TFG_Reabitar o Centro

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REABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social e Multifuncionalidade



INCLUSÃO

PÚBLICO

HABITAÇÃO

DIREITO ZEIS

CENTROS URBANOS

SOCIAL CONVIVÊNCIA

HABITAR

VAZIO

CIDADE

“É preciso entender a moradia como direito”. (Raquel Rolnik)



REABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social eO Multifuncionalidade REABITAR CENTRO Habitação de Interesse Social e Multifuncionalidade



REABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social e Multifuncionalidade

Lizandra Feitoza Alvite de Moraes

Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade de Arquitetura e Urbanismo São Judas Tadeu sob orientação do professor Sérgio Luiz Salles Souza, para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista

São Paulo 2019


ABSTRACT

After a daily analysis of the urban landscape, a restlessness emerges: why do all housing developments deny the city and its surroundings? And what urban impact does this tax model cause? The work is divided into parts, in order to clarify these issues and, finally, to implement a quality project. Therefore, it begins with a brief presentation of the housing policies in Brazil, with a focus on contextualizing the place of intervention. Soon after, in the second part, the concept and the conflicts in the urban centers, the great site of the intervention of the project, then we have the urban analyzes of the chosen place, and finally, the project of the social housing complex that seeks to provide positive aspects and quality in favor of social and functional issues, within the context of the urban center of SĂŁo Paulo. Keywords: Restlessness, Housing Set, Urban Centers, Social Issues.


RESUMO

Após uma análise cotidiana da paisagem urbana, emerge uma inquietação: o porquê todos conjuntos habitacionais negam a cidade e seu entorno? E qual impacto urbano, esse modelo imposto causa? O trabalho está dividido em partes, para poder esclarecer essas questões e por fim, implantar um projeto de qualidade. Por tanto, inicia-se com uma breve apresentação das políticas habitacionais no Brasil, com foco em contextualizar o local de intervenção. Logo após, na segunda parte, o conceito e os conflitos nos centros urbanos, o grande local da intervenção do projeto, em seguida, temos as análises urbanísticas do local escolhido, e por fim, o projeto do conjunto habitacional que busca proporcionar aspectos positivos e de qualidade em favor das questões sociais e funcionais, dentro do contexto do centro urbano de São Paulo. Palavras chaves: Inquietação, Conjuntos Habitacionais, Centros Urbanos, Questões Sociais.


SUMÁRIO

1

PARTE I. APRESENTAÇÃO Introdução

14

1.1 O Direito à Habitação e à Cidade

15

1.2 A Produção da Habitação Social no Brasil

16

2

PARTE II. CENTROS URBANOS O Conceito e o Conflito dos Centros Urbanos

22

2.1 Expansão e Segregação Urbana

23

2.2 Deterioração e esvaziamento do Centro de São Paulo

24

3

PARTE III. ANÁLISE URBANÍSTICA 3.1 Motivações para a Escolha do Bairro

30

3.2 Histórico do Bairro - Sé

31

3.3 Levantamento Morfológico da Área de Intervenção

32

3.4 Bens Tombados

42

3.5 Relações Urbanísticas em Resposta aos Problemas Urbanos Atuais

46


4

PARTE IV. PROCESSO PROJETUAL 4.1 Referências Projetuais

50

4.2 Politícas Públicas + Diretrizes Urbanas

52

4.3 Investigações + Partido

53

5

PARTE V. O PROJETO Diretrizes Gerais

58

5.1 Relação do Edifício com Entorno

60

5.2 O Programa 5.2.1 Acessos 5.2.3 Unidades Habitacionais 5.2.4 Estrutura e Materialidade 5.2.5 Sustentabilidade

64 66 74 80 82

5.3 Perspectivas do Conjunto

86

6

PARTE V. REFERÊNCIAS 5.1 Referências Bibliográficas

92

5.2 Lista de Imagens

94

5.3 Lista de Citações

96


1


APRESENTAÇÃO


Introdução A origem desse trabalho, está na inquietação a respeito do esvaziamento noturno em algumas áreas no Centro Histórico de São Paulo. Propõe-se elaborar uma proposta projetual com ênfase na Habitação de Interesse Social, de modo a compreender a falta de vitalidade urbana, e assim trazer uma reativação, através da apropriação de espaços vazios e subutilizados, delimitados pelas Zonas Especiais de Interesse Social, consolidada pelo Plano Diretor Estratégico, promovendo a criação e construção de espaços destinados ao encontro, à vivência e que potencialize o acesso à cidade. Com fundamento na Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, que diz “A moradia adequada é um direito humano universal e essencial a vida”, que a proposta do projeto entra em questão, relacionado diretamente como um fator determinante para a requalificação do Centro, com o objetivo de uma cidade mais justa em que permite todos seus habitantes a ter acesso ao lazer e aos equipamentos básicos, gerando assim, cidadãos com dignidade. Assim, inicialmente, faremos uma leitura da situação atual da produção de moradia e, em seguida, uma análise urbana da área de intervenção, com uma proposta de projeto, resultante de todas as vivências e análises do local. 14

Imagem 01. A Cidade é Nossa. Ocupe-a!.


1.1 O direito à habitação e a cidade Devido ao grande crescimento da população, a questão da falta de moradia digna, é um assunto de grande complexidade no Brasil, especialmente na cidade de São Paulo que vem passando por uma imensa urbanização desde o século XX. De acordo com pesquisas e dados, observa-se nos dias atuais, em âmbito nacional, que o déficit habitacional, termo de se refere a uma quantidade de pessoas ou famílias, que vivem sem moradia adequada, bateu o recorde de 2007 a 2017, crescendo 7%, tendo atingido 7,78 milhões de unidades habitacionais, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP). Isso se deve ao difícil acesso a moradia privada, fruto do capitalismo e na mercadoria que a terra se tornou. Por esse fator alarmante, que o planejamento, se mostra tão necessário em nossas cidades, para poder garantir o acesso igualitário a todos os recursos e à qualidade de vida para população viver com dignidade. Esses problemas não se concentram apenas nessas áreas mais precárias, vemos também que em bairros mais nobres de São Paulo, mesmo com todos os investimentos e serviços, eles não são locais dinâmicos socialmente, pois pela especulação imobiliária, com essa compulsão por construir novos edifícios residências, eles acabam se tornando cada vez mais segregados e menos dinâmico. Os condomínios privados de São Paulo, em sua grande maioria, negam totalmente seu entorno, priorizando a segurança interna do seu edifício, com a utilização de muros e cercas que impedem a fruição pública, e as possibilidades de espaços verdes e de lazer, por já existir apenas para os moradores que ali residem. Esse modelo de habitação acaba sendo repetido até mesmo nas moradias populares, fazendo com que esse problema cresça ainda mais. Com esses modelos de moradias, as cidades que construímos ficam cada vez mais segmentadas e segregadas, sem as perspectivas necessárias à qualidade de vida. Atualmente, temos instrumentos para reverter esse cenário, que passa por transformação constante. Como proposta, temos um projeto que estuda cada instrumento e aplica de uma forma estratégica.

