observe “ (...) Este é o instante em que o vento sopra, invadindo a cidade em seus quatro pontos cardeais. Observe. Este é o instante em que Vitória se parece com qualquer cidade do mundo, apresentando-se anônima para sempre. Este é o instante em que a lua continua se movendo. Este é o instante em que se ouve o coração do mundo. Este é o instante – observe – em que se encaram. (...) ” Amylton de Almeida.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
LILIAN DAZZI BRAGA
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VITÓRIA 2011
LILIAN DAZZI BRAGA
observe Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. Rogério Almenara Ribeiro Co-orientador: Prof. Bruno Massara Rocha
VITÓRIA 2011
FOLHA DE APROVAÇÃO LILIAN DAZZI BRAGA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APROVADO EM __ /__ / ____ .
ATA DE AVALIAÇÃO DA BANCA
AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA NOTA
DATA
ASSINATURA
NOTA
DATA
ASSINATURA
NOTA
DATA
ASSINATURA APROVADO COM NOTA FINAL
AGRADECIMENTOS À Deus; À minha família, pelo apoio sempre, sem a qual não estaria aqui; Ao Karlos, sem o qual esse trabalho não existiria, pelo apoio, carinho e compreensão sempre. Pela paciência inacreditável; Ao Rogério, por acreditar neste trabalho, pelas conversas, persistência e insistência; Ao Bruno pela co-orientação e apoio; À Eneida pelos anos de aprendizado; À Letícia e à Mayara, companheiras desde sempre e para sempre; À Samira e ao Bruno, companheiros de PG, planos e aflições; À Tetê sempre presente; Ao Léo, sempre com um texto à mão e ouvidos a postos; Ao Pedro, Henrik, Renan, Conrado e Zael; À todos que compartilharam comigo esses anos de Cemuni; Muito obrigada.
“Essa história começa ao rés do chão, com passos. (...) Sua agitação é um inumerável de singularidades. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem os lugares. Sob este ponto de vista, as motricidades dos pedestres formam um desses “sistemas reais cuja existência faz efetivamente a cidade", mas “não têm nenhum receptáculo físico”.1
1 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer, 14 ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO COSMOPOLITA, O HOMEM PÚBLICO PERFEITO AS RELAÇÕES PÚBLICAS/ QUANDO ESTRANHOS SE ENCONTRAM ESPAÇO PÚBLICO MORTO ESPAÇO PÚBLICO COMO DERIVAÇÃO DO MOVIMENTO URBANO, DEMASIADO URBANO ESPAÇO PÚBLICO, LOCAL DA DIVERSIDADE E MULTIPLICIDADE NOVOS ESPAÇOS PÚBLICOS
13 17 20 22 26 28 32 34
CENTRO DE VITÓRIA ESCALA URBANA ANÁLISE DOS VALORES DO ESPAÇO INDICAÇÕES REDE E CONEXÕES METODOLOGIA PARA INTERVENÇÕES BIBLIOTECA _PLANOS HORIZONTAIS_PISOS _PLANOS HORIZONTAIS_TETOS _PLANOS VERTICAIS_PAREDES _USOS _ELEMENTOS TAG’S
45 59 62 66 74 79 81 82 88 92 96 100 103
CATEGORIZAÇÃO _ESPAÇOS TOMADOS _ESPAÇOS MEMÓRIA _ESPAÇOS ENTRE _ESPAÇOS VAGOS _ESPAÇOS RESIDUAIS _ESPAÇOS CONECTORES _ESPAÇOS CONTIDOS _ESPAÇOS INACESSÍVEIS INTERVENÇÕES
109 119 123 129 133 137 141 147 151 155
CONSIDERAÇÕES CONCLUSÕES ANEXO 01_PROCESSOS ÍNDICE DE IMAGENS BIBLIOGRAFIA
247 249 252 258 263
INTRODUÇÃO Este trabalho pretende levantar questões sobre a vida pública urbana contemporânea. A Cidade e suas relações humanas, lugar de encontro, troca, de multiplicidade. As necessidades e problemas de tantos indivíduos compartilhando o cotidiano é o porquê de se pensar e conceber espaços, a motivação do trabalho do arquiteto e do urbanista.
(...) Efetivamente, uma cidade é algo mais do que o somatório de seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem independentemente de outras razões – viver em comunidade a viverem isoladas.1 Assim, os espaços de uso público, com destaque para a rua, seriam os espaços da cena urbana, lugar dos acontecimentos. O espaço público sempre foi lugar de encontro, de comércio e de circulação. A cidade sempre foi lugar de encontro e reunião de pessoas, lugar onde trocavam informações sobre a cidade e a sociedade, lugar onde eventos importantes foram encenados (...) 2 Jan Gehl aponta que “no passado, quando quase todo movimento era realizado a pé, havia sempre um equilíbrio entre os três usos da cidade. Os pedestres podiam andar até onde precisassem ir, encontrando 1 CULLEN, Gordon em Paisagem Urbana 2 GEHL, 2002
gente, comerciando, conversando e apreciando a vista, tudo isso no mesmo passeio pela cidade.” A partir do século XX, principalmente com a industrialização e o advento do automóvel, as cidades se expandiram e adensaram, passam a ter um intenso tráfego de veículos, e conseqüentemente o espaço público muitas vezes se tornou ambiente de conflito entre o tráfego motorizado e o pedestre. O meio urbano sofre uma impactante mudança com a dispersão de grandes centros comercias privados, com sua vida pública afastada das ruas e restrição à livre circulação. Pechman e Kuster apontam que hoje, na cidade global “Ao contrário da cidade com suas múltiplas dimensões, o urbano é talhado para ser um espaço cuja singularidade é de potencializador do sucesso econômico. Aqui a experiência urbana deve desaparecer para dar lugar, não mais ao encontro, mas à conexão. Nessa cidade conectada, já não estamos mais na dicção do espaço público, muito menos da esfera pública.” Como serão concebidos os espaços de uso público nesse novo momento? Qual qualidade de vida pública buscamos? Encontramos hoje cidades que buscam por mudanças no rumo de seus planejamentos, trazendo de volta a preocupação com o vivenciar com qualidade a vida pública. Sabe-se que em diferentes escalas mudanças físicas (de desenho urbano), sociais e econômicas possibilitam um ambiente com maior qualidade, propício ao uso e sustentável.
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COSMOPOLITA, O HOMEM PÚBLICO PERFEITO
Há um termo logicamente associado a um público urbano diverso:“cosmopolita”. De acordo com o emprego francês registrado em 1738, cosmopolita é um homem que se movimenta despreocupadamente em meio à diversidade, que está à vontade em situações sem nenhum vínculo nem paralelo com aquilo que lhe é familiar. (...) Por causa dos novos hábitos de se estar em público, o cosmopolita tornou-se o homem público perfeito. (SENNETT, 1999) Sennett aponta que dessa maneira, “público” veio a significar uma vida que se passa fora da vida da família e dos amigos íntimos; na região pública, grupos sociais complexos e díspares teriam que entrar em contato inelutavelmente. E o centro dessa vida pública era a capital. À medida que as cidades cresciam e desenvolviam-se redes de sociabilidade independentes do controle real direto, aumentaram os locais onde estranhos podiam regularmente se encontrar. Foi a época da construção de enormes parques urbanos, das primeiras tentativas de se abrir ruas adequadas à finalidade precípua de passeio de pedestres, como uma forma de lazer. Foi a época em que cafés (coffehouses) e mais tarde bares (cafés) e estalagens para paradas de diligências tornaram-se centros sociais; época em que o teatro e a ópera se abriram para um grande público graças à venda aberta de entradas. (SENNETT, 1999)
Figura 1. A rua, tela de Enerst Ludwing Kirchner, 1913. Transeuntes semelhantes com suas faces angulosas e impessoais. Fonte: http://www.britannica.com/bps/mediaview/12371/1/0/0
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Comportar-se com estranhos de um modo emocionalmente satisfatório, e no entanto permane‑ cer à parte deles, era considerado em meados do século XVIII como um meio através do qual o animal humano transformava-se em ser social. (...) Enquanto o homem se fazia em público, realizava sua natureza no domínio privado, sobretudo em suas experiências dentro da família. (IDEM, 1999) Já no século XIX, Sennett mostra que essa relação se mantinha, “era em público que ocorria a violação moral e onde ela era tolerada; em público, podia-se romper as leis da respeitabilidade. Se o terreno privado era um refúgio contra os terrores da sociedade como um todo, um refúgio criado pela idealização da família, podia-se escapar da carga desse ideal por meio de um tipo especial de experiência: passava-se por entre estranhos, ou, o que é mais importante, por entre pessoas decididas a permanecer estranhas umas às outras.” Pechman e Kuster mostram que no século XIX a rua terá seu papel de lugar da multidão, lugar da cena urbana, palco do espetáculo urbano. “Tal cidade, qual rua!”
sua mineralidade, para além de sua funcionalidade, se nos revela na sua publicidade. Desse ponto de vista, a rua, portanto, é a possibilidade da cidade, é a reafirmação da cidade no seu sentido mais amplo: lugar do acontecimento, arena do inesperado, possibilidade do encontro, reconhecimento do outro, acolhimento da diferença.” 1 A rua, a esfera pública, é também o lugar da catástrofe social das grandes cidades do século XIX, local do vício e perigos, doenças, desordem, violência, a revolta, passam assim a ser apontadas como empecilho a modernização das cidades.
“Da rua queremos a alma, aquilo que dá identidade à cidade, aquilo que a faz o microcosmo da cidade, o cerne de seu ser: a sua dimensão pública. Então a rua para além de 1 PECHMAN, Robert; KUSTER, Eliana em Maldita Rua
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Figura 2. A cidade, tela de George Grosz, 1916. A rua como lugar da multidĂŁo e do espetĂĄculo urbano. Fonte: http://www.museothyssen.org/en/thyssen/zoom_obra/400
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AS RELAÇÕES PÚBLICAS / QUANDO ESTRANHOS SE ENCONTRAM
Durante o século XVIII, em Londres e Paris, a reestruturação da densidade populacional por meio do planejamento de praças refreou a própria praça como um lugar central de uso múltiplo, de reunião e observação. (SENNETT, 1999) As praças medievais e renascentistas eram zonas livres em Paris, em oposição à zona controlada das casas. As praças monumentais do princípio do século XVIII, ao reestruturarem a aglomeração populacional da cidade, reestruturaram também a função da massa, pois mudou a liberdade com que as pessoas podiam se reunir. A reunião de uma multidão se tornou atividade especializada; acontecia em três locais: no café, nos parques para pedestres e no teatro. (IDEM, 1999) Sennett aponta que Londres também passa pela transformação do uso de suas praças, estas não eram mais feitas para serem ocupadas por vendedores ou artistas, deveriam “ser preenchidas com arbustos e árvores.” O antigo local de encontro, a praça de uso múltiplo, estava sendo consu‑ mido pelo espaço tomado como monumento a si mesmo em Paris e como monumento da natureza em Londres. Desse modo, a demografia estava criando um meio onde o estranho fosse um desconhecido. Richard Sennet define que “uma cidade é um meio no qual estranhos podem se encontrar; (...) o estranho é sinônimo de forasteiro, e surge em uma paisagem onde as pessoas tem a percepção 20
suficiente de suas próprias identidades para pode‑ rem criar regras sobre quem se enquadra e quem não se enquadra. Existe um outro sentido de “estranho”, ao qual as regras não se aplicam: o estranho enquanto um desconhecido, em lugar de forasteiro.” Um encontro de estranhos é diferente de encontro de parentes, amigos ou conhecidos – parece por comparação, um “desencontro”. No encontro de estranhos não há retomada a partir do ponto em que o último encontro acabou, nem trocas de informações sobre as tentativas, atribuições ou alegrias desse intervalo, nem lembranças compartilhadas: nada que se possa apoiar ou servir de guia para o presente encontro. O encontro de estranhos é um evento sem passado. Freqüentemente é também um evento sem futuro (o esperado é que não tenha futuro) (...). (BAUMAN, 2001) O que segue é que a vida urbana requer um tipo de atividade muito especial e sofisticada, de fato um grupo de habilidades que Sennett listou sobre a rubrica de “civilidade”, isto é a atividade que protege as pessoas umas das outras, permitindo, contudo, que possam estar juntas. Usar uma máscara é a essência da civilidade. As máscaras permitem a sociabilidade pura, distante das cir‑ cunstâncias do poder, do mal‐estar e dos sentimentos privados das pessoas que as usam. A civilidade tem como objetivo proteger os outros de serem sobrecarregados com nosso peso. (IDEM, 2001)
Figura 3. Golconda, tela de Magritte, 1953. O homem de chapĂŠu de coco ĂŠ o Sr. Normal, no seu anonimato Fonte: http://www.wallpaper-z.com/paintings/1420/golconda.html
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ESPAÇO PÚBLICO MORTO
Multidões de pessoas estão agora preocupadas, mais do que nunca, apenas com as histórias de suas próprias vidas e com suas emoções particulares; esta preocupação tem demonstrado ser mais uma armadilha do que uma libertação. (...) O mundo dos sentimentos íntimos perde suas fronteiras; não se acha mais refreado por um mundo público onde as pessoas fazem um investimento alternativo e ba‑ lanceado de si mesmas. A erosão da vida pública forte deforma, assim, as relações íntimas que prendem o interesse sincero das pessoas. (SENNETT, 1999) A visão intimista é impulsionada na proporção em que o domínio público é abandonado, por estar esvaziado. No mais físico dos níveis, o ambiente incita a pensar no domínio público como des‑ provido de sentido. É o que acontece com a organização do espaço urbano. Arquitetos que projetam arranha‐céus e outros edifícios de grande porte e alta densidade se vêem forçados a trabalhar com as idéias a respeito da vida pública, no seu estado atual, e de fato se incluem entre os poucos profissio‑ nais que por necessidade expressam e tornam esses códigos manifestos para outrem. (IDEM, 1999) Um exemplo manifestado em edifícios de grande porte e alta densidade é o Lever House em Nova York, seu térreo conforma uma praça ao ar livre, mas o nível da rua é um espaço morto. Sua função, apenas passagem para o interior do edifício, não está de acordo com a função da praça conformada: a de congregar pessoas e atividades. La Defénse em Paris é exemplo de espaços 22
Figura 4. Lever House em Nova York, função, apenas passagem para o interior do edifício Fonte: http://www.bridgeandtunnelclub.com/bigmap/manhattan/midtown/leverhouse/index.htm
Figura 5. La Defénse em Paris, nada alivia ou interrompe o uniforme e monótono vazio da praça. Fonte: http://aprendendo.wordpress.com/2008/02/
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públicos que se transformam em áreas públicas mortas. Em meio a edifícios comerciais e de escritórios, a grande praça conformada serve como passagem de automóveis para os altos edifícios. O espaço se tornou derivação do movimento. Segundo Bauman “o que chama atenção em La Défense é antes e acima de tudo a falta de hospitalidade da praça: tudo o que se vê inspira respeito e ao mesmo tempo desencoraja a permanência. (...) Nada alivia ou interrompe o uniforme e monótono vazio da praça. Não há bancos para descansar, nem árvores sob cuja sombra possa esconder‐se do sol escaldante. (Há, é certo, um grupo de bancos geometricamente dispostos no lado mais afastado da praça; eles se situam numa plataforma a um metro acima do chão da praça – uma plataforma como um palco, o que faria do ato de sentar‐se e descansar um espetáculo para todos os outros passantes que, diferentemente dos sentados, tem o que fazer ali). Outra categoria particular de espaço público na cidade contemporânea são os que se destinam aos consumidores. Bauman cita Liisa Uusitalo: “os consumidores freqüentemente compartilham espaços físicos de consumo, como salas de concerto ou exibições, pontos turísticos, áreas de esportes, shopping centers e cafés, sem qualquer interação social real”. Esses lugares encorajam a ação e não a interação. Chamados de “templos de consumo” Bauman descreve os shoppings centers como locais onde “Os encontros, inevitáveis num espaço 24
lotado, interferem com o propósito. Precisam ser breves e superficiais: não mais longos nem mais profundos do que o ator os deseja. (...) O templo do consumo é bem supervisionado, apropriadamente vigiado e guardado é uma ilha de ordem, livre de mendigos, desocupados, assaltantes e traficantes – pelo menos é isso que se espera e supõe. As pessoas não vão para esses templos para conversar ou socializar. Levam com elas qualquer companhia de que queiram gozar (ou tolerem), como os caracóis levam suas casas.”
