Dezembro - 2020
#01 HELIPANEWS HP NEWS
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Conheça o Helipa News, quem somos e o que nosso períodico busca alcançar dentro da comunidade de Heliópolis.
O que Heliópolis precisa? Quais as barreiras entre a comunidade e os direitos básicos? Confira a coluna por Raissa de Oliveira
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A Importância Da Rádio Para A Comunidade De Heliópolis A rádio comunitária é um projeto UNAS e um dos principais meios de mídia alternativa aos moradores das periferias paulistas, estando no ar há mais de 28 anos e com muita história. Pag 4
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Jornal Comunitário Produção Agência Libra Edição 01
UNAS recebe prêmio “Melhores ONGs” sendo eleita uma das melhores entidades do Brasil em 2020
Falcão sem limites para vencer! Grande São Paulo recebe cabeleireiro de Tocantins para fazer história em Heliópolis Conheça a história de um cabeleireiro que se destacou e tem sido um grande nome na comunidade de Helióplis. Pag 3
Cine Favela - luz, câmera e comunidade em ação! Há mais de uma década associação sem fins lucrativos promove acesso à cultura, esporte e interação para todas as idades em Heliópolis. Entrevistamos Reginaldo de Túlio, fundador do Cine Favela, sobre a entidade, o impacto positivo na comunidade e os desafios de realizar um projeto social. Pag 7
Heliópolis de olho na quebrada e na pandemia De Olho na Quebrada projeto da comunidade para a comunidade que mostra o quanto a informação pode ser poderosa no período de pandemia. Pag 2
EDITORIAL
COLU NA
As barreiras de Heliópolis
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idade Nova Heliópolis, localizada na zona Sul de São Paulo, com 200 mil habitantes, considerada a maior comunidade do estado. Uma comunidade pobre que só é lembrada em época de eleição, com promessa para todos os lados, mas a partir do momento que candidatos conseguem conquistar a confiança dos moradores, simplesmente somem e não cumprem com as promessas feitas para a população.
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Infelizmente, o mundo está vivenciando a Pandemia da Covid-19, e moradores da comunidade estão sendo os mais afetados, com o isolamento social, muitas pessoas perderam seus empregos e ficaram sem uma alimentação adequada em suas residências. Diante dessa tragédia, o governo apenas “joga” o dever de ajudar a população nas mãos de representantes das ONGs, sendo assim, uma das ONGs da região de Heliópolis, a UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região) resolveu criar uma vaquinha on-line para a arrecadação de alimentos e itens de higiene pessoal, muitas famílias estão sendo beneficiadas com cestas básicas.
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O ano de 2020, além de ter a pandemia, houve um aumento da violência policial contra pessoas negras e periféricas, após o Fórum Brasileiro de Segurança divulgar um estudo feito em junho deste ano, apontando o aumento da letalidade policial em São Paulo cresceu cerca 31% no período de janeiro a abril, mês que bateu o recorde de mortes pela polícia (119 contra 76 em 2019) durante a pandemia. Os abusos de autoridade e violência, acontecem de várias ma-
neiras: agentes de segurança cometem infrações sem o uso da farda, fora do horário de serviço e sessões de espancamento em rondas e operações especiais. Cerca de 68% das vítimas é negra e residem na periferia. A população de Heliópolis deve ter uma visibilidade positiva e não negativa, mas a grande mídia que só mostra que essa região é um local perigoso, desorganizado ou que só tem baile funk, o que não é verdade. Esse local é uma comunidade que tem pontos positivos, como uma rádio comunitária, projeto Cine Favela, onde muitos atores acabaram sendo descobertos pela TV Aberta. A comunidade Heliópolis só quer o mínimo para ter uma vida digna, com saneamento básico, educação, segurança, hospital/SUS que consigam atender às necessidades dos moradores, além desses serviços básicos, a diminuição da desigualdade social seria ótimo, pois, nem todos que moram em uma favela são bandidos, marginais. Enfim, infelizmente as favelas são o resultado de um passado vergonhoso de escravidão e, por muito tempo, a cultura das comunidades continua sendo marginalizada e as responsabilidades do Estado lançadas para debaixo do tapete. Portanto, o passado de opressão não deve continuar sendo nossa realidade, uma vez que a comunidade não precisa de promessas vazias, mas sim, de direitos básicos, incluindo o mais importante dentre eles: o respeito à vida. A comunidade precisa de muitas coisas que lhe foram negadas, por isso pede apenas pelo mínimo: respeito a seus moradores.
