LONA 714 - 14/05/2012

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Ano XIII - Número 714 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

lona.up.com.br

Violência sexual foi tema do seminário na Universidade Positivo Assistente social da FAS, Dr. Vicente de Paula Faleiros, discute o tema com convidados e representantes dos nove conselhos tutelares da Curitiba Danilo Georgete

Política

Cultura

Cinema

Comissão da Verdade investiga casos da Ditadura Militar Brasileira

Curitiba sedia Festival Internacional de Cinema

Super-heróis estão na moda em filmes atuais

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Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

Editorial “A justiça tarda, mas não falha” diz o ditado. A verdade é que a justiça está, de fato, sendo feita no caso de Nelson Justus e Alexandre Curi. O Ministério Público está exigindo que os deputados devolvam quase seis milhões de reais para os cofres públicos e ainda exigindo um bloqueio que soma 29 milhões de reais em patrimônio de Curi e Justus. E não é só isso, o Ministério Público ainda pretende entrar com mais uma ação de improbidade administrativa contra a dupla de deputados. Essa brincadeira vai custar muito dinheiro e muita publicidade negativa para Curi e Justus. A principal acusação contra os dois foi o uso do gabinete da primeira secretaria como uma máquina de arrecadar votos. Para o esquema funcionar, Augusto Curi, com a permissão e ajuda de Nelson Justus, aumentou escandalosamente o número de servidores comissionados. Um exemplo do grande aumento da quantidade de óleo de peroba utilizada para lustrar o rosto de Curi é o crescimento de 22 para 378 (1718%) funcionários comissionados em dois anos e meio. E a grande força que fez o ditado fazer sentindo foi a imprensa. Os jornalistas (especialmente da Gazeta do Povo com a série vencedora do Esso, Diários Secretos) foram fundamentais para tornar público todo o absurdo esquema dos deputados. Não fosse pela ação imensa do 4º poder, provavelmente as partes mais sujas da roubalheira ainda estariam trancadas a sete chaves nas gavetas do legislativo. Se não fosse a imprensa, até onde eles iriam? Mas ainda mais bonito do que ver o jornalismo paranaense crescendo, é ver os políticos corruptos caindo. Graças ao bicheiro Carlinhos Cachoeira com seus esquemas para lucrar com jogos de azar, um pente fino está sendo passado em políticos de todo o Brasil. Depois de preso, Cachoeira conseguiu arrastar consigo um número enorme de autoridades em todo o território nacional. Os grampos telefônicos do bicheiro indicam que tinha muito gente lucrando com sua organização criminosa. Pode-se dizer então, que 2012 está marcando vários tapetes puxados quando se fala em corrupção. Vários maus-exemplos estão sofrendo as consequências de ações passadas. João Cláudio Derosso, José Carlos de Miranda, a dupla Justus e Curi,

Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres... E que a limpeza continue, com certeza ainda tem muita gente para cair.

Opinião

Precisa-se de soluções, urgente

Paula S. Nishizima, 5° período

Em 2012, mais um processo eleitoral está a caminho. Partidos políticos se preparam e buscam aliados. Propagandas do governo bradam “Acordem, gigantes!”, se referindo aos eleitores, como se estes estivessem adormecidos desde a última eleição e agora se tornaram necessários mais uma vez. Pura formalidade para manutenção da Ordem e do Progresso. Consciência política e cidadã estão em falta, tanto por parte dos eleitores quanto dos eleitos. Num país onde a televisão se tornou artigo de primeira necessidade e o voto, moeda de troca barata, a corrupção se instaura em todos os setores imagináveis da sociedade. Mas essa história é contada desde que o Brasil é Brasil. Os problemas são muitos, infinitos. Já encontrar as soluções requer tempo, comprometimento, seriedade. É muito mais fácil naturalizar uma situação difícil do que revirar seus desdobramentos e encontrar uma saída. Tal pensamento se exemplifica muito bem nas palavras do atual governador do Estado, Beto Richa, que em uma entrevista disse algo semelhante a “se nem o Presidente da República precisa de diploma, porque um policial precisa?”. Na ocasião, o governador havia feito uma alteração num artigo da lei que determina que policiais tenham diploma de nível superior. Todo um estilo de vida, um sistema econômico e político parecem conspirar para que os indivíduos permaneçam alienados, tenham preguiça de buscar informações e até naturalizem a corrupção e a falta de consciência política. Mais difícil ainda é mudar a mentalidade de um país que há pouco tempo planejava sua Con-

stituição e agora ganha destaque no cenário internacional em meio a uma crise generalizada. Uma das primeiras coisas a se fazer é retirar pessoas da zona de conforto, instigá-las para que abandonem a caverna descrita por Platão e se virem para a “luz”. Para que essas pessoas possam tomar as rédeas de suas próprias vidas e cobrar transparência eleitoral e respeito à democracia. Transformar um país realmente não é fácil, mas é possível.

