Livro de resumos - VI Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise

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X Simpósio de Filosofia e Psicanálise

Tempos de guerras atuais LIVRO DE RESUMOS

CLAUDIA MURTA (ORGANIZAÇÃO)



UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA PROGRAMA DE PESQUISA E EXTENSÃO PARTHOS

X Simpósio de Filosofia e Psicanálise

Tempos de guerras atuais LIVRO DE RESUMOS Claudia Murta (Organização)

VITÓRIA 2015


FICHA TÉCNICA Presidenta da República Dilma Rousseff

VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA DA PSICANÁLISE

Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro

Coordenadora do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF – 2015-2016 Claudia Murta

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Reitor Reinaldo Centoducatte Vice-reitora Ethel Leonor Noia Maciel Pró Reitora de Extensão Angélica Espinosa Miranda Coordenadora do Programa Parthos Claudia Murta

Comissão Organizadora Claudia Murta – UFES (Coordenação) Fátima Caropreso – UFJF Léa Silveira – UFLA Suely Aires – UFRB Maria Cristina Sparano – UFPI Josiane Bocchi – UFSCar Comissão Científica Daniel Omar Perez – UNICAMP Francisco Verardi Bocca – PUC-PR Richard Theisen Simanke – UFJF Vladimir Safatle – USP Chistian Dunker – USP Design Locomotipo ISBN 978-85-8087-160-9


SUMÁRIO Apresentação......................................................................................10 Resumos das comunicações Política: Eduardo Lucas Andrade e Gildásio Eustáquio Pinto: Eleições para os tempos de guerra e morte............................................................. 14 Marcio Bernardi: A teoria de Slavoj Zizek e a compreensão das manifestações..................................................................................... 17 Carlos Augusto Santana Pereira: O sujeito reduzido à demanda: uma leitura psicanalítica dos primórdios do neoliberalismo....... 20 Ana Elizabeth Araujo Luna e José Flor de Medeiros Júnior: A crise política da ética na contemporaneidade: uma interlocução entre a Psicanálise, a Sociologia e a Filosofia...............................................22 Patrícia Ferreira-Lemos: Identidades populares e identificação na dinâmica político-social....................................................................25 Lucas Fraga Gomes: O cartel como aposta política de Lacan........27 Patrícia Ferreira-Lemos e Sergio Prudente: A binaridade nos processos identificatórios.......................................................................30 André Hemerly Paris: Mentalidade punitivista.............................32 Mariana Rodrigues Festucci Ferreira e João Ezequiel Grecco: Antígona no gueto: a história de Irena Sendler à luz da ética psi­ canalítica.............................................................................................39 Claudio Marcio Coelho e Marcia Barros Ferreira Rodrigues: Política e Psicanálise. Onde incide a cultura religiosa no pensamento de Gilberto Freyre?............................................................................. 41

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Denize Gomes Duarte: As trajetórias e perspectivas da formação continuada no Brasil e na contemporaneidade..............................46 Raquel Fabris Moscon e Renata Costa-Moura: Loucura e estado de exceção na biopolítica contemporânea............................................50 Allan Martins Mohr: A morte e o paradoxo da autonomia na psicanálise................................................................................................... 53 Diana Lídia da Silva: A violência nas cidades sob o olhar da psi­ canálise................................................................................................56 Guilherme Olivier da Silva: Conflito e ilusão na Psicanálise.........58 Gleisson Roberto Schmidt: Freudian naturalism as a problem.......... 61 Marcus Vinicius Neto Silva, Luciana Cavalcante Torquato e Guilherme Massara: Freud, arte e guerra: enlaces entre o discurso freudiano sobre a violência e a antropofagia modernista..............64 Luciana Norat Coelho e Mauricio Rodrigues de Souza: Violência e cultura no pensamento freudiano....................................................67 Sergio Rodrigues de Souza: A bomba em Hiroshima: Foi necessário utilizá-la?.......................................................................................69 Viviane Melo: Agressão e violência: uma análise a partir de Wilhelm Reich.........................................................................................72 Corpo: Julia Joergensen Schlemm e Maria Virginia Filomena Cremasco: As vicissitudes do sofrimento ligado a perdas para a psicanálise freudiana............................................................................................. 75 Mariana Bassoi Duarte da Silva e Maria Virginia Filomena Cremasco: Guerra e refúgio: contribuições da Psicanálise.................. 77 Jonas Garcia Simões: Depressão e Melancolia: uma reflexão sobre a perda do objeto e nossa atitude diante da morte.........................79 Vanessa Guimarães da Silva: O corpo na contemporaneidade e o enigma da morte: uma análise da arte carnal de ORLAN..............82 Mariana Aranha: “Se eu morrer hoje, amanhã faz dois dias”: sobre o estatuto da conduta de risco dos jovens envolvidos com o tráfico de drogas.............................................................................................84

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Alberto Antunes Medeiros e Roberto Calazans: Depressão na adolescência: uma abordagem psicanalítica..........................................87 Maria Aparecida de Azevedo: A interface da Psicanálise com a Assistência Social em Acolhimento Institucional...............................89 Thayane Bastos Dias: Demandar… Verbo Transitivo. Articulações entre Psicanálise e Assistência Social...............................................92 Nayara Oliveira Francisco, Lívia Thana Santana Loureiro e Valéria Moreira Teriquelhe: A luta do grupo Parthos em prol dos direitos da mulher e os desafios do trabalho multidisciplinar...............94 Claudia Murta, Eduarda Furieri Godoy, Juliana Poton, Naíra Barbosa Soares e Queila Cássia Corrêa Guimarães: Uma aposta no amor como enfrentamento a adicção: protocolo de amamentação para pacientes usuárias de drogas internadas no HUCAM...........96 Juliana Aparecida Dutra: #Histéricas..............................................99 Maria Cecília de Souza: A gravidez na adolescência e a escola: entre a aversão e o acolhimento..........................................................102 Marília Zimerman e Denielly Scherrer Borges Menezes: A guerra do amor: ensaios sobre homens contemporâneos e a submissão feminina............................................................................................106 Rafael Kalaf Cossi: Pela inscriação da mulher na ordem discursiva: o feminismo psicanalítico de Luce Irigaray...................................109 Adriano da Silva Moreira: Amor, desejo e gozo.............................113 Bento Silva Santos: O corpo humano no Seminário de Zähringen 1973......................................................................................................116 Bruno Abilio Galvão: Michel Foucault e o corpo como campo de batalha: tensões de força entre técnicas de si e técnicas de normalização.....................................................................................117 Jacir Silvio Sanson Junior: A Weltanschauung religiosa: crítica e perspectiva psicanalítica acerca da economia psíquica do sen­­­tido................................................................................................119 Kleber Teles Ribeiro: A interdependência do simbólico como corpo e o incorporal: uma análise do texto Radiofonia de Lacan...... 122

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Arte: Felipe Barata Amaral: O deciframento do texto literário como ofício da psicanálise.............................................................................. 125 Nayara Lima Neves: fins de Lacan e Lispector: entre nós e Macabéa ........................................................................................................... 128 Maiara Graziella Nardi: “Formação reativa” – pulsões antitéticas em Freud e Unamuno...................................................................... 130 Alessandro da Silva Guimarães e Deonato Feltz Junior: História e Memória pelos labirintos do desejo e da narrativa – Diálogos possíveis entre Walter Benjamin e psicanálise freudiana.................... 132 Juliana de Moraes Monteiro: As sutilezas da falha: quando Freud encontra Duchamp...........................................................................135 Klaus’Berg Nippes Bragança: A Guerra ao Terror e o Cinema de Horror Contemporâneo.................................................................. 138 Santiago Daniel Hernandez Piloto Ramos: A morte no cinema estudo psicanalítico do filme.............................................................. 140 Tiago Alves de Moraes Sarmento: “Don’t you people ever die?!” – Superheróis e a negação da morte...................................................... 144 Mariana Rodrigues Festucci Ferreira: Uma interlocução entre Walter Benjamin, a Psicanálise e Edvard Munch em torno da melancolia e o laço social...................................................................... 146 Wanessa Borges de Mendonça: Entre o homicida e o homem “médio”: questões sobre o direito à vida e a natureza humana a partir de três ensaios de Freud.................................................................. 147 Uriel Massalves de Souza do Nascimento: Quando o estado de exceção é uma constante: reflexões freudianas sobre o contemporâneo ............................................................................................................151 Ana Elizabeth Araujo Luna e Hediany Andrade Melo: As marcas da melancolia frente à medicalização dos corpos: uma leitura psicanalítica da atualidade................................................................... 154 André Gouvêa de Paiva e Eliana Rigotto Lazzarini: A escrita de si e o sujeito: da angústia à advertência................................................157

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Andréa Campos Romanholi: O sujeito como categoria de possíveis intercessões entre a Psicanálise e os filósofos da diferença......... 159 Paula França dos Santos: A escrita de si como possibilidade de construção nos Estados-limite.........................................................161 Soraya de Lima Cabral Conturbia: Diálogos entre Heidegger e Winnicott: um olhar sobre o conceito de tempo........................... 163 Tibério Fabian Santos: Heidegger, Lacan e a trama trágica da significação em Sófocles....................................................................... 165 Willian Mac-Cormick: A morte de Deus, a queda do líder e o trágico do herói: perspectivas do Seminário 07 de Lacan.................... 168 Adelmo Marcos Rossi: Ontologia e acontecimento no pensamento de Alain Badiou.................................................................................171 Ciência: Bruno Gadelha Xavier: O direito burguês vai ao paraíso: crítica filosófico-psicanalítica ao racionalismo técnico da normatividade trabalhista frente o fetichismo do “sujeito de direito”.................. 174 Filicio Mulinari: Wittgenstein e a epistemologia psicanalítica: algumas considerações em torno da cientificidade da psicanálise ........................................................................................................... 176 Helio Pedro Pretti Perim: Os gêneros de conhecimento em Espinosa ........................................................................................................... 178 Carolina Ferreira Boonen Maciel e Roberto Calazans: A noção de sujeito do inconsciente como situação imanejada .......................180 Cleiton Gil Barbosa: Propostas sobre o papel social do reconhecimento segundo Axel Honneth........................................................ 182 Fernando José Fagundes: A lógica do fantasma como teoria da subjetividade.................................................................................... 185 Gabriel Tupinambá: Associação livre: entre palavras e entre pessoas.............................................................................................. 188 Manuella Mucury Teixeira: A questão da moralidade em diferentes tempos da teoria freudiana: 1915 e 1930....................................190

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Samira Pontes e Roberto Calazans: Diagnóstico e laço social contemporâneo....................................................................................... 192 Sérgio Eduardo Lima Prudente: Afetos alterados e a fraternidades excludentes....................................................................................... 194 Marcelo Barreira: A linguagem segundo Rorty e sua possível interlocução com a psicanálise................................................................ 198 Mariana Campeti Cuoghi: Uma avaliação psicodiagnóstica de pré-adolescentes e adolescentes vítimas de violência sexual à luz da psicanálise......................................................................................... 199 Elaine Cristina Azevedo: Reflexões sobre urgência, tempo e morte no hospital geral...............................................................................201 Isabela Avelar Moreira: O conceito de sintoma na toxicomania...... .......................................................................................................... 204 Vitor Orquiza de Carvalho: Freud e o caráter natural do fenômeno psíquico na década de 1890........................................................207 Maurício Fernandes: Autoinstrumentalização, biotecnologia e guerra contra o corpo: Aproximações à perspectiva habermasiana sobre as manipulações biotecnológicas........................................ 209 Carlos Eduardo Pereira: Em guerra com o semelhante: identificação e segregação na contemporaneidade.......................................211 Hugo Tannous Jorge: A Filosofia das ciências de Émile Meyerson na primeira publicação psicanalítica de Lacan (“Para-além do ‘Princípio de Realidade’”)............................................................... 2014 José Henrique Parra: Fenichel e a teoria psicanalítica: por uma psicologia dialético-materialista.......................................................... 216 Mal-estar: Marina Bilig de Aguiar: O conceito de angústia na etapa inicial da teoria freudiana................................................................................ 219 Mayana Bracks e Roberto Calazans: O autismo como “problema de guerra”............................................................................................... 221 Nabil Jean Moussallem: Repetição, sintoma e pulsão de morte........ ...........................................................................................................224

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Marcus Cesar Ricci Teshainer e Nadir Lara Júnior: Estado de exceção, mal estar e sintoma..................................................................227 Laura Resende Moreira e Fuad Kyrillos Neto: Da política de saúde mental à clínica da toxicomania–um breve relato dos impasses cotidianos de um CAPS.......................................................................229 Jamille Lima dos Santos: O princípio da integralidade como norteador das práticas em saúde no hospital......................................... 231 Maria Beatriz Bueno Domingues: A cura no pensamento freudiano e algumas questões sobre o tratamento dos transtornos mentais no cenário da psiquiatria contemporânea..............................234 Juliana Labatut Portilho: Simulacros e o objeto a: similitudes e simultaneidade, simulação e dissimulação...................................... 237 Lion Granier Alves: Perversão Sexual na Elaboração Onírica.....239 Anna Rita Maciel Simião: Sexualidade e perversão na psiquiatria de Krafft-Ebing.................................................................................242 Bárbara Aparecida Leal dos Santos e Rodrigo Sanches Peres: Dor física: mapeamento das contribuições metapsicológicas freudianas ...........................................................................................................244 Carlos Eduardo Pereira: Parcerias em guerra: a agressividade na Psicanálise........................................................................................247 Alessandra Afortunati Martins Parente: Entre Egon Schiele e Gustav Klimt: algumas inflexões na obra freudiana.....................249 Luana Ferreira do Nascimento: Violência como ato de repúdio ao feminino: a obra “O martelo das feiticeiras” à luz de uma interpretação freudiana................................................................................. 251 George Miguel Thisoteine Caldeira Menezes Freitas: Um estranho método..............................................................................................254 Danilo Souza Ferreira: Uma Filosofia em tempos sombrios.......256 Thiago Ferreira de Borges: Entre o ter e o ser..............................258 Jane Mara dos Santos Barbosa: Elaborações sobre o sujeito em Freud e os conflitos sociais............................................................. 260

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APRESENTAÇÃO O VI Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise, juntamente com a Associação Nacional de Pós Graduação em Filosofia, por meio do Grupo de Trabalho de Filosofia e Psicanálise da (ANPOF), busca tratar do tema “Tempos de Guerras Atuais” objetivando promover uma discussão sobre questões da atualidade à luz da Filosofia e da Psicanálise e sua interação com as diversas questões que permeiam a sociedade atual, como Política, Corpo, Arte, Ciência e Religião. Visando a fundamentação dessa proposta, decidiu-se manter um paralelo das proposições apresentadas com a obra “Reflexões sobre os tempos de Guerra e Morte” de Sigmund Freud – como forma de homenagear os cem anos de publicação da obra completados no ano de 2015 – e outros escritos fundamentais para o estudo da Filosofia e da Psicanálise que trazem contribuições relevantes. Qual é a sua luta? A questão tema do Congresso está no centro de debates atuais em diversas áreas, o que torna o momento propício para a troca de conhecimento e para o fomento de produção científica, seja em forma de artigos, apresentações de trabalho e novas direções de trabalho que podem ser esboçadas a partir dos debates. Neste ano, além das comunicações, cujos resumos são publicados no livro de resumos, apresentamos mesas de conversação, cafés filosóficos e palestras. A Conversação visa a promover um diálogo entre posições argumentativas em torno de um mesmo tema a partir do qual esperamos certo efeito de saber. Pela metodologia da Conversação, pretende-se acolher as diferentes modalidades de respostas apresentadas pelos membros do GT de Filosofia e Psicanálise à discussão intitulada “Tempos de Guerras Atuais”, proposta pela

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Comissão Organizadora do VI Congresso de Filosofia da Psicanálise com base no texto “Reflexões sobre Tempos de Guerra e Morte”, de Sigmund Freud. São cinco mesas de Conversação sobre o tema do Congresso, dispostas da seguinte forma: Filosofia, Psicanálise e Política; Corpo; Arte; Ciência e Religião, seguindo as linhas de pesquisas dos Membros do GT de Filosofia e Psicanálise convidados. Cada mesa de Conversação possui um Âncora responsável por fazer circular a palavra entre o grupo da conversa. Os membros do GT convidados para esse momento do Congresso produziram textos a serem disponibilizados no site do evento, em área restrita aos inscritos. Esses textos não serão lidos durante a Conversação, mas referidos nos discursos dos participantes das mesas. E importante que os inscritos leiam os textos antes de participar das mesas. Já o Café Filosófico é um encontro de Filosofia num lugar público e remonta a uma tradição francesa de encontros informais nos quais se discutem ideias de maneira um pouco mais livre de protocolos. Nesse sentido, os encontros dos Cafés filosóficos procuram proporcionar uma pequena pausa para pensar e discutir temas do universo filosófico. Durante o VI Congresso de Filosofia da Psicanálise, os Cafés filosóficos serão propostos a partir de discussões amigáveis entre os membros do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF sobre os livros recentes produzidos pelos pares. Trata-se de uma pausa na dinâmica do Congresso, entre as Conversações temáticas e as Palestras tradicionais.

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O VI Congresso de Filosofia da Psicanálise apresenta, no horário noturno, um espaço para Palestras a serem proferidas por membros do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF e por convidados internacionais. A relevância técnico-científica e social do Congresso se dá pelo caráter indissociável entre a reflexão psicanalítica, o objeto que se deseja abordar e seu campo social, portanto, discutir o tema “Tempos de Guerras Atuais” dentro do cenário cultural e histórico ao qual pertencemos, corporifica saberes à medida que os transforma pela via da reflexão, multiplicando perspectivas e criando espaço para que os trabalhos floresçam a partir da literatura fundamental da Psicanálise e da Filosofia. O Congresso acontece bianualmente e em sua sexta edição conta com o apoio da CAPES, do MEC, da UAB, da PROEXT, da SEAD/ UFES, e com a participação dos professores do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF, e de convidados internacionais.

Claudia Murta Vitória, Setembro de 2015

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POLÍTICA

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Eleições para os tempos de guerra e morte Eduardo Lucas Andrade e Gildásio Eustáquio Pinto psicanaliseemcena@hotmail.com

Restos sintomáticos ficaram da última eleição brasileira. Restou algo mesmo do real, não vai bem e volta no mesmo lugar de forma que não cessa de inscrever-se. Temos vividos tempos difíceis em um lugar de destruição e ponte de ódio, ponte esta que faz a travessia da ideia do ódio recalcado para os vértices vertebralizáveis do cenário social político. A destruição parece estar amalgamada nos laços social, guerra anunciada em defesas fálicas. Estamos esgotados no gozo do imperativo destrutivo sexual, o homem o lobo do homem parece ter sido eleito, perde-se em humanidade. O superego herdeiro do Édipo político é a cultura pura da pulsão de morte que faz arsenal sexual no sadismo de toda espécie. Guerra e morte tornaram-se munições em nome da lei e da política, ideologias extremadas. Em nome da lei, mata-se. Em nome da lei pode-se ir contra a lei. Paradoxal, mas atual. Uma nebulosa onda pulsional descontrolada embaçou a linguagem entre os homens. É neste sentido, do rompimento pela palavra e eleição do ódio como munição política na promoção de guerra e morte, que pretendemos resgatar na psicanálise e Filosofia uma eleição possível para o horizonte de nossa época, a eleição da palavra. A eleição da palavra como modo plástico para lidar com esta fixação de destruição. O fálico saber está sendo reproduzido em forma justiceira e aquele que acusa o outro de não ser civilizado, quer fazer o mesmo, identifica-se com o agressor, só que em nome da lei – tão perverso quanto. Estes desdobramentos não se limitam a política nacional, ela toca no inconsciente que é político. O inconsciente sendo político e estando-nos atento às suas manifestações e formações, o que pode um psicanalista e um filósofo fronte a guerra e morte que

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desenha o conflito atual? A pulsão, artéria “a-social” faz seus traçados e rompe modelos, como lidar com isto que desassossegado quer satisfazer-se a qualquer custo? A palavra poderá ajudar-nos em muitas coisas, entretanto deverá sê-la fruto de insights, algo difícil em uma época em que reproduzir é tido como virtuosa saída entre os seres. A novidade é inquestionável para muitos, como então poderão estes chegar a uma causa de linguagem por detrás do conflito distorcido em sua manifestação? As vias facilitadoras (redes sociais, por exemplo) estão ai para isto e como usá-las para a promoção de algo que faça suportar a vida? Dizer que a palavra por si só seja a salvação, é ilusão e ilusão vem de desejo. Haveremo-nos de resgatá-lo na vida cotidiana. A deriva destes traçados sugere um posicionamento anárquico, típico da pulsão, como efeito colateral de uma relação com o supereu; e como anda este em nossa sociedade? A saciedade fálica sempre via poder, segue sendo a bússola sem norte da massa, decadência no degrau da civilização. Por fim, gostaríamos de elevar o debate à dignidade de uma coisa, o que eleger em tempos de guerra e morte?

Principais referências bibliográficas: FERENCZI, Sandor. A criança mal-acolhida e sua pulsão de morte. (A. Cabral, Trad.). In Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes. 1992. (Original publicado em 1929). FERENCZI, Sandor. Elasticidade da técnica psicanalítica. (A. Cabral, Trad.). In Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes. 1992. (Original publicado em 1928). FERENCZI, Sandor. Reflexões sobre o trauma. (A. Cabral, Trad.). In Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes. 1992. (Original publicado em 1934).

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FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920), idem, Vol XVIII, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1976 FREUD, Sigmund. Introdução à psicanálise e as neuroses de guerra (1919), idem, Vol XVII, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1976 FREUD, Sigmund. Mal-estar na civilização (1930), idem, Vol XXI, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1976 FREUD, Sigmund. Por que a guerra? (1933), idem, Vol XXII, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1976 FREUD, Sigmund. Reflexões sobre a guerra e a morte (1915), idem, Vol XIV, In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1976 LACAN, Jacques. Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. LACAN, Jacques. O Simbólico, o Imaginário e o Real. Nomes-do-Pai. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. LACAN, Jacques. (1959-1960/1991). O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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A teoria de Slavoj Žižek e a compreensão das manifestações Marcio Bernardi Mestrando em História, PUC SP Marciobernardi.urso@gmail.com

A partir da visão teórica do psicanalista Slavoj Žižek, esse trabalho tem por objetivo, a análise de três movimentos contemporâneos que ocorreram na aurora do século XXI, dentre os quais – Primavera Árabe, Occupy Wall Street e as Manifestações de Junho de 2013 no Brasil, a fim de demostrar a necessidade de se compreender essa nova forma de organização no campo político, ou em outras palavras aproximar o discurso politico dessa nova geração de atores políticos, impedindo que esse momento se perca que toda essa vontade de transformação e atividade social que começou como um “Jouissance”, ou seja, uma explosão de vontades e desejos que não se concretizam. O primeiro momento a ser abordado, a Primavera Árabe, teve seu inicio em 17 de dezembro de 2010 na Tunísia, após o suicídio do vendedor Mohamed Bouazizise por não conseguir conviver com as desigualdades sociais existentes em seu país, ocasionando surge um levante que se espalha por todos os países da região, levando a um processo de manifestações diárias que culminou com queda de governos e conflitos nas ruas quase que diariamente; já o movimento Occupy Wall Street o qual tem sua ocorrência nos Estados Unidos, na New York de setembro de 2011, onde um grupo de jovens se reune no Zuccotti Park, no distrito financeiro de Manhattan, questionando o funcionamento do sistema financeiro, e como grupos econômicos controlam o globo a partir da esfera financeira, tendo esse grupo a utilização do slogan ‘We are the 99%’ (Nós somos os 99%), em uma critica direta a 1% da população mais rica do globo. Por fim, a terceira análise enfoca as Manifestações de Junho

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de 2013 ocorridas no Brasil, a qual, por questões metodológicas se restringe ao fatos decorridos na cidade de São Paulo, cujo início se dá após o governo estadual e municipal aumentarem em 0,20 centavos as passagens do transporte coletivo. O movimento Passe Livre convoca manifestações que em um primeiro momento contam apenas com o apoio de grupos e pessoas com viés à esquerda, e após sofrer com a repressão policial esse grupo passa a receber o apoio massivo da população, que sai às ruas em apoio à causa e logo se cria um novo slogan, o “Não São por 0,20 Centavos”, que tematizaria os eventos. Uma das características que une e impulsiona esses movimentos vem a ser o forte e constante uso da internet e das mídias sociais para apresentar suas demandas e seu discurso, no Brasil podemos destacar na ocasião das manifestações, o fortalecimento do projeto Mídia Ninja que viria a ser conhecido como o canal oficial das manifestações; com base no aspecto da influência midiática na sociedade, busca-se apresentar uma síntese das ideias centrais de Slavoj Žižek, em relação à psicanalise, politica, Filosofia, e como sua análise da sociedade a partir dos filmes de Hollywood se aplica aos eventos recentes em nossa sociedade.

Bibliografia: Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. – 1 ed. – São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013. MARX, Karl e Engels, Friedrich. Manifesto Comunista; Tradução Álvaro Pina, São Paulo: Boitempo, 2007. ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel Dicionário de Psicanálise; Tradução Vera Ribeiro, Lucy Magalhães. – Rio de Janeiro: Zahar, 1998. SAFATLE, Vladimir A esquerda que não teme dizer seu nome; -1ed. – São Paulo: Três Estrelas, 2013. ŽIŽEK, Slavoj Alguém disse totalitarismo? Cinco intervenções no (mau)

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uso de uma noção; Tradução Rogério Bettoni. -1 ed. – São Paulo: Boitempo, 2013. ______ A visão em paralaxe; Tradução Maria Beatriz de Medina. -1ed. – São Paulo: Boitempo, 2008. ______Bem – Vindo ao deserto do Real; Tradução Paulo Cezar Castanheira. -1ed. – São Paulo: Boitempo, 2003. – Coleção (Estado de sítio). ______ Em defesa das causas perdidas; Tradução Maria Beatriz de Medina. – 1 ed. – São Paulo: Boitempo, 2011. ______ O amor impiedoso (ou: Sobre a crença); Tradução Lucas Mello Carvalho Ribeiro. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. ______ O ano em que sonhamos perigosamente; Tradução Rogério Bettoni. – 1 ed.- São Paulo: Boitempo, 2012. ‹‹http://blogdaboitempo.com.br/2012/08/08/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city-artigo-de-slavoj-zizek-sobre-batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge/›› Último acesso Julho de 2015. ŽIŽEK!, Astra Taylor, 2005, Slavoj Žižek, 71 minutos, Documentário, Estados Unidos. ‹‹http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Primeiros-Passos/-So-a-China-pode-salvar-o-capitalismo-ironiza-Slavoj-Zizek-em-entrevista-a-Carta-Maior/42/27727››. Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://www.ihu.unisinos.br/noticias/513696-movimento-occupy-wall-street-faz-um-ano-protestando›› Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://www.jb.com.br/retrospectiva-2013/noticias/2013/12/17/retrospectiva-manifestacoes-de-junho-agitaram-todo-o-pais/›› Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/21/ mpl-anuncia-que-nao-vai-convocar-novas-manifestacoes-no-momento.htm›› Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/29824/egito+muda+o+rumo+da+primavera+arabe.shtml›› Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://occupywallst.org/›› Último acesso Julho de 2015. ‹‹http://saopaulo.mpl.org.br/›› Último acesso Julho de 2015.

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O sujeito reduzido à demanda: uma leitura psicanalítica dos primórdios do neoliberalismo Carlos Augusto Santana Pereira carlosufrj@yahoo.com.br

Grande parte dos estudos críticos afirma que o marco inicial do neoliberalismo é a obra O caminhão da servidão, de Hayke, escrito em 1944. Contudo, se quisermos compreender não somente as intenções objetivas (livre mercado, estado mínimo etc), mas também os pressupostos subjetivos, é fundamental remontarmos a gênese do neoliberalismo a um momento anterior: à tríade marginalista do final do século XIX – Jevons, Walras e Menger. Embebido de um hedonismo radical, o sujeito na economia marginalista é um maximizador racional do prazer. Sua relação com o mundo é pautada exclusivamente em se livrar de dor e adquirir satisfação. Pouca importa a dimensão qualitativa do suporte material da satisfação. Tão pouco o próprio suporte material que sustenta esse sujeito, o corpo. Como afirmam provocativamente Hollis e Nell (1977), o sujeito marginalista “não é alto nem baixo, gordo nem magro, casado ou solteiro. Não se esclarece se ele gosta do seu cachorro, espanca a mulher ou prefere o jogo de dardos à poesia. Não sabemos o que deseja; mas sabemos que, o que quer que seja, ele maximizará impiedosamente para obtê-lo” (p.79). Desde a psicanálise, acrescentaríamos: tão pouco o próprio sujeito sabe. No entanto, na teoria marginalista este não saber do desejo não é considerado. Pressupõe-se que o sujeito tem consciência plena do que quer. Mas como o desejo está para além e aquém da demanda, o que fica de aparato conceitual para a teoria do sujeito marginalista é a demanda em sua pura expressão.

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A economia marginalista se erige, então, a partir do pressuposto que o ser humano pode ser plenamente satisfeito. A ideia que o homem busca incansavelmente o estoque de bens (por isso marginalista, por pensar a economia a partir de bens que estão à margem do consumo, mas disponíveis para tal) é a base da teoria do sujeito na economia marginalista, e que servirá de pressuposto para toda a teoria econômica neoclássica e neoliberal contemporânea. O que escapa aos marginalistas é que o sujeito pode gozar do próprio acúmulo – e também da falta, principalmente quando se dispõe de bens diante de um Outro que nada tem. Na prática, o que o neoliberalismo promove é a lógica empreendedora atravessada por uma espécie de ética sádica. A “maximização impiedosa” que se acreditava ser meio para a satisfação plena, na verdade é o próprio fim. O terrível paradoxo é que a vitória do neoliberalismo se deve justamente a esta promessa de sadismo. O líder empresarial como o ideal de indivíduo bem sucedido produz como compensação o gozo da posse de bens diante dos que não tem. Não por acaso que proliferam nas instituições diversos tipos de assédio. É o ganho secundário do resultado do acúmulo. A situação se agrava quando identificamos que as críticas mais vulgares e imediatas ao neoliberalismo apelam para a necessidade de imposição de limites, de regulação. Ora, não se trata de um problema moral, de valores “certos ou errados”, de “ganância”, mas de uma questão de economia do gozo.

Referência bibliográfica: HOLLIS, Martin e NELL, Edward J. O homem econômico racional: uma crítica filosófica da economia neoclássica. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

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A crise política da ética na contemporaneidade: uma interlocução entre a psicanálise, a sociologia e a Filosofia Ana Elizabeth Araujo Luna anabethluna@hotmail.com José Flôr De Medeiros Júnior jfmjmedeiros@gmail.com

O presente trabalho pretende promover, a partir de uma revisão teórica, uma inter-relação entre o arcabouço teórico da psicanálise, da Filosofia e da sociologia, objetivando pensar a ética na contemporaneidade. Diante dos sintomas da sociedade atual, demarcada pela globalização excludente, pelo consumismo, pela medicalização dos corpos, pelo individualismo e pela violência, física ou simbólica, se faz pertinente uma (re)discussão sobre a ética. Para tanto, elenca-se teorizações freudo-lacanianas, da sociologia e contribuições filosóficas a respeito da ética. Salienta-se que, embora Freud (1933[1932]/1996) não situe a psicanálise como um saber sobre o universo que possa refletir sobre a solução dos problemas da existência, a psicanálise apresenta reflexões sobre a cultura que se desdobram em contribuições à sociedade. Freud (1930[1929]/1996) situa o mal estar do homem como proveniente do impasse entre as pulsões inconscientes e as exigências culturais incidentes no psiquismo. Para suprimir as tendências pulsionais são instituídos na cultura os valores morais que se instalam na subjetividade mediante as exigências do superego e o sentimento de culpa. Apesar dessa introjeção, há o mecanismo da libido mobilizado pela pulsão de morte que escapa à nomeação do simbólico, fazendo com que persista no seio da cultura a agressividade do Ser humano. Assim, persistirá no psíquico uma reivindicação inconsciente diante das regras sócio-culturais. Para Freud (1930[1929]/1996, p.

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118) enquanto a civilização exige a beleza, a limpeza e a ordem, o ser humano possui uma tendência ao descuido, à irregularidade e à irresponsabilidade. Lacan (1948/1998) também demarca esses impasses entre o homem e a cultura. Assim, da mesma forma que a opressão do supereu funda a lei e mandatos da consciência moral, a paixão desregrada é a raiz fundamental para o surgimento das mais obscuras manifestações racionais da vontade. Mas, diante do inconsciente, a psicanálise não desresponsabiliza o sujeito. Como diz Lacan (1965/1998, p. 873), “por nossa posição de sujeito, sempre somos responsáveis”. Ao falar sobre a concepção do crime e as práticas punitivas da criminologia como desdobramentos dos costumes e leis culturais, Lacan (1950/2003) explora sobre a responsabilidade, diferenciando a aplicação deste conceito no âmbito jurídico e na psicanálise. Enquanto na criminologia responsabilidade corresponde à imputação de uma punição de acordo a normatização de condutas, a responsabilidade que interessa à psicanálise é da ordem de uma implicação subjetiva diante do ato cometido, o “assentimento subjetivo”. Esse conceito induz à compreensão de que não é possível discutir ética sem considerar os aspectos subjetivos para a posição responsável de um sujeito, pois ética na psicanálise é da ordem do desejo e se coloca em jogo mediante uma elaboração do inconsciente. Nesse sentido, o assentimento subjetivo é uma via de operação clínica para o comprometimento da contemporaneidade diante dos problemas atuais. Urge (re)discutir a postura ética na contemporaneidade trazendo à tona a ideia grega de alteridade. Considerando os aspectos subjetivos, conflitos entre pulsão e moral podem ser atenuados, pois onde está o desejo a ética se coloca no horizonte como saída possível ao mal estar do homem na cultura, permitindo relações mais prazerosas e saudáveis à vida coletiva. Palavras-chave: Ética; Psicanálise; Alteridade; Assentimento subjetivo.

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Referências: FREUD, S.(1930[1929]). O mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 3ª ED. Rio de Janeiro, Imago, Vol. XXI, 1996, p. 67-148. _______. (1933[1932]). Conferência XXXV: A questão de uma Weltanschauung. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 3ª ED. Rio de Janeiro, Imago, Vol. XXII, 1996, p. 155- 177. LACAN, J. (1948). A agressividade em psicanálise. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 104-126. ______. (1950). Premissas a todo desenvolvimento possível da criminologia. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 127-131. ______.(1965). A ciência e a verdade. Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.869-892.

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Identidades populares e identificação na dinâmica político-social Patrícia Ferreira-Lemos patricia.ferreiralemos@gmail.com

A proposta deste trabalho é nos atermos à construção da ideia de ‘identidades populares’ elaborada por Ernesto Laclau (2005). O recurso a Laclau justifica-se na medida em que o autor retoma as clássicas concepções freudianas e lacanianas sobre a identificação, postas especialmente em Psicologia de grupo e análise do ego (1921) e no Seminário IX – A identificação (1961-1962), avançando e demarcando a sua concepção sobre as identidades, colocando em cena a transição entre demandas individuais e demandas populares que se transformam a partir dos laços de equivalência. Ao mesmo tempo, dentro de seu argumento da lógica da equivalência e da diferença, Laclau indica que estes laços são sempre plurais e sugere a condensação enquanto mecanismo viabilizador de identificação a uma identidade popular, que considera elemento fundamental para a hegemonia. Com isso, pretendemos pensar se tal construção teórica pode nos auxiliar no entendimento da possibilidade de configuração de ‘identidades populares’ a partir dos atos de protestos e ocupações que ocorreram desde 2011 em diferentes países e também nos assessorar em alguma elucidação sobre a estruturação do atual momento político brasileiro.

Referências: FREUD, S. Psicologia de grupo e análise do ego (1921). Em: S.Freud, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

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LACAN, J. O seminário, livro 09: a identificação. Inédito. (Trabalho original de 1961- 1962) LACLAU, E. (2005) A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

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O cartel como aposta política de Lacan Lucas Fraga Gomes lucasfragagomes@gmail.com

Lacan em seu retorno a Freud estava de certa forma no processo de reinventar a invenção. Suas contribuições para a psicanálise extravasaram o próprio campo, trazendo valiosas contribuições para diversos saberes, tais como a Filosofia, a linguística, e, por que não, política. Sobre esta questão em especial, pode-se dizer que se não existe um escrito dirigido diretamente para este tema, são recorrentes as passagens ao longo dos Seminários de Lacan em que ele fala algo sobre a política. Por exemplo, no Seminário da Ética da Psicanálise (Seminário 7) Lacan remonta a Jeremy Bentham e sua teoria das ficções para demonstrar o estatuto ficcional da verdade. Já no Seminário “A lógica da fantasia” (Seminário 14) Lacan afirmou que o inconsciente é a política, tese sustentada pela noção de que o inconsciente é o discurso do Outro. Posteriormente, em 1968 (Seminário 16- De um Outro ao outro), com a demonstração da inconsistência e da impossibilidade de um discurso dizer a verdade, a “política” da psicanálise passa a se pautar na torção saber – verdade. É justamente na impossibilidade da verdade que todo saber é possível. Parece-me que o ápice da formulação política de Lacan acontecerá anos mais tarde em seu Seminário Sinthoma (Seminário 23). Pois, quando questionado o que ele achava dos movimentos da China, ele afirma: “Eu aguardo, mas não espero nada”. Aqui, Lacan vai ao limite de vacilar os semblantes, inclusive o psicanalítico. Lacan afirmava que a política funcionava por identificação, ou seja, ela captura os sujeitos pela via da manipulação dos significantes-mestres. Daí a psicanálise ser o avesso da política (Miller, 2004). Miller afirma (2004, p.11): “[…] no campo político, Lacan é contra tudo que é a favor […]”. Mas isto não implica em dizer que Lacan

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era apolítico ou que se furtava de uma posição política. A tese que pretendo discutir aqui é que o cartel, dispositivo criado por Lacan em 1964 quando forma sua primeira Escola de Psicanálise é uma aposta política no sentido que este dispositivo torna-se o fundamento base da formação do psicanalista e uma porta de entrada para sua Escola. Insisto no cartel enquanto a aposta política, pois este dispositivo, que se constitui em um pequeno grupo de participantes, quatro no máximo e um “mas-um” sempre estão presentes nos textos fundantes da Escola de Lacan. Pois, este dispositivo singular, este grupo que busca minimizar os efeitos de grupo, que possui um participante intitulado “mais-um” – que não é um mestre, mas não é qualquer um e possui a função de fazer buracos na cabeça – é a aposta política de Lacan para formação do psicanalista e, seguindo com Badiou, como um instrumento de trabalho diferenciado: “[…] Nenhum coletivo, nenhum grupo tem um legitimidade intrínseca; nem mesmo o projeto de fazer alguma coisa legitima o grupo. É preciso distinguir o projeto-de-fazer e o próprio fazer […]” (BADIOU, 1999, p.68). Assim é o cartel.

Referências: BADIOU, A. Conferências de Alain Badiou no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. LACAN, J. O Seminário livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2012. ___________. O Seminário livro 16: de um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008. ___________. O seminário livro 14: A lógica da fantasia. Inédito ___________. O seminário livro 23: O Sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008. Miller, J. Opção Lacaniana nº40. Lacan e a política. Rio de Janeiro, 2004.

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___________. Intuições Milanesas I. Disponível em: http://www. opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_5/Intui%C3%A7%C3%B5es_milanesas.pdf __________. Intuições milanesas II. Disponível em: http:// www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_6/Intuicoes_ Milanesas_II.pdf

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A binaridade nos processos identificatórios Patrícia Ferreira-Lemos e Sérgio Prudente patricia.ferreiralemos@gmail.com / sergio_prudente@yahoo.com.br

A proposta deste trabalho é apresentar algumas elaborações preliminares de uma articulação entre Filosofia política e psicanálise que nos permita avançar sobre a questão dos processos identificatórios na política. Partimos das construções de Claude Lefort e Ernesto Laclau para introduzirmos a impossibilidade de completude do campo enquanto condição necessária para os processos identificatórios, trazendo o conflito como elemento político primordial e abordando a problemática da identidade imposta pela representação do poder. Posteriormente, passamos a algumas elaborações sobre identificação na psicanálise, especialmente na identificação dos grupos proposta por S.Freud e no ‘Um’ enquanto unificação do ideal desenvolvida por J.Lacan. Estas duas referências são bases para nosso argumento que pretende sustentar que a binaridade está posta na estrutura da identificação, uma vez que em detrimento da equivalência, reconhece-se e exclui-se a diferença. Nosso intuito é, em última instância, contribuir para o debate que se estabeleceu entre dois polos antagônicos na democracia brasileira atual, sobretudo a partir da disputa presidencial ocorrida em 2014.

