Mulheres pelo Conhecimento Natural na Holanda, porém ainda se trata de um dado incerto. Segundo a pesquisadora Tânia Gurgel (2010), os primeiros registros da formação de um movimento das mulheres são de 1789 quando, durante a Revolução Francesa, elas se organizaram para se manifestar em prol de seus direitos políticos, de se alistar e ter acesso à armas para que pudessem participar da revolução, iniciando assim uma batalha histórica de reivindicação de participação da vida pública que perdura até os dias atuais. Por se caracterizar de um movimento de resistência à hierarquia tida como naturalizada que questionava a submissão das mulheres, em 1793 foram proibidas as realizações de reuniões de grupos de mulheres pela recém criada ordem burguesa. Além disso, a burguesia reforçou a vigente hierarquia familiar, reforçando a figura do patriarca e negando direitos exigidos pelas mulheres, como o divórcio. Em 1843 no livro “A união operária”, Flora Tristan propõem a Associação Internacional de Trabalhadores e Trabalhadoras, em que pela primeira vez se fala da necessidade de separação do movimento dos trabalhadores e das mulheres.
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SEMINÁRIO FAZENDO GÊNERO, 9.2010, Florianópolis. Feminismo e Luta de Classes: História, Movimento e Desafios Teórico-Político do Feminismo na Contemporaneidade. 2010
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Assim, é perceptível a resistência enfrentada pelas mulheres até mesmo dentro das alas mais progressistas da sociedade e em lutas que elas mesmas muito ajudaram. Inclusive, foi graças a essa resistência que foi fundada a primeira associação feminista. Segundo Gurgel (2010), após o congresso da Internacional dos Trabalhadores de 1866 negar o direito da mulher ao trabalho, por achar que seu papel inato era o de cuidar da casa, as mulheres se revoltaram contra essa decisão e fundaram a Liga das Mulheres em 1868. No século XIX, após a consolidação do capitalismo e a Revolução Industrial surge a luta sufragista, um movimento que conseguiu unir mulheres em prol de uma só causa, mesmo com diferentes vivências e pontos de vista. Essa luta nasceu da percepção de que o acesso a política possibilitaria a mudança de leis e instituições. As feministas que atuavam dentro de movimentos dos trabalhadores tiveram certo estranhamento com as sufragista por se tratar uma organização de massa. Dentro das sociedades progressistas e socialistas da época, ficou claro que a luta contra o capitalismo não combatia a desigualdade entre homens e mulheres, assim explicitando a necessidade de uma luta feminista.
De certa maneira esse receio, salvo o atrelamento dos temas a reformas burguesas, teve um fundamento histórico. Pois as feministas se centralizavam na construção cultural da dominação masculina e expunham as contradições e os mecanismos de poder que legitimavam no interior da própria classe operária a desigualdade entre os sexos. (Gurgel, 2010)
Com o lançamento do Segundo Sexo de Simone Beauvoir, o movimento feminista começa atuar diante das novas perspectivas trazidas pela autora, buscando não só os direitos como ser político da mulher, mas sim à sua sexualidade e seu corpo. Porém, após os anos 90, graças aos novos artífices de apropriação do neoliberalismo da contracultura, começa a ocorrer um esvaziamento de diversos movimentos políticos, o que também afeta o movimento feminista. A alienação da sociedade criada graças à ideia de que as demandas dos movimentos sociais já haviam sido alcançadas leva a uma opinião dominante de que 17
a luta já não se faz necessária, ensaiando assim uma forma de backlash do movimento que só agora começa a ser combatida de uma maneira mais significativa, graças à popularização da internet que dá voz a quem antes não tinha um espaço para se manifestar. Diversos movimentos, como a campanha da ONU “He for She”8, e até mesmo artistas com considerável fama como a cantora pop Beyonce tem levantado a bandeira do feminismo, ajudado a disseminar o movimento e chamar atenção para as desigualdades que ainda são vividas na atualidade.
2.2 Uma breve historicidade do feminismo no Brasil No artigo “Feminismo, História e Poder”9, Céli Regina Jardim Pinto, em um primeiro momento, faz uma breve recapitulação sobre o movimento no Brasil. Apesar de algumas manifestações pontuais de atores individuais ao longo da história, o movimento feminista no Brasil começa a tomar corpo somente nas primeiras décadas do século XX com o retorno de Bertha Lutz ao país. Ela era uma bióloga de grande importância na comunidade científica e uma das principais responsáveis pela conquista do direito ao voto das mulheres brasileiras em 1927. Nessas primeiras décadas do século XX, o movimento teve bastante importância, levando a criações de diversos órgãos e associações em prol do direito das mulheres. Entretanto, nas décadas seguintes a militância sofreu uma retração, diminuindo assim sua participação no cenário político. Nas décadas de 60 e 70 o movimento volta a efervescer, ironicamente, quando país entrava em seus anos mais repressivos e violentos graças ao golpe de 64. Porém, o movimento não apenas tinha que lidar com a repressão militar, mas também com uma resistência vivida dentro das próprias organizações de esquerda, em que muitas militantes se distanciaram por perceber que as relações de poder estavam refletidas até mesmo nas alas mais progressistas da sociedade.
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http://www.heforshe.org/pt PINTO, Céli Regina Jardim, “Feminismo, história e poder”, Revista de Sociologia, Curitiba, Nº36, JUN. 2010. <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n36/03.pdf> Acesso em: 18 de out. 2015 9
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Enquanto as mulheres no Brasil organizavam as primeiras manifestações, as exiladas, principalmente em Paris, entravam em contato com o feminismo europeu e começavam a reunir-se, apesar da grande oposição dos homens exilados, seus companheiros na maioria, que viam o feminismo como um desvio na luta pelo fim da ditadura e pelo socialismo. (PINTO, p.17, 2010)
Assim, o movimento feminista começou a tentar criar seus próprios espaços, levando a um importante passo para as mulheres com a criação de periódicos como o Nós Mulheres e o Labrys, estudos feministas, entre outros, que desejavam divulgar as publicações feministas brasileiras e mundiais para todos e fomentar a adesão de mulheres à militância. Com a mulher finalmente tomando seu lugar de fala e se dissociando de movimentos que colocavam as demandas das militantes em segundo lugar, surgiram novas reivindicações como fim da violência contra a mulher, direito a sua sexualidade, ao trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, à saúde materno-infantil, luta contra o racismo entre outras. Essa nova percepção da realidade feminina faz sentido quando vemos que Céli Regina Jardim Pinto ao retomar outro texto próprio diz que:
“Ninguém melhor que o oprimido está habilitado a lutar contra a sua opressão. Somente nós mulheres organizadas autonomamente podemos estar na vanguarda dessa luta, levantando nossas reivindicações e problemas específicos. Nosso objetivo ao defender a organização independente das mulheres não é separar, dividir, diferenciar nossas lutas das lutas que conjuntamente homens e mulheres travam pela destruição de todas as relações de dominação da sociedade capitalista” (PINTO, 2003, p. 54).
Em 1984, após esse amadurecimento do movimento, é criado o Conselho Nacional da Condição da Mulher. Ele que ampliou o contato a nível nacional do feminismo com a população. Com isso, conseguiu incluir na constituição de 88 diversos direitos às mulheres, o que foi uma grande conquista para a militância. 19
Infelizmente, mesmo com uma constituição que previa direitos para essa parte da sociedade, muitas brechas ainda foram deixadas. Foi necessária, então, uma mobilização constante para conseguir que leis como a Maria da Penha fossem aprovadas. Seguindo a mesma linha dos problemas enfrentados pelo movimento no mundo de uma forma geral, existem também alguns outros problemas, além da repressão da ala conservadora. Os conflitos internos dentro da militância também têm criado situações conturbadas em que as brigas entre diferentes linhas de feminismo tomam às vezes proporções maiores que a reivindicação da equidade de gênero. De certa forma, essa racha no movimento foi necessária e benéfica. É claro que mulheres que possuem vivências têm diferentes necessidades e demandas diversas. De certa forma, o reconhecimento às feministas tem sido maior, o que fortalece seu capital político. Campanhas como Chega de Fiu Fiu10 têm tomado proporções nacionais atingindo mulheres de diversas camadas sociais e crenças políticas. Apesar das problemáticas vividas em diferentes alas pelo movimento, desde a repressão conservadora às cismas entre linhas do feminismo divergentes, sua grande visibilidade e a maior união entre mulheres é inegável. Diversos grupos, blogs, sites entre outros são formados por mulheres comuns tentando ajudar umas às outras de maneiras variadas.
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Campanha criada em 2013 por Juliana Faria, fundadora do Think Olga disponível em <http://chegadefiufiu.com.br/>
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3.0 CONCEITOS OPERADORES 3.1 As mediações do olhar: Enquadramento
Em diversos campos da comunicação, são discutidos os fatores que influenciam e afetam o olhar e o julgamento individual. Ao analisar um ambiente de forma ampla, é possível questionar se existe um objetivo e uma técnica visando alterar conclusões individuais e da opinião pública como um todo. Por isso, para conseguir analisar se existe alguma diferença proposital na forma de se cobrir os acontecimentos políticos o conceito de enquadramento vai ser aplicado no objeto. Retomando a historicidade do conceito, primeiro será analisado seu surgimento. Durante a segunda metade do século XX, Erving Goffman foi o primeiro a trazer essa análise em seu livro “Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise” (2012) lançado em 1974. O pesquisador Luís Antônio Hangai, em 2012 publicou o artigo “A Framing Analisys de Goffman e sua aplicação nos estudos em Comunicação11 fazendo uma análise do termo, por isso o artigo foi utilizado para retomar a conceituação de Goffman. O primeiro conceito definido por Goffman é o quadro, um conceito amplo aplicado em uma estrutura micro com a finalidade de possibilitar as interpretações pelo indivíduo da realidade que o cerca. De certa forma, é uma delimitação, em que se retira a ação ou acontecimento de seu contexto a fim de tentar dota-lo de algum sentido“Trata-se, então, de uma capacidade subjetiva de ordenar as peças detectadas pela percepção e transformá-las em conjuntos significantes diante da consciência individual.” (HANGAI, 2012). Posteriormente, Goffman define o conceito de esquema primário que se trata de imprimir significado a algo que de outra forma não teria significado.Um enquadramento que não precisa de mais informações para ser dotado de sentido é definido como primário pelo autor. Além disso, existem duas lógicas que regem o enquadramento. A primeira é chamada de tonalização, quando um fato preconcebido é dotado de um novo significado. Goffman usa o termo nova laminação para definir essa ressignificação. A segunda é a maquinação, quando o locutor tenta induzir uma interpretação errônea da realidade, porém o receptor descobre que se trata de uma mentira, portanto uma tonalização assa a ser uma maquinação.