Masculinismo, um machismo disfarçado Isadora Niscatro, 1° período

Há anos as mulheres tentam conquistar mais espaço na sociedade. Viveram durante muito tempo sobre a sombra dos homens. Sendo suas únicas funções ficar em casa, cuidar dos filhos e cozinhar. Hoje a sociedade está presenciando uma inversão nos papéis. O último censo publicado pelo IBGE, em 2010, indica que 35% das famílias brasileiras têm como chefes de família, mulheres. Enquanto as feministas comemoram a grande conquista, os homens parecem se incomodar por perderem sua superioridade. As reclamações vão desde a desigualdade em processos jurídicos, relacionados à guarda dos filhos, até a área da saúde, argumentando que doenças que afetam somente homens não são tratadas com atenção pela sociedade. Nos últimos anos, essa insatisfação masculina levou a criação de um movimento chamado “masculinismo”, que reuniu milhares de militantes para reivindicar seus direitos de igualdade. A cidade de Londres virou a sede dos protestos, sendo representados pela ONG The Men’s Network e a associação International Association of Masculinists. É impossível entender a ousadia desses militantes, considerando as inúmeras situações em que a mulher ainda é inferiorizada. No trabalho, por exemplo, é notável as diferenças de salário entre homem e mulher. Os dados publicados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no final do ano passado, indicam que o salário feminino, para executar uma mesma função, chegava a 85,3% menor que masculino em algumas profissões. O “masculinismo” é um exemplo de como os homens se sentem ameaçados com a ascensão feminina. É uma demonstração, mesmo que sutil, de machismo ao alegar que conceder direitos às mulheres é causar desigualdade entre os sexos. Essa diferença existe, mas não por parte da nova posição social da mulher e sim, por uma cultura antiga e ultrapassada, que ainda persiste na sociedade atual.

Expediente

Reitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | PróReitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editoras-chefes: Renata Silva Pinto, Suelen Lorianny e Vitória Peluso | Editorial: Julio Rocha O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Joenalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.


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Palestra discute abuso sexual de crianças e adolescentes Abertura do VII Seminário Municipal de Enfrentamento de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes Julio Rocha Matheus Klocker Vitor Morau

Na última sexta-feira aconteceu o VII Seminário Municipal de Enfrentamento de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes na Universidade Positivo. O abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes foi o tema recorrente do seminário. Representantes dos nove conselhos tutelares da Curitiba estavam presentes, assim como representantes das redes públicas de proteção. O evento se iniciou já pela manhã e contou com a presença da Fernanda Richa, que elogiou o trabalho da assistência social local. Além de dar algumas palavras sobre o enfrentamento a exploração infantil. Em seguida o Dr. Vicente de Paula Faleiros, também assistente social, apresentou uma palestra sobre conceitos e preconceitos do abuso e exploração de crianças e adolescentes. Confira a entrevista com o Dr. Vicente de Paula Faleiros: Dr., qual a importância de se discutir sobre a violência na sociedade? A questão da violência está presente no dia-a-dia. Todo mundo tem um lado de medo da violência. E da violência urbana principalmente: assalto, sequestro, agressão. Mas muitas vezes ela está escondida na vida doméstica. Então discutir a violência significa desmontar um esquema de relação, porque a gente pode ter uma relação de convivência com base no diálogo e na expressão dos interesses, pra poder encontrar resolubilidades dos mesmos. Então é importante a gente ter mecanis-

mos institucionais pra poder expressar a nossa raiva e o nosso interesse de maneira civilizada. Então é possível conviver com o conflito de uma forma civilizada Em relação a exploração e o abuso infantil, como que os pais podem descobrir se seus filhos estão sendo violentados? Quando a violência acontece dentro de casa, ela é muito difícil porque ela envolve segredo, silêncio. Mas o comportamento da criança expressa isso, por meio de desenhos, tristeza, desinteresse ou até um interesse muito grande pela sexualidade, por revistas, fotos. É necessário conversar com a criança. E quais são as principais consequências para a criança que é abusada? Não tem um padrão, mas o impacto do sofrimento é o que chamamos de trauma. É no sentido de ela sofrer uma relação para a qual ela não está preparada. Então o principal trauma é esse, a criança tem um desenvolvimento normal da sexualidade, mas ela está sofrendo pelo mais forte um abuso em uma relação de força. E isso não corresponde ao desenvolvimento da criança e traz uma incapacidade de ela falar sobre isso. Quais preconceitos a criança pode vir a sofrer e como isso pode ser tratado? O contexto no qual a criança vive cria o preconceito, porque não há preconceito sem a sociedade e seus valores. Então em relação à mulher, se ela é abusada ela pode ser inferiorizada como desonesta, esses preconceitos são muito presentes quando há um abuso sexual, ela é culpada pelo que o mais forte fez. Esse processo de desculpabilização é necessário que ela tenha um apoio da família e um apoio profissional.