Referências: FREUD, S. Psicologia de grupo e análise do ego (1921). Em: S.Freud, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006. LACAN, J. O seminário, livro 09: a identificação. Inédito. (Trabalho original de 1961- 1962)

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LACLAU, E. (2005) A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013. LEFORT, C. (1981). Pensando o político: ensaios sobre democracia, revolução e liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

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Mentalidade punitivista André Hemerly Paris Email: andrehparis@hotmail.com

O presente estudo busca, pela análise dos recentes casos de linchamento popular (2014) deflagrados por todo o país, mostrar a injunção ao gozo em fazer-sofrer daqueles que praticaram ou simplesmente enalteceram ou defenderam tais atos, em uma espécie de voyeurismo perverso, bem como demonstrar como nossa ordem socioeconômica permite que se elejam determinados indivíduos ou grupo social que seria passível, ou mais, que deveria ser sacrificado ou relegado ao ostracismo para a manutenção e perpetuação de tal ordem. Neste trabalho ainda se tentará demonstrar como o senso comum penal, a mídia sensacionalista e as estruturas governamentais influenciam e são influenciados mutuamente, contribuindo para, ao mesmo tempo, originar, renovar e permanência da mentalidade punitivista. Palavras-chave: Mentalidade Punitivista. Linchamento. Expiação. Gozo em punir. Populismo Penal.

Referências: AGAMBEN, Giorgio, apud LEVI. Lo que Queda de Auschwitz. Valencia: Pre-Textos, 2005. ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS (AMB). Pesquisa AMB 2006. Brasília: AMB, 2006. BARRETO, Tobias. Fundamentos do Direito de Punir. Revista dos Tribunais (727). São Paulo: RT, 1996.

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Antígona no gueto: a história de Irena Sendler à luz da ética psicanalítica Mariana Rodrigues Festucci Ferreira Formação: Psicanalista, mestranda em Psicologia social, especialista em Psicanálise e linguagem pela PUC-SP marianafestucci@yahoo.com.br João Ezequiel Grecco Formação: Psicanalista, doutorando em Psicologia social pela PUCSP, mestre em Psicologia Clínica pela PUCSP e especialista em Psicologia clínica pelo Instituto Sedes Sapientiae Instituição: PUC-SP – Núcleo de Psicanálise & Sociedade

Esta comunicação visa estabelecer uma interlocução entre a tragédia vivida por Irena Sendler no gueto de Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial e a tragédia apresentada pela personagem Antígona de Sofócles pelo viés da ética psicanalítica – ética pautada pela dialética do desejo. Antígona sustentou o desejo de enterrar o irmão Polinices confrontando a determinação de Creonte que previa a morte para quem o desacatasse; para Antígona, entretanto, não enterrar o irmão já era a morte, pois representava a negação da ordem significante que estabelecia com Polinices uma irmandade para além dos laços sanguíneos. Irena Sendler, por sua vez, foi uma jovem que vivia nos arredores do gueto de Varsóvia durante a Ocupação nazista na Polônia e que, contrariando as determinações alemãs que negava a humanidade aos judeus, liderou um grupo de voluntários que salvaram da morte cerca de duas mil crianças judias. Tanto em Antígona quanto em Irena Sendler observamos a sustentação do desejo que não se pauta em princípios morais, não obedece de forma imperativa a um bem segundo o princípio kantiano, não se submete cegamente às leis ou a manipulações e que está para além

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do princípio do prazer; trata-se da sustentação da relação do homem com a sua falta a ser, da conservação do “hímeros anarges” – brilho inquebrantável conforme sustenta Lacan em seu seminário VII – a ética da psicanálise. A história de Irena Sendler é um contraponto ao esvaziamento do sujeito na contemporaneidade. Na vigência do capitalismo o estatuto do desejo é subvertido pela relação individuo/mercadoria e o apanágio de consumo que fabrica objetos de gozo que visam burlar a “falta constitutiva”, reduzindo o outro a um mero parceiro conectável e desconectável e dissolvendo, por conseguinte, o laço social. A história de Irena Sendler serve de esteio ao que defende a ética psicanalítica.

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Política e Psicanálise. Onde incide a cultura religiosa no pensamento de Gilberto Freyre? Claudio Marcio Coelho claudiomarciocoelho@gmail.com Marcia Barros Ferreira Rodrigues mbfrodrigues@gmail.com

Na reflexão entre teoria política e psicanálise nos interessa discutir onde incide a cultura religiosa no pensamento de Gilberto Freyre. Abordaremos a dimensão subjetiva e os efeitos da trajetória do projeto religioso paterno protestante que afetou e estruturou Gilberto Freyre como sujeito poiético. Faremos incursões na clínica em extensão, política e subjetividade: tensões entre o sentir, o pensar e o agir. Ou seja, nos interessa discutir os ruídos do inconsciente na investigação da cultura político-religiosa no Brasil republicano. Neste sentido, discutiremos a experiência religiosa protestante do jovem Freyre no Colégio Americano Batista e na Primeira Igreja Batista do Recife; a repercussão da influência exercida por seu pai Alfredo Freyre – professor e diretor do Colégio Americano – e dos missionários batistas em sua educação e decisão de tornar-se missionário e pastor nesta religião; sua viagem aos Estados Unidos (1918) para realizar estudos universitários na Universidade de Baylor, Texas: o maior centro acadêmico de formação batista do mundo. O contexto brasileiro que coincide com o período de estudos do jovem Freyre nos EUA e na Europa, de seu retorno ao Brasil (1923) até a publicação de Casa-Grande & Senzala (1933), estava tomado por movimentos decisivos como o Modernismo do Eixo Rio-São Paulo, a Fundação do Partido Comunista Brasileiro, o Tenentismo, a Reação Católica, entre outros. Com a proclamação da República (1889), a Igreja Católica perdeu privilégios e amargou o enfraquecimento de sua influência política e social. Diante deste cenário,

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lideranças católicas deliberaram um conjunto de ações que instituíram a “Reação Católica”. O movimento arregimentou políticos católicos para o apoio de sua plataforma moral e social, e orientou o eleitorado em sua ação política. Não foi um partido político, mas assumiu posturas ideológicas que apregoavam a participação efetiva da Igreja junto ao poder secular. Consideramos a referida reação como permanência histórica da “Questão Religiosa” suscitada pela insubmissão dos bispos de Pernambuco e do Pará (Dom Vital e Dom Macedo Costa) no final do século XIX. Os bispos desobedeceram ao beneplácito régio e impuseram medidas restritivas à presença de maçons em irmandades da Igreja, além de lhes negar os sacramentos. Esta celeuma constitui um sintoma da insatisfação do Catolicismo com a perda de influência junto ao Governo do Brasil. A “Reação Católica”, realizada nas décadas de 1920 e 1930, representa a sobrevivência desta insatisfação, revivificada como luta de campo político-religioso neste período. Esse é o contexto no qual se insere Gilberto Freyre quando da publicação de sua obra germinal Casa Grande & Senzala e que culminou com sua rejeição pelo movimento de “Reação Católica” liderada por Alceu Amoroso Lima. Isto posto, nossa principal hipótese para este trabalho é: a rejeição da liderança eclesiástica e do laicato católico à obra de G.Freyre produziu efeitos de ressentimentos que repercutiram na produção intelectual autopoiética, conservadora e romântica do pensador pernambucano. Este trabalho situa-se no campo da História das Ideias, da Teoria Política e da Psicanálise. Palavras-chave: Gilberto Freyre; política e psicanálise; cultura religiosa.

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Referências: ANDRADE, Ricardo S. de. A face noturna do pensamento freudiano: Freud e o romantismo alemão. Niterói: EDUFF. 2000. AZZI, Riolando. “A restauração católica no Brasil. 1920-1930”. Parte 1. Síntese – Revista de Filosofia. v.4, n.10, 1977. pp.61-89. ______. “A restauração católica no Brasil. 1920-1930”. Parte 2. Síntese – Revista de Filosofia. v.4, n.11, 1977. pp.73-101. CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Autoritarismo afetivo: a Prússia como sentimento. São Paulo: Escuta, 2005. CERQUEIRA FILHO, Gisálio e CERQUEIRA, Marcelo N. Apetite pelo sagrado. III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e IX Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental. UFF. Niterói, Rio de Janeiro: 2008. COELHO, Claudio M. Gilberto Freyre: indiciarismo, emoção e política na casa-grande e na senzala. Dissertação de Mestrado em História Social das Relações Políticas. PPGHIS, UFES, Vitória: 2007. FREYRE, Gilberto. Vida social no Brasil nos meados do século XIX. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; MEC. 1964. ______. Como e porque sou e não sou sociólogo. Brasília: Ed. da UNB. 1968. ______. Tempo morto e outros tempos: trechos de um diário de adolescência e primeira mocidade, 1915-1930. Rio de Janeiro: José Olympio. 1975. ______. Tempo de aprendiz: artigos publicados em jornais na adolescência e na primeira mocidade do autor, 1918-1926. São Paulo: IBRASA; Brasília: INL. 1979. ______. Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 30 ed. Rio de Janeiro: Record. 1995.

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As tragetórias e perspectivas da formação continuada no Brasil na contemporaneidade Denize Gomes Duarte gmardenizegomesduarte@gmail.com

Este artigo, de revisão bibliográfica, tem por objetivo pesquisar como está a atual situação da formação continuada dos professores, no Brasil, e suas reais perspectivas em relação ao futuro da educação. As pesquisas corroboram que desde o período colonial e início da fundação das escolas formadoras de educadores, não se via nenhuma preocupação com a formação continuada. Somente a partir da criação da Lei das Escolas de Primeiras Letras publicada em 1827 que esta preocupação surgiu. A lei, em questão, determinava que o professor deveria se capacitar com “suas próprias custas”. Fato este não muito diferente no século em que estamos, uma vez que, quem quiser se capacitar tem que “se bancar”. Hoje vários autores têm se dedicado a estudar este tema, tão polêmico, mas de fundamental importância. Pois mediante pesquisas, percebeu-se que vários autores, relatam que a formação continuada vem tomando posição de destaque, porém ainda está bem longe de suprir todas as necessidades que a educação apresenta, pois, no Brasil não se é investido quase nada na formação continuada dos docentes pelas redes públicas. Isto não é nada animador, porque os estudos têm demostrado que os professores vêm apresentando total desânimo de atuar na profissão. Acredita-se que a educação precisa com urgência de uma “injeção de ânimo”, pois a cada dia os alunos ficam mais diversificados e sem base familiar concreta, problema este que interfere diretamente no aprendizado dos alunos e na qualidade do ensino. E só uma equipe pedagógica, muito bem, preparada pode lidar com este tipo de problema e solucioná-lo.

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Palavras-chave: Formação, Professores, Alunos, Educação.

Bibliografia: BERNADO, Elisangela da Silva. UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM ESCOLAS ORGANIZADAS NO REGIME DE ENSINO EM CICLO(S). Revista GT: Formação de Professores, n.8, p.1-18, nov. 2004. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt08/t083.pdf. Acesso> em: 13 junh. 2013. BERNAL, B.V.; PÉREZ, R.J.; JIMÉNEZ; V.M. Eldesarrollo profesional del profesorado de ciências como integración de La reflexión y la práctica. La hipótesis de la complejidad. Revista Eureka sobre Enseñanza y Divlgación de las Ciencias. n. 4, v. 3, p. 372-393, maio, 2007. Disponível em: <http://www.eweb.unex. es/eweb/dcem/ar07eureka.pdf>. Acesso em: 25 junh. 2013. FALCO, Gláucia de Paula; ALTAF, Joyce Gonçalves; TROCCOLI, Irene Raguet. O Perfil dos Programas de Pós-graduação no Brasil: uma Análise para os Programas em Engenharia Elétrica. VIII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. p.1-16, 2011.Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/ artigos11/61314521.pdf>. Acesso em: 27 junh. 2013. KUENZER, Acácia Zeneida; MORAES, Maria Célia Marcondes. TEMAS E TRAMAS NA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 93, p. 1341-1362, Set./Dez. 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/es/ v26n93/27284.pdf >.Acesso em 28 junh.2013. JUNIOR, João Batista dos Santos; MARCONDES, Maria Eunice Ribeiro. GRUPOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA COMO FERRAMENTA NA REESTRUTURAÇÃO DO PENSAMENTO E DESENVOLVIMENTO PROfiSSIONAL DO PROFESSOR DE

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QUÍMICA. VII ENPEC. REALIZAÇÃO ABRAPEC. Florianópolis, p.1-9, nov. 2009. Disponível em: <http://posgrad.fae.ufmg. br/posgrad/viienpec/pdfs/304.pdf>. Acesso em: 25 junh. 2013. NOVELLO, Jaqueline C. Lickfeldt. IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLA. FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA, p.1-7, 2004. Disponível em: <http://ensino.univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho073.pdf. pdf>. Acesso em: 15 junh. 2013. RÉGIS, Luiz Lima de Souza. Formação Continuada dos Professores e Professores do Município de Barueri: Compreendendo para poder atuar. S/N. São Paulo, FE/USP, p.1-193 2007. Disponível em: <http://www2.fe.usp.br/~etnomat/teses/FormaoContinuadadeProfessores.pdf>. Acesso em: 20 junh. 2013. SADALLA, Ana Maria Falcão de Aragão et al. Partilhando formação, prática e dilemas: uma contribuição ao desenvolvimento docente. Revista Psicologia Escolar e Educacional. Campinas, v.9, n.1, p.1-10, junh. 2005. Disponível em: <http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141385572005000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 26 junh. 2013. SOARES, Kátia Cristina Dambiski. A formação continuada dos professores da escola pública: algumas possibilidades na organização do trabalho pedagógico. Revista Chão da Escola, v.1, n.1, p. 1-14 out, 2007. Disponível em: < http://www.nre.seed. pr.gov.br/franciscobeltrao/arquivos/file/disciplinas/pde/Texto_Katia_Soares.pdf >. Acesso em: 15 junh. 2013 SOARES, Kátia Cristina Dambiski. TRABALHO E FORMAÇÃO DOCENTES: TENDÊNCIAS NO PLANO DAS POLÍTICAS E DA LITERATURA ESPECIALIZADA. Revista GT: Trabalho e Educação, n.9, p.1-15, 2007. Disponível em: <http://www.anped.

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org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT09-1759--Int.pdf>. Acesso em: 16 junh. 2013. SAVIANI, Demerval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 40, p.143-155, jan./abr., 2009. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf>. Acesso em: 02 julh. 2013.

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“Loucura e estado de exceção na biopolítica contemporânea” Raquel Fabris Moscon mosconraquel@yahoo.com.br Renata Costa-Moura costamourarenata@gmail.com

Em seus últimos trabalhos, Michel Foucault analisou a emergência da biopolítica, caracterizando-a como uma estratégia de poder voltada ao controle dos processos vitais da população e à eliminação dos fatores considerados de risco ao bem-estar social. Nesse sistema, o poder soberano afigura-se pelo empenho em “fazer viver” ao preço de “deixar morrer” certos sujeitos, estes compreendidos enquanto elementos geradores de perigo a conservação do bem comum. Na esteira dessas análises, o filósofo Giorgio Agamben aprofunda sua investigação, propondo que o biopoder implica a formação de um campo discursivo que possibilitou, em sua expressão máxima, o acontecimento atroz dos campos de concentração. A partir daí, o autor convoca-nos a reconhecer, no seio da atualidade, as reverberações que se localizam segundo esta mesma lógica, demonstrando como prevalece socialmente um racismo cientificamente justificado. Com efeito, diversas práticas eugenistas são legitimadas em prol de um programa social destinado à purificação biológica da nação, orientando intervenções sanitárias de toda ordem, com vistas à manutenção da higiene pública. Podemos situar, dentre as diversas possibilidades de fixações deste mecanismo, o lugar destinado ao psicótico infrator, designando sua posição na conjuntura político-social como sendo análoga ao “lugar de exceção, abordado por Agamben, ou ainda comparável com o singular estatuto do “mulçumano”, retratado por Primo Levi. A condição política destinada ao psicótico aproxima-se do estado de exceção

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na medida em que a loucura situa-se num limiar social, que faz do psicótico alguém incluído na dimensão humana apenas à título de sua própria exclusão. Na atual conjuntura, resta ao psicótico que cometeu crime somente a segregação nas instituições de custódia, tratamento cujo efeito concreto é a perda dos referentes e a gradual dessubjetivação, decorrente da ruptura com o universo simbólico. Em alguns casos, chega-se a permanecer asilado perpetuamente, devido ao argumento, supostamente científico, da periculosidade intrínseca a doença mental. Tal processo de exclusão ocasiona a contínua degradação humana e, em seus limites extremos, produz a perda absoluta de sentido, mediante o silenciamento contínuo impresso sobre o sujeito, levando àquele que atravessa esta experiência a uma anulação subjetiva de tal ordem que passa a inscrever-se no mesmo umbral do mulçumano. Este, como o louco despido de sua humanidade, situa-se num ponto indiscernível entre a vida e a morte, que leva a duvidar se resta aí um homem ou alguma coisa que já não se reconhece mais no sentido do termo. No cenário biopolítico contemporâneo, compreendido apenas como perigoso, sendo simplesmente sequestrado da convivência humana, o louco é banido do laço com o universo comum. Na maioria das vezes, é visto como um puro corpo biológico, capturado por um poder científico que busca conter uma suposta virtualidade violenta, fomentando a progressiva redução do sujeito ao lugar de mero objeto. Este procedimento, vale dizer, se realiza a contrapelo de qualquer possibilidade de articulação da existência em um sentido singular. À luz de uma interpretação psicanalítica, isto significa eliminar a relação do sujeito com a linguagem, ou seja, justamente com aquilo que constitui o humano enquanto tal.

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Referências: AGAMBEN, GIORGIO. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. 2.ed. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2010. ______. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). Trad. Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. FOUCAULT, MICHEL. Aula de 17 de março de 1976. In: ___. Em defesa da sociedade. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 285-315.

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A morte e o paradoxo da autonomia na psicanálise Allan Martins Mohr E-mail: allan.mohr@gmail.com Orientador: Prof. Dr. Rogério Miranda de Almeida

O objetivo desta comunicação é apresentar algumas discussões levantadas pela tese de doutoramento sendo desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Pós-Graduação em Filosofia – Linha de Pesquisa Filosofia da Psicanálise). Pesquisa que parte do problema acerca do estatuto, ou melhor, da possibilidade de se pensar um estatuto de homem autônomo na psicanálise. Tomando o paradigma determinista em Schopenhauer e Spinoza como solo fértil para considerar o inconsciente sistêmico freudiano (Isso) enquanto comparável ao Deus spinozista e à Vontade schopenhauriana, é possível questionar se, apesar de determinado pelo inconsciente em Freud e pelo campo da linguagem em Lacan, o sujeito poderia ser pensado enquanto autônomo, porque ético e responsável por seus atos. Dentro dessa discussão uma de nossas hipóteses é de que por sermos constituídos no campo da fala e da linguagem e pela representação de um significante a outro, estamos destacados da natureza e, portanto, não seríamos naturais, mas aberrações. Hipótese que se explica por seu acréscimo, onde conjecturamos que é pelo advento da morte, e de sua ciência, que o sujeito é dejeto da natureza. Entretanto, essa não é a mesma morte do organismo da qual fala Freud, onde por morrermos seríamos resultado de um desígnio natural. Essa morte é Outra. Portanto, a partir do conceito de segunda morte em Lacan pensamos ser possível colocar em questão a problemática da autonomia do homem, ou melhor, do sujeito psicanalítico. Destarte, talvez fosse impossível falarmos de fato de uma natureza humana; talvez só nos fosse possível falar em sujeito humano, pois no humano tudo termina e

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extingue-se. Para a psicanálise a morte estaria relacionada apenas com o ser humano, uma vez que ela está posta apenas na linguagem; nesse sentido, apenas o homem morre, e por morrer e ter fim é que talvez se possa pensar em seu ato como algo que o sujeito deva se responsabilizar e constituir como consequência e a posteriori, sua própria lei e seu próprio destino. Palavras-chave: Psicanálise; Sujeito; Autonomia.

Referências bibliográficas: ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. (trad. Ivone Castilho Benedetti). São Paulo: Martins Fontes, 2007. EIDELSZTEIN, A. Ça parle (eso habla) y ça pense (eso piensa) y la responsabilidad subjetiva. Apertura SRP, La Paz, Bolivia, 2012. Disponível em: <http://www.eidelszteinalfredo.com.ar/index. php?IDM=45&mpal=7&alias>. Acesso em: 14 jun. 2015. FREUD, S. (1913). Totem e tabu. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XIII). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996a. ______. (1915). Reflexões para os tempos de guerra e morte. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XIV). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996b. ______. (1916 [1915]). Conferência II: Parapraxias. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XV). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996c. ______. (1916 [1915]). Conferência III: Parapraxias (continuação). (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XV). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996d. ______. (1927). O futuro de uma ilusão. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XXI). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996e.

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______. (1930 [1929]). O mal-estar na civilização. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol. XXI). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996f. ______. (1940 [1938]). Esboço de psicanálise.(Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XXIII). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996g. ______. (1950 [1895]). Projeto para uma psicologia científica. (Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. I). Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996h. GOETHE, W. J. von. Fausto: uma tragédia – Primeira parte. São Paulo: Editora 34, 2004. LACAN, J. (1951). Intervenção sobre a transferência. In. LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998a. ______. (1965). A ciência e a verdade. In. LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998b. ______. (1959 – 1960). Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008c. ______. (1967 – 1968). Seminário, livro 15: o ato psicanalítico. Inédito. NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. (trad. Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação, 1º tomo. (trad. Jair Barboza). São Paulo: Editora UNESP, 2005. ______. Da Morte. Metafísica do amor. Do sofrimento do mundo. São Paulo: Martins Claret, 2008. SPINOZA, B. de. (1677). Ética. (trad. Tomaz Tadeu). Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. VIERECK, G. S. (1930). Sigmund Freud. In: ALTMAN, F. (org.). A arte da entrevista: uma antologia de 1823 aos nossos dias. São Paulo: Escritta, 1995, pp. 88 – 98. VORSATZ, I. Antígona e a ética trágica da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

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A violência nas cidades sob o olhar da psicanálise Diana Lídia da Silva diana_lidiasilva@yahoo.com.br

Ao escrever sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial, Freud (1915) nos diz do impacto causado pelos atos cruéis dos quais foi espectador junto de uma Europa devastada e forçada a pensar na morte como possibilidade mais real do que nunca. Cem anos depois, ainda que não estejamos em meio a uma única grande guerra, somos espectadores de uma multiplicidade de guerras, também marcadas por violência e barbárie. O mesmo espanto experimentado por Freud diante da capacidade de crueldade do homem nos assombra hoje ao assistir aos jornais. Freud já havia, no entanto, nos precavido de que o ser humano não é totalmente bom ou mau, sendo capaz de atos nobres, mas também de atos impensáveis. Altruísmo e egoísmo, bondade e crueldade coexistem no inconsciente. Os episódios de violência que temos presenciado não são exclusividade da atualidade. O mundo não é muito mais violento do que fora um dia. Os conflitos que marcam a relação do sujeito com a lei também não são território novo. Aceitar a lei é se aceitar castrado; é se deparar com a possibilidade da perda, com a falta, e com o desamparo. E isto não se dá sem sofrimento e resistência. Segundo Freud (1930) para se proteger do desamparo o homem se submete à vida em comunidade e a uma exacerbada renúncia pulsional. Para viver com o outro é preciso abrir mão de uma série de satisfações pulsionais, inclusive uma parcela das tendências hostis que são próprias de todo e cada sujeito. Temos hoje uma multiplicidade de grupamentos, com líderes e causas diversas, mas algo em comum: a insatisfação e a frustração diante da sensação de desamparo e insegurança que a civilização falha em amenizar. A justiça e a lei já não inspiram confiança e o que vemos é a expressão dessa frustração

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em cenários diversos; seja tomando a “justiça” nas próprias mãos e executando os transgressores em praça pública; seja pela via das manifestações pacíficas ou daquelas que usam a depredação como forma de discurso; seja através das declarações em redes sociais, nas quais as pessoas já não parecem temer a responsabilização por aquilo que dizem. A ilusão de que a violência se limitaria apenas a uma parcela menos privilegiada da população já não se sustenta. Para a psicanálise, no entanto, isso não é novidade; do seu ponto de vista a violência nunca se limitou àqueles de quem a sociedade espera. Mudaram-se os arranjos, mas permanece a questão que assombra a civilização: o que fazer com a agressividade que constitui o sujeito? Pensando nisso que é do sujeito e que persiste encontrando vias diversas de expressão é que propomos uma reflexão sobre a violência e seus efeitos sob o olhar da psicanálise.

Referências: Freud, S. (1915/2010). Considerações atuais sobre a guerra e a morte. In Sigmund Freud Obras Completas: Vol. 12. São Paulo: Companhia das Letras. Freud, S. (1930/2010). O mal-estar na civilização. In Sigmund Freud Obras Completas: Vol. 18. São Paulo: Companhia das Letras.

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Conflito e ilusão na Psicanálise Guilherme Olivier da Silva golivierdasilva@gmail.com

A Psicanálise entende que a neurose, mais do que descrever uma entidade clínica pertencente a uma ordem psicopatológica, é uma espécie de conta a ser paga por aqueles que vivem em civilização. O sintoma neurótico corresponde a um conflito fundador, isto é, um desajuste inerente àquele contrato civilizatório, que atesta um impasse sobre o qual se move a cria humana: dividida entre a satisfação pulsional e os obstáculos que lhe são impostos, ela manifesta um mal-estar que é motivado, portanto, por razões de estrutura. O neurótico, por assim dizer, é sintoma daquela divisão. Ora, levando-se em conta que a teoria psicanalítica tem como propósito investigar o indivíduo e o seu enlace com o social, ela também apresenta um saber sobre a coletividade. A hipótese do inconsciente reside no ponto de encontro do animal falante com a cultura. A sociabilidade é uma temática que ocupou as investigações freudianas, sobretudo depois da primeira década do século XX, ao menos de modo mais contundente. Esse ponto é importante porque fornece os argumentos que deram legitimidade para que a Psicanálise passasse a lançar hipóteses sobre as questões relacionadas à cultura. Ao sugerir que a separação entre o individual e o social não tem sustentação, visto que trata de entidades interdependentes, Freud debruça-se sobre a cultura. No texto Totem e tabu, de 1913, ao investigar a origem das proibições, desde os homens primitivos, Freud nos dá pistas sobre como os pactos foram construídos para que fosse possível a vida em sociedade. Apoiando-se em leituras antropológicas e usando a interpretação psicanalítica em outras áreas de estudo, à luz da herança darwinista, Freud sugere um

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mito para que reflitamos sobre a civilização, bem como o mal-estar por ela provocado, e que lhe é inerente, na sociedade moderna. Desse modo, vemos que a ideia de conflito percorre, portanto, a teoria psicanalítica, seja quando as suas noções são empregadas nas reflexões sobre o indivíduo, seja quando elas apontam para os dilemas da cultura. Dois anos após a publicação do texto mencionado acima, Freud redige outro em meio a uma “confusão”, qual seja, os “tempos de guerra”, visto que a primeira grande guerra começara, naquele instante. Intitulado de Reflexões para os tempos de guerra e morte, ele traz presente o sentimento de desilusão. Com isso, lançamos a seguinte interrogação: qual é a importância da ilusão para o mal-estar constituinte do qual fala a Psicanálise? Qual é o estatuto dessa ilusão, segundo a teoria psicanalítica? Por fim, em que medida o ato criativo fornece apoio para os “tempos de guerra”? Mais do que os contratos estabelecidos para a sociabilidade, pensar que a ilusão de que o mundo vale a pena – movimento feito pelo outro materno, desde os primeiros anos – como operação fundamental na constituição do sujeito é o objetivo deste trabalho.

Referências bibliográficas: ASSOUN, Paul-Laurent. Freud e as ciências sociais: psicanálise e teoria da cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2012. FREUD, Sigmund. (1913). Totem e tabu. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Volume XIII. ________. (1915). Reflexões para os tempos de guerra e morte. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Volume XIV. ________. (1930). O mal-estar na civilização. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Volume XXI.

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LACAN, Jacques. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In: “Escritos”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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Freudian naturalism as a problem Gleisson Roberto Schmidt gleisson.schmidt@gmail.com

Abstract: The history of the relationship of psychoanalysis with the sciences and the culture of the twentieth century identifies itself with the history of the interpretations of Freud’s intentions in the development of his psychological theory. Such a history is motivated by the ambivalences resulting from the distinction between natural and human sciences and makes Freud’s work be considered sometimes from a naturalistic interpretive key, sometimes from a typically idealistic bias or even inside a hermeneutic approach. In our view, the most basic question generating this controversy concerns to Freud’s affiliation (or non-affiliation) to the methodological naturalism of the second half of nineteenth century. In other words, would have Freud shared or not the epistemological presuppositions of late naturalism? Did he transfer to the psychology field the ontological commitments that characterized the modern natural sciences? In this paper, I argue that the interpretative dispute regarding psychoanalysis and the problem of its epistemic framing can not be solved from the elucidation of the model of science to which it aspires, but from the concept of Nature that it embeds. If it is true that the interpretive quarrels about the psychoanalysis refer to the problem of the affiliation or non-affiliation of Freud’s theory to the methodological naturalism, it follows that what provides the epistemic assumptions of modern experimental sciences is certain metaphysical conception of nature and, on the other hand, it is by opposition to it that humanities emerged, problematizing the opposition between natural determinism and human freedom. So what is at stake in framing Freudian psychoanalysis sometimes in a group, sometimes in the other, is certain

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conception of nature and its relations with the set of psychological phenomena. Nevertheless, Freud’s work can not be framed in one or another group without sacrificing its originality. This uniqueness can be described in different ways; but, in short, by not endorsing an essential distinction concerning the source of matter and consciousness and by sketching his theory from a organismic viewpoint, Freud outlined the design of a nature that, contrary to its modern version, don’t exclude the consciousness and the spirit from the scope of its self-production, on the contrary: within this conception it’s possible to describe the formation processes (conscious and unconscious) of typically psychological structures – pain, satisfaction, memory, desire, self, symptoms – without the need to resort to the supervening action of a thetic consciousness whose categories constitute the possibility conditions of sensory experience, nor reduce subjectivity to a subjective reaction to external efficient causes.

Referências: FREUD, S. Projeto de uma Psicologia (1895). In: GABBI JUNIOR, O. F. Notas a Projeto de uma Psicologia. As origens utilitaristas da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2003. MERLEAU-PONTY, M. La Nature, Notes – Cours du Collège de France. Établi et annoté para Dominique Séglard. Paris: Seuil, 1995. MONZANI, L. R. Freud – o movimento de um pensamento. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989. SIMANKE, R. T. Freudian Psychoanalysis as a model for overcoming the duality between natural and human sciences. Paper apresentado na Disciplina História da Psicologia I. Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências, 2009.

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VAN DE VIJVER, G. “Du corps à l’esprit? Une analyse du matérialisme freudien”. In : Matière Pensante. Paris: J. Vrin, 1999, pp. 99-118.

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Freud, arte e guerra: enlaces entre o discurso freudiano sobre a violência e a antropofagia modernista Marcus Vinícius Neto Silva Doutorando em Psicologia (Área de Concentração: Psicanálise) pela UFMG. Contato: marcusviniciusnsilva@gmail.com Luciana Cavalcante Torquato Doutoranda em Psicologia (Área de Concentração: Psicanálise) pela UFMG. Bolsista CNPQ. Contato: lucianatorquato@yahoo.com.br Guilherme Massara Rocha Professor-adjunto do Departamento de Psicologia da UFMG. Contato: massaragr@gmail.com

Sigmund Freud viveu em um período de transformações sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e culturais que alteraram radicalmente a forma de viver e sentir o mundo moderno. A violência e a proximidade com a guerra e com a morte invadiram a vida e a obra de Freud. A eclosão dos combates da 1ª guerra praticamente arruinou a atividade clínica de Sigmund Freud: seus pacientes foram recrutados, seus seguidores convocados ou estavam emocionalmente mais envolvidos com a guerra do que com suas próprias neuroses. Em suas cartas e artigos, Freud demonstra sua preocupação com o futuro da disciplina. Tomamos este cenário no texto que aqui privilegiamos para aprofundar nosso estudo sobre a relação freudiana com a guerra e com um de seus efeitos mais imediatos: a atitude com relação à morte. Para tal, privilegiamos a análise do artigo “Reflexões para os tempos de guerra e morte”, de 1915, e sua relação com os breves textos “Um comentário sobre o anti-semitismo” (1938) e “Anti-Semitismo na Inglaterra” (1938), para nortear nossa discussão. Em seguida, buscaremos traçar algumas linhas sobre o legado do pensamento freudiano sobre a cultura e sobre

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o homem para pensarmos o caso da arte e da sociedade brasileira do início do século XX. As transformações tecnológicas e culturais que assolaram o mundo na virada do século transformaram profundamente a maneira pela qual o homem pensaria a si mesmo e o mundo à sua volta. Não é à toa que Freud deu conta de formular o homem moderno e efetuar seu descentramento a partir de então. É nesse cenário de guerra, perseguição e inquietação que, nos primeiros anos do século XX, novas correntes artísticas começaram a circular pela Europa. Esse espírito de época, mais facilmente detectável em países europeus, estendeu-se ao Brasil, suscitando efeitos em nossa literatura, nas artes e na cultura brasileira. Se para Freud a Primeira Guerra Mundial não somente quebra o otimismo e o desejo do progresso da Belle Époque, como também demonstra que a agressão faz parte do caráter inconsciente e natural dos homens, para os nossos modernistas ela foi alicerce para uma transformação radical do pensamento sobre a cultura, valendo-se como fonte para o debate sobre a modernidade. Tanto a guerra quanto a figura e a obra de Freud foram extremamente importantes para a realização, em terras tupiniquins, de uma das grandes contribuições da arte nacional, o movimento antropofágico, cunhado pelo escritor e poeta Oswald de Andrade (1928) a partir, dentre outras referências, das formulações freudianas presentes no texto “Totem e Tabu” (1912-1913).

Referências: ANDRADE, Oswald de, (1928). Manifesto Antropófago. In:Andrade, O. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, v.10, 2011. FREUD, Sigmund. (1913) Totem e Tabu. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v.13. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

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___________. (1915) Reflexões para tempos de guerra e morte. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v.14. Rio de Janeiro: Imago, 2006. ___________. (1930) O mal-estar na civilização. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v.21. Rio de Janeiro: Imago, 2006. ___________. (1938) Um comentário sobre o anti-semitismo. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v.23. Rio de Janeiro: Imago, 2006. ___________. (1938) Anti-semitismo na Inglaterra. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v.23. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

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Violência e cultura no pensamento freudiano Luciana Norat Coelho (lunorat@yahoo.com.br) – Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará. Mauricio Rodrigues de Souza Pós-doutor e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará.

Sem se caracterizar como um fenômeno novo, a violência é um dos mais discutidos e preocupantes nos dias atuais, ocasionando desafios nada desprezíveis para os diversos campos do saber. Nestes termos, ao considerar as ferramentas conceituais ofertadas pela psicanálise como especialmente pertinentes para um debate sobre certos fenômenos coletivos, o presente trabalho discute os modos como a violência é abordada no pensamento de Freud, mais especificamente nas suas articulações com a cultura. Nos limites desta exposição, priorizaremos a leitura pontual de alguns dos chamados “textos sociais” de Freud. Tal linha de investigação conduz à conclusão de que a psicanálise, pontuando o caráter violento do estabelecimento da cultura e sustentando que a violência está na origem do poder, contrapõe-se a grande parte dos discursos que abordam a temática que apontam para uma lógica que aparta bárbaros de civilizados, violentos de pacíficos. Deste modo, intentamos demonstrar que a psicanálise tem algo de singular a dizer sobre a questão da violência e, assim, sublinhar o que o discurso psicanalítico pode oferecer como alternativa aos discursos dominantes sobre o assunto. Palavras-chaves: pensamento freudiano, violência, cultura.

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Referências: Assoun, Paul Laurent. Freud e as Ciências Sociais: psicanálise e teoria da cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2012. Birman, Joel. Governabilidade, Força e Sublimação: Freud e a Filosofia política. Em: Psicologia USP. São Paulo, julho/setembro, 2010, 21(3), pp. 531-556. ________. Cadernos sobre o Mal. Rio de Janeiro: Record, 2009. ENRIQUEZ, Eugene. Da Horda ao Estado: psicanálise do vínculo social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Em: Sigmund Freud: Obras Completas, vol. 12. São Paulo: Companhia das Letras. (Tradução Paulo César de Souza). ________. Considerações Atuais Sobre a Guerra e a Morte (1915c). Em: Sigmund Freud: Obras Completas, vol. 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.(Tradução Paulo César de Souza). ______. Além do Princípio do Prazer (1920). Em: Obras Completas. Vol. 14. São Paulo: Cia das Letras, 2010. (Tradução de Paulo César de Souza). ______. Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921). Porto Alegre: L&PM, 2013. (Tradução de Renato Zwick). ________. O Mal Estar na Cultura (1930). Porto Alegre: L&PM, 2010. (Tradução de Renato Zwick). _______. Por que a Guerra? (1933 [1932]). Em: Obras Completas. Vol. 18. São Paulo: Cia das Letras, 2010. (Tradução de Paulo César de Souza). HERZOG, Regina. Violência: um desafio para a pesquisa em psicanálise. Tempo Psicanalítico. Rio de Janeiro, RJ, v. 41, n. 1, p.109124, jan./jun. 2009.

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A bomba em Hiroshima: foi necessário usá-la? Sérgio Rodrigues de Souza sergiorodrigues52@hotmail.com1 Belarmino Senhorinha de Oliveira senhorinhab@icloud.com2

O presente artigo aborda a temática: ‘a bomba em Hiroshima: foi necessário usá-la?’. Sua relevância científica está em que poderá contribuir para entender o porquê de aplicar um artefato sobre um povo que já não tinha mais forças para guerrear e nem motivação para tal. Sua relevância social encontra-se no fato de trazer esclarecimentos à população em geral sobre os propósitos gerenciais de utilização de um instrumento de destruição em massa. Sua relevância filosófica encontra-se no âmbito de poder discutir à luz da ciência as motivações que levam pessoas sem nenhum motivo aparente a lançar mão de um artefato monstruoso capaz de destruir inúmeras vidas em pouco espaço de tempo em nome de um orgulho pessoal que, a fim de acalmar sua consciência, transfere-o à nação como um todo, apresentando o conceito de culpa coletiva. O uso das bombas foi uma retaliação contra os japoneses por terem atacado a base americana de Pearl Harbor. O Japão se rende dada a violência dos ataques e assim é declarado, oficialmente, o fim da Segunda Guerra Mundial. O motivo de uso da bomba foi justificado 1 Licenciado em Pedagogia. Graduando em Filosofia. Psicanalista. Professor universitário. Faculdades Reunidas Integradas da Serra – FAIRES. sergiorodrigues52@ hotmail.com 2 Graduado em Teologia. Mestrando em Ciências da Educação – Universidad Del Salvador (USAL) – Arg. Faculdades Reunidas Integradas da Serra – FAIRES. professoroliveiraserra@gmail.com

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pela manutenção do poderio exacerbado dos Estados Unidos da América, que passou a ter um poder, ao menos imaginário, de poder destruir uma nação beligerante, a um simples apertar de botão. O que seguiu-se foi um processo paranóico em massa de medo de uma terceira guerra mundial em que todos seriam dizimados. Entende-se disto que a paz experimentada pelas grandes potências econômicas e bélicas teve um custo, absurdamente, alto a começar pela manutenção do terror. O que pode-se chamar de trauma pós-guerra é uma distorção do medo coletivo implantado pela imagem histórica e memorável produzida pelo cogumelo da morte, como ficou conhecida a explosão. De todo o avanço tecnológico este foi o maior legado. As contendas abertas pelo ego de nações poderosas, aliado ao desejo insano de dominação levaram ao desfecho de um dos mais horrendos ataques já perpetrados contra a raça humana. E, paradoxalmente, não assusta mais porque ocorreu em dado momento, local, sobre um grupo reunido de anônimos inocentes. Esta é uma pesquisa de cunho bibliográfico, factual, com vistas a explorar os detalhes inconscientes e filosóficos, tendo como suporte a Psicanálise e a Filosofia, de modo a que possam, de alguma maneira justificar e/ou explicar o porquê do uso do artefato sobre a cidade de Hiroshima, em 06 de agosto de 1945. Este trabalho tem como suporte teórico autores como Sigmund Freud (1915), Victor Frankl (1983), Albert Einstein (1932, 1994), Sérgio Souza (2012), Sandro Dau (2004), Michel Foucault (2007). As conclusões a que pode-se chegar é que houve um interesse em demonstrar um determinado tipo de poderio bélico potencial e, assim, espalhar um terror, criando com isto o statu de superpotência. Palavras-Chave: Hiroshima. Medo Coletivo. Guerra. Trauma Pós-guerra.

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Referências: DAU, Sandro. O Poder-Saber em Michel Foucault. Barbacena: Editora da UNIPAC, 2004. EINSTEIN, Albert. ¿Po que La Guerra? Correspondencia Entre Einstein Y Freud. Potsdam, 30 de Julio de1932. EINSTEIN, Albert. Escritos da Maturidade. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. FOUCAULT, Michel. A Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2007. FRANKL, Victor E. El Hombre Doliente – Fundamentos Antropológicos de la Psicoterapia. Barcelona [Espanha]: Herder, 1983. FREUD, Sigmund (1915). Escritos Sobre a Guerra e a Morte. In: Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006. SOUZA, Sérgio Rodrigues de. A Ética e Suas Implicações na Formação da Condição Humana. Mutum: Expresso Gráfica, 2012.

