TCC arqurbuvv REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARQUITETURA E URBANISMO

LORENA SILVA VENTUROTE

REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

VILA VELHA 2017


LORENA SILVA VENTUROTE

REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador (a): Profa. Dra. Ana Paula Rabello Lyra

VILA VELHA 2017



Ă€ minha famĂ­lia, pelo amor e apoio incondicional.


AGRADECIMENTOS

À Deus; que protege e intercede pelos meus caminhos, provendo e zelando por mim, por meus familiares e amigos. À minha família, que tanto me auxilia e orienta. Ao meu pai, Antônio; que possuo enorme amor, respeito e admiração. Seu incentivo e presença é inestimável. À minha mãe, Juçara; um ser humano incomparável e fascinante, que me ajuda e fortalece em cada passo de minha vida. É impossível mensurar em palavras a dimensão de minha gratidão e apreço. À minha irmã, Amanda; agradeço o incentivo e companheirismo. Muito obrigada por estar ao meu lado e sempre acreditar em mim. Ao meu cunhado, Julian, obrigada pelo suporte e assistência de sempre. Aos meus amigos; sou grata pelo estímulo e confiança em mim e em meu trabalho. Agradeço também; a todo corpo docente, a minha orientadora Profa. Ana Paula Lyra, ao meu co-orientador Prof. Giovanilton Ferreira e também ao arquiteto convidado Heliomar Venâncio pelo aceite e composição da banca. Agradeço a todos que de alguma forma me ajudaram nesta jornada, este trabalho é de várias maneiras a realização de um sonho.


RESUMO

A relação do ser humano com os recursos hídricos, outrora tão próxima, hoje encontra obstáculos oriundos principalmente dos processos de transformações urbanas. Desse partido, identificou-se o estado de ruptura do Canal da Costa (Vila Velha - ES) em seu curso; sobretudo no bairro Coqueiral de Itaparica, área escolhida como zona de intervenção. O estudo e aprofundamento do tema, relacionado ao diagnóstico da região, possibilitaram a definição da metodologia e essência da proposta. O eixo paisagístico idealizado valoriza princípios como interação, convívio social, lazer, esporte, estar, contemplação, entretenimento e comércio. O resgaste da relação entre o Canal da Costa e usuários foi proposto através da implantação de um parque linear múltiplo vivo, ergonômico e funcional. Além de reestabelecer esse envolvimento, o objetivo do parque é valorizar o pedestre e incentivar outros modais de transporte coletivo, tal como o próprio curso d‘água; e também contemplar ações de resgaste e proteção ambiental. Para atender as necessidades do meio e entorno e assegurar a perpetuação do parque, toda a área adjacente ao canal foi considerada e agregada ao estudo e proposição projetual. O parque linear Coqueiral de Itaparica é uma proposta de reconciliação e integração entre o Canal da Costa e a cidade. Palavras-chave: Canal, Urbano, Ruptura, Requalificação, Reconciliação, Integração, Parque Linear, Eixo Paisagístico, Canal da Costa, Coqueiral de Itaparica.


ABSTRACT

The relationship with the human being with the water resources, once so close, today finds the obstacles generated mainly by the processes of urban transformation. From this idea, it was identified the state of rupture of the Canal da Costa (Vila Velha - ES) in yours course; especially in the district Coqueiral de Itaparica, the area chosen as intervention place. The study and deepening of the theme, related to the diagnosis of the region, enabled a definition of methodology and essence of the proposal. The idealized landscaping axis values the division as interaction, social interaction, leisure, sport, being, contemplation, entertainment and commerce. The rescue of the relationship between the Canal da Costa and its users was proposed through the implementation of a multiple, ergonomic and functional linear park. In addition to reestablishing this involvement, the purpose of the park is to value the pedestrian and encourage other modes of collective transportation, such as the own water course; and also contemplate actions of recovery and environmental protection. To reach the needs of the environment and to ensure the perpetuation of the park, the entire area adjacent to the canal was considered in the study and design proposal. The linear park Coqueiral de Itaparica is a proposal of reconciliation and integration between the Canal da Costa and the city. Keywords: Canal, Urban, Rupture, Requalification, Reconciliation, Integration, Linear Park, Landscape Axis, Canal da Costa, Coqueiral de Itaparica.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - O Sena, Paris (França) foi declarado como quase morto cerca de 50 anos atrás .......................................................................................................................... 24 Figura 2 - O Tâmisa, Londres (Inglaterra) era conhecido como esgoto monstro em 1850 .......................................................................................................................... 24 Figura 3 - Mainuferfest em Frankfurt, Alemanha ....................................................... 30 Figura 4 - Regata de remo disputada na Baía de Vitória em 1992, esporte símbolo da cidade hoje em decadência .................................................................................. 30 Figura 5 - No verão o Rio Isar e balneável e recebe inúmeros visitantes ................. 32 Figura 6 - O Rio Tâmisa exerce ao longo de seu leito a integração das funções...... 33 Figura 7 e 8 - Exemplo Função de Drenagem: Bacia de Estocagem de Água Pluvial .................................................................................................................................. 39 Figura 9 - Esquema que representa a relação entre a qualidade dos espaços externos e o estimulo as atividades opcionais e sociais. .......................................... 41 Figura 10 - Obras para encobrir o leito do Rio e construir estrada na Década de 50 45 Figura 11 - Via expressa sob o Rio em 1999. ........................................................... 45 Figura 12 - Via expressa elevada Cheonggyecheon antes da intervenção............... 45 Figura 13 - Estrada que encobria o canal antes da intervenção ............................... 45 Figura 14 - Ilustração implantação projeto Rio Cheonggyecheon ............................. 47 Figura 15 - Obras projeto Rio Cheonggyecheon ....................................................... 47 Figura 16 - Rio Cheonggyecheon após as intervenções ........................................... 47 Figura 17 - Travessias para carros e exclusivas para pedestres no Parque Cheonggyecheon ...................................................................................................... 48 Figura 18 - Travessia para pedestres no Parque Cheonggyecheon ......................... 48 Figura 19 - Pilares do antigo viaduto ......................................................................... 49 Figura 20 - Obra “Banchado” em mosaico cerâmico. ................................................ 49 Figura 21 - Taludes revestidos por ladrilhos decoradas pela população................... 49 Figura 22 - Taludes revestidos por painéis, mosaicos e obras de arte ..................... 49 Figura 23 - Museu Cheonggyecheon ........................................................................ 49 Figura 24 - Modelos em miniaturas da história da intervenção ................................. 49 Figura 25 - Águas tratadas do córrego ...................................................................... 50 Figura 26 - Reestabelecimento natural das matas ciliares ........................................ 50 Figura 27 - Margens como espaço de convívio ......................................................... 51 Figura 28 - Apropriação do espaço ........................................................................... 51 Figura 29 - Zoneamento Ecológico-Econômico do município de Piracicaba (Projeto Beira-Rio) .................................................................................................................. 55 Figura 30 - Setorização da Orla do rio Piracicaba (Projeto Beira-Rio) ...................... 56 Figura 31 - Diagrama Conceitual para as 3 etapas de intervenção do Projeto BeiraRio ............................................................................................................................. 58 Figura 32 - Trilha permeável na Rua do Porto após intervenção .............................. 59 Figura 33 - Nível da trilha em corte esquemático ...................................................... 59


Figura 34 - Construção de novos deques na orla da Rua do Porto........................... 60 Figura 35 - Os deques são apropriados por restaurantes licenciados ...................... 60 Figura 36 - Plantio de árvores na Orla ...................................................................... 60 Figura 37 - Arborização na Rua do Porto .................................................................. 60 Figura 38 - Remodelação do Largo dos Pescadores ................................................ 62 Figura 39 - Ampliação e melhoria dos passeios públicos .......................................... 62 Figura 40 - Calçadas na Avenida Beira Rio .............................................................. 63 Figura 41 - Largo em frente à Casa do Povoador ..................................................... 63 Figura 42 - Diagrama etapas Metodologia de Estudo. .............................................. 66 Figura 43: Mapa do perfil geográfico do norte de Vila Velha na chegada de Vasco Coutinho.................................................................................................................... 70 Figura 44: Ponte de concreto na Av. Champagnat destruída pela correnteza da enchente de 1960. .................................................................................................... 72 Figura 45: Rua Luciano das Neves na enchente da década de 60. ....................... 72 Figura 46: Rio da Costa retificado............................................................................ 72 Figura 47: Áreas próximas ao Canal da Costa durante a Construção da 3ª Ponte 73 Figura 48: Morfologia Recorrente bairro Praia da Costa ........................................... 77 Figura 49: Morfologia Recorrente bairro Boa Vista I ................................................. 77 Figura 50: Mapa Declividade ..................................................................................... 80 Figura 51: Morro do Moreno. ..................................................................................... 80 Figura 52: Morro da Penha........................................................................................ 80 Figura 53: Bacias Hidrográficas Vila Velha ............................................................... 83 Figura 54: Comitês de Bacias Hidrográficas ............................................................. 83 Figura 55: Inundações na área de Intervenção ......................................................... 84 Figura 56: Ocupações nas margens do Canal da Costa em Itapuã .......................... 84 Figura 57: Fiscalização Ambiental em visita na área de intervenção. ....................... 89 Figura 58: Diagrama etapas Metodologia de Estudo. ............................................... 95 Figura 59: Veículos de médio a pequeno porte estacionados no eixo paisagístico 105 Figura 60: Mapa Declividade no Eixo Paisagístico.................................................. 107 Figura 61: Transição entre gabaritos diferentes na R. Sete em Coqueiral de Itaparica................................................................................................................... 109 Figura 62: Panorama R. Cinco em Santa Mônica. .................................................. 109 Figura 63: Panorama R. Ormandino Gomes em Coqueiral de Itaparica, norte da poligonal. ................................................................................................................. 109 Figura 64: Transformações urbanas provocadas pela implantação do Shopping Vila Velha e outros. ........................................................................................................ 112 Figura 65: O Canal da Costa na Av. Délio Silva Britto durante período de chuva. .. 119 Figura 66: Guarda-corpo enferrujado e danificado no eixo paisagístico. ................ 119 Figura 67: Ausência de guarda-corpo em ponte para pedestre no eixo paisagístico. ................................................................................................................................ 119 Figura 68: Ciclovia com infraestrutura inadequada. ................................................ 119 Figura 69: Ocupações nas margens do Canal da Costa. ........................................ 120


Figura 70: Canal da Costa ao norte da poligonal de Intervenção............................ 120 Figura 71: Grandes quadras e conjuntos habitacionais murados............................ 120 Figura 72: Bancos encontrados no Eixo Paisagístico ............................................. 120 Figura 73: Extensão Canal da Costa e eixo paisagístico definido. .......................... 122 Figura 74: Trecho do eixo paisagístico na Av. Délio Silva Britto. ............................ 122 Figura 75: Trecho do eixo paisagístico localizado na Rua Itaóca............................ 122 Figura 76: Vestígio de árvores nativas no eixo no trecho da Rua Itaóca ................ 123 Figura 77: Jaqueira encontrada na Av. Délio Silva Britto ........................................ 123 Figura 78: Pista de Corrida no Parque Urbano de Cocal. ....................................... 124 Figura 79: Av. Est. José Júlio de Souza na Orla de Itaparica.................................. 124 Figura 80: Feira Livre de Coqueiral de Itaparica. .................................................... 124 Figura 81: Comércio informal na Av. Délio Silva Britto. ........................................... 124 Figura 82: Diagrama etapas Metodologia de Estudo. ............................................. 128 Figura 83: Croqui conceitual proposta “Conexão”. .................................................. 133 Figura 84: Diagrama conceitual conexão áreas públicas. ....................................... 133 Figura 85: Croqui conceitual proposta “Ação/Função”. ........................................... 134


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Faixa etária da população residente na zona estudada............................ 76


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Síntese da Revitalização do Rio Cheonggyecheon ................................. 52 Tabela 2 - Propostas e Ações da 2ª Etapa do Projeto Beira-Rio .............................. 61 Tabela 3 - Síntese do Projeto Beira-Rio (Piracicaba) ................................................ 64 Tabela 4: Municípios mais populosos do Espírito Santo ........................................... 73 Tabela 5: Índices Populacionais e de Faixa Etária da área de Caracterização ......... 75 Tabela 6: Índices Populacionais e de Renda da área de Caracterização ................. 76 Tabela 7: Taxas de Mortalidade e Alfabetização da área de Caracterização ........... 78 Tabela 8: Taxas de População, Total de domicílios e Densidade Demográfica da área de estudo .......................................................................................................... 93 Tabela 9: Morfologia .................................................................................................. 96 Tabela 10 - Síntese da Proposta de Revitalização do Eixo Paisagístico Canal da Costa. ...................................................................................................................... 136


LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Sub-Bacia Canal da Costa e Delimitação da área de caracterização ......... 67 Mapa 2: Localização da área de estudo no país, estado e município ....................... 68 Mapa 3: Área de estudo e caracterização ................................................................. 69 Mapa 4: Localização da área de caracterização nas Regiões Administrativas de Vila Velha ......................................................................................................................... 75 Mapa 5: Unidades Geomorfológicas da área de estudo ........................................... 81 Mapa 6: Relevo e elevações da área de estudo ....................................................... 82 Mapa 7: Hidrografia da área de estudo, destaque para o canal da Costa ................ 85 Mapa 8: Recursos Ambientais e ocupação do Solo Vila-velhense............................ 88 Mapa 9: Zoneamento Urbano Área de Estudo .......................................................... 92 Mapa 10: Densidade Demográfica dos bairros na área de caracterização .............. 94 Mapa 11: Malha Viária .............................................................................................. 97 Mapa 12: Macroparcelamento ................................................................................... 98 Mapa 13: Microparcelamento .................................................................................... 99 Mapa 14: Setorização ............................................................................................. 100 Mapa 15: Poligonal de Intervenção ......................................................................... 102 Mapa 16: Eixo Paisagístico ..................................................................................... 104 Mapa 17: Uso e Ocupação do Solo......................................................................... 106 Mapa 18: Gabarito................................................................................................... 110 Mapa 19: Mobilidade Urbana .................................................................................. 115 Mapa 20: Transporte Público .................................................................................. 116 Mapa 21: Hierarquia Urbana ................................................................................... 117 Mapa 22: Mapa Vulnerabilidades e Potencialidades e Mapa Síntese ..................... 126 Mapa 23: Mapa Subsetores de atuação .................................................................. 130 Mapa 24: Mapa Manter, Renovar e Requalificar ..................................................... 131 Mapa 25: Usos Propostos ....................................................................................... 135


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................14 1.1. JUSTIFICATIVA ...............................................................................................16 1.2. OBJETIVO GERAL ..........................................................................................16 1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................16 1.4. METODOLOGIA ...............................................................................................17 1.4. ESTRUTURA ...................................................................................................18 2. A RELAÇÃO DO ESPAÇO URBANO COM OS CURSOS D’ÁGUA .................20 2.1. EVOLUÇÃO URBANA E RUPTURAS AMBIENTAIS .......................................22 2.2. A CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NA QUALIDADE DE VIDA URBANA .................................................................................................................29 3. REQUALIFICAÇÃO E RECONCILIAÇÃO DE RIOS E CIDADES .....................36 3.1. RECONCILIAÇÕES ATRAVÉS DAS ÁREAS LIVRES DE USO PÚBLICO .....37 3.2. CARACTERÍSTICAS PROJETUAIS DE ESPAÇOS RECONCILIADOS..........40 4. DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................65 4.1. LOCALIZAÇÃO ................................................................................................68 4.2. HISTÓRIA E IDENTIDADE ..............................................................................70 4.3. CARACTERIZAÇÃO ........................................................................................74 4.3.1. Aspectos Socioeconômicos...........................................................................74 4.3.2. Aspectos Ambientais .....................................................................................79 4.3.3. Aspectos Legais ............................................................................................89 4.4. MORFOLOGIA .................................................................................................90 4.4.1. Zoneamento ..................................................................................................90 4.4.2. Densidade Demográfica ................................................................................93 4.4.3. Setorização ...................................................................................................95 4.4. POLIGONAL DE INTERVENÇÃO ....................................................................102 4.6. VULNERABILIDADES E POTENCIALIDADES ................................................118 5. PROPOSTA PROJETUAL..................................................................................127 5.1. PLANO DE REQUALIFICAÇÃO.......................................................................129 5.2. CONCEITO E PARTIDO ..................................................................................132 5.3. PROPOSTA PROJETUAL…………………..…………………………………...…132 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................161 REFERÊNCIAS .......................................................................................................163 APÊNDICES .. ........................................................................................................167


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1. INTRODUÇÃO


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1. INTRODUÇÃO A água é um elemento essencial à vida, tanto que está a moldar o comportamento do homem desde a antiguidade. Desde as primeiras civilizações, o curso da humanidade traça um paralelo com o trajeto das águas, seja por questões vitais, climáticas, agrárias, logísticas ou de transportes. Após milênios de exploração predatória os cursos d’água encontram-se lesados em um patamar de difícil requalificação, devido ocasionalmente a irreversibilidade natural, custos altos e conflitos civis e políticos. Sendo assim, a preocupação com essa temática é válida não só por razões sociais, ambientais, sanitárias e urbanas, mas também devido ao estabelecimento do equilíbrio e longevidade do planeta. Além disso, espaços públicos criados ao longo de cursos d’água urbanos contribuem para a sustentabilidade das cidades, saúde de seus usuários e vitalidade do ecossistema local. Dessa forma, temse como tema e visão de trabalho a requalificação dos cursos d’água mediante a proposta de criação de áreas livres de uso geral tal como um parque linear a ser inserido ao longo de um canal capixaba negligenciado. O estudo realizado percorrerá enredos que pretendem elucidar a abertura e fechamento do conteúdo abordado. O cenário da atividade está situado no Canal da Costa, no trecho situado na Avenida Délio Silva Britto, no bairro Coqueiral de Itaparica, na cidade de Vila Velha, estado do Espírito Santo; e envolve análise que visa contemplar toda a área de abrangência do canal e futura proposta de intervenção para a região comentada. O assunto escolhido surgiu do iminente colapso dos rios urbanos; da indispensabilidade de revitalização; da prioridade, atualidade, influência, e urgência de reconciliações entre rios e cidades; da relevância à comunidade regional e da relação pessoal que a graduanda estabeleceu durante sua vida com o objeto em questão e com a área de intervenção, na qual é residente e usuária. Vale ressaltar que o município de Vila Velha é carente de recursos urbanos de ampla vivência e utilização, os quais são essenciais a população e ao meio ambiente. A estrutura do trabalho é composta por introdução e; segundo capítulo que abordará a relação do espaço urbano com os cursos d’água; terceiro capítulo cuja intenção é observar a requalificação e reconciliação de rios e cidades; quarto capítulo onde consta o diagnóstico da área de estudo; quinto capítulo que apresentará a proposta projetual e considerações finais; além da exposição das referências bibliográficas e caderno avulso de mapas, apêndices e anexos.


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1.1. JUSTIFICATIVA

Como já preliminarmente abordado, a iniciativa científica presente é uma proposta urbana que se preocupa evidentemente com a vivência coletiva. Além disso, o projeto de estudo engloba parâmetros sociais, culturais, paisagísticos, ambientais e sanitários que defendem o pleito desta pesquisa. Diante a degradação dos recursos hídricos, recorrentes enchentes e alagamentos, e evidente necessidade de revitalização dos cursos d’água a proposta implica diretamente na preocupação com o futuro dos rios urbanos e consequente sustentabilidade das cidades.

1.2. OBJETIVO GERAL

Um trabalho de conclusão de curso pretende em síntese conduzir o estudante em formação através da execução de um estudo complexo e múltiplo cuja pesquisa seja relevante para o autor e comunidade acadêmica. Dessa forma, busca-se nesse trabalho refletir sobre a necessidade, vantagem e importância da requalificação dos cursos d’água através da proposição de um parque linear no local idealizado.

1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Tendo como tema “Requalificação de Cursos D’água através da inserção de Parque Linear” esta análise pretende: •

Estudar e entender a revitalização de canais; sua história, ciência, benefícios e equívocos para identificar as possibilidades mais apropriadas para a área de implantação.

Pesquisar e analisar novos recursos e tecnológicas; e consequentemente propor alternativas sustentáveis e vantajosas nas especificações de equipamentos, recursos e materiais no projeto de intervenção.

Com a proposta, adotar um conceito e desenvolver um projeto que possa: o Revigorar o meio ambiental e social do contexto; o Transformar o cotidiano da população contígua; o Marcar e enriquecer a paisagem cultural da cidade; o Proporcionar bem-estar, cultura, saúde é lazer para a região;


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o Viabilizar um espaço de uso público modelo que promova a integração e iniba a violência urbana. o Diagnosticar a área de intervenção e entorno, bem como sua bacia e sub-bacia hidrográfica. o Projetar um parque linear que reconcilie curso d’água e meio urbano, no caso, o Canal da Costa e o bairro Coqueiral de Itaparica e a Cidade de Vila Velha.

1.4. METODOLOGIA

O Tema de estudo quer trazer ao caso, conceitos e medidas incisivas a sanar o espaço urbano adjacente à Avenida Délio Silva Britto e a cidade de Vila Velha. A estrutura adotada consiste em pesquisa e proposta projetual. Para a feitura do mesmo serão analisadas obras de teóricos do campo, documentos históricos e teses referentes à temática e área. Esse material será o referencial teórico que fomentará a base do trabalho e tornará a pesquisa plausível, tendo em vista que a observação deste conteúdo acadêmico embasa e influencia diretamente a proposta projetual. Ainda no âmbito do ponto de vista dos procedimentos técnicos este estudo abrange uma breve investigação de casos em que intervenções similares foram realizadas no Brasil, América do Norte, Europa e Ásia. Para aprimorar o entendimento do assunto foi necessário decompor exemplos como os projetos de revitalização do Rio Cheonggyecheon, Seul (Coréia do Sul) e do Rio Piracicaba, Piracicaba (Brasil), os quais se provaram primordiais e norteadoras para o desenvolvimento da metodologia de intervenção adotada. Para a fase de Diagnóstico, o trabalho de campo foi essencial para a obtenção de dados conclusivos, para tal tarefa foram usados como ferramentas; relatos de moradores e usuários; coletados no local aleatoriamente e por agendamento; levantamento e observação da área, ao longo de todo o desenvolvimento do estudo; e informações estatísticas e legislações de órgãos como IBGE, IJSN, IEMA, IMEP, Prefeitura Municipal de Vila Velha, entre outros.


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1.4. ESTRUTURA

Esta introdução é uma espécie de guia que pretende orientar o leitor a assimilar o tema e sequência do trabalho e projeto. Representa também a parte inicial do texto, na qual apresentará a delimitação do conteúdo, objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar a respeito do conteúdo tratado, tais como justificativa, metodologia e estrutura. O segundo capítulo, intitulado “A relação do espaço urbano com os cursos d’água” tem a intenção de apresentar o problema e justificar a relevância e necessidade do tema e projeto. A seção 2.1 (Expansão do Solo Urbano e Rupturas Ambientais) tem o objetivo de identificar como a relação entre rio e cidade, outrora tão estreita, se perdeu e a necessidade desta reconciliação. As principais referências são GORSKI (2010), GIORDANI (1963), BONDUKI (2004). Já o foco do item 2.2 (A Contribuição dos Cursos D’água na Qualidade de Vida Urbana) é relatar a função e impacto dos cursos d’água na qualidade de vida dos usuários e no equilíbrio das cidades, abordar sobre corredor ecológico, temperatura e qualidade do ar e compreender a relevância e importância do tema a ser incorporada na proposta conceitual de intervenção. COY (2013), GORSKI (2010) e HOLZ (2012) foram os autores que mais embasaram o referido capítulo. No capítulo 3, nomeado “Requalificação e Reconciliação de Rios e Cidades”, a pretensão é apresentar medidas viáveis relacionadas a problemática descrita no capítulo antecessor e mostrar primeiramente em uma ótica expositiva e depois avaliativa, intervenções que possam ser usados como referência. Dessa forma, será possível concluir sobre as melhores alternativas a serem enquadradas e aplicadas na realidade local em desenvolvimento. O capítulo e composto pelo item 3.1 (Reconciliações Através das Áreas Livres de Uso Público) e item 3.2. (Características Projetuais de Espaços Reconciliados) que contém exemplos de intervenção. As principais referências para toda essa parte do trabalho foram FRIEDRICH (2007), GORSKI (2010) e HOLZ (2012). Já o capítulo 4, é a fase que consiste no processo de “Diagnóstico da área de estudo” que é crucial para o sucesso de qualquer proposta de intervenção urbana. Com os objetivos já devidamente explicados, cabe iniciar o desenvolvimento do projeto e relacionar a conclusão teórica a uma proposição projetual. Neste âmbito, é necessário analisar cuidadosamente a área escolhida, identificando sua história,


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identidade e caraterísticas. Sendo assim, o resultado do diagnóstico gerará considerações que possibilitarão evidenciar vulnerabilidades, potencialidades, vocações e necessidades que funcionarão como fatores determinantes a frente. O capitulo se subdivide nos itens 4.1 (Localização), 4.2 (História e Identidade), 4.3 (Caracterização) e seus subitens 4.3.1 (Aspectos Socioeconômicos), 4.3.2 (Aspectos Ambientais) e 4.3.3 (Aspectos Legais), e 4.4 (Morfologia), cuja subitens são 4.4.1 (Zoneamento), 4.4.2 (Densidade Demográfica) e 4.4.3 (Setorização Morfológica). O trabalho de campo e dados do IBGE, IJSN e Prefeitura Municipal de Vila Velha foram essências para a obtenção desta seção. O quinto capitulo, “Proposta Projetual”, conterá a contextualização da proposta e descrição das medidas e produtos obtidos. Pretende-se neste contexto encontrar soluções ecológicas, urbanísticas e paisagísticas viáveis ao local e pertinentes ao estudo realizado. Por fim, as “Considerações Finais” trarão as conclusões da pesquisa e os resultados do projeto. O intuito é aliar reflexão e síntese para satisfazer e reproduzir todo o enredo do trabalho executado.


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2. A RELAÇÃO DO ESPAÇO URBANO COM OS CURSOS D’ÁGUA


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2. A RELAÇÃO DO ESPAÇO URBANO COM OS CURSOS D’ÁGUA Por direito acessível a todos, a água é um patrimônio comum da humanidade, essencial a vida e a manutenção do equilíbrio do planeta. Seja no âmbito celular ou comportamental, a relação do ser humano é intrínseca à substância. Devido ao ciclo hidrológico, a água é um recurso renovável que permanece constante na natureza, apenas mudando de estado físico. Dessa forma, se dá a formação e continuidade dos aquíferos, nascentes, lagos, rios, mares e oceanos. Cerca de 70% da superfície da Terra é coberta com água; 97% desse quociente se refere à água salgada que é inadequada ao consumo e à indústria, e se encontra nos mares e oceanos. Somente 3% do contingente hídrico do planeta são de água doce, sendo que apenas 0,007% deste

valor

representam

mananciais

superficiais,

facilmente

acessíveis.

(COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS, 2016). O agravante é que considerável parte deste potencial hídrico identificado neste trabalho pelos cursos d’água urbanos foi ou está sendo poluído, se tornando impróprio para o consumo e vivência. O processo de renovação natural das águas não consegue suprir na mesma proporção a demanda de uso e desperdício. Realidade agravada pelas recorrentes formas de uso e ocupação do solo, intensificada a partir da metade do século XX e acentuada pela escassez de chuvas amplamente divulgadas nas mídias recentes. Situação que vem sendo alertada por pesquisadores que destacam a forte relação entre ocupação e qualidade da água urbana. Contexto este que; seja pelo alto valor econômico adquirido, pela escassez de certas localidades, pelos vetores de doenças com transmissão hídrica ou pelas características geográficas de cada região; tornam o acesso à água cada vez mais preocupante. A aparente abundância da primeira metade do século XX camuflava, não só um grave problema de abastecimento, como também a perda histórica e cultural estabelecida entre cidade e rio (GORSKI, 2010). A notória fragilidade de distribuição e existência desse bem vital torna necessária a preservação e restauração das relações entre os cursos d’água das cidades e o contexto urbano nestas inserido antes que maiores perdas tornem o cotidiano dos seres humanos e das cidades impossibilitado. Diante disso, esse capítulo pretende apresentar um breve panorama sobre a relação citada entre expansão das cidades e cursos d’água urbanos e das possíveis contribuições dos mesmos cursos d’água na qualidade de vida urbana. Ao subdividir o capítulo nas duas


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temáticas citadas, pretende-se relatar o processo que culminou na situação vigente, evidenciar o vínculo dos espaços urbanos com os cursos d’água e ressaltar a colaboração destes para a qualidade de vida urbana.

2.1. EVOLUÇÃO URBANA E RUPTURAS AMBIENTAIS

Durante milhares de anos as águas, em seus mais diversos estados físicos, contribuíram para esculpir o relevo da superfície terrestre. Não somente isto, os caminhos que se estendem a montante1 e a jusante2 dos rios, os litorais e as enseadas ajudaram a definir o posicionamento das civilizações e consequentemente a morfologia e localização das cidades. A descoberta da agricultura permitiu a criação dos primeiros assentamentos. Antes nômade, o homem passou a se fixar em terras férteis, localizadas principalmente próximas às margens de rios. Dessa forma, as primeiras civilizações foram estabelecidas, ocasionando uma reorganização social, cultural, religiosa, mitológica e econômica; segundo Giordani (1963). Os rios eram fonte de subsistência, tanto pelo consumo da água, como pela atividade de pesca e irrigação das plantações (GIORDANI, 1963). Também providenciava segurança, pois o limite do curso d’água junto as formações rochosas, periféricas as planícies dos vales configuravam o perímetro ideal para se proteger de predadores e inimigos. Culturalmente, os rios e mares, e a chuva, eram entidades divinas, consagradas e valorizadas pelos povos antigos; as águas escondiam inúmeros monstros e mitos. Os rios também significam um canal de comunicação que depois, com o posterior advento da navegação agregou valor logístico. Ao fazer considerações sobre os cursos d’água como fatores de desenvolvimento, Gorski (2010, p.32) cita:

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Qualitativo de um ponto ou uma área que, ao longo de um curso d’água, fica altimetricamente

acima de outra. Em direção curso acima. Para o lado da nascente de um rio (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2015). 2

Atributo altimétrico de um ponto em relação a outro que está acima (montante), em relação

ao mesmo trecho de drenagem. Para o lado onde correm as águas de um rio (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2015).


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[...]. Para diversas civilizações, sua presença foi, historicamente, sinônimo de riqueza e poder, mas por outro lado, também de fúria, de força da natureza, por seu potencial destruidor e catastrófico, trazendo doenças, arrasando cidades e dizimando populações.

Os rios e seus mistérios estiveram presente durante milênios no imaginário dos mais diversos povos, tendo intenso simbolismo e significância por gerações. A proximidade da água, indicava a localização do sítio. Muitas cidades se desenvolveram às margens dos rios como o berço da civilização, a Mesopotâmia, situada entre os rios Tigre e Eufrates. (GORSKI, 2010). Gorski (2010, p.32-33) sinalizou a gênese e relação dos centros urbanos antigos com os cursos d’água: [...] há também as cidades egípcias nas imediações do Nilo, as cidades da civilização greco-romana, junto à bacia do Mediterrâneo e ao rio Tibre, as civilizações orientais nas imediações dos rios do Himalaia, as cidades mediáveis europeias - Londres, ao longo do Tâmisa; Paris, ao longo do Sena; Viena, ao longo do Danúbio; Praga, ao longo do Vlatva. Também nos Estados Unidos, desde a sua colonização, as diversas aglomerações urbanas se formaram próximo à costa marítima ou aos rios, tidos como eixos de deslocamento rumo a outras regiões ribeirinhas a serem conquistadas.

Outra cidade que sofreu similar implantação foi São Paulo, que “estabeleceuse num promontório3 localizado entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, em sítio próximo a outros dois rios, Pinheiros e Tietê” (GORSKI, 2010, p.34). Com o passar dos anos as cidades evoluíram, sofrendo inúmeras transformações urbanas que se intensificaram nos países desenvolvidos a partir dos séculos XVIII e IX após a revolução industrial e no período das grandes imigrações. A revolução industrial é marcada pelo êxodo rural e pela superlotação das cidades que aliados a falta de saneamento e planejamento, ocasionou a proliferação de doenças, pragas, mal odores e poluição massiva dos cursos d’água.

3

Local mais elevado; saliência ou elevação. Cabo composto por rochas muito elevadas e por

penhascos (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2015).


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Figura 1 - O Sena, Paris (França) foi declarado como quase morto cerca de 50 anos atrás

Fonte: http://www.saojoao2050.com.br/ (2016) Figura 2 - O Tâmisa, Londres (Inglaterra) era conhecido como esgoto monstro em 1850

Fonte: http://www.saojoao2050.com.br/ (2016)

De forma geral, o processo de urbanização veio a eclodir nos países subdesenvolvidos tardiamente, a partir das décadas de 1930 e 1940, consagrando consequências distintas as que já se tinha ocorrência. Segundo Bonduki (2004), no Brasil, o movimento imigratório e expansão do mercado de trabalho, foi influenciado pela abolição da escravatura (1888), necessidade de mão de obra assalariada, e refugiados das duas grandes guerras. Os imigrantes causaram forte pressão nas pequenas cidades da época que eram desprovidas de infraestrutura para acomodar as novas famílias. Em decorrência a expansão e adensamento dos centros urbanos e da ausência de oferta de moradias, saneamento básico e políticas públicas por parte do Estado; as áreas marginais, de mangues e alagáveis começaram a ser ocupadas. Esses fatos consagram efetivamente o início das rupturas ambientais.


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Tal fenômeno ocorreu principalmente no estado de São Paulo e capital, onde o crescimento do comércio causou uma expansão acelerada e indiscriminada que atreladas a falta de gerenciamento público, pluralizou as ocupações irregulares, loteamentos inadequados, drenagens e canalizações de córregos, popularização de alojamentos, cortiços e moradias improvisadas; provocando caos nos serviços de mobilidade e saúde pública da época. (BONDUKI, 2004) A respeito do crescimento das cidades brasileiras Bonduki (2004), traça a trajetória do desenvolvimento urbano no Brasil com foco nas habitações de caráter social - que evoluíram de cortiços, às vilas, habitações populares, conjuntos habitacionais, com a intervenção do estado, setor privado e particular até a formação das favelas - apontando o processo de formação e aceitação por parte da população e dos poderes públicos, dos aglomerados subnormais e das habitações precárias, das soluções habitacionais de baixo custo que põe em detrimento usualmente as áreas ribeirinhas de encostas e várzeas, e que são marcadas pela poluição das águas, assoreamento, enxurradas, desmoronamento e alagamentos. Além da demanda por novas edificações e moradias, a urbanização também trouxe o problema da mobilidade urbana que tende a tomar considerável parte do espaço territorial das cidades. O processo de crescimento urbano tem intensificado as sobreposições e supressões dos canais e rios urbanos, que passam a ser desviados de seus cursos naturais, retificados e na maioria das vezes cobertos. Outros acontecimentos que provocaram danos aos recursos hídricos durante o processo de urbanização foram os sistemas de drenagem associados a excessiva impermeabilização do solo urbano. Os rios e seus afluentes, bem como o território natural que contribui para o escoamento das águas para um corpo d’água principal, formam o que se entende como Bacia Hidrográfica (GORSKI, 2010). Gorski (2010) explica que, em um ecossistema fluvial, uma bacia hidrográfica deveria cumprir naturalmente o ciclo das águas, entretanto, quando notam-se distúrbios no processo cíclico, sob a incidência das águas pluviais e dos assentamentos urbanos, entende-se que esta bacia hidrográfica fica comprometida. Quando a capilaridade de uma bacia hidrográfica se reduz, dá-se o encurtamento do ciclo hidrológico, em que a proporção de infiltração é bem menor que a de evaporação, ocasionando a contribuição concentrada de deflúvios e propiciando a incidência de inundações (GORSKI, 2010, P.44).


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Isso decorre normalmente por fatores externos e antropológicos, como o aquecimento global, a ocorrência de ilhas de calor, além de intervenções urbanísticas como excessiva pavimentação do solo, extinção de córregos e afluentes, aterros, desmatamento e retificação de canais. Outro fator desfavorável é a poluição do meio ambiente que leva meios fluviais saudáveis que alimentam os lenções freáticos e as bacias hidrográficas em grandes rios contaminados. Novamente, esse cenário configura, áreas passíveis a submissão de ações que garantam a restauração dos cursos d’águas promovendo a conexão dos rios com as cidades, e também com seus espaços públicos, usuários, identidade e paisagem cultural. Exemplo disso, é o Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte (MG), DRENURBS; que abdica da canalização como única solução para a drenagem e tenta tratar os recursos hídricos no meio urbano priorizando a reintegração dos cursos d’água à paisagem. As premissas do programa estão na adoção de calhas vegetadas, implantação de parques e áreas de preservação permanente ao longo dos cursos d’água; implementação de bacias de detenção, integração dos corpos d’ água na paisagem urbana; participação da população nos processos de decisão, incentivo a conscientização e estímulo às ações de valorização dos recursos hídricos como componentes indispensáveis à qualidade de vida urbana (CIDADES, 2013). Em suma, um longo processo predatório tornou os Rios; um dos meios mais acessíveis de coleta, vivência e abastecimento de água; em um ambiente inóspito, degradado e de recursos limitados. Outrora sinônimo de vida, natureza, trabalho e transporte; rios e córregos foram corrompidos e quando não substituídos por canais de drenagem, vias e áreas edificáveis. Pode-se dizer que os rios urbanos foram subjugados e levados ao esquecimento evidenciando as rupturas ambientais Como se pôde constatar, por séculos a formação dos centros urbanos através da interferência humana pôs em detrimento o patrimônio natural, resultando na ruptura física e cultural dos rios e das cidades. Esse conceito permaneceu velado até que consequências climáticas levaram a sociedade internacional à conscientização. Na segunda metade do século XX, principalmente a partir da década de 80-90, o mundo passou a discutir sobre temáticas como sustentabilidade e meio ambiente na busca por soluções ecológicas de conservação e restauração. A atual reunião de esforços para a transformação dos cursos d’água urbanos surgiram a partir dessa preocupação, como apontado por Gorski (2010).


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Ao analisar as alterações morfológicas nos sistemas fluviais e identificar o isolamento de rios e cidades; Gorski (2010, p.74) vê a reconciliação de cursos d’água e meio ambiente como indispensável: [...] é notável o interesse crescente pelo tema de recuperação de áreas degradadas e não só no meio acadêmico. A mídia tem veiculado notícias sobre córregos em processo de despoluição, implementação de parques lineares, remoção de população das áreas ribeirinhas ou de proteção de mananciais, demonstrando, assim, preocupação com as áreas de risco para a população e para o ambiente urbano.

Isso acentua o processo de conscientização que implica atualmente na válida preocupação mundial com os rios urbanos e frentes d’água nas cidades. Também justifica o tema da iniciativa cientifica em vigor, bem como sua relevância. A água que é de direito de toda a população está a cada momento se distanciando dos cidadãos e das cidades tanto como bem de consumo, quanto como espaço de vivência. A urbanização inapropriada que antes esculpiu os espaços urbanos antes do fomento, estipulação e fortalecimento das normais ambientais, ainda parece resistir ao tempo. O desrespeito, impunidade e descumprimento das leis ambientais colaboram e agravam o atual estado de ruptura; a legislação ambiental brasileira é em tese referência mundial, no entanto, tal mérito não se aplica a imposição de suas normas. A Legislação Ambiental Brasileira estabelece a necessidade de preservação do entorno de cursos d’água que estabelece as seguintes determinações. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2008), desde o código florestal, Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, é proibida a ocupação das áreas marginais de curso d’água cuja dimensionamento da faixa de proteção varia de acordo o seu porte. A política Nacional de recursos hídricos foi instituída pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, enquanto a Agência Nacional de Água (ANA) foi contemplada pela Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. A disposição da classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como o estabelecimento das condições e padrões de lançamento de efluentes foi estabelecido pela Resolução do CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005 (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2008). Ainda sobre a questão da legislação ambiental e seu estado de descumprimento cabe relatar sobre a informalidade e ilegalidade nas metrópoles brasileiras no final do século XX, onde Maricato (2003) destaca a relação entre


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desigualdade social, segregação territorial e meio ambiente. A urbanização brasileira que incialmente surgiu sob status utópicos, hoje avança gradativamente a um cenário de distopia. Os contrastes decorridos ao longo do século passado, não se limitam apenas ao conceito apresentado como também a realidade social urbana discriminatória (MARICATO, 2003). De acordo Maricato (2003) pode-se apontar como agentes causadores da segregação social e degradação ambiental: a ilegalidade diante a posse da terra; a aparente condescendência do estado às ocupações irregulares; a incapacidade das esferas municipais e uso de força arbitrária para implementação política; a prioridade de ocupação de áreas de proteção ambiental por parte das camadas populares; a tolerância pública iludida pela propaganda de “proteção” do direito de moradia da população marginalizada que acaba por incentivar uma campanha humanitariamente desrespeitosa, que evita o conflito e o custo inviável de remoção e mantem a clássica cultura do privilégio que aplica a lei à revelia, priorizando a ocupação imobiliária, os investimentos públicos regressivos e limita a população carente às áreas periféricas e ambientalmente vulneráveis. Dessa forma, o exposto contribui para a consolidação das ocupações ilegais e precárias em áreas protegidas, ainda prevalecidas pela ausência de políticas públicas eficazes (MARICATO, 2003). Contudo, pode-se constatar que a desorganização da evolução urbana ocasionou as rupturas ambientais (degradação ambiental), que estão atreladas e/ ou ocasionam também rupturas de ordem legal (ocupações irregulares), física (barreiras, supressão ambiental no cenário urbano), sanitária (esgoto, proliferação de mosquitos, mal odores e doenças), afetiva (falta ou perda da conexão estabelecida entre usuário e lugar), entre outras; da sociedade com o espaço urbano e meio ambiente. Essa é a problemática exposta pela pesquisa vigente que tem primeiramente o intuito de alerta e estudo de soluções, e posteriormente análise do conjunto de rupturas submetidas às potenciais medidas reconciliadoras no âmbito da cidade de Vila Velha na etapa de projetual apresentada a frente.


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2.2. A CONTRIBUIÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NA QUALIDADE DE VIDA URBANA

A associação das cidades com os corpos d’água advém de tempos remotos e apesar da atenuação desta conexão, como se pôde conferir na seção precedente; os cursos hídricos urbanos representam grande importância cultural, econômica, social, ambiental e sanitária à sua contiguidade. A verdade é que os espaços urbanos estabelecem uma relação de dependência com a água, independente da consciência disto. Sobre o mesmo Holz (2013, p. 48), pontua que: A importância do contato – visual e físico – com as águas nas cidades vai muito além da necessidade de abastecimento. A presença dos cursos d’água urbanos proporciona melhoria nas condições ambientais e na qualidade de vida da população, principalmente devido ao potencial de lazer e à qualidade da paisagem. Por exemplo, um percurso na cidade feito à beira d’água é bem mais agradável do que entre massas completamente edificadas. Isso porque os rios em meio urbano contribuem para o conforto ambiental, na medida em que atenuam a densidade das massas edificadas e auxiliam no escoamento dos ventos, interferindo no microclima local.

Os rios podem exercer função ativa na qualidade de vida urbana, pois promovem conscientização ambiental, convívio coletivo, espaços de vivência, contemplação,

cultura,

lazer,

entretenimento,

que

incidem

diretamente

no

comportamento popular e saúde pública. Como já explanado, os cursos d’água estão diretamente ligados a história, cultura e identidade de um lugar; os rios comumente dão lar e subsistência às populações que habitam suas margens e, portanto, estabelecem uma relação direta e íntima de inestimado valor funcional e simbólico. (HOLZ, 2012). Na perspectiva urbanística, as funcionalidades que os rios exercem no cotidiano das cidades condiciona a interação da cidade com os mesmos. Coy (2013) aponta seis funções principais que caracterizam a relação entre os espaços urbanos e os cursos d’água. A função de trabalho; principalmente nas áreas ribeirinhas e nos portos que, por sua vez, exerce função econômica na memória coletiva. A função de transporte, normalmente para carga, pessoas ou excepcionalmente em menor escala para passeio, ainda que se considere mesmo que sendo inadequado, as


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autoestradas e avenidas marginais. A função de moradia; primeiramente por artesões, depois pela burguesia e atualmente por parte privilegiada da população devido o preço elevado das localidades. E por fim, a função cultural e de lazer, onde os elementos que compõem a paisagem dessas regiões expressam identidade urbana e potencial para diversas atividades recreativas. Destaca-se na função cultural e de lazer citada acima as opções de interação coletivas que envolvem o esporte, a vivência e a celebração consagradas em estruturas permanentes ou temporárias, como as feirinhas artesanais e orgânicas, as festas religiosas e comemorativas como as de São Pedro e as de verão Europeias. Figura 3 - Mainuferfest em Frankfurt, Alemanha

Fonte: http://www.guide-frankfurt.com/ (2016) Figura 4 - Regata de remo disputada na Baía de Vitória em 1992, esporte símbolo da cidade hoje em decadência

Fonte: http://www.gazetaonline.com.br/ (2015)


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Adicionam-se as funções citadas por Coy (2013), as ambientais que se constituem em potenciais corredores ecológicos4, destacados por Gorski (2010, p. 45), “Como habitat da fauna e flora, as matas ripárias5 são consideradas ecossistemas muito ricos pela diversidade de espécies que abrigam”. Segundo Holz (2012), os rios exercem importante missão ecológica e biológica pois favorecem a biodiversidade e a existência da fauna e da flora nas cidades. Para complementar tais contribuições Gorski (2010, p.44) relata: A vegetação atua na qualidade ambiental como fator de renovação do oxigênio, fixador de partículas em suspensão, amenizador do clima, gerador de sombreamento e de umidade, pelo processo de evapotranspiração, coadjuvante no sistema de drenagem e na prevenção de inundações. Retém a água, protege o solo contra a lixiviação e erosão, além de proteger do assoreamento as margens dos rios, assegurando a filtragem de suas águas e evitando a compactação do solo ao redor das nascentes.

Para exemplificar o afirmado, e citar uma referência da articulação das funções indicadas, pode se citar o caso da recuperação do canal Cheonggyecheon, Seul, Coreia do Sul; que segundo apontado por Holz (2012), resultou numa experiência urbana vantajosa, onde houve uma valorização econômica da região ribeirinha associada a uma melhora significativa na qualidade do ar e da temperatura, com registros de baixa de 3,6° C de temperatura no verão, melhorando o conforto, além do aumento na incidência da fauna e flora no lugar, contribuindo não só para o meio ambiente como também para a estética da paisagem da cidade sul-coreana. A integração das funções exercidas pelos rios promove a vitalidade dos cursos d’água, sendo assim, as mesmas podem e devem ser incentivadas. Outros exemplos bem-sucedidos de requalificações fluviais e articulação de duas ou mais funções são o rio Reno, na Suíça, França, Alemanha e Holanda; rio Isar, na Alemanha; e rio Tâmisa, na Inglaterra, a requalificação fluvial urbana na cidade olímpica de Londres; 4

Corredores Ecológicos são áreas que através da associação de diferentes unidades

protegidas e espaços com usos do solo variados tem a função de proteger a natureza, prevenir o comprometimento das florestas e conservar ecossistemas prioritários da Amazônia e Mata Atlântica (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2016). 5

Ripária, floresta ou mata ciliar, floresta galeria, mata beiradeira, mata de beira-rio, designam

a vegetação presente ao longo dos cursos d‘água (GORSKI, 2010).


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como se pode identificar a seguir. (AQUAFLUX, CONSULTORIA AMBIENTAL EM RECURSOS HÍDRICOS, 2016). •

Rio Reno (Suíça, França, Alemanha e Holanda); A primeira experiência a ser apontada é quanto ao rio Reno, cuja gestão e

gerenciamento dependem de uma ação conjunto, uma vez que o curso d’água ultrapassam as barreiras da Suíça, França, Alemanha e Holanda. Conhecido no passado como Rio de Ouro, devido a abundância de peixes, a despoluição possibilitou o restabelecimento da vida aquática é controle de enchentes. Destaque para as funções ambiental, econômica e de transporte (UFMG, 2010). •

Rio Isar (Alemanha); Com a revitalização das margens do rio Isar, na cidade de Munique

(Alemanha), as margens recuperaram o aspecto natural, os animais e peixes voltaram a habitar as águas e o processo de despoluição realizado tornou o Isar balneável, o que é feito no verão. O rio também é usado para o surfe quando há uma vazão elevada. Destaque para as funções ambiental e, cultural e de lazer (UFMG, 2010). Figura 5 - No verão o Rio Isar e balneável e recebe inúmeros visitantes

Fonte: http://www.saojoao2050.com.br (2016)

Rio Tâmisa (Inglaterra) Os ingleses foram pioneiros na requalificação de rios, pois a intervenção no

Tâmisa data da segunda metade do século XIX. O Tâmisa atualmente é primordial para a vida selvagem e para as pessoas. O rio é um dos cinco maiores estuários da Europa Ocidental, recebe inúmeras espécies de pássaros que migram no inverno; ele também é frequentado por mamíferos marinhos, tartarugas e peixes sendo um importante berçário para os filhotes do último. Hoje a vida aquática é rica e promove


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a pesca comercial e recreativa. As águas do Tâmisa são claras o bastante para incentivar a prática do remo e vela. O renascimento do rio é celebrado pelos londrinos que não só frequentam o local como realizam festivais, trabalhos voluntários de limpeza, e projetos de educação ambiental para conscientizar a população e perpetuar a conservação do curso d’água. Destaque para a articulação de todas as funções: de trabalho, função econômica, de transporte, moradia, cultural e de lazer, e ambiental. (UFMG, 2010). Figura 6 - O Rio Tâmisa exerce ao longo de seu leito a integração das funções

Fonte: http://www.saojoao2050.com.br (2016)

Como visto, a relação dos rios com a paisagem, vegetação e meio urbano incidem diretamente na forma de percepção e valorização da área de seu entorno e comprovam a positiva contribuição dos cursos d’água na qualidade de vida urbana. Sobre o mesmo, Holz (2012, p. 49) conclui que: Os rios, além de fornecerem um recurso vital para a humanidade, possuem valor ecológico e ambiental, histórico, social, cultural, econômico, estéticopaisagístico, de identidade, entre outros. Assim sendo, para a manutenção da qualidade de vida nas cidades, é de suma importância a recuperação das condições ambientais das águas urbanas.


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Ainda sobre o assunto, Holz (2013, p.51-52) comenta que: Para que sejam efetivamente preservados, os cursos d’água urbanos precisam fazer parte do cotidiano da população, e para tanto, uma boa alternativa é transformá-los em estruturas de lazer, tornando-os acessíveis a toda a sociedade e impedindo a ocupação irregular. A valorização das margens, através da configuração de espaços que promovam a sociabilidade, e o sentimento de pertencimento por parte da sociedade são instrumentos valiosos para a proteção dos recursos hídricos.

Dessa forma, é notória a interação, influência e correlação dos elementos estudados. As vantagens que um ecossistema saudável pode provocar no ambiente urbano é destacada pelos autores citados. A necessidade de preservação e recuperação dos mananciais, rios urbanos e suas áreas limítrofes ultrapassa à vigência das cidades e ganham propriedade prioritária. Sendo assim, deve-se discutir proposições possíveis para a revitalização desses espaços.


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3. REQUALIFICAÇÃO E RECONCILIAÇÃO DE RIOS E CIDADES


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3. REQUALIFICAÇÃO E RECONCILIAÇÃO DE RIOS E CIDADES A ameaça à manutenção dos recursos hídricos; o afastamento entre a cidade, os usuários e os seus canais e rios; e a função dos corpos d´água na natureza, no auxílio ao equilíbrio do planeta, na saúde dos seres vivos e na vitalidade do meio urbano; vistos no capítulo anterior, são questões que motivam o estudo vigente e apresentam a relevância do assunto. Por conseguinte, a problemática é algo que há décadas ocasiona debates, preocupa nações e repercute entre estudiosos pela busca de soluções. Apesar da aparente contemporaneidade a preocupação com o meio ambiente ocorre desde séculos atrás. No entanto, esse contexto ganhou maior destaque no século XX (GORSKI, 2010). Conforme Gorski (2010) destaca, os conceitos que se referem aos conflitos ambientais foram moldados em três etapas: salvaguardas ambientais (Década de 1960 a 1970); gestão de recursos (Décadas de 1970 a 1980) e desenvolvimento sustentável (Década de 1980 até o presente). Dessa forma, a partir dos anos 60 a água e o meio ambiente passaram a motivar diversos eventos mundiais que buscavam compreender e discernir sobre soluções, diretrizes, leis e ações a respeito do tema. Segundo Gorski (2010) a I Conferência das Nações Unidas sobre os recursos hídricos (Mar del Plata, Argentina, 1977), a ECO-92 (Rio de Janeiro, Brasil, 1992) e a Conferência Internacional da ONU sobre água e Meio Ambiente (Dublin, Irlanda, 1992) contemplaram respectivamente, o Plano e Ação de Mar del Plata, a Agenda 21 e a Declaração de Dublin; que ajudaram incisivamente a moldar os atuais termos e noções referentes a gestão de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável. Ainda em Dublin, vale destacar segundo Gorski (2010, p.97) a noção e recomendação da “relação entre a água e a diminuição da pobreza e das doenças; [...]; a conservação e o reaproveitamento da água; o desenvolvimento urbano sustentável; [...]; a proteção dos sistemas aquáticos”; e também o reconhecimento da água como agente de crises geopolíticas e de saneamento básico; da preocupação com a proteção dos recursos hídricos e da necessidade de recuperação dos corpos d’água (GORSKI, 2010). Após vinte quatro anos, a herança das conferências se encontra nas inúmeras pesquisas, teses, estudos, trabalhos, projetos e intervenções nos quais serviu de alerta e inspiração; sendo que aqui estão em foco as propostas de caráter arquitetônico aliadas a ações pautadas na educação e desenvolvimento sustentável.


