asdasd

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14

A Dinâmica Europeia do Tooling Portugal: que posicionamento competitivo? JOSÉ FERRO CAMACHO *

Abstract | O presente texto tem como objectivo analisar a posição do engineering & tooling português na dinâmica industrial, em particular na europeia, a partir da exploração dos dados referentes à produção, ao comércio externo, aos preços e à especialização. Esta avaliação permite-nos caracterizar o panorama competitivo no domínio dos factores externos e é indispensável para a compreensão das importantes alterações que marcaram os primeiros anos deste século. A elevada exposição internacional do sector torna indispensável a clarificação dos dados referentes a estes capítulos de forma a suportar o actual processo de reflexão sobre o seu reposicionamento competitivo e o ajustamento industrial subsequente. A evolução actual pode ser interpretada como um passo adicional na implementação de sistemas globais de produção, conducentes à extensão das redes industriais de fornecimento para além dos espaços de integração de comércio continentais. O actual panorama competitivo condiciona fortemente uma estratégia suportada nos custos e aponta, de forma clara, quer para a melhoria da eficiência colectiva e da produtividade individual das empresas, quer para o estabelecimento de um novo patamar competitivo, baseado na diferenciação e na especialização. Esta análise formata um enquadramento de tonalidades fortes para a reflexão estratégica suportada pelos principais intervenientes, empresas, agências públicas e entidades associativas e tecnológicas.

1.1. Consumo e Produção O consumo e a produção europeias – Figura 1 – apresentam valores correspondentes a uma estagnação ou a um decréscimo a partir de 2001, apenas contrariado no último ano do período. A Alemanha, a Itália, a França, o Reino Unido e a Espanha são os cinco maiores mercados dos moldes para plásticos e borrachas – Figura 2. Contudo, de uma análise detalhada destes mercados emerge uma visão que integra a diversidade das posições nacionais: FIGURA 2 EUROPA, CONSUMO DOS PRINCIPAIS PAÍSES, EM VALOR 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400

1. Mercado Europeu – Sinónimo de Estagnação e Diferenciação

200

Na União Europeia, a análise por categorias de produtos sublinha o predomínio do consumo de moldes para injecção ou compressão de plásticos e borrachas, num patamar médio em torno dos 3800 milhões de euros seguido, por ordem decrescente de valor, do consumo de tooling destinado ao trabalho de metais por pressão, por estampagem ou por punçoamento, com valores médios aproximados de 3000 milhões de euros. Nas restantes categorias , o consumo situa-se no patamar dos 500 milhões de euros ou em valores ligeiramente superiores. Neste texto são analisados os dados referentes aos moldes para plásticos e borrachas, que representam cerca de 90% da produção portuguesa, em valor. FIGURA 1 EUROPA, PRODUÇÃO E CONSUMO 6000

5000

4000

3000

2000

1999

2000

Produção total UE 27+3 Produção total UE 27+3+Suíça

2001

2002

2003

Consumo aparente total UE 27+3 Consumo aparente total UE 27+3+Suíça

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros Fonte: elaboração própria

0

1999

2000

Alemanha Itália

2001

França Reino Unido

2002

Espanha Suíça

2003

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros Fonte: elaboração própria

- o mercado alemão cresceu, em valor, desde o início do período em con sideração até 2003, tornando-se preponderante, e estabilizou, a preços correntes, na fase subsequente. Nos três anos finais em análise, este mercado representou cerca de 37% dos valores agregados da UE27; - o mercado italiano, apesar de alguma oscilação de valores, apresenta uma tendência para a estabilização em valores ligeiramente inferiores aos 1000 milhões de euros correntes; - o mercado do Reino Unido evidencia uma quebra acentuada, em valor, posterior a 2001; - o mercado francês ostenta uma redução em todo período considerado, a que não deve ser alheia, entre outras, a evolução da indústria automóvel no segmento de componentes, que evidencia uma redução da expressão doméstica e uma diversificação de localizações exteriores ao país. A avaliação dos maiores produtores europeus, em valor, apresenta uma evolução semelhante à obtida para o consumo a qual, deste modo, confirma que os países principais consumidores são os mais importantes produtores, com a excepção assinalável de Portugal, que emerge no quarto 1 CN 82073010 - Pressing, stamping or punching tools for working metal (excluding work and tool holders for machines or hand tools) CN 84807190 - Injection or compression type mould tools for rubber or plastics CN 84807900 - Mould tools for rubber or plastics (excluding injection or compression types) CN 84804100 - Injection or compression type moulds for metal or metal carbides (excluding ingot moulds) CN 84804900 - Mould tools for metal or metal carbides (excluding injection or compression types) CN 84662010 - Jigs and fixtures for specific applications, and sets of standard jig and fixture components for machine-tools


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lugar europeu no capítulo da produção. Uma avaliação da Figura 3 permite-nos identificar, no final do período, três patamares de preços unitários médios de facturação (euros / kg) (valores reportados pelas estatísticas nacionais): - Alemanha, com valores superiores a 40 euros/kg; - Itália, próximo dos 30 euros/kg; - Portugal e Espanha, posicionados no patamar em torno dos 20 euros/kg; - Reino Unido: valores unitários em redução contínua. Todavia, os dados da figura permitem-nos, ainda, identificar uma redução dos valores médios do rácio facturação por unidade de peso nos produtores mais significativos. Esta evolução é relevante na Alemanha que ostentou uma redução de 50 euros / kg, em 2000, para 40 euros / kg no final do período. No entanto, é possível caracterizar uma correcção de idêntica natureza, mas em valor inferior, em Itália, de 34 euros /kg em 2000, para 29 euros / kg, em 2005; em Espanha, que terminou o período em análise nos 17,5 euros / kg; e no Reino Unido que, iniciando a análise em 25 euros / kg, a terminou com valores em torno dos 13 euros / kg (valor sob reserva).

