VIVA CAMPO Ano1 Edição 1 Novembro 2009
O melhor amigo do homem
no campo
Cães auxiliam o homem no pastoreio de outros animais
Volta ao campo Família que vive na cidade aposta na agricultura familiar
Turismo Rural Lazer e história juntos
Entrevista Maria Iraclézia, presidente da Sociedade Rural de Maringá
MODELO
Economia & Negócios
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Cunicultura
A criação de coelhos como uma alternativa rentável
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Compra direta
Bom negócio aos pequenos produtores
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Enxurrada de prejuízos
Baixa produção de grãos prejudica agricultores da região
Tecnologia
Entrevista Maria Iraclézia
A primeira mulher presidente da Sociedade Rural de Maringá
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Agroecologia
Tecnologia é utilizada em hortas comunitárias
Meio Ambiente
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Reserva Legal Opinióes dividem ambientalistas e ruralistas
Cooperativismo Cooperativas investem
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R$ 1 bilhão de reais devem ser investidas até 2010
Porteira Aberta O melhor amigo do homem no campo
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Cachorros são treinados para lidar com o rebanho
Arca das Letras
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Incentivo à leitura em comunidades rurais
Turismo Rural
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Lazer e história no mesmo lugar
Volta ao Campo
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Família que vive na cidade aposta na agricultura familiar
Editorial
O
agronegócio tem desempenhado um importante papel na economia paranaense e tem sido a principal locomotiva da economia brasileira, respondendo por um em cada três reais gerados no país. Por isso a revista Viva Campo é um importante meio de comunicação para o produtor rural. Para auxiliar o homem que vive no campo, esta edição trás como foco principal uma dica que beneficia tanto para o homem, como para o animal e o campo, são os cães condutores, que ainda buscam um espaço no trabalho com rebanhos. Esta edição trás também uma entrevista com a Presidente da Sociedade Rural de Maringá, Maria Iraclézia de Araújo, falando sobre seus desafios e projetos dentro da associação. A tecnologia incorporada nos diversos elos das cadeias produtivas, é o fruto de uma crescente capacitação e apropriação nacional de riquezas. Assim, merece destaque a matéria sobre a agroecologia, uma nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo, visando à produção de alimentos mais saudáveis e naturais. A revista Viva Campo acredita num futuro brilhante para o agronegócio brasileiro. Por isso, mais uma vez deseja a todos os leitores ótimas festas e que 2010 seja o início de um tempo de grandes realizações.
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Receita da fazenda Classificados
ON LINE www.vivacampo.com.br Perguntamos aos internutas se a fusão entre Perdigão e Sadia poderia ter conseqüências negativas. Veja o resultado: 39,6% Concentração da aquisição de aves e suínos
31,8% Corte de empregados em unidades das duas emrpesas
28,6% Aumento de preços ao consumidor
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CARTAS
Vera Cardoso – Mandaguari, Paraná
ABASTECIMENTO Considero atual a entrevista com o agrônomo José Vicente Ferraz publicada na edição do mês passado. Concordo com ele quando diz que podemos chegar a uma situação perigosa num futuro próximo, pois é inegável que uma grande parcela da população mundial está tendo acesso à alimentação – e isso é ótimo -, enquanto a oferta de alimentos, infelizmente, poderá baixar. Que sirva de alerta para o governo brasileiro olhar com seriedade para o homem do campo, já que a produção agropecuária avançou consideravelmente nos últimos anos com recursos próprios e conseguiu abastecer o mercado interno e ainda gerar divisas ao Brasil. Eu enxergo obstáculos pela frente. Armando dos Santos – Maringá, Paraná
SEM-SUÍNOS Não há os sem-terra, os sem-teto, os sem-noção (os políticos)? Do jeito que vão as coisas, daqui a pouco o país vai conhecer o novo personagem do campo: os sem-suínos, ou sem-porcos. Ou seja, os pequenos suinocultores deste imenso Brasil que aprenderam com os pais e com os avós a criar os bichinhos e mal sabem fazer outra coisa. Não bastasse a falta de lucratividade, veio a tal gripe que os jornais chamam de suína para atrapalhar nossa vida e agora fiquei sabendo que nem na Expointer vai ter 11/09 Revista Viva Campo
porco. Cancelaram a exposição com medo de contágio entre os animais. Onde vamos parar? Antônio da Silva – Arapongas, Paraná
“Se não mudarmos o Código Florestal, colocaremos mais de um milhão de produtores para fora do setor.” Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira
INTERROGAÇÕES DO LEITOR 1 – O americano David Hatcher Childress, em seu livro Cidades perdidas da Antiga Lemúria e Pacífico, fala na página 76 da existência, em Madagascar, de uma planta chamada “arvorecandelabro”, que só dá galhos e espinhos voltados para o lado sul. Lembro que a seiva vegetal possui água e que a molécula da água é eletricamente polarizada. Poderia o magnetismo terrestre influenciar o crescimento de uma planta assim como influencia o comportamento de uma agulha de bússola? 2 – Rabdomancia (de rabdos, ramos, e mancia, adivinhação) é uma arte utilizada na tentativa de descobrir a localização de um aqüífero, para, em sua posição vertical, escavar o que o gaúcho chama de cacimba, isso é, um poço circular de bordas verticais e com um diâmetro tal que permite a descida, com cordas, de um homem. Diziam que ao passar sobre o aqüífero, o bastão de pessegueiro sofre um tipo de aberração gravitacional e força um movimento rotativo. Nesse ponto, o cacimbeiro começava a escavar. É lenda? Há relatos? Há evidencia científica? Seria isso uma espécie de energia? Serviria a radbomancia hoje para escavação de poço artesiano? Edson Correa – Maringá, PR As respostas à essas perguntas estarão na próxima edição. Escreva para a redação Envie seus comentários e opiniões sobre as reportagens publicadas, incluindo nome, endereço e telefone. Revista Viva Campo – Av. Guedner, nº 1610 Maringá –PR - CEP:87050-390 Telefone (044) 3027-6360 vivacampo@gmail.com
“É impossível ao pequeno produtor negociar com a indústria e sair ganhando. Ele sairia esmagado na comercialização.” Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, defendendo a formação de cooperativas de produtores de biodiesel
“ O problema da pecuária está no brinco” Pedro Camargo Neto, pecuarista e expresidente da Sociedade Rural Brasileira sobre atual sistema de rastreabilidade. Segundo ele, é inviável e o Brasil perde a chance de se impor ao resto do mundo
“Hoje o mercado de carros movidos a etanol no Brasil corresponde a 25% da frota, mas por outro lado são mais de 80% das vendas. Mesmo não sendo possível cravar cifras, dá para perceber que o potencial continua muito bom. No médio prazo, acredito que os Estados Unidos e a Europa vão abrir o mercado para o etanol brasileiro, o que será outro ganho importante.” Andy Duff, especialista global dos mercados de açúcar e etanol do Rabo- Bank, um dos principais financiadores de crédito de carbono e projetos agrícolas no mundo
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Em 2012 e 2013 é provável que haja déficit e que os estoques comecem a ser usados.
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Orkut
Enquete
ERVAS O país surpreende a cada dia devido à incrível capacidade de diversificar sua economia. Não importa se ainda engatinhamos na produção de ervas aromáticas e medicinais, e sim que o cultivo tem se expandido de forma acelerada, e a delicada reportagem da edição de agosto captou essa tendência. Entendo que tanto a boa mesa como a sofisticação dos pratos, e a descoberta de remédios pela ciência, estão impulsionando a demanda. Acho também que as ervas vão fortalecer a renda das pequenas propriedades. A nota triste é que o país, que produz uma gama variada de temperos e ervas, e cuja diversidade ambiental é imensa, seja ainda um importador. Espero que a Viva Campo retome esse assunto.
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“O problema com a destruição das florestas é inexistente. Até porque elas já foram destruídas 50, 100 anos atrás”. José Goldemberg, físico
Frases
Você na Viva Campo
MODELO
Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante entrevista coletiva para detalhar os votos do Conselho Monetário Nacional (CMN) a respeito do apoio do governo à comercialização de café.
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Entrevista
Maria Iraclézia de Araújo “O produtor é o grande elemento de sustentação do país, por isso, ele tem de ser reconhecido, principalmente na questão de remuneração”
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leita em 2008 como a primeira mulher a presidir uma sociedade rural no país, Maria Iraclézia de Araújo diz que não sente, nem nunca sentiu, preconceito em relação a isso. “Eu me sinto mais cobrada, porque dá mais visibilidade.” Maria Iraclézia é zootecnista, com pós-graduação na área e curso de Gestão de Agronegócios. Antes de ser eleita presidente, Iraclézia já atuava na sociedade há cerca de vinte anos: já foi colaboradora, participou da gestão anterior e faz parte do Grupo do Nelore e do Núcleo do Cavalo. Depois de 30 anos de história, a Sociedade Rural de Maringá (SRM) tenta mudar a imagem que tem de ser “fechada”, e se mostra como uma entidade que traz benefícios não só aos associados, mas à comunidade em geral. Em seu escritório na sede da SRM, Iraclézia falou com a Viva Campo – sempre no plural “a gente”, “nós”, referindo-se à sua equipe – sobre sua trajetória, agronegócios, crise econômica mundial e sobre a importante função do produtor rural na sociedade.
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Arquivo particular
Viva Campo - Como é assumir o cargo de presidência da Sociedade Rural de Maringá? Maria Iraclézia - É um grande desafio. Na realidade, a gente se propôs a apresentar um trabalho junto da entidade, e para isso, passamos
pela aprovação dos associados. A entidade é Nós temos várias ações. Tem aquelas ações composta por associados, e à medida que se que são mais diretas, para os associados, nas quais tem a escolha de um presidente, passa-se por a gente oferece cursos, treinamentos, palestras; nós um processo de eleição, então o associado tem temos uma escola de equitação, onde o associado a oportunidade de avaliar. Nós ganhamos, de pode trazer o seu animal. Mas a gente também uma forma bastante expressiva, e isso significa tem ações que são ligadas ao fortalecimento do que os associados depositaram a confiança em setor. Então, nós temos no momento questões nossa proposta de trabalho. Estamos à frente de ligadas à preocupação e legislação ambiental e uma entidade que representa o agronegócio, que trabalhamos questões de políticas institucionais. é extremamente forte. Hoje, nós temos aqui a Então, tanto a Sociedade Rural de Maringá, de presença de cooperativas, de sindicatos, todos eles Londrina, Umuarama, Paranavaí e todas as outras, com grande representação em termos de estado. a gente se une nessas questões que são de interesse Por exemplo a Cocamar, que é a segunda maior do segmento, que são de interesse da classe. São cooperativa do Brasil. O segmento produtivo ações que a gente procura fortalecer o setor. da região é muito forte. Então, representar esse Nós estamos agora aí com o desafio do Governo segmento é extremamente importante, mas é um Federal em aprovar novos índices agropecuários. desafio. A cada dia a gente Essa é uma ação que nós “O nosso tripé de trabalho procura fazer algo que possa não podemos influenciar é voltado na gestão mais implementar, e somar com diretamente, mas enquanto aquilo que a gente se propõe profissionalizada, transparente entidade representativa de no trabalho na entidade, e de interação com o associado classe, nós podemos nos e com a comunidade, e claro, mobilizar junto ao Governo nesses dois anos que estamos à frente dela. com as instituições e entidades Federal para que seja feita realmente uma avaliação de ligadas ao setor.” Você é a primeira mulher a tudo que está acontecendo. assumir esse cargo. Você já sentiu algum tipo E isso, a gente faz de uma forma conjunta, não de preconceito? isolada. Então, são ações macro que a gente Não. Na verdade, talvez, por ter formação se une para buscar a defesa para o produtor de da área, uma participação no segmento há muito uma maneira geral, naquilo que a gente não pode tempo, eu não sinto isso. Mas, eu me sinto mais intervir diretamente. cobrada, porque dá mais visibilidade ser a primeira mulher à frente de uma entidade de um porte como Qual era a sua meta de trabalho quando esse. Mas, aquele preconceito direto, de “olha, eu assumiu o cargo? não vou fazer aquilo porque é uma mulher” ou Nós fizemos uma proposta para o “não vou aceitar uma ação”, isso não tem. A gente associado, uma proposta ampla que a gente diz que deixa isso muito claro porque é toda uma diretoria, está sendo possível colocá-la em prática. Primeiro, que participa muito conosco. É um trabalho da de uma administração mais profissionalizada, mais entidade, conjuntamente. Então, eu não sinto esse transparente, mais interagida com o associado e preconceito. com a comunidade de uma forma geral, porque nós representamos um segmento. E esse segmento Quais são as vantagens de ser associado da Sociedade está aí fora. Por exemplo, o alimento que a gente Rural de Maringá? O que a entidade tem feito para consome, depende do produtor. Então, a gente melhorar a vida do produtor rural da região? procura dar essa visibilidade à entidade, para as 11/09 Revista Viva Campo
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Entrevista
pessoas saberem que a gente promove essas ações aqui na rural. Então, o nosso tripé de trabalho é voltado na gestão mais profissionalizada, transparente e de interação com o associado e com a comunidade, e claro, com as instituições e entidades ligadas ao setor. Em sua opinião, como a crise econômica mundial afetou o agronegócio da região? Eu acredito que a crise afetou a todos, porque afeta desde a indústria até o produtor que tem o seu produto e depois precisa vender. A maioria dos produtos que nós produzimos na região são commodities, como a soja, o boi. E isso tem reflexo mundial. O preço da soja, por exemplo; o que acontece lá fora interfere no valor. Mas eu acho que o produtor está sempre acreditando que a produção seguinte vai ser maior, ele não desiste. Então, o que nós precisamos é de um mecanismo que faça esse produtor não seja influenciado pela fragilidade,
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MODELO
Liliane Danas
Prefeito de Maringá Silvio Barros II, Maria Iraclézia e Orlando Pessuti, vicegovernador do Paraná, em solenidade de abertura da Expoingá 2009.