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HANGAI, LUIS. REVISTA AÇÃOMIDIÁTICA: Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura. Universidade Federal do Paraná. Paraná. Volume 2. 2012. <revistas.ufpr.br/acaomidiatica/article/download/28658/19303>. Data de acesso: 25/01/2017
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Aquilo que determina o sentido de uma faixa de atividade, portanto, é o enquadramento produzido pelo indivíduo participante. No entanto, essa é uma dinâmica estritamente subjetiva. As coisas são reais de acordo com uma perspectiva adotada: a perspectiva daquele que acredita estar sendo observado e agindo sobre a realidade (HANGAI, 2012)
Goffman também salienta que todo enquadramento está ancorado a realidade que o circunda, porém assim como o indivíduo percebe narrativas laterais, além da principal, ele também ignora outras. O que representa a subjetividade de seu enquadramento. Essa análise, recai diretamente sobre o projeto em que um dos grandes fatores observados foram as escolhas de quais fatos os jornais escolhem comentar dentro de um determinado tema. O autor, então, parte para os anos 80, quando o enquadramento começou a ser aplicado à mídia como um todo, mais especificamente por Entman e Tuchman. Os estudos de frame, voltaram-se para o jornalismo a partir do momento em que se teve o entendimento de que o que era noticiado não era a realidade concreta, mas sim uma construção simbólica visando criar um enquadramento específico. Foi possível observar um certo padrão de escolhas de enquadramento, o que preocupou diversos teóricos. Visando propiciar e viabilizar essa análise, o texto “Jornalismo Político Brasileiro e a Análise do Enquadramento Noticioso” (2007) de Plínio Leal será utilizado como base. Leal faz uma recapitulação de todas as variações do termo, partindo de sua concepção com Erving Goffman e chegando até a utilização do termo atual usada por comunicólogos brasileiros. Para definir enquadramento, o autor logo no início de seu texto cita a definição de Park (2003) em que ele faz uma analogia com uma moldura de uma janela. Se a moldura é pequena ou voltada para o oeste, as pessoas verão uma paisagem pequena e do oeste. Concluindo, assim, que a mídia mostra uma pequena parte do mundo a partir de um ponto de vista particular. O autor complementa Dessa forma, a mídia é a moldura da janela pela qual a opinião pública entrará em contato com uma pequena parcela da realidade, sendo os jornalistas responsáveis por sua construção. Em um noticiário, por exemplo, quem constrói essa realidade e a organiza em notícias é o jornalista. Essa ordenação consciente dos fatos pelo jornalista nem sempre é compreendida pelos leitores. Segundo Lage (1998, p. 378), o público, mesmo o mais instruído, é incapaz de perceber “o jogo de interesses por detrás das notícias Em linhas gerais, a organização de determinados termos pode ser chamada também de enquadramento, ou seja, o jornalista opta enquadrar um fato de uma determinada forma e não de outra, enfocando assim uma parte da realidade em detrimento de outra. Scheufele (1999) afirma que “a mídia constrói a realidade social através do enquadramento de imagens da realidade”. Esse enquadramento de construções imagéticas é encontrado principalmente no jornalismo que busca a reconstrução dos fatos em notícias. (LEAL, 2007, p.2).
Posteriormente, ele cita os questionamentos criados ao redor do termo, como a dificuldade de se estabelecer um padrão de pesquisa que fundamente uma aceitação de enquadramento como uma referência teórica concreta. Por isso, Leal 22
comenta da análise de Scheufele (1999) e de Entman (2003) para apontar possíveis soluções a esses questionamentos. Ao final, é ressaltado a importância de se trazer o enquadramento como análise da mídia para o Brasil, falando que uma das principais dificuldades é a falta de textos traduzidos. O autor utiliza de um estudo que ele mesmo realizou chamado “News Frames no Jornalismo Político Brasileiro: análise de enquadramento da cobertura do escândalo dos Sanguessugas” (2007) para mostrar que existem diferentes enquadramentos da mesma notícia por veículos variados. Ele aponta esse fato como um sintoma de um fenômeno da mídia nacional que precisa ser analisado com mais cuidado e afinco, por fim ressaltando: O conceito de enquadramento noticioso oferece uma sólida alternativa para analisar a mídia nacional, pois trata com a questão de como a mensagem é organizada, ressaltando preferências de um determinado enquadramento em oposição a outros. A importância desse conceito está diretamente relacionada à identificação das tendências dos meios noticiosos nacionais e à análise de comunicação com um enfoque que é específico do campo jornalístico. (LEAL, 2007, p. 13).
Atualmente, vivemos em uma sociedade dominada por certos valores que regem o funcionamento dela como um todo. Por isso, a grande maioria das matérias jornalísticas, ao ter uma mulher como objeto de análise, tem um viés machista, por se tratar do tipo de pensamento vigente que, no caso, é carregado de conservadorismo. No próximo capítulo, esse assunto será mais amplamente abordado. Por isso, esse conceito foi escolhido para ser aplicado no objeto de estudo, tendo a percepção que a cobertura por parte da mídia tradicional brasileira tem um enquadramento que visa atender determinadas interesses e pela necessidade haver um apontamento pra esse padrão, para que posteriormente possa se entender qual o objetivo de tal ação e quem tem o maior interesse nessa forma de cobertura jornalística.
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3.2 O contra-ataque ao feminismo: Backlash Backlash é um livro da Jornalista Susan Faludi lançado nos anos 90. A obra se trata de uma extensa análise das diversas formas de contra-ataque de vários segmentos sociais contra os avanços feministas. Trata-se de um conceito que visa caracterizar um esforço maior por parte da sociedade em garantir que não haja mais avanços dos direitos das mulheres, e que os adquiridos sejam revertidos. Isso não quer dizer que anteriormente a esse fenômeno social não ocorresse uma resistência ao feminismo e um movimento hostil direcionado à mulher, mas sim que é um momento em que esses sintomas se tornam mais agudos. Isso ocorre quando as mulheres conseguem ter conquistas mais significativas e começam a ter certa melhora em sua condição social. A partir dessa percepção por parte de movimentos contrários começam a ser articuladas forças opostas a esses avanços. A introdução do livro se dedica a questionar a constância social de atribuir todos os males ao feminismo. Uma inteligente estratégia ressaltada pela autora é a de culpabilizar o feminismo pelas consequências das opressões sofridas pelas mulheres. Desde transtornos mentais, como a depressão, até a obrigatoriedade da jornada dupla começaram a ser atribuídos resultantes do movimento da mulher. A intenção da autora é questionar a realidade dessas afirmações:
Diante deste panorama, a tão alardeada ideia de que o feminismo é o responsável pela infelicidade das mulheres torna-se absurda - e irrelevante. Como veremos no capítulo a seguir, as aflições atribuídas ao feminismo não passam de mitos. Da “falta de homens” à “epidemia de infertilidade”, do “estresse feminino” à “prejudicial dupla jornada de trabalho”, estas pretensas crises femininas tiveram sua origem não nas condições reais da vida das mulheres, mas sim num sistema fechado que começa e termina na mídia, na cultura popular e na publicidade - um contínuo feedback que perpetua e exagera a sua própria imagem fictícia da feminilidade. (FALUDI, 1991, pág 14).
Por isso, Faludi disserta sobre o poderoso contra-ataque ao feminismo ocorrido nos anos 80 e divide sua análise em 4 partes. Na primeira ela se dedica a mostrar como o Backlash foi sendo alimentado por falsas pesquisas e notícias visando tornar crível a teoria de que as mulheres ansiavam pelo casamento, porém nunca conseguiam alcançar tal sonho e por isso se tornavam frustradas, entre outras teorias sem fundamento científico. A ideia engenhosa por trás de tal ação só foi possível graças às práticas existentes desde a era vitoriana com a disseminação dos meios de comunicação e o marketing em massa. Assim, era possível fazer crer que o locutor nada mais era do que um porta-voz das vontades e necessidades femininas, porém na realidade o discurso vinha de pessoas com interesses muito distantes dos benefícios femininos. Como tal fato era desconhecido do público, era possível regular a realidade não pela 24
coerção e punição, mas sim pela conformidade. Desse modo, se adota um discurso que se pretende progressista, porém tem finalidades contrárias ao avanço dos diretos das mulheres. Para exemplificar essa situação, Susan Faludi relata as experiências vividas pela mulher no mercado de trabalho. Como a tendência demográfica mostra que cada dia mais as mulheres estão em busca de trabalhar fora e estão ocupando esse espaço nas empresas, a tentativa de frear essa ascensão é reforçada criando condições precárias de trabalho para essa população, possibilitando somente a ocupação de cargos piores e com salários mais baixos. O relatório de uma entidade americana citada por Faludi sobre os direitos dos trabalhadores em 1985 mostra que o número de mulheres que trabalham havia alcançado o marco de 50 milhões, mas esse desenvolvimento não foi acompanhado pelo crescimento de seu status econômico. Como a própria autora comenta:
“...a cultura simplesmente redobra a sua resistência, e mesmo sem empurrar forçosamente as mulheres para a cozinha, procura tornar as horas passadas longe do fogão o mais injustas e intoleráveis possível: relegando as mulheres para os piores empregos, pagando-as com os salários mais baixos, despedindo-as primeiro e promovendo-as por último, recusando qualquer tipo de assistência aos filhos e à família, e hostilizando-as.” (FALUDI, 1991, pág 73.)