Raissa de Oliveira Melo
Heliópolis real, para quem realmente importa
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comunidade de Heliópolis é grande e mais importante, é diversa. Não são poucos os projetos culturais e sociais que acontecem na região. ONGs diversas, rádio, jornais e cinema comunitário, coral e a lista não acaba por aqui. Ao longos dos anos, Heliópolis desenvolveu diversas soluções para as demandas que possuía, que muitas vezes pareciam difíceis de serem alcançadas em uma zona periférica, porém isso apenas serviu para provar algo, quando as pessoas se unem e trabalham para transformar a comunidade, tudo é possível. É com esse intuito que surgiu o Helipa News, um jornal com um objetivo claro: informar para transformar. Nessa primeira edição buscamos abordar o melhor da comunidade e seus moradores, que são parte essencial e intrínseca da história da região. Queremos mostrar a Heliópolis real, para quem realmente importa e ser um portal de diálogo dentro dessa comunidade, rica em história e cultura que não param de evoluir. Boa leitura.
Heliópolis de olho na quebrada e na pandemia De Olho na Quebrada projeto da comunidade para a comunidade que mostra o quanto a informação pode ser poderosa no período de pandemia
Por Caio Salomão Muchon
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e olho na Quebrada é um projeto observatório, trabalha através de pesquisas que busca levantar dados para melhoria prática de politicas públicas. O projeto foi criado pensando em informar a todos os moradores da região, através de pesquisas sobre assuntos do cotidiano e interesse da comunidade. Desse modo além de adquirir informações, Heliópolis ganha um auxílio importante em sua estratégia de atuação na pandemia. As políticas públicas da comunidade não são bem praticadas devido a falta de dados específicos, como número de casas, comércio questões ligadas ao baile funk. Com a pandemia essa falta de dados se tornou ainda mais evidente. Isso acontece porque não existem dados oficiais do avanço da Covid-19 no território Heliópolis. Isso contribui para que o
Falcão sem limites para vencer! Grande São Paulo recebe cabeleireiro de Tocantins para fazer história em Heliópolis por Nadima Maria da Silva
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lfredo Falcão Limeira, conhecido como “Falcão”, nasceu na cidade de Porto Nacional, do interior do estado de Tocantins. O seu maior objetivo
morador fique mais vulnerável tanto ao vírus quanto a falta de informação e principalmente a informações falsas. “Isso é preocupante agente não tinha dados da pandemia de quantas pessoas foram infectadas e de quantas pessoas morreram aqui em Heliópolis.” João Victor da Cruz em entrevista para o Jornal Helipa News.
era trocar a sua cidade natal pela grande São Paulo, para realizar sonhos e ter mais qualidade de vida. A sua chegada em São Paulo, foi em 1979. Não foi fácil, sem destino e sem conhecimento de alguém na região. Foi morar no bairro de São Miguel Paulista, por seis meses, já que havia encontrado o primeiro emprego, como cobrador de ônibus. Em 1980 resolveu mudar-se para São João Clímaco.Conseguiu tirar a sua habilitação, logo foi promovido ao cargo de motorista e com as economias comprou uma casa própria no bairro de
ferramenta importante para identificar algumas das necessidades da população. Os dados foram usados em campanhas por diversos canais de comunicação de Heliópolis alcançando muitas doações. Na maior delas mais de 30.000 cestas foram doadas as famílias da comunidade. Mesmo com essa grande contribuição ainda há muitas famílias que não receberam alimentos. Por isso através das redes sociais o projeto segue em contato com pessoas de dentro e fora da comunidade, em busca de novas doações e beneficio aos seus moradores.