Figura 6. O consumo passa a ser em locais fechados. Fonte: http://radioloandafm.files.wordpress.com/2008/01/ fotos-shopping-cristal-interior-i.jpg
Figura 7. Shopping Center, templos do consumo. Fonte: http://www.hochtief.com/hochtief_en/791.jhtml
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ESPAÇO PÚBLICO COMO DERIVAÇÃO DO MOVIMENTO
Na nova cultura urbana, ocorre um fenômeno que irá alterar drasticamente a vida pública: a omissão do espaço público vivo em razão do movimento, os espaços públicos tornam‐se muitas vezes locais de passagem, não mais de permanência. A rua é, então, substituída pela rodovia, que se oferece à passagem do trânsito, não das pessoas. Esta mudança tornou-se uma das principais características da cidade modernista - pensada para otimização de espaços e fluxos, e não para abrigar a diversidade de seus usuários. (PECHMAN) A idéia do espaço público como derivação do movimento corresponde exatamente às relações entre espaço e movimento produzidos pelo automóvel particular. Não se usa carro para ver a cidade; o automóvel não é um veículo para se fazer turismo – ou melhor, não é usado como tal, a não ser por motoristas adolescentes que saem para dar uma volta de carro sem permissão do dono. Em vez disso, o carro dá liberdade de movimentos; pode‐se viajar sem ser interrompido por paradas obrigatórias, como as do metrô, sem mudar a sua forma de movimento, de ônibus, metrô, via ele‑ vada ou a pé, ao ir do lugar A para o lugar B. As ruas da cidade adquirem então uma função peculiar: permitir a movimentação; se elas constrangem demais a movimentação, por meio de semáforos, contramãos, etc., os motoristas se zangam ou ficam nervosos. (SENNETT, 1999) 26
Atualmente, experimentamos uma facilidade de movimentação desconhecida de qualquer civilização urbana anterior à nossa, e, no entanto a movimentação se tornou a atividade diária mais carregada de ansiedade. A ansiedade provém do fato de que consideramos a movimentação sem restrições do indivíduo como direito absoluto. O automóvel particular é o instrumento lógico para o exercício desse direito, e o efeito que isso provoca no espaço público, especialmente no espaço da rua urbana, é que o espaço se torna sem sentido, até mesmo endoidecedor, a não ser que possa ser su‑ bordinado ao movimento livre. (IDEM, 1999) O espaço público perde seu sentido pelo
Figura 8. Istambul‐Turquia, Os automóveis invadem a cidade Fonte: Novos Espaços Urbanos, Jan GEHL
seu isolamento dos habitantes que apenas passam, em fluxo, rumo aos edifícios e estruturas de alta densidade, deixando de serem vivenciados. Outro tipo de isolamento social, é apontado por Sennet: “Assim como alguém pode se isolar em um automóvel particular para ter liberdade de movimento, também deixa de acreditar que o que o circunda tenha qualquer significado além de ser um meio para chegar à finalidade da própria locomoção.”
Figura 9. Nápoles – Itália. Fonte: Novos Espaços Urbanos, Jan GEH
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URBANO, DEMASIADO URBANO
Com a modernidade, o espaço setorizado e ordenado, e o enfraquecimento da rua e da esfera pública como geradora de diversidade e aconte‑ cimentos surge um movimento contrário: “crise a todos os níveis - programática, funcional e morfológica, gerando a perda da fé dos arquitetos e do público no urbanismo e numa cidade sem espaços identificáveis e significantes, com tudo funcionalmente resolvido, mas insatisfatório” (LAMAS, 2004, p. 382). A partir da segunda metade do século XX, surgem vozes dissonantes a um urbanismo funcionalista, uma busca por um ambiente urbano formado pela diversidade. Um dos livros publicados na época, é Morte e vida das grandes cidades norte-americanas, de Jane Jacobs, com uma nova percepção sobre o urbano mostra que a diversidade da rua é sua característica primordial, aquela que lhe confere vida e que não pode ser descartada sem que se incorra em uma perda crucial para toda a dinâmica da cidade. A cidade, então, não é mais pensada como um todo, mas sim como uma colagem de fragmentos em constante mutação. Tal como em um caleidoscópio, onde cada um que o manipula verá um determinado desenho, a cidade apresenta-se de forma diferenciada para cada artista que encara sua face. (PECHMAN) 28
Intitulando de “Rua Maldita” Pechman e Kuster indicam que hoje, na cidade global, “o espaço público tende a se reduzir às áreas de lazer e aos espaços comerciais (MONGIN, 2003, p. 50). A cidade, que sempre acolheu a negociação e o conflito, que sempre experimentou o afrontamento, agora vive uma cultura do evitamento. (GAUCHET, 2002, p. 230)” A cidade deixa de ser referência e fazer sentido diante das novas formas de subjetivação. Nesse mundo de fluxos e redes, nesse mundo de apagamento da cidade (ou seria de abandono da cidade pela elite, - deixada com todos os seus problemas aos mais pobres?) o que parece estar surgindo é algo que Olivier Mongin chamou de “aprèsville”, ou seja, um mundo onde a vida pública não é mais o componente que dá sustento à experiência urbana. (MONGIN, 2003, p. 36) Peter Pál Pelbart, em seu artigo A Cidade Virtual, tras a questão: “ o que nos acontece quando a cidade é reconfigurada pelos fluxos de informação e os novos espaços de agrupamento tecnossocial? (Rajchmann, 1996)” e aponta que melhor seria voltar a pensar a cidade como um universo dissonante e pluralista, “Em vez do homem unidimensional e cosmopolita detectar a cada esquina os forjadores de pluriversos, de multimundos. Como diz Rajchman, somos sempre interiores e exteri-
ores à cidade, o que nos faz sair dos possíveis estocados para afrontar outros mundos, outras histórias, outros agrupamentos virtuais, sempre recriando espaços lisos, reinventando singularidades de espaço-tempo, recriando, em nosso cérebro e na cidade, as passagens, os sulcos, seus escapes, suas novas conexões.” Pál Pelbart cita o livro recente de Rem Koolhas que sugere “irrigar a cidade com territórios potenciais, instaurar campos que favoreçam processos abertos, que estimulem as hibridações, as intensificações e diversificações e diversificações, as redistribuições, e que aposte na reinvenção do espaço psicológico.
Figura 10. Gordon’s gim, tela de Richard Estes , 1968. A rua transformada em um enorme out-door. A cidade se embriaga de gim, mostrando quais são as suas prioridades, e diz: ‘care about you and your car...’ Fonte: http://pinceladas-fms.com/estes_gordons_gim.jpg
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ESPAÇO PÚBLICO, LOCAL DA DIVERSIDADE E MULTIPLICIDADE
Nas cidades, a animação e a variedade atraem mais animação; a apatia e a monotonia repelem a vida. E esse é um princípio crucial não apenas para o desempenho social das cidades, mas também para seu desempenho econômico. (JACOBS, 2009) Jane Jacobs, na década de 1960, levanta questões sobre a diversidade urbana a serem levadas em conta nas discussões atuais, Jacobs chama de complexidade a multiplicidade de motivos que se tem para freqüentar um lugar: Motivos diferentes e em horários diferentes: às vezes para descansar, às vezes para jogar ou assistir a um jogo, às vezes para ler ou trabalhar, às vezes para se mostrar, às vezes para se apaixonar, às vezes para atender a um compromisso, às vezes para apreciar a agitação da cidade num lugar sossegado, às vezes na esperança de encontrar conhecidos, às vezes para ter um pouquinho de contato com a natureza, às vezes para manter uma criança ocupada, às vezes só para ver o que ele tem de bom e quase sempre para se entreter com a presença de outras pessoas. (JACOBS, 2009) Assim, essa complexidade em um espaço é alcançada por sutis diferenças, acentuada pela diversidade de usos e pela possibilidade dada à flexibilização deste espaço. A diversidade de uma 32
cidade é resultado da grande quantidade de indivíduos que a habitam e compartilham seus espaços, de diferentes gostos, habilidades, carências e obsessões. Jacobs reafirma essa importância: “Para compreender as cidades, precisamos admitir de imediato, como fenômeno fundamental, as combinações ou as misturas de usos, não os usos separados.” Ela indica condições que chama de indispensáveis para a diversidade e exuberância dos espaços da vida publica, sendo estas condições: atender a mais de uma função principal, as quadras serem curtas a fim de ter-se esquinas e pontos de encontro freqüentes, combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados atendendo a níveis econômicos diferentes e por fim, a densidade suficientemente alta de pessoas em moradias. (...) Quanto mais complexa for a mistura de grupos de usuários – e daí sua eficiência -, maior será o número de serviços e lojas necessários para pinçar sua clientela dentre todos os tipos de grupos de pessoas, e conseqüentemente maior será o número de pessoas atraídas. (...) Mas na realidade, nos lugares em que tais combinações têm vitalidade, os moradores fazem parte de um conjunto bastante complexo de usos diurnos, noturnos e fins de semana do centro razoavelmente equilibrados.
Figura 11. The sensation of crossing the street, tela de Stanley Cursiter, 1913. Fonte: http://www.fotolog.com.br/gateau/27212792
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NOVOS ESPAÇOS PÚBLICOS
Jan Gehl aponta que apesar do desenvolvimento e mudança nos padrões de uso, a cidade como lugar do trabalho e encontro continua a oferecer alternativas. Nos últimos 20 anos as cidades têm voltado seus interesses na vida e no espaço público. Para isso, voltam o olhar para o pedestre, buscando meios de lhes proporcionar melhores condições e oportunidades no ambiente urbano. As cidades que começaram essa busca, como Barcelona na Espanha, investiram em ruas destinadas aos pedestres e praças tranqüilas. Houve a preocupação com calçadas, mobiliário urbano, vegetação, e incremento no transporte público, além do incentivo ao uso de bicicletas. Os conceitos para os novos espaços públicos urbanos foram ampliados, antes atendendo predominantemente aos interesses comerciais, passam a ser locais para atividades sociais e recreativas. A política de retirada dos carros e a oferta de melhores condições para a vida urbana continua a ser principalmente um fenômeno europeu, mas é interessante notar que políticas correspondentes podem ser agora encontradas em cidades da América do Norte e do Sul, da Ásia e Austrália. (GEHL, 2002) As cidades que recapturaram o espaço público tiveram políticas urbanas visionárias. Em Barcelona, uma das cidades mais densamente cons‑ truídas na Europa, o setor público iniciou uma renovação projetando diversos espaços de uso público. 34
A arquitetura transformou-se em um dos principais instrumentos da política urbana, e diversos espaços públicos novos foram criados. Cada quarteirão deveria possuir sua própria “sala de estar” e cada distrito, seu parque, onde as pessoas pudessem encontrar-se e conversar e as crianças pudessem brincar. (GEHL, 2002) Arquitetura e a Escultura tiveram papel essencial no desenho do semblante público de Barcelona. Novos parques e praças foram criados sob o lema: “Levar os museus às ruas”. Diversas escalas foram abordadas em relação aos espaços urbanos renovados: as “praças duras” que servem como salas de estar urbanas e lugares de encontro, apresentam superfícies e mobiliários de pedra, às vezes suavizados por árvores; praças para pedestres surgidas de áreas de tráfego; “praças de cascalho” lugar para descansar e jogar em geral com uma área de cascalho como elemento central; parques novos ou “oásis urbanos”, grandes espaços urbanos recreativos; os passeios urbanos, onde lugares para andar, assim como para sentar, descansar ou jogar foram dispostos no meio de dinâmicos bulevares, onde o tráfego leve e pesado coexistem no mesmo espaço; ruas de pedestres de desenho mais tradicional; e o passeio marítimo de Barcelona, encontro da cidade com o mar. Ana Clara Ribeiro, em seu artigo Sociabilidade, hoje: leitura da experiência urbana nos coloca, em um cenário extremo de crise societária, de relações sociais, individualização e vida mercan-
Figura 12. La Rambla, no Centro de Barcelona, ĂŠ a maior rua de pedestres da cidade Fonte: http://www.eslteachersboard.com/cgi-bin/europeinfo/index.pl?page=3%3Bread=1038
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tilizada, aponta que nesse cenário contemporâneo, nas ciências sociais, há uma valorização e uma busca por compreensão do cotidiano e do lugar, buscase o micro sendo possível reconhecer as diferentes manifestações do macro. “Valorizam-se o cotidiano e o lugar, o senso comum e o espaço herdado, num real anseio por sinais que renovem a crença num futuro melhor, ou que garantam que a sociabilidade continua sendo possível.” Existem elos (ir) relevantes entre cotidiano, lugar, indivíduo e pessoa. Através desses elos, tudo acontece e adquire sentido, permitindo a individuação e o pertencimento, e também nada importa ou tem significado, já que cada gesto pode ser envolto em enredos da cotidianidade alienada e na indiferença. (...) Nessas circunstâncias, é impossível recusar o convite de Michel de Certeau (1998) para que se escute atentamente o murmúrio da vida coletiva, reconhecendo sinais da tessitura do social. Citando Milton Santos, RIBEIRO indica a necessidade da ressacralização da experiência coletiva. “Aliás, sem esses anseios, será possível conceber qualquer saída política para a crise urbana, já que ela dependerá de encantamento pelo “estar junto”? Afinal, a crise urbana denuncia a destruição trazida pelo excesso de racionalização no uso do 36
espaço herdado e os malefícios da competitividade (Santos, 2000).” A questão, para nós, seria descobrir e pôr em prática novas racionalidades, em outros níveis e regulações mais consentâneas com a ordem desejada, desejada pelos homens, lá onde eles vivem. (SANTOS 2005, p. 154)
Figura 13.Avinguda D’Alcària, passeio urbano em Barcelona. Fonte: Novos Espaços Urbanos, GEHL, Jan
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Este estudo busca outra percepção, a necessidade de se observar a menor escala que se rebate e compõe a maior escala. Visando uma rede concisa que proporcione a vida pública ativa na cidade, congregando pessoas e atividades. Estes espaços menores estão em articulação com áreas livres como os parques e praças. É de grande importância, no contexto urbano, a existência de áreas de grandes espaços livres, parques onde se entre em contato com elementos naturais, para a prática de esportes, descanso e lazer. Mas aqui pretende‐se trabalhar os pequenos espaços de uso comum, espaços que conectam, e criam uma rede em que o pedestre possa se deslocar pela cidade com qualidade, espaços públicos em seu mais amplo sentido: de livre acesso e uso, da simples prática do ócio ou qualquer outra atividade corriqueira. Espaços que se integrem com o meio urbano, entremeiem o desenho da cidade, tirem partido do que a cidade já possui e oferece, resultantes de seu traçado urbano e muitas vezes não percebidos em seu potencial. Chama‐se atenção para a necessidade de observar a escala do indivíduo, principalmente em áreas de grandes densidades e concentrações de pessoas. Ativar na cidade espaços de respiro e desaceleração, que primem às relações ambiente/ cidade, homem/ambiente e do indivíduo para com o coletivo. 38
Os pequenos espaços aqui tratados não são necessariamente lotes vagos ou abandonados. Dispersos pelo meio urbano, em áreas centrais ou não, podem ser construções sem uso, espaços residuais, espaços subutilizados, espaços entre construções, resultantes de traçado viário, entre tantas outras possibilidades. Os usuários destes espaços estão em constante atividade na cidade, são pessoas em horário de almoço, pessoas de passagem, casais de namorados, idosos, crianças, trabalhadores. São características desses pequenos espaços urbanos certos usos corriqueiros como tomar um sorvete, ler um jornal, revista ou livro, parar para fumar um cigarro, uma pausa para descanso, para uma conversa, ou simplesmente para contemplar ou observar algo, para toda e qualquer apropriação espontânea. Giovanni La Varra em Post‐it city. O último espaço público da cidade contemporânea, diz que “O espaço público da cidade contemporânea não está onde nós pensamos. Ou, melhor dizendo, não está só onde nós pensamos. Também pode ser encontrado em outro lugar, longe dos locais hipercodificados de consumo e lazer, longe das praças monumentais, decoradas para um turismo apressado, longe dos poucos espaços públicos que ainda se constroem, embora sem vontade, sem se acreditar verdadeiramente neles, com a consciência de que são, realmente, o que precisamos encontrar.” Frente à crescente complexidade das so-
ciedades urbanas, e as novas problemáticas da ci‑ dade, Giovanni aponta “uma nova rede – variada, mutável, ocasional – de espaços de uso coletivo, estende‐se pela cidade como uma filigrana. Trata‐ se de espaços residuais que se ativam com base na presença simultânea de um ou mais grupos humanos que os ocupam e neles projetam um sentido coletivo, parcial, débil.” A proposta deste trabalho é identificar esses novos espaços a serem ativados na cidade, ou mesmo reativados. Levantar a possibilidade de um novo olhar sobre a vida cotidiana urbana, suas práticas, articulações, necessidades. Levantar também a importância de se olhar para quem se desloca a pé, Segundo Certeau, praticantes ordinários da cidade “forma elementar dessa experiência, eles são caminhantes, pedestres, wandersmänner, cujo corpo obedece aos cheios e vazios de um “texto” urbano que escrevem”.
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Enquanto isso, a brisa sopra, levantando poeira no alto do morro, ao longe as luzes da cidade, vai anoitecer, as primeiras luzes. Eles viam. Eles eram. E ouviam a brisa, a brisa por sobre o rosto, as árvores, a grama, a poeira, e permaneciam atentos ao que viria, ao que virá, ao que continuará. A brisa sopra, aumentando sua intensidade. “E as caminhadas noturnas na rua Duque de Caxias morrem com você”, diz então Cláudio, o rosto olhando a cidade. “E a cidade, que era sua cidade. Que você entendia, que sofria por ela. Você talvez tenha sido a única pessoa que viveu e conheceu todas as suas mágoas. As primeiras e as últimas, as incontroláveis mágoas dos momentos finais”, prossegue Cláudio, quando então percebe que a brisa aumenta sua intensidade e ele não será mais ouvido. “A velha cidade ficando tão distante”, Cláudio aumenta o volume da voz “uma cidade nova surgindo tão longe de você, tão alheia a você” – Cláudio então se surpreende com o tom da sua voz, como se uma pessoa estivesse gritando com ele – “tão inadaptada às coisas novas, tão apegada às coisas antigas: ao antigo cais, às ruas enve‑ lhecidas, ao tempo em que Vitória era algumas esquinas, algumas famílias, alguns amigos”. 1
1 ALMEIDA, Amylton de, Blissful Agony. Coleção Letras Capixabas, volume 32, 2ª edição, 1998.
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CENTRO DE VITÓRIA
O Centro de Vitória é o local escolhido para estudo e desenvolvimento dos Ensaios Projetuais deste Trabalho. A área chamada de Centro - de significado simbólico e valor histórico - é o local de fundação da Vila de Vitória em 1551. O núcleo de formação original constituiu por tempos toda uma Cidade, abrigando a totalidade das suas funções e dinâmicas. Mas esse organismo se ampliou em novas áreas de expansão - deixando de ser centralidade única com o deslocamento funcional e de atividades – e passou por diversas transformações incluindo descaracterizações de seus locais de fundação. “O intuito de conferir à Vitória um caráter moderno, em negação inclusive à sua origem colo-
nial, revelou-se ainda no século XIX, com o projeto de um Novo Arrabalde, desenvolvido pelo enge‑ nheiro sanitarista Saturnino de Brito, correspondendo a uma expansão que, quintuplicava a área urbana da época. Todavia, crises financeiras relacionadas à comercialização do café, inviabilizaram a urbanização imediata da área e contribuíram para a retomada de investimentos públicos, de menor porte, sobre o próprio núcleo urbano existente, ou sobre sua extensão em área contígua.” 1 Na publicação Projeto centro.com.vitória, resultante da pesquisa integrada intitulada Método de intervenção urbana em áreas centrais: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES) desenvol‑
Figura 14. Porto de Vitória Fonte: Arquivo pessoal
1 ARAÚJO, Leonor Franco, Análise Histórica da Evolução Urbana do Centro de Vitória.Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006.