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3.1. RECONCILIAÇÕES ATRAVÉS DAS ÁREAS LIVRES DE USO PÚBLICO

Em busca de reconciliar os cursos d’água e seus espaços urbanos adjacentes, várias estratégias podem ser utilizadas. Neste capítulo, será possível conhecer essas alternativas teóricas e práticas. Dependendo da escala, local, contexto, uso e danos, as opções podem interceder de forma mais ou menos invasivas. Cabe enfatizar a indispensabilidade da bacia hidrográfica, estipulada pela Lei nº 9.433/97 como a principal unidade de planejamento e gestão ambiental; essencial para a recuperação do meio ambiente e controle ecológico (GORSKI, 2010). Ainda que se acredite também que o Plano de gestão de microbacias pode ser tão ou mais efetivo, em vista das dificuldades técnicas, econômicas, institucionais e legais encontradas em âmbito da bacia hidrográfica (GORSKI, 2010). Para a reconciliação dos rios com as cidades, algumas medidas de baixo impacto podem ser opções viáveis para corrigir problemas como contenção de inundações e sistema de drenagem. Gorski (2010, p.99) afirma que “Há uma ampla gama de medidas de planejamento e gestão, referentes às bacias hidrográficas, capazes de articular planejamento urbano e gerenciamento hídrico”. Ainda de acordo com Gorski (2010, p. 99) vários autores indicam “a integração do plano de drenagem ao planejamento e uso do solo, mediante a aplicação de medidas estruturas e não estruturais”. As medidas não estruturais se baseiam em ações preventivas e de longo prazo que possuem o intuito de impedir o aumento das vazões. As principais ações têm o objetivo de combater a poluição difusa e enchentes, alertar e prevenir contra inundações e planejar a recuperação após as mesmas, com ferramentas como a educação ambiental, o código de obras e também normas e regulamentos quanto ao uso e ocupação do solo. Essas formas de medidas são fundamentais pois atuam principalmente na conscientização e educação da população, portanto contribuem para a futura longevidade e proteção dos cursos d’água (GORSKI, 2010). “As medidas não estruturais podem ser eficazes em prazo mais longos e com custo mais baixo” (GORSKI, 2010, p. 45). Ainda nesta vertente ganha-se destaque o conjunto de medidas não estruturais e não convencionais que envolvem a aplicação de medidas de controle de drenagem urbana no lote, no loteamento urbano e nos principais rios urbanos. As operações de microdrenagem e macrodrenagem encontram argumento em virtude à escala


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municipal; que quando integradas a uma série de procedimentos conhecidos como Green Infrastructure6 pode ser mencionado como intervenções de baixo impacto. O planejamento e projetos de baixo impacto sobre o meio ambiente representam a adoção de medidas sistematicamente aplicadas voltadas a micro escala, que intercedem sobre o aumento da permeabilidade do solo, racionalização do consumo de água e manejo sustentável (GORSKI, 2010). Em contrapartida, encontra-se a defesa das medidas estruturais que se atribuem a alternativas que visam aumentar a capacidade de vazão dos cursos d’água e retenção dos deflúvios para retardar o escoamento. Isso compreende obras de engenharia intensivas ou extensivas. As medidas estruturais intensivas requerem de grandes investimentos e são estruturas concentradas, pontuais ou lineares, estas possuem basicamente quatro objetivos: aceleração do escoamento; retardamento do fluxo; desvio do escoamento e adequação das edificações. Já as medidas estruturais extensivas, tratam-se de tentativas de armazenamento e recuperação de partes da bacia hidrográfica independentemente do tamanho da área de intervenção. A desvantagens desse tipo de medida principalmente as estruturais intensivas é que as transformações realizadas comprometem ou mesmo condenam a bacia hidrográfica e a população adjunta. Além disso, ocasionalmente essas medidas tem efeito reverso, tornando ainda mais danoso o efeito das águas pluviais (GORSKI, 2010). A alternativa de estudo se baseia em métodos convencionais, que usualmente, envolve ações projetuais e grandes intervenções. O elemento reconciliador vigente trata-se de um parque linear em área alagável; sendo uma medida estrutural que age sob a sub-bacia em uma escala local/ municipal, que tem potencial para otimizar a bacia hidrográfica e incentivar as medidas não estruturais. A proposta visa a valorização dos rios como elementos estruturadores das cidades aliados a aplicação de parques lineares como instrumentos de programas socioambientais de planejamento e gestão ambiental. O rio e o parque funcionam 6

Green Infrastructure é uma forma de abordagem que incide sobre as águas pluviais

promovendo adequado manejo e gestão, incentivando a reutilização natural da chuva, e ajudando a manutenção do Ciclo hidrológico. As medidas defendidas agregam benefícios ambientais e ecológicos que melhoram a qualidade do ar e da água, preservam a fauna e a flora, amenizam as mudanças climáticas e consequentemente promovem qualidade de vida. Algumas ações são: pisos drenantes e pavimentação porosa, jardins de absorção, áreas verdes em áreas alegáveis, tetos verdes entre outras (US EPA, 2017).


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como um educador que promove programas socioambientais e assimilação histórica e cultural das cidades. (FRIEDRICH, 2007). Segundo Friedrich (2007) o parque linear difere de um parque comum, pois tem a intenção de aumentar a sensação espacial através do prolongamento da paisagem e relação de espaços abertos e fechados, promovendo conexão com o meio urbano. A definição de parque linear se difere de autor para autor, porém é de senso comum caracteriza-lo como espaço aberto, livre, de baixa manutenção, voltado para múltiplos usos, tais como: estéticos, ecológicos, esportivos e culturais; contudo de essência mais lúdica e contemplativa, ligada a paisagem e a conservação e preservação dos recursos naturais. Os parques lineares possuem função de drenagem; proteção e manutenção do sistema natural; educação ambiental e de coesão social; estruturação da paisagem urbana; desenvolvimento econômico; corredor multifuncional; lazer; política e ambiental. Figura 7 e 8 - Exemplo Função de Drenagem: Bacia de Estocagem de Água Pluvial

Fonte: MASCARÓ (2005)

A intenção da proposta a ser apresentada é incentivar e integrar as funções citadas, principalmente as Ambientais e de Cultural e Lazer, de modo a revigorar o meio urbano e devolver o espaço à cidade e a população. A função de Drenagem possuirá caráter primordial na questão devido a área de intervenção ser marginal à cursos d’água e sofrer com problemas constantes de alagamento. De antemão podese afirmar que para solucionar o problema citado pretende-se aumentar a permeabilidade do solo. Uma das medidas que serão adotadas para a garantia do mesmo será o dispositivo urbanístico Bacia de Estocagem7 (Figura 7 e 8). 7

As Bacias de Estocagem permitem a retenção dás águas pluviais em uma determinada área,

são definidas como reservatórios à céu aberto que retardam o escoamento da água para as galerias e cursos d’água, podendo ser do tipo seca e do tipo com água em época de estiagem. Ambas as formas apresentam grande potencial urbanístico e de recreação. (FRIEDRICH, 2007).


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3.2. CARACTERÍSTICAS PROJETUAIS DE ESPAÇOS RECONCILIADOS

Os espaços reconciliados apresentam grande complexidade, pois são fruto de interferências pontuais à problemática específica de cada ambiente e à sua história, perfil e localização. Dessa forma, uma série de condicionantes relacionadas a cada caso influenciam no modo de ação, que por sua vez devem promover a sustentabilidade e eficiência do meio, através da adoção de planos e medidas apropriadas. Sendo assim, o objetivo desta seção é apresentar as possibilidades e características recomendadas para os espaços urbanos. Além disso, busca-se ilustrar e identificar os métodos de intervenção de alguns exemplos realizados com o intuito de resgatar a relação da cidade e cursos d’água. Os projetos referenciais que ganharam destaque foram as experiências realizadas no Rio Cheonggyecheon, Seul (Coréia do Sul) e no Rio Piracicaba, Piracicaba (Brasil), onde o primeiro agregou à esta proposta em termos projetuais e o segundo a nível de planejamento. As principais indicações para os espaços urbanos, consideradas nessa proposta de reconciliação, contam a seguir. RECOMENDAÇÕES PARA ESPAÇOS URBANOS As áreas livres de uso público e espaços urbanos são bens comuns de toda a população e, portanto, devem ser valorizados, incorporados e destacados no cenário das cidades (GEHL, 2014). Para o sucesso e efetividade dessas áreas coletivas Gehl (2014) acredita que a esfera urbana tanto a ambito físico como em planejamento deve priorizar os sentidos, usuários e a escala humana. Ainda segundo o autor, a cidade deve propiciar o encontro e permitir a realização de atividades seja de cunho obrigatório (necessárias), como também voluntário (opcionais), que por exemplo, divergem respectivamente entre ir trabalhar ou apreciar a paisagem. Segundo Gehl (2014) o grupo de atividades urbanas mais atrativos à comunidade são de ordem opcional, que estão atrelados a recriação e consequentemente às atividades sociais e qualidade de vida. Para assegurar a plenitude do uso dos espaços públicos, o ambiente deve se preocupar com fatores como clima agradável, acessibilidade e infraestrutura. Pode-se afirmar que o relacionamento entre cidade e cidadão é cíclico; o que muitas vezes é oferecido pelo meio pode ser absorvido pelo usuário, interferindo assim nos hábitos, costumes,


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cultura, modo, sensação e até personalidade dos cidadãos (GEHL, 2014). Dessa forma, seria possível facilitar o cumprimento das funcionalidades e potencialidades das áreas de uso público e tornar as cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis (GEHL, 2014). Figura 9 - Esquema que representa a relação entre a qualidade dos espaços externos e o estimulo as atividades opcionais e sociais.

Fonte: GEHL (2014)

Em relação aos espaços para as pessoas, Marcus e Francis (1998) afirmam que historicamente, as praças e parques possuem grande significância pois destinavam-se aos locais onde a população realizava atividades como comércio, comunicação e política. Todavia, se percebeu o enfraquecimento dessas vertentes devido à violência urbana e a privatização do modo de vida da maioria da população. Sendo assim, os espaços urbanos vêm se tornando cada vez mais atrativos ao grande público (MARCUS; FRANCIS, 1998). Para reverter esse panorama negligente e assegurar o sucesso dessas áreas livres de uso público, as autoras acreditam que um espaço para pessoas deve ter os seguintes princípios: •

Ser bem localizado onde seja facilmente acessível e visto por outros usuários.

Transmitir claramente a mensagem que o local está disponível para ser usado e é feito para ser usado.

Ser bonito e cativante tanto no interior e exterior do parque.

Ser mobilhado para suportar prováveis e mais variadas atividades.

Providenciar um sentimento de segurança para os usuários.

Oferecer alívio para as ruas urbanas onde for apropriado e realçar a saúde e bem-estar dos usuários.


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Ser orientado para as necessidades do grupo de usuários mais prováveis do espaço.

Encorajar outros subgrupos de forma que nenhum seja perturbado pelo outro.

Oferecer um ambiente que é fisicamente confortável para usar em qualquer tempo e clima seja sol, chuva e vento.

Ser acessível para pessoas deficientes e crianças.

Dar suporte filosoficamente ao programa adotado pelos gerentes do espaço.

Incorporar componentes que os usuários possam manipular ou mudar.

Permitir a abertura engajamento do público seja individualmente ou em grupo no envolvimento do design, construção, manutenção do espaço.

Ser facilmente e economicamente mantido no limite do que é aceitável e esperado para o local em especifico.

Ser moldado com igualdade de atenção para agregar valores como paisagem, arte, esportes e convívio social. De acordo Marcus e Francis (1998) o atendimento a essas orientações podem

garantir conforto, acessibilidade, suporte, significância e beleza para todos os tipos de públicos. Quanto a definição do design dos espaços, as indicações das autoras, identificam a consideração de fatores como: localização, dimensões, vegetação, microclima, complexidade visual, arte urbana, usos e atividades (feminino e masculino), potencialidade de serviços, mobiliários e atividades, conexões e trânsitos, nichos e áreas abertas, circulação e fluxos, desníveis, informações e sinais, manutenção e facilidades. Ainda sobre as recomendações de Marcus e Francis (1998), de modo geral os espaços livres de uso público precisam de uma configuração natural rica e variada estética e ambientalmente para maximizar o desejo e o sentimento de contato com a natureza. Também é necessário: •

Considerar o histórico do parque e plantas nativas.

Providenciar sinais interpretativos.

Permitir espaço para árvores que não precisem de poda.

Providenciar meandros e caminhos ao longo do cenário natural.

Criar uma área do parque onde a vegetação possa crescer naturalmente.

Providenciar mobiliário para os usuários realizaram atividades ao ar livro como lerem, comerem, estudarem, entre outras.


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Providenciar algumas áreas ainda no perímetro do parque protegidas do barulho e atritos urbanos, sendo desnecessário acessar o interior do parque para tal.

Considerar o microclima da área, promover sombras e bancos protegidos em áreas verdes para apreciar a paisagem.

Promover a socialização, tanto aberta como privada.

Permitir o parque o uso em grupo: locais de fácil acesso e descrição, posicionamentos dos assentos para facilitar a comunicação, bancos móveis, mesas para piqueniques, providenciar áreas livres para pessoas se agruparem.

Providenciar atrativos visuais para indivíduos que apenas transitam pelo parque.

Pensar em cada tipo de grupo: crianças, adolescentes, adultos, aposentados e idoso, portadores de necessidades especiais, entre outros.

Permitir a prática de esportes e atividades ao ar livre.

Permitir atividades como recreações, jogos de quadra, jogos de gramado, corrida, ciclismo, atividades informais como tomar sol, e atividades não convencionais como passear com animais, skate, patins, etc.

Usar ferramentas como sinalização, iluminação, barreiras e vegetação para evitar vandalismo e a permanência de moradores de rua. As recomendações apresentadas se bem articuladas podem significar o êxito

e perpetuação dos espaços públicos que como já relatado tende a beneficiar a qualidade de vida urbana. Assim como foi estabelecido para esta proposta, as considerações de Gehl (2014) e Marcus e Francis (1998) já ajudaram a fomentar a base de inúmeros projetos de intervenção pelo mundo, sendo exemplos do mesmo as revitalizações ocorridas no Rio Cheonggyecheon, Seul (Coréia do Sul) e no Rio Piracicaba, Piracicaba (Brasil). A seguir, é possível identificar como os exemplos citados influenciam este trabalho. O método para avaliação dos casos destacados se encontra na exposição da situação, transformação e adoção de planos e medidas empregadas em paralelo ao possível aproveitamento inerente à realidade de Vila Velha. O objetivo também tem caráter avaliativo em relação ao enquadramento nas recomendações dos autores adotados como referência.


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REVITALIZAÇÃO DO RIO CHEONGGYECHEON - SEUL (CORÉIA DO SUL) A obra de revitalização do Rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coréia do Sul consiste em uma intervenção que buscou reconciliar a cidade com o rio, outrora suprimido no cenário urbano. A recuperação do curso d’água é considerada uma referência mundial em humanização de cidades, não só pela despoluição das águas, mas também pela recuperação de suas margens com a construção de um parque linear. A proposta de Seul tornou a capital do país asiático reconhecida internacionalmente, galgando destaque por seu modelo de gestão. De acordo com Rowe (2013), o Cheonggyecheon é um afluente do Rio Han, que atravessa Seul de leste a Oeste. O córrego que fora desde o final do século 14 um importante caminho imperial no passado, também detinha funções de abastecimento de água potável e drenagem. As primeiras transformações no rio, iniciaram ainda naquela época, sendo agravadas após a ocupação colonial japonesa (1910/1945). Segundo a publicação “Revitalização do Arroio Cheong Gye Cheon” do site www.ufrgs.br/arroiodiluvio (2011), a intensificação da imigração decorrida após a segunda guerra mundial provocou o aumento da instalação de moradias irregulares no entorno. A urbanização desordenada comprometeu as matas ciliares e acelerou o processo de assoreamento poluindo o rio e agravando o problema das enchentes que já era recorrente no local. (HOLZ, 2012). Dessa forma, e para fins de transporte e ocultação do rio que estava poluído e com nível de água cada vez menor; as autoridades decidiram canalizar e encobrir o Cheonggyecheon em 1948, para a criação de estradas. Após uma década, começou a construção de uma via pública que possuía 6 km de extensão e largura entre 50 a 90 metros (Figura 10), culminado depois, entre 1967 e 1976, na seca do rio e construção de uma grande via expressa elevada (Figura 11) (ROWE, 2013). Na época, a via simbolizava um exemplo de sucesso da industrialização e urbanização, e ajudou o bairro a se consagrar o maior centro comercial de Seul, sendo altamente adensado e ocupado por edifícios. (HOLZ, 2012). No entanto, com o tempo o bairro foi degradado, tornando-se um flagelo sinônimo de violência e poluição do ar, visual e sonora. (HOLZ, 2012). A autoestrada causava uma rigidez na paisagem e trazia males à saúde pública, pois bloqueava a ventilação natural e a dispersão de doenças. Segundo Rowe (2013), “no período de pico de utilização, as vias chegavam a receber cerca de 120 mil veículos diariamente”


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o que ocasionava problemas de segurança, resultando em reparos constantes, faixas fechadas e restrição a transporte de passageiros em 1997. Todo esse cenário consagrava a degradação das cidades causada pelo desenvolvimento desordenado, e decretava a ruptura simbólica e literal do rio com a cidade, assim como o ocorrido de forma diferente no município de Vila Velha. Figura 10 - Obras para encobrir o leito do Rio e construir estrada na Década de 50

Fonte: https://mundopossivel.wordpress.com/ (2010)

Figura 11 - Via expressa sob o Rio em 1999.

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011)

Figura 12 - Via expressa elevada Cheonggyecheon antes da intervenção

Figura 13 - Estrada que encobria o canal antes da intervenção

Fonte: http://www.aquafluxus.com.br/ (2013)

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011)

A insustentabilidade da autoestrada, norteou debates desde a década de 90. Porém as propostas de intervenção ganharam impulso no final do século XX e início do século XXI, principalmente com a plataforma de campanha do candidato a prefeito Lee Myung-bak. O objetivo da proposta era demolir as vias, restaurar o córrego e criar uma área de recreação para revitalizar assim o meio ambiente, a economia, a história e a qualidade de vida da população (ROWE, 2013). A obra da prefeitura de Seul foi idealizada desde 1999, quando a câmara municipal necessitou fechar uma das três


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vias arteriais da cidade, o que resultou inesperadamente na diminuição do volume de veículos. (GIARETTA, 2011). Segundo Rowe (2013), em publicação online na revista AU; as obras iniciaram em 2002, assim que Lee Myung-bak assumiu o mandato. “O projeto terminou em 2005, após 27 meses de construção, com um custo de 380 milhões de dólares (apenas 8% a mais do que o previsto inicialmente)”. A revolucionária iniciativa da prefeitura, foi concebida por uma grande equipe de profissionais, sob a tutela do prefeito e direção do urbanista e paisagista, o vice-prefeito Yun-Jae Yang. De acordo com Holz (2012), no início existia resistência da população, oposição dos comerciantes e medo geral de prejuízo no tráfego. Para contornar esses obstáculos e conscientizar os cidadãos, a prefeitura realizou mais de mil reuniões com os líderes comunitários. Ainda segundo a autora (2012, p 57.), “ o maior objetivo das autoridades era tornar a capital da Coréia do Sul uma das dez cidades do mundo com melhor qualidade de vida”. A proposta consistia na realocação de comércios irregulares, recuperação e despoluição das águas, demolição do viaduto e avenidas; e criação de um parque linear com 400 hectares, 8 km de comprimento e 80 metros de largura. “Do entulho, foram reaproveitados em obras públicas 95% de todo asfalto e concreto e 100% do ferro” (HOLZ, 2012, p 57.). Conforme informado por (ROWE, 2013) e publicado no site oficial da Revista AU (http://www.au.pini.com.br/): Foram demolidas tanto as vias elevadas quanto os leitos carroçáveis que encobriam o rio. Abriu-se 20% a mais do espaço em largura para o córrego, levando em conta cheias históricas em um período de 200 anos. Ao todo, foram construídas 22 pontes, incluindo a reconstrução da antiga ponte cerimonial, além de outros numerosos investimentos paisagísticos. Isso incluiu instalações de artes públicas, caminhos ao lado do rio para pedestres e corredores, variando as formas de cruzar o córrego e os tipos de espécies plantadas ao longo das margens. Foi construído um centro comunitário, e os direitos de passagem entre pedestres e veículos foram totalmente reconfigurados - tal ação, não sem surpresa, foi de importância fundamental para os numerosos e pequenos negócios adjacentes ao Cheonggyecheon.


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Figura 14 - Ilustração implantação projeto Rio Cheonggyecheon

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011) Figura 15 - Obras projeto Rio Cheonggyecheon

Figura 16 - Rio Cheonggyecheon após as intervenções

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011)

Fonte: http://www.aquafluxus.com.br/ (2013)

No novo projeto de revitalização da área, das 22 pontes construídas, 15 (quinze) foram destinadas aos carros e pedestres e 7 (sete) foram projetadas para serem exclusivas para pedestres e ciclistas, promovendo a reconciliação da cidade com o canal, desvalorizando o uso de veículos e priorizando a integração dos usuários com o meio urbano (HOLZ, 2012). Em relação a mobilidade, o governo incrementou o transporte coletivo; aumentou as linhas de metrô, criou um ônibus especial para o centro, faixas reversíveis8 nas ruas já existentes e outras opções de vias. (ROWE, 2013). Essas medidas se baseiam no conceito defendido por Gehl, Marcus e Francis que priorizam as pessoas em detrimento aos veículos e aproximam o espaço urbano aos usuários. 8

Dependendo do horário, demanda e tráfego, as faixas reversíveis podem ter seu sentido de

circulação invertido.


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Figura 17 - Travessias para carros e exclusivas para pedestres no Parque Cheonggyecheon Percurso I - Cheonggye Plaza para Ogansugyo Percurso II - Cheonggyecheon Museum para Ogansugyo

Fonte: http://www.sisul.or.kr/ (2009) Figura 18 - Travessia para pedestres no Parque Cheonggyecheon Pedras funcionam como dormentes

Fonte: http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/ (2011)

Segundo Giaretta (2011), após a remoção da antiga Cheonggye Expressway três pilares de sustentação foram mantidos para simbolizar a industrialização do país e relevância histórica da restauração para as futuras gerações. O incentivo a arte e educação foi um fator determinante no projeto, pois promove a história, identidade local e a interação com o público através de obras artísticas. O “Banchado”, um retrato da procissão do Rei Jeongjo está exposto permanentemente em uma obra com 630 metros de comprimento, composta por 5.120 peças cerâmicas. Entre outras obras, os taludes do canal são revestidos por ladrilhos decorados por famílias coreanas, conferindo a população sentimento de pertencimento por ter participado da obra, o que configura outra ação de relevância cultural e simbólica para o projeto. A ideia das ações citadas pode ser aplicada de forma semelhante na proposta vigente de Vila Velha, pois conforme os autores Gehl, Marcus e Francis recomendam, a história e cultura do espaço e da comunidade foram respeitadas e reverenciadas. Isso novamente faz estreitar os laços entre população e ambiente, pois foi atribuído significância ao complexo urbano.


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Figura 20 - Obra “Banchado” em mosaico cerâmico. Pedras funcionam como dormentes

Figura 19 - Pilares do antigo viaduto

Fonte: http://portalarquitetonico.com. br/ (2011)

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011)

Figura 21 - Taludes revestidos por ladrilhos decoradas pela população

Figura 22 - Taludes revestidos por painéis, mosaicos e obras de arte

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (2011)

Fonte: http://www.smart-magazine.com/ (2016)

Ainda

sobre

arte

e

cultura,

segundo

o

site

oficial

do

parque

(http://www.sisul.or.kr/) o Museu Cheonggyecheon, situado no extremo leste do canal, oferece aos visitantes um vislumbre sobre a história e cultura do córrego, bem como seu processo de revitalização. A exposição permanente no museu apresenta através de maquetes e vídeos todas as informações referentes à transformação do local. Figura 23 - Museu Cheonggyecheon

Figura 24 - Modelos em miniaturas da história da intervenção

Fonte: http://www.sisul.or.kr/ (2009)

Fonte: http://www.sisul.or.kr/ (2009)


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Devido ao avançado estado de destruição, as nascentes do Cheonggyecheon não puderem ser restauradas e como as águas originais já haviam secado, a solução encontrada foi recorrer ao Rio Han, tratando parte das suas águas e transferindo por tubulações subterrâneas ao canal recuperado. A vegetação natural se restabeleceu nas margens do canal e aumentou a incidência de espécies de peixes e insetos no local, ampliando a biodiversidade da vida aquática, das aves e vegetais. Como já mencionado no capítulo anterior, ocorreu significante melhora na qualidade do ar e na sensação térmica da capital sul coreana (HOLZ, 2012). Segundo pesquisas de opinião, a aprovação pública é quase unânime, a maioria dos cidadãos reconhecem a contribuição do canal na qualidade de vida urbana e ambiental da região (ROWE, 2013). Figura 25 - Águas tratadas do córrego

Figura 26 - Reestabelecimento natural das matas ciliares

Fonte: http:// www.ufrgs.br/arroiodiluvio

Fonte: http://solucoesparacidades.com.br/ (2016)

Atualmente o rio Cheonggyecheon “é o cartão-postal da cidade, visitado por turistas do mundo todo, e tornou-se objeto de estudos de arquitetos, urbanistas, especialistas e estudantes em geral” (HOLZ, 2012, p.59). As áreas do parque propiciam atividades como lazer, esporte, turismo, contemplação, estar e convivência. O projeto de requalificação do canal, não só promoveu o resgaste e valorização da história local como também ajudou na reconciliação do homem com o meio ambiente. Outro aspecto que é amplamente abordado na proposta refere-se à apropriação e integração do espaço, onde os mobiliários e caminhos, se confundem com a topografia e arquitetura do ambiente. Dessa forma, espera-se adotar na proposta situada em Vila Velha medidas inspiradas nesse projeto de referência. O objetivo é obter uma fórmula que promova benefícios ambientais, climáticos e sociais, cabíveis a pertinência da área.


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Figura 27 - Margens como espaço de convívio

Figura 28 - Apropriação do espaço

Fonte: http://www.preservenet.com/ (2011)

Fonte: http://www.preservenet.com/ (2011)

O sucesso da intervenção repercutiu internacionalmente, o que incentivou o município de Seul a continuar investindo em desenvolvimento sustentável para aumentar seu capital e melhorar simultaneamente a qualidade de vida do centro da cidade (HOLZ, 2012). Segundo publicado no site (http://www.au.pini.com.br/) Rowe (2013) relata que: A restauração também passou a ser parte integral de um plano maior do centro da cidade em 2004 e em 2007, que previu quatro grandes cruzamentos do córrego, cada um enfatizando funções diferentes. De leste a oeste, há o eixo cívico, o eixo de mídia, o eixo verde e o eixo criativo, que coincide com o distrito de moda de Dongdaemun.