por meio das coisas que acontecem. Ele é cobrado por legislação ambiental, por índices ag ropecuários, por qualidade, por tecnologia, mas ele tem de ser remunerado para isso. Então, eu acho que a crise afeta, mas o conceito e a visão que se tem do produtor r ural, precisa mudar. O produtor, na realidade, é o g rande elemento de sustentação do país. Nós somos um país produtor, que se destaca mundialmente com potencial único de crescimento, mas o produtor tem de ser valorizado por isso, tem de ser reconhecido principalmente na questão de remuneração. Qualquer crise que exista, seja crise econômica mundial, seja questões de ordem climática, questões políticas, o produtor sofre com ela, e isso interfere na produção. Mas, eu acho que nós quando bem organizados, bem fundamentados, conseguimos continuar na atividade e continuar contribuindo para que o ag ronegócio brasileiro possa mostrar, ao long o dos anos, cada vez mais a sua força.
Economia & Negócios
Renata Mastromauro
Uma alternativa rentável Por Renata Mastromauro
Apesar de não ser culturalmente e economicamente importante no Brasil, a carne de coelho é saborosa e rica em vitaminas
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exploração da cunicultura no Brasil é relativamente recente, começou em 1957, e, de uma maneira geral, não é uma cultura de grande importância econômica. Por questões culturais, a população brasileira não é consumidora da carne de coelho. Normalmente, os animaizinhos de olhos vermelhos e dentes compridos são vinculados com a páscoa, simbolizando fertilidade e prosperidade. Além disso, o coelho entra no mercado de animais de companhia, o que dificulta ainda mais a disseminação da idéia de utilizá-lo como alimento. Mas, o que muitos não sabem, é que se trata de uma carne branca, saborosa e rica em vitaminas e minerais. Devido ao baixo teor de colesterol e sódio, é recomendada para a redução do risco de doenças cardiovasculares. Em Maringá, ainda há poucas granjas que se dedicam à cultura. Uma das maiores da região fica na Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI), da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Cláudio Scapinello, professor do Departamento de Zootecnia da UEM e responsável pela cunicultura na FEI, explica que a granja da universidade é mais voltada para a pesquisa, mas que também abate a produção. “A maior parte da carne é consumida dentro da universidade. Mas, há alguns bares que também compram a carcaça que nós produzimos.” A granja da FEI conta com 108 matrizes e 35 machos, totalizando, com as crias, cerca de 500 coelhos.
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De acordo com Scapinello, há várias vantagens em se investir na cunicultura. Segundo ele, o custo de produção e a rentabilidade são semelhantes à de outras espécies, como aves e suínos. Um aspecto muito positivo na produção é o fato de o ciclo reprodutivo da espécie ser bastante rápido. A gestação da coelha dura cerca de 30 dias, podendo parir até oito filhotes. Outro fato que chama atenção é a grande capacidade de crescimento, visto que o coelho atinge o peso para o abate em aproximadamente 70 dias. Outra questão importante é a facilidade de manejo. Antônio Parma trabalha na FEI há 30 anos, e há 25, cuida exclusivamente dos coelhos. Segundo ele, tomar conta da granja não é muito trabalhoso “É igual criança, tem que ficar em cima, cuidar bem, mas não dá muito trabalho não. Tem que limpar as gaiolas, colocar comida, água, tirar os filhotes da mãe quando tiver que desmamar, e algumas outras coisas”, revela. Scapinello diz que por não ser um trabalho muito pesado, há possibilidade de ser manejado por pessoas de ambos os sexos, até mesmo jovens. Além disso, é um animal de pequeno porte, se adaptando facilmente à pequena propriedade. “Nesse sentido, também tem algumas vantagens no aspecto social, se apresentando como uma alternativa de viabilizar também a pequena propriedade”, conta o professor. O estado brasileiro que se destaca na
Hoje, no Paraná, não existem abatedouros para coelho e por isso toda produção do estado é enviada para São Paulo, que também faz a distribuição em supermercados produção é São Paulo, com 40% da produção nacional; o Paraná fica em segundo lugar, detendo 15% do volume. Mas, o mercado de carne de coelho ainda é pequeno no Brasil. A produção estimada gira em torno de 12 mil toneladas de carcaça ao ano, número considerado irrisório se comparado à Europa, que tem tradição no consumo desta carne. Para o professor, há todo um trabalho que deve ser desenvolvido para que o consumo de carne de coelho se popularize. “Juntamente com o marketing, deve haver todo um trabalho de estímulo à produção.Na medida que se vai divulgando, essa demanda pode aumentar, e à medida que as pessoas vão encontrando no supermercado, passa-se a ter um atrativo a mais para a compra”. De acordo com Scapinello, faltam no Brasil ações de estímulo à produção de coelhos. Segundo ele, grande parte do incentivo da produção animal está voltada as espécies que apresentam uma importância econômica grande, como os suínos, as aves e os bovinos, de corte e de leite. “Para a produção de coelho, os programas que aparecem são muito restritos. Há uma longa caminhada a ser feita para que essa espécie seja uma realidade, uma alternativa de produção e fonte de renda para o
produtor, e da mesma forma, a possibilidade de uma carne alternativa ao consumidor.”
Infra-estrutura De acordo com Scapinello, o grande problema que existe hoje é na infra-estrutura de abate. Para se produzir esse animal, é necessário uma estrutura para abate e a colocação da carcaça no mercado. Isso exige uma inspeção veterinária, seja ela municipal, estadual ou federal, dependendo dos objetivos da venda. Hoje, no Paraná, não existem abatedouros para coelho. Há algum tempo, existiam alguns programas e um abatedouro em Curitiba, que hoje se encontra desativado. Então, toda a produção de coelho do Paraná é abatida em São Paulo. Na região de Curitiba, existe a Coelho Brasil – Cooperativa de Produtores de Coelho do Estado do Parná. Dentro dessa organização, esses animais são coletados e à medida que permite o transporte de uma carga fechada, são levados a São Paulo, abatidos e depois distribuídos em supermercados. A rede Carrefur tem alguns convênios e projetos com essas associações, comercializando em suas lojas toda a produção da cooperativa. Hoje, o quilo da carne de coelho custa entre 15 e 18 reais. 11/09 Revista Viva Campo
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Economia & Negócios
Renata Mastromauro
Por Joyce Camanho
Os coelhos criados para abate não são bichos de estimação. O que se procura neste tipo de criação é produtividade e qualidade da carne e pele
Como criar Iniciar uma criação de coelhos é fácil. Mais complicado, é produzir carne de coelho observando os cuidados com a higiene e manejo, visando a qualidade do que se produz exigida pelo mercado. Se você tem intenção de iniciar uma criação de coelhos com objetivos comerciais, é preciso saber que esta atividade requer estudos, paciência, dedicação e muita troca de informações, principalmente com outros produtores. Para iniciar uma produção comercial de coelhos visando a comercialização, é preciso seguir os padrões mínimos exigidos pelo mercado. Instalações – Em princípio, qualquer barracão desativado pode ser adaptado para a montagem da granja. O tamanho deste barracão não é importante, já que isto dependerá, evidentemente, da quantidade de matrizes que pretende instalar. Entretanto, é preciso que haja ventilação, valas coletoras de esterco com drenagem para urina. Gaiolas – Independente do número de matrizes que se pretenda instalar na granja, os animais devem ficar em gaiolas de arame galvanizado, suspensas. Não podem ser utilizados suportes para gaiolas apoiados no piso do barracão, pois os suportes acabariam por gerar um foco de contaminação, a partir da urina e esterco que poderiam ficar depositados nos mesmos. Penduradas, essas gaiolas facilitam a limpeza, que deve ser constante. Matrizes – A qualidade do que você irá produzir
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Bom negócio para miniprodutores
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está intimamente ligada à qualidade dos animais do plantel. Os coelhos criados para abate não são bichos de estimação. O que se procura neste tipo de criação é produtividade e qualidade da carne e pele. Assim, existem raças criadas exclusivamente para abate. As mais usadas internacionalmente são a Nova Zelândia e a California. Existe neste mercado muita gente inidônea que afirma possuir matrizes para a venda. Antes de comprar qualquer animal, verifique a procedência. Isto evitará que você compre animais sem qualquer qualidade genética, que poderá ocasionar baixa produção, grande índice de mortalidade, fatores que acabarão prejudicando a produção. Alimentação – Os coelhos não podem ser alimentados com qualquer tipo de ração ou pastagem. Para a ração, empresas específicas são certificadas para o fornecimento de rações que atendem aos critérios técnicos estabelecidos pelo mercado. Quanto ao pasto fornecido para os coelhos, é preciso saber que não podem receber nenhum tipo de tratamento químico que possa gerar resíduo na carne. Não são permitidos, portanto, o uso de defensivos agrícolas no controle de pragas desta pastagem. Documentação – Não é possível a criação de coelhos em escala comercial no perímetro urbano de cidades. Assim, a nota fiscal deve ter o endereço da propriedade onde efetivamente se produza e colete os animais quando do abate. Nota fiscal com um endereço e coleta de animais deste mesmo produtor em outro local não é permitido.
