Relações entre texto escrito e imagem: Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE LETRAS

Muraktama Rodrigues Lemos

Relações entre texto escrito e imagem: Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

Belo Horizonte, MG UFMG/ FALE 2013


Muraktama Rodrigues Lemos

Relações entre texto escrito e imagem: Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

Monografia apresentada ao curso de graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Letras. Orientadora: ProfªDrª Adriana Silvina Pagano

Belo Horizonte, MG UFMG/ FALE 2013


AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Adriana Pagano pelos ensinamentos e orientação durante minha passagem por este curso, ao professor Giacomo Patrocinio que sugeriu a ideia original deste trabalho com um “E se...”, aos alunos do curso de Letras que participaram do experimento de leitura e aos demais professores, alunos, funcionários da FALE e familiares que me auxiliaram com os mecanismos necessários para desenvolver esta pesquisa.


RESUMO

Este trabalho é um estudo do processo de leitura de textos híbridos do tipo tira de quadrinhos e apresenta uma análise das relações entre as duas partes do texto híbrido (imagem e texto escrito) e do procedimento de leitura deste tipo de material. A base para a pesquisa realizada foi o trabalho de Baptista et al (2011), em que os autores analisam o processamento cognitivo da leitura de anúncios publicitários com legendas, valendo-se da técnica de monitoramento da fixação ocular (Eye Tracking), que permite a verificação dos pontos nos quais recai a fixação do leitor na tela de um computador enquanto este lê um texto. Para o estudo foi montado um experimento em que nove sujeitos fizeram a leitura de três tiras de quadrinhos. Os textos apresentados aos sujeitos possuíam diferentes níveis de interação entre texto escrito e imagem, sendo que um dos textos era composto apenas por imagens. Foram observadas as áreas de interesse em cada texto apresentado aos leitores e como os leitores começavam a ler este texto. Foram acompanhados ainda os relatos dos sujeitos que leram os textos para traçar um paralelo entre o que os sujeitos observavam na tela e o que relatavam ser importante naqueles textos. Os resultados evidenciaram que o processo de leitura varia de acordo com diferentes níveis de interação entre texto escrito e imagem e que o processamento do texto híbrido é resultado da soma do conteúdo da imagem e do conteúdo do texto escrito, assim as diferentes interações que um texto híbrido possui entre texto escrito e imagem influenciam a forma com que os leitores dividem sua atenção entre texto escrito e imagem. O padrão comum a todas as leituras é que os sujeitos estabelecem em algum momento uma orientação linear de leitura, lendo um quadro após o outro em ordem.

Palavras-chave: texto híbrido – tiras de quadrinhos –eye tracking – leitura linear – leitura de imagens


ABSTRACT

This paper is a study on the process of reading hybrid texts. It presents an analysis of the relation between both parts of a hybrid text – image and written text – and of the reading path for this type of text. The texts chosen for this research are comic strips. The study carried draws on Baptista et al (2011), who presented an analysis of the cognitive processing regarding the reading of advertisements with pictures and captions adopting the eye tracking technique to elicit data by monitoring the fixation of a reader’s eyes on the computer screen. Their results revealed that the cognitive processing of these texts is not an isolate process but a factorial result of the contents of the image and the contents of the written text. A similar experiment was conducted, in which nine subjects read three comic strips. Their reading path was recorded by Eye Tracking and the data was used to analyze the reading process of the subjects of the three texts presented. The texts had different levels of interaction between text and image, and one of the texts was made up of images only. The reading patterns of these texts were observed. The Verbal protocols of these subjects were used to compare what the subjects observed on the screen and what they said to be important to understand those texts. Results showed that the reading processes vary according to different levels of interaction between written text and image and that the content presented by the image in the analyzed cases may influence the reading process of the written text on hybrid texts; therefore, different kinds of interaction between written text and images influence the way readers divide their attention between images and written text. A common pattern to all readings is that all subjects at some point established a linear reading orientation, reading one frame after another sequentially.

Keywords: hybrid text – comic strips – eye tracking – linear reading – image reading


SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................... 7 2. Revisão Teórica ............................................................................................... 8 2.1 Leitura Linear ................................................................................................ 10 2.2 Elementos Visuais e Textuais ......................................................................... 11 3. Metodologia ................................................................................................... 14 4. Análise dos Dados .......................................................................................... 18 5. Discussão dos Resultados .............................................................................. 40 6. Conclusão ....................................................................................................... 44 7. Referências..................................................................................................... 45 8. Anexos ............................................................................................................ 46


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1. INTRODUÇÃO

A História em Quadrinhos é uma arte bastante popular no mundo todo. De acordo com a definição de Scott McCloud (1994) sua narrativa é construída por “imagens pictóricas justapostas em sequencia deliberada que destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador”. Normalmente esta narrativa é construída por meio de um texto escrito e imagens, embora existam HQs que se utilizam apenas de imagens. Scott McCloud define que as HQs não são um gênero de texto, mas um formato em que se enquadram vários gêneros textuais. Dentre outras coisas, HQs podem ser usadas para dar instruções de produtos ou procedimentos, narrar eventos históricos ou jornalísticos, crítica política, protesto, ou para o entretenimento ao contar histórias de forma paralela a livros e filmes. Há basicamente dois tipos de textos envolvidos na narrativa em quadrinhos: O texto imagético, representado pelas imagens e desenhos que aparecem nos quadros e o texto verbal representado pelas palavras escritas nas páginas. Este trabalho visa analisar o processo de leitura destes dois tipos de texto que compõem a HQ em tiras de Jornal, tomando como base o estudo de Baptista et al (2011) que analisa o processamento cognitivo de anúncios publicitários de revistas, textos híbridos com imagem e legenda.O presente estudo foi feito montando um experimento em que sujeitos leriam três tiras de jornal através de uma tela que permite o monitoramento da fixação ocular.Nove sujeitos efetuaram a leitura dos textos selecionados para o estudo.Os dados coletados foram analisados visando observar nos processos de leitura dos sujeitos a primeira fixação na tela para averiguar se o leitor enfoca o texto ou a imagem em um primeiro momento; examinar movimentos recursivos de leitura entre texto e imagem; observar quais elementos os sujeitos apontam como mais importantes para a interpretação do texto a partir de seu relato sobre a tira; verificar se há alguma relação entre pontos específicos observados no texto e a compreensão (ou não compreensão) dos textos e observar se a leitura é linear e se há um padrão de fixação em elementos específicos da imagem.


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2. REVISÃO TEORICA

Como exposto na Introdução, o presente estudo enfoca a leitura de textos do tipo textual História em Quadrinhos e toma como ponto de partida uma pesquisa realizada por Baptista et al (2011) em que foi analisado o processo de leitura de um anúncio publicitário composto de uma imagem com uma legenda. Baptista et al (2011) definem basicamente três tipos de interações existentes entre texto e imagem em textos híbridos: Há casos de redundância de sentido entre texto e imagem, casos em que a imagem confronta ou contradiz os significados do texto escrito e casos em que a imagem complementa o texto. Enquanto textos híbridos as Histórias em Quadrinhos também se incluem nestes parâmetros. A História em Quadrinhos em que há o uso de imagens e texto escrito é um texto híbrido, termo que Baptista (2009) usa para classificar textos em que há a junção de uma imagem e um texto escrito para compor a mensagem que está sendo veiculada. De acordo com Baptista et al (2011) a leitura de textos híbridos passa pelo processamento cognitivo dos dois sistemas semióticos que compõem o texto. O leitor tem que reconhecer e interpretar as informações na imagem e no texto escrito e a partir da confluência de ambos compreender o que está sendo comunicado:

Hoje em dia a leitura de materiais impressos (como textos visuais/verbais elaborados retoricamente) implica com frequência no processamento visual de informações originadas em dois sistemas semióticos distintos. Damos a estes o nome de textos híbridos quando o output semântico da junção dos dois tipos de texto não é apenas uma adição das propriedades semânticas, mas um produto fatorial (como ocorre em alguns exemplos de textos ilustrados, propagandas e obras de arte). Para entender textos híbridos o leitor deve processar cognitivamente a diferença ou similaridade semântica entre as imagens mentais que o texto lhe permite criar e a imagem que ele de fato vê, e deve perceber o significado da junção daquela imagem em particular com aquele texto em particular. (Baptista et al, 2011, p.30)1

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Minha tradução de: Nowadays the reading of printed materials (as visual/verbal rhetorical elaborated texts) often implies the visual processing of information originated in two distinct semiotic systems. We call those texts hybrid texts when the semantic output of the annexation of those two kinds of texts is not a simple addition of their semantic properties, but a factorial product (as it happens, for instance, in some examples of illustrated texts, some advertisements and works of art). In order to understand hybrid texts the reader must cognitively process the semantic difference or similitude between the mental images the