A justificativa para tal reação hiperbólica contra os avanços sociais da mulher é especulada na fragilidade da masculinidade. Apesar de algumas pessoas justificarem a falta de abordagens teóricas a respeito da constituição do gênero masculino a sua simplicidade, os poucos estudiosos da área negam tal afirmação. Na realidade, a falta de definição somente enfraquece a condição masculina, tornando-a suscetível às menores variações estruturais. Por isso, cada conquista feminista era vista como uma ameaça a condição social do homem, tanto que em capítulos posteriores em que são retratados casos reais, em diversas ocasiões homens colocavam panfletos ameaçando suas colegas de trabalho, isso nos casos menos graves. Além disso, quando existe um inimigo sem rosto, como o aumento do desemprego, recessão, crise econômica, entre outros, que afetam drasticamente o país, inicia-se a procura de um bode expiatório em quem a culpa possa ser jogada. Como já havia um movimento contra as mulheres, foi apenas um caminho natural a atribuição da responsabilidade a elas. A autora disserta sobre alguns casos em que problemas de alguma área específica começaram a ser personificados em funcionárias para evitar que se alcançasse as raízes reais do problema. Uma executiva da bolsa de valores foi acusada de fracassar como mulher e mãe, o que causou um furor que culminou na sua demissão. Talvez o caso mais emblemático de tais ações seja da corporação militar que atribuíram as falhas do departamento de defasagem às mulheres que estavam levando a “efeminação do militar americano”, 25
alegando que a gravidez entre as oficiais era o maior problema das forças armadas. Menos de 1% das alistadas engravidaram. É importante nos atentarmos a essa observação de Susan Faludi sem dúvida será retomada nos capítulos posteriores. Na parte 2 de seu livro, ela foca na análise da cultura popular, voltando-se para a mídia, o cinema, a TV, a moda e a indústria da beleza. O movimento segue um curso padrão quando se trata de deslegitimar o feminismo, culpar as feministas por danos causados pelo machismo e pela misoginia. Um dos primeiros passos foi retratar isso em personagens fanáticas e loucas. A revista Newsweek tratou da crise de identidade do feminismo com diversos sociólogos e especialistas. Empresas de pesquisas como o Banco de Tendências Popcorn forjavam pesquisas em que mostravam um movimento de desejo de retorno ao ninho por parte da mulher. A ABC, uma rede de cadeia nacional, mostrava seus apresentadores como Betsy Aaran proferindo falas como “as feministas nunca se deram conta de que aquele era o preço da revolução, a liberdade e a independência tornando-se sinônimos de depressão e solidão” Isso afetava diversas áreas, o caso mais emblemático do cinema foi do filme Atração Fatal (1987). Com um roteiro inicialmente pensado por James Dearden com um viés bem progressista, mostrando uma executiva de sucesso que tem um caso com um homem que no final da narrativa é descoberto e sofre as consequências de seus atos, a história sofreu modificações. A Paramount contratou produtores e Adrian Lyne como diretor para dar uma nova cara ao roteiro. Por fim, a ideia foi a de suavizar o marido adúltero e transformar a amante em uma predatória sem escrúpulos, culminando no filme que conhecemos atualmente. A televisão não ficou para trás, apenas 3 dos 22 programas do horário nobre nos EUA entre os anos de 1987 e 1988 tinham protagonistas mulheres. Os temas também desempenhavam seu papel, sempre voltados para mostrar a mulher como dona de casa ou a procura de um casamento. Na moda, a tendência variou entre campanhas da Guess em que as mulheres eram retratadas extremamente sexualizadas, violentadas e com roupas do estilista Lacroix, uma referência na área. Lacroix tentou voltar com o High Feminity transformando as suas modelos em verdadeiras bonecas com saias rendadas e pufes.
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Figura 6: Coleção de Inverno de 1989 do estilista Lacroix
Fonte: Pinterest
“A indústria da beleza promoveu um “retorno a feminilidade” como se ele fosse um renascimento da natureza da mulher” (FALUDI, pág 209), assim a autora logo nas primeiras páginas define o tratamento dado a mulher pela indústria da beleza. Apesar de ser uma frase que soa extremamente atual, podemos ver a partir dos casos retratados pela autora o fortalecimento e massificação das cirurgias plásticas independente dos custos financeiros e principalmente pessoas que afligiram a mulher a partir dessa década. Em “A Reação ao Backlash”, terceira parte de seu livro, a autora mostra o movimento político estimulado pelo sentimento geral já estabelecido visando o retrocesso ao direito das mulheres. A nova direita, grande responsável pela mobilização política em prol dessa causa usou de diversos artifícios para suscitar um clima de animosidade entre as feministas e o resto da sociedade. Aliados as líderes locais, como religiosos e afins, a disseminação de mentiras visando minar qualquer possibilidade de progresso começou a tomar força. Pautas como as do movimento pró-vida, censura a informações de controle de natalidade, anulação da Emenda da Igualdade de Direitos entre outras se tornaram carro chefe dos envolvidos no contra-ataque. Diversas frentes avançaram nesse sentido, a nomeação de mulheres para cargos do governo caiu, políticos em anos de eleição não acharam necessário fazer qualquer tipo de movimento que 27
sinalizasse pautas para elas (nem mesmo os mais progressistas), intelectuais lançaram livros abordando a necessidade de se recuperar a masculinidade que havia sido tomada dos homens pelas feministas raivosas. Após coletar as informações que caracterizavam um padrão seguido em diversas esferas da sociedade, Susan Faludi, ao final do seu livro, se volta para os efeitos psicológicos, no mercado de trabalho e no corpo das mulheres causados pelo Backlash. No início do capítulo, começamos a ver como a psicologia se prestou ao contra-ataque, partindo de comentaristas na mídia que pregoavam a necessidade de se afastar de todos os princípios feministas por que isso representava um desestruturação da composição familiar danosa a qualquer um envolvido nesse núcleo. Para exemplificar, a autora comenta que em 1985, a psicóloga Robin Norwood lança sua obra “Mulheres que amam demais” para ajudar mulheres com vícios no relacionamento. O livro inspirou a criação de diversos grupos de ajuda que fizeram sucesso depois de uma reportagem no New York Times. Diversas participantes relatam sua experiência, como chegaram com problemas como maridos alcoólatras e adúlteros e como foram orientadas a entender que isso era um problema delas, que elas deveriam procurar a origem disso dentro de si e não descarregar no marido suas frustrações. Esses relatos nos permitem observar o caminho trilhado pela psicologia do contra ataque, um constante estimulo para silenciar a mulher e reparar o homem como componente norteador do núcleo familiar. Já em relação ao mercado de trabalho, Faludi começa comentando sobre matérias que falaciosamente retratavam um avanço da mulher trabalhadora, como a reportagem amplamente veiculada na mídia de que a defasagem salarial estava diminuindo já que a mulher conseguiu chegar ao marco de 70 centavos para cada dólar do homem. Contudo, essa pesquisa se baseou em um dado saído de um único relatório do censo de 1986 que usou métodos duvidosos como considerar somente o salário semanal, e não anual da mulher. Posteriormente, descobriu-se que a marca daquele ano era 64 centavos para cada dólar do homem, marca pior que no ano anterior. Susan Faludi começa então a dissecar diversas matérias com o mesmo cunho progressista, porém que na realidade nada mais eram do que pesquisas fraudadas entre outras formas de maquiar a realidade da condição de trabalho da mulher. Nessa época, os movimentos antiaborto também ganharam força, ao atacarem diversas clínicas de planejamento familiar e tentarem promulgar leis que culpabilizassem a mulher por maus tratos ao bebê durante a gravidez. Eles tentavam fazer com que grávidas viciadas em psicotrópicos fossem presas, sem nem considerar o fato de que na prisão, devido às condições precárias de saúde dentro das instituições, o bebê teria menos chance de viver. Criou-se um discurso que priorizava transformar o feto em vítima e a mulher como mero receptor e incubadora daquela vida, o que culminou no caso Carder. 28
Ângela Carder foi acometida pelo câncer desde nova, porém a doença estava estável há alguns anos. Em 1984, ela decidiu tentar ter um filho e seu oncologista aprovou a ideia desde que eles mantivessem o acompanhamento constante. Com 6 meses de gestação, seu câncer entrou em estado acelerado e ela foi internada. Os médicos do hospital, que não acompanhavam o caso, declararam a paciente como caso terminal e que eles teriam que fazer uma cesária para tentar salvar o feto. Como a gestação ainda era muito recente, os médicos queriam esperar ao menos duas semanas para tentar salvar o bebê. Porém, Angela deixou claro desde o princípio que se fosse necessário, que escolhessem a vida dela. Os médicos ignoraram completamente a vontade da paciente e a colocaram em um coma induzido para aguardar as duas semanas em que tentariam realizar o parto. Os responsáveis pela área jurídica do hospital ficaram sabendo do caso e com medo de que fossem responsabilizados, convocaram uma sessão com caráter de urgência para que um juiz validasse a decisão dos médicos. A família mal foi convocada, chegando na sessão sem saber do que se tratava e ao descobrirem tentaram de todas as formas reverter o caminho já traçado pelo hospital, porém inutilmente. O juiz decidiu em favor da cesária, alegando que Ângela não estava em condições de expressar sua vontade (mesmo tendo dito diversas vezes que queria priorizar sua vida) e que mesmo que ambos tivessem pouca chance de sobreviver, a paciente certamente morreria, já o feto teria chances. A cesária foi feita e os médicos alegaram que o bebê viveu por duas horas, porém a família suspeita que ele já tenha nascido morto. Ângela faleceu devido a complicações da cirurgia duas semanas depois. Da mulher sempre foi tirado o direito ao seu corpo, mas nunca de forma tão agressiva e tangível como na década de 80. Nela o direito constitucional ao livre arbítrio simplesmente foi arrancado de suas mãos e entregue a qualquer um que a sociedade considerasse mais capacitado. Por fim, Susan Faludi retrata as condições de trabalho de mulheres que queriam atuar em fábricas e serviços manuais. Se nos escritórios, a população feminina era amplamente discriminada, no chão de fábrica elas sequer tinham direito ao seu corpo. Um caso emblemático é o da American Cyanamid, uma fábrica que trabalhava com metais pesados e em 1973 foi obrigada pelo governo federal a incluir mulheres em seu quadro de trabalho, já que até aquele ano nunca haviam contrato uma. Diversas trabalhadoras se candidataram as novas vagas criadas para cumprir a determinação federal. Apesar dos obstáculos criados pelo contratante, algumas ingressaram na empresa. Em 1976, executivos da organização começaram a desenvolver uma política de proteção ao feto, que na realidade nada mais era que uma forma de afastar as mulheres de sua companhia. Eles então deram duas opções às funcionárias da época, ou faziam um procedimento de esterilização ou seriam transferidas para outro setor da empresa (que pagava menos). Como 29
diversas mulheres eram divorciadas e sustentavam sua família, elas optaram por realizar o procedimento cirúrgico. A justificativa da empresa era que os produtos químicos poderiam afetar a útero da mulher, mesmo que não estivessem grávidas, e posteriormente elas poderiam processar seus contratantes. No entanto, somente um produto oferecia esse risco e também era prejudicial aos homens (desnecessário dizer que nenhuma política foi criada em relação a eles). Em 1980, com a chegada da crise econômica as mulheres foram as primeiras a serem demitidas. Elas entraram com uma ação contra a American Cyanamid, porém em 1984 o juiz decidiu a favor dos funcionários. Backlash é um livro que não só procura conceituar o contra-ataque contra os avanços dos direitos das mulheres e mostrar como ele foi perpetuado em épocas de ascensão. Ela deseja alertar para estratégias utilizadas por conservadores para que os sinais sejam percebidos, antes que seja tarde demais. Por isso, se trata de um conceito crucial para esse projeto, para que seja possível observar as novas configurações que tentam alcançar o mesmo resultado, a perda de direitos da mulher. Susan Faludi encerra seu livro dizendo: Seja como for, já faz muito tempo que a hora de a mulher entrar em cena chegou. Pois, apesar de qualquer obstáculo armado contra a marcha para a igualdade apesar dos novos mitos inventados, das penalidades impostas, das oportunidades cortadas ou dos embargos criados, ninguém poderá jamais tirar da mulher a justeza de sua causa. (FALUDI, 1991, pág 430).