15


1.2 A Atual Produção da Habitação Social no Brasil A questão habitacional no Brasil, é há anos e até hoje, um dos maiores problemas com relação à vulnerabilidade social, que está vinculado a questão do direito à cidade. A cidade de São Paulo, cresceu de forma desmensurada, no período da revolução industrial, ocorrida no século XX, o qual acarretou grandes consequências em relação a essa grande demanda habitacional para dar conta desse déficit. Com o avanço da industrialização e um intenso crescimento urbano, a classe média aumentou e teve acesso a meios de financiamentos de apartamentos, enquanto a classe baixa continuava deslocando-se para locais periféricos. Nesse momento, um novo mercado rentável ganha força, o de alugueis. Como por exemplo, de habitação mais comum da época, os cortiçospátios, onde várias pessoas moravam ultrapassando os limites de ocupação, a rentabilidade era alta, principalmente pois era uma construção de manutenção inexistente e sem serviços de saneamento. Possuir casas de aluguel era uma forma segura de rentabilizar recursos, pois na cidadede São Paulo, apenas 19% dos prédios eram habitados por seus proprietários, todo o resto era moradias ocupadas através de alugueis”. [1] O primeiro plano do governo militar, foi o Banco Nacional de Habitação (BNH), que tinha o objetivo de financiar à aquisição da casa própria, através do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Em 1970, houve um grande declínio, no qual gerou uma crise no sistema, por conta da inadimplência dos pagamentos. Em 1986, a crise afetou os fundos do SFH, e com isso a política de habitação brasileira tornou-se praticamente inexistente. Em 2001, é denominado a lei 10.257, o Estatuto da Cidade, no qual indica os princípios básicos do planejamento participativo e a função social da propriedade. No governo de Lula (2003-2010), foi criado o programa Minha Casa Minha Vida, com o objetivo de oferecer moradia acessível para famílias de baixa renda através de parcerias com estados, municípios e demais entidades sem fins lucrativos. O programa está diretamente ligado à Secretaria Nacional de Habitação e direcionada para famílias que necessitam de uma moradia. 16

IMIGRAÇÃO Déficit Habitacional

CRISE HABITACIONAL Ação do Poder Público para construção de habitação

90% da População de SP moram de aluguel

Deslocamento Populacional

PERIFERIA Criação (FCP) Fundação Casa Popular


Evolução do déficit habitacional Em milhões de unidades Fracasso do FCP

Criação Banco Nacional de Habitação (BNH)

Crise de Inadiplência

Fonte: DÉFICIT HABITACIONAL É RECORDE NO PAÍS. Estadão. Disponível em: <economia.estadao.com.br/ noticias/geral,deficit-habitacional-e-recorde-no-pais,70002669433>. Acesso em: 21 fev. 2019.

PROGRMAS

Aprovação Estatuto da Cidade (LEI Nº 10.257) MINHA CASA MINHA VIDA

A Fundação João Pinheiro (FJP), estabelece duas formas de conceitualizar as necessidades habitacionais, uma delas é de acordo com o déficit habitacional, o qual busca a necessidade de novas moradias, e a outra é a inadequação de moradias, no qual gera problemas referentes a qualidade de vida dos moradores. O Programa Minha Casa Minha Vida, teve o lado positivo promovendo acesso de milhares de pessoas à moradia própria, mas por outro lado, a produção se resume a um aglomerado de unidades isoladas carentes de outros fatos urbanos que constroem a cidade. Hoje o programa é totalmente limitado à construção de unidades “rígidas”, que não oferecem nenhuma flexibilidade, e construindo um espaço publico inseguro, devido a falta de mistura de usos. O Programa é dividido em modalidades de acordo com sua faixa de renda. Existe quatro. São elas:

Recorde Déficit Habitacional

Parâmetros Urbanísticos

Unidades Rígidas

Área Total do Terreno Taxa de Ocupação máx. Coeficiente de Aproveitamento máx. Área Permeável min.

11.523m² 8.066m² (70%) 46.092m² (4,0) 1.728m² (15%)

Fonte: Caixa Econômica Federal. 2017. Disponível em: <http://www.caixa.gov.br/voce/habitacao/minha-casaminha-vida/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 18 agosto 2019.

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Imagem 02. Construção de Habitação do BNH.


Imagem 03. Construção de Habitação do Programa MCMV.


2


CENTROS URBANOS


O Conceito e o Conflito dos Centros Urbanos Hoje em dia, nosso governo busca esconder todas as desigualdades sociais, fazendo com que as classes sociais de baixa renda se concentrem nas áreas periféricas da cidades. Para compreender melhor como diminuir esse problema, precisamos saber que para igualdade urbana, não precisamos apenas da distribuição de renda, mas sim de uma nova organização na distribuição da cidade. “Recuperar o centro das metrópoles nos dias atuais significa, entre outros aspectos, melhorar a imagem da cidade que, ao perpetuar a sua história, cria um espírito de comunidade e pertencimento. Significa também promover a reutilização de seus edifícios e a consequente valorização do patrimônio construído, otimizar o uso da infraestrutura estabelecida [...] Em suma, implementar ações em busca da atração de investimentos, de moradores, de usuários e de turistas que dinamizem a economia urbana e contribuem para a melhoria da qualidade de vida, valorizando também a gestão urbana que executa a intervenção”. [2]

Desta forma, analisamos o quão se faz necessário a implantação de habitações nas áreas centrais, seja elas de interesse social ou rede privadas, pois as mesmas já oferecem recursos necessários de infraestrutura e da rede de transporte para a população, além da mistura social estimular a convivência cultural. Construir habitação de interesse social nas áreas periféricas, gera não apenas o custo pela construção do edifício, mas como também, a implantação de toda de rede de infraestrutura para atender aquela determinada população. A implantação desses edifícios pode ser feita através da regularização de edifícios abandonados, assim como na construção de edifícios em vazios urbanos. A prefeitura de São Paulo, criou um programa, no mandato de 2001 a 2004, chamado “Programa Morar no Centro”, que visava aproveitar edifícios abandonados, ou em estado de degradação, para a construção de habitações populares. Essa politica atendia os distritos da Sé, República e mais onze no entorno. Esse programa foi apenas um meio de coordenação financeira, a partir dele surgiu o Programa de Arrendamento Residencial, que busca arrendar unidades para as famílias de baixa renda. Mas esse programa não teve muito sucesso, pois apresentava problemas de implantação, por não levar em conta a renda de seu entorno, e assim afastar a população residente. Outra razão para o fracasso, foi a questão de existir mais terrenos vazios do que prédios abandonados, ou seja, muitas vezes valia a pena a construção de novos prédios do que a restauração deles. 22