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Para tentar compreender estas relações entre texto e imagem Baptista et al (2011) realizaram um experimento com auxílio da técnica de monitoramento da fixação ocular (Eye Tracking) com um dispositivo que permite monitorar os pontos nos quais se fixa o olhar de um leitor na tela de um monitor, visando observar o processamento visual de textos híbridos. No experimento dos autores dezoito sujeitos foram divididos em dois grupos para fazer a leitura de um texto: um anúncio publicitário que possuía uma legenda abaixo da imagem. Dez sujeitos fariam a leitura da imagem com o texto e oito sujeitos leriam apenas o texto com a imagem. Os autores acreditam que a ausência do texto escrito influencia a leitura da imagem, por isto a leitura foi feita pelos dois grupos para analisar as diferenças entre os resultados. Baptista et al partiram do pressuposto de que a primeira fixação e a duração de cada fixação não são suficientes para identificar como o processamento cognitivo da mensagem híbrida é feita. Por este motivo propuseram que fosse observado também o número de transições entre texto e imagem. Através do monitoramento dos padrões de leitura dos sujeitos que participaram do experimento, Baptista et al constataram que os leitores faziam movimentos recursivos fixando alternadamente texto escrito e imagem, o que contraria estudos anteriores que indicavam que a leitura era feita em momentos distintos, o texto escrito era lido por completo antes de se visualizarem as imagens, incluindo o estudo de Carrol et al (1992) que afirma que no caso da leitura de cartuns com legenda não há movimentos repetitivos entre texto e imagem. A imagem, segundo estes autores seria normalmente lida após o texto e o processamento de imagem e texto seriam “ações isoladas”. Com base em seus achados Baptista et al (2011) propõem a noção de que, apesar de concorrerem pela atenção do leitor, texto escrito e imagem não atuam em oposição em textos híbridos, mas estabelecem uma relação de parceria entre si para elaborar o significado que está sendo construído.Ao contrário do que afirmam estudos anteriores, o processamento deste tipo de texto é híbrido, e não individual, ou seja, o leitor observa o texto e a imagem alternadamente para processar o texto ao invés de ler primeiro apenas o texto ou apenas a imagem. As fixações dos leitores deste tipo de texto geralmente ocorrem sobre elementos que se destacam dos demais atraindo a atenção do text allows him to build and the image he is really seeing and he must realize the significance of the annexation of that particular image to that particular text.


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leitor. Os resultados de seu experimento indicaram que sem um texto escrito como guia, a fixação em elementos significantes do texto é mais difícil. Scott McCloud (1994) adota uma posição similar sobre Histórias em Quadrinhos “em quadrinhos as palavras e imagens são como parceiros de dança e cada um assume sua vez conduzindo [a narrativa]” (McCloud 1994, p.156).Este autor traça um paralelo entre imagem e texto onde os papéis que cada um exerce são de ações de “mostrar e falar”. A imagem mostra dentre outras coisas personagens, cenários, a época, emoções que são veiculadas nas expressões corporais das personagens e ações físicas. O texto escrito por sua vez normalmente reproduz fala e pensamento, seja das personagens ali presentes ou de um narrador em terceira pessoa. As Histórias em Quadrinhos são organizadas de forma linear onde a leitura segue uma ordem específica que será comentada a seguir.

2.1 LEITURA LINEAR

De acordo com Leffa (1999) a leitura linear de um texto escrito segue uma ordem que vai do início do texto na primeira linha da página, da esquerda para a direita até a última linha da página. Esta leitura não é sempre ininterrupta. A linearidade pode ser quebrada e o leitor pode voltar ou saltar linhas, palavras e parágrafos durante este processo, considerando textos em que a ordem de escrita é da esquerda para a direita, seguindo a definição de Leffa (1999):

O que caracteriza a leitura é a linearidade, representada por um movimento uniforme dos olhos, consumindo o texto da esquerda para a direita e de cima para baixo (em línguas como o português e o inglês), sem recuos e sem saltos para frente. A capacidade de reconhecer as letras e as palavras é considerada essencial, enfatizando-se assim o processamento de baixo nível. Ler é basicamente decodificar, palavra que na teoria da leitura significa passar do código escrito para o código oral. Uma vez feita essa decodificação, chega-se supostamente sem problemas ao conteúdo. (Leffa,1999, p.7)


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Goodman (1996) afirma que as narrativas em quadrinhos tem que levar o leitor adiante pela história e uma das formas com que isto é feito é usando as convenções de leitura de textos escritos: linearmente da esquerda para a direita (excetuando HQs criados em línguas em que a ordem de leitura é diferente, como os mangás, quadrinhos japoneses, que são lidos da direita para a esquerda).Há uma linearidade e uma cronologia que é seguida pelo leitor. A leitura é comumente da esquerda para a direita, tanto em textos escritos quanto em textos híbridos como histórias em quadrinhos. Na linguagem dos quadrinhos, mesmo quando se insere em um mesmo quadro vários desenhos há a ideia de uma cronologia e passagem de tempo que vai da esquerda para a direita conforme o leitor passa os olhos pela imagem. 2 As Histórias em Quadrinhos podem possuir elementos visuais e textuais como exposto a seguir.

2.2 ELEMENTOS VISUAIS E TEXTUAIS

Para definir alguns elementos básicos das histórias em quadrinhos, a tira reproduzida na Figura 1, extraída da Turma da Mônica será usada de exemplo:

FIGURA 1: Turma da Mônica – Fonte www.monica.com.br

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Scott McCloud também explora este conceito de forma mais abrangente no livro UnderstandingComics (1994).


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Durante o processamento da informação contida nesta tira o leitor tem que tomar conhecimento do balão de fala que aponta para o personagem que fala para compreender aquele quadro que será complementado pelo quadro seguinte que dá continuidade a história. Os balões de fala são normalmente representados com setas apontando para a cabeça da personagem que fala, ou por um balão com vários círculos pequenos indo em direção à cabeça da personagem, o que indica um pensamento do personagem. Nesta tira o texto representa as falas e pensamentos dos personagens, e as imagens mostram informações como quem fala o quê (Cebolinha e Mônica); o que cada personagem pode estar sentindo em um determinado momento por meio de suas expressões faciais e representação de linguagem corporal como a expressão de dúvida nos braços do Cebolinha no segundo quadro e a de raiva no rosto e mãos fechadas da Mônica no quadro final; quem são eles; o que estão vestindo; características gerais como idade, gênero, localização e assim por diante. Mesmo o balão de pensamento é um dado visual altamente relevante. É ele quem indica que a Mônica não está verbalizando sua resposta à pergunta do Cebolinha. Enquanto o leitor tem total acesso ao que ela está pensando, o Cebolinha não faz ideia de que ela o responde mentalmente no quadro 2. Logo, esta informação visual é vital para entender por que o Cebolinha se irrita dizendo “Como é? Você vai ou não lesponder?”, e entender também na sequencia porque a Mônica subitamente muda sua resposta de “acredito” como mostra nos balões de pensamento para “não acredito” no balão de fala do último quadro da tira. Além dos três tipos de interação entre texto escrito e imagem definidos por Baptista et al (2011) há também as definições de Scott McCloud (1994) sobre as formas com que palavras se somam a imagens nas Histórias em Quadrinhos para criar uma narrativa: 1.

“Temos a combinação específica de palavras onde as figuras ilustram, mas não acrescentam quase nada a um texto.”

2.

“Há combinações específicas de imagem onde as palavras só acrescentam uma trilha sonora a sequencia visualmente falada.”

3.

“Há também os quadros duo-específicos em que palavras e figuras transmitem a mesma mensagem.”


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“Outro tipo de combinação é a aditiva onde as palavras ampliam ou elaboram sobre uma mensagem.

5.

Em combinações paralelas, as palavras e mensagens seguem cursos diferentes sem intersecção.”

6.

“Ainda uma outra opção é a montagem, onde as palavras são partes integrantes da figura.”

7.

“Talvez o tipo de combinação mais comum seja o interdependente onde palavras e imagens se unem para transmitir uma ideia que nenhuma das duas pode exprimir sozinha.” (McCloud, 1995, p. 153-155)

Em alguns pontos as definições de Scott McCloud se assemelham às de Baptista et al. As definições 1, 3 e 4 acima se assemelham aos caso de redundância de significado entre imagem e texto escrito. A definição 5 pode ser usada para construir textos em que imagem e palavra se contradizem. O caso 7 se aproxima das definições de Baptista em que a imagem e texto escrito se complementam. As imagens que foram escolhidas para este trabalho se enquadram na terceira definição de Baptista em que as imagens complementam o texto escrito, mas se dividem entre as definições de Scott McCloud. A primeira tira a ser apresentada se enquadra na definição 1 acima as imagens mostram o personagem que fala e o texto escrito mostra as falas do personagem. A segunda se enquadra na definição 7, as imagens mostram informações importantes para construir o significado, conforme será mostrado na análise destas tiras.


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3. METODOLOGIA

Para este trabalho foi elaborado um experimento em que nove sujeitos fizeram a leitura de três tiras História em Quadrinhos, publicadas em jornal. As duas primeiras tiras são textos híbridos em que a imagem é complementar ao texto enquanto a terceira tira é composta apenas por imagens. As três tiras foram lidas pelos nove sujeitos. Como foi exposto na Introdução os objetivos deste experimento foram:

Observar nos processos de leitura dos sujeitos a primeira fixação na tela para averiguar se o leitor enfoca o texto ou a imagem em um primeiro momento;

Examinar movimentos recursivos de leitura entre texto e imagem;

Observar quais elementos os sujeitos apontam como mais importantes para a interpretação do texto a partir de seu relato sobre a tira;

Verificar se há alguma relação entre pontos específicos observados no texto e a compreensão (ou não compreensão) dos textos;

Observar se a leitura é linear e se há um padrão de fixação em elementos específicos da imagem.