O impacto da obra foi tão positivo que ajudou a eleger o prefeito de Seul para a presidência da República em 2008 sob a promessa de aliar crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. Um dos princípios da campanha presidencial fora a recuperação do rio Han que sofreu deterioração semelhante ao Cheonggyecheon. Como resultado da proposta as avenidas presentes nas margens do Han deram lugar a parques urbanos e vias para pedestres, cenário que é de grande estima para a população coreana. (HOLZ, 2012). Conforme exposto, a experiência do Rio Cheonggyecheon evidenciou as vantagens que a adoção de medidas correlatas a defesa de Gehl, Marcus e Francis podem consagrar. Percebeu-se que a iniciativa realizada em Seul é favorável as recomendações dos autores. O projeto coreano trata-se da principal fonte de inspiração para a proposta desenvolvida neste trabalho sendo amplamente considerado na fase projetual, apresentada no capítulo 5. A síntese das informações


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vistas no exemplo de reconciliação apresentado, consta conjecturado em forma de tabela, a seguir. A intenção para a proposta vigente é neste caso, em termos de conceito; manter objetivos e diretrizes similares, e conceber propostas inspiradas nas medidas realizadas no Cheonggyecheon, todavia apropriadas a área de estudo. Tabela 1 - Síntese da Revitalização do Rio Cheonggyecheon OBJETIVOS

Revitalização do Rio Cheonggyecheon - Seul (Coréia do Sul) DIRETRIZES PROPOSTAS Ampliação da largura natural do antigo canal. Restaurar o córrego.

Recuperar o sistema fluvial e ambiental.

Captação por tubulações subterrâneas das águas do Rio Han. Despoluição das águas. Plantio de espécies nativas nas margens do rio.

Restaurar o meio ambiente.

Reestabelecimento natural da vegetação nativa nas margens do canal. Inserção de espécies nativas de peixes no canal.

Conscientizar os cidadãos. Implementação de Políticas Públicas.

Inserir o rio no tecido Urbano.

Criação de centro comunitário. Aumento das linhas de metrô. Incrementar o transporte coletivo.

Demolir as vias.

Simbolizar a industrialização do país e relevância histórica da restauração às gerações futuras. Valorizar a Identidade e história local.

Implementar, monitorar e gerir planos.

Realização de mais de mil reuniões com os líderes comunitários.

Incentivo a arte e educação.

Criação de um ônibus especial para o centro. Criação de faixas reversíveis nas ruas já existentes e outras opções de vias. Demolição do viaduto, antiga via expressa de nome Cheonggye Expressway. Demolição dos leitos carroçáveis das avenidas que encobriam o rio. Preservação de três pilares de sustentação do antigo viaduto. Criação do Museu Cheonggyecheon. Reprodução da obra o “Banchado” em forma de mosaico cerâmico. Exposição de obras de arte variadas em painéis nos taludes.

Integrar a população.

Revestimento dos taludes por ladrilhos decorados por famílias coreanas.

Investir em desenvolvimento sustentável.

Concepção de um plano maior de recuperação do centro da cidade, que previu quatro grandes cruzamentos com o córrego, cada um enfatizando funções diferentes.

Recuperar o rio Han. Recuperar as margens do antigo canal.

Inserção de parques urbanos. Criação de vias para pedestres. Realocação de comércios irregulares. Construção do parque linear.

Criar uma área de recreação. Reconciliar a cidade com o rio. Valorizar o pedestre.

Inserção de mobiliários e áreas de vivência através da própria arquitetura do espaço. Criação de 22 pontes construídas, 15 são para carros e pedestres e 7 são exclusivas para pedestres e ciclistas. Criação de caminhos no córrego com pedras estrategicamente posicionadas como dormentes.

Fonte: Autoral, com base nas informações coletadas e referenciadas no item 3.2.1 (2016)


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PROJETO BEIRA-RIO - PIRACICABA (SÃO PAULO) O Rio Piracicaba e sua cidade homônima estabelecem uma íntima relação social, histórica, econômica, artística e cultural; elementar na definição da identidade local. A partir da contestação dessa premissa surgiu a proposta do Projeto Beira-Rio, que entendia que rio e cidade formavam uma ligação sistemática a qual deveria ser melhor desenvolvida. Sendo assim, o planejamento dessa relação seria essencial para uma evolução econômica, social e ambiental sustentável. “Esta visão consolida o Projeto Beira-Rio como um processo contínuo de desenvolvimento de diretrizes para implementação de projetos e políticas com foco na relação rio /cidade”. (IPPLAP, 2015). Sendo assim este caso, influenciou a forma de planejamento adotada na proposta em estudo, desenvolvida em Vila Velha. O município de Piracicaba situa-se no estado de São Paulo, mais precisamente no Planalto Arenítico-basáltico. O rio Piracicaba é um dos mais importantes tributários9 do rio Tietê, principal rio do estado. O solo da região é considerado fértil, representando assim importância econômica em âmbito estadual. Devido a poluição ocasionada pelo despejo de esgoto proveniente das cidades de Campinas e Americana na bacia hidrográfica do Piracicaba, as águas do rio ainda são impróprias para o consumo; o abastecimento hídrico é feito pelo afluente Corumbataí. A discussão sobre a poluição do Rio Piracicaba e seus afluentes data da década de 80 quando o consórcio Intermunicipal dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari foi implantado em 1985. (GORSKI, 2010). Devido sua localização geográfica estratégica, Piracicaba se fez presente na história da civilização sul-americana. A cidade que fora fundada em 1767 se desenvolveu as margens do curso d’água seguindo o seu desenho original. No entanto, durante a segunda metade do século XX, o modelo de desenvolvimento urbano recorrente no brasil interferiu ocasionando a retificação e canalização do rio. Com a industrialização, o distrito passou a priorizar o sistema viário, poluindo e degradando os cursos d’águas e suas margens. Na década de 60 o rio Piracicaba sofreu profundo dano ecológico devido a modificação de seu curso para a construção do Sistema Cantareira (GORSKI, 2010).

9

Mesmo que afluente; trata-se do curso d'água que flui para outro curso d'água de maior área

de drenagem a montante ou para um lago ou reservatório.


54

De acordo Gorski (2010, 192 p.) “o município mantém uma importante posição no estado de são Paulo, pela sua caracterização ambiental, econômica, cultural e urbanística. Acredita-se que esse cenário apresente potencial para alavancar atividades turísticas e de ecoturismo em Piracicaba e região. Dessa forma, constatouse a necessidade de reconciliação do curso d’água com a sociedade e transformação desse cenário de abandono. Para isso, por iniciativa da prefeitura municipal o projeto Beira-Rio surgiu “da necessidade de utilizar-se de forma racional os recursos naturais inerentes ao rio, visando à sustentabilidade ambiental, econômica e cultural, cuja principal meta é o equilíbrio do binômio rio-cidade” (GORSKI, 2010, 192 p.). Conforme Gorski (2010) sintetiza, o projeto Beira-Rio é um programa de requalificação ambiental e urbanístico desenvolvido e implantado pela Prefeitura Municipal de Piracicaba que foca na orla do Rio Piracicaba e na sua conexão com o meio urbano. A primeira fase do projeto se iniciou em 2001 com a elaboração do diagnóstico “A Cara de Piracicaba”, o estudo detinha uma abordagem antropológica e metodologia participativa, que buscou interpretar a junção de fatores ambientais, sociais e econômicos; e sintetizar suas características. O objetivo principal do diagnóstico foi reencontrar a memória de Piracicaba e revelar uma infinidade de possibilidades para o município e o corpo d’água. O diagnóstico fundamenta-se na sustentabilidade, incentiva os percursos para pedestres e identifica a margem do rio como espaço público, extinguindo sua condição de outrora que fora negligenciada pelo processo da urbanização predatória (IPPLAP, 2015). Os princípios esboçados no diagnóstico embasaram a segunda fase do projeto, a elaboração de um plano de ação para o município, o Plano de Ação Estruturador do Projeto Beira-Rio (PAE) que enfatiza o Planejamento Ambiental. O PAE determina conceitos ambientais, prioriza o patrimônio cultural, promove programas de educação ambiental e capacitação econômica, define diretrizes, projetos e políticas a serem implementados e define um novo zoneamento para o município que visa atingir um panorama de excelência ocupacional. (IPPLAP, 2015). O exemplo de Piracicaba é esclarecedor a nível de planejamento e método de estudo, pois permite identificar o plano de requalificação e diagnóstico como ferramentas de intervenção. Essa metodologia será empregada neste trabalho, pois permite a compreensão da área primeiramente de forma macro e posteriormente em microescala, atribuindo assim propriedade ao desenvolvedor e respaldando adequadamente as potenciais medidas adotadas.


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Figura 29 - Zoneamento Ecológico-Econômico do município de Piracicaba (Projeto Beira-Rio)

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Idealizado durante o segundo semestre de 2002 e ano de 2003, o processo de concepção dessas e outra ações do PAE ocorreram simultaneamente ao desenvolvimento dos anteprojetos das transformações previstas para a área urbana do rio Piracicaba. (PAE, 2003). Como resultado, o PAE setorizou e dividiu a orla em oito trechos (Beira-Rio Central, Lar dos Velhinhos, Bongue, Corredor Ecossocial, Corumbataí,

ESALQ/USP,

Monte

Alegre,

Pedreira

do

Morato),

mediante

caracterização e definição de diretrizes para intervenções futuras; e determinou 3 etapas para propostas urbanas (Requalificação da Rua do Porto, Trecho Largo dos Pescadores, Ponte Pênsil). (IPPLAP, 2015). Conforme descrito, após as fases de Diagnóstico e definição do Plano de Requalificação, seguiu-se o desenvolvimento da setorização do espaço e proposição de intervenção. O projeto Beira-Rio apresenta essas vertentes de forma esclarecedora, o que tornou possível o aproveitamento deste conceito. Sendo assim, foi definida a metodologia de proposta adotada para este trabalho.


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Figura 30 - Setorização da Orla do rio Piracicaba (Projeto Beira-Rio)

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Com base no PAE e no Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP, 2015), os trechos que compõem a orla urbana do rio e seu entorno são: 1. Beira-Rio/ Central: localizado no centro do perímetro urbano entre as pontes do Mirante e do Morato, essa área apresenta valiosas características geológicas, históricas, paisagísticas, arquitetônicas e culturais que lhe atribuem aspecto de parque urbano. As diretrizes para essa zona visam contornar a predominação de barreiras físicas e visuais no trecho, principalmente na perspectiva do pedestre, tais como a criação de espaços públicos, marcação de eixos de reconciliação rio-


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cidade, recuperação e preservação do patrimônio histórico arquitetônico, dentre outras. 2. Lar dos Velhinhos: compreende a área situada ente as pontes do Mirante e do Lar dos Velhinhos. Esse trecho é privilegiado pois possui potencial turístico, paisagístico, educacional e ambiental. A adequação das calçadas e trilhas adjacentes ao rio, já recuperou porções de vegetação nativa e mata ciliar recuperadas. A realização de ações que primam pela manutenção, preservação e perpetuação do local é a principal diretriz para o local. 3. Bongue: espaço limitado pelas pontes do Morato e do Caixão, consiste na pedreira do Bongue que “é considerada um dos patrimônios a serem preservados, por ser um testemunho geológico da formação da região”. A pedreira perdeu a conexão imediata com o rio devido a erosão causada pela extração de rocha e abertura de vias. Como é possível visualizá-la de várias partes da cidade, a pedreira figura como um marco visual a ser preservado. As diretrizes para o trecho se baseiam na conservação e ênfase do patrimônio, bem como de seus visuais; uso turístico e educação ambiental. 4. Corredor Ecossocial: os eixos assim denominados compreendem as avenidas Armando de Salles Oliveira, Dr. Paulo de Moraes, Juscelino Kubitschek e Francisco de Souza. “Trata-se do conjunto de percursos associados aos fundos de vale, ao leito de antigas ferrovias e aos principais fluxos de circulação”. Nesse trajeto, é possível ter contato com áreas verdes ligadas ao ecossistema do rio Piracicaba. O incentivo a arborização das vias e entorno é apontado aponta como principal diretriz. 5. Corumbataí: O rio Corumbataí é o maior tributário do Piracicaba e é como já mencionado, a fonte de abastecimento de água da cidade. Para esse trecho, o PAE previu diretrizes como conservação da paisagem, recuperação ambiental, tal como das matas ripárias e afluentes. 6. ESALQ/USP: trata-se de considerável área do município, transformado em parque público e destinado a abrir o centro de pesquisa e ensino ESALQ/USP, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo. As diretrizes previstas para o trecho estimulam a aproximação da entidade com as margens do rio e com a população através do incentivo a educação ambiental. 7. Monte Alegre: é uma propriedade particular que remete a um antigo bairro

operário da indústria canavieira de produção de álcool e açúcar, tombado pelo


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Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac). O trecho é considerado patrimônio cultural municipal e tem diretrizes relacionadas a preservação e incentivo ao turismo. 8. Pedreira do Morato: consagrada pela atividade de extração, a área que está inativa, abrange o bairro do Morato e a calha do ribeirão do Enxofre. As diretrizes para o local remetem a requalificação ambiental através do plano de manejo. Percebe-se nessa setorização a adoção de princípios relacionados não apenas ao desenvolvimento sustentável como também o atendimento aos conceitos e diretrizes estipuladas por Gehl, Marcus e Francis. Para a proposta de estudo localizada em Vila Velha (ES) essas vertentes serão consideradas, uma vez que a metodologia de estudo adotada se espelha na mesma desta de Piracicaba. A etapa inicial do Beira-Rio previsto pelo PAE foi a requalificação da Rua do Porto, seguida pelas etapas do Trecho Largo dos Pescadores e Ponte Pênsil. O Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP, 2015) expõe: Figura 31 - Diagrama Conceitual para as 3 etapas de intervenção do Projeto Beira-Rio

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)


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1ª Etapa - Requalificação da Rua do Porto: A área se estende de forma linear por cerca de 800 metros e está localizada na margem esquerda do rio Piracicaba, entre as pontes do Mirante e do Morato. O local é uma das regiões mais representativas da cidade pois remetem a pesca, as olarias, ao folclore e ao lazer gastronômico. As ações de projeto realizadas se baseiam em diretrizes como tratamento da margem e transformação em espaço público, valorização do pedestre, recuperação do patrimônio histórico e restauração das matas ciliares. A nova Rua do Porto foi inaugurada em dezembro de 2004 (IPPLAP, 2015). Conforme descrição do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP, 2015), a nova Rua do Porto foi inaugurada em dezembro de 2004 e recebeu ações como a implantação de trilhas permeáveis para pedestres na margem do rio; considerando a probabilidade de enchentes. O nível da trilha foi definido conforme estudo das vazões do rio Piracicaba durante os 35 anos antecedentes ao projeto. Figura 32 - Trilha permeável na Rua do Porto após intervenção

Figura 33 - Nível da trilha em corte esquemático

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/ (2005)

Além da criação de um novo desenho e pavimentação do calçadão, foi feita a construção de novos deques em substituição aos antigos. Enquanto os deques antecessores eram irregulares e não apresentavam padrões construtivos e de segurança; os novos são assentados sobre pequenos arrimos com superfície em brita e são feitos de madeira reflorestada e tanalizada. Restaurantes licenciados possuem o direito de utilizar as instalações.


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Figura 34 - Construção de novos deques na orla da Rua do Porto

Figura 35 - Os deques são apropriados por restaurantes licenciados

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/ (2005)

Fonte: http://guiaturisticopiracicabasp.blogspot. com.br/ (2005)

A requalificação da Rua Porto promoveu também a recuperação das matas ripárias. O projeto paisagístico concebeu o plantio de 482 árvores de espécies majoritariamente nativas na Rua do Porto e implementou palmeiras imperiais nas extremidades do calçadão, dessa vez para agregar aspecto cênico e remeter às palmeiras imperiais do Palacete Boyes, do Engenho Central e da Chácara Nazareth, edificações importantes no patrimônio cultural de Piracicaba. Figura 36 - Plantio de árvores na Orla

Figura 37 - Arborização na Rua do Porto

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/ (2005)

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/ (2005)

A primeira etapa do Projeto Beira-rio também resultou na adequação do campo de futebol; construção de vestiários, arquibancadas de madeira e dimensionamento adequado do campo. Inclusive, segundo o site oficial do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba, a concretização de ações como:


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Restauração das três chaminés remanescentes das antigas olarias; Construção de dois blocos de sanitários públicos; Melhorias na infraestrutura de drenagem de águas pluviais; Novas iluminações pública e ornamental; Regularização e definição de vagas de estacionamento em nova área com piso permeável em brita e plantio modulado de árvores (IPPLAP, 2015).

2ª Etapa - Trecho Largo dos Pescadores: A segunda etapa de intervenção buscou continuar as transformações no primeiro trecho da orla urbana do Piracicaba (Trecho 1 - Beira-Rio/ Central), situado na avenida Beira Rio entre a rua São José e o Calçadão da Rua do Porto. As propostas realizadas foram fundamentadas pelos os mesmos conceitos usados na etapa anterior, tais como; “prevalência do pedestre no espaço urbano, tratamento da margem como espaço público acessível, potencialização dos usos consolidados e recuperação e preservação do patrimônio natural e construído”. As obras desta etapa foram concluídas em 2008. (IPPLAP, 2015). Conforme o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP, 2015) as propostas e ações dessa fase de projeto consistiram: Tabela 2 - Propostas e Ações da 2ª Etapa do Projeto Beira-Rio PROPOSTAS

AÇÕES Alargamento das calçadas e do Largo dos Pescadores, por meio da redução da área asfaltada e transformação da Avenida Beira Rio em via de mão única de direção.

Ampliação e melhoria dos passeios públicos

Eliminação das muretas que cerceavam o acesso à margem do rio. Construção de guias rebaixadas facilitando a acessibilidade. Ampliação do espaço.

Remodelação do Largo dos Pescadores

Novo piso. Passagens em nível para as calçadas opostas. Remodelação da rampa de barcos

Fonte: Autoral, com base nas informações do IPPLAP (2016)


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Figura 38 - Remodelação do Largo dos Pescadores

Figura 39 - Ampliação e melhoria dos passeios públicos

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

3ª Etapa - Ponte Pênsil: Os princípios da terceira etapa de intervenção do Projeto Beira-Rio se equivalem aos mesmos das etapas anteriores. A fase de intervenção se refere a área da Avenida Beira Rio entre a Casa do Povoador e a Ponte do Mirante. As premissas do Projeto Beira-Rio fundadas previamente pelo PAE e Diagnóstico “A Cara de Piracicaba” e respeitadas nas etapas antecessoras se repetiram: “prevalência do pedestre, recuperação dos patrimônios natural e construído, manutenção dos usos consolidados, cultura como elemento definidor”. Segundo o site do IPPLAP (2015): As obras compreenderam a transformação da Avenida Beira Rio em via de mão única de direção – com trânsito sentido Ponte do Mirante-Morato -, permitindo o alargamento das calçadas; intervenção paisagística com plantio de espécies nativas; demolição do muro de arrimo e a retirada do aterro que encobrem a Casa do Povoador, permitindo a execução de um largo em frente a esse local.


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Figura 40 - Calçadas na Avenida Beira Rio

Figura 41 - Largo em frente à Casa do Povoador

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Fonte: http://ipplap.com.br/site/ (2015)

Após as intervenções idealizadas pelo PAE, executadas no trecho 1 (Beira-Rio/ Central) da orla do rio Piracicaba, se aguarda a concretização do mesmo para os demais sete trechos identificados. A proposta de adequação ambiental e paisagística para cada setor está disposto no site oficial do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. O IPPLAP continua os esforços para a transformação de Piracicaba, em 2015 foram publicados 12 Cadernos de Estudos e Projetos para o Desenvolvimento Urbano Sustentável de Piracicaba e Aglomeração Urbana (Cadus) que possuem “o objetivo de promover estudos locais e regionais e publicar análises e conteúdos que facilitem a compreensão dessas informações, tanto no contexto local do Município de Piracicaba quanto no regional da Aglomeração Urbana”. Contudo, a experiência paulista permitiu estipular a metodologia empregada na proposta desenvolvida, como já mencionado, e interferiu na escolha do planejamento do estudo. As fases que fomentam a evolução do projeto serão: Plano de Requalificação, que consiste na realização de Diagnóstico, Setorização e Propostas ou Etapas de Propostas, sendo reproduzidos neste trabalho na seção referente ao diagnóstico (Capítulo 4) e fase projetual, apresentada no capítulo 5. As

transformações

realizadas

no

Projeto

Beira-Rio

apresentam

conceitualmente clareza e relevância, portanto, as medidas estabelecidas serão base para a proposta realizada em Vila Velha (ES), uma vez que também se provaram viáveis em âmbito nacional. O conceito empregado defende a valorização do pedestre, a maleabilidade do espaço urbano e recuperação ambiental, assim como recomendado por Gehl, Marcus e Francis. A síntese das propostas projetuais encontram-se ilustrados em forma de tabela a seguir. A intenção para a proposta vigente é neste caso, com exceção do foco em saneamento, manter objetivos e


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diretrizes similares e conceber propostas inspiradas nas medidas realizadas na cidade paulista, todavia apropriadas a área de estudo. Tabela 3 - Síntese do Projeto Beira-Rio (Piracicaba) OBJETIVOS Recuperar a qualidade da água

Preservar o cinturão meândrico.

Projeto Beira-Rio – Piracicaba (São Paulo) DIRETRIZES PROPOSTAS Priorizar o saneamento (conclusão do sistema de interceptores paralelos ao rio e Construção da Estação de Tratamento de Esgotos. Implantar a coleta seletiva, a reciclagem do lixo e a industrialização dos recursos sólidos. Criar um corredor biológico

Adotar o rio Piracicaba como curso principal para a implantação de projetos

Reestruturar o tecido urbano Elaborar um zoneamento ecológico-econômico do município.

Incentivar o rio como caminho

Conservar a paisagem

Explorar a visão da cidade a partir do rio Piracicaba. Criar novos sistemas de transporte urbano multimodal Proteger o patrimônio cultural e ambiental da cidade.

Manter e recuperar as paisagens memoráveis da cidade.

Conectar o cidadão ao rio

Criar um Corredor Ecossocial

Implantação de coletor tronco. Uso de pisos drenantes nas áreas de estacionamento. Plantio de Arvores. Redução do escoamento do lixo e resíduos para o leito do rio. Criação de Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Dinamização dos usos da Rua Porto. Conexão da Rua Porto com o parque Beira-Rio, com o Paço Municipal e com o tecido urbano central. Valorização das vias transversais Criação de áreas destinadas a estacionamento de veículos Criação de comportas ao lado do Rio para controle de enchentes. Desenvolvimento de novos sistemas de transporte urbanos multimodais, com ênfase nos movidos à energia limpa. Implementação de circuitos de um bonde turístico e ônibus ou trólebus. Tombamento das quadras adjacentes à rua do Porto e incentivo a restauração das fachadas das edificações. Adequação imobiliária e controle de verticalização. Multiplicação das áreas públicas. Implementação e melhorias de equipamentos esportivos. Implementação da navegação fluvial. Remodelação das calçadas e ruas lineares. Implementação de circuito de um bonde turístico Instituição de instrumentos de uso e ocupação do solo ao longo da faixa de proteção do rio. Prever a geração de emprego e renda. Valorização da paisagem da cidade vista do eixo do rio. Acrescentar novas obras de arte urbana. Remoção das Palafitas. Melhoria das vias de pedestres. Incentivo de percursos a pé. Apropriação da margem pelo pescador a pé ou a barco. Integração da Rua do Porto com a margem direita, por meio de passarela de pedestres e transposição de balsa. Construção de deques-mirantes entre as caladas e as margens do rio. Implementação de uma trilha de circulação junto ao leito do rio.

Fonte: Autoral, com base nas informações de Gorski (2010).


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4. DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO


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4. DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO Para o desenvolvimento satisfatório da proposta projetual é necessário aliar o estudo feito na fundamentação teórica ao conhecimento detalhado do cenário selecionado para intervenção projetual que neste caso se encontra na cidade de Vila Velha. Sendo assim, esse capítulo irá expor a análise da área escolhida, identificando sua história, identidade, caraterísticas, vulnerabilidades e vocações. De início será apresentado a localização da área de estudo seguida de um breve histórico que demonstra a origem da identidade e ocupação da zona de intervenção. A análise morfológica da área segue após a caracterização dos aspectos socioeconômicos, ambientais e legais realizados em âmbito municipal/ regional. E por fim tem-se a especificação da Diagonal de intervenção e a síntese das potencialidades e vulnerabilidades identificadas. Como já mencionado a metodologia do projeto se dividirá em fases, tais como Plano de Requalificação, que prevê Diagnóstico, Setorização e Propostas (Figura 42), onde essa seção representa a primeira etapa. Por sua vez o método do diagnóstico tem como unidade de análise a bacia hidrográfica, sendo esta a Bacia do Rio Jucu, Bacia Hidrográfica da Praia da Costa e Sub-bacia Canal da Costa. A abordagem do diagnóstico foi dividida em duas fases; a primeira é um estudo geral da porção do território denominado Área de caracterização (Mapa 1), que corresponde aos bairros onde a sub-bacia está situada, já a segunda fase chamada Poligonal de Intervenção, se trata de uma análise mais específica do sítio de implantação. Figura 42 - Diagrama etapas Metodologia de Estudo.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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Mapa 1: Sub-Bacia Canal da Costa e Delimitação da área de caracterização

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, AGERH, elaborado por Lorena Venturote.


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4.1. LOCALIZAÇÃO

A área de estudos da proposta em vigor é a Sub-bacia Canal da Costa e seu entorno imediato, localizada na Região Administrativa 01 - Grande Centro e parte na Região Administrativa 02 (Lei Municipal nº 4707/2008) da cidade de Vila Velha que faz parte da Região Metropolitana da Grande Vitória, no estado do Espirito Santo (Brasil). (Mapa 02). A área de caracterização compreende as regiões que abrangem o canal, a subbacia e suas adjacências, do ponto de partida de intervenção até sua foz, cuja zona de abrangência permite observar a situação morfológica dos bairros Boa Vista I, Boa Vista II, Cocal, Coqueiral de Itaparica, Divino Espírito Santo, Itapuã, Praia da Costa, Praia de Itaparica, Praia de Gaivotas, Residencial Coqueiral, Santa Mônica, Santa Mônica Popular e Vista da Penha. (Mapa 3). Mapa 2: Localização da área de estudo no país, estado e município

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote.


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Mapa 3: Área de estudo e caracterização

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, AGERH, elaborado por Lorena Venturote.