Assim como disse João Victor da Cruz, devido a falta de informação, esse problema impede o morador, de saber o quanto o vírus espalhou nos dias atuais. Apesar de uma boa relação com os órgãos de saúde existem inviabilidades para receber os dados, no entanto foi feita uma petição as autoridades. Atualmente a comunidade trabalha com dados dos bairros do Sacomã e Ipiranga bairros pelos quais estão localizadas parte do território de Heliópolis. As pesquisas foram uma Alimentos recebidos através de campanhas que divulgaram dados fornecidos pelo De Olho na Quebrada. Imagem: Unas Heliópolis
Profissionalizou-se fazendo cursos de cabeleireiro. Em sua empresa foram realizados os cortes para funcionários, em destaque estava Falcão, mostrando a sua capacidade de ser um profissional no mercado da beleza. Teve inspirações que ajudaram a concretizar o seu sonho, Fernando Alves, um dos melhores profissionais na área e um grande mestre. Falcão decidiu montar um pequeno salão na garagem de sua casa e com ajuda da família montou uma equipe, e se transformou em um grande cabeleireiro. A demanda de atendimento foi crescendo, sendo um destaque na região. As condições foram melhorando, mudou-se para uma casa maior para que o salão ofereça o melhor atendimento da comunidade de Heliópolis, localizado na Avenida das Lágrimas, 2205. Falcão diz ter muito orgulho da comunidade e sente-se agradecido por chegar em um lugar onde existem pessoas do bem e trabalhadoras. “o lugar quem faz é a gente” afirmou ele. Seguiu a procura de se aprimorar e estar antenado as tendências, sempre disposto a aprender. Segundo Falcão “Em qualquer profissão ninguém pode dizer que sabe tudo”. Assim, trazendo novidades para o salão, e oferecendo aos seus clientes a melhor qualidade.Atualmente com 65 anos de idade, somando 38 anos como cabeleireiro e morador da comunidade de Heliópolis, mostrou a sua determinação “Hoje sou um homem realizado, cheguei, lutei, fui atrás, não desisti. A minha família estão todos aqui e os meus clientes são meus amigos, estou muito feliz”.
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Heliópolis. Outras oportunidades vieram, na área da indústria, na empresa Linhas Correntes, uma das maiores da região de São Paulo. Essas oportunidades, o faziam confiante em realizar o sonho de “montar o seu próprio negócio”. Falcão, sempre admirou o mundo da beleza, estética e moda. Hoje tem seu perfil diferenciado, inspirado em ser um grande estilista com suas próprias marcas e modelos. Segundo ele “Não precisa reclamar, cada momento conquistado tem o seu tempo, só é preciso ter vontade, persistência e coragem, que o momento chega”.
REPO RT AG EM
Reportagem por Matheus Tayti
A Importância Da Rádio Para A Comunidade De Heliópolis A rádio comunitária é um projeto UNAS e um dos principais meios de mídia alternativa aos moradores das periferias paulistas, estando no ar há mais de 28 anos e com muita história
A partir da esquerda: Bruno e Badega
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odos sabemos a importância de uma boa comunicação entre orgãos, comunicadores e público. Mas como isso pode mudar a vida em uma comunidade? E nos tempos de hoje, em que a internet é a principal fonte de informação entre as pessoas, como ser um destaque nas rádios? Com base nessas perguntas, buscaremos as respostas dentro da Rádio Comunitária de Heliópolis, onde os voluntários levam informação e entretenimento para os moradores e se mostra como “a voz da resistência”. Fomos até a Rádio Comunitária de Heliópolis com o voluntário Bru-
no Coelho, que tem um programa lá aos fins de semana das 15:00 às 17:00 horas e com o diretor geral, Badega Silva, onde participamos ao vivo do programa, entendemos como funciona o processo dentro da rádio, as dificuldades com a COVID-19 e fizemos uma entrevista com o Badega, sobre suas motivações e expectativas para o futuro. Mas antes de darmos a voz a ele, precisamos entender mais sobre a rádio e é aí que voltamos ao ano de 1992, mais precisamente no dia 08 de Maio, quando o projeto UNAS Heliópolis e Região, sentiu uma necessidade de
dialogar mais com os moradores da comunidade sobre assembleias e mutirões que aconteciam. Através de recursos obtidos, foi possível a compra de equipamentos e o começo da Rádio Corneta, como era conhecida. Com o passar dos anos, teve melhorias de equipamentos, mais pessoas
Você fazer com amor, dedicação... Isso incentiva muito você estar ali.