O que seria a dinâmica do abuso? O abuso não é algo descontextualizado, das relações da historia, da família, do silencio, da falta de dialogo. Então há uma dinâmica de relacionamento que vai depender da cultura e da história da família, é necessário estudar o abuso no seu contexto pra poder ver a sua dinâmica naquela situação. Como que fica o abusador nisso tudo? O combate a impunidade é fundamental, temos que mostrar pra sociedade que isso é um crime. O abusador precisa ser punido pela justiça ou pelo menos denunciado. Isso não pode ficar em silêncio. Ele deve repensar na sua atitude e também ter condições de elaborar isso e de ser tratado. Participar de um grupo ou de um tratamento pra poder superar essa situação. O problema é ele se torna repetitivo, então ele tem que parar o abuso com a punição e com o atendimento. Na palestra você falou que o abusador é diferente do pedófilo. Então o pedófilo, por ser doente, ele não poderia ser culpado? Não, pelo contrario, o pedófilo comete um crime, tanto quanto o abusador. O desejo faz parte do ser humano, o que eles (pedófilos) devem fazer é ter a consciência do respeito, para que seu desejo seja realizado no momento oportuno e de maneira adequada. De que maneira as pessoas podem denunciar a violência? A denuncia tem várias portas de entrada, ela pode ser feita pelo telefone, no disk 100 ou no 156. Pode ser feita no conselho tutelar, na delegacia, na área da saúde e na da assistência social.


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Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

Curitiba ganha seu primeiro

Festival Internacional de Cinema e busca voltar ao circuito

O Festival Internacional Olhar de Cinema promete mudar o cenário cultural da cidade Priscila Pacheco Sofia Ricciardi Jorge

que locais. De acordo com a Associação de Vídeo e Cinema do Paraná (AVEC), entre 2008 e 2010 foram produzidos e registrados mais de 50 curtas e médias metragens e 20 longas metragens. Uma demanda ainda pequena perto de outros estados do Brasil, mas de qualidade significativa para competir com outras produções do país. Só no ano passado, cinco curtas curitibanos foram des-

artes visuais, que buscam no evento a possibilidade de expor produções e dar o devido reconhecimento. Estudante de cinema da CineTV-PR, Alex Aguiar está otimista com as propostas do festival. “A ideia da criação de um festival como o ‘Olhar de Cinema’ é algo que é mais do que necessário pra uma capital com o porte de Curitiba, ainda mais numa época em que a linguagem au-

Paranaenses Premiados

Entre 29 de maio e 4 de junho de 2012, Curitiba terá seu primeiro festival internacional de cinema, o Olhar de Cinema. Até agora, um evento como este, abrangendo produções nacionais e estrangeiras, não existia na cidade. O fato surpreende muita gente, já que Curitiba faz parte de um cenário cultural relevante na região sul do Brasil, conquistado principalmente por causa do Festival de Teatro. O projeto foi aprovado pela Lei Rouanet, através do Ministério da Cultura, com apoio da Volvo, do Sesc Paraná, da Copel e de outras parcerias importantes. A proposta do Olhar de Cinema é selecionar em torno de 70 filmes, entre curtas e longas-metragens do mundo todo, divididos em duas mostras competitivas. A intenção é reunir o máximo de profissionais e produtos cinematográficos de diversas regiões, para criar um ambiente com diversidade cultural e promover a interação e troca de experi- Curta metragem “A Fábrica”, dirigido por Aly Muritiba ências entre os interessados. Outro motivo para a cria- taque em importantes premia- diovisual tem ganhado tanto ção do festival na cidade é o ções nacionais: “A fábrica”, espaço e destaque no Brasil. crescimento significativo do “Julho”; “Iaia et Leni”; “Vó Era muito estranho pra mim, próprio cinema paranaense, Maria” e “Ovos de dinossauro como estudante de cinema que acaba sendo mais reco- na sala de estar”. radicado em Curitiba, que a nhecido em premiações inteA proposta do festival ani- nossa cidade ainda não tivesse restaduais e internacionais do ma estudantes de cinema e atualmente nenhum festival”, Em 2011, as produções de curtas-metragens paranaenses atingiram número recorde na conquista de prêmios em mostras e festivais no Brasil e em outros países. Foram mais de 50 no país e quatro no exterior. “A Fábrica”, de Aly Muritiba, é um dos destaques. O curta conquistou mais de 30 prêmios, inclusive o de melhor filme de ficção no mais importante festival do gênero da Ásia, realizado na Coréia do Sul. Recentemente, foi selecionado para o Festival de Clermont-Ferrand, na França, o maior do mundo na categoria curta-metragem. “Circular” recebeu no 7.º FestCineGoiânia

disse em entrevista. Apesar das promessas, esta nova iniciativa gera certa polêmica entre os produtores, cineastas, críticos e diretores, além dos apreciadores da sétima arte. Um dos motivos é a passagem do Paraná por uma era de festivais de cinema que visavam muito mais o dinheiro do que a arte em si. Dessa forma, algumas pessoas da área ficaram receosas à novidade. O estudante e cineasta Julien Guimarães Coelho pôde acompanhar o antigo Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino e firmou críticas à maneira com que sua curadoria privilegiava filmes locais inéditos e não aceitava se misturar a outras produções alternativas. “O Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino foi uma iniciativa polêmica que não buscava a criação de um espaço de interação entre profissionais e suas artes. Era um festival bastante descontextualizado da realidade lo-