2.1 Expansão e Segregação Urbana A formação da Cidade de São Paulo, foi baseava de acordo com sua hidrografia e sua topografia. O primeiro núcleo populacional teve seu início no espigão da estreita colina que beira as águas do rio Tamanduateí e Anhangabaú na região do Triângulo Histórico, conhecida hoje como Centro Velho de São Paulo. A cidade teve a oportunidade de se expandir para duas direções, leste ou oeste. As duas possibilidades possuíam obstáculos para acessar o centro. Para o leste, teria um sítio plano e monótono. Já para o lado oeste, teria acesso a uma sequência de morros levemente ondulados. Assim, as classes sociais de mais alta renda se expandiram em direção oeste e por consequência, as de baixa renda e as indústrias para o lado leste. “As zonas de alta renda tendem a progredir em direção a terrenos elevados, livres dos riscos de inundações e a se espalhar ao longo das margens de lagos, baías ou rios, nos pontoss em que tais margens não são ocupadas por indústrias” (Hoyt, 1959, 499).Todavia, essas conclusões são ainda insatisfatórias. As camadas de alta renda não têm preferência por sítios altos ou baixos, mas sim pelos melhores, segundo os valores sociais e as condições de segurança, salubridade e beleza, no contexto de cada situação histórica, atendido o requisito da acessibilidade”. [3]

No final do século XX, já existia a pressão para se construir um Viaduto que transpusesse o Vale do Anhangabaú, no prolongamento da Rua Direita. Em 1886 iniciou-se a construção e em 1891, foi inaugurado. Essa construção foi uma nova transformação no centro de São Paulo. O Centro Principal se desloca para a região da Avenida Paulista e Rua Augusta, acompanhando as camadas de alta renda, sendo apresentado como “Novo Centro”. E a área do Centro Velho, começa a ser abandonada, dando lugar para a população de baixa renda. Esse viaduto passou a ser um canal de ligação entre os novos bairros da Avenida Paulista e centro.

Imagem 04. Centro Velho de São Paulo. / Imagem 05. Centro Novo de São Paulo.

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2.2 Deterioração e Esvaziamento do Centro O centro de São Paulo sofreu seu processo de esvaziamento desde o início e as últimas décadas do século XIX, devido a duas problemáticas: ao abandono das áreas centrais por parte da população de alta renda e o crescimento fragmentado e disperso da cidade. As áreas centrais perderam população a partir da década de 1980.

Fonte: CRESCIMENTO POPULACIONAL 1980 / 1991 / 2000 / 2010. Prefeitura de SP. Disponível em: <www. prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/urbanismo/infocidade/htmls/7_populacao_recenseada_e_ taxas_de_crescime_1980_10747.html >. Acesso em: 20 abr. 2019.

Essa nova dinâmica do centro criou um paradoxo, no qual áreas altamente equipadas de infraestruturas e transporte, encontram-se em um processo de esvaziamento populacional. Esse processo resultou na subutilização dos recursos disponíveis de infraestrutura e transporte por exemplo. A partir de 1930, a cidade entra em uma discussão sobre a expansão da área central de São Paulo, dessa forma, foi previsto pelo Plano de Avenidas, a implantação de viários que pudessem promover uma nova articulação do centro da cidade com o restante.

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Imagem 06 e 07. Áreas Urbanizadas de São Paulo.


“As políticas de intervenção implantadas durante a República Velha favoreceram a concentração de atividades terciárias de prestígio no centro histórico. Após 1930, com a afirmação do sistema viário rádio perimetral do Plano de Avenidas, uma primeira leva de grandes obras viárias permitiu a abertura do tecido urbano à circulação do automóvel, por meio das avenidas radiais e do perímetro de irradiação, expandindo o núcleo original com ênfase na região do Centro Novo”. [4]

Contudo, essas novas intervenções no sistema viário causaram significativas melhorias a favor da acessibilidade para o automóvel. O centro da cidade se transformou em um grande nó de articulação e passagem. Com a inauguração das linhas de metrô, Norte-Sul (19681974) e Leste-Oeste (1975-1986) que se cruzam na Sé, houve uma alteração do perfil dos usuários do centro, que se transformou em um grande polo de comercial e de serviços de caráter popular com uma grande presença de camelôs. “O centro de São Paulo começou a apresentar ritmo decrescente de crescimento no final da década de 1950, e na década de 1960 já eram notáveis os sinais de estagnação do centro principal e formação de um “centro novo” na região da Paulista-Augusta. [...] O processo popularmente chamado de “decadência ou “deterioração” do centro consiste no abandono por parte das camadas de alta renda e em sua tomada pelas camadas populares”. [5]

Apesar da deterioração do centro, essa área conta com uma grande quantidade de oferta de trabalho, comércios e serviços para a população, ou seja, houve apenas um esvaziamento no âmbito habitacional. Com a diminuição dos preços dos aluguéis, a classe mais baixa conseguiu ter mais fácil acesso a essa região. Entretanto, essa área poderia ter mais políticas públicas para incentivar a reocupação da região. “O centro passa, então, a ser utilizado por uma população de menor poder aquisitivo e seus espaços, ocupados pelas estratégias de sobrevivência dos segmentos empobrecidos - sem teto, ambulantes, desempregados, moradores de rua e demais setores excluídos dos circuitos produtivos formais”. [6]

Hoje em dia, o centro de São Paulo apresenta inúmeros imóveis abandonados e um número ainda maior de lotes subutilizados com um cenário que varia ao longo do dia: na parte da manhã e tarde, o local é intensamente ocupado e movimentado por comércios e serviços, já no período noturno é vazio e sombrio.

Imagem 08 - Edifício Wilton Paes de Almeida, antes do incêndio que resultou no desabamento total.


Imagem 09 - Camelôs no Centro de São Paulo


Imagem 10 - Centro de São Paulo à noite.


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ANÁLISE URBANÍSTICA


3.1 Motivações para a Escolha do Bairro As motivações para a escolha da quadra, está relacionada com a proposta de implantação de habitação em áreas centrais, motivada principalmente, por contar com equipamentos, infraestrutura e vias estruturados. A Zona Central da cidade de São Paulo é formada pela região administrativa da Subprefeitura da Sé, que compreende os distritos de Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Cambuci, República e Sé. Segundo o Censo de 2010, a região da Sé, é a menos populosa da cidade, apesar da reversão recente do declínio populacional a partir dos anos 2000.

Fonte: IMÓVEIS VAZIO POR DISTRITOS DA REGIÃO CENTRAL. IBGE 2010.