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4.2. HISTÓRIA E IDENTIDADE

Vila Velha é a cidade mais antiga do Espírito Santo, é berço do estado, onde a colonização teve início a partir da chegada de Vasco Fernandes Coutinho à enseada da Prainha. Coutinho foi o primeiro donatário da Capitania do Espírito Santo, décima primeira capitania das 15 divisões do território brasileiro na época instituídas pelo rei D. João III. A doação da capitania foi registrada em carta em 14 de outubro de 1534, já em 23 de maio 1535 o capitão ancorou em aguas capixabas (SANTOS, 2011). Na história, a aparição da área de estudo remonta desde a chegada do português. Segundo Santos (2011), havia um braço de mar situado entre os Morros do Convento e Morro do Moreno que todos chamavam na época de foz do “Rio da Costa”. O Rio da Costa se localizava a leste da Praia de Piratininga, percorria o monte do Outeiro, prosseguia em paralelo à Rua Luiza Grinalda, cruzava a Avenida Brandão Júnior, onde atualmente é a Av. Champagnat, e seguia na direção sul, por detrás do Morro da Batalha. O Rio da Costa sempre teve suas margens assoreadas, devido ao movimento das marés, como observado pelo Imperador D. Pedro II em visita ao Convento da Penha no ano de 1860 (MORRO DO MORENO, 2012). Figura 43: Mapa do perfil geográfico do norte de Vila Velha na chegada de Vasco Coutinho

Fonte: Elaborado por Jair Santos (SANTOS, 2011, 33 p.).


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No entanto, uma série de alagamentos consecutivos ocasionados pelo regime das marés e influência do Rio Jucu iria provocar alterações no rio da Costa até o modo que se tem hoje. As maiores enchentes registradas no município ocorreram nos anos de 1935, 1943, 1960 e 2004. Em 1935 aconteceu a Enchente Centenária, assim reconhecida pela comemoração do IV Centenário da Colonização do Solo Espírito-Santense. Além das citadas, há relatos de outras enchentes que marcaram Vila Velha no início do século passado. Em 1922, teve a enchente do Centenário da República, cujas águas atingiram as proximidades do atual Centro Estadual Educação Técnico Vasco Coutinho. Também teve as inundações de 1938 e 1940 causadas pelas cheias do Rio Jucu (MORRO DO MORENO, 2012). O estopim foi a enchente de 1960 (figura 47) ocasionada pelo transbordamento do rio Jucu; conhecida como a maior tragédia do munícipio, o incidente transformou centenas de moradores em “flagelados” (figura 48), termo no qual foram denominados (MORRO DO MORENO, 2012). Dessa forma, para promover o rápido escoamento das águas e evitar novas inundações, o Governo Federal através do extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento) e Departamento de Obras da Prefeitura Municipal iniciaram a construção do Canal da Costa, entre outras ações (SANTOS,2011). Conforme ilustrado na figura 49 na página seguinte, O Rio da Costa foi retificado em 1960, eliminando da paisagem capixaba, um dos mais belos e ricos cenários de Vila Velha. Atualmente, suas antigas margens dão lugar aos edifícios habitacionais derivados do crescimento populacional e econômico ocorrido a partir da década de 50 (SANTOS, 2011). De acordo com Santos (2011), além de suas águas ter sido utilizada com frequência pelos moradores da região para o banho e consumo, o Rio da Costa era fonte de subsistência, pois o imenso manguezal formado ao longo do seu curso permitia no momento da maré baixa a coleta de caranguejos e guaiamus que constituíam uma rica fonte de alimento e recursos para muitos moradores. No seu leito catavam canivetes, siriobas, e principalmente berbigão. Farta também era a pesca de siris por meio de púças e jererés. Na pesca com maré cheia, os peixes eram tainhas e robalos. Muita gente viveu do extrativismo que o rio fornecia (SANTOS, 2011, 42 p.).


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Figura 44: Ponte de concreto na Av. Champagnat destruída pela correnteza da enchente de 1960.

Figura 45: Rua Luciano das Neves na enchente da década de 60.

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/ (2012)

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/ (2012)

Figura 46: Rio da Costa retificado.

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/ (2012)

Vila Velha cresceu gradativamente no sentido norte-sul. Antes do plano de expansão realizado pelo engenheiro Antônio Francisco de Athayde e administrador da cidade (1918-1921), as áreas do município eram compostas por fazendas familiares. Após a década de 50 iniciaram as ocupações na Praia da Costa, Itapuã e outras regiões. A descoberta de Vila Velha pelas imobiliárias e o crescimento vertiginoso ocorrido a partir das décadas de 60 - 70, começaram a transformar consideravelmente a cidade. (SANTOS, 2011). Como recorrente no cenário brasileiro, as ocupações decorridas ocasionaram o surgimento de aglomerados subnormais e o assoreamento, deterioração das margens e poluição dos cursos d’água.


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Após a decadência da atividade cafeicultora, a indústria passou a ser o principal motor da economia capixaba impulsionando a migração e consequente crescimento populacional da Grande Vitória e Vila Velha, como pode-se notar a evolução na tabela 4 disponível abaixo (LIRA e editores, 2014). Sobre a estimativa do movimento pendular na RMGV, registrados nos anos 2000 e 2010, nota-se que Vitória concentra o maior índice de entrada 86,91% (2000) e 82,54% (2010). Já Vila Velha destaca-se pelo percentual de saída, o segundo maior da Grande Vitória, que fora 24,77% (2000) e 25,73%(2010), o que a consagra cidade dormitório (LIRA e editores, 2014). A inauguração da 3ª Ponte (Ponte Deputado Darcy Castello de Mendonça) intensificou o movimento pendular e incentivou a ocupação da cidade que hoje encontra-se ainda mais adensada, principalmente nas regiões de estudo, nas orlas das Praias da Costa, Itaparica e Itapuã e adjacências do Canal da Costa. Tabela 4: Municípios mais populosos do Espírito Santo segundo Censos de 1940 a 2010

Fonte: LIRA e editores, 2014, p. 29 (2014) Figura 47: Áreas próximas ao Canal da Costa durante a Construção da 3ª Ponte

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/ (2016)


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4.3. CARACTERIZAÇÃO 4.3.1. Aspectos Socioeconômicos

De acordo o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016), Vila Velha apresentava em 2010 uma população formada por 414.586 habitantes, densidade demográfica de 1.973,59 hab/km² e índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) equivalente a 0,8. Em 2015, a área territorial da cidade equivalia a 209.965 Km². A estimativa é que em 2016 o índice populacional chegue a 479.664 habitantes. De acordo o IBGE (2000), no mapa de pobreza e desigualdade dos municípios brasileiros de 2003, a Incidência da Pobreza na cidade equivalia a 21,07%. Já quanto ao produto interno bruto dos municípios, no ano de 2013 o PIB per capita de Vila Velha representava 21.914,19 mil reais. Segundo os indicadores do perfil socioeconômico por bairros de Vila Velha realizado pela SEMPLA (2010), Secretaria Municipal de Planejamento Orçamento e Gestão, partes da zona de estudo situam-se nas Região Administrativa 1 e 2. As 5 regiões administrativas obedecem a divisão estabelecida pela Lei Municipal 4.707 de 10 de setembro de 2008 (SEMPLA, 2010). Como se pode notar no Mapa 4 - Regiões Administrativas na página seguinte, a zona de Caracterização se localiza majoritariamente na Região Administrativa 1 que se situa no nordeste do município e é formada pela junção de 18 bairros; essa área é a mais antiga da cidade, de maior consolidação,

reconhecimento

e

valorização

socioeconômica.

Na

região

Administrativa 2 - Grande IBES, se encontra três bairros da zona de caracterização, essa se posiciona no centro-leste de Vila Velha e é composta por 21 bairros que apresentam em sua grande maioria caráter residencial e/ ou comercial, é uma das regiões mais promissoras do município. A partir dos dados do perfil socioeconômico por bairros de Vila Velha realizado pela SEMPLA (2010), foi possível avaliar e sintetizar as informações em forma de tabelas para possibilitar o processo de diagnóstico.


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Tabela 5: Índices Populacionais e de Faixa Etária da área de Caracterização

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote. Mapa 4: Localização da área de caracterização nas Regiões Administrativas de Vila Velha

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote.


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A área de caracterização selecionada, apresentava em 2010 um total de 114.452 mil habitantes distribuídos pelos 13 bairros formadores da zona. O bairro Praia da Costa é o mais populoso, enquanto o de menor contingente populacional seria Vista da Penha. Com exceção de Vista da Penha, em todos os outros bairros a população feminina é consideravelmente superior a feminina. A maioria dos habitantes da zona de caracterização são adultos (75%) ou jovens (17%), o percentual de idosos representa 5%, conforme representado no gráfico abaixo. Gráfico 1: Faixa etária da população residente na zona estudada.

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote.

Tabela 6: Índices Populacionais e de Renda da área de Caracterização

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote.


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Como é possível averiguar na tabela anterior, existe disparidade econômica e de renda entre os bairros em análise, que ultrapassa os números e reflete diretamente no espaço urbano, nas moradias, infraestrutura e qualidade de vida local. Praia da Costa novamente se destaca, pois é o detentor do maior potencial médio de aquisição mensal; junto a Praia de Itaparica e Itapuã, esses bairros são responsáveis por elevar a renda média (R$ 1787,39) de toda a zona estudada, o que não reflete evidentemente a realidade. Os moradores dos bairros Boa Vista I, Vista da Penha e Boa Vista II são os que menor possuem renda média. Percebe-se que nas regiões mais próximas a orla marítima de Vila Velha, maior o poder aquisitivo da população. Esse cenário evidencia a desigualdade social presente em um pequeno espaço de território. Figura 48: Morfologia Recorrente bairro Praia da Costa

Fonte: Google Earth (2016) Figura 49: Morfologia Recorrente bairro Boa Vista I

Fonte: Google Earth (2016)


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As diferenças socioeconômicas são visíveis, uma vez que além das particularidades físico-espaciais demonstradas nas imagens acima, os índices acabam por reproduzir a realidade dos cenários. Para exemplar, pode-se citar as taxas de alfabetização, 99,40% da população da Praia da Costa sabe ler e escrever, em comparação a 94,50% dos moradores de Boa Vista I. Os índices parecem similares, mas pelo contrário, são significativos, se considerado a proximidade dos dois bairros e presença em um centro urbano. Quanta a taxa de Mortalidade, novamente Boa Vista I se destaca negativamente, muito provocado por razões de crime e violência. O bairro Praia de Gaivotas é o que apresenta menor fator de mortes na área estudada. Na tabela a seguir é possível, averiguar os dados acimas citados. Tabela 7: Taxas de Mortalidade e Alfabetização da área de Caracterização

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote.

Coqueiral de Itaparica, local exato de intervenção apresentou normalmente índices similares e superiores aos da média do conjunto da área de caracterização. O bairro possuía em 2010, 13.696 mil habitantes, sendo desses 6.239 mil homens e 7.457 mil mulheres. As taxas de Mortalidade e Alfabetização foram respectivamente 4,20 e 99,20. Os habitantes possuem renda mensal média de R$ 1.875,98, sendo que 62,80% da população recebe mais de um salário mínimo.


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4.3.2. Aspectos Ambientais

Conforme indicado pelo Mapeamento Geomorfológico do Espírito Santo realizado em 2012, pelo IJSN, Instituto Jones dos Santos Neves, Vila Velha teve formação geológica no período quaternário e tem como unidades geomorfológicas os Tabuleiros Costeiros* e as Planícies Costeiras, Estuários e Praias* na área de caracterização, conforme exposto no Mapa 5 - Geomorfologia presente na página seguinte. Ainda sobre os aspectos Geológicos, o relevo do município é predominantemente plano, em média 4 metros acima do nível do mar. Entretanto, a cidade está em suma maioria abaixo do nível do mar, incluindo considerável parte da zona de estudo (Figura 50); o que contribui para a ocorrência de deflúvios e enchentes (VILA VELHA, 2014). O ponto mais elevado da planície está no cômoro da praia que não deve ultrapassar os cinco metros de altitude, enquanto as outras áreas atingem no máximo dois metros de altura, isso torna Vila Velha suscetível as enchentes, uma vez que ás aguas tendem a correr para as áreas de altitude inferior (MORRO DO MORENO, 2012). Como se pode notar no Mapa 6 - Relevo a frente, dentre as elevações situadas próximo a área analisada encontram-se, o Morro do Moreno (Figura 51), que possui 164 metros de altura e abriga espécies remanescentes de mata atlântica; e o Morro da Penha (Figura 52), que tem 154 metros de altitude e é onde está localizado o Convento da Penha, importante marco histórico, cultural, turístico e religioso do Espírito Santo. Ambas as elevações são consideradas áreas de preservação permanente. Algumas ilhas litorâneas compõem o território da cidade, dentre elas é importante citar a Ilha Itatiaia que se destaca pela proximidade com a costa da Praia de Itapuã e importância ambiental pois a ilha rochosa é local de reprodução de aves marinhas como garças e andorinhas (VILA VELHA, 2014).


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Figura 50: Mapa Declividade

Fonte: EMBRAPA (2016) Figura 51: Morro do Moreno.

Fonte: http://www.penaestrada.blog.br/ (2013) Figura 52: Morro da Penha

Fonte: http://www.oocities.org/ (2013)


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Mapa 5: Unidades Geomorfolรณgicas da รกrea de estudo

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 6: Relevo e elevações da área de estudo

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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A cidade de Vila Velha se situa na planície costeira do Atlântico Leste e tem sua hidrografia composta pelas bacias dos rios Guarapari que possui 32 Km² de área e Jucu com 179 km² (VILA VELHA, 2014). A área de estudo, que foi definida de acordo a abrangência da bacia hidrográfica do canal alvo; encontra-se na Sub-bacia Canal da Costa, presente na Bacia Hidrográfica Praia da Costa (Figura 53), situada na Bacia do Rio Jucu. Segundo a AGERH (Agência Estadual de Recursos Hídricos) e o CBH Jucu (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu) (Figura 54) a zona caracterizada faz parte das unidades de planejamento Formate - Marinho e Costeira e Guarapari. A bacia hidrográfica do Rio Jucu possui área de drenagem de cerca de 2.032 km² (AGERH, 2017). Figura 53: Bacias Hidrográficas Vila Velha

Fonte: http://www.morrodomoreno.com.br/ (2013) Figura 54: Comitês de Bacias Hidrográficas

Fonte: http://www.cbh.gov.br/ - Adaptado por Lorena Venturote (2017)


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Entre outros cursos d’água, a malha hídrica do município é constituída pelo o Rio Jucu, que é o principal manancial de abastecimento de água da Grande Vitória, incluindo da cidade de Vila Velha. Este rio nasce em Domingos Martins na região serrana e deságua no Oceano Atlântico, na Barra do Jucu em Vila Velha. Diversos outros elementos hídricos da bacia que antes eram pequenos rios ou córregos, hoje podem ser classificados como canais de drenagem, é o caso do exemplo em estudo, Canal da Costa e seus tributários, conforme demonstrado no Mapa 7 - Hidrografia a frente (VILA VELHA, 2014). Ao longo de toda a bacia do rio Jucu é encontrado problemas como assoreamento, lançamento de esgoto não tratado, desmatamento, queimadas, erosão e ocupação irregular das margens do rio. O canal da Costa é fortemente influenciado pelos níveis da maré e cheias no Rio Jucu, o que potencializa a ocorrência de inundações na incidência de chuvas. Este deságua na baía de Vitória, no bairro Praia da Costa. (VILA VELHA, 2014). Figura 55: Inundações na área de Intervenção

Figura 56: Ocupações nas margens do Canal da Costa em Itapuã

Fonte: http://docedeni.blogspot.com.br (2013)

Fonte: Autoral (2016)


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Mapa 7: Hidrografia da รกrea de estudo, destaque para o canal da Costa

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, AGERH, elaborado por Lorena Venturote


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Vila Velha, possui 32 km de litoral, sendo que as famosas praias, Praia da Costa, Praia da Sereia, Praia de Itapuã e Praia de Itaparica se encontram na área de estudo. A cidade também é reconhecida pelos monumentos históricos tais como o Convento da Penha e o Farol de Santa Luzia que estão diretamente inseridos na zona de caracterização, mas destaca-se também o Sítio Histórico da Prainha, o Museu Ferroviário da Vale em Argolas e o Santuário Divino Espírito Santo no centro da cidade, entre outros (VILA VELHA, 2014). O clima do município é o tropical quente super‐úmido e a umidade relativa do ar é de 80%. A temperatura média anual é 24,7 °C, sendo que as estações são caracterizadas como: os invernos são secos e amenos, os verões chuvosos com temperaturas elevadas, o outono e a primavera são períodos de transição. A precipitação média anual é de 1.253,8 mm; agosto é considerado o mês mais seco. (VILA VELHA, 2014). Em relação a cobertura vegetal, Vila Velha é o município que apresenta cenário mais preocupante na Região Metropolitana da Grande Vitória, a cidade apresenta um grau de desmatamento elevado, onde se pode observar grandes extensões de solo descoberto ou revestido por herbáceas dispostas de forma dispersa. As reservas florestais remanescentes são pequenas e em número reduzido. A fauna e flora natural de Vila Velha é composta por espécies de vegetação litorânea e Mata Atlântica, sendo que o recobrimento vegetal natural se caracteriza por apresentar floresta atlântica de planície e encosta nas áreas mais elevadas e restinga nas áreas planas (VILA VELHA, 2014). A área de estudo, que abrange o Canal da Costa e a Sub-Bacia Canal da Costa, além dos bairros imediatamente vizinhos a sub-bacia; se caracteriza pela predominância do uso urbano, quanto a cobertura do solo. Além do fato que por seu perímetro ser limítrofe ao litoral a área apresenta, portanto, praias e pontos de afloramento e pequenas ilhas oceânicas em sua costa. Ao norte da zona de caracterização há focos de florestas e áreas em aclive, as áreas de preservação já mencionadas, Morro do Moreno, Morro do Convento da Penha, Morro da Ucharia e Morro de Jaburuna, além do Morro do Sítio da Batalha dentro da Poligonal. Tal como, essas regiões representam no zoneamento urbano estipulado pelo PDM de Vila Velha, áreas ambientas classificadas em ZEIA (Zonas de Especial Interesse Ambiental), também existem fragmentos do território classificados como ZEIA-B, cujas definições constam na seção (4.4.1. Zoneamento) a frente (VILA VELHA, 2007).


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Os canais que percorrem a área de caracterização ocasionam em suas margens ambientes de vulnerabilidade tanto em questões relacionadas a infraestrutura, como em relação a poluição hídrica, sonora, visual e olfativa. Além disso essas regiões são marcadas ocasionalmente por ocupações irregulares e assentamentos subnormais, é o caso de pontos no Canais da Costa, Capixaba e Bigossi e Córrego Garanhuns. Além disso, moradores de ruas e usuários de drogas costumam se apropriar dessas áreas livres, sendo as adjacências do Canal Bigossi e Canal da Costa entre a Rua Itaóca e Aveniada João Mendesuas alvos dessa parcela da população. Como já citado o município sofre com inundações recorrentes, frequentes em vias próximas a malha hídrica seja em estado exposto ou coberto, e em áreas abaixo do nível do mar. Os principais pontos de alagamento foram assinalados no mapa que segue. A zona de estudo possui inúmeros edificações de cunho social, saúde, ensino e segurança, espelhados no perímetro. No entanto, percebe-se considerável deficiência e afastamento dos pontos de âmbito social, segurança e principalmente saúde. De forma geral, as áreas livres de uso público e equipamentos coletivos não oferecem condições plenas de uso. Dessa forma entende-se que é necessário o aperfeiçoamento e aumento dos serviços sociais. A distribuição das características citadas encontra-se sintetizada no Mapa 8 Aspectos Ambientais a seguir.


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Mapa 8: Recursos Ambientais e ocupação do Solo Vila-velhense

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, AGERH, elaborado por Lorena Venturote


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4.3.3. Aspectos Legais

O novo plano diretor municipal de Vila Velha está em desenvolvimento e encontra-se na quarta, das sete etapas previstas para sua conclusão. Como recomendado pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) de julho de 2001 e determinado pela Constituição Federal de 1988 a revisão do plano deve ser realiza no máximo a cada 10 anos. Até o momento de entrega desta dissertação, o Plano diretor encontra-se em fase de levantamento de informações e mapeamento das ações previstas para uso e ocupação do solo (VILA VELHA, 2016). Dessa forma, ainda está em vigor a Lei nº 4.575/2007, instituída no dia 26 de novembro de 2007. Os aspectos ambientais são importantes para a proposta vigente, quanto a isso, vale destacar que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (SEAMA) e o Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA) são órgãos que atuam sobre o município. (VILA VELHA, 2014). A cidade apresenta certa autonomia sobre o assunto, graças ao código ambiental de Vila Velha instituído no dia 20 de outubro de 2010 pela Lei nº. 4.999/2010. A legislação permite o município atender às suas necessidades ambientais específicas, além de conquistar autonomia para atuar na concessão de licenciamentos para empreendimentos com impacto ambiental local. Além disso o código permite que o município tenha maior controle sobre as atividades potencialmente poluidoras, uso comum de áreas de preservação, espaços territoriais especialmente protegidos; unidades de conservação; licenciamento ambiental; controle e educação ambiental; e ainda saneamento básico e controle da poluição sonora e visual. Todavia, apesar do prevalecimento da legislação, percebe-se ineficiência da fiscalização da cidade. Figura 57: Fiscalização Ambiental em visita na área de intervenção.

Fonte: http://www.vilavelha.es.gov.br/ (2016)


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4.4. MORFOLOGIA 4.4.1. Zoneamento

O zoneamento urbano institui as regras de uso e ocupação do solo urbano para cada uma das zonas criadas, com o objetivo de consolidar e otimizar a infraestrutura básica instalada de maneira a evitar vazios urbanos e a expansão desnecessária da malha urbana (VILA VELHA, 2007, 39 p.).

O Plano Diretor Municipal de Vila Velha (Lei nº 4.575/2007), estabeleceu para a área de caracterização o zoneamento urbano indicado conforme mapa seguinte. Na região estudada encontra-se a ocorrência de 11 diferentes classificações definidas pelo PDM Municipal. Das zonas urbanas categorizadas, ocorrem na área analisada ZOPs, ZPACs, ZEE e ZEIs. A Zona de Ocupação Prioritária se refere à parte do território da cidade de melhor infraestrutura, onde é indicado incentivar o adensamento e a renovação urbana, com predominância do uso residencial e prevenção contra usos e atividades econômicas potencialmente geradoras de impacto urbano e ambiental (VILA VELHA, 2007). Como é possível identificar no Mapa 9 - Zoneamento a frente, em um pequeno trecho na orla da praia de Itaparica está a ZOP 1 que por objetivo de proteção indica o baixo coeficiente de aproveitamento do terreno. A ZOP 2, referente a orla urbana da Praia da Costa determina que o coeficiente de aproveitamento deva ser compatível com a verticalização das edificações já consolidadas. Da mesma forma a ZOP 3 informa que o coeficiente de aproveitamento deva ser compatível com a verticalização das edificações consolidadas na orla urbana de Itapoã e Itaparica. Já a ZOP 5 estabelece que o coeficiente de aproveitamento seja compatível com a infraestrutura instalada, incentiva a renovação urbana e promove a implantação de novos parcelamentos caso a integração com a malha viária seja necessária (VILA VELHA, 2007). Essa zona se refere a futura área de intervenção e corresponde a maior porção de território da região estudada. Segundo o Plano Diretor Municipal (VILA VELHA, 2007), A ZPAC, Zona de Proteção do Ambiente Cultural corresponde as áreas centrais destinadas à proteção do patrimônio ambiental, histórico e cultural, com a intenção de garantir a preservação e proteção dos bens existentes. As ZPAC 1, 2 e 3 não estão exatamente


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compreendidas na área de caracterização; apenas uma parcela territorial da ZPAC 1, relacionada as diretrizes pertinentes às unidades de conservação ambiental e cones visuais do Convento da Penha, e ZPAC 2, onde prevalece o coeficiente de aproveitamento e verticalização limitados e aproveitamento da infraestrutura urbana consolidadas (VILA VELHA, 2007). No momento vale ressaltar que a importância dessas zonas está na relação histórica, ambiental e cultural estabelecida com o Canal da Costa, o curso d’água objeto de transformação. A título de estudo de impacto urbano e ambiental, vale ressaltar mesmo que fora da área de estudo a presença da ZEE4, Zona de Equipamentos Especiais que compreende à área do Colégio Marista. Apesar da menor predominância no cenário analisado as ZEIs, Zonas de Especial Interesse, são importantíssimas, principalmente quando remetidos a futura proposta. Essas zonas correspondem as áreas do território que carecem de tratamento específico para indução do desenvolvimento urbano e aplicação de parâmetros e instrumentos da política urbana. Em parte do bairro Divino Espírito Santo está indicado a ZEIU, Zona de Especial Interesse Urbanístico, que é prioritária para a implantação de intervenções voltadas para a ocupação urbanística ordenada e melhoria dos espaços públicos (VILA VELHA, 2007). E por fim, há também as Zonas de Especial Interesse Ambiental que são porções do território municipal, de domínio público ou privado, cujas proteção e conservação dos recursos naturais são fundamentais. Além das ilhas oceânicas; próximo a área de desague do Canal da Costa se encontra as ZEIAs, Zona de Especial Interesse Ambiental, mais conhecidas da cidade; Morro do Moreno e Morro da Penha. Além disso, existem as ZEIAs B, no caso adjacentes as áreas de preservação permanente citadas, e dispostas de forma fragmentada pela região territorial em análise. Essas zonas estão relacionadas as áreas verdes e paisagísticas públicas, praças, mirantes e parques urbanos localizados nas zonas urbanas, com o objetivo de proteger as características ambientais existentes e oferecer espaços públicos qualificados (VILA VELHA, 2007).


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Mapa 9: Zoneamento Urbano Ă rea de Estudo

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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4.4.2. Densidade Demográfica

A partir dos dados do perfil socioeconômico por bairros de Vila Velha realizado pela SEMPLA (2010), foi realizado uma tabela com o objetivo de sintetizar as informações da área de caracterização em relação a densidade demográfica. Dessa forma, conclui-se que Boa Vista I, com 344,66 hab./ha, seja o bairro mais adensada da zona de estudo, seguido pelo bairro Vista da Penha com 265,71 hab./ha. Os mesmos também apresentam as maiores taxas de Moradias por Hectare e Habitantes por moradia. Isso demonstra a acuidade aos dados em relação aos fatos. Esses bairros são as regiões estudadas que visivelmente e estaticamente apresentam maior precariedade e incidência de aglomerados subnormais. A média geral do conjunto estudado, de habitantes por hectare (152,69) indicou que os bairros Boa Vista I (344,46), Boa Vista II (169,10), Coqueiral de Vila Velha (173,88), Itapuã (212,09), Praia de Gaivotas (193,88), Vista da Penha (265,71), Santa Mônica (175,08) e Santa Mônica Popular (153,03) estão acima da média. Isso demonstra a tendência ao uso residencial e adensamento populacional. A média geral do conjunto estudado, de habitantes por moradia (2,94) indicou que os bairros Boa Vista I (3,22); Divino Espírito Santo (3,01), Vista da Penha (3,07), Cocal (3,10) e Santa Mônica (2,97) estão acima da média. Isso ilustra o perfil recorrente das famílias que apresentam em média 3 membros. Tabela 8: Taxas de População, Total de domicílios e Densidade Demográfica da área de estudo

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote.


