JACQUES
anarquia e cristianismo
São Paulo
Tradução de Norma Braga
S u m á r i o
Apresentação
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Capítulo 1
A anarquia do ponto de vista de um cristão 15 I. Que anarquia? 15 II. O desgosto do anarquismo com o cristianismo 27 Capítulo 2
A Bíblia, fonte de anarquia I. A Bíblia hebraica II. Jesus III. O Apocalipse IV. Uma ocorrência: a Epístola de Pedro V. Paulo
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anexos
A interpretação de Romanos 13.1-2 segundo K. Barth e A. Maillot I. Karl Barth II. Alphonse Maillot Os que praticam a objeção de consciência
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Testemunho
Ser padre católico e anarquista
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Conclusão
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notas
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A p r e s e n t a ç ã o
A questão de que trata esta obra se afigura difícil, na medida em que as diferentes visões sobre o assunto parecem ter se firmado há muito tempo, para ambos os lados, sem questionamentos. É fato bem conhecido que os anarquistas são hostis a todas as religiões (e o cristianismo se inclui evidentemente nessa categoria), assim como se sabe que os cristãos sinceros nutrem verdadeiro horror à anarquia, fonte de desordem e negação das autoridades estabelecidas. Assim, pretendo discutir aqui certezas simples sobre as quais não nos indagamos mais. Porém, talvez não seja inútil revelar “o lugar de onde falo”, como os estudantes franceses clamavam em 1968! Sou cristão, não por origem familiar, mas por conversão. Ainda novo, tomei horror aos movimentos fascistas. Em 10 de fevereiro de 1934, uni-me à manifestação contra o grupo de extrema-direita Croix-de-Feu (Cruzes-de-Fogo). No plano intelectual, fui bastante influenciado por Marx e não nego que essa influência se deva menos ao valor intelectual de sua obra que a circunstâncias pessoais, familiares (meu pai ficou desempregado após a crise de 1929: imagine o que significava estar sem emprego em 1930!) e individuais: como estudante, estive presente em vários confrontos com a polícia (por exemplo, durante as manifestações inspiradas por Gaston Jèze).
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Meu horror não objetivava tanto o “sistema capitalista”, mas principalmente o Estado que, nas palavras de Nietzsche, é “o mais frio de todos os frios monstros”. Além disso, apesar de me afinar com as análises de Marx (e com sua previsão de uma sociedade em que o Estado desapareceria!), meus contatos com os comunistas foram muito negativos: eles me consideravam um intelectualzinho burguês por eu não respeitar sem restrições os desmandos de Moscou, e de minha parte eu desprezava a ignorância deles quanto ao pensamento de Marx. Tinham lido o Manifesto de 48 e achavam o suficiente! Rompi totalmente com eles na época dos processos de Moscou: não em favor de Trotsky (os marinheiros de Cronstadt e o governo de Makhnó me pareciam, antes, realmente revolucionários, e eu não conseguia perdoar sua derrota), mas porque não pude crer que os companheiros de Lênin fossem traidores, antirrevolucionários etc. Sua condenação me pareceu mais uma manifestação do frio Monstro. Também percebi, não sem grande dificuldade, que a ditadura do proletariado havia sido substituída por uma ditadura exercida sobre o proletariado. (Posso garantir que entre 1935 e 1936 qualquer pessoa que desejasse abrir bem os olhos conseguiria ver o que só foi denunciado vinte anos depois...) Assim, não restava mais nada de uma das teses fundamentais: o internacionalismo e o pacifismo. Para mim, aliás, isso deveria ter se tornado um antinacionalismo. Minha admiração por Marx se viu limitada aos seguintes fatos: como ele, eu também havia lido Proudhon, de quem gostava muito, mas que tinha me impressionado menos; e me vi escandalizado pela postura de Marx em seu embate contra ele. Finalmente, o que me levou a odiar os comunistas foi seu comportamento durante a guerra de Espanha e os horrendos assassinatos dos anarquistas de Barcelona. Sentia-me próximo ao anarquismo e para isso contribuíram também alguns contatos trava-