A análise das exportações em valor – Figura 5 – permite definir quatro patamares de facturação: a Espanha e o Reino Unido ostentam valores inferiores a 100 milhões de euros; a França e Portugal, com valores entre 250 e 300 milhões de euros; a Itália com valores entre os 500 e os 600 milhões de euros; e a Alemanha, que apresenta valores médios de exportação superiores a 700 milhões de euros. Embora esta componente se tenha reduzido nos dois últimos anos do período considerado. FIGURA 5 EUROPA, PRINCIPAIS EXPORTADORES 900 800 700 600 500 400

FIGURA 3

300

EUROPA, PREÇOS UNITÁRIOS MÉDIOS DE FACTURAÇÃO POR PAÍS PRODUTOR 60

200 100

50

0

40

2000

Alemanha Espanha

30 20

2001

França Reino Unido

2002

2003

Itália Portugal

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros Fonte: elaboração própria

A Figura 6 apresenta os valores de preços unitários médios das exportações da Alemanha, da França, de Espanha, da Itália e de Portugal para os países pertencentes à União Europeia.

10 0

1999

1999

2000

Alemanha Itália

2001

Reino Unido Espanha

2002

2003

Portugal

2004

2005

2006

FIGURA 6

Unidades: euros / Kg Fonte: elaboração própria

PREÇOS UNITÁRIOS MÉDIOS DAS EXPORTAÇÕES PARA A UNIÃO EUROPEIA DE PAÍSES

Nota: não é possível o cálculo do indicador para as produções francesas devido à inexistência de estatísticas em peso da produção do país

40 35

1.2. .Comércio Internacional na Europa

30

Contudo, a participação dos principais países no comércio internacional de âmbito europeu apresenta envolvimentos diferenciados. A Alemanha é, em valor – Figura 4, o maior mercado europeu de importação. O país apresenta um percurso de importações crescentes até ao ano de 2003. Contudo, assiste-se a um decréscimo superior a 30% entre esse ano e o final do período. Os restantes países ostentam uma estabilidade em torno de dois patamares: França e Itália, em torno de 200 milhões de euros; e Reino Unido e Espanha, que no final do período evidenciam valores aproximados de 100 milhões de euros de importações. FIGURA 4

700 600 500 400 300 200 100 1999

20 15 10 5 0

1999

2000

Alemanha Espanha

2001

França Portugal

2002

2003

2004

2005

2006

Itália Unidades: Seleccionados, euros / kg Média Intra Fonte: elaboração própria

Notas: 1) exportações intra UE; 2) as exportações para a Suíça não estão incluídas nestes cálculos

EUROPA, PRINCIPAIS IMPORTADORES

0

25

2000

Alemanha Espanha

2001

França Reino Unido

2002

Itália

2003

2004

2005

Unidades: euros / Kg Fonte: elaboração própria

2006

O preço unitário médio das exportações do conjunto dos países considerados diminuiu, entre 2001 e 2006, de 28 para 23 euros / kg. De um modo geral, o preço médio das exportações dos países caracterizados por possuírem grandes mercados domésticos são inferiores aos preços unitários de facturação nos respectivos mercados domésticos, como apresentados na Figura 3 do ponto anterior. Este facto aponta para uma maior correcção de preços unitários médios, em baixa, na componente exportação nos mercados europeus. A avaliação da Figura 6 e de dados adicionais permite identificar as seguintes grandes tendências: - Suíça: estabilidade num patamar próximo dos 55 euros / kg (não repre- sentado na figura);

15


16

- Alemanha: no nível dos 30 euros / kg. Contudo, uma avaliação adicional permite identificar uma correcção para valores inferiores nos anos finais do intervalo, em especial nas exportações para a Espanha, a Itália e a França; - França: os valores das saídas do país evidenciam uma estabilidade em torno dos 25 euros /kg. - Itália: o valor médio mostra um decréscimo desde o ano de 2002 (29,5 euros / kg) até ao final do período (23 euros / kg, em 2006); - Reino Unido: as exportações inglesas evidenciaram uma diminuição do preço médio de 45 euros / kg em 2002, para 25 euros / kg em 2006, em bora parte dessa redução deva ser atribuída à evolução da taxa de câm bio da Libra esterlina face ao euro; - Espanha: os preços das exportações espanholas ostentam um decrés cimo desde o ano de 1999 (23,5 euros / kg) até ao final do período (12,5 euros / kg); - Portugal: o preço evidencia um decréscimo entre 2001 (28,7 euros / kg) e 2006 (17,5 euros / kg).

FIGURA 8 IMPORTAÇÕES EXTRA UE27, PRINCIPAIS ORIGENS 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0

1999

2000

2001

China

Japão

Coreia

E.U.A.