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participando e programas totalmente voltados aos moradores. Até que em 1997, a Rádio Corneta enfim vira a Rádio Heliópolis, modulada na frequência 102,7 FM e dois anos depois na 97,9 FM. Como a rádio era considerada uma Rádio “Pirata”, no ano de 2006, a Anatel chegou com a Polícia Federal e no meio da programação, foi feito o fechamento da rádio e é isso que diz a Gerô Barbosa, Diretora da UNAS, em uma entrevista feita por Sylvio Ayala para o site UNAS: “Por que nós éramos a única rádio comunitária conhecida que existia em São Paulo. Tinham outras, mas ninguém sabia. Nós existíamos na Rua Da Mina número 38, telefone 2272-9968. Operava na ilegalidade, já atendia estudantes de jornalismo, já saía na imprensa geral, todo mundo vinha aqui. Todos queriam saber que bicho é esse de rádio comunitária...” “...E a gente percebia sempre nos jornais o fechamento de várias rádios comunitárias, chamadas de “Piratas”, em São Paulo e no Brasil inteiro. E o povo falava: cuidado! Nessa, deci-
mandavam mensagens escolhendo as próximas bandas que iam tocar, acompanhavam a live pelo Facebook e até tivemos participantes diretos do Japão entrando ao vivo por telefone.
“...Daí exatamente no dia 20 de julho de 2006 a rádio foi fechada. Aí começa a grande imprensa, os lugares falando: Cala-se a voz de Heliópolis! Levaram o João Miranda preso, que disse: - Se comunicar e informar a população é crime, então sou um dos maiores criminosos de Heliópolis...”
O programa em si, se divide como: 75% músicas, 20% notícias e 5% aquelas famosas brincadeiras entre os integrantes. Em relação as notícias, demos opiniões e informações sobre o dia da consciência negra, a tragédia que envolveu o grupo de Supermercados Carrefour e futebol, tanto nacional como internacional.
“...ligamos para doutura Ana Cláudia, advogada, pois a gente estava nas mesas de trabalho pedindo a legalização das rádios. E vamos lá, contratar parecer técnico, engenharia, dona Maria de Fátima, por um dinheiro que não tínhamos. Leva um ano pra colocar de novo a rádio no ar, 2006 a 2007.” Completou.
É importante ressaltar que, ter acesso à comunicação com outras pessoas, independentemente da localização, é fundamental, e na Rádio Comunitária de Heliópolis as pessoas ficam realmente conectadas e todos acabam curtindo juntos.
Hoje, a rádio não só alcança a região de Heliópolis, como também o mundo inteiro. A sintonização da rádio está na frequência 87,5 FM, podendo ser acompanhado pela internet no site www.radioheliopolisfm.com.br, e também pelo aplicativo Rádio Heliópolis para Android e IOS. O Helipa News esteve lá nos dois dias, sábado e domingo (21/11 e 22/11) e sentimos na prática toda a programação. Com muita música, diversão e informação, a rádio aproxima a comunidade e leva pra dentro do estúdio. Quando chegamos, nos dois dias, estava terminando o programa Linha Cruzada parte 1, e iríamos posteriormente participar da parte 2 do mesmo programa. Quando entramos no ar, teve uma apresentação leve de todos da bancada e depois teve os mais variados tipos de música, que iam do Rock ao Funk, da Eletrônica ao POP, além de todos poderem escolher um dos sons a seus critérios. Os ouvintes
Agora chegou a vez de, um dos caras que está por trás da voz na rádio, falar como é essa experiência semanal, lembrando que nesse trabalho voluntário, não existe um salário ou algo parecido, todos trabalham por conta própria e a rádio, para conseguir sobreviver, recebe um Apoio Cultural de patrocinadores que ajudam, em troca de “propagandas”. O Helipa News levantou as seguintes questões para o entrevistado: Qual a importância da Rádio Comunitária com os moradores? A importância é que a rádio abre o microfone para o morador, poder ir falar com a gente quando ele perde um documento, perde um cachorro, um ente querido, já aconteceu do morador estar fazendo a mudança e o
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A importância é que a rádio abre o microfone para o morador, poder ir falar com a gente quando ele perde um documento, perde um cachorro, um ente querido...