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dos na época com anarquistas espanhóis... mas havia um obstáculo impenetrável: eu era cristão. Topei com esse obstáculo muitas vezes em minha vida. Por exemplo: em 1964, identifiquei-me com um movimento muito próximo ao anarquismo, o situacionismo. Conversei algumas vezes com Guy Debord e foram contatos bastante agradáveis. Um dia, resolvi perguntar-lhe diretamente: “Será que eu poderia entrar para o movimento e trabalhar com vocês?” Ele respondeu que iria falar sobre isso com seus companheiros. A resposta foi bem franca: como eu era cristão, não poderia ingressar no movimento. De minha parte, eu não poderia negar minha fé. Aliás, “conciliar” os dois não era algo tão simples dentro de mim. Ser cristão e socialista era algo concebível, já que pelo menos desde 1900 o movimento do “cristianismo social” defendeu (até 1940) um socialismo moderado (A. Philip era da S.F.I.O., a Internacional Operária francesa) combinando-o com os ensinamentos morais da Bíblia. Porém, não se poderia ir além disso, evidentemente. Parecia-me que dos dois lados havia uma incompatibilidade absoluta. Empreendi, então, uma longa caminhada espiritual e intelectual, não para chegar a uma conciliação entre ambos, mas para saber se finalmente eu não me tornaria um esquizofrênico! E assim, estranhamente, quanto mais eu estudava, mais eu compreendia em profundidade a mensagem bíblica (por completo, não somente o “doce” Evangelho de Jesus!), mais eu me deparava com a impossibilidade de uma obediência servil ao Estado e mais percebia na Bíblia uma orientação para algum tipo de anarquismo. Claro, era uma postura bastante pessoal. Eu estava me afastando da teologia que tinha me moldado, a de Karl Barth (que continuava a apoiar a legitimidade das autoridades políticas...), mas, nesses últimos anos, vi aparecerem outros estudos que iam na mesma direção — e o que é mais curioso, nos Estados Unidos principalmente: Bookchin
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reconhece com tranquilidade a origem cristã de seu pensamento anarquista e Vernard Eller escreveu em 1987 nada menos que um Christianity and Anarchism... Além disso, creio que não podemos esquecer um antepassado, H. Barbusse, que não era de fato anarquista, mas publicou uma obra admirável em que apresenta um Jesus não somente socialista, mas anarquista (aliás, gostaria de frisar aqui que considero o anarquismo a forma mais completa e mais séria de socialismo...) Assim foi que cheguei à posição em que me encontro hoje, devagar e sozinho, não por impulsividade. . . .
Mas há outro ponto a esclarecer antes de entrar no cerne do assunto. Qual é meu objetivo ao escrever estas páginas? Acredito ser muito importante definir meu projeto para evitar qualquer mal-entendido! Primeiro, que fique bem claro que não tenho nenhuma intenção proselitista! Não busco “converter” anarquistas à fé cristã! Não se trata de uma simples atitude de honestidade, mas é uma decisão sustentada pela Bíblia. Durante séculos, pregou-se nas igrejas: “Precisamos escolher entre a danação e a conversão.” E geralmente de boa fé, pregadores e missionários cheios de zelo quiseram, a todo custo, promover conversões para “salvar almas”. Ora, parece-me haver aqui um mal-entendido. Claro, há palavras como: “Crê e serás salvo”, mas (e aqui chegamos a um ponto fundamental que é sempre esquecido) não se deve jamais tirar uma frase bíblica de seu contexto, da narrativa, do desenvolvimento, da argumentação em que se encontra inserida. Na verdade, em uma palavra, penso que a Bíblia anuncia a salvação universal concedida pela graça de Deus a todos os homens. E a conversão, e a fé? Ah!