2002

2003

2004

2005

2006

Unidades: toneladas Fonte: elaboração própria

FIGURA 7

Os valores corrigidos evidenciam dois posicionamentos competitivos claramente diferenciados. De entre estes, a evolução é a mais marcante. A Figura 10 caracteriza a dimensão das importações de origem chinesa e a sua evolução. Apesar do seu contínuo crescimento, estas importações representam, ainda, um valor relativamente baixo quando comparado com a dimensão do mercado europeu: em 2006, 130 milhões de euros e 11000 toneladas. Todavia, em média, cada quilograma importado foi transaccionado a 12 euros em 2006.

PAÍSES ASIÁTICOS, FRACÇÃO DO TOTAL DAS IMPORTAÇÕES EXTRA UE27

FIGURA 9

1.3. O Papel das Importações Chinesas Os dados permitem confirmar a China como o novo entrante com significado no período em análise, embora as importações da Coreia do Sul possam ser sinalizadas em 2006 – Figura 7.

IMPORTAÇÕES EXTRA UE27, PRINCIPAIS ORIGENS, PREÇOS UNITÁRIOS MÉDIOS

20

Valores Corrigidos à Taxa de Câmbio, Ano de Referência 2001

18

60

16 50 14 40 12 30 10 20 8 10 6 0

4

1999

2 0

1999

2000

2001

China

Japão

Coreia

Taiwan

2002 Malásia

2003

2004

2005

2006

Unidades: em Valor, % Fonte: elaboração própria

A Figura 8 apresenta as importações, em peso, extra UE27. Por um lado, os valores apresentados evidenciam um crescimento das importações com origem na China e na Coreia do Sul. No primeiro caso, com um progresso confirmado e significativo entre 2002 (1744 toneladas) e 2006 (10656 toneladas). No segundo, com uma evolução entre 2004 (1900 toneladas) e 2006 (4100 toneladas). Ao longo do período em consideração, teve lugar uma significativa mudança das taxas de câmbio das moedas envolvidas nas transacções. A Figura 9 apresenta os valores dos preços unitários, corrigidos, com base nos valores de 2001, e sem correcção. Os quatro países apresentam-se agrupados em dois patamares diferenciados. Por um lado, os EUA e o Japão que, como origem de importações da UE27, apresentam preços unitários médios próximos dos 50 euros / kg e, por outro, a China e a Coreia do Sul como origens de importações a valores um pouco superiores a 15 euros / kg.

2000

2001

China

Japão

Coreia

E.U.A.

2002

2003

2004

2005

2006

Unidades: euros / kg Fonte: elaboração própria a partir de dados Eurostat

Valores à Taxa de Câmbio Nominal Anual 60 50 40 30 20 10 0

1999

2000

2001

China

Japão

Coreia

E.U.A.

2002

2003

2004

2005

2006

Unidades: euros / kg Fonte: elaboração própria a partir de dados Eurostat

No mercado alemão, o início do período foi marcado por um crescimento em peso mais importante em 2001, ano após o qual evidencia um retrocesso seguido de uma retoma posterior, mais suave. Uma análise aos valores do preço unitário médio mostra que esta primeira entrada foi rea-


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lizada a preços significativamente baixos. Na actualidade, a quota de importações para o mercado alemão é a mais baixa do conjunto de países considerados (em valor, 5,9% em 2006). FIGURA 10 CHINA, IMPORTAÇÕES PARA UE27 Valor Importações

Unidades: euros / kg

140 120 100 80 60 40

FIGURA 11

20 0

ticas distintas, com uma fronteira no ano de 2001. O volume de negócios resultante da produção portuguesa de tooling cresceu dos €114 milhões, em 1990, para os €371 milhões, em 2004 (valores correntes). A dimensão da componente de exportação, cerca de 90% é uma das principais características da indústria portuguesa. A indústria portuguesa do engineering & tooling beneficiou de forma significativa da adesão do país à União Europeia. O sucesso da criação do mercado único, a par do crescimento de alguns mercados europeus de bens finais, como o automóvel, propiciou uma década de ouro à indústria do tooling. Assim, este processo foi igualmente acompanhado pelo incremento da exposição das exportações portuguesas ao mercado único europeu (de 60%, em 1996, para 74%, em 2001) – Figura 11.

PORTUGAL, EXPORTAÇÕES INTRA E EXTRA UE 1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006 350

Fracção as Importações de Fora da Europa (UE 27 + Suíça)

Unidades: %

30

300 250

25 20

200

15

150

10

100

5 0

50 1999

2000

2001

2002

2003

2004

Peso Importações

2005

2006

0

Unidades: 1000 Kg

1996

1997

1998

Intra UE25

12000

1999

2000

Extra UE25

2001

Total

2002

2003

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros correntes Fonte: elaboração própria

10000

Contudo, a continuação do crescimento, em peso, das exportações para o mercado europeu a partir de 2001 (Figura 12), quando comparado com a estagnação das facturações, aponta quer para alterações da composição do produto e do serviço, quer para uma diminuição de preços unitários.