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Agressão e violência: uma análise a partir de Wilhelm Reich Viviane Melo3 Robson Loureiro4

Este trabalho tece considerações sobre os conceitos de destruição, agressão e sadismo tal como apontados por Wilhelm Reich, em A função do orgasmo. Trata-se de um estudo exploratório, parte da pesquisa Violência e educação: uma análise crítica do discurso biológico, em desenvolvimento no PPGE/UFES. O objetivo é entender as motivações da produção do comportamento agressivo que, em alguns casos, têm se justificado pelos pressupostos biológicos. Nesta etapa da pesquisa recorre-se à teoria psicanalítica de Wilhelm Reich. A hipótese básica considera que o comportamento agressivo é algo natural, no entanto, no intuito de encontrar o autocontrole (sublimação dos instintos naturais), no processo civilizatório ocorre a repressão e o mal “direcionamento” do instinto agressivo. Assim, a partir de Wilhelm Reich (1897- 1957), também se pretende compreender as causas das neuroses. Reich aceitava a teoria psicanalista de Freud, de que a estase sexual era a responsável pela neurose dos pacientes. Assim, a satisfação genital resolveria o problema. No entanto, a 3 Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Educação na Linha de Pesquisa Educação e Linguagens do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES. E-mail: viviacam@yahoo.com.br. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Filosofia (NEPEfiIL/CE/UFES). Bolsista da CAPES. 4 Professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisador vinculado à Linha de Pesquisa Educação e Linguagens do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFES). Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Filosofia – NEPEfiL/CE/UFES. E-mail: robbsonn@uol.com.br.

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experiência clínica o mostrava que raros pacientes eram dotados de energia genital necessária para a satisfação genital. Essa energia, por sua vez, estaria cravada por mecanismos tais como a maldade humana, que à época era justificada biologicamente. Se assim fosse, de que adiantariam a cultura e a terapia das neuroses? Palavras Chaves: Agressividade; Wilhelm Reich; Adorno

Referências: ADORNO, Theodor W, (2003). “Educação após Auschwitz”. In: Educação e Emancipação. 3ª Ed. São Paulo: Paz e Terra. Tradução de Wolfgang Leo Maar p. 119-138. Freud, Sigmund. O Mal-estar na Civilização. São Paulo, Penguin companhia das letras. 2011. Reich, W. A Função do Orgasmo. São Paulo, Editora Brasiliense, 1975.

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Corpo:

CORPO

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As vicissitudes do sofrimento ligado a perdas para a psicanálise freudiana Julia Joergensen Schlemm schlemm.julia@gmail.com Maria Virgínia Filomena Cremasco mavicremasco@hotmail.com

Em setembro de 2013 a Organizações das Nações Unidades publicou que o número de migrações no mundo chegou a 232 milhões. Independentemente do que motiva as pessoas a migrarem como, por exemplo, desejos por melhores condições de vida ou por novas experiências, nunca há apenas ganhos. Quando se sai de sua pátria, há perdas envolvidas. Perdas do local que se mora, de amigos e familiares que se deixa, além de muitas outras. O sujeito em migração pode ou não sofrer por estas perdas. Segundo Sigmund Freud (1917), o luto pode ser uma das reações possíveis tanto à perda de um ente querido, quanto de uma abstração, de um ideal ou de algum objeto amado. Esta abstração, ideal ou até mesmo este algo amado podem se referir a um país, à pátria. A outra forma de reação possível à perda pode ser a melancolia que se produz em algumas pessoas que apresentam dificuldades na elaboração do luto. Estas, ao invés de realizarem o trabalho de luto, com a aceitação da ausência, entram em uma melancolia não podendo admitir a perda. Para Freud (1917) o sujeito que perde alguém ou algo, como um ideal que apresenta uma representação inconsciente de alguém que se ama muito, pode entrar em um luto ou em um processo patológico melancólico. O autor aponta para diferenças entre o processo do luto e o da melancolia. No luto, o sujeito se afasta de suas atividades habituais, retorna a libido investida no objeto de amor para si em seu sofrimento e após um período de tempo – não deixado claro por Freud quanto tempo- volta a investir em

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novos objetos. Além disso, literalmente, lembra-se da perda para, de alguma forma, esquecê-la. As memórias do objeto amado são hipercatexizadas para serem pouco a pouco desinvestidas. Outro aspecto é a culpa que emprestada da neurose obsessiva aparece relacionada aos sentimentos ambivalentes ao que se perdeu. Também na melancolia, de acordo com Freud (1917), temos a culpa e a perda real ou ideal de um objeto amado. No entanto, esta afecção apresenta, além destas características, uma identificação primária ao objeto amado, isto é, regressão a uma identificação narcísica instaurada previamente ou posteriormente à perda. Deste modo, percebemos como a melancolia se mostra clinica e teoricamente de forma mais complexa que o luto o que explica Freud complexar sua compreensão sobre esta afecção por toda sua obra. O objetivo deste trabalho é compreender as vicissitudes do sofrimento que podem estar ligadas às perdas de migrantes: luto e melancolia. Para tanto, será realizada uma revisão de literatura não sistemática de obras de Sigmund Freud e autores pós-freudianos que será entrelaçada com achados clínicos.

Referências bibliográficas: FREUD, Sigmund. Obras completas. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v.I – v.XXIII, 1886-1939/2006. UNITED NATIONS. International migrations, 2013. Disponível em: <http://www.un.org/en/development/desa/population/ theme/international-migration/> Acesso em: 07 de agosto 2015.

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Guerra e refúgio: contribuições da psicanálise Mariana Bassoi Duarte da Silva maribduarte@gmail.com Maria Virginia Filomena Cremasco mavicremasco@hotmail.com

Em meio à realidade migratória global, o Brasil possui 81 nacionalidades distintas de refugiados. Segundo relatório da ONU (2015), o número de refugiados reconhecidos pelo CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados, teve um aumento de 1240%, nos últimos 4 anos. A procura pelo Brasil por parte de migrantes refugiados em busca de novas oportunidades e sobrevivência tem crescido anualmente. Na maioria das vezes, é a única opção na fuga de uma realidade que representa perigo à vida. As barreiras encontradas pelo estrangeiro são muitas. Dificuldades com a língua, a adaptação cultural, lidar com as perdas e com todas as mudanças que representam um (re)começar, são apenas algumas delas. O refugiado traz consigo uma bagagem ainda mais difícil de carregar, diferente de uma migração voluntária. Carrega marcas de um horror, de ameaça de sua própria vida e de situações difíceis até mesmo de nomear. Muitos vivenciam este momento como um trauma subjetivo e podem vir a sucumbir diante desta realidade, muitas vezes impossível de ser simbolizada. A presente comunicação tem por objetivo colaborar com reflexões e contribuições da psicanálise acerca das migrações contemporâneas e com o trabalho clínico com refugiados. Para isso, em um primeiro momento será explanada a realidade dos refugiados no Brasil e as possibilidades oferecidas neste acolhimento. Trata-se de um país/Pai de outro clã, de outro totem, para quem o migrante pede filiação e se coloca diante de uma escolha, de se submeter ou de se opor. Sendo assim, a posição subjetiva, de se assujeitar ou não, terá um preço a ser pago. O estrangeiro,

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aquele que não pertence ao clã, coloca em questão o narcisismo de seu grupo, e então, pode ser visto como uma ameaça. Nestes casos, vemos as tragédias sociais em que o grupo responde com preconceito, xenofobia, genocídio. O refugiado, na busca de “amparo”, fica à mercê de situações como trabalho escravo, travessias de fronteiras por meio de abusos financeiros, violência. Encontra-se em um momento de desamparo e de desorganização psíquica em que ainda não consegue dar uma resposta simbólica à experiência. Quando suas ancoragens, subterfúgios faltam e o sujeito se vê sem recursos, a angústia faz função. A partir do conceito lacaniano de objeto a, será trabalhada a relação do sujeito com o trauma da migração. Trauma enquanto experiência disruptiva da subjetividade, em uma leitura do objeto a, enquanto resto. A crise humanitária atual, que, segundo relatório da ONU (2015) é considerada a maior crise de refugiados que o mundo testemunha em quase um quarto de século, pode ser entendida enquanto um resto que seria o “dejeto” produzido pela sociedade contemporânea e que denuncia o que lhe falta? A questão que fica é o quanto o migrante do qual nos referimos, carrega consigo o peso e o preço de uma sociedade que privilegia o valor de objetos e coisas e não o sujeito. Conclui-se apontando os desafios do trabalho com refugiados e a sua interface com o social, indicando a importância da articulação com políticas públicas e diferentes frentes e trabalho.

Referências Bibliográficas: ONU (2015), Disponível em http://www.acnur.org/t3/portugues/ recursos/estatisticas/dados-sobre-refugio-no-brasil/ > site acessado em 05 de julho de 2014.

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Depressão e Melancolia: uma reflexão sobre a perda do objeto e nossa atitude diante da morte Jonas Garcia Simões jonassimoes@yahoo.com.br Roberto Pires Calazans Matos

O presente trabalho tem como objetivo discutir a posição da psicanálise frente à generalização da chamada ‘medicina baseada em evidências’ no que concerne aos diagnósticos de depressão e abordar a questão dando importância ao sujeito do desejo no mundo contemporâneo, contra a violência do diagnóstico pautado pela ideologia cientificista. Um primeiro aspecto deste trabalho visa demonstrar a maneira a qual a depressão se torna em nosso tempo uma doença de época, tal qual foi à neurose nos tempos de Freud, de modo que haveria certas condições que favoreceriam o surgimento da depressão como uma doença e também localizar os mecanismos de sua produção. A discussão se dá a partir da problematização do diagnóstico de depressão como um conjunto de sintomas que não revelam se não um termo vago e sem fundamento estrutural, posto que, em sua definição se orienta pela quantidade dos sintomas e não pela sua qualidade e origem, contrapondo ao entendimento que busca seguir a conexão dos eventos depressivos juntos a história clínica do paciente. A partir do referencial psicanalítico o que se busca é poder discutir elementos importantes para a clínica das depressões com o objetivo de tentar evidenciar que haveria manifestações distintas no que se refere aos fenômenos depressivos, e que isso acarretaria também tratamentos distintos. Outro aspecto que este trabalho pretende abordar é no que se refere a distinção entre “Luto e Melancolia” proposta por Freud. A hipótese do trabalho é a de que haveria nos diagnósticos de depressão uma variável que merece maior atenção, a diminuição da

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autoestima. Neste sentido o que se propõe é que através de uma escuta cuidadosa dos sintomas possa se distinguir algo que se refere a problemática da melancolia, a ver: a sua relação particular com o objeto perdido. Haveria no caso da melancolia, uma dificuldade do sujeito melancólico em elaborar o luto, seja pelo objeto perdido seja pela natureza ideal da perda, neste caso o que se verifica é que o tratamento ofertado de modo geral para a depressão não se enquadraria neste caso. Através da contribuição de Jacques Lacan, busca-se abordar a dimensão ética da psicanálise frente às generalizações do mundo contemporâneo de maneira a localizar uma resistência da psicanálise diante das soluções e tratamentos em massa, discutindo a partir da noção de ‘covardia moral’ como aquela que abordaria a relação do sujeito e seu desejo. Por fim elucidar a posição da psicanálise diante dos impasses de sua orientação voltada para o singular ante as exigências cada vez mais contingentes por resultados rápidos e soluções que façam reaver a ordem social; demarcando o lugar de resistência do sujeito frente à batalha das sociedades contemporâneas que cada vez mais anseiam por tentar excluir a dimensão da falta e do vazio do ordenamento social.

Referências: Freud, S. (1917) Luto e melancolia. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XIV. Freud, S. (1915). Reflexões para os tempos de guerra e morte. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XIV. Leader, D. (2011) La moda negra – Duelo melancolia y depression. Madrid: Sextopiso. Lacan, J. (1963) O seminário X: a angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Lacan, J. (1973) Televisão. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

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Mazzuca, R. (2004) Las psicosis: fenômeno y estrutura. Buenos Aires: Bergasse. Skriabine, P. (2006, fevereiro) La depressión,?felicidad del sujeto?. [versão eletrônica] Virtualia: revista digital de la escuela de la orientación lacaniana. 14. Khel, M.R. (2009) O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo, Boitempo.

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O corpo na contemporaneidade e o enigma da morte: Uma análise da Arte Carnal de ORLAN Vanessa Guimarães da Silva guimaraes.vgs@hotmail.com Orientador: Dr. Guilherme Massara Rocha

Na contemporaneidade a crise metafísica do corpo se apresenta pelo risco da noção do “corpo próprio”, o que é expresso pelo pensamento de José Bragança de Miranda ao propor que o corpo tornou-se um “palco de incertezas”. De acordo com a autora Joana de Vilhena Novaes, os avanços técnico-científicos questionam aspectos sobre a originalidade da natureza do homem que causam uma fragilização nas barreiras entre o natural e o artificial. O discurso tecnocientífico passa a conceber o corpo como obsoleto e por isso é preciso aperfeiçoá-lo, o corpo se torna um “software”. Artes como a de Orlan, que definem o corpo como high-tech, buscam questionar o estatuto do corpo e os padrões estéticos na sociedade contemporânea. Essa artista faz do seu corpo palco de lutas e debates. Além de seu papel político, suas performances trazem uma nova concepção para o corpo, propondo o nascimento de um novo ser, um “hibrido”. Neste “homem-máquina” o corpo deixa de ser uma realidade finita, pois pode ser aprimorado e reinventado. Assim, pode-se observar em tal discurso uma tentativa de “tamponamento” frente à angústia do “enigma da morte”. Arthur Schopenhauer diz que aquilo que o homem tema em relação à morte é “a sua entrada neste nada em que seu ser torna-se anulado”. O corpo traz a tona o incontrolável para o homem, salientando as marcas do tempo e assinalando este encontro com o inevitável. A presente pesquisa busca trazer uma reflexão sobre a concepção do corpo no contemporâneo, assim busca compreender o culto do corpo da sociedade pós-moderna e sua relação com o discurso da tecnociência, fazendo

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uso da concepção do corpo na arte carnal de Orlan. Tal investigação se define como uma pesquisa de cunho histórico-conceitual, sendo um interface entre arte e psicanálise, possuí orientação do Dr. Guilherme Massara Rocha da Universidade Federal de Minas Gerais. Parte significativa de seus procedimentos metodológicos foi dedicada ao levantamento bibliográfico das fontes relativas à temática do corpo, entre as quais estão artigos, teses e textos clássicos Lacanianos e Freudianos. A partir do levantamento teórico realizado é questionado o desafio da psicanálise frente a essas novas experiências subjetivas corporais, que trazem a tona questões sobre o temor da finitude, ética psicanalítica, gênero e alteridade. Busca-se a partir de tais discussões um novo olhar para esse sujeito contemporâneo, que se faz cerne para a compreensão das novas configurações dos fenômenos corporais.

Referências: FREUD, S. Sobre a transitoriedade. Volume: XIV. Edi ção Standard. Rio de Janeiro: Imago, 1916. FREUD, S. Por que a guerra?. Volume: XXII. RJ: Imago, 1932. MIRANDA, J. B. Corpo e Imagem. São Paulo: Annablume, 2011. NOVAES, J. V. O corpo Pós-Humano: Notas sobre arte, tecnologia e práticas corporais contemporâneas. Trivium, Estudos Interdisciplinares II (2), p. 406-419. SHOPENHAUER, A. Metafísica do amor, metafísica da morte. São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1788-1860).

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“Se eu morrer hoje, amanhã faz dois dias”: Sobre o estatuto da conduta de risco dos jovens envolvidos com o tráfico de drogas Mariana Aranha5 mariana.aranha13@gmail.com

O enunciado do título deste trabalho, recolhido nas falas dos adolescentes infratores não cessa de nos interrogar. Afinal, mesmo cientes do risco que a posição no tráfico engendra, assumem a escolha de ali permanecer,sabendo dos ¨três C ¨que, em suas palavras, selam seus destinos: caixão, cadeira de rodas ou cadeia. Morrem uma morte anunciada, comprovada estatisticamente pelos dados dos Mapas da Violência, bem como no dia a dia daqueles que vivem nos aglomerados brasileiros. De acordo com Le Breton (2009), o jovem contemporâneo vive uma situação de desamparo, pois não encontra no campo social uma resposta quanto ao valor da vida. Comparando as sociedades tradicionais com as sociedades modernas, o autor analisa o rito de passagem como um diferencial entre ambas.A hipótese de Le Breton é de que, na ausência de ritos característicos das sociedades tradicionais, os jovens contemporâneos fabricam rituais solitários, as condutas de risco, a fim de circunscrever essa etapa de transição.Entretanto, testam a morte e arriscam a própria pele não para morrer, mas para extrair um saber sobre si. Freud (1915/1987) nos ensina que não há uma representação da morte no inconsciente.E ainda, que para suportar a vida,é necessário o saber sobre a morte, ou seja, saber como lidar com o real. Pode-se afirmar que a verdade da castração, que todo neurótico 5 Psicóloga, mestranda em Estudos Psicanalíticos UFMG.

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tenta desesperadamente esquecer é a falta de significante que dê conta do sexo e da morte.Este é o ponto no qual os adolescentes encontram-se capturados, diante do encontro com o real que a puberdade impõe.Como dar conta deste vazio de significantes, já que “navegar é preciso, viver não é preciso”. A bússola para este navegar vem do campo do Outro. Se o encontro com o real da puberdade exige uma resposta do sujeito, observamos que na contemporaneidade, “o adolescente infrator se depara com um vácuo no campo do Outro” (Guerra,2014,p.10). Para os jovens negros da periferia, principal vítima da violência, resta a dúvida quanto ao desejo do Outro.Afinal, tal qual o homo saccer, descrito por Agambem (1995/2014) os jovens, protegidos por lei, paradoxalmente podem ser eliminados, uma vez que sua morte não gera comoção, nos levando a questionar o efeito deste lugar de resto na posição assumida por eles na relação com o Outro. Diante do enigma do desejo do Outro, Lacan (1962-1963/2005) nos ensina que a criança responde com a fantasia do seu próprio desaparecimento.Pode o outro me perder? Frente a este desejo anônimo, o sujeito parece responder como o que pode ser perdido, apontando para o embaraço da travessia da adolescência sem a presença do desejo do Outro.

Referências: Agambem,G. (1995/2014) Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua.2a edição. Belo Horizonte: Editora UFMG Freud, S.(1915/1987).Nossa atitude para com a morte.In: Reflexões para tempos de guerra e morte (Vol.XIV, 2a edição).Rio de Janeiro:Imago.Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.

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Guerra, A. A psicanálise, não sem a política: aposta metodológica para a prática do psicanalista nas instituições públicas. Lacan,J. 1962-1963. O seminário 11:Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. Le Breton,D.(2009). Condutas de risco: Dos jogos de morte ao jogo de viver. Campinas, SP.: Autores Associados. Waiselfisz, J. Mapa da violência no Brasil: 2013. Homicídios e Juventude no Brasil. Recuperado de: <http://www.sangari.com/ midias/pdfs/MapaViolencia2013.pdf

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Depressão na Adolescência: Uma abordagem psicanalítica Alberto Antunes Medeiros alberto.medeiros@live.com Roberto Pires Calazans Matos roberto.calazans@gmail.com

Na atualidade podemos notar que a adolescência vem enfrentando diversos enfrentamentos, advindos ora de correntes políticas, ora de forças religiosas, ou, muitas vezes, da junção desses dois. No Brasil, essa discussão ficou evidente com a recente aprovação pela Câmara dos Deputados de uma Proposta de Emenda à Constituição que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Tais medidas acabam situando a adolescência em um verdadeiro campo de guerra pela sua existência enquanto período de transicão de um sujeito. Num momento em que a adolescência é posta em xeque, a Psicanálise nos oferece ferramentas para pensar esse período de atravessamento numa perspectiva diferente, permitindo a compreensão do sujeito em questão e suas manifestações como tentativas de se posicionar no mundo e não como patologias ou comportamentos passíveis de eliminação e punição. A adolescência é um período conhecido por suas mudanças e por ser um momento de transição da vida infantil para a adulta e nessa fase da vida a depressão tem sido um dos transtornos mais incidentes no Brasil. Acreditamos que a depressão pode ser considerada como uma resposta do sujeito à essa guerra que se instalou em torno da adolescência. E, como resposta de um sujeito, não deixa de tocar em algo da verdade. Curiosamente, no Brasil, essa verdade do sujeito aparece por meio do insucesso de encontrar dados que reduzam o sujeito a uma cifra: há grande disparidade entre os dados relativos ao diagnóstico de depressão em adolescentes…Tal instabilidade levanta a

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importância da problematizacão da validade do diagnóstico desses transtornos, tal como seus próprios critérios. A Psicanálise problematiza a depressão partindo de uma perspectiva diferente da perspectiva medicalizante. A depressão passa a ser vista como um sintoma, como uma mensagem de um sujeito direcionada ao Outro e que, a partir desse sintoma, espera-se a produção de um saber que vai, por fim, fazer com que o sujeito lide com a sua questão. Partindo dos escritos de Freud sobre Luto e Melancolia, podemos problematizar a medicalização e institucionalização do adolescente diagnosticado como depressivo – proposta muitas vezes como único tratamento possível – e apontar possíveis direções relacionadas tanto ao diagnóstico quanto ao tratamento do que hoje é chamado de “transtorno depressivo” pelos manuais diagnósticos baseados em estatística utilizados pela psiquiatria e psicologia. A Psicanálise, ao propor um tratamento pela fala, tira de cena a patologização que transforma o sujeito em um problema a ser resolvido socialmente e em confronto com um laço social cada vez mais precário, buscando uma alternativa em que as respostas subjetivas encontrem outros destinos nesse tempo de guerra em que se transformou a adolescência no Brasil.

Referências: Freud, S. Luto e Melancolia. Obras Completas – Vol. 12 – Introdução ao narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Kehl, M. R. O tempo e o cão – a atualidade das depressões. Editora Boitempo, 2009. Lacadée, P. O despertar e o exílio: ensinamentos psicanalíticos da mais delicada das transições, a adolescência. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2011. Leader, D. Além da Depressão – Novas maneiras de entender o luto e a melancolia. Best Seller, 2011.

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A interface da psicanálise com a assistencia social em acolhimento institucional Maria Aparecida de Azevedo6

A proposta para este trabalho surgiu das inquietações despertadas no decorrer do processo de formação no curso de Especialização da Humanização: Filosofia, Psicanálise, Medicina. Assim, nos propomos a buscar a interface da Psicanálise com a Assistência Social, trazendo à tona a escuta de adolescentes na faixa etária entre 12 anos a 18 anos incompletos, acolhidos em uma Instituição que faz parte da política pública municipal de atendimento à Criança e adolescente da cidade de Vitória/ES. É um espaço de média e longa permanência para adolescentes preferencialmente do sexo masculino, encaminhados pela Vara Especializada da Infância e da Juventude, pelo Ministério Público e Conselho Tutelar do Município de Vitória/ES e tem como objetivo cumprir o Art.90 do Estatuto da Criança e Adolescente – Lei Federal nº. 8.069/90 e NOB/RH/SUAS, com referência no item IV as Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescente e o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Visando a atingir o objetivo proposto, utilizaremos recortes da prática cotidiana do trabalho realizado com os adolescentes e suas famílias para provocar a abertura da discussão sobre os aspectos políticos e institucionais implicados, apontando diferenças da noção de escuta em relação ao adolescente sujeito de direitos de cidadania 6 Assistente Social- Coordenadora do Centro de Vivência V- Aluna do Departamento de Filosofia do Centro de Ciências Humanas e Naturais / UFES, do Curso de Especialização da Humanização: Filosofia, Psicanálise, Medicina, – Email: mapeaz@ gmail.com- currículo lattes, http://lattes.cnpq.br/1184329998746416, tel 9 97951316

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e de escuta da singularidade na Assistência Social em relação ao sujeito do inconsciente na psicanálise, buscando assim, a construção de intervenção mais eficaz da Psicanálise juntamente com a Assistência Social para o enfrentamento dos desafios que é colocado cotidianamente entendendo que os postulados desta teoria dizem respeito àquilo que é do humano e, consequentemente, do social. Palavras-chave: Assistência social, Acolhimento Institucional, Psicanálise

Referências: ALTOÉ, Sônia. A psicanálise pode ser de algum interesse no trabalho institucional com crianças e adolescentes? In ALTOÉ, S. Sujeito do Direito, Sujeito do Desejo – Direito e Psicanálise, Segunda edição. Revinter, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília/DF: Senado, 1988. _________Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8069/90. ______. Lei 8.742 de 7 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da Assistência Social. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília/DF, 7 de dez. 1993. ______. Política Nacional de Assistência Social. Brasília/DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – Secretaria Nacional de Assistência Social, 2004. BADIOU, A. A Ética. Rio de Janeiro: Relumé Dumará, 2001. BARRA, Maria Beatriz. Possibilidades e limites da psicanálise em um ambulatório para atendimentos de adolescentes em

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conflito com a lei. In Altoé, Sonia e Lima, Márcia Melo de Psicanálise, clínica e instituição. Rio de Janeiro. Rios ambiciosos, 2005. FREUD, Sigmund. O mal estar na civilização (1929). In: Obras completas de Sigmund Freud v. VIII. Rio de Janeiro: Delta, s.d. _________ Além do Princípio do Prazer. In: Edição Stand Brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, v.VIII. trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974. ________. As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição Stand Brasileira das Obras completas de Sigmund Freud, v. XIV. trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974. SPOSATI, Aldaíza. (Org.). A Assistência Social no Brasil 1983-1990. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1991. WINNICOTT, Donald. Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

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Demandar… Verbo transitivo. Articulações entre Psicanálise e Assistência Social Thayane Bastos Moura Dias thayanebastospsi@hotmail.com

Esta pesquisa é atrelada à prática no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) a partir do encontro da práxis da psicanálise com a especificidade do atendimento na Assistência Social. Refletimos aqui sobre a relação entre usuário-sujeito e sobre a possibilidade de uma escuta psicanalítica da Demanda que é endereçada a essa instituição. O que se faz enquanto questão aqui é saber sobre o lugar e a função da escuta psicanalítica no CRAS. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter teórico-clínica, orientada pelos pressupostos teórico-metodológicos da clínica psicanalítica. O profissional com formação em psicologia que atua no CRAS é chamado para apontar alternativas que visem o fortalecimento de populações socialmente vulneráveis, bem como o fortalecimento dos recursos subjetivos para o enfrentamento dessa situação. É incumbência desse profissional, identificar e potencializar os recursos psicossociais individuais e coletivos através de intervenções no âmbito individual e grupal, levando sempre em consideração que as demandas dos sujeitos são diferenciadas. Se as intervenções desse operador devem abarcar primariamente a compreensão dos determinantes exclusivos que levam alguns indivíduos a situações de fragilidade social, seja para preveni-las ou para superá-las, como esses profissionais terão um entendimento desses fatores, se não pela escuta dos atores de sua própria história? Afirmar a necessidade de uma escuta no contexto do CRAS é sinalizar um trabalho “através da escuta”. Ou seja, uma escuta atravessada, que não é prevista no discurso lógico e que se diferencia de uma escuta investigativa. Tal aposta se fundamenta na necessidade de um espaço

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de escuta que evidencie a posição do sujeito, o qual é detentor de recursos próprios na construção de um saber que solucione suas dificuldades. Apostar na escuta nesta instituição se desdobra na consideração do sujeito no lugar do agente de um saber. O profissional de orientação psicanalítica, enquanto técnico de referência do CRAS, deve ficar atento à demanda acerca dos direitos sociais, esse é o objetivo primordial dessa instituição. No entanto, deve se pautar comprometendo-se com a ética do desejo. Tal percurso nos auxilia a diferenciar o que tem por trás da demanda socioassistencial que é endereçada ao CRAS. Dizer que há desejo, e não apenas necessidade no âmbito da Assistência Social, esclarece a nós que existem sujeitos nessa instituição, e não simplesmente usuários.

Referências: Brasil. (2004). Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, DF. Freud, S. (1918/2006). Linhas de progresso na teoria psicanalítica. Edição Standard Brasileira, Vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago. Lacan, J. (1959-1960/2008). O Seminário, Livro 7: A Ética da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. Mariano. (2011). O praticante de psicanálise no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS): a intervenção retificadora e outras questões. Dissertação de Mestrado, PUC – MG, Belo Horizonte. Scarparo, M. d.-E. (2008). Em busca do sujeito perdido: a psicanálise na assistência. social, limites e possibilidades. 2008. 127 f. Dissertação (mestrado em psicologia) Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

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As vozes da guerra: a luta do grupo Parthos em prol dos direitos da mulher e os desafios do trabalho multidiciplinar Nayara Oliveira Francisco Lívia Thana Santana Loureiro Valéria Moreira Teriquelhe

O Grupo Parthos – Intervenções Terapêuticas Transdisciplinares em Mulheres no Período Perinatal carrega no nome o foco de suas principais lutas atuais: a intervenção, a multidisciplinaridade e a mulher. Trabalharemos nesta comunicação a atuação do grupo na Unidade Básica de Saúde da Família, Thomaz Thomazzi, localizada no bairro Bonfim. Em 2010 a atuação do Parthos nesta mesma unidade se deu por meio do trabalho de pesquisa do grupo com o público de gestantes e puérperas. Através da análise dos dados obtidos foram percebidos os sentimentos e questões que mais se repetiam em suas falas. Desde então, vêm sendo elaboradas e trabalhadas cartilhas temáticas com base na demanda que emergiu dessas mulheres. A reinserção do Parthos na Unidade Thomaz Thomazzi teve início no mês de abril de 2015, com os projetos “Roda de gestantes” -rodas de conversa e aplicação das cartilhas – e o “Curso de Capacitação em Saúde da Mulher para Agentes Multiplicadores” realizado através do treinamento dos Agentes Comunitários de Saúde. A atuação contou com a colaboração de extensionistas do Parthos. O trabalho com os agentes nos fez não só pensar na importância de seu papel na unidade e na comunidade, mas sensibilizou nosso olhar e escuta para as guerras atuais do trabalho multidisciplinar. Discutiremos aqui o trabalho multidisciplinar e a atuação dos agentes comunitários de saúde como potente guerra atual: a guerra entre diferentes saberes. Mas muitas são as guerras no ambiente

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multidisciplinar de saúde, a guerra da criação de confiança entre os agentes e a comunidade, a guerra da responsabilidade social dos profissionais da saúde, a guerra da reinserção do Parthos na unidade, a guerra de estudantes de psicologia no ambiente médico, a guerra de levar saberes como a Psicologia e a Filosofia para além dos muros da universidade. Tudo isso fora despertado através da preocupação do grupo com o acolhimento de gestantes e puérperas atendidas da unidade e acompanhadas mais de perto pelos agentes comunitários de saúde. Em prol das mulheres, o nosso trabalho, a nossa luta, é fazer valer a voz e o conhecimento das gestantes e puérperas, que mesmo fazendo parte de uma parcela significativa da comunidade são muitas vezes silenciadas diante de tantos outros saberes e vozes, são muitas vezes reduzidas a um não lugar, ao lugar do não saber, reduzidas à significantes como “irresponsáveis, adolescentes, se enchem de filhos, não querem saber de nada, não sabem se cuidar, não tomam jeito …” as mantendo silenciadas e presas no lugar passivo à soberania do saber médico. Nossa guerra é pela criação de um ambiente de escuta, nossa guerra é para fazer valer a voz, a nossa guerra é dar lugar à essas mulheres, seus conhecimentos, sentimentos e desejos. Nossa guerra atual é a luta pelos direitos da mulher, gestante e puérpera. Qual é a sua luta? Qual é a sua guerra?

Referências : Freud, S. (1915) Considerações Atuais sobre a Guerra e Morte: [Tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Companhia das Letras (2010), Obras Completas, v. 12. (Traduzido do original: Zeitgemäbes Über Krieg Und Todpublicado em 1915). Lacan, J. (1958-1959) Seminário 6: O Desejo e sua Interpretação: Publicação não comercial. Circulação interna da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. (Obra original publicada em 1958-1959).

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Uma aposta no amor como enfrentamento a adicção: protocolo de amamentação para pacientes usuárias de drogas internadas no HUCAM Claudia Murta cmurta@terra.com.br Eduarda Furieri Godoy dudafurieri@hotmail.com Juliana Poton julianapoton@gmail.com Naíra Barbosa Soares nairabsoares@hotmail.com Queila Cássia Corrêa Guimarães (psicóloga do serviço) queila_cg@hotmail.com

O grupo Parthos, desde 2006, promove acompanhamento a gestantes e puérperas da região da Grande Vitória, a partir de referências da Filosofia, Psicanálise e Humanização; desenvolve intervenções no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM) a fim de trabalhar os sentimentos envolvidos no período perinatal. A proposta dessa comunicação de trabalho tem por objetivo discutir uma proposta/prática pioneira de inserção do ato da amamentação em puérperas que fizeram uso de drogas durante a gestação ou são dependentes químicas, internadas no setor materno-infantil do HUCAM, com acompanhamento multi e interdisciplinar. Atualmente a política de saúde pública orienta as puérperas usuárias de drogas lícitas e ilícitas a não amamentarem no período de internação pós parto, isso ocorre devido ao tempo de permanência da substância no organismo da mãe usuária, sendo assim um risco de adicção para o bebê. É importante ressaltar que esse trabalho não visa ignorar os malefícios do uso de drogas durante a gestação, bem como suas consequências sobre o desenvolvimento do feto,

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mas sim discutir os benefícios afetivos formados a partir do laço de amor estabelecido entre mãe e filho durante a amamentação, que pode ter efeitos de desvinculá-la da adicção. Apresentamos os resultados dos casos atendidos no HUCAM no período de até 5 meses, desde a implementação do novo protocolo de atendimento a mães usuárias de drogas, a fim de verificar se o laço afetivo de amor foi significativo para formação de outro vínculo, além da droga, no caso, o bebê. Portanto, a aposta dessa nova proposta é de que esse vínculo possa ser estabelecido através da amamentação, tendo em vista que, desde a primeira mamada se inicia o desenvolvimento do laço de amor entre a mãe e o bebê. A droga pode ter várias funções para o sujeito e a aposta da intervenção da equipe materno-infantil do HUCAM no ato de amamentar visa produzir efeitos subjetivos que impliquem um reposicionamento do sujeito diante da droga. O grupo Parthos, com a escuta psicanalítica das pacientes puérperas usuárias de drogas que passaram pela internação no HUCAM, pretende verificar os efeitos subjetivos desse ato.

Referências: CALDAS, H.; MURTA, C. O feminino que acontece no corpo: a prática da psicanálise nos confins do simbólico. Belo Horizonte: Scriptum, 2012, 292 p. CAMARGO, P. O.; MARTINS, M. Os efeitos do crack na gestação e nos bebês nascidos de mães usuárias: Uma revisão bibliográfica. Cad. Ter. Ocup., São Carlos, v.15, n. suplemento especial, p.161-169, 2014. GIUGLIANI, E. R. O aleitamento materno na prática clínica. Jornal de pediatria, Rio de Janeiro, v.76, n.3, p.238-252, 2000. LACAN, J. Os complexos familiares na formação do indivíduo: ensaio de análise de uma função em psicologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008, 96 p.

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MURTA, C. Parthos. Curitiba: CRV, 2014, 372 p. PRENTICE, S. Substance misuse in pregnancy. Obstetrics, ginaecology and reproductive medicine, v.20, n.9, p.278-272, 2010. RIBEIRO, C. T.; FERNANDES, A. H. Os tratamentos para usuários de drogas em instituições de saúde mental: perspectivas a partir da clínica psicanalítica. Latinoam, São Paulo, v.16, n.2, p.260272, 2013. VETTORAZZI, J.; COSTA, S. H.; CECIN, G. K.; MALUF, J. M.; STUMPF, C. C.; RAMOS, J. G. Crack: a nova epidemia obstétrica. HCPA, Porto Alegre, v.33, n.1, p.55-65, 2013.

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#Histéricas Apontamentos sobre a importância de Freud na sexualidade das mulheres Juliana Aparecida Dutra Email:julianadutras@hotmail.com

Esse é um artigo que propõe uma abordagem sobre a emancipação da mulher a partir do afastamento da moral cristã, e pontuar como essa repressão se manifestou no comportamento e na saúde emocional, nesse contexto apresentar resumidamente nos pensamentos de Santo Agostinho e o início do interesse de Freud na história dessas mulheres atormentadas pela repressão, tanto moral como emocional refletindo no comportamental que foram categorizadas como histéricas. A temática em si traz um debates sobre as doutrinas da Igreja Católica e os sintomas apresentados pelas histéricas que prevaleceram durante séculos, tendo como principal questão de ordem, a moral e o comportamento sexual,sob controle centralizada na figura da mulher, através da renúncia da sua feminilidade e o prazer carnal, lembrando que a histeria como patologia não só acontecia e acontece como mulheres homens apresentavam mesmos sintomas apesar da etiologia histeria se referir a histero-utero. Uma situação que persiste a séculos atrasando a emancipação e a sexualidade das mulheres, retomar algumas teorias, informações produzidas por esses e outros autores, mas não no sentindo de visualizar somente, mas também realizar uma crítica, entendimento e fortalecer o debate de emancipação. Ultrapassar a ideia dos textos escritos, é dar continuidade aos esclarecimentos que alguns autores propuseram de acordo com sua época e sociedade esses estudos, teorias são utilizados como informações, indicações

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e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para esclarecer determinadas questões e servir de prova para outras. Ao pensar na contribuição da Filosofia sobre o tema veremos que em diversos períodos históricos as mulheres foram consideradas como um ser apático e totalmente inferior aos homens. Dentre esses, a Idade Média foi um período bastante fértil para o fortalecimento dessa visão. Na história da humanidade a questão da sexualidade sempre esteve presente nos embates teológicos cristãos. Defende-se a ideia de uma sexualidade normal, conforme a natureza, cujo desvio, a depravação, é definido como contra a natureza, como assim é defendida por grandes representantes da igreja e diagnosticada pela medicina da época. Ainda hoje é possível encontrar na sexualidade sinais deixados para a história da emancipação mulheres, associados a proibições. Pôr que culparam e proibiram tanto a sexualidade das mulheres? Se o prazer traz em si alegria, satisfação une as pessoas, qual o motivo de sempre ser atacado como algo impuro, sujo e proibido? E as mulheres como são vistas nesse contexto. A ideia de que a religião é um ato de natureza civilizatória, alicerce para um melhor convívio na sociedade, forma parte também dessa ideologia, válida para muitos até o presente. Ao final esperamos mostrar que a emancipação da mulher passa pela sua religião, pela receptividade nos estudos e interesse de Freud sobre histéricas, porém sem se deixar dominar por ela como no passado.

Referências bibliográficas: ANDAHAZI, Federico. O Anatomista. Tradução Paulina Wacht & Ari Roitman. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.

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RANKE – HEINEMANN, Uta. Eunucos pelo Reino de Deus: Mulheres, Sexualidade e a Igreja Católica. Tradução de Paulo Fróes. 3º Ed. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos,1996. ROCHA, Patrícia. Mulheres sob todas as luzes, A emancipação feminina e os últimos dias do patriarcado. Belo Horizonte: Editora leitura, 2009. SANTO AGOSTINHO, A Cidade de Deus. Tradução, prefácio, notas bibliográficas e transcrições de J. Dias Pereira, vol. I e II. Lisboa. Fundação Caloustre Goulbekian. 1991. (Vol. I: livro I a VIII), 1993 (Vol.II: livro IX a XV). SANTO AGOSTINHO. Confissões. Tradução J. O. Santos; A, Ambrósio de Pina, S. J. São Paulo: Editora Nova Cultural (Coleção Os Pensadores), 2004. AGOSTINHO, Santo. A virgindade consagrada. São Paulo: Paulinas, 1990. selecionadas. v. 5. São Leopoldo: Sinodal, 1995. NASCIMENTO, Virgílio Gomes. Quando a teologia separou a sexualidade da religião. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/religiao_sexo.htm Acesso em: 24 de Dezembro de 2008. AVILA, L.A.&Terra, J.R (2010). Histeria e somatização: o que mudou? Jornal Brasileiro de Psiquiatria; 59(4),333-340. FREUD S,Breuher. Estudos sobre a histeria (1895). LEITE, S (2012) Histeria de conversão: algumas questões sobre o corpo na pscanálise.tempo Psicanalítico. TRILLAT, E.(1991) História da histeria.São Paulo: Escuta

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A gravidez na adolescência e a escola: entre a aversão e o acolhimento Maria Cecília de Souza ma.cecilia.souza@gmail.com

Este trabalho apresenta um estudo das relações existentes entre a gravidez na adolescência e o processo de escolarização. Tem como eixo central a abordagem das paixões manifestas pelas alunas em período perinatal e a recepção delas por parte da comunidade escolar. Utiliza como referência teórica a Filosofia e a Psicanálise. Com a preocupação de compreender as relações existentes entre as vivências típicas do período perinatal e o processo de escolarização realizamos uma pesquisa-ação através da qual nos aproximamos da realidade de uma escola pública de ensino fundamental do município de Vitória/ES com o objetivo de, por um lado, identificar os afetos ou paixões manifestadas em alunas grávidas e puérperas e a influência da maternidade no processo de escolarização; de outro, evidenciar o modo como a escola lida com a educanda em período perinatal; em outras palavras, os impactos gerados pelo processo de escolarização na maternidade. Para a compreensão dos afetos ou paixões utilizamos as referências dos pensamentos do filósofo René Descartes (1596-1650) e do psicanalista Jacques Lacan (19011981) que tratam o tema das paixões de maneira a vincular a relação de corpo e alma aos sintomas. Percebemos que não é comum que a comunidade escolar se preocupe com os impactos subjetivos da gravidez, parto e puerpério. Porém, ficou evidente a vultosidade das experiências emocionais que a ocorrência da gravidez traz para as alunas. Essas experiências influenciam no modo como elas atravessam o período perinatal e têm reflexos incisivos em suas trajetórias escolares e pode incidir na ocorrência da evasão escolar. O abandono da escola se deve a uma conjunção de fatores

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subjetivos e objetivos que vão desde preconceitos, dificuldade em lidar com os afetos à desassistência por projetos e políticas públicas voltadas para a permanência de alunas em período perinatal na rede pública de ensino. Com o trabalho, pretendemos apontar para a importância da construção de práticas pedagógicas atentas à afetividade da educanda grávida e puérpera além de alertar sobre a necessidade de investimento do Estado em políticas educacionais que garantam o acesso e a permanência desse público na escola. Palavras-chave: Gravidez na adolescência, afetos, desejo, evasão escolar.