gosto mais genérico, ao invés de firmar uma personalidade que fosse sua. Era ao mesmo tempo ufanista por acolher determinadas figuras curitibanas, mas desinteressado na expansão desse cinema”, criticou o estudante. No entanto, ao comparar com a iniciativa lançada pelo Olhar de Cinema, Julien começou a enxergar tudo de uma forma mais otimista. “Sinto que a intenção do Olhar de Cinema é justamente suprir a carência que o cinema tem como um todo na cidade, desde o péssimo circuito das salas de exibição comerciais até a insuficiente política cultural da Cinemateca, e assim atender a uma demanda local por interação e diálogo, como acontece, por exemplo, com o Festival de Teatro e a Oficina de Música, pelo menos no que diz respeito a atrair e incluir tanto a sociedade como os produtores de suas respectivas áreas, no geral espalhados, e gerar com isso um espaço de troca”, considerou. Para não repetir o erro dos demais festivais, empresas e cineastas pretendem revolucionar o projeto, acreditando que o Olhar de Cinema pode finalmente aumentar a visibilidade da arte no estado e fortalecer os responsáveis pelas criações. A produtora curitibana Grafo Audiovisual será a responsável por comandar a criação do festival através do cineasta Aly Muritiba, diretor do “A Fábrica”, curta que conquistou mais de 30 prêmios, inclusive o de melhor filme de ficção no mais importante festival do gênero da Ásia, e recentemente foi selecionado para o Festival de ClermontFerrand na França. Quem também se junta a ele é o produtor Antonio Junior e a sócia e produtora da Grafo, Marisa Merlo. Pessoas envolvidas diDivulgação retamente na produção local, que acompanham a trajetória cal. A curadoria primava por e as dificuldades de quem faz ineditismo, por isso acolhia cinema. produções menos expressivas, Cineasta e idealizador do afastando filmes que preferiam festival Olhar de Cinema, Aly circular - ou já haviam circu- Muritiba tem grandes expectalado - em festivais mais rele- tivas em sua nova empreitada. vantes e que visavam atender ao “Vejo em nosso projeto uma

os prêmios de melhor roteiro, ator e montagem. “Iván - De Volta Para o Passado” recebeu também no 7.º FestCineGoiânia o prêmio de melhor som na categoria Documentário de Longa-metragem. “No Lixo do Canal 4” recebeu no REcine 2011 Festival Internacional de Cinema de Arquivo, o prêmio de melhor filme de longa-metragem, realizado inteiramente com acervo do MIS-Pr. “Vó Maria”, de Tomás Mancino Von Der Osten, levou Menção Honrosa pela originalidade na categoria curta-metragem também no REcine 2011 - Festival Internacional de Cinema de Arquivo. “Julho”, dirigido por João Krefer, foi premiado no

Hong Kong Mobile Film Festival Awards. “Iaiaet Leni”, dirigido por Eugenia Castello, foi premiado no Festival Corto Helvetico al Femminile na Suiça. “Ovos de dinossauro na sala de estar”, documentário de Rafael Urban, premiado na 13ª Mostra Londrina de Cinema e na IV Janela Internacional de Cinema do Recife. Para o cineasta e diretor do MIS-PR, Fernando Severo, é importante salientar a qualidade dos trabalhos produzidos por alunos. “É uma nova geração que vem surgindo. Percebemos que o curso de cinema da Faculdade de Artes do Paraná, por exemplo, foi destaque nas premiações, é a escola de cinema mais premiada do Brasil em 2011”, comenta. Agência Nacional de Notícias do Estado do Paraná


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Olhar de Cinema Festival Internacional de Curitiba Data: Entre 29 de maio e 4 de junho de 2012 Local: Espaço Itaú de Cinema (novo nome do antigo Unibanco Arteplex do Shopping Crystal) Obs.: Os debates com os cineastas, coletivas de imprensa e eventos paralelos do festival deverão ocorrer no Sesc da Esquina e no Paço da Liberdade.