8000 6000 4000 2000 0

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Preço Unitário Médio

2005

2006

Unidades: euros / Kg

18

FIGURA 12 PORTUGAL, EXPORTAÇÕES EM PESO, EXTRA E INTRA UE27 16000

16

14000

14

12000

12 10

10000

8

8000

6

6000

4

4000

2

2000

0

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Fonte: elaboração própria

No extremo oposto encontra-se a Espanha, país em que os preços unitários médios foram os mais baixos e a penetração das importações chinesas a mais elevada (em valor 22,8%, em 2006). Contudo, a França e a Suécia ostentam quotas equivalentes relativamente elevadas, com 14,6% e 14,2%, respectivamente. 2. A Posição da Indústria Portuguesa A par com a evolução da indústria europeia, também a portuguesa evidencia um progresso no qual é possível traçar dois períodos com caracterís-

0

1995

1996

Intra UE25

1997

1998

1999

Extra UE25

2000

Total

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Unidades: 1000 Kg Fonte: elaboração própria

No capítulo dos sectores-clientes assistiu-se a uma redução da importância dos moldes para brinquedos, electrónica e telecomunicações, electrodomésticos, embalagens e material eléctrico. Esta evolução dos sectoresclientes ocorre a par da emergência e da consolidação de um grupo de novos actores industriais globais, de entre os quais se destaca a China. A redução do peso dos sectores-clientes referidos anteriormente é contemporânea do crescimento da quota dos moldes destinados à produção de componentes para a indústria automóvel. O aprofundamento desta especialização é marcado a partir de 2001, embora na componente dirigida

17


18

ao mercado dos electrodomésticos este decréscimo tenha começado no período anterior. O percurso da indústria portuguesa acentuou, por um lado, a especialização no mercado dos moldes para plástico, em particular no domínio da injecção (em média, 90% do total em valor) e, por outro, a sobre-exposição ao sector automóvel (14% em 1994; 60% em 2004). Esta evolução foi acompanhada quer por um progresso dos requisitos em todos os domínios de actividade das empresas, quer pela exposição ao ambiente de operação específico do sector, com a degradação das condições comerciais e financeiras, que teve lugar, em particular, nos últimos anos do período. O desenvolvimento da indústria portuguesa neste domínio de especialização elevou de forma significativa a sua quota, em valor, no total das produções na União Europeia, de 3,4%, em 1995, para 6,6% em 2005. De igual modo, a quota das exportações portuguesas no consumo europeu de moldes para plástico e borracha cresceu até atingir um patamar em torno dos 7%. No mercado europeu este progresso teve lugar, principalmente, através de exportações para cinco países: França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Suécia – Figura 13. FIGURA 13 PORTUGAL, EXPORTAÇÕES, ESPECIALIZAÇÃO PLÁSTICOS

70

50 40 30 20 10

1999

2000

França Alemanha

2001

Espanha Reino Unido

2002

USA Suécia

2003

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros Fonte: elaboração própria

Notas: a) valores correntes; b) para exportações superiores a 10 milhões de euros

A sua avaliação permite, apesar de algumas oscilações, constatar a seguinte evolução das exportações portuguesas (após 2001): - França: patamar superior a 60 milhões de euros; - Alemanha: máximo em 2003 (≈ 60 milhões de euros), seguido de um período de decréscimo; - Espanha: redução a partir de 2002 (≈ 40 milhões), seguido de retoma para valores semelhantes; - Reino Unido: valores médios no intervalo entre 20 e 30 milhões de euros; - Suécia: decréscimo, a partir de 2002, de 20 milhões de euros, para valo res inferiores a 10 milhões de euros, em 2006. A análise da Figura 14 permite verificar que as exportações portuguesas, quando medidas em peso, evidenciaram uma evolução crescente para os principais mercados europeus onde estão presentes, França, Alemanha e Espanha, apesar de algum retrocesso neste último mercado nos anos de 2003 e 2004 ou no mercado alemão em 2006. A conjugação dos dados referentes a facturações e a pesos aponta para a alteração de preços unitários médios evidenciada pela Figura 15. Nesta abordagem é possível constatar uma evolução de valores próximos de 28 euros / kg em 2001, para preços aproximados de 17 euros / kg, em 2006. Com a excepção do mercado italiano, que não é representativo para as empresas portuguesas, foi o mercado espanhol que apresentou o preço 2

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

1999

2000

Alemanha Espanha

2001

França Reino Unido

2002

2003

Itália

2004

2005

2006

Unidades: milhões de euros Fonte: elaboração própria

unitário, no final do período, inferior: 13,9 euros / kg. Durante este intervalo de tempo, as exportações portuguesas, em média, foram melhor remuneradas no mercado alemão. Todavia, no final do período assistiu-se, igualmente, a uma convergência de preços.

Para o tooling português, as perspectivas resultantes do alargamento e da influência da União Europeia, permanecem como um desafio. Os resultados estão expressos na promessa que constituem as actuais taxas de crescimento da Turquia, país cuja adesão ou futuro formato de associação à UE continua em aberto. De forma mais abrangente, e secundando a continuada expansão do sistema automóvel europeu a Leste, a Federação Russa começa a constituir, igualmente, um destino para as exportações portuguesas.