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Isso é outra coisa! Tem pouco a ver com a salvação (apesar do hábito!), mas é uma responsabilidade, ou seja, a partir da conversão nos engajamos em um estilo de vida, em um serviço determinado que Deus pede. Dessa forma, a adesão à fé cristã não é nenhum privilégio, mas uma carga extra, uma responsabilidade, um novo trabalho. Portanto, não é para fazer proselitismo. Também não pretendo dizer aos cristãos que eles devem se tornar anarquistas! Somente que, dentre as opiniões “políticas”, se eles tiverem de se engajar em uma via política, não deveriam descartar de cara o anarquismo. Pelo contrário, a meus olhos, o anarquismo parece a convicção mais próxima, nessa área, do pensamento bíblico. Claro, sei que tenho poucas chances de ser ouvido, na medida em que não se desfazem preconceitos duradouros e arraigados em poucos anos. Além disso, devo dizer o seguinte: meu objetivo aqui não é que os cristãos sintam essa posição como um “dever”, pois (de novo, em oposição a tantos séculos!) a fé cristã não nos faz entrar em um mundo de deveres e obrigações, mas de uma vida livre. Não sou eu quem afirma isso, e sim Paulo, e muitas vezes (em Coríntios, por exemplo).1 Enfim, terceira observação, não pretendo aqui conciliar à força duas formas de pensar, de agir, duas posturas diante da vida que eu assumi. Desde que o cristianismo não é mais dominante na sociedade, os cristãos têm essa mania vergonhosa de aderir a uma ideologia ao mesmo tempo em que deixam de lado tudo o que, no cristianismo, atrapalha essa adesão. Assim, ao adotar o comunismo stalinista, após 1945, muitos cristãos enfatizaram o conteúdo do cristianismo que era relacionado aos pobres, à justiça (social) e aos esforços para transformar a sociedade, abandonando aquilo que poderia ser constrangedor: a proclamação da soberania de Deus e a salvação em Jesus Cristo. Encontramos a mesma tendência nos anos 1970, no que ficou conhecido como teologia da libertação,
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uma postura extrema, com o uso de um artifício para justificar a filiação aos movimentos revolucionários: “O pobre (seja ele quem for) é Jesus Cristo.” Perfeito, então! Já quanto ao acontecimento de 2 mil anos atrás, nenhuma palavra. Aliás, essa postura já estava presente no protestantismo racionalista, por volta de 1900. O pressuposto era simples: já que a Ciência sempre está certa, já que é a verdade e a Razão, soberana, é preciso manter a Bíblia e o Evangelho, mas abandonar tudo o que vai contra a Ciência e a Razão — por exemplo, a possibilidade da encarnação de Deus em um homem, os milagres, a ressurreição etc. Hoje, a mesma atitude conciliatória através do abandono de parte do cristianismo é verificada no Islã. Desejando ardentemente se entender com os muçulmanos, os cristãos se pronunciam em colóquios (aos quais assisti) insistindo nas semelhanças: temos um só Deus (religiões monoteístas),2 nossas religiões são ambas “do livro”3 etc., silenciando sobre o principal objeto de conflito: Jesus Cristo. Eu me pergunto então como isso pode ainda ser chamado de cristianismo! Assim, o leitor está avisado, eu não vou proceder dessa maneira para mostrar à força uma certa convergência entre anarquismo e fé bíblica. Sustentarei tudo o que creio ter compreendido da Bíblia, que para mim pode tornar-se verdadeira Palavra de Deus. Penso que, em um diálogo com pessoas diferentes, se queremos ser honestos, precisamos permanecer firmes em nossas posições, sem máscaras e dissimulações, sem abandonar o que pensamos. Do mesmo modo, um leitor anarquista poderá encontrar nessas páginas muitas afirmativas que lhe parecerão escandalosas ou ridículas — pouco importa. Mas então, o que pretendo afinal? Simplesmente desfazer um mal-entendido imenso, por culpa do cristianismo. De fato, foi constituída uma espécie de corpus aceito por praticamente todas as tendências cristãs, e que nada tem em comum com a mensagem