Curitiba em festivais

As histórias que deram e não deram certo no circuito de festivais de cinema em Curitiba Entre tantos que não tiveram a oportunidade de seguir em frente e firmar raízes no cenário cinematográfico local,restou uma iniciativa que sobrevive mesmo com dificuldades financeiras até os dias de hoje. Já em sua sexta edição, o Festival de Cinema Super-8 de Curitiba vem mostrando que é possível acreditar em uma ideia e botá-la em prática com sucesso, tendo em vista que atualmente este é o único festival do gênero Super-8 da América do Sul, evento que anualmente recebe produções em suporte analógico de todo país. Ou seja, em um panorama geral, esta é a única iniciativa que trabalha com a preservação e difusão da memória cinematográfica produzida na bitola de filme 8mm. Além das mostras competitivas e expositivas, o evento promove o intercâmbio cultural entre realizadores de outros estados. “O Festival de Cinema Super-8 é um exemplo positivo de que curitibano também se interessa por festivais da sétima arte”, comentou Antonio Martendal, coordenador administrativo da Associação de Cinema e Vídeo do Paraná (AVEC) e frequentador assíduo do festival. Seguindo outra linha, Curitiba sediou por sete anos (com pausas de edições em alguns anos) o Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba (PUTZ). Voltado para a exibição de filmes realizados em universidades, ele tinha como proposta divulgar a produção audiovisual e reunir estudantes do Paraná e de outros estados do país para a discussão e difusão deste tipo de produção. A iniciativa nasceu no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná, no ano de 2000, e a princípio era um evento de âmbito estadual, mas após quatro edições foi aberto a todas as universidades brasileiras, se tornando conhecido como Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba. Segundo informações da asses-

soria de imprensa do festival, desde 2004 foram projetadas mais de trezentas produções e o seu acervo conta com mais de mil títulos cinematográficos. A última edição do festival aconteceu em 2009, e desde então os produtores não conseguiram recursos financeiros para uma nova edição, porém, buscam novos apoios financeiros e prometem um retorno em breve. Enquanto o Festival de Cinema, Vídeo e Dcine de Curitiba sofria um declínio e estava próximo ao fim, em 2006 surgia um novo festival realizado pela atriz ítala Nandi, o 1ª Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino. O evento acontecia no Museu Oscar Niemayer e prezava por uma curadoria que abrangia o cinema latino americano em geral. Durante as quatro edições do festival, diversos nomes importantes da política cultural e do cinema nacional estiveram presentes em Curitiba, como Fernanda Montenegro, Letícia Sabatella e Selton Melo. Por quatro anos o evento agitou o cenário audiovisual da cidade e promoveu diversas mostras competitivas de filmes locais e nacionais, além oficinas e mesas de debate sobre cinema. Em 2010, foi aberto um processo de inscrição e de seleção de novos filmes para sua quinta edição. No entanto, ela não chegou a acontecer porque o governo do Paraná e a Copel, que patrocinava o evento, retiraram o apoio financeiro. Sem recursos, o festival chegou ao fim, sendo então o último do gênero em Curitiba até os dias de hoje. Em todo histórico do movimento cinematográfico curitibano, a cidade já vivenciou diversas experiências de festivais de cinema. Alguns desses chegaram a acontecer em mais de uma edição, trazendo às salas de exibição da cidade grandes nomes do cenário nacional, além de filmes clássicos brasileiros. Entretanto, por diversos motivos a grande maioria destes eventos

deixou de existir antes mesmo de virar tradição. Já em 1957 a cidade sediava o I Festival de Cinema Brasileiro, em Curitiba, promovido pela prefeitura durante a gestão de Ney Braga. Na época, o evento acontecia no cine Ópera, um dos cinemas da Cinelândia Curitibana, na Avenida Luiz Xavier. Este festival teve apenas uma edição e apresentou em sua programação os filmes vencedores: “O Grande Momento”, de Roberto Santos, e “Estranho Encontro”, de Walter Hugo Khouri. Em abril de 1975, aconteceu em Curitiba o I Festival Brasileiro do Filme Super-8, uma realização do Museu da Imagem e do Som – MIS e da Secretaria de Cultura do Paraná. Quem coordenava a curadoria dos filmes e toda produção era o cineasta Sylvio Back, nome de destaque no cinema paranaense. O evento teve uma segunda edição em março de 1976 e suas duas edições aconteceram no Teatro Guaíra. Este festival teve grande importância no cenário cinematográfico curitibano não apenas pelo espaço e reconhecimento que proporcionou aos cineastas e cinéfilos da cidade, mas também pelos eventos que aconteciam paralelamente, como cursos e palestras, que contribuíram para a formação de novos cineastas locais. Após o término do Festival

Brasileiro do Filme Super-8, os realizadores Roseane Câmara e José Augusto iniciaram junto à Escola Técnica Federal do Paraná, uma nova proposta focada em produções realizadas em super-8. O festival acontecia na recém-criada Cinemateca de Curitiba e contou com cinco edições em âmbito nacional que ocorreram de 1975 a 1979. Este festival exibiu filmes consagrados de cineastas que naquele período eram revelações locais, como “Aluminosa Espera do Apocalypse”, de Fernando Severo e “Mane da Paz”, de Celso Luck. Já em 1980 o Museu da Imagem e do Som voltou a realizar um novo festival focado em Super-8, o evento se chamava Abertura 8 e recebia produções de âmbito dos três estados do Sul. O filme “Pela Porta Verde”, de Nivaldo Lopes, foi premiado nesta única edição. Futuramente, o diretor veio a se tornar um dos paranaenses mais influentes neste tipo de produção. A última tentativa de um evento assim na década de 80 foi o I Festival de Cinema de Curitiba, criado pelo colunista Alcy Ramalho Filho, com patrocínio da Texaco e apoio da Secretaria de Cultura do Paraná. As projeções aconteciam no Cine Ritz e na Cinemateca de Curitiba, mas o evento teve pouca repercussão local e não passou da primeira edição.