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Mapa 10: Densidade Demográfica dos bairros na área de caracterização

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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4.4.3. Setorização

A seção, denominada Setorização representa a próxima etapa na metodologia de estudo adotada. Nessa sessão o Plano de Requalificação continua, após a análise da área de caracterização; presente neste capítulo e antes apresentada; o próximo passo é a classificação de setores correlatos e assim a especificação de uma poligonal de Intervenção, conforme destacado no Mapa 14 ilustrado a frente. Figura 58: Diagrama etapas Metodologia de Estudo.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)

A concepção desse agrupamento foi possível a partir da realização, observação e análise desse diagnóstico, considerando as informações coletadas e também os aspectos sociais, econômicos, legais e ambientais mencionados. Além disso, optouse por identificar a predominância dos usos e cobertura da terra, tipologias, volumes e edificações e malha viária de cada bairro avaliando-se também os índices socioeconômicos diretamente relacionados. O resultado da análise, foi sintetizado em forma de tabela e reproduzidos no Mapa 14 - Setorização seguinte que apresenta além do citado, a distribuição dos equipamentos públicos, de saúde, ensino, segurança e de serviço social; dos espaços urbanos; áreas de preservação ambiental, malha viária entre outros aspectos. Dessa forma, foram identificadas onze ambiências, definidas por similaridades e potencialidades. Além disso são


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apresentados a seguir os Mapas 11, 12 e 13 - Figura/ Fundo da Malha Viรกria, Macroparcelamento e Microparcelamento, cuja anรกlise consta na tabela. Tabela 9: Morfologia

Fonte: SEMPLA (2010); elaborado por Lorena Venturote.


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Mapa 11: Malha Viรกria

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 12: Macroparcelamento

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 13: Microparcelamento

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 14: Setorização

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, AGERH, elaborado por Lorena Venturote


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O Mapa de Setorização é o resultado do Diagnóstico da área de estudo, cujas características históricas, socioeconômicas, ambientais e legais foram analisadas e consideradas. Destaca-se, que para proposta de intervenção projetual a área definida foi a poligonal intitulada Setor H, que se encontra assinalada no Mapa 14. O trecho foi escolhido devido as potencialidades ambientais, urbanísticas e paisagísticas que apresenta e a ainda devido a centralidade na área de caracterização. Outro fator importante para escolha e que poderá ser evidenciado a frente na próxima seção; é que a área contém terrenos ociosos e áreas urbanas negligenciadas paralelas ao Canal da Costa, apresentando assim considerável porção de território para revitalização. A área também agrupa importantes equipamentos públicos para a cidade de Vila Velha, o que viabiliza, valoriza e respalda a escolha da região, fora equipamentos comerciais e institucionais como o Shopping e a Universidade Vila Velha. O eixo se encontra em uma área consolidada, conhecida, populosa, carente de espaços públicos e estratégica em relação a conexão entre bairros. Além disso a experiência e afeto da graduanda como usuária e moradora também influenciaram e motivaram a escolha do local.


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4.4. POLIGONAL DE INTERVENÇÃO

A área de Vila Velha (ES) a ser transformada, denominada genericamente como Setor H, está situada ao longo do Canal da Costa, na Avenida Délio Silva Britto, no bairro Coqueiral de Itaparica e imediações, como se pode notar no Mapa 15 Poligonal de Intervenção. Como exposto no capítulo anterior, o perímetro desta zona foi delimitado pela análise da área de caracterização e consequente identificação de semelhanças socioeconômicas, físicas e ambientais; além da observação de vulnerabilidades e potencialidades. A poligonal envolve a integridade dos bairros Coqueiral de Itaparica e Santa Mônica, além de partes dos bairros Itapuã, Divino Espírito Santo, Boa Vista II, Residencial Coqueiral, Cocal e Praia de Itaparica. Mapa 15: Poligonal de Intervenção

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Para entender o perfil e configuração da poligonal é preciso fazer um breve histórico. Na primeira metade do século 20 a distribuição fundiária da região consistia em fazendas familiares, as quais as porções de terra foram distribuídas entre gerações ou mesmo comercializadas com o passar do tempo. O território da zona estudada pertencia a família Oliveira Santos. A área outrora conhecida como Baixada de Guanharuns e posteriormente Itaparica, passou a se denominar Coqueiral de Itaparica devido a uma remota plantação de coqueiros ali existentes. Outra herança deste período são os nomes atribuídos as ruas da região que receberam o prefixo “Ita”; com o passar dos anos certas vias foram renomeadas em homenagem a personalidades locais. Segundo relatos, a região possuía solo arenoso; a paisagem era composta por pastagens, pomares e densa vegetação nativa; na praia a restinga era predominante. Devido às chuvas e vestígio de córregos que corriam naturalmente pela zona, a área se transformava em brejo. Nos canais haviam peixes, os quais antigos moradores costumavam pescar. No entanto, o cenário começou a mudar a partir das décadas de 60 e 70 com a implantação de casas populares de autoria da Cohab-ES (Companhia Habitacional do Espírito Santo). Através de investimentos do BNH (Banco Nacional da Habitação), a poligonal de intervenção sofreu processo de urbanização a partir da década de 80 com a implantação do Parque Coqueiral de Itaparica composto por conjuntos habitacionais verticalizados conhecidos popularmente como “ 7 Etapas e H12”. Esses acontecimentos, associado a decomposição natural de matéria vegetal desencadeou a poluição do Canal da Costa, que atualmente corta a área. De acordo relatos de antigos residentes, próximo onde hoje é a sede do Fórum de Vila Velha havia no canal uma roda d’água. O equipamento era necessário para movimentação e oxigenação, uma vez que o curso d’água ainda não havia sido canalização ou tido criado galerias. Nessa época apenas a Av. Santa Leopoldina possuía pavimentação, sendo coberta por blocos de concreto. A área passou a ter maior similaridade com o estado atual depois de meados dos anos 80 e década de 90, onde terrenos ociosos deram lugar a antiga sede da Faculdade Novo Milênio (hoje COC) e Posto de Saúde de Coqueiral. Antigamente, onde se situa o Supermercado Casagrande existia um parque de diversões. As etapas foram muradas, transformando o grande conjunto de vilas em condomínios fechados. Na década de 90 e 00, a orla passou a ser alvo de verticalização, sendo este processo


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gradual. De acordo relatos, os primeiros edifícios multifamiliares da Orla demoraram anos para finalização. O eixo paisagístico alvo de projeto, está ao longo do Canal da Costa, adjacente a Avenida Délio Silva Britto - Rua Itaóca, paralelo à praia e perpendicular às áreas livres de uso público como o primeiro parque urbano de Vila Velha, o Parque Municipal de Cocal e a Praça de Coqueiral de Itaparica, também ao Fórum, Procuradoria de Justiça, Prefeitura e INSS de Vila Velha; e Faculdade Novo Milênio, Universidade e Shopping Vila Velha, entre outros estabelecimentos, como assinalado no Mapa 16 - Eixo Paisagístico que segue. O Eixo de intervenção tem potencial para se estender pelos demais setores, ou mesmo em outras regiões, e deveria se integrar por exemplo ao sistema cicloviário. Mapa 16: Eixo Paisagístico

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Já quanto ao uso e ocupação do solo atual, verifica-se a predominância da função residencial, com destaque para a existência de equipamentos públicos e edificações destinadas a função serviço, fato esse que influenciou a delimitação da poligonal adotada. Também se percebe a expansão e potencial para atividades comerciais e urbanas tal como o eixo paisagístico, a praça e o parque de Cocal, como pode-se observar no Mapa 17 - Uso e Ocupação do Solo, apresentado a frente. O eixo de intervenção é utilizado atualmente apenas como ponto de transição sendo que poucos usuários frequentam o ambiente. É o caso de alguns food trucks e barracas de alimentos que se apropriam do local durante o período noturno. Veículos de médio a pequeno porte costumam ficar estacionadas na Av. Délio Silva Britto, principalmente carros de frete e ônibus escolares (Figura 59). A rua Itaperuna, ao lado do Ginásio Poliesportivo Presidente João Goulart (Tartarugão) é pouco transitada, sendo assim, a via é quase que totalmente usada para a realização de provas, testes e aulas de autoescolas e também a feira de frutas, legumes, verduras, carnes, peixes e variedades da região. A feira livre do bairro, é realizado parte no eixo paisagístico e parte na Rua Itaperuna, todas as sextas feiras. Figura 59: Veículos de médio a pequeno porte estacionados no eixo paisagístico

Fonte: Autor (2017)

Na poligonal há importantes edificações institucionais, como a Universidade Vila Velha, as faculdades Ateneu e Novo Milênio, o colégio COC e várias escolas públicas. Como já mencionado, identifica-se o posto de saúde de Coqueiral de Itaparica como edificação de Saúde e pode-se mencionar também o Hospital Santa Mônica nas imediações da poligonal. Na região não há edificações destinadas a função social e segurança. Há postos de vigilância da Guarda Municipal em 2 pontos na área, um em frente ao Shopping Vila Velha ao Norte da Poligonal e o outro situado na praça de Coqueiral de Itaparica.


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Mapa 17: Uso e Ocupação do Solo

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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A ocorrência de edificações de caráter religioso é frequente ao longo da bolha estudada. Pode-se apontar a Igreja Católica Nossa Senhora das Graças situada ao lado da praça e a Igreja adventista do 7º dia de Santa Mônica - Espaço Novo Tempo situada em frente ao canal. Além disso, uma característica na área é a presença de alguns terrenos ociosos ou disfuncionais. Há a reincidência de campos de futebol e prática esportivas privadas ou semiprivadas, que apesar do uso frequente são carentes de infraestrutura. O Canal da Costa possui desde o bairro Santa Mônica até sua foz na baía de Vitória no bairro Praia da Costa possui 6,2 km (VILA VELHA, 2016). Como já mencionado a cidade de Vila Velha possui problemas com alagamentos desde sua origem. Isso ocorre devido parte da cidade, incluindo a poligonal de intervenção, está abaixo do nível do mar (Figura 60) e implantada na planície de inundação do Rio Jucu. A administração pública (Prefeitura Municipal e Governo do Estado) e a concessionária de esgoto e água (CESAN) possuem visões diferentes quanto ao combate a esses fenômenos. Enquanto a gestão pública atua sobre a vertente da macrodrenagem e bombeamento das águas pluviais através de estações que escoam o conteúdo com maior rapidez para a baía de Vitória; a CESAN defende medidas relacionadas a saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto e lagoas de estabilização para evitar que 857,3 mil litros de emissões por dia sejam eliminados no meio ambiente (CESAN, 2015). Figura 60: Mapa Declividade no Eixo Paisagístico

Fonte: EMBRAPA (2017)


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A Subestação de Energia situada próximo a faculdade Novo Milênio, produz constantes ruídos que segundo relatos de estudantes provocam sustos, incomodam e atrapalham o desenvolvimento das atividades acadêmicas. Uma linha de alta tensão atravessa o eixo paisagístico, a mesma se inicia na subestação em Coqueiral de Itaparica e segue pelos bairros Santa Mônica Popular, Praia das Gaivotas, Guaranhuns e no Polo Empresarial Novo México, sendo redistribuída sentido bairro Vale Encantado. Quanto ao gabarito (Mapa 18) das edificações pode-se considerar que a área apresenta aparência de transição entre a alta verticalização da Orla e a altura moderada estipulada para a maioria dos bairros vizinhos a poligonal. Os conjuntos habitacionais multifamiliares conhecidos como etapas possuem 4 pavimentos, enquanto o condomínio H12 possui essa nomenclatura em referência ao número total de seus pavimentos. Também se destacam na paisagem os condomínios Caiçaras e Candeias e Morada da Praia - Leblon, ambos com 8 pavimentos (Figura 61). No momento a edificação de maior gabarito no território da poligonal é o edifício comercial Canal Office Tower com 20 pavimentos. O conjunto das etapas, tornam a paisagem homogênea e a visualização/ direcionamento limitados. O bairro Santa Mônica é a região que mais se distingue da poligonal, por razões de parcelamento do solo, tipologias, gabarito e usos (Figura 62). Os lotes são menores e apresentam edificações de 1 a 4 pavimentos de uso residencial, cuja paisagem predominante é formada por residências térreas ou de 2 pavimentos, e 3 pavimentos em determinados casos. Há algumas poucos ocorrências de edifícios multifamiliares de 3 a 4 pavimentos, ou ainda mistos com uso comercial no pavimento térreo. Na totalidade do bairro Santa Mônica próximo a transição para o bairro Coqueiral de Itaparica, existe algumas edificações de função religiosa, dois clubes de atividades esportivas e um Ginásio Poliesportivo conhecido como Tartarugão. Essa parte da poligonal ainda apresenta duas escolas e duas praças. Essa porção da poligonal representada pelo bairro Santa Mônica reproduz um cenário homogêneo que por sua vez difere-se do restante da poligonal. Outra área que ressalta no setor por razões de disparidades e a área adjacente ao Canal da Costa ao norte da poligonal entre a Av. Délio Silva Britto e a Av. Santa Leopoldina, em Coqueiral de Itaparica (Figura 63) e a porção do bairro Itapuã. Essa área apresenta o principal cenário de vulnerabilidade na área, pois localiza-se imediatamente às margens do curso d’água poluído. Além disso, as edificações são


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habitações evolutivas que apresentam falta de infraestrutura e aspecto precário, o gabarito varia entre em suma maioria residências de 1 a 4 pavimentos distribuídas sem afastamento lateral, a malha urbana possui pontos desconexos, formados por ruas sem saída, o parcelamento do solo por sua vez gerou lotes pequenos e estreitos. Todas essas características geram grande contraste com o restante da poligonal de intervenção. Figura 61: Transição entre gabaritos diferentes na R. Sete em Coqueiral de Itaparica.

Fonte: Google Earth (2017) Figura 62: Panorama R. Cinco em Santa Mônica.

Fonte: Google Earth (2017) Figura 63: Panorama R. Ormandino Gomes em Coqueiral de Itaparica, norte da poligonal.

Fonte: Google Earth (2017)


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Mapa 18: Gabarito

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Em relação a mobilidade urbana (Mapa 19), o setor analisado recebe no geral tráfego moderado formado por veículos de pequeno a médio porte, com exceção do trecho na extremidade norte da poligonal representado pela conexão Av. Luciano das Neves/ Rodovia do Sol que por sua vez é um dos eixos rodoviários mais importantes do município. A região apresenta circulação confusa devido as vias prioritárias da área que são a Av. Santa Leopoldina e a Rua Dr. Annor da Silva apresentarem sentido único. Os acessos à Universidade Vila Velha, Faculdade Novo Milênio e às escolas como o COC de Coqueiral de Itaparica geram conflitos durante os horários de pico. Apesar das recentes intervenções realizadas para a implantação do Fórum de Vila Velha e Shopping Vila Velha; que tornou sentido único o trecho da Rua Luís José no quarteirão desses equipamentos; a geração de tráfego não foi inibida. O Shopping Vila Velha provocou alterações na malha viária local. A Rua Juscelino Kubitscheck sofreu transformações sendo essas expansão e infraestrutura básica. Na perpendicular entre o Rua Juscelino Kubitscheck e Rua Luís José foi implantada uma rotatória para facilitar o fluxo, que ainda permite conexão com Av. Délio Silva Britto, que fora por sua vez ampliada e teve seu leito desviado para promover tal conexão. A construção do Shopping Vila Velha ainda ocasionou o prolongamento da Rua Belém, via perpendicular à Av. Luciano das Neves, que permite atualmente acesso imediato ao empreendimento. Devido a isso, a quadra onde hoje é o trecho criado da via foi parcelada e parte do Canal da Costa foi encoberto para construção da conexão. Essa alteração no sistema viário da cidade tinha o objetivo de facilitar o acesso de moradores do bairro Itapuã, o que de fato ocorreu. A figura 64, apresentada a frente, ilustra as transformações ocorridas na região, conforme citado. Também para combater situações de trânsito nas imediações da Praça Coqueiral e principalmente na via de acesso ao colégio COC, um trecho da Rua C foi interrompido tendo o fluxo bloqueado para um dos sentidos. Dessa forma para acessar a Rua C sentido Norte Sul e preciso contornar o perímetro da praça. Outras áreas na poligonal que também sofreram alterações urbanísticas e paisagísticas nessa década foi justamente o eixo paisagístico que teve a inclusão de caminhos, ciclovia e vegetação em suas margens. Essa região do municipal vem sofrendo pequenas e medianas alterações infraestruturais devido não apenas a sua origem recente, como também ao crescimento econômico da área que tem sido considerada o novo centro comercial do município.


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Figura 64: Transformações urbanas provocadas pela implantação do Shopping Vila Velha e outros.

Fonte: Google Earth, adaptada por Lorena Venturote (2017)

O transporte público se adequou a essas mudanças, todavia, tanto essa zona da poligonal e a quadra da Praça de Coqueiral de Itaparica, apresentam fluxo inoportuno. Os acessos a essas instituições de ensino são limitados e devido a isso geram conflitos tanta para veículos particulares como para usuárias de transporte coletivo. As linhas de ônibus destinadas a região e principalmente para acesso à Universidade oferecem serviço insuficiente e inapropriado. Fora que se percebe a


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incapacidade das vias em comportar veículos, ônibus, ciclistas e pedestres na junção formada pelas ruas Luís José, Rua Gonçalves Dias e Av. Délio Silva Britto. Da forma atual o eixo paisagístico é apenas uma via de transição entre os bairros da poligonal, o que se deve ser mudado. A prestação de transporte coletivo oferecido à poligonal é oferecida pela empresa CETURB, responsável pelo transporte metropolitano da Grande Vitória. As principais linhas de ônibus oferecidas aos moradores da região são: 605 (Terminal do Ibes/ Terminal de Vila Velha), 606 (Terminal do Ibes/ Terminal de Vila Velha) e 610 (Terminal de Itaparica/ Terminal de Vila Velha). O serviço de micro-ônibus seletivo também é ofertado, sendo este representado apenas pela linha 1610 (Araças/Jardim Camburi). Uma observação interessante é que todas os ônibus circulam pela Rua C. em Coqueiral de Itaparica. O Mapa 20 - Transporte Público ilustra as rotas das linhas disponíveis. Com exceção de algumas ruas sem saída no norte do setor, como assinalado no Mapa 19 - Mobilidade Urbana, todas as vias da poligonal são pavimentadas, todavia nota-se a ausência de itens básicos como lixeiras e mobiliários urbanos. A iluminação pública é presente, porém ineficaz o que propicia a ação de meliantes. Próximo ao Parque Municipal de Cocal, pode-se considerar a iluminação fraca e inadequada uma vez que a maioria dos usuários alertaram em pesquisa sobre isso. Já quanto a questão de segurança pública a zona apresenta vetores de furtos e assaltos principalmente nas proximidades da Universidade Vila Velha. Na poligonal, poucos trechos possuem ciclovias ou ciclorotas, sendo as mesmas desconexas. Pode-se citar no setor apenas a ciclovia criada no eixo paisagístico, na área urbana situada ao longo do Canal da Costa, que se liga à ciclorota da Av. João Mendes em Santa Mônica. Além disso, se destaca nas proximidades da zona estudada somente as ciclovias presentes na orla de Vila Velha e na Rua Jair de Andrade e Av. Capixaba. Por se tratar de uma região de características residenciais a poligonal e frequentemente usada por pedestres e veículos os quais transitam a bolha para se locomover. Atualmente, apenas o Parque Municipal de Cocal oferece atributos que possibilitem a permanência dos usuários no local. Fora a isso, a pracinha de Vila Velha e Santa Mônica são frequentados devido o oferecimento de carros e barracas de alimentos que se posicionam na maioria dos dias a noite nesses locais. Durante o dia, esses espaços tornam-se obsoletos se transformando apenas em áreas de transição.


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Em relação a Hierarquia Viária, conforme é possível averiguar no Mapa 21 a frente, o PDM de Vila Velha (Lei 4575 de 2007) classifica o sistema viário da poligonal em Vias Locais, Coletoras e Arteriais (Classe 1 e Classe 1 projetada). As vias locais permitem o acesso direto as edificações; já as coletoras possuem função de conexão entre as vias locais e as vias arteriais; as arteriais, por sua vez, destinam-se a ligações em âmbito municipal. As vias Arteriais Classe 1 apresentam menor porte que a Arterial Classe 0 e incentivam o desenvolvimento de atividades mistas e comerciais de médio impacto (VILA VELHA, 2007). Para a Av. Délio Silva Britto, o PDM prevê seu prolongamento e junção a R. Canal da Costa. A Rua entre o Shopping e Universidade Vila Velha, consta no PDMVV (Lei 4575 de 2007) como via local. Todavia, devido as transformações ocorridas e citadas, acredita-se que a via teve sua essência alterada para via coletora e deveria apresentar, portanto, outra classificação. Sendo assim, a rua em mapa foi identificada como Via Recente. Todas as características e fatos citados foram sintetizadas e deram origem aos mapas relacionados a seguir:


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Mapa 19: Mobilidade Urbana

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, CETURB, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 20: Transporte Público

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, CETURB elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 21: Hierarquia Urbana

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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4.6. VULNERABILIDADES E POTENCIALIDADES

Após a etapa de Diagnóstico da Área de Estudo e Poligonal de Intervenção foi possível identificar parâmetros positivos e negativos, os quais são ferramentas fundamentais para a construção do conceito e adoção da abordagem da proposta projetual. As vertentes desfavoráveis devem ser solucionadas ou ao menos inibidas e os pontos favoráveis devem ser valorizados. Dessa forma, as vulnerabilidades e potencialidades observadas constam expostas a seguir e esquematizadas a frente no Mapa 22 - Síntese: Vulnerabilidades e Potencialidades. VULNERABILIDADES: As principais vulnerabilidades da área são de caráter ambiental e urbano, e são heranças do processo de urbanização informal ocorrido no município. A poligonal de intervenção está localizada em áreas de várzea e, portanto, os alagamentos são uma consequência imediata. O Canal da Costa, grande foco deste trabalho, está poluído de forma avançada, o que denigre a paisagem, provoca mal cheiro, incentiva o descarte de lixo, provoca a proliferação de pragas e insetos; tornando assim o ambiente insalubre e inadequado. Além disso, esse cenário de poluição dificulta o escoamento das chuvas ocasionando sobrecarga no leito canalizado (Figura 65) e eventualmente o transbordamento do canal. Além disso, a falta de infraestrutura mínima configura um cenário alarmante e inapropriado, principalmente no eixo paisagístico. A falta de barreiras ao longo do curso d’água pode gerar acidentes; há ocorrências de quedas no canal por parte de animais e até mesmo de pessoas e ciclistas. As pontes para pedestres estão, em sua maioria, em estado impróprio para uso, principalmente em relação aos guardascorpos metálicos que se encontram enferrujados ou mesmo inexistentes (Figura 66 e 67). A ciclovia proposta na Av. Délio Silva Britto e Rua Itaóca no eixo paisagístico não apresenta sinalização e estrutura adequada (Figura 68), nas interseções entre vias não há continuidade. Os passeios são ociosos e falta instrumentos de conexão entre o usuário e o espaço urbano.


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Figura 65: O Canal da Costa na Av. Délio Silva Britto durante período de chuva.

Figura 66: Guarda-corpo enferrujado e danificado no eixo paisagístico.

Fonte: Autor (2016)

Fonte: Autor (2016)

Figura 67: Ausência de guarda-corpo em ponte para pedestre no eixo paisagístico.

Fonte: Autor (2016)

Figura 68: Ciclovia com infraestrutura inadequada.

Fonte: Autor (2016)

A presença de ocupações precárias às margens do curso d’água gera área de vulnerabilidades (Figura 69). Isso ocorre principalmente ao norte da poligonal, entre os limites do bairro Itapuã e Coqueiral de Itaparica até a Subestação Elétrica. Nessa região o Canal da Costa não é canalizado (Figura 70). Outra desvantagem é a rigidez dos conjuntos habitacionais que com seus longos muros e grandes quadras limitam a permeabilidade, visualização e plena utilização do espaço (Figura 71).


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Figura 69: Ocupações nas margens do Canal da Costa.

Figura 70: Canal da Costa ao norte da poligonal de Intervenção.

Fonte: Autor (2016)

Fonte: Autor (2016)

A ausência de infraestrutura ao longo de toda a região é notória, principalmente quanto a existência de mobiliário urbano. Com exceção do Parque Municipal de Cocal inaugurado no ano de 2016, os demais espaços públicos e/ ou vias não apresentam lixeiras, bancos e iluminação adequada para usuários (Figura 72), sendo embora improvisado em determinadas locais. Há quatro bancas de jornais na região, porém as mesmas se localizam em um pequeno raio deixando as demais áreas da poligonal desprovidas deste serviço (Mapa Síntese - Potencialidades e Vulnerabilidades). Figura 71: Grandes quadras e conjuntos habitacionais murados.

Figura 72: Bancos encontrados no Eixo Paisagístico

Fonte: Autor (2016)

Fonte: Autor (2016)

A praça de Coqueiral de Itaparica é alvo da incidência de moradores de rua, que pernoitam nas áreas verdes do espaço. A praça possui um espelho d’água/Chafariz que devido à falta de manutenção constante, normalmente se encontra sujo e poluído. Tal elemento representa grande foco de insalubridade público pois nesse estado perpetua a proliferação de insetos transmissores da Dengue, Zika e Chikungunya; fora a ocorrência de pombos mortos.