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Figura 15. Aterros realizados em Vit贸ria Fonte: Marinato, 2004
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v ida pelo Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urba‑ nismo - NAU-, tem‐se um panorama sobre o Centro e a história das suas intervenções urbanas. Durante o processo de desenvolvimento urbano do Centro se destaca na década de 1930 a implantação do porto: “(...) O porto vem transformar o espaço urbano de forma radical, afetando a relação de proximidade entre cidade e mar e destoando, com seus galpões, da escala da cidade.2 Em 1945 têm início ações go‑ vernamentais que dão prioridade ao automóvel e à fluidez do tráfego. Entre 1950 e 1954, Jones dos Santos Neves executou um dos mais significativos aterros: a Esplanada Capixaba, área tomada do mar destinada à implantação de edifícios. "Desde o final de 1970, a região já apresentava sinais visíveis de esvaziamento através da transferência dos investimentos para a região norte da cidade, contribuindo para o abandono e a paulatina degradação dos espaços do Centro". 3 Do ano 1968 em diante, tem-se a impressão que os governos estaduais perderam o interesse na área central de Vitória. A valorização imobiliária de outras áreas, principalmente da região conhecida como “Novo Arrabalde”, registra a falta de políticas 2 FREITAS, José Francisco Bernardino. Projeto Centro. com.Vitória.Vitória: EDUFES, 2002, 3 ANJOS, Erly E. , em Levantamento e análise de indicadores do Centro de Vitória
Figura 16. Centro de Vitória Fonte: Arquivo Baía de Vitória
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públicas para o Centro. (ARAÚJO,2006) Na década de 1980 o Centro da Cidade perde investimentos tanto públicos como privados, acentuando ainda mais o processo de deterioração e desvalorização do seu espaço urbano. O Centro se transforma num corredor de passagem, transmitindo ao usuário uma imagem de poluição, tráfego intenso e insegurança. A partir daí surgem outras atividades típicas do setor informal, como os ambulantes e camelôs que se aglomeram nas calçadas estreitas. (FREITAS, 2002) De acordo com ARAÚJO (2006) a partir da década de 90 “as políticas públicas municipais despertaram para a revitalização do centro de Vitória. Inicialmente com ações voltadas para áreas de cultura e patrimônio, que depois se estenderam para a melhoria de vida dos que habitam e utilizam o centro para as mais diversas tarefas. Algumas demandas eram prementes, como a ocupação desordenada das regiões de encosta”. Dentro do novo plano de ações integradas para recuperar a área central, em 2006, a Prefeitura publicou o Planejamento Urbano Interativo do Centro: “O Planejamento Urbano Interativo do Cen-
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tro de Vitória tem como objetivo geral, subsidiar a definição das prioridades, a elaboração de planos, programas e projetos específicos para a área, com a participação popular, além de avaliar o atual modelo de gestão.” Hoje, espaços emblemáticos são restaurados ou se incluem nos Projetos de Revitalização como o Clube Saldanha da Gama, a FAFI, o Museu do Negro, a Casa Porto, a Av. Jerônimo Monteiro, a Praça Costa Pereira, o Parque Moscoso e o Mercado da Capixaba, entre outros. Há diversas ações do poder público para a região do Centro de Vitória, inclusive como desdobramento do Planejamento Urbano Interativo, algumas destas são:
Programa de identificação de imóveis: “Um dos objetivos do programa de Revitalização do Centro é identificar os imóveis da Capital que precisam ser preservados. Assim, enquanto suportes materiais da memória coletiva dos habitantes de Vitória, essas unidades podem ser recuperadas por meio dos instrumentos legais dis-
poníveis: identificação e/ou tombamento. Entre os 400 imóveis de interesse históricocultural da cidade, 150 são protegidos por lei. São garantidas às construções, quando protegidas, a integridade física e o incentivo à recuperação e ao uso compatível com o imóvel. Conforme dados de 2009, existem 39 construções tombadas na cidade, sendo oito pelo município, 25 pelo Estado e seis pelo governo federal, além das 110 edificações identificadas como de interesse de preservação. Há também 250 imóveis em processo de identificação.” 1
Plano de Preservação da Paisagem: “O Plano de Preservação da Paisagem apresenta um conjunto de diretrizes para a ocupação para a área central de Vitória, incluindo a definição de legislação urbanística com índices específicos de uso e ocupação do solo que garantam e potencializem a preservação da visibilidade dos marcos naturais e construídos importantes na ilha. Tais marcos paisagísticos representativos
1 Prefeitura Municipal de Vitória, Acessado em http://www.vitoria.es.gov.br/sedec.php?pagina =interessedepreservacao# Última atualização em 27/09/2010
da identidade e memória da cidade foram identificados a partir do olhar da própria sociedade, por meio de pesquisas de opinião e ciclos de debates. Esses marcos são a base para a criação do plano. A partir dele, será elaborada a legislação urbanística com o objetivo a garantir a manutenção de seus principais visuais. O que se pretende é orientar a ocupação do solo de maneira que a paisagem seja mantida.” 2
Incentivos financeiros e fiscais “A Prefeitura de Vitória concede, desde 2001, a isenção parcial ou total do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) aos proprietários que mantêm, em bom estado de conservação, os imóveis de interesse de preservação protegidos por lei. O objetivo é incentivar a manutenção das edificações identificadas pelo programa de Revitalização do Centro como de interesse para a preservação da história e do patrimônio cultural, paisagístico e arquitetônico do município. Anualmente, a prefeitura realiza um monitoramento desses edifícios, atribuindo pon-
2 Prefeitura Municipal de Vitória, Acessado em http://www.vitoria.es.gov.br/sedec.php?pagina =preservacaodapaisagem Última atualização em 14/09/2010.
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tuação a cada item recuperado. São analisadas a situação do reboco e da pintura, a recuperação da cobertura e de elementos de fachada, como esquadrias, vãos e adornos, conforme a concepção original. Dependendo do nível de conservação observado, o proprietário pode receber de 50 a 100% de isenção do IPTU. O benefício é concedido automaticamente pela adminis‑ tração municipal sem que haja necessidade de requerimento por parte do proprietário.3
Projeto Morar no Centro “O projeto Morar no Centro colabora na revitalização da área central de Vitória, dando função social a edifícios abandonados ou mal aproveitados e tornando-os uma ferramenta para diminuir o déficit habitacional da capital. O repovoamento da área central de Vitória, servida de toda infra-estrutura (abaste‑ cimento de água, coleta de lixo e oferta de equipamentos de saúde, ensino e de lazer) e a diminuição do déficit habitacional, são os objetivos do projeto Morar no Centro. Para
3 Prefeitura Municipal de Vitória, Acessado em http://www.vitoria.es.gov.br/sedec php?pagina=isencaodoiptu Última atualização em 21/05/2010.
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isso, estão previstas reforma e reabilitação dos edifícios desocupados ou sub-utilizados, gerando melhoria da qualidade de vida dos habitantes, atuais e futuros. O Morar no Centro é um dos projetos que compõem o Programa de Revitalização do Centro que busca resgatar por meio de ações integradas o Centro de Vitória como espaço de cultura, história, lazer, negócios e moradia. Numa primeira fase serão produzidos 40 apartamentos no antigo Cine Santa Cecília, 54 no antigo Hotel Estoril (já entregues), 20 no antigo Hotel Pouso Real e 20 no Tabajara, totalizando 134 unidades habitacionais, reduzindo o déficit habitacional da Capital em 1,8%.” 4
Projeto Visitar o Centro “O Projeto Visitar foi criado em 2006 pela Prefeitura Municipal de Vitória como parte de uma política pública para revitalização do centro da cidade. A criação de roteiros turísticos, o monitoramento nos monumentos, o envolvimento da comunidade, a preservação da memória, as pesquisas e a difusão cultu‑
4 Prefeitura Municipal de Vitória, Acessado em http://www.vitoria.es.gov.br/sehab. php?pagina=morarnocentro Última atualização em 10/01/2011.
ral fazem parte das diversas atividades desse projeto, que se propõe a resgatar os caminhos da história. O objetivo maior do Projeto Visitar é promover e consolidar o Centro Histórico de Vitória. Para isso, transforma a visitação ao patrimônio e o incentivo à cultura das comunidades locais em uma oportunidade de levar os moradores e turistas a conhecer os símbolos e bens que os povos construíram ao longo dos tempos.” 5
5 Prefeitura Municipal de Vitória Projeto Visitar – Um povo, uma cidade, uma história Acessado em http://www.vitoria.es.gov.br/turismo. php?pagina=visitasguiadas
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Figura 17. Folder do Projeto Visitar o Centro, percurso atrav茅s do Centro Hist贸rico de Vit贸ria Fonte: Prefeitura de Vit贸ria
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A pesquisa do projeto centro.com.Vitória abrangeu um total de 542 usuários diversos no Centro, e de forma geral esses usuários freqüentavam o lugar por motivo de trabalho, ou a ele associados, embora o lazer apareça de forma significativa. Na opinião dos usuários abordados, a principal imagem associada aos espaços de uso coletivo do Centro de Vitória é de confusão, devido ao barulho e ao trânsito intenso em função do excessivo número de automóveis que ali circulam. O desconforto experimentado pelo usuário é sua principal crítica ao centro de Vitória, sendo expresso em termos como violência, sujeira, barulho, poluição, trânsito confuso, insegurança, desorganização e calor. Paralelamente, porém, apontam‐se caracte‑ rísticas positivas como segurança e tranqüi-
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lidade. Dentre os aspectos neutros apontados encontram‐se edifícios altos, comércio, serviços e infra‐estrutura. (FREITAS, 2002) Assim, o Centro de Vitória, por sua configuração resultante de diversos períodos de transformação, se mostrou um tecido rico de possibilidades para a exploração de novos espaços públicos de menor escala, espaços ociosos, que estejam à espera de ativação. Mas o recorte nessa área da cidade é feito pensando em um ensaio que deve ser expandido para toda a cidade, de modo a compor uma nova rede, complementar à rede de espaços públicos atuais, que abarque e contemple com melhor qualidade de vida pública todos os moradores da cidade.
Figura 18. Centro de Vit贸ria Fonte: Arquivo Ba铆a de Vit贸ria
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REGIÃO METROPOLITANA “Com relação ao âmbito metropolitano, Vitória e o seu Centro constituem-se tanto em contextos de passagem de fluxos entre municípios da região, como em ambientes de atratividade de postos de emprego, comércio e serviço.”1
Figura 19. Pólos de atração metropolitana. Fonte: Planejamento Urbano Interativo do Centro
•Laranjeiras Habitação / Serviço / Comércio popular de rua / Shopping - cinema •Carapina Comércio grande porte / Habitação •Aeroporto Shopping - cinema •Praia do Canto / Enseada do Suá Serviço / Comércio sofisticado de rua / Shopping - cinema / Institucional / Habitação •Centro Comércio popular de rua / Serviço / Institucional/ Habitação / Teatro / Galerias •Vila Velha Comércio popular de rua / Serviço / Habitação / Shopping - cinema /Confecção - Glória / Shopping em construção •Campo Grande Comércio popular de rua / Habitação /Shopping / Ensino
1 Prefeitura de Vitória, ANÁLISE DE INFRAESTRUTURA INSTALADA.Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006.
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Figura 20. Fluxo estimado de veículos de transporte individual na Hora Pico Manhã (06:30 – 07:29 h) Pode-se perceber a concentração dos fluxos em poucos corredores do município. Fonte: PDTMU
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ESCALA URBANA “Vitória encontra-se em posição estratégica em sua microrregião e no Estado quanto a acessibilidade de pessoas e circulação de mercadorias no âmbito interestadual e internacional. O Centro recebe influência desta caracte‑ rística. Além do porto, cujo cais de Vitória encontrase inserido em seu território, alguns terminais ferroviários de passageiros e mercadorias encontram-se em sua área de influência imediata, mesmo que com acesso direto dificultado entre estes e o Centro. Quanto ao porto, ressalta-se a perspectiva de dinamização do cais de Vitória, indo além da função relacionada ao fluxo de mercadorias, para abrigar de forma sistemática, também, a função relacionada ao embarque e desembarque de passageiros, integrando-o ao circuito turístico de cruzeiros. Quanto ao sistema rodoviário, a região de Vitória apresenta ligação facilitada com a BR 101 (norte e sul litorâneo do país) e BR 262 (centrooeste), sendo o Centro de Vitória, por vezes, passagem dos fluxos norte-sul. A despeito da extensa linha d’água, não há
sistema oficial de transporte coletivo aquaviário, estando todos os antigos terminais desativados. No entanto, permanece o tradicional circuito marítimo Centro-Paul, desenvolvido pelos catraieiros. Do mesmo modo, existem, no âmbito da Baía de Vitória, dois roteiros de escuna com finalidades de atendimento ao turismo. Um deles, com saída de Camburi circula ao longo do Centro e o outro, conta com ponto de partida nos limites da área central: Cais de Hidroaviões, rumo aos manguezais da baía noroeste. São ainda observados os deslocamentos a pé e por bicicleta que atravessam o Centro rumo à região leste de Vitória ou ao sul pela Ponte Florentino Avidos. Em relação aos diversos pólos de atração da região da Grande Vitória, observa-se que apesar da grande concorrência existente, o Centro de Vitória possui um importante papel dentro da articulação do comércio exterior, do comércio varejista e na vida cultural da cidade, apesar de não estar explorando totalmente estas potencialidades.” 1
1 PMV, Análise de Infraestrutura Instalada. Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006.
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ESCALA URBANA
A área de estudo deste trabalho é o Centro de Vitória, o recorte da área escolhida, tem por limites a Ponte Seca ao oeste, a Curva do Saldanha da Gama à leste, o Maciço Central ao norte e a Baía de Vitória ao sul. Abrangendo o núcleo de fundação original da cidade e áreas tomadas de aterros sobre o mar.
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ANÁLISE DOS VALORES DO ESPAÇO
(...) Este é o instante em que Vitória perde suas características geográficas, as únicas que possui, e então se parece com qualquer cidade do mundo; em cada rua, em cada esquina. No rosto de seus habitantes. Vitória então se apresenta anônima. Ouve-se o coração do mundo. É para sempre. Longe muito longe daqui, as estrelas por cima. O vento sul sopra, como se fosse maio, ou talvez fosse. 1 O Centro de Vitória possui particularidades geográficas, históricas, políticas e econômicas, que definem sua identidade, estão intrínsecas ao seu cotidiano e sua dinâminca. Assim, seguem valores deste espaço, que aqui são considerados como norteadores de qualquer intervenção à ser proposta ou realizada nessa área da cidade.
1 ALMEIDA, Amylton de, Blissful Agony. Coleção Letras Capixabas, volume 32, 2ª edição, 1998
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TOPOGRAFIA Marcado pela existência da Cidade Alta (núcleo original de ocupação da cidade, de visível traçado irregular colonial) e pela Cidade Baixa (região conquistada com aterros sobre o mar com traçado regular) é característica a situação topográfica do Centro de Vitória, tornando-a identidade deste espaço.
PAISAGEM DINÂMICA O porto e suas atividades contínuas conformam a paisagem dinâmica do Centro de Vitória. Navios, guindastes, cargas e descargas estão sempre à vista na Beira-Mar, ou por cima e entre as construções na Cidade Alta.
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PATRIMÔNIO HISTÓRICO São diversos os imóveis de interesse de preservação no Centro, de acordo com a Prefeitura Municipal de Vitória, conforme dados de 2009, existem 39 construções tombadas na cidade, sendo 8 pelo município, 25 pelo Estado e seis pelo governo federal, além das 110 edificações identificadas como de interesse de preservação. Há também 250 imóveis em processo de identificação.
ESPAÇOS PÚBLICOS Pode ser observada uma maior quantidade de espaços públicos consolidados na parte baixa e plana, ocupação mais recente do Centro da cidade. Não há ligações entre esses espaços através de percursos convidativos e agradáveis para quem se desloca a pé, o que os torna, muitas vezes, sub‑ utilizados ou sem atratividade.
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VALORES DA PAISAGEM A Ilha de Vitória possui paisagens que ativam o imaginário de seus moradores e visitantes, a imagem da água e dos morros está sempre presente. No Centro da Cidade essa imagem é reforçada, por estar localizado entre a estreita Baía e o Maciço Central, bem como ter a presença dos navios que chegam e partem no porto. O contato/acesso ao mar e ao Maciço Central foi ao longo dos tempos reduzido e bloqueado.