O Brasil passa por um momento histórico que ainda precisa ser observado com certo distanciamento para que seja possível apreender ao certo todo seu significado. Entretanto, é simbólico e extremamente significativo quando o governo atual tem representantes que se sentem confortáveis o suficiente para declarar afirmações como “homens vão menos ao médico por trabalharem mais12” como foi dito pelo ministro da saúde, Ricardo Barros. É possível observar, mesmo ainda estando inserido nesse momento, alguns padrões semelhantes aos citados por Susan Faludi, como a tentativa de culpabilizar uma figura feminina por todos os problemas vivenciados pela sociedade, entre diversos outros que serão analisados nos próximos capítulos. Por isso, Backlash é uma obra essencial para o projeto, por criar um paralelo entre o que já foi vivenciado e analisa-lo, permitindo assim que seja possível aplicar essa análise ao presente da sociedade brasileira.
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Matéria disponível em <http://exame.abril.com.br/brasil/homem-vai-menos-ao-medico-por-trabalharmais-diz-ministro/>. Último acesso: 30/12/2016 às 20h57.
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4.0 FOLHA DE SÃO PAULO E ENQUADRAMENTO
4.1 A Folha de São Paulo O jornal escolhido foi o Folha de São Paulo online por ser o jornal com maior circulação do país, com uma média mensal de 20,2 milhões na métrica única de audiência, segundo a Associação Nacional de Jornais13. Além de seu alcance, outro fator relevante para sua escolha é o fato de tentar ter um posicionamento mais de centro se comparado a outros jornais como Estadão, Istoé, Veja etc, não tendendo também para um lado mais progressista. Por exemplo, em sua carta de colunistas temos desde de Luiz Fernando Pondé, conservador conhecido, a Gregório Duvivier que tem um posicionamento mais progressista.
4.2 Metodologia para escolha das matérias Partindo do questionamento se houve um diferente enquadramento (Leal, 2007) por parte da Folha de São Paulo de acordo com o protagonismo de cada matéria, com uma tendência a ter uma visão mais positiva ao se referir ao governo Temer (2016-presente) e a uma visão mais negativa ao governo Dilma (2014-2015), foram selecionadas matérias com temas semelhantes para que assim fosse feita uma análise dos termos utilizados e do valor indicado neles. Ou seja, a pesquisa objetiva entender se foi mantido um tratamento neutro com as palavras utilizadas ou se houve uma variação dependendo de para quem era voltada a reportagem. Foram escolhidas 13 matérias no período entre 2013 e 2017. Além disso, será realizada uma análise de termos utilizados para se referir aos protagonistas de cada matéria na intenção de mapear se houve alguma variação determinada pelo gênero do protagonista ou se foi mantida uma neutralidade por parte do jornal.
4.3 Os déficits de Dilma e Temer O primeiro tema escolhido para ser analisado é a economia. Isso por se tratar de uma cobrança recorrente da mídia, no geral, em relação a ambos os governos, inclusive sendo uma das principais justificativas para embasar o impeachment ocorrido neste ano. 13
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1744085-no-impresso-internet-e-celular-folha-e-jornalde-maior-alcance-do-pais.shtml
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Para proporcionar uma análise mais sóbria e próxima da imparcialidade possível, foi escolhida a aprovação do Orçamento da União para 2016. A Lei Orçamentária Anual (LOA) traz um balanço entre despesas a realizar e receitas previstas relativos aos anos de exercício que se refere, guiada pelas diretrizes orçamentárias e plano plurianual de ação governamental anuais. Visando ter um panorama de cada governo, foi selecionada uma matéria para que trata orçamento enviado por cada governante. Ambas reportagens tratam do envio pelo governo em exercício no momento do seu orçamento para aprovação para a união. A que se refere ao governo Dilma Roussef foi publicada dia 23/03/2016 às 18h20 e a matéria que comenta sobre o governo de Michel Temer foi publicada dia 21/05/2016 às 02h00. Primeiramente, comecemos com uma análise dos números da reportagem. A matéria sobre o governo Dilma conta com 506 palavras, dividida em subtítulo e com uma citação direta do ministro da fazenda Nelson Barbosa. Para cobrir o assunto durante a gestão Temer o número de palavras foi aproximado, 519, com 3 citações diretas de representantes do governo. Além disso, nessa matéria específica foram utilizados 3 gráficos para detalhar os números, um primeiro para comparar as LOAs anteriores (incluindo a do governo Dilma), um segundo comparando receitas x despesas e por fim um detalhamento das despesas que foram acrescentadas.
Figura 7: Gráfico comparativo de déficits entre os anos dos governos Dilma e Temer
Fonte: Folha de São Paulo
Figura 8: Gráfico comparativo entre a estimativa de arrecadação e gastos do Governo Temer
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Fonte: Folha de São Paulo
Figura 9: Gráfico de despesas acrescentadas ao déficit apresentado após a posse de Temer
Fonte: Folha de São Paulo
Já no título podemos observar algumas diferenças em relação a abordagem utilizada. Na primeira reportagem publicada a manchete foi “Governo Oficializa déficit de quase R$ 100 bilhões para este ano”. Enquanto para o governo Temer foi “Governo prevê déficit de R$ 170,5 bilhões no orçamento”. A primeira diferença marcante é na responsabilização do sujeito pela ação, apesar de ambas tratarem do envio da aprovação da LOA pelo congresso, percebe-se uma maior responsabilização na primeira matéria por uma utilização de termos que concretizam o déficit e que colocam o governo como responsável pela ação. Enquanto na segunda matéria, além do termo “prevê” que não só não da uma certeza em relação à definição do déficit, o governo ainda é colocado como sujeito ao orçamento, como 33
se não fosse uma realização própria, mas sim como que sem poder de ação perante aquele acontecimento. O tom inicial de ambas as reportagens se diferem, temos um tom muito mais autoritário e negativo para o governo Dilma, que cita a incapacidade de atingir a meta fiscal e a porcentagem que o déficit corresponde do PIB, enquanto para Temer a fala é de que será pedida uma autorização ao congresso para o aumento dos gastos, porém sem fatores comparativos. No parágrafo seguinte, para Dilma são utilizadas expressões que agregam juízo de valor como a vontade de “não abrir mão” para alguns gastos, na segunda reportagem é somente dada à explicação do ministro da fazenda sem uma avaliação da qualidade dessa justificativa. Todo o restante de ambas as matérias segue esse padrão de cobertura, enquanto na primeira são usados diversos fatores de comparação como a meta fiscal, as contas públicas dos anos anteriores e teto de gastos, a segunda tem um tom muito mais de relato que de propriamente avaliação do que foi dito pelo governo. Abaixo, podemos ver um comparativo das palavras que agregam juízo de valor em relação ao relato de ambos governos:
Redução despesas/aumento arrecadação
de de
Termos neutros Aumento despesas/diminuição arrecadação
de de
Dilma
Temer
1
2
1
1
9
2
Apesar da previsão de déficit maior, a proposta de LOA de Temer foi muito menos criticada que a do governo Dilma. É possível perceber essa diferença pelo tom utilizado ao longo do texto e pela quantidade de termos positivos/negativos em cada matéria de acordo com o quadro acima. Além disso, é importante ressaltar algumas diferenças como a conclusão da reportagem que mostrou o ministro da fazenda de Dilma, Nelson Barbosa, avaliando como excessivo o corte de alguns gastos, enquanto no governo Temer a conclusão discursava sobre a necessidade da aprovação da matéria para o não bloqueio de
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gastos do governo. Segue abaixo um trecho emblemático de ambas matérias sobre a mesma questão:
Dilma
Temer
O governo terá outra conta cara para pagar, ao pactuar com governadores um esquema mais suave de pagamento da dívida dos Estados com a União, o que vai custar ao Tesouro, só neste ano, R$ 9,6 bilhões. Até 2018, a folga para os Estados será de R$ 45,5 bilhões.