Pequenos produtores podem se beneficiar por meio do Programa Compra Direta, que repassa a produção diretamente a entidades assistenciais
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o rendimento escolar dos estudantes. Programa Compra Direta é o repasse direto Os produtos adquiridos neste último programa foram - com isenção de licitação - da produção alface, banana, mel, cenoura, milho verde, abobrinha, agropecuária de micros e pequenos produtores maracujá, cheiro verde e mandioca. da agricultura familiar para atender entidades assistenciais Segundo João Ricardo Esteves Duque, Gerente de cadastradas no município e contribuir com a merenda abastecimento e mercado da Secretaria de Agricultura escolar municipal. Só este ano em Maringá, foram de Maringá, os produtores participantes devem estar disponibilizados cerca de 85 mil reais, beneficiando 25 enquadrados no Programa Nacional de agricultores. “30% dos repasses Agricultura Familiar (Pronaf). Este ano, a sanção da Lei nº do FNDE foram Se o agricultor ainda não estiver 11.947 de 16 de junho, trouxe novos avanços para o Programa Nacional de garantidos para que enquadrado na Declaração de Aptidão Pronaf (DAP), ele pode realizar o Alimentação Escolar (PNAE), como a sejam investidos na ao cadastro no Instituto Paranaense de extensão do programa para toda a rede pública de educação básica e de jovens aquisição de produtos Assistência Técnica e Extensão Rural e adultos. Além disso, 30% dos repasses da agricultura familiar” (Emater). É preciso o comparecimento do casal, caso o interessado tenha relação do Fundo Nacional de Desenvolvimento conjugal estável, munidos de seus CPF e cédulas de da Educação (FNDE) foram garantidos para que sejam identidade. investidos na aquisição de produtos da agricultura Também é necessário levar documento que familiar. comprovem a posse da propriedade que será explorada. Para participar do Programa, o produtor deve Pode ser uma escritura, um título, um contrato de ficar atento ao “Chamamento Público”, geralmente arrendamento, parceria ou comodato ou outro registro realizado no começo do ano. O aviso é divulgado por que comprove a propriedade sobre o imóvel. Este item meio do diário oficial, em edital, como as licitações, é dispensado quando a atividade da família interessada e on-line. Nele, consta o cardápio que a secretaria de não está vinculada a uma unidade fixa de terra, como os educação irá utilizar nas merendas durante todo o ano. pescadores ou extrativistas. A Nutricionista da Secretaria de Educação O Gerente de Abastecimento acrescenta que, de Maringá, Jéssica Gomes, explica que o cardápio é junto ao cadastro para o programa, o produtor deverá elaborado de acordo com os requisitos do PNAE e seu apresentar um “Projeto de venda”, onde deverá constar objetivo é atender as necessidades nutricionais dos alunos qual a capacidade de produção do agricultor e quais são durante sua permanência em sala de aula, contribuindo os seus produtos. para o crescimento, desenvolvimento, a aprendizagem e 11/09 Revista Viva Campo
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Economia & Negócios
Por Renata Mastromauro
Períodos de chuvas intensas, intercalados por estiagem, prejudicaram a produção de grãos na região de Maringá neste ano
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com Joaquim Nereu Girardi, engenheiro agrônomo arece que São Pedro não anda ouvindo as da Emater-Maringá, os agricultores que optaram pelo preces dos agricultores da região. Trabalhar na plantio tardio do milho sofreram mais com a seca. terra não é tarefa fácil, e depender do clima “Esse milho ficou baixinho, não conseguiu crescer e numa época de clima instável, em que sofremos as florou ainda pequeno. As espigas ficaram pequenas, conseqüências do aquecimento global, fica ainda mais e esse milho foi todo jogado fora, foi perdido”, difícil. Durante o ano de 2009, as safras de soja, milho explica. e trigo foram prejudicadas, devido não só a um, mas Em junho, quando as primeiras lavouras de a uma série de fatores climáticos que, combinados, milho plantadas estavam prontas para a colheita, a provocaram grandes perdas econômicas. chuva veio novamente, mas, dessa vez, para atrapalhar Primeiro, foi a soja. A safra 08/09 foi a situação. E, após essa chuva que complicou a colheita, parcialmente comprometida devido à estiagem que vieram as geadas do inverno, que atingiram o milho sofreu entre a segunda quinzena de novembro de plantado mais tarde. Segundo o engenheiro agrônomo 2008 e o fim de janeiro deste ano. O período coincidiu da Emater, as lavouras de milho das baixadas foram com uma importante fase do desenvolvimento da as mais comprometidas. “A geada faz com que o grão planta – a granação da vagem. De acordo com dados verde ou leitoso germine na espiga, da SEAB (Secretaria de Abastecimento “O preço está baixo, o que origina um milho de baixa e Agricultura do Paraná), a seca fez a produtividade daquela safra cair 10% então, a rentabilidade categoria, baixo padrão”. Em setembro, as chuvas continuaram, e sem condições em relação à anterior, quando o Paraná vai ser baixa” de se entrar com a colheitadeira nas bateu recordes de produção, com plantações, os grãos nas espigas continuaram a brotar. 60 milhões de toneladas do grão. No município de Os números oficiais ainda não foram divulgados pela São Jorge do Ivaí (distante 45 km de Maringá), por SEAB (esses números só serão divulgados em janeiro), exemplo, a média da colheita da soja, no começo deste mas estimativas calculam 20% de perda na produção ano, foi de apenas 50 sacas por alqueire. do milho. Após a colheita frustrada da soja, era hora Para o agricultor Vitor Baggio, de Maringá, a do plantio do milho safrinha, que aconteceu entre o colheita do milho safrinha não foi tão ruim quanto fim de fevereiro e o começo de março. A instalação a média regional. Em sua fazenda, no município de e o desenvolvimento do milho foram bem, contando Floraí (distante 45 km de Maringá), ele colheu uma com chuvas regulares, até abril. Entretanto, depois de média de 180 sacas por alqueire. Porém agora, o maio, a região sofreu novamente com a estiagem, que, problema é outro. No mês de setembro, o preço da dessa vez, atingiu as lavouras de milho. De acordo
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Liliane Danas
Enxurrada de prejuízos
saca do milho girou em torno de 14 reais. “O preço está baixo, então, a rentabilidade vai ser baixa”, conta Baggio. Apesar das perdas da soja e do milho, a cultura que mais sofreu com o excesso de chuvas nos meses de junho e julho foi o trigo. O excesso de água fez com que a brusone, uma praga vilã do trigo, se instalasse nas lavouras. A alta umidade ajudou na proliferação rápida dessa praga, que é perfeitamente controlável quando o produtor tem condições de entrar com defensivos. “Devido às chuvas, não se conseguiu entrar com o trator nas lavouras para aplicar os defensivos”, afirma Girardi. Números estimados apontam perda de 25 a 30% do trigo na região de Maringá.
Expectativas O Instituto Tecnológico Simepar prevê uma primavera chuvosa. Este ano, a estação estará sobre influência do fenômeno El Niño, o que implica em uma previsão de chuvas acima da média histórica. Mas agora, a chuva será bem-vinda. “Com esse tempo chuvoso – uma semana de sol, uma de chuva – o produtor terá tempo de preparar a terra para o plantio”, afirma Girardi. Segundo ele, as condições climáticas previstas são ideais para a instalação e desenvolvimento da soja, e, se o clima continuar de acordo com as previsões, a safra 09/10 tem tudo para corresponder às expectativas. Vitor Baggio também espera um bom resultado. “Já estou preparando a terra e espero colher, pelo menos, 120 sacas por alqueire”, diz otimista. As chuvas excessivas, no entanto, podem provocar erosões no solo e aparecimento de ervas daninhas nas lavouras. Segundo Girardi, essa deve ser a preocupação dos agricultores num futuro próximo. “Se não houver condições de controle das ervas daninhas, o mato vai concorrer com a cultura”. Outro problema em potencial devido ao excesso de chuvas é com a aplicação de defensivos contra a lagarta da soja. A umidade demasiada proporciona também maior condições para a instalação de ferrugem da soja. As expectativas para a safra da soja 09/10 são boas. Mas é claro que, quando se trata de clima, nem tudo é previsível. Então, cabe ao agricultor saber lidar com a sua lavoura da melhor maneira, e buscar soluções práticas para os problemas que podem surgir. “Cada produtor, cada propriedade, tem seu maquinário, e cada um tem condições de funcionar melhor ou pior diante das dificuldades que aparecem”, adverte Girardi. 11/09 Revista Viva Campo
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Tecnologia
Tecnologia que transforma vidas Por Renata Mastromauro
Saúde, boa alimentação e renda são alguns dos
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roduzir organicamente, sem fazer uso de defensivos químicos. Essa é a tecnologia adotada pelo Programa Hortas Comunitárias de Maringá. Criado em 2006, a iniciativa é uma das ações do Programa Maringá Saudável, criado pela atual administração municipal, com o objetivo de resgatar a saúde e a qualidade de vida. Em parceria com a Universidade Estadual de Maringá (UEM), o programa incentiva a produção de alimentos utilizando apenas defensivos preparados com produtos naturais, sem agredir o solo ou saúde das pessoas. Desde que foi implantado, em 2005, o programa vem beneficiando diretamente 300 famílias. Em dezembro de 2008, a iniciativa ganhou um importante reforço, com a assinatura do convênio entre a UEM e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), para a implantação de um Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana (Ceraup). No momento, o MDS repassou R$ 513.180,35 para a instalação da unidade em Maringá. O Ceraup está sediado dentro do campus da UEM, e é coordenado pelo professor e engenheiro agrônomo da universidade, Ednaldo Michellon. O projeto também conta com a participação de três agrônomos contratados, um psicólogo, um assistente social, um acadêmico da área de Educação Física, além de dez estagiários do curso de Agronomia. O trabalho dessas pessoas consiste em fornecer
assistência técnica às hortas de Maringá. Eles preparam a terra, ensinam às pessoas a melhor forma de se trabalhar e dão todo o amparo psicológico que os produtores possam necessitar. Funciona assim: a prefeitura cede espaços públicos ociosos para a implantação das hortas. Cada pessoa interessada tem o direito de plantar e cuidar de certo um número de canteiros, de acordo com disponibilidade de espaço de cada horta. Assim, o produtor pode alimentar sua família com os alimentos produzidos e ainda gerar renda, vendendo o restante da produção. É o que faz Maria José de Assis. Mãe de três filhos e avó de sete netos, ela cuida de dois canteiros na Horta Cidade Canção, zona sul da cidade. Para ela, o trabalho na horta tem ajudado muito, não só na renda, mas em relação à saúde. Maria sofria de pressão alta, e atribui a sua recuperação ao trabalho nos canteiros. “Às vezes eu falo, e as pessoas acham que é brincadeira. Mas é só ir lá em casa e ver quando foi a data que eu peguei os meus remédios pela última vez. Agora eu estou bem. Até a depressão, que eu estava começando a ter, não tenho mais”, diz aliviada. Maria diz que guarda todo o dinheiro que ganha na horta. “Com esse dinheiro eu estou fazendo uma poupança. Daí, no final do ano, eu vou ter dinheiro pra comprar presente para os meus netos e meu marido também”. E afirma: “Agora, eu estou super feliz.