Referências: ALMEIDA, A. M. Maternidade na adolescência: um desafio a ser enfrentado. Rev. bras. enferm., v. 56, n.5, p. 519-522, 2003. ALQUIÉ, F. Leçons sur Descartes. Paris: Éditions de La Table Ronde, 2005. AQUINO, Estela M. L. et al. Adolescência e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis sociais. Cad. Saúde Pública, v.19, suppl.2, p. S377-S388, 2003. BARBIER, R. A pesquisa-ação. Brasília: Plano, 2002. BRENNER, C. Noções básicas da psicanálise: introdução à psicologia psicanalítica. 3. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Imago/ Ed. Da Universidade de São Paulo, 1975. CARDOSO, S. Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. CERQUEIRA-SANTOS, E. et al. Gravidez na adolescência: análise contextual de risco e proteção. Psicologia em Estudo, Maringá, vol. 15, n. 1, p. 73-85, jan./mar. 2010. DADOORIAN, D. Pronta para voar: um novo olhar sobre a gravidez na adolescência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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A Guerra do Amor – Um ensaio sobre a sujeição sexual feminina e os homens contemporâneos Denielly Scherrer Borges Menezes7 Marilia Zimerman7

Ao nos aprofundarmos sobre o tema do amor e do desejo, podemos observar que homens e mulheres amam de formas diferentes. Neste trabalho, pretendemos refletir e dissertar sobre tal diferença e suas implicações, utilizando como base textos das obras de Sigmund Freud e Jacques-Alain Miller. As mulheres amam e desejam a mesma pessoa, ao passo que os homens são capazes de amar e desejar pessoas diferentes. O processo de diferir amar e desejar é construído durante a infância e tem relação com o complexo materno. Portanto, a escolha do objeto, amado ou com potencial amoroso, feita pelos homens “deriva da fixação infantil de seus sentimentos de ternura pela mãe e representam uma das consequências dessa fixação.” (Freud, 1910). A forma que os homens amam e desejam pode ser associada aos sentimentos que estes nutriam por suas mães na infância. Percebemos também que esses sentimentos têm relação com o tipo de escolha o objeto amado, que pode ser: pela mulher comprometida, pela despudorada e pela mulher casta. Os dois últimos casos, a escolha pela puta ou pela santa, podem ser associados a duas correntes: a afetiva e a sensual. A primeira está relacionada ao amor voltado para a família, às pessoas que proviam as necessidades da criança; a segunda está ligada a busca por objetos que não pareçam incestuosos. 7 Graduanda do curso de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo e extensionistas do grupo Parthos de Pesquisa e Extensão.

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A corrente sensual está ligada a diversos outros fatores podem levar à impotência psíquica. Por manifestar amor e desejo a partir de uma cisão, não conseguem expressar para a mulher amada toda a sua potência desejante, visto que se tornam impotentes e desvirilizados. Sabe-se que aquele que ama, coloca sua falta no objeto amado (Miller, 2008), desse panorama decorre o fenômeno do amante se tornar altamente dependente do amado, fazendo com que perca sua vontade de ser independente e sofra por todo tipo de sacrifício para satisfazer os interesses daquele que ama (von Krafft-Ebing (1892) apud Freud 1918[1917]), condição tipicamente feminina. Enquanto o homem separa amor e desejo, a mulher une, o que traz grande sofrimento, visto que quando é amada, como o homem se torna desvirilizado, não tem correspondidos e satisfeitos seus impulsos sexuais. Quando é desejada, tem tais impulsos satisfeitos, mas não é amada, criando uma demanda de amor da qual decorrem angústia e sofrimento. Porém, a agressividade é suprimida durante a constituição da mulher como sujeito feminino, e imposta pela sociedade; o que faz com que estar sujeita a algo que traz sofrimento seja também uma posição de gozo, visto que há uma ligação erótica das tendências destrutivas que se voltam para dentro (Freud, 1933). Esse ciclo de desencontros nos leva a crer que “o amor é um labirinto de mal-entendidos onde a saída não existe” (Miller, 2008).

Referências: FREUD, Sigmund. Feminilidade [1932]. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas, 1980. FREUD, Sigmund. O tabu da virgindade (Contribuições à psicologia do amor III). Obras psicológicas completas, 1917.

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FREUD, Sigmund. Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (Contribuições à psicologia do amor I). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 1910. MILLER, Jacques-Alain. Para amar, é necessário reconhecer que se tem necessidade do outro: entrevista. [outubro, 2008]. Inglaterra: Psychologies Magazine. Entrevista concedida à Hanna Waar. Disponível em: http://lisandronogueira.com.br/2014/06/17/ entrevista-de-jacques-alain-miller-a-psychologies-para-amar-e-necessario-reconhecer-que-se-tem-necessidade-do-outro/. Acesso em 7 de agosto de 2015.

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Pela inscriação da mulher na ordem discursiva: o feminismo psicanalítico de Luce Irigaray Rafael Kalaf Cossi rkcossi@hotmail.com

Luce Irigaray é filósofa, linguista, psicanalista e um dos nomes de maior expressão do feminismo francês. Suas obras foram decisivas para os estudos de gênero, como se nota em Butler. Dentro da Filosofia, Irigaray vai dos pré-socráticos aos pós-estruturalistas, e da psicanálise, de Freud a Lacan, denunciando a elisão ou repressão do feminino como marcas destes sistemas de pensamento. Os discursos filosófico e psicanalítico se orientariam pelo logos platônico e pelo falocentrismo determinantes de uma lógica da identidade fundada na exclusão e polarização binária da diferença. Tal manobra de poder estaria na base do patriarcado, no interior do qual o masculino é o referente único e a mulher não é passível de representação, negando a ela qualquer protagonismo ontológico. Para Irigaray, questionar a espoliação da mulher põe em xeque não só questões econômicas, sociais e morais, mas, sobretudo, revela como todo o campo da linguagem foi prescrito pelo sistema patriarcal. Lacan, mesmo tratando da diferença sexual a partir de recursos simbólicos, teria mantido a mulher presa a uma versão negativa do Édipo e às garras do protagonismo do significante fálico, reafirmando sua submissão e inferiorização. Irigaray lê o simbólico lacaniano, atuante na constituição das identidades e na determinação da diferença sexual, como um domínio do masculino, universal e inalterável historicamente. Como estratégia de combate a este cenário, ela propõe que uma reconfiguração da relação mãe-filha permitiria desvincular a mulher do significado materno, associação determinada pelo quadro patriarcalista que prescreve limites de inteligibilidade. Irigaray também prega que,

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como a diferença sexual e a linguagem constituem-se mutuamente, para alterar as relações entre homem e mulher, há de se incidir na linguagem: para inscrever discursivamente o feminino, seu corpo e a especificidade de sua experiência de gozo, parte-se de uma posição de desconstrução da linguagem patriarcal falogocêntrica. Desta forma, há de se atuar nas operações gramaticais, nas leis sintáticas, nos sistemas de representação e até forjar novas palavras. Fundamental que essa “nova linguagem” não sustente seu funcionamento em binários excludentes e hierarquizantes, mas numa outra lógica que permita outra forma de estabelecer diferenças. Mudando o discurso lógico que rege a linguagem, a mulher teria acesso à representação por sua particularidade, e não pela sujeição aos papéis que são prescritos a ela pelo homem. Contra os processos simbólicos que, segundo Irigaray, são regidos pelo falo, cujo caráter é inabalavelmente aderido ao pênis, a filósofa propõe o processo de simbolização dos lábios, eminentemente feminino, a proporcionar as condições para um tipo de escrita subversiva que se aproxima da voz e do ritmo de nossas mais arcaicas percepções da linguagem – sustentam-se nas noções de letra e lalangue lacanianas, elementos que supostamente ainda não teriam sido formatados falicamente. Assim, pretendemos analisar criticamente estas operações estratégicas propostas por Irigaray, notadamente no seu embate com a psicanálise lacaniana, que permitiriam às mulheres alcançar outro patamar na cultura.

Referências: Barnard, S. & Fink, B. (eds.) Reading seminar XX: Lacan’s major work on love, knowledge and feminine sexuality. State University of New York Press: USA.

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Freud S. (1972/1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago. ______. (1976/1923) A organização genital infantil (uma interpolação da teoria da sexualidade). In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago. ______. (1976/1924) A dissolução do complexo de Édipo. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago. _______. (1976/1925) Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago. .______. (1974/1931) Sexualidade feminina. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago. ______. Novas conferencias introdutórias sobre a psicanálise –conferência XXXIII, feminilidade. In: Freud, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago; c1976 [1932-1933]. p. 139-165. Irigaray, L. (1985). Speculum of the other woman. Cornell University Press. Ithaca: NY. Publicação original: Speculum de l’autre femme (1974). Les éditions de Minuit. Paris. Irigaray, L. (1985) The sex which is not one. Cornell University Press. Ithaca: NY. Publicação original: Ce sex qui n’en est pas um (1977). Les éditions de Minuit. Paris. Irigaray, L. (1993) An ethics of sexual difference. Cornell University Press. Ithaca: NY. Publicação original Éthique de la différence sexuelle (1984). Les éditions de Minuit. Paris. Lacan, J. (1999/1957-58). O seminário, Livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

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Lacan (1985/1972-1973). O Seminário, Livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Lacan, J. (1998/1958) A significação do falo, In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed. Whitford, M (ed.) (1991). The Irigaray reader. Blackwell Publishers Ltd. USA/UK. Whitford, M. (1997) Releitura de Irigaray, In: Brennan, T. (org.) Para além do falo: uma crítica a Lacan do ponto de vista da mulher. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos

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Amor, desejo e gozo Adriano da Silva Moreira f.psi@hotmail.com

O objetivo deste trabalho consiste em investigar as relações entre amor, desejo e gozo lançadas pela psicanálise. Para demonstrar a convergência, bem como as diversas divergências que respondem pelo comportamento amoroso, devemos diferenciar o estatuto de cada conceito. O amor em psicanálise possui um nome: transferência. E para tratar desse amor Lacan vai buscar na Filosofia a inspiração para o seu discurso. Dessa forma, temos em O Banquete, de Platão, a obra que inaugura o discurso do amor no Ocidente e serve também de introdução para o nosso trabalho. Lacan destaca que o fato mais marcante, e que foi esquecido pela tradição filosófica posterior, é a entrada do personagem Alcebíades e o debate que este trava com Sócrates. Afinal, é esse personagem que será a chave para mostrar, no texto O Banquete, a efetuação da “transferência”, esse amor que não se pode dizer lacaniano, pois que já o era freudiano. O conceito de transferência, um dos conceitos fundamentais em psicanálise, sendo um amor de repetição, é uma relação amorosa que irá desembocar no campo do desejo. No centro de tudo, o complexo de Édipo, sobre o qual a psicanálise estruturou todo o seu edifício conceitual, é a chave para entender como aprendemos a amar, já que é a partir do desejo primeiramente da mãe e depois também do pai que o aparelho psíquico se estrutura. O amor e desejo implicam uma falta, ambos são consequências da conjugação da falta com a castração. Amor e desejo lidam de maneiras diferentes com a falta porque enquanto o primeiro quer obturar essa falta, o segundo quer mantê-la.

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Na relação entre o amor e o desejo, há um terceiro elemento elevado ao nível de um conceito importantíssimo na teoria lacaniana, o gozo, pois que se encontra entre os dois, já que é o amor que permite ao gozo condescender ao desejo. O gozo ora aproxima o desejo do amor, ora o afasta. Percebemos então que o amor, situado entre o gozo e o desejo, configura em uma relação problemática entre os sexos, justamente por responderem, cada um de maneira diferente ao Édipo e a castração, bem como uma acentuada diferença no gozo, revela o impossível da relação sexual, isto é, a diferença de discurso entre o feminino e o masculino, mostrando que os sexos não são complementares, senão suplementares.

Referências: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009. 24v. _____. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009b. v.2. _____. (1910). Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à psicologia do amor I). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009c. v.11. _____. (1912). A dinâmica da transferência. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009a. v.12. _____. (1912). Contribuições à psicologia do amor. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009b. v.11. _____. _____. (1912). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor (contribuições à psicologia do amor II). Edição

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Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2009d. v11. LACAN, Jacques. (1960-1961). O Seminário, livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. _____. (1962-1963). O Seminário, livro 10: a angústia. Rio de janeiro, Jorge Zahar, 2005. _____. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. MILLER, J-A (2006). Os Labirintos Do Amor. In: Correio – Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. Salvador: Eolia, n°56, agosto 2006, p. 14-19. PLATÃO. O Banquete. Trad. De Donaldo Schuler. Porto Alegre: L&PM, 2009.

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O corpo humano nos Seminários de Zollikon (Zollikoner Seminare) de Martin Heidegger Bento Silva Santos bento1983@yahoo.fr

A comunicação aborda a natureza do psíquico diante do orgânico e a relação entre ambas dimensões do humano. Em uma leitura seleta dos seminários de Heidegger apresento a concepção peculiar do corpo com base no método fenomenológico: o corpo humano não é mero corpo que pode ser examinado pela ciência (“Körper” enquanto “corpo orgânico”), mas “aberturidade” (Erschlossenheit) humana que acontece corporalmente (“Leib” enquanto “corpo humano”).

Referências: HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon: Protocolos – Diálogos – Cartas. Edição de Medard Boss; tradução de Gabriella Arnhold; revisão de Renato Kirchner; tradução de Maria de Fátima de Almeida Prado. 2.ed.rev Petrópolis: Vozes; São Paulo: EDUC, (12001),2009. 370 p. (Pensamento Humano, 26); CORONA, Nestor A., Pensar después de la metafísica. Psicoanálisis, hermenéutica, existencia.Buenos Aires: Prometeo Libros,2013.

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Michel Foucault e o corpo como campo de batalha: tensões de força entre técnicas de si e técnicas de normalização Bruno Abilio Galvão brunoabiliogalvao@hotmail.com

Foucault entende o poder como relações de forças estabelecidas entre os indivíduos cujo alvo é o corpo. Portanto, em uma relação de poder, um indivíduo exerce uma força sobre o corpo do outro visando, de acordo com Foucault, o governo de suas atitudes. Foucault torna evidente, lançando mão da práxis genealógica apropriada do pensamento de Nietzsche, que no decorrer de processos históricos movidos por um jogo de dominações estabelecido entre indivíduos, constituíram-se diversas tecnologias de poder visando o governo do maior número de pessoas possíveis. Essas tecnologias de poder funcionam sempre emparelhadas por um saber e por um conjunto de práticas não discursivas cujo objetivo é a posse e o domínio do corpo alheio direcionando sua subjetividade e desejo a diversos fins. Foucault nos apresenta, dessa forma, um corpo alvo de relações de poder que tende a sofrer o afeto de uma força externa que metamorfoseia sua relação consigo mesmo enquanto corpo, subjetividade e desejo enquadrando-o nos parâmetros normativos que visam a produção de determinada forma de sujeito. Porém, Foucault não entende o corpo como alvo inerte do poder normalizador que o molda ao seu bem querer, o corpo é, para esse filósofo, um campo de batalha, um “local” onde as forças se confrontam, pois o sujeito não só é afetado, mas também possui a possibilidade de afetar, o poder é sempre exercício da força em relação. Então, o sujeito, enquanto Ser-poder, como o caracteriza Deleuze, possui a possibilidade de exercer a força sobre o outro proporcionando, também, a possibilidade de resistência à

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força que o afeta. Seguindo ainda o pensamento de Deleuze sobre Foucault, a resistência só é efetuada se houver um Ser-si em que o sujeito dobra a força exercendo-a sobre si mesmo proporcionando o governo de si. Governando a si mesmo, ou seja, elegendo suas práticas de si, é possível a recusa do governo por um outro. Essa dobra, esse voltar a força sobre si mesmo, só é possível por meio de um pensamento do exterior, um pensamento do fora que corresponde a um pensamento não capturado pelos dispositivos normalizadores que projetam, no corpo, uma interioridade individualizada e compartilhada. O pensamento do exterior, ao dobrar a força sobre si mesma, constitui um lado de dentro que dilacera o sujeito (indivíduo sujeitado a um outro ou a uma individualidade (interioridade) produzida). Portanto, o objetivo dessa comunicação é mostrar o corpo como campo de batalha, local de confronto de forças distintas entre coerção e resistência, técnicas de normalização do sujeito e pensamento do exterior proporcionando práticas de si, corpo dócil e estética da existência. Palavras-chave: Conflito; Corpo; Normalização.

Referências: DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 2007. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 2010. FOUCAULT, Michel. O pensamento do exterior. In: Ditos e Escritos III. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009, p. 2019-242.

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A Weltanschauung religiosa: crítica e perspectiva psicanalítica acerca da economia psíquica do sentido Jacir Silvio Sanson Junior jasisaju@hotmail.com

Neste trabalho visitamos o comentário de Freud à Weltanschauung religiosa, na Conferência 35, pautando-nos nas indicações de Lacan na seção “O mestre castrado”, do Seminário, livro 17. Lacan observa que a argumentação freudiana, pela qual a Religião estaria instalada na autoridade paterna, não impacta de modo a fragilizar os pilares da instituição religiosa; acontece justamente o contrário: a Religião se volve revigorada, um contra efeito que serve de pista para entendermos um aspecto fundamental da função do pai. O mito freudiano mostra que, ao invés de resultar desmantelada, a Weltanschauung religiosa alcança uma supremacia sem precedentes, pois a narrativa prevê o retorno do pai assassinado: na verdade, o retorno de um pai ainda mais poderoso e totalitário, denominado por Lacan “pai todo amor”. Essa leitura é crucial à pesquisa psicanalítica: se a Ciência se dirige àquilo que supõe faltar à Religião, a Psicanálise, por sua vez, dirige-se também à Religião, mas a partir daquilo que falta à Ciência, ou seja, segundo a divisão do sujeito científico (conforme a análise de Lacan em A ciência e a verdade). Freud inaugura assim uma “abordagem” da Religião que é na verdade uma “bordagem”: não visa desbancar o objeto “religião” em sua solidez e imponência, mas apenas se põe a bordar suas bordas. Como se trata sempre de uma “a-bordagem”, isso sugere que a narrativa freudiana enfeita (bordar = ornar) e ao mesmo tempo percorre (bordar = contornar) as linhas limítrofes da Weltanschauung religiosa, como se a estivesse trançando, realçando e circundando a estrutura do edifício religioso, sempre em ponto de tangência. Seria mesmo um contrassenso falar em uma

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Weltanschauung psicanalítica, pois a Psicanálise não se manifesta à Religião segundo a fisionomia da totalidade, da completude ou do absoluto, mas conforme a incompletude, o parcial e defeituoso. Freud também percebe que a Weltanschauung religiosa não tem apenas um valor noético, pois responde por uma necessidade mental de completude, ou como é avulto nas intervenções lacanianas, uma necessidade por sentido, pela qual se faz da realidade um signo linguístico que amarra as coisas como significantes que reclamam um significado totalizador. A Religião, na Conferência 35, é uma questão de necessidade psíquica, ou de um tipo de organização psicológica sediada na paisagem do todo. Uma Weltanschauung religiosa é algo que radica o mental num domínio específico, resultando na configuração do aparelho psíquico a certa lógica de funcionamento, sobre a qual Freud tratou de averiguar propondo, no assassinato do pai ancestral, algo mais além do pai, e que Lacan, no Seminário, livro 20, discerne como gozo da mulher. Dessa forma, o gozo feminino desponta, desde a “bordagem” freudiana, como linha de exceção psicanalítica à Weltanschauung religiosa. Para além do Édipo, para além do circuito religioso, para além de todo pai estão o trançar e o tecer: que Freud, na Conferência 33 intitulada “Feminilidade”, descreve como a qualidade feminina por excelência, e Lacan, no Seminário, livro 23, registra como sendo os esuqemas de enodamentos que constituem o sinthoma. Palavras-chave: Psicanálise; Religião; Weltanschauung; Sentido; Feminilidade.

Referências: FREUD, S. Novas conferências introdutórias sobre psicanálise: Conferência XXXIII – Feminilidade. In: SALOMÃO, J. (Dir.).

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Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996a[1933]. v. 22. ______. Novas conferências introdutórias sobre psicanálise: Conferência XXXV – A questão de uma Weltanschauung. In: SALOMÃO, J. (Dir.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996a[1933]. v. 22. LACAN, J. A ciência e a verdade. In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. (Campo freudiano no Brasil). LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise. Tradução de Ary Roitman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992[1969/1970]. (Campo freudiano no Brasil). ______. O seminário, livro 20: mais, ainda. Tradução de M. D. Magno. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985[1972/1973]. (Campo Freudiano no Brasil). ______. O seminário, livro 23: o sinthoma. Tradução de Sergio Laia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007[1975/1976]. (Campo Freudiano no Brasil). ______. O triunfo da religião, precedido de Discurso aos católicos. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. (Campo Freudiano no Brasil; Série Paradoxos).

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“A interdependência do simbólico como corpo e o incorporal: uma análise do texto radiofonia de lacan” Kleber Teles Ribeiro kleberteles@yahoo.com.br

Este trabalho visa analisar a utilização feita por Lacan da teoria dos incorporais do estoicismo antigo para demonstrar o seu conceito do simbólico como um corpo e, consequentemente, a relação deste com a estrutura e o inconsciente. O texto utilizado chama-se Radiofonia, fruto de uma entrevista concedida por Lacan a radio Belga no ano de 1970 com a finalidade de responder sete perguntas pré-definidas. Esta entrevista foi reproduzida em forma de texto e adicionada à obra ‘Outros Escritos’. A retomada da teoria dos incorporais feita por Lacan implica em alguns campos importantes de sua psicanálise, tais como: o simbólico como corpo e constituinte do corpo do sujeito; e a concepção da estrutura e inconsciente no campo da psicanálise com características próprias.

Referências bibliográficas: BRÉHIER, Émile. A teoria dos incorporais no estoicismo antigo. Belo Horizonte: Autêntica, 2012; CAUQUELIN, Anne. Frequentar os incorporais: contribuição a uma teoria da arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2008; GAZOLLA, Rachel. O ofício do filósofo estoico: o duplo registro do discurso da Stoa. São Paulo: Loyola, 1999; JORGE, M. A. Coutinho; FERREIRA, N.P. Lacan, o grande freudiano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005;

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KNEALE W; KNEALE M. O desenvolvimento da lógica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1962; LACAN, J. O seminário, livro 12: problemas cruciais para a psicanálise. Recife: Centro de estudos Freudianos do Recife, 2006; _______. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003; _______. Seminário 23: O Sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007; LAÊRTIOS, Diógenes. Vida e Doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Universidade de Brasília, 1988; MACRÓBIO, A.T. Comentarios al Sueño de Escipión. Tradução do latim para o espanhol por Jordi Raventós Barlam. Madrid: Siruela, 2005.

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Corpo:

ARTE

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O deciframento do texto literário como ofício da psicanálise Felipe Barata Amaral felipe.barata@yahoo.com.br

O presente trabalho tem o objetivo de discutir uma possível metodologia psicanalítica para o trabalho com a literatura. Ao invés de propor uma aplicação da psicanálise à arte, defendemos uma espécie de “deciframento” empreendida pela primeira sobre a segunda. A restrição quanto ao emprego do verbo “aplicar” se refere a este denotar a articulação entre dois campos de saberes díspares, quando, na verdade, ambos estão lastreados em um mesmo esteio. Esta técnica é defendida por autores como Sarah Kofman, Jean Bellemin-Noël e o próprio Freud. O principal responsável por implementar essa regularidade entre campos aparentemente distintos e abolir a superficialidade da distinção entre os diversos fazeres humanos foi a teoria do inconsciente. Vale lembrar que os conteúdos utilizados como base, tanto para as construções oníricas quanto aqueles utilizados em produções artísticas são submetidos a condensação e ao deslocamento de seus elementos com o objetivo de oferecer o menor risco à moção consciente. Porém esse processo não é infalível. Ao mesmo tempo em que ele distorce os conteúdos, acaba fornecendo pistas que apontam para significantes inconscientes ao individuo. O uso do termo deciframento, proposto por Bellemin-Noël, deve-se, justamente, a presença de conteúdos inconscientes imiscuídos nas produções artísticas. Portanto, podemos asseverar que o texto é vislumbrado na qualidade de um enigma a ser decifrado e o psicanalista é aquele que se atem ao texto, lendo-o e escutando-o, sem fazer nenhuma leitura das entrelinhas ou impor palavras para além daquelas já escritas. O real objetivo deste deciframento é entender o emaranhado psíquico que serve como

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pano de fundo para composição dos trabalhos e tornar inteligível os sentimentos pela obra eliciados no expectador. Guardadas as devidas proporções, trata-se de um procedimento similar àquele que, em âmbito terapêutico, busca a união entre um afeto livre e seu representante ideativo que nos permanecia obscuro. Quanto a esse caráter decifratório do fazer psicanalítico frente a arte geral, Freud faz uma importante colaboração em 1939. Enquanto disserta sobre a idoneidade das múltiplas fontes de informação sobre Israel e sobre Moisés, Freud chama atenção para o caráter de deformação presente nas diversas versões. Para isso, ele traz a baila o vocábulo “Entstellung” cuja significação remete a uma espécie de transformação, mudança de algo para um segundo aspecto de modo que seja difícil de identificar a aparência original, como se o houvessem posto um disfarce, ou alojado em outro lugar. Para tratar dessa temática, Freud lança mão de uma metáfora. Ele compara os efeitos da distorção no texto a um assassinato. A semelhança com o assassinato se dá na medida em que o conteúdo original inconsciente é espicaçado em detrimento da censura e na dificuldade em esconder todas as evidências desse ato sob uma pátina aprovada pelo teste de realidade. Portanto, a distorção é uma tentativa falha ou, uma tentativa que é investigada e na qual encontra-se o culpado. A cena do crime é a própria obra entregue ao leitor.

Referências: BELLEMIN-NÖEL, J. Psicanálise e Literatura. São Paulo: Cultrix, 1978. FREUD, S. (1914). O Moisés de Michelangelo. In: FREUD, S. Obras Completas, volume 11: Totem e Tabu, Contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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FREUD, S. (1939). O homem Moisés e a religião monoteísta. Porto Alegre: L&PM, 2014. KOFMAN, S. (1984). A infância da arte: uma interpretação da estética freudiana. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996. RIVERA, T. Arte e Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

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Fins de Lacan e Lispector: entre nós e Macabéa Nayara Lima Neves lima.nayara@globo.com

Na década de 1970 nasce a clínica final lacaniana, a Clínica do Real. Na mesma década também nasce a obra A hora da Estrela, uma história sobre o desamparo a que todos estamos entregues. De que modo podemos articular o último ensino de Jacques Lacan com a última obra de Clarice Lispector publicada em vida? Entre Macabéa, furos e nó borromeano, costuramos, de ponto em ponto, o desafio deste laço. De que se trata o real a que Lacan se refere no fim? E no livro A Hora da Estrela, o que é Macabéa senão o fogo que queima, senão a própria máscara do real? Diz-nos Lacan: De onde vem o fogo? O fogo é o real. O real põe fogo em tudo. Mas é um fogo frio. O fogo que queima é uma máscara, se assim posso dizer, do real. (…) Por ora, não há limite imaginável. A única coisa que há de real é o limite de baixo. É o que chamo de uma coisa orientável. É por isso que o real o é. Há uma orientação, mas essa orientação não é um sentido. (LACAN, 2007, p.117)

Imersa num tempo onde o sentido começa a entrar em curto-circuito, a criadora de Macabéa se pergunta: “Qual é o peso da luz?” (LISPECTOR, 1998, p.86). Ela nos comunica que a obra se passa em estado de emergência e de calamidade pública. Que está inacabada, falta-lhe resposta. E uma vez que, de fato, falta; uma vez que nem tudo a linguagem abarca, uma vez que há para além dos significantes, Lacan recorre à topologia, inventando uma nova escrita para o real, a partir do nó borromeano. Para falar de real neste trabalho, portanto,

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haveremos de falar da topologia com os seus três anéis coloridos cujo rompimento de apenas um torna livres os outros dois. Falar de anéis coloridos? “Sou um palhaço”, um dia Lacan revelou. Mas dizemos aqui: e um trapezista a se levado a sério, mais ainda em seu derradeiro ensino. Jacques-Alain Miller descreveu o Lacan final: Por dez vezes um senhor de cabelo branco aparece no palco. Por dez vezes respira e suspira. Por dez vezes desenha lentamente estranhos arabescos multicoloridos que se enodam entre si. (…) Riam, meus caros! Zombem! Nossa ilusão cômica está aí para isso. Assim, não saberão nada do que se desenrola aos seus olhos arregalados: o questionamento mais meditado, mais lúcido, mais intrépido da arte sem similar que Freud inventou, e que conhecemos sob o pseudônimo de psicanálise. (MILLER, 2007, contracapa do livro 23).

É com seriedade que trazemos Macabéa para essa história de formas e cordas. Não à toa, de mãos dadas com sua personagem, Clarice lança: “E no entanto atrás de tudo pulsa uma geometria inflexível” (LISPECTOR, 1998, p. 82) Inspirados na Hora da Estrela, num tempo de guerras outras, de emergência e de calamidade pública, o presente trabalho é uma aposta. É um nó entre dois fins.

Referências bibliográficas : 1 – LACAN, Lacques (1975-76) O seminário, livro 23: O sinthoma. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. 2 – LISPECTOR, Clarice (1977) A hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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“Formação reativa” – pulsões antitéticas em Freud e Unamuno Maiara Graziella Nardi (UNIOESTE/CAPES) maiaragraziellapsy@yahoo.com.br

No ano em que se comemora o centenário das Considerações atuais sobre a guerra e a morte, de Freud, escrito durante a Primeira Guerra Mundial, abordaremos, a partir dele, a questão da elaboração inconsciente da morte. Para tanto, é de suma importância tratar a motivação pulsional ambivalente nomeada ali pelo autor como “formação reativa”, que transita entre amor e ódio, vida e morte. Mediante a formação reativa, o desejo inconsciente passa à consciência modificado, como seu oposto. Diante deste panorama, poderemos esmiuçar a compreensão da morte dos outros e da nossa. Nas Considerações, Freud questiona, para além do movimento da atividade psíquica, questões políticas, de cultura e civilização, permeadas pelo pano de fundo da historicidade individual e social. O texto se divide em duas partes: A desilusão causada pela guerra e Nossa atitude perante a morte (na qual nos deteremos com maior proximidade). Podemos dizer, grosso modo, que atravessa toda essa obra o conceito de desilusão – não apenas aquela causada pela destruição material, por que tantos passaram durante a Guerra, mas, também, a destruição das ilusões gerais mantidas até então e subvertidas pelas descobertas científicas (na medicina, antropologia, física etc.). As noções “verdadeiras” se abalam; a morte e destruição se revelam. Diante do caos dessa desilusão geral, precisa-se “lutar” para manter a paz – o que configura um movimento paradoxal. Ora, as pulsões que constituem o inconsciente como seu primeiro conteúdo se apresentam em pares antitéticos. Logo, para o homem primitivo, não mediado pela religião, pela cultura, o assassínio não configurava erro; para nós, porém, o ato de matar é passível de castigo

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(no plano religioso e no social). Ergue-se assim uma afronta ao sentimento inconsciente, para o qual não existe o “não”; para o qual, portanto, mesmo a morte dos outros pode receber um “sim”. Na esteira da instalação de uma cultura que defende o direito e a compaixão e afirma o “não matarás”, instaura-se a ideia da culpa. Inaugura-se aí a formação reativa, a qual tem por função normatizar a ambiguidade: conscientemente, revela-se um desejo inverso ao desejo inconsciente; a ilusão de querer o bem, de não querer matar, normatiza a tensão provocada pela cultura do “não matarás”, a qual, paradoxalmente, mantém a guerra. Faz parte desse movimento reativo, diz Freud, sempre encararmos somente a morte “dos outros”, nunca a nossa, e considerarmos que ela vem de fora, por acidente, pela guerra etc. A novela La tia Tula, de Unamuno, exemplificará a formação reativa, esse movimento paradoxal que se mostra na realidade permeada por uma ‘verdadeira ilusão’. Faremos, assim, caminho inverso: o caminho da “destruição” da desilusão. Pela análise dos textos de Freud e de Unamuno defrontar-nos-emos com a árdua tarefa que travamos dia a dia, sem perceber, de suportar a vida temendo a desilusão que ronda incessantemente.

Referências bibliográficas: FREUD, Sigmund. “Considerações atuais sobre a guerra e a morte”. In Obras completas. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). Vol. 12. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. UNAMUNO, Miguel de. La tia Tula. Ed. Renacimiento: Madrid, 1921. Disponível em: https://archive.org/details/latiatulanovela 00unamgoog.

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História e memória pelos labirintos do desejo e da narrativa – diálogos possíveis entre Walter Benjamin e a psicanálise freudiana Alessandro da Silva Guimarães alessandro2210@gmail.com Deonato Feltz Junior feltzjr@gmail.com

Estabelecer algumas pistas que nos apontem para uma possível aproximação entre Walter Benjamin e a psicanálise Freudiana constitui nosso principal objetivo nesse artigo. Tendo em vista a imensidão de possibilidades que podem ser construídas para iniciarmos esse percurso escolhemos desde já, para delimitarmos nosso trabalho e iniciarmos nossa caminhada, investigarmos nesses autores a questão da linguagem pensando assim uma possível hermenêutica que abarque, por um lado, a dimensão do desejo trazida por Freud, no âmbito do inconsciente e, por outro lado, a dimensão da memória que é trazida por Benjamin ao denunciar a decadência da narrativa que se sucedeu na modernidade. Ambos, todavia, tem vários aspectos em comum e em suas pesquisas se voltam para refletir e analisar questões tidas como menores, mas que irão se mostrar, através de suas descobertas, como peças-chave para a compreensão da existência humana que vinha se perdendo, sobretudo, com a ilusão e o posterior desencantamento produzido pela técnica e ciência modernas. Ao colocar um valor tão especial na narrativa poderíamos, de algum modo, dizer que Benjamin está de alguma forma buscando a si próprio, tal como Freud o fez através dos sonhos e impressões subjetivas que analisa em diversos trabalhos seus. Apesar de se distinguirem como dois pensadores em campos diferentes do pensamento, Freud e Benjamin nos levam a pensar e questionar os limites daquilo que separam aquele que

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chamamos de objetivo e de subjetivo. Existiria uma objetividade a priori que pudesse nos separar de toda nossa constituição enquanto seres desejantes? Ou seria esse meramente um sintoma de um desejo que se coloca na ordem do impossível? Como a vontade de poder – no sentido do desejo de subjugação e dominação do outro poderia se colocar nesse âmbito? Essas são algumas questões com as quais podemos nos deparar ao analisar atentamente o trabalho e a própria biografia de Sigmund Freud e de Walter Benjamin.

Referências: BENJAMIN, Walter. O narrador, considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura / Walter Benjamin; tradução, Sergio Paulo Rouanet; prefácio: Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1996. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura / Walter Benjamin; tradução, Sergio Paulo Rouanet; prefácio: Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1996. FREUD, Sigmund. Parte I – parapraxias (1916 [1915]). Conferências introdutórias sobre psicanálise (Partes 01 e 02). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 2006. Volume XV. ______________. Lembranças Encobridoras [1899]. Primeiras publicações psicanalíticas. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 2006. Volume III. ______________. O interesse científico da psicanálise [1913]. TOTEM E TABU E OUTROS TRABALHOS (1913-1914). dição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 2006. Volume XIII.

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_____________. fixação em traumas – o Inconsciente [1916]. Conferências introdutórias sobre psicanálise (parte III). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006. v. XVI. GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 1999. KHOTHE, Flávio R. Para ler benjamin. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976.

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As sutilezas da falha: quando Freud encontra Duchamp Juliana de Moraes Monteiro judemoraes@gmail.com

A preocupação com o modo como o inconsciente irrompe na cena do cotidiano foi uma constante na obra de Sigmund Freud. Desse modo, um dos temas mais caros para o criador da psicanálise foi a questão do ato falho. No que diz respeito a esse conceito, nos reportaremos a alguns textos no qual ele aparece de forma central, como nas “Parapraxias”, uma das conferências introdutórias de psicanálise proferidas entre 1915, 1916 e 1917 e no texto “As sutilezas de um ato falho”, escrito de 1935. Sendo assim, busco entender como, embora o ato falho traga uma aparente conotação negativa, a partir do campo semântico no qual a noção de falha se inscreve, ele é, ao contrário, um elemento positivo na medida em que dá notícias da vida psíquica do indivíduo, permitindo que a partir do momento do lapso se propicie um maior entendimento sobre a articulação do inconsciente. Tomando por base essa consideração, a intenção deste artigo é estabelecer uma conexão entre psicanálise e arte contemporânea no que concerne ao modo como as obras de arte começaram a se constituir a partir do século XX: não como criações bem sucedidas por parte de um artista, mas sim como algo que engendra conceitos como fracasso, falha ou perda. Assim, Duchamp é o primeiro a lançar mão desses aspectos negativos revirando-os e fazendo deles o motor da sua práxis artística. A partir do artista francês, veremos como em torno da arte contemporânea orbita um campo da negatividade que, através da prática psicanalítica, podem ser, na verdade, pensado enquanto positividade. Tomarei como ponto de partida nesta investigação

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o readymade Armadilha (Trébuchet, 1917), que consiste em um porta-casaco pregado no chão do ateliê do artista. O que nos interessa aqui não é a materialidade da obra, mas o fato de Duchamp, ao se ver tropeçando seguidas vezes no objeto que estava disposto sob o assoalho, ter resolvido pregá-lo definitivamente no local, alçando-o, com esse único gesto, à condição de obra de arte e o denominando-o enquanto readymade. Não por acaso, o tropeço do artista evoca a ideia de repetição em psicanálise. Desse modo, o presente texto traz essa obra como referência fundamental e cruza o pensamento de Freud com o do filósofo e historiador da arte francês Georges Didi-Huberman e o do filósofo italiano Giorgio Agamben, propondo entender a arte contemporânea como um meio que assume a possibilidade da derrota ou do malogro. Em um mundo que submete os indivíduos a darem provas de sucesso e produtividade a todo tempo, refletir sobre como a falha é estrutural para forjar nosso estatuto de sujeito pode ser uma promessa de encontrarmos uma via reconciliadora com nossa própria existência, um solo no qual a arte sempre teve um papel basilar.

Referências Bibliográficas: AGAMBEN, Giorgio. Bartleby, ou da contingência. Rio de Janeiro: Editora Autêntica, 2015 __________. Profanações. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007 DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da imagem: questão colocada nos fins de uma história da arte. São Paulo: Editora 34, 2013 __________. O que vemos, o que nos olha. São Paulo:Editora 34, 2010 FREUD, Sigmund. Conferências introdutórias sobre psicanálise (Partes I e II)(1915-1917). Rio de Janeiro: Imago,1996 (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. 15)

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_______…Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos (1932-1936). Rio de Janeiro: Imago,1996 (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. 22) TOMKINS, Calvin. Duchamp: uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2004 PAZ, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. São Paulo: Perspectiva, 2002.

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A Guerra ao Terror e o Cinema de Horror Contemporâneo Klaus’Berg Nippes Bragança klausbraganca@ymail.com

Um reflexo persistente na cultura popular contemporânea, e no filme de horror em especial, é o da guerra moderna, como destaca David Skal (1993). O cinema de horror foi atingido por “fogo-amigo” em inúmeras guerras ao longo de sua história, embora isso não invalide as influências de outras preocupações despertadas com a modernidade. Porém as repetidas guerras do mundo ocidental subsidiaram um repertório prolongado para o gênero de horror se expandir. Foi no intervalo entre a 1a e a 2a Guerra Mundial, por exemplo, que a história do cinema de horror clássico se inicia, se consolida e se desenvolve. Cada nova guerra implica novos monstros e novos horrores. O atual monstro do estilo de vida ocidental é o terrorista extremista que pode inclusive estar residindo no território doméstico que pretende atacar. Nesse sentido, diversas comparações entre os atentados terroristas e os espetáculos fílmicos são feitas por críticos e acadêmicos desde os ataques de 11 de setembro de 2001, como pode ser visto na coletânea de ensaios de Slavoj Žižek, Bem-Vindo ao Deserto do Real! (2003). Em muitas destas comparações o terrorismo é visto como um problema midiático, e não apenas por ser retratado pela cultura popular contemporânea. Durante e após o 11 de setembro, segundo avalia Kevin Wetmore (2012), o efeito maior para as causas extremistas sempre foi a repercussão midiática de seus ataques. Atualmente a guerra travada contra o terrorismo ocorre também no espaço da mídia digital, através das redes sociais que servem para divulgar os fanatismos religiosos e recrutar adeptos para grupos terroristas, e ainda por meio da circulação do “vídeo de decapitação” – um novo gênero

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audiovisual extremo criado como alerta ao mundo ocidental. Cada vez mais parece surgir exemplos que relacionam a mídia ao terror, chega-se ao ponto dos ataques terroristas pretenderem não somente se dirigir, mas também atingir a mídia – como se fosse um espetáculo que vitima a mídia para repercutir em sua própria audiência. O “massacre do Charlie Hebdo” sintetiza bem este fenômeno. A guerra ao terror é travada em diversos fronts, dentre os quais na mídia e no cinema de horror: filmes como Extermínio (Danny Boyle, 2002), Guerra dos Mundos (Steven Spielberg, 2005), A Invasão (Oliver Hirschbiegel, 2007), [REC] (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2007) e Cloverfield (Matt Reeves, 2008) materializam as fobias e ansiedades despertadas com as reformas consequentes da guerra contra o terrorismo. Este trabalho investiga como a materialidade fílmica do cinema de horror contemporâneo reflete os medos e traumas desta guerra midiática.