Os dados apresentados no Censo IBGE 2010 apontam que os distritos da Sé e Brás, com respectivamente 26,8% e 24% de imóveis vazios, são os que possuem os maiores índices entre os dez distritos centrais. Outro fator importante, é que região central possui um número maior de imóveis vagos do que o restante da cidade, 18,5% para 11,8%. Portanto, o bairro da Sé, foi utilizado como área de intervenção. 30


3.2 Histórico do Bairro - Sé O distrito da Sé corresponde ao distrito mais antigo da cidade, no qual abriga o complexo histórico-cultural-religioso Pateo do Collegio, ordem religiosa dos jesuítas. Essa construção foi o ponto em que a Cidade de São Paulo nasceu. Em 1554, o Padre Anchieta, após expedição que partiu do litoral, resolveu construir uma dependência para servir de alojamento e colégio para catequização dos índios, fundando assim a cidade de São Paulo. Atualmente, funciona o Museu de Anchieta. Imagem 11 - Pateo do Collegio

Outra grande construção, foi a Praça da Sé, local onde está localizado o Marco Zero do município e é a partir dele, que são medidas as distâncias das rodovias e fronteiras estaduais. Junto a praça está situada a Catedral Metropolitana de São Paulo. Esse distrito, junto com o distrito da República, forma o chamado Centro Histórico de São Paulo.

Imagem 11 - Imagem do Pátio do Colégio atualmente. Imagem 12 - Satélite da Praça da Sé, com o Marco Zero de São Paulo. Imagem 12 - Praça da Sé

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3.3 Levantamento Morfológico da Área de Intervenção Após os dados coletados sobre o distrito da Sé, a busca pelo local específico do projeto se iniciou com o reconhecimento da distribuição das ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) segundo o Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo. Esse instrumento foi um dos principais consolidados na legislação urbanística, a fim de uma reforma urbana, para assegurar o direito à moradia digna para quem precisa. O PDE também criou recursos como: Cota Solidariedade, mecanismo de contrapartida à construção de grandes empreendimentos, com o objetivo de construir uma cidade mais equilibrada e plural. Em São Paulo, existem 5 formas de ZEIS:

Fonte: Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Prefeitura de SP. Disponível em: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2015/01/PlanoDiretor-Estrat%C3%A9gico-Lei-n%C2%BA-16.050-de-31-de-julho-de-2014-Estrat%C3%A9gias-ilustradas.pdf >. Acesso em: 12 mar. 2019.

Analisadas as definições de cada ZEIS, analisei que a ZEIS 3 é a que mais se relaciona com as intenções de implementação do projeto proposto. Essa ZEIS em geral, é uma grande ferramenta de intervenção para trazer o “repovoamento” das áreas centrais, revertendo o problema de esvaziamento de moradores nessa região. 32

Imagem 13. Mapa de ZEIS - Subprefeitura Sé.


Área de Intervenção


Verificando as áreas definidas como ZEIS 3, vemos que existem várias, e cada uma possui entornos e relações urbanas diferentes. Devido à grande variedade de áreas para intervenção, fez-se necessário definir estratégias para escolher o local de intervenção do presente trabalho. Desta forma, uma das diretrizes propostas para a escolha da quadra foi a partir da análise de vazios urbanos a partir do Marco Zero de São Paulo, visto que o objetivo desse projeto é reabitar o Centro, com foco no distrito da Sé. Outro fator importante, foi localizar o projeto em uma área próxima aos meios de transportes que pudesse contar com equipamentos urbanos visando o percurso a pé. Ao lado, temos uma análise das principais vias que contornam nossa área de intervenção, assim como, um raio de 500m das estações de metrô próximas para demonstrar o objetivo do projeto.

Imagem 14, 15, 16 e 17- Linha de metrô próximas..


Metrô Anhangabaú el ang

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Imagem 18 - Mapa Google Earth.

Metrô Liberdade

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Em meados do século XIX, a região da nossa área de intervenção foi ocupada por inúmeras propriedades tradicionais. E especialmente na nossa área de projeto, existia o Núcleo Urbano Conde de Sarzedas, pertencente à Dona Anna Maria de Almeida Lorena, neta de D. Bernardo José de Lorena, o 5º Conde de Sarzedas, título de nobreza concebido pelo rei Felipe IV da Espanha, em 1630. Donna Anna foi responsável pela construção da Capela do Menino Jesus e Santa Luzia.

Imagem 19 e 20 - Casas Padronizadas da Vila Conde de Sarzedas

Os imóveis passaram por vários locatários, e apesar da sua ótima localização, essas casas foram degradadas. No início do século XX, a Vila Conde de Sarzedas foi transformada em um aglomerado de 61 casas padronizadas. Ao longo do tempo, a legislação começou a determinar um certo padrão construtivos a essas vilas. Em 1975, criou-se a Lei nº 8.323, que permitia a demolição das Vilas que não se encadrassem. Em 1992, houve o tombamento, mas a Vila Conde de Sarzedas foi esquecidade no processo de proteção, e foi demolida entre os anos de 1995 e 2010. Hoje em dia, todos esses lotes foram comprados pelo Estado de São Paulo, e funciona um estacionamento para o Tribunal da Justiça. 36

Imagem 21 - Quadra Fiscal Vila Conde de Sarzedas


Imagem 21 - Vila Conde de Sarzedas


Imagem 22 - SatĂŠlite Google Earth


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Rua Tabatinguera

Área de Intervenção Rua Cons. Furtado

Rua da Glória

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Imagem 23- Mapa de Cheios e Vazios


Imagem 24 - Vila Conde de Sarzedas Atualmente

Após a demolição da Vila Conde de Sarzedas, entre os anos 1995 e 2010, o terreno foi transformado em um grande estacionamento, considerado um grande vazio urbano, que funciona a serviço do fórum João Mendes Júnior. Com a proposta projetual de intervenção no centro de São Paulo, o partido principal, consiste em potencializar o terreno subutilizado, que não cumpre sua função social, além de intensificar o repertório cultural existente na região, com o desejo de estabelecer uma relação com a paisagem do entorno, em termos de fruição pública. Seu entorno possui um grande fluxo de passagem, com um extenso uso comercial e apesar de contar com inúmeros edifícios históricos, está em um processo de transformação constante. 40

Habitacional Comercial Serviços Estacionamento Institucional Industrial


Imagem 25 - Mapa de Cheios e Vazios


3.4 Bens Tombados Como visto anteriormente, próximo a área de intervenção, encontra-se a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia; e o Museu do Tribunal da Justiça. Ambos são bens tombados. A Capela foi construída na época do Núcleo Conde de Sarzedas, e inaugurada no dia 13 de dezembro de 1901. Ela é bastante frequentada, principalmente nas festas religiosas que ocorrem entre 13 e 25 de dezembro, todos os anos. Nos dias atuais, ela se encontra oculta visualmente em meio as novas construções. Logo após a inauguração da Capela, foi inaugurado o Museu do Tribunal da Justiça, no dia 1 de fevereiro de 1995, no Palácio da Justiça. Em 2007, passou a sediar-se no Palacete Conde de Sarzedas, mais conhecido como “castelinho”, que foi um edifício construído em 1891. O objetivo desse museu é realizar exposições temporárias, servir como espaço cultural, além de mantém importantes coleções relativos à criação e evolução do Poder Judiciário paulista.