HIERARQUIA/ FLUXOS O maior fluxo de circulação no Centro ocorre no deslocamento horizontal, são os fluxos metropolitanos, de maior velocidade (oeste/leste). Já no deslocamento vertical (sul/norte), tem-se os fluxos locais, de menor velocidade.
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INDICAÇÕES Aqui, são pautados indícios para o incremento da qualidade da vida pública. É certo que tal ganho se daria após um conjunto de ações coordenadas em diferentes níveis e escalas da cidade, em tempos distintos de acontecimento, e que envolvam questões econômicas, políticas e sócioambientais pautadas em interveções projetuais conectadas entre si e ao todo territorial da cidade. A seguir, são apresentadas questões a serem analisadas para a construção de um Plano de Ação para o centro da cidade.
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TRÁFEGO DE VEÍCULOS _ Transporte Público de qualidade e alternativas de transporte A questão do trânsito de veículos no Centro de Vitória é um problema primordial para a compatibilização entre vida pública e fluxos urbanos nesta área. Hoje, presencia-se grandes congestionamentos nas vias de fluxo metropolitano, e a “tomada” de espaços de uso público por vagas de estacionamento. Assim, são necessários estudos para a implantação de transporte público de larga escala com ampliação da qualidade dos serviços,
primando a sustentabilidade e a diversidade de modalidades de meios de transporte. Com destaque para o modal aquaviário (pela configuração de ilha da cidade e proximidade dos municípios vizinhos), que atualmente está desativado; assim como, a implantação de redes de ciclovias associadas a redes de espaços públicos verdes, de modo a diminuir o impacto de veículos individuais e estacionamentos, sobre a cidade.
Figura 21. Av. Jerônimo Monteiro Fonte: http://gazetaonline.globo.com
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ELEMENTOS VERDES A introdução de vegetação e a arborização de vias contribui para um ambiente mais confortável e saudável, define espaços de escala humana, de modo a tornar o deslocamento pela cidade uma atividade agradável.
Figura 22. Av. Jerônimo Monteiro, Fafi Fonte: arquivo pessoal
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RETOMAR O CONTATO E ACESSO AO MAR Retomar o contato físico e visual com a água. Incentivar a realização de atividades em contato com a Baía sendo esse contato físico ou visual, como praças e espaços de livre apropriação com acesso direto à água, possibilitando tocá-la e realizar atividades em sua proximidade. Deseja-se também que atividades de usos variados - restaurantes e outras atividades de lazer - tirem partido do caráter contemplativo da água, dos afloramentos rochosos e de seus elementos correlatos.
Figura 23. Intervenções em orlas marítimas Fonte: Estudo para o Centro de Sydney, Jan Gehl
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MULTIPLICIDADE DE USOS
Verifica-se no mapa abaixo, certa separação funcional, com a setorização da maioria das residências na Cidade Alta, já a maioria dos comércios e escritórios na Cidade Baixa e na área constituída sobre os aterros da Explanada da Capixaba. A mistura de usos evita a desertificação fora do perío-
do comercial, determina a presença de pessoas em diversos horários, inclusive no período noturno com as luzes das residências, bares e outras atividades; o movimento torna-se frequente e resulta em maior sensação de segurança para os passantes e moradores.
Figura 24. Mapa de predominância do uso do solo em 2005. Análise de uso e ocupação do solo, cultura e lazer. Programa de Revitalização do Centro de Vitória, Maio 2006. Fonte: SEDEC/GPU/CRU
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MISTURA DE USUÁRIOS
Além da multiplicidade de usos, a mistura de usuários é desejável, com a presença de instituições de ensino e moradias estudantis, por exemplo, há presença do jovem que mantém o uso ativo da cidade à noite, compartilhando com as crianças e os idosos o espaço da cidade cotidianamente.
Figuras 25,26,27. Diversidade de usuários Fonte: www.vitoria.es.gov.br/
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ATRAÇÕES
Museus, teatros, cinemas e parques, atraem visitantes e moradores. É importantes a promoção de programas de arte e culturais, Instalações permanentes e temporárias, eventos e celebrações, além de paisagens interativas em espaços públicos com temas e locais que envolvam os transeuntes e promovam interação espontânea.
Figura 28. Parque Moscoso, Centro de Vitória Fonte:arquivo pessoal
Figura 29. Projeções no Teatro Carlos Gomes, Centro de Vitória. Fonte:arquivo pessoal
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MELHORIAS NAS RUAS
Priorizar a qualidade do ambiente para quem transita a pé, as ruas e o espaço público devem se tornar um convite ao pedestre. Deve-se buscar, assim, uma variedade de rotas para quem se desloca a pé pela cidade. Para isso podem ser implementadas ruas exclusivas de pedestres ou de uso compartilhado com uso prioritário aos pedestres, criando “espaços para as pessoas” e reduzindo o impacto dos automóveis. As fachadas térreas devem ser atrativas para os pedestres e contribuir para boa iluminação do ambiente urbano, gerando interesses e atividades. Bancas de flores e frutas, bancas de revistas, vendas em “micro-escala”, pontos de informação, banheiros públicos, mobiliário urbano, entre outros, compõem os elementos do espaço público urbano, assim como, materiais e acabamentos atraentes e duráveis demonstram a qualidade dos mesmos. Além da necessidade de fluxo, existe a demanda por espaços de permanência, com assentos frequentes, ou bordas informais de pausa - como degraus e canteiros de vegetação - em locais sombreados e estratégicos oferecem a oportunidade de descanso, contemplação, conversa. Figura 30. Melbourne, Austrália Fonte:Places for People. City of Melbourne
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REDE E CONEXÕES
A atual condição viária do Centro de Vitória é em sua maior parte de vias compartilhadas de tráfego de veículos e pedestres, havendo ruas sem saída (fechadas) sendo utilizadas como estacionamento. Em geral as ruas estão tomadas por capacidade máxima de tráfego de veículos (fluxos) e estacionamentos (fixos).
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Via de trรกfego compartilhado
Via exclusiva de pedestres
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REDE E CONEXÕES
A partir da malha viária de uso compartilhado de veículos e pedestres, observou-se co‑ nexões existentes e possíveis novas ligações, a fim de propiciar uma rede urbana de maior qualidade de percursos para os pedestres. Foi reco‑ nhecido um eixo principal a se tornar exclusivo de pedestres que em diagonal propicia a ligação Maciço Central/Mar, esse eixo inclui a Rua Sete de Setembro, que já congrega atrativos culturais, de comércio, serviços, institucionais, residências e atravessa as praças Ubaldo Ramalhete, Costa Pereira e Pio XII. Outros eixos são importantes como a Avenida Jerônimo Monteiro, que concentra importantes pontos de atração como a FAFI, o Mercado Capixaba, o MAES, o Cine Glória e o Palácio Anchie-
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ta, além de ser importante via de deslocamento e fluxos no sentido Leste/Oeste, nesta via o uso seria compartilhado por veículos e pedestres, mas com as devidas melhorias para a qualidade do espaço: amplas calçadas, infra-estrutura adequada, adaptação da comunicação visual e arborização. Um convite ao deslocamento a pé e ao conforto visual. É característica do traçado urbano do Centro os eixos de ligação no sentido Norte/Sul, que propiciam a ligação direta do Maciço com o Mar, da Cidade Alta com a Cidade Baixa, eixos que devem priorizar o deslocamento a pé, em percursos mais curtos e agradáveis. Outro eixo a ser priorizado é o da Beira Mar, o contato direto com a Baía de Vitória e as atividades do Porto, como um percurso agradável e convidativo aos pedestres.
Novas Vias exclusivas de pedestres Requalificação de vias compartilhadas
Via de tráfego compartilhado
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METODOLOGIA PARA INTERVENÇÕES O método de reconhecimento e abordagem dos locais para a realização das intervenções propostas neste trabalho tem como base a percepção e observação do lugar. Em um primeiro momento propõe‐se, em campo, um registro estático através de fotografias, desenhos e textos, identificando espaços potenciais para a intervenção proposta. Os dados obtidos são sistematizados em uma base de dados digital (sites públicos de armazenamento: Flickr, Picasa, Google Earth), facilitando a leitura dos locais e sua seleção. Propõe‐se também um registro dinâmico, através da realização de percursos por eixos principais, gravados em vídeo, um repertório onde é possível uma associação de percepções sonoras, visuais e de espaço construído. Após a identificação dos locais potenciais é realizada uma categorização desses espaços urbanos, que poderá servir posteriormente como referência na distribuição desses lugares na cidade, considerando os usos e as necessidades da população, além de observar a importância das funções paisagístico-ambiental e recreativa dos mesmos. Essa categorização abrange desde lotes vagos, construções sem uso, espaços residuais, espaços subutilizados, resultantes de traçado viário, frestas, espaços entre construções, assim como, outros identificados.
Em post‐it City Giovanni La Varra demons‑ tra como é possível uma nova ativação do espaço: “Não é tanto uma questão de como intervir sem modificar nem dificultar as dinâmicas em curso, mas sim de pensar em espaços capazes de adotar formas diferentes das formas exclusivas para as quais foram concebidos. A idéia de transformar um estacionamento em espaço público e partilhado, de transformar um espaço infraestrutural num mercado, de transformar um terreno baldio num jardim é uma qualidade subseqüente e ativa do espaço urbano.” A partir desse panorama, serão selecionadas algumas tipologias categorizadas e realizada uma segunda observação com enfoque nas potencialidades individuais de cada lugar, podendo ser realizados vídeos observando a dinâmica das espacialidades e seu contexto. Parte‐se então para a proposta de intervenção. Em paralelo à atividade de identificação de espaços é criado um repertório para as intervenções, a partir de bibliografia indicada, estudos sobre apropriação dos espaços públicos, a flora brasileira, sua diversidade e a possibilidade de trabalhar em diversos ambientes, mobiliários, ergonomia além de estudos de composição, textura, cor, luz/sombra, entre outros. Gera-se assim uma espécie de biblioteca, banco de dados, em base digital.
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BIBLIOTECA Espécie de banco de dados, base e repertório para as intervenções propostas. Trazemos na memória referências de estudos, experiências acumuladas em trabalhos ou de locais visitados e vividos, cada um possui seu repertório pessoal de ações, soluções e especulações. São referências existentes na cidade, externá-las e colocá-las em forma de banco de dados visual é um meio de poder analisá-las de modo a facilitar a compreensão de relações, possibilidades, ou mesmo, a visualização de alternativas às vezes esquecidas ou nunca postas como possíveis, além de colocar a possibilidade de outras pessoas acrescentarem suas referências. O banco de dados cresce à medida que novas experiências são vivenciadas e catalogadas, ou à medida que se compartilha experiências com outros, e estes inserem novos e‑ lementos que podem ser traduzidos tornando-se repertório. Partindo do princípio que o espaço urbano
é composto por três planos: Plano do chão, plano do céu e um plano vertical, delimitante, como recinto. Compõem também a cena urbana os elementos, estáticos ou dinâmicos, e os usos, práticas cotidianas que efetivam a sua vida pública. É utilizado como plataforma o site de armazenamento e compartilhamento Picasa (www.picasa.com). Foram criados cinco grupos: 1 Planos horizontais_pisos, 2 Planos horizontais_tetos, 3 Planos verticais_superfícies, 4 Elementos e 5 Usos. Assim, evidenciam-se as texturas, os pormenores, detalhes que estimulam os sentidos, que fazem parte do cotidiano e dinamizam o espaço urbano. Gordon Cullen chama de conteúdo esses aspectos que constituem a cidade e sua paisagem urbana “(...) a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade e tudo que a individualiza.”
observe 81
_PLANOS HORIZONTAIS_PISOS
“Entre os diversos fatores que contribuem para a unificação e coesão numa cidade, o pavimento é dos mais importantes.” 1 As bases horizontais ou pisos dão suporte à todo acontecimento urbano, podem proporcionar a continuidade e coesão, a ruptura e diferenciação ou o destaque, podem transmitir frio ou calor. São diversos os materiais e texturas, desde os naturais como a terra, a água, a rocha e a madeira, aos fabricados pelo homem como o concreto, o asfalto e a cerâmica.
1 Gordon Cullen em Paisagem Urbana
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Praia_ Itaúnas, ES
Praia_ Itaúnas, ES
Centro_ Vitória, ES
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro,RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Praça_Rio de Janeiro, RJ
observe 83
_PLANOS HORIZONTAIS_PISOS
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Praça_Rio de Janeiro, RJ
Parque Guinle_ RJ
Aterro do Flamengo_ RJ
Pirenópolis_ Goiás
Brasília_DF
Esplanada_Brasília, DF
Pontão Sul_Brasília, DF
Palácio do Itamaraty_DF
Pontão Sul_Brasília, DF
Super Quadra_Brasília, DF
Super Quadra_Brasília, DF
Centro_ Vitória, ES
Esplanada_Brasília, DF
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Brasília_DF
Pontão Sul_Brasília, DF
Praça no Centro_ Vitória, ES
Higienópolis_ São Paulo, SP
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
observe 85
_PLANOS HORIZONTAIS_PISOS
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Inhotim_MG
Inhotim_MG
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Sítio Burle Marx_ RJ
Praça_ RJ
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Karlsplatz_Viena, AT
Estação_Pandorf, SVK
Inhotim_ Brumadinho, MG
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Baía_ Vitória, ES
Reserva Paulo Vinha, ES
Belém, PA
Centro_ São Paulo, SP
Centro_ São Paulo, SP
Sítio Burle Marx_ RJ
Estação da Luz_ São Paulo, SP
*Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
observe 87
_PLANOS HORIZONTAIS_TETOS
Os planos horizontais acima, cĂŠu ou tetos podem propiciar o abrigo ou a amplitude. Podem transmitir conforto e frescor ou desconforto, clausura e calor, produzir efeitos de sombra, permitir efeitos de luz.
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Câmara dos Deputados, DF
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
Parque das Mangabeiras, MG
Praça no Centro_ Vitória, ES
Viena, AT
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro, RJ
observe 89
_PLANOS HORIZONTAIS_TETOS
Brasília_DF
Brasília_DF
Brasília_DF
Sítio Burle Marx_ RJ
Brasília_DF Teatro Nacional_Brasília,DF
Brasília_DF
Catedral_Brasília,DF
Parque Moscoso_Vitória, ES
Sítio Burle Marx_ RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro,RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro,RJ
90
Centro_ Vitória, ES
Parque_Belo Horizonte
Centro_ Vitória, ES
Reitoria UNB_DF
Congresso_DF
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Gleba E_ Rio de Janeiro,RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
observe 91
_PLANOS VERTICAIS_PAREDES
Os planos verticais delimitam espaços, criam ambientes permeáveis ao olhar e acessíveis ou bloqueiam a visão e acesso, podem ser frágeis ou robustos, podem ser naturais, permeáveis, efêmeros e perecíveis, ou artificiais, permanentes e impermeáveis. Podem ainda propiciar texturas, cores, sons e temperaturas.
92
Inhotim_ Brumadinho, MG
Inhotim_ Brumadinho, MG
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Higienópolis_São Paulo, SP
MUMOK_Viena, AT
Catedral_Viena, AT
Super Quadra_Brasília, DF
Igreja do Rosário_ Vitória
Centro_ Vitória, ES
Teatro Nacional_Brasília, DF
Super Quadra_Brasília, DF
observe 93
_PLANOS VERTICAIS_PAREDES
Gleba E_ Rio de Janeiro,RJ
Inhotim_ Brumadinho, MG
Super Quadra_Brasília, DF
Brasília_DF
Centro_ Vitória, ES
Brasília_DF
Inhotim_MG
SítioBurle Marx_ RJ
Centro_ Vitória, ES
Pirenópolis_Goiás
SítioBurle Marx_ RJ
Sítio Burle Marx_ RJ
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Sítio Burle Marx_ RJ
Praça_ RJ
Brasília_DF
Brasília_DF
Sítio Burle Marx_ RJ
Brasília_DF
Super Quadra_Brasília, DF
Super Quadra_Brasília,DF
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Centro_ Vitória, ES
Tomie Otake_São Paulo, SP
*Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
observe 95
_USOS “Abrigo, sombra, conveniência e um ambiente aprazível são as causas mais freqüentes da apropriação de espaço, as condições que levam à ocupação de determinados locais.”1 O uso, a ocupação e atividade em um espaço é o que efetivamente o que ativa, dá vida e dinâmica à um ambiente. A ocupação pode ser estática ou pelo movimento, pessoas conversando, em descanso, de passagem, observando o movimento ou a paisagem, namorando, alimentandose, tomando uma bebida, crianças brincando, vendedores de sorvete, jornais, pipoca, flores entre tantos outros.