Bibliografia: SKAL, David J. The Monster Show: a cultural history of horror. New York: Faber & Faber, 1993. WETMORE, Kevin J. Post-9/11 horror in American cinema. New York: Continuum, 2012. ŽIŽEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real: cinco ensaios sobre o 11 de setembro e datas relacionadas. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2003.

Filmografia: Cloverfield. Dir. Matt Reeves. EUA, 2008. Extermínio (28 Days Later…). Dir. Danny Boyle. UK, 2002. Guerra dos Mundos (War of the worlds). Dir. Steven Spielberg. EUA, 2005. A Invasão (The Invasion). Dir. Oliver Hirschbiegel. EUA, 2007. [REC]. Dir. Jaume Balagueró e Paco Plaza. SPA, 2007.

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A morte no cinema: um estudo psicanalítico do filme em diálogo com Vigotski a partir de psicologia da Arte santiago Daniel Hernandez Piloto Ramos Mestrando em educação UFES sdhpr@hotmail.com UFES/NEPEfiL Robson Loureiro Professor associado UFES robbsonn@uol.com.br UFES/PPGE/NEPEfiL

Este trabalho tece considerações sobre a morte, sua representação e culto dentro do mundo da ficção cinematográfica, tal como apontados por Freud, em A Nossa Atitude Diante da Morte. Trata-se de um estudo exploratório de cunho eminentemente teórico-reflexivo, que parte da dissertação A dimensão formativa do cinema e a catarse como categoria psicológica: um diálogo com a Psicologia Histórico Cultural, desenvolvida no PPGE/UFES. O objetivo é entender como a produção de sentido dada à morte no mundo da ficção cinematográfica a reconhece como supressão da vida, assim como a reduze a nada até sua total negação pela multiplicidade de vidas que vive o espectador na identificação com o herói. Nesta etapa da pesquisa recorre-se à teoria psicanalítica de Freud em dialogo com os aportes de Vigotski para à análise psicológica da obra de arte. Uma primeira hipótese considera que a narrativa estética do cinema do mainstream, produto da sociedade do espetáculo, não permite que o espectador contemplativo (ALEA, 1984) atribua o sentido e lugar que lhe corresponde à morte, nem se permite trazer à superfície sua atitude inconsciente diante desta. Pressupõe-se que, na sociedade contemporânea, o cinema é uma das principais vias de formação

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estética, com presença significativa no processo de constituição da individualidade em diversos contextos sociais. A dimensão reflexiva da pesquisa também opera a partir da análise dos filmes La Muerte de um Burócrata (1966) e Guantanamera (1996), ambos do cineasta cubano Tomás Gutierrez Alea. Uma segunda hipótese considera que a perspectiva estética do diretor cubano, sobre a morte pode servir como meio de descolonização do pensamento e visão do espetador diante da morte. Desta forma, o cinema de Alea permite a simbolização do inacessível da vida, do desconhecido, do inconsciente e aproxima com sua estética narrativa o espetador da reflexão crítica da realidade cotidiana, não a significando, mas dando um sentido que permite tanto ao artista quanto ao espetador ter em conta a veracidade tanto da vida quanto da morte. Palavras Chave: Morte. Freud. Vigotski. Cinema.

Referências: ADORNO, Theodor W. Televisión y cultura de masas. 1954. Disponível em <https://www.marxists.org/espanol/adorno/1954/ 0001.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015. ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. 1947. Disponível em: <http:// www.nre.seed.pr.gov.br/umuarama/arquivos/file/educ_esp/ fil_dialetica_esclarec.pdf >. Acesso em: 18 fev. 2015. ALEA, Tomas Gutierrez. Cine y cultura. Cine cubano. n.2, 1960. pp.3-10. Disponível em: <https://ufsinfronteradotcom.files. wordpress.com/2011/05/alea-cine-y-cultura-1960.pdf >. Acesso em: 18 fev. 2015. _________. Dialética do espectador: seis ensaios do mais laureado cineasta cubano. São Paulo: Summus, 1984.

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BARROCO, Sonia Mari Shima. Psicologia educacional e arte: uma leitura histórico-cultural da figura humana. Maringá: Eduem, 2007. FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). v. XII. São Paulo: SCHWARCZ. LTDA/ Companhia das letas, 2010. Disponivel em < http://ideiaeideologia.com/wp-content/uploads/2012/10/freud-sigmund-obras-completas-cia-das-letras-vol-12-1914-1916. pdf >. Acesso em: 20 jun. 2015. GONZALEZ REY, Fernando. As categorias sentido, sentido pessoal e sentido subjetivo: sua evolução e diferenciação na teoria histórico-cultural. Revista Psicologia da Educação, PUC-SP, São Paulo, vol. 24, n. 1, p. 155-179, 2007. _________. El sujeto y la sujetividad en la psicología social: un enfoque histórico-cultural. Buenos Aires: Noveduc, 2011. _________. O Pensamento de Vigotsky: contradições, desdobramentos e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2013. _________. O social na psicologia e a psicologia social: a emergência do sujeito. Petrópolis: Vozes, 2004. RAMOS, Santiago Daniel Hernandez Piloto. A dimensão formativa do cinema e a catarse como categoria psicológica: um diálogo com a psicologia histórico-cultural de Vigotski. 2015. 177 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015. SHUARE, Marta. La psicología soviética tal como yo la veo. Moscú: Progreso, 1990. VEER, Rene van der; VALSINER, Jaan. Vygotski: uma síntese. São Paulo: Unimarco, 1996. VIGOSTSKI, L.S. Piscologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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______. Psicología del arte. Barcelona: Barral, 1972. ______. Psicologia pedagógica. 3. ed. São Paulo: WMF; Martins Fontes, 2010. VYGOTSKI, L.S. Imaginación y creatividad del adolescente. In: VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas. Tomo IV. Madrid: VISOR, 1996. ______. Obras escogidas. Tomo I. Madrid: VISOR, 1997. ______. Obras escogidas. Tomo II. Madrid: VISOR, 1993. ______. Obras escogidas. Tomo III. Madrid: VISOR, 1995a. ______. Obras escogidas. Tomo IV. Madrid: VISOR, 1996. ______. Obras escogidas. Tomo V. Madrid: VISOR, 1995b. ŽIŽEK, Slavoj. Órganos sin cuerpos: sobre Deleuze y conciencias. Valencia: Pré-textos, 2006.

Filmografia mencionada nesta dissertação: LA MUERTE de un burócrata. Direção: Tomas Gutierrez Alea. Produção: Tomas Gutierrez Alea, Alfredo Cueto. Ramón F. Duarez. Cuba: ICAIC, c1966. (85min). GUANTANAMERA. Direção: Tomas Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabio. Produção: Walter Achugar, Frank Cabrera, Ulrich Felsberg, Geraldo Herrero, Aurelio Nuñez e Camilo Vives. Cuba, Espanha e Alemanha: ICAIC, c1996.

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“Don’t you people ever die?!” – Superheróis e a negação da morte Tiago Alves de Moraes Sarmento (UFRJ) tsarmentoimprensa@gmail.com

Em Reflexões para tempos de guerra e morte (1915), Freud diz não haver o registro da própria morte no inconsciente, o que nos daria uma certa noção de imortalidade. Ainda no texto, nos diz de como a ficção nos permite identificar, morrer e renascer com cada herói com o qual nos indentificaríamos. Ao articular estas noções com a de construções auxiliares (FREUD 1930), realidade psíquica (FREUD, 1908; 1919) e a função do mito (CAMPBELL, 1949; 1997), podemos buscar uma análise na qual os filmes de superheróis e a indústria do entretenimento de massa atuariam como ferramentas para a realização de desejos, constantemente combatidos pelas exigências do superego e a realidade externa. Os filmes de superheróis como Os Vingadores e Batman serviriam não apenas como produtos mercadológicos, mas como uma forma de atualizar o mito do herói e de reafirmar a negação à mortalidade, uma vez que, no universo superheróico, nenhum dos personagens parece morrer de fato.

Referências bibliográficas: CAMPBELL, Joseph. The hero with a thousand faces. London: Fontana, 1949. FREUD, Sigmund. (1908/1990) Escritores criativos e devaneios. In: _____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, v. 9.

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______. (1915/1990). Reflexões para tempos de guerra e morte. In: _____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, v. 14. ______. (1919/1990). O Estranho. In: _____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, v. 17. ______ (1930/1900). O mal-estar na civilização. In: _____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira… Rio de Janeiro: Imago, v. 21.

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Uma interlocução entre Walter Benjamin, a Psicanálise e Edvard Munch em torno da melancolia e o laço social Mariana Rodrigues Festucci Ferreira Formação: Psicanalista, mestranda em Psicologia social, especialista em Psicanálise e linguagem pela PUC-SP. Instituição: PUC-SP – Núcleo de Psicanálise & Sociedade marianafestucci@yahoo.com.br

Frente às dificuldades de ligação do melancólico ao laço social, visamos apresentar neste trabalho aquelas que são inerentes à sua estrutura psíquica (que de acordo com os elementos que a leitura lacaniana dos textos freudianos nos fornecem situam a melancolia como psicose) e as que são promovidas e/ou intensificadas pela lógica capitalista vigente na Modernidade (esvaziamento do campo da experiência, ensimesmamento do ser e, portanto, afrouxamento do laço social). Para tal, propomos uma interlocução entre a teoria crítica desenvolvida por Walter Benjamin e o arcabouço teórico psicanalítico (freudo-lacaniano), fazendo convergir este diálogo para a melancolia presente no legado artístico de Edvard Munch, a fim de demonstrar como a Arte pode prover uma sustentação do melancólico no laço social.

Referências: BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. BISCHOFF, U. Munch. Singapore: Tashen, 2006. HODIN, J.P. Edvard Munch. London: Thames and Hudson, 1974. LACAN, J. O seminário, livro XXIII – O sinthoma. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. QUINET, A. Psicose e laço social. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

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Entre o homicida e o homem “médio”: questões sobre o direito à vida e a natureza humana a partir de três ensaios de Freud Wanessa Borges de Mendonça wanessa.bm7@gmail.com

Se para Freud a pulsão de vida e a pulsão de morte são faces da mesma moeda, assim como o amor e o ódio habitam igualmente a natureza humana, o Direito extirpa a coligação entre o homicida e o homem “médio” como se estes não estivessem submetidos aos mesmos impulsos. Sob o império da força que exerce, as normas enquadram e adéquam a humanidade à sua vigência, para que não se pense nos conflitos que se é e se quer causar, tornando a agressão exclusivo monopólio do Estado. Para além da eterna crença na civilidade que se traduz em mera tentativa, busca-se, com amparo em três ensaios de Freud (1915 – 1932), contextualizar o atual pensamento jurídico acerca do Direito à vida e o tratamento positivo dado ao Homicídio à natureza humana desvelada ainda nos tempos de guerra, se é que estes se foram.

Referências bibliográficas: ARAGÃO, Antonio Moniz Sodré de. As três escolas penais. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1963. BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos. 3. ed. Revan: Rio de Janeiro, 2002. BARRA, Maria Beatriz. A clínica psicanalítica em um ambulatório para adolescentes em conflito com a lei. Estudos e pesquisas em psicologia, vol. 7, n. 3, Rio de Janeiro, 2007.

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BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. t. II. p. 435-451, 669-680. BATISTA, Nilo. A lei como pai. Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 2 n. 3, Rio de Janeiro, jan. 2010. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial. São Paulo: Saraiva, 2003. vol. 2. p. 241-264. CALHAU, Lélio Braga. Breves considerações sobre a visão de Jacques Lacan. Disponível em: [http://www2.forumseguranca. org.br/node/22531]. Acesso em: 29.03.2010. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. São Paulo: Saraiva, 2003. vol. 2. p. 30-43; 106-125. CARVALHO, Salo de. Criminologia e psicanálise: possibilidades de aproximação. Revista de Estudos Criminais, n. 29, Porto Alegre: Notadez, 2008. _____. Freud criminólogo: a contribuição da psicanálise na crítica aos valores fundacionais das ciências criminais. Revista Direito e Psicanálise, vol. 01, p. 107-137, 2008. COUTINHO, JORGE, M. A. A pulsão de Morte. Belo Horizonte: Estudos de psicanálise, nr 26, p. 23-40, 2003. DERRIDA, Jacques. Estados-da-alma da psicanálise – o impossível para além da soberana crueldade. São Paulo: Edição Escuta, 2001. FERREIRA, Dâmares. O principio da dignidade da pessoa humana e os beneficios previdenciários. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 105, p. 56-77, jan/mar., 2002. FIGUEIREDO DIAS, Jorge de; Andrade, Manuel da Costa. Criminologia – o homem delinquente e a sociedade criminógena. 2. reimpressão. Coimbra: Coimbra Ed., 1997. FREUD, S. Criminosos em consequência de um sentimento de culpa (1916). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. vol. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. O futuro de uma ilusão (1927). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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_____. O mal-estar na civilização (1930 [1929]). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. Por que a guerra? (1933 [1932]). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. Psicologia das massas e análise do eu (1921). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. Psicologia das massas e análise do ego (1921). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. Psicopatologia da vida cotidiana (1901 [1989]). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. VI. Rio de Janeiro: Imago, 1976. _____. Reflexões para os tempos de guerra e morte (1915). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1976. _____. Um estudo autobiográfico (1925 [1924]). Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1976. GOMES, Roberto. Violência e crime: o vértice da psicanálise. Civitas – Revista de Ciências Sociais, ano/vol. 1, n. 002, Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, dez. 2001. HOBBES, Thomas. Leviatã – ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultura, 1997. HOENISCH, Julio Cesar Diniz; Pacheco, Pedro José; Cirino, Carlos da Silva. Transgressão, crime, neurociências, impasses aos saberes da psicanálise? Estudos de psicanálise, n. 32, p. 81-90, 2009. LACAN, Jacques. Premissas a todo o desenvolvimento da Criminologia in Outros escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003.

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MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 59-63, 87-91. NOVAES, Adauto (org). Civilização e barbárie. São Paulo: companhia das Letras, 2004. NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade Humana: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2002. PELEGRINI, Carla Liliane Waldow. Considerações a respeito do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Juris síntese IOB, n. 46, mar./abr. 2004. PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 2 ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p. 382-398. ROUANET, Sergio Paulo. O mal-estar na modernidade: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. ROUDINESCO, Elizabeth. Jacques-Lacan: esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento. Tradução de Paulo Neves. Companhia das Letras, 2008. _____. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2007. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e Direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. VALLS, Álvaro L. M. Repensando a vida e a morte do ponto de vista filosófico. Porto Alegre, RS. Disponível em: <http://www.bioetica.ufrgs.br/morteamv.htm/> Acesso em 15 jun. 2007. ZAFFARONI, Eugenio Raúl; ALAGIA, Alejandro e SLOKAR, Alejandro. Derecho penal: parte general. Buenos Aires: Ediar, 2001. ZUBEN, Newton Aquiles von. Questões de Bioética: Morte e Direito de Morrer. Campinas, SP. Disponível em: <http://www.fae. unicamp.br/vonzuben/morte.html> Acesso em 15 jun. 2007.

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Quando o estado de exceção é uma constante: reflexões psicanalíticas sobre o Brasil contemporâneo Uriel Massalves de Souza do Nascimento massalvesuriel@gmail.com

Nos escritos freudianos dedicados à reflexão sobre a guerra, lemos uma reflexão lúcida, a partir do arcabouço psicanalítico até então criado, sobre o homem moderno e a guerra mundial que ocorria à época. Ao tentar, de alguma maneira, situar a decepção que sentimos com nossos semelhantes frente aos horrores de guerra por eles promovido, Freud segue o caminho peculiar de nos lembrar que o que é mais estranho não é a existência de uma guerra brutal, mas sim a existência de uma civilização que não guerreie constantemente. Dito de outro modo, para o pai da psicanálise o que deveria nos espantar é o fato determos sido capazes de estabelecer uma civilização relativamente pacifica, capaz de estabelecer e cumprir leis e normas morais e de restringir a satisfação imediata da pulsão. Mais adiante no mesmo texto, Freud localiza que a mesma decepção com os semelhantes que sentimos se estende também ao Estado. Este, apesar de em tempos de paz agir de modo a proteger seus cidadãos bem como os valores morais que os mesmos cidadãos julgam justos, parece agir de forma contrária aos valores que diz defender no momento em que a guerra se anuncia. Os cidadãos veriam as garantias que lhes são dadas não serem estendidas aos cidadãos das nações que, pouco antes, receberiam os mesmos direitos que eles recebem de bom grado. A partir da deflagração da guerra, portanto, modificaram-se as leis e rompem-se os acordos internacionais. A guerra mostra a todos os cidadãos que o Estado que eles mesmos sustentam e creem ser imparcial é, em determinados momentos, tão injusto e cruel quanto qualquer humano.

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A partir dessa reflexão freudiana, o presente trabalho objetiva realizar uma compreensão dos momentos em que a exata mesma cessação de direitos passa a ser aplicada aos cidadãos componentes do Estado a partir de medidas criadas para a guerra, bem como uma compreensão das consequências dessa suspensão de direitos. Falamos, aqui, do que é conhecido como estado de exceção e de suas consequências sócio-políticas e subjetivas. Nesse sentido, o presente trabalho buscará refletir, a partir da compreensão psicanalítica do humano e da civilização, sobre o momento atual vivido por democracias no mundo todo, dando maior ênfase ao caso brasileiro. São sabidas as existências de casos de suspensão momentânea, por parte do Estado, dos direitos civis dos cidadãos e são sabidas também as justificativas para tais ações, todas elas quase sempre pautadas em dispositivos legais criados para as situações de guerra. Especialmente em regiões de menor renda, o Estado, não obstante negligenciar os direitos básicos, suspende ainda os direitos civis. Regido por uma Lei que não é constante e nem assegura nada, o sujeito dentro desse contexto se vê cada vez mais em uma situação de passividade e de insegurança. Eventualmente, a inconstância e a experiência de passividade podem leva-lo, a partir da identificação com o agressor, a atos criminosos. Estes servirão como justificativa social para que a suspensão de direitos seja usada como medida.

Referências: AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção como princípio de governo. In: Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004. BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986. FREUD, Sigmund. Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1974. FREUD, Sigmund. Por que a guerra? In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1974. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1974. LOWY, Michael. A Filosofia da história de Walter Benjamin. Estud. av., São Paulo, v. 16, n. 45, p. 199-206, Aug. 2002. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200013&lng=en&nrm=iso>. access on 07 Aug. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/ S0103-40142002000200013. VIANNA, Glaucia & FARIAS, Francisco. Trauma, Memória e Violência. Curitiba: Juruá, 2015.

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As marcas da melancolia frente à medicalização dos corpos: uma leitura psicanalítica da atualidade Ana Elizabeth Araujo Luna E-mail: anabethluna@hotmail.com Hediany de Andrade Melo E-mail: hediany_melo@hotmail.com

Guiando-nos pelo referencial teórico da psicanálise, o presente trabalho tem por objetivo analisar as marcas da melancolia frente à medicalização dos corpos. A angústia e a dor psíquica caracterizam-se como condições inerentes à vida humana, sendo por isso a Filosofia e a psiquiatria dedicar, desde os seus primórdios,a compreensão para estes males psíquicos. No entanto, é com o advento da sociedade globalizada que vemos um bombardeio epidêmico deste mal-estar (QUINET, 2006). Devido à sociedade pós-moderna ser marcada pelo fracasso da lei simbólica que barra o gozo, há na atualidade, uma queda dos ideais pela falta de limites do homem que, sem nenhuma censura, busca a felicidade e a plena satisfação pulsional. Como aponta Rodrigues (2003), diante desta angústia humana de realizar este desejo de plenitude, está toda a revolução farmacológica, que funciona muito bem com suas promessas sedutoras de plena abolição dos sintomas e do sofrimento psíquico. Em O mal-estar na cultura, Freud (1930) aponta a impossibilidade do homem em alcançar uma felicidade plena, desse modo, diante da angústia, o homem procura os tóxicos. Não imaginaria ele, que tais drogas seriam, futuramente, os próprios psicotrópicos consumidos hoje, de forma desmedida, através da generalizada “tendência da época a eliminar os sintomas”, como afirma MORAO (2005). E é justamente perante estas dificuldades nos processos de simbolização, tão comum ao homem contemporâneo, que chegamos até a clínica da melancolia. Em sua escrita de Luto e melancolia, Freud

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(1917) afirma que a aproximação existente entre o luto e a melancolia se daria no fato de ambas as afecções originarem-se a partir de uma perda sofrida pelo indivíduo. Porém, diferente do que acontece no luto, o melancólico se tornaria incapaz de simbolizar a sua perda. Isso porque, a escolha do objeto na melancolia se dá via narcisismo, pela identificação com o próprio eu do sujeito. Dessa forma, a perda do objeto culminaria em uma perda do eu, pois o melancólico é o próprio objeto, “a sombra do objeto cai sobre o eu”. Destarte, mediante a falta de recursos simbólicos para dar conta da dor de existir que se encontra à céu aberto, só resta ao melancólico à auto-depreciação no gozo masoquista da pura pulsão de morte. Trazendo a clínica da melancolia para o contexto da contemporaneidade, esta dificuldade de simbolização se concentra como uma marca bastante recorrente, já que pressupõe a perda do objeto. Em linhas gerais, lidar com a perda é se deparar com a ausência e, portanto, experimentar a dor do luto por aquilo que deixou de existir. Nesse sentido, sendo a angústia uma realidade bastante difícil de ser aceita no cenário da contemporaneidade, em que perder pressupõe o encontro com o real da castração, a solução imediatista e menos dolorosa ao sujeito seria a medicalização dos corpos para tamponar a transitoriedade da dor de existir. Palavras-chave: Melancolia; Medicalização dos corpos; Psicanálise; Contemporaneidade.

Referências: FREUD, S. (1917). Luto e Melancolia. Escritos sobre a psicologia do inconsciente / coordenação geral da tradução Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2006, v. 2, p. 13-74. _______. (1930[1929]). O Mal-estar na cultura… Tradução de Renato Zwick. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010 – (Coleção L&PM POCKET; v. 850).

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MORAO, Marisa. La tendência actual a eliminar los sintomas. Virtualia Revista digital de la EOL, junio/julio 2005, 04(13). Disponível em: http://virtualia.eol.org.ar/013/default.asp?notas/morao.html. Acesso em: 30 de julho de 2015. QUINET, Antonio. Psicose e laço social: Esquizofrenia, paranóia e melancolia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. RODRIGUES, Joelson Tavares. A medicação como única resposta: uma miragem do contemporâneo. Psicol.Estud. vol.8, nº1, Maringá, jan./June, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/pe/v8n1/v8n1a03. Acesso em: 05 de Agosto de 2015.

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A escrita de si e o sujeito: da angústia à advertência Autor: André Gouvêa de Paiva agp.paiva@gmail.com Co-autora: Eliana Rigotto Lazzarini elianarl@terra.com.br

Arte e psicanálise são temas que nunca cessam de dialogar. As relações específicas entre literatura e psicanálise se deram desde seu início: Freud dedicou algumas de suas produções ao processo da escrita e também às análises literárias. Entretanto, as possibilidades clínicas apontam para outra faceta dessa relação: a escrita enquanto uma elaboração analítica. Buscamos responder neste trabalho qual relação existe entre a escrita e o sujeito da psicanálise. Para tal, preconizamos o trabalho com a teoria formulada por Jacques Lacan, pela sua ênfase singular na relação do sujeito com a linguagem, mantendo um embasamento no trabalho freudiano acerca da arte e da literatura. Estabelecemos a noção de escrita com a qual vamos trabalhar, relacionando-a com o processo de constituição subjetiva e aproximando-a do campo da angústia. O que a angústia tem a dizer sobre o processo da escrita? Aproximamos esses dois conceitos pela sua característica híbrida, ou seja, tanto a escrita quanto a angústia promovem um espaço entre, campo próprio da elaboração. Com o auxílio das propostas de Octavio Paz, analisamos o efeito produzido pela palavra poética, buscando entender como a escrita dialoga o desejo e o gozo do sujeito. A partir disso, pudemos notar certa semelhança entre o processo de escrita e o processo analítico, observando os efeitos que escrever produz na descrição de escritores como Paz, Blanchot e Rubem Alves. A partir da fala desses autores, percebemos como a produção escrita é oriunda de materiais íntimos, do passado do autor e que

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apresentam séria dificuldade de tradução por palavras. Reconhecemos esse material íntimo como os traços mnêmicos e conteúdos recalcados do sujeito, por fim, aproximando a noção do escritor a do sujeito advertido do final de análise – a possibilidade de criação a partir de sua própria origem.

Referências: Alves, R. (2011) Variações sobre o prazer. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011. Blanchot, M. (1955) O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. Chediak, G.F. (2007) Sobre a angústia: um ensaio psicanalítico. (Dissertação de Mestrado) – Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília. 2007. Freud, S. (1908[1907]) Escritores criativos e seus devaneios. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. IX. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Guedes, D.F.P. (2010) Uma introdução ao conceito de objeto a. Psicanálise & Barroco em revista v.8, n.1: 159-174. 2010. Lacan, J. (1953-1954). O Seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud. Trad. de Betty Milan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. Lacan, J. (1959-1960). O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Trad. Antônio Quinet. Rio de Janeiro, Zahar, 2008. Lacan, J. (1962-1963). O Seminário, livro 10: a angústia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Zahar, 2005. Lacan, J. (1972-1973). O Seminário, livro 20: mais, ainda. Trad. M.D.Magno. Rio de Janeiro, Zahar, 2008. Lacan, J. (1946). Formulações sobre a causalidade psíquica. Em J. Lacan, Escritos (pp. 152-195). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. Paz, O. (1956) O Arco e a Lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht. Saõ Paulo, Cosac Naify, 2012. Sobral, P. (2014) O feminino e o irrepresentável.(Tese de Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, 2014.

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O sujeito como categoria de possíveis intercessões entre a psicanálise e os filósofos da diferença Andréa Campos Romanholi Mestre em Psicologia/UFES andrearomanholi@superig.com.br

Embora em geral a posição de Foucault e Deleuze seja de profundo antagonismo e crítica à psicanálise, certamente temos momentos em que se manifestam reconhecendo méritos da leitura que esta teoria trouxe na análise das relações entre os homens, das relações politicas e das relações com o desejo e sua realização. O entendimento conceitual sobre o desejo marca o ponto maior do antagonismo entre a formulação teórico conceitual destes autores, cabendo ai amplas discussões. Porém, a proposta presente se centra na possível proximidade entre a noção de subjetividade presente nos autores citados e na teoria psicanalítica, discutindo as implicações desta. Em entrevista concedida em 1978, Foucault diz: “O sujeito, porém, tem uma gênese, uma formação, uma história. Ora, quem havia dito isto? Freud, sem dúvida, mas foi preciso Lacan para fazê-lo aparecer claramente, dai a importância de Lacan.” E, ainda: “Todos concordávamos que não se devia considerar o sujeito, sujeito no sentido de Descartes, como ponto originário a partir do qual tudo devia ser engendrado, pois o próprio sujeito tem uma gênese. Essa é a via de comunicação com Nietzsche…” (Foucault, 2011, p. 242)8. Esse entendimento de ‘sujeito’, como 8 FOUCAULT, Michel. Ditos & escritos. Arte, epistemologia, Filosofia e história da medicina. Vol. VII. Rio de janeiro: Ed, Forense Universitária, 2011. Universidade de Brasília |Instituto de Psicologia |Departamento de Psicologia Clínica e Cultura |Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura

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não fundamental ou originário, como uma formação processual sempre atravessado por forças que o constituem e o modificam incessantemente, mas que é, ao mesmo tempo, produtor destas forças e das relações entre elas, seja pela via das formações discursivas, seja pela organização dos espaços de circulação dos sujeitos, é um ponto de convergência com o saber psicanalítico que pode nos permitir pensar de novas formas a participação dos sujeitos contemporâneos na cena das cidades e das ‘guerras’ em curso no país. Tomando a realidade atual como objeto de análise, podemos ver movimentos de massa pautados pela identificação a grupos, a slogans e apelos que convocam a pertencimentos de todas as espécies, desde minorias que buscam ter voz e vez para garantir seus direitos a partir da formação grupal identitária até convocações de forças hegemônicas que se utilizam da indignação de muitos e variados sujeitos para agrupá-los a partir da identificação contrária àquilo que enxergam como o que não os representa. Nestes movimentos tão recentes e tão intensos que temos vivido, e que tanto se aproximam de guerras mesmo – a tomar desde as ruas até nossas relações cotidianas – a articulação do entendimento conceitual da noção de sujeito/subjetividade entre os filósofos da diferença e a psicanálise parece ser campo fértil para ampliar as análises do momento atual, particularmente das questões sobre como se tem tomado e usado a noção de ‘direitos’, de participação e de representação como possibilidade de organização política, tendo ainda a questão do fascínio dos modos fascistas de vida como possibilidade de leitura, assim como as discussões mais ligadas ao cuidado e às práticas de si como formas de enfrentamento a este fascínio como pontos possíveis de articulação entre as duas formulações.

Seminário Temático em psicologia e cultura.

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A escrita de si como possibilidade de construção nos Estados-limite Paula França dos Santos Eliana Rigotto Lazzarini

A psicanálise, baseia-se na cura pela palavra, ou seja, através da interpretação da fala, o paciente tem a possibilidade de elaborar algo sobre o conteúdo ali presente. Mas a psicanálise não se resume apenas à elaboração de conteúdos internos. O processo analítico (re)constrói algo, a partir dos escombros escavados, juntamente com o resto que se mantém de pé de seu paciente. Mas como a técnica da elaboração e construção se aplica aos sujeitos fixados no trauma- traumas de guerra, traumas de vivência- ou nos sujeitos em estado-limite? São sujeitos com uma fala limitada à cena traumática, sem espaço para elaboração de suas vivências. A escrita de si se apresenta como uma possibilidade de construção de um espaço mediador de si consigo mesmo, nesses casos. A escrita de si tem a função de auxílio da elaboração dos afetos do sujeito. Quando a escrita de si se direciona ao outro, o analista tem a possibilidade de se posicionar como outro mediador desse diálogo interno. Palavras-chave: escrita de si, trauma, guerra, estados-limite, técnica psicanalítica.

Bibliografia: ANDRÉ, J. A transferência borderline. In: CARDOSO, M.R. (Org.) Limites. São Paulo: Escuta, p. 71-80, 2004. CHIANTARETTO, J.F. (2011) Ecritures de soi, écritures des limites. Revista Polis e Psique, Vol 1. N.2, p. 130.

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FREUD. S. Fragmentos de análise de um caso de histeria (1905). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. 7. FREUD, S. Recomendações ao médico que pratica a psicanálise (1912). In: Obras Completas. São Paulo: Cia das Letras, 2010, vol. 10. _________. A Dinâmica da transferência (1912). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2009, Vol. 10. _________. Recordar, repetir, elaborar. (1914) In: Obras Completas. Rio de janeiro: Cia das Letras, 2009, Vol. 10 _________. Conferências introdutórias à psicanálise (1916-17). In: Obras Completas. São Paulo: Cia das Letras, 2014, vol.13. _________. Construções em análise (1937). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 2006, vol. 23. GREEN, A… 25/08/1986- 1ª conferência: Conceituações e limites. In: Conferências Brasileiras de André Green: metapsicologia dos limites. Rio de Janeiro: Imago, 1990. GREEN, A. (1993). O trabalho do negativo. São Paulo: Artmed, 2010 SELIGMANN-SILVA, M. (2005) O local da diferença. São Paulo: Editora 34.

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Diálogos entre Heidegger e Winnicott: um olhar sobre o conceito de tempo Nome: Soraya de Lima Cabral Conturbia sorayaconturbia@gmail.com

Esta pesquisa pretende cotejar o conceito de tempo em Heidegger e Winnicott. Para Heidegger, tanto o tempo quanto o espaço já são dados no mundo, em outras palavras, o Dasein (o único ente capaz de responder pelo seu ser) já está sempre lançado no mundo. Portanto, este Dasein já lançado é a própria abertura para fora de si mesmo, expulso de si, jogado para ek-sistir (para fora). Desse modo, o Dasein que já se encontra na abertura para fundamentar sua existência na compreensão, se desdobra e/ou se desenrola no tempo. Portanto, a temporalidade é o último fundamento ontológico da ek-sistencia. O Dasein, ek-siste porque se temporaliza. No geral, o sentido do ser na teoria Heideggeriana, se deriva no horizonte do tempo e, desse modo, o ser é tempo enquanto tempo originário ligado ao sentido do ser. Esse tempo originário é sempre um tempo finito. Portanto, a caracterização da temporalidade da abertura em geral, conduz ao entendimento temporal do ser-no-mundo. Em Winnicott o tempo, diferentemente do tempo de Heidegger, se apresenta na perspectiva da integração, ou seja, para que haja temporalidade no indivíduo, esta a priori, deverá ser conquistada/ alcançada durante as tarefas iniciais do amadurecimento emocional. Desse modo, a teoria do amadurecimento é perpassada pela linha temporal havendo, dessa maneira, o inicio da jornada de vivências a cada etapa de conquistas/integração do amadurecimento. Em linhas gerais, a teoria Winnicottiana sobre o amadurecimento abrange a natureza humana, sendo esta, uma amostra no tempo, ou seja, o homem é um ser essencialmente temporal, pautado o tempo todo na própria relação com o tempo,

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sendo assim, sua teoria sobre o amadurecimento coteja a natureza humana enquanto um acontecimento no tempo. O tempo é algo a ser alcançado pelo bebê, na dependência absoluta, através dos cuidados ambientais, sendo, nesse sentido, o tempo e o espaço, a primeira conquista a ser atingida pelo lactante. Nesta etapa do amadurecimento, os cuidados de uma mãe adaptada às necessidades de seu bebê são de fundamental importância. Nesse sentido, por ser uma conquista, esta também pode ser perdido caso falhas ambientais (mãe) ininterruptas ameacem a continuidade de ser do bebê. E por ultimo, pretende-se analisar a natureza temporal e do movimento de temporalização nos dois autores, a partir do conceito de ‘regressão à dependência’ formulada por Winnicott. Palavras- chave: Heidegger, Winnicott, Tempo, Conquista, Dasein, Continuidade de ser.

Referências bibliográficas: HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução, organização, nota prévia, anexos e notas: Fausto Castilho. Campinas, SP. Editora da Unicamp: Petrópolis, RJ. Ed. Vozes. 2012. WINNICOTT, D.W. (1988). Human Nature. London: Free Association Books. Tradução brasileira: Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

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Heidegger, Lacan e a trama trágica da significação em Sófocles Tibério Fabian Santos (tfabiansantos@gmail.com)

Ao aproximar a alétheia heideggeriana à modulação conceitual da “Coisa” em Lacan ao que, na trilogia tebana de Sófocles (Édipo Rei, Édipo em Colona e Antígona), pode se tomar como sendo a tragédia da própria significação, o presente trabalho compõe um exame ontológico da palavra em seu curso significante. Tratando-se de aliar um Heidegger pós-viragem (Kehre) a um Lacan, cujo centro argumentativo ancora-se principalmente a partir do seu Seminário 7 – A ética da Psicanálise, depreende-se aqui um movimento de pensamento em relação à linguagem para além dos sopesos de sua mera funcionalidade. Ao cruzar a narrativa tragicista do ciclo tebano de Sófocles aos enfoques teóricos de ambos os pensadores, a palavra assumiria um caráter contingente e fluido quanto a sua condição constituidora. As três tragédias mostrariam a ambivalência tensa e permutante entre “Ser” e “aparência” – sendo a verdade (alétheia) o espaço confluído à indecidibilidade dessas potências. Martin Heidegger em A caminho da linguagem, naquilo que registra de sua conversação com um pensador japonês, aponta-nos ao que, para a essencialidade da linguagem, nada se teria de linguístico. À primeira vista, se nos soa estranha tal sentença, em parte, é detendo-se nela que esta comunicação pretende estreitar laço entre os três horizontes escriturais. Em Ser e Tempo, o “ser aí do homem”, em sua essencialidade de ser (Existenz), só o é ao escrutinar-se na condição interrogante acerca do ente (tì tò òn); já em Sobre a Essência da Verdade, quando da alteração de Existenz para Ek-sistenz, esse caminho mais puramente relacional esmaece. Portanto, para Heidegger, se outrora a investidura do homem enquanto “ser aí”

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(Dasein), captava-se tendido a uma bivalência em relação a si e ao seu próprio movimento interpretante das coisas, a partir desse seu escrito evidencia-se o “ser aí” do homem como junto às coisas. Esse “dar-se do aí” do homem, jungido sem divisas a uma suposta totalidade a ele imiscuída, bem poderia aproximar-se à “Coisa” regulada conceitualmente por Lacan: “o real do qual o significante padece”. Se há um princípio comandando tal empurramento, talvez possamos dizê-lo “Das Ding”: um empuxo que se sulca sempre ao mesmo caminho; mas que, ao fim, não se faz jamais ao encontro clarificado de algo. Desse modo, tateia-se invariavelmente ao anúncio de que todo o curso busca a sua escrita ao peso de uma inflexão que lhe é sempre indistinta, constante, cega e informe. Talvez esse o trecho todo da vida de Édipo, epilogado no silêncio de sua incursão ao bosque sagrado das Eumênides. Assim: talvez o rumo de todos nós à inexorável segunda morte ilustrada por Antígona.

Referências: HANNS, L. A. Dicionário comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. HEIDEGGER, M. A caminho da linguagem. Trad. Marcia Sá C. Schuback. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2003. ______. Ser e tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas, SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012. ______. Sobre a essência da verdade. São Paulo: Abril Cultural (Col. Os pensadores), 1984. INWOOD, M. J. Dicionário Heidegger. Trad. Luísa Buarque de Holanda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. KAUFMANN, P. (edição). Dicionário enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Trad. Vera Ribeiro e Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.

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LACAN, J. O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Trad. Antônio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. SÓFOCLES. Antígona. Trad. Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2001. ______. Édipo em Colono. Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2012. ______. Édipo Rei. Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2015.

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“A morte de Deus, a queda do líder e o trágico do herói: perspectivas do Seminário 07 de Lacan” Willian Mac-Cormick Maron wilian@maccormicksommer.com.br

Introdução: Do pai ao político, o lugar de liderança é um dos pontos cegos da teoria da democracia e assunto que se desenvolve permeado de conflitos e antagonismos no âmbito social, ideológico e cultural. A função do pai está no âmago das identificações coletivas, experiências politico-religiosas e assim nos aparece como problemática contemporânea possível de ser analisada a partir de uma matriz conceitual psicanalítica. Objetivos: O objetivo desta comunicação é apresentar as condições de possibilidade para pensar a posição do pai – seja o líder, seja o político ou seja o herói – como um local de exceção, de exclusão e com isso analisar a secularização do modelo de coletividade monoteísta proposto por Freud. Metodologia: Através de uma metodologia analítica fazemos uma proposição de trabalho de revisão bibliográfica, leituras de obras em suas línguas originais, traduções e construção articulada à bibliografias secundárias. Resultados: Em Freud, parricídio é fruto de um desejo original coletivo. O assassinato não aconteceria se os membros da horda não o desejassem e ao desejar não se identificassem como irmãos. A morte do pai é a marca da fundação do embrião social e a identificação coletiva. As obras freudianas “Totem e Tabu (1913)”, “Psicologia das Massas (1921)” e “Moisés e o monoteísmo (1937)” apresentam de formas diferentes o lugar de exclusão que é o lugar paterno. O pai é a exceção e a partir desta primeira identificação se constrói todo um aparato teórico sobre as coletividades. Sobre a herança totêmica, ergue-se uma estrutura monoteísta secularizada – como exércitos, igrejas e a política. Esta estrutura secularizada apresenta lacunas de interpretação e

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questionamentos. Hans Kelsen, que frequentou seminários freudianos, acusa o modelo coletivo totêmico de Freud como sendo a política dos povos primitivos composta de características presentes em sistemas políticos totalitários. Lacan em seu sétimo seminário “A Ética da Psicanálise” (1959-1960) também apresenta críticas ao sistema totêmico freudiano construído a partir de seu mito em “Totem e Tabu” e solidificado em um de seus últimos textos, sobre o homem Moisés. A partir da leitura do mito de Antígona, Lacan neste seminário, apresenta uma articulação sobre a figura do herói em detrimento à figura paterna. O herói é aquele se torna sujeito de sua própria tragédia e não apenas causado por ela. Estas críticas problematizam o lugar do pai e de liderança em sociedades e fenômenos coletivos e políticos atuais. Conclusão: Poderíamos dizer que o trajeto do líder em Freud inicia com a morte do pai e desemboca no assassinato do político. A exclusão do Pai é fator fundador das coletividades, não há coletividade sem exclusão e o primeiro excluído é o que se torna totêmico. As críticas de Lacan apresentadas ao modelo Freudiano, assim como seus conceitos nos possibilitam pensar identificações coletivas que se fundam em relação a um lugar de exclusão não encarnado e sim como um lugar vazio. A civilização é um grande e interminável velório de um pai que não sabe que morreu porque está morto desde sempre. Palavras Chave: Coletividades.Pai.herói.líder.Identificação

Referências Bibliográficas: FREUD, S. (1913). Totem e Tabu. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. 2006a. FREUD, S. (1921). Massenpsychologie und Ich-Analyse. Hamburg. Nikol Verlagsgesellschaft mbH & Co. 2010.