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Imagem 26 - Capela Santa Luzia


Imagem 27 - Palacete Tribunal da Justiรงa



Área de Intervenção


3.5 Relações Urbanistícas Muitas das teorias feitas para o planejamento urbano, não foram relevantes para a consolidação das cidades. Ao invés da melhoria na qualidade de vida das pessoas, pelo contrário, essas intervenções só pioraram. Após esses problemas urbanos, surgiram teóricos que se viram com a responsabilidade de desenvolver estudos para reurbanização das cidades, a fim de solucionar os problemas do planejamento, e assim, gerar um funcionamento eficaz das metrópoles. Um outro fator a ser considerado com esses problemas urbanos, é a violência. Segundo dados do Infográfico, o distrito da Sé está entre os locais mais inseguros, isso se dá por conta das intensas aglomerações de comércio popular que ocorrem durante todo o dia, visto que as multidões auxiliam as ações dos criminosos. A fim de diminuir esses problemas urbanos, o Plano Diretor Estratégico (PDE), criou um instrumento de política urbana para melhorar a qualidade de vida das pessoas, a Fachada Ativa, que visa dinamizar espaços e passeios públicos, a fim de diminuir os problemas urbanos.

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Imagem 28 - Crescimento das Cidades próximo aos transportes públicos


Entre esses teóricos, podemos mencionar a solução proposta por Richard Rogers, que aproxima a moradia, trabalho e lazer, como uma possível solução para proporcionar a diversidade de usos, com a intenção de trazer vitalidade urbana, além do horário comercial. E assim, evitar reverter o esvaziamento noturno nos centros urbanos. Jane Jacobs, em seu livro “Morte e Vidas das Cidades”, aborda também a importância da diversidade de usos, conexões com parques e assim fazer com que as pessoas andem mais pela vizinhança, como ela diz: “criar os olhos da rua”, pois quanto mais pessoas nas ruas, mais seguras elas seriam. “Mas, mais do que isso, onde quer que vejamos um distrito com um comércio exuberante variado e abundante descobriremos ainda que ele também possui muitos outros tipos de diversidade, como variedade de opções culturais, variedade de panoramas e grande variedade na população e nos frequentadores. É mais do que uma coincidência. As mesmas condições físicas e econômicas que geram um comércio diversificado estão intimamente relacionadas à criação, ou a presença, de outros tipos de variedade urbana”. [7]

Ou seja, para proteger uma cidade contra o crime e a violência, e aumentar a sensação de segurança, precisamos que os locais públicos sejam cheios de vida, ou seja, devem possuir sobreposição de funções de dia e à noite. Núcleos Compactos e de uso misto reduzem as necessidades de deslocamentos

Imagem 29 - Fachada Ativa.

Imagem 30 - Diagrama Cidade compacta.

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PROCESSO PROJETUAL


4.1 Referências Projetuais 4.1.1 Conjunto Habitacional Jardim Edite O Conjunto Habitacional Jardim Edite serviu de referência para a proposta do projeto, por contar com diferentes usos e abrigar muitas unidades habitacionais. O projeto em questão, foi capaz de produzir moradias eficazes e coerentes com o modo de vida contemporâneo, diferentemente dos modelos que são propagados pelo país. A proposta foi projetar um edifício multifuncional, aliando habitação e equipamentos públicos. A fim de garantir uma maior integração do conjunto com a vizinhança, o projeto, articulou a verticalização do programa de moradia a um embasamento constituído por equipamentos públicos, que podem ser utilizados pelos moradoes e também para o público em geral. Projeto: MMBB Arquitetos e H+F Arquitetos Ano do Projeto: 2010 - 2013. Articulação Programática: 252 unidades habitacionais de 50m²; restaurante-escola com 850m², unidade básica de saúde, com 1300m², e creche com 1400m². Imagem 31, 32, 33 e 34 - Conjunto Habitacional Jardim Edite.

Área Total Construída: 25.700m².


4.1.2 Linked Hybrid O Projeto Linked Hybrid é uma grande referência na questão da fruição pública, seu térreo oferece várias passagens tanto para os residentes, quanto para os visitantes e conta com lojas no térreo que ativam o espaço urbano. No nível intermediário dos prédios, são construídos jardins públicos que oferece espaços verdes tranquilos. Há uma conexão pública entre toda área multifuncional do térreo, com os espaços verdes criados nos pavimentos intermediários. O prédio oferece também um nível de passagem mais alto, nos pavimentos superiores, contando com uma série multifuncional de pontes telescópicas e oferecem vistas espetaculares da cidade

Projeto: Steven Holl Architects Ano do Projeto: 2009. Articulação Programática: 252 unidades habitacionais de 50m²; restaurante-escola com 850m², unidade básica de saúde, com 1300m², e creche com 1400m². Área Total do Terreno: 220.000m².

Imagem 35, 36 e 37 - Linked Hybrid.


4.2 Politícas Públicas + Diretrizes Urbanas O terreno de intervenção encontra-se na Operação Urbana Centro. Essas operações são instrumentos de diretrizes urbanísticas, previsto no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor Estratégico (PDE), com o objetivo de revitalizar o Centro e assim reverter o processo de deterioração. Entre as principais diretrizes urbanas, há o plano de preservação do patrimônio histórico, e a diversificação de usos, principalmente o habitacional e o cultural. Como visto anteriormente, o Plano Diretor Estratégico, consiste em direcionar o crescimento das cidades próximos aos meios de transportes públicos. Para isso, se utiliza instrumentos como: Fachada Ativa, com a construção de comércios, serviços e equipamentos na testada do edifício, a fim de se apropriar da cidade. O PDE também foi responsável por dividir a cidade em Macrozonas e Macroáreas, a fim da estruturação e ordenação territorial. O projeto proposto localiza em uma Macroárea de Estruturação Metropolitana, e em uma Zona de Interesse Especial (ZEIS) 3.