dimos esconder o equipamento, a rádio ficou fora do ar uma semana. Aquilo era uma tristeza, eu chegava aqui na UNAS e chorava. Então decidimos por no ar e pronto...”
portão ficou aberto, e uma criança de 3 anos saiu andando, aí as próprias autoridades, os policiais, levaram na rádio né? Porque sabia que a criança era dali de perto, e a gente começou a anunciar na rádio, e eis que encontrou, os familiares, e aí foram ao encontro da criança lá no estúdio. Então a importância da rádio pros moradores, é essa. E passar as informações também né? Informações sobre a comunidade, sobre algumas coisas que acontecem dentro da comunidade.. Como é feita a divulgação dos horários das programações e como isso impacta na audiência? Todos os locutores são voluntários e tem um tempo lá de 2 horas para oferecer para a rádio. Todos são bem-vindos, sempre é bem-vindo e a gente coloca dentro do nosso cronograma da rádio conforme tem um espaço para a pessoa poder fazer o seu horário né? E impacta muito a audiência, principalmente o locutor que é moído de informações, que tem o carisma né? Para chamar a audiência, novidades... Então tudo isso é importante!
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A quanto tempo existe o programa aos finais de semana e como funcionou a Rádio no período mais intenso da COVID-19?
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Ah... Os programas de finais de semana sempre existiram desde o lançamento da rádio, porque o locutor que trabalha durante a semana, aos finais de semana ele descansa. Isso na rádio né? Estamos falando assim. Porque as vezes ele trabalha na semana também, aí depende do horário que ele faz a programação, então assim, a gente disponibiliza outros programadores ao final de semana. O locutor da semana, de repente, que quiser cobrir o locutor do final de semana, quando precisar faltar ou alguma coisa parecida, ele tem essa liberdade. E já no período de intensidade da COVID-19,
a rádio ficou a maior parte do tempo programada, alguns locutores ficaram em casa, e quem ficou a maior parte do tempo na rádio foi eu e o “Mano Zóio”. Então a gente sempre ficava antenado para informar a população e quebrar as Fakes News também né? Porque mídias da própria comunidade espalhavam pânico e tals, e a gente tava alí né, para quebrar. O que mudou, nessa relação com a comunidade, desde que você chegou na Rádio e hoje em dia? Principalmente a credibilidade né? Aumentou bastante porque... nós fizemos um papel muito elaborado, referente a algumas mudanças na própria rádio, algumas conquistas. E querendo ou não a comunidade, as pessoas, elas tem você como uma antena, para manterem elas ligadas e as vezes quando acontece algum projeto, uma coisa que vem para a comunidade... Até teve um episódio que falaram que estavam fazendo escrituras na comunidade, que a prefeitura ia fazer isso, mas era tudo conversa fiada, teve uma conversa sim mas foi em outro parâmetro. Então ele confiam nessa credibilidade. O que mais motiva um voluntário a continuar com as programações? São os próprios ouvintes né? Você fazer com amor, dedicação... Isso incentiva muito você estar ali. E fora também a rádio em si né, a organização, os equipamentos em perfeito funcionamento. A comunicação está funcionando perfeitamente e os ouvintes também estão sempre antenados, eles elogiam e vem para agregar tudo isso com a gente. Como funciona essa ligação entre o público e a Rádio? O que é aberto e o que é restrito para os moradores? A rádio sempre foi aberta aos moradores, podem chegar, trocar uma ideia
com a gente, podem entrar, conhecer o estúdio, tem um livre arbítrio. A cargo do programador abrir o microfone ou não para as pessoas, fica a cargo do programador né? E restrito são as nossas reuniões, nossas pautas da rádio, mas outros termos, tudo é aberto ao morador. Quais são as expectativas para o futuro e quais as suas considerações finais? São as melhores! Meu nome é Israel de Jesus Silva, mas todos me chamam de Badega desde infância, desde que me conheço por gente. A rádio está de mudança, o endereço da nova Sede é Rua da Mina número 38, na Sede da UNAS, porque a rádio é um projeto feito da UNAS. E estamos sempre juntos. Se você é da região de Heliópolis (ou outras regiões) e quer saber mais sobre a UNAS e toda sua estrutura comunitário, como a Rádio Heliópolis, entre no site https://www.unas.org. br/projetos ou ligue (11) 2272-0140 (11) 2272-0148.