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Quando presente, a sinalização e infraestrutura dos pontos de ônibus é falha, usualmente esses locais são equipados por abrigos de baixa qualidade. O trânsito e fluxo intenso em determinados horários no setor também representam um ponto negativo, uma vez que as vias já provaram não comportar o contingente de veículos, principalmente em pontos da Rua Luís José e Avenida Délio Silva Britto. Os acessos à escola COC de Coqueiral de Itaparica, Shopping Vila Velha e Universidade Vila Velha provocam grande fluxo de veículos e áreas de conflito. O sentido único das vias que cortam a poligonal paralelo e perpendicularmente provocam confusão e desvios nas rotas. Todas essas zonas de conflitos identificadas constam expostas no Capítulo anterior e Mapa 19 - Mobilidade Urbana. POTENCIALIDADES: O Canal da Costa é em sua essência uma potencialidade, mas devido ao seu avançado estado de degradação, hoje representa também um fator de vulnerabilidade como já exposto. O curso d’água possui representatividade histórico e cultural possível de ser resgatada. Ainda sobre o mesmo, cabe mencionar a necessidade de requalificação em virtude do restabelecimento do equilíbrio ambiental a nível municipal, metropolitano e de bacia hidrográfica. O canal tem potencial paisagístico e urbano, bem como social, uma vez que melhorias em seu leito incentivaria a prática do convívio e ocasionaria vantagens à saúde e qualidade de vida de seus usuários. Além disso, o perfil da poligonal de intervenção representa uma potencialidade, em virtude das suas características de localização e uso e ocupação do solo. A proximidade ao litoral e orla aponta como um aspecto positivo, onde os cursos d’água podem ser enfatizados e valorizados. Além disso, a consolidação da atividade institucional e presença de equipamentos que prestam serviços à população são desde o início indicadores favoráveis. A ascensão das atividades comercias em contrapartida ao uso residencial predominante indicam uma ambiência de função mista necessária. Outra virtude a se valorizar é a vertente esportiva, encontrada nas proximidades do Ginásio Poliesportivo Presidente João Goulart (Tartarugão). Logo que a região de intervenção assume aspecto central no município, a área como um todo apresenta potencial para ser um marco no cenário capixaba. A existência de áreas livres de uso público, principalmente o Parque Urbano de Cocal, sugere a conexão de eixos paisagísticos e ambientais potencialmente formadores de


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um grande parque, conforme inicialmente idealizado pela autora deste trabalho. A seguir está relacionada os principais pontos, fatores, edificações e equipamentos considerados positivos na área de intervenção que também estão representados no Mapa Síntese - Vulnerabilidades e Potencialidades. O Eixo paisagístico: área imediata ao Canal da Costa localizadas na Avenida Délio Silva Britto e Rua Itaóca, local o qual este trabalho e proposta projetual se destina. Segundo análise via satélite a seção do canal estudada e reproduzida abaixo (Figura 73) apresenta 2,52 Km de extensão. Figura 73: Extensão Canal da Costa e eixo paisagístico definido.

Fonte: Google Earth, adaptado por Lorena Venturote (2017) Figura 74: Trecho do eixo paisagístico na Av. Délio Silva Britto.

Figura 75: Trecho do eixo paisagístico localizado na Rua Itaóca.

Fonte: Autor (2016)

Fonte: Autor (2016)


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Vestígio de vegetação nativa: há incidência de árvores de médio e grande porte ao longo do eixo paisagístico, que ainda resistem aos investimentos imobiliários e intervenções das gestões político-administrativas. Por exemplo; fora da poligonal, na Av. João Mendes, as árvores foram substituídas por pequenas palmeiras em 2016 com a reforma do passeio de pedestre e ciclovia. Essa transformação tornou o ambiente inóspito e apático e ainda inadequado pois não há sombra para se incentivar a permanência no local, muito menos bancos. As árvores além de promoverem uma atmosfera agradável são elementos paisagísticos importantes. Figura 76: Vestígio de árvores nativas no eixo no trecho da Rua Itaóca

Figura 77: Jaqueira encontrada na Av. Délio Silva Britto

Fonte: Autor (2017)

Fonte: Autor (2016)

Parque Municipal Urbano de Cocal: a área pública de Vila Velha, inaugurada em 2016, apresenta pista de corrida (Figura 78), arena poliesportiva, área para ginástica e piquenique, skate park, centro de convivência do idoso, parque infantil, academia da 3ª Idade, além de espaço para ampliação. Apesar de frequentado pelos moradores do bairro, principalmente durante o período noturno, o local está suprimido no cenário municipal e precisa ser melhor enfatizado. Orla de Itaparica: Assim como o Parque urbano de Cocal, a Orla de Itaparica (Figura 79) encontra-se em paralelo ao eixo paisagístico de intervenção, o que indica a possibilidade de conexão perpendicular. Além da praia, a orla oferece, quiosques, ciclovia e passeio de pedestre que é frequentemente usado para desenvolvimento de atividades físicas e contemplativas.


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Figura 78: Pista de Corrida no Parque Urbano de Cocal.

Figura 79: Av. Est. José Júlio de Souza na Orla de Itaparica.

Fonte: Autor (2017)

Fonte: Autor (2016)

Feira Livre: a feira livre de Coqueiral de Itaparica (Figura 80) realizada durante a tarde e ocaso de toda sexta-feira é um atrativo não só para os residentes imediatos como também para os moradores dos bairros vizinhos. Com exceção dos dias chuvosos, a feira é altamente frequentada, o que aumenta o fluxo de veículos no dia de sua realização, conflitando ainda mais o trânsito nas proximidades durante o horário de pico (por volta das 17:30 - 18:30). Comércio Informal de alimentos e bebidas: a presença frequente de barraquinhas (figura 81), carros e food trucks durante a noite, com maior incidência na Av. Délio Silva Britto, Av. Santa Leopoldina, Praça de Coqueiral de Itaparica, Praça de Santa Mônica e Acessos da Universidade Vila Velha, representam atrativos para a população que constantemente frequentam essas localidades para usufruir dessa prestação de serviço. Essa vertente apresenta potencial comercial e contribui para a sociabilidade dos usuários e uso dos espaços públicos do setor. Figura 80: Feira Livre de Coqueiral de Itaparica.

Figura 81: Comércio informal na Av. Délio Silva Britto.

Fonte: Autor (2017)

Fonte: Autor (2017)


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Ginásio Poliesportivo Presidente João Goulart (Tartarugão): tanto o ginásio, como os campos e quadras da Escola Coqueirence de Futebol e Clube Esportivo Social independente adjacentes apresentam potencial esportivo e de lazer, além de ambiental já que permite a possibilidade de criação de bacias de estocagem. Sedes da Procuradoria de Justiça, Prefeitura, INSS e Fórum de Vila Velha: as instituições públicas localizadas na poligonal atraem público à zona, já que fornecem serviços à população. Esses usuários são normalmente pessoas de todas as idades e classes sociais, e representam um público alvo em potencial. Universidade Vila Velha e Faculdade Novo Milênio: essas edificações de ensino superior são favoráveis à área pois agregam valor econômico e imobiliário a região bem como atrai diariamente grande contingente de usuários acidentais que se deslocam para a área vigente afim de desenvolver suas atividades acadêmicas. Sendo assim, identifica-se essa parcela de usuários como público alvo, essencial a vitalidade da zona de intervenção. Cabe-se mencionar também que o perfil destes usuários é em geral formado por jovens e adultos de classe média e alta, detentores de intenso poder de consumo. Shopping Vila Velha: da mesma forma que as instituições acima citadas, o Shopping Vila Velha desempenha atividade comercial capaz de atrair inúmeros usuários acidentais e periódicos como os funcionários do empreendimento. Esse público é constituído por indivíduos de todas as idades, detentores de médio a alto poder aquisitivo e de consumo, usualmente moradores de toda a cidade. O Shopping agrega novamente valor comercial e imobiliário ao território. Todas as características identificadas no diagnóstico e apontadas como pontos positivos e negativos constam ilustradas esquematicamente no Mapa 22 Síntese: Vulnerabilidade e Potencialidades presente a seguir e impresso na seção de anexos.


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Mapa 22: Mapa Vulnerabilidades e Potencialidades e Mapa Síntese

MAPA VULNERABILIDADES E POTENCIALIDADES E MAPA SÍNTESE

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, CETURB elaborado por Lorena Venturote


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5. PROPOSTA PROJETUAL


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5. PROPOSTA PROJETUAL A proposta projetual representa a etapa de efetivação do estudo, onde as definições aqui estabelecidas são resultado da análise, entendimento e absorção da fundamentação teórica e diagnóstico realizados. Essa seção visa dar continuidade a metodologia de trabalho adotada (Figura 82) que desenvolveu gradualmente o plano de requalificação idealizado, realizando as fases de setorização e diagnóstico conforme previstas. Neste momento, cabe salientar que para o sucesso do projeto em específico (Proposição de parque linear no eixo paisagístico do bairro Coqueiral de Itaparica) é preciso considerar preliminarmente o estudo como uma proposta urbanística e paisagística generalizada. Sendo assim, torna-se necessário resgatar a mesma forma de abordagem em função também da extensão do eixo paisagístico. Dessa forma, a especificação do plano de requalificação (Figura 82) para a etapa prevê a identificação de subsetores de atuação e ainda proposta de intervenção preliminar considerando o princípio de Operação Urbana Consorciada, através do método Manter, Renovar e Requalificar e por fim definição do Masterplan e Projeto conforme esquematizado no diagrama abaixo. Figura 82: Diagrama etapas Metodologia de Estudo.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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5.1. PLANO DE REQUALIFICAÇÃO

Como já brevemente informado, o plano de requalificação adotado defende a ideia de realização de uma nova setorização prévia. A divisão da poligonal e eixo paisagístico em subcategorias se dá devido a impossibilidade do desenvolvimento de proposta projetual completa para toda a área do setor. A zona foi dividida em 5 novos setores, conforme é possível averiguar no Mapa 23 - Subsetores de atuação definidos através da identificação de potenciais limites dispostos perpendicularmente ao Canal da Costa e eixo paisagístico. O próximo passo do plano de requalificação prevê a definição de Masterplan; fruto da análise do diagnóstico e obtido através do exercício realizado no Mapa 24 Manter, Renovar e Requalificar, e ainda Diagrama conceitual de Usos. As áreas identificadas como mantidas sugerem a integração do uso, estrutura e quando o caso edificação na proposta a ser desenvolvida. Essas porções do território evidentemente representam potencialidades; é o caso do Parque Urbano de Cocal. Já as regiões passíveis de requalificação indicam a permanência dos usos, todavia necessitam de melhores definições quanto a infraestrutura e gabarito; exemplos deste aspecto são os conjuntos habitacionais conhecido como Etapas. Já as áreas a serem renovadas, indicadas conforme ilustrado em mapa, representam porções de território cruciais para o plano projetual. Essa proposta de transformação tem o objetivo de garantir a vitalidade e segurança do espaço urbano criado no eixo paisagístico de Coqueiral de Itaparica. Para sucesso e perpetuação do parque linear é preciso conectá-lo à cidade e oferecer serviços viáveis a população. As imediações devem por sua vez também oferecer atrativos bem como possuir usos diversos e em turno integral. Além disso, sua visibilidade deve ser favorecida e o seu acesso facilitado. Outro fator primordial para o projeto, é a expansão da largura do canal que é atualmente estreito e vulnerável a contingência e escoamento das águas pluviais. Áreas como a porção do bairro Santa Mônica e quadra entre a Av. Luciano das Neves e Av. Santa Leopoldina devem ser renovados para êxito da proposta. A partir da adoção deste plano de requalificação e desenvolvimento de estudo de intervenção foi possível definir um diagrama conceitual que representa o Masterplan da proposta (Estudo Preliminar), entretanto, é preciso estabelecer preliminarmente a essência da intervenção, bem como o conceito e partido definidores da proposta.


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Mapa 23: Mapa Subsetores de atuação

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Mapa 24: Mapa Manter, Renovar e Requalificar

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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5.2. CONCEITO E PARTIDO

O projeto de requalificação do eixo paisagístico em questão, idealizado por intermédio de parque linear; é fruto de uma proposta urbana abrangente que teve origem logo no início da etapa de diagnóstico. Como já explicado o plano de requalificação elaborado permitiu a evolução gradual da proposta a nível de especificação, atualmente este plano encontra-se na fase “Proposta”, subitem “Masterplan”. Entretanto, para definição do mesmo, é preciso informar a origem das medidas sugeridas. Antes disso cabe resgatar conceitos estabelecidos no capítulo 3, no caso o método “Objetivos, Diretrizes e Propostas” destacado e a influência da análise das experiências decorridas no Projeto Beiro Rio (Piracicaba) e principalmente no Rio Cheonggyecheon (Seul), em perspectiva de projeto. As recomendações dos autores Gehl, Marcus e Francis outrora expostas também serão consideradas e quando pertinentes incorporadas ao produto projetual. O conceito da proposta deste trabalho de graduação de curso se baseia na valorização de três temas: conexão, ação e função. Além disso, adota como partido ações de projeto que priorizem e evidenciem os recursos hídricos e ambientais, seja em âmbito de implantação ou especificação de detalhes. O Canal da Costa e suas margens são o principal foco de intervenção, bem como os usuários e pedestres são fatores prioritários. Quanto as premissas de projeto citadas, o conceito “Conexão” (Figura 83) busca reestabelecer a relação do curso d’água com o meio urbano, e ainda propiciar a conexão do parque linear às outras áreas de uso público locais (Figura 84) tais como a Orla de Itaparica, a Praça de Coqueiral e o Parque Urbano de Cocal. Dessa forma o parque linear criado poderia se estender como um quebra-cabeça.


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Figura 83: Croqui conceitual proposta “Conexão”.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017) Figura 84: Diagrama conceitual conexão áreas públicas.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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Já o conceito “Ação” (Figura 85) se relaciona a concepção movimento, que também será adotado no partido de projeto. Essa vertente indica não apenas o incentivo a atividades físicas e composição do parque com instrumentos adequados para tal, mas também a proposição de movimentação das águas, que busca criar um contraste com o estado estático no qual o canal se encontra. A implantação adotada para o parque reproduzirá ritmos diversos e aleatórios para transmitir a sensação de constante movimento e camuflar a perspectiva monótona e longitudinal para o usuário. O fator “Função” (Figura 85) diz respeito a perpetuação e manutenção do parque que precisa oferecer atributos para propiciar a permanência e usufruto da população. A garantia da funcionalidade do novo espaço urbano será atingida através do oferecimento dos mais diversos serviços e variados usos e turnos. Atividades esportivas, contemplativas, comerciais, de lazer, estudo e recreação, entre outras, serão incentivadas. Figura 85: Croqui conceitual proposta “Ação/Função”.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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Mapa 25: Usos Propostos

Fonte: GEOBASES, IJSN, IBGE, SEMDU, elaborado por Lorena Venturote


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Dessa forma, consta a seguir a descrição das medidas adotadas e síntese das mesmas expressas em forma de tabela. Para efeito de esclarecimento, pressupõe-se que o estabelecimento de rede de esgoto, restauração do córrego e despoluição das águas ocorreram por intermédio de intervenções sanitárias e de engenharia. Tabela 10 - Síntese da Proposta de Revitalização do Eixo Paisagístico Canal da Costa. Revitalização do Eixo Paisagístico Canal da Costa - Vila Velha (Espírito Santo) OBJETIVOS DIRETRIZES PROPOSTAS Ampliação da largura natural do antigo canal. Contribuir para a recuperação do sistema fluvial e ambiental.

Plantio de espécies nativas nas margens do rio. Restaurar o meio ambiente.

Reestabelecimento natural da vegetação nativa nas margens do canal. Inserção de espécies nativas de peixes no canal.

Contribuir para o escoamento e inibição de alagamentos.

Criação de Bacias de Estocagem. Intervir na infraestrutura do Canal.

Adotar Green Infrastructure.

Aumento da capacidade (leito e nível) de captação de águas pluviais de trechos do canal. Aumento da permeabilidade do solo através de áreas verdes e adoção de pavimentação drenante. Incentivo a permeabilidade do solo, térreos permeáveis.

Inserir o eixo paisagístico na cidade.

Desobstruir Quadras.

Reparcelar o solo. Favorecer a visibilidade do parque.

Valorizar a Identidade e história local.

Inibir barreiras.

Resgatar a historicidade e cultura do local.

Incentivo a arte e educação.

Adoção de novas edificações com gabarito variado Implementar marcos visuais Inserção de roda d’água no parque. Transformação do curso d’água, leito mais sinuoso. Criação de artifícios que propiciam a prática de atividades artísticas no parque. Exposição de obras de arte urbanas.

Recuperar as margens do canal. Criar áreas de recreação, contemplação, lazer esporte, alimentação e demais usos. Reconciliar a cidade com o rio.

Realocação dos usos impróprios encontrados nas imediações. Construção do parque linear. Inserção de mobiliários e áreas de vivência através da própria arquitetura do espaço. Criação de pontes para pedestres.

Valorizar o pedestre.

Conectar o parque a cidade.

Criação de caminhos no canal. Transformação da Av. Délio Silva Britto em via prioritária para pedestre. Implementação de pavimentação, visuais e sinalização que facilitem a conexão do parque linear ao Parque Urbano de Cocal e Orla.

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017).


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5.3. PROJETO

A proposta projetual resultante buscou considerar os autores apresentados, bem como enaltecer e valorizar a identidade, necessidade e potencialidades do local de intervenção. Além do conceito e partido adotados; princípios como mobilidade, legibilidade, fluidez, permeabilidade, sustentabilidade, acessibilidade, vitalidade e conectividade; ajudaram a definir as opções e medidas de projeto. O parque Linear Coqueiral de Itaparica é em toda sua longínqua extensão um convite ao convívio social; a interação com a natureza; prática de atividades físicas; incentivo ao comércio, ao lazer, ao entretenimento e a vida ao ar livre. O projeto, a nível de estudo preliminar, apresenta em sua extensão a proposição de ambiências harmônicas, porém distintas entre si, que fazem alusão aos usos e aspectos originais favoráveis do canal e entorno. Outro aspecto determinante foi quanto a preocupação em relação aos aspectos naturais, seja quanto a requalificação do canal, preservação/ transplantação das árvores existentes, resgate de parte da mata ciliar, área para alagamento e bacia de estocagem, incentivo ao verde e a práticas ecológicas; tais como pisos drenastes, ou de origem reciclável. Além da sustentabilidade e paisagismo, a proposta tem como prioridades a valorização do pedestre, sendo considerado todos os tipos de usuários; para isso todas as áreas e rampas do parque possuem caminhos acessíveis com inclinação máxima de 5%, revestidos com pisos antiderrapantes e protegidos por guardas-corpos ergonômicos, entre outras ações. (ABNT NBR 9050, 2004). Os fluxos tanto de pedestre como de ciclistas promovem conexões fáceis e legíveis, com ausência de obstáculos. Os principais acessos se vinculam aos modais viários de maior importância, ainda que seja possível o mesmo através da permeabilidade das novas edificações renovadas no entorno no parque. O Parque Coqueiral de Itaparica apresenta inúmeros atrativos que promovem principalmente a interação com o meio e com o canal. Além disso instrumentos como bancas, quiosques, comércios, áreas para lazer, esporte, cultura, entretenimento, contemplação e concentração de pessoas; foram criados ao longo de todo o percurso do parque; o que viabiliza sua manutenção e vitalidade. Outro fato é que, a Operação Urbana Consorciada planejada prevê para as imediações da área de intervenção edificações e instalações que mobilizam a perpetuação do espaço urbano.


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A implantação do Parque Urbano Coqueiral de Itaparica, pode ser observada em anexo. Como já mencionada, o parque linear oriundo da proposta arquitetônica, urbanística e paisagística elaborada apresenta trechos que foram definidos através da articulação de funções, equipamentos e usos similares. Tem-se o Espaço Contemplação (1), Espaço Luminoteck (2), Espaço Multiuso (3), Espaço Work Out (4), Espaço Urbano (5), Espaço Campus (6). A nomenclatura dos setores faz menção a essência principal dos ambientes, todavia vale ressaltar que cada espaço é formado por uma complexidade de elementos e funções que se associam e se conectam, abrangendo em conceito componentes variados à terminologia adotada. A ilustração dos trechos encontra-se após a dissertação dos mesmos. Espaço Contemplação

O Espaço Contemplação, destaca o conceito homônimo, e valoriza o verde, a paisagem, o canal e a vivência com os mesmos. Esse ambiente prestigia o estar, a prática de atividades que exijam maior concentração e permanência; como leitura, piquenique, yoga, meditação, banho de sol, tirolesa, slackline, horta comunitária, descanso, entre outros. Para isso o usuário pode usufruir das áreas verdes, sombreadas por vegetação aplicada ou pelas árvores existentes, que com a proposta de ampliação do canal foram transplantadas ou quando possível mantidas. Essas características e atividades prevalecem nas duas margens do curso d’água, entretanto principalmente na porção inferior do setor que possui caráter residencial. Adjacente ao Condomínio Residencial 2ª Etapa, foi implantado um corredor de árvores com folhagem e flor coloridas para tornar a paisagem mais agradável e convidativa. No eixo paisagístico localizada na Rua Itaóca instalou-se o espaço pet, zona com forração vegetal onde usuários e seus animais domésticos podem usufruir livremente. Um fator primordial de todo o trabalho e projeto, que refletiu na composição deste trecho é quanto a interação com o Canal da Costa, para isso foram criados patamares que permitem ao usuário acesso e permanência imediata ao nível do curso d’água. Essa intervenção pode ser vista na porção superior do ambiente, próxima a área do entorno cuja proposta é a renovação e implantação de edificações de usos


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mistos com pavimentos térreos permeáveis e com pilotis. Para proteção do estar no canal, foram criadas barreiras de vegetação que inibem ruídos e conflitos entre esse ambiente e as zonas de circulação e comércio interativo situado na porção superior do parque próximo as áreas renovadas. A proposta incentiva ao comércio seja em pequena (Food Trucks e quiosques), média (Lojas Térreas no entorno) e grande (Empreendimentos imobiliários no entorno) escala. Neste setor, encontra-se entre outras possibilidades, quiosques de sucos, floricultura, banca de revista, chaveiro, biblioteca itinerante e mini livraria. Para conter tais atividades e funções foram locados diversos bancos e mesas de design original fabricados em material reciclável (madeira plástica) para garantir a comodidade dos usuários, que também podem se apropriador do espaço urbano (áreas verdes, patamares em forma de escadas/ arquibancadas). Além disso é possível realizar práticas como caminhada, ciclismo, skateboard, patinação, pet walk, pelos caminhos que se conectam livremente e dão acesso a todo parque linear e entorno. Como o trecho situa-se em uma das extremidades do parque o mesmo possui função catalisadora, para tal foi instalado em seu início, na divisa com o bairro Santa Mônica, elementos como quiosque de Informação, mapa do parque e sinalizadores. No mesmo local, foi implantado um grande coqueiro como marco visual. A espécie foi escolhida devido a história e identidade do local, já mencionada. Espaço Luminotech O espaço Luminotech está situado entre o Setor Contemplação e o Espaço Multiuso. Nesta área encontra-se o SEB COC Vila Velha na porção inferior e edificações de uso misto com térreos fluídos na porção superior, onde se propôs renovação. O setor caracteriza-se por ser uma seção do parque onde no canal está implantado, esguichos e iluminação especial para realizar conforme programação espetáculos que envolvem água, luz e tecnologia. Para visualização deste show, os usuários podem permanecer em qualquer área deste ambiente, seja nas passarelas, nas áreas verdes, nos mobiliários espelhados pelas zonas de permanência, nas margens inferior do canal que são protegidos por guarda corpo. Caso o espectador queira participar do espetáculo de forma interativa, o local de permanência indicado


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são os patamares dispostos em forma de escada/arquibancada à nível do canal e no deck que se projeta sobre o mesmo. A fluidez do espaço novamente é preservada, sendo os caminhos livres de barreiras e o ambiente propício a prática de caminhada, patinação, skateboard e ciclismo, as principais funções designadas são Lazer, Recreação, Vivência e Entretenimento. Para adequação a proposta de conexão das áreas públicas do poligonal (Setor H), o posto de Saúde e parte do colégio COC onde se encontrava uma quadra, foram renovados de forma que o traçado urbano disposto em formato diagonal direciona para a praça Coqueiral de Itaparica. O terreno do Colégio COC possui uma vasta área desocupada em seus domínios onde a quadra pode ser realocada. Sendo assim, gerou-se a previsão de um novo espaço urbano, incorporado ao parque linear, que tem o objetivo de desobstruir a visualização do parque e praça. Além disso, o mesmo possui a função de comportar a grande quantidade de usuários que tem na Rua Treze, localizada ao lado, um dos principais pontos de acesso à área de intervenção. O posto de Saúde foi renovado e realocado no mesmo lote. Espaço Multiuso Neste setor situa-se o principal eixo modal perpendicular à área de Intervenção, as Ruas Quatro e Treze, que devido aspecto prioritário foi ampliada e adequada para segurança e comodidade do pedestre, e fluxo dos veículos. Para promover a conexão do parque com a Orla de Itaparica, que fora conceito do projeto; foi criado um eixo paisagístico que cruza o parque de forma transversal com sentido a praia. A via apresenta espaço para 3 faixas de veículos para cada sentido. A Rua Itaperuna foi transformada em área para estacionamento e acesso ao Complexo Poliesportivo e Entretenimento, a ser apresentado a frente. O trecho se encontra entre o Espaço Luminoteck e Espaço Work Out. O espaço multiuso, como a própria nomenclatura sugere, é um ambiente caracterizado por funcionalidades mistas, de ação 24 horas, situadas tanto no trecho do parque como também nas áreas laterais renovadas. Na porção Inferior ao eixo paisagístico encontra-se o supermercado Casa Grande e o terreno vazio que foi novamente incorporado a área de intervenção. Está área destina-se a receber food trucks, a feira livre de Frutas, Legumes e variedades outrora realizada na Av. Délio


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Silva Britto e Rua Itaperuna. O espaço também está suscetível a receber eventos, exposições, circos, espetáculos, shows, ou mesmo `a agrupar pessoas. Parte do território original foi cedido e associado a via transformando-se em estacionamento. No parque há mobiliários e árvores para acomodar os usuários. Projetado no Canal encontra-se um Deck, que além de sua função paisagística permite aumentar a área de acesso ao novo complexo poliesportivo e de entretenimento instalado na área acima do Da Costa. Os lotes onde haviam o Ginásio Poliesportivo Presidente João Goulart e Escola de Futebol, foram remenbrados e renovados possibilitando a implantação de uma nova edificação pública adequada ao recebimento de eventos de âmbito esportivo e artístico de médio a grande porte. Ainda no mesmo setor, na porção superior do trecho, em frente ao complexo poliesportivo encontra-se um lote cuja área manteve suas características originais. Na proposta de intervenção o espaço foi requalificado e recebeu campos de futebol com inclinação solar e proporção adequadas. O espaço multiuso, além de apresentar características relacionadas ao lazer, esporte, comércio e entretenimento, também possui grande importância ambiental. Neste setor, nas áreas incorporadas ao eixo paisagístico (Figura 88), optou-se como medida de projeto criar bacias de estocagem. Essas zonas públicas e/ ou semiprivadas, possuem 1 m de desnível em relação a área de implantação do parque. Sendo assim durante fortes chuvas, essas áreas sofreriam alagamentos em virtude do parque e entorno. Espaço Work Out O trecho encontrado entre o Espaço Multiuso e o Espaço Urbano, denominado Work Out é um ambiente que sobretudo incentiva os usuários dos mais diversos perfis e idades a praticarem atividades físicas relacionadas a ginástica, aeróbica e musculação.