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bíblica, quer se trate da Bíblia hebraica, que chamamos Antigo Testamento, quer falemos dos evangelhos e das epístolas. Todas as igrejas sempre respeitaram escrupulosamente e, por vezes, até apoiaram as autoridades do Estado, tornaram o conformismo uma grande virtude, toleraram as injustiças sociais e a exploração do homem pelo homem (explicando, para uns, ser da vontade de Deus que haja mestres e servos e, para outros, que o sucesso socioeconômico era sinal externo da bênção de Deus!) e transformaram uma palavra livre e libertadora em uma moral (enquanto o mais surpreendente é que, se quisermos mesmo seguir o pensamento do Evangelho, não pode haver “moral” evangélica). Parecia ser mais fácil julgar os outros em relação a uma moral estabelecida, em vez de considerar o homem em seu todo e compreender por que age de determinada maneira... Assim, todas as igrejas constituíram um “clero”, detendo o saber e o poder, o que é contrário ao pensamento evangélico (pelo menos, no começo, a gente sabia disso, quando os membros do clero eram chamados “ministros” — o ministerium é o serviço; ser ministro é ser servo dos outros). É preciso, portanto, desfazer 2 mil anos de acúmulo de erros cristãos, de tradições equivocadas4 (e aqui não falo como “protestante que acusa os católicos”; ambos cometemos os mesmos desvios, os mesmos afastamentos). No entanto, não quero dizer com isso que sou o primeiro a seguir esse caminho por ter descoberto algo novo. Não tenho a pretensão de proclamar “coisas ocultas desde a criação do mundo”! A posição que sustentarei aqui não é nova no cristianismo. Pretendo, sobretudo, abordar os “fundamentos” bíblicos da associação entre cristianismo e anarquismo e, em seguida, o comportamento dos cristãos dos três primeiros séculos em relação a isso. Contudo, o que escrevo aqui não é um súbito ressurgimento depois de dezessete séculos de obscuridade! Sempre houve um
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“anarquismo” cristão! Em todas as épocas, houve cristãos que redescobriram a simples verdade bíblica em vários níveis: intelectual, místico, social. Houve grandes nomes, famosos, como Tertuliano (no início), Fra Dolcino, Francisco de Assis, Wycliffe, Lutero (claro, sem contar o duplo erro de concentrar o poder nas mãos dos senhores e causar indiretamente o massacre dos camponeses rebeldes!), Lamenais, John Bost, Charles de Foucault... Para um estudo detalhado, recomendo o excelente livro de Vernard Eller,5 em que se lê sobre, por exemplo, as verdadeiras características do anabatismo, que rejeita o poder das autoridades; não se trata de um “apoliticismo”, como sempre se diz, mas de um anarquismo com uma nuance que citarei aqui ironicamente: “As ‘autoridades’ são enviadas por Deus como um flagelo para punir o homem mau. Mas os cristãos, a partir do momento em que se conduzem bem e já não são maus (!), não precisam obedecer em nada às autoridades políticas e devem organizar-se em comunidades autônomas à margem da sociedade e dos poderes constituídos.” Esse homem extraordinário que foi Blumhardt, rigoroso e impressionante, elaborou, em fins do século 19, um cristianismo estritamente anarquista. Pastor e teólogo, engajou-se na extrema esquerda, mas recusou-se a discutir sobre a conquista do poder. E em um congresso “vermelho”, declarou: “Se a política não pode tolerar um homem tal como ele é, a política que se dane”; “Esta é a verdadeira essência do anarquismo: tornar-se um homem, sim. Um político, jamais!” E Blumhardt teve de deixar o partido! Antes dele, em meados do século 19, o pai do existencialismo, Kierkegaard, já havia trilhado o caminho da anarquia, mas sem deixar-se prender por nenhum tipo de poder: hoje, é desprezado e rejeitado como um individualista. Verdade seja dita, ele condena mesmo sem trégua as massas e o poder, inclusive o poder fundado