3.1 PROCEDIMENTO Foram coletados dados de leitura de textos híbridos e não-híbridos. Os sujeitos foram orientados a fazer a leitura de três tiras de jornal cientes de que teriam que fazer em seguida uma segunda leitura das mesmas três tiras verbalizando sua compreensão do texto.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA Participaram do experimento nove sujeitos, todos estes alunos do curso de Letras da UFMG em nível de Graduação ou Pós-Graduação. Todos afirmaram já ter previamente com tiras de jornal.


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3.3 INTRUÇÕES O experimento foi dividido em duas etapas e para cada etapa foi colocada uma instrução. Na primeira etapa os sujeitos teriam que ler o texto apenas. Na segunda etapa deveriam fazer uma segunda leitura comentando os elementos que consideravam mais importantes para a compreensão da tira:

Instrução 1: Leia as tiras a seguir, ao terminar pressione uma tecla para ler a tira seguinte.

Instrução 2: Agora aparecerão as mesmas tiras novamente. Explique com suas palavras o que acontece em cada tira e tente apontar quais elementos do texto ou da imagem foram importantes para a compreensão da tira.

Estas instruções foram exibidas na tela do computador antes das tiras que os sujeitos teriam que ler. Após cada instrução as três tiras foram exibidas uma por vez na tela do computador. Os sujeitos tiveram a liberdade de passar para a próxima tira a qualquer momento podendo levar o tempo que achassem necessário para a leitura da mesma. Não houve nenhum limite de tempo. Após a primeira leitura, os sujeitos foram instruídos a fazer uma segunda leitura dos textos, desta vez explicando com suas palavras o que ocorria em cada tira e quais aspectos do texto ou da imagem consideravam relevantes para a compreensão do texto.Estas

informações

foram gravadas em áudio

para serem consultadas

posteriormente.

3.4 EQUIPAMENTO

Para a realização do experimento foi utilizado o Tobii Eye Tracking Ver. 5.0.3.10. As instruções e textos foram exibidos em um monitor, e apresentados aos leitores em slides que os próprios sujeitos controlavam apertando uma tecla do


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computador para passar a próxima página. O aparelho registrou cada fixação dos sujeitos na tela do monitor. O termo fixação é usado aqui para se referir a qualquer pausa que o sujeito que está lendo o texto faça em um ponto específico deste texto. Movimentos dos olhos também são registrados e mostrados como linhas entre uma fixação e outra. As fixações são representadas por círculos nos pontos em que o sujeito olha na tela. Variações entre o ponto que a imagem mostra que foi fixado pelo sujeito e o ponto que ele realmente fixou podem existir. Alguns fatores influenciam na precisão do aparelho durante o processo de calibragem do equipamento ao sujeito que lerá a tira. Nesta etapa de calibragem o sujeito teve que olhar para pontos específicos da tela (círculos que aparecem no monitor) e o sistema compara os pontos que o sujeito foi solicitado a olhar aos pontos que o aparelho detecta que este olhou. A partir destes dois dados o programa calcula os pontos de fixação que são exibidos e contabilizados enquanto visualizações. De acordo com uma pesquisa 3 sobre a precisão do aparelho, a distância que o sujeito está da tela, altura, qualidade da imagem e até mesmo a cor dos olhos do sujeito podem interferir neste cálculo e por isso o ponto real focado pode ter sido deslocado para a esquerda, direita, para cima ou para baixo do ponto que aparece na tela. Em alguns resultados apresentados nesta pesquisa há indícios de imprecisão nos resultados apresentados pelo aparelho que serão referenciados quando forem apresentados.

3.5 MATERIAIS Como exposto para o experimento foram selecionadas três tiras considerando diferentes graus de interação entre texto escrito e imagem. As tiras obedecem a um padrão de estrutura narrativa típica deste tipo de texto: são compostas por três quadros. Nos dois primeiros é desenvolvida uma narrativa e no terceiro quadro há um elemento contrastante que quebra a expectativa do leitor construída pelos quadros anteriores, sendo este o elemento que gera o humor neste tipo de texto. Na terceira tira não há texto escrito. As duas primeiras tiras são textos híbridos em que há uma relação complementar entre imagem e texto escrito. A terceira tira é um texto constituído 3

Eyes on Mobile Eye Tracking: A Low Cost Alternative to high end commercial eye tracking units.


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apenas de imagens. As três tiras e os resultados da coleta serão apresentados na seção que se segue.


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4. ANÁLISE DE DADOS

ANÁLISE DA TIRA 1:

FIGURA 2 -Tira 1 – Os Malvados – André Dahmer – Fonte: www.malvados.com

A narrativa deste texto se desenrola ao longo dos três quadros seguindo um modelo padrão de redação com introdução do tema, desenvolvimento e conclusão 4. No primeiro quadro, há uma oração na qual o grupo nominal que faz parte de uma frase preposicionada “sem cigarro e suco de maça” foi desmembrado da frase e deslocado para a posição temática, o que confere aos componentes desse grupo o status de serem o ponto de partida da mensagem. A fala do segundo quadro apresenta um complexo oracional, no qual há uma oração hipotática em posição temática “quando a idade chegar”, a qual também ganha status de ponto de partida da mensagem e condiciona a oração que segue, a qual é interrompida por reticências. As reticências geram a necessidade de que o leitor busque ou pense no componente que complete essa oração. Esse componente é apresentado no quadro 3. Como o grupo nominal apresentado no quadro 1 está composto de um item lexical associado a vicio e um outro associado a pratica saudável, uma possível interpretação do leitor ao final do segundo quadro e a de que quando a condição afirmada se der, isto é, “quando a idade chegar”, seja abandonado o vicio e não a pratica saudável. Esta expectativa é quebrada, pois “traqueia”

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Esta estrutura é recomendada por vários manuais de redação como o Manual para Niteg e o PPGCI da ECI-UFMG.


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é um item lexical associado ao sistema respiratório, por sua vez associado ao câncer de pulmão, principal consequência do cigarro. Os desenhos da tira variam pouco de um quadro para outra havendo apenas uma mudança na posição da boca (de fechada para aberta) do primeiro para o segundo quadro, e um gesto com a mão (no terceiro quadro).Se isolarmos apenas as falas da tira é possível chegar a conclusões próximas do que teríamos na tira completa com os desenhos:

QUADRO 1: Texto escrito da tira 1.

Quadro 1

Quadro 2

Cigarro e suco maçã: não

Quando a idade chegar, tenho

consigo viver sem.

certeza que ainda tomarei meu

Quadro 3 ...pela traqueia.

bom e velho suquinho de maçã...

Os significados realizados verbalmente nesta tira são mais numerosos que os significados realizados não verbalmente, por isso pressupõe-se que a maior parte dos significados necessários para compreensão da mensagem estão no texto escrito:

Significados realizados verbalmente: 

Hábitos do personagem – viciado em cigarro e suco de maçã.

Adulto, mas não idoso – “quando a idade chegar”.

É ciente das consequências do fumo: “Tomarei meu bom e velho suquinho pela traquéia”

Significados realizados não verbalmente: 

Características físicas do personagem. Enquanto o texto escrito mostra os hábitos, intenções e controvérsias do

personagem, as imagens mostram suas características físicas, denotando sua idade (ele parece ter um princípio de calvície) e classe social (usa terno e óculos escuros). Estas


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informações são complementares as do texto escrito. Seguindo as definições de Baptista et al (2011) as relações entre imagem e texto híbrido podem ser contraditórias, redundantes ou complementares. Nesta tira a relação entre texto e imagem é complementar. Já de acordo com as definições sobre Scott McCloud (1994), esta tira seria definida como a “combinação específica de palavras onde as figuras ilustram, mas não acrescentam quase nada ao texto”.

PRIMEIRA FIXAÇÃO

Como exposto na seção de Metodologia o termo “fixação” é usado aqui para definir qualquer intervalo de tempo que o leitor passa com o olhar focando um mesmo ponto no texto. As fixações são representadas na imagem abaixo por círculos numerados. Os números mostram a ordem em que os pontos foram fixados. Quanto maior o tamanho do círculo, mais tempo o sujeito passou fixando o olhar sobre um mesmo ponto. Os movimentos de transição dos olhos entre uma fixação e outra são representados na figura acima como linhas entre uma e outra fixação.

FIGURA 3 – Primeiras fixações dos sujeitos na Tira 1. Cada cor representa um sujeito. Os círculos indicam fixações e os números nos círculos indicam a ordem das fixações. As linhas entre os círculos indicam a direção do movimento dos olhos entre uma fixação e outra.

Na leitura da Tira 1 todos os sujeitos iniciaram a leitura a partir do texto escrito como mostra a figura acima. Na imagem o que chamou a atenção dos leitores foi o personagem. Todos iniciaram a leitura a partir do texto escrito do primeiro quadro.


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Após a primeira fixação os sujeitos seguem a leitura e alternam entre texto escrito e imagem. PADRÕES DE LEITURA

A leitura desta tira foi em quase todos os casos linear, seguindo a própria cronologia interna da tira: os sujeitos leem do primeiro ao último quadro. Leem primeiro o texto escrito em cada quadro e depois a imagem (quando visualizam a imagem). O método aplicado para qualificar este tipo de leitura enquanto linear foi verificando uma imagem gerada pelo programa de computador usado para extração de dados do Eye Tracking o Tobii Studio ver. 2.2.8. Esta imagem, chamada Gaze Plot, mostra a ordem em que os sujeitos observaram cada ponto fixado no texto cronologicamente. O Gaze Plot também pode ser observado em forma de vídeo. As imagens abaixo foram extraídas do Gaze Plot da leitura de dois sujeitos e exibem as leituras em dois momentos: Quando terminam de ler o terceiro quadro pela primeira vez e quando terminam de ler a tira.