1 Gordon Cullen em Paisagem Urbana *Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
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Jogo de cartas e dominó Parque Moscoso_Vitória
Comércio, pipoca Parque Moscoso_ Vitória
Permanência Escadaria Carlos Messina
Permanência e passagem Praça Costa Pereira_Vitória
Comércio Av. Jerônimo Monteiro_
Projeções noturnas Teatro Carlos Gomes_Vitória
Comércio, espera e passagem_ Av. Jerônimo Monteiro_
Pausa,conversas Parque Moscoao_Vitória
Pausa, descanso R. São Francisco _Vitória
Evento ao ar livre Praça Costa Pereira_Vitória
Estacionamentos R. José Marcelino_Vitória
Contemplação, atividade portuária_Vitória
observe 97
_USOS
Atividade portuária Porto_Vitória
Tomar sorvete Parque Moscoso_Vitória
Banca de frutas_R. Francisco Araújo_Vitória
Venda de bolas e sorvete_ Parque Moscoso_ Vitória
Brincar Parque Moscoso_Vitória
Pescar, atividade portuária Baía de Vitória
Venda de Flores, informações Teatro Carlos Gomes_ Vitória,
Permanência e passagem Praça Ubaldo Ramalhete_
Permanência e contemplação Praça Getúlio Vargas_ Vitória
Comércio e passagem R. Sete_Vitória
Comércio informal R. Graciano Neves_Vitória
Multiplicidde de usos Praça Costa Pereira_Vitória
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Permanência e conversa Praça Ubaldo Ramalhete_
Atividade Física e Permanência Beira Mar_ Vitória
Pausa para descanso Parque Moscoso_ Vitória 1
Mercado Vila Rubim_ Vitória 1
Comércio informal e passagem Centro_Vitória
Auto de Natal Praça Costa Pereira_Vitória
*Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal 1 Foto: Karlos Rupf
observe 99
_ELEMENTOS “Porque o homem é gregário, mas para o ser totalmente necessita do pretexto, do incidente ou duma âncora. No caso de uma árvore, poder-se-ia dizer que ela providencia sombra e abrigo, no caso de um mercado coberto, poder-se-ia dizer o mesmo. No entanto a âncora é mais que uma atração unicamente de caráter utilitário. Por construção, é imóvel, e logo, por tradição de uso, torna-se num ponto de encontro por todos aceite.”1 Elementos fazem parte da cena urbana, são desde mobiliários, elementos símbolo na paisagem como os navios de um porto, à elementos naturais como espécies vegetais. Comunicam, geram e ocupam espaços, agregam valor e conforto, tem - se aqui especial atenção ao mobiliário urbano.
1 Gordon Cullen em Paisagem Urbana *Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
100
Tóten de informações Palácio Anchieta _ Vitória
Navios Baía de Vitória
Borda para sentar Escadaria Carlos Messina
Mobiliário Praça João Clímaco_Vitória
Banca de Revista Centro_Vitória
Veículos e escadaria Centro_Vitória
Barraca de bolas e sorvete_ Parque Moscoso_ Vitória
Postes de iluminação Parque Moscoso_ Vitória
Fonte_Praça João Clímaco Vitória
Praça João Clímaco_Vitória
Estátua Praça Costa Pereira_Vitória
Fonte_ Escadaria Barbara Lindenberg_Vitória
Postes de iluminação Centro_Vitória
Mobiliário para descanso Centro_Vitória
Bancos Av. República_Vitória
Bancos Parque Moscoso_Vitória
Tóten de informação Centro_Vitória
Relógio Praça Oito_ Vitória
Banco desnível do pavimento
observe 101
TAG’S
Tag’s são palavras-chave, referências nas intervenções projetuais, referências à elementos naturais, a fim de criar um ambiente urbano mais confortável e agradável.
_TEXTURA A forma, as características, de sensação visual e táctil, o que indica as diferenças entre superfícies “a diversidade de texturas tem sido gradativamente perdida pelo uso intenso do asfalto ou de superfícies regulares, as quais eliminam parte da rica experiência do tato.”1
1
Gordon Cullen em Paisagem Urbana
*Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
observe 103
TAG’S
_ÁGUA Elemento fluido, dinâmico, que pode propiciar uma temperatura mais amena. Em movimento produz ruído que transmite sensação de conforto, transpõe lugares, remete à tranqüilidade de locais onde a água é nascente e corrente.
_ROCHA As rochas são elementos utilizados pelo homem desde a antiguidade por sua durabilidade, principalmente em pavimentos, bases de construções e muros. Podem também ser utilizados como elementos de composição paisagística e função escultórica. Possibilita uma grande diversidade de formas, cores e texturas. Tem-se os matacões, em estado natural, os paralelepípedos, pedras portuguesas, placas de granito, ardósia, britas e pedriscos. 104
_VEGETAÇÃO “Essas árvores são magníficas, mas mais magnífico ainda é o espaço sublime e patético entre elas, como se, com o seu crescimento, ele aumentasse também.” 1 Nem sempre a vegetação foi elemento inserido no espaço urbano, muitas vezes seu uso foi visto como desnecessário ou mesmo desperdício de espaço. No Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, a árvore se torna elemento fundamental na estruturação dos espaços públicos, seja por seu aspecto estético, funcional ou morfológico, essa visão se consolidou ao longo dos anos e a importância de elementos naturais no meio urbano é cada vez mais difundida. As espécies vegetais são elementos que proporcionam além de conforto térmico, em especial as árvores e a sua sensação de abrigo, bem estar, conforto e beleza. CULLEN aponta a diversidade de possibilidades à serem exploradas com as árvores na paisagem urbana: *Todas as imagens apresentadas são de arquivo pessoal
1 Espaço
Claire Goll, Rilke et les femmes, em A Poética do
observe 105
TAG’S “(...) há todo um campo de estudo a explorar no que respeita às texturas e hábitos de crescimento das árvores, pois, se estas apresentam diferenças características, podendo ser fastigiadas ou pendentes, de linhas geométricas ou curvas, e de aspecto lustroso ou aveludado, também sua relação com os edifícios pode ser extraordinariamente expressiva, quer como extensão do seu conteúdo, quer como uma definição por contraste.” Benedito Abbud mostra que “nas cidades brasileiras, a vegetação poderia ser bem mais utilizada para corrigir e melhorar as proporções e escalas – freqüentemente desumanas – dos espaços urbanos, em geral formados por massas de construções descontínuas, enorme quantidade de
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postes, muros, semáforos, fiações, outdoors e tanta poluição visual.” Conceber o espaço em conjunto com elementos paisagísticos proporciona uma rica experiência sensorial, envolve-se todos os sentidos: a visão pelas suas cores, reflexos, luz e sombra; o olfato com os aromas de folhas, flores e frutos; a audição pelos ruídos de suas folhagens, o farfalhar; o tato através de suas texturas e o paladar pelos seus frutos. A diversidade de espécies da flora brasileira proporciona um repertório de possibilidades inumeráveis a serem utilizadas nos espaços de uso público da vida cotidiana urbana, oferecendo qualidade a todos os citadinos, mas principalmente aqueles que se deslocam a pé.
*Todas as imagens apresentadas s達o de arquivo pessoal
observe 107
CATEGORIZAÇÃO De modo a facilitar a análise dos espaços identificados, foi realizada uma categorização. Foram geradas oito categorias: Espaços Vagos, Espaços Memória, Espaços Inacessíveis, Espaços Tomados, Espaços Residuais, Espaços Conectores, Espaços Contidos e Espaços Entre. Um espaço identificado pode estar relacionado a mais de uma categoria, sendo esta categorização em sentido de organização e compreensão da articulação dos espaços e seus valores. Quando identificados os espaços, são observados aspectos de uso e atividades, são levadas em consideração as dimensões, as relações do lugar com o indivíduo e do usuário com a cidade. Também são levantadas ligações visuais de interesse, as relações com o espaço privado, com o espaço público e com fluxos de passagem e permanência. Os espaços identificados têm em sua maio-
ria caráter público, ou caráter privado quando forem julgados como de importância para a vida pública da cidade, podendo ser incorporados ao caráter público ou semi-público. Todos os espaços apontados apresentam um potencial de uso ou atividades diversas, de modo a serem ou se agregarem à base da diversidade urbana no Centro de Vitória. A identificação dos espaços foi realizada a fim de exemplificar e ilustrar as categorias, sendo que não foram identificados todos os espaços potenciais existentes no Centro de Vitória, esta identificação ampliada é um trabalho complementar com uma análise mais aprofundada, sendo possível assim o surgimento de novas categorias. As categorias estão sistematizadas na base do site de armazenamento e compartilhamento do Flickr (www.flickr.com).
observe 109
TAG’S Tags são palavras-chaves, utilizadas para agrupar itens comuns. As Tags são criadas por usuários de sites da internet para agrupar e organizar fotos, vídeos e textos por temas ou características específicas, de modo a facilitar o acesso a seu conteúdo. Pode ser gerada também uma “nuvem de tags” (mapa de tags) que reúne todas as tags existentes, onde o tamanho da palavra aumenta de acordo com a recorrência em que é utilizada, quanto mais utilizada maior a tag. Na base realizada no Flickr para as categorias, foram acrescentadas tags e gerada uma nuvem de tags, estas são:
observe 111
TAG’S _COMÉRCIO Venda ou compra de produtos, mercadorias, valores, etc.
situação de conflito, seja de usos ou atividades. Os espaços passam a ser desagradáveis e desconfortáveis ou mesmo subutilizados e sem uso.
_CONEXÃO Conectar, liga
_CONTIDO Espaço interior “Local tranqüilo, onde os passos ressoam e a luminosidade é atenuada, onde se fica apartado do burburinho da rua”2
*Conexões na rede urbana, proporcio‑ nando estratégias de percurso “Por natureza, as quadras longas neutra‑ lizam as vantagens potenciais que as cidades propiciam à incubação, à experimentação e os numerosos empreendimentos pequenos ou específicos, na medida de que esses precisam de cruzamentos muito maiores de pedestres para atrair fregueses ou clientes.”1
_ENTRE Intervalo, insterstício
*Prima-se pela multiplicidade dos espaços urbanos, onde quanto maior a diversidade de usos e atividades, maior a qualidade e vivência do espaço. Mas, muitas vezes uma ocupação indevida acaba prejudicando ou impossibilitando outras atividades. Assim, gera-se espaços que contém alguma
Do dicionário Metápolis de Arquitetura Avançada: Entredós “El entredós no es, necesariamente, un espacio residual (el vacío entre dos volumenes proprio de la arquitectura y del urbanismo modernos) sino que, en las geometrías complejas, puede ser un lugar sustancial: el lugar donde la geometria “inspira y expira”(...) Interesa, en efecto, esa capacidad de junta del vacío intersticial implícita en dichas configuraciones irregulares. Ese posible ritmo entre lo ocupado, lo omitido y lo enlazado: llenos, vacíos y enlaces (o articulaciones), es decir, superfícies, puntos y líneas que se interpelan en secuencias y combinaciones espaciales. El vacío no separa, entonces, sino que
1
2
_CONFLITO Desacordo, confronto
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Gordon Cullen em Paisagem Urbana
Gordon Cullen em Paisagem Urbana
TAG’S une.”
Do dicionário Metápolis de Arquitetura Avançada: historia “Un pasado auténticamente eficaz es simpre un presente abducido hacia atrás.”
Los puertos, en cambio, son los viejos solares de las ciudades litorales. Ocupando milímetro a milímetro la lenta retirada de los puertos no hacemos otra cosa que tapar el mar a la ciudad, donde la única forma de verlo en su dimensión es dentro de una película en un cine Imax. No debería ser un chiste. Debemos proponer nuevas estrcturas de ocupación para generar playas en vez de diques, suelos en vez de edificios, el mar en vez de sus imágenes. hay que inventar una “ciudad de(l) cine” para ver el mar y no al revés.”
_INACESSÍVEL sem acesso físico, apenas acesso visual
_MOBILIÁRIO mobiliário urbano
_INFORMALIDADE comércio informal, atividade comercial não registrada, espontâneo
_MORRO *Referência ao Maciço Central de Vitória, Morro da Fonte Grande.
_LINEARIDADE característica de conformação espacial linear
Do dicionário Metápolis de arquitetura avançada: montaña “Elevación de gran tamaño - natural o artificial - del terreno // territorio formado por varios relieves // También señala un género posible de afición, diversión o deporte, en sentido real o figurado.”
_ESTACIONAMENTO estacionamento de veículos _HISTÓRICO história, memória
_ MAR *Referência às águas da Baía de Vitória. Do dicionário Metápolis de Arquitetura Avançada: mar “Es un nuevo solar de las ciudades litorales.
_PEDESTRES Caminhante na cidade
observe 113
TAG’S _PORTO instalações portuárias
escuchando a los mismos “dinosaurios” hablando sobre el tema.”
Do dicionário Metápolis de arquitetura avançada: puerto “La principal reflexión que deberíamos plantear al analizar las ciudades litorales con puertos es la siguiente: durante siglos los puertos fueron el origen de las ciudades. Éstas se han transformado en grandes ciudades precisamente por tener un puerto, y así han tenido la necesidad de desarrollarlo para poder competir en importancia con otras ciudades y no dejar de ser grandes ciudades. Los puertos, mientras tanto, en su desproporción se han tranformado en los lugares menos interesantes para tener delante de aquellas grandes ciudades que precisamente han contibuido para crear. Y las ciudades comienzan una lenta batalla por la recuperación de sus frentes marítimos como estrategia de revitalización. Qué pasaría se la redefinición de la idea de puerto no condujese a otras conclusiones? Podriamos pensar que en este siglo no será necesario que un puerto sea una plataforma continental, sino simplesmente marítima, y que los barcos no lleguen hasta nosotros sino nosotros hasta los barcos? Esto nos daria otra idea de cómo aprovechar muelles, reciclar edificios, ocupar infraestructuras. Hay que definir un dibujo ambicioso de futuro, o seguiremos
_REFERENCIAL *Um referencial ou uma referência é algo além da onde se está. Pode ser um elemento construído de importância histórica, um elemento natural, referência na paisagem, ou outros pontos que são referência quando estamos em um espaço, a relação deste com o que o cerca. “(...) sensação de Além, é a qualidade, de certo modo lírica, de algo que está ao mesmo tempo presente e sempre fora do nosso alcance: está Além.” 3
Gordon Culen discorre sobre os privilégios de uma cidade costeira:
“Verifica-se, que há linhas privilegiadas susceptíveis de ocupação (...). Esta oportunidade surge mais facilmente em relação à cidade, por exemplo numa cidade tipicamente marítima, em que as linhas de força têm uma relação óbvia e imediata com as linhas de demarcação no sentido geográfico. A verdadeira <<raison d’être>> da cidade costeira é a linha ao longo da qual se encontram terra 3
114
Gordon Cullen em Paisagem Urbana
e água.”
_REFÚGIO *Ponto de apoio e referência, abrigo, em meio às informações no percorrer a cidade. _RESIDUAL resultante de desenho urbano ou traçado viário _ RESPIRO Desafogo _SOMBRA bloqueio da radiação solar _VAGO não construído, sem uso instituído Do dicionário Metápolis de arquitetura avançada: vago “Vacío, desocupado, vacante // Perezoso, distendido, ocioso, relajado // Errante (y por tanto activo) // Vacilante, no-definido. Por difuso y fluctuante // Azaroso: indeterminado o incierto. En todos los casos: INFORMAL.” _VERDE Referência à vegetação e espécies vegetais
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ESPAÇOS IDENTIFICADOS CATEGORIAS ESPAÇOS VAGOS ESPAÇOS CONTIDOS ESPAÇOS TOMADOS ESPAÇOS ENTRE ESPAÇOS CONECTORES
ESPAÇOS INACESSÍVEIS
ESPAÇOS MEMÓRIA ESPAÇOS RESIDUAIS
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_ESPAÇOS TOMADOS Define-se espaços tomados, como espaços de caráter público ocupados, usurpados, por atividades ou usos que não foram propostos em sua concepção, de modo a perderem seu caráter pleno de espaço de uso público, com livre acesso e diversidade. No Centro de Vitória tem-se como agente principal desses espaços o automóvel, em maior parte pela ocupação de ruas com estacionamentos, obstáculos à passagem e permanência, produtores de ruídos poluidores e irradiadores de calor. Vias transversais às avenidas principais (Av. Jerônimo Monteiro, Av. Governador Bley, Av. Princesa Isabel e Av. Marechal Mascarenhas) são fechadas em uma de suas saídas e passam a funcionar como estacionamentos. Não necessárias ao fluxo de veículos em trânsito, essas ruas poderiam ser incorporadas à rede de pedestres, oferecendo
conforto e facilidade à quem se desloca a pé. São propícias, assim, também ao incremento do comércio, abrigado do fluxo de veículos, possibilitando o maior contato com quem passa e decide perma‑ necer. As intervenções aqui pretendem chamar atenção para a importância do nível térreo da cidade, é no nível da rua que se tem a direta relação com a dinâmica da vida pública, atrativos para se parar, entrar e usufruir. Assim, as fachadas devem proporcionar permeabilidade e interação, a troca do que ocorre na rua e o que ocorre no espaço interno às edificações. Evitando as grandes empenas cegas de costas para a vida pública. As ruas se tornam mais diversas, estimulantes e atrativas, conseqüentemente as distâncias para quem se desloca à pé se tornam menores.
observe 119
Acesso em http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851649933/
Rua Pedro Palácios
Rua Muniz Freire
Rua Senador Atílio Vivacqua
120
Tags estacionamento • mar • porto • referencial • linearidade • vagos • verde • morro • mobiliário • comércio • informalidade • conflito • respiro • histórico • sombra • conexão
_ESPAÇOS TOMADOS
Praça Manoel Silvino Monjardim
Praça Américo Monjardim
Rua Aristides Campos
Rua Eng. Pinto Pacca
Rua Deputado Nelson Monteiro
Rua Pietrângelo de Biase
observe 121
_ESPAÇOS MEMÓRIA Espaços Memória são espaços de valor histórico-cultural, que estão ou estiveram na memória e imaginário dos moradores e freqüentadores do Centro da cidade. Estão ligados ao aspecto colonial do traçado da Cidade Alta, às construções de valor patrimonial, aos espaços consagrados como de encontro e festividades, ao porto, seus navios e ruídos tão típicos na paisagem. Entre tantos outros valores materiais e imateriais.
observe 123
Acesso em http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851599821/
Escadaria Carlos Messina
Parque Moscoso
Palácio Anchieta
Viaduto Caramuru
Escadaria Bárbara Lindenberg
124
Catraieiros
Tags estacionamento • mar • porto • referencial • linearidade • verde • morro • comércio • conflito • respiro • histórico • sombra • conexão • refúgio • pedestres • residual • contido
_ESPAÇOS MEMÓRIA
Mercado Capixaba
Praça Manoel Silvino Monjardim
Residência na Avenida Jerônimo Monteiro
Cine Teatro Glória
Praça Costa Pereira/Teatro Carlos Gomes
Rua Barão de Itapemirm
observe 125
Acesso em http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851599821/
Igreja São Gonçalo
Escadaria Maria Ortiz
Palácio Domingos Martins
126
Tags estacionamento • mar • porto • referencial • linearidade • verde • morro • comércio • conflito • respiro • histórico • sombra • conexão • refúgio • pedestres • residual • contido
_ESPAÇOS MEMÓRIA
Catedral Metropolitana
Igreja do Carmo
Rua Sete de Setembro
observe 127
_ESPAÇOS VAGOS Espaços vagos são caracterizados como espaços não construídos ou construções abandonadas. São considerados espaços ainda não construídos, desde lotes vagos à lotes utilizados como estacionamentos, estes últimos têm grande presença no Centro de Vitória. Podem ser ainda construções que estão abandonadas, sem uso instituído. Pretende –se ensaiar outras possibilidades de ocupação, primando pela diversidade de usos e atividades em um mesmo espaço, a fim de que seja utilizado por um público diversos em horários diversos.
observe 129
http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624976209822/
Rua Vinte e Três de Maio
Rua Vinte e Três de Maio
Ruína na Rua São João.
