Catarse

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CATARSE Edição 13. Novembro 2013

O que é arte?

A questão, que estigmatiza o que é e o que não é e a dicotomia popular x erudito, ganha nova faceta com as expressões artísticas modernas.


Créditos Editor Carlos Eduardo Freitas Redatores Aline Medeiros Carlos Eduardo Freitas Carolina Melo Diagramação Carolina Melo Imagens Aline Medeiros Isabela Arrais (contribuição)

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Sumário Coxia

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24 Fotogramas de Elitismo

E aí, trancendeu?

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A “arte popular” transcende?

Tablado

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Mon amour, mon jet, mon art

Piceladas

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Diafragma

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Tão surrealista quanto Dalí Intervir e colorir o cinza Taurina Música de conteúdo

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Coxia 24 Fotogramas de elitismo Tempos modernos ou Thor? ...E o Vento Levou ou Um Amor Para Recordar? Cidadão Kane ou Jogos Vorazes? O clássico versus o contemporâneo. O cult versus o popular. O padrão instituído há décadas continua a ser considerado artístico em detrimento do que é atual. Os blockbusters, acredite “... E o Vento Levou” também é um, são responsáveis pelo crescimento do mercado cinematográfico, levando assim milhares, milhões, bilhões de espectadores às salas de cinema de todo o mundo anualmente. A rentabilidade do investimento na área só é reiterada pelas inúmeras sequências desses filmes. Em contrapartida, o cinema de arte, termo absolutamente elitista, considerado o verdadeiro cinema, a arte superior, a materialização das técnicas necessárias, é cultuado pelos “críticos de cinema”, que, baseados em amarrações de Godard, Bergman ou Fellini, subjugam como inferior a produção contemporânea. Para eles, o

cinema já foi melhor, já foi arte, hoje não. Esquece-se de considerar que a sociedade é dividida em classes, e, portanto, serão produzidas artes diferenciadas, mas que, no seu ínterim, ainda assim, são artes. A dominação ideológica que leva a sociedade através da alienação, diz que, por exemplo, American Pie é filme para a massa e Amor é filme para Oscar. Surge então a grande diferenciação, o povo é levado a crer que é inferior por não conhecer os enquadramentos usados ou as técnicas de edição dos filmes, aceitando assim qualquer Haneke como gênio ou qualquer Scorsese como mestre. O gosto pessoal não deve interferir no que, de fato, é arte. Arte é muito mais do que aquilo que alguém gosta por tal motivo, ela é catarse, é purificação das emoções. Arte é ser culto e popular, é ser clássico e atual, é razão, é sentimento, é expressão. Arte é se encontrar, se amar, se aceitar do jeito que se é. Arte é ser o social, é materializar a vida, o pensamento. Arte é você! Aceite!

Cinco tons de dourado Na arte do sexo: uma virgem e um dominador. Essa curiosa relação, para muitos oposta, é o tema principal de “50 tons de cinza” da inglesa E. L. James. O livro narra a trajetória sexual de uma mulher que, apaixonada pela beleza e sensualidade de um dos homens mais ricos do país, resolve participar de uma verdadeira aventura amorosa. A autora possui um grande trunfo: a possibilidade frequente de identificação dos leitores com a personagem, o que suscita a libido e melhora o autoconhecimento. O livro virou best-seller, mas foi alvo de críticas pelo uso do erotismo. Mas será que o erotismo é realmente nocivo à sociedade?

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E aí, transcendeu? “Nem tudo que é erudito, nem tudo que é de uso exclusivo para tão poucos, em minha opinião, é arte. É um preconceito você achar que só porque é cultura de massa, que é de larga escala, que é para a massa, não presta, não é arte.” Kamila Fernandes, 35

Para alguns, há uma segregação entre artes, a erudita e a popular. Para outros, toda expressão artística e cultural merece status e reconhecimento igual, sendo do seu gosto ou não. A Catarse quer saber do seu leitor. Aquela produzida pela a massa, muitas vezes, marginalizada pela sociedade mais intelectualizada, é arte, é capaz de transcender?