FIGURA 4 – Exemplo de leitura linear. Sujeito 8.

A primeira imagem acima mostra a leitura do texto pelo sujeito 8 até a fixação número 30 quando o sujeito visualiza o desenho do quadro 3. A segunda imagem


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mostra todas as fixações ao término da leitura. Não há movimentos de retorno entre os quadros até a leitura do último quadro (primeira imagem). Após a leitura do ultimo quadro, no entanto, houve fixações nos quadros anteriores (segunda imagem). O sujeito observa novamente o segundo quadro e torna a fixar imagem e texto do terceiro quadro antes de passar para a leitura da tira seguinte. As setas em vermelho indicam a direção dos movimentos de transição do olhar entre as fixações (representadas pelos círculos) para a direita. As setas em roxo indicam movimentos de transição para a esquerda.

FIGURA 5 – Outro exemplo de leitura linear.Sujeito 6. As setas indicam a direção dos movimentos de transição do olhar.

As leituras dos sujeitos 2, 5, 7, e 9 seguem o padrão das figuras 3 e 4 acima. Os sujeitos fixaram entre 1 e 4 vezes cada desenho. As exceções são o sujeito 1 que não fixou o desenho do quadro 2:


23 FIGURA 6 – Fixações do sujeito 1.

O sujeito 3 que não fixou o desenho do quadro 1:

FIGURA 7 – Fixações do sujeito 3.

E o sujeito 4 que parece não ter fixado os desenhos nem no primeiro quadro nem no segundo:

FIGURA 8 – Fixações do sujeito 4. Algumas fixações aparecem sobre as imagens nos quadros 1 e 2, mas estas fixações parecem ter ocorrido no texto. Como as fixações nesta imagem estão todas a partir da segunda linha do texto escrito nos quadros estas provavelmente foram deslocadas para baixo devido a alguma imprecisão do aparato.

Isto não significa que estes sujeitos não tenham visto estas imagens na tira. Apesar de não telas fixado diretamente estes sujeitos, estas imagens podem ter sido captadas pelos sujeitos por sua visão periférica. Outra forma de visualizar as áreas que receberam fixaçõesé observando o mapa de calor. Os mapas de calor mostram as fixações de todos os sujeitos que leram a tira evidenciando as áreas mais visualizadas.


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FIGURA 9 - Mapa de calor indicando áreas mais visualizadas por todos os participantes.

O mapa acima mostra a leitura dos sujeitos da primeira tira. Esta imagem é feita com a sobreposição dos mapas de calor dos nove sujeitos juntos.As cores representam as áreas que receberam maior ou menor foco sendo que vermelho (a camada mais interna) é onde houve mais fixações por períodos mais longos de tempo, e as áreas em verde (camadas externas) são onde houve um menor foco. É possível notar uma grande diferença entre a atenção voltada ao texto e a imagem. A parte em que o texto escrito está é marcada em vermelho, e a parte da imagem em verde e amarelo. Após o término da leitura dos três quadros os sujeitos passam a observar os elementos da tira de maneira livre, ou seja, sem se prender a cronologia do texto e sem seguir um padrão específico. A única exceção a este padrão de leitura linear foi o sujeito 2 que ao terminar a leitura do segundo quadro fixa rapidamente seu olhar na imagem do primeiro quadro para em seguida passar para o terceiro quadro:

FIGURA 10 – Representação do percurso de leitura do Sujeito 2 - A fixação número 28 (orelha do personagem no primeiro quadro) é precedida pela fixação 27 (segundo quadro) e sucedida pela fixação 29 (texto do último quadro).


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As leituras são feitas alternando entre texto e imagem, mas a imagem recebe bem menos foco que o texto. Esta alternância entre texto e imagem na leitura não é contínua: Os sujeitos leem o texto escrito, visualizam a imagem do quadro e então passam ao quadro seguinte repetindo o processo até o fim da leitura do último quadro. As exceções foram o caso do sujeito 2 mencionado anteriormente, e o sujeito 3 que fugiu a este padrão ao ler o segundo quadro: visualizou o desenho do quadro antes do texto escrito, ao contrário dos demais. A imagem do segundo quadro foi visualizada menos vezes que as outras. O segundo quadro é o que possui mais texto escrito, e a imagem é quase idêntica a do primeiro quadro com uma alteração sutil (o movimento da boca) enquanto no terceiro quadro há o movimento do braço (que é um elemento novo). A imagem dos quadros 1 e 2 foram visualizados em média uma vez por cada sujeito, já a imagem do terceiro quadro onde há um elemento novo foi visualizada em média duas vezes o que sugere que mudanças na imagem, mesmo que sutis, atraem a atenção dos leitores. O braço da personagem que aparece no quadro final é a variação mais significativa nos desenhos entre os quadros. Os sujeitos 1, 2 e 7 fixaram o olhar diretamente no braço.

PROTOCOLOS VERBAIS

A segunda etapa do experimento consistia da leitura comentada das tiras conforme descrita na metodologia. As conclusões as quais os sujeitos chegaram através da leitura deste texto foram bastante uniformes. Todos mencionaram que o que gera humor era a relutância do personagem em abandonar o cigarro mesmo ciente dos problemas de saúde consequentes do tabagismo. Os comentários a respeito do texto foram em geral descritivos narrando os fatos que ocorrem na tira, mas quase nunca se referindo a imagem em si. Apenas os sujeitos 2 e 4 comentaram sobre as relações imagem/texto conforme havia sido solicitado na instrução. Ambos afirmaram que a imagem não era tão relevante para o texto e que a imagem era mais importante. O sujeito 2 disse que “na primeira tira o humor tá no texto (...) poucos elementos do desenho que contribuíram pra entender”.O sujeito 4 fez uma afirmação similar “(...) a


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imagem não é tão relevante... o último quadrinho eu acho que é o que mais dá o aspecto cômico da tirinha”. Seis dos sujeitos se referiram as falas do personagem ao descrever os eventos da tira, parafraseando o que o personagem disse ou interpretando suas falas. Alguns destes sujeitos fazem referencia a ações do personagem utilizando verbos relacionados a fala:

S1: “...o sujeito aqui fala que ele não consegue viver sem suco de maçã...” S2: “...ele fala de duas coisas que ele não vive sem...” S3: “...ele citou a traquéia no fim...” S6: “...ele se vê... com problemas por causa do cigarro mas ele admite que não consegue viver ... mas ele só pensa que não vai conseguir viver sem o suco de maçã...” S9: “...ele começa construindo aqui a tira introduzindo coisas que ele acha que são importantes...”

Os desenhos foram mencionados por apenas dois dos nove sujeitos, fator que reafirma o pressuposto de que a maior parte da narrativa nesta tira é construída pelo texto escrito. O sujeito 2 descreve o personagem como um burguês “cara de terno e tal né burguês o oclinhos”e o sujeito 6 especula que ele seja cego.Os dois comentários possivelmente motivados pelos óculos que o sujeito usa. Cinco sujeitos tentaram definir fatores que vão além do texto apresentado, como qual doença o personagem teria, e quais tipos de operações médicas impediriam o personagem de beber suco de maçã da forma tradicional.

S1: (...) quando ele ficar velho vai querer tomar o suquinho de maçã que ele tanto gosta mas pela traqueia por que ele não consegue mais respirar direito... sei lá...((risos)) vai ficar entubado né, o hospital. S2: (...) no final da vida quando a idade chegar que ele ainda vai tomar o suco de maçã pela traquéia ou seja ((risos)) que ele vai fumar tanto que... ele vai usar a traquéia pra tomar o suco de maçã.


27 S4: (...) depois que a idade chegar porque ele vai... sei lá ta doente por causa daquela... daquela... aquela operação que faz a respiração... S8: (...) pra continuar tomando suco de maçã por que um dia ele vai ter um câncer ou alguma coisa... uma doença grave ele vai... estar no hospital... respirando pela traquéia e não vai ter condições de tomar o suco... S9: (...) a graça ta que ele vai continuar tomando suco pela traquéia por causa dos efeitos do cigarro né... por ter problemas de saúde e tudo o mais... ficaria bem debilitado...

Estas impressões, no entanto, não desviam a interpretação destes sujeitos do padrão: assim como os demais sujeitos ambos apontam a contradição do personagem da tira em manter o vício de cigarro mesmo sabendo que este o prejudicará. Como demonstrado por estes dados a leitura do texto foi bastante uniforme e o único momento em que as explicações dos sujeitos divergem foi no caso em que se referiram a imagem em que o sujeito 2 descreveu o personagem como um burguês e o sujeito 6 apontou a possibilidade de ele ser cego.