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HIS (Habitação de Interesse Social) Atendimento de famílias de baixa renda, classificada em dois tipos:

1.1. HIS 1: destinada a famílias com renda familiar mensal de até R$ 2.640,00 (dois mil seiscentos e quarenta reais); 1.2. HIS 2: destinada a famílias com renda familiar mensal superior a R$ 2.640,00 (dois mil seiscentos e quarenta reais) e igual ou inferior a R$ 5.280,00 (cinco mil duzentos e oitenta reais); HMP (Habitação de Mercado Popular) Atendimento de famílias com renda familiar mensal superior a R$ 5.280,00 (cinco mil duzentos e oitenta reais) e igual ou inferior a R$ 8.800,00 (oito mil e oitocentos reais);


4.3 Investigações

Blocos Monótonos com problema de insolação

Problemas com as Unidades Habitacionais

A investigação do projeto se deu através da construção de um grande edifício articulador, considerado um eixo de ligação, servindo de fruição pública, que promove a criação de áreas de vivência, se apropriando de um desnivel entre as duas ruas periféricas do terreno, que auxiliou na disposição dos blocos. Imagem 38 - Satélite Google Eart

Imagem 39, 40 e 41 - Croquis de investigações banca intermediária.

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4.4 Resultado Intermediário Com a banca intermediária, foi possível analisar aspectos que não foram desenvolvidos e assim ressaltei pontos a serem analisados:

- Rever o comprimento da torre articuladora; - Rever as relações público / privado; - Rever a ventilação da cozinha / área de serviço nas unidades de 2 e 3 dormitórios; - Localizar as áreas sociais dos moradores; - Relacionar uma conexão com os edifícios tombados; - Aumentar o gabarito.

Imagem 42 - Croquis banca intermediária.



5


O PROJETO


Diretrizes Gerais A arquitetura tem como desafio, criar espaços que promovam a aproximação social, colaborando para a diminuição da desigualdade. Com a análise dos tópicos anteriores em conjunto com a proposta de habitar o centro, conduziu-se a elaboração de diretrizes gerais, urbanas e projetuais, que direcionaram para a implantação do programa. O lazer é uma das principais medidas de desenvolvimento, já que promove vitalidade e é consequência de um projeto urbano qualificado. No projeto, houve uma preocupação na necessidade de transformação das comunidades com habitação de interesse social, assim o lazer unido com a fruição pública foi a principal diretriz para a concepção da proposta. Levando em consideração o entorno existente, as normas vigentes para esses projetos de habitação social e os índices urbanísticos locais, que permite a aplicação do máximo potencial construtivo, garantimos a densidade demográfica, promovendo melhor qualidade de vida para mais famílias, sem comprometer a qualidade das moradias.

Imagem 43 - Croqui do partido arquitetônico.

Partido Arquitetônico A composição arquitetônica foi idealizada através de uma forte intenção de criar áreas de lazer conectado com a ideia um percurso ligando os dois patrimônios presentes no entorno (Imagem 43), resultando em uma intenção no volume do edifício. Logo após, foi feito um estudo de insolação para analisar quais fachadas poderiam contar com a presença de habitação. O projeto desenvolvido, foi a união de três volumes, que são conectados por seus núcleos, (Imagem 44), organizados com módulos habitacionais nas extremidades, gerando assim, uma circulação horizontal otimizada. Os núcleos da torre foram projetados como uma área de convivência para os moradores, além de ser um local articulador entre os pavimentos. 58

Imagem 44 - Croqui dos três volumes conectados pelo núcleo.


Imagem 45 - Ligação dos Patrimônios.


Com a proposta de trazer mais dinâmica na área de intervenção do projeto, foi proposto galerias no térreo, que permitem usos que funcionaram 24 horas por dia, e também foi projetada uma creche a fim de atender a população residente do prédio, trazendo melhor qualidade de vida, aos moradores e frequentadores do local. Outro fator que foi considerado ao projeto, foi o gabarito do entorno e seus patrimônios. Na Rua Tabatinguera, temos edifícios mais baixos e também a presença da Capela Santa Luzia, já na Rua Conde de Sarzedas, temos um entorno com gabarito maior, assim nosso edifício buscou harmonizar-se com seu entorno.

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RUA TABATINGUERA

5.1 Relação do Edifício com Entorno

Imagem 46 - Croqui das relações visuais.

Imagem 47 - Relação de gabarito com entorno.


Imagem 48 - Perspectiva da ligação dos patrimônios.


Imagem 48 - Vista da Rua Conde de Sarzedas em direção ao Patrimônio.


Imagem 48 - Vista da Praรงa ao lado da Capela.


5.2 O Programa Por conta do projeto estar inserido em uma região central e com a proposta de conectar seu entorno, houve a necessidade da criação de diferentes tipologias habitacionais e assim Parâmetros Urbanísticos atender a diferentes grupos familiares para garantir a diversidade da população. Pela área Área Total do Terreno de intervenção estar em uma Zona de Interesse Especial (ZEIS 3), o projeto atender Taxa dedeve Ocupação máx. Aproveitamento máx. no mínimo, 60% das unidades para HIS (Habitação de Interesse Social),Coeficiente 20% dasdeunidades Área Permeável min. para HMP (Habitação Mercado Popular) e 20% da área para outros usos.

11.523m² 8.066m² (70%) 46.092m² (4,0) 1.728m² (15%)

O projeto se baseou nos seguintes parâmetros urbanísticos: Parâmetros Urbanísticos Área Total do Terreno Taxa de Ocupação máx. Coeficiente de Aproveitamento máx. Área Permeável min.

Parâmetros Urbanísticos Projetado 11.523m² 8.066m² (70%) 46.092m² (4,0) 1.728m² (15%)

Área Total do Terreno Taxa de Ocupação Coeficiente de Aproveitamento Área Permeável

11.523m² 5.215m² (65%) 45.875m² (3,98) 2.350m² (20,4%)

Parâmetros Urbanísticos Projetado Área Total do Terreno Taxa de Ocupação Coeficiente de Aproveitamento Área Permeável

11.523m² 5.215m² (65%) 45.875m² (3,98) 2.350m² (20,4%)

Área Condominial Galerias Comercial Auditório Público

Imagem 49 - Croqui de Usos.


Por conta do porte do edifício e sua área onde está inserido, foi analisado a quantidade de moradores que viram para essa região, havendo então a necessidade de propor um equipamento público de um bercário e jardim de infância, a fim de evitar a superlotação já existente nos equipamentos atuais, e também com o intuito de trazer vitalidade para essa área, foi projetado um auditório público embaixo da torre habitacional.

Área Condominial Galeria Comercial Berçário e Jardim de Infância Auditório Público Área de Serviço do Prédio

Imagem 50 - Croqui de Usos.


5.2.1 Acessos Como partido, vimos que o projeto busca uma cidade com maior vitalidade e segurança, por essa questão, a fruição pública foi o elemento primordial para alcançar os objetivos. O projeto da escola, localizado na esquina, auxiliou com sua topografia, a permitir acessos de diferentes níveis. A entrada principal fica localizada na rua Conde de Sarzedas, em frente a grande praça; a entrada de pais e professores para informações e reuniões se dá pela esquina. Na cobertura da escola, temos galerias comerciais, que são abertas durante todo o tempo, e permitem usos que funcionem 24 horas do dia. E acima, temos uma grande área condominial.