benefícios trazidos pela agroecologia utilizada em hortas comunitárias Foi uma transformação em minha vida. Eu estando feliz, eu faço a minha família feliz”. Maria aprendeu com os voluntários do Ceraup como produzir os defensivos naturais. Para proteger as plantas das pragas, eles utilizam produtos orgânicos como água de fumo e macerado de alho. Tudo natural, como manda a técnica da agroecologia. Mas, convencer as pessoas de que é possível se produzir sem a utilização de veneno, pode ser mais difícil do que parece. É o que afirma o coordenador do Ceraup, Ednaldo Michellon. “Eles acham que é piada, que não vão conseguir produzir. Mas nós estamos vendo hortas muito boas por aí”, revela. O que é a agroecologia? A Agroecologia surgiu em meados do anos 1990 e é uma nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo, visando a produção de alimentos mais saudáveis e naturais. Tem como princípio básico o uso racional dos recursos naturais. A evolução para essa forma de produção foi gradual, iniciando-se no fim da 1ª Guerra Mundial, quando surgiam na Europa as primeiras preocupações
com a qualidade dos alimentos consumidos pela população. Naquela época, as idéias da Revolução Industrial influenciavam a agricultura criando modelos baseados na produção em série e sem diversificação. Após a 2° Guerra Mundial, a agricultura sofreu um novo incremento, uma vez que o conhecimento humano avançava nas áreas da química industrial e farmacêutica. A produção cresceu e houve grande euforia em todo o setor agrícola mundial, que passou a ser conhecido como Revolução Verde. Por outro lado, duvidava- se que esse modelo de desenvolvimento fosse perdurar, pois ele negava as leis naturais. Neste contexto, surgiram em todas as partes do mundo movimentos que visavam resgatar os princípios naturais. Os vários movimentos tinham princípios semelhantes e passaram a ser conhecidos como agricultura orgânica. Nos anos 90, este conceito ampliou-se e trouxe uma visão mais integrada e sustentável entre as áreas de produção e preservação, procurando resgatar o valor social da agricultura e passando a ser conhecida como Agroecologia. Assim, os movimentos no sentido da implantação de uma maior qualidade dos produtos agrícolas cresceram, desenvolvendo-se de forma ímpar. Aparece com mais força então no cenário mundial a agroecologia, conhecida ainda por agricultura alternativa. Renata Mastromauro
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Cooperativismo
Cooperativas do PR planejam investir R$ 1 bi em 2009/10 Por Marli Lima - Jornal Valor Econômico
Percentagem de área preservada varia conforme o bioma e tamanho do terreno; no Paraná, 20% da terra deve ser destinada à reserva legal
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s cooperativas do Paraná planejam investir R$ 1 bilhão no ano safra 2009/10, que começou em julho. Apesar do atual cenário econômico mundial e da quebra na produção de grãos do Estado causada pela falta de chuvas, os grupos pretendem ampliar a estrutura de armazenagem e o parque industrial, com projetos que estavam em andamento e novos aportes. No período, estimam gerar 7 mil empregos. E não está nos planos reduzir as receitas. Pelo contrário. A meta é aumentar ou ao menos repetir o faturamento conjunto de R$ 22 bilhões de 2008, que foi 34% maior que o registrado em 2007. Levantamento da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) mostra que, na agroindústria, deverão ser aplicados R$ 583,6 milhões. A grande aposta será na avicultura, que terá aportes de R$ 215,1 milhões. A suinocultura ficará com R$ 44,6 milhões, os lácteos com R$ 53,5 milhões e R$ 10,4 milhões irão para fábricas de rações. No setor agrícola há diversos projetos na lista, como maltaria (R$ 35,5 milhões), moinho de trigo (R$ 69 milhões), usina de álcool (13,4 milhões), torrefação de café e indústria de óleo (78 milhões), sucos de frutas (R$ 39 milhões) e fábrica de fertilizantes (R$ 12 milhões). “Foi uma surpresa. Esperávamos investimentos menores, mas vimos que as
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cooperativas mantiveram os planos”, disse o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski. “Não há razão para ficar parado”, complementou. A primeira vez que as cooperativas quebraram a barreira de R$ 1 bilhão em investimentos foi na safra 2007/08; no ciclo 2008/09, o montante chegou a R$ 1,27 bilhão. Outra área que está merecendo a atenção das cooperativas é a de armazenagem: R$ 255,3 milhões serão investidos para ampliar a estrutura no Paraná e R$ 50 milhões vão ser aportados pelas cooperativas do Estado em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde elas estão se expandindo. Koslovski explicou que, com maior capacidade para carregar estoques, é possível negociar melhor o preço dos grãos. Além disso, setores considerados estratégicos também receberão aportes nos próximos meses, como as áreas administrativas e de tecnologia (R$ 26,2 milhões), geração de energia (R$ 26 milhões), proteção ambiental (R$ 22 milhões) e pesquisa (R$ 22,4 milhões), entre outros. Entre os projetos em andamento estão os das cooperativas Coasul, Coagru e Cocari, que vão entrar no mercado de frango. Também estão previstos aportes na estrutura das que já atuam na avicultura, como C.Vale e Coopavel. Na opinião de Koslovski, a união de Perdigão e Sadia deve servir como estímulo às concorrentes. “A competição vai ser maior e isso exige o fortalecimento das cooperativas”, disse o dirigente. Ele lembrou que as cooperativas respondem por 38% da agroindústria do Paraná e a meta é
chegar a 50% em 2011. Ou seja, mais investimentos terão de ser feitos para que isso aconteça. E citou outros projeto em andamento, como a ampliação da Agromalte, da cooperativa Agrária, uma das maiores maltarias do país, e as postas da Coamo em margarina e na torrefação de café. Nos últimos meses as cooperativas estavam quietas, observando o cenário econômico. Mas os resultados de janeiro a março trouxeram ânimo. “Se tivermos durante o ano o mesmo desempenho do primeiro trimestre, podemos repetir o faturamento do ano passado”, disse Koslovski, lembrando dados do mercado externo. No período, a redução das exportações das cooperativas paranaenses foi de só 0,9%. Em 2008, as cooperativas do Paraná exportaram US$ 1,4 bilhão, 37% mais que em 2007, e assumiram a liderança na área ao superar as paulistas. Dirigentes de diversas cooperativas do Estado estiveram em Curitiba para participar de uma reunião, e um dos temas da pauta foi a ampliação de parcerias entre elas. “Estamos analisando em quais áreas podemos ter atuação compartilhada para reduzir custos”, explicou o presidente da Ocepar. A exemplo do que vem acontecendo com o consórcio de fertilizantes, criado no ano passado, as cooperativas planejam atuar em conjunto na área de transportes, logística, compra de insumos e outros itens que se mostrarem viáveis. Koslovski não acredita, no entanto, que dessas parcerias possam surgir fusões entre as cooperativas. 11/09 Revista Viva Campo
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Meio Ambiente
MODELO
Reserva legal divide ruralistas e ambientalistas Por Flávio Laginski do Paraná Online
Percentagem de área preservada varia conforme o bioma e tamanho do terreno; no Paraná, 20% da terra deve ser destinada à reserva legal
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mbientalistas e ruralistas estão travando uma queda-de-braço para resolver a questão da chamada reserva legal. Segundo o Código Florestal Brasileiro, datado de 1965, reserva legal é uma área preservada dentro de uma propriedade rural, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação dos processos ecológicos e da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Este espaço varia de acordo com o bioma e o tamanho da propriedade, podendo ser de 80% se a propriedade estiver localizada na Amazônia Legal, 35% no bioma cerrado, dentro dos estados que compõem a Amazônia Legal, e 20% nas outras regiões do País. O assistente técnico em meio ambiente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Odair Sanches, explica que a instituição é contra a medida da obrigatoriedade da reserva legal. Para Sanches, a reserva não cumpre função ecológica. “No nosso caso, em que é preciso destinar 20% da área de uma propriedade para a reserva legal, não faz diferença. Por exemplo, em uma área de dez hectares, teríamos que ceder dois hectares para criar a reserva, o que não representa nada. Os grandes processos poluidores estão nas cidades, e não no campo”, posiciona-se. Além disso, ele comenta que o agricultor não recebe nada em troca pela manutenção dessa percentagem. “Se o produtor rural tivesse algum tipo de compensação, como ocorre nos Estados Unidos
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e na Costa Rica, por exemplo, seria interessante. Mas achamos injusto o agricultor ficar de mãos abanando.” Sanches alerta também para o fato de que algumas propriedades estão em Áreas de Preservação Permanente (APP) e que não poderiam ser somadas às reservas legais. “A gente questiona o porquê de não somarem as APPs aos 20% da reserva legal. Lembrando que, em APPs, o produtor não pode explorar economicamente o local, salvo se for atividade turística. Se for o caso de uma pequena propriedade, fica inviável para o produtor poder plantar”, afirma. Para o engenheiro florestal e coordenador de políticas públicas da organização não-governamental (ONG) WWF-Brasil, cujo objetivo é conservar a natureza e harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade, Mauro Armelin, a reserva legal é válida. “A reserva florestal existe para evitar futuros problemas com o meio ambiente. Ela visa a criar um corredor de flora e fauna e garantir o equilíbrio ecológico de uma determinada área”, explica. Armelin fala que a WWF-Brasil aceita debater a reforma do Código Florestal Brasileiro, mas não quer que a conversa fique restrita apenas à reserva legal. “É muito válido trazer a reforma do Código Brasileiro Florestal para todos os setores da sociedade, uma vez que o código tem mais de 40 anos. Entretanto, querer restringir o debate apenas a esse assunto nós não aceitamos”, garante.
MODELO
Porteira Aberta
O melhor amigo do homem no campo Por Renata Mastromauro
Utilização de cães condutores no trabalho com rebanhos traz benefícios para o homem, para os animais – e para o cão! De acordo com dados do Ministério da Agricultura, o Brasil tem hoje aproximadamente 180 milhões de cabeças de boi e 15 milhões de ovinos, sendo considerado o maior rebanho comercial do mundo. Nos últimos anos, e mais intensamente durante a crise econômica que afeta o mundo desde o ano passado, a pecuária nacional tem sofrido uma redução da margem de lucro, chegando a ter prejuízos. Nessas circunstâncias, a eficiência, a rapidez e o baixo custo do manejo são itens fundamentais no equilíbrio financeiro das fazendas de exploração pecuária. Segundo pesquisadores, o valor da mão-de-obra pode representar 25% dos custos na exploração pecuária tradicional. Além disso, o estresse excessivo no manejo do rebanho representa perdas significativas no peso nos animais. Em meio a esse cenário, cães de raças especializadas no pastoreio tem sido introduzidos no País há alguns anos, mas contar com a ajuda desses animais nos pastos ainda é pouco comum no Brasil. A história da pecuária brasileira não incentivou esse tipo de trabalho, devido à mão-de-obra barata no meio rural. Ao contrário, países, como Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, utilizam largamente – e há muitos anos – cães treinados para trabalhar com rebanhos, promovendo grandes resultados na redução de custos e aumento de produtividade. Na Austrália, por exemplo, é muito comum que trabalhadores cuidem de milhares de ovinos contando apenas com o auxilio de cães. Mas, para que isso seja possível, a escolha da raça do cachorro é fundamental, assim como o treinamento adequado dele.