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FREUD, S. (1921). Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. 2006d. FREUD, S. (1921). Psicologia das Massas e Análise do Eu. In: Obras completas de Sigmund Freud, vol. 15. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companha das Letras, 2011a. FREUD, S. (1937) Moisés e o Monoteísmo, Esboço de Psicanálise e outros trabalhos. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. 2006f. KELSEN, H. A Democracia. 2a Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2000. LACAN, J. O Seminário. Livro VII: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2008. LACAN, J. O Seminário. Livro IX. A identificação. – (inédito) 19611962a; Tradução Ivan Corrêa e Marcos Bagno. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife, 2003. LACAN, J. Le Séminaire. Livre IX. L’Identification. – 1961-1962b. Publication hors commerce Document interne à L’Association freudienne internationale et destine à ses membres. LACAN, J. O Seminário. Livro XVII: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1992. LACLAU, E. La razón populista. 1ª ed. 6ª reimp. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2011. MARON, W. M.; PEREZ, D. O. O líder, as coletividades e suas identificações. 2014. 99 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2014 Disponível em: http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2936. Acesso em: 15 dez. 2014. RITVO, J. Sujeto, Masa, Comunidad: La razón conjetural y la economía del resto. 1ª Ed. Santa Fé: Mar por Medio Editores, 2011. SCHMITT, C. O Conceito do Político / Teoria do Partisan. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. SCHMITT, C. Teología Política. Madrid: Editoral Trotta, 2009.

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Ontologia e acontecimento no pensamento de Alain Badiou Adelmo Marcos Rossi rossiadelmo@yahoo.com.br

O nosso propósito neste artigo é fazermos uma leitura da Filosofia de Alain Badiou a partir de um viés fundador: o enunciado lacaniano il y a de l’un. Esse enunciado, lido pelo psicanalista Jacques Lacan na Filosofia de Platão, é o termo proferido no instante em que o ser humano se depara com o súbito, um acontecimento imprevisto. Nesse instante inaugural o ser humano passa para a condição de sujeito. Alain Badiou parte do princípio de que todo ser humano é, no início, um mortal comum condicionado a repetir o saber instituído. O sujeito surge quando esse mortal comum se depara com a ausência de saber para se relacionar com o imprevisto e enuncia um novo pensamento. Nesse sentido, o sujeito é raro. Esse modo de pensar permite compreender a própria ontologia como um acontecimento: o acontecimento do Ser. Tomaremos esse acontecimento como o acontecimento ontológico. É o instante inaugural do surgimento do primeiro nome. Para Alain Badiou, o vazio é o nome próprio do Ser. O matemático Georg Cantor foi quem criou as condições para essa nomeação. Badiou considera o vazio como ontológico e iguala esse vazio ao conjunto vazio da teoria matemática dos conjuntos. Essa teoria enquanto teoria do múltiplo puro encontra-se no fundamento da multiplicidade que reina no mundo empírico. Partindo dessa concepção é possível retomar o conceito filosófico de sujeito instituído por Descartes: o sujeito cartesiano é aquele que operou uma recusa de todo saber vindo a deparar-se com o vazio que ronda a estrutura do saber, e inventa um fundamento primeiro, o Cogito.

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Jacques Lacan promove a operação cartesiana de deposição do saber para a condição de método de tratamento psicanalítico. A psicanálise lacaniana apropria-se do conceito de acontecimento imprevisto para pensar a teoria do ato analítico. O psicanalista se coloca na escuta do paciente na expectativa de que o excedente de sentido que inflaciona o seu discurso seja gradualmente reduzido até que se alcance um zero de sentido, momento propício para o ato analítico. O ato analítico, sendo um acontecimento imprevisto para o próprio psicanalista, é algo da ordem de um horror: o psicanalista lacaniano tem horror ao seu ato. Pensado desse modo, o acontecimento imprevisto em geral, e o ato analítico em particular, tem função ontológica: é quando o ser humano comum advém sujeito ao encontrar o seu fundamento, a sua fórmula: o seu nome próprio. Jacques Lacan propõe o conceito de matema como aquilo que se situa no fundamento de um novo sujeito. Badiou pensa esse matema como sendo o axioma do sujeito.

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CIÊNCIA

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O direito burguês vai ao paraíso: crítica filosófico-psicanalítica ao racionalismo técnico da normatividade trabalhista frente o fetichismo do “sujeito de direito” Bruno Gadelha Xavier

O presente artigo tem como objetivo central a crítica ao modo de concretização na pós-modernidade da tutela do trabalhador a partir do contexto geral dos imperativos categóricos inseridos na legislação trabalhista brasileira vigente. Para tanto, a matriz teórica a ser utilizada encontra guarida nos escritos de Slavoj Zizek e Evgeny Pashukanis, a fim de determinar a uma crítica ao denominado “Sujeito de Direito” nas proposições do mundo do trabalho. Parte-se do princípio do movimento sintomático ideológico atual que sustenta prescrições de caráter normativo burguês. Delineados, muitas vezes, como conquistas sociais, a legislação trabalhista ainda padece de uma estruturação que, nos moldes marxistas, encontra-se inserida na superestrutura que a informa. Neste contexto, o “Sujeito de Direito” encontra-se fetichizado. Sustenta-se, neste trabalho, a partir da leitura de Zizek, que o mistério da forma-mercadoria é inscrito na forma em si, e não em seu conteúdo oculto. A operação de Marx no primeiro capítulo de “O Capital” acaba sendo, assim, um desenvolvimento de uma estrutura interna inserida no próprio universo da mercadoria. Inserido na lógica do fetichismo do “Sujeito de Direito”, Pashukanis sustenta que do mesmo modo como todas as coisas assumem forma mercadológica na crescente do capitalismo, todos os homens acabam assumindo a figura de “Sujeitos de Direito”, conferindo uma universalidade destituída de análise histórica-material, derivada de uma padronização racional. Esta

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proposição existe pelo reconhecimento simbiótico da forma jurídica com a forma do capital. Assim, o objeto do presente escrito é realizar a crítica ao movimento da tutela do fetichizado “Sujeito de Direito”, realizada a partir dos imperativos categóricos inseridos na legislação trabalhista brasileira vigente, tendo em vista o reconhecimento do caráter sintomático da ideologia nos atuais moldes de desenvolvimento do capital.

Referências: ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação da negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. PASHUKANIS, Evgeni Bronislanovich. A teoria marxista do direito e a construção do socialismo. In: NAVES, Márcio Brilhantino. O discreto charme do direito burguês: ensaios sobre Pashukanis. Campinas: Unicamp, 2009, p. 137-152. ______. A teoria geral do direito e o marxismo. Rio de Janeiro: Renovar, 1989. ______. The marxist theory of State and Law. In: BEIRNE, Piers; SHARLET, Robert (orgs.). Pashukanis: selected writings on marxism and Law. Londres: Academic Press, 1980, p.273-301. ZIZEK, Slavoj. Menos que nada: Hegel e a sombra do materialismo dialético. São Paulo: Boitempo, 2013. ______. Como marx inventou o sintoma?. In:______. Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. ______. Vivendo no fim dos tempos. São Paulo: Boitempo ______. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Boitempo, 2003.

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Wittgenstein e a epistemologia psicanalítica: algumas considerações em torno da cientificidade da psicanálise Filicio Mulinari Filicio@gmail.com

Não são simples – tampouco superficiais – as relações mantidas por Ludwig Wittgenstein com a psicanálise freudiana. Pode-se afirmar com certeza que o filósofo austríaco teve contato com as obras psicanalíticas pelo menos desde 1919, uma vez que sua irmã foi paciente de Freud em Viena e as obras do autor podiam ser encontradas na biblioteca da família Wittgenstein. Embora as menções a Freud em seus escritos se concentrem principalmente entre os anos de 1942 e 1946, são nítidos a admiração e o interessem de Wittgenstein pela psicanálise ao longe de sua vida. Porém, apesar da admiração, também são freqüentes críticas contundentes à teoria da psicanálise. A exposição de algumas dessas críticas constitui o objetivo central dessa apresentação. Uma das idéias fundamentais da crítica de ­Wittgenstein à psicanálise centra-se na pretensão de ciência proposta por Freud ao novo campo de saber. O filósofo vienense apresenta três pontos críticos basilares ao objetivo de Freud de fundamentar a psicanálise enquanto ciência: a) a presença do caráter mitológico nas explicações psicanalíticas; b) a dependência subjetiva do conhecimento psicanalítico versus o caráter objetivo do método científico; c) a relação proposta por Freud entre razões (motivos) e causas. Nesse sentido, a apresentação abordará esses três pontos da crítica de Wittgenstein e pesará em que medida elas realmente podem auxiliar no trato epistemológico da teoria psicanalítica. Além disso, a apresentação se propõe a fundamentar o entendimento de Wittgenstein sobre a psicanálise, bem como a importância do debate sobre a cientificidade da psicanálise para a Filosofia da ciência contemporânea.

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Palavras-chave: epistemologia; psicanálise; cientificidade; objetividade; Wittgenstein.

Referências: ASSOUN, Paul-Laurent. Freud e Wittgenstein. Lisboa, Campus, 1990. BOUVERESSE, Jacques. Wittgenstein Reads Freud. Princeton, Princeton University Press, 1995. DAVIDSON, Donald. Essays on Actions and Events. Oxford, Claredon. 1980 FEYERABEND, Paul. Against Method. Londres, New Left Books, 1975. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Perspectiva, 1970. LEVY, Donald. Freud among the Philosophers. New Haven, Yale University Press, 1996. McGUINNESS, Brian. Freud and Wittgenstein. Wittgenstein and His Times. London: Thoemmes Press, 1998. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo, Cultrix, 1972. ____. Conjectures and Refutations. Londres, Routledge, 1989 WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations. Oxford, Blackwell, 1953. ____. The Blue and Brown Books. New York, Harper Torchbooks, 1958. ____. Lectures and Conversations. Editado por Cyril Barrett. Oxford, Blackwell, 1966. ____. On Certainty. Oxford, Blackwell, 1969. ____. Remarks on the Philosophy of Psychology. Oxford, Blackwell, 1979. WOLLHEIN, Richard; HOPKINS, James. Philosophical Essays on Freud. Cambridge, Cambridge University Press, 1982.

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Os Gêneros de Conhecimento em Espinosa Helio Pedro Pretti Perim helio_perim@hotmail.com

O presente trabalho intenta demonstrar, com o auxílio interpretativo da abordagem deleuziana, a possibilidade da liberdade da mente humana na Filosofia de Espinosa por intermédio do que poderíamos chamar, não sem nos arrogarmos qualquer permissão neologística, de epistemologia prática. O filósofo holandês, todavia de ascendência judaico-portuguesa, Bento de Espinosa, desenvolveu em sua obra maior, que se divide em cinco livros e se chama Ética, um sistema hierárquico que abrange três gêneros de conhecimento. Enquanto concebemos o mundo por intermédio do primeiro gênero do conhecimento somos limitados ao âmbito pouco objetivo das opiniões, ou da doxa grega.Tentamos, neste estágio embrionário do saber, descrever o mundo a partir das imagens das coisas que são apreendidas e precariamente mantidas em nossas mentes sem, no entanto, empreendermos numa busca por uma relação autônoma e racional entre os objetos que, antes do mais, nos suscitaram essas imagens. Somos escravos dos efeitos enquanto não somos potentes o suficiente pra perscrutar as causas, ou ainda, nossa mente apenas padece, não atua. O primeiro gênero do conhe­cimento caracteriza-se por dispor de idéias inadequadas, que são, no vocabulário espinosano, as idéias que não concordam com seu ideado, mas que no nosso, se novamente nos arrogarmos certa liberdade terminológica, são analógáveis à superstições, crendices, preconceitos, etc… O segundo gênero do conhecimento, por outro lado, não está limitado aos efeitos das coisas sobre nós, ao mero conhecimento do mundo a partir do nosso padecimento e impotência, mas busca encontrar a verdade das relações das idéias das coisas entre si e entre nós, enquanto nos afetam e enquanto

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as afetamos. É o estágio onde se abandona a doxa, a opinião, e se atinge o pensamento científico. Nele já conseguimos traçar as variáveis do mundo em ordem de discernir quais encontros com o mesmo nos deixarão mais potentes, e aqui já podemos vislumbrar o entrelaçamento íntimo que a teoria do conhecimento de Espinosa mantém com a vida prática. A superstição caracterizada pela crença ingênua de que a imagem das coisas retida na nossa memória exprime o real dá lugar a leis. O terceiro e último gênero do conhecimento é a compreensão do mundo através do amor intelectual de Deus. Mais do que simples compreensão, este gênero de conhecimento implica participação, participação na potência original do real que mana da substância única e divina. Neste terceiro gênero a finitude e o cálculo da razão prática se desvanecem uma vez que não são mais necessários para a felicidade do homem no mundo. Para Espinosa o caminho da liberdade humana não se realiza mediante a imposição de leis pessoais, ou desígnios, sobre a natureza, mas no aprofundamento na mesma, cuja prática o filosofo alcunha de beatitude.

Referências: DELEUZE, Gilles. Espinosa – Filosofia Prática. São Paulo: Escuta, 2002. ESPINOSA, Bento de. Ética. São Paulo: Autêntica, 2010.

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A noção de sujeito do inconsciente como situação imanejada Carolina Ferreira Boonen Maciel Roberto Calazans

A psicanálise é um saber que opera sobre aquilo que o saber de um modo geral foraclui para se constituir como científico: o sujeito. Mas não o sujeito visto pelas psicologias e pela Filosofia como unidade, e, sim, como função adscrita ao simbólico, ao significante. Sujeito dividido, sujeito como situação imanejada. Na tentativa de situar a divisão constitutiva do sujeito, Lacan (1960/1998) postula sua subversão. Partindo desta subversão e considerando o inconsciente como uma cadeia de significantes, retornaremos à Freud para discutir a noção de sujeito do incosciente como algo que atravessa a psicanálise. Cabas (2010) afirma que a análise da obra freudiana nos leva à hipótese de que o desejo é um dos nomes do sujeito. Além disso, o lugar do sujeito na estrutura é um ponto entre-dois, entre pulsão e inconsciente. Assim, retomaremos a discussão de Freud sobre o conflito imanejado entre pulsão e civilização em textos como Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (1908/1996), no qual afirma que por estarmos inseridos na cultura, estamos sujeitos às proibições e restrições impostas por uma moral sexual civilizada. Logo, nossa civilização repousa sobre a supressão das pulsões. Em Totem e Tabu (1913/1996), recorre ao mito do Pai primordial, pelo qual cria um vão entre natureza e cultura onde se situa o Pai primitivo e mítico que é assassinado como ato de fundação da sociedade civilizada e, assim, do campo da experiência subjetiva. Discute o conflito continuado entre proibição e pulsão afirmando que ambas persistem, criando-se uma situação imanejada da qual tudo mais decorre. Em Reflexões para os tempos de guerra e morte (1915/1996), Freud afirma que nos permitimos um

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engano ao tornar o padrão moral maximamente rigoroso, forçando os membros da nossa sociedade a um grande alheamento da disposição pulsional. Nos sujeitamos a uma constante e incessante supressão das pulsões, uma tensão que resulta nos mais notáveis fenômenos de reação e compensação. Assim, abordamos a complexa constituição subjetiva a partir de uma situação imanejada que permite a instauração de uma falta e a fixação de uma posição fastasmática como possibilidade de relação com o Outro e estruturação do desejo. Destacamos, então, que a psicanálise surge para lidar com o sujeito, tendo como pretensão não seu manejo, mas uma travessia da fantasia de modo que o sujeito encontre outro suporte para estar no laço social.

Bibliografia: CABAS, A. G. O Sujeito na psicanálise de Freud a Lacan: da questão do sujeito ao sujeito em questão 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. FREUD, S. Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna. Trad. J. Salomão. Em Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 9, p. 13-72. Rio de Janeiro: Imago, 1908/1996. ______. Totem e Tabu. Trad. J. Salomão. Em Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 13, p. 13-72. Rio de Janeiro: Imago, 1912-13/1996. ______. Reflexões para os tempos de guerra e morte. Trad. J. Salomão. Em Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 14, p. 285-316. Rio de Janeiro: Imago, 1915/1996. LACAN, J. Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. Em: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. p. 807-842. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1960/1998.

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Propostas sobre o papel social do reconhecimento segundo Axel Honneth Cleiton Gil Barbosa

A presente comunicação tem o objetivo de apontar esclarecimentos sobre o conceito de reconhecimento sob a perspectiva do filósofo Axel Honneth. O conceito referido tem sua gênese no pensamento alemão a partir do filósofo Fichte (fiCHTE, 2014), mas tem seu desenvolvimento mais elaborado e fecundo, sob certos aspectos, na Filosofia de Hegel (HONNETH, 2003; LIMA, 2014). De modo sucinto, vai ser visto que Fichte é o primeiro filósofo a trabalhar a questão do reconhecimento como tendo função marcadamente transcendental e, de modo apenas incipiente, social. Com o filósofo, devemos entender o reconhecimento como uma ação necessária de um ser racional para identificar o seu defrontante como outro ser racional, para então iniciarem uma relação regida pela liberdade (LIMA,2014). Vamos entender o nexo entre reconhecimento e liberdade no pensamento Fichteano, o qual marca as reflexões jurídicas sobre o tema e inicia o contexto da função social do mesmo; adiantando, porém que em Fichte os desdobramentos da reflexão sejam de cunho transcendental e não sociológicos. O papel social do reconhecimento e o significado decisivo do mesmo para as teorias contemporâneas são alcançados por Hegel (HEGEL, 1991; HONNETH, 2003). De modo preliminar e geral, vamos compreender que a Filosofia hegeliana nasce como crítica às teorias modernas de socialização, as quais embora bastante diversas, Hegel considere que interpretam a relação intersubjetiva como acrescida à subjetividade, é dizer, pensam a subjetividade ou como uma razão pronta- a qual não necessita inexoravelmente da intersubjetividade- ou tomam o outro como limitador da liberdade individual. Em ambos os casos, a liberdade é entendida como

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autonomia da vontade, e a sociedade de um modo geral é estranha à egoidade, ou o si. O mesmo filósofo começa a se desvencilhar desse modelo de sociabilidade, pois entende que somente dentro de um quadro intersubjetivo o indivíduo pode realizar sua liberdade. Nesse sentido, Hegel exclui as interpretações transcendentais de Fichte e compreende o reconhecimento como uma prática social na qual os indivíduos de um mesmo grupo entendem a rede axiológica que compartilham (HEGEL, 1991). Mas avançando para além de Fichte, Hegel estabelece que o reconhecimento é um movimento no qual ao passo de fazer crescer o saber da dependência recíproca, os indivíduos sabem também daquilo que lhes é único e não compartilham (HONNETH, 2003). É nesse sentido que Honneth vê uma apropriação fecunda do reconhecimento nessa tradição: o reconhecimento passa a ser um processo no qual do mesmo modo que se reconhece os valores sociais que se compartilha, a socialização, também se reconhece aquilo que é exclusivo e único, a individualização. Um movimento que alie socialização a individualização, eis tarefa do pensamento. A psicologia entra em cena quando Honneth imputa às ciências empíricas os modos de se entender como funciona praticamente tal conceito. Para isso utiliza a psicologia social de Mead e outros com o objetivo de mostra que o reconhecimento e a assim, a intersubjetividade, é uma etapa necessária à formação psicológica do sujeito, e assim intrínseca a sua possibilidade de socialização e realização (HONNETH, 2003; 2014).

Referência bibliográfica: CAMPELO, Filipe. O Hegel de Honneth. Pólemos, Brasília, vol. 3, n. 6, dez 2014. p. 97-123. FICHTE (1794). G. J. O Destino do Erudito. Tradução de Ricardo de Ricardo Barbosa. São Paulo. SP: Hedra. 2014.

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HEGEL, G. W. F (1803). O sistema da vida ética. Tradução de Arthur Mourão. Lisboa: Edições 70, 1991. _____(1820). Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 2003. HONNETH (1992), Axel. Luta por reconhecimento. Traduzido por Luiz Repa. São Paulo: Editora 34. 2003. _______________(2010). The I in We: Studies in theory of Recognition. Cambridge: Polity. 2014. LIMA, Erick. Direito e Intersubjetividade em Fichte e Hegel. São Paulo, SP: Editora Phi. 2014. 522 p.

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A lógica do fantasma como teoria da subjetividade Orientador: Professor Doutor Fernando Fagundes Ribeiro

Nosso projeto consiste em examinar a lógica do fantasma como noção central da teoria psicanalítica, desdobrando suas implicações em discursos como os da Filosofia, da política e da poética. Nossa hipótese é que essa noção, embora extraída da clínica da neurose empreendida por Freud e retomada por Lacan, articula os elementos de uma teoria geral da subjetividade.

Referências Bibliográficas: BAAS, Le désir pur, Paris Vrin 1993. _____ De la chose à l´objet, Paris Vrin 1999. BADIOU, A. A hipótese comunista São Paulo, Boitempo, 2012. BALMÈS, F. Ce que Lacan dit de l´être Paris, PUF,1999. BOOTHBY Death and desire New York, Routledge 1991. ________ Freud as a philosopher New York, Routledge 2001. ________ Sex on the couch New York, Routledge 2006. FOUCAULT, As palavras e as coisas _________ História da sexualidade I FREUD, Obra completa DELEUZE, Sacher-Masoch, Rio de Janeiro, Zahar,2009. DOLAR, Una voce e nada más, Buenos Aires, Manantial 2007. ______ Hegel and Freud http://www.e-flux.com/journal/ hegel-and-freud/ GARCIA-ROZA Acaso e repetição em psicanálise Rio de Janeiro, Zahar, 1986.

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GOLDENBERG, Palestra: O problema da naturalização do gozo nos lacanianos e pós-lacanianos. AudVisIPUSP https://www. youtube.com/watch?v=-wuLCS1IKRs JULIEN – O estranho gozo do próximo, ética e psicanálise Rio de Janeiro, Zahar, 1996 GROSRICHARD, A estrutura do Harém LACAN, Écrits Paris, Seuil, 1966. ______ Autres Écrits, Seuil, 2001. ______ A angústia, Seminário 10 ______ Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Seminário 11 ______ A lógica do fantasma, Seminário 14 ______ Mais, ainda, Seminário 20 LEBRUN, A paciência do conceito, Unesp, São Paulo, 2000. LEVI-STRAUSS, Antropologia estrutural 1, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1991. MILLER, Dos dimensiones de la experiencia analítica: syntoma e fantasma (1982), in Introducción a la clínica lacaniana, Conferencias de Espanha RBA libros, Barcelona 2007. ______ Silet: os paradoxos da pulsão Rio de Janeiro, Zahar, 2005. ______ Percurso de Lacan uma introdução Rio de Janeiro, Zaha, 1998. ______ Lacan elucidado Rio de Janeiro, Zahar, 1997. SAFATLE A paixão do negativo Unesp, São Paulo, 2006. _______(org) Psicanálise e Filosofia, um limite tenso Unesp, São Paulo, 2002. ZIZEK, The plague of fantasies Verso, London, 2008. ______Órgãos sem corpo, CIA de Freud, Rio de Janeiro 2011. ______Por que Marx inventou o sintoma, in O mapa da ideologia Rio de Janeiro, Contraponto, 1996. _______ Le sujet qui fâche Paris, Flammarion, 2007 (a). _______Eles não sabem o que fazem Rio de Janeiro, Zahar, 1992. _______Subversions du sujet Rennes PUR, 1999. _______Looking awry, MIT press, London, 2007 (b).

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_______Alguém disse totalitarismo? São Paulo, Boitempo, 2013. _______(ed)Gaze and voice as love objects, Duke University Press, Londres 1996. _______(ed)Cogito and unconscious, Duke University Press, Londres 1998.

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Associação livre: entre palavras e entre pessoas Gabriel Tupinambá

A presente contribuição propõe uma releitura do texto “A psiquiatria inglesa e a guerra”, escrito por Jacques Lacan em 1947. Nessa breve conferência, o psicanalista francês apresenta, com um entusiasmo atípico, suas impressões ao retornar de uma viagem de três semanas à Inglaterra. Lacan discorre sobre o papel da psicologia e da psiquiatria na constituição do exército britânico, e demonstra um grande interesse nos experimentos realizados por Wilfred Bion e John Rickmann no tratamento de traumas de guerra. Nossa análise sugere que a reação de Lacan frente às inovações britânicas se deve principalmente ao fato de que a lógica do tratamento proposta por Bion em muitos sentidos antecipa, no campo da lógica coletiva, a concepção lacaniana da associação livre da fala em análise. Essa hipótese nos levará a explorar a relação entre a regra da associação livre na clínica psicanalítica e o princípio da associação livre tal como apresentado por pensadores socialistas do século XIX, na medida em que, em ambos os casos, a liberdade em questão – tanto na associação entre palavras quanto entre pessoas – toca no impossível. Nosso intuito é demonstrar que a relação entre (a) o princípio de associação livre, (b) a subsequente produção de repetições e desvios imanentes ao espaço associativo e (c) o lugar do analista, simultaneamente dentro e fora dessa formação associativa, estabelece um isomorfismo entre a lógica da síntese social e a lógica da síntese do corpo do falante. Proporemos, por fim, algumas consequências que poderiam ser extraídas dessa demonstração, tanto para o melhor entendimento da estrutura da transferência na clínica psicanalítica quanto para a suplementação “clínica” do pensamento político emancipatório. Palavras-chave: Associação livre, transferência, lógica coletiva

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Bibliografia: Badiou, Alain (1996) Ser e Evento Rio de Janeiro: Editora UFRJ Bion, Wilfred (1961) Experiences in Groups and Other Writings Nova Iorque: Tavistock Publications Freud, Sigmund (2010) Obras Completas [1911-1913] São Paulo: Companhia das Letras Lacan, Jacques (2003) Outros Escritos Rio de Janeiro: Zahar Marx, Karl (2013) O Capital: Volume I São Paulo: Boitempo Proudhon, Pierre-Joseph (2011) Property is Theft! An anthology London: AK Press Yu, Jian-zing & Chu, Jun-guo (2001) A reconsideration of Marx’s idea of association of free individuals em Journal of Zhejiang University v.2, No.3, pp.348-355

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A questão da moralidade em diferentes tempos da teoria freudiana: 1915 e 1930 Manuella Mucury Teixeira mucuryrev@gmail.com

O artigo pretende versar acerca do processo pelo qual o indivíduo se alça à moralidade, a partir da questão posta em Reflexões para os tempos de guerra e morte (1915) e em O mal-estar na civilização (1930), colocando em relevo tanto as semelhanças quanto as diferenças sobre o assunto entre os dois textos. Visto que a concepção freudiana sobre o homem não se furta a reconhecer neste sua “maldade fundamental e irredutível” – o protagonismo psíquico de seus impulsos agressivos -, é indispensável compreender como se é possível inibir sua agressividade, na medida em que se percebem, na tentativa desse controle pulsional, repercussões importantes para a cultura e para o indivíduo. Contudo, mostraremos que a erradicação do mal é tida como tarefa impossível em ambos os escritos, o que reverbera inevitavelmente no destino da cultura, uma vez que esta depende, para sua existência e continuação, do constante amansamento pulsional do homem. Dizer, portanto, que a agressividade resiste e se instaura em definitivo na cultura é o mesmo que constatar nesta seu mal-estar inerente, problema analisado de forma diversa em cada texto. Em 1915, representando parte desse mal, aparece a ideia de hipocrisia, como resultado da precária transformação pulsional capaz de ser executada pelo homem em seus impulsos agressivos; A partir de 1930, a ideia de interiorização da agressividade passa a ganhar ênfase, em especial, por meio do conceito de consciência moral (Gewissen). Pretendemos destacar, assim, nesses dois momentos da obra freudiana, o processo de constituição da moral, passando dos

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estágios de coerção externa até àqueles de coerção interna. Ao fim do trajeto proposto, mostraremos que, no escrito mais tardio, O mal-estar, o mais alto patamar da moralidade coincide com o mais alto grau de agressividade e crueldade do homem – dessa vez, contra si próprio.

Referências bibliográficas: FREUD, Sigmund. “Reflexões para os tempos de guerra e morte”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Volume XXI. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2006. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin e Companhia das Letras, 2014. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Introdução à metapsicologia freudiana, v.3. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1995. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. O mal radical em Freud. Rio de janeiro: Editora Zahar, 2004.

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Diagnóstico e laço social contemporâneo Samira Pontes spcpontes@gmail.com Roberto Calazans roberto.calazans@gmail.com

A clínica psicanalítica não é alheia aos efeitos da contemporaneidade e dos impactos sobre o laço social. O presente trabalho insere-se no campo de discussões a respeito dos quadros semiológicos que parecem não atender mais aos parâmetros clássicos da neurose e psicose, colocando em pauta o alcance do diagnóstico na clínica psicanalítica. O que atualmente têm se denominado como os “novos sintomas” apontam para uma confusão diagnóstica, na qual a dimensão especificamente do diagnóstico estrutural está no cerne do debate que coloca uma interrogação no valor de seu alcance e pertinência. Os casos de difícil diagnóstico, tomados como “inclassificáveis” (Miller, 1998), teriam o estatuto de denunciar os limites da concepção estrutural pautada na distinção não-intercambiável entre as estruturas e influenciando parte do movimento lacaniano a se questionar sobre a validade da distinção clássica neurose-psicose e as categorias clínicas ordenadas a partir da presença ou da ausência do significante do Nome-do-Pai (Tironi, 2010, Laender, 2009, Maron, 2009). Esse questionamento também é feito atrelado ao que se considera como estatuto do laço social contemporâneo, se essa mudança no laço social não comprometeria o diagnóstico estrutural. O questionamento sobre a validade da distinção estrutural direciona-se, acima de tudo, sobre o conceito de Nome-do-Pai. No primeiro ensino de Lacan, o Nome-do-Pai era justamente o operador que demarcaria a diferenciação das estruturas, tornando-se o pilar fundamental para o estabelecimento do diagnóstico (Lacan, 1958/1998). Assentando as coordenadas da clínica

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borromeana, Lacan formaliza um movimento de pluralização do Nome-do-Pai e a equivalência entre este e o sinthoma: do lugar do Nome-do-Pai qualquer sinthoma poderia fazer a função de amarrar os três registros, possibilitando a sustentação da realidade psíquica. Nesse sentido, tendo como horizonte a questão diagnóstica, o que o movimento teórico de pluralização do Nome-do-Pai apresentaria de implicações para as coordenadas no campo diagnóstico? Nossa questão perpassa a possibilidade de se pensar as coordenadas de orientação diagnóstica sendo guiados pela deformação – no sentido bachelardiano – de um conceito. Se o diagnóstico passa a ser solidário da pluralização do Nome-do-Pai, desse modo, esse trabalho seria a tentativa de extrair as possibilidades e perspectivas desta afirmação.

Referências: Lacan, J. (1998). De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958). Laender, N. (2010). Da psicose extraordinária à psicose ordinária. Reverso, 32(59), p. 39-48. Recuperado em 15 ago de 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/reverso/v32n59/ v32n59a05.pdf Maron, G. (2009). La psicosis ordinaria como diagnostico psicoanalítico. Virtualia: Revista Digital de la Escuela de la Orientación Lacaniana, ano 8, n. 19. Disponível em: http://virtualia.eol.org. ar/019/pdf/variedades_maron.pdf Miller, J.-A. (1998). Os casos raros, inclassificáveis, da clínica psicanalítica – Conversação de Arcachon. São Paulo: Biblioteca Freudiana Brasileira. Tironi, A. (2010). A Psicose Ordinária e os Inclassificáveis das Categorias Lacanianas. Opção Lacaniana online, 1(1). Disponível em: http:// opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_1/Psicose_ordinaria.pdf

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Afetos alterados e a fraternidades excludentes Sérgio Eduardo Lima Prudente Pós-doutorando em psicologia clínica da USP sergio_prudente@yahoo.com.br

Atualmente observamos o acirramento de expressões passionais em nossa cultura. Talvez o aspecto mais intenso deste acontecimento pode ser observado no clima político. Tal fenômeno tem se intensificado, produzindo e autorizando discursos de ódio e violência cada vez mais comuns. Essa ocorrência vem no bojo de uma série de expressões interligadas que vão desde intolerância (racial, social, ideológica, de gênero), até modos de enlaçamentos amorosos determinados por lógicas de compatibilidade. No campo da política, o forte caráter ideológico e o aumento da tensão tem esvaziado os debates políticos de pautas urgentes. Compõem esse contexto os discursos de marketing, religiosos, jornalísticos que conduzem opiniões públicas. Diante desse cenário, pretendemos traçar considerações acerca dos fundamentos afetivos dos engendramentos de identidades nos níveis clínicos e político para verificarmos condições de possibilidade de formação de identidades fortemente atravessadas por afetos como ódio, medo e ignorância; além das implicações diretas no que se refere ao amor e a vergonha. Nosso ponto de partida é o alinhamento de críticas feitas pelo por Jacques Lacan ao situar o Discurso do Capitalista, em 1972, em que podemos observar dois pontos: 1) a perda da vergonha que gera uma vergonha de viver. Esta vergonha de viver sinaliza “uma degenerescência do significante mestre”. Tal vergonha nutriria um mal-estar de um gozo superegoico da falta-a-gozar. Gozo de um sujeito contra si mesmo que tenta tirar algum gosto dessa vida vergonhosa, da qual ele se satisfaz ferozmente, sem saber que em última instância, ele renuncia ao seu desejo. 2) a alteração de

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uma paixão fundamental, o amor, ao dizer que: “Toda ordem, todo discurso aparentado ao capitalismo deixa de lado o que chamaremos, simplesmente, as coisas do amor, meus bons amigos. Vocês veem isso, hein, não é pouca coisa.” As mudanças de discurso que engendram a vergonha de viver e a rejeição “das coisas do amor” se alinham com a tenebrosa observação de Lacan sobre o racismo: “o que ainda não viu sua últimas consequências, e que, por sua vez, se enraíza no corpo, na fraternidade do corpo, é o racismo.” Nossa hipótese considera uma administração das paixões que, a partir da compreensão do populismo por Laclau, gera uma dinâmica afetiva/identificatória em determinados contextos políticos. Partimos dos conceitos da psicanálise de Freud e Lacan, articulando-os com autores da Filosofia políticas como Ernesto Laclau e Claude Lefort.

Bibliografia: AGAMBEN, G. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004. Coleção Estado de sítio. ASKOFARÉ, S. Da subjetividade contemporânea. In: A peste, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 165-175, jan./jun. 2009. BADIOU, A. & TRUONG, N. Elogio ao amor. Tradução Dorothée de Bruchard. São Paulo: Martins Fontes-selo Martins, 2013. DUNKER, C.I.L. Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. São Paulo: Boitempo, 2015 (Estado de Sítio). FREUD, Sigmund. (1921) Psicologia de grupo e a análise do ego. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1969. Green, A. (1982). O discurso vivo: uma teoria psicanalítica do afeto. (R. J. Dias, Trad.). Rio de Janeiro: Francisco Alves. La BOÉTIE, E. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Brasiliense, 1999. LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1998.

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LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003. LACAN, J. O Seminário. Livro I. Os escritos técnicos de Freud. (1953/1954) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. LACAN, J. O seminário, livro VII: a ética da psicanálise. (1959-1960) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. LACAN, J. O seminário, livro IX: A identificação. (1961-1962) Inédito. LACAN, J. O seminário, livro XII: Problemas cruciais da psicanálise. (1964-1965) Inédito LACAN, J. O Seminário. Livro XIX. O Saber do psicanalista. (1971-1972). Inédito. p.49. Aula de 06/01/1972. LACAN, J. O Seminário. Livro XIX. …ou pior. (1971-1972) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2012. LACAN, J. Conferência de Milão: Do discurso psicanalítico. (12/05/1972). Inédito. LACAN, J. (1973). Televisão. In: Outros Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. LACAN, J. O Seminário. Livro XXI. Les non-dupes errent. (1973/1974). Inédito. LACLAU, E. (2005) A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2012. LEFORT, C. (1981). Pensando o político: ensaios sobre democracia, revolução e liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. MILLER, Jacques A (1998). “A Propósito dos Afetos na Experiência Analítica”. In: As Paixões do Ser: Amor, Ódio e Ignorância. Rio de Janeiro: Contra Capa. WINE, N. Pulsão e Inconsciente: a sublimação e o advento do sujeito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. PEREZ, D.O… A eliminação sistemática de pessoas e os limites do político: breve ensaio sobre a ação política. Em: Branco, G.C. (org.). Terrorismo de Estado. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. PRUDENTE, S.E.L. Dimensões da vergonha no avesso da psicanálise: uma contraexperiência política do sujeito. 2015. 310 f. Tese

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(Doutorado em psicologia social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2015. Bolsa Fapesp 2012/05154-3. ROSA, M. D. A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos: metodologia e fundamentação teórica. Revista Mal-estar e Subjetividade / Fortaleza / V. IV / N. 2 / P. 329 – 348 / SET. 2004. SCHMITT, C. Teologia política. (1922/2006). Belo Horizonte: Del Rey. SCHMITT, C. 1992. O conceito do político. Petrópolis, Vozes. SOLER, C. Les affects lacaniens. Paris: PUF, 2011. VIEIRA, M.A. A ética da paixão: uma teoria psicanalítica do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. ZIZEK, S. O sublime objeto da ideologia. Jorge Zahar, Rio de Janeiro: 1989.

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A linguagem segundo Rorty e sua possível interlocução com a psicanálise Prof. Dr. Marcelo Martins Barreira (Departamento de Filosofia – UFES)

No artigo “Freud e a reflexão moral”, Rorty dialoga com as grandes linhas da psicanálise freudiana. Para tanto, o autor elege uma frase de Freud na obra “Uma dificuldade no caminho da psicanálise”. A frase a ser debatida pelo filósofo americano é “o ego não é o mestre nem em sua própria casa”. Deflacionando a consciência de sua divinização platônica e de sua coisificação humeana, a consciência é vista como humana. Junto a ela, o inconsciente é abordado como uma quase-pessoa e um convite à conversação, operada pela linguagem.

Referência: RORTY, R. Freud e a reflexão moral. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999. p. 193-219.

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Uma avaliação psicodiagnóstica de pré-adolescentes e adolescentes vítimas de violência sexual à luz da psicanálise Mariana Campeti Cuoghi Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita filho – Campus de Bauru marianacuoghi@gmail.com Pesquisa de iniciação científica financiada pela FAPESP Prof ª Drª Christiane Carrijo Eckhardt Mouammar

O abuso sexual infantil tem sido considerado um grave problema para a saúde pública do Brasil e do mundo. Trata-se de um fenômeno complexo, universal, de rápido crescimento e elevada prevalência na população (DREZETT et al., 2000 apud SOUZA, ADESSE, 2005). Desse modo, trabalhar a violência sexual exige estratégias de abordagem multidisciplinar e por isso, a transmissão de informação é imprescindível para a construção e desenvolvimento deste conhecimento. A violência sexual em crianças possui um agravante que é a presença de um adulto como agente da violência, o qual é o representante do poder e portador dos emblemas da cultura para a criança. No abuso, este, então, ocupa o lugar de dominante, sem considerar as necessidades que possa ter o abusado (FUKS, 2006). Pensar o abuso sexual de uma criança ou adolescente é pensar em um ato de tentativa de aniquilação do sujeito, por atacar a sua indefensibilidade. Desse modo, “a criança abusada sexualmente deixa de ser sujeito e passa a ser submetida” (JUNQUEIRA, 1999 apud BRANDÃO, 2008) e, então, se a criança é submetida aos desejos do adulto, o ato do abuso sexual a expõe a uma situação de desamparo. A ideia é que a situação abusiva implica um excesso que não pode

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ser representado, remetendo a um estado de desamparo, marca de experiências mais primitivas do indivíduo (BRANDÃO, 2008). Uma avaliação psicodiagnóstica tem o propósito de levantar uma hipótese consistente sobre a natureza de determinado problema e, a partir daí, formular uma proposta de tratamento bem elaborada (LOWENKRON; FRAKENTHAL, 2001 apud MALGARIM, 2009). Quando se trata de avaliação de casos de abusos sexuais, devem-se elencar estratégias que levem em conta toda a complexidade dos mesmos. Diante disso, serão apresentados os resultados de uma avaliação psicodiagnóstica, pautada no teste do HTP, realizada em 8 pré-adolescentes/adolescentes vítimas de violência sexual. Por meio dos desenhos, buscou-se ter acesso às fantasias inconscientes referentes ao trauma sexual e às relações reais e fantasmáticas com o ambiente e com o agressor, realizando um estudo psicanalítico sobre os casos.