Após a última tentativa frustrada, a cidade passou por um espaço em branco sem nenhum projeto do gênero. Apenas em 1996, a produtora Cloris de Souza deu início ao Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba. Em sua primeira edição, o evento teve um caráter voltado aos padrões de uma pequena mostra de cinema. Após isso tomou tamanho e forma em 1997 com sua segunda edição, se transformando no chamado o Festival de Cinema, Vídeo e Dcine de Curitiba (FCVDc). Comparado aos outros projetos que até esse período haviam ocorrido na cidade, este festival foi o que obteve mais sucesso de público e um número maior de edições. Ao todo, foram 10 anos, que em toda sua trajetória colaborou para a cultura de cinema curitibana. As exibições aconteceram no Cine Ritz, cinemas do Shopping Estação e Shopping Batel e em suas últimas edições no Canal da Música. Segundo informações da empresa Araucária Produções, que realizava o evento junto com Cloris de Souza, em toda sua história, cerca de 80 mil pessoas foram às exibições. Por falta de recursos, o festival teve sua última edição em 2007, deixando saudades para aqueles que já haviam se acostumado.

Divulgação

nova porta se abrindo para quem realiza cinema em Curitiba, nós já passamos por períodos conturbados com festivais de cinema que não deram certo na cidade, chegou a hora de inovar”, afirmou.

O longa metragem “Circular” ganhou quatro prêmios em festivais brasileiros, mas nenhum deles foi do Paraná


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Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cultura

Vem, vem! Vem pra rua, vem! A cultura popular e a retomada das ruas Segundo Eduardo Galeano, os ninguéns são aqueles “que não falam idiomas,falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam superstições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore” Caracterizamos e descaracterizamos o que julgam nos servir enquanto cultura e esquecemos que a cultura é, na verdade, uma criação colaborativa de diferentes visões. Cultura não é apenas um conceito criado para ser decorado de um livro de antropologia ou algo que existe independente da dinâmica da sociedade e dos indivíduos que a compõem. A cultura é viva e acontece todo dia.

Em abril deste ano, uma rede de produtores culturais, artistas e outros interessados se organizou de forma colaborativa, horizontal e autogestionada para fundar um novo movimento civil que tem como principal objetivo retomar as ruas com manifestações culturais. São Paulo foi palco de um grande Festival gratuito e popular que retratou a diversidade cultural da metrópole paulista. O festival colaborativo Baixo Centro, que abriga a pluralidade de identidades, sabedorias e expressões artísticas é um exemplo de organização civil pró cultura e legitimamente popular. Esse tipo de iniciativa tem sido compartilhada em todo o mundo graças às fer-

ramentas e mídias digitais, que fomentam iniciativas populares, além de subsidiar organizadores e adeptos. Aqui em Curitiba, temos exemplos como o Ano Novo Fora de Época, a Marcha das Vadias, a Marcha da Maconha, o Festival de Cultura, entre outros. A cultura popular é o retrato do dia-a-dia do trabalhador. O grafite é a expressão da periferia que não tem acesso ao museu. A Bicicletada promove uma logística de trânsito mais sustentável, mesmo dentro de uma sociedade que foca seus esforços em consumo de carros e de combustível. É através dessas manifestações e movimentações que se confronta essa cultura padronizada que massifica a ideologia

de “ter” em detrimento do “ser”. Na contramão das novas visões dessa sociedade em rede, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou um Projeto de Lei que cria obstáculos para a realização desses eventos. Sob o pretexto de “regulamentar” a produção de festas como o Carnaval Fora de Época, a nova lei exige a nomeação de responsáveis e a contratação de serviços de primeiros socorros. O problema é que ela também proíbe qualquer evento espontâneo com mais de 2000 pessoas, sem os requisitos supracitados. A iniciativa contraria dois artigos da Constituição Federal e também a Declaração Universal dos Direitos Humanos quando cerceia o Direito

Beatriz Moreira

bea.smoreira@gmail.com de Reunião e o de Livre Expressão. A cultura é nossa, produzida e consumida por nós, e temos o direito de transmitila publica e gratuitamente, sem interferências. Então, fica a pergunta no ar: e se nos organizarmos sem representante? E se formos às ruas gritar sem atender aos pré-requisitos?