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É exatamente esse o trabalho que Nedson Buzzo Filho, de Maringá, faz. Nedinho, como é conhecido, é um apaixonado por cães, e trabalha criando e treinando quatro raças que tem o instinto de conduzir o rebanho: Border Collie, Australian Cattle Dog (ou Heeler), Australian Shepherd e Australian Kelpie (conheça as raças no quadro da página XX). Neto de fazendeiros, Nedinho diz que sempre ajudou o avô na lida com o gado. Naquela época, as raças de cachorro de trabalho que conhecia eram as de mobilização, ou seja, cães que tem como função segurar o animal, como Fila, Boxer e Pitbull. Porém, como trabalhava com gado de cocheira, ele sentiu a necessidade de um cão que conduzisse o rebanho, sem machucar os animais. Então, nas andanças por fazendas de conhecidos, foi apresentado a essas raças de cães condutores. Em 1996, fundou o Canil Bratislava e começou criando Heelers. Não satisfeito com o desempenho, adquiriu também uma Border Collie e resolveu fazer um curso para se capacitar a treinar os cães. “Eu queria aprender a lidar, a aproveitar melhor o meu cachorro”, revela. Pois ele aprendeu, e desde 1999, Nedinho treina cães de fazendeiros e os ensina a conduzir rebanhos bovinos, ovinos e caprinos, cavalos e até gansos. Por lá, já passaram mais de 400 cachorros. Apesar das características naturais desses cães – eles tem uma pré-disposição genética para o trabalho – um cão pastor sem treinamento tem aproveitamento de apenas 30% de seu potencial. Por isso, se o objetivo é fazer com que eles trabalhem de maneira eficiente, o treinamento é indispensável, e pode durar de seis meses até um ano e meio. Nedinho explica que para fazer o treinamento,
Renata Mastromauro
CAPA
Porteira Aberta
andam junto de uma pessoa, trabalhando como um ele começa em um local menor, onde possa controlar o rebatedor, agrupando os animais para poder conduzirebanho e o cachorro, evitando assim acidentes com os animais. Com a ajuda de um apito, ele ensina ao cachorro los. As raças que mais se encaixam nessas características são Australian Cattle Dog e Australian Shepherd. “Os os comandos básicos. “É muito importante ele saber bem o nome dele, voltar até mim e atender ao comando ‘deita’, empurradores são mais utilizados para trabalhar em locais fechados, onde você precisa que eles dêem umas que é o freio do cachorro”. Depois, ele vai aumentando o mordiscadas, pra ir tocando os animais quando eles estão tamanho do lugar, trabalhando em campos mais abertos e, então, aumenta a quantidade do rebanho. “Um cachorro ‘embolados’, quando eles não se movimentam”, explica o treinador. Assim, a principal qualidade desse tipo é sozinho consegue trabalhar com umas 500 ovelhas. Com gado, cerca de 150 cabeças.” colocar o rebanho em movimento para, por exemplo, mudá-lo de pasto. E não é só o cão que precisa de treinamento. Qualquer pessoa que queira estar apta a Os arrebanhadores tem como principal dar os comandos ao cachorro, também O trabalho feito pelos função parar a movimentação dos precisa ser ensinada. Segundo Nedinho, cães é importante por animais, utilizando para isso o poder do um cão bem treinado, acompanhado conseguir dominar o olhar, a sua ferramenta de dominação. Sem sair do lugar, a pessoa comanda o de uma pessoa pronta para trabalhar rebanho sem machucá-lo cão com a ajuda de um apito, que vai com ele, faz o trabalho de três peões e sem estressá-lo. buscar o rebanho em uma distância de montados a cavalo, o que significa uma até mil metros. “É o olhar forte que boa economia no orçamento. mantém o rebanho agrupado, então eles não precisam Otávio Marchesi é médico veterinário e tem uma morder pra juntar os animais”, esclarece Nedinho. fazenda nos arredores de Maringá. Em sua propriedade, A utilização de cães pastores está relacionada, seus dois cachorros, uma cadela Blue Heeler e um Border segundo Nedinho, com uma nova forma de trabalho no Collie, trabalham com o gado que cria. “Na minha campo. Hoje, há uma preocupação maior em relação à fazenda, tem uns locais mais de morro. Seria até perigoso saúde física e mental do rebanho. O trabalho feito pelos ir a cavalo atrás do gado. Então, o cachorro vai até lá e traz cães é importante, nesse sentido, por conseguir dominar pra mim. Poupa-se tempo e esforço”, conclui. o rebanho sem machucá-lo e sem estressá-lo. Apesar de Os cães condutores são divididos em dois grupos: os empurradores morderem de leve os garrões, isso não é os empurradores e os arrebanhadores (veja as diferenças suficiente para machucar os animais. no quadro abaixo). Os empurradores são aqueles que
Australian Cattle Dog
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raça surgiu na Austrália, no século XIX, diante da necessidade de cães que pudessem correr longas distâncias em terrenos rústicos e controlar rebanhos País de origem: Austrália sem precisar latir. Um homem chamado Thomas Hall cruzou Highland Collies com Dingos, cães aborígenes, criando cães chamados Hall’s Hellers. Posteriormente, esses animais foram cruzados com Bull Terries, Dálmatas e Kelpies preto-e-canela, dando origem ao Australian Cattle Dog que conhecemos atualmente. A raça também é chamada de Australian Queensland Heeler, Blue Heeler ou ainda Red Heeler, quando de variedade vermelha.
Border Collie
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border collie é uma raça relativamente jovem, desenvolvida durante o século XIX. Este “collie da fronteira” (border significa fronteira em inglês) País de origem: Grã-Bretanha desenvolveu-se na região de fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, no norte da Grã-Bretanha. Embora a criação da raça date do século XIX, seus ancestrais já estavam presentes na região desde a Idade Média, onde trabalhavam junto com os criadores de ovelhas demonstrando incrível capacidade no trabalho.
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CAPA
Os arrebanhadores utilizam o olhar como forma de dominação. “É o olhar forte que mantém o rebanho agrupado, então eles não precisam morder pra juntar os animais”, explica Nedinho
Australian Shepherd
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xistem várias teorias sobre a origem do Australian Shepherd. O fato é que País de origem: Estados Unidos a raça, como a conhecemos hoje, foi desenvolvida nos Estados Unidos. É provável que tenha se originado na região Basca das montanhas dos Pirineus, entre a França e Espanha, mas devido a sua associação com os Pastores Bascos que vieram da Austrália para os Estados Unidos em torno de 1800, acabaram recebendo o nome de Australian Shepherd.
Australian Kelpie
País de origem: Austrália
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origem dos Australian Kelpie ainda é controversa. Muitos acreditam ter descendido de Dingos (cães selvagens australianos). Uma possível versão para esta crença é que em áreas que era ilegal ter Dingos como animais de estimação, alguns donos de Dingos os registravam como Kelpies ou cruzamento de Kelpies. Outra versão é que os Kelpies são imunes aos carrapatos australianos, imunidade similar aos Dingos. Porém, muitos ainda acham que a raça é uma cruza entre pastores escocêses e Smooth Collie no passado. O nome Kelpi vem da mitologia escandinava, e significa o gênio ou deus das águas.
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CAPA Raças
Indicação
Função
Objetivo
• Forma de dominação
Arrebanhadores
Border Colie e Australian Kelpie
Campo aberto
Circular o rebanho
Parar o movimento dos animais
Olhar
Empurradores
Australian Cattle Dog e Australian Shepherd
Locais fechados, como um pasto pequeno
Tocar os animais quando estão “embolados”
Movimentar os animais
Mordiscadas nos garrões
Renata Mastromauro
Nedson Buzzo Filho, criador e treinador: “Ele não vai te levar na justiça, vai trabalhar com gosto pra você e ainda vai ser um grande amigo, um companheiro.” 28
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As vantagens de se contar com o trabalho de um cão condutor são várias. De acordo com o treinador, o cachorro pode chegar a lugares que o homem não consegue nem mesmo a cavalo, como vales, montanhas e mata fechada. Com isso, os riscos de acidentes com o homem são reduzidos. “Se o empregado tem de entrar no mato, ou andar em um lugar perigoso, ele pode se machucar, se furar, ficar inutilizado. Já o cachorro, faz isso com uma grande habilidade”. Com isso, a mão de obra na fazenda também diminui. Outra vantagem é o tempo gasto para realizar tarefas, porque o rebanho se condiciona ao cão. “Quando ele chega, o rebanho já se agrupa. Assim, você economiza tempo e tem o tempo hábil para fazer outra coisa”, diz. Carlos Alberto Souza da Silva tem dois Blue Heelers. Um recebeu o treinamento, outro não, e, segundo ele, a diferença entre os dois cães é visível. Após os seis meses que passou com Nedinho, o heeler Doni voltou à fazenda mais obediente, respeitando os comandos que lhe foram ensinados e realizando o trabalho para o qual foi adestrado. Na fazenda onde mora, em Anaurilândia, Mato Grosso do Sul, Doni tem ajudado na lida com ovelhas, gado e como cão de guarda. Para Carlos, ter um cão condutor na fazenda está sendo proveitoso: “Além de ser leal ao seu dono, ele faz o trabalho em troca apenas de carinho e refeição, com o custo quase zero”. Os cuidados necessários para tratar bem do amigo condutor são simples. Otávio Marchesi explica que os gastos são com ração, as doses anuais de vacinas e vermífugos, aplicados a cada três meses. Já o preço do filhote é um pouco salgado, variando entre mil e R$ 3 mil. Um cão adulto, treinado, por custar até R$ 7 mil. Mas, Nedinho explica que ao comprar um cão que tenha seleção genética, de um criador que garanta que o cachorro vai funcionar no trabalho, o ele vai servir por cerca de dez anos. “Tem muita gente que acha caro, mas se você colocar isso na ponta do lápis, vai ver que é mais econômico você comprar um cachorro, mesmo que treinado”. E brinca: “Outra vantagem: ele não vai te levar na justiça, vai trabalhar com gosto pra você e ainda vai ser um grande amigo, um companheiro”.