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ANÁLISE DA TIRA 2

FIGURA 11 - Tira 2 - “Janelas” por Ricardo Tokumoto –Fonte: www.ryotiras.com

A segunda tira escolhida para esse trabalho exibe uma quantidade maior de informações nas imagens dos quadros. Embora a elaboração da mensagem veiculada por meio de palavra e imagem também exista na tira anterior, aqui a interação entre as duas partes do texto híbrido é maior. Se a compreensão da mensagem veiculada em textos híbridos vem de um resultado fatorial entre texto escrito e imagem, segundo afirmado por Baptista et al (2011), a parte atribuída a imagem na tira 2 é maior que a parte atribuída a imagem na tira 1. A estrutura da tira 2 é basicamente a mesma da primeira, três quadros e três balões de fala. Os quadros, entretanto, não exibem um ângulo fixo, como a tira 1. O primeiro enquadra um angulo de forma a mostrar a tela do computador, o segundo mostra o personagem de um ângulo diferente, e o quadro 3 mostra um plano mais afastado enquadrando os dois personagens, o computador e a janela ao fundo. Há muitos elementos na imagem para serem visualizados neste texto o que pressupõe um número alto de fixações nas imagens. O autor constrói uma narrativa breve e uma conclusão que se desvia da expectativa construída no quadro 3. As afirmações do personagem 1 nos quadros 1 e 2 de que a paisagem é “linda” e “bonita” além da própria paisagem que contem o sol e o arco-íris faz com que o desfecho mais provável seja a concordância por parte do Carlos de que a paisagem é bonita. Isto de fato acontece no quadro 3. Neste mesmo quadro há


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um elemento que gera contradição no texto: a janela do último quadro em contraste com a paisagem que os personagens elogiam e observam na tela do computador. Enquanto admiram uma reprodução fotográfica de uma paisagem bonita perdem a oportunidade de ver esta mesma paisagem no “mundo real”. Uma provável interpretação para este texto é a crítica à alienação do mundo real pela tecnologia. As afirmações do personagem 1 nos quadros 1 e 2 de que a paisagem é “linda” e “bonita”, além da própria paisagem que contem o sol e o arco-íris faz com que o desfecho mais provável seja a concordância por parte do Carlos de que a paisagem é bonita o que acontece no quadro 3. O elemento contrastante responsável pela conclusão final é um significado gerado pelas imagens. Ler o texto escrito sem as imagens evidencia este fato:

QUADRO 2: Texto escrito da tira 2

Quadro 1

Quadro 2

Quadro 3

Personagem 1:

Personagem 1:

Carlos:

Que paisagem linda!!!

Ei Carlos! Venha ver que bonito!

Puxa vida bonito mesmo!

Sem os significados realizados não-verbalmente a mensagem veiculada pela tira é alterada, diferentemente do que ocorre com a Tira 1. Significados realizados verbalmente: 

O personagem 1 acha a paisagem bonita.

O personagem 2 acha a paisagem bonita.

Significados realizados não verbalmente: 

Paisagem no computador no quadro 1.

Paisagem na janela do quadro 3.

Personagens 1 e 2. As diferentes relações entre imagem e texto escrito nos textos híbridos exercem

influência também no número de fixações que a imagem recebe. O número de visualizações foi maior na imagem na tira 2. Esta tira também se enquadra na definição


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de Baptista et al (2011) em que a imagem complementa o texto, chamada por Scott McCloud (1994) de interdependente.

PRIMEIRA FIXAÇÃO:

A primeira fixação na tira 2 foi bem mais distribuída em comparação aos resultados da tira 1 onde todos os sujeitos iniciaram e leitura do texto escrito do primeiro quadro. A imagem abaixo exibe a primeira fixação dos sujeitos nesta tira:

FIGURA 12: Tira 2. Primeira fixação dos sujeitos. Cada cor representa um dos nove leitores da tira.

Como é possível observar nesta imagem, a maioria dos sujeitos fixa primeiro o segundo quadro. As exceções foram apenas os sujeitos 1 (amarelo) e 10 (azul) que fixaram primeiro a janela do quadro 3. Quatro sujeitos fixaram o balão de fala ou áreas próximas a ele como os sujeitos 6 (roxo) e 7 (laranja) que aparentemente fixaram a seta do balão de fala que aponta o personagem, resultado inesperado para a primeira fixação já que esta parte específica do texto não mostra elemento incomum o bastante para captar a primeira fixação do leitor. Por este motivo é possível que estas fixações não tenham sido ponto mostrado pelos círculos e sim em um ponto próximo a eles e interpretados de forma errônea pelo aparato. Estas posições da primeira fixação nos quadros 2 e 3 pode ter sido influenciado pelo ponto de fixação final da tira anterior, já que os sujeitos leram esta tira imediatamente após terminarem de ler a tira 1.


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PADRÕES DE LEITURA

A ordem das fixações dos sujeitos variam bastante na leitura da tira 2. Após a primeira fixação o movimento de leitura de todos os sujeitos foi em direção ao primeiro quadro como mostra a imagem seguinte:

FIGURA 13 – movimento de leitura dos sujeitos após a primeira fixação. Todos eles se deslocam para a esquerda em direção ao texto da primeira tira.

A princípio as leituras desta tira não seguiram uma ordem linear. A primeira fixação foi feita em pontos distintos dos quadros 2 e 3, alguns fixando-se primeiro na imagem e outros no texto. O sujeito 1 (amarelo) faz sua segunda fixação no segundo quadro, enquanto o sujeito 10 (azul) faz sua segunda fixação diretamente no primeiro quadro. Todos os sujeitos retornaram ao primeiro quadro para poder ler os quadros posteriores. Os sujeitos 1, 2, 3, 4, 7 e 9 seguiram a leitura em ordem (quadro1>quadro2>quadro3) a partir deste retorno, seguindo o modelo da FIG. 14:


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1 FIGURA 14 – Sujeito 1 – Após fixar o quadro 1 (fixação 21) este sujeito passa ao quadro 2 (fixações 22, 23 e 24) e em seguida ao quadro 3 (fixação 25 em diante).

Os sujeitos 5, 6 e 8 observaram os três quadros da tira, mas sem seguir esta ordem linear de leitura: ao terminarem de observar o quadro 2 retornam ao primeiro quadro e então pulam imediatamente para o quadro final:

FIGURA 15 – Sujeito 5 – Após ler o quadro 2 (fixação 15) o sujeito volta ao quadro 1 (fixações 16 e 17) e passa diretamente ao quadro 3 (fixações 18, 19 e 20).

As imagens desta tira receberam um número maior de fixações que a tira anterior. Enquanto as fixações na primeira tira foram aproximadamente 10% nas imagens e 90% no texto escrito, na segunda tira foram de 46% nas imagens e 54% no texto escrito (contabilizando a média de visualizações de todos os leitores). Os sujeitos 3, 5 e 8 chegaram a fixar a imagem mais vezes que o texto escrito. O mapa de calor abaixo ilustra como foram distribuídas estas visualizações.


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FIGURA 16: Mapa de calor indicando áreas mais visualizadas por todos os participantes. As cores representam as áreas que receberam maior ou menor foco sendo que vermelho (a camada mais interna) é onde houve mais fixações por períodos mais longos de tempo. As áreas em verde (camadas externas) mostram onde houve um menor foco.

Este mapa de calor mostra os elementos mais fixados pelos sujeitos na imagem nos três quadros: a paisagem no computador no quadro 1 e a janela no quadro 3. É possível notar também que, assim como na tira 1, a imagem do quadro 2 foi a menos fixada, o que faz sentido considerando que os principais elementos nas imagens desta tira são a janela e a tela do computador. Além das imagens, as áreas em que há texto escrito (balões de fala) também receberam um número alto de fixações.

PROTOCOLOS VERBAIS:

As interpretações que os sujeitos fizeram da tira 2 também foram bastante similares. Oito dos nove sujeitos fizeram a relação proposta pela tira entre a paisagem do computador do primeiro quadro e a da janela do terceiro quadro. O único que se desviou do padrão de interpretação da tira foi o sujeito 5 que parece não entender bem a imagem: “talvez o que a foto ta refletindo no computador e ele ta vendo achando que era o computador.” O sujeito 5 foi um dos sujeitos mencionados que fixou as imagens mais do que o texto escrito (25 fixações na imagem e 17 no texto escrito) este comportamento pode ter uma relação com o fato de este ter tido dificuldade em chegar a uma conclusão parecida com as dos demais leitores e consequentemente observando a


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imagem mais vezes para tentar compreender o texto. Os sujeitos 3 e 8 que também visualizaram a imagem mais vezes interpretaram o texto de maneira similar aos outros sujeitos. Os sujeitos normalmente apontam que há uma crítica no texto de que as pessoas deveriam priorizar paisagens naturais e não reproduções fotográficas ou mesmo, priorizar a natureza em detrimento da tecnologia.

S1: Bom... isso aqui é uma crítica... a...((risos)) a sociedade de hoje né que: fica olhando paisagens lindas na internet... e comentando isso com outros mas esquecem de olhar... a natureza que já existe e que tem a mesma paisagem bonita...fim. S2: (...) a coisa ta girando tanto em torno né do computador e tal... que as pessoas esquecem de olhar ao redor e eles ficam apreciando a imagem que tá lá no computador né vendo achando bonito quando se eles olhassem para a janela do lado de fora eles iam ver que a imagem tava logo ali (...) S3: E e nesse daqui a questão do humor é por que a paisagem... pela janela é exatamente igual ((risos)) a paisagem da: do do computador... ele ele tá olhando pra paisagem do computado e não pela janela. S4: (...) e o principal aspecto do humor é a ironia eu acho que é dada pelo primeiro quadrinho em contraste com o último... a mesma imagem mora na na tela do computador e outra hora fora da janela né... real.