Cinema

A ERA DOS SUPER-HERÓIS Desde a estreia do primeiro filme do Homem-Aranha

em 2002 nunca se viu tamanha quantidade de adaptações de HQ`s no cinema. Com o sucesso das bilheterias, tecnologia suficiente e pessoas que realmente acreditavam nesse meio, o cenário realmente mudou. A história do jovem nerd fez com que Hollywood mudasse o modo de olhar para essas adaptações. É inegável afirmar que estamos vivenciando a era dos heróis no cinema. Para realmente ter a certeza disso, basta olhar pra as grandes estreias de 2012. Sem muito esforço, no mínimo dez filmes de heróis vieram rapidamente na minha cabeça. E a estreia de Os Vingadores prova que

essa nova moda não está para brincadeira. O longametragem, que estreou no final de abril, reúne os super-heróis Homem de Ferro, Thor, Capitão América, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro em um único filme. Apenas no primeiro fim de semana nos EUA o filme arrecadou aproximadamente 207 milhões de dólares. Sucesso absoluto! O mais recente filme da Disney, John Carter - Entre Dois Mundos, mostra o outro lado da moeda, nem todos os filmes desse gênero vem para o sucesso. O filme, que estreou no Brasil no começo de março desse ano, foi um dos maiores prejuízos que a Disney já teve, arrecadando 179 milhões contra 250 milhões

de custo. O fracasso foi algo inesperado por todos, a falta de divulgação do filme e a forte aposta em um publico mais infantil podem ter sido a receita para a desgraça. Mas não é somente de filmes para todas as idades que esse gênero sobrevive. Olhando para os novos filmes do homem morcego de Christopher Nolan, vemos uma pegada bem mais realista e sombria, Nolan deu uma nova visão às aventuras de Batman. Com a ideia de ser uma trilogia – o último está para ser lançado esse ano – os filmes são dramáticos, pesados e até um pouco perturbadores. O segundo deles, O Cavaleiro das Trevas, tem como vilão o clássico Coringa, impre-

visível e insano, que prova que o filme não foi feito mesmo para crianças. Outro bom exemplo disso é Watchmen – ‘’do visionário diretor de 300’’ -. A adaptação do quadrinho homônimo prova que o cinema de super-heróis enfim amadureceu. O filme mostra a dura realidade de como seria o mundo se os super-heróis realmente existissem. Tratando de temas como filosofias, ética e violência, Watchmen consegue desconstruir qualquer imagem de heróis pré-montadas em nossos imaginários. Críticas negativas envolvendo esse gênero em geral não faltam. Afirmando que ele é fantasioso e feito para crianças. Minha

Matheus Klocker mpklocker@gmail.com opinião é contrária. Olhando a grande quantidade de filmes - dito por alguns críticos mais realistas - onde a mocinha sempre acaba com o mocinho, vários filmes desse gênero conseguem retratar a realidade de um modo bem mais realista, mas sempre vestindo a sua máscara.


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Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

Membros da Comissão da Verdade têm 2 anos para cumprir objetivos Projeto idealizado em 2010 e iniciado no ano passado deu o passo principal rumo à verdade Agência Brasil Julio Rocha Matheus Klocker Vitor Morau

Com o objetivo de passar a limpo a história do Brasil durante o período do regime militar, a Comissão da Verdade foi criada em 18 de novembro do ano passado, mas somente na última quinta-feira que teve seus membros divulgados. Idealizada em 2010, a comissão será oficialmente instalada na próxima sexta-feira (18). A comissão vai investigar casos que ocorreram no período entre 1946 e 1988, e por lei não poderá punir os responsáveis por crimes durante o período da ditadura. “A lei é muito clara. Ela diz que a comissão tem apenas o objetivo de trazer à tona a memória, a verdade, a paz familiar para aqueles que se sentiram violados nos seus direitos humanos”, declarou um dos sete membros do grupo, Gilson Dipp. O Dr. Elisio Eduardo Marques, professor formado em direito que já atuou como juiz

e participou de uma comissão de inserção de anistiados políticos no Paraná, diz que a Comissão da Verdade é um passo importante e necessário para o país. Elisio colaborou com uma manifestação a favor da comissão que aconteceu na Universidade Federal do Paraná. O professor se mostrou otimista: “Os nomeados são de grosso calibre, se tratam de pessoas bem habilitadas para falar do assunto”. Os membros da comissão têm um prazo de dois anos para cumprir os objetivos. “Em dois meses ou três meses já se pode cumprir muitos dos objetivos, se levarem muito mais do que isso, é porque alguma coisa está errada”. Sobre a possibilidade de que a comissão alcance uma verdade, o professor comentou “De meia em meia verdade, se constrói uma verdade relativa, a verdade absoluta não existe”. No início do ano, grupos de militares se manifestaram contra a Comissão da Verda-

Dilma Rousseff aprova a lei que cria a Comissão Nacional da Verdade

de. Clubes das três Forças Armadas (Aeronáutica, Militar e Naval ), criticaram a presidente Dilma Rousseff por ter entrado de acordo com a Lei da Anistia. ‘’Não se trata de revanchismo, não se trata de perseguição, mas é uma ação importante para preencher

uma lacuna da nossa história política’’, argumentou o senador de Roraima, Romero Jucá sobre as várias manifestações de militares. A lei que criou a Comissão da Verdade diz que os integrantes deverão ser todos de nacionalidade brasileira, de-

signados pelo Presidente da República, com base em critérios como o da pluralidade, reconhecimento de idoneidade e de conduta ética e por defesa da democracia, da institucionalidade constitucional e dos direitos humanos.