Sem detalhar os números, o governo disse ainda que a nova meta embute um alívio para os Estados no pagamento da dívida com a União.
Enquanto no governo Dilma termos técnicos comparativos com os números informados foram utilizados 7 vezes como no trecho “O governo enviará ao Congresso nos próximos dias o projeto de lei que autoriza a redução da meta fiscal do ano para um deficit de R$ 96,65 bilhões, o equivalente a 1,55% do PIB.”, para o governo Temer esse tipo de comparação só foi usada uma vez. Assim, podemos concluir que para avaliar a projeção de déficit de ambos os governos, apesar da previsão do governo Temer ser quase o dobro do de Dilma para o mesmo ano, foi feita uma análise muito mais técnica e visando agregar juízo de valor na primeira reportagem, mas que na segunda, na qual foi dado muito mais voz ao sujeito da matéria, dando assim maior possibilidade de se justificar que propriamente um lugar de avaliação.
4.4 Relações internacionais Dentro desse tema, o jornal Folha de São Paulo teve duas formas diferentes de abordagens com diferentes temas. Por isso, o capítulo vai ser subdividido em dois.
4.4.1 Fórum de Davos Todo início de ano e realizado o Fórum Econômico Mundial (FEM), mais conhecido como Fórum de Davos por ser realizado na cidade homônima na Suíça. Seu objetivo é reunir os principais líderes políticos e econômicos para discutir as questões mais urgentes relacionadas à economia, incluindo também saúde e meio ambiente.
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No geral, os países enviam representantes, não os principais líderes do executiva para acompanhar o fórum, até pela tecnicidade do assunto tratado. Por isso, são enviando Ministros, Secretários do Tesouro, entre outros representantes das unidades econômicas de cada país, por exemplo, o presidente Barack Obama nunca foi a um FEM. A relevância do assunto é trazida pela forma como a mídia tratou a ausência da então presidenta, Dilma Roussef, ao fórum. No geral, ela foi amplamente criticada, a revista Veja publicou uma matéria com a chamada “Dilma se ausenta, de novo, do Fórum Econômico Mundial”14. O periódico Estadão, em sua reportagem “Dilma não vai a Davos e frustra expectativas” 15, também avaliou como bastante negativa a ausência da ex-presidenta. Entretanto, ao se ausentar do FEM, Michel Temer provocou quase nenhuma crítica por parte da mídia como um todo. Retomando o objeto de análise, o Jornal Folha de São Paulo, também foram publicadas duas reportagens sobre o assunto, cada uma abordando um governo. Com a chamada “Dilma não deve ir ao Fórum Econômico Mundial em Davos”, o jornal publicou uma reportagem no dia 05/01/2016 sobre a ausência da expresidenta. Com 105 palavras, a matéria apresentou um tom neutro, se abstendo de qualquer palavra que trouxesse algum juízo de valor. Trazendo a imagem de Dilma sorrindo, gesticulando com as mãos, no primeiro parágrafo é dito novamente que ela não compareceria ao fórum e é apresentada a justificativa do Palácio do Planalto de que “a reunião não estava prevista para o ano vigente”, então o autor relembra que o mesmo ocorreu no ano anterior. Figura 7: Imagem da matéria do Jornal Folha de São Paulo.
“Dilma se ausenta, de novo, do Fórum Econômico Mundial. Disponível em <http://veja.abril.com.br/economia/dilma-se-ausenta-de-novo-do-forum-economico-mundial/>. Data de acesso: 15/01/2017 às 18h03. 15 “Dilma não vai a Davos e frustra expectativas. Disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,dilma-nao-vai-a-davos-e-frustra-expectativas-imp,668574. Data de acesso: 15/01/2017 às 18h; 14
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Fonte: Folha de São Paulo
No próximo capítulo, é feita uma recapitulação, dizendo que em 2015 a expresidenta não compareceu para ir a posse de Evo Morales e que o único ano em que Dilma foi ao FEM, foi 2014. Por fim, a matéria fecha dizendo que em janeiro está prevista a reunião da Comunidade Latino Americano e Caribenhos que Roussef geralmente acompanha. Para comentar o mesmo assunto, porém durante o Governo Temer, o jornal fez uma matéria bem mais ampla, com 328 palavras. O título “Com sucessão na Câmara, Temer decide não ir ao Fórum de Davos” 16 já traz a justificativa do planalto para a ausência. Figura 8: Imagem da matéria “Com sucessão na Câmara, Temer decide não ir ao Fórum de Davos.
“Com sucessão na câmara, Temer decide não ir ao Fórum de Davos <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/01/1846512-com-sucessao-na-camara-temer-decidenao-ir-ao-forum-de-davos.shtml>. Data de Acesso: 15/01/2017 às 18h25. 16
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Fonte: Jornal Folha de São Paulo
A reportagem, que conta com uma imagem mais sóbria que a utilizada para cobrir o tema no governo Dilma, é dividida em duas partes. Primeiro, é dito que com a aproximação da eleição do presidente da Câmara, Temer decidiu enviar o Ministro da Fazenda, Henrique Meireles, e que fosse entregue uma carta com o pedido de desculpas por sua ausência. A partir do próximo capítulo, a justificativa do presidente é aprofundada, explicando que o governo teme que a candidatura de Rodrigo Maia, escolhido pelos governistas, seja impedida pelos adversários. Ao fim da primeira subdivisão da matéria, a importância para o governo da vitória de Maia é retomada, tendo como principal justificativa a necessidade de barrar qualquer pedido de impeachment que possa ser aberto contra o atual presidente. O próximo subcapítulo com o título “Sucessão” a estratégia governista para lidar com o problema da sucessão é discutida ao longo de três parágrafos. São citadas as possibilidades de ofertas de ministérios em troca do favorecimento da candidatura de Maia entre outras manobras. As duas reportagens usaram termos neutros, sem fazer uma análise crítica do acontecimento que estavam retratando. Entretanto, são perceptíveis diferenças nas estratégias de cobertura. No título de ambas já existe a diferença em que uma e apresentado a justificativa da ausência (Temer) e na outra só é reportada a ausência (Dilma).
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O fato de que a matéria que tratava do governo atual tem mais que o dobro de tamanho da que trata do governo Dilma também é relevante. Temer teve mais oportunidade para justificar sua ausência que a ex-presidente. Além disso, as ausências de Roussef são associadas a eventos ligados aos países que o governo atual costuma chamar de “Bolivarianos”. Essa associação tem a intenção de direcionar o leitor para a conclusão de que Dilma Roussef priorizava outros eventos ao FEM. Em relação a Michel Temer, a reportagem reservou dois parágrafos para tratar da ausência, o resto foi direcionado para as justificativas do governo. Inclusive, o próprio jornal relata a importância da sucessão da Câmara, associando-a ao possível processo de impeachment de Temer. Pode-se concluir que, mesmo com a ausência de termos que trouxessem uma avaliação ou uma análise crítica sobre o fato ocorrido em ambos governos, a possibilidade de defesa dada muito maior ao governo atual é uma forma de favorecer Michel Temer em detrimento a Dilma que, não só não foi dado muito espaço para justificativa, como indiretamente foi associada à eventos que, no geral, não são bem avaliados pela opinião pública como um todo.
4.4.2 Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU
Em 2016, Dilma Roussef e Michel Temer tiveram a oportunidade de fazer um discurso de abertura na Assembléia Geral da ONU. Dilma discursou quando o impeachment estava em curso e Temer após sua posse. A reportagem que retrata o discurso de Dilma Roussef com o lead “Sem citar “golpe”, Dilma diz na ONU que brasileirões irão impedir o retrocesso” 17 conta com 1.486 palavras, sendo que 871 são a transcrição do discurso da presidenta eleita. Publicada no dia 22/04/2016, o primeiro parágrafo retoma o título, já a segundo diz que Dilma desviou do assunto central que era a discussão do tema climático. Ela é criticada por ter falado mais tempo que o recomendado pela ONU e nos próximos dois parágrafos são sobre a ida de Dilma a Nova York. Um subcapítulo é dedicado para uma explicação mais ampla do tratado de Paris, posteriormente é transcrito o discurso de Dilma. Michel Temer, em seu primeiro discurso na ONU como presidente, dedicou-o quase inteiramente a falar da legitimidade do Impeachment. Grande parte de sua fala foi direcionada para alegar que a legalidade do processo é garantida pelo “Sem citar golpe, Dilma diz na ONU que brasileiros impedirão o retrocesso”. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1763679-sem-citar-golpe-dilma-diz-na-onu-quebrasileiros-impedirao-retrocesso.shtml>. Data de acesso: 15/01/2017 às 21h52. 17
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envolvimento de outras instituições do Brasil, como o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Em seu discurso, Temer também fala sobre a situação econômica do Brasil e cobrou mudanças da ONU para se modernizar e promover a governança Global. A matéria “Em discurso na ONU, Temer diz que impeachment respeitou Constituição”18, publicada no dia 20/09/2016, com um total de três partes e 730 palavras é finalizada com um contextualização da mudança do Secretário Geral da ONU e da abertura da assembléia. Apesar de ambos governantes terem abordado o processo de impeachment, durante o governo Dilma ele foi tratado como um desvio do assunto principal, enquanto no governo Temer a reportagem fez mais um relato que uma avaliação de sua adequação ao evento. Novamente, de forma sutil, o jornal consegue trazer um tom negativo que varia de acordo com o governante, mesmo o assunto se mantendo o mesmo.