Rua Presidente Pedreira
Tags estacionamento • verde • respiro • histórico • refúgio • sombra • vagos • inacessível • contido • morro • referencial Av. Florentino Avidos
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Edifício na Av. Florentino Avidos
_ESPAÇOS VAGOS
Residência na Avenida Jerônimo Monteiro
Rua Henrique Novaes
Rua Josué Prado.
Rua Barão de Itapemerim
Rua Muniz Freire,
Rua Professor Baltazar
observe 131
_ESPAÇOS ENTRE Caracterizam-se espaços entre espaços abertos entre construções, funcionam como respiros na cidade, interstícios no tecido urbano. Quando acessíveis podem funcionam como conectores, pelos quais os pedestres podem atravessar quadras, cortar caminhos, encontrar atividades e comércio. Cada espaço apresenta uma potencialidade, pretende-se chamar atenção aqui para a importância de se ter esses “respiros”, a possibilidade de explorar esse caráter de interstício, fenda, e propiciar refúgios ao ritmo acelerado da cidade, explorar o uso de elementos e materiais que gerem referência à um espaço mais humano, compatível com seus usuários, há a possibilidade também de incentivar usos verticais, explorando ao máximo o caráter evidenciado.
observe 133
http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624839222775/
Estacionamento
Travessa Plácido Barcellos
Tags estacionamento • linearidade • verde • comércio • respiro • histórico • conexão • refúgio • pedestres • entre • vagos • mobiliário
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_ESPAÇOS ENTRE
Estacionamento do edifício do SEBRAE
Passagem entre torres de edifícios
Espaço anexo à FAFI
observe 135
_ESPAÇOS RESIDUAIS Espaços residuais são espaços remanescentes, resultantes de traçados viários ou implantações de construções, às vezes por suas pequenas dimensões são vazios de usos e atividades, servindo apenas de passagem. Quando prolongamentos ou alargamentos de calçadas, costumam abrigar mobiliários urbanos, como telefones públicos e bancas de jornal. Pretende-se mostrar outras possibilidades para esses espaços que se espalham pela cidade e que em sua maioria servem apenas de passagem ou ficam sem uso, seja reforçando seu caráter residual de borda ou pequeno espaço ou incorporando-os ao traçado da cidade.
observe 137
http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851010969/
Rua Graciano Neves
Rua Sete de Setembro
Estacionamento
Avenida Jerônimo Monteiro
Avenida Marechal Mascarenhas
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Espaço entre o Glória e a Praça
Tags verde • respiro • histórico • refúgio • mobiliário • residual • sombra • porto • mar • informalidade
_ESPAÇOS RESIDUAIS
Avenida Jerônimo Monteiro
Av. Jerônimo monteiro
Rua Barão de Itapemirm
Rua Deputado Nelson Monteiro
Av. Jerônimo monteiro
observe 139
_ESPAÇOS CONECTORES Não é nos largos campos ou nos jardins grandes que vejo chegar a primavera. É nas poucas árvores pobres de um largo pequeno da cidade. Ali a verdura destaca como uma dádiva e é alegre como uma boa tristeza. Amo esses largos solitários, intercalados entre ruas de pouco trânsito, e eles mesmos sem mais trânsito que as ruas. São clareiras inúteis, coisas que esperam, entre tumultos longínquos. São de aldeia na cidade. Passo por eles, subo qualquer das ruas suas afluentes, depois desço de novo essa rua, para a ele[s] regressar. Visto do outro lado é diferente, mas a mesma paz deixa dourar de saudade súbita — sol no ocaso — o lado que não vira na ida. 1 Espaços conectores são espaços que possibilitam a rede de pedestres, conectam-se ao traçado da cidade de modo a tornar os percursos mais curtos e agradáveis para quem se desloca a pé, congregam atividades de comércio, propiciam um ambiente refugiado do tráfego de veículos, criando ambientes para os que passam e decidem perma‑ necer. Gordon Cullen mostra que “É a rede de caminhos para peões que transforma a cidade numa estrutura transitável, ligando os diversos locais por meio de degraus, pontes, pavimentos com padrões distintos, ou por quaisquer outros elementos de conexão que permitam manter a continuidade e 1
acessibilidade. Enquanto as vias motorizadas são fluidas e impessoais, os caminhos para peões, insinuantes e ágeis, conferem à cidade a sua dimensão humana. Umas vezes são temerários (ousados) e extrovertidos, acompanhando os principais eixos rodoviários e as zonas comerciais, outras, recatados e tortuosos; mas, de qualquer forma, devem formar um todo coeso.” No Centro de Vitória é visível a possibilidade da criação de uma rede de pedestres conectada ao traçado da cidade, mas esta encontra-se em parte apropriada pelo trânsito de veículos ou deixadas ao descaso.
PESSOA, Fernando, Livro do desassossego, por Bernado Soares, Editora Brasiliense, 2ª edição.
observe 141
Acesso em http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851649933/
Avenida Marcos de Azevedo
Viaduto Caramuru
Rua Francisco Araújo
Escadaria Carlos Messina
Escadaria Bárbara Lidenberg
142
Rua Quintino Bocaiúva
Tags histórico • refúgio • mobiliário • mar • informalidade • estacionamento • referencial • linearidade • morro • comércio • conflito • sombra • conexão • pedestres • contido • vago • entre • verde
_ESPAÇOS CONECTORES
Passagem entre torres de edifícios
Mercado Capixaba
FAFI
Travessa Plácido Barcellos
Galeria
Galeria
observe 143
Acesso em http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624851649933/
Rua João Caetano
Escadaria
Escadaria
Estacionamento
Tags histórico • refúgio • mobiliário • mar • informalidade • estacionamento • referencial • linearidade • morro • comércio • conflito • sombra • conexão • pedestres • contido • vago • entre • verde Rua da Alfândega
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Rua Luiz Antônio
_ESPAÇOS CONECTORES
Galeria Joana D’Arc
Rua Carlos Gomes
Rua Cerqueira Lima
Esc Djanira Lima. Fonte: PMV
Rua Sete de Setembro
Rua Solon de Castro
observe 145
_ESPAÇOS CONTIDOS Espaços contidos são espaços de passagem ou permanência (recintos) interiores à uma edificação ou à uma quadra. Como galerias, pátios, “miolos” de quadra. Gordon Cullen define como recinto: “O recinto é uma síntese da polaridade entre pés e pneus, entre a circulação de pessoas e a de veículos. É a unidade base duma certa morfologia urbana. Fora dele, o ruído e o ritmo apressado da comunicação impessoal, vai-vem que não se sabe para onde vai nem donde vem; no interior sossego e tranqüilidade de sentir que o largo, a praceta, ou o pátio têm escala humana. O recinto é o objetivo da circulação, o local para onde o tráfego nos conduz. Sem ele, o tráfego tornar-se-ia absurdo.” Nos espaços contidos temos um abrigo do ritmo dos automóveis, temos o ritmo dos passos que desaceleram. Pode-se cortar caminhos, de modo a realizar percursos mais rapidamente e de maneira agradável, e se forem atrativos convidam à pausa e permanência.
observe 147
http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624964003798/
Miolo de quadra, Igreja do Carmo
Mercado Capixaba
Tags referencial • linearidade • morro • comércio • histórico • conexão • refúgio • pedestres • contido • vago
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_ESPAÇOS CONTIDOS
Galeria Joana D’Arc
Galeria
Galeria
observe 149
_ESPAÇOS INACESSÍVEIS Espaços inacessíveis são identificados como não acessíveis devido barreiras físicas na‑ turais ou construídas. Para este estudo tem-se especial interesse nas barreiras físicas naturais, como afloramentos rochosos, estes podem ser incorporadas a vida pública urbana como elementos de desafogo, espaços de respiro. Remetendo a uma descrição de um espaço por CULLEN: “Não se pode entrar nele, nem é preciso, porque os olhos penetram e nos levam a um lugar mais distante do que os pés o fariam.”
observe 151
http://www.flickr.com/photos/30144349@N06/sets/72157624976213798/
Tags Respiro• verde • inacessível
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_ESPAÇOS INACESSÍVEIS
Rua do Rosário
observe 153
154
INTERVENÇÕES Após a identificação dos espaços potenciais, a serem incorporados na rede de espaços de uso público da área de estudo e sua categorização, foram selecionados 7 espaços que se destacam pelas suas características potenciais e suas localizações estratégicas -em locais de passagem e de atratividades- a fim de realizar propostas de intervenções nestes espaços. As propostas buscam ilustrar como se poderia intervir em espaços existentes na cidade de forma a “devolvê-los” ou ativá-los como espaços de uso coletivo de livre apropriação e diversidade de usos. Mostrar que intervenções em menor escala, se articuladas em rede e incorporadas com as dinâmicas econômicas e sociais, podem ser soluções eficientes e complementares aos grandes planos de ação e transformação do espaço. Assim, as intervenções pretendem mostrar outras possibilidades de se vivenciar a cidade, de modo a resgatar suas qualidades muitas vezes esquecidas ou não apropriadas, seus espaços existentes e subutilizados. Estas intervenções são uma pequena amostra de uma rica gama de possibilidades urbanas. O objetivo maior é mostrar alternativas de qualificação do espaço urbano no cotidiano da cidade, com o que ela mesma oferece e muitas vezes não percebemos ou esquecemos, condicionados à rotina, à falta de tempo, ao caos urbano e ao trabalho ininterrupto.
observe 155
RUA DO ROSÁRIO_007
LARGO PALÁCIO ANCHIETA_006
ESCADARIA MARIA ORTIZ_005
PÁTIO MERCADO CAPICHABA_004
ESPAÇO SEBRAE_003
ACESSO AO MAR_002
RUA ARISTIDES CAMPOS_001
INTERVENÇÕES
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005 006
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INTERVENÇÕES
007
004
003
001
002
Apesar de aqui serem pontuadas e numeradas (forma pragmática para facilitar sua leitura e compreensão), as intervenções pretendem ir além do ponto, se conectando em uma rede de percursos cotidianos de pedestres na cidade. Em locais de grandes fluxos de passagem as intervenções propostas pretendem captar pessoas à uma rede de pedestres, proporcionando ao deslocamento cotidiano na cidade a “re-relação” Morro/Mar, o contato com espaços de memória históricocultural do Centro da Cidade, o conforto de espaços arborizados e abrigados dos fluxos intensos de veículos. Deslocar-se pelo Centro de Vitória a pé se torna um atrativo, favorecido pela escala de seus deslocamentos de pequenas distâncias.
observe 159
observe 161
CATEGORIA: ESPAÇOS TOMADOS
RUA ARISTIDES CAMPOS_001
Na categoria Espaços Tomados foi selecionada para ensaio de intervenção a Rua Aristides Campos. De localização estratégica, entre a Avenida Princesa Isabel e a Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes (conhecida como Avenida Beira Mar) possibilitaria a ligação direta de uma das áreas de maior concentração de pessoas e passagem da cidade com a Baía. A nova configuração proposta como Rua de Pedestres poderia captar essa intensa dinâmica e extendê-la à Avenida Beira-Mar, protegida do tráfego de veículos e gerando um novo eixo de atratividade no sentido Norte/Sul.
162
INTERVENÇÃO RUA ARISTIDES CAMPOS
Localização Fonte: Google
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0
15
30
45m
IMPLANTAÇÃO GERAL
Hoje, a Rua Aristides Campos é fechada em sua saída para a Avenida Princesa Isabel - nela estão loca‑ lizados dois edifícios sem usos voltados para a mesma - sendo atualmente utilizada como estacionamento de veículos. Em contagem realizada no dia 10/08/2010, pela manhã, haviam 34 veículos estacionados. A proposta é aproveitar os elementos do entorno, com diversidade comercial/serviços e proximidade com a Praça Getúlio Vargas, valorizando a ligação visual com a Baía de Vitória e atraindo pessoas para/através do local.
observe 165
CORTE ESQUEMÁTICO
Ligação visual com a Baía e o Porto de Capuaba valorizada pela redução de elementos verticais, incluindo a arborização que se reduz para a borda, emoldurando a paisagem. A disposição do mobiliário urbano reforça a possibilidade de pausa para observação da Baía, seus navios e máquinas
166
3 2 1
ELEMENTOS
O plano do piso foi disposto em faixas lineares, que apontam para a Baía e reforçam a linearidade do espaço, convidando quem passa nas Avenidas Princesa Isabel ou Avenida Beira Mar a atravessar - afastando-se do tráfego de veículos - e parar para observar a dinâmica da cidade. As faixas são marcadas por diferentes texturas que demarcam áreas de passagem e permanência.
1. Pavimento de 2. Chão Batido concreto Pó de tijolo e brita
3. Forração de solo
observe 167
INTERVENÇÃO RUA ARISTIDES CAMPOS
A proposta é tornar a Rua Aristides Campos, atualmente sem saída e sem diversidade de usos e atividades, em rua exclusiva de pedestres.
168
Análise
A ação principal constitui na retirada dos carros, elementos que ocupam fisicamente o espaço, e tornam a via subutilizada durante todo o dia.
observe 169
Análise
PERMEABILIDADE
ESCRITÓRIOS FUTURA OCUPAÇÃO
VERDE, PRAÇA
MAR, PORTO
POSSIBILIDADE DE PERMANÊNCIA
APOIO AO COMÉRCIO, PERMANÊNCIA
COMÉRCIO
Assim, é possível a identificação das potencialidades deste espaço. O referencial ao fim da perspectiva da rua, no sentido de quem está na Avenida Jerônimo Monteiro, é o porto e seus navios. A aproximação, mesmo que visual com essa referência é desejável, sendo uma das ligações da cidade com o mar, gerando atratividade para quem passa, assim como, a Praça Getúlio Vargas, outro ponto de atração, em frente à Avenida Beira Mar. 170
Etapa_1
Neste espaço temos as construções sem usos voltados para a rua, propõe-se a integração com o ambiente urbano através de vitrines permeáveis e iluminadas e pelo incentivo ao uso das lojas térreas, hoje vagas. Com a abertura de comércios e serviços gera-se atividades, surge o movimento de pessoas utilizando o espaço.
observe 171
Etapa_2
A rua torna-se então de pedestres, marcações no piso em três faixas reforçam a linearidade do espaço e levam o transeunte à Baía. Abrigados do tráfego de veículos, surgem atividades de pequena escala como a banca de revista, complementares às atividades e serviço diversos. 172
Etapa_3
Na última etapa as empenas “cegas” dão lugar a atividades, à permeabilidade espacial e à arte, terrenos que estavam ociosos são apropriados trazendo mais diversidade e integração com o ambiente térreo da rua. Surge assim, um espaço alternativo para quem passa e decide parar e observar os navios e receber a brisa do mar, um percurso mais curto, devido seus atrativos e conforto.
observe 173
ATUAL
174
MODIFICADO
observe 175
observe 177
CATEGORIA: ESPAÇOS MEMÓRIA
ACESSO AO MAR_002
Na categoria Espaços Memória, destacase o ponto de acesso/parada dos catraieiros que realizam o transporte constante entre Vitória e Vila Velha ou proporcionam passeios em contato com as águas da Baía. A escolha deste espaço possibilita um ensaio de lugar em contato direto com a água; poder parar e observar a dinâmica da estreita Baía e seu porto em atividade. Propõe-se a mudança do atual espaço para o eixo da Praça Pio XII, que liga o Maciço Central à Baía através da Rua Sete, sendo uma “praça” sobre a água e ponto de parada das catraias.
