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Vinte de setembro
from Enquanto espero
Vinte de setembro Anthony Portes
Revés Faltou o verdadeiro jogo. Apostei poucas fichas nas cartas mais baixas. Queria comemorar o que não é prêmio, mas dá felicidade instantânea. Mentira Acreditei no que não devia Fui estranho a mim mesmo e me despedi Corri ao contrário, e me afastei do que era certo. Arrependimento. Olho o que poderia ser E o que não deveria ter E tenho respirado este sentimento inútil Palavras Me faltam como faltam motivos Me engasgam como me engasga o desafeto Me iludem como seu sorriso nas manhãs de segunda. Falta. Falta qualquer coisa que me faça ir pra frente Qualquer coisa larápia que me roube sorrisos Qualquer coisa que eu desista de ser isto Cantaria Ouviria todas as músicas do Caetano, Jobim e qualquer lixo MPB Escreveria todas as cartas de amor em teu nome E ainda assim sobrariam coisas boas pra se contar Corpo Teu corpo, desejo súbito de lhe ter nos braços Sentir o cheiro do teu pescoço e o sabor dos teus lábios Do encaixe perfeito das mãos, do encontro do teu sorriso. Alma Calejei a minha, durante esses anos, escrevi nela histórias. Sujei o brilho dela de vinho barato, limpei com vodca. Agora esfrego essas manchas em silêncio, em paz.
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Amor Ainda que eu me engane e me iluda Mesmo que eu enxergue nos meus olhos a verdade. Amor sempre será o que move este mundo e este corpo sedento por felicidade Cor As das tuas unhas, dos teus sorrisos e esta que mancha teu punho. Esta que você pinta, imprime e traça no coração. É a cor dos teus olhos que apaixona que inverte o meu mundo. Você Que passa horas a contemplar o nada Que deprime minhas frustradas tentativas de alegrias Queima viva o cigarro já apagado, a chama que fere sem existir. Horizonte Infinito de azul, montes e morros e gramas e nuvem. O futuro logo ali depois da esquina dois mil Entre os prédios, floresce linda e perfeita a flor na varanda do 15° andar. Teu Apenas teu, o sorriso que toma conta do rosto inteiro. Lábios, que de beijo, paixão e batom vermelho é teu. Entre as vidas que vivi, esta é a melhor.
André Galvão é membro da Associação Nacional de Escritores, da Academia Independente de Letras e associado ao NALAP (Núcleo de Artes e Letras de Portugal). Publicou os livros A Travessia das Eras (Penalux, 2018) e O Coronelismo na Literatura: Espaços de Poder (UFRB, 2018).