UNAS é eleita uma das melhores ONGs do Brasil em 2020 Por Larissa Maestrelo
A
entidade sem fins lucrativos que atua em Heliópolis foi agraciada com o prêmio Melhores ONGs, sendo eleita uma das 100 melhores organizações do Brasil em 2020. O prêmio tem como missão dar visibilidade e reconhecimentos a ONGs, baseado nos critérios de gestão, sustentabilidade e transparência. Esta é a segunda vez que a organização recebe essa nomeação. Este ano o trabalho da UNAS em conjunto com outras entidades da região foi essencial em meio a pandemia, fornecendo auxílio e cuidado aos cidadãos da comunidade.
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Entrevista por Larissa Maestrelo
Cine Favela - luz, câmera e comunidade em ação! Há mais de uma década associação sem fins lucrativos promove acesso à cultura, esporte e interação para todas as idades em Heliópolis.
O
projeto começou pequeno, mas com uma grande ideia: trazer a cultura do cinema para a comunidade de Heliópolis, criando meios para os moradores aprenderem habilidades técnicas, produzirem na prática seus próprios filmes e os exibirem para o público. Assim surgiu o Cine Favela, uma associação cultural sem fins lucrativos que há cerca de 17 anos trabalha voltada para dar voz artística a comunidade. A associação leciona diversas oficinas, recebendo cerca de dois mil alunos apenas no curso de cinema, além de sediar a exibição de filmes e o Festival Cine Favela, uma amostra que reúne as melhores produções audiovisuais feitas pela comunidade. A associação cresceu, hoje também oferta vários esportes e realiza importantes ações sociais na região. E tem provado ter um potencial transformador na vida dos moradores de Heliópolis. O Helipa News entrevistou Reginaldo de Túlio, fundador do Cine Favela, que nos relatou sobre a história da associação, o impacto positivo na comunidade e os desafios de realizar um projeto social durante o período complicado pelo qual estamos passando. Como surgiu a ideia de criar o Cine Favela e como foi tirar o projeto do papel e colocá-lo em ação? Eu já era morador de Heliópolis, já ha-
Fotos de Arquivo do Cine Favela
via feito teatro. Vi essa plaquinha no bar precisando de pessoas para atuar num filme. Fiz o teste e ganhei um papel no filme. Lançou no SESC Ipiranga [com] casa lotada. Então nós pensamos em produzir um outro filme. Fizemos roteiro e tudo, chama Excluído da Sociedade. Comecei a atuar e a trabalhar na produção no geral… Eu fiquei sozinho, comecei a produzir a oficina de cinema, câmera, roteiro, edição, direção e produção para o pessoal ir aprendendo e depois vir trabalhar comigo. A gente alugou um espaço, inventamos de passar filme uma vez aos domingos com pipoca e refrigerante, alugava pipoqueira, projetor e tela. Hoje tem um projetor, tem a tela. Minha mulher, Geneci de Túlio, é presidente, meu braço direito e esquerdo. A gente tem câmera, tem
editor de vídeo, tem pessoas que estão na Globo atuando, tem vários que foram para filmes de Netflix... Por muito tempo a cultura da favela foi marginalizada. O acesso a essa criação de conteúdo ajuda na identificação cultural dos moradores da comunidade? Sou um cara atento a isso, observador, e eu entendi que algumas pessoas achavam que para a gente produzir um filme de ação, alguma coisa [assim], era legal porque a gente tá na comunidade, então era mais fácil, mais simples. Então eu mudei todo o jogo, comecei a criar alguns filmes com histórias bacanas, claro, documentário também, tem um documentário que a gente mostra só coisas boas da comunidade. A gente procurou trabalhar e mostrar isso, produzir um filme criando um roteiro com começo meio e fim, seja
exibidos no telão e se conseguir, o ano que vem todos os filmes que vieram para o Festival serão exibidos durante o ano todo. Primeiro os classificados a concorrer ao prêmio e depois a gente vai fazer uma grade dos demais. Como acontece o trabalho social do Cine Favela nas comunidades durante esse período de pandemia?