Os demais relatos, excetuando o sujeito 5, seguem uma linha similar e podem ser consultados no anexo.


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ANÁLISE DA TIRA 3:

FIGURA 17- Tira 3 - Garfield - Jim Davis. Fonte: www.tirinhasdogarfield.blogspot.com

A terceira tira analisada é de autoria de Jim Davis, cartunista estadunidense criador de Garfield. Neste material há total ausência de texto escrito; a narrativa é desenvolvida apenas por imagens. A mesma estrutura de três quadros vista nas tiras 1 e 2 se mantém na tira 3. Garfield observa uma aranha no primeiro quadro, sopra-a para longe no segundo e no terceiro quadro é atingido pela aranha em seu rosto. A tira originalmente possuía uma onomatopeia que reproduzia o som do sopro do Garfield no segundo quadro. Esta onomatopeia foi removida para que a tira ficasse sem qualquer texto escrito. Scott McCloud (1994) define este tipo de relação entre texto e imagem como uma combinação de imagem e palavra onde a palavra seria a “trilha sonora” da imagem em analogia ao cinema. Como exposto na revisão teórica, Batista et al (2011) utilizaram em seu experimento uma imagem que foi apresentada aos sujeitos que participaram de seu experimentos, divididos em dois grupos. Um dos grupos teve acesso a imagem com legenda e outro grupo veria a mesma imagem sem legenda. O objetivo foi analisar a diferença nas duas situações em que a imagem foi lida. Como apontado na seção de metodologia, a inserção de uma tira sem texto segue um propósito similar: analisar os padrões estudados nas tiras anteriores em contraste com a tira sem texto escrito.


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PRIMEIRA FIXAÇÃO

A fixação inicial dos sujeitos foi em quadros distintos da tira 3: Dos nove sujeitos dois fixaram primeiro o quadro 1, quatro fixaram o quadro 2 e três sujeitos fixaram o quadro 3 como mostra a figura 2. Nesta imagem, cada cor representa um sujeito e cada círculo uma fixação. O número “1” nos círculos indica que aquela é a primeira fixação neste texto. Houve também um movimento de leitura direcionado ao primeiro quadro (segunda imagem da figura 15) a partir do qual os sujeitos estabeleceram uma leitura linear da tira.

FIGURA 18 – A imagem acima mostra a primeira fixação de cada um dos sujeitos que leram a tira. Cada sujeito é representado por um círculo diferente. A segunda imagem mostra um movimento de leitura para a esquerda em direção ao quadro inicial.

Como houve um movimento em direção ao primeiro quadro, representado na segunda imagem da FIG. 16 pelas linhas entre um círculo e outro, pode-se inferir pelo número de fixações que neste primeiro momento a aranha no quadro 1 chama mais a atenção do olhar dos leitores que o Garfield que é uma figura maior no quadro.


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PADRÕES DE LEITURA

Analogamente ao observado na primeira fixação os sujeitos não visualizaram os quadros seguintes em momentos similares, mas todos em algum momento retornaram ao primeiro quadro para dar início a uma leitura linear e cronológica do primeiro ao último quadro. Esta leitura linear foi representada nas análises das tiras anteriores com imagens mostrando a ordem das fixações dos sujeitos, mas como há muitas sobreposição de fixações na leitura da tira 3 fica difícil representar esta ordem aqui com imagens estáticas por isto a ordem destas fixações foi transposta para o quadro que segue.

QUADRO 3: Ordem dos quadros visualizados.

Ordem

1

2

3

4

5

6

7

S1

Quadro 2 (2)

Quadro 1 (2)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (3)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (1)

Quadro 1 (2)

S2

Quadro 2 (1)

Quadro 1 (2)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (1)

Quadro 2 (3)

Quadro 3 (3)

Quadro 1 (1)*

S3

Quadro 3 (1)

Quadro 2 (2)

Quadro 1 (5)

Quadro 2 (1)

Quadro 3 (3)

Quadro 2 (1)

Quadro 3 (3)

S4

Quadro 2 (1)

Quadro 1 (2)

Quadro 2 (1)

Quadro 1 (3)

Quadro 2 (3)

Quadro 2 (2)

Quadro 2 (2)*

S5

Quadro 3 (1)

Quadro 2 (1)

Quadro 1 (7)

Quadro 2 (3)

Quadro 1 (1)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (3)

S6

Quadro 1 (7)

Quadro 2 (3)

Quadro 3 (2)

Quadro 2 (3)

Quadro 3 (4)

Quadro 2 (1)*

S7

Quadro 2 (2)

Quadro 1 (4)

Quadro 2 (4)

Quadro 3 (2)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (1)

Quadro 1 (1)

S8

Quadro 3 (2)

Quadro 1 (3)

Quadro 2 (1)

Quadro 3 (2)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (4)

Quadro 2 (1)*

S9

Quadro 1 (4)

Quadro 2 (2)

Quadro 3 (3)

Quadro 2 (4)

Quadro 1 (4)

Quadro 2 (3)

Quadro 3 (1)*

O número entre parênteses indica o número de fixações naquele quadro antes de passar ao próximo, assim “Quadro 2 (3)” significa que no quadro 2 houveram três fixações antes do sujeito dirigir sua visão ao quadro seguinte. Os dados em negrito mostram uma ordem linear de leitura entre os quadros (1→2→3). *Os dados marcados com um asterisco no fim indicam que aquele foi o último quadro visualizado pelo sujeito. Os sujeitos que não foram marcados com o asterisco visualizaram quadros além dos mostrados na tabela.

Este quadro aponta uma similaridade entre os processos de leitura da Tira 1 e da Tira 2 e da Tira 3. Assim como o texto escrito e o texto híbrido, as histórias em


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quadrinhos construídas apenas com imagens também seguem uma ordem linear e cronológica que se organiza neste texto da esquerda para a direita excetuando as exceções comentadas na Análise da Tira 2. A FIG. 19 mostra os principais elementos visualizados nesta tira. No primeiro quadro a aranha foi o elemento sobre o qual se concentrou o maior número de fixações pelos leitores se destacando dos demais. No primeiro quadro a aranha aparece de forma inusitada pendurada por sua teia em frente ao rosto de Garfield e no último quadro se choca contra o rosto do personagem. No segundo quadro é possível notar que os sujeitos fixam seu olhar não só em Garfield soprando a aranha para longe de seu rosto como também nas linhas que representam o movimento desta aranha se afastando e do sopro que a carrega para longe. É possível observar também que houve fixações em pontos vazios da tira, nas partes superiores dos quadros onde estaria normalmente o texto de uma tirinha.

FIGURA 19 – mapa de calor da tira 3 mostrando os pontos mais visualizados pelos sujeitos.

PROTOCOLOS VERBAIS

As interpretações dos sujeitos dos eventos da tira foram bastante semelhantes. Todos os sujeitos descreveram a tira relatando que o Garfield sopra a aranha para longe de si e esta volta acertando seu rosto:


39 S1: lei da física... o Garfield foi soprar uma aranhinha... e ela por causa da lei da física voltou... com a mesma intensidade... na direção oposta e acertou a cara dele. S3: Garfield tentou espantar a aranha e a aranha foi justamente no olho dele ((risos)) a ação deu o efeito oposto que ele queria. S6: E:... é: sei lá algo de ação e reação aqui... ele sopra a aranha talvez para afastar mas a reação do que ele fez é a aranha voltar e acertar ele na testa... S8: Aqui o Garfield soprou e aí a aranha voltou por que sempre que a gente sopra pra... sei lá... alguma coisa vai pra frente volta...

Os demais sujeitos fizeram comentários similares, havendo algumas observações únicas como o sujeito 2 que comentou que a maioria das tiras do Garfield “tem muito pouco texto ou não tem texto nenhum”, e o sujeito 9 que disse que a tira 3 “não tem muita graça”. O único sujeito que aparenta ter tido problemas para interpretar esta tira foi o Sujeito 5. O mesmo sujeito que teve dificuldades para ler a tira 2: “E... não sei... ele sopra... e o bichinho volta... tá amarrado... não sei...” Como é conhecimento comum que aranhas se penduram de lugares altos por suas teias e o sujeito usa o termo “amarrado” e se refere à aranha como “bichinho” pode-se aventar a hipótese de que este não tenha reconhecido o desenho enquanto uma aranha. Este também foi o comentário mais breve sobre a tira 3, sendo que o sujeito 5 foi o que teve mais fixações registradas pelo Eye Tracking nesta tira: 33, mais de dez fixações acima da média de 18 fixações nesta tira.