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com bases democráticas! Uma só frase: “Nada, nada, nenhum erro, nenhum crime é tão horrível diante de Deus quanto os cometidos por atos de poder. E por quê? Porque o que é ‘oficial’ é impessoal, sendo, por isso, o mais profundo insulto que pode ser dirigido a alguém.” Inúmeros textos de Kierkegaard o mostram como anarquista, sem que, obviamente, a palavra esteja ali presente, já que, na época, o anarquismo sequer existia.6 Por fim, precisamos guardar na memória a argumentação de V. Eller, que creio ser convincente, para quem K. Barth, o maior teólogo do século 20, foi anarquista antes de ser socialista... mas favorável ao comunismo, tendo se arrependido depois! Essas menções simples demonstram que minha pesquisa não é excepcional no cristianismo. Todavia, ao lado de nomes ilustres, intelectuais, teólogos, não podemos esquecer os movimentos populares, a presença constante desses humildes que viviam outra fé, outra verdade, longe das proclamadas pelas igrejas oficiais, e que se nutriam diretamente do Evangelho, sem mobilização coletiva. Testemunhas humildes que mantinham viva a verdadeira fé, como cristãos praticantes sem serem perseguidos como hereges, desde que não fizessem muito barulho! Assim, não é uma verdade redescoberta o que apresentarei aqui; sempre foi mantida por pouca gente, que geralmente permaneceu no anonimato (cujas características são, no entanto, conhecidas).7 Porém, sempre foram esquecidos pelo cristianismo autoritário e oficial dos dignatários das igrejas. E, às vezes, quando conseguiam ser bem-sucedidos em seu projeto de renovação, logo o movimento que tinham lançado com base no Evangelho e na Bíblia inteira se deformava e entrava novamente no eixo do conformismo oficial. Foi o que aconteceu com os franciscanos depois de Francisco de Assis, com os luteranos depois de Lutero etc.
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Dessa forma, aos olhos de quem está de fora, essas pessoas sequer existem, já que só vemos e conhecemos os faustos da Grande Igreja, as encíclicas papais e as posições políticas de determinadas autoridades protestantes... Vivi bastante concretamente esse fato: o pai de minha esposa, um não cristão convicto, sempre me respondia quando eu tentava explicar a ele a verdadeira mensagem do Evangelho: “Mas é você que está dizendo isso, eu só ouço isso de você; tudo o que ouço nas igrejas é exatamente o oposto!” Ora, em primeiro lugar, não clamo ser o único! Sempre houve uma “corrente subterrânea” fiel (e, quanto mais invisível, mais fiel!), e isto se dá conforme a Bíblia. O resto — o fausto, o espetáculo, as declarações oficiais, a simples existência de uma hierarquia (enquanto é evidente que Jesus não criou uma hierarquia!), o poder instituído (enquanto os profetas nunca tiveram poder instituído), o sistema jurídico (enquanto os verdadeiros representantes de Deus jamais recorreram ao Direito) — , tudo isso que vemos, é o caráter sociológico e institucional da Igreja, só isso, mas não é a Igreja! Porém, para os de fora, é evidente que isso tudo é a Igreja, e assim não podemos “julgá-los” quando eles mesmos julgam essa Igreja. Dito de outra forma, os anarquistas tinham razão ao rejeitar o cristianismo, que um legítimo cristão como Kierkegaard atacava ainda mais violentamente que eles. Eu queria somente, aqui, apresentar outro “soar de sinos” e dissipar alguns mal-entendidos sem pretender justificar o que dizem e o que fazem a Igreja oficial e a maioria dos que chamamos “cristãos sociológicos”, ou seja, os que se declaram cristãos (em número cada vez menor, felizmente, já que saem da igreja nesses tempos de crise!) e se conduzem de um modo totalmente anticristão; ou então, como os grandes do século 19, utilizam alguns aspectos do cristianismo para assegurar ainda mais seu poder sobre os outros.