“A cultura de massa já foi arte um dia, o problema é que a massa hoje é diferente da massa que era nos anos 60, 70, quando ela estava envolvida com as questões políticas. Só que hoje, como o acesso a arte tá bem mais fácil, então todas as camadas da população tem acesso, inclusive as que não têm educação.” Ingrid Oliveira, 18

“A partir do momento em que algo produz um sentimento dentro da pessoa, não precisa ser algo bem trabalhado, pode ser considerada arte, sim. Porque arte é uma expressão e não importa o que causa isso, o que importa é o efeito.” Marcelo Monteiro, 19

“As pessoas gostam muito de definir o que é arte e o que não é, eu acho que qualquer coisa pode ser arte. Por exemplo, tem gente que faz escultura com chiclete, gente que tira foto de coisas que você nunca imagina e, depois, aquela foto, aquela escultura passa a valer milhões. É como se arte fosse mais um ponto de vista, uma concepção.” Caio Gadelha, 20

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Mon amour, mon jet, mon art

O brega e o grafite são exemplos de manifestações que ficam à margem do que é considerado arte pelos ditos “cultos”, mas será que ser culto é a melhor saída?

Tablado

S

empre houve um questionamento, uma tentativa de definir o que é arte e o que não é arteConsideram que arte é aquilo nas galerias, é aquilo criado por alguém consagrado e que teve uma base educacional para isso, é aquilo que provoca um sentimento, um pensamento, é aquilo feito com intuito artístico. E o que não é arte? É aquilo feito por alguém que não teve um estudo prévio? É aquilo voltado para a venda? É aquilo direcionado para um público que não avalia, apenas aceita? A arte não é delimitada e, talvez, nunca será. Haverá sempre uma polêmica em volta, e isso já envolveria a questão do bom gosto e do mau gosto. O que ocorre muito é uma espécie de preconceito com certas artes, principalmente com aquelas nomeadas de “manifestações populares”. Temos, hoje, onze manifestações consideradas artes. “Arte não é só pintura, escultura e arquitetura, a arte é a dança, é o teatro, é a música e há muitas manifestações populares nisso aí”, afirma a professora de História da Arte da Universidade Federal do Ceará, Beatriz Diógenes.

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“Arte não é só pintura, escultura e arquitetura, a arte é a dança, é o teatro, é a música e há muitas manifestações populares nisso aí.” Beatriz Diógenes O preconceito pode ser exercido por diferentes grupos, porém tem uma maior intensidade no grupo conservador e no de artistas consagrados (a “Academia”). “Para eles, a arte é restrita, sendo os próprios inseridos nesse meio, assim, se sentem mais confortáveis e não tem tanta concorrência ou rivalidade”, continua a professora. A Academia escolhe o modelo artístico a ser seguido e desconsidera qualquer outro, rotulando-os como produtos de baixa qualidade, acabando por influenciar outras camadas da sociedade. O que os acadêmicos não lembram é que muito do o que hoje é arte, pode não ter sido considerado arte anteriormente. A sociedade começou a fazer arte como uma espécie de representação do desconhecido, criavam mitologias e faziam representações de deuses, seguindo as proporções do corpo humano para isso. Após muito tempo, o Impressionismo surgiu para revolucionar o que até então se tinha por arte. Claude Monet, Paul Cézanne e August Renoir usavam sua habilidade para retratar a burguesia e eram alvos de muita crítica, só depois que a Academia viria a considerar aquilo arte, dan-

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do início ao que chamamos hoje de Arte Contemporânea. Tempos depois surgiu o tão polêmico dadaísmo, movimento no qual Marcel Duchamp expôs um mictório como uma crítica à visão restrita da Academia, porém, depois, aquele estilo foi incorporado à ela. Na década de 60, concretizou-se a Pop Art, movimento artístico que defendia o popular, além de criticar a Escola de Frankfurt, criadora do termo “indústria cultural”, que afirmava que a cultura no capitalismo era uma mercadoria para satisfazer a utilidade do público. Assim, fica claro que o conceito de arte mudou, e muito, ao longo da história da sociedade. E continua mudando...

Brega? Hoje, a crítica que se tem é que certas manifestações são produzidas em larga escala, voltadas para a venda e para a massa. Afirmam que os artistas não as fazem com o intuito de provocar sentimentos, apenas com o intuito de estourar na mídia, ganhar muito dinheiro e “curtir” o que foi ganho. Porém, será que mesmo com esses intuitos, o produto não pode ser uma nova arte? Será que o que já é arte, também não é de larga escala e não envolve vendas? “E o Caetano? Que compôs ‘Alegria, Alegria’. Ele deve ter subido no palco umas 30 mil vezes para cantar essa música, tem problema isso? É pecado?”, argumenta o diretor do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Pedro Eymar. Uma manifestação artística que sofre preconceito desde sua origem é o brega, gênero musical composto por letras ultrarromânticas e que nos rev-


pensam, especialmente, sobre as desigualdades sociais e sobre as contradições do sistema capitalista, ou seja, mostrando um discurso politizado.