Arca das Letras salva o hábito da leitura Por Joyce Camanho
Programa do governo já implantou mais de 1.700 bibliotecas rurais; cerca de 1,4 milhão de livros foram doados desde 2003
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riado para facilitar o acesso ao livro à informação e incentivar a leitura em comunidades, o Programa Bibliotecas Rurais Arca das Letras é uma ação realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Foi criado em 2003 e atende a famílias de agricultores, assentados da reforma agrária, pescadores, quilombolas, indígenas e populações ribeirinhas. Em todo o Brasil, o programa Arca das Letras implantou quase sete mil bibliotecas rurais em mais de 1.700 municípios brasileiros, desde 2003. Com uma média de instalação de três bibliotecas por dia, já são mais de 1,4 milhão de livros circulando no meio rural. Segundo a coordenadora nacional do programa, Cleide Cristina Soares, só no Paraná são 214 bibliotecas em comunidades rurais de 75 municípios, instaladas entre 2006 e 2009, que atende aproximadamente 20 mil famílias do campo, além de já ter disponibilizado cerca de 60 mil livros para as comunidades rurais e, estas, já ampliaram seus acervos com as doações. “O Programa Arca das Letras apóia também, com a doação de acervos, 16 Casas Familiares Rurais do Estado que trabalham com educação de jovens do meio rural”. Cleide explica que as comunidades são atendidas por demandas, ou seja, é necessário que as comunidades queiram receber as bibliotecas, façam reuniões locais para escolher o local de instalação da biblioteca, os agentes de leitura, os assuntos de interesse para composição dos acervos e preencher o formulário que pode ser encontrado no site do MDA (www.mda.gov.br). Os formulários com os pedidos de bibliotecas podem ser entregues nas prefeituras e sindicato dos trabalhadores rurais dos municípios. As bibliotecas são instaladas inicialmente com cerca de 200 livros, na casa dos agentes de leitura da comunidade, que serão os responsáveis pela realização das atividades da biblioteca rural. Os agentes recebem um curso de capacitação
de leitura, e um treinamento realizado pela equipe técnica do MDA e inclui os processos de organização e conservação de uma biblioteca, a catalogação e o empréstimo dos livros. Todo o trabalho é voluntário. “Cada parceiro do Programa entra com alguma coisa: uns com os livros, outros com a doação do móvel arca, outras com a mobilização e a comunidade entra com os agentes de leitura e com o local para funcionamento da biblioteca” destaca a coordenadora. Para Cleide o maior desafio do programa é acompanhar todas as bibliotecas e garantir que todas tenham o desempenho que esperam ao disponilizar títulos tão bons para os moradores. “Certamente o desempenho depende muito dos agentes de leitura, mas precisávamos avaliar isso e é muito díficil porque o nosso país é muito extenso e atendemos muitas demandas”. A grande carência de bibliotecas e espaços de livros no país é, conforme Cleide, um problema a ser resolvido. Acredita-se que há mais de 80 mil comunidades rurais no país precisando das bibliotecas. “Temos interesse em atendê-las, mas os desafios são grandes. É necessário que os parceiros locais acompanhem mais as bibliotecas e ajudem os agentes de leitura no seu cotidiano de incentivar a leitura e promover atividades nas comunidades.” “Temos mais motivos para comemorar do que para lamentar. No geral, as bibliotecas vem desenvolvendo grandes trabalhos que enchem o nosso país de orgulho. Os agentes estão contribuindo para a melhoria dos indices de leitura do país, que sempre foi muito baixo... Já temos muitas bibliotecas rurais premiadas em programas e projetos de leitura no país, o que garante maior reconhecimento e valorização do trabalho dos agentes de leitura rurais” conclui. Você também pode realizar doações e beneficiar diretamente milhares de famílias do campo. Escreva para arcadasletras@mda.gov.br e aguardar a resposta. 11/09 Revista Viva Campo
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Porteira Aberta
Liliane Danas
TURISMO RURAL
Turismo rural repleto de história Por por Liliane Danas
Além de relaxar, o visitante pode sentir o clima nostálgico das grandes fazendas de café dos anos 70 e desfrutar de belas paisagens naturais
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ão 6 horas da manhã e o galo miúda saudando mais um nascer do sol. Seria um dia normal de trabalho para quem mora no campo, mas que tornou-se opção para muitos que vivem o estresse diário das cidades. O turismo rural vem crescendo e aparecendo na região, mas o que não imaginamos é encontrar um lugar que ofereça este tipo de serviço a tão poucos quilômetros de Maringá. A Fazenda Água Azul, situada entre Quinta do Sol e Fênix, fica a aproximadamente 80km de Maringá e oferece todo ambiente de uma fazenda, com passeios a cavalo, trilhas e outras atividades. Lá não é apenas um local de descanso, mas também traz a tona o clima nostálgico das antigas grandes fazendas de café dos anos 60 e 70, época do ouro do grão no Brasil. Volta no tempo A história começa em 1952, quando o engenheiro eletricista Luiz Dias Ferreira adquiriu duzentos alqueires de Terra da Gleba Arurau. Ferreira foi o responsável pelo projeto de iluminação da capital Brasília, no governo de Juscelino Kubitschek. No mesmo ano, a área começou a ser demarcada e a floresta foi parcialmente derrubada. O nome Água Azul foi dado por Antônio Lázaro da Costa, responsável pelas demarcações, quando avistou uma pequena cachoeira com cor estranhamente azulada. A partir daí, a floresta foi derrubada e o plantio do café foi iniciado. Em 1967, o suíço Johan Gabriel Berg von Linde (in memorian) adquiriu a propriedade e não permitiu mais que as árvores fossem derrubadas continuando o cultivo do café e hortelã. Atualmente, dos 310 alqueires da fazenda, 142 são de mata nativa. O sistema utilizado na época era o meeiro, onde o fazendeiro arrendava uma área para outra pessoa que
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ficava encarregada de cuidar e manter a terra. Com isso, o fazendeiro lucrava 40% dos rendimentos, deixando 60% para o arrendatário. Passaram-se os anos e a fazenda ficou conhecida como uma das maiores produtoras de café da região. O terreirão, as tulhas e o secador artesanal encontram-se intactos até hoje, o que dá a sensação de reviver a época gloriosa do grão. Depois da geada história de 1975, onde muitos agricultores perderam completamente toda a lavoura, o café declinou. Com isso, von Linde cortou no toco todos os pés de café. Os que brotaram foram desbrotados e conduzidos para formarem novas plantações. Os que não vingaram foram arrancados e a terra foi destinada à plantação de trigo e milho, o que diminuiu drasticamente o número de funcionários. Isso perdurou até 1987, quando Gorm Eugênio Berg von Linde, filho único de Johan com Elissena Frolini Berg von Linde, que nasceu e foi criado na propriedade, decidiu juntamente com seu pai, acabar com o cultivo de café. “Eu, pessoalmente, arranquei o último pé”, conta. Turismo Rural Segundo Eugênio, em 1992, começou a se interessar nesse tipo de atividade. “Um amigo nosso, que era pastor da igreja adventista, veio com um grupo de desbravadores. Vieram 400 jovens que acamparam aqui. Em 1994, começamos a colocar a idéia em prática e reformamos as primeiras casas.” Ao todo são 13 casas que pertenciam aos antigos funcionários da fazenda. Antes, as casas eram alugadas, independente do número de ocupantes. A partir de 1996, o esquema passou a ser por diária completa, com café da manhã, almoço e jantar.
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Porteira Aberta Liliane Danas
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pós percorrer cerca de 4,5km de estrada de terra “Caminho do Peabiru”, uma placa acompanhada por uma grande pedra indica a direção. Já é possível notar a forte presença da natureza, onde até uma rara gralha azul pôde ser avistada. Um pequeno lago com uma simpática cerca branca continua a mostrar o caminho. Após a acomodação numa das casas de madeira com móveis feitos artesanalmente a partir de madeiras da própria fazenda, é hora de conhecer o lugar. Um pouco abaixo, está o refeitório, que de acordo com Eugênio, era onde ficava a sede da fazenda. Na árvore em frente ao barracão, notam-se ao alto, ninhos que mais parecem um emaranhado de galhos que formam uma espécie de saco. Mais para cima, uma placa azul de madeira indica as direções para a trilha, colônia, piscina e museu. Seguindo em direção a piscina, existem enormes palmeiras enfileiradas e uma pequena reserva de água artificial com peixes e um pequena queda d´água. Do outro lado, mesas rústicas de madeira e várias redes postas com um bar a beira da piscina. À frente está o museu histórico onde uma escritura dizendo “Conte nossa história, preserve nossa memória” revela a importância de se guardar lembranças de tempos passados. No pequeno museu, são livros, fotografias, instrumentos e ferramentas de cuidado da terra, pertences pessoais de antepassados e uma enorme pele de cobra preservada atinge até o outro lado da parede. Além disso, é possível encontrar instrumentos de indígenas que foram resgatadas do sítio arqueológico, xícaras, talheres e louças. Tudo iluminado sob uma grande roda de carroça transformada em lustre. Antigamente, ali ficava a tulha onde as sacas de café eram armazenadas. Subindo um pouco está o imenso terreirão, onde os grãos eram secados. Ao lado encontra-se um secador de café artesanal, pintado de amarelo. Lá eram colocados os grãos de café e o vento passava e voltava por pequenas janelas. Dessa forma, toda umidade era retirada. Dali é possível avistar duas casas, uma bem ao alto e do lado oposto, estas mais isoladas em relação às outras que ficam num “corredor”, uma ao lado da outra. Uma piscina desativada, ainda daquele tempo, ficou apenas para juntar algumas folhas. E é exatamente ali que começa a trilha para a mina. É possível percorrer dois caminhos, um mais curto e outro um pouco mais longo. Independente da escolha, o que se nota é poder estar em contato com a natureza em sua forma tão original. Espécies ameaçadas, muitas orquídeas e palmitos recheiam a reserva. No meio do caminho, troncos adaptados fazem o papel de ponte. Tudo isso sempre acompanhado pelo som das águas do riacho. A trilha termina no lago da simpática cerca branca. Lá é também é possível nadar num rio que fica ao lado do refeitório, pescar, se divertir no cabo aéreo, passear a cavalo e charrete e realizar vôos panorâmicos. De noite, há uma fogueira com roda de viola e vista panorâmica de mais de dezoito cidades. Isso tudo acompanhado pela culinária característica da fazenda.
Liliane Danas
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O hotel fazenda
Porteira Aberta
Por Joyce Camanho
Agricultura familiar atrai negócios mesmo para quem vive na cidade
A
Miake, se formou no ano de 1994 em Ciências da Computação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), atuava como professor em uma escola da cidade e como representante comercial, mas há três anos optou por trabalhar no laticínio da família de sua esposa. “Comecei aos poucos. Durante o namoro e noivado ia dando alguns palpites e há três anos abandonei todas as minhas atividades para me dedicar exclusivamente ao laticínio” explica Miake. Ao entrar na empresa, Miake assumiu a área de produção e comercialização do laticínio, buscou orientação e fez cursos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Paraná (Sebrae) de agroindústria familiar, onde aprendeu como montar custos e comercializar. “Decidi me dedicar porque vi aqui um bom futuro. Em todos os meus cálculos eu via resultado, sempre resultado positivo”. Miake conta que entraram em alguns projetos do Governo do Estado, como o projeto Fabrica do Agricultor, que consiste em uma parceria do governo com redes de supermercados grandes, que disponibilizam nos
Renata Mastromauro
11/09 Revista Viva Campo
Joyce Camanho
Volta ao Campo agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores e representa a maioria da produção rural no Brasil. Este segmento tem levado de volta para o campo inúmeros profissionais de outras áreas que abandonam seus empregos para se dedicar a agricultura. Estes produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda e sua maior inserção no mercado têm causado um importante impacto no interior do país e por conseqüência nas grandes cidades. No Paraná é cada vez mais perceptível a transformação de pequenas comunidades rurais em unidades de processamento de frutas, legumes, lacticínios e agricultura orgânica. Hoje, nas prateleiras dos supermercados é possível encontrar uma diversidade de produtos dessas comunidades, com marca própria e registro nos órgãos oficiais de defesa sanitária. Um exemplo é o analista de sistemas Jefferson
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estabelecimentos quiosques com produtos da agroindústria familiar. Atualmente 12 lojas da região de Maringá participam do projeto. “Nós fomos implementando novos equipamentos, caldeiras, retiradores de leite, câmara fria, a parte toda do processo de iogurte, bebidas lácteas. Temos o projeto de implantar novos produtos e atingir novos mercados, porque hoje 95% da nossa comercialização é em Maringá, e queremos atingir até Londrina, não só a cidade de Londrina, mas o eixo de Maringá a Londrina, que engloba 10 cidades” destaca. E a cerca de um ano Ângela Naomi Tsukada Miake, também abandonou suas atividades como dentista para se dedicar a empresa da família. Ângela conta que começou indo apenas duas vezes por semana ao laticínio, até que parou de vez com o atendimento no consultório para se dedicar totalmente a produção de queijos “assim eu acabo ficando mais tempo com a família também. Quando estava no consultório não tinha essa possibilidade”. A produção diária do laticínio é em média de dois mil litros de leite. São oito tipos de queijos feitos por 19 pessoas que trabalham na empresa. Os produtos ganharam reconhecimento pela qualidade da produção e pela eficiência na comercialização, conclui Ângela. O responsável por tudo Tsuyoshi Tsukada, fundador do Queijos Monte Fuji, chegou órfão ao Brasil. Nascido no Japão no período pós Segunda Guerra Mundial, perdeu os pais e foi criado pelos tios. Chegou ao Brasil em um navio de imigrantes, no ano de 1960, com apenas 14 anos. Sem falar uma palavra em português, trabalhou com a nova família em fazendas de cafés. Depois de alguns anos e através de economias, a família conseguiu comprar alguns alqueires de terra, na cidade de Doutor Camargo, o sítio Monte Fuji. No início dos 1970, Tsukada recebeu o sítio como herança da família. Ao lado da mulher, ele usava a terra para plantar uvas e fabricava vinho e suco. Toda a produção era comercializada em um ponto de venda, que ficava na beira da estrada. Em uma conversa com um vizinho mineiro, Tsukada pediu que o amigo o ensinasse a fazer o queijo minas frescal. No início, a produção era apenas para consumo próprio, mas nem todas as peças eram consumidas pela família. No início dos 1990, ele passou a vender queijos e com trabalho e comprometimento, Tsukuda ganhou a confiança de vários clientes. O queijo minas frescal passava então a ser comercializado com a marca Queijos Monte Fuji. Com o tempo e o trabalho do gestor, a empresa cresceu e diversificou a produção. 11/09 Revista Viva Campo
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Plante você
Arquivo
Colheita
A produção em média de cada planta no morango convencional é de cerca de 1kg já no orgânico é de 400 gramas por pé.