60

1

PORTUGAL, EXPORTAÇÕES EM PESO POR PRINCIPAIS MERCADOS EUROPEUS

3. Resumo das Dinâmicas Identificadas

80

0

FIGURA 14

IPC – Instituto de Polímeros e Compósitos, Universidade do Minho IPC – Instituto de Polímeros e Compósitos, Instituto Politécnico de Leiria

FIGURA 15 PORTUGAL, PREÇOS UNITÁRIOS MÉDIOS DAS EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS 35 30 25 20 15 10 5 0

1999

2000

Alemanha Espanha

2001

França Itália

2002

Média

2003

2004

2005

2006

Unidades: euros / Kg Fonte: elaboração própria

Todavia, se analisarmos os resultados do processo de integração, sobressai a visão actual da indústria que aponta para uma diversificação e uma redefinição de especializações, tendente a uma nova divisão internacional de trabalho e à mudança do volume e da qualidade dos fluxos de comércio externo entre os diversos Estados. A situação da indústria portuguesa do tooling pode ser apontada como um dos exemplos. O sector português cresceu de forma significativa, em volume e em quota, com um posicionamento de mercado numa gama médiabaixa de preços. Sectores de outros países, como a Alemanha ou a Suíça, afirmaram-se em patamares superiores e indústrias, como a italiana e a francesa, posicionaram-se, em termos médios, em níveis intermédios. A avaliação do progresso do processo de integração deve, no entanto,


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ser articulada com a emergência de novos actores globais que, em conjugação com a estagnação de alguns mercados e o desenvolvimento de práticas globais de outsourcing, alteraram o pano de fundo em que os processos competitivos têm actualmente lugar. Por um lado, o mercado europeu apresenta-se estagnado, quer em valor, quer em volume. Esta fase, que tem lugar a partir do ano de 2001, pode mesmo aparentar sinais de declínio nalgumas categorias de produtos e sectores-clientes, enquanto que noutros sectores, como o automóvel, este processo pode ser amortecido pela reconfiguração da oferta do produto final, com a inclusão de um crescente número de modelos e versões . Contudo, os diversos mercados nacionais apresentam dinâmicas diferenciadas. Assim, enquanto que a Alemanha se mantém, no essencial, como principal produtor e consumidor de moldes para plásticos com quotas relativamente estáveis nas duas vertentes, o Reino Unido e a França evidenciam tendências decrescentes em valor. Por outro lado, o mercado europeu foi objecto de entrada de importações com origem na China. Este processo evidencia uma evolução mais expressiva a partir de 2001. Desde essa data, assistiu-se a um crescimento contínuo destas importações, embora estas representem ainda uma parcela reduzida do valor total do consumo europeu. No entanto, a sua quota nas importações revela-se efectiva nalguns mercados, como o espanhol. A conjugação destes dois factos, a estagnação de mercado e a ameaça de novos entrantes, deu forma a um contexto indutor e amplificador de estratégias defensivas. Estas ostentam formatos diferenciados que foram determinados pelo posicionamento prévio dos actores empresariais existentes no mercado europeu. A análise da natureza destes modos de ajustamento insere-se em diversas linhas de investigação nos domínios da economia industrial, em especial no capítulo das barreiras à entrada. Deste modo, interessa enunciar algumas das características subjacentes e definidoras do mercado: 1) a estrutura de mercado é caracterizada pela existência de várias centenas de pequenas e médias empresas; 2) o relacionamento com os clientes é caracterizado por uma importante dependência e pela progressiva degradação das condições de pagamento, conducente a crescentes necessidades de fundo de maneio e ao enfraquecimento financeiro das empresas; 3) a estrutura de custos de produção é definida por: - custos fixos relativamente elevados, com especial incidência no investimento em equipamentos e licenças de software adquiridos a fornecedores a preços internacionais; - preços de materiais específicos à execução de moldes determinados por mercados globais, embora passíveis de reduções determinadas por efeitos de escala ou por diferenças regionais que reflictam condições locais de mercado, barreiras comerciais ou custos de transporte; - custos laborais determinados por mercados de trabalho e regimes de relações laborais locais; 4) produtos e serviços que estão posicionados a diversos níveis de diferenciação, reflectidos em distintos patamares de preços unitários médios e correlacionados com origens nacionais como, por exemplo, no caso da Alemanha e da Suíça (produto não-homogéneo e segmentado); 5) existem grandes mercados de produção e consumo, ainda de características nacionais, mas objecto de crescente interdependência. A resposta das empresas de tooling europeias à ameaça de entrada das importações chinesas teve lugar após um forte sinal de mercado nos anos anteriores a 2001. De acordo com os dados apresentados, este sinal ocorre, com maior relevo, no mercado alemão com a importação de moldes a 3

Neste contexto, em termos agregados, a elasticidade da procura ao preço é reduzida (o número de projectos de tooling é determinado pelo número de modelos e versões do produto final) pelo que, a manter-se o consumo total de tooling constante, as alterações assentes no mero ajustamento de preço induzem uma redistribuição de quotas de mercado que será sucessiva e temporária até à obtenção de um equilíbrio de preços em baixa, e conducente à saída de mercado das empresas menos eficientes.