4.5 Corrupção: a queda dos ministros Para analisar como a Folha de São Paulo, no geral, lidou com a corrupção dos governos Dilma e Temer, vamos estudar como foi noticiada a investigação de ministros dos dois governos, um acontecimento em comum com ambos. A matéria utilizada para abordar o governo Dilma é intitulada “Inquérito sobre dois ministros reforça pressão por reforma no planalto”19 e foi publicada no dia 07/09/2015 às 02h00. A matéria tem 1.222 palavras e é dividida em cinco partes. A primeira parte é um apanhado geral do acontecimento. Inicialmente, é explicado que foi aberto um inquérito contra um dos principais ministros do governo, Aloizio Mercadante, Dilma e um assessor direto da presidenta, Edinho Silva, agravando ainda mais a crise política que era vivida na época. A matéria segue falando que Ricardo Pessoa, o dono da UTC, uma das empresas que fechou o acordo de delação premiada com a Lava Jato, relatou as propinas doadas aos acusados. Essa primeira parte é encerrada falando que os ministros negaram as acusações. Na segunda parte intitulada “Alguns dos políticos acusados por Ricardo Pessoa” é apresentada uma tabela com o nome dos dois ministros já citados e um “Em discurso na ONU Temer diz que impachment respeitou a constituição”. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/09/1815053-em-discurso-na-onu-temer-diz-queimpeachment-respeitou-constituicao.shtml>. Data de Acesso: 15/01/2017 às 21h50. 19 “Inquérito sobre dois ministros reforça pressão por reforma no Planalto” Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/09/1678478-supremo-investigara-ministros-de-dilma-esenador-tucano-na-lava-jato.shtml>. Data de Acesso: 06/11/2016 às 10h13. 18
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novo nome, o de Aloysio Nunes. São mostrados os valores alegados doados alegados por Ricardo Pessoa em contraponto com os declarados no Supremo Tribunal Eleitoral, além das acusações do dono da UTC e da defesa de cada um de maneira sucinta. Após a tabela, o foco se volta para a crise vivida pelo governo. Diversos relatos anônimos de pessoas de dentro do governo criam um clima hostil, em que os próprios integrantes do governo falam da deterioração do planalto com declarações alarmantes. Além dsso, a reportagem relembra que a presidenta havia anunciado a redução de ministérios e cargos comissionados, porém nada havia sido feito até o momento. Já na terceira parte “Delação”, a reportagem informa que, apesar das diversas delações ligadas ao PT, não havia nenhuma capaz de imputar diretamente o governo Dilma. No segundo parágrafo, comenta-se novamente do relato ligado ao senador Aloysio Nunes de forma breve e, por fim, é dito que como a delação de Ricardo Pessoa é sigilosa não havia como saber o contexto do envolvimento do Senador. “Outro Lado” é a parte da matéria voltada para as declarações dos dois ministros do governo Dilma na tentativa de se defenderem. Ambos afirmam que agiram dentro da legalidade, explicam suas justificativas. É interessante observar como os repórteres optaram pelo uso de aspas em algumas partes da matéria como “O ministros da Secretária de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva,... afirmou neste domingo (6) que agiu “dentro da legalidade”. A parte em que é comentada a justificativa de Aloizio Mercadante também é retratada seguindo o mesmo padrão. Ao final da matéria é reservada uma parte somente para a defesa de Aloysio Nunes. É interessante observar de que apesar das acusações ao longo da matéria serem voltadas em grande parte aos ministros petistas, sendo que ao se comentar do Tucano é levantado o argumento de sigilo da investigação, a parte reservada a sua defesa é a mesma que aos dois ministros petistas. “Veja quem são os 15 ministros do governo Temer citados em investigações”20 é o título da segunda matéria. Publicada no dia 06/06/2016 às 13h02. A matéria tem 620 palavras e é dividida em duas partes, a introdução e uma lista com o nome dos ministros, as acusações e suas defesas. A reportagem abre com o relato que em 26 dias de governo Temer, o presidente, na época, interino, já havia realizado duas trocas de ministros por causa
“Veja quem são os 15 ministros de Temer citados em investigações” Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/asmais/2016/06/1778725-veja-quem-sao-os-15-ministros-de-temercitados-em-investigacoes.shtml>. Acesso em 06/11/2016 às 12h49. 20
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de acusações de corrupção, porém o governante decidiu substituir os políticos que caíram por outros também acusados em investigações. Nos próximos três parágrafos, é levantado um breve panorama geral, onde se menciona que dos 24 ministros do governo temer 15 são investigados, o caso Romero Jucá, ministro que foi trocado 11 dias após assumir por outro político também investigado, Dyogo Oliveira. Após o fim desse parágrafo, começa a lista dos investigados. A cada um deles é reservada aproximadamente três linhas. No geral, ao se comparar as duas matérias o primeiro ponto observado é a falta de juízo de valor na segunda, com uma reportagem mais voltada para um relato que propriamente uma análise crítica. Além disso, a diferença nos termos usados é notável, segue abaixo a comparação:
Termos utilizados Dilma Termo “Crise”, referente a 4 crise política Termo “Suposto” e suas 1 derivações
Temer 0 5
Ao se comparar ambas matérias é gerado um estranhamento pelo fato de que uma que trata da investigação de 2 ministros tenha uma cobertura tão extensa e aprofundada, enquanto a outra meramente cita o acontecimento. Além disso, é notório o tom dramático adotado ao se referir ao governo Dilma e o tom banal ao se tratar do governo Temer, sendo até estendido aos 15 ministros o direito à dúvida ao se caracterizar fatos ainda não comprovados como “suposição”, enquanto no governo anterior não houve o mesmo tratamento. Também pode-se observar a falta de isonomia dentro da mesma matéria quando se trata do primeiro governo, quando ao se falar dos investigados petistas são usadas declarações de Ricardo Pessoa feitas nas delações premiadas, porém ao se referir ao tucano investigado, são poucas as acusações citadas sob o argumento de que a delação é sigilosa.
4.6 Articulação política Um terceiro aspecto a ser analisado é a cobertura da capacidade de articulação política de Dilma Roussef e Michel Temer. Para tal, será observado como é retratada a tentativa de articulação política com o poder legislativo. Por isso, será analisada a tentativa de aumento de impostos dos dois governos. Um acontecimento 42
bastante comentado nos dois governos foi a CPMF, a Contribuição Provisória de Movimentação Financeira, uma porcentagem que incide sobre qualquer movimentação financeira, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas. Já para o governo Temer a tentativa de aumento da Cide, imposto que incide nos combustíveis, e o PIS/Cofins. No dia 02/02/2016 às 16h23, o jornal Folha de São Paulo publicou a matéria “Dilma é vaiada ao pedir aprovação de CPMF e outras propostas polêmicas"21 para abordar a tentativa do governo Dilma de apelar para o congresso pedindo a aprovação do tema. Assim como no título, o primeiro parágrafo do texto já começa mencionando as vaias sofridas pela governante ao tocar no assunto com os parlamentares. Ao longo da reportagem, trechos do discurso da presidenta argumentando sobre a necessidade da aprovação do tema, falando sobre a diminuição da arrecadação do governo e os esforços já feitos para diminuir os gastos públicos como as mudanças de seguro desemprego e abono salarial. Dilma Roussef também pede aos congressistas que deixem de lado suas opiniões pessoais e levem em consideração os fatos e números. Porém, a matéria ainda relata a resistência dos deputados e senadores, citando um parlamentar que levou uma faixa “O Brasil não agüenta mais você, cai fora”. A matéria termina com uma segunda parte onde é citada a DRU, Desvinculação das Receitas da União, um outro tema tratado pela governante como necessário para melhorar as contas públicas. A matéria com 391 palavras teve um tom muito mais sóbrio que as anteriores, se reservando a relatar o ocorrido se abstendo de maiores análises. Porém, seu tom negativo não deixa de ser perceptível até pela reação dos políticos que foram ressaltadas, já partindo da chamada com um tom negativo. Além disso, na própria matéria é disponibilizado um vídeo de 21 segundos com o momento em que a presidenta é vaiada. Já a cobertura em relação ao governo Temer é intitulada “Governo Temer estuda elevar impostos para reduzir déficit de 2017.”22. Publicada no dia 07/07/2016 às 02h00, a matéria com 413 palavras começa explicando quais medidas o governo pretende tomar para evitar o déficit no próximo ano. No segundo e terceiro parágrafo é citada uma reunião com os líderes parlamentares visando o apoio à pauta. O resto da matéria se dedica a explicar quanto seria arrecadado e qual a importância, segundo a visão dos participantes do governo, da aprovação dessas medidas. “Dilma é vaiada ao pedir aprovação de CPMF e outras propostas polêmicas” Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1736305-dilma-e-vaiada-ao-pedir-aprovacao-de-cpmf-eoutras-propostas-polemicas.shtml >. Acesso em 06/11/2016 às 16h55. 21
“Governo Temer estuda elevar impostos para reduzir déficit de 2017” Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1789289-governo-temer-estuda-elevar-impostos-parareduzir-deficit-de-2017.shtml >. Acesso em 06/11/2016 às 17h14. 22
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Posteriormente, comenta-se brevemente que talvez haja uma resistência para a aprovação dos temas no congresso, mas novamente é retomado o tom de necessidade de aprovação da matéria para se evitar um cenário econômico pior. As duas reportagens seguiram o mesmo padrão de cobertura em que o fato era informado sem um tom crítico, mas somente como um relato. Porém, a diferença entre quem teve direito a fala é categórica. Na primeira, houve uma ênfase muito maior aos oposicionistas do tema, inclusive com uma chamada de carga extremamente negativa e emocional ao se falar das vaias, inclusive se aproveitando do vídeo para ressaltar mais ainda esse ponto. Em relação ao governo Temer, o tom negativo foi utilizado para construir um cenário negativo caso as propostas não fossem aprovadas. De um lado, temos o tema de aumento de impostos construído como algo extremamente negativo, do outro, o tema é colocado como única opção de se evitar uma situação catastrófica. De ambos, temos oposicionistas e justificativas, porém a diferença se dá quando consideramos para quem foi concedido o direito a fala ou não.