A gente gosta de um roteiro bem trabalhado e uma história bem contada.
ele de ficção, de ação ou qualquer tipo, a gente gosta de um roteiro bem trabalhado e uma história bem contada. Quais as maiores dificuldades nas produções do Cine Favela? E como está a retomada do festival este ano?
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Existe uma dificuldade tão grande para você conseguir [realizar projetos], por exemplo, não se consegue ajuda do governo para trabalhar com cultura, social, esportivo. Nós fazemos [isso] e estamos ajudando o país no geral, mas eles não têm uma visão de que o que nós fazemos era para que eles [o Estado]estivessem fazendo.
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É difícil organizar um festival de qualidade sem recurso nenhum e a gente tá correndo atrás, acredito que deve dar certo. A gente está se inscrevendo em editais para produzir novamente. Eu gosto de fazer bem-feito, não adianta querer fazer um festival para depois as pessoas olharem e não [acharem] legal. Então fazer um festival bacana com Troféu, com a curadoria boa, para poder fazer a curação dos melhores filmes. Os melhores filmes são
Nós estamos distribuindo cestas básicas, álcool em gel, máscara, luvas, tudo isso nós conseguimos fazer um bom tempo e atender muito bem a nossa comunidade. Isso junta Cine Favela, CUFA, UNAS e um monte de entidade aqui dentro, para poder fazer um trabalho desse. É uma coisa difícil de se lidar, [mas] vai passar.. Tenho medo ainda de voltar, já era para estar exibindo filme para criançada, mas somos líderes. Acho que liderança você tem que mostrar o que é bom para as pessoas, tem que estar a frente tentando ajudá-las, não complicar e deixar eles confusos. Tá difícil para o mundo todo, a sociedade no geral. A gente vê tanto emprego perdido e tantas conquistas que estão por vir. Acho que o mundo vai se atualizar, não é possível que vão tapar o sol com a peneira. Qual o impacto que o cine favela tem na vida das pessoas da comunidade?
oficina de aprender a mexer com celular… Foi criado um grupo e nessa pandemia eles conseguiram se falar um com o outro através da rede social, do Whatsapp, coisa que eles não faziam antigamente. E eles tão loucos para voltarem. Quem quiser se envolver com o projeto, ser aluno ou colaborar com o Cine Favela, como podem entrar em contato e participar? A gente tá sempre de braços abertos para receber as pessoas que têm interesse em participar do Trabalho junto com a gente. Ninguém faz nada sozinho. Uma soma de toda uma comunidade com várias ONGs juntas, o resultado sempre vai ser positivo. Se você reside na região de Heliópolis (ou outras regiões) e quer participar como aluno ou contribuir com a associação Cine Favela basta entrar em contato com o projeto através das redes sociais @cinefavelaheliopolis, pelo telefone (11) 2914-2275 ou e-mail, contato@cinefavela.org.br.
EXPEDIENTE Editor chefe: Caio Salomão Muchon
Educação tá em primeiro plano, em qualquer ser humano. Só que é uma faca de dois gumes ou você da educação pros seus filhos ou alguém vai dar uma educação errada para eles. Nosso trabalho é voltado para atenção da comunidade, transformando assim as pessoas em cidadão íntegros da sociedade e foi o que fizemos.
Diagramação e revisão: Larissa Maestrelo
Nós abrimos um projeto aqui para trabalhar com o pessoal da terceira idade. Chama Nunca é Tarde Porque Nós Desistimos, eles mesmo produziram e dentro desse projeto existe
Email: contato@helipanews.com
Redação: Caio Salomão Muchon, Laís Arnai, Larissa Maestrelo, Matheus Tayti, Nadima Maria da Silva, Raissa de Oliveira Melo. Administração: Laís Arnai e Raissa de Oliveira Melo. CONTATO Tel: (11)9 4930-6894 Produção e distribuição
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