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preços iguais ou inferiores ao patamar médio de preços da ordem dos 12 euros / kg. Neste contexto, o comportamento das empresas não correspondeu ao formato da competição efectiva, uma vez que o volume de importações com origem chinesa era realmente reduzido, mas antecipou-o. A baixa do nível de preços nos anos imediatos a 2001 inviabilizou o controlo de margens e é o resultado das características da estrutura de mercado, nomeadamente de um universo fragmentado de pequenas e médias empresas (que reduz de forma drástica a possibilidade de concertação), dependentes dos seus clientes e que equacionam as suas estratégias comerciais num ambiente de forte assimetria de informação. No período posterior a 2001 assistiu-se a uma redução do nível médio de preços de produção em todos os mercados reportados na Figura 3, embora com amplitudes diferentes: 1) em alguns dos grandes mercados, em particular na Alemanha e em Itália, a que podemos associar também a Suíça, o nível de preços doméstico é superior e a correcção de preços mais lenta ou inexistente; 2) os preços de exportação apresentaram um nível médio inferior e uma velocidade de correcção mais rápida. O mercado espanhol situou-se no extremo do intervalo de correcção de preços, com valores inferiores em qualquer dos indicadores e a maior quota de entrada de importações chinesas. Com este pano de fundo, o comportamento médio do conjunto das empresas portuguesas conjugou o aumento do volume de produção em peso – Figura 14 com a redução de preços unitários – Figura 15. Este comportamento é tipificado para indústrias que integram empresas com custos fixos relativamente elevados e em que existe uma maior propensão para um comportamento desta natureza: quanto maior o nível de custos fixos, maior a pressão para a utilização da capacidade instalada de forma a reduzir o nível de custos médios, numa tentativa para manter o volume total de facturação. Este movimento coloca as empresas sob a pressão de custos crescentes de mão-de-obra especializada, num mercado de trabalho caracterizado por um défice de vocações e qualificações. Acresce que a redução de margens, aliada a maiores necessidades de fundo de maneio, diminui o fluxo de recursos disponíveis para novos investimentos e para a actualização tecnológica. Embora, do ponto de vista da racionalidade económica, o conjunto das empresas tivesse vantagens em controlar a diminuição de preços em função da progressão real e actual das importações do novo entrante, esta concertação é impossível devido à fragmentação da estrutura de mercado. Acresce a esta condição que a pressão sobre empresas financeiramente fracas cria uma razão adicional para a emergência de uma competição baseada nos preços. Uma vez quebrado o patamar prévio de preços existente, em condições de mercado estagnadas e na presença do progresso de um novo entrante, os preços não voltarão aos níveis anteriores. Em resumo, actualmente, os segmentos que não estão defendidos por barreiras à entrada com base na diferenciação de produtos e serviços estão sujeitos a uma forte competição baseada no preço, em especial na componente objecto de comércio internacional. O progresso da competição com base no preço aponta, por um lado, para a evolução do preço unitário para níveis mais próximos do patamar em torno dos 12 euros / kg, estabelecido pelas importações provenientes do novo entrante – a China – e, por outro, para a contínua expansão das importações com origem neste país. 4. Contributos para a Definição da Estratégica das Empresas e da Posição da Política Pública A evolução actual pode ser interpretada como um passo adicional na implementação de sistemas globais de produção, conducentes à extensão das redes industriais de fornecimento para além dos espaços de integra-

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ção de comércio continentais (NAFTA, União Europeia ou MERCOSUR) e tendentes à criação de novas áreas de comércio integrado livre, como no caso de um espaço que possa incluir os países da ASEAN, a China, a Coreia e o Japão. Este caminho pressiona a criação de uma nova hierarquia de localizações e de especializações nas diversas etapas da cadeia de valor. Tal como aconteceu noutros espaços geográficos sujeitos a acordos regionais de comércio, o processo de integração europeia proporcionou à indústria portuguesa um terreno fértil para o crescimento em volume e para o desenvolvimento tecnológico. Todavia, a evolução da estrutura de mercado (configuração dos posicionamentos de mercado e de localizações geográficas) está sob pressão devido à entrada de um novo interveniente com uma estrutura de custos inferior e o suporte de uma política monetária de subvalorização competitiva do yuan renmimbi. Neste processo, a par do crescente papel dos intermediários comerciais europeus na aquisição de moldes na China, acresce, ainda, a acção dos clientes que prescrevem a execução neste país de projectos contratados na Europa a fornecedores europeus. Este movimento poderá acelerar o desenvolvimento dos fornecedores chineses e facilitar o seu posterior avanço na Europa. O progresso desta entrada vai continuar a colocar sob uma importante pressão os intervenientes situados nos segmentos médios-baixos de preços e impor a saída de empresas, a começar por aquelas que possuírem uma estrutura de custos mais desajustada, revelarem uma menor eficiência ou apresentarem maiores dificuldades financeiras. O fosso entre as empresas com melhores performances e capacidades de adaptação e as menos eficientes ou enfraquecidas no capítulo financeiro tem tendência a crescer, face à pressão externa e à consequente redução de margens. Deste modo, o actual panorama competitivo condiciona fortemente uma estratégia suportada nos custos e aponta, de forma clara, para o estabelecimento de um novo patamar competitivo para as empresas portuguesas, baseado na diferenciação e na especialização. 4.1. Linhas de Acção Principais Face à avaliação realizada, o processo de ajustamento industrial, para ser efectivo, deve assentar em torno de três direcções principais: 1) Desenvolvimento e acesso a mercados com base na diversificação geográfica O crescimento do volume de negócios no mercado europeu está condicionado. Interessa considerar a procura de novos mercados, crescer naqueles em que as empresas portuguesas já estão presentes e procurar uma maior presença nos que apresentam maior potencial de crescimento, seguindo os clientes existentes ou acedendo a novos. Os mercados emergentes e em desenvolvimento, que incluem os BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, devem ser considerados como opções para novas entradas ou para o desenvolvimento de presenças já existentes. Contudo, será necessário equacionar o posicionamento competitivo. Em comum, estes mercados apresentam uma elevada taxa de crescimento da procura. Numa lógica sectorial de clientes, devem igualmente ser consideradas as novas fronteiras do sistema produtivo automóvel (principal cliente de moldes) ou da produção de outros produtos plásticos. Nesta situação estão incluídas não só as localizações sublinhadas no parágrafo anterior, como também as áreas situadas a Leste e a Sul do continente europeu tais como, por exemplo, a Turquia.