Dilma Termos associando a 2 medida a recuperração da economia
Temer 5
É possível observar também que na matéria referente ao governo Temer são utilizados dois infográficos. O primeiro, retrata o resultado fiscal dos anos 2010 a 2013 e a previsão para 2016 e 2017. O segundo, é um infográfico interativo com a intenção de didaticamente explicar a necessidade das medidas para que a vida do cidadão comum não seja afetada por um desempenho fiscal ruim.
4.7 Como a mulher é retratada na política Dilma Roussef, como primeira presidenta mulher do Brasil, teve que superar diversos desafios criados pela sociedade machista em que vivemos. Não só a recusa de tratá-la como presidenta pelos meios de comunicação, mas nas conversas do dia a dia na forma de critica-la, não apontando sua capacidade política, mas sim utilizando termos que atacavam diversos aspectos relacionados ao fato de ser uma mulher. Esse subcapítulo será divido em duas partes, na primeira parte será seguido o padrão de análise anterior, onde são comparadas duas matérias. Na segunda 44
parte, será analisada uma cobertura especial do impeachment feita pelo jornal Folha de São Paulo.
4.7.1 A banalidade da agressão sexual e o retorno do primeiro damismo Durante o ano de 2015, começaram a ser vendidos no site Mercado Livre alguns adesivos que mostravam Dilma Roussef com as pernas abertas. Os adesivos foram criados com o intuito de serem instalados em carros e o buraco da bomba ficaria localizado nas partes intimas da presidenta eleita. O assunto foi amplamente discutido, a ministra da extinta Secretária de Política para as Mulheres apresentou uma denúncia visando investigar e encontrar os responsáveis. Na Folha de São Paulo, entretanto, o espaço dedicado para o acontecimento foi em uma matéria em que diversos outros temas eram comentados, como shows que iriam acontecer e outros assuntos. Nomeada “Governo denuncia adesivo com ofensa sexual a Dilma ao Ministério Público”23, a matéria publicada no dia 02/07/2015 às 02h00, reservou 139 das 850 palavras para tratar o assunto. O excerto da matéria que trata sobre o assunto foi divido em três partes. Primeiramente, foi explicado do que se tratava o tema e é citada a denúncia feita pela ex ministra Eleonora Menucci. A segunda parte relata a declaração da ministra e a terceira e final da mais uma explicação sobre a intenção do adesivo. Para observamos como é retratada a mulher pelo jornal durante o governo Temer, é possível extrair tal olhar de outra matéria com grande repercussão, a projeção política feita no vestido utilizado por Marcela Temer, atual primeira dama. Com a chamada “Marcela Temer vestiu resumo de mensagem que marido quer passar”24, a reportagem de 309 palavras que foi publicada no dia 08/09/2016 às 02h00 já em seu primeiro parágrafo começa uma análise política do vestido utilizado pela primeira dama, dizendo que é um resumo da intenção da primeira gestão de Michel Temer, serenidade, ordem e progressivo. Nos próximos parágrafos são comentadas as características físicas do vestido, associando a cor da paz, branco, em contraste com os protestos antigoverno que ocorriam no país.Existe uma tentativa de associar o vestido a uma tentativa de aproximação com o povo. Posteriormente, é feita uma comparação com a posse de Dilma Roussef, em que o termo “furacão louro” é utilizado para “Governo denuncia adesivo com ofensa sexual a Dilma ao Ministério Público” Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2015/07/1650450-governo-denuncia-adesivocom-ofensa-sexual-a-dilma-ao-ministerio-publico.shtml >. Acesso em 06/11/2016 às 20h55. 23
“Marcela Temer vestiu resumo de mensagem que marido quer passar” Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/09/1811230-marcela-temer-vestiu-resumo-de-mensagemque-marido-quer-passar.shtml#_=_ >. Acesso em 06/11/2016 às 21h09. 24
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contrastar com a nova primeira dama que usava um decote delicado, segundo a reportagem. Por fim, a matéria é encerrada com o comentário de que mesmo tentando, Marcela Temer não iria atrair todos os holofotes para si por ainda ser jovem, ter um porte atlético e interesse de moda. Porém, sem dúvida ela iria alimentar o sistema da moda brasileira. Em um primeiro momento, pode-se apontar o contraste da necessidade de se dedicar toda uma matéria no caderno de poder do jornal para uma análise política do vestido da primeira dama, entretanto tal não existiu ao se noticiar adesivos de cunho sexual contra Dilma Roussef. O contraponto de se dar relevância para um vestido, mas não existir o mesmo olhar visando uma análise mais profunda de um ato que representa tantas violências vividas no dia a dia das mulheres mostra a escolha de enquadramento do jornal, em que uma análise estética vale mais que uma análise de problemas estruturais sociais. Como são temas que partem do mesmo local, a representação da mulher, porém usam de fatos diferentes, não é possível selecionar termos específicos de comparação. Por isso, a escolha de enquadramento é observada pela forma como é feita a reportagem, em que a primeira é isenta de juízo de valor, somente voltada a retratar um acontecimento, enquanto a outra possui uma extensa análise.
4.7.2 A recriação da histeria feminina O jornal Folha de São Paulo fez uma reportagem especial recapitulando todo o processo de impeachment sofrido por Dilma Roussef. Com um total de 3.130 palavras, foi retratado não só o processo que levou a queda da presidenta, mas diversas decisões desde a escolha dela como sucessora de Lula até sua vida pessoal. A matéria com uma narrativa de crônica, inicia relatando segundo fontes o dia da votação do impeachment. Com um tom sentimental, reconstitui a presidenta em seu último dia de governo como uma pessoa alheia aos acontecimentos, agindo normalmente e falando em luta e resistência onde somente um “milagre” poderia salvá-la. Começa então a recapitular a escolha de Dilma como candidata do PT após o último mandato de Lula. A decisão é retratada pela Folha como questionada o tempo inteiro por aliados políticos do ex-presidente e, por fim, é feita como última escolha por falta de opção.É retomado o caráter autoritário e intransigente de Roussef, relatando até uma briga entre ela e seu marketeiro na época, João Santana. Após a eleição de Dilma, diversos ministros foram exonerados por estarem envolvidos com casos de corrupção. Entretanto, novamente o caráter “durão” da presidenta eleita é ressaltado, usando até mesmo esse fator positivo que alavancou 46
sua popularidade para citar o quanto isso a fez ganhar confiança e começar a ignorar o congresso.O câncer de Lula é citado para mostrar um afastamento do expresidente para se tratar, o que levou Roussef a não ter mais moderação e poder agir de acordo com seu caráter controlador. No capítulo das pedaladas, mais uma vez é ressaltado o lado durão de Dilma, onde cada vez mais intervenções do Estado eram sentidas na Economia e com as reações explosivas da presidenta, ninguém ousava pará-la. Ela se tornou, então, ministra da fazenda, levando as pedaladas, segundo o jornal. O capítulo posterior é dedicado inteiramente as broncas dada pela presidenta em diversos funcionários e aliados. “As broncas”, nome do capítulo, se assemelha à matéria da revista IstoÉ, dizendo que as pessoas ao redor de Dilma tiveram que começar a se medicar para conseguir lidar com seu temperamento.Existe uma contradição entre ambas matérias, na da revista IstoÉ, são citados os remédios ingeridos pela presidenta para tentar se controlar, já no especial da Folha de São Paulo, é dito que ela recusava os remédios, inclusive com uma citação direta a uma suposta fala da presidenta “Eu não uso essas porcarias”. Além disso, a letargia do governo é comentada, sendo a ela atribuída diversas falhas do governo que levaram a sua queda. São retomados os desentendimentos entre Lula e Dilma, sendo relatadas conversas privadas entre os dois onde Dilma contava sua intenção de tentar a reeleição, contrariando seu antecessor. As próximas linhas são dedicadas a Temer, colocando-o como uma pessoa contida, que fez todo o possível para ajudar a presidenta, porém sem o devido reconhecimento e com quebras de promessas. Tudo é guiado para mostrar que o vice-presidente não teve escolha, se não se rebelar contra a chefe de estado. Inclusive, relatando sua vida pessoal com certo detalhamento. A matéria finaliza contando sobre os filhos de Michel Temer e com um quadro da votação do impeachment. Toda a narrativa que construía a imagem de Dilma é contada por terceiros, já quando Temer é abordado, o relato é em primeira pessoa e sempre com um tom receoso e vitimista.
Dilma
Temer
Palavras caráter positivo
com
1
4
Palavras caráter negativo
com
6
0
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Dilma foi diretamente chamada de durona, explosiva e termos que se assemelham seis vezes. Até mesmo quando chamada de generosa, segue uma frase dizendo que seu temperamento apagava sua bondade. Já Temer tem um capítulo exclusivo chamado “Pragmático”, é caracterizado como contido e com aparência alinhada, usa palavras rebuscadas e a todo mundo é retratado como uma personagem que tentou ajudar ao governo, porém foi traído diversas vezes como “Foi a ofensiva da presidente para diluir sua influência na sigla que levou a sua reação pública contra a petista.”. A carta divulgada pelo vice foi tratada como autodefesa e o áudio vazado no grupo de Whatsapp que tratava do lançamento informal de sua plataforma política nem chega a ser citado. A todo momento Temer foi mostrado como fiel e leal e Dilma como explosiva, dura e intransigente. O tema das pedaladas foi muito brevemente abordado, sem uma explicação detalhada do que se tratava e como levou ao impeachment. Se tratou de uma retrospectiva mais de um caráter sentimental e pessoal, que propriamente do processo em si, tanto que é finalizada com um relato detalhado dos três casamentos do vice-presidente e seus filhos. Com diversos rompantes de raiva, Dilma é retratada como a histérica e Temer como vítima.