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5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:

A primeira tira analisada era um texto híbrido em que a imagem complementava o texto escrito, uma das três formas de interação entre texto e imagem definidas por Baptista (2009). A tira mostra o personagem responsável pelas falas e opiniões emitidas. Nesta tira os movimentos de leitura foram bastante regulares, os sujeitos começaram a leitura pelo texto do quadro 1 e seguiam uma leitura linear até o fim do texto quando passavam a observar os outros elementos do texto escrito e da imagem de forma livre. As leituras foram centradas no texto escrito que recebeu 90% das fixações. Apenas dois sujeitos mencionam a imagem ao descrever a tira. A Tira 2 também era um texto híbrido em que a imagem complementa o texto escrito. As imagens mostram ao leitor que a paisagem que os personagens observam no computador poderia ser vista se olhassem pela janela da sala onde estão. Os sujeitos iniciam a leitura do texto por pontos diferentes, alguns sujeitos fixando primeiro a imagem e outros o texto. As fixações foram feitas nos quadros 2 e 3, ao contrário da tira 1 onde todos iniciam a leitura pelo primeiro quadro. As fixações são mais distribuídas entre texto escrito e imagem:46% nas imagens e 54% no texto escrito. As imagens são mencionadas por todos os sujeitos para descrever os eventos da tira. A Tira 3 não era um texto híbrido, mas construída apenas com imagens. Assim como a Tira 2 os leitores iniciam a leitura do texto por pontos diferentes. Quatro dos nove sujeitos iniciam a leitura pelo quadro do meio enquanto dois visualizam o primeiro quadro e três iniciam a leitura pelo último quadro. Mesmo sem ter um texto para orientar a leitura, os sujeitos em algum momento leem os quadros em sequencia. Diferentes níveis de interação entre texto e imagem mostraram uma forma diferente de leitura da tira nos casos analisados. Em comparação com a tira 1, a tira 2mostrou aos leitores uma quantidade maior de informações nas imagens dos quadros e isto fez com que a forma de leitura fosse diferente. A elaboração da mensagem veiculada por meio de palavra e imagem também existe na tira 1, porém na tira 2 a interação entre as duas partes do texto híbrido é maior. A média de fixações foi relativamente menor provavelmente por esta tira possuir menos texto escrito (127 caracteres na Tira 1 e 66 caracteres na Tira 2). Por não possuir texto escrito, a tira com menos visualizações foi a Tira 3.


41 GRAFICO 1: Média de fixações em cada uma das tiras. 50 45 40 35 30

Imagem

25

Texto

20

Total

15 10 5 0 Tira 1

Tira 2

Tira 3

TABELA 1: Média de visualizações de todos os sujeitos em cada uma das tiras.

Visualizações

Imagem

Texto

Total

Tira 1

4,4

39

44,5

Tira 2

15,6

18,7

34,3

Tira 3

18

0

18

O tempo médio de leitura de cada tira seguiu o padrão mais provável considerando-se o volume de texto de cada tira. A tira 1 foi a que os sujeitos levaram mais tempo para ler e a tira 3 a que levaram menos.

TABELA 2– tempo médio de leitura de cada tira

Tempo médio de leitura Tira 1

Tira 2

Tira 3

11,7

10,1

6,6


42

O sujeito 5 que mostrou dificuldades na leitura da tira 3 levou o mesmo tempo para ler as tiras 2 e 3 (12 segundos) e o dobro do tempo (24 segundos) para ler a tira 1. O sujeito 6 levou mais tempo para ler a tira 2 que qualquer outra tira (24 segundos), mas consultando seu relato sobre a tira 2 este não demonstra dificuldades para retratar os eventos da tira:

S6: É:: tem a ver com tecnologia: ele tá vendo a mesma imagem que tá aparecendo na janela... mas ao invés de olhar pra janela e ver o que ta bonito lá fora ele chama o amigo pra ver o que tá bonito na tela do computador...

Os demais sujeitos levaram mais tempo na primeira tira e menos tempo na última. Os sujeitos 5 e 7 levaram o mesmo tempo para ler as tiras 2 e 3. Mesmo possuindo uma quantidade menor de texto o tempo médio para leitura da tira 2 foi bastante próximo do da tira 1 o que pode indicar que a simples presença de texto na tira torna a leitura mais demorada ou pode ser um indício de que quando as relações entre texto e imagem são mais complexas como no caso da tira 2 a leitura leva mais tempo. A primeira fixação da tira 1 foi a única que se incidiu sempre sobre o texto do primeiro quadro. Na tira 2 as primeiras fixações se incidiram sobre os quadros 2 e 3 e foram distribuídas entre texto e imagem. A princípio uma hipótese para este resultado é o fato da posição do texto da tira 1 se iniciar na parte superior esquerda da imagem, ponto de partida dos textos escritos em português o que torna mais provável começar a leitura por aí. Na tira 2 o texto escrito aparece pela primeira vez no canto inferior esquerdo, abaixo de um elemento importante daquele quadro (a imagem na tela do computador). Isso não explicaria, entretanto, porque as fixações iniciais da tira 2 se distribuíram entre os quadros 2 e 3. A ordem de leitura das tiras pode ter influenciado na primeira fixação das tiras 2 e 3 já que esta pode ter coincidido com a fixação final da leitura da tira anterior. Para confirmar se a ordem em que as tiras foram apresentadas exerce influência sobre a primeira fixação seria necessário um novo experimento alternando esta ordem para comparar os resultados ou um experimento em que as tiras fossem apresentadas individualmente. O caso de maior desvio de padrão em relação ao número de fixações no texto e na imagem foi o sujeito 5 que demonstra ter tido alguma dificuldade na leitura das tiras


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2 e 3. Mesmo na tira 1 este fixou o texto 67 vezes, número consideravelmente maior que a média. Estes dados apontam para uma relação entre o número de fixações na tira e a dificuldade de se compreender a mensagem veiculada. Segundo Baptista et al (2011) na ausência de um texto escrito como guia a fixação em elementos significantes do texto é mais difícil. Um novo experimento com tiras que partilhem características similares a deste experimento seria útil para reforçar ou refutar os padrões de leitura que aparecem aqui. O modo de leitura de textos híbridos está sujeito às relações entre as imagens e o texto escrito que este texto híbrido contém, sendo mais diretas, isto é, lineares e com baixo indício de movimentos recursivos entre imagem e texto escrito como nos casos de leitura da tira 1, ou menos diretas como na leitura da tira 2. No experimento de Baptista et al (2011) o autor constatou que os sujeitos iniciavam sua leitura de forma diferente. Alguns fixavam antes a imagem e outros fixavam antes o texto escrito. Durante este experimento isto aconteceu apenas com a Tira 2, em que os leitores observaram pontos diferentes no texto e imagem em um primeiro momento. Na tira 1 todos os sujeitos iniciam a leitura do texto escrito do primeiro quadro. O texto Baptista afirma ainda que durante a leitura de textos híbridos há movimentos recursivos de leitura entre texto e imagem. Na leitura da Tira 1 os movimentos de transação entre texto e imagem foram muito baixos. Os sujeitos leram o texto escrito visualizavam a imagem e passavam para o quadro seguinte, excetuando algumas exceções que foram comentadas durante a análise da Tira 1: sujeito 2 que ao terminar a leitura do segundo quadro fixa rapidamente seu olhar na imagem do primeiro quadro antes de prosseguir a leitura para quadro 3 e o sujeito 3 que fixa a imagem do segundo quadro antes do texto escrito. No caso da Tira 2 há um número alto de movimentos recursivos de leitura entre texto e imagem, mas nem sempre entre o mesmo texto e a mesma imagem o que é uma variável que não havia nos casos analisados pelos autores consultados anteriormente.


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6. CONCLUSÃO

As informações que compõem cada parte dos textos híbridos e as relações que estas exercem entre si influenciaram a leitura das tiras que foram apresentadas neste trabalho. Os textos híbridos analisados por Baptista et al eram textos em que haviam apenas uma imagem e um texto escrito. Nos textos híbridos analisados aqui há pelo menos três imagens e três partes de texto escrito. Enquanto as leituras da primeira tira se assemelharam mais aos autores mencionados por Baptista et al que diziam que a leitura de quadrinhos era feita em momentos distintos, as leituras da segunda tira se assemelham mais aos resultados de Baptista. Neste sentido, as definições que Scott McCloud faz acerca das interações entre texto e imagem ao propor uma categoria em que a imagem pouco influencia o texto (tira 1), e outra em que ambas constroem um significado juntas (tira 2) parece se aplicar melhor aqui. Ainda que Scott McCloud não fale nestes termos sobre textos híbridos, mas especificamente sobre quadrinhos estes parecem se aplicar para outros textos híbridos. Com esta análise, concluo que os próximos passos no processo de compreensão deste tipo de leitura apontam para novas pesquisas considerando estas diferenças entre interações de texto escrito e imagem em textos híbridos.


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REFERÊNCIAS:

BAPTISTA, A.; FARIA, I.; LUEGI, P.Reading hybridtexts: Remarksontext/imagetransitions Instituto Politécnico do Porto, 2011. DAHMER, André. Malvados. Disponível em: <http://www.malvados.com.br>. Acesso em 05 de maio de 2012. DAVIS, Jim. Garfield. Kansas City: Universal Press Syndicate, 2008. GOODMAN, Sharon; DAVID, Gradol. Redesigning English: New texts, new identities. Londres e Nova Iorque: The Open University, 1996. JACQUES, Tom. Eyes on Mobile Eye Tracking: A Low Cost Alternative to high end commercial eye tracking units. Disponível em: <http://www.cs.cmu.edu>. Acesso em 12 de Abril de 2013. LEFFA, Vilson J. Perspectivas no estudo da leitura; Texto, leitor e interação social.Pelotas: Educat, 1999. MACULAN, Benildes Coura M. S. Manual de Normalização para o NITEG e o PPGCI da ECI-UFMG. Disponível em: <http://ppgci.eci.ufmg.br/normalizacao>. Acesso em 25 de abril de 2013. MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. Tradução Helcio de Carvalho, Marisa do Nascimento Paro. São Paulo: Makron Books, 1995. Normas de transcrição. Disponível em <http://www.concordancia.letras.ufrj.br>. Acesso em 03 de janeiro de 2013. Tobii Eye Tracking: An introduction to eye tracking and Tobii Eye Trackers. Disponível em: <http://www.tobii.com>. Acesso em 12 de março de 2013. TOKUMOTO, Ricardo. Janelas.Disponível em: <http://ryotiras.com/?s=janelas>. Acesso em 05 de maio de 2012.