Referências: BRANDÃO, P. M. C. O sujeito abusado da psicanálise. Dissertação (Mestrado) – Rio de Janeiro: Universidade Estadual, 2008. FUKS, L. B. Consequências do abuso infantil. 2006. MALGARIM, B. G. MALGARIM, B. G. Abuso sexual: um trajeto da fantasia ao real. 2009. 84 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2009. SOUZA, C. M.; ADESSE, L. (Orgs.) Violência sexual no Brasil: perspectivas e desafios. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, 2005.

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Reflexões sobre urgência, tempo e morte no hospital geral Elaine Cristina Azevedo elaineazvdo@hotmail.com elaineazvdo38@gmail.com Roberto Pires Calazans Matos

O mundo contemporâneo, pautado pelo discurso do capitalista, é assolado por diversos fenômenos em que o laço social é perturbado tanto por fenômenos de irrupção da angústia quanto pela perda de experiência temporal para lidar com ela. Desse modo, nesse trabalho, pretendemos apresentar como a psicanálise pode dar respostas considerando o sujeito em situações em que a angústia é um fenômenos presente tanto para o sujeito quanto para os seus familiares: a atuação em hospitais leva em consideração o manejo do tempo nesse espaço diante o encontro desvelado com o real da morte e o tempo. Alguns profissionais (médicos, enfermeiros e técnicos) que atuam nos serviços de urgência e emergência dos hospitais são treinados e convocados a responder ao chamado da urgência prontamente. O objetivo no momento de urgência médica é tratar o mal-estar no organismo, re-estabelecer a saúde e salvar a vida do paciente em pouco tempo. O organismo neste espaço se torna objeto do aparato e saber científicos. Podemos perceber nestas situações de extrema urgência frente a um organismo adoecido – possibilidade da morte – que, o que se apresenta é um funcionamento desordenado e repleto de impasses para aquele que chega com sua dor e sofrimento. A pressa nestes momentos, está presente no hospital, e o tempo e sua experiência mostram transformações, pois como efeito dessa pressa nos deparamos com um fazer nestes espaços que segue protocolos pré-determinados. No entanto, nesses momentos não lidamos somente com

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organismos, mas também com um sujeito que irá interpretar esse mal-estar orgânico no campo do mal-estar subjetivo. A temporalidade na urgência médica (pressa), é vivida de forma diferente pela equipe médica e pelo sujeito que procura o hospital. A pressa da equipe médica é de tratar o mal-estar do organismo em um curto espaço de tempo buscando o re-estabelecimento; porém a temporalidade do sujeito é diferente e introduz uma outra urgência que a partir da psicanálise podemos denominar de urgência subjetiva. Segundo Vieira (2008), a urgência é “a suspensão do tempo e a dissolução do espaço. Seu momento é o de presente eternizado, sem amanhã, nem passado. Seu lugar é o vazio e seu solo nenhum. Seus correspondentes afetivos se declinam como angústia, stress e pânico”. Para Seldes (2008) a urgência demanda um trabalho do analista, pois, uma passagem da urgência, para urgência subjetiva, não se produz sem a oferta do analista, “a urgência implica um tempo de concluir acelerado, a pressa que assinala o horizonte da passagem ao ato”. Podemos notar que na urgência há um curto-circuito entre o instante de ver e tempo de compreender. Estas contrações das etapas do tempo lógico podemos acompanhar em nossa prática no hospital, diante a urgência que se antecipa e a morte, “estamos presentes como espectadores”. (Freud, 1915, p. 299). É a partir dessa dobradiça entre tempo, urgência e morte, que pretendemos apresentar como a psicanálise pode lidar com o real da angústia.

Referências: FREUD, Sigmund. [1915] Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: Obras psicológicas completas – Edição Standard Brasileira, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1980. FREUD, Sigmund. Inibições, sintomas e ansiedade (1926). In: FREUD, Sigmund. Inibições, sintomas e ansiedade; a questão da

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análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 81–171. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XX. LACAN, J. (1945). O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada. Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. VIEIRA, Marcus André. Para Concluir. In: Urgência sem Emergência? Instituto de Clínica Psicanalítica. Rio de Janeiro: Editora Subversos, 2008. MILLER, J-A. A erótica do tempo. Rio de Janeiro: EBP, 2000. SELDES, Ricardo. O compo Freudiano e a urgência subjetiva: uma proposta de trabalho. In: Urgência sem Emergência? Instituto de Clínica Psicanalítica. Rio de Janeiro: Editora Subversos, 2008.

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O conceito de sintoma na toxicomania Isabela Avelar Moreira Roberto Pires Calazans Matos

O uso de substâncias psicoativas perpassa a história e seu uso nem sempre foi considerado prejudicial, uma vez que fazia parte dos rituais e dos valores sociais (Ribeiro, 2009). Hoje o movimento que viceja em boa parte do mundo é o de uma guerra às drogas, que implica em uma consideração dos usos da droga e da sociedade como um estado constante policialesco. Junto a isso, o discurso médico passou a caracterizar a toxicomania como uma categoria clínica relacionada aos atos impulsivos. Ou seja, a toxicomania passa a ser compreendida pela psiquiatria como uma psicopatologia (Ribeiro & Fernandes, 2013). Contudo, na contemporaneidade devemos saber do que estamos falando quando abordamos esse fenômeno a partir de uma perspectiva psicanalítica. Alguns autores o inscrevem no âmbito do que podemos chamar de “novos sintomas” (Miller, 1987; Soler, 1998; Miller e Laurent, 1996/1997; Tarrab, 2005). Tal fato aponta para uma outra consideração do sintoma, diferente da consideração clássica freudiana. Esta inscreve o sintoma na dimensão de uma satisfação inconsciente, em que ele é estruturado como linguagem e representa um enigma para o sujeito, permitindo que se estabeleça um laço social. Ao contrário, sua nova consideração o revela como um modo de gozo do sujeito, já que não passa por uma significação e pelo registro do simbólico (Guedes, 2006). Nesse caso, o real se inscreve no corpo a partir de uma repetição compulsiva. O objeto encontra-se sempre disponível, sendo incorporado sem passar pelo nível do desejo. Ele se caracteriza assim, como um sintoma mudo e autístico, não se submetendo mais à palavra e não mais estabelecendo um laço social com o Outro (Magalhães, 2005). Portanto, tornou-se imperioso a investigação

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no sentido de um retorno à definição de Freud de sintoma para posteriormente situar esse conceito na clínica das toxicomanias. Nesse trabalho, um ponto chamou a atenção: Freud, já em 1898, fez uma articulação entre as neuroses atuais (neurastenia) e a toxicomania. Ele afirma a respeito dos tratamentos dos chamados vícios que “seu sucesso será apenas aparente enquanto o médico se contentar em privar seus pacientes da substância narcótica, sem se importar com a fonte de que brota sua necessidade imperativa” (p. 160). A partir daí, compreende-se que esses tratamentos não questionam os investimentos libidinais do sujeito e que o autor coloca os fatores relacionados à vida sexual como fundamentais na compreensão da etiologia das neuroses. Para tanto, revela que na neurastenia, o masturbador está habituado a retomar a sua confortável maneira de obter satisfação, quando ocorrem situações que o desestabilizam. Podemos pensar a partir daí, que assim também o faz o sujeito toxicômano, na medida em que é um gozo autoerótico que está colocado em questão. Isso aponta para uma consideração do gozo do toxicômano por uma via diferente, indicando que está em jogo uma possibilidade de trabalho subjetivo que a política de guerra às drogas compulsivamente impede de se estabelecer.

Referências: Guedes, P. (2006). Contemporaneidade e psicanálise. Revista Kaleidoscopio, 1. Recuperado em 6 de abril, 2015, de http://www. unilestemg.br/kaleidoscopio/artigos/volume1/Contemporaneidade%20e%20 psicanalise%20(GUEDES).pdf Freud, S. (1898). A sexualidade na etiologia das neuroses. Em: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. (Volume III). Rio de Janeiro: Imago, 1969.

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Magalhães, E. K. (2005). Dos novos sintomas ao sintoma analítico. Latusa digital, 14. Recuperado em 29 de março, 2015, de http:// www.latusa.com.br/pdf_latusa_digital_14_a2.pdf Miller, J.-A. (1987). Percurso de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p. 97. Miller, J.-A., & Laurent, E. Curso de Orientação Lacaniana (1996/1997). Aula de 5/03/1997. Ribeiro, C. T. (2009). Que lugar para as drogas no sujeito? Que lugar para o sujeito nas drogas? Uma leitura psicanalítica do fenômeno do uso de drogas na contemporaneidade. Ágora, 12(2), p. 333-346. Recuperado em 05 de junho, 2014, de http://www. scielo.br/pdf/agora/v12n2/v12n2a12 Ribeiro, C. T., & Fernandes, A. H. (2013). Tratamentos para usuários de drogas: possibilidades, desafios e limites da articulação entre as propostas da redução de danos e da psicanálise. Analytica, 1(2), p. 33-58. Recuperado em 06 de junho, 2014, de file:///C:/Users/Victor/Downloads/372-1569-1-PB.pdf Soler, C. (1998). Os direitos do sujeito. A psicanálise na civilização. Rio de Janeiro: Contra Capa, p. 283 – 290. Tarrab, M. (2005). Produzir novos sintomas. Em: Correio, n° 52. Em: Belo Horizonte: EBP, p. 37.

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Freud e o caráter natural do fenômeno psíquico na década de 1890 Vitor Orquiza de Carvalho

De sua formação acadêmica até o final de sua obra, o naturalismo é a perspectiva filosófica de Freud. Ainda assim, os contornos de seu entendimento sobre naturalismo permanecem um problema para a agenda da Filosofia da psicanálise, tanto de um ponto de vista ontológico quanto metodológico. Com isto em mente, esta comunicação explora alguns argumentos de Freud em que identificamos alguma defesa do caráter natural do fenômeno psíquico durante a década de 1890. Nesta década ele se apropria efetivamente desse tipo de fenômeno e revela um caminho que marca posicionamentos diversos sobre a relação mente-cérebro e sobre a metodologia para abordar o campo psíquico. Se em Tratamento psíquico (tratamento da alma) (1890) ele argumenta a favor do afeto como um conceito avesso ao sobrenatural e apropriado para as ciências naturais abordarem os efeitos da alma no corpo, em Sobre a concepção das afasias (1891) ele enfatiza o caráter dinâmico dos processos psíquicos para prescindir do localizacionismo anatômico. Já no Projeto para uma psicologia (1895) o esforço teórico de explicar neurologicamente os fenômenos psíquicos indica um flerte com o materialismo, mas nele não se encerra na medida em que ressalta a noção de movimento e quantidade que vai permiti-lo apostar em uma determinada concepção de processo. Esta, por sua vez, retorna na edificação de sua teoria representacional do capítulo VII de A interpretação dos sonhos (1900), que admite de fato a psicologia e deixa a neurologia em suspenso. Com essa discussão procura-se uma melhor compreensão sobre aspectos do naturalismo de Freud que fundamentam a sua epistemologia e a sua concepção de ciências da natureza.

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Referências: Freud, S. (1890). Tratamiento psíquico (tratamiento del alma). In: Obras Completas. Vol I. Tradução ETCHEVERRY, J. L. Buenos Aires: Amorrortu editores, 2001. 490p. ________. (1891). Sobre a concepção das Afasias: um estudo crítico. Tradução HONDA, H., da versão original (Leipzig e Viena: Franz Deuticke, 1891), 2008. p.122. ________. (1895). Projeto de uma psicologia. Tradução GABBI JR., O… Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995. p.229. ________. (1900). La interpretación de los sueños. In: Obras Completas Vol V. Tradução ETCHEVERRY, J. L. Buenos Aires: Amorrortu editores, 2001. 749p.

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Autoinstrumentalização, biotecnologia e moralização da espécie humana: aproximações à perspectiva habermasiana sobre as manipulações biotecnológicas Maurício Fernandes mauriciofernandes@ufpi.edu.br

A partir do século XX as tecnociências atingiram uma posição basilar na sociedade contemporânea marcada principalmente pelos avanços no campo da engenharias genéticas e da biotecnologia. O desenvolvimento das biotecnologias e da manipulação do material genético humano abriu a possibilidade de acesso ao âmbito nuclear da vida e existências humanas, ao mesmo tempo representando um avanço sem precedentes na história humana bem como um processo gradativo de autoinstrumentalização no qual o próprio humano se torna disponível a tais manipulações. Um dos principais interlocutores hodiernamente acerca das manipulações biotecnológicas e seus impactos na sociedade é o filosofo alemão Jürgen Habermas. Este trabalho tem como objetivo uma aproximação à perspectiva habermasiana acerca das manipulações biotecnológicas, e principalmente de sua proposta de uma moralização da espécie humana como resposta para as intervenções genéticas no âmbito de uma eugenia liberal. Palavras-chaves: Autoinstrumentalização. Biotecnologia. Moralização da espécie humana. Jürgen Habermas.

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Referências bibliográficas: BRUSEKE, Franz. A técnica e os riscos da modernidade. Florianópolis: EDUFSC, 2001. HABERMAS, Jürgen. Theodor Adorno: Pré-história da subjetividade e auto-afirmação selvagem. In: FREITAG, Bárbara & ROUANET, Sérgio Paulo. Habermas. São Paulo: Editora ática, 1980. ______. Entre naturalismo e religião. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2007. ______. O futuro da natureza humana. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ______. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa: Edições 70, 1987. ______. Um argumento contra clonar pessoas: Três réplicas. In: A constelação pós-nacional: Ensaios políticos. São Paulo: Littera mundi, 2001. JONAS, Hans. Ética, medicina e técnica. Lisboa: Ed. Vega, 1994. _____. O princípio responsabilidade. São Paulo: Contraponto, 2006. RIFKIN, Jeremy. The Bio-tech Century: Harnessing the Gene and Remaking the World: J.P. Tarcher/Putnam. New York, 1998. ZUBEN, Newton Aquiles von. Bioética e tecnociências: A saga de Prometeu e a esperança paradoxal. São Paulo: EDUSC, 2006.

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Em guerra com o semelhante: identificação e segregação na contemporaneidade Carlos Eduardo Pereira Doutorando em Psicologia/PUC-Minas Email: cadupereira@gmail.com Ilka Franco Ferrari Professora na graduação e pós-graduação em Psicologia da PUC/Minas, Membro da Escola Brasileira de Psicanálise (Brasil) e da Associação Mundial de Psicanálise (Paris, França) Email: francoferrari@terra.com.br

O processo de identificação é essencial na discussão contemporânea sobre os laços sociais e as novas formas de segregação, e está intimamente ligado aos sentimentos de aversão e hostilidade presentes em toda relação afetiva que perdura por algum tempo. Freud, em suas elaborações sobre o narcicismo distingue três formas de catexização objetal que promovem a exclusão de objetos estranhos (Unheilich): o amor, a relação mãe-bebê e o grupo. Esse “narcisismo das pequenas diferenças” estaria na base dos mecanismos que engendram os processos de segregação na cultura. Freud, em Reflexões sobre a guerra e a morte Freud (2013[1915]) ao discutir as razões da animosidade entre iguais, elabora a noção de ‘ambivalência de sentimento’ para discutir o amor e ódio intensos que, com frequência, são encontrados na mesma pessoa. Em O mal-estar na civilização Freud (1976[1930]) ele investiga os motivos do que ele chama ‘mal-estar inerente a condição humana’, constatando que o homem trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança, entendendo aqui a felicidade como a liberdade em se satisfazer. Essa troca, segundo o autor, determina grande parte das lutas da humanidade, na tarefa de encontrar uma acomodação que traga felicidade entre as reivindicações do

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indivíduo e as reivindicações do coletivo. O que Freud parece indicar é que a convivência entre os homens não é tarefa fácil, chegando a se perguntar se há aí uma impossibilidade. Lacan retoma o tema da identificação, sobretudo no Seminário, A identificação (1961-62), e parte da terceira forma de identificação proposta por Freud, que pode ser nomeada de histérica, narcísica ou imaginária, e diz da questão do outro em nós. Assim, a singularidade que marca o sujeito, sua identidade mais íntima, é para ele, ao mesmo tempo, estranha e exterior, o que nos remete ao que Freud (1976[1919]) fez alusão em seu texto O Estranho, e ao conceito lacaniano de extimidade. Para Lacan, a diferença em um grupo somente acontece pela hostilidade ou exclusão de um outro diferente, ou seja, o que valida um grupo é o elemento externo ou estranho, e ai está a segregação na origem da fraternidade. Contemporaneamente, com a expansão da ordem capitalista e do ideal científico, assistimos à multiplicação de oferta de identificações que impõem uma homogeneização dos modos de gozo que podemos designar com uma manifestação do sintoma do Outro da cultura: aquilo que não vai bem e denuncia um disfuncionamento na relação entre os seres humanos e a cultura que os sustenta. Estas identificações segregam na medida em que suas manifestações sinalizam pontos de fracasso no projeto de civilização e podem ser tomadas como falhas no laço social. O fracasso escolar, o abuso de crianças, a violência urbana e as toxicomanias são exemplos dessas ocorrências.

Referências Bibliográficas: FREUD, Sigmund. O Estranho (1919). In: ESB, vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. ________________Mal-estar da civilização (1930). ESB, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

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_______________Considerações atuais sobre a guerra e a morte. In: ________ Obras Completas, Vol XII. São Paulo: Companhia das Letras. LACAN, Jacques. O seminário, livro 17: O avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992. ________________A Identificação: seminário 1961-1962. Tradução: Ivan Corrêa e Marcos Bagno. Recife: Centros de Estudos Freudianos do Recife, 2003.

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A Filosofia das ciências de Émile Meyerson na primeira publicação psicanalítica de Lacan (“Para-além do ‘Princípio de Realidade’”) Hugo Tannous Jorge Graduado em Psicologia na UFSC e cursando Mestrado em Psicologia (linha de pesquisa em História e Filosofia da Psicologia) na UFJF

O trabalho a ser comunicado é resultado parcial de uma pesquisa sobre os elementos da Filosofia das ciências de Émile Meyerson em primeiros trabalhos psicanalíticos de Lacan (entre os anos 1936 e 1953), realizada a propósito de um Mestrado em Psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora e orientada pelo Professor Doutor Richard Theisen Simanke. O objetivo da pesquisa é identificar e discutir convergências e divergências entre Meyerson e o “primeiro Lacan” em cada uma de suas doutrinas em Filosofia das ciências e, ainda, discutir em que sentido essas identificações contribuem para o aprofundamento de questões filosóficas sobre ciência e conhecimento em psicanálise lacaniana. Em “Identidade e Realidade”, Meyerson, em contraposição a doutrinas positivistas, aponta a dominação da ideia de causalidade no senso comum e na ciência antiga e moderna. A atribuição de causalidade ao fenômeno, para ele, é o mesmo que a identificação de seu antecedente ao seu consequente, permitindo fazer da realidade uma substância e algo independente do sujeito do conhecimento. Tal princípio de identidade seria, para a inteligência, plausível, nem a priori nem a posteriori, uma vez que haveria uma concordância parcial entre nossa inteligência identificatória e uma realidade que por vezes a rejeita, o que mostra o princípio de Carnot em Termodinâmica. Além disso, haveria uma parcela essencialmente refratária ao princípio de identidade na ciência, “o irracional”; ela seria encontrada na irredutibilidade dos fenômenos da sensação e da ação transitiva.

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O pesquisador adotou um princípio de leitura que separa duas categorias de reflexão sobre ciência no “primeiro Lacan”, uma seguindo discursivamente à outra: às condições para uma ciência psicológica possível, considerando o real psicológico que essa ciência desvela, Lacan segue com reflexões sobre o sujeito da ciência considerado, ao menos em parte, como um sujeito psicológico. Assim, foram reconhecidas as seguintes hipóteses. As ideias meyersonianas sobre o princípio de identificação e as lacanianas sobre a dimensão imaginária da psicologia humana são remissíveis uma à outra, pois ambas questionam – reconhecendo-os, porém, inevitáveis – o substancialismo e o realismo ingênuo nas ciências e no senso comum. Dessa forma, fazem o mesmo caminho do sujeito científico/epistêmico ao sujeito do senso comum, mas com uma diferença: Meyerson, com as ciências naturais, atribui limites radicais e não-radicais entre sujeito e objetos à realidade última desses dois polos do conhecimento, enquanto Lacan, com sua ciência psicológica, atribui limites radicais entre sujeito e objetos à condição originária do polo subjetivo do conhecimento.

Referências: Lacan, J. (1936/1998). Para-além do “Princípio de realidade”. In: J. Lacan, Escritos (pp. 77-95). Rio de Janeiro: Zahar. Lacan, J. (1937/2003). Os complexos familiares na formação do indivíduo. In: J. Lacan, Outros Escritos (pp. 29-90). Rio de Janeiro: Zahar. Meyerson, E. (1908/1930). Identity and reality. New York: Dover Publications, Inc. Simanke, R. T. (2002). Metapsicologia lacaniana: os anos de formação. São Paulo: Discurso Editorial; Curitiba: Editora UFPR.

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Fenichel e a teoria psicanalítica: por uma psicologia dialético-materialista José Henrique Parra Palumbo jhparrap@gmail.com

Situado a partir de uma pesquisa doutoral que visa compreender pela perspectiva de Otto Fenichel os argumentos, os conceitos e os paradigmas que são articulados em uma teoria psicanalítica; este trabalho se ocupará de uma das questões que saltam aos olhos daqueles que se deparam com a obra deste psicanalista. Em um de seus textos, Sobre a Psicanálise como germe de uma futura Psicologia dialético-materialista, de 1934, Fenichel aproxima a investigação dos processos inconscientes e o método dialético-materialista desenvolvido com a crítica da economia política de Marx. Trata-se então de analisar, em um primeiro momento, as particularidades desta aproximação em relação a este mesmo tipo de operação em voga na época deste texto. Uma leitura horizontal que busca as condições históricas, o contexto, do referido escrito em conexão com outros textos do mesmo autor ou com textos que trabalham a mesma temática, como o famoso Materialismo Dialético e Psicanálise (1934) de Reich e Política e Psicanálise (1931) de Fromm. E em um segundo momento, vasculhar os efeitos sobre a constituição e o funcionamento do conhecimento psicanalítico apreendido como uma teoria psicológica dialético-materialista. Ou seja, uma leitura vertical deste artigo que busca sua articulação interna. Espera-se com isto, jogar luz sobre um dos pontos da obra de Fenichel concernentes à teoria psicanalítica, um ponto que pode ser traduzido de tal maneira: Fenichel leitor de Freud é consideravelmente influenciado por Fenichel leitor de Marx.

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Referências: Fenichel, O. Über die Psychoanalyse als Keim einer zukünftigen dialektisch-materialistischen Psychologie. Zeitschrift für Politische Psychologie und Sexualökonomie, ZPPS, v. 1, n. 1, p. 4362, 1934. Disponível em: http://www.lsr-projekt.de/zpps/zpps1. html#fenichel. Acesso em: 06/03/2015. Fromm, E. Politik und Psychoanalyse. Psychoanalytische Bewegung, v. 3, n. 5, pp. 440-47, 1931. Disponível em: https://archive. org/details/PsychoanalytischeBewegungIii1931Heft5. Acesso em: 30/07/2015. Reich, W. Dialektischer Materialismus und Psychoanalyse Politisch-Psychologische Schriftenreihe der SEXPOL, n. 2, 1934. Disponível em: http://www.wilhelmreich.at/wp-content/uploads/ Dialektischer-Materialismus-Psychoanalyse2.pdf. Acesso em: 30/07/2015.

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Corpo:

MAL-ESTAR

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O conceito de angústia na etapa inicial da teoria freudiana Marina Bilig de Aguiar Fátima Siqueira Caropreso

Esta proposta de comunicação propõe uma análise do desenvolvimento da teoria freudiana da angústia no início de sua obra, entre 1895 a 1900, assim como de comentadores desse tema, no intuito de esclarecer o desenvolvimento de tal concepção e a sua relação com o afeto. Trata-se de um trabalho de epistemologia da psicanálise, tal como proposto por Monzani (1990). A aparição do termo angústia pode ser observada desde o início da obra freudiana enquanto uma tentativa relacionada à construção de um quadro etiológico para a neurose de angústia, chegando até a sua última elaboração, trabalhada fundamentalmente em Inibição, Sintoma e Angústia (1926). No início de sua teoria, Freud introduz a ideia de uma angústia automática da energia pulsional e a vincula à questão da sexualidade, ao excedente da tensão sexual física. Segundo Laplanche (1980/1987), Freud considerou uma teoria puramente fisiológica, em que a angústia seria a descarga de uma excitação sexual insatisfeita, por via somática. Para o autor, o acúmulo de excitação somática, que seria a causa da angústia, evidenciava a ausência de simbolização da excitação somática, ou seja, a falta da libido psíquica e, portanto, da elaboração psíquica dessa excitação. Não obstante, Nagera (1970) defende a existência de três fases no desenvolvimento freudiano das concepções acerca da angústia. Segundo ele, neste primeiro momento, haveria não só a ideia de uma transformação do excedente de libido, mas também estaria presente a noção de uma liberação de desprazer (angústia) atuando como um sinal para impedir a ocorrência de um desprazer ainda maior. Embora a literatura, de um modo geral, considere, nesta

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primeira etapa, apenas a angústia como resultado do excesso da tensão física sexual, é possível identificar uma antecipação das reflexões sobre as relações entre a memória, a sinalização de perigo e a angústia já nesse período inicial da teoria freudiana e, portanto, anteriores a 1926, ano em que comumente é considerado o surgimento da segunda teoria da angústia, em que são enfatizados tais elementos.

Referências: Laplanche, J. (1987). Problemáticas I: A angústia. São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1980). Mezan, R. (1998). Freud: A trama dos conceitos. 4. ed. São Paulo: Editora Perspectiva. Monzani, L. R. (1990). Discurso filosófico e discurso psicanalítico: balanço e perspectivas. In. J. B. Prado (Org.). Filosofia da Psicanálise. São Paulo: Editora Brasiliense. Nagera, H. (1990). Metapsicologia: Conflitos, ansiedade e outros temas. São Paulo: Cultrix.

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O autismo como “problema de guerra” Mayana Bracks mayanabracks@gmail.com Roberto Calazans roberto.calazans@gmail.com

Pensando no tema do presente Congresso, “Reflexões para os tempos de Guerra e Morte” juntamente com a nossa pesquisa de mestrado, tentaremos expor uma guerra que se expressa através de confrontos e combates políticos, metodológicos e conceituais. Falaremos aqui sobre o que Eric Laurent (2014) denomina de “a batalha do autismo”. O termo “batalha” dentro do contexto do autismo remete ao modo como os adeptos a uma linha cientificista querem colocar como verdade indiscutível resultados obtidos pela lógica estatística, pela biologia e pela genética e que buscam invalidar a noção psicanalítica de sujeito que, acreditamos, no autismo também se faz presente e é uma orientação para pensar os modos do sujeito estar ou responder ao contemporâneo do laço social. O autismo, desde a descrição primeira como síndrome de Kanner em 1943, é um tema de pesquisa em constante debate, que desperta muito interesse e se apresenta como um campo de pesquisa de grande pertinência clínica e relevância política. O autismo constitui um enigma no campo de pesquisa principalmente por rejeitar o laço social e manter-se fora do discurso O diagnóstico do autismo, assim, não cessa de gerar polêmicas. Existem hoje na comunidade científica e política fortes enfrentamentos acerca de questões relativas a identificação, o “diagnóstico” e, principalmente, a causa do autismo. Há uma busca desenfreada pela causa do autismo que passa por perspectivas psicogênitcas até neuropsíquicas. A abordagem psicanalítica, centrada na clínica singular, possibilita a escuta do sujeito. O sujeito não deixa de ser sujeito mesmo que seu corpo

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seja “deficiente” e é assim que a psicanálise direciona sua teoria e clínica para o autismo, pois esta não depende exclusivamente de hipóteses etiológicas sobre o funcionamento biológico. A direção de uma compreensão psicanalítica é de não fazer dos autistas seres portadores de um déficit a ser corrigido. A discussão psicanalítica do autismo está circunscrita em um campo de investigação que passa pela estrutura psicótica e possibilita ver a maneira singular dessas crianças de tratar o que é da ordem do insuportável. A psicanálise encontra-se presente toda vez que a singularidade encontra-se prestes a ser abandonada. Sabe-se, portanto, que ela nunca se propôs a fornecer resultados quantitativos e comprovados de seus efeitos sobre o trabalho analítico de cada sujeito. Mas isso não quer dizer que não produza efeitos contundentes. A produção do sujeito autista é uma tentativa de construção, uma saída para fazer calar algo que é absolutamente intrusivo, angustiante, algo que é da ordem do insuportável, insuportável muito comum no laço social contemporâneo.

Referências: Gontijo, R. A. G (2008). Autismo: da concepção deficitária ao retorno do gozo. Dissertação de Mestrado. Pontífica Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Kanner, L. (1943). Os Distúrbios Autísticos de Contato Afetivo. In: Rocha, P. S. (org.) Autismos. São Paulo: Escuta, 1997. Laurent, E. (2014). A batalha do autismo: da clínica à política. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar. Letra Freudiana (1995). Revista da Letra Ferudiana: O Autismo. Ano 9, nº14. Rio de Janeiro: Ed. Revinter Ltda.

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Marfinati, A. C. & Abrão, J. L. F (2014). Um percurso pela Psiquiatria Infantil: dos antecedentes históricos à origem do conceito de autismo. Revista Estilos da Clínica, São Paulo, v. 19, n.2, p.244-262.

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Repetição, sintoma e pulsão de morte Nabil Jean Moussallem nabiljm@gmail.com

A rearticulação entre repetição, sintoma e pulsão de morte sob a ótica da psicanálise tornou-se urgente e necessária nos tempos atuais, pois é do sintoma que o paciente vem se queixar quando procura uma análise, ou seja, o sintoma aparece como algo repetitivo, desagradável, que faz sofrer o sujeito. Percorrendo o caminho de Freud sobre a compulsão à repetição e a pulsão de morte, e de Lacan na dimensão do real com o inconsciente pulsional produzindo o sintoma-gozo, tenta-se esclarecer a função da repetição no sintoma. Em outras palavras, o que faz o sujeito repetir seu sofrimento? À primeira vista pode parecer um paradoxo, mas não para Freud, quando afirma que a repetição traz sofrimento para um sistema (consciente) e satisfação para outro (inconsciente). Ou seja, existe uma satisfação na repetição, uma satisfação mórbida, compulsiva e de base pulsional, que repete indefinidamente procurando algo na resolução de um traumático experenciado, mas não simbolizado. Trata-se do despreparo do psiquismo em absorver o trauma, isto é, da incapacidade de representá-lo simbolicamente e de inseri-lo nas cadeias associativas do psiquismo que se dá este algo real do traumático, marcado pelo des-encontro com o desejo do Outro. Este algo, o afeto, a angústia, a coisa, das ding, resto de um encontro primeiro com o Outro materno, encontro faltoso, incompleto e marcado por uma proibição insuportável manifestar. Do insuportável ligado à própria operação do recalque, o seu afeto não sofre o desgaste do tempo, permanecendo intacto e

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pressionando para se manifestar, encontrando saída muitas das vezes através da repetição. Desta forma, o recalcado não deixa de produzir um recobrimento da angustia, uma fantasia primordial, que supõe responder ao Outro repetidamente ao longo da vida. Fantasia esta impulsionada pela pulsão de morte, que quer retornar ao estado de graça da completude. A angústia assim transformada em gozo, em mais de gozar, repete para mais gozar o retorno ao estado confortável antes da excitação, propiciando uma satisfação mórbida de repetição, marcada pelo excesso e pela aceleração ansiosa em atingir o estado sem excitação, ou seja, a aceleração do perecimento movida pela pulsão de morte!

Referências bibliográficas: Almeida, L. P. & Raul Marcel filgueiras Atallah, R. M. F. (2008). O conceito de repetição e sua importância para a teoria psicanalítica. Obtido em https://www.scielo.com.br/. Recuperado em 24/11/2014. Besset, V. L. (2000). Inibição e sintoma: a angústia na clínica hoje. Obtido em https://www.scielo.com.br/. Recuperado em 24/11/2014. Costa, L. A. (2010). O que a repetição traz de novo: As dimensões de determinismo e contingência da repetição. Obtido em http://livros01. livrosgratis.com.br/cp143644.pdf. Recuperado em 22/03/2015. Fernanda Canavêz, F. & R. Herzog (2007). A singularidade do sintoma: por uma crítica Psicanalítica à idéia [sic] de origem. Obtido em http://pepsic.bvsalud.org/. Recuperado em 26/11/2014. Freud, S. (1980). Recordar, repetir e elaborar. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. 12). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1914).

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______________ Considerações atuais sobre a guerra e a morte. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. 13). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1915). ______________ Além do princípio do prazer. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. 18). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1920). ______________ Inibição, sintoma e angústia. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. 20). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1926). Garcia-Roza, L. A. (2003). Acaso e Repetição em Psicanálise: uma introdução à teoria das pulsões (7 ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Gianesi, A. P. L. (2005). A toxicomania e o sujeito da psicanálise. Obtido em http://pepsic.bvsalud.org/. Recuperado em 26/11/2014. Lacan, J. (1998). O seminário livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1957-1958). ______________ O Seminário, livro 10: A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1962-1963)

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Estado de exceção, mal estar e sintoma Marcus Cesar Ricci Teshainer Psicanalista, mestre e doutor em ciências sociais, pós doutorando IP/USP – bolsista FAPESP Nadir Lara Junior Psicanalista, professor Unisinos, Mestre e doutor em Psicolgia, pós doutorando IP/USP

Este trabalho visa discutir e articular o tema da violência e a violência revolucionária. Para tanto, pretendemos resgatar alguns pressupostos do psicanalista brasileiro Christian Dunker (2015) que discute, a partir do trabalho de Honneth, questões relacionadas à violência e o mal estar. Estas argumentações de Dunker trazem temas caros ás argumentações do filósofo Italiano, Giorgio Agamben (2003), no que corresponde aos seus trabalhos sobre homo sacer; estado de exceção; a suspenção da lei; a genealogia do direito e a discussão sobre violência que esse autor italiano nos apresenta. Dunker não tributa suas ideias a Agambem, o que pode nos conduzir a pensar que ele chega à conclusões próximas por caminhos diferentes. Ainda mais, a ideia de condomínio de Dunker (2015) relacionada com a de Campo de concentração de Agamben (2003) nos ajuda a teorizar e refletir sobre a violência do Estado brasileiro, especialmente aos militantes comunistas e por outro lado entender qual a proposta de violência revolucionária pregada pelos comunistas destaque a Carlos Marighela (1994). A violência revolucionária visa fins políticos para que esses ideais se realizem; busca construir um laço social em que todos sejam sujeitos de sua história e a violência passa ser uma estratégia e não um fim em si mesma. A pergunta que nos fazemos diante disso: Mas se a liberdade é a proposta, por que tanta reação violenta do Estado? Por que a mídia demoniza tanto

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qualquer ato revolucionário? A quem poderiam os comunistas recorrer? A quem endereçariam seus pedidos? Faremos uma interlocução desses elementos com a teoria psicanalítica de Lacan (1992) e Freud (2012), pois estes tentam de alguma forma por em questão a forças autoritárias do discurso do mestre (poder de governar). A partir, portanto, destas das análises de Dunker (2015), pretende-se correr ao texto de Agamben (2003) para relacionar e ampliar seus argumentos, para finalmente voltar-se à realidade brasileira e às ideias psicanalíticas de mal estar e sofrimento e atentar para estas categorias no que Agamben (2003) chama de o paradigma político contemporâneo, o estado de exceção.

Referências: AGAMBEN, Giorgio. Stato di Eccezione. Torino, Italia: Bollati Boringuieri, 2003. DUNKER,, Christian I. L. Mal-Estar, Sofrimento e Sintoma, São Paulo, Boitempo 2015. MARIGHELLA, Carlos. Por que resisti à prisão. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin: Companhia das Letras, 2012. LACAN, Jacques. Seminário – Livro 17 – o Avesso da Psicanalise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

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Da política de saúde mental à clínica da toxicomania – um breve relato dos impasses cotidianos de um CAPS Laura Resende Moreira laurawresende@gmail.com Fuad Kyrillos Neto fuadneto@ufsj.edu.br

O avanço da Reforma Psiquiátrica, que outrora lutou para encontrar um lugar social para a loucura, insistindo em um tratamento com liberdade e dignidade aos que sofrem, nos impõe atualmente questionar sobre a cultura de exclusão que ameaça os novos sujeitos do perigo social: os usuários de álcool e drogas. Na tentativa de articulação com o tema proposto no evento, entendemos problemática da toxicomania como um ponto a ser discutido nesses “Tempos de Guerras Atuais”, no sentido de uma tomada de posição clínica e, sobretudo, política no que diz respeito ao tratamento dos usuários de álcool e outras drogas. Propomo-nos a discutir a rede de atenção psicossocial de um município no interior de Minas Gerais. O estudo gerador do trabalho foi iniciado a partir de uma questão de pesquisa de mestrado, em andamento, e refere-se a ausência de um dispositivo adequado ao tratamento das toxicomanias no município em questão. Indagamos sobre as consequências clínicas, institucionais e sociais da ausência do equipamento adequado no âmbito da saúde mental, o Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS AD), diante da elevada demanda presente no município. A pesquisa iniciou-se com observações em um CAPS I, e trouxe-nos um estranhamento no que se refere ao cotidiano do serviço: o desafio do enfrentamento da exclusão e do preconceito do sujeito toxicômano, que enfrenta a precariedade da rede de acolhimento aos portadores de

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sofrimento mental, utilizando os serviços de um CAPS I direcionado para o tratamento de psicóticos e neuróticos graves. Os relatos de profissionais CAPS em estudo, colhidos durante o período de observação vão nessa direção: consideram o tratamento dos dependentes de álcool e outras drogas um problema para o serviço. Alguns profissionais alegam não se sentirem à vontade ao fazerem o acolhimento desses sujeitos, pois, segundo eles, os drogaditos costumam mentir e chantagear durante os atendimentos. Outros profissionais se recusam a fazer o atendimento a esses usuários por os considerarem “perigosos” e dizem preferir os atendimentos aos psicóticos. Ao ter a psicanálise como eixo condutor, o trabalho a que nos propomos dialoga com o avanço da Luta Antimanicomial e indaga sobre as especificidades que a toxicomania impõe ao serviço substitutivo, na tentativa de pensar política, clínica e eticamente os desafios que o tratamento singular da adicção nos confere. Em um tempo em que o abuso de drogas se tornou a questão central e conflitante no campo da saúde mental, uma clínica antimanicomial da toxicomania convoca o Estado e a sociedade a elegerem estratégias e dispositivos que combatam a segregação e os danos à vida, indo além de uma política que vise ampliando as respostas possíveis para o mal-estar.

Referências: AMARANTE, P (org) (1995). Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Panorama/ENSP FREUD, S. (1918/2006). Linhas de Progresso na terapia psicanalítica. In Obras Completas, Vol 17. Rio de Janeiro: Imago Editora. SILVA, R. (2012). No meio do caminho, sempre haverá uma pedra. Responsabilidades, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 203-214

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O princípio da integralidade como norteador das práticas em saúde no hospital Jamille Lima dos Santos jamilleml@yahoo.com.br

Tomando como ponto de partida a crescente valorização do trabalho em equipe multiprofissional, o presente trabalho visa analisar a demanda de inserção de outros saberes no hospital através de uma leitura do princípio da integralidade proposto pelo SUS. Partiremos da hipótese de que a mudança do paradigma dos cuidados em saúde é conseqüência da aproximação entre a medicina e a ciência e seus efeitos de fragmentação da assistência decorrente da especialização do saber sobre a doença. Foucault (1980/2004) propõe que o aparecimento da clínica como fato histórico deve ser identificado com o sistema de reorganizações dos elementos que constituem o fenômeno patológico e tem como consequência a articulação entre a doença e o organismo. Nesse contexto, demonstra que a medicina tenta adequar seus modelos e pesquisas ao que a ciência vem oferecer a partir de outros campos, isto é, não haveria propriamente uma ciência médica, mas uma apropriação pela medicina dos modelos científicos vigentes em determinada época. Seguindo esse mesmo raciocínio, Canguilhem (1978/2005) nos indica que o avanço da medicina moderna desvincula o saber médico da idéia de que a doença é um desequilíbrio do organismo que deve ser sanado para possibilitar o retorno a um estado anterior. Segundo o autor, a descoberta por Koch, Pasteur e seus alunos dos fenômenos de contágio microbiano ou virótico e da imunidade favoreceram a invenção de técnicas de anti-sepsia, de seroterapia e de vacinação que provocaram a substituição progressiva no pensamento médico de um ideal pessoal de cura das doenças por um ideal social de prevenção das doenças. Lacan (1966/2001) avança

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nessa discussão ao nos indicar que a aproximação da medicina com as doutrinas científicas produz uma releitura das funções do organismo que, inspirado no modelo científico, passam a ser vistas como organizações altamente diferenciadas que se oferecem ao médico no laboratório. Segundo Lacan (1966/2001), para além de uma mudança de paradigma de exame do objeto da medicina, o que esse movimento produz é uma mutação radical na relação entre o médico e o paciente. Tomaremos como norteadores da nossa discussão esses três autores com o objetivo de demonstrar que só haverá de fato uma mudança efetiva do paradigma dos cuidados dispensados no hospital se a lógica que rege essa mudança considerar que a constituição de uma equipe de trabalho multiprofissional não se estabelece sem a inclusão do sujeito que adoece e que não pode ser reduzido ao seu corpo, nem a sua doença. Desse modo, entendemos o princípio da integralidade como uma resposta à fragmentalização decorrente da crescente especialização do saber nas práticas de saúde, onde se perde a visão das múltiplas dimensões presentes no adoecimento de um sujeito. Nesse contexto, a inclusão das equipes multiprofissionais nas instituições hospitalares seria uma tentativa de reverter esse quadro fragmentário e impessoal de assistência e tratamento, favorecendo a consideração das dimensões biopsicossociais implicadas nas relações entre a saúde e doença para cada sujeito. Palavras chave: Integralidade; Hospital; Sujeito; Equipe multiprofissional.