Para as empresas de maior dimensão, a abordagem do acesso e do aprofundamento da presença em novos mercados deve contemplar uma visão integrada dos diversos modos de internacionalização, cruzados com as diferentes exigências das fases de projecto e desenvolvimento, produção e assistência técnica. Neste sentido, a problemática centrada na abertura de novas unidades fora do país deve ser equacionada numa lógica internacional integrada articulada com a especialização e a hierarquização das redes produtivas dos clientes. A mudança do panorama competitivo na Europa obriga, igualmente, a equacionar o investimento em novas unidades fora do continente europeu quer para fornecer os mercados locais, quer para fornecer este mercado a partir de localizações com vantagens de custos. Neste caso, interessa equacionar uma diferenciação de localizações com base na estrutura de custos específica da gama e da tipologia dos moldes a produzir. 2) Mudança do posicionamento de mercado – novos patamares de competitividade A gama média-baixa enfrenta uma ameaça global assente nos preços baixos das exportações chinesas e asiáticas, cujo impacto é referenciado em todos os mercados mundiais. O reposicionamento de mercado tem como objectivo reajustar a oferta às expectativas dos clientes dos segmentos mais elevados, num ambiente industrial marcado por novas exigências. Este progresso contempla não só maiores níveis de complexidade e de qualidade dos moldes / ferramentas, mas também os vectores considerados críticos no actual contexto da indústria que possam ser diferenciadores em relação aos novos entrantes. Estes incluem a redução de custos e dos tempos de resposta (em semanas), a colaboração no desenvolvimento e a participação activa em processos de inovação, a partilha de riscos e a assistência técnica exemplar. As componentes de proximidade, quer funcional, quer de localização, de acordo com actividades da cadeia de valor em causa, foram determinantes noutras indústrias para o desenvolvimento de posicionamentos competitivos que contrariassem as ameaças baseadas numa competição pelo preço. Estes critérios apontam para a necessidade de melhorar a capacidade de: - comunicar e de interagir de modo intensivo com clientes e adequado a cada fase do trabalho; - ajustar as respostas organizacionais e operacionais às necessidades dos clientes; - criar relações de confiança baseadas na consistência e na fiabilidade das respostas. Assim, nesta abordagem interessa considerar não só a qualidade do produto final, como também todas as componentes de serviço que lhes estão associadas e ainda as transformações organizacionais e de processos indispensáveis para centrar a empresa nas necessidades do cliente final. A extensão da cadeia de valor, a montante e a jusante, implica um enfoque superior no produto final do cliente e nas características do seu sistema produtivo e obriga a uma alteração, quer na organização interna, quer na carteira de competências das empresas. Neste contexto, os valores de produtividade reportados a um nível agregado apontam para a necessidade de um progresso importante neste domínio, quer ao nível da eficiência colectiva, quer da eficiência da empresa individual, características que nos levam a sublinhar as seguintes áreas como potenciais candidatas na definição de prioridades e objecto melhoria: - a orçamentação; a gestão de projectos; o planeamento; a gestão do e a programação ao nível do shop-floor; a gestão técnico-comercial e o rela-

4 Como exemplo, podemos referir as recentes declarações de Denis Monguillet, gestor do Global Sourcing Project, ao sublinhar que a PSA tenciona elevar o patamar das compras com origem em países de baixos custos do nível actual de 27% para 47% em 2010. 5 A proximidade organizacional sublinha essência relacional, i.e., a capacidade da organização para fazer interagir os seus membros com os elementos das unidades exteriores (fornecedores, clientes e outros parceiros) para realizar as tarefas que contrataram realizar para a execução de um determinado objectivo. Estas necessidades de interacção podem revestir-se de carácter temporário ou permanente.