Acesso Horta Comunitária Acesso Auditório Público Entrada Principal - Creche Entrada Secundária - Creche Acesso Galerias Área Condominial

Imagem 51 - Perspectiva acessos.


Imagem 52 - Entrada Principal - Creche


Imagem 53 - Entrada Secundรกria - Creche


Imagem 54 - Entrada PĂşblica Galerias


Imagem 55 - Galerias Comerciais


Imagem 56 - Ă rea Condominial


O objetivo do projeto é trazer segurança e área de lazer para toda população residente e da região, com isso, apenas o equipamento educacional, não alcancaria o determinado objetivo. Deste modo, o berçário e jardim de infância, foi projetado de tal forma que, durante o horário escolar, o pátio descoberto funciona apenas para as crianças matriculadas, a partir do momento em que a creche fecha, o pátio descoberto vira uma área inserida como mais uma, área de lazer para o público.

Entrada Pública - Pátio Creche Acesso Galerias Acesso ao Edifício

Imagem 57 - Perspectiva acessos.


Imagem 58 - Pรกtio Descoberto - Creche


5.2.3 Unidades Habitacionais Para calcular o número de Unidades Habitacionais no terreno, utilizamos um instrumento do Plano Diretor Estratégico, a Cota Parte, que corresponde à quantidade de unidades habitacionais mínimas de acordo com a área do terreno. ÁREA TOTAL DO TERRENO: 11.523 m² Cota Parte Máxima: 20 (Macroárea de Estruturação Metropolitana) Total de Unidades Habitacionais Mínimas: 550 UH. Densidade Populacional mínima do projeto: 550UH X 3,15hab: 1.732,50hab/ha.

2 Dormitórios

200 UH

3 Dormitórios

150 UH

Studio

100 UH

1 Dormitório

100 UH

Studio - 24.00m²

HIS

HMP

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1 Dorm. - 34.25m²


O conjunto habitacional proposto conta com ambientes que atendem as medidas mínimas exigidas pelo programa de necessidades, sem comprometer a qualidade dos espaços. Todos os módulos seguem o mesmo conceito: os ambientes de longa permanência são voltados para o exterior da edificação, garantindo maior incidência de iluminação e ventilação. Já os ambientes de serviços, contam com aberturas altas e shaft (Imagem ), voltados para a parte interna do edifício, onde se concentram todas as instalações hidráulicas. As unidades habitacionais de Studio e 1 dormitório, não apresentam área de serviço, auxiliando para a sustentabilidade, e tendo no pavimento térreo, uma lavanderia comunitária.

2 Dorm. - 53.50m²

Imagem 59 - Corredor Bloco 02

3 Dorm. - 66.50m²

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NBR - Cálculo do Tráfego de Elevadores O cálculo de tráfego nos elevadores tem o objetivo de comprovar o número de elevadores para o projeto, levando em consideração a NBR 5665. A mesma fixa as condições mínimas exigíveis para o cálculo de tráfego das instalações de elevadores de passageiros em edifícios, para assegurar condições satisfatórias de uso. Conforme o item 5.1.1 da norma, temos:

Bloco 02

5.1 População de um Edifício: 5.1.1. A população deve ser calculada baseada nas relações: c) apartamentos:

- 2 pessoas por 1 dormitório; - 4 pessoas por 2 dormitórios; - 5 pessoas por 3 dormitórios.

Bloco 01

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Imagem 60 - Croqui Conjunto.


Bloco 01

Bloco 02

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STUDIO 1 DORMITÓRIO PLANTA TIPO (1º ao 10º pav.)

2 DORMITÓRIOS 3 DORMITÓRIOS

0

5

10

15


PLANTA TIPO (12ยบ ao 25ยบ pav.)

0

5

10

15


5.2.4 Estrutura e Materialidade O projeto propõe o uso de bloco de concreto estrutural e laje painel como método construtivo, ordenados de acordo com os módulos habitacionais, garantindo assim, a viabilidade econômica, otimizando o processo e a uniformidade. O bloco natural de concreto, harmonizado com trechos de bloco pintado, esquadrias e guarda-corpo metálico garantem o dinamismo do edifício, rompendo a monotonia presentes frequentemente relacionada a esse sistema construtivo e aos conjuntos habitacionais de interesse social. As cores utilizadas ajudam a identificação das unidades. Todo o térreo do edifício é marcado por laje cogumelo, que são lajes contínuas apoiadas em pilares ou suportes de concreto, ou seja, sem vigas, a fim de aguentar todas paredes estruturais presentes dos pavimentos superior das unidades habitacionais. A fachada da escola busca uma mesma linguagem com a fachada da habitação, com isso, foi proposto brises têxteis, mas conhecido como “Revesto Brise”, desenvolvido pela Stobag. Imagem 62 - Estrutura do Térreo do Edifício.

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Imagem 61 - Fachada Escola com Brise Têxtil.

Imagem 63 - Modelo de Fachada - Stobag.


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5.2.5 Sustentabilidade - Materiais

- Captação de águas pluviais

- Horta Comunitária

Como analisado anteriormente, o uso de sistemas modulares e pré-fabricados além de otimizar o processo e custo de obra, reduz os resíduos. Deve ser priorizado a utilização de materiais locais, diminuindo deslocamentos e valorizando a indústria regional.

Nos dias atuais, a questão da reutilização de água pluvial é uma premissa obrigatória na questão de sustentabilidade, por contar com inúmeras vantagens como: menor necessidade de fornecimento de água potável; abastecimento das áreas comuns do conjunto e a manutenção da horta comunitária.

A proposta de horta comunitária no projeto se justifica pela necessidade da produção de alimentos para população residente, deste modo, ele foi projetada em uma grande área verde existente no conjunto, que gera um microclima local, criando um espaço de integração sombreado, harmonizado e resultam na redução das temperaturas.

- O lugar O projeto proposto está situado em uma região central, que conforme analisamos, conta com uma boa infraestrutura. Um dos objetivos do projeto é desestimular o acesso apenas por automóveis, e incentivar o uso de transporte público presente na região, que permitem além do acesso ao projeto, acesso aos comércios e ao equipamento público, garantindo assim, uma cidade compacta como se refere Richard Rogers.

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O sistema de captação do projeto é feito por cisternas, que são reservatórios que captam e armazenam as águas pluviais, para o uso de fins não potáveis: limpeza das áreas comuns, irrigação de jardins, descarga de vasos sanitários, reserva de proteção contra incêndio, entre outros. Atualmente, existe um projeto de lei, nº 324 de 2015, que obriga que as novas edificações tenham incluído no projeto técnico da obra, a captação e aproveitamento de águas pluviais e o seu reuso para fins não potáveis.