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INTERVENÇÃO ACESSO AO MAR
Localização Fonte: Google
observe 179
Análise GALPÕES PORTO
CATRAIAS, PERMANÊNCIA
180
PASSAGEM, PERMANÊNCIA
INTERVENÇÃO ACESSO AO MAR Espaço Memória, o ponto de parada e saída de catraias na Av. Marechal Mascarenhas é marco da paisagem do Centro, presente na memória e ima ginário dos moradores e passantes, usuários do serviço como transporte cotidiano ou passeio turístico. A proposta é deslocar a atual localização deste ponto (próximo a Rua Atílio Vivácqua) para o eixo da Rua Sete de Setembro, em frente à Praça Pio XII, como marco de contato e acesso à baía. Na Av. Marechal Mascarenhas temos o encontro de dois tempos: o tempo da cidade e do homem que se inicia no asfalto, e na baía, o tempo lento dos elementos naturais (integrados às atividades do Porto). Assim, na chamada “Avenida Beira Mar” nos deparamos, em meio aos compromissos cotidianos, com a surpresa de se estar numa Ilha repleta de particularidades que encantam. O novo espaço avança sobre o mar em uma plataforma que convida quem passa a parar. Nela, uma espécie arbórea, o guapuruvu, reforça a vagareza desse outro tempo que se apresenta, mais lento. O guapuruvu, espécie selecionada, possui tronco liso, esbelto e longo e copa que conforma um alto teto. Ao se atravessar o asfalto se encontra o tempo vegetal e aquático. Em frente, o Porto de Capuaba, um convite à uma pausa, à observação, à um curto momento de refúgio e quietude nesse encontro de dois ritmos, de duração até um olhar para trás.
Planos regulares conformam degraus que levam até o contato direto com a água, empilham -se de modo a criar bordas informais de assento, conformando uma praça sobre a água. Nos planos de menor cota há pontos de apoio para atracar as catraias e pequenas embarcações. Há ainda dois planos que se apresentam como flutuantes a fim de sempre possibilitar o acesso às catraias independente das variações de maré. “Melhor que viajar de navio é ver os navios passar. (...) Não há ninguém que esteja passando pela beira-mar que não pare para ver um navio daqueles sendo virado pelos rebocadores, para ficar de frente para onde irá. É um espetáculo imperdível, gratuito, constantemente oferecido aos habitantes de Vitória e seus visitantes”. 1
1 Escritos de Vitória: 5; Porto. Francisco Aurelio Ribeiro , VITÓRIA E OS NAVIOS.
observe 181
IMPLANTAÇÃO GERAL Trecho da Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, ao lado dos Galpões do Porto onde atracam os catraieiros que fazem o percurso Vitória/ Vila Velha. A proposta é um espaço que avance sobre o mar, em níveis distintos, de modo a criar a possibilidade de se ter um contato direto com a água.
0 182
15
30
45m
4 3
3 2 1
PLANTA
0
5m
ELEMENTOS
1. Ă gua
2. Placa de concreto
3. Madeira
4. Guapuruvu
observe 183
FLUTUANTE QUE VARIA COM AS MARÉS
CORTE ESQUEMÁTICO 184
Relação com a água - Patamares que se tornam bordas de assento informal de diferentes alturas.
(...) Os navios apitando no porto no fim da tarde lembravam de repente aos habitantes que a cidade era uma ilha que tinha porto, eles que acreditavam que Vitória era só uma invenção particular. 1
1
ALMEIDA, Amylton de, Blissful Agony. Coleção Letras Capixabas, volume 32, 2ª edição, 1998.
observe 185
As placas de concreto fixas proporcionam o acesso suave e direto Ă ĂĄgua. 186
Furos nas placas de concreto d達o suporte para sombrinhas ou varas de pescar.
observe 187
observe 189
CATEGORIA: ESPAÇOS ENTRE
ESPAÇO SEBRAE_003
O Espaço Entre selecionado é o esta‑ cionamento anexo ao edifício do SEBRAE na Avenida Jerônimo Monteiro, eixo de grande fluxo de passagem. O espaço de pequenas dimensões está entre duas construções e abre perspectiva para o Maciço Central, revelando rochas e a vegetação ainda preservada. A proposta é reforçar esse caráter de refúgio no meio urbano, abertura do tecido construído para que se possa parar e sentir a presença do meio natural na cidade, ainda tão presente principalmente no Centro de Vitória.
190
INTERVENÇÃO ESPAÇO SEBRAE
Localização Fonte: Google
observe 191
0
10
20
30m
A proposta torna parte do terreno do SEBRAE - hoje um pequeno estacionamento particular - em área de caráter semi público. Sob manutenção do SEBRAE e de livre acesso aos pedestres, o local se tornaria um pequeno espaço de estar urbano para todos que trabalham nos edifícios do entorno, na Avenida Jerônimo Monteiro e para os próprios funcionários do SEBRAE. O lugar teria também a função de conexão entre as Cidades Alta e Baixa com acesso às ruas acima e à construção dos Chalés em estilo eclético pitoresco de interesse de preservação, atualmente abandonados. A proposta é que se ativem seus usos com atividades de interesse público e coletivo.
192
Classificado como Espaço Entre, este espaço está “ao pé” do Maciço Central, sendo uma ligação física e visual importante com este. A proposta é reforçar o caráter de refúgio do interstício que se abre para o Maciço Central na Avenida Jerônimo Monteiro. A sonoridade proporcionada pela inserção do elemento água, e a agradável temperatura pro-
INTERVENÇÃO ESPAÇO SEBRAE
porcionada pela vegetação, criam um micro clima que se abre à uma das principais avenidas do Centro. Propõe-se também uma ligação à parte alta da cidade através de escada rolante, uma alternativa convidativa e agradável aos moradores da parte alta.
observe 193
ELEMENTOS
1. Ipê rosa
3
4
2. Jardim Vertical
1 2
3. Água
4. Piso de pedra
0 194
5
10
15
ESPAÇO SEBRAE
1
2
3
4
CORTE ESQUEMÁTICO
São inseridos elementos verdes complementares ao plano de fundo na empena cega do edifício ao lado, uma espécie de Ipê rosa (Tabebuia rosea), que proporciona escala humana, sombra, e a coloração rosa de sua floração. É inserido também o elemento água, tão presente e muitas vezes esquecido pela cidade.
observe 195
Anรกlise
SEDE SEBRAE
VERDE, REFร GIO
CIDADE ALTA
ESTACIONAMENTO PRIVATIVO
196
PLANO VERTICAL
A continuidade do “plano verde” do Maciço Central ao fundo é garantida pela transformação da empena cega existente em jardim vertical, estabelecendo uma atmosfera convidativa aos passantes.
observe 197
observe 199
CATEGORIA: ESPAÇOS CONTIDOS
PÁTIO MERCADO CAPIXABA_004
O Mercado da Capixaba é referencial de como espaços contidos podem se tornar refúgios atrativos na cidade. O pátio interno ou miolo de quadra, convida o pedestre a cortar caminho, afastando-se do fluxo de veículos, e a permanecer.
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INTERVENÇÃO NO MERCADO DA CAPIXABA
Localização Fonte: Google
observe 201
O MERCADO DA CAPIXABA
“Construído entre 1924 e 1928 como parte do programa de construção e remodelação da cidade, empreendido pelo governo de Florentino Avidos, desde então uma referência na vida econômica e social de Vitória, o Mercado da Capi xaba tem sua história vinculada às modificações promovidas em sua condição de propriedade no decorrer do século XX. (...) Construído em terreno situado entre a baía de Vitória e a mais nova via urbana da cidade, a Capixaba, em área conquistada por aterro, o Mercado da Capixaba, uma “praça comercial” protegida por quatro alas dispostas sobre o perímetro de uma das quadras resultantes da recente urba‑ nização, além de entreposto de secos e molhados, de carnes e frutas, de verduras e legumes frescos, é um ponto de encontro e de passagem. Com suas quatro e amplas portas de entrada, seu espaço amplia-se, atraindo consumidores exigentes ou transeuntes. Afinal, os aromas deviam ser cativantes, o burburinho das negociações intrigantes, os petiscos estimulantes.”1 A parte superior do mercado, voltada para a atual Av. Jerônimo Monteiro foi ocupada entre 1920 e 1940, pelo hotel Avenida. Já entre 1950 e 1960 foi ocupada pelo auditório da Rádio Club do Espírito Santo. 1 ALMEIDA, Renata Hermanny de. Arquitetura, Patrimônio Cultural do Espírito Santo. -Vitória: SECULT, 2009
202
A partir de 1970 chegam o comércio de produtos industrializados, os artigos de consumo de massa, Assim, atrás de consumidores, as lojas são recobertas com anúncios publicitários, as áreas construídas são ampliadas, os materiais originais são substituídos por outros mais modernos. Finalmente, um incêndio resulta no abandono e no desuso de sua ala mais valorizada, a da avenida. (ALMEIDA,2009) (...) Lugar de acontecimentos de uma época e de um lugar, o Mercado da Capixaba povoa a memória de alguns dos muitos que nele trabalharam ou se divertiram, ou, também, por ele perambularam atrás do peixe fresco, da fruta da época ou, simplesmente, de um bom bate-papo. Historiador, Fernando Achiamé traz em sua memória o “Seu” Cardoso e sua mercearia, embrião dos falecidos Supermercados Santa Martha. E do pátio interno calçado de pedras com barracas vendendo frutas. E os peixes em cima de pedras altas e lisas. E a carne de gado no açougue. E as mercearias sortindo o seco e o molhado. E o sumiço de tudo isso. Agora temos lá um supermercado de remédio, outro supermercado de telefones e o maior deles o de artezanato (com z de mentira).
Figura 31. Mercado da Capixaba Fonte: Publicação Arquitetura, Patrimônio Cultural do Espírito Santo. Secretaria de Estado da Cultura, Conselho Estadual da Cultura.-Vitória: SECULT, 2009
observe 203
Figura 32. Pátio do Mercado da Capixaba Configuração atual do pátio do Mercado: coberto parrcialmente e utilizado para venda de artesanatos. Fonte: Arquivo pessoal
204
INTERVENÇÃO NO MERCADO DA CAPIXABA
0
5 10 15m
IMPLANTAÇÃO GERAL A presença do edifício do Mercado, com seu perímetro voltado para o comércio, valoriza as ruas laterais (Rua Araribóia e Rua Des. O’Reylly de Souza), assim, complementando o comércio da Avenida Jerônimo Monteiro e da Avenida Princesa Isabel. É proposto tornar essas ruas laterais de acesso exclusivo aos pedestres, valorizando a edificação tombada como patrimônio e sua dinâmica de atividades em vias abrigadas do tráfego de veículos.
observe 205
PLANTA TÉRREA
Hoje, o Centro de Vitória conta com o Mercado da Vila Rubim, com a função predominante de entreposto de alimentos e afins. A idéia, assim, é potencializar o Mercado da Capixaba como ponto de produção e venda de artesanato. Propõe-se uma ocupação térrea voltada para dentro do pátio do mercado, com estruturas moduláveis, onde os artesanatos seriam vendidos. Assim, teríamos na porção central o pátio livre, conformando uma praça de passagem, estar e livre apropriação; um refúgio entre as Avenidas Jerônimo Monteiro e Princesa Isabel. Para maior proteção e conforto aos usuários é inserida uma cobertura translúcida que permitiria ventilação e iluminação natural, uma leve estrutura que pousa sobre o pátio. 0
5
10
15m
*Desenho sobre base de levantamento da PMV.
206
Além da venda dos produtos artesanais, é inserida a produção desses objetos, reativando as atividades no segundo pavimento da fachada voltada para a Avenida Jerônimo Monteiro, com oficinas e ateliês de produção coletiva do artesanato vendido no Mercado. 0
5
10
15m
PAVIMENTO SUPERIOR
*Desenho sobre base de levantamento da PMV
observe 207
3
2
1
FACHADA E CORTE ESQUEMร TICOS
ELEMENTOS
*Desenho sobre base de levantamento da PMV
1. Pavimento
208
2. Cobertura Metรกlica
3. Jasmim Manga
ESBOÇOS E ESTUDOS
observe 209
Ao Centro do pátio é inserida uma jardineira-banco com uma espécie arbórea de pequeno porte, o Jasmim Manga (Plumeria rubra) de perfume agradável e flores avermelhadas. 210
À noite é possível a livre a propriação como espaço de atividades culturais e artísticas.
observe 211
observe 213
CATEGORIA: ESPAÇOS CONECTORES
ESCADARIA MARIA ORTIZ_005
Para a categoria Espaços Conectores a intervenção engloba a escadaria Maria Ortiz e a Rua J. Aguirre/Duque de Caxias. Símbolo de conexão entre Cidade Baixa e Cidade Alta a escadaria sempre teve importante papel de histórico. Com o passar dos anos suas características foram mantidas, mas elementos aleatórios são inseridos e acumulados sem a preocupação com a poluição visual resultante, com a segurança e com o conforto de seus usuários. Retomar sua atratividade, permitir uma clara leitura espacial e favorecer a diversidade de usos é desejável para este espaço.
214
INTERVENÇÃO ESCADARIA MARIA ORTIZ
Localização Fonte: Google
observe 215
IMPLANTAÇÃO GERAL 0
216
5
10
15m
ELEMENTOS
1
1. Pau Ferro
2. Pedra Portuguesa 3 2
3. Terra batida
CORTE ESQUEMÁTICO RUA DUQUE DE CAXIAS Proposta de piso em mesmo nível sem estacionamentos, priorizando o pedestre, sendo o uso de veículos restrito. Inserção de eixo central de árvores da espécie Pau Ferro (Caesalpinia ferrea) de copa alta e permeável que define a escala compatível com a largura da rua e com o pedestre.
observe 217
ESCADARIA MARIA ORTIZ “A Escadaria Maria Ortiz, antes chamada de Ladeira do Pelourinho, traz em seu nome a lembrança da vitória dos capixabas sobre piratas holandeses, que tentaram conquistar a ilha durante o século XVII. Alvo de piratas e de corsários desde a des‑ coberta do Brasil, a cidade de Vitória tem um histórico de vitórias sobre piratas famosos. Um desses invasores foi o corsário holandês Pieter Pieterszoon Heyn (conhecido também como Piet Heyn), que aportou em 10 de março de 1625 e, junto com seus subordinados, atacou a vila na tentativa de conquistá-la. Entretanto, os invasores foram surpreendidos pela imprevista iniciativa da capixaba Maria Ortiz. A jovem se destacou por incentivar os vizinhos a arremessarem água fervente, brasa, pedras, entre outros objetos, sobre os holandeses que subiam pela então Ladeira do Pelourinho. Os invasores buscavam alcançar o coração de Vitória, a Cidade Alta, e dali o domínio da ilha. Seguindo o exemplo de Maria Ortiz, o povo capixaba conseguiu espantar os holandeses, que retornaram ao seu navio, atracado onde atualmente se encontra a Praça Oito de Setembro, e se foram.”1
1 Prefeitura de Vitória. Acessado em http://www. vitoria.es.gov.br/turismo.php?pagina=escadariamariaortiz
218
Figura 33. Escadaria Maria Ortiz Fonte:http://sistemas.vitoria.es.gov.br/ecbh/dtpathis. cfm?dt=Q&id=34
REFERÊNCIA VERDE
PUBLICIDADE
Análise
ELEMENTOS DE REDE ELÉTRICA
PUBLICIDADE
observe 219
Análise
São destacados elementos de publicidade, infra-estrutura, cheios/ vazios, continuidades/descontinuidades, permeabilidade de fachadas, coberturas... De modo a entender o espaço e sua relação e impacto na cidade e em seus usuários.
220
São propostas novas aberturas nas fachadas existentes e usos, de modo a criar maior permeabilidade, apropriação e trocas com a rua.
observe 221
Figura 34. Escadaria Maria Ortiz vista da Avenida Jer么nimo Monteiro (1936) Foto: Photo Paes , Fonte : Arquivo Ba铆a de Vit贸ria
222
Escadaria Maria Ortiz vista da Avenida Jer么nimo Monteiro (2010)
observe 223
REFERÊNCIA VERDE
AUTOMÓVEIS
224
Análise
ESCALA
ELEMENTOS DE REDE ELÉTRICA
PUBLICIDADE
Análise
A ação principal constitui na retirada de elementos que ocupam fisicamente o espaço e poluem sua legibilidade, são identificados elementos de rede elétrica a serem enterrados, pisos variados, desni‑ velados e esburacados, caixas técnicas espalhadas sem critérios, elementos de publicidade e comunicação visual, que estão em desacordo com a legislação.
observe 225
???_007
Após a retirada dos elementos a rua se torna de passagem exclusiva de pedestres. A Rua Duque de Caxias e Rua Nestor Gomes, transversais, teriam prioridade para os pedestres e piso em nível, mas comportariam a passagem de veículos de forma compartilhada, não havendo mais a permissão para estacionar. 226
À noite a luz recria o espaço destacando elementos, dando maior legibilidade urbana e aumentando a sensação de segurança para os usuários.
observe 227
observe 229
CATEGORIA: ESPAÇOS RESIDUAIS
LARGO PALÁCIO ANCHIETA_006
A escolha do espaço classificado como Espaço Residual, é o prolongamento de calçada e divisor de fluxos (veículos e pedestres), em frente ao Palácio Anchieta. Localização do antigo Cais do Imperador este espaço carrega um grande valor simbólico e histórico. Aqui, a proposta é negar seu caráter residual, a fim de recuperar o antigo largo de acesso e contato com a água, espaço que funcione como praça cívica, de acontecimentos, manifestações e eventos públicos.
230
INTERVENÇÃO EM FRENTE AO PALÁCIO ANCHIETA
Localização Fonte: Google
observe 231
Este ponto do Centro da cidade é um dos locais da Ilha de Vitória de maior valor simbólico. Em frente ao Palácio Anchieta, antigo Colégio dos Jesuítas, conjunto histórico mais antigo de Vitória, e hoje sede do Governo do Estado, o antigo Cais do Imperador é também um dos poucos espaços atuais de abertura e contato direto com o porto e a baía.