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ANEXO 1: PROTOCOLOS VERBAIS

QUADRO: Convenções de transcrição adotadas

Situação Qualquer pausa Incompreensão de palavras ou segmentos Comentários do transcritor Alongamento de vogal e consoante (como r, s) Interrogação .

Convenção ... () ((ruído)) : ou :: (se for muito longo) ?

TIRA 1:

Sujeito 1 Bom... o: sujeito aqui fala que ele não consegue viver sem suco de maçã e que quando ele ficar velho vai querer tomar o suquinho de maçã que ele tanto gosta mas pela traquéia por que ele não consegue mais respirar direito... sei lá...((risos)) vai ficar entubado né, o hospital.

Sujeito 2 Oh na primeira tira o humor ta no texto mesmo...assim teve poucos elementos do desenho que contribuíram né pra entender... e ele fala de duas coisas que ele não vive sem do cigarro e do suco de maçã que: né no final da vida quando a idade chegar que ele ainda vai tomar o suco de maçã pela traquéia ou seja ((risos)) que ele vai fumar tanto que... ele vai usar a traquéia pra tomar o suco de maçã o humor eu achei que tá todo no texto assim... não tem nada necessariamente né no cara de terno e tal né burguês o oclinhos né mas não teve nada demais assim de muito relevante do desenho que faz né... que compõe a tira... mais do texto mesmo...passar pro próximo...


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Sujeito 3 Então... o principal elemento que que que ((gaguejando)) que deu a... que deu o humor foi quando ele citou a traquéia no fim... por que foi... por que foi bem inesperado... não se toma suco de maçã pela traquéia... então passa...

Sujeito 4 É: nessa aqui o... a imagem não é tão relevante... o último quadrinho é: eu acho que é o que mais dá o aspecto cômico da da tirinha... sei lá: reticências... pode passar?

Sujeito 5 Bom eu entendi que... ele... o fato dele falar pela traquéia depois que a idade chegar porque ele vai... sei lá ta doente por causa daquela... daquela... aquela operação que faz a respiração... por aqui.

Sujeito 6 Uai... é ... eu achei meio confusa essa tirinha... eu acho que eu não entendi muito bem o humor dela... é um senhor aparentemente... cego... não sei... é essa a impressão que eu tive... não consegue viver sem cigarro e suco de maçã... ah sim... cigarro ta... é: que ele vai tomar suco de maçã pela traquéia porque provavelmente pelos problemas gerados pelo cigarro é:: engraçado por que ele ele se vê... com problemas por causa do cigarro mas ele admite que não consegue viver ... mas ele só pensa que não vai conseguir viver sem o suco de maçã... não sei... serve isso?

Sujeito 7 Bom eu entendi que mesmo quando ele tiver velho ele vai continuar tomando suco de maçã mas ele já vai ter até um problema na traquéia por causa do cigarro...que é uma outra paixão que ele tem...certo? posso passar pro próximo?


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Sujeito 8 Tá esse aqui ele gosta de cigarro e suco de maçã só que fumando ele provavelmente não vai chegar numa idade suficiente pra continuar tomando suco de maçã por que um dia ele vai ter um câncer ou alguma coisa... uma doença grave ele vai... estar no hospital... respirando pela traquéia e não vai ter condições de tomar o suco... que o cigarro vai: prejudicar né... tudo... pronto...

Sujeito 9 Nesse primeiro aqui a:: ele começa construindo aqui ah:: a tira introduzindo coisas que ele acha que são importantes e: a graça ta que ele vai continuar tomando suco pela traquéia por causa dos efeitos do cigarro né... por ter problemas de saúde e tudo o mais... ficaria bem debilitado... e a graça reside nesse fato né e na posição das duas coisas também uma possivelmente saudável e a outra não.

TIRA 2:

Sujeito 1 Bom... isso aqui é uma crítica... a...((risos)) a sociedade de hoje né que: fica olhando paisagens lindas na internet... e comentando isso com outros mas esquecem de olhar... a natureza que já existe e que tem a mesma paisagem bonita...fim.

Sujeito 2 Eh::Agora da segunda... tira a imagem é mais importante né porque o amigo chamou o outro pra ver a paisagem linda e a paisagem ta do lado de fora assim que a coisa ta girando tanto em torno né do computador e tal... que as pessoas esquecem de olhar ao redor e eles ficam apreciando a imagem que tá lá no computador né vendo achando bonito quando se eles olhassem para a janela do lado de fora eles iam ver que a imagem


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tava logo ali então ela é mais importante né e junto com o texto... passar pra próxima agora...

Sujeito 3 E e nesse daqui a questão do humor é por que a paisagem... pela janela é exatamente igual ((risos)) a paisagem da: do do computador... ele ele tá olhando pra paisagem do computado e não pela janela... e o outro...

Sujeito 4 Nessa aqui a imagem já é: mais importante... e o principal aspecto do humor é a ironia eu acho que é dada pelo primeiro quadrinho em contraste com o último... a mesma imagem mora na na tela do computador e outra hora fora da janela né... real...

Sujeito 5 E a paisagem:...talvez o que a foto ta refletindo no computador e ele ta vendo achando que era o computador.

Sujeito 6 É:: tem a ver com tecnologia: ele tá vendo a mesma imagem que tá aparecendo na janela... mas ao invés de olhar pra janela e ver o que ta bonito lá fora ele chama o amigo pra ver o que tá bonito na tela do computador...

Sujeito 7 Ah:: bom aqui eu entendo que eles tão olhando uma paisagem pela internet acham lindo o computador... tão achando lindo só que a mesma paisagem ta lá fora. E ao invés de ver a imagem real eles tão vendo a imagem do computador...


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Sujeito 8 É: aqui é tipo a valorização do que tem no computador: só prestar atenção no que tem na maquina tal e esquecer do mundo natural... apesar de ser muito mais bonito e muito mais real... então a paisagem do computador foi importante e a paisagem de fora assim é igual... pra poder fazer essa relação...

Sujeito 9 Ah: a a segunda... tira a pessoa tá tão concentrada no computador que não vê que o ambiente externo que ela ta tem o mesmo... a mesma paisagem que ela acha bonito... pode ser o tema crítico pra... das coisas que a gente vive hoje em dia de estar tão conectado e essas coisas.

TIRA 3:

Sujeito 1 E aqui é o... sei lá ((risos)) lei da física... o Garfield foi soprar uma aranhinha... e ela por causa da lei da física voltou... com a mesma intensidade... na direção oposta e acertou a cara dele.

Sujeito 2 E a terceira é uma tirinha que não tem texto né é só da imagem... como a maioria das tiras do Garfield é uma tira que tem muito pouco texto ou não tem texto nenhum e:: ele tá incomodado com a aranha sopra a aranha e a aranha volta na cara dele ((risos)) é uma tira que é construída só no que a imagem demonstra assim ele quer se livrar da coisa e a coisa volta ali em cima dele... e é só isso...


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Sujeito 3 E nessa o Garfield tentou espantar a aranha e a aranha foi justamente no olho dele ((risos)) a ação deu o efeito oposto que ele queria.

Sujeito 4 Nessa aqui a imagem tem um papel mais... importante das três... e: o humor se dá pelo movimento que aranha faz de ida e volta...

Sujeito 5 E... não sei... ele sopra... e o bichinho volta... tá amarrado... não sei...

Sujeito 6 E:... é: sei lá algo de ação e reação aqui... ele sopra a aranha talvez para afastar mas a reação do que ele fez é a aranha voltar e acertar ele na testa...

Sujeito 7 Bom aqui o Garfield tenta se livrar da aranha né: sopra ela pra longe mas ela volta e acerta nele com a força do sopro dele...

Sujeito 8 Aqui o Garfield soprou e aí a aranha voltou por que sempre que a gente sopra pra... sei lá... alguma coisa vai pra frente volta... quando tem uma corda: um fio... foi importante ver o movimento do sopro e a ida... o movimento de ida da aranha assim... mais isso...


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Sujeito 9 O terceiro não tem muita graça não ((risos)) ele só sopra e a aranha voltou na cara dele por causa da teia onde devia ta presa pelo ponto onde que a teia tava só.


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ANEXO 2: Gaze Plots (mapas de leitura): TIRA 1 Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:


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Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:

Sujeito 7:


55

Sujeito 8:

Sujeito 9:

Todas as leituras:


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Tira 2 Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:


57

Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:


58

Sujeito 7:

Sujeito 8:

Todos:

O arquivo de imagem da leitura do sujeito 9 foi corrompido e nĂŁo pode ser exibido separadamente aqui, mas tratam-se dos cĂ­rculos em vermelho na imagem acima.


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TIRA 3 Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:


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Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:

Sujeito 7:


61

Sujeito 8:

Sujeito 9:

Todos os sujeitos:


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