- Energia Solar De acordo com a Lei n 14.459, de 3 de julho de 2007, é obrigatório a instalação de sistema de aquecimento de água por meio do aproveitamento da energia solar nas novas edificações do município de São Paulo. Os painéis solares são um recurso totalmente renovável, e com fácil instalação. No projeto há a utilização deles na cobertura do edifício. O principal objetivo para sua instalação é a redução de custos, pois o sistema permite que você use a luz solar para gerar sua própria energia elétrica.


Imagem 64 - Horta Comunitรกria


Imagem 65 - Acesso a Escola, Auditรณrio e Horta Comunitรกria


- Iluminação A implantação do edifício foi projetada a fim de proporcionar fachadas que possibilitam maior ventilação e iluminação natural em todas unidades habitacionais. Foi feito um estudo com a carta solar para identificar quais os periodos de insolaçao que cada fachada recebe.

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5.3 Perspectivas do Conjunto


Imagem 66 - Esquina Rua Tabatinguera e Conselheiro Furtado


Imagem 67 - Vista Rua Tabatinguera.


Imagem 68 - Vista Esquina Conde de Sarzedas x Conselheiro Furtado.


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REFERÊNCIAS


6.1 Referências Bibliográficas BONDUKI, Nabil, Org. Habitat: as práticas bem-sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996. II. BLOG DA RAQUEL ROLNIK. https://raquelrolnik.wordpress.com/ CHOAY, Francoise. o urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. 5ed. 2ª tiragem. São Paulo: Perspectiva, 2002. JACOBS, Jane M. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 510p. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Porto: Edições 70, 1982. ROGERS, Richard George; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: G. Gili, 2012. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 2001. VILLAÇA, Flávio. São Paulo: segregação urbana e desigualdade. Estudos Avançados, v. 25, n. 71, p. 37-58, 1 abr. 2011

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6.2 Lista de Figuras Imagem 01 - A Cidade é Nossa. Ocupe-a! Disponível em: https://ondeterminaoarcoiris.tumblr.com/post/21165860738/a-cidade-%C3%A9-nossa-ocupe-a. Acesso em: 21 de Mar. de 2019. Imagem 02 - Construção de Habitação BNH. Disponível em: https://www.resimob.com.br/a-historia-do-bnh-banco-nacional-de-habitacao/. Acesso em: 18 de Mar. de 2019. Imagem 03 - Construção de Habitação do Programa MCMV. Disponível em: https://istoe.com.br/367219_EM+ITAQUERA+AGORA+NOIS+E+TUDO+PLAYBOY+/. Acesso em: 18 de Mar. de 2019. Imagem 04 - Centro Velho de São Paulo. Disponível em: http://viajandocomjesus.blogspot.com/2015/06/amor-antigo-centro-velho-sao-paulo.html. Acesso em: 10 de Abril de 2019. Imagem 05 - Centro Novo de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1670198-paulista-deve-ser-fechada-de-vez-aos-domingos-ainda-neste-mes-diz-haddad.shtml. Acesso em: 10 de Abril de 2019. Imagem 06 e 07 - Mapa do processo de Urbanização. Disponível em: http://prefeitura de SP. Acesso em: 20 de Mar. de 2019. Imagem 08 - Edifício Wilton Paes de Almeida, antes incêndio que resultou no desabamento total de edifício. Disponível em: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2018/05/mundo/550486-edificio-que-desabou-em-sp-era-importante.html. Acesso em: 20 de Mar. de 2019. Imagem 09 - Camelôs no Centro de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/03/1754413-desemprego-leva-mais-camelos-as-ruas-e-ao-metro-de-sp.shtml. Acesso em: 25 de Mar. de 2019. Imagem 10 - Centro de São Paulo à noite. Disponível em: https://www.alamy.com/so-paulo-sp-03022015-25-de-maro-a-noite-vista-das-ruas-25-de-maro-e-ladeira-porto-geral-durante-a-noite-regio-central-fotoalexandre-moreira-fotoarena-image209160670.html. Acesso em: 26 de Mar. de 2019. Imagem 11 - Pátio do Colégio atualmente. Disponível em: http://www.hotelpaulistagarden.com.br/sao-paulo/patio-do-colegio/. Acesso em: 26 de Mar. de 2019 Imagem 12 - Satélite da Praça da Sé e Marco Zero de São Paulo. Disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/node/5418. Acesso em: 18 de Fev. de 2019. Imagem 13 - Mapa de Zoneamento - Subprefeitura da Sé.

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Imagem 14, 15, 16 e 17 - Linhas de Metrô. Imagem 18 - Satelite Google Earth. Imagem 19 e 20 - Casas Padronizadas na Vila Conde de Sarzedas. Disponível em: http://www.arquiamigos.org.br/info/info18/i-estudos.htm. Acesso em: 02 de Maio de 2019. Imagem 21 - Quadra Fiscal Vila Conde de Sarzedas. Disponível em : Geosampa. Imagem 22 - Satélite Google Earth. Imagem 23 - Mapa de Cheios e Vazios. Mapa elaborado pelo autor. Imagem 24 - Vila Conde de Sarzedas Atualmente Acervo pessoal. Imagem 25 - Mapa de Usos do Solo. Mapa elaborado pelo autor. Imagem 26 - Capela Santa Luzia. Acervo Pessoal. Imagem 27 - Palacete Tribunal da Justiça. Disponível em:https://www.flickr.com/photos/sergio_zeiger/28772938663. Acesso em: 18 de Agosto de 2019. Imagem 28 - Crescimento das Cidades próximo aos transportes públicos Disponível em: Gestão Urbana - Plano Diretor Estratégico. Imagem 29 - Fachada Ativa. Disponível em: Gestão Urbana - Fachada Ativa. Imagem 30 - Diagrama Cidades Compactas. Disponível em: Cidades para um pequeno planeta. Richard Rogers, 2016. Imagem 31 / 32 / 33 e 34 - Referências. Imagem 35 / 36 e 37. - Referências. Imagem 38 - Satélite Google Earth. Imagem 39 / 40 / 41 - Investigações + partido. Croqui elaborado pelo autor.

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6.3 Lista de Citações [1] - BONDUKI, Georges. Origens da habitação popular no Brasil. Análise Social, Lisboa, v.24, nº 127, 1994. [2] - VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, Fapesp, Lincoln Institute, 2009. [3] - VILLAÇA, 1986. p. 198. [4] - NAKANO. Kazuo.; CAMPOS, Cândido Malta; ROLNIK, Raquel. Dinâmicas dos subespaços da área central de São Paulo. In Caminhos para o centro. Estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo, 2004. p 129-130. [5] - VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 2001. P. 277. [6] - CAMPOS; ROLNIK, Raquel. 2004. p. 138. [7]. JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades. 1961. p. 162.

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