Foto: Isabela Arrais

Modinha?

consideradas um estilo de arte, a street art. No entanto, muitas vezes, o grafite é confundido com a pichação. Esta, no Brasil, é considerada crime ambiental e vandalismo. Grafiteiros são intitulados de vândalos, muitos julgam que sua arte é considerada poluição visual. Além disso, o grafite incomoda justamente por expor, geralmente, o alvo da crítica sem eufemismos. “Eu acho que talvez role preconceito por ser uma coisa que tá engrenando ainda, [...] o grafite também vai se assimilar, e esse preconceito vai diminuir, mas isso é questão de tempo e de os artistas criarem cada vez mais”, reforça Leonardo Delafuente, do Coletivo 6emeia. O grafite surgiu como forma de expressão urbana, principalmente daqueles Diferentemente do menos favorecidos. Os artistas brega, o grafite e outras in- encontram nas intervenções tervenções urbanas já são formas de manifestar o que elou cantores como Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Odair José e, o cearense, Falcão. O preconceito com o brega começa com o nome pejorativo. Na década de 1980, a imprensa passou a usar o termo para indicar músicas sem valor artístico, feitas para as camadas populares. “O brega é associado ao mau gosto, à cafonice, ao cabaré, [...] sempre ouvimos que deveríamos tocar rock”, confirma a banda Leite de Rosas e os Alfazemas. Apesar disso, o brega remete ao amor exagerado na sua forma mais pura. Costuma-se escutar quando sofre de uma desilusão amorosa ou na fase inicial de uma paixão. E isso provoca sentimentos profundos. Pichação?

Outros alvos de ataque são as mídias sociais, pois podem ser usadas para difundir novos artistas e novas manifestações. Em especial, os jovens encontraram formas de se expressar. Através das redes sociais como o Instagram, o Youtube, blogs e outras, publicam-se fotos, músicas, danças, narrativas, poemas e mais uma infinidade de manifestações. O público que essa arte irá alcançar, não será só erudito, mas também o popular, a massa. No entanto, esse público não aceitará tudo, mas será influenciado pelas manifestações que condizem com os valores da sociedade atual. Ainda assim, pela internet se caracterizar por unir pessoas de todos os sistemas de valores, existirão artes que vão se manifestar em níveis diferentes, ou seja, umas mais, outras menos. E isso é a essência da arte nas redes sociais, todas podem ser alcançadas. Tudo pode ser arte, e por que não? Tudo pode nos fazer questionar, questionar a nós mesmos, questionar o mundo. Tudo pode nos fazer sentir, nos fazer amar, nos fazer chorar, nos fazer rir, nos fazer TRANSCENDER.

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Pinceladas Tão surrealista quanto Dalí

Imagem: Instagram @peaug

O jovem estudante Pedro Augusto Araripe, de apenas 19 anos, postava suas caricaturas no Instagram. De repente, estava no Rio de Janeiro a pedido da estilista Patrícia Vieira para ajuda-la no Fashion Rio. Pedro está dentro do “Manifesta! Festival de Artes”, a virada cultural que acontece nos dias 07 e 08 de dezembro em Fortaleza. A exposição “Ilinhado Contínuo Visto” será apresentada no Dragão do Mar e narra a sublime trajetória do artista contemporâneo que, em menos de um ano, já começa a demarcar seu espaço no cenário cearense.

Intervir e colorir o cinza

Taurina

O cinza e a sobriedade dos grandes centros urbanos de hoje clamam por cores e alegrias. Em Fortaleza não é diferente. Incomodado com a monotonia monocromática das ruas e das construções da cidade, Narcélio Grud, artista e professor universitário, idealizou e produziu o I Festival Concreto Internacional de Arte Urbana. O evento reuniu artistas locais, nacionais e internacionais, como o maranhense Naldo, o coletivo paulista 6emeia, o argentino Mart e o espanhol Borondo. O Dragão do Mar e o Cuca Barra foram alguns dos locais contemplados com a genialidade e a intervenção desses e de outros nomes.

Paulo Mamede, secretário de Cultura do Estado do Ceará, mostrou energia ao anunciar novos projetos para a sua breve gestão. Dentre eles, a criação de um corredor cultural da Parangaba ao Dragão do Mar. No trecho há espaços como teatros e museus. Os principais objetivos são a revitalização e a popularização desses. Mamede idealizou e produziu o Festival UFC de Cultura, quando trabalhou para a Universidade. Agora é o momento de revigorar o cenário cultural de Fortaleza.

Imagem: Instagram @ataymarcelino

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Diafragma Música de Conteúdo Vitrola.com.br

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