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5.0 CONCLUSÃO Os temas foram escolhidos não só visando a possibilidade de análise nos dois governos e a atenção dada pela mídia, mas também visando mostrar o paradoxo existente entre os argumentos veiculados para justificar o impeachment e os dados publicizados. No âmbito financeiro, foi possível observar o desempenho pior do governo Temer, com um déficit previsto de 170 bilhões, enquanto no governo Dilma o valor girava em torno de 90 bilhões. Quando se trata da corrupção, mesmo em uma escala muito maior no governo atual, ela não gera grandes crises muito menos uma instabilidade ameaçadora. Chegando ao ponto de não ser necessário se preocupar em substituir acusados por pessoas idôneas, a troca de um político acusado por outro também acusado não causa nenhum tipo de desconforto. Já com Dilma Roussef, dois acusados (número bastante inferior ao governo Temer), são suficientes para causa uma instabilidade extrema com integrantes do governo dando declarações de preocupação extrema em relação a situação vivida. Já em relação a governabilidade de ambos, é perceptível um resistência política perante qualquer proposta feita por Dilma Roussef, enquanto para Michel Temer os parlamentares se mostram muito mais maleáveis, e não somente eles, mas também a impressa. Na cobertura, vimos a proposta de aumento de impostos de Dilma ser tratada como um ultraje com a sociedade, enquanto na cobertura da mesma proposta para Temer ser dada uma longa explicação ao leitor da necessidade de tal medida. Por fim, temos a contraposição da figura da mulher na política. Primeiro, uma despreocupação completa da imprensa de retratar a alusão de estupro sofrida pela presidente eleita. Como contraponto, temos o tratamento dado a Marcela Temer, primeira dama, que tem absolutamente cada ato elevado, como a vestimenta analisada como analogia à política onde não só a pureza de Marcela é valorizada e elevada, como também é usada para trazer uma suavidade ao governo Temer. Isso tudo, só é possível graças ao enquadramento (Leal, 2007) adotado pelo jornal, seja de forma inconsciente ou não, é notório o esforço de se analisar muito mais criticamente e a fundo qualquer declaração, medida ou acontecimento do governo Dilma Roussef, com exceções pequenas onde os personagens escolhidos para a matéria possibilitavam essa ausência de análise, já que em seus discursos eles mesmos já traziam um juízo de valor que retratasse de maneiro negativa as atitudes do antigo governo. Enquanto para o governo Temer, a abordagem faltava de um tom analítico, sendo tratado quase como um puro e simples relato, sem comparação ou checagem de fatos. Nos raros casos em que era apresentado um embasamento crítico da matéria, era muito mais direcionado para estar em convergência com o declarado pelo governo vigente, mesmo que no passado o 49
jornal tenha exposto uma avaliação completamente ao contrária da declarada atualmente. Além disso, o lugar de fala no caso da presidenta eleita sempre dado a oposicionistas do governo e terceiros, em raros casos aos aliados e mesmo quando era cedido aos governantes era de forma enviesada, como no caso em que o ex Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, declarou que achava cortes de orçamento excessivos. Já no governo Temer, grande parte dos depoimentos eram dos governantes e seus aliadas justificando as medidas drásticas tomadas, como quando o ministro Guido Mantêga expôs as justificavas da necessidade de corte de investimentos em diversas áreas. Todo esse comportamento midiático, indubitavelmente, revela um enquadramento muito bem direcionado, assim como relatado por Plínio Leal a realidade social é construída e organizada visando atender a um jogo de interesses não perceptível pelo público. Quando Leal analisou a cobertura investigação da Máfia dos Sanguessugas (como ficou conhecido o esquema que utilizava da área da saúde para desviar verbas), o interesse era justamente expor o recorte escolhido pela grande mídia. Recapitulando todo o movimento feminista no mundo e mais especificamente no Brasil, foi possível perceber que ainda estamos distantes de ter uma com equidade social. Segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL), atualmente, mulheres ainda ganham em média 25% a menos que os rendimentos de homens ocupando o mesmo cargo 25. O Fórum Econômico Mundial, advertiu que o Brasil vai demorar 95 anos para alcançar igualdade de genêrono ritmo atual26. Além desses dados, existem diversos outros que expõem o machismo estrutural que as brasileiras vivem atualmente. Isso tudo, somente aponta para a impossibilidade de que o fator de Dilma Roussef ser mulher não tenha influenciado o tratamento recebido por ela pela imprensa e pelos políticos. É possível endossar tal afirmação ao defrontar a análise feita nas páginas anteriores onde a própria publicação da Folha reconhece que todos os governos anteriores cometeram peladas fiscais (a principal justificativa utilizada para o impeachment), e também divulgou o parecer da comissão do impeachment do senado reconhecendo que não houve crime de responsabilidade fiscal. O sentimento antipetista amplamente difundido entre as classes sociais mais altas sem dúvida também foi um fator que influenciou o processo, porém o fato de o ex-presidente Lula não ter passado por um processo dessa magnitude e as pesquisas ainda apontarem sua provável eleição em 201827, caso se candidate, também tiram o peso desse argumento para o impeachment.
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http://oglobo.globo.com/economia/diferenca-salarial-entre-homens-mulheres-ainda-persiste18832252 26 http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2016/10/brasil-levara-95-anos-para-alcancarigualdade-de-genero-diz-forum-economico-mundial.html 27 http://istoe.com.br/lula-lidera-em-todos-os-cenrios-de-1-turno-para-2018-diz-pesquisa-cntmda/
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Por isso, chegamos ao ponto em que é possível fazer um paralelo com a análise feita por Susan Faludi em seu livro, Backlash. Como foi mostrado nos capítulos anteriores, a autora faz diversos relatos de fraudes com o objetivo de deslegitimar o movimento feminista. Podemos ver a fraude do processo de impeachment como uma tentativa de tirar uma mulher do poder. Além disso, a autora dedica um capítulo para analisar o fenômeno social em que quando se “quando existe um inimigo sem rosto, como o aumento do desemprego, recessão, crise econômica, entre outros, que afetam drasticamente o país, inicia-se a procura de um bode expiatório em quem a culpa possa ser jogada.” (Faludi, 1991). Caso extremamente semelhante ao vivido pela presidenta eleita, a corrupção foi creditada a ela e a Lula, mesmo tendo casos como o da Lava Jato em que foi comprovado que o esquema existia desde 198928. Também houve a culpabilização de Dilma pela crise econômica, até mesmo quando ela já não estava mais exercendo o cargo como foi exposto anteriormente na análise crítica de Miriam Leitão das vaias sofridas por Temer. Faludi também retrata a constante convocação da impressa de comentaristas conservadores e a total incapacidade das feministas de se defenderem de acusações pelo fator de que não lhes era cedido o lugar de fala. Algo bastante semelhante ao ocorrido nas matérias da Folha de São Paulo analisadas ao longo do projeto. É extremamente sintomático que a primeira presidente mulher do Brasil tenha sofrido um processo de impeachment tendo como justificativa atos exatamente iguais aos praticados por seus antecessores. Além disso, um dos primeiros atos políticos do novo presidente, Michel Temer, ter sido nomear um ministério composto somente por homens é simbólico, principalmente quando considerado o silêncio da impressa quanto ao caso. O Backlash é caracterizado por uma convergência de forças em todos os setores da sociedade visando um retrocesso nos direitos conquistados pelas mulheres. No atual momento vivido pelo Brasil, ainda não é possível afirmar que um Backlash está em processo porque existem alas da sociedade em que o movimento feminista está avançando, como na cultura, educação entre outros. Inclusive, a cada dia que passa mais pessoas tem acesso ao feminismo e novos apoios a causa são alcançados. Entretanto, com o enquadramento que foi observado e com os recentes atos políticos observados, é inegável que existe um contra-ataque contra as conquistas sociais das mulheres em um âmbito político e completamente endossado pela mídia tradicional.
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http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/documentos-do-sni-mostram-corrupcao-daodebrecht-na-decada-de-1980.html
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEAL, P. M. V. Jornalismo Político Brasileiro e a Análise do Enquadramento Noticioso. In: II Compolítica, Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. SEMINÁRIO FAZENDO GÊNERO, 9. 2010, Florianópolis. Feminismo e Luta de Classes: História, Movimento e Desafios Teórico-Político do Feminismo na Contemporaneidade. 2010. PINTO, Céli Regina Jardim, “Feminismo, história e poder”, Revista de Sociologia, Curitiba, Nº36, JUN. 2010. <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n36/03.pdf>. FALUDI, Susan. Backlash: The undeclared War Against American Women. Crown, New York, 1991. HANGAI, LUIS. REVISTA AÇÃOMIDIÁTICA: Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura. Universidade Federal do Paraná. Paraná. Volume 2. 2012. <revistas.ufpr.br/acaomidiatica/article/download/28658/19303>. Data de acesso: 25/01/2017
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APÊNDICES Apêndice A: Dilma versus a mídia – reportagem 1
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Apêndice B: Dilma versus a mídia – reportagem 2
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Apêndice C: Dilma versus a mídia – reportagem 3
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Apêndice D: Os Déficits de Dilma e Temer – reportagem 1
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Apêndice E: Os Déficits de Dilma e Temer – reportagem 2
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Apêndice F: Relações Internacionais: Fórum de Davos – Reportagem 1
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Apêndice G: Relações Internacionais: Fórum de Davos – Reportagem 2
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Apêndice H: Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU – Reportagem 1
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Apêndice I: Impeachment versus Golpe: O discurso na ONU – Reportagem 2
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Apêndice J: Corrupção: a queda dos ministros – Reportagem 1
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Apêndice K: Corrupção: a queda dos ministros – Reportagem 2
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Apêndice L: Articulação Política – Reportagem 1
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Apêndice M: Articulação Política – Reportagem 2
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ApĂŞndice N: A banalidade da AgressĂŁo sexual e o retorno do primeiro damismo = Reportagem 1
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ApĂŞndice O: A banalidade da AgressĂŁo sexual e o retorno do primeiro damismo = Reportagem 2
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Apêndice P: A recriação da histeria feminina
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