Membros da Comissão da Verdade Paulo Sérgio Pinheiro: diplomata e acadêmico, exerceu cargo de relator especial para a situação dos direito humanos de Myanmar. Foi nomeado coordenador da Comissão Internacional de Inquérito para a Síria.

José Carlos Dias: advogado criminalista, foi presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, secretário da Justiça do estado durante o mandato de Franco Montoro (1983-87) e ministro da Justiça durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1999-2000).

Maria Rita Kehl: psicanalista e es-

critora, ganhou o prêmio Jabuti na categoria “Educação, Psicologia e Psicanálise” com seu livro O Tempo e o Cão.

Gilson Langaro Dipp: formado em ciências jurídicas e sociais, foi presidente do tribunal Federal da 4ª Região. Integrou o Supremo Tribunal de Justiça, onde presidiu a Quinta Turma e a Terceira Seção. Em 2007, passou a ocupara função de coordenador-geral da Justiça Federal e, no ano seguinte, foi empossado como corregedor no Conselho Nacional de Justiça.

Cláudio Lemos Fonteles: formado em direito pela Universidade de Brasília, trabalhou no Ministério Público desde 1968 (como estagiário), virando concursado em 1973 e foi nomeado Procurador-Geral em 2003.

José Paulo Cavalcanti Filho: advogado e escritor, escreveu uma biografia de Fernando Pessoa.

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Rosa Maria Cardoso da Cunha: advogada que defendeu diversos presos políticos da Ditadura Militar, como a presidente Dilma Rousseff.


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Curitiba, segunda-feira, 14 de maio de 2012

Página Literária

Lunáticos & Tarja Preta Jessica Crvalho

Nunca na história desse país convivi com tanta gente louca. Acho que desde que jogaram na mídia a informação de que não existe um cérebro 100% normal, todo mundo começou a encontrar uma patologia pra chamar de sua e, por consequência, uma desculpa para agir como um completo idiota. É nêgo que fuma maconha alegando hiperatividade mental, vizinho que não dá bom dia por causa da bipolaridade, amiga delinquente que rouba as suas calcinhas e culpa a cleptomania, essa palhaçada toda. Meus preferidos ainda são os carentes que dizem sofrer de mi-

tomania, esse nome nada original que arranjaram para classificar o transtorno do pessoal que mente demais. Aí o sujeito vem me contar que morou cinco anos na Itália, mas não sabe nem dizer que horas são em italiano; fantasia relacionamentos com a moça do quarto andar e conta para família que está quase juntando os trapos, aí, quando é pego no pulo, diz que vai ficar tudo bem agora que está procurando ajuda profissional. Que ajuda profissional o quê. Digo, por experiência própria, que se você sentar na frente de uma tia entediada de óculos e falar para ela que você nunca chega na hora no trabalho, ela vai te receitar algum tipo de

droga sem chorumelas. Depois querem fazer especial tarja preta no Globo Repórter, assustados com a quantidade de medicamento desse tipo consumido no país, mas não sei como poderia ser diferente quando livro sobre gente doente entra na lista de Best Sellers porque faz você parecer super cool por ser incapaz de ficar parado na escada rolante. Só queria dizer, mundo, que eu acredito que tem gente que sofre dessas coisas, acredito mesmo. Só que “sofrer” implica em lavar a mãos repetidas vezes até sangrar, sem drama nenhum, não rola tomar floral para se controlar e não arrumar as roupas por cor.

Odeio quando você fuma Suelen Lorianny

Eu não odeio muitas coisas e nem gosto de odiar as poucas que restam. Mas também não é fácil gostar de tudo, certo? Quando te encontro até relevo essa parte. Me observo odiando tantas coisas em você. Seu time, suas bandas, seu desapego, suas manias, os apelidos que você inventa para mim, seus abraços curtos ou quando você fuma. Odeio tanto isso que chego a gostar. Até procuro notícias sobre um time que eu nem conheço, ouço músicas que eu não entendo, tento me apegar menos, acho as manias engraçadas, faço jus aos apelidos, nem preciso comentar dos abraços e te aconselho a ir fumar. Só não entendo porque faço tudo isso, essa parte eu não relevo. Continuo fazendo. Tentei igno-

rar as ligações não recebidas, dormir quando fui deitar e nada de firula nos pensamentos. Eu tento até não falar de você. Estou tentando não dizer o quanto eu gosto, mas sinto que as minhas atitudes me entregam. Odeio sentir tua falta e não saber lidar com isso. Odeio atravessar a cidade só para te ver, odeio fingir que não sinto ciúme, odeio não te falar tudo isso. Gosto

do jeito que você pega na minha mão, gosto de como você me abraça quando aquele cara aparece, gosto mais ainda quando você ajeita a sua barba. Gosto quando você usa o ‘nós’. Acho que ele já existe. Mesmo gostando tanto, eu ainda odeio quando você fuma.


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