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Te trouxe poesia, vó

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Tempo errado

Tempo errado

Te trouxe poesia, vó Léo Martins

Me aproximei de ti Mesmo vivendo nesse tempo de distancia A Senhora com tanta idade Em seu rosto estava um lindo sorriso de criança

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A quarentena me permitiu ficar em casa Me protegendo para que não viesse adoecer Com isso eu pude ter o privilégio De estar contigo nos últimos dias do seu viver

As pessoas estão distantes A saudade aumenta Algumas coisas até nos causam revolta A minha saudade tem nome e sobrenome Um lugar marcado no céu Só não tem a passagem de volta

Quando nasci, A senhora cuidou de mim Me deu banho, comida, me ajudou a andar Quando cresci, eu cuidei de ti Te dei banho, carinho, te ajudava a lentamente caminhar

O Alzheimer já tinha levado a sua identidade A Senhora não sabia mais seu nome, nem o nome do seu amor Mas nós nunca esquecemos a sua história Muito menos esquecemos o seu valor

Eu respondia todos os nomes pelo qual era chamado Nem um deles era o meu de fato, e digo Que já não era mais lembrado como neto Mas sempre ouvia da sua boca: “Esse rapaz é muito meu amigo”

Fiquei muito tempo ao seu lado Já que estamos trancados e não temos lugar para ir Até me lembrei que quando eu era pequeno Eu só dormia segurando a sua mão E a senhora já idosa Alguns dias me pediu para segurar a sua mão para dormir

Suas frases pareciam um dicionário antigo Já não tinha mais todas as palavras Os seus olhos pareciam de outra dimensão Sempre abertos e distantes Enxergavam muito além do que a gente enxergava

Seus movimentos já eram limitados Seus ossos frágeis Sua pele fina

Leonardo Martins Costa é de Niterói, RJ. Nascido em 1995, formado em psicologia, escreve para a página Delirios Da Alma no Instagram.

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