Como preparar o Supermagro
Morango O
Por Joyce Camanho
morango é uma planta rasteira de pequeno porte. É um fruto carnoso, suculento, de sabor levemente ácido, contém várias substâncias essenciais para o organismo, como potássio, sódio e cloro, responsáveis pelo movimento da musculatura cardíaca. É atualmente uma fruta conhecida mundialmente, e saudável devido a sua grande quantidade de vitamina C, essa pequena fruta vermelha ainda colabora consideravelmente na resistência ao organismo contra infecções, auxilia na cicatrização e na absorção do ferro.
Preparo das mudas
Em setembro é realizado o preparo das mudas, através da aquisição de plantas matrizes, ou então de mudas de laboratório de biotecnologia. Essas matrizes são levadas para o campo e vão se multiplicar e gerar em torno de 100 a 200 mudas. Realiza-se o manejo dessas mudas até o período de março a abril, quando elas vão estar prontas para fazer o “transplantiu” no campo.
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11/09 Revista Viva Campo
Fruta originária da Europa e típica de países de clima frio pode ser cultivada até em vasos. O morango é consumido in natura, em sucos, mas é principalmente utilizado no preparo de sobremesas. Atualmente, no Brasil como em quase todo o mundo, existem inúmeras variedades da fruta sendo cultivadas. Em Maringá a engenheira agrônoma, Drª em horticultura, Luciana Borges produz morangos orgânicos em sua chácara e explica como podemos plantar essa deliciosa fruta.
Preparo da terra
Escolhido o local de cultivo, é necessário preparar a terra, no sentido de verificar que esta não contenha qualquer tipo de ervas daninhas e adubando com humos de minhoca e esterco. Os morangueiros podem ser plantados em canteiros e até em vasos. O espaçamento entre cada muda deve ser de cerca de 35 cm.
A receita do Supermagro foi desenvolvida no Rio Grande do Sul, pelo Técnico Agropecuário Delvino Magro e por agrônomos do CAE (Centro de Agricultura Ecológica Ipê) para utilização em culturas de uva, maçã, pêssego, tomate, batata e hortaliças em geral. Preparo Em um recipiente de 200 l (tambor) devem ser colocados os 40 litros de esterco, 100 litros de água, 1 litro de leite e 1 litro de melaço, misturar bem e deixar fermentar por 3 dias. A cada 5 dias dissolver um dos sais minerais em 2 litros de água morna, juntar com 1 litro de leite, 1 litro de melaço (ou 0,5 kg de açúcar) e um dos ingredientes complementares (Tabela 3) e misturar com o esterco em fermentação. Após adicionar todos os sais minerais, na ordem sugerida (Tabela 2), completar até 180 litros e deixar fermentar. No verão: por 30 dias. No inverno: por 45 dias. Modo de Usar A diluição recomendada é de 2% a 5% e a pulverização mensal.
Cultivo e Manutenção
Depois de 30 dias plantado, deve-se proteger as mudas com o “mauchin” para evitar a planta daninha e o contato do morango com a terra. O “mauchin” seria a lona plástica que cobre os canteiros, e pode ser substituído pela palha de arroz. Nos tratos culturais do morango em geral, podem ser usadas as caldas como o supermagro no lugar dos agrotóxicos.
O período de colheita é após 60 dias do plantio (durante os meses de julho a dezembro), a colheita é feita dia sim, dia não, mas em época muito quente, no período de setembro e outubro é quase que diária, pois o morango amadurece muito rápido. A apanha dos morangos deve ser uma operação delicada porque os morangos são frutos muito frágeis. Deve ser feita na parte fresca do dia, com uso de luvas descartáveis. Recomenda-se que os morangos sejam colocados em cestinhas, forrados com plástico bolha e colocar pequenas quantidades para não amassar.
Ingredientes Ingredientes Esterco fresco Água Leite Melaço
Unidade Kg Litro Litro Litro
Quantidade 40 140 9 9
Sais Minerais Ordem 1 2 3 4 5 6 7
Sais Minerais Sulfato de Zinco Sulfato de Magnésio Sulfato de Manganês Sulfato de Cobre Cloreto de Cálcio Bórax* Molibdato de Sódio
Unidade Kg Kg Kg Kg Kg Kg Kg
Quantidade 3,0 1,0 0,3 0,3 2,0 1,5 0,2
Complementares Ingredientes Farinha de ossos Restos de peixe Sangue
Unidade Kg Kg Litro
Quantidade 0,2 0,5 0,1
Restos moídos de fígado
Kg
0,2
Irrigação
A irrigação deve ser diária, apenas na terra é através de gotejo. Por baixo do “mauchin”, colocase duas “tripas” de irrigação que faz esse gotejo. As folhas não podem ter contato com a água. Aconselha-se a rega no período da manhã para que as folhas possam secar antes de o cair da noite, evitando assim eventuais doenças.
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Faça você
MODELO
MODELO Passo a passo
Composteira
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Monte cada leira da composteira em formato piramidal ou trapezoidal, com uma base de 1,20 metro a 1,50 metro. A altura pode variar entre um metro e 1,20 metro. É importante não diminuir este tamanho para não prejudicar a temperatura e a umidade do composto, uma vez que uma leira baixa perde calor. Coloque as leiras uma ao lado da outra, deixando entre elas um espaço para circulação.
Por Gustavo Laredo Ilustração Filipe Borin (Revista Globo Rural)
Processo de reciclagem de material orgânico é fácil de fazer, rápido e produz esterco de boa qualidade
A
lata de lixo pode estar com os seus dias contados. É cada vez maior o número de produtores rurais que separam latas, papéis, vidros, embalagens de agrotóxicos para processos de reciclagem. Fossas negras estão sendo substituídas por equipamentos biodigestores. A preocupação com o meio ambiente faz sentido e tem uma via de mão dupla: além de preservar a natureza para as futuras gerações, pode gerar lucro. Só a reciclagem de sucata, por exemplo, movimenta cerca de 3 bilhões de dólares por ano no país. No entanto, o lixo doméstico ainda está longe de ser reaproveitado. Com a capacidade esgotada, os lixões já não conseguem mais absorver a quantidade produzida pela população. Os resíduos orgânicos, como restos de comida, podem (e devem) ser utilizados como adubo na produção agrícola. E uma das maneiras de se fazer isso é por meio da construção de composteiras em propriedades rurais. O processo é simples. Para o produtor que possui espaço e tem lixo orgânico de sobra, basta apenas construir leiras trapezoidais ou piramidais no solo, intercalando palha e esterco até formar uma pilha de 1,20 metro. Para quem tem uma área limitada, a construção de uma composteira de alvenaria é a melhor opção. De acordo com o engenheiro agrônomo Raul Shiso Toma, a composteira não forma cheiro, pois se trata de um processo aeróbio. ‘Caso isso aconteça é porque há algum problema, como excesso de umidade ou falta de oxigênio no interior da leira causada pela compactação do material’, explica. Além disso, como
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não há odor, não há o surgimento de animais ou insetos, somente aqueles responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. O tempo médio de compostagem da leira varia de três a quatro meses dependendo das condições ambientais e das características dos materiais utilizados. O composto orgânico produzido pode ser reaproveitado em hortas, jardins, lavouras e no pasto. Além de adubo, o material serve como condicionador do solo. Abaixo, ensinamos a montagem de dois tipos de composteira. A primeira pode ser feita diretamente no solo e exige mais espaço na propriedade. A segunda, de alvenaria, tem proporções reduzidas e é recomendada para produtores que não possuem uma área maior ou não produzem grande quantidade de lixo. Recomendase a construção em locais protegidos de chuvas e ventos fortes, não precisando ser coberto, necessariamente.
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O comprimento da composteira irá depender do uso de cada hectare e da quantidade de resíduo que o produtor possui na propriedade. Recomenda-se a construção de quatro composteiras no mínimo. Para calcular o comprimento de cada leira é preciso saber que o material orgânico, em geral, tem densidade baixa, de aproximadamente meio quilo por litro. Portanto, se o produtor tiver 100 quilos de material orgânico por dia, ele terá 200 litros de adubo. Uma leira de 1,5 metro de base, altura de 1,2 metro e produção mensal de seis metros cúbicos de resíduo terá um comprimento de 3,5 metros aproximadamente.
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Coloque uma camada de 20 centímetros de palha e 5 centímetros de composto. Repita esta operação até chegar a altura de 1,20 metro. Para a composteira caseira, no lugar do esterco, coloque restos de comida. Mantenha sempre a leira umedecida com água.
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O composto orgânico deve ser formado na proporção de três para um, com uma parte de esterco ou de materiais de baixa relação carbono-nitrogênio, como restos e estercos animais e sobras de alimentos, e três partes de restos vegetais ou de materiais de alta relação carbono-nitrogênio, como galhos e folhas secas.
Espaço entre as leiras é fundamental para a revirada do composto
Materiais • Palha (podem ser folhas de árvores, grama cortada, serragem, maravalha, galhos triturados) • Esterco ou restos de comida • Blocos de alvenaria • Argamassa • Pá • Enxada • Carrinho de mão
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Para a montagem da composteira doméstica, faça com os blocos de alvenaria quatro baias de um metro cúbico cada. No entanto, deixe a parte da frente mais baixa para facilitar a remoção da compostagem. Utilize a primeira baia para misturar o composto e vá, com o passar do tempo, colocando o material na segunda, terceira e quarta baias até poder utilizar o adubo na lavoura. 11/09 Revista Viva Campo
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Cotações Produto
Tipo
Valor (média comum)
ALGODÃO EM CAROÇO
TIPO 6 - arroba
R$ 15,00
ALGODÃO EM CAROÇO
Sequeiro – sc 60kg
R$ 35,00
ARROZ EM CASCA
Irrigado - sc 60kg
R$ 34,00
CAFÉ EM COCO
Kg Renda
R$ 3,65
FEIJÃO PRETO
Saca 60kg
MILHO COMUM
Saca 60 Kg
R$ 14,10
SOJA INDUSTRIAL
Saca 60 Kg
R$ 47,70
TRIGO
Saca 60 Kg
R$ 24,70
BOI EM PÉ
Arroba
R$ 75,00
FRANGO DE CORTE
Vivo - kg
R$ 1,46
ERVA MATE FOLHA
Em barranco - arroba
R$ 6,50
SUINO EM PÉ
Tipo carne - Kg
R$ 2,05
VACA EM PÉ
Arroba
R$ 69,00
CAFÉ BENEFICIADO
Tipo 6 - sc 60kg
Feileite 2009 - Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite Empresa Promotora: Agrocentro Empreendimentos e Participações Tipo de Evento: Exposição / Feira Data: de 03 a 07 de novembro de 2009 Local: Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo-SP Site: www.feileite.com.br Telefone: (11) 5067-6767
R$ 60,00
Programe-se
Tome nota
MODELO
30ª EXPOVEL - Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Cascavel Empresa Promotora: Sociedade Rural do Oeste do Paraná Tipo de Evento: Exposição / Feira Data: de 06 a 15 de novembro de 2009 Local: Parque de Exposições - Br 277 Km 596 – Cascavel-PR Site: www.expovel.com.br
R$ 220,00
Notas Exportação de suínos
Cooperativas
A exportação de carne suína do Paraná aumentou 54% no período de janeiro a agosto comparado aos primeiros oito meses do ano passado, chegando a 32 mil toneladas. A exportação nacional aumentou 3,8%. O resultado é que a renda total do Brasil com os embarques de carne suína caiu 25%, para 770 milhões de dólares, enquanto o Paraná registrou aumento de 23%, para 61 milhões de dólares. Enquanto o resto do país reluta em entregar a produção numa época de preços abaixo dos custos, os paranaenses ganham participação no setor.