Figura 35: Cais do imperador (1912) Foto: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Fonte : Arquivo Baía de Vitória
232
Figura 36: Cais do imperador (1906) Foto: André Carloni, Fonte : Arquivo Baía de Vitória
Figura 37: Largo em frente ao Palácio Anchieta, antigo Colégio dos Jesuítas. Em primeiro plano espaço divisor de fluxos de veículos e pedestres. (2011) Fonte: Arquivo pessoal
observe 233
A proposta para este espaço é que o caráter residual de divisor de fluxo viário deixe de existir com a recuperação da ligação direta com a baía e o rebaixamento das vias de tráfego de veículos, conformando um largo que reconecta a cidade com o mar.
234
Vista aérea do largo hoje
O novo espaço se abre para a Baía, o largo de caráter cívico, é espaço de multiplos usos, abrigando feiras, manifestações, eventos culturais e artísticos, podendo ser ponto de chegada de navios de passageiros. Ilhas de palmeiras criam ambientes sombreados, pontos de parada e observação, além de remeter o antigo cais em frente ao palácio.
IMPLANTAÇÃO GERAL
0
10
20
30m
observe 235
Os guindastes eram como garras de metal suspendidas rasgando o céu escuro. Os telhados dos armazéns se fundiam com a noite. Os pacotes iam e vinham, imensos, içados de correntes, balançando no espaço, misteriosamente desciam dentro dos porões negros. Um ou outro apito como um uivo cortava a madrugada.1
1
236
Escritos de Vitória, 5; Porto. Bernadette Lyra, KALLIMA
(...) E me apaixonei por essa cidade e por seus navios. Sempre que podia subia as escadas do Palácio Anchieta e ficava horas literalmente “a ver navios”, até o momento de pegar o ônibus e voltar para Guaçuí.1
1
Francisco Aurelio Ribeiro VITÓRIA E OS NAVIOS
observe 237
observe 239
CATEGORIA: ESPAÇOS INACESSÍVEIS
RUA DO ROSÁRIO_007
Para a intervenção no espaço com afloramento rochoso na Rua do Rosário, a proposta é manter o espaço sem construções, recebendo tratamento de modo a suprimir vegetações daninhas. Permanece assim como respiro em meio a malha urbana, possibilita o contato com as palmeiras e torre da Igreja do Rosário, um convite à história da Cidade.
240
INTERVENÇÃO NA RUA DO ROSÁRIO
Localização Fonte: Google
observe 241
IMPLANTAÇÃO GERAL É proposta a demolição de duas construções ao lado do afloramento rochoso selecionado, que encobrem a escadaria e a Igreja do Rosário, em seu lugar planos escalonados são jardineiras que reconstroem a topografia subtraída e compõem um jardim vertical, para este, foi realizado um estudo cromático de florações. Assim, abre-se o espaço urbano na Rua do Rosário com a perspectiva levando o olhar para a igreja histórica. 242
ELEMENTOS
1.Spathiphylum wallisii
2. Evolvulus glomeratus
3. Setcreasea Purpurea
4. Tradescantia zebrina 6 7
3 2
1
5
4
5. Acalypha reptans
6.Calendula officinalis
7. Lantana camara
observe 243
ATUAL
244
MODIFICADA
observe 245
CONSIDERAÇÕES Apesar do esvaziamento periódico de pessoas e de investimentos do setor público nas últimas décadas, o Centro da Cidade abriga um grande número de atividades econômicas e de trabalho. Há a necessidade de investimentos direcionados que busquem diversidade de atividades e usos, é inegável a grande dinâmica e vitalidade que o Centro apresenta em horário comercial, mas fora desses não se está no mesmo local, que em parte se torna vazio e subutilizado. Novos investimentos estão sendo realizados a fim de trazer atividades culturais e de arte para a região do Centro, como a restauração do Sesc Glória, projetos musicais no Teatro Carlos Gomes, a criação de percursos históricos, a realização da Bienal do Mar, há também o Programa de Habitação Morar no Centro, recuperando edifícios vagos para se tornarem habitáveis. São iniciativas que geram uma maior multiplicidade de atividades,
vida cultural e artística, mas muito distante de se tornar suficiente a uma demanda em potencial. Uma série de medidas devem ser tomadas, questões levantadas, o debate público para o necessário engajamento da sociedade sobre a sua responsabilidade com os espaços da cidade num processo consistente de transformação da vida pública ativa. Temos exemplos de outras cidades que buscaram reforçar suas qualidades, executando ações apoiadas pela redescoberta da cidade como um centro de cultura viva. Este trabalho conscientemente não poderia relatar somente espaços de uso público como praças e parques, a vida pública necessita ser atrativa, oferecer conforto e segurança; um ambiente urbano agradável e ativo atrai pessoas, e a vida pública acontece.
observe 247
CONCLUSÕES Este trabalho foi um ensaio de um desejo pessoal de se trabalhar os espaços de uso público. Surge de um encantamento com a cidade e seu cotidiano, múltiplo, e muitas vezes inusitado. Esse é apenas o início de uma busca por compreender como proporcionar aos usuários das cidades espaços que além de serem atrativos, proporcionarem conforto a seus usuários, surpreendam pela sua singularidade e pelo inusitado. Mas que também revertam a vida excessivamente individualizada e despertem um modo de viver coletivo, este tantas vezes suprimido pelo medo, pela falta de tempo e pelo condicionamento cotidiano. A escolha do Centro de Vitória como área de estudo surge da vontade de se aproximar do espaço da história e da memória da cidade. Mantendo-se a idéia original que o estudo fosse expandido para a cidade como um todo, com as particularidades de suas outras regiões, mas com um mesmo olhar, a fim de propiciar uma rede abrangente de qualidade de vida pública.
O título observe surge ao final, ao ler Blissifull Agony de Amylton de Almeida. Que a mim traduziu a percepção da multiplicidade da vida cotidiana urbana, sua poética. Este trabalho pretendeu observar a cidade, tentar captar sua poética cotidiana e potencializá-la. Este é um ensaio ainda inacabado para os espaços do Centro de Vitória; as propostas de intervenção foram em sete categorias das oito identificadas. A categoria Espaços Vagos não foi finalizada. Em um estudo mais aprofundado é necessária um análise dos eixos propostos e novas ligações possíveis. Sobre a Metodologia, deve-se explorar ao máximo a imersão territorial e o registro da dinâmica dos espaços na identificação, categorização, e para as propostas de intervenção. Assim, considera-se que os objetivos foram alcançados. Um material diverso foi gerado, sendo o processo um exercício de percepção a se expandido.
observe 249
250
(...) Este é o instante em que nada mais há para ser dito. Observe. Este é o instante em que uma pessoa obrigatoriamente esquece, pelo simples fato de estar viva. Observe. Este é o instante em que se ouve o coração do mundo. Este é o instante em que o vento sopra, invadindo a cidade em seus quatro pontos cardeais. Observe. Este é o instante em que Vitória se parece com qualquer cidade do mundo, apresentando-se anônima para sempre. Este é o instante em que a lua continua se movendo. Este é o instante em que se ouve o coração do mundo. Este é o instante – observe – em que se encaram. Nada mais há para ser dito. Fim. Adeus, adeus, o navio que parte, despedindo-se, adeus, agora e na hora. Fim. (...)1
1
ALMEIDA, Amylton de, Blissful Agony. Coleção Letras Capixabas, volume 32, 2ª edição, 1998.
observe 251
ANEXO 01 _ PROCESSOS
Os croquis fazem parte do processo das propostas de intervenção. São estudos de possibilidades ou alternativas para os espaços de intervenção.
252
ESBOÇOS E ESTUDOS
Rua Aritides Campos_Estudo 1 Arborização : obstrução da paisagem
Rua Aritides Campos_Estudo 2 Cobertura permeável
observe 253
ESBOÇOS E ESTUDOS Acesso ao mar_Estudos
a
b
c 254
ESBOĂ&#x2021;OS E ESTUDOS Acesso ao mar_Estudos
d
e
observe 255
ESBOÇOS E ESTUDOS
Espaço SEBRAE_Estudo 1 Arborização e jardim vertical
Espaço SEBRAE_Estudo 2 Cobertura têxtil
256
ESBOร OS E ESTUDOS
Mercado Capixaba_Estudo 1
Mercado Capixaba_Estudo 2 Cobertura treliรงada
observe 257
ÍNDICE DE IMAGENS Figura 1. A rua, tela de Enerst Ludwing Kirchner, 1913. Acervo MOMA, NY. Fonte: http://www.britannica.com/bps/media-view/12371/1/0/0 Acesso em: 08 de fevereiro de 2011 Figura 2. A cidade, tela de George Grosz, 1916. Acervo Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid Fonte: http://www.museothyssen.org/en/thyssen/zoom_obra/400 Acesso em: 08 de fevereiro de 2011 Figura 3. Golconda, tela de Magritte, 1953. Acervo The Menil Collection, Texas Fonte: http://www.wallpaper-z.com/paintings/1420/golconda.html Acesso em: 05 de fevereiro de 2011
..17
...19
...21
Figura 4.Lever House em Nova York Fonte: http://www.bridgeandtunnelclub.com/bigmap/manhattan/ midtown/leverhouse/index.htm Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...22
Figura 5.La Defénse em Paris Fonte: http://aprendendo.wordpress.com/2008/02/ Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...23
Figura 6. Shopping em Loanda, PR Fonte: http://radioloandafm.files.wordpress.com/2008/01/ fotos-shopping-cristal-interior-i.jpg Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...24
Figura 7. Shopping Center “Forum Allgäu” em Kempten, Bavaria Fonte: http://www.hochtief.com/hochtief_en/791.jhtml Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...25
258
Figura 8. Istambul‐Turquia ...28 Fonte: GEHL, Jan, GEMOZOE, Lars, Novos Espaços Urbanos. EDITORA, 1ª Edição, 2002. Figura 9. Nápoles – Itália. ...27 Fonte: GEHL, Jan, GEMOZOE, Lars, Novos Espaços Urbanos. EDITORA, 1ª Edição, 2002. Figura 10. Gordon’s gim, tela de Richard Estes , 1968. Fonte: http://pinceladas-fms.com/estes_gordons_gim.jpg Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...29
Figura 11.The sensation of crossing the street, tela de Stanley Cursiter, 1913. ...33 Fonte: http://www.fotolog.com.br/gateau/27212792 Acesso em: 08 de fevereiro de 2011 Figura 12.La Rambla, Centro de Barcelona Fonte: http://www.eslteachersboard.com/cgi-bin/europe-info/index. pl?page=3%3Bread=1038 Acesso em: 16 de fevereiro de 2011
...35
...37 Figura 13.Avinguda D’Alcària Fonte: GEHL, Jan, GEMOZOE, Lars, Novos Espaços Urbanos. EDITORA, 1ª Edição, 2002. Figura 14. Porto de Vitória Fonte: Arquivo pessoal
...45
Figura 15. Aterros realizados em Vitória Fonte: Marinato, 2004
...46
observe 259
Figura 16. Centro de Vitória (1960) Fonte: Arquivo Memória Visual Baía de Vitória, Foto Paulo Bonino
...47
Figura 17. Folder do Projeto Visitar o Centro Fonte: Prefeitura de Vitória
...53
Figura 18. Centro de Vitória (1960) Fonte: Arquivo Memória Visual Baía de Vitória, Foto Paulo Bonino
...55
Figura 19. Pólos de atração metropolitana. Fonte: Planejamento Urbano Interativo do Centro
..57
Figura 20. Fluxo estimado de veículos de transporte individual na Hora Pico Manhã (06:30 – 07:29 h) Fonte: PDTMU
...58
Figura 21. Av. Jerônimo Monteiro Fonte: http://gazetaonline.globo.com
...67
Figura 22. Av. Jerônimo Monteiro, Fafi Fonte: arquivo pessoal
...68
Figura 23. Intervenções em orlas marítimas Fonte: Gehl Architects ApS, Public Spaces Public Life Study of central Sydney. 2007.
...69
Figura 24. Mapa de predominância do uso do solo em 2005. ...70 Fonte: Análise de uso e ocupação do solo, cultura e lazer. Programa de revitalização do centro de vitória, Maio 2006. SEDEC/GPU/CRU Figuras 25,26,27. Diversidade de usuários Fonte: www.vitoria.es.gov.br/
...71
Figura 28. Parque Moscoso, Centro de Vitória Fonte: Arquivo pessoal
...72
260
Figura 29. Projeções no Teatro Carlos Gomes, Centro de Vitória. Fonte: Arquivo pessoal
...72
Figura 30. Melbourne, Austrália Fonte: Gehl Architects ApS, Places for People. City of Melbourne, 2004.
...73
Figura 31. Mercado da Capixaba. Fonte: Publicação Arquitetura, Patrimônio Cultural do Espírito Santo. Secretaria de Estado da Cultura, Conselho Estadual da Cultura. -Vitória: SECULT, 2009
...203
Figura 32. Pátio do Mercado da Capixaba Fonte: Arquivo pessoal
...204
Figura 33. Escadaria Maria Ortiz Foto: Referencia VIII-EV-1 Fonte APM Fonte: http://sistemas.vitoria.es.gov.br/ecbh/dtpathis.cfm?dt=Q&id=34 Acesso em: 08 de fevereiro de 2011
...218
Figura 34. Escadaria Maria Ortiz vista da Avenida Jerônimo Monteiro (1936) Foto: Photo Paes, Fonte : Arquivo Baía de Vitória
...222
Figura 35: Cais do imperador (1912) Foto: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Fonte: Arquivo Baía de Vitória
...232
Figura 36: Cais do imperador (1906) Foto: André Carloni Fonte: Arquivo Baía de Vitória
...232
Figura 37: Largo em frente ao Palácio Anchieta, antigo Colégio dos Jesuítas, 2011 Fonte: Arquivo pessoal
...233
observe 261
BIBLIOGRAFIA ABBUD, Benedito; Yokomizo, Helio. Criando paisagens - guia de trabalho em arquitetura pais‐ agística. SP: Senac São Paulo, 2006 ALMEIDA, Renata Hermanny de. Arquitetura, Patrimônio Cultural do Espírito Santo. Secretaria de Estado da Cultura, Conselho Estadual da Cultura. -Vitória: SECULT, 2009 ANJOS , Erly E., Levantamento e análise de indicadores do centro de vitória. Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006. ARAÚJO, Leonor Franco, Análise Histórica da Evolução Urbana do Centro de Vitória.Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006. Arte e Paisagem: (Conferências escolhidas) / Roberto Burle Marx: José Tabacow, organização e comentários. – 2. Ed. rev. e ampl. – São Paulo: Studio Nobel, 2004. BACHELARD, Gaston. A poética do espaço – Martins Fontes BARRA, Eduardo. Paisagens úteis BATISTA, Márcia Nogueira. A vegetação na paisagem urbana. Resenhas online – portal vitruvius, Agosto 2006 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução Plínio Dentzien. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed., 2001 BORELLI, Ana (Curad.), Penso Cidade, Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2002. http://www.penso.art.br/penso1/projeto15/index.htm CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer, 14 ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. observe 263
CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Edições 70 Livraria Martins Fontes, São Paulo, 1983. FREITAS, José Francisco Bernadino. Projeto centro.com.vitória / José Francisco Bernadino Freitas, Martha Machado Campos, Renata Hermanny de Almeida. – Vitória: EDUFES, 2002. GAUSA, Manuel. Diccionario metápolis arquitectura avanzada. Barcelona: Actar, [2001]. Gehl Architects ApS, Places for People. City of Melbourne, 2004. Gehl Architects ApS, Public Spaces Public Life Study of central Sydney. 2007. GEHL, Jan, GEMOZOE, Lars, Novos Espaços Urbanos. EDITORA, 1ª Edição, 2002. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura [tradução Carlos Eduardo Lima Machado] – 2ª ed.São Paulo: Martins Fontes, 1999. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades, tradução Carlos S. Mendes Rosa. – 2ª Ed. – São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
MARCUS, C.C; Francis, C. People Places: design guidelines for urban open space. New York: Van Nostrand Reinhold, 1990. MARINATO, Cristina Fiorin. Aterros em Vitória: uma história para ser lembrada. Projeto de Graduação (Departamento de Arquitetura). Vitória: UFES, 2004. PECHMAN, Robert; KUSTER, Eliana. Maldita Rua. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional / Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil. PESSOA, Fernando; CUNHA, Teresa Sobral.; GUEDES, Vicente.; SOARES, Bernardo. Livro do desassossego. 2. ed. - Campinas: Ed. da UNICAMP, 1996. 264
BIBLIOGRAFIA PMV, Escritos de Vitória: 5; Porto. Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria de Cultura e Esporte. Vitória, PMV, 1994. PMV, Escritos de Vitória: 4; Logradouros. Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria de Cultura e Esporte.Vitória, PMV, 1994. PMV, Análise de Infraestrutura Instalada. Programa de revitalização do Centro de Vitória, Prefeitura Municipal de Vitória, 2006. RIBEIRO, Ana Clara Torres. Sociabilidade, hoje: leitura da experiência urbana. 2005 SÁ CARNEIRO, Ana Rita; MESQUITA, Liana de Barros. Espaços Livres do Recife – Recife: Prefeitura da Cidade do Recife/ Universidade Federal de Pernambuco, 2000. SEA CEX, CCCB, TURNER, Post-it city. Cidades ocasionais. Direção de Comunicação da Diputación de Barcelona e CCCB, 2008. SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Tradução Lygia Araujo Watanabe. – São Paulo: Companhia das Letras, 1998. TUAN, Y Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. -. São Paulo: Difel, 1980
observe 265
observe “ (...) Este é o instante em que o vento sopra, invadindo a cidade em seus quatro pontos cardeais. Observe. Este é o instante em que Vitória se parece com qualquer cidade do mundo, apresentando-se anônima para sempre. Este é o instante em que a lua continua se movendo. Este é o instante em que se ouve o coração do mundo. Este é o instante – observe – em que se encaram. (...) ” Amylton de Almeida.
observe