REVISTA DA CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES

cionamento com clientes; e a implementação de programas de melhoria contínua. No sector, a utilização da capacidade produtiva é regularmente apontada como baixa. As alterações do contexto competitivo e o nível de competição pelo preço colocam uma pressão adicional sobre este factor. O novo entrante – a China – beneficia de regimes de regulação do trabalho que, em conjugação com um ciclo de negócios expansivo, permitem uma superior utilização dos equipamentos e um elevado potencial de redução dos custos médios. Em Portugal, a rigidez da legislação laboral é normalmente apontada como um entrave a uma maior flexibilidade na gestão do tempo e das competências. Acresce que, em resultado da diminuição de margens, os recursos libertados para investimento são agora menores. Contudo, é este o quadro em que estas decisões têm que ser tomadas. Neste contexto, o investimento tecnológico adicional deve estar ao serviço da transformação do posicionamento competitivo e da melhoria da eficiência, em áreas que se exemplificam: - reengenharia de processos e maior implementação das metodologias de engenharia simultânea; - utilização de bibliotecas e de metodologias de PDM (Product Data Management) para optimização dos processos de desenvolvimento e uma maior integração com os processos de fabrico; - implementação de sistemas baseados no conhecimento nas áreas de CAD / CAM; - maquinação de alta-velocidade, que viabiliza a redução do ciclo de fabrico e a realização de melhores soluções de compromisso (trade-offs) entre operações manuais e automatizadas. 3) Diversificação da trajectória tecnológica A diversificação tecnológica destina-se a suportar a criação de novas oportunidades negócio (novas ligações a novos clientes e novas áreas de trabalho com os clientes existentes) e a explorar o potencial que resulta da transversalidade sectorial do engineering & tooling. Neste capítulo, sem contudo restringir o campo de abordagem, interessa sublinhar a exploração das áreas das micro e nano tecnologias. A sua natureza transversal e a sua adopção precoce podem constituir uma oportunidade para a diversificação das áreas e de modelos de negócio. No mesmo sentido, novas pontes devem ser criadas entre o sistema de ciência e tecnologia, fornecedores e clientes, que permitam o estabelecimento de novos campos de inovação, com base em consórcios de I&D temáticos. Esta é, igualmente, uma oportunidade para que, a nível nacional, se aprofundem as ligações inter-sectoriais e entre centros tecnológicos e instituições de I&D e transferência tecnológica. Este é, do mesmo modo, um domínio por excelência, para a constituição de consórcios no âmbito dos projectos mobilizadores. Esta abordagem permite definir um enquadramento metodológico com os instrumentos necessários, de que se salientam: - o estabelecimento de consórcios temáticos de I&D (nacionais e internacionais), que incluam clientes, fornecedores, centros de investigação e universidades, de diversas tipologias: 1) de ênfase horizontal – materiais e tecnologias; 2) de ênfase vertical – sectoriais; ou com conjuntos de protagonistas de geometria variável. - o desenvolvimento de novos protagonistas empresariais, com condições para aprofundarem e para impulsionarem novas linhas tecnológicas e de serviços e que incluam: 1) o empreendorismo de base tecnológica e 2) a evolução (spin-offs ou diferenciação / especialização) das empresas existentes. A definição dos seus conteúdos constitui o domínio dos trabalhos em curso.

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tadas de forma igual pela alteração das condições competitivas. Neste sentido, as diferenças residem não só nos patamares de eficiência, como também no posicionamento. Embora constitua um trabalho em curso, é possível tentar identificar os contornos destas diferenças: - Serviço integral (full service): as maiores empresas (ou grupos de empresas) com competências e com recursos para contratar e executar projectos de âmbito e de duração alargada e gerir os seus próprios fornecedores; com cadeia de valor mais abrangente, esta empresa está em melhores condições de incorporar mais serviços de valor acrescentado e de integrar coerentemente na sua oferta as mais recentes tecnologias e metodologias de trabalho; internacionalização baseada numa especialização de locais e de unidades de produção, de projecto ou de assistência técnica de acordo com uma adequação a critérios de proximidade organizacional e funcional; - Especialistas: oferta especializada; competências excepcionais em nichos de mercado de moldes e serviços de dimensão global; com menores necessidades de investimento em activos fixos e uma maior especialização dos recursos humanos; a diversificação produtiva deve procurar o desenvolvimento de novos nichos de mercado assentes na criação de novos modelos de negócio. Esta dinâmica necessita, igualmente, de assentar num novo empreendorismo, direccionado para a criação de diversidade e assente numa maior ligação à investigação universitária; - Fornecedores de serviços especializados: criadas para responder a uma crescente externalização da procura de ofertas especializados; principalmente de dimensão nacional / regional; fundamentais para a eficiência do cluster e das empresas isoladamente; - Empresas de intermediação: de características não só comerciais, mas também envolvidas nas áreas de engenharia e marketing; modelo de negócio que comporta uma flexibilidade intrínseca mas exigente quer nas relações de confiança entre os actores, quer na fiabilidade e consistência das respostas tecnológicas e organizacionais dos intervenientes; as questões nos domínios da transformação de competências e da possibilidade de replicação constituem as interrogações actuais; - Empresas não diferenciadas: com uma vida mais dificultada no actual contexto competitivo; contudo, pequenas empresas, com estruturas de custos reduzidas, uma grande flexibilidade e beneficiando de relações de proximidade, podem, eventualmente, encontrar o seu espaço competitivo. 4.3. Acções ao Nível do Cluster A evolução do panorama competitivo global, que define um novo quadro de regulação e de interacção entre actores, é geradora de uma pressão para a alteração dos elementos de governança regionais / locais. Estes são de natureza institucional, comercial (novos formatos de subcontratação) e informal e a transformação aponta quer para a alteração destas “regras”, quer para o aparecimento de novos actores. A mudança é indispensável para a criação de novos níveis de eficiência colectiva do cluster. A reconfiguração do ambiente institucional, necessária para acomodar o processo de ajustamento e dinamizar as alterações, passa, na lógica da Cefamol e do Centimfe, pela transformação: 1) dos papéis de coordenação; 2) dos formatos de difusão tecnológica; 3) dos mecanismos de dinamização e de interacção; 4) dos modos de articulação com os instrumentos de política pública. Contudo, é igualmente possível encontrar áreas de acção associativa em que, de acordo com o exemplo de outros clusters, se podem obter economias de escala ou um ganho de poder negocial: 1) contratação de energia; 2) contratação de telecomunicações; 3) contratação de serviços logísticos; 4) aquisição de matérias-primas e de produtos normalizados.

4.2. Tipologia das Empresas No enquadramento analisado, as empresas existentes não vão ser afec-

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