Cooperativas do Paraná dobram empregos no período de dez anos. O número de empregos diretos e indiretos ligados às cooperativas do Paraná cresceu 129% nos últimos oito anos, segundo balanço da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). O salto foi de 545 mil para 1,25 milhão. A entidade estima que para cada posto de trabalho que existe dentro de uma cooperativa, são gerados 20 empregos indiretos nos mais diferentes elos da cadeia produtiva. Essa relação estaria se ampliando com a abertura de agroindústrias e outras empresas que não são braços das cooperativas.
17º Encafé - Encontro Nacional da Indústria de Café Empresa Promotora: ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café Tipo de Evento: Encontro / Simpósio Data: de 18 a 22 de novembro de 2009 Local: Vila Galé Marés Resort – Salvador-BA Site: www.abic.com.br/encafe Telefone: 11 3868.4037
4º Encontro Brasileiro de Hidroponia Empresa Promotora: Universidade Federal de Santa Catarina Tipo de Evento: Encontro / Simpósio Início do Evento: 19 e 20 de novembro de 2009 Local: Hotel Praiatur – Praia dos Ingleses – Florianópolis-SC Site: www.encontrohidroponia.com.br Telefone: (48) 3028-9052
Importações Produção paranaense de trigo fará com que Brasil reduza importações. O Paraná é o maior estado produtor de trigo, que atende as exigências da indústria de panificação. Segundo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) esse esforço vem sendo conquistado graças à contribuição de pesquisas, que desenvolvem variedades mais produtivas do grão, e das políticas públicas em apoio à produção. No ano passado, o Brasil gastou US$ 1,42 bilhão com a compra de trigo importado, a maioria vinda da Argentina e da região do Mercosul.
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Ferrugem da soja
O Consórcio Antiferrugem identificou a presença de ferrugem asiática em diversas plantas de soja na Rodovia do Café entre Londrina e Cambé, no Paraná. A doença está em fase inicial, mas apesar das infecções serem relativamente recentes, há abundante esporulação. Já são quatro os estados com a presença da doença: Paraná, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás. As condições climáticas do inverno – muito chuvoso - favoreceram a germinação da soja voluntária.
II Congresso Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador Empresa Promotora: ABCCMM - Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador Tipo de Evento: Congresso Data: de 19 a 22 de novembro de 2009 Local: Porto Seguro-BA Site: www.abccmm.org.br Telefone: 31 3379.6100
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Receita da fazenda
MODELO
MODELO
Torta de banana é o segredo da vovó Quitute da avó Verena é tão tradicional que nem receita tinha, estava guardada apenas na memória. A receita veio da Suíça e já é feita pela quinta geração da família
Endereços Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Av Brasil, nº 4493 – Sala 104. Maringá, PR Fone: (44) 3262-4181 www.emater.pr.gov.br Departamento de Agronomia – Universidade Estadual de Maringá (UEM) Av. Colombo, nº 5790 – Bloco I-45. Maringá, PR. Fone: (44) 3261-4316 www.dag.uem.br Departamento de Zootecnia – Universidade Estadual de Maringá (UEM) Av. Colombo, nº 5790 – Bloco J-47. Maringá, PR. Fone: (44) 3261-8948 www.dzo.uem.br
Fazendinha Experimental de Iguatemi – UEM Fone: (44) 3276-1213 www.fei.uem.br Hotel Fazenda Água Azul Estrada Caminho do Peabirú, Km 4,5 – Bairro Arurau – Quinta do Sol, PR. Fone: (44) 3567 1029 www.aguaazul.com.br Canil Bratislava Rua Estácio de Sá, nº 477 – Zona 2 – Maringá - PR Contato: Nedson Buzzo Jr. Fone: (44) 3264-4484
Ração animal
L
eitora assídua da Viva Campo, a bancária Anna Carolina Santos, 23 anos, não teve dúvidas, enviou sua receita para a redação. A torta de banana de sua avó, sempre presente nos fins de semana e natais com a família, ia ser “a” receita. O trabalho maior não seria fazer a torta, mas registrar o modo de preparo. “Quando pedi ela disse que Animais não existia, era um pouco de farinha, outro de açúcar. Uma receita de cabeça”, conta Anna. Para a difícil missão, colocou a avó na cozinha e anotou todo o procedimento em um guardanapo. “Essa receita é um pouco adaptada, minha mãe fazia com maçãs e usava nata. A mãe dela usava banha”, conta a avó Verena Pinheiro Lima, que diz ter aprendido a fazê-la aos 15 anos, com sua mãe, que é suíça. “Comecei a usar banana porque tem muito no Brasil. É uma torta muito simples e deliciosa”, afirma. A neta Anna Carolina diz que a receita pode ser adaptada com outros frutos como uva, blueberries e maçã, a sua preferida. “Prefiro que minha avó faça, por enquanto, eu só sei comer”, brinca. Gastronomia é isso, você pode fazer algo muito complexo e refinado, mas sem alma. Ela ficou ali, colhendo o modo de fazer da avó, uma receita que tem muita história. O quitute é muito simples, rápido e traz elementos brasileiros e populares, que faz as pessoas lembrarem do passado. Torta é algo que lembra a casa da avó. Banana, além de ser bem brasileira, é uma fruta que todos gostam.. A avó Verena, que não esperava a vitória no Desafio, agora está orgulhosa da receita, que espera durar mais gerações. “Fiquei orgulhosa de saber que ela (a neta) aprendeu e espero que passe para frente”, conta.
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Ingredientes Massa • 1 1/2 xícara(s) (chá) de açúcar • 6 unidade(s) de banana em fatias • 4 unidade(s) de ovo • 3 colher(es) (sopa) de manteiga • 1 xícara(s) (chá) de leite • 3 xícara(s) (chá) de farinha de trigo • 1 colher(es) (sopa) de fermento químico em pó Calda • 3 1/2 xícara(s) (chá) de açúcar
Modo de preparo Massa Bata bem, na batedeira, os ovos, a manteiga e o açúcar, até formar como um creme. Acrescente então, o leite e a farinha de trigo, aos poucos e alternadamente. Bata até a massa ficar homogênea. Junte o fermento e mexa delicadamente. Calda Em uma forma, queime o açúcar (no fogão), até que vire caramelo. Depois, unte bem todo o fundo e as laterais da fôrma com esse caramelo. Coloque as bananas sobre o caramelo. Se precisar coloque mais bananas. Depois, por cima das bananas, despeje a massa. Leve ao forno por cerca de 30 a 40 minutos.
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MODELO
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Artigo Colaborador
MODELO
Agricultura x idealismo
A
moderna agropecuária brasileira é um caso inegável de sucesso. Apesar disso, há quem diga que nosso modelo está errado. As idéias nascem com a finalidade de interpretar a nossa existência e guiar os nossos comportamentos. Com muita frequência na história humana, as condições de nossa existência mudam, mas ideias antigas, mesmo tendo perdido sua relação com o mundo real e se tornado imprestáveis para interpretá-lo e compreendê-lo, conseguem uma sobrevida na mente de algumas pessoas ou grupos sociais. Esse pensamento surge a propósito de alguns discursos políticos que, mesmo confinados a territórios ideológicos restritos, podem eventualmente produzir alguma confusão, apesar de serem irremediavelmente anacrônicos. A moderna agropecuária brasileira é um caso inegável de sucesso. Parece impossível contestar seriamente esse fato se nos valermos exclusivamente dos dados da realidade. Enquanto a economia brasileira nos últimos 40 anos experimentou muitos altos e baixos, passando longos períodos de baixo crescimento, a produção rural do Brasil cresceu forte e regularmente durante todo esse tempo. Na realidade, a produção rural brasileira comportou-se dentro de nossa economia como um mundo à parte. Esse crescimento nos permitiu atender a praticamente toda a demanda interna de alimentos, mesmo com o aumento da população e da renda, e ainda gerar importantes excedentes para exportação, sem o que nossas contas externas teriam sofrido uma dramática inversão, com fortes deficits na balança comercial e as inevitáveis crises cambiais. A produção agropecuária do Brasil obteve esse desempenho adotando as modernas formas de organização capitalista de produção, empregando as mais novas técnicas e fatores de produção e integrando-se aos mercados e ao processo de globalização. Apesar disso, há quem continue proclamando que nosso modelo está errado e precisa ser totalmente reformado. Recentemente, por exemplo, o ministro do Desenvolvimento Agrário declarou, referindo-se aos produtores rurais: “(...) esses senhores feudais não podem dispor da terra como quiserem, sem levar em conta a questão da produção de alimentos”. Diante dessas palavras, alguém poderia imaginar que a agricultura brasileira não produz o suficiente para atender a
demanda da população, quando a verdade é exatamente o contrário. O Brasil produz muito mais alimentos do que consome. A prova disso é que os preços agrícolas têm caído sistematicamente em termos reais e ainda produzimos elevados excedentes para exportação. Somos de fato um dos maiores exportadores de alimento do mundo. Será que somos isso, senhores feudais? Essas críticas, na verdade, são fruto de um pensamento puramente ideológico, numa discussão em que o que vale não são os argumentos, mas as identidades políticas. Essas críticas partem dos que não se conformam com a marcha do mundo, dos que não podem admitir que a agricultura seja principalmente uma atividade produtiva, sensível às leis da economia, orientada para o mercado, o lucro e o crescimento. Por essa ideologia, com fortes traços de fundamentalismo e nostalgia de um mundo que nunca houve, a unidade natural na agricultura só pode ser a fazenda familiar, que produz segundo métodos tradicionais, sem tecnologia nem insumos modernos, numa escala reduzida que torne desnecessária a contratação de trabalho assalariado. Seriam formas pré-capitalistas de produção, que trariam de volta as virtudes e as belezas de um passado feliz que o progresso e os mercados estão destruindo. Quem experimentou esse caminho viu-se em sérias dificuldades. A revolução agrária socialista de Mao Tsétung matou de fome e privação dezenas de milhões de pessoas, enquanto durou. Em Cuba, onde estão fielmente cumpridas essas condições idílicas por que lutam certos movimentos agrários, sem propriedade privada da terra, sem insumos modernos, sem fertilizantes e defensivos agrícolas, sem agronegócio e sem capitalismo, 80% do consumo doméstico de alimentos é atendido com importações, e os alimentos mais nobres são racionados ou vendidos no mercado negro. Será algo assim que devemos querer para nós ou trata-se de algo mais grave -a compulsão para o abismo, que já arrastou tanta gente e tantas nações para os caminhos da insensatez e do desastre? O mundo e as coisas são como são, e não como os imaginamos em nossa cabeça. Só a economia de mercado pode proporcionar a cada um e a todos a segurança da propriedade e da riqueza adquirida legitimamente e um horizonte de progresso pessoal. As pessoas têm o direito de não ser pobres, inclusive no campo.
KÁTIA ABREU, 47, psicóloga, é senadora pelo DEM-TO e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Artigo publicado no Jornal Folha de S. Paulo em 21/08/2009.
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11/09 Revista Viva Campo
Expediente A Revista Viva Campo é uma publicação experimental, apresentada como produto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), para a disciplina de Projetos Experimentais em Jornalismo, do 4º ano de Jornalismo, do Centro Universitário de Maringá. Pauta, reportagem, redação, fotografia e edição: Joyce Camilla Camanho, Liliane Danas e Renata Mastromauro Tiragem: 3 exemplares Impressão: Cópias e Cia Centro Universitário de Maringá – Cesumar Av. Guedner, nº 1610 Jd. Aclimação Maringá – Paraná – CEP:87050-390 Telefone (044) 3027-6360 Home Page: www.cesumar.br Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor : Wilson de Matos Silva Filho Diretora de Graduação: Solange Lopes Coordenadora de Comunicação Social: Cibele Abdo Rodella Professor Responsável: Cibele Abdo Rodella Endereço Eletrônico: vivacampo@gmail.com Proibida a reprodução deste material sem autorização prévia e escrita dos coordenadores. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.
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