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Referências Bibliográficas: BRASIL (2004/2010). Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Acolhimento com classificação de risco. Brasília: MS. _______ (2006/2010). Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: MS _______ (2013). Política Nacional de Atenção Hospitalar. Portaria n 3.390, 30 de dezembro de 2013.Disponível em http://bvsms. saude.gov.br/bva/saudelegis/gm/2013/prt3390 30 12 2013.htlm. Acesso em 23/07/2015 CANGUILHEM, G. (1978/2005) “É possível uma pedagogia da cura?” In: Estudos sobre medicina. Rio de Janeiro: Forense Universitária. CECÍLIO L. & MERHY E. (2003). “A integralidade do cuidado como eixo da gestão hospitalar”. In: Pinheiro R, Mattos R, organizadores. Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: IMS Abrasco. FOUCAUT, M. (1980/ 2004) O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária LACAN, J. (1966/2001) O lugar da psicanálise na medicina. In: Opção Lacaniana n 32, São Paulo: p. 08-14.

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A cura no pensamento freudiano e algumas questões sobre o tratamento dos transtornos mentais no cenário da psiquiatria contemporânea Maria Beatriz Bueno Domingues Christiane Carrijo m.beatrizbd@hotmail.com

O presente trabalho tem como objetivo investigar o percurso da proposta de cura na psicanálise freudiana no período de 1890 a 1939 e realizar um breve estudo exploratório sobre a cura no modelo psiquiátrico contemporâneo. De forma específica, visa-se analisar a relevância ou não dos questionamentos psicanalíticos sobre a cura dos transtornos mentais no cenário da psiquiatria contemporânea. Na conjuntura do tratamento das doenças mentais na atualidade, a sociedade espera por uma psicofarmacologia inovadora, uma nova geração de medicamentos que substituam as terapêuticas convencionais. Verifica-se o consequente fortalecimento de uma vertente da psiquiatria biológica que sobrepõe o físico ao psíquico, justificado pelo desejo de tratar, classificar ou curar o psíquico com a mesma eficácia que se trata o orgânico. Esta expectativa de cura como um retorno do sujeito ao que ele era antes da manifestação dos sintomas se contrapõe à concepção presente na vertente psicanalítica. A presente investigação justifica-se mediante a importância da busca da cura para os transtornos mentais, o questionamento feito à psicanálise se esta é uma abordagem psicoterapêutica válida para o tratamento dos mesmos e a discussão contemporânea sobre a medicalização da vida. Em termos metodológicos, a execução deste projeto divide-se em três fases: a compreensão do percurso da cura no pensamento freudiano durante o períodoexplicitado, a sistematização

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de alguns estudos científicos sobre a terapêutica do modelo psiquiátrico e posterior discussão dos resultados encontrados. Como resultados parciais, a partir da leitura dos textos freudianos “Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação preliminar”, “Tratamento psíquico (ou anímico)”, “Carta 69 de 21 de setembro de 1897” e “O método psicanalítico de Freud”, e posterior sistematização das concepções a respeito da cura das doenças mentais presentes, foi possível destacar categorias conceituais relacionadas à cura: “cura como remissão dos sintomas”, “percepção de que a remissão dos sintomas é temporária”, “impossibilidade de resolução completa” e “compreensão de que o método é limitado”. Verifica-se que a trajetória da concepção de cura nesses textos freudianos afasta-se da noção de cura da primeira categoria e caminha em direção à quarta. A psicanálise, ao notar as limitações presentes em seu método, supera o critério de supressão dos sintomas como suficiente para a cura dos transtornos mentais. Em relação às concepções presentes na psiquiatria, é possível perceber o silêncio existente sobre a cura no campo psiquiátrico evidenciado pela escassez de materiais bibliográficos concernentes à temática. Apesar da dificuldade em encontrar bases teóricas, a partir de breve leitura inicial, nota-se que a concepção de cura presente nessas referências se encaixa na primeira categoria descritiva explicitada. Enquanto a psicanálise caminhou em direção à superação da primeira categoria, as noções da psiquiatria contemporânea a respeito da cura dos transtornos mentais encaixam-se na primeira categoria, justificando o tratamento medicamentoso como via para a cura pois este elimina, mesmo que provisoriamente, os sintomas.

Referências: BARDIN, L. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Edições 70, 1977. BOCCHI, J. C. A Toca do Coelho da Semiologia Psiquiátrica: o problema das classificações dentro da classificação In: CAMPOS,

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E. B. V. & CARRIJO, C. (Orgs.) Psicanálise e questões da contemporaneidade. Vol. 2. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora; Curitiba: CRV, 2014. p. 11-20. DOUTEL, F. & KATUNDA, J. A navalha de Ockham e o leito de Procusto: os problemas do diagnóstico em psiquiatria In: CALDERONI, D. (Org.) Psicopatologia: vertentes, diálogos – Psicofarmacologia, psiquiatria, psicanálise. São Paulo: Via Lettera, 2002. p. 107-117. FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. INFANTE, D. P. Psiquiatria para que e para quem In: JERUSALINSKY, A. & FENDRIK, S.(Orgs.) O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera, 2011. p. 63-72. SCHWARTZMAN, R. S. Psiquiatria, psicanálise e psicopatologia. Revista Psicologia Ciência e Profissão, Vol. 17, n. 2, 1997.

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O espaço do simulacro e o objeto a: similitudes e simultaneidade, simulação e dissimulação Juliana Labatut Portilho juliana_portilho@hotmail.com

A proposta da comunicação será trabalhar a experiência estética do “espaço do simulacro”, vinculada ao conceito lacaniano de objeto e as consequências disso para a concepção de sujeito desde a década de 30. Para isso serão enfatizados dois pontos fundamentais: a experiência estética decorrente da vanguarda artística do século XX, em especial a partir da novidade do surrealismo, bem como das noções sobre simulacro dessa época para artistas e filósofos; e a concepção de sujeito para Jacques Lacan. Um ponto importante para a discussão será retomar a relação entre Lacan e o surrealismo. Por exemplo, é sabido que Lacan recorreu a Hegel, via Kojève, para pensar a constituição do sujeito. Depois, é explicita a relação da antropologia estrutural de Lévi-Strauss para a ideia de um sujeito do inconsciente determinado estruturalmente. Porém, a relação de Lacan com o surrealismo é, em sua maior parte, negada, mesmo que existam várias interlocuções (as quais serão apresentadas, algumas, na comunicação). Mesmo assim, insistiremos em rediscutir as possibilidades dessa relação, fundamentalmente para pensar as consequências para a concepção de sujeito. Desta forma, quais seriam as bases teóricas que apoiariam a relação entre o surrealismo e a formulação de alguns conceitos lacanianos fundamentais? Qual a relevância de tal relação? Qual a importância da noção de simulacros para as formulações estéticas e para a psicanálise lacaniana? Desde os problemas citados iniciaremos uma discussão a cerca da experiência estética do “espaço do simulacro” vinculada ao conceito lacaniano de objeto. Não descartaremos da discussão as

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possíveis implicações dessa relação para pensarmos a experiência estética para o sujeito, a cima de tudo, para o sujeito contemporâneo.

Referências: LACAN, J. O Seminário: a relação de objeto – livro 4 (1956-57). Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995. ________ O Seminário: as formações do inconsciente – livro 5 (1957-58). Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. ________ O Seminário: o desejo e suas interpretações – livro 6 (1958-59). Publicação não comercial – Circulação interna da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. BRETON, A. Manifesto do Surrealismo (1924). São Paulo: Brasiliense, 1985. __________ Introduction au discours sur le peu de realité - Oeuvres Complètes I. FOSTER, H. Compulsive Beauty. “An October book”. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1993. FOSTER, H. The return of the real: the avant-garde at the end of the century. “An October book”. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1996.

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Perversão sexual na elaboração onírica Lion Granier Alves

O presente pesquisa busca apresentar a perversão sexual na elaboração onírica. Nas perspectivas da teoria psicanalítica, foi realizado um movimento parcial da análise do conceito de “Sonho” e “Perversão Sexual”, tendo como proposta esclarecer por qual motivo o individuo ao deitar-se, tem conteúdos perversos manifestando-se em seus sonhos. Buscou-se nesse aspecto, reportar-se ao construto teórico de Sigmund Freud, a saber, Interpretação de Sonho I e II, Um caso de Histeria e Três Ensaios sobre a sexualidade. Foi apresentando uma hermenêutica introdutória dos textos, servindo de base para aprofundamentos futuros dos estudos de sexualidade Humana, a partir de uma abordagem clinica, centrado nas teorias de Sigmund Freud. Palavras-chaves: Sonho. Elaboração Onírica. Perversão. Desejo. Inconsciente.

Referências: AMORIM, Y. Sobre Desejo. Idade maior. Disponível em: <<http:// www.torodepsicanalise.com.br/instituicao.aspx>>. Acesso em: 04 de março de2011. BERNARDO, J. Realidade Dos sonhos. Disponível em: <<http:// www.bernardojablonski.com/pdfs/graduacao/realidade_sonhos.pdf>>.Acesso em: 30 de março de 2011. BIANCO, Anna Carolina lo. Elementos para uma metapsicologia da interpretação em análise. Disponível em: <http://www.

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scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721999000300013&script=sci_arttext>>. Acesso em: 05 de maio de 2011. CRISTINA, A. A Inversão Da Sexualidade. Revista do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, V. 2, ano XXXII, p. 23, 2010. FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Obras completas, ESB, v. 7. Rio de Janeiro: Imago, 2009, p.94-100. ————. A Interpretação de sonhos Vol. I. Obras completas, ESB. v.4. Rio de Janeiro: Imago. 2009. p.17-18, 22, 25, 141. ————. A Interpretação de sonhos Vol. II. Obras completas, ESB. v. 4 Rio de Janeiro: Imago, 2009. p.21-35, 55-60. ________. Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise I e II, Obras completas, ESB. v. 16 Rio de Janeiro: Imago, 2009, p.111-117. ________. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos, v. XVI. Obras completas, ESB. v. 5. Rio de Janeiro: Imago, 2009, p.86-101. JARBAS, F. Mecanismos de defesa – Psicanálise IV. Disponível em: <<http://moranapsicologia.blogspot.com/2006/07/macanismos-de-defesapsicanlise-iv.html>>. Acesso em: 30 de março de 2011. LAIS, D. Um caso de histeria e três ensaios sobre a sexualidade. Disponível em: <<http://www.palavraescuta.com.br/textos/ tres-ensaios-sobre-a-teoria-dasexualidade-1905-resenha>>. Acesso em: 30 de março de 2011. LEA, S. Fantasia e Teorias da Sedução em Freud e em Laplanche. Revista Psicologia. Teoria e Pesquisa. V. 18, Set-Dez 2002, n. 3, p.323. VERA, L. Entre a Perda do Objeto e o Advento da Palavra: a Metapsicologia da Melancolia. Dissertação de mestrado.Rio de Janeiro: URFRJ, 1998, p. 90. MARIA, V. A Perversão e a Teoria do Queer. Revista Tempo Psicanalítico. Rio de Janeiro, p.131, Abr. de 2010.

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MARILIA, T. A fantasia e suas implicações na clínica psicanalítica, Dissertação de mestrado.Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Psicologia, 2003, p. 13. ODD, R. SM: Causas e diagnósticos, Disponível em: <<http://www. revisef65.org/portuguesereiersol.html>>. Acesso em: 12 de junho de 2011. RITA, M. O Sentido Dos Sonhos. Jornal Folha de São Paulo, p. 2729, Nov. De 1999. ROBERTO, P. Perversão sexual, Ética e Clinica Psicanalítica. Revista. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, n. 2, p. 316-318, junho 2009. RUDGE, A. As Fantasias, para que servem? 2011, p.1. Disponível em:<<http://www.smarcos.net/images/editora/Psyche_04. pdf.>>. Acesso em: 19 de junho de2011. SORAIA, S. Demanda e Desejo em Psicanálise. Disponível em: <<http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0158.pdf>>. Acesso em: 04 de maio de 2011.

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Sexualidade e perversão na psiquiatria de Krafft-Ebing Anna Rita Maciel Simião anna_rmsimiao@yahoo.com.br

Ao lançar a discussão sobre um assunto tão árido e inovador como a sexualidade humana, na medida em que se trata de um tema atemporal e de difícil introdução nas ciências humanas, por ser de difícil introdução na própria vida dos sujeitos, mais do que debater classificações desprovidas de contexto, é necessário compreender as relações dentro de uma estrutura maior, tentando apreender as formas através das quais estas relações se construíram entre indivíduos em diferentes épocas e contextos culturais, sociais, históricos e políticos, afirmando- se e reafirmando-se, via variada gama de práticas e teorias. Para tanto é fundamental discorrer sobre alguns dos pensamentos responsáveis pelo panorama da sexualidade que a sociedade experimenta atualmente. Em 1886, tendo como foco o estudo da sexualidade para ser usado nas cortes dos tribunais e a partir da apresentação, classificação e análise de inúmeros casos de sexualidade desviante observados ao longo dos anos de atuação clinica própria ou alheia, o médico Richard von Krafft-Ebing (1840-1902) publica a sua obra mais importante – Psychopathia Sexualis– e articula uma nova perspectiva para o estudo da sexualidade. A mudança do ponto de vista psiquiátrico lançada por Krafft-Ebing considera a perversão sexual uma manifestação desviante da forma mais geral do instinto sexual. A ocorrência do fenômeno patológico jamais poderia ser o critério principal de diagnóstico, pois perversidade e perversão delimitariam duas instâncias distintas da sexualidade humana. A perversão, expressa nas várias formas de neuroses sexuais, seria a dimensão patológica, anormal e imutável propriamente dita da sexualidade. O próprio colorido

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emocional sobre as ideias sexuais nesses sujeitos seria pervertido em sua natureza como consequência de uma relação entre características anormais hereditárias e maus hábitos adquiridos. A perversidade, por sua vez, consistiria em atos perversos executados por uma pessoa sem qualquer marca patológica e ciente de suas vontades. Esses atos deveriam ser totalmente creditados ao arbítrio do sujeito, principalmente na esfera criminal. Embora influente e amplamente discutido por seus contemporâneos, o interesse pela obra de Krafft-Ebing diminuiu consideravelmente depois e poucos estudos lhe são hoje dedicados. Este trabalho expõe e discute, em seus aspectos históricos e conceituais, a abordagem da sexualidade nas obras de Krafft-Ebing, através de uma análise interna da arquitetura conceitual de seus principais trabalhos e de autores que o influenciaram ou foram por ele influenciados posteriormente, tais como Sigmund Freud e Albert Moll. Palavras-chave: Krafft-Ebing; sexualidade; perversão; perversidade.

Referência: Foucault, M. (1999) Abnormal: Lectures at the Collège de France. 19741975. (G.Burchell, Trad.) Nova York: Picador. Freud, S. (1978). Tres ensayos de teoría sexual, Fragmento de análisis de un caso de histeria, Tres ensayos de teoría sexual y otras obras (J. L. Etcheverry, Trad.). In J. Strachey (Ed.). Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 7 p.-232). Buenos Aires: Amorrortu. (Obra originalmente publicada em 1905) Krafft-Ebing, R. (1888). Psychopathia sexualis. Stuttgart: Enke.(Obra originalmente publicada em 1886) Moll, A. (1899). Die Kontrare Sexualempfindung. Stutgart: Enke

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Dor física: mapeamento das contribuições metapsicológicas freudianas Bárbara Aparecida Leal dos Santos e Rodrigo Sanches Peres Instituto de Psicologia – Universidade Federal de Uberlândia E-mail: rodrigo@fapsi.ufu.br

A exploração das relações entre o funcionamento psíquico e o funcionamento orgânico foi crucial para o surgimento e o desenvolvimento da Psicanálise. Porém, Freud não dedicou nenhum de seus estudos especificamente aos aspectos subjetivos da dor física, isto é, a dor que pode ser diferenciada da dor psíquica – embora um tanto quanto artificialmente – por acometer o corpo em sua concretude ou, em outras palavras, o organismo em sua dimensão material. Ainda assim, o assunto foi abordado indiretamente em algumas obras freudianas, nomeadamente aquelas consagradas à metapsicologia. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo empreender um mapeamento das contribuições metapsicológicas freudianas para a compreensão dos aspectos subjetivos da dor física. Trata-se de um estudo teórico com enfoque histórico-reconstrutivo, posto que busca traçar a evolução do ponto de vista do autor sobre um assunto ao longo do tempo. Inicialmente, é preciso esclarecer que, no texto “Repressão”, Freud apresenta um aporte teórico relevante para a compreensão da dor física à luz da metapsicologia ao situá-la no limite entre o somático e o psíquico, sobretudo ao qualificá-la como uma pseudo-pulsão. Porém, o autor não estabelece uma diferenciação clara entre a dor física e a dor psíquica, sendo que sustenta que estímulos externos eventualmente poderiam ser internalizados por meio de um processo que resultaria em uma elevação da tensão vivenciada pelo sujeito e implementaria uma fonte de excitação contínua. Como resultado, emergiria uma pseudo-pulsão que seria experienciada como dor. Já nos textos “Luto e

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Melancolia” e “Sobre o narcisismo: uma introdução”, respectivamente, Freud aproxima a dor, por um lado, à melancolia, assim como, por outro lado, à hipocondria. Nesse sentido, posiciona a dor no limite entre o hiperinvestimento objetal e o hiperinvestimento narcísico. Contudo, sugere que a passagem de um extremo para o outro é que ensejaria a transformação da dor psíquica em dor física. Ademais, o autor demarcou a natureza da relação entre dor e prazer no texto Os instintos e suas vicissitudes. Em primeiro lugar, ao asseverar que, quando eliminada, a dor somente conduziria à eliminação do desprazer vivenciado durante sua vigência. Em segundo lugar, quando sustentou que infligir dor a si mesmo ou a outra pessoa igualmente não provoca qualquer espécie de prazer, inclusive no masoquismo e no sadismo. Ocorre que, em ambos os casos, a dor não seria fruída diretamente, mas sim apenas a excitação sexual que seria concomitante à mesma. Concluí-se, portanto, que, ao estabelecer elementos para uma compreensão metapsicológica da dor física, Freud o faz principalmente sob o ângulo do registro econômico, dado que abordou o assunto colocando em relevo a circulação de uma energia psíquica dotada de mobilidade e passível de quantificação, sujeita, portanto, aos mais variados tipos de investimentos. Porém, o autor veio a desenvolver formulações mais completas sobre os aspectos subjetivos da dor física posteriormente, ainda que ao repensar seu posicionamento teórico sobre outras temáticas e sem evocar diretamente a metapsicologia.

Referências: Fleming, M. (2003). Dor sem nome: pensar o sofrimento. Porto: Afrontamento. Freud, S. (1996). Sobre o narcisismo: uma introdução (T. O. Britto, P. H. Britto, & C. M. Oiticica, Trads.). In S. Freud, Edição standard

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brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14, pp. 81-108). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1914). Freud, S. (1996). Repressão (T. O. Britto, P. H. Britto, & C. M. Oiticica, Trads.). In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14, pp. 151-162). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1915a). Freud, S. (1996). Os instintos e suas vicissitudes (T. O. Britto, P. H. Britto, & C. M. Oiticica, Trads.). In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14, pp. 123-144). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1915b). Freud, S. (1996). Luto e melancolia (T. O. Britto, P. H. Britto, & C. M. Oiticica, Trads.). In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 14, pp. 249-263). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1917[1915]).

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Parcerias em guerra: a agressividade na Psicanálise Carlos Eduardo Pereira Doutorando em Psicologia/PUC-Minas Email: cadupereira@gmail.com Ilka Franco Ferrari Professora na graduação e pós-graduação em Psicologia da PUC/Minas, Membro da Escola Brasileira de Psicanálise (Brasil) e da Associação Mundial de Psicanálise (Paris, França) Email: francoferrari@terra.com.br

O recorte do presente texto é a agressividade sob a perspectiva da psicanalise freudiana e lacaniana. Em O mal-estar na civilização (1976[1930]) Freud investiga os motivos do que ele chama mal-estar inerente a condição humana, constatando que o homem trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança, entendendo aqui a felicidade como a liberdade em se satisfazer. Essa troca, segundo o autor, determina grande parte das lutas da humanidade, na tarefa de encontrar uma acomodação que traga felicidade entre as reivindicações do indivíduo e as reivindicações do coletivo. O que Freud parece indicar é que a convivência entre os homens não é tarefa fácil, chegando a se perguntar se há aí uma impossibilidade. O crime como desvio da lei aponta não apenas para uma sociedade atual que, carente de recursos simbólicos, é marcada pelo aumento da criminalidade e violência. Esses índices apontam para um ponto estrutural da relação do homem com o social. As normas de convivência social demonstram um ponto irreconciliável na relação entre os homens, sendo necessárias justamente porque a agressividade é inata ao ser humano. Para Freud, a agressividade é constituinte do humano, implicando em nada querer saber sobre o próximo para assegurar a satisfação própria, o que coloca o humano como inimigo potencial da

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civilização. Aqui faz-se necessário uma distinção entre os conceitos de violência e agressividade para a psicanálise. Temos a violência própria da linguagem sobre o vivente que, ao nascer, encontra o discurso e aliena-se nos significantes que são, sempre, do Outro. Ou seja, a violência a partir do ponto de vista da pulsão e do discurso, pensada no registro simbólico e que está na base do laço social que se pretende universal. Por esse ângulo, a violência diz de uma ordem instituída, manifestando aquilo que não funciona bem em tal ordem. Como afirma Miller (2005), uma civilização é um sistema de distribuição do gozo a partir de semblantes, uma distribuição sistematizada dos meios e maneiras de gozar, sendo a violência um sintoma social. A agressividade se refere a rivalidade especular com o semelhante, provocada na relação imaginária com o outro. Segundo Lacan, não há identificação sem agressividade, sendo que o fundamento da agressividade está na identificação narcísica e na estrutura do eu. Situada na especularidade imaginária, a agressividade é elaborada no que Lacan chamou estágio do espelho. Em sua primeira individuação, o sujeito se estrutura rivalizando consigo mesmo, pois constrói uma imagem que o aliena. O eu surge, então, de uma tensão interna, determinando o despertar do desejo pelo objeto de desejo do outro. Aparecem a rivalidade agressiva e a tríade composta pelo outro, o eu e o objeto. Vinculada à estrutura do eu, a agressividade assume caráter estrutural no homem.

Referências Bibliográficas: FREUD, Sigmund. O Mal-estar da civilização (1930). ESB, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1976. MILLER, J.-A. El Otro que no existe y sus comités de ética. Col. de Éric Laurent. Buenos Aires: Paidós, 2005.

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Entre Egon Schiele e Gustav Klimt: algumas inflexões na obra freudiana Alessandra Affortunati Martins Parente

O trabalho procura mostrar inflexões na obra freudiana decorrente dos acontecimentos da Primeira Guerra Mundial. Se antes o modelo sublimatório era a regra para se pensar nas obras da cultura, depois da Grande Guerra Freud introduz sua ideia de [das] Unheimliche, que, da perspectiva aqui assumida, conecta experiências traumáticas a novos modelos de simbolização, capazes de serem revertidos em obras culturais. Dois exemplos de obras da cultura contemporâneas de Freud e condizentes com essas mudanças serão dados para que tal inflexão se torne visível: Danae (1907) de Gustav Klimt e Sonho assistido (1911) de Egon Schiele. Com elas é possível examinar profundas modificações na perspectiva freudiana da cultura, que se ligam, por sua vez, às análises feitas por Walter Benjamin sobre arte aurática e pós-aurática.

Bibliografia: ANDRÉ, J. “O acontecimento e a temporalidade: o après-coup no tratamento”. In: Revista Ide, v.31 n.47. São Paulo, pp. 139-167, dezembro de 2008. BÄUMER, A. Gustav Klimt Women. London: George Weidenfeld & Nicolson, LTD, 1986. BENJAMIN, W. (1922) As afinidades eletivas de Goethe. In: W. Benjamin. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe, São Paulo: Editora 34, 2009. ___________ (1928) “Goethe”. In: W. Benjamin. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe, São Paulo: Editora 34, 2009.

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__________ (1930) “E. T. A. Hoffmann e Oskar Panizza”. In: W. Benjamin. O capitalismo como religião, São Paulo: Boitempo Editorial, 2013. ___________ (1933) “Experiência e pobreza”. In: W. Benjamin. Obras escolhidas I. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. ___________ (1935-6) “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (1ª. versão). In: W. Benjamin. Obras escolhidas I. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. ___________ (1950) “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (2ª. versão). In: W. Benjamin. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983. ___________ (1940) Sobre o conceito de história. In: M. Löwy. Walter Benjamin: aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005. FREUD, S. Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. ________ (1919) Introdução a “A psicanálise e as neuroses de guerra” ________ (1919) “O inquietante” FREUD, S. Obras completas brasileiras. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ________ (1908) “Escritores criativos e devaneio” ________ (1915) “Reflexões para os tempos de guerra e morte” ________ (1916) “O simbolismo nos sonhos” In: Conferências introdutórias sobre psicanálise ________ (1919) Introdução a “A psicanálise e as neuroses de guerra” ________ (1919) “O estranho” ________ (1920) Além do princípio do prazer ________ (1930) “O prêmio Goethe” ________ (1936) Um distúrbio de memória na Acrópole HAUSER, K. Gold und Eros – Gustav Klimt und die Frauen. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=J-IynB9YUFM. Acesso em 12 nov. 2013. KALLIR, J. Schieles Frauen. München, London, New York: Prestel Verlag, 2012. KNAFO, D. “Egon Schiele’s Self-Portraits: A Psychoanalitic Study in the Creation of a Self”. In: The Annual of Psychoanalysis, vol. XIX, pp. 59-90, 1991.

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Violência como ato de repúdio ao feminino: a obra ‘O martelo das feiticeiras’ à luz de uma interpretação freudiana Luana Ferreira do Nascimento. Formação: Mestranda do programa de pós-graduação em Psicologia – Psicologia clínica. Instituição: Universidade Federal do Paraná. E-mail: luana.fn@gmail.com

Atualmente é comum encontrarmos principalmente nas redes sociais, textos, matérias e posicionamentos pessoais que remetem aos temas machismo, violência contra a mulher, feminismo. Assim, se evidenciam e denunciam atos que podem ser situados como guerras, com a peculiaridade de tais guerras se originarem principalmente no âmbito das relações privadas, diferenciando-se das grandes guerras atuais noticiadas pelas hegemônicas mídias impressas e televisivas. Partindo desta contextualização, este trabalho se propõe situar tais aspectos presentes nos discursos sociais e políticos atuais, porém a partir de uma ótica distinta: a do psiquismo que, por meio de certos mecanismos, evidencia a existência de resistências contra o que é da ordem do feminino. Feminilidade e feminino são aqui compreendidos na perspectiva freudiana que os relaciona à castração estando, portanto, caracterizados psiquicamente como um vazio de significação a partir do qual o sujeito erige defesas para que nada seja sabido deste vazio. O que é designado como repúdio à castração foi constatado e definido por Freud ao longo da elaboração de sua teoria da sexualidade, até ser categoricamente relacionado ao que denominou como repúdio da feminilidade em ‘Análise terminável e interminável’ de 1937- um dos últimos escritos no qual abordou o tema. Partindo da concepção psíquica individual sobre a feminilidade, dá-se uma

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guinada teórica e conceitual quando esta problemática é pensada a partir dos textos freudianos voltados à discussão social e cultural. Nestes textos, Freud elucida que dispositivos e instituições sociais e políticas são elaborados de modo a projetar externamente características concernentes ao desenvolvimento psíquico individual. Com base nisso, este trabalho se propõe apresentar uma leitura do manual de caça às bruxas ‘O martelo das feiticeiras’, obra que apesar de temporalmente distante da realidade atual, ainda é tomada como objeto de estudo por diversas áreas e, logo, serve ao objetivo aqui proposto em demonstrar que o repúdio da feminilidade se evidencia culturalmente e socialmente na elaboração de dispositivos simbólicos, sendo o referido manual um exemplo destes dispositivos. A leitura de uma obra situada à época da Inquisição europeia se justifica no fato de demonstrar que o feminino concerne a aspectos psíquicos que se repetem e manifestam sob os mais distintos fenômenos sociais, seja simbolicamente por meio de um manual que promulga e legitima a perseguição às bruxas, seja por meio dos atos de violência característicos aos fenômenos atuais supracitados. Assim, se compreende que diversas estratégias simbólicas são elaboradas ao longo dos séculos, tendo em vista significar ou mesmo colmar o vazio de significação que remete à marca psíquica da castração que, persistindo psiquicamente, é projetada em um grupo ou sujeito que carregará as marcas do feminino, sendo caracterizado como estranho, horrendo e que carece de ser controlado, reprimido e muitas vezes até aniquilado socialmente.

Referências: FREUD, S. (1915). Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIV, p. 225-270. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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______. (1919). O estranho. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. (1921). Psicologia de grupo e análise do ego. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. (1925). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. (1930). O mal-estar na civilização. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. (1937). Análise terminável e interminável. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. KRAMER, H.; SPRENGLER, J. Malleus Maleficarum: o martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1991.

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Um estranho método George Miguel Thisoteine Caldeira Menezes Freitas

No ano de 2015, na graduação, desenvolve-se a pesquisa “Considerações sobre o Estranho no Seminário 10 de Lacan”. Nela a discussão das diferentes traduções do artigo “Das Unheimlich” está sendo feita pelos desdobramentos identificados no Seminário 10 de Jaques Lacan, tais desdobramentos caem diretamente sob as nuances dos termos Unheimlich e Angst, usados por Sigmund Freud. Então, tratar desse tema não é somente tratar da dificuldade que surge ao tentar sobrepor ou conciliar aspectos semânticos dos significados desses termos em alemão, é, também, lidar com a estranheza que surge da tradução do unheimlich, da palavra de Freud (HANNS, 1996). Afinal, como aponta Pierre Salvain (1996), “Em sua ‘Comunicação Preliminar’ (1893) (…), Breuer e Freud enunciam que ‘o traumatismo psíquico e, posteriormente sua lembrança agem à maneira de um corpo estranho’. Assim se anuncia o que vai encontrar seu prolongamento na obra freudiana.” (p.173). Observar que essa característica, que já estava há muito presente nas investigações de Freud era, na verdade, intrínseca à psicanálise, permite localizar o estranhamento dos psicanalistas ao reconhecer o que poderia ser o próprio método de pesquisa da psicanálise. Essa estranheza é algo prórpio do objeto da psicanálise. O inconsciente corresponde a alguma que, apesar de nos constituir, somos alienados. O inconsciente é algo de velho e muito familiar que eventualmente se torna pauta, se apresenta em nosso dia a dia, geralmente pelas nossas “falhas”, mas aqui se marca que o estranhamento, que a inquietação, o sinistro e a repetição também são marcas da manifestação do inconsciente no âmbito racional. Uma abordagem que se proponha a lidar com esses aspectos se aproxima do que em termos analíticos seria a relação sujeitoobjeto em psicanálise. Luiz

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Hanns (1996) aponta que: “A devassa a que a obra freudiana tem sido submetida desde os seus primórdios, e mais particularmente a partir dos anos 70 [no Brasil], tem propiciado significativos avanços à vastidão da obra freudiana e que somente o tempo, a distância e o estranhamento permitiram enxergar.”(p.22). Devassa que só pode ser feita a partir do reconhecimento da relação do sujeito com o objeto, da transferência, e da implicação do desejo do pesquisador com uma perspectiva de análise e no método.

Referências: FREUD, Sigmund. O estranho, in S. FREUD, Obras psicológicas completas, vol. XVII (1917-1918). Rio de Janeiro: Imago, 1969-1980; FREUD, Sigmund. O inquietante, in S. FREUD, Obras completas, vol. 14 (1917-1920). São Paulo: Companhia das Letras, 2010; HANNS, Luiz. Dicionário Comentado do Alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996; KAUFMANN, Pierre. Dicionário enciclopédico d epsicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

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Uma Filosofia em Tempos Sombrios: A Stimmung da violência nas obras de Edith Stein e Walter Benjamin Danilo Souza Ferreira danilosf1901@hotmail.com

A comunicação busca pensar como as reflexões e escritos da filósofa e fenomenóloga Edith Stein assim como o filósofo e crítico literário Walter Benjamin foram fortemente influenciados no interior de um regime epistemológico determinado pela atmosfera ou Stimmung da melancolia, isto é, como os escritos steinianos e de Benjamin buscaram refletir os traumas presentes no decorrer do século XX tais como as grandes guerras, as ideologias fascistas e uma crise das Filosofias do progresso, no entanto não se tornam pessimistas, na medida mesmo em que se dedicam à tematização e à possível reconfiguração de seu horizonte histórico. Ao se confrontar com a crise de seu próprio tempo estes intelectuais se perceberam enquanto agentes históricos, tanto Edith Stein como Walter Benjamin apresentam um compromisso ético ao buscarem responder às inquietações provocadas pelas novas conjunturas do presente, em um primeiro momento buscando evidenciar a mudança na percepção do tempo, descrevendo-o enquanto negativo e acelerado, marcado por uma dupla redução a do espaço de experiência e também a do horizonte de expectativa, que não conseguiria responder de maneira maximamente eficaz ao presente, gerando assim o clima histórico denominado de Stimmung da melancolia. Explicando melhor, diante de conjunturas maximamente inéditas esses filósofos foram e se permitiram afetar por seu presente, e através deste sentir a sua época, a realidade do mundo que é o deles, buscaram em seus escritos responder aos desafios próprios ao seu horizonte histórico.

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Referências: ALFIERI, Francesco. Nota Biobibliográfica di Edith Stein, 2002. BARCELOS, D’Artagnan de Almeida. ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DE EDITH STEIN PARA UMA JUSTA HERMENÊUTICA DO HUMANO, 2011. BENJAMIN, Walter – Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. GARCIA, Jacinta Turolo. Edith Stein e a Formação da pessoa Humana, 1999 GUMBRECHT, Has Ulrich. Cascatas de Modernidade. Modernização dos Sentidos,1988. KUSSANO, Mariana. A Antropologia de Edith Stein: Entre Deus e a Filosofia. PUC-SP 2009. LOWY, Michael. Romantismo e Messianismo no Pensamento judaico da Europa Central no começo do século XX.PUC-SP 2009 LOWY,Michael.Judeus Heterodoxos:Messeanismo, Romantismoe Utopia. PUC-SP 2009. LOWY, Michael. A Filosofia da história de Walter Benjamin.2002. MALERBA, Jurandir. A História Escrita: teoria e história da historiografia.2006. MIRIBEL, Elisabeth de. Edith Stein:como ouro purificado pelo fogo. 3ª edição. Aparecida, SP: Santuário, 2006. RANGEL, Marcelo. Romantismo, Sattelzeit, melancolia e “clima histórico” (Stimmung), 2012. STEIN, Edith. Estrellas Amarillas.2ª edição. Madri: Editorial de Espiritualidad, 1992. STEIN, Edith. Ser finito y ser eterno: Ensayo de una ascensión al sentido del ser. México: Fondo de Cultura Econômica., 1995. STEIN, Edith. Obras Completas (espanhol). Conferências (1926-1933) Burgos: Monte Carmelo, 2003.

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Entre o ter e o ser Thiago Ferreira de Borges tfborges@hotmail.com

A experiência contemporânea está marcada não apenas por um grande interesse, mas também por um acúmulo impressionante de condições técnicas para a manipulação do corpo. A intervenção técnica e científica sobre os corpos apresenta um avanço cada vez mais surpreendente no campo da preservação orgânica dos indivíduos e na diminuição da dor e do sofrimento físico. Ao mesmo tempo, silencia a respeito dos debates sobre certa “institucionalização moral do sacrifício corporal”, a partir da fetichização dos modelos corporais e de personalidades, bem como da hipóstase do corpo como objeto orgânico manipulável; também não é comum a perspectiva de uma reflexão à respeito da dor como constituinte da experiência humana. Neste ensaio, pretendemos refletir sobre as relações contemporâneas com os corpos a partir do que chamamos a dialética entre ter e ser um corpo. Para tanto, tomaremos por base teórica a Filosofia de Theodor Adorno especialmente sua Dialética Negativa, bem como a psicanálise de orientação lacaniana.

Referências bibliográficas: ADORNO Theodor W. Dialética Negativa.. Tradução de Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, 346p. BARRETO Francisco Paes. O Real sem lei da Ciência. Boletim Sinapsy da XVIII Jornada da EBP-MG, 2013.

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BORGES Thiago Ferreira de. Interesse pelo corpo na Dialética do Esclarecimento de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer (Dissertação). Orientador: Dr. Rodrigo A. P. Duarte. UFMG/ Fafich, 2010, 198p. CARVALHO Frederico Zeymer Feu de. Psicanálise e ciência: o real em jogo. Boletim Sinapsy da XVIII Jornada da EBP-MG, março de 2013. FLEIG Mário. O mal-estar no corpo. In: KEIL Ivete. TIBURI Marcia (org.). O corpo torturado. Porto Alegre: Escritos editora, 2004, p. 133-142. REALE, Giovanni. Corpo, Alma e Saúde: o conceito de homem de Homero a Platão. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Paulus, 2002. 280p. SALMAN Silvia. El mistério del cuerpo que habla. In: LAURENT Eric. El amor y lós tiempos del goce: qué responden los psicoanalistas. Buenos Aires: Grama Ediciones, 2011, p. 35-46.

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Elaborações sobre o sujeito em Freud e os conflitos sociais Jane Mara dos Santos Barbosa Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora Email: janemarapsi@yahoo.com.br Fátima Siqueira Caropreso Professora Doutora orientadora no doutorado pelo Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ Email: fatimacaropreso@uol.com.br

Neste trabalho pretendemos fazer um recorte teórico da Psicanálise freudiana e a partir disso refletir sobre as guerras atuais. Abordaremos especificamente a ideia de psiquismo infantil e da origem do contrato entre os irmãos Primevos, tratado por Freud em 1913. O mito descrito sobre a Horda Primeva, mencionado por Charles Darwin, versa sobre uma primitiva sociedade ou grupo liderada por um pai violento e ciumento o qual detém o poder sobre todas as fêmeas do grupo e expulsa os filhos homens à medida que os mesmos crescem. Um dia, os irmãos expulsos se reúnem e retornam à tribo, juntos, matam e devoram o pai e encerram a horda do pai. Esse ato não concede a nenhum dos filhos o lugar do pai. Esse mito inauguraria os sentimentos ambivalentes no sujeito em relação a todos que funcionam como obstáculo à busca pelo poder e satisfação dos desejos sexuais, bem como àqueles que são objeto de amor e admiração. De acordo com o mito, após o ato do parricídio, o sentimento de culpa manifestado pelo grupo tornou o pai morto muito mais temido do que fora em vida. O que antes era impedido pela presença real do pai, agora é proibido pelos próprios

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filhos e inaugura a culpa filial que dá origem aos dois desejos recalcados do Complexo de Édipo, o incesto e o homicídio. Esses impulsos não trazem, em sua definição, valores de bem e mal, mas as atitudes provenientes deles podem receber esses conceitos de valor dependendo do impacto que eles provocam diante das necessidades e exigências da comunidade humana. Sabemos que os conflitos que vivenciamos atualmente, que acessamos por meio das redes sociais, relacionados às minorias de cor ou sexo, à política ou à religião pertencem a conceitos estabelecidos dentro do contexto social e partem de referenciais histórico-sociais de uma sociedade judaico-cristã. Pretendemos estabelecer uma articulação que possibilite uma reflexão sobre os conflitos atuais e alguns textos de Freud. Mediante os conflitos, os sujeitos se posicionam como se estivessem distantes do que repudiam. Muitas vezes movidos por crenças ou desconhecimento, os sujeitos trocam ofensas, compondo divisões ou campos opostos de luta. Refletindo sobre esse dualismo, tomamos o texto Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915), em que Freud assevera sobre as dualidades apresentadas pelos sujeitos, no início da vida, e que por meio do desejo de aceitação vão cedendo lugar ao seu oposto na vida adulta do sujeito. Os sentimentos de egoísmo e crueldade são de natureza primitiva. E esses impulsos estão presentes no indivíduo na forma de pares de opostos, como ambivalência de sentimentos, podendo se manifestar tendo apenas uma pessoa como objeto desse sentimento ambivalente. Portanto, como assegura Freud, classificar um sujeito como ‘bom’ ou ‘mau’ caráter é inadequado. O caráter de uma pessoa forma-se apenas quando esses destinos são superados.

Livro de Resumos | X Simpósio de Filosofia e Psicanálise

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Referências Bibliográficas: FREUD, S. (1913/2012) Totem e tabu e outros trabalhos. In: ________ Obras Completas, Vol XI. São Paulo: Companhia das Letras. _______ (1915/2013) Considerações atuais sobre a guerra e a morte. In: ________ Obras Completas, Vol XII. São Paulo: Companhia das Letras.

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