Nesse

setor

estão

situadas

áreas

equipadas

para

atender

apropriadamente a ergonomia de cada público especifico, como a Academia Fisio, Academia Fitness, Espaço Infantil e Academia dos Idosos. O ambiente infantil se localiza estrategicamente entre os demais espaços para proteção e vigilância. A academia Fisio é destinada a jovens e adultos de ambos os gêneros que desejam realizar trabalhos corporais com foco em musculação. A academia Fitness é destinada ao mesmo perfil de usuário, todavia com prática de ação voltada a


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atividades aeróbicas, de dança e musculação leve. Já o espaço infantil se destina à crianças e adolescentes, empregando equipamentos e atividades de caráter lúdico e de diversão. A academia dos idosos, apresenta além de área para ginástica; atividades relacionadas ao exercício da mente tais como jogos de tabuleiro, damas, xadrez, sudoko, caça palavras e outros. Na porção acima do canal encontra-se bicicletário, mobiliários e áreas verdes a serem apropriadas pelo o usuário. O trecho compreende-se entre duas regiões residenciais. Os conjuntos habitacionais 4ª e 5ª etapa na zona superior e a 1ª etapa na porção inferior. A proposta é que tanto os espaços coletivos e edificações dessas áreas residências sejam requalificados. Entende-se que os muros dos condomínios devam ser retirados e substituídos por barreiras mais flexíveis que permitam maior interação e visibilidade do parque. O Condomínio Mar Azul (4ª Etapa), teve umas de suas ruas internas apropriadas ao eixo paisagístico (Figura 88). Apesar de ainda permitir o acesso dos moradores do conjunto habitacional, a via transformou-se em prioritária para pedestre. Na mesma foi criado um novo eixo paisagístico que possui a função de conectar o parque linear Coqueiral de Itaparica ao Parque Urbano de Cocal. O objetivo conceitual do projeto é associar os espaços urbanos fragmentadas da poligonal de intervenção (Setor H) ao parque linear, de forma a garantir a interação com o Da Costa, aumentar a proposta paisagística e realizar integrações de forma ramificada. Espaço Urbano Tal espaço é um ambiente cuja atmosfera definida atenta-se a arquitetura contemporânea, Stret art e cultura urbana e esportiva, que se situa entre o Espaço Work Out e Espaço Campus. Neste trecho do eixo paisagístico foi proposto uma zona com particular incentivo a apropriação do meio. O método de interação com o curso d’água é aqui acentuado; o usuário pode se apropriar do espaço e circular através dos patamares locados como escadas e presentes nas margens que permitem acesso ao canal. Ainda é possível adentrar na água através de um patamar submerso, ou mesmo atravessa-lo por meio de dormentes de concreto. Neste trecho encontra-se outro eixo modal perpendicular, que fora proposto como alternativa viária facilitadora. A Rua 7 de Setembro, que é atualmente pouco usada, aqui recebe maior relevância. A proposta é que junto ao eixo transversal


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situados nas Ruas Treze e Quatro, está via ajude na vazão de veículos que antes circulariam pela Avenida Délio Silva Britto para acessar a Avenida Santa Leopoldina e Rua Dr. Annor da Silva. A via apresenta sentido duplo e foi ampliada de forma a possibilitar três faixas para cada sentido. Logo em seguida ao eixo transversal, vem o segmento voltado a arte, com essência contemporânea, arquitetônica e urbana. Nesta zona foi proposta galerias dispostas em passarelas pelo canal. O objetivo é incorporar a arquitetura do parque ao conceito. Pretende-se que as próprias pontes sejam elementos paisagísticos que permitam o suporte das obras de arte. O mesmo espaço ainda concentra o caráter urbano, muito influenciado ainda em nível de definição de partido pela rigidez da subestação elétrica existente. Ao redor deste equipamento, foi aplicado massas de vegetação para proteção dos usuários. Nesta seção do trecho buscou-se aplicar a essência da stret art e da cultura Hip Hop. Dessa, forma o próprio espaço físico se transformou em pista de Skate, além disso, grafites foram introduzidos nas paredes da Subestação Elétrica e uma quadra poliesportiva prioritária para o basquete foi locada próximo a essa atmosfera. O espaço ainda apresenta campo de Futebol e quadra de Vôlei de Praia/ Futevôlei, conforme requisitos de moradores relatados em pesquisa de campo. No entorno no parque na porção inferior, situa-se; áreas residenciais, comerciais e mistas que foram mantidas e possuem potencial de requalificação; tais como a Prefeitura de Vila Velha e a Faculdade Novo Milênio. A porção superior caracteriza-se por apresentar lotes vazios, sendo assim uma pequena faixa de território foi cedida e incorporada ao parque. Como se pode averiguar na figura 88, o terreno na Rua 7 de Setembro foi transformado em estacionamento e bacia de estocagem. Entende-se que os usuários de outras regiões devem priorizar transportes coletivos, e optar principalmente pela ciclovia, todavia o estacionamento principal do parque foi instalado logo próximo a um de seus limites, justamente para impulsionar o indivíduo a deslocasse pelo eixo paisagístico mesmo que deseje ir em área oposto tal como o Espaço Contemplação por exemplo. Espaço Campus O espaço Campus localiza-se em uma das extremidades do parque, ao lado do Espaço Urbano, a intenção projetual é que os dois trechos se complementem. Este


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setor foi fortemente influenciado pela proximidade à Universidade Vila Velha e Faculdade Novo Milênio. Dessa forma, o espaço foi moldado para atrair principalmente o público destas instituições. Para isso há espaços públicos equipados e sombreados por muitas árvores para vivência e passeio. Também foi proposto áreas verdes para apropriação dos estudantes e demais usuários, onde os mesmos podem realizar piqueniques, e atividades como leitura, estudo e convívio social. Há uma grande área livre para realização de eventos, feiras, encontros estudantis, aglomeração de pessoas, entre outras atividades. Outra área livre do trecho é destinada a entrada de Food Trucks e barraquinhas fixas e/ou móveis que comercializam elementos e outros artigos tais como materiais escolares, área de xerox e impressão e livraria. Nesta região na porção acima do canal encontra-se o Fórum, INSS e Estacionamento da Universidade Vila velha, que foram mantidos, porém; entre o Fórum é o estacionamento foi criado uma via de pedestre para facilitar e instigar a conexão dos universitários com o parque linear. Na quadra localizada na porção inferior, abaixo do curso d’água, foi proposto novamente iniciativa de renovação com instalação de uso misto para garantir a flexibilidade e uso diurno e noturno do espaço. A intenção é que além do uso residencial (voltado para estudantes), a quadra receba nos patamares inferiores das edificações lojas diversas, bares, restaurantes, cinema, boate e outros atrativos. Como atualmente este é o único trecho do canal na poligonal (Setor H) não canalizado, optou-se por atribuir ao setor um aspecto mais natural na definição do curso d’água. Para isso, um braço de formato orgânico foi criado, ampliando-se ainda a possibilidade de contenção das águas das chuvas. Está área alagável é contida por vegetação que propicia o resgate e reestabelecimento das matas ciliares. No mesmo conceito, optou-se em instalar entre as áreas de permanência revestidas com piso drenante, grandes áreas verdes livres para a apropriação dos usuários. Medidas como redários e balanços foram aplicadas as árvores do trecho.


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PROPOSTA PROJETUAL Parque Linear Coqueiral de Itaparica

Trechos de projeto: 1. Espaço Contemplação 2. Espaço Luminotech 3. Espaço Multiuso 4. Espaço Work Out 5. Espaço Urbano 6. Espaço Campus

IMPLANTAÇÃO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO CONTEMPLAÇÃO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO CONTEMPLAÇÃO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO CONTEMPLAÇÃO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO LUMINOTECH E ESPAÇO MULTIUSO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO LUMINOTECH E ESPAÇO MULTIUSO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO LUMINOTECH E ESPAÇO MULTIUSO

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO WORK OUT

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO WORK OUT

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO URBANO E ESPAÇO CAMPUS

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO URBANO E ESPAÇO CAMPUS

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO URBANO E ESPAÇO CAMPUS

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO URBANO E ESPAÇO CAMPUS

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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ESPAÇO URBANO E ESPAÇO CAMPUS

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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PARQUE LINEAR COQUEIRAL DE ITAPARICA

Fonte: Elaborado por Lorena Venturote (2017)


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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS As rupturas entre o meio ambiental e urbano é um problema contemporâneo cada vez mais recorrente nas cidades brasileiras. O caso do Canal da Costa situado em Vila Velha (ES) é como visto um exemplo disso. O objetivo deste trabalho é realizar uma proposta de reconciliação entre o curso d’água e a cidade, considerando o entorno e as necessidades dos usuários. O eixo Paisagístico previsto para o bairro Coqueiral de Itaparica (Vila Velha) visa valorizar o canal, atribuindo medidas que incentivem a interação com o espaço urbano criado. A proposta ainda considera a possível expansão do eixo paisagístico com demais localidades urbanas e ambientais na área. Além disso, a valorização e resgate do Canal da Costa foi um dos elementos definidores do projeto. Também cabe ressaltar a importância do planejamento urbano e dos espaços públicos, fatos esses defendidos ao longo desta dissertação. Outro fator difundido é quanto ao aspecto ambiental, que fora a principal essência adotada na pesquisa, projeto e proposta, tanto na busca pela requalificação da área de intervenção como na defesa de alternativas projetuais sustentáveis. O incentivo a interação do usuário com o Eixo Paisagístico e Canal, e o encorajamento a apropriação do espaço foram também conceitos essenciais na composição deste projeto. O produto do trabalho, o Parque Linear, é voltado a atender a vários usos, tais como lazer, entretenimento, contemplação, esporte, comércio e cultura; e se baseia nos sentidos de ação, integração, interação e permeabilidade. O eixo paisagístico apresenta função urbana a nível municipal; a proposta defendida considerou o entorno, sugerindo possíveis conexões e incentivando alternativas modais, tal qual o próprio Canal da Costa. Como moradora e usuária da área de intervenção, a oportunidade de desenvolvimento e o resultado deste trabalho significa um sonho realizado que ainda se idealiza, amplia e perdura na proposta do Parque Linear Coqueiral de Itaparica.


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REFERÊNCIAS


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APÊNDICES


N

RENOVAR/ MISTO

RENOVAR/ ESPORTIVO COMPLEXO POLIESPORTIVO E DE ENTRETENIMENTO

CAMPOS DE FUTEBOL/ BACIA DE ESTOCAGEM

PATAMARES DE USO LIVRES ESPAÇO PARA CIRCULAÇÃO E ATIVIDADES COMERCIAIS, QUIOSQUES E BARRAQUINHAS

CALÇADA CICLOVIA

ÁREAS VERDES PARA USO LIVRE

ESPAÇO PET

PASSARELA

CORREDOR DE ÁRVORES DE FLOR E FOLHAGEM COLORIDAS

ÁREA VERDE PARA PRÁTICA DE LEITURA, PIQUINIQUE, YOGA, MEDITAÇÃO, BANHO DE SOL, TIROLESA, SLACKLINE

ESGUICHOS

ESPAÇO PARA HORTA COMUNITÁRIA

DECK

PATAMARES/ ARQUIBANCADA

PASSARELA DECK

MANTER/ INSTITUCIONAL COC

ÁREA VERDES PARA PRÁTICA LEITURA, PIQUENIQUE, YOGA, MEDITAÇÃO, BANHO DE SOL, TIROLESA, SLACKLINE

DECK LOJAS

ESGUICHOS

ÁREA VERDES PARA USO LIVRE QUIOSQUES (COMERCIANTES, FLORICULTURA, SUCOS, CHAVEIRO BANCA DE REVISTAS, LIVRARIA, BIBLIOTECA INTINERANTE, ETC.)

PERGOLADO COM BANCOS MOBILIÁRIO URBANO

RAMPAS DE ACESSO PATAMARES

RENOVAR/ URBANO

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

5ª ETAPA

4ª ETAPA

RAMPA

DECK

PATAMER NÍVEL CANAL

ÁREA LIVRE EVENTOS FEIRA LIVRE BACIA DE ESTOCAGEM

POSTO DE SAÚDE

ÁREA CIRCULAÇÃO/ PERMANÊNCIA

ÁREA VERDE DE USO LIVRE

DORMENTES DE CONCRETO

ÁREA CIRCULAÇAO/ PERMANÊNCIA

ÁREAS VERDES DE USO LIVRE

ACADEMIA FITNESS

ACADEMIA FISIO

ESPAÇO INFANTIL

ÁREA VERDE EM PATAMARES

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

NOVO MILÊNIO

CONJUNTO HABITACIONAL

REQUALIFICAR/ URBANO

3

CASAGRANDE

NOVO MILÊNIO

1ª ETAPA

MANTER/COMERCIAL

2

SKATE PARK

MANTER/ COMERCIAL

ACADEMIA IDOSOS

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

PRAÇA COQUEIRAL DE ITAPARICA

PATAMARES E

REQUALIFICAR/ SERVIÇO INSS

ÁREA ESPORTIVA E DE LAZER

6

SUBESTAÇÃO ELÉTRICA

FOOD TRUCKS BARRAQUINHAS E COMERCIANTES DIVERSOS ESPAÇO PARA AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS

REQUALIFICAR/ INSTITUCIONAL

3ª ETAPA

1

ÁREAS VERDES DE USO LIVRE

REQUALIFICAR/ SERVIÇO FORÚM

RAMPA

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

1

PASSARELA

VAZIO/MISTO

OBSERVAÇÃO ESPETÁCULO LUMINOTECK ESPAÇO PARA EXPOXIÇÃO ARTISTAS CAPIXABAS

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL CONJUNTO MANTER/ VAZIO/ HABITACIONAL SERVIÇO ESTACIONAMENTO PROCURADORIA ESTACIONAT MANTER/ VAZIO/ MISTO BACIA DE ESTACIONAMENTO ESTOCAGEM RESIDENCIAL E LOJAS ESTACIONT. PATAMARES/ ARQUIBANCADA BACIA DE GALERIAS DE ARTE ESPAÇO PARA ESTOCAGEM AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS

REQUALIFICAR/ MISTO

4

RENOVAR/ MISTO

5

LOJAS, HABITAÇÃO ESTUDANTIL, BARES E RESTAURANTES, BOATE.

PREFEITURA E BANCOS

IMPLANTAÇÃO 1 : 2000

POLIGONAL DE ESTUDO SETOR H

N

2

PLANTA DE SITUAÇÃO

UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

1 : 10000

REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S. PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO:

IMPLANTAÇÃO, PLANTA DE SITUAÇÃO, QUADRO ESPECIFICAÇÕES

DATA:

09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

1/6


RENOVAR/ MISTO COMPLEXO POLIESPORTIVO E DE ENTRETENIMENTO

0,00 m

NOVAS EDIFICAÇÕES MISTAS COM TÉRREOS FLUÍDOS E CO M PILOTIS

EDIFICAÇÃO EM PILOTIS

ESPAÇO PARA CIRCULAÇÃO, PERMANÊNCIA E COMÉRCIO (QUIOSQUES, 2 BARRAQUINHAS, ARTISTAS, ETC) 02

1,65 m

3

0,15 m

02

-1,50 m -0,90 m -1,10 m

-1,10 m

-1,50 m

NOVAS EDIFICAÇÕES COM TÉRREOS PERMEÁVEIS

2

3

03

03

-1,50 m

-0,10 m

0,00 m

2

1,00 m

PERGOLADO COM BANCOS

02

ÁREAS VERDES PARA USO LIVRE

MOBILIÁRIO URBANO

1,50 m

USO LIVRE DE TODO O CANAL (PASSEIO, PEDALINHO, BARCO, CAIAQUE, WATER BALL)

2

3

02

03

03

PATAMARES DE USO LIVRE RAMPA DE ACESSO AO CANAL

0,00 m 0,15 m

3

ÁREA VERDE PARA PRÁTICA DE LEITURA, PIQUINIQUE, YOGA, MEDITAÇÃO, BANHO DE SOL, TIROLESA, SLACKLINE, REDÁRIO

ÁREA VERDE PARA PRÁTICA DE LEITURA, PIQUINIQUE, YOGA, MEDITAÇÃO, BANHO DE SOL, TIROLESA, SLACKLINE, REDÁRIO PASSARELA

ESPAÇO DESTINADO A HORTA COMUNITÁRIA

CORREDOR DE ÁRVORES DE FLOR E FOLHAGEM COLORIDAS

CICLOVIA

ÁREA VERDES PARA USO LIVRE PATAMARES/ ARQUIBANCADA QUIOSQUES (COMERCIANTES, SUCOS, FLORICULTURA, CHAVEIRO, BANCA DE REVISTA, MINI LIVRARIA, BIBLIOTECA POPULAR, ETC

CALÇADA

N ESPAÇO PET

1

1

2

N

ESPAÇO CONTEMPLAÇÃO (1) 1 : 1000

UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

2

CORTE ESQUEMÁTICO 1 1 : 200

3

CORTE ESQUEMÁTICO 2 1 : 200

PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO: DATA:

AMPLIAÇÃO SETOR CONTEMPLAÇÃO (1) 09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

2/6


-1,00 m

RENOVAR/ URBANO CAMPOS DE FUTEBOL, BACIA DE ESTOCAGEM

EDIFICAÇÃO EM PILOTIS

NOVAS EDIFICAÇÕES COM TÉRREOS PERMEÁVEIS

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL 5ª ETAPA

2

CORTE ESQUEMÁTICO 3 1 : 200

RENOVAR/ ESPORTIVO COMPLEXO POLIESPORTIVO E DE ENTRETENIMENTO ÁREAS VERDES PARA USO LIVRE DECK

DECK ELEVADO DECK

DECK LOJAS

2

3

4

03

03

03

DECK

RAMPA

03

0,00 m

0,15 m -1,50 m

-0,10 m

3

5

CORTE ESQUEMÁTICO 4 1 : 200

0,15 m 0,15 m

0,15 m

-1,50 m

-1,50 m 0,30 m 0,15 m

PASSARELA

0,15 m 0,15 m 2

3

4

03

03

03

ÁREA VERDE PARA PRÁTICA DE LEITURA, PIQUINIQUE, YOGA, MEDITAÇÃO, BANHO DE SOL, TIROLESA, SLACKLINE, REDÁRIO

ESGUICHOS OBSERVATÓRIO ESPETÁCULO LUMINOTECH

03

RENOVAR/ URBANO PRAÇA

0,00 m

4

0,15 m

ESPAÇO PARA EXPOSIÇÃO DE ARTISTAS CAPIXABAS

PASSARELA ÁREA VERDES PARA USO LIVRE PATAMARES/ ARQUIBANCADA

MANTER/ INSTITUCIONAL COC

QUIOSQUES (COMERCIANTES, SUCOS, FLORICULTURA, CHAVEIRO, BANCA DE REVISTA, MINI LIVRARIA, BIBLIOTECA POPULAR, ETC

CORTE ESQUEMÁTICO 5 1 : 200

-1,00 m

VAZIO/ MISTO ÁREA LIVRE PARA EVENTOS, FEIRA LIVRE, BACIADE ESTOCAGEM

POSTO DE SAÚDE

MANTER/ IGREJA CATÓLICA NOSSA RELIGIOSOSENHORA DAS GRAÇAS

2 1

5

N

REQUALIFICAR/ URBANA PRAÇA DE COQUEIRAL DE ITAPARICA

MANTER/ COMERCIAL CASAGRANDE

3

5

CORTE ESQUEMÁTICO 6 1 : 200

N

ESPAÇOS LUMINOTECH (2) MULTIUSO (3) 1 : 1000

UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S. PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO:

AMPLIAÇÃO ESPAÇOS LUMINOTECH (2) E MULTIUSO (3)

DATA:

09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

3/6


PARQUE COCAL

2

CORTE ESQUEMÁTICO 7 1 : 200

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL VIA DE ACESSO DE VEÍCULOS RESTRITO A MORADORES DA 5ª ETAPA EIXO DE COMUNICAÇÃO COM O PARQUE URBANO DE COCAL

5ª ETAPA

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL 4ª ETAPA

3 CICLOVIA

DECKS

ÁREAS VERDES DE USO LIVRE

ÁREA DE CIRCULAÇÃO E PERMANÊNCIA

DECK 2

PATAMAR NÍVEL DO CANAL

04

3

4

5

04

04

04

1 : 200

ÁREA VERDE DE USO LIVRE

DECK ELEVADO

RAMPA

CORTE ESQUEMÁTICO 8

0,15 m -1,50 m

-1,50 m

0,00 m

0,15 m

0,30 m 0,15 m

0,15 m

0,15 m

0,15 m

0,15 m

0,15 m

0,15 m

-0,10 m

0,00 m

0,00 m

0,15 m

2

3

4

5

04

04

04

04

ESPAÇO INFANTIL ACADEMIA FITNESS

ÁREA CIRCULAÇÃO/ PERMANÊNCIA -1,00 m

ÁREAS VERDES DE USO LIVRE

VIA COM ACESSO DE VEÍCULOS RESTRITO

E RUA SET

ACADEMIA FISIO

ACADEMIA DOS IDOSOS

-0,50 m

4

CORTE ESQUEMÁTICO 9 1 : 200

ACESSO CONJUNTO HABITACIONAL

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL 1ª ETAPA

5

CORTE ESQUEMÁTICO 10 1 : 200

N

4 UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

1

REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

ESPAÇO AÇÃO (4) 1 : 1000

PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO: DATA:

AMPLIAÇÃO ESPAÇO AÇÃO (4) 09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

4/6


EIXO MODAL PERPENDICULAR

2 05

VAZIO/ MISTO RECIDENCIAL E COMÉRCIO 3

VAZIO/ ESTACIONT. ESTACIONAMENTO, BACIA DE ESTOCAGEM ESPAÇO PATA AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS

05

E JUNHO RUA 07 D

ÁREA VERDE DE USO LIVRE

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL CONJUNTO HABITACIONAL

IAS ÇALVES D RUA GON

4ª ETAPA

MANTER/ ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO, BACIA DE ESTOCAGEM

RUA DR . ANNOR DA SILV A

0,00 m

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL

VIA COM ACESSO DE VEÍCULOS RESTRITO

VIA DE PEDESTRE

MANTER/ SERVIÇO

0,00 m

PROCURADORIA

0,00 m

0,15 m

0,00 m

FÓRUM

INSS COQUEIROS

05

0,00 m

0,00 m 0,15 m

-1,60 m

-0,50 m

0,15 m

-1,80 m

-1,60 m

-0,40 m 0,15 m

0,15 m

0,70 m

3

05

05

-2,00 m

SKATE PARK

05

0,15 m

E RUA SET

0,15 m

PATAMARES/ ARQUIBANCADA

0,15 m 0,15 m

DORMENTES EM CONCRETO

MANTER/ COMERCIAL OFFICE TOWER

ÁREA VERDES EM PLATÔS RAMPA

PREFEITURA DE VILA VELHA, BANCOS

A D I N E V A

0,00 m

SUBSTAÇÃO ELÉTRICA

O N A I C U L

AS D

N

S E EV

0,00 m

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL CONJUNTO HABITACIONAL

REQUALIFICAR/ MISTO

0,15 m 4

PATAMAR SUBMERSO

DECK EM MADEIRA PLÁSTICA

PATAMARES/ ARQUIBANCADA -1,51 m

-1,43 m

2

PATAMARES À NÍVEL DO CANAL

GALERIA DE ARTE CONTEMPORÂNEA NAS PASSARELAS

MANTER/ INSTITUCIONAL NOVO MILÊNIO FAIXA ELEVADA N

5 1

REQUALIFICAR/ SERVIÇO

0,15 m

-2,00 m

ACESSO CONJUNTO HABITACIONAL

REQUALIFICAR/ SERVIÇO

4

-1,95 m

VIA COM ACESSO DE VEÍCULOS RESTRITO

MINI PRAÇA - LOCAL DE ESPERA, LAZER, COMÉRCIO E VIVÊNCIA. EQUIPADO COM POSTO DE SEGURANÇA

0,15 m

0,00 m

0,00 m

ACESSO

N

6

RENOVAR/ MISTO LOJAS, HABITAÇÃO ESTUDANTIL, BARES, RESTAURANTES, BOATES, ETC

ESPAÇO DESTINADO A FOOD TRUCKS, BARRAQUINHAS, E COMERCIANTES DIVERSOS

ESPAÇO ESPORTIVO E DE LAZER ESPAÇO PARA AGLOMETAÇÃO DE PESSOAS

ESPAÇOS URBANO (5) E CAMPUS (6) 1 : 1000

UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

2

CORTE ESQUEMÁTICO 11 1 : 200

3

CORTE ESQUEMÁTICO 12 1 : 200

4

CORTE ESQUEMÁTICO 13 1 : 200

PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO: DATA:

AMPLIAÇÃO ESPAÇOS URBANO (5) E CAMPUS (6) 09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

5/6


2 05

CONJUNTO HABITACIONAL

VAZIO/ MISTO RECIDENCIAL E COMÉRCIO

VAZIO/ ESTACIONT. ESTACIONAMENTO , BACIA DE ESTOCAGEM

AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS

3 05

0,15 m 0,00 m 0,15 m

E JUNHO RUA 07 D

IAS ÇALVES D RUA GON

ÁREA VERDE DE USO LIVRE

REQUALIFICAR/ ESPAÇO PARA RESIDENCIAL

-1,95 m

-2,00 m -1,80 m 0,00 m

-1,60 m

-1,60 m

-0,50 m

0,15 m

2

3

05

05

E RUA SET

PATAMAR SUBMERSO

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL CONJUNTO HABITACIONAL

0,15 m

MANTER/ COMERCIAL

PATAMARES À NÍVEL DO CANAL PATAMARES/ ARQUIBANCADA DORMENTES EM CONCRETO

OFFICE TOWER

DECK EM MADEIRA PLÁSTICA

ÁREA VERDES EM PLATÔS RAMPA

IMPLANTAÇÃO PAISAGÍSTICA

1

1 : 500

2

CONJUNTO HABITACIONAL

VAZIO/ MISTO RECIDENCIAL E COMÉRCIO

05

VAZIO/ ESTACIONT. ESTACIONAMENTO , BACIA DE ESTOCAGEM

AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS

3 05

0,15 m 0,00 m 0,15 m

E JUNHO RUA 07 D

IAS ÇALVES D RUA GON

ÁREA VERDE DE USO LIVRE

REQUALIFICAR/ ESPAÇO PARA RESIDENCIAL

-1,95 m

-2,00 m -1,80 m 0,00 m

-1,60 m

-1,60 m

-0,50 m

0,15 m

3

05

05

E RUA SET

REQUALIFICAR/ RESIDENCIAL CONJUNTO HABITACIONAL RAMPA

2

2

MANTER/ COMERCIAL UNIVERSIDADE VILA VELHA

OFFICE TOWER

ARQUITETURA E URBANISMO REQUALIFICAÇÃO DO CANAL DA COSTA ATRAVÉS DA INSERÇÃO DE PARQUE LINEAR: UM EIXO PAISAGÍSTICO PARA O BAIRRO COQUEIRAL DE ITAPARICA, VILA VELHA, E.S.

ÁREA VERDES EM PLATÔS

IMPLANTAÇÃO URBANÍSTICA 1 : 500

PATAMAR SUBMERSO PATAMARES À NÍVEL DO CANAL PATAMARES/ ARQUIBANCADA DORMENTES EM CONCRETO DECK EM MADEIRA PLÁSTICA

0,15 m

PROJETO:

ESTUDO PRELIMINAR PARQUE COQUEIRAL DE ITAPARICA

AUTOR (A) DO PROJETO:

LORENA SILVA VENTUROTE

CONTEÚDO: DATA:

AMPLIAÇÃO DE TRECHO DO ESPAÇO URBANO (5) 09/06/2017

ESCALA:

INDICADA

PRANCHA:

6/6


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